UPorto Alumni #21

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Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, Nº 21, II Série, Janeiro de 2015, 2.5 Euros

VOLUNTARIADO, UM IMPERATIVO CADA VEZ MAIS PRESENTE NO CAMPUS, Pág. 18 COMO TERESA E CELESTINO GANHARAM LATITUDE COM A EQUADOR, Pág. 8 SOLUÇÕES PARA A GESTÃO DA ZONA COSTEIRA, Pág. 12 ENTREVISTA AO REITOR SEBASTIÃO FEYO DE AZEVEDO, Pág. 28 OBRA-PRIMA DE SIZA PRESTA TRIBUTO A NADIR AFONSO, Pág. 36 O OVO DE COLOMBO DA EXPERTUS, Pág. 44



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ste é o primeiro editorial da revista UPorto Alumni que assino na qualidade de Reitor, cargo que exerço desde 27 de junho de 2014. Começo por saudar toda a grande comunidade académica da U.Porto, colegas docentes, investigadores e funcionários não docentes, no ativo, jubilados ou aposentados, estudantes de hoje e antigos estudantes. Saúdo em particular o prof. José Carlos Marques dos Santos, a quem tenho a responsabilidade de suceder neste honrosíssimo cargo e que, com a sua equipa reitoral, realizou um trabalho notável nestes últimos oito anos. Deixaram-nos uma universidade pujante, com dimensão e níveis de qualidade como nunca terá tido na sua brilhante história centenária. Um legado de imensa responsabilidade que, com a minha equipa reitoral, recebi e abracei com determinação e confiança no futuro. Propus na minha candidatura um programa sob o mote ‘“Antecipar o futuro, ousar a mudança”, que no essencial pretende “dar corpo à ambição de fortalecer a reputação, de manter a U.Porto como referência nacional do ensino superior e da investigação científica, de manter a sua reputação como parceiro incontornável da sociedade no desenvolvimento regional e nacional, de a projetar in-

ternacionalmente, em crescendo, nos lugares cimeiros, à luz dos múltiplos critérios de qualidade reconhecidos internacionalmente”. É um programa de inclusão, que só terá sucesso, e tê-lo-á, na medida em que motive a participação de toda a comunidade. No desempenho das nossas funções, esperamos muito poder contar com o interesse, disponibilidade e apoio dos alumni. Para nós, os antigos estudantes constituem um elemento fundamental da comunidade académica, na medida em que representam ou espelham a qualidade de ensino, a capacidade científica, a dimensão intelectual e a mentalidade empreendedora da U.Porto. Os alumni constituem, por isso, a principal medida do êxito da Universidade na sua missão de qualificação dos cidadãos. Por outro lado, vemos os alumni como verdadeiros embaixadores da U.Porto, criando elos de ligação privilegiada com a sociedade, facto da maior importância, pensando sempre que, para o cumprimento dos seus deveres institucionais, é exigido às instituições do ensino superior uma constante interação com as comunidades em que se inserem. Nesta visão, dos antigos estudantes esperamos que sejam atores fundamentais da nossa estratégia de ligação à sociedade e de promoção do desenvolvimento socioeconómico, que abram vias de relacionamento da U.Porto com decisores políticos, instituições públicas e privadas, empresas e cidadãos socialmente influentes, que sirvam de interface entre a Universidade e as demais organizações com relevância na sociedade portuguesa. Esperamos que cooperem com a U.Porto em projetos de formação e I&D, em parcerias empresariais, na transferência de conhecimento, em iniciativas de voluntariado e no mecenato de atividades académicas, científicas e culturais.

A nova equipa reitoral tenciona, por isso, reforçar o envolvimento dos alumni nas múltiplas atividades da Universidade. Fortaleceremos os canais de comunicação, por forma a que estes nossos membros da comunidade sejam reiteradamente chamados a participar na vida académica. Neste contexto, a presente revista constitui um veículo privilegiado de comunicação com os alumni, servindo para informar sobre as mais relevantes atividades da U.Porto, para partilhar memórias comuns relativas à nossa Universidade e para dar a conhecer projetos, acontecimentos e histórias de vida de antigos estudantes com notabilidade pública. A revista deverá contribuir assim para aprofundar o relacionamento da Universidade com os seus antigos estudantes, concorrendo a jusante para a coesão da comunidade académica e para a projeção da U.Porto extramuros. Deixo, desde já, um convite a toda a Comunidade, aos nossos leitores, para contribuírem para a edição da revista com sugestões, ideias e opiniões. Neste início de ano, faço votos para que 2015 lhes traga bem-estar, a nível pessoal e profissional.

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Sebastião Feyo de Azevedo

Reitor da Universidade do Porto

EDITORIAL


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IMPRESSÃO MultiPonto

No Campus

Percurso

Notícias sobre a nossa comunidade académica, como a visita do Comissário Europeu Carlos Moedas a várias infraestruturas de ciência, inovação e tecnologia do campus universitário, a elevada procura de estudantes que a U.Porto conheceu neste ano letivo, a constante subida de posições entre as melhores universidades do mundo e a homenagem a Hernâni Monteiro.

É um percurso com os condimentos necessários para um desenlace feliz. E doce. Dois alumni da FBAUP converteram-se, com sucesso, em gestores de uma chocolataria. Falamos de Teresa Almeida e Celestino Fonseca, o casal de empreendedores que, com a sua Equador, deram outra doçura à revitalizada Baixa do Porto.

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APOIO MULTIMÉDIA TVU DIRETOR Sebastião Feyo de Azevedo

UPorto Alumni Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto Nº 21, II Série

EDIÇÃO E PROPRIEDADE Universidade do Porto Gabinete do Antigo Estudante Serviço de Comunicação e Imagem Praça Gomes Teixeira • 4099-345 Porto Tel: 220408210 ci@reit.up.pt

REDAÇÃO Anabela Santos Paulo Gusmão Guedes Pedro Rocha Raul Santos Ricardo Miguel Gomes Tiago Reis

SUPERVISÃO REDATORIAL Ricardo Miguel Gomes

COORDENAÇÃO EDITORIAL Ricardo Miguel Gomes

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O inverno passado trouxe à atenção nacional a fragilidade da nossa costa. Galgamentos pelo mar das zonas marginais, habitações em risco, desassoreamento de praias, destruição de apoios balneares são os efeitos visíveis de um processo que envolve a variabilidade climática e os seus efeitos nos oceanos, mas também a ação humana. Na U.Porto, diversos investigadores estudam este espaço de interface entre o mar e a terra.

PERIODICIDADE Trimestral DESIGN Rui Guimarães

TIRAGEM 73.000 FOTOGRAFIA Egídio Santos

ICS 5691/100

COLABORAÇÃO REDATORIAL Conselho Coordenador de Comunicação: Ana Caldas (FPCEUP) Carlos Oliveira (FEUP) Cristina Claro (FADEUP) Elisabete Rodrigues (FCUP) Fátima Lisboa (FLUP) Felicidade Lourenço (FMDUP) Gabinete de Marketing e Comunicação (FEP) Joana Cunha (FBAUP) Joana Macedo (FFUP) Mafalda Ferreira (Porto Business School)

Maria Manuela Santos (FDUP) Mariana Pizarro (ICBAS) Noémia Gomes (FAUP) Olga Magalhães (FMUP)

DEPÓSITO LEGAL 149487/00

PORTO, CIDADE, REGIÃO

Em Foco Em quatro anos, na esfera da U.Porto, o número de voluntários aumentou 75%. A crise, a responsabilidade social, a reação afetiva, a aprendizagem cívica e profissional de quem está a “crescer em vários sentidos”… Razões mil, certo é que a Comissão de Voluntariado da U.Porto foi criada em finais de 2009, em 2010 registou 1.011 voluntários no terreno e, em 2014, o número subiu para cerca de 1.800.


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Em entrevista, o reitor da U.Porto mostra-se crítico em relação à atuação do Governo no ensino superior e na ciência. Para Sebastião Feyo de Azevedo, a oferta formativa das universidades deve ser racionalizada e a autonomia das instituições reforçada. Quanto à política para a investigação, não hesita em afirmar que a avaliação das unidades de I&D pela FCT foi “um erro político grave”.

O uso de modelos animais tem conduzido a importantes descobertas científicas. Ainda assim, não deixa de ser inusitada a realização de ensaios in vivo no ovo de galinha. Pois é este, justamente, o modelo animal alternativo que a Expertus, um spin-off do Ipatimup, utiliza nos seus serviços de I&D, muitos deles com grandes potencialidades na área da oncobiologia.

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Face-a-Face

CULTURA O museu Nadir Afonso, em Chaves, vai abrir portas em meados de 2015. Essa “absoluta obra-prima” de Álvaro Siza Vieira, como lhe chamou Bernardo Pinto de Almeida, vai acolher o espólio do artista e terá um auditório com capacidade para 100 pessoas, salas de exposições temporárias e permanentes, biblioteca, cafetaria e uma loja.

Vidas e Voltas O encerramento da FEP, que marcou o início do reitorado de Manuel da Silva Pinto, pareceu dar início a tempos mais calmos na U.Porto. Reaberta a Faculdade, a ausência de perturbações no meio académico permite que, nos jornais, se fale de “dias pacíficos”, notando como principal interesse a criação do curso superior de Psicologia. Ora, foi precisamente a luta dos estudantes de Psicologia a quebrar a aparente pacatez que então se vivia.


NO CAMPUS

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2.ª UNIVERSIDADE DA EUROPA COM MAIS VERBAS FINANCIADAS PELA UE

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A U.Porto é a segunda universidade da Europa com o maior número de verbas obtidas através de projetos financiados pela UE. Quem o declarou foi o novo Comissário Europeu da Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, na sua primeira visita oficial a uma instituição portuguesa. Durante o dia 12 de dezembro, Carlos Moedas conheceu de perto as várias infraestruturas de ciência, inovação e tecnologia da U.Porto, numa visita de sete horas que percorreu 10 laboratórios e centros de I&D+i desta instituição do ensino superior. A escolha da U.Porto para a primeira visita oficial do Comissário Europeu foi explicada pelo próprio em declarações à comunicação social: “O Porto tem sido um polo de excelência. Quando olhamos para aquilo que foi o quadro da Europa, a U.Porto é a segunda universidade que conseguiu, através da sua excelência e dos seus projetos, receber maior número de verbas da Europa”. Carlos Moedas chegou mesmo a apontar a U.Porto como um dos principais motores da reputação internacional de Portugal: “Aqui no Porto temos pessoas que são de nível global, ou seja, que estão aqui mas podiam estar em qualquer parte do mundo e decidiram estar aqui. É essa imagem que eu, como português, gosto de dar lá fora, porque vejo que Portugal está a caminhar de forma extraordinária”.

A visita do Comissário Europeu teve início no edifício central do UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto e prosseguiu nas futuras instalações do I3S – Instituto de Inovação e Investigação em Saúde, no INESC TEC e INEGI, nos laboratórios de Manuel Alves e Adélio Mendes (investigadores com bolsas do Conselho Europeu de Investigação) na FEUP, na futura sede do CIIMAR (Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões) e no REQUIMTE e CEMUP (FCUP). Organizada a pedido do próprio Comissário Europeu, a visita foi estruturada para demonstrar os resultados de projetos de I&D+i da U.Porto em áreas estratégicas para a Europa (como a energia, o mar e a saúde), projetos de fomento do empreendedorismo e de interface universidade-indústria e projetos de investigação fundamental e aplicada de elevado valor científico financiados pela UE. Importa sublinhar que, já em novembro último, a Comissão Europeia selecionou o UPTEC como o melhor caso de sucesso


português na aplicação de fundos europeus para a promoção do crescimento económico e da criação de emprego. Recorde-se que foram investidos 22 milhões de euros na criação e desenvolvimento do UPTEC, dos quais 15,4 milhões resultaram de candidaturas a programas de apoio da UE. Por isso, o UPTEC foi escolhido para ser um dos protagonistas da campanha europeia de informação pública “União Europeia: Trabalhamos por Si”, que em Portugal arrancou no dia 28 de novembro com vários anúncios televisivos e de imprensa. Na referida campanha, o UPTEC surge como o principal exemplo português de retorno efetivo dos programas de apoio financeiro da UE. Foi o próprio Carlos Moedas quem fez, em Lisboa, a apresentação pública desta campanha, numa sessão que contou com a participação do reitor da U. Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, do presidente do UPTEC, José Novais Barbosa, e do pró-reitor Carlos Melo Brito. RS

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Fotos: Egídio Santos

“Aqui no Porto temos pessoas que são de nível global, ou seja, que estão aqui mas podiam estar em qualquer parte do mundo e decidiram estar aqui. É essa imagem que eu, como português, gosto de dar lá fora, porque vejo que Portugal está a caminhar de forma extraordinária”.


NO CAMPUS

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A subir posições entre Hernâni Monteiro as melhores homenageado com universidades do mundo exposição

A mais procurada do ensino superior português

A U.Porto continua a sua escalada entre as melhores universidades do mundo. Desta vez, surge na 333.ª posição mundial (144.ª europeia) na primeira edição do Best Global Universities Rankings – uma iniciativa do U.S. News & World Report, com o apoio da Thomson Reuters. Nos dez indicadores considerados para a avaliar a performance das universidades, a U.Porto destaca-se no número de publicações e de citações, aparecendo perto do top 200 mundial (208.ª e 257.ª posições, respetivamente). A Universidade distingue-se também nos rankings temáticos, posicionando-se no top 100 mundial no domínio das Ciências Agrárias (74.ª posição) e das Engenharia (99.ª). A U.Porto subiu também 50 lugares no 10.º QS World University Rankings – um dos mais prestigiados barómetros académicos internacionais –, ficando classificada entre as 300 melhores universidades do mundo (293.ª posição) e destacando-se como a melhor colocada entre as instituições portuguesas. Refira-se ainda que a U.Porto subiu 30 lugares no University Ranking by Academic Perfomance (Turquia), passando assim a integrar o restrito grupo das 200 melhores universidades do mundo. Esta subida originou também a consolidação de um lugar entre as 100 melhores universidades da Europa, com a ascensão à 84.ª posição europeia (subida de 10 lugares) e à 6.ª posição no espaço iberoamericano.

Mais de 25% dos candidatos ao ensino superior público universitário escolheu, no ano letivo de 2014-15, a U.Porto como a sua primeira opção no Concurso Nacional de Acesso. Segundo dados oficiais, a U.Porto foi a universidade portuguesa com o maior número de candidatos em primeira opção (7.630) e o maior número de candidatos por vaga (1,83 candidatos por cada uma das 4.160 vagas disponibilizadas).

PR / RS / TR

Está patente na Reitoria da U.Porto, até 24 de fevereiro (seg. a sex. das 10 às 17h00), a exposição “Hernâni Monteiro e a Medicina na 1.ª Metade do Século XX”. Trata-se de uma mostra que convida os visitantes a acompanharem a vida e a obra científica, humanitária e cultural de Hernâni Monteiro, evidenciando as suas superiores qualidades de docente, investigador e gestor e a sua extensa cultura médica, literária e artística. A exposição insere-se na homenagem da Universidade a Hernâni Monteiro, escolhido para Figura Eminente da U.Porto 2014. Com esta iniciativa, é prestado tributo a um dos grandes vultos da medicina e da cidade do Porto do início do século XX. Professor de Anatomia da FMUP, Hernâni Monteiro foi um dos fundadores do Hospital S. João e realizou a primeira linfangiografia mundial. Pertenceu, aliás, à célebre Escola Portuguesa de Angiografia, que nasceu depois das descobertas de Egas Moniz. Dirigiu o Instituto de Anatomia (1947-1961) e o Centro de Estudos de Medicina Experimental da FMUP. Mas Hernâni Monteiro não se notabilizou apenas na área da medicina. Em 1948, criou o Teatro Universitário Clássico do Porto e, entre 1951 e 1954, foi vereador da Cultura da CM Porto. Ao longo da sua vida, recebeu importantes distinções, como o Grau de Cavaleiro da Legião de Honra pelo Governo francês (1957) e as insígnias da Ordem de Santiago de Espada (1961). PR

Com uma procura quase duas vezes superior à oferta, a U.Porto foi também a universidade que registou a mais alta taxa de preenchimento de vagas, tendo assegurado na primeira fase a ocupação de 96% das suas vagas (3.984 colocados). A U.Porto foi ainda a universidade com a melhor classificação média ponderada do último colocado: 154,9. Para isso, muito contribuiu o facto de serem da U.Porto os dois cursos com a mais alta nota de candidatura do último colocado pelo contingente geral: os mestrados integrados de Medicina da FMUP (182,7) e do ICBAS (181,0). O quarto lugar da tabela nacional foi ocupado pelo mestrado integrado de Arquitetura da FAUP (179,5), pelo que três dos cinco cursos com as maiores médias de entrada são da U.Porto. Alargando a análise aos dez ciclos de estudo do país com as notas mais elevadas, verifica-se que, entre estes cursos, cinco são da U.Porto.

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MEETING POINT

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GRUPO FEUPLINK CONTA JÁ COM MAIS DE 5 MIL MEMBROS passa também pelo envolvimento dos membros do grupo e pelo papel decisivo dos Embaixadores FEUP, que funcionam como dinamizadores dos grupos locais. O Gabinete Alumni arrancou em 2013 e conta já com 11 Embaixadas Alumni: ao Reino Unido, Suíça e Lisboa juntaram-se Alemanha, Angola, Bélgica, Brasil, Holanda, Luxemburgo, Noruega e Suécia. Para 2015, estão já a ser organizados encontros em Londres, Alemanha, Noruega, Suíça, Bélgica e Suécia. Para se manterem a par das atividades da comunidade alumni da FEUP, a Faculdade convida os seus antigos estudantes a registarem-se no grupo FEUPLink do LinkedIn (fe.up.pt/feuplink) ou a consultarem o Portal Alumni (www.fe.up.pt/alumni).

ALUMNUS LANÇA PORTAL DE MEDICINA DENTÁRIA

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alumnus da FMDUP Pedro Couto Viana lançou, em junho último, o portal DentalCV (www.dentalcv.pt), que, segundo o próprio, é “uma plataforma virtual de partilha de conhecimento na área da medicina dentária”. Plataforma, essa, na qual Couto Viana disponibiliza o seu portefólio clínico e científico. Para o mentor do projeto, o DentalCV “diferencia-se essencialmente pela quantidade e qualidade de informação disponibilizada e tem como objetivo a partilha de conhecimento na área da reabilitação oral, de forma simples e pedagógica”. Para tanto, Couto Viana reuniu uma equipa transdisciplinar com colaboradores altamente qualificados, dois deles alumni da U.Porto: o designer Luís Eustáquio (licenciado pela FBAUP e doutorado pela FEUP), que criou a imagem gráfica do portal; André Correia (licenciado e doutorado pela FMDP), que coordena a componente científica do projeto; e Fernando Pereira (licenciado pela ESTG-IPP), que é responsável pela usabilidade do DentalCV.

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nserid0 numa estratégia de valorização da sua comunidade alumni espalhada pelo mundo, foi iniciado, em setembro de 2013, um processo de identificação dos antigos estudantes da FEUP, com o objetivo de estabelecer um contacto próximo com eles. Este trabalho de aproximação à comunidade alumni está a ser realizado sobretudo através da ferramenta LinkedIn, que tem vindo a mostrar-se eficaz neste esforço de identificação e angariação de verdadeiros embaixadores da FEUP. Até ao momento foram identificados perto de 19 mil alumni através desta plataforma, sendo que mais de 5 mil já se tornaram membros do grupo FEUPLink. “A FEUP acredita no talento dos seus estudantes e aposta continuamente no seu desenvolvimento, mesmo após a graduação. Os antigos estudantes são um público prioritário: o sucesso dos alumni é também o sucesso da FEUP; são eles os seus principais embaixadores. O percurso dos alumni consolida a imagem e atesta a excelência de ensino da instituição a uma escala mundial”, sublinham os responsáveis do Gabinete Alumni da FEUP. Com o objetivo de dinamizar esta comunidade, foram organizados encontros de convívio e networking entre os alumni da FEUP. O primeiro jantar aconteceu em Londres, em outubro de 2013, por ser a cidade europeia com mais registos de membros da comunidade alumni: 250. Mas outras cidades se seguiram em 2014: Berna (Suíça) também se mobilizou e Luanda (Angola) surpreendeu pela dimensão da sua comunidade e pelos projetos que tem já em cima da mesa para os próximos meses. O esforço de acompanhamento destas atividades


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um percurso com os condimentos necessários para um desenlace feliz. E doce. Desde logo, porque envolve chocolate artesanal capaz de deixar incontinentes mesmo as mais preguiçosas glândulas salivares. Depois, porque a receita inclui ainda inconformismo q.b. e uma boa dose de versatilidade profissional, ao ponto de dois antigos estudantes da Faculdade de Belas-Artes da U.Porto (FBAUP) se terem convertido em gestores de uma chocolataria. Falamos de Teresa Almeida e Celestino Fonseca, o casal de empreendedores que, com a sua Equador, deram outra doçura à revitalizada Baixa do Porto. Na verdade, a criatividade é uma das características humanas mais valorizadas pela sociedade contemporânea, sendo inclusivamente considerada um fator de competitividade na chamada economia do conhecimento. Ainda assim, não deixa de ser inusitada a aplicação de talento eminentemente artístico numa indústria alimentar tão particular com a do chocolate. Pois é esse, em

larga medida, o percurso de Teresa Almeida e Celestino Fonseca, cuja formação na FBAUP tem sido a base conceptual e operativa do projeto empresarial Chocolataria Equador. Estudaram ambos na Escola Artística de Soares dos Reis, no Porto, mas a diferença de idades, Teresa nasceu em 1976 e Celestino em 1971, adiou a futura comunhão de vida e de trabalho. Seria a FBAUP a forjar um destino comum, durante uma daquelas “festas fantásticas” que por lá se faziam, confessa Celestino, que então estudava Design de Comunicação (entrou ainda na predecessora Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1991). Já Teresa frequentava, desde 1994, o curso de Artes Plásticas, na vertente de Escultura. Nascido em S. Mamede do Coronado, hoje concelho da Trofa, Celestino provém de uma família com tradições na arte sacra. “Experimentei esculpir madeira mas não era propriamente aquilo em que me sentia mais confortável”. Ao invés, “sempre tive muita vontade de comunicar através de

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desenhos. Desde muito cedo soube que queria desenvolver qualquer coisa nesta área [do design]”, revela Celestino. A portuense Teresa também tinha queda para o desenho e lembra-se de, já em pequena, querer ser escultora. Ambos reconhecem ter exponenciado as suas aptidões na FBAUP, graças sobretudo à qualidade dos professores. “Os inputs que os professores nos davam foram fantásticos para evoluirmos e, entretanto, fazermos o nosso percurso e as nossas escolhas”. Ainda antes de concluir o curso, Celestino já trabalhava como designer por conta própria. Depois, entre 2000 e 2004, pertenceu aos quadros de uma empresa portuguesa de eletrónica,

Fotos: Egídio Santos

PERCURSO


“Percebi que trabalhar um produto não é só comunicação. Tem de ser tudo! E foi isso que fez com que a chocolataria aparecesse”

com funções na área do design. Por fim, liderou o departamento de desenvolvimento de produto de uma multinacional de trading dedicada à decoração e mobiliário de interiores, com sede em Hong Kong. Nesta empresa, “percebi que trabalhar um produto não é só comunicação. Tem de ser tudo! E foi isso que fez com que a chocolataria aparecesse”. Durante todo este tempo, cerca de 12 anos, Teresa deu aulas de Educação Visual no ensino secundário.

RICARDO MIGUEL GOMES

Do desencanto ao empreendedorismo Até que um certo desconsolo se insinua na vida dos dois, servindo de rastilho para a mudança. “Houve um desencanto enorme, não em relação à profissão, mas à forma como eu estava a usar a profissão”, confessa Celestino. E acrescenta: “Como já tínhamos consciência da realidade, desde as nossas profissões ao estado do país, perguntávamo-nos: ‘Para onde é que vamos?’.

