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Yayoi Kusama A Princesa dos pontos

Lucian Freud

O fotógrafo carioca Andre Arruda já trabalhou em jornais importantes, como o Jornal do Brasil e O Globo.

Considered one of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits with peculiar focus on the texture of their flesh.

NOV/DEZ 2013

Entrevista Andre Arruda

George Kornis As especificações do mercado de artes visuais no Brasil do século XXI

www.artit.com


Sumario

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Lucian Freud Considered one of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits with peculiar focus on the texture of their flesh.

Carta aos Leitores Eduardo Saron

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Conhecer para atuar A importância de estudos e pesquisas na formulação de políticas públicas para a cultura. Ana Letícia Fialho e Ilana Seltzer Goldstein

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Entrevista: Andre Arruda O fotógrafo carioca Andre Arruda já trabalhou em jornais importantes, como o Jornal

Yayoi Kusama: a princesa dos pontos

do Brasil e O Globo.

Sua trajetória artística de mais de meio século, seu mundo de bolinhas, conhecido como Kusama World, já é uma referência mundial.

Cid Costa Neto


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Cinema para quem precisa Arte, cultura e seus demônios

O cinema como via de inclusão social nas comunidades do Rio de Janeiro pós UPPs Francisco Alambert

Uma análise contemporânea sobre as manifestações culturais e suas representações. Ana Angélica Albano

Música, dança e artes visuais Aspectos do trabalho artístico em discussão em tempos de lei do patrocínio Liliana Rolfsen Petrilli Segnini

22 25 28 31 34 37 George Kornis

O direito ao teatro

As especificações do mercado de artes visuais no Brasil do século XXI.

Teatro de direito e direito ao teatro. Dois lados de uma mesma moeda?

Isaura Botelho

Sérgio de Carvalho

Quando o todo era mais do que a soma das partes Álbuns, singles e os rumos da música gravada contemporânea


entrevista

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .por . . . Cid . . . . Costa . . . . . . Neto .........

Andre Arruda Carioca, formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo Audiovisual, o fotógrafo Andre Arruda já trabalhou em jornais importantes, como o Jornal do Brasil e O Globo. Atualmente trabalha na área publicitária e editorial, mas sem deixar de lado o trabalho autoral, onde tem liberdade de expressar sua criatividade em ensaios como o Fortia Femina e no livro 100 coisas que cem pessoas não vivem sem. Suas fontes de inspiração são as mais váriadas.

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entrevista

................................................................................................ Como foi o seu primeiro contato com a fotografia e como foi a decisão de se profissionalizar? AA. Meu pai tinha uma TLR BeautyFlex, imitação japonesa da Rolley, e fiz algumas fotos com ela quando criança. Cheguei inclusive a tentar fazer uma estória em quadrinhos com avioes da II guerra, modelos de montar Revell, que é claro, não ficaram técnicamente boas. Me lembro até hoje da imensa sensação de dificuldade daquela tarefa. Um dia a câmera pifou e não tinha conserto. Como a família não tinha recursos, ficou-se sem equipamento mesmo. Depois, somente na faculdade tive contato com fotografia, numa aula de fotojornalismo. Nos foi mostrada uma série de fotos de HCB e aquela imagética foi como se eu tivesse aprendido uma língua nova instantaneamente. No curso de jornalismo comecei a me interar da fotografia e pouco tempo depois resolvi ser fotógrafo. Mal sabia da fria em que estava me metendo. Como surgiu a oportunidade no meio editorial? AA. Antes tive um experiência amarguíssima. Fui em um determinado jornal levando meu humilde portifolio, basicamente um ensaio sobre Copacabana. Depois de dias tentando, consigo uma hora para conversar com o editor. Chego lá, quem me atende é um coordenador, que abre a pasta, folheia as fotos com o desdém de um delegado de polícia, e ainda vira pro lado, falando com outra pessoa: “O teu vascão ontem, hein?” Joga a pasta na mesa e diz secamente: “Serve não”. Volto pra casa com a pasta “pesando uns 100 kg” e com uma decepção knock down. Uns dois anos depois, já na lida do jornalismo, encontrei o sujeito do “serve não” numa cobertura qualquer e o pessoal foi almoçar e ele não tinha grana: acabei pagando o almoço dele. O ensaio que não serviu ganhou um prêmio na Funarte, outro da UFF e foi publicado em quatro páginas na Revista de Domingo, do JB, o principal encarte do Rio naquele tempo. Mas voltando: Um amigo trabalhava no extinto Jornal do Brasil e disse que tinha vaga lá. Marquei uma hora com o editor, o caladíssimo Rogério Reis, que viu o portfolio “inútil” e me admitiu. Depois de um ano tentando entrar lá, consegui. Ainda tive a sorte de estar no fim da era de ouro do fotojornalismo, que no JB era capitaneado pelos editores Rogério Reis e Flavio Rodrigues, um período intenso e de muita cobrança, de salários baixos mas de muita criatividade, onde a editoria de fotografia era composta por um time de feras. Impossível não ter saudade daquela época, onde nem se sonhava com a internet. Fiquei lá de 92 a 98 e em outro jornal de 98 a 2000, mas nunca me senti o repórter per se,

