Agenda - Urban Sketchers Portugal - Novembro 2023

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AGENDA Novembro 2023

Desenho vencedor do Tema do Mês: Sara Figueiroa

urbansketchers-portugal.blogspot.pt

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AGENDA Novembro 2023

Desenho vencedor do Tema do Mês: Sara Figueiroa

Equipa de produção: Isa Silva, Leonor Lourenço, Manuel Tavares, Rosário Félix, Vírginia Soares Contributos e Desenhos: Ana Conceição, Ana Pimenta, Ana Ramos, Bárbara Loução, Bruno Vieira, Cristina Maria Fernandes, Eduardo Veiga, Ermelinda Barbosa, Isa Silva, Joaquim Espadaneira, Manuel Martins, Maria Silveira Ramos, Pieter Adriaans, Rosário Félix, Sara Figueiroa, Vicente Sardinha

VIAGEM GRÁFICA Croácia, Eslovénia, Montenegro e Bósnia por Ana Conceição

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SIMPÓSIO Auckland, 11th Urban Sketchers Symposium por Vicente Sardinha

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ENCONTRO NACIONAL Ilha Terceira, Açores por Ana Ramos, Bárbara Loução, Eduardo Veiga, Manuel Martins Design e paginação: Isa Silva Revisão: Manuel Tavares, Leonor Lourenço, Vírginia Soares Copyright: Urban Sketchers Portugal www.urbansketchersportugal.blogspot.pt Sugestões e contacto: uskp.actividades@gmail.com

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FESTIVAL Andanças 2023 por Joaquim Espadaneira

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AGENDA Encontros, Formações, Exposições 2

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E D I T O R I A L Olá a todos.

Retomamos a nossa Agenda após uma paragem forçada por motivos vários.

Nesta edição temos a reportagem sobre o Simpósio Internacional dos USk na Nova Zelândia, a reportagem sobre o Festival Andanças 2023 que se realizou perto de Reguengos de Monsaraz e um artigo escrito por vários dos participantes no Encontro Nacional dos USkP na Ilha Terceira.

Caminhamos para o final de 2023, um ano cheio de actividades, mas já estamos a preparar uma surpresa para 2024.

Temos um novo TEMA DO MÊS: Desenhar Jardins e Folhas. Já sabem que o desenho que tiver mais comentários válidos será a capa no nosso blog.

Inspirem-se, relaxem e desenhem muito!

Direcção dos USkP

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VIAGEM GRÁFICA

Croácia, Eslovénia, Montenegro e Bósnia

Por

Ana Conceição

Chegados a Zagreb sentimos que tínhamos voltado ao inverno profundo. Descobrimos uma cidade cinzenta a pulsar de vida. Fomos ao mercado à procura de um café (desenho 1). Os mercados são sempre palcos belos e representativos de uma cidade. As pessoas calmamente compravam as suas flores, queijos, fruta, legumes. Pusemo-nos a caminho de Liubliana. A paisagem muda. Ao entrarmos na Eslovénia as árvores

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desenho 2

são mais altas. Ao redor de Liubliana começamos a ver montanhas, cenário que nos acompanhará ao longo desta Viagem. Deliciamo-nos com estes monstros de pedra de incrível grandeza. (desenho 2). Chegamos à tarde. O nosso hotel é no meio de uma floresta, em Medno. Pessoas circulam de bicicleta. Um silêncio incrível. Com uma ameaça de chuva sempre presente, no dia seguinte, descobrimos Liubliana (desenho 3 e 3.1). No 4º dia partimos em direção à Croácia novamente. Iríamos visitar os lagos. Momentos houve em que, entre a água que caía do céu e a que passava velozmente por nós, não tínhamos bem a certeza se não iríamos ser engolidos por tudo aquilo: montanha e rio, rio e montanha (desenho 4).

Era altura de partir em direção a Split. Pelo caminho encontrámos neve. As meninas estavam mesmo felizes (desenho 5). Chegámos ao maior túnel da maior montanha. Quando entrámos estava nublado e cinzento. Quando saímos, rapidamente a temperatura subiu

desenho 5

desenho 4

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VIAGEM GRÁFICA

Croácia, Eslovénia, Montenegro e Bósnia

Por

Ana Conceição

desenho 8 desenho 6

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dos 5º para os 17º graus (desenho 6). No dia seguinte rumámos a Montenegro. Mas antes, despedida de Split para o último desenho (desenhos 7, 8 e 9).

Está calor. Sentimo-nos de férias. Venço a minha náusea de desenhar no carro e começo a desenhar o que vejo (desenho 11). 6


Ao chegar a Montenegro somos recebidos num posto fronteiriço por um jovem entediado. Pede-nos os documentos do carro e no final, sem olhar para a nossa cara, põe um cigarro na boca, olha para o lado e diz-nos: Go! Ficámos assoberbados com as montanhas (desenho 22) A cidade desenrola-se entre o mar e a montanha ao longo de uma fina estrada. As casas ladeiam a estrada, ora frente ao mar ora na vertical. Abro o caderno e tenho o empregado, o Alex, muito curioso com os desenhos

(desenho 12). Conta-nos que todo o país está a ser vendido aos que fogem da guerra. São abatidas árvores, construídas casas em catadupa, tudo para fazer dinheiro. No entanto, para os habitantes locais, o aluguer ou mesmo a compra de habitações tornou-se impossível devido aos preços. Na manhã seguinte acordo determinada a enfrentar as montanhas (desenho 13). De seguida decidimos visitar a ilha de Perast. A única que pode ser visitada (desenho 14 e 26 ).

