DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus amores... Deus, meu pai Gaspar (sempre presente), minha mãe Neuza, meu namorado Gilvan, minha irmã Débora.
CITAÇÃO
“[...] êê terra de montanha viva a terra de montanha viva o Jequitinhonha ôrara êrêrê!” Alexandre AZ
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus por me perdoar em minhas fraquezas e nunca desistir de mim. A minha mãe pela amizade, pelos conselhos, pelo amor e mesmo diante de todas as adversidades conseguiu tornar o impossível possível em minha vida. Ao meu amor Gilvan pelo amor, pela cumplicidade, pelo carinho e por não medir esforços para que tudo desse certo. A Débora que me deu meios de estudar de uma forma mais acessível e por tudo que fez por mim até aqui. Agradeço ao Sr. Geraldo e a Cida Coelho por me darem a oportunidade de concretizar meus trabalhos oferecendo todo o suporte necessário para isto. Me faltam palavras para agradecer a todos vocês! Aos que direta ou indiretamente ajudaram na concretização deste trabalho os meus sinceros agradecimentos.
RESUMO Este memorial tem como objetivo apresentar os requisitos necessários para conclusão do curso de bacharel em Moda, bem como a construção de um portifólio e de uma coleção de acessórios baseada em pesquisa feita sobre o tema da memória presente no artesanato do Vale do Jequitinhonha.
Palavras-chave: memorial; conclusão; portifólio; coleção; Vale do Jequitinhonha.
ABSTRACT This memorial is to present the requirements for completion of the course Bachelor of Fashion as well as the construction of a portfolio and a collection of accessories based on research done on the topic of memory in this craft Jequitinhonha Valley.
Keywords: memorial; Jequitinhonha Valley.
conclusion;
portfolio;
collection;
SUMÁRIO
Curriculum .......................................................................................................................1 Briefing de négocios (DNA da marca) .............................................................................3 Descrição geral da marca .........................................................................................4 Estilo .........................................................................................................................4 Elementos de estilo ..................................................................................................4 Nicho .........................................................................................................................4 Segmento ..................................................................................................................4 Gênero ......................................................................................................................4 Concorrentes ............................................................................................................5 Canais de distribuição ..............................................................................................6 Margem de preço .....................................................................................................6 Diferenciais da marca no produto ............................................................................6 Público-alvo .....................................................................................................................7 Painel de público-alvo ..............................................................................................8 Manual de identidade visual ..........................................................................................9 Logomarca .............................................................................................................10 Justificativa do nome, cor e fonte .........................................................................11 Versão uma cor (P&B) ...........................................................................................12 Fonte .....................................................................................................................13 Cor .........................................................................................................................14 Redução e área de proteção mínima ....................................................................15 Construção ............................................................................................................16 Usos Indevidos ......................................................................................................17 Cartão de visitas ....................................................................................................18 Tags ........................................................................................................................19 Papelaria ................................................................................................................20 Sacola .....................................................................................................................21 Brindes ...................................................................................................................22
SUMÁRIO
Briefing de coleção .......................................................................................................23 Memorial Descritivo ..............................................................................................24 Introdução ......................................................................................................24 Memória, lembranças e oralidade .................................................................24 Tempo, memória e oralidade .................................................................24 Lembranças e sociedade ........................................................................27 Artesanato ......................................................................................................29 Produtos artesanais do Vale do Jequitinhonha e a memória local .......30 Técnicas, tradições e processos de construção do artesanato .............33 Conclusão ......................................................................................................37 Inspiração .....................................................................................................................38 Painel de inspiração nº 1 ...................................................................................39 Painel de inspiração nº 2 ...................................................................................41 Macrotendências/tendências ...............................................................................43 Painel de macrotendências ................................................................................44 Painel de tendências Inverno 2014 ....................................................................45 Cartela de cores ....................................................................................................46 Tecidos ..................................................................................................................47 Aviamentos ...........................................................................................................48 Matérias ................................................................................................................49 Descritivo do processo criativo das famílias ........................................................50 Mapa de coleção ...................................................................................................53 Descritivo do processo de desenvolvimento da coleção ......................................54 Tipo de apresentação final ....................................................................................54 Coleção .........................................................................................................................55 Croquis ....................................................................................................................56 Fichas técnicas ........................................................................................................76 Painel artístico .........................................................................................................97 Bibliografia ...................................................................................................................98 Anexo ............................................................................................................................99 Fotos das peças executadas ........................................................................................102
CURRICULUM
Meu nome é Daniela Westin de Lima, tenho 34 anos, sou natural de Belo Horizonte/MG e atualmente estou cursando o período de conclusão do curso de bacharel em Moda no Centro Universitário Una em Belo Horizonte. Meu ingresso a faculdade se deu através do Prouni (Programa universidade para todos) e também de um grande amigo Fábio Augusto que com sua experiência me ajudou na escolha certeira. Desde sempre me interessei por roupas, por sapatos, bolsas e acessórios. Quando adolescente gostava usar branco, preto e jeans. Com o passar do tempo comecei a mudar minhas preferências tendo a segurança de optar por peças coloridas, românticas ou criativas de forma que eu me sentisse bem. Pouco antes de entrar na faculdade minha mãe me ensinou a costurar em sua máquina doméstica. A partir daí comecei a confeccionar bolsas de chita forradas de tnt e em alguns momentos me atrevi a produzir peças através de moldes de revista. Tinha algumas dificuldades pela falta de experiência que não me faziam desistir de confeccionar a peça.
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CURRICULUM
Após iniciar a faculdade eu mesma confeccionava meus trabalhos acadêmicos como o objetivo de aprimorar minhas aptidões já que eu não tenho curso de corte e costura. A princípio, a oportunidade profissional parecia algo distante, inalcançável. Foi apartir do 4º período que ela aconteceu, resultado de um seminário de moda oferecido pela própria instituição em dezembro de 2011. Dentre os participantes estava presente Bhárbara Renault que apresentava sua marca Jardin Fashion contando sua trajetória. Neste tempo me senti segura para me oferecer ao mercado de trabalho resultando em uma oportunidade de estágio. Estagiar na Jardin me proporcionou conhecer o funcionamento de uma confecção que trabalha segundo o calendário de moda com todos os detalhes e procedimentos. Esta oportunidade foi importante para compreensão da teoria estudada em sala de aula. Durante este período participei do Minas Trend 2012 e da edição do Griffe Show. Devido ao falecimento de meu pai resolvi deixar o estágio para estar mais perto de minha mãe que neste momento necessitava de uma maior atenção da minha parte. Atualmente faço estágio na Alfaiataria Coelho em Contagem, onde tenho a oportunidade de aprender o ofício milenar que tenta sobreviver indo no sentido contrário à situação atual da moda no Brasil. Meu objetivo após o término do estágio é colocar em prática a profissão de alfaiate sem deixar de lado o artesanato que sempre esteve presente em minha vida.
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BRIEFING DE NEGÓCIOS (DNA DA MARCA) DESCRIÇÃO GERAL DA MARCA Doce mandacaru é uma marca que tem a cara do Brasil. Com identidade espontânea, lúdica e alegre que não se prende a tendências pré-definidas, deseja estabelecer um diálogo entre as peças produzidas e o dia-a-dia das mulheres utilizando como inspiração temas do seu cotidiano.
ESTILO Doce Mandacaru deseja oferecer peças casuais com uma pegada criativa, romântica com um ar de retrô.
