Revista Yoni

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edição inverno 2015

YONI unidas pelo ventre

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unidas pelo ventre Ano 1, edição inverno 2015

Editoras Ariadne Hamamoto Camila Muradas Vanessa Neris Projeto gráfico e Diagramação Ariadne Hamamoto Camila Muradas Vanessa Neris Revisão Ariadne Hamamoto Camila Muradas Fotografia Camila Muradas Ariadne Hamamoto edição online e gratuita



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Carta à Leitora Yoni é uma palavra em sânscrito que se refere à todos os órgãos sexuais femininos vulva, vagina, ovários, tubas uterinas, cérvix e útero. Representa a passagem divina da vida, o templo sagrado. Faz referência à divindade feminina e ao poder criativo da Natureza. A Yoni é a fonte de tudo o que existe, a origem da vida.

A Revista se apropriou dessa palavra, uma vez que é a única palavra para vagina que conhecemos que tem uma conotação positiva, que remete à magia que acontece no ventre de cada mulher, à todo o poder criativo que carregamos. Com essa primeira edição apresentamos a Revista Y O N I – uma revista feminina colaborativa e independente, um espaço para conectar mulheres, somar conhecimentos e compartilhar sonhos. Em pequenos passos vamos juntas redescobrir o ser mulher, sermos amigas e companheiras, resgatando nossas conexões lunares, nossas correspondências na Natureza, os símbolos femininos e as Deusas. Redescobrindo nós mesmas e o mundo.

Ariadne Hamamoto Editora

“Caverna Vulva”. Kardjali, Bulgária. V


As Colaboradoras nome Fernanda Lucio Monferdini Grizzo idade 22 (faço 23 dia 06/06) cidade nascida em Uberlândia, vivida por aí o que faz design e confecção de jóias um poder ver a situação como um todo se sua yoni pudesse falar, o que ela diria? cure a si mesma se sua yoni se vestisse, o que ela usaria? um vestido preto

nome Juliaro (Julia Larotonda) idade 35 cidade o mundo o que faz artista plástica, escritora um poder visão artística se sua yoni pudesse falar, o que ela diria? Carpe Diem (aproveite o dia) se sua yoni se vestisse, o que ela usaria? vestido de seda

nome Mariana Almeida idade 28 anos cidade Brasília, Taguatinga DF o que faz sou acupunturista, fitoterapeuta e doula um poder espontaneidade se sua yoni pudesse falar, o que ela diria? recebo e sou minha se sua yoni se vestisse, o que ela usaria? um vestido florido

VI


nome Ísis Garcia idade 25 anos cidade Brasília o que faz mandalas de linha, escrevo, planto, sou doula e estudante de medicina um poder flexibilidade se sua yoni pudesse falar, o que ela diria? transcende se sua yoni se vestisse, o que ela usaria? nada

nome Graziele Eugênio Ladeira (grazi, com letra minúscula porque de grande basta o coração e todo amor do mundo, cá dentro) idade 29 cidade Varginha - MG o que faz poesia e militância um poder compreensão se sua yoni pudesse falar, o que ela diria? sim, você pode se sua yoni se vestisse, o que ela usaria? um vestido floral, pra lembrar da nossa latinidade e caipirice (tudo junto)

Anônima idade 24 anos cidade Brasília o que faz o que quer e o que acha que faz bem a ela e seus próximos, ganha dinheiro como educadora um poder a palavra/escuta se sua yoni pudesse falar, o que ela diria? pense mais comigo, pense mais em mim se sua yoni se vestisse, o que ela usaria? um banho de mel e algas marinhas.

VII


nome Renata Rinaldi idade 26 cidade Brasília o que faz artes um poder renascer se sua yoni pudesse falar, o que ela diria? respeite seu coração, siga sua natureza se sua yoni se vestisse, o que ela usaria? vestes cerimoniais indígenas

nome Camila Muradas idade 22 cidade Brasília o que faz fotografias como paixão e profissão, e qualquer estudo biológico-cultural como curiosidade um poder calma se sua yoni pudesse falar, o que ela diria? atenção, sua avoada! se sua yoni se vestisse, o que ela usaria? asas de coruja

nome Ariadne Hamamoto idade 22 cidade Brasília o que faz design, yoga e bruxaria um poder a loucura se sua yoni pudesse falar, o que ela diria? recolhe e expande se sua yoni se vestisse, o que ela usaria? sári de musgos e flores

Agradecemos enormemente todas as colaboradoras que compartilharam um pouco de si com as páginas da primeira edição da Y O N I . Também agradecemos as colaborações de LoveLove 6, Amber Case e Sônia T. Felipe.

VIII


{

As perguntas “se sua yoni pudesse falar, o que ela diria?” e “se sua yoni se vestisse, o que ela usaria?” foram tiradas de Os Monólogos da Vagina, livro de Eve Ensler, atriz americana que entrevistou milhares de mulheres sobre suas vaginas para escrever uma peça, de mesmo nome.

} XIX


nossas 14 Resgatando o Poder das Jóias 18 Correndo como as Lobas 26 Nas Ondas da Maré Vermelha

34 Menarquia 36 MoonCup 40 Orquídeas e suas pétalas 48 Lego adiciona + mulheres


estações 54 Manual de ervas para mulheres 58 Tua primeira carta 60 Testemunha de Ruanda e Congo 68 Nós somos todas cyborgs

74 Cada qual com seu desafio na vida 76 Batom e Gloss veganos 78 Poderosos na Formação Moral 82 HQ Lei do Feminicídio


invern 14


no

olha só cá estou aos prantos de novo ridícula romântica marcada por mágoas de um passado que não passa não supero não quero essa coisa de realidade acaba comigo será que serão sempre difíceis os tempos para os sonhadores? ( tomara que não ) grazi 15


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Resgatando o Poder das Jóias texto Fernanda Grizzo

Desde que eu me lembre por gente eu gosto de filmes de terror, ocultismo, bruxaria, sangue, gore, mortes e derivados, passava as férias inteiras assistindo todos os filmes de terror da locadora, sempre tive gosto para o lado esquisito das coisas, para o lado oculto. Quando criança eu assinava revista Witch, treinava projeção astral e brincava de fazer feitiços com as amigas, tinha minhas ferramentas para desconstruir e destruir tudo, e eis que minha temática principal, minha maior fonte de inspiração continua sendo, até hoje, o lado visceral de tudo, o desconhecido, o pulo no escuro, o movimento iniciado do caos. 17


