CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA Chanceler Aly da Silva Presidente em Exercício José Luíz Dantas Reitor Manoel Ceciliano Salles de Almeida Vice-Reitora Luciana Dantas da Silva Pinheiro Pró-Reitor Acadêmico Paulo Regis Vescovi Pró-Reitor Administrativo Edson Immaginário Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Danièlle de Oliveira Bresciani
REVISTA do centro universitรกrio vila velha vila velha (es) v. 8, n. 2, JULHO/DEZEMBRO 2007
ISSN 1518-2975 Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 171-302, jul./dez. 2007
Scientia: REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA © 2007 Centro Universitário Vila Velha (UVV) É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que seja feita sua identificação. Editores: Danièlle de Oliveira Bresciani Luciana Dantas da S. Pinheiro Renata Diniz Ferreira Conselho Editorial: Augusto Cesar Salomão Mozine Danièlle de Oliveira Bresciani Denise Maria Simões Motta Marlene Elias Pozzatto Renata Diniz Ferreira Consultores ad hoc: Isabel Cristina Louzada Carvalho Maria da Penha Smarzaro Siqueira Rachel Diniz Ferreira Revisão: Tânia Canabarro Normalização: Gestão.Info Consultoria Ltda
Revista interdisciplinar semestral Tiragem: 1.000 exemplares Indexada na base de dados: • IRESIE, gerenciada pela Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) Depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 10.944/2004) Registro no CCN/IBICT Solicita-se permuta - Exchange is solicited Se solicita el canje - On demande I’ échange Endereço: Rua Comissário José Dantas de Melo, 21 29102-770 - Vila Velha - ES (Brasil) Tel: (27) 3421-2097 E-mail: scientia@uvv.br Home page: www.uvv.br
Capa: Juan Carlos Piñeiro Cañellas Editoração: BIOS Impressão: Grafitusa
Catalogação na publicação elaborada pela Biblioteca Central/UVV Scientia : revista do Centro Universitário Vila Velha / Sociedade Educacional do Espírito Santo, Centro Universitário Vila Velha.− Vol. 1, n. 1, (jan./jun. 2000)- . − Vila Velha : O Centro, 2000- . v. : il.
Semestral. ISSN 1518-2975.
1. Generalidades – Periódicos. I. Sociedade Educacional do Espírito Santo. Centro Universitário Vila Velha. CDD 000
Sumário
Editorial...................................................................................................................... 175 FREQÜÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM UM GRUPO DE PACIENTES DIABÉTICOS ATENDIDOS NA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA-ES
Frequency of the metabolic syndrome in a group of diabetic patients treated in a community health center in Coqueiral de Itaparica, Vila Velha-ES, Brazil
Jacques Antonio de Souza; Janine Ambrósio Chuquer; Vitor Cellia Seixas; Edney Leandro da Vitória; Ana Maria Bartels Rezende; Ângela Maria de Castro Simões; Tadeu Uggere de Andrade; Luiz Carlos Pedrosa Valli............................................................................................. 177
Avaliação da atividade antibacteriana do óleo essencial de EUCALYPTUS GLOBULUS: Uma alternativa aos antibióticos convencionais Evaluation of antibacterial activity of Eucalyptus globulus essential oil: An alternative for conventional antibiotics
Alciene Almeida Siqueira; Alvimara Almeida Siqueira; Marco André Loureiro Tonini; João Damasceno Lopes Martins.................................. 199
A EFETIVIDADE DA TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL FORA DO AMBIENTE HOSPITALAR
The effectiveness of newborn hearing screening outside hospital settings
Carla Renata Concilio Fucci; Elaine Braga de Azevedo Matos; Silvia de Cassia Felício Nossa; Carmen Barreira-Nielsen ......................................... 215
A INFLUÊNCIA DO EFEITO DE BORDA EM UMA COMUNIDADE ARBÓREA DE MATA ATLÂNTICA EM SANTA MARIA DE JETIBÁ-ES
The influence of edge effect in a tree community of atlantic forest, in Santa Maria de Jetibá-ES
Mila Alvarenga de Tassis; Marcelo Passamani........................................................... 223
COMUNICAÇÃO E SAÚDE: O PAPEL DA MÍDIA NA AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS
Comunication and health: the media’s role in the food aquision
Maria Cristina Dadalto; Adilson Vilaça de Freitas; Angela Maria de Castro Simões........... 237
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HIGIENE PESSOAL: EDUCAÇÃO EM SAÚDE DOS TRABALHADORES DE UMA EMPRESA DE SANEAMENTO EM VILA VELHA-ES
Personal hygiene: workers health education at a sanitation company in Vila Velha-ES, Brazil
Rosana Melo da Silva Correia; Leny Ventura dos Santos; Ângela Maria de Castro Simões.................................................................................. 249
IMPACTO DO TRABALHO NOTURNO NA SAÚDE DOS ENFERMEIROS E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM DO HOSPITAL DR. ALZIR BERNARDINO ALVES
Impact of the nocturnal work in the health of the nurses and technician of nursing of the child-hood hospital Dr. Alzir Bernardino Alves
Joiciely Patrícia Costalonga; Keila Lúcia Faria; Lylyanne Garcia Muzi Lopes; Maria Tereza Coimbra de Carvalho............................. 267
INCIDÊNCIA de incontinência urinária em ginastas de elite
Inclusion of sugar cane driet yeast in broiler chickens ration
Paula Lopes Rodrigues; Eloá Ferreira Yamada.......................................................... 279
Instruções editoriais aos autores............................................... 289
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Editorial
A produção do conhecimento científico tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Somente em 2006, na base de dados do PUBMED, consta a publicação de 701.093 artigos científicos por pesquisadores das diversas partes do mundo. Desse total, 9.941 trabalhos possuem a participação de profissionais e ou instituições brasileiras. De forma semelhante, na base do Scielo, principal base de dados científica da América Latina, houve a publicação de 9.824 artigos de brasileiros em um total de 13.231 trabalhos. Esses dados comprovam o crescimento da produção científica nacional que, entretanto, não tem sido acompanhada pelo aumento do número de periódicos nacionais indexados capazes de dar vazão a esta produção. O tempo médio para a publicação de um trabalho em uma revista científica varia de seis meses a um ano, desde a submissão até a publicação de fato. Neste cenário, o Centro Universitário Vila Velha vem contribuir com o desenvolvimento científico regional por meio, entre outras ações, da sua revista científica. A Scientia é um periódico indexado e multidisciplinar que vem servindo à comunidade científica capixaba e de outros estados como um veículo para a divulgação de sua produção científica. Neste número da revista Scientia, o leitor encontrará trabalhos desenvolvidos em diversas áreas do conhecimento. Na área de Meio Ambiente, destaca-se trabalho abordando efeito de borda em uma comunidade arbórea da Mata Atlântica, dentro do município de capixaba de Santa Maria de Jetibá. Na área de Ciências da Saúde, os trabalhos vão desde avaliação biológica de produtos naturais até contribuições no campo da educação em saúde. Estudos sobre problemas de saúde neonatal e doenças por agravos não-transmissíveis, como a Síndrome Metabólica, também constam nesta edição. Na área de Ciências Humanas, a revista traz uma abordagem interessante onde foi avaliado o efeito da mídia na aquisição de alimentos.
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Assim, esta edição da revista Scientia cumpre seu papel de divulgação do conhecimento multidisciplinar e apresenta para a comunidade científica trabalhos de qualidade que podem servir como base para novas propostas de investigação. Desejo a todos uma boa leitura e que possa ser de utilidade para o enriquecimento do conhecimento científico de cada um. Professor Tadeu Uggere de Andrade
Coordenador do Curso de Farmácia da UVV Doutor e Mestre em Ciências Fisiológicas pela UFES
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FREQÜÊNCIA DA SÍNDROME METABÓLICA EM UM GRUPO DE PACIENTES DIABÉTICOS ATENDIDOS NA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA-ES Jacques Antonio de Souza1 Janine Ambrósio Chuquer1 Vitor Cellia Seixas1 Edney Leandro da Vitória2 Ana Maria Bartels Rezende3 Ângela Maria de Castro Simões4 Luiz Carlos Pedrosa Valli5 Tadeu Uggere de Andrade6 RESUMO Verifica a freqüência da síndrome metabólica (SM) em um grupo de pacientes diabéticos atendidos na Unidade Básica de Saúde de Coqueiral de Itaparica, Vila Velha-ES, com uma amostra de 120 pacientes de ambos os sexos. Aplica um questionário estruturado e investiga informações a respeito do estilo de vida, história familiar e dados socioeconômicos, avaliando parâmetros bioquímicos, características antropométricas e pressão arterial. Analisa os resultados de acordo com a definição de síndrome metabólica segundo a National Cholesterol Education Program´s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATPIII). Verifica que 80% dos pacientes apresentavam a síndrome metabólica, sendo que deste total, 85,4% eram mulheres e 14,6% eram homens. Observa a obesidade como fator de alta relevância com índice de 41,7% no grupo analisado. Comprova Farmacêuticos, graduados pelo Centro Universitário Vila Velha. E-mail: jaxfarm@yahoo. com.br. 2 Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: edney.vitoria@uvv.br. 3 Mestre em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: nutricao@uvv.br. 4 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: angelasi@uvv.br. 5 Doutor em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de São Paulo. Professor do Curso de Farmácia da Faculdade Brasileira. E-mail: valli@univix.br. 6 Doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: tadeu.andrade@uvv.br. 1
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por meio da aplicação do algoritmo de Framingham a existência de um alto risco cardiovascular nos indivíduos analisados. Conclui a necessidade de mudanças nas estratégias terapêuticas, devendo abordar as alterações bioquímicas bem como a redução da obesidade, por meio de uma atuação multidisciplinar, da utilização de inúmeros medicamentos e de mudanças no estilo de vida, evitando, assim, possíveis problemas cardiovasculares. Palavras-chave: Síndrome Metabólica. Diabetes. Hipertensão. Obesidade. 1 INTRODUÇÃO A síndrome metabólica (SM) é um transtorno complexo caracterizado por vários achados clínicos e laboratoriais, incluindo: obesidade, especialmente central (hiperadiposidade abdominal), resistência à insulina, hipertensão arterial, aumento de triglicérides, redução de HDL (Hight Density Lipoprotein)-colesterol (CHANDOLA; BRUNNER; MARMOT, 2006). Observa-se atualmente, um aumento do número de doenças crônicas associadas a fatores de risco como: tabagismo, inatividade física, sedentarismo, alimentação inadequada, que sugerem um crescimento da morbimortalidade da população adulta mundial (DUNCAN; SCHMIDT, 2001). A obesidade, antes considerada sinal de saúde e padrão de beleza, deixou de ser vista como uma condição favorável diante das evidências indesejáveis em indivíduos obesos. Em termos evolucionários, indivíduos com mais mecanismos para estoque de energia para sobrevivência foram selecionados ao longo do tempo. A urbanização e a industrialização, acompanhadas de maior disponibilidade de alimentos e menor atividade física, contribuíram para a crescente prevalência da obesidade nas populações, acarretando um elevado fator de risco cardiovascular (PI-SUNYER, 1993). O estudo da SM tem sido dificultado pela ausência de consenso na sua definição e seus desencontros quanto a uma descrição internacional definitiva. Com isso, cada grupo de pesquisadores segue um conjunto de patologias associadas, de acordo com trabalhos desenvolvidos, determinando-se, assim, repercussões na prática clínica e nas políticas Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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de saúde. O National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) formulou uma definição para a SM, desenvolvida para uso clínico, facilitando sua utilização (MATOS; MOREIRA; GUEDES, 2003). Segundo o NCEP-ATP III, a SM representa a combinação de pelo menos três componentes dos apresentados a seguir, tais como: obesidade abdominal (visceral), medida ao nível médio do abdômem: > 102cm em homens e > 88cm em mulheres; hipertrigliceridemia: ≥ 150mg/dL, HDL-colesterol: < 40mg/dL em homens e < 50mg/dL em mulheres; hipertensão arterial sistêmica ≥ 130/85mmHg; glicemia de jejum: ≥ 110mg/ dL. Recentemente, a Associação Americana de Diabetes sugeriu que os valores de normalidade para glicemia de jejum fossem reduzidos para, no máximo, 99mg/dL, sendo possível que esse critério seja adotado também para SM (SANTOS, 2001). Estudos em diferentes populações, como a mexicana, a norte-americana e a asiática, revelam prevalências elevadas da SM, dependendo do critério utilizado e das características da população estudada, variando as taxas de 12,4% a 28,5% em homens e de 10,7% a 40,5% em mulheres, conforme a I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (2004). Não foram encontrados estudos sobre a prevalência da SM com dados representativos da população brasileira. 2 OBJETIVO Com o objetivo de quantificar a freqüência da SM em grupo de pacientes diabéticos atendidos na Unidade Básica de Saúde de Coqueiral de Itaparica, do município de Vila Velha-ES, utilizando, para tanto, uma metodologia que estará em conformidade com o que é preconizado pelo NCEP-ATP III, pois é a definição recomendada pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (I-DBSM). 3 METODOLOGIA Trata-se de um estudo de corte transversal, realizado nos meses de abril e maio de 2006, envolvendo 120 indivíduos entrevistados aleatoriamente dentro de uma população de 750 pacientes com diagnóstico de diabetes Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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mellitus tipo 2 (DM2), atendidos na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Coqueiral de Itaparica, Vila Velha-ES. A amostra foi dimensionada com 95% de confiabilidade e erro amostral de 8%. Após o devido atendimento pelo corpo clínico da UBS, os pacientes, de acordo com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, responderam a um questionário estruturado, subdividido em duas seções. Na primeira, coletou-se informações socioeconômicas, incluindo idade, sexo e renda familiar. Na segunda seção, verificou-se o conhecimento dos pacientes em relação à SM, ao histórico familiar com relação à diabetes e outras patologias. Também se coletou informações a respeito de hábitos alimentares, prática de atividade física, consumo de bebida alcoólica e/ ou fumo e o uso de medicamentos. Realizou-se aferição da pressão arterial (PA) e análises antropométricas, tais como altura, peso e circunferência abdominal com posterior cálculo do índice de massa corpórea (IMC). Para aferição da PA, foi utilizado esfigmomanômetro aneróide (SOLIDOR, São Paulo-Brasil) e estetoscópio (PREMIUM, São Paulo-Brasil). Para a verificação do peso e altura, foi utilizada a balança mecânica ométrica (WELMY, São Paulo-Brasil). Foi utilizado o padrão preconizado pela I-DBSM para a medida da circunferência abdominal. Uma fita métrica inelástica foi posicionada na metade da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior, para a obtenção deste valor. O cálculo do IMC foi obtido através da relação entre peso e altura de acordo com a fórmula: IMC = peso/altura.2 Também foram analisados os parâmetros bioquímicos, como glicose em jejum, triglicérides, HDLcolesterol, LDL-colesterol e colesterol total. As análises bioquímicas foram requisitadas pelo corpo clínico e realizadas em dois laboratórios de análises clínicas terceirizados (Labor-tel e Thonson), conveniados com a UBS, sendo que ambos utilizaram o método enzimático colorimétrico. Foi realizado um estudo comparativo de acordo com Escore de Framingham (utilizada para avaliar o risco de doenças arteriais coronarianas), cruzando escores como idade, sexo, colesterol total, HDL-colesterol, níveis de pressão arterial, presença ou não de diabetes e tabagismo. Cada variável apresenta uma pontuação, sendo que esta aumenta à medida Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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que o fator analisado contribui para um efeito deletério sobre o sistema cardiovascular. Através do valor obtido, determinou-se a probabilidade de riscos cardiovasculares (doença arterial coronariana – DAC) em um período de dez anos (I DIRETRIZ..., 2004, p.149). O banco de dados foi analisado com utilização do programa estatístico Statistical Package Social Science versão 9.0 (SPSS 9.0). Foram feitas as estatísticas descritivas para as variáveis quantitativas em função do sexo, IMC e obesidade. Para as variáveis qualitativas, foram feitas frequências relativas e cruzadas. 4 RESULTADOS Foram entrevistados 120 pacientes diabéticos atendidos na UBS de Coqueiral de Itaparica, Vila Velha-ES, com distribuição percentual de 68,3% de mulheres e 31,7% de homens. A média de faixa etária da população estudada foi de 59,3 ± 11, 47 anos, sendo que aproximadamente 70% dos entrevistados possuíam idade entre 47 e 71 anos. Constatou-se que 71,7% dos entrevistados tinham uma renda familiar de até dois salários mínimos (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Distribuição dos entrevistados por renda familiar
A maioria dos entrevistados apresentou sobrepeso (35,8%; n=43) ou algum grau de obesidade (41,7%; n=50), sendo que apenas 22,5% (n=27) estava com peso dentro da normalidade. Portanto, levando-se em consideração os pacientes obesos e com sobrepeso, a freqüência de problemas relacionados ao peso foi elevada.
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De acordo com os dados levantados de peso corporal e altura, foi calculado o IMC dos pacientes avaliados. A distribuição do IMC em relação ao sexo encontra-se representada na Tabela 1. Tabela 1 - Classificação do IMC e sua distribuição em relação ao sexo
Sexo
IMC
Total
Normal
Sobrepeso
Obeso
Masculino
7
18
13
38
Feminino
20
25
37
82
Total
27
43
50
120
Os pacientes foram classificados em obesos moderados (66,0%; n=33), graves (20,0%; n=10) e mórbidos (14,0%; n=7) de acordo com o respectivo IMC. O índice de pacientes não obesos foi maior entre os homens (65,8%; n=25). Dos pacientes obesos, constatou-se um maior número de mulheres (45,1%; n=37), onde houve uma maior frequência de obesidade grave a mórbida (18,3%; n=15). Os demais dados relacionados a esse parâmetro podem ser observados no Gráfico 2. Pode-se visualizar no Gráfico 3 que os entrevistados não incorporavam hábitos de vida saudáveis em seu cotidiano, principalmente relacionado à prática de exercícios físicos. Embora com um baixo percentual, todos os pacientes que apresentaram o hábito de fumar, foram enquadrados, segundo os critérios da NCEP-ATP III, como portadores da SM. Pode-se considerar que o nível de conhecimento dos pacientes com relação a SM era bastante limitado uma vez que os entrevistados, ou não detinham informação sobre a síndrome (87,5%; n=105), ou não sabiam do que se tratava, apesar de já ter ouvido falar da SM (12,5%; n=15).
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Gráfico 2 - Distribuição da obesidade de acordo com o sexo
Gráfico 3 - Estilo de vida dos pacientes analisados
Um percentual elevado dos entrevistados declarou seguir algum tipo de dieta alimentar (75%; n=90), entretanto, pôde-se observar que esta se restringia principalmente à redução da ingestão de açúcares livres (Gráfico 4).
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Gráfico 4 - Principais tipos de dietas seguidas pelos pacientes avaliados
Através de perguntas abertas presentes no método de avaliação, podese observar que a maioria dos entrevistados possuía histórico familiar acentuado de diabetes, problemas cardiovasculares e hipertensão (Tabela 2). Tabela 2 - Histórico familiar dos pacientes com relação a diabetes, problemas cardiovasculares e hipertensão
Afecção
Sim
%
Histórico Familiar de Diabetes
98
81,7
Problemas Cardiovasculares
25
20,8
Hipertensão
86
71,7
Os pacientes apresentaram alteração em vários parâmetros bioquímicos medidos, que podem ser visualizados no Gráfico 5. Pode-se perceber que a principal alteração está relacionada com a glicemia em jejum (86,66%) e, embora se tratasse de pacientes com diagnóstico de DM2, alguns pacientes (13,34%), apresentavam sua glicemia dentro dos valores normais de referência. Pôde-se analisar, entre os indivíduos que tinham o hábito de fumar, uma média de glicemia maior (190 ± 8mg/dL), quando comparada aos que não fumavam (170 ± 7mg/dL; p<0,05).
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Gráfico 5 - Índice de pacientes com alteração nos parâmetros bioquímicos medidos
A hiperadiposidade abdominal, considerada um dos fatores de risco da SM, apresenta seus valores de referência distintos de acordo com a etnia e o sexo (ver metodologia). O Gráfico 6 traz o índice de pacientes, de acordo com o sexo, que se encontram dentro da faixa de risco cardiovascular, levando em consideração a medida da circunferência abdominal. Constatou-se que um percentual maior de mulheres apresentava, de acordo com esse parâmetro, um maior risco de inclusão na SM.
Gráfico 6 - Percentual de pacientes com hiperadiposidade abdominal
Na amostra estudada, 100% dos entrevistados faziam uso de algum tipo de medicamento. Sua classificação, bem como a expressão percentual, está representada no Gráfico 7.
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Gráfico 7 - Principais grupos farmacológicos utilizados pelos pacientes
Apesar de 46,6% dos entrevistados utilizarem algum tipo de anti-hipertensivo, um percentual mais expressivo (71,6%) apresentou hipertensão. Dos pacientes que fazem uso de anti-hipertensivos, 92,8% utilizam algum inibidor da enzima conversora de angiotensina I (IECA). Dos hipoglicemiantes utilizados pelos pacientes, 65,8% era a metformina e 38,3% a glibenclamida. A freqüência da SM, como evidenciada na Gráfico 8, foi encontrada em 80% dos pacientes, de acordo com os parâmetros da NCEP-ATP III.
Gráfico 8 - Prevalência de Síndrome Metabólica
A distribuição da SM no grupo analisado de acordo com sexo está representada no Gráfico 9. Pôde-se constatar que entre as mulheres a presença de SM é maior que nos homens.
