Sociedade Cotas Raciais: História do sistema que se espalhou pelo mundo. Por Pedro Kajiya Página 1
Meritocracia: Criação da Cultura vencedores e perdedores. Por Maria E. Fonte e Ana Vitalli Página 4
COLÉGIOS UNIVAP NEWS Unidade Villa Branca
Racismo em pauta Em entrevista inédita, Izaias Santana, prefeito de Jacareí, fala e discute sobre o racismo
estrutural,
suas
causas
e
consequências na sociedade atual. "[…] primeiro, é levar o jovem negro à escola; segundo, é discutir na escola a existência dessa cultura, desse traço, dessa
característica.
São
duas
medidas: ter a participação efetiva da população negra na escola e discutir essa realidade do racismo em nosso comportamento" Página 2
Cultura
Nossos professores!
Pra você ficar por dentro da cultura pop, a gente traz pra você a resenha de Corra!, o filme que retrata o terror da desigualdade.
Entrevistas com os professores Adrian Duarte e Fabiana Zambadi sobre o Racismo Estrutural.
Por Pedro H. Portela Página 7
Por Letícia Bueno e Nycolle Ferreira Página 5
DESIGN POR: LETICIA C. E LUÍS FELIPE C.
Cotas Raciais
As quotas raciais (popularmente chamadas de “cotas” raciais) são muito discutidas e debatidas, tanto no Brasil, como no mundo, mas o que são? Por que existem? Onde surgiram?
O que é o sistema de cotas? Esse sistema foi criado para ajudar e colaborar com aqueles grupos sociais desfavorecidos, garantindo que todos tenham as mesmas chances de aproveitar certas oportunidades. Portanto, seu principal objetivo é amenizar desigualdades sociais, educacionais e econômicas, com base no conceito de equidade, que segue a máxima de "tratar os desiguais desigualmente diferentes".
Como começou e onde se iniciou esse sistema? Após a independência da Índia em 1947, a nova Constituição já proibiu o tratamento desigual e excludente com os párias, grupo social que é marginalizado por serem considerados inferiores dentro do sistema de castas, uma visão hierarquizada da sociedade com influência no Hinduísmo que possui mais de 2500 anos.
Como se espalhou pelo mundo? Conforme o tempo passou e o mundo evoluiu, diversos outros países aderiram às cotas, como os EUA na década de 1960, que começaram com uma baixa porcentagem, mas a partir de 1970, mudaram seus critérios e abriram novas portas para estudantes negros, buscando uma reparação histórica. Temos também o Brasil, que assim como os EUA, deve muito à população negra, e portanto tem as cotas como obrigação para a reparação histórica. Como exemplos de outros países temos: a África do Sul (considerados um dos mais ousados), o Canadá, que inclusive tem cotas no parlamento para os esquimós, a Austrália, cujo sistema de reparação beneficia os aborígenes, a Nova Zelândia e a Colômbia, que adota as cotas para negros e índios nas universidades.
Hoje, esse sistema faz parte de várias constituições de diferentes países, sempre mantendo sua essência de desenvolver um sistema em que todos tenham as mesmas chances.
Pedro Kajiya
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Gestão e sociedade: uma conversa sobre racismo estrutural. Izaias José de Santana é procurador, advogado e atualmente prefeito da cidade de Jacareí. Em entrevista com as estudantes Ana Luiza Vitalli, Letícia Carrasco e Maria Eduarda Fonte, contando com a colaboração dos professores Gustavo Montoia e Fabiana Zambadi, o prefeito discorreu sobre assuntos diversos, que envolvem desde as raízes do problema do racismo estrutural, até a gestão da cidade. Letícia Carrasco: A gente considera que o racismo estrutural depende de relações de poder estabelecidas no passado que nunca deixaram de existir socialmente. Isso se relaciona diretamente à distribuição da população nos centros urbanos atualmente, onde as pessoas pretas se concentram nas periferias e as pessoas brancas próximas aos centros. Na nossa cidade, Jacareí, o senhor enxerga essa distribuição desigual? Se sim, o senhor acha que existem programas que revertam essa situação de modo eficiente? Izaias Santana: Sim, e acho que precisamos construir os programas. O que acontece: a participação da população negra nos centros de poder é inexistente. Em alguns casos, insignificante. Seja o poder político, o comando geral do Estado, as grandes empresas, os grandes bancos, os grandes escritórios particulares. Onde há capacidade de decisão, você percebe a ausência da população negra. Isso decorre do fato das nossas escolhas serem todas decorrentes do