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VIAGEM GRÁFICA

Croácia, Eslovénia, Montenegro e Bósnia

Por

Ana Conceição

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desenho 16 Rumámos então a Kotor. Iríamos subir ao seu topo. Perdi o fôlego no primeiro patamar. Deixei-me ficar a desenhar a cidade vista de cima. Quantas vezes temos essa possibilidade? (desenho 15) Passaram por mim várias pessoas. E nós, todos os que desenhamos, sabemos que o desenho é um agregador. O primeiro a ficar comigo à conversa foi um tripulante do cruzeiro “The World” (desenho 16).

Explicou-me que este navio é o único onde podem morar pessoas e que vinha do médio oriente e seguia para a costa da Dalmácia – voltaríamos a encontrá-lo em Dubrovnik. Seguiu-se Milka. Milka aparece de rompante e escala o muro da pequena igreja onde me abriguei para desenhar. Diz-me num inglês rudimentar que ali vai todos os dias rezar para ter saúde – “que é o mais importante na vida”. Já desenho 18

desenho 17

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viu demasiadas guerras. Já recomeçou a vida várias vezes. O que interessa agora é que tem os filhos na faculdade. Milka não fala bem inglês. Já eu não falo, nem bem nem mal, nenhuma das línguas que ela domina, no entanto sinto que a percebo como se falasse português. Vende água no topo da muralha aos turistas desidratados. Já teve uma loja. Já viveu muitas vidas. Milka olha-me nos olhos: “A guerra só traz destruição. Já me refiz da guerra. Fujo dela”. No final, como se nos conhecêssemos desde sempre, selamos a conversa com um abraço. Milka desce a colina em direção à sua vida e eu corro para as folhas do meu caderno para guardar tudo o que ela me deu (desenho 17). Nesse dia ainda conhecemos Ivana, uma montenegrina, professora de espanhol, que esteve connosco à conversa. O ordenado que recebia era tão baixo que acabou por deixar o ensino e ficou a ex-

plorar uma loja de souvenirs no centro de Kotor. Anda de bicicleta, faz-lhe confusão a falta de reciclagem e de infraestruturas que permitam à cidade evoluir de forma sustentável. Ivana faz falta a Montenegro (desenho 18 e 27). Chegámos a Dubrovnik. Entramos na old city. Sentimo-nos em casa ou não fôssemos fãs do Game of thrones. Somos atraídos pelo cheiro a açúcar queimado com canela. Entramos numa loja onde existem doces de alfarroba para venda, amêndoas com açúcar, laranja caramelizada. Ficamos à conversa com Hannah. Fala-nos da cidade, de como o GoT contribuiu para a sua descaracterização. De como uma vila onde moravam 5 mil pessoas, alberga agora apenas 100. De como os mercados estão a desaparecer e os restaurantes vendem tudo a preços inflacionados. Conta-nos as peripécias dos turistas que por ali entram desenfreados: “A melhor que já me aconteceu

desenho 27 9


VIAGEM GRÁFICA

Croácia, Eslovénia, Montenegro e Bósnia

Por

Ana Conceição

foi uma Mãe e uma filha que entraram aqui à procura do bordel do Little Finger e, por acaso, esse sítio sabia onde era porque foi filmado aqui, mesmo à frente da loja. Disse-lhes, é aqui ao lado. Saíram e voltaram muito zangadas: “Aqui ao lado é um museu!” - Sim, disse-lhes, é um mu-

seu. Foi filmado aqui ao lado, num museu...e elas insistiam que queriam ir ao bordel do Little Finger... até que tive que lhe dizer: era um bordel no filme e é um museu na vida na real.…” (desenho 25). Metemo-nos no carro e partimos debaixo de uma imponente tempestade.

desenho 25

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Fazemos quilómetros numa Croácia cada vez mais interior e rural. Voltamos a puxar dos nossos passaportes. Vamos em direção a Mostar, Bósnia (desenho 23). Passamos por vilas que são trespassadas por rios, quais sinuosas estradas que se insinuam por entre as casas. Entramos no primeiro restaurante. Tem uma esplanada maravilhosa sobre a cidade e sobe o rio Neretva (desenho 21). Pedimos a nossa comida e enquanto aguardamos Anuel, que trabalha no restaurante, sente-se confiante e puxa de uma caneta e desenha uns traços (desenho 19). Começamos a conversar, mais a ouvir. Anuel tem 24 anos e fa-

la-nos num inglês esforçado da guerra das mazelas que ficam. E sem que tivéssemos perguntado o que quer que fosse – ali estava à nossa mesa um relato de como países irmãos se tornaram inimigos e ainda hoje as relações, cristalizadas, são mantidas numa paz muito frágil. Anuel vai à Croácia de férias e para trabalhar. Do que gosta mesmo é de ir à Turquia e aí, refere, sente-se bem. Aliás, muito orgulhoso, traz-me um café turco (desenho 20). No último dia acordamos cheios de vontade de nos despedir da cidade antes de nos enfiarmos numa ronda de aeroportos e escalas intermináveis. (desenho 24).

desenho 21

desenho 24

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ENCONTRO Auckland, 11th Urban Sketchers Symposium

Por

Vicente Sardinha

Depois de dois anos de pausa devido à pandemia, 2023 viu regressar o Symposium Internacional dos Urban Sketchers, desta vez na cidade de Auckland nos confins da Nova Zelândia e, pela

segunda vez os generosos membros da associação USKP concederam-me a honra e o privilégio de assistir ao evento como correspondente português. As minhas viagens começam sempre

