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ANELY GUIMARÃES SANTOS
Anely Guimarães Santos (Kalil Guimarães)
GULLAR CARACTERÍSTICAS DO CONCRETISMO E NEOCONCRETISMO
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José de Ribamar Ferreira, nasceu em São Luís, em 10.09.1930. A partir dos 13 anos começou a escrever poesias. Aos 18 anos passou a assinar como Ferreira Gullar e publicou seu primeiro livro de poesias “Um Pouco Acima do Chão”.
Envolveu-se com a arte concreta que precedeu o movimento concretista na literatura que despontou no início do século XX, no ano de 1930, quando o holandês Theo van Dousburg (1883-1931) publicou o Manifesto da Arte Concreta tendo com características linguagem autônoma, geometrismo, simplicidade, interregionalismo, metalinguagem (obra referente a si própria), defesa da especificidade de cada movimento artístico, entre outros. O concretismo foi um movimento que surgiu na Europa em 1950 ocorrendo nas artes plásticas, na música e na poesia. Os precursores foram: na poesia Vladimir Maiakovski, nas artes plásticas Max Bill, na música Pierre Scheffer.
A poesia concreta nasceu no Brasil, na Suíça e na Suécia, entretanto as características básicas foram fundamentadas no Brasil. Eugen Groningen considerado o fundador Os pais do concretismo no Brasil foram os irmãos Haroldo e Augusto Campos, Décio Pignatari e José Lino Grunewald, em 1958. O brasileiro Öyvind Fahiström (1928-1976) foi o autor do Manifesto para a poesia concreta em 1953 é considerado um dos fundadores e foi o divulgador na Suécia. Outros autores considerados foram os portugueses E.M. de Melo e Castro, Salette Tavares e os brasileiros Arnaldo Antunes e Paulo Leminski (1944-1989).
O concretismo valoriza fundamentalmente dos aspectos geométricos à arte, recorre às disponibilidades gráficas que as palavras possuem sem se preocupar com começo, meio e fim, o que o torna conhecido como poema-objeto.
O lançamento oficial do Concretismo brasileiro ocorreu em 1956 na Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Os eventos vanguardistas das artes visuais e da poesia concreta apresentaram as obras de Décio Pignatari, Cesar Oiticica, os irmãos Haroldo e Augusto Campos e Ferreira Gullar que inovou escrevendo seu poema em placas de madeira. As principais características eram: -Experimentação formal ou estrutural -Quebra radical do lirismo -Defesa do poema objeto -Ressignificação do espaço em branco da página -Disposição não linear dos vocábulos -Autonomia estética -Exploração da metalinguagem
O movimento extinguiu dos versos a sintaxe do discurso e enfatizou a organização visual do texto criando uma linguagem, excluindo forma e conteúdo. Tendo como características a eliminação de verso, o aproveitamento do espaço em branco da página à disposição das palavras, exploração dos aspectos sonoros, visuais e semânticos e uso do neologismo e estrangeirismos. A comunicação era realizada através do visual sendo a forma de expressão de todas as poesias concretas.
Em 1959, Gullar se afastou do grupo paulista e com Ligia Clark e Hélio Oiticica criaram o neoconcretismo, valorizando a expressão da subjetividade, opondo-se ao concretismo ortodoxo. Alguns artistas publicaram o Manifesto Neoconcreto, rompendo com o concretismo. Entre eles o poeta maranhense Ferreira Gullar, cuja nova estética era:
Arte interativa participativa Poema não objeto: só se realiza ao ser lido Expressionismo: em oposição a objetividade Poesia temporal: contraria à universalidade do concreto
A diferença entre o Concretismo e o Neoconcreto é a interação entre a obra e o receptor, associada a expressão do artista. Por exemplo os livros de Ferreira Gullar em que o sentido da obra vai se construindo à medida que o leitor passa as páginas.
Em 1960, Gullar se afastou do grupo passou a produzir uma poesia engajada, envolvendo-se com Centros Populares de Cultura. Na mesma época se envolveu com outros poetas e músicos do movimento juntamente com Paulo Leminski voltaram-se para temas sociais surgindo várias tendencias das quais adveio o neoconcretismo que trouxe uma norma de escrever, conforme determinada na obra de Ferreira Gullar e Reynaldo Jardim.
Para os neoconcretistas, a arte é o objeto na sua sensibilidade, expressividade e subjetividade. Acreditam que a arte não é só a criatividade do artista ela, também, envolve o observador.
O grande líder do neoconcretismo foi Ferreira Gullar que por intermédio da sua poesia renovou os meios artísticos tradicionais como pintura, escultura e gravura, combinados com a poesia, arquitetura, teatro, dança, confecção de livros e promovendo interdisciplinaridade da poesia no campo da arte. Ferreira Gullar é na verdade o vanguardista do neoconcretismo. Primeira fase de Gullar; girafa farol gira sol faro girassol
Poemas Neoconcreto mar azul mar azul marco azul mar azul marco azul barco azul arco azul mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul
Convém destacar que no Brasil, Manoel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1886-1968), brasileiro, pernambucano, poeta, professor, tradutor, crítico literário e de arte. Pertenceu a 2ª geração (1930-1945), passando pela 3ª geração ou pós-modernismo (1945-1978). Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1940, na qual recebeu menção especial com “Poesias Completas”. Seu grito definitivo de liberdade estética deu-se com o poema “Poética”. “Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário com livro de ponto [expediente protocolo e manifestações de apreço Ao senhor diretor] Filiou-se ao modernismo, mas produziu poemas concretistas como; dever de ver tudoverde tudonegro verdenegro muito verde -------------------------------------------muito negro
Há de se ressaltar que a poesia concreta nasceu sob o signo da ruptura e da negação vanguardista, estando, pois, predisposta às críticas e aos embates com alguns setores da sociedade especialmente dos adeptos da criação poética dominante, à época. Diga-se, pois, que os poetas concretistas estavam conscientes de que produzir poesia de vanguarda expunha-os a envolverem-se inapelavelmente nas questões do contexto nacional e do internacional. Destaque-se, também, a articulação que a poesia concreta estabelece em âmbito internacional, na dimensão da linguagem “transnacional”, dizendo-se que a transnacionalidade da linguagem poética não requer, necessariamente, tradução linguística formal, mas a interdependência da linguagem, do autor, do receptor, da estética e da mensagem.