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Gráfico 9 - Distribuição da SM nos pacientes de acordo com o sexo
Para comprovar a presença de risco cardiovascular, foi aplicado à população estudada o algoritmo de Framingham. De acordo com os escores deste algoritmo, dos 120 indivíduos entrevistados foi observado que 44% (n=16) dos homens têm de 11 a 20% de risco de desenvolver DAC em 10 anos, e entre as mulheres esse percentual é de 61% (n=51). Tabela 3 - Quantidade de indivíduos com risco para DAC de acordo com o algoritmo de Framingham
Risco de DAC em 10 anos
Quantidade de homens
Quantidade de mulheres
1 a 10%
11
15
11 a 20%
16
51
21 a 30%
3
18
31 a 40%
3
-
41 a 50%
3
-
51 a 53%
1
-
5 DISCUSSÃO O principal achado deste trabalho foi a observação da alta freqüência de SM na população estudada. Dos pacientes diabéticos atendidos na Unidade Básica de Saúde de Coqueiral de Itaparica, Vila Velha-ES e avaliados neste estudo, 80% preencheu pelo menos três dos critérios Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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preconizados pela NCEP-ATP III para a caracterização da SM, o que é suficiente para classificá-los como portadores desta síndrome. A alta prevalência pode ser explicada, pelo menos em parte, pela característica dos indivíduos da amostra que era de apresentar DM2, quadro caracterizado pela resistência à insulina, que juntamente com a obesidade (especialmente a abdominal) é uma das maiores causas subjacentes para a SM (GRUNDY et al., 2004; ECKEL et al., 2005). Além disso, observou-se também, uma maior prevalência da síndrome em pacientes do sexo feminino, que adicionalmente apresentaram um maior percentual de obesidade e hiperadiposidade abdominal. Vale ressaltar que a obesidade abdominal é o primeiro critério de análise para inclusão de um indivíduo na SM, o que reflete a prioridade dada a este fator como contribuição para a síndrome (GRUNDY et al., 2004). Desta forma, esses dados podem justificar o maior número de mulheres com SM na amostra estudada. Portadores de hiperadiposidade abdominal, também conhecida como obesidade andróide (que apresentam depósitos de gordura predominantemente no abdômen e nas vísceras) apresentam maiores fatores de risco do que os de obesidade ginóide (com depósitos de gordura, predominantemente no quadril e subcutâneo). Isso pode ser explicado, pois a obesidade central tem como característica o aumento nos níveis de insulina sanguínea e consequentemente uma maior incidência de diabetes (KROTKIEWSKI et al., 1983). O mecanismo pelo qual a distribuição central da adiposidade causa resistência à insulina é bem conhecido. Depósitos viscerais de triglicérides possuem turnover mais acelerado que o de outras regiões, aumentando a oferta de ácidos graxos livres no sistema porta, o que estimula a gliconeogênese, contribuindo para elevar a glicemia, a insulinemia e a resistência insulínica (KISSEBAH et al., 1982; KROTKIEWSKI et al., 1983). Portanto, essas observações justificam a utilização da obesidade abdominal como um dos principais critérios de inclusão na SM, haja vista que ela se correlaciona mais evidentemente e de forma recíproca com a resistência à insulina (GRUNDY et al., 2004; ECKEL et al., 2005). Apesar de um expressivo montante dos pacientes ter declarado fazer algum tipo de controle dietético, o percentual de obesos também foi relativamente alto. Se adicionarmos a esse valor o dos pacientes com Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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sobrepeso, esses dados (alteração do peso corporal e dieta) apresentamse aparentemente contraditórios. Todavia, o principal tipo de restrição alimentar foi o de açúcar, o que não necessariamente indica uma dieta hipocalórica e, convergentemente, apenas 39% dos pacientes declarou dieta pobre em lipídios. Segundo Ávila (2004), a falta de condições financeiras é um dos principais motivos que interferem na aderência do paciente a uma dieta adequada. Outros fatores seriam: a dificuldade em mudar hábitos alimentares e de vida, conscientização, apoio familiar, além da supervalorização de determinados alimentos em detrimento de outros. Neste trabalho, constatou-se que 72% dos entrevistados apresentavam uma renda familiar de até dois salários mínimos, o que corrobora com a assertiva de Ávila. Desta forma, a baixa renda familiar pode explicar parcialmente a não consecução de uma dieta adequada para os pacientes interrogados. Avaliou-se também, através de perguntas abertas do instrumento de avaliação, que a maioria não detinha conhecimento sobre a composição dos alimentos, intitulando açúcares somente como na sua forma livre e não seguindo uma dieta hipolípidica e nem hiposódica, embora previamente recomendada. O plano alimentar deve ser individualizado de acordo com o sexo, a idade, o estado tanto fisiológico como metabólico, a atividade física, a situação financeira, os aspectos culturais e as necessidades nutricionais específicas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2006). Outro aspecto que contribui para o sobrepeso e/ou obesidade dos indivíduos da amostra foi a inatividade física reportada, uma vez que a maioria relatou não praticar nenhum tipo de atividade física. Segundo a National Cholesterol Education Program´S Adult Treatment Panel III (2002), a obesidade deve ser o primeiro alvo da intervenção terapêutica da SM. O tratamento de escolha deve ser a redução do peso corporal, reforçada com a prática de exercícios físicos, o que acarreta em redução do LDL-colesterol, da pressão arterial, triglicérides, colesterol total, resistência à insulina (BLOOMGARDEN, 2004). Portanto, o sedentarismo apresentado ajuda a explicar as alterações de peso corporal apresentadas. Segundo Grundy (2006), se o peso corporal for reduzido para valores satisfatórios, sustentado por exercícios físicos regulares, todos os fatores de risco da síndrome seriam melhorados e, portanto, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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a progressão da SM para estágios mais avançados seria mais lenta. Ainda segundo esse autor, para uma eficiente implantação de mudanças no estilo de vida, é necessário uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos, enfermeiros, nutricionistas, professores de educação física e farmacêuticos. Desta maneira, pode-se constatar que os pacientes não estavam adequadamente cobertos por mudanças no estilo de vida as quais são reconhecidas pela literatura como eficientes para tratar e/ ou prevenir a SM. A maior parte dos pacientes que compunham a amostra analisada apresentavam idade entre 47 e 71 anos e, portanto, podendo ser classificados como indivíduos de meia idade ou acima. Isso pode, também, explicar a alta prevalência de SM, uma vez que além da inatividade física, desequilíbrio hormonal e alterações genéticas, a idade avançada contribui para o agravamento desta síndrome (GRUNDY et al., 2004; ECKEL et al., 2005). Apesar de os pacientes apresentarem bons hábitos com relação ao fumo e bebidas alcoólicas, ou seja, a maioria relatou não fumar ou beber, os dados obtidos indicam, mesmo assim, uma boa correlação entre fumo e prevalência de SM, uma vez que 100% dos pacientes que fumam apresentaram alterações condizentes com o diagnóstico desta situação clínica. Estudos mostram que indivíduos fumantes apresentam aumento provisório nos níveis de glicose sanguínea e uma redução à tolerância à glicose, induzida pela exposição ao tabaco. A nicotina pode aumentar os níveis de muitos hormônios, como cortisol, que podem atrapalhar os efeitos da insulina. Níveis de ácidos graxos livres no sangue, derivados de gordura, competem com a glicose como fonte de energia para o músculo e também contribuem para um aumento da resistência à insulina. A nicotina, o monóxido de carbono e outros produtos químicos provenientes do tabaco possuem um efeito tóxico direto nas células secretoras de insulina do pâncreas (KO; COCKRAM, 2005). Pode-se observar que a média da glicemia em fumantes (190,71mg/dL) apresentou-se mais elevada do que em não fumantes (170,08mg/dL), baseada em seu valor de referência preconizada pela NCEP-ATP III. Quadro parecido pode ser avaliado com relação à ingestão de bebidas alcoólicas. A maioria dos pacientes com esse hábito (90,9%) se enquadra nos critérios NCEP-ATP III para SM. O consumo exagerado de etanol é responsável pelo aumento da resistência à insulina e por Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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inibição da lipólise, levando a alterações do metabolismo glicídico e lipídico, respectivamente (BUNOUT, 1999), o que favoreceria, juntamente com o quadro de diabetes apresentado pelos indivíduos analisados, o aparecimento da SM. No estudo United Kingdom Prospectivy Diabetes Study realizado no Reino Unido em 1998, foi constatado que a hipertensão está quase sempre presente em indivíduos com DM2. Os dados obtidos com relação à pressão arterial da amostra estudada estão de acordo com esse levantamento, uma vez que a maioria dos pacientes (71,7%) apresentou hipertensão. É digno de nota que a alteração da pressão arterial é um dos fatores de inclusão para a SM e, portanto, juntamente com a presença do diabetes, favorece a caracterização desta síndrome na população estudada, justificando, desta forma, a alta prevalência da SM. A história familiar, ou seja, a predisposição genética é referenciada como outro fator de risco para a SM (GOWDAK; PEREIRA; KRIEGER, 2004). No presente trabalho, isso também ficou evidenciado uma vez que 81,7% dos indivíduos declararam possuir antecedentes de diabetes, hipertensão ou outro tipo de doença cardiovascular. Além disso, a DM2 é uma doença com um forte componente genético (ERIKSSON et al., 1989), o que justifica o histórico familiar positivo para a maioria dos pacientes. O melhor tratamento para a SM é a profilaxia, que deve ser priorizada, pois a terapêutica medicamentosa é complexa e envolve inúmeras observações. Deve-se tratar todas as afecções por grau de risco, sendo quase sempre a obesidade o fator primordial para o sucesso do tratamento. Não há um único medicamento eficaz que determine a redução de todos os fatores de riscos metabólicos. Por essa razão, o manejo terapêutico medicamentoso deve ser direcionado ao tratamento de cada alteração, por exemplo, através de uma combinação de drogas hipolipêmicas, agentes anti-hipertensivos e terapia hipoglicemiante. À medida que os fatores de risco pioram o controle destes, por monoterapia, falha, sendo a polifarmácia necessária. Geralmente, a maioria dos pacientes com SM e que desenvolve DM2 necessita utilizar em torno de dez ou mais medicamentos diferentes (GRUNDY, 2006), o que pode determinar aumento dos problemas secundários como interações medicamentosas, efeitos indesejáveis, erros em medicação, entre outros, dificultando ainda mais a aderência do paciente ao tratamento (ROLLASON; VOGT, 2003). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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Na amostra analisada, 100% dos entrevistados faziam o uso de hipoglicemiantes, 46,6% de anti-hipertensivos e apenas 5% de hipolipêmicos. Segundo Grundy (2006), as alterações no metabolismo lipídico apresentam uma relação frequente com a aterogênese e, consequentemente, com a aterosclerose e a elevada morbimortalidade cardiovascular. O fármaco de escolha para o tratamento das dislipidemias são as estatinas, que contribuem para a redução de LDL-colesterol em adultos. Sabe-se que a redução dos níveis de LDL-colesterol não se enquadra nos critérios de diagnósticos desta síndrome, mas as evidências de estudos clínicos controlados ressaltam a necessidade de sua redução como meta primária a ser alcançada com o tratamento, juntamente com a correção dos níveis de HDL-colesterol e dos triglicérides (AUSTIN et al., 1988). Portanto, parece plausível propor a inclusão de agentes hipolipêmicos na farmacoterapia dos indivíduos estudados para um controle adequado da SM e, consequentemente, redução dos riscos cardiovasculares, uma vez que a modificação do estilo de vida, estratégia terapêutica primária recomendada para a correção das dislipidemias, não ficou evidenciada na amostra. Dos 86 pacientes hipertensos, 56 estavam seguindo um tratamento medicamentoso, dos quais 92,8% faziam uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina, que segundo a IV Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2002) deve ser a classe de medicamentos de escolha para o tratamento da hipertensão na SM, visto que os beta-bloqueadores e diuréticos apresentam reações deletérias no equilíbrio lipídico. Entre os medicamentos de escolha para tratamento da hipertensão, quando associada à dislipidemia, estão os bloqueadores de receptores da angiotensina II, antagonistas dos canais de cálcio, que não exercem efeitos indesejáveis em relação ao perfil lipídico e se apresentam neutros em relação ao mesmo (KOHLMANN JR., 2004). Inúmeros estudos reconhecem que cerca de 80% dos pacientes hipertensos apresentam algum grau de dislipidemia, sendo que em metade deles a dislipidemia está presente e na outra metade essas alterações são limítrofes, o que já implica um forte impacto no desenvolvimento de complicações cardiovasculares, principalmente naqueles pacientes que já apresentam fatores de risco cardiovascular ou com doença cardiovascular prévia. Dessa forma, pode-se perceber que a maioria dos pacientes hipertensos da UBS eram tratados com terapia medicamentosa e recebendo o grupo farmacológico mais recomendado para Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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a situação clínica na qual se encontram. É de relevância a observação de que cerca de 35% dos pacientes hipertensos alegou não receber terapia medicamentosa, o que pode contribuir para o risco cardiovascular destes indivíduos. Todos os indivíduos entrevistados faziam uso de hipoglicemiantes, o que pode refletir a dificuldade do controle glicêmico por estratégias não medicamentosas, dado o sedentarismo e dieta inadequada apresentados por estes pacientes. 65,8% dos pacientes faziam uso da metformina, que é uma droga sensibilizadora da ação insulínica, geralmente utilizada na fase inicial da moléstia, onde predomina o fator resistência insulínica. Com o passar dos anos, ocorre uma deterioração progressiva da glicemia devido à instalação mais acentuada do fator deficiência insulínica. Nesta fase, ocorre a associação entre as biguanidas (metformina) e as sulfoniluréias (glibenclamida) conforme a I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (2004). Foi observado entre os entrevistados um percentual de 38,3% que utilizam esta associação, estando, provavelmente, esses pacientes num quadro mais avançado do diabetes e, portanto, com maior risco cardiovascular. Sabe-se que a SM engloba variáveis que aumentam o risco para doenças cardiovasculares. O estudo Framingham (KANNEL; McGREE, 1979) resultou na elaboração de escores acarretando na estratificação de risco cardiovascular, segundo parâmetros conhecidos, tais como idade, sexo, colesterol total, HDL-colesterol, níveis de pressão arterial, presença ou não de diabetes e tabagismo. A tabela de Framingham tem sido largamente aplicada também para outras populações, desde que sejam usadas as mesmas variáveis de risco. Aplicando o algoritmo de Framingham na população deste estudo, pôdese observar que 44% dos homens e 66% das mulheres apresentavam de 11 a 20% de risco de desenvolver DAC em dez anos. Isso demonstra o alto grau de risco cardiovascular, ao qual os indivíduos da amostra estão submetidos e corrobora a SM como um bom fator para o desenvolvimento de complicações cardiovasculares. Apesar de as variáveis da SM não serem exatamente as mesmas da tabela de Framingham, Wilson e outros (1998) observaram que a presença apenas da SM, classificada de acordo com o NCEP-ATP III, foi capaz de predizer cerca de 25% dos novos casos de DAC observados em oito anos de seguimento dos pacientes na população de Framingham. Outro estudo que avaliou a SM como indicador de risco cardiovascular foi o realizado por Sundström e Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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outros (2006) que observaram que a presença de SM, de acordo com a definição da NCEP-ATP III, proporcionou informação sobre o prognóstico em longo prazo com relação à mortalidade cardiovascular e total em uma amostra comunitária de 2.322 homens de meia idade. Portanto, analisados em conjunto, os dados deste trabalho indicam que os pacientes diabéticos atendidos na UBS de Coqueiral de Itaparica, em Vila Velha-ES, apresentam, em sua maioria, SM e, desta forma, necessitam de uma nova abordagem terapêutica, englobando uma equipe multidisciplinar, capaz, em conjunto com os profissionais que ali atuam, de determinar estratégias que acarretem mudanças reais no estilo de vida que sejam comprovadamente benéficas. Além disso, dever-se-ia adequar às alternativas terapêuticas, incrementando o tratamento da obesidade e dislipidemias, uma vez que, de acordo com os resultados alcançados, o percentual de pacientes que recebiam fármacos para o controle destas afecções era bastante reduzido. Também se torna necessário melhor educação dos pacientes, principalmente no que tange ao esclarecimento da SM, suas características e riscos, uma vez que a maioria dos pacientes desconhece ou não possui informações adequadas sobre esse quadro. Desta maneira, a equipe multidisciplinar preconizada pelas recentes mudanças na atenção básica à saúde no setor público, poderia de forma mais incisiva promover ações esclarecedoras para esses indivíduos. 6 CONCLUSÃO De acordo com os resultados obtidos no estudo, pode-se concluir que a frequência da SM, muitas vezes silenciosa, foi altamente expressiva no grupo analisado. Deve-se levar em consideração, que a falta de informação aliada a um estilo de vida inadequado pode agravar os fatores de risco relacionados à SM. No grupo analisado, existe uma maior porcentagem de SM nos indivíduos do sexo feminino, fator este provavelmente decorrente da maior prevalência de obesidade e hiperadiposidade abdominal existente entre elas. Sabe-se que a SM representa a associação de várias afecções corriqueiras, mas não menos importantes e que, quando somadas, resultam em um quadro grave podendo aumentar o risco cardiovascular. A necessidade de uma abordagem multidisciplinar e do uso de inúmeros medicamentos, aliada à dificuldade inerente às mudanças nos Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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hábitos de vida, impõem ao paciente e ao sistema de saúde, elevados custos, o que dificulta a instituição de um tratamento adequado assim como a adesão ao mesmo. Portanto, torna-se necessária a mudança de abordagem destes pacientes dentro da perspectiva da SM, para que sejam adequadamente tratados e, consequentemente, acarrete em uma diminuição significativa da morbimortalidade cardiovascular. AGRADECIMENTOS Ao Dr. Silvernhoque José dos Santos, Dr. João Lemos Sobrinho e à funcionária Maria da Penha Azevedo Borges, da UBS de Coqueiral de Itaparica, que de forma incondicional nos ajudaram na realização da pesquisa.
FREQUENCY OF THE METABOLIC SYNDROME IN A GROUP OF DIABETIC PATIENTS TREATED IN A COMMUNITY HEALTH CENTER IN COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA-ES, BRAZIL ABSTRACT This is a transversal study, which aims to check the frequency of the Metabolic Syndrome in a group of diabetic patients treated at the Community Health Center in Coqueiral de Itaparica, Vila Velha-ES, Brazil. The sample encompassed 120 patients of both sexes, who responded to a questionnaire about their lifestyle, family history, and social economic data, as well as biochemical parameters, anthropometrics characteristics and blood pressure were measured. The results were analyzed according to National Cholesterol Education Program´s Adult Treatment Panel III definition of Metabolic Syndrome. The study showed that 80% of the patients had Metabolic Syndrome; 85.4% of them were women and 14.6% men. Obesity was a highly relevant factor in the research. This clinical problem was present in 41.7% of the analyzed group. Thus, the patients manifested a high risk of cardiovascular disease what could be proved by the application of the Framingham algorithm. It is necessary to change therapeutical strategies. The treatment shall consider the biochemical changes as well as obesity reduction and, in respect to achieve it, a multidisciplinary team, use of several medicines and changes in lifestyle are necessairy and these changes will be relevant to avoid future cardiovascular complications. Keywords: Metabolic Syndrome. Diabetes. Hypertension. Obesity. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
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Correspondência para/reprint request to: Tadeu Uggere de Andrade Rua Desembargador Augusto Botelho, 295/402 Praia da Costa 29101-110 – Vila Velha - ES, Brasil Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 177-198, jul./dez. 2007
Avaliação da atividade antibacteriana do óleo essencial de EUCALYPTUS GLOBULUS: Uma alternativa aos antibióticos convencionais Alciene Almeida Siqueira1 Alvimara Almeida Siqueira1 Marco André Loureiro Tonini1 João Damasceno Lopes Martins2
RESUMO Com o uso indiscriminado de medicamentos antimicrobianos pela população, o índice de micro-organismos resistentes à terapia convencional tem aumentado, o que tem estimulado testes de novos fármacos como uma excelente alternativa. A atividade antibacteriana do óleo essencial de Eucalyptus globulus foi avaliada determinando a concentração inibitória mínima desta substância frente a cepas bacterianas pelo método de diluição em caldo. As cepas padrão Staphylococcus aureus ATCC 6538, Streptococcus agalactiae ATCC 29213, Escherichia coli ATCC 25922 e as cepas selvagens Enterococcus faecalis e Klebsiella pneumoniae foram os micro-organismos testados. As diluições seriadas do óleo, em triplicata, tinham concentrações variando de 250μL/mL a 1,9531μL/mL, na proporção de 1:2. Todas as bactérias testadas foram sensíveis ao óleo essencial, porém as gram-negativas (K. pneumoniae e E. coli) foram as que apresentaram menor sensibilidade. As gram-positivas, S. aureus, S. agalactiae, E. faecalis, mostraram-se mais susceptíveis a ação do óleo. O óleo essencial de eucalipto abre perspectivas no sentido de desenvolver um fitoterápico eficaz e de baixo custo, podendo ser usado
Graduandos do Curso de Farmácia do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: cienesiqueira@yahoo.com.br. 2 Especialista em Microbiologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: joao.martins@uvv.br. 1
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como alternativa no tratamento de doenças infecciosas causadas por micro-organismos resistentes à terapia convencional. Palavras-chave: Antibióticos. Eucalipto. Micro-organismos. 1 INTRODUÇÃO Desde muito tempo, as plantas são consideradas uma valiosa fonte medicinal para curar doenças, especialmente nas últimas décadas (FLATT; GRAY, 1998). “Com a evolução da ciência, intensificaram-se os estudos das plantas medicinais, relacionando a composição química destas com os seus efeitos, confirmando, muitas vezes, a sua utilização popular” (FRANCO; NAKASHIMA, 2005). Nos últimos anos, após o uso indiscriminado de medicamentos antimicrobianos pela população, houve um grande índice de micro-organismos que se tornaram resistentes à terapia convencional (SILVEIRA, 1997, apud BOLLER et al., 2005). Desse modo, como relatam Estanislau e outros (2001), os estudos sobre a atividade antimicrobiana de plantas representam um grande desafio para a descoberta e a identificação de novos fármacos. Em diversas partes do mundo, várias espécies de Eucalyptus são cultivadas e exploradas em grande escala há muitos anos. Nativo da Austrália, este gênero contém por volta de 600 espécies, que se destacam tanto por seu valor econômico, atribuído à indústria de celulose e madeira, quanto por suas virtudes medicinais. No que diz respeito às propriedades terapêuticas, o gênero Eucalyptus pode ser empregado como antifúngico, antisséptico, adstringente, anti-inflamatório, antibacteriano, cicatrizante, antioxidante, anti-hiperglicêmico e desinfetante (ESTANISLAU et al., 2001). O componente mais abundante encontrado nas folhas de eucalipto é o 1,8cineol ou eucaliptol, presente no óleo essencial extraído desta planta, sendo um dos grandes responsáveis pelas propriedades terapêuticas (FRANCO; NAKASHIMA, 2005). Na Alemanha, o 1,8-cineol é registrado como um produto medicinal licenciado e disponível para venda desde muitos anos Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 199-214, jul./dez. 2007
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em cápsulas contendo 100mg do composto para o tratamento de bronquite aguda e crônica, sinusite e infecções respiratórias (DETHLEFSEN et al., 2003). De acordo com Franco e Nakashima (2005), além deste monoterpeno, encontram-se também taninos, ácidos, princípios amargos e compostos flavônicos, dentre outros. Dentro deste contexto, este trabalho teve por objetivo avaliar a eficiência antibacteriana do óleo essencial de Eucalyptus globulus frente a cepas bacterianas selvagens de origem hospitalar e padrão ATCC (American Type Culture Collection). 1.1 GÊNERO EUCALYPTUS O gênero Eucalyptus, pertencente à família Myrtaceae, tem como característica a presença de elementos voláteis em suas folhas (JOLY, 2002). O eucalipto é uma das árvores mais altas conhecidas, podendo atingir 100m de altura e 8m de diâmetro na base, originária da Tasmânia e da Austrália, sendo hoje muito cultivada nas regiões temperadas (COSTA, 2002). “Os aborígenes, nativos da Austrália, tradicionalmente faziam uso das folhas de eucalipto para curar feridas tópicas e infecções fúngicas” (KOKUBO; TAKAHASHI; SAKAINO, 2004, p. 60). Segundo Brito, Maffeis e Silveira (2000), o eucalipto é cultivado principalmente para a produção de madeira e se constitui ainda uma importante cultura produtora de óleos essenciais no Brasil, sendo este um dos principais produtores mundiais. 1.2 ÓLEOS ESSENCIAIS A International Standard Organization (ISO) define óleos essenciais como os produtos obtidos de partes de plantas através de destilação por arraste com vapor d’água, bem como os produtos obtidos por espressão dos pericarpos de frutos cítricos. São misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, geralmente odoríferas e líquidas. Também podem ser chamadas de óleos voláteis, óleos etéreos ou essências (SIMÕES; SPITZER, 2004, p. 467). Os óleos essenciais, produtos do metabolismo secundário, estão envolvidos com várias funções vitais do vegetal dentro do seu ecossistema, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 199-214, jul./dez. 2007
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atuando na defesa contra micro-organismos e predadores, e também na atração de insetos e outros agentes polinizadores (HENRIQUES et al., 2000). Como descrevem Simões e Spitzer (2004), outras de suas importantes propriedades são o sabor acre e picante, a cor ligeiramente amarelada ou incolor quando recém extraído, a instabilidade quando em presença de ar, luz, calor, umidade e metais, além de apresentarem índice de refração e capacidade de desviar o plano da luz polarizada, sendo estas propriedades utilizadas na sua identificação e no controle de qualidade. Quanto à composição química, são formados principalmente de derivados fenilpropanóides ou de terpenóides, sendo que esses últimos predominam. Os compostos terpênicos mais encontrados nos óleos essenciais são os monoterpenos (cerca de 90% dos óleos voláteis) e os sesquiterpenos (HENRIQUES et al., 2000; SIMÕES; SPITZER, 2004). De acordo com Cruz [200-] um óleo essencial apresenta uma composição complexa, algumas vezes, de centenas de diferentes compostos químicos, apresentando ação sinérgica ou complementar entre si, modalizando sua atividade. Os óleos essenciais são produzidos em estruturas secretoras especializadas, tais como: pelos glandulares, células parenquimáticas, canais oleíferos ou em bolsas características. Podem ser estocados em certos órgãos vegetais tais como, nas flores, folhas, como ocorre nos eucaliptos; ou ainda nas cascas dos caules, madeira, raízes, rizomas, frutos ou sementes (SIMÕES; SPITZER, 2004). Estes óleos têm sua maior aplicação como agentes antimicrobianos, pelo fato de que a maioria dos seus compostos estende a sua própria função que é exercida nas plantas, defendendo-as de bactérias e fungos patogênicos (JANSSEN, 1997, apud HENRIQUES et al., 2000). São empregados na indústria para a produção de sabões, perfumes e materiais de limpeza, como desinfetantes sanitários e outros. Muitos deles são também usados na medicina com os mais variados fins (CIMANGA et al., 2002; HENRIQUES et al., 2000).