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Tínhamos a ideia de criar um negócio, mas não sabíamos que áreas desenvolver”. É por esta altura, em 2007, que a epifania se dá. Numa deslocação a Leiria, por motivos profissionais, Celestino entrou casualmente numa chocolataria para tomar café. “Fui completamente atropelado por chocolate artesanal. Provei e gostei bastante, mas depois percebi que a parte de comunicação era absolutamente miserável: no atendimento, na imagem, na decoração, na limpeza… Então fezse o clique. Pensei: ‘Temos aqui um produto, o resto eu e a Teresa conseguimos fazer’”. Chegaram rapidamente a acordo com o mestre


PERCURSO

“Eu sou uma pessoa mais de fazer, de resolver as coisas. A Teresa é uma pessoa de criar tendências. (...) Desenvolveu logo uma espécie de mood board [painel com fotos, ilustrações formas, texturas, conceitos, cenários, etc.] onde definiu o universo [gráfico]. E eu depois trabalhei sobre isso”

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chocolateiro de Leiria, que lhes passou a fornecer chocolate por grosso. Teresa e Celestino ficaram, por seu turno, responsáveis pelo desenvolvimento do produto final, o que implicava criar uma marca com um determinado conceito e a partir dele o layout gráfico. A fase seguinte seria a comercialização dos chocolates, que foi feita, num primeiro momento, pela internet e em feiras francas. “Aqui veio ao de cima toda a capacidade da Teresa. Eu sou uma pessoa mais de fazer, de resolver as coisas. A Teresa é uma pessoa de criar tendências. Nesse momento, [ela] desenvolveu logo uma espécie de mood board [painel com fotos, ilustrações formas, texturas, conceitos, cenários, etc.] onde definiu o universo [gráfico]. E eu depois trabalhei sobre isso”. Assim nasceu a linguagem retro, com reminiscências dos anos 40/50 reinventadas num contexto contemporâneo, que identifica o projeto Chocolataria Equador. Os chocolates conheceram uma surpreendente procura, que se explica, segundo Teresa, por a Equador trabalhar “com matéria-prima de grande qualidade” e criar “receitas invulgares, com produtos nacionais e sazonais. Temos, por exemplo, um chocolate negro com caril”. Há também outras combinações exóticas com pimenta-rosa, gengibre, chilli ou goji, mas o produto que mais vende é mesmo o chocolate com vinho do Porto. Seguros da volúpia pantagruélica dos seus pirulitos de chocolate, bombons, trufas, cacos, pauzinhos de chocolate, sombrinhas, macarons e tutti quanti, Teresa e Celestino perceberam que o passo seguinte era abrirem uma chocolataria. À partida, havia uma certeza: “Tínhamos de vir para a Baixa”, atira Celestino. “Concebemos este projeto para centros históricos”, salienta Teresa. Isto porque, acrescenta Celestino, “queríamos um sítio que transmitisse a ideia de tempo, a energia que as coisas acumulam com o tempo”. Abriram então, em 2009, a primeira Chocolataria Equador num dos edifícios com patine da Rua de Sá da Bandeira, no Porto. Para tanto, investiram 100 mil euros. Montante financiado em grande parte por um dos diretores da empresa onde Celestino trabalhava e a quem este apresentou o projeto justamente com esse fim, de forma a evitar o recurso a um empréstimo bancário.

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Chocolates com histórias O passo seguinte foi criar o modelo de negócio: “A Teresa desenvolveu a atmosfera da marca,


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A Chocolataria Equador tem uma grande variedade de produtos, todos desenvolvidos em redor de um conceito original.

trabalhavam noutras áreas e mudaram de vida”, diz, a propósito, Celestino. Hoje, o projeto Chocolataria Equador envolve quatro lojas: duas no Porto (Sá da Bandeira e Rua das Flores), uma em Leça do Balio (Centro Empresarial Lionesa) e uma outra em Lisboa (Rua da Misericórdia), com gestão autónoma. Têm também um corner nas caves Ramos Pinto, em Gaia, empresa com quem estabeleceram uma parceria, à semelhando do que fizeram com a Graham’s (criaram um chocolate com vinho do Porto) e a Torrié (desenvolveram uma tablete com uma ganache de café). A faturação em 2014 deverá rondar os 600 mil euros, o que corresponde a um aumento de 140% face a 2013. Por sua vez, a transformação de chocolate deve ter atingido as 20 toneladas, em 2014. Em 2015, vão abrir mais uma loja em Lisboa e há também a intenção de internacionalizar a marca. “Estamos ainda a definir o que, na realidade, queremos exportar. Não queremos vender chocolate; queremos vender o conceito da Equador: o chocolate e a atmosfera que envolve o chocolate, aquilo que ele comunica. [Mas] temos ainda de desenhar o modelo de negócio”, ressalva Celestino, acrescentando que a internacionalização pode passar pela abertura de lojas próprias ou de corners noutros espaços. Em análise está também o projeto para “chegar mais perto da origem do chocolate. Queremos ter um parceiro, de forma a estabelecer acordos com ele de fornecimento de fava [de cacau], que nós transformaríamos com a nossa tecnologia”. De preferência, um produtor de S. Tomé e Príncipe, “devido à nossa relação histórica”. O que ressalta do percurso de Teresa e Celestino é, no fundo, a forma como a sua formação artística funcionou, simultaneamente, como um aguilhão e uma rede de segurança nesta aventura empresarial. “Um criativo que tenha veia comercial é uma espécie de cocktail muito interessante para se progredir. Não chega ser um ótimo artista e estar fechado dentro do atelier. O tempo dos Van Goghs já passou”, afirma Celestino.

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o chocolate artesanal já estava identificado e a partir daí nos quisemos ir mais longe”. Decidiram então que não iam “só vender chocolate”, pois não “faltam marcas por esse mundo fora”. A ideia passou a ser “desenvolver uma história à volta do chocolate, juntar-lhe uma componente de fantasia. Porque o chocolate sai um bocadinho da realidade. Não é como falar de arroz ou massa. O chocolate está muito ligado ao sonho e à fantasia”, explica Celestino. Assim surgiram as aventuras de Álvaro e Joana, personagens infantis que, para lá das peripécias da meninice, se deliciam com o chocolate confecionado por António, mestre chocolateiro e caseiro da Quinta da Eira, na imaginária Vila do Lago. “Ali passam-se aventuras, chocolate e toda a parte gráfica está associada a isso, desde a embalagem ao lettering”, conta Celestino, que é o autor das histórias que acompanham os chocolates da Equador. “Começamos as histórias para depois surgir o produto”, revela. Depois de quase três anos a trabalharem com o investidor inicial, Teresa e Celestino negociaram a aquisição da totalidade da sociedade e passaram a dedicar-se a 100% ao negócio. Mas havia ainda por resolver a questão do fornecedor do chocolate, de quem estavam excessivamente dependentes. Para controlarem todo o processo, abriram em 2011 uma “unidade de fabrico pequenina” em S. Mamede do Coronado, que fornecia “cerca de 30% do que a loja vendia”. Houve então necessidade de envolver mais pessoas no projeto, entre estas o mestre chocolateiro Miguel Tedim, familiar de Celestino, que fez especializações em França já a pensar no projeto Equador. Mas, uma vez mais, o rápido sucesso empresarial obrigou-os a nova evolução. Tornou-se necessário aumentar a produção de chocolate, o que implicava aumentar a capacidade instalada. E foi por isso que criaram uma nova unidade de fabrico no Centro Empresarial Lionesa, em Leça do Balio, a convite da respetiva administração. Paulo Pinto é o gestor da nova unidade, na qual investiu em parceria com Teresa e Celestino. Refira-se que, em Leça do Balio, já trabalham oito pessoas, para além do mestre chocolateiro. “Muito mais do que o sucesso da marca, o que nos orgulha foi darmos emprego a mais pessoas. Numa conjuntura destas, já criámos alguns postos de trabalho. Estamos a falar de pessoas que


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Fotos: Egídio Santos

O inverno de 2013-2014 trouxe mais uma vez à atenção nacional a fragilidade da costa portuguesa. Galgamentos pelo mar das zonas marginais, habitações em risco, desassoreamento de praias, destruição de apoios balneares são, afinal, os efeitos visíveis de um processo complexo que envolve a variabilidade climática e os seus efeitos nos oceanos, mas também a ação humana, em particular a ocupação da zona litoral. Zona ameaçada, o litoral é igualmente um espaço de intervenção preventiva, reparadora e protetora. No quadro da U.Porto, diversos investigadores estudam este espaço de interface entre o mar e a terra, e muitos têm-se progressivamente integrado em centros de investigação multidisciplinar, de que o CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental é exemplo.

PA U L O G U S M Ã O G U E D E S

PORTO, CIDADE, REGIÃO

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dificuldade de entender as dinâmicas costeiras é uma expressão da complexidade da interação dos fatores intervenientes em cada local específico. Apesar da sua formação de bióloga, Ana Bio (CIIMAR) tem-se dedicado à análise estatística de dados sobre a restinga do Douro, uma zona de 800 metros de comprimento por 300 de largura, procurando entender a evolução desta língua de areia ao longo da última década. E explica: “Precisamos de modelos muito locais, onde se devem considerar as condições meteorológicas e oceânicas e a morfologia e orientação da costa”. Apesar de 14 campanhas de recolha de dados, frisa que os seus trabalhos incidem sobre uma série temporal muito curta e que os dados que obtém não estão completos. Helena Granja (Universidade do Minho e CIIMAR) é geóloga, autora de diversos trabalhos sobre a evolução das zonas costeiras em relação com a variabilidade climática, e confirma: “Cada segmento costeiro tem a sua especificidade, se bem que isto não negue que se deva pensar globalmente, em termos de soluções e propostas de gestão da costa”.


Dunas consolidadas e praia de seixos rolados - Belinho, Esposende.

ondas”. Esta rotação, avisa, terá certamente efeitos locais no processo de erosão e, também, na corrente de deriva que é responsável pela alimentação sedimentar das praias.

A PREVISÃO FACE À VARIAÇÃO

Escadaria para as vagas - os degraus do “banho santo” em S. Bartolomeu do Mar, Esposende.

Embora as variações do nível do mar ao longo dos últimos cem anos sejam muito acentuadas, outras variações sensíveis se registaram em diversos períodos históricos. Estaremos, então, perante mudanças que se poderão agravar, em conexão com as alterações climáticas, neste finis terrae que é a costa portuguesa? Isabel Iglesias, climatologista do CIIMAR, esclarece: “A industrialização, a poluição, tudo o que foi gerado pelo homem são importantes fatores de alteração do clima, mas a Terra sofreu ao longo da sua história vários períodos glaciares e interglacia-

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É precisamente à aquisição e interpretação de dados locais que os investigadores do CIIMAR se dedicam, recorrendo a múltiplas fontes de informação: sensores baseados em localização por satélite, dados recolhidos por veículos autónomos, aéreos ou marítimos, marégrafos e ondógrafos, fotografia aérea, registos meteorológicos e, até, documentos históricos. Também o comportamento das estruturas de proteção marítima é analisado, como nos explica José Alberto Gonçalves (FCUP e CIIMAR), que desenvolve processos de aquisição rigorosa de dados topográficos: “Utilizando veículos aéreos autónomos, podemos perceber, através da movimentação dos blocos usados nas construções de defesa costeira, as variações que as construções sofrem por agressão do mar”. Ana Bio destaca a orientação da costa como sendo a característica predominante no processo de erosão, “devendo esta ser analisada face à direção das ondas e dos ventos, que são fatores variáveis. Os nossos estudos revelam-nos que, no decurso da última década, assistimos a uma rotação para oeste de cerca de 5 graus na direção principal das


PORTO, CIDADE, REGIÃO

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res. Assim, antes de falarmos de ‘alterações’, não nos podemos esquecer da própria variabilidade climática. Como possuímos apenas cem anos de registos, é impossível traçar uma tendência que seja fiável”. Fernando Veloso Gomes, engenheiro civil (FEUP e CIIMAR), tem dedicado a sua vida às questões da proteção costeira, e é um dos gurus dos estudos nacionais desta área. Lidera o grupo de Modelação e Gestão Costeira do CIIMAR e manifesta dúvidas similares: “Nos sistemas costeiros, existem impactos [da subida do nível das águas do mar] nas bacias hidrográficas que já começaram a fazer-se sentir, mas não sabemos de que forma os modelos oceanográficos globais se transpõem para o nível regional e local. É certo que os nossos instrumentos de previsão são, relativamente aos que havia há 20 anos, muito melhores; mas, por outro lado, a consciência da complexidade das situações leva-nos, afinal, a ter uma menor capacidade de previsão agora do que aquela que julgávamos ter nessa altura”. Referindo a curta série temporal dos dados obtidos, nota que “não existem provas de que o número de temporais esteja a aumentar em Portugal – a previsão de eventos extremos numa escala de dezenas de anos continua a ser muito difícil. No Douro, por exemplo, temos registos com mais de trezentos anos, mas não sabemos quando será a próxima cheia; apenas temos probabilidades”. Várias ações recentes, quer a nível do poder central quer do poder local, têm vindo a alterar o perfil das zonas costeiras. Veloso Gomes propõe-nos uma leitura positiva: “O que é que se ganhou nestes últimos 20 anos? Antes de mais, o controlo da expansão urbana. Em 1992, quando foram estabelecidas as competências do Ministério do Ambiente sobre as zonas costeiras, o que estava previsto a nível urbanístico – em relação com o boom imobiliário e sem planos de ordenamento – era um caos total. Nessa altura, existiam projetos de urbanização de zonas que hoje estão submersas! Com muito custo, conseguiu-se impedir a expansão de frentes urbanas em zonas de risco. Claro, elas lá existiam anteriormente: Esmoriz, Cortegaça, Furadouro, Espinho, etc. Em segundo lugar, a requalificação das orlas costeiras. As dunas nas regiões Centro e Norte estavam dramaticamente degradadas pelo pisoteamento ou por veículos de todo o terreno. Hoje, existe um grande trabalho realizado de proteção e requalificação de dunas

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“Não existem provas de que o número de temporais esteja a aumentar em Portugal – a previsão de eventos extremos numa escala de dezenas de anos continua a ser muito difícil”.

Fixação de duna através de vegetação em S. Bartolomeu do Mar.

e marginais urbanas que abriu estes espaços ao usufruto por parte das populações”. A opção pela proteção do litoral terá, contudo, que contender com o ‘mercado’ e as mentalidades. Se bem que a atitude preventiva – informada por procedimentos de avaliação ambiental – já esteja consagrada nos planos de ordenamento da orla costeira, restringindo a construção na proximidade do mar através da delineação de faixas de proteção, os ‘direitos adquiridos’ ainda são permissão para a construção em zonas de risco. Veloso Gomes ironiza: “Provavelmente o argumento de ‘direitos adquiridos’ será válido juridicamente, mas é pouco provável que o mar seja sensível à decisão do tribunal – aliás, já rondou os muros exteriores de um condomínio no Furadouro cuja edificação foi autorizada apesar de pareceres negativos de todas as entidades”. O outro desafio, prossegue, será impedir a densificação de espaços atualmente urbanizados: “Havendo uma restrição do espaço onde se permite a construção, estes terrenos próximos do mar aumentam de valor e, com a continuada pressão imobiliária, a tendência será construir em altura onde antes existiam pequenas edificações. Vamos ter que contrariar esta tendência”.


Praia de seixos - S. Bartolomeu do Mar.

O frágil cordão dunar que separa o mar dos campos de cultivo, em S. Bartolomeu do Mar.

RECUAR

Diversas obras de defesa marítima têm marcado o litoral português: algumas têm assegurado a permanência de povoações e mesmo de centros urbanos, como é o caso de Espinho, que recebeu as primeiras obras de proteção no início do século XX. Mas os efeitos negativos de muitas dessas estruturas são evidentes, mesmo aquelas que parecem querer limitar os conhecidos problemas de interrupção da deriva de sedimentos. Luísa Bastos, engenheira geógrafa da FCUP que lidera o grupo de Dinâmica Costeira e Oceânica do CIIMAR, tem acompanhado de perto a evolução da costa de Gaia a Espinho e dá o exemplo do quebra-mar construído na Aguda, em que “a manutenção parcial da ligação à terra provocou a norte um assoreamento que se tem acentuado cada vez mais, enquanto a sul, na zona das piscinas da Granja, a costa se mantém praticamente sem areia, apesar da alimentação artificial que aí tem sido feita”. Outras soluções de proteção costeira, de caráter mais suave, poderiam ser testadas: por exemplo, propõe Luísa Bastos, os geotêxteis, que são tubos de material sintético que podem servir como quebra-mares submersos, atenuando a energia das ondas, ou na base de dunas artificiais, criando núcleos de acumulação de areia. Talvez, então, as obras ‘pesadas’ de defesa costeira tenham tendência a ser cada vez mais restringidas às zonas urbanas consolidadas, tendo o restante território possibilidade de fazer outras escolhas.

Aviso na praia de Cedovém, Esposende.

(1) Desde 2008 que as ações de “requalificação e valorização de zonas de risco e de áreas naturais degradadas situadas no litoral, em espaços de intervenção prioritária” têm sido realizadas no âmbito do programa Polis Litoral. No Norte, este programa abrange os municípios costeiros de Esposende a Caminha; mais a sul, o Polis Litoral Ria de Aveiro abrange a costa de Mira a Espinho.

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DEFENDER

Se abandonar as zonas em risco parece ser a solução mais fácil, a exiguidade de ações nesse sentido revela o contrário. Exceto em alguns casos pontuais, como na ilha da Fuzeta, no Algarve, a retirada não tem sido a norma. Veloso Gomes recorda que, no âmbito do Polis Litoral Norte (1), foi assumida a retirada planeada das populações de S. Bartolomeu do Mar, Pedrinhas e Cedovém, mas que a única que se concretizou foi a de S. Bartolomeu do Mar, abrangendo 27 habitações. Nos restantes casos, reflete, as demolições não foram possíveis “ou porque não houve a perceção de que era preciso pensar nas condições práticas da retirada, ou porque as populações se opuseram e os políticos não quiseram avançar num assunto que lhes poderia custar a perda de votos, ou mesmo das eleições”. Na realidade, prossegue, “não vejo viabilidade jurídica e social de proximamente se fazer mais”. Mas, mesmo em S. Bartolomeu do Mar, outros problemas surgiram: “Existia naquele local uma tradição de mergulhos rituais no oceano que tinha como centro uma zona em terraço que terminava num anfiteatro natural perto do mar. Para tornar possível a sua continuidade, estabeleceu-se esse terraço como uma zona de defesa, transformando o anfiteatro numa construção em degraus”. A duna onde as casas se situavam, curta barreira que separa o mar dos campos de cultivo, foi consolidada, mas as perspetivas não parecem sorridentes. “Uma vez que naquela zona há muito pouca areia, será uma questão de tempo até a duna desaparecer, e o mar certamente avançará até às casas seguintes. Neste processo, é certo que não ficámos com o problema inteiramente resolvido, mas aprendemos que os terrenos têm ligações simbólicas à memória das populações que não são facilmente destruíveis”, sublinha Veloso Gomes.


PORTO, CIDADE, REGIÃO

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REPARAR

Cedovém - uma povoação piscatória de Esposende enfrenta o mar.

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Residências de férias das Pedrinhas vistas de Cedovém: proteger a norte para condenar a sul.

A alimentação artificial das praias com areia, quer por razões de resiliência do perímetro costeiro, quer por razões balneares e turísticas, tem sido colocada em prática em diversos pontos da costa portuguesa. Mas o grau de sucesso é variável: se no Algarve a alimentação artificial parece ter tido resultados razoáveis no que diz respeito ao tempo de permanência da areia na praia, na costa Oeste a situação é diferente. Luísa Bastos reitera a necessidade de “medir e monitorizar para perceber, e só depois intervir – sem este trabalho prévio, todas as intervenções são cegas. A Costa da Caparica é um exemplo de alimentação de areia que parece não resultar, mas que não deixa de ser repetida”. Helena Granja faz notar que “um projeto de alimentação – se existe – tem que respeitar a dinâmica das praias, que geralmente já estão com um declive muito acentuado, e a recarga deverá ser feita também na zona submersa, até aos -5 metros, no mínimo.” No Porto, a alimentação que se realizou na zona do Castelo do Queijo, onde um terço do areal é artificial, foi descontinuada porque a areia se movimentava para norte, assoreando a entrada do porto de Leixões e espalhando-se pela marginal de Matosinhos. “Não fosse a ocupação humana”, graceja Veloso Gomes, “teríamos ali um belo cordão dunar”. Mas o engenheiro não desiste: “Estamos a estudar uma forma de manter a areia na praia através de um pontão de uso urbano”. E confessa: “afinal, estamos num processo de aprendizagem. Mesmo a Holanda, que tem uma experiência de 25 anos em alimentação artificial, ainda está a fazer testes: acumulou 20 milhões de metros cúbicos de areia num só local, unicamente para deixar o mar distribuí-la”. O certo é que a alimentação artificial está em Portugal para ficar: “Vamos ter que ter uma política de colocação de areia, seguindo o exemplo dos holandeses que, nos últimos 20 anos, não têm construído nenhum esporão, optando por defender uma linha de base, dinâmica, contra o avanço do mar: colocam areia para a linha de costa avançar, avanço esse que o mar se encarrega de voltar a reclamar num intervalo médio de 5 a 10 anos. E repetem a operação”. Mas Portugal tem um problema suplementar: a falta de areia, para a qual se tem apontado como causa a diminuição do aporte sedimentar dos rios. Helena Granja refere que isso não sucederá – como muitos têm avançado – pela retenção dos sedimentos nas barragens, mas mais provavelmente por efeito da redução dos caudais. Em resultado

dessa diminuição de sedimentos, “as próprias obras de defesa costeira começam a ficar minadas e podem vir a cair. A maior parte destas obras não tem fundação em rocha, embora algumas a tenham, como por exemplo a marginal de Espinho. Mas já os esporões de Espinho foram construídos sobre fundos móveis”, revela Veloso Gomes. S. Bartolomeu do Mar visto da duna que o protege do oceano futura zona em risco?

EPÍLOGO A erosão da costa continuará a ser combatida em diversas frentes, com “as potencialidades e limitações de qualquer intervenção, não existindo soluções perfeitas, seja a retirada de populações, seja a alimentação artificial das praias, seja a construção de barreiras. Temos que combinar soluções: ao nível do planeamento, da intervenção no terreno, da sensibilização das populações... É uma mistura complexa, que também exige equipas multidisciplinares”, conclui Veloso Gomes. Mas “a pressão antrópica sobre o litoral vai continuar a aumentar, assim como a pressão para a exploração dos recursos costeiros para fins económicos, incluindo os turísticos”, sublinha Luísa Bastos. Infelizmente, já vários valores turísticos desapareceram sem aviso. “Há vinte anos, quem seria capaz de prever que o litoral do concelho de Esposende a norte da barra do Cávado estaria hoje sem areia?”, pergunta Veloso Gomes, consciente dos limites da clarividência científica. Mas pressente-se a sua preocupação na difícil ligação entre o rigor da avaliação e a exigência da ação: “A nossa incapacidade de previsão não pode impedir uma ação preventiva. Senão, podemos correr o risco de agir tarde de mais.”


