De política aos novos rumos da Igreja, escritor apresenta suas avaliações do cenário brasileiro Páginas 12 e 13
Jornal
A psicóloga Isabelle Ludovico aborda os desafios da mulher na pós-modernidade Página 6
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Edição Especial de Verão
Arte cristã
MULHER
Rubem Amorese
Companhia utiliza diversas ferramentas artísticas para evangelismo e obra social Página 3
Ano VI :: Número 49 :: Fevereiro :: 2013
Nosso Tempo
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JORNAL
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Jovens patrões Dinâmicos e hiperconectados às novas tecnologias, eles decidiram abrir o próprio negócio, impulsionando o empreendedorismo no Brasil, com o diferencial de guiarem suas carreiras à luz da palavra de Deus Páginas 16 e 17
AÇÃO SOCIAL Igrejas evangélicas saem dos templos e se unem em socorro às vítimas das chuvas no Rio com prestação de assistência e distribuição de donativos
JUVENTUDE Atrás de liberdade e independência, jovens contam como é o desafio de deixar a casa dos pais e a necessidade de apoio familiar nesse momento
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INDÍGENAS
Índio de aldeia pernambucana, domiciliado na capital fluminense, compartilha visão sobre evangelismo e papel da igreja na sociedade
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Divulgação
vitrine Entre os destaques deste mês de fevereiro está o livro Heldy Meu Nome, da editora Hagnos
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Jornal Nosso Tempo :: 2013 :: Número 49:: FEVEREIRO
ENTREVISTA
Rubem Amorese: recuperando a memória
Mais do que uma entrevista, uma aula sobre história do Brasil, perfil da Igreja evangélica e como viver a simplicidade do Evangelho diariamente. Como ele mesmo se apresenta, Rubem Amorese é “paulistano do Rio", nascido em Vila Mariana, São Paulo, porém criado na Ilha do Governador, Zona Norte carioca. Formou-se em Comunicação Social pela UERJ e fez mestrado na Universidade de Brasília, na mesma área. Estudou também literatura na Aliança Francesa do Rio e fez uma pós-graduação em informática na Universidade Católica de Brasília. É membro da Fraternidade Teológica Latino-americana (FTL), presbítero emérito da Igreja Presbiteriana do Planalto (IPP), em Brasília, fundou e presidiu, por 20 anos, a Missão Social Evangélica, conhecida como Comunicarte, foi professor na Faculdade Teológica Batista de Brasília (FTBB), bem como presidente do Diretório Regional da Sociedade Bíblica do Brasil. É autor de vários livros, como Icabode, Fábrica de Missionários, entre outros, publicados pela Editora Ultimato, onde escreve na coluna “Ponto Final”. Trabalhou e se aposentou como Consultor Legislativo do Senado Federal. JNT: Como homem de comunicação, como o senhor avalia a atuação do Senado nos últimos anos, sobretudo, após a repercussão do julgamento do “Mensalão”? RA: O Congresso Nacional evoluiu muito, nos últimos anos, em termos de comunicação. Quando lá cheguei, sequer existia um capítulo na Constituição Federal sobre comunicação. Eram apenas um ou dois artigos. Tive a honra de participar na elaboração do capítulo que hoje existe. Pode parecer uma observação insignificante, mas posso lembrar que, durante a Assembleia Nacional Constituinte (ANC), todos nós (senadores e assessores), à noite, para sabermos o que havia ocorrido nas comissões das quais não havíamos tomado parte, corríamos para casa para assistir tudo na televisão e, depois, começávamos o dia seguinte ávidos, nos jornais. Mas isso era informação indireta, filtrada pela mídia, sua ideologia e seus interesses. Com o tempo, vieram os canais da TV Senado, Rádio Senado, Internet, Agência Senado etc. Nasceu, naquela mesma época, a TV Justiça. E o julgamento do “Mensalão” se transformou em um campeão de audiência. O importante, no entanto, é esse elemento democrático do registro.
