INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE GRADUAÇÃO EM MODA
MODA E COMUNICAÇÃO: A Fabricação do Corpo Bodybuilder
Belo Horizonte 2015 / 1º Semestre
IZABELLA CRISTINA DE ASSIS SILVA
MODA E COMUNICAÇÃO: A Fabricação do Corpo Bodybuilder
Trabalho apresentado como requisito de avaliação para obtenção do título de bacharel no curso de Graduação em Moda do Instituto de
Comunicação
e
Artes
Universitário UNA. Orientadora: Flávia Virgínia
BELO HORIZONTE 2015 / 1º Semestre
do
Centro
IZABELLA CRISTINA DE ASSIS SILVA
MODA E COMUNICAÇÃO: A Fabricação do Corpo Bodybuilder
Trabalho apresentado como requisito de avaliação para obtenção do título de bacharel no curso de Graduação em Moda do Instituto de Comunicação e Artes do Centro Universitário UNA.
Banca Examinadora: Orientadora: _________________________________ Mestra, Flávia Virgínia Santos Teixeira Centro Universitário Una Membros:
_________________________________ Mestra, Luiza Magalhães Oliveira Centro Universitário Una _________________________________ Especialista, Fabrícia dos Santos Figueiró Centro Universitário Una
Belo Horizonte, 07 de Julho de 2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por tudo que tem feito na minha vida até aqui. Aos meus pais Rubem e Adriana por sempre estar ao meu lado, me ajudando a tomar as melhores decisões, por me aturarem nos momentos de estresse, por me darem colo quando necessário e por sempre me encorajar a correr atrás dos meus sonhos. Aos meus irmãos, Bárbara e Samuel, por serem sempre amigos e companheiros nas horas boas e difíceis. Agradeço também aos meus familiares que, de alguma maneira, sempre me deram força e disseram palavras de encorajamento e tranquilidade, em especial à minha avó, Marlene, por ser sempre amiga e conselheira. Ao meu namorado, Carlos Gualberto, por estar ao meu lado nessa caminhada, há seis anos, por me dar apoio e se sempre um ombro amigo quando preciso. Por também ter me ajudado nos trabalhos e artigos intermináveis, quando eu já nem conseguia raciocinar mais. A todos os professores que tive nesses três anos e meio, de muito trabalho, e às vezes até desânimo, mas que sempre me deram uma força e um empurrãozinho para jamais desistir. Em especial a minha orientadora Flávia Teixeira pelo suporte no pouco tempo que tivemos, pelas suas dicas, correções e incentivos. E finalmente, a todos que contribuíram direta e indiretamente para a minha formação, o meu muitíssimo obrigado.
RESUMO
Para o presente trabalho foram observados dados e fatos, a fim de se analisar a construção do corpo projetado pelo Bodybuilder e entender como esse corpo se comunica e quais são suas ligações e diferenciações com o corpo fabricado pela moda. A pesquisa foi realizada com base em mídias especializadas, artigos e livros que puderam nos ajudar a esclarecer diversas constatações a respeito do tema. Os resultados alcançados foram surpreendentes, pois verificamos que o corpo fabricado pelos atletas de Bodybuilding não faz destes atletas uma aberração, como é costume afirmar. Mas, ao contrário, quando se entende o porquê dessa fabricação, torna-se possível aproximar tal prática a inúmeras outras maneiras de se fabricar o corpo, como por exemplo, no próprio contexto da moda.
Palavras-chave: Moda, comunicação, Bodybuilding, corpo e construção.
ABSTRACT
For the present job were collected data and facts to analyze body building designed Bodybuilder and understand how this body communicates and what are their connections and differences with the body manufactured by fashion. Surveys were conducted in specialized media, articles and books that could shed light on the subject. The result achieved by this research was surprising, to analyze the objectives of the same was found that the body manufactured by Bodybuilding athletes does not become an aberration when you understand why this manufacturing and also when it is discovered that this mode does not differ from many other ways to manufacture the body.
Keywords: fashion, communication, bodybuilding, body and bulding.
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO............................................................................................................8
1.1
Tema.............................................................................................................................10
1.2
Problema......................................................................................................................10
1.2.1 Objetivo geral..............................................................................................................10 1.2.2 Objetivos específicos...................................................................................................10 1.3
Justificativa..................................................................................................................11
1.4
Estrutura da monografia............................................................................................11
2
CONCEITOS GERAIS E REVISÃO DA LITERATURA.....................................13
3
METODOLOGIA…...................................................................................................14
4
A FABRICAÇÃO DO CORPO..................................................................................15
4.1
Bodybuilder: O corpo fabricado.................................................................................15
4.2
A moda e Comunicação do corpo...............................................................................20
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................25
6
BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................26
1
INTRODUÇÃO
Desde a antiguidade clássica, as sociedades ocidentais buscam um padrão ideal de beleza. Todavia, podemos notar que o corpo tem ganhado cada vez mais destaque na sociedade contemporânea, especialmente quando a questão volta-se ao tipo físico “perfeito”, associado a um ideal específico de beleza. Essa preocupação com as formas e volumes corporais é chamado de “Culto ao Corpo”, que pode ser verificado, enquanto comportamento, a partir do século XX. Segundo a pesquisadora Ana Lúcia Castro (2003) o culto ao corpo pode ser definido como: Um tipo de relação dos indivíduos com seus corpos que tem como preocupação básica o seu modelamento, a fim de aproximá-lo ao máximo possível do padrão de beleza estabelecido. De modo geral, o culto ao corpo não envolve somente a prática de atividades físicas, mas também as dietas, as cirurgias plásticas, o uso de produtos cosméticos, enfim tudo que responda à preocupação de ter um corpo bonito saudável (CASTRO, 2003. p.15).
