Newsletter: Boletim 2016 no.74

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Boletim do Centro Regional de Informa ção das Nações Unidas para a Europa Ocidental BR UXE LAS , ABR IL 2 016, E D I ÇÃ O NR . 74

Assinatura do Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas é ponto de viragem histórico Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas — Perguntas Frequentes

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Selecionar o novo Secretário-geral da ONU — Uma entrevista em frente ao mundo

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Cimeira Humanitária Mundial

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Ano Internacional das Leguminosas

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CINE ONU

Sede da ONU, em Nova Iorque @FOTO UNAMA

O Dia da Terra, que a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra, anualmente, a 22 de abril, foi o escolhido para primeiro dia da assinatura do Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas, a decorrer na sua sede, em Nova Iorque. A cerimónia assinala o primeiro dia de um processo que levará à entrada em vigor de um tratado internacional que é considerado um ponto de viragem histórico: o primeiro acordo a unir, praticamente, todas as nações em torno das suas responsabilidades para travar as alterações climática, um dos maiores desafios que a humanidade alguma vez enfrentou. São necessárias três etapas para o Acordo de Paris entrar em vigor: a primeira foi a adoção pelos negociadores na 21ª "Conferência das Partes" (COP), em dezembro de 2015; a segunda é esta assinatura (que pode ser feita até 22 de abril de 2017), em que os países aceitam, oficialmente, o acordo; a terceira etapa passa por ação legislativa ou executiva a nível nacional para a implementação. A assinatura terá lugar na Sala da Assembleia-Geral, com a participação de chefes de Estado e de governo, ministros dos Negócios Estrangeiros e outros representantes governamentais com autoridade para assinar o Acordo. Estes serão chamados à mesa do palco para assinarem uma página da única cópia original do Acordo. Este original é um grande volume que contém o texto autêntico e completo do Acordo nas seis línguas oficiais das Nações Unidas, bem como as páginas das assinaturas de cada uma das partes. A cerimónia de assinatura será presenciada por jovens, membros

da sociedade civil e representantes do setor privado. Os Estados que não assinem o Acordo nesta cerimónia, terão nova possibilidade de se juntarem ao mesmo através do depósito de um instrumento de acesso junto do Secretário-geral da ONU, único guardião do documento original do Acordo. Depois da assinatura do Acordo, terão lugar sessões separadas nas quais os participantes terão a oportunidade de fazerem declarações sobre os seus propósitos a nível nacional. De seguida, terá lugar um almoço onde se abordará a questão dos fluxos de financiamento necessários para implementar a ação climática e o Acordo de Paris. Haverá, ainda, um diálogo sobre a forma como os vários setores se estão a preparar para implementar o Acordo. As Nações Unidas descrevem as alterações climáticas como "um dos maiores desafios que a humanidade já enfrentou." As alterações climáticas têm efeitos negativos e minam os esforços da comunidade internacional para combater a pobreza e a fome, bem como para melhorar a saúde e segurança, entre outros fatores. Para encorajar a ação política, é necessário que todos os atores da sociedade civil e a opinião pública em geral façam pressão junto dos líderes para que estes assinem o acordo e tomem os passos necessários à sua rápida ratificação e implementação. Os cidadãos também pode colaborar neste esforço de travar as alterações climáticas através de ações quotidianas para reduzir a sua pegada de carbono.


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D N TT Á ÁV V EE LL D EE SS EE N NV VO O LL V V II M M EE N N TT O O SS U U SS TT EE N

Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas Perguntas Frequentes I Quais são os aspetos mais significativos do novo acordo? O acordo apresenta um caminho para limitar o aumento da temperatura global abaixo dos 2° C, ou mesmo de 1,5°C. O acordo disponibiliza um mecanismo para aumentar o nível de ambição. O Acordo de Paris é um acordo ambicioso, dinâmico e universal. Abrange todos os países e todas as emissões poluentes e foi projetado para o longo prazo. É um acordo monumental que fortifica a cooperação para travar as alterações climáticas. Mostra-nos o caminho a seguir. O Acordo de Paris envia um sinal poderoso aos mercados de que agora é o momento de investir na economia de baixa emissão de gases poluentes. Contém um quadro de transparência para promover confiança mútua. Irá servir como ferramenta importante na mobilização de apoio tecnológico, apoio financeiro e meios de capacitação para os países em desenvolvimento. E irá, também, ajudar a ampliar os esforços globais para combater e minimizar as perdas e os danos sofridos devido às alterações climáticas. Paris foi o começo – temos, agora, de implementar o Acordo. A adoção deste acordo envia uma mensagem ao mundo de que os países estão seriamente comprometidos com o combate às alterações climáticas. É um triunfo notável que as 196 partes da Convenção tenham alcançado este acordo. Este acordo vai realmente ajudar? Sim. Não há dúvida de que o mundo ficará muito melhor graças a este acordo. O acordo irá ajudar a avançar na direção de um futuro mais sustentável. O acordo é ambicioso e providencia todas as ferramentas de que necessitamos para combater as alterações climáticas, para reduzir as emissões poluentes e para nos adaptarmos aos impactos das alterações climáticas. A “prova dos nove” estará na implementação.

O que é que o acordo requer que os países façam? O acordo requer que todos os países tomem medidas, mas reconhecendo as suas diferentes situações e circunstâncias. Sob o Acordo de Paris, os países são responsáveis por tomar medidas de mitigação e adaptação. Os países apresentaram, oficialmente, as suas próprias ações climáticas, determinadas a nível nacional. Eles têm a obrigação de implementar esses planos e,

Icebergue em Ilulissat Icefjord, Gronelândia @Foto ONU se o fizerem, vão contribuir para uma tendência descendente no que se refere ao aumento projetado da temperatura global. O acordo não só formaliza o processo de desenvolvimento de planos nacionais, mas também fornece um requisito obrigatório de avaliação e revisão do progresso desses planos. Este mecanismo irá requerer que os países atualizem, consecutivamente, os seus compromissos e assegurem que não há retrocesso. Este acordo é um toque de clarim dos governos, revelando que estão prontos para a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O que é que acontece se um país não estiver à altura dos seus compromissos? Haverá alguma forma de impôr a sua execução? Os países têm todas as razões para cumprirem os termos do Acordo de Paris. É do seu interesse implementarem o acordo, não apenas para alcançar os benefícios de responder à ação climática, mas também para mostrar solidariedade global. Não há qualquer benefício em ignorar o acordo. Qualquer tempo ganho no curto prazo será também de curta duração. O país será, sem dúvida, ofuscado por reações negativas por parte de outros países, dos mercados financeiros e, mais importante, dos seus cidadãos.

O acordo só entra em vigor em 2020. O que acontecerá até lá? A implementação começa amanhã. Para começar a implementar os planos climáticos pós-2020, os países terão de mobilizar recursos, incluindo 100 mil milhões de dólares prometidos pelos países desenvolvidos e terão, ainda, que fazer investimentos nos sistemas de baixa emissão de carbono. Os países decidiram, em Paris, tomar ações vigorosas para promover a ação climática, aumentar o seu financiamento e começar a implementação dos seus planos climáticos. Os países terão uma oportunidade, como parte de uma revisão coletiva em 2018, de atualizar esses planos. Precisamos integrar a ação climática com os esforços de implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, uma vez que as ações são necessárias para uma e vitais para o progresso da outra. Este acordo é juridicamente vinculativo? O Acordo de Paris é um instrumento legal que irá guiar o processo da ação universal sobre as alterações climáticas. É um híbrido de disposições juridicamente vinculativas e não vinculativas. O acordo rege o processo internacional e será vinculativo para as partes, embora existam elementos que não fazem parte do acordo juridicamente vinculativo. Estas partes, tal como as contribuições determinadas a nível nacional, podem ser vinculativas a nível nacional.


