Sangue, Sofrimento e Fé

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Sangue, Sofrimento

& Fe`



ORG.

William D. Taylor Antonia L. van der Meer Reg Reimer

Sangue, Sofrimento A miss達o crist達 em contextos de persegui巽達o

& Fe`

Traduzido por

Daniela Cabral Enedina Sacramento Marta Carriker


SANGUE, SOFRIMENTO E FÉ Categoria: Missões / Igreja / Liderança

Copyright © 2014, World Evangelical Alliance Mission Commission Primeira edição: Outubro de 2014 Coordenação editorial: Antonia Leonora van der Meer Supervisão de produção: Bernadete Ribeiro Tradução: Daniela Cabral Enedina Sacramento Marta Carriker Preparação e revisão: Lícia Rosalee Santana Colaboração: Aline Ponciano Mariana Furst Viza Priscila Slobodticov Diagramação: Bruno Menezes Capa: Ana Cláudia Nunes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Sangue, sofrimento e fé : a missão cristã em contextos de perseguição / William D. Taylor, Antonia Leonora van der Meer, Reg Reimer, (organizadores) ; traduzido por Daniela Cabral, Enedina Sacramento, Marta Carriker. — Viçosa, MG : Ultimato, 2014. Vários autores. ISBN 978-85-7779-112-5 1. Martírio – Cristianismo 2. Missões 3. Perseguição 4. Sofrimento – Aspectos religiosos – Cristianismo 5. Violência – Aspectos religiosos – Cristianismo I. Taylor, William D.. II. Meer, Antonia Leonora van der. III. Reimer, Reg. 14-08603

CDD-266

Índices para catálogo sistemático: 1. Missão cristã : Cristianismo

266

Publicado no Brasil com autorização e com todos os direitos reservados Editora Ultimato Ltda Caixa Postal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 Fax: 31 3891-1557 www.ultimato.com.br

A marca FSC é a garantia de que a madeira utilizada na fabricação do papel deste livro provém de florestas que foram gerenciadas de maneira ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, além de outras fontes de origem controlada.


Aos “desconhecidos” que, por causa de seu testemunho de Cristo, sofreram, foram perseguidos e até martirizados. Desconhecidos para o mundo, são conhecidos por suas famílias e amigos, e seus nomes estão escritos no Livro da Vida. Eles são plenamente conhecidos e estimados pelo Pai amado, por Jesus, o Servo sofredor, e pelo Espírito Santo, nosso consolador.



Sumário

Apresentação

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William D. Taylor

Prefácio

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Christopher J. H. Wright

Prefácio à edição brasileira

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Valdir Steuernagel

Introdução

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William D. Taylor, Antonia Leonora van der Meer e Reg Reimer

