Não Perca Jesus de Vista | SÉRIE ULTIMATO 50 ANOS

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NÃO PERCA JESUS DE VISTA SÉRIE ULTIMATO 50 ANOS



SÉRIE ULTIMATO 50 ANOS • • • •

Deixem que elas mesmas falem História da evangelização do Brasil Súplicas de um necessitado Por que (sempre) faço o que não quero?

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A pessoa mais importante do mundo Sou eu, Calvino Não perca Jesus de vista Para (melhor) enfrentar o sofrimento

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Práticas devocionais Teologia para o cotidiano De hoje em diante Conversas com Lutero

A série ULTIMATO 50 ANOS celebra meio século de publicação da revista Ultimato, bem como a vida e a obra do seu fundador, o pastor Elben César, autor dos volumes da série.


ELBEN M. LENZ CÉSAR

NÃO PERCA JESUS DE VISTA

SÉRIE ULTIMATO 50 ANOS


NÃO PERCA JESUS DE VISTA Categoria: Espiritualidade / Evangelização / Vida cristã Copyright © 1995, Elben M. Lenz César Copyriht desta edição © 2018, Editora Ultimato Ltda Primeira edição: Julho de 1995 Diagramação: Bruno Menezes Capa: Angela Bacon

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) César, Elben M. Lenz, 1930-2016. Não perca Jesus de vista / Elben M. Lenz César. — Viçosa, MG : Ultimato, 2018. ISBN 978-85-86539-26-8 1. Cristianismo - História 2. Jesus Cristo - Crucificação 3. Jesus Cristo - Meditações 4. Jesus Cristo - Pessoa e missão 5. Jesus Cristo - Ressurreição 6. Vida cristã I. Título. 18-13697

CDD-232

Índices para catálogo sistemático: 1. Jesus Cristo : Pessoa e missão : Cristologia

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PUBLICADO NO BRASIL COM TODOS OS DIREITOS RESERVADOS POR: EDITORA ULTIMATO LTDA Rua A, no 4 - Caixa Postal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 www.ultimato.com.br


SUMÁRIO

Apresentação

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E a Pedra Era Cristo

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1. Aquele que haveria de vir 2. O filho de Maria 3. Deus conosco 4. Filho de Deus e Filho do Homem 5. Uma sacudida na árvore genealógica de Jesus 6. Quem é este? 7. Jesus é assim 8. O leitor do pensamento alheio 9. As curas de Jesus 10. As interferências de Jesus 1 1. Um pregador sem púlpito 12. Mulheres sem nome 13. As tristezas de Jesus 14. A última tentação de Cristo 1 5. O reino de Jesus 16. Nas mãos dos homens 17. O Cordeiro de Deus 18. Por intermédio da cruz 19. O túmulo vazio 20. Doze quilômetros de emoções

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21. O reconstrutor de santuários

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22. Cinquenta e dois dias de impacto

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23. Não acredite, não!

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24. Acredite em Jesus!

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25. Lembrança contínua

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26. Abra a porta!

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27. Jesus não mudou nada

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28. Não perca Jesus de vista

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Abreviações BLH – A Bíblia na Linguagem de Hoje NVI– Nova Versão Internacional As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil.


APRESENTAÇÃO

POR QUE não há mais igrejas cristãs na Turquia (antiga Ásia Menor), onde Paulo esteve com Barnabé em sua primeira e bem-sucedida viagem missionária? O que é feito das igrejas por ele fundadas em Antioquia, Icônio, Listra, Derbe e Perge? O que aconteceu com as sete igrejas do Apocalipse, localizadas na Turquia ocidental, para as quais o próprio Jesus enviou cartas pastorais (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia)? Por que no final do terceiro século 50% da população da Ásia Menor era cristã1 e hoje esta porcentagem não chega à metade de 1%? Por que o norte da África é hoje uma das regiões do mundo mais fechadas para o evangelho, quando havia ali uma igreja cristã extremamente forte nos três primeiros séculos? O que é feito da famosa Escola de Catequese de Alexandria, fundada por Panteno e que exerceu uma influência notável no mundo inteiro? Só nesta região havia quinhentas dioceses – 1/4 de todas as dioceses do cristianismo de então.2 Esta igreja nos deu os mais notáveis apologistas cristãos do segundo e terceiro séculos: Tertuliano, Clemente e Orígenes. Além de Cipriano e Agostinho. Por que todos os países do norte da África, exceto o Egito, têm hoje de 99 a 100% de muçulmanos? (No Egito são 85%.)