A relação do corpo manipulado e fabricado ganha importância quando se analisa as grandes evidências existentes em um constante crescimento da obsessão e preocupação com o corpo ideal contemporâneo. O boom de mídias especializadas em fitness e a apropriação que a moda faz deste discurso também influencia nesse crescimento. De acordo com Siqueira e Faria (2007) o corpo encontra um espaço na mídia, onde suas representações são fortemente construídas. As revistas de moda também são formadoras e divulgadoras de conceitos que se dirige para o ideal de um corpo saudável, estampando em suas capas modelos que se tornam um exemplo a ser seguido. Assim, o culto ao corpo vem conquistando um espaço significativo na sociedade. Podemos ver o assunto em meios de comunicação como, jornais, TV, revistas e também existe um crescimento nas áreas profissionais ligadas ao corpo e a beleza, como os nutrólogos, nutricionistas, cirurgiões plásticos especializados em estética corporal, esteticistas, massagistas, personal trainers, etc. Neste contexto da busca pelo corpo ideal, podemos notar que a insatisfação pessoal passa a ser um dos motivos que faz um indivíduo buscar a construção de uma identidade nova, pré-fabrica. Diante deste fato, tem-se o início de uma incessante busca pelo padrão de
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beleza ideal. Outro motivo que gera essa busca pela perfeição se dá pelas inúmeras facilitações em alcançar um modelo de corpo que seja diferente de seu biotipo natural, quase sempre ditado pela soberania da aparência (TRINCA, 2008, p.6). Segundo a pesquisadora Valéria Brandini (2007, p. 3), desde a antiguidade, o corpo foi fabricado por sua época e cultura. Deste modo, a comunicação, juntamente aos valores sociais, tornou-se um elemento fundamental para se compreender os fenômenos relativos à busca contínua por um corpo diferente, influenciado desde o seu significado, até à fabricação do mesmo. Assim, este corpo ganha um lugar na sociedade por meio de sua fabricação social, que lhe acrescenta valores estéticos e comunicacionais, de acordo com o local em que vive. Na história da cultura, os padrões de beleza também sempre foram se modificando de acordo com os costumes e época, mas foi somente na década de 1980 que o corpo musculoso, passou a atrair a atenção da sociedade. O culto ao corpo acabou se tornando uma verdadeira obsessão, transformando-se em um estilo de vida que pode ser verificado como uma tendência e ainda hoje, no século XXI, permanece viva. Em resumo, podemos afirmar que a década de 1980 inaugurou uma nova relação entre o corpo, a estética e o comportamento. As práticas corporais começaram a fazer parte ativa do cotidiano de muitos indivíduos, culminando em um aumento significativo e marcante da abertura de academias de ginástica nas cidades (CASTRO, 2003, p24). Ainda em 1980, surge uma prática peculiar de culto ao corpo no Brasil, chamada fisiculturismo. A prática tem a sua origem na Europa no Século XIX e se expandiu nos Estados Unidos a partir do século XX. O atual ator de Hollywood, Arnold Shwarzenegger, foi um dos atletas que participaram de um dos mais importantes campeonatos de fisiculturismo, o Mr. Olympia, e através deste, competiu durante anos, se tornando um dos grandes expoentes do fisiculturismo. Este esporte busca desenvolver uma melhor simetria, volume e harmonia muscular e os praticantes são avaliados em um palco, de acordo com uma série de categorias. A avaliação é feita a partir de um desfile, no qual os atletas exibem seus corpos com coreografias e poses que mostram um “suposto” melhor ângulo de sua definição muscular. Assim, são julgados pelos jurados pela simetria, beleza e definição corporal e muscular, a fim de ganhar patrocínio e premiações em dinheiro. No início dessa prática, os principais atletas eram os homens, mas atualmente há uma busca e uma aceitação do esporte também pelas mulheres. Famosas como Bella Falconi e Karla Souza, abandonaram um estilo de vida nada saudável para serem fisiculturistas, e hoje 9
são inspiração para quem está em busca de um objetivo estético. Elas possuem milhões de seguidores no Brasil e no mundo, e exercem uma grande influência também na moda, através das redes sociais que as coloca em evidência, como exemplos de determinação, sucesso e segurança (ACHOA, 2015 e CAMARGO, 2013).
1.1
Tema
A Fabricação do Corpo Bodybuilder.
1.2
Problema
A moda, enquanto um fenômeno cultural e comunicacional, pode estar ligada à fabricação do corpo, através da prática do fisiculturismo e ao seu sentido?
