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INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE GRADUAÇÃO EM MODA Luana Lorhayne S. de Jesus
CICLO DO OURO
Trabalho de conclusão de curso, apresentado à disciplina de projeto experimental do Instituto de Comunicação e Artes/ Centro Universitário UNA, como pré requisito para a obtenção do título de bacharel em moda.
PROFESSORA ORIENTADOR: Flávia Virgínnia ÁREA DE PESQUISA: Criação de Moda PROJETO: Coleção Feminina
BELO HORIZONTE 2016/2º Semestre
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RESUMO Este trabalho é um memorial descritivo no qual foi inspirado no Ciclo do ouro em Minas Gerais no século XVIII. O tema foi retirado dos poemas do livro Romanceiro da Inconfidência da escritora Cecília Meireles. Tem como objetivo a realização de uma coleção de moda Primavera/Verão 2017 com olhar moderno para mulheres femininas e poderosas, sendo a criação composta por 45 looks e outros 6 looks confeccionados como produtos práticos. Palavras-chave: Moda, Ciclo do ouro, Romanceiro da Inconfidência.
ABSTRACT This work is a descriptive memorial in which was inspired by the Gold Cycle in Minas Gerais in the eighteenth century. The theme was taken from the book of poems Romanceiro Cecilia Meireles writer Inconfidência. It aims to hold a fashion collection Spring / Summer 2017 with modern look feminine and powerful women, and the creation consists of 45 looks and other 6 looks made as practical products. Keywords: Fashion, Gold Cycle, Ballads of Conspiracy.
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SUMÁRIO Briefing de Negócios Canais de Distribuição • 02 Margem de Preço • 02 Diferenciais da Marca no Produto • 02 Atributos Espirituais e Físicos • 02 Concorrentes • 03
02 • Descrição Geral da Marca 02 • Estilo 02• Segmento 02 • Nicho 02 • Gênero
Público Alvo
10 • Painel de Público Alvo
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Descrição de Público Alvo • 11
Identidade da Marca
15 • Justificativa de Nome, Cor e Tipografia 16 • Monocromia 16 • Escala de cores 16 • Tpografia 16 • Área de Proteção
Área de Redução Mínima • 16 • Malha de Ampliação • 17 • Usos Indevidos • 17 • Aplicações • 18 • Brinde • 19
Briefing de Coleção
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23 • Release 24 • Painel de Inspiração 26 • Painel e descrição de Macrotendências 28 • Tendências da Estação 29 • Cartela de Cores 30 • Cartela de Tecidos 32 • Cartela de Matérias
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Cartela de Aviamentos • 33 Mapa de Coleção • 34 Descrição do Processo Criativo das Famílias • 36 Formas e SIlhuetas • 38 Apresentação Final: Desfile • 39 Coleção/Croquis • 40 Artigo Científico • 87
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CURRICULUM FORMAÇÃO
BACHAREL EM MODA ICA(Instituto de Comunicação e Artes) Una - 2016
TÉCNICO EM TEATRO CONTEMPORÂNEO PUC Minas - 2011
EXPERIÊNCIA
VENDEDORA
MODELO E ASSISTENTE
Setembro/2012 a Novembro/2013 Showroom Divina Pele Principais responsabilidades: Fazer a prova de roupas e auxiliar melhores técnicas para aprimoramento, colocar tags, ajudar na recepção, organizar pastas, etc.
MODELO
Abril/2012 a Outubro/2012 Showroom Lança Perfume Principais responsabilidades: Mostrar clientes as roupas do Showroom
Dezembro de 2014 até hoje Lupierre Principais responsabilidades: Atendimento a clientes, organizaçã da loja e decoração das vitrines.
LUANA LORHAYNE CARGO PRETENDIDO Estilista e Modelista END.: Rua das Perpétuas, 546, bairro Lindéia Belo Horizonte – MG
aos
CEL.: (31) 97123-6566
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TEL.: (31) 3385-1511
QUALIFICAÇÕES
E-MAIL.: luanamoda2@gmail. com
PSICANÁLISE E MODA Curso extensivo - UFMG- 2015
IDADE: 26 anos
INGLÊS AVANÇADO
CCAA - 2012
CORTE E COSTURA
Professora Cléria - 2010
CONHECIMENTO DIGITAL Pacote Office, Corel Draw e Photoshop
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BRIEFING DE NEGÓCIOS
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Descrição Geral da Marca A AURA é uma marca de roupas artesanais femininas feitas com amor! Feminilidade e sensualidade traduzidas em formas de belas modelagens e bordados feitos a mão. Possui as linhas de Prêt-à-porter, sob medida e aluguel de vestidos de festa sempre atendendo aos desejos de cada mulher. Uma marca mineira que tem em sua essência a originalidade regional, valorizando a cultura e mão de obra local através do Slow fashion, sem deixar de ser moderna e atual. Aura é a junção de opostos que combinados entre si garantem riqueza a marca.
Estilo Dominante: Romântico Complementares: Sexy e Criativo (Rock alternativo)
Segmento Ateliê e pret-à-portèr
Concorrente 1: CAOS
Feminino
Canais de Distribuição Físico - Ateliê.
Margem de Preço Varejo: menor preço R$200,00 e maior preço R$1.800,00 Blusa: De R$200,00 até R$500,00 Saia: R$250,00 até R$800,00 Short: R$200,00 até R$500,00 Vertido curto: R$500,00 até R$1.200,00 Vestido longo: De R$600,00 até R$1.900,00
Diferenciais da Marca no Produto Maior proximidade com o cliente, roupas feitas sob medida, qualidade com preço acessível, originalidade regional mineira, mistura de estilos, artesanalmente feita com amor aderindo também ao slow fashion.
Nicho Festa e Nightwear
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Gênero
Atributos Espirituais
Atributos Físicos
Mineiridade
Temas e/ou elementos regionais
Detalhes
Bordados
Rocker
Metais diversos (rebites, correntes, tachas)
Sexy
Decotes, fendas, transparências, etc.
A mulher CAOS é sensual e moderna. Atuando no mercado da moda desde os anos 80, estamos presentes em mais de 600 dos melhores pontos de vendas do Brasil e Exterior, sempre cuidando criteriosamente na elaboração de cada peça, para que seja objeto de desejo e valorização da mulher. Com linhas como Festa, Casual, Acessórios, a CAOS define com precisão, um estilo ÚNICO de se vestir! A Aura é mais romântica em relação a esta concorrente, pois usa mais rendas, babados e laços. Além de prezar pelo regionalismo e slow fashion.