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NÃO PERCA JESUS DE VISTA

Por que 3,4 milhões de alemães católicos e protestantes se desligaram de suas igrejas de 1985 a 1994? Por que o número dos que se desligam está 100% mais alto nos três primeiros meses de 1995?3 Por que o número de adeptos do islamismo, do hinduísmo e do budismo no âmbito mundial está crescendo mais que o número de cristãos? Se Jesus Cristo é de fato incomparavelmente superior a Buda, que nasceu cinco séculos e meio antes de Cristo (cerca de 563 a.C.), e a Maomé, que nasceu cinco séculos e meio depois de Cristo (cerca de 570), por que o crescimento do islamismo é da ordem de 16% ao ano, do hinduísmo de 13%, do budismo de 10% e do cristianismo de 9%?4 Por que a presença islâmica é cada vez maior na Europa e na América do Norte? Por que o presente e crescente interesse pelas religiões orientais no Ocidente? Por que a maior parte dos protestantes da Europa e a maior parte dos católicos da América Latina são cristãos nominais? Em última análise, a resposta nua e crua é uma só: não poucos cristãos têm o triste hábito de perder Jesus de vista. Este processo desastroso de perder Jesus de vista acompanha a história do cristianismo. Já no tempo de Paulo, os cristãos da Galácia, na atual Turquia, começaram a perder a imagem de Cristo, a ponto de o apóstolo lhes perguntar: “Ó gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Não foi diante de seus olhos que Jesus Cristo foi exposto como crucificado?” (G1 3.1). Tamanha perda levou-os a uma posição de alto risco, como se pode observar no desabafo de Paulo: “Temo que os meus esforços por vocês tenham sido em vão” (Gl 4.11). Situação ainda mais grave vivia a igreja de Laodiceia, também na Turquia, a qual Jesus diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3.20). Essa igreja autossuficiente tinha


Apresentação

Jesus Cristo do lado de fora e é exortada a começar tudo de novo. Tais acontecimentos ajudam a explicar o declínio total do cristianismo na antiga Ásia Menor. Perder Jesus de vista não significa olvidar o seu nome ou a sua presença na história. Perder Jesus de vista é não acreditar no Jesus das Escrituras Sagradas, em sua divindade, em seu nascimento virginal, em sua morte vicária, em sua ressurreição e em sua ascensão. Não existe cristianismo sem Cristo e sem o Cristo certo. No outono de 1994, os teólogos liberais norte-americanos que participam de um grupo chamado Seminário de Jesus examinaram a questão do nascimento virginal e 96% deles concordaram que este fato nunca aconteceu.5 Eles também afirmam que Jesus nunca ressuscitou e nunca foi assunto aos céus. Mais grave ainda é o resultado da pesquisa feita pelo sociólogo Jaffrey Hadden com dez mil pastores liberais nos Estados Unidos, publicada em 1982. Sobre se Jesus nasceu de uma virgem, 60% dos metodistas, 49% dos presbiterianos, 44% dos anglicanos e 19% dos luteranos disseram não. Sobre se Jesus é filho de Deus, 89% dos anglicanos, 82% dos metodistas, 81% dos presbiterianos e 57% dos luteranos disseram não. Sobre se Jesus ressuscitou dos mortos, 51% dos metodistas, 35% dos presbiterianos, 33% dos batistas, 30% dos anglicanos e 13% dos luteranos disseram não.6 Ora, isto é perder definitivamente Jesus de vista. Perde-se também Jesus de vista quando o cristão não se nega a si mesmo e vive à sua maneira, segundo as inclinações da carne, segundo o curso deste mundo e segundo o príncipe da potestade do ar (Lc 9.23; Ef 2.1-3). É oportuno lembrar que um dos mais importantes ministérios do Espírito Santo é evitar que se perca Jesus de vista. O papel do Espírito é glorificar o Senhor Jesus (Jo 16.14), fazer

