CARLOS "CATITO" GRZYBOWSKI
macho & femea os criou ♦
celebrando a sexualidade
macho e fêmea os criou – celebrando a sexualidade Categoria: Casamento e família / Liderança / Vida cristã
Copyright © 1998, Carlos “Catito” Grzybowski Segunda edição: Junho de 2013 Coordenação editorial: Bernadete Ribeiro Revisão: Antônio Carlos W. C. Azeredo Délnia M. C. Bastos Diagramação: Bruno Menezes Capa: Ana Cláudia Nunes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Grzybowski, Carlos Macho e fêmea os criou : celebrando a sexualidade / Carlos “Catito” Grzybowski. — 2. ed. — Viçosa, MG : Editora Ultimato, 2013. ISBN 978-85-7779-097-5 Bibliografia 1. Casamento - Aspectos religiosos - Cristianismo 2. Família - Aspectos religiosos Cristianismo 3. Homem-mulher - Relacionamento 4. Vida cristã I. Título. CDD-248.8
13-06221 Índices para catálogo sistemático: 1. Homens e mulheres : Vida cristã
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Publicado no Brasil com autorização e com todos os direitos reservados Editora Ultimato Ltda Caixa Postal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 Fax: 31 3891-1557 www.ultimato.com.br
A marca FSC é a garantia de que a madeira utilizada na fabricação do papel deste livro provém de florestas que foram gerenciadas de maneira ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, além de outras fontes de origem controlada.
´ Sumario ♦
Prefácio à primeira edição
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Prefácio à segunda edição
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Apresentação
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1 . Onde ele aprendeu isso? 2 . Está escrito na Bíblia? 3 . Deus fez tudo formoso 4 . O que fazemos agora? 5 . A gente nasce gay? 6 . E os hormônios entram em funcionamento! 7 . Deus é a favor das prostitutas! 8 . A propaganda é a arma do negócio 9 . A influência do neoliberalismo na sexualidade 10 . Espelho, espelho meu... Bibliografia
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Agradecimentos ♦
e´ ilusorio pensar que se escreve um livro com inspiração ´ individual. São os somatórios das nossas vivências ao longo do existir que nos vão municiando o conhecimento que vai sintetizado nas páginas a seguir. São muitas as pessoas que contribuíram para este municiamento, e nomeá-las todas provavelmente ocuparia uma quantidade significativa de páginas. Todavia, eu não poderia deixar de citar aqueles nomes que tiveram marcas inegáveis na construção deste livro. O primeiro e mais significativo de todos os agradecimentos é a meu querido pastor Angus Leroy Plummer, que graciosamente abriu as portas de seu coração, sua casa e seu ministério entre
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mães solteiras e mulheres marginalizadas – o Recanto da Paz – para que ali eu desenvolvesse um trabalho de aconselhamento ao longo de 10 anos. A meu querido pastor Angus, verdadeiro mestre, minha eterna gratidão por ensinar-me a ver a vida, a sexualidade e a espiritualidade com outra perspectiva – a da graça de Deus! Outra pessoa que eu não poderia deixar de citar é meu grande amigo e “irmão mais velho”, que, com sua genialidade e espírito de luta pela justiça em todos os seus aspectos, sempre me serviu de inspiração. Trata-se do querido doutor Ageu Heringer Lisboa, a quem me considero eterno devedor. Primeiro, por ter acreditado em mim quando eu ainda era um inexperiente estudante de psicologia. Segundo, por seu pioneirismo e ousadia em tratar de delicados temas pertinentes à sexualidade em épocas nas quais só o pensar sobre o assunto era considerado pecaminoso, procurando sempre integrar os conceitos científicos aos princípios bíblicos, acreditando sempre na Igreja como comunidade terapêutica. A vocês minha sincera gratidão e meu eterno carinho. Curitiba, setembro de 1998. Carlos “Catito” Grzybowski
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Certo dia fui a uma papelaria comprar um cartão de aniversário
para minha filha. Fiquei admirado com a imaginação das pessoas que criam esses cartões. Estava entretido procurando algo adequado, quando meus olhos se depararam com um cartão escrito “SEXO” em letras vermelhas garrafais. Minha curiosidade, então, levou-me a abri-lo para ver o que estava escrito na parte de dentro. Era o seguinte: “Agora, que captei sua atenção, quero desejar-lhe um feliz aniversário!” Sexo realmente chama nossa atenção. Por quê? A resposta é simples: somos seres sexuais. Não há outra forma de vivermos nesse mundo a não ser como homens ou mulheres, machos ou fêmeas. Nossa sexualidade afeta a própria forma como enxergamos
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a nós mesmos, como interagimos com as outras pessoas e até em como nos relacionamos com Deus. Nossas emoções, pensamentos, sensações físicas, afeições, anseios por determinados relacionamentos e até nossa forma de tratar os que nos rodeiam são diferenciados pelo fato de sermos homens ou mulheres. Por que Deus nos fez desse jeito?