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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas Perguntas Frequentes II Qual é a ligação entre as Alterações Climáticas e o Acordo de Paris com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável? Um acordo climático forte, apoiado por ações no terreno, irá ajudar -nos a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para acabar com a pobreza, construir economias mais fortes e sociedades mais seguras, saudáveis e sustentáveis, em toda parte. Dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável há 12 que estão, diretamente, relacionados com a tomada de medidas contra as alterações climáticas, além da ação climática ser, ela própria, um dos objetivos. A Conferência de Paris contará com novos anúncios de ação climática que irão demonstrar como a sociedade civil e o setor privado estão a avançar na resposta às alterações climáticas. A Agenda para a Ação de Lima-Paris, que produziu centenas de novos compromissos e iniciativas, mostrou que as ações necessárias para enfrentar as alterações climáticas são as mesmas necessárias para a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável.

Gestão das massas hídricas é fundamental @FOTO: ONU Os países em desenvolvimento salientaram a necessidade de equidade e justiça. O Acordo abrange essa necessidade? Sim. O princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, reflete-se no presente Acordo. Há claramente um dever para todas as partes de tomarem medidas, de acordo com o princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas e respetivas capacidades, tendo em conta as diferentes circunstâncias nacionais. Todos os países apresentaram as contribuições determinadas a nível nacional? Houve 186 países que submeteram as suas contribuições determinadas a nível nacional, antes da Conferência de Paris.Outros dois países submeteram-nas na última noite da Conferência, o que mostra o amplo compromisso no processo. Como pode Paris levar-nos ao objetivo dos 2°C, ou mesmo 1,5°C? O acordo de Paris ajuda-nos a evitar o bloqueio num nível de ambição que tornaria improvável colocar o objetivo bem abaixo dos 2°C. Em 2018, os países terão a oportunidade de rever o seu esforço coletivo em relação aos objetivos globais antes de apresentarem, formalmente, as suas contribuições nacionais para o novo acordo. Este exercício será repetido, de cinco em cinco anos. Temos um acordo e temos, agora, a oportunidade de alcançar o nosso objetivo. O Acordo de Paris irá colocar-nos no caminho para alcançar o objetivo dos 2°C, ou ainda menos. Não esperavamos deixar Paris com os compromissos para alcançar esse objetivo, mas ter consenso no processo que nos vai levar até lá. E é isso que o acordo prevê. O facto de 188 países, que representam perto de 100% das emissões globais, terem apresentado as suas contribuições determinadas a nível nacional é muito encorajador. Mostra que os países olham para a conferência de Paris como a primeira etapa num processo e estão totalmente empenhados em chegar onde é preciso.

Porque é tão urgente fazermos algo agora? O mundo tinha aquecido antes, mas nunca tão rapidamente, e isso é devido às atividades humanas. Por exemplo, as mudanças no Ártico, nos últimos seis anos, são chocantes. Podemos limitar o aumento da temperatura global a menos de 2°C se tomarmos medidas agora. Precisamos de todos os países e de todos os setores da sociedade para agir agora, é do interesse de todos. Levar a cabo a ação climática, agora, faz sentido do ponto de vista económico. Quanto mais demorarmos, mais dinheiro teremos de gastar. Podemos promover o crescimento económico, erradicar a pobreza extrema e melhorar a saúde e bem-estar das pessoas, agindo hoje. As perdas e danos são, suficientemente, abordados no Acordo de Paris? As partes chegaram a acordo, em Paris, sobre um processo para determinar quais as abordagens e providências necessárias para melhor responder às necessidades dos países e das comunidades que menos contribuíram para as alterações climáticas, mas que

Efeitos da desertificação @FOTO: ONU


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PRÓXIMO(A) SECRETÁRIO(A) -GERAL DA ONU

Selecionar o novo líder da ONU: uma entrevista de emprego em frente ao mundo todo