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1.3 ÓLEOS ESSENCIAIS DE EUCALIPTO A Farmacopéia Brasileira (1996) estabelece o eucalipto como uma droga constituída pelas folhas, contendo no mínimo 0,8% de óleo essencial, e este último, formado por pelo menos 70% de 1,8-cineol. Segundo Brito e Vitti (2003), o óleo essencial de eucalipto que atende a tais exigências é classificado como óleo medicinal, destinado à fabricação de produtos farmacêuticos, como inalantes, estimulantes de secreção nasal, produtos de higiene bucal ou, simplesmente, usado como flavorizante em medicamentos. A principal espécie produtora deste tipo de óleo no Brasil é o Eucalyptus globulus. “A essência de eucalipto é um líquido incolor ou corado de amarelo, por vezes acastanhado ou esverdeado, fluido, de cheiro forte e aromático, próprio, e de sabor picante, primeiro quente e depois fresco” (COSTA, 2002, p. 623). “É praticamente insolúvel em água, miscível em álcool, clorofórmio, éter, ácido acético glacial e óleos” (THE MERCK..., 2001, p. 690). A fim de comprovar o uso popular do óleo essencial de eucalipto no Brasil, Abebe e outros (2003) propõem o desenvolvimento de novas classes de drogas analgésicas e anti-inflamatórias com componentes dos óleos essenciais de Eucalyptus citriodora, Eucalyptus tereticornis e Eucalyptus globulus. Os resultados dos testes realizados em camundongos demonstram que os óleos extraídos destas espécies apresentam efeitos analgésicos, central e periférico. De acordo com Schnitzler e outros (2001, apud JASSIM; NAJI, 2003), o óleo essencial de eucalipto exibiu um alto grau de atividade antiviral in vitro frente a suspensões de vírus da herpes (HSV-1 e HSV-2). Segundo Cox, Mann e Markham (2001), esta atividade é atribuída ao terpinen-4ol, monoterpeno presente no óleo essencial de eucalipto. 1.3.1 Eucaliptol O eucaliptol, 1,3,3-trimetil-2-oxabiciclo-[2,2,2]-octano, também conhecido como 1,8-cineol ou cajeputol apresenta a fórmula molecular C10H18O e peso molecular de 154,25. É o principal componente do óleo essen-
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cial de eucalipto (THE MERCK..., 2001), sendo um éter-óxido interno da família dos terpenos, constituído de duas subunidades isoprênicas (DETHLEFSEN et al., 2003; BOUCHERLE; JOSSERAND, 1995). Segundo a Farmacopéia Brasileira (1988), a determinação de cineol compreende a determinação do ponto de congelamento (criometria) do composto de combinação molecular entre cineol e o-cresol. Por ser esta temperatura proporcional ao conteúdo de cineol no composto, é possível estabelecer o seu teor. De acordo com Beuscher e outros (2000), os estudos sobre as propriedades do óleo essencial de eucalipto indicam que o 1,8-cineol proporciona efeito anti-inflamatório, pois este interage com radicais livres de hidroxila, inibindo a produção de espécies reativas de oxigênio. Dethlefsen e outros (2003) propõem o uso do 1,8-cineol como agente mucolítico em doenças respiratórias crônicas e agudas pelo fato deste monoterpeno inibir o metabolismo do ácido araquidônico e a produção de citocinas por monócitos, além da evidência sugestiva de sua atividade anti-inflamatória na asma. 1.4 PROPRIEDADE ANTIMICROBIANA DO ÓLEO ESSENCIAL DE EUCALIPTO O impacto da crescente resistência de micro-organismos a medicamentos e a substâncias específicas intensificou a pesquisa para o desenvolvimento de novas drogas que sejam capazes de combater as estratégias de adaptação que esses micro-organismos elaboram frente a situações adversas (BLOCH; PRATES, 2000). Por se tratar de uma mistura complexa constituída por muitos componentes, os óleos essenciais não apresentam um mecanismo de ação totalmente elucidado, mas há alguns mecanismos sugeridos, tais como desnaturação protéica, inibição enzimática e desintegração da membrana. É possível que haja uma interação entre as substâncias constituintes do óleo, ocasionando um sinergismo ou antagonismo ou ainda, ambos (JANSSEN, 1989, apud FRANCO; NAKASHIMA, 2005). Segundo Imamura e outros (2003), é necessário que seja examinado cada constituinte dos óleos essenciais separadamente e combinados, para averiguar se estes possuem atividade antibacteriana de forma isolada ou sincronizada. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 199-214, jul./dez. 2007
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Um estudo conduzido com plantas nativas da Austrália demonstrou excelente atividade antibacteriana do Eucalyptus staigeriana, o qual exibiu forte atividade contra Escherichia coli e Salmonela typhimurium (CAVANAGH; WILKINSON, 2005). Cimanga e outros (2002) avaliaram a eficácia de óleos essenciais de várias espécies de Eucalyptus provenientes da República do Congo contra micro-organismos de origem patológica. Neste estudo as espécies Eucalyptus camaldulensis e Eucalyptus terticornis foram mais ativas, principalmente frente à Pseudomonas aeruginosa. Verificaram, ainda, que a atividade observada foi atribuída aos componentes presentes em menor concentração no óleo essencial. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 OBTENÇÃO DO ÓLEO ESSENCIAL O óleo essencial de Eucalyptus globulus foi adquirido da empresa Dierberger Óleos Essenciais S/A, situada em Barra Bonita – São Paulo, na qual foi destilado em maio de 2006. 2.2 MICRO-ORGANISMOS UTILIZADOS Foram utilizadas duas cepas bacterianas gram-negativas, Escherichia coli ATCC 25922 e cepa selvagem de Klebsiella pneumoniae e três gram-positivas, sendo Staphylococcus aureus ATCC 6538, Streptococcus agalactiae ATCC 29213 e cepa selvagem de Enterococcus faecalis. 2.3 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA 2.3.1 Prova de sensibilidade por diluição em caldo O teste de diluição em caldo é o método padrão para a determinação de níveis de resistência a antimicrobianos. Ele é feito através de várias diluições do agente a ser testado, que é seguidamente distribuído, em volumes iguais, em tantos tubos (esterilizados) quanto for o número de diluições. As diluições seriadas são feitas em meios líquidos, nos quais são inoculadas quantidades padronizadas de micro-organismos, sendo estes incubados por um tempo de 24 a 48 horas, onde é analisada a turvação do caldo, que se relaciona ao crescimento microbiano. Quando o Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 199-214, jul./dez. 2007
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caldo apresenta-se límpido, há o indicativo de que não houve crescimento de micro-organismos. A menor concentração, ou seja, a maior diluição do antimicrobiano que impede a turvação é considerada a concentração inibitória mínima (CIM). Nesta diluição, o agente é bacteriostático (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997; ROLLINS, 2006). 2.3.2 Preparo da amostra Para a prova de sensibilidade por diluição em caldo foi utilizado o óleo essencial de Eucalyptus globulus, com o qual foram realizadas oito diluições seriadas, a partir da amostra inicial (500µL/mL), utilizando como solvente o dimetilsulfóxido (DMSO), ambos previamente esterilizados com membrana filtrante de 0,22µm. As concentrações obtidas foram: 250µL/mL, 125µL/mL, 62,5µL/mL, 31,25µL/mL, 15,625µL/mL, 7,8125µL/ mL, 3,9062µL/mL e 1,9531µL/mL (FRANCO; NAKASHIMA, 2005). 2.3.3 Preparo do meio de cultura Foi preparado o caldo nutritivo da Micromed®, a partir do meio desidratado, com a adição de água destilada, de acordo com a recomendação do fabricante, seguido de autoclavagem, e com posterior transferência para tubos de ensaio esterilizados. 2.3.4 Preparo do inóculo As culturas bacterianas utilizadas apresentavam 24 horas de crescimento. As culturas microbianas, após serem suspensas em solução salina estéril, foram padronizadas em 108 células/mL, estimadas por comparação ao tubo 0,5 da Escala MacFarland (0,05ml de cloreto de bário a 1% e 9,95ml de ácido sulfúrico a 1%), sendo posteriormente inoculadas em caldo nutritivo para avaliação da atividade antimicrobiana (FRANCO; NAKASHIMA, 2005). 2.3.5 Ensaio de diluição em tubos De acordo com a metodologia usada por Franco e Nakashima (2005), foram retiradas alíquotas de 100µL de cada diluição do óleo, 940µL de meio de cultura e 10µL de cada suspensão microbiana. Os tubos foram armazenados em estufa a 37ºC por 24 horas. O ensaio foi feito em triplicata. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 199-214, jul./dez. 2007
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2.3.6 Prova da sensibilidade por difusão em disco O método utilizado foi baseado na técnica de difusão em disco, onde em vez de dispor-se da utilização de meios de cultivo líquidos em tubos, é possível medir o potencial antimicrobiano de uma substância em meios solidificados, que facilmente mostram as áreas de inibição do crescimento. Uma placa contendo ágar Mueller Hinton é inoculada com o micro-organismo a ser testado, contido em solução padronizada (nesse caso, de acordo com a escala 0,5 de MacFarland), e o disco contendo a gentamicina é disposto no centro da placa, a fim de se investigar a atividade antimicrobiana. A gentamicina impregnada no disco de papel se difunde no meio de cultura solidificado e, caso o antibiótico em questão desenvolva atividade sobre o micro-organismo testado, causando inibição de sua proliferação após o período de incubação de 24 a 48 horas a que as placas são submetidas, há o surgimento de um halo de não-crescimento ao redor do disco de gentamicina localizado sobre o ágar Mueller Hinton. A circunferência do halo é posteriormente medida (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997; JANSSEN, 1989, apud FRANCO; NAKASHIMA, 2005). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O Quadro 1 evidencia a concentração inibitória mínima (CIM), realizada através do método de diluição em caldo. Observa-se, pelos resultados, que todos os micro-organismos testados foram sensíveis ao óleo essencial de Eucalyptus globulus. MICRO-ORGANISMOS TESTADOS
Óleo essencial de Eucalyptus globulus
E. coli ATCC 25922
K.pneumoniae
CIM
31,250
125
S. aureus S. agalactiae E. ATCC ATCC 29213 faecalis 6538 15,625
3,906
15,625
Quadro 1 - Concentração inibitória mínima (CIM) do óleo essencial de Eucalyptus globulus (μL/mL) frente a diferentes cepas bacterianas
A CIM frente à bactéria Klebsiella pneumoniae foi superior às demais cepas bacterianas, seguida da Escherichia coli, demonstrando menor sensibilidade destas ao óleo essencial. Já as bactérias gram-positivas Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e Enterococcus faeScientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 199-214, jul./dez. 2007
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calis foram as que apresentaram maior sensibilidade frente ao óleo de eucalipto, sendo as concentrações mínimas que inibiram o crescimento microbiano de 15,625, 3,9062 e 15,625μL/mL, respectivamente. Kokubo, Takahashi e Sakaino (2004) testaram a atividade antimicrobiana de 26 espécies de eucaliptos, das quais os extratos de E. globulus, E. maculata e E.veminalis inibiram significativamente o crescimento de bactérias gram-positivas, dentre elas, Staphylococcus aureus e Enterococcus faecalis. Porém, os mesmos extratos acima não mostraram atividade antibacteriana significativa contra bactérias gram-negativas, sendo elas Escherichia coli e Pseudomonas putida. Aboussaouira e outros (2005) avaliaram a susceptibilidade de cepas de Escherichia coli frente a óleos essenciais de Rosmarinus officinalis e Eucalyptus globulus. Neste estudo, verificaram que a cepa de E.coli, isolada de urina, que se mostrou resistente a antibióticos convencionais testados como amoxicilina e amoxicilina + ácido clavulânico, e a E. coli CIP 54127 se mostraram sensíveis aos dois óleos essenciais. Em vista ao emergente crescimento da resistência bacteriana aos antimicrobianos convencionais, Amine e outros (2006) evidenciam a possível aplicação de extratos de folhas de Eucalyptus globulus como uma alternativa para o tratamento de infecções do trato respiratório. Neste estudo, testou-se o efeito antibacteriano do extrato de Eucalyptus globulus frente a 56 isolados de Staphylococcus aureus, 12 isolados de Streptococcus pneumoniae, 25 isolados de Streptococcus pyogenes e 12 isolados de Haemophilus influenzae, obtidos de 200 amostras de pacientes com infecção no trato respiratório. As cepas bacterianas testadas se mostraram sensíveis ao óleo, sendo que o Staphylococcus aureus foi o que apresentou maior resistência, com uma CIM igual a 64mg/mL. A atividade antibacteriana do óleo essencial de Eucalyptus globulus verificada frente às bactérias testadas pode ser correlacionada à composição química do óleo, no que se refere aos grupos funcionais e à estrutura química dos componentes (DEANS; DORMAN, 2000). Os principais constituintes químicos do óleo de Eucalyptus globulus são α-pineno, taninos e 1,8-cineol, sendo que este último, encontrado em maior quantidade no óleo, é o responsável pelas inúmeras atividades farmacológicas (BALACS et al., 1997, apud FRANCO; NAKASHIMA, 2005; AMINE et al., 2006). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 199-214, jul./dez. 2007
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Essa ação é sugerida pelas propriedades lipofílicas dos terpenóides, da potência dos seus grupos funcionais e da sua solubilidade em água (KNOBLOCH et al., 1988, apud DEANS; DORMAN, 2000). Segundo Bisignano e outros (2005), os efeitos tóxicos dos monoterpenos na membrana celular bacteriana resultam em expansão da membrana, aumento da fluidez e permeabilidade da membrana, distúrbio nas proteínas de membrana, inibição da respiração e alteração no processo de transporte de íons. Desse modo, o 1,8-cineol parece exercer efeito direto sobre a bicamada fosfolipídica da célula bacteriana, resultando na desorganização estrutural e funcional da membrana celular (SIKKEMA et al., 1992). Tendo em vista esse fenômeno, o mecanismo de ação mais provável do óleo essencial de Eucalyptus globulus é o de atuar em nível da membrana citoplasmática da bactéria. Entretanto, considerando que o óleo é formado por grande variedade de constituintes químicos, não é possível atribuir ao óleo um mecanismo de ação específica, uma vez que cada componente pode atuar em diferentes sítios na célula microbiana (SKANDAMIS; NYCHAS, 2001; CARSON; MEE; RILEY, 2002). A gentamicina em discos de 10µg, por ser um antibiótico de amplo espectro, foi utilizada como controle positivo (FRANCO; NAKASHIMA, 2005). As cepas gram-positivas e gram-negativas se mostraram sensíveis a esta substância, demonstrando que o óleo essencial de eucalipto possui eficiência antimicrobiana comparável a este aminoglicosídeo. Portanto, o óleo essencial destaca-se como uma alternativa ao uso dos antibióticos convencionais, uma vez que é provável que o óleo desempenhe ação em vários sítios da célula bacteriana, enquanto que a maioria dos antibióticos convencionais atua em um único local da célula, podendo assim contribuir para seleção de cepas bacterianas resistentes. Quanto à atividade do óleo essencial de Eucalyptus globulus sobre os micro-organismos testados, notou-se que Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli, ambas gram-negativas, apresentaram uma CIM mais elevada do que aquela observada sobre as bactérias gram-positivas (Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis, Streptococcus agalactiae). Como relata Ratledge e Wilkinson, citados por Burt (2004), essa menor susceptibilidade das bactérias gram-negativas é esperada visto que tais micro-organismos apresentam uma membrana externa em torno da parede celular que, segundo Trabulsi e Alterthum (2004), atua como uma barreira hidrofílica, que restringe a difusão de compostos hidrofóbicos através da camada de lipopolissacarídeos. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 199-214, jul./dez. 2007
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A diferença mais marcante entre as bactérias gram-positivas e gram-negativas está na estrutura de suas paredes celulares, onde as gram-negativas apresentam grande conteúdo de lipopolissacarídeos em sua parede, diferentemente da parede das gram-positivas, que apesar de mais espessa, apresenta predominantemente um tipo de macromolécula (KOKUBO; TAKAHASHI; SAKAINO, 2004; TRABULSI; ALTERTHUM, 2004). 4 CONCLUSÃO A avaliação da atividade antimicrobiana do óleo essencial de Eucalyptus globulus é de grande importância, tendo em vista o emergente crescimento da resistência bacteriana aos antibióticos convencionais, representando uma alternativa para o processo curativo das infecções. A observação dos resultados sugere que os vários constituintes químicos presentes no óleo essencial exercem efeitos diretos e em diferentes sítios de ação da bicamada fosfolipídica, provocando a desorganização funcional e estrutural da célula bacteriana. Os resultados indicam ainda que a presença da membrana externa das bactérias gram-negativas confere a estas a necessidade de uma CIM maior do que as bactérias gram-positivas necessitam, sugerindo uma melhor difusão do óleo através da parede celular destas bactérias. Logo, as cepas de S. aureus, E. faecalis e S. agalactiae, apesar de possuírem parede celular espessa, apresentaram maior sensibilidade ao óleo essencial de eucalipto.
Evaluation of antibacterial activity of Eucalyptus globulus essential oil: An alternative for conventional antibiotics ABSTRACT Analyse the antibacterial activity of Eucalyptus globulus essential oil, so that it could be useful as an alternative for conventional antibiotics. The methodology used for the essay was the broth tube dilution method against Staphylococcus aureus ATCC 6538, Streptococcus agalactiae ATCC 29213, Escherichia coli ATCC 25922, Enterococcus faecalis,
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and Klebsiella pneumoniae. A threefold serial dilution was prepared using dimetilsulfoxide. The concentrations of samples varied from 250μL/mL to 1,9531μL/mL, at proportion of 1:2. All tested bacterium demonstrated to be sensitive to the essential oil, although the gramnegatives (K. pneumoniae and E. coli), were the strains that showed less sensitivity. The gram-positives, S. aureus, S. agalactiae and E. faecalis, showed to be more susceptible to the action of the oil. The essential oil of eucalyptus open a prospective about the development of a cost-effective phytotherapic, that would be used as an alternative in treatment of infectious disease caused by resistant microorganisms to conventional therapy. Keywords: Antibiotics. Eucalyptus. Microorganisms. REFERÊNCIAS ABEBE, W. et al. Analgesic and anti-inflammatory effects of essential oils of Eucalyptus. Journal of Ethnopharmacology, v. 89, n. 2/3, p. 277-283, dec. 2003. ABOUSSAOUIRA, T. et al. The susceptibility of Escherichia coli strains to essential oils of Rosmarinus officinalis and Eucalyptus globulus. African Journal of Biotechnology, v. 4, p. 1175-1176, oct. 2005. AMINE, G. et al. Antibacterial effects of Eucalyptus globulus leaf extract on pathogenic bacteria isolated from specimens os patients with respiratory tract disorders. Clinical Microbiology and Infection, v. 12, n. 2, p. 194-196, feb. 2006. BEUSCHER, N. et al. Antioxidant properties of essential oils. Possible explanations for their anti-inflammatory effects. Arzneimittelforschung, v. 50, n. 2, p. 135-139, 2000. BISIGNANO, G. et al. Mechanisms of antibacterial action of three monoterpenes. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 49, n. 6, p. 2474-2478, june 2005. BLOCH, J. C.; PRATES, M. V. Peptídeos antimicrobianos: uma alternativa no combate a micro-organismos resistentes. Biotecnologia, Ciência & Desenvolvimento, v. 17, p. 30-36, 2000.