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no momento da preparação e esta começou no momento em que soube que tinha ganho a bolsa. Em primeiro lugar a gestão da própria bolsa: fazer esticar o dinheiro para tentar cobrir o máximo de despesas. Depois há que escolher voos, hotéis, horários, estudar percursos, aprender sobre o país e sobre a cidade e começar a juntar tralha para levar: computador, cadernos, roupa ( não esquecer de verificar a previsão do tempo ), etc, etc. Este foi o meu quarto simpósio depois de Lisboa como participante em 2011, Singapura como representante português em 2015 e Manchester como formador em 2016. Uma vez que a viagem a partir de Lisboa saía ou muito cara ou com muitas escalas, resolvi partir de Londres e para 13


SIMPÓSIO Auckland, 11th Urban Sketchers Symposium

não falhar o voo do dia 16 de abril saí de casa na manhã de sábado dia 15. Uma tarde e uma manhã na zona de Harmondsworth ( perto do aeroporto de Heathrow ) renderam uma mão cheia de desenhos e muitas horas de espera. A minha viagem oficial teve início na tarde de domingo dia 16 e depois de Munique e Singapura cheguei finalmente a Auckland na manhã de terça feira 18, depois de muitas mudanças de fusos horários. Check in feito, malas desfeitas, tempo de explorar a cidade. Auckland é a capital da Nova Zelândia, uma cidade com dois milhões de

Por

Vicente Sardinha

habitantes, com uma vasta área de subúrbios mas com um centro relativamente pequeno, onde se pode ir para todo o lado a pé ( apesar das obras de uma grande estação central em pleno centro ). Ao final da tarde, de regresso ao hotel, a um canto da Queen Street deparei-me com uma quantidade de gente espalhada pelo chão e encostada às paredes desenhando: Gabi Campanário, Mário Linhares, Hugo Costa, Maru Godas, Marina Grechanick, Joaquim Dorao, Kiah Kiean, Eduardo Bajzek e muitos outros. Começava aqui o Symposium.

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Oficialmente o Symposium começou na tarde de quarta feira 19 com os habituais rituais: check in dos participantes onde recebemos as etiquetas de identificação e o saco com os presentes a que se seguiu a sessão de abertura com os discursos de Genine Carvalheira, presidente do USK e de Eric Ngan em representação da cidade de acolhimento. Para finalizar a cerimónia fomos presenteados com uma fantástica demonstração de Haka (origi-

nalmente uma dança de guerra Maori ). Depois da experiência de passados simpósios este ano estava apenas inscrito na modalidade Sketchwalks, que além de ser mais barata, dava-me maior liberdade de movimentos sem ter a obrigatoriedade de assistir a workshops. Dia 1: sketchwalk na Karanga Plaza ( lindíssima zona portuária ) de manhã e sketchwalk de tarde na Freyberg Square ( como nessa tarde não havia workshops 15


SIMPÓSIO Auckland, 11th Urban Sketchers Symposium

estavam quase todos os 500 participantes apertados na pequena praça. Dia 2: sketchwalk de manhã no Victoria Park Playground e de tarde estava previsto um sketchwalk em St Kevin´s Arcade steps mas como choveu a tarde toda ( com temperaturas de outono entre os 16 e os 25 graus a chuva era mesmo o único senão ) ficámos pela AUT ( Auckland University of Technology ) onde estava sediado o Symposium. Dia 3: Sketchwalk matinal em Queens Wharf ( outra zona da baixa portuária ) e Sketchwalk final na tarde de dia 22 na Aotea Square. Desenhar pessoas, conhecer pessoas, encontrar pessoas, pessoas, pessoas,

Por

Vicente Sardinha

pessoas, este é o segredo da magia do Symposium. 500 pessoas com gostos comuns. A propósito de pessoas uma palavra para os Neozelandeses. As ruas de Auckland estão cheias de gente de origem Maori, Asiática, Europeia, numa mistura de gente simpática e acolhedora. Quanto aos participantes do evento, possivelmente devido à distância e ao preço, a grande maioria eram americanos, australianos, asiáticos e muito poucos europeus (4 portugueses ). Ao final do último dia, depois dos discursos de despedida e de mais uma sessão de Haka encerraram as portas do 11º USK Symposium.

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Saí de Auckland no domingo de manhã e depois de papeete no Tahiti, de Los Angeles e novamente de Londres cheguei finalmente a Lisboa perto da meia noite de segunda feira. No total tinha feito cerca de 50 horas de voo.

No próximo ano esperamos encontrar-nos em Buenos Aires para a 12ª edição, seja como participante, correspondente, formador ou qualquer outra forma. Até lá.

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ENCONTRO NACIONAL

Por

Ana Ramos Bárbara Loução Eduardo Veiga Manuel Martins

Ilha Terceira Açores

Praia da Vitória

Manuel Martins USK Ilha Terceira

necessário, no planeamento, evitar tudo o que poderá ser uma dificuldade no momento da execução. Felizmente no Encontro Nacional USKP na Ilha Terceira não houve quaisquer problemas, pelo menos durante o evento e nos comentários finais manifestados não foi mencionado. As concentrações na Praça Velha aconteceram a horas com as partidas dos autocarros

Valeu a pena. Organizar um evento que envolva muitas pessoas, traz sempre ansiedade e preocupação para quem nunca se meteu nessas andanças. Pode-se se ter a equipa que se tiver, mas se desejarmos o bem de todos sem haver problemas, é 18


