Jornal

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Faltam voluntários e sobram crianças para receberem auxílio escolar por instituição localizada no Bairro Padre Eustáquio. Página 3

LETÍCIA GLOOR

RENATA STUART

MARIA CLARA MANCILHA

Alexandre Atheniense, especialista em crimes cibernéticos, revela a necessidade de se preservar provas para punir infratores. Página 16

Adotada pela PUC Minas, a Praça da Federação ou Pracinha do Coreu, foi revitalizada e entregue aos moradores. Página 5

marco jornal

Ano 39 • Edição 284 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas

Setembro • 2011

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MIGRANTES EM BUSCA DE UM LAR NA CAPITAL MINEIRA LETÍCIA GLOOR

Campo do Santa Tereza é mantido após negociação com a Prefeitura Acordo entre Prefeitura e a Associação Esportiva Santa Tereza, localizada no bairro de mesmo nome, vai preservar por mais algum tempo a sede da entidade, que existe há quase 70 anos, incluindo o campo. Dessa forma, foram preservados os projetos sociais mantidos pela instituição, incluindo o time mirim de futebol. A PBH, que havia iniciado uma pendência judicial em 2007, revelou ao MARCO a existência de projetos que pretendem implementar no local, visando a instalação de um moderno centro esportivo. Página 8 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãoneste

Pessoas que chegam em Belo Horizonte e passam por dificuldades como falta de moradia, comida e dinheiro, são amparados por abrigos mantidos pela Prefeitura municipal. Os alberga-

dos têm direito a estadia por dois meses com três refeições diárias e uma cama com travesseiro e cobertor, até conseguirem um emprego fixo e uma moradia. O albergue situado no Bair-

ro Floresta tem capacidade para 400 pessoas, sendo que 80 vagas são reservadas aos migrantes e as restantes alojam a população de rua da capital mineira. Página 9

BRENO CONDE

Jovens do interior tentam aprender política em BH Rotulados como apáticos em relação à política, jovens mineiros, moradores de cidades do interior do estado, demonstram que generalizações devem ser evitadas. Meninos e meninas, que desconheciam o funcionamento de uma Assembleia Legislativa, participaram do Parlamento Jovem Minas 2011. A iniciativa, fruto de parceria entre a PUC Minas e a ALMG, teve como diferencial em sua oitava edição, a abertura para adolescentes de 15 cidades do interior do estado, que se juntaram a participantes residentes na capital mineira. Eles viajaram a Belo Horizonte exclusivamente para participar das discussões sobre o tema “Drogas, como prevenir?”. Página 11 MARIA CLARA MANCILHA

Terceira Idade ainda tem papel ativo no atual mercado de trabalho N ã o i m p o r t a a i d a d e . M u i t o s p ro f i s sionais permanecem em atividade, exercendo os ofícios que os acompanham ao longo dos anos, com muita dedicação, mesmo depois de aposentados. O MARCO conta a história do odontólogo Edgard Car valho (foto ao lado), da enfermeira Helenita Chaves e do alfaiate Her-

mano Augusto do Car mo, que, por diferentes motivos, continuam trabalhando. Em comum, entre os personagens, há o prazer pelo trabalho, mesmo no caso em que a necessidade financeira também pesa, e a convicção que isso os mantém em condições mais saudáveis de vida. Página 14


2 Campus

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Setembro •2011

EDITORIAL

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Um lar para quem passou por todas as paisagens do Brasil n RAPHAEL VIEIRA PIRES, 7º PERÍODO

Para a criança é o aconchego, para o adolescente, o tédio, para aqueles já sem fantasia vida adulta, é a posse, e para quem já viveu tudo isso é reunião. Assim figura-se o lar, local a que todos buscam sossego após um dia cansativo. Como um movimento automático de uma criança que busca abrigo nos braços da mãe, abrimos a porta de nossa casa. Tão importante é o lar na vida de uma pessoa que viajar durante anos à procura do próprio teto é a história de vida de muitas pessoas no Brasil. E é justamente o caminho de quem percorre o país em busca de um lugar para se fixar que o MARCO retrata à página 9 desta edição. Do Norte ao Sul do país, aqueles que pulam de cidade em cidade dormindo em albergues são personagens de uma grande história em que somente o lar pode colocar um ponto final. Informação para tentar mudar esse tipo de triste realidade, além de outras mazelas sociais, é o que os jovens do interior de Minas Gerais procuram no Parlamento Jovem, evento realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Com empolgação e muita vontade, esses jovens contaram seus desejos e expectativas com a nova experiência. Da pouca idade e muito aprendizado pela frente, para aqueles que já venceram várias décadas e não largam o osso. Idosos que não param de trabalhar pelo gosto da profissão e não se aposentam dividem com o MARCO conselhos para uma vida saudável e ativa. São histórias de pessoas em que a profissão já faz parte de seu cotidiano e o trabalho já faz parte integral de suas vidas. Cidade tradicional de grandes festivais de jazz, Belo Horizonte também possui bares e restaurantes em que o estilo musical é deleite para os ouvidos de quem frequenta estes lugares. Preparamos um roteiro do jazz na capital mineira, além de entrevistas com quem tem o jazz como hobbie.

MARCO GANHA PRÊMIO MARIA CLARA MANCILHA

n RAQUEL ANDRETTO 3º PERÍODO

O Jornal MARCO é fundamental para a formação acadêmica. É dessa forma que Juliana Cristina da Silva e Thiago Nogueira ex-repórter e ex-monitor da publicação, respectivamente, descrevem a importância do Jornal Laboratório da PUC Minas. Recentemente os dois ex-alunos tiveram reportagens premiadas na 3ª edição do Prêmio da Secretária de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) de Jornalismo. O concurso tem como objetivo reconhecer as matérias que esclarecem de forma acessível as informações sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). A recém-formada Juliana Cristina ganhou o prêmio na categoria Acadêmico de Jornalismo, pela matéria “Dengue preocupa São Gabriel”, publicada em dezembro de 2010. Ela diz que não produziu a matéria para participar do concurso. “ Foi depois de mostrar a matéria já publicada no Jornal MARCO, para a mi-nha amiga

Andréia Pereira da Silva, também jorna-lista. Foi quando ela co-mentou sobre o 3º prêmio de jornalismo da SES e sugeriu que eu enviasse a matéria”, explica. A matéria inicialmente foi produzida para um trabalho acadêmico. “Eu fiz a matéria para a disciplina de Jornalismo Especializado ministrada pelo professor Mário Viggiano. Então, eu conversei com o Fernando Lacerda e Maria Líbia, pais do MARCO, sobre meio ambiente, sobre dengue. E o Fernando me propôs que eu escrevesse sobre esta doença que vem nos atormentando a cada temporal e a cada descuido de acúmulo de água parada. Fiz mais algumas apurações, ajustes e enviei a matéria para a redação do MARCO. Então, o que poderia ficar apenas entre as paredes da academia ganhou voz e força nas páginas do Jor nal MARCO”, conta. Depois de ganhar o prêmio, Juliana enriqueceu o seu currículo, recebendo algumas ofertas de trabalho. Apesar de não associar os dois fatos diretamente, ela diz ter conseguido uma

Juliana, ex-aluna premiada por matéria publicada no MARCO visibilidade maior após ter sido premiada, porém ela ainda está desempregada. Outro ex-aluno da PUC Minas e ex-monitor do MARCO, Thiago Nogueira venceu nas categorias “Jornal” e “Mídias Digitais” com a matéria e o vídeo “Artilharia pesada contra ameaça que vem pelo ar”, pelo Jornal O Tempo. Ele

conta que apesar de não ser uma disciplina, o jornal laboratório foi fundamental para a formação, pois desde do 1º período ele teve contato com a produção de uma matéria. “Com certeza, o MARCO me abriu portas, depois que passei pela monitoria aprendi a pautar para comunidade”, ressalta.

Museu reinaugura “A Caverna” MARIA CLARA MANCILHA

MARIA CLARA MANCILHA

É dever jornalístico e um dos motores de um jornal comunitário divulgar as dificuldades diárias enfrentadas pelas pessoas, para que, além de tornar público, possa catalisar a sua resolução. Com esse foco, mostramos os problemas que a Casa de Apoio da Associação Educacional dos Irmãos de Nossa Senhora está passando pela falta de voluntários, ocasionando a diminuição de crianças carentes atendidas pela instituição. Por falar em comunidade, as reformas na pracinha do Coração Eucarístico, que há muito necessitava de cuidados, se tornam notícia importante nessa edição do jornal. Adotada pela PUC Minas, a praça ganhou bancos e jardins e teve renovado o seu visual. Como os moradores da região estão aproveitando a novo espaço e a importância da reforma é foco de nossa matéria. Aventurando-nos no ambiente virtual, que tem consequências bastante reais, o MARCO entrevistou Alexandre Atheniense, advogado especialista em crimes cibernéticos. Ele dá dicas de como se preservar navegando pela Internet e como lidar com ilegalidades. Em épocas de multimídia, interatividade e realidade virtual, esse assunto torna-se essencialmente especial, e tratá-lo com seriedade informando bem as pessoas é de grande importância para uma web mais segura e cooperativa.