nível de amizade, do nível de confiança que a gente tem nas pessoas. E a gente tende a confiar naqueles que são mais parecidos, que são mais próximos ou com os quais nós convivemos na infância, na adolescência ou na faculdade. Quando você tem um processo permanente, o qual um grupo que governa o setor público ou o setor privado, e esse grupo esteve nas principais escolas, nas principais universidades, tiveram as melhores oportunidades, isso vai se perpetuando e só alguns heróis furam essa tendência, furam essa tradição. Gustavo Montoia: O senhor é Procurador da cidade de São Paulo. Nesse exercício, como o senhor percebeu a exclusão ou inclusão da população negra? Izaias Santana: O maior contato foi quando eu fui Secretário Adjunto da Justiça do Estado de São Paulo, de 2007 em diante. Essa função é responsável pela implementação do programa estadual de direitos humanos. Entre as diversas conferências realizadas no estado, realizamos a conferência da igualdade racial. Isso me permitiu conhecer a fundo, com dados, estudos e estatísticas a problemática, mas basta você querer enxergar: sair às ruas para perceber essa realidade. É só olhar nas universidades, os gerentes de banco, os diretores de estabelecimento, os professores (tanto em universidades quanto no ensino médio), que não há essa proporcionalidade, por 2 fatores: pela dificuldade de opor-
tunidades da população negra ao ensino e pelas escolhas que realizamos, que são baseadas em critérios subjetivos, pois confiamos e procuramos quem se parece mais com a gente, pois dá mais segurança na hora de delegar. Isso é natural no ser humano, por isso o ideal é ter políticas que evitem isso, que furem essa lógica natural de fazer seleção de pessoas para os comandos.
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Maria Eduarda Fonte: Diante desse processo que o senhor afirmou que é difícil de se despir, o senhor acha que na escola é possível trabalhar para furar essa barreira, com projetos que abordam o preconceito? Izaias Santana: Primeiro, é levar o jovem negro à escola; segundo, é discutir na escola a existência dessa cultura, desse traço, dessa característica. São duas medidas: ter a participação efetiva da população negra na escola e discutir essa realidade do racismo em nosso comportamento. Fabiana Zambadi: O senhor falou sobre trazer a criança preta para a escola, ou seja, ela ter acesso, mas existe uma política pública que vise a sua continuidade na escola? Izaias Santana: Existem algumas políticas de transferência de renda ou de apoio que são tipificadas nacionalmente. Precisamos esperar que o Ministério da Economia ou Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos formulem para que o município possa aderir, pois precisa de sustentabilidade. A nível municipal não possuímos recursos. Mas, discutir o problema, pesquisar, tornar evidente para a sociedade essa realidade da população negra é um passo significativo. Ana Luiza Vitalli: Quando foi a intenção pensada durante o desenvolvimento do projeto da Praça Mariele Franco? Izaias Santana: Na verdade, a praça Mariele chamou atenção em virtude de suas características políticas, mas, realizamos três homenagens: Praça Mariele Franco, Praça Luís Gama e Praça Paulo Graça, uma homenagem a um professor de Educação Física de Jacareí. Foram três praças no Jardim Marquês. O simbolismo dessa escolha é que nesse bairro o loteador repetiu a mesma forma de exploração vivida pela população negra: vendeu o loteamento com infraestrutura e não colocou, abandonando a obra. A Prefeitura entrou na Justiça para brigar com o loteador, e, enquanto isso, a população ficou lá esperando a regulamentação. A Prefeitura fez isso em 2017 terminando a infraestrutura. Além disso, na cidade de Jacareí não percebemos a população negra nas nossas ruas e nas nossas praças. Por isso é importante lembrar que temos negros na nossa história e que devem ser homenageados, tanto na história nacional quanto na história de Jacareí. Causou polêmica sobre a Mariele em razão de não sabermos quem mandou assassiná-la e pelo fato dela ser mulher e ter teses feministas que contrariam opiniões religiosas de muitos fundamentalistas. Foi um conjunto de razões para que as pessoas criticassem. Mas acabou passando, a Câmara entendeu e eu acho que as cidades precisam dizer para o Brasil e para o mundo que esse tipo de comportamento só para discordar politicamente é algo intolerável.
