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Terapia Laser de Baixa Potência na Hipersensibilidade Dentinária Cervical Silvia Cristina Núñez

INTRODUÇÃO A hipersensibilidade dentinária cervical (HDC) é uma condição clínica que apresenta alta incidência na população adulta. De acordo com estatísticas apresentadas em levantamentos epidemiológicos, aproximadamente 57% da população adulta apresenta esta condição clínica de forma constante ou intermitente1. Mais comumente reportada em caninos e pré-molares (Figura 20.1) a hipersensibilidade se apresenta na forma de dor de curta duração e aguda provocada por estímulos físicos ou químicos. Os tratamentos indicados para o alívio da dor causada pela HDC são baseados em dois métodos distintos: interrupção da resposta neural e oclusão dos túbulos dentinários expostos, bloqueando, assim, o mecanismo hidrodinâmico do estímulo doloroso, teoria mais aceita para explicar a dor causada pela exposição da dentina ao meio bucal (Figura 20.2). Exemplos de tratamento amplamente empregados fundamentados nestes métodos são os agentes dessensibilizantes à base de nitrato de potássio, que tem ação neural, e os agentes à base de fluoretos, que têm ação oclusiva. O correto diagnóstico deve ser prioritário no caso da HDC, uma vez que outras condições clínicas podem apresentar semelhança de sintomas, porém tratamentos bastante distintos. Como regra a HDC é diagnosticada quando o paciente reporta sensibilidade a estímulos térmicos, evaporativos, táteis, osmóticos ou químicos e que não estão relacionados com qualquer outro defeito ou doença associada, como, por exemplo, infiltração marginal em restaurações ou presença de cárie na raiz ou coroa.

Figura 20.1 Pré-molar com lesão cervical não cariosa e retração gengival apresentando sintomas de hipersensibilidade dentinária. (Fonte: gentilmente cedida pelo Professor José Carlos Garófalo.)

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Túbulos dentinários expostos ao meio externo

Estímulo térmico, mecânico, evaporativo ou químico

Movimentação do fluído no interior do túbulo

Geração do potencial de ação nas terminações nervosas Estímulo do sistema nervoso – DOR

Figura 20.2 Esquema do mecanismo hidrodinâmico da sensibilidade dentinária. (Fonte: arquivo pessoal.)

Assim como o correto diagnóstico, é fundamental a identificação da causa primária da sensibilidade, como, por exemplo, desajuste oclusal ou trauma de escovação, pois nenhum tratamento proposto irá apresentar resultados duradouros se o trauma associado ao aparecimento da sensibilidade não for removido. Dessa forma, após o correto diagnóstico seguido pela identificação e remoção do agente causal, inicia-se a proposta de tratamento para aliviar os sintomas apresentados pelo paciente, que, além de proporcionar desconforto e dor, pode começar a desenvolver doença periodontal na região, uma vez que, devido ao sintoma doloroso, o paciente passa a realizar a higienização da área de forma deficiente.

