INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE GRADUAÇÃO EM MODA
RELAÇÃO ENTRE A DEFICIÊNCIA ÓTICA E A REALIDADE ESTÉTICA A Moda Sob outra Perspectiva: Contribuições da Área Para Deficientes Visuais
Belo Horizonte 2016/1
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ADRIANA CRISTINE PROCÓPIO SOARES
RELAÇÃO ENTRE A DEFICIÊNCIA ÓTICA E A REALIDADE ESTÉTICA A Moda Sob outra Perspectiva: Contribuições da Área Para Deficientes Visuais
Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação para obtenção do título de bacharel no curso de Graduação em Moda do Instituto de Comunicação e Artes do Centro Universitário UNA. Orientador (a): Aldo Clécius
BELO HORIZONTE 2016/1
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Dedicado Ă todos aqueles os quais este projeto possa atingir e influenciar positivamente.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus por me dar esta oportunidade em começar um projeto tão especial e, pela aptidão e possibilidade de concluir esta etapa. E com a percepção de que este é só o primeiro passo de uma trajetória. Sou grata também por me dar a determinação e afirmar que desistir jamais é uma opção.
À professora Geanneti Tavares, quem me conduziu enquanto este assunto ainda era apenas ideias, e me deu um direcionamento para colocar em prática ainda em fase de pré-tcc. Sou grata pela paciência, principalmente diante de acontecimentos que não cabem destaque neste momento, mas ela sabe como isso fez diferença.
Ao professor Francisco Pedro, um dos primeiros apoiadores, talvez ele não saiba, mas é um dos meus principais incentivadores...
Este agradecimento se estende também às amigas Larissa Ferreira e Yolanda Mattos, que sonham comigo deste o começo e estão do meu lado no processo de agora transformá-lo em realidade e coloca-lo em prática.
Destaco aqui meu professor e orientador Aldo Clécius, por ser a escolha mais acertada. Agradeço por ter escolhido este projeto e ser a melhor pessoa para me passar as diretrizes até chegar neste resultado, pelo interesse em que saísse um bom resultado, e pelo direcionamento da pesquisa... E por me ensinar que podemos usar do ofício moda para dar sentido e resolução de questões muitas vezes particulares, ao invés de somente buscar ir de encontro à generalização de uma massa.
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Meu muito obrigado às instituições que abriram as portas pra mim – a Associação de Cegos Louis Braille, o Lar das Cegas; e a União Auxiliadora dos Cegos -
e
acreditam nesta iniciativa. Obrigada também a cada um que me emprestou um pouco do seu tempo em responder minhas perguntas, sem vocês este projeto não teria sentido.
À todos aqueles que de alguma forma fizeram parte deste processo e contribuíram para que chegasse nesta fase.
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“Cada pessoa é única em si mesma e pode fazer consigo o melhor que estiver ao seu alcance.”
(Walter Trinca)
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RESUMO
Este estudo busca trazer explanações de como a área da moda pode contribuir à acessibilidade à moda e ao estilo por deficientes visuais, sob o olhar da área de gestão de marcas explora as relações entre moda e cegueira na pretensão de entender como uma pessoa cega percebe a moda; e também conhecer sobre as marcas e projetos direcionados para a moda inclusiva e principalmente aos deficientes
visuais.
Para
elucidação
dos
principais
questionamentos
dos
consumidores finais, optou-se por fazer uma pesquisa qualitativa por conveniência e de caráter exploratório. Com o objetivo de analisar estas questões e fazer um levantamento de dados para apontamentos de contribuições da área.
Palavras-chave: MODA, CEGUEIRA, VESTUÁRIO, PESQUISA, INCLUSÃO.
ABSTRACT
This study seeks to get explanations of how fashion can contribute to accessibility to fashion and style for the visually impaired, under the management of brands explores the relationship between fashion and blindness in claim to understand how a blind person perceives fashion; and also know about brands and projects targeted to the inclusive fashion and mainly to the visually impaired. For elucidation of the main questions of consumers, we decided to make a qualitative research for convenience and exploratory. To analyze these issues and do a survey data to notes from the contributions area.
Key-words: FASHION, BLINDNESS, CLOTHING, SEARCH, INCLUSION.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................9
1. A CEGUEIRA E A MODA....................................................................13 1.1. A CEGUEIRA.............................................................................13 1.2. VESTUÁRIO, MODA E COMUNICAÇÃO..................................14 2. PREOCUPAÇÃO COM ESTE NICHO DE MERCADO: MARCAS COM DIRECIONAMENTO PENSADO EM DEFICIENTES VISUAIS............19 3. A ROUPA E AS NECESSIDADES ESPECIAIS DOS CEGOS: USABILIDADE E FUNÇÃO DO VESTUÁRIO................................................................23
METODOLOGIA..............................................................................................25
4. ENTEVISTA / PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISE DO RESULTADO DA ENTREVISTA CRUZANDO COM A TEORIA DE COMO DEVERIA SER A ROUPA PARA ELES............................................................................27
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................40
APÊNDICES.....................................................................................................44
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1 INTRODUÇÃO
Atualmente são reconhecidas e percebidas cada vez mais as dificuldades encontradas por deficientes visuais quanto à compra de roupas e calçados, escolha das peças adequadas ao seu perfil e estilo, e também em relação à distinção e separação de cores das suas roupas, para melhor combiná-las na hora de se vestir.
Segundo dados apontados pela pesquisa da reportagem sobre moda inclusiva que diz o censo (2010) apontar 23,9% da população que relata ter algum tipo de deficiência. Faz-se necessário um olhar também da área da moda quanto às questões relacionadas ao vestuário de portadores de diversas deficiências.
Sabe-se também do alto custo que uma peça pode levar até chegar ao consumidor final, o que torna praticamente inacessível esse tipo de aquisição pela maioria da população possuidora de alguma deficiência.
É difícil serem classificados como público alvo, relacionados com pessoas de mesmas características, como sexo, idade, renda, cultura e religião, e sim são igualados todos na categoria de cegos.
Dentro do viés da moda pode se perceber diferentes áreas de pesquisa para delimitar um foco de estudo. Neste sentido, escolheu-se a área de consumo para orientar melhor o projeto. Visando o sistema com que se relacionam marcas de moda e a sociedade invisual na apreensão e assimilação de dados da relevância do conteúdo de moda e a forma com que consomem o que entendem como um conceito de moda.
O presente estudo surgiu a partir de uma curiosidade sobre o comportamento das pessoas que não enxergam quanto à própria maneira de se vestir, quanto à percepção que estes cidadãos possuem em relação ao universo de moda. Do interesse de buscar saber como tais indivíduos organizam e se relacionam com o próprio guarda-roupa.
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Esta pesquisa tem como tema perceber como uma pessoa com cegueira lida e se relaciona com um ambiente social em que praticamente tudo é permeado principalmente pela aparência, onde pouco se explora ou é dada atenção diretamente aos outros sentidos. Na área do design também não é diferente. Mas o que se observa em questão é se as pessoas que se adaptam a essa realidade, e também ao que já vem pronto como moda; ou a moda, arte e design em geral que deveriam se adequar as peculiaridades do ser humano e porque não também a sua deficiência?
Para exploração do tema, esta monografia está dividida em quatro capítulos; onde o primeiro traz explicações a respeito do que é a cegueira, suas definições (tópico 1.1). Aborda o conceito histórico-cultural de vestuário, descreve as formulações de ideias acerca da moda, e também, a relação do vestuário e da moda com o estilo de vida e por consequência a relação de ambos com a comunicação pessoal (tópico 1.2). As marcas e estilistas os quais apresentam trabalhos e pesquisas voltadas para o público invisual são destacados no segundo capítulo.
O capítulo 3, faz um apontamento de como deveria ser feita a roupa para se obter uma moda inclusiva para deficientes visuais. Por fim, está o quarto capítulo, o qual apresenta uma pesquisa exploratória, para verificação dos questionamentos quanto ao vestuário, atendimento em lojas em geral, opiniões sobre o universo da moda, sob a perspectiva de pessoas que não enxergam totalmente. Informações alcançadas através de pesquisa qualitativa, tendo em vista fornecer maiores esclarecimentos e substância para discussões futuras. Trata também, da influência do design nas funções do vestuário enquanto influência de qualidade de vida.
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1.2 Problema
Como a área da moda pode contribuir à acessibilidade à moda e ao estilo por deficientes visuais?
1.1.2 Objetivo geral
No âmbito da moda e do vestuário, o presente artigo objetiva explanar a questão de como a área da moda pode contribuir à acessibilidade à moda e ao estilo por deficientes visuais.
1.2.2 Objetivos específicos
Investigar as relações entre cegueira e moda; Mapear marcas, projetos e estilistas que contribuem para moda inclusiva de deficientes visuais; Pesquisar, a partir de entrevistas qualitativas, como a área pode ampliar a acessibilidade dos cegos à moda e ao estilo; Problematizar como a moda pode contribuir para acessibilidade de deficientes visuais.
1.3 Justificativa
É sabido que atualmente ainda há pouco material de pesquisa relacionando os assuntos moda e cegueira. O que se vê e que está tomando cada vez mais força e espaço são os chamados concursos de moda inclusiva, ainda sim pouca coisa tem conexão direta com a deficiência visual.
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Quando se faz uma busca em relação do assunto, dentre os profissionais da moda brasileira, verifica-se como um dos pioneiros e explorador do tema o Doutorando e Mestre em Design pela Universidade Anhembi Morumbi e especialista em Moda e Cultura, pela mesma Instituição, Geraldo Lima. Que em 2002 iniciou um estudo a respeito da relação entre as pessoas com deficiência visual e a moda, que em abril de 2003 resultou no lançamento da coleção ‘Olhar, Olhares’ pela marca Urânio, implantou então, etiquetas em Braille, com indicação de cores nas peças de roupa. Geraldo Lima é atualmente professor dos cursos Design de Moda e Negócios da Moda da Universidade Anhembi Morumbi. (SECRETARIA DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, 2015).
Visando preencher a escassez de referências destinadas a questões relacionadas ao vestuário e aos deficientes visuais, justifica-se por pretender diminuir a lacuna existente pela falta de bibliografia específica esclarecendo sobre o tema. E ainda, por reforçar a possibilidade do direito a um vestuário adequado que atenda às reais necessidades do público invisual. Busca esclarecer, de forma qualitativa, reais questionamentos de pessoas cegas quanto à escolha do vestuário no ato da compra. Segundo Porto (2002, p. 42) “[...] o cego não só tem condições e vontades, como pode admirar e apreciar tudo o que lhe é apresentado”. Para que isso ocorra, verificou-se a necessidade de adequação da linguagem e comunicação do produto de moda destinado às consumidoras com deficiência visual.
É importante para as marcas perceberem um novo nicho de mercado e mudarem seu olhar quanto a este público, perceberem-no como consumidores participantes e atinados ao que se produz. Durante a exploração de dados que se deu em Belo Horizonte, foi possível observar que falta este tipo de iniciativa e projetos com este propósito de difusão da moda inclusiva. Por este motivo também, este projeto é entusiasta pelo surgimento e prática de iniciativas para a inclusão.
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1. A CEGUEIRA E A MODA
1.1. A CEGUEIRA Existem, hoje, no mundo, cerca de 39 milhões de pessoas com cegueira, enquanto, 246 milhões têm perda grave ou regular da visão e 90% desses indivíduos moram em países desenvolvidos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde no site das Organizações Unidas no Brasil (ONU BR, 2013). Segundo censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no Brasil há por volta de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo que 6 milhões possuem baixa visão e, 582 mil são cegas totalmente. As principais doenças que causam a cegueira são (por ordem de incidência): Catarata, Glaucoma, Degeneração Macular, Opacidade de Córnea, Retinopatia Diabética, Cegueira Infantil, Tracoma, Degeneração Macular; E deficiências raras como Retinose Pigmentar, Síndrome de Alstöm e Síndrome de Marfan, entre outras. Segundo o dicionário da língua portuguesa Aurélio (DICIONÁRIO Aurélio
Online,
2015), “cegueira é o estado da pessoa cega”, e, que cego é “o que ou quem está privado do sentido de visão ou tem uma visão muito reduzida”. Já o Ministério da Educação dá a seguinte definição: A cegueira é uma alteração grave ou total de uma ou mais das funções elementares da visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em um campo mais ou menos abrangente. Pode ocorrer desde o nascimento (cegueira congênita), ou posteriormente (cegueira adventícia, usualmente conhecida como adquirida) em decorrência de causas orgânicas ou acidentais. Em alguns casos, a cegueira pode associar-se à perda da audição (surdocegueira) ou a outras deficiências. Muitas vezes, a perda da visão ocasiona a extirpação do globo ocular e a conseqüente necessidade de uso de próteses oculares em um dos olhos ou em ambos. Se a falta da visão afetar apenas um dos olhos (visão monocular), o outro assumirá as funções visuais sem causar transtornos significativos no que diz respeito ao uso satisfatório e eficiente da visão. (MEC, 2007)
Como afirma no site Instituto Benjamim Constant (2005), o Professor Antônio João Menescal Conde diz que, por abranger indivíduos com diferentes graus de visão residual, o termo cegueira não é absoluto, pois significa dano em níveis incapacitantes, do exercício da visão. Coloca que “a cegueira total, ou amaurose, pressupõe completa perda de visão”. E ainda,
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(...) uma pessoa é considerada cega se corresponde a um dos critérios seguintes: a visão corrigida do melhor dos seus olhos é de 20/200 ou menos, isto é, se ela pode ver a 20 pés (6 metros) o que uma pessoa de visão normal pode ver a 200 pés (60 metros), ou se o diâmetro mais largo do seu campo visual subentende um arco não maior de 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse estreito campo possa ser superior a 20/200. Esse campo visual restrito é muitas vezes chamado "visão em túnel" ou "em ponta de alfinete", e a essas definições chamam alguns "cegueira legal" ou "cegueira econômica". (INSTITUTO BENJAMIM COSNTANT, 2005).