Ban Ki-moon, atual Secretário-geral, e Trygve Lie, o primeiro a exercer o cargo ©FOTO ONU O processo de seleção e nomeação do novo Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, tradicionalmente decidido à porta fechada, por apenas alguns países poderosos, envolve, pela primeira vez na história, discussões públicas com cada um dos candidatos em campanha para ocupar o mais importante cargo diplomático ao nível mundial, a partir de janeiro de 2017. Cada um dos candidatos é, formalmente, apresentado à Assembleia-Geral, a qual inclui representantes dos 193 Estadosmembros e Observadores, o Estado da Palestina e a Santa Sé. A primeira ronda de diálogos informais decorreu de 12 a 14 de abril. O público em geral pôde colocar questões através dos membros da sociedade civil e dos meios de comunicação social. Foram ouvidos: Igor Luksic (Montenegro), Irina Bokova (Bulgária), António Guterres (Portugal), Danilo Turk (Eslovénia), Vesna Pusic (Croácia), Natalia Gherman (Moldávia), Vuk Jeremic (Sérvia), Helen Clark (Nova Zelândia) e Srgjan Kerim (Antiga República Jugoslava da Macedónia). Se aparecerem novos candidatos, serão organizadas novas rondas. “Este é um processo com grande potencial para mudar as regras do jogo”, disse

Mogens Lykketoft, Presidente da Assembleia -Geral da ONU, numa entrevista ao Centro de Notícias da ONU. Para uma organização com 70 anos que, até agora, apenas teve oito Secretários-gerais (todos eles selecionados num processo à porta fechada, pelos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU), este é uma espécie de território desconhecido. Duas horas de audição Cada candidato deve submeter uma declaração escrita da sua visão para o futuro da ONU. Têm direito a uma audição de duas horas na Assembleia-Geral, transmitida em direto por sistema de vídeo na Internet, começando com uma pequena apresentação oral e resposta às perguntas dos representantes de países e grupos de países. Uma vez que as audições são classificadas como "informais" nos registos oficiais da ONU, não há lista de oradores, com os Estados-membros a intervirem por ordem de chegada. Se restar algum tempo no final do período de duas horas, o candidato recebe algumas questões por parte da sociedade civil. No final da audição, os candidatos prestam

declarações aos meios de comunicação, no exterior do salão da Assembleia-Geral. Para dar a conhecer todos os candidatos e fornecer detalhes sobre o processo, o Presidente da Assembleia-Geral e o Serviço de Ligação Não Governamental da ONU criaram uma página na internet, que também serviu para submeter questões por escrito, vídeo ou áudio, com o hashtag #UNSGcandidates. Foram submetidas mais de 1000 questões, como por exemplo: “quais os critérios a utilizar pelo candidato para fazer a nomeação de um alto funcionário?”, “como irão as suas medidas acabar com a pobreza?” ou “como vai levar a paz ao Médio Oriente?”. “Os órgãos de comunicação social vão ter um papel muito importante em todo o processo”, disse Lykketoft ao Centro de Notícias da ONU, acrescentando que espera que os candidatos aproveitem o tempo para responder a todas as questões nas próximas semanas e meses. “Provavelmente, a sociedade civil vai, também, ter outras iniciativas para gerar discussão com os candidatos, talvez até entre os candidatos, dentro e fora destas paredes”, acrescentou o Presidente da Assembleia-Geral.


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PRÓXIMO(A) SECRETÁRIO(A) -GERAL DA ONU potencialmente, mudar. ”Se a maioria das nações apoiar um determinado candidato, “será difícil pensar que o Conselho de Segurança irá apresentar um nome diferente”, disse o Presidente. “Mas se existirem muitos candidatos e a situação não for clara em termos de maioria de apoio, pode muito bem ser que o jogo acabe por ser decidido como tem sido até agora”, acrescentou.