EXPEDIENTE

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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal Puc Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª Maria Libia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo (Coreu): Prof. José Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa e Prof. Mário Viggiano Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Isabela Cordeiro, Keneth Borges, Natália Leão Bassi, Piero Morais, Raphael Pires, Raquel Andretto e Tamara Fontes Monitores de Fotografia: Letícia Gloor e Maria Clara Mancilha Monitor de Diagramação: Nathan Godinho Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

A exposição, que reproduz o ambiente real do interior de uma caverna, atrai um público diversificado depois de sua reinauguração

n AMARANE SANTOS RAFAELA GONÇALVES JULIANA LACERDA PAULO SALVADOR VINICIUS DUARTE 1º PERÍODO

Em visita a Belo Horizonte, Denilson da Silva Perez escolheu como destino turístico o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas no Bairro Coração Eucarístico, acompanhado de seu filho, Issac da Silva Perez, de apenas seis anos, que não dispensa uma aventura. Curioso, a exposição que mais lhe atraiu foi a Caverna, reinaugurada dia 26 de Julho de 2011, após passar por um período de reforma de dois anos. “Não fiquei com medo e gostei de tudo, principalmente do esqueleto e das aranhas”, descreveu Isaac, sem esconder o entusiasmo com a experiência. Seu pai não se arrependeu de ter deixado Grenoble, no interior da França, para visitar Belo Horizonte e, dessa

forma, o museu. “Como já visitamos várias cavernas reais, foi legal vê-la, pois é pedagógico, não é opressante. Dá vontade de descobrir” explica Denilson. A exposição simula a realidade encontrada por pesquisadores e estudiosos do tema, como os paleontólogos, geógrafos e espeleólogos, reiterando com a representação de alguns de seus instrumentos de trabalho. A estrutura da mostra é composta por aço, isopor, pano, cola e gesso. Apesar de não acabada, traz em sua renovada concepção algumas modificações relevantes. Em seu interior foram adicionados insetos e animais característicos do habitat, a circulação de ar foi melhorada a fim de tornar o ambiente mais arejado e, como mudança mais significativa, mas não menos importante, uma de suas entradas foi adaptada de modo a dar acesso aos cadeirantes. “O grande objetivo da re-

forma foi torná-la mais real”, observa o curador do Museu, Bruno Garzon. Apesar de sua importância pedagógica, nem todas as pessoas se acostumam com a ideia de entrarem em um ambiente escuro, por um medo que se denomina nictofobia. Marinette Monteiro é uma dessas. Diz ter achado bem interessante o projeto porém, nega a ideia ir visitar o espaço. Já os estudantes da Escola Municipal Adalto Lúcio Cardoso disseram que nunca estiveram em uma gruta e por isso acharam a visita muito interessante. A visita foi proveitosa não somente para os alunos, como também para a professora de história e geografia Edna Teodoro. “Até mesmo para nós professores, é novidade, porque ainda que nós pesquisemos para ensinar as crianças, precisamos de um suporte pedagógico para isso”, justifica.

Como coordenadora do setor de educação do Museu, Ana Cristina Sanches Diniz reafirma a posição de todos e acredita que a reforma foi benéfica, ressaltando o resultado bonito e didático. “Ela funciona como uma ferramenta de aprendizagem para o aluno que não tem a oportunidade de conhecer e de saber o que acontece nas cavernas naturais”, afirma. A exposição está aberta por tempo indeterminado e o ingresso custa R$4, funcionando às terças, quartas e sextasfeiras, entre 8h30 e 17h, quintas-feiras das 13h às 21h e sábados e feriados das 9h às 17h. O museu de Ciências Naturais encontra-se na Avenida Dom José Gaspar, 290, Bairro Coração Eucarístico, Campus PUC Minas. Outras informações pelo telefone (31) 3319-4152.


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FALTA AJUDA EM CASA DE APOIO A escassez de voluntários para auxílio escolar faz com que a Casa de Apoio da Associação Educacional dos Irmãos de Nossa Senhora diminua o número de crianças atendidas no projeto RENATA STUART

n RENATA STUART 4º PERÍODO

Criada com o objetivo de oferecer auxílio escolar para crianças carentes, a Casa de Apoio da Associação Educacional dos Irmãos de Nossa Senhora já atendeu a 67 crianças, em horário integral, em 2006. Hoje, por falta de voluntários, a instituição só funciona na parte da tarde e atende somente a 22 crianças. A procura é grande, tanto que há uma grande lista de espera. A instituição foi fundada em 2000 pelo fráter (irmão, em latim) Adriano van den Berg, 77 anos, holandês dos Fráteres de Nossa Senhora Mãe de Misericórdia, e o Grupo de Reflexão e Ação da Misericórdia de Padre Eustáquio (Grampe), com jovens focados em questões sociais. Sandra Brasilina, 50 anos, coordenadora pedagógica da Casa de Apoio, diz que a maioria das crianças da casa possui histórico de problemas familiares. "Há crianças que vivem em abrigos, que não têm pai ou mãe, ou que os pais são

Crianças da Casa de Apoio esperam pela chegada de mais voluntários para ajudá-los em suas atividades escolares presos, doentes, alcoólatras e tantos outros", conta. A direção das escolas Padre Eustáquio e Dom Jaime de Barros, entidades parceiras, selecionou as crianças com mais dificuldades de aprendizagem e com condições de vida mais precárias. Depois de serem cadastradas, as crianças passam por uma entrevista e, em seguida, têm

total acompanhamento escolar. "Elas estudam nas escolas de manhã e fazem o ‘para casa’ conosco, na parte da tarde. Mas é muito mais que um reforço escolar. Elas crescem como ser h u m a n o , a p r e n d em questões de organização, fazem reflexões de textos, orações, conversam sobre questões familiares e

desenvolvem a criatividade", explica Sandra. Das 13h30 às 15h40, os alunos fazem os exercícios da escola e, das 16h às 17h, há aulas de música e literatura. Na sexta-feira, as atividades são mais descontraídas, com aula de artes, brinquedoteca e filme. Recentemente, a entidade passou a oferecer também aulas de inglês,

ministradas por fráteres da Congregação dos Fráteres de Nossa Senhora Mãe de Misericórdia.

PROBLEMAS Todos os dias, a Casa de Apoio recebe ligações de famílias carentes querendo inscrever os filhos. Mesmo com capacidade para até 70 alunos, a casa não tem condições de aceitar mais

crianças, por falta de voluntários. Hoje, três pessoas auxiliam aos alunos, entre elas, a própria coordenadora pedagógica, mas a associação já teve 15 voluntários. "A sala de informática está em desuso por falta de auxiliares, mas iremos receber nove computadores novos e mais modernos, para incentivar a chegada de novos voluntários", diz Sandra. Elisabeth Vasconcelos, 62 anos, voluntária há seis, crê que o início da Faculdade e o aumento das responsabilidades causaram a redução dos voluntários, pois a maioria era estudante do Ensino Médio. Para o fundador, fráter Adriano, reservar tempo para ajudar ao próximo não faz parte da cultura dos jovens. "É necessário que eles sejam mais sensíveis às necessidades da sociedade mais vulnerável. Todos merecem e precisam de melhores condições para se inserir na sociedade", conta. Para ajudar, ligue: (31) 34122192. A casa está localizada à Rua Progresso, 853, no Bairro Padre Eustáquio.

Abrigo Jesus é referência em educação para crianças PAULA GRAZIELLE

n PAULA GRAZIELLE 3º PERÍODO

A fase do rabisco começa no primeiro ano da criança e vai evoluindo para o fechamento de círculos, ganhando forma à medida em que a criança amplia seus conhecimentos. A criança observa, imita ações e atitudes, usando como referência o universo em que se encontra. Assim, são as crianças do Abrigo Jesus, localizado no Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste, que convivem a cada dia com um novo aprendizado para construir habilidades de maneira a entender o mundo e a si mesmos. O Abrigo Jesus foi fundado em 25 de Julho de 1937, sendo uma entidade civil, de objetivo filantrópico, sem fins lucrativos. Suas fontes atuais de recursos financeiros são as subvenções da Prefeitura de Belo Horizonte, com o objetivo de educar crianças em regime de internato. Segundo a coordenadora pedagoga, Roseni dos Santos, o abrigo tem atualmente 330 crianças entre quatro meses e 14 anos. "As crianças são distribuídas em turmas de acordo com a faixa etária correspondente, observando sempre a razão adulto/criança, estabelecida pelo Conselho Municipal de Educação", afirma.

As turmas são acompanhadas por educadores com formação pedagógica que promovem o desenvolvimento de atividades educacionais. Roseni explica que as crianças são selecionadas por critérios que avaliam a renda familiar (nível de carência) e o registro de trabalho da mãe. De acordo com ela, o educador é o principal mediador na formação de identidade do educando e cabe a ele respeitar a individualidade e incentivar ações para que esse processo de aprendizagem possa fluir sempre. "Acreditamos que a criança é um ser aberto para aprender sobre o mundo e as pessoas. Nascemos com estruturas cognitivas e essas são ampliadas à medida em que o cérebro desenvolve com as oportunidades oferecidas pelo meio", ressalta.