Além disso, caracteriza com visão subnormal um sujeito com um campo visual entre 20 e 50º e/ou possuidor de acuidade visual de 6/60 e 18/60 (em escala métrica). Anota-se ainda para fins pedagógicos como cego, aqueles que necessitam de instruções em Braile (INSTITUTO ..., 2005). Este é um sistema de comunicação criado por Jean Louis Braille (1809-1852), na França. Alfabeto este representado por caracteres em alto-relevo, de suma importância para comunicação de não videntes através da escrita, e recebe este nome - Braile - em homenagem ao seu criador. (MEC, 2007) 1.2. VESTUÁRIO, MODA E COMUNICAÇÃO É clara a linearidade temporal na história das indumentárias percebidas através de evidentes mudanças nas estruturas vestimentares ao longo do tempo, como afirma Solange Silva, Os estudos de História da Moda mostram que a linearidade temporal inicia já na Pré-História, com as peles usadas pelo Homem de Neanderthal para proteger-se da glaciação. Passando pelo Egito Antigo e pela Roma Clássica, essa linha do tempo segue do passado em direção ao presente, permitindonos visitar a Idade Média ou o Período Imperial, entre outros, e alcança os nossos dias, já no início do século XXI. (SILVA, 2001, p. 84)
Silva (2001) cita Ashley Montagu (1997) para descrever a representação de vestuário e sua dimensão simbólica presente desde cedo em cada cultura: É um erro supor que as roupas se usam por motivos de proteção. Nas sociedades pré-letradas elas são usadas sobretudo com finalidades decorativas. Nessas sociedades, antes que se fizesse sentir a influência do homem branco, vestido, só se envergavam as roupas que se cuidavam desejáveis, e o que se cuidava desejável variava de uma sociedade para outra. Em algumas, reputava-se impudica a exposição de certas partes do corpo; em outras, a norma era a completa nudez, como entre os aborígenes australianos e muitos povos africanos. (MONTANGU, 1977, p. 158-159 apud SILVA, 2001)
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Segundo Silva (2001), o vestuário pode ser dito também como linguagem e assim, funciona como comunicação por ter a funcionalidade de “cápsulas de informação”. Define este conceito ao mostrar que o vestuário apresenta informações desde aspectos geográficos e antropológicos, históricos e econômicos até os aspectos culturais relativos ao ambiente social em que se vive, passando ainda pelos elementos emocionais, psicológicos e mentais. Informações estas, figuradas através da modelagem, aviamentos, cores, tecidos, entre outros elementos. Através destes elementos o vestuário presentifica, ou seja, torna presente tanto informações sócio-culturais, que caracterizam a coletividade que o produz e utiliza, como informações individuais sobre cada ser único que dele faz uso. (...) o vestuário se faz signo, podendo assim representar aquele período histórico, aquela situação sócio-econômica ou ainda aquele certo estado mental. (SILVA, 2001, p. 82-83)
Dos mais eficazes signos que se tem, vemos o vestuário como um dos mais poderosos, empregado utilmente não somente em comunicação pessoal e significação individual, mas também comunicação social e significação coletiva. Neste presente estudo, usaremos em discussão apenas a definição de vestuário, o qual difere-se de traje e indumentária; de acordo com Pereira (2015), nota-se que relaciona-se aos costumes e usos relacionados ao momento histórico bem como, “caracterizar mudanças históricas, econômicas e sociais”. A indumentária está relacionando o conceito de “mudança entre épocas” e a “história do vestuário”. Enquanto o vestuário tem funções atribuídas “à natureza das civilizações e seu estilo de vida”. A indumentária é definida como a arte e a história do vestuário. Sendo ela determinada pelo uso do vestuário em relação às épocas ou povos, pode igualmente ser definida como traje, indumento e vestuário. Não obstante, o traje, é caracterizado como o vestuário habitual ou próprio de uma profissão, estando relacionado a uma função específica. Enquanto isso, o vestuário é descrito como um conjunto de peças de roupas que vestem um indivíduo. (FERREIRA, 1993, P. 760 apud PEREIRA, 2015)
Com abrangentes significações, vestuário pode ser dito como “conjunto de peças para vestir” (Silva, 2001). Fala-se de peças de roupas, de modo geral feitas de tecidos com o intuito de cobrir o corpo, seja para uso diário ou relacionado às atividades. Silva (2001) afirma que “em nossa sociedade, as roupas são elementos fundamentais”, são importantes no dia-a-dia tanto quanto alimentação, moradia e até mesmo a comunicação. “Sobretudo, as relações sociais demandam grande
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influência no vestuário e nos adornos, seja por questões de gênero, idade ou categorias”. (PEREIRA, 2015, p. 95) Nacif (2007) atribui ao vestuário o juízo de valor simbólico como parte do domínio da cultura material, visto pelo papel exercido nos conjuntos de pessoas de uma mesma esfera, tido até mesmo como “testemunho privilegiado do homem e de sua história”; do mesmo modo exerce “a mediação - técnica e simbólica - entre o homem e o meio”. Sena (2009) cita Umberto Eco (1989), ao definir o vestuário como comunicação, na expressão de características do ser, enquanto texto não verbal, diz sobre gostos, estado de espírito, idade, status, profissão, o que se veste identifica e descreve o sujeito. E serve ainda, como posicionador de ideologias, segundo transmissão de significados. E confirma este conceito quando menciona Alexandra Lage e Suzana Dias (2001), ao dizer que vestuário é um reflexo de ideologias, dinheiro e gostos de seu utilizador. Segundo Tatham e Seaman (2005, apud SENA, 2009) “a moda é, pela sua própria natureza, uma arte em constante mudança.” Um forte influenciador social, principalmente pelos meios de comunicação, está mais presente no cotidiano do ser humano do que se imagina. A moda (do latim, modus), tem sua significação como “modo” ou “maneira”, este sistema de caráter efêmero, “acompanha o vestuário e o tempo, que integra o simples uso das roupas no dia-a-dia a um contexto maior, político, social, sociológico.” (MIRANDA, 2014). A moda está, dinamicamente e de forma coletiva, inserida nas influencias às mudanças de gostos, citando Boucher (1996); Baudot (2002); Laver (1989), Pereira aponta o início dessa dinâmica social durante o Renascimento, ainda que afirmem a moda feminina ter despontado no século XIX. Mas, cita autores como Lipovetsky (2004) os quais evidenciam o surgimento da moda no século XV. Este toma a defesa do surgimento de moda a partir da diferenciação de trajes masculinos e femininos, de modo concomitante ao desenvolvimento dos centros urbanos no final da Idade Média. (PEREIRA, 2015)
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Como afirma Filho; Abdala e Camargo (2014) a moda é um “fenômeno sociocultural multifacetado”; vista também como campo do saber pode ser tida como parâmetro para inserir ou interpretar objetos na vida diária das pessoas. A moda pode, ainda, refletir
comportamentos
em
curso
em
cada
momento,
“um
conjunto
de
comportamentos significativos que exprimem os valores próprios de uma época e tramitam juntamente com essa determinada época”. (apud CASTILHO, 2009, p. 109) Observa-se, em concordância com este pensamento Garcia; Mello; Miranda (2005, p. 2), lendo vários autores, ao afirmarem o conceito de moda como “um dispositivo social”, portanto o comportamento orientado pela moda é fenômeno do comportamento humano generalizado e está presente na sua interação com o mundo. A moda “diz respeito ao estado de espírito, aspirações e costumes de uma população” (JOFFILY, 1991, P. 09 citado por GARCIA et al, 2005). A maneira como escolhem o que vestir pode ser modificada em função de variações da estrutura e do estado geral da sociedade “enquanto símbolo social” (GARCIA; et al, 2005, p. 03). Estes autores citam Joffily (1991) ao dizer a moda como “consequência de questões culturais” influenciadas pela fase temporal, “pensamento vivo da sociedade, por seus mitos e sua produção intelectual”. “O vestuário é sinal distintivo, como prática de um estilo de vida, produto sistemático do habitus”. (BOURDIEU, 1979, p. 162 apud PEREIRA, 2015) “Dessa forma, a maneira de vestir conduz inevitavelmente a um processo de individualização. ” (BURGUELIN, 2000, P. 347 apud PEREIRA, 2015) “Todos nós temos uma auto-imagem, baseada nos valores pessoais e sociais que possuímos. Faz parte da natureza humana, procuramos nos cercar de objetos que reflitam nossa auto-imagem. (...) Eles (os objetos) fazem parte de um mosaico e, juntos constituem a nossa imagem visual que projetamos aos outros. (BAXTER, 1998, p. 190 citado por EMERENCIANO) Entende-se a produção de imagem como singular apoiada em outros estímulos que não sejam o visual, para a pessoa invisual, segundo estudo de Ferreira; Morgado; Morgado; Tavares, ainda sim, afirmam que para cada sujeito a imagem é particular, porque “nunca saberemos o quão fiel é o
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nosso conhecimento em relação à realidade absoluta” (DAMÁSIO, 2001, p. 266 apud FERREIRA et al) A linguagem visual é articulada na esfera através das formas, formas estas estruturadas de acordo com um conteúdo (NACIF, 2007, P. 06), Nacif explica que a linguagem visual é constituída de linha, cor, superfície, volume e luz. Se compõe com a agregação de elementos visuais. (idem) A linguagem visual comunica significados como estilo enquanto simbólico e distintivo de classe e prestígio. (LURIE, 1997 apud GARCIA et al, 2005) Estes três autores defendem, ainda, que mesmo não seguindo moda, as pessoas comunicam algo de si, seja “sinal de idade, ou de possuir
opiniões
e
crenças
envelhecidas
ou
ainda
não
aceitar
padrões
estabelecidos”. (GARCIA et al, 2005) “Comunicamos com o que usamos, deliberadamente ou de forma inconsciente”. (SENA, 2009, p.52). Enquanto comunicação de estado espiritual e/ou código da sociedade, as cores do vestuário são de igual importância entre a pessoa cega de nascença e a pessoa com cegueira adquirida, mesmo que nunca tenha percebido cor; a roupa e adornos com a possibilidade de diferenciação simbólica, possibilitam o enriquecimento dos atrativos físicos, mostra criatividade e individualidade e ainda a conexão com determinada cultura ou grupo. (Sena, 2009, p.52) É pertinente e instigante a frase de Ogtemmêli citada por Nacif (2007): “estar nu … é estar sem palavras. ”; à medida que falamos de comunicação e vestuário. Este mesmo pensamento pode ser percebido na fala de Lurie (1997) citada por Garcia (et al) em seu artigo: Em geral, a idéia de mesmo quando não dizemos nada, nossas roupas estão falando ruidosamente com todos que nos veêm, dizendo quem somos, de onde viemos, o que gostamos de fazer na cama e uma dezena de outras coisas íntimas, talvez seja perturbadora. Usar o que “todo mundo” usa não é uma solução, ainda mais que significa dizer o que todo mundo diz. Todos conhecemos pessoas que tentam fazer isso; porém mesmo se sua imitação de “todo mundo” é bem-sucedida, suas roupas não se calam; antes transmitem sem cessar a informação de que é um homem ou mulher tímida e convencional, possivelmente não confiável. Podemos mentir na linguagem das roupas ou tentar dizer a verdade; porém, a menos que estejamos nus ou sejamos carecas, é impossível ficarmos em silêncio. (LURIE, 1997, p. 274 apud GARCIA et al, 2005)
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2. PREOCUPAÇÃO COM ESTE NICHO DE MERCADO: MARCAS COM DIRECIONAMENTO PENSADO EM DEFICIENTES VISUAIS “Não é certamente a falta de visão que nos afasta ou nos torna menos capazes de conviver e agir com quem vê, será sempre a ignorância, o preconceito, a falsa noção de compaixão.” (SÁ, 2012). Contudo, é perceptível que existem pessoas preocupadas com estas questões sociais, e indo em direção contrária a este cenário rude. Ainda se observa como tímido o aparecimento e divulgação de marcas voltadas para o público com deficiência. No entanto é apreciável o aparecimento e crescimento de marcas objetivando atender cada vez mais a inclusão das pessoas menos percebidas pelo comércio de moda. Mesmo hoje onde se fala tanto em inclusão em diversas áreas, ainda se vê o assunto pouco discutido no universo da moda. Mas, é possível observar que há quem preste atenção ao que diz respeito aos deficientes visuais serem melhores abordados quando o assunto é um vestuário adequado. Marcas e estilistas, principalmente os novos estilistas e criadores vêm com este olhar mais social e buscando atender às necessidades observadas em relação ao modo de se vestir e facilidade de uso de roupas e sapatos. Vemos a marca Divas Criativas, do estado de São Paulo, que farão o lançamento oficial da marca no 7º concurso de Moda Inclusiva. As Alunas Bárbara Barros, Ana Cláudia Domingues, Maria Rita de Paiva Souza e Maria Regina Marques Lopes, que compõem tal grupo tiveram aulas com o professor Geraldo Lima. Este, juntamente com João Tavares, idealizou um bazar na Casa 3 – Espaço de Ideias, onde as meninas expuseram seus trabalhos e aprendizados que tiveram durante o curso com Geraldo Lima. (NÃO TENHO O QUE VESTIR, 2015) A marca Zorbi, tem seu trabalho pensado em proporcionar “uma nova experiência de compra para os deficientes visuais” (blog da marca)1.
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Zorbi. Disponível em: <<http://zorbi.com.br/blog/inclusao-do-deficiente-visual-no-mercado/>> Acesso em: 07 mar. 2016.
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“Os estilistas não costumam tocar em temas que estejam fora do seu meio, mas a inclusão de pessoas com deficiência na moda é algo urgente a ser discutido”, relata André Hildago, empresário e diretor da Casa de Criadores. A edição de número 35 da Casa de Criadores teve uma temática focada nos deficientes visuais também, com o projeto de título “Novos Olhares, e saiu em uma reportagem no jornal Folha de São Paulo abordando as criações feitas em parceria com a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. Um dos estilistas de destaque neste evento foi Igor Dadona, e em sua fala ele diz que "não queria mostrar nada mirabolante, mas sim peças que facilitassem o cotidiano dessas pessoas. Ou seja, algo funcional que não seja careta". E dentro os criadores que apostaram em criações mais conceituais, agradando o guarda-roupas das pessoas mais fashionista, por exemplo, foi o alagoano Lucas Barros. Segundo relato do estilista Arnaldo Ventura “a pedido dos próprios deficientes, as roupas não foram feitas de forma tão diferente das outras”, o evento contou com modelos de visão comprometida e outros totalmente cegos. (site Terra) e (Folha de São Paulo) Das marcas pioneiras neste assunto, temos a marca de roupas masculinas Urânio, de Geraldo Lima em parceria com o empresário João Tavares. A marca deu seu início com o seguinte pensamento “mais importante de todas estas questões era, porém, como comprar uma nova peça de roupa devido à falta de informação a respeito de cada peça exposta na arara com relação à sua cor.” A marca abriu sua loja em 2011, na Galeria Ouro Fino, na Rua Augusta, cidade de São Paulo -SP. (BLOG MAIS MODA)2 A marca de camisas Hey!U, da estilista Cristiane Soares, visa a ‘transformação do cenário da moda brasileira, e cuidado da sustentabilidade social e econômica, além de ambiental’. E posteriormente criou a marca Hey!U teen. A estilista esteve entre os sete finalistas da segunda edição do Projeto Ponto Zero, concurso promovido anualmente pela ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).
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MAIS MODA. Disponível em <<http://www.maismoda.com.br/moda-para-deficientes-visuais/>> Acesso em: mar. 2016.
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Já no Rio de Janeiro, na quadra da escola de samba Mocidade Unida de Jacarepaguá, na Cidade de Deus, o estilista Cristhiano Correiah, organizou com sua equipe e apresentou o projeto “Vestindo Inclusão”, voltado para os deficientes visuais e físicos. E conta também com ‘um casting de aproximadamente 20 modelos portadoras de necessidades especiais para os desfiles inclusivos’. Seu foco é “em propiciar independência às pessoas com deficiência”, e vê com bons olhos o crescimento do mercado de moda inclusiva no Brasil, como expos na reportagem do jornal O Globo. “Acho importante essa moda inclusiva. Além da praticidade das roupas, ela ajuda a romper o estereótipo segundo o qual o deficiente não pode ser belo ou vaidoso, e isso aumenta a autoestima deles”. (Alessandra Mattos, ex-rainha de bateria da Porto da Pedra e da Estácio, é a madrinha do desfile) Segundo STEPHANIE TONDO “o nicho de roupas adaptadas ainda está sendo descoberto no Brasil e, justamente por ser pouco explorado, oferece boas oportunidades de negócio. Além de lucrar, empresários podem melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência, aumentando sua independência e autoestima’, essa afirmação está diretamente ligada ao fato de que cada vez mais a indústria vem percebendo o mercado de moda inclusiva. O SEBRAE/RJ dá orientações e dicas para os empresários que desejam investir neste ramo, e como investirem bem. E prevê um notável crescimento de investimento e procura por roupas feitas para pessoa com deficiências principalmente após as Paraolimpíadas Rio 2016. (Jornal O Dia) “Proposta de roupa e calçado que não sejam apenas funcionais, mas que carreguem consigo conceitos e características que o diferenciam dos demais, dando a tão desejada autonomia aos deficientes visuais” (Adauto Antônio Caramano, Marcos Antonio Bonifácio), esta é a ideia com que iniciam um artigo relacionado ao projeto experimental da dupla, na confecção de um vestido e um par de sapatos femininos, apresentados no 2º Encontro de Moda Inclusiva. Produção esta que visa a ‘exploração tátil’ dos produtos.