MONTRA DE LIVROS

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ENSINO EXPERIMENTAL DAS CIÊNCIAS

UM GUIA PARA PROFESSORES DO ENSINO SECUNDÁRIO-BIOLOGIA GEOLOGIA

NÚMEROS

ANTÓNIO JOAQUIM ESTEVES

JOSÉ CARLOS SANTOS

António Joaquim Esteves, doutorado em Sociologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma), lecionou na Faculdade de Economia da U.Porto durante 25 anos (1974-2009) e é atualmente docente de Sociologia na Faculdade de Letras da nossa Universidade. O autor reúne um conjunto de textos que abordam o início da construção da sociologia. Recusando a hegemonia do racionalismo e da razão, os textos reunidos procuram descrever, explicar e orientar as diversas práticas sociais. Da macro ao micro, do considerado por muitos como o “pai da Sociologia”, Émile Durkheim a Simel, da moral de Westermarck à educação do português António Sérgio, não faltam razões para estes autores recusarem à razão o poder de descrever, explicar e orientar as diversas práticas sociais. Por mais que a vida social seja complexa e resistente à abstração, os caminhos da construção sociológica não podem abdicar de acompanhar em paralelo, sem garantias de cruzamento ou coincidência, os percursos da razão, da emoção e da prática.

O estudo das propriedades dos números e das operações aritméticas forma uma parte considerável da Matemática ensinada no ensino básico e no ensino secundário. Este livro aborda esse estudo de uma forma sistemática, começando nos números naturais, passando pelos números inteiros, racionais e reais, e terminando nos números complexos. O conceito de número não é estático. Este livro não é um livro da História da Matemática mas o autor procura, sempre que possível, enquadrar historicamente o aparecimento de conceitos e demonstrações ligadas aos números, dando-se referências bibliográficas para quem pretender aprofundar o estudo histórico dos vários tópicos abordados. José Carlos Santos licenciou-se em Matemática Pura na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) e doutorou-se na área da Teoria das Representações na Universidade de Paris VII – Denis Diderot. Atualmente, é Professor Auxiliar no Departamento de Matemática Pura da FCUP.

U.PORTO EDITORIAL

U.PORTO EDITORIAL

ANTÓNIO GUERNER DIAS, BENEDITO CALEJO, JOSÉ PISSARRA, LUÍS GUSTAVO PEREIRA, MARIA MANUEL LOUREIRO GOMES, MARIA JOÃO FONSECA, SUSANA PEREIRA U.PORTO EDITORIAL

Esta obra destina-se, essencialmente, a professores de Ciências do ensino secundário, centrando-se no trabalho prático e experimental. Procura apontar alguns caminhos que permitam contribuir para a dinamização do trabalho prático, com recurso aos equipamentos e materiais que se encontram disponíveis nos laboratórios de ciências das diferentes escolas. É dedicada particular atenção a algumas das mais modernas tecnologias experimentais, respeitando sempre as normas e recomendações de funcionamento em ambiente laboratorial e discutindo aspetos específicos do ensino experimental em Biologia e Geologia. António Guerner Dias é professor auxiliar do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da Faculdade de Ciências (FCUP). Benedito Calejo é professor convidado no ISMAI. José Pissarra é professor associado do Departamento de Biologia da FCUP. Luís Gustavo Pereira é professor auxiliar do Departamento de Biologia da FCUP. Maria Manuel Loureiro Gomes é professora de Biologia e Geologia na Escola Básica e Secundária de Baião. Maria João Fonseca é assessora de comunicação no CIBIO-InBio Laboratório Associado. Susana Pereira é professora associada do Departamento de Biologia da FCUP.

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CONSTRUÇÃO DA SOCIOLOGIA RAZÃO, EMOÇÕES E PRAGMATISMO


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Sei que os campos imaginam as suas próprias rosas. As pessoas imaginam os seus próprios campos de rosas. E às vezes estou na frente dos campos como se morresse; outras, como se agora somente eu pudesse acordar. (…) Herberto Hélder

Em quatro anos, na esfera da U.Porto, o número de voluntários aumentou 75%. A crise, a responsabilidade social, a reação afetiva, a aprendizagem cívica e profissional de quem está a “crescer em vários sentidos”… Razões mil, certo é que a Comissão de Voluntariado da U.Porto foi criada em finais de 2009, em 2010 registou 1011 voluntários no terreno e, em 2014, o número subiu para cerca de 1.800. Mãos que se multiplicam e corpos que se reveem nas crianças e mães de infância subtraída, nas velhices em desassossego, nas vidas no extremo da frugalidade… Orfandades várias. Abrimos a porta para o que, habitualmente, não se mostra. É fator de mudança e de transformação do mundo que nos rodeia, mas vive de debilidades privadas. É pessoal e intransmissível. Uma espécie de alinhavo; bainha por trás da dobra que permite caminhar em frente. São notícias que circulam pouco. Bem-vindos ao lado bom que há em nós.

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eresa Pinho olhou para o relógio e aceleramos o passo. “É importante chegar a horas”. Tem 28 anos e é voluntária há dois. Ainda não tem filhos, mas quer ter. Planos para um futuro que também há de trazer um doutoramento na FEUP (em Engenharia Química). Foi o lado maternal do A.M.A. – Apoio a Mães Adolescentes que a fez optar por este tipo de voluntariado do G.A.S. Porto (Grupo de Ação Social do Porto). Chegámos à hora marcada. À hora do colo. À hora do brinquedo e do banho. À hora em que chegam as mães e os abraços mais apertados. E o cheiro a pó de talco nos diferentes andares da instituição que acolhe mães adolescentes. O Daniel tem cinco meses e a mãe 14 anos. Veio de Évora. A Maria Anita oito meses e a mãe 16 anos. Cascais. A Clarissa tem sete meses e a mãe 18 anos. Marco de Canaveses... Os exemplos repetem-se, os nomes são fictícios, as histórias não. Vêm de todo o país. Algumas já têm emprego, outras estão a tirar cursos (técnico-profissionais). É o caso da Daniela (mais um nome fictício). Escolheu o quarto para conversar. O berço fica mesmo ao lado da cama com lençol de cores vivas. Sentámos na beirinha. A serenidade do discurso e a linearidade dos gestos não deixam adivinhar os 17 anos. Tinha 14 quando chegou, grávida, de

Santa Maria da Feira. Tinha o 8o ano. Agora está no 11o de um Curso de Auxiliar de Saúde. Não acredita que tivesse voltado a estudar se não fosse a instituição. “Há coisas que não são fáceis e se há dias em que estamos mais preparados para isso, há outros em que vamos abaixo”. E pode até ter tendência para se resguardar, mas já aprendeu a pedir ajuda. “Aqui há sempre alguém que nos dá a mão e não deixa cair”. Enquanto está nas aulas a filha, Leonor, outro nome fictício, fica no infantário. Vai buscá-la ao final do dia. A presença de Teresa Pinho é uma “grande ajuda”. Chega na hora de maior trafego na cozinha e nos quartos, com a preparação dos bebés para o banho, mas traz outras vantagens: uma relação

mais pessoal do que com as técnicas da instituição. “São pessoas de fora. Sentimo-nos mais à vontade. São carinhosas e estão sempre a dar conselhos”. “Carinho” e “conselhos” foram as palavras-chave para falar de outras duas voluntárias: Joana Coelho e a mãe, Maria da Glória. “O trabalho com os bebés e com as mães é no sentido de fomentar a relação mãe/filho. Dar o exemplo”. Joana Coelho especifica: “Há crianças institucionalizadas que carecem de uma maior estimulação. Trabalhamos isso… Ajudar a perder o medo que dá cuidar de um bebé”. A mãe, Maria Glória, 53 anos, voluntária há quatro, tem duas filhas gémeas e experiência de sobra para lidar com estas “mães adolescentes que são crianças obrigadas a crescer à pressa, de famílias com problemas graves e que precisam de ajuda. É uma experiência muito boa e uma aprendizagem”. É “uma escola de vida”, acrescenta Joana Coelho. “O G.A.S. Porto muda vidas. A humildade, o carinho, a união, a aceitação do outro, a responsabilidade, o compromisso são valores dominantes. Permitiu-me um crescimento pessoal grande”. Quanto à mãe: “A transformação foi brutal. Tem uma nova família de quem cuida, mas que também cuida dela. É um novo sentimento de pertença. Ganhou uma nova luz”. Para a instituição de inserção social de jovens mães envolvida no projeto A.M.A., os voluntários trazem também uma visão renovada da realidade. “São olhos que vêm de fora e captam o que nos pode escapar, o que ajuda a rever e repensar a intervenção. Estão dispostas a ouvir e aqui entram os desabafos, há outra proximidade”, acrescenta Joana Dória, técnica psicossocial da instituição. “Nós somos as figuras de autoridade. Impomos regras. As voluntárias também representam outro percurso de vida. Funcionam como modelos”.

A N A B E L A SA N TOS

EM FOCO


Projeto A.M.A. - Apoio a Mães Adolescentes (G.A.S. Porto).

assume o comando das operações. Tira as medidas à mancha de humidade, “e foi de um dia para o outro”, ali mesmo junto à janela. Resultado das primeiras chuvas de inverno. A filha, também voluntária no G.A.S. Porto, foi quem o iniciou nestas “andanças”. Na sala estão ainda Tiago Miranda, de 28 anos e voluntário há seis, e João Nuno Ribeiro, de 27, e cinco anos de experiência no voluntariado, ambos antigos estudantes da FCUP. A trincha está à espera. No dia anterior tinham lá estado estudantes da FEUP a tratar das infiltrações. “Estamos a tornar a sala mais bonita e acolhedora”, diz-nos Beatriz. Depois das pinturas vão colocar uns estores de interior. “E vamos ver o que ainda podemos fazer no quarto... É pôr a casa bonita. Para lhes dar alguma felicidade”. A mãe, Carla, de 41 anos, tem o 9.o ano de escolaridade e está desempregada. Vive com a Débora e outras três filhas adolescentes. Quer ajudar os outros, assim como a ajudaram a ela. Quando acabar esta “luta ao lado da filha”, tem uma promessa a cumprir, uma missão: “Quero ser voluntária”.

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No país e fora dele São mais de 400 voluntários no terreno. A caminho do 13.o ano, o Grupo de Ação Social do Porto subdivide-se em dois: G.A.S. Porto Jovens (dos 18 e os 26 anos), maioritariamente estudantes universitários a intervir nas áreas educativas e socioculturais; e o G.A.S. Porto Abrigo, com voluntários que já iniciaram a sua vida profissional. Para além do público-alvo já identificado, o G.A.S. Porto tem outros projetos para idosos, para cidadãos com deficiência mental, crianças e jovens institucionalizados ou provenientes de contextos vulneráveis e sem abrigo da cidade do Porto. Fora do país, intervém na área social, saúde, educação e engenharia. 19

Reinventar o possível “Não tenho cabelo, uso cabeleira! Não tenho sobrancelhas, uso lápis! Não tenho pestanas, uso postiças! Quero a Débora de volta!” (Facebook/10 de junho). “Hoje foi dia de transfusão! A anemia baixou desde terça-feira e as plaquetas subiram, mas muito pouquinho! (…) Aproveito sempre para dormir enquanto faço a transfusão! Acordo tão cedo que chego ao hospital com sono!” (8 de agosto). A cor que puxa o lustro ao ânimo possível e as dicas de maquilhagem convivem, na página do Facebook de Débora Filipa (nome verdadeiro), com as manifestações da doença oncológica que mudou a vida desta jovem de 22 anos. Foi uma entrevista em tons de rosa e lilás, as cores que predominam no quarto. Com sorrisos largos e uma almofada de afeto que a mãe, sempre por perto, aconchega. Ao lado da cama, onde passa os dias, está o tocador branco com os seus batons e pinceis. Também gosta de usar verniz e o que tem nas unhas já está a descascar… “Logo hoje que tenho mais três TACs para fazer”. Enquanto olhava para os dedos explicava que já não tem anéis que lhe sirvam. Nem um casaco e umas botas… Nesta fase de corpo em metamorfose. Um jantar de angariação de fundos permitiu comprar tintas para pintar o quarto, mas a humidade venceu o braço de ferro, problema que só as obras no exterior do prédio camarário podem resolver. O RHIS – Reabilitação Habitacional e Intervenção Social, do G.A.S. Porto, é um projeto atento às condições de habitabilidade e problemas sociais dos idosos (concluiu dez intervenções, de baixo custo, e tem outras 12 programadas), mas aceitou este “caso excecional”, diz-nos Beatriz Portilho. Tem 29 anos, o curso de Arquitetura, e é voluntária há seis. Beatriz não está sozinha na sala. Na construção civil “desde miúdo”, Fernando Ribeiro é quem


EM FOCO

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Elementos do projeto RHIS (G.A.S. Porto).

02 Obras de reconstrução de um infantário Moçambique (EpDAH). 03 Kukula (complemento à educação escolar) - Moçambique (G.A.S. Porto).

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04 Internato de Macia Moçambique (EpDAH).

Cristina Pinto Gago tem 28 anos, o curso de Medicina, trabalha há 11 anos como voluntária e é membro da direção do G.A.S. Porto. Conhece bem a missão em Timor. “Começámos em Díli mas depois seguimos para as montanhas. Temos, desde 2008, um jardim infantil e um ATL a funcionar com professores aos quais demos formação. Lecionamos cursos de português, matemática e ciências”. Há também um projeto de saúde e de combate à tuberculose. “É das principais causas de morte e de baixo rendimento e produtividade em Timor”, acrescenta. “Através de uma parceria com um hospital conseguimos trabalhar com doentes isolados. Vamos em clínicas móveis. Temos monitores que formamos e que ajudam durante todo o ano a fazer prevenção, diagnóstico e tratamento”. Quando regressam ao terreno redesenham o projeto consoante as necessidades e escolhem novos locais de intervenção. “Neste momento temos dois monitores em Timor e três em Moçambique”, onde os projetos também se mantêm por um ano. Levanta-te e Anda, em parceria com a Igreja católica, resultou num centro de reabilitação para crianças subnutridas até aos três anos. “Há outro projeto de apadrinhamento de crianças órfãs, ou em situações de grande vulnerabilidade, que se chama Crescer de Mãos Dadas. Quem apadrinha está a apoiar atividades escolares, alimentação, saúde e higiene. Temos 78 crianças apadrinhadas”. Mais projetos: o Kukula, significa Crescer no dialeto Changana e funciona como um complemento à educação escolar; e um outro em Muchabje, bairro pobre de Macia onde já fazem voluntariado há 12 anos, tendo já apadrinhado crianças, reabilitado uma bomba de água e, com o apoio de uma empresa portuguesa, construído uma escola primária.

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Engenharia e assistência humanitária Os olhos faíscam entusiasmo e as mãos desatam a fazer construções no ar quando fala do Internato Feminino de Vila da Macia, na Província de Gaza, em Moçambique. André Pinto tem 27 anos e faz voluntariado há quatro. É estudante de Engenharia Eletrotécnica da FEUP e ajudou na reconstrução de um edifício onde a EpDAH – Engenharia para o Desenvolvimento e Assistência Humanitária decidiu intervir. É uma associação de voluntários com quatro núcleos (Aveiro, Lisboa, Coimbra e Porto) e delegações em diversas universidades, sendo que a FEUP faz parte do núcleo do Porto. Em 2013, contribuiu com 24 voluntários. Desenvolvem atividades profissionais voluntárias e solidárias no domínio da engenharia. O internato acolhe 40 crianças do sexo feminino e uma equipa monitora de dez irmãs Franciscanas de Nossa Senhora (parceiro local do projeto). Foram os estudantes da FEUP que apresentaram o projeto, fiscalizaram a obra e deram formação local. Dificuldades? “Várias”, responde André Pinto, nomeadamente na leitura das plantas. “Paredes levantadas fora do sítio, um corte de uma viga que não deveria ter sido feito. Todos os dias havia uma surpresa” [sorrisos]. Autarkeia é o nome de outro projeto que levou André Pinto até uma aldeia perdida em Moçambique: Malonguete, na província de Gaza. “Uma província muito pobre, junto à fronteira com o Zimbabué, com uma povoação de 700 pessoas, sem água potável e sem eletricidade. As casas são palhotas feitas de madeira e telhado de colmo”. Angariam fundos, compraram materiais e construíram “uma sala de aula, com cimento e chapa de zinco. Ensinámos técnicas que pudessem replicar. Na primeira fase, a construção foi em tijolo e chapa. Depois, construímos um pequeno posto de saúde em adobe, recorrendo a terra dos formigueiros e água”. Sempre em colaboração com os moradores. A próxima fase será captar água de um lençol freático que passa a 50 cm de profundidade, para ajudar a “desenvolver os quintais – machamba –, nome moçambicano para quintalinho. Por cá, também vão tentando dar respostas… Só mais dois exemplos: Tectus (parceria com a Paróquia de Vilar de Andorinho para a reconstrução de habitações destinadas a acolhimento temporário de famílias necessitadas) e Tellus (recuperação de infraestruturas do Centro Juvenil de Campanhã para otimizar a produção alimentar). Crescer em todos os sentidos Se os conhecimentos de engenharia e de arquitetura podem ser preciosos para o voluntariado, o mesmo se aplica à medicina. É assim que pensa Ana Rita Leite, de 22 anos. O que move esta estu-


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Foi com o projeto Vou crescer que Ana Rita Leite colaborou de forma mais próxima. “Há crianças de famílias destroçadas e quando um miúdo, que sabemos que tem toda aquela carga, encontra alegria, brinca e ri … Penso logo que eu não posso estar triste”. Um irmão mais velho “Crianças reais não são abstrações impressas numa página. Vivem, riem, choram, gritam, fazem birras e questionam os adultos. Observe as crianças. Escute-as (…) Olhe também para a criança que foi e tente compreender o que fez com que seja a pessoa que é”. A mensagem está nos conteúdos programáticos do projeto de Voluntariado Estudantil, ao qual Mário Xavier se associou. Está no 5.o ano de Engenharia, tem 21 anos e vontade de “mudar as coisas” no alcance que lhe é permitido. Está enquadrado no Programa Educativo Porto Futuro, da autarquia portuense, um projeto de combate ao abandono e insucesso escolar nos ensinos básico e secundário. O projeto começou em 2007, com 15 voluntários, em 2014 contou com 200. Através de um acompanhamento personalizado, os estudantes universitários ajudam nas dificuldades de aprendizagem dos alunos do ensino básico, neste caso concreto dos agrupamentos de Alexandre Herculano, de Aurélia de Sousa, do Infante D. Henrique e de Rodrigues de Freitas (Escola Secundária de Rodrigues de Freitas e EB de Miragaia). Rita Cerqueira tem 17 anos, é de Amarante e está no 1.o ano do curso de Ciências da Comunicação. “Já fiz voluntariado com crianças e idosos, gosto de poder ajudar e, como estou no primeiro ano, também é uma forma de me integrar na cidade”. O mesmo funciona para Larissa, Bianca e Taís, estudantes da FLUP e da FCUP que já faziam voluntariado no Brasil. Emanuell Freire, também 21

dante do 4.o ano do ICBAS é “colocar a render as capacidades em prole da sociedade. Dar um pouco de si e melhorar o pequeno mundo à sua volta”. É voluntária há três anos e vice-presidente da VOU – Associação de Voluntariado Universitário, fundada em 2008 por um conjunto de estudantes que estava “na idade em que se cresce em vários sentidos”. Contam com 2.100 voluntários inscritos e 180, de momento, no ativo. Muitos da área da medicina, outros não: “Áreas muito diferentes e com muito potencial para além do estudo”. Quiseram rentabilizar “talentos para, em conjunto, ajudarem a vários níveis. É uma união de capacidades e motivações”. Organizam-se em três grandes planos: Vida, Ponte e Plano Mundo. O vou pelos animais, por exemplo, está inserido no Plano Vida e traduz-se em equipas de voluntários que se deslocam aos albergues de animais para ajudar nas tarefas; fazem recolha de ração e promovem outras iniciativas como o flash mob para divulgar o projeto. Vou socorrer dá formação de primeiros socorros; Vou with the flow organiza concertos para angariar fundos; Vou ser melhor que um prozak dirige-se a pessoas com problemas psicológicos. A ideia é ir às instituições e passar tempo com as pessoas: “Cozinhar, pintar as unhas, dar-lhes uma atenção especial”. O Vou acompanhar é para idosos sinalizados por juntas de freguesia. “Mais sozinhos e sem apoio familiar. Vamos às compras, fazemos companhia…” O projeto Vou crescer, do Plano Ponte, envolve crianças “em contextos socioeconómicos complicados (institucionalizados ou em ATL) a quem damos uma atenção personalizada… A brincar, ajudar a fazer os TPC...”. Têm ainda o projeto Pirueta, com voluntários que vão dar uma aula de dança, e o KaratéKids, atividade que o próprio nome indica.

“Há crianças de famílias destroçadas e quando um miúdo, que sabemos que tem toda aquela carga, encontra alegria, brinca e ri … Penso logo que eu não posso estar triste”

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U P O RT O A L U M N I 2 1

brasileiro, é finalista do curso de Direito e quer especializar-se na área das Ciências Forenses Investigação Criminal e Comportamento Desviante, “intervindo junto de crianças, para ajudar no sucesso escolar e na prevenção de comportamento delinquente”. Joana Anselmo tem 22 anos e este é já o 4.o ano de uma “experiência produtiva” no agrupamento de escolas Infante D. Henrique. “Não queremos que nos vejam como um professor, mas como alguém com quem podem ter uma relação de amizade. É difícil ao início, mas a longo prazo percebemos que não somos só nós a dar um contributo, também há um retorno. Funcionamos como exemplo”. Uma espécie de irmã, ou irmão mais velho, é o que se espera dos estudantes que, para além do exercício de cidadania, estão a desenvolver competências educativas complementares à formação. Para os alunos do secundário, este acompanhamento do estudo reverte a favor da sua autoestima e permite o contacto com uma realidade que funciona como desafio. Rasga perspetivas no horizonte.