Parte um – Lançando os alicerces

27

1. Um levantamento global

31

Christof Sauer e Thomas Schirrmacher

2. Reflexões sobre missão em contextos de sofrimento

41

Beram Kumar

3. Respostas cristãs ao sofrimento, à perseguição e ao martírio

47

Reg Reimer

4. Uma reflexão sobre os números de mártires cristãos

57

Thomas Schirrmacher

5. Redefinindo o que é perseguição Charles L. Tieszen

63


Parte dois – Reflexões bíblico-teológicas

73

6. Livrai-nos do mal

77

Rose Dowsett

7. Uma teologia bíblica de perseguição e discipulado

87

Glenn Penner

8. Jesus, perseguição e martírio no contexto do evangelismo mundial

95

Marvin Newell

9. O ensino de Jesus sobre o sofrimento no contexto missionário

105

Antonia Leonora van der Meer

10. O ensino bíblico sobre sofrimento e perseverança nas cartas de Paulo e Pedro

113

Margaretha Adiwardana

11. Reflexões sobre o evangelho da prosperidade

123

Femi B. Adeleye

Parte três – Reflexões da história e estudos de caso

133

12. Da Ásia Menor à Turquia contemporânea

137

Carlos Madrigal

13. Perseguição, martírio e missão: parceiros improváveis?

153

David Tai-Woong Lee

14. Quão santificadas deveriam ser as biografias?

161

Miriam Adeney

15. Sofrimento e perseguição no Oriente Médio

173

Um pastor do Egito

16. Sobrevivendo à Penitenciária de Evin, Teerã

179

Maryam Rostampour e Marzieh Amirizadeh, em entrevista a Sam Yeghnazar

17. Angola Antonia Leonora van der Meer

183


18. Preparando nossos missionários para a morte

187

Reuben Ezemadu

19. Os mártires da ideologia étnica em Ruanda

195

Antoine Rutayisire

20. A Rússia da perestroika pós-comunista

203

Eugene Bakhmutsky, em entrevista a William D. Taylor

21. Os primeiros mártires cristãos no Japão

213

How Chuang Chua

22. Deus e o César Vermelho

223

Xiqiu “Bob” Fu

23. Sri Lanka

231

Godfrey Yogarajah e Roshini Wickremesinhe

24. Vietnã

239

Reg Reimer

25. Graham Staines (1941–1999)

249

Abhijit Nayak

26. O sofrimento na missão entre os pobres da Índia

255

Iris Paul

27. Visão latino-americana do sofrimento e suas implicações para a missão

261

Délnia Bastos

28. Missionários brasileiros em contextos de guerra e extrema pobreza

275

Antonia Leonora van der Meer

29. Ajudando a desenterrar crianças indígenas

283

Márcia Suzuki

30. A estrada do refugiado Heidi Schoedel

291


Parte quatro – Preparo, apoio e restauração

295

31. Uma teologia pastoral do sofrimento em missões

297

Antonia Leonora van der Meer

32. O que aprendemos com a igreja perseguida?

307

Ronald R. Boyd-MacMillan

33. Vale a pena sofrer por isso?

319

S. Kent Parks

34. Treinamento missionário

327

Rob Brynjolfson

35. Preparando a igreja e nossos missionários no Sul Global

343

Paulo Moreira Filho e Marcos Amado

36. Os Direitos Humanos e a perseguição

351

Thomas Schirrmacher e Thomas K. Johnson

37. Defendendo os perseguidos

361

Reg Reimer

38. Diretrizes para a gestão e prevenção de crises

371

Global Connections e Global Mission Network

39. Recomendações para políticas de gestão de crise

383

Crisis Consulting International

40. Aconselhando vítimas de trauma

395

Patricia Miersma

41. Recursos de cuidado integral do missionário

405

Harry Hoffmann e Pramila Rajendran, com adaptação de Antonia Leonora van der Meer

42. Famílias missionárias

411

Laura Mae Gardner

43. Uma história de filhos de missionários mártires David Thompson

417


Parte cinco – Temas finais

423

44. Oração incessante

425

Mindy Belz

45. Uma convocação

431

Faith J. H. McDonnell

46. Chegando à reta final de nossa viagem

437

William D. Taylor, Antonia Leonora van der Meer, Reg Reimer

Parte seis – Recursos disponíveis Apêndice A

445 447

Bibliografia anotada sobre perseguição, sofrimento e martírio Organizada por Antonia Leonora van der Meer

Apêndice B

451

Informação sobre perseguição disponível na internet A. Scott Moreau, Mike O’Rear e Antonia Leonora van der Meer

Apêndice C

457

Notas

459

Endosso a Sangue, Sofrimento e Fé

477

Série Globalização de Missões

As citações bíblicas, salvo outra indicação específica, estão na versão Almeida Revista e Atualizada.



ApresentaÇão

É importante ler

Este é mais um volume de uma série de títulos relacionados a missões.