OFICINAS A coordenadora administrativa da instituição, Marta Maria, ressalta que além do apoio pedagógico com orientação de educadoras, o Abrigo Jesus oferece oficinas diversas com a ajuda de voluntários. Informática, inglês, artes, bordado, música, clube de ciências, cultivo de horta, educação física e expressão corporal são atividades desenvolvidas e empenhadas por todas as crianças. Os valores éticos e morais trabalhados no

Abrigo Jesus tem permitido às crianças a construção de uma identidade moral mais atenta e crítica, no que diz respeito a sua atuação no mundo. De acordo com Marta Maria, às vezes os educadores têm que passar por um desafio em relação à educação de algumas crianças. "Diante de trabalhos desenvolvidos, priorizando sempre a educação e envolvimento familiar, ainda restam algumas dificuldades no nosso dia a dia em relação ao crescimento da agressividade de algumas crianças e a dificuldade de alguns pais na educação dos filhos", afirma a coordenadora. Destaca-se também o fato que muitas dessas crianças são carinhosas, amigas e solidárias. Um exemplo disso, são os carinhos e estímulos trocados entre elas no seu dia a dia, principalmente aquelas com necessidades especiais. "Às vezes encontramos até crianças maiores cuidando das menores", ressalta. Com o objetivo sempre de dar continuidade a inclusão de voluntários, enriquecendo o desenvolvimento das crianças, o Abrigo Jesus promoveu em setembro a feira cultural, que apresentou aos familiares e amigos das crianças a riqueza dos trabalhos realizados durante o ano, promovendo a interação da comu-

Crianças do abrigo aproveitam o tempo para pintar, plantar e aprender com as atividades recreativas nidade escolar. Segundo Roseni, o evento tornouse tradicional e as expectativas que sempre se renovam estão relacionadas à interação da família com o Abrigo e a satisfação plena quanto ao trabalho educacional realizado com as crianças.

ENVOLVIMENTO O evento envolveu todas as crianças, adolescentes, familiares e colaboradores diretos e indiretos. "O Abrigo Jesus, como instituição modelo da educação infantil, a cada dia fortalece os vínculos da comunidade escolar com as famílias atendidas e amostragens dos trabalhos realizados pelas crianças", observa a peda-

goga Roseni dos Santos. Segundo a cozinheira Marinalva Neves, mãe de uma das crianças atendidas pelo Abrigo Jesus, seu filho tem um ambiente acolhedor, onde ele pode brincar, se socializar, interagir e expandir seus conhecimentos, garantindo seu desenvolvimento integral. "Acredito que como eu, todas as mães possam trabalhar com a certeza de que seus filhos estão seguros e bem cuidados", afirma. A feira cultural teve também como um de seus objetivos envolver o público com a diversidade da cultura africana. As crianças puderam interagir com os familiares num ambiente har-

monioso, sendo um processo educativo que disponibilizou à comunidade os trabalhos pedagógicos, sociais e culturais desenvolvidos com os educadandos. "Nossa preocupação não se deve somente ao desenvolvimento pleno das crianças, mas também reflete a aflição das famílias ao verem seus filhos tão novos compartilhando o mesmo espaço do ensino fundamental. Trabalhamos para efetivar uma visão de futuro, ser uma escola de referência educacional e assistencial para crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade social", afirma Roseni.


4 Comunidade

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Setembro • 2011

IDOSAS RECEBEM ASSISTÊNCIA DE ONG Por meio de aulas, oficinas de artesanato de tricô e crochê, além de cultos religiosos, a ONG Centro de Convivência Francisco de Assis oferece atividades para o Lar de Idosas Dona Paula MARIA CLARA MANCILHA

n DANIEL DE ANDRADE GABRIEL PAZZINI 1ºE 2º PERÍODO

Exemplo de disseminação de cidadania e inclusão social é uma das marcas do trabalho que, há oito meses, é desenvolvido pela ONG Centro de Convivência Francisco de Assis, instalada no Bairro Nova Suíça, com o Lar de Idosas Dona Paula, localizado no Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste de Belo Horizonte. O Lar acolhe atualmente 57 idosas carentes que, três vezes por semana, dirigem-se ao Centro de Convivência, disponibilizando vans para que elas possam se transportar e lá ter aulas de computação, filosofia, oficinas de arte e artesanato, alfabetização e ioga, além de participarem de cultos religiosos marcados pela presença de um padre, um pastor e um espírita Kardecista. Segundo a psicóloga, professora da PUC Minas e uma das coordenadoras do Projeto de Assistência às Idosas, Stefânie Loureiro, 46 anos, há atualmente na ONG uma equipe de 15 profissionais, a maioria voluntários, entre estudantes de psicologia e pedagogia, monitores e professores, que trabalham principalmente com o objetivo de possibilitar ao cidadão da chamada Terceira Idade,

um espaço para trocas de experiências, convivência humana, assim como um resgate a auto-estima e à alegria de viver. "A princípio este projeto existia na PUC, e no início deste ano eu o trouxe para o Centro de Convivência. Quando ele estava em fase inicial, a equipe de voluntários ia até o asilo para desenvolver as atividades educativas, mas logo percebemos que seria mais interessante promover o deslocamento das idosas até a ONG, como forma de socializá-las a outros espaços e reduzir os índices de depressão que o asilamento infelizmente acarreta", explica Stefânie. A psicóloga também conta com a parceria da artista plástica Roseli Soares, 43 anos, na direção do projeto. Além de também coordená-lo, Roseli contribui dando aulas de ioga e arte terapia e ressalta a importância desta iniciativa da ONG. "Nosso trabalho tem melhorado cada vez mais a capacidade motora e cognitiva das senhoras do Lar Dona Paula. É incrível perceber, por exemplo, como elas estão criativas, atentas, críticas e totalmente capazes de gradativamente, acompanhar a tecnologia mais moderna. As conquistas maiores decorrentes desses atos que promovemos são, sem dúvidas, nossas. Não há nada mais gratificante do

Dona Ita Pereira mostra seus trabalhos feitos em crochê e tricô que ajudar pelo simples fato de ajudar", relata a professora. Esses aspectos positivos também são claramente percebidos pela Coordenadora do Lar Dona Paula, Irmã Floranir de Deus Pinto, 58 anos "Desde que esse trabalho da ONG começou, as idosas que aqui vivem estão mais participativas,

desinibidas e principalmente, com a auto-estima elevada", afirma. Uma das demonstrações concretas dessas mudanças ocasionadas pelo trabalho dos voluntários da ONG, pode ser notada também através da experiência pessoal de uma das habitantes do Lar, Ita Pereira, 68 anos, que há cinco anos está no asilo.

Ela já era artesã antes de participar das atividades do Centro de Convivência, mas aperfeiçoou seu trabalho, e atualmente acumula uma produção intensa de bordados, além de tocar piano e participar das reuniões religiosas. Dona Ita se emociona ao lembrar sua história. "Após minha filha entrar na UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), fui internada para sonoterapia. Houve um erro na dosagem do medicamento e tive três paradas cardíacas, que afetaram minha memória, voz e respiração. Impossibilitada, vim para o asilo", relata. Mas a artesã não se deu por vencida. Viver no asilo, a princípio, não foi muito animador, mas graças ao Projeto da ONG Centro de Convivência Francisco de Assis, em parceria com o Lar de Idosas Dona Paula, a vida de Dona Ita mudou. "No começo eu quase não conversava, mas graças aos trabalhos, melhorei minha memória e movimentos", conta. E com essa melhora ela se destacou em algumas atividades, principalmente fazendo bordados e tocando piano. Dona Ita produz inúmeras peças, que são distribuídas e entregues aos clientes. O Lar Dona Paula e o Centro de Convivência Francisco de Assis estão abertos a todos que queiram participar de suas atividades. "Qualquer ido-

so que não tenha com quem ficar durante o dia pode participar das nossas atividades e retornar ao convívio familiar à noite. Não recebemos apenas idosos moradores do Lar Dona Paula. E ainda vale ressaltar que os idosos da comunidade com condição financeira estável, pagam por algumas aulas como inglês, espanhol e drenagem linfática esse dinheiro é inteiramente revertido para as atividades da ONG, a fim de auxiliar nas despesas com os demais idosos, principalmente aqueles que são carentes", esclarece Stefânie Loureiro. Ambas as instituições vivem principalmente de doações. O Lar Dona Paula, por exemplo, promove no terceiro domingo de cada mês, o Dia do Bazar, recebendo diversos tipos de materiais, como roupas e utensílios domésticos, que são vendidos e a renda revestida para ajudar na manutenção das entidades. Outras informações sobre doações podem ser obtidas nos locais abaixo: Lar Dona Paula R. Henrique Gorceix, 315 Bairro Padre Eustáquio Telefone: (31) 3464-6458 Centro de Convivência Francisco de Assis Rua Alpes, 517 Bairro Nova Suíça Telefone: (31) 3313-1144

Mais alunos na Escola de Pais da APAE LETÍCIA GLOOR

n BRUNA GUEDES 3º PERÍODO

A associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Belo Horizonte (Apae-BH) está com novas iniciativas, que incluem a abertura de uma nova turma na Escola de Pais. O projeto piloto, iniciado neste ano, trouxe resultados tão positivos que a associação decidiu ampliar o número de participantes. Fundada em abril de 1961, a APAE de Belo Horizonte comemora neste ano o seu cinquentenário, e com ele surgem novas oportunidades aos familiares das crianças com deficiências múltiplas. A intenção da ONG é buscar atender às famílias,de acordo com a gerente do núcleo de autogestão, auto defesa e família, Luciene Carvalhais."Como se trata de uma clientela muitas vezes de classe econômica desfavorável, eles precisam de um apoio muitas vezes emergencial, com acompanhamento de questões básicas para a

família, programas de acolhimento, de cestas básicas e um trabalho que resgata a cidadania", afirma. Diversas oficinas são oferecidas às mães para capacitá-las e profissionalizá-las, possibilitando uma complementação em suas rendas mensais. Com esse intuito, a APAE fez uma parceria com a instituição Acesso para lecionar Corte e Costura, onde são fornecidos materiais e profissionais capacitados, que qualificam os alunos e promovem autonomia. Devido à falta de capital, nem sempre é possível contratar professores, mas nem por isso as oficinas deixam de existir. A ex-assistente social da APAE, Sibele Azevedo, conta que devido ao passe livre, utilizado pela maioria das mães para a locomoção de suas casas à associação, os parentes das crianças não tinham nenhuma possibilidade de entretenimento durante o período de aula de seus filhos, o que originou essa iniciativa.

