Por causa de acidentes em esquina da Avenida Ressaca, Associação de Moradores do Coração Eucarístico ainda luta por um semáforo. Página 2
DIVULGAÇÃO
YASMIN TOFANELLO
RAQUEL DUTRA
Após lutar na 2ª Guerra Mundial, o pianista Fernando Gallo voltou à música de vez e, apesar de aposentado, ainda se apresenta. Página 16
Alquimistas da culinária experimentam processos técnicos que transformam estruturalmente os alimentos, mas sem alterar o sabor. Página 15
marco jornal
Ano 40 • Edição 295 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas Dezembro • 2012
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CHUVAS DEIXAM BH EM
ESTADO DE ALERTA FELIPE AUGUSTO VIEIRA
Capital mantém relação de paixão com os ‘Fab Four’ Após mais de 40 anos da dissolução dos Beatles, pessoas de várias gerações ainda compartilham gosto pelas músicas que atravessaram décadas e arrebataram milhões de fãs pelo mundo. Em Belo Horizonte não é diferente, e os fãs dos Beatles são cada vez mais numerosos e jovens. Se depender dos admiradores existentes na capital mineira, a história e a música da banda de Liverpool alcançará as gerações futuras. Página 4
Amor entre mães e filhos adotivos desafia as idades
Anualmente os problemas se repetem. Inundações, deslizamentos de terra e desabamentos levam medo a moradores de várias comunidades de Belo Horizonte, além de fazerem um grande número de vítimas, inclu-
sive fatais. Aa autoridades municipais adotam medidas preventivas, que, no entanto, se mostram insuficientes. A ocupação desordenada de vilas e bairros, sujeira deixada pela população e falta de obras estrutu-
Colecionadores de recordes Figurinhas, bules, lapis, tampas, acessórios, carrinhos, video-games. Seja por mania de infância ou por hábito adquirido com o tempo, fazer coleções é mais do que simples passatempo para muitas pessoas que as transformam em modo de vida. É o caso de Orrisson Manoel Louro (foto abaixo), que em 2010 conquistou o
título de maior colecionador de lápis promocionais do país, concedido pela RankBrasil, empresa especializada em catalogar rankings nacionais. Perseverança e dedicação fazem parte da rotina de quem dedica a vida para vencer a si próprio e também aos feitos de outras pessoas.
rais agravam o problema. Há de se ressaltar que as chuvas não causam prejuízos somente em vilas, favelas ou bairros de periferia. Grandes vias de circulação da cidade sofrem com constantes alagamentos. Páginas 8 e 9
Motivada pela vontade de ampliar a família ou por um gesto de solidariedade, cada vez mais pessoas optam pela adoção. No último quadriênio foram feitas 989 adoções, de acordo com o Cadastro Nacional da Adoção (CNA), porém, esse processo na maioria das vezes pode ser demorado devido aos trâmites jurídicos. Mas, isso não desanima mulheres que desafiam as estatísticas e adotam crianças mais velhas e até adolescentes. Página 13
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Casa acolhe mulheres cegas vindas do interior FABIANNA GATTI
Páginas 10 e 11 NATHÁLIA BUENO
A Associação Louis Braille, mantenedora do Lar das Cegas, deixou de desenvolver projetos e serviços por falta de incentivo e auxílio. Caio Pimenta, coordenador e presidente da entidade, ressalta a importância do volun-
tariado para ajudar pessoas cegas a se trasformarem em indivíduos pró-ativos. Apesar das dificuldades, a casa abriga 14 mulheres com deficiência visual e que contam com o carinho e o apoio de quem pode ofecer. Página 5
2 Comunidade
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EDITORIAL
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Exemplos de amor e dedicação durante todo o ano n JOANA DINIZ ARAGÃO, 3º PERÍODO
A chegada do final do ano é responsável pelo surgimento de muitos sentimentos em cada um de nós. Quem nunca aproveitou essa época para repensar a vida que leva e as atitudes que toma? É a partir desse momento de reflexão que muitos de nós somos tomados pela vontade de ajudar o próximo. Nessa edição do MARCO, de número 295, trazemos matérias e relatos de pessoas envolvidas em histórias de compaixão e amor, em que o simples ato de olhar para outro alguém torna-se importante a ponto de mudar a vida de todos os envolvidos. É o caso das três mães da matéria "Amor supera padrões e viabiliza adoções", Leda Maria Bittencourt, Josiana Campos Viana e Lucia Emílio Ferreira. Cada uma com sua trajetória de vida e com seus motivos particulares resolveu adotar uma criança ou um adolescente sem lar ou perspectiva. Em comum as três possuem o desejo de ajudar e um grande amor para compartilhar. Assim como as mães adotivas, outra história em que a solidariedade torna-se essencial é contada na matéria "Cegas têm carinho e apoio na capital”. Nela conhecemos um pouco sobre o Lar das Cegas, casa de apoio às mulheres cegas e carentes. A instituição é mantida com verba fornecida pela Prefeitura de Belo Horizonte e também com doações de pessoas interessadas em ajudar, como Caio Pimenta, 70 anos, com 20 deles dedicados à Associação Louis Braille e ao Lar das Cegas. Além dessas histórias de comprometimento entre pessoas, o MARCO traz a matéria "Colecionadores e recordistas", contando sobre a vida daqueles que se dedicam tanto às suas coleções, que passam da categoria "colecionadores" para serem classificados como "recordistas". Para tanto, a pessoa precisa ser diferente, ser guerreira e ter foco para conquistar algo. Palavras de Orrison Manoel Louro, 58 anos, e o maior colecionador de lápis promocionais do Brasil. A criação de uma coleção tão extensa é resultado de muita dedicação e empenho. Empenho esse encontrado, também, nos idosos com mais de 90 anos e ainda ativos, como é mostrado na matéria "Aos 90 anos e com muito vigor". Nela podemos ver como Célia Gofrido, 91, e Dalva Dias, 95, fazem para continuar donas de suas vidas, vivendo intensamente e realizando, como qualquer outro adulto, tarefas cotidianas. É com carinho que preparamos essas e tantas outras matérias para a última edição do MARCO neste ano em que o jornal completou 40 anos. Desejamos aos nossos leitores feliz Natal e excelente 2013.
ERRAMOS Na matéria "Surdo-cegos superam barreiras da comunicação" publicada na edição 294 o nome correto na legenda da foto da página 8 é Ernesto Bento e Silva e na legenda da foto da página 9 é Tatiana Pimenta.
EXPEDIENTE
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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profº. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Profº. Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Profº. Jair Rangel Editor: Profº. Fernando Lacerda Subeditor: Profº Mário Viggiano Editor Gráfico: Profº. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Carolina Sanches, Fabianna Gatti, Felipe Augusto Vieira, Ígor Passarini, Joana Aragão, Michelle Oliveira (São Gabriel) Monitoras de Fotografia: Yasmin Tofanello e Raquel Dutra Monitora de Diagramação: Marcela Noali Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares
Dezembro • 2012
À ESPERA DO SEMÁFORO Moradores e pessoas que transitam pelo local reclamam da dificuldade para a travessia em horários de grande fluxo de veículos. BHTrans descarta instalação de sinal e implantação de quebra-molas não foi suficiente para resolver a situação YASMIN TOFANELLO
n LETÍCIA CARVALHO 4º PERÍODO
A Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Coração Eucarístico, está tentando, há cerca de oito anos, convencer a BHtrans a implantar um semáforo na esquina entre Avenida Ressaca e Rua Itutinga, pois o local registra um grande histórico de acidentes e atropelamentos nos últimos anos. O presidente da entidade, Iracy Firmino, mais conhecido como Capitão Firmino, é dono de uma verdadeira coleção de fotos e dvd's que comprovam e demonstram os recorrentes problemas que o local enfrenta. Segundo Firmino, que é proprietário de uma papelaria na região, a BHTrans foi procurada inúmeras vezes, entretanto, não concordou em implantar um semáforo na esquina. Firmino afirma que além dos muitos acidentes que acontecem, mães e crianças sofrem para atravessar no local, visto que a Avenida Ressaca e Itutinga fazem esquina próximo ao Colégio Santa Maria que, na hora do rush, mobiliza cerca de dois mil alunos. A ausência de um semáforo complica e coloca em risco a integridade
Pedestres enfrentam dificuldades para atravessar a Avenida Ressaca em horário de grande fluxo de veículos dos pedestres da região, mas após as frequentes reclamações da comunidade do Coração Eucarístico, a BHTrans se sensibilizou e colocou redutores de velocidade ao longo da Avenida Ressaca. Porém, de acordo com o presidente da Associação, a ação não é suficiente, uma vez que os motoristas não respeitam as faixas de pedestre. De acordo com a BHTrans, não é viável a implantação de um semáforo no local solicitado, pois afetaria a logística de trânsito da região, ocasionando retenções. Além do trânsito, outros problemas são frequentes no Coração Eu-
carístico. Alunos do Colégio Santa Maria, localizado à Rua Itutinga, afirmam ser vítimas de pequenos assaltos no bairro. Muitos alunos vão e voltam do colégio a pé, e acabam se tornando alvo de marginais que circulam na região. Paula Medina, estudante do segundo ano do ensino médio no Santa Maria, contou ter sido abordada por um homem, em torno de uma hora da tarde, a três quarteirões de sua casa, quando voltava da escola. A jovem teve seu celular e relógio roubados, porém, não registrou boletim de ocorrência. Segundo o tenente Rafael, policial militar da
9º companhia, responsável pelo bairro, as estatísticas da PM não apontam um surto de caso de assaltos no Coração Eucarístico. O policial explica que existem viaturas da PM, chamadas "patrulha escolar", que têm função exclusiva para casos de colégio e universidade e ficam 24h à disposição. Rafael argumenta que, muitas vezes, as vítimas não registram o Boletim de Ocorrência, como no caso de Paula Medina. Dessa forma, dificulta a atuação da Polícia Militar, que, segundo palavras do Tenente, só tem condições de trabalhar através de estatísticas.
Lotes vagos incomodam a comunidade n FELIPE AUGUSTO VIEIRA 5º PERÍODO
Há cerca de quatro décadas, uma indefinição sobre a utilização de três lotes localizados entre as ruas Ibirapitanga, Guatambu e Ubiraitá, causa transtornos à comunidade do Bairro Dom Cabral. Antes pertencente à falida Minas Caixa, o lote já foi murado e cercado, mas hoje não há mais proteção em torno do terreno, que está com o mato alto, lixo e entulho. Q u e s t i o n a d a pelo MARCO sobre a propriedade do lote e a manutenção, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Gerência de Fiscalização da Regional Noroeste (Gerfi-NO), informou que o proprietário da área de aproximadamente 1.800 m² é constantemente notificado para limpeza do lote. De acordo com a assessoria de comunicação do órgão, o proprietário foi notificado em abril de 2012 para limpeza do lote, construção de muro e de passeio em cada lote. Como ele não atendeu às notificações, em junho de 2012 foram lavrados nove Autos de Infração, que vão dos números 355564A até 355573A, com aplicação de três multas para cada lote, no
valor de R$587,21 cada. A Regional informou ainda que passados os 15 dias para que o proprietário entrasse com recurso, que não foi feito, este foi novamente multado no dia 30 de outubro sobre a não construção de passeio, e para cada lote uma multa dobrada pela reincidência no valor de R$ 450,92. A limpeza dos pontos de deposição clandestina de entulho nas esquinas, segundo a Gerência de Limpeza Urbana da Regional Noroeste (GerluNO), é feita a cada três semanas, de acordo com a frequência de disponibilidade da máquina pá carregadeira. Vizinha aos lotes e moradora do Dom Cabral há 49 anos, Maria Vieira
da Cruz, 73, diz que caminhões de outros bairros jogam entulho nos lotes, e que a situação do local foi sempre a mesma. "Nós aqui em casa já matamos mais de 50 ratos que vêm do lote com ratoeiras. Há uns oito meses não temos mais esse problema aqui em casa", afirma. Antônio Roberto, 75 anos, frequentemente tenta limpar uma parte dos lotes, ao lado da casa de sua vizinha, Maria Vieira, queimando o lixo por exemplo. "Eu faço o que posso para manter o lote limpo. Se é necessário por fogo eu faço, se é caso de por em uma carroça e levar para jogar fora eu também faço isso. Eu zelo por isso não é por nada não, porque eu acho que cada um devia zelar pelo FELIPE AUGUSTO VIEIRA
Mesmo com notificações da Prefeitura, proprietário não retira entulhos
ambiente onde vive", diz. Ele também sugere que além da limpeza na parte de baixo de um dos lotes, na esquina entre as ruas Ibirapitanga e Ubiraitá, seja feito uma limpeza mais próxima à sua casa também, levando o lixo e o entulho que é depositado na parte de cima dos lotes, na Rua Guatambu. Ele também relata situações onde presenciou pessoas jogando entulho no lote. "Eu disse: 'Moço, não joga aí não, pede uma carroça para levar, põe numa caçamba isso aí', e o cara respondeu 'O terreno é seu?' 'Não é meu não mas devemos zelar pelo negócio'", relembra. Vários outros vizinhos relataram mais problemas relativos aos lotes, como o despejo de animais mortos, o que junto ao lixo dá muito mau cheiro e moscas. Desde criança morador do Dom Cabral, Aimar Almeida, 46 anos, que reside em frente aos lotes, na casa de esquina entre as ruas Ubiraitá e a Ibirapitanga, lembra que os terrenos já foram murados, mas que há mais ou menos 15 anos quebraram os muros. "Mesmo que, por exemplo, tenha sido limpo em uma semana, o pessoal faz de bota fora, por que não tem passeio em volta, não é cercado nem murado", pondera.
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PICHAÇÕES POLUEM RUA RIO POMBA Além da poluição visual, o vandalismo traz prejuízo para os moradores que precisam renovar constantemente as fachadas dos prédios e casas da via que fica no Bairro Padre Eustáquio ÍGOR PASSARINI
n ÍGOR PASSARINI 4º PERÍODO
As pichações já se tornaram um problema crônico nas ruas de Belo Horizonte, mas o caso da Rua Rio Pomba no Bairro Padre Eustáquio é ainda mais assustador, pois quase todas as construções estão marcadas. Com exceção de um ou outro prédio, o que se vê são postes e muros inteiros pichados. Para Ronaldo Tadeu Gomes Ribeiro, 41 anos, comerciante e morador da Rua há mais de duas décadas, as pessoas reformam e as gangues vêm e estragam novamente. "Apesar dos atos serem constantes eu nunca vi ninguém pichando, é como procurar fantasmas. Eles usam aquela bisnaguinha de novalgina e recipiente de desodorante, aí fica difícil identificá-los", conta. Segundo ele, o seu prédio sempre era pichado, então tomou uma providência: “Coloquei azulejos com faixas de cores diferentes e desde então só picharam uma vez. As faixas dificultam a legibilidade da
pichação e os azulejos tornam mais fácil a limpeza à base de acetona. Tem que ser insistente, se eles vêm aqui e picham, no dia seguinte eu vou e limpo de novo”. Na Casa de Formação São José, os muros foram pichados pela primeira e única vez, recentemente, logo após pintarem toda a fachada externa, relata a moradora Angélica Aparecida dos Santos, 23 anos. "É uma falta de consciência, vandalismo. Creio que eles fazem de madrugada porque nunca vi ninguém", conta. Angélica que acredita que a rua poderia ter mais vigilância e, mesmo assim, acha difícil que as pichações acabem. Ainda segundo ela, outra coisa que percebeu foi que os lugares onde têm grafite ninguém picha por cima. "Eles respeitam, talvez por considerarem que é uma forma de arte como a deles" , crê. Essa situação entre grafites e pichações também foi percebida por outras pessoas, como conta Pâmela Caroline Rodrigues, 19, secretária de um salão de beleza localizado nessa rua. "O salão aqui sempre era picha-
do, aí a dona teve a ideia de fazer grafite e mesmo a parede sendo preenchida por desenhos de flores e quase toda cor-de-rosa, nunca mais tivemos problema com isso", revela. Nem todo mundo se importa com as pichações que tomam conta da rua. O estudante André Ferreira, 16, diz que para ele não faz muita diferença. "Não ligo", garante. Ele conta que até dois meses atrás o muro do prédio em que mora era preenchido por plantas e nunca tinham tido problema com isso, mas foi só podar que picharam tudo. A Secretaria de Administração Regional Municipal Noroeste informa, por meio das Gerências Regionais de Manutenção e Atendimento ao Cidadão, que não houve nenhuma reclamação registrada desde janeiro. Além disso, o órgão alega que por se tratar de questão de segurança pública, a responsabilidade é das Polícias Militar e Civil. Como prevenção, a Prefeitura possui um programa especial contra pichação, denominado "Movimento Respeito por BH".