Ana Pimenta

Ana Ramos

gressos em Angra do Heroísmo e outra em expositores nos cantos das ruas mais frequentadas da cidade património que nos recebeu e patrocina. A sugestão da edição do livro com os desenhos não vai ficar perdida, tudo faremos para que seja publicado em 2024, pelo menos o paginador, um dos nossos USK, está empenhado e pronto a pôr as mãos nos desenhos. Alguns tiveram a gentileza de deixar comentários:

não havendo falta de assentos para todos os que nos visitaram. Nos lugares a desenhar houve participação e muitos desenhos a maioria deles pintados. Mais pareciam pinturas em aguarela do que desenhos. Por isso atrevo-me a considerar o USK como um movimento em prol da arte por si só, não se limitando ao desenho em si, nem ao esboço (sketchers). Durante a digitalização dos cerca de 40 cadernos oferecidos aos desenhadores pela organização verificamos uma grande variedade de trabalhos indo do lápis à pintura sem desenho prévio ou muito reduzido, passando pela caneta ou desenho a pincel diretamente sem intervenção da grafite. Isto leva-nos a crer que passamos a um outro nível que ultrapassa o inicial do desenho a caneta pura e simples de quem toma notas gráficas de viagem. Devido ao interesse da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (CMA), iremos trabalhar para a realização das exposições, uma no Centro Cultural e de Con-

“Manuel Meneses Martins obrigado por tudo, correu uma maravilha, tu e o teu Grupo da Terceira, foram e são impecáveis! Simpáticos, atentos, prestáveis… correu tudo bem e só posso estar grata por tudo o que vivemos nestes dias e nesta Ilha!!!”. Ana Ramos “Parabéns tb para toda a equipa… Difícil ser melhor recebida, pois a gentileza e atenção foi um marco para a Terceira e ficará na nossa memória. 19


ENCONTRO

Por

Ana Ramos Bárbara Loução Eduardo Veiga Manuel Martins

Ilha Terceira Açores

Até sempre… Voltarei. A Terceira é uma emoção, caminhando.... E descobrindo a nossa História.” Ana Pimenta

“Obrigada pelo carinho com que nos receberam! Gostei tanto!” Rosário Félix “Antes de mais um renovado agradecimento pelo magnífico encontro de UKP na Terceira! Foram dias inesquecíveis, numa ilha tão, tão bela! A companhia foi maravilhosa, desenhar um prazer. Descobri este lugar de Portugal, onde, sem dúvida vou voltar expectante! Sim, quero descobrir o “Parque de diversões” que há no meio do Atlântico! E desenhar mais, claro. Muito obrigada, USK Terceira, isto marcou toda a gente! Abraço” Teresa Mendes

“Eduardo Veiga e Manuel Meneses Martins muito obrigada por tudo, pela organização e atenção que nos dedicaram, fiquei com vontade de voltar com mais calma.” Susana Nobre “Os meus parabéns a quem esteve envolvido na organização! Foram 3 dias fantásticos que, apesar de algum cansaço, por mim podiam ter sido mais 3 ou 4. Obrigado também aos nossos camaradas que vieram do Continente e que ajudaram esta festa a ser ainda melhor!” Bruce Azevedo

Bárbara Loução

Bruno Vieira

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Biscoitos

Eduardo Veiga USK Ilha Terceira Foi com muito gosto que aceitei o convite do Manuel Meneses Martins, para participar como guia no encontro nacional USKP, que este ano se realizou na ilha Terceira. A recepção ao grupo teve lugar na “Biblioteca Publica e Arquivo Regional Luis da Silva Ribeiro”, com direito a beberete e os deliciosos doces tradicionais, uma oferta do nosso camarada Emanuel Félix... Tivemos a intervenção do Vice Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, o Sr. Guido Teles, do Manuel Martins por parte da organização e como membro da Associação USK ilha Terceira, e ainda da Isa Silva, como presidente dos USK Portugal. Durante a realização da tarefa que me foi confiada, e com a preciosa ajuda da lista de participantes, fui conhecendo e memorizando nomes e caras.

Cristina Maria Fernandes 21


ENCONTRO

Por

Ana Ramos Bárbara Loução Eduardo Veiga Manuel Martins

Ilha Terceira Açores

Ermelinda Barbosa No primeiro dia foram todos chamados pelo nome próprio, um a um, de forma que ali se quebrou o gelo com todos os participantes. A nossa primeira saída pela ilha, deu para mostrar uma boa parte da nossa paisagem, com passeio em autocarro pela costa Sudeste e passagem pelas zonas balneares. Desenhamos e almoçamos na cidade da Praia da Vitória. Sempre se criaram bons momentos de relação e camaradagem. Realço na parte da tarde a nossa passagem pelo miradouro da serra do cume, com vista para a caldeira dos cinco picos. É uma ponto de excelência para quem nos visita e considerado pela critica como um dos miradouros mais bonitos de Portugal. As nossas vistas perdem-se por alguns km de campos verdes, divididos em quadrados separados com muros de

pedra vulcânica, que visto de cima faz lembrar uma manta de retalhados, a qual se estende desde o miradouro até a serra da ribeirinha, a mais de 6 km de distância em linha reta, com o mar à esquerda. Tivemos muita sorte com o tempo, sem vento e com céu descoberto. O resto da tarde foi com uma visita à casa Agrícola Brum - Museu do vinho nos Biscoitos, do lado norte da ilha, onde os desenhos feitos no local foram apreciados pelos donos do espaço. Tivemos direito à prova do Vinho licoroso “Chico Maria” (Doce), e cantamos os parabéns a uma aniversariante do grupo. No regresso a Angra do Heroísmo, demos um passeio de autocarro a conhecer o lado Oeste da ilha, onde conseguimos avistar as ilhas Graciosa e São Jorge. Sempre com a boa disposição do nosso 22