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Concorrente 2: LANÇA PERFUME
A Lança Perfume é uma das marcas de roupas femininas mais desejadas pelas brasileiras. Suas criações são inspiradas na exuberância, sensualidade e na atitude da mulher que conhece o poder que a moda exerce sobre ela. Surpreendente, feminina, jovem, bem resolvida e ousada, oferece ao mercado a essência da mulher brasileira. Criada pela La Moda, fábrica fundada em 1986, em Santa Catarina, possui 21 lojas próprias, e está presente em mais de 2.000 pontos de venda espalhados no Brasil e pelo mundo. A Lança perfume é a expressão do luxo e da sofisticação de uma mulher poderosa e sensual, que vive intensamente suas conquistas. A Aura é mais irreverente e criativa com relação a este concorrente, pois utiliza o estilo rocker alternativo em seu DNA. Outro diferencial é ser mais romântica, pois usa mais rendas, babados e laços. Além de prezar pelo regionalismo e slow fashion.
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Concorrente 3: VALENTINO
A Maison Valentino foi fundada em 1960 por Valentino Garavani e Giancarlo Giammetti. Valentino é um protagonista da moda internacional, que de 2008 até 2016, passou por uma evolução criativa impactante. A Maison Valentino desempenha um papel importante na divisão de luxo através da tradição e inovação, uma combinação necessária para uma indústria criativa que gera o senso de beleza. Moda de Valentino é apresentada através das linhas de alta-costura e Prêt-à-Porter para as mulheres e para os homens e através das linhas de acessórios Valentino Garavani que incluem sapatos, bolsas, pequenos artigos de couro, óculos, lenços, gravatas e fragrâncias. Um universo estético, presente em mais de 90 países através de 160 boutiques Valentino diretamente operados e mais de 1300 pontos de venda. Uma estética, visão contemporânea e excelência na execução são as diretrizes do processo industrial e da fabricação artesanal que são inteiramente produzidos no Atelier histórico de Piazza Mignanelli em Roma, onde a escola de alta costura especializada ‘Bottega Couture’, abriu recentemente. A Aura possui em seu DNA um regionalismo mineiro diferentemente do concorrente citado. Além do preço ser consideravelmente inferior.
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Painel de Estilo da Marca
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PÚBLICO ALVO
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Painel de Público Alvo
A mulher Aura tem um espírito jovem de 20 a 35 anos, pertencente às classes C e B, é ávida por produtos que tenham qualidade e preço justo. Gosta de objetos com design diferente, vintage e retrô. Amam bandas (Arctic Monkeys, The XX, The Strokes, Foster the people, etc.), film-
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es (Moulin Rouge, Bonequinha de luxo, O diabo veste Prada, etc.) e grupos de teatro (Grupo Galpão, Maldita Cia, grupo de dança Corpo, etc) sempre alternativos, mas podem vir com pegadas pop também. Tudo o que é artesanal e regional lhe chama atenção, comida, bebidas, roupas, bijus,
etc. Durante a semana trabalha em algum shopping ou escritório e estuda (talvez ela estude Psicologia, Direito ou até mesmo Administração), nos finais de semana frequenta casas de amigos, pubs, bares ou eventos culturais para se divertir, e nos momentos de folga aproveitam para ler algo ou
livro. Elas amam seus animais de estimação como se fossem parte delas. A musa referencia da marca é a cantora Selena Gomes, pois ela consegue misturar estilos e manter uma imagem única.
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IDENTIDADE DA MARCA
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A MARCA
Nome O nome Aura significa algo que não podemos ver, mas podemos sentir em outra pessoa. Outros significados seriam brisa, aragem ou vento suave. Pode ser um conceito místico ou da Astrologia, representando um campo energético que envolve um ser vivo, que pode ser bom ou ruim. Na mitologia grega, Aura era uma ninfa que era rápida com a brisa. No conceito da marca, Aura vem com o propósito de ser uma marca com uma energia boa, que adere ao slow fashion tornando a fabricação de roupas de modo artesanal e feitas sob medida. O
nome é bem claro, fácil de memorizar, soa bonito, é suave e forte ao mesmo tempo. A cor dourada foi escolhida pelo fato da simbologia do ouro como um elemento químico ser representado pelas letras Au, iniciais da Aura. A fonte utilizada foi a Adam por ter traços femininos arredondados e formas mais retas que trazem modernidade e sensualidade. A letra A inicial foi alterada para ter a forma de triangular, que lembra o triângulo da bandeira de Minas Gerais e que também simboliza corpo, alma e espírito.
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Monocromia da Tipografia
Malha de Ampliação 6 5 4 3
Monocromia do Símbolo
Escala de Cores C:31% M: 44% Y: 86% K: 8%
R: 171 G: 133 B: 65
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Usos Indevidos
Tipografia ADAM, criada por Adam Ericsson, cuja letra A foi modificada durante a criação da logo: ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 1234567890
AURA Não utilizar a tipografia sem os acréscimos feitos exclusivamente para a marca.
Não utilizar a marca em outra cor.
Área de Proteção 1cm
1cm 1cm
Não esticar verticalmente.
Não esticar horizontalmente.
1cm
AURA
Área de Redução Mínima 1cm
1,5cm 3,7cm
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1,5cm
Não entortar a marca.
AURA R Não usar elementos da marca em outras posições
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Papelaria
Sacolas
Sacola papel cartão, 50cmx60cm, impressão fosca.
Sacola papel cartão, 40cmx30cm, impressão fosca.
Caixa
Envelope papel pardo tamanho A4; Pasta preta de plástico com aplicação da marca em dourado; Papel timbrado ofício A4, Cartões de visita 5cmx9cm.
Tags Caixa de papelão 30x30x10cm, impressão digital.
Brinde
Tag retangular 7cmx10cm, papel couchè 200g, verniz Tag circular 4cm de diametro, papel couchè 200g, imlocalizado. pressão fosca. Carregador solar portátil.
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BRIEFING DE COLEÇÃO
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RELEASE CICLO DO OURO RELUZENTE “Mil bateias vão rodando sobre córregos escuros, a terra vai sendo aberta por intermináveis sulcos; infinitas galerias penetram morros profundos. De seu calmo esconderijo, o ouro vem, dócil e ingênuo, torna-se pó, folha, barra, prestígio, poder, engenho... É tão claro! – e turva tudo: honra, amor e pensamento”. A Aura buscou inspiração no livro Ro-
manceiro da Inconfidência da escritora Cecília Meireles e trouxe para a Coleção Primavera/Verão 17 o Ciclo do ouro em Minas Gerais no século XVIII de uma forma exuberante e moderna. Todas as etapas da história, contadas em formas de belos poemas, desde o desbravamento das terras, da extração e do transporte do ouro, chegando à riqueza das igrejas da cidade Ouro Preto até os mistérios da região e as donzelinhas da época. Por isso as roupas possuem variabilidade
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de texturas, como bordados de correntes, cordas, moedas, medalhas, entre outras. As principais cores aparecem em tons terrosos, como marrom avermelhado, bege e nude. A modelagem segue a feminilidade da Aura com a predominância da cintura marcada, vestidos rodados e godês nas peças. Possui tecidos rústicos aliados a delicadeza de outros, como o Linho e a Seda. Pensando no reaproveitamento de materiais, a Aura trás uma renda feita de restos de papéis e tecidos tingidos por um pigmento resultante da calcificação dos rejeitos de minério de ferro descoberto por pesquisadores da UFMG. O resultado além de impressionante ainda contribui com o meio ambiente. Todos esses recursos aliados a essência mineira da marca revelam uma história poética contada através de roupas.