As pichações vão além dos muros, também estão presentes em postes e lixeiras
Os guardiões da história do Bairro Dom Cabral n JULIANA SILVEIRA 2º PERÍODO
O Bairro Dom Cabral começou a ser construído em 1964 com o intuito de ser uma área de habitação popular em Belo Hori-
zonte. O projeto partiu do Governador do Estado da época, Magalhães Pinto, e pelo presidente do já extinto banco Minas Caixa. Foi nesse lugar que homens e mulheres depositaram o sonho da casa própria, pois o preço acessível das casas era atrativo. JULIANA SILVEIRA
Olga da Silva lembra histórias que fizeram parte da sua vida no Bairro Dom Cabral
Moradores incomodados com descuido de praça n MARCELA NOALI 4º PERÍODO
No Bairro Dom Bosco, Região Noroeste de Belo Horizonte, os moradores reclamam da precariedade da praça, que lhe confere um certo ar interiorano, e que a cada dia lhes serve menos como opção de lazer. O descuido e a falta de manutenção fizeram com que o local perdesse o seu encanto, embora ainda atraia visitantes, especialmente em função da Igreja Dom Bosco. É comum, após às missas de domingo, os fiéis se reunirem na praça, colocarem a conversa "em dia" e comerem pipoca ou algodão doce. Segundo frequentadores, a última reforma da praça foi feita há cerca de cinco anos, e consistiu na pintura dos bancos e do piso. A coordenadora da
Liturgia da Palavra da Igreja Dom Bosco, Maria Duarte de Andrade, conta que o lugar está abandonado. "A praça está horrorosa, não tem nada nela. Tem que colocar uns canteiros mais adequados. As pessoas só passam na praça pra entrar na igreja", lamenta. Apesar do descuido, como é a única praça do bairro, os moradores a frequentam do mesmo jeito e as crianças a usam para andar de bicicleta ou brincar de esconde-esconde com os amigos. A jovem Luana Stefanie de Sales, 26 anos, e o seu marido Rafael Guimarães, 29, gostam de passear com os dois filhos na praça, mas contam que de noite não tem como frequentá-la. "A partir de sete da noite não dá para ficar aqui mais não. Fica muito perigoso", relata Rafael. A falta de manutenção chamou a
Os primeiros moradores começaram a chegar em 1965 e, encontraram um projeto inacabado, com carência de serviços e equipamentos. Para tornar o novo bairro um lar, foi necessária uma grande luta dos recémchegados junto às autoridades da época. O caminho foi a criação de uma associação que passou a batalhar pelos direitos dos moradores, para fazer do Dom Cabral um lugar melhor para se viver. O aposentado Antônio Roberto, 75 anos, é um dos fundadores do bairro e afirma que quando se mudou as ruas não tinham calçamento. Segundo ele, as casas eram pequenas e sem muro, não havia nem água encanada. "Tinha um poço onde eu buscava água", relembra. Os moradores começaram a redefinir e a agir no espaço, e atribuir outro significado a ele, como aponta a aposentada Olga da Silva, 76. "Umas baianas que moravam aqui na rua eram ami-
gas de uma vereadora que ajudou a asfaltar a rua. Quando chovia as ruas alagavam e ficava tudo com barro, aí a gente ia até o ponto com uma sandalinha velha e levava um pano pra limpar o pé e depois calçava o sapato", lembra. Ela ainda revela que só foi possível asfaltar as ruas porque os moradores arcaram com os custos do material, pois a Prefeitura só disponibilizou a mão de obra. Olga relembra também que só dois ônibus passavam pelo bairro: um de manhã e outro à tarde. O problema com a falta de transporte só foi resolvido com a chegada da Universidade Católica, atual PUC Minas. Em 1972, com a criação do MARCO, jornal laboratório do curso de Comunicação da instituição, os moradores ganharam voz. O jornal comunitário registrou os problemas, reivindicações e o cotidiano dos moradores. O bairro é delimitado por duas avenidas, 31 de Março (nome que faz menção à data do
Golpe Militar, em 1964) e Delta (hoje chamada Vereador Cícero Idelfonso e continuando como Santa Matilde). Um diferencial são as 14 alamedas, que separam o trânsito de automóveis do trânsito de pedestres. O interessante é que essas alamedas receberam o nome de pássaros, dado por Sarita Veloso, esposa do presidente da extinta Minas Caixa. Para Antônio Roberto é responsabilidade dos novos moradores manter o bairro e melhorar a situação. Uma das maiores preocupações que ele tem é com o meio ambiente, tanto do bairro quanto da PUC. Dona Olga ao ser questionada sobre o que permanece no bairro do passado brinca: "Muitos moradores". Entre vários moradores, é consenso o que foi apontado pelo aposentado Francisco Xavier de Souza, 82. "Aqui é um lugar tranquilo, a vizinhança é amiga", afirma. Ele acrescenta que não gostaria de se mudar, pois esse já é o seu canto. MARCELA NOALI
atenção dos taxistas que trabalham no ponto da praça. Eles estão ajudando a deixá-la mais limpa e convidativa com a adoção de medidas simples: colocaram um barril de plástico próximo à cabine de atendimento telefônico para servir como lixeira e algumas vezes ajudam a regar as plantas. O taxista Winner Assunção Pereira da Rocha, 23 anos, trabalha no Ponto de Táxi Dom Bosco há cinco anos e afirma que à noite a praça não é perigosa. "O pessoal acha que é perigoso, mas não é. A gente que está aqui 24 por dia sabe que não tem perigo não", contesta. Ele confirma, no entanto, que a praça está descuidada e diz que é difícil ver a Prefeitura realizando a limpeza ali. O taxista defende a construção de um cercado para preservar a grama, o que acredita ser uma ótima medida para deixá-la mais bonita. Luana considera que a instalação de brinquedos e aparelhos de ginástica revitalizariam a praça e faria com que os moradores a frequentassem mais. "Tem muita gente que caminha aqui na avenida (Avaí) à noite.
A sujeira e a falta de conservação da Praça Dom Bosco desagrada aos frequentadores Ia ajudar se colocassem (os aparelhos de ginástica) para o pessoal fazer ginástica". O marido Rafael, defende que não basta só ter a reforma da praça, mas que os moradores precisam ter mais consciência da importância da praça para a comunidade e ajudarem a preservá-la. Em nota a Secretária de Administração Regional Municipal Noroeste, a praça encontra-se em estado
razoável de conservação e alega que foi realizada, em março deste ano, uma reforma com pintura e jardinagem. A manutenção rotineira da praça é feita através do programa Bairro Vivo. Quanto à instalação de brinquedos no local, a Regional Noroeste realizou um estudo da região e após análise escolherá quais as praças que receberão estes equipamentos.
4 Cultura
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Dezembro • 2012
CIDADE QUE ACREDITA NOS BEATLES A paixão pelo quarteto de Liverpool que arrebatou fãs pelo mundo nos anos 60 atravessa gerações. Em BH, itens como livros, camisetas e discos raros mantém viva a música da banda n MARIA LUIZA ROCHA 1º PERÍODO
"Eu não acredito nos Beatles". Este é um trecho de "God", uma canção composta por John Lennon nos anos 1970, após o fim da banda. Se o próprio John Lennon, ao fim de sua vida, não acreditava no quarteto musical que formou junto a George Harrison, Paul McCartney e Ringo Starr, o mesmo não se pode dizer sobre os milhões de fãs dos Beatles, desde a década de 1960, quando a banda teve seu início, até a atualidade, atravessando gerações. Tamanho sucesso pode ser explicado pela inovação que os Beatles introduziram no meio musical. Segundo Rostabaldo Martins, 43 anos, jornalista mineiro que coleciona álbuns dos Beatles, além de jornais, revistas e raridades relacionadas a eles, os quatro revolucionaram ao criar rock direcionado aos jovens. "Antes da banda o rock era voltado às pessoas de 30, 40 anos de idade", explica. Jovens foram conquistados pelo "Fab Four" não apenas quando "o sonho ainda não havia acabado". Décadas depois, é comum encontrar muitos deles ao som de "A Day in the Life", por exemplo, um dos hits do grupo. Entre eles, Bárbara Cordeiro, 22, que teve o primeiro contato com a banda aos 11 anos de idade: "Na casa da minha avó tinha uma vitrola, vi o disco deles e coloquei para tocar. Isso bastou, foi amor à primeira vista", conta. Ou ouvida. Ela explica a paixão pela banda. "Sou muito extremista e acho que a banda carrega muito isso nas letras. Algumas são muito revolucionárias, outras muito sentimentais, outras muito agitadas", salienta. Ela conta também que não tem nenhuma tatuagem relacionada aos Beatles, por respeito à mãe, mas que faria sem a menor dúvida "uma tatoo os homenageando". A estudante de direito
Torcida para ver Paul McCartney A vontade de ver Paul McCartney cantar na capital mineira impulsionou a criação por um grupo de fãs de uma campanha chamada "Paul, vem falar uai". Essa campanha iniciou-se no facebook, dia 21 de novembro de 2011, com o objetivo de estimular empresários e produtores a trazer o cantor para, mineiramente, "falar uai". Uma das responsáveis pela página, Luísa Mattos, que é advogada, diz que não esperava que tantas pessoas acreditassem na iniciativa do grupo. "Mas a partir do momento em que tivemos tamanho apoio, achamos que as mídias iriam nos dar mais crédito. Sempre tivemos apoio do blog 'Beatles College', onde inclusive temos uma coluna quinze-
Lara Leonel, 19 anos, é fã de carteirinha e não hesita em comprar camisas personalizadas da banda inglesa. Seu gosto pelo grupo surgiu a partir da influência dos pais. "Desde pequena escuto as músicas dos Beatles. Era o tempo todo, no carro e em casa", conta. Com o tempo, Lara foi se interessando cada
nal, e por duas vezes aparecemos na Rede Minas", diz. Luísa está otimista: "Temos certeza que teremos cada dia mais pessoas curtindo nossa página. E para isso, continuamos trabalhando, buscando contatos e outras surpresinhas para quando confirmarem o show". A jornalista Priscila Brito também responsável pela página na rede social, acredita que o sonho parece "finalmente", mais próximo de se realizar. "A própria Secopa (Secretaria Extraordinária para a Copa do Mundo) já confirmou que está negociando para trazê-lo para tocar no novo Mineirão", justifica. Priscila começou a gostar dos Beatles na adolescência, e não foi por influência da
vez mais pelo quarteto, e hoje, eventos que contam com bandas cover do grupo são indispensáveis para a estudante. "Acho que hoje em dia sou mais fã que meus pais", brinca. Ana Carolina Longobucco, 18, conheceu os Beatles por meio de um parente. "Meu tio Olaf é muito mais RAQUEL DUTRA
Lara Leonel escuta Beatles desde pequena e coleciona camisas da banda
fã do que eu, apaixonado pelos arranjos melódicos do quarteto inglês. Do tipo que sabe um milhão de curiosidades e coleciona discos mega clássicos, ele me influenciou sim e aumentou consideravelmente meu contato com a banda", diz. Além da família, Ana Carolina diz ter sido influenciada por amigos e pessoas com as quais convive. "Tenho um amigo Joseph, que é inglês, apaixonado pelos Beatles. Trocamos figurinhas pela internet já há quatro anos. Não existe uma única pessoa que eu conheça que não goste de uma música dos Beatles. Mãe, pai, tias, primos e trilhas sonoras, cada qual me influenciou de uma forma", observa. "Somos produto do meio, mas ainda que não houvesse um meio adequado, gosto de pensar que a estranha popularidade dos Beatles ainda me cativaria", acrescenta. A canção favorita de Ana Carolina é "Blackbird”, do álbum "The Beatles" (Álbum Branco), por causa da melodia, das batidas dos pés de Paul no assoalho que "a tocam de verdade", e pelo significado da frase "take this broken wings and learn to fly". “Me encoraja em muitos momentos difíceis. Coleciono camisas de bandas e tenho quatro dos Beatles, além de CD's é claro, mas
família, nem dos amigos, nem de qualquer outra pessoa que conheça. "Não foi por influência de ninguém, o mérito é todo do Paul, do John, do George e do Ringo. Sempre gostei de rock, mas os Beatles eram diferentes de tudo que eu já tinha escutado. Ainda lembro do espanto que algumas músicas me causaram, de tão diferentes que eram de tudo que eu conhecia", ressalta. A publicitária Camila Flores, outra das responsáveis pela "Paul, vem falar uai", diz que o grupo promove encontros para fãs de Beatles. Eles convidam diversas bandas covers da cidade, como a 3 of us, Revolver, Anthology, Hocus Pocus, Yesterdays e a Sgt Pepper's, e fazem parceria com alguns bares de rock. "Organizamos diversas atrações, para unir cada vez mais o público beatlemaníaco daqui. Fizemos duas festas com grande contingente de pessoas, uma no Stonehenge Rock Bar, e outra na Velvet, o público compareceu em peso", afirma.
não me interesso muito por biografias, música é para ser ouvida", justifica. Ela diz curtir shows de bandas cover. "São shows onde as pessoas sabem cantar e em um momento de maior excitação, têm a linda ousadia de se voltar uns para os outros e cantar juntos. E por que não? Estranhos e velhos amigos". Diferentemente de Bárbara, Ana Carolina e Lara, outros jovens adquiriram gosto pelos Beatles sem a influência da família. É o caso de Pedro Humberto Tavares, 19, que conheceu o som da banda por conta própria. "Já tinha ouvido eles na infância, mas não gostava justamente por meu pai gostar, tinha esse preconceito bobo, o que mostra que não foi nada por influência. Comecei a procurar músicas para ouvir, no You Tube mesmo, e comecei gostando deles. Depois de pouco tempo, já tinha para mim que era a melhor banda", conta. Ele foi ao show do Ringo, no Chevrolet Hall, em 2011. "E pretendo ir ao do Paul em BH, e já fui em alguns covers. Gosto de ir, e gosto dos shows exclusivamente por causa das músicas. Quanto mais próximo do original, melhor". Mas faz uma ressalva: "A não ser que seja um cover que não tem essa intenção, que goste de fazer interpretações dife-
rentes, aí pode ficar bom também". Pedro diz que nunca participou de grupos ou encontros de beatlemaníacos. "Nunca fui, nunca participei e não pretendo participar. Dá pra ouvir eles sem precisar fazer parte de qualquer grupo. Discutir sobre os Beatles, discuto com meus amigos e irmão", comenta. Jaísa Quintão Machado, 21, também já considerou o som da banda ultrapassado, mas mudou radicalmente de ideia. "Conheci os Beatles através do meu pai, da minha família, nem gostava muito, achava meio antiquado, mas depois que passei a ouvir direito me apaixonei. Melhor banda de todos os tempos com certeza", diz. Jaísa conta que já foi ao show do "próprio Paul McCartney", nas palavras dela, e em vários covers: "Aqui em BH já fui na Hocus Pocus, St. Peppers Band, Beatles in Concert e All You Need is Love, que foi minha favorita, por ter uma produção maior e pelo fato dos integrantes da banda serem parecidos com os Beatles e se vestirem igual durante o show, trocando a roupa de acordo com a época de cada música". Assim como Pedro, não costuma ir a encontros de fãs. "Nunca tive interesse nessas coisas, pode ser até pelo fato de não conhecer nenhum", afirma.
Rede social é ferramenta para troca de informações sobre Beatles Outra página no Facebook relacionada aos Beatles é o grupo "Beatles Bh", criado pelos jovens Fabio Scarpelli Aguiar, 16 anos, Lucas Ottoni, 17, e Milena Megre, 14. Fabio conta que os três eram da mesma escola, e começaram a conversar sobre os Beatles e sobre a campanha "Paul, vem falar uai". Assim, surgiu a ideia de criar um grupo na rede social mais popular atualmente, a fim de que beatlemaníacos pudessem trocar informações de interesse comum, como links de vídeos, fotos, matérias e textos de blogs que tenham a ver com a banda. Estão tentando organizar um encontro dos membros do grupo. "Porém um lugar para isso é difícil", diz. Segundo Fabio, a página não foi divulgada. "A maioria das pessoas se convidaram. A maioria do povo é de BH, mas tem gente de fora também", diz. Para Marcelo Thomé, contrabaixista da Anthology, cover mineira dos Beatles, o som do quarteto de Liverpool "já virou música clássica, que vai perdurar nos próximos milhões de anos”. “Qualquer pessoa que goste de música e comece, desde cedo, a pesquisar a respeito do que já passou de bom por este mundo, irá deparar com estes quatro monstros de Liverpool. A paixão, então, é inevitável. Quem conhece sabe que a obra é extremamente vasta: de baladas a rock and roll, de country music ao experimentalismo, do heavy rock ao psicodelismo", observa. Ele diz notar uma diferença
entre o público jovem e o adulto nas apresentações da Anthology. "Aqueles que eram jovens nos anos 60 preferem escutar o rock and roll nostálgico do início da carreira dos Beatles, o chamado yeah yeah yeah. Os jovens de hoje, por outro lado, que não viveram os anos 60, gostam mesmo é do psicodelismo da segunda fase, de 1966 a 1970, época do experimentalismo e da rebeldia, do que chamamos de ‘lado B’, com canções não tão conhecidas", explica. A Anthology foi uma das bandas participantes da BH Beatle Week, realizada na última semana de novembro. A Hocus Pocus também se apresentou. Jô Andrade, que faz parte desta banda cover, diz que "já era tempo de BH fazer uma Beatle Week. Com certeza BH é a cidade que mais tem bandas cover exclusivamente dos Beatles", salienta. Os gêmeos Saulo Oliveira Ramos e Samuel Oliveira Ramos, 20, compartilham não somente a mesma aparência, como o mesmo espírito beatlemaníaco. Eles estavam na fila para compra de ingressos do Palácio das Artes, à espera de adquirir entradas para a BH Beatle Week. "Sonho nosso é ir na Beatle Week lá de Liverpool. Então, quando a gente ficou sabendo que teria uma em BH a gente ficou animado pra caramba", explica Saulo. Samuel acrescenta que a preferência da dupla de gêmeos é a Orquestra Ouro Preto, que “é bem legal também". Saulo diz que conheceram o som da
banda por influência de um amigo. “O pai dele o influenciou e tudo. Ele apresentou pra gente os Beatles e hoje talvez a gente escute dez vezes mais do que ele. Porque a gente passa mesmo o dia escutando Beatles lá em casa". Saulo conta que tem planos de fazer uma banda cover. "Porque a gente é muito fã mesmo de Beatles. Só temos três integrantes ainda, que é um menino que mora com a gente e nós dois", revela. Um integrante a menos não é problema para a 3 Of Us, banda cover dos Beatles que conta com três membros, em vez de quatro. Eles explicam que em meio a tantas formações com quatro integrantes, esse é um dos diferenciais da 3 Of Us. O grupo executa um repertório que privilegia músicas onde essa formação dá conta perfeitamente do recado. Quanto a diferenças entre o público jovem e o adulto, eles dizem que os mais jovens tem todo o gás necessário para aguentar uma noitada, independente do dia da semana, se é quarta, sexta-feira ou sábado. Tudo depende também do lugar onde está acontecendo o show. Num pub, o público é mais jovem, numa casa de show, meio a meio. Normalmente em eventos fechados o público cabeça branca é mais volumoso. O importante dizem os fãs dos Beatles é que todos estão ali para se divertir. Quem gosta dos Beatles, gosta de aproveitar a vida, independente da idade. Como diz sempre Ringo Starr, "Peace and Love!".
