Jornal Marco #318

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Valéria Guimarães

PASTORAL DE RUA LEVA CONFORTO E PRESTA ASSISTÊNCIA PARA QUEM PRECISA. LANCHES SÃO DISTRIBUÍDOS TODA SEMANA NA CAPITAL PÁGINA 7

Arquivo Suplemento Literário

ESCRITORES TALENTOSOS TÊM ESPAÇO NO SUPLEMENTO LITERÁRIO. A PUBLICAÇÃO AGREGA LITERATURA, CINEMA E ARTES PLÁSTICAS PÁGINA 6

Guilherme Cambraia

O ESPECIALISTA MILTON NOGUEIRA DISCUTE AS METAS E OS POSSÍVEIS RESULTADOS DA CONFERÊNCIA DO CLIMA DA ONU PÁGINA 16

marco jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 318 . Dezembro de 2015

Recordar a velha infância Tempo de Natal é tempo de brinquedos. Então, como deixar de lado videogames, smartphones e computadores e aprender a divertir-se com os brinquedos que encantaram os pais, no século XX? Damas, bilboquês, vaivém, bolas e bonecas de pano ocupam as mesinhas da criançada. Melhor ainda: os aproximam de seus pais e mães através do compartilhamento de ensinamentos. Os pais os ensinam a brincar com aquelas “coisas estranhas”. Ao final, há verdadeira festa. PÁGINA 14

Guilherme Cambraia

Celebrações natalinas unem pessoas ao redor do mundo Ao redor do mundo, o Natal evoca várias tradições que unem as famílias. Na comunidade, as paróquias se preparam para celebrar a data do nascimento do menino Jesus. Presépios são montados e algumas pastorais realizam novenas. Em outros países, o Natal tem outro sentido, diferente daquele a

que nós estamos acostumados. Os judeus, por exemplo, não celebram o Natal. Sua festa tradicional é o Hannukkan, que remete à vitória dos judeus pela liberdade religiosa. Já no Islã não há nada que se assemelhe ao Natal cristão; a principal celebração é o Ramadan. PÁGINAS 2, 8 e 9

Guilherme Cambraia

Lutas feministas ganham novo impulso na sociedade

Guilherme Cambraia

LEIA AINDA

Má qualidade prejudica usuários de ônibus Alta velocidade, impaciência e outros problemas afligem os usuários de ônibus, entre eles, os estudantes da PUC Minas do bairro Coração Eucarístico, que utilizam as linhas 4110 e 4111. Com o aumento das reclamações acerca desses problemas, a BHTrans intensifica a fiscalização.

Mulheres se cansam do tratamento como cidadãs de segunda categoria, vão às ruas, lutam por direitos e chamam atenção para as injustiças de que são vítimas. Em outubro, foram às ruas em repúdio ao projeto de lei de Eduardo Cunha. Ainda na política,

partidos políticos de ideologias diferentes se uniram, nas últimas eleições, em coligações majoritárias de maneira surpreendente. No caso do Maranhão, PCdoB e PSDB formaram uma chapa para eleger o atual governador. PÁGINAS 3 e 4

Crise econômica é momento favorável para empreender

PÁGINA 11

Sobe custo de vida no Coração Eucarístico Morar junto da PUC ou ter ali um comércio está cada vez mais caro. Todos reclamam e acham que os proprietários precisam rever preços se quiserem alugar os seus imóveis. A presença da Universidade é apontada por especialistas como o principal motivo do alto custo de vida na região. PÁGINA 10 Gulherme Cambraia

O brasileiro tem, como característica, o espírito empreendedor, devido ao sonho de ter o próprio negócio. Prova disso é que o Brasil é o terceiro país no mundo em número de criação de empresas. Em contrapartida, a mortalidade dos empreendimentos, antes de completarem quatro anos é, em média, de 80%. Para contornar a atual crise econômica, a inovação é uma alternativa. PÁGINA 13


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Personagem

editorial

É tempo para refletir e fazer mudanças JAMILLY VIDIGAL

Papai Noel faz parte da magia do Natal Na data comemorativa mais esperada do ano, o “bom velhinho” está presente em vários locais perpetuando o espírito natalino AYANA BRAGA

5º PERÍODO

2º PERÍODO

Em 2015, o mundo vivenciou momentos conturbados. Além dos conflitos armados e atos de terrorismo que dizimaram milhares de vidas, houve dias difíceis para os brasileiros que enfrentaram a crise econômica, falta de água, a tragédia em Mariana e lutaram por escolas em São Paulo. Mas, em meio a todo o caos, inúmeras pessoas, desconhecidas, praticaram o amor ao próximo e a solidariedade. Muitas abraçaram causas e uniram-se para protestar contra a homofobia, defender os direitos das mulheres, direito à educação e ajudar as vítimas da enchente de lama. Esse é o verdadeiro significado do Natal: celebrar o nascimento do amor, praticar a união e compaixão pelo outro. Nesta edição o jornal mostra comemorações em diversos países que, apesar das diferentes culturas, compartilham o mesmo propósito. Não se pode falar em Natal sem se lembrar, com saudade, da infância, o que desperta em cada um de nós a lembrança da magia desta data. A matéria sobre brincadeiras antigas aborda a importância dessa fase na formação das crianças e mostra como alguns projetos em BH têm resgatado a recreação espontânea, que não depende das tecnologias. Neste ano, em especial, olhando-se para toda a tristeza que nos rodeia, e as marcas que foram deixadas, é hora de fazer uma reflexão sobre o que queremos para o mundo. Que futuro vamos deixar para as próximas gerações? Nosso desejo é de que o espírito do Natal nasça nos corações de cada um e lá permaneça. Que o amor seja revivido dia após dia. Que as pessoas não percam a fé e a esperança no mundo, apesar dos dias ruins. E, que nos próximos anos, tenhamos mais dias de paz.

O Papai Noel é uma figura lendária, inspirado em São Nicolau, um bispo católico que viveu no século IV na cidade de Mira, da atual Turquia. Nicolau costumava ajudar anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Jogava pela chaminé das casas, um saco com moedas de ouro. Sua transformação em símbolo natalino aconteceu na Alemanha e espalhou-se pelo mundo inteiro. O Bom Velhinho com as vestes vermelhas, super amigo das crianças, é uma representação que vem sendo mantida e reforçada pela mídia e meios publicitários através de músicas, filmes e propagandas. Antes, as roupas eram verdes. Os preparativos para essa grande data, começam muito antes da montagem das primeiras decorações. Por de trás

Herbert atua como Papai Noel há seis anos para complementar a renda

dos panos, meses antes da primeira aparição, os Papais Noeis profissionais são contratados para trabalhar nessa época do ano. Herbert Feital, 68, é Papai Noel há seis anos e geralmente fica sabendo do emprego no mês de agosto. Sua barba é de verdade e há todo um cui-

dado envolvido para cultivá-la: proximo ao Natal, a cada mês ele descolore os longos fios. Passado dezembro, ele corta tudo e deixa crescer, novamente, a partir de abril. Herbert tem um bar, no qual trabalha todos os dias, sozinho, durante o ano todo. Ele é formado em economia e contabili-

Nesse momento também, nos despedimos do jornal: eu, Débora, Guilherme e Winicyus. Mais um ciclo termina em nossas vidas e estamos ansiosos por novos começos, com a certeza de que a experiência vivida foi importante para nossa formação, não só como futuros jornalistas, mas como pessoas. A edição 318 é a última do ano, mas em 2016 o MARCO volta cheio de novidades, com a equipe renovada. Agradecemos a todos os leitores que nos acompanharam durante o ano e desejamos a todos um Feliz Natal e Próspero Ano Novo. Boa leitura!

errata Na edição passada, na matéria das páginas 8 e 9 intitulada “Ocupações do Isidoro: onde todos lutam por moradia”, não foi dada a assinatura para a aluna

No dia a dia, Herbert trabalha em um bar

Ana Luiza Borelli, do 6° período de Jornalismo.

expediente jornal marco

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ercio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editora: Prof. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia de Oliveira e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Clara Sales, Débora Assis, Isabela Maia, Jamilly Vidigal, Tamiris Ciríaco, Winicyus Gonçalves Monitor de Fotografia: Guilherme Cambraia Monitores de Diagramação: Thiago Carminate e Mirna de Moura Apoio: Laboratório de Fotografia CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 10.000 exemplares

Monitores do MARCO dão palestra no Colégio Loyola

Guilherme Cambraia

Mariana Lima

dade. Diz que o trabalho de Papai Noel faz parte do seu cotidiano, porque ele gosta muito de crianças. Já o senhor João Carlos Torre, 64, é Papai Noel há apenas dois anos e não pode cortar a barba e o cabelo durante o ano todo, pois eles não crescem o suficiente até o Natal. João tem uma oficina e é técnico em mecânica; o trabalho de Papai Noel, para ele, é gratificante, pois também adora crianças. As reações das crianças ao encontrar o Papai Noel são as mais diversas. Há aquelas que não chegam nem perto, choram e correm de medo; outras olham com curiosidade e arriscam um tchauzinho de longe; mas, muitas adoram, abraçam, beijam, fazem pedidos, conversam e se recusam a sair de perto.

Forum dos Leitores

Os monitores do MARCO, Jamilly Vidigal e Winicyus Gonçalves, participaram de uma conversa com os alunos do Colégio Loyola sobre o curso e a profissão de jornalista no dia 6 de outubro. Representando a Faculdade de Comunicação e Artes, foram convidados pelo Grêmio “Chapa D’Aço”. Os alunos do Loyola enviaram à Redação estes comentários: “A dinâmica foi bem interessante, pois não tomou as medidas de uma palestra comum e, sim, de um bate papo descontraído e informativo, cenário perfeito para trocar experiências reais da vida universitária”, afirmou Giulia Caldas membro do Grêmio. “Esclarecedora. Muito bacana eles terem trazido o exemplar do jornal, minhas dúvidas foram sanadas. Achei bem legal escutar de gente de dentro do curso o que eles acham, realmente muito interessante”, disse Angela Lara

Resende, da 2ª série do ensino médio. Essa palestra, além de possibilitar uma interação entre os participantes, colocou os alunos em contato com uma realidade muito próxima a eles, que é o caso da escolha da profissão. Os alunos constataram que a palestra gerou confiança na tomada de decisão tão importante. “Se eu não gostar do curso escolhido, posso tentar de novo até achar o certo, tenho muito tempo pra isso, estou mais tranquilo”, comentou Luis Felipe Capanema, da 3ª série. ENVIE COMENTÁRIOS OU SUGESTÕES ATRAVÉS DO EMAIL JORNALMARCO@PUCMINAS.BR


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Política

MIRNA DE MOURA 5º PERÍODO

“Só podia ser mulher”, “a única coisa que mulher sabe pilotar é fogão”, “mulher no volante perigo constante”, “está nervosa por quê? Está na TPM?”. Estas frases fazem parte do cotidiano das mulheres brasileiras e de tão repetidas, algumas até viraram chavão. Elas reforçam o esteriótipo de mulher, construído e cristalizado por uma sociedade patriarcal. Porém, este ano, as mulheres, em massa, resolveram dar um basta a esses paradigmas. Isso aconteceu por vários motivos. Entre eles, os casos de pedofilia e assédio virtual, através do Twitter, sofridos pela participante de 12 anos do Masterchef, Valentina, em outubro. Os comentários foram apagados, mas não foram ignorados. Eles abriram espaço para diálogos sobre o estupro e assédio no Brasil. No dia seguinte, o coletivo Think Olga, que discute questões feministas, criou a hashtag #primeiroassédio. Encorajadas pelo fato, mulheres, e alguns homens, no país inteiro, relataram publicamente a primeira vez em que sofreram algum tipo de abuso. Essa enxurrada de depoimentos escancarou a frequência dos casos de assédio no país e mostrou como isso é visto como “normal”. A estudante da UFMG, Isis Medeiros conta sua reação a esses depoimentos: “Agora vejo uma diferença enorme em ser mulher e o quanto perdemos em direitos em relação aos homens. Sinto mais necessidade de expressar publicamente alguma opinião, ser mais dona de mim e das minhas próprias escolhas”.

DEBATES VIRTUAIS

A internet é cenário para os abusos, mas é nela também que acontecem os debates. A professora da PUC e socióloga, Juliana Jayme, comenta que “a internet contribui para esse aprendizado, porque é nesse espaço que proliferam blogs, páginas no Facebook e vídeos feministas”. Na véspera do Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher, 25 de novembro, foi criada outra hashtag, a #meuamigosecreto. De autoria desconhecida, surgiu com um propósito parecido; além de reforçar as denúncias de assédio sexual, traz relatos de atitudes machistas. A hashtag faz contraponto ao amigo oculto, tradicional confraternização de final de ano. Ambas as hashtags foram duramente criticadas no “tribunal das redes sociais”. Como defesa, surgiu a hashtag #minhaamigasecreta para equiparar o machismo ao feminismo e expor a opressão que atinge os homens. “Se uma mulher sofrer assédio sexual, ela tem que fazer uma denúncia na delegacia. Postar na internet não vai adiantar nada. A Maria da Penha está aí pra isso”, critica M.S., de 27 anos, que pediu para ficar no anonimato. Isis explica por que o feminismo e o machismo não são equivalentes: “O feminismo não se impõe de maneira autoritária e sim igualitária. Queremos receber salários iguais, ter uma criação familiar igual, sem distinção de brinquedos ou tarefas domésticas. Não queremos fazer alguma coisa ou deixar de fazê-la porque somos mulheres. Queremos mostrar que, além

Feministas reagem à redução de direitos Mulheres saem às ruas em protesto contra mudanças na legislação. O movimento acontece também na internet de homem e mulher, somos seres humanos, cidadãos”.

FORA CUNHA

Em outubro, a gota d’água para as brasileiras saírem às ruas batendo panelas, foi a aprovação do Projeto de Lei 5069/13, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, apoiada pelo seu presidente, deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e pela bancada religiosa. Ele muda a já existente Lei de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual (Lei 12.845/13), colocando obstáculos à interrupção voluntária da gravidez em casos de estupro. O projeto acresce um artigo segundo o qual nenhum profissional de saúde ou instituição, em nenhum caso, poderá ser obrigado a aconselhar, receitar ou administrar procedimento ou medicamento que considere abortivo, podendo ser ele a pílula do dia seguinte. As penas para quem transgredir esta norma vão de quatro a dez anos. “Estamos em um momento de retrocesso no País. Hoje, o feminismo está mais visível, talvez porque há tempos não temos um Congresso tão conservador e mesmo Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais retrógradas. Mas é um movimento longevo, no Brasil e no mundo”, comenta Juliana Jayme. A justificativa do PL é de que “a legalização do aborto vem sendo imposta a todo o mundo por organizações internacionais, inspiradas por uma ideologia de controle populacional, e financiadas por fundações norte-americanas

ligadas a interesses super-capitalistas”. E ainda, “a maioria esmagadora do povo brasileiro, repudia a prática do aborto, conforme verificado pelas mais diversas pesquisas de opinião”. Porém nenhuma pesquisa de opinião foi citada. As manifestações contra Eduardo Cunha e o projeto

de lei, começaram nas redes e de lá foram para as ruas do País. Isis Medeiros é integrante do Levante Popular da Juventude, definido por ela como um movimento nacional feminista, anti racista e plural, e foi líder nas marchas que aconteceram em Belo Horizonte. “Eu amo estar na

rua junto a outras pessoas que acreditam que a mudança pode, sim, acontecer através do povo unido e forte. A cada marcha estamos levando ao povo a oportunidade de conhecer seus direitos e estamos também exercendo nosso direito à livre expressão e à democracia. Elas têm sido

Feministas protestam contra projeto aprovado no dia 21 de outubro

cada vez mais representativas e coloridas, mostrando a cara e a força que a juventude tem para oxigenar a sociedade”, observa Isis. Sobre os movimentos sociais, Juliana explica que “qualquer movimento que busque a igualdade de direitos e de oportunidades é fundamental e pode transformar a sociedade, ainda que lentamente”. E acrescenta: “O feminismo vai muito além de manifestações nas ruas. O feminismo é um processo de diálogo, um aprendizado de uma vida inteira”. A estudante de letras da PUC, Cristiane Alvim, comenta que esse processo muitas vezes é criticado por ser radical. “Esse extremismo é natural e necessário, para abrir os olhos das pessoas para a repressão contra as mulheres, que acontece desde sempre. Só assim haverá um rompimento desse machismo velado”. Nas redes sociais,“feminazi” é uma das expressões empregadas para designar as mulheres consideradas radicais; o termo faz uma aproximação com nazismo. Segundo Juliana é comum ouvir que “feministas são recalcadas”. Mas que vários direitos das mulheres só foram conquistados depois de muita luta: votar, ser admitida em universidades, trabalhar sem precisar de autorização do marido ou pai.

Guilherme Cambraia

PUC PRA ELAS

Hashtags criadas no Twitter geraram grande repercussão

Reprodução: Twitter

Mais de cem anos de lutas Em 1832, época em que as mulheres viviam confinadas por preconceitos e eram, em sua maioria, analfabetas e submissas, Nísia Floresta publica o que é considerado o marco zero do feminismo no Brasil: o livro “Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens”. Nele, ela escancara a opressão contra as mulheres e denuncia o mito da superioridade masculina, deixando claro os direitos das mulheres à instrução e ao trabalho. Em seu manifesto, exige que as mulheres sejam respeitadas e explica que, assim como os homens, são “dotadas de razão” e têm capacidade para exercer qualquer função. Em 1879, por meio de um decreto, as mulheres conquistam o direito ao ensino superior. Contudo, por mais que fosse legal, tiveram que enfrentar diversos preconceitos. Em 2013, quase 140 anos depois, ainda existem áreas profissionais predominantemente masculinas. No entanto, 55% dos inscritos em cursos superiores foram mulheres, segundo os ultimos dados disponibilizados pelo Ministério da Educação. A primeira mulher a ser eleita prefeita no Brasil, e na América Latina, foi Alzira Soriano de Souza, em 1928, em Lajes, no Rio Grande do Norte. Dois anos depois, Amélia Beviláqua se candidata a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, porém é vetada. A justificativa foi de que o estatuto só permitia “brasileiros”, ou seja, pessoas do gênero masculino. Em 1922, Bertha Lutz funda a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, para promover o Primeiro Congresso Internacional Feminista, em dezembro daquele ano. A

principal luta foi o sufrágio feminino, que foi conquistado apenas em 1932. Inicialmente, o Código Eleitoral previa que apenas as viúvas e as solteiras com renda própria votassem, já as casadas apenas com a permissão do marido. Mas, quando o Código foi aprovado, essas condições foram removidas e todas as mulheres, independentemente do estado civil ou classe, tiveram direito ao voto, porém não obrigatório. E só em 1965, o voto foi igualado. Acontece, em 1956, a primeira Conferência Nacional das Mulheres Trabalhadoras do Brasil, organizada pelo Partido Comunista. Elas reivindicavam a criação de creches e direitos trabalhistas. Com a reforma do Estatuto da Mulher Casada, em 1962, as mulheres não precisavam mais da autorização do marido para trabalhar, receber herança e podiam, ainda, pedir a guarda dos filhos em caso de separação. Os dados históricos sobre o movimento feminista no Brasil, constam no site do projeto Universidade Livre Feminista.