TERAPIA LASER DE BAIXA POTÊNCIA NA SENSIBILIDADE DENTINÁRIA Alguns dos primeiros estudos avaliando o uso da terapia laser de baixa potência (TLBP) na HDC são da década de 80 do século passado2-4. Grupos do Japão publicaram uma série de artigos sobre seus resultados com a TLBP no tratamento da HDC reportando eficácia clínica variada (88,9%3 a 60%4). Os mecanismos de ação da TLBP na HDC são bastante complexos, porém algumas das teorias apresentadas baseadas em resultados de trabalhos científicos se encaixam no perfil de tratamento proposto para esta condição clínica. O primeiro mecanismo de ação ocorre de forma imediata após a aplicação da TLBP e seria de ação analgésica. Os mecanismos analgésicos promovidos pela ação da TLBP são descritos no Capítulo 5, porém de uma forma resumida, de acordo com diversos trabalhos encontrados na literatura5-7, a TLBP pode agir tanto em fibras A delta5 como em fibras C, causando hiperpolarização e impedindo a condução do impulso nervoso 6,7. Dessa forma, imediatamente após a aplicação da TLBP o paciente pode reportar ausência de dor, porém fica claro que, se entendermos o processo que envolve a sensibilidade dentinária, outros eventos devem ocorrer simultaneamente para levar à resolução do problema. O efeito sobre as células da polpa, bem como o efeito regenerativo observado por meio da formação de dentina reacional, reportado em diversos estudos pode explicar o mecanismo pelo qual a TLPB apresenta resultados duradouros de alívio dos sintomas provocados pela HDC. Ferreira et al. realizaram estudo em pré-molares humanos com indicação de extração por motivos ortodônticos8. Os dentes receberam preparos classe V de Black e foram separados em grupo irradiado e não irradiado. A irradiação foi feita dentro da cavidade e perpendicular ao longo eixo do dente com laser de comprimento de onda de 670 nm (vermelho), energia de 4 J aplicados durante 80 s com 50 mW de potência. Os dentes foram restaurados com ionômero de vidro e extraídos 14 e 42 dias após a restauração. Os