Somos gratos à Comissão Teológica e à Comissão para a Liberdade Religiosa da Aliança Evangélica Mundial (AEM) por sua parceria estratégica conosco neste livro seminal. Com o término deste longo projeto, queremos ter o cuidado de reconhecer nossa dívida; em primeiro lugar para com o Deus vivo e triúno que nos chamou e capacitou para sua missão. A Comunidade eterna conhecia o custo a ser pago pelo povo sofredor de Deus desde os dias da narrativa bíblica, durante toda a história da humanidade, nos dias de hoje e até aquele dia final. Temos um débito impossível de pagar para com nossas irmãs e irmãos que, como povo de Deus em missão ao longo dos milênios, sofreram, foram perseguidos e talvez tenham sido martirizados. Esse tesouro parece sem fim e assustador. Quanto mais estudávamos os


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temas deste livro, mais percebíamos quão vasto, profundo e relevante eles são para nossos dias. Somos gratos aos participantes da Consulta Missiológica de Foz de Iguaçu (1999), convocada pela Comissão de Missões da AEM para tratar de questões cruciais na virada do século e do milênio. Os participantes daquela Consulta desafiaram a liderança da Comissão de Missões a considerar uma série diversificada de temas, dos quais emergiram muitas publicações. Pessoalmente, sou grato aos meus coeditores, ambos autores experientes. Antonia Leonora van der Meer – Tonica –, é uma brasileira descendente de holandeses, serva do Deus vivo com uma experiência vasta de ministério no Brasil e em Angola. Ela serviu por 18 anos como deã, professora e mentora no Centro Evangélico de Missões, no Brasil. Reg Reimer é um líder canadense, veterano em missões, que começou sua carreira no tempo da Guerra no Vietnã. Ele manteve contato com igrejas vietnamitas depois da tomada de poder pelos comunistas e é reconhecido como a maior autoridade sobre o protestantismo vietnamita e sobre liberdade religiosa. Liderou por uma década o World Relief Canada e em tempos mais recentes promoveu incansavelmente parcerias em missão cristã no sudoeste da Ásia continental. Tonica e Reg foram convidados para participarem da equipe editorial porque percebi neles uma paixão pelos temas abordados neste livro. Mas eles também passaram pessoalmente por experiências de sofrimento e perseguição e conhecem pessoalmente mártires de nossa fé. Somos profundamente gratos a muitos escritores, mais de sessenta, de vinte e duas nações (da versão original em inglês). O inglês é a segunda língua para muitos desses autores e somos gratos por sua dedicação ao nosso projeto. Eles escrevem a partir de suas próprias experiências e paixão. São “pensadores praticantes”, ou seja, mulheres e homens que pensam enquanto servem, que fazem perguntas no meio do trabalho ministerial, que servem a partir de pressuposições missiológicas testadas e o fazem com integridade. Sem eles, este livro não existiria.

Desafio ao leitor Nas últimas semanas de coleta e montagem de capítulos do livro, costurando-o e ao mesmo tempo elaborando minhas próprias reflexões, li outro livro muito profundo, Bonhoeffer: Pastor, Mártir, Profeta, Espião, de


Apresentação

Eric Metaxas (publicado no Brasil pela Editora Mundo Cristão, 2011). Seu autor narra maravilhosamente essa história dramática que ocorreu no século 20. Muitos de nós fomos moldados pelos livros de Bonhoeffer sobre o discipulado e comunidade. Essa biografia veio coroar o último trabalho de edição deste livro que você tem em mãos. Eu a recomendo. O apóstolo João, em Apocalipse 6.11, profetizou sobre Bonhoeffer e muitos outros. O número de mártires ainda não está completo. Prepare-se para se emocionar. E agora, bom e amável leitor, peça ao Deus vivo que, pelo poder do Espírito Santo, lhe dê paixão por Cristo à medida que você se envolve com este livro, reflete sobre nossa rica história e considera nossa resposta como testemunhas da verdade hoje. Como ler este livro da melhor forma? Comece dando uma olhada no índice, para entender a estrutura do livro. Depois, pode ler de capa a capa. Ou talvez alguns prefiram alguns artigos baseados em seus próprios interesses. Não deixe de escolher uma dieta balanceada para aproveitar este maravilhoso banquete. Então, enquanto os temas deste livro despertam seu coração, pergunte ao Espírito de Deus qual a melhor forma de orar, de defender e de preparar a igreja de Cristo para o seu futuro. Lembre-se das palavras proféticas de Jesus, cheias de significado: Bem-aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. (Mt. 5-9-12) Willliam D. Taylor