DÉCADA DE 80 Os anos 80 foram marcados por vários conquistas feministas. Foi criado em São Paulo, o jornal Mulherio, que no seu terceiro mês já contava com mais de três mil assinaturas. Aconteceu o Encontro Feminista de Valinhos (SP) que tinha como principal causa, o enfrentamento da violência doméstica como uma das prioridades do movimento feminista. Ao final desta década, é criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, no

Ministério da Justiça. Ele se torna um importante espaço de diálogo entre os movimentos de mulheres e o poder público. Luiza Erundina é eleita prefeita de São Paulo; era a primeira vez que uma mulher comandava a maior capital do país. Em 1988, o chamado “Lobby do Batom” lutava pela garantia da igualdade formal de direitos entre mulheres e homens no Brasil, como previsto na Constituição Federal. No novo milênio, a luta das mulheres continuou. Foi criada, em 2002, a Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher, porém só em 2003, no Governo Lula, ganhou visibilidade e se tornou a atual Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). No mesmo ano aconteceu a Conferência Nacional de Mulheres Brasileiras, que mobilizou cerca de cinco mil mulheres e lançou a Plataforma Política Feminista. A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, é uma das mais importantes conquistas do movimento de mulheres, resultado de décadas de luta em torno do tema da violência domestica.. Quatro anos depois, pela primeira vez, o Brasil elege uma mulher como chefe de Estado. Dilma Rousseff ocupa o cargo de presidenta e convoca nove mulheres para os ministérios, recorde de representação nesse tipo de cargo. O movimento mundial “Marcha das Vadias” chega a cidade de São Paulo, em 2011. De origem canadense, começou após um comentário de um policial que afirma que o número de estupros diminuiria se as mulheres parassem de se vestir como “sluts” (vadias, em português).

Após passar por um episódio de assédio verbal por parte de um funcionário da PUC Minas, no campus, a estudante de Letras Cristiane Alvim, criou um grupo secreto no Facebook, chamado PUC pra Elas. Contou que, quando foi assediada, conversou com outras colegas na universidade sobre o ocorrido e algumas delas falaram que já tinham vivido situações parecidas, inclusive envolvendo o mesmo assediador, mas nenhuma delas fez denúncia. “Daí surgiu a ideia do grupo, para apoiar e auxiliar mulheres que passaram, ou estão sujeitas a passar, por uma situação de assédio dentro do campus. Por exemplo, se algum dia eu for descer para o metrô à noite e estiver com medo, eu posto uma mensagem no grupo para ver se tem outra menina descendo também, para nos sentirmos mais seguras juntas”, justifica Cristiane. O grupo, exclusivo para mulheres, é um espaço de troca de ideias e informações. Nele, as integrantes compartilham vídeos, filmes e leituras, contam experiências pessoais, fazem pedidos de ajuda, discutem questões femininas, dentre outras coisas que envolvem o feminismo. Em menos de dois meses de existência, o grupo combinou encontros para as membras se conhecerem. Cristiane explica: “A ideia original é criar um coletivo feminista, organizado, estruturado e atuante, para tentar criar um espaço só nosso dentro da PUC, do Coreu. Uma coisa para mulheres, criada por mulheres. Para conversar sobre assédios ocorridos, empoderamento feminino, combinar rodas de discussão e debate e se ajudar, da melhor maneira possível. Para isso precisamos conhecer as meninas primeiro, por isso começamos com o grupo”.


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WINICYUS GONÇALVES 6° PERÍODO

PCdoB e PDT são de esquerda, PR e PROS de direita. Qual a probabilidade de membros de partidos de linhas ideológicas tão diferentes estarem no mesmo palanque eleitoral? No Brasil isso já está acontecendo há algum tempo. Os quatro partidos se uniram ao PT, PMDB, PSD, PP, PR e PRB e formaram a coligação que levou a atual presidente Dilma Rousseff (PT) à reeleição, em 2014. Todo o espectro político foi contemplado na chapa. Na coligação do principal adversário da presidente, Aécio Neves, essa distorção também aconteceu, unindo o PSDB a partidos de centro-esquerda, como o Solidariedade, e à direita, como o DEM. Nas coligações para eleger o governador em Minas Gerais, o fenômeno se repetiu quase por inteiro na formação de uma coligação. O candidato do PSDB, Pimenta da Veiga, reuniu em sua chapa partidos que apoiavam, em âmbito federal, varios candidatos à presidência: Dilma Rouseff (PR, PDT, PP e PSD); Aécio Neves (SDD, DEM, PMN, PTB e PTC); Marina Silva (PSL e PPS); Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV). As uniões feitas para as eleições muitas vezes permanecem, depois, através de alianças entre partidos, principalmente aqueles que compõem a minoria na Câmara Federal e no Senado. Para o professor de Ciência Política na UFMG Juarez Guimarães, em nenhum momento, ideais sociais e políticos são levados em conta: o que se discute é a conquista do poder e a sobrevivência dos partidos políticos. Essa salada eleitoral não se resume a Minas Gerais. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a candidata do PP, Ana Amélia de Lemos, apoiou Aécio, mesmo com seu partido presente na coligação de Dilma Rousseff. No Rio de Janeiro, o então candidato e atual governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) apareceu em placas com Dilma e Aécio. A preocupação de fazer alianças partidárias com base num referencial ideologico praticamente caiu por terra nos últimos anos. Hoje, alianças entre PT e PMDB e entre PT e PP parecem não causar mais espanto. Numa consulta feita nos 27 estados brasileiros, durante as eleições de 2014, verificou-se que em 18 deles havia coligações um tanto esquisitas entre legendas. Em nove estados, os petistas, que costumavam se colocar numa linha de oposição às siglas tradicionais e conservadoras, como PP (ex-Arena) e DEM (ex-PFL), se aliaram a estes partidos. Mas o inusitado mesmo ficou por conta da aproximação do PCdoB com o PSDB, no Maranhão. Ali, a chapa composta pelo então candidato e atual governador comunista, Flávio Dino, e por seu vice, o tucano Carlos Sampaio contou com este apoio. Na defesa das costuras eleitorais, os dirigentes locais dos partidos alegam que elas existem porque são muito diferentes as realidades em nível municipal, estadual e federal. No caso do PT, existe uma resolução nacional, as-

Política

Ideologia, no Brasil, não vale para alianças políticas Rivais históricos e siglas sem afinidade de ideias se unem para conseguir votos. O objetivo é permanecer cada vez mais forte em busca do poder sinada em 2012, que proíbe alianças com PSDB e DEM. Talvez seja esta uma das razões de tucanos e democratas fazerem permanente oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. O deputado estadual Cristiano Silveira (PT) ressalta que também existem bons políticos no DEM e no PSDB e, se essas pessoas desejarem apoiar candidaturas petistas, poderão fazê-lo sem problemas. Por integrarem a base do governo Dilma, Silveira não vê empecilhos na aproximação do PT com o PMDB, e com PP, embora a ideologia deles seja marcada por diferenças em relação às bandeiras petistas. Enquanto progressistas defendem a economia de livre mercado e de valorização do lucro, o PT prega ideias inspiradas no socialismo clássico. “Se for para a construção de um projeto em benefício da população e sem fisiologismo, estamos abertos. Vejo essa fase como de fortalecimento do PT e de transição entre partidos que deixaram de ser radicais”, analisa Silveira. Para o professor Juarez Guimarães, o Brasil “clama por uma reforma política”, que mude as regras para concessão de tempo de televisão, principal estímulo à essas alianças e quebre a obrigatoriedade de vinculação dessas coligações em âmbito nacional, estadual e municipal. Somente assim acabariam com as uniões sem vínculos com programas partidários sem compromisso social e incompatibilizadas entre diferentes esferas.

SEM IDENTIDADE “Temos, no Brasil, vários partidos sem uma identidade bem definida, então a coisa toda já fica um pouco complicada. Coligações esquisitas podem deixar tudo ainda mais nebuloso. Seu voto para um candidato pró-vida pode ajudar a eleger uma feminista, ou vice-versa. Votar num ambientalista pode garantir uma vaga a um empresário liberal”, observa o professor Guimarães. Ao avaliar o quadro de alianças no Brasil, ele diz que hoje a anormalidade numa eleição não está mais na união de siglas com ideologias distintas, mas sim nas disputas em que os partidos concorrem com chapa própria e sem adesões. De acordo com ele, talvez o que ainda surpreenda um pouco a população, e seja interpretado como novidade, é a atitude do PT de formatar alianças com legendas com as quais não tinha relação. Porque, na outra ponta, com partidos como PP, DEM e PMDB, a prática de alianças das mais variadas formas vem desde meados de 1980, à época do presidente e hoje senador aposentado, José Sarney (PMDB-AP), recorda o professor.

Para Juarez Guimarães, ideais sociais e políticos são pouco levados em conta

Bruno Silveira

Arte: Mirna de Moura

Sistema eleitoral permite distorções Muita gente não entende direito como funciona o sistema eleitoral utilizado no Brasil para definir vereadores e deputados (estaduais e federais), as chamadas eleições proporcionais em lista aberta. Simplificando, cada voto serve, a um só tempo, para dois propósitos: em primeiro lugar aumentar a proporção de cadeiras que uma coligação ocupará por que são chamadas proporcionais, em contraposição às majoritárias, nas quais apenas o mais votado é eleito. Em segundo lugar, privilegiar, dentro da coligação, o candidato votado tem a ver com a lista aberta, pois num sistema de lista fechada a votação não favorece um candidato específico, a ordem é pré-determinada pelo partido. Há ainda a opção do voto de legenda, que serve apenas para o primeiro objetivo, melhorar a proporção de vagas da coligação.

Sob o eixo da ideologia, o professor Guimarães avalia que há diferenças entre as siglas, mas já não são mais como as de antigamente. Por isso, algumas uniões, como as que envolvem PT com PP ou PSDB com PCdoB, ainda despertam estranheza nas militâncias. “Se verificarmos os programas, os partidos não mudam muito. Se pegarmos as idéias de capitalismo e socialismo, aí perceberemos distinções. Mas, mesmo as diferenças ideológicas já não são mais como eram no passado” constata.

SÓ LEGENDAS O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aprovou por unanimidade, num prazo de menos de 10 dias, o registro de mais dois partidos políticos no Brasil – o PMB (Partido da Mulher Brasileira) e a Rede Sustentabilidade. Com mais essas legendas, o país passa

a contabilizar 35 partidos no total. A justificativa para tantos novos pedidos de registros é a de garantir maior representatividade e fortalecer a democracia. Entretanto, o que se vê é a possibilidade de engrossar o balcão de negócios para as “legendas de aluguel”, e estimular a infidelidade partidária. Uma verdadeira salada, que o maior interessado, o eleitor, não consegue absorver. E mais ainda: cai no vazio quando se leva em conta que nos Estados Unidos, considerado modelo de democracia e maior potência democrática do mundo predominam apenas dois partidos – Democratas e Republicano. Pela legislação atual, a criação dos partidos gera automaticamente benefícios financeiros (todos esses novos partidos tem direito também ao Fundo Partidário), facilitando sobremaneira a formação de agrupamentos sem

ideologia, ou ideologicamente inexpressivos. O resultado é essa massa de partidos sem doutrina e sem programas claros, contaminando a vontade popular e os resultados das urnas, como observam alguns especialistas. “O que nós vemos é a criação de partidos de conveniência, com a formação de coligações esquisitas para disputar eleições majoritárias ou proporcionais – onde se veem mais malefícios, já que viabilizam a eleição, com míseros votos, de alguns representantes de legendas pelo simples fato de que elas estavam coligadas a partidos com maior potencial para atrair o eleitorado. Resultado: baixo nível qualitativo dos nossos parlamentos”, afirma Guimarães. Ele avalia que há “uma crise de representatividade dos partidos”. “Acontece que as siglas buscam sua sobrevivência não na sociedade, mas no aparato do Estado”, ana-

lisa. O resultado disso, para ele, é a perda total da ideologia. “Unindo siglas de linhas tão diferentes, nenhuma coligação estabelece planos factíveis. Vai ocorrer uma gestão esquizofrênica.” Para o professor Guimarães, estas coligações, consideradas fortes, podem acabar confundindo o eleitor. “Vai aprofundando o desencantamento. Cria uma representatividade ilusória”, comentou. Neste cenário, o especialista acredita que os partidos ditos pequenos, que fizeram coligações menores ou chapas puras, “podem capitalizar a insatisfação do eleitor.

FORA DE PAUTA O professor aposta que os ideais estarão fora da próxima campanha eleitoral. “Não existe a menor possibilidade de estas coligações falarem em bandeira ideológica, porque não há. Eles vão falar em administração, gestão, mas não em ideologia. Até porque não têm legitimidade para isso”, avaliou. Ele observa que coligações tão amplas, mais que confundir, podem revoltar o eleitor. “Quando você chega a um lugar e tem que pedir desculpas antes de apresentar o seu produto, há algo errado”, alfinetou. Guimarães, acredita que “o pouco que resta de ideologia está nos pequenos”. Mesmo assim, vê falhas. “Mantém a questão ideológica, mas são mais personalistas, criados em torno de um nome. Acabam tendo não uma ideologia plural, mas singular, pessoal”, analisou. Mas acha que as alianças são absolutamente necessárias. Quanto a isso não resta nenhuma dúvida. Em uma sociedade plural, como a brasileira, pensar que uma tendência ou partido, ou apenas um sistema de orientação dará cabo dos problemas existentes é cair na ilusão, mesma ilusão que o Collor teve, de que a partir de um Executivo forte é possível reformar e reestruturar o país. Essa experiência foi vivida também por Jânio Quadros antes de 1964, que governou sem uma base forte de sustentação e isso o levou à crise e à renúncia. O prof. Guimarães acha que “o limite deveria ser o programa. Mesmo que não fosse explícito, mas um programa que tivesse certa abrangência, que pudesse admitir parceiros com identidades diversas e que pudesse ser revisado, e não essa “feira” ideológico-político-partidária em que nos encontramos”. Segundo ele, isto tem o efeito de estimular o decisionismo do Executivo, porque, dado esse empate entre as forças políticas que têm orientação desencontrada, esse poder se sente compelido a agir por sua orientação, tentando produzir resultados quase autocraticamente, através de um sistema vertical. Este é um efeito negativo dessa construção.


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Comunicação

Disposição faz o bom jornalista O MARCO abriu diferentes caminhos para seus ex-monitores. A terceira edição da série especial traz Álvaro Duarte, editor de arte, e Ana Paula Pedrosa, premiada jornalista econômica

Com 25 anos no Estado de Minas, o jornalista é, hoje, editor de arte do jornal

Marcos Vieira

Álvaro Duarte JAMILLY VIDIGAL 5° PERÍODO

da. Também procurar os profissionais da área, pedir para passar um tempo na redação de um jornal para aprender, por exemplo”.

A carreira de Álvaro Duarte no “Estado de Minas” começou cedo. Logo ao ingressar no curso de jornalismo da PUC Minas, em 1990, conseguiu um estágio não remunerado no jornal para acompanhar os diagramaTRABALHO DE EDITOR dores e aprender a função. Foi contratado Depois de formar-se, em 1993, Duarte no final do mesmo ano e hoje, 25 anos decontinuou como diagramador do “Estado pois, ocupa o cargo de editor de arte. de Minas” enquanto fazia alguns trabalhos Quando concluiu o ensino médio, Duarparalelos. Cobriu férias de redator, foi redate prestou vestibular para agronomia, mas tor na Copa do Mundo de 1994 e repórter não teve sucesso. Fez um curso de oficiais de política por um tempo. Quando estava do exército, no ano seguinte, e ao final prestes a deixar a diagramação para trabadesse período os jovens tinham de produlhar como repórter de política, recebeu a zir uma revista. Foi quando a vontade de proposta de coordenar a reforma gráfica dos cursar jornalismo aflorou: “Eu gostei não jornais “Estado de Minas” e “Diário da Tarsó de escrever, mas de participar, escolher de”. Desde então é editor de arte. foto e produzir o material. Não sei até hoje Por dez anos também acumulou o cargo porque escolhi jornalismo, mas se tivesse de editor de fotografia. Era responsável por escolhido qualquer outra profissão ia me toda a área gráfica, incluindo a fotografia, e dar mal”. supervisionava uma equipe de aproximadaJá na universidade, foi monitor do MAR- mente 60 pessoas. Há três anos deixou essa CO, em 1992, e durante esse ano vivenciou função e, hoje, administra somente a diauma rotina intensa, conciliando as aulas, gramação e arte. Para ele o grande desafio na parte da manhã, estáno dia a dia é fazer um jorgio no jornal-laboratório, nal diferente, que chame a à tarde, e diagramação atenção do leitor, gráfica do “Estado de Minas”, à e também editorialmente. noite. Apesar da correria, É a forma que ele vê de o Temos de descobrir foi uma experiência bem jornal impresso sobreviver. aproveitada: “Foi um ano como ser relevantes Duarte é otimista quanque para mim valeu por to ao futuro do impresso. frente às outras mídias. quatro. No MARCO eu Mesmo com a diminuição Tem espaço para isso, tive a oportunidade de de leitores, no mundo infazer a cadeia inteira do mas cada um tem que teiro, acredita que muitas jornalismo, desde a pauta mudanças vão acontecer, buscar o seu caminho até a distribuição, porque mas não a extinção. O dea gente também carregava safio aos jornalistas é coloos jornais e distribuía na car no impresso uma visão faculdade e no bairro”. diferente para as pessoas, o que elas não teQuanto à disciplina de planejamento nham visto em nenhum outro meio: “temos gráfico, Álvaro acredita que poderia ser mais de descobrir como ser relevantes frente às valorizada, visto que em apenas seis meses o outras mídias. Tem espaço para isso, mas tempo é curto para aprender todo o conteúcada um tem que buscar o seu caminho. do; ao final, os alunos têm uma boa noção, Uma coisa a gente sabe: continuar fazendo mas ainda superficial.“Não estou dizendo como antes não dá”. que eles tenham que sair sabendo diagramar Ele tem três conselhos para os atuais escomo um profissional de diagramação, mas tudantes de jornalismo. O primeiro refere-se eu acho que a pessoa que deseja trabalhar à glamourização da profissão, principalmencom o jornal impresso tem que saber o que te para os que gostam de TV: “Um estudanquer e se dedicar”. te de jornalismo tem de conhecer realmente E observa: “o repórter quando vai para o que é a profissão, porque ela não é tão a rua, tem que ter uma noção de quanto de charmosa assim, ela é cheia de espinhos. texto cabe na página; deve conversar com a Nós temos que trabalhar fim de semana e fotografia e pensar as fotos; pensar no que feriado, não tem jeito”. pode usar da editoria de arte, que infograEm segundo lugar lembra que é preciso fia pode fazer em cima do assunto, quantas gostar muito e ser inteirado sobre tudo. O linhas escrever. Essas informações é o pla- bom jornalista não pode ser despreocupado nejamento gráfico que dá”. com o mundo; deve estar por dentro de váEle recomenda aos alunos que gostam rios assuntos e sempre preparado para, caso de trabalhar com a área gráfica, que bus- precise cobrir outras áreas, estar apto. Por quem um curso técnico além da escola. É fim, ele não acha que os jovens devam se preciso ter força de vontade e ir atrás das preocupar com o salário: “não sei se jornaoportunidades: “Dentro da própria facul- lista ganha mal. Existem bons salários dendade, se procurar o professor José Maria eu tro do jornalismo ainda, mas é uma questão tenho certeza que ele encaminha, dá uma de oportunidades que a pessoa procura, tem ideia de algum curso ou ele mesmo aju- que buscar”.

