Edição de nº 1 Periodicidade Distribução Anual Gratuita
parapeito ou peitoral, perneiras, luvas, jaleco e chapéu.
ao cantor a música ‘A MORTE DO VAQUEIRO’.
O gibão é enfeitado com pespontos e fechado com cordões de couro. O parapeito ou peitoral é seguro por uma alça que passa pelo pescoço. As perneiras que cobrem as pernas do pé até a virilha são presas na cintura, para que o corpo fique livre para cavalgar. As luvas cobrem as costas das mãos, deixando os dedos livres e, nos pés, o vaqueiro usa alpercatas ou botinas. O jaleco parece um bolero, feito de couro de carneiro, sendo usado geralmente em festas. Tem duas frentes: uma de lã, para enfrentar o frio da noite; outra de couro liso, para o calor do dia. O chapéu protege o vaqueiro do sol e dos golpes dos espinhos e dos galhos da caatinga e, às vezes, a sua copa é usada para beber água ou mesmo para comer.
No Piauí, na fazenda Lagoa do Saco, município de Aroazes, temos a maior manifestação em homenagem aos nossos vaqueiros, com missa, prova do laço, pega de boi no mato, concurso do vaqueiro mais idoso, do melhor aboio, da garota mais bela, e mil e uma atrações. Tudo para este herói anônimo: O VAQUEIRO. 0 2º evento aconteceu em 16 de julho de 2011 – uma festa de extrema grandeza para louvar Nossa Senhora dos Vaqueiros. Momento escandalosamente maravilhoso, promovido pelo Instituto Cultural Vale do Sambito. Parabéns aos organizadores! Experimentei o grande prazer de participar e é um marco para nossa cultura popular. O 3º encontro acontecerá no dia 07 de Julho de 2012, na Fazenda Lagoa do Saco, Aroazes – PI. Vamos lá!
O vaqueiro usa sempre um par de esporas e, nas mãos, uma chibata de couro, indicando que, se não está montado, poderá fazê-lo a qualquer momento. Toda esta indumentária encontra-se em exposição, no Museu do Vaqueiro de Alto Longá. O Museu do Vaqueiro de Alto Longá, no Piauí, abriga peças que vêm do século XVIII aos dias atuais: cédulas, moedas, quadros de artistas piauienses, peças sacras, imagens seculares e arte popular produzidas por artesãos locais e teresinenses, tais como indumentárias do vaqueiro: destaque principal do museu. O museu guarda também vestígios materiais do passado, através de fotografias, cenografias e demais veículos de comunicação. Contudo, todos registram fios de memórias de acontecimentos e pessoas cujas referências marcaram a história da cidade. Vale ressaltar, para arrematar esta exposição, que, dentre nosso acervo de fotos e exposição de peças características das vestimentas do vaqueiro, além da obra do artista popular José Luiz, contamos com fotos do mais antigo vaqueiro da região, atualmente com noventa e seis anos: nosso símbolo vivo, Sr. Aureliano Gomes, que participa ativamente de todos os eventos. O Dia Nacional do Vaqueiro é comemorado em 20 de julho. Em Pernambuco, celebra-se também no terceiro domingo de julho, com a missa do vaqueiro, uma homenagem a Raimundo Jacó, primo do cantor Luiz Gonzaga, vaqueiro assassinado por um companheiro no município de Serrita-PE, em maio de 1954. Fato que inspirou
Valmira Cabral Coordenadora do Museu do Vaqueiro de Alto Longá
deslocar-se-ia para os vales do Piauí/Canindé, onde seria fundada a povoação da Mocha, mais tarde freguesia (paróquia), vila e sede da única comarca existente em terras piauienses. Transformada em primeira capital em 1759, com a denominação de Oeiras, ostentaria tal posição até 1852, quando o conselheiro Saraiva, vislumbrando na navegação do rio Parnaíba a via natural de desenvolvimento do Piauí, fundou Teresina e para ela mudou o centro governativo da província. Com a morte de Mafrense em 1711, cerca de trinta de suas fazendas, ocupando uma área calculada de 175 léguas de extensão por 71 de largura, nas quais chegaram a ser criadas mais de 70.000 cabeças de gado de toda sorte, foram legadas por testamento à administração do Colégio dos Jesuítas, da Bahia. Confiscadas pelo governador João Pereira Caldas, em 1760, seriam incorporadas ao patrimônio da Coroa portuguesa. Eram as famosas Fazendas Nacionais. Posteriormente transferidas ao Estado do Piauí pela Constituição federal de 1946, por emenda do deputado Adelmar Soares da Rocha, passaram a denominar-se de Fazendas