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No ramo da maquiagem, o maquiador, Marcos Costa dá cursos de auto maquiagem para mulheres deficientes visuais voluntariamente, com o projeto “Maquiagem Para Todas”. E em Santa Catarina, tem um projeto parecido, da pedagoga Denise Pacheco, que trabalha na Associação Catarinense Para Integração do Cego (Acic). Quanto à educação em moda, vemos o Curso Profissionalizante de Técnico em Produção de Moda, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) de Blumenau, Santa Catarina. Tem a proposta de difundir o conhecimento e práticas da área da moda, aprimorando também as técnicas e aplicando os outros sentidos dos deficientes visuais nas criações dando mais personalidade às peças. Visando intencionalmente a chamada ‘educação inclusiva’. Mas ainda não foram realizados testes ou aulas com pessoas cegas para a constatação da eficácia das aplicações das aulas. (Cristiani Maximiliano, Simone Batista Tomasulo) “A ideia de proporcionar um ensino de moda seguindo um conceito de inclusão social para deficientes visuais, foca numa forma de instruir o educando a fazer uso de suas próprias percepções, sensações e noções durante as aulas”. (Revista e-tech SENAI) “Uma peça de roupa não é somente algo visual, ela pode trazer experiências sensoriais que estimulam outros sentidos, adquiridos por meio do toque que determinados tecidos proporcionam, como também o olfato que vem sendo empregado em diversos produtos e marcas.” (Revista e-tech SENAI)
Em Belo Horizonte, mais especificamente no Centro Universitário UNA, se tem conhecimento da aluna Bárbara Cesário Assunção. Ela é a primeira a fazer um Trabalho de Conclusão de Curso com direcionamento ao sujeito com deficiência visual. Seu trabalho será uma coleção de vestuário com inspiração no artista Monet, que aos poucos teve sua visão comprometida como consequência do uso de tintas à óleo. A notícia mais recente a qual impacta diretamente nos assuntos referentes aos deficientes visuais, principalmente os atletas nadadores, saiu hoje na internet: “Samsung cria touca que vibra para alertar nadadores cegos nos Jogos Paralímpicos” (site B9). A matéria fala sobre o projeto inovador da marca de tecnologias Samsung, uma touca para os atletas paralímpicos da natação, uma touca com o nome de
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‘Blind Cap’ que substitui um bastão usado pelos técnicos para sinalizar aos nadadores, no fim da raia, para fazerem as viradas. Ao invés de precisar do sinal do treinador, os atletas usaram esta touca que vibra acionada por um “smartwatch da Samsung, o Gear S2, ou com um aplicativo instalado em um smartphone”, funciona através de tecnologia bluetooth e sensores. Projeto este idealizado pela agência Cheil, de Madrid, e ainda em fase de testes no Comitê Olímpico Espanhol, segundo a Samsung e, sem confirmação até o momento se poderá entrar em uso nos jogos Paralímpicos Rio 2016. O técnico precisa acionar o alerta em seu dispositivo no momento correto, fazendo a touca vibrar imediatamente para que o atleta realize a virada. (site B9)3
3. A ROUPA E AS NECESSIDADES ESPECIAIS DOS CEGOS: USABILIDADE E FUNÇÃO DO VESTUÁRIO “Quando se projeta um produto de Design, na maior parte das vezes o sentido mais valorizado pelo designer é a visão, pois é aquele que melhor aprecia a estética e harmonia, descorando sentidos como olfato, o tato e até a audição”. (BROEGA; SILVA). Tomando como referência a fala de Lia Krucken (2009), entende-se a possibilidade da contribuição efetiva do design como comunicador de soluções sustentáveis e inovadoras, como influenciador de qualidade no modo de viver (Sena, 2009). Visto que o mais estudado dentre os sentidos sensoriais e também o mais importante, é a visão, e assim quando há a ausência deste sentido, o mais próximo é o tato que se faz um sentido orientador associado aos demais: olfato, paladar e audição. (SENA, 2009). E de acordo com Sérgio Sá (2012), estes demais sentidos deveriam ser mais bem explorados desde a infância, para fazer também com que cada sujeito perceba o
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SITE B9. Samsung cria touca que vibra para alertar nadadores cegos nos Jogos Paralímpicos. Disponível em << http://www.b9.com.br/64981/tech/samsung-cria-touca-que-vibra-para-alertarnadadores-cegos-nos-jogos-paralimpicos/>> Acesso em: 18 mai. 16.
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valor de cada sentido. Ele afirma ainda que “os sons são determinantes para o acervo informativo” (Sá, 2012, p.50) Concordando com a frase de BROEGA e SILVA, quando dizem que “o design de vestuário e o conforto total do vestuário são indissociáveis”, um vestuário adequado também requer que as peças são confortáveis sem abrir mão da estética. Fica ainda mais importante a observação deste aspecto quando se projeta uma roupa para atender a um sujeito que possui alguma deficiência, os consumidores desejam que estas roupas estejam de acordo com suas “atitudes, funções e imagem que pretendem transmitir à sociedade”, como afirmam as autoras. Isto influencia diretamente na escolha de tecidos que sejam agradáveis ao toque, sendo o principal item a estar em contato com a pele. Conforto e desconforto podem ser facilmente identificados em termos de aspereza, temperatura e sensações dentre outras observações na utilização de um vestuário, segundo BROEGA e SILVA (2010) “trata-se de uma avaliação completamente subjetiva, baseada nos sentidos e experiências, sem qualquer base científica”, relativo ao organismo humano.(...) À medida que se fala de vestuário e moda inclusiva não se pode deixar de falar em ‘conforto ergonômico’, “relacionado na maior parte das vezes com a modelagem e confecção do vestuário” (BROEGA e SILVA, 2010), pode ser falado também em ‘conforto sensorial’, o qual avalia-se na proximidade do tecido com a pele ao usar uma roupa. Estas autoras afirmam por fim ser o principal fator na produção de um ‘produto têxtil’ a avaliação e conhecimento das ‘propriedades de conforto dos materiais’ com a finalidade de proporcionar conforto ao consumidor final. Igualmente pensando na exploração de sentidos, e considerando criações e produções voltadas para deficientes visuais, deve-se acentuar a exploração tátil. Pois, “é através do tacto que se explora, que se descobre, que se lê, etc” (SENA, 2009), isto é muito importante ao considerar devido o tato ser um sentido indispensável para um sujeito invisual, e como afirma SENA, ligado aos demais sentidos (olfato, audição e paladar) “são os sentidos orientadores quando a visão não existe”. Ela assegura que é proveitoso a estimulação tátil, para que se torne ainda mais apurado.
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METODOLOGIA Na fundamentação teórica, foi utilizada como principais referências, a dissertação de mestrado Etiqueta Têxtil como Contributo para a Interpretação da Cor pelos Deficientes Visuais de Madalena Duarte Craveiro e Sena (2009), e o livro Compreendendo o Cego, da autora Maria Lúcia Toledo Moraes Amiralian (1997). Para pesquisa exploratória quanto ao tema, realizou-se uma pesquisa qualitativa sobre o modo de escolha do vestuário e cuidado do mesmo, por cidadãos não videntes.
Por método investigativo usou-se a pesquisa de caráter exploratório, onde todos os dados e informações coletadas são convenientes. “Como qualquer exploração, a pesquisa exploratória depende da intuição do explorador (neste caso, da intuição do pesquisador)” (SANTOS, p.1). Ainda de acordo com SANTOS, uma pesquisa exploratória visa conhecer sobre um assunto ainda que pouco conhecido e, pouco explorado; depende também de um estudo bibliográfico. Afim de tornar as questões mais evidentes.
Como instrumento fez o uso de pesquisa qualitativa, em que se pega um grupo específico como amostra de um “universo de pesquisa” para examinar o que acontece com este grupo, dentro do assunto definido. “Basicamente, a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes” (GIL, 2008, p. 53) Para pesquisa de campo, empregou-se o método segundo definição de “observação direta intensiva” (ANDRADE, 2010, p. 123), e foi aplicada uma entrevista com 7 deficientes visuais, e pessoas que possam contribuir com este projeto, para apuração de dados e comparação com a teoria abordada até o momento. Ao escolher a parcela da população a ser entrevistada, tomou-se como base o tipo de amostragem não probabilística, “é um tipo de amostragem em que existe uma dependência, pelo menos em parte, do julgamento do pesquisador ou do entrevistador de campo para a seleção dos elementos da população para compor a amostra” (OLIVEIRA, 2011, p.31 apud MATTAR, 2011), entendido também como
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método de conveniência. Para recrutamento dos entrevistados levou-se em conta o objetivo da pesquisa em avaliar questionamentos relacionados a um público específico, foram buscadas pessoas atendidas por instituições de assistência aos deficientes visuais de acordo com a disponibilidade em responder as perguntas da entrevista com um questionário semiestruturado. As perguntas desta entrevista foram previamente elaboradas com o orientador. Optou-se pela entrevista, tendo a definição de MARCONI e LAKATOS (2003, p.195) de que “é um processo utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social”.
Optou-se pela entrevista do tipo padronizada ou estruturada, seguindo a explicação de MARCONI e LAKATOS (2003, p.197), a qual foi seguida um roteiro e perguntas anteriormente ajustadas. E os entrevistados foram selecionados com antecedência também, seguindo o preceito de que os sujeitos entrevistados são invisuais. O motivo da padronização é obter, dos entrevistados, respostas às mesmas perguntas, permitindo “que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas, e que as diferenças devem refletir diferenças entre os respondentes e não diferenças nas perguntas.” (Lodi, 1947:16 apud MARCONI e LAKATOS, 2003)
Como registro das respostas elegeu-se a gravação e transcrição como principais métodos, visando melhor autenticidade de informações. E para avaliação e classificação de dados da entrevista, verificou-se como melhor opção o “Agrupamento de Dados: de acordo com as necessidades da investigação” (MARCONI e LAKATOS. 2010, p.287), notando como característica comum à todos os entrevistados a deficiência visual.
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4.ENTEVISTA / PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISE DO RESULTADO DA ENTREVISTA CRUZANDO COM A TEORIA DE COMO DEVERIA SER A ROUPA PARA ELES
Após realização das entrevistas qualitativas, no período entre 21/06/2016 e 08/07/2016, as respostas foram dispostas em gráficos de pizza para uma melhor representação; com a ressalva de que os seguintes gráficos não representam a totalidade do universo de invisuais presentes em Belo Horizonte, mas ainda sim, como pesquisa qualitativa, lança uma luz sobre este universo e acerca das questões aqui abordadas. E retoma a questão de como a área da moda pode contribuir à acessibilidade à moda e ao estilo por deficientes visuais?
Os gráficos são analisados de acordo com a teoria referida até o momento:
QUAL SUA ROTINA NA HORA DE SE VESTIR? DEIXA AS ROUPAS SEPARADAS ANTES VESTE COM FACILIDADE A ROUPA E LEMBRA DAS PEÇAS PELOS DETALHES GOSTA DE COMBINAR CORES E DE NÃO REPETIR MUITO AS ROUPAS FALA A PEÇA QUE QUER VESTR E OS FILHOS AJUDAM A PEGAR A ROUPA PARA SE VESTIR VESTE A QUE ACHA PRIMEIRO TROCA DE BLUSAS TODOS OS DIAS E USA A CALÇA JEANS MAIS DE UMA VEZ
14% 29% 14% 14%
15% 14%
Gráfico 1
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COMO VOCÊ SELECIONA E ORGANIZA AS ROUPAS EM SEU GUARDA ROUPAS? SEPARA AS ROUPAS DE FICAR EM CASA DAS ROUPAS DE SAIR E FESTAS SEPARA POR COR SEPARA POR TIPO DE PEÇA MUITAS VEZES A ESPOSA DEIXA A ROUPA SEPARADA QUE ELE IRÁ USAR ORGANIZA NOS CABIDES E LEMBRA DAS PEÇAS PELOS DETALHES
9% 9%
28%
27% 27%
Gráfico 2
Nota-se, diante destas respostas (Gráfico 1 e Gráfico 2), que pode não haver um padrão exato difundido entre todas as pessoas que não enxergam, cada um à sua maneira adequa o jeito de vestir-se e de organizar suas roupas segundo sua própria rotina e estilo de vida. E também, é relevante o fato
de que a cor, sim, tem
importância para eles juntamente com como entender a peça e saber de seus detalhes.
E com isso, percebe-se também estarem já familiarizados com as peças de roupas que possuem, mas ainda sim a falta de identificação adequada é um fator relevante a ser considerado. (ver Gráfico 3)
De encontro com entendimento abordado na fala da autora SENA (2009) temos as respostas obtidas no Gráfico4, em que se constata o quão é importante pensar na exploração tátil através de diferentes materiais aplicados na confecção do vestuário. Porque como afirma a autora “é através do tacto que se explora, que se descobre, que se lê, etc.” (SENA, 2009).
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Um item que é muito comentado e é claramente percebido nas conversas com os consumidores finais, é quanto a identificação das peças, como visto anteriormente, algumas poucas marcas já implementaram a aplicação de etiquetas em braile como fator de informações acerca da peça de roupa em questão.
O QUE TE INCOMODA ATUALMENTE EM SEU GUARDA ROUPA?
TEM MAIS FACILIDADE POR JÁ TER ENXERGADO ANTES NO MOMENTO NÃO TEM NADA MISTURA DAS PEÇAS, DIFICULDADE DE ORGANIZAR, E MELHORAR A DIFERENÇA ENTRE DIREITO E AVESSO ATUALMENTE ESTÁ TRANQUILO, E ORGANIZA AS PRÓPRIAS ROUPAS SOZINHO NÃO SENTE INCOMODO, SE VESTE COM FACILIDADE NÃO TEM DIFICULDADE, PREOCUPA-SE COM O ESTADO DAS ROUPAS FALTA DE IDENTIFICAÇÃO DAS PEÇAS
14% 15% 14%
15%
14%
14% 14%
Gráfico 3
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QUAIS ALTERAÇÕES NA ROUPA TE AJUDARIAM A VESTIR COM MAIS FACILIDADE?
DESCRIÇÃO DE CORES E TECIDOS ACREDITA QUE ATUALMENTE NÃO PRECISE OPTA POR TECIDOS QUE NÃO AMARROTEM COM FACILIDADE OU NÃO PRECISEM SER PASSADOS MELHOR IDENTIFICAÇÃO DAS ROUPAS E DETALHES NAS PEÇAS PARA DIFERENCIAR UMA DAS OUTRAS NÃO FARIA NENHUMA ALTERAÇÃO, PREFERE PERGUNTAR ALGUÉM NÃO TEM DIFICULDADES PELO FATO DE JÁ TER ENXERGADO, SE VESTE COM FACILIDADE 13% 12% 12% 13% 25%
12% 13%
Gráfico 4
EM QUAL TIPO DE LOJA PREFERE COMPRAR? NÃO TEM UM TIPO PREFERIDO DE LOJA
LOJA DO BAIRRO
OPTA POR ONDE TIVER MELHORES PREÇOS
33%
56% 11%
Gráfico 5
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É perceptível, dentro destas respostas, (Gráfico 5) que a maioria dos entrevistados não tem uma preferência por comprar em lojas específicas, optam pricipalmente pelas lojas que já conhcem o tipo de roupa que é vendido e,como relataram, dão preferência por lojas onde são bem atendidos e oferecem melhores preços, como potenciais clientes gostam de pesquisar as melhores ofertas. Destaca-se esta questão do atendimento, abordado pelos entrevistados, como um diferencial o qual as marcas que pretendem recebê-los, teria em relação as outras marcas.
Nota-se então, a importância de incentivo governamental para as marcas oferecerem preços diferenciados juntamente com produtos e atendimentos adequados afim de recer o público deficiente visual.
QUAIS DIFICULDADES ENCONTRA NA HORA DE COMPRAR ROUPAS EM UMA LOJA
TAMANHO COR E PREÇO ENTENDER A PEÇA QUANDO ESTÁ SEM ETIQUETA NÃO TEM DIFICULDADE, LEMBRA DAS CORES POR JÁ TER ENXERGADO ANTES DETALHES DA PEÇA E SABER QUAL É A ESTAMPA TUDO INFLUENCIA, MAS A COR É O PRINCIPAL 14% 29% 14% 14%
15% 14%
Gráfico 6
Verifica-se também, aspectos diferentes na avaliação de uma peça quando o assunto é a escolha no ato da compra, relacionado com estar seguro e à vontade na escolha e uso de alguma peça de roupa, quando comparadas as respostas do
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Gráfico 6 com a fala de BROEGA e SILVA (2010) em que dizem se tratar de avaliações subjetivas baseadas principalmente nas experiências práticas. QUAL A SUA RELAÇAO COM MODA E ESTILO, POR QUÊ? PROCURA ACOMPANHAR O QUE ESTÁ EM ALTA NO MOMENTO E ESTÁ DE ACORDO COM A SUA PERSONALIDADE PROCURA SABER O QUE ESTÁ NA MODA E ESTÁ DE ACORDO COM O ESTILO DE ROUPA QUE GOSTA DE VESTIR GOSTA DE ESTAR SEMPRE BEM ARRUMADA NÃO PROCURA MUITO SEGUIR A MODA, E SEGUE INDICAÇÕES GOSTA DE ROUPAS SOCIAIS, E DEPENDENDO DA OCASIÃO O 'SOCIAL ESPORTIVO'. GOSTA DE SABER O QUE ESTÁ EM ALTA NO MOMENTO GOSTA DE VESTIR ROUPAS SOCIAIS TEM SEU TIPO DE ROUPA PREFERIDO, MAS ATUALMENTE OPTA PELO BEM-ESTAR
14%
15%
14%
15%
14%
14% 14%
Gráfico 7
A moda “diz respeito ao estado de espírito, aspirações e costumes de uma população” a partir desta frase de Garcia (et al, 2005, p. 03), os conceitos de moda podem influenciar muito ou pouco na vida do sujeito invisual, o que vai de encontro principalmente ao seu modo de vida e personalidade (Gráfico 7). Na citação de Sena (2009) referente à fala de Umberto Eco (1989), definem o vestuário como um item de comunicação, na expressão de características do ser, enquanto texto não verbal, dizendo também sobre gostos, estado de espírito, idade, status, profissão, o que se veste identifica e descreve o sujeito, isto pode ser averiguado nas respostas alcançadas no Gráfico 8. Garcia (et al, 2005) defendem, ainda, que mesmo não seguindo moda, as pessoas comunicam algo de si, seja “sinal de idade, ou de possuir
opiniões
e
crenças
envelhecidas
ou
ainda
não
aceitar
padrões
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estabelecidos”. Esta variedade de opiniões indica também uma necessidade de que a moda seja pensada também enquanto comunicação direcionada inclusive para quem está ‘privado do sentido da visão’. VOCÊ ESCOLHE O QUE VESTIR PENSANDO EM ESTAR NA MODA?