Cidade Dezembro • 2012
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n FABIANNA GATTI 3º PERÍODO
Na sala superior de uma casa antiga, construída pelos fundadores da instituição, em terreno doado pela Prefeitura de Belo Horizonte, Efigênia Batista Mendes, 82 anos, toca um piano e canta a canção “Reminiscência Triste”, de Carmen Miranda, lembrança de sua época. “O meu bangalô abandonado é triste com razão/ porque nele habitou alguém que nunca teve coração/ como reminiscência o que ele me deixou foi/ um lindo canarinho que ao sentir a sua ausência nunca mais cantou...”, entoa a mulher que deixou a cidade de Mariana aos 9 anos para estudar no Instituto São Rafael, no Barro Preto, na Região Centro-Sul da capital. Ela diz ter gostado de aprender coisas novas no Instituto, especialmente, música. “Saí de Mariana, meu pai já tinha falecido e eu nem sabia da minha mãe. Não tenho irmãos, morei com a minha madrinha de batismo até o dia que ela me trouxe para o instituto”, relembra. Porém, quando o instituto deixou de ser um internato, Efigênia contou com a ajuda do Lar das Cegas para morar e está lá desde 1957. “Não tenho mãe, pai, irmão. Ninguém da família, ninguém mesmo”, lamenta. Sem família, ela diz que o lar é a casa dela. A moradora mais antiga da casa é a diamantinense Maria de Jesus Lopes, 88 anos. Ela chegou ao lar aos 30, dois anos antes de Efigênia. “Cheguei aqui e já fui trabalhando. Ajudava na cozinha e ensinava as meninas que chegavam e não sabiam nada”, lembra. Maria de Jesus conversa e se dá bem com todas as residentes da casa, mas “as prediletas são essas duas aqui”, diz, segurando a mão de Efigênia e Maria Aparecida Martins de 58, residente há 31 anos no lar e que luta contra um câncer desde maio deste ano. As três amigas dividem o mesmo quarto e se dizem muito felizes com a amizade de mais de 30 anos. Com 79 anos de existência, a Associação Louis Braille, situada no Bairro Floresta, foi criada com o propósito de transformar pessoas cegas, excluídas socialmente, em pró-ativas. A entidade man-
CEGAS TÊM CARINHO E APOIO NA CAPITAL Localizada no Bairro Floresta, a Associação Louis Braile deseja retomar atividades que foram extintas por falta de voluntários e doações, dando apoio à mulheres cegas e carentes vindas do interior de Minas Gerais para a capital FABIANA GATTI
Efigênia Batista Mendes mora há 55 anos no Lar para cegas, disponibilizado pela Associação Louis Braille, que se tornou a sua família tém o centro de apoio Lar das Cegas. Hoje, a casa, com 14 internas de 26 a 88 anos, acolhe desde 1943, mulheres cegas ou com visão subnormal, carentes, vindas do interior de Minas Gerais que querem estudar e precisam de um lugar para residir. A rotina da casa é tranquila. As residentes acordam cedo e sempre almoçam por volta das 11 horas. As mais jovens, como Cartiene Valguiane de Souza Soares, 26 anos, estudante de curso superior, saem de casa com frequência, pois conseguem pegar condução e se locomovem com mais facilidade. Algumas têm a oportunidade de estudar pela primeira vez e frequentam o Instituto São Rafael, como Nívia de Paula Martins, 52, que se diz satisfeita com os estudos e gosta de aprender. Outras buscam cursos profissionalizantes. Eloísa Cristina Ferreira, 39, é massagista e deseja se inserir no mercado de trabalho. Nas segundas-feiras, as cegas recebem o contador de histórias e músico, Maurício Trindade, que aquece o coração dessas mulheres com um violão e belas histórias em três anos de dedicação. Nas
manhãs de quinta-feira, o professor de Educação Física, Rogério, e sua equipe, todos do Serviço Social da Indústria (SESI Minas), realizam atividades de dança e alongamento com as idosas, sendo os exercícios de fácil execução. A associação, quando criada, desenvolvia projetos e serviços, como doações de bengalas e regletes (espécie de prancheta utilizada para gravar letras em braile) para pessoas carentes; reabilitação e prevenção da cegueira; cursos de orientação e mobilidade; dentre outros. Porém, por causa do pouco incentivo e auxílio, essas e outras importantes atividades foram extintas. Hoje, mantém em funcionamento o curso de informática. Os cursos de Braile, Inglês e Mobilidade dependem de recursos para serem implementados. Com a boa vontade, dedicação e determinação do presidente e coordenador, Caio Pimenta, 70 anos, que é engenheiro químico, a casa que abriga essas mulheres consegue se manter, apesar das dificuldades. Ele além de ser um voluntário do lar, trabalha na Organização Nacional da Indústria
do Petróleo (Onip), organização que busca a criação e o desenvolvimento de empresas nacionais para atenderem a grande demanda da área de petróleo e gás. Caio chegou ao lar por acaso, quando conheceu o cego Luís Geraldo que faleceu aos 54 anos em decorrência de uma infecção. O coordenador diz conhecer cegos que são juízes, advogados, jornalistas, médicos, pós-doutores em programação de computadores. “(A cegueira) é só uma questão de orientação e apoio, e de como se comunicar com o mundo”, argumenta. Além disso, ressalta a importânica do voluntariado fazer toda a diferença para manter em andamento as atividades do lar e da associação. A principal verba é fornecida pela Prefeitura de Belo Horizonte e, além dela, a entidade conta com algumas doações de voluntários e empresas parceiras. Com a verba da Prefeitura, oito funcionários recebem um salário fixo, dentre eles, quatro cuidadoras de idosos que se revezam para acompanhar as mais velhas. Das 14 mulheres cegas, 13 recebem um salário mínimo mensal para se
Cuidar da visão é tarefa muito importante A visão pertence aos cinco sentidos e é ela que promove a interação com o mundo e a percepção da vida. Existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo 582 mil cegas e mais de 5 milhões com baixa visão, é o que aponta os dados do Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Anualmente, na segunda quinta-feira do mês de outubro, se comemora o Dia Mundial da Visão, principal ação do Programa Visão 2020: O Direito à Visão, que é iniciativa conjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB). O objetivo do programa é eliminar a cegueira evitável em todo o mundo até o ano de 2020. Paulo de Tarso Gonçalves, 37 anos, especializando do terceiro ano em Oftalmologia pela Clínica de Olhos da Santa Casa, destaca a importância de se
começar cedo a perceber qualquer problema nos olhos. “Uma das coisas que devemos prestar muita atenção é se o bebê (em torno dos 4 meses de idade) segue objetos com os olhos e, também, se possui o reflexo vermelho retiniano (quando os olhos ficam vermelhos, em baixas condições de luz, ao serem fotografados), pois esses sinais são de que a visão, aparentemente, não apresenta problemas. A mãe ao perceber qualquer alteração nos olhos da criança deve procurar um oftalmologista, o mais rápido possível”, explica. A cegueira poderia ser evitada em cerca de 80% dos casos, como informa o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Por isso, é importante se conscientizar da necessidade de acompanhamento médico especializado, para evitar que os problemas dos olhos se agravem e resultem em cegueira.
manterem; benefício, esse, recebido do Governo Federal por meio da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas). Uma importante contribuição vem dos membros do Lions Clube de Belo Horizonte que auxiliam o presidente na administração da casa e organizam três festas anuais Festival de Sorvetes, Festa Junina e Bingo - que além de serem um belo momento de confraternização inclusiva, arrecadam recursos para as carências da associação. Maria Francisca da Silva, 69, a Chica, chegou na casa em 1970 e tem uma história diferente, pois além de ser cega, ela é surda-muda e não possui paladar nem olfato. Quem quer conversar com ela, precisa saber a língua brasileira de sinais (Libras), pois é tateando o sinal que Chica compreende as palavras. Apesar de todas essas limitações, é uma pessoa alegre, receptiva, risonha e cuida de uma pequena horta, com 34 tipos de ervas medicinais, adaptada para que Chica e as outras mulheres possam caminhar entre os canteiros elevados. Cada uma das ervas possui identificação em braile. Além disso, há um sistema de irrigação diferenciado para que as cegas consigam regar as plantas. “Sempre precisamos de voluntários. Aqui, tem muita coisa a ser feita”, acrescenta o coordenador. Além disso, ele menciona o quanto é importante manter as mídias digitais atualizadas. “Só fizemos uma edição de jornal, nosso site, blog e twitter precisam de atualizações constantes, mas para isso preciso de pessoas dispostas a se tornarem voluntárias aqui. O lar precisa de todo tipo de ajuda”, complementa. Quando questionado sobre o que o lar representa para ele, Caio responde enfaticamente. “Não é a associação que representa algo pra mim, mas sim o conceito do trabalho voluntário”, revela. Com 20 anos de trabalho voluntário, só na associação, Caio mostra disposição e ânimo para acreditar nas pessoas e cuidar de quem precisa. “Sofrimento não faz ninguém crescer. O sujeito quando é forte ele reage ao sofrimento, ele consegue superar e crescer, mas a maioria sucumbe. O que faz o sujeito crescer é o carinho, o estímulo, a valorização”, conclui.
“Muitas doenças relacionadas à visão, não manifestam sintomas. Por exemplo, o glaucoma é uma doença que, se não for controlada, pode levar ao dano irreversível”, explica o especializando em Oftalmologia. Até mesmo, alguns medicamentos, quando usados por longos períodos, podem comprometer a visão. Paulo de Tarso aponta as principais causas de cegueira, no Brasil. “São o glaucoma, a catarata, o diabetes, a degeneração macular relacionada à idade e o tracoma (afecção bacteriana relacionada com precárias condições socioeconômicas, de saneamento e de desenvolvimento humano). Além dessas, existem outras doenças que podem afetar a visão, como toxoplasmose, hipertensão, ceratocone, rubéola etc”, exemplifica. “Sugiro um bom site para que as pessoas se atentem para cuidar dos olhos como se cuida de qualquer outra parte do corpo; é o do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (www.cbo.com.br), lá existem muitas informações importantes que devem ser lidas”, recomenda.
6 Cidade
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ESCASSEZ DE EMPREGADAS DOMÉSTICAS NO INTERIOR Oliveira, cidade do Sudoeste de Minas Gerais, assistiu à migração dessas funcionárias para outros setores da economia, como indústrias GABRIELLE ASSIS
n GABRIELLEASSIS MARIANA LUIZA ALMEIDA 2º PERÍODO
Em Oliveira, na região Sudoeste de Minas Gerais, a 170 quilômetros de Belo Horizonte, a figura da empregada doméstica é cada vez mais incomum, já que as mulheres estão migrando para outros setores da economia. "Eu fiquei mais de 12 anos trabalhando como doméstica, aí com a Kromberg, o salário não é tão bom, mas, pelo menos você tem uma chance de crescer profissionalmente. Eu comecei em uma função, e hoje, depois de dois anos, já subi de cargo", conta Wilianara dos Santos, funcionária da empresa Kromberg&Schubert. O aumento de empresas, a valorização de outros tipos de serviços e o desejo de ascender socialmente são características muito comuns na sociedade oliveirense. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2009, quando a empresa alemã Kromber&Schubert, que fabrica chicotes para carros, instalou-se em Oliveira, o número de emprego com carteira assinada passou de 393 para 872, em 2010. De acordo com dados da empresa, a maioria das pessoas que começou a trabalhar lá, migrou da zona rural e de outros setores, principalmente dos empregos domésticos. Por causa do aumento de empresas na região, a presença de diaristas tornou-se cada vez mais frequente. Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que em uma década, entre 1998 e 2008, o número de diaristas no Brasil quase duplicou, passando de
Wilianara, assim como outras profissionais, deixou o emprego de doméstica em busca de um carreira melhor 17% para 25% do total de trabalhadores domésticos. O crescente número de diaristas acontece porque a renda mensal aferida por elas tende a ser maior que a renda de uma assalariada mensalista. Além disso, para os empregadores, fica mais tranquilo custear uma diarista, como conta a professora Claudiane Gonçalves Vilela. "Ter uma diarista é mais vantajoso porque, no final do mês, o custo fica menor, fica mais em conta financeiramente", afirma. De acordo com o sociólogo e professor da PUC Minas, André Junqueira Caetano, existem três tendências, nos últimos anos, no que diz respeito ao trabalho doméstico: a diarização, a migração das mulheres para outros tipos de serviços e a diminuição da parcela de imóveis com áreas de serviço. "Na primeira, a pessoa passa de assalariada para diarista; uma tendência
mais recente é a diminuição da proporção de mulheres nesse tipo de trabalho, porque outros ramos de serviço precisam de mão de obra de baixa qualificação; e o emprego de doméstica com residência na casa do empregador é uma tendência declinante, por conta, inclusive, de uma questão de valor da terra, diferentemente da década de 1970, em que o modelo era construir um apartamento ou uma casa com instalações de empregados, que é um resquício da estratificação social", afirma. Por causa desses fatores, encontrar empregadas domésticas torna-se cada vez mais difícil na cidade. "Aqui, em Oliveira, quando se consegue encontrar uma pessoa responsável, honesta e cuidadosa, você não consegue mantê-la por muito tempo em sua casa, pois o valor do salário que ela cobra foge da nossa realidade, uma vez que concorremos
com empresas, lojas e outras formas de serviço mais valorizadas pelas mulheres", conclui a supervisora escolar Alda Maria Dias Morais. "Nós precisamos que alguém faça o trabalho doméstico. Mas, não é assim em todos os lugares do mundo. Se você quiser ter uma empregada doméstica nos Estados Unidos, você vai ter que pagar caro. Lá, existem oportunidades no mercado de trabalho muito mais interessantes que o trabalho doméstico. Quem faz o trabalho doméstico é o imigrante", define o sociólogo André Caetano. No Brasil, vem acontecendo um crescimento na qualificação da mão-deobra e no número de vagas no mercado de trabalho melhor remuneradas, o que acaba diminuindo a parcela de trabalhadores disponíveis para os serviços domésticos.
Dezembro • 2012
Raridade atualmente, ainda existem empregadas que preferem morar na casa dos seus patrões Antigamente, muitas famílias tinham em suas casas quartos destinados para a moradia de empregados. Ao longo dos anos, este cenário foi mudando, devido, principalmente, ao alto preço dos imóveis. Com isso, as famílias passaram a ser mais independentes e as trabalhadoras tiveram mais liberdade, melhores oportunidades de emprego e salários mais dignos. Mesmo com todas estas mudanças, ainda existem empregadas domésticas que vivem na casa dos patrões. Essas mulheres fazem todo o serviço doméstico, e, por fim, acabam se aproximando ou até mesmo tornando-se parte da família. É o que acontece com Benedita Ferreira da Silva, que já morou em duas casas de família, uma na cidade de Divinópolis-MG e, atualmente, em Candeias, ambas no Oeste de Minas, onde trabalha há nove anos e tem uma relação de amizade muito forte com a família. "Eu não me imagino vivendo longe daqui, além de ser mais fácil morar no lugar onde trabalho, seria muito cansativo ter que vir todo dia", afirma. Em Belo Horizonte, mesmo com o aumento efetivo no número de diaristas, é possível encontrar, também, casos onde a empregada prefere viver no local de trabalho. Cláudia Bastos Ferreira começou a trabalhar como doméstica aos 16 anos e, desde então, morou na casa dos patrões. Hoje, aos 20 anos, Cláudia deixou a casa onde viveu por quatro anos e está recentemente morando em outra casa de família. "Acho mais fácil morar aqui, porque eu não preciso ficar enfrentando o trânsito pra chegar ao trabalho, isso é muito cansativo e, aqui, minha relação com a família é boa, não tenho com o que me preocupar", conta.
GABRIELLE ASSIS
Laços que vão além do trabalho Com toda a modernidade, a violência e a falta de segurança, fica cada vez mais difícil encontrar pessoas confiáveis para trabalhar como empregadas domésticas. Mas a presença dessas funcionárias é indispensável, principalmente para quem era dona de casa e, hoje, trabalha fora. É incomum encontrar pessoas que tenham disponibilidade, paciência, aceitem um salário mínimo e queiram trabalhar como domésticas. Mas, mesmo assim, ainda há pessoas que trabalham em casas de família há mais de uma década. A professora Maria Irene Salgado Saraiva tem uma ajudante há 19 anos. "Ela dá opinião na vida pessoal da gente, é uma pessoa que vive ali mesmo, no dia a dia. Se você está sofrendo, se está alegre, se aconteceu isto ou aquilo, ela escuta, ela ouve, ela vê tudo, é muito íntima da gente, às vezes, até mais que um irmão, que você vê só de vez em quando", diz. A presença da doméstica torna-se tão habitual, que muitas patroas deixam a casa e a família na mão das funcionárias. A empresária Cláudia Helena Vieira Figueiredo tem uma funcionária que
trabalha em sua casa há 15 anos e diz que mantém uma relação de amizade com ela. "Tem muito tempo que a Silmara está aqui e eu não preciso falar nada mais com ela. O hábito da rotina de trabalho já está tão fixado, que é ela que comanda a casa. Além disso, tem muita coisa que eu não comento nem com amiga, mas que eu comento com ela", afirma. Silmara Maria da Silva conta que sempre trabalhou como doméstica e que todas as vezes que tentou trocar de trabalho, não deu certo, e acabou voltando pra casa da Cláudia. "A gente acostuma com a família, com os meninos, é um trabalho muito bom", relata. Rita Aparecida de Castro Chagas tem na funcionária doméstica uma integrante da família. Sua mãe, Dona Santinha, de 91 anos, precisa de alguém para cuidar dela e, como Rita trabalha fora, precisa de uma ajudante. "Ela está comigo desde que eu casei, há 25 anos. Todo mundo considera ela como mãe aqui, porque ela coopera com tudo que a gente pede e está sempre disposta a fazer as coisas pra gente. Ela criou os meus filhos e ajuda a cuidar da minha mãe", conta.
Rita e Sônia, uma relação que vai além de patroa empregada, uma verdadeira amizade
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MICROEMPRESÁRIOS ESTÃO EM ALTA Pessoas começam pequenos negócios do zero e investem pesado para conquistar o sucesso no mercado. Segmento conta ainda com apoio da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa n ALICE DUTRA CAMILA FONSECA DÉBORA SOUZA MARINA RIBEIRO 7º PERÍODO
Após 10 anos de dedicação, Antônio José da Silva, 53 anos, foi despedido da empresa em que trabalhava. Segundo ele, os primeiros dias em casa foram bem difíceis. "Eu tinha que sustentar a minha família e não sabia como iria fazer, estava ficando desesperado", afirma. Depois que o susto passou, Antônio teve a ideia de abrir um bar em sua cidade, São João Del Rey, no Campo das Vertentes. Ele não quis revelar quanto ganha por mês com o estabelecimento, mas conta que consegue manter sua família. "Apesar das dificuldades que enfrentei no inicio, hoje está tudo caminhando bem. Eu sustento a minha mulher e os meus
filhos com o dinheiro do meu bar", ressalta. O estabelecimento de Antônio faz parte das 750 mil microempresas e empresas de pequeno porte que existem em Minas Gerais, número que representa 99% das organizações do Estado, segundo dados do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas). Elas estão distribuídas pelos diversos segmentos de mercado, os setores comerciais correspondem a 45,6% do total. Em 2012, a sanção da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa completou cinco anos, consolidando vantagens para o segmento, como redução de carga tributária, desoneração na folha de pagamento, maior participação em licitações públicas e redução da informalidade. Essas vantagens estimularam Lucas Gamboi Car-
valho, 29 anos, a abrir um bar em frente ao Campus da PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico. Ele explica que seu público é formado 80% por estudantes. "Os maiores frequentadores do meu bar são os alunos da universidade. Tenho alguns clientes mais velhos, mas a predominância mesmo é dos jovens", revela. Lucas conta que não abriu o bar na região por coincidência. Segundo ele, a universidade faz com que a movimentação no bairro cresça e, por consequência, nos estabelecimentos que estão ao redor. "Todos sabem das dificuldades de se ter uma microempresa, os gastos são sempre grandes e o retorno não é tão bom. Por isso, escolhi abrir o bar no Coração Eucarístico, porque o movimento seria grande e a possibilidade de ter o lucro era maior", pondera.