Estaduais. Em relatório de 1931, com visível indignação, seu administrador, Isaías Pereira da Silva, avô dos(as) promotores(as) do tradicional Encontro de Vaqueiros de Aroazes, dava conta da dilapidação desse rico patrimônio ao longo dos anos, pois restavam apenas 3.665 cabeças de gado. Por quase duzentos anos, e até o surgimento da maniçoba, da carnaúba e de outros produtos extrativistas nos albores do século XX, a pecuária foi o sustentáculo da economia do Piauí. Contudo, com a mudança da capital e o desenvolvimento da navegação no rio Parnaíba, a pecuária perderia espaço para o comércio. Pelo caudal parnaibano era intenso o vai-e-vem de pessoas, barcos e mercadorias entre Santa Filomena e o litoral, num frenesi que a todos encantava, prenunciando o raiar de um novo Piauí. Daí surgiriam muitas das cidades ribeirinhas. Infelizmente, a implantação da hidrelétrica de Boa Esperança, sem a consequente construção de suas eclusas, viria sepultar mais esse sonho. Gado era poder. Reviver aquela época heroica, na figura do vaqueiro indômito, é preservar a memória historiográfica de um Piauí em cujas fazendas de criar, na poética de H. Dobal, “outrora havia banhos de leite.” Jesualdo Cavalcanti Barros Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras
notícias de um Brasil escondido dele mesmo, a merecer revelações e apreços. Uma ponta de orgulho refulge. Se me resta tempo, o relato se estende a outros interessantes e destacados personagens da historiografia brasileira que viveram em Aroazes. Apresento-lhes Luís Carlos Pereira de Abreu Bacelar, vulgo Luís Carlos da Serra Negra. Por aqui as emoções ganham ainda mais intensidades e cores, com as diatribes do Coronel de Milícias, Cavaleiro da Ordem de Cristo, proprietário de inúmeras fazendas no Piauhy e em outras capitanias. Digo-lhes das façanhas do Coronel e de sua riqueza, do casamento por procuração e celebração pelo Governador do Bispado do Maranhão em 1802, com Luzia Perpétua Carneiro Souto Maior. Do descontentamento da refinada esposa Luzia, com a rudeza do marido Luís. Do negro Nazário, perseguido pelo Coronel, encontrado e dado por morto por seus guardas, e renascido depois, com vida longa no boqueirão da Serra de São Benedito. Discurso sobre a fuga da esposa, a simulação de doenças para furtar-se das desconfianças do Coronel Luís Carlos e escapar para São Luiz do Maranhão. Tempero com o namoro de Luzia - esposa fugitiva do Coronel Luís Carlos - com o então Governador e Capitão Geral do Maranhão, José Thomaz de Menezes. Segredo-lhes sobre especulações de assassínio do Luís Carlos, em outubro de 1811, meses depois da proclamação da autonomia administrativa do Piauhy em face do Maranhão, ocorrida em julho de 1811. Ele que se empenhara tanto nesse tento, movido talvez por ciúme ou mágoa da esposa, que lhe apresentara divórcio eclesiástico em 1810, talvez já enamorada do então Governador do Maranhão, com quem depois, já viúva de Luís Carlos, convolou núpcias, gerando filhos, entre os quais D. Rodrigo José de Menezes de Eça, 3º conde Cavaleiros, que fora governador civil de Braga e, depois, de Lisboa. Todos ficam admirados das ricas histórias, confiantes em um Piauhy por se revelar. De imediato, o desejo de conhecer Aroazes, sondar esses enigmáticos tesouros da epopéia humana, guardados no processo de colonização do Piauhy. Cultivar essa tradição guerreira, iconizada no heroísmo do Vaqueiro, constitui um ofício exemplar de manifestação cívica e republicana. A iniciativa da Família Pereira da Silva e das demais ilustres famílias da região de Aroazes - ricas ou pobres de terras - em manter à lume esses encantos exige de nossa parte e dos demais brasileiros não somente a adesão espiritual à glória de nossos antepassados, mas, sobretudo, o compromisso patriótico de também acender juntos luzes que afugentem as sombras ideologizadas pelo mandonismo político, pois só assim guardaremos reluzentes a chama que clareou de esperanças e de sonhos a paisagem livre do Sertão, a despeito de todas as violências simbólicas inerentes ao processo histórico de formação de nossa brasilidade. Carlos Augusto Pires Brandão Juiz e professor da Faculdade de Direito da Universidade
Federal do Piauí