Além da óbvia função de procriação, a sexualidade é a chave para a natureza de Deus e para sabermos como deseja que nos relacionemos com Ele e com os outros. Sexualidade implica mais relacionamento do que sexo. A humanidade é um coletivo porque, de certa forma, o Deus trino também deve ser entendido como coletivo. Fomos criados à sua imagem, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Sexualidade, então, é um assunto de grande importância, não somente por vivermos em uma sociedade explicitamente saturada por ela, mas, principalmente, por ser o elemento fundamental da razão de termos sido as primeiras criaturas criadas por Deus. Hoje, porém, a voz do nosso Criador tem sido muitas vezes distorcida. As vozes da nossa cultura, das nossas experiências e do nosso próprio quebrantamento decodificaram-na em mensagens confusas e distorcidas, de forma que frequentemente não sabemos o que acreditar sobre nós mesmos. O autor, no primeiro capítulo do livro, aborda muito bem as origens dessas mensagens. Qualquer lugar que olhemos, nossa cultura nos passará mensagens e imagens que manipularão nossos desejos naturais. O sexo vende, estimula e desvia nossa atenção. As vozes de nossa sociedade chegam até nós de forma alta e clara. O que elas dizem? A voz mais alta diz que a realização sexual é a chave para a felicidade. Rapazes e moças que, ao terminarem a faculdade,
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ainda estiverem virgens são considerados “ET’s”. A mensagem é: “Você não pode se considerar uma pessoa realizada se não tiver uma vida sexual excitante”. Outra mensagem diz que o sexo é puramente recreativo, visando somente o prazer, não devendo ser levado a sério. É uma função normal, biológica, que deve ser suprida como as necessidades de comer e beber. Essa mensagem diz também que não importa quando, com quem e de que forma o sexo é realizado, desde que seja prazeroso. As vozes da cultura dizem que não há uma ligação real do sexo com o compromisso do casamento. No sexo recreativo os parceiros tornam-se bonecos para brincar. Esse conceito é aplicado diariamente nas escolas brasileiras por meio do “ficar”. As práticas sexuais não se destinam ao casamento, mas ocorrem com base no que “sentimos” ou naquilo de que “precisamos”. Parte-se do pressuposto de que os casais de namorados dormem juntos antes do casamento e que os solteiros não comprometidos possuem uma vida sexual ativa. As vozes de nosso quebrantamento também nos falam em alto e bom som. Desde a hora de nosso nascimento começamos a receber mensagens distorcidas sobre nossa sexualidade. Muitas vezes elas procedem de nossos próprios pais, que também se sentem desconfortáveis e confusos sobre a própria sexualidade. Muitos de nós, por exemplo, aprendemos desde cedo os nomes corretos das partes de nossos corpos, com exceção dos órgãos sexuais. Isso passa a mensagem que, de alguma forma, essas partes são misteriosas, constrangedoras ou sujas. Na adolescência, uma pergunta é praticamente comum a todos dessa faixa etária: “Será que sou normal?” Durante essa fase os jovenzinhos vão acordando para uma enorme variedade de experiências, que incluem descobertas sexuais, masturbação, sexo pré-nupcial, pornografia etc. Geralmente, certos padrões de comportamento sexual são estabelecidos nesse período e resultam em medos interiores e confusão que perduram por
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toda a vida. Infelizmente, há uma grande porcentagem de crianças e adolescentes que acabam sendo vítimas de abuso sexual. Todos nós vivemos sob a influência dessas vozes – da nossa cultura, das experiências pessoais e do nosso quebrantamento, as quais nos causam impactos negativos. Mesmo em vista de tudo isso, não devemos desanimar. Há também a clara e alta voz do Criador, por meio de sua Palavra (Bíblia). Carlos foi muito feliz em nos dar uma clara exposição bíblica dos princípios e propósitos de Deus para nossa sexualidade e também em apresentar, de forma muito preciosa, o toque restaurador de sua graça, que pode iniciar uma restauração sexual e emocional em nós e em nossos relacionamentos. Por tudo isso, louvo ao Senhor por meu amigo Catito – Carlos Grzybowski, que tem sido usado por Deus para ministrar sua Palavra e graça a centenas de pessoas por meio de palestras, aconselhamentos e literatura. Em Macho e Fêmea os Criou Carlos apresenta uma séria reflexão a respeito dos aspectos da saúde emocional vinculados à sexualidade no contexto da cultura brasileira, oferecendo uma base bíblica clara. Creio que esta obra é uma rica contribuição para uma cura terapêutica dos traumas pessoais do nosso povo. Este livro é certeza de boa leitura. São Paulo, setembro de 1998. Jaime Kemp
