Livro de luxo Frida Kahlo

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Frida Khalo

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por queê os amaria, se eu tenho asas para voar?”

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Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, mais conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 1907 em Coyoacán, no México. Com uma vida pessoal marcada por tragédias, relacionamentos amorosos intensos e forte envolvimento político, suas pinturas traziam muitos simbolismos e elementos autobiográficos, misturando realismo e fantasia.

Ela nasceu em 1907, mas, muitas vezes, disse às pessoas que havia nascido em 1910, para que a associassem diretamente à Revolução Mexicana.

Embora tenha vivido em Nova York, São Francisco e Paris, sempre foi atraída de volta para sua cidade natal. Preferia usar o traje tradicional mexicano: as longas saias coloridas pelas quais era conhecida e as blusas Huipil da sociedade matrimonial Tehuantepec.

A pólio aos 6 anos deixou sua perna direita mais fina que a esquerda. Alguns estudiosos acreditam que ela também sofria de espinha bífida.

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A tela acima, pintada em 1944, é profundamente ligada à vida da pintora e ilustra o seu sofrimento após uma cirurgia que se submeteu na coluna vertebral.

Na imagem vemos Frida sustentada por uma coluna grega que parece partida, fraturada, e a cabeça está apoiada no topo da coluna. Na pintura Frida apresenta um espartilho que de fato teria usado no período de recuperação da cirurgia.

No rosto da artista lemos a expressão de dor e sofrimento, embora contido, reconhecido apenas pela presença das lágrimas. Frida mantém um olhar austero e de perseverança. Ao fundo, na paisagem natural, vemos um campo seco, sem vida, assim como provavelmente se sentia a pintora.

Todo o corpo de Frida está perfurado por pregos, uma representação do sofrimento permanente que ela sentia.

Apesar de estarem espalhados pelo corpo, alguns pregos são maiores e aludem aos pontos onde Frida mais sentia dor. Vale frisar, por exemplo, a presença de um prego enorme - o maior de todos - posicionado bem perto do coração.

“A Coluna Partida”, Frida Kahlo – 1944

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“Hospital Henry Ford (A Cama Voladora)”, Frida Khalo – 1932

A pintura acima é extremamente pessoal e retrata um período doloroso da vida de Frida Kahlo.

A pintora, que sempre teve o sonho de ser mãe, sofreu um aborto espontâneo enquanto estava nos Estados Unidos. A gestação já apresentava complicações e por esse motivo os médicos recomendaram repouso absoluto. Apesar de todo o esforço, a gravidez não foi adiante e Frida perdeu o bebê. O aborto se iniciou em casa, mas acabou por se concretizar no Hospital Henry Ford (que dá nome ao quadro e que está inscrito ao longo da cama). Profundamente deprimida, a pintora pediu que lhe deixassem levar para casa o feto, mas não foi permitido. A partir de desenhos do marido e com a descrição dos médicos, Frida eternizou o filho morto na tela pintada no ano de 1932.

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Pintado em 1946, o quadro O Veado Ferido apresenta uma criatura metamorfoseada, uma mistura entre a cabeça de Frida e o corpo de um animal. Na expressão da pintora não vemos nem medo nem desespero, Frida apresenta um ar sereno e compenetrado.

A escolha do animal não é fortuita: o veado é um ser que representa, ao mesmo tempo, a elegância, a fragilidade e a delicadeza.

Perfurado por nove setas, o animal continua perseverante, em movimento. Cinco delas fincam o dorso e quatro encontram-se espetadas no pescoço e próximo da cabeça. Apesar de profundamente ferido (teria sido atingido por um caçador?), o veado segue o seu caminho.

Lemos na postura do animal uma identificação com o comportamento de Frida, que seguia em frente apesar das suas dores físicas e psicológicas.

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“O Veado Ferido ”, Frida Khalo – 1946

Na tela Meu Nascimento, pintada em 1932, vemos representado o parto que resultou no nascimento de Frida Kahlo. A imagem, fortíssima, apresenta a mãe coberta por um lençol branco, como se estivesse morta.

Um dado da vida pessoal da pintora: a mãe de Frida sofreu de depressão pós parto. Além de não poder amamentar, Matilde Calderón engravidou logo dois meses depois de dar a luz à Frida. Por esses motivos, Matilde entregou a menina para uma ama de leite.