O fotografo deve estar atento para nao se tornar mais uma peca dentro do mercado.

sempre gostei de features, de fotografia mais “pensada”.

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entrevista

........................................................................................ Qual a importância de um trabalho autoral intenso. Então comecei a pensar numa série de para quem trabalha apenas comercialmente? fotos de nu, sem grandes compromissos, mas AA. É fundamental, absolutamente. Eu creio que fosse distinta do que havia visto até então. Um ensaio, um trabalho, deve ser adequado – na maioria dos casos - o trabalho comercial deve financiar o trabalho autoral, pois este irá às condições de quem o elabora. Adotei o fundo nortear a carreira do fotógrafo. O fotógrafo branco para o “Fortia” pela facilidade do supordeve estar atento para não se tornar mais uma te (papel branco, pano branco, parede branca existe em qualquer lugar) e pela leveza que o peça dentro do mercado. Como é a concepção do trabalho autoral e branco fornece ao conteúdo, que talvez seja como funciona o seu processo de criação? uma herança do meu tempo de garoto, quanAA. No momento tenho dois trabalhos de do pensava em ser desenhista, cartunista. Sou minha inteira concepção, “Fortia Femina” e um fanático pelas ilustrações a bico de pena e gralivro chamado “100 Coisas que cem pessoas vuras de Da Vinci, Vesalius e Henry Gray sobre não vivem sem”. O “Fortia” é um ensaio sobre a anatomia do corpo humano; descobri que me mulheres adeptas da musculação, em preto e influenciaram bom tempo depois de estar fabranco, de viés livre de publicação ou lucro. São zendo o Fortia Femina. O “100” também é em imagens que não residem num limbo preferen- fundo branco, retrato e objeto, mas em conjuncial: ou se ama ou se odeia. Até agora não vendi to com outra inspiração agregada, que são os uma única cópia para coleção. O “100” nasceu catálogos de produtos, tão comuns em jornais. da idéia de fazer um livro de retratos, mas não Como vivemos em uma época “catalogal”, onde queria um tomo que fosse um compilação de fo- somos reduzidos perfis e frases definidoras, o tos de gente, isso o medium visual está repleto e “100 Coisas que cem pessoas não vivem sem” sinceramente acho repetitivo e um tanto tedio- é um comentário – pretenso – sobre este nosso so. Como toquei baixo muitos anos, tive bandas tempo. Zeitgeist. e escrevi muitas letras, creio que títulos/temas são tão importantes quanto a obra. Nome é destino. Comecei a brincar com a idéia de número, de rima, de ritmo, de pessoas e que o conceito de uma pergunta instigaria o leitor. Depois de muita elocubração, veio o título, cujo paradoxal conceito é “arqueologia instantânea”, conhecer um pouco as pessoas pelos seus objetos. E desde agosto de 2005 venho fazendo o “100”, um desafio logístico muito pesado. E bancado integralmente por mim. “Fortia Femina” nasceu antes, em 2003, 2004. Zapeando, paro em uma transmissão de um campeonato Mr. Olimpia, creio, e vi mulheres na competição. Até então não sabia que uma mulher poderia ter um corpo com aquelas proporções e me encantou como o relevo e o volume dos corpos “respondiam” à luz, e como a feminilidade poderia chegar a um extremo tão

