Victor Del Franco
A urdidura
da tramA
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1a edição: Giordano, 1998 2a edição: Edição do Autor, 2011
Franco, Victor Del, 1969 A urdidura da tramA / Victor Del Franco. 2a edição - São Paulo: Edição do autor, 2011. 1. Poesia brasileira
2011 Publicado na Internet
I. Título.
Victor Del Franco
A urdidura
da tramA
SUMÁRIO
ALPHA Origem...............................................................................11 O MEIO DIVERSO Tecendo o instrumento de trabalho..............................15 Orvalho .............................................................................16 Passageiro ..........................................................................17 Fênix ..................................................................................18 Black hole: star .................................................................19 Muito além da estação.....................................................20 O silêncio essencial..........................................................21 Onírico...............................................................................27 Extremos ...........................................................................28 Haikais ...............................................................................29 Ser urbano .........................................................................30 Fúria metropolitana .........................................................31 Mosaico pós-moderno ....................................................32 Televisão............................................................................33 Terra de gigantes ..............................................................34 Sociedade da informação................................................35 High tech...........................................................................36 O mito da caverna............................................................37 Urbanoides........................................................................38 O ébrio e a noite insana ..................................................41 Heráclito na Paulista ........................................................45 Desordem..........................................................................46 Palavra................................................................................47 Marisa.................................................................................48
Felina..................................................................................49 Leda....................................................................................50 Fissão .................................................................................51 Vago ...................................................................................52 Reflexões ...........................................................................53 Lapso..................................................................................54 A árvore do Bem e do Mal.............................................55 A urdidura da trama.........................................................56 Substância..........................................................................57 Núcleo ...............................................................................58 Milky way...........................................................................59 VALORES Inversão de valores ..........................................................63 Conflito de valores...........................................................64 Valores em questão..........................................................65 OMEGA Viagem...............................................................................69
A urdidura
da tramA
Quem sabe de onde tudo surgiu? (...) Apenas Aquele que preside no mais elevado dos cĂŠus sabe. Apenas Ele sabe, ou talvez nem Ele saiba! Rig Veda, X
ALPHA
ORIGEM Mitos de eras e origens que envolvem o mundo, quem sabe algum demiurgo aqui venha ordená-los: pela dança de Ishtar o caos é derrotado e os poderes de Indra subjugam demônios. Em outro plano as forças do universo atuam, quem sabe alguma ciência possa unificá-las: na dança das partículas a luz é vária e as ondas que nos chegam escondem mistérios. Em toda esta fantástica diversidade na qual estamos desde sempre mergulhados há alguém que diga de onde vem? como surgiu? Pois no correr dos anos as águas prosseguem e o ciclo eternamente flui e recomeça e pelo céu a vida passa em brancos versos.
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O MEIO DIVERSO
TECENDO O INSTRUMENTO DE TRABALHO Observando o eterno ir e vir do alvorecer e do alvoroço das ondas um pescador, de cócoras em alva areia, tece um meticuloso trabalho artesanal. Sereno e lento o azul cristalino invade os olhos e ele avista no horizonte um pequeno barco. O canto do mar encanta e ocasionais tormentas não lhe calam o canto. De cócoras em alva areia, um pescador de sonhos tece com vigor o seu instrumento de trabalho para lançá-lo ao mar.
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ORVALHO Flui transparente um ciclo pequenino um ribeirinho sob o sol, nascente. Flui repleto o cristal nessa corrente onde o giro constante dos moinhos conduz a variedade dos destinos: um dia mais feliz outro indecente, um amor já perdido, um corpo ausente, um encanto fugaz e um desatino. A vida flui num rito de passagem, numa condensação clara e sonora de todas substâncias que reagem na alquimia precisa dessa aurora. Suspenso, sigo assim minha viagem: o orvalho cai – sereno – e evapora.
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PASSAGEIRO O tempo n達o passa, passo pelo tempo que me ultrapassa.
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FĂŠNIX a minha alma inflamavel
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BLACK HOLE: STAR Se há no céu um corpo onde a luz é concebida, necessário faz-se um outro que lhe inspire a vida.