ELEMENTOS DE ESTILO Subjetivamente a marca Doce Mandacaru apresentará em suas peças brasilidade, espontaneidade e originalidade. O produto oferecerá ao consumidor a satisfação na aquisição pelo visual, conforto e praticidade. Nas peças os detalhes de mix de aplicações de materiais, crochê, feltro, couro seja na peça como um todo ou aplicado em detalhes dentro de um contexto de criação serão atributos que tornarão as peças mais atraentes e desejáveis.
NICHO A forma de produção é classificada como demi-couture.
SEGMENTO A marca Doce Mandacaru atuará no mercado através do segmento de acessórios artesanais casuais.
GÊNERO Atenderá ao público feminino.
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BRIEFING DE NEGÓCIOS (DNA DA MARCA) CONCORRENTES Mariposa bolsas e acessórios É uma marca mineira situada em Belo Horizonte que produz bolsas e acessórios artesanais de tecido. Apresenta o estilo criativo produzindo peças divertidas e lúdicas. Está presente na internet através do Facebook e em feiras de artesanato eventuais.
Chicaloca A marca Chicaloca rompe clichês de comportamento. Permite que a mulher seja inovadora e ao mesmo tempo sensual. A marca cria um estilo próprio. Situada na Coréia do Sul, está presente no universo online através de blogs, wallpapers, vídeos musicais e é revendida em diversos países inclusive o Brasil através de multimarcas.
Nó de Pano A Nó de Pano desenvolve bolsas e acessórios artesanais utilizando tecidos ecológicos, couro e também tecidos importados. Está presente nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e no exterior.
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BRIEFING DE NEGÓCIOS (DNA DA MARCA)
CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO O ponto de venda será em ateliê próprio situado à Rua Rio Indaía,29 Bairro Riacho – Contagem/MG. Serão produzidas peças para eventuais clientes e também sob encomenda. Os produtos serão propagados através do “boca-a-boca” que começará pelas amigas, vizinhas, colegas de serviço das minhas amigas, grupos de convivência na igreja e amigos da minha família. Se eventualmente ocorrerem exposições de artesanato poderá haver participação.
MARGEM DE PREÇO Os preços poderão variar entre R$30,00 (carteira de mão) a R$150,00 (bolsa). Os valores são sugeridos seguindo a média de preços do mercado mas poderão variar no decorrer do processo de confecção dos produtos.
DIFERENCIAIS DA MARCA NO PRODUTO Doce Mandacaru terá como diferencial a produção de peças artesanais com um ar rústico, lúdico aliando o cotidiano da mulher a cultura regional e ao contemporâneo.
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PÚBLICO ALVO
O produto Doce Mandacaru é direcionado ao público feminino cuja renda média está compreendida entre as classes C1 e C2 (R$800,00 a R$1.8000,00) conforme a ABEP – Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (dado em 2008). A projeção da faixa etária está entre 25 a 35 anos. Residem em BH e região metropolitana, estudam e/ou trabalham durante todo o dia em empregos fixos como auxiliares administrativos, secretárias, recepcionistas, bancárias, assistente social, ou possuem renda autonôma como por exemplo vendas de cosméticos como Natura ou Mary Kay. Leem livros relacionados a religião, romance, drama, suspense e ficção. Gostam de artigos retrô tanto para a casa como também para o vestuário. Consomem alimentos saudáveis como verduras e legumes mas vez ou outra consomem fastfood e pizza. Artesanato também faz parte dos hábitos de consumo deste público que gosta desde artigos para ornamentação do lar, como móveis rústicos, até peças para uso próprio como pulseiras, colares, bolsas e sapatos artesanais. Gosta de visitar exposições no Palácio das Artes, Museu das Minas do Metal e Casa Fiat de Cultura. Gosta de assistir TV de preferência o canal 9 (Rede Minas) por oferecer uma programação cultural e imparcial. Frequentam bares como Cultura Bar à Rua da Bahia e o restaurante La Crepe em Santa Tereza que é um lugar mais reservado. Gosta dos mais diversos tipos de música principalmente MPB, ouvem Érika Machado, Lenine, Gilberto Gil, Gonzagão, Vanessa da Mata, Marcelo Jeneci, Los Hermanos, Zizi Possi, Luiza Possi dentre outros. Gostam também de instrumentos musicais como acordeon, violoncelo e baixo. São simples mas ao mesmo tempo inovadoras, românticas, melancólicas, presam a família, são religiosas, sonham em ter filhos e constituir família, desejam ter uma vida tranquila, querem trabalhar para adquirir bens como casa própria, eletrodomésticos para poder ter o conforto e o aconchego de um lar. Um ícone que pode representar a marca Doce Mandacaru é a cantora Vanessa da Mata pelo seu estilo de vida e por seu estilo de vestir. Ela gosta de família, é delicada, reservada, melancólica, nostálgica e amável.
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JUSTIFICATIVA DO NOME, COR E FONTE
O nome e logo Doce Mandacaru foi pensado através do meu desejo de expressar a brasilidade, o regional, o rústico, o lúdico e o contemporâneo. Mandacaru remete ao nordeste, ao semiárido, ao cangaço mas também a cultura e a alegria das festas regionais. A palavra doce contrasta com estes sentimentos e realidades que o mandacaru transmite.
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O brinde poderĂĄ variar entre papel, feltro, crochĂŞ e o cactus natural.
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MEMORIAL DESCRITIVO INTRODUÇÃO A pesquisa proposta pretende analisar o artesanato, o folclore, a cultura do Vale do Jequitinhonha, observando neste contexto sua relação com a memória, como possibilidade de expressão de acontecimentos marcantes, vivências, tradições e costumes. Será investigada a memória coletiva que é representada pelas pessoas das comunidades através da cerâmica, pintura entre outros. Estes artesãos representam a história viva das cidades através de suas vivências e tradições passadas de geração em geração. Mas dentro do contexto da memória observaremos também como esta sabedoria adquirida através da vivência e das tradições não deve ser considerada ingênua e nem somente um fenômeno individual, mas sim, um fenômeno coletivo ou social. Muitas experiências adquiridas surgem na individualidade, outras porém na coletividade e podem até mesmo ser vividas pelo grupo ao qual o indivíduo faz parte. Livre de qualquer comprovação histórica, a narrativa oral expressa somente o ato de viver e vivenciar as experiências, ensinando à posteridade que se utilizarão dessas “matérias primas” para expressão através do artesanato. Dentro dessa abordagem será observada a oralidade, a memória e as lembranças como suportes metodológicos para construção da história.
