REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA VILA VELHA (ES) v. 7, n. 1/2, JANEIRO/DEZEMBRO 2006
ISSN 1518-2975 Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 1-203, jan./dez. 2006
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Editores: Danièlle de Oliveira Bresciani Luciana Dantas da S. Pinheiro Renata Diniz Ferreira Conselho Editorial: Danièlle de Oliveira Bresciani Denise Maria Simões Motta Marlene Elias Pozzatto Patrícia Pacheco de Barros Renata Diniz Ferreira
Revista interdisciplinar semestral Tiragem: 1.000 exemplares Indexada na base de dados: • IRESIE, gerenciada pela Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) Depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 10.944/2004) Registro no CCN/IBICT
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Capa: Juan Carlos Piñeiro Cañellas Impressão: Gráfica Liderset
Catalogação na publicação elaborada pela Biblioteca Central/UVV Scientia : revista do Centro Universitário Vila Velha / Sociedade Educacional do Espírito Santo, Centro Universitário Vila Velha.− Vol. 1, n. 1, (jan./jun. 2000)- . − Vila Velha : O Centro, 2000- . v. : il. Semestral. ISSN 1518-2975. 1. Generalidades – Periódicos. I. Sociedade Educacional do Espírito Santo. Centro Universitário Vila Velha. CDD 000
SUMÁRIO EDITORIAL ........................................................................................................................
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Editorial
EFICÁCIA DE DIFERENTES MÉTODOS DE APLICAÇÃO DO PRÉ-DIPPING SOBRE A CONTAGEM DE BACTÉRIAS NA SUPERFÍCIE DOS TETOS Difference between different methods of predipping under the cont of bacterium on teat skin Graziela Barioni; Andréia Baldo Borsoi; Marcus Alexandre Vaillant Beltrame; Rodrigo Otávio Cabral de Oliveira; Romildo Rocha Azevedo Júnior ...................................................
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VERIFICAÇÃO DO EFEITO DA MASTITE SOBRE O LEUCOGRAMA E SUA INTER-RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO LEITEIRA Verification of mastitis effect about leucogram and the your interrelation with the milk production Graziela Barioni; Christian Paulo Garcia; Paulo Ricardo de Oliveira Paes; Jacyr Dias Boim Filho .....
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DETECÇÃO DO CIRCOVÍRUS SUÍNO TIPO 2 (PCV2) EM ANIMAIS DE ABATE NO CENTRO NORTE DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO Detection of porcine circovirus type 2 (PCV2) in animals from slaughter houses in Espirito Santo north region Orlando Chiarelli Neto; Abelardo Silva Junior; Luiza Antunes de Castro; Vinícius Winte Viana; Fernanda Miquelitto Figueira da Silva; Giuliano Bonfá; Mauro Pires Moraes; Márcia Rogéria de Almeida .................................................................................................................
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ARTRITE ENCEFALITE CAPRINA (CAE) Caprine arthritis encephalitis (CAE) Graziela Barioni; Letícia Binda Baungarten; Ildeir Campos; Arnaldo Coutinho Carvalho; Leandro Mendes Furtado; Ana Cláudia dos Santos Valente ................................................................
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A COMUNICAÇÃO NO ENVELHECIMENTO SADIO The communication in healthy aging Cecília Carolina Frías Cáceres; Michelly de Oliveira Nunes; Susana de Carvalho ..............................
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VERIFICAÇÃO DAS ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS CAUSADAS PELO USO DE ELEVADAS DOSES DE ESTERÓIDES ANABÓLICOS ANDROGÊNICOS EM RATOS Verification of the biochemical alterations caused by of the use high doses of anabolics androgenic steroids in rats Armstong Vinícius de Oliveira Vasconcelos Ambrósio; Douglas Mark Lopes da Silva; Mario Dazzi Piol; Juliana Nunes Iglesias do Rego; René de Sá Fermo; Vera Cristina Woelffel Busato; Nazaré Souza Bissoli; Tadeu Uggere de Andrade ...............................
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ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS PROMOVIDAS PELO USO DE ESTERÓIDES ANABÓLICOS ANDROGÊNICOS (DECANOATO DE NANDROLONA) EM RATOS Histological changes induced by the use of androgenic anabolic steroids (nandrolone decanoate) in rats Raíssa Bolzan Marinho; Natália Leal Rabello; Juliana Paula Tristão; Juliana Nunes Iglesias do Rego; René de Sá Fermo; Vera Cristina Woelffel Busato; Maria Carmen Silva Santos; Nazaré Souza Bissoli; Tadeu Uggere de Andrade ..................................
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COMPORTAMENTO DA FUNÇÃO PULMONAR E DOS PARÂMETROS CARDIOVASCULARES EM JOVENS TABAGISTAS SUBMETIDOS À ATIVIDADE FÍSICA Acute effects of smoking on pulmonary and cardiovascular functions of young smokers during physical activities Verônica Lourenço Wittmer; Evandro Lordes Oiveira Junior; Fernanda Fabrete Alencar; José Luis Albuquerque Fiorese; Michelle Margarida Costa ................................................................. 111
A ASCARIDÍASE EM UM HOSPITAL PEDIÁTRICO DA GRANDE VITÓRIA E A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO CONTROLE DESSA PARASITOSE Ascariasis in a pediatric hospital of the Great Vitória and the nurse’s performance in the control of that parasitosis Nívea Denadai; Edney Leandro da Vitória; Aminadab Francisco de Sousa; Wilson Denadai ............. 127
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL EM SETOR EMPRESARIAL: PROMOÇÃO DE PRÁTICAS ALIMENTARES SAUDÁVEIS Education nutricional in enterprise sector: promotion of practical alimentary healthful Ana Maria Rosalem Dazzi; Ana Maria Bartels Rezende ......................................................................
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NÍVEIS DE PROTEÍNA PARA CODORNAS DE CORTE Protein levels for meat-type quails at 1 to 45 days of age João Luís Kill; Rafael Baldo Borsoi; Edney Leandro da Vitória; Douglas Haese; Evandro Ferreira Cardoso; Achiciane Furno Pires ..............................................................................
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INSTRUÇÕES EDITORIAIS AOS AUTORES ................................................................. 191 Editorial Instructions to Authors
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EDITORIAL Em um mundo atualmente voltado para as questões ambientais, onde as preocupações estão centradas nos efeitos dos impactos antrópicos sobre os sistemas naturais não se pode deixar de lado o interesse e o desenvolvimento das Ciências da Saúde e Agrárias. Temos sempre que ter em mente a saúde do ambiente e das populações humanas. À medida que a população humana aumenta, verifica-se o incremento da procura pelos recursos naturais necessários para sua manutenção. Nesse sentido, a demanda por alimentos, fármacos e qualidade de vida aumenta a cada dia, o que fomenta o interesse por novos conhecimentos sobre recursos disponíveis no ambiente natural. Este número da revista Scientia corresponde aos fascículos 1/2 do ano de 2006, e tem como principal objetivo promover a divulgação de artigos científicos produzidos por pesquisadores institucionais e colaboradores externos nas áreas de Ciências da Saúde e Agrárias. Os trabalhos aqui apresentados correspondem aos eixos de pesquisa denominados: Saúde e Responsabilidade Social e Saúde e Desenvolvimento Animal, definidos no programa de pesquisa institucional e expressam a busca do conhecimento sobre esses temas. O Centro Universitário Vila Velha apóia e incentiva a execução de pesquisa científica em vários outros eixos e linhas. Além disso, estimula a divulgação e publicação dos seus resultados. Nesse sentido, a quantidade e qualidade dos artigos publicados pela Scientia tendem a aumentar, consolidando ainda mais esse canal de divulgação do conhecimento científico produzido em nosso Estado. Portanto, esperamos que você, leitor, aproveite as informações aqui disponibilizadas com o mesmo empenho que tivemos no árduo trabalho de prepará-las.
Werther Krohling M.Sc. Biociências e Biotecnologia Doutorando Ecologia e Recursos Naturais
Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 5, jan./dez. 2006
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EFICÁCIA DE DIFERENTES MÉTODOS DE APLICAÇÃO DO PRÉ-DIPPING SOBRE A CONTAGEM DE BACTÉRIAS NA SUPERFÍCIE DOS TETOS GRAZIELA BARIONI1 ANDRÉIA BALDO BORSOI2 MARCUS ALEXANDRE VAILLANT BELTRAME3 RODRIGO OTÁVIO CABRAL DE OLIVEIRA2 ROMILDO ROCHA AZEVEDO JÚNIOR4
RESUMO Devido à grande importância da mastite bovina na pecuária leiteira, principalmente pelos prejuízos causados a este segmento, cada dia mais pesquisas são desenvolvidas visando o controle da doença e sua prevenção. O objetivo do presente estudo foi avaliar a eficácia do prédipping (principal medida adotada no controle da mastite ambiental) quanto à redução da contaminação bacteriana na pele do teto, importante fator na infecção da glândula mamária. A pesquisa foi desenvolvida na Fazenda Roças Velhas, Cariacica - ES, onde 20 vacas receberam tratamento pré-ordenha com hipoclorito de sódio a 150ppm, de três diferentes formas: tratamento 1, com a aplicação da solução através de spray; tratamento 2, por imersão; e tratamento 3, com o auxílio de uma esponja; sendo um método para cada teto e um teto mantido como controle. As amostras foram colhidas utilizando-se swabs estéreis, previamente imersos em solução salina com tiossulfato de sódio, friccionando-se a extremidade dos tetos, e transportadas até o laboratório em tubos contendo água peptonada. Cada amostra foi se1
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Doutora em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: gbarioni@uvv.br Graduando do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Vila Velha. Email: deiabaldo@hotmail.com Especialista em Microbiologia pelo Centro Universitário Vila Velha. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: marcus.beltrame@uvv.br. Mestre em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: romildo@uvv.br.
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meada em 3 placas contendo meios seletivos para os microorganismos que se deseja isolar. Não foi obtida diferença significativa para redução de Staphylococcus sp. e S. aureus, comparando-se tetos tratados e controle. O mesmo se repetiu para coliformes na comparação entre tratamentos, porém, comparando-se tratados e controle observou-se diferença significativa. Dessa forma, concluiu-se que há eficácia dos três métodos quanto à redução da contaminação por coliformes totais e fecais, principais agentes causadores da mastite ambiental. Palavras-chave: Pré-dipping. Hipoclorito. Mastite. Bovina. Swab.
1 INTRODUÇÃO A mastite é definida como a inflamação da glândula mamária, levando a alterações do tecido glandular e modificações físico-químicas do leite (BLOOD et al., 1991). No Brasil, segundo Chapaval e Piekarski (2000), cerca de 50% do rebanho leiteiro é afetado por esta enfermidade, sendo que as variações na prevalência da doença no país são decorrentes da região e cuidados profiláticos adotados (SAMARA et al., 1996). As limitações sanitárias, nutricionais, genéticas e de manejo refletem na baixa produção do rebanho nacional, de aproximadamente 8 bilhões de litros de leite recebidos pela indústria anualmente (COSTA, 1991). Para Brito e Brito (2000), a mastite é uma das enfermidades que maiores prejuízos causa à pecuária leiteira em todo o mundo, incluindo a redução da produção, devido a alterações da glândula mamária. Estima-se uma perda na produção leiteira mundial de 10% (COSTA, 1991). Devido à redução de 30% na produtividade para cada quarto afetado e uma perda de 15% na produção por vaca acometida (BLOOD et al., 1991). Outras causas de prejuízos ocasionados pela mastite em bovinos leiteiros são as perdas na indústria de laticínios, devido à intervenção nos processos de manufatura, e também o fato de ser um problema de saúde pública, pois pode veicular agentes de doenças para o homem (BLOOD et al., 1991), assim como perdas por descarte (7%) e morte (1%) de animais acometidos (CULLOR et al., 1994). A infecção da glândula mamária ocorre prioritariamente via canal do teto, sob influência de fatores como grau e freqüência de contaminação Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 7-17, jan./dez. 2006
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da pele do mesmo (QUINN et al., 2005). Desta forma, a mastite pode ser classificada, segundo a origem dos patógenos, em contagiosa e ambiental (REBHUN, 1999). A mastite contagiosa e seus principais agentes etiológicos, Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e Mycoplasma bovis, geralmente causam infecções subclínicas e crônicas, levando a perdas econômicas inaparentes e de longa duração (CHAPAVAL; PIEKARSKI, 2000). A transmissão ocorre principalmente durante procedimentos comuns da ordenha (BRITO; BRITO, 2000) ou pelo bezerro ao mamar (CULLOR et al., 1994). Os patógenos ambientais, provenientes de fontes como água contaminada, fezes, solo, equipamentos de ordenha, o próprio animal, o homem (BRITO; BRITO, 2000) piquetes embarrados e camas orgânicas contaminadas (CHAPAVAL; PIEKARSKI, 2000), induzem reação inflamatória aguda ou subaguda, resultando em alterações visíveis do leite e/ou do úbere do animal, ou seja, mastite clínica (SMITH, 1983; REBHUN, 1999). Segundo Quinn e outros (2005), os principais patógenos deste grupo são as bactérias Gram-negativas (principalmente os coliformes: Escherichia coli e espécies de Klebsiella sp. e Enterobacter sp.), Streptococcus dysgalactiae e S. uberis. A prevenção é o fator primordial no controle da mastite (FONSECA; SANTOS, 2000). Falhas sanitárias nesta fase da produção podem gerar altos índices da doença (BUENO et al., 2002). As medidas apropriadas diferem conforme os microrganismos envolvidos (QUINN et al., 2005). Para Cullor et al. (1994), a mastite contagiosa seria melhor controlada com a quebra da cadeia de transmissão (tratamento e/ou isolamento animal e cuidados sanitários da ordenha) e a ambiental, através do impedimento/redução do contato entre a glândula mamária (especialmente as extremidades dos tetos) e os agentes ambientais. Procedimentos adequados antes e após a ordenha, incluindo limpeza, higienização, e posterior secagem dos tetos com papel toalha descartável, contribuem para a redução de novas infecções (GALTON et al., 1988; PANKEY, 1989; REBHUN, 1999). Para Pankey (1989), o controle da mastite deve basear-se na redução da população bacteriana nas extremidades dos tetos, devido a sua influência na incidência das infecções intramamárias.
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O pré-dipping é um método eficaz no controle da mastite ambiental (REBHUN, 1999; BRITO; BRITO, 2000). Pesquisas recentes têm demonstrado certa eficácia no controle da mastite contagiosa (FONSECA; SANTOS, 2000). Este procedimento reduz em até 50% as taxas de novas infecções (OLIVER, 1993), em até 80% a contagem bacteriana total do leite e até 70% na contagem de coliformes (FONSECA; SANTOS, 2000). Os desinfetantes utilizados neste procedimento reduzem a população bacteriana e, conseqüentemente, a possibilidade de novas infecções (KESLER et al., 1948; GALTON et al., 1986; GALTON et al., 1988). A ação do desinfetante está em função de sua concentração e o tempo de atuação na superfície dos tetos (PANKEY, 1989). Entretanto, recomenda-se utilizar para o pré-dipping a metade da concentração dos produtos utilizados no pós-dipping, pois altas concentrações podem ser irritantes para os tetos. Porém, deve-se atentar para o risco de baixa ação microbiana proveniente de soluções pouco concentradas (PEDRINI; MARGATHO, 2003). O objetivo deste trabalho foi verificar a eficiência de três métodos de pré-dipping (imersão, esponja e spray), utilizando o hipoclorito de sódio a 150ppm como solução desinfetante.
2 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida na Fazenda Roças Velhas, localizada no Município de Cariacica-ES, onde as vacas eram ordenhadas mecanicamente, duas vezes ao dia. Foram utilizadas 20 vacas mestiças Holandês/Zebu, criadas em sistema semi-intensivo. Os animais eram trazidos à sala de ordenha e, no momento de serem ordenhados, os bezerros eram mantidos junto a eles para estimular a descida do leite. Os tetos eram lavados com água logo que o animal entrava na sala de ordenha, antes da realização da desinfecção. Três tetos de cada vaca foram tratados com solução de hipoclorito de sódio a 150ppm no prédipping, e um foi mantido como controle (recebendo apenas lavagem com água), resultando em 3 tetos tratados e 1 teto controle para cada vaca. Cada teto recebia um tipo de tratamento (método de aplicação da solução
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desinfetante), totalizando 3 tipos: tratamento 1, com a aplicação da solução através de spray, ao redor de todo o teto, sem molhar o úbere do animal; tratamento 2, imergindo todo o teto num recipiente contendo a solução, a qual era trocada a cada 6 animais e o tratamento 3, constituído pela fricção de uma esponja embebida com a solução na extremidade de cada teto. Alternava-se a seqüência dos tetos para a realização dos métodos a cada animal, para homogenização das amostras. Amostras dos tetos desinfetados e controles foram colhidas após, aproximadamente, 90 segundos do pré-dipping, utilizando-se swabs estéreis, previamente imersos em solução salina contendo tiossulfato de sódio para neutralizar o efeito do cloro, friccionando-se na extremidade dos tetos com movimentos rotativos. Em seguida, cada swab foi colocado em um tubo contendo 9 ml de água peptonada a 0,1% . As amostras foram armazenadas em caixa isotérmica com gelo reciclável e levadas até o Laboratório de Microbiologia do Setor de Medicina Veterinária do Centro Universitário Vila Velha, onde foram processadas no mesmo dia. Realizou-se a semeadura de cada amostra em 3 placas contendo meios nutritivos para isolamento dos microrganismos da seguinte forma: Agar Manitol incubado à 37ºC, para Staphylococcus sp e S. aureus, Agar MacConkey incubado à 37ºC, para coliformes totais e Agar MacConkey à 45ºC, para coliformes fecais. A leitura foi realizada após 48 horas de incubação das placas, através da contagem das colônias visíveis. A análise dos resultados foi realizada através dos métodos estatísticos não-paramétricos de Kruskal-Wallis, para Staphylococcus sp e S. aureus, e Mann-Whitney, para coliformes totais e fecais.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores das medianas das contagens de microrganismos realizadas a partir das amostras dos swabs colhidos dos tetos controle e tratados com diferentes formas de aplicação do hipoclorito de sódio à 150ppm, estão apresentados na Tabela 1.
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12 Tabela 1 - Comparação entre as medianas das contagens bacterianas nos tetos controle e tratados com hipoclorito de sódio a 150ppm, segundo o método de aplicação
Método Staphylococcus Staphylococcus Coliformes Microrganismos pré-dipping sp aureus totais mesófilos Controle
520a*
2940a
900a
120a
Spray
160a
200a
40b
0b
Imersão
220a
550a
80b
0b
Esponja
90a
90a
20b
0a
A análise estatística das contagens de Staphylococcus sp. e S. aureus entre os tetos tratados com pré-dipping e os tetos controle, não mostrou diferença significativa, assim como a comparação dos tratamentos entre si (Tabela 1). Ao avaliar os métodos de tratamento pré-dipping, observou-se uma redução de 82,69% e 96,94% para esponja, 69,29% e 93,2% para spray e 57,69% e 81,29% para imersão, referentes a Staphylococcus sp. e S. aureus, respectivamente, como apresentados na Tabela 2. Amaral e outros (2004), demonstram resultados superiores para Staphylococcus sp., em experimento semelhante. Essa diferença entre as reduções pode ser devida à presença de papilomas e lesões nos tetos de algumas vacas, contribuindo para o acúmulo de sujidades e desenvolvimento bacteriano nos tetos. Os valores de redução apresentados anteriormente demonstram certa eficiência do pré-dipping no controle da mastite contagiosa, o que já foi relatado por Pankey e outros (1987), Pankey (1989) e Fonseca e Santos (2000). Para coliformes totais e fecais, houve diferença significativa entre os valores das medianas e em relação aos tetos controle e tratados (Tabela 1). Já na comparação entre os métodos de tratamento utilizados, não foi observada diferença estatisticamente significativa. A diminuição das contagens bacterianas demonstra a eficácia dos três métodos quanto à redução da contaminação microbiológica na superfície dos tetos. O que também foi relatado por Brito e outros (2000). Comprovando a grande eficiência da utilização do pré-dipping no controle da mastite ambiental, como citado por Pankey e outros (1987), Pankey (1989), Oliver e outros (1993), Rebhun (1999), Brito e Brito (2000) e Quinn e outros (2005). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 7-17, jan./dez. 2006
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Houve redução superior a 90%, na contagem de coliformes totais, em todos os métodos utilizados, sendo 97,78%, 95,56% e 91,11% para esponja, spray e imersão, respectivamente (Tabela 2). Para coliformes fecais, a redução da contagem bacteriana foi de 100% em todos os métodos. Entretanto, Amaral e outros (2004), observaram redução inferior a 85% para os mesmos microrganismos sob as mesmas condições de aplicação do pré-dipping. Tabela 2 - Porcentagem de redução na contagem de microrganismos da superfície de tetos tratados com hipoclorito de sódio a 150ppm, segundo método utilizado, quando comparados com amostras controle
Método Staphylococcus Staphylococcus Coliformes Microrganismos pré-dipping sp aureus totais mesófilos
Spray
69,29
93,20
95,56
100
Imersão
57,69
81,29
91,11
100
Esponja
82,69
96,94
97,78
100
O fato de a esponja ter apresentado maior redução para todos os microrganismos testados (Tabela 2), provavelmente, se deve à remoção mecânica das bactérias da pele do teto, reduzindo assim a contagem bacteriana. Segundo Galton e outros (1986) e Rasmussem e outros (1991), o uso do pré-dipping associado à secagem dos tetos é eficiente na redução do número de bactérias devido à ação física da secagem. Galton e outros (1988) demonstraram que o uso do pré-dipping com secagem posterior reduz a taxa de novas infecções em 66,3% devido à redução do número de bactérias na superfície do teto. Fonseca e Santos (2000) defendem que panos ou esponjas não devem ser utilizados na lavagem/secagem dos tetos de mais de uma vaca. Recomenda-se papel-toalha descartável ou paninhos de uso individual que devem ser lavados com desinfetante e secos após cada ordenha, o que vem a discordar dos achados do presente experimento, no qual a esponja mostrou a maior porcentagem de redução bacteriana. Porém, não é garantido que o uso diário da esponja possa reduzir com eficiência o número de microrganismos dos tetos, sem que ela passe a ser uma fonte de contaminação e disseminação de microrganismos entre animais ou tetos de um mesmo animal, pois depende da forma que esta esponja será higienizada entre as ordenhas, e de um animal para o outro. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 7-17, jan./dez. 2006
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Já a imersão, método preconizado como melhor para a higienização dos tetos no pré ou pós-dipping por diversos autores como Blood e outros (1991), Rebhun (1999) e Fonseca e Santos (2000) devido a uma maior abrangência desse método pela solução desinfetante, apresentou a redução menos efetiva no presente trabalho (Tabela 2). O mesmo fato foi descrito por Amaral e outros (2004). Esse fato pode ser explicado pelo acúmulo de sujidades dentro do vasilhame com a solução, que gradativamente pode ter reduzido à ação do hipoclorito, já que o hipoclorito não age em material orgânico, como descrito por Bill (1997) e Fonseca e Santos (2000). O spray, método não muito recomendado para a desinfecção pelo risco de não abranger todo o teto, apresentou redução na contagem bacteriana superior ao método de imersão, variando de aproximadamente 70% a 100% (Tabela 2). Mas este resultado foi obtido devido à aplicação consciente em toda a superfície do teto, como citado por Fonseca e Santos (2000). De acordo com Rebhun (1999), o spray protegeria contra a contaminação dos copos de banho por sujidades provenientes dos tetos e do úbere, não permitindo então a redução do efeito do desinfetante.
4 CONCLUSÕES Não foi constatada diferença estatisticamente significativa entre os três métodos de aplicação do pré-dipping utilizados. Porém, quanto a avaliação das porcentagens de redução bacteriana na superfície dos tetos, a maior redução foi obtida pelo método da esponja. O uso do pré-dipping levou a reduções bacterianas superiores a 57% para todos os microrganismos isolados, comprovando a eficácia do método na prevenção da mastite, especialmente a ambiental, que apresentou reduções superiores a 91% para os microrganismos comumente envolvidos.
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DIFFERENCE BETWEEN DIFFERENT METHODS OF PREDIPPING UNDER THE CONT OF BACTERIUM ON TEAT SKIN ABSTRACT Great importance of bovine mastitis due mainly to losses to the dairy producers, led to increasing effort by researches for the development of better disease treatments and control. The purpose of this study is to evaluate the efficiency of the predipping (main technique adopted for environmental mastitis control) in relation to the reduction of bacterial contamination on teat skin, which is an important mammary gland infection factor. The trial was carried out at Roças Velhas farm, Cariacica - ES, where 20 cows were treated before milking with 150ppm sodium hipochorite in one of three different ways: treatment 1) applied as spray; treatment 2) by immersion, and; treatment 3) using a sponge. Each method was applied to one teat in every cow’s uddet. One of the teats was set aside as control. The samples were collected using sterile swabs, previously immersed in saline solution with sodium thiosulphate, fractionating them to the teat’s edge. The samples were transported to laboratory in tubes with peptonade water. Each sample was inoculated into 3 plates containing selective medium for some microorganisms. It was not observed significant difference for Staphylococcus sp and Staphylococcus aureus reductions comparing treated teats and control. No difference was found for the three sodium hipochorite for coliform control. However, a significant difference was found comparing the treated teats and control for coliforms. It was conclued that the three methods are efficient for reduction of contamination by total and fecal coliform, main causative agents of environmental mastitis. Keywords: Predipping. Hipochorite. Mastitis. Bovine. Swab.
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VERIFICAÇÃO DO EFEITO DA MASTITE SOBRE O LEUCOGRAMA E SUA INTER-RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO LEITEIRA GRAZIELA BARIONI1 CHRISTIAN PAULO GARCIA2 PAULO RICARDO DE OLIVEIRA PAES3 JACYR DIAS BOIM FILHO2
RESUMO Correlaciona os índices de mastite, com o leucograma e a produção leiteira, utilizando 44 animais das raças girolanda e holandesa e avaliando a sanidade da glândula mamária por meio do California Mastitis Test (CMT) e do leucograma. Os resultados mostraram a existência de correlação entre a gravidade da mastite e a contagem de leucócitos, sendo que animais mais seriamente acometidos com mastite tinham níveis de leucócitos mais baixos. Constata também que a produção leiteira não influenciou na ocorrência de mastite. Palavras-chave: Mastite. CMT. Produção. Leucograma.
1
Doutora em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: gbraioni@uvv.br. 2 Graduandos do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Vila Velha. 3 Doutor em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: paulopaes@vet.ufmg.br.
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1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA 1.1
MASTITE
A mastite é uma enfermidade de extrema importância em se tratando de produtividade e sanidade de rebanhos leiteiros especializados em produção (PAES, 2000; SANTOS, 2003). Segundo Smith (1994), esta se caracteriza por alterações químicas, físicas e biológicas no tecido mamário e no leite e, conforme Bakke (1992), Myllys e Raulata (1995), acomete com maior freqüência animais de produção mais alta. As mastites são consideradas como um fator muito importante na pecuária leiteira mundial, levando-se em conta as perdas econômicas que ocorrem devido à redução de produção e pelas alterações dos componentes lácteos que comprometem a qualidade dos seus derivados (FONSECA, 2000; SMITH, 1994). Quartos com mastite subclínica, instaladas após inoculação experimental de toxina estafilocócica, produziam em média 25,4% menos de leite que quartos normais (LANGENEGGER, 1981). Deve-se levar em consideração ainda os gastos adicionais com tratamentos, descarte de leite e de animais e com honorários profissionais (NATIONAL MASTITIS COUNCIL, 1996), bem como aspectos de saúde pública, podendo colocar em risco a saúde dos consumidores uma vez que o leite contaminado pode veicular agentes causadores de graves zoonoses como demonstrado no Gráfico 1 (LANGONI, 1997).
Gráfico 1 – Perdas econômicas determinadas pela mastite (US$) Fonte: Fonseca (2000).
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Segundo Langoni (1999), sua etiologia é multifatorial e a profilaxia é difícil. De acordo com Watts (1998), existem 137 agentes relacionados à mastite, sendo as bactérias os agentes mais freqüentes (COSTA, 1995; LANGONI, 1999). O National Mastitis Council (1996) cita que 50% dos animais de rebanhos nos quais não são praticadas medidas de controle estão infectados com mastite clínica ou subclínica. No Brasil a sua incidência também é preocupante e as estimativas apontam para mais de 70% do rebanho com algum grau de mastite, dado esse que faz com que o Brasil continue sendo um país importador de leite, embora, pelo rebanho que possui, deveria ser um país exportador (COSTA, 1999). 1.2
CALIFÓRNIA MASTITE TESTE (CMT)
Segundo Gerrit (1993), o exame desenvolvido por Schalm e Norlander em 1957 é um método de execução prático e de baixo custo para identificar animais aparentemente saudáveis que podem estar apresentando mastite subclínica, e com isso provocando tremendas perdas na produção de leite. O teste baseia-se na adição de dois mililitros de leite dentro de uma bandeja e, em seguida, adicionar-se volume igual de um detergente aniônico que rompe a membrana celular levando a liberação do conteúdo nucléico. Este fato causa um certo grau de gelatinização que ocorre de acordo com o número de células presentes na amostra, que por sua vez depende do grau de severidade da inflamação no úbere (LANGONI, 2000; FONSECA, 2000). Este resultado é classificado em quatro escores: infecção ausente, quando a mistura permanece fluída e homogênea; infecção leve, quando se forma uma mistura de aspecto viscoso com formação de uma gelatina que não desaparece com a agitação; infecção moderada, quando ocorre a formação de uma viscosidade acentuada com formação de gelatina que tende a se mover para o centro da bandeja e infecção intensa, quando ocorre uma viscosidade muito forte com formação de uma gelatina semelhante a uma gema de ovo que permanece agrupada no centro da bandeja mesmo com agitação (OGILVIE, 2000). Blood e Radostitis (1991) e Rebhun (1995) citam que o Califórnia Mastite Teste é muito útil para se identificar à mastite subclínica que representa 90 a 95% dos casos da doença. Apesar de não ser possível diagnosticá-la visualmente, ocorre um aumento acentuado de células, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 19-31, jan./dez. 2006
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fato este que possibilita a detecção destas células por meios indiretos como o CMT. Segundo Fonseca (1992), este exame é importante para se medir a qualidade do leite uma vez que a mastite leva ao aumento nas células somáticas deste, assim sendo, Harmon (1998) cita que há uma relação direta entre Califórnia Mastite Teste e contagem de células somáticas (Quadro 1). De acordo com Fonseca e Santos (2000), o teste do CMT deve ser realizado mensalmente para se monitorar o nível de infecções individuais e o número de quartos afetados. Este levantamento é importante para a avaliação dos procedimentos da ordenha. Se o índice de mastite no rebanho for alto, este intervalo deve ser diminuído, realizando-se um exame por quinzena para que sejam feitas mudanças nas estratégias de controle, caso estas não estejam surtindo efeito.
Escore CMT
Negativo
1 traço
2 traços
3 traços
CCS x 1.000 Cel\ml
0- 200
300-1000
700-2000
>2000
Quadro 1 – Relação entre os resultados do CMT e a contagem de células somáticas no leite bovino Fonte: Fonseca (2000).
1.3
LEUCOGRAMA
As mudanças hematológicas de mais fácil detecção são as causadas por bactérias, onde as respostas dos animais à infecção são mais importantes que o tipo agente infeccioso. Não há um padrão que indique mudanças hematológicas, mas há os que são sugestivos desta como a neutrofilia (STOCKHAN, 2000). Segundo Carlton e Macgavin (1998), devido à inflamação ocorre aumento da permeabilidade vascular e os componentes do plasma misturam-se aos do leite, desta maneira alteram o equilíbrio iônico. O epitélio alveolar, danificado pela inflamação ou pela pressão da inflamação adjacente, secreta menos leite e este pode apresentar sua aparência alterada. Segundo Feldman (2000), Lopes (2001) e Rebhun (1995), diferentes respostas hematológicas são encontradas em animais com mastite. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 19-31, jan./dez. 2006
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Estes autores evidenciam que vacas com mastite clínica ou subclínica apresentam uma resposta inflamatória superaguda no sangue periférico caracterizada por leucopenia. Segundo Fonseca (2000), a leucopenia é devida a inflamação que causa uma mobilização celular para o local da infecção, superando com isso a produção da medula óssea. O presente trabalho teve por objetivo avaliar a correlação dos resultados do Califórnia Mastite Teste, produção leiteira e leucograma em bovinos da raça holandesa e girolanda, clinicamente sadios criados em sistema extensivo na região de Iúna - ES. Verificando-se: • Correlação entre o CMT e o hemograma. • Correlação entre mastite, leucograma e produção leiteira. • Correlação entre mastite e leucograma.
2 MATERIAIS E MÉTODOS Foram utilizadas 44 vacas holandesas ou girolanda, escolhidas de maneira aleatória, todas submetidas ao sistema de ordenha manual, oriundas de fazendas do município de Iúna no Estado do Espírito Santo. Os animais foram examinados segundo o plano geral do exame clínico descrito por Gerrit (1993), considerando-se a atitude, o comportamento, o estado de nutrição e o aspecto geral do animal. Para a realização deste trabalho foram utilizados os dados da produção leiteira, leucograma e Califórnia Mastite Teste. O sangue foi obtido por meio de punção da veia abdominal subcutânea, em tubo de colheita a vácuo4 com anticoagulante EDTA (ácido etilenodiaminotetracético, sal dissódico) a 10% (em solução aquosa) para a realização do leucograma. As contagens gerais de leucócitos foram feitas em câmara de Newbauer, citado por Jain (1986). O Califórnia Mastite Teste foi realizado segundo a técnica desenvolvida por Schalm e Noorlander em 1957, como descrita por Gerrit (1993), utilizando-se reagente comercial FATEC®. Foi realizada a análise descritiva dos dados.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Gráfico 2 – Comparação do resultado da prova do CMT realizado em 44 animais, de acordo com os diferentes escores da prova
O Gráfico 2 demonstra que dos animais testados, 47% apresentavam um escore 3 (três) para o CMT, 14% apresentavam escore 2 (dois), 16% um escore 1(um) e 23% dos animais não apresentavam mastite ao exame do CMT. O rebanho estava com um índice de mastite de 77% que se mostrou compatível com os 71% encontrados por Costa (1999) e também com o que relata o National Mastitis Council (1996), que cita que nos rebanhos em que não se tomam medidas profiláticas contra a mastite mais de 50% dos animais se encontram infectados. De acordo com a estimativa da Contagem de Células Somáticas (CCS) a partir do Califórnia Mastite Teste relatado por Fonseca (2000), neste rebanho 47% dos animais estão com uma CCS superior a 2.000.000 células por mililitro de leite, 14% do rebanho com CCS entre 700.000 e 2.000.000cel/ml, 16% entre 300.000 e 1.000.000 e 23% com a contagem ideal que fica entre zero e 200.000 células por mililitro de leite (Quadro 1), este fato pode estar relacionado com o processo inflamatório e as alterações decorrentes deste, pois em conseqüência desse processo ocorre um aumento da celularidade que é diagnosticada pela CCS e pelo CMT. De acordo com Harmon e Heald (1995) esse aumento celular na amostra só é possível em animais já infectados, já que não há aumento de CCS sem uma prévia infecção intramamária, nem mesmo com o estresse térmico ocorrido no verão, onde o calor não é a causa do aumento de casos de mastite, mas sim uma maior proliferação bacteriana e, conseqüentemente, maior exposição dos animais a agentes infecciosos. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 19-31, jan./dez. 2006
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Segundo Rebhun (1995), em escores extremos para o Califórnia Mastite Teste, como quartos negativos e os que reagem com três cruzes ao teste, tornam desnecessária a realização da CCS, pois escore negativo indica baixa presença celular na amostra e escore três indica uma forte infecção com alta contagem de células, sendo a CCS mais importante em valores intermediários como nos escores um e dois para se determinar mais precisamente o grau de infecção do animal.
Gráfico 3 – Animais positivos ao CMT que apresentaram leucocitose e os positivos ao CMT que não apresentaram leucocitose
O Gráfico 3 indica que 54% dos animais infectados não apresentavam aumento no número de leucócitos, enquanto 46% apresentavam algum grau de leucocitose. Vacas infectadas por mastite apresentam um certo grau de diminuição de leucócitos séricos, fato este que seria devido à migração destas para a glândula mamária, o que justificaria a maior proporção de animais com mastite que apresentavam seus níveis de leucócitos diminuídos e a alta contagem celular no leite, conforme relatado por Feldman (2000), Fonseca (2000), Lopes (2001) e Rebhun (1995). Neste estudo não foi observado nenhum animal com leucopenia independente do escore para Califórnia Mastite Teste, no entanto, observouse que o número de leucócitos diminui de acordo com o aumento do escore para o CMT. Sendo assim, quanto maior o escore para o Califórnia Mastite Teste, maior a contagem de células no leite e menor o número de leucócitos na circulação sistêmica.
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Gráfico 4 – Correlação entre escore de CMT e leucocitose negativa
O Gráfico 4 indica o que ocorreu quando se comparou os diferentes escores para CMT com o leucograma: 9% dos animais com escore de CMT negativo não apresentaram leucocitose, 2% dos animais com escore 1 (um) não apresentaram leucocitose, 11% dos animais com escore dois não apresentaram leucocitose e nos animais em que o escore foi três a maioria 30% não apresentou leucocitose.
Gráfico 5 – Correlação entre escore de CMT e leucocitose positiva
O Gráfico 5 indica que dos animais testados com escore zero para CMT, 14% apresentou leucocitose; dos animais com escore um, 14% apresentaram leucocitose; dos animais com escore dois, 2% e dos com escore três, 18% apresentou leucocitose. Os resultados dos Gráficos 4 e 5 nos levam a crer que diferentes respostas hematológicas são encontradas em animais com mastite, conforme relataram Schalm e Lasmanis, em 1976, e que em animais acometidos mais seriamente pela mastite ocorre uma maior migração de células de defesa para a glândula mamária, conforme Feldman (2000), Fonseca (2000), Lopes (2001) e Rebhun (1995). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 19-31, jan./dez. 2006
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No entanto, devemos levar em consideração que o número de amostras estudadas não foi alto para nos permitir uma análise mais detalhada destes dados, pois com um número maior de amostras poderia se conseguir resultados mais variados.