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MUITO ALÉM DA ESTAÇÃO Ínfimo ponto em queda constante na vastidão de outros pontos. silêncio Corpos interiores navegam juntos e solitários na paz da Mir. silêncio Imagino as questões que são formuladas no cerne destes corpos. silêncio o Absoluto silêncio
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O SILÊNCIO ESSENCIAL Há metafísica bastante em não pensar em nada. Alberto Caeiro corpos que se envolvem na penumbra das árvores mergulham nas sombras e um véu quase que palpável divide em dois o espaço que nos cerca as mãos dormentes em vão procuram confirmar as impressões do tempo intangível sono e vigília, quais suas fronteiras? sopra o vento suave e com as folhas soltas brinca
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repousa na memória a vaga lembrança de um rio infinito e perfeito que nunca existiu, talvez seja um pequeno indício da existência de Deus deve haver algum sentido em tudo isso, mas também, se não houver não fará diferença uma estrela no firmamento jamais questiona a própria sorte, ela simplesmente é ela simplesmente está ela simplesmente vai no despropósito da vida ainda há lugar para a fé? sopra o vento sereno e com as folhas soltas brinca
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a todo instante, nuvens deslizam na imensidão enquanto a terra voraz conspira e escava o destino sob nossos pés o absurdo vazio das horas segue impassível e com ele, ao mesmo tempo, me aterrorizo e me conformo resignação: seria esta a grande bênção dos Céus? sopra o vento incerto e com as folhas soltas branco
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a crença em algo que transcende possivelmente já inclui em si alguma forma de salvação mas o melhor de tudo é não pensar em nada nem especular sobre o que poderia ser já que entre um lado e outro a lápide de mármore nem ao menos suspeita o que se encerra em sua alvura sopra o vento esparso e com as folhas soltas ~ ~ ~ ~ ~ ~ no silêncio essencial do corpo o cemitério das almas guarda o seu mistério
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ONÍRICO Deus sonhou o Paraíso, acordou no pesadelo.
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EXTREMOS Entre a estrela eo estanho: estranho.
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HAIKAIS Castelo de areia na beiradinha do mar, efêmero reino.
Contra a correnteza segue sempre a piracema no fluxo da vida.
O pássaro azul em plena gravitação, um arco na brisa.
Delicada teia no canto escuro da casa, oculta artimanha.
A lua desperta enquanto o sol adormece num mesmo prelúdio.
O tempo interfere na astronomia dos frutos: gravidade e queda.
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SER URBANO ser humano ser urbano humano urbano desumano urbano ser humano des humano desurbano ser
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FÚRIA METROPOLITANA A metrópole metropelou e me atropelou.
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MOSAICO PĂ“S-MODERNO imagens digitais passam pelos olhos :
[ ?? ]
:
[ !! ]
estagnado diante da tela :
[ ?! ]
mosaico desconexo
perplexo
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TELEVISÃO [teleinformação|telecomunicação|telenotícia|telejornal teledrama|telenovela|teleteatro|telecinema|telentrevista t e l e s p o r t e | t e l e h u m o r | t e l e mu s i c a l | t e l e r e p o r t a g e m teledocumentário|telecultura|teleducação|teleprofissão teleprofissional|teleaudiência|teleibope|telecampanha telecomercial|telefestival|telealienação|teletransmissão telesatélite|teleantena|telerecepção|telecabo|teleassinatura telelinguagem|telepadrão|telecrítica|telecensura|telediscurso telepoder|teleideias|teleideologia|telespectador|telemassificado]
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TERRA DE GIGANTES doses de aventuras enlatadas entorpeciam tardes adolescentes sol e chuva chuva e sol entre primaveras e hoje nas salas de trabalho os dias se repetem como velhos seriados agora a angĂşstia ĂŠ outra
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SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO informação informação informação informação in ação informação for ação informação forma ação informação informação informação a quantidade em detrimento da qualidade desinformação desinformação desinformação
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HIGH TECH modernaMente obsoleta
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O MITO DA CAVERNA vivas imagens que iludem escorrem de um caduco televisor no escuro profundo dessa m贸rbida caverna em que me confundo.