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dentes foram submetidos a análise histológica e imuno-histoquímica. Mediante a análise dos resultados os autores concluíram que a irradiação com laser vermelho dentro do preparo cavitário promove biomodulação da atividade de células da polpa, promove a dentinogênese reacional e diminui a resposta inflamatória associada ao processo de restauração. Achados semelhantes foram reportados por Godoy et al. observando a interface dentina-polpa de dentes extraídos 28 dias após preparo cavitário e restauração com resina composta9. Nesse estudo foi utilizado laser de emissão vermelha (660 nm-30 mW) com energia de 2 J, aplicados durante aproximadamente 1 min dentro do preparo cavitário. A conclusão do trabalho foi de que a irradiação nas condições propostas acelera a recuperação da estrutura celular dental na camada de pré-dentina. A dentina terciária é sintetizada como resposta a vários estímulos externos, como, por exemplo, cárie, atrição e trauma, e pode ser dividida em reacional e reparadora10. Tanto a dentina reacional como a reparadora são os melhores materiais para proteção do complexo pulpar, uma vez que apresentam túbulos dentinários descontínuos e algumas vezes até de natureza atubular. Dessa forma a permeabilidade da matriz dentinária fica bastante reduzida11. Brugnera Jr. et al. demonstraram também, por meio de análise histológica, produção de dentina reacional em dentes irradiados de ratos com fechamento de túbulos dentinários12. A reposta favorável de células da polpa dental pode ser observada mesmo após o uso de agentes conhecidamente irritantes, como o peróxido de hidrogênio utilizado para clareamento dental. Dantas et al. concluíram em seu estudo sobre viabilidade de células da polpa dental de humanos expostas a peróxido de hidrogênio a 35% durante 40 minutos que a TLBP com parâmetros apropriados pode compensar os efeitos citotóxicos do peróxido de hidrogênio13. Conforme dito anteriormente, os mecanismos de ação do laser na sensibilidade dentinária são múltiplos e podem ocorrer de forma simultânea. Quanto aos parâmetros de aplicação clínica e sua efetividade, uma série de estudos apresentados na literatura oferece parâmetros e métodos de aplicação que podem ser usados clinicamente. Quanto ao número de sessões necessárias para o tratamento da sensibilidade dentinária, de acordo com estudos apresentados, pode variar entre uma e cinco aplicações. Groth propôs, em 1993, a utilização de três aplicações com intervalo de 72 horas entre elas. O autor propôs o uso de laser de emissão infravermelha de 790 nm com 30 mW durante 4 minutos por dente, perfazendo a energia de aproximadamente 7 J por dente14. Os resultados obtidos em múltiplas aplicações são os mais recomendados, porém a avaliação do número de aplicações necessário deve ser feita no decorrer do tratamento, dependendo da resposta apresentada pelo paciente. Em estudo envolvendo 300 dentes utilizando três diferentes comprimentos de onda – 633 nm, 780 nm e 830 nm –, aplicando 4 J por sessão e utilizando protocolo de aplicação de quatro pontos de aplicação por dente com 1 J cada, os autores reportam que 79,13% dos casos requereram três aplicações para apresentar ausência de sintomas de HDC, 8,58% necessitaram de quatro aplicações e 4,29%, de cinco consultas17. Nesse esquema terapêutico os autores apresentam taxa de sucesso de aproximadamente 92%15. O esquema terapêutico envolvendo três aplicações como média parece ser adequado, sendo confirmado por outros pesquisadores, assim como a eleição de três pontos de aplicação, sendo um mesial, um médio e um distal, de acordo com o esquema apresentado na Figura 20.3. A efetividade do tratamento da HDC com laser pode ser obtida em apenas uma aplicação, porém ao paciente deve ser proposto o esquema terapêutico de até cinco aplicações. Em estudo clínico realizado entre os anos de 1995 e 200012, que englobou 1.102 dentes, os pesquisadores reportaram que 36,57% dos casos foram resolvidos com apenas uma aplicação de laser infravermelho com 780 nm (40 mW, 25 segundos, 1 J/ponto) ou 830 nm (50 mW, 20 segundos, 1 J/ponto). Porém, englobando-se as respostas obtidas entre a primeira e a terceira aplicação, o resultado foi de 76% e apenas cerca de 15% dos casos foram resolvidos após a quarta e quinta aplicações, sendo que 8,71% dos pacientes não responderam ao tratamento. Portanto, se, após a terceira aplicação, o paciente ainda apresentar sensibilidade, as possibilidades de sucesso do tratamento são menores e outras alternativas terapêuticas devem ser consideradas. No ano de 2000, Kimura et al. apresentaram uma revisão do uso de lasers na sensibilidade dentinária englobando diversos comprimentos de onda e parâmetros16. Para o laser de emissão vermelha de hélio-neônio (He-Ne) as energias variaram de 0,36 J até 1,8 J com efetividades variando entre 5,2% e 100%. Para o laser de diodo de emissão infravermelha com 780 nm as energias variaram de 0,9 J até 5,4 J, com efetividade entre 58,5% e 100%, dependendo do estudo. Com laser de emissão infravermelha de 830 nm as energias variaram entre 0,6 J e 10,8 J, com efetividade entre 30% e 100%. Nesta revisão os autores afirmam que, dentro dos parâmetros recomendados, não ocorre aquecimento excessivo na câmara pulpar, logo a aplicação se mostra segura, reversível e sem efeitos colaterais. O efeito placebo também é apresentado como um possível facilitador dos resultados obtidos, principalmente quando o paciente reporta efeitos imediatos logo após a primeira aplicação, quando em realidade múltiplas aplicações deveriam apresentar um resultado mais duradouro. Alguns pesquisadores acreditam que o efeito placebo pode ser responsável por 20% a 60% dos resultados obtidos no tratamento da HDC com qualquer método utilizado. A recorrência da sensibilidade varia entre os diferentes lasers e protocolos de aplicação, podendo ser tão baixa quanto 6% após meses de tratamento, indo até 75% quatro meses após o tratamento. Porém, conforme citado no início do capítulo, a recorrência depende não somente do tratamento proposto, mas também da identificação do agente causal e sua remoção. Ainda nessa revisão16, os autores discutem os pontos de irradiação, porém há consenso de que a região cervical é a mais recomendada e efetiva seguida pela aplicação na região apical. Algumas investigações apontam para os casos em que não se tem resposta com o uso da TLBP em HDC. Kazue et al., em estudo envolvendo 52 dentes, utilizaram laser de emissão vermelha (660 nm) com 15 mW por dois minutos (1,8 J) em três aplicações com


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Figura 20.3 Representação esquemática dos pontos de irradiação. Sugestão de três pontos por dente, localizados mesial, distal e um ponto central na região vestibular, de preferência cobrindo a área de dentina exposta. (Fonte: arquivo pessoal.)