Gráfico 6 – Relação entre produção leiteira e mastite
O Gráfico 6 apresenta uma correlação entre vacas com produção maior que 10 litros de leite/dia com vacas com produção inferior a esse valor no que diz respeito ao nível de mastite que acomete vacas de maior produção. Os resultados apontam que 72% dos animais de produção maior, com mastite e apenas 28% não, e nos animais com produção inferior a 10 litros 70% apresentavam mastite enquanto 30% não, dados estes que não confirmam que animais de maior produção são mais afetados pela mastite que os de menor produção. A pequena diferença estatística encontrada entre os dois grupos não confirma o estudo de Mills e Raulata (1995) que afirmam que animais de maior produção são mais afetados por esta patologia.
4 CONCLUSÕES De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, nas circunstâncias e métodos em que o experimento foi desenvolvido podemos chegar às seguintes conclusões: 1. A mastite atingiu mais de 70% do rebanho, independente da produção leiteira, indicando que medidas de controle precisam ser adotadas para diminuir a incidência de mastite no rebanho do município. 2. O número de leucócitos cai gradativamente na circulação periférica, de acordo com o aumento do escore do Califórnia Mastite Teste. 3. A produção leiteira não predispõe a mastite. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 19-31, jan./dez. 2006
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4. Existe a necessidade de estudos mais detalhados a respeito dessa inter-relação.
VERIFICATION OF MASTITIS EFFECT ABOUT LEUCOGRAM AND THE YOUR INTERRELATION WITH THE MILK PRODUCTION ABSTRACT This work correlationed the index of mastitis to the leucogram and milk production. Was utilizated 44 animals giroland and honstein breeds, avaliated to the mamary gland health for californiam mastitis test (CMT) e leucogram. The results showed correlation between the severity of mastitis and the cont of leucocity, that is the animals with the serius mastitis have a low leucocity. Consist to the milk production is not influenciated in the mastitis ocorrence. Keywords: Mastits. CMT. Production. Leucogram.
NOTAS EXPLICATIVAS 4
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DETECÇÃO DO CIRCOVÍRUS SUÍNO TIPO 2 (PCV2) EM ANIMAIS DE ABATE NO CENTRO NORTE DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO ORLANDO CHIARELLI NETO1 ABELARDO SILVA JUNIOR1 LUIZA ANTUNES DE CASTRO1 VINÍCIUS WINTE VIANA2 FERNANDA MIQUELITTO FIGUEIRA DA SILVA1 GIULIANO BONFÁ1 MAURO PIRES MORAES1 MÁRCIA ROGÉRIA DE ALMEIDA1 RESUMO O circovírus suíno tipo 2 (PCV2) é um dos responsáveis pela circovirose suína, doença de caráter multifatorial e emergente na suinocultura nacional e que envolve diversas apresentações clínicas. Amostras de linfonodos, rins e pulmões de suínos em processo de abate de cinco cidades do centro norte do Estado do Espírito Santo foram coletadas com o objetivo de se verificar a presença do PCV2. Pools de linfonodos de cada cidade foram inoculados em células SK6 livres de PCV. As células foram tratadas com glicosamina e propagadas por três passagens. Posteriormente, foi realizado a extração de DNA e a presença do DNA viral foi detectada pela reação da polimerase em cadeia (PCR). Amostras de tecidos de animais armazenadas em formol 10% provenientes de duas das cinco cidades foram submetidas a exames histopatológicos, os quais confirmaram a presença de lesões relacionadas ao PCV2. Até o presente momento não foi comunicado a presença do PCV2 e das doenças relacionadas a este agente no Estado do Espírito Santo. Palavras-chave: PCV2. Diagnóstico molecular. Circovirose suína.
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Integrantes da equipe do Laboratório de Virologia Molecular Animal/BIOAGRO da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: marcia@ufv.br. Mestrando em Patologia e Clínica Veterinária da Universidade Federal de Viçosa. Professor da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: viniciuswinteviana@yahoo.com.br.
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1 INTRODUÇÃO O circovírus suíno (PCV) é um vírus pequeno, não envelopado, que apresenta um genoma de DNA fita simples circular de aproximadamente 1,7Kb e pertence à família Circoviridae (LUKERT et al., 1995). Dois tipos de PCV foram caracterizados, PCV tipo 1 (PCV1) e PCV tipo 2 (PCV2). O PCV1 foi primeiramente descrito como um contaminante da linhagem celular de rim de porco PK15 (TISCHER; RASCH; TOCHTERMANN et al., 1974) e não apresenta patogenicidade. Já o PCV2 é considerado o principal agente da Síndrome Multissistêmica Pós-Desmame (PMWS). Evidências apontam que outras enfermidades estão associadas ao PCV2, como a síndrome da dermatite e nefropatia suína (PDNS), pneumonia necrotizante e proliferativa (PNP), tremor congênito (CT-AII), miocardite perinatal e falhas reprodutivas (ALLAN; ELLIS, 2000). A manifestação de qualquer umas dessas síndromes associadas ao PCV2 é denominada Circovirose Suína (ALMEIDA et al., 2004). A síndrome multissistêmica pós-desmame (PMWS) tem sido reconhecida em suínos na Ásia, América do Norte e do Sul e Europa (ALLAN; ELLIS, 2000; CELER; CARASOVA, 2002; CHOI; CHAE, 1999; SAOULIDIS et al., 2002; SARRADELL et al., 2002; SEGALÉS et al., 1997; VYT et al., 2000;). A infecção pelo PCV em suínos é distribuída mundialmente e potencialmente apresenta um sério impacto na indústria suína em todo o mundo (FENAUX et al., 2000). A PMWS é caracterizada clinicamente por dispnéia progressiva, anemia, aumento dos nódulos linfáticos, diarréia, progressiva perda de peso e icterícia (HARDING, 1997; HARDING et al., 1998). As principais lesões histológicas apresentadas pela PMWS incluem a presença de linfohistiócitos e granulomas inflamatórios nos pulmões, rins e tecidos linfóides, assim como, depleção linfóide (CLARK, 1997). Pneumonia intersticial subaguda é comum nas lesões pulmonares (ROSSELL et al., 1999). Uma vez que os sinais clínicos da PMWS não são específicos, a presença do DNA do PCV2 ou dos antígenos em tecidos linfóides juntamente com a presença de uma moderada a severa depleção linfóide ou linfoadenite granulomatosa, ou ambos, são usados como critério para diagnóstico (CHAE, 2003). Entretanto, para o diagnóstico correto da circovirose suína é necessária a análise em conjunto dos sinais clínicos decorrente da doença, identificação do PCV2 pela PCR ou imunoperoxidase e associação com lesões teciduais características, provocadas pela enfermidade. É comum o isolamento do PCV2 nos animais convaScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 33-44, jan./dez. 2006
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lescentes e em animais clinicamente sadios ou com infecção subclínica (SEGALÉS; DOMINGO; ROSELL, 2004). No Brasil, a EMBRAPA Suínos e Aves/Concórdia/SC detectou a presença do antígeno do PCV2 por testes de imunoperoxidase e observou também a presença de lesões características de PMWS em amostras de tecidos de suínos (CIACCI–ZANELLA; MORÉS, 2001). Em Minas Gerais, a presença do PCV2 foi detectada por ensaios de PCR (MONNERAT, 2003). Isolados deste agente infeccioso também foram descritos nos Estados de Goiás (SOBESTIANSKY et al., 2002), São Paulo (CASTRO et al., 2003) e Rio Grande do Sul (BARCELLOS; PESCADOR, 2003). Até o presente momento, não foi comunicado a presença do PCV2 e das doenças relacionadas a este agente no Estado do Espírito Santo. Nesse trabalho, o objetivo principal foi isolar o PCV2 de animais recémabatidos e aparentemente sadios em abatedouros de diferentes cidades da região central do Estado do Espírito Santo com a finalidade de se realizar um mapeamento da ocorrência do vírus e despertar a necessidade da importância de novos estudos com o propósito de evitar danos maiores à suinocultura no Estado e no Brasil.
2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1
COLETA DE AMOSTRAS
Amostras de linfonodos, rins e pulmões de suínos aparentemente sem sinais clínicos foram coletadas em julho de 2005 nos abatedouros das cidades de Colatina, Itaguaçu, Marilândia, Nova Venécia e Pancas, situadas na região Centro-Norte do Espírito Santo. Essas amostras foram divididas e armazenadas em formol 10% e congeladas a –20ºC. 2.2
INOCULAÇÃO EM CULTIVO CELULAR
Pools de linfonodos congelados dos animais das cidades em estudo foram colocados em nitrogênio líquido, macerados e tratados com meio essencial mínimo (MEM) suplementado com penicilina (500U/μL) e estreptomicina (500μg/μL). Frascos de 25cm2 de células SK6 livres de PCV semiconfluentes, foram inoculadas com 1mL do inócuo e incubadas a 37ºC em atmosfera de 5% CO2 por 45 minutos. Em seguida, 5mL de Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 33-44, jan./dez. 2006
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MEM suplementado com soro fetal bovino 10% foram adicionados aos frascos e a incubação foi prolongada por mais 48 horas. Logo após a incubação, as células foram tratadas com D-glicosamina 300mmoles/L durante 45 minutos e incubadas por 48 horas (TISCHER et al., 1986). 2.3
EXTRAÇÃO DE DNA
Após três passagens, o DNA total foi isolado das células infectadas e não infectadas utilizando o método de extração por fenol-clorofórmio como descrito por Sambrook, Fritsch e Maniatis (1989). 2.4
REAÇÃO DA POLIMERASE EM CADEIA (PCR)
A técnica de PCR foi realizada utilizando oligonucleotídeos desenhados a partir da posição de 1034 forward e 1735 reverse correspondentes à seqüência de nucleotídeos do gene que codifica a proteína do capsídeo viral (Tabela 1). A mistura de reação para o ensaio de PCR foi constituída de tampão de reação 10X (Tris-HCl 10mM, pH 9,0 e KCl 50mM, MgCl2 1,5mM), dNTPs, 0,3M de cada oligonucleotídeo e Taq DNA polimerase 2,5U/μL. Após a adição do DNA (2μL), a mistura foi transferida para um termociclador (MJC, Inc. PTC-100, USA). A técnica de PCR consistiu de uma desnaturação a 94oC por 3 minutos, seguida de 35 ciclos de 94oC por 1min., 60oC por 1min. e a 72oC por 1min. A etapa final de extensão foi de 10 minutos a 72oC. As amostras amplificadas foram armazenadas a 4oC ou analisadas imediatamente em eletroforese em gel de agarose 1%. Tabela 1 – Oligonucleotídeos utilizados nas amplificações do PCV2
Designação FCAP RCAP 2.5
Seqüência
Orientação
5’- CGGCTAGCCGATGACGTATCCAAG-3’ 5’- GACGCGTCGTTAGGGTTTAAGTG-3’
Forward Reverse
ANÁLISE DO PRODUTO DE PCR POR RESTRIÇÃO ENZIMÁTICA
Com a finalidade de se observar o perfil de restrição enzimática de cada isolado detectado pela técnica de PCR, 20μL do produto amplificado pela PCR foi clivado com 0,5 U da enzima EcoRI durante quatro horas a 37ºC e os fragmentos foram visualizados por eletroforese em gel de agarose 1%. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 33-44, jan./dez. 2006
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2.6
ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA
Amostras teciduais de um animal da cidade de Pancas e um animal de Colatina, formalizadas a 10% provenientes dos mesmos animais abatidos utilizados na técnica de PCR, foram selecionadas e encaminhadas ao setor de Patologia do Departamento de Veterinária/UFV para a confecção dos cortes histológicos. Os fragmentos de linfonodos, rins e pulmões foram processados segundo a técnica de inclusão em parafina, seccionados em cortes de cinco micrômetros e corados com hematoxilina e eosina como descritas por Grimaldi Filho (1981). As lâminas histológicas foram visualizadas com o auxílio de um microscópio óptico e holografadas em fotomicroscópio.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1
DETECÇÃO DO PCV2 PELA PCR
As amostras coletadas foram amplificadas pela PCR e o fragmento obtido após a amplificação do DNA do PCV2 foi de aproximadamente 720pb (Figura 1). A técnica da PCR mostrou que o pool de linfonodos dos animais da região central do Estado do Espírito Santo apresentaram o PCV2 em todas as amostras analisadas. 1 2 3 4 5 6 7 8
600pb
720pb
Figura 1 – Análise em gel de agarose 1% dos ensaios de PCR Legenda:
Coluna 1 – Marcador de peso molecular (100bp ladder). Coluna 2 – Controle negativo da reação. Colunas 3, 4, 5, 6, 7 – correspondentes às amplificações do fragmento de 720pb do DNA de isolados de PCV2 das cidades de Marilândia, Nova Venécia, Itaguaçu, Colatina e Pancas, respectivamente. Coluna 8 – Controle positivo da reação.
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3.2
ANÁLISE DE RESTRIÇÃO
Os produtos obtidos pela PCR foram clivados com a enzima de restrição EcoRI (Figura 2) e fragmentos de 318pb e 402pb correspondentes ao padrão de restrição esperado dos produtos observados na reação. Portanto, o fragmento de DNA amplificado não se tratava de uma reação inespecífica, evidenciando a detecção do PCV2. Linfonodos foram encontrados depleção linfóide caracterizada por lise de folículos linfóides e intensa proliferação de histiócitos. 12345678
600pb
402pb 318pb
Figura 2 – Análise em gel de agarose 1% das reações de clivagem com EcoRI Legenda:
Coluna 1 – Marcador de peso molecular (100bp ladder). Coluna 2 – Controle positivo da reação. Colunas 3, 4, 5, 6, 7 correspondentes aos fragmentos de 318 e 402pb do DNA amplificados pela PCR clivado com EcoRI das cidades de Marilândia, Nova Venécia, Itaguaçu, Colatina e Pancas, respectivamente. Coluna 8 – Controle negativo da reação.
3.3
ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA
As alterações histopatológicas encontradas nas amostras evidenciaram dados importantes para o diagnóstico, uma vez que não foi observado nenhum quadro clínico compatível com a doença. Nas lâminas histológicas provenientes dos animais de Colatina (Figura 3), os resultados histopatológicos do pulmão mostraram uma broncopneumonia intersticial caracterizada por espessamento de septos alveolares por infiltrado inflamatório linfo-histiocitário. Nas lâminas provenientes dos tecidos renais foram observados glomerulonefrite membranoproliferativa, caracterizada por infiltrado inflamatório linfo-histiocitário localizado entre os túbulos e no interior dos glomérulos, além de espessamento da membrana basal dos capilares glomerulares. Nas amostras de linfonodos foram encontrados depleção linfóide caracterizada por lise de folículos linfóides e intensa proliferação de histiócitos.
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(A)
(B)
(C)
Figura 3 – Análise histológica das amostras de Colatina Legenda:
(A) Fotomicrografia mostrando septos alveolares espessados por infiltrado inflamatório linfohistiocitário com aumento 10X. (B) Fotomicrografia de infiltrado inflamatório presente no rim, constituído de histiócitos (a) e linfócitos (b) com aumento 400X. (C) Fotomicrografia de um folículo linfóide apresentando proliferação de histiócitos (a) e poucos linfócitos (b) com aumento 400X.
Nas lâminas histológicas provenientes dos animais de Pancas (Figura 4) os achados histopatológicos no pulmão mostraram uma broncopneumonia intersticial supurativa caracterizada por espessamento dos septos alveolares por infiltrado inflamatório linfo-histiocitário, além da presença de exsudato muco-purulento no interior de brônquios e bronquíolos. Nos tecidos renais foi detectado a presença de infiltrado inflamatório discreto no interstício, no entanto, nos linfonodos não foram encontradas alterações significativas.
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As detecções histopatológicas nos órgãos de animais provenientes de Colatina e Pancas em associação com o isolamento do PCV2 reforçam o diagnóstico da circovirose suína subclínica. As lesões teciduais foram compatíveis com as lesões da circovirose suína descritas por Chae (2003) e Segalés, Domingo e Rosell (2004). (A)
(B)
Figura 4 – Análise histológica das amostras de Pancas Legenda:
(A) Fotomicrografia mostrando a presença de células inflamatórias no interstício renal com aumento 10X. (B) Fotomicrografia de pulmão apresentando infiltrado inflamatório indicado pela seta a e, em evidência, próximo a um bronquíolo indicado pela seta b com aumento 10X.
4 CONCLUSÃO Os resultados deste trabalho mostram o isolamento e a detecção molecular do PCV2 por ensaios de PCR e a obtenção dos fragmentos de 402 e 318pb resultantes dos ensaios de restrição com a enzima EcoRI confirmam, em termos moleculares, a presença do PCV2. As análises histopatológicas confirmam que as amostras provenientes de animais avaliados das cidades de Pancas e Colatina possuíam lesões características da circovirose suína, embora nenhum sinal clínico tenha sido descrito anteriormente nestes animais. Este trabalho, portanto, aponta e abre perspectivas para a necessidade de maiores estudos de ocorrência e controle da enfermidade em rebanhos no Estado do Espírito Santo.
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DETECTION OF PORCINE CIRCOVIRUS TYPE 2 (PCV2) IN ANIMALS FROM SLAUGHTER HOUSES IN ESPIRITO SANTO NORTH REGION ABSTRACT Porcine circovirus type 2 (PCV2) is implicated in swine circovirosis, a multifatorial disease and emergent in national swine breeding engaging several clinical presentations. Swine lymph nodes, kidneys and lung samples were collected in slaughter house from five towns in Espírito Santo centre-north region to verify PCV2 presence. Lymph nodes pools from each town were inoculated in PCV free SK6 cells. Cells were treated with glucosamine and propagated three times. DNA extraction was performed and virus presence was detected by polimerase chain reaction (PCR). Swine tissues stored in 10% formol from two towns were submitted to histopathological exams, in which the presence of PCV2 related lesions was detected. Until now, PCV2 presence and related diseases to this agent had not been notified in Espírito Santo State. Keywords: PCV2. Molecular diagnosis. Porcine circovirusis.
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Correspondência para/reprint request to: Márcia Rogéria de Almeida Av. Ph. Rolfs, s/nº 36571-000 - Viçosa - MG (Brasil)
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ARTRITE ENCEFALITE CAPRINA (CAE)
GRAZIELA BARIONI1 LETÍCIA BINDA BAUNGARTEN2 ILDEIR CAMPOS2 ARNALDO COUTINHO CARVALHO2 LEANDRO MENDES FURTADO2 ANA CLÁUDIA DOS SANTOS VALENTE3
RESUMO A artrite encefalite caprina (CAE), causada por um lentivírus RNA da família retroviridae, é cosmopolita e acomete animais de todas as idades. Essa doença vem trazendo conseqüências econômicas devastadoras na indústria leiteira. É transmitida pelo colostro, contato direto, secreções e fômites. O vírus causa uma síndrome de doença multissistêmica, que envolve primariamente as articulações, disseminando-se para o sistema nervoso central, pulmões e glândulas mamárias. O diagnóstico tem como base os sinais clínicos, histórico clínico e testes sorológicos e não há vacina ou tratamento favorável para qualquer forma da doença, sendo a prevenção e o controle extremamente necessários. Palavras-chave: Artrite encefalite caprina. CAE. Lentivírus.
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Doutora em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: gbraioni@uvv.br. Graduandos do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Vila Velha. Email: leticiabinda@terra.com.br Mestre em Clínica Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: avalente@uvv.br.
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1 INTRODUÇÃO A artrite encefalite caprina (CAE) foi relatada pela primeira vez em 1970 nos EUA e, no Brasil, em 1986, no Rio Grande do Sul (THOMSON, 1998). Atualmente, a infecção pelo vírus da CAE encontra-se mundialmente difundida pela importação de animais (EUA, Canadá, França, Noruega, Suíça e Brasil). Dentre os estados brasileiros podem ser citados: Bahia, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Espírito Santo (CORREA et al., 2001). Devido a sua ampla distribuição mundial, a CAE é considerada hoje uma das maiores doenças de caprinos, tendo alta incidência em áreas endêmicas e afetando animais de todas as idades. Ocorre sobretudo nos países de desenvolvida indústria leiteira, levando a conseqüências econômicas devastadoras, relacionadas à baixa produção de leite, redução da performance reprodutiva, baixo aproveitamento do potencial genético dos animais infectados, diminuição do período de vida útil, levando à renovação forçada do rebanho, além de mortalidade dos cabritos, afetando negativamente os parâmetros de produção (SILVA, 1999). Um estudo feito em São Paulo revelou que dos 837 animais examinados, 314 apresentavam anticorpos séricos contra o vírus da CAE, ou seja, 37,5% (BASTOS et al., 1993). Na Suíça, estudos para quantificar as perdas econômicas em conseqüência da CAE revelaram que, de 5 a 10% do rebanho caprino são anualmente sacrificados por apresentarem quadro grave de artrite. Segundo estimativas dos caprinocultores, a queda na produção de leite das cabras infectadas é de 10 a 15%, sendo que esta porcentagem pode ser observada também nos casos em que a cabra não apresenta alterações no úbere (SILVA, 1999).
2 ETIOLOGIA A artrite encefalite caprina é uma doença produzida por um vírus lento do gênero lentivírus da família retroviridae (BOHLAND; D’ANGELINO, 1999). Apresenta uma patogenia viral notavelmente semelhante ao vírus da maedi-visna em ovinos (BLOOD; RADOSTITS, 1991).
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O vírus da CAE é RNA, de 60-100mm de diâmetro e possui dois importantes antígenos no seu capsídeo e envelope, denominados “p 28” e “gp 135”, respectivamente. Possui transcriptase reversa, ou seja, transcreve DNA a partir do RNA vírico, formando, então, um DNA de fita dupla que integra-se ao DNA celular do hospedeiro (DNA pró-viral), que pode passar a expressar o RNA viral imediatamente ou permanecer de forma latente (CORREA et al., 2001). O vírus da CAE é sensível em condições ambientais, sendo inativado pelo calor a 56ºC e pela maioria dos desinfetantes químicos (BEER, 1999).
3 EPIDEMIOLOGIA A disseminação do vírus da CAE ocorreu mundialmente devido à importação de animais (CORREA et al., 2001). A transmissão da doença ocorre pela ingestão de colostro e leite contaminados pelo vírus da CAE, pelo contato direto entre animais em criações intensivas, propiciando a contaminação por meio de secreções urogenitais, saliva, fezes, secreções do trato respiratório, ordenhadeira, mãos, toalhas e outros fômites contaminados (BOHLAND; D’ANGELINO, 1999). Há sugestões de que possa haver transmissão intra-uterina e pelo sêmen contaminado do lentivírus, no entanto, essas fontes de contágio não parecem assumir um papel de importância na disseminação da doença (EAST, 1994). A infecção pode ser insidiosa por meses a anos e alguns animais podem permanecer assintomáticos, embora permaneçam infectados durante a vida toda, sendo, assim, importantes na transmissão da doença por estarem eliminando o vírus (SILVA, 1999).
4 PATOGENIA O vírus causa uma síndrome de doença multissistêmica que, envolve primariamente o tecido conjuntivo de revestimento sinovial (BLOOD; RADOSTITS, 1991).
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O vírus perde o envelope glicoprotéico quando penetra no citoplasma da célula alvo, logo após a ligação ao receptor da célula do hospedeiro, dando início ao ciclo de vida do vírus, essa replicação viral ocorre dentro de monócitos e macrófagos. Qualquer agressão ao organismo leva à passagem dessas células infectadas para a circulação, facilitando a disseminação do vírus no sistema nervoso central, nas articulações, nos pulmões e na glândula mamária (BOHLAND; D’ANGELINO, 1999). As células infectadas pelo vírus estimulam de forma anormal os linfócitos T, induzindo uma hiperproliferação e reatividade linfocitária inespecífica, levando a danos imunomediados que vão se localizar nas articulações dos caprinos adultos e no sistema nervoso central dos animais jovens (SILVA, 1999). Grandes quantidades de anticorpos neutralizadores, não relacionados ao vírus, são produzidos pelos linfócitos, associados ao macrófago infectado pelo vírus (EAST, 1994).
5 SINAIS CLÍNICOS A denominação leiga de “joelho inchado” é proveniente da sinovite hiperplásica crônica que, nos animais adultos, só é visível nas articulações do carpo. Nos caprinos jovens, com idade entre 1 a 4 meses, o mais comum é a leucoencefalomielite (BLOOD; RADOSTITS, 1991). Segundo East (1994), a idade para esse quadro é de 2 a 6 meses. A doença nesse caso cursa com paresia uni ou bilateral do membro pélvico ou ataxia, o fato dos animais se apresentarem afebris não descarta a possibilidade de febre no início da infecção. Os pêlos ficam ásperos e secos, alguns animais podem ter secreção nasal associado à pneumonia, mas mesmo assim o apetite permanece (BLOOD; RADOSTITS, 1991). De acordo com Correa e outros (2001), têm sido registrados animais de 15 anos com encefalite e febre recorrente. Segundo Pinheiro e outros (2000), a forma artrítica é observada em animais com 8 meses de idade (Figura 1).
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Figura 1 – Caprinos com artrite provocada pelo vírus da CAE
Fêmeas impúberes e adultas podem também ser evidenciadas pelo endurecimento da glândula mamária e nas lactantes pela mastite, que muitas vezes pode passar desapercebido, mesmo com o comprometimento na produção leiteira, pois o leite pode não apresentar alterações macroscópicas (SILVA, 1999). Quando a patologia afeta o sistema respiratório, ocorre uma pneumonia intersticial, perda de peso e dispnéia nos animais em repouso. Com o desenvolvimento da doença podem ocorrer outras infecções secundárias, devido ao efeito depressivo que o lentivírus pode produzir sobre o hospedeiro (EAST, 1994). São comuns diversos problemas como infertilidade, partos distócicos, emagrecimento, formas agudas de mamite e pneumonia em conseqüência de infecção bacteriana secundária, facilitada pelas Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 45-57, jan./dez. 2006
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lesões teciduais desencadeadas pelo vírus da CAE nesses órgãos (SILVA, 1999).
6 HISTOPATOLÓGICO De acordo com Correa e outros (2001), as alterações macroscópicas encontradas nas articulações são de natureza inflamatória e degenerativa. Consistem em um aumento de volume no tecido conjuntivo subcutâneo periarticular e tendões adjacentes, hiperemia da bolsa e bainhas tendinosas. Há aumento do líquido sinovial, presença de fibrina e coágulos de sangue. As articulações primariamente afetadas são as do carpo, podendo a lesão ser uni ou bilateral. Nas alterações microscópicas há sinais de inflamação crônica, caracterizadas por hiperplasia sinovial, deposição de fibrina e infiltrado de células inflamatórias mononucleares como linfócitos, plasmócitos e macrófagos. Os colágenos subsinovial, perisinovial e tendinoso encontram-se engrossados, freqüentemente necrótico e mineralizado (THOMSON, 1998). As glândulas mamárias apresentam-se assimétricas, havendo endurecimento difuso ou nodular das mesmas. Na histopatologia há infiltrado de células inflamatórias mononucleares no tecido mamário intersticial, organizadas sob forma de folículos linfóides volumosos (EAST, 1994). No sistema nervoso central, as alterações macroscópicas que podem ocasionalmente ocorrer são áreas focais de coloração marrom clara na substância cinzenta da medula oblonga e medula espinhal. Na microscopia, há infiltrado de células inflamatórias mononucleares na substância cinzenta da medula espinhal. Observa-se, também múltiplos focos de infiltrados perivasculares linfocitários e de macrófagos na substância branca cerebral, associada à desmielinização (CORREA et al., 2001). As lesões microscópicas do sistema nervoso são similares às do vírus da maedi-visna. Como ocorre com esse vírus, o mecanismo responsável pelo desenvolvimento dessas lesões não foi completamente determinado (THOMSON, 1998). Os cabritos com leucoencefalomielite podem apresentar pneumonia intersticial observada na necropsia, sem outras lesões aparentes (EAST, 1994). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 45-57, jan./dez. 2006
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Os pulmões não colapsam totalmente quando há abertura da cavidade torácica, apresentando uma coloração acinzentada, sendo firmes ao tato (CORREA et al., 2001). Podem ser visualizadas aderências pleurais, áreas de congestão, edema e atelectasia (BOHLAND; D’ANGELINO, 1999). Há presença de focos de 1-2mm de diâmetro com coloração branco acinzentada distribuídos pelo tecido pulmonar. Na histopatologia, podem ser visualizados, nos pulmões, infiltrados de células inflamatórias mononucleares organizadas em folículos volumosos, primariamente linfóides. A maioria dos alvéolos pulmonares encontramse revestidos por pneumócitos tipo II hiperplásicos, com presença de fluido de natureza protéica no lúmen alveolar (CORREA et al., 2001). No útero, não há alterações macroscópicas visíveis. Na histopatologia, observa-se um infiltrado mononuclear, com predominância de linfócitos envolvendo principalmente o endométrio (THOMSON, 1998).
7 DIAGNÓSTICO O diagnóstico baseia-se nos sinais clínicos e nos dados epidemiológicos. Mas, devido às variações nas manifestações clínicas da CAE, o diagnóstico clínico é insuficiente, devendo ser complementado pela pesquisa de anticorpos específicos para esse lentivírus, pela detecção do vírus ou de antígenos virais. O teste sorológico mais largamente utilizado e oficialmente reconhecido em vários países para detectar anticorpos anti-CAE é a Imunodifusão em Ágar Gel (IDGA), sendo de simples execução e tendo anticorpos precipitantes aparecendo antes dos neutralizantes (RUTKOSKI et al., 2001). Muitos meses podem passar entre a infecção e a ocorrência de anticorpos detectáveis para CAE, sendo a variação de sua expressão em caprinos naturalmente infectados, pouco estudada. Além disso, os níveis de anticorpos no sangue podem flutuar e as cabras infectadas nem sempre serem acusadas de positivas. O IDGA é um simples teste, portanto, não tem 100% de acurácia (SILVA, 1999). A sensibilidade do teste IDGA para detectar anticorpos anti-CAE é dependente do antígeno usado. Um teste com a glicoproteína de superfície “gp 135” produz uma maior sensibilidade que o teste com a “p 28”, entretanto, alguns caprinos podem reagir somente com o antígeno “p 28” (CORREA et al., 2001). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 45-57, jan./dez. 2006
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Os resultados sorológicos devem ser interpretados com prudência, pois um resultado negativo pode ser falso-negativo. A confiabilidade desse resultado pode ser reforçada na medida em que novos exames forem realizados, com intervalo mínimo de 6 meses. É importante a utilização dos testes sorológicos como indicadores da situação do rebanho, tendo pouco valor quando interpretados individualmente. Assim, um rebanho onde todos os animais apresentarem resultado negativo é um forte indicativo de que realmente esse rebanho não esteja infectado. Entretanto, um único animal negativo, em mais de um teste, pode ser falso-negativo devido à soroconversão tardia ou a outros fatores (SILVA, 1999). A técnica de PCR tem sido bastante documentada devido a sua grande sensibilidade e especificidade. A utilização do PCR como método de diagnóstico da CAE deve ser analisada com cautela. Na avaliação inicial de um rebanho deve-se considerar o uso de testes sorológicos e suas limitações. No desenvolvimento de um programa de estabelecimento de propriedades livres, o PCR poderá permitir a detecção de animais infectados nos quais a sorologia não seja conclusiva (RUTKOSKI et al., 2001). No diagnóstico laboratorial deve ser levado em consideração que somente um pequeno número de animais infectados pela CAE desenvolve a doença, entretanto, todos os animais infectados são portadores do vírus, possivelmente por toda a vida (SILVA, 1999).
8 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial da forma artrítica da doença inclui as outras artrites infecciosas, como aquelas causadas por micoplasmas, clamídias e corinebactérias. A forma nervosa deve ser diferenciada da poliencefalomalácia, listeriose e da deficiência de cobre (BLOOD; RADOSTITS, 1991). A poliencefalomalácia é a deficiência da vitamina tiamina em ruminantes, mais freqüente quando os animais são alimentados principalmente com concentrado. Essa doença pode apresentar cegueira, tremores musculares (principalmente da cabeça), ranger dos dentes, sialorréia, compressão da cabeça, convulsão, opistótomo e nistagmo. O animal pode ainda permanecer em decúbito, vagar sem destino e em círculo, pode apresentar extensão dos membros, hiperestesia, excitabilidade e elevação da cabeça (EAST, 1994). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 45-57, jan./dez. 2006
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A Listeria monocytogenes é o agente etiológico da listeriose e pode ser isolado em culturas puras dos animais acometidos. Foram identificados cinco sorotipos classificados com números de 1 a 5 e vários subtipos. O sorotipo mais comum que ocorre naturalmente em fazendas é o “4B”. A patogenicidade e a contagiosidade são tão baixas que exigem uma imunossupressão do hospedeiro para que a doença seja instalada. Essa, pode causar meningoencefalite com movimentos involuntários da musculatura da mandíbula, sialorréia, pressão da cabeça contra objetos fixos, paralisia unilateral da face, hipotomia, protrusão da língua e desvio da cabeça para um dos lados. Os animais podem ainda ficar letárgicos e sonolentos, se isolam do resto do rebanho, caminham em círculo, podem apresentar ataxia, paralisia flácida dos olhos e lábios, estrabismo, nistagmo, decúbito, aborto e morte devido à insuficiência respiratória (BLOOD; RADOSTITS, 1991). A deficiência de Cobre pode ser primária, quando a ingestão na dieta é insuficiente, ou secundária, quando a ingestão na dieta é suficiente, mas a utilização do cobre pelos tecidos é impedido. Os animais podem apresentar perda das condições físicas, falha no crescimento, diarréia, osteoporose, anormalidade nos membros, postura de “perna-de-pau”, acentuado crescimento da cartilagem epifisária, ataxia, hiperextensão dos flexores, achatamento dos cascos, aumento de volume ao redor das articulações metocarpofalângicas e alteração na pigmentação da pelagem (EAST, 1994).
9 PREVENÇÃO E CONTROLE Diante da inexistência de tratamento da CAE, as medidas de controle são fundamentais para prevenir o avanço da doença nos rebanhos caprinos. Os programas de controle são baseados na prevenção das várias formas de transmissão do vírus, ou seja, evitando a transmissão pelo colostro e leite contaminados, evitando o contato direto entre os animais e acompanhando da eficácia dessas medidas, mediante testes sorológicos periódicos (CORREA et al., 2001). Dessa forma, recomenda-se a remoção das crias de suas mães imediatamente após o nascimento, fornecendo a elas colostro de cabra pasteurizado a 56ºC por uma hora ou colostro de vaca. O aleitamento das crias pode ser feito com leite de cabras não infectadas, leite de vaca pasteurizado ou leite de cabra infectado pasteurizado. Deve-se realizar testes Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 45-57, jan./dez. 2006
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sorológicos, no mínimo a cada 6 meses, em todos os animais do rebanho, separando os positivos dos negativos. Deve-se evitar fatores que propiciem a disseminação da doença dentro do criatório como a superlotação, contaminação de alimentos, água e equipamentos, com secreções de animais positivos. Recomenda-se estabelecer uma linha de ordenha deixando por último os animais infectados, evitar a introdução de novos animais no criatório, ou então proceder-se a realização de testes sorológicos e quarentena antes de introduzi-los no rebanho. Deve-se evitar compartilhar o uso de agulhas, seringas, tatuadores, instrumentos cirúrgicos e outros fômites sem prévia desinfecção e, nos rebanhos de baixa prevalência, sacrificar os animais positivos (EAST, 1994). Essas medidas são fundamentais para prevenir o avanço da doença nos rebanhos caprinos. Entretanto, devemos lembrar as dificuldades que o criador encontra em realizá-las, e todo o trabalho que elas exigem. Principalmente em grandes rebanhos leiteiros comerciais, onde nem sempre há mão-de-obra qualificada ou instalações adequadas para que essas medidas possam ser realizadas de maneira efetiva (BOHLAND; D’ANGELINO, 1999). A reprodução programada pode ser adotada no plantel com sincronização de cio, levando a uma concentração de nascimento, o que facilita o manejo e obtenção de colostro dos animais negativos. Por outro lado, também existem os problemas relacionados com a realização de testes periódicos nos animais, pelas dificuldades de se manter um serviço permanente de diagnóstico da CAE à disposição dos criadores. A exemplo do que é exigido na Suíça e em outros países, um rebanho passa a ser considerado oficialmente livre da CAE quando apresenta resultados negativos em três exames consecutivos, realizados com um intervalo de 6 meses entre cada um e, se exames anuais posteriores confirmarem essa condição (SILVA, 1999).
10 TRATAMENTO É indicado o sacrifício dos animais positivos se a prevalência da CAE no rebanho for inferior ou igual à 30%, devendo-se obviamente avaliar a relação custo x benefício, visto que a eliminação total da infecção pelo vírus da CAE de um rebanho é dependente da remoção de todos os caprinos infectados. Essa medida é preconizada, pois, infelizmente, não há vacina ou tratamento provável de ter valor para qualquer forma da doença, sendo a profilaxia sanitária estreitamente necessária (BOHLAND; D’ANGELINO, 1999). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 45-57, jan./dez. 2006
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11 CONCLUSÃO De acordo com as pesquisas e estudos realizados no referido trabalho, podemos concluir que a artrite encefalite caprina (CAE) é considerada hoje uma das maiores doenças de caprinos, levando a conseqüências econômicas devastadoras. Ocorre mundialmente, sendo inclusive diagnosticada com freqüência em nosso estado. Animais de todas as idades sofrem dores articulares, mastite, encefalites, pneumonia, entre outros problemas. Embora apenas os testes sorológicos possam fechar o diagnóstico da CAE, um bom clínico pode suspeitar da doença apenas com o exame físico e dados epidemiológicos. Segundo a literatura, por se tratar de uma doença de fácil disseminação, sem existência de vacinas e tratamento eficazes, animais acometidos com o vírus da CAE devem ser sacrificados. No entanto, quase nenhum produtor adota essa medida. Talvez por falta de conscientização ou por problemas meramente econômicos. O fato é que devemos levar a informação ao produtor e, pelo menos, conscientizá-lo de implantar, em sua propriedade, um programa de controle da CAE para prevenir o avanço da doença nos rebanhos caprinos.
CAPRINE ARTHRITIS ENCEPHALITIS (CAE) ABSTRACT The caprine arthritis encephalitis (CAE), is caused by a lentivirus RNA from the family retroviriae wich, is a cosmopolitan family that affects animals from all ages. This disease brings serious economics losses in the milk provision. Its transmission is by the colostrums, close contact, physiologic secretion and utensils. The virus causes a multisistemics disease syndrome that involves first the joints disseminating througn the central nervous system, lungs and mamary glands. The diagnosis is based in the study of clinical signs, history, and serological tests. There is no vaccine or propitious treatment for any form of the disease. The preventive control is extremely needed. Keywords: Caprine arthritis encephalitis. CAE. Lentivírus.