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URBANOIDES branca manhã de outono nessas vias escuras nesse mínimo asfalto mil artérias confusas que difusas se cruzam no pulso da cidade rumo incerto de muitos descaminhos urbanos que em trancos se misturam e assim também se aturam em meio à solidão cego pano de fundo da agitação insana em troca de migalhas quem sabe algum negócio das arábias? da china? quem sabe algum sucesso um novo emprego enfim de rotinas mal pagas onde as horas não passam homem cartão de ponto homem cartão de crédito homem cartão de débito homem: qual sua senha? carros, motos e ônibus se espremem e se apertam num trânsito caótico onde a lei dominante exclui todo pedestre multidões que devoram as disformes calçadas
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correndo sempre atrás das urgências neuróticas comuns ao dia a dia histeria dos chefes que com frequência estão tirando o pai da forca homem cartão de débito homem cartão de ponto homem cartão de crédito homem: qual sua sanha? arranha-céus dementes como hastes concretas projetam-se no azul almejando alcançar a leveza das nuvens milhares de escritórios com seus ritmos frenéticos elétricos ruídos numa vil sinfonia de aparelhos nervosos e ociosos arquivos sempre fora de ordem para alguém arrumar milhões de documentos e outros tantos contratos papéis indispensáveis ao perfeito andamento do organismo patrão sanguinários vampiros hipócritas e sujos num feroz intestino que não pode parar
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homem cartão de crédito homem cartão de débito homem cartão de ponto homem: qual sua sina? nesse mínimo asfalto eu subtraio de mim a paisagem urbana e já minha alma leve muito leve nas nuvens
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O ÉBRIO E A NOITE INSANA possui a profunda percepção das estrelas e das cadentes o sexto sentido de cada obscuro absurdo em queda soturna num berço de angústias, leito suave de suicidas questões espirais espalhadas pelo chão servem apenas de transtorno para aqueles que esperam por alguma resposta justos e devassos pagam pelos mesmos crimes santos e iníquos acendem velas num mesmo altar anjos e demônios dançam ao redor da mesma fogueira um novelo de contradições se desfazendo em fiapos prateados é o que fica na lembrança e assim mesmo a cidade segue em frente sem nenhum perdão esperado e a noite desaba como se fosse espesso betume
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e em cada ébrio sombrio o passo em falso de seu próprio percurso mesmo áspero asfalto em seus olhos deslizam pássaros mesmo duro concreto em seus ombros repousam canções mesmo estilhaços de vidro em seu peito brilham estrelas mesmo metal retorcido em sua alma flutuam versos nos becos da madrugada nuvens vagando sem rumo como dragões ancestrais de uma China imperial devoram a Lua para depois defecá-la ainda mais lúcida e lúdica esfera além da razão, além da lógica exata de todo conhecimento cabível esfera além da física, além de toda explicação científica que jamais nos dará paz de espírito
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aleluia! aleluia! salve a Lua! salve a Lua! aleluia! aleluia! luz de toda loucura! além Lua! além Lua! não há nada para ser explicado! na surdina das alcovas seitas e mais seitas são formadas e proliferam pelo mundo, quem sabe algum aviso numa cauda de cometa nos traga a Revelação, afinal os Portões do Paraíso já podem ser abertos via internet e exorcismos nos são transmitidos diariamente pela televisão tudo na mais perfeita normalidade fome, guerras e sequestros doenças, terrorismos e torturas é o que fica por herança e assim mesmo a vida segue em frente sem nenhuma redenção alcançada e o coração resiste como se estivesse anestesiado e em cada corpo estranho a órbita insólita de seu inevitável colapso
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mesmo impuro breu em seus olhos nascem estrelas mesmo triste infortúnio em seus ombros descansam pássaros mesmo amplo deserto em seu peito florescem versos mesmo amargo Estige em sua alma navegam canções do alto de um edifício o céu embriagado rodopia até perder o equilíbrio e assim mesmo sem mesmo nada mesmo tudo
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HERテ,LITO NA PAULISTA Ninguテゥm atravessa a mesma avenida duas vezes.
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DESORDEM Tenho que arrumar a cama tenho que pôr os livros na estante tenho que colocar os discos em sequência. Tudo deve estar em seu devido lugar. Girando em minha órbita vejo um pequeno fractal. Além disso, tenho o Nada e nada tenho a fazer agora senão contemplar o Caos e os pássaros no azul.