Arquivo Pessoal
Giuliana Azevedo jnossotempo@gmail.com
Amorese ressalta a importância da busca pelo convívio com os irmãos na igreja em um tempo de forte interação virtual
A partir desse momento, os canais abertos passam a enriquecer a informação com recortes, comentários, bastidores, opiniões técnicas etc. Mas já não são a única fonte; já não dizem o que querem impunemente. JNT: Após um período de eleições marcado por forte participação de lideranças evangélicas, como o senhor vê o modo como o segmento tem buscado hoje participar da vida política do país? RA: No tempo da Assembleia Nacional Constituinte, vários irmãos se uniram para formar, sob a liderança do irmão Euler Morais, o Grupo Evangélico de Ação Política (GEAP). A participação dos evangélicos na política era tão intensa, em todo o país, que pensamos em colaborar com a promoção de encontros nacionais, distribuição de boletins, elaboração de pautas sensatas e coisas assim. Eu fiquei como vice-presidente do grupo. E a ebulição foi grande; em especial no que se seguiu à ANC, com a formação da bancada
Eu acho possível o louvor (dizer coisas boas sobre Deus ou para Deus) sem o coração. Mas não vejo como adorar sem o coração
evangélica no congresso, composta de RA: A pergunta é boa, mas de resmais de 30 parlamentares. Entretanto, com posta mais difícil do que parece. Por ter o tempo, percebeu-se que muitos come- trabalhado nessa área por muitos anos, çaram a se perder, ao lidar com o poder, sou um exemplo pessoal das controvérsias com concessões de canais de rádio e TV. envolvidas na "regulação da Internet". Os Lembro-me da cena em que se votava um projetos foram tantos! Projetos de lei que quinto ano de mandato para o presidente passaram por mim podem ser contados às José Sarney, que oferecia canais de TV a dezenas. Primeiro, temos um grande emquem votasse por ele. Entre os evangéli- bate político. Uma vírgula mexida é como cos, as opiniões estavam divididas. Seria uma pedrada numa casa de marimbondos. ético? Houve deputado que dissesse: "eu Marimbondos de fogo. Segundo, havia quero esse canal; vou usá-lo para divulgar o problema técnico. Para nossa legislação o Evangelho". E aceitou e mudou seu penal é importante saber onde o crime foi voto. Num certo momento, a galeria lotada cometido. Por exemplo, se foi no país. nos brindou com uma chuva de moedas e Mas, na Internet, isso é difícil. Uma pánotas de dinheiro. Ai, que vergonha! Acho gina ofensiva pode estar sediada em um que, por causa de coisas assim e da nossa servidor na Antuérpia, cujas máquinas inexperiência democrática (lembro que físicas estejam na Líbia ou no Canadá. estávamos saindo da ditadura), muitos Finalmente, olhe o problema na área da irmãos parlamentares preferiram não técnica legislativa: toda vez que se chega mais se identificar como evangélicos, até a um texto de boa qualidade, aqueles que hoje. Com o tempo, aqui e ali percebemos são contra perguntam: em quê esses crimovimentos cristãos; são evangélicos mes são diferentes daqueles já previstos e católicos unidos contra algo que lhes no atual Código Penal? De fato, a grande pareça proposta inaceitável. É o caso do maioria dos delitos praticados na Internet PL 122, da deputada Marta Suplicy, ou não são, exatamente, "crimes de Internet". a famosa "lei da homofobia". De todo O que mais me anima, entretanto, não é modo, mantenho os ideais dos tempos a perspectiva de novas leis, mais aprodo GEAP: acho que o crente deve estar priadas à tipificação dos delitos, mas a presente na política. Em especial naquela crescente capacitação técnica da Política política apartidária, que se desenvolve no Federal. As notícias de prisão de pedófilos Vestibular e Transferências bairro, na escola do filho, na faculdade nas redes sociais, de sites com apologia e em tantos outros "centros de poder". ao crime e tantos outros delitos começam A imagem bíblica permanece: Ester e a aparecer. Uma vez identificado e preso Mordecai. A Ester sendo uma enviada de o delinquente, fica por conta da Justiça Deus a um centro de poder e Mordecai, fazer as analogias necessárias para o seu seu tutor, sendo a Igreja, que fica por trás, enquadramento, enquanto a legislação específica não surge. dando apoio, ajudando, orientando.