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Painel de Inspiração
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Painel de Macrotendências
Slow Regional foi o nome dado a macrotendência da vez. Percebemos cada vez mais a valorização de tudo o que é regional e artesanal, neste caso da coleção, o
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regional mineiro. Cresce a procura por comidas e restaurantes que contenham características da região, como por exemplo, tipos de queijos, hambúrgueres, cervejas,
cachaças e pães de queijo sempre artesanais. E na moda não seria diferente, aderindo ao movimento slow fashion, as marcas vem agregando valor a marca ao faze-las man-
ualmente, com mão de obra local e materiais regionais, intensificando a identidade da marca no mercado.
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Tendências da Estação
Cartela de Cores
Através da análise de algumas marcas desfiladas na Semana de moda de Paris, tais como: Alexander McQueen, Chanel, Dior, Elie Saab e Kenzo, percebemos as principais tendências da moda Primavera/Verão 17. Tais tendências aparecem na coleção Primavera/Verão 17 da Aura, como por exemplo o uso de rendas, transparências, metalizado e a variabilidade de tons da cor rosa quartzo.
Para a coleção Primavera/Verão 17, a Aura buscou cores que remetessem a ideia da rusticidade das famílias Bandeirantes e Extração aliada ao luxo das famílias Ouro, Mistério, Donzelinha e Altar Mor. Sendo assim, desbravamos os tons terrosos e tons crus, extraímos o ouro com pitadas do
dourado, aplicamos o mistério e sensualidade do preto, o romantismo do rosê e por fim, uma das estampas baseada na obra Assunção de Nossa Senhora, no teto da igreja de São Francisco de Assis do mestre Ataíde com pinceladas de vermelho e azul.
Dominantes Rosa Quartzo
Rendas
Off White Pantone XXX C:1% R: 251 M: 1% G: 249 Y: 2% B: 246 K: 0%
Minério Pantone XXX C: 28% R: 137 M: 97% G: 31 Y: 100% B: 27 K: 32%
Nude Rústico Pantone XXX C:10% R: 229 M: 29% G: 181 Y: 73% B: 96 K: 0%
Intermediárias Intermediárias Alexander McQueen
Chanel
Valentino
Alexander McQueen
Chanel
Transparências
Dior
Metalizado
Rosê Delicado Pantone XXX C:0% R: 254 M: 28% G: 192 Y: 46% B: 141 K: 0%
Vermelho Puro Pantone XXX C:0% R: 252 M: 100% G: 0 Y: 100% B: 1 K: 0%
Azul Celestial Pantone XXX C: 42% R: 144 M: 20% G: 180 Y: 0% B: 223 K: 0%
Tonalizantes T
Chanel
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Dior
Elie Saab
Alexander McQueen
Elie Saab
Kenzo
Preto Pantone XXX C:75% R: 0 M: 68% G: 0 Y: 67% B: 0 K: 90%
Ouro Pantone XXX C: 21% R: 201 M: 38% G: 154 Y: 100% B: 43 K: 2%
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Cartela de Tecidos
Mistérios
Para a coleção Primavera/Verão 17, a Aura buscou tecidos que lembrassem a ideia da rusticidade das famílias Bandeirantes e Extração aliada ao luxo das famílias Ouro, Mistério, Donzelinha e Altar-Mor. Sendo assim, desbravamos as aplicações de fran-
jinhas e rendas em tecidos, bordados de correntes e pedrarias, pintura feita a mão, estampas digitais, uso de pregas, nesgas, frizos e franzidos, tingimento de tecido a base de rejeitos de minério de ferro e rendas feitas de papéis reciclados. Nome: Tela bordada Composição: 100% Poliéster Fornecedor: Visual Preço: 199,90 mt Rendimento:
Bandeirantes
Nome : Piquê Colméia Composição: 97% Algodão/ 3% Elastano Fornecedor: Miracle Preço: Rendimento:
Nome : Linho Composição: 60% poliéster 36% viscose / 4% elastano Fornecedor: Miracle Preço: 19,90 mt Rendimento:
Nome: Neoprene Composição : 96% poliéster / 4% elastanoFornecedor: Casa Martins Preço : 29,90 mt Rendimento:
Nome: Seda Composição: 100% seda Fornecedor: Visual Preço: Rendimento:
Alta-Mor
Extração Nome: Cetim Composição: 100% poliéster Fornecedor: Casa Martins Preço: 14,90 mt Rendimento: Nome: Linho Rústico Composição: 55% linho 45% Viscose Fornecedor: Miracle Preço: 51,90 mt Rendimento:
Nome: Etoile Composição: 100% poliéster Fornecedor: Casa Martins Preço: 16,90 mt Rendimento:
Nome : Voil Quênia Composição: 986% poliéster / 14% linho Fornecedor: Miracle Preço: 64,90 mt Rendimento:
Donzelinha
Ouro
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Nome: Etoile Composição: 100% poliéster Fornecedor: Casa Martins Preço: 16,90 mt Rendimento:
Nome: Lamê Composição: 100% Poliéster Fornecedor: Center Fabril Preço: 29,90 mt Rendimento:
Nome: Tule Composição: 100% poliéster Fornecedor Preço: 10,90 mt Rendimento:
Nome: Etoile Composição: 100% poliéster Fornecedor: Casa Martins Preço: 16,90 mt Rendimento:
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Cartela de Matérias Para a coleção Primavera/Verão 17, a Aura buscou matérias que lembrassem a ideia da rusticidade das famílias Bandeirantes e Extração aliada ao luxo das famílias Ouro, Mistério, Donzelinha e Altar-Mor. Sendo assim, desbravamos as aplicações de
Cartela de Aviamentos franjinhas e rendas em tecidos, bordados de correntes e pedrarias, pintura feita a mão, estampas digitais, uso de pregas, nesgas, frizos e franzidos, tingimento de tecido a base de rejeitos de minério de ferro e rendas feitas de papéis reciclados.