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Fabiana Zambadi: Mas, o mais curioso é que as praças têm as homenagens, porém estão em um bairro que tem o nome de um grupo que é vinculado à elite escravocrata (marquês é um título) e questionam o nome da Marielle, que uma política contemporânea feminista, mas, não questionam essa contradição do explorador receber o nome do bairro. Seja Luiz Gama, seja o professor Paulo ou seja a Mariele, o questionamento sobre esse comando vinculado aos poderes no Brasil desde o período colonial é questionado. Izaias Santana: Olha, nós temos o Jardim Marques onde quase todos os nomes das ruas são marqueses que receberam título no primeiro e segundo Império. Ao menos são brasileiros. Por outro lado, temos o Parque dos Príncipes que é toda a nobreza europeia que nem sabem que existe Brasil. As ruas possuem nome de príncipes europeus que as pessoas não conhecem dos anos 1700 e 1800. É o loteador que dá o nome ao loteamento. Ele pode dar o nome e oficializar. Se não escolher o nome, cabe ao Poder Público essa decisão. O processo de mudar nome de rua é complicado, devido a isso, eu prefiro não mudar. Não acho algo adequado. Os novos nomes, a gente aproveita e coloca um pouco de brasilidade ali no meio. Outro exemplo é o Jardim Colônia, na qual homenageamos um período em que éramos explorados! Nesse bairro, cada rua é o nome de um estado que teve na América ou na África. Gustavo Montoia: Voltando à Praça Marielle Franco, percebemos que nas redes sociais – inclusive em suas redes – as pessoas se manifestaram contra esse nome. Alguns sugeriram colocar nomes de pessoas como a professora Beatriz Junqueira daqui de Jacareí. Como o senhor enxergou essa situação? Além disso, algo mais próximo do seu trabalho teve alguma resistência a esse nome? Não houve abaixo-assinado para tentar impedir? Izaias Santana: Eu acho que temos que separar pretexto de razão. A maior parte das críticas que faziam era cortina de fumaça. A maior parte das manifestações eram pretexto porque a razão da crítica era o fato de que a opinião política das pessoas que não aceitavam, era opostas às posições de Marielle. Se o argumento usado é pelo fato dela não ser de Jacareí, então não tem Praça Luiz Gama, não tem Floriano Peixoto, nem Rodoviária Presidente Kennedy ou General Carneiro. Não era então essa a verdadeira razão. Como as pessoas não querem expressar o que elas realmente pensam, que pode ser preconceito ou opinião política diferente, elas usam um pretexto. As escolas estão aí: todas as escolas e creches que eu inaugurei têm nome de professores de Jacareí. Não tem problema homenagear da cidade ou fora dela. e teremos oportunidade de homenagear outros. E isso não exclui nem desmerece a Marielle. Eu acho que ainda devemos homenagear com nomes de ruas ou praças mais três figuras importantes que representam essa luta da comunidade negra: Nelson Mandela, Martin Luther King e a Carolina de Jesus. Teremos alguns barulhinhos, mas não tem problema. Gustavo Montoia: Nesses três anos de Mandato que o senhor ainda possui, pode falar sobre o que já foi realizado e o que ainda se pretende realizar? Izaias Santana: Estabelecemos algumas diretrizes para o nosso governo: primeiro, era tentar nivelar a qualidade da infraestrutura dos nossos bairros. Assim, investimos nos bairros onde faltava água, esgoto e pavimentação, o que são os três benefícios que a população mais reclama e que de fato e leva a qualidade de vida às pessoas. Nesse sentido nós não conseguimos fazer tudo, mas vamos avançar caminhando para universalização do tratamento de esgoto e para terminar a infraestrutura (asfaltamos aproximadamente umas 218 ruas). O segundo é mudar radicalmente a parte estrutural da Educação: reformamos mais de 14 escolas e melhoramos o padrão de nossas creches, substituindo algumas que estavam em casos improvisadas para as creches efetivas. A creche que tem aqui na região central e a do Villa Branca é igual a creche que tem lá no Colônia ou que está no Maria Amélia e em breve no Parque Meia Lua. Esse é o padrão de equipamentos públicos e de material para a Educação. Por o outro lado, a gente precisa investir na ideia do jacareiense achar ou sentir que Jacareí é tão boa quanto São José dos Campos. Isso, por incrível que pareça é uma coisa que prejudica a cidade. As pessoas sentem que Jacareí é feia e que não tem o que fazer. Melhorar a limpeza, melhorar a qualidade das nossas praças, ampliar os espaços de lazer e ter atividades culturais é uma forma de você desenvolver esse amor pela cidade.