MEMÓRIA, LEMBRANÇAS E ORALIDADE Tempo, memória e oralidade Ao falar sobre memória, lembranças e oralidade, logo surge a relação com o tempo e a história, construção de identidades e coletividade. O passado é constituído por singularidades que remetem a determinados períodos construídos pela vivência dos fatos. Sobre o passado, Delgado afirma que:
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[...] O passado apresenta-se como vidro estilhaçado de um vitral antes composto por inúmeras cores e partes. Buscar recompô-lo em sua integridade é tarefa impossível. Buscar compreendê-lo através da análise dos fragmentos, resíduos, objetos biográficos e diferentes tipos de documentação e fontes é desafio possível de ser enfrentado. A História e à memória compete empreender tal tarefa. Sua contribuição maior é a de buscar evitar que o ser humano perca referências fundamentais à construção das identidades coletivas, que, mesmo sendo identidades sempre em curso, como afirma Boaventura Santos (1994), são esteios fundamentais do auto-reconhecimento do homem como sujeito de sua história. [...] (DELGADO, 2006, p. 36)
O homem como sujeito da história possibilita o surgimento de uma cultura, de tradições passadas de geração em geração, pois está ou esteve inserido neste tempo. “A memória é inseparável da vivência da temporalidade, do fluir do tempo e do entrecruzamento de tempos múltiplos.” (DELGADO, 2006, p. 38) E este entrecruzamento de tempos permite à humanidade não perder suas raízes, sua identidade. Bosi fala sobre a recriação do passado feita pelos protagonistas da história, ou seja, aqueles que vivenciaram as histórias narradas no presente:
A recriação do passado feita por pessoas simples, testemunhas vivas da história, é diferente da versão oficial que se lê nos livros. Os velhos contam a história vivida e sofrida por eles. Este coro forte e comovente pode ser ouvido como uma épica paulistana. Suas lembranças se prendem a velhos lugares. A desorganização do espaço, a ruptura brusca desse mapa afetivo, arranca dos moradores o significado mais estável da vida em comum. Rouba as lembranças do passado e o sentido das pedras da cidade. Mas, rebelde, a evocação as repõe em seu lugar antigo. E a cidade emerge cheia de alma, com sua memória de trabalho, as vozes de suas igrejas e ruas, seus pregões e cantigas, seus assobiadores das madrugadas. Esta psicologia do oprimido é penetrada pela alegria do concreto. (BOSI, 2010, contracapa)
Bosi nos diz que ouvir estas “histórias” não seria irrelevante pelo fato de que tudo foi vivido e sentido por estes narradores. Essas experiências, recordações, lembranças são partes que compõem a base, as raízes de uma geração. Daí a importância de se valorizar estas “histórias vivas” que são os depoentes relatando suas experiências. Esses depoimentos podem ser falados ou até mesmo expressos através de artigos artesanais, por exemplo, que trazem implícitos no objeto memórias, tradições, costumes, influências, culturas, tempo passado, tempo presente, narrativas individuais e/ou coletivas. Ou podem estar presentes até mesmo em uma peça de roupa que “tende pois a estar poderosamente associada com memória ou para dizer de forma mais forte, a roupa é um tipo de memória.” STALLYBRASS, 2004, p. 18) Sobre as particularidades individuais no contexto coletivo, tempo passado e tempo presente, Delgado (2006) diz:
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O passado espelhado no presente reproduz, através de narrativas, a dinâmica da vida pessoal em conexão com processos coletivos. A reconstituição dessa dinâmica, pelo processo de recordação, que inclui, ênfases, lapsos, esquecimentos, omissões, contribui para a reconstituição do que passou segundo o olhar de cada depoente. (DELGADO, 2006, p.16)
A tradição oral, que é construída através da experiência individual com o coletivo no decorrer do tempo, é composta por várias temporalidades. Cada indivíduo relata à luz do seu olhar o que passou, o que viveu e o que sentiu na pele. Suas dificuldades, dores, tristezas, alegrias, conquistas, tudo é armazenado involuntariamente pela memória para que, de alguma forma seja retomado posteriormente; em um ensinamento passado a posteridade ou em um possível depoimento, se for o caso. A oralidade deve ser levada em consideração, pois através dela surge material para que de fato a história oral seja registrada e não fique limitada somente à memória do sujeito do tempo. Sobre a memória como fonte de depoimentos orais, Delgado (2006) afirma:
A memória, principal fonte dos depoimentos orais, é um cabedal infinito, onde múltiplas variáveis - temporais, topográficas, individuais, coletivas – dialogam entre si, muitas vezes revelando lembranças, algumas vezes, de forma explicita, outras vezes de forma velada, chegando em alguns casos a ocultá-las pela camada protetora que o próprio ser humano cria ao supor, inconscientemente, que assim está se protegendo das dores, dos traumas e das emoções que marcaram sua vida. [...] Constitui-se no diálogo do presente com o passado. (DELGADO, 2006, p. 16-17)
No momento em que o indivíduo busca em sua memória os acontecimentos e os coloca em sintonia com o presente, potencializa o elo existente entre o tempo presente e o tempo passado. Memória e tempos múltiplos se fundem possibilitando a construção da narrativa que cujo contexto é composto de cotidianos, raízes, lastros, identidades e experiências dos narradores. A fusão entre memória e tempo é confirmada em Delgado (2006): [...] Tempo e memória, portanto, constituem-se em elementos de um único processo, são fontes de ligação, elos de corrente, que integram às múltiplas extensões da própria temporalidade em movimento. A memória, por sua vez, como forma de conhecimento e como experiência, é um caminho possível para que sujeitos percorram os tempos de sua vida. [...] é base construtora de identidades e solidificadora de consciências individuais e coletivas. É elemento constitutivo do auto-reconhecimento como pessoa/e ou como membro de uma comunidade pública, como uma nação, ou privada, como uma família. [...] é inseparável da vivência da temporalidade, do fluir do tempo e do entrecruzamento de tempos múltiplos. [...] atualiza o tempo passado, tornando-o tempo vivido e pleno de significados no presente. (DELGADO, 2006, p. 38)
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Portanto, a memória e o tempo andam de mãos dadas sendo que o tempo possibilita a formação da memória. Em Delgado (2006):
Tempo, memória, espaço e História caminham juntos. Inúmeras vezes, através de uma relação tensa de busca de apropriação e reconstrução da memória pela história. [...] Sem qualquer poder de alteração do que passou, o tempo, entretanto, atua modificando ou reafirmando o significado do que foi vivido e a representação individual ou coletiva sobre o passado. Sem qualquer previsibilidade do que virá a ser, o tempo, todavia, projeta utopias e desenha com as cores do presente, tonalizadas pelas cores do passado, as possibilidades do futuro almejado. (DELGADO, 2006, p. 17)