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Correspondência para/reprint request to: Graziela Barioni Rua Comissário José Dantas de Melo, 21 Boa Vista 29102-770 - Vila Velha - ES (Brasil)
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A COMUNICAÇÃO NO ENVELHECIMENTO SADIO
CECÍLIA CAROLINA FRÍAS CÁCERES1 MICHELLY DE OLIVEIRA NUNES1 SUSANA DE CARVALHO2
RESUMO Investiga as transformações ocorridas na comunicação dos idosos decorrentes do envelhecimento sadio. O termo sadio refere-se à ausência de seqüelas que possam provocar alterações de linguagem. Elaborou-se um questionário com perguntas abertas e fechadas que enfocou aspectos sociais e orgânicos da comunicação. Foram realizadas três entrevistas de cada grau de escolaridade, num total de quinze entrevistados pertencentes a vários contextos sociais. Realizou-se a análise a partir do próprio relato dos idosos e sob a inspiração da análise de conteúdo. De modo geral, os resultados evidenciam que há mudanças na comunicação dos idosos sadios em virtude de modificações sociais e comportamentais, e não orgânicas. Os resultados também revelam: os idosos fazem parte de um grupo emergente que desempenha um novo papel social; a comunicação é restrita entre eles; os jovens não têm interesse em manter uma conversação com eles; quanto maior a escolaridade, melhor a desenvoltura para a comunicação; os déficits de memória existem, porém não trazem implicações à comunicação. Conclui que a Fonoaudiologia, de posse dessas informações, pode melhorar a qualidade de vida dos idosos, por meio de ações que visem otimizar a comunicação e valorizar o idoso como interlocutor. Palavras-chave: Comunicação. Envelhecimento sadio. Fonoaudiologia. 1
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Graduandas do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: michelly.lyrio@bol.com.br. Mestre em Distúrbios da Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: susana_carvalho@uol.com.br.
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1 INTRODUÇÃO A linguagem é o grande elo entre o homem e o mundo e é essa capacidade de simbolizar que nos diferencia das outras espécies. Ela tem a importante função de formar a consciência humana e servir ao desenvolvimento da atenção, da memória, da abstração, do raciocínio lógico e da cognição. É a principal ferramenta para a organização do pensamento, para o planejamento das ações que efetuamos e, prioritariamente, é a via que possibilita a comunicação. Embora a aquisição da linguagem se dê nas fases iniciais da vida, por meio das relações interpessoais, o seu desenvolvimento não é estanque, pois faz parte de um processo evolutivo contínuo. A partir da aquisição, inicia-se uma trajetória de ampliação das habilidades lingüísticas que continua por toda a vida, inclusive na velhice. Assim, como a expectativa de vida da nossa população tem aumentado gradativamente, considera-se relevante a investigação da existência de transformações na comunicação dos idosos decorrentes do processo de envelhecimento sadio. Vale ressaltar que o termo “envelhecimento sadio” empregado neste estudo refere-se ao envelhecimento sem a presença de seqüelas que possam provocar alterações de linguagem. Também é importante colocar que a análise foi realizada a partir do relato dos próprios idosos. O Brasil é um país que antecipadamente introduziu-se no caminho da senescência populacional. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgados em 2000, já são aproximadamente 9.935.100 pessoas com 65 anos ou mais, ou seja, 5,85% do total da população. E para que um país seja classificado como “velho”, 7% de sua população total deve ser idosa. É interessante notar que, em países desenvolvidos, o aumento da esperança de vida foi resultado das melhores condições de vida (MINAYO; COIMBRA JÚNIOR, 2002). E o Brasil, mesmo sendo um país subdesenvolvido, tem um número de idosos cada vez maior, mesmo com condições socioeconômicas e sanitárias precárias, de acordo com Kalache (2002). Daí, questiona-se: como proporcionar a estes indivíduos que tiveram suas vidas aumentadas uma sobrevivência digna? A população idosa crescente precisa ser vista como elemento fundamental na formulação de novas políticas. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 59-72, jan./dez. 2006
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De acordo com Minayo e Coimbra Júnior (2002), olhos curiosos se voltam para os idosos, mas o que vêem é algo estereotipado em uma cultura em que se valoriza o belo, e este belo corresponde aos jovens. O desgaste dos corpos, os vincos nas faces, a voz mais cadenciada, o andar mais vagaroso ou trôpego, a queda dos músculos e a fragilidade dos movimentos revelam a estes olhares algo indesejado ou feio, que se transforma em problema ou doença. A velhice é, então, vista desta forma. Featherstone (apud MINAYO; COIMBRA JÚNIOR, 2002), porém, sugere a expressão “máscara do envelhecimento” para falar de um sentimento muito comum entre os idosos, que se sentem jovens por dentro, em contraposição à aparência externa. Bassit (2002), não admitem que envelhecimento, doença, privação, dependência, tristeza e frustração estejam sempre associados. Ao contrário, trabalham para levantar um movimento positivo em relação a esta fase da vida e assim acabar com qualquer discriminação existente. Discriminação esta que leva inclusive os próprios idosos a quererem parecer mais jovens para assim serem aceitos na sociedade, segundo Lins de Barros (apud MINAYO; COIMBRA JÚNIOR, 2002). A positivação consiste em aceitar não só os sofrimentos, as doenças e limitações, mas também o que há de bom nesta fase da vida e que pode ser aproveitado. Lembrando que, muito mais que a doença e a dependência, o que faz a velhice ser vista como sinônimo de sofrimento, é o abandono e a solidão, declara Bassit (2002). O cúmulo da discriminação é refletido por estigmas muito comuns, como, “descartável”, “passado”, “peso social” (MINAYO; COIMBRA JÚNIOR, 2002). A partir de um estudo feito por Uchoa, Firmo e LimaCosta (2002) em uma cidade do interior mineiro, verificou-se que o caráter negativo que os moradores têm do envelhecimento contrasta com a visão mais positiva que os próprios idosos têm deles mesmos. O olhar negativo tem sido sustentado pela ideologia “produtivista” que rege a sociedade capitalista, segundo a qual uma pessoa que não trabalha e não tem renda própria de nada ou muito pouco serve para a sua sociedade. Para Minayo e Coimbra Júnior (2002), sociedades diferentes têm diferentes formas de ver e agir sobre a velhice. Scott (2002) declara que para se compreender o lugar dos idosos é preciso conhecer a estrutura, as funções e papéis de cada grupo etário, em cada sociedade. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 59-72, jan./dez. 2006
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Minayo e Coimbra Júnior (2002) ainda ressaltam que é impossível negar as grandes dificuldades socioeconômicas que os idosos, em especial os pobres, sofrem nas mais variadas situações da vida. Por esta razão, eles mesmos têm a velhice como problema e a sociedade, também, assim a define. Nota-se que cada vez mais o idoso participa de todos os segmentos sociais, redefine relações familiares e influencia os rumos da política, criando uma nova imagem de si nesta nova e preciosa etapa da vida, com ética e estética únicas, representando assim o seu papel como ator social (MINAYO; COIMBRA JÚNIOR, 2002). Em vista das novas possibilidades de comunicação, de viagens, de participação grupal, de ampliação da cultura, da prática de variadas formas de lazer, ampliam-se as formas de realização social, abandonando-se a idéia de que apenas o trabalho remunerado supriria esta necessidade. Isso dá aos idosos a chance de construírem uma nova identidade com utilidade e sentido. Para Bassit (2002), este tempo é simultaneamente o do orgasmo da vida, da liberdade, do possível e da dependência. Seja por uma imagem social de dinamismo que os idosos vêm construindo, seja pela participação em grupos, seja pela visibilidade que a imprensa tem dado a eles, Motta (2002), declara que há, cada vez mais, um reconhecimento social desta classe. Segundo a Organização das Nações Unidas, a população idosa compõe-se por indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos, pois nesta idade se acentuam as transformações biológicas típicas do envelhecimento (GAMBURGO; MUNHOZ, 2001). O “envelhecer” é considerado um processo natural que possui peculiaridades anatômicas e funcionais. Nele, ocorre uma redução progressiva da reserva funcional dos órgãos e sistemas. Em relação aos sistemas sensoriais que interessam à comunicação, há alterações auditivas e visuais e, além destas, alterações da produção oral da linguagem, da deglutição e dos aspectos motores (PAPALÉO NETTO, 2000). No que diz respeito ao sistema nervoso, Carvalho Filho e Papaléo Netto (2000) relatam uma redução do volume e do peso cerebrais e perda neuronal contínua, principalmente no córtex cerebelar e nos giros temporais e pré-centrais. Segundo esses autores, o cérebro ainda apresenScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 59-72, jan./dez. 2006
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ta-se atrófico, com as circunvoluções mais finas, os sulcos alargados e os ventrículos dilatados. Entretanto, em relação à linguagem, declaram que não há evidências de alterações nas habilidades verbais com o decorrer da idade. Segundo Carvalho (2002), pesquisas indicam que o déficit de memória decorrente da senilidade é uma adequação cerebral que permite acesso a uma nova forma de viver que a terceira idade exige. As células referentes às atividades menos utilizadas seriam desativadas e esforços seriam aplicados em áreas mais úteis ao novo modo de vida. Por exemplo: quando se aposentam, os indivíduos são menos requisitados a utilizarem sua memória recente, sendo esta função praticamente descartada pelo cérebro. Dá-se prioridade à memória remota, que o remete a lembranças do passado distante. Esta capacidade de relembrar o passado torna os velhos importantes para a sociedade, tornando-os “arquivos vivos da história”. Esse autor também observou que indivíduos que têm maior grau de escolaridade e sempre mantêm atividades intelectuais demoram mais para desenvolver doenças do que outros que tenham menor escolaridade e pouca atividade intelectual. Pode-se concluir, portanto, que as atividades mentais contribuem tanto para a prevenção de alterações no âmbito da linguagem como de alterações orgânicas. Para Mansur e Viude (2000), ocorre um envelhecimento social que seria explicitamente notado em momentos de crise tais como aposentadoria, mudança de endereço, internações, entre outros. O idoso, então, estaria sujeito à falta de interlocutores para o desempenho de determinados papéis e à falta de vivências sociais que levariam ao desuso e à privação das habilidades. Tubero (1999), entretanto, propõe-se a discutir a repercussão do envelhecimento na linguagem do idoso, principalmente na do idoso sem alterações patológicas. Ela analisa os três princípios que orientam a compreensão da linguagem no envelhecimento, segundo Ryan e Lubinsky: a heterogeneidade cognitiva e lingüística entre adultos idosos, a competência lingüística adquirida durante a vida e o contexto interpessoal ou situacional em que ocorre a comunicação. Verifica-se que ainda não há um consenso quanto às transformações ocorridas na comunicação do idoso. O conhecimento que se Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 59-72, jan./dez. 2006
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tem sobre elas é ainda insuficiente e contraditório. O único consenso que se tem é que a comunicação é essencial para determinar relacionamentos produtivos, dar uma identidade social e levar o indivíduo a guiar a própria vida. Ela é a atividade lingüística fundamental do homem e pode ter como objetivo a troca de informações (finalidade cognitivo-informativa), a adequação de comportamentos em relação a determinados aspectos (finalidade semântico-pragmática) ou o puro prazer de estabelecer uma relação recíproca – finalidade interacional (MANSUR; VIUDE, 2000). Sobre a atividade comunicativa na velhice, Rabadán (apud GAMBURGO; MUNHOZ, 2001) também pontua que esta é determinada por dois processos: um sócio-cultural, dado pelo afastamento do sistema produtivo, e outro biológico, pela deterioração na etapa final da vida.
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METODOLOGIA
Para uma aproximação com a população-alvo desta pesquisa, foi contatada a Associação dos Idosos de Vila Velha (AIVV) – Centro de Convivência da Praia da Costa “Recanto da Feliz Idade”, que é uma associação não governamental situada em Vila Velha – ES. A associação foi fundada no ano de 1977 e localiza-se em rua popularmente conhecida e com bom fluxo de transporte coletivo, o que facilita muito o acesso dos idosos ao local. A AIVV foi escolhida para a realização de parte da pesquisa por contar com a possibilidade de um grande número de amostras e por constituir-se um grupo de convivência, que “[...] pode ser mais do que apenas um encontro para conversas ou lazer, sendo também uma oportunidade de convivência que amplia a qualidade de vida” (MURAD, 2003, p. 31). Ainda segundo Murad (2003), “[...] com os grupos aprende-se muitas coisas sobre a comunicação humana, e sobre a forma como as pessoas evoluem quando participam de um contexto grupal”. O contato inicial foi realizado com o presidente da associação. Segundo ele, a AIVV é freqüentada por, aproximadamente, 460 pessoas com idades que variam de 60 a 85 anos e realiza atividades físicas e culturais, além de eventos e comemoração de datas festivas.
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Após a análise dos cadastros, os entrevistados foram selecionados pela idade (igual ou superior a 65 anos) e as entrevistas realizadas. Vale ressaltar que também foi feita a opção por entrevistar pessoas não associadas a AIVV. Dessa forma, foram obtidas informações sobre a comunicação de idosos pertencentes a vários contextos sociais. A coleta de dados foi desenvolvida por meio de um questionário elaborado pelas autoras com perguntas abertas e fechadas, destinado a fornecer informações sobre a comunicação dos idosos. O questionário aborda tanto os aspectos sociais como os orgânicos, o que serviu de base para a análise realizada. O questionário, então, foi submetido a um “piloto” com três pessoas com as características aproximadas dos demais pesquisados. Após a análise dessas entrevistas concluiu-se que faltaram informações essenciais para uma melhor compreensão da vida e da comunicação das pessoas entrevistadas. O questionário, então, sofreu as correções necessárias para ser aplicado à população-alvo. Após a realização das entrevistas “piloto”, percebeu-se também que o nível de escolaridade dos entrevistados seria um grande diferenciador da pesquisa. Portanto, foram planejadas e efetuadas entrevistas com idosos com diferentes graus de escolaridade, sendo três amostras de cada nível: analfabetos, com ensino fundamental (até à quarta série), com ensino fundamental (até à oitava série), com ensino médio e com curso superior. No total, foram realizadas 15 entrevistas, que foram gravadas, transcritas e analisadas. A análise foi feita sob inspiração da análise do conteúdo, que é a soma de técnicas de análise das comunicações tendo por objetivo, por meio de processos regulares e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, atingir indicadores (quantitativos ou não) que possibilitem a inferência de conhecimentos referentes às situações de produção/ recepção (variáveis inferidas) destas idéias (BARDIN, 1977).
3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO Na discussão dos resultados, optou-se pela análise individual das questões. Segue um resumo dos dados primordiais obtidos dos relatos dos
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entrevistados. Vale ressaltar que a primeira questão refere-se aos dados pessoais dos mesmos. QUESTÃO DOIS: “Como você vê a inserção do idoso na sociedade?” Na questão dois, a grande maioria respondeu que vê uma boa inserção do idoso na sociedade. Comparam-na com a de anos atrás e citam melhoras, principalmente relacionadas a garantias legais, tais como benefícios do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), acesso a medicamentos gratuitos e o estatuto do idoso. Um número considerável, porém, expõe que há ainda muita discriminação e desrespeito e associam este fato a um problema de educação “de berço”. Alguns falaram sobre maiores oportunidades de lazer, regalias e participação social. QUESTÃO TRÊS: “Você acha que a sua comunicação é igual a de como era antes? O que mudou?” As respostas à questão três, que indagou sobre mudanças na comunicação provenientes da idade, foram muito variadas. Observou-se que a comunicação foi interpretada, de modo geral, somente como relação interpessoal e não como o ato de transmitir ou receber mensagens. Se ela foi interpretada dessa forma, ela dependerá também de como se encontram as relações interpessoais e dos fatores que influenciam estas relações. Assim, a maioria vê melhoras na comunicação por fatores como: mudanças sociais e ambientais, maior segurança para explicitar idéias, maior experiência de vida, maior liberdade de expressão, maiores oportunidades e opções (de lazer, por exemplo), e aquisição de algum conhecimento ideológico. A minoria dos entrevistados acha que a comunicação não mudou com a idade. Eles alegam que sempre foram muito comunicativos, que não têm “problemas” ou que estão acostumados a se comunicar de determinada forma em virtude de suas profissões. Apenas dois deles disseram que a comunicação está pior do que antes. Um justificou dizendo que perdeu o “tato” para lidar com as pessoas. Outro não soube explicar, mas observou-se um sentimento de desvalorização em relação ao idoso. QUESTÃO QUATRO: “As pessoas (adultos jovens) têm uma comunicação diferenciada com você?” Notou-se claramente, na grande maioria das respostas à questão quatro, que os idosos sentem diferença na comunicação entre adultos jovens e idosos e apontam como causa a falta de interesse do Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 59-72, jan./dez. 2006
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jovem em se comunicar com eles. Isto é visto em alguns casos como algo natural e em outros como algo inaceitável e doloroso. Na fala dos entrevistados percebeu-se que não se trata apenas de uma falta de diálogo, mas de um afastamento físico, evidenciado nas seguintes falas: “Fica mais encostado prá lá”, “afastado” e “gosta mais da turma deles prá lá”. Um pequeno grupo não vê diferença nesta comunicação e atribui isto à profissão exercida, à saúde mental que mantém e ao estado de espírito do idoso. QUESTÃO CINCO: “Você sente que é compreendido ao se comunicar?” Na quinta questão, a grande maioria afirmou ser bem compreendida, sem maiores explicações. Notou-se algo comum na fala de dois entrevistados, ainda que um seja analfabeto e outro tenha curso superior. Ambos declararam ter um discurso por vezes extenso, o que gera uma certa impaciência por parte do ouvinte. Isto pôde ser observado em seus depoimentos: “Talvez eu seja um pouco maçante [...] e as pessoas querem respostas curtas e querem ir embora [...]” e “às vezes tem gente que acha que a gente tá falando demais [...] ‘aquela velha’ [...]” relatam. QUESTÃO SEIS: “Tem alguma dificuldade para articular as palavras?” Questionados a respeito de dificuldades articulatórias, apenas dois relataram tê-las. A grande maioria, portanto, não sente qualquer impedimento neste aspecto. Notou-se que a diretividade da pergunta levou a respostas sucintas. QUESTÃO SETE: “Você sente dificuldades de memória? Isto interfere na sua comunicação?” Na questão sete, a maioria dos entrevistados referiu-se à dificuldade de memória e a associaram à idade. Eles também pontuaram que esta dificuldade não interfere em sua comunicação. Um número significativo de idosos expôs sentir impedimento de memória em relação a fatos recentes em contrapartida a fatos passados, que se avivam na terceira idade. Muitos deles relataram fazer uso de estratégias para se lembrar do que necessitam, tais como fazer anotações, selecionar mentalmente as informações, recorrer a pessoas próximas e usar repetições. Alguns deles procuram exercitar a mente por meio de palavras cruzadas e leitura, por exemplo. Apenas três idosos disseram não ter problemas de memória. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 59-72, jan./dez. 2006
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QUESTÃO OITO: “Com que grupos sociais (família, amigos, outros) você se comunica, e como é esta comunicação dentro de cada um deles?” Na formulação da oitava pergunta determinados grupos sociais foram sugeridos, o que direcionou as respostas. A maioria dos entrevistados mencionou ter contato com vários grupos, com alguns em maior quantidade do que com outros. É interessante notar que a igreja foi o grupo social mais citado no depoimento dos idosos. Percebeu-se que, na senescência, a religião ocupa um lugar de destaque, servindo muitas vezes de local de refúgio para a ociosidade que, por vezes, se apodera dos indivíduos idosos. QUESTÃO NOVE: “A seu ver, o que é importante para se ter uma boa comunicação?” As respostas dos idosos à nona questão, que indagou sobre o que é importante para se ter uma boa comunicação, foram muito variadas. Eles citam: convivência mais “articulada”; maiores oportunidades de lazer; ter alguém com quem se comunicar; ouvir o outro e ser ouvido; amizade; bons relacionamentos; conhecer o grupo com que se fala e o assunto discutido; boa vida social; diálogo; compreensão; respeito; explicitação das idéias; boa disposição para conversar; leitura; religião; educação “de berço”; estar sempre se comunicando; tratar bem os outros, ser educado.
4 CONCLUSÃO Do ponto de vista social, percebeu-se que o idoso compõe um novo grupo, crescente e participativo, e desempenha hoje um novo papel, ratificando os dados encontrados na literatura. Ele se vê de forma diferente quando comparado ao idoso do passado e atribui essa mudança à melhora das condições de vida e saúde proporcionadas por uma maior assistência governamental e às mudanças comportamentais ocorridas na sociedade ao longo dos anos. O idoso, então, tem a possibilidade de viver mais e melhor e, conseqüentemente, tem maiores oportunidades de relacionamento e interação. Dessa forma, a inclusão do idoso na sociedade determinou modificações também em sua comunicação. O esquema a seguir ilustra este processo.
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Figura 1 – Transformações na relação idoso - sociedade - comunicação
A partir do discurso dos participantes da pesquisa, subentendeu-se que existem diferenças na comunicação entre adultos jovens e idosos. Grande parte dos entrevistados percebeu que os assuntos entre eles são distintos e os jovens não têm interesse em manter uma conversação. Notou-se uma ambigüidade de sentimentos: ao mesmo tempo em que esta situação é vista como algo natural, ela também é vista de forma dolorosa. Notou-se ainda que a atividade comunicativa na velhice é restrita a pessoas da mesma idade. Contudo, esta é uma nova condição para este grupo que no passado não tinha nem mesmo esta possibilidade, pois sua comunicação era limitada ao ambiente laboral e familiar, ao contrário de hoje em que ela se dá em contextos variados. Trata-se, portanto da conquista de um novo envelhecer em que os idosos são mais atuantes e não ficam “em casa esperando a morte chegar”. Vale ressaltar que alguns idosos (poucos) realmente acham que têm uma boa comunicação com os jovens, porém, observou-se que ela se limita a atitudes respeitosas e educadas em que os jovens apenas cumprimentam os mais velhos e não necessariamente mantêm uma conversação. Esta situação é distinta quando relacionada aos idosos que têm maior grau de escolaridade. De fato percebeu-se que há uma boa Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 59-72, jan./dez. 2006
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comunicação entre eles e os adultos jovens. A profissão destes entrevistados parece ter propiciado esta boa performance mantida na terceira idade. Dois deles, inclusive, são aposentados, mas continuam a exercer suas profissões. Do ponto de vista orgânico, verificou-se que os entrevistados percebem mudanças relacionadas à memória, o que corrobora os dados bibliográficos. Entretanto, estas mudanças não chegam a interferir em sua comunicação. Alguns idosos também acrescentaram informações sobre as memórias recente e tardia, algo citado nas fontes consultadas. Não foram observadas alterações motoras nos relatos dos entrevistados, ao contrário dos dados da literatura que citam essas alterações como decorrentes do envelhecimento. Observou-se que, ainda que os idosos sejam conscientes de alterações biológicas em seu corpo e mente, eles não se sentem velhos e estão sempre buscando estratégias para manter a vivacidade e a disposição para as atividades que desempenham. É incontestável a importância da fonoaudiologia para a prevenção e para o reestabelecimento da comunicação do idoso. Sabe-se que o fonoaudiólogo é o profissional habilitado para lidar com as questões da linguagem e, sendo assim, ele pode contribuir na manutenção dos potenciais lingüísticos dos idosos, incentivar diversas formas de expressão, além de melhorar a auto-estima dessa nova classe que emerge. Ele deve ainda estar sensível ao conhecimento do “lugar” do idoso em seu meio social, de forma a otimizar a sua comunicação e valorizá-lo como interlocutor.
THE COMMUNICATION IN HEALTHY AGING ABSTRACT It investigates the occurred transformations in the elderly communication decurrent of the healthy aging. The healthy term mentions the absence of sequels that can provoke language modifications. A questionnaire with dissertative and objective questions was elaborated focusing social and organic aspects of the communication. Three interviews of each schoolar degree were taken, in a total of fifteen interviews from several social contexts. It was made an analysis from the proper story of the elderly and under the inspiration of the content analysis. In general way, the results showed there are changes in the communication of the healthy elderly because of social and attitude changes, and the causes are not organic. They also revealed: the elderly belong to a new emergent group Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 59-72, jan./dez. 2006
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with a new social role; communication is restricted among them; youngsters are not interested in communicating with the elderly; the more one studies, the better their communicate; there are lapses of memory, but they do not take a toll on communication. All in all, Speech Therapy, with these information, can improve the quality of the elderly life, through actions that aim at improving communication as well as placing value on the elderly as an interlocutor. Keywords: Communication. Healthy aging. Speech therapy.
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Correspondência para/reprint request to: Susana de Carvalho Rua 23 de Maio, 375/1402 Parque Moscoso 29020-100 - Vitória - ES (Brasil)
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VERIFICAÇÃO DAS ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS CAUSADAS PELO USO DE ELEVADAS DOSES DE ESTERÓIDES ANABÓLICOS ANDROGÊNICOS EM RATOS ARMSTONG VINÍCIUS DE OLIVEIRA VASCONCELOS AMBRÓSIO1 DOUGLAS MARK LOPES DA SILVA1 MARIO DAZZI PIOL1 JULIANA NUNES IGLESIAS DO REGO2 RENÉ DE SÁ FERMO2 VERA CRISTINA WOELFFEL BUSATO3 NAZARÉ SOUZA BISSOLI4 TADEU UGGERE DE ANDRADE5 RESUMO A testosterona é o principal androgênio secretado pelos testículos. Ela é responsável pela diferenciação do sistema genital e desenvolvimento das características sexuais masculinas. Os androgênios sintéticos apresentam uso terapêutico para pacientes hipogonodais e em casos de anemia profunda, osteoporose, mielossupressão, aumento de massa muscular e aumento da oferta de proteínas. O uso de elevadas doses pode contribuir para diversos efeitos tóxicos como hepatopatias, cardiopatias, desequilíbrio hormonal, tumores e disfunção sexual. Objetiva estudar, através dos experimentos realizados, os efeitos do decanoato de nandrolona (DN) sobre parâmetros Bioquímicos em dois grupos de ratos machos da raça WISTAR (grupo controle - CON - e tratado - DECA), usando doses semanais de 10mg/kg de DN em um total de 8 semanas. Demonstrou-se que houve um aumento nos níveis das enzimas CK-MB e LDH no grupo DECA tratado em comparação com o grupo controle. 1
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Graduados em Farmácia pelo Centro Universitário Vila Velha. E-mail: ambrosiouni@hotmail.com. Graduandos do Curso de Farmácia do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: juniglesias@gmail.com. Mestre em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: vera@uvv.br. Doutora em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: naza@npd.ufes.br. Doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: farmacia@uvv.br
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Essas enzimas são marcadoras de lesões no miocárdio e seus níveis encontram-se elevados durante uma cardiomiopatia. Os resultados também demonstraram que no grupo DECA houve uma redução nos níveis da HDL-C e este fator pode estar associado ao desenvolvimento de coronáriopatias prematuras. Conclui-se que o uso de elevadas doses de esteróides anabólicos androgênicos pode contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, o que pode ser avaliado através de parâmetros bioquímicos. Palavras-chave: Esteróides anabolizantes androgênicos. Alterações bioquímicas. Cardiotoxicidade.
1 INTRODUÇÃO A testosterona é o principal androgênio secretado pelos testículos. No homem, aproximadamente 95% são sintetizados nos testículos e somente 5% são sintetizadas pelas glândulas supra-renais. Outros androgênios importantes também são sintetizados nos testículos como a diidrotestosterona, desidroepiandrosterona e a androstenodiona, sendo os dois últimos menos ativos (KATZUNG, 2003). A testosterona é responsável pela diferenciação do sistema genital masculino, crescimento do pênis, desenvolvimento dos órgãos reprodutores secundários, espermatogênese, libido, aumento da massa muscular e crescimento dos pêlos púbicos (COSTANZO, 2004; SHAHIDI, 2001). A biossíntese dos andrógenos baseia-se na conversão da molécula de colesterol pela ação da enzima P450, sendo que este processo é regulado através de estímulos dos hormônios luteinizantes (LH) e hormônios folículo estimulantes (FSH) liberados pela glândula Hipófise (BAYNES; DISTINGUISHED, 2000). Os androgênios apresentam uma ação intracelular, sendo que a diidrotestosterona é o seu principal metabólito. No tecido-alvo, a testosterona é convertida a diidrotestosterona pela ação da enzima 5a-redutase (GILMAN; HARDMAN; LIMBIRD, 2003), que se ligará a receptores androgênicos citosólicos formando um complexo hormônio-receptor. Esse complexo terá ação sobre o núcleo celular, em um sítio específico de ligação nos cromossomos. Esse mecanismo é mais comum nos órgãos sexuais acessórios, pele, próstata, pulmões, cérebro, células do tecido adiposo e ósseo. Um outro mecanismo é a ligação direta da molécula de esteróide anabólico androgênico (EAA) Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p.73-88, jan./dez. 2006
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a receptores androgênicos, formando um complexo androgênio-receptor que também terá ação sobre o núcleo celular. Um terceiro possível mecanismo de ação e menos comum é a biotransformação do EAA em estrogênio pela ação da enzima Aromatase. Esse, após biotransformado, formará um complexo estrogênio-receptor que também terá sua ação sobre o núcleo celular. Esse mecanismo de ação pode ocorrer no tecido adiposo e nas células de Sertoli e Leydig. Tais processos irão contribuir para um aumento da atividade da RNA-polimerase e aumento da síntese de RNA e proteínas específicas, estando entre elas as proteínas contráteis do músculo, actina e miosina, o que pode contribuir para o processo de hipertrofia muscular (OGA, 2003; HARTGENS; KUIPERS, 2004). O uso terapêutico de androgênios sintéticos tem contribuído para a redução de inúmeros distúrbios e processos patológicos. O seu uso clínico tem sido empregado em terapia de reposição hormonal em homens hipogonodais e em deficiências hipofisárias em substituição às gonadotrofinas (EVANS, 2004; SILVA, 1998); também tem sido usado em quadro de anemia profunda por atuar estimulando o processo de eritropoiese e síntese de hemoglobina, sem afetar a oferta de ferro e ácido fólico no organismo (OGA, 2003; PEREZ; SILVA; VARZIM, 2006; SHAHIDI, 2001); os androgênios sintéticos ainda são usados para o aumento da massa muscular em indivíduos com déficit protéico por atuar estimulando a síntese de proteínas contráteis (OGA, 2003); eles também apresentam efeitos benéficos sobre a osteoporose por atuar sobre receptores osteobláticos estimulando a proliferação osteoblástica e a produção de proteínas da matriz óssea, além de atuar como estimulantes do crescimento por aumentar o processo de síntese do Fator de Crescimento (SHAHIDI, 2001). Um outro uso clínico dos androgênios sintéticos é na terapia de redução da mielossupressão por processos patológicos ou causados pelo uso de quimioterápicos, isto se deve ao fato de os androgênios sintéticos (decanoato de nandrolona) terem ação estimulante sobre a hematopoiese e sobre o crescimento e aumento da resistência celular (PEREZ; SILVA; VARZIM, 2006; SHAHIDI, 2001). O uso ilegal e abusivo dos EAA teve início por volta da década de cinqüenta em competições atléticas. Atualmente, observa-se com mais freqüência o uso de elevadas doses e em curtos intervalos posológicos, fator este que contribui para o aparecimento dos efeitos tóxicos promovidos pela droga (OGA, 2003). Dentre os principais efeiScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p.73-88, jan./dez. 2006
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tos tóxicos provocados pelo uso abusivo de androgênios, destacamse: hepatopatias, desequilíbrio hormonal, tumores, cardiopatias, oligospermia, disfunção sexual, alteração do humor, alterações bioquímicas e alterações nas características sexuais. Dentre estes, destacam-se as alterações hepáticas, cardíacas e bioquímicas (HALL; HALL, 2005; KATZUNG, 2003). A hepatotoxicidade é decorrente da formação de metabólito dos EAA que interferem na eliminação da bilirrubina (OGA, 2003). Como a transaminase glutâmica oxalacética (TGO), a transaminase glutâmica pirúvica (TGP) e a fosfatase alcalina são enzimas marcadoras de lesões hepáticas, seus níveis estarão aumentados durante esse processo. Conseqüentemente, as disfunções hepáticas são acompanhadas do aumento plasmático dessas enzimas e da concentração de bilirrubina livre (CRAIG; STITZEL, 1996; STIMAC et al., 2002). Em razão dessas alterações, os distúrbios hepáticos geralmente caracterizam-se por icterícia, hepatite colestática progressiva, peliose e carcinoma hepático (KATZUNG, 2003; SHAHIDI, 2001;). Um outro efeito tóxico decorrente do uso abusivo dos EAA são as alterações cardiovasculares, sendo que um dos fatores que predispõe estas alterações é a capacidade dos androgênios contribuírem para o aumento na concentração das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e diminuírem os níveis das lipoproteínas de alta densidade (HDL). O aumento de LDL com a redução do HDL contribui para a formação de placas de ateroma nas paredes arteriais, levando a uma aterosclerose, além de contribuir para o risco de doenças arteriais coronarianas (HALL; HALL, 2005; SACHTLEBEN, 1997). A aterosclerose pode gerar complicações ao longo do sistema cardiovascular como isquemia, embolia, aneurismas e vasoespasmos. Um outro fator contribuinte para as cardiopatias é o processo de hipertrofia muscular cardíaca, que pode estar relacionado ao aumento na síntese de proteínas contráteis das células musculares por estimulação direta dos receptores androgênicos (OGA, 2003). Outra possível explicação para o processo de hipertrofia cardíaca é a capacidade dos androgênios em aumentar a expressão da Enzima Conversora de Angiotensina (ECA) (FRESHOUR; CHASE; VIKSTROM, 2002). A ECA é responsável pela conversão da Angiotensina I (forma inativa) à Angiotensina II, esta, em excesso, poderá levar a um qua-
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dro de hipertensão arterial e hipertrofia ventricular esquerda, devido à ECA promover vasoconstrição, aumento da proliferação celular, estímulo na liberação de aldosterona e pela sua ação central (COSTANZO, 2004). Os EAA competem com o cortisol, de forma antagonista, pelos mesmos receptores celulares. O cortisol apresenta uma ação hiperglicemiante por desempenhar um papel no metabolismo, promovendo a degradação de triglicerídeos no músculo e no tecido conjuntivo com a liberação de glicerol e ácidos graxos livres do tecido adiposo. Dessa forma, o cortisol fornece o substrato necessário para a gliconeogênese, o bloqueio de seus receptores e, conseqüentemente, de sua ação contribui para o desenvolvimento de um quadro de hipoglicemia (OGA, 2003; PARKINSON; EVANS, 2006). Alguns marcadores biológicos, como enzimas e proteínas, atuam como indicadores na determinação de alguns processos patológicos, estando alterados alguns parâmetros bioquímicos durante esses processos. Como exemplo, tem-se o aumento das aminotransferases TGO e TGP, da bilirrubina total e da fosfatase alcalina durante uma hepatopatia (HARTGENS; KUIPERS, 2004). Durante um processo de cardiopatia os níveis de creatina cinase (CK) e lactato desidrogenase (LDH) encontram-se aumentados, pois estas enzimas são marcadores de lesões musculares, sendo que a isoforma MB da creatina cinase é a mais específica para lesão muscular cardíaca (GAW et al., 2001). Outras alterações bioquímicas como aumento nos níveis de LDL e redução nos níveis de HDL também podem ser indicadores na determinação de alterações cardiovasculares, pois estas contribuem para a formação de placas aterogênicas e conseqüentes patologias (HARTGENS; KUIPERS, 2004; LANE et al., 2006). A determinação das dosagens bioquímicas pode contribuir para o diagnóstico dos efeitos tóxicos promovidos pelo uso abusivo dos EAA. Este estudo tem por objetivo verificar as possíveis alterações bioquímicas provocadas pelo uso de elevadas doses de esteróides anabólicos androgênicos, decanoato de nandrolona (Deca-Durabolin® - ORGANONSP) em ratos machos da raça WISTAR durante um tratamento de oito semanas.
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2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1
ANIMAIS EXPERIMENTAIS
Os estudos experimentais foram realizados no Complexo Biopráticas do Centro Universitário Vila Velha. Os animais usados para o trabalho experimental foram ratos machos da raça WISTAR, com idade média de quatro meses, fornecidos pelo Biotério da instituição. Os ratos, que totalizaram um número de 14, foram separados em dois grupos de sete ratos, sendo um grupo DECA, onde foi administrado o decanoato de nandrolona na dose de 10mg/kg e o outro, o controle, que receberam apenas o óleo de amendoim (veículo da Deca-DurabolinÒ). O grupo DECA recebeu a administração do EAA semanalmente durante oito semanas. O grupo controle foi submetido ao mesmo tempo de tratamento, porém foi administrado somente o veículo. Os animais foram colocados em gaiolas individuais, receberam ração para roedores e água ad libdum e mantidos em salas climatizadas (aproximadamente 25ºC) com um ciclo claro-escuro de 12 horas. 2.2
ADMINISTRAÇÃO DO ANABOLIZANTE
O decanoato de nandrolona foi administrado semanalmente apenas no grupo DECA, em uma dosagem de 10mg/kg. A administração da droga, que era realizada por via intramuscular, foi aplicada na forma de rodízio, sendo uma semana no músculo femural direito e na outra semana no músculo femural esquerdo e assim por diante. O grupo controle foi submetido aos mesmos procedimentos, porém apenas com a administração de volume equivalente do veículo. 2.3
COLETA DO MATERIAL BIOLÓGICO (SANGUE)
Após o fim do tratamento, cada rato foi anestesiado com Tiopental (Cristália, São Paulo-SP) na dosagem de 50mg/kg e submetido a processos cirúrgicos, no qual foi realizado um corte na região ventral que se estendia desde a porção abdominal até a porção toráxica. Com o animal ainda vivo foi retirado, através de punção direta do coração, o sangue com uma seringa de 10ml, sendo retirado uma quantidade total aproximada de 5ml. As amostras foram identificadas, centrifugadas e encaminhadas ao laboratório de análises clínicas para realização dos exames bioquímicos específicos.
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2.4
ANÁLISE DE PARÂMETROS BIOQUÍMICOS
Foram determinados os parâmetros bioquímicos para os níveis de colesterol total utilizando o método enzimático; HDL-C usando o método enzimático direto; triglicerídeo pelo método enzimático e VLDL e LDL pelo método matemático. Também foram determinados os níveis de bilirrubina direta e indireta através do método colorimétrico, fosfatase alcalina usando o método cinético U.V., LDH, CK, CK-MB e glicose pelo método enzimático e TGO e TGP pelo método cinético U.V. Para essas avaliações, foram utilizados os equipamentos SELECTRA E-MG para determinação dos níveis de TGO, TGP, LDH, fosfatase alcalina, triglicerídeos, CK, CK-MB e glicose e FLEXOR LX-RJ para determinação dos níveis de bilirrubina, HDL-C e LDL-C. 2.5
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados foram apresentados como média ± erro padrão da média (EPM). Para análise estatística dos parâmetros bioquímicos medidos, foi efetuada análise de variância (ANOVA) de uma via. A significância da diferença entre as médias foi determinada pelo teste post hoc de Fischer para comparações múltiplas. Para análise estatística e apresentação gráfica dos resultados foram empregados os softwares GB-STAT (S.N. 96003126) e Slide Write Plus (S.N. WSWP- C018529), respectivamente.