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JNT: Como especialista na área de informática, o senhor acredita que os últimos governos têm dado a devida atenção aos processos regulatórios de uso da internet?
JNT: Como a Igreja pode se valer das ferramentas digitais e redes sociais? RA: Ah, gostei dessa pergunta. Agora chegamos à minha vivência atual. Até agora, tenho falado como técnico. Talvez
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Jornal Nosso Tempo :: 2013 :: Número 49 :: FEVEREIRO
histórica e popular de um Brasil em transformação
JNT: Teologia, comunicação e música são apontadas como suas grandes paixões. Como o senhor une esses três elementos na produção do seu trabalho? RA: Vou lhe confessar uma historinha. O povo da minha igreja, que tem acompanhado minha trajetória de longa data, brinca dizendo que eu comecei "fazendo teologia". Foi o início da nossa igreja, da qual sou fundador. Em 2012, comemoramos nossos 30 anos, e fui eleito "presbítero emérito" pela comunidade. Dizem os mesmos irmãos que, passados os anos, comecei a escrever livros e artigos. E, não satisfeito, passei a publicá-los pela Comunicarte e no meu site. Mas a brincadeira continua: "agora, o Rubem passou a fazer poesias em músicas. Chegou ao ápice da carreira. Não tem mais criança para criar, dedica-se às coisas do coração, como louvor e adoração”. Não fossem as imprecisões cronológicas, até seria uma boa visão do meu ministério. É que essas coisas aconteceram meio que ao mesmo tempo. Os livros são quase que crônicas das nossas reuniões semanais do conselho da igreja (toda segunda-feira, por 30 anos!). O cuidado com a comunicação vinha de uma grande preocupação com um evangelismo honesto, não invasivo, mas próximo, afetuoso. Bem, chego à conclusão de que a brin-
O crescimento numérico da Igreja não me impressiona. Ao contrário, me assusta um pouco cadeira tem muito de verdade, quando diz que, nos últimos tempos, fiquei mole e chorão; que baixei a voz e que tenho composto muito louvor. Sim, tenho até cântico em forma de chorinho, por que não? E tango, também. Mas o louvor, a adoração, o "entra no teu quarto", tem sido também uma síntese. É o que sobra, quando você começa a esquecer e precisa reler o próprio livro para dar um estudo. Mas eu respondo: sobra a melhor parte: a intimidade. JNT: Os álbuns da sua discografia são compostos, em grande parte, de canções produzidas na vivência comunitária da IPP. Qual é o papel da música na vida do homem? RA: De fato, as músicas que temos produzido são resultantes da vida na igreja. E se você reparar, tomamos o cuidado de registrar essa informação. Acho que, ao incluir no "sistema operacional" do homem a sub-rotina da música, Deus o estava dotando de uma capacidade ímpar (um dom) de expressar emoções. Não tem jeito, música é expressão emocional. Aliás, a arte, em geral. Se a música permite à pessoa se expressar emocionalmente sobre qualquer tema, no culto isso se torna vital. É um momento em que podemos falar com o coração. Eu acho possível o louvor (dizer coisas boas sobre Deus ou para Deus) sem o coração. Veja o caso de Jonas. Mas não vejo como adorar sem o coração. Um coração magoado, frustrado não adora. Até presta culto, mas não adora. Claro, a adoração é muito mais que a música ou outras formas de arte. Mas é pelos cânticos que podemos fazê-lo de forma coletiva, adotando no coração dizeres e expressões da letra. JNT: Estatísticas apontam uma tendência de crescimento vertigino-
so dos evangélicos no Brasil para os próximos anos. Na sua visão, surgirá uma igreja com outro perfil ou é a atual igreja que crescerá? RA: Estou vendo surgir uma Igreja com perfil radicalmente diferente daquela do meu tempo de menino. Se é melhor ou pior, não sei dizer. Até porque ainda estamos dobrando a esquina. Ainda não sabemos o que seremos, feita a curva. Não é isso que significa "pós-modernidade"? Se é "pós" alguma coisa, é porque sabemos o que existiu anteriormente (a modernidade), mas o que somos agora, ainda não. O crescimento numérico da Igreja não me impressiona. Ao contrário, me assusta um pouco. Sabe aquela música do Tom Jobim: "Se todos fossem iguais a você"? Pois é, fico a imaginar um país composto por 100 milhões de rubens. E me pergunto: seria um país melhor do que o de hoje? Mas é aí que está o nervo do dente. Eu peço a Deus uma Igreja que produza uma resposta positiva a essa pergunta. Aí, então, se ela crescer e tomar o Brasil para Cristo, eu direi: “aleluia!”. Mas, se não for assim, será que me alegrará esse crescimento vertiginoso? Mas, para não fugir à questão, eu acho que a nova Igreja terá um perfil diferente na sua forma, na sua expressão, no seu modo de se inserir na sociedade. Porém, espero que seja a mesma na sua base bíblica, no seu partir do pão, na sua esperança da glória, na sua comunhão, na sua dependência total do Espírito Santo para ser corpo de Cristo.