Para atender a essa demanda, criou-se um espaço que objetiva a otimização do tempo das mães com atividades construtivas. "Existem mães que frequentam todas as oficinas do primeiro ao último dia. Segunda, quarta e sextafeiras elas são mais voltadas para o artesanato e pintura. Já às terças e quintas-feiras são atividades culturais e físicas", explica Luciene Carvalhais. Com atividades cada vez mais elaboradas para os parentes, no início deste ano foi implantado um projeto piloto denominado Escola de Pais. A intenção é que cada turma se forme dentro de um ano. O coordenador da unidade mineira da Uniapae, Alberth Sant'Ana, explica que há uma divisão de quatro módulos, cada qual com um tema central. O primeiro, que até então foi o único aplicado, dá ênfase à consti tuição do movimento apaiano. "O objetivo principal do projeto, é formar os pais no processo de conscienti-

Sibele Azeredo já atuou como assistente social da Apae e valoriza o atendimento prestado às famílias

zação sobre as deficiências de seus filhos. Sobretudo, temos que dar a eles ferramentas e instrumentos pra podem fazer a defesa de direitos de seus filhos", afirma o coordenador a respeito da escola. Em todos os encontros, realizados quinzenalmente, a Apae procura registrar o conteúdo teórico, formando uma apostila sempre com o vocabulário simplificado para que todas as mães compreendam. Como

não há pré-requisitos a não ser um filho estudando na associação, algumas mães não são alfabetizadas. Nesses casos, há adaptações para incluí-las do melhor modo possível no curso. Por vezes, até mesmo as avaliações que seriam feitas de forma escrita são feitas de forma oral para que todas tenham acesso. Luciene Carvalhais conta que o retorno tem sido muito positivo e que as mães ficam cada

vez mais fortalecidas, melhorando o relacionamento com seus filhos, entre si e com a própria associação. Portanto, além da turma que já está em andamento no turno da tarde, será aberta outra em setembro para as mães que frequentam a instituição na parte da manhã. A duração prevista é de quatro horas por encontro e haverá certificados e formatura após o fim dos módulos.


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MARIA CLARA MANCILHA

DE CARA NOVA, PRAÇA DO COREU É REINAUGURADA Revitalizado pela PUC Minas, com o objetivo de melhorar o atendimento aos moradores da região e também aos seus alunos, espaço ganhou novos bancos e amplos jardins LETÍCIA GLOOR

n FABRÍCIO LIMA ÍGOR PASSARINI RAPHAEL VIEIRA PIRES 2º E 7º PERÍODOS

A Praça da Federação, mais conhecida como pracinha do Coreu, foi reformada pela PUC Minas e reinaugurada no último dia 6 de setembro. Na solenidade estavam presentes o pró-reitor de Logística e Infraestrutura da Universidade, professor Rômulo Albertine Rigueira, o presidente da Associação dos Moradores do Coração Eucarístico, Iracy Firmino, o secretário adjunto da Regional Noroeste da Prefeitura, Nildo Taroni e o gerente do programa Adote o Verde, Jair Di Gregório, além de moradores e operários que participaram da obra. A intenção da reforma foi melhorar a estrutura de um importante espaço para a comunidade do bairro, para os alunos da PUC Minas e demais. Além de reformar, a instituição de ensino promete cuidar também da manutenção periódica do local,

o que garantirá que a praça esteja sempre limpa e em boas condições de uso. De acordo com Rômulo Albertine, a PUC Minas fez a revitalização da praça utilizando o paisagismo. Novos bancos foram colocados nas calçadas e os jardins foram remodelados com plantas e flores. "Além da reforma, o grande investimento acontecerá também na manutenção da praça que vai ser feita de segunda à sexta-feira por dois jardineiros. Outra medida importante para evitar depredação é a implantação de placas educativas", afirmou o professor. Haverá fiscalização conjunta da Prefeitura e da PUC. Logo após a reabertura do local, várias pessoas já sentavam nos novos bancos e observavam os jardins. As irmãs Daniela e Renata Borba de Oliveira conversavam sentadas na praça e, apesar dos transtornos causados pela obra, aprovaram as mudanças. "Valeu todo o caos que estava aqui. Agora con-

seguimos aproveitar bem o espaço", comentou Daniela. Enquanto esperava a neta, Devanir Seoldo, morador do Dom Cabral, aproveitou para sugerir a revitalização das praças do bairro dele. "Gostaria muito de ver esse trabalho repetido perto de onde moro. As praças lá precisam muito de uma reforma", diz. A adoção da Praça da Federação vem de uma decisão da PUC Minas, para atender à exigência da Prefeitura, já que a Universidade gera um grande movimento de pessoas e veículos. Por dia, passam pela praça entre 25 e 30 mil pessoas. Segundo Rômulo Albertine, o contrato é de 10 anos para a reforma e para as manutenções periódicas. "Essa medida da Prefeitura ocorre visando a diminuição de seus gastos", comenta o próreitor. A Praça do Coração Eucarístico não é a primeira experiência da PUC Minas em adoção desse tipo de locais. Há quatro anos a Praça do

A praça em reforma e, depois de reinaugurada, moradores desfrutando dos novos bancos e jardins com flores Barreiro foi adotada, mas a experiência não foi boa devido às depredações. Como o contrato ainda está vigente por mais quatro anos, a PUC Minas pretende investir em campanhas educativas, com distribuição de folders e panfletos, além de colocação de faixas. Para evitar a depredação da Praça da Federação, os

bares tomaram a decisão de não transmitir mais jogos dos dois principais clubes da capital simultaneamente. Desde a adoção da medida, as ocorrências de depredação da praça tem diminuído e gerado mais segurança aos moradores que utilizam o espaço. Segundo a comunidade da Região, os princi-

pais danos à praça são causados em dias de jogos de Atlético e Cruzeiro, além dos dias de provas do Vestibular. Em ambas as situações, as pessoas que não estão habituadas a transitar pelo local, não se importam com a manutenção da praça e jogam diversos objetos no local.

Saidinha de banco deixa moradores em alerta MARIA CLARA MANCILHA

n ISABELA CORDEIRO PIERO MORAIS 5º PERÍODO

Pelo menos dois suspeitos, com as identidades resguardadas por capacetes, rondam uma agência bancária aguardando o sinal. Enquanto um deles aborda a vítima que efetuou o saque em um terminal eletrônico, na maioria das vezes portando uma arma de fogo, o outro, em uma motocicleta, garante a fuga após a ação. Assim as pessoas descrevem a prática de uma modalidade de assalto popularmente conhecida como 'saidinha de banco' que, no entorno do Bairro Coração Eucarístico, tornou-se frequente pela facilidade que os assaltantes encontram para agirem infiltrados entre outras pessoas e para fugir devido ao número de vias de acesso rápido que atravessam o bairro. A 4ª Delegacia Distrital da Polícia Civil, responsável por uma área que cobre 12 bairros na cidade, incluindo o Coração Eucarístico, registra em média cinco ocorrências por mês desse tipo. Segundo o inspetor Roberto Gobini, a melhor maneira para se evitar essa prática de difícil vigilância é o bom senso dos clientes dos

bancos com a própria segurança. "Nós mesmos temos que nos policiar e criar o hábito de tomar cuidados necessários para garantir que ocorrências assim não aconteçam", opina o inspetor, que detalha como na maioria das vezes agem os bandidos. "Nesses casos os assaltantes escolhem locais sem muita vigilância com vias de fuga acessíveis e contam com auxílio de alguém dentro da agência para informá-los", explica. O Coração Eucarístico conta com a estação de metrô da Gameleira, acesso para a Via Expressa e o fluxo intenso diário de pessoas torna-se alvo preferido dos assaltantes. A comerciante Carina Maraiza Marques, 33, nos cinco anos como dona de uma banca de jornal próxima a duas agências bancárias no bairro, já viu diversos assaltos e garante que a falta de vigilância é o que os tornam frequentes. "Aqui o fluxo de pessoas é intenso durante todo o dia. A ronda costuma ser feita fora do horário comercial, que é justamente quando os bandidos agem", afirma Carina. Ela já presenciou diversos assaltos em que as vítimas são pessoas que fazem saques de altos valores em espécie nos caixas eletrônicos das agências

Inspetor Roberto Gobini explica a forma de agir dos praticantes de ‘saidinhas de banco’ e orienta a população localizadas na Via Expressa e conta que em um dos episódios uma vítima se protegeu em sua banca após o assalto depois de terem levado uma quantia de R$ 7 mil. "Tanto o homem quanto eu estávamos apavorados. O ladrão estava armado e a ação foi rápida. Não pensei em outra coisa a não ser me abaixar e me proteger", relembra. O inspetor Gobini conta que na maioria das ações dessa natureza um dos assaltantes está com arma de fogo e existem casos que ocorrem latrocínio, o furto seguido de morte.