Lembranças e sociedade A memória estimulada reproduz lembranças e experiências vividas; “é o momento de desempenhar a alta função da lembrança.” (BOSI, 2010, p. 81) Ainda em Bosi entendese que “não há evocação sem uma inteligência do presente, um homem não sabe o que ele é se não for capaz de sair das determinações atuais.” (BOSI, 2010, p. 81) Através do presente o homem recria o passado, trazendo através das lembranças o que viveu e sentiu, buscando sua identidade individual e a identidade dentro do coletivo. Bosi (2010) compara a lembrança ao diamante em lapidação, dizendo:
[...] Uma lembrança é diamante bruto que precisa ser lapidado pelo espírito. Sem o trabalho da reflexão e da localização, seria uma imagem fugidia. O sentimento também precisa acompanhá-la para que ela não seja uma repetição do estado antigo, mas uma reaparição. (BOSI, 2010, p. 81)
Recorrer aos velhos para que recriem o passado através de suas lembranças é deixar que a história viva não se perca, é permitir “que nenhuma forma de humanidade seja excluída da humanidade.” (BOSI, 2010, p. 81) Assim como nas tribos antigas, os velhos guardam a chave do tesouro espiritual da comunidade, a tradição, cita Bosi (2010) fazendo uma alusão à importância das lembranças dos velhos. Complementando, Bosi (2010) diz:
[...] o ancião não sonha quando rememora: desempenha uma função para a qual está maduro, a religiosa função de unir o começo ao fim, de tranqüilizar as águas revoltas do presente alargando suas margens [...]. (BOSI, 2010, p. 82)
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As lembranças de tempos melhores podem ser substitutos de experiências significativas, quando a sociedade esvazia as mesmas de seu tempo. (BOSI, 2010) Lembrar, recordar reafirma o individuo inserido no contexto social. As lembranças são individuais, mas muitas vezes estão incorporadas num contexto onde mais indivíduos, demais acontecimentos, estiveram nele. “E a vida atual só parece significar se ela recolher de outra época o alento.” (BOSI, 2010, p.82) Em Bosi, percebe-se ainda que através das lembranças dos velhos pode-se adentrar em um mundo desconhecido, que se perdeu no tempo por tantas mudanças obtidas com a modernidade. A abstração do passado pela modernidade resulta em omissão e não entendimento de muitos fatos que, se observados em suas raízes, podem ser esclarecidas suas origens e até mesmo se fechar um ciclo que por ventura poderia ter inúmeros questionamentos sem resposta. Muitos momentos da história podem ser compreendidos por estes relatos orais ricos cujos depoentes outrora foram protagonistas dessas lembranças. Bosi confirma:
Um mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que não conhecemos pode chegar-nos pela memória dos velhos. Momentos desse mundo perdido podem ser compreendidos por quem não os viveu e até humanizar o presente. A conversa evocativa de um velho é sempre uma experiência profunda: repassada de nostalgia, revolta, resignação pelo desfiguramento das paisagens caras, pela desaparição de entes amados, é semelhante a uma obra de arte. Para quem sabe ouvi-la, é desalienadora, pois contrasta a riqueza e a potencialidade do homem criador de cultura com a mísera figura do consumidor atual. (BOSI, 2010, p. 82)
Dentro da esfera do que se considera arte identifica-se em Benjamin (1987) que os velhos são narradores de uma história, um tempo vivido e que nestas narrativas imprimem o seu olhar, atribuem suas experiências enriquecendo-as de descrições da qual têm domínio do assunto. Ainda alude a construção da narrativa ao “o vaso nas mãos do oleiro”, uma arte, um artesanato. Ele mostra em Leskov – seu objeto de estudo – que a narrativa é considerada arte artesanal, um ofício manual. (BENJAMIN, 1987, p. 261) Ouvir estes relatos, enfatizar estas lembranças, observar essas narrativas dentro do contexto social faz com que não se perca raízes e sabedorias formadas pela vida que não estão presentes em livros, mas que são oriunda da sabedoria popular, da vivência. E faz com que o individuo se perceba no meio e não à margem. Mas, para que de fato esses relatos sejam verdadeiramente expressos, é necessário ao ouvinte esvaziar-se de si mesmo para poder assim receber e transmitir com integridade os contos narrados. Benjamin (1987) diz sobre o ato de contar história, de ouvi-las e preservá-las:
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[...] Contar histórias sempre foi a arte de conta-las de novo, e ela se perde quando as histórias não são mais conservadas. Ela se perde porque ninguém mais fia ou tece enquanto ouve a história. Quanto mais o ouvinte se esquece de si mesmo, mais profundamente se grava nele o que é ouvido. Quando o ritmo do trabalho se apodera dele, ele escuta as histórias de tal maneira que adquire espontaneamente o dom de narrá-las. Assim se teceu a rede em que está guardado o dom narrativo. E assim essa rede se desfaz hoje por todos os lados, depois de ter sido tecida, há milênios, em torno das mais antigas formas de trabalho manual. (BENJAMIN, 1987, p. 261)
Benjamin (1987) observa ainda o narrador inserido na esfera de “artífices”, trabalhadores manuais.
ARTESANATO A história do artesanato surgiu desde os tempos primitivos nos quais o homem já criava seus próprios instrumentos de pedra lascada, pois, a necessidade de construir tudo que precisava como suas ferramentas e suas vestes expressou sua capacidade produtiva e criativa. Sobre o artesão, Kubrusly e Imbroisi nos dizem que:
Ferramentas e habilidades foram se aperfeiçoando, e os artesãos, em seus diferentes ofícios, tornaram-se responsáveis pela “fabricação” de todos os objetos, o que lhes conferiu certo poder e representatividade política e social. ((KUBRUSLY; IMBROISI, 2011, p. 11)
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Com a revolução industrial um movimento iniciado na Inglaterra na segunda metade do século 18 no qual o trabalho manual foi substituído pela produção mecanizada, os artesãos sentiram sua profissão ameaçada perdendo a preferência e seu meio de sustento, pois surgiram novas profissões e empregos. Além de pintor, escritor de poesia e ficção e um dos fundadores do movimento socialista na Inglaterra, Willian Morris funda o grupo Artes e Ofícios tentando valorizar o trabalho artesanal e se opondo à mecanização. “Com o início da industrialização, o artesanato deixou de ser o único meio de fabricação para se tornar uma forma alternativa de produção.” (KUBRUSLY; IMBROISI, 2011, p. 11) Muitos anos se passaram até começar a se falar em legislação e direitos trabalhistas. O artesanato brasileiro é cheio da nossa cultura: conhecimentos indígenas se misturam aqueles trazidos pelos portugueses e, recebendo ainda contribuições africanas, folclóricas, costumes e tradições, tornando-se um dos artesanatos mais ricos do mundo e o nosso grande diferencial. Destacam-se, principalmente, a região Nordeste e o estado de Minas Gerais. A produção do artesanato, além de ser uma forma de fortalecimento da cultura brasileira, é ainda uma alternativa para a geração de renda de pessoas carentes e fonte de matéria prima e inspiração para a moda.
Artefatos manuais, feitos com a utilização de técnicas tradicionais, exibem de tal maneira certa habilidade, destreza, qualidade e criatividade que ganham espaço no mercado e agregam valor aos produtos aos quais são inseridos, graças à riqueza de detalhes e ao fator sustentabilidade, que é um pensamento primordial nos dias de hoje.