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PALAVRA debate-se em mim a palavra debate-se em toda sua suavidade toda sua gravidade toda sua sonoridade debate-se em mim com todos os seus significados, toda sua vasta possibilidade no silĂŞncio dos dias debate-se em mim a vida, a vida em toda sua palavridade
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MARISA A noite lenta e serena transborda no azul e repousa tranquila em seus olhos castanhos. A noite em seus olhos é castanha e a lua explode num brilho mágico em sua órbita.
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FELINA Brinca a mulher nos olhos de menina, felina.
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LEDA Num átimo de luz a mítica fez-se atômica; da genialidade, o eterno Cisne.
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FISSÃO um coração que mal chegou, partiu foi tão rápido e tão intenso que mal chegou, partiu um coração
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VAGO vaga por vadias vĂĄrzeas vencendo vorazes vendavais vivendo valente sem vagir vaga veemente por vĂĄpidas vias varando ventanias e por vezes vacilante vaga em valas vis vaga com vagar, sem violĂŞncia ou violĂĄcea, um vago vate vagante
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REFLEXÕES o espelho frio me reflete enquanto faço caras e bocas e me desfaço das roupas o espelho nu em silêncio reflete
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LAPSO no limite exíguo entre o sono e a vigília atravesso o arco escuro da absurda memória os milésimos de segundo os milênios do mundo aqui o Tempo é só desatino e tudo se cala apenas algumas esferas flutuam inomináveis
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A ÁRVORE DO BEM E DO MAL surge a sombra que desliza suave no solo da aurora sobre a seiva do seio da Terra, amanheço desgalho o gálio galho desfolho a fina folha desfloro a flor da flora desfruto o bruto fruto e sua semente – sêmen de outro fruto que semeio some a sombra que desliza suave no solo do crepúsculo sobre a seiva do seio da Terra, anoiteço no ciclo dos dias a sombra nasce e esmorece a Árvore, sempre firme, permanece 55
A URDIDURA DA TRAMA Por trás do palco moiras tecelãs contam suas histórias, com esmero cosem à vida todas as cenas e percalços cantam dançam representam jamais perdem o fio da meada.
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SUBSTÂNCIA insuspeitável exatidão da fuligem numa estrutura naturalmente perfeita glóbulos quase que mágicos de um resíduo tão antigo amoras geodésicas carbono ab origine buckminsterfullereno
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Nร CLEO frรกgil Terra geografia geometria uma esfera mas pudera outra havia todavia amarela: Sol preciso leve e crasso incisivo pelo espaรงo pulso ativo meu compasso
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MILKY WAY vereda de estrelas cadentes no infinito qual a trajet贸ria?
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VALORES
INVERSÃO DE VALORES
ESTE LADO PARA CIMA 63
Ç
CONFLITO DE VALORES
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PARA CIMA
Ç
ESTE LADO
Ç
Ç
VALORES EM QUESTÃO
ESTE LADO PARA CIMA
Ç
Ç
Ç
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OMEGA
VIAGEM A imaginação é mais importante que o conhecimento. A. Einstein Suave cai a tarde assim serena sobre o áspero asfalto destas vias e inteira então se espalha pelas ruas e por essas calçadas sempre frias suave cai a tarde mais silente sobre o duro concreto embrutecido e lenta já desliza pelos muros e pelos cantos já indefinidos e ao nada abandonado entre paredes contemplo agora o quieto firmamento, o quieto espaço em plena trajetória que tênue e calmo vai escurecendo. Suave cai a noite mais singela sobre a fachada em vidro espelhado e agora já invade toda parte apagando o crepúsculo avermelhado suave cai a noite assim sensível sobre o metal em rígida estrutura e leve então se expande ao horizonte delineando a sua curvatura e absorto neste clima de leveza enquanto o céu atinge um tom discreto lanço um repleto olhar ao infinito e já adormeço o espírito inquieto.
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azul azul az – A TERRA É AZUL!