Ney Matogrosso, cantor 2008

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Você busca inspiração em outras mídias, como quadrinhos, música e cinema. Porque considera isso tão importante? AA. Não apenas nas citadas, mas pintura e escultura me são vitais. Todo o tipo de

manifest ação me atrai. Na literatura ‘O Est rangeiro’, de Camus,


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entrevista

........................................................................................ teve um profundo impacto quando li. Outro um excelente pensador pop, até cita na letra de fantástico observador é William Gibson, autor “Facada Leite Moça” a frase “coxas de quem faz do termo cyberspace em “Neuromancer” e de jazz”, no fim dos 80. Cabe ao autor suscitar e “Reconhecimento de padrões” um livro impor- abrir questões. E isso não vem de graça, sempre tante para qualquer pessoa que trabalhe com se paga um preço. imagens; que aliás tem uma tradução eficiente em português brasileiro. Toquei baixo por uns oito anos e até hoje tenho o instrumento, embora quase não toque. A música desempenha um papel fundamental na minha vida, tanto ou mais quanto o cinema; meus mais antigos amigos vêm da música. Não vejo, por exemplo, chance de ter uma namorada que tenha um gosto musical muito diferente do meu. Música é alma. Ouço de Slayer à Cole Porter, passando por bossa nova, industrial, alguns eletrônicos, rock, heavy metal e muita black music dos 50, 60 e 70. Refuto qualquer discurso que relativise a cultura e a educação e que enalteça o mero empirismo de processos na formação. Aproveito da máxima socrática: “quanto mais sei, mais sei que nada sei.” Quando vou editar um trabalho meu, sempre procuro se há algo bom. Inicialmente, acho tudo medíocre, apressado e raso. Sempre pode ser melhor... Além das questões gráficas, o ensaio Fortia Femina lida com um tabu da estética feminina. Como foi a recepção desse trabalho? AA. Amor ou Repulsa. Já me disseram que Fortia Femina está à frente do tempo dele. Não sei e não procuro me preocupar com isto. Hoje a estética da mulher muscular é um fator presente na sociedade, uma tendência desde os anos 80, quando explodiram as academias de ginástica e as “aulas de jazz”, que misturavam dança com exercício físico pesado. Fausto Fawcett,

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Existe um projeto para publicar o Fortia Femina? AA. O livro em tese está pronto, como fotos já tratadas e prontas para edição, mas falta uma editora com coragem para abraçar o projeto. Durante o Nu Photo Conference você realizou um ensaio ao vivo para uma platéia de 300 pessoas. Como foi essa experiência? Já tinha feito algo parecido? AA. Com uma platéia tão grande foi a primeira vez. Gostei muito da experiência, embora tenha achado, com o benefício da distância, que a apresentação foi um tanto exagerada em alguns aspectos. Foi um desafio redobrado porque aconteceu diferente do planejado. A minha proposta inicial seria verdadeira sessão do Fortia Femina mas a modelo, uma atleta, desistiu. Então propus que fossem duas modelos e parti do zero. Gostei muito de uma imagem resultante daquela sessão. Durante a sua palestra você citou a importância de usar o fotômetro de mão. Com o digital, muitos fotógrafos da nova geração dispensam o seu uso. Porque você acha que isso acontece? AA. O fotômetro é um símbolo. Quis ressaltar a importância da técnica, da pesquisa e do estudo constante. Não existe fotografia “fácil” e quem está começando não deve crer em soluções simplórias, como se a fotografia fosse uma série de “macetes” que resolvem qualquer situação. Todos os fotógrafos de cinema, cuja fotografia é exponencialmente mais complexa que a still, usam fotômetro, mesmo os fotógrafos com 30, 40 anos de experiência. É saber interpretar, usar a luz e não ser refém dela. Não creio que o fotografo deva se ater a fórmulas e resoluções fixas; quanDorso Fortia Femina Project Rio 2009