Atrás de questões sobre a psique humana, comecei minha vida acadêmica cursando psicologia na Universidade de Brasília. Por questões muitas, resolvi mudar de rumo e tentar a vida produzindo jóias. Larguei o curso de Psicologia e me mudei para São Paulo, para cursar Produção Joalheira no Instituto Europeu di Design. Chegando aqui, e

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finalmente fazendo o que eu queria, a idéia de vender apenas estética e beleza, voltada novamente para o adorno dos corpos num culto a feminilidade patriarcal me assustava, mas ao mesmo tempo, algo no meu coração me dizia que eu estava no caminho certo. Com o tempo, naturalmente percebi que as temáticas que eu abordava carregavam


consigo mensagens de resgate da alma profunda, e que era isso o que eu queria fazer, ajudar mulheres a despertarem para a realidade poderosa existente em cada uma de nós, para ajudar mulheres a se lembrarem de si, dos seus próprios ciclos, dos arquétipos que habitam o interior, trazer a tona a donzela, a mãe e a anciã, e com elas todo o poder das nossas antepassadas, do feminino oracular, da nossa conexão lunar. Eu acredito que ao construir uma joia associando as propriedades específicas de cada pedra e material usado, aliado a simbologias que carregam em si grande poder e incontáveis mensagens guardadas no inconsciente coletivo, é possível, a cada olhar em direção aquela peça, que uma parte adormecida desperte, as vezes lentamente, as vezes num insight. Durante milênios joias foram usadas como elementos de proteção, cura, conexão com o divino, para selar contratos, para lembrar de algo, e trazer novamente a joalheria para a esfera de coisas com utilidade além da meramente estética é uma das coisas que eu quero concretizar. 19


Correndo como as

lobas ilustraçþes Renata Rinaldi

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21 “A Travessia”


22 “La Loba”


“TODAS NÓS TEMOS ANSEIO PELO O QUE É selvagem. EXISTEM POUCOS ANTÍDOTOS PARA ESSE DESEJO ARDENTE. ENSINARAM-NOS A TER VERGONHA DESSE TIPO DE

aspiração.

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DEIXAMOS CRESCER O CABELO E O USAMOS PARA ESCONDER NOSSOS

sentimentos. NO ENTANTO A MULHER SELVAGEM AINDA NOS ESPREITA DE DIA E DE NOITE. 24


“A Feiticeira”

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NÃO IMPORTA ONDE ESTEJAMOS, A sombra. QUE CORRE ATRÁS DE NÓS TEM DECIDIDAMENTE quatro

patas.” Mulheres que Correm com os Lobos Clarissa Pinkola

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“The winds blow like a wolf running�

www.fb.com/tintaderaposa www.behance.net/renatarinaldi

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Nas ondas da Maré Vermelha texto Ariadne Hamamoto

A Lua e sua energia movimentam as águas, criam as marés, influenciam as emoções e os sonhos, afetam o inconsciente. A Lua e sua dança de uma fase pra outra foi a primeira contagem do tempo; em muitas culturas, o crescer e minguar da Lua era o abrir e fechar do olho da Deusa. Nós mulheres somos seres lunares, telúricos. Como a Lua, vivemos um ciclo, que vai de um ápice a um declínio de energia. Nós mulheres temos uma lua interna, o nosso útero, que rege uma maré de sangue, a nossa menstruação.

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O ciclo menstrual é o ciclo da vida — renascer, crescer, envelhecer e morrer — são as fases da Lua e as estações do ano. Há atualmente uma ideia construída socialmente de que a menstruação é suja, impura, que é um fardo para as mulheres e um incômodo que atrapalha o dia a dia. Não poderia ser uma ideia mais errada. O ciclo menstrual é um ciclo de criação, de amadurecer e lançar sementes que podem vir a gerar frutos, é o envelhecer e morrer,

soltar, sair e deixar de ser, para dar espaço ao novo, para renascer num novo ciclo. Compreender cada fase e o acontece em cada uma delas nos conecta com nosso corpo, com a nossa Lua. Entender o que se passa num nível físico, emocional e energético enquanto transitamos as fases do ciclo nos permite navegar por essas ondas com mais calma, com mais amor por nós mesmas, e acrescentamos força aos nossos potenciais.

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A fase pré-ovulatória, é o renascer e crescer — Primavera, Lua Crescente. Começa assim que acaba a menstruação, quando novos óvulos começam a ser maturados nos ovários. É a fase da menina, da donzela independente e caçadora. Aquela que tem desejo por aventuras, por desbravar o mundo. É uma fase muito dinâmica e extrovertida. Mente: lógica e racional, pensamentos claros e precisos. Aproveite para planejar o mês, para organizar ideias e pensamentos, para plantar ideias-semente. Corpo: energia crescendo, mexa-se! Aprenda algo novo, e o mais importante: divirta-se! Na medida do possível, dedique esse momento do mês para si mesma. Alimente seu fogo interno, pois lembre-se: para ajudar os outros, é preciso estar bem primeiro.

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A fase ovulatória, o período fértil, é a fase do ser e compartilhar — Verão, Lua Cheia. É a fase da mãe, daquela que é plena em si, tem energia abundante e transbordante; amor e nutrição. Acontece quando o óvulo é lançado à tuba uterina. Mente: aberta, receptiva e criativa. Não tente prender a mente a uma linha rígida, permita que os pensamentos se desenvolvam livres, que as coisas sejam como têm que ser. Corpo: desfrute os sentidos! Sabores, aromas, texturas, a vista, o movimento do corpo ao andar. Momento em que as habilidades sociais estão ao máximo, aproveite para compartir com os outros, encontrar suas amigas, sair pra dançar, ouvir histórias, rir! Se conecte com a Natureza, pise na Terra, sinta a chuva, uive pra Lua. Muita atenção nos sonhos!


A fase pré-menstrual é a fase de desapegar e soltar — Outono, Lua Minguante. Quando o óvulo não é fecundado, o útero se prepara para soltar, deixar morrer a camada do endométrio para então refazê-lo. É a fase da feiticeira, o momento do ciclo em que temos mais poder. Tanto que foi criada a ideia de que as mulheres ficam loucas na tpm, que perdem o controle. A tpm (Tempo Para Meditar) é a fase da colheita, em que avaliamos como cresceram os galhos e vingaram os frutos nos quais botamos energia na Primavera. Não tema ou tenha vergonha da mulher pré-menstrual, a mulher feiticeira é muito poderosa, criativa e imponente. Não tema a loucura que surge nesse período, é ela que nos dá força para impor limites, para fazer as mudanças necessárias. É a fase que dá força para mudar o mundo. Mente: intuitiva e onírica, momento de perceber, intuir, sentir, visualizar, sonhar e criar. Pensamento nada linear ou objetivo. Corpo: precisa de descanso e boa alimentação! Evite gorduras, açúcar refinado, farinha branca, leite, álcool e café. Abuse de frutas e legumes.

