TFG FAU USP e POLIMI | Fábrica de Tecidos Labor | Valéria Ferrari Waligora

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Estratégia de reutilização dos espaços da exfábrica de tecidos Labor Arqueologia industrial em São Paulo, Brasil


Aluna Orintação

Valéria Ferrari Waligora Beatriz Kuhl e Barbara Coppetti

Co-orientação

Helena Ayoub Silva

Politecnico di Milano | doppia laurea Università di Sao Paolo Scuola di Architettura Urbanistica Ingegneria delle Costruzioni Corso di Laurea Magistrale in Architettura a.a. 2017 - 2018



introdução.....................................................................................6 parte I Definição teórica patrimônio | introdução..........................................................8 patrimônio e arqueologia industrial | início do debate....................9 patrimônio e arqueologia industrial | experiência italiana............11 patrimônio e arqueologia industrial | experiência brasileira.........14 arqueologia industrial | uma sistematização..............................17 patrimônio industrial | conclusão............................................18 Preservação do patrimônio industrial problemáticas especificas....................................................21 práticas e teorias..................................................................22 formalização do debate..........................................................25 Notas . .........................................................................................30 Bibliografia..................................................................................36 Memorial justificativo....................................................................38

parte II Contexto urbano localização e urbanidade.......................................................43


Contexto da área localização e urbanidade.......................................................55 análise e caráter..... ...............................................................65 paisagem...........................................................................73 parte III Ex Fábrica de Tecidos mapas históricos ..................................................................81 cronologia construtiva ..........................................................95 desenhos históricos.............................................................99 tombamento monumental e paisagístico.... .............................119 usos no tempo .....................................................................123 levantamento estrutural.......................................................131 as built...............................................................................137 parte IV Estratégia de reutilização projeto..............................................................................143 referências........................................................................155

palavras chave: São Paulo, Brasil, arqueologia industrial, habitação social, reutilização


INTRODUÇÃO Esse projeto foi desenvolvido no âmbito do programa de Duplo Diploma entre o Politécnico de Milão e a Universidade de São Paulo. O tema da reutilização dos espaços de uma ex fábrica – nesse caso aquele da ex fábrica de tecidos Labor – e em geral o abandono de inteiros quarteirões urbanos com uso precedente industrial, representa um tema comum entre a Itália e o Brasil. A discussão se coloca no campo da arqueologia industrial e o projeto busca uma solução ao afrontar um vazio urbano criado em decorrência das mudanças nos processos produtivos. Parte do trabalho se concentrou na compreensão dos conceitos utilizados ao longo da história nesse campo disciplinar do restauro. O edifício analisado, exemplificativo do fenômeno descrito, é localizado em São Paulo, uma cidade caracterizada por um crescimento urbano veloz ocorrido nos últimos 80 anos, tendo alcançado o maior PIB da América Latina, mas com um desenvolvimento desigual e não homogêneo. O bairro em que está a ex fábrica é central e muito bem servido de serviços públicos e privados. Originado de latifúndios, a partir da segunda metade dos Oitocentos se transformou em bairro industrial e é hoje morfologicamente caracterizado por grandes lotes e algumas vilas operárias. A construção dos edifícios da ex fábrica se inicia em 1910 e resultou em um complexo de aproximadamente 17 000m 2 . A sociedade de tecidos Labor, em sua fábrica voltada para a fiação e tecelagem da lã e do algodão, foi extinta em 1985. Desde então suas estruturas tiveram diversos usos, tais como casa noturna, estacionamento, exposições artísticas, loja de móveis, até encontrar-se em completo abandono a partir de 2014. Em 2010 o Estado de São Paulo, representado pelo CONDEPHAAT, tombou os edifícios mais representativos da época industrial, resultando em aproximadamente 11 500m 2 sujeitos à restrições. Apesar disso, há aproximadamente um ano e meio atrás, a ex fábrica foi ocupada por famílias sem-teto, situação que se encontra hoje. Trata-se de cerca de 300 famílias que moram nos galpões e áreas externas em condições inseguras. O projeto de reutilização baseou-se em uma lei fundamentada no princípio da igualdade social, que prevê reocupar edifícios privados quando mais de 80% de sua área 6


está sem função; é esse o caso da ex fábrica. Seus proprietários foram notificados em 2015 dado o não cumprimento da Lei da Função Social da Propriedade. Além disso, as áreas lindeiras à esse complexo são enquadradas pela lei de zoneamento da cidade como Zona Especial de Interesse Social 3, ou seja, áreas destinadas à moradia digna em zonas dotadas de serviços. Dados tais pressupostos, o projeto buscou regenerar a identidade do lugar, reativando toda a ex fábrica e concentrando-se no desenho de um edifício novo com uso habitacional, voltado à faixa mais baixa de habitação de interesse social (HIS faixa 1) localizado nas dependências do conjunto existente. No interior dos galpões históricos foram propostos usos que restituem aquele produtivo e que podem garantir o envolvimento da população que hoje ocupa seus espaços. No galpão principal, por conta de sua cobertura a shed, foi projetada uma horta urbana voltada à didática e à produção agrícola, dedicada a cultura agro-alimentar, uma função pensada por sua capacidade de gerar qualidade ambiental e social. Os espaços da ex fábrica que conservam os testemunhos do seu passado industrial, com elementos simbólicos ainda bem reconhecíveis, como a caldeira, chaminés etc., serão ocupados por um museu e conservarão a história do edifício, do bairro e da produção. Os galpões acostados à esses ambientes receberam um uso educacional técnico que tem o objetivo de difundir e reforçar as estratégias traçadas em 2015 pelo Estado de São Paulo na adoção da alimentação de orgânicos em escolas públicas (Lei municipal nº 16.140/2015). Os ambientes voltados para a fachada principal são desenhados com o uso público de venda de tais alimentos, de modo que possam ser fonte de renda das famílias que hoje ocupam suas estruturas. Os edifícios independentes são ocupados com usos mais privados, mas sempre relacionados ao resto do complexo, tais como restaurante, cafeteria, livraria, biblioteca, teatro.

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PATRIMÔNIO | introdução Ao longo do tempo, a noção de patrimônio passa de uma dimensão familiar à uma dimensão coletiva. Desde o direito romano 1 , o patrimônio é compreendido como o conjunto de bens passiveis de hereditariedade que uma família possui. A partir da Revolução Francesa (1789), através do estabelecimento dos Estados Nacionais, a noção de patrimônio se alarga, passando a ser concebido como um mecanismo de identificação das pessoas com a nação – que, por sua vez, é um conceito em constante construção. Somente a partir dos anos 1930 a ideia de patrimônio deixa de ser motivada exclusivamente pelo interesse nacional e passa a assumir uma conotação cultural abrangente: define-se o patrimônio cultural como um veículo de conhecimento e de afirmação da identidade das comunidades. O conceito de patrimônio industrial é entendido como uma extensão daquele de bem cultural. Um bem cultural é definido como um conjunto de bens materiais e imateriais que compõe um patrimônio cultural, ou seja, que pela tradição, pela fama, por suas características ambientais e por sua referência à uma cultura, são dotados de um interesse histórico ou artístico particulares 2 . Além de representar uma cultura, um bem cultural é também considerado um bem público. A teoria econômica desenvolvida por Paul Anthony Samuelson (1915-2009), decorre na afirmação de que todo bem cultural é dotado de um interesse público 3 . O bem público é definido através de dois conceitos, ambos relacionados ao modo em que se dá o seu consumo ou fruição. A primeira condição é a de que o consumo por um indivíduo não impeça que outros indivíduos possam usufruir contemporaneamente desse mesmo bem, ou seja, é um bem caracterizado pela não-rivalidade. Outra característica que define um bem público é o fato de que, para ser consumido, não existem barreiras de tipo econômico ou técnico que impeçam ou excluam de seu consumo um grupo de indivíduos; essa condição é definida como não-exclusão. De acordo com essa definição, mesmo se um bem cultural é de propriedade privada ele é um bem público do ponto de vista econômico 4 , porque é entendido de acordo com o modo em que é (ou deveria ser) consumido, e não em relação à sua propriedade ou ao seu modo de produção. 8


Para ilustrar esse conceito, podemos citar a praia como um bom exemplo de bem público puro. Ela tem não-rivalidade total, dado que sua fruição por um indivíduo não impede a de outros contemporaneamente; e a sua não-exclusão também é total, se não existirem taxas ou barreiras, como prédios altos, que excluam um grupo de indivíduos de sua fruição. Via de regra, quando um objeto é identificado como representativo de uma cultura, quando ele é considerado um bem cultural, ele passa a ser considerado igualmente um bem público, em que as garantias de não-rivalidade e não-exclusão devem ser perseguidas. Essa teoria explica por que o tema do patrimônio cultural é associado à legislação pública. A garantia das características de um bem público é dever do Estado pois, ainda sob um ponto de vista econômico, mesmo que o bem público seja considerado capital cultural (enquanto capaz de gerar capital financeiro, social e humano) ele tem suas especificidades dentro do mercado. O fato é que, num sistema capitalista, as características de nãorivalidade e não-exclusão implicam na inconveniência de sua produção por um ente privado. Por exemplo, o repasse direto ao consumidor dos custos de produção e manutenção de um bem cultural não seria aceitável, porque as taxas de acesso ao bem seriam altas e na prática ele deixaria de ser público. PATRIMÔNIO E ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL | início do debate Patrimônio e arqueologia industrial são temas relacionados, mas que vêm explicados em contextos paralelos. Considera-se que o início do debate sobre patrimônio industrial se deu na Inglaterra a partir do final da Segunda Guerra Mundial, representado por mobilizações para a preservação de monumentos industriais que, por conta dos bombardeamentos e das consequentes obras de restruturação, vinham sendo demolidos e descaracterizados. A difusão do termo arqueologia industrial é atribuída ao arquiteto da Universidade de Birmingham, Michael Rix (1913-1981). Essa expressão foi publicada em um artigo no livro The Amateur Historian em 1955 5 e suscitou amplo debate, dada a combinação entre arqueologia 6 e um termo da história recente, a industrialização. É, porém, interessante 9


notar o uso deste mesmo termo em 1896 pelo português Francisco Marques de Souza Viterbo (1845 – 1911) em texto intitulado “Arqueologia Industrial Portuguesa, os Moinhos”, publicado no segundo volume do periódico O Arqueólogo Português 7 . A partir de 1960, diversos países entraram no debate e iniciaram a inventariar o seu processo de industrialização, relevando aquilo que representa esse período histórico a fim de preservá-lo 8 . Mais adiante se discutirá o aparecimento do debate e a sua formalização na Itália e no Brasil. Em âmbito internacional, foi criado em 1978 o The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH), uma organização em que países associados promovem discussões e buscam a cooperação internacional para a salvaguarda, conservação, pesquisa, inventário, documentação, valorização e formação acerca do patrimônio industrial 9 . O TICCIH é reconhecido pelo International Council on Monuments and Sites (ICOMOS) que por sua vez é um órgão consultor da United Nations Educational Scientific and Cultural Organization (UNESCO) para a Lista do Patrimônio Mundial, principal recurso para a salvaguarda de bens culturais. O XII Congresso Internacional do TICCIH, ocorrido na cidade de Nizhny Tagil na Rússia em 2003, teve como resultado a Carta de Nizhny Tagil, o primeiro documento reconhecido internacionalmente para orientar a proteção e conservação na área do patrimônio industrial. A Carta define conceitos-chave para o entendimento sobre arqueologia industrial e os métodos fundamentais para as políticas de proteção; enfatiza a importância da identificação e do inventariado; da proteção legal; da manutenção e conservação; da educação e formação; e da apresentação e interpretação do tema. Apesar de individuar a Revolução Industrial do século XVIII como o início de um período histórico que caracteriza o recorte temático, a Carta não traça período ou estilo que possa definir globalmente o patrimônio industrial, indicando que as raízes pré e proto industriais não devem ser negligenciadas no seu processo de reconhecimento. De acordo com a Carta de Tagil, o patrimônio industrial é o conjunto de bens que representam o desenvolvimento das “atividades sociais relacionadas com a indústria”; enquanto arqueologia industrial é um “método interdisciplinar” que focaliza a “compreensão do passado e do presente industrial” 10 . 10


Outro documento importante para esse debate é Os Princípios de Dublin, ou Princípios conjuntos ICOMOS-TICCIH para a Conservação de Sítios, Estruturas, Áreas e Paisagens de Patrimônio Industrial, produzido em 2011 como resultado da 17 a Assembleia Geral do ICOMOS. O principal interesse nesse documento diz respeito à inclusão das “múltiplas dimensões imateriais plasmadas no saber-fazer, nas memórias ou na vida social dos trabalhadores e das suas comunidades” 11 . Ou seja, a imaterialidade e valores intangíveis são citados como elementos a serem relevados para serem tutelados, porque são compreendidos como essenciais para explicar a importância de um bem tanto quanto os elementos materiais. Outro ponto interessante decorrente dos Princípios de Dublin é a interdisciplinaridade, dado que sua definição de patrimônio industrial apresenta esse bem cultural dentro de um sistema, e não isolado em si: O patrimônio industrial revela uma conexão profunda entre o meio cultural e natural envolvente, enquanto que os processos industriais – quer sejam antigos ou modernos – dependem de recursos naturais, de energia e de redes de transporte, para poderem produzir e distribuir os produtos a amplos mercados 12 . PATRIMÔNIO E ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL | a experiência italiana Na Itália o início do debate se relaciona ao progressivo abandono de indústrias sobretudo a partir dos anos 1970, e não tanto à uma mobilização social em relação à demolição e descaracterização de conjuntos industriais, como foi observado na Inglaterra. Conforme afirma o arquiteto Fabio Zangheri, alguns fatores podem ser indicados como responsáveis pela situação de abandono criada em todo o território italiano: de um lado a recessão econômica dos anos 1970; e do outro a mudança da matriz tecnológica com a introdução de novas modalidades de produção a partir dos anos 1980. Além disso, outros autores ressaltam que o fenômeno do abandono se iniciou dadas as condições sopra citadas, mas tem se mantido por conta de uma falta de necessidade, ou incapacidade, da parte dos setores público e privado em reativar essas áreas 13 . 11