Mas Lucas ressalta que é preciso investir pesado no período letivo, já que o bairro é universitário e nas férias a maioria dos estudantes volta para suas cidades de origem. "Quem passa aqui no bar numa sexta-feira no período escolar não reconhece o lugar durante as férias. Às vezes, dependendo, eu prefiro nem abrir o estabelecimento durante as férias. Acho que posso ter até prejuízo devido aos gastos com energia elétrica", conta Lucas. Desde maio do ano passado, além dos espetinhos, o Stop Grill passou a servir o famoso "prato feito" durante o horário de almoço a um preço que o proprietário considera acessível aos universitários, mas que também fosse lucrativo ao estabelecimento, o que é "fundamental" para manter qualquer comércio ativo.
Estudantes se encontram no bar Stop Grill no Bairro Coração Eucarístico
Crescimento é difícil e instabilidade pode acabar com os negócios Apesar do crescimento das micro e pequenas empresas no Brasil serem facilmente notáveis, muitas delas não conseguem suportar as dificuldades dos primeiros anos de vida, tanto pela competição do mercado, quanto pela falta de capacitação adequada do pequeno empresário para a condução do próprio negócio. Assim, os microempresários tentam atrair a clientela de diversas formas. Segundo dados do Sebrae Minas, pelo menos 60% das pequenas e micro empresas são fechadas antes de completarem cinco anos de funcionamento. O diretor técnico do Sebrae Minas, Luiz Márcio Haddad Pereira, destaca a importância dos primeiros meses de vida para a microempresa. "O começo dos negócios é a fase de maior atenção, dedicação e ajustes. Os
esforços devem se concentrar na gestão e aprimoramento da empresa, principalmente nos primeiros meses", ressalta Luiz. Para Paulo Nunes, dono de uma pizzaria na Pampulha, a grande dificuldade no inicio é o retorno financeiro e também a busca por profissionais qualificados "No começo a falta de capital e a falta de experiência são os grandes empecilhos. Depois surge o problema de encontrar bons funcionários e fazer um planejamento para o crescimento da empresa", afirma. Paulo ainda ressalta que outra preocupação que os microempresários devem ter é com a fidelização da clientela "O importante para as pessoas envolvidas na empresa é ter uma clientela fiel. Nós somos pequenos e temos consciência do que podemos ou não fazer", explica.
Jovens e empreendedores n BRUNA FONSECA CARLOS EDUARDO ALVIM CINTHIA RAMALHO NATHÁLIA BUENO 7º PERÍODO
Quando os clientes do Restaurante e Mercearia Boa Mesa pedem para conhecer o dono do estabelecimento, se surpreendem ao avistar o adolescente Yago Oliveira de Siqueira, de apenas 19 anos. O jovem realizou o sonho de abrir o próprio negócio há um ano com a ajuda do padrasto, a quem chama de pai, e da mãe, que investiram R$ 120 mil no restaurante e mercearia na cidade de Esmeraldas, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Yago se formou na Escola Técnica de Formação Gerencial do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae minas), e, hoje, após ter pago com o lucro do seu negócio o valor que sua mãe
e seu padrasto emprestaram a ele, repete várias vezes, "tenho 60% da empresa, mas já estou me planejando para comprar os 40% dos meus pais". A família de Yago tem dois supermercados, um açougue e um depósito de gás em Ribeirão das Neves. Além disso, um dos irmãos do jovem empreendedor administra outro restaurante no Condomínio Vale do Ouro com apenas 22 anos. "A vocação para os negócios começou ainda na infância, sempre gostei de trabalhar e ‘correr’ atrás do dinheiro. Aos 12 anos, eu acompanhava minha mãe em eventos e festas nos finais de semana", conta Yago. Depois, foi trabalhar no supermercado da família, mas nunca quis atuar na empresa, pois seu foco sempre esteve na criação do seu próprio estabelecimento comercial, unindo suas duas paixões:
negócios e gastronomia. O restaurante hoje tem 12 funcionários com carteira assinada. Nos finais de semana, como o movimento aumenta, ele contrata mais quatro pessoas. Yago estima que nos finais de semana "comuns" chegam a passar ali entre 500 a 800 pessoas. "Quando acontecessem outros eventos esse número passa para 1 mil pessoas", estima. Em média seu rendimento é de R$ 13 mil por mês. "Com o carnaval desse ano foi de R$ 22 mil", lembra. Yago conta que quando assumiu o restaurante ele fez muitas mudanças e que a formação na área dos negócios foi essencial para seu sucesso. O jovem acredita que sua idade nunca atrapalhou por se sentir que estava preparado para ter seu restaurante. "Alguns clientes têm um certo preconceito. As pessoas não estão preparadas para aceitar que
Paulo acredita que na região em que funciona seu estabelecimento, o poder de compra da população é alto e isso ajudou no momento da empresa crescer. "É importante pensar no público que você vai atingir quando abre um bar. Essa região apresenta uma população de classe média para cima e, consequentemente, com um alto poder de compra. Isso vai ajudar na hora do retorno financeiro do que você investiu", observa. Paulo acha importante também sempre inovar, já que o mundo está em constante mudança. "Não adianta ficar estagnado no tempo, temos que acompanhar, pelo menos o mínimo possível a tecnologia e as novidades do mundo para atrair os clientes. As pessoas gostam de novidade", finaliza.
Experiência fora do país traz aprendizado e fomenta inovação Ana Méria Nunes, diferente de Yago, não teve ajuda dos pais para começar um empreendimento. Formada em jornalismo e em teatro, decidiu viajar para Londres para aprender inglês. Na capital inglesa, conta que passou muitas dificuldades por não saber o idioma. "Fiquei presa na imigração e tive minhas malas apreendidas, não sabia explicar nada em inglês, já comecei passando aperto", exemplifica. Com as experiências e "apertos" que passou durante seu intercâmbio Ana Méria, ao voltar para o Brasil, criou um novo método de ensino de inglês, baseado nas situações complicadas que alguém que desconhece uma língua pode viver. Durante um ano, trabalhou como professora de inglês em uma escola de
jovens administrem e tenham seu próprio negócio, pelo fato dele ser novo, muitos acham que não é capaz de resolver as coisas mais importantes relacionadas à administração. Muitos
idiomas, onde tinha três turmas, além dos alunos particulares. A alta demanda de aulas fez com que Ana Méria decidisse abrir seu próprio negócio. Logo, abriu em sua própria casa um escritório e hoje trabalha sozinha utilizando o método de ensino que ela mesma criou. "Sou uma atriz formada, uma jornalista desempregada e dou aula de inglês", brinca. Hoje, com 32 anos, a professora tem 41 alunos e dá aula em três empresas. Ela trabalha, em média, dez horas diárias, de segunda a sexta-feira. "Trabalho por conta própria. Sou patroa e empregada, faço os meus horários e programo a minha semana. Coisas que em outra profissão não seria possível. Isso não tem preço", explica.
chegam e pedem para falar com meus pais, achando que são eles que administram o restaurante", relata. Em relação aos fornecedores, Yago afirma que alguns se aproveitam do fato
de sua pouca idade para tentar "passar a perna", mas não se incomoda. "Tenho experiência, observei meus pais a vida toda e hoje tenho minha formação, isso basta", conclui.
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PERÍODO DE CHUVAS GERA MEDO E A capital mineira sofre, ano após ano, com enchentes e deslizamentos em função das constantes chuvas desta época. Apesar de terem sido feitas algumas obras por parte da Prefeitura, FELIPE AUGUSTO VIEIRA
n CAROLINA SANCHES FABIANNA GATTI FELIPE AUGUSTO VIEIRA ÍGOR PASSARINI JOANA DINIZ ARAGÃO RAQUEL DUTRA 3º, 4º E 5º PERÍODOS
Construída sobre montanhas e leitos de rios, Belo Horizonte possui inúmeras áreas de risco, entre regiões de inundação e deslizamentos. A falta de infraestrutura e o crescimento desordenado da cidade, somados às medidas meramente paliativas por parte das autoridades municipais, fazem com que as chuvas, constantes nessa época do ano, transformem a época festiva de final de ano um período de agonia e sofrimento para milhares de famílias. Segundo levantamento da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), concluído no final de 2011, são 2.761 edificações em situação de risco geológico, espalhadas em 113 vilas da cidade. Na Região Noroeste, de acordo com o levantamento do Diagnóstico da Situação das Áreas de Risco Geológico das Vilas e Favelas em 2011, são cinco comunidades que encontram-se em situação de alto risco de deslizamento de encosta, totalizando 47 edificações. São elas: Vila Senhor dos Passos, Vila Coqueiral, Vila São Francisco das Chagas (Peru) e Vila Nova Cachoeirinha I e II. Na Vila Nova Cachoeirinha, Deolinda Patrocínio de Oliveira, 61 anos, moradora há quase 30 anos, tem abaixo de sua casa uma encosta. Ela diz que quando ocorrem essas chuvas fortes sente medo. "A gente entrega na mão
A moradora da Vila Coqueiral Marina da Silva mostra a pedra que escora a única viga de sustentação da lateral de sua casa de Deus porque não tem recurso, não tem o que fazer, não tem para onde ir com as crianças, minha mãe é de idade, fica complicado", desabafa. De acordo com ela, faz três anos que a Prefeitura derrubou a casa ao lado e indenizou os moradores. "Uma coisa que eu não consigo entender é porque não fizeram o mesmo com a gente, sendo que estamos tão próximos. Falaram só que era para eu ter cuidado, e que quando visse qualquer coisa, que saísse fora", relembra. Apesar da sua casa não ter sido considerada em situação de risco, ela também enfrenta problemas com rachaduras e algumas partes que já caíram, como uma varanda. "Eles disseram que era para eu isolar essa parte aqui, que é a do meu salão de beleza, portanto, eu trabalho mais lá na sala.
Também disseram que tinha risco dessa parede desabar, então, que se chovesse muito, era para eu sair", relata. Ela conta ainda que a Prefeitura fez um muro de contenção, há mais ou menos dois anos, mas que não adiantou muito. "O muro mais antigo foi a Prefeitura, essa parte de cima que é mais recente, foi meu filho quem fez", descreve Deolinda, que ganhou recentemente, de outras pessoas da comunidade, vigas, britas, areia e cimento, para realizar reformas. "Cada um me deu uma coisa. Aí vão colocar as vigas segurando a estrutura e fazer uma laje para não cair chuva nesse terreno, porque se cair é perigoso encharcar, aí pesa e puxa tudo", acrescenta. O problema não fica restrito à residência de Deolinda. Sua filha e vizi-
nha, Nilza Augusta de Oliveira, 38 anos, têm atrás de sua casa, um barranco bem íngreme, e conta que quando chove, a terra vai descendo e enche de barro a cozinha, que vai alagando. Segundo Nilza, a qualquer momento a casa de sua vizinha Maria Ferreira de Oliveira pode cair sobre a dela. "A casa dela vai cair em cima da minha com o barranco e tudo. A defesa civil já falou que tem esse risco, e fala para irmos para o abrigo", observa. Maria relata que, apesar de ter sido aconselhada a abandonar a casa e ir para o abrigo, não tem como ir, pois tem três crianças pequenas. "Eu morro aqui mesmo, não vou para o abrigo não", ressalta. Ela também conta que sempre tenta contato com a Prefeitura. "Já cansei de ligar. Uma funcionária da Urbel veio e disse que não pode-
Moradora tenta reduzir riscos por conta própria n ANA PAULA MARQUES FLORA SERVILHA PEDRO VASCONCELOS 7º PERÍODO
No Bairro São Gabriel, na Região Nordeste de Belo Horizonte, a auxiliar de enfermagem Halinny Souza Batista, de 32 anos, investe cerca de 40% do seu salário em melhorias na casa, localizada em uma área considerada de risco. "Prefiro gastar com obras agora do que com velório mais tarde", garante. O dinheiro é aplicado no reforço do muro na parte de trás da casa e na fortificação da estrutura da edificação. Mesmo assim, Halinny ainda teme pelo pior. "Eu queria, mesmo, era ter dinheiro para me mudar daqui. Como não tenho, me viro como posso. Precisamos aprender a conviver com a chuva", explica. Não muito longe dali, no Bairro Jardim Vitória, também na Região Nordeste, o pedreiro Rogério Antunes, de 43 anos, já precisou abandonar a casa em que vive com a mulher e os cinco filhos em duas ocasiões por causa de inundações, mas não sabe o que fazer para acabar com os riscos de maneira definitiva. "Eu sei que o barranco pode desabar a qualquer hora e que a água vai continuar destruindo tudo, mas para onde vou?
Com muito custo, consegui construir minha casa aqui, para deixar tudo para trás?", indaga. A mulher de Rogério, Kátia Antunes, também teme pela segurança. "Sair para trabalhar e deixar meus filhos em casa é um pesadelo que vivo todos os dias. Nunca sei o que me espera quando volto para casa", conta. Segundo o meteorologista do Climatempo e da Cemig, Ruibran dos Reis, a família Antunes tem motivos de sobra para se preocupar, já que a estação chuvosa deve se prolongar e ser caracterizada por diversos temporais nos fins de tarde, graças ao fenômeno El Niño, que altera o regime de chuvas. Apesar de chuvas fortes em dezembro, o período mais crítico em todo o estado deve ser entre janeiro e fevereiro, especialmente nas regiões Sul, Triângulo e Oeste, que deverão ser as mais atingidas. Para Ruibran, a água não será a única inimiga da população. "As incidências de raios este ano serão muito grandes, então, a população deve redobrar o cuidado", afirma. O meteorologista explica, ainda, que o sistema de prevenção de enchentes em Belo Horizonte ainda não é o ideal. "Radares não são muito eficazes. São Paulo tem quatro deles e, ainda assim, a medida é ineficaz, pois acontecem enchentes e alagamentos com frequência", afirma. Para ele, a capital mineira precisa de
ria fazer nada por mim porque tinha pouco tempo que eu estava aqui", diz.
ENTULHOS Essa não é a única reclamação em relação ao órgão da PBH responsável por essas demandas. Elza Rodrigues Soares, 64 anos, moradora da Vila São Francisco das Chagas, queixa-se dos entulhos deixados pela Urbel após a demolição de algumas casas em frente à dela. As pessoas foram retiradas das moradias por causa do risco de deslizamento da encosta, mas os entulhos continuam. "Desde que derrubou as casas, não voltaram mais, nem prefeitura, nem Urbel, nem ninguém. Eles não vêm aqui, nem olham. Vocês (MARCO) são os primeiros que estão aqui, depois das demolições", desabafa a moradora. Acima dos destroços das casas desocupadas,
há uma edificação em local íngreme e com muitas rachaduras, sustentada por vigas e pilastras, já desocupada também. A assessoria de comunicação da Urbel informou que as ações preventivas nas áreas de risco de escorregamento de encosta e solapamento de margem de córrego são desenvolvidas não só no período das chuvas – de outubro a março –, mas durante todo o ano. De acordo com o órgão, o objetivo maior do trabalho é evitar acidentes graves e preservar vidas. Moradores afirmam que as pessoas retiradas das edificações em áreas de risco foram indenizadas para deixar a Vila São Francisco das Chagas, mas permaneceram no local construindo de forma irregular novas moradias. Essas casas foram construídas muito próximas das de outros moradores que já estavam ali antes, trazendo prejuízos e transtornos, como o esgoto que ficou sobrecarregado para estes em épocas de chuva, quando barrancos e encostas desabam devido às precárias situações dessas áreas. Além do medo de deslizamentos, os moradores ainda convivem com o acúmulo de lixo, pois alguns moradores da Vila São Francisco das Chagas jogam lixo junto aos entulhos das casas demolidas, atraindo mau cheiro, ratos, baratas e escorpiões. Tereza Patrocínio Pereira, 52, moradora da Vila São Francisco das Chagas há apenas 30 dias, já se diz preocupada. Ela e a filha, Luciana Pereira Lima, 13, deixaram a cidade de São João Evangelista
métodos mais rápidos. Uma possibilidade sugerida por ele é a de se instalar sirenes de alerta como um plano mais efetivo. No entanto a falta de preparo para se prever chuvas não permitiria. "Algumas vezes os radares acusam a chuva minutos antes ou, até mesmo, na hora em que está acontecendo. Atrapalhando, assim, as áreas de risco de se programarem com antecedência", explica Ruibran. O aposentado Félix Gonçalves Nunes, 74 anos, concorda com a sugestão de Ruibran. Morador do Bairro Ouro Minas, na Região Nordeste, ele acredita que a abordagem direta seja o melhor caminho. "Já que a água vem, que as autoridades venham nos socorrer antes de algo dar errado. Tudo acontece muito rápido, e nem sempre reagimos na mesma velocidade. Precisamos de ajuda antes e depois", observa. O coronel Luís Carlos Dias Martins, da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), explica que têm sido feitos esforços na tentativa de impedir que novas tragédias aconteçam. "Nos últimos 10 anos, as Coordenadorias Municipais de Defesa Civil (Comdecs) qualificaram mais de 8 mil pessoas com conhecimento e informação técnica básica para saber como agir em situações de emergência. Só neste ano, mais 800 pessoas já receberam treinamento", conta. "O fator financeiro é fundamental, o sistema de alerta é essencial, mas, acima de tudo, algumas pequenas ações podem ser executadas ao longo do ano, como limpeza de bueiros, canalização e limpeza de córregos. O custo é baixo e o retorno é muito bom", acrescenta.