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´ Prefacio a´ segunda edicao
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O compositor e cantor baiano Raul Seixas afirmava em
uma de suas músicas que ele preferia ser uma “metamorfose ambulante”. Na verdade o ser humano é realmente um ser em contínua construção. A cada novo dia, a cada nova experiência, a cada novo relacionamento, nós somos transformados. Nossa sexualidade é parte inseparável desta construção. A ideia de uma sexualidade estática e imutável adquirida nos primeiros anos da infância é bastante questionável do ponto de vista das teorias mais atuais no campo da psicologia, como a Teoria Sistêmica. Em outra perspectiva, o reducionismo fisiologicista que observamos hoje em muitos campos das ciências do comportamento e
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especialmente da mídia quer nos levar a pensar que a sexualidade é algo exclusivamente sensorial e orgânico – nada mais equivocado! O principal agente construtor da sexualidade é a mente. É por meio dela que somos capazes de evocar sentimentos de desejo ou repulsa, de excitação ou aversão, de amor ou ódio. Todavia a mente humana é extremamente complexa e construída a partir de influências genéticas, ambientais, familiares, sociais, religiosas, culturais e uma infinidade de outros fatores que vão moldando nossa forma de perceber a realidade. Logo, a sexualidade humana é algo de grande complexidade. Reduzi-la a uma dimensão meramente fisiológica é rebaixar o ser humano de sua condição primordial de homo sapiens sapiens e animalizá-lo. Assim, a sexualidade humana deve ser compreendida dentro desta condição de complexidade intrínseca a ela. Em seu livro O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir afirma categoricamente: “A gente não nasce mulher, torna-se mulher”. Pode-se dizer o mesmo de qualquer outra expressão da sexualidade. Acima de tudo, porém, a sexualidade precisa ser compreendida dentro da dimensão da relacionalidade. Somos seres relacionais e a sexualidade é uma das expressões de nossos relacionamentos. O outro é que me constitui: só me torno marido diante de uma esposa. As mudanças sociais das últimas décadas, com excessiva ênfase no individualismo, transformaram a sexualidade de uma expressão relacional em uma expressão objetal, ou seja, em vez de o outro me constituir, torna-se um objeto para meu uso, na busca de um desfrute sensorial/fisiológico. Essa busca é sempre insaciável e neste viés surgem todas as perversões e a indústria da pornografia. A sexualidade relacional é aquela que, antes da penetração genital, busca a interpenetração de “outros orifícios” relacionais: a interpenetração do olhar, que atravessa o “orifício” da pupila
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e enxerga e deixa enxergar a alma (Mt 6.22); a interpenetração do falar, que atravessa o orifício auditivo e toca o mais profundo do ser (Pv 16.24) – não apenas a pele. Para estas outras interpenetrações são necessários tempo e diálogo fecundo. Não acontecem em um primeiro encontro – nestes encontros rápidos com finalidade sexual, o máximo que se obtém é o orgasmo fisiológico, e a verdadeira celebração da sexualidade é muito superior a isso. Essa nova edição de Macho e Fêmea os Criou pretende trazer uma nova reflexão sobre a sexualidade, fugindo da superficialidade de binarismos tipo homo x hetero, que só causam discussões reativas e pouco produtivas. Pensar na sexualidade como uma construção complexa e permanentemente mutante, cujo elemento motriz é o relacional, é o desafio para o leitor. Curitiba, maio de 2013. Carlos “Catito” Grzybowski
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Apresentacao
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A adolescente de 16 anos vem ao meu consultório.