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Formação Social e Humana para futuros médicos A ideia surgiu-lhe há muitos anos. Docente da FMUP, Manuel Nuno Alçada sempre achou que um futuro médico deveria ter “formação social e humana”. Contactar com pessoas e situações que desconhece, mas com as quais vai ter de saber interagir quando estiver no mercado de trabalho. “[Os médicos] vão confrontar-se com realidades muito duras que acham que só acontecem nos filmes, ou em países subdesenvolvidos”. Lançou então a proposta de uma disciplina de Formação Social e Humana na FMUP, posteriormente aprovada como unidade opcional do curso de Medicina. Agora, tem 150 estudantes inscritos que vão fazer 50 horas de voluntariado por semestre. A avaliação é feita pela instituição. “Para terem nota máxima não podem faltar mais de 5% do total de horas. Estamos a lidar com pessoas carenciadas e que estão à espera da visita. Uma ausência será mais um abandono”. A responsabilidade, o cumprimento das normas e o respeito pelo outro fazem parte dos parâmetros que entram para a avaliação. Manuel Nuno Alçada tem um longo percurso de voluntariado, lidou com milhentos casos, desde a menina institucionalizada após a primeira menstruação, por receio de gravidez caso continuassem no seio familiar, a idosos sem mobilidade e sem dinheiro para medicação. Mas há uma imagem que nunca esqueceu: o sorriso de uma criança enquanto estava a distribuir corne-

“ Quando perguntaram o motivo de tanto entusiasmo: “É que eles nunca comeram cornetos” “Agora sinto que tenho de agradecer ter pão na mesa”

EM FOCO

tos. “Oito ou nove anos”. Quando perguntaram o motivo de tanto entusiasmo: “É que eles nunca comeram cornetos”. Ao longo de quase 30 anos de voluntariado, as questões e os problemas renovam-se, mas a consciência social também. Recorda a afirmação recente de uma estudante da FMUP que faz voluntariado: “Agora sinto que tenho de agradecer ter pão na mesa”. A adesão à sua Unidade Curricular também é prova disso (150 voluntários), mas não só. Acrescenta à equação o posicionamento empresarial. “Há instituições que criam ações de voluntariado, às quais os funcionários se candidatam e cumprem, após validação da empresa”. É o caso da EDP e da Microsoft, por exemplo. “Pró-atividade”, marketing e “venda do produto” também são expressões que se associam ao voluntariado. Joana Esteves tem 20 anos, é estudante do 4.o ano da FEP e diretora do Departamento de Ação Cívica do EXUP (Experience Upgrade Program), com cerca de 100 voluntários na base de dados. “Características: ser dinâmico, pró-ativo, ter sentido de responsabilidade” e plena noção do que se está a defender “mesmo sob ataque”, garante. Foi o caso de um peditório, durante o qual ouviu comentários como: “Não dou porque também sou pobre”. Ou, então, que os alimentos seriam para os próprios voluntários… É necessário “saber defender a ação. Saber vender o produto! Fazer marketing!”. Já houve um peditório para crianças carenciadas em que levaram uma das crianças que ia receber as ofertas e a própria falou com as pessoas. Teve outro impacto. “Imagem”, “marketing”, “eficácia na transmissão da mensagem”… Trata-se, no fundo, da aplicação de conhecimento. “Temos uma cadeira de Marketing que ajuda a saber como chegar ao público-alvo, mas na prática as situações diferem. O voluntariado permite aprender a lidar com pessoas,


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a ultrapassar obstáculos, a perceber como é a vida real. Gerir personalidades, egos, é uma escola de crescimento. Desenvolveu-me bastante. O mercado de trabalho já não assusta tanto”. Quem e para quê? Em 2012, “25.3% da população encontrava-se em risco de pobreza ou exclusão social”, o que reflete “um aumento de 0,9% face a 2011”. Para 2013, dados provisórios apontam para um aumento de 27,4%. São indicadores para Portugal da Rede Europeia Anti-Pobreza. A OCDE diz-nos que, em 2011, 19% da população portuguesa tinha “65 ou mais anos” e “5% tinha 80 ou mais anos”, projetando para 2050 um aumento de 32% da população com 65 ou mais anos e 11% da população com 80 ou mais anos (dados retirados de “A Good Life in Old Age? Monitoring and Improving Quality in Long-Term Care, OECD, 2013”). O relatório da OCDE destaca ainda a importância da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, mas ressalva que Portugal tem poucos profissionais desta área com formação. Foi em finais de 2009 que a U.Porto criou uma Comissão de Voluntariado para promover e divulgar “a prática do voluntariado” e estabelecer “protocolos com entidades vocacionadas para a ajuda humanitária (…) e o exercício da cidadania ativa e responsável da sua comunidade académica”. Tenha sido pela crise e a forma como a sociedade se renova na resposta, pela consciência cívica que se vai musculando, pelo complemento à aprendizagem, indo pelo lado real da vida de quem está a “crescer em vários sentidos”, ou por ser um fator diferenciador do currículo, o certo é que, em 2010, a Comissão registou 1.011 voluntários no terreno, número que, em 2014, subiu para cerca de 1.800. “É uma enorme boa vontade de toda a comuni-

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dade em valorizar a questão humana”, diz-nos o reitor da U.Porto. Sebastião Feyo de Azevedo considera que este aumento “decorre da consolidação do trabalho desenvolvido pela Reitoria, pelas unidades orgânicas e por grupos e associações da comunidade estudantil”, que criaram “um ecossistema favorável à mobilização da comunidade académica em torno de campanhas, projetos e atividades de voluntariado, tanto no campus universitário como em ligação à sociedade”. A Comissão de Voluntariado promove a participação em ações de voluntariado extensíveis a estudantes, docentes, funcionários, aposentados, jubilados e antigos estudantes. As propostas são imensas. Basta ir ao sítio da U.Porto (https://sigarra.up.pt/up/pt), secção ALUMNI. É só escolher e ajudar nesta espécie de “novo PREC em curso”, como lhe chamou o pró-reitor Carlos Melo Brito, no final da sessão do Dia do Voluntariado (5 de dezembro): Pessoas; Redes; Empreendedorismo e Competências. O que é preciso? “Responsabilidade e sentimento de compromisso. Aquela mãe, bebé, idoso, pessoa com deficiência mental… Estão à nossa espera. Entramos na vida deles e desaparecer seria mais uma dor. Mais um vazio” (Joana Coelho – G.A.S. Porto); “Atitude humilde, de amor, de entrega. Vontade de ajudar. Chega! Depois as dificuldades são ultrapassadas” (Fátima Lopes – G.A.S. Porto); “Antigamente havia o padre da aldeia que tinha sempre tempo. Às vezes, o doente não precisa de uma caixa de medicamentos. Só precisa de conversar.” (Manuel Nuno Alçada – FMUP); “O voluntariado fez-me querer conhecer novas maneiras de pensar e de viver. Focamos em assuntos que, se calhar, não têm tanto valor assim. Em Moçambique isso tornou-se evidente. Conhecer estas pessoas transformou-me. Há melhor maneira de crescer? (André Pinto – EpDAH)

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Crianças apoiadas em Macia - Moçambique (EpDAH).

02 Autarkeia. A escola e a comunidade envolvidas na construção Moçambique (EpDAH). 03 ATL Timor (G.A.S. Porto). 04 Jardim de infância Timor (G.A.S. Porto).

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FORMAÇÃO

NÃO CONFERENTE DE GRAU PÓS-GRADUADA E CONTÍNUA CANDIDATURAS ENTRE JANEIRO DE 2015 E JULHO DE 2015

Faculdade de Desporto (FADEUP) Rua Dr. Plácido Costa, 91 • 4200-450 Porto • Telefone: +351 225 074 700 • Fax: +351 225 500 689 • http://www.fade.up.pt

FORMAÇÃO NÃO CONFERENTE DE GRAU PÓS-GRADUADA E CONTÍNUA­ – DA UNIVERSIDADE DO PORTO COM CANDIDATURAS ENTRE JANEIRO DE 2015 E JULHO DE 2015

A Ginástica Artística e de Trampolins em Âmbito Escolar Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Carlos Araújo • Duração: 25 horas• Calendário: Maio de 2015 • Candidaturas: Até 30 de abril 2015 • Destinatários: Professores dos grupos 260 e 620 • Vagas: 50 • Créditos: 1 UC (CCPFC) • Mais informações: 220 425 255 / formacao.continua@fade.up.pt • Propina: 75,00€ + Seguro Abordagem Multidisciplinar do Golfe na Escola Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Mário Paiva • Duração: 25 horas• Calendário: Março de 2015 • Candidaturas: Até 27 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Professores dos grupos 260 e 620 • Vagas: 30 • Créditos: 1 UC (CCPFC) • Mais informações: 220 425 255 / formacao.continua@fade.up.pt • Propina: 75,00€ + Seguro

Atenção A presente lista não dispensa a consulta das páginas das faculdades responsáveis pela organização desta oferta. Poderá ainda consultar a listagem das Unidades Curriculares Singulares constantes dos planos de estudos dos cursos e ciclos de estudos das várias unidades orgânicas, em www.up.pt – estudar na U.Porto – Documentos – Unidades Curriculares Singulares Vagas Unidades Curriculares Singulares da U.Porto 2014/2015.

Ensinar a Aprender o Jogo de Voleibol Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Isabel Mesquita • Duração: 25 horas• Calendário: Maio de 2015 • Candidaturas: Até 30 de abril de 2015 • Destinatários: Professores dos grupos 260 e 620 • Vagas: 40 • Créditos: 1 UC (CCPFC) • Mais informações: 220 425 255 / formacao.continua@fade.up.pt • Propina: 75,00€ + Seguro

Faculdade de Belas Artes (FBAUP) Av. Rodrigues de Freitas, 265 • 4049-021 Porto • Telefone: +351 225 192 4 00 • Fax: +351 225 367 036 • http://www.fba.up.pt

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Fontes de Informação no Âmbito das Artes e Humanidades Módulo 3 Endnote: Gestão de Referências Bibliográficas (Básico) Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: n/a • Duração: 9 horas• Calendário: 23 a 27 de março de 2015 • Candidaturas: Até 13 de março de 2015 • Destinatários: Estudantes de mestrado e doutoramento em artes e humanidades • Vagas: 15 • Créditos: n/a • Mais informações: 225 192 416 / formcontinua@fba.up.pt • Propina: Estudantes, Docentes e Funcionários UP/FBAUP: 25,00€ • Público em Geral: 37,50€ • Ex-Estudantes FBAUP: 33,75€ • Seguro escolar: 2,00€

Linogravura Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Maria Graciela Machado • Duração: 12 horas• Calendário: 13 a 17 abril de 2015 • Candidaturas: Até 31 de março de 2015 • Destinatários: Todos os interessados na área de ilustração, técnicas de impressão, design editorial, educação artística, edições de artista • Vagas: 12 • Créditos: 1,5 ECTS • Mais informações: 225 192 416 / formcontinua@fba.up.pt • Propina: Estudantes, Docentes e Funcionários UP/FBAUP: 60,00€ • Público em Geral: 75,00€ • Seguro Escolar: 2,00€ Modelação Orgânica Digital com Zbrush Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Mário Bismarck • Duração: 30 horas• Calendário: 14 abril a 21 maio de 2015 • Candidaturas: Até 31 de março de 2015 • Destinatários: Estudantes e licenciados em Artes Plásticas, Arquitetura e Design. Público em geral com interesse pela modelação orgânica digital • Vagas: 15 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 225 192 416 / formcontinua@ fba.up.pt • Propina: Inscrição: 25,00€ • Propina: Estudantes, Docentes e Funcionários da FBAUP/ UP – 2 prestações de 70,00€ • Público em Geral – 2 prestações de 85,00€ • Seguro escolar – 2,00€ Mistura e Finalização Áudio Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: n/a • Duração: 12 horas• Calendário: 09 a 13 fevereiro de 2015 • Candidaturas: Até 26 janeiro de 2015 • Destinatários: Estudantes da FBAUP, artistas audiovisuais, músicos • Vagas: 20 • Créditos: n/a • Mais informações: 225 192 416 / formcontinua@fba.up.pt • Propina: Estudantes, Docentes e Funcionários UP/ FBAUP: 55,00€ • Público em Geral: 68,00€ • Seguro escolar: 2,00€ Desenho de Composição com Figura Humana II Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Mário Bismarck • Duração: 68 horas• Calendário: 02 março a 09 julho de 2015 • Candidaturas: Até 16 de fevereiro de 2015 • Destinatários: O curso dirige-se a todos os que estão interessados no desenho da figura humana • Vagas: 25 • Créditos: 7,5 ECTS • Mais informações: 225 192 416 / formcontinua@fba.up.pt • Propina: Estudantes, Docentes e Funcionários da FBAUP/ UP: 5 prestações de 97,00€ • Público em Geral: 5 prestações de 108,00€ • Seguro escolar: 2,00€ Desenhos do Corpo com Luz e Sombra Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: n/a • Duração: 12 horas• Calendário: 03 a 19 de março de 2015 • Candidaturas: 16 fevereiro de 2015 • Destinatários: O curso destina-se a pessoas com experiencias prévias de desenhos do corpo ou figura humana, ou que tenham feito alguma aprendizagem básica do desenho do corpo humano • Vagas: 20 • Créditos: n/a • Mais informações: 225 192 416 / formcontinua@fba.up.pt • Propina: Estudantes, Docentes e Funcionários da FBAUP/ UP: 75,00€ • Público em Geral: 90,00€ • Seguro escolar: 2,00€ Introdução ao InDesign Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: n/a • Duração: 15 horas• Calendário: 16 a 25 março de 2015 • Candidaturas: Até 02 de março de 2015 • Destinatários: Profissionais, amadores ou estudantes que pretendam adquirir conhecimentos práticos iniciais e intermédios na utilização do Adobe InDesign. • Vagas: 12 • Créditos: n/a • Mais informações: 225 192 416 / formcontinua@fba.up.pt • Propina: Inscrição: 20,00€ Estudantes, Docentes e Funcionários da FBAUP/ UP: 65,00€ • Público em Geral: 80,00€ • Seguro escolar: 2,00€

Fotografia - Tratamento de Imagem Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: n/a • Duração: 12 horas• Calendário: 30 março a 02 de abril de 2015 • Candidaturas: Até 16 de março de 2015 • Destinatários: Todos os interessados em fotografia analógica • Vagas: 10 • Créditos: n/a • Mais informações: 225 192 416 / formcontinua@fba.up.pt • Propina: Estudantes, Docentes e Funcionários da FBAUP/ UP: 65,00€ • Público em Geral: 80,00€ • Seguro escolar: 2,00€

Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação (FCNAUP) Rua Dr. Roberto Frias • 4200-465 Porto • Telefone: +351 225 074 320 • Fax: +351 225 074 329 • http://www.fcna.up.pt

Oficina da Sopa Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Cláudia Afonso • Duração: 3 horas• Calendário: 21 de fevereiro de 2015 • Candidaturas: Até 7 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Comunidade em geral • Vagas: 12 • Créditos: n/a • Mais informações: ceciliamorais@fcna.up.pt • Propina: 30,00€

Faculdade de Ciências (FCUP) Rua do Campo Alegre s/n • 4169-007 Porto • Telefone: +351 220 402 000 • Fax: +351 220 402 009 • http://www.fc.up.pt

A Física do dia-a-dia Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Carlos Martins • Duração: 25 horas• Calendário: 06 de junho a 25 de julho de 2015 • Candidaturas: Até 28 de maio de 2015 • Destinatários: Professores dos Grupos 500, 510 e 520 • Vagas: 20 • Créditos: 1 UC (CCPFC) • Mais informações: 220 402 082 / formacao.continua@fc.up.pt • Propina: 100,00€ Desenvolvimento Pessoal e Profissional em Ciências Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: João Paiva • Duração: 25 horas• Calendário: 22 de junho a 17 de julho de 2015 • Candidaturas: Até dia 15 de junho de 2015 • Destinatários: Professores dos Grupos 500, 510 e 520 • Vagas: 25 • Créditos: 1 UC (CCPFC) • Mais informações: 220 402 082 / formacao.continua@fc.up.pt • Propina: 100,00€ Contextos Laboratoriais de Química no Ensino Secundário: Um Olhar sobre as Metas Curriculares Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Carla Morais • Duração: 25 horas• Calendário: 06 a 10 de julho de 2015 • Candidaturas: Até dia 26 de junho de 2015 • Destinatários: Professores do Grupo 510 • Vagas: 25 • Créditos: 1 UC (CCPFC) • Mais informações: 220 402 082 / formacao.continua@ fc.up.pt • Propina: 100,00 €

Faculdade de Direito (FDUP) Rua dos Bragas, 223 • 4050-123 Porto • Telefone: +351 222 041 600 • Fax: +351 222 041 614 • http://www.fd.up.pt

O Regime da Função Pública à Luz da Nova Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Colaço Antunes e Juliana Coutinho • Duração: 50 horas• Calendário: Fevereiro a março de 2015 • Candidaturas: 19 de janeiro a 20 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Titulares de licenciatura e bacharelato • Vagas: 50 vagas • Créditos: 5,5 ECTS • Mais informações: 222 041 600 / posgrad@direito. up.pt • Propina: 350,00€


Instrumentos Básicos de Gestão Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: João Ribeiro • Duração: 27 horas• Calendário: 02 a 28 de fevereiro de 2015 • Candidaturas: 05 a 23 de janeiro de 2015 • Destinatários: Os destinatários principais destes Cursos são Licenciados em áreas científicas exteriores à Economia ou Gestão que pretendam candidatar-se e frequentar um Curso de Mestrado na Faculdade de Economia do Porto • Vagas: 40 • Créditos: 2,5 ECTS • Mais informações: sa.posgraduacao@fep.up.pt • Propina: 200,00€ Microeconomia Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: António Brandão • Duração: 27 horas• Calendário: 02 a 28 de fevereiro de 2015 • Candidaturas: 05 a 23 de janeiro de 2015 • Destinatários: Os destinatários principais destes Cursos são Licenciados em áreas científicas exteriores à Economia ou Gestão que pretendam candidatar-se e frequentar um Curso de Mestrado na Faculdade de Economia do Porto • Vagas: 40 • Créditos: 2,5 ECTS • Mais informações: sa.posgraduacao@fep.up.pt • Propina: 200,00 € Técnicas de Análise de Dados Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Paulo Teles / Fernanda Figueiredo / Paulo Vasconcelos • Duração: 27 horas• Calendário: 02 a 28 de fevereiro de 2015 • Candidaturas: 05 a 23 de janeiro de 2015 • Destinatários: Os destinatários principais destes Cursos são Licenciados em áreas científicas exteriores à Economia ou Gestão que pretendam candidatar-se e frequentar um Curso de Mestrado na Faculdade de Economia do Porto • Vagas: 40 • Créditos: 2,5 ECTS • Mais informações: sa.posgraduacao@fep.up.pt • Propina: 200,00€ Finanças Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Abel Fernandes • Duração: 27 horas• Calendário: 09 de março a 04 de abril de 2015 • Candidaturas: 05 a 23 de janeiro de 2015 • Destinatários: Os destinatários principais destes Cursos são Licenciados em áreas científicas exteriores à Economia ou Gestão que pretendam candidatar-se e frequentar um Curso de Mestrado na Faculdade de Economia do Porto • Vagas: 40 • Créditos: 2,5 ECTS • Mais informações: sa.posgraduacao@fep.up.pt • Propina: 200,00€ Macroeconomia Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Óscar Afonso • Duração: 27 horas• Calendário: 09 de março a 04 de abril de 2015 • Candidaturas: 05 a 23 de janeiro de 2015 • Destinatários: Os destinatários principais destes Cursos são Licenciados em áreas científicas exteriores à Economia ou Gestão que pretendam candidatar-se e frequentar um Curso de Mestrado na Faculdade de Economia do Porto • Vagas: 40 • Créditos: 2,5 ECTS • Mais informações: sa.posgraduacao@fep.up.pt • Propina: 200,00€ Princípios de Econometria Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Francisco Vitorino • Duração: 27 horas• Calendário: 09 de março a 04 de abril de 2015 • Candidaturas: 05 a 23 de janeiro de 2015 • Destinatários: Os destinatários principais destes Cursos são Licenciados em áreas científicas exteriores à Economia ou Gestão que pretendam candidatar-se e frequentar um Curso de Mestrado na Faculdade de Economia do Porto • Vagas: 40 • Créditos: 2,5 ECTS • Mais informações: sa.posgraduacao@fep.up.pt • Propina: 200,00€

Faculdade de Engenharia (FEUP) Rua Dr. Roberto Frias, s/n • 4200-465 Porto • Telefone: +351 225 081 400 • Fax: +351 225 081 440 • https://www.fe.up.pt

Engenharia e Gestão de Processos de Negócio Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Américo Azevedo • Duração: 24 horas por Unidade de Formação • Calendário: 2ª UF (8 sessões*3h): de 13 de janeiro a 03 março 2015 (às terças) • 3ª UF (8 sessões*3h): de 24 de março a 12 maio 2015 (às terças) • Candidaturas: 2ª UF: Até 02 de dezembro de 2014 • 3ª UF: Até 24 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Quadros intermédios e superiores envolvidos em atividades no âmbito da qualidade, organização das operações, mudança e estruturação organizacional. Profissionais com experiência em ambiente empresarial, que pretendam adquirir e desenvolver competências no âmbito da Engenharia e Gestão dos Processos. Profissionais que exerçam, ou pretendam vir a exercer, atividades de consultoria, funções de gestão e coordenação, quer no setor industrial quer no dos serviços, que implicam desenho e reengenharia de processos e nomeadamente o seu aperfeiçoamento e melhoria contínua • Vagas: 1 • Créditos: 9 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up.pt • Propina: 400,00€ - por uma unidade de formação Formação ITUR (Instalações de Telecomunicações em Urbanizações) Habilitante Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: José Rui da Rocha Pinto Ferreira • Duração: 25 horas• Calendário: 1ª Edição – 19 a 29 de janeiro de 2015 - 2ª a 5ª das 19h às 22h • 2ª Edição – 06 a 16 de abril de 2015 • Candidaturas: Até 09 de dezembro 2014 (para a 1.ª Edição) • Até 08 de março 2015 (para a 2.ª Edição) • Destinatários: Engenheiros e Engenheiros Técnicos, membros da OE ou da OET, não considerados por estas associações como tendo habilitação para o desempenho da atividade de projetistas e instaladores ITUR, e que pretendam iniciar a atividade profissional nesta área, mas que evidenciem competências na área de Projeto e Instalação em ITED (Infraestruturas de Telecomunicações em Edifícios) reconhecida pela Ordem dos Engenheiros, Ordem dos Engenheiros Técnicos ou pela frequência com aproveitamento da correspondente formação Habilitante em ITED, devidamente credenciada por estas entidades e pela ANACOM. Podem ainda candidatar-se Engenheiros e Engenheiros Técnicos não Membros da OE ou da OET e estudantes finalistas da licenciatura ou mestrado em Engenharia desde que tenham frequentado com aproveitamento formação Habilitante em ITED, devidamente credenciada por aquelas entidades e pela ANACOM. Neste caso só poderão exercer a atividade de projetista e instaladores ITUR depois da inscrição na respetiva Ordem Profissional (OE ou OET) • Vagas: 18 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up.pt • Propina: 245,00€ Gestão de Operações em Transportes Públicos de Passageiros Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Álvaro Costa • Duração: 33 horas• Calendário: 11, 12, 18, 19 e 25 de maio 2015 • Candidaturas: Até 12 abril 2015 • Destinatários: Quadros de Direção e Gestores Operacionais das empresas de transporte rodoviário de passageiros, Gestores de Trânsito e Transportes das Câmaras Municipais e Profissionais da Administração Pública ligados à problemática dos transportes rodoviários • Vagas: 20 • Créditos: 3,5 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up.pt • Propina: 650,00€

Ondas de Som e de Luz: Conceitos, Fenómenos, Experiências e Aplicações Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Diana Urbano • Duração: 25 horas• Calendário: 25 de junho a 01 de julho 2015 • Candidaturas: Até 31 de maio de 2015 • Destinatários: Professores dos Grupos de Física, Físico-Química, Química, Biologia, Geologia, Matemática, dos Ensinos Básico (3º Ciclo) e Secundário • Vagas: 25 • Créditos: 1 UC (CCPFC) • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up.pt • Propina: 100,00€ Testes de Software Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Ana Cristina Ramada Paiva • Duração: 24 horas• Calendário: 05, 06, 07, 12 e 13 de janeiro de 2015 (2.ª fase) 20, 21, 22, 27 e 28 de julho de 2015 (3.ª fase) • Candidaturas: Até 01 de dezembro de 2014 (2.ª fase) • Até 22 de junho de 2015 (3.ª fase) • Destinatários: Profissionais que necessitam adquirir e/ou consolidar conhecimentos e práticas na área dos testes de software, tais como, testadores (nos vários níveis de teste), analistas de testes, consultores de testes, gestores de testes e programadores • Vagas: 15 • Créditos: n/a • Mais informações: 225 081 977 / acesso. ingresso@fe.up.pt • Propina: 700,00€