Para a coleção Primavera/Verão 17, a Aura buscou aviamentos que passassem a ideia da rusticidade das famílias Bandeirantes e Extração aliada ao luxo das famílias Ouro, Mistério, Donzelinha e Altar-Mor. Sendo assim, desbravamos as cordas fininhas rústicas com fios dourados. Extraímos
pedrinhas douradas desenvolvidas em impressão 3D, metais em dourado e ouro velho, como correntes, botões, moedas, rebites e afins. Aplicamos a delicadeza das tiras de renda de algodão e por fim, o luxo das pedrarias de vidro. Todos juntos criando uma mistura de caimentos e texturas.
Superfície
Tecido sobre outro
Tiras de Renda
Aplicação de franja
Aplicação de Correntes
Pedraria Valor: 44,00 Pacote com 100 unidades Fornecedor: Aliexpress
Corda Valor 5,00 10 mt Fornecedor: Galeria do ouvidor
Remodelagem
Frisos
Plissado
Pregas
Rejeito
Zíper invisível Vvalor: 0.50 Fornecedor: Armarinho Benjamim
Botão Valor: 0.20 Fornecedor: Armarinho Benjamim
Beneficiamento
Tingimento com rejeito de minério de ferro
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Estampa digital
Pintura feita à mão
Corrente Valor: 4.90 Ffornecedor: Galeria do ouvidor
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Mapa de Coleção FAMÍLIAS
LOOKS
Chemise + Colete + Calça = CONCEITO Camisa + Maxi Colete + Calça Flare = FASHION Blusa + Saia Lápis = FASHION BANDEIRANTES Blusa + Short = COMERCIAL Camisa + Saia = COMERCIAL Chemise = COMERCIAL Terno + Colete + Camisa + Calça = COMERCIAL
EXTRAÇÃO
OURO
Macacão + Body = CONCEITO Vestido Longo = COMERCIAL Vestido Curto + Body = COMERCIAL Vestido Longo Sereia = COMERCIAL Body + Saia = COMERCIAL Blusa + Saia Curta = COMERCIAL Vestido Curto = COMERCIAL Camisa + Calça = COMERCIAL
MISTÉRIOS
Macacão Pantalona = CONCEITO Vestido Longo = FASHION Vestido Curto Justo = COMERCIAL Vestido Curto = COMERCIAL Body + Calça Skinny = COMERCIAL Vestido = COMERCIAL Casaco + Camisa + Calça = COMERCIAL
ALTA-MOR
Capa + Vestido Longo = CONCEITO Blusa + Saia Balonê = FASHION Vestido Longo = FASHION Blusa + Saia Curto = COMERCIAL Blusa + Short = COMERCIAL Vestido = COMERCIAL Blusa + Saia Lápis = COMERCIAL Jaqueta Bomber + Calça = COMERCIAL
DONZELINHA
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Vestido Midi = CONCEITO Macacão = FASHION Vestido Longo = FASHION Vestido Curto Justo = FASHION Macaquinho = COMERCIAL Macacão Longo = COMERCIAL Terno + Calça + Camisa = COMERCIAL Vestido Curto = COMERCIAL
Vestido longo = CONCEITO Terno + Calça + Camisa = CONCEITO Macacão = FASHION Vestido longo = FASHION Vestido curto = COMERCIAL Vestido curto justo = COMERCIAL Vestido longo = COMERCIAL
CORES
TECIDOS
Minério Off White Nude Rústico
Algodão Linho Seda Couro
Nude Rústico
Organza
Ouro Nude Rústico
Ouro Preto
Azul Celestial Vermelho Puro
Rosa Quartzo
Lamê Organza
Tela bordada Neoprene
Etoile Cetim
Renda Crepe romano
FORMAS
MATÉRIAS
UNIFICADOR
Botão Rebite Zíper
Pedra 3D Franja Zíper
CINTURA MARCADA A SEREIA
Botão Paetê de metal Medalha Zíper
CINTURA MARCADA
Corrente dourada, zircônio e ouro velho Botão
Pedraria em vidro Rebite Zíper
Renda Zíper Botão
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Descrição do Processo Criativo das Famílias Bandeirantes Família inspirada nos desbravadores das terras mineiras. Os looks possuem peças de alfaiataria, com maxi coletes, calças e camisas com apelo mais masculino. A ideia do entrelaçamento das tiras de tecido foi inspirada nas formas de losangos do matelassê utilizado nas roupas dos bandeirantes. Os tons terrosos foram baseados nas estradas por onde passavam, nas terras onde plantavam e procuravam por ouro e pedras preciosas.
Extração Família inspirada nas formas, técnicas e ferramentas usadas para fazer a extração do ouro. A bateia, a roda d’água, a forma bruta do ouro retirado das águas com aspecto irregular, as minas, sacos, além da rusticidade e precariedade das técnicas serviram como fonte de inspiração para a utilização do linho e tecidos leves, dos tons crus e transparentes.
Ouro Família inspirada no trajeto e uso do ouro. As roupas em estilo romano dos santos do pau oco serviram como inspiração de modelagem para os looks. A cor dourada prevalece enaltecendo o ouro. Moedas da época viraram formas de botões, moedinhas com a logo da marca e paetês. O Lamê dourado foi escolhido por ter as características condizentes com a proposta.
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Mistérios Família inspirada nos mistérios da época. Todo o lado obscuro da época, como homens encapuzados, correntes, armas, escravidão, segredos da igreja, captura de índios, altos impostos, entre outros serviram como uma proposta de retratar o tema através da utilização do tecido tipo Tela em tom preto que induz ao mistério e bordada com correntes.
Alta-Mor Família baseada na obra Assunção de Nossa Senhora, no teto da igreja de São Francisco de Assis do mestre Ataíde localizada em Ouro Preto. A pintura do mestre Ataíde presente no teto da igreja serviu como referência para a criação de uma estampa com motivos religiosos. Os tons de vermelho e azul também saíram da mesma obra. Roupas de padres e freiras serviram como fonte de inspiração de modelagens amplas e capas.
Donzelinha Família inspirada nas moças da época. A feminilidade e o romantismo aparecem em tons rosê com a junção de vários tipos de rendas, babados e frisados. Sendo a peça conceito feita de papel triturado e aplicado no tule, reaproveitando papéis e criando uma renda única. Há também pintura feita a mão.
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Formas e Silhuetas Para a coleção Primavera/Verão 17, a Aura optou pelo uso da cintura marcada na maior parte dos looks, conferindo sensualidade e feminilidade as peças. Aparecem também
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Apresentação Final Desfile as formas A e Sereia. Comprimentos curtos, midi e longos reforçam a unidade da coleção.