Produtos artesanais do Vale do Jequitinhonha e a memória local Nesta seção será demonstrado o que há no artesanato do Jequitinhonha que pode comprovar a tese da memória, do passado, das lembranças e da “sabença que transita entre formas eruditas e populares.” (PEREIRA,1996, Contracapa) Nas cidades do interior de Minas Gerais, em especial no Vale do Jequitinhonha, o contar histórias faz parte do cotidiano das pessoas, sentar-se próximos ao fogão à lenha para bater papo, escutar e contar casos, trocar experiências aproxima as pessoas, forma comunidades. E dessas experiências vividas, a memória vai sendo moldada através da argila que é trabalhada de maneira a representar o sentimento do artesão, suas vivências, suas lembranças, sua história. Como Pereira diz em sua obra “Conta-se o Vale”: A arte de contar faz parte ainda do dia-a-dia de grupos sociais do interior de Minas Gerais, que se reúnem em torno de fogueiras ou do fogão a lenha para conversar, ouvir e intercambiar experiências. Percorrendo os caminhos do Vale de Jequitinhonha, encontramos em sua produção artesanal um vínculo criador que une a população e, ao tornar-se marca de determinada cultura, revela-nos uma forma de comunicação que congrega as pessoas em torno de experiências pessoais e interesses comunitários. Trata-se de uma peculiar maneira de fazer, em que o narrar acompanha o fabricar, o trabalho manual. Cada máscara forja no barro uma história que cerca a sua criação, cada tronco pacientemente esculpido tem nas suas formas uma insuspeitada explicação cercada da tradição do contar, toda boneca tem em seu processo de feitura um narrar associado ao saber e à vivência de seu artesão. (PEREIRA, 1996, p. 13)
O trabalho manual é rico de “sabenças” (PEREIRA, 1996) que vem sendo esculpido ao longo dos anos por famílias que preservam as tradições transmitindo-as de geração em geração. O homem simples, do interior, o homem do Vale do Jequitinhonha, tem prazer em contar seus casos, ensinar o que aprendeu, viveu e sofreu. Assim, tradições culturais são construídas e suas raízes não se perderão no tempo. Pereira (1996) ratifica:
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A riqueza cultural dos grupos populacionais da região, menos conhecida pela importância de suas manifestações de arte do que pelas suas dificuldades e problemas, revela-se num cabedal de conhecimentos acumulados ao longo de seu processo histórico de colonização e formação econômico-social. A reminiscência está na base da cadeia de tradição que transmite acontecimentos significativos de geração a geração, tendo na figura do contador o herói que religiosamente ata os membros da comunidade às suas raízes mais genuínas. Por meio dessa atividade mnêmica, o narrador exerce a função quase mítica de ser a memória viva do grupo, resguardando a unidade e a história com a autoridade de quem viu, viveu e ouviu. Desempenha particularmente a tarefa de convencionar as imagens e idéias da recordação, ajustando-as às convenções contextuais e verbais de seu grupo, para estiliza-las conforme o ponto de vista cultural e ideológico da comunidade a que pertence. (PEREIRA, 1996, p. 13)
A permuta “de experiências é fonte de narrativas orais que transformam o ato simples da benzedeira do interior” (PEREIRA, 1996, p. 14) numa fonte quase inesgotável, de onde jorra sabedorias e ensinamentos. E dentro da esfera da arte oral, da voz, Hoffler nos diz que “a oralidade marca sua presença em todas as bocas e lugares, podendo ser apreendida não só pela audição, mas também por todos os sentidos.” (HOFFLER, 2006, p. 28) Hoffler (2006) ainda nos permite confirmar a tradição como fonte de sabedorias e ensinamentos quando nos fala que:
Cada sertanejo é guardião de parte dos saberes e segredos desses mundos que podem ser alcançados pela voz. Contudo, cabe a alguns poucos escolhidos a responsabilidade da transmissão memorial, da tradição e da criação no domínio da oralidade. (HOFFLER, 2006, p. 28)
Mas Pereira também nos fala da beleza contrastante que existe na região do Vale do Jequitinhonha, onde “a persistência das dicotomias históricas contrasta com a rica produção cultural que existe ali”. (PEREIRA, 1996, p.17) E ainda cita como referências consideradas patrimônio cultural da região:
[...] as máscaras indígenas de Lira Marques, as esculturas de Zefa, os Cristos de Seu Didi; a música de Paulinho Pedra Azul e de Tadeu Franco; os casos de Tadeu Martins e de Gonzaga Medeiros; os versos de roda dos Trovadores do Vale; enfim, um universo de artistas que nos despertou a atenção para um patrimônio oral cujas vozes poderiam trazer informações novas para os estudos que se ocupam de cotejar o texto da memória histórica com a memória do texto criado pelos esquecidos da voz oficial. (PEREIRA, 1996, p. 17)
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A beleza de contrastes do Vale apresenta em sua memória características marcantes de luta e sofrimento que são expressadas em seu artesanato. A região, que outrora foi grande extratora de ouro e diamantes, em algum momento viu este patrimônio findar. A população então foi obrigada a se dispersar buscando um lugar para permanecer e ali sobreviver. Foi assim então que comunidades foram se formando às margens do Rio Jequitinhonha e região, pois, teriam água e, portanto, a agricultura de subsistência prevaleceu nas comunidades ali formadas, mesmo com dificuldades devido ao costume de trabalharem apenas na extração. Essas formações desordenadas propiciaram a diferença social que até hoje é marcante no Vale. Sobre a distorção social Pereira (1996) diz:
[...] o abandono em que se encontravam as atividades agro-pastoris, os métodos rudimentares adotados e, mais do que isto, a contração da renda inviabilizaram ou retardaram atividades agrícolas mais arrojadas, fazendo prevalecer a antiga agricultura de subsistência. Relatórios [...] da fundação João Pinheiro e da Codevale configuram a região como problemática e, ao descreverem-na em seus múltiplos aspectos, frisam que ainda hoje há uma estrutura fundiária defeituosa, com baixos níveis tecnológicos e reduzida ocupação de mão-de-obra. [...] o jornal Estado de Minas tratou do problema da miséria do Vale do Jequitinhonha, numa reportagem sobre a distorção social e a permanente concentração de renda na região. (PEREIRA, 1996, p. 17)
Mas diante de todos estes contrastes, nos mais remotos vilarejos às margens do Rio Jequitinhonha, para o artífice cada detalhe em sua volta já aguça a imaginação. Tudo influencia no que vai ser transformado em arte. É o caso da artesã Selma Quaresma, ex-advogada, natural do Baixo Jequitinhonha, que há 14 anos deixou a profissão para ir em busca de seu sonho que era trabalhar livre, ser feliz e tornar a arte uma realização pessoal. Ela acredita que cada peça que produz é um pequeno retrato da memória de Jequitinhonha e tem um diferencial em seu trabalho de resgate da cultura branca. Em reportagem ao Jornal MGTV ela diz: “somos uma miscigenação de raças”. A cultura negra e a indígena, segundo Selma, são sempre retratadas no artesanato e por isso surgiu o interesse de resgatar a cultura branca. Dentre suas inúmeras obras a artesã possui uma denominada como Conjunto Pulmão do Vale. Esta obra é composta por folhas e é produzida através de caminhadas que a artesã faz na Mata Atlântica. Nestas caminhadas observa folhas de árvores e plantas, colhe para posteriormente reconstruí-las na argila moldando ali cada detalhe, observado, e estes detalhes mínimos são sua fonte de inspiração. A característica desta obra é que está em constante mudança, pois Selma sempre acrescenta uma nova peça. Outra grande obra da artesã é um conjunto de vasos de argila que foi produzido com inspiração na Rua Alferes Julião Fernandes, localizada na cidade de Jequitinhonha. Esta foi a primeira rua da cidade construída ás margens do rio. Ela expressou nesta obra a necessidade que a população tinha na época de armazenar água pois não havia água encanada e a necessidade de armazenamento de alimentos como gordura de porco. Selma continua nesta busca incessante de retratar o Vale em suas obras, sentindo-se cada vez mais realizada com seu trabalho.
