A INTERDISCIPLINARIEDADE NA EJA E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO-APRENDIZAGEM

A INTERDISCIPLINARIEDADE NA EJA E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO-APRENDIZAGEM Uilson Nunes de Carvalho Júnior1 uilson.carvalho@etec.sp.gov.br RESUMO: Este trabalho apresenta as implicações da interdisciplinaridade aplicada no ensino médio integrado ao técnico, ocorrido no primeiro semestre 2015. Neste movimento destacamos os aspectos relevantes, como a aceitação da proposta interdisciplinar pelos professores, direção da escola e alunos. O engajamento do corpo docente no desenvolvimento do diálogo entre os componentes nas capacitações pedagógicas, da atividade avaliativa, bem como a significação desse trabalho a todos os atores envolvidos e sua importância na edificação do ensino-aprendizagem.

PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade 1; Ensino-aprendizagem 2; Atividades 3.

1.1

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo observar a aplicabilidade da interdisciplinaridade na educação de jovens e adultos, bem como analisar os pressupostos da interdisciplinaridade e suas implicações na prática docente.

Ou seja, registrar sua vital relevância no ensino-aprendizagem.

Não obstante, estarmos em um mundo globalizado, no qual têm apresentado muitos desafios a sociedade contemporânea, e é desta forma que a educação revela a urgência de se romper com modelos tradicionais para o ensino.

Em virtude disso, no ano de 1998, as Edições Unesco Brasil criaram um documento norteador para educação no país - As teses desse importante documento passaram a integrar os eixos norteadores da política educacional.

Os quatro pilares da Educação contemporânea, citada pela UNESCO são: aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver juntos e a aprender a conhecer. Esses eixos devem constituir ações permanentes que visem à formação do educando como pessoa e como cidadão. Nessa relação que liga os quatro pilares do novo sistema de Educação, e considerando a rapidez com que ocorrem as mudanças na área do conhecimento e da produção, exigindo uma atualização contínua e colocando novas exigências para a formação do

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Professor/coordenador Pedagógico e de projetos na Etec Bartolomeu Bueno da SilvaAnhanguera. Orientadora: Profa. Me. Cathia Lima Petroni

educando, é que a interdisciplinaridade insere-se, na ousadia de novas abordagens de ensino, na educação básica.

1. Entendendo: disciplina e interdisciplinaridade

A noção de disciplina é fundamental para que se possa entender o desenvolvimento das ciências, do pensamento humano. Para se entender o termo interdisciplinaridade, deve-se partir da noção de disciplina.

A organização disciplinar foi instituída no século XIX, notadamente com a formação das universidades modernas; desenvolveu-se, depois, no século XX, com o impulso dado à pesquisa científica; isto significa que as disciplinas têm uma história: nascimento, institucionalização, evolução, esgotamento, etc; essa história está inscrita na da Universidade, que, por sua vez, está inscrita na história da sociedade; MORIN ( 2002 , p. 105 )

A disciplina é uma maneira de organizar, de delimitar. Ela representa um conjunto de estratégias organizacionais, uma seleção de conhecimentos que são ordenados para apresentar ao aluno, com o apoio de um conjunto de procedimentos didáticos e metodológicos para seu ensino e de avaliação da aprendizagem.

Segundo

FAZENDA

(1999,

p.

66):

“a

indefinição

sobre

interdisciplinaridade origina-se ainda dos equívocos sobre o conceito de disciplina”. A polêmica sobre disciplina e interdisciplinaridade possibilita uma abordagem pragmática em que a ação passa a ser o ponto de convergência entre o fazer e o pensar interdisciplinar. É preciso estabelecer uma relação de interação entre as disciplinas, que seriam a marca fundamental das relações interdisciplinares.

O caráter disciplinar do ensino formal dificulta a aprendizagem do aluno, não estimula ao desenvolvimento da inteligência, de resolver problemas e estabelecer conexões entre os fatos, conceitos, isto é, de pensar sobre o que está sendo estudado. “O parcelamento e a compartimentação dos saberes impedem apreender o que está tecido junto”. MORIN (2000, p.45): A interdisciplinaridade é muito mais que uma simples integração de conteúdos, ela não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. A

proposta da interdisciplinaridade é estabelecer ligações de complementaridade, convergência, interconexões e passagens entre os conhecimentos. O currículo deve contemplar conteúdos estratégias de aprendizagem que capacitem o aluno para a vida em sociedade, a atividade produtiva e experiências subjetivas, visando à integração.

