Boletim do Centro Regional de Informação das Nações Unidas Bruxelas, Abril de 2008, N.º 34
Secretário-Geral Ban Ki-moon adverte do perigo dos impulsos proteccionistas O Secretário-Geral da ONU disse que o “mundo estava a atravessar uma das mais extraordinárias transformações da história. Entre 1990 e 2007, o volume da economia mundial passou de 23 biliões para 53 biliões de dólares e o comércio aumentou 133%, durante o mesmo período. UN PHOTO
Ao usar da palavra em Acra, na abertura da XII reunião da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUCED), Ban Ki-moon avisou que nem a crise alimentar nem a hipótese de algumas regiões virem a conhecer um abrandamento da sua economia deveriam ser utilizadas pelos governos como desculpa para optarem pelo proteccionismo.
Sublinhou ainda a necessidade de o Ciclo de Doha ser concluído com êxito. “Isso significaria, no mínimo, abrir mercados novos e importantes às “Os países em desenvolvimento contribuíram para exportações de bens e serviços agrícolas e não mais de metade desse crescimento. Representam agrícolas dos países de baixo rendimento”. agora quase 40% do comércio mundial e realizam metade das trocas entre si. Países que antes eram “É tempo de os países mais ricos reverem os seus pobres tornaram-se motores do crescimento de programas obsoletos de subsídios agrícolas. Os outros, arrancando assim centenas de milhões de economistas concordam em que entravam as pessoas da pobreza”. trocas comerciais e penalizam os países mais pobres de uma maneira desproporcionada, contriBan Ki-moon sublinhou, porém, que o crescimento buindo, assim, para a crise actual. Se não podemos económico mundial não passou pelos países mais libertar-nos destes vestígios de outros tempos, pobres dentre os pobres. “Não podemos abando- quando os preços são elevados, quando é que o nar os mil milhões de habitantes mais pobres do poderemos fazer?” Para mais informações
Editorial - Afsane Bassir-Pour A ONU de volta ao Iraque, dirigida por um “diplomata operacional” Quando se trabalha num escritório situado num lugar confortável e seguro como Bruxelas, é, por vezes, fácil esquecer o que é, afinal, o trabalho da ONU e como afecta a vida das pessoas, todos os dias. Foi isso que nos lembrou algo que foi também um privilégio: ouvir o Representante Especial do Secretário-Geral da ONU para o Iraque, durante a sua visita a Bruxelas, nos princípios de Abril. A ONU está de volta ao Iraque e é bem-vinda. A bandeira azul ondula orgulhosamente.
planeta. Não podemos descurar as suas necessidades, que são reais e urgentes. Precisamos de uma reflexão nova, de abordagens inovadoras”.
Europeia, o seu principal doador”. O diplomata ítalo-sueco é um dos “apaga-fogos” por excelência das Nações Unidas. Esteve em dezanove conflitos no mundo inteiro, incluindo, o Afeganistão, a Somália, o Ruanda, o Sudão, a ex-Jugoslávia e, mais recentemente, o Líbano. Foi o primeiro dos mais importantes diplomatas da ONU a ir para o Iraque, desde que a Organização se retirou quase totalmente do país, em 2004, depois de um bombista suicida ter matado o Enviado Sérgio Vieira de Mello e vinte e um colegas e amigos das Nações Unidas em Bagdade. Actualmente, trabalham para a ONU no Iraque mais de 300 funcionários internacionais e pelo menos 400 funcionários nacionais, entre os quais pessoal de segurança, uma vez que a segurança é, por razões óbvias, uma grande prioridade.
O mandato atribuído à Missão das Nações Unidas no Iraque pela resolução 1770 do Conselho de Segurança é muito amplo e “a outra ONU”, como De Mistura lhe chamou, a que vacina as crianças iraquianas, organiza eleições e constrói escolas está a trabalhar arduamente. Também nos recordou que aquilo que a ONU está a fazer no É consolador saber que, a 19 Iraque é “em grande medida de Agosto de 2003, os nospossível graças à União sos amigos não morreram em vão.
Aliança das Civilizações – Uma iniciativa para lançar pontes Jorge Sampaio fala à UNRIC Magazine O Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, Jorge Sampaio, visitou Bruxelas em Abril, a fim de ter encontros com altos funcionários da União Europeia. Durante a sua visita, foi o orador convidado na conferência “Vivermos juntos no nosso mundo em processo de globalização: Por que é importante a iniciativa Aliança das Civilizações?” organizada pelo Real Instituto de Relações Internacionais, no Palais d’Egmont.
compreende toda a humanidade. Agora, a arte consiste em tornar esta aldeia global vivível. Isto inclui aceitar que os outros são diferentes. Pode ter a sua opinião e eu posso ter a minha, mas temos de nos respeitar mutuamente. Temos de viver juntos, conscientes de que, por mais diferentes que possamos ser, somos completamente iguais. A globalização aproximou os valores, realçou as características e acentuou as diferenças. Mas cultivemos a nossa humanidade comum, não procuremos o confronto mas sim o espírito de vizinhança. Nem muros nem guerra. O grande desafio é vivermos juntos. Os valores e princípios fundamentais que isso exige foram enunciados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Jorge Sampaio teve encontros com um grupo de jornalistas e deu uma entrevista a Arni Compreendo o medo de alguns, quando confrontados com outras culturas e outras Snaevarr para a UNRIC Magazine. maneiras de viver. Se figuras proeminentes de outra civilização dominante querem impor os Sobre as diferenças entre civilizações: Muitas civilizações contribuíram para a huma- seus valores, isso é inaceitável. “Este é o nidade, em diferentes momentos. Não esta- século das minorias”, diz o filósofo Régis mos todos ao mesmo tempo na mesma fase Debray. As pessoas de outros continentes de desenvolvimento. Sou um cidadão de vêm ter connosco, mas partilhamos os mesPortugal, um país que é considerado civiliza- mos valores fundamentais que encontrará em do. No entanto, no século XV, expulsámos os todas as grandes religiões. Além disso, procuJudeus e, nos séculos XVI e XVII, tivemos a ramos a paz, a tolerância, o respeito. É importante eliminar a exclusão e a discriminação. Inquisição. Sim à integração, mas não à assimilação. Sempre existiram diferentes culturas, diferen- Assim, digamos: és como eu, tens os mesmos tes civilizações, mas, devido à globalização, o direitos. Aceito as nossas diferenças, a tua nosso mundo tornou-se uma aldeia. Nós, os cultura e religião, mas espero também que seus habitantes, partilhamos agora o mesmo aceites os nossos valores fundamentais”. espaço e o mesmo tempo. Se virmos as coisas sob esta perspectiva, poderemos inclusivamente dizer que só há uma civilização, que (continua na pág. 5)