Ana Paula fez reportaagem especial sobre mineroduto na região do Serro

Mariela Guimarães

Ana Paula Pedrosa JAMILLY VIDIGAL 5° PERÍODO

MATÉRIAS IMPORTANTES Ana Paula já ganhou 15 prêmios de jornalismo, sendo cinco deles com sua última reportagem especial. A jornalista teve a sorte de encontrar na redação Queila Ariadne, sua companheira de reportagem, com quem escreveu tal matéria premiada, “Um mineroduto que passou em minha vida”, que, além dos cinco prêmios nacionais, foi finalista do Esso. A história é de um borracheiro do interior de Minas que teve sua casa praticamente invadida pela obra de uma mineradora. Após a publicação da matéria surgiram novas denúncias, que renderam uma série de 15 páginas, distribuída durante uma semana. Em resposta, o Ministério Público Estadual fez um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a mineradora e alguns problemas foram corrigidos. Por isso, a satisfação da repórter vai muito além das premiações. Segundo Ana Paula os prêmios não são o objetivo; o foco dela é sempre o leitor e a consciência de um trabalho bem feito: “Essas reportagens premiadas são sempre as que dão mais trabalho, mais prazer, as que fazem a gente lembrar porque quer ser jornalista; que fazem o olho da gente brilhar. A maior parte do jornalismo é muito operacional e repetitivo, mas quando você consegue sacar disso uma coisa bacana, é muito gratificante. Principalmente quando seu trabalho é útil, quando você ganha um prêmio e vê que ajudou alguma pessoa”.

Há 12 anos como repórter econômica do jornal “O Tempo”, a ex-monitora Ana Paula Pedrosa é, hoje, uma das jornalistas mais premiadas de Minas Gerais. Depois de formar-se na Faculdade de Comunicação da PUC Minas, em 1998, Ana Paula descobriu na economia uma forma de ajudar a mudar a vida das pessoas. Desde o início do curso tinha preferência pelo impresso, pois queria escrever e, para ela, a maior gratificação é o feedback do leitor. A jornalista brinca que queria um “MARCO de gente grande”, para reviver todos os dias a experiência do ano de 1997, quando estagiou no jornal. Ela acredita na importância do laboratório na construção dos jornalistas, devido ao contato com toda a produção de um jornal, desde a pauta até a gráfica. “Essa visão do processo todo é muito enriquecedora porque a gente começa a entender porque tem que entregar as matérias no prazo, porque existe um tamanho, porque o lead deve ser forte, porque é importante ter uma foto”. Além disso, Ana Paula reforça que, nele, os alunos têm a oportunidade de errar, aprender, propor e inovar. Depois de sair do MARCO, seu segundo estágio, decisivo para a carreira, foi na “Lead Comunicação”. Lá fazia publicações para entidades, o que foi importante para que conhecesse um pouco mais sobre o papel dessas empresas e tivesse uma base soFUTURO DO JORNALISMO bre economia. Foi um contato importante Em relação ao destino do jornalismo impara que ela se interessasse mais pela área: presso, Ana Paula não acredita que ele vá “é uma coisa de que, à primeira vista, as pessoas costumam ter medo, acham que é desaparecer, mesmo com o crescimento do online. “A diferença vai ser muito difícil. Mas quando sempre o olhar da gente a gente entra e começa a sobre as coisas, a curiosise envolver, vê que é muidade da gente, a disposito prático, é muito dia a ção de levar uma boa hisdia da gente”. Ana Paula Parte do jornalismo é tória para o leitor e jogar acredita que o sucesso do muito operacional e luz sobre as coisas. A esrepórter de economia é alsência do jornalismo tem repetitivo mas, quando cançado quando ele conseque existir independente gue “transformar números você consegue sacar da plataforma”. em gente”, quando misdisso uma coisa bacana, Ela relembra um contura a linguagem técnica é muito gratificante selho recebido na formado “economês” a matérias tura, feito pelo professor humanas, mostrando para Fernando Lacerda, e o o leitor que aquilo está pretransfere aos atuais alunos de comunicação: sente na vida dele. Hoje ela está temporariamente afastada “nunca percam a capacidade de se indignar da editoria de economia, cobrindo licença com as coisas”. Que os futuros jornalistas maternidade de uma colega e, por isto, fi- entendam que o trabalho dessa profissão cará por cinco meses no Portal d’O Tempo. não é reproduzir falas, mas ir além delas. Para quem quer seguir a carreira no jorA princípio seu trabalho é cuidar da capa, selecionando as principais matérias e mon- nalismo econômico, o primeiro passo é pertando o visual do site. Independente da fun- der o medo de economia e ler muito jornal ção, a paixão por escrever sempre fala mais especializado no assunto para entender os alto: “Eu gosto de notícia, eu sou da eco- conceitos e familiarizar-se com os termos. nomia, mas eu costumo sair muito quando Além de buscar mais bagagem em cursos de há coberturas especiais, ou grandes eventos, aperfeiçoamento e especialização que várias grandes tragédias. Eu cobri os protestos de entidades realizam todo ano, direcionados 2013; quando o Papa renunciou e Copa do aos jornalistas. São cursos de curta duração e com linguagem voltada para a área. Mundo”.


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dezembro2015.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Literatura

Suplemento promove várias formas de arte Caderno de cultura contribui para a divulgação de novos escritores e, também, de autores já consagrados. Desde sua criação, em 1966, o tabloide possui edições ininterruptas Arquivo Suplemento Literário

AYANA BRAGA ISABELA MAIA 2º E 4º PERÍODOS

O Suplemento Literário de Minas Gerais, que em 2016 completa 50 anos de existência, mantém-se fiel à sua proposta original: difundir as várias formas de arte, como cinema, teatro, artes plásticas, música e, principalmente, a literatura. Para marcar a comemoração do aniversário, os leitores do tabloide vão ser brindados com edições comemorativas durante todo o ano. A tiragem média do Suplemento é de 13.500 exemplares e pelo menos uma edição dele chega a todas as cidades de Minas Gerais, bimestralmente. Agora, sob direção de Jaime Prado Gouvêa, são oito edições por ano, sendo duas

especiais, com tiragem menor, e seis tradicionais. As edições são distribuídas gratuitamente por todo o Estado. Aos que se interessam, é possível assiná-las, também gratuitamente, entrando em contato com o e-mail suplemento@cultura.mg.gov.br. Há 50 anos com publicações ininterruptas, o caderno contribui de forma pedagógica para o fomento da cultura nos lugares mais distantes de Minas Gerais. De acordo com Valdeci Cunha, doutorando em História Social da Cultura, pela UFMG, a publicação “proporcionou a recuperação de uma memória cultural, ou mesmo a sua fabricação, em torno de temas como o barroco, a literatura, o cinema e as artes mineiras. Colocou novamente em discussão

o lugar e a importância de Minas Gerais no cenário cultural nacional e internacional”.

Em pé (da esq. para a dir.), Fábio Lucas, Ildeu Brandão, Luís Gonzaga Vieira, Humberto Werneck, Luiz Vilela, José Renato Pimentel e Medeiros, Murilo Rubião (fundador e ex-diretor do Suplemento), Autran Dourado e Franklin Teixeira Sales. Embaixo: Carlos Roberto Pellegrino, José Márcio Penido e Sérgio Danilo.

HISTÓRIA

Em 1966, o contista Murilo Rubião recebeu uma proposta do então governador do Estado, Israel Pinheiro, para criar uma folha de cultura vinculada à Imprensa Oficial. Originalmente, o caderno era semanal e, por ser encartado ao Minas Gerais, Diário Oficial do Estado, era chamado de Suplemento Literário do Minas Gerais. Rubião permaneceu como diretor do tabloide até 1969. Após 28 anos de existência, o Suplemento desvinculou-se da Imprensa Oficial e tornou-se responsabilidade da Secretaria de Estado da Cultura, passan-

do a chamar-se Suplemento Literário de Minas Gerais. Além disso, ganhou um logotipo novo. “Quanto ao conteúdo, houve uma pequena variação, mas essa mexida é como em qualquer jornal quando muda de editor e há uma mudança de olhares”, explica o jornalista Marcelo Miranda, atual responsável pela publicação. Miranda diz que o Suplemento é feito para quem e por quem se interessa por ele: “Ele sempre foi do governo, ao mesmo tempo em que nunca teve dependência do governo naquilo que publica”. Dessa maneira, o jornal se preocupa apenas com a qualidade literária, sem sombra de militância política.

CONTRIBUIÇÕES

Nas diferentes edições do Suplemento Literário, o leitor encontra novos escritores, que estão começando carreira, e figuras já consagradas no ramo. “Qualquer pessoa pode mandar material para publicação. Esse material é encaminhado ao Conselho Editorial. A gente também convida alguns escritores para escrever, faz entrevista, propõe a alguém mandar um conto”, informa Marcelo Miranda, explicando o trabalho de prospecção realizado por ele em parceria com Jaime Prado Gouvêa e João Barile, outro jornalista que compõe a redação. Grandes nomes já estiveram nas folhas do Suplemento Literário, como Ferreira Gullar, Silviano Santiago e Afonso Roma-

no de Sant’anna. Valdeci Cunha ressalta que, ao longo de sua história, “o Suplemento contribuiu para a criação de uma nova geração de escritores, de artistas plásticos, de críticos de cultura e abriu um lugar possível para publicações de novos escritores”. Por ser encartado no Diário Oficial, o Suplemento segue a lógica de um veículo efêmero. “Diferente do livro, que parece fixar e congelar a informação, o tempo do jornal impresso está ligado à fluidez da vida, do momentâneo, da rapidez da informação”, observa Valdeci. O caderno de cultura reúne informações de diferentes áreas do conhecimento no mesmo suporte.

Prêmio incentiva escritores

Atualmente, o tabloide tem periodicidade bimestral

Guilherme Cambraia

Maneira de escrever muda com o passar do tempo CAROLINE MÉRCIA GABRIEL CRUZ 1º PERÍODO

Desde os primórdios da humanidade, o homem carece de comunicação. A escrita foi e é, com certeza, uma das melhores formas de expressão já inventadas pelo homem. É uma das causas de os seres humanos tornarem-se civilizados. Nas paredes das cavernas, papiros egípcios, as cunas dos sunitas, até a criação da imprensa por Gutemberg, em 1455, a evolução foi enorme. Mas a verdadeira essência não mudou: a necessidade humana do registro. Com o avanço tecnológico e da comunicação, nos dias de hoje, é quase impossível sair de casa sem algum aparelho de acesso rápido à internet. Com isso, as pessoas adquiriram o hábito de digitar mais vezes durante o dia, em vez de escrever à mão. Seja uma mensagem pelas redes sociais seja pelo e-mail, os jovens usam esses recursos, de forma notável e bastante usual. Até profissionalmente os equipamentos com acesso à rede são indispensáveis.

OPINIÕES Escrever textos à mão é algo incomum na atualidade, mas ainda há pessoas que o mantêm. A estudante de odontologia Luísa Aguiar diz que a prática ajuda nos estudos e na memorização dos conteúdos de seu curso, além de a qualidade da escrita manual ser superior à da digitação. “Mantenho o hábito de escrever à mão porque sou estudante e, além de escrever dentro da sala de aula, minha melhor maneira de estudar em casa é rescrevendo toda a matéria. Nessa era de redes sociais, existe uma forte tendência de gírias e supressão de letras nas palavras; o problema é quando isso não se limita às redes sociais. Vejo muita gente escrevendo errado, por exemplo, dentro da faculdade”. Luísa também defende as cartas manuscritas, pois, segundo ela, esse ato leva ao destinatário um quê especial, uma memória afetiva. “Acho que fico mais feliz quando recebo cartas escritas à mão porque me vem uma memória nostálgica de quando trocava cartas com meus amigos na adolescência. Meu pai também

Paralelamente à produção bimestral do Suplemento Literário, Jaime Prado Gouvêa, Marcelo Miranda e João Barile organizam o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura. Criado em 2007, a premiação da Secretaria de Estado da Cultura tem um novo júri a cada ano, geralmente composto por figuras do meio literário, e premia, em dinheiro, quatro categorias. O objetivo é divulgar a literatura brasileira, reconhecendo grandes nomes nacionais e abrindo espaço para jovens escritores mineiros. Na última edição do concurso, cujos resultados foram divulgados em setembro, foram distribuídos R$ 212 mil entre os quatro vencedores. O vencedor

sempre me escrevia cartões e isso tem um valor muito especial pra mim”. Já a estudante de engenharia elétrica, Marina Pereira, opta pela digitalização pois preza a facilidade e agilidade que essa forma de escrita oferece: “Escrever exige de nós mais esforço; é demorado e cansativo. Eu prefiro digitar porque exige menos trabalho do que escrevendo a mão e é bem mais rápido”. “A escrita à mão vai se tornar bem menos utilizada, pois a sociedade está cada vez mais adepta da tecnologia, e o meio em que nos comunicamos mais rápido é o digital. As pessoas buscam cada vez mais agilidade e praticidade para realizar suas atividades”. De acordo com a professora Francirene Gripp, especialista em Língua Portuguesa e Redação, pela PUC Minas, a escrita à mão é um gesto singular, diferenciado, além de ser um ato de identidade própria. “Escrever à mão é um gesto muito corporal, muito físico e também nos parece refletir uma conexão especial com aspectos subjetivos. Mas, a partir do momento em que a pessoa escrevente se habitua com o digital, pode escrever textos subjetivos muito bem; por exemplo, poemas e contos”, diz ela.

da categoria conjunto da obra foi Fábio Lucas, escritor, crítico literário e professor mineiro. Dentre as categorias premiadas estão: conjunto da obra, que seleciona um nome que tenha contribuído para a evolução da literatura no Brasil e que esteja em atividade; ficção, que a cada ano varia entre conto e romance; poesia, categoria em que o júri escolhe um livro inédito de poesia; e jovem escritor mineiro, que exige que o escritor seja mineiro ou resida em Minas Gerais há pelo menos cinco anos e tenha entre 18 e 25 anos. Nesta última categoria, o vencedor ganha uma bolsa para produzir um projeto que tenha sido contemplado na seleção.

ESTÉTICA Na sala de aula, a vantagem ainda é a praticidade, pois o caderno e o lápis, ou caneta, não necessitam de cuidados especiais, ou de recarregar a bateria. “A letra cursiva tem o aspecto da manifestação da singularidade, que pode vir acompanhada de um cultivo estético, ou não. Trata-se de cultura milenar, desde quando inventaram a escrita, e que não será apagada tão cedo. Em alguns países, a escrita à mão tem um valor enorme; insere-se nos padrões de uma estética sofisticada”, acrescenta Francirene. No entanto, a professora acredita que a qualidade da escrita não está diretamente relacionada à escrita manual. “Porque essa qualidade diz respeito à adequação a contextos e situações de comunicação, além dos já muito conhecidos elementos de coesão, entre outros. Antes de existirem as tecnologias atuais, me parece que a escrita com fins de diálogo direto, era muito menos utilizada, isto é, escreviam-se bilhetes e cartas breves com menos frequência que atualmente, qundo se utiliza redes sociais diversas, como o whatsapp”, acrescenta.


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dezembro2015 . jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Solidariedade

Carinho pauta ações da Pastoral Membros da Pastoral de Rua da região leste de BH se juntam para alimentar moradores de rua. Em parceria com voluntários da Paróquia Bom Jesus do Horto, o trabalho acontece há nove anos

Desafios enfrentados por quem mora na rua

O kit de lanche tem pão com mortadela, pão de queijo, tortinhas e achocolatado

CRISTINO MELO VALÉRIA GUIMARÃES VICTOR BASTOS 3º PERÍODO

A Pastoral de Rua, sediada no bairro Horto, região leste de BH, tem como proposta inicial doar aos necessitados e moradores de rua da regional, que se encontram em situação de vulnerabilidade social, um pouco de si. Distribuir não apenas alimentos, como sopa e pão com mortadela, mas uma palavra amiga a quem tanto precisa de carinho e estímulo para viver. Fundada há nove anos, a Pastoral de Rua, juntamente com voluntários da Paróquia do Senhor Bom Jesus do Horto, abraça essa causa nobre. Com tal missão, amigos da região reúnem-se

todas as segundas e quartas-feiras para preparar os alimentos. Essas mãos, que recheiam cada pãozinho, são de pessoas que também saem nas noites frias e chuvosas, a distribuir comida para levar calor humano a tantas outras carentes. Às segundas, são preparadas aproximadamente 350 porções de sopa e 400 sobremesas (salada de fruta). Às quartas-feiras, cerca de 350 kits de pãezinhos são montados. Eles contêm pão com mortadela, pão de queijo e tortinhas, acompanhados de um delicioso achocolatado. Tudo isso embalado com muito amor. A Pastoral recebe, semanalmente, doações de sacolão e supermercado, do próprio bairro, para o

Valéria Guimarães

preparo desses alimentos. A paróquia colabora com o espaço, energia elétrica, água, gás e divulgação da proposta nas missas. Márcio da Silva, gerente do Sacolão Abastecer, no bairro Horto, doa, toda semana, frutas e legumes. “Doamos de coração”, diz Silva que colabora com o projeto há cinco anos. TRABALHO Às segundas e quartasfeiras, a equipe se reúne e cada um, com seu próprio carro ou não, sai entre 20h e 22h pelas ruas da região para distribuir, não somente a sopa e o pão, mas também para levar uma palavra amiga e consoladora a quem se encontra nas ruas e em hospitais aguardando uma consulta. Um dos hospitais visita-

Trabalho voluntário busca resgatar a vida Em meio a tanta desigualdade social e econômica na sociedade brasileira, os que mais sofrem as consequências desta situação de injustiça talvez sejam os menos percebidos pelo olhar popular: os moradores de rua. Sem ter para onde ir nem onde se abrigar, eles caminham pela cidade à procura de alimento e refúgio, na maioria das vezes escassos e de baixa qualidade, condição capaz de fragmentar a identidade e o sentido de vida de qualquer ser humano. São justamente estes desafios que inspiram a atuação da Pastoral de Rua. Fundada em 1987 inicialmente pela Providência Nossa Senhora do Carmo, conhecida como Aspa (Ação Social e Política Arquidiocesana), a Pastoral de Rua surgiu com um propósito: estabelecer, através de atividades sociais, vínculos e criar laços de confiança com os moradores de rua. Constituída por uma equipe de funcionários empregados e de voluntários, seu trabalho é voltado para regiões como viadutos, pontes e locais com maior concentração dos menos favorecidos, visando reestabelecer a confiança e a autoestima daqueles que precisam, para que recuperem sua identidade como cidadãos e consigam se reinserir na sociedade.

Dentre suas ações e projetos, destaca-se o Comunidade Amigos de Rua. Ele consiste na organização de um momento de comunhão, comunicação e solidariedade entre os moradores de rua, em que cada beneficiado pode participar à sua maneira, seja cantando músicas, contando histórias, dançando ou simplesmente dialogando, na busca de uma relação positiva de convívio diante da árdua realidade de morar nas ruas. Segundo Carlos Silva, coordenador da Pastoral de Rua de BH, o resgate da vida é uma das propostas. Além do apoio emocional, com orientação psicológica aos cidadãos, a Pastoral colabora na emissão de documentos e encaminhamento de empregos. Porém, tudo isso só é possível quando se tem a aceitação dos moradores, pois não é fácil sua saída das ruas. “Eles acabam se acomodando com as facilidades encontradas pelos caminhos incertos”, diz Silva. Outro objetivo da Pastoral é desenvolver atividades junto à população de rua da capital visando transformar a qualidade de suas vidas. “Reconhecer essa população como sujeito de sua ação”, finaliza Carlos Silva.