Especial Cidade
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Dezembro • 2012
PREOCUPAÇÕES PARA MORADORES as comunidades que se encontram em áreas de risco continuam temerosas quanto ao futuro de suas famílias, mas insistem em permanecer nas suas residências, negando ir para abrigos que fica a 287 quilômetros de Belo Horizonte. "Teve uma quinta-feira, que choveu tanto que ficou sem lugar aqui dentro para colocar as coisas", comenta. Ela paga R$ 350 de aluguel por uma casa que possui diversas rachaduras, e tem medo, apesar de não saber se ali é uma área de risco. "Não há nem sinalização indicando", diz. Na Vila Coqueiral (também conhecida por Vila da Paz), no Bairro Filadélfia, a repositora de supermercado Marina da Silva, 38 anos, moradora do local há dois, relata que a casa está rachando e que a defesa civil já fez uma vistoria há três meses, e comunicou que enviaria um encarregado para nova vistoria, o que até hoje não aconteceu. "Eles vieram bem antes de a chuva começar e fizeram a avaliação de que não havia risco de desabamento. Mas, meu medo não é caso caia a parede, mas sim a casa de cima da minha. Tem uma pedra
que se descer, o pilar que está segurando o quarto vai junto", conta. Marina ainda revela que às vezes, quando está chovendo, o chão fica tremendo e isso a assusta. "Antes eu deitava à noite e achava que eram os carros passando", diz. Maria de Lourdes Bento Teixeira, 44 anos, mora há oito da Vila Coqueiral, conta que mesmo sua casa não estando em situação risco ela sente medo. "Na época de chuva acho que é quando todo mundo tem medo, até mesmo aquele que tem aquela casinha boa, ninguém se sente seguro", garante. Maria diz ainda que fica preocupada por causa das crianças, porque mora com três pequenas (2, 4 e 7 anos), além do marido e do filho de 19 anos. "Deus é bom e não vai deixar nada acontecer não", declara, com fé. De acordo com a assessoria de comunicação da Urbel, a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) tem plantão 24
horas para receber solicitação de vistorias e de atendimento da população com relação a problemas ocasionados pelas chuvas. Nos finais de semana e feriados, a Urbel dispõe de equipe de funcionários para atendimento às possíveis eventualidades. A Urbel possui ainda o Programa Estrutural em Área de Risco (Pear) que realiza ações contínuas ao longo de todo o ano, tais como monitoramento das áreas instáveis, vistorias, remoções de famílias, além da realização de obras preventivas e corretivas para controlar, minimizar ou erradicar o risco geológico. Segundo a Urbel, esse programa assegura proteção para as pessoas que moram nessas áreas de risco a partir do momento em que promove a conscientização da população e faz as remoções preventivas de famílias, que podem ser temporárias ou definitivas de acordo com a necessidade. FELIPE AUGUSTO VIEIRA
Inundações diminuem com obras Se nas encostas e morros de Belo Horizonte o problema são os deslizamentos e desabamentos, nas áreas baixas e próximas aos rios o desafio são os frequentes alagamentos. As causas são inúmeras e vão desde entulhos jogados por moradores nos afluentes até a terra que é trazida do solo destes, já que muitas vezes apenas os leitos principais são canalizados. O comerciante Guilherme Soares Ramos, 30 anos, mora em um conjunto de prédios localizado à Avenida Tereza Cristina, que historicamente é um dos principais pontos de inundação de Belo Horizonte, e que atualmente está em obras. Ele relata que no ano passado, na época do Natal o seu apartamento e muitos outros da área ficaram alagados. "A água entrou de uma vez, estourando as portas, então, não teve como, não deu pra salvar nada. Ela subiu muito. Perdemos sofá, televisão, computador. Tive muito prejuízo", conta. Guilherme diz que a Prefeitura esteve no local, conversou com todo mundo, pegou dados, falou que iria retornar e não ligou para ninguém. "Eles disseram que só entrou água porque estourou o cano da Avenida Silva Lobo. Agora é aquele negócio, tem que ficar com um olho aberto e outro fechado", afirma. De acordo com o comerciante, é preciso ficar alerta. "Antigamente olhava o rio (Arrudas) lá embaixo, e agora é tudo tampado. Tem que ficar atento porque começa pelos ralos", ensina. Guilherme conta que na última chuva forte que teve, no mês de novembro, não entrou água em sua casa. "Essa obra mesmo que está sendo feita aí, a Prefeitura não fez para prevenir enchente não, isso é por conta da Copa, e isso não tem nada a ver com enchente. A Prefeitura não olhou para ninguém, veio cadastrou, prometeu, e não fez nada", diz. Ele completa argumentando que a questão é que em outros locais o rio é raso. "Tamparam aqui, mas levaram o problema para outros lugares. Nessa última chuva, muitas pessoas lá para o lado de Contagem, perderam até a casa. Então aqui não entra, mas prejudica muito os moradores desses locais", aponta. À alguns quarteirões do conjunto, ainda na Avenida Tereza Cristina, Felipe Mauro, 25 anos, auxiliar de mecânico, conta que na última chuva forte a água chegou a subir 10 metros na loja. "Pela quantidade de água que entrou na loja, nós não tivemos prejuízo, mas teve lugar que
perdeu muita coisa. Esse ano até que as chuvas que deram com os bueiros tampados não chegaram a afetar tanto quanto no início do ano não", diz. Felipe acredita que as obras feitas estão ajudando. "Fizeram duas novas bocas de lobo, e mais outra que fizeram um pouco pra frente, mudaram toda a tubulação, tanto elétrica quanto de esgoto, e até agora estão conseguindo evitar essa situação de alagamento", observa. Mesmo com as recentes melhorias, o auxiliar de mecânico acredita que ainda há muito a ser feito. Segundo ele, existem vários córregos que deságuam ali, então sempre que chove, concentra toda a água e ela desce. "A Prefeitura vai ter que fazer uma obra muito grande pra amenizar isso, não sei se ao longo de 10, 20 anos, 30 anos eles vão conseguir fazer, mas é coisa que vão ter que trabalhar e pensar muito bem, porque desce uma quantidade de água enorme", declara. Josias Augusto da Silva, 42 anos, é dono de uma loja de móveis e revela que em dezembro de 2009 teve um grande prejuízo por conta de uma inundação em seu estabelecimento. "Todo o mobiliário de madeira e aço, madeira primeiramente, inchou e estragou. Não tive condições nem de utilizá-la", afirma. Ele diz que dos R$ 69 mil que perdeu em bens, só conseguiu recuperar R$ 16 mil vendendo para loja de produtos usados. "A seguradora não ressarciu esse valor porque era inundação, e só pagariam se fosse alagamento proveniente do telhado, e eu não quis entrar em contato com a Prefeitura porque não adianta", argumenta. Para o empresário não existe condições de prevenir, "Só me resta torcer e pedir à Deus", enfatiza. De acordo com ele, outra situação que ocorre é que, quando chove, entope e sobe tudo. "Todo tipo de porcaria vem para cá. A loja fica com cheiro ruim", relata. Em contrapartida, há moradores que aprovam as obras, e dizem que parecem estar apresentando bons resultados. Para o morador Altair Rodrigues, 50 anos, pintor, a situação vai melhorar bastante. "Eu acho que as obras do Boulevard Arrudas são ótimas. Agora é esperar a chuva grossa, muita chuva, para conferir, porque eu acho que vai resolver o problema. Mesmo que não resolva tudo, mas uns 80% vai resolver", pondera.
A terra do barranco situado atrás da casa de Nilza Augusta de Oliveira cede um pouco sempre que chove
Prefeitura adota políticas de prevenção e remanejamento em BH A Urbel, por meio de sua assessoria de comunicação, explicou que, a partir de uma vistoria técnica em áreas de risco, onde é avaliada a gravidade da situação, na necessidade de remoção definitiva ou temporária dos residentes dessas áreas, é feito pelos técnicos da Urbel uma ficha de vistoria e um relatório técnico, com fotos e croquis das condições do local antes e após a retirada da família. A abordagem com as famílias é feita por técnicos sociais do órgão, que explicam sobre o funcionamento do Programa Estrutural Em Área de Risco (Pear), e as formas de alojamento. É ofertado às famílias, a princípio, o Abrigo Municipal Granja de Freitas, no Bairro Taquaril, e em casos de resistência ao abandono do local de risco, apesar das abordagens de convencimento utilizadas pelo órgão, a remoção é feita compulsoriamente pela Defesa Civil Municipal. O Abrigo Municipal Granja de Freitas conta com alojamentos individualizados, ao todo 102, e a permanência é
provisória. A assessoria ressalta que em casos de remoção definitiva, a família fica no abrigo até acessar o Programa Bolsa Moradia, pelo qual aluga um novo imóvel com auxílio aluguel de R$ 500, até ser definitivamente reassentada numa unidade habitacional construída pela Prefeitura de Belo Horizonte. Já em casos de remoção temporária, a família fica no abrigo até o fim do período chuvoso, e, após serem feitas obras corretivas indicadas pelos técnicos da Urbel nas residências para erradicação ou controle da situação de risco, podem retornar aos lares, sempre com o acompanhamento dos técnicos sociais. No abrigo, há acompanhamento psicológico, e de assistentes sociais, o núcleo familiar é mantido, e são oferecidos às crianças oficinas de lazer, além de ser garantida a matrícula delas nas escolas próximas ao abrigo. Às crianças também é assegurado a segurança delas acima de tudo, de acordo com a assessoria do órgão, já que, em casos de recusa de evasão das áreas em situação de risco pelas
famílias, é acionado o Conselho Tutelar, onde os pais podem ser acionados judicialmente. O mesmo pode se dar também quando se trata de idosos ou deficientes. Sobre as queixas de moradores que disseram não ter sido atendidos pela Urbel, a assessoria afirmou que realiza 100% das vistorias solicitadas, que podem ser feitas pelo telefone de serviços da PBH, número 156. Em casos de reclamações sobre o trabalho de engenheiros e geólogos das Divisões Operacionais da Diretoria de Manutenção e Área de Risco, que devem monitorar os locais instáveis constantemente, os telefones disponíveis são: 3277-6409, da Diretoria de Área de Risco da Urbel, de 2ª a 6ª feira, de 8h ás 12h e de 13h às 17h; ou 3277-8235 e 3277-6459, do Núcleo de Comunicação Social da Urbel. Há também disponível para solicitação de vistoria, o número 199, da Defesa Civil Municipal, que funciona 24 horas.
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Dezembro • 2012
COLECIONADORES E RECORDISTAS Mineiros que passam parte da vida coletando objetos falam da paixão pelas coleções. De lápis à acessórios, colecionadores se valem de vários recursos variados para ampliar seus acervos NATHÁLIA BUENO
n BRUNA FONSECA CARLOS EDUARDO ALVIM CÍNTHIA RAMALHO NATHÁLIA BUENO 7º PERÍODO
"Você quer saber o presente mais incrível que você pode me dar? É muito simples. Me dê lápis". É com essa frase que o empresário Orrisson Manoel Louro, 58 anos, descreve sua paixão por colecionar lápis promocionais. Em 2010, quando Orrisson ganhou o título de maior colecionador de lápis promocionais do país, através do RankBrasil (empresa especializada em catalogar rankings nacionais), sua coleção contava com 1.037 lápis. "Hoje, tenho muito mais, quem me vê no Ranking Brasil, sempre me manda lápis. Recebi vários de um cara lá do Rio Grande do Sul. Meus amigos também me dão. Se eu vejo um com você e ele me interessa, ou a gente troca, ou eu compro ele de você", explica. Orrisson nasceu em Córrego de Areia, uma fazenda, que depois virou distrito, na cidade de Mar de Espanha, a 339 km da capital Belo Horizonte. Em 1997 se mudou para Araxá, onde se casou, e no mesmo ano, viveu em Varginha, Governador Valadares e Montes Claros. Em 1980 começou a colecionar lápis e dois anos depois se mudou para Belo Horizonte. Mas a paixão por coleções começou ainda na infância. "Eu colecionava sabugo de milho para fazer ‘boizinho’ e brincar. Eles tinham colorações diferentes", lembra. Em
O colecionador Orrisson Manoel Louro exibe um dos lápis da sua imensa coleção do objeto, que é uma de suas preferidas
1960, Orrisson colecionava maços de cigarro e tampinhas de garrafa e nos anos 70 iniciou sua coleção de adesivos de carros. "Como era criança e não tinha dinheiro, tinha que colecionar coisas baratas, que eu conseguia ganhar", conta. Hoje, ele vive em Belo Horizonte, mas guarda suas coleções em um sítio na cidade de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana, onde dois quartos foram reservados exclusivamente para guardar os objetos colecionados. No entanto, é possível encontrar coleções por toda a casa. Logo ao entrar, na sala de estar, as 200 unidades de xícaras, canecas, bules, açucareiros, entre outros
objetos de louça, chamam a atenção do visitante. Na parede, Orrisson mostra com orgulho seu certificado do Rank Brasil. "Ser um recordista é ser diferente, é ser um guerreiro, é ter foco para conquistar algo. Eu consegui ser o maior do Brasil, e isso não é prepotência, é ser guerreiro", orgulha-se. O empresário ficou sabendo da empresa RankBrasil, através de um programa de televisão. Enviou uma carta, documentos e pagou uma taxa, que não quis revelar o valor. Depois disso, a empresa catalogou sua coleção de lápis e deu a Orrisson um certificado e um troféu com o título de
"maior colecionador de lápis promocionais". Outras coleções presentes no sítio são as de latinhas de cerveja, chaveiros, peças de ferro, tocos de madeira, pedras e notas de dinheiro nacional, como cruzeiros, cruzado, real. Mas a coleção de lápis promocionais, que ocupa praticamente um dos cômodos dedicados às coleções, é a favorita do empresário. Os lápis ficam armazenados em estantes feitas para isso, suporte elaborado pelo pai de Orrisson, Olívio Silveira Louro. Muitos lápis da coleção são raros, de candidatos que concorriam para a Presidência da República, de refrigerantes
como Crush e Grapette, por exemplo. "Naquela época, as empresas ofertavam a seus clientes lápis com propaganda, porque não existia caneta", diz Orrisson. Dentre todos os lápis da coleção, ele destaca os da Força Aérea Americana, comprados por R$ 10. Essa coleção começou quando um amigo do seu pai estava doente e precisava se desfazer de suas coleções. Orrisson, para ajudá-lo, comprou 200 lápis e algumas espingardas. "Como ele tinha sido muito bom para a nossa família, comprei as coleções mais por afeto a ele e não porque queria ter uma coleção de lápis. Fiquei com medo de ter arma em casa e acabei vendendo as espingardas. Fiquei só com os lápis, aí comecei a minha coleção", explica. Seus filhos, Gustavo Louro, 30 anos, e Lorena Louro, 27, não se interessam pelas coleções do pai. "O valor é muito relativo, o que é importante para mim, às vezes, não é importante para você. Sinto muito isso com os meus filhos. Eles não ligam para as coleções", constata o colecionador. Orrison diz que não sabe o quanto vale suas coleções, mas se recusa a vender qualquer peça. "Se a pessoa se identifica com aquele objeto e gosta muito, eu dou de presente. Vender não, porque não faço isso para ganhar dinheiro", afirma o empresário, que pagaria até R$ 200 por um lápis.
Mulher carrega no corpo coleção de acessórios e atinge recorde Outra recordista mineira com título no RankBrasil é Heloísa Madalena de Ornellas, 65 anos. Natural de Belo Horizonte, Heloísa ganhou o certificado de "mulher que carrega mais objetos no próprio corpo". Conquistou o recorde com 362 acessórios, que totalizavam 4,5 quilos à época, mas conta que hoje carrega ainda mais: 6 quilos de colares, brincos, broches, tornozeleiras e anéis. "Hoje, procuro sempre bater meu próprio recorde", conta a dona de casa. Há mais de 30 anos, Heloísa começou sua coleção com "pulseirinhas de hippie". Logo, mudou para pulseiras mais larguinhas, primeiro no braço direito, depois no esquerdo. "Sem pensar em nada, em recorde, nada", afirma. Depois colocou as tornozeleiras, até chegar ao seu recorde,
conquistado em 2007. A dona de casa, hoje com quatro filhos, todos homens, e seis netos, diz que tem orgulho por não ser "uma avó normal". Com os cabelos longos pintados de diferentes tons de rosa e lilás, 51 tatuagens (muitas desenhadas por ela), piercing no nariz e unhas sempre pintadas de azul, sua cor favorita, a "avó moderna", como se autodenomina, já participou de diversos programas de auditório não apenas por seu título no RankBrasil, mas por seu estilo. "Meus netos me acham massa. Quando mudaram de escola, pediram para eu os levar, para os colegas verem como a avó é", conta aos risos. Heloísa lembra que, quando mais jovem, uma amiga disse que a achava diferente das outras mulheres. "Eu me achava normal para a época,
tinha cabelo grande que nem toda mulher, não era colorido. A única coisa que eu fazia era customizar minhas roupas. Eu nunca gostei de usar o que todo mundo usava", recorda. Em casa, a reação dos filhos foi tranquila, uma vez que ela mudava seu modo de vestir e acrescentava mais acessórios aos poucos. "Quando eles assustaram eu já estava assim, como sou", complementa. A dona de casa, que nunca trabalhou fora por causa do ex-marido, não tem outras coleções. Dentro dos acessórios, ela destaca os 13 pingentes de elefantes que leva em um cordão no pescoço e sua coleção de coroas. Por conta dos acessórios, que só tirava para dar banho nos netos quando eles eram crianças, Heloísa passa por algumas situações difíceis. Ela não frequenta bancos, pois não
pode passar pelas portas com detectores de metais, além de já ter tido problemas em aeroportos. "Em aeroporto até pouco tempo eu ia muito pra dar entrevistas, ou por causa do meu estilo, ou pelo recorde. Então, no Aeroporto de Congonhas já me conhecem e tudo bem, me deixavam passar. Mas, em Guarulhos, fizeram uma revista horrível, diziam que eu estava levando drogas porque eu disse que não ia tirar acessório nenhum", explica Heloísa. Além disso, a recordista afirma que tem vergonha de ir a velórios, diz que na rua é confundida com vendedora de acessórios e cigana e que hoje, não sai sempre com os 6 quilos de acessórios porque teme ser assaltada. Heloísa conheceu o RankBrasil através da internet, por onde compra muitas das suas
joias e bijuterias. Inscreveuse, enviou a mesma carta que mandava a programas de auditório para ser entrevistada, e pagou uma taxa de R$ 600. Afirma que ficou muito feliz com o recorde, mas que sua coleção sempre fez parte do seu estilo e nunca teve o objetivo de ganhar nada. Em dezembro, ela viaja para a Índia com seu grupo de ioga, onde pretende comprar mais acessórios. "Quero comprar roupa indiana, acessórios, porque lá eles valorizam muito isso", enfatiza. A família apoia a escolha de Heloísa e seu namorado pediu a homologação do recorde da dona de casa no Natal, para fazer uma surpresa. "Eu costumo dizer que sou a avó do ano de 2040, porque as avós são muito normais. Eu me destaco no meio das avós", resume a "vovó moderna".