Durante os anos 1990 relacionou-se o processo de abandono não tanto à recessão econômica, mas às questões de incompatibilidade urbana e deslocalização industrial, fenômeno caracterizado pela transferência de estruturas produtivas aos países com mão de obra mais barata e criado por uma transformação radical na organização produtiva iniciada nos anos 1980 14 . Com relação à formalização do debate, em 1977 foi fundada em Milão a Società Italiana per l’Archeologia Industriale (SIAI) e no ano seguinte foi fundada em Napoli a Associazione per l’Archeologia Industriale – Centro di Documentazione e di Ricerca per il Mezzogiorno. Desde 1980 até 1993 esta associação publicou periódicos que difundiram as pesquisas para a tutela, divulgou notícias e livros relacionados ao tema no Sul do país, além de apresentar a discussão terminológica; metodológica; as condições de abandono; e as possibilidades de reapropriação desse patrimônio 15 . Em 1997 a associação napolitana foi englobada pela milanesa, gerando a Associazione Italiana per il Patrimonio Archeologico Industriale (AIPAI), associada ao TICCIH desde 2008. Hoje apresenta ligação com diversos museus, universidades, fundações e associações, mostrando uma atividade intensa na gestão e difusão do conhecimento acerca dos bens industriais, inclusive através de periódicos e conferências nacionais. Quanto à discussão do período que constitui o patrimônio industrial, uma vez que as Cartas internacionais não determinam globalmente um período de referência, na Itália concluiu-se que a Revolução Industrial do século XVIII seria o marco referencial. Essa definição temporal serve para excluir uma possível abrangência de bens, que acabaria por inutilizar a conformação do campo, uma vez que não serviria para explicar as condições atuais da cultura partindo dos testemunhos industriais. Ou seja, na Itália, se o termo patrimônio industrial conotasse “obras de engenharia humana”, levaria à inclusão de artefatos tais como os aquedutos romanos por exemplo. No entanto, essa ampliação não condiz com o interesse em se estudar os processos modernos que geraram a condição atual da indústria e que condicionou as relações humanas, os desejos e a paisagem 16 de hoje. Já o uso do termo arqueologia industrial, partindo das discussões inglesas 17 , é usado 12


em referência à um método de pesquisa baseado na catalogação de eventos observados também no interior do objeto; é uma referencia à reconstrução da história por meio da observação de documentos de natureza variada partindo do edifício e abarcando fontes escritas (documentos da empresa, catálogos, publicidade) e objetos (maquinário, produtos), bem como fontes orais. Hoje, na Itália, o tema se desdobra em algumas frentes, tais como a criação de uma cartografia de lugares abandonados, promovida pela comissão de cultura no Senado em 2015, em que o patrimônio industrial tem grandíssima expressão. A estratégia surge de uma experiencia na região da Toscana e tem o objetivo de definir a escala do fenômeno do abandono, através da cartografia, para então “transformar a problemática em recurso” 18 , como forma de requalificar o território. Outra iniciativa usada como referência é o projeto Still Alive, que, através de fotografias, registra o patrimônio industrial abandonado em todo o país 19 . Conforme se observa em estudos acadêmicos e na prática, na Itália existe uma tendência em afrontar as tipologias industriais abandonadas como estruturas passiveis de reutilização, conceito que será discutido mais adiante em confronto com as teorias de restauro. No âmbito italiano, o re-uso de estruturas abandonadas em território urbano é uma constante; períodos de grandes mudanças sociais impõe a obsolescência às estruturas, e com ela o tema da reinvenção. O autor Zangheri elenca três períodos em que o tema do abandono e da reutilização foram centrais: o período clássico e o advento do cristianismo no século IV; a supressão das ordens religiosas e o re-uso das estruturas conventuais durante o Setecentos e Oitocentos; e o abandono de indústrias do século XX, ultima ocasião de reflexão sobre as cidades. Segundo a bibliografia pesquisada, a concepção é de que a requalificação e o reutilização de áreas industriais abandonadas se colocam como a última fronteira, ao menos pela ordem cronológica, de intervenção em grande escala nas cidades. Os vazios urbanos deixados por esse tipo de abandono representam um profundo dilaceramento do tecido urbano, e se impõe como ocasião para repensar e melhorar o território 20 . 13


PATRIMÔNIO E ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL | a experiência brasileira De acordo com a bibliografia pesquisada, o início do debate sobre o patrimônio industrial brasileiro é motivado por duas questões: o crescimento das cidades a partir dos anos 1980; e a desindustrialização 21 . Como afirma a historiadora Cristina Meneguello 22 , o fenômeno do crescimento das cidades é observado em toda a América Latina a partir dos anos 1990. No Brasil, já em 1980 o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acusa pela primeira vez que todas as regiões brasileiras continham uma população urbana superior à rural, um dado que indica condições que se afirmariam nas décadas seguintes. O crescimento das cidades no Brasil é baseado no assentamento à baixa densidade, gerando grandes áreas urbanas esparsas, que avança, inclusive, sobre regiões demarcadas nas décadas precedentes para que tivessem outras funções. Implantados a partir do final de 1930, os parques industriais são definidos como áreas de uso homogêneo industrial em zonas periféricas às grandes cidades. Nos anos 1980, as mudanças provocadas pelo avanço da urbe sobre os parques industriais, é elencado como incipit para o debate da preservação do patrimônio industrial brasileiro. Associado a isso, observa-se uma crescente desindustrialização – termo econômico que define a redução do emprego industrial em relação ao emprego total de um país 23, observado em todo o mundo como resultado da flexibilização dos processos produtivos 24. Fala-se em espaço de desindustrialização, conceito que se refere ao abandono de áreas industriais dentro das cidades 25 . A concentração urbana é apontada como causa desse fenômeno, pois dificulta as dinâmicas industriais; além da incompatibilidade entre o uso industrial, que gera poluição e ruídos, e o uso urbano. No Brasil, essa dinâmica é observada em especial nas grandes cidades. É identificada localmente, na forma do abandono provocado pelo modelo de crescimento urbano e pela desindustrialização. Inicialmente as áreas abandonadas apresentam baixo valor fundiário, em função do degrado gerado, mas o fato de serem bem servidas de infraestrutura e de estarem englobadas ao tecido urbano faz com que sirvam de reserva (ou especulação) 14


à empreendedores imobiliários. Essa situação gera um conflito muito perceptível no que concerne a preservação do patrimônio industrial em particular, dado que é da natureza do assentamento industrial a conexão com modais de transporte e infraestruturas públicas tais como energia, água e esgoto canalizados, elementos que agregam valor à terra. Afirma-se que o debate sobre a preservação do patrimônio industrial no Brasil surge como uma alternativa às conjunturas criadas na década de 1980, porém é interessante notar que existiram estudos sobre a preservação industrial realizados em décadas precedentes. Na cidade de São Paulo, alguns estudos da década de 1970 pontuam áreas pelo seu interesse histórico assim como pelo potencial de requalificação urbana 26 . Em relação à formalização do debate, apesar de tentativas anteriores, em 2003 foi criado o Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial 27 . No ano seguinte, se filou ao TICCIH, e hoje estabelece parco vínculo formal com outras associações ou museus nacionais. Embora não haja articulação entre as diversas instituições que se ocupam desse tema 28 , o número de pesquisas voltadas ao patrimônio industrial é crescente 29 , e se alarga o conhecimento sobre seu contexto. Esse isolamento implica numa falta de multidisciplinariedade, principio fundador para o estudo do patrimônio e da arqueologia industrial em particular. Considerando que os processos de industrialização não são homogêneos em todas as localidades, seria interessante desenvolver um discurso consistente sobre o que se considera patrimônio da industrialização no Brasil. Ainda que o método de pesquisa da arqueologia industrial implique em uma grande abrangência temporal, tanto Inglaterra quanto Itália atestaram como legitimo o uso da Revolução Industrial como um ponto de partida para o estudo desse patrimônio, porque marca mudanças profundas nas sociabilidades desses países. No entanto, o Brasil apresenta muitas diferenças em relação à Europa no que diz respeito à influência que sofreu através das mudanças nos processos produtivos. Considera-se que a economia capitalista brasileira começa a tomar forma a partir da abolição da escravatura em 1888, ou seja, mais de um século após o início da Revolução Industrial. Na condição de colônia portuguesa até 1822, foi proibido de desenvolver sua indústria própria, uma vez que 15


a dependência econômica é altamente rentável aos países exportadores. Mesmo durante o período em que o Brasil foi sede do Império, com a transferência da família real portuguesa em 1808 até a Independência, houveram restrições ao desenvolvimento e à participação na ordem capitalista. E até depois da Independência, foi impedido de desenvolver sua indústria, através da imposição desde 1810 até pelo menos 1844 30 de taxas menores ao produto importado da Inglaterra. Mesmo assim, o território brasileiro foi sempre usado em benefício de algum sistema produtivo, apresentando até hoje testemunhos dos mecanismos de exploração. Se considerarmos que a indústria brasileira começa com a chegada da família real, poderíamos afirmar que a primeira ação de proteção desse patrimônio é o registro pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), realizado em 1964, dos remanescentes da Real Fabrica de Ferro São João de Ipanema 31 . Porém, se considerarmos que os testemunhos produtivos dos períodos precedentes à 1808 explicam igualmente as condições atuais da cultura dominante (sob a ótica produtiva), poderíamos elencar alguns tombamentos anteriores ao de 1964 como ações para a preservação de bens do processo de industrialização no Brasil. De acordo com essa visão, é interessante notar as inscrições de antigos engenhos de açúcar que o IPHAN realizou em 1943, 1944, 1951 e 1963 32 , e que precedem o tombamento da Real Fabrica de Ferro enquanto arquiteturas pré-industriais preservadas em âmbito nacional. Desses vínculos, no entanto, não se observou uma antecipação à destruição ou à obsolescência, e quando começaram a ser estudados já se apresentavam esvaziados de maquinário, o que tende a resultar numa analise baseada nas características externas dos edifícios e não nas relações internas que evocam, tais como a organização do trabalho 33 . Assim, é possível propor uma definição para o estudo do patrimônio industrial no Brasil que se refere não à um período histórico, mas à capacidade que uma estrutura de natureza produtiva tem de se remeter às relações imateriais derivadas da produção. Parece ser justamente essa a definição de arqueologia industrial: o campo parte do objeto para compreender seu contexto abrangente (material e imaterial), objetivo que se alcança somente quando a diversificação de fontes é exercida. 16


ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL | uma sistematização O urbanista belga Marcel Smets (1947-) 34 , realizou uma sistematização relativa às tipologias dos conjuntos industriais, a partir de um estudo sobre a deslocalização no norte da Europa, que se mostrou muito interessante para a compreensão desse fenômeno. O desenvolvimento industrial conectado com a extração de matéria-prima gerou uma tipologia de implantação que ocupa áreas que coincidem com aquelas de extração da matéria-prima. Essa ocupação, definida histórica, apresenta uma coerência física e formal e uma forte ligação com o território em que se encontra 35 . Na Itália, dado que o recorte temporal é a revolução industrial, como exemplo podemos citar as fábricas de benefício do ferro, seda e algodão, assim como as obras hidráulicas de pontes, moinhos e barragens. No Brasil, dado o recorte proposto, são exemplos engenhos de açúcar, as fazendas de café e de extração da borracha vegetal. O processo de industrialização do início de 1900 é caracterizado por atividades produtivas de dimensão contida (fábricas artesanais e pequenas companhias) disseminadas no tecido urbano e com forte integração com a residência. O final da Primeira Guerra Mundial pode ser compreendido como um marco que gerou profundas mudanças nos processos produtivos, resultando em configurações mais abertas (vilas e pequenos galpões) de um tecido caracterizado como misto e difuso. O advento da cidade industrial gerou uma implantação fabril desordenada e localizada nas áreas periféricas das cidades, em contiguidade com ferrovias e cursos d’água, nominada por Smets de moderna. Geralmente, na Europa, são grandes estruturas rodeadas por edifícios para os trabalhadores. Até Segunda Guerra Mundial, quando as teorias modernistas alcançaram hegemonia, a implantação industrial é caracterizada pela alta densidade e pela monofuncionalidade, quase como uma forma espontânea de zoneamento. O zoneamento industrial se dá a partir dos anos 1960 a partir da predominância das teorias modernistas e da crescente importância do modal automobilístico. Esse período comportou uma mudança de localidade das estruturas produtivas em relação à acessibilidade do automóvel e da disponibilidade energética, além de serem caracterizadas pela grande 17