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Centro Universitário Una Luana Lorhayne
Ciclo do ouro em Romanceiro da Inconfidência como inspiração para uma coleção de moda
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Luana Lorhayne
Ciclo do ouro em Romanceiro da Inconfidência como inspiração para uma coleção de moda
Pré-projeto apresentado como requisito de avaliação do curso de Moda do Centro Universitário Una para aprovação da matéria. Professor orientador: Luiza Oliveira
Belo Horizonte 2016
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RESUMO O trabalho aborda a história do Ciclo do ouro em Minas Gerais do século XVIII contada por Cecília Meireles através de poemas do livro Romanceiro da Inconfidência e faz uma comparação da história contada por ela com os estudos de outros historiadores. Considera o desbravamento das terras mineiras pelos bandeirantes paulistas, o surgimento das cidades históricas, a extração do ouro e aplicação deste em ornamentos de igrejas. A pesquisa trata também da conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural, a valorização da história e memória mineira. Consequentemente, o estudo servirá de inspiração para uma coleção de moda. Palavras-chave: Ciclo do ouro, Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles, Minas Gerais.
ABSTRACT The work covers the history of the Gold Cycle in Minas Gerais of the eighteenth century told by Cecilia Meireles through the book of poems Ballads of Conspiracy and makes a comparison of the story told by her with the findings of other historians. Considers the clearing of land mines by the paulistas bandeirantes, the emergence of historic towns, gold extraction and application of ornaments in churches. The research also deals with the preservation of historical, artistic and cultural heritage, appreciation of the history and mining memory. Consequently, the study will serve as inspiration for a fashion collection. Key-words: Gold Cycle, Ballads of Conspiracy, Cecilia Meireles, Minas Gerais.
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1 INTRODUÇÃO
Atualmente, percebemos por parte de algumas pessoas, a valorização e a preocupação em preservar a história e a cultura brasileira. No caso deste trabalho será exaltado o ciclo do ouro das cidades históricas mineiras, apresentado no livro Romanceiro da Inconfidência, da escritora Cecília Meireles, publicado pela primeira vez em 1953, este livro apresenta poemas que contam uma importante fase da história do Brasil e, principalmente, de Minas Gerais. O principal estado brasileiro na corrida do ouro no século XVIII. Neste caso, os poemas recriam a descoberta, a extração e aplicação deste metal no patrimônio artístico das cidades históricas de Minas Gerais e reforça a valorização da memória da cultura brasileira marcada pelo ciclo do ouro. Boa parte do ouro foi levado para Europa, mas a outra parte ficou nas cidades históricas, em formas monumentais aplicadas principalmente nas Igrejas das cidades históricas. Uma manutenção do que ficou guardado da nossa história e que deveria ser mais cuidado e protegido para estudos, visitações e admirações de verdadeiras obras de arte. A partir deste contexto, esta pesquisa tem como problemática correlacionar a história do ciclo do ouro das cidades históricas em Minas Gerais no século XVIII, contada através dos poemas de Cecília Meireles com a história contada por historiadores e, a partir daí, desvendar se o poema escrito por ela condiz com a história contada nos livros. O objetivo geral desta pesquisa consiste em apresentar a descoberta do ouro em Minas Gerais, mostrando o desbravamento das terras no interior do Brasil e, consequentemente, o desenvolvimento das cidades históricas. Analisar os modos e ferramentas utilizadas para fazer a extração do ouro e como era usado na decoração das igrejas. Os objetivos específicos consistem em pesquisar o ciclo do ouro nas principais cidades históricas de Minas Gerais no século XVIII, relacionando-o com os poemas do livro Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles e mostrar as relações entre eles. Verificar a veracidade da história contada por ela, através de análise de trechos de poemas, com a história contada pelos historiadores, como por exemplo, Maria Efigênia Lage de Resende e Luiz Carlos Villalta. Reunir um acervo de imagens do ouro extraído e sua aplicação em monumentos e esculturas nas igrejas. A pesquisa histórica sobre o ciclo do ouro nas cidades históricas mineiras em Romanceiro da Inconfidência será desenvolvida a partir destes principais autores: Cecília Meireles (1989), Maria Efigênia Lage de Resende e Luiz Carlos Villalta (2007), Lourival Gomes Machado (1978) e Sérgio Buarque de Holanda (1977). Esta pesquisa se faz relevante, pois valoriza, incentiva a cultura e a literatura local e, ainda, acentua a importância da preservação e recordação que se encontram implícitas na memória das obras de arte mineiras. O conjunto de arte e história mineira é, segundo Pinto1, 1 Para mais informações, acesse http://bdm.unb.br/bitstream/10483/270/3/2006_ CarlosAugustoRibeiroPinto.pdf
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(2006), mostrar a inter-relação entre história, cultura, arte e memória através dos traços sociais, artísticos, culturais e arquitetônicos de uma época; contribui para a construção de uma consciência sobre a identidade e a cultura mineira e brasileira. Similarmente, o historiador Nora2 (1984), define como ‘lugares de memória’ os lugares materiais, como uma construção histórica de seu valor como documento e monumento, revelador de processos sociais, e do interesse que, conscientemente ou não, os levam à sua função. São lugares úteis porque contraíram a responsabilidade de fortalecer memórias coletivas e são lugares simbólicos, onde essa memória coletiva e sua identidade se manifestam. São, portanto, como ele diria, lugares que se fazem de vontade de memória. Diante dessas perspectivas, a literatura, a história e a arte serão usadas como armazenadores de rememorações que serão transformados em roupas como forma de mostrar que através do vestuário é possível remontar hábitos, costumes e modos de uma sociedade, que em conjunto, fez história e a transformou em memória. Por isso, ela também é importante para o campo da moda porque serve como incentivo, reafirmação e valorização da cultura mineira, a percepção da própria identidade de nossa sociedade, além de despertar nas pessoas a necessidade de proteger nosso patrimônio. O método de construção do trabalho se dará através de pesquisas bibliográficas que ajudarão no estudo e entendimento do tema. Além de pesquisas imagéticas das obras dos artistas internacionalmente conhecidos, como Antônio Francisco Lisboa (mais conhecido como Aleijadinho) e Manuel da Costa Ataíde (mais conhecido como Mestre Ataíde) para avaliação de cores, texturas, formas e cores para um futuro desenvolvimento de uma coleção de moda. O trabalho será estruturado em três seções. O primeiro sobre a história de Minas Gerais, para situar melhor o leitor. O segundo abrangerá o descobrimento e a extração do ouro relacionando com os poemas de Cecília Meireles. O terceiro será sobre a aplicação do metal nos monumentos históricos e associá-los aos poemas.