A fase menstrual, os dias de lua vermelha, é o momento de se recolher e descansar­— Inverno, Lua Nova. Fase da bruxa, esse momento do mês passamos em estado quase meditativo, meio em transe, meio em sonho. Mente: intuitiva e sábia. Em muitas culturas, as mulheres menstruadas eram consultadas como oráculos e as sacerdotisas têm mais poder quando menstruadas. Corpo: baixe o ritmo, respire profundamente, reduza ao mínimo tudo o que tiver que fazer, descanse! Evite cigarro, cafeína e álcool. Tome muita água e infusão de ervas. Aproveite esse período para sonhar acordada, meditar no útero que é a fonte da intuição, se conectar com o coração. Observe as nuvens, as flores, pise na terra e escute música.

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A menstruação é um processo de limpeza do corpo, pelo qual eliminamos toxinas, mágoas e tristezas por meio de sangue, lágrimas, palavras e ações. Cada vez que menstruamos nos é aberta a possibilidade de curar e limpar aspectos de nossas vidas e nossos corpos. Viver a menstruação com amor e em plenitude faz bem à nós, ao nosso entorno e ao mundo. Menstrue livre, sem culpa e com amor!

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SEJA

terra,

MANTENHA SUAS RAÍZES SEJA

ar,VIVA A

SEJA

água,ACEITE

LIVERDADE DO

SUAS EMOÇÕES

DESAPEGO

ETERNAMENTE MUTÁVEIS SEJA

fogo, AQUEÇA

E ILUMINE A VIDA. Mulher Árvore

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VOU FLORIR

SER

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prim


mavera O ANO INTEIRO grazi

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Menarquia Uma poesia para toda menina que um dia se torna mulher poesia e ilustração Juliaro

Um dia fui menina brincava sem tempo, sem ciclos, sem luas minha vida era o sol, sua luz, seu calor Seu ritmo exato, o tic tac do relógio as estações da primavera ao inverno, o dia e a noite. Mas uma noite recebi um presente deitei criança e acordei Mulher então a avózinha lua começou a ser minha guia. Meus tempos mudaram, de repente comecei a ciclar e numa eterna espiral não parei de repetir este ritual.

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Na lua crescente, queria correr às borboletas queria voar como uma pomba, inventar historias olhando as estrelas e ser uma eterna criança. Com a lua cheia, um formigamento tomava meu ventre, sentia as borboletas na barriga e fantasiava me sentindo amada e cuidada, qualquer roce me deixava doida e minha emoção era tão grande que não podia controlar. Depois chegava a lua minguante e algumas coisas me irritavam, as vezes me sentia muito triste, tinha raiva mas não sabia a quem culpar, era tempo de soltar como no outono, mas como eu não entendia, por isso sofria. E finalmente chegava a lua nova, sentia um sono profundo que me convidava para descansar ausentar-me por uns dias, obscurecer e desaparecer, para depois de quatro dias, voltar e ressuscitar Eram dias de morte e renovação de sombras e as vezes depressão Mas por sorte tudo ia se embora, era questão de respeitar e saber esperar pois ao retornar a lua na sua dança infinita, todo voltava a começar.

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Mooncup Coletor Menstrual

Produto Su Hardy

Mooncup Ltd. foi fundada em 2002, com a missão de tornar a experiência das mulheres da menstruação mais positiva, saudável e eco-friendly. O copo menstrual Mooncup foi concebido a partir de silicone de grau médico para que as mulheres com pele sensível e alergias particularmente látex para usá-lo (modelos anteriores foram feitos de borracha). Nossos enfermeiros do Centro de Aconselhamento são empenhados em pesquisar saúde menstrual e para o avanço da educação sobre este assunto nos termos discutido que afeta a metade da população do mundo. 38


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Com base na bela cidade litorânea de Brighton, Mooncup Ltd. hoje é um multi-premiada empresa de pequeno porte executado por uma equipe de oito mulheres, e colaborando com distribuidores em todo o mundo. Sempre que possível, a equipe Mooncup sai do escritório para falar diretamente com as mulheres em festivais, espectáculos e conferências de saúde. Nós também trabalhamos em estreita colaboração com profissionais médicos com o mesmo objetivo: oferecer às mulheres uma maior escolha para os seus corpos a cada mês. Em 2004, Mooncup Ltd. foi premiada com o status de Empresa Ética por seu compromisso com as pessoas e as práticas amigáveis ​​animais, tornando-se o primeiro fabricante de protecção sanitária no mundo a ser um negócio ético certificado. Su Hardy, a diretora da empresa, e seus colaboradores acreditam que o copo menstrual Mooncup tem o potencial de melhorar muito a experiência das mulheres de seus períodos, bem como reduzir os danos ambientais causados pela produção e disposição de protecção sanitária descartável. Com esses objetivos em mente a equipe na Mooncup está trabalhando para garantir que nosso produto seja o produto menstrual do futuro, orientada por pessoas práticas e ambientalmente amigáveis. 40


o que é?

é fácil de utilizar?

O Mooncup é um copo fabricado em silicone macio que pode ser reutilizado em cada menstruação. Usado internamente, em posição mais baixa do que um tampão, o Mooncup funciona como recipiente do fluxo menstrual em vez de o absorver. O coletor é feito de silicone hipoalergênico e é três vezes mais eficiente do que um tampão. Não interfere com o estado de saúde da sua flora vaginal, não causa a acumulação de fibras na parede vagina e seu corpo não absorve pesticidas nem agentes branqueadores. O Mooncup é ideal para viajar, nadar, fazer exercício e para utilizar durante a noite.

Se inserido correctamente, o Mooncup é tão confortável que nem dará pela sua presença. No início, pode ser necessário um pouco de prática, uma vez que terá de encontrar o ângulo e a posição mais adequados para si. Mas, após aperfeiçoar a técnica, a utilização é bastante fácil e prática. Ele é dobrado e inserido na vagina e, uma vez no interior, abre-se. É necessário retirar e esvaziar o Mooncup a cada quatro a oito horas, dependendo do fluxo. A seguir, basta enxaguar ou limpar o Mooncup e inseri-lo novamente. Pode limpar o copo com mais cuidado depois de cada menstruação.

qual tamanho?

algumas observações

- 30 anos

+ 30 anos

Não

B

A

Parto normal

A

A

Parto cesariana

B

A

Já teve filhos?