dimensão que visa garantir futuras ampliações. Essas condições levaram á uma conotação ainda mais suburbana às estruturas industriais. O parque industrial de Cubatão, SP, é um bom exemplo desse modelo. A recessão econômica dos anos 1980 gerou uma progressiva diminuição do poder da administração pública em relação ao controle da localização industrial. As mudanças nos processos produtivos também são ressaltadas como causa para a crescente ampliação dos espaços e para a deslocalização industrial, observada na pesquisa de Smets sobre o fenômeno na Europa. Na América Latina, no entanto, o fenômeno é correlato á desindustrialização espacial, ligado ao avanço do tecido urbano sobre parques industriais criados nas décadas precedentes, até então em áreas periféricas. O ABC paulista e a região de Santo Amaro ilustram esse processo. Do ponto de vista arquitetônico, observa-se uma maior atenção aos valores estéticos e formais das estruturas realizadas em consonância com o território, as históricas, assim como naquelas difusas no território urbano. As outras categorias de indústrias descritas acima apresentam “uma menor atenção em relação aos aspectos decorativos e formais, atenção que se transfere às peculiaridades técnicas relacionadas ao uso do objeto arquitetônico exclusivamente como recipiente de uma atividade produtiva” 36 . Essa classificação, que relaciona a tipologia industrial com o território e seu contexto urbano, tem um desdobramento interessante quando o objetivo é intervir no patrimônio abandonado, inclusive para definir os motivos que geraram tal abandono e as possibilidades de sua reutilização. PATRIMÔNIO INDUSTRIAL | conclusão Como já foi acenado, não existe um consenso sobre qual seria o recorte cronológico no estudo que aqui se propõe investigar. As diversas definições levantadas espelham sobretudo uma condição local, que se refere aos processos ocorridos na especificidade histórica e social do lugar em que a síntese do conceito de patrimônio industrial foi proposta. Por exemplo, em relação à Inglaterra, “país-sede” da Revolução Industrial, é bastante 18


justificada a periodização do estudo a partir desse evento, “em virtude de sua importância e consequências locais bem como para o resto do mundo” 37 . Em relação à Itália, periodizar o estudo a partir da Revolução Industrial parece igualmente justificado dado que uma maior abrangência incorre na inclusão de artefatos que já são tutelados a partir de uma leitura histórica estabelecida, gerando uma sobreposição que no mínimo requereria uma revisão conjunta. Para o Brasil, de acordo com a realidade histórica, parece aceitável afirmar que os testemunhos industriais remontam ao início da exploração do território desde sua dominação europeia, porque eles explicam o interesse por esse território, ou seja, como reserva de matéria-prima, e a sociabilidade moderna capitalista de hoje. Desse modo, a Revolução Industrial não serviria como marco necessário para o estudo do patrimônio industrial. Segundo Pozzer 38 , a definição que atualmente se propõe é flexível enquanto guiada pela identificação dos elementos que geraram, testemunharam ou são produto da ordem social capitalista, que de fato é aquela em que nos encontramos, ainda que com diferenças radicais em relação às condições iniciais. São as mudanças em relação ao início da industrialização que inauguraram o campo de estudo, dado que, como se observou, foram essas mudanças que geraram as condições para que o debate tomasse forma: seja em resposta às modificações arbitrárias (Inglaterra), seja em resposta ao abandono crescente (Itália e Brasil). Essa definição é flutuante, e incorre na discussão corriqueira sobre então o que deveria ser preservado, dado que “é indesejável conservar de modo indiscriminado e é ainda mais irresponsável demolir ou transformar de forma incontrolada” 39 . Ocorre, para uma assimilação consciente, um trabalho de seleção baseado na sistematização cientifica e em um método, baseado na interdisciplinaridade e na pluralidade documental. Desse modo se garante uma leitura do passado que não remeta à uma verdade ou à “uma idealização de um tempo desprovido de contradições” 40 . Hoje podemos afirmar que o escopo do campo da preservação do patrimônio cultural é a manutenção no tempo de referenciais que explicam uma cultura através da relativização da narrativa do passado, “substituindo-se a verdade pela diferença e incluindo-se a 19


subjetividade como um elemento construtivo dos fatos” 41 . Infere-se, por tanto, que o objeto desse campo de estudo são os valores que justificam e embasam a preservação, e a materialidade enquanto capaz de mediar e representar as relações humanas . É o maturar em direção à essa definição que será exposto a seguir.

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PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL | problemáticas especificas Para a preservação de bens arquitetônicos, discutir o uso e a função é um tema essencial, dado que “faz parte de sua essência e mantem uma relação complexa com suas finalidades estética e simbólica” 42 . Porém, como se verá mais adiante, por mais que questões de ordem funcional sejam essenciais para a arquitetura, não são a finalidade principal e nem ocupam primeiro posto nas intenções restaurativas, devendo ser subjugadas à questões de reconhecimento do bem enquanto tal, ou seja, à questões de ordem crítica. O debate em relação ao uso de um determinado bem arquitetônico é muito relevante quando se trata do patrimônio industrial, uma vez que a principal causa de degrado advém do abandono, ou seja, com a perda do uso. É a partir da realidade do abandono que se estruturam as teorias de restauro e conservação enquanto campo autônomo de discussão, até atingirem, em meados do século XX, a definição da preservação enquanto ato cultural. Um projeto de conservação de um bem industrial passa necessariamente por seu reconhecimento histórico e estético, mas também pela identificação das relações territoriais e naturais que geraram sua implantação, pela atenção às estratigrafias adicionadas no decorrer do tempo e pela organização espacial que remeta à sua história. Geralmente os conjuntos industriais passaram por mudanças de uso ou estão abandonados ou subutilizados, constituindo um potencial para adaptações. Porém, características intrínsecas às arquiteturas industriais, tais como grandes vãos e alturas que facilitam processos produtivos, não podem a priori serem encarados como versatilidade ou potencialidade para readaptações de uso, porque podem gerar projetos que suprimem sua essência e os próprios motivos de sua preservação. Além de ser um produto da história recente e de suas características construtivas e espaciais, outro fator que limita sua correta interpretação é o fato de ocupar grandes áreas atualmente urbanas e bem servidas de infraestruturas, e, portanto, de se encontrar em porções estratégicas das cidades 43 . Tais fatores agregam um valor de mercado que gera disputas muitas vezes entre forças desiguais, tais como sociedade civil e investidores imobiliários. 21


PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO | práticas e teorias Se provarmos a sintetizar as principais práticas e teorias da restauração, observaremos um progressivo maturar em direção à sua afirmação como atividade cultural e criativa autônoma, em que os preceitos éticos, culturais e científicos alcançam equivalência em relação àqueles práticos, de ordem política ou econômica. O verbete restauro da enciclopédia italiana Treccani aponta à essa mesma afirmação: a partir do debate travado no século XVIII ocorre a constituição do restauro enquanto atividade técnica e critica autônoma operada sobre testemunhos artísticos do passado 44 . Porém, intervir sobre o construído não é uma atividade que se inicia em 1700, nem enquanto teoria e muito menos enquanto prática. A enciclopédia inicia o argumento da restauração citando o século II a.C., quando Damofonte realizou a reconstrução de elementos marmóreos na estátua de Zeus do escultor Fídeas. Textualmente, fontes da antiguidade de Vitruvio (80 a.C. circa – 15 a.C. circa) e Plinio (23 d.C. – 79 d.C.) recordam numerosos transportes de murais da Grécia à Roma, realizados com técnicas precisas, além de intervenções restaurativas em objetos de bronze e madeira. Durante a Idade Média (476 d.C. ≈ 1492), o valor religioso das imagens sacras gerou uma profunda mudança no confronto com as obras de arte. Além da reutilização de materiais remanescentes da Antiguidade, fenômeno que marca a arquitetura dos primeiros séculos da Idade Média, são registrados, a partir do século VI, intervenções diretas em obras de arte de períodos posteriores com objetivo de atualizá-las ao novo gosto e às novas exigências litúrgicas e políticas. Em ambiente italiano, são citados os exemplos de reelaboração dos mosaicos no templo de Teodorico, hoje basílica de Sant’Apollinare Nuovo, em Ravenna, no século VI; a repintura da figura de Cristo no Crucifixo de Gugliermo em Sarzana; e das histórias bíblicas na abadia de São Nilo em Grottaferrata, realizadas no século XIII com intuito de renovação. No Renascimento (≈ 1400 ≈ 1550), com a difusão da cultura de antiquários e com a autonomia das artes, iniciou-se uma prática de intervenção em esculturas antigas, recuperadas quase sempre com lacunas e reintegradas muitas vezes com materiais diversos 22


e formas arbitrarias independente da integridade figurativa original. Como exemplo são citados os restauros de Guglielmo della Porta (1500 circa - 1577) em esculturas de mármore da coleção Farnese; e de Alessandro Algardi (1595 - 1645) em esculturas de mármore da coleção Ludovisi; assim como a obra de restauro do grupo escultórico Laocoonte do Museu Vaticano. No século XVI iniciou-se a salvaguarda de importantes obras de arte da contemporaneidade, com práticas como aquela conduzida por Georgio Vasari (1511 – 1574) de desprendimento e mudança de local dos afrescos de Santo Agostino de Sandro Botticelli e de São Gerolamo de Ghirlandaio, na igreja de Ognissanti, Firenze, em 1564. O início das escavações arqueológicas das cidades romanas de Herculano, a partir de 1709, e de Pompeia, a partir de 1748, soterradas em 79 d.C, inaugurou diversos movimentos nas artes e na arquitetura. No que diz respeito às discussões sobre memória, passado e apropriação de um legado tendo em vista as gerações futuras, as escavações podem ser consideradas o início de um debate internacional que, dois séculos depois, consolida a definição da restauração como campo autônomo, de intenções filológicas 45 e como uma ação cultural. Considera-se que o primeiro documento a proclamar os princípios da conservação de monumentos é o decreto francês de 1794 da Convenção Nacional, regime que vigorou durante a Revolução Francesa. O decreto coloca a exigência de um confronto não meramente utilitário, mas que contemplasse também a importância histórica diante da arquitetura antiga 46 . Apesar das inúmeras teorias desenvolvidas ao longo do tempo, as intervenções em obras arquitetônicas se concentravam em adequações ao gosto e às funções da época. No curso dos séculos quase todas as grandes obras sofreram adições, integrações, ampliações e transformações com sobreposição de diversas fases de gosto e função. Entre 1830 e 1870, o francês Viollet le Duc (1814 – 1879) teoriza a prática o restauro estilístico, em que seriam legitimas todas intervenções que mirassem a repristinação 47 de uma unidade formal ideal encontrada através do estudo do projeto em questão e de sua interpretação estilística. Na mesma época, tomou força na Inglaterra uma posição 23


antagônica formulada por John Ruskin (1819 – 1900), o chamado restauro romântico, ou pictórico, baseado no respeito à forma atual do monumento, ainda que fragmentada, e que excluía a legitimidade da repristinação seja estilística seja matérica ou de qualquer outra intervenção que não fosse conservativa. No final do oitocentos duas novas posições se afirmaram no cenário italiano. Teorizada pelo arquiteto Luca Beltrami (1854 – 1933) o restauro histórico refutava o restauro estilístico e a repristinação, mas considerava a possibilidade de reconstrução de uma forma particular de um monumento através do estudo da sua passagem no tempo, de sua história; e o restauro científico ou filológico, teorizado pelo engenheiro Camillo Boito (1836 – 1914), em que afirma-se, resumidamente, o respeito às adições não-originais realizadas ao longo do tempo; a ilegitimidade das reconstruções em estilo; e a necessidade da distinção de possíveis e necessários completamentos da obra. O engenheiro Gustavo Giovannoni (1873 – 1947) é, junto de Boito, um dos principais personagens do restauro científico. Difundidas a partir dos anos 1920, as teorias do historiador da arte austríaco Alois Riegl (1858 – 1905) introduziram alguns conceitos que mudaram o debate da arte e do patrimônio em particular. Com o termo alemão Kunstwollen, que pode ser traduzido como “um gosto próprio e particular” 48 , introduziu o relativismo à crítica, baseado na equidade entre cada época e estilo artístico quanto à qualidade, e atribuindo ao histórico da arte a competência de compreender o gosto e de avaliar a obra em razão da coerência expressiva no âmbito daquele gosto e não em confronto ao gosto de uma outra época tida como modelo ou de algum pressuposto crítico estético ou moral. Em seu “O Culto Moderno dos Monumentos: a sua essência e a sua origem” (1903) a concepção de monumento é discutida através da análise funcional e da análise relacionada ao valor, que determinaria uma classificação: existem os monumentos intencionais e os involuntários. Segundo Riegl, ambas as categorias de monumento têm o valor artístico, mas concebidos de forma diversa. O valor artístico para os monumentos intencionais é tido como um inviolável cânone artístico ao qual tendem todos os artistas, mas que poucos conseguem atingir, é um valor artístico absoluto; enquanto que para o monumento involuntário o valor artístico é compreendido como sendo relativo, que surge com a avaliação especifica de 24