Na tela lemos o abandono e o desamparo do bebê que sai do ventre da mãe praticamente sozinho. A menina parece estar nascendo fruto da sua própria ação, sem a participação da mãe. O quadro testemunha essa solidão inicial que Frida viria a carregar pelo resto da vida.

Ao fundo da cama observamos uma imagem religiosa da Virgem dos Lamentos, vale lembrar que a mãe de Frida, era profundamente católica.

“Meu Nascimento ”, Frida Khalo – 1932

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Os autorretratos são bastante frequentes na produção da pintora mexicana. Esse é ainda mais especial porque foi considerado a primeira obra de arte de Frida Kahlo, pintada em 1926 para o seu antigo noivo Alejandro Gómez Arias. A fissura pelos autorretratos surgiu após um acidente de bonde ocorrido em 1925, quando Frida teve que se submeter a uma série de cirurgias e ficou presa a uma cama de hospital a beira da morte.

Entediada, com movimentos limitados, os pais tiveram a ideia de instalar um cavalete adaptado sobre a cama e trazer material para pintura. Eles também instalaram espelhos no quarto para que Frida pudesse se ver sob diversos

ângulos.

Como passava muito tempo sozinha, Frida intuiu que era o seu melhor assunto e daí brotou a ideia de investir na pintura de autorretratos. Uma frase célebre da pintora é:

“Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”

Ao fundo de Autorretrato com Vestido de Veludo vemos o mar, símbolo da vida, e uma única nuvem lembrando as dificuldades pelo caminho.

“Autorretrato com Vestido de Veludo ”, Frida Khalo – 1926

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As representações das duas Fridas estão dispostas em um único banco simples, verde, sem encosto. As duas personagens estão ligadas pelas mãos e carregam vestidos completamente diferentes: enquanto uma delas usa um traje tehuana, tradicional mexicano (a com a camisa azul), a outra veste um pomposo vestido branco estilo europeu com gola alta e mangas elaboradas. Ambas representam personalidades distintas experienciadas por Frida. Como se estivessem refletidas no espelho, ambas as Fridas carregam um semblante fechado, reflexivo e sombrio. Esse autorretrato duplo foi feito logo após a pintora se divorciar do amor da sua vida Diego Rivera. Plenas de sofrimento, as duas deixam a mostra o coração. A Frida vestida à europeia exibe uma tesoura cirúrgica com sangue. Uma única artéria (e o sangue) une as duas Fridas na tela pintada em 1939. A Frida da direita carrega nas mãos o que parece ser um amuleto, um retrato atribuído à Rivera quando era criança. Dele parte uma fina veia que sobe pelo braço da pintora e se interliga ao coração, demonstrando a importância vital do ex-marido na sua vida. Ao fundo da imagem vemos densas nuvens que parecem antecipar uma tempestade.

“As Duas Fridas ”, Frida Khalo – 1939

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A tela pintada em 1936 por Frida Kahlo é uma criativa árvore genealógica ilustrada. A pequena menininha ao centro é Frida, que deveria ter cerca de dois anos de idade enquanto segurava uma fita vermelha que mostrava as gerações da família.A menininha, nua, está de pé em proporção enorme pisando uma árvore, demonstrando estar ligada às suas raízes. Logo acima dela estão os pais da pintora em uma imagem que parece ter sido inspirada na fotografia do casamento. No ventre da mãe está Frida, ainda um feto, ligada pelo cordão umbilical. Logo abaixo do feto está uma ilustração do encontro de um óvulo com um espermatozoide.Ao lado da mãe de Frida estão os avós maternos, o índio Antonio Calderón e a sua esposa Isabel González y González. Ao lado do pai estão os avós paternos, os europeus, Jakob Heinrich Kahlo e Henriette Kaufmann Kahlo.A tela ilustra a genealogia híbrida de Frida e através dela podemos, por exemplo, rastrear características físicas da pintora. Da avó paterna a pintora terá herdado as características sobrancelhas grossas e unidas. Em segundo plano vemos uma área verde com cactos típicos da região central do México e uma pequena vila.

“Meus Avós, Meus Pais e Eu”, Frida Khalo – 1936

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“Moses”, Frida Kahlo – 1932

Sua complexa pintura de 1945, Moses, apresenta o Sol como “o centro de todas as religiões”.