sete dias de intervalo entre as aplicações17. Foi observado que o número de casos que apresentavam ausência de dor ao teste evaporativo passou de 2% no início do tratamento para 62% ao final; ao teste tátil foi de 46% no início para 86% ao final; porém aqueles pacientes que apresentavam dor insuportável ao estímulo evaporativo no inicio do tratamento passaram de 14% para 8%, e no teste tátil, em que 4% apresentavam dor insuportável, não se observou efeito algum. Outros estudos confirmam esse dado; dessa forma, ao nos depararmos com um paciente que apresenta dor considerada insuportável aos estímulos, outras abordagens terapêuticas podem e devem ser consideradas. Outra consideração apontada em estudos é sobre a idade dos pacientes que apresentam HDC18, sendo discutido que pacientes jovens (entre 25 e 35 anos) que apresentam melhores condições em dentina e polpa respondem de forma mais rápida e eficaz à aplicação da TLBP. Ainda são recomendados segundo estudo18 e o uso do laser de emissão vermelha em jovens e infravermelha em pacientes com mais idade para obtenção dos mesmos resultados. Quanto às energias de aplicação, de 1J a 4J parecem ser as mais frequentes e recomendadas15-18. Portanto, com base na revisão de alguns estudos publicados na literatura, até este ponto podemos concluir alguns dados para utilização da TLBP, apontados na Tabela 20.1. Uma vantagem da TLBP em relação aos métodos de tratamento químico-oclusivos propostos atualmente à base de flúor é o fato de a aplicação da TLBP não influenciar a capacidade adesiva da dentina. A utilização de fluoretos pode promover a formação e deposição de cristais na dentina, que apresentam maior resistência a ácido. Desta forma, ao procedermos ao ataque ácido convencional, a dentina pode não ser adequadamente condicionada, comprometendo o procedimento adesivo a ser executado sobre as áreas tratadas19. Tabela 20.1 Considerações clínicas a serem analisadas no tratamento da HDC com TLBP Pontos de aplicação mais comumente utilizados

Comprimento de onda

Três pontos na região cervical Vermelho Ponto apical seguido por Infravermelho pontos cervicais Varredura da área de exposição dentinária

Características do paciente

Indicações

Pacientes jovens podem responder melhor e mais rapidamente à terapia Pacientes com dor exacerbada (nível 9 a 10) podem não responder ao tratamento

Sensibilidade por exposição de dentina associada a trauma e/ou erosão Após raspagem e alisamento coronariano radicular Pacientes periodontais com retrações múltiplas Após clareamento dental (protocolo diferenciado, ver o Capítulo 12)


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APLICAÇÃO CLÍNICA A seguir apresentamos a sequência de aplicação clínica da TLBP. O primeiro procedimento a ser executado, como em qualquer tratamento odontológico, é uma completa anamnese, seguida de exame clínico minucioso. Nos casos de HDC em pacientes jovens, principalmente do sexo feminino, com presença de erosão e perda de esmalte dental, é importante a observação do quadro geral do paciente para identificação de possíveis desordens alimentares, como a bulemia20. Após a identificação da causa e confirmação do diagnóstico de HDC, devem ser realizados os testes para verificação do grau de sensibilidade. Os testes mais comuns realizados para a sensibilidade são apresentados na Tabela 20.2. Outros testes mais complexos com a utilização de agentes químicos, como, por exemplo, glicose e ácidos, podem ser realizados, mas são de difícil execução para o dia a dia do clínico no consultório odontológico. Os testes apresentados na Tabela 20.2 são de fácil execução e podem ser realizados sem necessidade de equipamentos ou produtos químicos.