O Mooncup é adequado para as mulheres com pele sensível ou que sofram de alergias. As marcas em mililitros permitem-lhe medir o fluxo menstrual. Isto é útil para as mulheres que precisem de indicar ao médico o volume exacto de perda de sangue. Se tiver ou achar que tem um problema ginecológico, consulte o seu médico antes de utilizar o Mooncup. 41


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OrquĂ­deas e suas pĂŠtalas fotografia Camila Muradas

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ĂŠ que os meus sonhos

nĂŁo cabem nas suas cartilhas de bons modos grazi

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LEGO adiciona

+m u l h

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eres texto Maia Weinstock

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Tem sido quase dois anos desde Lego lançou seu primeiro minifigure cientista laboratório fêmea, Professora C. Bodin, no final do verão de 2013. A cientista não foi aprimeira boneca Lego em uma profissão Stem (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), mas sua libertação trouxe a

consciência recém-descoberta de estereótipos de gênero e preconceitos persistentes no mercado de brinquedos das crianças. Desde então, a Lego tem tomado medidas importantes para enfrentar o interesse do consumidor na adição de mais personagens femininas em campos científicos. Além da esmagadoramente positiva Research Institute , um conjunto projetado por fãs, de três mulheres cientistas, que se esgotou rapidamente como versão limitada no ano passado, tem sido animador ver que Lego tem discretamente adicionando mais mulheres-tronco para suas ofertas - incluindo uma série de figuras em novos conjuntos lançados este mês. Para ter certeza, espaço significativo para a melhoria continua em representação global de meninas e mulheres em todo ofertas da Lego. Por exemplo, eu e muitos outras gostariam muito de ver mais personagens femininas em papéis principais fora de amigos e duendes - Stem carreiras ou de outra forma. Porque a realidade é que, apesar das 52


recentes melhorias, Lego é ainda esmagadoramente comercializados para meninos: Quando se trata das principais linhas Lego, homem continua a ser o padrão. Há muito mais personagens do sexo masculino do que do sexo feminino em qualquer set, e é quase impossível comprar um conjunto contendo apenas um minifigure onde este é do sexo feminino. (Amigos, elfos, e outros temas, como a linha Disney Princess oferecem conjuntos destacando figuras femininas, mas estes residem fora do mundo minifigure principal.) Finalmente, incentivo os leitores a dar uma olhada no que está acontecendo em ideias Lego , onde os fãs estão empurrando

novas visões de profissionais Stem para Lego a considerar. Conjuntos de Lego Idéias devem receber 10 mil votos a serem considerados para a produção. Seria fantástico para mostrar a empresa que estes temas não devem ser “um e pronto!” - que muitos de nós consumidores damos boas vindas aos novos e variados exemplos de mulheres nos campos Stem, tanto para nós como para os mais pequenos em nosso vidas.

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ver達o 54


é, sou mesmo esse turbilhão de sentimentos, sempre a flor da pele, atenta aos detalhes. reclamona, chorona, brigona, só uma menina. marcada pelo passado ruim. homens ruins. em desconstrução, em guerra com o que acredito, essa contradição maluca que é viver. entretanto, vivendo. sendo. observando. absorvendo. tentando. tentando muito. quebrando a cara, os ossos, os copos, os muros. até o coração. mas de pé. repito: de pé. olho no olho. sorriso resistência. cheia de erros. sou falha. sou folha. levada pelo vento. semeando minha poesia. sou semente. sou letra. sou vulcão. sou flor. uma primavera inteira. entre os dentes. sou garras. sou bicho. sou choro. sou explosão. fogos de artifício. um big bang. sou criatura. sou criador. sou deus. deus não, deus não. sou deusa. a deusa do meu universo. grazi 55


Manual de ervas para mulheres texto Mariana Almeida

Para compreendermos o trabalho de Ervas e Raízes, temos primeiro que observar a nossa própria natureza. O corpo feminino é convidado desde bem cedo a produzir mais sangue sempre, para nutrição e funcionamento do útero. Vem daí, a nossa maior vulnerabilidade, a deficiência de sangue, que traz desde a TPM até a infertilidade. De natureza yin que somos, aspecto Terra, necessitamos sempre de atenção nesse princípio de nutrição, geração e circulação do nosso sangue. Elemento primordial na harmonia dos nossos ciclos. Aqui, vamos encontrar saberes que nos ajudará a compreender e viver melhor cada ciclo da nossa natureza. Fortalecer o elemento Terra, a consciência, o amor próprio e a presença, é princípio para a saúde de nossos ventres. lavanda 56

Salve nossa Força!


TPM fria

TPM quente

cansaço, dor de cabeça frontal, peso nas pernas, melancolia, cólicas.

cólicas, dor de cabeça lateral, coágulos, irritabilidade, aversão à luz, tontura.

Casca de tangerina + Casca de limão + Anis-estrelado

Tansagem + Casca de limão + Folhas de Manjericão

como? chá fervido por 2 minutos, com as cascas secas (5cm de cada). que mais? banho com cravo, canela e artemísia. ação: nutre o sangue, diminui o calor na cabeça, relaxa o útero.

como? Chá fervido por 2 minutos. que mais? Banho com hortelã, camomila, dente-de-leão e arruda. ação: nutre o sangue, diminui o calor na cabeça, relaxa o útero.

canela

anis-estrelado

Ciclo irregular

Menopausa

ausência de menstruação, menstruação vai e volta, fraqueza, baixa imunidade, frio interno.

calor intenso, sono frágil, regras irregulares, irritabilidade, cansaço.