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3 RESULTADOS Tabela 1 – Efeito do tratamento com decanoato de nandrolona sobre parâmetros bioquímicos de ratos macho da raça WISTAR
Parâmetros analisados
CONTROLE
DECA
Colesterol total (mg/dL)
65 ± 2
60 ± 3
HDL-colesterol (mg/dL)
21 ± 0,6
19,5 ± 0,6*
LDL-colesterol (mg/dL)
32 ± 3
27 ± 3
VLDL (mg/dL)
12 ± 1
13 ± 2
Triglicerídeos (mg/dL)
60 ± 6
66 ± 10
Fosfatase alcalina (U/L)
283 ± 39
263 ± 28
Bilirrubina total (mg/dL)
0,68 ± 0,02
0,65 ± 0,02
Bilirrubina direta (mg/dL)
0,33 ± 0,08
0,31 ± 0,05
Bilirrubina indireta (mg/dL)
0,36 ± 0,10
0,34 ± 0,10
LDH (U/L)
554 ± 55
1252 ± 160**
CK-MB (UI/L)
165 ± 25
338 ± 57*
TGO (U/L)
93 ± 8
98 ± 11
TGP (U/L)
53 ± 2
41 ± 1*
CK (UI/L)
285 ± 30
375 ± 55
Glicose (mg/dL)
142 ± 4
148 ± 4
Notas: Os valores representam o erro ± EPM; *p<0,05 comparado com os ratos controle; **p<0,01. Tabela 2 – Peso médio dos animais, em gramas, durante o tratamento
RATOS
INICIAL
FINAL
CONTROLE
306 ± 8
438 ± 12
DECA
312 ± 10
413 ± 13
Nota: Os valores representam o erro ± EPM.
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Na Tabela 1 encontram-se os resultados das análises bioquímicas realizadas. Pode-se observar que houve alteração estatisticamente significante apenas nos valores de CK-MB, LDH, HDL-C e TGP do grupo DECA em comparação com o grupo controle. Os demais resultados permaneceram inalterados do ponto de vista estatístico entre os grupos experimentais. A Tabela 2 representa o peso médio dos animais DECA e controle, em gramas, durante o tratamento de oito semanas. Foi possível observar que não houve diferenças estatísticas entre o peso médio dos dois grupos. Na Figura 1, está representado o perfil lipídico dos animais, onde se pode constatar que apenas a HDL-C está alterado no grupo DECA em relação ao grupo controle.
Figura 1 – Efeito do tratamento com decanoato de nandrolona sobre os parâmetros lipídicos dos grupos experimentais Legenda: COL. TOT. - colesterol total; HDL-C - hdl-colesterol; LDL-C - ldl-colesterol; VLDL-C - vldl-colesterol; TG - triglicerídeos Nota: *p<0,05, em relação ao grupo controle.
Na Figura 2, pode-se observar um aumento nos níveis de LDH nos ratos DECA em ralação aos animais controle, enquanto que na Figura 3 está demonstrado o resultado para CK-MB.
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Figura 2 – Dosagem sanguínea de LDH Nota: **p<0,001; em relação aos ratos controle.
Figura 3 – Dosagem sanguínea de CK-MB Nota: *p<0,05, em relação aos ratos controle.
Houve redução estatisticamente significante nos níveis de TGP dos animais DECA em relação aos animais controle (Tabela 1).
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4 DISCUSSÃO Os resultados obtidos demonstraram uma redução nos níveis plasmático da HDL-C nos animais DECA em relação aos animais do grupo controle. A HDL-C é uma lipoproteína de alta densidade que atua como carreador de ésteres de colesterol, removendo o esterol dos tecidos periféricos e devolvendo-os ao fígado para serem metabolizados, esse mecanismo é denominado transporte reverso do colesterol (MOTTA, 2003). O uso dos EAA, cuja molécula é um derivado do colesterol (ciclopentanoperhidrofenantreno), faz com que seja necessária uma maior demanda da HDL-C para o transporte dos ésteres de colesterol para o interior das células hepáticas, desta forma ocorre uma redução na concentração da HDL-C plasmático (BAYNES; DISTINGUISHED, 2000). Essa redução nos parâmetros da HDL-C pode estar associada a possíveis desenvolvimentos de coronáriopatia prematura decorrente da agregação de placas aterogênicas nas paredes arteriais (HARTGENS; KUIPERS, 2004). Além dos fatores descritos, também é possível que os resultados obtidos não estejam relacionados a índices fisiopatológicos, pois não se tem um parâmetro mínimo aceitável da HDL-C para os animais experimentais e os resultados, apesar de serem estatisticamente diferentes, podem estar, ambos, dentro de valores de normalidade. Os EAA induzem ao aparecimento de cardiopatias e essas doenças podem estar associadas às alterações nos níveis plasmáticos de lipoproteínas, aumento da síntese protéica e expressão da ECA no ventrículo esquerdo, contribuindo para uma possível hipertrofia ventricular. Esses fatores podem levar a diferentes estados patológicos como coronáriopatias prematuras, aumento da espessura do septo interventricular e do índice da massa do ventrículo esquerdo, trombose ventricular, embolismo sistêmico, cardiomiopatia dilatada, infarto agudo do miocárdio por oclusão da artéria descendente anterior e morte súbita por hipertrofia ventricular esquerda (HARTGENS; KUIPERS, 2004; SILVA; SKI; SKI, 2006). O dano tecidual cardíaco leva ao extravasamento da enzima CK-MB e LDH para o sangue, aumentando os seus níveis plasmáticos (BAYNES; DISTINGUISHED, 2000). A LDH é uma enzima usada no diagnóstico de cardiomiopatias, porém não é uma enzima específica para tal diagnóstico, sendo também encontrada no fígado e nas hemácias. Os resultados obtidos demonstraram um significante aumento nos níveis da LDH e da CK-MB do grupo DECA em comparação com o grupo controle. O aumento nos níveis da LDH pode estar associado aos efeitos patológicos de EAA sobre o sistema cardiovascular, em especial Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p.73-88, jan./dez. 2006
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sobre o miocárdio, principalmente quando relacionado ao aumento nos níveis da CK-MB, sendo esta enzima específica para cardiopatias (GAW et al., 2001). Portanto, os resultados do presente trabalho indicam a presença de possíveis lesões cardíacas, uma vez que os animais DECA apresentaram níveis mais elevados tanto de CK-MB e LDH comparados com os ratos controle. Adicionalmente, a elevação nos níveis da LDH também pode estar associada ao aumento da produção de glóbulos vermelhos induzidos pelo uso dos EAA, já que a LDH também é encontrada nas hemácias (GAW et al., 2001; OGA, 2003). A LDH é uma enzima que também tem seus níveis elevados durante uma lesão hepática, porém os resultados não demonstraram aumento nos níveis de TGO, TGP e fosfatase alcalina do grupo DECA em comparação com o grupo controle, sendo que essas enzimas são marcadoras específicas para lesões hepáticas (GAW et al., 2001). Os resultados demonstraram uma redução nos níveis da enzima TGP do grupo DECA em comparação com o grupo controle. Essa redução pode estar associada ao efeito anabólico dos EAA. A TGP atua no fígado tanto sobre a degradação de aminoácidos através da remoção de grupos alfa-amino, quanto na biossíntese através da adição de grupos amino ao esqueleto de carbono de alfa-cetoácido (CHAMPE, 1997). Devido ao seu efeito anabólico, os EAA aumentam consideravelmente a síntese protéica e, conseqüentemente, também terá um aumento nas reações de transaminação promovida pela TGP, no sentido de biossíntese de aminoácidos para suprir o aumento da síntese protéica, reduzindo assim os níveis plasmáticos de TGP. A CK é uma enzima marcadora de lesões musculares, sendo mais específica para determinação de miopatias esqueléticas. Os seus níveis podem encontrar-se aumentados durante uma distrofia muscular progressiva, polimiosite e miosite viral, hipertermia maligna e polimiopatia necrosante (MOTTA, 2003). Os resultados obtidos não demonstraram alterações nos níveis da CK do grupo DECA em comparação com o grupo controle, o que demonstra que não houve lesão no tecido muscular esquelético. Os resultados obtidos não demonstraram aumento nos níveis das enzimas marcadoras de lesões hepáticas (TGO, TGP e fosfatase alcalina) e nos níveis de bilirrubina livre do grupo DECA em comparação com o grupo controle. Portanto, acredita-se que não ter ocorrido lesão hepática devido ao uso dos EAA. Evans (2004) descreveu que os níveis das enzimas marcadoras de lesões hepáticas aumentavam mediante o uso oral de EAA 17alfa-alquila substituído por exibir alto efeito de primeira passagem no fígado, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p.73-88, jan./dez. 2006
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o que poderia justificar a inexistência de elevações nos níveis de tais enzimas, já que neste trabalho foi usado o decanoato de nandrolona em administração por via intramuscular. Uma outra justificativa pode estar relacionada ao tempo de uso do EAA. Oga (2003) descreveu que os efeitos tóxicos dos EAA sobre o fígado estão associados à terapia prolongada, com um tempo de exposição à droga superior a um ano de uso. Os resultados não demonstraram alterações nos níveis da LDL-C, VLDLC, triglicerídeos e colesterol total. Hartgens e Kuipers (2004) descreveram que o uso oral de EAA aumentava os níveis da LDL-C, em contrapartida o uso intramuscular desses EAA não alteravam os níveis da LDL-C. Ainda foi descrito que, em um tratamento de 3 semanas, o colesterol total sofria alterações, mas que após 6 semanas de uso os níveis de colesterol total era estabilizado. Além desses fatores, a inexistência de alterações sobre os parâmetros lipídicos citados pode estar associada ao tempo de exposição à droga. O uso oral dos EAA 17-alfa-alquila substituído pode levar a um efeito hipoglicemiante (OGA, 2003). Esse fator também foi descrito por Parkinson e Evans (2006) quando eles relataram que esse efeito está associado a uma possível competição dos EAA com o cortisol pelos mesmos receptores celulares. O cortisol desempenha um papel no metabolismo, promovendo a degradação de triglicerídeos no músculo e no tecido conjuntivo com a liberação de glicerol e ácidos graxos livres do tecido adiposo. Dessa forma, o cortisol fornece o substrato necessário para a gliconeogênese (GAW et al., 2001), tendo assim efeito hiperglicemiante. Devido à competição do EAA com o cortisol pelos mesmos receptores celulares, o seu antagonismo terá efeito hipoglicemiante. Os resultados obtidos não demonstraram alterações nos níveis de glicose do grupo DECA em comparação com o grupo controle, o que pode ser justificado pelo uso de decanoato de nandrolona por via intramuscular já que foi descrito que o seu efeito hipoglicemiante está associado ao uso oral. Uma outra justificativa pode estar relacionada ao tempo insuficiente de exposição à droga.
5 CONCLUSÃO Sumariando, pode-se concluir que o tratamento por oito semanas com decanoato de nandrolona determinou aumento dos níveis de CK-MB e LDH que, em conjunto, indicam a presença de algum tipo de alteração cardíaca, uma vez que essas enzimas são marcadoras de lesão musScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p.73-88, jan./dez. 2006
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cular, a LDH inespecífica e CK-MB específica para o músculo cardíaco. Com esse tempo de tratamento, o EAA utilizado demonstrou pouco ou nenhum efeito sobre a glicemia, perfil lipídico e parâmetros de função hepática, o que pode resultar de efeito tempo-dependente, bem como do tipo de EAA empregado.
VERIFICATION OF THE BIOCHEMICAL ALTERATIONS CAUSED BY OF THE USE HIGH DOSES OF ANABOLICS ANDROGENIC STEROIDS IN RATS ABSTRACT The testosterone is the main androgen secreted by the testicles. This hormone is responsible for the differentiation of the genital system and development of the masculine sexual characteristics. The synthetic androgenics present therapeutic use for patient hipogonodais and in cases of deep anemia, osteoporosis, mielossuppression, increase of muscular mass and increase of the offer of proteins. The use high doses can contribute to several poisonous effects as hepatopathy, cardiomyopathy, hormonal unbalance, tumors and sexual disfunction. It is aimed at studying, through the accomplished experiments, the effects of nandrolone decanoate about the Biochemical concentrations in two groups of male WISTAR rats (group control and treated), using weekly doses of 10mg/kg in a total of 8 weeks. The obtained results showed that there was an increase in the levels of the enzymes CK-MB and LDH in the DECA group in comparison with the control group. Those enzymes are markers of lesions in the heart muscle and their levels are high during a cardiomyopathy. The results also demonstrated that in the DECA group there was a reduction in the levels of HDL-C and this factor can be associated to the development of premature coronariopathy. It is concluded that the use of high doses of anabolics androgenic steroids can contribute to the development of cardiovascular diseases, which can be evaluated through biochemistry parameters measurements. Keywords: Anabolic-androgenic steroids. Alteration biochemists. Cardiotoxicity.
AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Laboratório LABOR-TEL e aos seus farmacêuticos Dr. Francisco de Assis Paiva, Dr. Frederico Miranda Paiva e Dr. Henrique Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p.73-88, jan./dez. 2006
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Miranda Paiva por contribuírem nas análises laboratoriais realizadas neste trabalho.
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Correspondência para/reprint request to: Tadeu Uggere de Andrade Rua Lumberto Maciel de Azevedo, 330/906 Jardim Camburi 29090-700 - Vitória - ES (Brasil) Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p.73-88, jan./dez. 2006
ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS PROMOVIDAS PELO USO DE ESTERÓIDES ANABÓLICOS ANDROGÊNICOS (DECANOATO DE NANDROLONA) EM RATOS RAÍSSA BOLZAN MARINHO1 NATÁLIA LEAL RABELLO1 JULIANA PAULA TRISTÃO1 JULIANA NUNES IGLESIAS DO REGO2 RENÉ DE SÁ FERMO2 VERA CRISTINA WOELFFEL BUSATO3 MARIA CARMEN SILVA SANTOS4 NAZARÉ SOUZA BISSOLI5 TADEU UGGERE DE ANDRADE6 RESUMO Verifica as modificações histológicas e alterações no teor de proteína corporal promovidos por esteróides anabólicos androgênicos (EAA). Utilizou-se ratos WISTAR machos submetidos a tratamento com decanoato de nandrolona (Deca-Durabolin®) na dose de 10mg kg-1 semana-1 durante 28 dias (grupo DECA). Animais controle receberam apenas o veículo (óleo de amendoim, grupo CON). Avaliou-se as alterações histológicas através das técnicas de coloração Hematoxilina e Eosina (H&E) e Tricrômico de Masson. Fez-se o registro hemodinâmico de pressão arterial média e freqüência cardíaca (FC) através da cateterização da artéria femural, conectada a um sistema de aquisição de dados biológicos, Biopac® System. Determinou-se o teor de proteína e gordura corporais através das técnicas de Kjeldahl modificado e Soxhlet, respectivamente. Evidências 1
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Graduadas em Farmácia pelo Centro Universitário Vila Velha. E-mail: raisaa.marinho@yahoo.com.br. Graduandos do Curso de Farmácia pelo Centro Universitário Vila Velha. E-mail: juniglesias@gmail.com. Mestre em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: vera@uvv.br. Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: tete@uvv.br. Doutora em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: naza@npd.ufes.br. Doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: farmacia@uvv.br.
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encontradas neste estudo confirmam os efeitos morfológicos resultantes do aumento da síntese protéica muscular e da deposição de colágeno intersticial no ventrículo esquerdo (VE), além da diminuição da freqüência cardíaca dos animais tratados. Palavras-chave: Esteróides anabólicos androgênicos. Colágeno. Alterações histológicas. Efeito anabólico.
1 INTRODUÇÃO O interesse pelos hormônios esteróides anabólicos tem crescido muito nos últimos anos devido ao desejo em melhorar o desempenho e a aparência física pelo aumento de massa e força muscular (NIDA..., 2000). A utilização dessas substâncias é comum entre atletas, porém sua importância não mais se restringe ao esporte competitivo de alto nível, alcançando também as áreas do esporte recreacional e da atividade física em geral (SHAHIDI, 2001). Evans (2004) definiu os esteróides anabólicos androgênicos (EAA) como sendo o grupo de compostos sintéticos derivados da testosterona, hormônio esteróide natural, ao qual são atribuídas as características sexuais associadas à masculinidade e ao status anabólico dos tecidos somáticos. A testosterona foi isolada na forma de pó cristalino e identificada, pela primeira vez, em 1935 (NEIVA, 1998). O primeiro relato do uso não-médico de EAA data da Segunda Grande Guerra, durante a qual seu uso foi largamente propagado por aumentar a agressividade e maximizar a potência física dos soldados (MEIRELLES, 2006). Apesar da atividade anabólica e do desenvolvimento de características sexuais associadas à masculinidade, os hormônios esteróides androgênicos não são incontestavelmente masculinos. São naturalmente sintetizados principalmente pelo córtex supra-renal (zona reticular) e pelas gônadas (testículos e ovários), utilizando o colesterol como precursor (GILMAN; GOODMAN, 2003). Em indivíduos do sexo masculino, mais de 95% da testosterona são secretados pelas células de Leydig testiculares, sendo o restante proveniente das supra-renais (BRAUNSTEIN, 2000). Nas supra-renais e nas células testiculares, a produção dos androgênios é regulada pelo eixo hipotálamo-hipofisário. A produção adrenal está sob controle da corticotropina pela hipófise anterior, e nas células testiScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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culares é dependente das gonadotrofinas hipofisárias. Estas compreendem o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo estimulante (FSH), que são responsáveis pela regulação do crescimento testicular, espermatogênese e esteroidogênese (GILMAN; GOODMAN, 2003). Os efeitos biológicos da testosterona são decorrentes da interação com receptores intracelulares presentes nos tecidos reprodutivos, nos ossos, músculos esqueléticos, cérebro, fígado, rins e adipócitos (SHAHIDI, 2001). Tais ações são mediadas pelas enzimas 5α-redutase e aromatase. A 5α-redutase é responsável pela conversão dos EAA a um metabólito mais ativo, a dihidrotesterona (DHT). Este metabólito forma um complexo esteróide-receptor no núcleo celular, capaz de promover alterações conformacionais e expor segmentos de DNA, que estimulam a transcrição de genes específicos, a produção de RNA e a síntese protéica (EVANS, 2001). E a enzima aromatase converte os EAA em hormônios sexuais femininos, tais como estradiol e estrona, que atuam em receptores estrogênicos promovendo efeitos indesejados feminilizantes em indivíduos do sexo masculino (HARTGENS; KUIPERS, 2004). Os EAA são substâncias análogas quimicamente modificadas de testosterona, cujas alterações estruturais nas moléculas têm a função de potencializar seus efeitos anabólicos ou retardar a taxa de catabolismo e a sua inativação hepática. Além disso, reduzem a aromatização de androgênios a estradiol, resultando em maior potencial anabólico devido à maior concentração plasmática da droga (EVANS, 2004). Esse efeito anticatabólico é decorrente do antagonismo dos receptores glicocorticóides e do melhor aproveitamento das proteínas atribuídos aos EAA (HARTGENS; KUIPERS, 2004). O decanoato de nandrolona (Deca-Durabolin®) é um derivado da testosterona sintetizado por esterificação do grupo 17-ß-hidroxil. Está entre os EAA mais consumidos, de acordo com o National Institute on Drug Abuse (NIDA), devido ao seu moderado potencial androgênico associado às boas propriedades anabólicas (BRAGA, 2005). Isso acontece porque a substância ativa (nandrolona), quando sofre ação da 5aredutase, origina um metabólito que possui baixa afinidade pelo receptor androgênico, ao contrário do metabólito da testosterona (DHT). Nos músculos, como a presença de 5a-redutase é menor, a própria nandrolona interage com os receptores para esteróides, produzindo respostas anabólicas relativamente maiores (CUNHA et al., 2005). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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Segundo Silva e outros (2002), a capacidade de potencialização do desempenho físico por parte destes esteróides anabolizantes se deve, provavelmente, ao aumento da massa muscular, através do aumento da síntese protéica, da retenção do nitrogênio, da inibição do catabolismo protéico e da estimulação da eritropoiese. Além disso, Lewis e outros (2002) sugeriram que os efeitos em nível muscular estão relacionados, provavelmente, com o aumento significante nos níveis de fator de crescimento insulina-símile-1 (IGF-1) promovido pelo uso de EAA. O IGF-1 foi definido por Lengyel (2003) como um fator endógeno produzido em vários tecidos, principalmente no fígado, capaz de atuar como mediador dos efeitos biológicos do hormônio do crescimento (GH). O uso terapêutico dos EAA até a década de 50 foi caracterizado por Silva e outros (2002) como limitado ao tratamento de pacientes em condições debilitadas, bem como em pacientes vítimas de traumatismos, queimaduras, depressão e na recuperação de cirurgias. Atualmente, dentre as principais aplicações terapêuticas relacionadas aos EAA estão: a) hipogonadismo em indivíduos do sexo masculino, b) tratamento da depressão, c) ganho de peso por portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), d) diminuição da dor óssea na osteoporose, e) tratamento do catabolismo induzido por corticosteróides, f) alguns casos de câncer de mama e anemia, g) angioedema hereditário e h) em casos de deficiência androgênica (EVANS, 2004; HARTGENS; KUIPERS, 2004). Além do uso médico, Karilla (2003) destacou uma crescente utilização de EAA entre jovens em academias de ginástica, mesmo quando advertidos em relação aos efeitos indesejados promovidos pelo seu uso abusivo. Dentre esses efeitos estão principalmente o comprometimento imunológico, reprodutivo e psicológico, hipertrofia cardíaca, toxicidade hepática e renal, deterioração da função endócrina normal da testosterona e aumento da concentração de estradiol, que promove o desenvolvimento de características femininas. Os dados clínicos que apontam para os efeitos deletérios do uso abusivo de EAA foram corroborados por Silva e outros (2004). Esses autores observaram o desenvolvimento de alterações na função hepática, sendo detectado aumento do volume nuclear e diploidia em células do fígado de camundongos machos submetidos a um tratamento crônico com undecilenato de boldenona (droga da classe dos EAA). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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Takahashi e outros (2004) também relataram a ocorrência de fibrose parcial do miocárdio e pericárdio, inflamações e degenerações nos hepatócitos lobulares centrais. Observaram ainda alterações nas células epiteliais tubulares renais, que se apresentaram intumescidas e em número reduzido em ratos machos tratados durante 12 semanas com decanoato de nandrolona e acetato de metenolona. A fibrose cardíaca descrita por Takahashi e outros (2004) ocorreu em decorrência a um processo de remodelação, caracterizado por alterações celulares e intersticiais cardíacas que representam um fenômeno reparativo. Tais alterações estão condicionadas ao desequilíbrio entre a produção e a degradação do colágeno, com predomínio do primeiro processo. Neste, incluem-se modificações qualitativas e quantitativas nos tipos de proteínas da matriz extracelular (BRASILEIRO FILHO, 2006). O colágeno, por sua vez, é o principal constituinte da matriz extracelular, degradado por enzimas da família das metalopeptidades (MMP). Dentre os fenômenos observados no processo de remodelação, em resposta a determinado dano tecidual, estão a proteólise da matriz danificada com relativo aumento de atividade das MMP e a formação do tecido de reparação (PONTES; LEÃES, 2004). Marqueti e outros (2006) relacionaram o estiramento mecânico em tendões de ratos promovido por treinamento físico a um aumento na regulação da expressão gênica das MMP, que resultou em aumento nos níveis destas enzimas. Porém, a associação do exercício físico ao tratamento com EAA (Deca-Durabolin® e Durateston®) promoveu a abolição desse efeito, resultando em diminuição da atividade das MMP e da remodelação nos tendões destes animais. Os resultados obtidos sugeriram que o aumento de colágeno pode estar associado à inibição da atividade das MMP. Conforme Oliveira e outros (2004), os fenótipos relacionados à atividade física parecem estar relacionados a genes do Sistema Renina Angiotensina (SRA). O SRA é caracterizado como um sistema endócrino associado ao controle da pressão arterial e do equilíbrio hidroeletrolítico, que tem como principal substância ativa a angiotensina II (Ang II). A produção de colágeno e a ocorrência de fibrose cardíaca estão relacionadas à Ang II, visto que essa substância promove aumento da síntese protéica do miocárdio e aumento da atividade dos fibroblastos. Além disso, ativa as MMP, que dissolvem as pontes cruzadas entre as fibras colágenas, facilitando seu deslizamento. A Ang II estimula ainda a produção de aldosterona pela supra-renal, que por sua vez exerce imporScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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tante função na síntese do colágeno, fibrose e na remodelação cardíaca (PONTES; LEÃES, 2004). Diferenças gênero-específicas na expressão da enzima conversora da angiotensina (ECA) podem estar relacionadas às diferenças no processo de remodelação cardíaca, como descrito por Freshour e outros (2002). Esses autores verificaram maior produção de Ang II no coração de camundongos machos, o que se mostrou determinante no processo de remodelação miocárdica quando da ocorrência de um estímulo patológico. A participação do SRA na hipertrofia cardíaca induzida por exercícios tem se mostrado bem regulada, de forma a evitar que esse processo adquira caráter patológico. Porém, o uso de EAA associado ao treinamento físico revelou uma acentuada ativação do SRA que conduz a uma deposição de colágeno no miocárdio (ROCHA et al., 2004). Considerando as alterações viscerais a que a literatura se refere, estabeleceu-se como objetivo do presente trabalho verificar a existência de modificações histológicas no coração, nos rins e no fígado, bem como alteração nos teores de proteína e gordura corporais, e alterações hemodinâmicas, promovidas pelo tratamento com decanoato de nandrolona (Deca-Durabolin®) por um período de 28 dias em animais experimentais.
2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1
ANIMAIS EXPERIMENTAIS
Neste estudo foram utilizados ratos WISTAR machos com peso corporal (PC) inicial variando entre 300 e 330 gramas, fornecidos pelo Biotério do Complexo Biopráticas do Centro Universitário Vila Velha. Os animais foram mantidos em sala com temperatura controlada (20 – 24°C) e iluminação artificial de acordo com o recomendado para os biotérios de pesquisa (FINEP), e alojados em gaiolas individuais, permanecendo em estado sedentário. Recebiam ração e água ad libitum, sendo mensurada a quantidade de ração ingerida periodicamente (a cada dois dias). Os estudos foram conduzidos dividindo os animais em grupos experimentais controle (CON) e tratado (DECA) que receberam administrações semanais de veículo, óleo de amendoim (YOD LTDA, Campinas, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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SP, Brasil), e decanoato de nandrolona (Deca-Durabolin®; Organon do Brasil Ltda, São Paulo, SP, Brasil), respectivamente. A droga foi administrada ao grupo DECA (n=10), semanalmente, via intramuscular no quadríceps femural. O grupo não-tratado (n=7) recebia aplicações semanais de óleo de amendoim em volume proporcional ao seu peso corporal. O tratamento foi feito por um período de 28 dias, utilizando doses de 10mg kg-1 semana-1 de decanoato de nandrolona, e o esquema de aplicação seguiu um regime de rodízio de maneira que a cada semana a droga foi aplicada em músculo femural diferente (direito e esquerdo). 2.2
REGISTROS HEMODINÂMICOS
Uma semana após o fim do período de tratamento, foram realizados os registros hemodinâmicos. Os registros de pressão arterial média (PAM) e freqüência cardíaca (FC) foram obtidos por meio de cateter implantado na artéria abdominal. Os cateteres foram confeccionados utilizando tubos de polietilieno PE-50 (Clay Adams, Parsippany, EUA) de 15cm de comprimento, unidos, por meio de aquecimento, a tubos de polietilieno PE-10 (Clay Adams, Parsippany, EUA) de 5cm de comprimento. Estes cateteres foram implantados através de uma incisão na região inguinal, em direção ao feixe vásculo-nervoso, dos ratos anestesiados com Tiopental (Cristália, São Paulo-SP). Uma das extremidades dos cateteres foi dirigida por meio de um trocáter sob a pele do dorso do animal até a região mediocervical posterior e fixada por um fio de sutura. As medidas hemodinâmicas foram realizadas conectando-se os animais via cateter arterial a um transdutor de pressão (Spectramed-Stathem, P23XL, EUA) acoplado a um sistema de aquisição de dados biológicos (Biopac System, MP100, Santa Bárbara, CA, EUA), 24 horas após o procedimento de cateterização. 2.3
PROTOCOLO EXPERIMENTAL
Após a avaliação dos parâmetros hemodinâmicos de PAM e FC, os animais foram sacrificados, por meio de injeção de doses elevadas de anestésico tiopental. O coração, os rins e o fígado foram retirados e lavados rapidamente em solução salina (NaCl 0,9%). Após a aferição de seus pesos, os órgãos foram colocados em solução de formol a 10% por 48 horas e preparados para o estudo histológico. Depois de evisceradas, as carcaças dos animais foram pesadas e secas em Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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estufa a 105ºC, por vinte e quatro horas, para determinação do teor de proteína e gordura. 2.4
DETERMINAÇÃO DO TEOR DE PROTEÍNA E GORDURA
As carcaças secas em estufa foram trituradas e homogeneizadas em graal com pistilo e em seguida pesadas. Os conteúdos de gordura e proteína totais foram determinados, a partir de uma amostra de cada animal, através dos métodos de Soxhlet e de Kjeldahl modificado, respectivamente. 2.5
ESTUDO HISTOLÓGICO
Após a clivagem dos órgãos, um fragmento representativo de ventrículo direito (VD), um fragmento representativo de ventrículo esquerdo (VE), dois fragmentos representativo de rim e um fragmento representativo de fígado foram incluídos em parafina. Os blocos de parafina foram cortados em micrótomo rotativo Leica® RM2125RT com 3 micrômetros de espessura. Os cortes histológicos foram estendidos em lâminas de vidro e corados pelos métodos de H&E e Tricrômico de Masson para a avaliação de hipertrofia celular e de deposição de colágeno no interstício. A avaliação histológica foi realizada por patologista, sem conhecimento prévio da divisão dos grupos, em microscópio óptico binocular. 2.6
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados foram apresentados como média ± erro padrão da média (EPM). Para análise estatística dos valores basais de PAM e FC, PC, teor de gordura e proteína totais, e relações entre o peso das vísceras e peso corporal, foram efetuados análise de variância de uma via (ANOVA). A significância da diferença entre as médias foi determinada pelo teste post hoc de Fischer para comparações múltiplas. Para análise estatística e apresentação gráfica dos resultados, foram empregados os softwares GBSTAT (S.N. 96003126) e slide Write Plus (S.N. WSWP- C018529).
3 RESULTADOS 3.1
PESO CORPORAL DOS ANIMAIS
Não houve diferença estatisticamente significante no peso corporal dos animais antes e após o término do período de tratamento utilizado, ou Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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seja, o decanoato de nandrolona não determinou alteração no ganho de peso corporal dos animais dentro deste período, conforme pode ser visualizado na Tabela 1. Tabela 1 – Peso corporal dos animais controle e tratados, antes e após o tratamento com Deca-Durabolin®
Grupos
Peso inicial (g)
Peso final (g)
COM
321 ± 10
374 ± 11
DECA
317 ± 12
377 ± 5
Nota: Os valores representam o erro ± o EPM.
3.2
PRESSÃO ARTERIAL MÉDIA E FREQÜÊNCIA CARDÍACA
O tratamento de 28 dias com Deca-Durabolin® não foi capaz de promover alterações estatisticamente significantes nos níveis pressóricos dos animais do grupo DECA (110±3mm Hg) em relação ao grupo CON (105±5mm Hg). Entretanto, diferenças significativas foram registradas em relação à FC, que se apresentou reduzida nos animais do grupo tratado (CON = 381±14bpm; DECA = 324±12bpm; p<0,01), conforme Figura 1.
Figura 1 – PAM (A) e FC (B) dos animais CON e DECA, após vinte e oito dias de tratamento com decanoato de nandrolona Notas: Os valores representam a média ± o EPM. **p<0,01 em relação ao controle Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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3.3
TEOR DE PROTEÍNA E GORDURA
O teor de gordura dos animais do grupo DECA não apresentou diferenças significativas em relação ao grupo CON. Enquanto na determinação do teor de proteínas, foi possível observar aumentos significativos nos animais do grupo DECA, conforme indicado na Tabela 2 e na Figura 2. Tabela 2 – Teor de proteína e gordura dos animais controle e tratados com DecaDurabolin®
Grupos
Teor de proteína
Teor de gordura
COM
22 ± 2
18 ± 4
DECA
30 ± 1*
23 ± 2
Notas: Os valores representam a média ± o EPM. *p<0,05 em relação aos ratos CON.
Figura 2 – Teor de proteína dos animais CON e DECA após 28 dias de tratamento com decanoato de nandrolona Notas: Os valores representam a média ± o EPM. *p<0,05 em relação aos ratos CON.
3. 4 RELAÇÃO ENTRE O PESO DAS VÍSCERAS E O PESO CORPORAL As relações entre o peso dos rins e PC dos animais do grupo DECA apresentaram-se significativamente aumentados em relação aos do Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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grupo CON. Para o fígado, tais diferenças não foram significativas (Tabela 3). Tabela 3 – Relações entre peso dos órgãos e PC em animais controle e tratados com Deca-Durabolin®
Grupos
Rins/PC(mg/g)
Fígado/PC(mg/g)
COM
5,8 ± 0,2
33 ± 6
DECA
6,6 ± 0,2*
33 ± 5
Notas: Os valores representam a média ± o desvio padrão. *p<0,05 em relação aos ratos CON.
A relação peso do VE/PC foi estatisticamente diferente entre os grupos experimentais (CON= 1,76 ± 0,04mg/g; DECA= 2,0 ± 0,04mg/g; p<0,001). Já a mesma relação com o VD não apresentou diferença significativa (CON= 0,5 ± 0,02mg/g; DECA= 0,5 ± 0,02mg/g). Estimase, portanto, que o tratamento foi capaz de promover aumento do tamanho do VE (Figura 3).
Figura 3 – Relação VE/PC dos animais CON e DECA após 28 dias de tratamento com decanoato de nandrolona. Notas: Os valores representam a média ± o EPM. **p<0,01.
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100
3.5 •
ANÁLISE HISTOLÓGICA Método Hematoxilina e Eosina Não foram observadas alterações histológicas significativas nos órgãos estudados pelo método H&E, como demonstrado na Figura 4. Não foi possível determinar com precisão a presença de hipertrofia miocárdica e renal, pois não foi utilizado método morfométrico de avaliação histológica.
Figura 4 – Cortes histológicos de miocárdio esquerdo normal. Grupo CON (A) e Grupo DECA (B). Método H&E 100x
•
Método de Tricrômico de Masson Como demonstrado na Figura 5, observou-se discreto aumento na deposição de colágeno no VE. Nos outros tecidos examinados (rim, fígado e VD), não se observou aumento na deposição de colágeno.
Figura 5 – A) Grupo CON: deposição normal de colágeno (seta) entre as fibras miocárdicas do VE. B) Grupo DECA: observa-se nítido aumento na quantidade de colágeno depositado (seta) entre as fibras miocárdicas do VE. Método Tricrômico de Masson 400x
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4 DISCUSSÃO No corrente estudo, foram utilizadas doses supra fisiológicas de EAA em ratos para investigar os efeitos patológicos promovidos pelo uso de EAA. Ao final do período experimental, não foram observadas diferenças significativas no PC entre os animais controles e tratados com EAA. Os dados da literatura com relação ao efeito dos EAA sobre o ganho de PC não são homogêneos e o resultado obtido parece estar relacionado ao tempo e à dose utilizados no tratamento. Efeitos semelhantes aos do presente trabalho foram obtidos por Toit e outros (2005), que não observaram diferenças no PC final em ratos controles ou tratados com laurato de nandrolona, submetidos ou não ao treinamento físico. Dados que apontam para a redução do PC são encontrados, pois embora os EAA estejam relacionados a um aumento na síntese protéica (GRIGGS et al., 1989) e à retenção hídrica. Níveis excessivos destas substâncias podem inibir o crescimento corporal e o ganho de peso em função da redução do apetite (LINDBLOM et al., 2003). Beutel e outros (2004), Lindblom e outros (2003) e Takahashi e outros (2004) corroboraram o efeito de diminuição do ganho de PC em animais tratados com doses supra fisiológicas de decanoato de nandrolona, a partir da quarta semana de tratamento. Lindblom e outros (2003) atribuem a inibição de apetite induzido por EAA e a diminuição da gordura abdominal a alterações num sistema de homeostase energética, conhecido como sistema melanocortina, uma vez que foram encontradas evidências de aumento dos níveis de hormônio estimulador de a-melanócitos, que levaram a um quadro de anorexia em animais tratados com EAA. Tais estudos contradizem os achados de Meirelles (2006), que relatou aumento significativo no PC de coelhos tratados com EAA em relação a animais não tratados. Essa diferença foi atribuída à retenção hídrica promovida pelo uso de EAA, decorrente da conversão de testosterona a estrógenos. Com relação à PAM, não foram evidenciadas alterações significativas nos níveis pressóricos entre os animais dos grupos CON e DECA após 28 dias de tratamento com decanoato de nandrolona, embora a administração de testosterona ou EAA esteja relacionada ao aumento no risco de hipertensão (RECKELHOFF, 2001).