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ul
E a jornada em seu princípio em meus olhos faz-se azul e suspenso pois Gagarin vem surgindo contraluz e o seu “verso” inaugural em tal língua se traduz:
azul azul az
u
ul azul a z a z ul
ul
ul azul a z a l z
Suave cai a noite inda em meu ser pronto a iniciar veloz viagem que à imaginação envolto em laços da grande imensidão já avista a imagem:
azul azul azul azul o céu azul-celeste azul o mar azul-marinho azul acalma azul a alma azul a calma azul-anil azul o ar o fogo azul azul a água e a Terra azul azul azul azul prossigo viagem pousando na Lua a Lua luzente que em fases atua a Lua minguante a nova e crescente a Lua mais cheia passeia contente a pálida Lua que brilha desperta é Lua sublime sublime e deserta 71
a Lua fagueira que gira ditosa é Lua sutil sutil e formosa meu corpo navega navega e flutua nos mares tranquilos nos mares da Lua circula meu corpo na brisa tão breve e desce dos montes e sobe mais leve e do alto mergulha travesso ao brincar mergulha em crateras não pode parar e agora portanto meus pés descalçados deslizam precisos por todos os lados deslizam precisos onde a Águia pousou aqui onde Neil também deslizou meu corpo navega navega e flutua nos mares tranquilos nos mares da Lua
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a Lua de estórias a Lua dos homens a Lua das lendas e os tais lobisomens a Lua dançante em simples alvura que baila e resguarda a imagem escura a plácida Lua em noite gentil sorrindo à seresta em noites de abril a Lua poética a Lua galante a Lua dos ébrios e tantos amantes meu corpo navega navega e flutua nos mares tranquilos nos mares da Lua
Lua... Lua... Lua... Lua . .. 73
e varando o espaço denso sigo em frente assim ligeiro sigo em frente e me deparo com outro corpo por inteiro outro corpo tão formoso tão brilhante e tão faceiro na manhã Estrela d'Alva bela Vênus prateada, é porém planeta instável de área triste e desolada, raios cortam o seu céu de alquimia carbonada bela Vésper solitária bela estrela que abandono corro agora pra Mercúrio danço agora em seu contorno faço a volta, volta e meia, meia volta em seu adorno pobre corpo desprovido pois despido em sua esfera não tem ventos, não tem nuvens nessa mínima atmosfera, longos dias sempre quentes noites frias e severas faz trajeto perigoso faz seu giro sem bom senso gira gira planetinha rente ao Sol, ao Sol intenso, giro giro e assim avanço rumo ao astro tão imenso
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astro claro e generoso astro luz e seu efeito gera a vida calorosa e essa alegria em meu peito, Sol tamanho e absoluto Sol supremo e quão perfeito de seu plasma em confusão que em fusão tudo produz fúria e força interior força e fibra que reluz fibra e fúria de seu útero de onde nasce a nossa luz surge a vida surge o Sol surge a rosa e o girassol na brancura matinal em que a luz se faz nascente no longínquo patamar mostra a face incandescente luz a vida luz o Sol luz a rosa e o girassol e durante o breve ciclo nos observa tão silente e depois guarda pra si seus mistérios no poente
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dorme a vida dorme o Sol dorme a rosa e o girassol “aterrisso” agora em Marte na sequência da jornada não espero nem desisto e persisto na empreitada, não descanso e logo faço uma longa caminhada faço logo a exploração dessa terra que é tão fria, tem chão seco e arenoso como duna em ventania e um relevo depressivo numa rubra geografia sobre um vale extenso e fundo faço um voo assim rasante, voo aqui, voo acolá sempre um voo tão constante e ardoroso corto o solo desse Vallis adiante e dominam suas noites o tal medo e o tal terror, eles são Phobos e Deimos elas são noites de horror elas são noites sombrias só de pânico e pavor
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pela faixa de asteroides vou passando em disparada e aos externos vou rumando no percurso dessa estrada e a viagem continua e acentua essa toada chego a Júpiter gigante de pressão descomunal um planeta quase estrela onde vejo um vendaval e uma mancha tão vermelha tão espessa e desigual em Calisto faço um pouso de onde posso contemplá-lo me aproximo mas não entro me contento em avistá-lo pois que intensas turbulências não me deixam abordá-lo acelero então os passos dessa minha odisseia essa pequena aventura essa modesta epopeia e até onde posso ir já não faço nem ideia sem mudar a direção mesmo em curso taciturno sempre vou por essas trilhas e sempre em rumo oportuno já me encontro aos arredores das belezas de Saturno