Uma palavra sobre a edição brasileira Participei da produção do livro original em inglês, uma tarefa que exigia muita dedicação, descobrir os escritores em várias regiões do mundo, selecionar os artigos mais importantes, ler e avaliar, um processo lento e ao mesmo tempo precioso. Desde o começo fiz o propósito de produzir também uma versão brasileira. Como brasileiros somos um povo alegre, que gosta de celebrar

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e não pensa demais no custo do testemunho cristão (que nossos pais bem conheceram). Geralmente não pensamos nas pessoas e nos povos que passam por grandes sofrimentos e perseguição, nos refugiados, nas vítimas de guerras... Precisamos estar ao lado destes, pelo menos ouvindo o seu clamor e orando por eles. E saber que o sofrimento também pode chegar até nós, de várias maneiras. Para produzir a versão brasileira tivemos outra tarefa bastante dolorosa: cortar muitos textos bons! Por quê? Porque havia muitos artigos, o que tornaria o livro grande, pesado e caro. Ainda está grande? Sim, mas de uma grandeza mais moderada. E os capítulos não incluídos serão disponibilizados pela internet para os interessados. Quisemos também incluir mais uns artigos escritos por autores brasileiros, que mostram aspectos importantes do sofrimento na tarefa missionária do nosso povo, hoje. Não foi fácil organizar a publicação do livro em português por causa da falta de recursos e para evitar que se tornasse caro demais. Assim o Senhor nos abençoou com uma equipe de voluntários que dedicaram tempo e talento para ajudar na grande tarefa de seleção, tradução e revisão do Sangue, Sofrimento e Fé. Graças a Deus também a Comissão de Missões da Aliança Evangélica Mundial ajudou financeiramente, embora não tivesse grandes recursos. Que o Senhor Deus recompense a todos por sua dedicação. Antonia Leonora van der Meer


PreFÁcio

Minha mãe não gostou muito da ideia, embora não a pudesse contrariar. Eu estava entrando na adolescência quando o renomado pastor romeno que tinha vivido em uma solitária na prisão e sido torturado pelos comunistas, Richard Wurmbrand, passou alguns dias em nossa casa em Belfast, durante uma visita à Irlanda do Norte. O pastor Wurmbrand estava insistindo que eu fosse servir a Deus em lugares perigosos do mundo, onde eu talvez tivesse que dar minha vida por Cristo. “Afinal”, ele disse, “você tem sangue de mártires na sua família”. Ele estava se referindo ao meu falecido tio Fred, que havia seguido seu irmão mais velho em 1935 (meu pai, Joe Wright) até o Brasil, para alcançar tribos indígenas na Amazônia com o evangelho. Na sua primeira expedição no rio Xingu, junto com outros dois missionários (Fred Roberts e Fred Dawson – o que explica o apelido, “Os três Freds”), eles foram