Competências Transversais: Comunicação Assertiva e Técnicas de Apresentação Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Helena Sofia Lopes • Duração: 10 horas• Calendário: 25 de março; 08, 15, 22 e 29 de abril de 2015 • Candidaturas: 05 de janeiro a 02 de março de 2015 • Destinatários: Estudantes a frequentar um ciclo de estudos conferente de grau na FEUP. Estudantes Alumni UPorto. Público em geral • Vagas: 20 • Créditos: 1,5 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up. pt • Propina: Estudantes FEUP (em âmbito de Plano de Estudos) - Isentos Estudantes FEUP / Alumni (inscrição extra Plano de Estudos) - 40,00€ Outros – 50,00€ Competências Transversais: Empregabilidade Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Helena Sofia Lopes • Duração: 10 horas• Calendário: 20 e 27 de março, 10, 17 e 24 de abril de 2015 • Candidaturas: 05 de janeiro a 02 de março de 2015 • Destinatários: Estudantes a frequentar um ciclo de estudos conferente de grau na FEUP. Estudantes Alumni UPorto. Público em geral • Vagas: 20 • Créditos: 1,5 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up. pt • Propina: Estudantes FEUP (em âmbito de Plano de Estudos) - Isentos • Estudantes FEUP / Alumni (inscrição extra Plano de Estudos) 40,00€ Outros – 50,00€ Competências Transversais: Gestão do Tempo e Organização Pessoal Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Helena Sofia Lopes • Duração: 10 horas• Calendário: 25 de março, 08, 15, 22 e 29 de abril de 2015 • Candidaturas: 05 de janeiro a 02 de março de 2015 • Destinatários: Estudantes a frequentar um ciclo de estudos conferente de grau na FEUP. Estudantes Alumni UPorto. Público em geral • Vagas: 20 • Créditos: 1,5 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up. pt • Propina: Estudantes FEUP (em âmbito de Plano de Estudos) - Isentos Estudantes FEUP / Alumni (inscrição extra Plano de Estudos) - 40,00€ Outros – 50,00€ Competências Transversais: Liderança e Gestão de Equipas Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Helena Sofia Lopes • Duração: 10 horas• Calendário: 20 e 27 de março, 10, 17 e 24 de abril de 2015 • Candidaturas: 05 de janeiro a 02 de março de 2015 • Destinatários: Estudantes a frequentar um ciclo de estudos conferente de grau na FEUP Estudantes Alumni UPorto. Público em geral • Vagas: 20 • Créditos: 1,5 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up. pt • Propina: Estudantes FEUP (em âmbito de Plano de Estudos) - Isentos • Estudantes FEUP / Alumni (inscrição extra Plano de Estudos) 40,00€ Outros – 50,00€ Preparação para Certificação Profissional em Redes de Computadores e Serviços Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Ricardo Morla • Duração: 81 horas (21h letivas). Estimam-se 60 horas para estudo autónomo online interativo, e 21 horas de contacto para exames e preparação para exames. • Calendário: De 23 de fevereiro a 23 de maio de 2015 (2.ª edição) • Candidaturas: Até 27 de janeiro de 2015 (2.ª edição) • Destinatários: 1) Estudantes da Universidade do Porto com formação em Redes e Serviços. Por exemplo estudantes que tenham tido aprovação à unidade curricular de Redes de Computadores do MIEEC/MIEIC da

Uso do vídeo no ensino básico e secundário das ciências Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Diana Urbano • Duração: 20 horas• Calendário: 11 a 18 de junho de 2015 • Candidaturas: Até 13 de maio de 2015 • Destinatários: Professores dos Grupos de Física, Físico-Química, Química, Biologia, Geologia, Matemática, dos Ensinos Básico (3º Ciclo) e Secundário • Vagas: 25 • Créditos: 0,8 UC (CCPFC) • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up.pt • Propina: 100,00€ Competências transversais para engenharia: Comunicação Assertiva e Técnicas de Apresentação (módulo avançado) Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Manuel Firmino • Duração: 20 horas• Calendário: 14, 21, 28 de abril e 12, 19 e 26 de maio e 02 de junho de 2015 • Candidaturas: Até 10 de março de 2015 • Destinatários: Estudantes de programas doutorais e doutoramentos da Universidade do Porto; Estudantes de mestrados e mestrados integrados da Universidade do Porto; Bolseiros, docentes, investigadores e técnicos da Universidade do Porto; Público em geral • Vagas: 24 • Créditos: 1,5 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up.pt • Propina: 300,00€ Os estudantes que obtenham autorização para inscrição nesta unidade de formação, por parte do Diretor do Programa de estudos da FEUP em que estão inscritos, terão isenção de propina. Competências transversais para engenharia: Gestão do tempo e Organização Pessoal (módulo avançado) Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Manuel Firmino • Duração: 11 horas• Calendário: 24 de fevereiro; 03, 10, 17 e 24 de março de 2015 • Candidaturas: Até 27 de janeiro de 2015 • Destinatários: Estudantes de programas doutorais e doutoramentos da Universidade do Porto; Estudantes de mestrados e mestrados integrados da Universidade do Porto; Bolseiros, docentes, investigadores e técnicos da Universidade do Porto; Público em geral • Vagas: 30 • Créditos: 1,5 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up.pt • Propina: 300,00€ Os estudantes que obtenham autorização para inscrição nesta unidade de formação, por parte do Diretor do Programa de estudos da FEUP em que estão inscritos, terão isenção de propina

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Faculdade de Economia (FEP) Rua Dr. Roberto Frias • 4200-464 Porto • Telefone: +351 225 571 100 • Fax: +351 225 505 050 • http://www.fep.up.pt


FEUP ou Redes de Comunicação do MIERCI da FCUP, ou equivalente. • 2) Alumni da Universidade do Porto com a mesma formação referida no ponto 1) • 3) Técnicos os Serviços da Universidade (centrais, faculdades, ou departamentos) • Vagas: 50 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 225 081 977 / acesso.ingresso@fe.up.pt • Propina: 45,00€

Faculdade de Letras (FLUP) Via Panorâmica, s/n • 4150-564 Porto • Telefone: +351 226 077 100 • Fax: +351 226 091 610 • http://www.letras.up.pt

Intensivo de Alemão A2.2 Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Isabel Galhano Rodrigues • Duração: 60 horas• Calendário: Abril de 2015 • Candidaturas: 02 a 14 de março de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 240,00€ Público em Geral - 340,00€ + Seguro Escolar: 2,00€ Intensivo de Chinês 1 Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Gonçalo Vilas Boas • Duração: 60 horas• Calendário: 10 de fevereiro a 28 de maio de 2015 • Candidaturas: 05 a 17 de janeiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 240,00€ Público em Geral - 340,00€ + Seguro Escolar: 2,00€ Intensivo de Inglês Elementar Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Jorge Bastos da Silva • Duração: 60 horas• Calendário: 09 de março a 12 de abril de 2015 • Candidaturas: 02 a 20 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP 240,00€ • Público em Geral - 340,00€ + Seguro Escolar: 2,00€ Intensivo de Italiano Intermédio Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Zulmira Santos • Duração: 60 horas• Calendário: 23 de fevereiro a 02 de março de 2015 • Candidaturas: 02 a 10 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 240,00€ • Público em Geral - 340,00€ + Seguro Escolar: 2,00€ Desenho Arqueológico de Objetos (metais, osso e madeira) Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Maria de Jesus Sanches • Duração: 28,5 horas• Calendário: 03 de março a 29 de abril de 2015 • Candidaturas: 02 a 14 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 130,00€ Público em Geral - 180,00€

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Entrevistas Qualitativas: fundamentos e prática Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Isabel Dias • Duração: 12 horas• Calendário: 06 a 08 de abril de 2015 • Candidaturas: 02 a 14 de março de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 1,5 ECTS • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 60,00€ Público em Geral - 85,00€

Gestão e Organização da Coleção em Bibliotecas Escolares e sua Dinamização Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Olívia Pestana • Duração: 25 horas• Calendário: 15 de março a 15 de abril de 2015 • Candidaturas: 09 a 24 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 1 UC (CCPFC) • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 115,00€ • Público em Geral - 165,00€

Oficina de teatro e comunicação Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Maria Luisa Malato • Duração: 27 horas• Calendário: 21 de fevereiro a 11 de abril de 2015 • Candidaturas: 16 de janeiro a 02 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Mais informações: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 125,00€ • Propina: Público em Geral - 175,00€

MEF - Macroestrutura Funcional para Autarquias Portuguesas Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Armando Malheiro • Duração: 16 horas• Calendário: 02 a 26 de março de 2015 • Candidaturas: 02 a 13 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 2 ECTS • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 75,00€ Público em Geral - 105,00€ Modelação de Processos e Serviços de Informação 1 Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Armando Malheiro • Duração: 24 horas• Calendário: 01 a 27 de abril de 2015 • Candidaturas: 02 a 14 de março de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 110,00€ Público em Geral - 155,00€ Intensivo de Russo 2 Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Gonçalo Vilas Boas • Duração: 60 horas• Calendário: 16 de março a 05 de maio de 2015 • Candidaturas: 15 a 25 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: n/a • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 240,00€ Público em Geral - 340,00€ Gerir Referências Bibliográficas com Endnote Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Olívia Pestana • Duração: 10 horas• Calendário: 05 a 07 de março de 2015 • Candidaturas: 02 a 14 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: n/a • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 55,00€ Público em Geral - 80,00€ Voz: Técnica e Comunicação Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Ana Isabel Reis • Duração: 16 horas• Calendário: 06 e 15 de março de 2015 • Candidaturas: 02 a 19 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: n/a • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP - 75,00€ Público em Geral - 105,00€ Iniciação à língua Eslovaca Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Gonçalo Vilas Boas • Duração: 60 horas• Calendário: 21 de fevereiro a 13 de junho de 2015 • Candidaturas: 16 de janeiro a 02 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Público em geral • Vagas: 25 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 226 077 152 / gfec@letras.up.pt • Propina: Estudantes (ex e atuais) e Funcionários da UP -240,00€ Público em Geral - 340,00€

Faculdade de Medicina (FMUP) Al. Prof. Hernâni Monteiro • 4200-319 Porto • Telefone: +351 225 513 600 • Fax: +351 225 513 601 • http://www.med.up.pt Coaching para orientadores de internos de especialidade Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Maria Amélia Ferreira • Duração: 32 horas• Calendário: Abril de 2015 (data a definir) • Candidaturas: 15 de janeiro a 07 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Orientadores de internos de Especialidade • Vagas: 20 • Créditos: 3,5 ECTS • Mais informações: 225 513 689 / educacaocontinua@med.up.pt • Propina: 300,00€ Patologia Molecular com ênfase em Oncologia - Curso básico Tipo de curso: Unidade de formação contínua • Coordenador científico: Paula Soares • Duração: 27 horas• Calendário: 10 de janeiro a 10 de fevereiro de 2015 • Candidaturas: Fevereiro a março de 2015 (datas a confirmar) • Destinatários: Licenciados, mestrando e doutorandos nas áreas das Ciências da Saúde e Biológicas • Vagas: 8 • Créditos: 3 ECTS • Mais informações: 225 513 689 / educacaocontinua@ med.up.pt • Propina: 100,00€ (50,00€ para internos de Anatomia patológica e internos de Oncologia)

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUP) Rua Alfredo Allen • 4200-135 Porto • Telefone: +351 226 079 700 • Fax: +351 226 079 725 • http://www.fpce.up.pt Demências: Avaliação Neuropsicológica Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Selene Vicente • Duração: 48 horas• Calendário: 30 de janeiro a 06 de março de 2015 • Candidaturas: Até 25 de janeiro de 2015 • Destinatários: Licenciados em psicologia • Vagas: 20 • Créditos: 5 ECTS • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 250,00€ O enfrentamento da indisciplina em sala de aula: estratégias baseadas na análise do contexto Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Carlinda Leita • Duração: 25 horas• Calendário: 30 de janeiro a 27 de fevereiro de 2015 • Candidaturas: Até 25 de janeiro de 2015 • Destinatários: Licenciados/ as das áreas das Ciências Sociais e Humanas, Ciências da Educação, Psicologia, entre outras que procuram formação complementar à sua Licenciatura na Universidade do Porto • Vagas: 20 • Créditos: n/a • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 140,00€

Candidatura de Projetos a Linhas de Financiamento Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Teresa Medina • Duração: 25 horas• Calendário: 07 de fevereiro a 14 de março de 2015 • Candidaturas: Até 02 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Professores, psicólogos, animadores sociais, dirigentes associativos, coordenadores de cursos de educação e formação de adultos • Vagas: 20 • Créditos: 1 UC (CCPFC) • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 130,00€ Candidatura de Projetos a Linhas de Financiamento Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Luiza Cortesão • Duração: 20 horas• Calendário: 09 de fevereiro a 11 de março de 2015 • Candidaturas: Até 02 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Professores, psicólogos, animadores sociais, dirigentes associativos, coordenadores de cursos de educação e formação de adultos • Vagas: 20 • Créditos: 0,8 UC (CCPFC) • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 100,00€ Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção: Perfil Neuropsicológico Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Selene Vicente • Duração: 24 horas• Calendário: 14 de fevereiro a 07 de março de 2015 • Candidaturas: Até 09 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Este curso destina-se a Estudantes Universitários e Profissionais da área de Psicologia, Educação, Ciências da Saúde, Terapia da Fala, entre outros profissionais interessados nesta temática • Vagas: 20 • Créditos: 2 ECTS • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 130,00€ Leitura, Aprendizagem e Integração das Bibliotecas nas Atividades Educativas Tipo de curso: Curso de especialização • Coordenador científico: Ariana Cosme • Duração: 270 horas• Calendário: 06 de fevereiro de 2015 a 06 de fevereiro de 2016 • Candidaturas: Até 30 de janeiro de 2015 • Destinatários: Professores Bibliotecários, Dirigentes, Técnicos Superiores, Chefias Administrativas, Técnicos, Técnico-Profissionais, Administrativos, Estagiários que estejam ligados à rede de Bibliotecas • Vagas: 20 vagas • Créditos: 30 ECTS / 10,8 UC’s (CCPFC) • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 1200,00€ Comunicação e emoções: quando o corpo se expressa mais que as palavras Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Raquel Barbosa • Duração: 15 horas• Calendário: 21 de fevereiro a 03 de março de 2015 • Candidaturas: Até 18 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Estudantes em geral, profissionais de saúde e educação, prestadores de serviço ao cliente interno e externo, público em geral que se interesse pelo tema • Vagas: 20 • Créditos: n/a • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 100,00€ Perturbação de Stress pós-traumático Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Cristina Queirós • Duração: 8 horas• Calendário: 21 de fevereiro de 2015 • Candidaturas: Até 16 de fevereiro de 2015 • Destinatários: Estudantes e Profissionais das áreas de Educação, Psicologia, Medicina, Serviço Social e Serviços de Socorro (INEM, Bombeiros) • Vagas: 20 • Créditos: n/a • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce. up.pt • Propina: 60,00€


A Educação Sexual em Contexto Escolar Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Isabel Menezes • Duração: 30 horas• Calendário: 21 de março a 23 de maio de 2015 • Candidaturas: Até 16 de março de 2015 • Destinatários: Licenciados/as das áreas das Ciências Sociais e Humanas, Ciências da Educação, Psicologia, entre outras que procuram formação complementar à sua Licenciatura na Universidade do Porto. Especificamente Professores dos Ensino Básico e Secundário • Vagas: 20 • Créditos: 3 ECTS / 1,2 U.C. (CCPFC) • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 150,00 €

FORMAÇÃO

Rua de Jorge Viterbo Ferreira, 228• 4050-313 Porto • Tlf: +351 220 428 537 • Fax: +351 226 093 390 • http://www.ff.up.pt

PÓS-GRADUADA

Ciências Farmacêuticas Duração: 8 Semestres • Candidaturas 3ª fase: 02 a 13 de fevereiro de 2015 • Vagas 3ª fase: Sobrantes da 2ª fase • Horário: Sem informação • Créditos: 240 ECTS • Mais Informações: Serviços de Gestão Académica e Expediente| e-mail: expediente@ff.up.pt| telefone: +351 220 428 537 • Propina: 2750€

CANDIDATURAS ENTRE JANEIRO DE 2015 E JULHO DE 2015

FORMAÇÃO PÓS-GRADUADA DA UNIVERSIDADE DO PORTO COM CANDIDATURAS ENTRE JANEIRO DE 2015 E JULHO DE 2015

Faculdade de Ciências (FCUP) Rua do Campo Alegre, s/n, •4169-007 PORTO • Tlf: +351 220 402 000 • FaX: +351 220 402 009 • http://www.fc.up.pt

Arquitetura Paisagista Duração: 6 Semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Vagas disponíveis: 5 • Horário: Sem informação • Créditos: 180 ECTS • Mais Informações: pos.graduacao@fc.up. pt | telefone: +351 220402023/30/31/32/33 • Propina: 2750€ Astronomia Duração: 6 Semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Vagas disponíveis: 7 • Horário: Sem informação • Créditos: 180 ECTS • Mais Informações: pos.graduacao@fc.up. pt | telefone: +351 220402023/30/31/32/33 • Propina: 2750€ Biologia Duração: 6 Semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Vagas disponíveis: 48 • Horário: Sem informação • Créditos: 180 ECTS • Mais Informações: pos.graduacao@fc.up. pt | telefone: +351 220402023/30/31/32/33 • Propina: 2750€ Ciência de Computadores Duração: 6 Semestres • Candidaturas 1ª fase: 24 de novembro a 02 de dezembro de 2014 • Candidaturas 2ª fase: 23 de fevereiro a 13 de março de 2015 • Candidaturas 3ª fase: 23 de junho a 10 de julho de 2015 • Vagas 1ª fase: 30 • Vagas 2ª fase: eventualmente sobrantes • Vagas 3ª fase: eventualmente sobrantes • Horário: Sem informação • Créditos: 180 ECTS • Mais Informações: pos.graduacao@fc.up. pt | telefone: +351 220402023/30/31/32/33 • Propina: 2750€ Ciências Agrárias Duração: 6 Semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Vagas disponíveis: 8 • Horário: Sem informação • Créditos: 180 ECTS • Mais Informações: pos.graduacao@fc.up. pt | telefone: +351 220402023/30/31/32/33 • Propina: 2750€ Ciências e Tecnologia do Ambiente Duração: 6 Semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Vagas disponíveis: 5 • Horário: Sem informação • Créditos: 180 ECTS • Mais Informações: pos.graduacao@fc.up. pt | telefone: +351 220402023/30/31/32/33 • Propina: 2750€ Engenharia Geográfica Duração: 6 Semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Vagas disponíveis: 5 • Horário: Sem informação • Créditos: 180 ECTS • Mais Informações: pos.graduacao@fc.up. pt | telefone: +351 220402023/30/31/32/3 • Propina: 2750€

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Biblioteca interativa Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Ariana Cosme • Duração: 15 horas• Calendário: 25 de março a 22 de abril de 2015 • Candidaturas: Até 20 de março de 2015 • Destinatários: Professores Bibliotecários, Dirigentes, Técnicos Superiores, Chefias Administrativas, Técnicos, Técnico-Profissionais, Administrativos, Estagiários que estejam ligados à rede de Bibliotecas • Vagas: 20 • Créditos: 0,6 UC (CCPFC) • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 100,00€ Neuropsicologia infantil Tipo de curso: Formação contínua • Coordenador científico: Selene Vicente • Duração: 45 horas• Calendário: 26 de março a 25 de abril de 2015 • Candidaturas: Até 21 de março de 2015 • Destinatários: Este curso destina-se a Estudantes Universitários e Profissionais da área de Psicologia, Educação, Ciências da Saúde, Terapia da Fala, entre outros profissionais interessados nesta temática • Vagas: 20 • Créditos: 5 ECTS • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce.up.pt • Propina: 250,00€ Comunicação e emoções: quando o corpo se expressa mais que as palavras Tipo de curso: Formação livre • Coordenador científico: Raquel Barbosa • Duração: 15 horas• Calendário: 21 a 31 de março de 2015 • Candidaturas: Até 16 de março de 2015 • Destinatários: Estudantes em geral, profissionais de saúde e educação, prestadores de serviço ao cliente interno e externo, público em geral que se interesse pelo tema • Vagas: 20 • Créditos: n/a • Mais informações: 226 061 890 / sec@fpce. up.pt • Propina: 100,00€

Faculdade de Farmácia (FFUP)


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“VAMOS TER DE FAZER MAIS COM MENOS” SEBASTIÃO FEYO DE AZEVEDO, REITOR DA U.PORTO

RICARDO MIGUEL GOMES

O reitor da U.Porto mostra-se crítico em relação à atuação do Governo no ensino superior e na ciência. Para Sebastião Feyo de Azevedo, a oferta formativa das universidades deve ser racionalizada e a autonomia das instituições reforçada. Quanto à política para a investigação, não hesita em afirmar que a avaliação das unidades de I&D pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) foi “um erro político grave”. Diz-se “limitado” financeiramente para reforçar o apoio social aos estudantes e não descarta uma subida das propinas nos próximos anos, porque a “pressão económica é imensa”. Quer mais professores a fazer investigação, gostaria de aumentar o número de funcionários não docentes, espera obter mais financiamento por via competitiva e vê nos rankings “um instrumento de projeção fundamental para a nossa reputação internacional”. E sim, para Sebastião Feyo de Azevedo, o reitor da U.Porto “é um líder regional”. O seu programa de candidatura a reitor tinha o título “Antecipar o futuro, ousar a mudança”. Que mudança é essa que preconiza para a U.Porto? Gostaria de deixar claro que as minhas palavras são palavras para o futuro, não são palavras de crítica ao passado. Por muito bem que se tenha feito no passado, há uma visão nova para o futuro. Acho o mandato anterior muito bom….

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Então há uma evolução na continuidade? Não, há uma reforma. Tenho uma visão reformista da vida. Penso que temos muito a avançar em vários aspetos, particularmente na organização coletiva e na integração funcional. Temos que ter uma evolução cultural mais europeísta, o que significa maior rigor organizacional e maior perceção do que é a qualidade nas nossas atividades. E temos de tentar evoluir, no plano da educação, para um conjunto de ideias que já são uma realidade na área pedagógica, na área da estrutura curricular e na área da formação.

Que ideias são essas? Creio que temos de ter cursos muito mais multidisciplinares. Eu sou um defensor do Processo de Bolonha, que trouxe uma abertura muito grande na visão do que é conhecimento. E há hoje em dia, e isso é incontornável, ferramentas ligadas à evolução do mundo digital que são absolutamente necessárias e que estão a condicionar, de forma fortíssima, os conceitos pedagógicos. A U.Porto quer acompanhar essa evolução tecnológica? Acho que a U.Porto tem todas as condições para liderar, a nível nacional, esta evolução. Há uma frase feita que é “educação sem fronteiras”. Eu, no meu programa, acrescentei “educação sem fronteiras e sem paredes”. Com os meios que hoje existem e a atitude mental dos jovens, nós temos que avançar para isso [ensino aberto e à distância]. Para além da educação, quais são as outras grandes prioridades do seu reitorado? A outra prioridade é, claramente, promover ainda mais a investigação.


Fotos: EgĂ­dio Santos


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E como é que isso se faz? Faz-se chamando mais gente para fazer investigação. Ainda há uma percentagem de colegas que faz investigação em níveis baixos. Penso que temos uma margem significativa para melhorar nessa área, captando o interesse dos colegas para fazer investigação. E também temos, claramente, que perguntar que tipo de investigação [queremos realizar]. Em tempos que já lá vão, quando se falava em investigação, pensava-se essencialmente em “investigação de curiosidade”. Cada um investigava o que queria, independentemente da relevância. Hoje, a realidade não é essa. Há sempre espaço para a investigação movida pela curiosidade, mas nós temos que nos preocupar em fazer investigação em parcerias. Ao fazermos investigação em parcerias, vamos inexoravelmente encontrar temas que possam ser mais relevantes para a sociedade. Quais são as suas outras prioridades, além da educação e da investigação? Temos de olhar fortemente para a relação com a sociedade. Tenho tido o cuidado, a preocupação e o interesse em manter um contacto estreito com o nosso tecido social, através das instituições que são representativas da sociedade. A ligação à sociedade também se faz, largamente, em colaboração com os nossos antigos estudantes, [que] são um veículo bidirecional. São um veículo de aproximação à sociedade, bem como um veículo para a nossa perceção do que sociedade pretende de nós.

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“Há sempre espaço para a investigação movida pela curiosidade, mas nós temos que nos preocupar em fazer investigação em parcerias.”