cada objeto em relação aos valores artísticos que ele mesmo se relaciona, ou com os valores da época que o analisa e o denomina como tal. Os monumentos intencionais são construídos com a função precisa de conservar na memória das gerações futuras algum acontecimento. Já os monumentos involuntários têm principalmente o valor histórico, um valor atribuído com o passar do tempo, e que, portanto, não adere à uma obra no momento de sua construção, e que se revela sensivelmente nas marcas que ele imprime na matéria. Á essa matéria adquirida se dá o nome de pátina. O culto moderno aos monumentos, de que fala Riegl, se volta não aos monumentos intencionais, mas aos monumentos involuntários, nos quais o valor histórico é predominante, encontrados com o passar do tempo e cujo valor é atribuído em um determinado momento, porque é “reconhecido” pelo observador moderno. Essa distinção se relaciona também com as práticas de tutela dos monumentos. Até o Oitocentos qualquer sinal da passagem do tempo, evidenciada em diversos tipos de degrado e patologias, deveria ser eliminado pois o objetivo era devolver ao documento histórico o seu estado “original”, de modo que foram realizadas diversas modificações arbitrarias baseadas ou não em uma documentação. O valor contemporâneo se baseia na concepção de que um monumento é uma criação moderna, produzido pela cultura presente porque satisfaz intelectualmente alguma necessidade, e é esse valor que funda a prática de tutela atual. PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO | formalização do debate Com relação à organizações internacionais, apesar de tentativas anteriores, como o Congresso Internacional sobre a Proteção de Obras de Arte e Monumentos, realizado junto da Exposição Universal de Paris em 1889, o primeiro documento internacional redigido com a intenção de regulamentar a proteção de monumentos é a Carta de Atenas de 1931, aprovado em assembleia da Sociedade das Nações 49 . A Carta foi motivada pelo interesse que as nações associadas tinham em abandonar a prática de reconstituir seus monumentos, então foi redigido um documento comum 25


que pudesse incentivar a manutenção regular e permanente dos testemunhos culturais. Ela reafirma os conceitos do restauro científico, tais como respeito à todos os estilos passados, distinguibilidade e mínima intervenção, e a importância em se manter sempre um uso associado ao monumento como estratégia para assegurar a continuidade de sua existência. Em 1964 foi aprovada em assembleia do ICOMOS a Carta de Veneza, que ainda hoje é o documento-base dessa organização e nasce com o objetivo de reexaminar e aprofundar os princípios da Carta de Atenas. Elaborada como uma síntese dos consensos frente às ideias conflitantes da época, esta Carta baseia-se na teoria do restauro crítico, que é uma releitura do restauro filológico, reimterpretação necessária dada uma série de problemas metodológicos gerados após a Segunda Guerra Mundial 50 . O histórico da arte italiano Cesare Brandi (1906 – 1988) é citado como expoente das teorias contidas na Carta de Veneza, principalmente por aquilo que escreveu no seu verbete Restauro, da Encilopedia dell’Arte, e no livro Teorias da Restauração, ambos de 1963. Por exemplo, o tratamento das lacunas através de “neutros” como propunha a filologia aplicada ao restauro pictórico e arquitetônico, se mostrava insuficiente dado grau de destruição jamais afrontado antes. Outra prática que à época se mostrou insuficiente é representada pelas obras de consolidação estrutural, que eram pouco atentas à integridade, inclusive formal, do bem 51 . Esses e outros fatores explicam a incorporação da instância estética à cientifica articulação de documentos que propunha o restauro filológico. Segundo Brandi, restaurar é antes de tudo um ato crítico pois passa pela individuação do valor do monumento, que em si é produto de um julgamento fundado na “subjetividade histórica”. É sob esse valor “encontrado” que se baseia o segundo objetivo do restauro: recuperar, restituindo ou liberando, a obra de arte. Uma obra de arte, como produto de uma criação humana, impõe uma dupla avaliação: de um lado remete à um lugar e à um tempo, e de outro assume uma importância relativa ao seu reconhecimento enquanto obra de arte; é a dupla polaridade formada pela instância histórica e pela instância artística que justifica a definição do restauro enquanto atividade crítica. Portanto, o restauro é um “processo crítico em ação” 52 , uma atividade filológica/ 26


científica e crítica, enquanto julgamento estético subjetivo operado no presente que recai sob objetos relevantes produzidos no passado, mas que, no entanto, se encontram em condições que inviabilizam sua completa fruição. Isso implica na análise particularizada de cada caso e, inclusive, em uma prática consciente de que a intervenção pode se mostrar insuficiente, seja pela mutação da crítica, seja pelo desenvolvimento ao longo do tempo de novas técnicas. É desse preceito que práticas como a mínima intervenção, a reversibilidade e a distinguibilidade são recomendadas na Carta de Veneza. Não são poucas as críticas direcionadas às colocações de Brandi 53 ; como geralmente se observa no campo da conservação, a hegemonia no afrontamento das questões é muito rara. Não é possível, no entanto, afirmar que elas tenham sido superadas, ainda que o cenário atual seja completamente diferente do pós Segunda Guerra. Por exemplo o alargamento da noção de patrimônio, inclusive com a criação das teorias da arqueologia industrial, poderia gerar um erro de interpretação em relação à introdução do livro Teorias da Restauração, quando Brandi define que “quando se tratar de produtos industriais (...), o escopo da restauração será evidentemente restabelecer a funcionalidade do produto (...) mas quando se tratar, ao contrário, de uma obra de arte, mesmo se entre as obras de arte haja algumas que possuam estruturalmente um objeto funcional (...) está claro que o restabelecimento da funcionalidade, se entrar na intervenção do restauro, representará definitivamente só um lado secundário” 54 . Dessa colocação não se infere que a preservação da arquitetura industrial deva ser guiada pela funcionalidade, invalidando para essa tipologia as teorias acerca da unidade formal e do confronto com a estética enquanto parâmetros essenciais no restauro. O que se alcança com essa colocação é que o objeto do restauro é a obra de arte, e que definir os aspectos que conferem à um objeto o estatuto de obra de arte é o primeiro passo na pratica do restauro, sob o qual todas as outras intervenções devam ser submetidas. . É justamente por isso que o restauro é tido como antes de tudo como ato crítico. Digressões à parte, retém-se que a Carta de Veneza, enquanto calcada no restauro crítico, se apresenta como o produto de um processo iniciado há aproximadamente dois séculos e meio que afirma o restauro como uma atividade autônoma – porém não isolada, 27


porque é multidisciplinar 55 – e que tem o escopo de preservar elementos identitários às gerações futuras. Os preceitos que guiam o modo de intervir em um bem são relacionados diretamente com aquilo que motiva sua preservação, e “cada caso pode comportar uma solução própria” 56 ainda que princípios comuns sejam elencados – distinguibilidade da ação contemporânea, mínima intervenção, retrabalhabilidade e a compatibilidade de técnicas e materiais 57 . Justamente pelo caráter indicativo da Carta de Veneza, a partir de 1970 emendas e declarações integrativas foram incentivadas como um recurso para especificar as ações em relação aos bens patrimoniais. Isso é muito coerente dado que uma Carta tem valor indicativo e prescritivo, enquanto Declarações e Resoluções têm a intenção de resumir debates sobre um tema específico. No entanto, é preciso ressaltar que existem diversas incongruências dentro do próprio campo, com afirmações que se contradizem entre si dada uma leitura equivocada das Cartas a que se referem 58 , sobretudo quando da elaboração dos princípios locais. No que concerne o debate na Itália, impossível não citar a Carta Italiana do Restauro, de 1972. Nela alega-se claramente os princípios e soluções elaborados ao longo das discussões. Qualquer intervenção deve ser justificada por parecer técnico; a documentação fotográfica do estado anterior às intervenções, do processo de restauro e do resultado final é instituída como regra; a supressão da pátina e de outros elementos são proibidos, ao menos que isso garanta a conservação da obra; recomposições necessárias são permitidas quando realizadas com materiais distinguíveis ao olhar, porém que sejam harmônicos ao conjunto, entre outras recomendações. A carta contém ainda quatro anexos específicos com instruções para a salvaguarda de objetos arqueológicos, para o restauro de objetos arquitetônicos, para o restauro pictórico, escultórico e pinturas murais e para tutela de centros históricos 59 .

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A partir de todos os conceitos apresentados, segue uma proposta de restauro dos espaços de uma ex fábrica em um tecido urbano consolidado. O objetivo desse exercício é experimentar a consonância da teoria com a prática. A estratégia foi a de caracterizar e analisar o entorno do complexo industrial, através da legislação incidente, dos estudos realizados e de suas características paisagísticas e ambientais. Seguiu-se uma pesquisa documental, como é recomendado pelas teorias de restauro, de tudo que pudesse acrescentar para a correta interpretação dos edifícios estudados. Serão expostos mapas, desenhos e análises de usos ao longo do tempo até hoje. Em seguida foi realizado um levantamento as built, para que o projeto de reutilização seja apresentado. Um relatório fotográfico complementa esse estudo.

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NOTAS 1 Conjunto de princípios jurídicos que regularam a sociedade romana antiga, em vigor desde a fundação de Roma em 735 a.C. até sua reformulação pelo imperador Giustiniano, morto em 565. É considerado a base da cultura jurídica ocidental. 2 Treccani, verbete beni culturali e ambientali, acesso em setembro de 2018, tradução da autora. IPHAN, Dicionário do Patrimônio Cultura, verbete bem cultural, http://portal.iphan.gov.br/ dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/79/bem-cultural, acesso em setembro de 2018. 3 Os conceitos apresentados a seguir são enquadrados no ramo da economia chamado economia do bem-estar. Essa metodologia surge como uma resposta às limitações da economia clássica, principalmente àquelas relacionadas à avaliação de elementos intangíveis e não monetizáveis. A economia do bem-estar é aplicável à mercados em que os agentes econômicos não podem influenciar no preço de mercado, ou seja, em mercados que não são regulados pela oferta e demanda. Para mais informações ver Treccani, verbete economia del benessere, acesso em setembro de 2018, tradução da autora. 4 Treccani, verbete bene pubblico, acesso em setembro de 2018. Para a exposição do conceito em português, ver CALDAS, p. 110. 5 HUDSON, 1981, p. 1; BUCHANAN, 2014, p.1. 6 Arqueologia é uma ciência que mira a reconstrução de civilizações antigas através do estudo dos testemunhos materiais, mas também mediante o confronto de fontes escritas e iconográficas. É característico do método da arqueologia a realização de escavações no terreno. Treccani, verbete archeologia, acesso em setembro de 2018, tradução da autora. 7 O Arqueólogo Português, Vol II, no 8 e 9, 1896, http://www.patrimoniocultural.gov.pt/en/recursos/oarqueologo-portugues/o-arqueologo-portugues/ acesso em setembro de 2018. Para um estudo mais aprofundado sobre o tema ver POZZER, 2007. 8 FONSECA e SALOMÃO, 2016, p. 2 9 TICCIH Guiding principles and agreements, acesso em setembro de 2018. 10 Carta de Tagil, tradução TICCIH Brasil, 2007, p. 2. 11 Princípios de Dublin, 2011, p.1. 12 Princípios de Dublin, 2011, p.2. 30


13 ZANGHERI, 2012, p. 49. 14 Treccani, verbete delocalizzazione, acesso em setembro de 2018, tradução da autora. 15 www.patrimonioindustriale.it, acesso em setembro de 2018. 16 MAINARDI, p. 2. 17 MAINARDI, p. 2; PALMER, ORANGE, 2016, p.12. 18 POLITINI, 2016, p.1. 19 http://www.st-al.com/, acesso em setembro de 2018. 20 ZANGHERI, 2012, p. 13. 21 A. RODRIGUES, artigo oculum 2012 p.3. 22 SCHICCHI, 2005, p. 4; outros autores também afiram a mesma teoria, ver FONTES, 2006, p.2 e A. RODRIGUES artigo oculum 2012. 23 OREIRO e FEIJÓ, 2010, p.2 . 24 A. RODRIGUES, artigo oculum 2012 p.2. 25 Segundo o geógrafo Rafael Faleiros Padua (2007, p. 32), o termo espaço da desindustrialização é o mais adequado para se referir ao que os autores franceses denominam friches, ou ao que a bibliografia de língua inglesa chama de wasterlands ou brownfields. Os termos designam espaços ou edifícios que serviram às atividades econômicas e que, por conta do abandono, encontram-se degradados. 26 A. RODRIGUES, artigo Oculum 2012 p.3. São citados os estudos solicitados pelo Metro de São Paulo para identificação de bens significativos na área de influência da linha Leste e Oeste; o levantamento da Empresa Municipal de Urbanização (EMURB) denominado “Galpões Industriais Significativos”; e a inclusão de alguns edifícios industriais dentro da Z8-200, áreas marcadas para a preservação a partir de 1975 na cidade. 27 Como relata Meneguello, os encontros promovidos pelo departamento de patrimônio histórico da Eletropaulo durante a década de 1980, na cidade de São Paulo, podem ser citados como um exemplo das tentativas de criação de um debate mais articulado entorno do tema, mas que por falta de recursos não se afirmou até a criação do Comitê. SCHICCHI, 2004, p. 3. 28 KUHL , 2006 p. 1; POZZER, 2007, p.253; M. RODRIGUES, 2010, p. 5. 31