JNT: No livro Fábrica de Missionários, o senhor defende que cada cristão é um missionário, independentemente se atua em áreas remotas ou não. Qual deve ser o principal foco do agente missionário hoje? RA: Acho que Atos 1.8 nunca foi tão pertinente e definidor, ainda que deva ser lido metaforicamente. A metáfora é que Jerusalém vira a nossa cidade, nossa igreja, nosso lar; e Judeia, Samaria e confins vão sendo entendidos como o que você chama de áreas remotas. A meu ver, nunca foi tão importante olhar para Jerusalém (onde fica a fábrica de missionários). É onde se faz "missão", e não "missões". Não sei se você (e seus leitores) entendem assim, mas o plural, “missões”, sempre me fala de distância, de áreas remotas. Já “missão” me fala de aqui e agora. Se Jerusalém estiver desassistida, em breve a fábrica não produzirá mais missionários. Teremos que importá-los (da China, para variar?). Não diminuo em nada o olhar para a Judeia, Samaria e confins da terra. E louvo a Deus por aqueles que são chamados para longe. Mas quero dizer que não tenho medo de missionários (risos). Não aceito que sejam vistos como supercrentes, como "aqueles que realmente estão fazendo a obra". A ideia de que, quanto mais longe, maior é a obediência, não me convence. Cumprida a "missão doméstica", teremos ensinado nossos filhos a amar ao Senhor e ao próximo como nos é recomendado em Deuteronômio 6.■ Arquivo Pessoal
até ex-técnico. Mas chegamos à Igreja (risos). Meu pensamento sobre essa questão tem dois ângulos. O primeiro é o da simples constatação e, o segundo, de alguma ponderação ou alerta. Veja que tempo maravilhoso estamos vivendo. Estou precisando de um bom cântico para fechar um sermão sobre algum salmo. Nem faço pesquisa; vou direto ao site da IPP e pesquiso no "cardápio de músicas" (risos). Ah, mas eu gostaria é de trocar algumas ideias com o Rubem Amorese. Pronto, achei! Ele está no Facebook. Melhor que isso, ele conversa comigo! (risos). Mas a palavra de alerta nos vem do primeiro capítulo de Hebreus: "nestes últimos dias, nos falou por meio do Filho". A encarnação do Verbo nos ensina que a distância é insuportável para quem ama. Assim, também entre nós, embora eu admire e seja totalmente favorável aos sites de igrejas, continuo "confessando": creio na igreja; creio na comunhão dos santos. E digo isso pensando na igreja local, em irmãos de carne e osso (muitas vezes, osso duro de roer, como é o meu caso), em presença, em abraço de verdade, em comer e beber à mesa.Tenho visto muita gente dizer que não precisa mais "ir à igreja", pois agora ela "vem a eles", sem precisar sair de casa e enfrentar a "parte ruim", do convívio com os irmãos. É aí que mora o perigo.
Para o presbítero, é importante que as igrejas fortaleçam o trabalho missionário local