DA PREFERÊNCIA AO BEM-ESTAR, E GOSTA DE VSTIR O QUE ESTÁ DE ACORDO COM O MOMENTO SIM, GOSTA DE SABERO QUE ESTÁ EM ALTA NO MOMENTO NÃO, SE PREOCUPA MAIS COM O BEM-ESTAR SIM NÃO, SE COMBINAREM ESTÁ BOM ATUALMENTE NÃO TEM ESSA EXIGÊNCIA, OPTA POR ESTAR COM ROUPAS EM PERFEITO ESTADO DE USO 14% 14% 29%
Gráfico 8
15% 14% 14%
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VOCÊ PERCEBE AS INTONÇÕES DO MERCADO DE MODA EM SE DIRECIONAR À ESTE PÚBLICO? NÃO
100%
Gráfico 9
Analisando o Gráfico 9 pode-se captar o que é dito na fala de André Hildago, em que diz sobre os estilistas não optarem com frenquencia por temáticas exteriores ao seu ambiente, e afirma que “a inclusão de pessoas com deficiência na moda é algo urgente a ser discutido”. Stephanie Tondo, fala que este nicho de consumirores ainda está sendo dscoberto no Brasil. Mas apreende-se com nitidez que este processo ainda é lento e tem uma estrada a ser percorida até chegar ao alcance e conhecimento de todos. Por certo que aqui esteja explícita uma evidência de que ainda existe sim uma descaso por parte do mercado da moda e a exclusão social é presente, assuntos que precisam de atenção e de serem mais explorados particularmente em abordagens e eventos os quais dizem respeito quanto a temática da moda inclusiva.
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QUAL SUA OPINIÃO SE EXISTISSEM MARCAS ESPECIALIZADAS EM MODA INCLUSIVA E ACESSÍVEL? ÓTIMO AJUDARIA MUITO, PRINCIPALMENTE PARA AQUELES QUE NUNCA ENXERGARAM ACHA QUE PODERÁ FACILITAR PARA AQUELES QUE TEM MAIS DIFICULDADES SERIA MUITO BOM E DE GRANDE AJUDA SERIA IMPORTANTE AS LOJAS TEREM O FOCO NO ATENDIMENTO E DIZ SER IMPORTANTE TER PELO MENOS UMA FUNCIONÁRIO COM A MESMA DEFICIÊNCIA DO CLIENTE QUE A LOJA QUER ATENDER NÃO ACHA NECESSÁRIO 14% 14% 14%
15% 15% 14% 14%
Gráfico 10
Avaliando os Gráficos 10 e 11, e a fala de Porto (2002, p. 42), em que diz sobre o cego ter exigências, poder de escolha e tem suas próprias intenções quanto ao consumo, estão sempre abertos a novas oportunidades de experimentação e conhecimentos de novos produtos, principalmente se tem a intenção de facilitar-lhes a vida e atender suas características específicas. Reforça-se diante destas respostas, não só a importância social, mas também comercial de marcas que percebem este público e se direcione a atendê-los.
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VOCÊ COMPRARIA EM UMA LOJA ESPECIALIZADA EM ROUPAS DO SEGMENTO MODA INCLUSIVA?
COM CERTEZA
COMPRARIA
ACHA QUE NÃO TEM NECESSIDADE DE TER EXCLUSIVIDADE
14%
29%
57%
Gráfico 11
O QUE VOCÊ GOSTARIA DE ENCONTRAR NAS MARCAS DE MODA? QUE AS MARCAS COLOCASSEM AS INFORMAÇÕES DAS PEÇAS DE FORMA QUE FACILITE A LEITURA MELHOR PREPARO DOS VENDODORES E ATENDENTES PESSOALMENTE, NÃO TEM PENSADO POR ESTE LADO MAIS PRATICIDADE INFORMAÇÕES DE FORMA GERAL NÃO FARIA ALTERAÇÕES, ESTÁ TUDO OK PADRONOZAÇÃO DE TAMAHOS E ADEQUAÇÃO DOS PROVADORES 7% 7%
7% 22%
7% 7%
Gráfico 12
43%
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“Não é certamente a falta de visão que nos afasta ou nos torna menos capazes de conviver e agir com quem vê, será sempre a ignorância, o preconceito, a falsa noção de compaixão” (SÁ, 2012), é com esta citação de Sérgio Sá que começa a análise do Gráfico 12, no que diz respeito ao que as pessoas ainda esperam encontrar em uma marca de moda. Os questionamentos, de forma geral giram em torno de passar melhor as informações acerca do produto e das marcas buscarem um maior esclarecimento na forma de receber e lidar com o cliente portador de deficiência.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um número bastante considerável de brasileiros, 23,9% da população, possuem algum tipo de deficiência visual, e o mercado de forma geral, deve estar preparado para atender as necessidades especiais dos cidadãos, uma vez que tais pessoas são clientes em potencialidade de várias marcas. Porém, conforme visto poucas são as iniciativas voltadas para esse público. Até o momento em que a pesquisa encontra-se não se atingiu conhecimento de Leis de Incentivo ou Políticas Públicas específicas para o setor de moda inclusiva. A lei governamental que se tem conhecimento e que há pouco tempo abrange a área da moda é a Lei Rouanet de incentivo à cultura. Existem quatro tipos de projetos de moda para se encaixarem os que desejam ser apoiados por esta lei: projetos de internacionalização, tradição brasileira, preservação de acervo e formação de estilista/capacitação. (PACCE, 2013) Vale a ressalva de que neste projeto foi elaborada uma pesquisa qualitativa por conveniência e de caráter exploratório, válida principalmente por buscar ouvir os questionamentos reais dos consumidores e analise na busca de soluções que possam ser aplicadas de forma efetiva; posto que residam algumas limitações dentre as quais estão:
por se tratar de estudo de caso sua aplicação fica restrita apenas à cidade de Belo Horizonte - MG, e ainda, a um número estreito de entrevistados. Assim sendo, os resultados não podem ser generalizados às outras cidades do estado e/ou do país, e sua totalidade de deficientes visuais;
como este projeto é um dos pioneiros na abordagem desta temática, ainda não se tem outros estudos com informações consistentes para comparação de dados e uma discussão mais compatibilidade de ideias.
Olhando para a pergunta problema desta pesquisa e também para as respostas de boa parte dos entrevistados, acredita-se que a área da moda e as marcas podem contribuir principalmente no que tange o quesito de informações adquiridas quanto
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ao comportamento dos consumidores, os quais são consumidores em potencial de muitas marcas. Para complemento de informações indica-se um levantamento de dados através de uma pesquisa quantitativa, para traçar também os diferentes perfis de consumo dentro da comunidade invisual. Por haver uma escassez de estudos direcionados à este tema, a pesquisa contou com poucas referências diretamente do universo da moda, com isto, aponta-se o caminho para este projeto seguir amadurecendo e levar esta discussão a um projeto de pós graduação. Por fim, esse projeto não tem a pretensão de encerrar o assunto e mostrar-se como o único caminho a ser seguido, mas pretende ser visto como uma porta para a discussão desta temática envolvendo o universo da inclusão.
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REFERÊNCIAS
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APÊNDICE
PERGUNTAS PARA A ENTREVISTA QUALITATIVA:
1. NOME E IDADE? 2. GRAU DE ESCOLARIDADE E FORMAÇÃO? 3. ÁREA EM QUE TRABALHA? 4. QUAIS DIFICULDADES ENCONTRA NA HORA DE COMPRAR ROUPAS EM UMA LOJA? COR
TAMANHO
ENTENDER COMO É A PEÇA
OUTRA:
IDENTIFICAR DIREITO E AVESSO TEXTURA 5. QUAL SUA ROTINA NA HORA DE SE VESTIR? 6. EM QUAL TIPO DE LOJA PREFERE COMPRAR? 7. VOCÊ COMPRARIA EM UMA LOJA ESPECIALIZADA EM ROUPAS DO SEGMENTO MODA INCLUSIVA? 8. COMO VOCÊ SELECIONA E ORGANIZA AS ROUPAS EM SEU GUARDA ROUPA? 9. QUAL SUA RELAÇÃO COM MODA E ESTILO, POR QUÊ? 10. VOCÊ ESCOLHE O QUE VESTIR NO PENSANDO EM ESTAR NA MODA? 11. O QUE TE INCOMODA ATUALMENTE EM SEU GUARDA ROUPAS?
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12. QULAIS ALTERAÇÕES NA ROUPA TE AJUDARIAM A VESTIR COM MAIS FACILIDADE? 13. QUAL SUA OPINIÃO SE EXISTISSEM MARCAS ESPECIALIZADAS EM MODA INCLUSIVA E ACESSÍVEL? 14. VOCÊ PERCEBE AS INTENÇÕES DO MERCADO DE MODA EM SE DIRECIONAR À ESTE PÚBLICO? 15. O QUE VOCÊ GOSTARIA DE ENCONTRAR NAS MARCAS DE MODA?
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TRANSCRIÇÃO ENTREVISTA – 14
PESQUISADORA: eu vou começar a fazer as perguntas... e aí o primeiro eu quero saber seu nome e idade Locutor Feminino: é Cartiene... ser o nome todo? P: [não pode ser só o primeiro... LF: Cartiene... eu tenho 30 P: [30 anos? P: E: qual é seu grau de escolaridade e formação? LF: é: superior incompleto P: [superior incompleto? LF: (...) é eu tô cursando psicologia ( ) P: psicologia? que legal P: e você já trabalha na área? LF: não ainda não P: ainda não? LF: não... o estágio vai começar o ano que vem P: entendi
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Todas as entrevistas transcritas segundo Normas ABNT :
Disponível em: <<http://www.psrossi.com/Normas_entrev.pdf>> Acesso em: 22 jun. 16. Disponível em: <<http://www.concordancia.letras.ufrj.br/index.php?option=com_content&view=article&id=52&It emid=58>> Acesso em: 22 jun. 16.
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P: eh: eu queria saber assim...quais dificuldades você encontra na hora de comprar roupas na loja... quando você vai na loja? Se...é entender a cor... o tamanho... entender que peça que é... se: ... identificar direito e avesso... ou a textura da roupa quanto ao tecido... ou se tem alguma outra alternativa assim... que mais te - que você... que vê que dificulta mais pra comprar? LF: é a cor... P: [cor? LF: é... é a cor e o preço também... é:: ... conta muito também e não tem... a não ser que o atendente esteja disponível pra falar sobre a cor... e sobre o que que combina... porque eu gosto de assimilar o que que combina com o que ... = P: [aham LF: =então assim... por exemplo... a minha irmã... eu gosto muito assim desse feed back que ela me dá porque ela... se a coisa não tá bacana ela fala... eu gosto de gente que fala... = P: [aham LF: =e ela fala... “não isso não tá combinando com isso não”... cê não vai sair assim não... P: ((sorriso)) LF: (...) ela fala= P:[você gosta de combinar as cores... LF: =é:: é ela fala... não isso daqui eu num achei... num... num acho que combina essa cor... tal cor não combina com essa não = P: [entendi LF: = (...) a mesma coisa é o calçado... P: [sim
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LF: =e tudo... eu gosto... eu gosto assim quando a pessoa me dá esse feed back...geralmente eu pergunto pro vendedor mas: ...às vezes o vendedor fala que combina e depois num combina nada= P: [aham LF: = e realmente tem vendedor sincero que fala...não não combina não P: e...você costuma comprar roupa mais sozinha ou cê leva sua irmã? LF: não aqui é sozinha... mas quando eu tô lá na minha cidade... aí é com a minha irmã...= P: [á tá LF: =que ela me dá esse feed back... sincero P: você é de qual cidade? LF: eu sou de: Belo Oriente... fica perto de Ipatinga P: ah: entendi LF: já ouviu falar? ((sorriso))... de Ipatinga? P: já... já sim ((sorriso)) P: é...e você tem uma rotina na hora de se vestir? LM: como assim? P: por exemplo... ah eu visto primeiro ...eu separo as roupas e... visto por uma ordem...calça depois blusa LF: [isso... P: (...) e aí assim vai? LF: isso...eu separo as minhas calças jeans... tudo com calça jeans...é...roupa de frio tudo também...=
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P: [aham LF: = blusa de... assim... mais pra festa também...sobretudo eu separo também...eu separo mais assim... P: entendi LF: e:: e essa questão de cor realmente conta muito também...tem... teria quer assim alguma coisa falando da cor...que nem sempre tem um atendente disponível pra te atender... = P:[sim LF:=a gente fica muito dependente de alguém pra falar= P:[entendi LF:=das cores... P: e e você tem um tipo de loja que você prefere comprar?... loja de rua... loja de shopping?... cê tem alguma preferência? = LF:[ah...compro em qualquer uma P: =ou você dá preferência pra alguma que você já conheça? LF: ah...qualquer uma... por exemplo Lojas Renner... mas qualquer uma assim que tiver mais acessível... que tenha assim o que eu gosto ((sorriso) P: aham...entendi ((risos)) LF: mas assim...essa questão de combinar eu acho que isso é essencial...num tem jeito... tem que ter alguma coisa falando sobre isso P: e você então... então você compraria em uma loja que fosse especializada em roupas desse segmento= LF: [sim...com certeza
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P: =moda inclusiva... que fosse mais...o preço acessível também... que é importante né LF:{ uhum LF: é assim o preço quando eu falo assim não é questão de ser um preço mais barato... mas falar o preço da roupa também= P: [sim...etiqueta... LF: =isso P: eu também acho... não gosto quando eu vou em qualquer lugar que não tem preço não tem nada explicando LF: [isso P: e:: assim fala um pouco pra mim como que você seleciona e organiza suas roupas no guarda-roupa... por exemplo pra guardar: pra... na hora de escolher o que vai vestir no dia... como que você faz? LF: ah eu organizo assim por exemplo os meus vestidos eu coloco eu coloco eles assim: num cabide que seja específico pra vestido... pra num... até pra não estragar o tecido né = P: [uhum LF: =e também as minhas jaquetas eu já coloco num outro cabide mais aberto que dê pra colocar o ombro da jaqueta... e:: as minhas calças jeans geralmente coloco num outro cabide também passo passo ferro né= P: [uhum LF: =e dobro... e coloco então assim... eu também não tenho muito espaço mas se fosse pra olhar mesmo eu queria dividir mesmo era por cor= P: [sim
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LF: =saber o que que combina com o que... alguma coisa que colocasse a cor na etiqueta e ai eu ia saber essa cor é com essa...e essa cor é com essa por que eu gosto muito de combinar:: o calçado com a bolsa... então assim... se fica uma coisa assim... eu já - na hora que compra e já tenho que perguntar que cor que é = P: [aham LF: = porque se não não vai ficar legal = P: [entendi LF: = ai quando eu tô lá em casa assim...na minha cidade em férias é mais fácil porque minha irmã fala... e ela fala mesmo “isso daí não tá combinando não” ((risos)) não tá combinando não... igual a gente fala... P: ai você faz faculdade aqui em BH? LF: é P: entendi... e:: você tem alguma relação com moda com estilo? LF: como assim? P: se:: igual você falou que gosta de de vestir as roupas combinando né...se você procura saber... = LF: [ah eu procuro eu procuro ((sorrindo)) P: =em sites...= LF:[eu procuro sempre procuro saber entro sempre em sites assim o que ( ) o que tá na tendência assim P: = jornais...procura entender... isso LF: porque não é aquela questão de: ... ah: o pessoal falar que é frescuragem... não é isso é pra gente saber o que tá... combinando mais ou menos até com a personalidade da gente =
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P: [isso isso tem a ver com estilo também... você gosta de tá informada sobre o que tá usando né... o que tá em alta LF: = conta muito também.... isso ... ai eu sempre procuro saber sim P: e você gosta de se vestir pesando em estar na moda? LF: assim não totalmente assim TÃO assim na moda ((sorrisos)) mas o que me deixa... que eu vou sentir que tá certo= P: [sim LF: = assim:: o que tá... combinando P: [e confortável também você gosta? LF: = que tá bem...que eu tô bem P: sim... e: atualmente o que que te incomoda no seu guarda-roupa? ... LF: ah:: eu acho que é isso a falta da das cores... pra eu saber o que que eu posso pegar por exemplo pra vestir a noite e que vai combinar por exemplo eu vestir uma legging preta e vai combinar com o que ? P: [aham... e você acha que falta então principalmente identificação nas peças? LF: é... uhum ... a cor P: e:: aí dentro disso que:: quais alterações que te ajudariam a se vestir com mais facilidade? LF: a:: a relação das cores... a descrição do tecido...e a cor na etiqueta P: sim... cor... e quanto À fechamento por exemplo? Se algumas peças tivessem zíperes é:: alguns botões a mais... não sei quais dessas coisa que você observa assim que: te ajudariam mais? LF: Ah essa questão de zíper assim pra mim até não importa muito não...