29 KUHL , 2006, p.2; THIESEN, 2006. 30 Foi somente com as Tarifas Alves Branco, implementadas em 1844, que as taxas foram regularizadas independentemente de sua procedência, em 30% caso não houvesse produção nacional similar, e em 60% caso houvesse similar produzido nacionalmente (BARBOSA, 2014, p.17). Foi essa política alfandegária que deu início à primeira fase de desenvolvimento industrial brasileiro, representada pela produção de café e por Barão de Mauá (BATISTA JR, 1980). 31 IPHAN, Processo 0727-T-64; CONDEPHAAT processo número 00372/73. Para um comentário sobre esse tombamento ver KUHL , 2006. 32 De acordo com a sistematização do Arquivo Noronha Santos feita por Angela Rodrigues, o tombamento do Engenho Matoim (Candeias, BA) 1943; do Solar do Unhão (Salvador, BA) em 1943; do Engenho Freguesia (Candeias, BA) em 1944; da Fazenda do Engenho d’Agua (Ilhabela, SP) em 1951; e do Engenho dos Erasmos (Santos, SP) em 1963. A. RODRIGUES, 2011, p. 88. 33 M. RODRIGUES, 2010, p. 7. 34 ZANGHERI, 2012, p. 51, tradução da autora. 35 ZANGHERI, 2012, p. 49, tradução da autora. 36 ZANGHERI, 2012, p 52, tradução da autora. 37 POZZER, 2007, p.237, citando KUHL , 1998. 38 POZZER, 2007, p. 227. 39 KUHL , 2009, p. 147. 40 ANDREOTTI, 2015, p. 71, citando M. RODRIGUES, 1999, p. 96. 41 M. RODRIGUES, 2010, p. 4. 42 CHOAY, 2001, p. 230. Já durante o Quatrocentos, a partir da tríade vitruviana, a estreita relação entre beleza e utilidade era citada como essencial para caracterização da Arquitetura. Na realidade, mais do que uma relação estreita, o termo utilitas indica uma dependência entre servir à um uso e ser belo, dado que um objeto somente belo era considerado inútil. Treccani, verbete utilitas, acesso em setembro de 2018, tradução da autora. 43 A. RODRIGUES, 2011, p. 31. 44 Treccani, verbete restauro, acesso em setembro de 2018, tradução da autora. 45 Filologia: Conjunto de disciplinas destinadas à reconstrução de documentos literários e à sua 32


correta interpretação e compreensão; genericamente em qualquer pesquisa significa interpretar os fatos baseando-se no exame de textos e documentos ou notícias históricas (Treccani, verbete filologico, acesso em setembro de 2018, tradução da autora). Em edições críticas de textos com partes faltantes, as lacunas vinham preenchidas com cores ou fontes diferentes. Analogamente, em arquitetura, o restauro filológico propõe que a ação de preenchimento de lacunas físicas se desse com a sua diferenciação matérica para não induzir à uma leitura equivocada de um bem. 46 Treccani, verbete restauro, acesso em setembro de 2018, tradução da autora. 47 Repristinação: Deriva do latim pristinus: primitivo, anterior; refazer o estado primitivo, às condições primevas, subtraindo as adições que alteraram a condição primitiva; com significado mais genérico, refazer um estado de funcionalidade, revigorar um uso, reestabelecer ao estado normal de funcionalidade (Treccani). 48 Treccani, verbete kunstwollen, acesso em setembro de 2018, tradução da autora 49 Organização internacional composta pelos países vencedores da primeira guerra mundial, idealizada em 1920 na França e cuja atividade perdurou até 1942; em 1946 deu lugar à Organização das Nações Unidas, ONU. 50 KUHL , 2007, p. 2. 51 CARBONARA, 2006, p.9. 52 KUHL , 2010, p. 10, citando Renato Bonelli, 1995, p.57. 53 CARBONARA, 2006, p.3. 54 Para uma leitura mais aprofundada sobre a Teoria da Restauração de Brandi ver KUHL , 2007. 55 “A conservação e a restauração dos monumentos constituem uma disciplina que reclama a colaboração de todas as ciências e técnicas que possam contribuir para o estudo e a salvaguarda do patrimônio monumental” (Artigo 2o, Carta de Veneza). 56 Carta de Atenas, I. Doutrinas. Princípios Gerais. 57 KUHL 2010, p 11. 58 Beatriz Kuhl cita um exemplo brasileiro: a normativa n o 80 do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) de 2007 considera duas cartas contraditórias entre si, a Carta de Veneza e a Carta de Lisboa (1995). A definição de restauro na Carta de Lisboa é “preservação ou reposição de parte ou totalidade de sua concepção original ou correspondente aos momentos mais 33


significativos de sua história”, enquanto na Carta de Veneza restaurar não é tornar à um estado “original” mas sim uma obra que não prejudique o estilo de nenhuma época. Outra incongruência entre as cartas está na relativização que a Carta de Lisboa dá aos estudos que devem preceder uma intervenção, sob o argumento de que é no confronto com a realidade que se adquire um conhecimento mais eficaz e profundo, indicando que “a ação não pode esperar até que todos os estudos estejam feitos”, enquanto que na Carta de Veneza a restauração deve necessariamente ser precedida de estudos arqueológicos e históricos. KUHL , 2010, p. 13. 59 Carta do Restauro, tradução do IPHAN

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MEMORIAL JUSTIFICATIVO O projeto proposto pode ser sintetizado na definição de usos públicos para o galpão principal, usos semipúblicos para os anexos que foram mantidos, e no desenho de um edifício novo no lote liberado pela demolição de outros anexos, que é destinado à realocação das famílias que hoje ocupam o complexo industrial. Atualmente, a situação que se criou no interior da ex fábrica é extremamente insegura e insalubre. Inicialmente, houve a tentativa de se lotear seu interior, como fizeram os que hoje a ocupam, propondo, no entanto, residências com qualidade. Porém, observou-se que essa proposta não é compatível como os elementos que caracterizam e definem a ex fabrica Labor como um patrimônio industrial. A percepção dos grandes espaços e vãos, assim como o ritmo estrutural, motivam a tutela tanto quanto a história que a fábrica evoca. Assim, o projeto proposto para todo o complexo reforça a preservação dos elementos que o nominam como patrimônio, buscando resolver a situação precária em que o bem e as famílias ali residentes se encontram atualmente. O galpão principal é construído com vigas, pilares e tesouras metálicas importadas da empresa escocesa Glengarnock Stell na década de 1910. Os módulos de 4 x 7 metros, a repetição quase infinita dos pilares (mais de 150), a altura das tesouras que culminam em sheds, empregados para beneficiar a iluminação e ventilação dada a extensão da área coberta (aproximadamente 5 260m 2 ) e a visual de todo o complexo foram preservados, porque evocam uma técnica construtiva pioneira e o chão de fábrica. A principal intervenção nesse galpão foi a substituição das telhas verticais do shed por telhas translucidas, para permitir a iluminação da horta urbana ali proposta. Partindo da fachada sul, nos anexos voltados para a rua da Mooca, que tem um fluxo mais relacionado ao bairro, foi projetado um mercado para os produtos agrícolas excedentes da horta estabelecida no interior da fábrica. Esse mercado é pensado como fonte de renda para os moradores do complexo e para suprir os habitantes do entorno. Esses edifícios são muito interessantes enquanto capazes de estabelecer um filtro da rua para o interior, e a função proposta reforça essa capacidade. Na esquina, a ex residência dos proprietários, da notável família Crespi, foi pensada 38


como uma biblioteca diminuta, cujo acervo seria voltado para a pesquisa botânica e da cultura desenvolvida na horta interna, bem como da história local. Esse edifício é muito interessante porque explica um modelo industrial empreendido na cidade de São Paulo, ao qual a ex fábrica ilustra de forma distinta. Na fachada leste, nos anexos das oficinas mecânicas e da ex carpintaria, voltados para a rua Barão de Jaguara, foi proposto um restaurante público gerido pelos moradores do complexo e cujos ingredientes prioritariamente tenham sido produzidos no local. Esse restaurante é pensado também como uma fonte de renda para os moradores ou para as famílias em condições precárias no entorno, bem como para o fornecimento de alimentação saudável e acessível para os habitantes da região. Para os anexos voltados para a Radial Leste, que tem um caráter de conexão regional – a fachada norte – são propostos usos mais púbicos, e que, embora ainda evoquem o uso principal proposto no interior do galpão principal, contém funções mais livres. Uma banca de rua e esquina na antiga cocheira; um café e livraria; um museu da industrialização nos ambientes em que os testemunhos da ex fábrica ainda estão íntegros; e um teatro com palco de arena. Entre a fachada norte e o galpão principal, no anexo da antiga tinturaria e de batedores dos tecidos, foi proposto um centro de educação profissionalizante, nos moldes do Senai. Ali estão seis salas de aula de ao menos 70m 2 , laboratórios, secretarias e administração. Seu objetivo é instrumentalizar os agricultores urbanos para as técnicas correntes, tendo como campo de experimentação qualquer espaço necessário de toda a ex fábrica. No lado oeste, o edifício habitacional projetado foi pensado para remeter e dialogar diretamente com sua implantação. Seu módulo estrutural é igual ao do galpão existente, e cria uma continuidade rítmica no térreo. O edifício desenhado funciona estruturalmente em três seções longitudinais independentes, embora interligadas. Partindo do norte, um conjunto de oito casas térreas de 56m 2 são previstas exatamente onde antes havia a vila operaria, demolida ilegalmente em 2010 aproximadamente. Esse conjunto está na parte mais alta do terreno, e um sistema de rampas leva aos outros quatro 39


andares do edifício. Nos patamares das rampas, ou seja, no meio nível, há uma ligação com o bloco intermediário do edifício habitacional. Esse tem quatro andares e é servido de elevadores e escadas, sendo extenso aproximadamente 40 metros. Seu térreo é livre, assim como sua cobertura – ambos de acesso restrito aos moradores. O terceiro módulo é aquele mais ao sul, composto de um jardim absolutamente público, aberto para a rua da Mooca e aparado pela estrutura que se dissolve em altura. Além disso é circundado por muros permeáveis, constituídos de blocos de cimento defasados entre si, criando assim aberturas da medida de um terço do bloco. Essa é a linguagem de toda a intervenção, inclusive dos novos fechamentos propostos para todo o complexo industrial e habitacional. É também nessa área ao sul em que está previsto um estacionamento diminuto, acessível da rua prevista na Operação Urbana Tamanduateí, e as caixas d’água das residências, que têm sua colocação motivada principalmente pela distância dos elementos caracterizadores da indústria, a saber, as chaminés. Todo o conjunto é pensado em função da acessibilidade universal (NBR 9050), assim como em conformidade com a lei antifogo (NBR 9077). A articulação das rampas, elevadores e escadas em relação aos patamares de acesso às residências permitiu aberturas de laje que iluminam e arejam o jardim no térreo, projetado ao longo dos 70 metros de edifício, bem como os próprios corredores, agora avarandados. O modulo estrutural é de 7 x 7 metros, seguindo o padrão longitudinal do térreo existente; a estrutura é mista, feita de pilares com perfil H de aço laminado com bitola 162 x 1 54 mm e vigas perfil I e bitola 358 x 1 72 mm. A laje é alveolar, alta 25 mm e solidarizada com uma capa de compressão de concreto de 5mm. As rampas têm pilar e viga centrais, condição que deixa à mostra as vigas nos trechos longitudinais em que foram propostas as já referidas abertura das lajes. O fechamento proposto é o mesmo das outras intervenções no complexo: blocos de cimento, defasados no interior do edifício em alguns pontos em que a planta permite, tais como cozinha e sala. A fachada é composta pelos mesmos blocos e as janelas são previstas como a supressão desses, de modo que se prescinda

40


de caixilhos e vidro, dado que serão aparadas com uma varanda. O fechamento interno é feito em bloco e varia de 12 ou 20 cm, de acordo com o fato de conterem ou não a tubulação hidráulica. Essas, por sua vez, estão alinhadas com a descida de água pluvial em cobertura, calculadas em conformidade á NBR 10844. Dessa forma a planta permanece o mais livre possível. Ainda, uma vez que a maior parte da área em cobertura é habitável, foi prevista uma malha de drenagem composta de grelhas e calhas de piso, fabricada em PVC, que acresce em 30 cm a altura dessa laje. As áreas cobertas foram pensadas com telha metálica de aço galvanizado trapezoidal e termoacústica, sem antes ser impermeabilizada com manta asfáltica e ser regularizada com caimento uniforme de 5%. As plantas das habitações variam de 28, 57 e 86m 2 e foram desenhadas para abarcar o máximo possível de famílias em condições dignas de moradia, bem como de forma a depreciar os custos de construção. Esse foi um mote do projeto, dadas as condições atuais de todo o conjunto. Dessa forma, conforma-se uma proposta que persegue a responsabilidade com a condição atual das famílias ali residentes, propondo habitação digna de forma economicamente sustentável; usos e funções relacionados à vulnerabilidade social dessas famílias, visando a melhoria das condições atuais; e um tratamento das construções existentes que reforça suas particularidades históricas e de fruição, elementos que o relevam como patrimônio industrial.