Tabela 20.2 Testes utilizados para avaliação da HDC Teste

Modo de execução

Jato de ar

Aplicar com a seringa tríplice jato de ar por 3 segundos

Jato de água

Aplicar com a seringa tríplice sobre o dente seco com bola de algodão jato de água por 3 segundos

Frio

Utilizar gelo ou gás refrigerante usado em teste endodôntico sobre o dente durante aproximadamente 3 segundos

Mecânico

Passar a sonda exploradora com pressão moderada sobre a área de dentina exposta

Uma escala de dor bastante simplificada pode ser encontrada na Figura 20.4 e auxilia o profissional e o paciente na identificação dos resultados obtidos com o tratamento. A escala deve ser apresentada ao paciente com o siginificado proposto para cada uma das opções, sendo 0 considerado sem dor, 1 pequena sensação, 2 sensação estranha mas que não chega a ser dor, 3 desagradável, 4 princípio de uma resposta dolorosa, 5 ruim, 6 dor de média intensidade, 7 dor intensa, 8 dor muito intensa, 9 dor insuportável. Veja que a escala apresentada, bem como sua descrição, são apenas sugestões. Escalas de dor mais elaboradas, como a escala visual analógica (VAS, do inglês Visual Analogue Scale), podem ser encontradas na Internet e partem do princípio de que a medida de dor sofre alterações discretas entre um estágio e outro de dor. A utilização de escalas de dor apresentadas ao paciente após os testes diagnósticos (Figuras 20.5 e 20.6) pode facilitar a análise dos resultados obtidos com qualquer terapia que visa a melhora de um quadro álgico. Após o correto diagnóstico e exame clínico, deve ser realizada a profilaxia da área a ser tratada. Sempre que possível tanto como medida educativa quanto para avaliar o quanto o paciente vem evitando realizar a higienização da área, executar a evidenciação de placa bacteriana. O índice de placa registrado anteriormente à aplicação da TLBP pode se tornar uma medida objetiva para o clínico avaliar a evolução do tratamento. É natural que com o alívio da dor na área tratada o paciente possa realizar a higienização de uma forma mais adequada, provocando, assim, uma queda no índice de placa na região. A profilaxia deve ser realizada com o uso de escova de Robinson ou taça de borracha com pedra-pomes e água (Figura 20.7). Quando o paciente apresentar muita dor e não for possível realizar a profilaxia sem anestesia, podemos tentar inicialmente fazer a aplicação de um ponto de irradiação na região apical com 4 J, de preferência com laser de emissão infravermelha, e se o paciente apresentar analgesia imediata, realizar então a profilaxia para prosseguir com o tratamento. Caso a analgesia não seja suficiente, é necessário que se proceda à anestesia local da área. As Figuras 20.8 e 20.9 ilustram a sequência clínica de aplicação da TLBP.

ASSOCIAÇÃO DA TLBP A OUTROS MÉTODOS DESENSSIBILIZANTES Apesar de o uso da TLBP isoladamente apresentar bons resultados em estudos científicos, a associação com métodos oclusivos à base de flúor também tem sido reportada na literatura especializada como eficiente. Além disso, clinicamente a associação de métodos pode trazer ao paciente alívio da dor de forma mais rápida e eficiente. Se compararmos o uso da TLBP com o de dentifrícios específicos para o tratamento da HDC, ou, ainda, com o uso de agentes oclusivos aplicados em consultório, iremos encontrar na literatura suporte em favor da escolha da TLBP. Alguns estudos21,22 realizam a comparação entre o uso de dentifrícios indicados para a sensibilidade dental e a TLBP, concluindo que a utilização da TLBP nos parâmetros adequados é mais efetiva para o controle e tratamento da HDC.


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Figura 20.4 Escala de dor simplificada para auxílio na avaliação do tratamento da HDC. (Fonte: arquivo pessoal.)

Figura 20.5 Paciente apresenta retração gengival nos elementos 13, 14 e 15, sem presença de cárie e com perda de estrutura no elemento 15. (Fonte: arquivo pessoal.)

Figura 20.6 Após a evidenciação de placa, realização do teste táctil como uma das medidas de caracterização da sensibilidade. (Fonte: arquivo pessoal.)


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Figura 20.7 Profilaxia da área a ser irradiada. (Fonte: arquivo pessoal.)