Para facilitar os trabalhos tanto da Polícia Civil, responsável pela investigação dos assaltos, quanto o da Polícia Militar, que é de resguardar e proteger a sociedade, Gobini defende educação como melhor forma de vigilância e diz como se pode e se deve agir para evitar tais ocorrências. "A melhor prevenção é não fazer grandes operações nas agências. Procurar usar o cartão, que é uma maneira segura de portar grandes quantias", afirma. Outras medidas para pessoas que fazem grandes transações para empresas, por exem-

plo, seria evitar ter horários padronizados, procurando sempre variar a rotina e evitar ao máximo. "Em muitos dos casos as pessoas dizem que estão indo ao banco fazer operações com grandes valores. Dentro da empresa essa informação é passada para frente e acaba no ouvido de assaltantes", esclarece o inspetor. Quanto às vítimas, ele orienta que é necessário entrar em contato imediatamente com a polícia após o assalto e não sair da agência, além de tentar identificar o maior número de características dos assaltantes. "A

vítima, por mais difícil que seja, deve tentar recolher o maior número de características físicas dos suspeitos, o que é muito importante, tentar identificar a placa do veículo, o que facilita nosso trabalho", sugere. Ele diz que a polícia faz a parte dela, capturando os suspeitos na maioria das ocorrências, mas lamenta que nem sempre eles são condenados. O inspetor ainda ressalta a existência de projetos de leis a serem votados, e que se aprovados, virão para auxiliar a identificação e a captura de suspeitos de assaltos. Um deles é a proibição do uso de garupeiras em motocicletas para evitar ações em conjunto, a exigência do uso de capacetes com a frente aberta para facilitar a identificação, além da já aprovada lei que proíbe o uso de celulares dentro das agências bancárias. Mesmo com essas iniciativas, Carina Marques se sente insegura. "Não há vigilância o suficiente e ficamos à mercê. Existe um Olho Vivo instalado do outro lado da Via Expressa que cobre apenas o ponto de táxi e a entrada menos movimentada da passarela enquanto aqui o fluxo é mais intenso e tem as duas agências", relembra.


6 Comunidade

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Setembro • 2011

LETÍCIA GLOOR

Com o desfalque de mobilização, os presidentes das Associações dos Moradores da Região Noroeste de Belo Horizonte lamentam a falta de compromisso dos associados

LÍDERES TENTAM MOBILIZAR SUAS COMUNIDADES n JEANE MOREIRA 5º PERÍODO

Quando o poder público não dá conta de resolver a situação de uma região, é necessário que exista uma organização para intermediar a relação entre os moradores e a administração municipal. É nesse contexto que se inserem as Associações de Moradores. Melhorar as condições de um bairro, no entanto, demanda a participação não só dos presidentes das organizações, mas também da c o m u n i d a d e . Iracy Firmino, 71 anos, mais conhecido no bairro como capitão Firmino, presidente da Associação dos Moradores do Bairro Coração Eucarístico (Amadoc) revela que vem tentando vencer a falta de interesse dos moradores há cerca de 10 anos. "A diretoria da associação distribui 4 mil panfletos aqui

na região convocando a tratar assuntos de segurança e as pessoas não comparecem", lamenta. O presidente diz que foi o único a comparecer a reunião. Esse problema não é específico do Coração Eucarístico. O mesmo ocorre nos bairros Dom Cabral e Minas Brasil, que são vizinhos e igualmente localizados na Região Noroeste da capital mineira. "Como a associação é uma demanda para a comunidade fica mais fácil de lidar com a Prefeitura, porém, há falta de comunicação, muitas pessoas encontram problemas no bairro, mas não me comunicam, para eu tentar solucionar", afirma Maurício Antônio de Sales, 45 anos, atual presidente da Associação dos Moradores do Bairro Dom Cabral (Amabadoc). O presidente da Associação dos moradores

do Minas Brasil, Camilo Jesuíno Netto, 75 anos, relata que o trabalho de presidente exige muita interação, mas os integrantes da comunidade do bairro, normalmente não comparecem às reuniões quinzenais. Segundo Netto, outra dificuldade é que normalmente as associações não têm verba para investir em divulgação. João Martins, mais conhecido na comunidade como Mestre João, 88 anos, foi um dos fundadores, na década de 80, da Associação dos Moradores do Bairro Minas Brasil. João, que teve que abandonar a função em 2008, por causa de problemas de saúde, afirma que a comunidade era mais unida. "Enchiam-se ônibus com moradores para ir à Prefeitura, buscar melhorias para o bairro, como semáforos, asfaltos, água e luz",lembra. "Infelizmente, com o tempo essa união foi se perdendo. Meu pai,

População do São Gabriel discute segurança no bairro MARIA CLARA MANCILHA

n

Capitão Firmino, presidente da Amadoc, tenta superar a falta de interesse dos moradores do Coração Eucarístico de uns tempos para cá, vinha lutando muito para que associação não acabasse por conta da falta de interesse da comunidade", conta Salvador Martins Ribeiro, 63 anos, filho de João. O auxiliar admistrativo, Marcos Guimarães, 63 anos, morador do Bairro Dom Cabral alega que o pouco que sabe sobre a associação foi por meio de informações indiretas. Ele diz que tem conhecimento das dificuldades que o presidente Maurício Sales enfrenta pela falta de união da comunidade, e acredita que o líder comunitário pode explorar mais a sua função. "Compete a ele distribuir folhetos se tem alguma atividade e divulgar os horários em que ele atende", afirma.

Maristela Guimarães Soares, 74 anos, moradora do Bairro Coração Eucarístico, há 31, observa que o capitão Firmino é uma excelente pessoa e que tem muita vontade de ajudar a comunidade, mas como toda associação, essa também apresenta falhas. A moradora sabe das dificuldades que o presidente encontra pela falta de união das pessoas. Ela já foi a várias reuniões, mas não comparece mais por problemas de saúde. A nutricionista Flávia Mendes de Faria, 27 anos, também moradora do Coração Eucarístico, nunca se interessou em participar de reuniões da associação. A jovem só ficou sabendo da existência dessa entidade no bairro por meio do movimento contra a

instalação da Rodoviária no Bairro Calafate, quando a Amadoc fez parte. "A gente tem procurado ser o elo entre a comunidade e o poder público, mas precisamos da participação dos moradores" afirma Camilo Jesuíno Netto, presidente da Associação do Minas Brasil. É consenso, porém, entre os presidentes das associações a necessidade da participação da população a todo momento e não só quando convém a ela. "É muito difícil a gente mobilizar as pessoas, conscientizá-las, mas, infelizmente, hoje é cada um por si, uma sociedade muito individualista", constata capitão Firmino.

Área de lazer homenageia ex-presidente de associação

JUDY LIMA 3º PERÍODO

n

A pessoa que passa pelos portões da PUC Minas, Unidade São Gabriel, perceberá, logo na entrada, uma placa com os dizeres "A Rede de Vizinhos Protegidos". Trata-se de um projeto implantado há dois anos, em parceria com a Polícia Militar de Minas Gerais, por meio da 24ª Companhia Especial e do 16º Batalhão, e moradores deste bairro da Região Nordeste, com o objetivo de melhorar a segurança local. A iniciativa conta com apoio da Universidade, que passou a sediar as reuniões realizadas pelos participantes do projeto. Para viabilizá-lo, há dois anos, uma comissão representando moradores e Polícia Militar foi formada, sendo integrada pelo capitão Anderson Sales e pelo engenheiro Washington Carvalho Araújo e sua esposa Darlene. Lideranças políticas e comunitárias da região foram convidadas a participar das reuniões, onde se estabeleceram os objetivos da organização no sentido de informar, integrar e coordenar grupos de vizinhos para garantir mais proteção aos moradores. Segundo Washintgon Araújo, o bairro São Gabriel cresceu rapidamente em curto espaço de tempo e,

NATÁLIA SANTOS THALITA SILVA 4º PERÍODO

A PUC Minas tem sediado as reuniões de vizinhos protegidos do São Gabriel como consequência desse fenômeno, houve também aumento nos casos de violência, o que gerou a necessidade de um projeto que viabilizasse mais segurança. Além desse objetivo, a Rede de Vizinhos Protegidos pretende também resgatar as amizades entre as pessoas do bairro. "É bom poder observar pessoas e até famílias inteiras, caminhando ou passeando tranquilamente nas vias públicas em busca de um pouco de lazer ou convivência com os seus vizinhos, como era antigamente", observa o engenheiro. Para o capitão Anderson Sales, o medo do crime faz com que muitos brasileiros fiquem enclausurados em suas residências e condomínios, sentindo-se dessa forma aparentemente protegidos por serviços prestados por empresas privadas de vigilância, com utiliza-

ção de mecanismos de segurança que transformam as residências em verdadeiras fortalezas. Responsável pela infraestrutura da Unidade São Gabriel da PUC Minas, Geraldo Teixeira diz que durante as reuniões os moradores descobrem que não se trata apenas de andar pelas ruas e ver as placas nas residências monitoradas, mas saber avaliar o que acontece ao redor, como agir e com quem contar em caso de emergência. Segundo ele, os encontros foram deslocados para a unidade por contar com uma infraestrutura mais abrangente. "A universidade se coloca à disposição da comunidade, com sua infraestrutura e seu espaço, pois acreditamos que todos podem ser beneficiados, quando há mais segurança", afirma Geraldo Teixeira.