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passo pois pelos anéis nessas órbitas incríveis formam tantas alianças de nuanças aprazíveis vão bailando em tal leveza como valsas indizíveis e brincando de me achar por excêntricos instintos, em caminhos tortuosos, sinuosos e distintos sem perder-me sigo em seus (meus) concêntricos labirintos retomando a trajetória já diviso o tal Urano um corpo verde-azulado com seu giro tão estranho, traz consigo as muitas luas e os anéis em belo plano logo a frente avisto um outro quase em mesma formosura, corpo azul-esverdeado em semelhante estatura, a Netuno me refiro que admiro em tal fulgura e a Plutão já me dirijo vou num salto rigoroso e em seu giro extravagante me divirto curioso, no limite quase extremo de um sistema primoroso
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pelo cinturão de Kuiper faço pois o meu percurso e pela nuvem de Oort sigo então imenso curso que se expande ao infinito neste claro e leve impulso e ao cruzar essa fronteira que se estende pelo espaço muito ainda existe e vejo nesse mesmo e tal compasso, traço agora o meu caminho junto a Órion e seu braço e persigo Alfa Centauro mil estrelas tão distantes Rigel, Sirius e Mimosa com seus brilhos variantes Bellatrix, Aldebaran, tantas luzes cintilantes quantas? quantas? quantas são? quantas tenho pra contar? em diversa magnitude num caleidoscópio estelar quantas? quantas? quantas são? quantas tenho em meu olhar? constelações infinitas cada qual com seu primor Taurus, Gemini, Perseus, em graça, em luz e em fulgor, de Andrômeda e Cassiopeia vou ouvindo até o rumor
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e não mais que de repente qual encanto, qual magia uma nova supernova num instante aparecia e surgiu em Magalhães numa nuvem reluzia das galáxias vou no encalço por essa trilha admirável, nos confins do conhecido o limiar do indecifrável e um cometa me conduz de uma forma tão notável ele passa por Rosetta e por tantas nebulosas, anãs brancas e vermelhas todas elas ardorosas e ele segue sem roteiro numa órbita caprichosa por pulsares ele passa sinuoso sem parar vai além e me abandona bem ao lado de um quasar, bem onde a imaginação tão cansada foi pousar devagar... devagar... devagar...
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e durante o seu repouso ela segue lentamente e ela vaga e continua numa calma displicente, ela vai sem perceber junto ao risco iminente ela segue indefinida já não pode voltar mais e prossegue sempre em frente e aproxima-se demais, rompe o caos, negro buraco e não tornará jamais divagar... divagar... divagar... e em meu quarto não correu nem sequer um breve instante, do crepúsculo avermelhado inda resta algum rompante e o absurdo que aqui impera faz desperto o inquietante e a astral imaginação com o espírito a vagar viajando assim profundo vão buscando um só lugar – e o Universo em sua essência quer chegar em qual solar?
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Victor Del Franco nasceu na cidade de São Paulo em 1969. • Editor da CELUZLOSE - Revista Literária Digital ( http://celuzlose.blogspot.com ); • Durante o ano de 1994 participou das atividades do Grupo Cálamo realizadas na Casa Mário de Andrade; • Entre 1995 e 2005, produziu pequenos volumes de poesia chamados FÓTON (edição do autor); • Participou da organização da FLAP! de 2006 a 2008; • Em 2007, fez parte da organização do Tordesilhas Festival Ibero-americano de Poesia Contemporânea; • Colaborou com O Casulo - Jornal de Literatura Contemporânea de 2006 a 2008. • Livros publicados A urdidura da tramA (Giordano, 1998) O elemento subterrâneO (Demônio Negro, 2007) EsfingE (Edição do Autor, 2010). • Participou das coletâneas de poemas Oitavas (Demônio Negro, 2006) Antologia Vacamarela (Edição dos Autores, 2007).
IN HOC SIGNO VINCES