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Correspondência para/reprint request to: João Damasceno Lopes Martins Rua Comissário Dantas de Melo, 21 Boa Vista 29102-770 – Vila Velha - ES, Brasil Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 199-214, jul./dez. 2007
A EFETIVIDADE DA TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL FORA DO AMBIENTE HOSPITALAR Carla Renata Concilio Fucci1 Elaine Braga de Azevedo Matos2 Silvia de Cassia Felício Nossa2 Carmen Barreira-Nielsen3
RESUMO Avalia a efetividade do programa de triagem auditiva neonatal em clínica particular após a alta hospitalar utilizando as emissões otoacústicas evocadas transientes e o reflexo cócleo-palpebral. Comprova que a triagem auditiva neonatal é efetiva quando realizada fora do ambiente hospitalar, pois das 439 crianças avaliadas, 112 apresentavam até 15 dias de vida (25,51%), 158 tinham até 1 mês (35,99%), 137 (31,21%) tinham até 3 meses de idade, o que é recomendado pelo Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância. Entretanto, ainda é preciso aperfeiçoar o acompanhamento dos bebês que falham na triagem e são encaminhados para confirmação do diagnóstico, protetização e (re)habilitação. Aponta a importância e o desafio da atuação interdisciplinar fora do ambiente hospitalar e o quanto é necessário fortalecer os vínculos com os profissionais envolvidos com os bebês para o encaminhamento de todos os nascidos para a triagem auditiva, pois ainda que se receba crianças dentro da idade preconizada, existe um número de bebês triados muito menor que o número total de nascidos nestas maternidades privadas. Palavras-chave: Audiometria. Audição (Fisiologia). Percepção auditiva em crianças. Distúrbios da audição em crianças. Especialista em Estudos Linguísticos pela Universidade Cidade de São Paulo. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: carlafucci@uvv.br. 2 Alunas do Curso de Pós-Graduação em Audiologia do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: silviadecassia@bol.com.br. 3 Doutora em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: carmen.barreira@uvv.br. 1
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1 INTRODUÇÃO A audição é um sentido importante para o desenvolvimento da linguagem. Segundo Azevedo (1997), a integridade do sistema auditivo, tanto em sua porção periférica quanto central, é determinante para a aquisição e desenvolvimento normal da linguagem. O processo de maturação do sistema auditivo central acontece no primeiro ano de vida, e por isso esta fase é crucial para a detecção da deficiência auditiva, pois segundo Ruggieri-Marone, Lichitig e Marone (2002), o diagnóstico precoce possibilita a orientação à família no que diz respeito à comunicação da criança. Para Garcia, Isaac e Oliveira (2002), a audição normal é imprescindível para o desenvolvimento da linguagem da criança, e a privação desta via sensorial leva o indivíduo a prejuízos na comunicação intra e interpessoal o que compromete a qualidade de vida e limita sua capacidade em manter-se integrado na sociedade. No Brasil a deficiência auditiva tem sido diagnosticada por volta dos 2 a 3 anos de idade, e a intervenção fonoaudiológica após o terceiro ano de vida, perdendo-se assim o período crítico e optimal de estimulação (AZEVEDO, 1997). De acordo com Northen e Downs (2005), a incidência de crianças com perda auditiva congênita profunda bilateral e sensorioneural igual ou superior a 80 decibéis é de 1:1.000 nascidos vivos e a de crianças com indicadores de risco com perda auditiva moderada, severa ou profunda cresce para 6:1.000. O Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância (2000) refere que, dentre as doenças passíveis de triagem ao nascimento, a deficiência auditiva apresenta alta prevalência: 30:10.000, enquanto que a fenilcetonúria é de 1:10.000, o hipotireoidismo é de 2,5:10.000 e a anemia falciforme é de 2:10.000. A implantação da triagem auditiva neonatal deve ser realizada antes da alta hospitalar ainda na maternidade, como se preconiza no Joint Committe of Infant Hearing, citado pelo Grupo de Apoio à Triagem Auditiva Neonatal Universal (GATANU) (2000), porém a adequação da conduta a este programa tem se deparado com uma série de obstáculos, como: Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 215-222, jul./dez. 2007
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a falta de profissionais qualificados, o custo elevado do equipamento, a evasão dos pacientes no retorno, as condições ambientais desfavoráveis, a presença de vérnix no conduto auditivo no pós-parto imediato, a localização da maternidade, que nem sempre é próxima à residência do paciente, entre outras. As emissões otoacústicas transientes são indicadas para triagem auditiva neonatal juntamente com a pesquisa do reflexo cócleo palpebral, porque desta forma garantimos a pesquisa da integridade coclear e também das vias auditivas centrais (RUGGIERI-MARONE; LICHITIG; MARONE, 2002). Assim sendo, este estudo tem como objetivo avaliar a efetividade do programa de triagem auditiva neonatal em clínica particular após a alta hospitalar. 2 MATERIAL E MÉTODO O estudo foi realizado em uma clínica otorrinolaringológica particular localizada em Vitória-ES, no período de janeiro a dezembro de 2006. Foram avaliadas crianças de 4 dias a 8 meses de vida, com ou sem fatores de risco para deficiência auditiva, através das emissões otoacústias transientes juntamente com a pesquisa do reflexo cócleo palpebral realizado com agogô. Foi utilizado Capella do fabricante Madsen, conectado a um computador compatível com versão Windows, para pesquisa das emissões otoacústicas transientes. Foi oferecido um estímulo de 80dB SPL, no modo não linear e quickscreen, nas duas orelhas. O critério de passa ou falha adotado foi estabelecido por meio da relação sinal ruído maior ou igual a 6dB para as frequências de 2000, 3000 e 4000Hz, com reprodutibilidade igual ou maior que 70%, e maior ou igual a 3dB para as frequências de 1000 e 1500Hz, com reprodutibilidade igual ou maior que 50%. As crianças foram encaminhadas pelos pediatras de maternidades e clínicas privadas. Algumas já saíram do hospital com o pedido do exame e outras foram encaminhadas quando passaram pela primeira consulta com o pediatra, que solicitava o exame quando este ainda não havia sido solicitado na alta hospitalar. Os dados coletados foram transportados para planilhas eletrônicas e a análise estatística foi realizada no programa SPSS for Windows versão Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 215-222, jul./dez. 2007
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11.5. Foi utilizada análise descritiva dos dados dispostos no próprio texto para descrição dos resultados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Das 439 crianças avaliadas, 226 eram do sexo feminino (51,48%) e 213 do sexo masculino (48,52%). Foi observado que das 439 crianças avaliadas, 112 apresentavam até 15 dias de vida (25,51%), 158 tinham até 1 mês (35,99%), 137 tinham até 3 meses (31,21%) e 32 tinham até 6 meses (7,29%). Estes resultados mostram que a maioria das crianças avaliadas tinham até 1 mês de vida. Estes números somados ainda à quantidade de crianças com até 15 dias totalizam 61,50% das crianças triadas. O Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância (2000) preconiza que a triagem auditiva deve ser realizada até o 3º mês de vida, para que a intervenção aconteça até o 6º mês. Comparado à outra pesquisa com proposta de triagem auditiva para Unidade Básica de Saúde, observamos que Aita e outros (2002) referem à faixa etária predominante de 3 a 6 meses que chega ao setor público. Em nosso estudo, obtivemos um alto índice de triagem na faixa etária até 3 meses, correspondendo a 92,71%. Das crianças triadas, 392 (89,29%) passaram na primeira avaliação e 47 (10,71%) falharam. Estes dados são similares aos estudos realizados por Vallejo e outros (1999) que registraram 85% de passa e 10% de falha e de Durante e outros (2004) que registraram 94% de passa e 6% de falha. Porém, o índice de falha do presente estudo ainda é alto comparado ao que recomenda o Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância (2000), que é de 4%. Todas as crianças que passaram na triagem com as emissões otoacústicas foram também avaliadas através do reflexo cócleo palpebral (RCP), estando este presente em 100% delas. A presença do reflexo cócleo palpebral é indicativo de audição normal ou perda auditiva até o nível moderado, se estas forem recrutantes (RABINOVICH, 1997). Azevedo (2005) ressalta que o RCP ocorre em 100% das crianças com audição normal e sua ausência sugere perda auditiva bilateral ou alteração central. Das crianças que falharam no primeiro teste, 36 (76,60%) retornaram e apenas 11 (23,40%) não compareceram para reavaliação. Este índice de Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 215-222, jul./dez. 2007
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evasão é menor quando comparado aos estudos de Manfredi e Santos (2002) que registrou 46,5% e de Pádua e outros (2005) com 38,1%. Foi observado como resultado do primeiro reteste, com 36 crianças que compareceram, 30 (83,33%) passaram e 6 (16,67%) falharam, sendo estas encaminhadas para diagnóstico por meio de outros exames complementares. Importante ressaltar que o resultado de falha só foi entregue acompanhado do timpanograma tipo A, a fim de garantir a alteração coclear e descartar alterações condutivas. Com relação aos indicadores de risco para deficiência auditiva (IRDA), verificamos que 425 (96,81%) não apresentavam nenhum. Apenas 14 (3,19%) relataram IRDA segundo Joint Committe of Infant Hearing, citado pelo Grupo de Apoio à Triagem Auditiva Neonatal Universal (GATANU) (2000), sendo 2 sindrômicos (Down) e o restante com intercorrências de prematuridade (permanência em incubadora, fototerapia e uso de ototóxico). Nossos números são baixos em relação ao estudo de RuggieriMarone, Lichitig e Marone (2002), que registraram 40% de crianças com fatores de risco. Acreditamos que o nível socioeconômico e cultural das famílias avaliadas interferiu mais uma vez para este resultado, pois são recém-nascidos predominantemente de maternidades privadas e com história de acompanhamento pré-natal desde o início da gestação. 4 CONCLUSÃO Foi comprovado que a triagem auditiva neonatal foi efetiva quando realizada fora do ambiente hospitalar, pois atingiu os objetivos propostos pelo Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância (2000). Acreditamos que o encaminhamento do pediatra na alta hospitalar ou logo na primeira consulta possibilitou este índice elevado de avaliações até os 3 meses de vida. Entretanto, ainda existe pouca conscientização para o encaminhamento de todos os nascidos para a triagem auditiva neonatal, que permite um número de bebês triados muito menor que o número total de nascidos nestas maternidades privadas. Também foi observado que alguns pontos precisam ser trabalhados, como o acompanhamento dos bebês que falham na triagem e são encaminhados para confirmação do diagnóstico, protetização e re(ha) bilitação de fala, linguagem e audição, pois as etapas ainda não estão bem interligadas. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 215-222, jul./dez. 2007
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THE EFFECTIVENESS OF NEWBORN HEARING SCREENING OUTSIDE HOSPITAL SETTINGS ABSTRACT Hearing is crucial for the acquisition and normal development of language. This study aimed at assessing the effectiveness of the newborn hearing screening program in private practice, following hospital discharge, by utilizing transient otoacoustic emissions and cochleo palpebral reflex. The newborn hearing screening showed to be effective when performed out of hospital settings, for out of the 439 children evaluated, 112 were up to 15 days old (25.51%), 158, up to 1 month (35.99%), and 137 up to 3 months old (31.21%), when they came to the clinic, which is recommended by Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância. However, it is necessary to improve the follow-up of babies that fail on the screening and are referred to diagnosis confirmation, the fitting of hearing aids and (re)habilitation. This research highlights the importance and challenge of interdisciplinary performance outside hospital settings and the need to strengthen the bonding with professionals involved with babies, for the referral of all newborns to hearing screening because although children within the preconized age have come, the number of newborns screened is quite smaller than the total number of babies born in these private maternities. Keywords: Audiometry. Hearing (Physiology). Auditory perception in children. Disorders of hearing in children. REFERÊNCIAS AITA, A. D. et al. Triagem auditiva de 0 a 2 anos: uma proposta para unidades básicas de saúde. Revista Fonoaudiologia Brasil, Brasília, v. 2, n. 2, p. 55-68, 2002. AZEVEDO, M. F. Triagem auditiva neonatal. In: BEFI-LOPES, D. M. (Org.). Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 2005. p. 604-616. COMITÊ BRASILEIRO SOBRE PERDAS AUDITIVAS NA INFÂNCIA. Recomendação 01/99 do Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância. Jornal do Conselho Federal de Fonoaudiologia, p. 3-7, 2000.
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Correspondência para/reprint request to: Carmem Barreira-Nielsen Rua Comissário José Dantas de Mello, 21 Boa Vista 29102-770 – Vila Velha - ES, Brasil Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 215-222, jul./dez. 2007
A INFLUÊNCIA DO EFEITO DE BORDA EM UMA COMUNIDADE ARBÓREA DE MATA ATLÂNTICA EM SANTA MARIA DE JETIBÁ-ES Mila Alvarenga de Tassis1 Marcelo Passamani2
RESUMO Investiga a influência do efeito de borda na comunidade arbórea de Mata Atlântica, no município de Santa Maria de Jetibá-ES (20°04’57” S; 40°38’47” W), em uma área de 20ha. Foram estabelecidos três transectos paralelos, distando 40m entre si, no sentido borda–interior. Cada transecto tinha 210m de comprimento e seis parcelas (10x10m), onde foram realizados levantamentos de trepadeiras e indivíduos arbóreos vivos e mortos (total e em pé), com altura igual ou superior a 1,30m e perímetro à altura do peito (PAP) igual ou superior a 10cm. A análise dos dados foi feita considerando a densidade, área basal, altura, PAP e número de trepadeiras. Foram encontrados 460 indivíduos arbóreos (394 vivos e 66 mortos) e 497 trepadeiras. A porcentagem de indivíduos mortos em pé (6,7%) está entre os valores encontrados em outros estudos na Mata Atlântica. Uma maior abundância de lianas e árvores mortas foi encontrada à medida que se aproximava da borda florestal ao contrário do que ocorreu com o número de árvores vivas. A ausência de variação no PAP e altura podem estar relacionadas a um fator temporal. O valor médio da área basal (30,6m2/ha) está dentro dos limites para florestas tropicais. De acordo com os resultados encontrados, sugere-se que o fragmento caracteriza uma comunidade jovem, porém em estágio Aluna do Curso Ciências Biológicas do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: mila_ tassis@yahoo.com.br. 2 Doutor em Ecologia pela Universidade Federal de Lavras. Professor do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras. E-mail: mpassamani@ufla.br. 1
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avançado de regeneração. Esses resultados podem fornecer subsídios para estratégias de recuperação e manejo dos fragmentos florestais que são fundamentais para a conservação da biodiversidade. Palavras-chave: Árvores. Mata Atlântica - Santa Maria de Jetibá
(ES).
1 INTRODUÇÃO Uma das alterações antrópicas de maior impacto sobre os ecossistemas é a fragmentação de habitats (FERNANDEZ, 1997), que faz com que áreas anteriormente contínuas se transformem em um mosaico formado por manchas isoladas do habitat original (ilhas de habitat) circundadas por áreas transformadas por ação antrópica (matriz). Os mais importantes efeitos ecológicos da fragmentação estão associados principalmente ao aumento do efeito de borda e à redução e isolamento do habitat (SAUNDER; HOBBS; MARGULES, 1991). A criação de bordas provoca mudanças físicas e biológicas que afetam a estrutura e a função do ecossistema (BIERREGAARD JR. et al., 1992; MURCIA, 1995), estando envolvido efeitos abióticos, como mudanças nas condições ambientais (TURNER, 1996) e efeitos biológicos diretos e indiretos, como mudanças na abundância e distribuição das espécies (HARRIS, 1988; LOVEJOY et al., 1986; FRAVER, 1994) e mudanças nas interações entre as espécies (ANDRÉN; ANGELSTAN, 1988). Um dos aspectos mais importantes verificados nas bordas são as mudanças microclimáticas que afetam várias espécies vegetais (JANZEN, 1983; LOVEJOY et al., 1986), tais como mortes de indivíduos (MARTINS, 1991) e aumento da abundância de lianas (OLIVEIRA-FILHO et al., 1997). O presente trabalho teve como objetivo principal investigar a influência do efeito de borda na comunidade arbórea de Mata Atlântica, em Santa Maria de Jetibá-ES, analisando os parâmetros de densidade de trepadeiras, número de indivíduos, número de árvores mortas, altura média, perímetro à altura do peito (PAP) e área basal dos indivíduos vivos.
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2 MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado entre março e abril de 2005 em um fragmento florestal de aproximadamente 20ha, localizado no município de Santa Maria de Jetibá-ES (20°04’57” S; 40°38’47” W). Para coleta de dados, foi utilizado o método de amostragem por parcelas, onde foram traçados três transectos paralelos, distando 40m entre si, no sentido borda−interior. Cada transecto tinha 210m de comprimento e seis parcelas (A, B, C, D, E e F) de 10mx10m cada (Figura 1).
Figura 1 – Representação esquemática da distribuição dos transectos (T1, T2 e T3) e das parcelas no sentido borda (A) para interior da mata (F) em Santa Maria de Jetibá-ES
Em cada parcela foram realizados levantamentos de todas as trepadeiras e indivíduos arbóreos vivos ou mortos (total e em pé), com altura igual ou superior a 1,30m e perímetro à altura do peito (PAP) igual ou superior a 10cm. Os indivíduos mortos foram contados, considerando-se aqueles cuja base do tronco se encontrava dentro dos limites da parcela. As lianas foram também contadas e consideradas aqui como sendo todas as plantas lenhosas que nascem no solo e usam as árvores como suporte para subir (GUILHERME, 2000; RIBEIRO et al., 1999). Segundo Guilherme (2000), as árvores com tronco quebrado acima da altura do peito entraram na amostragem, mesmo quando estavam em estágio de decomposição relativamente avançado, enquanto aquelas com o fuste (ou tronco) quebrado abaixo dessa altura foram descartadas da amostragem. As análises foram feitas em relação ao número total de indivíduos mortos, vivos e trepadeiras, área basal (m2/ha) dos indivíduos vivos, médias de PAP’s e altura, em função da distância da borda (SIQUEIRA et al., 2002). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 223-236, jul./dez. 2007
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Os indivíduos vivos foram agrupados por classe de perímetro; empregando intervalos de classe com amplitudes crescentes (10,0cm − 20,0cm; 20,1cm – 40,0cm; 40,1cm – 80,0cm; 80,1cm – 140,0cm; e > 140,0cm), para compensar o forte decréscimo da densidade nas classes de tamanho maiores (BOTREL et al., 2002; NUNES et al., 2003). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram amostrados 460 indivíduos arbóreos nas 18 parcelas, sendo desses 394 vivos (85,6%) e 66 mortos, e 497 trepadeiras. De acordo com o Gráfico 1, verifica-se um ligeiro aumento no número de indivíduos vivos ao longo das parcelas nos transectos 1 e 3. Neste último transecto houve um decréscimo abrupto no número de indivíduos vivos na parcela B, provavelmente devido a uma clareira existente próximo a esta parcela.
Gráfico 1 - Total de indivíduos vivos registrados nas parcelas amostradas em um fragmento de Mata Atlântica em Santa Maria de Jetibá-ES
No transecto 1, foram amostrados 194 indivíduos, correspondendo a 49,2% do total de indivíduos amostrados. Foi verificada uma maior densidade (47 indivíduos) e área basal (16,31) nas duas parcelas (E e F) localizadas mais no interior do fragmento, assim como o menor valor de altura (2m) na parcela A, mais na borda do fragmento. A média total de área basal dos transectos é de 30,6m2/ha, e para o transecto 1 esta variável foi crescente enquanto se distanciava da borda (Gráfico 2). Nos demais transectos este padrão não foi tão evidente.
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Gráfico 2 - Área basal dos indivíduos vivos registrados nas parcelas em um fragmento de Mata Atlântica em Santa Maria de Jetibá-ES
No total foram registradas 497 trepadeiras, correspondendo a um índice de 1,08 trepadeiras por indivíduo arbóreo amostrado, incluindo vivos e mortos. Para os dois transectos (T1 e T2), o número de trepadeiras foi maior nas parcelas mais próximas da borda que no interior (Gráfico 3). No T3 houve um alto número de trepadeiras na parcela C, que pode ter relação com a presença de uma clareira neste ponto, que contribuiu com um aumento de luminosidade e consequentemente a proliferação de lianas. De uma forma geral, as parcelas localizadas no interior (D, E e F) apresentaram menores números de trepadeiras que as localizadas mais na borda (Gráfico 3), demonstrando que, de acordo com o esperado, houve uma maior abundância de lianas à medida que se aproxima da borda florestal (OLIVEIRA-FILHO et al., 1997). Essas regiões de borda apresentam um aumento na luminosidade e temperatura, o que provoca o aumento da área foliar mais rapidamente nas lianas que em árvores, além da diminuição da umidade (MURCIA, 1995), fatores propícios ao aumento da densidade de lianas (GUILHERME, 2000).
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Gráfico 3 - Número de trepadeiras registrados nas parcelas em um fragmento de Mata Atlântica em Santa Maria de Jetibá-ES
O maior valor no número de lianas no transecto 1 pode ser explicado pela orientação do fragmento. O transecto 1 está localizado no ponto mais alto e central do fragmento, onde o relevo é mais acentuado, portanto, é a área com maior incidência de luz solar, enquanto o transecto 3, localizado na base do fragmento, encontra-se na maior parte do tempo sombreado. Segundo Rodrigues e outros (2004), a incidência de luz pode ter contribuído para aumentar a densidade de lianas nas bordas. Esse alto valor na densidade de lianas é de grande importância na formação de zonas tampão (ENGEL et al., 1998), que possuem um fundamental papel no amortecimento das variações ambientais decorrentes da borda, no amadurecimento ou cicatrização das bordas recém-criadas, diminuindo a taxa de mortalidade pelo vento e mudanças no microclima (WILLIAMS-LINERA, 1990). De forma contrária, o aumento de lianas também pode causar o efeito dominó, onde a queda de umas árvores leva outras para o chão, aumentando o tamanho e a frequência de clareiras, servindo também como bons indicadores de áreas perturbadas (GOMES FILHO et al., 1998). Dos 66 indivíduos mortos, 53,0% (35) estavam caídos no chão e 47,0% se encontravam na posição vertical. Do total dos indivíduos mortos 34,8% estavam na parcela A, enquanto apenas 6,0% estavam na parcela F (Gráfico 4). A porcentagem de indivíduos mortos em pé (6,7% dos indivíduos amostrados) encontra-se entre os valores limites em estudos feitos na Mata Atlântica. Silva e Soares (2002) encontraram um total de 7,7% de indivíduos mortos em pé em relação aos indivíduos amostrados, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 223-236, jul./dez. 2007
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assim como Martins (1991) encontrou 7,4% e Tabanez, Viana e Dias (1997), 11,3%. O maior número de indivíduos mortos próximo à borda reforça a hipótese de que pode haver uma perturbação localizada na borda, ao contrário do que ocorreu em Silva e Soares (2002) em uma Floresta Estacional Semidecídua, no município de São Carlos-SP. Essas mortes podem estar associadas a acidentes (ventos, queda de outras árvores), doenças, perturbações antrópicas, ou ocorrer naturalmente por velhice (MARTINS, 1991).
Gráfico 4 - Total de indivíduos mortos registrados nas parcelas em um fragmento de Mata Atlântica em Santa Maria de Jetibá-ES
A mortalidade de árvores pode gerar heterogeneidade de habitats e, portanto, aumento da diversidade de recursos, e ainda pode resultar em um processo de sucessão (pioneiras-secundárias). O aumento da mortalidade também é um importante componente dos ciclos de nutrientes e carbono, uma vez que o organismo deixa de retirar nutrientes do solo e acumular carbono a liberá-los para o solo e para a atmosfera (SIQUEIRA et al., 2002). É possível observar uma predominância no fragmento de árvores vivas com perímetro à altura do peito (PAP) reduzido, entre 10,0 e 20,0cm (159 indivíduos) e um baixo número de indivíduos com PAP maior que 140,0cm (1 indivíduo) (Gráfico 5). Do total de indivíduos arbóreos vivos, 44,1% são encontrados distribuídos nos intervalos de altura de 5.1m a 10.0m (174 indivíduos) e apenas 4,8% possuem altura superior a 15.1m. É possível observar que somente no intervalo de altura de 5.1m a 10m, existe um relativo aumento do número de indivíduos em direção ao interior do fragmento (Gráfico 6). Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 223-236, jul./dez. 2007
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Gráfico 5 - Distribuição do número de indivíduos vivos por intervalo de PAP registrados nas parcelas em um fragmento de Mata Atlântica em Santa Maria de Jetibá-ES
De acordo com os resultados encontrados, pode-se sugerir que o fragmento se caracteriza por uma comunidade jovem, porém em estágio avançado de regeneração (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, 1994), devido a perturbações severas ocorridas no passado. Isto se torna evidente quando verificamos que o fragmento, apesar de possuir um maior número de árvores finas em todas as parcelas, possui altura e área basal que indicam seu estágio avançado de regeneração, o que caracteriza este estágio de sucessão (OLIVEIRA-FILHO; SAWAYA; TOPPA, 1998; ROCHA-MENDES et al., 2003; NUNES et al., 2003). Muitas vezes a regeneração natural é o caminho mais simples para recuperação da cobertura florestal (VIANA, 1987), desde que isoladas ou amenizadas as influências antrópicas e de borda.
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Gráfico 6 - Distribuição dos Indivíduos vivos por intervalo de altura, registrados nas parcelas amostradas
A influência negativa da borda pode acarretar mudanças na dinâmica desses fragmentos a longo prazo (ROCHA-MENDES et al., 2003) e, devido a isso, é importante o entendimento dos processos ligados à fragmentação das florestas, visando minimizar os impactos sobre os ecossistemas naturais. Os resultados apresentados nesse estudo podem fornecer subsídios para estratégias apropriadas de recuperação e manejo dos fragmentos florestais existentes, que são fundamentais para a conservação da biodiversidade (SILVA; SOARES, 2002). Logo, aumentar o conhecimento dos efeitos de borda e suas consequências na biodiversidade é necessário para desenvolver estratégias adequadas de conservação (GOMES-FILHO et al., 1998).
THE INFLUENCE OF EDGE EFFECT IN A TREE COMMUNITY OF ATLANTIC FOREST, IN SANTA MARIA DE JETIBÁ-ES ABSTRACT The objective of this work was to investigate the influence of edge effect in tree community of Atlantic forest, in the mucipality of Santa Maria de Jetibá-ES (20°04’57” S; 40°38’47” W), in an area of 20ha. Three parallels transects had been established, with a distance of 40 m between itself, in the direction edge-interior. Every transect had 210m in length and six plots (10x10m), where surveys of climbers and alive or dead (total and standing) plants, with height equal or superior to 1.30m and perimeter at breast height (PBH) equal or superior to 10cm, had been made. The analysis of the data was made considering the density, the basal area, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 223-236, jul./dez. 2007
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height, PBH and the number of climbers. It had been found 460 tree individuals (394 alive and 66 dead) and 497 climbers. The percentage of standing and dead individuals (6,7%) is between the values found in others works in Atlantic forest. A bigger abundance of climbers and dead plants was found to the measure that if approached to the forest edge in contrast of that it happened with the number of alive plants. The absence of variation in the PBH and height can be related to a time factor. The average value of basal area (30,6m2/ha) was inside of the limits for tropical forests. In accordance with the results found it is suggested that the fragment characterize a young community, however in advanced regeneration stage. These results can supply support for recovery and management strategies of the forests fragments that are basics for the conservation of biodiversity. Keywords: Trees. Atlantic Forest - Santa Maria de Jetibá (ES). REFERÊNCIAS ANDRÉN, H.; ANGELSTAN, P. Elevated predation rates as an edge effect in habitat islands: experimental evidence. Ecology, v. 69, p. 544547, 1988. BIERREGAARD JR., R. O. et al. The biological dynamics of tropical rainforest fragments. Bioscience, v. 42, n. 11, p. 859-866, 1992. BOTREL, R. T. et al. Influência do solo e topografia sobre as variações da composição florística e estrutura da comunidade arbóreo-arbustiva de uma floresta estacional semidecidual em Ingaí, MG. Revista Brasileira de Botânica, v. 25, n. 2, p. 195-213, 2002. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (Brasil). Resolução n° 04, de 4 de maio de 1994. Conama. Disponível em: <http://www.mma. gov.br/port/conama>. Acesso em: 1 jul. 2005. ENGEL, V. L. et al. Ecologia de lianas e o manejo de fragmentos florestais. Série Técnica IPEF, v. 12, n. 32, p. 43-64, 1998. FERNANDEZ, F. A. S. Efeito da fragmentação de ecossistemas: a situação das unidades de conservação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1., 1997, Curitiba. Anais… Curitiba: [s. n.], 1997. v. 1. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 223-236, jul./dez. 2007
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Correspondência para/reprint request to: Marcelo Passamani Setor de Ecologia, Departamento de Biologia Universidade Federal de Lavras – UFLA Caixa Postal 37 37200-000 - Lavras - MG, Brasil Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 223-236, jul./dez. 2007
COMUNICAÇÃO E SAÚDE: O PAPEL DA MÍDIA NA AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS1 Maria Cristina Dadalto2 Adilson Vilaça de Freitas3 Angela Maria de Castro Simões4
RESUMO Descreve e analisa os resultados de uma pesquisa sobre mídia e consumo realizada com moradores do bairro Vista da Penha, Vila Velha-ES no âmbito de um projeto de pesquisa interdisciplinar sobre o desenvolvimento da síndrome metabólica. Investiga o papel da mídia veiculada em meio impresso e audiovisual na alteração da aquisição de produtos para consumo alimentar das famílias e suas possíveis implicações para o incremento da síndrome metabólica. Fundamenta sua metodologia no enfoque qualitativo e emprega o questionário estruturado para coletar dados sobre a influência dos meios de comunicação de massa sobre os hábitos de consumo alimentar. Numa perspectiva que procura evidenciar os campos de possibilidades sugeridos pela temática, toma como referencial teórico as concepções de Colin Campbell, Lívia Barbosa e Pierre Bourdieu para articular discussões na categoria consumo; e Jesus Martín-Barbero e Germán Rey para refletir sobre mídia e mediação. A pesquisa contou com a participação dos alunos do Curso de Comunicação Social: Aline Rangel de Oliveira, Bárbara Martins Alves Santos, Carolina Mathias Cardoso, Fernanda Batista Lorenzoni, Higor Franco Ribeiro, Rafael Reis Stein e da aluna Mariana Dadalto Peres, do Curso de Farmácia. 2 Doutora em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: dadalto@uvv.br. 3 Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: adilson.vilaca@uvv.br. 4 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: angelasi@uvv.br. 1
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Identifica a importância da mediação dos meios de comunicação de massa na construção do hábito alimentar. Constata a importância da comunicação na influência do consumo nos personagens responsáveis pela aquisição dos produtos alimentares. Palavras-chave: Comunicação de massa. Alimentos – Consumo. Síndrome metabólica. Hábitos alimentares. 1 INTRODUÇÃO Na atualidade a questão do consumo se apresenta de maneira vária: simultaneamente como um processo social e como estratégia. Como processo social diz respeito a múltiplas configurações de aquisição de bens e serviços e a diferentes maneiras de acesso a esses mesmos bens e serviços. Como estratégia, o ato de comprar passou a definir o status, a identidade de um indivíduo, sendo utilizado no cotidiano pelos diversos grupos para definir situações em termos de direitos, estilo de vida e identidades (BARBOSA; CAMPBELL, 2006). Segundo Barbosa e Campbell (2006, p. 54) a frase compro, logo existo, sugere que “[...] a atividade de comprar não só é um meio pelo qual as pessoas descobrem quem elas são, como fornece a elas a comprovação básica de sua existência.” De fato, na sociedade de mercado, o consumo se coloca como uma forma do indivíduo se apresentar e se diferenciar por meio do que consome. Considera-se que aquilo que se veste, se come e se bebe possibilita o acesso a uma forma de interlocução social. No consumo, cada indivíduo, liberto das obrigações, percebe que pode estabelecer para si as regras que acreditava herdadas de outras gerações. Diante das pequenas e grandes coisas da vida, permite-se desejar os produtos (bens e serviços) que mais o atraem; daí a substituição do ‘sonho da casa própria’, paradigmático de um certo grupo social, pelo ‘sonho de consumo’ dos artigos de luxo e de grifes (ANDRÉ, 2005, p. 46).