................................................................................................ AA. Eu fotografo famosos como se fossem to mais conhecimento, melhor; é quase pueril falar isso, mas há quem acredite que a foto- anônimos e anônimos como celebridades. Em grafia é simples, quase intuitiva e o Photoshop geral a fotografia, para a maioria das “celebriresolverá tudo depois. O que interessa mesmo dades”, é uma atividade aborrecida e que elas é a luz (saber iluminar) e a direção. A câmera, querem se livrar o mais rápido possível. Mudesde que seja manual, minimamente boa e lheres respondem muito bem a locação, com gere arquivos RAW, resolve a maioria dos casos. homens creio que uma certa tensão desenvolve A grande diferença entre uma câmera Pro e a melhor. A mulher tem que ser seduzida o tempo amadora é que a Pro tem resistência e robustez. inteiro. Tenho uma objetiva 70-200 2.8 que deve ter uns 10 anos e funciona muito bem, apesar de algumas “cicatrizes”, arranhões na lente e marcas de uso. Quais fotógrafos cujo trabalho você admira e qual a relevância deles na sua produção? AA. Vários me influenciaram e influenciam. Seria injusto nomear alguns, então fico com o meu trio sagrado, Cartier-Bresson, Avedon e Helmut Newton. E Sebastião Salgado, claro, por ser o maior fotógrafo vivo e por sua visão e sobretudo planejamento. Até o momento acredito que nenhum fotógrafo tem ou terá uma obra como a dele. É mais complicado ou mais fácil fotografar celebridades?

Quem você gostaria de fotografar e ainda não teve oportunidade? AA. Scarlett Johansson, atriz; Yelena Isinbayeva, atleta e Angela Gossow, cantora da banda de heavy metal Arch Enemy. Aqui, Roberto Carlos, o cantor. O que você diz para quem quer seguir a carreira de fotógrafo ou está começando? AA. Persista. Mais do que nunca fotografia está difícil como negócio rentável. Somente quem tiver talento, senso de oportunidade e principalmente um manifesto sincero de idéias perante o mundo poderá ter sucesso. E procure fazer vídeo também. O futuro caminha inexorável para a imagem em movimento.


Yayoi kusama

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Não há um dia no Japão em que não se ouve falar em Yayoi Kusama. Uma gigantesca retrospectiva na Tate Modern (Londres, 9 de Fevereiro a 5 de Junho) brindou o ocidente com uma rica perspectiva histórica de suas criações. Dentro do Japão, a exposição com obras recentes atraiu já mais de 100 mil pessoas. Hoje, Kusama é certamente uma das maiores artistas do mundo. Sua trajetória artística de mais de meio século, seu mundo de bolinhas, conhecido como Kusama World, já é uma referência mundial.

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Yayoi kusama

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1929-1956: Fase pré-americana. Atividade em Matsumoto Yayoi Kusama nasce caçula de uma famí-

o teto de seu quarto. O retrato que pintou de

lia tradicional de agricultores em Matsumoto,

sua mãe, a lápis, já mostra uma profusão de

em 1929. Desde sua infância é acometida por

bolinhas, que seria a característica principal

vertigens e Genkaku Gentyo. Ela lembra que

de sua obra. Contrariando a vontade dos pais,

via padrões florais do pano de mesa em toda a

Yayoi parte para Kyoto para estudar em escola

extensão das paredes do quarto. Para afugen-

de belas artes. Aos 23 anos realiza sua primei-

tar essas visões, começa a desenhar. Aprende

ra exposição individual. Por conta própria, es-

pintura japonesa (nihon-ga) de um pintor da

creve uma carta para Georgia O’Keefe, envia-

região, e pegava tinta dos carpinteiros, mon-

lhe uma gravura que ela

tava seus quadros com esquadrias de janela e

fez e parte para os

tecidos para produzir suas telas. Ainda na in-

Estados Unidos.

fância essas telas chegavam, empilhadas, até

1957-1965: Nova York, primeira fase Yayoi chega aos Estados Unidos em 18 de No-

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infinitas

“O retrato que pintou de sua mae, a lapis, ja mostra uma profusao de bolinhas, que seria a caracteristica principal de sua obra.” re-

vembro de 1957. Fez uma pequena exposição

des ocupam to-

individual em Seattle e logo parte para Nova

das as superfícies. O

York. O quarto, alugado por 20 dólares não ti-

monocromismo de suas telas

nha chuveiro e era pequeno demais para as

causou impacto no abstracionismo em

dimensões de suas telas. Sobrevivia com sopa

voga em Nova York. O crítico Donald Jaddo foi

feita com cabeça de peixe descartada pelo pei-

um grande entusiasta das obras de Yayoi Ku-

xeiro e repolhos de fim de feira. A série que ini-

sama, e chegou a adquirir um dos quadros. Se-

ciou nesta fase se chama “Mugen no Ami – A

guiram-se instalações revolucionárias, como

rede infinita”. A exposição individual em Nova

invólucros em forma de pênis fixados em mo-

York se concretizou somente dois anos após

biliários, e expostos na Galeria Richard Cas-

(Galeria Plata, 1959). Eram cinco telas, do mes-

tellani em exposições compareciam artistas

mo tamanho das paredes da galeria. Lá,

como Andy Warhol e Lichtenstein.