Viver na rua, não ter um lugar fixo para descansar, depender de ajuda dos outros. Para muitos é um estado de sofrimento, porém, Sebastião Resende diz estar acostumado e “vive bem” do jeito que está. Andarilho desde os 40 anos, saiu de Cambuquira, sul de Minas Gerais, passou por cidades como Três Corações, Santo Antônio do Amparo, Carmópolis de Minas e Betim antes de se instalar na capital mineira. Conhecido nas ruas como “Seu” Tião, na infância ajudava seus pais a cultivar café. Quando cresceu, resolveu deixar as terras e a cafeicultura e ir para a cidade. Na pequena Cambuquira, foi alfaiate, capinador, garçom, engraxate e vivia sempre com o que tinha guardado. Porém, certo dia suas economias acabaram, seus empregos não o sustentavam e não tinha ninguém para ajudá-lo. Foi aí que decidiu andar sem destino certo. Hoje com 56 anos, “Seu” Tião não tem moradia fixa e a cada dia dorme em um lugar diferente. “Para mim isso não é problema. Já dormi em vários lugares como estacionamentos, calçadas, debaixo de marquises e até em garagens. Certa vez, numa noite após o Natal, uma moça me deixou dormir na garagem da casa dela, me deu comida e cobertor”, relembra o morador de rua. dos é o Municipal Odilon Behrens, localizado no bairro São Cristóvão. Após a distribuição da sopa e da sobremesa, nas segundas-feiras, os voluntários andam pelas ruas de BH. As vias são escuras, solitárias, mas parece que aqueles moradores de rua, de mãos calejadas e sujas, acendem uma luz no olhar ao receber cada doação. Um olhar de alívio após a espera por aquela refeição, às vezes até, a única do dia. Num mundo com tanto desemprego, miséria, injustiça e carência, não é difícil deparar-se com pessoas assim, isoladas, sem família, enfrentando diversas necessidades. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

“Seu” Tião diz que acorda cedo todos os dias para não ocupar o espaço das pessoas e gerar confusão nas ruas do centro. “Várias vezes fui expulso, por funcionários, de onde estava, como na Prefeitura, mas sempre tenho ajuda de um casal de andarilhos que me acolhe e aí formamos uma ‘família’”, relata Tião. Diz, ainda, que dois dos seus companheiros mais jovens e com mais saúde muitas vezes conseguem comida, roupas e até lugar para tomar banho, com maior facilidade”. O morador de rua abre o seu coração e fala de suas particularidades. Além do casal que hoje considera sua família, “Seu” Tião tem duas mulheres. “Atualmente tenho uma ‘coroa’, mas não deve durar muito tempo, não”. A reclamação de Tião é de que ela não o ajuda a conseguir as coisas e fica usando os cobertores dele. E essa não é a primeira com quem ele tem relacionamento conturbado. Já são mais de dez mulheres com quem ele se relacionou neste tempo de andarilho e se divertiu demais com todas: acredita, até, ter um herdeiro por aí. O morador é feliz da forma em que vive mas, claro, gostaria de ter uma vida mais tranquila, com moradia e emprego dignos. “Seu” Tião é um dos moradores assistidos pela Pastoral de Rua todas as semanas.

Estatística), em 2013 a existência no Brasil, de, aproximadamente, 1,8 milhão de moradores de rua. Dona Hena Ferreira dos Santos, 93 anos, passadeira e voluntária, é a mais idosa integrante da Pastoral. Moradora do bairro Serra Verde, ela reserva algumas horas do seu dia para cuidar dos netos e dedicar-se ao projeto. “É muito importante e gratificante; um trabalho bonito, solidário. Sinto-me feliz em participar dessas ações com os companheiros. ”Segundo Marco Oliveira, coordenador do Projeto, D. Hena, por sua disposição e simpatia, é apelidada carinhosamente pelos voluntários de GTI, ou seja, Gatinha da Terceira Idade, o que

ela adora. Caio Vinícius dos Santos, 16 anos, estudante e, morador do bairro, é um dos mais novos integrantes do projeto. Ele afirma que gosta de ajudar as pessoas necessitadas: “Venho todas as segundas e quartas e me sinto ótimo trabalhando aqui”, diz. A aposentada de 81 anos, Nathalina Divina de Souza, além de seus afazeres domésticos, dedica há nove anos, algumas horas ao projeto. “Esse trabalho é muito importante para mim; aqui não sinto dor e passamos o dia alegre. Quando chego à casa sinto-me aliviada dos problemas”, afirma Dona Nathalina. (Reportagem produzi-

da para a disciplina Jornalismo Especializado)

Voluntários distribuem os alimentos às segundas e quartas-feiras,à noite

Cristino Melo


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dezembro2015.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Tradição

No mundo inteiro o Natal é união e paz Apesar da diversidade de culturas, famílias ao redor do mundo reúnem-se, em tradição, para lembrar a união e o amor

Lares se enfeitam para os festejos do Natal em família ANABELLA PERDIGÃO NATÁLIA ALVES 1° PERÍODO

O que é Natal para você? Tempo de festa? Troca de presentes? Ou um momento especial de celebração da fé, comemorando o nascimento de Jesus? Qualquer que seja sua posição, uma realidade se impõe: Natal é tempo de reencontro, de reunião da família, de alegria. É o que pensa Mariêta Conceição de Oliveira Sasdelli, moradora do Sion, que faz questão de, todo ano, enfeitar sua casa e montar um presépio especial, continuando uma tradição familiar quase centenária. Ela adora o Natal e carrega esse sentimento desde a infância, quando morava em Santo Hipólito, um lugar simples, do Vale do São Francisco. “Quando criança eu ficava muito feliz com essa época. No dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, plantávamos arroz e alpiste para servir de capim no nosso presépio e fazíamos o pano que imitava a pedra escura de uma gruta: sobre um tecido preto, lambuzado com grude, peneirávamos pó de carvão com vidro e deixávamos ao sol para secar a falsa “pedra” da gruta. Era muito divertido para mim e meus irmãos”. Hoje, ela e seu filho, o arquiteto Hugo Sasdelli, que também é apaixonado pelo Natal, planejam e executam a decoração da casa. “A gente fica enlouquecido, é um prazer planejar tudo”. Cada ano é uma decoração diferente, com enfeites e árvore de Natal, sempre com uma nova cor predominante. É normal para ela receber visitas de amigos e familiares para admirar a ornamentação. “Geralmente ela é feita em outubro, para que todos possam apreciar e desfrutar desse clima gostoso por mais tempo”. Mariêta também aprecia a decoração das ruas da cidade e lojas de BH. “O importante pra mim não é só minha casa estar pronta para receber o Natal: eu fico encantada também com ruas, praças e casas decoradas, que proporcionam, especialmente às crianças,

um ambiente mágico, de sonho”. Mas, para ela, o mais bonito do Natal é estar junto com a família: “Para mim o Natal é união, congregação: é estar todos juntos. Nem todo mundo vê o Natal pelo lado comercial, só como época de dar e receber presente. Isto é bom, eu gosto, mas acho que o sentido principal é renovar o amor da família”, finaliza. ORIGEM REMOTA O Natal é uma comemoração que, para os cristãos, lembra o nascimento de Jesus. Na Antiguidade, ele era comemorado em várias datas, pois não se sabia com exatidão a época do nascimento de Jesus. No século IV, foi estabelecida uma data oficial. As antigas comemorações de Natal costumavam durar até 12 dias, pois este foi o tempo que os três reis Magos levaram para chegar à cidade de Belém e entregar os presentes (ouro, mirra e incenso) ao menino Jesus. Alguns estudiosos acreditam que a origem do Natal vem de muito antes do cristianismo. Os pagãos comemoravam, neste período do ano, o solstício de inverno o dia mais curto do ano, que no hemisfério norte, ocorre no final de dezembro - e a volta dos dias longos. Em Roma, essa data era associada ao deus Sol Invictus, já que após o dia mais curto do ano o sol voltava a aparecer mais. No Brasil, a comemoração começa à meia-noite do dia 24 de dezembro, com a tradicional ceia de Natal, com seus pratos típicos como a rabanada, peru, pernil e outros. Geralmente no dia 25 de dezembro, as famílias brasileiras se reúnem para um almoço. Também faz parte da tradição montar árvores de Natal e presépio. Na maioria dos países, a presença do Papai Noel é essencial, principalmente para as crianças. É na madrugada do dia 24 que elas ficam à espera da visita do bom velhinho. Ele é o responsável pela distribuição dos presentes natalinos a todas as

Anabella Perdigão

crianças do mundo, sobretudo às que se comportaram bem durante o ano, acreditam os pequeninos. Estudiosos afirmam que a figura do Papai Noel foi inspirada no bispo Nicolau, que nasceu na Turquia em 280 d.C. O bispo, considerado um homem de bom coração, costumava ajudar as pessoas pobres, deixando saquinhos com moedas próximas às chaminés das casas. Após vários relatos de milagres atribuídos a ele, foi canonizado pela Igreja Católica. A relação da imagem de São Nicolau com o Natal aconteceu na Alemanha e propagou-se pelo mundo. Nos Estados Unidos, ele ganhou o nome de Santa Claus; no Brasil, de Papai Noel. Até o final do século XIX, o Papai Noel era exibido com uma roupa de inverno na cor marrom ou verde escura. O cartunista alemão Thomas Nast, em 1886, produziu um novo retrato do bom velhinho, mas cores vermelha e branca e um cinto preto. Uma campanha publicitária da Coca-Cola, em 1931, mostrou o Papai Noel com o mesmo figurino criado por Nast, que também eram as cores do refrigerante. A campanha publicitária fez um grande sucesso, ajudando a espalhar a nova imagem do Papai Noel pelo mundo. OUTROS LUGARES O Natal tem suas diferentes tradições e costumes ao redor do mundo. Por menores que sejam, elas caracterizam e trazem maior significação para a comemoração da data em cada região. Na Austrália o Natal não acontece na véspera, apenas no dia 25. Familiares e amigos se reúnem para um almoço com um cardápio que inclui carnes assadas e um pudim de sobremesa. No dia seguinte, feriado, acontece o boxing day. “Nesse dia lojas de departamento são abertas para que as pessoas comprem os presentes pela metade do preço” é o que conta Igor Fuchs, professor de inglês, que viveu

por 20 anos no país. Nessa data a correria nas lojas é grande. “Outra coisa interessante é que as vitrines são todas decoradas, disputando qual a mais bonita”, completa. Em Portugal, a ceia de Natal traz uma grande variedade de pratos típicos de cada região e da preferência familiar. São servidos desde o típico bacalhau cozido ao bacalhau assado no forno, além do peru assado acompanhado de esparregado. Rafaela Pais, estudante de mestrado integrado em medicina dentária, conta que o Natal em Portugal é passado junto à lareira uma vez que, ao contrário do Brasil, o clima é frio nessa época do ano. Depois da ceia é comum as famílias se entreterem com jogos de tabuleiro, cartas ou bingo, ou de outras formas. “Além de conversar sobre tempos antigos e recordar fotos, também assistimos a filmes de Natal que passam na TV, até a meia noite que é a hora da troca de presentes”. No Chile, é costume das crianças deixar um Pan de Pascoa (panetone) e Cola de Mono (bebida alcóolica à base de aguardente, leite e café) para que Papai Noel renove as energias antes de continuar sua viagem. Quando as crianças retornam para casa, após um passeio com os pais, encontram migalhas de Pan de Pascoa e resto da bebida indicando que o Papai Noel já passou por ali com todos os presentes. A chilena Yaslayner Molina, estudante de engenharia metalúrgica, conta que a celebração é muito apreciada pelas crianças. O Natal ocorre na virada do dia 24 para o dia 25, momento em que os presentes são entregues. “Para mim é um momento muito especial para estar mais junto com a família, quando os problemas não são importantes”, destaca. O argentino Lucas Milano, engenheiro eletrônico, explica que o Natal na Argentina é muito semelhante ao brasileiro, mas ainda as-

Outras culturas Luis Gustavo, tecnólogo em logística e estudante do judaísmo, conta que, apesar de não manter uma relação de divindade com Jesus, o povo judeu acredita que ele existiu, embora não celebre o Natal. A comemoração judaica, Hannukkan (em português, Chanuká), muitas vezes chamado de Natal Judeu, tem suas semelhanças, como a troca de presentes, mas não se trata da mesma coisa. A data remete à vitória dos judeus, há mais de dois mil anos, sobre os gregos, pela liberdade de seguir sua religião. A celebração acontece em oito noites e inclui acender o menorah, candelabro de oito velas considerado o símbolo da festividade judaica, em cada dia do feriado. Além disso, é costume jogar o dreidel, um pião de quatro lados, e comer latkes, que é um bolinho de batata. De acordo com o mulçumano Allan Mansur, o Islã, que também é uma religião monoteísta, assim como o judaísmo e o cristianismo, mas revelada por Allah (Deus, em árabe) ao Profeta Mohammed no ano 622 depois de Cristo. Ele conta que a religião islâmica, embora não tenha nada que se assemelhe ao Natal cristão tem duas festividades em seu calendário religioso: a Eid al Fitr (festa da benção) que marca o fim do mês de jejum chamado Ramadan, e a Eid al Adha (festa do sacrifício) que marca o fim do período de peregrinação a Meca, jornada que todo muçulmano deve fazer ao menos uma vez na vida. Essas festividades são ocasiões alegres em que as pessoas se confraternizam, embora não tenham a mesma inspiração do Natal cristão.

sim possui suas peculiaridades. A comemoração acontece na véspera, lá chamada de “nochebuena” e no dia seguinte, a família se reúne para um almoço. Ele também informa sobre as comemorações na rua. “Na minha cidade natal, Salta, há um ponto onde as pessoas se reúnem para soltar fogos de artifício, uma tradição da data”. O Natal no México tem uma grande variedade de tradições e costumes que envolvem festas familiares. Dentre elas, as que se destacam são a Las Posadas e o Día de Reyes, que acontecem antes e depois do Natal, e estão relacionadas com o nascimento de Jesus. Em geral, é um dia para passar com a família, todos juntos em um jantar especial, com comida típica mexicana ou um clássico peru recheado. Muitas pessoas decoram suas casas com a representação duma manjedoura, outras vão à igreja para celebrar o nascimento de Jesus. O mexicano David Torres, estudante de letras, explicou mais as comemorações. “As Posadas representam, para os católicos, a viagem que José e Maria fizeram antes do nascimento de Jesus. Em algumas cidades pequenas, as pessoas levam a imagem de Jesus, Maria e José para uma casa diferente a cada dia, durante nove dias, e geralmente nessas caminhadas cantam musicas religiosas”. Ao final de cada caminhada, como

tradição, os donos das casas visitadas dão para os demais, produtos de confeitaria, frutas, comida típica (tamales) e principalmente as pinãtas, que não devem faltar. “Alguns lugares já perderam um pouco a tradição e o verdadeiro significado do Natal. As pessoas só se reúnem com os amigos ou com a família para fazer festas”. Já no Día de Reyes, 6 de janeiro, ocorre uma tradicional comemoração em referência aos Reis Magos: as pessoas dão às crianças presentes, que são previamente solicitados através de uma carta aos Reis Magos, proporcionando-lhes a crença de que são eles que deixam as lembranças sob a árvore de Natal ou na janela. “Também existe nesse dia a tradição que os mexicanos comam a chamada “rosca de reyes”, que é um tipo de pão que, dentro, têm imagens do menino Jesus. Quando alguém encontra no seu pedaço de pão uma imagem, quer dizer que você vai distribuir tamales, uma espécie de pamonha, no dia 2 de fevereiro”, conta. Para David, “Natal é um dia para estar em paz com os demais e com você mesmo; é um dia para dar e receber amor e, porque não, para dar presentes. Mas atualmente o Natal está perdendo o verdadeiro significado e se tornando cada vez mais uma data comercial, já que as pessoas estão dando mais importância aos presentes e ao Santa Claus”, disse ele.

Mariêta Conceição possui a tradição de montar presépios desde a sua infância

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Celebrações

TAMIRIS CIRÍACO 5° PERÍODO

A igreja Bom Pastor, localizada no bairro Dom Cabral, começou as preparações para o Natal. Renato Alves de Oliveira, padre da paróquia há um ano e meio, disse que até 25 de dezembro tem muito a fazer: montar o presépio, cuja ornamentação é um momento rico de envolvimento comunitário, para o qual cada um colabora com o que pode, e há, também, a novena de Natal, uma tradição popular. A novena começou dia 6 de dezembro e terminou no dia 15. Nessas oportunidades e outras, as pessoas cantam e rezam, aguardando a vinda de Jesus numa preparação espiritual mais fecunda para a noite de Natal. O final da novena foi marcado por uma celebração eucarística, na qual corais cantaram música natalina e houve uma confraternização na qual cada um, da comunidade, levou um alimento. Algumas semanas antes do Natal também ocorre a confissão comunitária, sempre muito concorrida. Padre Renato comenta que na sociedade em geral a preparação do Natal está muito voltada para as coisas materiais: ornamentação e gastronomia. Para ele, é importante recuperar a preparação espiritual, “A centralidade do Natal não é Papai Noel, é Jesus Cristo. E a gente só consegue perceber isso quando se prepara para celebrar bem o Natal, através da novena, fazendo um ato de caridade ou através de atos de bondade. A Igreja tem uma preocupação espiritual

com a celebração do Natal”. Segundo o padre, “Natal é um ponto forte da comunidade, porque é a segunda festa principal da fé cristã; a primeira é a Páscoa. Há todo um envolvimento em virtude do nascimento de Jesus Cristo. As pessoas ficam mais sensibilizadas, mais tocadas, doam mais e se oferecem mais. As missas dos dias 24 e 25 ficam cheias; as pessoas vêm com suas esperanças e com sua alegria para celebrar o Natal”. O Natal, segundo padre Renato, tem se tornado cada dia mais uma festa consumista e o capitalismo tem se apropriado das festas cristãs, não só do Natal, como também da Páscoa para vender. Assim é necessário restituir a originalidade da festa, que é uma festa cristã e não festa comercial. “A gente tem que perceber que o Natal é festa da luz mas não da luz elétrica, e sim da luz divina”, disse o Padre. Na Paróquia Coração Eucarístico de Jesus, padre Éder Amantea, pároco local há 41 anos, conta que está sendo feita também uma novena, que começa normalmente entre os dias 30 de novembro e primeiro de dezembro. As novenas ocorrem entre vários grupos e são realizadas mais cedo para poder adiantar e assim permitir que as pessoas se prepararem com mais calma para a chegada da data. Os vários grupos de pastoral também se reúnem para a novena. Existem três movimentos: o primeiro, é a Pastoral da Sobriedade, que trabalha junto à Escola Estadual Pedro Dutra, envolvendo 126 crianças, que estudam em período

Paróquias retomam o sentido do Natal Igrejas da comunidade se preparam para comemorar o nascimento de Jesus e reforçam a importância de ajudar o próximo

O presépio está exposto na paróquia do Dom Cabral

integral. O projeto atua há oito anos na escola e Maria Delza Vasconcellos, uma das coordenadoras, conta que eles fazem um programa de intervenção quanto ao uso indevido de drogas e, nessa época, é feito um Natal das Crianças. Eles trabalham valores com as crianças durante o ano, como amor, respeito, dignidade, fraternidade, igualdade, amizade, esperança, ternura, boas escolhas, paz e sinceridade, e esses temas trabalhados serão colocados na árvore de Natal desse ano. O grupo visita a escola de 15 em 15 dias e prepara as crianças para o Natal realizando uma festa.

Nela, além de ter um lanche, há também uma parte cultural, que envolve teatro sobre o Natal, cantos natalinos, fora uma lembrança entregue para cada um, no final. Outro grupo é o “Projeto vida”, que conta com participação de 30 crianças, de 4 a 12 anos, que se reúnem uma vez na semana, aos sábados de manhã. Conforme a idade, eles vão aprendendo aquilo que têm habilidade, como pintura em tecido, confecção de chaveiros, além de desenhos para colorir. E ali eles aprendem bons costumes, os valores cristãos, da partilha, do diálogo, do poder estar com e respeitar o outro.