Esse jogo de desejo, por outro lado, revela as estratégias diversas produzidas a partir do século XX com vistas a transformar o cidadão em consumidor. Dessa maneira, vende-se a satisfação dos desejos individuais, mas, também, despertam-se novos desejos a serem satisfeitos, provocando um querer sempre maior. Para Portilho (apud BUENO, 2008), Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 237-248, jul./dez. 2007
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ter o direito de escolher o tipo de vida que se quer ter, por meio do acesso aos bens de consumo, aponta a importância de compreender consumo e cidadania de maneira associativa, até porque, por meio deles, se criam e fortalecem sentimentos de pertencimento a um grupo social. Nessa direção, ao se pensar no consumo tem-se igualmente de se avaliar o papel de mediação5 da mídia nesse processo, considerar como o indivíduo atribui sentidos/significados próprios à mensagem a partir de seu contexto de percepção. Ou seja, não se deve entender o consumidor como vítima manipulada pela propaganda, mas como um agente que tem prazer de adquirir e consumir determinados alimentos, de ter uma identidade, de escolher, de se expressar, de viver uma experiência imaginada. Entrementes, a mídia, por meio das estratégias mercadológicas, possibilita que o consumidor, no processo de ressignificação das mensagens, faça associações objetivas, relacionadas ao desempenho do produto, e subjetivas, articuladas a seus desejos, e que permitem uma identificação das pessoas com grupos, locais e marcas que consomem no cotidiano. As empresas de comunicação, por sua vez, compreendem a mídia como lugar de circulação de significados que afetam diretamente os processos e as interações, as formas de autoridade ou os sistemas de comunicação. De acordo com Barbero e Rey (2004), a concorrência entre elas se trava na busca de manutenção e desenvolvimento de filiações com um cliente, que por seu lado é sujeito de direitos, de exigências e de responsabilidades. Portanto, elas buscam aproximar o conceito de target com o de cidadão. Ainda segundo Barbero e Rey (2004, p. 74-75), “A idéia de que as mídias fundamentalmente ‘representam’ o social cedeu diante da sua ascensão como atores sociais, diante de sua legitimidade como sujeitos que intervêm ativamente na realidade”. Para Barbero (2003), é preciso compreender a complexidade social e perceptiva que reveste as tecnologias comunicacionais, seus modos transversais de presença no cotidiano, suas intricadas formas de mediação do conhecimento e da política, para produzir a crítica. Esse entendimento visa não ceder a uma visão ingênua causada pela fascinação tecnológica, tampouco se deixar enredar nas tramas do discurso do mercado como único princípio organizador da sociedade em seu conjunto. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 237-248, jul./dez. 2007
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Num país como o Brasil, no qual parte da população não tem atendidas suas necessidades básicas como educação, saneamento básico, alimentação e saúde, a mídia ocupa lugar estratégico na configuração dos novos modelos de sociedade. Logo, sua importância na participação e vinculação com a modernização econômica e tecnológica, bem como com a experiência cultural da pós-modernidade. Nessa perspectiva, pode-se compreender como a cultura incorpora todos os aspectos da vida social, não sendo possível pensá-la de forma compartimentalizada. E neste escopo, a aquisição de produtos para o consumo alimentar de um indivíduo ou de uma família apresentase como fator de distinção, de distância em relação às necessidades básicas, compondo os elementos que integram o conjunto simbólico a que se chama de estilo de vida (BOURDIEU, 1983). As necessidades básicas são aquelas que determinam, minimamente, a sobrevivência dos homens, a exemplo de alimento, de abrigo, etc. No entanto, a seleção que se faz entre os diferentes tipos de comida e alimentos é indicadora de valores que constituem estratégias de distinção no meio social. Formas que por sua vez revelam adesão a práticas de novos hábitos e têm articulação com as mudanças no cotidiano relacionadas à alimentação. Contribuem, por outro lado, para o desenvolvimento de doenças como a síndrome metabólica.6 Da Matta (1997) apresenta uma distinção antropológica entre comida e alimento que subsidia a análise do processo de alterações nos costumes familiares de consumo, sua inter-relação com a mídia e provável desencadeamento de doenças. Para o autor, alimento é aquilo que pode ser ingerido para manter uma pessoa viva, comida é tudo que se come com prazer, é um estilo, um jeito de alimentar-se. Nessa busca pelo prazer, a mídia irá atuar procurando alcançar indivíduos diferentes, expondo o consumidor a linguagens sedutoras e indicativas de atingir o desejo de experimentar um determinado modo de viver. Contudo, utilizará um processo de padronização, de massificação dos modos de vida, dos gostos e das práticas, que permanecem determinadas pelas culturas dos grupos sociais e pelas lutas travadas em nome da aquisição de sinais de distinção (LIPOVETSKY, 2004).
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A ressignificação dessas mensagens, permeada pelo desejo de pertencimento e distinção do consumidor, resulta, por sua vez, na mudança do padrão alimentar do grupo familiar. Pode derivar, também, no surgimento e desenvolvimento da síndrome metabólica, doença que vem sendo associada à alimentação inadequada, entre outros fatores (DUNCAN; SCHMIDT, 2001). Nesta direção, este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa sobre o papel da mídia na alteração da aquisição de produtos para consumo alimentar familiar. Tal pesquisa foi realizada no âmbito de um projeto que investigou a prevalência da síndrome metabólica na população do bairro Vista da Penha, em Vila Velha-ES, durante o ano de 2007. 2 MÉTODO A pesquisa, que alcançou 175 moradores voluntários7 participantes do projeto Prevalência da Síndrome Metabólica, foi realizada durante o ano de 2007, no Campus I do Centro Universitário Vila Velha, no prédio de Biopráticas, com residentes do bairro Vista da Penha, Vila Velha-ES. Para o desenvolvimento do projeto, que envolveu os cursos de Farmácia, Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Fonoaudiologia, Psicologia e Comunicação Social, buscou-se uma estratégia de divulgação boca a boca e de entrega de panfletos no próprio bairro. Para o incremento dessa pesquisa, foi utilizada a aplicação de questionário estruturado por estudantes previamente treinados. Os entrevistados respondiam a doze questões sobre a influência dos meios de comunicação de massa sobre os seus hábitos de consumo alimentar e teve o banco de dados analisado por meio do programa estatístico Statistical Package Social Science, versão 9.0 (SPSS 9.0). O questionário foi dividido em duas partes. Na primeira, referente ao hábito de ouvir rádio, assistir televisão e ler jornal, fez-se as seguintes perguntas: (1) O(a) senhor(a) tem rádio ou televisão em casa? (2) Com que frequência ouve rádio? (3) Em que horários o(a) senhor(a) ouve mais rádio? (4) Com que frequência assiste televisão? (5) Em que horários o(a) senhor(a) mais vê televisão? (6) Com que frequência lê jornal? (7) Qual jornal o(a) senhor(a) mais lê? Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 237-248, jul./dez. 2007
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A segunda parte, que buscou compreender a influência dos meios de comunicação nos hábitos de alimentação dos voluntários, aplicou-se as seguintes perguntas: (8) O(a) senhor(a) ouve, vê ou lê alguma notícia ou programação enquanto se alimenta? (9) Com qual veículo isto é mais frequente? Ou é com todos? (10) O(a) senhor(a) costuma notar anúncios de comida nesses veículos? Em qual deles? (11) O(a) senhor(a) compra alimentos ou bebidas que foram indicados por esse veículos? (12) Se a resposta for sim, qual a motivação? 3 RESULTADOS E ANÁLISE Em relação aos meios de comunicação, 156 pessoas (89,14%) informaram ter em casa, rádio ou televisão, 16 (9,14%) têm televisão e três (1,72%), somente rádio. Sobre a frequência com que ouvem rádio, 73 (41,71%) responderam que de vez em quando, 70 (40,00%) todos os dias, 24 (13,71%) não ouvem, cinco (2,86%) nos finais de semana e três (1,72%) aos domingos. Das 151 pessoas que escutam rádio pelo menos uma vez por semana, 92 (60,93%) o fazem pela manhã, 21 (13,91%) no horário da tarde, 20 (13,24%) em todos os horários e 18 (11,92%) à noite. Contudo, entre os dois meios de comunicação há preferência pela televisão: 142 voluntários (81,14%) assistem televisão todos os dias, 23 (13,14%) de vez em quando, seis (3,43%) no fim de semana e quatro (2,29%) não assistem. O horário predominante de audiência entre as 171 pessoas que veem televisão pelo menos uma vez por semana é o da noite, 103 (60,23%). Os demais pesquisados são distribuídos da seguinte forma: 36 (21,05%) em mais de um horário, 18 (10,53%) à tarde e 14 (8,19%) pela manhã. O jornal impresso, por sua vez, se mostrou o meio de comunicação menos usado pela população em estudo: 70 (40,00%) leem de vez em quando, 42 (24%) não leem, 35 (20,00%) todos os dias, 22 (12,57%) nos finais de semana e seis (3,43%) aos domingos. Entre as 133 pessoas que afirmaram ler jornal pelo menos um dia na semana, o veículo mais lido é A Tribuna, 83 (62,41%); seguido de Notícia Agora e A Gazeta, lidos igualmente por 16 pessoas (12,03%); 16 (12,03%) afirmaram ler mais de um jornal e dois (1,50%) outros. Ressalva-se que os jornais A Tribuna e Notícia Agora são publicados com uma linguagem jornalística mais apelativa, e que visa atender os públicos de classes sociais C, D e E. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 237-248, jul./dez. 2007
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O resultado da participação da mídia no cotidiano das residências indica a penetração da televisão como principal meio de comunicação de massa a ter papel influenciador nos hábitos de consumo da população-alvo da pesquisa. Há de se ressaltar, acerca deste fenômeno, que se trata de uma região de nível socioeconômico situado em torno das classes C, D e E, e cuja escolaridade de seus moradores também é baixa. Portanto, sobressaem os canais de televisão aberta e de audiência de rádio AM, cujo nível de programação e de ação publicitária para alterar hábito de consumo alimentar está situado no setor de varejo. Ou seja, predominância de propagandas de supermercados e hipermercados. A veiculação da mídia publicitária no jornal, por outro lado, ocorre por meio de encartes nos finais de semana, prevalecendo, também neste caso, o setor varejista. O resultado que aponta baixo nível de leitura do impresso resulta, entre outros fatores, da baixa escolaridade entre os moradores, conforme dados de pesquisa de campo realizada em etapa prévia pelo projeto. Em relação à influência dos meios de comunicação nos hábitos de vida da população estudada, 107 pessoas (61,14%) afirmaram que ouvem, veem ou leem alguma notícia ou programação cultural ou de entretenimento enquanto se alimentam. Dentre essas, 98 (91,59%) asseguraram que isto ocorre com mais frequência com a televisão, quatro (3,74%) com o rádio, quatro (3,74%) com todos e apenas um (0,93%) com o jornal. Com relação à ressignificação dos anúncios publicitários, 98 pesquisados (56,00%) garantiram que notam anúncios de comida divulgados por supermercados e hipermercados na televisão, 68 (38,87%) não notam, três (1,71%) notam no rádio, três no jornal e três em todos. Em relação à compra de alimentos ou bebidas anunciados nos veículos de comunicação, as respostas foram homogêneas: 88 (50,28%) asseveraram que compram e 87 (49,72%) afirmaram que esses veículos não influenciam na sua compra. Dos 88 voluntários que responderam que compram, 54 (61,36%) explicaram que a motivação são os preços, 14 (15,90%) que os alimentos pareciam nutritivos, 10 (11,36%) que eles pareciam saborosos, cinco (5,68%) porque alguém indicou, 4 (4,55%) por todos os motivos citados e 1 (1,15%) por nenhum deles. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 237-248, jul./dez. 2007
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Ao se observar o resultado da audiência da mídia e seu papel influenciador no hábito de aquisição de produtos de consumo alimentar familiar, verifica-se a importância da estratégia mercadológica empresarial para interagir com as famílias ou donas de casa. Este outro dado revelador do levantamento do projeto a impactar na análise da pesquisa: a maioria dos pesquisados é do sexo feminino e responsável pela aquisição e feição das refeições familiares. As propagandas publicitárias apresentadas na televisão e no rádio são veiculadas nos horários das refeições, proporcionando à audiência, que simultaneamente prepara a comida, uma linguagem capaz de seduzir a baixo preço. Mas, se os produtos divulgados possuem menor custo monetário, também dispõem de menor valor nutritivo, mesmo que não seja essa a percepção do receptor. Possibilitam, assim, contribuir para a síndrome metabólica, uma vez que foi observada uma frequência relativamente alta deste quadro nos indivíduos avaliados (dados não publicados). 4 CONCLUSÃO A importância do papel de mediação da mídia na alteração dos hábitos familiares alimentares pode, portanto, ser inferido tendo como pressuposto três aspectos: relação audiência de rádio e televisão com a compra, relação gênero e consumo e relação consumo e desenvolvimento da síndrome metabólica. No entanto, observa-se que esses três pontos apresentam-se interligados. No que diz respeito à audiência da televisão e do rádio, pode-se notar a influência do papel da mídia nesse processo. Ao expor imagens sedutoras, apela-se ao desejo de comer com prazer, de experimentar um modo de vida que o faça sentir pertencer a determinado grupo. Narra-se a possibilidade de viver a sensação, mesmo ao menor custo, de uma comida que distingue o grupo familiar de outros. Nesse processo, a mãe ou a responsável por manter a família bem alimentada também se sente uma consumidora que legitima sua posição de provedora de um estilo de vida especial. Ao mesmo tempo, deixa de ser apenas a dona-de-casa, a avó, ou a irmã que tem de fazer a comida: ela compra, logo existe. Ela escolhe, seleciona logo sua identidade se apresenta neste pequeno ato. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 237-248, jul./dez. 2007
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Nada obstante, neste difícil nexo de interações sociais e estratégias individuais e mercadológicas há reconfiguração de novos padrões alimentares, deslocados também de uma alteração do padrão de relacionamento familiar, no qual, segundo Barbero e Rey (2004), a televisão ganhou espaço e provocou transformação dos modos de circulação no lar: para muitos, a refeição já não é mais realizada em torno de uma mesa, mas em frente à televisão. Deslocamento, que, realizado em direção varia: emocional, físico, econômico, entre outros, tem provocado o alerta da mudança: desenvolvimento de doenças, a exemplo da síndrome metabólica. A preocupação com o ter, com o belo e com o prazer da comida suplanta apreensão com uma alimentação nutritiva, saudável. Neste sentido, comprova-se a hipótese do papel influenciador da mídia no comportamento de consumo alimentar e possível fator a impactar a saúde da população.
COMUNICATION AND HEALTH: THE MEDIA’S ROLE IN THE FOOD AQUISION ABSTRACT Describes and analyses the results of a study about media consumption realized with Bairro Vista da Penha’s residents, Vila Velha-ES, as part of an interdisciplinary research project about the development of Metabolic Syndrome. Investigates the media’s role leaded in press and audiovisual means in the alteration of the family’s alimentary consumption and the possible increased of Metabolic Syndrome. Bases its methodology on qualitative focus and employs the structured questionnaire about the influence of the mass media on the consumer habits of food as a tool for data collection. On a perspective that tries to evidence the possibilities suggested by the theme, taken as the theoretical reference the conceptions of Colin Campbell, Lívia Barbosa and Pierre Bourdieu to articulate discussions in the category consumption, and Jesus MartinBarbero and Germán Rey to reflect on media and mediation. It identifies the importance of mediation of the mass media in building the food habit. Notes the importance of communication in the influence of consumption in people responsible for the purchase of food products. Keywords: Mass Communication. Food – Consumption. Metabolic Syndrome. Habits Food.
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NOTAS EXPLICATIVAS 5
Mediação, segundo Jacks (1999, p. 48-49), “[...] pode ser entendida como um conjunto de elementos que intervêm na estruturação, organização e reorganização da percepção da realidade em que está inserido o receptor, tendo poder também para valorizar implícita ou explicitamente esta realidade. As mediações produzem e reproduzem os significados sociais, sendo o ‘espaço’ que possibilita compreender as interações entre a produção e a recepção.”
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A síndrome metabólica é um transtorno complexo caracterizado por vários achados clínicos e laboratoriais, incluindo: obesidade, especialmente central (hiperadiposidade abdominal), resistência à insulina, hipertensão arterial, aumento de triglicérides, redução de Hight Density Lipoprotein (HDL)-colesterol (CHANDOLA; BRUNNER; MARMOT, 2006).
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Os pesquisados participaram voluntariamente da pesquisa e assinaram o Termo Livre Esclarecido.
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Correspondência para/reprint request to: Maria Cristina Dadalto Rua Artur Czartorysk, 315/601 Jardim da Penha 29060-370 – Vitória - ES, Brasil Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 237-248, jul./dez. 2007
HIGIENE PESSOAL: EDUCAÇÃO EM SAÚDE DOS TRABALHADORES DE UMA EMPRESA DE SANEAMENTO EM VILA VELHA-ES Rosana Melo da Silva Correia1 Leny Ventura dos Santos2 Ângela Maria de Castro Simões3
RESUMO Identifica o nível de informações dos trabalhadores da empresa Eco Verde no município de Vila Velha-ES acerca da higiene pessoal no seu local de trabalho. Desenvolve ações em Educação em Saúde, utilizando como metodologia a pesquisa-ação. Aplica, inicialmente, um formulário com 11 questões estruturadas. Amostra de 53 trabalhadores no pré-teste e 31 no pós-teste, sendo que ocorreram 22 demissões ou afastamentos temporários na empresa. No segundo momento há a devolução das respostas do pré-teste e no terceiro momento aplica conjuntamente uma ação educativa e de saúde visando a mudanças de hábitos. Verifica uma tendência à mudança de hábitos nos cuidados pessoais, através de uma interação dinâmica e contínua. É possível implementar estratégias que contribuam de maneira eficaz para a promoção da saúde desses trabalhadores. Estratégias devem ser idealizadas para melhoria dos cuidados pessoais. Palavras-chave: Saúde – Educação. Higiene. Cuidados pessoais com a saúde. Graduanda do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: enfermeira_rosana@hotmail.com. 2 Mestre em Educação Médica pela Escuela Nacional de Salud Pública. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: leny@uvv.br. 3 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: angelasi@uvv.br. 1
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1 INTRODUÇÃO As propostas de práticas que focam a temática educação e saúde não são recentes, existindo registros que datam do Séc. XVlll na Europa, quando eram elaborados pequenos panfletos intitulados Almanaques Populares que difundiam cuidados higiênicos para gestantes e crianças como medidas gerais de controle de epidemias (HAMMERSCHMIDT; LISBOA, 2004). Segundo Souza (1980), as ações educativas em saúde visam à promoção de mudanças de comportamento e hábitos do cotidiano, através da aplicação de conhecimentos que propiciem ao indivíduo, à família e à comunidade melhores condições de saúde. O Comitê de Especialidade em Planejamento e Avaliação dos Serviços de Educação em Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) pontua que: O foco de educação em saúde está voltado para a população e para a ação. De uma forma geral, seus objetivos são encorajar as pessoas a: a) adotar e manter padrões de vida sadios; b) usar de forma cidadã e cuidadosa os serviços de saúde colocados à sua disposição, e c) tomar suas próprias decisões, tanto individual como coletivamente, visando melhorar suas condições de saúde e as condições do meio ambiente (LEVY et al., acesso em 8 jul. 2006).