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NÃO PERCA JESUS DE VISTA

lembrar todas as palavras de Jesus (Jo 14.26) e fornecer poder para se dar testemunho de Jesus (At 1.8). Não Perca Jesus de Vista foi escrito para desenferrujar a igreja cristã e trazer de volta o Jesus dos Evangelhos para dentro das comunidades cristãs. Para redesenhar a imagem de Jesus Cristo ante os olhos dos cristãos professos e para lembrar-lhes que o início, o meio e o fim do cristianismo continuam sendo Jesus, sua encarnação, sua morte como oferta pelo pecado e sua ressurreição. Para acabar com o sentimento de inferioridade e a insegurança dos cristãos que perderam a certeza de que Jesus é a pedra angular que sustenta o edifício todo. E para tornar a dar alegria e entusiasmo aos seguidores de Jesus. NOTAS 1. Stephen Neill, Missões Cristãs, p. 46. 2. J. H. Kane, A Concise History of the Christian World Mission, p. 51. 3. Jurgen Marks, na revista alemã Focus (n° 12, fevereiro de 1995). 4. Leighton Ford, Jesus, o Maior Revolucionário, p. 12. 5. Time, 10/04/95, p. 37; Manchete, 15/05/95, p. 60. 6. Citado por Ricardo Gondim, Os Santos em Guerra, p. 88. Na citação dos textos bíblicos, NVI indica a Nova versão Internacional, e BLH indica a Bíblia na Linguagem de Hoje.


E A PEDRA ERA CRISTO

“ESTE JESUS é a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular” (At 4.11, NVI) Antes da metralhadora... Antes da pólvora... Os homens transformavam pedras em armas de guerra. Davi derrubou o gigante filisteu com uma pedra do ribeiro. Antes da cadeira elétrica… Antes da forca... Os homens usavam pedras para aplicar a pena de morte. A mulher apanhada em flagrante adultério seria apedrejada… Se Jesus não tivesse desmoralizado os seus algozes, Se Jesus não tivesse preferido outra solução. Antes da dobradiça... Antes da argamassa... Os homens fechavam com pedras cisternas e túmulos. Jacó iniciou o romance com Raquel removendo a pedra do poço e Jesus mandou tirar a pedra do túmulo de Lázaro, para que o morto saísse. Antes da Torre Eiffel e do Corcovado... Antes do ferro e do concreto armado... Os homens construíam seus monumentos colocando pedra sobre pedra. A passagem a seco pelo rio Jordão foi perpetuada por meio de uma coluna construída com doze pedras.


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NÃO PERCA JESUS DE VISTA

Antes das sondagens do subsolo... Antes do tijolo... Os homens já usavam pedras nas construções. Salomão tinha oitenta mil homens talhando pedra nas montanhas para o templo de Jerusalém. Chama-se de pedra fundamental a primeira pedra... A pedra que sustenta o peso de outras pedras. A base de tudo. Chama-se de pedra angular Ou pedra superior Ou pedra de cobertura A pedra cuidadosamente escolhida e ajustada que completava o edifício, que segurava duas paredes pela juntura do alto, que amarrava definitivamente o prédio, que desempenhava o papel da cinta de concreto de hoje. Antes de Neil Armstrong e Edwin Aldrin... Antes das primeiras pedras trazidas da superfície lunar para a Terra pela Apolo-11 Os homens já possuíam uma pedra vinda do Exterior, Uma pedra que se fez carne e tabernaculou conosco. E a pedra era Cristo: tanto pedra fundamental como pedra angular, a base e o cabeça da Igreja, o fundador e o chefe da Igreja, o alfa e o ômega. Este Jesus é pedra rejeitada por construtores... Repetidas vezes, no passado e no presente, lamentavelmente, desgraçadamente. Este Jesus é a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa. Ninguém pode lançar outro fundamento além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.


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AQUELE QUE HAVERIA DE VIR

“És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” (Lc 7.20, NVI)

JESUS não apareceu no cenário do Novo Testamento por acaso. Ele era aguardado por muitos que estavam por dentro das Escrituras e tinham profunda comunhão com Deus. O velho Simeão, por exemplo, esperava a consolação de Israel (Lc 2.25). Além dele, havia outras pessoas em Jerusalém que nutriam a mesma esperança (Lc 2.38). Até a mulher samaritana sabia que o Messias, chamado Cristo, havia de vir (Jo 4.25). A pergunta que João Batista mandou fazer a Jesus reforça esta tese: “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” (Lc 7.19). Na mesma hora Jesus deu uma resposta precisa e espetacular, que cortou qualquer dúvida sobre o assunto. Também José de Arimateia, membro do Sinédrio, esperava o reino de Deus (Lc 23.51). A mais longínqua referência a Jesus foi feita logo após a desobediência de Adão e Eva: “Porei inimizade entre ti (a serpente)