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O jornalista Lauro Morais finaliza a reportagem dizendo: “Lembranças que sobrevivem pelas mãos da artesã e mantém viva a tradição de um vale de muitas riquezas desconhecidas. Percebemos então que a matéria-prima para o artesanato, como no caso da artesã Selma Quaresma, é extraída não somente do chão, a argila, mas é extraída do Vale, sentimentos e impressões que se tornam inspiração
Técnicas, tradições e processos de construção do artesanato Nesta seção observamos como as técnicas aplicadas ao artesanato caminham lado a lado com as tradições que são passadas de geração em geração. A escolha do barro, os processos, o manuseio, seguem um ritual tradicional da família. Lalada (2008) nos fala do processo de escolha de um bom barreiro com eficácia suficiente para confecção das peças sem defeitos como quebra ou rachaduras. O barro é testado no barreiro mesmo:
Usa-se para isto o teste do “biscoitinho”, em que se faz uma rosquinha com um pavio de argila molhada e emendando as duas extremidades. Se a massa não rachar na curva do círculo, significa que a argila tem plasticidade suficiente para levantar um pote; mas, se quebrar, significa que tem grande quantidade de areia na massa e não pode ser trabalhada em estado puro. (DALGLISH, 2008, p. 27)
O barro é retirado pelas ceramistas geralmente de barrancos de rios ou de fazendas em torno das comunidades na região do vale e é transportado por elas mesmas em balaios sobre a cabeça ou no lombo de animais até o local de produção. A argila é então “socada” em pilão ou porretes de pau, depois peneirada, misturada com água, depois amassada até se tornar homogênea, depois armazenada em sacos plásticos ou folhas de bananeira. (DALGLISH, 2008). Antes de o barro ser trabalhado Lalada nos diz que:
Em algumas regiões, adiciona-se à massa cerâmica um anti-plástico conhecido como chamote. Trata-se de um material que funciona como desengordurante, retirando a água excessiva do barro e minimizando quebras durante a queima. Pode ser de origem mineral, como areia e pó de caco de argila queimado; ou de origem vegetal, como cinza de madeira, casca de árvore moída etc. O chamote usado no Vale é geralmente feito de cacos de cerâmica queimada ou triturada, ou de areia lavada, para tirar as impurezas orgânicas. É também comum a mistura de dois barros, um mais plástico e outro mais arenoso, para se conseguir uma boa argila. . (DALGLISH, 2008, p. 34)
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Lalada ainda nos diz que:
As argilas usadas no Vale são, em geral, a vermelha (que após ser queimada se torna rosa escuro), a preta, escurecida por folhas e raízes decompostas e que depois da queima se torna branca, e o “tauá” vermelho e a “tabatinga” branca, usados no acabamento das peças e na pintura interna das casas. A modelagem das peças é, em geral,feita com a argila preta, de excelente qualidade e consistência, devido a plasticidade proveniente de materiais orgânicos, proporcionando a modelagem de peças de até um metro de altura. (DALGLISH, 2008, p. 34)
A princípio as artesãs não tinham contato entre si o que possibilitou a autoria de muitas técnicas no preparo da argila e demais partes do processo até a produção da peça. Os experimentos e tentativas “moldaram o conhecimento delas” propiciando descobertas e melhorias que não são passadas adiante para não serem copiadas.
Entretanto, mesmo tentando algumas novas adaptações na estética das obras, as ceramistas são bastante conservadoras no que diz respeito a explorar novas técnicas de modelagem e queima, que não sejam aquelas já testadas pela família e com garantia comprovada de um resultado satisfatório. Isto se deve [...] ao medo de se expor a um “desastre econômico”. (DALGLISH, 2008, p. 28)
Mas na região do Vale existem algumas ceramistas de Santana do Araçuaí, Campo Alegre e Coqueiro Campo que aliaram as tradições já utilizadas inovação na decoração das peças com variação de cores e texturas. Na modelagem e construção das peças, segundo Lalada, as técnicas usadas na região do Jequitinhonha são variações de métodos utilizados no mundo todo
onde a cerâmica é modelada à mão, usando o processo do acordelado, que é também conhecido como pavio, cobrinha ou rolinho. Nesta técnica usa-se uma combinação de métodos, pelos quais a base do pote é feita de uma placa de argila, onde serão afixados os acordelados que formarão as paredes do pode ou da escultura. (DALGLISH, 2008, p. 37)
Para a construção da cerâmica utilitária, Lalada observa que, a modelagem é uma adaptação das técnicas indígenas onde as peças pequenas são confeccionadas nas mãos e as maiores mantidas no chão apoiadas em antigos pedaços de fundo de panelas. (DALGLISH, 2008, p. 38) Já na confecção das “peças escultóricas” (DALGLISH, 2008) utiliza-se
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as técnicas de bloco, do repuxado e de placas; nas esculturas pequenas , como as criadas por Noemisa Batista, é comum usar a técnica do repuxado ou bloco, e a imagem é formada partindo de um pedaço de argila maciça, com adições posteriores de detalhes como braços, olhos, boca etc. Antes de ir ao forno ainda úmidas, estas peças são ocadas, deixando as paredes finas e homogêneas pra não estourar durante a queima. [...] (DALGLISH, 2008, p. 38)
No que se refere a pintura das peças Lalada nos diz que a preferência pela decoração e acabamento da cerâmica e feito com o barro colorido ou engobe.
O engobe é usado por praticamente todas as ceramistas do Vale do Jequtinhonha e o acabamento das peças fica tão brilhante e colorido que é difícil imaginar não serem pintadas com tintas artificiais. Localmente conhecido como “oleio”, o engobe é pintado em finas camadas de argila líquida sobre a peça úmida, proporcionando a aparência suave e lustrosa da pele das bonecas e dos enfeites e detalhes exibidos na indumentária das figuras. O brilho apresentado por esta pintura possui semelhanças com o esmalte cerâmico e não necessita ser polido antes de ser queimado. Para a decoração das peças é usada uma mistura dos barros tauá (vermelho), tabatinga (branca) e a recém-descoberta técnica do “metalizado”, proporcionado por rochas com alto teor de minérios de ferro, denominadas no Vale “oca de mica”. De acordo com a ceramista Zezinha, de Coqueiro Campo, o engobe feito com esta rocha proporciona a cor dourada, e quando misturado com argila branca se torna prateado após a queima. E a para definir a cor da pele das bonecas na tonalidade rosada, ela afirma que se prepara uma mistura proporcional de argila vermelha e branca pintada antes de levar ao forno. (DALGLISH, 2008, p. 44)
Quanto às variações de tons Lalada diz:
As decorações e pinturas com camadas de barro líquido diferem quanto às técnicas de preparo das tintas, quanto à quantidade de cores conseguidas na natureza, e quanto à perfeição na aplicação destes pigmentos sobre a superfície da cerâmica. Quanto à quantidade de cores de argila aplicada nas peças, pode-se observar até seis cores de engobes nos trabalhos das ceramistas Isabel, de Santana do Araçuaí, e da Zezinha, de Coqueiro Campo – variando do barro branco até o preto, passando pelo rosa, vermelho, cinza e dourado. (DALGLISH, 2008, p. 47)
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A última fase que é a queima das peças é feita em fornos com proporções que podem variar entre 80 cm de diâmetro por 80 cm de profundidade. Geralmente nas casas das artesãs são encontrados dois ou três fornos para atender as demandas de queima de acordo com o tamanho das peças: pequenas, médias ou grandes. Os fornos são construídos geralmente no início das atividades da artesã, dura anos e é passado para posteridade. Quando é utilizado para queima o forno expande devido ao calor e retrai após esfriar surgindo por isso, rachaduras em suas paredes. Elas devem ser consertadas após cada queima e este processo é feito em muitos casos, pela própria artesã. Lalada (2008) observa, segundo as artesãs, que um bom forno é aquele que sofre rachaduras durante a queima pois atingiu a temperatura adequada e quanto mais velho for o forno melhor pois as peças serão melhor queimadas devido as paredes estarem secas e refratárias devido ao uso. O modelo de forno utilizado é o mencionado a seguir, segundo Lalada:
O forno redondo e de cúpula aberta é o modelo adotado em quase toda a extensão do Vale do Jequitinhonha, onde é conhecido como “forno de barranco”. Estes são, em geral, construídos pelas próprias ceramistas e adaptados às dimensões de suas peças, queimando em baixas temperaturas, 600 a 900 ºC. Para construí-lo escolhem uma “ribanceira”, aproveitando as encostas de pequenos barrancos para fazer a base do forno. Reaproveitam a terra retirada da base para levantar as paredes, que também podem ser construídas de adobe, de tijolos queimados ou de pedras. (DALGLISH, 2008, p. 51)
E segundo a queima observa:
A queima, que pode variar de oito a doze horas, dita a qualidade final da cerâmica – da porosidade das peças à variedade de cores atingida. No Vale do Jequitinhonha, o objetivo da queima é conseguir, por meio da oxidação, cores limpas e fortes, sem nenhuma mancha de fumaça. Para isso, a lenha é colocada num compartimento separado da cerâmica, numa entrada abaixo das peças, não havendo, portanto, contato direto da lenha com a cerâmica. (DALGLISH, 2008, p. 55)
A partir do momento que é iniciada a queima a ceramista observa as peças durante o processo para que fiquem com o aspecto desejado. Permeando todas estas técnicas desde a coleta do barro, a modelagem das peças, a pintura, a construção ou reparação do forno e a queima existem inúmeras lendas vindas da ancestralidade que congrega experiências; “sabenças” (PEREIRA, 1996) que são repassadas e preservadas de geração em geração.