Portanto, a educação em saúde representa um dos mais importantes elos entre os desejos e expectativas da população por uma vida melhor, sendo que esta perspectiva encontra-se nas bases conceituais que envolvem este tema, de tal forma que Levy e outros (acesso em 8 jul. 2006) afirmam que para se obter educação em saúde “[...] não basta tê-lo como ciência nem como arte, mas como atitude de ação e, neste espaço, trazem expectativa à população [...]”. O art. 6º, da Lei Orgânica da Saúde (LOS) n. 080/90, regulamenta o SUS e suas competências no campo da saúde do trabalhador e define a saúde do trabalhador como um conjunto de atividades que se destina, através de ações de vigilância epidemiológica e sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação
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e reabilitação da saúde dos mesmos submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho (BRASIL, 2001). No entender de Orem, citado por George (2000), autocuidado é o desempenho ou a prática de atividades que os indivíduos realizam em seu benefício para manter a vida, a saúde e o bem-estar. Quando o autocuidado é efetivamente realizado, ajuda a manter a integridade estrutural e o funcionamento do corpo, contribuindo para o desenvolvimento humano. Segundo Waldow (2006), o cuidado humano e o cuidar são vistos como o ideal moral da enfermagem. Cuidado consiste em esforços transpessoais do ser humano no sentido de proteger, promover e preservar a humanidade. Assim, o enfermeiro pelo seu conhecimento científico e sua experiência prática, poderá planejar uma assistência tal, que consiga diminuir os riscos à integridade do trabalhador, favorecendo-lhe, inclusive, a produtividade e identificando problemas que o trabalhador porventura apresente e venha executar procedimentos de enfermagem, acionando, dessa maneira, as medidas de promoção e/ou prevenção de saúde, que são: orientações, imunização, saneamento do meio e inúmeras outras que podem ser acionadas, com o intuito de favorecer não apenas os trabalhadores, mas também a população em geral (ROBASSI; BECHELLI, 1985). Segundo Ferreira (acesso em 18 jul. 2006), entende-se que a higiene consiste numa prática de grande benefício para os seres humanos, significa: limpeza, asseio e tem sido responsável pela prevenção de inúmeras doenças físicas. Para Potter e Perry (2004), a manutenção da higiene pessoal é necessária para o conforto, segurança e bem-estar de uma pessoa. A partir deste contexto, percebe-se que uma das práticas de higiene de grande importância é a lavagem das mãos. Sgundo Heller (1997), que desenvolveu uma extensiva avaliação do efeito da higiene pessoal e domiciliar sobre o controle da diarréia infantil, a partir de estudos realizados em hospitais, centros de saúde e comunidades, concluiu que a melhoria dos hábitos higiênicos pode reduzir a morbidade por diarréia em 14 a 48% dos casos. E, além disto, essa melhoria pode ser atingida mediante programas de educação sanitária. Destaca-se que o hábito higiênico nestes estudos foi a lavagem das mãos. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 249-266, jul./dez. 2007
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Outros estudos também caminham na direção do emprego da lavagem das mãos como medida preventiva e acrescentam alguns aspectos, como os de Esrey e outros (apud HELLER, 1997), que avaliaram seis estudos de caso relacionados com a melhoria na higiene, incluindo, entre outros procedimentos, a lavagem das mãos, a disposição de resíduos e o local empregado para defecar. Eles concluíram por uma redução esperada de 33% na morbidade por diarréia, mediante o aperfeiçoamento das práticas higiênicas. Sendo assim, verifica-se que, possivelmente, são extensas as possibilidades de medidas profiláticas relativas ao controle de doenças através dos procedimentos de higiene, como: lavagem das mãos, cuidado especial com os pés, manutenção das unhas dos pés e das mãos aparadas e limpas e manutenção dos equipamentos de proteção individuais (EPI) limpos. De acordo com a Lei do Trabalho n. 6.514 de 22 de dezembro de 1977, art. 166, a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados. 2 OBJETIVO O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento da temática Educação em Saúde como uma forma de prevenção e promoção de saúde, tendo como foco a higiene pessoal do trabalhador da empresa Eco Verde no município de Vila Velha-ES. Para tanto, buscou-se identificar a informação que o trabalhador desta empresa tem acerca da higiene pessoal no seu local de trabalho e aplicar uma ação educativa pertinente à mudanças de hábitos e atitudes, sensibilizando o trabalhador sobre a necessidade da prevenção e promoção da saúde. 3 METODOLOGIA Trata-se de um trabalho baseado na pesquisa-ação, que, de acordo com Thiollent (apud LEOPARDI, 2002), menciona que a mesma tem base empírica e é concebida e realizada com uma ação onde o pesquisador Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 249-266, jul./dez. 2007
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e os participantes representativos da situação estão envolvidos de modo participativo, propondo soluções que auxiliam o sujeito da pesquisa na sua atividade transformadora da situação problema. O local para a realização do estudo foi à empresa Eco Verde, localizada no município de Vila Velha, com um quadro de 83 funcionários. A empresa trabalha com limpeza dos valões, combate ao Aedes aegipty e fumacê. Foi elaborado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A), baseado na Resolução n. 196/96, do Comitê de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde, que trata dos aspectos éticos em pesquisas com seres humanos. A proposta da pesquisa baseia-se com quatro momentos: 1º Momento – Aplicação do pré-teste Foi aplicado um pré-teste, no mês de novembro de 2006, com uma amostra de 53 trabalhadores na modalidade de formulário que continha dados de identificação e onze questões estruturadas para identificar o grau de informação que estes trabalhadores possuíam acerca da higiene pessoal (Anexo B). 2º Momento – Devolução das respostas do pré-teste Foi apresentado aos trabalhadores o resultado do pré-teste no mês de abril de 2007, como parte da pesquisa-ação que consta em devolução dos dados coletados à amostra pesquisada. 3º Momento – Realização das ações educativas As ações educativas pretendidas foram realizadas no mês de abril de 2007, mediante as respostas da coleta de dados onde se discutiu a lavagem das mãos, meias e uniformes e a higiene pessoal, sendo realizada uma palestra com os assuntos anteriormente citados e uma dinâmica onde dois trabalhadores voluntários tiveram seus olhos vendados e receberam em suas mãos uma pequena quantidade de tinta guache (azul e vermelha). Em seguida, foi proposto ao trabalhador que simulasse o movimento da lavagem das mãos. Ao final da dinâmica, se os trabalhadores tivessem as mãos totalmente cobertas de tinta significaria Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 249-266, jul./dez. 2007
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que estes executaram a higiene das mãos de forma correta, porém, se houvesse pontos descobertos de tinta significaria que os trabalhadores não executaram a higiene das mãos corretamente. 4º Momento – Pós-teste O pós-teste foi aplicado no mês de maio de 2007 com uma amostra de 31 trabalhadores, sendo utilizadas as mesmas questões do pré-teste no intento de identificar a aprendizagem dos trabalhadores da empresa Eco Verde. A análise dos dados foi feita com frequência absoluta apresentada por meio dos Quadros 1, 2 e 3. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Para análise e discussão dos resultados, os dados obtidos foram agrupados em dois tópicos: perfil da amostra e aspectos comportamentais relacionados à higiene pessoal. Permaneceram no estudo durante o pós-teste 31(trinta e um) trabalhadores, sendo excluídos os 22 (vinte e dois) trabalhadores, que foram demitidos ou afastados temporariamente da firma por motivos diversos como: atestado médico, férias, licença INSS e suspensão. Perfil da amostra Este tópico abrange as variáveis: sexo, faixa etária, grau de escolaridade, ocupação e renda salarial mensal.
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Sexo
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Feminino
1
1
Masculino
52
30
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Analfabeto
1
1
Ensino fundamental
35
19
Ensino médio
16
10
Não informou
1
1
Ocupação
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Segurança
1
1
Encarregado
3
1
Auxiliar de serviços gerais
1
1
Operador de máquina
1
0
Auxiliar de controle larval
14
8
Agente de controle larval
13
10
Serviços gerais- braçal
20
10
21 a 62
21 a 60
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Um salário mínimo
2
2
Acima de um salário mínimo
35
18
Mais de dois salários mínimos
16
11
Grau de escolaridade
Faixa etária Renda salarial mensal
Quadro 1 - Estatística descritiva das variáveis sócio-demográficas da mostra estudada no pré-teste (N=53) e no pós-teste (N=31), Vila Velha, 2007
No Quadro 1, é apresentada a distribuição dos trabalhadores, segundo o sexo, com predominância do masculino, com faixa etária de 21 a 62 anos no pré-teste e 21 a 60 no pós-teste e a maioria dos trabalhadores apresentava curso completo do ensino fundamental. Quanto à renda dos trabalhadores a prevalência foi entre um e dois salários mínimos, com jornada de trabalho de 40 horas semanais.
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Quantas vezes você lava as mãos por dia?
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Uma vez por dia
5
1
Duas vezes por dia
9
2
Mais de três vezes por dia
16
13
4 a 8 vezes por dia
6
6
Mais de 10 vezes por dia
16
5
Várias vezes por dia
0
4
Com água e sabão
31
23
Só com água
22
8
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Sim
49
30
Às vezes
4
1
Não
0
0
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Nenhuma vez
1
0
Uma vez por mês
3
4
Duas vezes por mês
3
12
Quatro vezes por mês
42
12
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Sim
7
4
Não
46
27
Como você lava as mãos?
Você se preocupa em lavar as mãos antes de se alimentar?
Os equipamentos de trabalho são lavados quantas vezes por mês?
No término do seu horário de trabalho, você toma banho na empresa?
Quadro 2 – Aspectos relacionados à higiene pessoal da amostra estudada no pré-teste (N=53) e no pós-teste (N=31), Vila Velha, 2007
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Em relação à lavagem das mãos, os auxiliares de controle larval e agentes de controle larval lavam as mãos mais vezes devido à frequência da exposição ao produto tóxico e ao fato de estarem sempre nas residências usando o produto. A lavagem das mãos tem como principal objetivo a remoção dos microorganismos da flora transitória, de pelos, de células descamativas, do suor, de sujidade e oleosidade, diminuindo desta forma o risco de infecções, sua eficácia depende da duração do procedimento e utilização da técnica correta (STTIER apud PINTO; NOGUEIRA; BASTOS, acesso em 10 maio 2007). Em relação à lavagem das mãos o maior índice foi com água e sabão. A flora transitória cutânea é oriunda do meio exterior ou da microbiota de outros tecidos do corpo humano, sendo facilmente removida com água e sabão (FERNANDES; FERNANDES; RIBEIRO FILHO, 2000). Os trabalhadores fazem a higienização dos EPIs 4 vezes por mês, sendo que a Lei do Trabalho n. 6514/77, recomenda que sob a responsabilidade do empregador está também a manutenção e a higienização do EPI e cabe ao empregador promover a limpeza do mesmos. Alternativamente, o próprio empregado pode ser treinado para higienizar seu EPI, que carece de limpeza diária (MANUAIS..., 2006). Dos trabalhadores entrevistados, 46 no pré-teste e 27 no pós-teste, negaram tomar banho na empresa após o término do horário de trabalho, com a justificativa de morar próximo à empresa. Outros alegaram que esta alternativa é inviável, uma vez que utilizam a bicicleta como meio de transporte no retorno para suas residências.
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Quantos uniformes vocês têm?
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Dois
47
28
Mais de dois
5
2
Não usa
1
1
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Todos os dias
5
4
Uma vez por semana
13
7
Duas vezes por semana
26
13
Três vezes por semana
7
7
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Todos os dias
12
8
Dois em dois dias
20
8
Três em três dias
3
8
Uma vez na semana
7
4
Não usa meias
11
3
Sim
6
3
Não
47
28
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Nenhuma vez
22
23
Uma vez
10
4
Duas vezes
9
3
Quatro vezes
3
0
Mais de cinco vezes
5
0
Dez vezes
1
0
Três vezes
0
1
O seu uniforme é lavado quantas vezes?
Você “troca” as meias quantas vezes por semana?
Você tem o hábito de roer unhas?
Neste ano, quantas vezes você já faltou ao trabalho pormotivo de doença?
(continua)
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259 (conclusão)
Qual foi a doença?
Pré-teste(n)
Pós-teste(n)
Diarréia e vômito
2
0
Diarréia, vômito, dor forte no estômago e abdome
1
0
Dengue, pneumonia, acidente, lombalgia, fungos
25
0
Dor nas costas, dor de cabeça, doença renal
0
0
Mancha no corpo, alergia, hipertensão, dor de coluna
0
0
Dor muscular, acidente, dengue, dor de cabeça, cálculo renal e catarata
0
8
Quadro 3 - Aspectos relacionados à higiene pessoal da amostra estudada no pré-teste (N=53) e no pós-teste (N=31), Vila Velha, 2007
A empresa Eco Verde informou que cada trabalhador recebe dois uniformes. Em se tratando de uniformes, a maioria dos trabalhadores possuem dois e os lavam, duas vezes por semana. Notou-se que o trabalhador sem banho ou com as roupas saturadas da perspiração ou de outras secreções estará interferindo danosamente nos processos naturais da saúde (CARVALHO, 1989). Quanto à troca das meias, no pré-teste, esta prática é realizada de dois em dois dias. Já no pós-teste houve um empate entre “todos os dias”, “dois em dois dias” e de “três em três dias”, sendo que na Norma Regulamentadora-NR6 de EPI, as meias carecem de limpeza diária. Na lei anteriormente citada, as meias fazem parte da proteção dos membros inferiores (MANUAIS..., 2006). Dos entrevistados, 47 no pré-teste e 28 no pós-teste negaram ter o hábito de roer unhas. Segundo especialistas, roer as unhas é uma manifestação de ansiedade. Mas existem casos em que a onicofagia é apenas um reflexo condicionado. “[...] Nem todo mundo que rói unha sofre de ansiedade, assim como nem todo ansioso rói unha [...]” (PAULINO, 2002). Absenteísmo é a ausência ao trabalho por qualquer razão: doenças, acidentes de trabalho, direitos legais. Em relação às doenças, o comportamento pode variar entre as pessoas, pois uma mesma doença, Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 249-266, jul./dez. 2007
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com a mesma gravidade, pode motivar ou não um trabalhador a não comparecer ao emprego (PRESTOMED, acesso em 8 maio 2007). No pré-teste, 25 trabalhadores entrevistados relataram ter tido outras doenças, destacando-se as seguintes: dengue, dor na coluna, doença renal e conjuntivite. No pós-teste, 8 trabalhadores entrevistados relataram ter tido outras doenças, sendo que a que mais se destacou foi a dengue. Segundo Boff (1999), quem é sadio pode ficar doente. A doença significa um dano à totalidade da existência humana: “Não é o joelho que dói, sou eu, em minha totalidade existencial”. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos mostram uma tendência à mudança de hábitos nos cuidados pessoais, através de uma interação dinâmica e contínua é possível programar estratégias que contribuam de maneira eficaz para a promoção da saúde desses trabalhadores. 6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO Dentre as limitações deste estudo, relacionam-se dois aspectos: o número menor de amostra no pós-teste e o pouco tempo para a ação educativa em saúde. Apesar dessas limitações, acredita-se que a sua realização foi importante, pois seus resultados podem provocar mudanças no contexto social daquela empresa.
PERSONAL HYGIENE: WORKERS HEALTH EDUCATION AT A SANITATION COMPANY IN VILA VELHA-ES, BRAZIL ABSTRACT The study was accomplished with the workers from Eco Verde Company in the municipal district of Vila Velha-ES. This work has as objective to identify the information that the worker has concerning personal hygiene and to apply an educational action. The research-action was used as Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 249-266, jul./dez. 2007
261
methodology. For the collection of data was used a form with 11 structured questions. The sample counted with 53 workers in the pre-test and 31 in the post-test, being that 22 were dismissed or temporarily moved out from the company. In the second moment, there was the devolution of the answers of the pre-test and, in the third moment, an educational and health action was jointly applied aiming for changes of habits. Starting from the obtained results, strategies should be implemented for improvement of the personal cares. Keywords: Health – Education. Hygiene. Personal Health Care. REFERÊNCIAS BOFF, L. Saber cuidar: ética da humana-compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde do trabalhador. Brasília, 2001. CARVALHO, A. C. Notas de enfermagem. São Paulo: [s.n.], 1989. FERNANDES, A. T.; FERNANDES, M. O. V.; RIBEIRO FILHO, N. Infecção hospitalar e suas interfaces na área da saúde. São Paulo: Atheneu, 2000. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Dicionario_Aurelio>. Acesso em: 18 jul. 2006. GEORGE, J. B. Teoria de enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4. ed. Porto Alegre, 2000. HAMMERSCHMIDT, K. S. de A; LISBOA, M. do C. Educação em saúde para pessoas idosas com diabetes mellitus. Revista Nursing, São Paulo, v. 79, n. 7, p. 36-37, dez. 2004. HELLER, L. Saneamento e saúde. 1997. Disponível em: <http://www. opas.org.br/ ambiente>. Acesso em: 8 jul. 2006. LEOPARDI, M. T. Metodologia da pesquisa e saúde. 2. ed. Florianópolis: UFSC, 2002. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 249-266, jul./dez. 2007
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Anexo A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Venho por meio deste, autorizar a publicação de meus dados que serão coletados por meios de formulário na pesquisa intitulada “Higienização Pessoal: Educação em Saúde do Trabalhador de uma Instituição do Município de Vila Velha”. Serão preservadas as exigências éticas e científicas fundamentais da Resolução 196/96 Comitê Nacional de Ética em Pesquisa. É importante ressaltar a garantia do anonimato que assegura a minha privacidade e respeito aos meus valores culturais, sociais, morais e religiosos, em observância às exigências éticas e científicas relacionadas à pesquisa. Em qualquer momento do andamento da pesquisa eu terei assegurado o direito de não ter nenhuma despesa material ou financeira, não terei nem um tipo de risco, dano físico ou mesmo constrangimento no momento de preencher o instrumento, terei assegurado a garantia do esclarecimento sobre a pesquisa, podendo afastar-me em qualquer momento que assim o desejar. Vila Velha-ES ______ de ________________________ de 20_____
_________________________________________ Testemunha
_________________________________________ Testemunha
__________________________________________ Profissional
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Anexo B – Formulário para coleta de dados (pré-teste) 1 - Idade: _____________ Escolaridade: ________________________ Estado civil: _______________ Ocupação: ____________________ Qual é a renda salarial mensal? ( ) um salário mínimo
( ) acima de um salário mínimo
( ) mais de dois salários mínimos 2- Aspectos Comportamentais 2.1-Quantas vezes você lava as mãos por dia? ( ) Uma vez por dia
( ) Duas vezes por dia
( ) Mais de três vezes por dia
( ) Outras opções, quais? __________
2.2- Como você lava as mãos? ( ) Água e sabão
( ) Só com água
( ) Outras opções, quais? _____________________ 2.3-Você se preocupa em lavar as mãos antes de se alimentar? ( ) Sim
( ) Às vezes
( ) Não
2.4-O seu equipamento de trabalho; luva, bota, boné são lavados quantas vezes por mês? ( ) Nenhuma vez
( ) Uma vez por mês
( ) Duas vezes por mês
( ) Quatro vezes por mês
2.5- No término do seu horário de trabalho, você toma banho na empresa? ( ) Sim ( ) Não Justifique___________________________ 2.6- Quantos uniformes você tem? ( ) Um
( ) Dois
( ) Mais de dois
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2.7- O seu uniforme é lavado quantas vezes? ( ) Todos os dias
( ) Uma vez por semana
( ) Duas vez por semana
( ) Três vezes por semana
2.8- Você “troca” as meias quantas vezes por semana? ( ) Todos os dias
( ) De dois em dois dias
( ) De três em três dias
( ) Uma vez na semana
2.9- Você tem o hábito de roer unhas? ( ) Sim ( ) Não 2.10- Neste ano quantas vezes você já faltou ao trabalho por motivo de doença ? ( ) Nenhuma vez
( ) Uma vez
( ) Duas vezes
( ) Mais de cinco vezes
( ) Outras opções, quais? __________________________ 2.11 - Qual foi a doença? ( ) Diarréia e vômito
( ) Dor forte no estômago
( ) Dor forte no abdome
( ) Outras opções, quais? _____________
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IMPACTO DO TRABALHO NOTURNO NA SAÚDE DOS ENFERMEIROS E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM DO HOSPITAL DR. ALZIR BERNARDINO ALVES Joiciely Patrícia Costalonga1 Keila Lúcia Faria1 Lylyanne Garcia Muzi Lopes1 Maria Tereza Coimbra de Carvalho2
RESUMO Objetiva descrever as doenças decorrentes do trabalho noturno nos enfermeiros e técnicos de enfermagem, comparar o impacto do trabalho noturno entre esses profissionais e analisar as referidas doenças relacionando-as com a qualidade do cuidado de enfermagem. Estudo de natureza exploratória quantitativa descritiva realizada junto a 10 enfermeiros e 12 técnicos de enfermagem no Hospital Infantil Dr. Alzir Bernardino Alves localizado no município de Vila Velha-ES. Utiliza como instrumento de coleta um formulário com 10 questões estruturadas e semiestruturadas referentes ao impacto na saúde em decorrência do trabalho noturno. Conclui que o impacto causado pelo trabalho noturno foi semelhante entre enfermeiros e técnicos de enfermagem e que as doenças que apareceram após o trabalho noturno foram: distúrbios do sono, gastrointestinais e psicoafetivos. Diante disto, questiona-se como o profissional de enfermagem que não está bem em seu aspecto biopsicossocial pode prestar um cuidado efetivo ao cliente? Palavras-chave: Trabalho noturno. Enfermagem. Segurança do trabalho.
1 2
Enfermeiras. E-mail: lylymuzi@yahoo.com.br. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: terry@uvv.br.
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1 INTRODUÇÃO A palavra trabalho e o qualitativo profissional têm sido usados nas ciências psicológicas no intuito de designar toda atividade realizada tecnicamente com a finalidade de conseguir um rendimento econômico; esse entendimento encontra-se fundamentado no estudo de Mauro e outros (2004). Nota-se que o trabalho constitui uma das práticas mais importantes na vida das pessoas, porque é dessa atividade que o indivíduo tira os elementos para sua própria subsistência familiar. Assim, o provimento das necessidades básicas humanas é função primordial do trabalho. Entretanto, existem também outras funções como: propiciar o aplauso social, pois indivíduos que não trabalham são mal vistos pela sociedade; alivia a tensão emocional funcionado como uma válvula de escape para as emoções acumuladas; estimula a imaginação e ativa à criatividade porque o trabalho incide poderosamente na atividade mental estimulando a inteligência, procurando obter melhores formas de expressão da produtividade, condiciona o progresso e o bem-estar humano, tendo em vista que cada trabalhador é considerado parte do processo de melhoria em sua comunidade. Os trabalhos realizados por Mauro (1990, 2003) e por Mauro e outros (2004) descrevem de forma objetiva que o significado do trabalho para o homem é especial, com a presença de satisfação material fazendose necessário por atender as necessidades biológicas primordiais: alimentação, vestuário, habitação, saúde física e mental, recreação e outras. Quanto à satisfação psíquica individual, ela se fundamenta no provimento de afeto; noção de pertencer (a um grupo); sentir-se membro da empresa; relações interpessoais efetivas; companhia de outras pessoas (ser gregário); realizações; experiências novas; segurança; proteção e fator de otimismo. Considerando a satisfação social, o trabalho confere posição entre os membros do grupo, o que é relevante para a convivência social. Revendo estes significados, é importante tecer comentários sobre os riscos existentes nas unidades hospitalares, procedentes de sua própria constituição física e funcional que implica para os profissionais de enfermagem em uma exposição crítica aos riscos, indo somar-se aos procedimentos como: prevenir úlceras de pressão, refazer leitos, verificar sinais vitais, levantar ou deitar o doente a partir do leito, da cadeira Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 267-278, jul./dez. 2007
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ou do chão são atividades que propiciam a lombalgia. Para Alcântara, Firmes e Pedrassoli (1999) a própria cultura da enfermagem contribui para absorver as posturas nocivas da profissão. Percebe-se que uma das posturas nocivas é o profissional trabalhar permanentemente de pé no período em que presta cuidados à clientela. Outras vezes inclinada, agachada, empurrando ou puxando cargas. Desse modo, o ambiente de trabalho pode converte-se em elemento agressor ao indivíduo. Neste contexto, o trabalho noturno é um fator de ruptura no equilíbrio saúde/doença (MAURO et al., 2004). O trabalho noturno é fruto da necessidade de produção e funcionamento contínuo da sociedade. O turno de trabalho de 8 ou 12 horas é aceito voluntariamente e ocorre em todo o mundo industrializado (PIZZOLI, 2004). As escalas de trabalhos em hospitais são organizadas em turnos fixos e contínuos, uma vez que os serviços dessas instituições exigem um funcionamento ininterrupto durante as 24h do dia, sete dias da semana. No Brasil, já é uma tradição adotar para os enfermeiros a escala de 12h de trabalho (diurno ou noturno) seguido de 60h de descanso e para técnicos de enfermagem o turno de 12h de trabalho diário (diurno ou noturno) seguido de 36h de descanso (FISCHER et al., 2002). Para Souza e Lisboa (2002) o desempenho ruim observado em plantões ou regimes de trabalhos noturnos estaria associado à queda ou diminuição na expressão comportamental de alguns ritmos biológicos, com ênfase ao da temperatura corporal. Sabe-se que esse ritmo apresenta valores mais baixos durante a noite, concomitante ao aumento da sonolência e consequente queda de rendimento de algumas funções cognitivas. A falta de repouso leva a riscos decorrentes da privação de sono que vão desde a irritação, ansiedade, insegurança, depressão até dificuldade de concentração, redução da capacidade crítica e do raciocínio lógico. Assim, o profissional de enfermagem se sente insatisfeito de não ter prestado uma assistência de qualidade efetiva ao paciente (FIQUEIREDO; MACEDO, 1990; LIMA, 1993). Ainda os estudos de Takana e outros (1998), Figueiredo e Macedo (1990) e Fischer e outros (2002), citam que diante das evidências de problemas gerados pela inversão do ciclo vigília-sono e consequente privação do sono destes trabalhadores há uma série de alterações no Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 267-278, jul./dez. 2007
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ritmo biológico, contribuindo para o aparecimento de doenças de natureza somática e estresse. Portanto, o presente estudo justifica-se, pela contribuição de divulgar aos profissionais de enfermagem em geral, toda complexidade do trabalho noturno em ambiente hospitalar, onde a inversão do ciclo vigília-sono e o estresse se esboçam como indicador de situações agravantes implicando prejuízos de ordem somática e psicossocial para estes profissionais atuantes neste plano setorial de suas atividades. Diante destas observações, formulou-se a questão norteadora. Quais os efeitos que o trabalho noturno causa em enfermeiros e técnicos de enfermagem do Hospital Infantil Dr. Alzir Bernardino Alves? 2 OBJETIVOS Os objetivos do presente estudo são o de descrever as doenças decorrentes do trabalho noturno nos enfermeiros e técnicos de enfermagem, e de comparar o impacto do trabalho noturno entre esses profissionais. 3 METODOLOGIA Trata-se uma pesquisa de caráter exploratório quantitativa descritiva. O método quantitativo é muito utilizado no desenvolvimento das pesquisas descritivas, na qual se procura descobrir e classificar a relação entre variáveis, assim como na investigação da relação de causalidade entre os fenômenos: causa e efeito (OLIVEIRA, 2004). Foi realizada no Hospital Infantil Dr. Alzir Bernardino Alves localizado no município de Vila Velha-ES. O Hospital é referência em cirurgias pediátricas, realizando uma média de 400 cirurgias mensais, adotando a escala de trabalho noturno de 12h de trabalho e 60h de descanso para enfermeiros e 12h de trabalho seguido de 36h de descanso para técnicos de enfermagem. Após a confirmação formal do Hospital para a coleta de dados, identificouse 10 enfermeiros e 12 técnicos de enfermagem do plantão noturno que trabalhavam neste turno há mais de seis meses. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 267-278, jul./dez. 2007
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A coleta de dados realizou-se no período de fevereiro a março de 2006. O instrumento de coleta de dados foi um formulário com 10 (dez) questões estruturadas e semiestruturadas referentes ao impacto na saúde em decorrência do trabalho noturno. No referido instrumento tiveram questões relacionadas a variáveis, idade, estado civil e tempo de trabalho noturno. As outras questões abordaram sobre doenças, convívio social, uso de ansiolíticos e qualidade do ciclo do sono e outras. Foi elaborado um termo de consentimento e esclarecimento livre, preservando o anonimato e os aspectos éticos em pesquisa, de acordo com a Resolução 196/96 que trata de pesquisa envolvendo seres humanos (COMISSÃO NACIONAL DE SAÚDE, 1998). Os dados coletados foram trabalhados quantitativamente através de frequência e porcentagem. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Para uma melhor compreensão da análise e discussão do presente estudo, os resultados serão apresentados de acordo com as informações obtidas na coleta dos dados realizada junto aos profissionais de enfermagem. Em relação às características gerais da amostra de 10 enfermeiros e 12 técnicos de enfermagem, observou-se que, predominantemente, eram do sexo feminino 95,45% (n=21). Entende-se que a predominância de mulheres na profissão envolve o contexto histórico do surgimento da enfermagem e seu reconhecimento como profissional, pois quando surgiram os cursos de enfermagem no Brasil, era requisito para realizá-los ser mulher e ser diplomada por uma Escola Normal. Apesar do ingresso do gênero masculino na década de 70, o cenário não foi modificado (BARREIRA, 1996). A faixa etária predominante foi de 26 a 42 anos, com tempo de trabalho noturno e na atual função entre 7 meses a 11 anos. Referente ao aparecimento de problemas de saúde após o trabalho noturno, notou-se que 86,36% (n=19) responderam sim e 13,64% (n=3) responderam não.