António Guterres, cancidato a Secretário-geral da ONU @ FOTO ONU Um exemplo são as sessões com os candidatos, co-organizadas pelo jornal britânico “The Guardian”, em Nova Iorque (EUA) e em Londres (Reino Unido), em abril e junho, que foram organizadas fora da estrutura da ONU. Mogens Lykketoft expressou o seu otimismo de que este processo represente “pela primeira vez na história da Organização das Nações Unidas, um modo de operar mais transparente que, espera-se, também levará à formulação mais clara do que esperamos da ONU em termos dos desafios e competências do próximo Secretário-geral.” Dado que estes diálogos têm o potencial para influenciar o processo eleitoral, poderia esperar-se alguma resistência por parte do Conselho de Segurança – uma estrutura da ONU onde 178 Estados Membros não estão representados. Mas Mogens Lykketoft diz que não é o caso: “O crescente entendimento, mesmo por parte dos mais fortes e mais poderosos, é que a maioria dos problemas do globo só podem ser resolvidos através da cooperação. E, portanto, precisamos de uma Organização das Nações Unidas forte e isso deve ser refletido na forma como selecionamos o seu líder e nas competências que lhe exigimos”. Da assinatura da carta da ONU até hoje A Carta da Organização das Nações Unidas, assinada em 1945, aquando da fundação da organização, não esclarece muito sobre o modo como um Secretário-geral deve ser selecionado. Apenas o Artigo 97 diz que o candidato “deve ser designado pela Assembleia-Geral sob a recomendação do Conselho de Segurança”. Na sua primeira sessão, em 1946, a Assembleia-Geral foi muito mais ativa no seu processo de seleção. Criou a resolução A/RES/1/11, determinando que o Conselho de Segurança tem a liderança no processo de seleção, devendo chegar a um acordo sobre um único nome, numa reunião privada. Esse nome é depois votado pela Assembleia-Geral.

Desde 1946, o Conselho de Segurança fez exatamento isso, discutindo à porta fechada quais os candidatos que deviam ser 'incentivados' ou 'desencorajarados' a continuar. Este processo tornou-se conhecido como “Wisnumurti Guidelines” (Orientações Wisnumurti), por causa do Embaixador Nugroho Wisnumurti, da Indonésia, que ocupou a presidência rotativa do Conselho, em Novembro de 1996, quando essas orientações foram definidas. Estas votações dos membros do Conselho repetem-se até que exista um candidato escolhido pela maioria, sem um único veto por parte de um dos membros permanentes. Esse nome é, então, oficialmente, enviado à Assembleia-Geral, cujos membros, historicamente, validam o candidato. Mas nos últimos anos, tem havido uma pressão por uma maior transparência destas votações, não apenas dentro dos círculos políticos, mas também por parte da sociedade civil, incluindo a campanha “1 para 7 mil milhões”, que inclui a Federação Mundial de Associações da ONU, entre outros. Em linha com esta dinâmica de mudança, em dezembro de 2015, Mogens Lykketof coassinou uma carta com a embaixadora dos Estados Unidos, Samantha Power (que nessa altura presidia ao Conselho de Segurança), enviada a cada um dos embaixadores Representantes Permanentes e Observadores Permanentes. Esta afirmava que no espírito de maior “transparência e inclusão”, o processo de seleção devia ser aberto a nomeações nacionais e pequenos encontros com os candidatos. “É uma forma de nos adaptarmos ao mundo de hoje”, disse Mogens Lykketoft ao Centro de Notícias da ONU. “Existe uma forte opinião por parte de muitos Estadosmembros de que devem poder conhecer melhor os candidatos e, talvez até, formular uma opinião sobre qual deve ser o Secretário-geral, antes das deliberações começarem no Conselho de Segurança”. Aqui é onde as regras do jogo podem,