1.2.1 Objetivo geral
Verificar se a prática do fisiculturismo pode ser considerada um fenômeno cultural da atualidade, no qual o corpo que se constrói e se modifica, tornando-se uma tendência ou parte de uma moda vigente.
1.2.2 Objetivos específicos
- Conhecer o percurso histórico do corpo, como parte de uma estetização humana; - Verificar as inúmeras mudanças do padrão ou ideal corporal; - Conhecer as imposições que servem de referência para a elaboração dos mais diversos ideais de beleza e seus possíveis desdobramentos. 10
1.3
Justificativa
A realização desta pesquisa se faz oportuna pelo fato das discussões a seu respeito estarem em evidência como nunca esteve antes. Prova disso encontra-se na observação do grande número de mídias especializadas no assunto, a proliferação do mesmo em outras mídias não especializadas e a quantidade de opiniões diversas que passam a constituir esse cenário fazendo com que esta pesquisa possa contribuir ainda mais para o fomento desta discussão e reflexão. Esta pesquisa, também pode ser considerada viável, uma vez que o momento atual se dispõe de um grande número de referências para um possível embasamento acerca do assunto. Dentre estas referências, destacam-se as revistas especializadas, citadas anteriormente, bem como diversos blogs e artigos científicos que exaltam a questão do corpo de diferentes maneiras, fazendo com que o mesmo se torne parte de uma manifestação estética da contemporaneidade que merece ser observada. Do ponto de vista acadêmico, esta pesquisa se torna uma importante aliada para a formação profissional e intelectual da pesquisadora, que busca por meio da moda, ampliar os horizontes intelectuais, propondo uma discussão acerca de um tema relevante e ainda não muito explorado por esta área. O corpo, neste trabalho, é um dos principais suportes e passa por transformações que podem fazer parte de uma tendência ligada à moda, sem necessariamente estar conectada primeiramente e diretamente a roupa.
1.4
Estrutura da monografia
A monografia será constituída de dois capítulos: no primeiro, conheceremos o percurso histórico do corpo e suas modificações como elemento estético, a partir dos anos de 1960 até a atualidade. O intuito de tal parágrafo é o de entender como se dá a construção e o estilo de vida dos fisiculturistas, que surgem em 1900 e passam a ser um dos principais expoentes de um fenômeno contemporâneo conhecido como culto ao corpo.
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Já no segundo capítulo, entenderemos como a moda influencia na comunicação do corpo, por meio de certas imposições de padrões pré-estabelecidos, e ainda, como o corpo fabricado pelo bodybuilding se difere do corpo fabricado pela moda. Nas considerações finais do trabalho será feito um apanhado do assunto, analisando, principalmente, o corpo fabricado como um projeto de vida marcado pela distinção.
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CONCEITOS GERAIS E REVISÃO DA LITERATURA
No primeiro capítulo foram abordados alguns conceitos que fazem referência aos padrões estéticos da sociedade e da construção da beleza corporal ao longo da história, pelos autores Wilson Weigl, Jéssica Moraes, Jurema Barros Dantas e Ana Lúcia Castro. Nosso objetivo foi o de entender como se deu as transformações do corpo, desde a alta modernidade até os dias atuais. Já no segundo capítulo foi estabelecido um diálogo entre diversos autores das áreas de comunicação, moda e filosofia, onde destacamos Lúcia Santaella, Ana Lúcia Castro, Mário Queiroz, Kathia Castilho, Nízia Vilaça e Diana Galvão, fazendo uma análise comparativa entre a moda e o Bodybuilding. Nas considerações finais foi destacado o conceito de um corpo fabricado como projeto de vida, ancorado pela distinção. Este conceito pôde ser verificado no final do capítulo dois, a partir de textos e obras de Káthia Castilho e Diana Galvão e Lucia Santaella, já citados acima, acerca do tema sobre a fabricação do corpo Bodybuilder para concluir a problemática desta pesquisa.
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METODOLOGIA
Para verificar se a moda, de fato, pode estar ligada à fabricação do corpo, através da
prática do fisiculturismo, e ao seu sentido, iniciou-se um extenso levantamento bibliográfico para fundamentar a problemática em questão, partindo de autores como, Lucia Santaella, Maria Alice Ximenes, Káthia Castilho, dentre outros que apresentam estudos que abordam a Moda e a comunicação. Depois, tornou-se necessário conhecer o percurso histórico do próprio corpo e para isso, lançou-se mão das obras e textos de Ana Lúcia Castro, Wilson Weilgl, etc. Além do levantamento bibliográfico, recorreu-se a diversos artigos, fichamentos, acompanhamento das redes sociais, e também a imagens. Tais referências ofereceram subsídios teóricos para o desenvolvimento de uma pesquisa acadêmica. Conforme será exposto no decorrer deste trabalho, o problema será abordado com o objetivo de conhecer um fenômeno cultural da atualidade, o bodybuilding, no qual o corpo que se constrói e se modifica, tornando-se uma tendência ou parte de uma moda vigente. Diante deste fato, o estudo tem uma abordagem qualitativa, conforme os autores Marconi e Lakatos destacam: A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc. MARCONI e LAKATOS (2004, p. 269).