Valor das propinas vai ser ponderado

Outro tema em evidência no seu programa é a ação social. De que forma pensa reforçar o apoio social aos estudantes, numa altura em que muitos sentem dificuldades económicas? Estou relativamente limitado no apoio social. No número de bolsas estamos limitados pelo orçamento, até porque as bolsas agora estão centralizadas. Mas posso atuar mais na área da dimensão social, nomeadamente para perceber o porquê de os estudantes não serem capazes de terminar os seus cursos.

Um dos principais encargos dos estudantes são as propinas. Está em condições de assegurar que nos próximos anos não haverá aumento das propinas? Não estou em condições de assegurar, de forma alguma. A pressão económica é imensa. Entendi dar um sinal da preocupação social não aumentando as propinas, mas também fui muito claro ao dizer que era um compromisso para este ano [letivo]. [Com] um aumento de 10 euros [nas propinas], estamos a falar em 3 milhões de euros para a Universidade. Portanto, um aumento relativamente pequeno de propinas significa um aumento significativo do orçamento da Universidade. Em devido tempo, teremos que ver o que vamos fazer… Outra questão com implicações no financiamento das universidades é a diminuição de estudantes no ensino superior. Como é que a U.Porto está a encarar este problema e pensa minorá-lo no futuro? A U.Porto ainda não foi propriamente afetada. Não preencheu 100% mas preencheu 97,5% das suas vagas. Agora, há sinais com que devemos ter cuidado. Mais do que isso, temos de perceber que estamos num país em que, se de facto a governação fosse mais efetiva, haveria uma coordenação entre as várias universidades no sentido de tornar a rede do ensino superior mais racional. Não é solução para o país que, no ensino superior, cada um faça como quer e que se ponha a abrir cursos de qualquer maneira, com palavras-chave mais ou menos apelativas, como bio ou digital, para atrair alunos. Não creio que esta seja a solução para o desenvolvimento de Portugal. Como é que a U.Porto espera atrair mais estudantes? A U.Porto tem os cursos cheios. O que terá de fazer, eventualmente, é fechar alguns cursos e abrir outros. Porque também não é solução ter cursos com seis, sete ou oito estudantes, exceto se forem cursos em áreas-chave que não haja no país. E temos muito a fazer na área da educação – que, na U.Porto, está menos desenvolvida do que a investigação – para atrair estudantes internacionais. Há condições para atrair talento internacional para a Universidade? Temos de trabalhar para subir nos rankings [que avaliam as universidades internacionalmente]. Gostemos ou não, os rankings são um instrumento de projeção fundamental para a nossa reputação internacional. Com os nossos irmãos e amigos brasileiros, angolanos, moçambicanos existe uma forte relação histórica. Mas, se não tivermos uma qualidade que eles percebam que é alta, vão bater a outra porta. Não tenhamos ilusões sobre isso.


“A situação é aquela que, na minha análise de candidatura, eu pensava que existia. E que é má. Nós temos orçamentos muito inferiores aos de muitas universidades com as quais gostaríamos de competir.”

De acordo com o Orçamento do Estado para 2015, as universidades voltam a sofrer um corte de financiamento de 1,5%. Há o risco desse corte ser maior na U.Porto? O senhor Secretário de Estado [do Ensino Superior] disse que era 1,5%, [mas] eu acho que será um bocadinho mais. A U.Porto terá, no mínimo, 2% de corte, por causa das contas do PIDDAC. Como é que a U.Porto vai gerir esse corte? Com dificuldade, nomeadamente porque temos um problema que é nacional, não é da Universidade: o problema do património. Nos últimos 20 anos, a Universidade cresceu imenso em património. Houve um envelhecimento desse património e não tem havido, por várias razões, a capacidade de criar um fundo para manutenção. Chegámos agora a um ponto em que estamos a precisar de intervenções de grande dimensão e, de facto, não temos financiamento para isso. Teremos que ver, em conjunto com os diretores das faculdades, os orçamentos, que vão ser muito apertados. Vamos ter de fazer mais com menos.

Uma das formas de minorar as restrições financeiras é a captação de financiamento por via competitiva. A U.Porto está preparada para essa via competitiva? Está preparada, sim. A necessidade aguça o engenho. Em Portugal houve, até 2009-2010, algum dinheiro nacional relativamente fácil. E, portanto, a universidade portuguesa não preparou a estrutura para uma captação maciça de fundos europeus. Entretanto, com o Horizonte 2020, abriu-se uma oportunidade muito boa de captação de verbas. A informação que tenho é que nós incrementámos muito, em algumas escolas, o esforço de ir buscar verbas competitivas. Aliás, os meus colegas têm toda a capacidade humana e de conhecimento para serem bem-sucedidos nisso [na capação de investimento].

“Não é normal que haja mais professores do que trabalhadores não docentes. Acho que temos menos trabalhadores não docentes do que deveríamos ter, contrariamente ao que se diz.”

Promover a transversalidade interna

Também numa lógica de redução de despesas, não seria necessária uma racionalização interna da U.Porto, que passasse pela própria oferta formativa? O impacto económico não é a motivação para fazer mudanças. O impacto da qualidade é que é a motivação para fazer mudanças. Nós trabalhamos com níveis de investimento tão baixos que não é positivo, nem sequer relevante, estar a centrar a discussão nessa necessidade. Os novos estatutos da Universidade, que irão entrar em vigor daqui a algum tempo, preveem uma coisa muito interessante: a possibilidade de existência de departamentos transversais. Há, seguramente, várias áreas em que se justificava ter departamentos interfaculdades. E isto teria um impacto positivo imenso na qualidade da produção dessas áreas. A ideia de reduzir o número de faculdades, agregando-as em grandes escolas, está afastada? No passado, tivemos uma discussão forte sobre este assunto e, curiosamente, acho que com ideias pouco sedimentadas. Esse pode ter sido o problema principal. Avançar para quatro ou cinco áreas não pode ser na base: “Vamos juntar A com B, não A com C, B com C…”. Isto assim não dá. Isto significa que não temos as ideias amadurecidas. E não tendo as ideias amadurecidas, não temos sucesso nas grandes mudanças. [Mas] creio que, se nós queremos ser competitivos no mundo, vamos ter de avançar para situações de maior racionalização organizativa.

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Como espera atingir os objetivos estratégicos que enunciou no seu programa num contexto de fortes restrições financeiras, limitações à autonomia das universidades, imposições burocráticas centralizadoras…? Certamente que nada disso ajuda. Mas, quando propus o meu programa, já tinha este cenário. A situação é aquela que, na minha análise de candidatura, eu pensava que existia. E que é má. Nós temos orçamentos muito inferiores aos de muitas universidades com as quais gostaríamos de competir. Desde logo, no rácio professores/trabalhadores não docentes. É um rácio muito negativo. Não é normal que haja mais professores do que trabalhadores não docentes. Acho que temos menos trabalhadores não docentes do que deveríamos ter, contrariamente ao que se diz. Talvez pudéssemos ter um bocadinho menos de professores e um pedaço mais de funcionários técnicos, porque em larga medida uma instituição só tem capacidade competitiva se tiver estes dois grupos com grande qualidade.


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E essa maior racionalização pode passar pela agregação de faculdades? Pode passar pela agregação de áreas do conhecimento. Mas, neste momento tão difícil que estamos a passar, não é um ponto que esteja em cima da mesa. Há momentos políticos para as coisas, e este não é o momento. Mas estou convencido de que, se queremos ser mais competitivos do que somos, temos todas as vantagens [na agregação de áreas do conhecimento]. Penso que há experiências piloto que se podem fazer, desde logo a dos departamentos transversais. Também temos que garantir uma maior integração governativa das instituições, sem dúvida nenhuma. Como é que vai ser a sua relação com as unidades orgânicas e de investigação durante estes quatro anos de reitorado? O seu programa prometia uma governação descentralizada… Não há nenhuma possibilidade de gerir a Universidade que não seja em total consonância e em continuada articulação com os diretores das faculdades. Se devemos ter 14, 13, 12 ou 10 [faculdades], é uma conversa diferente. Seja qual for o número de faculdades, a gestão tem de passar por uma total consonância. Com firmeza, com argumentos, com discussão viva, como é evidente. E com o reitor, que é o responsável último, a pôr algumas balizas nessa articulação. Iremos construir soluções que, genuinamente, sejam percebidas pelas pessoas. E, para serem percebidas pelas pessoas, são soluções que incluem as contribuições das pessoas.

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“Não há nenhuma possibilidade de gerir a Universidade que não seja em total consonância e em continuada articulação com os diretores das faculdades.”

Com a fusão da Universidade Clássica e da Universidade Técnica de Lisboa, a U.Porto deixou de ser a maior instituição portuguesa do ensino superior. Que consequências tem para a U.Porto a perda desse estatuto? A perda do estatuto, em si, não tem nenhuma consequência especial. Preocupa-me um bocadinho o potencial aumento da capacidade de lobbying da Universidade de Lisboa em relação ao resto do país. E tudo isto é muito delicado. Lisboa é a região mais regionalista do país. E, portanto, nós temos que limitar esse regionalismo. O país tem de crescer de forma harmoniosa e global. Mas Lisboa é a capital, por isso é normal que tenha a maior universidade. Não vejo nenhuma questão nisso.

Com a fusão, a U.Porto não perde relevância nos rankings académicos internacionais? Já se nota agora que, em alguns rankings em que conta a dimensão, Lisboa teve uma subida. Acho que a U.Porto se deve preocupar em subir os seus níveis nos rankings que têm uma qualidade normalizada. Não me importa os rankings por número de estudantes… Agora, quero que nos rankings que tenham como referência estritamente a qualidade que a U.Porto tenha a devida relevância. Temos que contar connosco, e não olhar para o lado. O processo de fusão que ocorreu em Lisboa é replicável noutras cidades e com outras instituições, eventualmente no Porto? Penso francamente que não. Há uma coisa muito importante que é a questão da proximidade. Se nós temos em Lisboa um conjunto de faculdades relativamente próximas, faz algum sentido que estejam juntas. Aqui, no Porto, temos o Instituto Politécnico, que é uma questão diferente. É um problema de outra natureza. E depois temos [as universidades do] Minho, Vila Real, Aveiro… Estamos a falar de cidades diferentes, com administrações diferentes, com ambientes regionais ligeiramente diferentes. Nós podemos fazer consócios; não podemos fazer fusões. Ou seja, a racionalização da oferta do ensino superior deve ser realizada através de consórcios? A racionalização do ensino superior tem de ser feita em diálogo com os governos. Os governos têm a obrigação de serem os coordenadores dessa racionalização. A iniciativa tem, portanto, de partir do Governo? Claro. As instituições vão aderir, em maior ou menor dimensão, em função dos seus interesses. Defendo que as universidades devem funcionar com uma autonomia auditada, no quadro de uma missão contratualizada. Acho que os Governos têm o direito de contratualizar programas plurianuais com as universidades. E, no quadro dessa contratualização, podem influenciar a oferta das universidades no plano da formação. Mas, no momento em que fazem o contrato-programa, deem autonomia às instituições! Deixem as instituições trabalhar, como dizia uma frase célebre.


“Acho que os Governos têm o direito de contratualizar programas plurianuais com as universidades. E, no quadro dessa contratualização, podem influenciar a oferta das universidades no plano da formação.”

Mas o essencial ficou por cumprir. Desde logo, não teve a dimensão que devia ter no plano do financiamento previsto. Que era de 100 milhões de euros, e não veio. Na prática, o regime fundacional abortou. Não, não abortou. Tanto não abortou que os outros todos querem um regime fundacional. Agora, o Governo [decidiu assim] por razões diversas, que têm a ver com as limitações burocráticas que entendeu impor. Mas, para ser justo, não foi só este Governo. Já em 2011, o Orçamento do Estado foi uma coisa terrível [para as universidades]. Teve limitações à nossa autonomia de funcionamento completamente incompreensíveis. Depois em 2012, 2013 e 2014 piorou. Mas não foi só este Governo que iniciou esse processo de limitação burocrática via Orçamento do Estado. Para si, o regime fundacional é um modelo pertinente e viável? Na perspetiva global do termo, é um modelo pertinente e viável. Mas tem bastantes coisas que podem ser mudadas. Penso que tem de haver uma componente mais forte e esclarecida de intervenção da sociedade, não na governação direta das universidades, mas na indicação do Conselho Geral e do Conselho de Curadores, por exemplo.

A prioridade do novo presidente do CRUP, Prof. António Cunha, é justamente o reforço da autonomia das universidades. Até onde acha que deve ir essa autonomia? As universidades devem ter o máximo de autonomia possível para desenvolverem as atividades que lhes foram contratualizadas. Não vejo a autonomia como autogestão, nem acho que o Prof. António Cunha veja. Mas há aí uma certa confusão, até por ideologia política. Não sou a favor da autogestão – sou a favor da autonomia. Mas a autonomia pressupõe contratualização. Autonomia era algo que se pensava que o regime fundacional iria garantir. Entretanto, o Governo suspendeu o regime fundacional. Que consequências é que esta decisão tem para a U.Porto? Não, o Governo suspendeu [o regime fundacional] num conjunto grande de situações. Mas nós ainda temos algumas das vantagens do regime fundacional. [Entretanto, o Governo anunciou que o Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior não vai ser alterado até ao final da legislatura, mantendo-se em vigor a figura da universidade-fundação].

Voltando à racionalização da rede do ensino superior, acha que não foi feita por falta de vontade política? Falta vontade política, na medida em que quem tem de decidir percebe que não tem força política. Mas não tem força política porquê? Pelas razões culturais que nós temos. Temos uma visão cultural conservadora, no plano europeu. Uma visão própria dos países menos desenvolvidos, que leva a resistências muito grandes às mudanças. Há também lobbies regionais a defender as instituições do interior… Na racionalização da rede devíamos, precisamente, proteger o interior da força excessiva natural que o litoral tem. Ou seja, manter essas instituições mesmo que com poucos estudantes? Seguramente. No limite, [podemos] dizer que há determinados temas que são lecionados na escola A, e não na escola B. Ou, por outra, nós não financiamos isto, se as escolas quiserem lecionar é com elas. Os consórcios são uma forma de obviar o problema? Os consórcios são uma forma muito civilizada de tentarmos pôr o interesse nacional acima do interesse local.

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Regime fundacional “não abortou”

“Nós ainda temos algumas das vantagens do regime fundacional.”


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Vê, portanto, vantagens no consórcio UNorte.pt, que cria um quadro de cooperação institucional entre as universidades do Porto, Minho e UTAD? Vejo. Agora, o caminho vai-se fazer caminhando. O consórcio abre caminho a um conjunto de iniciativas. Aliás, já tem havido contactos entre vice-reitores no sentido de darmos passos de colaboração. [Entretanto, foi assinado o acordo de constituição do UNorte.pt]

“[O reitor da U.Porto] é um líder regional. Faz parte de um grupo de pessoas que têm uma responsabilidade grande em promover o desenvolvimento regional, sendo certo que um reitor tem de estar sintonizado com as suas “forças vivas” internas.”

Foi também criada a Plataforma de Cooperação Noroeste Global, que envolve as universidades do Minho, Porto, Católica do Porto e Aveiro, quatro municípios, a COTEC e a Fundação Calouste Gulbenkian. Não há o risco desta plataforma replicar os objetivos do consórcio UNorte.pt? Penso que não. É evidente que todas estas iniciativas têm sempre esta questão de puderem ter alguma sobreposição. Julgo que a Plataforma Noroeste Global é muito mais intensa na ligação à sociedade, ao passo que o UNorte.pt tem a ver com a forma como as três instituições podem colaborar no sentido de fortalecerem a missão de cada uma delas. Portanto, são visões complementares. Mas tudo isto tem de ser gerido de forma sensata. Estes consórcios vão também ao encontro da intenção da U.Porto de reforçar a sua cooperação com as “forças vivas” da região Norte? Claramente. O UNorte.pt tem várias características de motivação importantes. Em primeiro lugar, mantém o diálogo entre as instituições. Segundo, é uma iniciativa que pode promover a ligação entre as próprias áreas municipais. Terceiro, é uma iniciativa que deverá merecer da CCDR-N uma atenção muito especial. Podemos todos ganhar com isso. Nos últimos anos tem-se falado muito da falta de líderes na região Norte. O reitor da U.Porto deve ser um líder regional? É um líder regional. Faz parte de um grupo de pessoas que têm uma responsabilidade grande em promover o desenvolvimento regional, sendo certo que um reitor tem de estar sintonizado com as suas “forças vivas” internas. Tem de haver esta capacidade do reitor de estar sintonizado internamente para poder ser uma voz externa.

“Não há licenciados a mais”

O Prof. António Cunha afirmou ao Expresso que “tem havido esforços do Governo para tentar acabar com a produção de ciência em Portugal”. Corrobora esta frase? Com essa frase, tout court, não estou de acordo. Não há nenhum governo que queira acabar com a ciência em Portugal, [pois] isso seria querer o mal do país. [O Governo] tem é uma visão do que é a produção de ciência diferente da que existia. Não quer dizer que esteja bem! A política que o Governo quer conduzir pode não ser a mais indicada. Que análise faz então da política para a ciência deste Governo? Acho que a política para a ciência foi, globalmente, mal conduzida. A forma como se processou e o tipo de cortes que foram aplicados constituem uma rutura que não é desejável. E criou um ambiente muito desagradável. Uma coisa é certa: falta dinheiro [no Estado]. Portanto, tem havido uma diminuição forte do financiamento em várias áreas. Aparentemente, o Governo pretende obter excelência sem uma produção científica massificada. Isto é viável? Há um grupo indefinido de estruturas de investigação que ou mudavam radicalmente ou deviam ser fechavas, não tenho nenhuma dúvida disso. Mas devíamos identificar bem esse grupo. E, desde logo, ter excluído de visitas [pelos peritos externos da FCT] um grupo muito grande de unidades de investigação foi um erro político grave. Desde logo, havia à partida a intenção de excluir de financiamento pelo menos 50% das unidades de I&D. O Governo diz que não. Diz que o que estava no contrato eram projeções. Eu continuo a achar que isso foi um erro político claro.

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“Os consórcios são uma forma muito civilizada de tentarmos pôr o interesse nacional acima do interesse local.”


Mas daí não se pode inferir que, em Portugal, há licenciados a mais, como defendeu Angela Merkel. Isso é um disparate completo. O que eu acho é que o Governo respondeu mal. Não há licenciados a mais – o que há é pessoas com formação superior a menos. Toda a gente devia ter o mínimo de educação superior, naturalmente muitos deles [no ensino] vocacional. Isto significaria que o número de licenciados em Portugal, em vez de ser de 80%, era de 30%, só que os outros 50% estavam com formações de dois anos [os chamados cursos técnicos superiores profissionais]. Já ando a dizer isto desde 2003 e, finalmente, houve um ministro que reconheceu isto. Só 3% dos doutorados portugueses estão a trabalhar em empresas, quando a média na Europa é de 30%. Como é que podemos aumentar o número de doutorados nas empresas? São números que não se conhecem exatamente, mas penso que é 20% [na Europa]. Seja como for, isso é um problema que nós temos em mãos e que é difícil de resolver. Nós temos que manter o número de doutorados. Para haver conhecimento é preciso doutorados. Mas, depois, o que é que se faz com eles? Não se pode pensar que vêm todos para a universidade. A nossa sociedade não está a ser capaz de absorver os doutorados, por

“Não há licenciados a mais – o que há é pessoas com formação superior a menos.” razões várias. A grande prioridade do nosso desenvolvimento passa, largamente, por ter políticas de absorção dos doutorados pelo tecido económico e social. As nossas empresas não têm ainda o nível de especialização necessário para absorver os doutorados? Acho que isto acontece porque, culturalmente, nas nossas instituições e nas nossas empresas não há ainda a ideia de que os doutorados são pessoas que podem entrar normalmente para os quadros. Pensa-se que o doutorado tem que entrar logo para um lugar muito especial. O que é que está a falhar na relação das universidades com as empresas? Não sei até que ponto se pode dizer que está a falhar. Temos tantos exemplos de colaboração entre as universidades e as empresas... Acho que o ónus está mais do lado das empresas do que das universidades. É preciso haver diálogo e, para isso, é preciso haver pessoas que se entendam, que falem a mesma língua. Neste caso, a língua técnica. Ou seja, faltam interlocutores dentro das empresas. Faltam interlocutores, na medida em que, como disse há pouco, só uma percentagem muito pequena de doutorados é que está nas empresas. Por outro lado, as empresas queixam-se de que há um desajustamento entre os currículos académicos e a investigação das universidades e as necessidades das empresas. Não creio que isso tenha fundamento. Na investigação, há centenas de contratos de colaboração entre empresas e as universidades. Se os cursos devem ser mais académicos ou menos académicos, isso é uma discussão complicada. Nós temos que dar aos nossos jovens uma diversidade de oferta que vá ao encontro das suas apetências, motivações e competências. Mas essa oferta alargada depois não choca com os problemas de empregabilidade? O caminho sólido para o desenvolvimento é aquele que, em cada momento, as pessoas tiram o curso para o qual têm capacidade. Acima de tudo, há o desenvolvimento intelectual da pessoa. Mas os cursos têm de dar competências complementares, para as pessoas terem uma visão de inovação, de empreendedorismo… Para terem uma visão mais dinâmica da vida. Os cursos não podem ser conservadores. 35

O Governo tem igualmente defendido uma produção científica mais orientada para o tecido empresarial. Com esta visão da produção científica não corremos o risco de uma desvalorização, por um lado, da investigação fundamental e, por outro, das ciências sociais e humanas, à partida com menos aplicações económicas? Não acho que haja o risco de diminuição da investigação nas ciências sociais e humanas, que têm uma fatia enorme dos investimentos da FCT. A associação das empresas ao desenvolvimento do conhecimento é algo que foi consagrado no Horizonte 2020, [que] exige uma maior intervenção das empresas nos projetos. Portanto, essa orientação é uma orientação europeia. Nós, há uns anos, tínhamos meia dúzia de pessoas a fazer investigação, que tinham um determinado custo. Neste momento, temos milhares de pessoas [a fazer investigação]. [Logo], a complexidade e os custos do modelo aumentaram exponencialmente. Portanto, é natural que haja alguma contenção nas despesas. [Por isso], a investigação fundamental por curiosidade tem de ser limitada percentualmente. No momento em que há massificação, é normal que se tente que a investigação seja feita em colaboração com a sociedade. Como cidadão, acho bem. Isto é como a massificação das licenciaturas e dos mestrados: é impensável que toda a gente vá tirar um curso de cinco anos. Não há apetência, não há motivação nas pessoas para fazerem isso. E nós não podíamos viver sem um excelente eletromecânico, um excelente eletricista, um excelente pintor…


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A RUA DOS CODEÇAIS ONDE NASCEU, O JARDIM PÚBLICO ONDE BRINCAVA (E OS BANCOS QUE SEMPRE O DESAFIARAM – SALTOU-LHES POR CIMA ATÉ UMA IDADE BEM AVANÇADA), AS POLDRAS QUE, PÉ ANTE PÉ, O LEVAVAM À OUTRA MARGEM DO TÂMEGA, O VARANDIM DE CASA DOS PAIS, REPOUSO PARA BRAÇOS E OLHOS QUE FICAVAM A VER PASSAR (AS FLAVIENSES, PRINCIPALMENTE). AS SERRAS DO BRUNHEIRO, DE LEIRANCO E DO LAROUCO QUE O DEIXARAM PRESO AO SENTIMENTO DE SER TRANSMONTANO. E DO TAMANHO DO QUE VIA. AS ORIGENS DE NADIR AFONSO CIRCUNDAM ESSA “ABSOLUTA OBRA-PRIMA” DE ÁLVARO SIZA VIEIRA, COMO LHE CHAMOU BERNARDO PINTO DE ALMEIDA. O MUSEU NADIR AFONSO, EM CHAVES, VAI ABRIR PORTAS EM MEADOS DE 2015.