Como escolher um líder mundial entre os líderes mundiais? Como vimos, existem atualmente nove candidatos oficiais nomeados pelos respetivos governos (quatro mulheres e cinco homens). Os seus documentos oficias de nomeação, CV, fotografias e outras informações estão disponíveis online. Na sua carta, Lykketoft e Power convidaram os países a apresentarem candidatos “com comprovada liderança e capacidade de gestão, longa experiência em relações internacionais e fortes competências ao nível diplomático, comunicacional e de multilinguismo”. Do ponto de vista de Lykketoft, deve ser uma pessoa com “ideias claras e capacidade” para redesenhar a organização de forma a que esta reflita melhor “a interconectividade e interdependência de todos os desafios essenciais que a Organização das Nações Unidas vai enfrentar no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável, paz e segurança, e direitos humanos.” O candidato ideal deve ter “contacto com a opinião pública global e autoridade para exortar os poderes, particularmente o Conselho de Segurança, a agirem, atempadamente”, acrescentou numa especial referência à situação de estagnação no Conselho no que se refere a uma série de ameaças à paz e segurança internacionais. “Espero que os cidadãos e os líderes de todo o mundo estejam prontos para aceitar um Secretário-geral com uma personalidade forte e independente”, acrescentou Lykketoft. O que sente fortemente é que a comunidade internacional está pronta para aceitar uma mulher no cargo. “Devemos manter claro, penso eu, que devemos encontrar a melhor pessoa. Mas muitos de nós não vemos qualquer razão para a melhor pessoa não ser uma mulher, pela primeira vez. E isto é um argumento por si só”, disse o Presidente. Além do género, existe uma consideração adicional que pode, potencialmente, representar alguma vantagem. A Europa de Leste é a única região que não teve um nacional como Secretário-geral.

Youth Summit August 2013@ UN Photo


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CIMEIRA HUMANITÁRIA MUNDIAL —ARTIGO DE OPINIÃO

“Vivemos a pior crise humanitária desde a II Guerra Mundial”, alerta Ban Ki-moon

Ban Ki-moon na Jordânia @ ONU Mulheres Resolvi convocar a primeira Cimeira Humanitária Mundial, que decorrerá a 23-24 de maio, em Istambul (Turquia), para responder à crise humanitária que a comunidade global está a enfrentar – a pior desde a II Guerra Mundial. Por todo o mundo, mais de 125 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária, mas estamos a assistir à maior escassez de apoio financeiro das últimas décadas. A Cimeira de Istambul visa fazer surgir um quadro sustentável para dar assistência a todas as mulheres, homens e crianças que mencionei, incluindo os cerca de cinco milhões de refugiados da Síria. No âmbito desta iniciativa, embarquei, recentemente, numa “Missão para a Humanidade”, visitando países onde habitam pessoas vulneráveis e onde existem inúmeras necessidades humanitárias. Queria ouvir, diretamente, o testemunho dessas pessoas afetadas pelas crises humanitárias, bem como aqueles que lhes dão apoio. A minha primeira paragem foi na região Oromia (Etiópia), onde as pessoas estão a sofrer com a pior seca dos últimos 30 anos. O terreno é duro como uma rocha, marcado por fendas, e o ar está muitas vezes cheio de poeira. Testemunhei, em primeira mão, o quotidiano de milhares de famílias que aí vivem e ouvi pessoas desesperadas por terem perdido o gado e as culturas com as quais, durante anos, alimentaram as suas famílias. Agora estão dependentes de assistência alimentar de emergência. Num posto de saúde, num furo de água e num ponto de distribuição de alimentos e de transferência de dinheiro pude, também, ver como o governo, a ONU e as agências humanitárias estão a trabalhar em conjunto para ajudar as pessoas da Etiópia. Mas são urgentemente necessários mais fundos para que a distribuição de alimentos possa continuar e as pessoas não passem fome.