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Izaias Santana (continuação): As pessoas precisam gostar da cidade, senão elas não ficam e a cidade vira um lugar só de dormir ou trabalhar, então temos essa preocupação. Eu diria que são esses três grandes vetores da nossa gestão e vamos continuar. Depois temos a questão de infraestrutura viária: temos apenas duas pontes e isso é complicado. Assim, faremos um anel viário e vamos entregar. Faremos uma revitalização da margem do Rio Paraíba; aos poucos vamos mudar toda a iluminação e investir mais na periferia, para ter bairros com minimamente boas condições. Vamos terminar, por exemplo, a infraestrutura do Rio Comprido. Pelo menos o que é público tem que ter uma boa infraestrutura para ter essa igualdade de qualidade de vida. Muitas vezes os bairros afastados, que não tem representação política, os seus moradores não têm acesso a quem decide, e vai ficando no final da fila sobre o atendimento de suas necessidades. Em 2017, 2018 e 2019, não recapeadas nenhuma rua do centro, mas recapeamos o bairro 22 de Abril. Atuamos nos bairros periféricos e isso dá menor visibilidade. Gustavo Montoia: O senhor é presidente do CODIVAP e por que na impressão de nós cidadãos não existe na prática a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte? Izaias Santana: Porque não tem. Eu acho que a gente pode dar uma justificativa que seja mais relevante: a crise de 2014 e, os anos próximos 2015 e 2016 foram anos difíceis na gestão pública na qual poucos governos investiram. E posteriormente tivemos a pandemia. Foram dois fenômenos que reduziram bastante os investimentos. O Governo Federal reduziu os investimentos sociais com a PEC do Teto dos Gastos. O governo estadual tem um grande gasto com a polícia, as três universidades e o sistema de Justiça. Quando você tem escassez de recursos você cuida do custeio e a RM surge quando o estado não tem o recurso para investir. Além disso, faz tempo que São Paulo não tem Governador que acredita na descentralização. Por outro lado, não temos Equipe técnica e não temos projeto porque ela surgiu no momento de duas crises. Se você não tem projeto, você não tem o que pedir ao governo e nós estamos concorrendo com Campinas, Santos e Grande São Paulo. Outro fator que é preponderante foi a eleição de 2018 que fez a população esquecer de onde mora, votando em candidatos a deputado estadual e deputado federal que não são da região. Temos uma fragilidade de representação política tremenda. Isso enfraquece o peso político, pois temos um deputado federa, quando poderíamos ter quatro e dois deputados estaduais da região quando poderíamos ter seis.
O prefeito ainda abordou a respeito do financiamento para a terceira ponte, a continuidade da avenida Davi Lino, com o Parque Meia Lua e São José dos Campos, a marginal em toda a extensão do Parque Meia Lua, entre outras obras para melhorar a rede viária da cidade. Foi uma rica entrevista, importante para o cidadão jacareiense!
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OPINIÃO
O MITO DA MERITOCRACIA
Ana Luiza Vitalli e Maria Eduarda Fonte
Muitas pessoas acreditam que o esforço individual é a força determinante do sucesso. A meritocracia em seu significado literal é que todo indivíduo é capaz de prosperar somente com suas capacidades sem precisar da ajuda da sociedade, Estado ou família. Esse conceito é falho desde sua criação, criando uma cultura de perdedores e vencedores, na qual todo mundo é capaz de alcançar o topo, só depende apenas de você e seu esforço, estimulando uma percepção de que algumas pessoas são merecedoras e outras não. A ideia da meritocracia disfarça o racismo e naturaliza as desigualdades, as violências e as discriminações. Para que haja meritocracia, todas as pessoas devem possuir acesso às mesmas oportunidades e essa realidade está longe de acontecer. Dizer que uma pessoa que nasceu em uma casa com boas condições e sempre estudou em escola particular tem a mesma chance e oportunidade de passar em uma faculdade federal - igualmente a uma pessoa que necessita trabalhar enquanto estuda em um ensino público - é extremamente errôneo. Certamente, não basta apenas você se esforçar, existem dezenas de empecilhos marcados pelo preconceito que tornaram essa corrida ainda mais desigual. É bem provável que em vários lugares do mundo seria, mas pegando como exemplo nosso país, no Brasil, é impossível acreditar na meritocracia, visto que a desigualdade social é gritante no país e as pessoas não possuem as mesmas oportunidades. Várias pessoas tentam argumentar com o famoso caso do "menino que trabalhava de gari, e passou em uma faculdade estudando com livros que achava no lixo" como desculpa para acabarem com as cotas ou dizer que o governo não precisa ajudar famílias de classes mais baixas. Em pleno 2021, esse menino deveria ter acesso a esses livros de forma adequada, em uma escola ou cursinho público, podendo assim se esforçar para passar na faculdade desejada, sem contar também que esse caso seria apenas um em um milhão. Grande parte da população gosta de espalhar essas histórias como algo extremamente comum, que acontece sempre, mas não é. Isso já mostra para todos nós que o princípio da meritocracia, que é todos possuírem as mesmas oportunidades e partirem de um mesmo local, nunca foi colocado em prática, provavelmente, na sociedade em que vivemos, nunca será.