Este tipo de abordagem permite analisar a complexidade do problema de forma que seja alcançado o entendimento de suas particularidades e quais os impactos que ele provoca na sociedade na qual será inserido. Foram analisados diferentes pontos e aspectos do comportamento social e da moda com relação ao corpo e suas particularidades.
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4.1
A FABRICAÇÃO DO CORPO
Bodybuilding: O corpo fabricado
Muitas são as possibilidades que se apresentam quando o assunto a ser abordado é o corpo, principalmente quando o mesmo passa a integrar parte do cenário cultural contemporâneo. (BRANDES; SOUZA, 2012). Este fato se dá a partir do momento em que o corpo torna-se mais do que um conjunto de órgãos e funções para se tornar um conjunto simbólico, suporte de uma série de práticas e transformações que visam, sobretudo, a construção e remodelamento físico em meio aos padrões estéticos atuais. Para entender este fenômeno cultural da atualidade, no qual o corpo que se constrói e se modifica tornando-se uma tendência ou parte de uma moda vigente, faz-se necessário conhecer o percurso histórico do corpo como elemento estético. Também faz parte desse trajeto, uma verificação das inúmeras mudanças do padrão ou ideal corporal além das imposições que servem de referência para a elaboração dos mais diversos ideais de beleza. A respeito deste longo percurso histórico, Wilson Weigl (2014. P.1) afirma que:
Em cada época é fácil identificar o apreço generalizado por um ou outro tipo físico, dos corpos roliços aos mais secos, das barriguinhas pronunciadas aos abdomens tanquinho, dos seios minúsculos aos bustos siliconados. Mas, se hoje qualquer pessoa é dona de seu nariz para decidir se quer frequentar a academia ou viver feliz acima do peso, houve tempos em que ninguém era responsável pelo próprio corpo. Por milênios, a forma física era colocada a serviço de propósitos sociais, militares ou religiosos.
O autor Weigl (2014) afirma que a cultura do bodybuilding, também conhecida como fisiculturismo, teve início com o “pai” da musculação, o pussiano, Eugen Sandow (18671925), em 1900. Eugen criou alguns dos primeiros aparelhos de musculação, a primeira competição de fisiculturismo e também publicou a primeira revista voltada para o esporte. Foi a partir dessa década que os padrões estéticos corporais ficaram cada vez mais exigentes.
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Todavia, foi somente a partir de 1960 que o corpo feminino começou a ficar com as curvas mais a mostra, e também passou a ser mais “erotizado” pela sociedade, tornando-se mais um suporte a ser fabricado. Já nos anos de 1970, a magreza foi antecipada por uma tendência que só viria nas próximas décadas, marcada por pernas finas e certa característica de fragilidade. Era um tempo de liberdade de expressão sexual e igualdade de direitos entre homens e mulheres, fato que refletia na estética corporal. Os padrões de beleza masculinos também sofreram mudanças. “As distinções ficaram mais tênues; os homens deixaram crescer os cabelos, ficaram menos musculosos e usaram roupas unissex”. Astros do rock como Mick Jagger e David Bowie consagraram este conceito por meio de um visual andrógino.1 Em 1980 o lema relativo à fabricação do corpo tornou-se “fitness para todos”, a partir da popularização e o fácil acesso ao videocassete, que propiciaram o surgimento das vídeoaulas, ensinando como fazer ginástica em casa. O mais célebre deles foi o de Jane Fonda Workout Video, lançado pela atriz americana em 1982, reunindo exercícios de força, flexibilidade e resistência. Fonda nunca mais parou: na sequência, produziu mais 23 fitas e seis DVDs, sendo o último deles lançado em 2012, aos 74 anos (WEIGL, 2014). Nos anos 2000 o corpo atlético passou a ganhar ainda mais força, pela indústria cultural, através da quantidade de cantores, atores, personagens de quadrinhos, jogos e cinema, que ajudaram a evidenciar esta tendência pontual. Um dos exemplos é a personagem Lara Croft2, que saiu dos jogos de videogame para se tornar uma importante justiceira no cinema. A personagem, interpretada pela atriz Angelina Jolie, luta pelas causas nobres e a todo o momento é submetida a desafios que exigem força, desempenho muscular, além de ser uma personagem bastante atraente, segundo esses padrões. A partir dos anos 2000, a busca pelo corpo dito “sarado” ganha espaço na sociedade através da definição muscular, associada à prática esportiva e dietas de alto desempenho. Nessa época este tipo de corpo tem como objetivo passar a impressão de controle e segurança que, no caso das mulheres, pode ser associado à imagem de uma mulher mais forte e atraente.
1
Andrógino, é aquele que apresenta características, traços ou comportamento imprecisos, entre masculino e feminino, ou que tem, notavelmente, características do sexo oposto.
2
Lady Lara Croft é uma personagem fictícia da série de videogame do gênero de aventura, Tomb Raider.