Isa Silva motorista, Sr. José Manuel, que foi sem dúvida uma mais valia pelos conhecimentos e histórias que partilhou connosco. Já no segundo dia, sempre religiosamente às 09h no nosso ponto de encontro, a Praça Velha em Angra do Heroísmo, lá saímos andando espalhados pela cidade na descoberta de pontos de interesse para os nossos tão amados desenhos. De tarde, o nosso autocarro levou-nos ao miradouro do Pico das cruzinhas, no Monte Brasil, para desenhar. Ainda tivemos uma paragem para ver a caldeira do vulcão usada atualmente como carreira de tiro, sendo o acesso ao seu interior condicionado. E não se entra numa fortaleza militar sem mostrar o cartão de cidadão. Foi assim que aconteceu a última visita da tarde para desenhar a Praça de armas do Regimento de Infantaria de Angra do Heroísmo, também chamado de Regimento de Guarnição n. 1, ou ainda, Fortaleza São João Batista. A nosso pedido, saímos pelo portão principal de acesso ao castelo. Como parte do nosso programa convívio jantamos todos num restaurante da cidade, com os respectivos acompanhantes. Para mim, mais uma oportunidade em que falei com todos, e a todos tratei pelo nome. Aquela lista de participantes de muito me valeu e contribuiu para o êxito do nosso encontro.

No último dia tivemos uma visita guiada por Angra do Heroísmo com o guia turístico Sr. Ramiro, que com a sua sabedoria foi explicando um pouco das histórias, hábitos e costumes. O momento final para os discursos de encerramento, foi no salão nobre da Câmara, onde o vice-presidente Sr. Guido Teles nos endereçou um caloroso agradecimento pelo sucesso do evento e onde todos recebemos o livro “Angra, património de linhas e cores”, um livro inteiramente ilustrado com desenhos do nosso grupo USK Ilha Terceira, para a comemoração dos 40 anos da classificação a património mundial, da zona central de Angra do Heroísmo, pela UNESCO (1983/2023). Ficou a promessa de ser lançada uma edição em livro com os desenhos realizados no âmbito do nosso encontro nacional 2023. Da minha parte e em nome do nosso grupo USK da ilha Terceira, deixo aqui um grato reconhecimento pela amizade e pela colaboração que todos tiveram neste evento. Um bem-haja a todos. Ana Ramos Quando a vontade se quer e as forças da natureza, do universo, ou sei lá o quê, conspiram baixinho, tudo se conjuga para que as coisas sejam possíveis. Foi assim com a viagem que programei à Terceira (ou pouco programei), porque os meses e 23


ENCONTRO

Por

Ana Ramos Bárbara Loução Eduardo Veiga Manuel Martins

Ilha Terceira Açores

dias correram desvairados pelas sombras e curvas do tempo. O propósito foi participar no 1º Encontro de Urban Sketchers Ilha Terceira, que ocorreu de 31 de Agosto a 3 de Setembro. Quando dei por isso era véspera de viagem e esperavam-me 11 dias na Ilha para desvendar segredos, recantos, jardins, história, paisagens e tanta coisa bonita que os rumores de outros me traziam aos ouvidos. E que linda descoberta! Num Verão imaginado à distância, percorri nos oito dias anteriores ao encontro todas as passagens de estrada entre verdes e azuis, entre pedras que trazem o mar, as serras, o ventos e os campos, passei todas as pontes entre os salpicos de maresia, de chuva e de suor e vi todos os horizontes em que o céu ou o mar são os limites. Há na Ilha um palpitar da Vida que repousa no silêncio, nas nuvens que falam, na terra que avista o mar, na terra vista de lá e no voar enfeitiçado das gentes rumo ao futuro. Tivesse eu dedo (ou dedos) para a fotografia e guardaria na máquina todas as imagens que à hora da partida me deixaram nostálgica e já saudosa. Mas voltemos ao propósito principal que me levou à Terceira: o encontro de Urban Sketchers. Num primeiro momento (3108-2023, 17h30m) encontrámo-nos todos na Biblioteca Pública Luís da Silva Ribeiro em Angra do Heroísmo, e aqui olhámo-nos e ouvimo-nos uns aos outros, conhecendo-nos já, ou anunciando-nos agora, quando juntos nos iríamos perder em gestos criativos e impulsos de encanto

aconchegados em cadernos, gentilmente cedidos pelos organizadores, para registarmos os momentos inscritos no programa. Palavras bonitas, simpáticas e férteis em promessas, ditas pelos representantes da Câmara Municipal de Angra, do Grupo US da Terceira e do Grupo USk Portugal, aqueceram o nosso coração e deixaram as nossas mãos cheias de desejo de se entregarem à tarefa. Não sem que antes se alimenta-se o estômago com umas soberbas “D. Amélia” e outras iguarias locais, confeccionadas pela esposa do colega Sketcher da Terceira Emanuel Félix, regadas com boas gotas de tinto, que trouxeram o convívio, o riso e aquela exaltação bem disposta de estarmos todos juntos em redor de um amor comum: o conhecimento, a partilha e o desenho. No dia seguinte pela manhã (sexta-feira, 9 horas), haveríamos de rumar à Praia da Vitória. Na Praça velha de Angra fomos meticulosamente contados e (re) contados no autocarro, pelo timoneiro/ guia e Sketcher Eduardo Veiga (não fosse alguém perder-se). Chegados ao destino, aquecemos os olhos e as canetas nas paisagens que espreitam a cada rua, cada dobra de mar, cada espaço de sol ou qualquer outra aparição que brote à vista destes amantes do desenho. Até à partilha, na praça central da vila era vê-los espalhados, em pé ou sentados, mais calmos ou apressados, mais dormidos ou menos acordados, apontando o ângulo às esquinas, respirando a alegria do silêncio do sol 24