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CONCLUSÃO
Através desta pesquisa percebi a importância dos artesãos, do artesanato e da cultura como um todo no Vale do Jequitinhonha. Percebi também a importância de ouvir, escutar e valorizar o que as pessoas simples têm a nos dizer com suas experiências, pois, através delas entendemos as raízes da história coletiva ou até mesmo da história individual. Por meio destas conclusões será produzida uma coleção de acessórios que expresse o artesanal, o rústico, a cultura e que resgate a memória local. Ressaltar as tradições do Vale, suas riquezas e a simplicidade do povo que muitas vezes é deixada de lado, torna-se impulso para a construção desta coleção.
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INSPIRAÇÃO
Doce Mandacaru tem como inspiração para esta coleção o artesanato, o folclore e a cultura do Vale do Jequitinhonha, observando neste contexto sua relação com a memória, como possibilidade de expressão de acontecimentos marcantes, vivências, tradições e costumes. Será abordado também elementos do cangaço que trazem consigo personalidade, símbolos, hábitos e estilo de vida dos cangaceiros. O resgate da memória coletiva representada pelas pessoas das comunidades do Vale através de cerâmicas e elementos do cotidiano de Lampião que também resgatam a memória coletiva do período, a idéia do rústico, serão fontes inspiradoras para concretização do trabalho. No painel nº1 observamos formas arredondadas e alguns detalhes feitos nos vestidos das bonecas que serão inspiração para as peças produzidas com estilo romântico e contemporâneo. No painel nº2 observamos peças do cotidiano de Lampião e seu bando onde, elementos serão transportados para o universo da coleção que compreende as bonecas do Vale e o cangaço.
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PAINEL DE INSPIRAÇÃO Nº1
PAINEL DE INSPIRAÇÃO Nº2
MACROTENDÊNCIAS / TENDÊNCIAS O inverno 2014 tende ao romantismo e ao encantamento pelo luar. De acordo com as pesquisas de macrotendências o romantismo vem como uma válvula de escape, como um esconderijo da realidade. Filmes como Crépusculo, seriados infantis, filmes de heróis como Homem Aranha ou X-Men remetem a um ar de infantilidade na atualidade; desejo fantasioso de um final feliz. As redes sociais, quase que 24 horas, expelem postagens de uma suposta falsa felicidade demonstrando o desejo de se esconder da realidade, desviar dos problemas, dos acontecimentos marcantes individuais ou que atingem toda a sociedade. Ataques sangrentos como 11 de setembro, crises políticas, ideológicas, religiosas, econômicas e sociais, a destruição descontrolada da natureza, o fim do mundo que não aconteceu, resulta em uma perturbação emocional, sentir-se sem direção. Mas por outro lado, pode-se observar a formação de uma cultura on-line onde muitas pessoas colaboram, criam e compartilham e em alguns momentos sentem-se ou até mesmo são reconhecidos por isso. A preocupação com o semelhante, com suas dificuldades e a empatia leva apelar ao amor, em seu sentido maior, como resistência física, emocional, como forma de sobrevivência. Partindo para os possíveis efeitos da globalização, a propensão de valorização das tradições locais está em alta. Símbolos, estilos de vida e tradições de nossa cultura outrora renegados poderão ser exportados a consumidores globais interessados, tornando fonte de orgulho ao país. Diante destas observações, acredita-se que a emoção poderá criar uma esfera positiva no sentido de envolver o consumidor criando o desejo ou aguçando a necessidade de consumo. O momento é de investigar a idéia de futuro, repensar, reprocessar, buscar alternativas na utilização de materiais inusitados, suprir as necessidades de proteção da sociedade através de materiais aconchegantes criando uma sensação de conforto e acolhimento, remetendo aos primórdios da civilização humana. Outro conceito inspirador são os efeitos de luz que expressam muitas cores – psicodélicos, iridescentes; evocam um olhar contemplativo, o encantamento pela natureza e pelos contos de fadas. Contos estes que nos remetem ao um bom comportamento e nos motivam ao sonho de um final feliz. Sob a luz da lua, enamorados fazem juras de amor eterno, sejam ao som de serenatas ou das batidas do trance. Quando a luz do amanhecer se encontra com a luz do luar o céu se torna multicolorido formando camadas de tons inesperados e espetaculares. Pensar em aurora boreal, iridescente, galáxias, contos de fadas e estilo Boho é o reflexo da macrotendência Camadas para o inverno de 2014. Doce Mandacaru busca neste conceito elementos inspiradores como o acúmulo, a doçura, o romantismo e o contraste de materiais e cores que aliados ao tema escolhido resultarão em uma coleção de acessórios de moda. Materiais como couro, aplicações em crochê, pérolas, detalhes como pespontos evidentes e aplicação de mix de materiais também são apostas para a estação assim como pochette, clutch e doctors bag.
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Psicodélico Psicodélico
Rave
Destinos Sonhos
Iridescente Doçura
Contos de fadas
Camadas
Corto Moltedo
Burberry Attilo Giusti Leombruni
Romântico Aplicações Temperley
Churchs
Tendências Inverno 2014
Alberta Ferretti
Branco Giuseppe Zanotti
Attilo Giusti Leombruni
Bally
CARTELA DE CORES A cartela de cores desta estação, apesar de ser inverno, apresenta tons pastel, tons fortes como vermelho e verde e tons neutros como o marrom e o caqui que mais se aproximam da proposta da marca. Dentro das combinações estarão presentes também os tons terrosos, a cor preta e a cor branca.
11-4800 TPX Branco noiva
19-1103 TPX Preto mandacaru
18-1550 TPX Vermelho Maria Bonita
18-1550 TPX Bege cangaço
18-1160 TPX Marrom lampião
17-1929 TPX Rosa boneca
18-1345 TPX Terra
15-0927 TPX Sol
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TECIDOS Os tecidos escolhidos foram pensados sob o desejo de expressar o rústico, o contemporâneo e o artesanal aliados a tendência da estação. Tecidos com durabilidade que possibilitarão um bom acabamento nas peças. Serão utilizados materiais como o couro, palha (fibra sintética) e tecido camurçado para confecção das bolsas e algodão para forração.