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Essa mudança de corpo dos anos 2000 foi importante para as transformações corporais que são vistas atualmente (MORAES, 2013). Desta busca do corpo fabricado ou esculpido, conforme uma escolha pessoal, a prática do bodybuilding se tornou uma prática popular, cujo objetivo principal visa desenvolver uma melhor simetria, volume e harmonia muscular, com uma rotina de exercícios e dietas específicos para cada categoria de corpo e resultado e enquanto esporte, para promover um maior destaque dentre os demais competidores. Os atletas são avaliados em um palco, de acordo com suas categorias, exibindo seus corpos com coreografias e poses que mostram um melhor ângulo de sua definição muscular, assim são julgados pela simetria, beleza e definição corporal e muscular (DANTAS, 2011, p.900). Comparando a prática esportiva com a prática cotidiana, podemos notar certa semelhança com os comportamentos de pessoas comuns que não fazem parte do contexto esportivo profissional. Enquanto os atletas exibem os seus corpos em um palco, de modo a serem julgados e premiados, estas pessoas consideradas comuns, ou amadoras também parecem se exibir socialmente, como uma forma de serem julgadas e então buscar algum tipo de “premiação”. Sendo assim, é possível questionar se a busca por esse desejo de julgamento pode tornar a pessoa mais segura, uma vez que o olhar do outro passa a significá-la consideravelmente. Se, de fato, existe uma necessidade do olhar e julgamento do outro, quais seriam os prêmios que estas pessoas buscam? Essa busca e rendição que vivenciamos atualmente estão relacionadas ao desejo de ter o olhar do outro, assim o corpo deixa de ter como objetivo apenas realizar e satisfazer nossas funções fisiológicas, para obter algum tipo de prazer do olhar e do desejo do julgamento do outro (BAIA e SILVA, 2014). Os fisiculturistas, segundo um estudo feito por Sabino e Luz (2007, p. 55), para a Revista Eletrônica Arquivos em Movimento da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), formam um grupo pequeno, porém destacado nas academias. Na maioria, são atletas amadores ou semi-profissionais que participam de competições e servem de modelo para outros indivíduos que admiram esta prática de construção do corpo. A maioria dos atletas são praticantes veteranos de musculação e, por esse motivo, possuem um maior prestígio dentro e fora das academias, não apenas por sua aparência, que chama a atenção de qualquer observador, mas também por um conjunto de conhecimentos
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relacionados aos exercícios, remédios, esteroides3 anabolizantes e dietas, que muitos professores jovens de Educação Física não possuem. No Brasil ainda há pouca profissionalização do fisiculturismo, diferentemente dos Estados Unidos. Um dos maiores eventos de fisiculturismo é o Mr. Olympia, realizado pela Federação Internacional de Culturismo e Fitness (IFBB) e foi criado por Joe Weider, em 1965. O concurso premiava o melhor físico, mudando de vez a musculação. Hoje para participar do evento os atletas precisam preencher requisitos como já ter vencido alguma categoria do concurso anteriormente, ficar entre os 6 primeiros finalistas ou ser convidado pelo organizador do evento. Assim, se enquadra nas seguintes categorias: masculina – Mr. Olympia, 212 Showdow e Men’s Fysique – e feminina – Ms. Olympia, Fitness Olympia, Figure, Bikini e Women’s pysique (BIOPOINT, 2014). Os eventos de fisiculturismo contam com a parceria de marcas de suplementos e academias de grande porte. As marcas de moda fitness também utilizam destes eventos para divulgação e promoção das mesmas. Elas patrocinam grandes atletas do fisiculturismo e no dia do evento montam stands para a divulgação desses atletas. Para a fabricação desse “corpo ideal” os atletas podem contar com um mercado amplo de prática e de produtos. Esses vão desde a musculação, dieta e suplementação, até o uso de esteroides anabolizantes, e assim, este corpo fabricado se insere ao meio social como um tipo de esporte, que implica a escolha de um tipo físico, cuja proporção excede os limites daquela que seria considerada biologicamente natural. O indivíduo parece ser responsável por sua aparência física por meio das várias formas de construções corporais hoje presentes no mercado – como as dietas, os exercícios físicos os variados tratamentos de beleza e as cirurgias plásticas. E, assim, o corpo atual, ou seja, aquele que se encontra em consonância com padrões de beleza contemporâneos que associam juventude, beleza e saúde apresenta-se como um valor fundamental na sociedade ocidental (DANTAS, 2011. p.900).