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todos mortos a pauladas pelos índios Kayapó, ao pé da Cachoeira da Fumaça. Seria difícil alegar que foram mortos por sua fé em Cristo, já que nem tiveram a chance de compartilhá-la. Eram homens brancos, e os únicos homens brancos que esses indígenas conheciam eram os exploradores de borracha, homens violentos que matavam os indígenas assim que os viam. Podemos entender sua reação ao grupo de três pioneiros. Mas é verdade que morreram por causa do seu desejo de compartilhar o evangelho com aqueles que ainda não o haviam ouvido. Mas, pela graça de Deus, os esforços de atingir os Kayapó mais tarde foram bem-sucedidos e meu pai e minha mãe conheceram crentes dessa tribo numa visita em 1965, ocasião em que meu pai pregou usando a Bíblia do tio Fred. Então, creio que, em toda a minha vida, eu sempre estive ciente de que o sofrimento e o martírio fazem parte da história do povo de Deus, desde os tempos bíblicos até hoje, e já encontrei suficientes histórias missionárias parecidas com a do tio Fred para me sentir pessoalmente próximo a pessoas que passaram por elas. Também tivemos a oportunidade de hospedar em nossa casa algumas pessoas que passaram pelos horrores da Rebelião Simba, no Congo, nos anos 60. Nossa família se maravilhava com os testemunhos simples, sem detalhes rebuscados, de famílias comuns e mulheres solteiras frágeis que haviam testemunhado carnificinas horríveis, e que nos disseram que durante todo o tempo haviam sentido uma força e uma paz impossíveis de se explicar, o que as sustentou no meio de tudo aquilo. Mas além disso, tenho que confessar que muitas vezes me sinto uma fraude e um covarde em relação aos assuntos tratados neste livro. O que sei é muito pouco sobre o sofrimento por minha fé em toda minha vida (não segui o conselho de Wurmbrand), e por isso, quem sou eu para falar qualquer coisa? O que posso fazer é me manter informado, alerta e em oração pelo número crescente de irmãos e irmãs em Cristo em todo o mundo, para quem o sofrimento, de uma forma ou de outra, simplesmente é de se esperar e faz parte da vida cristã normal, e também por aqueles cujo sofrimento extremo e morte são o caminho para sua coroa de mártir. E se percebo lágrimas em meu coração pelo povo do Senhor em tais circunstâncias, quantas lágrimas haverá no céu, no coração de Deus? Que este livro enciclopédico impressionante possa estimular lágrimas e orações na medida certa, e quando apropriado, nos desperte à ação. Christopher J. H. Wright


PrefÁcio À ediÇão brasileira

Por esta causa nos g-loriamos em vocês entre as igrejas de Deus pela perseverança e fé demonstrada por vocês em todas as perseguições e tribulações que estão suportando. – 1 Tessalonicenses 1.4

Esta é uma obra extremamente atual e relevante. Tomá-la nas mãos

é deixar-se invadir pelo seu valor inestimável e folhear as suas páginas é ver desfilarem diante dos nossos olhos histórias, testemunhos e dados tocantes, sérios e avassaladores. Significa discernir nomes e rostos de pessoas e grupos humanos que estão vivendo a sua fé em graves situações de risco. O fato é que aumenta cada vez mais o número de lugares do mundo em que a igreja de Jesus Cristo sofre hoje uma perseguição injusta, obscurantista, sistemática e cruel. É verdade que o evangelho sempre alertou para o fato de que os cristãos seriam perseguidos por causa de sua fé, e a história da igreja comprova essa dura realidade. Em nossos dias, no entanto, isso vem assumindo uma dimensão alarmante, tanto pela quantidade de pessoas atingidas como pelo crescente clima de hostilidade em relação aos cristãos em muitos e diferentes lugares.


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Eu convido você, caro leitor, a tomar este livro em suas mãos com temor e reverência, sabendo que nele encontrará homens, mulheres e crianças dos quais o mundo não é digno (Hb 11.38) e que estão regando o solo da nossa história com o seu próprio sangue. Um sangue que aponta para a violação dos direitos humanos e para padrões de cerceamento da liberdade humana, quando pessoas, famílias e agrupamentos humanos são proibidos de fazer a sua opção religiosa com liberdade e respeito. Mais do que isso, porém, é um sangue que aponta para a participação no sofrimento de Cristo (1Pe 4.13) e se caracteriza como expressão de seguimento ao próprio Senhor Jesus (1Pe 2.21). Um sangue que aponta para o amor de Deus expresso no sofrimento do seu Filho. A igreja brasileira precisa muito deste livro. Nós precisamos ser despertados para essa realidade de dificuldade, perseguição e martírio que faz parte do dia a dia de um crescente número de cristãos. Estamos muito encantados com nós mesmos – nosso crescimento, nosso enriquecimento e influência. Nós nos deixamos seduzir pela mentalidade do sucesso que leva a crer que é natural e normal que a igreja cresça, enriqueça e multiplique os seus ministérios. Tudo isso é certamente uma expressão da graça de Deus e nós celebramos este tempo de oportunidade que Ele nos tem dado. Mas precisamos saber que nem sempre foi assim, nem será sempre assim. Precisamos saber que há outros irmãos e irmãs que vivem a sua fé em contexto de muita dor, sofrimento e perseguição. Mais do que saber, porém, precisamos orar e saber acolher a outros que precisam do nosso abraço, recepção e ajuda. Sangue, Sofrimento e Fé quer ser um auxílio para nos colocar nesta trilha participativa da vida da igreja universal. Quer ajudar-nos a abrir os olhos para ver a realidade de homens e mulheres que vivem a sua fé com dor e sofrimento e ainda assim o fazem com convicção, gratidão e esperança. Este livro quer nos ajudar a orar pela igreja global e a colocar diante de Deus aqueles que pagam com sangue o preço da sua fé. Quer levar-nos a sentar aos pés daqueles que estão pagando com a sua própria vida a descoberta de que Deus é amor e salvação. Soli Deo gloria! Valdir Steuernagel


