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HELENA N. ABRAHAMSSON

I Concurso Internacional Cultive 1° LUGAR

Helena N. Abrahamsson

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AS MENINAS E OS MENINOS DA MINHA CASA

Mais um ano que se vai, mais uma chuva que nos foge sem que o verde desponte no chão das promessas

As meninas e os meninos da minha casa,com rostos empinados, esperam a chegada do verde perdido num ventre prenhe de desaires

As meninas e meninos da minha casa trazem a morte nos olhos Morrem aos montes, morrem dia e noite, morrem á mingua, morrem de doenças cuja cura, noutros portos, está ao alcance de uma loja de esquina

Elas, invisíveis, abrem os panos e o coração, recebem as gotas de chuva uma a uma guardam-nas para regar os quilómetros de estrada ainda por percorrer Helena Neves nasceu na Guiné, na cidade de Bissau, em 1962. É formada em Direito pela Universidade Clássic, Faculdade de Direito de Lisboa. Trabalhou durante toda a sua vida na área dos direitos humanos, particulamente em questões de desenvolvimento, género, mulher e criança, em vários países, nomeadamente Guiné-Bissau e sub-região da África Ocidental, Angola e Suécia. Actualmente continua a exercer um activismo social activo no seu país a Guiné-Bissau e trabalha como consultora independente na área dos direitos da mulher e criança com diversas instituições e organizações não governamentais . Também dedica uma boa parte do tempo à pintura. Fez vários cursos em escolas de arte na Suécia e dedica-se em particular à arte da pintura em tecido e tela

Receosamente vão segurando a cauda do tempo que farão chegar ao berço dos filhos rejeitados, ignorados, maltratados Não encontram chão fértil para fazer desabrochar a vida prometida Mais um ano que se vai, mais uma chuva que se despede, As meninas e os meninos da minha casa continuam de olhos postos na entrada carcomida pelos anos de espera Aqui permanecem sem água, sem luz , nem pão , á mingua De beiços caídos, olhos baços, aguardam pelo que se dá pelo nome de VIDA Estes que um dia foram FLORES, que um dia foram a razão das estrelas de fogo que rasgaram a aurora, Hoje são Apenas famintos Apenas pedintes

Bissau, Janeiro de 2017

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