Como diz Neto (2013), para ter um grande sucesso no esporte de fisiculturismo é preciso uma dieta equilibrada para as diferentes fases em que o atleta se encontra e qual o seu objetivo. Assim, para cada tipo de preparação existe um tipo de treino, dieta e
3
Esteróides anabolizantes, mais comumente conhecidos como "bombas" nas academias de musculação; drogas nacionais e/ou importadas fabricadas a base de hormônios masculinos sintetizados. Os fisiculturistas, e também outros esportistas profissionais e amadores, utilizam tais produtos para aumento rápido e significativo de força e massa muscular. Atualmente, o uso indiscriminado de tais drogas está proibido no Brasil pelo Ministério da Saúde (só podem ser administradas sob prescrição médica com apreensão de receita na farmácia no ato da compra)
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suplementação. Com a preparação, o atleta passa a comandar o seu corpo, fazendo com que ele fique da maneira que desejar. Quando falamos na fabricação do corpo, falamos realmente de fabricar o modelo de corpo desejado, no qual quem dita sua condição é o próprio atleta (BOTELHO, 2009). Para Goudie são muitas as maneiras para se construir um corpo e, quando se trata de fisiculturismo, essa construção não é apenas um passatempo, não se pode ir à academia quando se quer. O estilo de vida do atleta irá determinar o quão empenhado ele está em desenvolver o corpo que julga ser ideal. A prática também vem sendo denominada como culto ao corpo e, segundo Castro (2003 p.15), é um “tipo de relação dos indivíduos” com seus corpos que tem como preocupação básica seu modelamento, a fim de aproximá-lo, o mais possível, do padrão de beleza estabelecido existindo uma relação das pessoas com seus corpos fundamentados em uma preocupação exagerada em se obter um corpo ideal estabelecido. A imagem da juventude, associada ao corpo perfeito e ideal – que envolve as noções de saúde, vitalidade, dinamismo e, acima de tudo, beleza – atravessa, contemporaneamente, os diferentes gêneros, faixas etárias e classes sociais, compondo de maneira diferenciada, diversos estilos de vida. E a fábrica de imagens – cinema, TV, publicidade – ao lado da imprensa escrita, tem, certamente, contribuído para isso (CASTRO, 2007, p.112).
A comunicação de certa forma, por meio de suas mídias fazem apelos que também influenciam no culto ao corpo pelos indivíduos. As palavras transformação e modelagem corporal estão presentes a todo o momento nos discursos diários sobre o corpo.
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4.2
Moda e Comunicação do Corpo
Segundo a pesquisadora Lúcia Santaella (2004, p. 126) ao longo do século XX, através das tecnologias, da propaganda e do marketing, foram se desenvolvendo meios para compreender as relações entre as pessoas e produtos, tanto em termos de imagem, quanto em relação ao estilo de vida. As representações nas mídias e publicidade atuais possuem uma maior influência sobre as experiências do corpo e suas diversas transformações. A mídia e a indústria da beleza são uns dos principais meios de divulgação do culto ao corpo como tendência de comportamento. A mídia está sempre apresentando ao leitor novidades, descobertas e também ditando tendências. Já a imprensa, por sua vez, não apenas divulga padrões de belezas estabelecidos, como propõe, com a ajuda de especialistas, profissionais e comentadores em geral, dicas de saúde, beleza e exercícios físicos (CASTRO, 2003). Ainda de acordo com Santaella (2003) em função desse cenário ditado pelas indústrias da beleza, é possível notar uma materialização de diversas tendências de comportamento fornecida pela mídia. Como resultado, verifica-se a multiplicação desmedida de academias de ginástica, spas, centros de estética e cirurgias, e tantas outras novidades que não param de surgir. O corpo que se vende é o corpo perfeito das mídias, capas de revistas, blogs e TV, além das inúmeras fotografias expostas no meio virtual, que são facilmente acessadas pelas novas tecnologias e também pela vasta oferta de redes pessoais. A fotografia, por exemplo, traz a possibilidade de se contemplar a estética do corpo por muitos ângulos e formas, principalmente pela manipulação gráfica, corrigindo defeitos e imperfeições. A museóloga Lima (2002) afirma que, desde que se existe a moda, o corpo é construído em diferentes formas com a ajuda de recursos que, para a construção da beleza, são considerados indispensáveis, assim como o gosto pelo novo se redefine constantemente, fazendo com que a construção e a reconstrução do corpo interfiram na própria percepção do corpo natural, conduzindo, assim, à necessidade de alterá-lo. A palavra Moda vem do latim “modus” e significa “modo ou maneira”. Tal termo, enquanto um conjunto de práticas comportamentais e vestimentares, surgiu nos séculos XIV e XV, na Europa Ocidental, quando as roupas começaram a se diferenciar por suas formas segundo os sexos. Assim, a moda propagou-se por toda a Europa com o crescimento e 20
intercâmbio entre as cidades, e tornou-se um valor ligado à sociedade, que ainda hoje,exibe seus artifícios e exageros sob a forma das ornamentações. A moda reafirma a liberdade do homem de criar de recriar a própria pele, não a primeira, dada biologicamente, mas a segunda, gerada por sua imaginação e fantasia, e tornada real por sua engenhosidade técnica (BAITELLO, 1999, p.41).