Guilherme Cambraia

Por último, há também um grupo em que as pessoas coletam brinquedos para repartir entre aquelas famílias, com crianças, que não podem adquiri-los. E fora esses projetos, a igreja distribui cestas básicas, para 34 famílias, normalmente montadas com aquilo que a comunidade traz como forma de colaboração. A importância da participação é ressaltada pelo padre Éder porque faz “a comunidade crescer na consciência da solidariedade, saber que a gente não está sozinho e que há pessoas que necessitam da nossa solidariedade”. No dia 24, há apenas uma missa solene, pois como as famílias

se reúnem, eles adiantam a celebração para depois cada um poder ir para a sua casa. Segundo João Alberto Pereira, integrante da pastoral “Fé e Política”, o grupo se integra ao contexto da paróquia na época do Natal e mantém suas atividades conscientizando a comunidade sobre o seu papel na questão da cidadania, despertando lideranças, fazendo com que busquem seus direitos, respeito à Justiça, às diferenças que existem. Eles refletem sobre o que é o Natal para eles, na perspectiva de viver conscientemente e plenamente a cidadania. Paulo Medeiros, outro membro da “Fé e Política”, fala que o objetivo do grupo é vivenciar o cenário político dentro da fé, e para ele “O sentido do Natal é muito mais do que o próprio nascimento de Cristo: é o nascer para uma vida em comunhão. O papa Francisco nos traz uma reflexão de que devemos nos silenciar, nos resguardar primeiramente. E nos perguntar: como está sendo a minha vivência, minha fé, minha espiritualidade com o outro? Para, só depois, voltar-se para servir à comunidade”, disse Paulo.

Presépios permanecem como tradição familiar CAMILA VIEIRA 5° PERÍODO

Quando o fim do ano se aproxima, luzes começam a tomar conta de cada lugar da cidade e aquela sensação de reencontrar familiares e comemorar o feriado de Natal traz aconchego ao coração. Moradores tiram os enfeites guardados do ano anterior e montam um presépio em um cantinho ou local nobre da casa, para que o motivo de celebração – o Nascimento de Cristo – seja sempre lembrado. Charles Araújo Lemes é decorador de ambientes. Para ele, montar o presépio é uma tradição de família. “Essa é uma homenagem que faço à minha avó, que costumava montá -lo quando eu era criança. Quero continuar o que ela começou e incentivar os mais novos a fazerem o mesmo”. Jesus é uma das figuras mais conhecidas na história da humanidade por ter feito muitos milagres e ter sido um verdadeiro líder espiritual. O fato de ser tão poderoso e ter nascido em um lugar simples é uma forma de tentar lembrar a todos de dar valor à humildade e as realizações dela resultantes. Esta é a opinião Dom Marcello Romano, 50 anos, bispo da Arquidiocese de Araçuaí, “O presépio é uma representação do nascimento de Jesus para que consigamos ter a dimensão de como Deus veio à Terra, na figura de Jesus Cristo. Deus fez isso porque precisávamos de um salvador e celebrar o Natal é uma forma que as pessoas encontraram de nunca se esquecerem disso”. Montar o presépio se tornou, então, uma tradição entre aqueles que tentam manter sua fé em meio a pessoas que já se perderam do motivo da comemoração no dia 25 de dezembro. A senhora Estelita Ferreira Santos, do alto de seus 92 anos, monta o seu presépio todo Natal. “É pela fé que tenho no

menino Deus”, diz ela. “Meu pai montava o presépio e enquanto eu tiver vida e saúde, vou continuar fazendo o mesmo”. Estelita conta que no Natal, seu pai preferia dar presentes para as pessoas carentes e funcionários de sua fábrica de foguetes, pois dizia que sua família já tinha saúde e fartura. A comemoração do Natal na zona rural também costuma ser bem animada e festiva. Terezinha Pinheiro passou a infância em Tesouras, interior de Minas Gerais. Segundo ela, o Natal na zona rural era celebrado com muita fé, cantos e alegria. “Minha mãe preparava o presépio com plantas e imagens, mas deixava a do menino Jesus para colocar depois que chegássemos da celebração na noite do dia 24. Ficávamos ansiosos para

chegar essa hora. Vinhamos nós, nossos tios e avós para colocarmos a imagem enquanto cantávamos ao som do violão, pandeiro e outros instrumentos próprios do lugar. Após o Natal, saíamos com a imagem do menino Jesus para visitar as famílias da comunidade. Cada dia íamos a uma casa, muitas vezes debaixo de chuva. Depois da recitação do terço, era servido um café delicioso, com biscoitos. Na última casa, fazia-se uma grande festa com danças e cantorias”. O Natal tem um significado tão forte de paz e amor, que na Segunda Guerra Mundial, durante a semana natalina, os soldados da Alemanha e da França que estavam em combate trocaram presentes entre as tropas. Na véspera de Natal, eles entraram na “terra

Guilherme Cambraia

A PUC Minas montou presépios nas unidades do Coração Eucarístico (foto) e do São Gabriel. Eles representam a dimensão da simplicidade do nascimento de Jesus

de ninguém” onde trocaram alimentos, cantaram músicas e jogaram futebol. Esse momento foi visto como um gesto simbólico de paz no meio de uma das maiores guerras da história e ficou conhecida como “Trégua de Natal”. A trégua foi relatada nos jornais apenas uma semana depois, devido à censura da imprensa. O primeiro jornal a se pronunciar foi o New York Times no dia 31 de dezembro, sendo seguido por jornais ingleses, que contavam relatos dos soldados conseguidos através de cartas por eles enviadas às famílias. Para os ingleses, o acontecimento foi uma surpresa gratificante em meio ao cenário triste e violento da época. Para entrar no espírito de Natal, uma leitura temática embaixo da árvore pode ser um bom convite. Um exemplo é o clássico “Um conto de Natal” de Charles Dickens. Publicado originalmente em 1843, conta a história de Scrooge, um velho que acabou se tornando tão mesquinho e ranzinza que acaba sendo visitado pelo fantasma de seu antigo sócio. Ele tenta fazer com que Scrooge reencontre a felicidade enquanto ainda é tempo, relembrando seu passado, seu presente e lhe mostrando seu possível futuro. A história de Dickens já foi adaptada de várias formas e uma das mais conhecidas é “o Natal do Mickey Mouse” dos estúdios Disney, na qual Scrooge é interpretado pelo Tio Patinhas. O Natal também pode ser encontrado em publicações recentes. No Brasil, Maurício de Souza costuma fazer quadrinhos especiais sobre o tema. Já os livros “Deixe a neve cair” e “O presente do meu grande amor” são duas obras que reúnem contos natalinos de diversos autores estrangeiros contemporâneos, como John Green, Rainbow Rowel e Stephanie Perkins, que buscam deixar uma mensagem sobre como o Natal pode ser mágico.


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Comunidade

Altos alugueis no Coração Eucarístico afastam a clientela Preços no bairro sofrem ligeira queda, mas se situam entre os mais altos da cidade. Negociação e pesquisa são alternativa LUCAS KRUSE 6° PERÍODO

Morar no bairro Coração Eucarístico é para muitas pessoas uma comodidade, principalmente para aquelas que estudam e trabalham no bairro. Ter um comércio nessa região é uma escolha de muitos empresários que buscam ter um ponto de vendas em local com o atrativo de contar com grande circulação de pessoas durante quase todo o ano. Para moradores e comerciantes, no entanto, residir ou ter uma loja no Coração Eucarístico se tornou um luxo, visto que os aluguéis de imóveis, na região, são altos e chegam ao ponto de se assemelharem, até mesmo, aos praticados em bairros da zona sul de Belo Horizonte. Quem confirma a informação é Eurico Santos Neto, diretor de uma das principais imobiliárias do bairro. Segundo ele, historicamente se diz que, apesar de não estar localizado no sul da cidade, o Coração Eucarístico - assim como os bairros Cidade Nova e Prado - se assemelham à região nobre de Belo Horizonte em termos de estrutura, preços cobrados pelo comércio e, por consequência, valores de locação e de compra de imóveis. Comparados aos valores

Imóveis na região são demandados pela presença da PUC Minas

cobrados nos bairros mais próximos, a discrepância fica evidente: no Coração Eucarístico é sempre o aluguel mais alto. A menor variação na comparação é com o bairro Minas Brasil. “Esse é um bairro bem próximo daqui em que, algumas ruas, têm localização até melhor em termos de tranquilidade. Por isso a variação é pequena, de 10% a 15%”, afirma Neto. Essa diferença de preços aumenta quando a comparação é feita com os bairros Dom Cabral e João Pinheiro. O valor cobrado no primeiro pode chegar a ser até 30% menor. Já locar um apartamento no segundo pode ser

até 45% mais barato. “Aqui no Coração Eucarístico alugamos um apartamento de dois quartos por R$ 1.100 a R$ 1.200, dependendo do estado em que ele está; no João Pinheiro um imóvel parecido sairia por R$ 650”. O motivo mais citado pelos moradores, comerciantes e empresários para o preço alto no Coração Eucarístico é a presença da PUC no bairro. O coordenador pedagógico de uma das escolas de línguas localizada na região, Guilherme Fernandes, diz que “pelo fato da PUC ser uma universidade de caráter privado, as pessoas tendem a achar que os alunos que

Rotatividade no aluguel encobre falência de lojas O Coração Eucarístico é um bairro diferente dos demais quando o assunto é aluguel comercial, como conta Eurico Neto. A baixa oferta de lojas e salas comerciais em relação à constante demanda por um ponto para abrir um estabelecimento, faz com que os imóveis não passem muito tempo ociosos. Entretanto, essa constante rotatividade de lojas do bairro acaba escondendo a dificuldade de manter um comércio novo na região. José Carlos Saraiva é morador do Coração Eucarístico há quatro décadas. Há anos ele é dono de uma farmácia e de uma pastelaria no bairro, ambas funcionado em imóveis alugados. Ele, assim como a gerente de uma loja de roupas infantis, Sione de Souza, destacam que a rotatividade de lojas na região aumentou ultimamente. Marcas tradicionais no bairro estão saindo e novas têm chegado buscando sucesso no bairro. “A loja “Calf ” que existia aqui não conseguiu se manter por causa do aluguel alto. A gente decidiu criar promoções para conseguir vender e dar conta de sobreviver”, explica Sione. José Carlos acrescenta que alguns locatários têm mudado o ramo do estabelecimento para não fechar as portas e deixar o ponto comercial. Para ele, o alto valor da locação é o principal fator que tem levado os estabelecimentos a fecharem as portas. José Carlos diz que o que está acontecendo atualmente é que os comerciantes estão “tendo dificuldade para pagar o aluguel, primeiro porque eles estão muito altos e segundo

porque as vendas caíram assustadoramente em todo tipo de segmento”. Ele faz ainda uma afirmação alarmante: “Nós estamos trabalhando com medo de não dar conta de arcar com tudo o que temos de pagar no fim do mês. O que tem de acontecer é os proprietários e imobiliárias reavaliarem os preços dos aluguéis no Coração Eucarístico”, assume Saraiva. Essa reavaliação tem sido feita, alega Eurico Neto. Diante do período instável que o mercado de aluguéis em toda a cidade esta passando, o preço de muitos dos imóveis que ele tem para locar já foram reduzidos. Entretanto, o resultado positivo esperado ainda não apareceu. “Já baixamos quase 40% e mesmo assim algumas lojas e salas continuam sem ser alugadas”, afirma. José Carlos se mostra pessimista em relação ao futuro das lojas no Coração Eucarístico. “Vínhamos de uma crescente nas vendas do bairro e hoje elas estão caindo. Pode ser até que elas aumentem mais pra frente, mas eu não vejo, em curto prazo, uma saída para isso”, admite o comerciante. Para enfrentar esse momento adverso, Sione diz que os lojistas devem não só perseverar, mas tomar duas atitudes importantes. “Tem que ter uma boa estrutura para oferecer mercadoria de qualidade para o público e, além disso, a loja tem que ter um bom atendimento”, aconselha a gerente. Os clientes acham que é preciso, também, rever os preços – sempre altos – praticados pelo comércio local.

Guilherme Cambraia

estudam nela têm um poder aquisitivo maior”. Isso, acredita Guilherme, acaba por encarecer os serviços prestados no Coração Eucarístico. Eurico Neto também relaciona a Universidade aos preços altos dos imóveis do bairro. Para ele, esses valores estão diretamente ligados à comodidade de se morar perto do campus. A perspectiva é pessimista quanto à queda do valor dos aluguéis dos imóveis na região. Dois motivos emergem como explicadores para esse fato. Um deles é que o bairro “é não apenas um dos melhores do entorno da PUC, como foi e sempre será o mais visado dessa região da cidade”, disse Eurico Neto. Isto acaba inviabilizando para alguns alunos da universidade morar no bairro. O professor de economia da PUC Minas, Flávio Riani, corrobora a tese de que dificilmente os preços do Coração Eucarístico mudem radicalmente algum dia. Ele cita o mesmo motivo para isso: “Por causa da PUC, creio que sempre vai haver uma demanda por imóveis aqui na região. Então as oscilações de preços tendem a serem menores”. A estudante da PUC e assistente financeira, Ione Costa, já sabia dos preços altos dos aluguéis cobrados no bairro mesmo antes de se mudar para o Coração Eucarístico, há um ano e meio. Entretanto, morar próximo à universidade era justamente um dos seus desejos. Ela não se arrepende da escolha e, como também trabalha na região, acabou tendo outro incentivo para se mudar. “Eu acho o custo benefício do bairro muito bom para mim, porque não gasto mais com vale transporte”, explica a estudante. Além disso, ela e Guilherme Fernandes citam a variedade de lojas e serviços no Coração Eucarístico e a acessibilidade

Momento é para barganhar Uma notícia boa para aqueles que buscam neste momento alugar um imóvel no Coração Eucarístico é que a situação econômica instável do país tem contribuído para que os valores das locações no bairro sofram uma pequena queda. O professor Flávio Riani explica esse fato. “Quando a renda das pessoas cresce, a tendência é de tudo se valorizar. E o imóvel também acompanha. Quando se tem a situação oposta, há mais dificuldade para alugar e é natural que o preço do aluguel diminua”, esclarece. Ele diz que com essa situação as pessoas dispostas a locar têm um poder de barganha maior. O professor reforça que, ainda mais em momentos de crise, é essencial a negociar. “A negociação faz parte do processo, seja com imobiliária ou com quem for, as pessoas tem que barganhar”, ressalta. O diretor de imobiliária, Eurico Neto, reafirma o momento bom para alugar. Segundo ele, apesar de o mercado ter recuado nos últimos meses, houve uma tímida alta nas locações. “O crédito está mais escasso e as pessoas estão receosas de comprar por causa da situação econômica do país. A partir daí, optaram pelos aluguéis”, comenta Neto. Ele diz que a situação é ainda mais complicada no caso dos imóveis comerciais. “Hoje em dia ninguém está se aventurando a montar um negócio; estão todos esperando o desenrolar da situação política e econômica do país”. Neto confirma a queda dos preços das locações no momento. A imobiliária que ele dirige, por exemplo, está praticando preços no Coração Eucarístico que costumava cobrar há dois anos atrás. “De uma maneira geral, nós nos conscientizamos da necessidade dessa redução das tarifas. Já conversamos também com os proprietários e os convencemos a baixar o preço em toda a região”. A diminuição dos preços, de acordo com ele, chegou a ser de 15% em alguns imóveis residenciais. Se locar um imóvel tem sido uma atitude compensatória ultimamente, comprar também pode ser uma boa saída para quem decide investir na região. Isso é o que explica o professor Flávio. “O momento permite barganhar melhor o preço do imóvel para compra. Logo se alguém estiver pensando em ter um imóvel só pela questão da moradia, melhor é alugar do que comprar. Mas se o objetivo for investir, por exemplo, aí já é uma opção melhor a compra”, adverte Flávio Riani.

à região, usando transporte público, como outros motivos que os incentivaram a escolher a nova vizinhança. Para os comerciantes, o Coração Eucarístico é um local propício para boas vendas. Como gerente de uma loja de roupas infantis no bairro, Sione Alves de Souza vem testemunhando fortes aumentos dos aluguéis dos pontos comerciais da localidade nos últimos anos, um problema diante da recente queda nas vendas. Mesmo assim, ela não pensa em mudar de bairro. “A localização que a loja tem é excelente por causa da PUC e porque nós já fizemos clientela por aqui”, explica a comerciante. Ela acrescenta que “como o bairro tem poucas lojas infantis e os moradores são fiéis aos comércios mais antigos. Para nós está sendo viável permanecer”.

NEGOCIAÇÃO Embora a média de preços dos aluguéis no bairro seja alta é possível conseguir valores um pouco mais em conta pesquisando ao fechar o contrato. Dependendo da negociação e do estado do imovel, é possível achar preços menores. Guilherme Fernandes morava no bairro Ouro Preto e se mudou para o Coração Eucarístico há mais de dois anos, para ficar próximo ao seu trabalho. Neste período morou em um apartamento de três quartos, sendo um deles de empregada, e pagou R$ 1.180. Há pouco mais de um mês, ele e seus companheiros se mudaram para um apartamento com um quarto a mais e recentemente reformado. Após pesquisarem bastante, acharam

este que, após negociação direta com o proprietário, vai custar-lhes, por mês, apenas apenas R$ 20 a mais que o anterior. Guilherme credita esse bom negócio à conversa direta que ele e seus amigos tiveram com o dono do imóvel. “Tenho certeza de que o preço que conseguimos foi por não termos tido nenhum atravessador. Conheço algumas meninas que moram no mesmo prédio, em um apartamento igual ao nosso e que pagam R$ 1.450 por mês”. O professor Flávio Riani também é a favor de se tratar diretamente com o dono do imóvel quando for alugar uma nova casa. “Em geral você pode obter um preço de aluguel menor, o que não acontece com a presença da imobiliária, já que ela é uma intermediária e tira seu percentual na negociação”, explica Riani. Roberto Luiz Proença Tavares de Souza é dono de um imóvel no Coração Eucarístico, o qual ele dividiu em pequenos pontos comerciais e aluga para pequenos comerciantes. O empresário já trabalha há 15 anos com locação de lojas e é um exemplo de proprietário que prefere negociar diretamente com o locatário. Segundo ele, isso lhe permite mexer no preço do imóvel, a fim de atrair quem está buscando abrir um comércio no bairro. “Às vezes chego a colocar o valor um pouco mais baixo para não perder o cliente. Eu sempre negocio. Os imóveis que alugo por R$ 800, em outros lugares seriam R$ 1.000 e pouco”, destaca Roberto.