Artemísia + Cravo + Canela + Alfavaca

Folha de amora + Tansagem + Anis-estrelado

como? chá fervido por 2 minutos. que mais? banho com mentrasto, alecrim e gerânio.

como? chá fervido por 2 minutos. que mais? banho de manjericão e gerânio. ação: harmoniza desconfortos, fruto do esgotamento do yin-terra da mulher. 57


Gestação erva-doce, erva cidreira, camomila, calêndula, hortelã, manjericão como? chás ou na comida. que mais? banho com canela e cravo no final da gestação; Artemísia mais alfazema durante a gestação; Escalda-pés com um pouco de gengibre mais aniz-estrelado quando bater o cansaço. ação: ajuda sempre harmonizando, fortalecendo, nutrindo e ancorando a mulher.

camomila

Parto para as três fases fundamentais do parto: início: banho, escalda-pés e/ou compressas relaxantes: lavanda, camomila, calêndula, manjericão. meio/ativo: banho, escalda-pés e/ou compressas de sálvia + alecrim + canela. final/expulsivo: banho, escalda-pés e/ou compressas de artemísia + cravo. que mais? banho e escalda pés com Jagube e mentrasto (caule do Jagube), se o parto por um momento “parar”, se for a hora, ele ajuda, se não, ele descansa a mulher. 58

sálvia


E como faz tudo isso? Para os chás, utilize um punhado como referência para uma porção. Um punhado para uma xícara de chá. Evite o açúcar, mas se sentir muita necessidade do sabor doce, acrescente raspas de rapadura. Se a erva estiver fresca, use dois punhados em infusão (acrescentar a erva à água já fervente, desligar e abafar por 15 minutos), se a erva estiver seca, faça decocção (ferver a erva junto com a água e desligar após um ou dois minutos de fervura).

Para banhos e escalda pés, se as flores, rosas ou ervas estiverem frescas, use-as em infusão. O que estiver seco, for raíz ou semente, mais denso ou duro por ser feito em decocção e fervido por quatro minutos. A porção é proporcional a quantidade de água que cubra todo os seus pés (mais ou menos três litros). Pode-se usar dois punhados de cada elemento. É muito importante que não haja corrente de vento no local e que você esteja com a nuca e as costas cobertas.

cravo

Observações são experimentos, vá observando como tudo se movimenta, inclusive seus sonhos; o conteúdo do chá pode ser refervido até duas vezes; os banhos são após o banho comum e não deve ser enxuto; dê preferência aos cozidos, o calor é muito importante para o estômago e o baço transformarem os alimentos em energia e sangue; lembre-se sempre dos verdes escuros, algas, gengibre nas saladas cruas, evitar gelados e congelados e se não conseguir, casca de mexerica e cravo para esquentar; se toque, se escute, respira quando vier o sangue, o medo, a dor, o neném.

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Tua primeira carta texto Ísis Garcia

Minha cria, Tanto queria escrever e registrar sobre esses momentos que temos compartilhado. Será o momento de unidade mais intenso e pleno que se pode ter? Ser um organismo só enquanto dois seres distintos. Quanto será que já somos ou seremos distintos? Um coração pulsando e nutrindo dois corações pulsantes. Tanto me cobro e me desculpo por não registrar melhor esse momento. Essa solidão compartilhada. Tantas angústias e agoras de intensa serenidade vivemos. Estar bem, plena e satisfeita sabendo-me acompanhada ainda que completamente só. Um estar só tão evidente e assustador quando me deparo com todo medo, ansiedade, carência e vulnerabilidade da minha condição aqui na Terra. Uma vontade de ter com quem contar e depender. É tão gostoso aceitar isso também. Afinal, não é assim que começamos a vida? Dependentes 100% de um outro ser, nascendo, sendo formado e criado célula por célula a partir de nutrientes, oxigênio e emoções advindos de outro ser. Por que então tanta relutância em aceitar com humildade nossa dependência, nossa vulnerabilidade? Somos tão interligados que somos gerados nas entranhas dos nossos parentes, dAs nossAs parentes. 60


E que corpo incrível e potente, o corpo feminino. A partir de uma célula consegue com tanta perfeição propiciar o desenvolvimento de um semelhante de 49 cm e 3400g ou quaisquer outras variações de tamanhos, cores, peso. Cada ser tão único quanto o ventre que o gerou. Uma sequência profundamente complexa e natural de ações e reações que fazem com que uma nova vida aconteça ou não. Toda a sabedoria de milênios de existência da vida carregas em ti. Toda a história da humanidade. É preciso coragem para o que queres me ensinar. Toda vez que penso sobre como te educar me deparo com a necessidade de aprender tanto. Vivendo sensibilizada por suas lentes vejo um mundo completamente novo. Me pego observando atentamente como as sombras se formam e se movem em diferentes meios. Como meus dedos fazem reflexos brilhantes no fundo da piscina quando toco apenas suas pontinhas na superfícies da água. Ou como uma minhoca move delicadamente parte por parte do seu corpinho como uma onda que a leva aos mais estranhos lugares. O mundo é um lugar curioso, acho que podes gostar daqui. Vou ter todo o prazer de ver-te sentir tudo que há de lindo, estranho e doloroso nesse mundo que já te espera. Com muito carinho, Tua mãe. 61


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Testemunha de

Ruanda e Congo texto Camila Muradas

Não conseguiria explicar por meio de palavras o que é a realidade feminina africana de Ruanda e da República Democrática do Congo sem ser parcial. Mas posso dizer que procuro ser uma testemunha do que eu vi. Desde 2012, tenho em minha memória as histórias contadas por mulheres estupradas mais de quinze na guerra civil, a situação de viúvas abandonadas por toda a família e amigos, as cenas de mães e filhas carregando cana de açúcar debaixo do sol árido e o rosto com um olhar e sorriso marcado pelo sofrimento do passado. Três anos atrás visitei a África como fotógrafa e participante dos projetos da ong Comfort Rwanda & Congo. Minha atividade principal foi registrar a realidade africana desses dois países e registrar as melhorias alcançadas pelos diversos projetos implementados pela ong irlandesa, para assim, ampliar a divulgação e a captação de mais

recursos e apoio. Porém, foi impossível meu trabalho se confinar em apenas fotografar e ir embora,

o contato com povo africano me marcou de uma maneira que eu nunca poderia esquecer. Ruanda é um belo País no centro oeste da África. Conhecido como o coração da África, hoje tem pouco mais que 9 milhões de habitantes vivendo em uma área menor que o Estado de Santa Catarina. Suas belas colinas são pontilhadas com as habitações de tijolos de barro, rodeadas por bananeiras, mandioca, batata doce e feijão. As pessoas sempre levam um grande sorriso africano, mas em seus olhos podemos ver o sofrimento de uma vida difícil. Em apenas 100 dias, começando em 07 de abril de 1994, cerca de um milhão de pessoas 63


foram massacradas em um dos piores genocídios que o mundo já viu. Pessoas foram queimadas com as suas casas, crianças enterradas vivas e muitas outras atrocidades indescritíveis. Centenas de milhares de viúvas e órfãos foram deixados para trás. Para muitos deles a comida é uma luta diária, a educação uma necessidade inatingível e se libertar do ciclo de pobreza um sonho impossível. A República Democrática do Congo é um grande país, com aproximadamente 69.6 milhões de habitantes e capaz de movimentar enormes quantias financeiras pelos seus recursos naturais, a RD Congo tem estado no centro da “guerra mundial” da África que já causou milhares de mortes, principalmente entre os anos 1998 e 2003. Após 20 anos de luta envolvendo milícias e exércitos, O Comitê Internacional de Resgate (The International Rescue Committee) estima que 5,5 milhões de pessoas morreram, muitos de fome devido aos saqueamentos de furiosos exércitos. O conflito é impulsionado pela pobreza, pela inércia política e ganância por minerais valiosos no país. Neste cenário, são as pessoas inocentes que sofrem mais e necessitam de ajuda externa, porque internamente não há preocupação com o cotidiano dos mais carentes. 64