A moda está diretamente ligada à construção do corpo, que sempre se redefiniu de acordo com a estética de cada época. (LIMA, 2002) O estilista e professor Mário Queiroz (2002, p.57) afirma que todos os desenhos que se vendem são de homens fortes e atléticos, fato que contribui para o amplo desejo de conquista do corpo ideal. Hoje em dia, para além da musculação, temos químicas, aparelhos e cirurgias, e principalmente uma disposição significativa de se construir ou fabricar o próprio corpo ideal, a qualquer preço. Outros veículos que também vendem essa imagem do corpo padrão são as revistas especializadas em fitness, além de colunas que tratam desses assuntos em outros veículos de comunicação, como nas revistas de moda, fazendo surgir cada vez mais espaços direcionados aos cuidados com a aparência e com a moda. A Mestra em Comunicação e Semiótica Kátia Castilho (2002) diz que a comunicação humana tem como função transmitir experiências e proporcionar reconhecimento e distinção. Para ter acesso à sociedade, a comunicação necessita de códigos, que mudam de acordo com sua civilização, ditando regras, e assim, compartilhando significados. A comunicação cria a possibilidade de estabelecer uma relação entre o corpo e a moda, desde que, entendamos a moda como uma construção de linguagens que é manifestada pelo corpo. Deste modo, o Bodybuilding atua nessa construção de uma linguagem corporal, por meio de escolhas físicas, nas quais o fisiculturista inicia seu processo de fabricação. Ainda nesta direção é possível dizer que o atleta transforma-se em indivíduo que passa a ditar a respeito da sua própria imagem, uma vez que o mesmo escolhe se distanciar de um padrão biologicamente aceito como habitual, fazendo com que seu corpo passe a ser fabricado por ele próprio e não por imposições e padrões adotados pelos demais. Tal fato distancia o fisiculturista do lugar do refém de um padrão estético específico ou pré-estabelecido, para aproximá-lo de alguém que escolhe o modo no qual irá se comunicar. Este fenômeno nos parece tal qual uma pessoa que utiliza do recurso vestimentar e escolhe, por meio da indumentária, estabelecer-se enquanto indivíduo social.
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A moda vai além de apenas modos de se vestir, ditados pela criação, produção, distribuição e consumo. Ela engloba também modos de conduta, estilos de vida, gostos e costumes, corrente de ideias e opiniões que definem os agrupamentos humanos em certo período histórico, diferenciando as classes sócio-econômico-culturais (OLIVEIRA, 2002, p.126). O Corpo enquanto objeto de significação constrói significados, na forma como se mostra e é mostrado, em determinados contextos (...). A imagem que o corpo oferece ao olhar externo constitui o primeiro e mais imediato contato com o mundo, É, em torno das imagens que se constroem e se desenvolvem estratégias fundamentais de comunicação e sentido (CASTILHO, 2002, p. 63-64).
As reflexões de Castilho (2002) nos mostram o corpo como um território, sendo impossível definir o limite, já que se modifica sempre que tentamos entendê-lo. Podemos ver essa modificação sem limites através de jornais, revistas, mídias sociais e principalmente quando temos como objeto de estudo o Bodybuilder, que como já citado anteriormente, modifica seu corpo de acordo com as fases de sua vida, fazendo com que o praticante deste esporte ou cultura passe a explorar e entender seu corpo, como um território prestes a ser modificado, fazendo com que seu corpo seja, então, um território sem limites. A Doutora em Antropologia Cultural Nízia Vilaça (2002, p.92) nos mostra como as imagens inseridas nos meios de comunicação possuem uma grande velocidade de circulação no meio contemporâneo. Seja por mídia impressa ou virtual, tal velocidade provoca, cada vez mais, discussões sobre a crise da representação, que busca, mais uma vez, valorizar o corpo e seu modo de se apresentar e a busca por uma identidade social, em um momento no qual a comunicação global prevalece. Em meio a todas essas discussões, procuramos pensar como a moda pode estar ligada à fabricação do corpo e ao seu possível sentido. A moda vista como diferenciação de classes e representações parece conter um sentido estratégico, especialmente naquilo que reflete à busca por mais expressão diante do meio no qual se vive, aumentando assim, a busca pelo poder do corpo de afetar e ser afetado. Como todo culto, como toda moda, o impacto de moda do culto ao corpo sobre a sociedade, só pode ser detectado a partir da compreensão da maneira como seus ditames são interpretados pelos indivíduos que, no interior de diferentes grupos sociais, lhes emprestam significados próprios (NOVAES, 2002, p.157-158).
Podemos analisar o estilo de vida dos Bodybuilders e o culto ao corpo pela visão de Featherstone (VILAÇA, 2002, p.98 apud FEATHERSTONE, 1995, p. 31-37) Ele afirma que 22
a maior intervenção sobre o corpo vem dos próprios consumidores, que segundo o autor, representam os “novos heróis da cultura de consumir” e não aderem a um estilo de vida por hábito, mas como um projeto. As diferenças que são criadas através dos mesmos e devem ter uma legitimação social, ou seja, certa aprovação da sociedade. (...) A economia dos estilos considera a competição do mercado, os impulsos da produção e do consumo, as tendências de grupos e segmentos de mercado para monopolização nas diversas praticas sociais (...) (VILAÇA, 2002, p. 98-99).