Com a intenção de transformar um lote vago, sem iluminação e com pouca segurança, em um ambiente que proporcionasse diversão e tranquilidade aos residentes da Região Noroeste de Belo Horizonte, Messias Tadeu Galvão, que era presidente da Associação de mora-dores da Vila São Vicente, quando foi assassinado em outubro de 2007, foi um dos maiores mobilizadores para a criação da área de lazer situada entre a Rua Craveiro Lopes e a Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, no Bairro Coração Eucarístico. Como uma referência ao mês de seu falecimento, o local receberá o seu nome, em outubro próximo por meio da Lei Municipal Nº. 10.223, publicada em 13 de julho de 2011. O espaço oferece pista para a prática de skate e patinação, equi-

pamentos para ginástica e playground para as crianças, além de local adequado para corridas e caminhadas. Nascido em Bambuí no Oeste de Minas, Messias Galvão veio para a capital mineira aos 10 anos. De família humilde estudou apenas até o quarto ano do ensino fundamental e começou a trabalhar desde cedo como carroceiro. Também foi pedreiro, borracheiro e motorista de caminhão de reboque. Na Vila São Vicente onde morou a maior parte da sua vida ficou conhecido pelos projetos sociais que ajudou a implantar na comunidade e, como relatam moradores, como Denise Batista, pela sua generosidade. "Ele era um homem prestativo, deixava o que estivesse fazendo para socorrer as pessoas", afirma. Ao tornar-se Presidente da Associação de Moradores da Vila São Vicente, a partir de 1994, conseguiu o apoio da população

para votar, por meio do Orçamento Participativo da Prefeitura, em obras de saneamento básico, pavimentação, instalação da Unidade de Educação Infantil São Vicente, ampliação do Centro de Saúde do Bairro Padre Eustáquio e reforma da Escola Estadual Pedro Dutra entre outras. Messias é o exemplo de vida para sua filha Rita Galvão. "Ele me deixou a vontade de lutar pelo bem comum, a mensagem de que é possível se tornar uma agente transformadora e mudar a realidade em que vivo", diz. Rita está desenvolvendo um projeto para a área de lazer onde a população será beneficiada com eventos voltados para a prevenção de doenças. Na data em que a área for receber o nome de Messias, a filha pretende disponibilizar brincadeiras para as crianças.


Cidadania Setembro • 2011

7

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DEFICIÊNCIA VISUAL SEM BARREIRAS Apesar das dificuldades enfrentadas na realização das atividades do dia a dia, os portadores estão conseguindo vencer obstáculos e se incluir no mercado de trabalho com dignidade n LETÍCIA CARVALHO THIAGO ANTUNES 2º E 3º

PERÍODO

Hoje uma das últimas barreiras para os deficientes visuais está sendo transposta: o mercado de trabalho. O portador de deficiência visual Herivelton de Oliveira Ferraz, 34 anos, possui apenas 3% de visão no olho esquerdo. Ele é auxiliar do Centro de Recursos Computacionais (CRC), da PUC Minas, e também exerce a função de especialista em informática na Escola de Saúde Pública do Estado Minas Gerais (ESP). A inclusão dele e de outros deficientes visuais no mercado de trabalho é possível na maioria das funções, antes executadas apenas pelos não portadores de deficiência. Em agosto de 2009, Herivelton ingressou no curso de informática, ministrado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Infantil (Senai), com o auxílio do Programa de Educação Profissionalizante (PEP). No momento da matrícula no curso, ele encontrou o primeiro obstáculo por causa da falta de recursos em relação a sua deficiência. "Eu fiz uma proposta a eles. Uso um leitor de

nunca usei. Alguns leem em um caso de degeneo contato das mãos com tela no meu computador ração da mácula, ela braile e eu tinta normal", as partes internas do compessoal. Ele me atenderia perdeu no período de um conta Aline salientando putador que poderia e seria gratuito, pelo ano 90% da capacidade sua diferença dos demais queimar alguns compoSenai", conta. Posteriorvisual, ficando com 10% deficientes. nentes, resolvida também mente, o curso investiu em um olho e 7,5% em Mesmo não sendo um com a utilização de uma em novos equipamentos outro. No período escolar, caso atípico, Aline, assim pulseira eletro estática que para outros deficientes Aline nunca precisou do como outros deficientes canaliza a carga elétrica de visuais, ou portadores de auxílio de seus colegas, visuais, utiliza recursos sua mão. baixa visão que entrassem computano curso. Um cionais que desses equipa- T A auxiliam na mentos foi vida cotidiadquirido após ana. Leitores a visita à de tela são os Faculdade de mais difundiFilosofia e Cidos, mas posências Humasuem uma nas (Fafich) da forma de voz Universidade estranha de Minas Gepara quem rais (UFMG). entra em Lá encontracontato com ram uma lupa eles pela que ampliava primeira vez. em até 40 ve"Quem está zes o tamanho acostumado de um objeto e a ouvir Ala direcionava berto Ropara o monidrigues e tor, o que atenWilly Gonser deria as necesnarrando sidades em jogo pela Itaalgumas discitiaia, conplinas. Herivelton fez um curso técnico em informática e agora trabalha no CRC da PUC Minas segue entenOutras difider fácil culdades tiverelacionando-se normalOutros levam uma vida qualquer coisa", brinca ram que ser administradas mente com os outros sem o contato com objeHerivelton. Há no mercapelo próprio Herivelton, alunos sem sua deficiêntos e métodos próprios do sistemas operacionais como a deficiência de seu cia. "Eu não tinha contato para auxiliar os deficientes leitor de tela ao interpreacessíveis e gratuitos, com deficientes até pouco visuais, como é o caso da tar gráficos, resolvida com como o Linux Acessível, tempo atrás. Eu vivia até Aline de Freitas Faria, 26 o auxílio de seus colegas mas a falta de conhecientão uma vida normal. anos, bacharel em psicoloque os contornavam sobre mento e interesse dificulta Alguns deles usam bengia pela Faculdade Newuma superfície macia a popularização e a galas para andar e eu ton Paiva. Aos oito anos, criando um alto-relevo. E inserção dos deficientes HIAGO

NTUNES

no mercado de trabalho. A inclusão de deficientes tem por base que a vigência dos direitos específicos das pessoas está diariamente ligada à vigência dos direitos humanos fundamentais. Os deficientes não buscam pertencer a uma classe separada com seus direitos e ferramentas específicos, mas visam à livre interação com a sociedade. "Nós também queremos incluir os outros em nosso mundo", diz Herivelton. Segundo ele, como qualquer outro cidadão os deficientes possuem capacidades iguais para exercer suas aptidões. “Os deficientes também dão conta, é só dar espaço", ressalta. No Brasil, a avaliação real da quantidade de cegos, deficientes visuais, e portadores de baixa visão, é imprecisa pela falta de dados estatísticos e epidemiológicos confiáveis. Estima-se que em 2000 o número de portadores de formas de deficiência visual era 1,41% da população total do país, ou 2,4 milhões de pessoas com alguma forma da deficiência, enquanto 0,09% da população ou 148 mil habitantes se declaram como cegos.

Projeto Som do Céu: música com solidariedade LETÍCIA GLOOR

n IGOR PATRICK SILVA FELIPE GIUBILEI LUCIANA MACIEIRA 1º PERÍODO

Diariamente, as irmãs Camila e Larissa Bueno Marques, 14 e 13 anos, respectivamente, enfrentam uma jornada de quatro horas e meia no Colégio Cristão de Belo Horizonte. Quando saem da escola, ao invés de ficarem em casa ou nas ruas, ambas partem para a Fundação Oásis. Criada em 1993, a instituição tinha como objetivo inicial promover apoio pedagógico para crianças e adolescentes das três áreas de risco que circundam o local - Buraco Quente, Concórdia e Pedreira Prado Lopes evitando assim que estes se envolvessem com o crime e com as drogas. Dezoito anos depois, muita coisa mudou. Hoje a Fundação conta com a sede muito mais estruturada, localizada no Bairro São Cristóvão, Região Nordeste. Atende atualmente cerca de 200 crianças e conta com cursos de Salão de Beleza, Panificação, Dança, Inglês e Informática, esse último com o apoio da Microlins. A parceria

com a Prefeitura da Capital que viabiliza o recebimento dos alunos das escolas municipais vizinhas e o apadrinhamento da ONG Compassion de Campinas, complementa a renda e garante a continuidade de suas ações. Apesar de frequentarem outras oficinas, Camila e Larissa gostam de uma em especial: a de música. Sugestivamente nomeada de "Som do Céu", a oficina de música surgiu em 2005, depois que a FATE (atual curso de Teologia da Faculdade Isabela Hendrix) doou 20 flautas doces para a Fundação Oásis. Um dos alunos da FATE também se voluntariou a ministrar as aulas. Depois de um longo hiato, que durou de 2006 a 2008, o projeto retornou com força total em 2009 e continua ativo desde então. Bimestralmente, o grupo de alunos se apresenta acompanhado pelo professor Iran Porto, que ministra o curso de violão. São pequenos concertos nas escolas parceiras, inaugurações, aniversários e reuniões de pais. "O Som do Céu

Larissa, Camila e outras alunas aprendem flauta doce fora da escola investe na auto estima. Através da música, os alunos melhoram o aprendizado, a aparência e a atitude," diz Noemi Lema Perdigão, diretora geral da Fundação Oásis. "Já é possível perceber alunos com grande aptidão, que se sobressaem", completa.