De acordo com Morin (2000), as disciplinas como estão estruturadas só servirão para isolar os objetos do seu meio e isolar partes de um todo. A educação deve romper com essas fragmentações para mostrar as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem.

Caso contrário, será sempre ineficiente e insuficiente para os cidadãos do futuro.

Ou

seja,

como

bem

definiu

JAPIASSU

(1976,

p.74):

“A

interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa.” Isto é, essa abordagem é entendida como uma forma de trabalhar em sala de aula, no qual se propõe um tema com abordagens em diferentes disciplinas. É compreender, entender as partes de ligação entre as diferentes áreas de conhecimento, unindo-se para transpor algo inovador, abrir sabedorias, resgatar possibilidades e ultrapassar o pensar fragmentado. Por conseguinte, factualmente, é a busca constante de investigação, na tentativa de superação do saber.

2. Aplicando a Interdisciplinaridade

Comumente em todas unidades de ensino do país, inicia-se o ano letivo com o planejamento pedagógico a ser desenvolvido no processo ensinoaprendizagem de cada componente, série/módulo; não obstante a isto, no primeiro semestre de 2015, realizamos a implementação de oficinas, que tinham em seu bojo, fomentar a atividade interdisciplinar e suas implicações no ensino-aprendizagem. Nesta conjectura, foi elaborado duas atividades para professores e alunos.

A primeira atividade, direcionada para os alunos, teve como base o pensamento Freiriano que diz: "Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção." Com isso, traçamos dois objetivos concisos para esta proposta:

a) ampliar a interação entre os estudantes e os diferentes conhecimentos na busca e construção de soluções inteligentes para problemas ou situações vivenciadas no cotidiano; b) prepará-los para as novas formas de avaliação utilizadas em processos seletivos como, por exemplo, o ENEM, que possui como critério avaliativo a utilização de capacidades e habilidades cognitivas como a inteligência, a razão, a contextualização e a inferência na resolução de problemas.

Traçado os objetivos, foi pedido a cada professor que pesquisasse e envia-se nos um texto de revista especializada, ou de discussão atual sobre seu componente, todavia que abordasse outras disciplinas promovendo um diálogo significativo entre elas.

Após o recebimento dos textos, a atividade foi configurada da seguinte forma: A cada texto inserido foi colocado no final cinco caixas de textos chamadas:

“Análise

1”,

“Análise

2”,

“conclusão”,

“Componente

1” e

“Componente 2”. O objetivo destes espaços de discussão teve como característica extrair de cada discente seu aprendizado adquirido até então, ou pelas relações interpessoais (vivências), ou pelo aprendizado acadêmicosistemático.

Nossa escola, têm três primeiros anos integrados ao curso técnico (Informática para internet e logística) e dois segundos anos, também integrados ao ensino técnico (Informática para internet), ou seja, temos cinco salas de ensino médio integrado ao ensino técnico. Afim de promover uma interdisciplinaridade factual, operamos da seguinte forma: Dividiu-se as cinco salas tomando como base as numerações, por exemplo – Os cinco números 1, cinco números 2 e assim sucessivamente, até atingirmos o número total de alunos (200), isto é, quarenta grupos com cinco alunos cada.

Estes em nenhum momento haviam sentados juntos para resolução de nenhuma atividade escolar, ou mesmo, para discutirem alguma questão social ou, assuntos afins. Esta atividade teve a duração de sete horas, todavia muitos alunos ultrapassaram este horário, simplesmente pela sede e oportunidade de expor seus conhecimentos.

Na aplicabilidade desta atividade foi realizado uma pesquisa entre os

alunos e professores participantes. Nesta pesquisa aberta constava de algumas questões discursivas que versava o seguinte: “Qual a sua opinião sobre a atividade interdisciplinar? / Qual/Quais resultados podemos obter desta atividade interdisciplinar? / Como os alunos se comportaram?; e o que precisava ser aprimorado. Exponho a seguir, os relatos dos alunos/professores e os resultados alcançados em menções: 2.1 Alunos: 2.1.1) Como os alunos se comportaram?