A parte superior da pintura contém deuses; a seção intermediária está cheia de “heróis” como Alexandre, o Grande, Martinho Lutero, Napoleão e – o mais interessante – Hitler, a quem Kahlo chamou de “a criança perdida”. A parte inferior da pintura é preenchida com as massas e cenas relacionadas ao processo de evolução. No meio está o bebê Moisés, com o terceiro olho da sabedoria

A pintura foi inspirada no livro Moisés e o Monoteísmo, de Sigmund Freud, que faz uma ligação entre as crenças egípcias antigas, Moisés e as origens da religião monoteísta.

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O quadro que leva o nome do casal mais famoso do universo das artes plásticas mexicano foi pintado no ano de 1931. O retrato foi oferecido por Frida ao amigo e mecenas Albert Bender.

A pomba que aparece sobrevoando a cabeça da pintora carrega uma faixa com os seguintes dizeres: “Aqui você vê a mim, Frieda Kahlo, com meu amado marido Diego Rivera. Pintei este retrato na linda cidade de São Francisco, Califórnia, para nosso amigo, o Sr. Albert Bender, no mês de abril do ano de 1931”. Frida na ocasião estava acompanhando o seu marido, o muralista Diego Rivera. Eles eram recém casados e o famoso pintor mexicano havia sido convidado para criar uma série de murais na Escola de Belas-Artes da Califórnia e na Bolsa de Valores de São Francisco.

Na pintura vemos Diego com os seus instrumentos de trabalho na mão direita - os pincéis e a paleta - enquanto a mão esquerda segura Frida, nessa ocasião mera acompanhante da viagem de trabalho do marido.

Rivera aparece com protagonismo na pintura, basta reparar a escala e a proporção se comparado à mulher. Na vida real o pintor era um homem efetivamente robusto e maior que Frida (precisamente 30 centímetros), na imagem vemos essa diferença de dimensões evidenciada.

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“Frida e Diego Rivera”, Frida Khalo –1931
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Outra peça que retrata a trajetória do casal é o quadro que Frida pintou como presente para o marido no 15º aniversário de casamento

“Diego e Frida 1929-1944”, Frida Khalo – 1944

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Um acidente de bonde foi um dos grandes eventos trágicos que marcaram a vida de Frida. Ocorrido no dia 17 de setembro de 1925 quando a pintora viajava com o namorado rumo à Coyoacán, o acidente que mudou para sempre a vida de Frida e ficou eternizado na tela pintada em 1929. Depois do acidente, a pintora precisou passar por uma série de cirurgias e ficou presa a uma cama de hospital durante meses, o que a levou a pintar em um cavalete posicionado sobre a sua cama. Além de ter sido obrigada a parar a sua vida, Frida também ficou com sequelas consideráveis depois do acidente. No registro pintado vemos cinco passageiros e uma criança sentados no banco, tranquilos, a espera da chegada do destino final. A criança é a única que olha para fora, para a paisagem. Ainda a respeito da paisagem, é curioso que um dos prédios carregue na fachada o nome La Risa, que significa em português O Riso.

No banco os passageiros tem posturas completamente distintas: vemos uma mulher de origem indígena descalça e um trabalhador de macacão enquanto observamos um casal bem vestido e uma senhora que parece ser dona de casa.

“O bonde”, Frida Khalo – 1929

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Quando Frida nasceu, a mãe, Matilde Calderón, não tinha leite para amamentá-la. Especula-se que a mãe também tenha passado por um duro período de depressão pós parto e, quando o bebê tinha apenas

11 meses Matilde teria dado à luz a um novo bebê, Cristina. Por esses motivos Frida foi entregue à uma ama de leite indígena. A prática era relativamente comum no México naquela época.

A pintura de Frida, criada em 1937, registra esse momento da sua vida. Perturbadora, a imagem apresenta a própria figura da pintora com um corpo de bebê e uma cabeça de adulto. A ama, por sua vez, não tem feições definidas e aparece como uma anônima carregando uma máscara pré-colombiana. Ao fundo vemos uma paisagem natural de um lugar não identificado.

Do seio da ama jorra o leite que alimenta a pequena Frida. Vemos a imagem da fartura na mama direita da ama, na mama esquerda, onde Frida se encontra, observamos um desenho mais técnico dos caminhos que levam à glândula mamária.

Apesar de fisicamente próximas - a bebê encontra-se no colo da ama - ambas as figuras parecem distantes emocionalmente, elas sequer se olham.