Os números de estupro são absurdamente altos, colocando o país no topo da lista de países mais perigosos do mundo para uma mulher estar, contando também com o mais alto número de mortalidade materna do mundo. Os refugiados e as pessoas deslocadas internamente habitam em acampamentos nos arredores de Goma, cidade no leste da República Democrática do Congo, onde vivem sob lonas de plástico e sobre pedras formadas por lava do vulcão Nyiragongo que explodiu recentemente em 2002. A RD Congo tem tido grande dificuldade para sair do meio dessa guerra e do estado de pobreza muito grande que ele vive. Assim também como os Ruandeses, os Congoleses lutam diariamente por comida e uma oportunidade de vida melhor. Na República Democrática do Congo, uma em cada 30 mulheres morre por causas relacionadas à gravidez, é classificada como um dos últimos países no Índice de Desenvolvimento Humano da onu, a sua expectativa de vida é de apenas 49 anos e abriga a maior missão de paz da onu atualmente.


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1

1. família sobrevivente de Rwanda 2. ruandesa sobrevivente de 15 estupros 3. congolesa trabalhando 4. mãe e filho soreviventes em Goma 5. mulheres trabalhoras em Goma 6. (próxima página) crianças trabalhoras em Goma

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Os projetos do Comfort Rwanda e Congo tem impacto muito grande no dia a dia de pessoas carentes, de crianças a idosos. Com vários voltados para mulheresde diversas idades e situações. Entre eles:

Suporte para mulheres na RD Congo

A mortalidade de bebês e de mães tendo filhos é muito grande, isso por conta da dificuldade de ter uma maternidade adequada. Outros casos mulheres precisam de cirurgias após ter sofrido vários abusos sexuais. O suporte é direcionado para prover maternidades e tratamento ginecológico para essas mulheres.

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Treinamento de costura na RD Congo

Mulheres que sobreviveram a estupros e foram rejeitadas por suas famílias são capazes de aprender a costurar, gerar renda e ser parte de uma comunidade amorosa. O projeto visa disponibilizar máquinas de costura e salário para o instrutores de costura.

Grupo de artesãos de Gatenga

Projeto que assiste as viúvas e os sobreviventes da guerra, dando-lhes abrigo e trabalho numa casa adquirida para este fim. Neste projeto eles produzem artesanatos que são vendidos nas feiras e no próprio site do Comfort Rwanda.


Maternidade de Rusayo, RD Congo

Projeto de maternidade que servirá uma das comunidades mais pobres e salvar vidas de mulheres.

+ informações www.comfortrwandabr.com www.comfortrwanda.org.uk

E agora já existe o Comfort Rwanda Brasil: a oportunidade que o nosso País tem de apoiar esses projetos que trazem grande mudança e esperança a um povo bastante prejudicado e sem recursos. Colaborar com os projetos nesses dois países se tornou muito acessível, basta acessar o site e acompanhar a atividade da ong e realizar doações, podendo até receber cartas gratas mulheres africanas.

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Eu gostaria de dizer que

NÓS SOMOS TODAS

cyborgs texto Amber Case

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,na verdade. Mas não as cyborgs que vocês pensam.


Vocês não são o Robocop, não são o Exterminador do Futuro, mas vocês são ciborgues toda vez que olham uma tela de computador ou usam um dos dispositivos do seu celular. Então qual é uma boa definição de ciborgue? Bem, a definição tradicional é um organismo “ao qual componentes exógenos foram adicionados com o propósito de adaptar-se a novos ambientes”. Isso veio de um artigo de 1960 sobre viagem espacial. Porque, se vocês pensarem sobre isso, o espaçto é muito incômodo. As pessoas não deveriam estar lá. Mas humanos são curiosos, e eles gostam de adicionar coisas a seus corpos assim eles podem ir aos Alpes num dia e depois se tornar um peixe no mar no dia seguinte. Então vamos olhar o conceito da antropologia tradicional. Alguém vai a outro país, diz: “Como essas pessoas são fascinantes, como suas ferramentas são interessantes, como sua cultura é curiosa.” E daí eles escrevem um artigo, e talvez alguns antropólogos o leiam, e nós pensamos que é muito exótico. Bem, o que está acontecendo é que nós de repente descobrimos uma nova espécie. Eu, como uma antropóloga ciborgue, afirmei de repente: “Opa. Nós somos agora uma nova forma de Homo sapiens. E observem essas culturas fascinantes. E observem esses rituais curiosos que todo mundo está fazendo com essa tecnologia. Eles estão clicando em coisas e olhando para telas.”

Quando eu era pequena, meu pai foi falar comigo numa noite e disse: “Eu vou te ensinar sobre tempo e espaço no futuro.” E eu disse: “Ótimo.” E ele disse um dia: “Qual é a menor distância entre dois pontos?” E eu disse: “Bem, é uma reta. Você me disse ontem. Eu achei que eu era esperta.” Ele disse: “Não, não, não. Há um jeito melhor.” Ele pegou um pedaço de papel, escreveu A e B de cada lado e dobrou de forma que A e B se tocavam. E ele disse: “Essa é a menor distância entre dois pontos.” E eu disse: “Pai, pai, pai, como você fez isso?” Ele disse: “Bem, quando você dobra o tempo e o espaço, isso gasta muita energia, e é assim que você faz.” E eu disse: “Eu quero fazer isso.”