41



parte II

Contexto urbano

Localização e urbanidade

43


BRASIL 750km

2250km

8 515 759,090 km 2 208 494 900 pessoas 24,48 hab/km 2

1500km

45 o

Oce

ano

Atla

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0o o

Brasília

23 o

Estado de São Paulo

248 219,627 km 2 45 538 936 pessoas 183,46 hab/km 2

Fonte: IBGE e Emplasa, dados estimados para 2018

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REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO 5km

15km

7.946,96 km 2 21.571 281 pessoas 2.714,41 hab/km 2

10km

ce

nt

ro

A região metropolitana de São Paulo é formada por 39 municípios e é o mais importante pólo economico da nação. linhas ferroviárias hidrografia principal Urbanização (Cesad 2005) Fonte: IBGE e Emplasa, dados de 2017 45


MUNICÍPIO DE SÃO PAULO 10km

30km 20km

Localização dos tecidos urbanos caracteristicos

3 2 ce

4

1.521,11 km 2 12.176.866 pessoas 8.005,25 hab/km 2

250 m

500 m

Fonte: IBGE e Emplasa, dados estimados para 2018 46

nt

1 ro

5

1km

5km

10km


Tecidos urbanos característicos da Cidade de São Paulo

A análise que segue foi elaborada com o objetivo de apresentar a localização

do objeto de estudo para um público estrangeiro. São Paulo é localizada em um planalto de altitude média de 760 metros. A sua fundação ocorreu em 1554, quando missionários jesuítas constroem o Pateo do Colegio sobre a colina formada pelos rios Tietê, Tamanduateí e Anhangabaú. A região era então ocupada por povos da etnia tupiniquim e era considerada estratégica e fundamental para diversos caminhos e trilhas. Essa centralidade na ligação de percursos é uma característica que existe ainda hoje. A cidade é caracterizada por um crescimento urbano muito rápido. Até a primeira metade do século XIX era uma vila pouco habitata e sem força econômica. O boom econômico-demográfico-urbano iniciou-se com a difusão da produção do café, entre 1850 e 1950 aproximadamente, que levou a cidade à alcançar suas dimensões atuais. O fenômeno da imigração (sobretudo italiana) foi consistente: inicialmente essas pessoas foram empregadas como mão de obra agrícola e posteriormente na indústria. Em 1980, mais da metade da população paulista era composta de imigrantes. Hoje São Paulo é a maior cidade da América meridional e é também a maior potência econômica da nação, alcançando o maior PIB principalmente graças ao comércio atacadista e às atividades financeiras. Tem um IDH discretamente alto (0,805) mas uma distribuição do desenvolvimento não igualitária, com um índice de desigualdade social (Gini) alto de 0,6453. Sua forma urbis é heterogênea. Inicialmente, dado o desenvolvimento econômico, os proprietários começaram a lotear suas chácaras. Os primeiros planos reguladores da cidade remontam ao final de 1800 e são caracterizados pela organização viária, mas não foram jamais implementados na sua completude. 47


O Campos Elíseos é o primeiro bairro planejado e marca o inicio da ocupação da porção oeste da cidade. Fundado em 1879, o bairro é desenhado em grelha e era inicialmente habitado pelos ricos produtores de café. De fato, até aproximadamente 1930, era formado por palacetes burgueses circundados pelo verde. Hoje a região é servida de ótimas infraestruturas públicas e tem uma densidade populacional media. Grande obras têm sido feitas para valorizar a área para o mercado imobiliário, ao que segue o fenômeno da gentrificação. As primeiras construções industriais modernas se encontram no bairro da Barra Funda: trata-se das Industrias Matarazzo. À época fora da cidade, o bairro é caracterizado por grandes lotes industriais com algumas vilas operárias, pela proximidade do rio e da ferrovia; ou seja, densidade baixa e terrenos planos. Hoje as indústrias abandonadas estão deixando espaço para grandes empreendimentos residenciais. Os bairro jardim também são característicos da forma de São Paulo. Foram desenhados a partir de 1915 e representam a primeira experiência do gênero no Brasil. O loteamento foi empreendido pela empresa de iluminação pública Light&PowerCo em áreas adquiridas em proximidade aos rios. As características dessas zonas são o desenho viário orgânico, a baixa declividade, baixa densidade populacional em decorrência do baixo gabaritos das casas posicionadas no meio dos lotes, e de uma grande quantidade de praças públicas. Em oposição, a partir de 1940 as favelas se consolidaram na cidade. Paraisópolis é hoje a maior, situada em uma área com altíssima declividade e ocupada de modo irregular desde 1921. É caracterizada pela autoconstrução, pela falta de infraestrutura publica básica, tal como o sistema de esgoto, das casas pequenas construídas no meio de quarteirões e suas vielas. Algumas residências sociais e serviços públicos foram construídos nas proximidades.

0

48

250 m

500 m 250 m

500 m

1km

1km


1 | Cidade histórica

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Centro

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2 | Grelha Campos Elíseos C

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3 | Industrial Barra Funda

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4 | Jardim Jardins

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5 | Favelas Paraisรณpolis

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770 775

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parque

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760 775

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780 775

775 770 765

7 755 60

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parte II

Contexto da área

Localização e urbanidade

55


LOCALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO 10km

30km 20km

Localização da área de projeto e subprefeituras

administração regional Mooca

administração regional Sé

linhas ferroviárias hidrografia principal 250 m

500 m

Fonte: IBGE e Emplasa, dados estimados para 2018 56

1km

5km

10km


A ex fábrica de tecidos Labor é localizada no Brás, um bairro histórico à Leste do centro. Fundado em 1556 por padres jesuítas, era caracterizado pela ruralidade e pelas estradas que ligavam a cidade ao litoral. O primeiro trecho ferroviário construído no Estado de SP (inaugurado em 1867) continha já à ápoca uma estação no Brás: esse fato indica sua importância econômica e a possibilidade em transportar o café produzido no interior para o litoral. Tudo somado permitiu o desenvolvimento de numerosas indústrias na região. De fato, a partir de 1870, o bairro se transformou completamente em zona industrial. No inicio do século XX era a região mais populosa do município e era ocupada principalmente por imigrantes italianos. A imigração foi tão forte que um albergue foi construído - a Hospedaria dos Imigrantes, e recebeu cerca de 70 nacionalidade diferentes durante um século de funcionamento. A importância do Brás na cidade é percebida ainda hoje, dado um conjunto de estruturas publicas e privadas de interesse histórico e cultural que demonstram sua centralidade. Após a desindustrialização, percebida nos anos 1980, a área se tornou principalmente comercial, particularmente de vestimenta e relacionada aos imigrantes de origem coreana e boliviana. Além disso, houve um boom construtivo que buscou (e busca ainda hoje) transformar os grandes lotes industrias em imponentes complexos residenciais e comerciais.

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250m

RAIO DE 1km DA ร REA DE PROJETO

500m

5 4 6 3

725 725 2

7

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14

12 15 10 9

11

13

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Edifícios tombados ou de interesse cultural Fonte: Mapa Digital da Cidade e Infopatrimonio

1 | Quartel Tabatinguera, 1765-1916. O edifício foi sede de uma fazenda, do seminário das educandas, de um hospício público e enfim do II batalhão de guardas da polícia, até 1992. Hoje em abandono, tombado pelo Estado.

2 | Gasômetro, 1890, foi uma central para a produção de energia elétrica, tornando-se obsoleta em 1937. Desativado em 1972, em 2006 o complexo foi restaurado e em parte tornou-se um museu. Tombado pelo Estado.

3 | Primeira Escola Profissional Masculina, 1917. Marca uma mudança na política educacional profissionalizante, que se tornou importante para a a mão de obra industrial, da qual o bairro se servia. A partir de 1964 tornou-se tribunal de justiça. Tombado pelo município

59


4 | EE Romão Puiggari, 1898, escritório Ramos de Azevedo. Foi uma escola representativa da primeira República (1890-1930) e da vertente arquitetônica do século XIX. Tombado pelo Estado.

5 | Cine Piratininga, 1944, escritório Rino Levi. O complexo compreende sala de cinema, salas comerciais e residência. Em altíssimo grau de deterioração, não tombado.

6 | Estação do Brás, inaugurada em 1867, remodelada em 1897 por James Ford. O metrô foi inaugurado em 1979, e em 1994 foi realizada a última reestruturação. Tombada pelo Estado.

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7 | Hospedaria dos Imigrantes, 1888, arq. Mateus Haussler. Foi construído para abrigar as famílias de imigrantes no Brasil à época da política de substituição da mão de obra escrava, tendo funcionado até 1978. Se torna museu em 1993. Tombada pelo Estado.

8 | Ex Fabbrica Alpargatas, 1907, eng. Julio Micheli, modificado em 1922 por Scott e Urner e em 1942 por Alfredo Mathias. Foi uma fábrica de sapatos até 1990 e hoje abriga uma universidade com projeto de Vicente Giffoni. Não tombado

9 | INSS, década de 1950, arc. Zanon Lotufo. É a agência de previdência social e representa um bom exemplo de edifício publico brutalista. Tombado pelo município.

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10 | IAPI Várzea do Carmo, 1942, escritório Atílio Corrêa Lima. Foi um dos primeiros projetos de habitação social, realizado pelo antigo sindicato de trabalhadores da indústria. Tombado pelo município.

11 | Mesbla Veículos, 1944, escritório Atílio e Gladosch. Construído para a seção de veículos da empresa Mesbla, tendo esse uso até os anos 90, quando se tornou uma igreja evangélica. Tombado pelo município.

12 | Sobrados Barão de Jaguara, 1929, arq. Gregori Warchavchik. Casas populares geminadas, assobradadas, ainda em uso. Foi importante como um experimento do modernismo paulista no mercado imobiliário de baixo custo. Tombado pelo município.

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13 | Mesquita Brasil, 1956, eng. Paulo Taufik Camasmie. É a primeira mesquita construída no país e evoca as construções islâmicas. Tombada pelo município.

14 | Armazéns Piratininga, 1912, arq. Victor Dubugras. Uma serie de galpões em tijolos aparentes, vizinhos à ferrovia, que ainda hoje funciona como distribuidor de mercadorias, além de ter uso cultural. Tombado pelo Estado.

15 | Ex Fábrica Antártica, 1910-1983. Foi sede da cervejaria e símbolo da industrialização, gerador urbano e referência paisagística. A atividade cessou nos anos 90, está em abandono desde então. Tombada pelo Estado

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parte II

Contexto da รกrea

Anรกlise e carรกter

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INFRAESTRUTURAS PERTUBADORAS e seus atravessamentos 1: 75 000

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parque Dom Pedro II

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A ex fábrica Labor tem sua fachada norte para a Radial Leste, uma avenida construída ao longo dos anos 70 para desobstruir o tráfico do centro para leste. Foi considerada a avenida mais perigosa da cidade e constitui uma barreira que se une à Avenida do Estado, pensada junto das obras de drenagem do rio Tamanduateí entre 1894 e 1928 aproximadamente. Os trilhos também marcam a paisagem, seja porque impedem a ligação física entre partes do tecido urano (ferrovia térrea), seja porque sua é linha elevada e bloqueia as visuais (ferrovia aérea). O parque Dom Pedro II foi considerado o principal espaço público da cidade e foi pensado como uma área de contemplação voltada para o rio, tendo sido criado para proteger a cidade das suas inundações. A partir de 1968, dada a crescente poluição ambiental e as óbras de sistematização viária na região, hoje se configura como uma infraestrutura perturbadora. É uma área caracterizada principalmente pelo terminal de ônibus e pela estação de metrô, de modo que seu atravessamento resulta dificultoso por conta das estruturas viárias e da baixa qualidade ambiental. 66


SERVIÇOS PÚBLICOS E PRIVADOS a 20 minutos à pé 1 : 75 000 escola pública

estação de trem

defensoria pública prisão de menores

museu público tribunal de justiça estação de trem

centro de formação centro de reciclagem

farmácia pública

museu público

creche pública hospital privado escola pública universidade privada creche pública creche pública creche pública

INSS

estação de trem

SENAI

A área a 1km partindo da ex fábrica é muito bem servida de transporte público e estruturas importantes, como creches, escolas, universidades, centro de formação profissionalizante e museus. Outras estruturas públicas menos usuais, tais como o cárcere de menores infratores e o centro de reciclagem, estão justamente na vizinhança. E ainda outros serviços, mais usuais porém característicos de bairros centrais, tais como defensoria pública, farmácia pública e previdência social, também são vizinhos da ex fábrica.