Cidade Dezembro • 2012
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RECORDISTA EM BATER RECORDES Desde a época em que era universitário o mineiro Franklin Lopes de Freitas adquiriu gosto por vencer obstáculos e hoje acumula dezenas de recordes registrados no site RankBrasil DIVULGAÇÃO
n BRUNA FONSECA CARLOS EDUARDO ALVIM CÍNTHIA RAMALHO NATHÁLIA BUENO 7º PERÍODO
Bater apenas um recorde é pouco. Essa é a impressão causada em quem conversa pela primeira vez com o comerciante Franklin Lopes de Freitas, de 57 anos. Diferente dos outros recordistas de Minas Gerais, Franklin é um recordista de recordes, ou seja, o comerciante acumula mais de 30 recordes batidos e registrados no RankBrasil. Mais do que isso, Franklin é um criador de recordes, já que inventa recordes para serem batidos e os registra no RankBrasil. O primeiro recorde batido por Franklin aconteceu quando ele ainda era estudante universitário em Belo Horizonte, em 1986, e cursava Filosofia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Em um trabalho para a faculdade, Franklin deu de cara com o desafio de descobrir a origem da data 1º de abril, no calendário gregoriano, o dia da mentira. O estudante foi, então, para o Rio de Janeiro, onde realizou uma pesquisa no acervo da Biblioteca Pública do
Estado do Rio de Janeiro. O trabalho virou um gosto, e a partir daí Franklin começou a pesquisar outras datas comemorativas, criando o maior acervo do Brasil. O reconhecimento no RankBrasil aconteceu quando Franklin se deparou com o site e descobriu que poderia registrar o seu recorde. Com o primeiro certificado em mãos, o comerciante não parou mais. Entre os mais de 30 recordes batidos, Franklin exibe com orgulho alguns especiais, como a construção da primeira casa de piso elevado do mundo, batido em 30 de março de 2010, ou o CD com o maior número de melodias para uma só letra. "Fiz a letra em vários ritmos, como forró, rock, sertanejo, e bati o recorde por isso", explica. Porém, para ele o recorde mais interessante foi o que ganhou em 2010, como o maior colecionador de certifcados de reconhecimento no período de um ano. Ao todo, foram 380 condecorações. "Quanido minha mãe morreu vi a importância de ajudar os outros e comecei a ajudar entidades filantrópicas e a colecionar os certificados", orgulha-
se. Franklin não é um recordista comum. O interesse do comerciante pelo assunto é tão grande que ele resolveu criar os próprios recordes para serem batidos, como o recorde da pessoa que mais escreveu livros no mundo. Ao todo Franklin escreveu 108 livros e garante ser o recordista nesta categoria inventada por ele. Atualmente, ele trabalha em um novo recorde: pretende se tornar o homem com o maior número de fotos de estátuas, e já coleciona algumas que tirou em viagens por várias partes do mundo. "Eu posso bater esse recorde agora, porque ele não existe. Outra pessoa pode querer bater, e aí eu tenho que ir melhorando. O recorde não tem tempo marcado, pode demorar anos ou meses", observa. Para o comerciante, bater um recorde é um hobby. São atividades que surgem a partir de ideias e muito trabalho, mas que podem não representar o mesmo para as outras pessoas. "Faço porque gosto, mas minhas duas filhas acham que perco muito tempo com isso", revela.
Franklin Lopes recebe a Médaille Honneur, uma homenagem da ONG Divine Academie da qual é embaixador
Site cria ranking de recordes no Brasil e estimula pessoas a se desafiarem O site de recordes nacionais, RankBrasil, foi criado em 1997 por Luciano Cadari, 42 anos, empresário e diretor do portal. Formado em tecnologia da informação, ele trabalha com publicação em mailing, plataformas de sites e sempre se interessou por curiosidades. O empresário conta que outra motivação para a criação do RankBrasil foi o momento histórico que o país vivia. "As notícias sobre o Brasil eram sempre ruins, a economia não estava legal, o país não andava bem das pernas e muitos brasileiros estavam saindo daqui, indo para outros lugares. Em 1997, eu criei o site e comecei a divulgar as curiosidades do Brasil. As belezas naturais, as arquiteturas e contar aquilo que era curioso", conta. No final de 1999, a ideia de Cadari e sua equipe era "mos-
trar o que havia de melhor e maior dentro do país". Esse período coincidiu com a não publicação do livro do Guinnes World Records (livro dos recordes) no Brasil. "As pessoas então começaram a interagir e mandar mensagens falando que elas eram recordistas em alguma coisa e aí a ideia pegou", relembra. A partir de 2001, começaram a receber muitas solicitações para serem catalogadas como recordistas em diversas áreas no RankBrasil. Hoje, a empresa não existe apenas no 'mundo virtual', possui um escritório em Curitiba, onde trabalham dez pessoas, que viajam pelo Brasil para descobrir quem são os recordistas. "Existem dois tipos de recordes: o do documento, em que a pessoa manda para nós os documentos que comprovem o recorde que
ela está querendo bater e o presencial, em que a equipe vai até o local e realiza prova do recorde, por exemplo", explica Cadari. Apesar de muita gente associar o RankBrasil ao Guinnes World Records, não existe nenhuma ligação, uma vez que a primeira é uma empresa brasileira que foca apenas nos recordes do próprio país, e não do mundo. Os ranqueados procuram a empresa de Cadari para provarem e homologarem seus recordes. Existem também aqueles que são de domínio público como o maior prédio do Brasil, a maior floresta, o primeiro brasileiro a andar de avião. Para que o recorde seja reconhecido depende de cada situação. "Um cara procurou a gente e disse que dava o maior pulo sobre carros do Brasil. A gente teve que criar uma estru-
tura, levantar informações para ver se não tinha outras pessoas que faziam a mesma coisa e se teria pessoas que poderiam superá-lo", exemplifica o empresário. Luciano Cadari explica ainda que é por essas situações que o RankBrasil cobra uma taxa de cada postulante ao recorde. Segundo ele, o preço varia de acordo com o gasto que a empresa terá para averiguar se é verdadeiro ou não. Em alguns casos, o candidato a recordista pode desembolsar R$ 6 mil. "Não existe uma tabela fixa, não tem uma tabela de custos. Depende do custo de deslocamento, de quantas pessoas da equipe vão precisar participar da auditoria. A taxa é de auditoria", pontua. Além disso, o preço é justificado pela divulgação que fazem dos recordes. "Nós temos um trabalho de as-
sessoria, antes e depois, da catalogação dos recordes. A gente tem contato com todos os veículos de comunicação mandando releases e histórias que podem virar matéria", conclui Cadari. Entre 2007 e 2008, o RankBrasil teve um quadro quinzenal no programa da apresentadora Eliana, em que os recordes eram quebrados no palco. "É muito comum fazer auditorias ao vivo e o custo nesse caso, era pago pela Record", explica. Além disso, houve participações nos programas dos apresentadores Luciano Huck e do Faustão, ambos na Rede Globo. Cadari conta que, através do RankBrasil, teve a oportunidade de conhecer duas mulheres com mais de 120 anos "lúcidas e muito ativas". Também teve contato com um rapaz que decorou 16 mil dígitos e em 3 horas falou todos eles sem errar nenhum. "Eu costumo dizer que se existem mutantes, são essas pessoas que fazem coisas diferentes, que fazem coisas que desafiam o próprio ser humano. Ser recordista é desafiar a si próprio", opina.
12Saúde
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Dezembro • 2012
AOS 90 ANOS E COM MUITO VIGOR Pessoas não se contentam em ficar acomodadas em casa, simplesmente repousando, e optam por se manterem ativas, desafiando os muitos anos já vividos e em busca de outros mais n MAIKYSON COELHO VICTOR ALVES 1º PERÍODO
Idosos acima de 90 anos de idade são capazes de manter uma vida ativa e realizar certas atividades aparentemente restritas a pessoas mais jovens. Ir ao supermercado e realizar atividades físicas são alguns exemplos cotidianos do que esses idosos fazem com satisfação. Célia Gofrido é uma viúva de 91 anos, moradora do Bairro Barro Preto, em Belo Horizonte, que reside sozinha. Ela não tem filhos, mas tem sobrinhos que a consideram como mãe. Apesar da artrose desenvolvida nos dois joelhos, Célia vai ao mercado fazer compras, anda na rua sozinha sem dificuldades e realiza suas sessões de fisioterapia. Ela nunca fumou e costuma beber vinho moderadamente. Quanto à sua alimentação, ela disse preferir comidas mais leves. "Dou preferência a alimentos mais saudáveis, como frutas e legumes. Raramente como ali-
mentos fritos, engordurados", observa. Célia Gofrido não possui colesterol alto, seus níveis de glicose estão estáveis e ela também não faz uso de remédios para o coração. Professora primária, Célia, quando adolescente, costumava jogar vôlei: "Sempre fui ligada aos esportes", diz. Quando era mais nova, ela revelou que nunca imaginou que pudesse chegar a essa idade. O amor que ela tem pela vida foi sempre a sua maior motivação. E ela ainda deixa um conselho para quem pretende chegar tão longe: "Sorria sempre. Trate bem as pessoas. Seja feliz". Outra idosa que também leva uma vida ativa mesmo após os 90 anos é Dalva Dias Pereira, de 95 anos. Muito independente e altamente lúcida, ela está longe de aparentar a idade que tem. Sua postura elegante ao andar, sua dicção clara, sua memória excelente e sua boa audição são superiores às de muitas pessoas bem mais jovens, que acabaram de passar dos 65 anos. Ela realiza várias atividades
no dia a dia. "Gosto de ler livros, de bordar, de ir ao teatro", diz. Dona Dalva também gosta muito de viajar. "Sempre gostei muito de viajar, conheço muito lugares por esse mundo afora. Egito, Japão, Europa, EUA. Inclusive com 92 anos fui passar uns dias em Nova York", acrescenta. Sobre sua alimentação, ela revela que não tem nada de especial. "Minha alimentação é normal: café da manhã, almoço, um lanche e o jantar. Procuro evitar doces e gorduras para não ficar muito obesa. Faço fisioterapia como forma de me exercitar, pois é um exercício muito bom e evita o sedentarismo", explica. Viúva, ela conta muito com o apoio de seus cinco filhos. Há pouco tempo, Dalva tropeçou no fio do telefone em sua casa e caiu. Depois desse episódio, suas filhas preferem que ela se reserve mais para evitar novos acidentes. "Costumo sair de casa, mas depois desse acidente só saio acompanhada. É mais uma questão de prevenção", observa.
Dalva sempre preocupou-se com a saúde. "Sempre me cuidei. Porém, eu fumei até os 80 anos. Parei devido à recomendação do meu médico. Bebo socialmente, nunca tive vício em bebida alcoólica", comenta. Sobre suas dificuldades em relação à idade, ela disse que são poucas, mas que existem. "As calçadas são meio esburacadas e dificultam a nossa passagem. Nos supermercados, algumas pessoas não fazem uma cara muito boa quando precisam dar preferência a nós idosos", afirma. Ela sempre quis e imaginou chegar tão longe. "Eu sou de uma família de uma longevidade impressionante. Meu pai faleceu aos 92 anos e trabalhou praticamente a vida toda. Tenho cinco irmãs todas com idade acima dos 90 anos e lúcidas", destaca Dalva. Para a fisioterapeuta Bárbara Gazolla Macêdo, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e especialista na área, manter-se ativo mesmo após os 90 anos tem valor funda-
mental. "Mantendo-se ativo, o idoso consegue prevenir várias doenças decorrentes do sedentarismo, como as doenças cardíacas e neurológicas", observa. Assim, segundo ela, o idoso conseguirá estimular o seu sistema nervoso e melhorar, por exemplo, a sua memória. Ela defende que os exercícios físicos são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos idosos. "A atividade física para os idosos diminui as chances de ele cair em cerca de 30%, pois melhora a disposição e o equilíbrio deles", diz. Entretanto, Bárbara Macêdo alerta que os riscos que os idosos correm são inevitáveis. Por precaução, ela considera que é interessante adaptar o ambiente em que o idoso vive a fim de evitar eventuais acidentes, como quedas e fraturas. "Ter um ambiente claro, com a luminosidade adequada, escadas com corrimãos e degraus não tão altos são fundamentais na prevenção de acidentes domésticos", salienta.
Bodas de alfazema: casamento para a vida toda n MARCELLA FIGUEIREDO LEITE 3º PERÍODO
O número de separações vêm crescendo no Brasil, como mostra pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2010, a taxa geral de divórcio atingiu o seu maior índice no país: 1,8% (1,8 divórcios para cada mil pessoas de 20 anos ou mais). Em contrapartida houve um incremento de 4,5% no número de casamentos em relação ao ano anterior. Outro dado levantado pelo IBGE foi o tempo médio dessas relações. O Piauí é o estado brasileiro aonde os casamentos são mais duradouros: 19,4 anos. O segundo colocado, o Distrito Federal,
possui a média de apenas 14,2 anos. Por causa dessa nova realidade, matrimônios considerados duradouros estão sumindo da realidade das famílias brasileiras. Essa situação não é encontrada na casa de José Alves Ferreira Borges de 98 anos e Maria dos Santos Borges de 95 anos, no dia 5 de novembro, deste ano, completaram 77 anos de casados. Dessa união resultaram 12 filhos, 18 netos e 17 bisnetos. Quando se casaram, ele com 21 e ela com 18 anos, não imaginavam que a relação duraria tanto tempo. A única certeza que tinham é que casamento é uma relação para a vida toda. O aposentado José Alves acredita
que o segredo para se ter uma união tão duradoura é a paciência com o outro e o amor a Deus. Maria dos Santos Borges diz que nunca pensou em se separar do seu companheiro, pois, segundo ela, pertence a uma época diferente. "Na minha época os problemas conjugais eram resolvidos no diálogo ao invés de discussões", relata a aposentada. Zé Borges como é carinhosamente chamado por todos, conta outro segredo do casal. "Nós nunca dormimos brigados. Todos os nossos problemas eram solucionados antes de dormir", diz o aposentado. O casal não divide a mesma cama, por causa de um problema de saúde de Maria dos Santos Borges, que dorme acompanhada por
uma filha. Silésia Borges Figueiredo Leite, 48, diz que os avós são um exemplo a ser seguido. "O carinho existente na relação deles é algo contagiante, até hoje, ele sabe os horários dos remédios da minha avó", revela a administradora de empresas, casada há 26 anos. Mayara Nize Figueiredo Leite, 25, conta que o casamento tão duradouro dos bisavós é algo admirável e difícil de ser vivido nos dias atuais. De acordo com o livro Guinness Book, o título de casamento mais longo pertence ao casal indiano Karam, 107, e Katari Chand, 100, que são casados há 87 anos. MARCELLA FIGUEIREDO LEITE
José Alves e Maria dos Santos permanecem juntos e apaixonados há 77 anos, e afirmam que o segredo de manter um relacionamento duradouro é a paciência e o amor a Deus
Cidadania Dezembro • 2012
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n VINÍCIUS DIAS 2º PERÍODO
É amor que a biologia não explica. Mas que o coração sente. Cuidar, como se fosse sua, de uma criança gerada no ventre de outra mulher é um caminho alternativo ao qual várias mães recorrem, por motivos diversos: impossibilidade de gerar os próprios filhos, pelo anseio de ampliar a família, pelo desejo de ajudar ao próximo ou por um projeto de vida. Somente no último quadriênio – período em que vigora o Cadastro Nacional da Adoção (CNA), criado com o objetivo de agilizar o processo – 989 crianças e adolescentes foram inseridos em novas famílias. Atualmente, cerca de 200 processos encontram-se em andamento. A pessoa que já adotou evidencia: o amor desses filhos é especial. Apesar de avanços, o perfil exigido pelos adotantes, como a idade, em geral, crianças nos anos iniciais, cor de pele ou sexo dos adotandos, ainda é entrave. Obstáculo que o advogado de vara de família Louis Augusto Dolabela Irrthum conhece bem. "Adotar uma criança no Brasil pode demorar muito, às vezes, até anos. As dificuldades estão tanto na Justiça, como nos próprios candidatos a pais. Diversos casais que estão na fila de adoção querem adotar crianças com até dois anos de idade. Superado este limite, mais um obstáculo surge: a cor da pele", afirma. Segundo dados registrados em maio último no CNA, existem 28.041 pretendentes à adoção, número quase cinco vezes superior, ao de 5.240 crianças e adolescentes que estão à espera de um lar. "Ainda há muitas crianças que esperam nos
AMOR SUPERA PADRÕES E VIABILIZA ADOÇÕES ‘Mães’, que não se prenderam a perfis pré-determinados, não se arrependem da escolha feita e relatam bons momentos da convivência com os filhos adotivos, alguns já quase adultos, e confirmam que decisão pode ser tomada com o coração VINÍCIUS DIAS
Leda Bittencourt diz que foi escolhida por Warlison e o esperou virar adolescente para “conhecer índole”
abrigos, e passam da idade escolhida pelos candidatos, por causa da demora na Justiça", destaca. Há casos, no entanto, em que as mães não têm preferências, ou se têm as deixam de lado, em nome do amor. E afirmam que não se arrependem. "Na verdade, a princípio, foi ele que me adotou. E vou te dizer que quando a gente pega um menino por amor, ele fica parecido com a gente", conta a empresária Leda Maria Rodrigues Bittencourt, 46 anos, moradora de Itabirito, na Região Central de Minas Gerais. Há quatro meses, é mãe adotiva de Warlison Filipe, 17 anos. A
Prevenção de conflitos Mais de quatro anos após a criação do Conselho Nacional da Adoção (CNA), que viabilizou cerca de mil adoções no período, mitos e verdades sobre o convívio
história de amor, no entanto, teve início antes. Há nove anos. Quando, sem destino para celebrar os festejos de fim de ano, o então morador da Casa Lar de Itabirito foi oferecido à futura mãe. "Uma moça me ligou, às 21 horas, no dia 20 de dezembro de 2003. Perguntou se ele poderia passar o Natal comigo. E ficaria até 2 de janeiro. Aceitei, porém, a princípio, não era adoção", ressalta. De fato, ela tentou resistir. Mas, após insistentes pedidos do garoto e da obtenção das guardas em caráter provisório – por duas vezes – e a seguir, permanente, a adoção foi consu-
continuam em conflito. Entre as possibilidades de serem mais amados – e amáveis – ou apresentarem problemas na relação futura, é primordial que os adotivos conheçam, o quanto antes possível, suas origens, maximizando assim as chances de boa convivência. É o que destaca a psicóloga Jandira do Carmo Braga Tôrres, de 48 anos, que trabalha, há mais de duas décadas com assuntos relacionados às temáticas familiares. "Eles não têm problemas diferentes por
A adoção Brasil afora Onde estão os 28.041 pretendentes?