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272 Tabela 1 – Doenças que apareceram nos profissionais de enfermagem após serviço noturno
Especificações das Doenças
Enfermeiros
Técnicos de Enfermagem
Freq.
%
Freq.
%
Distúrbio do sono
5
55,55
5
50
Dist. gastrointestinais (GI)
1
11,11
1
10
Dist. do sono + Dist. GI
2
22,23
2
20
Dist. do sono + GI + mental
1
11,11
2
20
TOTAL
9
99,99
10
100
Com relação às doenças que apareceram nos profissionais de enfermagem após o serviço noturno (Tabela 1), houve predomínio de distúrbio do sono, caracterizado pela insônia; seguidos de distúrbios do sono aliado ao distúrbio gastrointestinal. As alterações do ritmo cicardiano de sono-vigília, com perturbações do sono, são motivos de frequentes queixas dos trabalhadores noturnos, tais como: sonos curtos, interrompidos, dificuldades em se manter acordados ou sono excessivo. Estes profissionais buscam alternativas compensatórias para tal, quais são: café, coca-cola para combater a sonolência durante o serviço e de tranquilizantes para facilitar o sono diurno, estratégias estas que trarão repercussões sérias em toda a sua vida (ALCÂNTARA; FIRMES; PEDRASSOLI, 1999). Os distúrbios gastrointestinais apresentam relação direta com os distúrbios mentais (psicoafetivos), notou-se que o trabalho noturno leva a várias alterações dos hábitos individuais com repercussões sistêmicas consideráveis (PIZZOLI, 2004). Os profissionais que realizam trabalho noturno têm hábitos alimentares inadequados, considerando que o horário da última refeição faz-se em torno de vinte duas horas, permanecendo o mesmo na maioria das vezes por período de nove horas sem ingestão alimentar. Nesse mesmo período, o indivíduo permanece em atividades com exigências metabólicas elevadas, e a manutenção da atividade gástrica com produção ácida favorece a agressão da parede gastrointestinal, podendo levar ao aparecimento de distúrbios intestinais (SILVA; ZEITOUNE, 2002). Em se tratando dos distúrbios mentais (psicoafetivos), o trabalho noturno Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 267-278, jul./dez. 2007
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contribui para que os profissionais de enfermagem venham adquirir fatores de risco de doenças mentais, uso indiscriminado de psicotrópicos e depressão (DELGADO; OLIVEIRA, 2005). Outras doenças citadas foram: apenas insônia, excesso de sono, falta de sono REM (Rapid Eyes Moviment), gastrites, duodenites, esofagites, amnésia e estresse, confirmando o que Figueiredo e Macedo (1990) encontraram em seu estudo com profissionais de enfermagem que trabalhavam em turno noturno: alteração da qualidade de sono, distúrbios digestivos, sintomas de fadiga. Os estudos de Pimentel, Rautas e Montebeller (1999) e de Delgado e Oliveira (2005) reafirmam que os profissionais de saúde mudam seus hábitos alimentares em plantão noturno. Os profissionais de enfermagem, quando indagados sobre as mudanças de hábitos alimentares 59,10% (n=13) mencionaram que seus hábitos alimentares modificaram para uma alimentação não saudável; 27,27% (n=6) citaram que os hábitos alimentares tornaram-se saudáveis e 13,63% (n=3) informaram que não houve mudanças nos hábitos alimentares. No que se refere à prática de exercícios físicos, 90,90% (n=20) responderam que não praticam atividade física, justificando falta de tempo e ausência de motivação para realizar tal atividade; 9,10% (n=2) informaram que praticaram musculação e corrida há aproximadamente 4 (quatro) anos. Percebe-se que a falta de exercício em profissionais de enfermagem, aliado a uma rotina estressante do trabalho hospitalar e vida sedentária favorecem o desenvolvimento da hipertensão primária (FIGUEIREDO; MACEDO, 1990). Em relação às mudanças no relacionamento social, notou-se que 59,10% (n=13) dos profissionais de enfermagem afirmaram que as mudanças existem e justificaram que é devido à falta de tempo, impaciência e indisponibilidade com distanciamento afetivo. Para 40,90% (n=9) dos profissionais de enfermagem não houve mudanças. Entretanto, pode-se verificar que na amostra houve predominância do gênero feminino e o múltiplo papel assumido pela maioria das mulheres que exercem uma atividade profissional tende a remetê-las a determinadas situações em que se sentem impotentes e frustradas por não Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 267-278, jul./dez. 2007
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conseguirem conciliar seus inúmeros afazeres das tarefas domésticas e da educação dos filhos (BARREIRA, 1996). Além disso, a condição da atividade profissional de enfermagem obriga que a assistência ocorra à noite, em finais de semana e nos feriados, períodos estes utilizados por outros trabalhadores para dormir, descansar, usufruir do lazer e do convívio social e familiar (PAFARO; MARTINO, 2004). A Tabela 2 apresenta os resultados relacionados ao tempo de duração de sono após o plantão noturno. Pode-se observar que a maior frequência de duração de sono está na faixa de 2 a 4 horas em enfermeiros e técnicos (40% e 50%, respectivamente). Tabela 2 – Tempo de duração de sono após o plantão noturno
Especificações das horas de sono
Enfermeiros
Técnicos de Enfermagem
Freq.
%
Freq.
%
2 a 4 horas
4
40
6
50,00
5 a 7 horas
3
30
2
16,66
8 ou mais que 8 horas
3
30
4
33,33
TOTAL
10
100
12
99,99
A questão relacionada à alteração no ciclo do sono após trabalharem no horário noturno, 90,90% (n=20) dos trabalhadores confirmaram a ocorrência de alteração, visto que é possível uma inversão completa dos ritmos circadianos quando se trabalha à noite. Ocorrem perturbações do ciclovigília com a dessincronização destes ritmos. Isto não ocorreu em 9,10% (n=2) dos funcionários entrevistados. Os funcionários, quando solicitados a descreverem sobre a qualidade de seu sono, informaram (59,10%; n=13) que o mesmo é superficial, acordando várias vezes durante o sono e muitas vezes com um mínimo de ruídos. Lima (1993), afirma que os indivíduos que não têm o sono REM tendem a desenvolver uma personalidade irritável, fadiga e estresse, pois é esse estágio de sono que proporciona o descanso e o restabelecimento do organismo. Definem como reparador 36,36% (n=8) dos funcionários e apenas 4,54% (n=1) definem como induzido. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 267-278, jul./dez. 2007
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Perguntados sobre o uso de ansiolíticos para indução do sono, 77,27% (n=17) afirmaram que não faziam uso, 18,18% (n=4) faziam uso eventual e apenas 4,55% (n=1) dos funcionários disseram fazer uso contínuo. Na atualidade, os ansiolíticos têm sido uma das três (3) principais drogas em abuso neste contexto hospitalar (PIZZOLI, 2004). Ao abordar a questão que avalia se na noite de folga os entrevistados conseguem dormir bem, observamos que 63,63% (n=14) disseram sim, 27,27% (n=6) responderam não e 9,10% (n=2) disseram que conseguem dormir bem às vezes. Diante disto, corroboramos com o pensar de Hoffman (1991), que propõe o controle natural das manifestações físicas e psíquicas, sugerindo a assistência holística encarando este profissional como um todo, considerando-o do ponto de vista físico, mental e espiritual. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS No trajeto deste estudo, acenou-se para situações, fatos e atos que afetam as questões da promoção da saúde dos trabalhadores de enfermagem que trabalhavam em plantão noturno. Apesar de ser o trabalho noturno um trabalho legal e regulamentado, percebemos como sendo fatigante se comparado com o turno diurno, para aqueles que se dedicam a ele de uma maneira continuada. A saúde eficaz do trabalhador em enfermagem é essencial para o desenvolvimento das atividades de qualquer instituição, seja ela do setor saúde ou qualquer outra. No entanto, o que se observa é que cada vez mais estas instituições fazem cobranças dos trabalhadores em relação à produtividade, sem oferecer condições favoráveis para realizarem o trabalho de forma efetiva e sem prejuízos para a saúde do profissional. Na enfermagem, as baixas remunerações, as duplas jornadas de trabalho, as atividades que exigem maior esforço do que o funcionário pode contribuir, as rotinas estressantes e repetitivas acabam agravando esta situação. Diante disto, questiona-se como um profissional de enfermagem que não está bem em seu aspecto biopsicossocial pode prestar um cuidado efetivo ao cliente? Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 267-278, jul./dez. 2007
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Sugere-se que novas pesquisas venham a ser realizadas para que haja interesse dos profissionais de enfermagem das instituições hospitalares na busca de conhecer as causas de seus adoecimentos.
IMPACT OF THE NOCTURNAL WORK IN THE HEALTH OF THE NURSES AND TECHNICIAN OF NURSING OF THE CHILD-HOOD HOSPITAL DR. ALZIR BERNARDINO ALVES ABSTRACT This research had as objective: to describe the decurrent illnesses of the nocturnal work in the Nurses and Technician of Nursing; to compare the nocturnal impact between the Nurses an Technician of Nursing; to analyze the cited illnesses relating with the quality of the care of nursing. It was an explore quantitative descriptive study carried through next to 10 Nurses and 12 Technician of Nursing in a Child-Hood Hospital Dr. Alzir Bernadino Alves located in the city of Vila Velha-ES. The collected as instrument had 10 question structuralized and half-structuralized referring to the impact in the health in result of the nocturnal work. After analysis of the collected data concluded that: the impact caused for the Nocturnal Work was similar between Nurses and Technician of Nursing and the illnesses that had appeared after the work in nocturnal turn had been: riots of sleep, gastrointestinal and affective psico. Ahead of this, it is questioned as the professional of Nursing that is not well in its social psico bio aspect can give a well-taken care of cash to the customer? Keywords: Nocturnal work. Nursing. Occupational risk. REFERÊNCIAS ALCÂNTARA, C. A.; FIRMES. M. da P. R.; PEDRASSOLI, V. L. de A. Avaliação dos fatores de risco da equipe de enfermagem de clínicas médicas e cirúrgicas. 1999. Monografia (Especialização em Enfermagem do Trabalho) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 1999. BARREIRA, I. A. A enfermeira Ananéri no país do futuro. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996.
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Correspondência para/reprint request to: Maria Tereza Coimbra de Carvalho Rua Comissário Dantas de Melo, 21 Boa Vista 29102-770 – Vila Velha - ES, Brasil Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 267-278, jul./dez. 2007
INCIDÊNCIA de incontinência urinária em ginastas de elite Paula Lopes Rodrigues1 Eloá Ferreira Yamada2
RESUMO Incontinência urinária, de acordo com a International Continence Society, é definida como perda involuntária de urina. É um problema comum na população feminina podendo-se tornar uma barreira para a prática de esportes, porém o conhecimento sobre a incontinência feminina em atletas ainda é muito escasso. A finalidade desse trabalho consistiu em verificar a incidência de incontinência urinária de esforço e urge incontinência e sua relação com a irregularidade de ciclo menstrual, bem como a amplitude de movimento de dorsiflexão em atletas de ginástica rítmica desportiva da Confederação Brasileira de Ginástica. As atletas responderam um questionário relacionado às queixas urinárias e à história menstrual. Para comprovar as possíveis queixas urinárias, submeteu-se as atletas ao PAD TEST, durante dois períodos de treinamento. Realizou-se também uma avaliação de goniometria da articulação do tornozelo. Das ginastas estudadas 71,4% apresentaram incontinência urinária e/ou urgência miccional durante o treinamento, e todas relataram amenorréia por pelo menos 6 meses. Verificou-se ainda que há uma menor amplitude de movimento para dorsiflexão, que pode ser relacionada à incontinência urinária, provavelmente pela
Especialista em Saúde da Mulher pela Universidade Estadual de Campinas. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: paula.rodrigues@uvv.br. 2 Mestre em Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: eloa.yamada@uvv.br. 1
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ação de cadeias musculares e consequente transmissão de sobrecarga para músculos do assoalho pélvico. Sendo esse campo recente, ainda há muito a ser explorado e novas pesquisas devem ser realizadas na busca de evidências científicas. Palavras-chave: Incontinência urinária. Atletas. Ginástica rítmica. Fisioterapia. 1 INTRODUÇÃO Incontinência urinária, de acordo com a International Continence Society (ICS) é definida como perda involuntária de urina. Seu tipo mais comum em mulheres é a incontinência urinária de esforço (IUE), definida como perda involuntária de urina durante tosse, espirro, ou esforço físico (atividade esportiva, levantamento de peso, ou durante mudanças de decúbito). Urge incontinência é definida como perda involuntária de urina associada com forte desejo miccional acompanhada ou não de perda aos esforços (incontinência mista) (B∅; BORGEN, 2001). A prevalência de incontinência urinária em mulheres com idade entre 15 e 26 anos varia entre 10% e 56%. O parto vaginal é visto como o principal fator de risco para o aparecimento da incontinência urinária de esforço. Porém, outros fatores também contribuem para essa evolução, como fraqueza do tecido conjuntivo e do assoalho pélvico; lesão de nervos periféricos, de fáscias, ligamentos e dos músculos do assoalho pélvico durante o parto vaginal, obesidade, atividade física extenuante e idade avançada. A hipótese de que a amenorréia hipotalâmica, atribuída ao exercício intenso, desordem alimentar ou a combinação dos dois, resulta em níveis baixos de estrogênio e pode contribuir para a prevalência da incontinência urinária (RUBINSTEIN, 2001). O conhecimento sobre a incontinência feminina em atletas ainda é muito escasso. Nygaard e outros (1994) estudando 156 atletas de uma universidade encontraram relato de perda urinária durante realização de esporte em 28% das participantes. B∅ e Borgen (2001), após estudarem 660 atletas, compreendidos em 7 categorias (técnico, resistência, estático, peso, jogos de bola, poder e gravidade), diagnosticaram a maior prevalência de incontinência urinária em 52% dos atletas que mantém posturas estáticas, o que inclui as ginastas e os bailarinos. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 279-288, jul./dez. 2007
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A ginástica rítmica desportiva é um esporte bastante plástico que se destaca pela elegância e beleza dos movimentos, realizado com manipulação de aparelhos específicos (corda, arco, maça, fita e bola). Esse desporto requer grande flexibilidade, força, agilidade, equilíbrio e coordenação, tendo como peculiaridade os exercícios de grande complexidade e muitas vezes exigindo angulação extrema do corpo (PETRY; SILVA, 2006). Os movimentos corporais em associação com os aparelhos, além do aspecto estético influenciam no desempenho da ginástica rítmica desportiva. A manutenção de uma plantiflexão para realizar ponta e meia ponta, limita a dorsiflexão necessária para absorver impacto durante o retorno dos saltos artísticos. Segundo Nygaard, Glowacki e Saltzman (1996), existe uma relação entre a diminuição do arco de movimento de dorsiflexão com a incontinência urinária. As atletas de ginástica rítmica desportiva estão constantemente sujeitas a cargas anormais e excessivas nos membros inferiores, devido à alta frequência e intensidade de treinamento. Essa sobrecarga é transferida para região lombar e para cavidade abdominal, o que automaticamente leva à contração dos músculos do assoalho pélvico, para promover o suporte estrutural dos órgãos pélvicos (OLIVEIRA; LOURENÇO; TEIXEIRA, 2004). Esse trabalho muscular do assoalho pélvico, em atletas pode ser bastante eficiente já que o aumento de força muscular é generalizado. Porém, não se pode deixar de considerar que o alto impacto e o tempo prolongado de treinamento sofrido por essa musculatura, poderão torná-la ineficaz na sua função de suporte devido à fadiga (NYGAARD; GLOWACKI; SALTZMAN, 1996). O treinamento físico intenso em mulheres desportistas também está relacionado com alterações menstruais. A realização de atividades físicas, em uma intensidade igual ou superior ao limiar anaeróbico, tem como produto final o acúmulo de lactato no sangue. Essa substância provoca liberação de opióides endógenos, principalmente beta-endorfinas, neurotransmissor responsável por influenciar várias funções hipotalâmicas como, inibir a secreção de gonadotrofina hipotalâmica. Sem a produção desse hormônio, não há estímulo para a produção hipofisária do hormônio luteinizante e do folículo estimulante, que, por sua vez, não estimulam Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 279-288, jul./dez. 2007
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os ovários a produzirem estrogênio e progesterona, que são hormônios de grande atuação na continência urinária (WARREN; SHANTHA, 2000; TAKADA; LOURENÇO, 2004). O objetivo desse trabalho foi verificar a incidência de incontinência urinária de esforço e urge incontinência e a relação com a irregularidade de ciclo menstrual, bem como a amplitude de movimento de dorsiflexão em atletas de ginástica rítmica desportiva da Confederação Brasileira de Ginástica. 2 METODOLOGIA 2.1 SUJEITOS Participaram desta pesquisa 7 atletas de ginástica rítmica desportiva da Confederação Brasileira de Ginástica, sexo feminino, com idade entre 15-19 anos. Essas atletas responderam um questionário relacionado às queixas urinárias e à história menstrual. Para comprovar as possíveis queixas urinárias, as atletas foram submetidas ao PAD TEST, durante dois períodos de treinamento. Foi realizada também uma avaliação de goniometria da articulação do tornozelo. O critério de inclusão foi através de um convite aberto a todas as atletas de ginástica rítmica desportiva. A técnica esportiva e responsável pelas atletas assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e que assim como no convite às atletas havia uma explicação sobre a realização do trabalho. A não aceitação do convite foi considerado critério de exclusão. 2.2 INSTRUMENTOS Após um esclarecimento sobre a proposta do estudo, as ginastas responderam ao questionário, que foi realizado de forma verbal pelo examinador, que anotou os dados em uma ficha. No questionário continham questões relacionadas à incontinência durante esforço ou urge incontinência, tempo de amenorréia, e horas dedicadas ao treinamento por dia. A amplitude de movimento do tornozelo foi avaliada através da goniometria, com o uso de um goniômetro da marca CARCI. A atleta estava sentada com os joelhos fletidos a 90 graus, pendentes na maca, e três Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 279-288, jul./dez. 2007
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momentos foram avaliados: posição neutra, flexão plantar e dorsiflexão a partir de 90 graus. Para realização do PAD TEST, foi utilizado o absorvente (marca comercial Carefree), escolhido com base nas suas dimensões relativamente pequenas para que não influenciasse o desempenho das atletas no treinamento. Os absorventes individuais pesavam em média 6,12g. Dois absorventes pré-pesados foram entregues para cada atleta acompanhado de uma embalagem plástica transparente com fecho hermético (marca Utilville). As ginastas foram orientadas a usar um absorvente durante o treinamento do período matutino e outro no período vespertino, em seguida colocá-los na embalagem plástica e entregar ao examinador. Após os dois períodos de treinamento, os absorventes foram pesados no mesmo dia usando uma balança de precisão de 0,0001g, Ohaus Adventurer, distribuída Toledo do Brasil. 2.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados que estão dispostos no Gráfico 1 foram obtidos através do teste estatístico ANOVA de uma via com pós-teste de Dunnett para detecção de diferenças significativas nos parâmetros de PAD teste e amplitude de movimento do tornozelo. Os valores do PAD TEST e das amplitudes de movimento do tornozelo são expressos na forma da média ± desvio padrão. O nível de significância foi fixado de acordo com o valor de probabilidade (p), sendo p menor que 0,01 (**) e p menor que 0,05 (*). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram do estudo 7 atletas de gisnástica rítmica desportiva, com média de idade 17 ± 1 anos, que treinavam no Ginásio do Centro Universitário Vila Velha. No questionário relacionado à incontinência durante esforço ou urge incontinência, 71,4% das atletas relataram haver perdas de urina ou aumento do desejo miccional durante o treinamento. O tempo de amenorréia foi de 6,1 ± 0,4 meses, sendo ainda o tempo de treinamento diário de 8 horas por dia, totalizando 40 horas semanais. Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 279-288, jul./dez. 2007
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Na amplitude de movimento foi constatado que todas as ginastas apresentavam o posicionamento neutro do tornozelo acima de 90°, caracterizando uma plantiflexão excessiva. Para a dorsiflexão, houve uma média de 14,7º ± 5,1° de amplitude de movimento. Esses valores, comparados com a amplitude de movimento considerada normal (20°) (DUTTON, 2006), apresentaram diferença estatística significativa (p<0,01). Levando-se em conta que as atletas de ginástica rítmica tem uma maior flexibilidade articular, essas amplitudes de movimento podem ser consideradas pouco funcionais, uma vez que, para absorver o impacto dos saltos artísticos, há necessidade de maior dorsiflexão no retorno do movimento, acarretando, assim, maior exigência da cadeia muscular, gerando uma maior contração abdominal e do assoalho pélvico. A contração do assoalho pélvico por um período prolongado ou um maior recrutamento das fibras musculares pode levar à fadiga desses músculos tornando-os insuficientes no papel de suporte pélvico e de continência urinária (NYGAARD; GLOWACKI; SALTZMAN, 1996; OLIVEIRA; LOURENÇO; TEIXEIRA, 2004; VIANNA; GREVE, 2006). As atletas estudadas são jovens, nulíparas, não apresentam alterações anatômicas quanto ao posicionamento da bexiga e da uretra, nem alterações em tecidos conjuntivos adjacentes. Porém, baseado nos resultados encontrados, houve uma grande incidência de perda urinária, que podem ter relação com as alterações hormonais, uma vez que a incidência de amenorréia foi de 100% das atletas. A amenorréia torna-se um fator importante, uma vez que o nível de estrogênio circulante é menor, e esse responsável por promover a coaptação da uretra, mantendo a continência urinária (NYGAARD; GLOWACKI; SALTZMAN, 1996; TAKADA; LOURENÇO, 2004). No Gráfico 1, observa-se que há uma diferença estatística significante entre o valor de controle, no qual pode ser considerado fisiológico a perda de líquido de até 1g, quando comparado com as perdas de líquido durante o treino realizado no período matutino que foi de 3,7 ± 1,9g (p < 0,01) e o treino realizado no período vespertino, 2,9 ± 1,0g (p < 0,05).