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Quando eu chego assim por exemplo pra olhar a roupa ai eu geralmente o atendente me mostra lá no manequim... aí se eu vejo que ali assim vai combinar com meu estilo aí eu compro = P: aham LF: = olhando o manequim P: Então cê observa a roupa no manequim também? LF: uhum P: ham: isso é interessante... E: - qual qual que é sua opinião assim se existissem marcas especializadas neste segmento? LF: ai ótimo (frase exclamativa) ... ( ) que né que já viesse falando... tivesse uma descrição da roupa é na etiqueta alguma coisa em braile escrito como cor modo de lavar= P: [sim LF:[ (porque) também isso acho que isso ajuda muito é:: tem tecido que não pode ser lavado à maquina... tem tecido que tem que lavar a mão então isso ajuda muito P: e você mesma que cuida das suas roupas? LF: uhum P: Dessa questão de lavar de passar? LF: isso... isso P: é: e você... você tem alguma... você percebe as intenções do mercado de moda em se direcionar? Você tem essa percepção de ver que existem algumas marcas já preocupadas com isso em fazer roupas que sejam que tenham essa identificação que sejam é... bem identificadas e acessíveis assim? Preocupadas com o público? LF: hum eu assim... particularmente ainda não percebi não=
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P:[aham LF:=nesse segmento da moda... eu acho eu nunca vi assim pra falar a verdade eu nunca vi assim nenhuma empresa nenhuma loja específica voltada pra esse pro nosso púbico = P:[entendi LF:=eu nunca vi P: e: o que que você gostaria de encontrar nas marcas assim especificamente? LF: ah o valor da roupa... é: a cor... qual que é o nome do tecido... a forma de lavagem da roupa (isso) seria interessante= P:[e se tivessem vendedores mais preparados pra atender também... você acha que seria interessante? LF: - também... ( ) eu acho por exemplo um vendedor que ( ) ou até mesmo uma pessoa específica da moda ali que pudesse orientar o nosso público... falar não essa cor fica legal com essa... além de tá na etiqueta... num sei teria que ter alguém da moda falando ali né pra na hora que chegasse um cego pra comprar... ai alguém né específico ali pra descrever... e falar essa cor essa cor vai combinar com essa se você tiver um calçado assim vai ficar bom essas coisas... eu acho que teria que ter P: sim aham (sorriso) P: é: e: dentro aqui dessas perguntas mais alguma coisa pra acrescentar... ou pra falar que você acha que seria importante? LF: - ah: assim eu acho importante... na hora por exemplo que a gente for comprar uma peça... qualquer tipo de roupa... assim que o vendedor seja sincero de falar que se tá bacana assim não só tá ali só pra vender= P:[aham
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LF:=eu acho isso muito importante isso TRANSCRIÇÃO ENTREVISTA – 2
Pesquisadora: Eunice... a gente vai começar...eu sou Adriana... muito prazer... e aí eu queria que você me falasse primeiro seu nome e a sua idade Locutor Feminino: tem que ser o nome todo ou só o primeiro? P: não... pode ser só o primeiro LF: Eunice... quarenta e três anos P: quarenta e três? LF: isso P: ok... e:: Eunice... qual a sua escolaridade?... seu grau de formação? LF: óh... eu formei no ensino médio né... tô tentando se deus quiser fazer o ENEM que ano passado eu fiz... vou tentar de novo... e se Deus quiser entrar na faculdade... e vamos ver se Deus quiser P: ((risos)) e você quer fazer qual curso? LF: história P: nossa(frase exclamativa) história é chique de mais... e assim... você trabalha atualmente? LF: não P: não... e agora vou começar fazer as perguntas é:: mais direcionadas ao projeto... e aí a primeira é assim... qual a dificuldade que você encontra na hora de comprar roupa na loja? se é a cor...se é como entender como é a peça... identificar lado direito e avesso... se é a textura do tecido ou tamanho?
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LF: óh... nessa parte aí eu não tenho muita dificuldade não... como eu já enxerguei... então assim pra mim não atrapalha muito não... o que assim acostuma ficar assim confuso é quando a... uma peça assim ela não tem etiqueta... sabe? aí eu fico assim será que é pra frente ou pra trás... é só isso P: é a identificação da peça né? LF: é... só... mas assim... de cor... essas coisas... porque quando eu chego as vendedoras vem assim ai eu falo mais ou menos a roupa que eu quero ela me mostra e eu pergunto que cor...se ela falar que é um cor tom azul claro... então eu sei que aquilo é um azul assim mais... aí eu falo assim mais claro assim clarinho aí ela fala cor ( ) a beleza... P: então você já conhecia as cores já antes? LF: já P: a::... bacana... e assim conta um pouco pra mim... é... de como é a sua rotina na hora de se vestir... se você tem uma peça que você veste primeiro... como você faz... na hora de vestir a roupa? LF: ah:: pra mim é tranquilo sabe...porque eu tenho assim...como eu porque eu já enxerguei = P: aham... LF: =aí por exemplo eu marco muito assim...se ela tem detalhe... essas coisas... e gosto muito assim de combinar... aí por exemplo assim o preto... o preto ele combina com várias cor né... então ah... eu sei que seu eu pego uma calça jeans e onde eu comprei a pessoa já falou que ela é um azul escuro bem escuro... então assim pra mim ah.... então eu já pego opa essa calça é tal... é essa que eu quero... e aí é assim... ( ) eu adoro... gosto muito de cor cor de rosa... sabe? Sou igualzinho criança ((risos))... cor de rosa pra mim é meu sonho
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P: aham... é... e assim... você tem um tipo de loja preferido pra comprar? se é loja na rua... loja no shopping...você tem alguma preferência? ou alguma loja que você já conheceu antes? LF: não... não tenho preferência não = P: [não tem não? LF: = (uhun) P: e assim... você...é... compraria em alguma loja que fosse especializada em roupas de moda inclusiva? direcionada para pessoas que possuem alguma deficiência? LF: compraria P: compraria? LF: (aham) P: e... como que você organiza as roupas no seu guarda-roupa? como que você separa elas pra guardar e pra vestir depois? LF: ah:: eu tenho vários cabides pra eu colocar calça com calça... blusa com blusa... aí blusa de frio por exemplo eu ponho... eu passo... coloco cabide... coloco elas tudo no cabide... aí então eu já sei... sabe? = P: [aham LF: =que... aí por exemplo... eu também... eu gosto muito de separar assim... roupa de ficar em casa...roupa de sair... roupa do dia-a-dia sabe?... não aí por exemplo... eu vou vestir uma roupa onde eu vê assim não tá assim cheio de uns bolinha... de pluminha... aí não... pra mim... as vezes a pessoa fala “ta até bom”... mas pra mim já não tá... aí... = P: [você acha que não da pro seu estilo né...
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LF: = é aí eu já coloco em casa... em casa dá... aí assim... pra mim é tranquilo - aí igualzinho assim... eu tenho várias roupas assim... branca... então assim... como eu sei que roupa branca mancha... então eu tenho várias roupas assim que saem tinta... = P: [aham... LF: = ai tem vez que eu coloco junto... aí quando eu vou sair eu pergunto... essa blusa tá branquinha?... aí elas falam tá... não... não tá... tá machada... se tá manchada então você vai ficar em casa...((risos)) P: e você mesma que cuida das suas roupas? = LF: [é... P: = separa pra lavar = LF: [isso... tudinho... P: = essas coisa? LF: é P: e:... é... qual é a sua relação com moda e estilo? porque assim... é assim... igual Alice estava me falando que você gosta de saber... tudo que tem você quer participar::... e você gosta de maquiagem... de sair produzida... LF: ah... eu adoro... até mesmo quando teve umas meninas aqui também tava fazendo faculdade de maquiagem sabe? = P: [aham LF: =porque assim eu... quando eu enxergava eu passava... e depois que eu perdi a visão... falei ah... como é que a gente sem vê nada vai passar maquiagem né? = P: [aham LF: =passar essas coisas? ... ai foi que teve essas meninas... eu gostei muito e eu sempre passo sabe... eu gosto =
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P: [ah... que legal... aí você manteve seu gosto né? LF: = isto... P: - é... você gosta de escolher as roupas pra vestir no dia... é... pensando em estar na moda?... tipo assim... hoje eu vou vestir uma roupa que tá na moda... que tá... igual a Cartiene falou que ta acompanhando a tendência... você pensa nisso... na hora de escolher uma roupa pra sair? LF: - hum...penso... = P: [pensa? LF: = (uhum) - até igualzinho assim... vou te contar uma aqui... não sei se foi ano passado... é isso mesmo... ano passado ou retrasado... saiu... na... tava usando muito... tava na moda... daquele shortinho... short saia... aí eu sempre vou... aí eu comprei sabe? = P: [aham LF: =aquela blusa também que tava muito na moda... que tava usando... que ela é cheia de franjinha assim?... = P: [aham... sei LF: = eu tenho uma = P: [((risos))... LF: = aí assim... aí onde eu chego assim eu falo uai... mas esse modelo dessa blusa dessa calça é diferente... aí a moça fala “tá na moda” (aí eu falo) “então vou levar”... P: ((risos)) que legal... é:... e assim... no seu guarda-roupa hoje o que que te incomoda... nas roupas? - pra vestir... o que atrapalha... LF: ah:: não atrapalha em nada... não me incomoda não sabe... = P: [não?
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LF: = (não não) pra mim é tranquilo... P: é? você tem mais facilidade?... LF: é porque assim... se é porque eu já enxerguei... então é a mesma coisa que assim... se você falar assim ah:: to com um pano... aí eu liso assim eu falo se...mais ou menos... sabe... ah...esse pano (ele é) a cor tal...então assim... pra mim não tem muita diferença assim não... P: aham... e você acha que teria algumas alterações que te ajudariam a te vestir com mais facilidade?... a vestir a roupa com mais facilidade? LF: - hum... eu acho que não P: não? LF: não porque eu não acho assim... dificuldade nenhuma P: é?... você consegue vestir sozinha?... LF: consigo... P: já se vira bem né? LF: é... P: éh::... e qual assim... que é a sua opinião se existissem marcas que fossem especializadas em moda inclusiva e acessível? que a marca fosse bem direcionada pra pessoas que possuem alguma deficiência... e aqui no caso o meu é... pra deficiência visual... = LF: [ah... uhum P: =se fosse uma marca especializada nesse tipo de roupa? LF: ah::... eu acho que ajudaria muito sabe? = P: [aham
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LF: =principalmente assim... não pra mim... mas quem nunca assim... deficiente que nunca viu assim... eu acho que ajudaria demais... P: sim... e:: você... você tem alguma percepção... você já percebeu as intenções do mercado de moda em se direcionar ao pra o público deficiente visual? LF: ((movimentos com a cabeça negativos)) P: não?... principalmente aqui em BH né... mais difícil... LF: é... P: é:: e o que você gostaria de encontrar nas marcas de moda? assim... a sua opinião... o que acha que teria que ter em uma marca?... numa marca de roupa -LF: hum:: (sorrisos) ( ) ah – eu acho que se tivesse as etiqueta sabe = P: [sim.., LF: = igual as etiqueta... que ajuda muito sabe P: sim... a Cartiene também falou bastante da identificação da peça né? LF: uhum... P: pra saber que peça que é... cor... preço também... LF: isso... é... ia ser muito bom P: pra ver... aham... e assim... dentro das perguntas que eu fiz... as minhas perguntas terminaram... mas você acha que tem alguma coisa que eu não falei e você gostaria de falar... alguma sugestão assim... que você gostaria de deixar... LF: não... que eu tô lembrando assim não... = P: [agora você não tá lembrando nenhuma não? LF: = não
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P: entendi
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TRANSCRIÇÃO ENTREVISTA – 3
Pesquisadora: Aí eu queria que você me falasse nome e idade Locutor Masculino: Eu sou... o Paulino Dias Guimarães tenho 51 anos P: sim... e o seu grau de escolaridade e formação? LM: ham: eu tenho... eu fiz segundo grau completo... ensino médio né= P: [uhum LM: =e parei fui trabalhar (risos) P: e: e que área você trabalha atualmente? LM: atualmente eu sou massoterapeuta... atendo aqui mesmo na associação também... e:: o forte também meu é a música nó temos uma banda de música e.. a gente tá ai (na praça) (riso) P: ah que legal... E assim... agora eu vou fazer as perguntas mais direcionadas pra área do vestuário – LM: sim P: (e que) a primeira é quais as dificuldades que assim você possivelmente encontra na hora de comprar roupas em uma loja? Se seria por cor... é tamanho... ou alguma outra LM: eu acho que é um pouco complexo... porque na verdade cada deficiente tem uma certa dificuldade = P: [sim LM: =nisso aí né... é:: eu por exemplo já tenho um pouco mais de facilidade porque eu não nasci cego eu perdi com onze anos né e:: =
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P: [uhum LM: =antes dessa perda é claro eu conhecia as cores e até ainda guardo na minha memória as cores né? (frase exclamativa) P: sim LM: isso facilita muito... apesar que mesmo assim eu prefiro sempre tá acompanhado pra fazer qualquer compra = P: [sim LM: de roupa (riso) P: a sua deficiência é total ou parcial? LM: é total P: total? LM: isso P:sim aí conta pra mim um pouco se você tem uma rotina na hora de se vestir? Se você deixa separado... se você veste primeiro= LM: (sorri) P: =camisa calça LM: é quanto a isso eu sou um pouco organizado= P: [aham LM: =eu gosto de tá sempre é... combinando cores e aquela coisa toda: não tá repetindo muito = P: [sim: LM: = (risos) eu sou meio chatinho quanto a isso (sorri)
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P: entendi... e: e assim... cê tem um tipo de loja preferido pra comprar... se loja de rua loja de shopping ou = LM: [não não P: =algum (outro) tipo LM: não não tenho preferencia quando em shopping... shopping é um é um comércio que é um pouco mais dificultoso pra gente deficiente visual... né P: sim LM: é: a gente tem que tá sempre acompanhado porque é uma dificuldade maior de locomoção né = P: [sim LM: =mas... em qualquer lugar que a gente encontre uma promoção melhor (risos) P: então a maioria das vezes você faz suas compras acompanhado mesmo? LM: com certeza = P: [sim LM:=facilita muito (sorriu) P: você: compraria em uma loja que fosse especializada em roupas do segmento de moda inclusiva? – direcionada pra algum tipo de deficiência? LM: (não não) eu acho que teria necessidade ( ) eu que o deficiente em si não só o cego como todos = P: [uhum LM: =tem que tá participando com a sociedade né... e não teria que ter essa exclusividade que acho que: - isso... acabava separando um pouquinho a gente da sociedade né (sorriu)
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P: entendi... e: como que você seleciona e organiza as roupas no guarda roupa ? LM: sim: é: eu por incrível que pareça... é as roupas que compro sempre tem detalhes diferentes uma da outra (né) P: uhum LM: e eu guardo muito (os) detalhes ham: P: sim LM: qualquer costura a pinça um bolso uma coisa diferente né... P: aham LM: então aquilo ali me realmente sempre e ai... acabo organizando nos cabides normais... e aí: da pra realmente é usar sem dificuldade (sorriu) P: entendi e: qual que é a sua relação com moda e estilo se vocêLM: não... até que não procuro muito seguir moda: = P: [uhum LM: ( ) eu tenho (sempre)... a gente sempre tem algum estilo que a gente gosta de usar = P: [aham LM: =é claro... é sempre alguém dá um toque “ah isso aqui fica mais legal pra você... você fica mais jovem”... e tal P: [aham LM: aliás a gente vai na onda.. e acaba se encaixando e acha legal P: aham LM: (sorri)
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P: então você não escolhe suas roupas pensando em estar na moda? LM: não não... eu preocupo mais com meu bem estar= P: [sim LM: =(em sentir) bem P: aham... é você tem alguma coisa que te incomoda atualmente no guarda roupa? LM: aham (sorri) a falta de roupa... (risos) não... brincadeira é eu é como eu te falei no início... até que sou um pouco organizado e.. sempre to dando aquela vasculhada = P: [sim LM: =pra que não se acumule sempre que tenho um pouco a mais (coisas) que eu não to usando passo pra outros e = P: [aham LM: =então acaba sendo... um espaço que da pra tranquilamente utilizar sem problema (sorri) P: então cê tem facilidade com... com vestir as roupas = LM: [tenho P:= sapatos? LM: tenho é raças as Deus (risada) P: você faria alguma alteração em algum tipo de roupa? LM: alteração? P: é: que te ajudaria a vestir com mais facilidade seria mais prático? LM: ah: é... é acho que a gente tem que ser mais prático em tudo hoje em dia né =