A N A B E L A SA N TOS

CULTURA

D

esde o círculo que pintou na parede da sala dos pais, aos quatro anos de idade, até à sobrancelha de uma francesa que tentou retocar, já em idade adulta, sempre foi refém da exatidão. “O círculo é uma forma de uma exatidão tal que cria consonância no espírito. O facto de haver um ponto central, equidistante dos pontos periféricos, esta lei geométrica ressoa uma forte emoção no espírito. É uma contemplação prodigiosa. Com harmonia”. Num documentário de Jorge Campos sobre Nadir Afonso, de 1993, com o mesmo nome, o artista reconhecia que, por exemplo, para o filósofo Immanuel Kant as formas geométricas eram um enfado. Aborreciam. Mas para ele, “o mais belo espetáculo” da sua vida era “olhar para a exatidão das formas de um círculo, um triângulo, ou um quadrado”. Encontrava na busca dessa clareza a alavanca. O desassossego combustível para o exercício cognitivo. Há quem lhe chame o pintor das cidades, mas ele não identifica aí qualquer decisão consciente. “Como viajei muito acabo por ser apanhado nessa emoção que me transmitem as cidades.


Tela Dusseldorf.


CULTURA

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Pormenor do Museu Nadir Afonso.

Nadir Afonso.

Assim como também fui apanhado pela emoção que me transmitem as montanhas de Trás-os-Montes”. Vinte anos depois, no documentário “O Tempo Não Existe”, Nadir Afonso confessa a Jorge Campos que se sente “tocado pela crença” de que algo relaciona a sua obra com o Cosmos. “E se me interrogo, é para tranquilizar em mim uma opressiva carência de compreensão”. Uma tendência para a elucubração que já vinha de família. O pai não dormia se alguma dúvida o apoquentasse. Às vezes, a meio da noite, lá vinha a pergunta: “Como se chamava a tia de Montalegre?” Era a Tia Ricardina. O que tem a ver a tia Ricardina com o Universo… “São as inquietações que nos levam a procurar respostas”. Que o tempo é uma invenção era outra das suas convicções. Concebia a existência de espaço e de corpos que, ao deslocarem-se, geravam movimento e estabeleciam novas relações espaciais. “Na realidade chamamos ‘tempo’ ao espaço percorrido pelos corpos”.* Nasceu em Chaves a 4 de dezembro de 1920. Era para se ter chamado Orlando, mas no dia em que o pai, Artur Maria Afonso, poeta, o foi registar, encontrou um amigo cigano que lhe sugeriu “Nadir”. Significa raro, em hebreu, e designa o ponto astrológico diametralmente oposto a Zénite, relativamente ao qual desenha uma linha vertical, reta, que passa pelo centro da Terra. Aos quatro anos de idade fez um círculo vermelho na parede da sala, um círculo de tal forma irrepreensível que os pais não tiveram coragem de repreender o ‘Riri’. “Sujaste a parede? Eu??? Não era capaz de fazer uma roda tão bem feitinha…” [sorrisos] Quem recorda esta história é Laura Afonso, companheira de vida de Nadir, de quem teve dois filhos.

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“Um dos mais belos equipamentos museográficos de Portugal” Este encantamento por linhas simples sossegou-o em relação à obra de Álvaro Siza Vieira. Nadir Afonso sempre achou que o arquiteto deveria ter liberdade total para desenvolver o projeto do museu. São 4.000 m2 e um investimento de cerca de dez milhões de euros, financiados a 85% por fundos comunitários. A obra, que implicou a requalificação de uma frente ribeirinha do Tâmega, vai acolher o espólio do artista e terá um auditório com capacidade para 100 pessoas, salas de exposições temporárias e permanentes,

biblioteca, cafetaria e uma loja. O museu, que será também sede da Fundação Nadir Afonso, vai atribuir o prémio Nadir Afonso a trabalhos de investigação e bolsas na área da produção artística e científica, organizar ciclos de cinema documental, workshops infantojuvenis e cursos de verão. Vai inscrever-se em toda a cidade transmontana, mas pretende também captar novas franjas de público. Bernardo Pinto de Almeida, professor catedrático da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP), é o comissário da exposição inaugural do museu. Uma “imensa responsabilidade” por duas razões: há que “fazer justiça ao admirável artista que ele foi e fazer justiça ao edifício do Siza Vieira, um dos mais belos equipamentos museográficos em Portugal. É mais um grande edifício do Siza e um grande edifício da nova arquitetura portuguesa. Uma absoluta obra-prima! Seria sempre uma bênção, em qualquer parte do mundo”. Na exposição irá “privilegiar os inícios do pintor, mostrar como chega à abstração e, noutra zona, apresentar a conquista plena dessa abstração – fim dos anos 40, anos 50 – através, sobretudo, dos dois grandes períodos dessa época: egípcio e barroco”. Chegar até ao Espacillimité, “o momento em que a sua obra abre para soluções plásticas que têm a ver com a continuidade espacial da própria abstração. Nadir Afonso é um dos muito grandes artistas portugueses do século XX. Daqueles dez sem os quais não haveria arte portuguesa no século XX! Considerando que o Modernismo começa, em Portugal, com o Amadeu [de Souza-Cardoso], o Nadir é um dos poucos verdadeiros modernistas portugueses, na aceção que o termo tem internacionalmente”. Já na sua obra de juventude, chega “intuitivamente a soluções plásticas que são absolutamente prodigiosas do ponto de vista da construção da abstração europeia. Ele é um grande artista quando comparado com qualquer outro regime artístico internacional”. Haverá ainda espaço dedicado à relação que manteve com a arquitetura. “E que repudiou, não deixando de ser um grande arquiteto. Nadir trabalhou com Le Corbusier [1946-48 e 1950-51, em Paris] e Óscar Niemeyer [1952-54, no Rio de Janeiro e São Paulo] e o que fez é muito bom! Julgo que há uma repercussão forte da arquitetura na sua obra… Aqueles trabalhos da série final sobre as cidades mostram isso”.


Clique para ver o vídeo.

Arquiteto por engano A ideia que sempre moveu Nadir Afonso foi a de ser pintor, reforça Laura Afonso. A Arquitetura foi um engano. “E a culpa não foi minha”, lembrou durante o doutoramento Honoris Causa atribuído ao artista pela FBAUP, em 5 de novembro de 2012. Quando, 70 anos antes, entrou na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP, a antecessora da FBAUP) para se matricular, encontrou um funcionário que, ao ver o seu requerimento, lhe disse: “Então, o senhor tem o curso dos liceus e vai para Pintura? Ó homem, vá para Arquitetura!” Na altura, não era preciso ter estudos liceais para entrar em Pintura. “E eu, cobardemente, transigi” [sorrisos]. Foi na ESBAP que integrou o Grupo dos Independentes. Nome que viria mais tarde porque, como o próprio refere no documentário de Jorge Campos (“Nadir Afonso – 1920-2013”), “eramos os ‘Convencidos da Morte’, em oposição aos ‘Vencidos da Vida’” (grupo formado por personalidades intelectuais da vida cultural portuguesa como Eça de Queirós, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro). Participou em várias exposições do Grupo dos Independentes (IX Exposição de Arte Moderna do Secretariado Nacional de Informação, em 1944, Lisboa, e na Missão Estética de Évora, em 1945, ano em que vendeu a obra A Ribeira ao Museu de Arte Contemporânea de Lisboa). Nunca se sentiu arquiteto, recorda Laura Afonso. Na sala de aula colocava sempre o estirador na vertical. Como se fosse um cavalete. “E à mão livre… Quando o arquiteto é sempre mais rigoroso. E depois chegava aos salões de arquitetura e dava uma aguarelada…”. Prática que levou Carlos Ramos, professor da ESBAP e uma das principais figuras da “Escola do Porto”, a dizer-lhe: “O senhor tem muitas qualidades, mas deve ter falta de material”. Nadir garantiu que não tinha qualquer necessidade de material, mas um dia o estudante de Arquitetura, que vivia na Rua Barão de São Cosme, mesmo ao pé da ESBAP, chegou a casa e tinha à sua espera o estirador mais moderno que existia. Acontece que Nadir Afonso continuou a trabalhar exatamente da mesma forma e, quando chegou o final do período letivo, em vez da habitual avaliação, que rondava os 14 valores, recebeu nota 10. É que, se até então o trabalho poderia parecer mais de pintura por falta de material, a partir daquele momento deixou de haver

Tela Les Spirales (resultado da conversa com Vasarely).

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Tela A Ribeira.


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Futuro Museu Nadir Afonso.

essa desculpa. “Ele ficou tão furioso que levou o estirador de volta para o professor... Foi expulso um mês… E reprovou o ano por faltas. [sorrisos] Depois disso ficaram amigos”. Nadir terminou a parte curricular, seguiu para Paris e regressou em 1948 para defender a tese “A Arquitetura não é uma Arte», orientada por um dos arquitetos mais conhecidos do mundo, Le Corbusier (é a seguir que inicia o período pictórico Egípcio). “Tudo isso gerou conflitos e Carlos Ramos sempre o defendeu. Outro professor que Nadir recordava com grande carinho era Aarão Ferreira de Lacerda, que dava as aulas, de História de Arte, com grande dinâmica e expectativa. Apresentava diapositivos, mas muito rápido porque as lâmpadas faziam aquecer o material. ‘Agora vão ver o busto da Nefertiti’… Mas eram só uns segundos” [sorrisos]. Um dia, estava o Nadir a pintar, no cimo da Rua 31 de janeiro, quando Aarão Lacerda passa. Para. E começa a dissertar sobre o trabalho e as capacidades do Nadir de forma tão entusiasta que se gerou uma multidão à sua volta, para ouvir o mestre e ver o trabalho do estudante. Nadir era

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Laura Afonso.

muito cábula, não estudava nada, e, num exame, Aarão estava a fazer perguntas, e ele, nada! No final, já numa atitude de quase desalento, Aarão Lacerda desabafa: “Isto é quase como estar a examinar um filho” [sorrisos]. Nadir Afonso chega à ESBAP num período extraordinário, lembra Bernardo Pinto de Almeida. “Encontra excelentes professores e muito bons colegas, o [Dominguez] Alvarez, o Resende, o Lanhas, o Pomar e com certeza que esse conjunto de personalidades foi importante para o seu trabalho, embora ele seja, desde o início, um artista tão completamente intencional no que procura que teria sido um grande artista em qualquer lugar”. Em 1946, já em Paris, estuda pintura na École des Beaux-Arts e consegue, por intermédio de Portinari, uma bolsa de estudo do governo francês. Depois da colaboração no atelier do arquiteto Le Corbusier, troca, em 1952, a Europa pelo Brasil, é integrado na equipa de arquitetos de Oscar Niemeyer e, em 1954, regressa a Paris para retomar o contacto com os artistas orientados na procura da arte cinética. Desenvolve estudos que denomina Espacillimité e, em 1958, expõe, no Salon des Réalités Nouvelles, o trabalho Espacillimités, animado de movimento. Em 1965 abandona definitivamente a arquitetura para se dedicar só à pintura. Recebeu o Prémio Nacional de Pintura (1967), foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris (1968) e ganhou o prémio Amadeo de Souza-Cardoso (1969). Em 1970 publicou “Mécanismes de la Création Artistique”, tema de uma exposição retrospetiva no Centre Culturel Portugais da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, repetida na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e expôs no Centre de Culture TPN, em Neuchâtel, na Suíça. É na primavera de 1977 que conhece Laura Afonso. Tinha acabado de chegar a Chaves. Entre outubro e abril, Nadir costumava estar em Paris. “Era mais fácil passar lá o inverno porque as casas estão melhor preparadas e ele era muito friorento”. Por isso os pais lhe ofereceram um capote alentejano, quando foi para lá viver. “E ele fez muito sucesso a circular em Paris com aquele capote... Depois teve uma namorada russa que lho pediu. E lá foi o capote” [sorrisos]. Naquela primavera de 1977, Nadir Afonso recebia visitas no seu atelier e, um dia, foi a vez da aluna do 7.o ano do liceu lá ir... “Nadir tinha muita graça a contar histórias e era muito gentil e afável. Fin-


Tela Espacellimité.

As poldras do rio Tâmega. Nadir Afonso.

“O homem volta-se para a geometria como as plantas se voltam para o sol” Autor de um vasto trabalho teórico e pictórico, em 93 anos de vida produziu entre 10 a 15 mil obras, foi bem cedo que chegou a grandes soluções plásticas, como sublinha Bernardo Pinto da Almeida, que aponta, ainda, a constante relação entre o pensamento estético e visual. “Toda a reflexão é pictórica”. Em 2010 realizou-se uma grande exposição da sua obra, “Nadir Afonso Sem Limites”, no Museu Nacional Soares dos Reis e no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. O Museu da Presidência também lhe dedicou a exposição “Absoluto 2010”. A sua pintura tem sido exibida em mais de uma centena de exposições e está representada em museus nacionais e estrangeiros [Lisboa, Porto, Amarante, Rio de Janeiro, S. Paulo, Budapeste, Paris (Centre Georges Pompidou), Berlim e Wurzburg]. Para além dos guaches e das pinturas, estarão presentes no Museu Nadir Afonso cerca de 300 estudos que denunciam a sua evolução e capacidade de trabalho. “Há pessoas que fazem esforços para trabalhar, eu faço esforços para não trabalhar”, costumava dizer a Laura Afonso. Chegava a ficar com dores de cabeça com aqueles trabalhos que “exigiam uma luta maior. Começava de manhã, passava a hora de almoço sem almoçar, chegava à noite esfalfado sem conseguir atingir a tal unidade geométrica”. Um dia, em Paris, recebeu o amigo, pintor e escultor Victor Vasarely (1906-1997), mostrou-lhe alguns quadros, mas um deles, que não o satisfazia, deixou-o virado para a parede. É que, se Vasarely considerava que a arte era subjetiva, Nadir defendia que uma obra de arte, quando está acabada, tem de agradar a todos. Precisamente por causa daquela regra matemática latente em toda a obra e que tem de ser exata para todos. A conversa fluiu, Nadir mostrou o quadro que tinha escondido e Vasarely concordou. O quadro não estava “correto”. Então, o amigo levou consigo o estudo do quadro e combinaram que cada um tentaria

encontrar uma forma de “fechar o quadro”. Foi Vasarely o primeiro a encontrar a solução. “Então, também hei de encontrar”, respondeu Nadir. E encontrou. “Depois juntaram o resultado a que cada um tinha chegado e ambos tinham chegado, exatamente, ao mesmo”. Se ao visitar uma exposição, acrescenta Laura Afonso, “Nadir visse um quadro seu, antigo, que achasse que não estava bem, se detetasse um erro, sentia-se como se estivesse a fazer striptease [sorrisos]. Era como se toda a gente estivesse a ver o erro. E começava a transpirar”... Para Nadir Afonso, a obra tinha de ser depurada até ao absoluto da sua composição. Até que as leis se revelassem de forma exata. Que leis? As da matemática que se apreendem através da emoção. Aí está a essência da obra de arte. “O homem volta-se para a geometria como as plantas se voltam para o sol: é a mesma necessidade de clareza”. ** Mesmo aquele que não percebe nada de matemática, dizia Nadir a Jorge Campos, mesmo esse “sente a exatidão”. No documentário “O Tempo Não Existe”, Nadir afirma que “o artista sente na geometria da forma a única qualidade (…) capaz de se opor à irreprimível efemeridade das coisas. Sente a perfeição mais justa, a evocação mais sincera, a originalidade mais rara. Na sua perseverante criação, o verdadeiro criador apreende essa propriedade essencial de fonte geométrica a que chamo morfometria. Só ela caracteriza a obra de arte universal”. Uma “emoção” que saltava para fora dos limites da tela. Laura Afonso conta que, numa das viagens que Nadir fez de comboio a Paris, ia sentado perto de uma senhora que trazia as sobrancelhas pintadas. Ora, o traço tinha uma imprecisão que não estava a dar descanso a Nadir. Assim sendo, o artista levantou-se, dirigiu-se à senhora, explicou o motivo da sua inquietação e ela ofereceu-lhe um lápis para corrigir a imperfeição. Mas, quando ele se aproximou para desenhar, sentiu-se envolvido por um perfume tal que o terá deixado absolutamente extasiado e incapaz de concluir a tarefa. E a tal senhora abandonou o comboio “com um ‘ilustre’ borrão no lugar da sobrancelha” [sorrisos], conta Laura Afonso. Mas se a pergunta é sobre a sua arte, como lhe fez Jorge Campos, o corpo ganha uma robustez firme, o olhar dispara clareza lúcida e a voz enforma-se. Assertiva. Longínquo e inteiro: “Tenho a certeza absoluta da minha arte!”.

* “Harmonia Eterna”. Centro de Artes Nadir Afonso. 2013. ** “Nadir Afonso. Arte Estética e Teoria”. António Quadros. 2012.

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gia que tocava violino, enquanto imitava o som do violino com a voz, improvisava muito bem ao piano, cantava e dançava muito bem. Conheci o Nadir quando tinha acabado de fazer 18 anos. Ele tinha 56”. Casaram em 1980, quando Laura fez 21 anos, e ficaram juntos até à morte de Nadir, em dezembro de 2013.


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MÉRITO

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Prémio Pfizer para grupo de Helder Maiato

Maria João Ramos: honoris causa em Estocolmo

Daniel Freitas é o novo presidente da FAP

O trabalho inovador desenvolvido na área da divisão celular pela equipa de Hélder Maiato, investigador do IBMC, foi distinguido com o Prémio Pfizer 2014 na categoria de Investigação Básica. O galardão, no valor de 20 mil euros e considerado a mais antiga distinção na investigação biomédica em Portugal, foi entregue em dezembro último. O grupo de Helder Maiato demonstrou que a região central das células em divisão é capaz de medir a posição dos cromossomas, estabelecendo um novo paradigma no controlo da divisão celular. O mecanismo atrasa um dos últimos passos da divisão celular – a formação dos novos núcleos –, para garantir que os cromossomas se distribuem corretamente entre as células filhas. Esta descoberta no campo da divisão celular pode ter “fortes implicações para a saúde humana”, uma vez que permite “descodificar uma base comum essencial para a vida de todos os organismos”, destaca Hélder Maiato.

A professora catedrática da FCUP e vice-reitora da U.Porto para a I&D, Maria João Ramos, foi distinguida, a 26 de setembro, com o título de doutora honoris causa pela Universidade de Estocolmo. Tão prestigiante reconhecimento é justificado pelo relevante contributo científico de Maria João Ramos no campo da proteómica computacional, área da bioquímica dedicada ao estudo das proteínas através do computador. Maria João Ramos é licenciada em Química pela FCUP e doutorada pela Universidade de Glasgow e pelo Swiss Institute for Nuclear Research. Na Universidade de Oxford concluiu um pós-doutoramento em Modelação Molecular e foi, durante muitos anos, diretora associada do National Foundation for Cancer Research Centre for Computational Drug Discovery . É diretora do programa doutoral em Química da FCUP e responsável pelo grupo de investigação em Química Teórica e Bioquímica Computacional da mesma faculdade. Tem vasta reputação nas áreas da catálise enzimática, da mutagénese computacional, do docking molecular e da descoberta de drogas, sendo autora de mais de 250 artigos científicos em revistas internacionais.

Daniel Freitas, estudante da FEUP, foi eleito presidente da Federação Académica do Porto (FAP). Para além de Daniel Freitas, a nova equipa diretiva da FAP conta com os seguintes estudantes da U.Porto: Joana Magalhães (AEICBAS), Marianna Cardoso (AEFADEUP), Clotilde Osório (AEFMUP), Susana Alves (AEFCUP) e Vasco Moreira (AEFEP). Já Francisco Silva (AEFEP) assumiu a presidência da Mesa da Assembleia Geral da FAP. Encabeçando a única lista candidata, o até então vice-presidente da FAP foi eleito com 21 votos pelas 27 associações que integram a federação. O sucessor de Rúben Alves parte assim para um projeto “de continuidade”, que tem como vértice fundamental o reforço da representação estudantil e institucional, traduzido, por exemplo, na afirmação da “posição de liderança [da FAP] no movimento associativo nacional”, segundo disse em entrevista ao JPN. Daniel Freitas lembra que “o mandato será marcado pela realização de eleições legislativas e aí temos a obrigação de intervir enquanto estrutura representativa dos estudantes para marcar o passo na discussão dos temas que entendemos serem relevantes”, dando como exemplos “a reorganização da rede de ensino superior, a ação social escolar, o abandono escolar e o financiamento do ensino superior”.


O professor da FMUP Rui Nunes foi agraciado com a Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos, distinção conferida aos que, “pela sua atividade e mérito pessoal, tenham contribuído relevantemente para a dignificação da profissão médica, da medicina em geral e da humanidade”. Em comunicação dirigida à direção da FMUP, o especialista em Bioética destacou “as magníficas condições” que lhe “proporcionaram ao longo das últimas três décadas e que permitiram o desenvolvimento de um projeto extraordinariamente gratificante”. Agradeceu também aos colaboradores, que apontou como “essenciais nesta trajetória”. Rui Nunes é professor catedrático e diretor do Departamento de Ciências Sociais e Saúde da FMUP, bem como coordenador do curso de doutoramento em Bioética, do curso de mestrado em Cuidados Paliativos e do curso de pós-graduação em Gestão e Administração Hospitalar. É presidente da Associação Portuguesa de Bioética e já presidiu à Entidade Reguladora da Saúde. Publicou duas dezenas de livros sobre temas relacionados com bioética, saúde, cultura e sociedade.

Starting grants para investigadores do IBMC

Os investigadores do IBMC Ana Carvalho e Nuno Alves receberam duas das cinco starting grants (bolsas) do Conselho Europeu de Investigação que a ciência portuguesa conquistou no final de 2014. Ao todo, os dois antigos estudantes do GABBA arrecadaram mais de 3 milhões de euros para as suas investigações. No seu projeto, Ana Carvalho propõe-se usar um nemátodo, o Caenorhabditis elegans, para estudar a divisão das células, em particular a última fase, denominada citocinese, durante a qual se forma um anel contráctil que acaba por separar as duas células filhas. A equipa coordenada por Nuno Alves tem-se dedicado ao estudo do timo, órgão responsável pela produção e diferenciação de células T. O grupo propõe-se perceber que tipo de controlos genéticos e epigenéticos ocorrem dentro do timo, nomeadamente nas células epiteliais tímicas que têm uma função essencial na nutrição das células percursoras das células T e as educam para funcionarem adequadamente contra patogénicos, sem danificar o hospedeiro.

inVitaSens vence Concurso Nacional de Inovação

O projeto inVitaSens, desenvolvido pelo grupo de Doenças Parasitárias do IBMC e da FFUP, é o grande vencedor da 10.ª edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação (antigo Prémio BES Inovação), um dos mais importantes galardões nacionais no campo da I&D+i. O inVitaSens tem como objetivo descobrir os melhores marcadores para identificar a leishmaniose, doença endémica que afeta cães e humanos. O trabalho de mais de uma década da equipa liderada por Anabela Cordeiro da Silva foi agora potenciado pela colaboração de Célia Gomes Amorim, Conceição Branco e Alberto Araújo. Daqui resultou a conceção de um kit de diagnóstico portátil que, utilizando unicamente uma gota de sangue, permite fazer o despiste da doença e decidir sobre o tratamento ou vacinação a aplicar. Mais eficaz do que os métodos de diagnóstico já existentes no mercado, o kit inVitaSens permite reduzir até dez vezes o número de resultados falsos negativos (casos que ficam por diagnosticar). Os investigadores da U.Porto querem, por isso, introduzir o kit em países onde a doença é de declaração obrigatória.