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Acredita-se que ocorra hipertensão como causa de retenção hídrica e de sais desencadeados pelo uso de EAA. Estas alterações sangüíneas, em geral, demoram mais do que quatro semanas para aparecerem (SULLIVAN et al., 1998), o que justifica a ausência de variações consideráveis nos níveis pressóricos no presente estudo. Quanto à FC, o tratamento com decanoato de nandrolona promoveu uma diminuição dos valores da FC para os animais do grupo DECA em relação ao grupo CON. Esses achados sugerem que a testosterona aumenta a atividade vagal. Ward e Rahman (2006), também observaram redução da FC em ratos castrados submetidos à reposição de testosterona quando comparados com aqueles que receberam veículo. Em tal trabalho, também se evidenciou efeito sensibilizante da testesterona sobre a bradicardia reflexa induzida pela ativação do barorreflexo. Esta ativação pode ser resultado da interação com receptores androgênicos da aferência barorreceptora, do sistema nervoso central ou do coração que, por sua vez, resultaria em diminuição da freqüência cardíaca. El Mas e outros (2001) também demonstraram o efeito de androgênios sobre a FC, investigando resultados da castração e da reposição de testosterona em ratos machos sobre o controle barorreflexo. Os animais submetidos à castração apresentaram uma atenuação da bradicardia reflexa em relação aos animais não submetidos a esse procedimento cirúrgico, enquanto a reposição de testosterona promoveu seu aumento significativo. Os mecanismos pelos quais a testosterona modula a responsividade ao baroreflexo parecem estar envolvidos com a facilitação da transmissão glutamatérgica, essencial no processo de informação ao barorreceptor, além de promover aumento na expressão da vasopressina, conhecida por ativar a função baroreflexa (EL MAS et al., 2001). Neste estudo, o teor de proteínas apresentou-se aumentado no grupo DECA. Estes dados foram observados em humanos por Griggs e outros (1989). Estes autores observaram aumento na massa muscular de todos os indivíduos estudados, em decorrência do aumento na síntese protéica, quando indivíduos normais foram submetidos a doses de 3mg/ kg de enantato de testosterona durante 12 semanas. A ampliação na síntese protéica muscular induzida por testosterona foi atribuída a uma elevação significativa nos níveis de RNA muscular e na Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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expressão de IGF-1 que, presumivelmente, refletiu aumento na interação da testosterona ou seus metabólitos com os receptores androgênicos (GRIGGS et al., 1989; LEWIS et al., 2002). Em relação às alterações morfológicas, a ocorrência de hipertrofia nos órgãos, decorrente do uso de EAA, é estimada através da relação entre o peso das vísceras e o PC. A ausência de alterações significativas desta relação para o fígado, no corrente estudo, sugere que a dose de decanoato de nandrolona (10mg/ kg) utilizada e o tempo de tratamento não foram suficientes para induzir danos teciduais significativos no fígado dos animais tratados. Entretanto, conforme demonstrado por Takahashi (2002), ratos submetidos a tratamento com EAA por um período de tempo maior apresentaram efeitos proliferativos das células do fígado. Silva e outros (2004) também relataram inflamação e degeneração hepatocitária, além de alterações no núcleo do hepatócito de camundongos tratados com altas doses de undecilenato de boldenona. A relação peso dos rins/PC foi maior nos animais do grupo DECA em relação aos do grupo CON. Conforme foi reportado por Uhlén e outros (2003), os androgênios promoveram aumento do tamanho celular, que resultou em hipertrofia e conseqüente aumento na massa do rim. Além disso, Cremades e outros (2004) relataram, em seus estudos, aumento na atividade de proteínas e enzimas renais, em ratos tratados com propionato de testosterona. Fortepiani e outros (2006) também destacaram a participação dos andrógenos no desenvolvimento das disfunções e danos renais em ratos. Ao comparar animais castrados e não castrados foi possível verificar que a remoção dos androgênios reduziu a pressão arterial sistêmica e a pressão capilar glomerular, capazes de prevenir danos renais. Um possível mecanismo para explicar tanto a diminuição da pressão capilar glomerular, como a manutenção da função e a morfologia renal, foi a redução na atividade da renina plasmática e a conseqüente diminuição dos níveis de Ang II. Apesar destes achados da literatura, não foi evidenciado hipertrofia das células renais, nem aumento da deposição de colágeno no rim através das técnicas de coloração histológicas utilizadas neste trabalho. A discrepância entre o aumento da relação peso dos rins/PC e os achados Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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histológicos pode relacionar-se com a não realização de análise morfométrica de avaliação histológica, que poderia evidenciar a hipertrofia celular ou a inexistência de sobrecarga pressórica nos animais DECA. Esse aumento pode ainda não ser decorrente de hipertrofia renal e/ou aumento da deposição de colágeno intersticial, e sim estar relacionado a outro mecanismo não evidenciado pelos resultados apresentados, como a presença de edema. Também, não se pode deixar de levar em consideração a dose e a duração do tratamento utilizados nas referências citadas que são diferentes das adotadas aqui. O presente estudo demonstra aumento do tamanho do VE nos animais do grupo DECA. Marsh e outros (1998) relacionaram a hipertrofia cardíaca à ação direta dos androgênios nos receptores específicos presentes nos miócitos, promovendo aumento na síntese protéica e aumento do tamanho da fibra muscular. Toit e outros (2005) afirmaram que o uso de EAA quando combinado a exercícios físicos promove hipertrofia cardíaca patológica. Neste estudo, atletas usuários de EAA apresentaram aumento na espessura da parede ventricular esquerda, no volume e na massa do VE, além de diminuição da complacência do VE e diminuição da capacidade inotrópica do coração. Karilla (2003) estabeleceu a hipertrofia ventricular esquerda como um fator de risco para morbidade cardiovascular, além de estar relacionada à fibrilação atrial, arritmia ventricular e morte cardíaca súbita. O aumento da relação peso do VE/PC induzida por EAA está associada a mudanças histopatológicas, como foi comprovado nas análises realizadas no presente estudo. A coloração H&E não revelou alterações histológicas significativas nos ventrículos dos animais tratados com decanoato de nandrolona. Por outro lado, o Tricrômico de Masson revelou aumento na deposição de colágeno intersticial do VE nos animais do grupo DECA. A deposição de colágeno intersticial, observada em animais tratados com decanoato de nandrolona, pode estar relacionada com o aumento na síntese de colágeno devido ao aumento nos níveis de RNA mensageiro para o pró-colágeno. Conforme demonstrado por Falanga e outros (1998), houve aumento na síntese de colágeno, in vitro, por estímulo na produção de pró-colagenase (enzima responsável pela conversão de pró-colágeno em colágeno) quando fibroblastos dérmicos humanos foScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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ram submetidos à ação de EAA (stanozolol). Tal estudo propõe ainda que este efeito seja mediado pela ação do fator de crescimento transformador ß (TGF-ß), que é determinante na formação da matriz extracelular. Dessa forma, o uso de EAA parece estar diretamente relacionado ao processo de remodelação ventricular. Dentre as alterações adaptativas observadas nesse processo, está a deposição de colágeno que tem como mediador a Ang II. Esta promove aumento da síntese protéica do miocárdio, o que inclui a síntese de colágeno e a fibrose intersticial via TGF-ß (PONTES; LEÃES, 2004).
5 CONCLUSÃO Os resultados do presente trabalho evidenciam que doses supra fisiológicas de EAA promovem diminuição da FC, aumento da síntese protéica e aumento da relação peso do VE/PC, que ocorrem, respectivamente, devido à sensibilização da atividade parassimpática ao efeito anabólico desses fármacos e ao aumento na deposição de colágeno intersticial no VE. As alterações renais, cardíacas, hepáticas e na PAM são tempo e dose dependentes.
HISTOLOGICAL CHANGES INDUCED BY THE USE OF ANDROGENIC ANABOLIC STEROIDS (NANDROLONE DECANOATE) IN RATS ABSTRACT The main goal of the present study was the evaluation of the histological modifications and alterations in body protein content promoted by an androgenic anabolic steroid. Male WISTAR rats were treated with nandrolone decanoate (Deca-Durabolin®) in the dose of 10mg kg-1 week-1 during 28 days (DECA group). Control animals received only the vehicle (peanut oil; CON group). The histological alterations were evaluated by the staining techniques of Hematoxilin and Eosin (H&E) and Masson's Trichrome. The hemodinamic registers of blood pressure and heart rate (HR) was made by cateterization of femoral artery, hardwired to a system of biological data, Biopac® System. The body protein and fat mass was determined by the Soxhlet and modified Kjeldahl's techniques, respectively. Evidences found in this study confirm the morphologic effects of the increase of muscular Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 89-109, jan./dez. 2006
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protein synthesis and the deposition of instersticial collagen in left ventricle, and also the reduction of the HR of the treated animals. Keywords: Anabolic androgenic steroids. Collagen. Histological alterations. Anabolic effect.
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Correspondência para/reprint request to: Tadeu Uggere de Andrade Rua Lumberto Maciel de Azevedo, 330/906 Jardim Camburi 29090-700 - Vitória - ES (Brasil)
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COMPORTAMENTO DA FUNÇÃO PULMONAR E DOS PARÂMETROS CARDIOVASCULARES EM JOVENS TABAGISTAS SUBMETIDOS À ATIVIDADE FÍSICA VERÔNICA LOURENÇO WITTMER1 EVANDRO LORDES OIVEIRA JUNIOR2 FERNANDA FABRETE ALENCAR2 JOSÉ LUIS ALBUQUERQUE FIORESE2 MICHELLE MARGARIDA COSTA2
RESUMO Estudos prévios vêm demonstrando os marcantes efeitos do tabagismo a longo prazo sobre a função pulmonar e cardiovascular de indivíduos fumantes. Entretanto, não sabemos se o curto período de tabagismo é suficiente para provocar alterações destas funções e se estas alterações poderiam propiciar diferentes respostas à atividade física nestes indivíduos. Desta forma, foram investigadas possíveis alterações de jovens fumantes sedentários em resposta ao exercício. Para isto, foram estudados 18 indivíduos sedentários com faixa etária variando entre 20 e 30 anos, subdivididos em dois grupos: controle (C) e fumantes (F). O grupo C constou de 9 pessoas não fumantes, com idade média de 23,4 anos, sendo 7 do sexo feminino e 9 do masculino. O grupo F foi constituído por 9 indivíduos tabagistas, sendo 7 mulheres e 9 homens, idade média de 23,4 anos e consumo médio de 66 cigarros/semana. Todos os integrantes foram avaliados em repouso, durante a atividade física (20' de esteira) e imediatamente após a atividade. Quanto aos parâmetros analisados: capacidade vital forçada (CVF), volume expiratório forçado no 1º segundo (VEF1), relação CVF/VEF1, freqüência cardíaca (FC) de repouso e máxima durante o esforço e Pressão arterial (PA) pré e pós esforço. Como resultado, observamos que a FC máxima foi significativamente maior no grupo F, sendo os demais parâmetros semelhantes entre os grupos, nos 1
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Mestre em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: ve_lourenco@yahoo.com.br. Graduados em Fisioterapia pelo Centro Universitário Vila Velha. E-mail: evm@uol.com.br
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permitindo concluir que provavelmente o curto período de tabagismo já ocasiona diferente resposta cardiovascular ao esforço, possivelmente em decorrência do aumento dos níveis de catecolaminas. Palavras-chave: Tabagismo. Jovens sedentários. Cardiovascular. Função pulmonar.
1 INTRODUÇÃO O tabagismo pode ser definido como um tipo de “drogadição”, considerando-se que “drogadição” é o uso compulsivo de uma substância psicoativa cujas conseqüências são danosas ao indivíduo ou à sociedade (SILVA; BONORINO, 2001). O ato de fumar é uma complexa associação de comportamentos dirigidos por fatores farmacológicos, psicológicos e sociais (CAMPOS, 1993). Atualmente, estima-se que o tabagismo mate cerca de 3 milhões de pessoas a cada ano. Com base em tendências atuais, contudo, a taxa de mortalidade se elevará a 10 milhões de mortes por ano, nos anos de 2020 ou 2030, com 70% dessas mortes ocorrendo nos países em desenvolvimento (VILLANOVA; PALOMBINI, 2001). No Brasil, segundo dados da Organização Panamericana da Saúde, a prevalência global do tabagismo é de 32,6% e estima-se que ocorram 125.000 mortes a cada ano por doenças associadas ao fumo. Portanto, a cada 5 minutos morre um brasileiro em conseqüência do tabagismo (SILVA; BONORINO, 2001). Segundo dados do Ministério da Saúde, o tabagismo é reconhecido como a causa exógena e passível de prevenção mais comum de doenças pulmonares e cardiovasculares (VILLANOVA; PALOMBINI, 2001). O cigarro contém mais de 4500 substâncias, distribuídas como fase gasosa e fase particulada. O constituinte mais importante da fase gasosa é o nitrogênio, numa proporção de 55 a 72 % do total; em seguida aparecem o oxigênio com 9,2 a 14,3%; o gás carbônico com 6,9 a 13,4% e o monóxido de carbono (CO) com 1,9 a 6,3%. Em menor porcentagem, outras 500 substâncias que encontram-se na fase gasosa do cigarro. De acordo com Pereira (2002), a fase particulada do cigarro contém, pelo menos, 3500 outras substâncias (alcatrão, nicotina, colesterol, fenol, acido fórmico, etc.). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 111-125, jan./dez. 2006
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Além disso, a fumaça de cigarro contém uma alta quantidade de radicais livres, os quais ao entrarem em contato com a mucosa das vias aéreas geram radicais superóxidos e peróxido de hidrogênio. Estes radicais podem lesar a superfície das mucosas levando à peroxidação lipídica e ao estresse oxidativo. A nicotina é um alcalóide vegetal básico lipossolúvel e hidrossolúvel. No cigarro ela é encontrada na forma ácida, o que a torna absorvível somente pelos alvéolos. Uma vez no pulmão, a nicotina é rapidamente transportada pelo sangue aos mais diferentes órgãos, chegando ao cérebro em 7 a 20 segundos (LEITE, 1995). Além disso, a nicotina leva ao aumento do metabolismo dos fumantes imediatamente após o consumo de um cigarro. Para suprir esta maior demanda metabólica, o sistema cardiovascular tem como resposta o aumento de freqüência cardíaca (FC), sendo que este aumento pode ser em média de 10 a 20 batimentos após um cigarro fumado (CAMPOS, 1993). A ação prejudicial do fumo sobre o sistema cardiovascular é exercida especialmente pela nicotina e CO. A primeira possui efeito direto e indireto, estimulando a liberação de catecolaminas, que conseqüentemente aumentam a FC e provocam a vasoconstrição (artérias e arteríolas). O CO possui 250 vezes mais afinidade com a hemoglobina que o oxigênio, e, quando se liga nesta, forma a carboxihemoglobina, e com isso diminui a oxigenação para o coração, o qual passa a trabalhar com o desequilíbrio entre a oferta e a demanda, provocando a isquemia miocárdica e dos tecidos. Logo, a aceleração do ritmo cardíaco, a elevação da pressão sanguínea e a hipóxia continuada, causadas pelo fumo, obrigam o miocárdio do fumante a trabalhar mais e em piores condições. Nos fumantes, existem ainda deficiências de prostaglandinas, proporcionando assim a agregação das plaquetas. Isso, associado ao aumento das lipoproteínas de baixa densidade e diminuição das de alta densidade que ocorrem nos fumantes, ocasiona injúria no endotélio das artérias e leva o aparecimento de aterosclerose, trombos e hipercolesterolemia. Sabendo-se que o fumo causa alterações nos níveis de catecolaminas circulantes, possivelmente a resposta cardiovascular destes indivíduos em esforço tenha particularidades em relação à população não fumante.
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Tanto em indivíduos fumantes como em não fumantes, o sistema nervoso autônomo é de extrema importância na auto-regulação dos ajustes cardiocirculatórios durante o exercício físico. O estímulo simpático no coração aumenta a freqüência de “disparo” do nódulo sinusal e também a excitabilidade e a força de contração de todas as porções do coração. Esta estimulação deve-se à liberação da norepinefrina (catecolamina) nas terminações nervosas simpáticas (LEITE, 1995). Durante o exercício, a demanda celular de oxigênio exige que o organismo aumente a remoção deste gás do ar atmosférico para o sangue e a freqüência na qual o sangue é circulado pelo organismo. A circulação sangüínea aumentada no organismo ocorre como resultado de uma regulação complexa e sensível do coração e dos vasos sanguíneos do corpo. Logo que iniciamos o exercício, ocorre um aumento da FC e do volume de sangue bombeado a cada batimento pelo coração e uma redução da resistência ao fluxo nas artérias, arteríolas e capilares que fornecem sangue para o músculo em contração (RENNARD, 2002). A pressão arterial sistólica (PAS) normalmente aumenta com a intensidade do esforço. Este aumento deve-se ao aumento do débito cardíaco e do volume de ejeção sistólica. A pressão arterial diastólica (PAD), em exercícios dinâmicos, normalmente varia muito pouco. Em geral, ela permanece inalterada, sobe ou desce 10mmHg (LEITE, 1995). Em indivíduos tabagistas, observa-se que ocorre um aumento do trabalho cardíaco decorrente do aumento da pressão arterial (PA) e da FC para um dado nível de intensidade de esforço físico, visto que a FC em repouso já se encontra aumentada (GIGLIOTTI, 1999). Conforme citado anteriormente, o fumo, além de causar alterações cardiovasculares, ocasiona importantes lesões nas vias aéreas. O sistema respiratório é agredido em toda a sua integridade pelos constituintes do fumo do tabaco, ocorrendo lesões ciliares, brônquicas, alveolares, intersticiais, no sistema de defesa imunitária e na atividade enzimática (GIGLIOTTI, 1999). A alteração mais precoce nos brônquios resulta da ciliotoxicidade. A diminuição e parada dos movimentos ciliares prejudicam imediatamente o transporte mucociliar. Com a continuidade do hábito de fumar, os cílios acabam por cair, desnudando extensas áreas da luz brônquica, o que associado à cilioestase ocasiona hipersecreção do muco brônquico nos fumantes em decorrência da exposição às substâncias do tabaco, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 111-125, jan./dez. 2006
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levando a edema e inflamação da mucosa, hipertrofia das glândulas mucosas com hipersecreção de muco, aumento do número de células calciformes, além de hipertrofia dos músculos lisos e fibrose da parede brônquica. Portanto, logo, cerca de 85% dos casos de doença pulmonar obstrutiva crônica são atribuídos ao tabagismo (VILLANOVA; PALOMBINI, 2001). O cigarro destrói o pulmão pela tríade: aumento da elastase, inativação dos inibidores da elastase e bloqueio na neoformação da elastina (GIGLIOTTI, 1999). As conseqüências destas alterações anatômicas das vias aéreas normalmente são traduzidas por alterações nas provas de função pulmonar. Assim, os fumantes de tabaco têm uma maior prevalência de anormalidades da função pulmonar e sintomas respiratórios, um maior declínio anual de volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e maior incidência de mortalidade por doença pulmonar do que os não fumantes (ROSEMBERG, 2001), sendo recomendado pela Sociedade Torácica Britânica (BTS) a realização de espirometria para se detectar a obstrução do fluxo aéreo que se manifesta por alteração no VEF1/ CVF (STOCKLEY; WHITEHEAD; WILLIAMS, 2006). Embora se conheça, de longa data, as alterações físicas ocasionados pelo tabagismo, não encontramos relatos na literatura a respeito das respostas cardiopulmonares à atividade física em fumantes jovens tabagistas. Desta maneira, o objetivo do presente estudo foi avaliar a resposta ao exercício de fumantes jovens através da análise de parâmetros cardiovasculares e da função pulmonar.
2 METODOLOGIA 2.1
PROTOCOLO DE ESTUDO
Participaram do estudo 18 indivíduos normais, sedentários, sendo 9 fumantes e 9 não fumantes, que após os esclarecimento concordaram em participar voluntariamente. Os voluntários selecionados, foram divididos randomicamente em 2 grupos: Grupo “C” – Jovens sedentários não fumantes; Grupo “F” – Jovens sedentários fumantes.
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Os indivíduos foram orientados quanto a não ingestão de bebidas alcoólicas por um período de 4 horas, cafeína por 6 horas antes dos testes, usar roupas esportivas confortáveis e, aos fumantes, foi orientado não fumar pelo menos 2 horas antes dos testes. Foram realizadas as seguintes medidas pré-exercício físico (em repouso) com o paciente em ortostase: PAS, PAD, FC e medidas espirométricas (CVF, VEF1, VEF1/CVF). Após os dados colhidos, os pacientes foram submetidos ao exercício físico na esteira por um período de 20 minutos. Durante a caminhada na esteira, foi monitorado a cada minuto a FC dos indivíduos estudados. Imediatamente após o exercício físico, com os integrantes ainda em ortostase na esteira, foram realizadas as seguintes mensurações: PAS, PAD e a FC. Logo após, foram submetidos ao exame espirométrico (posição sentada). 2.2
SUJEITOS
Participaram indivíduos de ambos os sexos, normotensos, sem distinção de raça, com faixa etária entre 20 e 30 anos de idade e sedentários, no mínimo, por um ano. Os jovens sedentários fumantes, além das condições descritas acima, foram submetidos ao estudo experimental e deveriam ser fumantes por um período mínimo de 5 anos e consumidores de, no mínimo, 10 cigarros por dia ou 50 cigarros por semana. Foram excluídos indivíduos que apresentavam pelo menos uma das seguintes condições: história de cardiopatias, doenças pulmonares associadas, uso de medicamentos cardiovasculares ou broncodilatadores, diabetes mellitus, gestantes e obesos (índice de massa corpórea superior a 30kg/m2). 2.3
MENSURAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL E DA FREQÜÊNCIA CARDÍACA
A PA foi mensurada com um monitor automático de PA, marca OMRON e modelo HEM-705CP. Esta medida foi realizada conforme as recomenScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 111-125, jan./dez. 2006
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dações das “IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, publicada em 2002, seguindo os seguintes passos: 1. Posicionar o indivíduo em ortostase, deixando-o em repouso por 5 a 10 minutos. 2. Usar manguito de tamanho adequado ao braço do indivíduo, cerca de 2 a 3 centímetros acima da fossa antecubital, centralizando a bolsa de borracha sobre a artéria braquial. 3. Posicionar o braço do indivíduo na altura do coração, livre de roupas, com a palma da mão voltada para cima e cotovelo ligeiramente fletido. 4. Registrar os valores das PAS e PAD, complementando com a posição do indivíduo, o tamanho do manguito e o braço em que foi feita a medida. 5. Não arredondar os valores de PA para dígitos terminados em zero ou cinco. 6. Esperar 1 a 2 minutos antes de realizar novas medidas. A FC foi avaliada através de um freqüencímetro (marca Moviment, modelo A1) que estava acoplado adequadamente ao tórax do indivíduo. O visor ficou no braço do terapeuta para facilitar a monitorização deste parâmetro. 2.4
MENSURAÇÃO DA ESPIROMETRIA
A espirometria foi realizada através do espirômetro “Respiradyne II Plus”, seguindo as recomendações do “II Consenso Brasileiro de Espirometria” (PEREIRA, 2002). A técnica para a realização da prova espirométrica iniciou-se com a calibragem do aparelho e, posteriormente, adequação do posicionamento do indivíduo. Durante o teste, este foi posicionado sentado, ereto, com os pés apoiados no chão. Após devidamente posicionado, foi colocado no paciente um nasoclip (para impedir escape de ar) e o terapeuta solicitou ao indivíduo uma inspiração profunda, com esforço máximo seguida de expiração rápida e total (até o nível do volume residual). Para a interpretação do teste foram necessárias três curvas aceitáveis (realizadas com esforço máximo, sem tosse ou vazamento de ar), com início rápido e duração de 6 segundos de expiração (ou a ocorrência de um platô de, no mínimo, 1 segundo) podendo os maiores índices de CVF e VEF1 diferir de uma prova para a outra, no máximo, de 200 mililitros. Foi selecionada para interpretação a prova em que o paciente obteve os maiores valores de CVF e a maior soma de VEF1 e CVF. Os valores Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 111-125, jan./dez. 2006
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utilizados para análise foram obtidos através das tabelas com base em equações de regressão (equações de Knudson – altura e idade). 2.5
CAMINHADA NA ESTEIRA ERGOMÉTRICA
Foi realizada uma caminhada de 20 minutos na esteira ergométrica, marca Moviment, modelo LX-160, com o voluntário utilizando trajes adequados. Durante a caminhada, os voluntários foram solicitados a permanecerem em silêncio, sendo estabelecida uma intensidade equivalente a 4 equivalentes metabólicos. 2.6
ANÁLISE ESTATÍSTICA
A comparação da FC, PA e dos dados espirométricos CVF, VEF1 e VEF1/ CVF foi realizada pelo método estatístico teste t-student para comparação linear e cruzada (antes e após o exercício) entre os dois grupos estudados, sendo aceito como significante o valor de p<0,05. Os dados foram expressos por média ± desvio padrão da média.
3 RESULTADOS Todos os parâmetros estudados estão representados através de suas médias e desvios padrões da média. 3.1
AMOSTRA
O estudo realizado foi constituído por um grupo de 18 indivíduos com idade variando entre 20 a 30 anos, sendo 4 do sexo masculino e 14 do sexo feminino. Destes 18 participantes, 9 fizeram parte de um grupo controle “C” (jovens não fumantes) e o restante constituíram o grupo dos fumantes “F” (jovens fumantes). Os integrantes dos dois grupos foram considerados semelhantes quanto à idade, peso, altura, índice de massa corporal (IMC) e tempo de sedentarismo, conforme podemos visualizar na Tabela 1.
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119 Tabela 1 – Características da amostra em médias ± DP
GRUPOS DE ESTUDO
Idade (anos)
Peso (kg)
Altura (m)
IMC (kg/m2)
TS (anos)
Não-Fumantes GRUPO C
23,4 ±2,7
65,9 ±9,6
1,7 ±0,1
23,1 ±2,1
7,3 ±4,5
Fumantes GRUPO F
23,4 ±3,5
63 ±14,2
1,7 ±.0,1
22,3 ±3,5
6,2 ±5, 3
Nota: IMC – Índice de Massa Corporal; TS – Tempo de Sedentarismo.
3.2
FREQÜÊNCIA CARDÍACA
Conforme demonstrado no Gráfico 1, a FC foi mensurada em diferentes momentos: FC de repouso ou pré-exercício, FC máxima obtida durante o exercício e FC imediatamente após a interrupção do exercício. Em relação a FC de repouso, embora ela tenha sido discretamente maior no grupo “F” (92±7bpm) em relação ao grupo “C” (86±5bpm), esta diferença não foi significante. Assim como a FC de repouso, a FC pósexercício foi semelhante nos dois grupos avaliados (p=0,06). Entretanto, a FC máxima obtida durante o esforço foi significativamente maior (p= 0,014) no grupo “F” (144±12bpm) quando comparado ao grupo “C” (128±11.3bpm). Para efeito comparativo, foi avaliada a variação de FC (D de FC), ou seja, a diferença entre a FC máxima e FC de repouso em cada grupo (D FC= FC máxima – FC repouso). Neste parâmetro, a análise estatística demonstrou que valores significativamente maiores ocorreram no grupo “F” (51±7bpm) em relação ao “C” (41±8bpm), p= 0,025.
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Gráfico 1–Comparação da FC antes e após exercício, dados expressos através das médias±DP
3.3
PRESSÃO ARTERIAL
Em relação aos valores pressóricos, embora tenhamos observado valores maiores de PAS no grupo “F” tanto antes como após o exercício, esta diferença em relação ao grupo “C” não foi significante (p=0,07). Quanto a PAD, esta também foi semelhante nos dois grupos nos momentos estudados (p>0,05). 3.4
ESPIROMETRIA
Conforme podemos observar no Gráfico 2, ocorreu um pequeno decréscimo nos valores de VEF1 e VEF1/CVF nos dois grupos de estudo no momento pós-esforço em relação ao pré-esforço, porém, esta queda não foi significante (p>0,05). Desta forma, não foram detectadas diferenças entre os grupos quanto aos parâmetros espirométricos avaliados em nenhuma ocasião.
Gráfico 2 – Comparação dos parâmetros espirométricos antes (primeiras colunas) e após exercício (últimas colunas), com dados expressos através das médias±DP Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 111-125, jan./dez. 2006
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4 DISCUSSÃO Neste estudo foi avaliado o comportamento da FC, PAS, PAD e dos parâmetros espirométricos (CVF, VEF1 e VEF1/CVF) a níveis basais (repouso) e após o exercício, correlacionando-se os valores encontrados entre os dois grupos, tendo como linha de base comparações lineares e cruzadas entre as amostras. Através da comparação linear para um mesmo grupo, foram investigadas as alterações nos valores da amostra decorrente do exercício, analisando possíveis aumentos ou quedas desses valores quando comparados ao repouso, partindo da hipótese de que indivíduos fumantes são mais predispostos a alterações expressivas. Quando foi comparada a FC de repouso entre os grupos, foi observado que os fumantes apresentam-se com este parâmetro discretamente aumentado em relação aos não fumantes. Entretanto, este aumento não foi significante, o que talvez tenha decorrido do pequeno número de indivíduos que formavam a amostra. Sabe-se que uma das ações da nicotina sobre o sistema cardiovascular é causar liberação de catecolaminas com conseqüente ação vasoconstritora (direta ou indireta) e estimulação do sistema nervoso simpático (SNS), ocasionando aumento da FC (ROSEMBERG, 2001). Desta forma, esperávamos encontrar valores de FC mais elevados em fumantes mesmo em repouso, o que não ocorreu. Desta forma, acreditamos que possivelmente estes efeitos sejam mais evidentes em fumantes de longa data. Embora estas alterações não tenham sido detectadas em situações de repouso, os valores de FC máxima obtidos durante o esforço e a variação de FC (D de FC = FC máxima – FC repouso) foram significativamente maiores no grupo “F”, o que provavelmente é decorrente dos fatores relatados pelo autor supracitado. Dados apontam que a nicotina leva a um aumento de FC transitório, provocando um estresse hemodinâmico. Um indivíduo, após fumar um cigarro, tem seu metabolismo aumentado imediatamente, e seus batimentos cardíacos podem aumentar em média de 10 a 20 batimentos, sendo estes efeitos transitórios (CAMPOS, 1993).
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Pelo fato dos indivíduos fumantes abordados em nosso estudo terem sido orientados a não fumarem por apenas duas horas antes do teste, possivelmente existiam ainda baixos níveis de nicotina circulantes durante a realização do exercício, o que poderia justificar nossos resultados. Os efeitos hemodinâmicos da nicotina não estão bem elucidados, mas provavelmente incluem o aumento de FC associado a aumentos transitórios de PA, embora o tabagismo, isoladamente, não pode ser considerado um fator gerador de hipertensão (BENNET; PLUM, 1997). Apesar dos relatos dos efeitos cardiovasculares da nicotina, não encontramos estudos que descrevessem o comportamento da FC de fumantes jovens durante a prática de atividade física e, desta maneira, não podemos afirmar que a resposta obtida em nosso protocolo é a resposta que habitualmente ocorre em indivíduos com o mesmo perfil dos fumantes avaliados por nós. Em relação à PA, conforme esperado, todos os indivíduos deste estudo apresentaram valores basais compatíveis com normotensão, embora os valores médios de PA tenham sido pouco maiores no grupo “F”. Possivelmente, a longo prazo, estes fumantes desenvolvam alterações da PA, visto que o tabagismo acelera a aterosclerose, que é sabidamente um importante fator de risco para desenvolvimento de hipertensão arterial (VILLANOVA; PALOMBINI, 2001). Assim como a PA de repouso, a PA após exercício também foi apenas discretamente mais elevada no grupo “F”, provavelmente em decorrência dos maiores valores basais que foram encontrados. Entretanto, esta diferença entre os grupos não demonstrou significância. Quanto à análise da função pulmonar, embora os fumantes apresentassem valores discretamente reduzidos de VEF1, tanto em repouso como após o exercício, a análise estatística não detectou diferenças destes parâmetros entre os grupos. Em média, os dois grupos apresentavam valores espirométricos de CVF, VEF1 e VEF1/CVF normais, ou seja, maiores que 80% do predito nos dois momentos avaliados (pré e pós-exercício).
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Resultados semelhantes foram obtidos em outro estudo, onde os autores compararam a função pulmonar de 64 jovens fumantes com 84 jovens não fumantes. Os resultados desta pesquisa demonstraram valores normais de CVF, VEF1 e VEF1/CVF em todos os sujeitos estudados, sendo que a função pulmonar em fumantes não foi diferente de não fumantes (JARDIM, 2002). Conforme já citado em nossa pesquisa, o consumo de 25 ou mais cigarros diários causa uma queda de VEF1 de, em média, 50 a 70ml por ano, ou seja, o dobro do que ocorre com indivíduos não tabagistas (queda, em média, de 25ml/ano) (PAUWELS, 2002). Os indivíduos de nosso estudo fumavam geralmente 9,4 cigarros/dia, com tempo de tabagismo variando entre 5 e 15 anos. Esta informação talvez explique os dados obtidos em nosso estudo, ou seja, possivelmente os fumantes por nós estudados estão apresentando um declínio progressivo da função pulmonar, o que nos permite concluir que o curto período de tabagismo de nossos sujeitos não possibilitou quedas significativas o suficiente para serem detectadas pelo teste estatístico realizado. Não sabemos se o fato de a função pulmonar dos fumantes estudados não ter apresentado alterações significantes após o exercício é um achado esperado, visto que não encontramos estudos que avaliassem as respostas desta função em fumantes jovens após atividade física. Por meio dos dados obtidos, pudemos também concluir que nos fumantes avaliados, as diferentes respostas da FC em exercício apresentadas pelos fumantes podem ter decorrido dos efeitos cardiovasculares da nicotina. A resposta cardiovascular de fumantes jovens submetidos à atividade física não está ainda bem elucidada na literatura, sendo necessários estudos complementares para confirmarem nossos achados.
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ACUTE EFFECTS OF SMOKING ON PULMONARY AND CARDIOVASCULAR FUNCTIONS OF YOUNG SMOKERS DURING PHYSICAL ACTIVITIES ABSTRACT Previous studies have shown long term relevant effects of smoking on pulmonary and cardiovascular functions of smokers. However, it is not known whether the short term smoking period is enough to alter such functions and whether such alterations would cause different responses to physical activities on these individuals. Therefore, this paper aims to investigate possible alterations to sedentary young smokers in relation to physical exercises. In order to accomplish this task, 18 sedentary subjects, age ranging from 20 to 30 years, subdivided into 2 groups – control (C) and smoking (F) –, were studied. The C group was made up of 9 non-smokers with age average 23.4, in which 7 female and 2 male subjects. The F group was made up of 9 smokers, in which 7 female and 2 male subjects, with age average 23.4 years, and smoking average 66 cigarets/week. All subjects were evaluated while resting, during physical activities (20’ on the treadmill) and after such physical effort. Concerning the parameters taken into account: forced vital capacity (FVC), forced expiratory volume in 1st. second (FEV1), ratio FVC/FEV1, heart rate (HR) while resting and the maximum while exercising and blood pressure (BP) before and after physical effort. As a result, we have observed that the maximum HR was significantly higher for group F, whereas the remaining parameters were the same for both groups. From this data we concluded that the short term smoking period probably causes different cardiovascular responses to exercise, possibly due to the raising of catecholamine levels. Keywords: Smoking. Young sedentary. Cardiovascular. Pulmonary function.
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Correspondência para/reprint request to: Verônica Lourenço Wittmer Av. Estudante José Júlio de Souza, 1900/504 B Praia de Itaparica 29102-010 - Vila Velha - ES (Brasil) Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 111-125, jan./dez. 2006
A ASCARIDÍASE EM UM HOSPITAL PEDIÁTRICO DA GRANDE VITÓRIA E A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO CONTROLE DESSA PARASITOSE NÍVEA DENADAI1 EDNEY LEANDRO DA VITÓRIA 2 AMINADAB FRANCISCO DE SOUSA3 WILSON DENADAI4
RESUMO A Organização Mundial de Saúde (OMS), no ano de 2000, estimou em um bilhão e meio o número de pessoas infectadas por Ascaris lumbricoides, das quais 400 milhões apresentam sintomatologia, havendo cerca de 100 mil mortes concentradas em diversos países. Com base neste e em outros indicadores, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória de abordagem quantitativa retrospectiva, realizada no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória (HINSG), Espírito Santo, no ano de 2004. Foram identificados e quantificados todos os prontuários de internação em que constavam como um dos diagnósticos a ascaridíase e quantificadas todas as consultas de urgência e emergência por oclusão por A. lumbricoides na faixa etária de 0 a 18 anos. A pesquisa mostra alta prevalência do A. lumbricoides, tendo 110 casos de obstrução por A. lumbricoides apenas nas consultas de urgência e emergência. Os grupos etários mais acometidos foram o escolar e o pré-escolar. Foi concluído que a maioria da população estudada apresentava saneamento básico, sendo que 92,3% 1
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Especialista em Audiologia Clínica pelo Centro Universitário Vila Velha. Graduanda do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: niveadenadai@bol.com.br. Doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas da Universidade Federal de Viçosa. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: edney.vitoria@uvv.br. Especialista em Hematologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor da Faculdade Brasileira. E-mail: aminadab@univix.br. Mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo. Professor da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: wilsondenadai@ceunes.ufes.br.
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contavam com serviço de coleta do lixo, 92,5% dispunham de água tratada e 82,7% tinham banheiro. O grau de instrução que prevaleceu entre as mães das crianças acometidas foi o ensino fundamental incompleto (78,2%) seguido do analfabetismo (13%). Com este estudo, pretende-se mostrar que, além do saneamento básico a população necessita de educação em saúde e de um programa que intervenha efetivamente nos casos das enteroparasitoses, em especial a ascaridíase que se mostra com alta prevalência e nocividade principalmente entre as crianças. Palavras-chave: Ascaris lumbricoides. Complicações da ascaridíase. Enteroparasitoses. Casos pediátricos.