Como nos conta a História, o corpo morfológico sempre se submeteu às formas impostas pela Moda de cada época, mas o corpo contemporâneo, torna-se cada vez mais “dono de si”, graças aos inúmeros recursos que a Moda, entendida como modo de comportamento, nos traz hoje. Exemplo disso são os vários tipos de exercícios nas academias de ginástica, produtos de cosmética e farmacologia e suas tecnologias, como a cirurgia plástica, dentre outros caminhos que nos mostram que o corpo e o rosto são cada vez mais modeláveis de acordo com a vontade de cada indivíduo (GALVÃO, 2002, p.164). Por outro lado, utilizando a visão de Galvão (2002), o corpo de hoje, também se torna um objeto de consumo, a partir da mesma moda que parece aguçar o desejo de se ter um novo corpo, seja ele atlético, magérrimo ou sarado, fazendo deste desejo algo maior do que o desejo de se ter uma roupa ou um carro novo. O indivíduo, muitas vezes, para que possa vestir uma novidade da moda, considera necessário ter uma plástica corpórea adequada e esta implica, mais do que recursos monetários, um planejamento constituído de disciplina e realização. Quando falamos dos atletas de Bodybuilding e sua obsessiva busca pelo corpo “perfeito”, podemos utilizar a visão de Galvão (2002) para entender essa relação de comunicação entre o corpo e o individuo. A autora diz que há um vasto desejo de ter um corpo que esteja de acordo com as próprias vontades pessoais, daí o individuo passa a modelar cada vez mais o próprio corpo. Hoje em dia não se precisa ficar com o corpo que nasceu para sempre. Pode se inserir, retirar ou modificar suas características, inovando assim, o design físico de seu corpo, com recursos variados e cada vez mais acessíveis. O motivo de o corpo modificado valer mais do que ter uma roupa nova ou um carro novo se dá pelo fato de que seu corpo passa a ser a sua identidade física, você o leva a todo lugar e ele exprime aquilo que você é em termos de disciplina, cuidado, saúde, bem estar, jovialidade, etc., diferente de um carro novo, por exemplo.
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Podemos diferenciar, portanto, a fabricação do corpo na Bodybuilding da fabricação do corpo pela moda, analisando alguns pontos já citados anteriormente. A fabricação do corpo do Bodybuilder implica em um projeto, no qual se modifica todo um estilo de vida para chegar onde se deseja, por meio de uma disciplina que passa a tangenciar o modo de ser do indivíduo. Já o corpo criado pela moda se pauta, principalmente, em uma relação superficial, no qual a roupa interfere na comunicação corporal do individuo, mas pode ser anulada, retirada, trocada a todo o momento. O corpo que se transforma através das dietas e práticas esportivas, muda por meio de um processo lento que, de certo modo, pode até interferir na saúde do atleta praticante do fisiculturismo e esse corpo fabricado se transforma literalmente e de maneira mais prolongada ao contrário do corpo da moda, que se transforma a partir dos elementos exteriores, que compõem momentaneamente aquele indivíduo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível perceber, ao longo desta pesquisa, que o corpo do Bodybuilder, ou seja, o corpo do atleta que se constrói fisicamente pode ir além de uma prática esportiva ou alienação estética. De maneira diferente, esta prática pode ser percebida como um projeto de distinção, que pode trazer muitos questionamentos acerca do comportamento daquele que pratica o fisiculturismo, especialmente quando aproximamos esta prática do exercício da comunicação. A moda, sendo vista como comportamento, nos permite pensar acerca das várias práticas que modificam o corpo e suas formas de expressão, tanto na indústria da própria Moda quanto na prática de Bodybuilding. Assim, ela nos permite entender que toda e qualquer modificação corporal é uma forma de comunicação, e faz parte de uma moda vigente. Essa moda vigente não atinge a massa, mas sim, um público específico de cada grupo. Quando se trata dos atletas de Bodybuilding, conseguimos verificar que, analisando o conceito de moda e comunicação corporal eles não se distinguem dos demais grupos sociais, que são conhecidos como tribos, onde cada um se adéqua aos padrões do mesmo. A prática deste esporte é questionada quanto ao excesso pela busca de um padrão estético corporal imposto pelo próprio individuo, sendo assim, submisso a um suposto padrão global. Todavia, analisando e comparando esta prática com a indústria da Moda, podemos concluir que ambas estão em busca de certo padrão estético, porém a moda parece impor mais os padrões e tendências para serem seguidas, desejadas e consumidas por meio da disposição dos mais diversos produtos. Já o Bodybuilding não segue uma tendência sazonal imposta por alguém ou por certo grupo social, mas faz do esporte um projeto de vida que independe da próxima estação. A prática não é apenas uma questão de estética ou de momento, o atleta passa a viver um estilo de vida totalmente voltado para o esporte, fazendo com que toda a sua rotina gire em torno de seu projeto da construção do corpo e este sim, pode se tornar um objeto de consumo, a depender de sua apropriação. Sendo assim, esperamos que este trabalho possa servir para outros pesquisadores que estudam a importância do corpo enquanto comunicação e expressão na sociedade.
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enxergar o quanto a moda nos ajuda a entender vários fenômenos culturais e sociais, pois ela parte do princípio da invenção de si através da indumentária, podendo ser analisada do ponto de vista de comportamento não somente de um consumidor final ou um público especifico, e sim, da sociedade como um todo. 25
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