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Transporte

Alta velocidade gera transtorno A rapidez dos ônibus das linhas 4110 e 4111 incomoda usuários do transporte coletivo. Idosos encontram dificuldades para embarcar devido à falta de paciência de alguns motoristas DANILO OLIVEIRA KARINE BORGES 6° E 3° PERÍODOS

Muitos alunos da PUC Minas utilizam as linhas 4110 e 4111 que atendem ao Dom Cabral para chegar à faculdade, o problema está na velocidade elevada, acima da máxima permitida, dentro dos bairros que as linhas atendem. Várias reclamações são feitas pelos usuários das linhas à BHTrans, que tenta fiscalizar e monitorar os transportes públicos, sem sucesso, nesse caso. Quem precisa atravessar as ruas por onde o ônibus da linha 4111 passa tem que prestar muita atenção, principalmente no horário próximo às 7h, mo-

mento de grande movimento por causa do início das aulas na PUC. Os passageiros reclamam de imprudência de alguns motoristas, que estariam circulando em alta velocidade pelas ruas do bairro Dom Bosco. “Os ônibus passam em uma velocidade muito alta; é uma falta de respeito com as pessoas que andam pelo local. Além da alta velocidade, os motoristas não respeitam o direito dos idosos. Quando algum deles dá sinal, o ônibus passa direto. Acho que eles não têm paciência, porque os idosos tem dificuldade para subir no ônibus, pois os degraus são muito altos”, afirma Jussara Melo que

trabalha em um comércio, em frente ao ponto de ônibus. Maria das Graças utiliza a linha 4111 quase todos os dias, para ir ao trabalho, e afirma que na maioria dos dias os motoristas excedem o limite de velocidade permitida. “Já vi até idosos caírem dentro do ônibus, eles não esperam as pessoas se sentar”. Ela também informou que sempre está denunciando à BHTrans o excesso de velocidade, “mas eles não fazem nada a respeito.” Já uma funcionária que trabalha na “Boca do Forno” afirmou que vários clientes se assustam com a velocidade na qual os ônibus passam perto da lanchone-

te. A empresa responsável pelas duas linhas, Consórcio Dom Pedro II, ao ser procurada pelo MARCO, disse que só se pronunciaria por e-mail, porém não respondeu às três tentativas feitas pela equipe. A respeito das denúncias, a BHTrans informou que são realizadas fiscalizações específicas nas linhas mais reclamadas, envolvendo vistoria de pontos finais e pontos de embarque e desembarque, viagens a bordo, dentre outras. Com as informações registradas pela população, é possível direcionar a fiscalização e também convocar a empresa responsável pela linha para esclarecimentos; em caso

de flagrante, a concessionária é autuada. Outros meios de fiscalização eletrônicos estão sendo utilizados como o “apanhador” de dados o Sitbus (Sistema Inteligente de Transporte). Com ele é possível monitorar questões relativas ao cumprimento do quadro de horários, nível de ocupação dos veículos e velocidade. A BHTrans ainda informa que “com relação ao comportamento inadequado do operador, é importante ressaltar que a BHTrans participa de diversas ações de treinamento e faz campanhas publicitárias com a finalidade de melhorar a capacitação de motoristas e agentes de bordo”.

Gerência vai avaliar a qualidade do transporte

No Coração Eucarístico, o ônibus passa pela rua Dom Lúcio Antunes no sentido Padre Eustáquio

Guilherme Cambraia

Uma gerência de auditoria da qualidade do serviço foi criada para fazer levantamento dos dados do sistema do transporte coletivo e das reclamações dos usuários do serviço e realiza um trabalho estatístico sistemático com os dados. Quando a BHTrans verifica que existem muitas reclamações sobre determinada linha ou região, os trabalhos são concentrados na região ou linha com o objetivo de melhorar o serviço. O trabalho é realizado em contato direto com os concessionários, no sentido de enqua-

drar o serviço da concessionária em determinados padrões. A participação da população com sugestões, reclamações e solicitações é muito importante para direcionar as ações de fiscalização da empresa. Por isso, é fundamental que a população registre sua solicitação em um dos canais de comunicação que a empresa mantém para melhor direcionamento das equipes operacionais que irão avaliar a situação e dar mais agilidade na implantação das medidas necessárias mais adequadas.

Estudos devem melhorar a Cristiano Machado DÉBORA ASSIS THIAGO CARMINATE 4° PERÍODO

Se você não tem paciência no trânsito, evite morar ou trabalhar em bairros ou áreas da região metropolitana de BH, cujo corredor de transporte seja a Avenida Cristiano Machado, vetor norte da RMBH. Nos horários de “rush” a velocidade média no local é de 20km/h e é preciso muita calma para não contribuir para a elevação das estatísticas de acidentes nesta via. Os problemas na área são crescentes, com engarrafamentos e lentidão, cada vez mais comuns, principalmente nos horários de pico: de 8h às 10h30 e de 17h às 19h30. Tais problemas decorrem não só do alto número de carros em circulação no município, quase um quinto de toda a frota de automóveis de Minas Gerais, mas também da pouca largura da avenida com poucas faixas na pista, e uma delas exclusiva do Move; isto acaba impedido maior fluidez do trânsito. Outros fatores como a baixa velocidade máxima permitida e a sequência de semáforos

e radares geram retenção em vários trechos como no Túnel da Lagoinha e entre a rua Dom Leme e o Minas Shopping. Para minimizar e contornar tais transtornos, a BHTrans informou que estuda cinco projetos que buscam a melhoria da circulação de veículos e da segurança de motoristas e pedestres nos trechos entre o Minas Shopping e a Estação Vilarinho. Entre estes projetos estão os que preveem o escoamento maior do excesso de água do solo, com o intuito de evitar enchentes e alagamentos dos Córregos Pampulha, Cachoeirinha e Onça; o estudo de viabilidade das interseções da Avenida Cristiano Machado com as Avenidas Sebastião de Brito, Waldomiro Lobo e Vilarinho e o estudo de uma nova concepção para a interseção da Cristiano Machado com o Anel Rodoviário. MORADORES

Lucia Helena de Melo Batista, representante da Assmig – Associação das Mães Chefe de Família do Estado de Minas Gerais, do bairro São Bernardo,

diz que a Avenida Cristiano Machado foi construída em uma época em que o fluxo de veículos era muito menor e que, hoje, as obras realizadas não satisfizeram o intenso trânsito na região. Para ela, a implantação do Move e da faixa exclusiva para os ônibus ajudou no sentido de dar melhor opção para quem usa transporte público e precisa passar pela região, porém isso ainda não diminuiu o fluxo de carros que se comprimem nas outras pistas pois a Avenida Cristiano Machado não se alargou para comportar o crescente número de veículos. Uma constante reclamação por parte dos moradores e comerciantes dos bairros do entorno da avenida é a questão do pó de asfalto que, além de deixar os ambientes frequentemente sujos, pode causar dificuldade respiratória e outros tipos de doenças por causa dos produtos tóxicos presentes em sua composição. “Não se pode ficar um dia sem limpar a casa e os móveis, se não fica tudo preto”, conta Lucia de Melo.

Horário de pico gera engarrafamentos na avenida que liga a capital à RMBH

Guilherme Cambraia

Catedral Cristo Rei A construção da Catedral Cristo Rei, na Avenida Cristiano Machado, em frente à Estação de Metrô Vilarinho - projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e oferecida de presente ao arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo - tem causado apreensão aos moradores da região. O local já tem trânsito intenso e a catedral promete ter um centro de serviços, o epicentro de toda a região metropolitana, o que pode provocar um grande fluxo de veículos e pessoas até lá. Junto à catedral, ainda estão localizados o Shopping Estação, as universidades UNA -BH e Faminas, e a Cristiano Machado é o caminho para o aeroporto de Confins. Segundo o prof. Rômulo Albertini Rigueira, diretor de infraestrutura da Arquidiocese de Belo Horizonte, a própria arquidiocese, preocupada com o problema, contratou um estudo de trânsito para adotar medidas que

amenizem o acesso ao local. Uma das soluções apontadas pelos estudos é um projeto a ser executado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), junto com o Governo do Estado de construção de uma trincheira, fazendo com que o fluxo da avenida para locais como Venda Nova, Aeroporto de Confins e outros de muito movimento, seja transferido para a parte de baixo da avenida, e uma ramificação atenda à catedral com fluxo local. A construção da catedral está sendo feita com recursos de doações de fieis, já dura dois anos e não há previsão de conclusão, pois o ritmo das obras depende da capacidade dessa arrecadação. “Do ponto de vista de engenharia, a obra poderia ter um ritmo mais acelerado, mas essa não é a intenção, porque não adianta colocar muitas pessoas para trabalhar sem recursos para pagar salário. Eu acho que vai durar pelo menos mais uns cinco anos”, diz Rômulo Albertini.


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Economia

Falta de agências bancárias dificulta vida de moradores No bairro São Gabriel, os moradores contam apenas com uma lotérica e um caixa eletrônico 24 horas ANA CLARA SALES SCAVASSA 7º PERÍODO

O bairro São Gabriel, na região Nordeste de Belo Horizonte, tem um problema grave de infraestrutura: a falta de agências bancárias. Caminhando pelas ruas do bairro, pode-se notar a total ausência de bancos e caixas eletrônicos em locais públicos para o atendimento das pessoas que ali moram. A rua Anapurus, principal via do bairro, é muito movimentada principalmente devido ao intenso comércio. Do início ao final desta rua, existem apenas dois locais onde podem ser feitas algumas transações: uma lotérica e um caixa eletrônico 24 horas dentro de um supermercado. Os moradores do bairro sentem dificuldades e reclamam quando precisam ter acesso aos serviços. “Quando tem quinto dia útil, dia de pagamento, os dois lugares realmente lotam,

ficam muito cheios”, avaliou a estudante da PUC Minas São Gabriel Loraynne Burjaily, moradora do bairro. Além deste problema, os caixas eletrônicos dos bancos Santader e Itaú foram retirados de dentro da PUC Minas São Gabriel. “Tem o banco dentro da PUC, mas acho que nem todos sabem da existência dessa agência. Com a retirada do caixa 24 horas, a situação ficou muito ruim, porque, às vezes, é preciso tirar um dinheiro rápido e não tem como. Temos de nos deslocar a uma certa distância”, disse a estudante. “Acho que essa falta de estrutura bancária se deve ao fato de o São Gabriel ser um bairro mais popular. Mas a demanda aqui é muito grande por esse serviço. Quando as pessoas precisam de agência acabam indo para o Centro de BH, como no meu caso”, completou Loraynne.

Além disso, os moradores reclamam da superlotação que encontram tanto no único caixa eletrônico disponível, quanto na casa de loteria. “A lotérica está sempre cheia, mas esse não é o maior problema. Quando tenho que fazer um depósito em outra conta que não seja da Caixa, tenho que me deslocar até o bairro Cidade Nova. É trabalhoso. Talvez aqui não tenha banco pelo fato de o bairro ter fama de ser perigoso”, ponderou Joaquim Teixeira, comerciante e morador do bairro há 7 anos. Para outro morador – e estudante da PUC Minas São Gabriel –, Henrique Cacique, essa estrutura é mesmo precária. “A região tem uma concentração de residências muito alta, além do forte comércio. A gente sente mesmo a falta de atendimento bancário aqui. Temos que contar cada vez mais com o auxílio do mundo digital, ou seja, o banco online. Fora da rua Anapurus,

Crise econômica também afeta o Coração Eucarístico JAMILLY VIDIGAL RENATA CEZARINA 5° PERÍODO

A crise econômica está diariamente nos jornais, nas TVs, nos sites de notícia. Mas está, também, muito próxima de todos nós. O aumento dos preços é a sua face visível. Junto com ela, veio a restrição do crédito e a diminuição do valor de compra dos salários. Para os comerciantes, a situação é muito complicada. Muitos não estão conseguindo resistir à crise. Houve demissões durante o ano e alguns estabelecimentos chegaram a fechar. Ário Maro, economista e professor da PUC Minas, explica que o ajustamento das empresas é reflexo da redução da produção e das vendas. Por sua vez, o desemprego significa menos renda e menos circulação de moeda, com reflexo direto na

atividade econômica. “Tanto o grande comércio, das regiões centrais, onde se concentram as grandes lojas, ou até mesmo nos shoppings já estão sentindo a queda. Isso é repassado para o comércio local, o comércio dos bairros”, diz Maro. Por ser um bairro com maioria de população universitária, devido à proximidade da PUC, o Coração Eucarístico atraiu um comércio variado. Nessa região há certo oligopólio, tendo em vista a concorrência reduzida, o que justifica a possibilidade de se praticar preços mais altos. Mas, segundo o economista, o fluxo maior de alunos, pelo menos em boa parte do ano, pode compensar a queda das vendas. Entretanto, o comércio local tem sofrido com a crise econômica. Izabela Mello, atendente da loja de roupas femininas Valentina, disse que a situação das vendas no ano passado

Nos bares e restaurantes faltam clientes

Guilherme Cambraia

já era ruim, mas em 2015 está pior. Houve queda significativa das vendas. Ela explica como vem atuando para manter a clientela: “Fazemos promoções e usamos mídias sociais. Isso dá um pouco de retorno, mas nós corremos muito atrás da cliente. A gente manda mensagem, pois temos clientes fixas e, quando a roupa é a cara dela, por exemplo, a gente manda mensagem e elas vêm comprar”. O segmento de beleza também sofre com a crise. No salão Wilson Cabeleireiros houve redução da procura por serviços de cabeleireira; os de manicure ainda se mantêm. Segundo Renilda Machado, funcionária do salão, as pessoas estão economizando e buscando alternativas para gastar menos. “Quem cortava o cabelo de 15 em 15 dias, está deixando para cortar de mês em mês; quem cortava de mês em mês, agora está pedindo para cortar mais para demorar mais tempo para cortar de novo.” Maro também observa que alguns setores conseguem aumentar seus preços diminuindo a produção e reduzindo o número de funcionários. Assim, conseguem manter o faturamento. É o caso do setor de alimentos, por exemplo. Em relação às vendas, Nicola Menta, proprietário da padaria Due Fratelli, afirma que houve diminuição de aproximadamente 20% nas vendas em relação ao ano passado. Ele acredita que a consequência disso é a conscientização das pessoas sobre a situação, o que, por sua vez, faz com que reduzam mais os gastos, produzindo um círculo vicioso.

Os caixas disponíveis não suprem a demanda do bairro

basicamente só há casas. Como é um bairro antigo, acho que até falta espaço para os bancos aqui”, disse o estudante. A assessora de comunicação da PUC Minas São Gabriel, Michelle Stammet, informou que os caixas eletrônicos foram reti-

Betânia Lira

rados por medida de segurança. “A ação foi preventiva. Não teve nenhuma ocorrência dentro do local, mas como estavam ocorrendo vários casos de explosão de caixas eletrônicos, a universidade preferiu retirá-los”, explicou.

Consumidores buscam soluções alternativas Assim como as empresas fazem seus ajustes, os consumidores também buscam formas de reduzir os gastos e adequar o orçamento. Algumas famílias priorizam as necessidades básicas; outras buscam formas de substituição de produtos por outros mais baratos. Isso porque o poder de compra do brasileiro diminuiu em 2015 e os salários estão restritos apenas ao que é, de fato, necessário. No interior da PUC, é possível perceber que muitos alunos já optaram por diminuir seus gastos mensais. Isso já é percebido pelo caixa da cantina Schuffner, Wanderson Barbosa, que justifica a queda das vendas devido à falta de dinheiro das pessoas e ao fato de estarem levando o lanche de casa, ao invés de consumir fora. A estudante de publicidade e propaganda Carolina Dias mora sozinha em Belo Horizonte e conta que lanchava na cantina todos os dias. Porém, o alto valor gasto ao final do mês levou-a a mudar

Ele conta o que tem feito neste momento para minimizar os efeitos da crise: “A gente tem tentado produzir algumas coisas diferentes e, na hora do almoço, procuramos casá-las com alguns produtos de padaria. A gente tem usado a criatividade, mas não temos muitas alternativas para driblar a situação”. O economista Maro prevê que, no primeiro semestre de 2016, a situação econômica ainda será apertada e, talvez, o país viva um dos maiores picos de desemprego dos últimos anos, mas acha que provavelmente,

seus hábitos: “Um salgado simples e um refresco saem por R$ 5,90 e, juntando tudo, no final do mês é um valor muito alto para eu poder pagar. Tentei traçar uma estratégia que é fazer misto quente e suco de saquinho para levar para a faculdade. Fica bem mais barato e dá pra semana inteira. A diferença é grande no final do mês, além de ser mais saudável”. Maria Luíza Schittini, aluna de odontologia, passa o dia inteiro na universidade, pois estuda de manhã e à tarde. Ela também optou por levar o almoço de casa. “Eu levo comida para a faculdade porque os preços nos restaurantes por perto são muito altos. O dinheiro que eu consigo economizar durante a semana junto para ter um dinheirinho no final de semana ou do mês”. Além disso, Maria Luíza acredita que essa alternativa funciona porque na própria faculdade há um espaço para os alunos esquentarem suas comidas.”

na segunda metade do ano, voltará a se recuperar. Neste momento de ajuste, ele aconselha aos comerciantes utilizar a criatividade e flexibilidade, e, se necessário, baixar as margens de lucro para tentar fazer um caixa mais rápido e as mercadorias terem giro. Já para os consumidores, é hora de pechinchar e pesquisar muito. Se alguém perder o emprego tudo fica mais complicado. Nesse caso, é bom começar a fazer algum tipo de serviço extra até voltar a ter uma recolocação. (Reportagem produzida para a disciplina Jornalismo Econômico)


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Empreendedorismo

Loja inova em ideias de espaço Em cada cômodo há produtos que se referem ao ambiente. Na cozinha, molhos importados, no banheiro, cremes PATRÍCIA ADRIELY GOMES 8º PERÍODO

A comerciante Maria Fernanda Pessoa está conseguindo fazer o que muitos tentam, mas poucos conseguem: ser inovadora no seu empreendimento e garantir vendas crescentes em tempo de crise. Ela criou uma loja-casa, onde em cada cômodo oferecem-se produtos específicos daquele local: no banheiro, cremes e perfumes; na cozinha, molhos importados e chocolates, e assim por diante. Essa novidade funciona mesmo como uma loja e fica logo ali, na rua Bueno Brandão, no tradicional e boêmio bairro de Santa Teresa. A divisão do espaço é criativa, aproveitando bem uma casa que não é grande:sala, dois quartos, cozinha e banheiro. Pela fachada, não aparenta ser mais do que uma moradia. Dentro, porém, os sofás foram substituídos por prateleiras com bijuterias; o guarda-roupa está repleto de semijoias e as camas são estantes com artigos para presentes. A única parede vaga da casa é a do corredor, mas está cheia de recados escritos pelos clientes. Mas o principal diferencial da loja para Maria Fernanda é um de seus prazeres pessoais: o momento da compra de um presente para alguém. De acordo com ela, a novidade está fazendo sucesso. “A cliente chega aqui e se desliga do mundo lá fora. Ela se

senta, bebe água de coco, conversa. Elas amam escolher presente e isso enche seu cotidiano. É disso que eu gosto”, explica. A loja atende todos os gostos e bolsos: são mais de mil itens à venda, por preços que variam de R$9 a R$500.

LOCAL DIFERENTE

Maria, como é mais conhecida, explica que o conceito do espaço foi se concretizando ao longo dos dez anos de existência da loja. A princípio era só uma sala com bijuterias, mas o desejo de atender todos os gostos e eventos relativos à mulher levou-a a abrir outro quarto com mais bijuterias e semijoias. Após isto, ela criou outro espaço com presentes. Aí veio a ideia de expor novos produtos na cozinha. “Após uma queda nas vendas, tive que reinventar. Logo pensei: se você der um sabor gostoso e novo para alguém, você não erra. Então comecei a importar molhos, chocolates e castanhas. Esses presentes agradam até pessoas a quem faltam ideias para presentear”. Além de alimentos, a cozinha também apresenta diversos apetrechos, como um rádio antigo de R$ 399. A mais recente ideia de Fernanda foi mostrar produtos no banheiro. “Quando montei o espaço, achei que as clientes não fossem gostar da ideia e achá-la estranha; mas foi paixão à primeira vista”. As loções e cremes do

banheiro exalam perfumes que invadem toda a casa. Investir nestes diferenciais não é barato: o desembolso médio foi de R$10 mil para cada cômodo da lojacasa que agora tem nome especial: Anna Acessórios, Anna Brindes, Anna Cozinha, Anna de Casa, Anna Ideias, Anna Presentes e Mundo de Anninha. As consumidoras que gostam do conceito ajudam o crescimento da

loja divulgando-a boca-a-boca. “Eu já paguei publicidade para as revistas “Veja”, “Encontro Bairros” e no caderno feminino do “Estado de Minas. Mas o resultado foi pequeno: não vieram nem cinco pessoas a mais.” Já quando uma cliente falou sobre a loja para outras 12, todas elas vieram parar aqui”, conta Fernanda. As redes sociais também estão tendo um grande papel na conquista de novos clientes. Ela ainda tem planos de vender roupas e artigos voltados para o mundo masculino. “Tudo de diferente que eu vejo, e amo de paixão, dá vontade de vender; de espalhar para o mundo. Daí é que vem a inspiração do nome da loja. Quando eu escolhi o Mundo de Anna foi justamente pensando em infinitas possibilidades. Dentro do mundo, cabe o que eu quiser”.