Eixo das regiões Sudeste-Sul responde por 85% das pessoas que pretendem adotar “filhos” no Brasil
* Dados: Cadastro Nacional de Adoção (Outubro/ 2012)
mada em agosto último. "Em novembro de 2011, entrei com o processo. Esperei ficar adolescente, para ver como seria a índole. Quem adota meninos mais velhos fica com todos os medos", afirma. Ela não trocou fraldas quando bebê, não amamentou, nem sequer passou noites em vão. Mas é mãe e com amor. "Ele chegou aos oito anos. Mas, nós dois somos mãe e filho, não tenho dúvida disso", afirma. O tempo vai e vem. Do sonho de ganhar uma latinha de Coca-Cola em seu primeiro Natal, Warlison conquistou um porto seguro. Diferente de seus nove irmãos, sejam filhos do pai,
falecido em 2004, ou da mãe que partiu cinco anos após. Uma vida distante do antigo convívio familiar, mas com marcas da 'escola' da vida, onde aprendeu muito. Pela dor, pelo medo. Ele viu a irmã Tamires, antes de cinco anos, ingerir bebida alcoólica a mando da mãe, embriagada. "Eles acordavam à noite, viam cenas de sexo, e pediam comida nas casas das pessoas", conta Leda. E o garoto nada diz. Apenas ouve e confirma com o movimento positivo da cabeça. Ao fim, intervém e fala: "ela (apontando para a mãe adotiva) tem alguns defeitos, poucos. Mas as suas qualidades são incontáveis". Sentimento não muito distante do conservado por Guilherme Henrique Viana, 19 anos, em relação à Josiana Gonçalves Campos Viana, 40. Há dezoito anos, a professora, que tinha Isabela, de três, realizou um de seus sonhos. "Desejava ter um menino, mas não queria passar, de novo, pela gravidez. Então comecei a procurar um prontinho, e apareceu", explica. O processo, no entanto, foi lento. "Demorou por três anos. Contratei um advogado, fiz a petição, a assistente social veio à minha casa, fez estudo social da família", relembra. Mas, Josi sentiu-se realizada. "Ele veio em mim.
serem filhos adotivos. As diferenças estão nos detalhes. O mais importante é que esses pais sejam claros com as crianças. Contar apenas quando adolescentes pode gerar conflito. Por isso, quanto mais novas souberem, melhor, para que já tenham a consciência", resume. E segundo diz, nesses casos, o amor é algo natural. "Quem cuida, dá afeto e amor, exerce a função materna ou paterna. Então, o amor é automático, e eles passam a amar, independente de tê-los gerado ou não",
explica. A psicóloga refuta que, por padrão, os filhos adotivos sejam mais amados ou venham a gerar problemas no futuro. "Depende muito do desenvolvimento. E é algo individual. Alguns, quando adultos, são muito gratos (aos pais adotivos), outros são revoltados com a família biológica. O modo como são educados faz a diferença. Não há resposta padrão", conclui.
Caso de amor e (in)fidelidade Transformar traição em amor fiel foi a receita de sucesso da aposentada Lúcia Claret Emílio Ferreira, 51 anos. Bruno, a quem hoje chama por filho, é fruto de uma relação extraconjugal do esposo Nilton, já falecido, com uma ex-vizinha. Porém, se já conquistou o amor do enteado, ainda não conseguiu adotá-lo. "Não ser uma adoção formal é bastante chato. Pois aonde vou com ele, se precisa de documentos, as pessoas me chamam pelo nome dela. É bem constrangedor", destaca. O sonho de adotá-lo e, assim, obter um novo registro civil permanece, mesmo após a maioridade do filho. "Vou conversar com o advogado para ver se ainda posso. O meu desejo é isso", afirma. Especialista no assunto, Louis Dolabela mantém vivas as esperanças de Lúcia. "Entendo ser possível a adoção de maiores de idade, desde que comprovado o vínculo familiar entre o adotado e o adotante. E devo destacar, ainda, que a adoção dos jovens maiores de 18 anos, deve obedecer, obrigatoriamente, a processo judicial, não sendo, assim, possível realizá-la por intermédio de escritura pública (o documento
Apareceu na vida da gente. Dizia que a Isabela era a filha da barriga, e Guilherme o do coração", exalta. A princípio, educá-lo não foi fácil. "Era um bebê, porém trouxe hábitos muito diferentes. Por exemplo, gostava de morder todas as maçãs da fruteira, e biscoitos do pacote. Não comia. Queria tudo em quantidade", afirma. Hoje, Josiana, que também é mãe de Gustavo, 13 anos, revela que teve êxito. "Nas atitudes, pelo modo como resolve as coisas, ele é uma pessoa melhor. Menos turrão que o irmão, e mais fácil de convencer. O escolhi e ele me escolheu, por isso deu tão certo", conta, em baixo tom, fugindo do ouvido atento do caçula, acomodado na sala ao lado. As brigas são raras. Todavia ela prefere evitar. "Convivem bem. Porém, da última vez (em que brigaram) lembro que o Gustavo disse que o Guilherme era adotivo. Eu intervi e disse: é adotivo, mas, foi um filho escolhido. Você chegou assim, com todo o preconceito, e tive que aceitá-lo", revela. Estudante universitário em Belo Horizonte, localizada a quase 55 quilômetros da cidade natal, o jovem tem conciliado as raras horas livres entre o trabalho em uma mineradora e as mães – biológica e adotiva, com quem mora. "Ele tem uma excelente relação com a mãe (biológica). Antes ela sempre o visitava, inclusive. Agora, mudou-se para Três Marias, e o Guilherme fez toda instalação elétrica na casa que um tio deu para ela", afirma Josi. A professora atribui o resultado ao diálogo aberto que mantém com seu filho adotivo desde os primeiros anos. "Cresceu sabendo. Por isso, convivem sem problemas", conclui.
elaborado em cartório)", analisa. Seria, na visão da aposentada, um desfecho perfeito para o enredo iniciado há quase 18 anos. "O conheci quando estava com apenas um mês. Ninguém me chamou para ver, e a mãe nem olhou na minha cara, mas fui. Parece que o Bruno, no primeiro contato, se apaixonou por mim", recorda. "Estava desnorteada, triste e não acreditava que aquela traição poderia acontecer comigo. Mas achei o bebê lindo e parecido com o meu marido", acrescenta. Lúcia, contudo, não imaginava que, cinco meses após, os destinos se cruzariam. "Ele adoeceu durante o Carnaval. A mãe não conseguiu cuidar e levou para o Nilton", diz. Dali adiante, ele não mais retornou para os cuidados da mãe, que ficou quase um ano e meio sem sequer visitá-lo. "Entregou aos seis meses. E, quando ele já tinha uns dois anos, ela o quis de volta. Pediu para levar a uma festa de aniversário, e não devolveu", recorda. Ficou a cargo do juiz a definição do futuro do garoto. "O parecer foi favorável ao pai (seu esposo), e, a partir de então, ficamos com a guarda
dele. À época, um irmão da mãe do Bruno chegou a apontar um revolver para o Nilton", diz. E as lembranças de o quanto fora apunhalada pela sociedade. "Criticaram muito. Falaram que iam colocar oratório para mim, que nunca viram cuidar de um filho vindo de traição. Escutei deboches, mas acreditei que estava certa. E estava", afirma. Após o falecimento de Nilton, aos 49 anos – ele foi casado com Lúcia por 26 –, em 2010, é ela, mãe que a vida lhe deu, o porto seguro de Bruno. Um amor tamanho que, apesar de saber, ele não quer acreditar que não é seu filho. "Em várias horas, ele fala: isto é por causa de você, mãe, que me fez assim", revela. Sentimento retribuído. "Ele foi rejeitado. Merece mais a minha atenção do que a filha biológica. O amor por ele é maior", conta. A filha a que se refere é Michelle, 27, que tinha 11 anos quando ganhou o irmão. Lúcia sonha. Que os seus sonhos e os de Bruno se tornem realidade. "Espero que seja uma ótima pessoa. Pela forma como ele me trata, tenho a certeza de que posso ficar em uma cadeira de rodas, e ele vai me ajudar. É especial", declara, se entregando às lágrimas.
14Comportamento
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Dezembro• 2012 DIVULGAÇÃO
NOVOS HORIZONTES DA COQUETELARIA Cresce o número de pessoas adeptas aos coquetéis e drinks em Belo Horizonte e o mercado para bares especiliazados nesse tipo de público segue a mesma tendência,mas ainda enfrenta alguns obstáculos n ÍGOR PASSARINI LARA DIAS LUÍS FELIPE SALGADO 4º PERÍODO
A cultura da coquetelaria sempre foi muito presente em países do hemisfério norte, principalmente no continente europeu e nos Estados Unidos, mas vem aos poucos ganhando força no Brasil. Em Belo Horizonte, a coquetelaria também tem encontrando o seu espaço, mas ainda esbarra em concorrentes de peso, que caíram há muito tempo no gosto dos mineiros: a cervejinha gelada e a dose de cachaça. As duas bebidas são os pedidos mais convencionais nas mesas dos bares da capital. A cidade entrou para o RankBrasil em 2009, com o maior número de bares e botecos, contabilizando cerca de 12 mil estabelecimentos. Em homenagem, foi outorgado o Dia Municipal do Boteco, comemorado no terceiro sábado de maio. É nesse mercado que a coquetelaria busca conquistar o seu espaço e cair no gosto dos belo-horizontinos. Desafio aceito, as casas especializadas em coquetéis têm oferecido cartelas de drinks variadas, com combinações para agradar até o mais exigente e tradicionalista dos mineiros. Os números mostram que o investimento
tem obtido êxito. "As pessoas têm a ideia de que o brasileiro só bebe cerveja, mas, ao contrário, os drinks têm uma ótima saída. Aqui recebemos cerca de 100 clientes por dia", explica Marcelo Marçal, bartender da Mambo Drinkeria, que há dois anos foi aberta como a primeira casa especializada em coquetéis na cidade. No centro da cidade, no histórico Edifício Maleta, o Arcângelo Caffe, abriu as portas no início de 2010 e adaptou sua proposta para atender a uma demanda do público. "Quando abrimos, o forte da casa era o café. A gente trabalhava basicamente com coquetéis clássicos e alguns com café. Como a procura foi crescendo, nós adaptamos o cardápio e acrescentamos novas opções de coquetéis", explica Marck Field, gerente e bartender no Arcângelo. Para cativar os clientes, a casa aposta na inovação da carta de drinks a cada semana. Segundo Marck, os mixologistas já criaram mais de 30 novos tipos de sabores desde a inauguração, adotando uma estratégia muito interativa. "Sempre que uma pessoa faz um pedido, eu pergunto o que ela mais gosta e o que não, e a partir daí vamos ajustando. Temos dois coquetéis na casa que têm nomes de clientes, um que se chama Adrian e o
outro que se chama Shal, que foram coquetéis criados especialmente para eles", conta com empolgação. Em frente ao Arcângelo, cinco amigos bebem drinks na coquetelaria concorrente, a recém-inaugurada Dub. Um deles, Fernando Martins, explica que eles gostam de escolher lugares com grande variedade de bebidas e, por isso, vão sempre à drinkerias, destacando o crescimento desse ramo na capital. "Ultimamente, tem aberto muitos lugares com opções para drinks em BH, como aqui no Maleta e na Savassi. Eu gosto de experimentar bebidas novas, essa é a vantagem das casas especializadas. Têm muitas opções", justifica. Uma das amigas sentadas à mesa, Cláudia Pires, ressalta a existência atualmente de muitos lugares com bastante opção de cerveja, vários tipos delas importadas e de diversos sabores. Mas, segundo ela, não há nada melhor à noite, do que tomar um bom drink. Com a ampliação do número de casas especializadas em coquetéis, o número de profissionais capacitados para atender essa demanda também cresceu. Os responsáveis por essa função são os bartenders ou mixologistas que ficam encarregados de elaborar e preparar os drinks. Essa técnica é conhecida como
Bartender no Dub, em BH, Flávia Silveira diz gostar de fazer os clientes vencerem resistência
Mixologia. Flávia Silveira, bartender do Dub, também vê a oportunidade de experimentar coisas novas como a grande vantagem das drinkerias. "Quando você faz alguém experimentar algo novo, isso te abre uma porta para que nós, mixologistas, possamos mostrar o nosso trabalho; criando a confiança de fazer uma pessoa experimentar um coquetel que até então ela tinha certa resistência", comenta. E sobre a profissão, a mixologista acredita no reconhecimento do público para dar destaque e valorização no mercado. "Aqui em BH não é uma profissão que
Conversas sóbrias de um papo etílico Enquanto você se diverte para escolher uma entre tantas opções na carta de coquetéis do seu bar preferido, tem gente trabalhando e destilando ideias para encontrar a combinação perfeita para o seu paladar. A mixologia é basicamente uma arte e um ofício de criar e servir coquetéis, como conta Tony Harion, sócio proprietário de uma empresa especializada em oferecer toda a estrutura de bar para estabelecimentos que querem oferecer o serviço de mixologia. Tony trabalha como bartender há 11 anos e assina a coluna Destilando Ideias no site Mixology News. Ele diz que "Mixologista" é um termo sofisticado para um bom
barman. "Não necessariamente um mixologista precisa trabalhar dentro do bar, podendo ser também um consultor, por exemplo. E na atividade de um mixologista, ele tem a possibilidade de criar e experimentar combinações de insumos que vão resultar em bons coquetéis", afirma. Com vasta experiência em coquetelaria, o empresário e mixologista acredita que a disseminação do mercado de coquetelaria em Belo Horizonte só tende a expandir e que já tem acontecido isso numa velocidade muito grande. "Acho que de uns dois anos para cá, o mercado quase dobrou. Tanto a procura quanto a quantidade de pessoas interessadas pela área. Isso é bom e, ao mesmo tempo,
você tem reconhecimento ainda, apesar do espaço estar crescendo. Mas têm pessoas muito talentosas ganhando destaque, o que é muito bacana e inspirador para quem gosta de trabalhar no ramo", diz. Marck Field tem a mesma opinião de Flávia quanto aos desafios da mixologia na capital mineira, e vê com bons olhos o futuro da profissão. "Hoje em dia, a procura de coquetéis é bem maior do que, por exemplo, há três anos. A cultura da cerveja aqui no Maleta e em BH ainda é sim muito grande, mas a cada dia, mais e mais, o coquetel tem sido difundido", afirma.
ruim. Pode ser que expandindo muito rapidamente, cresça de uma maneira imatura e só veremos isso mais para frente", pondera. Segundo ele, a tendência é que os belo-horizontinos passem a ter cada vez mais informação para saber apreciar bom coquetel. "Do ponto de vista do cliente, eles estão mais maduros na hora de comprar e escolher. O ponto principal é que as pessoas estão começando a se educar com relação ao coquetel. Saber diferenciar, entender um pouco sobre os ingredientes", completa o empresário. Para quem quer se profissionalizar na área, Tony conta que a primeira dica é experimentar de tudo e começar a provar bons coquetéis. "Tem que ler bastante e estudar muito. Pelo menos 70% do nosso trabalho hoje é lendo e estudando", garante.
Projeto oferece novo caminho por meio do esporte n JULIANA SILVEIRA 2º PERÍODO
O projeto "BH Descobrindo Talentos do Futebol" da Prefeitura de Belo Horizonte, desenvolvida por meio da Secretária Municipal de Esporte, em parceria com a Associação de Garantia ao Atleta Profissional de Minas Gerais (AGAP-MG), busca utilizar o futebol para acrescentar disciplina, educação, pontualidade e frequência escolar aos seus alunos. Quando um projeto chamado "Esporte Esperança" acabou, viu-
se a necessidade de criar outro que suprisse a carência deixada e evitar a demissão em massa. Por isso, o presidente da AGAP, Wilson Piazza, ex-jogador do Cruzeiro e tricampeão mundial com a seleção brasileira, idealizou um programa de rendimento que abrangesse apenas o futebol, procurando dar oportunidade aos meninos que têm qualidade e técnica. Surgiu assim o "BH descobrindo Talentos no Futebol". Hoje, com dois anos de existência, o projeto engloba 15 núcleos distribuídos pelas regionais, contando cada um com o
monitoramento de dois professores que são ex-atletas, e que dão aulas às segundas, quartas e sextas-feiras, no período da tarde, e nas terças, quintas e sábados pela manhã, nos campos de várzea da prefeitura. Nesse tempo, já disputaram a Copa Centenária, Copa Grambel e a Copa BH Descobrindo Talentos no Futebol, que ocorre entre os núcleos, com participação de 15 equipes do infantil e 15 do juvenil. Este ano, o núcleo do CTI, dos monitores Wilson Lopes e Marcelo foram campeões juvenis, e o núcleo Tupinambás dos monitores
Paulo Germano e Roni foi o bicampeão infantil. Nessa parceria a AGAP disponibiliza os equipamentos e a Prefeitura arca com as despesas financeiras. O projeto foca seu trabalho em garotos de 12 a 18 anos, sem dispensar os mais novos que aparecem, fazendo um treinamento à parte com eles. Para integrar a iniciativa, é necessário que os alunos estejam matriculados e regulares na escola e que tenham qualidade técnica para futebol. Segundo Antoni Lacerda Filho, 72, coordenador do projeto, o lado social é muito importante
e é possível perceber mudanças no convívio familiar. "Não queremos só descobrir talentos, mas formar cidadãos", conta Lacerda. O coordenador conta ainda que em seus campeonatos sempre têm olheiros e diz que para aqueles que se destacam o projeto procura encaminhar para times profissionais, com orgulho, ele conta que tem alunos que saíram do projeto e estão nas categorias básicas do Cruzeiro e do Atlético e até em times de São Paulo. Ele revela também que fazem treinamento contra os grandes times mineiros para preparar melhor os garotos.