As professoras Sarah Any Padley Chaves Santana e Priscila Lamouniee de Aguiar, veem o Som do Céu como parte fundamental e indissociável do resto da fundação. "É uma ação que abrange não só a área musical, mas a área social. Temos alunos aqui

de todos os contextos: órfãos, violentados, carentes," diz Priscila, que nomeou o projeto. Sarah vai mais além. "Procurando sempre respeitar a vida privada do aluno, ajudamos até na carência afetiva que alguns têm. Conversamos, queremos saber dos seus problemas e auxiliamos sempre que possível", acrescenta. O Núcleo da Fundação Oásis é uma bolha de excelência em uma área conturbada e possui uma estrutura invejável, que conta com uma ótima sala de informática, cozinha experimental, brinquedoteca e um grande espaço físico, suficientemente grande para atender as crianças com relativo conforto. "Temos uma prima que se envolveu com drogas aos 13 anos de idade. Hoje ela tem 21, mas não consegue largar o vício. Acredito que se ela estivesse aqui, preenchendo seu tempo, provavelmente não teria se envolvido nisso", conta Camila Marques. Apesar da importância, o Som do Céu enfrenta muitos problemas que impedem o seu

desenvolvimento pleno. Faltam uniformes de gala para as apresentações e violões. As flautas são emprestadas aos alunos quando estes chegam à Fundação, mas a falta do instrumento em casa impede que os aspirantes a músicos possam estudar. A Fundação Oásis acaba de se inscrever no Prêmio Itaú-Unicef e aguarda o resultado. As instituições selecionadas receberão uma verba e, com ela, existe a pretensão de adquirir mais instrumentos, montando uma mini orquestra. Independentemente dos desafios que o Som do Céu tem, uma frase de Noemi define muito bem o trabalho realizado. "Não se trata apenas de tocar, mas sim de valorizar o estudante e torná-lo capaz de enfrentar um mercado cada vez mais competitivo". Não poderia haver descrição melhor. Para ajudar a Fundação Oásis e/ou o Projeto Som do Céu, entre em contato pelo telefone (31) 3421 1257.


8 Cidade

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Setembro • 2011

ACORDO PRESERVA CAMPO EM BH A Associação Esportiva do Santa Tereza, entrou em acordo com a prefeitura após a proposta polêmica da construção de um muro que cortaria o tradicional campo de futebol ao meio MARIA CLARA MANCILHA

n RAISSA PEDROSA 3º PERÍODO

Um acordo firmado com a Prefeitura de Belo Horizonte, no dia 21 de julho deste ano, colocou fim a uma ação judicial iniciada pela administração municipal e impediu que a Associação Esportiva do Santa Tereza (A. E. S. T.) fosse desalojada do terreno que ocupa há quase 70 anos, no bairro de mesmo nome, na Região Leste da capital. Dessa forma, os projetos sociais, incluindo o time mirim de futebol de campo, foram preservados. Neste dia, que a Prefeitura tomaria posse do imóvel, após mobilização da imprensa e com a presença da Polícia Militar, foi realizada uma reunião entre as partes conflitantes, garantindo a permanência da entidade ali por pelo menos cinco anos até uma decisão permanente. Em uma outra reunião, realizada posteriormente, firmou-se a parceria da AEST com a PBH. A demanda judicial iniciou-se em 2007, depois que a Prefeitura de Belo Horizonte obteve o registro do terreno, que, até então, não tinha propriedade legalmente reconhecida. Co-

mo nova proprietária do local, a administração da capital mineira requereu a posse do imóvel, que lhe foi garantida pela Justiça. Segundo o coordenador técnico e treinador da associação Davidson Vilde Lopes, 29 anos, a intenção da Prefeitura era erguer um muro no terreno, dentro do campo, aproximadamente 50 metros paralelos à linha do metrô que passa ao lado. A Associação fica numa área de classe baixa do bairro e possui, além do time de futebol mirim, oficinas de dança como balé, jazz, capoeira, informática, percussão e aula particular, contando com a participação de aproximadamente 450 jovens de 8 a 15 anos. Davidson está na associação há aproximadamente sete anos e afirma que com todas essas atividades, a A.E.S.T. virou um projeto social e mostra a importância dele para as crianças e os jovens da comunidade. "Se esses meninos não estivessem aqui jogando bola ou fazendo oficinas, o quê que eles estariam fazendo agora? Coisa boa que não seria", questiona. A Prefeitura informou que possui planos para instalar um centro esporti-

Cerca de 450 jovens entre 8 e 15 anos participam das atvidades oferecidas pela Associação Santa Tereza vo de alto nível no local. Segundo o Secretário Municipal de Gestão Administrativa, Hipérides Dutra de Araújo Ateniense, o acordo fechado entre as partes viabilizou a permanência da Associação lá até a construção do centro esportivo pela PBH, que será aberto à participação dos moradores da região. "A Secretaria Municipal de Esportes tem dois programas sociais esportivos voltados respectivamente para adultos e crianças. A comunidade foi então imediatamente informada que os atuais usuários

Refrigerantes regionais fazem sucesso no Mercado Central

serão abrigados nestes dois programas e que já está sendo providenciado e parcialmente já realizado", afirma Hipérides Ateniense. Sobre a intenção de murar o terreno, informada por Davidson Lopes, a Prefeitura não se posicionou. HISTÓRIA A A.E.S.T. já foi um centro de treinamento com refeitório, lavanderia, dormitório, academia e toda a infraestrutura para o time do Santa Tereza treinar. O campo que hoje é de terra, um dia foi gramado e por lá passaram jogadores

Ajuda para mulheres grávidas n

LETÍCIA GLOOR

n ADA MALUF ANA CAROLINA NASCIMENTO 3º PERÍODO

Com a proposta de resgatar os sabores caseiros, a estudante de Gastronomia Bárbara Neves Vieira, de 22 anos, levou para dentro do Mercado Central de Belo Horizonte o sabor regional de alguns lugares do país, por meio de bebidas não alcoólicas. É na 'Sabores e Ideias' que podem ser encontrados onze tipos de sucos e refrigerantes, como o guaraná Coroa, famoso no Espírito Santo e o Abacatinho, sabor retirado das folhas do abacate, vindo de Ubá, na Zona da Mata Mineira. Mas a bebida mais procurada pelas pessoas é o Guaraná Jesus, vindo do Maranhão, onde é o refrige-rante mais consumido e acabou trazendo uma maior repercussão para a loja. "As pessoas são mais atraídas por ele, que é procurado até por quem não o conhece", conta Barbara. A primeira bebida artesanal da loja, foi o suco Cajuína, produzido em Chorãozinho (CE). O suco era uma das paixões de seu avô, que veio do Nordeste e não encontrava a bebida facilmente em Minas. Seu pai co-

Itubaína, da cidade de Itu (SP). Um representante da distribuidora que é dona dessa bebida passava pelo Mercado e sugeriu que Bárbara o usasse em sua loja. Mesmo com as sugestões das pessoas, os produtos passam por alguma pesquisa, chegando em grande quantidade, já que a mercadoria vem de muito longe e até mesmo o transporte Barbara com mostra dos refrigerantes chega a ser complicado. "Não podemos meçou a trazê-lo para ser pegar qualquer coisa", vendido na loja e obteve explica Bárbara, que para uma boa aceitação. Com isso, Bárbara decidiu in- aumentar a oferta de vestir em outras bebidas sucos dentro do seu estaregionais, como o suco belecimento trouxe do Perini, feito da uva bordô Taiwan um suco de lichia, uma fruta orie sem adição de açúcar, ginária da China. vindo de Farroupilha O último refrigerante (RS). ''A sensação é de que chegou à loja foi o tomar um vinho sem Grapete, refrigerante de álcool'', conta Bárbara. uva produzido em várias Com o crescimento da partes do país, mas que loja, os clientes come- para lá, chega direto do çaram a sugerir produtos, Ceará. E para completar como por exemplo, o as bebidas existe também refrigerante Artemis, pro- o refrigerante POMduzido há 52 anos em CHIC de limão, da Patos de Minas. ''Essa cidade de Divinópolis, iniciativa é uma coisa no Centro-Oeste de Midiferente, inclusive em nas. Bárbara, que possui termos de Brasil'', elogia a loja há um ano e seis Antônio Carlos Santiago meses e está cursando o Rios, um dos propri- primeiro perío-do da facetários da fábrica do uldade, pretende trabalrefrigerante. Outra su- har cada vez com produgestão foi o refrigerante tos regionais.

conhecidos em todo o Brasil como Ronaldo Luiz, bi-campeão mundial pelo São Paulo, Moacir, Alex Mineiro, Palhinha, Cleyson, Irênio, Marcão e vários outros como o atacante Enrico que atualmente é jogador do Vasco, do Rio. O time mirim já participou de vários campeonatos e conquistou títulos como a Taça BH de Futebol Júnior, Campeonato Mineiro da mesma categoria, Copa Minas Society, Jogos com times estrangeiros e Copa do Santa Tereza, onde eles pu-

deram ganhar um grande número de troféus, que são guardados em uma sala. Existem também campeonatos internos com os meninos que participam do projeto. A auxiliar de limpeza da Associação, Ana Lúcia dos Santos, 36 anos, trabalha lá há muito tempo e mostra muito carinho pelo lugar. Ela diz que sua história tem que continuar e que quando há treino à noite ela vai ajudar, e faz tudo por lá. Quando a prefeitura quis tomar posse do local, ela se disponibilizou para ajudar. "Fiquei muito nervosa", afirma. Ana Lúcia possui duas filhas, e a mais nova participa do projeto fazendo balé. Ela afirma que sem o projeto, daria um jeito de arrumar outra atividade para sua filha fazer, porque tem medo de deixá-la na rua e completa que o projeto ajuda na educação da criançada. "Para mim ele (o projeto) tira as crianças da rua. Se não está na escola, está em todos os lugares, fazendo sabe-se lá o quê", comenta.