2 BREVE HISTÓRIA DE MINAS GERAIS
A economia de Portugal no século XVIII estava abalada e que a plantação canavieira no Nordeste estava em crise. Isso motivou a Coroa Portuguesa buscar outras fontes de riqueza, neste caso, o ouro. A Guerra da Restauração Portuguesa, iniciada em 1640 até o reconhecimento pela Espanha da independência de Portugal em 1668 e também a perda pela exclusividade no mercado oriental, levou a descoberta das minas de ouro no Brasil e, logo, a valorização da colônia. (RESENDE; VILLALTA, 2007) Para iniciarmos uma breve história do estado de Minas Gerais, começaremos com a descrição da história das cidades históricas, partindo do princípio de que esse estado, no século XVIII, ainda era uma terra praticamente inexplorada. Segundo Lemos (1982), tudo o que se 2 Para mais informações, acesse http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/ viewFile/12101/8763
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sabia sobre a atual Minas Gerais era que se tratava de uma região montanhosa, de serras altas sempre encobertas por muita neblina e de impenetráveis florestas. Eram divulgadas muitas informações duvidosas a respeito de lendas e preciosidades daquela região. Minas Gerais estava sendo explorada pelos bandeirantes, que adentravam as terras mineiras em busca de pedras preciosas, ouro e índios para trabalhar na região açucareira do nordeste do país. A primeira bandeira foi a do paulista Fernão Dias Paes, que foi de enorme importância, pois: Foi a primeira racionalmente organizada para promover prospecções dentro do que de melhor se sabia na época. A empreitada falhou, mas rompeu o mistério. As tropas de Fernão Dias passaram muito ao norte de Diamantina, deixando para trás a Serra do Cipó. Fundaram arraiais e plantaram roças de milho e mandioca. E abriram caminho para os paulistas, especialmente aqueles de Taubaté, que passaram a palmilhar a vastíssima região montanhosa. (LEMOS et al., 1982, p.103)
Segundo Lemos (1982), após o caminho aberto, foi possível desbravar outras regiões mineiras. A segunda bandeira, de Antônio Dias, acompanhado do Padre Faria, saiu da cidade de Taubaté, em São Paulo, no ano de 1698, e chegou até a região das cidades hoje chamadas Mariana e Ouro Preto. A expedição descortinou o Pico do Itacolomi, na Serra de Ouro Preto, e implantou a capela de São João, a primeira igreja da cidade. Aos poucos, esses caminhos, cada vez mais movimentados, incentivaram o surgimento de arraiais. “Vendas, roças, estalagens e capelas, localizadas nos entroncamentos dos caminhos que funcionaram como lugares de suporte de infra-estrutural (sic.) da ocupação, para descanso e provimento” (RESENDE; VILLALTA 2007, p.30). Percebemos, então, que as novas entradas facilitaram a penetração de imigrantes em Minas Gerais dispostos a adquirirem fortuna com a notícia de abundância de ouro na região, principalmente em Ouro Preto. Logo, a região foi ocupada e milhares de pessoas, das mais variadas classes sociais, passaram a morar na cidade em busca da extração de ouro. A cidade rapidamente se tornou referência na extração de ouro do Brasil. Segundo Guedes-Lamim3 (2010): A região de Ouro Preto foi a principal área de extração de ouro nos séculos XVIII e XIX. Foram enviadas a Portugal, oficialmente, oitocentas toneladas de ouro no século XVIII, sem contar o que circulou de forma ilegal, bem como o que ficou na colônia ornando as suntuosas igrejas. Ouro Preto e Mariana passaram por um rápido processo de urbanização, com Vila Rica (atual Ouro Preto) sendo a cidade mais populosa da América Latina, com cerca de 40 mil pessoas em 1730 e, algumas décadas após, chegando a abrigar 80 mil pessoas. Nesta época, Nova York possuía menos da metade desse número de habitantes e a vila de São Paulo não tinha mais que oito mil habitantes.
A coroa portuguesa, impressionada com tamanha quantidade de ouro, criou a Intendência das Minas, a fim de fiscalizar e arrecadar ouro através de impostos. Na medida em Para maiores informações, acesse https://naraiz.wordpress.com/2010/07/02/ouro-preto-emariana-300-anos-de-geracao-de-riqueza-exclusao-social-e-degradacao-ambiental/ 3
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que a informação sobre a abundância de ouro se espalhava mundo afora, grande quantidade de imigrantes e escravos iam chegando aos poucos na região. Boa parte do ouro foi utilizada pela coroa portuguesa, que pagou as dívidas que tinha com a Inglaterra, através da criação do quinto. Antes da criação do quinto, os impostos eram cobrados por meio da quantidade de terras e escravos. O quinto foi um imposto no qual 20% do total do ouro era repassado ao rei. Porém, mesmo com as fiscalizações, boa parte do ouro era passado de forma ilegal (COSTA E MELLO, 1996). Percebemos que o ouro foi o elemento principal para o desenvolvimento econômico desta região. Preciosidade guardada entre serras, montes e rios que serviram de combustível para uma sociedade dotada de ambição. Tratando do desbravamento da região, a consequente exploração e logo a taxação deste ouro se faz necessária nesta parte, a explicação do ciclo do ouro com a análise dos poemas de Cecília Meireles sobre o tema, para manter o objetivo principal da pesquisa sobre esta relação entre o ciclo do ouro com a forma lírica contada pela poetiza. 2.1 Ciclo do ouro
Partimos do livro Romanceiro da Inconfidência da escritora Cecília Meireles. Para abordarmos os poemas do Romanceiro, se faz necessário o entendimento do mesmo, tanto na forma escrita escolhida por ela, quanto na história contada nos versos. “Há metros curtos e longos; poemas rimados e sem rima, ou com rima assonante – que permite maior fluidez à narrativa” (MEIRELES, 1989, p. 22). Para a escritora Meireles (1989), o livro foi escrito sem formas rígidas pré-estabelecidas. Para uma análise adequada, se faz relevante saber que a forma escrita por ela foi de um Romanceiro, ou seja, uma narrativa que possui rimas quando extremamente necessário, um romance e não um Cancioneiro. Sendo assim, este último se tornaria desnecessário ao usar da dramaticidade para a composição. Seria impossível então, reconstituir os pensamentos e atos dos integrantes daquele dado momento. Assim como ela explica: O Romanceiro teria a vantagem de ser narrativo e lírico; de entremear a possível linguagem da época à dos nossos dias; de, não podendo reconstituir inteiramente as cenas, também não as deformar inteiramente; de preservar aquela autenticidade que ajusta a verdade histórica o halo das tradições e da lenda (MEIRELES, 1989, p.22).