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P: [aham LM: e roupa então... não fica pra trás porque igual eu falar assim roupas que eu usava muito... e eu mesmo passo minhas roupas... lavo eu mesmo faço tudo = P: [sim LM: [eu mesmo cuido delas (risada) e: ultimamente.. tô... tô achando uma é muito chato é passar roupa = P: [sim LM: = nossa me cansei disso (sorrisos) então eu tô preferindo aquelas roupas que... realmente são mais fáceis = P: [sim se num precisasse passar né (risos) LM: =é lavou (palma) (é verdade) P: e: -- você é qual seria sua opinião pessoal se existissem marcas especializadas em moda inclusiva? Com roupas que fossem mais práticas mais acessíveis? LM: - ah: como eu te falei antes também eu acho que não há necessidade disso eu acho que se houver poderá facilitar em alguma parte ou pra alguns né = P: [aham LM: =que teriam mais dificuldade (mas) especificamente pra mim não – P: não? LM: eu acho que essa participação teria que ser um todo na sociedade... um todo participante acaba sendo = P: [aham LM: uma inclusão também da gente na sociedade essa participação juntamente com o povão (sorriu)
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P: aham... você tem dificuldade de identificar alguma peça quanto a etiqueta...modo de lavar ou alguma coisa assim? LM: ham: às vezes cores... (por) a gente tem às vezes uma quantidade maior né = P: [aham LM: = às vezes confunde um pouquinho qual que tá mais clara qual que é mais escura pra não se misturar na hora de lavar = P: [sim LM: =mas... como sempre tem alguém que tem a visão eu pergunto né... se essas roupas são claras se posso jogar tudo junto (palma) (risada) P: aham e cê mora sozinho? LM: não eu moro aqui na associação... mesmo (né) P: ah tah... entendi e assim... se tivessem por exemplo etiquetas em braile? Igual eu fiz outras entrevistas as moças me falaram que facilitaria muito LM: (é::) pode ser um pouco complicado isso... mais pode ser que sim facilitaria talvez... um pouco sim P: aham LM: e eu acho... principalmente pra aqueles que tem mais dificuldades né P: sim (sorriso) P: você percebe as intenções do mercado de moda em si direcionar a este público? LM: não não não = P: [uhum
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LM: =eu acho que o... o mercado: tah... tem preparado um pouco mais as pessoas as pessoas tão compreendendo mais o deficiente né P: aham LM: e:: essa... essa diferenciação eu num tenho tá tá aproximando bastante o pessoal tem atendido a gente muito bem = P: [aham LM: =né e eu acho que tem que tá ficando legal P: você tem percebido isso nas lojas? LM: tenho sim não só nas lojas em todos (os) seguimentos o pessoal tem realmente... entendido melhor o deficiente né (sorriso) P: compreendo... é... e você teria alguma coisa que gostaria de encontrar nas marcas de moda? (sorrisos) no seu caso? LM: - aiai... é como eu te falei... é muito pessoal né (risada) P: aham LM: ham por incrível que pareça não não não tenho pensado por esse lado (sorrisos) P: não? você não tem observado? LM: não não P: e dentro das perguntas que eu fiz você teria alguma coisa a acrescentar ou alguma que eu não fiz que você gostaria de comentar? – LM: essa questão de roupa é uma coisa incrível né porque... igual vamos falar assim... um colega meu recentemente mesmo ele foi numa loja... sozinho e ele é deficiente visual total ... = P: [uhum
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LM: = e ia comprar uma calça né = P: [sim LM: =ele tem um pouco mais de dificuldade... ai chegou lá e queria uma calça a vendedora mostrou pra ele... e falou “aqui tem uma que fica legal pra você ai foi (e fez) experimenta” ai... ai ele experimentou né e tal e ela falou “poxa parece que foi feito pra você” (risos)... aquele papo de vendedor né?! = P: [é: LM: = ai:: “que cor?”... “não não é uma cor muito bonita(frase exclamativa)” “pode ficar tranquilo é uma cor maravilhosa” ai ele ( ) trouxe né ai quando chegou aqui... e ele... ele não suporta vermelho néP: aham LM: ai chegou aqui a calça era vermelha (gargalhada) P: nossa(frase exclamativa) :: LM: ai ele ficou muito chateado... P: ela não contou pra ele? (ruído) LM: não ela só falou que era calça uma cor muito bacana e ( ) (risada) (palma) P: então você acha que as pessoas é ainda que tenha melhorado deveriam se preparar mais na hora de atender = LM: [com certeza mas isso P: =( ) atendimento? LM: não é só pra nós deficientes... mas pra um todo né P: sim LM: acho que tem... tá sempre pessoas querendo o comércio é isso vender mais ...
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P:aham LM: e mais nĂŠ (risada) P: com certeza LM: e sempre tentam enganar as pessoas nĂŠ... P: exatamente LM: e isso acontece com a gente tambĂŠm muito ( ) (sorriso)
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TRANSCRIÇÃO ENTREVISTA – 4
PESQUISADORA: É... Me fala primeiro, seu nome e idade Locutor Feminino: Ionice... Todo... o nome? P: Não, pode ser só o primeiro LF: Ionice, 40 e ... 2... anos - Cê tá anotando ou cê tá gravando? P: Eu tô gravando LF: Aah tá, olha só, eu tinha que ter falado assim... Pera aí (frase exclamativa) ... vamos de novo (frase exclamativa)... Fala aí como é que eu falo (frase exclamativa) (risos) P: Não... me fala nome e idade LF: Nome e idade... Ionice... 42 anos P: É ... Seu grau de escolaridade e formação? LF: É::: ... Só es... Só:::, como é que fala? Só escola, só quarto... Só quarto ano P: Ensino fundamental? LF: É:: P: É... Ionice... atualmente você trabalha? LF: Não P: Não? LF: ...não P: E... Aí agora eu vou começar a fazer as perguntas direcionadas para a parte de roupas -
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LF: Uhum P: É... Quais dificuldades você encontra na hora de comprar uma roupa na loja? Se é cor... é: identificar direito e avesso... a textura da peça... é: saber o tamanho... entender como é a peça... ou se tem outra? LF: Saber o tamanho né P: Tamanho? LF: É... saber tamanho é complicado (sorrisos) P: é? LF: Muito complicado (frase exclamativa) P: Hum... agora... conta pra mim um pouco... como que é sua rotina na hora de se vestir - você deixa as roupas separadas... LF: é: meus filhos que me dão também né?! P: Aham... LF: (risos)... quem me dão pra vestir é meus filhos P: aí... mas é você que escolhe? LF: é:: eu costumo falar “eu quero aquela roupa” P: aham LF: aí eles vão e me dão... P: aham LF: (mas) deixo mais ou menos separados P: sim... aí eles sempre te ajudam então? LF: uhum
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P: é::: você tem um tipo de loja preferida pra comprar? se loja de shopping... loja de rua... ou alguma loja específica? LF: loja de rua P: uhum... aqui no seu bairro mesmo ou você gosta de ir no centro? LF: no Guarani... no bairro Guarani P: entendi LF: na (Patual) ali. P: é: ... e você compraria... em uma loja que fosse especializada em roupas do segmento moda inclusiva? LF: compraria P: compraria? é: conta pra mim um pouco... como que você seleciona e organiza suas roupas no seu guarda roupas LF: eu separo blusa... bermudas e calças e cada uma em uma gaveta P: aham... e aí você separa por cor... ou tudo junto? LF: tudo junto P: uhum.... você separa só por tipo de peça mesmo? LF: é: só por tipo de peça. P: entendi (frase exclamativa) ... é:... é: você tem alguma relação com moda e estilo?... e por que assim? LF: hum:: como assim? é essa parte que eu não entendi P: se você procura é... saber o que está na moda: é... = LF: [ah... procuro sim (frase exclamativa)
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P: =você gosta de comprar as roupas é: relacionadas com seu estilo? LF: uhum, (procuro sim)... (se tão na moda)... gosto P: sim... então é: você gosta de se vestir pensando em estar na moda? LF: uhum P: você gosta de saber o que está em alta? ... LF: [o que está usando... P: o que está usando... (risos) LF: (risos) gosto (frase exclamativa)... gosto sim P: é: o que te incomoda atualmente do seu guarda roupa? tem alguma coisa que te incomoda... que você tem dificuldade na hora de vestir? LF: bagunça... (risos) muita bagunça... (risos)... vai tirar uma peça não é aquela... ô meu Deus (frase exclamativa) Hum:... Só as misturas mesmo... das roupas P: uhum... LF:[ (ai fica muito misturado) P: então você acha que: se tivesse alguma forma mais fácil de identificar a peça... LF: [é verdade... seria melhor... uma etiqueta né... a costura assim do lado avesso mais... né?... porque às vezes a gente passa a mão na roupa e a gente não sabe se ela está do - lado direito ou lado avesso ... P: [uhum LF: [essa aqui é até bem grandinha... ((mostrando a costura interna da blusa)) P: [ah: entendi LF: entendeu? as costura né?!
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P: então essas seriam é: as alterações que te ajudariam a vestir com mais facilidade né? = LF: [uhum P: =se tivesse uma... LF: [é:... e as etiquetas atrás também né... P: [específica falando... cor... tamanho... LF: [é verdade P: [essas coisas... LF: [e.. (se eles) se ensinasse né uma etiqueta né... assim... = P: [uhum LF: =desse jeito é tal cor... desse jeito é: P: [uhum... e: em braile por exemplo? LF: =seria mais fácil - [é:: é verdade P: é: fala pra mim qual que é sua opinião... se existissem marcas especializadas em moda inclusiva e acessível? LF: isso também não entendi essa pergunta P: se você gostaria se existissem marcas assim... pensassem mais no... no cliente final... que... = LF: [seria bom... P: =pensasse em ajudar mesmo a pessoa = LF: [uhum P: =a vestir com mais praticidade... =
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LF: [com certeza P: =se tivessem roupas com essas alterações que você me contou... = LF: [uhum P: =se você gostaria? LF: Gostaria... demais (frase exclamativa) é muito bom... seria muito bom (frase exclamativa) P: uhum LF: seria de grande ajuda né? ... P: sim LF: porque... eu na verdade não tenho TAN-ta muita assim dificuldade... mas eu tenho dificuldades P: sim... LF: quer fechar a porta Yolanda? ((barulho da porta batendo com o vento))... Pode empurrar, ela é dura mesmo. ( ) P: (sorriu)... é... agora fala pra mim... se você percebe as intenções do mercado em se direcionar a este público... ao público com alguma deficiência.. e no nosso caso as pessoas cegas... se você já percebeu alguma coisa nesse sentido? LF: Vamos de novo (risos) ... pergunta de novo... P: se você percebe... as intenções do mercado... de moda... em se direcionar a este público? LF: hum: - não vejo ninguém com tanta... P: não? pode falar que não... (risos) LF: não é verdade ... não vejo
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P: [Não percebe? LF: Não percebo P: [Nunca viu nenhuma roupa assim? ... LF: é (frase exclamativa) também não... P: é: LF: é verdade... P: e... aí agora fala pra mim o que você gostaria de encontrar nas marcas de moda? LF: Mais praticidade né?! P: mais praticidade? = LF: [uhum P: =se fosse questão de atendimento também?! LF: também... P: Na loja também = LF: [uhum, verdade (frase exclamativa) P: = a pessoa já te explicasse... LF: uhum é verdade... e nas lojas não tem né? (o que seria de grande ajuda) P: é... e assim você... voltaria a comprar em uma loja... em que você tivesse esse atendimento... = LF: [com certeza P: =é... a pessoa te explicasse já na loja como seria a peça... LF: [uhum... (e) orientasse ... =
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P: aham... LF: =com certeza P: sim LF: com certeza (frase exclamativa) P: e... olha... as minhas perguntas acabaram.... mas tem alguma coisa que eu não falei que você gostaria de acrescentar: ou fazer algum comentário? LF: é igual você tá falando aí o negócio das lojas né?! P: uhum LF: [às vezes a gente deixa (a gente mesmo) deixa de nessas lojas grandes porque não tem ajuda de ninguém... P: [sim LF: aí fica difícil... P: [entendi LF: porque você chega lá você mesmo escolhe... você mesmo né? ... P: uhum LF: né... aí pra mim fica difícil... aí por isso que eu optei agora... escolhi uma loja pra mim comprar... que é a tal da (Patual) ali no Guarani... P: aham LF: porque LÁ sim as meninas me ajudam P: entendi LF: né?! eu tenho ajuda... aí por isso que eu... agora só compro lá... (sorrisos)
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LF: por enquanto né... ATÉ aparecer né... uma loja assim num shopping... porque ainda não tem né?! P: sim... LF: não tem... aí eu compraria... sim (vamos ver se ajuda... mais) P: entendi... aí... muito obrigada (frase exclamativa) LF: de nada
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TRANSCRIÇÃO ENTREVISTA – 5 Pesquisadora: eu vou começar... aí você fala pra mim seu nome e sua idade LM: é o nome todo... como é que é? P: pode ser só o primeiro nome LM: - Renato 32 anos P: e Renato... qual é seu grau de escolaridade e formação? LM: quinto ano P: sim... e atualmente você trabalha? – LM: atualmente... só faço massoterapia P: sim... e: - agora eu vou começas com a entrevista voltada pra área das roupas mesmo tá? LM: tá P: é conta pra mim... quais as dificuldades você encontra na hora de comprar roupas na loja é se é a cor... o tamanho... entender como é a peça... identificar direito e avesso... a textura do tecido... ou se tem alguma outra? LM: - sim... as vezes a textura do tecido... porque estampa influi muito – P: uhum LM: influi muito porque quando... ( ) tem estampa fica sem saber e assim por exemplo pra gente ser mais independente a estampa é importante (quando) não tem estampa tem que perguntar o vendedor ou vendedora – P: aham LM: (qual a cor da roupa)
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P: sim... então você gosta de pedir ajuda na hora de escolher a roupa? você acha que é importante ter um bom atendimento na loja? LM: isso... sim... corretamente P: é conta pra mim um pouco... como que é a sua rotina na hora de se vestir se você deixa as roupas já separadas antes? veste primeiro alguma peça específica? como que você faz? LM: eu praticamente assim (como) no ((quando)) chego em casa tal faço o que tem que fazer como tenho que sair no outro dia... já deixo a roupa separada – P: aham LM: na cômoda falo vou usar a camisa tal e: calça tal... ou bermuda tal pronto P: uhum LM: e as outras peças também... eu já pego na hora P: entendi... e em qual tipo de loja você prefere comprar... você gosta mais de loja de rua... loja de shopping... ou alguma loja específica? LM: oh eu: eu assim particularmente vai de acordo com o bolso = P: [aham LM: =quando o bolso tá meio assim é loja de rua quando o bolso tá mais assim aí é loja de shopping P: aham... você gosta de ir ao shopping? LM: gosto P: você vai com facilidade? LM: oh acompanhado P: sim
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LM: com acompanhado sim – P: uhum - isso é importante é: - fala pra mim se você compraria... em uma loja especializada em roupas de moda inclusiva? roupas que pensam é... em clientes que consomem de uma forma diferente... por exemplo que possui algum tipo de deficiência ? se você... compraria nesse tipo de loja LM: é importante compraria sim... porque... eu penso assim uma pessoa que tá passando pela limitação da outra também = P: [aham LM: = (tem) a mesma limitação da outra... já entende mais do assunto também P: sim LM: ai eu compraria... com muito prazer mesmo... com muita facilidade mesmo P: sim... conta um pouco pra mim como que você seleciona e organiza as roupas no seu guarda roupa LM: é assim eu... aprendi na aula o seguinte (aqui) onde é que eu estudo no Instituto São Rafael P: aham LM: eu dobro a camisa faço aqueles ROLINHO – P: sim LM: faço aqueles rolinho e separo... coloco três camisa de tal co...r três de outra cor... três de outra cor - pronto... aí na gaveta de baixo bermuda de tal cor... outra bermuda de tal cor pra mim não pegar bermuda e camisa da mesma cor (isso) é bermuda de usar dentro de casa bermuda camisa ( ) de usar dia a dia de dentro de casa = P: [uhum LM: = roupa de sair... já ponho no cabide no guarda roupa –
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P: entendi LM: pela sequência também eu já sei as cores P: sim... ai você gosta de deixar separado por cor = LM: [é: P: = e separado roupa de sair... das roupas de ficar em casa né? LM: sim é P: entendi e você tem alguma relação com moda: com estilo... porque? LM: oh eu... assim eu particularmente... eu praticamente assim eu gosto do social - P: aham LM: mas (ai) vai muito da situação ai dependendo da situação eu já gosto muito do social esportivo – P: sim LM: é P: aham são os estilos assim que você mais gosta né? LM: é P: e: você gosta de vestir e escolhe suas roupas pensando em estar na moda? LM: sim (quando) eu penso assim... na minha opinião falando eu = P: [uhum LM: = não vou ficar pra trás não (frase exclamativa) (risos) Eu penso em andar junto com o pessoal mesmo (frase exclamativa)