Em Kivu do Norte (República Democrática do Congo), onde a violência forçou, aproximadamente, 42 500 pessoas a fugirem das suas casas, visitei a escola primária fundada pela ONU, em Mungote, para pessoas internamente deslocadas. Ouvi os estudantes e partilhei com eles as minhas próprias experiências enquanto criança deslocada durante a Guerra da Coreia. Principalmente, encorajei-os a continuarem a aprender, mesmo no meio das dificuldades, porque serão os líderes do futuro. Também me encontrei com mulheres sobreviventes de violência com base no género. Aquelas mulheres fortes e resilientes estão a tentar recuperar a normalidade das suas vidas e a alcançar o empoderamento económico através do emprego numa padaria do campo de deslocados. Uma delas, Claudine Ntawanga, explicou que a padaria permite às mulheres pagarem algumas das despesas escolares dos filhos. Também ajuda a reduzir as agressões sexuais porque, sem isso, a principal fonte de rendimento das mulheres consiste na recolha de lenha na floresta, onde as mulheres são, frequentemente, atacadas. A mensagem de Claudine para mim e para o resto do mundo foi um apelo à paz. “O que realmente queremos é ir para casa”, disse -me. Na unidade de reabilitação nutricial pediátrica do Centro Médico de Shifra, em Ouagadougou, (Burquina Faso), vi os resultados concretos dos esforços para reduzir a subnutrição e a insegurança alimentar crónica. No Burquina Faso, o número de crianças que sofrem de subnutrição aguda e agora beneficiam de tratamento triplicou, passando de 40 mil, em 2011, para 120 mil, em 2015. Milhares de vidas estão a ser salvas, anualmente, evitando o terrível sofrimento humano e ajudando a assegurar o futuro do país.


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CIMEIRA HUMANITÁRIA MUNDIAL —ARTIGO DE OPINIÃO tornar uma intérprete. Poucas coisas me motivaram mais do que a esperança e o otimismo que vi no rosto desta inspiradora jovem mulher. No norte do Líbano, visitei o acampamento Hay El-Tanak, que é a casa dos libaneses mais vulneráveis e de cerca de 2400 refugiados da Palestina e da Síria. Renovei o meu compromisso firme em apoiar os refugiados sírios, temporariamente hospedados no Líbano, até ao momento em que sintam que podem voltar, de forma segura, para a Síria. Disse às autoridades do Líbano que podem contar com o nosso total apoio aos seus cidadãos vulneráveis, bem como aos refugiados sírios. No campo Nahr El-Bared, no Líbano, falei com uma mulher que está à espera de voltar a casa. Desfez-se em lágrimas. Nenhumas palavras de compaixão puderam consolá-la porque as palavras não são suficientes. O que é preciso é ação. Ban Ki-moon na Escola Mazouzi Mohamed, em Argel @ FOTO ONU Nestes países, e noutros que visitei durante a minha missão, ouvi as mesmas esperanças expressas por todas as mulheres, A Organização das Nações Unidas acredita no investimento nos homens e crianças com quem falei. Estas pessoas deslocadas não jovens e espera alcançar os Objetivos de Desenvolvimento querem nada mais do que voltarem às suas casas; as que Sustentável até 2030. Na Escola Primária Mazouzi Mohamed, em enfrentam a insegurança alimentar querem ser capazes de Argel (Argélia), disse aos jovens estudantes que, quando trabalhar para alimentarem as suas famílias, as que estão prometemos que os objetivos globais não deixarão ninguém para privadas da educação querem ter uma oportunidade para trás, estamos a falar deles e de todas as crianças do mundo. Com aprenderem; aquelas que sofreram com a violência querem viver acesso à educação de qualidade, tornar-se-ão cidadãos criativos e em paz. Querem o que toda a gente deseja, a oportunidade de viver a vida com dignidade. Não devemos falhar para com as suas produtivos, capazes de fazer mudanças. expectativas. A Síria está em agonia. Após, aproximadamente, cinco anos de Os líderes mundiais têm o poder de colmatar a lacuna entre o crise, morreram 250 mil pessoas e 4,5 milhões de pessoas foram mundo que existe e o que deveria existir. Visite o site forçadas a fugir do país, a maioria delas para países vizinhos. No www.impossiblechoices.org e peça ao seu líder que esteja campo de refugiados de Zataari, na Jordânia, até onde viajei com presente na Cimeira Humanitária Mundial e tome ações audazes a minha mulher, Yoo Soon-taek, e o presidente do Banco Mundial, para acabar com o sofrimento humano. Jim Kim, reuni-me com Zaad, de 17 anos, nacional da Síria. Zaad contou-nos a sua história e partilhou connosco o seu sonho de se