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MORFOLOGIA DOS QUARTEIRÕES Fonte: Quapá Fau Usp, 2015 MORFOLOGIA DEGLI ISOLATI 1 : 75 000

Quadro do paisagismo no Brasil, Quapá, 2015 ORIZZONTALE MISTO | 31,70% Horizontal Misto

Horizontal Residencial ORIZZONTALE RESIDENZIALE | 8,60% ORIZZONTALE DISPERSO

Horizontal Disperso | 2,10%

lotti grossi; costruzioni disperse

ORIZZONTALE NON DISPERSO

Horizontal Não Disperso | 18,90%

lotti grossi; uso industriale

ORIZZONTALE GROSSE DIMENSIONI Horizontal de Grandes Dimensões | 25,80% mancanza di lotto; uso industriale

Vertical Misto VERTICALE MISTO | 4% Vertical Residencial VERTICALE RESIDENZIALE | 1,80% VERTICALE ORIZZONTALE MISTO Vertical eED Horizontal Misto | 7,20%

O mapa foi produzido pelo laboratório Quadro do Paisagismo no Brasil (Quapá), instituído desde 1994 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. O trabalho se baseia na morfologia dos quarteirões urbanos, seus diversos tipos de loteamento, ocupação e volumetria. Existem diversas tipologias. O horizontal misto é caracterizado por quarteirões com : Quapá 2015 lotes bem definidos, construções com máximo de 3 pavimentos e uso misto – pequenas casas, oficinas, igrejas etc. Na área analisada representa quase um terço do território. O horizontal residencial tem a mesma forma com uso predominante residencial. O horizontal disperso é composto de quarteirões com lotes grandes, que podem ter sido loteados ou não, e uso industrial (galpões pequenos). O horizontal não disperso é caracterizado por usos não industriais, como hopitais, escolas, centros esportivos. O horizontal de grandes dimensões é composto por grandes galpões industriais ou shoppings. O quarteirão da ex fábrica tem essa morfologia, assim como aproximadamente 25,80% de seu entorno imediato. O quarteirão vertical misto é caracterizado por construções com mais de 4 pavimentos e uso misto. O vertical residencial tem como uso predominante o residencial. O vertical e horizontal misto é representado por quarteirões com lotes de todas as dimensões e sem um uso preciso.

fonte

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LEI DE PARCELAMENTO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Font: Plano Geral Estratégico, 2016 1: 75 000 ZONAS ZONE Aree Pubbliche Áreas Públicas

ZEPAM ZEPAM

zona speciale di preservazione ambientale zona especiaL de preservação ambiental

ZEIS3 3 ZEIS

zona di interesse sociale social 3 zonaspeciale especiaL de interesse 3

ZC - -ZEIS ZEIS ZC

zona centralità al confine con la ZEIS zonadide centralidade lindeira à ZEIS

ZOE ZOE

zona de zona deocupazione ocupaçãospeciale especial

ZEU ZEU

zona asse strutturazione e e transformação urbana zona eixodide estruturação trasformazione urbana

ZM ZM

zona mista zona mista

A lei de parcelamento, uso e ocupação do solo faz parte do plano diretor estratégico ZONE de 2014 (PDE), redigido pela prefeitura de São Paulo. O objetivo é ordenar a transformação Aree Pubbliche da cidade para melhorar a qualidade da vida urbana buscando eliminar a disparidade social, fonte: pde 2016 lei de parcelamento, uso e ZEPAM ocupação docom solo um uso mais racional dos recursos. O método usado foi o de envolver a população nos ZEIS 3 processos de decisão, ou seja, o processo participativo. ZC - ZEIS O PDE afirma uma grande desigualdade na cidade: oportunidade, trabalho e serviços ZOE estão concentrados na sua área central, enquanto a desorganização predomina nas áreas periféricas. A transformação do território junto aos rios e as ferrovias são afrontados dada a ZEU importância que têm para o transporte coletivo e como novas áreas produtivas. ZM A zona ZEIS 3 é ocupada hoje por imóveis subutilizados, inativos ou abandonados localizados em áreas servidas de serviços e infraestruturas públicas, e a oferta de trabalho é boa. A área é em parte destinada à habitação de interesse social (HIS), ao menos para os fonte: pde 2016 lei de parcelamento, uso e lotes de área superior à 500mq. ocupação do solo As ZC-ZEIS são porções do território central, portanto, destinadas à coexistência entre uso residencial e não, em proximidade às ZEIS. As ZOE são áreas destinadas a atividade únicas como aeroportos, áreas de lazer etc. As ZEU são marcadas para estimular o adensamento habitacional ao longo de eixos de transporte público. As ZM são destinadas ao uso residencial e não no mesmo quarteirão e lote. zona speciale di preservazione ambientale

zona speciale di interesse sociale 3

zona di centralità al confine con la ZEIS

zona de ocupazione speciale

zona asse di strutturazione e trasformazione urbana

zona mista

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OPERAÇÕES URBANAS Fonte: PDE 2014, OUCBT, 2016; OUCEN 2016 1: 75 000

O.U. Centro

O.U. Bairros do Tamanduateí

rio Tamanduateí

As operações urbanas são um instrumento público que flexibiliza a lei de fonte : plano regional da sé; operação urbana bairros do tamanduateí; zoneamento, visando o readensamento e a requalificação do território. A venda do potencial construtivo de um terreno da parte da prefeitura ao setor privado gera um fundo ao setor operazione urbana Centro público que deve ser usado em melhorias urbanas na mesma área. A O.U. Centro está ativa e foi criada para valorizar a área atraindo investidores imobiliários. O foco é a produção de novas construções, a regularização dos imóveis e o adequamento dos existentes à novos usos. Ainda, estabeleceu condições para a transferência do potencial construtivo de imóveis tombados à outros terrenos. Assim, foi gerado um fundo para a conservação de imóveis históricos. A O.U. Tamanduateí surgiu de outra O.U., formulada em 2002, e não está ativa. O objetivo é traçar novas estratégias de financiamento para os espaços produtivos da indústria, para a logística, para o comércio criativo e outros serviços. Busca equilibrar a oferta de habitação e trabalho, visando também a requalificação ambiental.

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ZEIS 3 + IMÓVEIS INATIVOS OU SUBUTILIZADOS Fonte: Tabela CEPEUC 2018; PDE, 2016 1 : 75 000

ZEIS 33 ZEIS Immobili o imóveis inattivi notificados pelo não sottoutilizzati cumprimento da lei da função social da propriedade

As zonas de interesse social marcadas no PDE são um instrumento para encorajar o desenvolvimento de novas habitações sociais, destinadas à população de baixa renda. A zona analisada, com um raio de 1km da ex fábrica Labor, contém quase um terço de sua área marcada como ZEIS 3. Assim, se mostra como uma zona degradada, mas com grande potencial dado o ótimo funcionamento das infraestruturas e serviços públicos. Os lotes marcados no mapa foram notificados dado o seu não cumprimento da lei da função social da propriedade, que afirma o princípio da igualdade social, e prevê reativar uma propriedade privada quando mais de 80% de sua área não está em uso. Esse instrumento permite reconhecer as propriedades que poderiam ser destinadas ao uso social como, por exemplo, à HIS. A notificação implica em um aumento progressivo da taxa de propriedade (IPTU) até chegar à expropriação do bem por utilidade pública. A ex fábrica Labor foi notificada em 2015 mas, dado seu tombamento pelo Estado, não é uma ZEIS 3.

71



parte II

Contexto da รกrea

Paisagem

73


Serra da Cantareira

Ferrovia

N

74


A sociedade fábrica de tecidos Labor nasce em 1903 e foi extinta

em 1985. A construção oficial dos edifícios remonta à 1910 e as suas principais atividades eram fiação, tecelagem, tinturaria, acabamento e mecânica. A estrutura produzia sua própria energia elétrica consumida. Estima-se que trabalharam cerca de mil pessoas na produção de artigos em algodão e lã, tais como colchas, xales e outros.

Sua localização é diretamente relacionada à ferrovia, graças à

qual as mercadorias eram transportadas. O planalto da cidade, a oeste, era ocupado pelas classes altas, enquanto as zonas à oriente, por conta das constantes inundações e, em decorrência, dos preços baixos, foram ocupadas pelas indústrias (fenômeno observado a partir da segunda metade do século XIX até 1930 aproximadamente). É nesse contexto que a Labor seria construída.

A inserção da ex fábrica na paisagem é imponente: transmite a

importância e o significado da revolução industrial na conformação de uma paisagem, e doa identidade ao lugar. Tal identidade é exprimida através da estética e da técnica do conjunto fabril.

A relação entre o conjunto e a paisagem é expressa pela altura e

forma de suas construções (chaminés, caixas d’água, auto-respirador); pela sua cobertura (diversos tipos de shed, construídos para otimizar a ventilação e iluminação); e pela forma do tecido urbano circundante (os grandes quarteirões pouco loteados marcados por pequenas vilas).

Esses são aspectos cruciais para a conservação do patrimônio

industrial.

Fonte: CONDEPHAAT nº 59448/09 e RODRIGUES, 2011

75


Vista Norte | Av. Radial Leste

residência r Barão de Jaguara

chaminés auto-respirador

caixa d’água

724

722

Vista Sul | Rua da Mooca chaminés auto-respirador

residência r Barão de Jaguara

caixa d’água

724

722

Vista Leste | Rua Barão de Jaguara residência r da Mooca

auto-respirador e chaminés

viaduto Alcântara Machado

caixa d’água 724,50

724

Vista Oeste auto-respirador e chaminés viaduto Alcântara Machado

722

76

caixa d’água

r da Mooca

722,50


A ex fábrica é localizada na planície do rio Tamanduateí. Como é

usual em planícies urbanas, aquilo que hoje se observa é resultado da substituição de um tradicional uso agrícola que a área teve até a metade do século XIX.

A zona tem suas potencialidades industriais, graças à

abundância de água, aos terrenos planos que favorecem o transporte de mercadorias e aos preços baixos dada a incompatibilidade da área com o uso residencial.

Hoje apresenta graves problemas ambientais, em decorrência de

intervenções na hidrografia, como as obras de drenagem, terraplanagem e canalização do rio; a impermeabilização do solo como consequência da urbanização; e a poluição do ar, solo e água.

Os cortes urbanos ao lado ilustram a baixa pendência do terreno.

A largura da ex fábrica, com cerca de 180 metros, supera 2 metros em direção ao rio, ou seja, à oeste

30m

90m 60m

77


N

78


A paisagem entendida como uma entidade única entre homem e

natureza expõe a fragilidade da área sob o aspecto ambiental, da qual derivam também vulnerabilidades sociais.

Em uma escala mais próxima, a analise da vegetação do entorno

imediato à ex fábrica resulta em uma fragilidade. A arborização média do bairro é de 3,8m²/hab, uma relação muito distante dos 12m 2 /hab recomendados. A quantidade de áreas publicas é de 2,4m² / hab, relação igualmente baixa.

A região é classificada como área de ocupação urbana

consolidada, com boa infraestrutura, mas com uma densidade arbórea muito baixa.

Fonte: Subprefeitura da Mooca, dados de 2014

79



parte III

Ex Fรกbrica de Tecidos

Mapas Histรณricos

81


1842 | Mapa da capital de São Paulo, ordenado pelo Barão de Caxias Fonte: Coleção IV Centenário, Cia Melhoramentos 1952

Em evidência a atual rua da Mooca, em que hoje a Ex Fábrica Labor se volta. O círculo indica a sua localização aproximada. 82


1881 | Planta da cidde de São Paulo, realizada pela Cia Cantareira e Esgotos Fonte: Coleção IV Centenário, Cia Melhoramentos 1952

Em evidêcia a atual rua da Mooca, em que hoje a Ex Fábrica Labor se volta. O círculo indica a sua localização aproximada.

83


1890 | Planta da capital do Estado de São Paulo, desenhada por Jules Martin Fonte: Coleção IV Centenário, Cia Melhoramentos 1952

Em evidência o quarteirão original em que a Ex Fábrica Labor será costruída em 1910. 84


1897 | Planta geral da capital de São Paulo, organizada por Gomes Cardim Fonte: Coleção IV Centenário, Cia Melhoramentos 1952

Em evidência o quarteirão em que a Ex Fábrica Labor será costruída em 1910.

85


1916 | Planta da cidade de São Paulo, levantada pelo município Fonte: Coleção IV Centenário, Cia Melhoramentos 1952

Em evidência o quarteirão em que a Ex Fábrica Labor se localiza. 86


1930 | Mapa topográfica do município de São Paulo, Sara Brasil Fonte: Coleção IV Centenário, Cia Melhoramentos 1952

Em evidência o quarteirão da Ex Fábrica Labor, antes da construção da Avenida Radial Leste.

87


1954 | Levantamento aerofotogrametrico do município de São Paulo, VASP Cruzeiro Fonte: Coleção IV Centenário, Cia Melhoramentos 1952

Em evidência o quarteirão em que a Ex Fábrica Labor se localiza. Essa é sua forma final. 88


1973 | Levantamento aerofotogrametrico do município de São Paulo, GEGRAN Fonte: Coleção IV Centenário, Cia Melhoramentos 1952

Em evidência o quarteirão em que a Ex Fábrica Labor se localiza 89


2004 | Fotografia aérea Fonte: Geosampa, janeiro/2019

Em evidência a vila operária ainda existente. 90


2009 | Fotografia aérea Fonte: Google Earth, janeiro/2019

Em evidência o lote da vila operária completamente vazio. 91


2010 | Fotografia aérea Fonte: Google Earth, janeiro/2019

Em evidência a construção do edifício no lote da ex-vila operária. O anexo voltado para a Av. Radial Leste perde parte da sua cobertura. 92


2018 | Fotografia aĂŠrea Fonte: Google Earth, janeiro/2019

O anexo voltado para a Av. Radial Leste perde ainda mais da sua cobertura. TambĂŠm o anexo dentro do lote apresenta perda de parte de sua cobertura

93



parte III

Ex Fรกbrica de Tecidos

Cronologia construtiva

95


CRONOLOGIA CONSTRUTIVA Fonte: CONDEPHAAT nº 59448/09 10m

30m 20m

Área total: 17 800 m 2 aprox. Área construída: 16 990 m 2 aprox.

1910 - 1913

1914 - 1919

1920 - 1929

1930 - 1939

1940 - 1949

1950 - 1959

depois de 1959 dopo 1959

entre 1960-2008 fra 1960 - 2008

entre 2008-2010 fra 2008 - 2010

Font: CONDEPHAAT nº 59448/2009

96


Av. Radial Leste

R . B ar ão d e Ja g u ar a

Rua da Mooca

97



parte III

Ex Fรกbrica de Tecidos

Desenhos histรณricos

99


1910 | Projeto | Planta da Residência Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

Projeto da residência dos proprietários da ex fábrica. A residência construida é muito diferente da planta reportada. 100


1910 | Projeto | Planta da Residência Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

Planta muito parecida à residêcia atual, com excessão da escada mais ao norte que hoje é uma helicoidal metálica

101


1910 | Projeto | Fachada principal da Residência Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

Projeto da residência dos proprietários da ex fábrica. 102


1910 | Projeto | Corte longitudinal da Residência Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

Corte muito aprecido ao atual. Se vê o pavimento elevado da casa, o frontal com varada na fachada principal, a escada interna, o terraço do segundo pavimento. A diferença é a escada à direita, que hoje é uma helicoidal metálica.