Figura 20.8 Secagem da área a ser irradiada. O uso de jato de ar pode provocar dor no paciente; é recomendada a secagem com bolas de algodão e isolamento relativo da região. (Fonte: arquivo pessoal.)

Figura 20.9 Irradiação sendo realizada conforme esquema apresentado na Figura 20.3, com três pontos na região cervical sobre a área de dentina exposta. (Fonte: arquivo pessoal.)


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Ainda em relação à utilização de métodos de controle da HDC, a comparação entre a TLBP com a aplicação tópica de flúor para gerenciamento da dor provocada pós-raspagem periodontal demonstra que os efeitos da TLBP são observados mais rapidamente e reduzem em um prazo de tempo mais curto a sintomatologia dolorosa. O controle de dor em casos em que a HDC aparece após o tratamento periodontal é de extrema importância, pois o sucesso da terapia periodontal depende da correta manutenção dos níveis de higiene oral para assegurar a saúde gengival. É natural que o paciente evite o toque na região sensível, e até o uso de enxaguatórios bucais pode ser difícil devido à sensibilidade térmica. Trabalho realizado com 30 pacientes após raspagem e alisamento radicular efetuou a aplicação da TLBP na consulta imediatamente pós-tratamento, dois e quatro dias após o mesmo23. Na mesma sequência foi executada a aplicação tópica de flúor nos pacientes do grupo controle. Os resultados demonstraram que 26,6% dos pacientes que receberam a TLBP não apresentavam dor na segunda visita, enquanto no grupo flúor todos tinham sensibilidade. Após a terceira sessão, 86,6% dos pacientes do grupo TLBP estavam sem sensibilidade, enquanto somente 26,6% daqueles que receberam flúor não tinham sensibilidade. Ainda sobre o controle da HDC na manutenção periodontal, estudo clínico randomizado e controlado realizou a avaliação da eficiência da TLBP em comparação com a aplicação de solução de fluoreto de sódio a 5%24. As avaliações foram realizadas imediatamente após a aplicação dos dois métodos, uma semana após, e ainda nos tempos de um, três e seis meses pós-tratamento. Os dois métodos foram mais eficientes que os placebos (solução viscosa sem flúor ou aparelho só com efeito sonoro sem emissão de laser) tanto imediatamente após como ao longo de todo o período de observação. Interessantemente, no grupo no qual o fluoreto de sódio a 5% foi utilizado, ocorreu um aumento da dor nas avaliações de três e seis meses pós-tratamento quando em comparação com uma semana e um mês. Já a melhora na dor observada após a TLBP se manteve estável durante todo o período de análise. Ainda existem estudos que demonstram a melhora nos resultados quando é efetuada a combinação de tratamentos, ou seja, o uso da TLBP associado a aplicações de verniz fluoretado25 ou, ainda, a utilização de dentifrícios específicos para a sensibilidade22. O uso da TLBP isoladamente, em estudo realizado com 30 pacientes, mostrou redução da sensibilidade em 70% ao estímulo efetuado com jato de ar e 72% de redução ao estímulo mecânico em um período de três meses de avaliação. A utilização da TLBP associada a verniz contendo fluoreto de sódio a 5% apontou para redução da sensibilidade em 85% ao estímulo evaporativo e 88% frente ao estímulo mecânico25. O uso combinado da TLBP com dentifrícios específicos para tratamento da HDC é particularmente recomendado para pacientes com diversas retrações gengivais e que não sofreram algum tipo de intervenção no local com o intuito de promover o recobrimento das áreas expostas22. Se o clínico fizer a opção pela utilização da TLBP associada a métodos oclusivos, como vernizes fluoretados ou aplicação tópica de flúor, lembrar de sempre proceder inicialmente à aplicação da TLBP conforme descrição apresentada neste capítulo e, após o término das irradiações, realizar a aplicação do material escolhido (Figura 20.10). Portanto, com base na literatura consultada em relação ao tratamento da HDC com o uso da TLBP, podemos sugerir um protocolo de aplicação que apresenta, de acordo com o conhecimento atual, boa efetividade para o tratamento da HDC (Tabela 20.3). Note que os parâmetros apresentados são apenas uma sugestão de protocolo clínico que tem a finalidade de facilitar a aplicação da

Figura 20.10 Aplicação de verniz à base de fluoreto de sódio a 5% sobre as áreas sensíveis após a aplicação da TLBP com 2 J por ponto. (Fonte: arquivo pessoal.)