Respostas: “Muito bem; a priori, alguns resistiram, mas nos tornamos um grupo harmonioso-trabalhando em equipe”. “Talvez um tanto surpresos... pensávamos que não conseguiríamos resolver tais problemáticas, mas na cooperação mútua conseguimos resolver as atividades”.

2.1.2) Qual a sua opinião sobre a atividade interdisciplinar?

Respostas: “Foi muito boa, pois auxiliou na integração dos alunos e no compartilhamento de conhecimento”. Foi boa para conhecermos novos amigos e testarmos nossas habilidades”.

2.1.3) Qual/Quais resultados podemos obter desta atividade interdisciplinar?

Respostas: “Tivemos uma ótima integração dos alunos, bem como a oportunidade de agregar conhecimentos diferentes”. “Trabalho em equipe; Organização do tempo; O que não sabíamos, aprendemos com a troca de ideias durante a atividade”.

2.2 Professores

2.2.1) Como os alunos se comportaram?

Respostas:

“Muito

bem;

se

comunicaram;

discutiram

e

fizeram

observações”. “Houve uma participação efetiva dos grupos, cada um expôs suas ideias”. “No início estavam preocupados e pouco comunicativos, mas passando alguns minutos a interação e integração ocorreram no ímpeto de resolverem as atividades propostas”.

2.2.2) Qual a sua opinião sobre a atividade interdisciplinar?

Respostas: A atividade foi muito boa, no entanto, o mais interessante foi a

integração de todos os componentes”. “Excelente... além de preconizar o trabalho em equipe, também estimulou o senso crítico-construtivo dos alunos”.

2.2.3) Qual/Quais resultados podemos obter desta atividade interdisciplinar?

Respostas: “A integração entre cursos, o senso crítico, a exposição do conhecimento na resolução das problemáticas”. A relação interpessoal, a troca do conhecimento técnico e empírico fomentando o desenvolvimento do aluno enquanto cidadão e sendo protagonista no processo ensino-aprendizagem”.

Diante

dos

depoimentos,

notadamente

percebemos

o

sentido

polissêmico da interdisciplinaridade em sua práxis. Por conseguinte, a construção do conhecimento neste processo ocorreu pelo compartilhamento dos saberes técnicos e vivenciais de cada discente. No aspecto aluno, alcançamos os objetivos de ampliar a interação entre os estudantes, bem como na construção de soluções inteligentes para problemas ou situações vivenciadas no cotidiano e prepará-los para as novas formas de avaliação.

Abaixo segue gráfico de desempenho por menções:

DESEMPENHO POR MENÇÃO 25

DESEMPENHO POR MENÇÃO % 25

20

20

50%

20

14

35%

15

15

6

10

10

5

5

0

0

R

B

MB

Figura 1. Desempenho por Grupo - Elaborado por Uilson Nunes

15%

R

B

MB

Figura 2. Desempenho em percentual - Elaborado por Uilson Nunes

A segunda atividade teve como foco o professor. Isto porque, como agente mediador do saber tem papel vital para aplicação desta perspectiva.

Com isso, no planejamento pedagógico realizamos uma capacitação docente, sobre o tema: “O ensino de competências na perspectiva interdisciplinar”. Após a exposição, desenvolvimento e discussão do tema, fizemos uma oficina com a proposta interdisciplinar de competências, com o seguinte direcionamento: Supondo que a partir do próximo ano, sua Unidade oferecerá o Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio. Qual seria sua proposta para o desenvolvimento de um projeto integrador, utilizando as competências do componente Gestão Empresarial com a Base Nacional Comum?

Com isso, Integramos os professores dos cursos: de segurança do trabalho, com os professores de contabilidade, e também, do ensino médio. Os grupos tiveram 60 minutos para discutirem e elaborarem um projeto, em que além da integração de um dos eixos do componente na qual ensina, deveria observar a continuidade interdisciplinar dentro do plano de curso as possibilidades de diálogo e práxis interdisciplinar factual durante ano letivo.

Após, houve as apresentações dos projetos e a plausível afirmação, de que, o conhecimento é integrado fortemente desenvolvido quando interligado.