IntroduÇão

Uma introduÇão necessária

— William D. Taylor — Antonia Leonora van der Meer — Reg Reimer

Hoje, 25 de outubro de 2011, quando eu procurei no Google

“perseguição de cristãos”, 8.570.000 resultados foram encontrados em 24 segundos. O que fazer com essa sobrecarga de informação? Queremos mencionar apenas algumas fontes importantes que nos forneceram dados a partir de perspectivas diferentes. A primeira vem do relatório recém-publicado pelo Fórum Pew sobre Religião e Vida Pública “Restrições Crescentes às Religiões”.1 O relatório diz que um terço da população mundial tem enfrentado crescente restrição religiosa, mas o que mais assusta é que 75% da perseguição religiosa é contra cristãos. Uma segunda fonte vem do Instituto Internacional para a Liberdade Religiosa. Recomendamos a declaração resumida, Bad Urach Call, assim como o texto completo da Declaração de Bad Urach, que inclui uma avaliação teológica bem desenvolvida de nossos temas.2


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Uma terceira fonte é a Missão Portas Abertas. Um relatório introduz sua lista de Classificação de Países por Perseguição – onde nações são alistadas de acordo com o nível de opressão. Dos cinquenta países onde há maior perseguição, opressão, limitações severas ou algum tipo de problema, trinta e oito são islâmicos, oito são secularizados ou marxistas, um é hindu (Índia), e um é budista (Sri Lanka).3 A Classificação de Países por Perseguição é compilada a partir de um questionário especialmente desenvolvido com cinquenta perguntas sobre vários aspectos da liberdade religiosa. Um valor em pontos é dado a cada resposta. O total dos pontos por país determina sua posição na lista de países onde a perseguição aos cristãos é pior no mundo. Nossa missão é utilizar esse recurso para espalhar o conhecimento do grau e da severidade da perseguição em todo o mundo. Ainda outro recurso vem da Religious Liberty Partnership [Parceria para a Liberdade Religiosa], uma rede impressionante de colaboração entre algumas das organizações mais importantes que prestam serviço neste campo. A equipe de pesquisa e análise do Comitê de Missões da Aliança Evangélica Mundial faz parte da RLP e periodicamente este grupo envia relatórios de informativos que nos chamam ao entendimento, à oração e à ação.4 Uma publicação excelente que chegou tarde ao nosso processo editorial é The Future of the Global Church: History, Trends and Possibilities [O futuro da igreja global: história, tendências e possibilidades] de Patrick Johnstone.5 Nenhum outro livro apresenta tão bem a “corrente de perseguição” no decorrer de toda a história da igreja, embora tenhamos poucos dados estatísticos até recentemente. Os quadros, diagramas e narrativas de Patrick valem o livro; suas palavras proféticas e prognósticos levarão cristãos em todas as nações à sobriedade. No fim deste livro aparecem dois outros recursos desenvolvidos para maior estudo: a “Bibliografia anotada” e “Informações sobre perseguição na internet”. Juntos, eles o acompanharão em sua jornada em busca de informação, identificação, oração e ação.