Cimeira Humanitária Mundial em Números @ ONU


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CAMPANHAS E EVENTOS

ANO INTERNACIONAL DAS LEGUMINOSAS A 68ª Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas (AIL). A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em colaboração com os Governos, organizações relevantes, organizações não-governamentais e outros agentes, irá levar a cabo ações de sensibilização sobre a importância das leguminosas secas enquanto fonte vital de proteína de origem vegetal e aminoácidos, devendo ser parte integral de uma alimentação saudável . O consumo das leguminosas ajuda a combater a obesidade e a prevenir e monitorizar várias doenças. Ao possuírem a capacidade de fixar o azoto, têm, também, um impacto positivo no ambiente e são um ótimo incentivo à fertilidade dos solos . Para mais informações sobre as atividades em Portugal consulte a página: http://www.fao.org/ portugal/ano-internacional-leguminosas/en/

CINE ONU em LISBOA Filme “On the bride’s side” seguido de debate sobre asilo de refugiados na Europa O documentário italiano “On the bride’s side” foi exibido, a 15 de março, no Cinema São Jorge, revelando a história de uma "viagem de casamento encenada", filmada por António Augugliaro, Gabriele Del Grande e Khaled Soliman Al Nassiry, em 2014. O filme mostra como um grupo de refugiados palestinianos e sírios vai de Itália, por terra, até à à Suécia e foi a base para a discussão sobre os desafios que a Europa enfrenta em relação aos fluxos de refugiados e migrantes. A sessão de debate teve como convidadas Teresa Tito de Morais, presidente do Conselho Português para os Refugiados, e Teresa Campos, jornalista da revista "Visão", autora de uma reportagem sobre salvamentos ao largo da ilha italiana de Lampedusa. A agência de refugiados das Nações Unidas (ACNUR) anunciou que "não é parte integrante" das novas disposições decididas pela União Europeia (UE) e a Turquia para conter o fluxo em grande escala de refugiados e migrantes, na Grécia e na Europa, e que “não vai envolvida em retornos ou detenção", disse num comunicado de imprensa de 23 de março. O ACNUR expressou a preocupação de que o acordo UE-Turquia possa ser implementado antes de estarem criadas as condições na Grécia, notando que aquele país não têm capacidade suficiente para avaliar os pedidos de asilo nem as condições adequadas para acomodar, de forma digna e com segurança, as pessoas que

chegam às ilhas, enquanto estas aguardam que os seus casos sejam examinados. O CINE ONU fará uma pausa durante alguns meses mas em breve retomará as suas atividades, na habitual parceria do UNRIC com a Plataforma Portuguesa das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento. Fique atento ao website dos dois parceiros!

Cinema São Jorge, Lisboa @ FOTO UNRIC

Em breve… 22 de abril – Cerimónia de Assinatura do Acordo de Paris/Dia da Terra 24-30 de abril – Semana Mundial da Vacinação 28 de abril - Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho 3 de maio – Dia internacional da Liberdade de Imprensa 21 de maio – Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento 22 de maio – Dia Internacional da Biodiversidade 23-24 de maio – Primeira Cimeira Humanitária Mundial 29 de maio – Dia Internacional dos Soldados de Paz das Nações Unidas 31 de maio – Dia Mundial sem Tabaco

Ficha técnica Direcção: Deborah Seward Edição: Isabel Marques da Silva Tradução e Paginação: Isabel Marques da Silva, Ana Maria Araújo Silva http://www.unric.org/pt/ https://www.facebook.com/UnricPortugal


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