Maria Silveira Ramos

e das sombras, promovendo o encontro feliz entre desenho e património. Depois foi o almoço, lá mesmo ao virar dumas quantas pedras e esquinas e sem esperas inúteis. Oferecido pela Associação local, foi o espaço de partilha que se esperava. Não houve silêncios. Só sons, só pontes de ligação e faces iluminadas, não só pelos sabores e odores do soberbo repasto, mas pelo repartir dos desenhos de cada um, dos gestos e sonhos que acabam ali uma linha ou uma cor (e começam outras), dos conhecimentos cruzados entre os simpáticos e prestáveis sketchers da Terceira e todos os outros, idos de muitos locais. Segunda etapa deste dia: Serra do Cume, onde os mais belos verdes lutam corpo a corpo com os azuis do horizonte: mar e céu. Por entre as vidraças do autocarro ou na rua ao ardor do vento, tiram-se fotos e fazem-se breves desenhos das infinitas planícies, quais mantas de retalho verdes debruadas a castanho, onde habitam intermitentes e espaçadas as aldeias, as vacas e os pastos. A paragem seguinte poderia ser uma comida pela delícia do nome: Biscoitos. Mas

o que fomos encontrar ali foi uma prazerosa bebida. Zona balnear por excelência, onde os pés pisam rochas e os corpos ardem ao sol sem areia para sacudir, é também a única zona da ilha onde se produz vinho. O Museu do Vinho e a adega e quinta da família Brum receberam-nos de braços abertos e entre marés a favor e outras contra, erguemos os dedos e as canetas, absorvemos os cheiros, a paisagem e a poesia do local e registámos belas “castas” pictóricas para memória futura. “Pelo S. Martinho, vai à adega e prova o vinho” diz o ditado. Não era S. Martinho, mas provou-se o vinho, licoroso, suave que nem pluma. Então ergueram-se copos, abriram-se bocas e cantou-se os “Parabéns a você” (que a Virgínia fazia anos) e o som inundou toda a adega enxugando todas as tristezas. Hora de voltar a Angra por estradas à beira-mar, em corrida vertiginosa com o tempo, espreitando ruas e lugares, olhando os prados, o firmamento e as ilhas que trazem o mar. No sábado voltámos a reunir-nos na Praça Velha de Angra (9.00 da manhã). Manhã livre e luminosa para o desenho. Cada 25


ENCONTRO

Por

Ana Ramos Bárbara Loução Eduardo Veiga Manuel Martins

Ilha Terceira Açores

qual por si desenhou o que sentiu brilhar aos seus olhos e em diversas formas nos perdemos: nos jardins, no mar, nos barcos, nas igrejas, nas janelas, nas gentes, nas ruas ou nas claridades perdidas desta bonita cidade. A seguir ao almoço de novo o autocarro e a contagem e (re)contagem dos sketchers, rumo ao Monte Brasil, onde a paragem obrigatória foi junto ao Miradouro das Cruzinhas. Aqui não havia esquinas, nem beira-mar… só natureza. Tarde calma

cheia de sol, vento suave, foi aqui entre galhos, com gestos e respiração lentos e os ouvidos atentos ao cantar dos galos, que desenhámos o espaço e a cidade vista dali. Depois da partilha dos desenhos junto à cruz, foi hora de descermos umas quantas curvas para um encontro militar. Fechadas a meio do Monte Brasil, estão as tropas que habitam a Fortaleza de S. João Baptista. Passados na inspeção de CC na mão, fomos pela tarde até à Praça de Armas desta fortaleza. Motivos para registar não haveria de faltar e inspiração também não. Protegidos do vento e do mar, imersos no solitário e antigo, não houve medo nem terrores, só linhas caladas (mas vivas) e o espanto no olhar pelos efeitos de luz nas paredes caiadas ou nas cinzentas, estas corroídas pelo desgaste dos tempos. Final do dia. Angra de Novo e o Jantar Convívio. Mais um momento de partilha e convívio entre todos: “19h30m todos no Restaurante/esplanada do hotel Beira-Mar”. Órfãos do tempo (sem vazios) e generosos de coração, com amizade e riso partilhámos os saberes (e os sabores, da alcatra tradicional, pois claro!). Despedimo-nos sem silêncio e com beijos exaltados e abrigados pelo manto negro do céu e mar, fomos repousar os olhos e as paisagens. Último dia: Domingo! À chamada das 9.00h da manhã poucos foram. Como às vezes passamos pelas coisas sem as vermos, lá estava pontual o nosso guia local (Ramiro, “se bem me lembro”), para cha-

Pieter Adriaans

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mar a atenção para a história da ilha e da cidade. Caminhámos pelos pedaços de terra e pedra que agitam a vida da cidade e ficámos a conhecer de que é feito o sentir e a memória dos lugares e dos povos desta Ilha. Último momento deste Encontro: A hora da partida, mas não o “ADEUS”! No salão nobre da Câmara Municipal, às 14h30m, dão-se os agradecimentos finais, entregam-se os cadernos cheios de alma e de desenhos, batem-se as palmas aos amigos da Terceira que connosco cruzaram estes dias e que foram os “poetas” das imagens agora lançadas em livro. Além desta terra e suas gentes que nos acolheram tão bem e com gestos de ternura nunca esquecidos, “Angra, património de linhas e cores” com que a Câmara Municipal nos presenteou, foi o presente mais bonito e mais completo deste Encontro.