Alto risco e releitura da Palavra Sem dúvida, ser cristão hoje, em muitas partes do mundo, é um compromisso de alto risco. Mas, afinal, o que há de novo nisso? A norma histórica é que sempre foi assim. Poucas vezes na história os cristãos


Introdução

tiveram períodos extensos de paz, prosperidade, influência e liberdade para praticar sua fé, podendo se expressar plenamente. Esse tipo de liberdade é uma exceção na história cristã. Estima-se, atualmente, que algo em torno de 200 milhões de seguidores de Cristo vivam em contextos de perseguição que variam do preconceito até a perseguição e até mesmo à possibilidade de morte. Pense na própria Bíblia! De fato, desafiamos nossos leitores a identificar quais dos livros da Palavra não foram escritos numa situação de incerteza, violência, exílio, opressão, fome e exílio. O fato é que sessenta e cinco livros do nosso cânon ou foram escritos nesses contextos ou eram endereçados a eles. A exceção fica possivelmente por conta de Cantares de Salomão. Veja os primeiros livros tanto do Antigo como do Novo Testamento. O Pentateuco foi narrado, elaborado e depois escrito para um povo que tinha acabado de passar por quatrocentos anos de escravidão. Era uma nação emergente que se deslocava pelo deserto, onde Deus estava lhes ensinando a cosmologia verdadeira, valores para a vida, um código civil, qual era sua identidade e como deveriam adorar. Os Evangelhos foram escritos durante o primeiro século da era cristã no contexto brutal da ditadura militar, do culto ao imperador, da impotência, do exílio, da fuga como refugiados, de ondas de perseguição e da Pax Romana. Os Atos dos Apóstolos começam em Jerusalém e terminam em Roma – de uma província rebelde ao coração do domínio imperial de seus dias. Então dê uma olhada no cânon todo e verifique a realidade da época. Não acha que deveríamos considerar as Escrituras em seus contextos originais e depois aplicá-las aos nossos tempos? E mais, quem pode nos ensinar hoje como viver vidas de discipulado transformador se não forem aqueles que viveram ou vivem hoje em situações de agitação, preconceito e perseguição? Tanto o Norte quanto o Sul têm muito a aprender de Deus, de sua Palavra e de seu povo.

Palavras pessoais da equipe editorial Eu, Antonia (Tonica), sinto uma responsabilidade especial em relação a este assunto de sofrimento e perseguição desde que passei dez anos servindo em Angola, durante a guerra e sob um governo marxista. Fui testemunha do sofrimento e da perseguição. Isso me levou a servir com muito cuidado, amor e sabedoria para não causar mais sofrimento aos