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Entrevistamos os professores Fabiana Zambadi e Adrian Duarte, que falaram sobre Racismo estrutural, tema de um dos projetos interdisciplinares deste ano.
Fabiana Zambadi
Nós, alunos dos Colégios UNIVAP - Unidade Villa Branca, do segmento do ensino médio, realizamos um projeto com a Professora de História, Fabiana Zambadi, que teve como o objetivo discutir e refletir sobre o racismo estrutural enraizado no Brasil desde os primórdios da colonização. Esse projeto começou no início do ano letivo de 2021 e veio sendo trabalhado ao longo dos bimestres. Em entrevista, Zambadi relatou que o objetivo do projeto foi, primeiro: promover a compreensão histórico-social no ambiente escolar e, posteriormente, transbordar para fora das "fronteiras da escola", por meio da realização de podcasts, o tema central em diversos desdobramentos: questões habitacionais, culturais, conceituais, sociais e comportamentais. Mas, de onde vem tantas ideias e inspiração para criar um projeto deste tamanho, abordando uma pauta de extrema importância? A professora conta que a ideia do podcast nasceu da necessidade de abordar um tema social com raízes históricas, já que ainda existe muita segregação racial em todo o mundo. Podemos tomar como referência o nosso próprio colégio, onde não temos o número de alunos negros em colégios particulares correspondentes à população. Sobre a participação dos alunos e o envolvimento com a problemática, Zambadi conta: “A empatia foi incrível, as indignações também. A sensibilidade e preocupação social, além do desenvolvimento das habilidades acadêmicas que superaram todas as minhas expectativas"! "O projeto tem um sonho de alcançar milhares de pessoas, pois as gravações em formato podcast que os alunos realizaram, é acessível ao público em geral, contudo, ninguém tem a dimensão do alcance que vai gerar. Como sabemos, na internet muitas publicações fogem totalmente do controle da expectativa, tudo pode acontecer. E o nosso desejo é de que atinja ao menos os amigos e familiares da comunidade escolar". A respeito do lugar de fala da professora enquanto mulher branca, Zambadi deixou claro que neste momento, "seu lugar de fala não foi o da mulher, mas sim o de professora de História, como agente social incentivando a busca por informação e pelo reconhecimento dos problemas enfrentados pela população negra no Brasil". Como professora de História, entende que seu papel é de difusora de questões como essa e incentivadora de reflexão a respeito de políticas públicas. Assim como todos, ela quer viver num país melhor, menos desigual em todos os aspectos e faz o possível para desempenhar o papel que sua posição permite.
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Isabela Lemes
Adrian Lucas Andrade Duarte atua na área educacional, especificamente como professor de Matemática formado pelo Instituto Federal de São Paulo. A escolha de sua profissão está relacionada com sua paixão por exatas, ele ama falar sobre isso, depois, porque, segundo Adrian e outros filósofos, o universo é regido segundo a Matemática e ela traduz a natureza. Sua primeira decisão foi cursar Física, mas escolheu Matemática por causa de ser mais perto de sua casa e questões financeiras.
Adrian Duarte
Adrian já vivenciou ser o único professor negro em um ambiente escolar. O fato é que tanto na academia quanto no ensino básico e superior, a representatividade negra é pouca, e para um homem negro e uma mulher negra isso é assustador, visto que estão em maior quantidade em profissões terciárias, seja jardinagem ou limpeza.