Rostinho de boneca de porcelana. Líder dos jovens em sua igreja, filha de respeitável profissional e família cristã zelosa, de classe média, com relativa estabilidade financeira. Está com depressão! O que poderia levar uma jovem com uma vida promissora pela frente a entrar num processo de depressão em tão tenra idade? Logo vem a resposta: um aborto! Filha de médico, não desconhecia os métodos contraceptivos. Filha de presbítero, não desconhecia os princípios “contraceptivos” da Palavra de Deus. Agora o sentimento de culpa a acompanha e a joga em depressão.
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Triste realidade com a qual quase diariamente tenho de confrontar-me em meu consultório de psicologia. Jovens, saudáveis, inteligentes, com suas vidas marcadas por investidas inconsequentes em relacionamentos sexuais furtivos. Fruto de propaganda massiva? Dos novos tempos sem tabus? Da revolução sexual do século 20? Das Globonovelas? Da energia instintual canalizada para a satisfação e não mais reprimida? Talvez de todas essas coisas em conjunto e um pouco mais. A verdade é que a liberdade sexual apregoada no início dos anos 60 (sexo livre) tornou-se em libertinagem sexual e invadiu com força os rincões da Igreja cristã. Adolescentes de 14, 15, 16 anos já não se constrangem em apresentar-se como experts em matéria de sexo, gerando até certa competitividade de performance – quer entre rapazes quer entre moças. “Ficar” é a mais nova tradução dessa conduta de transitoriedade, em que o que impera é o prazer dos sentidos. Virgindade é termo da história, para alguns, semelhante a Tiranossauro Rex. Essa nova conduta adotada pelos adolescentes exige de nós, pais e educadores, uma análise séria. Os legalismos funcionais de outras épocas já não têm espaço nas mentes críticas de nossos jovens e ricocheteiam com intensidade contra aqueles que lhos querem impor. Que fatores levam os jovens a tais condutas? Que sequelas tais condutas terão para o futuro? Que papel a Igreja cristã tem nesse processo? São questões para reflexão séria, sobre as quais me proponho a tecer ideias neste livro. Não pretendo nas páginas seguintes fazer uma listagem do que é permitido ou proibido, mesmo porque há uma variedade de interpretações entre aqueles que se denominam cristãos, que seria impossível condensar tal diversidade num pensamento único. Há os que incluem o tipo de vestimenta como elemento da sexualidade, há os que associam certos ambientes naturais (como praia, lagos etc.) com a sexualidade; enfim, a oferta de
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apresentacao ´
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mercado é ampla e irrestrita, e não é meu desejo ser mais um a interpretar textos e delimitar condutas. Outrossim o que proponho é instrumentalizar uma reflexão séria a respeito dos aspectos de saúde emocional vinculados à sexualidade, não absolutizando a interpretação bíblica, mas gerando recursos para que ela seja séria e divinamente iluminada, na perspectiva central da Reforma, em que uma das crenças básicas é de que Deus fala diretamente à suas criaturas, sem a necessidade de sacerdotes intermediários que condicionem toda e qualquer interpretação a seus dogmas, experiências e até traumas pessoais.
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Onde ele aprendeu isso? ♦
Rafael entrou em meu consultório com o rubor estampado
no rosto e o sorriso maroto-encabulado do pré-adolescente que traz na expressão facial toda a vivacidade da perfeição da criatura feita à Imago Dei. A mãe, com os olhos que lhe saltavam pelas órbitas, ao contrário, tinha a expressão transtornada e abatida, como que recém-emergida de uma catástrofe ou como alguém que escapara de um acidente letal por frações de segundo. Logo percebi que havia um jogo não-falado entre mãe e filho. Aguardei uns segundos para que as ansiedades acalmassem e serenamente inquiri o motivo de virem buscar um auxílio psicológico. A mãe desencadeou uma verborreia entrecortada
liberdade sexual – quem diria? – invadiu a Igreja. As relações são descartáveis e motivadas pelo simples desejo de consumir. Os jovens apresentam-se como experts em matéria de sexo e o outro é um objeto para Assim, por que esperar até o casamento? Como o casal pode desenvolver afetividade e experimentar prazer “até que a morte os separe”? Macho e Fêmea os Criou não pretende fazer uma lista do que é permitido ou proibido, mas apresenta a alternativa bíblica para uma sexualidade saudável. Para o autor, a celebração da sexualidade não acontece em um primeiro encontro – em encontros rápidos com Macho e Fêmea os Criou homo versus hetero, e aborda a sexualidade como uma construção mais ampla e complexa, em permanente mudança, cujo elemento essencial é o relacionamento.
ISBN 978-85-7779-097-5