Esta discussão culminou na criação da página web da coordenação pedagógica (https://pedagogicoetecanhanguera.wordpress.com/reuniao/), nela realizamos a primeira reunião pedagógica online com a proposta de analisarmos nossas práxis, estilos de aprendizagem, abordagens de ensino e o diálogo interdisciplinar em nossas aulas. Foram produzidas 142 páginas de comentários e 109 visitas de nossos professores a página web da coordenação pedagógica. Como resultado, tivemos o menor índice de evasão escolar em comparação ao primeiro semestre de 2014, apenas 6; também, uma redução de 50% de menções “I” e 60% a menos de retenções.

A interdisciplinaridade traduzida, opera de forma cabal, em resultados plausíveis e factuais. Não obstante, constrói novos caminhos, como a modalidade online de interação entre docentes, e um olhar macro e micro do ensino-aprendizagem no seu processo de formação.

3.

Considerações Finais

Este artigo teve por objetivo demonstrar as implicações resultantes da interdisciplinaridade aplicada na EJA. A construção desta investigação contou

com uma pesquisa bibliográfica e empírica, por meio de intervenções entre docentes e alunos, na qual auxiliou sobremodo à reflexão ampliada do entendimento da interdisciplinaridade e sua importância para a práxis docente.

Em vista disso, esta pesquisa conjectura, que se lobrigue o valor da interdisciplinaridade e a necessidade de situar a importância da educação nos desafios, dúvidas, e interrogações da atualidade.

Uma proposta de práxis como a interdisciplinaridade, não é adequada ou inadequada, pelos problemas e dificuldades que possam surgir no seu desenvolvimento, contudo, sim, necessária e aquiescente.

Por

conseguinte,

pontuamos

a

experiência

reciproca

da

interdisciplinaridade entre alunos e professores, na qual explicitou que os caminhos da educação não se dão apenas na multidisciplinaridade, todavia em uma educação significativa em uma linguagem concisa, não obstante prática.

Podemos notar na visão dos alunos, não apenas uma surpresa, mas a condição de aplicarem a educação técnica, a educação da vida para resoluções, do que fatalmente, encontraram no seu dia a dia, como obstáculos, e oportunamente de formação. Esta antecipação, de fatos, foi traduzida em algumas falas, ao dizerem: Foi muito boa está atividade pelo fato de, não apenas estarmos sendo preparados para o vestibular, mas para vida. Percebese com isso, a vital importância de uma educação que dialogue com a realidade e o tempo, não sendo anacrônica, mas diacrônica.

Um outro, ponto muito importante, foi a visão do professor, quanto a interdisciplinaridade. Alguns colegas, mesmo tendo tanto tempo de labor acadêmico, não tinham visto o diálogo entre os componentes, nem entre os cursos na prática, ou seja, no ambiente escolar. O rompimento do paradigma, trouxe inquietação por parte de alguns, mas que ao final perceberam a necessidade desta prática de forma continua. Com isso, a postura que os educadores devem adotar diante de mudanças na educação deve ser: pensar, refletir, criticar e valorar o que está acontecendo nos âmbitos escolares nos tempos de hoje e nos que virão. Nesse sentido, uma proposta como a interdisciplinaridade, a partir de reflexão, análise, avaliação de suas práticas vai procurar encontrar respostas cada vez mais adequadas às necessidades de aprendizagem dos alunos.

Por

isso,

encarar

uma

mudança

na

educação,

como

a

interdisciplinaridade, propõe uma atitude permanentemente crítica, de reflexão, de compromisso e responsabilidade com a tarefa de educar. Portanto pode-se afirmar que os educadores têm sempre que se aperfeiçoarem, em busca da melhora da educação.

1.2

Referências

FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 4 ed. Campinas: Papirus, 1999.

FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: Um projeto em parceria. São Paulo, 1991.

FAZENDA, Ivani. Práticas interdisciplinares na escola. (ORG.) coordenadora-2 ed.

São Paulo: Cortez,1993.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra ltda, 1975.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia –Saberes Necessários à prática Educativa. 17 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e Patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

MORIN. A cabeça bem feita. Repensar a reforma repensar o pensamento. 6 ed., Rio de janeiro: Bertrand Brasil Ltda., 2002.

PIAGET, Jean. Para onde vai a Educação? 6. ed. Rio de Janeiro: Unesco, 1978.