“Minha Ama e Eu”, Frida Khalo – 1937

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“Raízes”, Frida Khalo – 1943
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Desde o começo, a pintura e a dor estiveram intimamente ligadas, na perspectiva da artista. Tendo passado por inúmeros problemas de saúde que acarretaram tratamentos médicos, operações e internamentos, Frida continuo pintando, como se encontrasse na arte uma forma de seguir em frente.

Em 1945, quando não podia mais andar nem sair da cama, pintou Sem Esperança, onde podemos ver o cavalete que usava para trabalhar. No quadro, é notório que a arte está alimentando Frida, como se fosse aquilo que a segurasse à vida.

Uma vez que pintava a si mesma, e ao seu mundo, o trabalho dela também se focava em questões relacionadas com a doença, o desgaste do corpo e até a morte.

“Quadro Sem Esperança”, Frida Khalo – 1945

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Uma característica forte na obra da pintora é o modo como ela se permitia retratar temas considerados explícitos e chocantes para a moral da época.

Frida pintava a anatomia e também a história feminina, representando de forma crua cenas de partos e de abortos espontâneos, por exemplo. A pintora sofreu vários abortos, já que o seu útero foi perfurado durante o acidente que sofreu na juventude. Talvez por isso, a sua relação com a maternidade pareça estar envolta em sofrimento e as suas telas reflitam as dores das mulheres.

Em 1935, a artista foi mais longe e teceu um comentário ao extremo (e violento) machismo da sociedade mexicana. Em Unos Cuantos Piquetitos ou Umas Facadinhas de Nada, Frida eternizou um caso de feminicídio que leu nos jornais, sobre um marido que matou a esposa de forma brutal.

“Quadro Umas Facadinhas de Nada”, Frida Khalo – 1935

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O quadro “Autorretrato com o retrato de Diego no peito e Maria entre as sobrancelhas” foi o último autorretrato de Frida, pintado no ano de sua morte. As pinceladas mais grossas, borradas e imprecisas denunciam a sua degradação física.

Diego aparece no peito da artista, uma figura no sol simula Jesus Cristo e, com muito senso de humor, na sua testa ela retrata a atriz Maria Felix, uma das amantes do seu marido.

No dia 13 de julho de 1954, a pintora veio a falecer aos apenas 47 anos. Alguns apontam a causa da morte como uma embolia pulmonar e outros supõem que tenha sido consequência do consumo excessivo de analgésicos.

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“A Árvore da Esperança, Mantenha-se Firme”, Frida Khalo – 1946

“Cocos chorando” a precoce morte de Frida, Frida Khalo – 1951

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O quadro “Autorretrato com o retrato de Diego no peito e Maria entre as sobrancelhas” foi o último autorretrato de Frida, pintado no ano de sua morte. As pinceladas mais grossas, borradas e imprecisas denunciam a sua degradação física.

Diego aparece no peito da artista, uma figura no sol simula Jesus Cristo e, com muito senso de humor, na sua testa ela retrata a atriz Maria Felix, uma das amantes do seu marido.

No dia 13 de julho de 1954, a pintora veio a falecer aos apenas 47 anos. Alguns apontam a causa da morte como uma embolia pulmonar e outros supõem que tenha sido consequência do consumo excessivo de analgésicos.

“Com o retrato de Diego no peito e Maria entre as sobrancelhas”, Frida Khalo – 1954

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Quando regressou dos Estados Unidos para o México, em 1935, Diego teve um caso com a irmã caçula de Frida.

O quadro foi pintado quando Frida descobriu que Diego mantinha um affair com sua irmã mais nova, Cristina. O coração está partido, ela está desamparada, sem as mãos, e o título, Memória, sugere lembranças da época que conheceu Diego, quando ainda estava na escola (uniforme pendurado do lado esquerdo).

“Memória (O coração)”, Frida Khalo – 1937

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Em 1927, Frida retomou contato com velhos amigos da escola e passou a fazer parte de um grupo de jovens comunistas.

A opção política de Frida aparece em dos seus quadros mais famosos, pintado pouco antes de sua morte, chamado O marxismo dará saúde aos doentes.

“O marxismo dará saúde aos doentes”, Frida Khalo – 1954

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INdice

História sobre a Frida Khalo 8-9 Pinturas da Frida Khalo 10-41

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Leonor Amaral

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