103


1910 | Projeto | Detalhe da planta do galpão principal Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

Detalhe da planta, mostrando banheiros não construídos. Se vê também o módulo estrutural do galpão principal e os escritórios que formam a fachada principal 104

voltada para a rua da Mooca.


1910 | Projeto | Galpão principal Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

Se vê o módulo estrutural e alguns cortes iniciais, onde os sheds eram diferentes do construído; as tesouras eram de madeira e os pilares mais espessos na base.

105


1910 | Projeto | Detalhe da planta dos escritórios Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

Projeto do ingresso principal da ex fábrica (para a rua da Mooca), composto de uma fonte interna não construida e uma portaria. 106


1910 | Projeto | Foço, Caldeiras, Chaminés Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

Projeto da localização das estruturas de suporte á produção de tecidos. Não foram realizadas na posição indicada no projeto.

107


1910 | Projeto | Cocheira Fonte: Arquivo PĂşblico do Estado de SĂŁo Paulo, fotografia do original

Projeto da cocheira, onde se observa a dupla altura desse pequeno anexo. 108


1913 | Projeto | Anexos Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

Projeto dos anexos da produção (voltados para a atual Av. Radial Leste e a Rua Barão de Jaguara). O foço, as caldeiras e a chaminé da planta não foram realizados. Em baixo na planta, se vê também o auto-respirador (realizado) e banheiros (não realizados).

109


O proprietário João Crespi informa a intenção em construir um muro no seu terreno na rua da Mooca.

1910 | Requerimento de construção Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

110


Junto ao pedido de construção do muro se lê: I. Edifício principal da fábrica: m 2 6720,00 (...) II. Casa m 2 445,00 (...) III. Oficina (r. Barão de Jaguara) m 2 187,00 (...) VI. Cocheira (fundos) m 2 60,00 (...) V. Alinhamento dos muros r. da Mooca: 21,00 m r. Barão de Jaguara: 83,00 m r. Placinda: 142,50 m

1910 | Descrição da propriedade Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

111


A fábrica de tecidos Labor deseja construir dois anexos e um outro para a carpintaria, como mostram as plantas anexadas.

1913 | Pedido de construção Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

112


A fábrica de tecidos Labor, na rua da Mooca, deseja construir, com 5 metros de altura, um respirador para os batedores de algodão.

1916 | Pedido de construção Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo, fotografia do original

113


1912 | Projeto | Vila operária Fonte: Arquivo Municipal Washington Luís, fotografia CONDEPHAAT nº 59448/09

Ainda que existam evidências, não é possível localizar documentos que comprovem o vínculo entre a ex fábrica e a vila, demolida ilegalmente (em 114

parte) em 2009. As plantas da vila têm assinatura de José Mastrangelo.


2010 | Esquema da estrutura produtiva Fonte: CONDEPHAAT nº 59448/09, Adda Ungaretti

Esquema elaborado durante a análise para tombamento do complexo da ex fábrica. A vila está incluída ainda que em ruínas, e posteriormente demolida sem permissão. 115


2008 | Casa da vila operária Fonte: CONDEPHAAT nº 59448/09, fotografia do Departamento de Patrimônio Histórico de Sao Paolo

Estado das fachadas das casas da ex vila operária, costruída em 1912. Nos fundos se vê o autorespirador de agodão da ex fábrica. 116


2008 | Casa da vila operária Font: CONDEPHAAT nº 59448/09, ffotografia do Departamento de Patrimônio Histórico de Sao Paolo

Vista geral da vila, ainda habitada mas em péssimo estado. 117



parte III

Ex FĂĄbrica de Tecidos

Tombamento monumental e paisagĂ­stico

119


TOMBAMENTO Font: CONDEPHAAT nº 59448/09 e OUCBT 2015

Área tombada: 11 430 m 2 aprox. Área passível de demolição: 5 560 m 2 aprox. Área passível de construção: 2 60 m 2 aprox.

Foi estabelecida uma faixa de respeito em relação à ex fábrica que regula a altura em 12 metros de novas construções vizinhas, imposta para 40 metros partindo do alinhamento frontal do edifício. A avenida Radial Leste, denominada Alcantara Machado nesse trecho, é mais larga do que 50 metros e se desenvolve em um viaduto, fato pelo qual a fachada norte está excluída do vinculo paisagístico. No entanto, as ruas da Mooca e Barão de Jaguara têm larguras mais reduzidas, fato que justifica a inclusão delas na área de vinculo.

120

Edifícios tombados Edificivincolati vincolati Edifici Edifícios não tombados Edifici Edificinon-vincolati non-vincolati Área edificável Perimetro passibile Perimetro passibiledidi nuova nuovacostruzione costruzione Projeto dedidi rua dadella O.U. Progetto via della Progetto via Tamanduateí, 2015 2015 O.U. Tamanduateí, 2015 O.U. Tamanduateí, Font: Font:CONDEPHAAT CONDEPHAAT nºnº59448/2009 59448/2009 ee Fonte: CONDEPHAAT nº 59448/09 e Operação Operação OperaçãoUrbana UrbanaBairros BairrosdodoTamanduateí, Tamanduateí, Urbana Bairros do Tamanduateí, 2015 2015 2015


Av. Radial Leste

15m

10m

19m

R B ar ão d e Ja g ua ra

10m

Rua da Mooca

10m

30m 20m

121



parte III

Ex Fรกbrica de Tecidos

Usos no tempo

123


USOS ORIGINAIS Fonte: CONDEPHAAT nº 59448/09

EDIFÍCIOS NÃO TOMBADOS

EDIFÍCIOS TOMBADOS

1

Vila operária, demolida em

1

2009; concessionária de carros

2 Depósito

2

Expansão da produção

3

Depósito

3

Expansão da produção

4

Escritórios

4

Expansão da produção

5

Portão de entrada

5

Caixa d’água

6

Residência

6

Caixa d’água

7

Oficina

7

“Piscina” da ex casa noturna

8

Oficina mecânica

8

Uso industrial não identificado;

9

Carpintaria

ex casa noturna

10

Cocheira

9

Uso industrial não identificado;

11

Expansão da produção

ex casa noturna

12

Caixa d’água

10

Uso industrial não identificado

13

Caldeiras

11

Cobertura da rua interna

14

Chaminés

15

Depósito

Galpão principal

16 Auto-respirador 17

124

Batedores e tinturaria


15

14

11

13

7

10

16

8

12

9

1 17

5

9

2

8

7 1

3

10

6 6 4

2

3

4

11

5

10m

30m 20m

125


USOS DEPOIS DO ABANDONO | DE 1985 A 2010 Fonte: CONDEPHAAT nº 59448/09

EDIFÍCIOS NÃO TOMBADOS

EDIFÍCIOS TOMBADOS

1

1

Estacionamento

carros

2

Ingresso ao estacionamento;

2

Abandonado

abandonado

3

Abandonado

3

Abandonado

4

Abandonado

4

Abandonado

5

Abandonado

5

Portão de ingresso

6

Abandonado

6

Exposição artística até 2007;

7

“Piscina” da ex casa noturna

abandonado

até 2002; abandonado

7

8

Uso industrial não identificado;

abandonado

ex casa noturna

8

9

Casa noturna até 2002;

abandonado

Vila operária; concessionária de

Exposição artística até 2007;

Exposição artística até 2007;

abandonado

9

10

abandonado

Exposição artística até 2007;

Exposição artística até 2007;

abandonado

10

11

abandonado

Cobertura da rua interna

11

Casa noturna até 2002;

Casa noturna até 2002;

abandonado 12

Abandonado

13

Casa noturna até 2002;

abandonado

126

14

Abandonado

15

Loja de móveis; abandonado

16

Abandonado

17

Casa noturna até 2002;

abandonado


15

14

11

13

7

10

16

8

12

9

1 17

5

9

2

8

7 1

3

10

6 6 4

2

3

4

11

5

10m

30m 20m

127


USOS ATUAIS | LEVANTAMENTO ENTRE SET 2018 E JAN 2019 Fonte: Valéria F Waligora, Dany Cohem, Bea Hubner e Janna Paracolls

Casas Residenze Áreas não levantadas Aree non rilevate Áreas usos comuns Aree edcom usi comuni

128


ReuniĂľes Culto

Varal

Bar

Lava-carros

Varal Obras

Obras

Carpintaria

Lixo

Patins Lava-roupas

Lava-carros

Bicicletas

Venda de marmitas

Lava-roupas

10m

30m 20m

129



parte III

Ex Fรกbrica de Tecidos

Levantamento estrutural

131


TIPOS ESTRUTURAIS Fonte: CONDEPHAAT nº 59448/09

Tesouras e pilres metálicos da Glengarnock Stell Muro perimetral em tijolos com relevos Tesouras metálicas Muro estrutural em tijolos com relevos Tesouras em madeira Muro estrutural em tijolos com relevos Tesouras em madeira Muro estrutural em tijolo e argamassa Cobertura em fibrocimento Muro estrutural em tijolo e argamassa Tesouras em madeira Estrutura em concreto armado Elementos arquitetônicos (caixas d’água, chaminés, coberturas)

132


DET 2

DET 1

133


TIPOS ESTRUTURAIS Levantamento de Ana Clara Gianecchinni e modifcações da autora 1: 200

Tesouras em madeira

Tesouras e pilares metálicos da Glengarnock Stell

Muro estrutural em tijolos com

Muro perimetral em tijolos com relevos

-0,45

0,45

Detalhe 1

134

5,01

5,03

6,65

9,05

relevos

-0,30

12,30

0,45

6,85

7,00


Tesouras em madeira

4,70

4,90

5,70

7,50

Muro estrutural em tijolo e argamassa

-0,30

0,40

9,80

0,30

Detalhe 2

135



parte III

Ex Fรกbrica de tecidos

As built

137


PLANTA

SDF | PIANTE 1 : 250

Levantamento de Ana Clara Gianecchinni e modifcações da autora 10m

30m 20m

zia gli sc ien Vic olo de ti C

rV.Oscar Horta Oscar Horta

138 Politecnico di Milano | doppia laurea Università di Sao Paolo Scuola di Architettura Urbanistica Ingegneria delle Costruzioni Corso di Laurea Magistrale in Architettura a.a. 2017 - 2018


Annesso | Piano ANEXO | 1 pav 1 non rilevato não levantado

B

A

av. Leste Radial Leste V.le Radial

Jag uara

r Barã V. Barã o ode deJag uara C

rV.da Mooca della Mooca

B

A

Escritórios | pav 1 Uffici | levantado Piano 1 não

Residência Residenza | Piano 1 pav 1

non rilevato

Residência Residenza | Piano 2 pav 2 A

A

C

C

A

A

139 Stato di Fatto Strategie di riuso degli spazi della ex fabbrica di tessuti Labor, Sao Paolo - Brasile

Tesi di Laurea Professoressa

Valéria Ferrari Waligora Barbara Coppetti

6 10


FACHADAS E CORTES

B

A

Levantamento de Ana Clara Gianecchinni e modifcações da autora

C C B

Corte BB

Fachada Leste

Corte AA

140

A


Fachada Sul

Corte CC

Fachada Norte

141



parte VI

Estratégia de reutilização

Projeto

143


PLANTAS

144

Pavimento 4

Pavimento 3

Pavimento 2

Pavimento 1

corte a cota

corte a cota

corte a cota

corte a cota

+12,70m

+9,70m

+6,70m

+3,70m


teatro

museu

livraria

cafe

educacional estacionamento

estar restaurante

habitação

cultivo

jardim

biblioteca

público ingresso

feira

Pavimento Terra corte a cota +0,65m

145


FACHADAS E CORTES

Corte DD

Fachada Oeste

Corte CC A

D

E

E

C

Corte EE 146

C D

A


Fachada Leste

Corte AA

Fachada Norte

Fachada Sul

147


VOLUMÉTRICO

Consumo do solo: 2 685 m 2 Área construída: 11 006 m 2 24 unidades habitacionais de 28 m 2 55 unidades habitacionais de 57 m 2 7 unidades habitacionais de 86 m 2 279 pessoas aprox.

148


149


USO DOS ESPAÇOS

Habitacional Estar

7 039 m 2

2 466 m 2

Administração e vendas

1 415 m 2

Horta urbana - iluminação zenital Museu

467 m 2

Educacional 1 426 m 2 Cafeteria, livraria e teatro 574 m 2 Restaurante Biblioteca

150

577 m 2 528 m 2

5 262 m 2


151


SISTEMA CONSTRUTIVO DO EDIFร CIO PROPOSTO

Laje alveolar

Guarda corpo em rede metรกlica

Juntas entre estrutura metรกlica e laje alveolar

152


Vista interna do galpão principal

Fechamento em bloco alternado para facilitar

com horta pública.

a ventilação.

153



parte VI

Estratégias de reutilização

Referências

155


156


Natura Futura Arquitectura | Casa entre blocos, Equador

157


Lucio Costa | Parque Guinle, Brasil 158


Khosla Associates | Escola e jardim de infância, India

159


Rankin Frase Landscape Arch. | Maggie’s Center, Escócia 160


161


Peter Zumthor | Serpentine Gallery Pavilion, Inglaterra 162


163


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