Então eu comecei a estudar antropologia. E quando estava escrvendo minha tese sobre celulares, eu percebi que todo mundo estava levando buracos de minhoca no bolso. Eles não estavam se transportando fisicamente, eles estavam se transportando mentalmente. Eles clicam um botão, e eles estão conectados imediatamente como A e B. E eu pensei: “Oh, uau. Eu descobri. Isso é ótimo.” E há alguns efeitos psicológicos que ocorrem com isso. Um que me preocupa muito é que as pessoas não estão mais se dedicando à reflexão mental, e elas não estão desacelerando e parando, estando cercadas de toda essa gente o tempo todo que estão competin71


do por sua atenção em interfaces de tempo simultâneas, paleoentologia e arquitetura de pânico. Elas não estão apenas sentadas la. Sério, quando você não tem nenhum estímulo externo, esse é o momento quando há uma criação do eu, quando você pode fazer planos de longo prazo, quando você pode tentar descobrir quem você é. E então, depois de ter feito isso, você pode descobrir como apresentar seu segundo eu de forma legítima, ao invés de apenas lidar com tudo que chega – e, ah, eu preciso fazer isso, e fazer aquilo, e fazer aquilo outro. Isso é muito importante. Estou muito preocupada, especialmente com as crianças de hoje, elas não vão lidar com esse tempo de desaceleração, elas terão uma cultura de clicagem de botão instantâneo, e tudo que vem com isso, e elas ficarão muito excitadas e muito viciadas com isso. Então se você pensar sobre isso, o mundo também não parou. Ele tem seus próprios dispositivos prostéticos, e esses dispositivos estão nos ajudando a nos comunicar e interagir entre nós. Mas quando você visualiza isso, todas as conexões que estamos fazendo agora ela não parece tecnológica. Ela parece muito orgânica na verdade. Essa é a primeira vez em toda história da humanidade que nós estamos conectados dessa forma. 72


E NÃO É QUE AS

máquinas ESTÃO DOMINANDO. É QUE ELAS ESTÃO NOS AJUDANDO A SERMOS + humanos, NOS AJUDANDO A NOS CONECTAR ENTRE NÓS. 73


outono 74


daqueles dias que o mundo pesa um pouco mais presente o passado faz chorar não há paz decepção sem companhia sem amizade só confusão daqueles dias que ser mulher que ser amor que ser poesia é uma prova de (r) existência...

grazi

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Cada qual com seu Eu sempre procurei por eu mesma. E muitos falaram de mim, das bruxas e das loucas. É muito fácil discorrer com verdade sobre a vida do outro. Muito fácil colocar a minha existência subordinada à sua palavra. É comum saber sobre mim e minhas dificuldades. Falar delas como se fossem um segredo do qual não posso saber. Fácil me dizer como eu tenho que aparentar para aparecer, para assim completar você. É comum falar do meu corpo como se fosse domínio e vitrine de todos. Elogiar minha docilidade e complacência. Maldizer minha postura e meu descaso com a sua opinião.

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desafio na vida texto Anônima

Como se eu fosse uma afronta a sua verdade. Só que a verdade e a mentira me pertencem, e estão latentes em mim, a postos como fuzis certeiros e vigilantes. Ando armada porque já apanhei de olhares, de negações e interlocuções. Já apanhei de livros e histórias de criança. Hoje me calejo e me conscientizo. Eu rio e brinco com as suas baboseiras, eu as uso e debocho. Eu experimento e manipulo, como uma poção que só beneficia a quem escolho. E quando você me aborda na rua com seu “elogio” sacana, eu alimento a besta dentro de mim. Diga fera, diga selvageria, diga mulher. Ela está crescendo forte e robusta em meu útero, se nutrindo do asco que sua aproximação me desperta. Me fale de poder, me fale de saber. Me fale que eu não te escuto. Me fale do meu destino, que eu não cumpro e nem faço o contrário. Há algo cá dentro impenetrável, nem por força nem por amor. Há algo cá dentro que

ninguém além de mim acessa. Há algo cá dentro que é incorrompível. Algo que encontra com outras feiticeiras, bruxas e putas, e nesse encontro se torna incandescente e poderosa. Eu te falo de mistério de vida e de morte. Eu te falo da verdade te contando uma mentira. Não confie em mim porque eu nunca compactuei com você. Não espere por mim porque eu nunca deixaria de lado a minha cria, a minha besta, a minha fera. Não ouse dirigir-se a mim com piedade. Você nunca terá a minha existência em suas mãos. Não pense em possuir o que é inefável e sagaz. Não negue sua admiração. Porque o mesmo espanto causa repulsa para o que é divindade. E boa sorte com a sua ignorância e prepotência. Elas me dizem sobre algo que não serei, pois para quem me respeita faço-me humilde e benevolente. Falo sobre a fragilidade de um cristal contra a força de uma água cristalina. 77


Batom e Gloss

Veganos texto Sônia T. Felipe

O batom, como a maioria dos cosméticos, contém ingredientes de origem animal e são testados em animais. Os poucos produtos vegan-friendly são, geralmente caros mas, você pode critar em casa batom e gloss da cor que quiser, de maneira 78


O conceito é simples: batom é constituído por ceras (parafinas), pigmentos, hidratantes e conservantes. O giz de cera comum é feito também de

Você irá precisar de: giz de cera; óleo vegetal (coco, ricínio, amêndoas, azeite); manteiga de cacau ou de karité (opcional); óleo de essência de sua preferência; tubinhos de brilho labial ou potinhos de sombra reaproveitados.

E agora, a receita! Para o batom pique um giz de cera e leve para derreter em banho-maria (ou no micro-ondas, de 20 em 20 segundos) em um recipiente de vidro. Assim que o giz derreter, adicione 2 colheres de sopa de óleo vegetal, manteiga de cacau, 3 gotas de óleo de essência e misture bem. Para gloss, é só aumentar a quantidade de óleo na receita – adicione 4 colheres de sopa de óleo vegetal. Uma mistura de óleo de rícino e óleo de coco é excelente para fazer gloss. Despeje a mistura em potinhos e deixe endurecer. Pronto!

Dicas: você pode fazer batom de qualquer cor. misturando diferentes cores de giz, as possibilidades são infinitas. caso você não queira usar o giz de cera, pode substituir por cera de abelha clarificada em flocos. São suficientes 3 colheres de sopa ou 12g e pigmento de sua preferência. quanto mais óleo você colocar, mais cremoso ficará seu batom. este batom tem ótimo efeito de cor e hidratação, não precisa ser conservado em geladeira e pode ser levado na bolsa tranquilamente. a maioria dos gizes de cera fabricados no Brasil não leva cera de abelha e alguns deles não contém qualquer ingrediente de origem animal e nem são testados em animais (entre em contato com o SAC da empresa para se certificar). Certifiquese também de que o produto é escolar e atóxico.