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AVIAMENTOS Os aviamentos serão a complementação dos tecidos para respaldar a confecção das peças com qualidade e bom acabamento.
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MATÉRIAS As aplicações e remodelagens feitas nos tecidos darão o toque final nas peças deixandoas atraentes e desejáveis. Serão aplicações feitas em crochê, pérolas, lentilhas e em couro que darão o aspecto da coleção inspirada na cerâmica do Vale.
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DESCRITIVO DE PROCESSO CRIATIVO DAS FAMÍLIAS Família Noiva de Isabel Esta família teve como base a boneca noiva produzida pela artesã Isabel Mendes da Cunha de Santana do Araçuaí - MG. Foram observados detalhes no vestido da noiva como as pregas, arranjo de cabelo e bouquet das mãos. A estrela do chapéu de Lampião foi transferida para o acessório substituindo as flores. O formato do vestido da boneca e o arco da cabeça também foram representados na peça conceitual.
Família Noiva de Zezinha Nesta a família a boneca representada foi a noiva produzida pela artesã Maria José Gomes da Silva, a Zezinha, de Coqueiro Campo – MG. Para criação dos croquis foi observado o bouquet da noiva e os detalhes do vestido (bolinhas). O tecido utilizado na confecção dá um ar rústico a família e também remete ao tom da pele da boneca.
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DESCRITIVO DE PROCESSO CRIATIVO DAS FAMÍLIAS Família Sangue do bando destroçado A boneca representada nesta família é outra obra de Isabel Mendes. Nesta foi trabalhada as pregas do vestido da boneca e a cor vermelho. O nome da família sugere ao massacre sangrento contra o bando de Lampião: a cor lembra sangue. Algumas peças desenhadas remetem a elementos do cotidiano de lampião.
Família Boneca miúda Esta família remete a boneca produzida pela artesã Zezinha que tem por nome “Bonequinhas miúdas”. Foram trabalhadas flores de crochê no tom vermelho terroso lembrando as flores do vestido da boneca, renda de algodão e pérolas lembrando detalhes da mesma. Elementos do cangaço também estão presentes nas formas das peças.
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DESCRITIVO DE PROCESSO CRIATIVO DAS FAMÍLIAS Família Maria Bonita Nesta foi representada a também obra de Zezinha “Bonequinhas miúdas”. A representação se deu pelo tom da pele da boneca que é negra através do tecido e detalhes com tom escuro nas peças. Fazendo uma analogia à Maria Bonita, as peças vem com detalhes cor de rosa devido ao tom representar a mulher e por lembrar a boneca representada. Aliar o tecido que é rústico a elementos do cangaço e ao tom rosa foi uma escolha prazerosa para criação desta.
Família Virgulino Esta família representa a boneca que faz parte do conjunto “Batizado com madrinhas” de Isabel Mendes. Esta boneca chamou atenção pela imponência de sua pose e pelo fato de estar vestido de preto. E justamente por estar vestida de preto foi a motivação da escolha do nome da família: o preto representa o masculino. Os detalhes brancos foram representados nas peças pelo aviamento vivo.
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MAPA DE COLEÇÃO
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Família
Elemento
Noiva de Isabel
Conceitual
Fashion
Comercial
Estrela de lampião 1 sacola de mão Pregas com fita de cetim Fuxico
1 maleta 1 Doctors bag 2 bolsas de mão
2 bolsas sacola 2 clutchs 1 bolsa cilindro
Noiva de Zezinha
Bouquet de flores Pérolas
1 bolsa de mão
2 bolsas de mão 1 clutch 1 bolsa carteira
1 mochila 1 bolsa para notebook 1 bolsa para tablet 1 bolsa para maquiagem 1 clutch
Sangue do bando destroçado
Pregas Cor vermelho
1 bolsa de mão
1 clutch 3 bolsas bornal 2 bolsas de mão 2 bolsas sacola 1 bolsinha de festa
Boneca miúda
Flores de crochê Renda de algodão Pérolas
1 bolsa de mão
3 bolsas de mão 1 porta níquel
2 mochilas 3 bolsas tiracolo
Maria Bonita
Pérolas Flores Rebites
1 jogo de bornais
1 carteira de mão 3 clutchs
1 bolsa sacola 1 mochila 2 cartucheiras 1 bolsa para notebook
Virgulino
Vivo Flores Cor preta
1 bolsa de mão
3 bolsas carteira 1 bolsa de mão
2 mochilas 1 bolsa para notebook 1 bolsa para tablet 1 maxi-bolsa tiracolo
DESCRITIVO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO A Coleção “As bonecas do Vale do Jequitinhonha” desde a sua concepção até a execução das peças foi feito por mim. Produzir um coleção tomando por base a cultura brasileira foi o fator primordial para que eu enfrentasse todas as dificuldades que estariam por vir. Pesquisas de materiais apropriados, tentativas frustradas de conseguir alguém com experiência no ramo para pelo menos me orientar, falta de capital para aquisição de materiais, dentre outras, foram barreiras que enfrentei a partir do momento que o processo foi iniciado. Apesar de todos os percalços e principalmente pela falta de experiências na produção de bolsas com materiais diferenciados e a falta de maquinário adequado, sinto-me realizada por conseguir contornar tantos obstáculos e concretizar a produção das peças.
TIPO DE APRESENTAÇÃO FINAL
A apresentação final do trabalho será sob a forma de vídeo apresentado durante o evento de formatura. O mesmo foi produzido através de um ensaio fotográfico feito no laboratório da própria instituição. Para o ensaio foi utilizada câmera digital e demais equipamentos necessários disponíveis no local. Como modelo participou a professora Maria de Fátima do curso de cinema da Una, a aluna Pamela Costa e minha irmã Débora Augusta. A modelo Maria de Fátima foi escolhida pelo meu orientador Aldo devido a semelhança dela com algumas bonecas. As demais modelos foram escolhidas por mim pelo fato de que eu deseja representar a boneca de pele negra e a boneca vestida de preto do painel de inspiração.
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PAINEL ARTÍSTICO
BIBLIOGRAFIA BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 16 ed, 2010. DALGLISH, Lalada. Noivas da seca: cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha. 2.ed. São Paulo: Unesp, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. DELGADO, Lucília de Almeida Neve. História Oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2006. HOFFLER, Angélica. A floresta no cordel. Fortaleza: Secult, 2006. KUBRUSLY, Maria Emília; IMBROISI, Renato. Desenho de fibra: artesanato têxtil no Brasil. São Paulo: Senac, 2011. MELLO, Frederico Pernambucano de. Estrelas de couro: a estética do cangaço. 2.ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2012. MGTV, Jornal. Jornalista Lauro Morais entrevista com a artesã Selma Quaresma. Jequitinhonha – MG. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=gaLrqBm92-I Acesso em 03/12/12 as 18:40h. PEREIRA, Vera Lúcia Felício. O artesão da memória do Vale do Jequitinhonha. Belo Horizonte: Editora UFMG/ PUC Minas, 1996. STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx: roupas, memórias, dor. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
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ANEXO Visita feita a casa da artesã Selma Quaresma em Jequitinhonha – MG Abril / 2013
FOTOS DAS PEÇAS EXECUTADAS