Bem hajam amigos da Terceira, artistas esforçados, simpáticos e atentos, que tanto sabem dar à divulgação e valorização da vossa lindíssima Ilha. Continuem e obrigado, da minha parte e da de todos (creio) que tiveram o prazer de “viver a Terceira” nestes quatro dias. Fechada a tarde é hora do regresso para muitos, mas ainda não para outros, que entretanto aproveitaram mais uns dias para se entregarem aos verdes e azuis das estradas e caminhos, aproveitando o sol, o mar, a gastronomia, a praia e o convívio com as amorosas gentes da Ilha. Até Breve! Bárbara Loução Enquanto desenhadora convicta sempre achei que seria difícil desenhar o que via ao meu redor. Que nunca seria capaz de desenhar paisagens, por exemplo. Assim, desenhava o que via nas revistas e muito principalmente gostava de desenhar rostos humanos. Até que um dia, isso mudou. Ter a convicção que não sabia desenhar à vista deixou de ter qualquer importância. E isso surgiu quase paralelamente com a pandemia e com a aproximação aos Urban Sketchers da ilha Terceira. Foi um exercício de libertação agarrar num pequeno caderno e numa caneta e ir por aí a desenhar o que chamava por mim. Bem ou mal mas perceber que o mundo, todo ele é desenhável e que o conhecimento que se tem dele é maior pelo simples facto de se conseguir, à nossa maneira, plasmá-lo numa simples folha. Apesar de não ser uma desenhadora tão assídua quanto desejava por múltiplos outros afazeres culturais em que a ilha nos envolve, não podia deixar de responder afirmativamente ao desafio que o Manuel Martins me lançou e a tantos outros amantes do desenho, de realizar na ilha

Rosário Félix 27


ENCONTRO

Por

Ana Ramos Bárbara Loução Eduardo Veiga Manuel Martins

Ilha Terceira Açores

Terceira, um encontro nacional de Urban Sketchers. E que bonito foi. Ter o prazer de poder ajudar, à minha medida, gente de outras partes do nosso magnifico país a conhecerem a ilha foi o ponto alto deste encontro. Mostrar-lhes todas as pequenas graças e encantos desta terra, falar-lhes

um pouco da história, hábitos e tradições. Comparar formas de estar. Explorar-se a gastronomia da terra. E desenhar. Tendo o desenho como veículo para o conhecimento. E foi nisso que este encontro foi grande. Obrigada pela oportunidade!

Monte Brasil

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FESTIVAL Por

Andanças 2023

Joaquim Espadaneira

A dança nunca esteve muito presente na minha vida. Tirando uma tentativa frustrada de dançar a Macarena num fim de madrugada nos longínquos anos 90, não me recordo de alguma vez me ter atrevido a tentar algum tipo de movimento corporal a que se pudesse chamar dança. Confesso ter uma certa inveja de quem consegue, e fascinam-me aqueles que dominam tal arte. No entanto foi sem nenhuma hesitação que agarrei a oportunidade de desenhar um festival de danças do mundo. O Festival Andanças 2023 realizou-se no Campinho, Reguengos de Monsaraz, no final de junho e início de julho e a organização (Associação PédeXumbo), à semelhança de edições anteriores, formou uma equipa de informação constituída por fotógrafos, videógrafos, e um desenhador… eu. O festival é todo ele um pequeno mundo que ocupa a aldeia durante aqueles dias. Destaca-se pelo envolvimento de toda a comunidade, o carácter familiar, a preocupação com a sustentabilidade ambiental sendo todo ele construido de forma a proporcionar o maior conforto aos participantes.

A dança é rainha mas muito mais acontece: feira, concertos, workshops, caminhadas, observação de estrelas, yoga… tanta coisa a acontecer e tanta coisa para desenhar. Apenas levava comigo uma certeza, modelos não haviam de faltar. A dança vive 29


FESTIVAL Por

Andanças 2023

Joaquim Espadaneira

do corpo em movimento, teria modelos em todas as poses possíveis e imaginárias. Uma das primeiras dificuldades que se levanta quando tentamos desenhar pessoas a dançar é o facto dos nossos modelos nunca estarem parados. Mas desenhar é observar e rapidamente me apercebi que as danças tradicionais, sejam elas de onde forem, são movimentos que se repetem a determinado ritmo. Assim ia elegendo as poses dos dançarinos, esperando que voltassem a repeti-la para poder observar mais uma fração de segundos continuando o desenho mais um pouco. Desenhava ao mesmo ritmo que eles iam dançando. Aqui verifiquei o verdadeiro poder de observação que o desenho nos dá. O esperar pela pose certa, levou-me ao fim

de pouco tempo a perceber a sucessão e a ordem dos movimentos, a estrutura, a ocupação planeada do espaço… tudo aquilo que faz a dança. Posso dizer que a desenhar aprendi a dançar. Os termos utilizados passaram a ser familiares e lentamente ia adivinhando se iríamos ter pares, quartetos, filas ou rodas. Durante a dia ocorriam as oficinas de dança, onde os participantes aprendiam o que iriam pôr em prática nos bailes que se realizavam ao serão e pela madrugada fora. De quando em vez voltava à minha zona de conforto e desenhava os músicos, pois estou habituado a desenhar concertos. Aqui os bailes são autênticos concertos e os concertos transformam-se em bailes. Algumas vezes senti a 30