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e a mulher, entre a tua descendência (as forças do mal) e o seu descendente (Cristo). Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). É o primeiro vislumbre de salvação, o chamado Protoevangelho. A promessa feita no deserto por boca de Moisés da vinda de um grande profeta (Dt 18.15-19) é uma referência a Jesus, como Pedro e Estêvão registram (At 3.22-23; 7.37). É possível colher nos Salmos inúmeras referências a Jesus e aos acontecimentos que o envolveram. O Salmo 22 descreve o sofrimento do Messias e menciona a zombaria (“Todos os que me veem zombam de mim”), a companhia dos dois ladrões (“Uma súcia de malfeitores me rodeia”), a crucificação (“Traspassaram-me as mãos e os pés”), a distribuição de suas roupas entre os soldados (“Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes”) e uma de suas sete palavras na cruz (“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”), entre outros detalhes. Davi chega a citar o teor da zombaria proferida contra Cristo quase literalmente: “Confiou no Senhor! Livre-o ele, salve-o, pois nele tem prazer” (Sl 22.8; Mt 27.39-40). Está embutida aí aquela palavra que Deus disse a respeito de Jesus por ocasião do batismo e da transfiguração: “Este é o meu Filho amado em quem me agrado” (Mt 3.17; 17.5). Há muitas outras passagens que se aplicam a Jesus no livro dos Salmos: a menção de que nem um só osso seria quebrado (34.20); a menção de sua disponibilidade para fazer a vontade de Deus, já que sacrifícios e ofertas não resolviam o problema do pecado (40.6-8); a menção de que Jesus subiu às alturas e levou cativo o cativeiro (68.18); a menção da purificação do templo (69.9); a menção da traição de Judas (41.9), de sua morte (69.25) e sua substituição no colégio apostólico (109.8); a menção de que Jesus ensinaria o povo por meio de parábolas (Sl 78.2; Mt 13.34-35), a menção de que Jesus se assentaria à direita


Aquele que haveria de vir

de Deus e poria seus inimigos debaixo de seus pés (Sl 110.1-7; 1Co 15.25) e a menção de que a pedra que os construtores rejeitaram veio a ser a principal pedra (Sl 118.22; Mt 21.42). No livro do profeta Isaías há inúmeras referências à vinda e ao sacrifício de Jesus. Está escrito que a virgem conceberia e daria à luz um filho, cujo nome seria Emanuel (Is 7.14); que a terra não continuaria na obscuridade, mas o povo que andava em trevas veria grande luz, “porque um menino nos nasceu”, a ele caberia o domínio de tudo e o seu nome seria um aglomerado de títulos: Conselheiro-maravilhoso, Deus-forte, Pai-eterno e Príncipe-da-paz (Is 9.1-7); que do tronco de Jessé sairia um rebento e de suas raízes um renovo, sobre o qual repousaria o Espírito do Senhor (Is 11.1-5); que o servo sofredor tomaria sobre si a iniquidade de nós todos, seria traspassado, moído, oprimido, humilhado, ferido e cortado da terra dos viventes, mas não abriria a sua boca (Is 52.13–53.12). Jeremias descreve uma choradeira enorme e irreversível em Ramá, que se aplica ao massacre dos inocentes ordenado por Herodes: “Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos, e inconsolável por causa deles, porque já não existem” (Jr 31.15; Mt 2.16-18). Miqueias anuncia que da pequena e desconhecida cidade de Belém sairia aquele que haveria de reinar em Israel (Mq 5.2) e Zacarias registra a entrada gloriosa deste rei em Jerusalém, montado num jumentinho, cria de jumento (Zc 9.9), o que de fato aconteceu com Jesus (Mt 21.1-11). As profecias messiânicas foram escritas com uma antecedência muito grande: Moisés viveu mais de 1450 anos antes de Cristo, Davi mais de 1050, Isaías e Miqueias mais de 700, Jeremias mais de 600 e Zacarias mais de 500. Na literatura secular há também uma profecia que se refere ao nascimento de uma criança miraculosa, que iniciaria uma

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nova era. Tanto Constantino como alguns escritores cristãos do quarto século interpretavam-na como uma referência a Cristo. Este registro foi escrito entre 42 e 37 antes de Cristo e se encontra na quarta Écloga de Virgílio, o maior poeta do Império Romano e um dos maiores do mundo, que nasceu no ano 70 e morreu 51 anos depois, 15 anos antes do nascimento da tal criança!