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Tabela 20.3 Protocolo sugerido para aplicação da TLBP no tratamento da HDC Ponto de aplicação

Comprimento de onda

Número de aplicações e intervalo

Energia para aplicação

Três pontos na região cervical, de acordo com a Figura 20.3

Vermelho Infravermelho

Entre 1 e 5, sendo o De 1 J a 4 J por ponto protocolo de três aplicações considerado o plano mais eficaz

terapia por parte de iniciantes. Porém isso não representa uma sugestão taxativa, uma vez que novos estudos podem apresentar soluções ainda mais eficazes. Uma vez que este capítulo se dedica à hipersensibilidade, vale fazer uma breve explanação sobre a sensibilidade pós-clareamento dental, pois com a popularização dos procedimentos de clareamento dental utilizando agentes químicos como peróxido de hidrogênio, que podem provocar de forma exacerbada a sensibilidade, os métodos de prevenção e controle dessa entidade clínica têm sido amplamente discutidos. Porém, conforme descrito de forma clara no Capítulo 12, a etiologia da sensibilidade pós-clareamento dental é diferente da HDC. O mecanismo da dor provocada pelo clareamento dental não é completamente explicado, e este tipo de sensibilidade difere completamente da HDC por ser reversível e estar diretamente associado à presença do agente irritante (peróxidos). A teoria mais recente é de que canais presentes na polpa dental, como o canal TRPA-1, podem ser ativados por uma grande variedade de compostos oxidantes incluindo o peróxido de hidrogênio. A hipótese proposta é de que o peróxido possa promover a ativação direta de terminações nervosas intrapulpares via canal TRPA-126. Se aceitarmos esta teoria como verdadeira, agentes de ação neural como a TLBP e sais de potássio devem ser os tratamentos de eleição para a sensibilidade provocada pelo clareamento dental por aumentarem o potencial de ação da fibra nervosa, impedindo a despolarização e a consequente condução do impulso doloroso. O protocolo para tratamento da sensibilidade pós-clareamento dental com TLBP é apresentado no Capítulo 12. Dessa forma podemos considerar que a TLBP é um tratamento que, de acordo com a literatura atual, apresenta-se como opção para os casos de HDC, sendo que entre as vantagens deste método podemos citar sua fácil aplicação e execução, ser indolor, não agressivo e reversível, não apresentando, até o momento, efeito colateral conhecido. É fundamental para o sucesso da terapia que, como enfatizado diversas vezes durante este capítulo, o diagnóstico preciso sobre a sintomatologia, bem como sobre suas causas, seja realizado. Para qualquer terapia instituída para tratamento da HDC o cirurgião-dentista deve procurar realizar uma avaliação constante da evolução do quadro clínico e registrar, além dos sinais subjetivos (dor) indicados pelo paciente, a saúde periodontal e o índice de placa da região afetada, podendo, assim, fazer uma avaliação objetiva sobre o andamento da terapia e optar pelo uso somente da TLBP, pela TLBP associada a dentifrícios específicos para a HDC ou, ainda, eleger a associação de métodos oclusivos como a aplicação de vernizes fluoretados juntamente com a TLBP para controle da sintomatologia, tendo em mente que os efeitos produzidos pela irradiação da área afetada em nada comprometem qualquer outra forma de tratamento que possa vir a ser selecionada para a resolução do quadro clínico.

Agradecimentos Ao Professor José Carlos Garófalo, pela revisão técnica deste capítulo.

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Laser de Baixa Potência – Princípios Básicos e Aplicações Clínicas na Odontologia

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