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PODEROSOS

NA FORMAÇÃO

MORAL texto Sônia T. Felipe

Marca renomada de bonecas produz boneca negra com espanador: “neguinha do espanador”, desenhada por uma mulher, que, ao receber críticas dos negros e de outros movimentos sociais, diz que cada pessoa interpreta o que ela fez de acordo com seu nível cultural. 80


Como se dissesse algo do tipo: “se você critica minha boneca, você é pouco culto, pois se eu sou artista, tenho o direito de fazer o que bem entendo, pois a liberdade de expressão me assiste”. Marca famosa de brinquedos lança caminhão carregando animais criados para o abate.

“Ora bolas, são apenas brinquedos inocentes!” Não são. Brinquedos são instrumentos como o estilete, poderosos na formatação mental, moral, estética e política. Quando a gente aprende algo brincando, aprende com prazer, e então tudo é melhor memorizado e dificilmente esquecido. O que é gravado com prazer vai para o sistema límbico pro-

fundo, na qual o que mais emociona fica estruturado de modo associativo no resto que entrar naquela mesma frequência daí por diante. O prazer é a porta por onde entra o design moral, o prazer é o filtro que estrutura tudo em nossa mente, todos os conceitos, dos mais ferrenhos religiosos aos mais anárquicos políticos, tudo, tudo mesmo, entra e se fixa ali com um único adesivo: o prazer sentido. Boneca negra com espanador de pó. Mulher. Negra. Brinquedo para ensinar que espanador é objeto apropriado para mãos de mulheres. Para as mãos de mulheres negras, é bom que isso fique muito bem claro. Boneco branco, de olhos azuis, com espanador na mão? Ah! Só se for para desmerecer alguém branco que não tenha resguardado seu valor de branco de olhos azuis. Todos os brancos, de olhos não azuis, poderiam entrar na lista. Mas não entram, porque está claro para os designers, está claro para os empresários que aprovam um projeto de uma nova boneca que homenageia as negras de forma discriminadora, que eles não querem um mundo no qual o único objeto apropriado para estar nas mãos de um branco de olhos azuis seja um espanador de pó. Mas está mais claro ainda, para essa gente, que um espanador de pó é um objeto apropriado para estar nas mãos negras. Fico aqui encasquetando com a resposta da artista. Ela diz que, com sua arte, quer 81


homenagear as mulheres negras. Mas na foto de sua entrevista ela aparece diante de uma tela com um pincel na mão, porque, ora bolas, ela é descendente de afros e pinta telas. Mas para homenagear as negras ela desenha uma boneca com espanador e não com pincel nas mãos. Quanta promessa de formas de expressão da mulher negra ela sugere às meninas negras que mal nasceram? Ser faxineira, ou ser pintora? Ser faxineira, claro.

Eles não querem isso para um homem branco de olhos azuis. Eles querem isso para uma negra. Espanadora de pó. A menina ganha uma boneca dessas e brinca com ela. O que dirá ela à boneca, em sua atividade lúdica? Dirá a ela que está na hora de tirar o pó dos objetos. Duas mulheres. Uma princesa branca e uma boneca negra em posições hierárquicas bem distintas: uma manda a outra tirar o pó dos 82

objetos, limpar a casa. Não há reversão de papéis. Como se o racismo e o machismo embutidos nesse nada inocente brinquedo não bastassem, aproveitaram o impulso fortíssimo de discriminação e já compuseram a cena com outro brinquedo, certamente não destinado às meninas brancas, mas aos meninos brancos: um caminhão carregado de animais em viagem. Mas, bem o sabemos, aquele tipo de animal ali representado faz apenas uma viagem de caminhão: à câmara de sangria. Racismo, machismo e especismo não nascem na cabeça da pessoa depois que ela se torna adulta. Não mesmo. Essa forma de desenhar o mundo hierarquizando as vidas, estabelecendo fins para as vidas dos outros, sempre em função dos próprios interesses a serem atendidos, é algo construído desde antes de o bebê humano nascer. Desde a cor das roupas, dos detalhes da decoração, das figuras que comporão o cenário no qual esse bebê abrirá pela primeira vez os olhos


para algo que não seja o peito da mãe, tudo é matéria formatadora de conceitos, preparando a mente para um mundo cheio de divisórias, de divisões, de cisões, de cizânias, um mundo no qual uns manejam a vida dos outros até os exaurirem e em seguida os abatem sem o menor pudor, mas sempre “humanitariamente”. Os brinquedos, assim como os primeiros livros infantis e, especialmente, os livros didáticos, aí estão para formatar a mente nos moldes da moralidade racista, machista e especista. Justamente essa mesma moralidade está levando à ruína o planeta, devastando as reservas de grãos, cereais e de água, esse mundo que está tão carregado de excrementos dos 70 bilhões de animais criados todos os anos para o abate, que não há espanador nas mãos de bonecas negras que conseguirá abater tanta sujeira desse mundo. E a imundície do mundo não está depositada na forma de pó sobre livros, mesas e

estantes. A imundície do mundo está depositada na mente formatada para reproduzir sem perceber e sem sentir o que o mundo tanto gosta de ver reencenado: o especismo. Na verdade uma forma única de ser preconceituoso contra tudo o que não puder ser enquadrado na “espécie certa de vida” na qual nascem os que têm essas ideias, essas, as de fazer bonecas negras com espanadores na mão e caminhões com animais transportados para o abate.

Os brinquedos que damos às crianças são armas para construção de um mundo no qual alguns acham que podem viver sobrepujando os outros. Possivelmente, “neguinha do espanador” e o caminhão da fazenda cheio de animais não “pretendem” demonizar, mas o fazem, sem que o percebam, o que é mais assustador ainda.

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HQ Lei do FeminicĂ­dio


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Seja uma Colaboradora A Y O N I faz um convite aberto a todas as mulheres que quiserem compartilhar e disseminar algum trabalho, produção ou conhecimento que dialogue o universo pela perspectiva das mulheres ou que aborde o ser mulher e o feminino. Interessadas em colaborar com conteúdo, fazer comentá-rios, críticas, sugestões ou bater um papo, entrem em contato pelo email yonirevista@yoni.com.br

LXXXVIII


escrevo porque quero gritar abraรงar e ser abraรงada pelas minhas irmรฃs escrevo porque dรณi e partilhar alivia um pouco, suaviza escrevo porque sinto absorvo solto sofro luto amo grazi LXXXIX


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