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P: sim você gosta de saber o que tá todo mundo usando e acompanhar = LM: [é acompanhar P: =o que tá em alta né? LM: é acompanhar P: aham... e... fala pra mim que que te incomoda atualmente no seu guarda roupa – na hora de vestir uma peça e... o que que você acha que poderia ser melhorado? LM: no guarda roupa? P: aham LM: - poderia ser melhorado assim... bom... ( ) até que atualmente pra mim particularmente... pra mim até que tá tranquilo P: aham LM: nessa parte tá tranquilo P: você consegue identificar bem as peças? LM: consigo sim pela... pela sequência que eu mesmo guardo = P: [aham LM: (como) é mais fácil assim eu mesmo guardar... porque se outra pessoa guardar colocar a roupa lá pra mim... e fazer... fazer a roupa lá tal guardar... aí eu já fico meio em dúvida P: uhum... e você... teria alguma alteração... que você faria na peça pra ajudar a vestir com mais facilidade ou pra escolher a roupa? LM: (ah) é só sobre isso da estampa mesmo = P: aham... então você acha que seria importante ter... por exemplo um etiqueta qual que é a estampa da roupa a cor ? se a etiqueta fosse em braile por exemplo
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LM: oh... isso que é o principal se fosse em braile (uma) etiqueta em braile = P: [aham LM: =seria excelente P: indicando também como cuidar da roupa ? LM: é:: não e eu assim... eu assim... particularmente... assim eu peça de roupa eu já sei mais ou menos como ter cuidado com cada tecido – P: sim LM: eu já sei do tecido que tem que lavar na mão do tecido que tem que lavar na máquina = P: [aham LM: = ou um tecido que pode passar o outro não isso ai é ( ) tranquilo P: aham – mas ai se a etiqueta falasse a cor e a estampa você acha ajudaria bastante né? LM: ajudaria e MUITO P: aham e: LM: mais não só a etiqueta... porque uns tem facilidade do braile... outros não = P: [aham LM: = por isso que eu falo da estampa... mesmo se a blusa não for assim... igual (não é por ser) uma blusa social com estampa grande e tal um desenhinho pequenininho na maga de uma blusa (pra) pessoa só sentir ali e pronto P: aham uma textura diferente? LM: é:: P: no desenho né
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LM: [isto (frase exclamativa) P: é conta pra mim a sua opinião... se existissem marcas especializadas neste tipo de roupa... de moda inclusiva com esse direcionamento -LM: oh... pra mim do jeito que tá assim... bom... tá bom e e num tá né?! P: aham (sorriso) LM: (por exemplo) porque se tiver uma roupa só tal pessoa assim... essa roupa assim... só pra tal e tal pessoa aquilo ali eu já acho que é um mundo assim: ...separado = P: [aham LM: =um mundo separado (pois) então eu falo pô ai a pessoa tá colocando eu tipo de escanteio P: sim mas ai você acha que seria importante então... uma loja é um tipo de roupa que qualquer pessoa conseguiria vestir então? Sem separar por nomes tipo roupa pra essa pessoa ou pra outra? LM: (é não) o que eu penso é assim uma loja com com peças de de roupa iguais as outras... mas com uma ou duas pessoas... na mesma limitação pra saber qual o atendimento certo como é que tem que ser P: sim... principalmente focando então no atendimento? LM: é: P: entendi – e você já percebeu alguma intenção do mercado em fazer essas melhorias ter esse direcionamento? LM: oh... realmente não percebi não viu P: aham - e... o que que você gostaria de encontrar então... conta pra mim um pouco você falou dessa questão do atendimento... teria mais alguma outra coisa?
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LM: INFORMAÇÃO = P: [uhum LM: = eu acho que falta informação... pra algumas vendedoras ou vendedores P: um preparo melhor então? LM: um preparo... porque eu cheguei numa determinada loja uma vez... (ai) eu falei “tem camisa?”... ai a vendedora virou pra mim e falou “tem a camisa dessa cor aqui essa cor é tão bonita olha como é que essa cor é” eu virei e falei “nossa essa cor é bonita mesmo realmente” (risos) P: nossa (frase exclamativa) LM: “muito bonita essa só que eu não vou querer essa não muito obrigado” “tá? tá bom” - é P: entendi... ( ) as minhas perguntas terminaram mas você teria algum comentário a fazer... ou alguma coisa que eu não perguntei... que você gostaria de acrescentar? LM: bom falou das roupa correto? P: aham LM: peças de roupa beleza (até) que eu falei da da textura né? P: aham LM: ou da etiqueta em braile né? P: sim LM: (beleza) mais também igual ( ) eu falei da loja também que tem que ter um atendimento P: sim LM: um pouco mais ((informado)) eu acho que tem que ter mais in-for-ma-ção =
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P: [com certeza LM: =informação é o que... que tá faltando hoje = P: sim LM: =um pouco a informação eu acho que:... assim como tem... na televisão ah: é novelas um personagem disso um personagem disso... personagem daquilo mais... não fala de pessoas ajudando a outra a outra pessoa... como ajudar a outra pessoa P: aham LM: porque (?) as vezes eu tô na rua pessoa chega com boa intenção pra ajudar pra ajudar eu a passar para o outro lado da rua... mas já chega me puxando pelo braço ai eu falo “peraí uê” (risos) “muita calma” (risos) P: entendi ... (sorriu) Renato muito obrigada (frase exclamativa) LM: de nada (frase exclamativa)
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TRANSCRIÇÃO ENTREVISTA – 6
Pesquisadora: eu vou começar então... fala pra mim...seu nome e idade por favor Locutor Masculino: é José Pedro da Silva... 64...sessenta e quatro anos P: isso...é: seu grau de escolaridade e formação? LM: é:: segundo grau completo né?! P: uhum... e... Zé Pedro atualmente você trabalha? LM: não não...eu sou aposentado já... eu já trabalhei muito (sorrisos) LM: (sou aposentado já) P: agora eu vou começar a fazer as entrevistas direcionadas pras... pras roupas mesmo... aí...conta pra mim um pouco é: quais dificuldades você encontra na hora de comprar roupas em uma loja... se é cor... é saber o tamanho...entender como é a peça... identificar direito e avesso... a textura da roupa ou alguma outra? LM: acho mais é a cor né... tudo...acho que tudo (né)... P: uhum LM: a cor é o principal né?! cor ( ) porque às vezes eles vende uma cor e fala que é outra né?! P: uhum LM: e aí a gente... tem que tá sempre acompanhado acompanhado de uma pessoa pra poder ... explicar a gente direitinho né P: sim... aí você gosta de fazer suas compras mais acompanhado? LM: ah (frase exclamativa) é melhor né P: uhum.... é...conta pra mim=
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LM: [ou então confiar no vendedor também né P: = é (sorri) ... conta pra mim um pouco qual é sua rotina na hora de se vestir... se você deixa as peças separadas antes? (se você) escolhe alguma que você veste primeiro... como que é? LM: ah:: eu não separo nada não (sorrisos)... pego vou pegando...a que eu achar lá primeiro eu vou vestindo... P: entendi é:... em qual tipo de loja você prefere comprar... loja de rua... loja de shopping... alguma loja específica? LM:...ah: eu não tenho não tenho loja específica não... geralmente procuro a mais barata né?! P: aham... então... aí... onde o preço tá bom e te atendem bem = LM: [aí a gente vai... (é lógico) P: =aí é nessas que você compra? (sorrisos)... você... você compraria em uma loja especializada em roupas de moda inclusiva? que fosse direcionada a pessoas que tenham algum tipo de deficiência... umas roupas que fossem mais práticas pra vestir? LM: ah: eu acho que não tem esse tipo de roupa ( )... se bem que compraria sim... mas acho que não existe = P: [aham LM: =esse tipo de roupa assim esse ( ) especial P: entendi LM: roupa é tudo igual P: (sorri) é... explica pra mim um pouco como que você... organiza suas roupas no seu guarda roupas LM: ah menina... de qualquer maneira (viu) ...eu não organizo nada não
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P: você não organiza não? LM: eu não tenho organização não... quem organiza pra mim é até o pessoal lá de casa que organiza... porque eu mesmo não organizo não... P: uhum... e: e aí... quando eles organizam pra você... fica separado por cor... = LM: [fica P: =por tipo de peça? LM: fica P: uhum... e... você é.. qual que é a sua relação com moda e estilo... porque assim? se você tem alguma relação... se gosta de vestir algum estilo... específico? LM: aham... eu gosto mais (é de) roupa social P: uhum... e:: você escolhe suas roupas pensando em estar na moda: LM: não P: não? = LM: [não P: =você veste = LM: [é... combinou bem sendo social... P: =sendo social... LM: combinou direitinho... sendo social... combinou a calça e a camisa... e combinou direitinho... o sapato também... (tah bom...tá tudo bom) (sorrisos) P: é... você tem alguma eu te incomoda atualmente nas roupas... na hora de vestir... ou você veste com facilidade as suas roupas? LM: não... veste com facilidade... tranquilo
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P: uhum... é... então você faria algumas alterações pra vestir com mais praticidade... ou pra identificar melhor as peças... como saber as cores? LM: não não... isso aí ( ) isso aí nós tem que... a pessoa tem que falar pra gente mesmo... não tem jeito P: aham... mas... e se tivesse alguma etiqueta em braile por exemplo... você acha que facilitaria? LM: ah não... ( ) não... não facilitaria não... de todo jeito depende de uma pessoa que enxerga pra olhar mesmo...tudo direitinho... P: pra te falar se tá combinando... = LM: [(é) tá combinando assim né P: = e se ficou bom... é... você tem alguma opinião em relação se existisses marcas específicas que... que fizessem roupas de moda inclusiva? LM: ah não... isso aí ... isso aí ((gaguejou)) isso aí é bobagem (não existe)... não tem motivo... eles não tem motivo pra fazer isso não... P: uhum LM: toda roupa é roupa né ( ) P: entendi... e: você percebe a intenção do mercado de moda em se direcionar... a fazer roupas pras pessoas vestirem com mais praticidade... pra pessoa que tem dificuldade na hora de vestir? LM: - ah menina... isso aí não... não... não vejo dificuldade de vestir roupa não só ( ) né... a pessoa normal tudo que vai com a agente e tudo... (a gente) só num enxerga... a mobilidade tudo direitinho a gente veste P: uhum.... e você gostaria de encontrar alguma coisa diferente nas marcas então? como um atendimento mais bem preparado por exemplo... ou alguma coisa nesse sentido?
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LM: não isso ai não P: não? Você acha que tá tudo ok? LM: tá...tá tudo ok P: tranquilo? LM: a gente tem que ir é no lugar confia e tudo mais... de todo jeito tem que confiar no vendedor cofiar ( ) e tudo P: uhum LM: porque a gente não tá vendo... ou então ir acompanhado com alguém P: entendi... e... assim das perguntas você acha que teria alguma coisa que você gostaria de acrescentar... comentar alguma coisa que eu falei? LM: não...acho que tá tudo ok... tudo bem P: tudo bem? LM: tudo tranquilo P: então... a gente terminou (sorriu) muito obrigada LM: que isso (frase exclamativa)
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TRANSCRIÇÃO ENTREVISTA – 7
Pesquisadora: a primeira coisa... é fala pra seu nome e idade por favor Locutor Masculino: Gerônimo Rocha... quarenta e sete anos P: e Gerônimo... qual que é seu grau de escolaridade? LM: segundo grau P: e atualmente você trabalha? LM: trabalho P: em que área? LM: sou funcionário público da do Hospital de Betim P: sim... agora eu vou começar a fazer as perguntas direcionadas mais pra área das roupas ok?! LM: uhum P: conta pra mim... se você tem alguma dificuldade... na hora de comprar as roupas na loja é... se é identificar a cor... entender como é a peça... identificar direito e avesso... a textura... saber o tamanho... ou tem alguma outra questão? LM: bom na verdade quando eu... antes deu eu me casar... eu talvez eu tinha um contato maior com isso... todos esses itens que você falou = P: [uhum LM: = eu conseguia identificar melhor... a textura da roupa... o tamanho... é combinações... entre camisas e calças etc e tal... eu era um pouco mais exigente quando era mais novo – P: uhum
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LM: e era eu quem escolhia porque - eu sou... eu não nasci cego eu fiquei cego = P: [entendi LM: =então a minha família propriamente dita... ela tinha pouca dificuldade de lidar comigo... como eu estudei interno numa escola... então eu tive que me virar em certo ponto – P: uhum LM: depois que me casei... e me casei com uma pessoa que enxerga – então fiquei um pouco preguiçoso nesse sentido... que aí ela passou a fazer essas escolhas... P: ((sorriu)) é LM: né? ...então hoje... na minha situação eu ((gaguejou um pouco)) eu me preocupo mais com tamanho... que eu tenho uma dificuldade de tamanho... = P: uhum LM: = que às vezes compra uma roupa que fica bem... no comprimento até na cintura mas não fica bem nos braços fica agarrado debaixo do braço = P:[uhum LM: =então o tamanho... agora quanto a cor...textura...combinações - aí eu já deixo mais por conta dela P: entendi... e: você tem uma rotina na hora de se vestir? LM: - na verdade é o seguinte... a gente acaba tendo que fazer essa rotina porque na... ( ) a partir do momento que você não enxerga... então você traça um certo... uma certa linha né... pra que você não fuja muito daquilo = P: [uhum LM: =não é verdade? P: sim
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LM: uma... então quer dizer... seria... até: ... uma inverdade da minha parte se eu dissesse que num (tivesse) que num tinha uma rotina P: então é:... você poderia me contar um pouco como como você faz... como você deixa separado as suas peças LM: hum tá... bom... eu penso o seguinte... no que tange por exemplo à calça... a calça jeans é o tipo do... da da roupa que... que você não pode ficar trocando todo dia = P: [uhum LM: =então ela aguenta você bater com ela dois três dias... né?! P: uhum LM: então eu tenho ... eu penduro a minha (roupa) a minha calça num lugar... arejado... nunca dentro do (meu) guarda roupa... = P: [uhum LM: =sempre num lugar arejado
no meu quarto... onde ali vai tá batendo um
ventinho... etc e tal...porque eu vou usar... eu já tenho consciência que eu vou usar ela duas três vezes... me preocupo com a limpeza dela... a minha...a minha esposa olha sempre que peço... ou eu mesmo vou lá e dou uma cheirada... se a coisa tiver impregnada acabou... (sorrisos) ela vai pra roupa suja e vamos pegar outra - a camisa... ela fica no guarda roupa... e a par... eu eu... por... não uso uma camisa por mais de uma vez... não consigo usar... porque eu sou tabagista... e também ando muito... além de trabalhar eu faço parte da diretoria aqui também da Entidade... (então) tem que vir muito...a gente anda muito... = P: [uhum LM: =então camisa é o tipo da coisa que não dá pra você usar duas vezes... = P: [entendi
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LM: =né... e quanto a meia... eu uso muito sandália... eu uso meia e tênis quando eu vou trabalhar... porque lá é hospital... eu num posso trabalhar de sandália... P: [sim LM: mas é muito... muito (é) sandália... assim por diante... P: uhum... e... conta pra mim como que... que são organizadas as suas roupas no guarda roupas LM: ai que belezinha (frase exclamativa) Aí que á o detalhe... quando você casa com uma pessoa que enxerga... então tem algumas coisas que você dá graças à Deus que... você não tem que se organizar nesse sentido... = P: [uhum LM: =antes... quando eu não era casado... eu tinha o meu cantinho... (porque) como às vezes eu chegava em casa mamãe não estava... e e eu tinha que sair logo em sequência... (porque) eu mecho com música e parava muito pouco em casa... como é hoje também ... P: [uhum LM: =é às vezes a minha esposa faz extra... e ela tah e ela saía e meus filhos... (não estão) em casa... então eu tenho que me virar... então eu tenho o meu cantinho no guarda roupa... que eu ponho a mão e já sei que aquilo é aquilo ali... que a calça é aquela... ou então ela... pra adiantar o meu lado... muitas das vezes mais pra ela adiantar o meu lado...ela já passa tudo e deixa tudo bonitinho eu vou lá passo a mão visto e tiro ( ) ((ruído)) P: entendi... é:... você... você tem um tipo de loja que você prefere comprar? se loja de rua... loja de shopping... = LM: [sim:: P: =por exemplo? LM: a mais barata... de preferencia de um e noventa e nove...