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Gráfico 1 – Resultados do PAD TEST comparados com controle (de 1g) e os pesos do período matutino e vespertino
Esses resultados corroboram com Nygaard e outros (1994) que estudaram atletas nulíparas de elite, e encontraram que 67% das ginastas relatando perda urinária enquanto praticavam o exercício físico. B∅ e Borgen (2001) constataram que ocorre incontinência urinária em 29% dos atletas de elite durante a atividade física. 4 CONCLUSÃO Da análise dos resultados, concluiu-se que a maioria das ginastas estudadas apresentou incontinência urinária e/ou urgência miccional durante o treinamento, e todas apresentaram amenorréia por pelo menos 6 meses. Verificou-se ainda que há uma menor amplitude de movimento para dorsiflexão, que pode ser relacionada à incontinência urinária, provavelmente pela ação de cadeias musculares e consequente transmissão de sobrecarga para músculos do assoalho pélvico. Uma vez compreendidos os mecanismos de incontinência urinária em atletas de ginástica rítmica desportiva de elite, sugere-se um trabalho de fisioterapia preventiva minimizando as desordens do assoalho pélvico.
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INCIDENCE OF URINARY INCONTINENCE IN ELITE GYMNASTICS ABSTRACT Urinary incontinence is defined by the International Continence Society “as a condition in which involuntary loss of urine” and is a common problem in the female population, being able itself to become a barrier to women´s participation in sport. However knowledge about incontinence in female athletes is sparse. The aim of the present study were to examine the incidence of stress and urge incontinence and assess a possible association between stress and urge incontinence and menstrual irregularity, as well as the foot arch flexibility in rhythmic gymnastics of the Brazilian Confederation of Gymnastics. The athletes had answered a questionnaire related to the menstrual history, stress and urge incontinence. To evaluate possible urinary’s complaints, the athletes had been submitted to the PAD TEST, during two periods of training. The foot arch flexibility (maximally planti and dorsiflexed ankle position) was measured. The gymnasts had leakage reported and/or miccional urgency during the training (71,4%), and all of them reported amenorrhea at least 6 months. A decreased dorsiflexibility was observed, and can be associated to urinary incontinence, probably because of the action of some muscles groups and consequence transmission of pelvic floor muscles overload. Since this is a new area, further studies are recommended to extend and validate the findings presented. Keywords: Urinary incontinence. Athletes. Rhythmical gymnastics. Physical therapy. REFERÊNCIAS B∅, K.; BORGEN, J. S. Prevalence of stress and urge urinary incontinence in elite athletes and controls. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 33, n. 11, p. 1797-1802, nov. 2001. DUTTON, M. Fisioterapia ortopédica: exame, avaliação e intervenção. Porto Alegre: Artmed, 2006. NYGAARD, I. E. et al. Urinary incontinence in elite nulliparous athletes. Obstetrics Gynecology, v. 84, p.183-187, 1994.
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NYGAARD, I. E.; GLOWACKI, C.; SALTZMAN, C. L. Relationship between foot flexibility and urinary incontinence in nulliparous varsity athletes. Obstetrics Gynecology, v. 87, n. 6, p. 1049-1051, 1996. OLIVEIRA, M. M. M.; LOURENÇO, M. R. A.; TEIXEIRA, D. C. Incidências de lesões nas equipes de ginástica rítmica da UNOPAR. UNOPAR Científica Ciências Biológicas e da Saúde, v. 5/6, n. 1, p. 29-40, out. 2003/2004. PETRY, R.; SILVA, E. Repercussão atual das lesões músculo-esqueléticas sofridas pelas ginastas durante suas carreiras na ginástica rítmica. Fisioterapia Brasil, v. 7, n. 3, p. 219-223, 2006. RUBINSTEIN, I. Incontinência urinária na mulher. São Paulo: Atheneu, 2001. v. 1. TAKADA, S. R.; LOURENÇO, M. R. A. Menarca tardia e osteopenia em atletas de ginástica rítmica: uma revisão de literatura. UNOPAR Científica Ciências Biológicas e da Saúde, v. 5/6, n. 1, p. 41-47, out. 2003/2004. VIANNA, D. L.; GREVE, J. M. D. Relação entre a mobilidade do tornozelo e pé e a magnitude da força vertical de reação do solo. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 10, n. 3, p. 339-345, jul./set. 2006. WARREN, M. P.; SHANTHA, S. The female athlete. Baillière’s Best Practice & Research. Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 14, n. 1, p. 37-53, 2000.
Correspondência para/reprint request to: Paula Lopes Rodrigues Biopráticas/Curso de Fisioterapia Rua Mercúrio, s/n Boa Vista 29102-623 – Vila Velha - ES, Brasil Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 279-288, jul./dez. 2007
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Instruções editoriais aos autores1 1 Proposta editorial Neste momento em que a acessibilidade à informação se tornou uma questão central no ambiente científico e acadêmico é fundamental que professores, pesquisadores, alunos e demais profissionais disponham de canais de informação adequados que viabilizem e estimulem a difusão de questões vinculadas ao saber científico. Nessa perspectiva, Scientia: Revista do Centro Universitário Vila Velha é uma publicação interdisciplinar editada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do Centro Universitário Vila Velha, instituição de ensino superior mantida pela Sociedade Educacional do Espírito Santo, com vistas à divulgação semestral de produções científicas e acadêmicas inéditas nos formatos: editorial, artigo original, artigo de revisão, relato de experiência ou de técnica, resenha e/ou resumo de tese, de dissertação e de monografia de pós-graduação. Na avaliação dos originais é adotada a prática do peer review, conjugada com o blind review, com a submissão a dois ou mais membros do Conselho Editorial e/ou a assessores ad hoc, especialistas na temática da contribuição recebida, procurando assegurar isenção, agilidade e objetividade no processo de julgamento dos originais. A visibilidade da produção científica publicada na revista Scientia tem se consolidado a partir da indexação de seu conteúdo na base de dados IRESIE (UNAM/México) e da disponibilidade no site do Centro Universitário Vila Velha (<www.uvv.br>). 2 Público-alvo real e potencial Pesquisadores, professores, alunos de graduação e pós-graduação e demais profissionais do Centro Universitário Vila Velha, da Faculdade de Vitória, da Faculdade Guaçuí e de outras instituições de ensino superior do Brasil e do exterior, associações de estudantes e de profissionais de 1
Versão aprovada em 10 de outubro de 2005.
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ensino e pesquisa, além de dirigentes de agências de fomento e de política em Ciência e Tecnologia. Com uma tiragem de 1.000 exemplares, Scientia é distribuída como doação para parte do público interno do Centro Universitário Vila Velha e como permuta para instituições de ensino superior, inclusive bibliotecas, do Brasil e de outros países. 3 Orientações gerais As contribuições para publicação, redigidas em português, espanhol ou inglês, com a devida revisão lingüística, podem ser enviadas por pesquisadores, professores e alunos do Centro Universitário Vila Velha e de outras instituições de ensino superior, bem como por outros profissionais, independente de vinculação institucional, do Brasil e do exterior. Os conceitos e opiniões expressos nas contribuições publicadas são de total responsabilidade dos autores (Anexo B), que deverão providenciar permissão, por escrito, para uso de qualquer tipo de ilustração publicada em outras fontes. Os autores poderão retirar o original enviado, segundo seus critérios de conveniência, a qualquer momento antes de ser selecionado pelo Conselho Editorial. Os originais aprovados poderão sofrer alterações de ordem normativa, ortográfica e/ou lingüística, a serem executadas pela equipe da revista, com vistas a manter o padrão culto do idioma e adequação às normas adotadas por Scientia, respeitando, porém, o estilo dos autores. Os originais publicados não serão devolvidos aos autores nem as provas finais serão reapresentadas, exceto em caso de extrema necessidade. As contribuições recusadas ficarão à disposição do autor responsável pelo contato com Scientia pelo prazo de 90 dias, a contar da data de comunicação do resultado da avaliação. Após esse prazo, as contribuições serão eliminadas, garantindo-se nesse processo a total destruição do suporte (papel, disquete, CD-ROM, etc.)
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As contribuições publicadas passam a ser propriedade de Scientia (Anexo C), ficando sua reimpressão, total ou parcial, sujeita à autorização expressa dos Editores da revista. A transferência de direitos autorais mencionada refere-se, única e exclusivamente, à contribuição encaminhada para publicação na revista Scientia. Cada autor receberá, gratuitamente, dois exemplares do fascículo que inclui sua contribuição. As contribuições enviadas deverão se enquadrar em uma das seguintes seções: • Editorial: comentário crítico e aprofundado dos editores ou profissionais convidados com reconhecido domínio sobre o tema. • Artigos originais: relatos inéditos e completos de estudos e pesquisas científicas, representando 60% das contribuições publicadas. • Artigos de revisão: estudos que fornecem visão sistematizada e crítica de avanços do conhecimento em determinadas áreas/temáticas, a partir da literatura disponível. • Relatos de experiência ou de técnica: descrições criteriosas de práticas de intervenções e vivências profissionais que possam interessar à atuação de outros profissionais. • Resenhas: revisões críticas de livros, artigos, teses ou dissertações, com opiniões que possam nortear interesse para leitura ou não da publicação na íntegra. • Resumos: descrições sucintas e de caráter informativo do conteúdo de teses, dissertações ou monografias de pós-graduação. Dentre as tipologias anteriormente descritas, exceto para os artigos originais, as contribuições podem ser produzidas por pesquisadores/profissionais de renome, a convite da UVV. Excepcionalmente serão aceitas contribuições que já tenham sido publicadas em periódicos estrangeiros, condicionadas aos mesmos critérios de avaliação dos trabalhos inéditos e à apresentação, por parte do autor, da autorização por escrito do editor da revista em que o texto tenha sido publicado como original.
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A critério do Conselho Editorial de Scientia, poderão ser publicados números especiais e/ou temáticos com objetivo de atender à demanda das linhas de pesquisa implantadas nos cursos oferecidos pelo Centro Universitário Vila Velha. 4 Corpo editorial A estrutura editorial de Scientia está constituída pelos editores, conselho editorial e assessores científicos ad hoc com as seguintes responsabilidades e representatividade: 4.1 Editores Responsáveis pelo gerenciamento da revista, incluindo seus aspectos administrativos, financeiros e controle de qualidade. Sua representatividade envolve o Vice-Reitor, o Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, o Coordenador de Pesquisa – todos do Centro Universitário Vila Velha –, além de um profissional, a convite da UVV, que possa contribuir para o aprimoramento das variáveis intrínsecas e extrínsecas da publicação. 4.2 Conselho Editorial Sua constituição evidencia a participação de colaboradores do Centro Universitário Vila Velha e da comunidade científica nacional e, dentro do possível, estrangeira, a saber: • Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, membro nato e seu presidente; • Coordenador de Pós-Graduação Lato Sensu, membro nato; • Coordenador de Pesquisa, membro nato; e • Diretor da Biblioteca Central, membro nato. • Cinco membros da comunidade acadêmica, representando diferentes áreas do saber com, no mínimo, o título de mestre. Tais representantes, com mandato de dois anos, devem ser indicados pelos membros natos do Conselho Editorial. Suas responsabilidades envolvem a discussão da política editorial de Scientia; a avaliação da adequação das contribuições ao escopo e ao Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 289-302, jul./dez. 2007
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formato da revista, o que envolverá o parecer de dois a três membros; e a indicação dos assessores científicos ad hoc. 4.3 Assessores científicos ad hoc A adequação da contribuição, além de ser atestada pelo Conselho Editorial, pode ser comprovada por um processo de avaliação realizado por assessores científicos ad hoc, especialistas na área de conhecimento das contribuições recebidas, que desempenham a função de emitir pareceres elucidativos das questões e/ou pareceres conflitantes que possam ter emergido no processo de avaliação dos membros do Conselho Editorial, bem como de avaliar as contribuições que não sejam de pleno domínio daquele Conselho. 5 Aceitação e publicação das contribuições A publicação da contribuição está condicionada ao parecer favorável do Conselho Editorial e/ou dos assessores científicos ad hoc. Do resultado da avaliação podem derivar três situações, a saber: • contribuição aceita, sem restrições; • contribuição aceita, com restrições passíveis de revisão, que deverão ser atendidas/cumpridas pelo autor; • contribuição recusada, o que não impede sua reapresentação para nova avaliação, exceto se a recusa tiver ocorrido por duas vezes. 6 Encaminhamento A contribuição deve atender ao disposto no item 7 destas Instruções (Estrutura das contribuições) e ser encaminhada aos editores da revista, acompanhada de: • Carta de encaminhamento (Anexo A) assinada por todos os autores, explicitando: a concordância com as condições e normas adotadas pela revista; e a indicação de apenas um autor como responsável pelo contato com Scientia, incluindo seu endereço completo, inclusive telefones e endereço eletrônico; Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 289-302, jul./dez. 2007
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• Declaração de Responsabilidade (Anexo B); • Termo de Transferência de Direitos Autorais (Anexo C); • Procedência do artigo com entidade financiadora; Considerando sua periodicidade semestral, far-se-á o esforço para que as contribuições recebidas, depois de submetidas ao processo de avaliação, revisão e de possíveis adaptações, sejam publicadas com base no seguinte cronograma: • Contribuições recebidas até setembro de cada ano – publicação no 1º número do ano seguinte; • Contribuições recebidas até abril de cada ano – publicação no 2º número do ano. Essa proposta de cronograma poderá ser modificada levando-se em conta a necessidade de alterações pelos editores e/ou autores. Endereço para envio das contribuições: Centro Universitário Vila Velha – Scientia Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Rua Comissário José Dantas de Melo, 21 CEP 29102-770 - Vila Velha - ES (Brasil) Telefone: (27) 3421-2097 E-mail: scientia@uvv.br ou renataf@uvv.br 7 Estrutura das contribuições É recomendável que a contribuição enviada esteja de acordo com as normas da ABNT referentes a artigos em publicação periódica científica impressa (NBR 6022:2003); citações em documentos (NBR 10520:2002); numeração progressiva de documentos (NBR 6024:2003) e resumo (NBR 6028:2003), bem como com a norma de apresentação tabular do IBGE, publicada em 1993 (última edição). A contribuição deve ser redigida em português, espanhol ou inglês, com estilo de redação claro e coerente na exposição das idéias, observando o Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 8, n. 2, p. 289-302, jul./dez. 2007
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uso adequado da linguagem. Deve ser digitada em extensão “.doc” (Word, versão 6.0 ou superior) ou “.rtf” (Rich Text Format), impressa em três vias e gravada em disquete (3½) ou CD-ROM. Na etiqueta do disquete ou CDROM deverão constar: título do trabalho, autoria e versão do software. O texto deve estar configurado para papel A4, digitado em fonte Arial 11, com margens superior, inferior, direita e esquerda de 3cm, folhas devidamente numeradas no canto superior direito, alinhamento justificado, parágrafo em bloco e entrelinha com espaço 1,5. Na primeira lauda do texto devem ser informados: a) título, em português e inglês, expressando de forma concisa, clara e precisa o conteúdo da contribuição. O título deve ser centralizado, em negrito e todo em letras maiúsculas; b) nome completo dos autores, titulação e vinculação institucional (somente um título acadêmico e uma afiliação por autor); c) endereço postal completo, telefones e endereço eletrônico dos autores; d) resumo, em português e inglês (abstract), explicitando objetivo(s), metodologia, resultados e conclusões, mesmo que parciais, deve ser redigido com o verbo na voz ativa e terceira pessoa do singular, com um mínimo de 150 e um máximo de 250 palavras. Não será permitido o uso de expressões tais como “Este artigo apresenta...”; “O objetivo deste estudo foi...” e similares (Anexo D); e) palavras-chave, em português e inglês (keywords), que representem o conteúdo da contribuição. Apresentar de três a cinco palavraschave. A Biblioteca Central do Centro Universitário Vila Velha (tel.: (27) 3320-2022; e-mail: biblioteca@uvv.br) deve ser consultada para orientar a adoção das palavras-chave. O autor deve entrar em contato com a Biblioteca com antecedência e enviar uma cópia do trabalho, juntamente com sugestões de palavras-chave. O prazo para entrega é de 48 horas a contar da data de solicitação. Na segunda lauda deverá ser iniciado o texto da contribuição propriamente dita, com identificação apenas do título, o que garantirá a prática do blind review.
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A estrutura das contribuições deverá atender aos seguintes requisitos: • Artigos originais deverão apresentar introdução, objetivos, metodologia, resultados, discussão e conclusão (ou seções similares) e sua extensão estará limitada, no máximo, a 30 laudas. • Artigos de revisão, com exceção da introdução, discussão e conclusão, terão sua estrutura a critério do autor. Sua extensão estará limitada, no máximo, a 30 laudas. • Relatos de experiência ou de técnica terão sua organização a critério do autor, mas deles deverão constar, no mínimo, introdução, descrição da experiência ou da técnica e discussão. Sua extensão estará limitada, no máximo, a 10 laudas. • Resenhas devem ser breves, ter título próprio e diferente do da obra resenhada, sendo desnecessária a apresentação do resumo na primeira lauda. Sua extensão não deve ultrapassar 4 laudas e é obrigatória a inclusão da referência completa da obra objeto da resenha, como cabeçalho. • Resumos devem ser iniciados com a referência completa da obra na estrutura de cabeçalho e ter, no máximo, 1 lauda de extensão. Os artigos encomendados deverão, de acordo com sua tipologia, atender a uma das estruturas definidas anteriormente. Nas citações diretas devem ser observados os seguintes critérios de estrutura: • com até 3 linhas, devem estar incluídas no corpo do texto, respeitando o tamanho da fonte do texto e entre aspas; • com mais de três linhas, devem vir em parágrafo isolado, recuado da margem esquerda em 2cm, fonte tamanho 9, sem aspas e com entrelinha espaço simples. Na identificação da fonte da qual foram retiradas as citações diretas ou indiretas deve ser adotado o sistema de chamada autor-data (sobrenome do autor, seguido do ano de publicação da obra e paginação, se for o caso), que poderá estar incluída no texto (ex.: Segundo Severino (2000, p. 23) ou no final da frase (SEVERINO, 2000, p. 23).
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As notas de rodapé ou notas no final do texto devem ser evitadas. Somente na primeira lauda recomenda-se o uso de nota de rodapé para indicar origem de apoio financeiro ou logístico e indicação de apresentação em eventos, quando necessários. Não é permitido o uso de notas de rodapé de referências. As ilustrações devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem de citação no texto e de acordo com sua tipologia (tabelas, gráficos, quadros, desenhos, etc.) e apresentar título conciso. Devem ser utilizadas somente quando indispensáveis à compreensão e clareza do texto e na sua legenda deve ser usada fonte Arial tamanho 9 e entrelinha simples. A lista de referências deve ser estruturada atendendo às regras da NBR 6023:2002, sendo de inteira responsabilidade do autor sua exatidão e adequação, devendo constar da lista apenas as obras que foram citadas no corpo do texto. Na indicação de autoria das obras citadas, o sobrenome dos autores deve ser em caixa-alta, com os nomes e prenomes apresentados de forma abreviada. As referências poderão sofrer alterações de ordem normativa, com vistas a manter o padrão mínimo exigido pela NBR 6023:2002 e deverão estar à disposição da revista para caso de consulta pela equipe de normalização. Exemplos de referências: a) Livros QUINET, A. Um olhar a mais: ver e ser visto na psicanálise. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002. b) Capítulos de livro ou partes de coletânea CARVALHO, I. C. L. A tecnologia e sua expansão no espaço-tempo. In: ____. A socialização do conhecimento no espaço das bibliotecas universitárias. Niterói: Intertexto, 2004. p. 45-76.
WEFFORT, F. Nordestinos em São Paulo: notas para um estudo sobre cultura nacional e classes populares. In: VALLE, E.; QUEIROZ, J. J. (Org.). A cultura do povo. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1984. p. 12-23.
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c) Artigos em periódicos CHAUÍ, M. Ética e universidade. Universidade e Sociedade, São Paulo, ano 5, n. 8, p. 82-87, fev. 1995. d) Textos da Internet CHANDLER, D. An introduction to genre theory. Disponível em:<http://www.aber.ac.uk/~dgc/intgenre.html>. Acesso em: 23 ago. 2000. Para acessar o site da Biblioteca, digitar <http://www.uvv.br/biblioteca/>, e em seguida, clicar em: Normalização de Trabalhos Acadêmicos.
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Anexo A – Carta de Encaminhamento e Declaração de Concordância Aos Editores de Scientia: Revista do Centro Universitário Vila Velha Encaminhamos, em anexo, o artigo intitulado (indicar o título do artigo), por nós produzido, ao mesmo tempo que declaramos nossa concordância com as condições e normas adotadas por essa revista, e indicamos o(a) Sr(a). (nome do indicado) como responsável pelo contato com Scientia. ,
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Nome e assinatura do autor 2
Nome e assinatura do autor 3
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Anexo B – Declaração de Responsabilidade Título da contribuição: Autores:
(informar o nome de todos os autores)
Certificamos a participação na concepção do trabalho a ser publicado por Scientia para tornar pública nossa responsabilidade pelo seu conteúdo, pela não-omissão de quaisquer ligações ou acordos de financiamento entre os autores e empresas que possam ter interesse na publicação deste artigo. Certificamos ainda que a contribuição é original e que seu conteúdo, em parte ou na íntegra, não foi enviado a outra publicação e não o será enquanto estiver sendo avaliado por Scientia, quer no formato impresso quer no eletrônico. ,
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Assinatura(s):
Anexo C – Termo de Transferência de Direitos Autorais Título da contribuição: Autores:
(informar o nome de todos os autores)
Declaramos que caso o trabalho em anexo seja aceito para publicação, Scientia passa a ter os direitos autorais a ele referentes, tornando-se sua propriedade exclusiva. Sua reprodução, total ou parcial, em qualquer outra fonte ou meio de divulgação impressa ou eletrônica dependerá de prévia e necessária autorização por escrito dos editores de Scientia. Nesse caso, deverá ser consignada a fonte original, com identificação da edição, respectiva data de publicação e devidos agradecimentos. ,
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Anexo D – Exemplo de um Resumo Investiga se as bibliotecas universitárias têm contribuído para o processo de socialização do conhecimento. Alicerça sua metodologia no enfoque qualitativo e emprega o questionário como instrumento de coleta de dados. Resgata o caminho percorrido pela tecnologia, inclusive a ampliação de seu conceito e reflexos em nosso cotidiano. Evidencia a biblioteca universitária como instituição partícipe do processo que concebe a escola e a universidade em uma postura crítico-reflexiva e focaliza o conhecimento e os espaços para sua socialização, destacando a biblioteca como fórum de interatuação e comunicação do saber e como espaço de múltipla comunicação com a missão de buscar alternativas para compartilhar informações e contribuir para que, nas comunidades de troca (salas de aula e laboratórios), haja realmente produção e socialização do conhecimento. Numa perspectiva que procura evidenciar os campos de possibilidades sugeridos pela temática, toma como referencial teórico as concepções de Pierre Lévy, Michel Authier e Manuel Castells para articular discussões nas categorias socialização do conhecimento e tecnologias da informação; e de Gilles Deleuze e Félix Guattari para construir a imagem de rizoma como forma de organização mais apropriada às bibliotecas no enfrentamento das transformações que emergem e modelam a Sociedade da Informação. Sintetiza os resultados reconhecendo que as bibliotecas universitárias brasileiras devem se revestir como catalisadoras, como espaços de comunicação pedagógica para promover a cooperação entre pessoas e grupos, canalizando o potencial das tecnologias da informação e comunicação no sentido de acelerar a socialização do conhecimento estocado em seus ambientes, quer no tradicional, quer no virtual. Palavras-chave: Socialização do conhecimento. Bibliotecas universitárias – automação.
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