1 INTRODUÇÃO Contrastando com os avanços tecnológicos observados no fim do milênio, as parasitoses intestinais ainda constituem um grande problema de saúde pública, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde parasitas, como o Ascaris lumbricoides, são responsáveis pelos índices mais elevados de infecção (MACEDO; REY, 2000). A Organização Mundial de Saúde (OMS), no ano de 2000, estimou em um bilhão e meio o número de pessoas infectadas por A. lumbricoides, das quais 400 milhões apresentam sintomatologia, havendo cerca de 100 mil mortes concentradas nos países subdesenvolvidos da África, Ásia, Oceania e Américas (NEVES, 2003). Markell, John e Krotoski (2003) citaram, em sua obra, uma ilustração gráfica da densidade desse parasita apresentada por Stoll em 1947, que calculou uma produção total anual de 18.000 toneladas de ovos de A. lumbricoides pelos vermes que afetam apenas a população da China. Um editorial de 1989 da Lancet afirmou que a quantidade mundial de A. lumbricoides é tão grande que, se fossem colocados em fila, os vermes dariam a volta ao mundo 50 vezes. As infecções por esse parasita são encontradas nas regiões temperadas e tropicais de todo o mundo, e em situações de más condições sanitárias, praticamente 100% da população abriga o parasita (MARKELL; JOHN; KROTOSKI, 2003). A criança tem-se mostrado o principal alvo da infecção parasitária e é nela que as repercussões da parasitose tornam-se mais significativas (MACEDO; REY, 2000). No Brasil, mais Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 127-145, jan./dez. 2006
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da metade de pré-escolares e escolares encontram-se parasitadas (MARKELL; JOHN; KROTOSKI, 2003). Segundo Markell, John e Krotoski (2003), esta é a mais cosmopolita e a mais freqüente das helmintíases humanas. Neves (2003) destaca um estudo de algumas décadas atrás em que, mundialmente, a prevalência de crianças parasitadas por esse helminto alcançava 80%. Estima-se em seis a média de A. lumbricoides por pessoa, mas há registros na literatura de casos com 500 a 700 parasitas. As crianças pequenas são as mais pesadamente atingidas, razão pela qual a ascaridíase constitui importante problema pediátrico e social (REY, 2001). A ascaridíase é o parasitismo desenvolvido no homem por um grande nematóide, o A. lumbricoides, da família Ascarididae (REY, 2002). Para manter a enorme produção de ovos férteis, esses helmintos consomem grande quantidade de nutrientes, espoliando o hospedeiro; nutrem-se basicamente de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A e C (NEVES, 2003). Esse parasita vive no intestino delgado do homem, onde se nutre dos alimentos semidigeridos, do muco e das células do revestimento da mucosa intestinal. Na patogenia da ascaridíase, devemos considerar não só a localização das formas larvárias e adultas do parasita bem como número de lavras e as diferentes ações que exercem sobre o organismo (MORAES; LEITE; GOULART, 2000). Quando as larvas forem pouco numerosas e o paciente não apresentar hipersensibilidade aos produtos parasitários, as alterações hepáticas serão insignificantes e a reação pulmonar, discreta. Mas, se ocorrer uma infecção maciça, as lesões traumáticas, produzidas pela migração larvária por meio do parênquima hepático, irão causar pequenos focos hemorrágicos e de necrose, bem como reação inflamatória, mais acentuada em torno das larvas que aí ficam retidas e são destruídas. Em alguns casos, pode haver aumento de volume do fígado (REY, 2002). Nos pulmões, onde a interação das larvas com o órgão é maior e pode haver uma resposta imunológica mais intensa, as alterações patológicas podem ser mais pronunciadas, assim como as manifestações clínicas (NEVES, 2003). As larvas em sua migração pulmonar produzem alterações broncoalveolares decorrentes das hemorragias resultantes de sua libertação de dentro dos capilares para o parênquima e deste para a luz alveolar. As larvas móveis provocam intensa irritação, condiScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 127-145, jan./dez. 2006
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cionando, juntamente com bactérias de invasão secundária, processos inflamatórios transitórios, no caso de infestações isoladas ou persistentes em conseqüência de repetidas superinfestações (MORAES; LEITE; GOULART, 2000). Nas crianças ocorre, muitas vezes, um quadro denominado síndrome de Loëffler, há febre, tosse e eosinofilia sanguínea elevada, que persiste por muitos dias. O exame radiológico mostra os campos pulmonares semeados de pequenas manchas isoladas ou confluentes, que desaparecem espontaneamente dentro de poucos dias, sem deixar traços. Clinicamente há sinais discretos de bronquite, com estertores disseminados, à escuta dos campos pulmonares (REY, 2001). Segundo Rey (2002), em alguns casos, as lesões pulmonares chegam a ser graves, com quadros de broncopneumonia ou de pneumonia difusa bilateral, podendo o desfecho ser letal, particularmente nas infecções agudas maciças de crianças com pouca idade. Já os vermes adultos têm sua localização habitual no intestino delgado, onde provocam irritação na superfície da mucosa, resultando numa enterite crônica. Alguns sintomas relacionados com o sistema nervoso autônomo, como lipotimias e perturbações visuais, presumivelmente decorrem do atrito do helminto sobre a mucosa intestinal, excitando os neurônios dos plexos nervosos que inervam a parede do trato digestivo, logo se manifestam sintomas extra-intestinais como nervosismo, convulsões, sono intranqüilo, abaulamento do abdômen e sintomas intestinais como crises diarréicas, náuseas, sensação de desconforto e dores abdominais (MORAES; LEITE; GOULART, 2000). A ação irritativa desenvolvida pelos vermes diretamente sobre a parede intestinal ou seu acúmulo em volumosos novelos conduz, algumas vezes, à produção de espasmos e de obstrução intestinal, peritonite com ou sem perfuração do intestino, volvo ou intussuscepção (invaginação), com desenvolvimento de quadros dramáticos e extremamente graves, capazes de provocar a morte do paciente. Em crianças fortemente parasitadas, uma obstrução ao nível da válvula íleo-cecal pode ocorrer espontaneamente ou logo após um tratamento anti-helmíntico (REY, 2002). Segundo Moraes, Leite e Goulart (2000), em ocorrências mais raras, os exemplares aglomerados sob A. lumbricoides formam volumosas massas no interior do intestino que dilatam sua parede a ponto de rompê-la, provocando peritonite.
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Não é raro que um paciente elimine vermes pela boca ou pelo nariz quando há infecções maciças ou quando os vermes são irritados por alimentos ou drogas inclusive alguns anti-helmínticos. A capacidade de migração do verme adulto e sua tendência a explorar o interior de cavidades levam-no eventualmente a penetrar no apêndice cecal, onde sua ação obstrutiva e irritante determina um quadro de apendicite aguda. A literatura médica registra muitos casos de invasão das vias biliares, principalmente em crianças de 5 a 12 anos. Na maioria das vezes, um só verme foi encontrado, localizando-se de preferência no colédoco e mais raramente na vesícula. O quadro clínico simula colecistite, colelitíase ou angiocolite crônica. A invasão do fígado pelos vermes vem acompanhada da produção de abscesso hepático. Ao penetrar no canal pancreático, o A. lumbricoides pode determinar pancreatite aguda, sempre fatal em conseqüência de obstrução das vias excretoras do órgão. Exemplares imaturos ou adultos já foram encontrados na trompa de Eustáquio e ouvido médio, produzindo otites, e também no canal lacrimal e nas vias aéreas pulmonares. Há casos descritos de morte, produzida por asfixia e devido à obstrução traqueal (REY, 2001). Diante dessas complicações, não é difícil perceber que a ascaridíase merece maior atenção. Com esta pesquisa, pretende-se clarificar sobre a necessidade de intervenções para o controle dessa helmintíase e mostrar que o enfermeiro tem um importante papel, atuando no tratamento e na educação em saúde da população acometida. No Brasil, as enteroparasitoses figuram entre os principais problemas de saúde pública, e, no entanto, a investigação parasitológica tem sido amplamente negligenciada. Nas últimas décadas, têm sido observadas ligeiras reduções nas taxas globais de prevalência de diferentes infecções parasitárias, mas em contrapartida observa-se um sensível aumento do número absoluto dos casos (FERREIRA; MARÇAL JÚNIOR, 1997). Atualmente, no estado do Espírito Santo, o levantamento das enteroparasitoses é realizado por meio do Programa de Controle da Esquistossomose (PCE), cujos dados são obtidos apenas para a teníase, ascaridíase e ancilostomíase. Como essa investigação só é realizada com os indivíduos que se encaixam neste programa, muitos acometidos pela ascaridíase e por outras enteroparasitoses ficam ocultos, não mostrando a realidade do Estado.
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2 OBJETIVOS 2.1
OBJETIVO GERAL
Identificar a prevalência e a evolução dos casos de ascaridíase no ambiente hospitalar. 2.2
OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Quantificar as consultas de urgência e emergência por ascaridíase. • Quantificar as internações que têm como um dos diagnósticos a ascaridíase. • Identificar e quantificar as complicações clínicas dos casos de ascaridíase. • Quantificar os casos de ascaridíase que evoluíram para intervenção cirúrgica. • Quantificar os casos de ascaridíase que evoluíram para óbito. • Estabelecer relação dos casos de ascaridíase com as condições sócio-econômicas. • Destacar a importância do profissional de Enfermagem na prevenção e no controle da ascaridíase.
3 MÉTODOS Realizou-se uma pesquisa de caráter exploratório, de abordagem quantitativa retrospectiva, no HINSG, Vitória, Espírito Santo. Nesta pesquisa, foram identificados e quantificados os prontuários dos casos de internação em que constam como um dos diagnósticos a ascaridíase e foram quantificadas todas as consultas de urgência e emergência por oclusão por A. lumbricoides, no ano de 2004, na faixa etária de 0 (zero) a 18 (dezoito) anos. O critério de inclusão para o estudo dos casos de internação foi a presença de dados, ou seja, os casos que apresentaram o item “não informado” selecionado, não entraram na base de cálculo do aspecto estudado (grau de instrução, renda mensal, origem da água de consumo, presença de banheiro, destino das fezes, da urina e do lixo).
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3.1 MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO Por meio do Sistema de Informação Hospitalar (SIH), obtiveram-se os números de todos os prontuários que tinham como um dos diagnósticos a ascaridíase e o número de casos de consultas de urgência e emergência por oclusão por A. lumbricoides, no ano de 2004. Dos prontuários de internação coletaram-se dados como: sexo, grupo etário, localização (microrregiões de saúde), complicações clínicas dos casos (alterações pulmonares, alterações hematológicas, obstrução intestinal, alterações gastrintestinais, alterações hepáticas, alterações pancreáticas, localização ectópica e outras), evolução dos casos (alta sem cirurgia, alta com cirurgia, óbito), tempo de internação, grau de instrução do pai e da mãe, idade do desmame, tipo de moradia, número de cômodos, número de coabitantes, renda mensal, tratamento da água (encanada, poço, filtro, não informados, outros), presença de banheiro, destino das fezes e da urina (fossa, banheiro comunitário, esgoto, outros), destino do lixo (coleta pela prefeitura, céu aberto, aterro, não informados, outros). Os dados foram coletados e registrados em um formulário previamente estruturado. 3.2
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados coletados foram organizados em planilha, processados e analisados com o auxílio do programa estatístico Statistic Package for Social Sciences for Windows, versão SPSS 11.5 para Windows (SPSS Inc, Estados Unidos da América) e utilizados os gráficos do programa Microsoft Excel 2003. 3.3
ASPECTOS ÉTICOS
Toda pesquisa realizada no Brasil, que envolve seres humanos, deve ser redigida na forma proposta pela Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. Respeitando a referida resolução, esta pesquisa foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa do HINSG, juntamente com o termo de responsabilidade de utilização dos dados, sendo analisada e aprovada (VIEIRA; HOSSNE, 2002).
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS A população estudada foi composta por 36 casos de internações que tinham como um dos diagnósticos a ascaridíase. Porém, é importante Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 127-145, jan./dez. 2006
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ressaltar que esses, provavelmente, não são os únicos casos de ascaridíase no referido hospital, já que os exames parasitológicos não são realizados em todas as crianças que são internadas, mas apenas em casos que se correlacionam com a necessidade do exame. Dessa forma presumiu-se que, se todas as crianças fossem examinadas, a prevalência seria maior. Analisando os dados hospitalares já existentes no sistema de registro de pacientes do HINSG do ano 2004, concluiu-se que, dos casos de internação por parasitoses ocorridos no ano de 2004, a ascaridíase ocupou o primeiro lugar, com 36 casos (30%), seguido da escabiose (20%), toxoplasmose (13%) e outros (malária, leishmaniose, esquistossomose, ancilostomíase, trichiríase, oxiuríase, miíase, pediculose, amebíase, protozoários, giardíase), totalizando 37%, como pode ser observado no Gráfico 1.
Gráfico 1 – Prevalência da Ascaridíase entre as parasitoses constatadas no HINSG no ano de 2004
Várias pesquisas sobre parasitoses intestinais mostram que o A. lumbricoides prevalece entre outros parasitas. Numa delas, realizada em Minas Gerais, 5.360 indivíduos foram examinados e 44,2% estavam infectados, sendo o mais freqüente o A. lumbricoides (59,5%), seguido do Trichuris trichiura (36,6%), da Giardia lamblia (23,8%) e Schistosoma mansoni (11,6%) (ROCHA, 2000). Outra pesquisa realizada em São Paulo mostrou que nas 695 crianças estudadas, 30,9% estavam infectadas por algum enteroparasita, sendo os mais prevalentes o A. lumbricoides (16,4%), a Giardia lamblia (14,5%) e a Trichuris trichiura (12,5%), seguidos de outros parasitas (MONTEIRO et al., 1988). Mas não é só no Brasil que a ascaridíase vem prevalecendo entre as demais parasitoses. Na cidade de Roxas-Filipinas, 301 criScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 127-145, jan./dez. 2006
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anças foram examinadas e encontrou-se 64% de positividade geral para parasitose intestinal, sendo o parasita mais comum o A. lumbricoides com 51% de prevalência (KIM et al., 2003). Pesquisadas 283 crianças paquistanesas, 81% dos casos foram positivos para enteroparasitoses, e o A. lumbricoides foi o mais freqüente, contribuindo com 48% dos casos (AHMED et al., 2003). Nas 36 internações, 12 casos tiveram como motivo de internação a ascaridíase e apresentavam sinais e sintomas como: dor abdominal, vômitos com A. lumbricoides, diarréia, obstrução e perfuração intestinal por A. lumbricoides, eliminações do verme pela boca e narinas, abscesso hepático, apendicite e pancreatite. Os casos evoluíram 66,7% (8 casos) para alta sem cirurgia; 25% (3 casos) para alta com cirurgia, sendo estas, apendicectomia com ordenha de A. lumbricoides devido à grande quantidade em íleo terminal, enterotomia devido à perfuração por A. lumbricoides, e retirada do bolus de A. lumbricoides; 8,3% (1 caso) evoluiu para óbito devido ao A. lumbricoides. Entre as complicações direta ou indiretamente relacionadas à ascaridíase, a que apresentou maior incidência foi a alteração gastrintestinal (19%), seguida das alterações dermatológicas (17%), pulmonares e hematológicas (ambas com 15%), localizações ectópicas (14%) e outras, sendo elas: obstrução intestinal (6%), neurológicas (5%), hepáticas e infecciosas (ambas 2%) e alterações nutricionais, pancreáticas, cardíacas, ósseas e oftalmológicas com 1%, totalizando 20%, mostrados no Gráfico 2.
Gráfico 2 – Incidência das complicações nos casos de internação
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As complicações geradas pelo A. lumbricoides podem causar a morte e, segundo Rey (2002), a mortalidade por esse parasita na América Latina, África e Ásia é da ordem de 20 mil óbitos por ano, ocupando o décimo sétimo lugar como causa infecciosa de morte, à frente da Poliomielite, das Leishmaníases e Doença do Sono. Nesta pesquisa foram constatados 110 (cento e dez) casos de oclusão por A. lumbricoides, apenas nas consultas de urgência e emergência, sendo aqui excluídos os casos de internação. Segundo Rey (2001), o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo registrou 455 casos de obstrução intestinal por A. lumbricoides num período de 25 anos (1945 a 1970). Quando esse dado é comparado com os 110 casos de obstrução encontrados, supõe-se que a prevalência vem aumentando uniformemente em todo país ou que as taxas de enteroparasitoses no Espírito Santo estejam acentuadamente mais elevadas que as taxas encontradas em São Paulo. Doze (33,3%) dos trinta e seis casos apresentaram localização ectópica, sendo que 83,3% ocorreram nas fossas nasais e/ou boca. Rey (2001) relata que não é raro que um paciente elimine vermes pela boca ou pelo nariz quando há infecções maciças ou quando os vermes são irritados por alimentos ou drogas inclusive alguns anti-helmínticos. No que diz respeito às condições econômicas da população estudada, 39% do grupo pesquisado apresentou a renda familiar mensal de um salário mínimo, 26% de dois salários mínimos, 22% recebiam menos que um salário, 9% três salários mínimos e 4% quatro salários mínimos (Gráfico 3). Conforme cita Teodoro e outros (1988) em sua pesquisa, nota-se que este fator tem íntima relação com as taxas de parasitismo, pois entre os indivíduos que ganham um salário mínimo, o número de casos positivos é bastante superior aos negativos. Observa-se ainda que, à medida que a renda familiar cresce para dois, três ou mais salários mínimos, diminuem a taxas de parasitismo.
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Gráfico 3 – Renda familiar mensal
O pré-escolar (36%) e o escolar (36%) foram os grupos etários mais acometidos na população estudada, seguido do lactente (28%) (Gráfico 4). Rey (2002) afirma que a população infantil mais pesadamente infectada pelo A. lumbricoides é a pré-escolar e escolar. A maior incidência da parasitose em crianças é atribuída ao fato de elas estarem mais freqüentemente expostas ao contato com ovos, por brincarem no chão e por terem hábitos higiênicos mais pobres que os adultos.
Gráfico 4 – Grupos etários mais acometidos
Quanto ao saneamento básico, foi observado que o destino do lixo, na maioria dos casos, ficou por conta da coleta realizada pela prefeitura (92,3%). A água encanada (92,5%) prevaleceu e a presença de banheiro foi de 82,7%. Quanto ao destino das fezes e urina, 44% era esgoto, 32% fossas, 16% céu aberto e 8% banheiro comunitário. A pesquisa de
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Denadai (2004), realizada no bairro Santo André, Vitória, Espírito Santo, constatou que mesmo com a disponibilidade de água tratada, captação de esgoto e coleta de lixo, a comunidade manteve significativo número de parasitas. Apesar dos números mostrarem um predomínio do saneamento básico, observa-se que ainda é grande o número de domicílios com a presença de fossas (242.051 domicílios), destino aos rios, lagos e mares (53.737 domicílios), vala (44.027 domicílios), ausência de instalações sanitárias (21.762 domicílios) e outros escoadouros não discriminados (6.410 domicílios) no Estado, como mostra o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2000). Dos trinta e seis casos estudados, 44,4% são procedentes da microrregião de Vitória. Ambas as microrregiões da Serra e Vila Velha apresentaram 22,2%, seguidos de São Mateus (5,6%), Linhares (2,8%) e outros estados (2,8%). Lima e outros (1990) verificaram a relação entre condições habitacionais e a incidência de enteroparasitoses, concluindo a importância da conscientização das autoridades locais para que propiciem às famílias carentes a possibilidade de terem em suas residências uma instalação sanitária adequada, contribuindo diretamente com a melhoria do padrão de saúde. O nível de instrução que prevaleceu entre as mães das crianças acometidas foi o ensino fundamental incompleto (78,2%), seguido do analfabetismo (13%). Segundo Teodoro e outros (1998), quanto menor a escolaridade das mães maior a positividade de enteroparasitoses entre as crianças. Moraes, Leite e Goulart (2000) relatam que as possibilidades de infestação por A. lumbricoides aumentam à medida que decrescem os hábitos de higiene individual, tal como se nota nas crianças e nos adultos sujeitos à ignorância e ao pauperismo. O sexo que mais prevaleceu entre os doze casos de internação por ascaridíase foi o masculino, com 75%. A explicação para a maior prevalência da infecção helmíntica entre as crianças do sexo masculino deve ser encontrada no fato de os meninos estarem mais expostos ao ambiente peridomiciliar durante as atividades de lazer, sendo este Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 127-145, jan./dez. 2006
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ambiente sem pavimentação, facilitando o contágio através da inalação e ingestão da poeira contaminada por ovos de A. lumbricoides (PRADO et al., 2001). O tempo de internação que prevaleceu nos 36 casos estudados foi de 28,5% para um período de 6 a 10 dias. Tendo como motivo de internação a ascaridíase (12 casos), 41,6% tiveram a permanência de 1 a 5 dias seguido de 25% para uma permanência de 21 a 25 dias. É importante ressaltar que cada internação hospitalar realizada no Sistema Único de Saúde (SUS) em 1999 custou, em média, R$ 396,00, com variações de R$ 247,00 na região Norte a R$ 475,00 na região Sudeste. As internações para cuidados prolongados custaram, em média, cerca de 14 vezes mais, chegando a R$ 4.400,00 na região Sudeste, sendo estes dados de especialidade pediátrica (BRASIL, 1999). Já a medicação utilizada para o tratamento e profilaxia da ascaridíase, sendo sugerido o albendazol 400mg (dose única), custou 0,12 centavos (unidade) para o governo, numa compra realizada em 12 de setembro de 2005 pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2005a). O albendazol 400mg em dose única e 200mg para crianças com idade menor que dois anos mostra-se altamente eficaz e é considerado o medicamento de escolha no tratamento da ascaridíase e outros nematóides, com exceção dos Strongyloides stercoralis. Seus efeitos colaterais são mínimos, consistindo em diarréia e dor abdominal (MARKELL; JOHN; KROTOSKI, 2003). Yoshikae e outros (1996) e Zani e outros (2004), realizaram pesquisas para analisar a eficácia do albendazol e concluíram que o tratamento de seis em seis meses mostra-se eficaz, diminuindo a intensidade de infecção por A. lumbricoides. A base do controle dessa parasitose não consiste apenas em tratamento quimioterápico, mas em educação sanitária e na melhoria do saneamento ambiental, como mostra uma pesquisa realizada na Coréia, onde associaram estes três tipos de intervenções, as quais fizeram baixar a prevalência nacional de geo-helmintíases, no período de 1946-1971, de 80% para 46,4% a prevalência de A. lumbricoides em zonas urbanas, ressaltando que a administração de anti-helmíntico era realizada duas vezes por ano. Outra pesquisa realizada no Irã, em 1971, mostrou o impacto da quimioterapia e do saneamento básico contra a ascaridíase, tendo como resultados: apenas saneamento (redução na intensidade de 59,8%), apenas medicação (reduScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 127-145, jan./dez. 2006
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ção na intensidade de 81,1%), ambos os métodos (redução na intensidade de 87,7%) (REY, 2001). O Ministério da Saúde, no ano de 2005, lançou por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde o Plano Nacional de Vigilância e Controle das Enteroparasitoses, visto que os parasitas intestinais estão entre os patógenos mais freqüentemente encontrados em seres humanos, constituindo agravo importante à saúde. Dentre os helmintos, os mais freqüentes são os nematelmintos A. lumbricoides aqui pesquisado (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005). O Plano Nacional de Vigilância e Controle das Enteroparasitoses estará baseado na utilização de informações sobre prevalência, morbidade e mortalidade causadas ou associadas às infecções por estes agentes, gerando estudos analíticos desenhados a partir da avaliação epidemiológica dos dados registrados, visando à definição de estratégias para o controle das enteroparasitoses. Deverá ser instituído e constituído, respeitadas as áreas de competência e níveis governamentais, pelos órgãos que desenvolvem atividades de Vigilância Epidemiológica, Sanitária e Ambiental, Saneamento, Educação em Saúde, Diagnóstico e Assistência (BRASIL, 2005b).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a alta prevalência e os efeitos nocivos causados pela ascaridíase, fica clara a necessidade de intervenções para seu controle. Concordando com Rey (2001), a mais econômica e melhor forma de controle da ascaridíase é o tratamento dos grupos mais parasitados, que são os pré-escolares e escolares, como mostra o resultado da presente pesquisa. Fica sugerido que intervenções, como educação em saúde e administração de anti-helmínticos, sejam realizadas por meio de controles de saúde já existentes, quais sejam: o cartão de vacinação individual e o Programa de Saúde da Família. Essas intervenções seriam possíveis a partir da busca dos grupos etários acima citados, através das visitas dos agentes de saúde. Posteriormente, o registro das doses, seria realizado na Caderneta de Saúde da Criança, no local de anotações de “intercorrências clínicas e tratamentos efetuados”. Dessa forma, seria possível
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monitorar e encaminhar os indivíduos que ainda não tivessem recebido o anti-parasitário no posto de saúde de sua comunidade. A prescrição e a educação em saúde ficariam sob responsabilidade das equipes do Programa de Saúde da Família, sendo legalmente capacitados o médico e o enfermeiro, este amparado pela Lei n° 7.498/86, onde incube ao enfermeiro a, [...] prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde [...], assim como a [...] participação na prevenção e controle das doenças transmissíveis em geral e nos programas de vigilância epidemiológica [...] e [...] participação em programas e atividades de educação sanitária, visando à melhoria de saúde do indivíduo, da família e da população em geral [...] (BRASIL, 1986).
Vale ressaltar que a educação em saúde é de extrema importância para a consecução de bons resultados, e dependerá essencialmente do enfermeiro, que tem como uma de suas funções assegurar a implantação de hábitos saudáveis, tais como: beber água fervida ou filtrada; lavar os alimentos quando consumidos crus; lavar as mãos antes de comer e após utilização do sanitário; defecar sempre em latrina e, na sua falta, destinar as fezes para um local seguro, evitando a contaminação do ambiente peridomiciliar; realizar profilaxia, utilizando anti-helmíntico periodicamente; proteger alimentos contra poeiras, insetos e outros animais que possam ser vetores mecânicos de ovos; proscrição da matéria fecal humana como adubo; dentre outros. O enfermeiro deverá estar sempre desenvolvendo políticas de saúde, buscando meios que atendam às necessidades dos indivíduos assistidos, proporcionando permanentemente o combate das enteroparasitoses, mormente do A. lumbricoides, objeto específico deste estudo.
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ASCARIASIS IN A PEDIATRIC HOSPITAL OF THE GREAT VITÓRIA AND THE NURSE’S PERFORMANCE IN THE CONTROL OF THAT PARASITOSIS ABSTRACT The World Health Organization (WHO), in 2000, estimated in one billion and a half the number of people infected by Ascaris lumbricoides, of which 400 million present symptomatology, having about 100 thousand concentrated deaths in several countries. Based on this and on other indicators grew an exploratory research of retrospective quantitative approach, accomplished at the Infantile Hospital Nossa Senhora da Glória (HINSG), Espírito Santo, in 2004. All the internment handbooks were identified and quantified in which appeared as one of the diagnoses the ascariasis and quantified all the emergency appointments and emergency by occlusion due to A. lumbricoides in the age group from 0 to 18 years old. The research shows high prevalence of A. lumbricoides, having 110 cases of obstruction due to A. lumbricoides just in the emergency appointments. The most attacked age groups were the scholar and the preschool. It was concluded that most of the studied population presented basic sanitation, and 92,3% counted with service of collection of the garbage, 92,5% had treated water and 82,7% had bathroom. The instruction degree that prevailed among the attacked children’s mothers was the incomplete fundamental teaching (78,2%) following by the illiteracy (13%). With this study it is intended to show that besides the basic sanitation the population needs education in health and a program that intervenes indeed in the cases of the intestinal parasitosis, especially, the ascariasis that is shown with high prevalence and harmfulness mainly among the children. Keywords: Ascaris lumbricoides. Complications of the ascariasis. Intestinal parasitosis. Pediatric cases.
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Correspondência para/reprint request to: Edney Leandro da Vitória Av. Perimetral, 150/801 Coqueiral de Itaparica 29102-190 - Vila Velha - ES (Brasil)
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EDUCAÇÃO NUTRICIONAL EM SETOR EMPRESARIAL: PROMOÇÃO DE PRÁTICAS ALIMENTARES SAUDÁVEIS
ANA MARIA ROSALEM DAZZI1 ANA MARIA BARTELS REZENDE2
RESUMO Relato de uma pesquisa educacional na área de nutrição, desenvolvida em uma empresa de informática com o objetivo de conscientizar seus funcionários sobre a importância de se refletir acerca de hábitos alimentares, visando evitar algumas doenças deste século como o diabetes, os problemas cardiovasculares e a obesidade. Trata-se de uma pesquisaação, quali-quantitativa com intervenção. A duração do trabalho foi de nove meses, com um ou dois encontros mensais, desenvolvido de forma interativa natural, quando temas variados sobre estratégias de alimentação saudável propiciaram aos participantes novas informações e a consciência de que alimentar-se pode ser um ato prazeroso e saudável. O método adotado pela pesquisadora possibilitou-lhe liberdade de ação, de forma que, após observar o contexto empresarial da pesquisa, buscou fundamentação teórica em Freire - a conscientização para a transformação - e no construtivismo de Piaget. Resultados positivos foram observados após avaliação final, quando os registros de mudanças individuais e em grupo acerca de conceitos alimentares saudáveis, assim como novas práticas e relatos, foram adquiridos e analisados. Palavras-chave: Educação nutricional - pesquisa-ação. Transformação de práticas alimentares. 1
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Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário Vila Velha. E-mail: anadazzi@yahoo.com.br. Mestre em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: nutrição@uvv.br
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1 INTRODUÇÃO A melhoria da qualidade de vida está cada vez mais no âmbito de estudos da área da saúde, sendo que a alimentação constitui um de seus temas principais. No entanto, nem todas as pessoas têm consciência da qualidade e quantidade do alimento que consomem diariamente. Principalmente trabalhadores que passam a maior parte do dia nas empresas onde fazem a maioria de suas refeições. A alimentação constitui o elemento essencial na atividade humana. Trata-se de um fator importante para o bem-estar do indivíduo e é responsável pela sua manutenção psicológica, econômica e social. Devido a mudanças que vêm acontecendo nas categorias de consumo alimentar, pesquisadores e profissionais indicam necessidades de intervenções e dentre essas está a questão da educação nutricional, importante atividade do nutricionista. Muitos são os programas em educação nutricional embasados teoricamente em atingir mudanças de comportamentos através da consciência alimentar, de forma individual ou grupal, o que na prática torna-se difícil (CERVATO et al., 2004). Educar em nutrição é tarefa complexa. No campo da nutrição é preciso estar sempre buscando conhecimentos teóricos, importantes para tomadas de decisões que afetam a saúde e também analisam atitudes e condutas relativas ao universo da alimentação. Ao ampliar seus conhecimentos na área da alimentação o indivíduo adquire uma nova postura na sociedade, libertando-se de determinadas imposições vistas como necessárias e dependentes. Segundo Gouveia (1999), a educação nutricional, hoje, é objeto de inúmeras reflexões e questionamentos, pois sofre uma crise como todo sistema de ensino. Ela sofreu uma bifurcação em sua ideologia baseada nas pedagogias dominantes ou tradicionais e não-dominantes ou críticas. As dominantes podem ser do tipo tradicional e tecnicista. A tradicional tem, como figura central do processo educativo, o educador, que objetiva a ignorância de conhecimentos concretos em alimentação, sem contudo deixar de reconhecer um fator limitante da boa alimentação que é o poder aquisitivo. A tecnicista limita-se ao processo ensinoaprendizagem, através de técnicas facilitadoras não interferindo nas questões consideradas políticas. A educação nutricional tradicional tem como objetivo garantir o acesso às informações para obtenção de uma Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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dieta balanceada que conduza a um bom estado de saúde, usada como força homogeneizadora da sociedade. Conforme o mesmo autor, as pedagogias não-dominantes englobam as pedagogias libertadoras e a crítico-social, constituindo uma crítica às dominantes. Cada uma delas possui características próprias, mas ambas discutem a organização social, a exploração econômica das classes trabalhadoras e o modo de produção capitalista. A educação nutricional crítica baseia-se nas pedagogias não-dominantes que acreditam ser os problemas alimentares e nutricionais inerentes à sociedade capitalista, procurando questionar as razões da má distribuição dos recursos, dos meios de produção, armazenamento, distribuição e dos interesses conflitantes da sociedade. Freire (1996), um dos principais autores da pedagogia crítica e libertadora, considerou que a realidade social atual vem sendo marcada pelas novas tecnologias que estão dominando o entender humano de forma muito diversificada em uma comunicação universal. A distância deixou de ser obstáculo e as informações se cruzam sem dificuldade. O contato social, através dos meios de comunicação, abriu-se para o mundo e o homem como bom comunicador está usufruindo desta oportunidade, ampliando seus conhecimentos, seu contato com outros homens em toda parte do universo. Com o grande desenvolvimento tecnológico, esta comunicação tornou-se ampla e muito importante, mas está afastando cada vez mais o homem de pequenos grupos, do contacto físico, do calor humano e do amor. E, assim, cada vez mais o homem satisfaz suas necessidades, sua vontade de conhecer, de aprender, de crescer. A conscientização é uma forma de se proteger da opressão, buscando a transformação e procurando o melhor para si. Mas esta passagem de transformação deve ser um renascer não podendo permanecer como antes. Há de se mudar de atitude levando essa mudança para o seu ambiente. Mesmo que esta transformação seja diferente para cada indivíduo, ela é muito importante para o meio social em que ele habita (FREIRE, 1987). Nos tempos modernos, a maioria das pessoas faz suas refeições diárias fora de casa e, no restaurante, o comedor é que constrói a sua escolha, a partir de uma oferta mais ou menos aberta, diferentemente do contexto familiar em que tal decisão cabe à dona da casa (POULAIN, 2004).
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Com tantas mudanças sociais que se refletem na alimentação humana, aumentam as preocupações com relação à saúde e ao bem-estar do homem, despertando a necessidade de maiores estudos nesta área. Dentre estes estudos, incluem-se os de educação alimentar e nutricional. Para Boog (2004), a educação é inerente à vida. O ser humano aprende e se desenvolve ao longo de sua existência no esforço por responder aos desafios cotidianos. A educação acontece no cotidiano social e também por intermédio de ações de instrução e ensino planejadas por pessoas capacitadas para tal. A educação nutricional se insere na educação em saúde, devendo resultar em mudanças comportamentais específicas as necessidades e à situação de cada indivíduo (ABREU; MARTINS, 1997). O conhecimento em nutrição que gera mudanças positivas nos hábitos alimentares, introdução de melhores práticas higiênicas e uso mais eficiente dos recursos alimentares são objetivos da educação nutricional (MOTTA; BOOG, 1987). A educação nutricional dispõe de diversas abordagens pedagógicas, caracterizadas historicamente de acordo com o movimento político-social vigente. No Brasil, segundo Santos (2005), uma importante contribuição para a discussão sobre novas perspectivas da educação alimentar e nutricional se consolidou em meados de 1980, com a educação nutricional crítica. Tal concepção identificava haver uma incapacidade da educação alimentar e nutricional em, de forma isolada, promover alterações em práticas alimentares. A educação nutricional crítica baseavase nos princípios da pedagogia crítica dos conteúdos, de orientação marxista, considerando que a educação nutricional não é neutra, como também não pode seguir uma metodologia prefixada. Nessa perspectiva, essa vertente da educação nutricional pressupunha assumir o compromisso político de colocar nossa produção técnica e científica a serviço do fortalecimento das classes populares em sua luta contra a exploração que gera a fome e a desnutrição, problemas estes muito prevalentes naquela época no país. No final da década seguinte, o termo “promoção de práticas alimentares saudáveis” começa a marcar presença nos documentos oficiais brasileiros (SANTOS, 2005), reconhecendo-se a importância da alimentação saudável, completa e variada para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, cuja prevalência veio aumentando significativamente (BOOG, 1999). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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Inúmeras formulações teóricas do ponto de vista didático-pedagógico e conceitual sobre educação em saúde encontram-se disponíveis na literatura especializada. Em relação à educação nutricional, a literatura apresenta modelos relacionados ao conhecimento-atitude-prática, motivação, aprendizado social, processamento de informação para o consumidor, planejamento de comunicações, ação social e comunitária, difusão de informações e modelos integrados, sendo que todos apontam para a complexidade da mudança do comportamento alimentar, para a interação dinâmica entre as variáveis relacionadas e para a importância de um processo planejado sistematicamente, visando à elaboração de intervenções (CERVATO et al., 2004). A despeito do reconhecimento do alcance da educação em saúde/educação nutricional como medidas coletivas para a promoção de hábitos alimentares saudáveis, são raras as experiências documentadas sobre os programas e as atividades de educação nutricional no Brasil. Outro problema é que a maioria dos estudos realizados sobre atividades, ações e programas de educação nutricional não menciona o referencial teórico que subsidiou a ação educativa (CORDEIRO et al., apud CERVATO et al., 2004), tornando difícil a validação dos mesmos. A realização deste trabalho sobre educação nutricional em empresas surgiu a partir de um convite de uma empresa do setor de informática, localizada no município de Vitória, Espírito Santo, para a elaboração de cardápios a serem utilizados no momento do lanche, num projeto denominado “Hora da Fruta”, cujo intuito era estimular o consumo de frutas e também fazer do momento do lanche uma oportunidade de integração entre os funcionários. Como na empresa não existe serviço de alimentação, os funcionários fazem sua alimentação em restaurantes, com o vale alimentação que recebem. O profissional de nutrição foi convidado para elaborar e implementar os cardápios dos lanches, considerando a variedade das frutas, seu valor nutricional e a higiene adequada. Estudos específicos em educação nutricional não são tão freqüentes na literatura, o que dificulta muitas vezes a determinação do método em trabalhos, sendo que a maior parte dos estudos encontrados utiliza métodos tradicionais. Com base nos conceitos enunciados anteriormente, optou-se por realizar um trabalho de educação nutricional diferente dos métodos tradicionais a partir de uma pedagogia crítico-libertadora, considerando que Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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educar é um processo de mudança entre educador-educando e ser educador é um processo permanente de mudança quanto aos conhecimentos, atitudes e ações. A educação nutricional em empresas, objeto desse estudo constituiu um trabalho direcionado ao bem-estar dos funcionários para uma boa qualidade de vida e melhor desempenho profissional. Um projeto com a preocupação em desenvolver a consciência sobre uma alimentação equilibrada para manutenção de vida saudável.
2 OBJETIVOS O objetivo geral desse estudo foi empreender e relatar uma experiência de promoção e reeducação de práticas alimentares saudáveis entre funcionários do setor empresarial, implementadas por estratégias de educação nutricional interativas, construtivistas e transformadoras do comportamento, mediante uma metodologia de pesquisa-ação. Propôs-se, inicialmente, conhecer o perfil nutricional e alimentar dos funcionários, por levantamento antropométrico e dietético, a fim de implementar métodos de educação nutricional respeitando a aceitação e o desempenho pessoal, cultural e familiar dos educandos. Propôs-se, ainda, conscientizar sobre a importância da qualidade e quantidade do alimento consumido diariamente para o melhor desempenho na vida pessoal e profissional, desenvolvendo consciência crítica alimentar, através de informações sobre os alimentos mais importantes e saudáveis para a promoção da saúde e prevenção de doenças.