Sabendo disso, vamos discorrer sobre os poemas a fazer as análises indispensáveis. No capítulo intitulado ‘Cenário’ há o poema ‘Romance I ou da revelação do ouro’ sobre o ciclo do ouro. Vamos associá-lo às versões contadas por outros historiadores. Meireles (1989, p. 45 - 46) descreve como os imigrantes chegaram a Minas Gerais: Selvas, montanhas e rios Estão transidos de pasmo. É que avançam, terra a dentro, Os homens alucinados.
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Levam guampas, levam cuias, Levam flechas, levam arcos; atolam-se em lama negra, escorregam por penhascos, morrem de audácia e miséria, nesse temerário assalto, ambiciosos e avarentos, abomináveis e bravos, para fortuitas riquezas estendendo inquietos braços, - os olhos já sem clareza, - os lábios secos e amargos
A escritora, neste poema, nos faz imaginar as adversidades encontradas no caminho feito pelos bandeirantes e outros aventureiros desbravando Minas Gerais. Apesar de usar um discurso fantasioso, ela retrata muito bem a peripécia daquele dado momento. “A Metrópole recebia notícias imprecisas, que mais pareciam lendas, sobre riquezas escondidas nas dobras daquelas montanhas inacessíveis (...) aos poucos, os paulistas, por sua conta, foram penetrando naquele mundo misterioso” (LEMOS et al., 1982, p.103). Depois de desbravadas as terras, a caça ao ouro fez com que muitos escravos trabalhassem nos rios e córregos a procura do ouro. Neste caso o ouro de aluvião, o mais encontrado na região mineira. Eles utilizavam a bateia, que é utilizada até hoje nos garimpos. Cecília Meireles (1989, p.47) trata este fato através dos seguintes poemas: Mil bateias vão rodando sobre córregos escuros; a terra vai sendo aberta por intermináveis sulcos; infinitas galerias penetram morros profundos. (...) Pelos córregos, definham Negros, a rodar bateias. Morre-se de febre e fome Sobre a riqueza da terra: Uns querem metais reluzentes, Outros, as redradas pedras.
Podemos afirmar que eles usavam a bateia para separar o cascalho do ouro. Essa foi uma das primeiras técnicas utilizadas para fazer a extração do ouro. De acordo com Resende e Villalta (2007), os bandeirantes paulistas, ao firmarem pouso em algum lugar, faziam “testes” no leito de ribeiros auríferos com os pratos de estanho que usavam para fazer as refeições, e logo depois de encontrado, usavam as bateias de madeira. Então, plantavam e chamavam parentes e amigos para ajudar na extração. Depois eles retornavam com escravos e ferramentas, firmando local para uma exploração mais lenta e difícil. A evolução dos métodos utilizados era lenta como afirma Holanda (1977):
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Começava a dificuldade nas explorações quando os ribeiros passavam a ganhar maior cabedal de água, distanciando-se as lavras mais das nascentes. Ainda nestes casos, porém, era possível algum trabalho preventivo, quando não houvesse desmontes e entulhos que encobrissem o cascalho. Só então fazia-se necessário o recurso a serviços hidráulicos de vária (sic.) espécie, e alguns, como os das lavras de rodas, tão dispendiosos que que requeriam largas posses.
Contadas de diferentes formas, mas com um sentido único, percebemos que há uma ligação verdadeira dos fatos apresentados nos poemas com a história. Após a extração deste metal, é impreterível saber o destino do mesmo. Sabemos que o uso nas igrejas mineiras foi enorme, e, portanto, vamos pesquisar mais afundo este assunto no próximo tópico.
2.2 O ouro nas igrejas A decoração das igrejas mineiras do século XVIII deve-se muito ao ouro retirado daquelas regiões. Com a predominância do estilo Barroco e influência do Rococó, várias imagens de santos, anjos, arabescos e outras formas foram revestidas pelo precioso metal. Cecília Meireles (1989, p.66) descreve semelhantemente ainda no capítulo ‘Cenário’ no poema ‘Romance X ou da donzelinha pobre’, desta forma: Donzelinha, donzelinha dos grandes olhos sombrios, teus parentes andam longe, pelas serras, pelos rios, tentando a sorte nas cata, em barrancos já vazios! Donzelinha, donzelinha mira os santos nos altares, que apontam, compadecidos, para celestes lugares, onde são de ouro e diamante quantas lágrimas chorares! Donzelinha, donzelinha fecha esse olhos sombrios . As montanhas são tão altas! Os ribeiros são tão frios! O reino de Deus, tão longe dos humanos desvairos!
Ao contar o desespero de uma moça, que parece estar sozinha na região com seus familiares tentando a sorte na procura do ouro, a escritora revela que na igreja a moça olha para os santos nos altares. Reparemos que ela descreve os anjos como sendo de ouro e diamante. Porém, ao observarmos os monumentos, percebemos que são cobertos de ouro e não possuem diamantes. Na Matriz Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, o visitante é envolto numa abundancia de ouro. Ela trás uma sobriedade com a nave escura e grande. É farta a quantidade de talhas em estilo Barroco e não negam as raízes europeias, porém com interferências mineiras.
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Possuem adornos do estilo Rococó, como florais, elementos humanos, vegetais, anjos e outros elementos arquitetônicos. Formas transpostas em exuberância e autoridade, onde até o óleo cobriu, tudo é revestido de ouro (MACHADO, 1978). Embora o ouro fosse um elemento importante nessas decorações, outros elementos do barroco também se faziam importantes tanto quanto. Como no caso de pinturas e esculturas, presentes na igreja Nossa Senhora do Rosário em Ouro Preto, o visitante reconhece as características próprias do barroco, como anjos, linhas curvas, santos, etc. Com as paredes brancas que trazem mais leveza a decoração, sem que o interior tenha sido excessivamente revestido de talha dourada (PROENÇA, 2008). O desejo da igreja católica em mostrar a sua força em um período em que o Renascimento crescia cada vez mais na Europa, talvez tenha sido um fator fundamental para o surgimento desse movimento exagerado do barroco com o ouro. “A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, apresenta 400 quilos de ouro e 400 quilos de prata em sua decoração, conjunto este construído para representar a riqueza gerada ali” GUEDES-LAMIM4 (2010).