NEGÓCIO PRÓPRIO

Maria Fernanda diz que o esforço diário para manter a organização

O banheiro da loja-casa oferece produtos de higiene e beleza

Busca pelo próprio negócio se expande no Brasil e empolga o empresariado THIAGO CARMINATE 4° PERÍODO

O Brasil é considerado, hoje, o 3° maior país empreendedor do mundo, quanto à criação de empresas, mas, ao mesmo tempo, é um dos piores quanto ao desenvolvimento e manutenção contínua destas empresas no mercado. Os motivos dessa deficiência são vários: a falta de educação e informação que a maioria destes novos empreendedores apresenta ao criar seu próprio negócio. Ricardo Cesar Alves, professor de empreendedorismo do curso de administração da PUC Minas, afirma que as atuais políticas públicas de incentivo ao empreendedorismo são falhas, já que incentivam a criação da empresa, mas não oferecem oportunidades de educação empresarial, nem incentivam os pequenos empreendedores a evoluir seus negócios. “Alguns podem até dizer que vão contratar contadores e especialistas para cuidar da administração da empresa, mas

acabam ficando vulneráveis, pois, como presidentes, não têm o indispensável conhecimento de mercado”, explica Ricardo Alves. “Empreendedorismo é a capacidade de construir e desenvolver negócios, mas só recentemente, o desenvolvimento vem merecendo a devida atenção”, diz o professor Alves. Ele observou que as empresas se dividem entre as que foram criadas por necessidade e as que surgiram por oportunidade. As primeiras são, em sua maioria, dirigidas por pessoas sem boa visão administrativa, que se arriscaram a criá-las, muitas vezes para substituir um emprego perdido ou pela própria necessidade de começar a trabalhar. Já as empresas criadas por oportunidade são, em maioria, comandadas por pessoas com boa visão administrativa e mercadológica, que tomaram sua decisão observando áreas em que seria lucrativo e seguro empreender. Não existem índices comparativos de mortalidade

Alunos levam para a empresa o aprendizado da sala de aula

entre os dois casos, mas as empresas criadas por necessidade, quase sempre não sobrevivem menos de dois e mais de quatro anos.

CRISE E INOVAÇÃO

Na avaliação do professor, Alves, a crise econômica brasileira é mais sentida pelos empresários do que no seu início, quando era mais de “natureza psicológica”.“Mas, ao primeiro sinal de crise algumas empresas já começaram a fazer corte de pessoal. Quanto menos visão de mercado se tem, mais se sofre na crise econômica”. Apesar de esse ser um momento difícil, a crise pode representar um ótimo ambiente para se investir em inovações, melhorias no produto oferecido e em formas de se diferenciar da concorrência. Como o poder de compra tende a diminuir e o receio de consumir aumenta, as pessoas tendem a ficar mais seletivas, buscando as empresas que apresentam os melhores serviços e produtos. “As melhores empresas são as que irão se

Guilherme Cambraia

destacar em momentos de crise”, salienta Ricardo Alves. Para ele, há um crescente aumento do número de jovens empreendedores, graças ao alto grau de independência de alguns deles e a criação das startups, pequenas empresas, várias delas ligadas a universidades. A vontade de se ter um negócio próprio e de não ter que trabalhar para outrem está se tornando cada vez maior. Já na opinião de Hélvio de Avelar Teixeira, professor de Marketing e tutor da PUC Consultoria Júnior, o que se espera para o futuro, de grande parte dos alunos de administração, é que eles trabalhem em micro e pequenas empresas, não necessariamente como empregados, mas principalmente como donos de seus próprios negócios. Atualmente, o mercado é composto por 80% de micro e pequenas empresas. Para que os alunos tenham melhor experiência do funcionamento de uma empresa, no quinto período do curso eles participam de um trabalho de empresa simulada, no qual eles criam e administram sua própria empresa como se fosse no mundo real. Desse modo, eles adquirem maior noção sobre os cargos e encargos que terão no futuro e aprendem a resolver ou contornar os problemas que vão surgindo nos diferentes setores. “Assim os alunos começam a dar valor a matérias cursadas. Hoje, o empreendedorismo não é mais restrito a cursos gerenciais, mas está aberto a todas as áreas”.

Patrícia Adrielly

da loja vale à pena: “Quando se abre uma empresa acredita-se que vai ter uma qualidade de vida diferente. Mas a qualidade de vida é o fato de gostar do que se faz e não sentir que está trabalhando, pois eu trabalho 24 horas por dia. Se não colocar limite no seu negócio, uma hora você vai confundir as coisas”, observa. Ela afirma que a renda trabalhando com na loja é maior do que se ocupasse um cargo em sua área de formação. Porém, destaca que não tem a estabilidade financeira, como num emprego convencional. Fernanda começou a fazer bijuterias aos 13 anos. O hobby durou até a faculdade de Relações Públicas. Sua mãe, Ana Maria Pessoa, vendo o potencial da filha, fez uma proposta em meados de 2004: abrir uma loja de bijuterias no porão da casa. “Nos primeiros oito meses, a loja já pagou o investimento da reforma feita por minha mãe e ela saiu da sociedade, já que não era o sonho dela, era o meu”, conta. “Minha mãe é um estado de espírito. Essa coisa de gostar de novidade, de dar presente e de surpreender é muito dela. O nome da loja vai além de somente homenageá-la: homenageia o que ela representa”, diz Maria Fernanda. Explica que o “N” a mais no nome da loja é só por questão estética, já que Ana Maria gosta de assinar o nome com a letra duplicada. A vontade de dedicar-se a um negócio próprio veio ainda na faculdade, em 2005, quando ela fez um estágio em uma grande empresa. “Essa experiência foi decisiva para eu perceber que nunca ia ser feliz trabalhando num local que tem um conceito e uma cultura fortes, onde é difícil colocar novas ideias e atender suas expectativas de inovação”. Maria ri ao lembrar a história de a empresa não ter acreditado na recusa dela à proposta de contratação, sonho de muitos profissionais das Relações Públicas.

Iniciar é sempre difícil A PUC Consultoria Júnior foi criada no início da década de 90, sendo a segunda de Minas Gerais e a primeira de Belo Horizonte. Os funcionários da empresa são alunos de qualquer curso, exceto o contador. Todos os outros cargos são ocupados pelos estudantes e a empresa é supervisionada pelo tutor Hélvio de Avelar Teixeira.“Trata-se de tutoria orientativa, atuando em conflitos internos e externos e em situações de crise mas, apenas em última instância, para permitir que os próprios alunos busquem soluções e assim cresçam no processo”, diz o professor Avelar. Para João Paulo Moreira, vice-presidente da PUC Consultoria Júnior, a experiência é bem real e diferente da que se tem com a empresa simulada. “Aqui é uma empresa de verdade, o trabalho é muito mais sério”. Os alunos trabalham por eles mesmos, mas fazem as consultorias junto com um tutor de projetos, escolhido especificamente para cada situação, dependendo da demanda do cliente. A empresa atrai muitos pequenos e micro empreendedores devido ao preço cobrado que é bem mais baixo do que o do mercado.

CONHECIMENTO DE MERCADO Cilene Impeliziere formou-se em jornalismo na PUC Minas em 1992 e, em 1996, fundou a Hipertexto, uma empresa de consultoria e assessoria de imprensa em que trabalhava sozinha. Seu primeiro cliente foi o jornal “Estado de Minas” e, para ela, muitas oportunidades foram abertas graças a isso. Segundo Cilene, o gosto de ter seu próprio negócio surgiu não só da influência da família, composta majoritariamente de empresários, mas principalmente da vontade de ter um negócio seu. A empresária, que se vê muito como jornalista, trabalhou durante dois anos na “TV Minas” e cinco no jornal paulista “Meio&Mensagem”, antes de se dedicar inteiramente à Hipertexto. “Óbvio que o começo foi difícil, não tinha dinheiro para nada, mas acabei crescendo mais do que imaginei”. Para tanto, teve o apoio do marido. O próprio nome, Hipertexto, foi ele quem deu. Para ela, muitas empresas fecham por falta de dedicação de seus criadores e de conhecimento no ramo. Ela acredita que a dedicação e paixão são fundamentais para o sucesso.

Cilene sempre quis ter a própria empresa

Hipertexto


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Educação

Brincadeiras antigas trazem conhecimento O resgate dos brinquedos e das maneiras antigas de recreação ajuda no desenvolvimento das crianças. Elas criam interação e habilidades importantes para a evolução do corpo e da mente

DÉBORA ASSIS 4º PERÍODO Peteca, dama, pião, pular corda, soltar pipa, amarelinha. Em volta do mundo das brincadeiras “antigas”, existe um mundo imaginário. Em uma época de elevado consumismo, a arte de brincar tornou-se individual, com o uso dos computadores, videogames, celulares, entre outros diversos equipamentos eletrônicos que exigem pouca criatividade das crianças. Na contramão dessa tendência, algumas escolas em Belo Horizonte incentivam formas interativas de brincar, que movimentam o corpo e despertam nas crianças o gosto de inventar. No século XXI, as crianças recebem os brinquedos prontos e com regras, ao contrário de outras épocas em que

elas produziam seus próprios brinquedos, usavam a criatividade para criar novas brincadeiras, criavam as próprias regras, interagiam com outras crianças e fantasiavam um mundo. Com o crescimento das cidades, o aumento do número de carros e do índice de criminalidade, as ruas não são mais sinônimo de ambiente agradável e seguro para receber as crianças e suas brincadeiras. Assim, elas ficam “presas” dentro de casa e o lugar onde podem vivenciar a diversão ao ar livre é nas escolas. RESGATE

Nas Umeis (Unidades Municipais de Educação Infantil), existem diversos projetos para que as crianças conheçam as brincadeiras antigas e aprendam as histórias que

envolvem os brinquedos e brincadeiras. Segundo a Gerência de Coordenação da Educação Infantil, o “brincar” é um dos principais propósitos da grade curricular das escolas municipais infantis. Um desses projetos é o “Brinquedos e Brincadeiras” que resgata brincadeiras, brinquedos, músicas e jogos que fizeram parte da infância dos pais, avós e bisavós das crianças. A pipa surgiu na China como um meio de comunicação entre os adultos. Ela era usada para avisar a ocorrência de guerras, para dizer que aquela região estava em perigo. Quem conta a história da pipa são os alunos da educação infantil da escola Santo Tomás de Aquino, no bairro São Bento. Um projeto realizado pela professora Renata Aparecida Paiva, a co-

Alunos da escola Santo Tomás de Aquino montaram uma dama “gigante”

Guilherme Cambraia

Tecnologia não deve ser vista como a “vilã” As crianças gostam de fazer os próprios brinquedos com materiais recicláveis, de madeira, pano e outros. “É uma espécie de brinquedo para ela aprender; não é um brinquedo que se consome e joga fora; se você tem um carrinho de madeira, ele pode ser consertado, o carrinho do controle remoto às vezes pode, às vezes não”, diz Soraia Dojas. O brinquedo que era feito com esses materiais podia ser reconstruído com mais facilidade. Isso dá à criança ideias que envolvem assuntos importantes como a ecologia. Resgatar as brincadeiras antigas amplia o universo das crianças, que passam a conhecer mais alternativas de diversão. Mas é importante, também, não transformar o computador, a televisão, o celular e os outros suportes eletrônicos em

vilões. Soraia Dojas acrescenta: “Uma criança não pode ficar o dia inteiro diante de um computador, de uma televisão, mas nós também não podemos fazer disso uma coisa ruim”. Esses jogos eletrônicos desenvolvem outras habilidades das crianças. Porém, é necessário uni-los a outras atividades físicas. A falta da movimentação do corpo tem trazido diversos efeitos para as crianças como elevação do colesterol e obesidade porque o número de horas que uma criança se exercitava está ocupada hoje por horas em frente à televisão, ao computador. “Às vezes você vê crianças com um tablet e elas estão no mesmo jogo, também interagindo, conversando”, comenta Soraia.

Crianças se divertem e interagem ao brincar juntas

ordenadora pedagógica Ana Beatriz Figueiredo e a diretora pedagógica Cinthya Bueno despertou nas crianças o interesse pelos brinquedos e pelas brincadeiras antigas. Depois de descobrirem com quais brinquedos e como brincavam seus pais, avós e tios, as crianças levaram os objetos para a sala de aula e ensinaram, aos seus colegas, como brincar com eles. Alguns exemplos desses brinquedos são o carrinho de rolimã, a dama, o view-master, a peteca e a bola de gude. Além disso, as histórias que envolvem os brinquedos e as brincadeiras também foram pesquisadas e contadas pelos alunos, assim como a história da pipa. Vai e vem, bilboquê, caleidoscópio, pião, bola de meia, amarelinha e até uma dama “gigante” foram construídos pelos alunos. Ao brincar com esses diversos tipos de atividades, pode-se perceber o grande desenvolvimento que as crianças tiveram. A dama, por exemplo, desenvolve o raciocínio lógi-

co, fazendo-as pensar nas próximas ações a serem realizadas e como sair de uma “enrascada” criada pelo outro colega. Com apenas cinco anos de idade, os alunos aprendem a dividir os brinquedos, e ainda contam que, antigamente, as crianças brincavam nas ruas porque não havia muitos carros e não era perigoso fazer isso. Também brincavam com os amigos, irmãos, primos. Depois do projeto, os alunos inventaram uma história com os brinquedos e com as brincadeiras que aprenderam; ela se tornou uma peça de teatro que eles apresentaram no dia da formatura da turma. ESPAÇOS

“A rua deixou de ser um espaço de brincadeiras”, afirma a professora do curso de psicologia da PUC Minas, Soraia Dojas Carellos. Não há como voltar à época anterior, porém, em Belo Horizonte algumas ruas e avenidas são fechadas aos domingos, como as avenidas Prudente de Morais

Guilherme Cambraia

e José Cândido da Silveira. O programa chamado “No Domingo, a Rua é Nossa” é organizado pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e fecha, temporariamente, as vias de trânsito intenso. Esses espaços são necessários porque promovem o encontro entre as crianças, o que desenvolve uma série de habilidades de que elas precisam, como brincar com o outro, adquirir conhecimento, perceber o movimento do corpo e aprender a dividir os brinquedos e os espaços. A criança não brinca à toa, ela brinca para elaborar a sua realidade. Segundo Soraia Dojas, brincar é sinal de saúde; o resgate disso é importante, dentro de um contexto novo, de uma possibilidade nova. Em qualquer espaço que seja possibilitado para as crianças, elas encontram um jeito de brincar. “As brincadeiras de rua têm uma preciosidade da qual nós não podemos abrir mão”, diz Soraia Dojas.

Projeto Brinque Mais atrai adultos na cidade Um projeto tem chamado a atenção dos belo-horizontinos. É o Brinque Mais, que faz intervenções no espaço urbano. Ele surgiu através de um desafio proposto pela escola CLIC! (Centro Lúdico de Interação e Cultura), que atende crianças entre um e seis anos. O coletivo é formado por sete educadores, que acreditam que o brincar é um processo de desenvolvimento não restrito à fase da infância, mas que inclui os adultos. Nas faixas de pedestres, só vale pisar no branco; amarelinhas espalhadas pelas cidades e labirintos nas calçadas são intervenções realizadas pelo coletivo. Além disso, nos pontos de ônibus e nos transportes públicos, os educadores colocam regras de jogos, cantigas, parlendas e

trava-línguas para fazer um convite à diversão. Renata Werneck, integrante do coletivo, diz que neste projeto, os educadores procuram alcançar o público adulto. “Temos como objetivo espalhar o lúdico e colorir o cinza da cidade. As crianças já carregam a cor e o lúdico consigo, não precisamos propor um jogo de ‘proibido pisar nas rachaduras’ para que ele aconteça”, afirma Renata. Ela acrescenta que a sociedade impôs a regra de que ser adulto é abandonar a ludicidade e que brincar é atividade apenas para as crianças. “O adulto precisa resgatar esse mundo abandonado e nós queremos mostrar que dá para ser adulto e brincar; uma coisa não exclui a outra”. Quanto ao retorno que o

coletivo recebe, Renata diz que o resultado é surpreendente: “É um enorme prazer passar pelas ruas e ver pessoas pulando, sorrindo e continuando seu caminho com uma expressão diferente”. Algumas pessoas sentiram a vontade de brincar, mas tiveram vergonha de fazê-lo. “Só essa ‘cosquinha’ que fizemos na essência lúdica dessas pessoas já vale a pena”, conta Renata. O resgate dessas brincadeiras, segundo ela, faz com que as pessoas resgatem sua espontaneidade. Brincar na rua é uma forma de se apropriar do espaço urbano e de “se sentir mais parte da cidade e do corpo de cidadãos que nela vivem”, completa.