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1966-1972: Da Performance Art para a Moda Em 1966, Yayoi participa da 33ª Bienal de

Ao retornar ao Japão, a mídia a tachou como

Veneza, montando uma instalação intitulada

“A Deusa do Happening”, e o público espera

“O Jardim de Narciso” no gramado do Pavi-

dela performances escalandosas envolvendo

lhão da Itália. Eram 1.500 bolas espelhadas.

nudez. Yayoi era exímia na arte de dominar

Yayoi se vestiu com um kimono dourado e

a mídia. Passou a publicar um tablóide, con-

ironizando os marchands de arte, quis ven-

tendo informativos sobre suas performances.

der cada bola por 2 dólares. Sua iniciativa foi

Chamava-se “Kusama Orgy”, onde Orgy signi-

vetada pela organização. Foi a época áurea de

ficava Organization, Real, Groovy, Young peo-

suas performances, que aconteciam na Está-

ple.

tua da Liberdade, no edifício da ONU, na pon-

Em 1968 cria o “Yayoi Enterprise”, criando

te do Brooklin: um casal nu era pintado com

uma marca de moda feito à mão, passando a

bolinhas por Yayoi Kusama. Tinha uma vela-

atuar na criação de figurinos para filmes e mu-

da crítica à guerra do Vietnã e a imprensa deu

sicais.

destaque a estas ações.

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Yayoi kusama

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1973-1988: Das Artes para a Literatura Ao retornar ao Japão em 1973, Yayoi passa

Já na década de 1980 passa a ser fre-

a experimentar novas técnicas e materiais.

quentemente convidada para grandes ex-

Cerâmica, litogravura, pintura em spray, e

posições. Em 1981, participa da exposição

especialmente, colagem. Mas passa a dedi-

“Anos 60 – A era da transformação na arte

car-se também à literatura. Durante o dia

contemporânea”, no Museu Nacional de Arte

produzia pinturas e esculturas. À noite, es-

Moderna de Tokyo e em 1983, da exposição

crevia. Essa passou a ser a rotina diária.

“Tendências da Arte Contemporânea II 1960

As colagens eram feitas em homenagem a

A partida para a multiplicidade”, no Museu

duas pessoas que marcaram sua vida. Uma

Metropolitano de Tokyo. Kusama cravava

delas era seu grande amigo falecido, Joseph

assim, sua presença nas artes dos anos 60.

Cornell. O outro era seu pai, que veio a fale-

Uma grande exposição individual foi reali-

cer logo após o seu retorno ao Japão.

zada no Museu de Arte de Kitakyushu. Na

Como escritora, lançou seu primeiro romance em 1978 (Manhattan Jisatsu Misui

época, era rara ainda uma individual de um artista em museus públicos.

Joshuhan), seguindo-se uma média de um

Começava assim o tardo reconhecimento

romance publicado a cada dois anos. Com

dentro do Japão de uma artista consagrada

“Christopher Danshokutsu“ recebe o prê-

internacionalmente. De deusa dos happe-

mio de Jovens Autores, recebendo elogios de

nings, Kusama passou a ser valorizada como

escritores como Miyamoto Teru, Nakagami

grande artista dentro do Japão no final da

Kenji e Murakami Ryu.

década de 1980.

1989-1999: Bienal de Veneza e a revalorização internacional Quinze anos após sua primeira despedida

psiquiátricas, mas focando na condição da

de Nova York, ela obtém a oportunidade de

mulher e artista, dentro de uma sociedade

retornar, em grande estilo, com uma retros-

feudal como é o Japão.

pectiva promovida pelo Centro Internacio-

Os anos 1980 floresciam com os movimen-

nal de Arte Contemporânea (CICA), organi-

tos feministas, e uma instalação como a de

zada por Alexandra Monroe, como evento

Kusama, com uma multiplicidade de pênis

de inauguração do Centro. Foi uma ótima

instalados em mobiliário representava a li-

oportunidade para uma releitura atenta de

bertação de uma sociedade controladora e

sua obra, a partir dos anos 1950, com a in-

dominante.

clusão de um depoimento de Georgia O’Keef no catálogo.