necessidade de recorrer à cor, coisa que não costumo fazer (desenho essencialmente a preto e branco), mas desenhar o Andanças sem cor, nalguns casos, é impossível. De certa forma eu estava à espera por isso precavi-me e levei comigo as aguarelas. Mas nem só de dança vive o Andanças. Estava eu entretido a desenhar mais um baile quando me apercebo que alguém está a observar por cima do meu ombro, situação habitual que aconteceu de forma recorrente durante o festival e que deu origem a agradáveis encontros, boas conversas e felizes convívios. Mas desta vez quem me observava tinha um desafio para mim: ia dar um workshop de massagem ayurvédica e poderia ser interessante eu passar por lá. Prontamente aceitei pensando ser tarefa fácil, uma dúzia de pessoas paradas pensava eu, ia ser canja. Subitamente estou numa tenda apinhada com cerca de uma centena de pares prontos para massajar e serem massajados. Fiquei preso num canto sem conseguir sair. Eu não fazia a mínima ideia da viagem que ia acontecer. A massagem ayurvédica leva as pessoas para outra dimensão, de repente toda aquela gente estava num mundo transcendental, apesar da multidão era como se cada par estivesse sozinho, sem se aperceberem da presença dos outros, num grau elevado de partilha e intimidade. E enquanto toda aquela gente atingia o nirvana eu, o “voyeur”, desenhava. Não pude deixar de sentir que estava a entrar na intimidade das pessoas, como se estivesse a ouvir à socapa uma conversa intima ou me estivessem a revelar segredos demasiados pessoais. Foi intenso. Outro desafio foi desenhar uma peça de bailado contemporâneo. Rapidamente me apercebi que aqui não havia movimentos repetidos e o grau de improvisa-

ção devia ser elevado. Conclusão: tirar a “fotografia” com o cérebro e fazer o registo o mais rapidamente possível, resultando numa mistura de desenho cego e

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FESTIVAL Por

Andanças 2023

Joaquim Espadaneira

gestual. No fim resultou uma composição de uma página que bem podia ser um guião do bailado que acabara de assistir. A partilha também é um ponto a assinalar. Estando no papel de “desenhador oficial” não tive necessidade de tentar passar despercebido, desenhava “à descarada”. Muitas pessoas ficaram curiosas e iam ver o que estava a fazer. Apenas tive reações positivas, ficavam felizes quando se reconheciam, incentivavam e até me pagaram uns copos! Os músicos geralmente pediam para tirar uma foto

ou para lhes enviar uma cópia (coisa que faço sempre que solicitado). Todos os que por lá passaram dizem o mesmo: “o Andanças é especial”, e é tudo o que se pode dizer a quem não conhece, porque não se consegue explicar, tem que ser vivido, seja dançando ou desenhando. Pessoalmente agradeço à Associação PédeXumbo pela oportunidade, e em especial à Joana Ricardo que um dia me apanhou por aí a rabiscar e pensou que eu podia dar conta do recado. O festival é agora bianual. Reservem um espaço na agenda de 2025. 32


AGENDA

Novembro 2023

ENCONTROS

toda a informação actualizada em USkP ENCONTROS

11 NOVEMBRO | COIMBRA Desenhar na Coimbra BD 10h00, Ponto de encontro: Convento de S. Francisco, Info: https://www.facebook.com/events/1028196711635989/ Org. LeSk + MoSk + PoSk 11 NOVEMBRO | ÉVORA Desenhar o S. Martinho, 108º Encontro ÉSk 21h30, Ponto de encontro: Bar Oficina, Rua da Moeda, n.º27 Info: https://evorasketchers.blogspot.com/2023/11/encontro-108.html Org. ÉSk - Évora Sketchers 18 NOVEMBRO | LISBOA Encontro USKP - Museu do Aljube “Resistência e Liberdade 10h00 - 13h00, Inscrições: até 16 Novembro Limite: 30 participantes - Lotado Org. USKP + Museu Aljube

FORMAÇÃO

toda a informação actualizada em USkP FORMAÇÕES

NOVEMBRO COM O GRUPO RISCADO Formador: Pedro Mendes, Sessões: segundas-feiras, 18h30-20h00 (via zoom), 6, 13, 20 e 27 de Novembro, Tema: Paisagens a aguarela, Mais informações e inscrição > https://docs.google.com/forms/d/ e/1FAIpQLScOebzlqiGHj1Uf28CH7C1_Jow_iemy5nSq2hFC85NQSvz5oA/viewform

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AGENDA

Novembro 2023

FORMAÇÃO

toda a informação actualizada em USkP FORMAÇÕES

WORKSHOP DE URBANSKETCHING Por Isabel Carvalho (neplutão) Biblioteca Municipal de Vila Pouca de Aguiar Sábados, 4, 12, 19 e 26 de Novembro, 10h00-12h30 Inscrições na Biblioteca Municipal Org. USK Alto Tâmega

EXPOSIÇÕES

toda a informação actualizada em USkP EXPOSIÇÕES

EXPOSIÇÃO SKETCHING ALTO TÂMEGA Desenhos e aguarelas de Isabel Carvalho (neplutão) Até 30 de Novembro, Biblioteca Municipal de Vila Pouca de Aguiar

OFICINAS SINGULARES

todas as edições em YouTube UrbanSketchers Açores

À CONVERSA COM PEDRO ALEGRIA - SESSÃO #41 Facebook USK Açores - 24 de Novembro, 14h Açores / 15h Continente Org. USK Açores

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USkP ASSOCIAÇÃO Urban Sketchers Portugal

urbansketchers-por tugal.blogspot .pt Instagram:

@urbansketchersportugal

YouTube:

urbansketchersportugal

Facebook:

urbansketchersportugal

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