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O FILHO DE MARIA

“Estando Maria desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mt 1.18)

O NASCIMENTO de Jesus em Belém da Judeia na época do imperador romano César Augusto, há quase dois mil anos, foi absolutamente natural. Ele nasceu como nasce qualquer criança. Maria teve dores de parto e expeliu tanto o menino quanto a placenta, que, através do cordão umbilical, estabelecia a comunicação biológica entre a mãe e o filho. A primeira providência de Maria foi enrolar o recém-nascido em cueiros e deitá-lo num tabuleiro onde se põe comida para os animais nas estrebarias. Jesus acabou nascendo num estábulo porque não havia lugar na hospedaria para uma mulher grávida de nove meses (Lc 2.1-7). Mas a concepção de Jesus foi absolutamente sobrenatural. Maria não teve relação com homem algum para ficar grávida de Jesus. Depois de instruída pelo anjo Gabriel (Lc 1.26-38), Maria achou-se grávida pelo Espírito Santo (Mt 1.18). Era


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uma mulher virgem antes e durante a gravidez de seu filho primogênito (Mt 1.25). Além de ser um fato histórico que não deixa a menor dúvida, a concepção sobrenatural de Jesus é um dos alicerces do cristianismo. Na genealogia de Jesus apresentada por Mateus, o verbo gerar aparece 39 vezes (Mt 1.1-17). De Abraão até o pai de José, todos geraram a pessoa seguinte, exceto José. O fraseado muda bruscamente. Em vez de se dizer “José gerou a Jesus”, explica-se: “Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo”. José também foi instruído por Deus a respeito do nascimento virginal de Jesus, não, porém, com a mesma antecedência dispensada a Maria. Ele ficou sabendo da estranha gravidez da mulher com a qual estava comprometido e com a qual pretendia se casar, perturbou-se e resolveu anular o casamento, sem expor Maria às formalidades processuais da lei, que incluía o apedrejamento (Dt 22.20-21). José acreditou na inocência de Maria e assumiu de bom grado tudo o que estava acontecendo. Também se absteve de ter relações com a esposa até o nascimento de Jesus (Mt 1.24). Mateus relaciona este acontecimento inédito com uma profecia de setecentos anos que ele encontra em Isaías (7.14) e transcreve para o Evangelho: “A virgem engravidará e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel, que significa Deus conosco” (Mt 1.22, NVI). Ao contrário de Mateus e Lucas, o Evangelho de João não narra o nascimento de Jesus. O apóstolo resume tudo magistralmente ao registrar que Jesus é o Verbo ou a Palavra que “se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). A Bíblia na Linguagem de Hoje usa a seguinte tradução:


O filho de Maria

“A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós”. O texto de João assume uma força imensa quando lemos outras informações sobre esta Palavra ou este Verbo: 1) “No princípio era o Verbo”; 2) “O Verbo estava com Deus”; 3) “O Verbo era Deus”; 4) “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (1.1-3). Se Jesus fosse filho de José e Maria ou de outro homem e Maria, ele jamais poderia afirmar: “Antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8.58). Ele seria 2.200 anos posterior a Abraão e estaria fazendo uma declaração sem o menor cabimento e próprio de alguém que perdeu o juízo. Por achar que Jesus era filho do carpinteiro e de sua mulher, os judeus não podiam concordar com certos pronunciamentos do Senhor, tais como: “Eu sou o pão que desceu do céu” (Jo 6.51) e “Eu vim do Pai e entrei no mundo” (Jo 16.28). Na verdade, Jesus não começou a existir no inverno dos anos 5 e 4 antes da era cristã, quando nasceu em Belém, nem nove meses antes, quando desceu sobre Maria o Espírito Santo e o poder do Altíssimo a envolveu com a sua sombra. “Ele é antes de todas as coisas” (Cl 1.17) e o mais importante dos 54 milhões de habitantes do Império Romano, de acordo com o primeiro recenseamento levado a efeito por decreto de César Augusto.

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DEUS CONOSCO

“Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com você durante tanto tempo? Quem me vê, vê ao Pai” (Jo 14.9, NVI)

O ANTROPÓLOGO Carlos Rodrigues Brandão registra em seu Diário de Campo a queixa de um índio guarani de que “Deus é quem não chega nunca e a terra-sem-males é a que existe sempre além”. O pessimismo do índio, e de todos quantos estão sentindo falta de uma revelação extraordinária de Deus não tem razão de ser. É falta de conhecimento ou de atenção, porque até o calendário universalmente adotado aponta para o maior evento de todos os tempos – a encarnação do Verbo –, que dividiu a história em duas épocas, a era anterior a Cristo e a era posterior a Cristo. Jesus é Emanuel, que quer dizer Deus conosco. Por esta razão, o Mestre fica surpreso com o pedido de Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”. A resposta de Jesus deixa Filipe envergonhado: “Você não me conhece, Filipe, mesmo



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