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Em 1993, finalmente chega o grande reconhecimento como artista japonesa. Re-

Monroe procurou mostrar a arte de Ku-

presentar o país na 45ª. Bienal de Veneza. O

sama, não sob o prisma de suas barreiras

comissário foi Akira Tatehata, grande críti-


"Kusama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .passou . . . . . . . . . . . . . .ser . . . . . . . valorizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .como ............. co de arte, ele próprio poeta e grande artista dentro conhecedor da poesia concreta do Japao no ffiinal da brasileira. Sua obra foi composta por uma escultura, em forma de decada de 1980." barco recheado de pênis de pano, e uma sala espelhada com superfície de bolhinhas, criando uma sensação labiríntica no espaço. Seguiram-se exposições na County Museum, de Los Angeles (1998), no Museu de Arte Moderna de Nova York e no Museu de Arte Contemporânea de Tokyo. Era a retrospectiva “Love Forever: Kusama Yayoi 1958-1968”, com curadoria de Lynn Zelevansky, hoje diretora do Museu de Arte de Carnegie. O foco era a década passada por Kusama nos Estados Unidos. “Para além da bandeira feminista, a obra de Kusama transita entre o abstracionismo e o minimalista, transformando-se em uma lúdica ponte das artes”, definia a crítica.

2000: Tempos atuais “Quantas vezes clamei “Love Forever!”.

Os anos 2000 foram para Kusama o início de

Sentir a pressão do tempo é um atributo dos

seu desafio para a arte pública e as esculturas

homens. Na conclusão do decorrer do tempo

externas.

desejo a paz, acima de tudo, e não posso

No Japão, participou da Trienal de Yokoha-

deixar de clamar mais uma vez por um amor

ma e a Trienal de Echigo Tsumari. No exterior,

inifinito”.

sua presença na Asia Pacific Trienale e a Bienal de Liverpool merecem destaque. Em todos estava lá com suas dots (bolinhas) em gigantescas instalações. Em 2004, a Mori Museum, sob direção de Nanjo Fumio, promoveu a exposição “Kusamatrix”, onde apresentou uma instalação de temática infantil e alegre, com bonecas e cachorros, claro, todos com bolinhas. Ao mesmo tempo, o Museu de Arte Moderna de Tokyo inaugurou a exposição itinerante “Kusama Yayoi – o presente eterno”, com grande êxito de público e crítica. Inicia seus trabalhos em arte pública com a instalação de um grande objeto na praça do

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Yayoi kusama

. . . . . . . . . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ............. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ............. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. Museu de Arte de Matsumoto (Uma Miragem

cências do local onde foi realizada a Bienal de

em Flor). Também em Naoshima, Fukuoka e

Singapura, com bolinhas e balões. O mesmo

Towada suas obras tridimensionais de gran-

caráter festivo aconteceu na Trienal de Aichi,

des proporções começam a ser montadas. E há,

quando até um desfile de carros pintados com

no caso do Museu de Arte de Kumamoto, uma

bolinhas tomou conta da cidade. Kusama se

obra comissionada, uma sala de espelho, e o

tornou presença obrigatória em todas as expo-

nome Kusama passou a definir um status para

sições de arte internacional. Hoje, ela é consi-

qualquer museu no Japão.

derada a deusa das artes e investe todo o seu

Em 2006, Kusama invade as ruas e adjas-

Kusama x Louis Vuitton O namoro entre a marca Vuitton com a obra de Kusama já vinha acontecendo desde 2010. Marc Jacobs, o comandante artístico da Louis Vuitton tratou de deflagrar este encontro que muitos estão chamando de parceria. “Infinitely Kusama” é o nome desta partnership e inclui toda uma linha de roupas, sapatos, acessórios e complementos, além de bolsas que são inundadas com as polka dots by Kusama. Marc Jacobs, em visita a Tokyo, foi confirmar a “energia infindável” da Rainha das Bolinhas. Kusama havia pintado alguns protótipos manualmente para mostrar a Jacobs, entre eles uma bolsa Louis Vuitton. É a arte encontrando o design e passeando pela cidade.