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meus irmãos e irmãs angolanos devido a algum comportamento impensado. Eu estava comprometida com o desenvolvimento de um ministério entre estudantes, e isso foi especialmente difícil, pois meus alunos enfrentavam forte oposição por causa de sua fé. Eu também tinha que me preocupar com outros missionários e seu sofrimento por causa do contexto em que serviam, e por causa da falta de preparo apropriado e de cuidado pastoral. Isso me levou a fazer um doutorado sobre o tema “Cuidado ativo de missionários servindo em contextos de sofrimento”. Minha experiência pessoal me tornou mais sensível ao sofrimento alheio e agradeço a Deus pelo privilégio de ser parte da produção deste livro tão importante. Confio que Deus há de ajudar sua Igreja a responder em graça e sabedoria às necessidades reveladas nesta obra. Eu, Reg, considero um alto privilégio contribuir para esta conversa. Talvez não seja por acaso, já que sou filho de pais que tiveram de fugir durante a primeira revolução comunista na Rússia. Fui chamado a servir como missionário no Vietnã, onde enterrei colegas mortos como mártires. Depois que o comunismo tomou conta do Vietnã, fui chamado por líderes da igreja daquela nação para defender a causa dos cristãos perseguidos, além de ministrar a muitos refugiados no exterior. Meu trabalho de defesa dos perseguidos me levou a um estudo profundo sobre o fenômeno de perseguição dos cristãos, especialmente pelo comunismo. Daí, me aprofundei nos estudos bíblicos e históricos sobre o amplo e longo sofrimento dos cristãos. Acredito que nossa extensa pesquisa sobre a igreja em todo o mundo e minha pequena contribuição pessoal serão uma ferramenta oportuna para aqueles que são chamados ao serviço cristão missionário em um planeta cada vez mais perigoso. Faz apenas três anos que eu, Bill, descobri um ancestral muito importante na minha família. Sou descendente direto de Rowland Taylor, reverendo anglicano de uma igreja do interior, nascido em 1510 e morto em 1555. Formado na Universidade de Cambridge, ele foi capelão de Thomas Cranmer. Casou-se com Margaret, sobrinha de William Tyndale (sim, o tradutor da Bíblia). Foi preso várias vezes por sua fé reformada e queimado vivo em Hadleigh, Suffolk, na Inglaterra, graças à rainha Mary, que derramou muito sangue inocente. John Foxe escreveu: “Ele descobriu que as prisões eram um campo fértil para o Evangelho. A rainha Mary mandou tantos cristãos para a prisão que... quase todas as prisões na Inglaterra se transformaram em escolas e igrejas cristãs, as prisões viraram igrejas e as igrejas, covis de ladrões”.6


Introdução

Outros autores deste livro Juntos escrevemos como evangelicais professos, comprometidos com as Escrituras e com o evangelho, com missões e com a justiça, com a proclamação e com a reconciliação, com a criação e com a nova criação. Somos mulheres e homens de uma rica diversidade de antecedentes, culturas, nacionalidades, etnicidades, ministérios, idades e posições de liderança. Escrevemos com paixão para contar histórias verdadeiras. Alguns dos capítulos são narrativas pessoais, outros são estudos de caso baseados na realidade; outros são mais exegéticos ou históricos em sua orientação; alguns são mais acadêmicos e bem documentados. Mas todos demonstram autenticidade. Procuramos apresentar um equilíbrio realista de autores dos hemisférios sul e norte. Nem sempre é fácil, porque no turbilhão da violência e do sofrimento há pouco tempo para se distanciar, refletir e escrever. Os que o fizeram pagaram um alto preço e somos honrados hoje ao ouvirmos suas vozes. Faz bem lembrar que muitos de nossos autores escreveram em suas línguas maternas e depois foram traduzidos para o inglês e agora o português. Embora tenhamos dado orientação acerca da metodologia, os resultados não são uniformes. Nem sempre se encaixam nos padrões ocidentais de academia. Não estamos nos desculpando. Que a autenticidade em vez da forma seja o que convença o leitor.

O título deste livro Nosso título, Sangue, Sofrimento e Fé, fala da tristeza produzida pelo sofrimento e do sangue dos mártires que foi a semente de fé da igreja ao longo de dois milênios. Fala do sangue do nosso Salvador, como aparece em Apocalipse 7.9-17. E vem do grito dos mártires em Apocalipse 6.10: “Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” O subtítulo coloca nossa discussão dentro dos parâmetros da missão cristã nos contextos específicos de perseguição, onde sofrimento, fé e martírio estão entretecidos. Assim chegamos a Sangue, Sofrimento e Fé – a missão cristã em contextos de perseguição. O título e o conteúdo são pesados, densos, sérios, verdadeiros, bíblicos, históricos e muito presentes entre nós nos dias de hoje.

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Sangue, Sofrimento & Fé

Desafio a nossos leitores Amável leitor, prepare-se para ampliar seus horizontes e para chorar. Que seu mundo aumente e que você, a sua família e seu ministério sejam preparados para o futuro que vamos enfrentar, um futuro em que a única certeza é de que Deus existe e está sempre conosco. Bill, Reg e Tonica



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