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Cultura

BRUNO DE ASSIS 2º PERÍODO Bandas covers de Minas Gerais são conhecidas, em todo o País, e algumas até além fronteiras. É o caso da Sgt.Peppers e da Ummaguma, covers dos The Beatles e Pink Floyd, respectivamente. As bandas covers são uma forma de homenagear e também uma oportunidade para os fãs ouvirem a obra de um artista que, por algum motivo, não está presente. A maioria dos conjuntos musicais, no início da carreira, começa tocando músicas de outras bandas como forma de diversão ou para buscar entrosamento e, só depois de um tempo, partem para a composição. Bandas de Brasília como, por exemplo, a Plebe Rude e o Aborto Elétrico tocavam músicas dos grupos punk, da Inglaterra; já Raul Seixas incluía em seu repertório canções do rock americano dos anos 50. Existem, também, as bandas que nascem apenas com o intuito de tocar a obra de outros artistas e assim continuam por toda a sua trajetória. No cenário brasileiro, dois conjuntos, covers, de Minas Gerais dão ao Estado posição de destaque. O Ummagumma – The Brazilian Pink Floyd e o Sgt. Pepper’s band. O Sgt.Pepper’s tem mais tempo de carreira: formada em 1990. Nestes 25 anos de vida, já participou de vários festivais internacionais em Chicago, Califórnia e Liverpool, onde se apresentou no Mersey Beatle Festival, tornando-se a primeira banda da América Latina

a tocar no evento e considerada uma das três melhores que ali estiveram. A Sgt.Pepper’s se dedica à pesquisa da obra dos Beatles, o que possibilitou o lançamento de dois discos: o “Come and Get it”, de 1996, e o “Afonso Pena com Abbey Road”, de 1998. Com canções assinadas pelos garotos de Liverpool que não foram lançadas, oficialmente por eles. Marcelo Carrato, baterista do conjunto, disse que “antes do lançamento, essas músicas só podiam ser encontradas em gravações piratas e eram praticamente desconhecidas. Nossa pesquisa abrange também as nuances da execução de cada música da banda como, por exemplo, o uso de efeitos e afinações diferentes”. Por esses dois álbuns, a banda recebeu elogios de Paul McCartney que enviou uma mensagem por fax parabenizando-a pela qualidade e a proximidade alcançada do estilo dos Beatles. A banda já se apresentou em vários programas televisivos como o Jô Onze e Meia, Encontro com Fátima Bernardes e Fantástico. Com 12 anos a menos de história, a Ummagumma, que nasceu em Três Pontas, já no primeiro show foi capaz de lotar o centro cultural da cidade. Isabela Morais, backing vocal e assistente de produção da banda observou que isso foi possível porque eles fizeram a divulgação a partir do mistério, “como se nós estivéssemos produzindo uma banda de fora. E a cidade comprou a ideia. É claro que muitas pessoas próximas sabiam que éramos nós,

Bandas covers de Minas Gerais são destaque no mundo Sgt.Pepper’s band e a Ummaguma – The Brazilian Pink Floyd são reconhecidas internacionalmente por seus trabalhos

mas a maioria das pessoas não . E foi ótimo, porque a reação foi muito boa. O público ficou encantado com o show e admirado de ver gente da pequena Três Pontas produzindo um espetáculo com todo aquele aparato técnico”. O projeto Ummagumma já nasceu grande. O profissionalismo do grupo surpreendeu a cidade que voltou a lotar o mesmo local outras três vezes. Após dez anos de estrada, o Ummagumma mudou de nome, tornando-se o Ummagumma – The Brazilian Pink Floyd. Segundo a banda, “foram dois fatores a provocar a mudança: o reconhecimento por parte do público e, paralelo a isso, uma parceria nova na parte de produção em São Paulo que deu a sugestão”. Os concertos do Ummagumma se destacam pela grande produção, com bonecos gigantes e iluminação muito próximos ao que o Pink Floyd costumava fazer. Esse é um fator que faz o público viver uma experiência mais próxima de um show do conjunto inglês, mas, por outro lado torna a atividade muito mais difícil e custosa. De acor-

A Ummaguma - The Brazilian Pink Floyd usa, ao máximo, recursos tecnológicos

do com Isabela Morais “O Pink Floyd sempre contou com o máximo de recursos tecnológicos e essas coisas não são simples, nem baratas. Como queremos um show o mais fiel possível, em muitos momentos isso encarece as apresentações; em outros, as tornam inviáveis”. Apesar de todo o reconhecimento de que as duas bandas mineiras desfrutam, nenhum de seus integrantes consegue viver apenas do trabalho com música. Segundo Marcelo Carrato, da Sgt.Pepper’s “a música não tem o devido reconhecimento no Brasil e, assim, essa possibilidade

é inviável”. Na opinião da integrante do Ummagumma, Isabela Morais “ainda há o preconceito por sermos uma banda que faz tributo, que faz cover, ainda mais internacional. Outro fator é a estrutura que usamos que é muito cara. Entretanto, incentivos como a lei Rouanet têm mudado esse cenário de forma gradual”. DOS NOMES

Ummagumma é um nome curioso. Originalmente, o termo era uma gíria restrita à cidade de Cambridge, onde três dos integrantes do Pink Floyd

Lucas Pacheco

cresceram, para referir-se a sexo. Por isso, o álbum enfrentou problemas na Inglaterra quando foi lançado. Os membros do Ummagumma – The Brazilian Pink Floyd disseram que o motivo da escolha foi a sonoridade interessante da palavra e o fato de remeter à história da banda inglesa. Sgt. Pepper’s band é uma referência ao álbum dos Beatles, lançado em 1967 que narra a apresentação de uma banda fictícia. Foi um marco na história da música, contendo vários elementos que influenciaram o rock psicodélico e o progressivo.

Quadrinhos estimulam artistas independentes

FIQ reuniu muitos visitantes e artistas

CAMILA VIEIRA 5° PERÍODO O FIQ, Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, chegou à sua oitava edição este ano. Dos dias 11 a 15 de novembro, na Serraria Souza Pinto, reuniu artistas de várias partes do país, que vieram até Belo Horizonte para expor ilustrações, fanzines, livros e revistas. O Festival bateu recorde de participantes, a maioria

Victor Monteiro

deles independentes. O FIQ começou como uma bienal de quadrinhos, no Rio de Janeiro, em 1997, e migrou para a capital de Minas alguns anos depois. Acabou se tornando, aqui, segundo Rafael Mendonça, coordenador da assessoria do evento, “o maior da América Latina e, hoje é, sem dúvida nenhuma, o mais completo festival de quadrinhos do Brasil”. “O mais legal desta edição, foi o número excepcional

de convidados e de lançamentos, a maioria deles independentes. É um marco para o quadrinho independente brasileiro, pois tivemos representantes de quase todos os estados”. Um exemplo disso é Bruno Azevedo, 36 anos, que veio de São Luís, Maranhão. Foi convidado para fazer uma palestra sobre o mercado independente, ramo no qual trabalha, desde 1994. Para ele, o festival é um evento a que não se pode faltar. “É a oportunidade que você tem de saber o que está rolando de mais legal nos quadrinhos brasileiros; gente que está depositando sua alma no papel com tinta e vem aqui com seu material. Além disso, é uma oportunidade de encontrar amigos que nunca vejo porque a distância não permite.” João Dicker, um dos visitantes

da exposição concorda. “É primeira vez que vim e a estrutura estava muito bem preparada. Percebi que as pessoas estão abraçando a ideia; tem muita gente que veio de cosplay. Isso ajuda muito a popularizar os quadrinhos e quebrar a ideia de que são apenas para crianças, pois tem trabalhos de artistas muito bons. Isso mostra que quadrinho também é um tipo de arte.” Além das várias mesas com autores de quadrinhos, o festival promoveu um conjunto de oficinas e exposições, deixando os visitantes animados para tirar fotos em frente às ilustrações de super-heróis. Uma das exposições de destaque foi a “Heroica”. Destinada especialmente às heroínas mais famosas das HQs, como Hera Venenosa, Psylocke, Mística, Electra e Feiticeira Escarlate, tinha como

objetivo, representar o feminino nesse universo e mostrar que as garotas também são personagens importantes nas histórias, principalmente porque as meninas que leem quadrinhos se identificam com elas. A ilustradora Carol Rossetti é uma dessas leitoras. Frequentadora da FIQ desde 2009 para comprar HQs, acabou se tornando autora de quadrinhos. Ela diz que ser uma das várias meninas que produzem esse estilo de história, atualmente, deixa-a muito feliz, pois o feminismo é um dos principais temas de suas ilustrações. Com mais de 200 mil seguidores em sua página do Facebook, Carol lançou o livro “Mulheres” no qual busca fazer uma crítica à pressão de ter o corpo da moda. “Minhas ilustrações tiveram muita repercussão na internet e

isso me fez começar um novo projeto, o “Cores”, que são tirinhas que abordam as questões de gênero no universo infantil.” NETFLIX DAS HQS

Uma das novidades dessa edição da FIQ é o Comix Trip. Disponível em plataforma digital, para dispositivos Android e iOS, o Comix Trip é um canal de assinatura com mais de 150 autores nacionais. Alexandre Montadon, idealizador do projeto, diz que veio ao festival lançá-lo por perceber a grandiosidade que o FIQ conquistou. “Por ser o maior festival da América Latina, acreditamos que é aqui que iremos encontrar o nosso público”. Para ter o Comix Trip, o usuário deve se cadastrar por uma taxa de R$ 15,90, tendo acesso exclusivo às obras selecionadas e premiadas para ler no tablet e celular.


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Entrevista

MILTON NOGUEIRA

Brasil é referência em meio ambiente Secas, enchentes, perdas de safras, poluição e doenças. Todos esses problemas estão interligados com o fenômeno do aquecimento global, segundo o engenheiro metalurgista Milton Nogueira, especialista em desenvolvimento econômico, biodiversidade e mudanças climáticas, consultor internacional de diversas organizações ambientais. Ele foi um dos criadores do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), ajudou no Programa Nacional do Álcool Automotivo, na implementação de projetos da extinta Vale do Rio Doce, na Amazônia. Além disso, atuou por 17 anos em uma agência de desenvolvimento industrial da Organização das Nações Unidas (ONU) e foi o único mineiro a integrar a equipe de peritos revisores do quinto Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPPC, na sigla em inglês), divulgado em 2014, em Yokohama, no Japão. Nogueira fala sobre a tragédia de Mariana e do que pode ser feito para evitar desastres semelhantes nos próximos anos. WINICYUS GONÇALVES 6° PERÍODO

O que é o fenômeno do aquecimento global? O aquecimento é fenômeno extraordinariamente poderoso que está acontecendo na humanidade há mais de 100 anos. Causa, crescentemente, enormes problemas para todo o planeta, como secas prolongadas em algumas regiões, em contraste com enchentes. Furacões, que tem como causa o aquecimento da atmosfera. Violência dos oceanos, corroendo as casas que ficam próximas à beira da praia, não só em regiões pobres, como Bangladesh, mas também em regiões ricas, como a costa do estado do Rio de Janeiro. A quantidade das geleiras das regiões árticas está diminuindo. Muitas das regiões do mundo dependem do degelo da primavera para formar os rios e ribeirões que vão irrigar a agricultura, como em todo o Himalaia, assim como países andinos e alguns estados dos EUA e Canadá. Na produção de alimentos, o mau comportamento da atmosfera diminui a produtividade da mesma terra, causando problema crítico na produção de alimentos. Outro fenômeno causado pelo aquecimento global é a transformação de regiões verdes em áridas e as regiões áridas em desérticas, como na Hungria, que tem uma terra roxa ultrafértil e sempre foi produtora de alimentos, mas já tem alguns sinais de transformação para terra árida. Quem viaja pelo interior de Minas Gerais já vê o topo das montanhas despelado, não há sequer grama ou pasto. O fazendeiro dá o nome de “terra cansada”, mas aquela região já pode ser considerada árida. Quais são as causas desses fenômenos? A causa principal é a emissão de gases que formam na atmosfera uma camada que diminui a transferência de calor da terra para o espaço. À medida que essa camada vai acumulando esses gases de efeito estufa vão aquecendo o planeta, lentamente, como um todo. São seis gases, três da parte da natureza (gás carbônico, metano, e óxido nitroso) e três técnicos, inventados no século XX. A ciência da mudança do clima é hipercomplexa, mudando regime de rios, oceanos, florestas, comportamento de lixões, produção de petróleo. Os combustíveis fósseis são mais agressivos porque são transformados pelo motor do carro em gás carbônico, então você tinha uma molécula de gás carbônico que estava debaixo da terra, e aí quando você o tirou e queimou, ele foi para a atmosfera. Ao contrário dos combustíveis renováveis, como o etanol. Nesse caso, a cana-de-açúcar captura através da fotossíntese o gás carbônico da atmosfera, o balanço é zero. Por isso que o Brasil é parte da solução para o problema da mudança climática, por ser o maior produtor de etanol do mundo. A queima da floresta também prejudica a atmosfera, porque uma árvore estoca uma grande quantidade de gás carbônico para a fotossíntese, liberando uma grande quantidade de ar puro para a atmosfera. A queima prejudica o processo. Quais soluções podem ser sugeridas para diminuir a emissão de gases na atmosfera? A humanidade está viciada em utilizar combustíveis fósseis. Para não queimar carvão mineral, gás natural e petróleo, é preciso procurar energias alternativas, como a solar ou a utilização da cana-de-açúcar. Tem os efeitos colaterais, mas são muito menores. Como o petróleo ficou 150 anos se expandindo, fica muito difícil levar a humanidade a mudar o hábito de usar o petróleo. Estamos acostumados a comprar automóvel. Poucos, como eu, não têm automóvel. Outra energia interessante é a eólica: o regime dos ventos faz girar os moinhos que geram energia. É vantajosa porque sequer libera gás carbônico na atmosfera. O mundo está conseguindo reduzir os danos causados pelo aquecimento global? Está conseguindo, mas em ritmo muito mais lento do que deveria. O mundo vai perigosamente ficando além do limite, como uma criança com febre, que os pais a levam de médico em médico para confirmar o diagnóstico. Quem sabe o termômetro está errado? Quando chega ao terceiro médico, a criança já esta com 39 graus. Na verdade, já estamos na quinta conferência, no quinto médico, e nós ainda estamos pouco preocupados. Temos de agir, e agir logo. A conferência de Paris, face ao 5° relatório do painel científico, que estuda esse fenômeno no planeta inteiro afirma que o planeta já está com uma febre que já pode causar paralisia cerebral. Essa reunião agora é dramática. Em primeiro lugar, para reconhecer que os esforços do passado foram muito pequenos. O Brasil é liderança mundial nesse assunto, quando o embaixador

Quais são as metas que o Brasil leva para a COP-21? O Brasil foi o país que apresentou as maiores metas de redução, entre todos. Os BRICs têm ido na contramão dos países industrializados no que diz respeito à emissão de gases. A China fez um drástico corte de emissões. O Brasil propõe uma cesta de metas como a diminuição do desmatamento, não apenas da Amazônia, mas também do Cerrado; acelerar o desenvolvimento das energias renováveis, como eólica e solar; diminuir o desperdício de energia elétrica e de combustíveis; transferir o transporte de carga de rodovias para ferrovias, que é mais econômico, revertendo a tendência histórica de 50 anos de transportar tudo por caminhões; e diminuir o desperdício generalizado de energia. Não há razão, por exemplo, para que os shoppings centers utilizem 30 mil lâmpadas para iluminar o ambiente num dia de sol e em um país tropical. Mas o mais importante que o Brasil tem nessa Conferência é que ele é a liderança. Ele está no bloco do andar de cima que puxa as decisões sobre o clima.

do Brasil pede a palavra, há um silêncio no plenário. Na conferência, deve se chegar a um acordo para comprometer todos os países a diminuírem a emissão de gases na atmosfera, incluindo os países industrializados. Esse acordo visa diminuir as emissões nacionais, e aí caberá a cada país decidir quais setores vão diminuir as emissões e quanto. Quais setores deverão “emagrecer”. O país vai anunciar perante os demais países do mundo suas metas. É como emagrecer até o dia do casamento, como a noiva faz. Em segundo lugar, para chegar a um acordo geral, com metas estabelecidas, tanto em volume de toneladas de gás carbônico equivalente quanto em data para isto e registrar tudo como num cartório. Terceiro ponto, é arranjar um mecanismo de cooperação, para que os países que já têm experiência de diminuir as emissões em certos setores possam oferecer essa experiência a outros, como o etanol no Brasil.

O que o Brasil e Minas Gerais podem fazer para evitar desastres como o de Mariana nos próximos anos? Primeiro, é preciso implementar o que a engenharia de barragem já ensina há séculos: que deve haver um controle intensivo das minas desde o desenho até a manutenção, como um monitoramento durante todo o seu tempo de vida, inclusive depois que ela fechar. Outra reforma importante a ser feita é no campo político: é preciso acabar com a impunidade no assunto. O Judiciário “senta em cima” dos processos e deixa que eles se prolonguem por anos a fio, sem decidir, e muito menos sem punir a empresa que fez a barragem e deixou descuidada. Algumas das barragens de Minas Gerais já arrebentaram há nove anos, e até hoje a população não recebeu nenhum tostão. Não adianta fazer inspeção se o empresário já Qual é a maior dificuldade? percebe que o processo será empurrado A grande dificuldade da conferência do com a barriga. Mas a reforma fundamenclima vai ser levar os países fazerem a chatal a ser feita no setor mineral brasileiro, mada adaptação. Há regiões e condições especialmente nos estados de Minas e do que já não podem evitar o aquecimento, ele O Brasil é lideranPará, é parar de acreditar que mineração já está lá. Cardumes vão desaparecer. Caé desenvolvimento. Para a mineração ser ça mundial nesse sas à beira da praia serão destruídas. Então desenvolvimento, o modelo empresarial assunto. Quando terá que haver a adaptação. Na parte polínão pode ser esse mesmo que nós temos tica, a conferência do clima tem um teatro o embaixador do há 300 anos. Ela devia ser feita de forma formado pelos blocos de países, tanto diviBrasil pede a palaque a responsabilidade da empresa vá didos por regiões quanto por produção (pevra, há um silêncio por toda a bacia. Que ela inclua todas as tróleo e carvão mineral), ou até por outras no plenário comunidades que sejam direta ou indirelocalizações como os países insulares. São tamente afetadas e que ela tenha respon46 pa extremamente vulneráveis à violênsabilidades pelos resíduos tanto quanto cia dos oceanos. Em média, eles têm dois metros de altura sobre os oceanos, então qualquer ressaca pelo produto principal. Nada disso está sendo praticado que tiver no oceano varre o território. A discussão e as sono Brasil. Nós estamos com o mesmo modelo de exploluções do clima precisam ser agilizadas não só por questão ração desde à colônia, que é de tirar e levar, e os buracos econômica, mas principalmente porque há risco real de desficam, as consequências ficam. truição de mais de 40 países. Quem vai receber os habitantes desses países?. Os países árabes como Catar, Bahrein e Em termos de legislação, Arábia Saudita são grandes exportadores de petróleo e não o que poderia ser feito? querem nem saber de outros combustíveis renováveis, mas É preciso uma legislação mais rígida. A responsabilidade ao mesmo tempo eles já estão sofrendo, há muito tempo, as da mineradora não pode ser do portão pra dentro. Laconsequências do aquecimento global, que é a desertificamentavelmente, o projeto de lei que está em discussão ção do pouco que eles têm de natural ainda. no Congresso, há muitos anos, é pior do que a lei atual. Mas é preciso avanços principalmente no desenho O que esperar da da nova mina. Essa é uma discussão nacional, embora conferência do clima de Paris? tenha sido feita nos últimos anos apenas pelas empresas Quase todos os países já sentiram os efeitos do aquecimento de mineração. Nem as ONGs estão sendo chamadas para global. A expectativa é de que se chegue a um acordo político, estabelecendo metas nacionais voluntárias ou obrigatódiscutir. E aí cai no lobby das empresas que financiam as rias e mecanismos para medir como tais metas serão implecampanhas dos candidatos à deputados federais e depois mentadas, e os resultados aferidos anualmente nos demais exigem deles a contrapartida. países. Todo mundo vai ter de “emagrecer”, mas usando a mesma balança para todos. E que seja um acordo co- A partir dessa nova legislação, letivo, que a partir daí não hajam mais desculpas para quais seriam os órgãos responsáveis não assumir metas. Inclusive os países industrializados, como EUA e China, já se comprometeram a assumir me- por fiscalizar as mineradoras? Nesse modelo ideal, seriam as entidades que a gente já tas. A Califórnia, que é grande proconhece, como o Estado, o Judiciário o Legislativo e as dutora de frutas, já representações empresarias, mas também a voz da comuestá com o clima nidade. Esse também deveria ser um agente de decisão mais seco que Minas Gerais que não tem sido ouvido. Essa seria uma revolução. Não há quatro anos. basta achar que a Câmara dos Deputados vai representar Eles já estão as comunidades, se os deputados são financiados por miassustados com neradoras. A comunidade tem de ter voz ativa. a mudança do clima. ProduO senhor acredita que o Judiciário tos fundamené subserviente com as mineradoras tais, como trigo de capital estrangeiro que atuam no país? e arroz, vão ter sua O Judiciário e o Ministério Público não exigem o produção muito recumprimento das leis. Se exigissem, a legislação viduzida. gente já seria suficiente para evitar grande parte desses problemas.

Guilherme Cambraia


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