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HÉLIA ALICE DOS SANTOS

O Institut Cultive Suisse Brésil designa o Lauréat Valkyrie à Hélia Alice dos Santos

Com dedicação e persistência, segui o magistério até o mestrado. O que me levou a ser professora em todos os âmbitos educacionais – da educação infantil ao curso superior. Meu trabalho como educadora foi de extrema dedicação, o entusiasmo me impulsionava para ir além de uma sala de aula construída por quatro paredes, se estendia às famílias que aos poucos se movimentavam comigo nas ações da escola, ao mesmo tempo, como uma onda gigante, ultrapassava os muros da escola e banhava a comunidade. O maior exemplo foi o projeto Pró-CREP (Criar, Reciclar, Educar e Preservar), quando na década de 90 fui trabalhar na Escola Reunida Prof. Olga Cerino (multisseriada, apenas eu de professora e uma merendeira) no bairro da Guarda do Embaú – Palhoça – SC.

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Na época, o referido bairro era abarrotado de lixo, pois a coleta dos resíduos, até mesmo a convencional, era deficiente. A escola, por sua vez, em condições precárias tanto na estrutura física quanto pedagógica. Vi nos resíduos a oportunidade de transformar essa realidade num novo cenário. Primeiro, a mobilização com as pessoas da comunidade escolar e local, logo iniciamos o processo de coleta dos resíduos que eram lançados em terrenos baldios e fundos de quintais. Passei a observar as embalagens e transformá-las em material didático e decorativo, inclusive com o embelezamento do bairro com árvores natalinas. Nesse contexto, os recursos provenientes da comercialização dos resíduos também eram empregados em benfeitorias para a escola e a comunidade. No ano de 1997, fui estimulada a participar do “Prêmio Incentivo à Educação Fundamental”, fui contemplada nacionalmente. A partir de então, fui designada a expandir o projeto para toda a região sul do município (13 bairros). A prefeitura conseguiu recurso federal e construiu um galpão para o Centro de Triagem de Resíduos Sólidos Recicláveis e as atividades passaram a ser desenvolvidas ali e a renda adquirida começou a ser rateada entre as famílias que faziam o processo de coleta e triagem dos materiais. Depois de um ano e meio de trabalho, com a mudança de gestão municipal, fui recolhida para sala de aula e tiraram a caçamba que fazia a coleta dos recicláveis. Sem uma pessoa para mediar e sem a coleta dos recicláveis, foi impossível continuar o projeto

Depois de um ano e meio de do projeto, inconformada com a situação, paralelo ao meu trabalho de sala de aula, voltei a mobilizar outras pessoas, aproveitava o horário do recreio, das aulas de educação física e fins de semana para dar assistência ao grupo. Houve o reinício das lutas, coleta com carrinho-de-mão, carrinho de papeleiro, mutirões na comunidade. Diante de alguns desafios, transformamos o projeto na Associação Pró-CREP, legalmente instituída.

Continuo voluntariamente atuante na Associação. Atualmente, fazemos a coleta e enfardamento dos materiais recicláveis, coleta do óleo de cozinha e, a partir dele, produzimos biodiesel e sabão, contamos com o brechó “Consumo Consciente”, Feira do Cacareco; reaproveitamos cerâmicas para oficinas de mosaico e tecidos para oficinas de costura. Proporcionamos educação socioambiental para diversos níveis da educação. Atualmente, 53 pessoas tiram seu sustento do projeto. São 50 toneladas de resíduos/mês que deixam de ir para um aterro sanitário. O mais belo de tudo é a inclusão social de dependentes químicos em recuperação, ex-presidiários, imigrantes haitianos, mulheres chefes de famílias e desprovidas de oportunidades, afrodescendentes. Se trata de uma inclusão que transforma.

Entendo que todo esse processo se deu pelo caminho de uma educação empreendedora, emancipada, humanizada e descolonizada. Via educação podemos melhorar o mundo. Sem dúvida alguma, o caminho foi a educação.

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