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tempo na produção de novas artes.


.. . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ............. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ............. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..

n a i c u L d u e r F Lucian Freud is considered one of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits and nudes in drab rooms, with peculiar focus on the texture of their flesh. Freud was the grandson of Sigmund Freud. He moved to Britain from Germany with his family in 1933 to escape persecution as a Jew. He spent most of his working life in London’s Paddington, saying that its sleaziness appealed to him.

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Lucian Freud

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F

reud’s early works, like Girl With A White Dog, were very controlled and formal. Over time his style changed

and his later painting were mainly nudes, using coarse, layered dabs of paint to create skin texture. The figures in Freud’s paintings often look distant and depressed. However he had a close relationship with his subjects and claimed his pictures are “to do with hope and memory and sensuality”. One of his best known paintings, Benefits Supervisor Sleeping, was reportedly bought by Russian billionaire Roman Abramovich for $33m at auction. This was a record at the time for a living British artist. Freud provoked public outcry with a portrait of Her Majesty Queen Elizabeth II. Many people said the painting made her look old and unhappy. The Queen refused to comment.

Who is lucien Freud was born in Berlin in December 1922,

with hope and memory and sensuality and in-

and came to England with his family in 1933.

volvement really’. Paintings in the exhibition

He studied briefly at the Central School of

will range from Girl with Roses 1948 to Gar-

Art in London and, to more effect, at Cedric

den, Notting Hill Gate 1997, and highlights in-

Morris’s East Anglian School of Painting and

clude the marvellous series of portraits of his

Drawing in Dedham. Following this, he served

mother, portraits of fellow painters John Min-

as a merchant seaman in an Atlantic convoy in

ton, Michael Andrews and Frank Auerbach,

1941. His first solo exhibition, in 1944 at the Le-

and other major works including Large Interior

fevre Gallery, featured the now celebrated The

W11 (after Watteau) 1981-3. Sharp pictures of

Painter’s Room 1944. In the summer of 1946,

his youth will contrast with the works of his

he went to Paris before going on to Greece for

maturity, paintings filled with life and live-

several months. Since then he has lived and

liness, each in its way a celebration. ‘I paint

worked in London. Freud’s subjects are often

people’, Freud has said, ‘not because of what

the people in his life; friends, family, fellow

they are like, not exactly in spite of what they

painters, lovers, children. As he has said ‘The

are like, but how they happen to be’.

subject matter is autobiographical, it’s all to do

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Portrait of Queen Elizabeth II, 2001


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Lucien biography British painter and draughtsman. Freud

free to explore formal and optical problems ra-

spent most of his career in Paddington, Lon-

ther than expressive or interpretative ones. By

don, an inner-city area whose seediness is

the late 1950s brushmarks became spatial as he

reflected in Freud’s often sombre and moody

began to describe the face and body in terms of

interiors and cityscapes. In the 1940s he was

shape and structure, and often in female nudes

principally interested in drawing, especially

the brushstrokes help to suggest shape. Throu-

the face. He experimented with Surrealism. He

ghout his career Freud’s palette remained dis-

was also loosely associated with Neo-Roman-

tinctly muted. A close relationship with sitters

ticism. He established his own artistic identi-

was often important for Freud. His mother sat

ty, however, in meticulously executed realist

for an extensive series in the early 1970s after

works, imbued with a pervasive mood of alie-

she was widowed, and his daughters Bella and

nation. Two important paintings of 1951 esta-

Esther modelled nude, together and individu-

blished the themes and preoccupations that

ally. Although the human form dominated his

dominated the rest of Freud’s career: Interior

output, Freud also executed cityscapes, viewed

in Paddington (Liverpool, Walker A.G.) and Girl

from his studio window, and obsessively detai-

with a White Dog (London, Tate). Both pain-

led nature studies. The 1980s and early 1990s

tings demonstrate an eagerness to establish a

were marked by increasingly ambitious compo-

highly charged situation, in which the artist is

sitions in terms of both scale and complexity.

Reflection (Self-portrait), 1985.

Girl with a White Dog, 1951

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