3 CASUÍSTICAS E MÉTODOS Por tratar-se de um trabalho voltado à conscientização e à construção de novos conceitos alimentares, buscou-se um método com maior interação sujeito/educador, não utilizando uma única técnica ou um único modelo e sim dando oportunidade a um trabalho voltado à liberdade de ação do educador quanto aos métodos utilizados, numa metodologia qualificada como pesquisa-ação. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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Uma pesquisa pode ser qualificada como pesquisa-ação quando houver uma ação por parte dos grupos ou pessoas inseridos no problema sob observação. Na pesquisa-ação os pesquisadores desempenham um papel ativo nos problemas encontrados, tanto no acompanhamento como nas avaliações das ações criadas em função dos problemas (THIOLLENT, 1996). Para Engel (2000), a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa considerada oposta à tradicional, do tipo “independente”, “não reativa” é “objetiva”, isto é, procura unir a pesquisa à ação ou prática, desenvolvendo o conhecimento e a compreensão como parte da prática. Portanto, sendo uma maneira de se fazer pesquisa em situações em que também se é uma pessoa da prática e se deseja melhorar a compreensão desta. Os sujeitos do estudo foram selecionados entre os funcionários de uma empresa de consultoria de informática, composta por cento e dez funcionários. Participaram deste projeto trinta e um (28,2%) funcionários. O estudo teve início três meses após o lançamento do projeto lanche a “Hora da Fruta”, sendo realizado duas vezes ao mês, utilizando-se para os trabalhos de educação nutricional os vinte minutos dispensados para esse lanche. Realizou-se o trabalho em onze encontros, durante nove meses. A fundamentação teórica para elaboração dos procedimentos educativos foi baseada na prática pedagógica recomendada por Paulo Freire e Piaget, citados por Carvalho (1996). O primeiro propõe uma maior interação sujeito/educador buscando a transformação e Piaget adota uma epistemologia construtivista em que a assimilação provoca mudanças, transformando através do conhecimento. Realizou-se, ainda, avaliação antropométrica e dietética com os participantes do estudo, como estratégia para conhecimento e interação com o grupo. Para a avaliação antropométrica, a estatura foi aferida em estadiômetro portátil marca Alturaexata com 2,13cm. O avaliador posicionou-se à direita do avaliado, estando este descalço, em pé, posição ereta, braços estendidos ao longo do corpo, pés unidos e em contato com o instrumento de medida estavam os calcanhares, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital. A cabeça orientada com o olhar na linha do horizonte. A medida foi realizada com o cursor em ângulo de 90º em relação à escala (FERNANDES FILHO, 2003). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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O peso e a percentagem de gordura dos membros inferiores foram aferidos, utilizando-se a balança de bioimpedância (BI) (marca Plenna – Body Fat Analyzer – model No: FS-060 – Rating: DC9V – H. K. Design NO: 9910469.3, M001), em que o avaliador, após ter digitado a idade e a altura do avaliado, obteve, digitalmente, o seu peso e percentual de gordura corporal. O avaliado estava descalço e com roupas leves. Para medidas da circunferência da cintura e do quadril, utilizou-se fita antropométrica inelástica marca Sanny – 2 metros. Para a aferição da circunferência da cintura, o avaliador posicionou-se de frente para o examinador, colocando a fita métrica horizontalmente ao redor da cintura natural ou na menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca, procurando sempre a melhor posição para se obter a melhor precisão possível. E para a aferição da circunferência do quadril, a fita métrica foi posicionada ao redor da região do quadril na área de maior protuberância, sem comprimir a pele. A relação cintura/quadril (RCQ) é um indicador amplamente utilizado na caracterização da distribuição da gordura corporal. A proporção indica a quantidade de gordura no torso e reflete a proporção da obesidade na parte superior do corpo observada em relação à parte inferior (FERNANDES FILHO, 2003). O acúmulo de gordura na região central do corpo está associado com o aumento de doenças crônico-degenerativas. Assim, a razão cintura/quadril tende a ter alto poder de predição das doenças metabólicas crônicas. O cálculo desta variável é feito pela simples divisão do perímetro do abdome pelo perímetro do quadril. Com o resultado pode-se avaliar a tendência ao acúmulo de gordura na região central do corpo, o que indica maior risco à saúde (COSTA, 2001). RCQ = circunferência da cintura em cm circunferência do quadril em cm
Homens Mulheres
<0,95 <0,80
Quadro 1 – IRAQ Nota: IRAQ - Índice de Relação de Gordura entre os Perímetros da Cintura e do Quadril. Fonte: Fernandes Filho (2003).
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Segundo Fernandes Filho (2003), o Índice de Massa Corporal (IMC) é, considerado o mais popular, o índice de estatura e peso tem sido usado por diversas categorias de pessoas com respeito à aptidão física e grau de obesidade. É um dos métodos mais simples e de baixo custo. Para sua realização, é requerido um simples cálculo, em que IMC = Peso/Altura². Baixo peso Normal Sobrepeso Obesidade classe I Obesidade classe II Obesidade classe III
< 18 18,5 – 24,9 25,0 – 29,9 30,0 – 34,9 35,0 – 39,9 = 40
Quadro 2 – Parâmetros de IMC Fonte: Mahan (2002).
O questionário de freqüência alimentar foi elaborado com base na pirâmide alimentar da FAO/OMS. Utilizou-se somente questões objetivas para apurar a freqüência de consumo, de 1 a 6 vezes ao dia, para cada grupo de alimentos expostos na Pirâmide, conforme formulário. O grupo de funcionários recebeu todas as informações necessárias ao preenchimento, que aconteceu individualmente e sem a interferência do educador, todos ao mesmo tempo e no mesmo dia. Como procedimento ético, por se tratar de pesquisa envolvendo seres humanos, todos os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme preconizado pela Portaria MS 196/96. Os dados foram computados e apresentados descritivamente e ilustrados em quadros, tabelas e gráficos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO RELATOS: ALTERNATIVA DE APRESENTAR UMA VIVÊNCIA EM EDUCAÇÃO NUTRICIONAL Os resultados do estudo foram se apresentando aos olhos e à percepção do investigador-educador, a cada nova abordagem educativa proScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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posta e contraposta pelos sujeitos da ação educativa, como resultados de uma pesquisa-ação e da metodologia para ela eleita, e nem sempre foi possível identificar e separar ação (objetivo) de resultados dessa ação. Optou-se, assim, por um relato sistematizado cronologicamente em termos de todos os encontros promovidos para a realização das atividades de educação nutricional e do que cada encontro representava na transformação da consciência que o educador e educando iam formando sobre as informações, conhecimentos, necessidades e curiosidades que se manifestavam sobre alimentação, nutrição e saúde. 4.1
PRIMEIRO ENCONTRO
O primeiro encontro foi elaborado com uma metodologia de caráter mais técnico e informativo, utilizando-se de recursos de multimídia, já que o próprio ambiente oferecia esta facilidade. A intenção deste foi verificar o grau de aceitação do Projeto entre os sujeitos e ao mesmo tempo conhecer o grupo de trabalho que ali se formava. A introdução sobre alimentação saudável foi realizada utilizando a Pirâmide dos Alimentos, considerada instrumento essencial para entender as questões alimentares (Quadro 3). TEMA
Introdução à alimentação saudável
RECURSOS DIDÁTICOS Pirâmide dos alimentos. Apresentação em multimídia.
DESENVOLVIMENTO Os três grupos alimentares: energéticos, reguladores e construtores. As quatro leis da alimentação: lei da quantidade, da qualidade, da harmonia e da adequação.
Quadro 3 – Introdução alimentar
Respaldado nas bases teóricas já estudadas com relação às técnicas pedagógicas de ensino em educação nutricional e pela avaliação observada nesse primeiro encontro, em que o grupo mostrou-se desinteressado e disperso, buscou-se, então, recursos nas pedagogias críticas não-dominantes na expectativa de melhorar o interesse e alcançar uma maior interação sujeito-educador.
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4.2
SEGUNDO ENCONTRO
A previsão para o segundo encontro, seria a de fazer a avaliação antropométrica para conhecer as condições nutricionais do grupo e criar as estratégias de ensino, mas diante da experiência do primeiro encontro foi preciso refazer o planejamento em um momento mais interativo, buscando criar um clima de confiança e amizade entre educador-educando. Além do que, a empresa não poderia ceder um espaço físico específico para esta avaliação, que deveria ser realizada no local do lanche. A metodologia utilizada foi embasada teoricamente no construtivismo e na utilização de recursos concretos, buscando transformação na criação de novos conceitos quanto às práticas alimentares. Optou-se por trabalhar um tema relacionado às dificuldades que as pessoas apresentam nas compras dos alimentos, refletindo sobre seu comportamento nos supermercados, melhor horário para efetuar as compras e importância de habituar-se a ler os rótulos (Quadro 4). TEMA
Como fazer as compras e o que deve constar no rótulo das embalagens
RECURSOS DIDÁTICOS
Embalagens vazias de alimentos trazidas, por eles e pela aluna.
DESENVOLVIMENTO Melhor comportamento dentro do supermercado. Melhor horário para fazer as compras e algumas dicas. Criar o hábito de ler os rótulos e as orientações nutricionais neles contidas.
Quadro 4 – Rotulagem
A avaliação para esse encontro pode ser considerada eficiente, pois despertou interesse e, ao contato com as embalagens dos alimentos, todos desejavam satisfazer suas dúvidas iniciando, assim, um clima de confiança e o reconhecimento da importância de se conhecer mais sobre os alimentos consumidos. 4.3
TERCEIRO ENCONTRO
Para o terceiro encontro foi realizada a avaliação nutricional, conforme metodologia descrita anteriormente. Neste momento, a atividade de avaScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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liação antropométrica foi bem aceita por todo o grupo, por já se sentir motivado para as atividades do estudo, sendo possível contar com a colaboração até mesmo dos diretores, que cederam espaço e tempo adicional para o acontecimento, visto que essa avaliação não poderia ser realizada somente durante o tempo utilizado para o lanche, como previsto anteriormente. Criou-se então uma escala com início uma hora antes do lanche, onde os funcionários se dirigiam até o local, realizavam suas medidas e retornavam ao trabalho, alternando a vez com os demais até o horário do lanche. O Quadro 5 resume as atividades e os recursos utilizados nesse encontro. TEMA
Avaliação antropométrica
RECURSOS DIDÁTICOS
Balança de bioimpedância. Fita métrica. Estadiômetro.
DESENVOLVIMENTO A amostra foi composta por trinta e um funcionários, entre 22 e 53 anos, sendo dezenove do sexo masculino e doze do sexo feminino. A adesão ao projeto foi voluntária, sendo garantido o sigilo quanto à identificação dos dados individuais.
Quadro 5 – Avaliação antropométrica e alimentar
4.4
QUARTO ENCONTRO
Após o terceiro encontro, criou-se maior proximidade com o grupo e também uma comunicação via e-mail, para sugerir os assuntos de maior interesse a serem abordados no encontro seguinte, como também eram comunicados, no dia do encontro, o assunto e o lanche que iriam saborear, pois este estaria elaborado de acordo com o assunto estudado. Além da apresentação dos resultados antropométricos (Quadro 4 e item 5.4.1), a importância desse encontro foi mostrar a necessidade do organismo humano em receber como alimentos diários: as hortaliças e as frutas, em maiores quantidades relacionadas a outros alimentos que devem ser ingeridos com controle e moderação.
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RECURSOS DIDÁTICOS
TEMA Resultado da avaliação antropométrica.
Apresentação com multimídia dos gráficos e tabelas.
Apresentação do tema: prevenção de doenças (câncer e obesidade)
DESENVOLVIMENTO Apresentação dos resultados da avaliação antropométrica. Comentário sobre as doenças relacionadas à alimentação como a obesidade e o câncer. Prevenção. Exemplos de alguns alimentos importantes na prevenção e o que é uma alimentação saudável.
Quadro 6 – Resultados
Para apresentar os resultados da avaliação antropométrica foi necessário utilizar recursos visuais descritos no Quadro 4 e, nesse momento, foi possível observar uma reação similar a do primeiro encontro, corroborando a necessidade de utilização de uma metodologia transformadora, de uma pedagogia crítica em educação nutricional para os próximos encontros futuros. Observou-se ali a necessidade de sair da rotina, pois se iniciava no momento dos encontros a oportunidade de desviar o pensamento para algo prazeroso e importante em suas vidas. 4.4.1 Avaliação antropométrica e do inquérito de freqüência alimentar Os resultados da avaliação antropométrica referentes ao IMC e a % de gordura corporal estão ilustrados nos Gráficos 1 e 2, respectivamente. Homens 19 (61,3%)
Mulheres 12 (38,7)
Gráfico 1 – Distribuição da população do estudo em relação à classificação do estado nutricional pelo IMC, segundo o sexo Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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Dos 31 funcionários que participaram do trabalho, (61,3%) são do sexo masculino. Entre esses, 31,5% foram classificados como normais, em relação ao IMC, 47,4% como sobrepeso, 15,7% como obesidade classe I e 5,3% obesidade classe II. As mulheres representaram 38,7% da população do estudo, sendo que 83,3% foram classificadas como normais, 8,3% como sobrepeso e 8,3% obesidade classe I. Os resultados apresentados nessa população mostram dados preocupantes principalmente quanto ao sexo masculino com taxa de obesidade muito alta em relação à prevalência nacional de obesidade, enquanto o resultado para as mulheres são mais compatíveis com as pesquisas mais recentes. A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF 2002-2003), em sua mais recente edição, revela que o excesso de peso está presente em 38,8% da população brasileira adulta, independente de sexo, e que a obesidade atinge 8,9% dos homens e 13,1% das mulheres. O excesso de peso tende a aumentar com a idade, de modo mais rápido para os homens e, para as mulheres, de modo mais lento, porém mais prolongado (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004). Em relação ao percentual de gordura corporal, 52,6% dos participantes do sexo masculino foram considerados normais; 36,8% acima do normal e 10,5% magros. Entre o sexo feminino 75% foram classificadas como normais; 10,6% acima do normal e 8,3% magro. Homens
Mulheres
Gráfico 2 – Distribuição da população do estudo em relação à porcentagem de gordura corporal, pela bioimpedância de membros inferiores, segundo o sexo
Quanto à relação cintura/quadril, de acordo com os resultados apresentados na Tabela 1, nenhum participante do estudo apresentou relação de risco para doenças crônicas e degenerativas. Este resultado está sujeito a, pelo menos, duas análises: primeiro, a de que a média de idade da
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população do estudo, que foi de 22 a 30 anos, caracteriza uma população adulta jovem, em que o acúmulo de gordura na região central do corpo ainda não foi evidenciado. Segundo, que o índice cintura/quadril pode não refletir a relação esperada, justamente pelo fato de que a circunferência da cintura ainda não atingiu proporções que resultem numa relação positiva com o risco de doenças crônicas e degenerativas. Nesse sentido, a utilização apenas da circunferência da cintura poderia ser um indicador mais apropriado para essa população. A localização de gordura principalmente na região abdominal ao redor da cintura pode indicar mais problemas de saúde do que se a maior parte da gordura estiver nas coxas e quadris. Isso vale mesmo se o índice de massa corporal estiver na faixa considerada normal. Mulheres com uma medida da cintura de mais de 88 centímetros ou homens com a medida da cintura de mais de 100 centímetros podem ter maior risco de sofrer enfermidades do que aqueles com menor medida de cintura (PESO..., c2005). Tabela 1 – Distribuição da população de estudo quanto à relação cintura/quadril, segundo o sexo e a idade
SEXO
HOMENS
MULHERES
SUBTOTAL
RC/Q
Nº
%
Nº
%
Nº
%
< 0,95 < 0,80 TOTAL
19 19
61,3 61,3
12 12
38,7 38,7
19 12 31
61,3 38,7 100
A análise dos resultados da avaliação antropométrica e da freqüência de consumo dos alimentos dos participantes do estudo discutidas acima promoveu um conhecimento maior do estado nutricional e do comportamento alimentar do grupo, propiciando uma seleção dos temas e de estratégias de ensino mais apropriadas à realidade e à necessidade dos mesmos para as abordagens educativas subseqüentes. Os resultados da avaliação dietética por meio do questionário de freqüência alimentar (Tabela 2) não foram elucidativos dos hábitos alimentares diários dos sujeitos do estudo e demonstrou uma aparente adequação no consumo dos diversos grupos de alimentos. O fato das maiores freqüências de consumo terem se concentrado na resposta 1 a 2 vezes ao dia, para a maioria dos grupos de alimentos, pode ser indicativo da utilização de um pequeno número de refeições (cerca de 2 refeiScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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ções ao dia), que é considerada uma prática alimentar pouco saudável, porém comum entre trabalhadores, principalmente entre os que não possuem serviço de alimentação em seus locais de trabalho. Tabela 2 – Distribuição de freqüência alimentar diária dos grupos de alimentos da pirâmide alimentar
Alimentos
Não Consome (%)
1 a 2x Raramente ao dia (%) (%)
3 a 4x 5 a 6x ao dia ao dia (%) (%)
Massas, biscoitos, pães e cereais
-
3,2
93,5
3,2
-
Verduras, legumes e leguminosas
3,2
6,5
87,1
-
3,2
Frutas
-
6,5
87,1
3,2
3,2
Produtos lácteos: queijo, leite, etc.
-
29,3
67,8
3,2
-
Carnes
-
19,4
77,3
-
3,2
Embutidos e enlatados
6,4
80,6
16,2
-
-
Fast Food
19,4
74,4
9,7
-
-
Condimentos
9,6
61,2
38,7
-
-
Frituras
9,5
67,7
22,5
-
-
Doces
13,2
48,5
45,2
3,2
-
Bebidas alcoólicas
35,5
64,5
-
-
-
Produtos light e diet
19,3
54,8
22,5
3,2
-
Uso do sal à mesa
35,5
45,2
12,9
3,2
3,2
4.5
QUINTO ENCONTRO
A partir do quinto encontro ficou ainda mais evidente a importância de se trabalhar com o grupo na perspectiva de uma pedagogia crítico-social, num contexto real, partindo de situações concretas para satisfazer as suas ansiedades e atingir assim um aprendizado positivo. Os temas abordados foram então sendo propostos a partir da observação da moScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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tivação que representava o lanche, sempre programado de acordo com o tema e de forma a produzir um elemento “surpresa”, aumentando a curiosidade e a vontade de degustar os alimentos que, para muitos, eram novidades. TEMA
RECURSOS DIDÁTICOS
Importância das fibras alimentares e suas fontes
A utilização dos produtos em suas embalagens, um lanche com pão integral caseiro e bolo integral, acompanhado de suco de melancia, goiaba e maracujá.
DESENVOLVIMENTO Conceito. Fibras solúveis e insolúveis. Valor fisiológico. Fontes. Recomendações nutricionais. Receitas dos alimentos integrais servidos no lanche.
Quadro 7 – Fibras alimentares
O contato com o alimento em suas embalagens e provar as receitas preparadas foi uma experiência interessante e muito bem aceita pelo grupo, despertou muito interesse e curiosidade em conhecer melhor as fontes nutricionais e a forma de preparo. Muitos demonstraram admiração em relação ao sabor, visto que até o momento não haviam provado por preconceito ou falta de informação. 4.6
SEXTO ENCONTRO
A experiência de utilizar o lanche como motivação foi muito proveitosa, pois a cada encontro observava-se o aumento de interesse e se despertava, durante os lanches, o gosto pelos alimentos naturais e a aceitação por uma alimentação mais saudável. O assunto abordado nesse encontro foi sugestão do grupo, por isso muitas dúvidas foram apresentadas tanto de forma individual quanto em grupo. Percebeu-se um alto grau de motivação e adesão ao assunto, visto que, ao final do encontro, ainda havia muitas perguntas, tornando-se difícil encerrá-lo.
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TEMA
As vitaminas e suas funções
RECURSOS DIDÁTICOS Salada de frutas contendo banana, laranja, mamão, maçã e uvas, sendo degustada durante a palestra.
DESENVOLVIMENTO Conceito. Histórico. Necessidades fisiológicas. Classificação. Tipos. Fontes.
Quadro 8 – Vitaminas
A cada encontro seguinte era possível observar que a metodologia definida estava dando resultado e que poderia ser mantida, pois certamente conceitos sobre uma boa alimentação já estariam sendo formados. 4.7
SÉTIMO ENCONTRO
Esse encontro foi muito importante, pois a técnica utilizada agradou até mesmo os indivíduos que nos encontros anteriores mostravam-se menos interessados. Talvez por ter sido possível fazer uma análise de si próprio. A técnica utilizada foi em grupos de dez pessoas, observar e discutir sobre o valor calórico dos alimentos de um cardápio realizado para um dia, para uma pessoa saudável, contendo 2000kcal. Nesse cardápio continha café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar, sendo possível entender sobre valor calórico dos alimentos e comparar com os alimentos consumidos durante o dia de cada indivíduo presente no grupo. E, no momento do lanche, cada um pode preparar a sua porção, já com as noções das quantidades calóricas que iriam ingerir naquele momento. Solicitou-se que os modelos de cardápios utilizados na dinâmica fossem enviados por e-mail para serem melhor analisados individualmente. Também se despertou a vontade de conhecer o trabalho do nutricionista e, nesse sentido, foi orientada a consulta com um profissional de Nutrição com atuação na área clínica.
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TEMA
RECURSOS DIDÁTICOS Fichas com um modelo de cardápio contendo 2000kcal/ dia.
Valor energético dos alimentos
Lista de substituições de alimentos. Lanche contendo pão de forma, pão integral, patê de atum com maionese, geléia e suco de manga.
DESENVOLVIMENTO
Formaram-se grupos para analisar o modelo de cardápio, discutir e avaliar sobre as quantidades ingeridas diariamente pelo grupo. Preparação individual do lanche para melhor analisar as quantidades.
Quadro 9 – Valor energético dos alimentos
4.8
OITAVO ENCONTRO
O assunto prevenção de doenças sempre desperta muito interesse, mas para que houvesse maior assimilação devido à grande importância do tema na prevenção de doenças relacionadas à alimentação e nutrição, é que esses tópicos foram programados para serem discutidos com o grupo mais amadurecido, já transformado e com um acúmulo de novos conceitos sobre alimentação. Isso pode ser constatado pela observação e análise da participação e da discussão que aconteceu após o encontro, onde os sujeitos do estudo, numa interação mais completa com o educador, demonstraram que a informação já não partia somente dos conteúdos abordados nos encontros, mas vinha de diversos outros caminhos, visto que o interesse despertou a curiosidade e os levou a pesquisar em outras fontes. E foi possível uma troca construtiva para um aprendizado mútuo. O educador é um permanente aprendiz, e a pesquisa reforça a ação. Principalmente quando os sujeitos são incentivados e orientados para tal, há maior possibilidade de crescimento e aprimoramento do aprendizado no âmbito geral.
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RECURSOS DIDÁTICOS
TEMA
DESENVOLVIMENTO Definição.
Prevenção de doenças (hipertensão)
Lanche contendo pão de forma, queijo cottage, requeijão cremoso. Sachê de sal (1g).
Quantidades diárias. Histórico do brasileiro. Prevenção. Alimentos que devem ser consumidos com moderação. Discussão sobre as novidades pesquisadas por eles na internet.
Quadro 10 – Hipertensão
4.9
NONO ENCONTRO
Continuando com o assunto “prevenção de doenças” pode-se observar uma transformação não somente nos sujeitos individualmente, como também no grupo. Acontecia uma preocupação com o outro, como forma de cuidar do colega de trabalho, demonstrando seu aprendizado até mesmo nos momentos de brincadeiras, na descontração na hora do lanche e nos comentários sobre o almoço no restaurante, onde ocorriam as refeições, elogiando as mudanças ao preparar seus pratos, agora mais coloridos e menos “gordurosos”, em relação ao início dos trabalhos de educação nutricional na empresa. TEMA
Prevenção de doenças (doenças cardio-vasculares e hipertensão)
RECURSOS DIDÁTICOS Lanche contendo alimentos com pouco sal, pouca gordura (presunto light, maionese light, margarina sem sal, pão light, suco natural sem açúcar).
DESENVOLVIMENTO Definição. Histórico do brasileiro. Prevenção. Alimentos que devem ser consumidos com moderação. Apresentação dos alimentos para degustação.
Quadro 11 – Prevenção de doença
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4.10 DÉCIMO ENCONTRO Foi possível observar que, na maioria do grupo havia acontecido uma consciência transformadora de um aprendizado permanente e mudanças concretas das práticas alimentares, não somente de forma individual como também dos que participam do convívio de cada um, no trabalho, na família, entre os amigos etc. TEMA
Prevenção de doenças (diabetes)
RECURSOS DIDÁTICOS Lanche contendo bolos diet/light (sem adição de açúcar e gordura), suco natural sem açúcar e biscoito integral.
DESENVOLVIMENTO Histórico. Prevenção. Alimentos que não podem ser consumidos. Índice de crescimento da doença nos últimos anos.
Quadro 12 – Diabetes
4.11 DÉCIMO PRIMEIRO ENCONTRO Pode-se considerar nesse encontro que a participação atingiu o ápice, sendo praticamente total. Os depoimentos foram além das expectativas, principalmente entre os homens que, na avaliação antropométrica inicial, tiveram os maiores índices de obesidade e manifestaram menos interesse que as mulheres. Foi possível observar a construção de conceitos numa consciência crítica alimentar. Como parte desse encontro, tomou-se o depoimento dos participantes sobre o que o trabalho de educação alimentar significava e representava para o grupo, que mudanças foram vivenciadas a partir do conhecimento sobre alimentação, nutrição e saúde. Alguns depoimentos que consolidam as observações anteriormente relatadas encontram-se reproduzidos no item 4.11.1.
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RECURSOS DIDÁTICOS
TEMA
Resumo de todos os temas abordados e depoimentos
Pirâmide alimentar utilizando-se de recursos naturais. Sobre a mesa foi desenhada uma pirâmide a partir dos próprios alimentos.
DESENVOLVIMENTO Relembrando sobre a pirâmide. Valor calórico dos alimentos. Prevenção de doenças. Perguntas e respostas. Depoimentos.
Quadro 13 – Resumo dos temas anteriores
4.11.1 Depoimentos dos sujeitos envolvidos no projeto No último encontro, após a revisão de todos os assuntos abordados, com o objetivo de avaliar o grupo de forma geral, criou-se um ambiente de descontração e harmonia, oferecendo liberdade ao grupo para manifestar de forma simples e verdadeira, o que a “Educação Nutricional” aplicada no seu setor de trabalho significou em termos de mudanças no seu comportamento alimentar, respondendo à seguinte pergunta: O que mudou na sua alimentação ou na sua forma de pensar sobre alimentação após o trabalho de educação nutricional? DEPOIMENTO 1 Hoje sou consciente sobre a influência da alimentação para uma vida mais saudável, mesmo que ainda não tenha uma disciplina alimentar totalmente adequada, mas tenho o conhecimento básico das conseqüências adquiridas pela ingestão de determinados alimentos para minha saúde e de minha família. Tenho mais critérios ao fazer as compras, analiso rótulos, data de validade e a qualidade do produto. Hoje seleciono o meu alimento.
DEPOIMENTO 2 A cada palestra que assisto aumenta a minha consciência quanto às mudanças que devo fazer para melhorar a minha alimentação. Não tinha o hábito de comer verduras e a partir deste trabalho passei a comer mais verduras e todos os dias, pois dou maior importância a minha saúde e ao meu bem-estar.
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DEPOIMENTO 3 O trabalho agregou a escolha do alimento no supermercado ao que vai para o prato e à mesa. Foi um trabalho de conscientização. Hoje todos da empresa somos conscientes de que uma escolha errada pode acarretar aumento de peso e prejuízos à saúde como determinadas doenças. Mudei meus hábitos alimentares, principalmente à mesa do self-service. Mesmo que a prática de uma alimentação recomendada como saudável ainda não seja uma constante nos hábitos alimentares diários dos depoimentos anteriores, a formação de uma consciência crítica e transformadora torna-se visível, como também a assimilação de determinados hábitos importantes que podem colaborar para fixação do aprendizado e a continuidade dessas práticas.
DEPOIMENTO 4 Mudei minha forma de pensar, passei a comer mais verduras, mudei minha postura no supermercado e hoje a metade do meu prato é só de verduras.
DEPOIMENTO 5 Eu só comia praticamente carboidratos, o meu prato só continha batata frita e arroz, nem carne eu comia. Hoje já consigo comer algumas verduras e pouca carne, mas sei que vou melhorar.
Os depoimentos 4 e 5 apresentam resultados positivos para uma mudança de comportamento. Houve a conscientização sobre a importância do conhecimento ou do “conhecer” e a fixação de conteúdos teóricos importantes para transformar a forma de pensar e depois a forma de agir. Demonstrando também que os recursos utilizados na extensão do conhecimento foram adequados. DEPOIMENTO 6 Tenho refluxo e tinha muitos problemas com a minha alimentação, após as orientações recebidas, consigo controlar melhor os alimentos, diminui as quantidades, aumentei o número de refeições e hoje sinto-me bem melhor e agradeço muito ao trabalho de educação nutricional realizado aqui na empresa.
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Esse depoimento foi muito importante, pois a pessoa já tinha conhecimento da necessidade da dieta alimentar para controlar e melhorar o seu problema, mas ainda não havia sido orientada. Durante o estudo surgiu o despertar consciente na prática que foi vivenciada com bons resultados e satisfação. DEPOIMENTO 7 Falo por todos na empresa, o trabalho de educação nutricional realmente mudou nossas vidas e pretendemos continuar. O momento do lanche, a “Hora da Fruta”, foi visto por todos com maior seriedade e hoje todos participam do lanche sabendo de sua importância. Foi um trabalho que realmente despertou a consciência quanto à qualidade de vida.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi um trabalho que passou por várias fases durante o processo de ensinar e aprender. Partiu-se da concepção de que a transformação das práticas alimentares é possível graças à construção de uma consciência crítica sobre a importância da alimentação na saúde e qualidade de vida. E que esta construção só será possível se as estratégias de educação considerarem a realidade dos sujeitos, o interesse e a interação com o processo de ensino-aprendizagem e a possibilidade de vivenciar e experimentar o conhecimento. O conhecimento da realidade evidenciou uma população inicialmente sem grande interesse pela proposta do estudo. Sujeitos cujo processo de trabalho gera uma condição de individualismo, sedentarismo e de estresse cotidiano e cujo tempo destinado a refletir outros aspectos da vida além do trabalho é pequeno e que, portanto, a comensalidade, ou seja, a importância da alimentação como elemento social não é valorizada. Sujeitos que, embora no momento do inquérito sobre freqüência alimentar tenham relatado hábitos aparentemente adequados, nos momentos iniciais do estudo evidenciaram práticas contraditórias às suas respostas, demonstrando a falta de conhecimento e consciência sobre sua alimentação. Os resultados do levantamento nutricional também corroboraram essas observações: 68,4% dos homens e 16,6% das mulheres apresentaram algum grau de excesso de peso. A considerar esses dados, a população masculina do estudo está bem próxima do prognóstico da Organização Mundial de Saúde (ALERTA..., 2005) que, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 6, n. 1/2, p. 147-174, jan./dez. 2006
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em estudo recente, pressupõe que daqui a dez anos 74% das mulheres brasileiras e 67% dos homens com mais de 30 anos de idade estarão com excesso de peso. A estratégia de trabalhar o sujeito em contato com sua realidade, como nas dinâmicas implementadas nos encontros em que provavam o alimento, conheciam suas propriedades e a forma de preparo criou sensações reais que foram precursoras da construção de conceitos concretos sobre a alimentação saudável. A experiência concreta, o sentir, sair da sensação da impressão e abranger as idéias completam o pensamento, levando ao verdadeiro aprendizado. O método da pesquisa-ação e a forma dinâmica com que se conduziu a metodologia foram gerando interesse e integração entre educador/educando. Isso pode ser constatado quando a construção do conhecimento já não partia exclusivamente dos conteúdos abordados nos encontros, sendo que o interesse despertava curiosidade e necessidade de pesquisar em outras fontes. Nesse contexto, foi possível uma troca construtiva para um aprendizado mútuo. O educador é um permanente aprendiz, e a pesquisa reforça a ação. Principalmente quando os sujeitos são incentivados e orientados para tal, há maior possibilidade de crescimento e aprimoramento do aprendizado no âmbito geral. Os depoimentos apresentados no último encontro constituíram importante recurso para avaliação e conclusão sobre a pertinência da metodologia proposta no estudo. Embora o referencial teórico tomado como base já seja bastante reconhecido, sugere-se a validação das práticas e estratégicas educativas utilizadas, adaptando-as a diferentes realidades e sujeitos. A experiência de se trabalhar educação nutricional no setor empresarial foi importante para avaliar a necessidade do Nutricionista na geração de conhecimento e de consciência crítica sobre alimentação. Foi possível constatar que educação nutricional torna-se uma prática indispensável na atuação desse profissional, sendo esta na clínica, na produção de refeições em unidades de alimentação, na nutrição social ou em qualquer outra atuação de sua habilidade e competência.
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EDUCATION NUTRICIONAL IN ENTERPRISE SECTOR: PROMOTION OF PRACTICAL ALIMENTARY HEALTHFUL ABSTRACT Report on a nutritional educational research developed in a private informatics enterprise aiming at awaring its employees about the importance of reflecting about their food habits in order to avoid some of these century diseases as diabetes, cardiovascular problems and obesity. This work tries to describe a qualitative-quantitative action-research with intervention. It was a nine month work, with one or two meetings a month, developed in an interactive natural way, when varied themes about the nature of healthy food strategies provided the participants with new information and the awareness that food can be a pleasurable and healthy act. The method adopted provided freedom to the researcher who, after observing the context, based herself on Freire’s awareness to transformation and on Piaget’s constructivism. Positive results were observed after the final evaluation, when the registers of individual and group changes on food concepts, as well as new practices and reports, were acquired and analyzed. Keywords: Nutritional education - action-research. Food practice transformation.
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THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1996.
Correspondência para/reprint request to: Ana Maria Rosalèm Dazzi Rua Alcindo Guanabara, 621 Cristovão Colombo 29160-400 - Vila Velha - Es (Brasil)
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NÍVEIS DE PROTEÍNA PARA CODORNAS DE CORTE1
JOÃO LUÍS KILL2 RAFAEL BALDO BORSOI3 EDNEY LEANDRO DA VITÓRIA4 DOUGLAS HAESE5 EVANDRO FERREIRA CARDOSO6 ACHICIANE FURNO PIRES7
RESUMO Objetiva avaliar níveis de proteína bruta e planos de nutrição para codornas de corte nos períodos de 1 a 21 e 1 a 45 dias de idade, respectivamente. Utiliza 560 codornas européias, linhagem para corte, de um dia de idade, distribuídas em delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e sete repetições. Adota rações experimentais, isoenergéticas, contendo 23, 25, 27 e 29% de proteína bruta para o período de 1 a 21 dias e, 18, 20, 22 e 24% de proteína bruta para o período de 22 a 45 dias de idade. Os níveis de proteína bruta que proporcionaram melhores resultados para peso final, ganho de peso e conversão alimentar para codornas de corte de 1 a 21 dias foram, respectivamente, 25,54, 25,60 e 24,88%, correspondendo, respectivamente, ao consumo diário de: 84,08, 84,28 e 81,91g de proteína bruta. 1 2
3
4
5
6
7
Pesquisa financiada pelo Centro Universitário Vila Velha. Doutor em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: kill@uvv.br. Graduado em Zootecnia pelo Centro Universitário Vila Velha. E-mail: rbborsoi@hotmail.com Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: edney.vitoria@uvv.br. Doutor em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: douglas.haese@uvv.br. Graduando do Curso de Zootecnia do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: efzoo@gmail.com. Graduando do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Vila Velha. Email: achiciane@hotmail.com.
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Baseado no ganho de peso, conclui-se que a exigência de proteína bruta para codornas de corte de 1 a 21 dias de idade foi de 25,60%. Com relação aos planos de nutrição, os melhores resultados (P<0,05) de ganho de peso e conversão alimentar foram obtidos, respectivamente, no plano de nutrição 2 (25% PB de 1 a 21 dias e 20% PB de 22 a 45 dias de idade) e 3 (27% PB de 1 a 21 dias e 22% PB de 22 a 45 dias de idade). Palavras-chave: Aves. Exigências nutricionais. Planos de nutrição. 1 INTRODUÇÃO Em virtude do aumento do consumo mundial de carne, pesquisadores buscam alternativas que possam satisfazer as novas exigências dos consumidores por produtos de origem animal. A criação de codornas para produção de carne é uma boa alternativa para obtenção de proteína de origem animal, pois suas instalações não necessitam de grandes investimentos, uma vez que este animal é pequeno, ocupa pouco espaço e sua produção de dejetos é inferior à das criações animais convencionais. Dessa forma, agride menos o meio ambiente e, em função da elevada taxa de crescimento e do consumo reduzido de ração, a criação de codornas para produção de carne pode constituir-se em nova alternativa para o setor avícola. Entretanto, pouco se conhece sobre o potencial produtivo de codornas de corte no Brasil e sobre os custos de produção, tornando seu preço elevado e pouco competitivo no mercado varejista em relação a outras aves. No Brasil, a produção de codornas é predominantemente voltada para produção de ovos, pois a falta de material genético adequado, a precariedade de dados sobre o desempenho e as exigências nutricionais faz com que criadores explorem a produção de carne de forma pouco organizada e empírica. A produção e o consumo de ovos de codorna têm evoluído nos últimos anos, mas a criação de codornas para corte ainda enfrenta problemas de manejo, nutrição e sanidade. Eles resultam em perdas na produção e impossibilitam a expressão do potencial genético das aves. A exploração da codorna para corte é pequena e deve aumentar muito vagarosamente, devido à falta de hábito do consumidor por este tipo de carne, além do preço, que é elevado. As aves que têm sido vendidas para consumo são os machos e as fêmeas de codorna japonesa descartadas do sistema de produção de ovos. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 175-190, jan./dez. 2006
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Apesar do crescente e recente interesse na atividade, ainda são escassas as pesquisas sobre exigências nutricionais que alicerçam a formulação de rações de mínimo custo ou de máximo retorno, constituindo-se em um dos principais fatores que podem limitar a exploração comercial de codornas para produção de carne. Soma-se a isso a falta de linhagens nacionais com características produtivas adequadas à produção de carne no ambiente tropical, a carência de pesquisas em processamento e embalagens que favoreçam a compra de carne de codorna e a ausência de divulgação da atividade e da qualidade da carne. A alimentação pode representar cerca de 65 a 70% do custo total da produção. Por sua vez, as fontes protéicas correspondem, em média, a 25% dos custos com alimentação. Além dos custos, níveis inadequados de proteína podem causar redução no desempenho das aves (SILVA; RIBEIRO, 2001). Dessa forma, existe a preocupação por parte dos nutricionistas em determinar níveis adequados de proteína bruta, que propiciem o melhor desempenho, com o maior retorno econômico, para codornas de corte. Segundo Pinto e outros (1998), no Brasil, a formulação das rações para codornas baseia-se nas exigências nutricionais propostos pelo National Research Council (1994). Segundo os autores, estas exigências podem não ser as mais apropriadas para as condições climáticas brasileiras. Havendo, portanto, a necessidade do desenvolvimento de pesquisas visando determinar as exigências nutricionais dessas aves em nossas condições. As formulações de rações para codornas dependem de dados contidos em tabelas estrangeiras, obtidas em condições ambientais muito diferentes das verificadas no Brasil (SILVA; RIBEIRO, 2001). A maioria dos dados compilados pelo National Research Council (1994) foi obtida há mais de vinte anos (SHIM; VOHRA, 1984) com aves apresentando potencial genético diferente das codornas criadas atualmente. Dessa forma, as atuais publicações são insuficientes para otimizar o desempenho dos animais, havendo a necessidade de constantes atualizações de suas recomendações.