Culinária Dezembro • 2012
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COZINHEIROS QUE FAZEM ALQUIMIA Técnicas moleculares ganham cada vez mais espaço na gastronomia mundial. Por meio de experimentações, as estruturas físicas dos alimentos são modificadas e ganham nova estética n CAMILA LEOPOLDINO JOÃO HENRIQUE EUGÊNIO JÚLIA CAMPOS SAMARA NOGUEIRA 7º PERÍODO
Esferas, espumas, líquidos que se transformam em pó e carnes cozidas a baixa temperatura são efeitos comuns da inovadora gastronomia molecular, que vem ganhando cada vez mais adeptos. O que para alguns é chamada de culinária show, para outros é considerada o futuro das cozinhas. "O grande diferencial desta técnica é seu encantamento estético", ressalta a bióloga Adlane Vilas Boas, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De acordo com ela, o termo gastronomia molecular foi cunhado pelo físico Nicholas Kurti e o químico Hervé This, em 1986, para uma ciência produzida em laboratório, com o objetivo de explicar os fenômenos que envolvem os processos de cozinha, a fim de melhor entendê-los e utilizá-los. O nome acabou ganhando outras vinculações e é hoje mais comumente utilizado para designar a utilização de novas técnicas, ingredientes e aparelhos para se obter texturas e formas diferentes dos alimentos. Adlane ministra na UFMG o curso Ciência na Cozinha, no qual aborda os fundamentos da gastronomia molecular, e explica que a técnica promove uma espécie de transformação no estado dos ali-
mentos. "Por exemplo, passa-se de líquido a sólido, de líquido a pastoso, sendo possível conseguir alimentos com a parte externa sólida e a interna líquida, ou até mesmo transformá-los em espumas estáveis", observa. Segundo ela, considerando que a origem da maioria dos produtos é natural e a quantidade utilizada é pequena, as técnicas moleculares para a cozinha não trazem nenhum risco à saúde. Muitos dos processos moleculares mais comuns dependem de substâncias gelificantes, como o Agar-agar, que promovem efeito igual ao da gelatina tradicional, mas com a vantagem de ser de origem vegetal e terem a capacidade de manteremse sólidas a temperaturas relativamente altas. Adlane Vilas Boas destaca ainda que a gastronomia molecular apresenta vantagem em relação à tradicional por utilizar muitos produtos in natura e não necessitar de temperaturas elevadas, havendo menor perda de nutrientes. "Alguns dos aditivos moleculares, como o próprio Agar-agar, fazem até bem à saúde e já vem sendo utilizados há muitos anos no Japão para ajudar a emagrecer e melhorar o trânsito intestinal", conta. A coordenadora de gastronomia do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial em Minas (Senac-MG), Cidinha Lamounier, destaca que a técnica além de promover uma transformação na textura dos alimentos, permite novas DIVULGAÇÃO
Bruno Albergaria, chef de cozinha, gosta de surpreender com a gastronomia molecular
potencialidades de apresentação. Ela cita um novo produto nos restaurantes chamado transglutaminase, que permite colar proteínas, e vem sendo utilizado em um comum prato molecular, que combina carnes de peixes de água doce e salgada. "É importante ressaltar que o sabor dos alimentos não é modificado, mas apenas a forma de apresentação. Modifica-se a aparência, mas mantém-se a essência", salienta. Ela conta que o chef espanhol Ferran Adriá é o nome de quem consolidou e desenvolveu grande parte das técnicas moleculares. Depois disso, vários outros profissionais adotaram as técnicas moleculares ao redor do mundo, mas é fato que elas não podem ser consideradas populares, devido aos poucos locais onde se ensinam as técnicas e, principalmente, pelos poucos fornecedores, o que encarece os produtos. "Cozinha molecular não é para qualquer um pegar uma receita e fazer. É necessário um cuidado e precisão de laboratório de química. É muito importante conhecer e respeitar quantidades, tempo de preparo e temperatura, senão a técnica não funciona. Por isso é fundamental uma boa capacitação", ressalta. Segundo Cidinha Lamounier, quando surgiram as técnicas moleculares, houve um boom dos produtos e de gente querendo fazer. Entretanto, como não houve capacitação que acompanhasse o ritmo, as técnicas não funcionaram e seguiu-se um período de descrédito da cozinha molecular. Atualmente, a tecnologia se desenvolveu, as técnicas foram facilitadas e descobriram-se novas usualidades para a gastronomia molecular, ocasionando novamente a alta dessas técnicas. "Precisamos sim usar essa cozinha em larga escala. Com ela temos uma apresentação mais bonita, em menos tempo e com sabor que não fica para trás de uma tradicional. Mas, para isso, precisamos de cursos, profissionais e produtos. Atualmente é cozinha show, mas tem potencial de ser mais", opina. Precursor da gastronomia molecular em Belo Horizonte, o chef Wladimir Dias, do SPA Águas Claras, já apresentou as técnicas em diversos eventos e realizou há cinco anos o primeiro Festival de Gastronomia Molecular do Brasil, época em que ainda estava no comando do restaurante Ville Du Chef. Trabalhando com gastronomia há 28 anos, 15 deles dedicados à cozinha molecular, ele conta que aprendeu a técnica em vários restaurantes europeus onde trabalhou e se aperfeiçoou com muito estudo, pesquisas e experimentações.
Novidade chega também aos drinks Os estudiosos de coquetéis, os mixologistas, não ficaram de fora das novidades e, logo quando surgiram as técnicas de gastronomia molecular, já as incorporaram ao mundo das bebidas. Para o mixologista Thiago Mehl, o objetivo é obter um maior potencial criativo para a arte dos drinques, possibilitando novas leituras, em termos de apresentação, para coquetéis clássicos. "São esferas que explodem na boca, espumas cheias de sabor e outros diversos efeitos produzidos com substâncias gelificantes, ou seja, que promovem efeito parecido ao da gelatina. Em relação ao sabor, não há grande alteração. O mais perceptível é o desaparecimento do gosto de álcool, sem entretanto reduzir o teor alcoólico", explica. Segundo ele, uma outra grande inovação que a novidade trouxe foi a possibilidade de coquetéis extrapolarem o universo líquido para o sólido. "Um dos efeitos clássicos da mixologia molecular é a produção dos chamados espaguetes. É usada uma
substância gelificante em alguma bebida, que pode ser, então, moldada no formato de um macarrão. E é realmente servida com garfo. O meu espaguete de caipirinha faz muito sucesso sempre que faço", exclama. Thiago Mehl afirma, entretanto, que o público belo-horizontino ainda não está familiarizado com as técnicas moleculares, de modo que as casas noturnas daqui não costumam trazê-las nos cardápios de bebidas. O que se faz de drinque molecular na cidade está associado a menus degustação, por brincadeira ou para agradar algum cliente específico. "Algumas pessoas que têm mais intimidade conosco, às vezes, pedem para que façamos um ou outro efeito molecular que viram na internet ou outro lugar. Se tivermos os ingredientes até fazemos sim. O problema é que muitas das técnicas são trabalhosas e requerem ingredientes caros e difíceis de encontrar, o que impede que as façamos em maior quantidade", afirma.
Ingredientes ainda são limitados no Brasil Foi a dificuldade de encontrar ingredientes e instrumentos para realizar as técnicas moleculares no Brasil que levou o chef Kaká Silva a criar o Gastronomy Lab, empresa que hoje é a único fornecedora brasileira de insumos para gastronomia molecular. Ele conta que, há cinco anos, quando voltou da Europa, estava em busca de um caminho profissional e percebeu que havia muito poucas técnicas moleculares nas cozinhas brasileiras. Kaká, que já havia aprendido a disciplina em restaurantes da Europa onde trabalhou, decidiu se especializar no assunto para preencher essa lacuna de mercado. Desde então, ele fornece produtos e ministra cursos de gastronomia molecular por todo o Brasil. Segundo o chef, cozinheiros de todo o Brasil
Atualmente, ele assina os pratos dos restaurantes do Instituto Cultural Inhotim e é chef no SPA Espaço das Águas Claras. Nos pratos que desenvolve, Wladimir sempre insere, pelo menos, uma técnica molecular. De acordo com ele, no SPA a cozinha molecular é usada em todos os pratos do cardápio, com a funcionalidade de permitir redução de gordura e calorias, mas sem comprometer na textura, qualidade e sabor dos alimentos. "O nitrogênio, por exemplo, é um produto natural, que compõe a maior parte do ar que respiramos. A indústria resfria muito esse gás até que ele fique líquido. A temperatura disso é muito baixa, então se consegue efeitos como fazer sorvete instantaneamente e até um tipo de cozimento que assemelha a uma fritura", explica. O chef conta que as técnicas de cozinha molecular mais utilizadas são as que transformam diversos alimentos em esferas – conhecida como esferificação – e em espumas. "Conseguimos também fazer óleos em pó no caso de pratos cujo lipídio seja fundamental", acrescenta. Como o sólido tem uma maior capacidade de ativar as papilas gustativas da língua, os pós obtidos por meio desta técnica tem a vantagem de permitir que se consuma uma quantidade menor do óleo para se atingir o mesmo sabor. Segundo Wladimir, quando ele começou, os produtos eram muito caros e difíceis de ser encontrados. Hoje, entretanto, já existe um fornecedor nacional e preços bastante acessíveis. Além disso, o chef prevê que, com essa alta das técnicas moleculares, é uma questão de tempo para outras lojas aparecerem e os produtos ficarem mais comuns. "No Brasil, cinco anos atrás, pouca gente falava em gastronomia molecular. Hoje, as pessoas já compreendem mais e os chefs de cozinha já incorporaram muitas técnicas", diz. O chef do Restaurante Oak, Bruno Albergaria, também investiu nesta nova gastronomia e afirma ter a preocupação de inserir um elemento molecular em quase todos os pratos de seu restaurante para dar um diferencial. Uma das técnicas mais utilizadas por ele é o sous-vide (cozimento a vácuo), com que é feito praticamente todas as carnes. O sous-vide permite um controle maior sobre o cozimento dos alimentos para atingir resultados de consistência ideal com per-
procuram suas aulas e ficam encantadas com as potencialidades da cozinha molecular. "A nossa filosofia atrai muitas pessoas. Trabalho a gastronomia molecular não como show, mas para garantir o máximo de sabor e economia de produtos. É transformar uma cozinha tradicional em moderna, saudável, tecnológica, barata e ecologicamente mais viável", aponta. Ele afirma que é fornecedor de todos os grandes chefs do Brasil, que sempre utilizam algo molecular para otimizar os processos. "Os puristas podem dizer o que quiserem, é fato que gastronomia molecular permite maior estabilidade e durabilidade das receitas, incremento de sabor, diminuição de calorias e perdas nutricionais, e uma redução de custos de até 30%", completa.
da nutricional e de peso mínimos. Albergaria ressalta os benefícios que as técnicas apresentam e conta que um aparelho molecular muito utilizado no restaurante é o Thermomix, uma espécie de combinação de processador de alimentos com panela elétrica, que permite desde picar alimentos, bater, misturar, emulsionar, até sovar, triturar e cozinhar. Tudo com máxima precisão no controle de temperatura, o que permite maior praticidade, facilidade e rapidez no preparo de muitos alimentos. "É muito interessante conseguir preparar os alimentos mais rapidamente, com gastos reduzidos e resultados de textura e sabor inigualáveis. Com o cozimento a vácuo, como cozinhamos a baixa temperatura, não há perda de líquido. Desse modo, não há redução de dimensões ou peso do alimento depois de cozido, o que traz uma economia muito grande e faz a diferença para restaurantes", explica. A cozinha molecular, entretanto, não é o principal dos pratos de Bruno, mas utilizada como um elemento facilitador e de surpresa. Ele relata uma salada caprese que foi servida na inauguração do Oak, em três apresentações: uma tracional (tomate, muçarela e manjericão), uma feita com caviares de tomate, creme de burrata e manjericão crocante, e a última com espuma de tomate e muçarela desidrata. "Quando as pessoas viam aquilo nunca acreditavam que tudo era a mesma coisa. Entretanto, ao experimentar, a pessoa se surpreendia, pois a percepção gustativa era da mesma salada caprese", conta. Segundo ele, a brincadeira é justamente trabalhar o visual para desconstruir a forma, mas conservar o sabor, de modo que mesmo que a pessoa não saiba o que é só de olhar para o alimento, vai se lembrar ao experimentar o sabor, pois a sensação gustativa trabalhada é a tradicional, primária. "E a recepção das pessoas é de uma surpresa muito agradável. Nunca tivemos caso de quem não gostasse, ou pelo menos tenha reclamado", acrescenta. Ele ressalta ainda que esta é a grande contribuição da cozinha molecular para a gastronomia contemporânea: permitir uma revolução em apresentações que permite mais criatividade e inovação.
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Fer nando Gallo
Entrevista
MÚSICO jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco
n O que a música significa para o senhor? É o que eu gosto de fazer. Depois de quase nove décadas vividas, finalmente eu sinto vontade de tocar. Sinto prazer fazendo isso. Antes, eu não tinha vontade, não sei porque, era no dia a dia e pronto. n Porque o senhor escolheu seguir a carreira militar?
SOLDADO DA MÚSICA: DO BRASIL PARA O MUNDO n
mou para fazer o mesmo aqui em Belo Horizonte.
ÍGOR PASSARINI RAQUEL DUTRA
Era uma coisa que eu queria, o irmão da minha mãe era general, eu tinha aquela coisa de ser militar. Mas eu só pude realizar isso depois que meu pai faleceu. Ele era advogado, foi Procurador-Geral da República, era político e detestava militares. Ele era um homem completamente paradoxal. Filho dele tinha que estudar em colégio de padre e as filhas no colégio de freira. Eu e minha irmã tinhamos que estudar inglês. E na minha época se aprendia francês que era a língua diplomática, o inglês tomou uma força grande com a Segunda Guerra Mundial. Então, ele colocava imposições que não tinha como fugir. Eu não iria contrariá-lo. E no mesmo ano que me formei como pianista meu pai teve um infarto e se foi. Então, resolvi seguir a minha vontade e entrei para o Exército.
4º PERÍODO
n Como foi a sua vinda para cá?
Aos 87 anos, o soterapolitano que se tornou cidadão honorário de Belo Horizonte Fernando Moreira Gallo se diz mais apaixonado do que nunca pela música, arte no qual teve contato desde muito cedo. Há quase dois anos aposentado da carreira de pianista, ele aceita atualmente apenas convites para apresentações especiais. Fernando Gallo ingressou aos cinco anos de idade para o conservatório de música em Salvador, onde sua mãe era professora. Em 1941, com apenas 17 anos, formou-se pianista, mas, pouco tempo depois deixou a música de lado para entrar no Exército, realização de um sonho que tinha desde criança. Dois anos mais tarde, em 1943, juntou-se à Força Expedicionária Brasileira (FEB) partiu para a Itália, lutando na 2ª Guerra Mundial. "Você vê a resposta sobre a miséria e ao mesmo tempo torna-se um fato, um risco", observa. Em meados da década de 50, pediu desligamento do Exército para se dedicar novamente à música e junto com sua orquestra viajou para 47 países e gravou discos de sucesso, como "Um Galo Dançante". Na década de 70 entrou para o mercado de capitais e trabalhou em bancos e em grandes empresas no cargo de diretor da área internacional, usando sua experiência no exterior para atuar como representante de transações cambiais frente a outros países. Logo depois voltou a se dedicar exclusivamente à carreira musical, tocando na noite carioca e, posteriormente, na capital mineira. "Aceitei o desafio, comprei uma geladeira e vim para e Belo Horizonte", lembra o pianista.
missões, uma era destruir onde os alemães estavam. Eu saí na patrulha para verificar se tinha alemão naquela região. Nesse percurso eu levei um estilhaço de granada que entrou no meu n Como foi o começo intestino causando 14 perdessa nova etapa da sua vida? furações. Então comecei a rodar, a cair pela neve. Aí dois sargentos Sou da última turma do Reame amparavam e, ao mesmo lengo. Eu fiz escola, eram três atempo, me jogaram para baixo e nos, por causa da guerra reduaí fui descendo uma montanha de ziram para dois. Houve um fato neve, avisaram lá embaixo e já interessante. Eu de segundo teexistia uma ambunente fui designalância que me do para ir aos Esaguardava. O sertados Unidos fazer viço médico era tradução dos regu“DEITO NA POLTRONA, americano e tinha lamentos americaTOCO MEU PIANO E um hospital. Fui nos e estudar tamDEIXO CORRER , A VIDA atendido ali no bém os próprios posto de guerra, TEM DE SER COMO É : eventos na prática 40 quilômetros deem Fort Benning, PRINCÍPIO, MEIO E FIM” pois em outro hosna Geórgia. Lá a pital, de atendiideia era um curso mento geral onde de comandante de o amparo é maior. Então, eles me patrulha e aproveitava para fazer abriram, me puseram de pé e fao curso de infantaria que era uma laram para eu ficar 11 dias de recoisa bem mais moderna. Quancuperação. Desses 11, me deram do voltei da Geórgia, eu tinha que somente quatro dias e me manimediatamente me colocar em daram para a frente ao combate algum lugar, ou comandar alguma de novo. tropa, ou ser diretor de algum
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setor, tinha que ter uma missão. Como eu possuía curso de escola e outros cursos, eu tinha mais chance. Então, fui dar aula para outros soldados, de como comandar uma patrulha, o porque disso e porque daquilo. n O que a Segunda Guerra Mundial lhe mostrou? O que é desgradável, há coisas horríveis, você vê o que é desgraça, a venda de mulheres e crianças por causa de um maço de cigarro. Eu vi, ninguém me contou. Vai muito além do que está nos livros de história. Você vê a resposta sobre a miséria e ao mesmo tempo torna-se um fato, um risco. O americano não podia nem passar perto de um crioulo por exemplo, ele tinha um verdadeiro horror. n Das situações que o senhor passou durante a Guerra, qual destacaria? Estava na patrulha, com muitas
n Durante a guerra o senhor teve alguma aproximação com a música ou foi deixada de lado? Teve uma vez que encontramos um piano debaixo da neve, mas foi a única vez. Nosso comandante nos alertou que os alemães costumavam colocar armadilhas onde menos se esperava e instrumentos musicais eram muito propícios para isso.
postos a participar. O primeiro contrato que assinei foi com a gravadora Columbia. n E o senhor seguiu carreira com a orquestra? Sim, viajei por 47 países com ela entre 1950 e 1963. Quando meu filho João Carlos nasceu em 1962 eu começei a ficar mais aqui no Brasil. Aí dois amigos que fiz nos Estados Unidos, eram grandes banqueiros e como eu tinha muito conhecimento na área financeira eles me procuraram. Era a época do "Milagre" do Delfim (ministro da Fazenda, Delfim Netto), então todo mundo queria colocar dinheiro no Brasil. Eu fui trabalhar na parte de eurodólares. Eles me nomearam representante do Bustbank Corporation no Brasil, na Argentina e em outros países. Na década de 70 fui trabalhar na Vale do Rio Doce. n E como ficou a música depois que o senhor entrou para o mercado de capitais? Eu trabalhava de dia e tocava à noite. Chegou um momento em que me cansei daquilo tudo porque não dava conta de trabalhar pela manhã, aí pedi demissão. Passei a tocar em casas cariocas, até que um amigo me cha-
Esse meu amigo estava abrindo uma casa aqui e queria que eu tocasse para ele. Aceitei o desafio, comprei uma geladeira e vim para Belo Horizonte. Aqui trabalhei nos extintos Ness e L'Ápogée Club Privé e também no Vecchio Sogno (restaurante que existe até hoje, na Praça da Assembléia). n Qual a diferença de se apresentar na noite da década de 50 e 60 para os dias de hoje? Antes eu estava na noite e tinham políticos, deputados, senadores. À época do Governo Figueiredo (general João Batista Figueireido, último presidente do Regime Militar, que governou entre 1979 e 1985) por exemplo, os filhos dele eram frequentadores assíduos. Então, a casa que eu trabalhava era lotada, mas não por minha causa, eu era complemento. Era bem diferente do que é hoje, pois quando alguém vai para ver uma apresentação é pelo que a mesma tem para oferecer. n Como se tornou cidadão honorário de Belo Horizonte? Fui homenageado pela minha contribuição por ter ido à Segunda Guerra Mundial como parte do regimento de Minas Gerais. n Quais seus planos de agora em diante? Desde que me aposentei no ano passado eu tenho aceitado convites para apresentações especiais e alguns eventos. Eu poderia estar sentindo 'será que é hoje, depois de amanhã' não penso, para quê. Eu deito na poltrona, toco meu piano e deixo correr, a vida tem que ser como ela é: princípio, meio e fim.
n Como foi a transição de volta do Exército para a música? Eu sempre gostei muito da noite. Chegou uma hora eu não estava mais conseguindo conciliar com a vida de militar, então, pedi desligamento, mas sou reformado. Eu fui fazendo uma apresentação aqui, outra ali, até que me viram, gostaram e me chamaram para fazer uma apresentação. Montei uma orquestra com muita gente, alguns eram músicos que eu conhecia e outros que estavam dis-
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