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P: aham (risadas) LM: mas na verdade é o seguinte... volto de novo no tema...esposa... é:: há uma diferença muito grande entre o... o deficiente... o cego casado... e o cego não casado = P: [aham LM: =então essa independência aí... ela se distingue... = P: [entendi LM: =porque o que tem uma esposa que enxerga... ele é um pouco mais preguiçoso... ele é mais ((gaguejou))... não que ele é não necessariamente dependente... ele se torna dependente por comodismo... = P: [sim LM: =eu falo por mim.. = P: [uhum LM: =então ela que se ocupa dessas situações... né = P: [entendi LM: =eu fico mais na sombra dela... por... opção... não por limitação P: sim... então... é... você acha que você compraria em uma loja... que fosse direcionada pro segmento moda inclusiva? LM: mas cê não tenha dúvida (frase exclamativa) Eu acho não só que tange a moda como = P: [aham LM: =como qualquer outros produtos de consumo... porque = P: [no mercado em geral?
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LM: =sim (frase exclamativa) O deficiente ele é um consumidor po-tem-ci-al independente de qual segmento nós estamos falando = P: [sim LM: =você entendeu? então a roupa... ela seria uma abertura de espaço... que NINGUÉM... até não quis ser pioneiro nessa situação = P: [uhum LM: =num... você não precisa monta uma loja especifica pro deficiente ... = P: [sim LM: =um departamento... um box... uma coisa que o deficiente tivesse a liberdade... que ele não precisasse usar uma pessoa que enxerga pra ele estar lá... hoje nós temos aplicativos de celulares que ajudam na cor... quanto à textura que depende do tato... um provador pra ver tamanho... isso aí não necessariamente precisa de adaptações... mas se você puder estar (lá) num ambiente em que ele te ofereça essa condição de de acessibilidade... cê tá é louca (frase exclamativa) seja bem vindo(frase exclamativa) P: [uhum LM: quando puder... claro (sorrisos) P: é: qual a sua relação com moda e estilo? LM: eu já fui muito mais exigente moça... quando eu era solteiro e no começo do meu casamento... = P: [uhum LM: =eu tinha muita preocupação com esta questão... porque a gente vive na sociedade e ela cobra muito isso... e o cego... ele é mais cobrado ainda... porque entra aí o quesito preconceito... = P: [sim
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LM:=então... se o o... hoje eu ando muito derrubado... eu não sei se pelos 47 anos:... é a gente é... já é ainda... já saiu um pouco daquela linha do “eu tenho que fazer a diferença fisicamente”... então = P: [aham LM: =tal... pelo amor de Deus... eu não estou dizendo que eu estou certo... que esse é o caminho... = P: [não não... sim LM: =digo eu... especificamente né?! P: aham LM: então... eu já fui muito exigente nessa questão de moda... acho o fino da bossa o deficiente que se veste bem... que calça BEM... = P: [uhum LM: = que se produz bem... porque... não é porque ele é deficiente mas... a sociedade cobra isso de todo mundo... e do deficiente mais... quem não quer estar perto de uma pessoa cheirosa... bem vestida? = P: [uhum.... sim LM: =é agradável pra quem enxerga... é agradável pra você ficar perto de uma pessoa desse nível... só que... é importante que ( esteja isso ) bem claro moça... dentro da classe de nós deficientes visuais... poucos se destacam no quesito financeiro P: [uhum LM: a maioria é vindoura de famílias CARENTES... = P: [sim LM: = sua grande maioria... é de... vindoura de famílias carentes... então se cobrar dela é:... roupas de marca é quase que impraticável ... =
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P: [sim LM: =então nós temos que cobrar dela... roupa limpa... cheirosa né?! ... pra... também você não vai por no cara (a) roupa... uma calça vermelha com uma camisa que não combina com a calça... ou às vezes como estilo dele... = P: [sim LM: = então se tiver alguém pra orientá-lo... é outra coisa também... você tá numa loja especializada e que tem alguém pra orientar... não tem um orientador pra vocês que enxergam?! P: sim LM: pra um que não enxerga seria muito mais viável até... olha você tem um estilo... como você tem menas... menas não existe... como você tem menos bunda (risos) essa calça não serve pra você... mas você já é mais bundudo... essa é bacana pra você... = P: [aham LM: =você tem um tórax mais estreito... um tórax mais... isso é que... você entendeu? P: entendi LM: uma orientação... isso nenhum cego tem... = P: [aham LM: esta orientação de ESTILO... de... o que fica BEM pra ele... a minha esposa por exemplo... (“quando ela me veste”)... entre aspas... porque se eu depender disso eu vou andar pelado... quando ela escolhe as minhas roupas... ela se preocupa com algumas coisas... DO MEU GOSTO... eu detesto as... a manga curta que pega muito acima do cotovelo... = P: [hum LM: = que eu gosto muito de roupas apolo... camisas apolo... =
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P: [uhum LM: = camisas pólo né?! P: aham LM: gosto muito... gosto de uma jaqueta... eu não gosto de jaqueta sobretudo... eu gosto de jaqueta dela já mais justinha na cintura...uma calça jeans...porque como eu sou desprovido de traseira... (sorrisos)... eu (uso) uma calça MENOS espalhafatosa... né P: aham LM: cê tá entendendo ? P: tô: LM: é: como a sociedade cobra algumas coisas... eu tenho que disfarçar algumas coisas... eu não posso colocar pano na minha (risos) (traseira) pra fazer uma bunda postiça... (risos) ... então vamos usar ter opções hoje... ((riso continuado)) P: entendi... é:... você escolhe o que vestir pensando em estar na moda? LM: ... como eu te disse eu já fiz MUITO isso... me preocupava de mais... eu perguntava muito... como... como eu não nasci cego... eu fiquei cego... = P: [sim LM: =então quando eu enxergava... antes de sofrer me acidente... eu tinha isso debaixo dos meu olhos... depois que sofri o acidente eu passei a fazer isso com os olhos dos outros... (há)... aí... uma grande dificuldade de nós cegos...nós não nos vestimos... não nos produzimos da forma que nós gostamos... e sim... da forma que alguém gosta... = P: [sim LM: = eu nunca vou poder dizer pra você... ou algum amigo meu que... é cego... ou que nasceu cego... que ele se veste daquela e daquela forma... porque ELE ACHA
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LINDO E MARAVILHOSO... e porque cai bem... absolutamente... principalmente se for uma pessoa que já nasceu cego.. = P: [uhum LM: =ele não tem noção de cores... ele não tem noção de combinação de cores... então... tudo pra ele é (sob) a visão de um terceiro... = P: [entendi LM: mesmo eu... apesar de ter quarenta e sete anos... tem trinta e cinco anos que eu fiquei cego... = P: [uhum LM: =então já perdi muita referência hoje... vocês tem uma gama fabulosa de cores... né? P: [aham LM: então eu perdi muita referência dessas cores que nasceram depois que eu fiquei cego... então entra aí a minha esposa... os cobradores como meu caçula... o meu menino mais velho... então...todos que vão me ajudando... mas eu hoje não tenho mais essa exigência ... eu tenho medo de andar rasgado e mal cheiroso... = P: [entendi (sorriu) LM: = e como eu disse... eu sou tabagista... aí... só aí... sabe... (já) depõe contra mim – você entendeu? P: [uhum LM: então eu tenho só esse receio... de andar rasgado... de andar sujo... é MUITO preocupante isso pra um cego... = P: [entendi LM: =fora isso minha jovem... eu tô na fita (frase exclamativa) (risos)
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P: é... você tem alguma coisa que te incomoda nos eu guarda roupa? = LM: [tem P: =em relação às roupas? LM: o guarda roupa em si (risos)... (está lá) aberto pra doações... ((riso continuado)) ... bom o que me incomoda no meu guarda roupa? vamo lá - eu acho assim... sabe?... eu tenho pouca exigência com quantidade de roupa... e eu me satisfaço bem com as que eu tenho... = P: [sim LM: =claro se (você) puder... eu eu... gosto de camisa xadrez... uma manga comprida... pra determinadas ocasiões... um blazer bem passadinho... pra quando você ir numa determinada... fora isso... como eu te disse não te dificuldade no meu guarda roupa... = P: [aham LM: = o que tá lá dentro uso... só preocupando com a limpeza... num tá rasgado e sujo... né? P: uhum LM: então estando (no meu ponto) nesse sentido... tá ótimo... e sim... adoro camisa com bolso (frase exclamativa) = P: [sim LM: =quando minha esposa inventa de comprar camisas pólo pra mim sem bolso... (sorrisos)... eu não preciso enxergar pra ela ver no meu olhar... ela tá ali... e ela sabe disso (sorrisos) P: é: você... teria alguma alteração que te ajudaria a vestir a roupa com mais facilidade... ou alguma alteração na identificação das peças? -
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LM: não... veja bem é... vestir uma roupa na condição de deficientes... bom pelo menos comigo tá... eu não posso generalizar pros outros... = P: [aham LM: =cada um tem o seu nível de deficiência... = P: [sim LM: =eu não tenho dificuldade nenhuma com calça...camisa...meia...cueca... ainda bem que não uso sutiã... (risos) porque eu acho que aquilo ali é o fim da picada pra usar (mesmo)... né? então... não usando sutiã já adiantou muito pro meu lado... (sorrisos) então não tem dificuldade não... visto bem... rapidinho...meia... sapato... né? P: entendi LM: tamo na fita P: é: e qual a sua opinião se existissem marcas direcionadas à moda inclusiva e acessível? LM: como eu te disse... TUDO que a pessoa lança que facilite a vida de um portador de deficiência... seja ele cego... físico...mental... auditivo... qualquer coisa que se faça pra facilitar a vida do deficiente É MUITO BEM VINDO (frase exclamativa) = P: [uhum LM: = eu não sei se todos teriam o mesmo acesso... P: [sim LM: =mas... é muito bem vindo... tudo isso é muito bem vindo P: é... você percebe as intenções do mercado em se direcionar à este público? LM: nunca:... especialmente no que tange a roupa... = P: [sim
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LM: =ainda não percebi que mudasse... você entendeu?... você entra numa loja... o tratamento continua o mesmo... = P: [aham LM: =muitas das vezes se encontra uma vendedora que por uma questão de simpatia... de educação... ela te dá uma atenção mais adequada... mais isso... POR ELA... uma coisa bem individual... = P: [aham LM: = mas -
porque a loja propriamente dita deu um tratamento pra essas
vendedoras... ‘olha vem entrando um deficiente’... o tratamento com eles... P: [um treinamento né? LM: (isso) não tem (frase exclamativa) ... isso não existe... é muito pessoal... da vendedora... e muitas das vezes... sem contar que quando entra um cego na loja... as pessoas se preocupam mais “ah meu Deus... veio pedir”... = P: é LM: nunca consumir... = P: [aham LM: =isso... isso é uma fase que já acabou... = P: [sim LM: = hoje o cego... o deficiente... nós cegos... deficiente é... qualquer um que usa óculos é deficiente... nós cegos somos tão consumidores quanto qualquer um outro P: com certeza... e... é: o que que você gostaria de encontrar nas marcas de moda? LM: olha... eu tenho percebido muito... eu tenho um metro e oitenta e cinco... e tenho percebido muito.. porque que eu to te falando a minha altura? antes... eu tinha
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facilidade de comprar roupa.. quando falava comigo assim... “ah essa aqui é GG”... e eu vestia... muitas das vezes não precisava nem vestir... podia levar que servia... = P: [uhum LM: =hoje você encontra uma roupa... mudaram-se os moldes...= P: [sim LM: então se (tá na) GG... e você leva pra casa... o trem tá grudado aqui tipo mamãe eu tô fortinho... (risos) né? ... fica aquele trem engrundunhado em baixo do sovaco... ou... apertada de mais no gavião... = P: [uhum LM: =ai tem que comprar a extra G... mas aí a mesma extra G que eu comprei aqui... muitas das vezes... não que diacho que eles arrumaram com esses moldes... não é o mesmo extra G que eu compro amanhã... P: uhum LM: então eu acho que a padronização... dessas... desses ((gaguejou um pouco))... números... que identifica o tamanho médio ... pequeno e grande P: sim LM: tão oscilando muito... e isso tem atrapalhado muito pra nós deficientes porque... muitas das vezes tem loja que nem provador num tem... então você acredita naquelas letras...naqueles números... né? P: aham LM: e... digo pra você... chegar em casa... experimentar e ver que ela não serviu e ter que voltar lá... pra você que enxerga... talvez o caminho é menos... tortuoso... pra mim... já se torna mais... = P: [uhum
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LM: =difícil... delicado... né... e mesmo assim nada me garante que eu vou trazer a outra e vai servir P: entendi... então você espera assim também um melhor atendimento... uma adequação dos provadores? = LM: [sim:: P: =nesse sentido? LM: uhum P: e:: assim... as minhas perguntas terminaram teria alguma coisa que você gostaria de acrescentar... ou de comentar... ou alguma pergunta que eu não fiz e você... LM: bom... primeiro parabenizar vocês porque é é um assunto... que é pouquíssimo debatido dentre os deficientes... ou nada... eu nunca vi... P: uhum LM: lido no meio com as associações... eu nunca vi debater moda pra deficiente ... = P: [aham LM: isso é pioneiro... e principalmente no que tange a se executar isso de fato dentro das lojas ... P: sim LM: seria bacana levar isso pras lojas... né? P: aham LM: e o deficiente de maneira geral se sente feliz quando é ouvido... as pessoas tem péssimo hábito de achar que pode decidir pelo deficiente sem ouvi-lo... = P: [aham
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LM: =então ouça.... faça isso que você tá fazendo... pergunta... né... que aí você vai conseguir elucidar várias coisas.... que você acha que poderia é é ... decidir por ele... você vai ver que não... ele também tem vontades próprias P: aham... tem poder de escolha né LM: com certeza... (e) toma decisões... então isso que vocês estão fazendo é bacana... né... e levem esses estudo pras lojas... “olha vocês estão perdendo um mercado... que é potencial” ... P: sim LM: que fala mesmo... fala (pras lojas) cego não anda pelado... cego gosta de vestir...de calçar né? P: aham LM: e seguindo a linha de raciocínio da minha mamãe ... cabô (risos) P: muito obrigada (frase exclamativa) LM: muito de nada (frase exclamativa)