ANDRZEJEWSKI5 (2012), a roupa não é representada apenas por tecidos, cores e formas, ela representa todo um pensamento, identidade e atitudes de um determinado período histórico. Ela marca e dialoga conceitos de um tempo, permitindo o a compreensão de seu sentido. Culturalmente falando, ao colocar a moda como um agente transformador de identidade, verificamos que ela se liga a memória de cada pessoa, e consequentemente, de uma sociedade. As roupas são representações cheias de significados e signos de uma época, revelando assim, a cultura através das normas vigentes de um tempo. Sendo assim, podemos classificar a roupa como memória, quando ela comunica através de suas formas um momento do passado em uma determinada cultura e sociedade. De acordo com Stallybrass (2008, p.14), “(...) a roupa tende, pois, estar poderosamente associada com a memória ou, para dizer de forma mais forte, a roupa é um tipo de memória”. Percebemos então, que a roupa quando passada de uma pessoa para outra, mantêm as características pessoais da primeira. Formando um vínculo entre estes, e, logo, transformando-se em memória. Logo, deixa de ser um simples objeto para se tornar um objeto entranhado de memória e significados (STALLYBRASS, 2008).
(...) havia também algumas variantes que a diferenciavam nas relações sociais e de poder. As ordens religiosas estavam proibidas, surgindo, daí o fortalecimento das confrarias e associações de ofícios e o aparecimento de violenta rivalidade entre irmandades, fato que provocou nas cidades do ouro a construção de igrejas cada vez maiores, mais ricas, mas bem decoradas e erigidas mais alto nas colinas dessas cidades (MACHADO, 1978, p.377).
Mostradas as particularidades destas igrejas, observamos o quão importante para a memória mineira e brasileira elas são. Assim como a manutenção da memória histórica é importante para a sociedade, podemos dizer o mesmo da memória na moda. Como uma das finalidades desta pesquisa é a criação de uma coleção de moda, é importante fazer uma ligação entre moda, identidade cultural e memória. Pensando na ligação entre moda, identidade cultural e memória, percebemos que o resgate da memória na moda nunca foi tão relevante para a moda como hoje. Muitas marcas atualmente utilizam do resgate a roupas de outras épocas como uma forma de reinventar-se e tentar criar algo novo, um produto novo com características ou inspirações antigas. Mesmo com uma sociedade cada vez mais imediatista e com as tecnologias cada vez mais a favor da rapidez e agilidade, muitas marcas estão fazendo alguns movimentos para conseguirem se diferenciar, como por exemplo, o uso do slow fashion e do handmade como uma forma de fazer manualmente e sem pressa, criando peças sob medida e bordadas a mão, reforçando a identidade e resgatando uma forma antiga de fazer roupas. Outras expressões muito utilizadas atualmente como retrô e vintage ganharam o mercado da moda dialogando com o passado e fazendo com que consumidores tenham uma sensação de voltar no tempo. Como complementa
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Para mais informações, acesse https://naraiz.wordpress.com/2010/07/02/ouro-preto-e-mariana-
300-anos-de-geracao-de-riqueza-exclusao-social-e-degradacao-ambiental/
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5 Para mais informações, acesse http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/ anteriores/edicao53/materia06/texto06.pdf
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3 CONCLUSÃO
O presente trabalho procurou desenvolver um estudo sobre o ciclo do ouro em Minas Gerais no século XVIII sob a perspectiva dos poemas do livro Romanceiro da Inconfidência, da escritora Cecília Meireles. Logo, buscou entender a importância da preservação de monumentos históricos para a manutenção da memória e identidade mineira. A partir desse estudo foi possível pesquisar a descoberta do ouro na região de Minas Gerais, o desenvolvimento da região da Estrada Real, hoje chamadas de cidades históricas, os modos e ferramentas usadas na extração do ouro e a aplicação do metal em monumentos de igrejas católicas, fazendo uma análise ao longo do trabalho entre os fatos contados nos poemas e na versão de historiadores. O desenvolvimento de um artigo científico servirá de base para um futuro desenvolvimento de coleção de moda. Sendo assim, a memória e a busca pela identidade deste estudo tem um elo importante com a moda. Uma moda em busca de uma originalidade e cultura própria da região, como uma forma de valorização das nossas roupas, da mão de obra e dos profissionais da área. Com a finalização desta pesquisa percebemos que através da história contada em uma linguagem poética por Cecília Meireles fica mais fácil imaginar uma época, mesmo que por vezes dotada de termos fantasiosos, são carregadas de verdades históricas. Verificamos a importância da memória e, por conseguinte, a grande relevância que os monumentos históricos têm para a conservação e disseminação do conhecimento histórico. Logo, o permanente intuito de promover e instigar a população a pensar de como foi o passado e como poderá ser o futuro. Foi possível observar também que a indumentária é considerada mantedora dos costumes e da cultura de uma determinada época e que a moda nos tempos atuais se mantém em constantes mudanças fazendo-se valer das inspirações do passado, contribuindo assim para a realização dos desejos e a individualização das pessoas. É importante ressaltar ainda que, apesar da finalização desta pesquisa, ainda há infinitas informações a serem pesquisadas a acrescidas neste estudo. Para o hoje, temos a chave da descoberta de conhecimentos que validaram o crescimento intelectual pessoal e o aumento da inquietação pela busca de novas pesquisas no amanhã.
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REFERÊNCIAS
ANDRZEJEWSKI, Luciana. A moda como história, São Paulo, n. 58, p. 1-2, abr. 2012. Disponível em: <http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao53/ materia06/texto06.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2016. ARTE NO BRASIL. Fascículos pela Abril S.A. Cultural e Industrial. São Paulo. 1982. COSTA Luis Cesar Amad; MELLO. Leonel Itaussu. História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1996. HOLANDA, Sérgio Buarque de. História geral da civilização brasileira: A época colonial. São Paulo: Difel/Difusão editorial S.A., 1977. LAMIM-GUEDES, Valdir. Ouro Preto e Mariana: 300 anos de geração de riqueza, exclusão social e degradação ambiental. Ouro preto. Disponível em: <https://naraiz.wordpress. com/2010/07/02/ouro-preto-e-mariana-300-anos-de-geracao-de-riqueza-exclusao-social-edegradacao-ambiental/>. Acesso em: 08 nov. 2015 MACHADO, Lourival Gomes. Barroco mineiro. São Paulo: Perspectiva S.A., 1978. MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova Fronteria, 1989. NORA, Pierre. Projeto história. São Paulo, 1981. Disponível em: < http://revistas.pucsp.br/ index.php/revph/article/viewFile/12101/8763>. Acesso em 05 jul. 2016 PINTO, Carlos Augusto Ribeiro. Patrimônio histórico, identidade cultural e turismo: O barroco mineiro. 2006. Monografia (Formação de professores e pesquisadores em turismo e hospitalidade)- Centro em Excelência e Turismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2006. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/270/3/2006_CarlosAugustoRibeiroPinto. pdf. Acesso em: 09 jun. 2016. RESENDE, Maria Efigênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos. As Minas Setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica; Companhia do Tempo, 2007. STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx: roupas, memória, dor. Belo Horizonte: Autêntica; Companhia do Tempo, 2008.
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