Comentários preconceituosos acontecem em escolas particulares e públicas, e sofrer racismo é estrutural, visto que está na história do Brasil a escravidão e a discriminação racial na construção de sua identidade. A população negra sempre foi segregada e como resultado se desenvolveu nas periferias, criando sua própria cultura, que ao ser visto em uma escola, escutam comentários de cunho racista como “como você sabe disso?” Isso é comparar conhecimento com cor de pele, sendo que são coisas totalmente diferentes e sem relação. Quando o negro alcança uma posição que sempre idealizou, muita das vezes não há representatividade. A maior parte dos comentários racistas começam na piada e as justificativas são “ah, foi somente uma piada”, algo que já foi ensinado, colocado na mente da população que não percebe os atos racistas. Na década de 1990, foi realizada uma pesquisa (que deu origem ao livro Racismo Cordial, de Cleusa Turra e Gustavo Venturini) que apontou justamente a incoerência das pessoas que não se dizem racistas com comportamentos, frases e até piadas que são preconceituosas, contudo, isso está incutido como algo comum, aceitável, porém, é racismo! Adrian adiciona que é de grande importância na escola serem tratados os assuntos sobre a cultura africana, devido a representatividade e por fazer parte da história brasileira. Não dá para aceitar que essa identidade africana seja roubada. ela é tão importante quanto a portuguesa e a indígena para entender a formação de nossa sociedade. Não existir pessoas com sobrenomes, roupas, costumes africanos demonstra como houve essa discriminação no Brasil, porque esses costumes foram dados como inferiores. Falar sobre a história do Brasil e Africana é essencial visto que pessoas importantes deram a vida para ter esse estudo, como por exemplo Martin Luther King. Debater sobre o racismo estrutural é de valor, porque mesmo após a Lei Áurea, o passado colonial continuou no Brasil. A representatividade negra e o lugar de fala também são essenciais para o combate ao racismo: como um negro irá se imaginar negro sendo que nunca encontrou nenhum profissional da saúde negro? Alguém para se espelhar? O lugar de fala também é notório, é necessário que negros falem sobre a sua vivência e demonstrem a sua realidade no mundo social, o que funciona para todas as lutas, tanto da mulher quanto das pessoas LGBTQI+.
Letícia Bueno e Nycolle Gabriele
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INDICAÇÃO Corra!
Olá pessoal, me chamo Pedro Henrique Porto e falarei um pouco sobre o filme "Corra!" (2017), o filme de suspense/terror que expõe muito bem o racismo e faz uma ótima crítica em relação a ele.
No início da obra já podemos notar o preconceito quando vemos o nervosismo de um homem negro por estar em um bairro habitado por maioria da população branca de classe média, onde ele caminha em busca de um endereço. Após algum tempo, ocorre algo inesperado com esse rapaz. Logo depois já entramos no papel de outro moço afrodescendente interpretado por Daniel Kaluuya, que está prestes a conhecer a família de sua namorada, uma mulher branca, porém, ao longo do filme, o rapaz descobre vários segredos obscuros até então encobertos pela família. Em várias partes do filme podemos ver atos de racismo e como de maneira absurda isso pode ser naturalizado, mas que são colocados com maior ênfase ainda mais com um protagonista negro. O filme foi dirigido pelo diretor negro Jordan Peele, que queria mostrar a importância do combate às desigualdades que ganham força com o racismo, além de mostrar como é o cotidiano de uma pessoa negra dentro de uma população de maioria branca. Fonte: SANTOS, Thaís. Portal Geek. Disponível em: Mundo racista: Uma análise sobre o filme ‘Corra’ Lab Dicas Jornalismo. Acesso em 20 de outubro de 2021.
Pedro Henrique Porto
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EXPEDIENTE:
Direção dos Colégios Univap – Unidade Villa Branca Domingos Sávio de Amorim
Coordenação Geral dos Colégios Univap – Unidade Villa Branca Robelia Aparecida da Silva
Supervisão Amanda do Nascimento Morgado Gustavo Rodrigo Milaré Montoia
Revisão Miriele Amorim Lara Pandeló
Edição Geral Letícia Carrasco dos Santos – 2º ano B
Design Gráfico Luis Felipe da Costa Silva – 2º ano B
Colunistas da 2ª edição Ana Luiza Vitalli Silva – 2º ano A Isabella Lemes Mendonça – 2º ano B Letícia Bueno Paulino – 2º ano B Letícia Carrasco dos Santos – 2º ano B Maria Eduarda Fonte dos Santos – 2º ano A Nycolle Gabriele Barbosa Ferreira – 2º ano B Pedro Henrique Porto – 2º ano A Pedro Kajiya dos Santos – 2º ano B
Colégios Univap – Unidade Villa Branca Estrada do Limoeiro, 250 - Jardim Dora Jacareí – SP Telefone: (12) 3955-4510