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Ordem dos Médicos distingue Rui Nunes


EMPREENDER

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ENSAIOS EM OVOS DE GALINHA MOTIVAM MODELO DE NEGÓCIO INOVADOR

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O uso de modelos animais tem conduzido a importantes descobertas científicas, além de ser extremamente útil para analisar doenças humanas numa escala reduzida e para testar fármacos com potencial terapêutico. O ratinho é talvez o animal que mais associamos a experiências científicas, mas muitos outros revelam surpreendentes semelhanças com os humanos. Ainda assim, não deixa de ser inusitada a realização de ensaios in vivo no ovo de galinha, mais concretamente na sua membrana corioalantóide. Pois é este, justamente, o modelo animal alternativo que a Expertus, um spin-off do Ipatimup, utiliza nos seus serviços de I&D, muitos deles com grandes potencialidades na área da oncobiologia.

or mês, 300 a 400 ovos escapam ao seu habitual destino gastronómico e, em vez de serem transformados em sápidas omeletes ou em tentadoras tortilhas, servem de modelo vivo para ensaios laboratoriais. Assim acontece na Expertus, um spin-off do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da U.Porto (Ipatimup) que desenvolve ensaios in vivo na membrana corioalantóide do ovo de galinha, com o intuito de estudar mecanismos de doenças, validar resultados de investigações e testar fármacos numa fase pré-clínica. Este conjunto de potencialidades é particularmente significativo na área da oncobiologia, uma vez que o embrião de galinha, por ser naturalmente imunodeficiente, permite a inoculação de células e tecidos tumorais humanos. Estes ensaios na membrana corioalantóide decorrem do know-how adquirido por Marta Teixeira Pinto enquanto investigadora do Ipatimup, durante os últimos seis anos. Ora, após ter colaborado com diversos investigadores em diferentes contextos de I&D, Marta Teixeira Pinto percebeu que os ensaios que desenvolvia tinham uma aplicabilidade económica. “Comecei a pensar nisto em termos de negócio e não só em termos de investigação”, conta. Assim nasceu a Expertus, startup que tem como fundadores não só a bioquímica Marta Teixeira Pinto como também o marketeer Amílcar Gomes. Para a consolidação do projeto empresarial revelou-se essencial a participação no Building Global Innovators, uma iniciativa conjunta do ISCTE-IUL e do MIT. Foram semifinalistas deste concurso de empreendedorismo, o que os obrigou a desenvolverem um minucioso plano de negócios. Este processo “foi extremamente útil para estruturarmos a empresa”, confessa Marta Teixeira Pinto, assim como, mais tarde, o programa de mentoring da Porto Business School, por indicação do UPTEC. Aliás, a Expertus está incubada virtualmente neste Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto.

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Vantagens do modelo in vivo da Expertus Fundada oficialmente em setembro de 2013, a Expertus presta serviços a quem lhes “entrega células que estão a estudar ou algum composto, biomaterial ou extratos marinhos ou de plantas que queiram testar”, explica Marta Teixeira Pinto. Por ora, os principais interessados nestes serviços têm sido investigadores (à cabeça do Ipatimup,

mas também da FMUP, da FEUP, do CIIMAR, do CNC, do iBET…) e empresas do setor farmacêutico. “Os clientes são sobretudo nacionais, mas queremos mais internacionais. Já estamos nos EUA e estamos a tentar chegar a mercados como o Brasil e o Reino Unido”, garante Amílcar Gomes. No caso das farmacêuticas, esclarece Marta Teixeira Pinto, “o que nos enviam não são as células que estão a testar mas sim os fármacos. Nós temos uma série de linhas celulares que podemos pôr em cultura, colocar no ovo e depois testar os fármacos que nos enviam”. Sobre esta questão, Amílcar Gomes acrescenta que “as empresas que estão a desenvolver fármacos estão numa fase pré-clínica. Portanto, antes desses fármacos passarem aos ensaios clínicos têm de ter uma bateria de testes, o mais completa possível. E nós estamos a contribuir para que essa sedimentação de conhecimento e informação sobre os fármacos seja consistente. Por outro lado, se eles tiverem que decidir que fármaco passar a [ensaios com] ratinhos, podem testar de forma mais rápida e barata no ovo e depois passar à fase seguinte com menos fármacos”. Por aqui se percebe quais são as duas grandes vantagens do modelo in vivo da Expertus: rapidez na obtenção de resultados e economia de custos. A estes predicados podem ainda acrescentar-se a fiabilidade, a eficiência, a versatilidade e a facilidade de customização. Segundo Marta Teixeira


O modelo in vivo da Expertus é tão fiável como os ratinhos.

Ensaio no ovo de galinha.

A Expertus recorre à tecnologia do Ipatimup.

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Novos ensaios com potencialidades oncológicas A maior vocação da Expertus para a oncobiologia é acentuada pelos novos ensaios que a empresa está a desenvolver e que, segundo Amílcar Gomes, “vão permitir, em princípio, prever a resposta de doentes com cancro a determinados tratamentos”. Marta Teixeira Pinto acrescenta que, neste caso, o público-alvo “é a indústria farmacêutica que já está em ensaios clínicos e também

os sistemas de saúde. Nos novos ensaios estamos a tentar chegar um bocadinho mais a jusante no processo, ou seja, já na fase clínica. Ou, eventualmente, assistir os oncologistas na parte clínica, de forma dar-lhes mais informação sobre o fármaco ao qual o doente responderá melhor”. Ainda em relação ao cancro, Marta Teixeira Pinto sintetiza com um aparente paradoxo o papel da Expertus no combate à doença: “Não ajudamos em nada mas vamos ajudar em tudo um bocadinho”. Ou seja, “isto [modelo do ovo de galinha] é uma ferramenta e, se for usada num contexto de investigação, vai apoiar e ajudar no conhecimento dos mecanismos subjacentes ao cancro. Podemos utilizar os ensaios no ovo como ferramenta, quando estamos a tentar definir quais são os alvos terapêuticos”. Ou, mais concretamente, “quais são as moléculas que estão a interferir no processo tumorigénico”. Amílcar Gomes complementa: “Nós não vamos descobrir nada de novo mas podemos apoiar no desenvolvimento de fármacos”, designadamente com os ensaios já disponíveis. Acresce que, com as novas linhas de investigação da empresa, será ainda possível “orientar o doente para o ensaio no qual ele terá a melhor resposta”, diz Marta Teixeira Pinto. “Em contexto clínico, a ideia será testar fármacos que já estão aprovados, apoiando o oncologista na escolha do tratamento ou da combinação de tratamentos”, remata. Porém, para que os novos ensaios da Expertus sejam concluídos é necessário financiamento. Só que, neste momento, a empresa está a ser financiada exclusivamente pelos seus clientes, enquanto a tecnologia é cedida pelo Ipatimup. Logo, não há ainda capacidade financeira para desenvolver na totalidade as atividades de I&D+i previstas. Para obviar esta situação, a Expertus tem estado a “tentar ganhar notoriedade junto dos clientes”, a contactar investidores e a concorrer a prémios (para além de semifinalista do Building Global Innovators, conquistou o prémio IDDNET – Technology Network 2014 do concurso Arrisca C e foi finalista do 16.o Prémio do Jovem Empreendedor da ANJE). Os responsáveis da Expertus pretendem, igualmente, candidatar a empresa a projetos europeus. “Mas nada disto é fácil nem imediato”, admite Marta Teixeira Pinto, que sublinha que o plano de negócios da empresa definiu um financiamento de 500 mil euros.

RICARDO MIGUEL GOMES

Pinto, o modelo “é tão fiável como os ratinhos. Responde é a coisas diferentes. Há perguntas científicas que é mais fiável serem respondidas pelo ovo, nomeadamente saber a resposta angiogénica [desenvolvimento de novos vasos sanguíneos num tecido vivo] de um determinado composto. Neste caso, o ovo é o modelo mais indicado para dar esta resposta”. Já Amílcar Gomes sublinha que “o modelo é muito personalizável. Os clientes sentam-se connosco, apresentam os seus problemas e discutimos em conjunto as melhores soluções. Não é uma linha de fabrico. Damos inputs que achamos que são uma mais-valia para os nossos clientes”. Contudo, Marta Teixeira Pinto ressalva que não querem “substituir os outros modelos [animais]. Estamos a introduzir um passo que vai refinar o processo [científico] e torná-lo mais rápido e barato. Vai permitir validar resultados que eles [investigadores] têm nas caixas de petri e que, por vezes, não conseguem validar no modelo vivo mais utilizado, que é ratinho. [Este modelo] é muito caro e demora muito tempo. Muitos trabalhos param na caixa de petri. Agora, [com o modelo do ovo de galinha] podem avançar um pouco mais e ter uma validação in vivo. E isto vai permitir [aos investigadores] validar resultados, ter maior poder de publicação em revistas com impacto e levar a mais financiamento”, acredita a fundadora da Expertus. Por tudo isto, Marta Teixeira Pinto considera que estão “a inovar pelo modelo de negócio”. De resto, os fundadores da Expertus só identificaram no mundo duas empresas com serviços similares mas menos sofisticados, dado que não preveem a inoculação de células tumorais. A diferenciação da Expertus em relação à concorrência faz-se, então, pelo seu trabalho especializado em oncobiologia, ao qual não é alheia a experiência científica do Ipatimup nesta área.


DA AGITAÇÃO REVOLUCIONÁRIA À ESTABILIDADE POSSÍVEL (III)

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O episódio do encerramento da Faculdade de Economia, que marcou o início do reitorado de Manuel da Silva Pinto, pareceu dar início a tempos mais calmos na U.Porto. Reaberta a Faculdade a 17 de janeiro de 1977, a ausência de perturbações no meio académico permite que, nos jornais, se fale de “dias pacíficos”, notando como principal interesse da semana a criação, a 20 de janeiro de 1977, do curso superior de Psicologia nas universidades de Coimbra, Lisboa e Porto, para o qual se nomeiam comissões instaladoras e se alberga provisoriamente o seu funcionamento nas faculdades de Letras respetivas. Ora, foi precisamente a luta dos estudantes de Psicologia a quebrar a aparente pacatez que então se vivia.

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onfirmando a détente, a Faculdade de Medicina (FMUP), na celebração dos seus 150 anos, recebe no final de janeiro de 1977 o ministro da Educação e Investigação Científica, Sottomayor Cardia, mostrando assim o seu apoio ao autor do decreto sobre a gestão das escolas do ensino superior que tinha incendiado a academia portuguesa no final do ano anterior. Na Faculdade de Engenharia (FEUP), as eleições para a assembleia de representantes e para o conselho pedagógico dão como lista mais votada a lista “independente”, que incorporava elementos moderados da área socialista e social-democrata. Mesmo à aguerrida Faculdade de Economia, em que 50 docentes exigem à comissão de reestruturação nomeada por Cardia a divulgação do seu plano de ação, a acalmia parece ter chegado. Pelo seu lado, os estudantes de Ciências e Medicina elegem direções associativas que demonstram querer demarcar-se de qualquer dinâmica partidária. Na U.Porto, as atenções viram-se para os costumeiros problemas infraestruturais, financeiros ou de pessoal: sobrelotação de estudantes na FEUP, funcionamento da Faculdade de Farmácia em instalações alugadas enquanto se projeta a reconstrução do edifício de Aníbal Cunha após o incêndio de 1975. A Faculdade de Letras (FLUP), apesar dos seus recorrentes problemas financeiros, ocupa em 28 de fevereiro as instalações do “complexo pedagógico” do Campo Alegre, permitindo algum desafogo ao Instituto de Ciências Biomédicas, cujas instalações partilhava (1), fugindo aos “cheiros do quartel do Carmo e do Instituto de Medicina Legal, que [...] obrigavam os alunos a andar de lenço no nariz”. Mas já se sabe que a nova casa será pequena para todos, e ainda não estão aí instalados os cursos de História e de Germânicas. A acalmia invernal chegará, contudo, ao seu fim, dando lugar a dois assuntos que marcarão, nas

notícias sobre o ensino superior, o ano de 1977 no Porto. Por um lado, o Governo procurava colocar ordem no acesso ao ensino superior, atrasando e condicionando a entrada dos estudantes em cursos superlotados, primeiro com o serviço cívico, que agora chegava ao seu fim, coroado com provas de admissão à universidade, e depois com o “ano propedêutico”. Estas medidas eram acompanhadas da reintrodução generalizada do numerus clausus, e ações de protesto contra a nova situação afetarão, embora marginalmente, a U.Porto. Mas poucos acontecimentos deste ano terão tido um impacto tão notório quanto a luta dos estudantes de Psicologia. A situação inicial era algo complicada: em 1975-76, tinha funcionado no curso de Filosofia da FLUP uma opção de Psicologia, caracterizada como “experiência pedagógica”. Em maio de 76, dois despachos governamentais pareciam oficializar este currículo, tendo, aliás, o Ministério da Educação e Investigação Científica (MEIC) autorizado a matrícula no 2.o ano deste curso/opção de 50 alunos vindos do 1.o ano da FMUP (2). O rastilho da revolta Com a criação em janeiro do novo curso de Psicologia, tudo muda: as comissões instaladoras têm liberdade para instituir de imediato um 2.o ano curricular, autorizando as inscrições dos estudantes que tinham cursado a “experiência pedagógica”. Mas quando, em março, se iniciam as inscrições, os cerca de 200 alunos que tinham transitado para o 2.o ano da opção Psicologia do curso de Filosofia são instados a submeterem-se a uma nova avaliação. Pelo seu lado, aos 180 alunos que se tinham inscrito nas vagas do 1.o ano desse curso/opção é exigida inscrição no novo curso, não sendo certo se o poderiam frequentar, uma vez que as vagas seriam reduzidas a 100. Em absoluto desacordo com esta exigência, a 14


VIDAS E VOLTAS

de abril (data da conclusão das “pré-inscrições” para a primeira matrícula), os estudantes de Psicologia ocupam o edifício da Reitoria, indignados com a “tábua rasa” feita do ano letivo de 75-76. As suas pretensões são claras: “A validade de todas as matrículas realizadas até ao presente, ficando todos os alunos do 1.o ano no 1.o ano, e todos os do 2.o ano no 2.o ano. Aceitam que os alunos do 2.o ano sejam obrigados a fazer as cadeiras que lhes faltam do 1.o ano constantes do novo currículo, mas apenas essas, e permanecendo eles no 2.o ano”. Como ação de luta imediata, boicotam as pré-inscrições no 1.o ano do novo curso, tendo como objetivo “assegurar o lugar dos 180 alunos” que se tinham inscrito no curso anterior. A sua atuação parece razoável: “Nunca quisemos tomar uma posição de força e tentámos contactar com a comissão instaladora. Esta recebeu-nos inicialmente mas, depois, não quis continuar o diálogo. Voltámo-nos então para o MEIC (…). Isto não é uma luta partidária, mas se não fosse através da influência no MEIC de certo partido não conseguíamos ser recebidos pelo subsecretário do Ensino Superior, Dr. Jorge Silva, o qual até nos deu razão e ficou de contactar posteriormente connosco, mas não mais, desde então [28 de março último], nos deu testemunho do seu interesse”. O reitor Manuel da Silva Pinto não estava presente na altura da ocupação pacífica, mas recebeu os estudantes no dia seguinte, aconselhando-os a formularem uma contraproposta ao despacho do MEIC. Em boa verdade, o documento que propuseram não diferia daquele que tinham apresentado ao reitor: validação, para o novo curso, das inscrições realizadas no 1.o ano do anterior curso e garantia de permanência dos estudantes (quer provenientes de Letras quer de Medicina) no 2.o ano do curso, não sendo submetidos a qualquer sistema de reavaliação. Os novos episódios deste processo revelam a existência de algum mal-estar institucional e de dissensões no interior da comissão instaladora. A 20 de abril, é noticiado que o presidente da comissão instaladora, o psiquiatra Fernandes da Fonseca, assim como o seu colega Eurico de Figueiredo, tinham

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apresentado a sua demissão. Fernandes da Fonseca será substituído por Machado da Cruz, da Faculdade de Ciências. Entretanto, os conselhos diretivo, pedagógico e científico da FLUP afirmam publicamente a validade da “experiência pedagógica” do curso de Filosofia, colocando-se tacitamente do lado dos estudantes, como, aliás, o faz um dos membros da comissão instaladora, o psicólogo Evaristo Fernandes. Mas o MEIC não parece vacilar na sua decisão inicial, sendo marcado o primeiro teste de avaliação para ingresso no 2.o ano do curso (disciplina de Epistemologia da Psicologia) para o dia 3 de maio, que regista a ausência total de estudantes: nem os que se tinham inscrito comparecem. Suspeitando de coação, Sottomayor Cardia usa, então, da mesma solução que tinha resultado no ano anterior com os estudantes de Medicina e que tinha levado à demissão do vice-reitor José Morgado (3): realização dos testes e das pré-inscrições no Governo Civil, ao mesmo tempo que volta a vincar as suas posições, tornando claro que a “experiência pedagógica” do curso de Filosofia não era reconhecida pelo MEIC e que se pretendia simplesmente verificar “a equivalência dos conhecimentos aí ministrados aos das dis-


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ciplinas do curso de Psicologia”. Donde, quem se quisesse inscrever no 2.o ano teria mesmo de realizar os testes. Quem se quisesse inscrever no 1.o ano e não o tivesse feito por causa do boicote às pré-inscrições teria também oportunidade de o fazer agora. Todos os que não seguissem esta via sujeitar-se-iam ao regime de acesso ao ensino superior em vigor no ano letivo seguinte.

Notas: Todas as citações não identificadas correspondem a artigos do ano de 1977 retirados do Jornal de Notícias. (1) E onde também se situavam instalações do Instituto Superior de Educação Física, futura Faculdade de Desporto. (2) Sobre o problema do excesso de estudantes no curso de Medicina em 75/76, ver o primeiro artigo desta série.

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(3) Idem, sobre a demissão de José Morgado.

Confrontos com a polícia O período de inscrições termina sem se registar grande adesão dos estudantes: cerca de uma trintena, sendo o prazo prorrogado até à manhã do dia da primeira prova, 9 de maio. Os estudantes mantêm-se firmes na sua reivindicação, e apenas oito candidatos se apresentam à primeira prova. No exterior, iniciam-se confrontos com a PSP e um estudante é preso. O Governo Civil denuncia o “sequestro de professores” pelos estudantes que se concentravam junto ao edifício e o impedimento da passagem de colegas que se quisessem apresentar às provas. Durante a tarde do mesmo dia, o perímetro policial é alargado e reforçado, para fracos resultados: apresentam-se só mais três estudantes. Nos dias seguintes, poucos mais se dirigirão ao Governo Civil – apenas seis no último dia de prestação de provas, 11 de maio. Neste dia, as atenções viram-se para outro lado: a concentração de estudantes junto ao tribunal onde o estudante preso dois dias antes seria julgado degenera em batalha campal com a polícia, e é seguida de uma manifestação que faz desfilar cerca de dois mil estudantes pelas ruas do Porto. A situação extrema-se – reunidos em plenário no dia seguinte, os estudantes da academia portuense decidem entrar em greve em apoio aos seus colegas de Psicologia. Convém lembrar que, nesta altura, também a Universidade de Coimbra se encontrava em greve, e Sottomayor Cardia dá ordem para o seu encerramento a 13 de maio. Esta questão, associada à de Psicologia, obriga-o a justificar-se publicamente através da televisão, acusando: “Alguns não compreenderam que os tempos de demagogia e de facilitação do ensino terminaram. As oportunidades de frequência do novo curso, dadas pelo MEIC, não foram devidamente aproveitadas pelos estudantes”. Enquanto o encerramento da universidade conimbricense levanta diversos protestos do seu corpo docente, as faculdades e institutos superiores do Porto entram a 17 de maio em greve

solidária com os estudantes de Psicologia (e de Coimbra). Da U.Porto, apenas Farmácia não paralisará, e mesmo Medicina registará uma adesão de 10%. Nas restantes escolas da Universidade (ou que virão a integrá-la) – Ciências, Engenharia, Economia, Letras, Ciências Biomédicas, Escola Superior de Belas-Artes, Instituto Superior de Educação Física – a adesão é total. Também os Institutos Superiores de Contabilidade e Administração e de Engenharia fecham as suas portas, assim como o Magistério Primário. A academia lisboeta começa, também, a movimentar-se: manifesta a sua solidariedade com os colegas do Porto e de Coimbra e contra “a política reacionária e antiestudantil de Cardia que, depois dos métodos administrativos, recorre à repressão violenta sobre os estudantes”. A realização de uma greve geral é aprovada em plenário de estudantes, mas adiada a sua concretização. Sottomayor Cardia apercebe-se de que está a braços com uma situação explosiva e decide aliviar a pressão a Norte: aceita parcialmente uma proposta de resolução do conflito emanada dos estudantes de Psicologia. Num ponto cede quase totalmente, permitindo a entrada no 1.o ano dos estudantes inscritos no curso anterior – mantém o numerus clausus, mas autoriza a entrada de supranumerários. Quanto aos estudantes do 2.o ano, propõe a realização de provas de equivalência a disciplinas no novo curso; os que quisessem uma atualização das matérias anteriormente estudadas e exigidas nalgumas provas poderiam frequentar um período de reciclagem de quatro semanas, que incluiria uma avaliação ao longo do curso intensivo ou, em alternativa, uma prova final. Em caso de reprovação, os estudantes poderiam inscrever-se nas disciplinas respetivas do 1.o ano. A 24 de maio, os estudantes ponderam se devem aceitar esta proposta do MEIC, uma vez que não atendia totalmente às reivindicações dos estudantes do 2.o ano. Mas, a 29 de maio, um comunicado da Reitoria, realçando a sensatez dos estudantes “de todas as faculdades”, informa que as aulas do curso de Psicologia já começaram. E termina: “Os estudantes universitários, os docentes e as autoridades académicas em todos os escalões, procuraram conjuntamente encontrar as soluções mais adequadas, de momento, com grande satisfação desta Reitoria”. Realmente, as aulas de Psicologia podiam iniciar-se. Estávamos apenas no final de maio...

PA U L O G U S M Ã O G U E D E S

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Universidade do Porto Uma das 100 melhores instituição de ensino e investigação científica da Europa. 3 14 1 2 390 1 575 31 352 9 106 5 728 12 760 241 3 517 1 541 129 1 789 514 85 111 678 35 18 141 15 93 376

Campus universitários Faculdades Business School Docentes e investigadores (1 825 ETI) (82,5% doutorados) Não docentes (1 569,7 ETI) Estudantes Estudantes de 1º ciclo Estudantes de 2º ciclo / Mestrado Estudantes de Mestrado Integrado Estudantes de Especialização Estudantes de 3º ciclo / Doutoramento Estudantes estrangeiros (5% do total) Países Estudantes em programas de mobilidade Diplomados estrangeiros (5%) Docentes e investigadores estrangeiros (4%) Docentes estrangeiros em mobilidade Programas de Formação em 2013/14 Cursos de 1º ciclo / Licenciatura Cursos de Mestrado Integrado Cursos de 2º ciclo / Mestrado Especialização e estudos avançados Cursos de 3º ciclo / Doutoramento Cursos de Formação Contínua

4 160 4 073 151,7

Vagas disponíveis em 2013/14 Vagas preenchidas na 1.ª fase do concurso nacional 2013/14 (97% das vagas) Mais alta classificação média do último colocado das universidades públicas

51 9 27 15 3 467 109 130

Unidades de Investigação Laboratórios Associados Unidades avaliadas com “Excelente” e “Muito Bom” Unidades avaliadas com “Bom” Papers indexados na Web of Science 2012 (23% dos papers portugueses) Patentes portuguesas submetidas (até Dezembro de 2013) Patentes internacionais submetidas, incluindo fases nacionais e extensões PCT

16 864 324 18 999 1 707 067 9 1 159 20 2 956 4 771

Bibliotecas Títulos de monografias Publicações periódicas disponíveis on-line Downloads de artigos científicos Residências universitárias Camas (93% ocupação) Unidades de alimentação (cantinas, bares, etc.) Refeições servidas por dia Estudantes Bolseiros

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