2 OBJETIVO Determinar o melhor nível de proteína bruta para codornas de corte no período de 1 a 21 dias e de 22 a 45 dias de idade, bem como o melhor plano de nutrição no período total, de 1 a 45 dias de idade. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 175-190, jan./dez. 2006
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3 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Setor de Avicultura da Fazenda Escola do Centro Universitário Vila Velha, localizada no município de Cariacica - ES. Foram utilizadas 560 codornas de corte, da linhagem comercial, distribuídas em delineamento experimental de blocos inteiramente casualizados, com quatro tratamentos e sete repetições com vinte codornas por boxe, considerada a unidade experimental. As rações experimentais (Tabela 1), isoenergéticas com 2.900kcal de EM/kg, foram formuladas à base de milho, farelo de soja e farelo de trigo e suplementadas com minerais e vitaminas para atender às exigências nutricionais dos animais, de acordo com o National Research Council (1994), para todos os nutrientes, com exceção da proteína. Os tratamentos foram constituídos pelas rações experimentais, resultantes das combinações de diferentes níveis de proteína bruta, 23, 25, 27 e 29% para o período de 1 a 21 dias e 18, 20, 22 e 24% para o período de 22 a 45 dias. As codornas de 1 dia, com peso médio inicial de 12 ± 0,4g, foram alojadas no galpão contendo vinte e oito boxes de madeira, com dimensão: 1,2m de comprimento x 1,0m de largura x 0,6m de altura, onde permaneceram durante todo o período experimental. A temperatura (máxima e mínima) no interior do galpão experimental foi registrada diariamente utilizando-se um termômetro de máxima e mínima, colocado no mesmo nível das aves, sendo o registro das temperaturas realizado uma vez ao dia, sempre às 8 horas da manhã. As codornas receberam água e ração à vontade e 24 horas de luz diárias, seja natural ou artificial, a fim de incentivar o consumo. As rações, as sobras e os animais foram pesados ao término de cada fase experimental para avaliar consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar. As variáveis avaliadas foram peso final (PF), ganho de peso (GP), consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA) e consumo de proteína (CP) durante os períodos experimentais de 1 a 21 dias, 22 a 45 dias, e no período total (1 a 45 dias de idade). As análises estatísticas dos dados foram analisadas pelo programa SAEG (Sistema de análises estatísticas e genéticas), desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa, em 1997, utilizando os procedimentos para análises de variância e regressão. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 175-190, jan./dez. 2006
23,016 2.903 3,464 2,819 0,550 0,300 0,800 0,150 1,243 0,839 0,479 0,894 0,292
Proteína bruta (%) Energia metabolizável (Kcal/kg) Fibra bruta (%) Gordura (%) Fósforo total (%) Fósforo disponível (%) Cálcio (%) Sódio (%) Lisina total (%) Metionina+Cistina total (%) Metionina total (%) Treonina total (%) Triptofano total (%)
25,016 2.905 3,664 3,810 0,562 0,300 0,799 0,150 1,382 0,935 0,553 0,971 0,324
25 50,925 45,125 0,000 1,440 1,063 0,935 0,260 0,175 0,050 0,020 0,010 100,000
Períodos avaliados
27,013 2.906 3,866 4,801 0,573 0,300 0,799 0,150 1,521 1,006 0,603 1,049 0,356
29,001 2.907 4,066 5,793 0,585 0,300 0,799 0,150 1,660 1,077 0,653 1,127 0,389
Composição calculada 18,002 2.901 2,918 3,516 0,523 0,300 0,800 0,150 0,905 0,690 0,386 0,695 0,216
Nível de proteína bruta (%) 27 29 18 44,175 37,450 66,735 50,750 56,350 25,970 0,000 0,000 4,000 2,598 3,758 0,620 1,038 1,015 1,200 0,908 0,878 1,015 0,255 0,250 0,280 0,200 0,225 0,100 0,050 0,050 0,050 0,020 0,020 0,020 0,010 0,010 0,010 100,000 100,000 100,000
1 a 21 dias
20,000 2.900 3,104 4,422 0,533 0,300 0,801 0,150 1,043 0,786 0,461 0,773 0,246
20 60,089 31,525 4,000 1,700 1,185 0,995 0,276 0,150 0,050 0,020 0,010 100,000
22,008 2.901 3,290 5,394 0,542 0,300 0,800 0,150 1,181 0,883 0,535 0,851 0,276
22 53,340 37,120 4,000 2,850 1,170 0,970 0,270 0,200 0,050 0,020 0,010 100,000
22 a 45 dias
24,000 2.900 3,475 6,319 0,551 0,300 0,800 0,152 1,319 0,979 0,609 0,928 0,305
24 46,684 42,665 4,000 3,950 1,156 0,945 0,270 0,250 0,050 0,020 0,010 100,000
**Quantidade de vitaminas e minerais neste suplemento: Vit.A- 15.000.000 UI, Vit.D3- 1.500.000 UI, Vit.E- 15.000 UI, Vit.K3- 3g, Vit.B1- 2g, Vit.B2- 4g, Vit.B6- 3g, Vit.B12- 0,015g, niacina- 2g, ácido pantotênico- 10g, ácido fólico- 1g, colina- 250g, selênio- 100mg e q.s.q.-1000.
Notas: *Quantidade de minerais neste suplemento: Fe, 80g, Cu, 10g, Co, 2g, Zn, 50g, Mn, 60g, I, 1g e q.s.p., 500g.
23 57,673 39,525 0,000 0,280 1,085 0,965 0,265 0,125 0,050 0,020 0,010 100,000
Milho moído Farelo de soja Farelo de trigo Óleo de soja Calcário Fosfato bicálcico Sal comum DL-Metionina Suplemento Mineral* Suplemento Vitamínico** BHT Total
Ingrediente (%)
Tabela 1 – Composição percentual e calculada das rações experimentais utilizadas para codornas de corte nos períodos de 1 a 21 dias e 22 a 45 dias de idade, de acordo com os tratamentos
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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios obtidos para as temperaturas máxima e mínima foram, respectivamente, de 31,8 ± 3,11°C e 22,5 ± 1,46°C. Os resultados de desempenho e consumo de proteína para codornas de corte de 1 a 21 dias de idade recebendo rações com diferentes níveis de proteína estão apresentados na Tabela 2. Tabela 2 – Médias dos pesos médios (inicial e final), consumo de ração, ganho de peso, conversão alimentar e consumo de proteína de codornas de corte de 1 a 21 dias de idade submetidas a diferentes níveis de proteína bruta
Parâmetros
Níveis de proteína bruta (%) 23
Peso médio inicial, g Peso médio final, g Consumo de Ração, g Ganho de peso, g Conversão Alimentar Consumo de proteína, g
25
27
α
CV (%)
“Q” NS “Q” “Q” “L”
1,96 3,15 2,92 3,39 3,98 3,00
29
11,83 11,97 12,14 12,04 143,61 157,60 161,25 161,52 322,86 323,17 338,29 332,57 130,83 145,67 150,86 149,41 2,47 2,22 2,24 2,23 74,26 80,79 91,34 96,45
Legenda: L – Efeito linear (P<0,01); Q – Efeito quadrático (P< 0,01); NS – não significativo.
O peso final dos animais foi influenciado (P<0,01) de forma quadrática pelos tratamentos, tendo aumentado até o nível estimado de 27,57% (Figura 1).
Figura 1 – Efeito do nível de proteína bruta sobre o peso corporal de codornas de corte de 1 a 21 dias de idade
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No entanto, o modelo LRP (Linear Response Plateau) foi o que melhor se ajustou aos dados, com nível estimado em 25,54%, a partir do qual o peso final permaneceu em um platô (Figura 1). Este resultado (25,54%) foi superior ao encontrado por Lepore e Marks (1971), de 24% e abaixo ao encontrado por Marks (1993) e Shrivastav, Reddy e Panda (1980) e de 27%. Efeito positivo dos níveis de proteína sobre o peso final também foi observado por Kirkpinar e Oguz (1995), Pinto e outros (2002), Sakuray (1981) e Shrivastav (1993), que encontraram efeito linear dos níveis de proteína sobre o peso de codornas de corte. No entanto, Oliveira, E. G. e outros (2002) não constataram diferenças no peso médio final de codornas de corte com os níveis de 20%, 22%, 24% e 26% de PB na ração. A inconsistência dos resultados encontrados na literatura pode estar relacionado, dentre outros fatores, à linhagem, ao nível de energia da ração, ao sexo, ao clima, às condições de manejo (MURAKAMI et al., 1993; NESTOR et al., 2002; OLIVEIRA et al., 2000; PANDA, 1980; PANDA et al., 1987; RAJINI; NARAHARI, 1998; SHRIVASTAV; REDDY). Segundo Murakami e Ariki (1998), as codornas aumentam o seu tamanho corporal em até dez vezes no período de 28 dias após seu nascimento. No presente estudo, o peso corporal médio aumentou, em média, treze vezes em relação o peso ao nascer, no período de 21 dias. Nesse sentido, podemos inferir que o nível de proteína da ração é de suma importância para o desempenho de codornas, na primeira fase de vida (1 a 21 dias de idade), em função de sua rápida taxa de crescimento. De acordo com Marks (1991), codornas de corte apresentam taxa de crescimento e peso corporal superior às codornas de postura, garantindo um elevado peso ao abate em um menor espaço de tempo. De acordo com o autor, o maior consumo de ração, principalmente nas três primeiras semanas de vida é um dos fatores que contribui para esse rápido crescimento e maior peso ao abate, indicando que existe uma correlação entre velocidade de crescimento e consumo de ração. Não se verificou efeito (P>0,05) dos níveis de proteina sobre o consumo de ração. Resultados semelhantes foram encontrados por Oliveira, E.G. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 175-190, jan./dez. 2006
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e outros (2002), que não constataram influência do aumento do nível proteico sobre o consumo médio de ração para codornas de corte no período de 1 a 21 dias de idade. Em contrapartida, Oliveira e outros (2000), utilizando machos de codornas japonesas para produção de carne, verificaram que o aumento do nível de proteína de 18% para 26% promoveu aumento no consumo de ração. Embora não tenha ocorrido diferença significativa no consumo de ração entre os tratamentos constatou-se um aumento de 4% no consumo nos dois últimos níveis de proteina em relação aos tratamentos 1 e 2. A diferença no consumo de ração verificada nos trabalhos pode estar relacionada, entre outros fatores, às diferenças no perfil aminoacídoco da proteína da dieta (GONZALES, 2002). O ganho de peso médio aumentou (P<0,01), de forma quadrática, devido aos níveis de proteína, até o nível estimado de 27,5% de PB. No entanto, o modelo LRP foi o que melhor se ajustou aos dados, sendo estimado em 25,60% o nível a partir do qual o LRP permaneceu em um platô (Figura 2).
Figura 2 – Efeito do nível de proteína sobre o ganho médio de peso de codornas de corte de 1 a 21 dias de idade
Este resultado foi semelhante ao nível de 26% de proteína, obtido por Rajini e Narahari (1998) para codornas de corte. Por outro lado, níveis inferiores ao deste experimento foram obtidos por Shrivastav, Reddy e Panda (1980), trabalhando com codornas em crescimento. Além disso, Oliveira, E.G. e outros (2002) não encontram efeito Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 175-190, jan./dez. 2006
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significativo do aumento (26 a 26%) dos níveis de proteína na ração de codornas italianas sobre o ganho de peso. A conversão alimentar (CA) foi influenciada (P<0,01) de forma quadrática pelos tratamentos, melhorando até o nível estimado de 27,17%. No entanto, o modelo LRP foi o que melhor se ajustou aos dados estimados em 24,88%, o nível de proteína na ração a partir do qual a CA permaneceu no platô (Figura 3).
Figura 3 – Efeito do nível de proteína sobre a conversão alimentar de codornas de corte de 1 a 21 dias de idade
Corroborando os resultados, Corrêa e outros (2005) também observaram aumento na eficiência de utilização do alimento para ganho de peso pelas codornas, em razão dos níveis de proteína na ração. No entanto, Oliveira, N.T.E. e outros (2002), avaliando níveis de proteína bruta variando de 18 a 26% para codornas de corte de ambos os sexos, não constataram efeitos sobre a CA dos animais. Por outro lado, Silva e outros (2006) verificaram que a CA de codornas européias piorou em razão da redução dos níveis de proteína de 28 para 25,2 e 22,4%. Quando comparado ao nível preconizado pelo National Research Council (1994), de 24% de PB, para codornas japonesas nas fases iniciais e de crescimento, verifica-se uma subestimação em relação ao nível estabelecido neste trabalho para codornas de corte, bem como os resultados obtidos por Shrivastav, Reddy e Panda (1980), que obtiveram melhor ganho de peso com o nível de 27% de PB.
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As diferenças na capacidade genética de deposição de proteína podem explicar as diferenças entre os estudos. Dessa forma, linhagens para corte possuem uma maior exigência protéica em relação às de linhagens de postura. Diversos autores (MARKS, 1993; PANDA et al., 1987; STEIGNER; NESTOR; LILBURN, 1992), demonstraram que a conversão alimentar, o ganho de peso e a eficiência alimentar são influenciados, dentre outros fatores, pela linhagem ou grupo genético das aves, o que pode explicar parcialmente a variação dos resultados obtidos para codornas de corte. Observou-se efeito (P<0,01) dos tratamentos sobre o consumo médio de proteína bruta diário (CPB), que aumentou de forma linear. O aumento do CPB ocorreu diretamente em razão do aumento dos níveis de proteína nos tratamentos, uma vez que não houve efeito significativo dos tratamentos sobre o consumo de ração. Os valores médios obtidos para temperaturas máxima e mínima foram, respectivamente, para o período de 22 a 45 dias de 29,7 ± 1,65 e 20°C ± 2,07. Os resultados de desempenho e consumo de proteína para codornas de corte de 22 a 45 dias de idade recebendo rações com diferentes níveis de proteína estão apresentados na Tabela 3. Tabela 3 - Médias do peso médio final, consumo de ração, ganho de peso, conversão alimentar e consumo de proteína de codornas de corte de 22 a 45 dias de idade submetidas a diferentes níveis de proteína bruta
Parâmetros
Níveis de proteína bruta (%) 18
Peso médio final, g Consumo de Ração, g Ganho de peso, g Conversão Alimentar Consumo de proteína, g
20
22
α
CV (%)
"L" NS NS NS "L"
2,81 4,34 7,00 6,39 4,08
24
245,88 249,47 259,77 256,85 593,63 566,94 596,69 585,00 102,27 91,87 98,52 95,33 5,82 6,10 6,15 6,16 106,85 113,39 131,27 140,40
Legenda: L - efeito linear; NS - não significativo.
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Os níveis de proteína bruta influenciaram (P<0,01) o peso médio final, que aumentou de forma linear. Embora se tenha observado aumento linear no peso final dos animais, foi constatado redução no valor absoluto de peso (259,77 x 256,85) entre os dois maiores níveis de proteína estudados (22 x 24%). Essa resposta estaria indicando que o nível de 22% PB foi suficiente para atender à demanda dos animais. Os níveis de proteína bruta não influenciaram (P>0,10) o consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar dos animais. Apesar de não ter ocorrido variação significativa, foi constatado um ganho de peso 7% superior para o nível de 18% de PB em relação à média dos demais níveis. A proteína consumida acima das necessidades de mantença e de deposição pode proporcionar um desbalanço de aminoácidos e explicar, em parte, a piora no ganho de peso nos demais tratamentos. Resultados observados por Silva e outros (2006) indicaram maior peso final com os níveis de 24 ou 21,6% de proteína bruta na ração para codornas européias de 22 a 42 dias de idade, estando próximo ao determinado nesse trabalho. Provavelmente, este ganho superior tenha sido influenciado pelo ganho compensatório das aves que, na fase anterior, foi significativamente influenciado pelo baixo nível de proteína bruta (23%) da ração. Da mesma forma, foi observado melhora em 5,2%, da conversão alimentar no tratamento com 18% de PB quando comparado à média dos demais tratamentos (20, 22 e 24% de PB). Este resultado está de acordo com Silva e outros (2006), que obtiveram melhor conversão alimentar de codornas de corte de 22 a 42 dias de idade alimentadas com rações contendo 19,2 e 21,6% de PB. Os valores médios obtidos para temperaturas máxima e mínima foram, respectivamente, para o período total (1 a 45 dias de idade) de 30,5 ± 2,52 e 21,0°C ± 2,20. Os resultados de desempenho e consumo de proteína para codornas de corte no período total (1 a 45 dias de idade), recebendo rações com diferentes níveis de proteína estão apresentados na Tabela 4.
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186 Tabela 4 - Médias do peso médio final, consumo de ração total, ganho de peso total, conversão alimentar total e consumo de proteína total de codornas de corte de 1 a 45 dias de idade submetidas a diferentes planos de nutrição (PN)
Parâmetros
α
Planos de Nutrição - PN PN1
Peso médio final, g 245,88c 916,49ab Consumo de ração, g 234,05c Ganho de peso, g 3,92a Conversão alimentar Consumo de proteína, g 164,97a Rendimento de carcaça, % 80,53a
PN2 249,47bc 887,61b 237,59bc 3,74b 177,52b 80,87a
PN3
CV (%)
PN4
259,77a 256,85ab 0,01 937,69a 917,57ab 0,05 247,62a 244,80ab 0,01 3,79b 3,75b 0,02 206,29c 220,22d 0,01 80,42a 82,44a 0,30
2,81 3,26 2,78 2,78 3,19 2,63
Nota: Médias seguidas por letras diferentes, na mesma linha, diferem significativamente pelo teste de SNK (P<0,05). Legenda: PN1: 23% PB de 1 a 21 dias e 18% PB de 22 a 45 dias de idade; PN2: 25% PB de 1 a 21 dias e 20% PB de 22 a 45 dias de idade; PN3: 27% PB de 1 a 21 dias e 22% PB de 22 a 45 dias de idade. PN4: 29% PB de 1 a 21 dias e 24% PB de 22 a 45 dias de idade.
O peso final dos animais foi influenciado (P<0,01) pelos tratamentos, sendo o plano 3 superior aos planos 1 e 2 e não diferindo do plano 4. Da mesma forma, o consumo de ração foi influenciado (P<0,05) pelos tratamentos, os planos 1, 3 e 4 apresentaram maior consumo de ração em relação ao plano 2. Os planos com os menores níveis de proteína (PN1 e PN2) apresentaram menores ganhos de peso, o que pode estar relacionado aos níveis nutricionais na fase anterior (inicial), uma vez que erros nas exigências na fase inicial não são superados até as codornas atingirem a idade de abate (SILVA et al., 2006). A pior conversão alimentar foi observada no tratamento com menor teor de proteína (PN1), não havendo diferença (P<0,05) entre os demais tratamentos, que não variaram entre si.
5 CONCLUSÃO Conclui-se que, baseado no ganho de peso, utilizando a equação da LRP, o melhor nível de proteína bruta foi de 25,6% para o período de 1 a 21 dias de idade, correspondendo a um consumo de 84,28g de proteína. Para o período total, 1 a 45 dias de idade, o melhor resultado para ganho de peso foi o plano de nutrição 3 – PN3 (27 – 22% de PB). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 175-190, jan./dez. 2006
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PROTEIN LEVELS FOR MEAT-TYPE QUAILS AT 1 TO 45 DAYS OF AGE ABSTRACT Object at the evaluate of crude protein levels and nutrition plans for meattype quails at the age of 1 to 21 and 1 to 45 days, respectively. 560 European meat-type quails at one day of age to utilize, in a completely randomized design in four treatments and seven repetitions. To adopt experimental diets with the same energetic level, containing 23, 25, 27 and 29% of crude protein for the period of 1 to 21 days and, 18, 20, 22 and 24% of crude protein for the period of 22 to 45 days of age. The levels of crude protein which provided the best results in terms of final weight and feed: gain ratio for meat-type quails at 1 to 21 days of age were, respectively, 25.54, 25.60 and 24.88%, corresponding, respectively, to the daily consumption of: 84.08, 84.28 and 81.91g of crude protein. Based on the weight-gain, we conclude that the crude protein demand for meat-type quails at 1 to 21 days of age was of 25.60%. Regarding nutrition plans, the best results (P<0.05) of weight gain and feed: gain ratio were obtained with nutrition plan 2 (25% CP from 1 to 21 days and 20% CP from 22 to 45 days of age) and 3 (27% CP form 1 to 21 days and 22% CP from 22 to 45 days of age). Keywords: Birds. Nutritional requirements. Nutrition plans.
AGRADECIMENTOS À Granja Fujikura pela doação das codornas e à empresa NUTRIAVE – Alimentos Ltda. pela doação da matéria prima para confecção das rações.
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Correspondência para/reprint request to: João Luís Kill Av. Hugo Viola, 211/504 - Bloco D Jardim da Penha 29060-420 - Vitória - ES (Brasil)
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INSTRUÇÕES EDITORIAIS AOS AUTORES1 1 PROPOSTA EDITORIAL Neste momento em que a acessibilidade à informação se tornou uma questão central no ambiente científico e acadêmico é fundamental que professores, pesquisadores, alunos e demais profissionais disponham de canais de informação adequados que viabilizem e estimulem a difusão de questões vinculadas ao saber científico. Nessa perspectiva, Scientia: Revista do Centro Universitário Vila Velha é uma publicação interdisciplinar editada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do Centro Universitário Vila Velha, instituição de ensino superior mantida pela Sociedade Educacional do Espírito Santo, com vistas à divulgação semestral de produções científicas e acadêmicas inéditas nos formatos: editorial, artigo original, artigo de revisão, relato de experiência ou de técnica, resenha e/ou resumo de tese, de dissertação e de monografia de pós-graduação. Na avaliação dos originais é adotada a prática do peer review, conjugada com o blind review, com a submissão a dois ou mais membros do Conselho Editorial e/ou a assessores ad hoc, especialistas na temática da contribuição recebida, procurando assegurar isenção, agilidade e objetividade no processo de julgamento dos originais. A visibilidade da produção científica publicada na revista Scientia tem se consolidado a partir da indexação de seu conteúdo na base de dados IRESIE (UNAM/México) e da disponibilidade no site do Centro Universitário Vila Velha (<www.uvv.br>).
2 PÚBLICO-ALVO REAL E POTENCIAL Pesquisadores, professores, alunos de graduação e pós-graduação e demais profissionais do Centro Universitário Vila Velha, da Faculdade de Vitória, da Faculdade Guaçuí e de outras instituições de ensino superior do Brasil e do exterior, associações de estudantes e de profissionais de ensino 1
Versão aprovada em 10 de outubro de 2005.
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e pesquisa, além de dirigentes de agências de fomento e de política em Ciência e Tecnologia. Com uma tiragem de 1.000 exemplares, Scientia é distribuída como doação para parte do público interno do Centro Universitário Vila Velha e como permuta para instituições de ensino superior, inclusive bibliotecas, do Brasil e de outros países.
3 ORIENTAÇÕES GERAIS As contribuições para publicação, redigidas em português, espanhol ou inglês, com a devida revisão lingüística, podem ser enviadas por pesquisadores, professores e alunos do Centro Universitário Vila Velha e de outras instituições de ensino superior, bem como por outros profissionais, independente de vinculação institucional, do Brasil e do exterior. Os conceitos e opiniões expressos nas contribuições publicadas são de total responsabilidade dos autores (Anexo B), que deverão providenciar permissão, por escrito, para uso de qualquer tipo de ilustração publicada em outras fontes. Os autores poderão retirar o original enviado, segundo seus critérios de conveniência, a qualquer momento antes de ser selecionado pelo Conselho Editorial. Os originais aprovados poderão sofrer alterações de ordem normativa, ortográfica e/ou lingüística, a serem executadas pela equipe da revista, com vistas a manter o padrão culto do idioma e adequação às normas adotadas por Scientia, respeitando, porém, o estilo dos autores. Os originais publicados não serão devolvidos aos autores nem as provas finais serão reapresentadas, exceto em caso de extrema necessidade. As contribuições recusadas ficarão à disposição do autor responsável pelo contato com Scientia pelo prazo de 90 dias, a contar da data de comunicação do resultado da avaliação. Após esse prazo, as contribuições serão eliminadas, garantindo-se nesse processo a total destruição do suporte (papel, disquete, CD-ROM, etc.)
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A critério do Conselho Editorial de Scientia, poderão ser publicados números especiais e/ou temáticos com objetivo de atender à demanda das linhas de pesquisa implantadas nos cursos oferecidos pelo Centro Universitário Vila Velha.
4 CORPO EDITORIAL A estrutura editorial de Scientia está constituída pelos editores, conselho editorial e assessores científicos ad hoc com as seguintes responsabilidades e representatividade: 4.1 EDITORES Responsáveis pelo gerenciamento da revista, incluindo seus aspectos administrativos, financeiros e controle de qualidade. Sua representatividade envolve o Vice-Reitor, o Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, o Coordenador de Pesquisa – todos do Centro Universitário Vila Velha –, além de um profissional, a convite da UVV, que possa contribuir para o aprimoramento das variáveis intrínsecas e extrínsecas da publicação. 4.2 CONSELHO EDITORIAL Sua constituição evidencia a participação de colaboradores do Centro Universitário Vila Velha e da comunidade científica nacional e, dentro do possível, estrangeira, a saber: • Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, membro nato e seu presidente; • Coordenador de Pós-Graduação Lato Sensu, membro nato; • Coordenador de Pesquisa, membro nato; e • Diretor da Biblioteca Central, membro nato. • Cinco membros da comunidade acadêmica, representando diferentes áreas do saber com, no mínimo, o título de mestre. Tais representantes, com mandato de dois anos, devem ser indicados pelos membros natos do Conselho Editorial. Suas responsabilidades envolvem a discussão da política editorial de Scientia; a avaliação da adequação das contribuições ao escopo e ao formato da revista, o que envolverá o parecer de dois a três membros; e a indicação dos assessores científicos ad hoc. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 191-203, jan./dez. 2006
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4.3
ASSESSORES CIENTÍFICOS AD HOC
A adequação da contribuição, além de ser atestada pelo Conselho Editorial, pode ser comprovada por um processo de avaliação realizado por assessores científicos ad hoc, especialistas na área de conhecimento das contribuições recebidas, que desempenham a função de emitir pareceres elucidativos das questões e/ou pareceres conflitantes que possam ter emergido no processo de avaliação dos membros do Conselho Editorial, bem como de avaliar as contribuições que não sejam de pleno domínio daquele Conselho.
5 ACEITAÇÃO E PUBLICAÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES A publicação da contribuição está condicionada ao parecer favorável do Conselho Editorial e/ou dos assessores científicos ad hoc. Do resultado da avaliação podem derivar três situações, a saber: • contribuição aceita, sem restrições; • contribuição aceita, com restrições passíveis de revisão, que deverão ser atendidas/cumpridas pelo autor; • contribuição recusada, o que não impede sua reapresentação para nova avaliação, exceto se a recusa tiver ocorrido por duas vezes.
6 ENCAMINHAMENTO A contribuição deve atender ao disposto no item 7 destas Instruções (Estrutura das contribuições) e ser encaminhada aos editores da revista, acompanhada de: • Carta de encaminhamento (Anexo A) assinada por todos os autores, explicitando: a concordância com as condições e normas adotadas pela revista; e a indicação de apenas um autor como responsável pelo contato com Scientia, incluindo seu endereço completo, inclusive telefones e endereço eletrônico; • Declaração de Responsabilidade (Anexo B); • Termo de Transferência de Direitos Autorais (Anexo C); • Procedência do artigo com entidade financiadora; Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 191-203, jan./dez. 2006
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Considerando sua periodicidade semestral, far-se-á o esforço para que as contribuições recebidas, depois de submetidas ao processo de avaliação, revisão e de possíveis adaptações, sejam publicadas com base no seguinte cronograma: • Contribuições recebidas até setembro de cada ano – publicação no 1º número do ano seguinte; • Contribuições recebidas até abril de cada ano – publicação no 2º número do ano. Essa proposta de cronograma poderá ser modificada levando-se em conta a necessidade de alterações pelos editores e/ou autores. Endereço para envio das contribuições: Centro Universitário Vila Velha – Scientia Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Rua Comissário José Dantas de Melo, 21 CEP 29102-770 - Vila Velha - ES (Brasil) Telefone: (27) 3421-2097 E-mail: scientia@uvv.br ou renataf@uvv.br
7 ESTRUTURA DAS CONTRIBUIÇÕES É recomendável que a contribuição enviada esteja de acordo com as normas da ABNT referentes a artigos em publicação periódica científica impressa (NBR 6022:2003); citações em documentos (NBR 10520:2002); numeração progressiva de documentos (NBR 6024:2003) e resumo (NBR 6028:2003), bem como com a norma de apresentação tabular do IBGE, publicada em 1993 (última edição). A contribuição deve ser redigida em português, espanhol ou inglês, com estilo de redação claro e coerente na exposição das idéias, observando o uso adequado da linguagem. Deve ser digitada em extensão “.doc” (Word, versão 6.0 ou superior) ou “.rtf” (Rich Text Format), impressa em três vias e gravada em disquete (3½) ou CD-ROM. Na etiqueta do disquete ou CDROM deverão constar: título do trabalho, autoria e versão do software. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 191-203, jan./dez. 2006
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O texto deve estar configurado para papel A4, digitado em fonte Arial 11, com margens superior, inferior, direita e esquerda de 3cm, folhas devidamente numeradas no canto superior direito, alinhamento justificado, parágrafo em bloco e entrelinha com espaço 1,5. Na primeira lauda do texto devem ser informados: a) título, em português e inglês, expressando de forma concisa, clara e precisa o conteúdo da contribuição. O título deve ser centralizado, em negrito e todo em letras maiúsculas; b) nome completo dos autores, titulação e vinculação institucional (somente um título acadêmico e uma afiliação por autor); c) endereço postal completo, telefones e endereço eletrônico dos autores; d) resumo, em português e inglês (abstract), explicitando objetivo(s), metodologia, resultados e conclusões, mesmo que parciais, deve ser redigido com o verbo na voz ativa e terceira pessoa do singular, com um mínimo de 150 e um máximo de 250 palavras. Não será permitido o uso de expressões tais como “Este artigo apresenta...”; “O objetivo deste estudo foi...” e similares (Anexo D); e) palavras-chave, em português e inglês (keywords), que representem o conteúdo da contribuição. Apresentar de três a cinco palavras-chave. A Biblioteca Central do Centro Universitário Vila Velha (tel.: (27) 3320-2022; e-mail: biblioteca@uvv.br) deve ser consultada para orientar a adoção das palavras-chave. O autor deve entrar em contato com a Biblioteca com antecedência e enviar uma cópia do trabalho, juntamente com sugestões de palavras-chave. O prazo para entrega é de 48 horas a contar da data de solicitação. Na segunda lauda deverá ser iniciado o texto da contribuição propriamente dita, com identificação apenas do título, o que garantirá a prática do blind review. A estrutura das contribuições deverá atender aos seguintes requisitos: • Artigos originais deverão apresentar introdução, objetivos, metodologia, resultados, discussão e conclusão (ou seções similares) e sua extensão estará limitada, no máximo, a 30 laudas.
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• Artigos de revisão, com exceção da introdução, discussão e conclusão, terão sua estrutura a critério do autor. Sua extensão estará limitada, no máximo, a 30 laudas. • Relatos de experiência ou de técnica terão sua organização a critério do autor, mas deles deverão constar, no mínimo, introdução, descrição da experiência ou da técnica e discussão. Sua extensão estará limitada, no máximo, a 10 laudas. • Resenhas devem ser breves, ter título próprio e diferente do da obra resenhada, sendo desnecessária a apresentação do resumo na primeira lauda. Sua extensão não deve ultrapassar 4 laudas e é obrigatória a inclusão da referência completa da obra objeto da resenha, como cabeçalho. • Resumos devem ser iniciados com a referência completa da obra na estrutura de cabeçalho e ter, no máximo, 1 lauda de extensão. Os artigos encomendados deverão, de acordo com sua tipologia, atender a uma das estruturas definidas anteriormente. Nas citações diretas devem ser observados os seguintes critérios de estrutura: • com até 3 linhas, devem estar incluídas no corpo do texto, respeitando o tamanho da fonte do texto e entre aspas; • com mais de três linhas, devem vir em parágrafo isolado, recuado da margem esquerda em 2cm, fonte tamanho 9, sem aspas e com entrelinha espaço simples. Na identificação da fonte da qual foram retiradas as citações diretas ou indiretas deve ser adotado o sistema de chamada autor-data (sobrenome do autor, seguido do ano de publicação da obra e paginação, se for o caso), que poderá estar incluída no texto (ex.: Segundo Severino (2000, p. 23) ou no final da frase (SEVERINO, 2000, p. 23). As notas de rodapé ou notas no final do texto devem ser evitadas. Somente na primeira lauda recomenda-se o uso de nota de rodapé para indicar origem de apoio financeiro ou logístico e indicação de apresentação em eventos, quando necessários. Não é permitido o uso de notas de rodapé de referências.
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As ilustrações devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem de citação no texto e de acordo com sua tipologia (tabelas, gráficos, quadros, desenhos, etc.) e apresentar título conciso. Devem ser utilizadas somente quando indispensáveis à compreensão e clareza do texto e na sua legenda deve ser usada fonte Arial tamanho 9 e entrelinha simples. A lista de referências deve ser estruturada atendendo às regras da NBR 6023:2002, sendo de inteira responsabilidade do autor sua exatidão e adequação, devendo constar da lista apenas as obras que foram citadas no corpo do texto. Na indicação de autoria das obras citadas, o sobrenome dos autores deve ser em caixa-alta, com os nomes e prenomes apresentados de forma abreviada. As referências poderão sofrer alterações de ordem normativa, com vistas a manter o padrão mínimo exigido pela NBR 6023:2002 e deverão estar à disposição da revista para caso de consulta pela equipe de normalização. Exemplos de referências: a) Livros QUINET, A. Um olhar a mais: ver e ser visto na psicanálise. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002. b) Capítulos de livro ou partes de coletânea CARVALHO, I. C. L. A tecnologia e sua expansão no espaço-tempo. In: ____. A socialização do conhecimento no espaço das bibliotecas universitárias. Niterói: Intertexto, 2004. p. 45-76. WEFFORT, F. Nordestinos em São Paulo: notas para um estudo sobre cultura nacional e classes populares. In: VALLE, E.; QUEIROZ, J. J. (Org.). A cultura do povo. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1984. p. 12-23. c) Artigos em periódicos CHAUÍ, M. Ética e universidade. Universidade e Sociedade, São Paulo, ano 5, n. 8, p. 82-87, fev. 1995. d) Textos da Internet CHANDLER, D. An introduction to genre theory. Disponível Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 7, n. 1/2, p. 191-203, jan./dez. 2006
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em:<http://www. aber.ac.uk/~dgc/intgenre.html>. Acesso em: 23 ago. 2000.
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Anexo A – Carta de Encaminhamento e Declaração de Concordância Aos Editores de Scientia: Revista do Centro Universitário Vila Velha Encaminhamos, em anexo, o artigo intitulado (indicar o título do artigo), por nós produzido, ao mesmo tempo que declaramos nossa concordância com as condições e normas adotadas por essa revista, e indicamos o(a) Sr(a). (nome do indicado) como responsável pelo contato com Scientia.
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Nome e assinatura do autor 1
Nome e assinatura do autor 2
Nome e assinatura do autor 3
Nome e assinatura do autor 4
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Endereço do representante dos autores: Rua/Av. nº
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CEP:
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- Bairro - Município
Estado/País Telefones:
E-mail:
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Anexo B – Declaração de Responsabilidade Título da contribuição: Autores:
(informar o nome de todos os autores)
Certificamos a participação na concepção do trabalho a ser publicado por Scientia para tornar pública nossa responsabilidade pelo seu conteúdo, pela não-omissão de quaisquer ligações ou acordos de financiamento entre os autores e empresas que possam ter interesse na publicação deste artigo. Certificamos ainda que a contribuição é original e que seu conteúdo, em parte ou na íntegra, não foi enviado a outra publicação e não o será enquanto estiver sendo avaliado por Scientia, quer no formato impresso quer no eletrônico. ,
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Assinatura(s):
Anexo C – Termo de Transferência de Direitos Autorais Título da contribuição: Autores:
(informar o nome de todos os autores)
Declaramos que caso o trabalho em anexo seja aceito para publicação, Scientia passa a ter os direitos autorais a ele referentes, tornando-se sua propriedade exclusiva. Sua reprodução, total ou parcial, em qualquer outra fonte ou meio de divulgação impressa ou eletrônica dependerá de prévia e necessária autorização por escrito dos editores de Scientia. Nesse caso, deverá ser consignada a fonte original, com identificação da edição, respectiva data de publicação e devidos agradecimentos. ,
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Assinatura(s):
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Anexo D – Exemplo de um Resumo Investiga se as bibliotecas universitárias têm contribuído para o processo de socialização do conhecimento. Alicerça sua metodologia no enfoque qualitativo e emprega o questionário como instrumento de coleta de dados. Resgata o caminho percorrido pela tecnologia, inclusive a ampliação de seu conceito e reflexos em nosso cotidiano. Evidencia a biblioteca universitária como instituição partícipe do processo que concebe a escola e a universidade em uma postura crítico-reflexiva e focaliza o conhecimento e os espaços para sua socialização, destacando a biblioteca como fórum de interatuação e comunicação do saber e como espaço de múltipla comunicação com a missão de buscar alternativas para compartilhar informações e contribuir para que, nas comunidades de troca (salas de aula e laboratórios), haja realmente produção e socialização do conhecimento. Numa perspectiva que procura evidenciar os campos de possibilidades sugeridos pela temática, toma como referencial teórico as concepções de Pierre Lévy, Michel Authier e Manuel Castells para articular discussões nas categorias socialização do conhecimento e tecnologias da informação; e de Gilles Deleuze e Félix Guattari para construir a imagem de rizoma como forma de organização mais apropriada às bibliotecas no enfrentamento das transformações que emergem e modelam a Sociedade da Informação. Sintetiza os resultados reconhecendo que as bibliotecas universitárias brasileiras devem se revestir como catalisadoras, como espaços de comunicação pedagógica para promover a cooperação entre pessoas e grupos, canalizando o potencial das tecnologias da informação e comunicação no sentido de acelerar a socialização do conhecimento estocado em seus ambientes, quer no tradicional, quer no virtual. Palavras-chave: Socialização do conhecimento. Bibliotecas universitárias – automação.
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