Retrocesso mordenizante

Retrocesso Modernizante

POR VALQUĂ?RIA HOMERO

K O Mercado Municipal de Brasília sequer celebrou sua primeira década de existência, mas enche os sentidos de nostalgia. Suas prateleiras e corredores falam aos trausentes de um período mais antigo que a própria cidade. É justamente o apelo ao passado que faz desse estabelecimento um revolucionário na Capital - tão focada no futuro que por vezes parece lhe faltar uma história. Entre edifícios e construções modernas, ele surge como um museu vivo. Entre o concreto; ferro e madeira.

Nada poderia haver de mais novo na cidade pensada para ser nova do que o antigo. Não é à toa que o jornalista e poeta Reynaldo Jardim1 destaca o Mercado Municipal como “promotor do retrocesso modernizante”, expressão que dá título e tom a essa reportagem.

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O Mercado Municipal

se localiza na 509 Sul. Suas duas entradas estabelecem um corredor entre a W3 e a W4, convidando os transeuntes a uma passada que, nĂŁo raro, pode se estender por algumas horas. O local ĂŠ conhecido pela variedade de temperos, queijos, vinhos e - seu principal produto - o bacalhau.

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Artaxerxes Martins (38 anos), é

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o gerente do Mercado Municipal desde sua inauguração em 07 de setembro de 2006. A data, como tudo mais no estabelecimento, foi cautelosamente escolhida pelo idealizador do Mercado, Jorge Ferreira. Patriota e literato, ele viajou mercados do Brasil e do mudo para recolher as peças que dariam todo o ar característico ao seu negócio - seu segundo na W3, já sendo proprietário do Bar Brasília.

Era do seu interesse resgatar o comércio de rua, trazendo para capital uma coisa que lhe faltava pela pouca idade. “Era o sonho dele”, garante Martins. Jorge Ferreira morreu no ano passado, mas seu sonho segue firme e forte.

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Jorge Ferreira cuidou para reproduzir a atmosfera imperial nos menores detalhes. Mesmo a pia do lavabo, um tanto escondida entre as prateleiras, foi escolhida a dedo.

O lampião ao lado faz parte de um par. As peças eram originalmente de uma antiga estação de trem de São Paulo.

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Seu Cabral reclama que o café é tratado como apêndice no Mercado, sem a justa divulgação dos produtos e serviços.

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Edson Cabral (82 anos) nasceu em Olinda,

mas é carioca de criação. O jornalista veio trabalhar na capital na época em que “vir para Brasília era o desespero do desespero”, há 30 anos atrás, e acabou ficando. Recebeu com alegria a notícia de que seria feito um Mercado Municipal no lugar do lava-jato próximo à oficina onde consertava seu carro. “Fiquei sabendo que ia ser um bar ou coisa assim e já me alegrou, porque é um tipo de comércio que eu apoio”, conta ele, rindo. Desde então tem sido frequentador assíduo do café do Mercado - que garante ser o melhor da cidade. Segundo ele, o Mercado é o tipo de lugar que tinha no Rio de Janeiro, marcado por uma grande variedade de comida e bebida. Mas outro motivo o leva ao Mercado Municipal: a quebra da paisagem das superquadras, padronizadas demais para o seu gosto. “A vida não é igual”, justifica-se. “Se você vê tudo igual, fica chato”.

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P O Mercado Municipal foi claramente inspirado no estilo art nouveau. O projeto do estabelecimento foi assinado pelo arquiteto Ă lvaro Abreu, conjugando uma conexĂŁo com o estilo parisiense e a identidade brasileira.

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X 00 08 X O Mercado em si é apenas uma parte do estabelecimento.

Além do café e da venda, no térreo, no segundo andar há uma cervejaria. É um ambiente um pouco mais reservado, mas com vista para o mercado e uma saída para ventilação que permite entrever o bar - mais uma das acomodações do Mercado Municipal.

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Ainda no andar superior (e também com vista para o mercado) está o espaço gourmet. Nele se vê a logomarca do estabelecimento desenhada por Ziraldo, amigo pessoal de Jorge Ferreira.

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P Ao lado da adega climatizada, está um quadro do mineiro Carlos Bracher, feito de improviso durante a inauguração do Mercado. A pintura na entrada do espaço goumert leva a assinatura do mesmo artista.

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Por fim - mas certamente, não menos importante - está o Bar do Mercado. Assim como no espaço gourmet, aqui são servidas refeições responsáveis por manter todo o complexo movimentado especialmente aos sábados. Nos últimos cinco anos, o Mercado tem atraído não apenas saudosistas como também um público mais jovem e até mesmo familiar.

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Sáo Jorge

está espalhado por todo o Mercado Municipal - nem tanto por devoção, mas por carinho dos amigos do seu Jorge Ferreira.

Sempre que encontravam uma imagem do santo, tratavam logo de presentear Jorge com ela.

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K Agradecimentos Artaxerxes Martins Edson Cabral Fernando José

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Referêncial bibliográf ico MERCADOS DE FERRO DO BRASIL. Vários autores.

Brasília: Instituto Terceiro Setor, 2011. 1 Edição.

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Retrocesso modernizante Universidade de Brasília Fac - Departamento de Jornalismo junho de 2014

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