AIMÉE NERY DÉBORA DE ALMEIDA ELZIMAR DIAS SAMANTHA LOPES 3º PERÍODO

Todo segundo sábado do mês no Auditório do Orquidário do Parque Municipal e todo último sábado no Parque das Mangabeiras acontecem rodas de conversa organizadas pela ONG Bem Nascer, que tem como objetivo auxiliar, apoiar e orientar as gestantes e os demais interessados, sobre gestação, parto e amamentação. A roda bem nascer é um dos serviços oferecidos pela ONG e têm como função passar informações e oferecer uma troca de experiências entre gestantes, mães, casais, famílias e outros. Sem fins lucrativos para a sua realização, a ONG participa do Movimento BH Pelo Parto Normal e conta com o apoio de algumas parcerias e da prefeitura, que cede o espaço para que o evento ocorra. Ao incentivar o parto normal, a ONG Bem Nascer busca divulgar um parto mais seguro e um pós-parto menos doloroso para as mães, no entanto, a entidade não é contrária à cesárea, desde que essa seja realizada apenas em casos necessários. A ONG nasceu em 2001 como Projeto Bem Nascer criado pelo obstetra Marco Aurélio

Valadares e pela jornalista e professora de yoga Cleise Soares, com o intuito de divulgar e passar informações sobre o parto natural e defender a redução da cesárea desnecessária. Oficializada em 2003, a organização possui como voluntários obstetras, enfermeiras, jornalistas, advogados, psicólogos, doulas que atendem a usuárias do sistema público e privado de saúde e pais que já passaram pelo processo e que querem ajudar aos casais grávidos. Psicóloga e doula, Daphne Bergo Paiva, é vice-presidente da ONG, e revela que a falta de informação sobre o parto influencia na busca das gestantes pela cesariana. "Nós temos medo daquilo que não conhecemos, à medida que adquire informação a mulher vai MARIA CLARA MANCILHA

Trabalho de informação às gestantes

ficando mais tranquila", diz. Segundo ela, além das o-rientadoras, as gestantes e mães que já tiveram filhos pelo parto normal vêm contar suas experiências. "Trata-se de uma roda de troca de informações. As grávidas adoram escutar as histórias, elas querem saber como foi. Muitas não querem fazer cesariana, mas também não sabem sobre parto normal e vêm procurar informação", afirma. Foi o caso de Simone Aline de Miranda, que não queria passar por uma cesariana, mas também não desejava um parto normal tradicional, em posição deitada. Ela procurou a ONG, foi acompanhada por uma Doula e, embora não tenha planejado, o parto ocorreu em casa com ajuda do marido. Segundo Simone, as dicas que recebeu na Roda Bem Nascer foram fundamentais, pois, num parto em casa como o dela, qualquer dúvida poderia ter colocado a vida dela e da criança em risco. "Nós sabíamos que tinham alguns procedimentos quando a criança nasce, os quais aprendemos na roda e nas palestras", diz o pai Gerci Junio Pinheiro Almeida. Mesmo após o nascimento da filha o casal frequenta as Rodas, para rever as pessoas e para relatar suas experiências.


Cidade Setembro • 2011

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ELES SÓ QUEREM SE SENTIR EM CASA Os desafios das pessoas que chegam a BH em busca de emprego, melhores condições de vida ou estão à procura de um lugar para morar e encontram apoio nos programas assistenciais PIERO MORAIS

n PIERO MORAIS 5º PERÍODO

Mochila com algumas trocas de roupa, documentação completa e dinheiro para custear as passagens. William de Assunção, 21 anos, tinha tudo preparado para a viagem da vida dele quando saiu de Palmas no Tocantins para rodar por cinco estados brasileiros, a fim de adquirir vivências que não compartilhava em sua cidade. Com a proposta de passar um ano em cada estado, ele escolheu Belo Horizonte como primeiro destino. Com uma hora na nova cidade teve a mochila extraviada e hoje é um dos 70 migrantes abrigados no Albergue Noturno Municipal do Bairro Floresta em Belo Horizonte que dependem da estrutura para terem onde dormir e comer. William faz parte de um grupo de seis mil brasileiros, em média, em situação migratória que passa pela capital mineira em busca da estabilidade de um emprego e são atendidos pelos órgãos municipais de assistência social da cidade por ano. O albergue municipal, situado na Rua Conselheiro Rocha, 351, no Bairro Floresta, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, tem vagas para atender 400 pessoas. Dessas, 80 são reservadas aos migrantes, e as restantes alojam, na sua maioria, a população de rua da capital. O atendimento ao migrante é feito inicialmente pelo plantão de assistência social, que atende cerca de 650 casos por mês. Em cada um deles é verificada a situação do indivíduo para poder encaminhar ao abrigo ou custear uma passagem de retorno, caso seja de interesse do albergado. Anteriormente, após reduzir o número de plantonistas e aumentar a carga horária dos remanescentes, o plantão atendia cerca de 450 casos. Com a contratação e efetivação de uma nova equipe, o município ampliou esses atendimentos com a meta de atingir uma média de 700 por mês. No abrigo, a situação do migrante é diferenciada do morador de rua que, além do dormitório, dispõe de três refeições por dia e lugar para guardar suas coisas. Para conseguir uma vaga no abrigo, o migrante deve se encaminhar ao plantão assistencial no Terminal Rodoviário. Aqueles que apresentam vontade de se fixar no município com possibilidades reais e que estão com a documentação correta e regularizada são atendidos preferencialmente. O plantão ainda auxilia os migrantes na regularização dos documentos. Em um prazo estipulado de dois meses, os migrantes cadastrados e abrigados no serviço de acolhimento institucional devem apresentar um parecer de estabilidade com um emprego fixo e condições de pagar um lugar pra morar e, caso não consiga, a situação é reavaliada podendo assim ser estendida. É o caso de William, que com o extravio da mochila, perdeu toda a documentação, exceto a carteira de trabalho que o tira da situação de indigência e garante o direito de utilizar o albergue. "Até conseguir uma vaga aqui no abrigo eu passei os primeiros dias na rua", conta. William procurou o auxílio do plantão assistencial para conseguir se documentar, porém, para que consiga recuperar o registro feito no Pará, terra natal dele, é

Bem acomodado: William foi um dos 80 beneficiados pela instalação do Abrigo para migrantes no bairro Floresta e elogia a estrutura local necessário pagar uma taxa de R$ 180. Hoje ele tenta junto com a Assistência Social conseguir a isenção dessa taxa para conseguir se fixar no município. "O único problema é que, após a isenção, minha documentação chega só depois de três meses, e só posso ficar aqui no albergue dois", lamenta o jovem. Ele trabalhou desde os 16 anos como garçom e passa o dia distribuindo currículos atrás de oportunidade. O prazo de William se estendeu até o dia 6 de setembro, quando partiu para outra cidade usando o auxílio de passagens da assistência social. Em Belo Horizonte, o número de migrantes cresce e a demanda sofre aumento proporcional devido a falta não só de emprego, mas também de atendimentos no interior do estado que, como explicado por Maria Mazzarello Vieira Torres, coordenadora do plantão assistencial ao migrante do município, acaba por "desovar" esse fluxo na capital. "No interior não há políticas de suporte aos migrantes como também não há população de rua. Assim, essas pessoas passam de cidade em cidade até pararem aqui", afirma a assistente social. Para conseguir uma passagem, o migrante deve comprovar a situação de desamparo e, preferencialmente, apresentar um contato na cidade que deseja ir, seja para um emprego preterido, ou seus familiares, para assim se encaminhar o regresso. Conseguida a passagem, a pessoa tem direito a um kit lanche e acesso às instalações da rodoviária para higienizar-se, ou até mesmo conseguir uma vaga temporária no abrigo. O Governo do Estado repassa R$ 12,5 mil para custeio das passagens, valor insuficiente para atender a demanda. A verba é dobrada pelo município que assumiu os gastos do serviço de assistência em 2008. Mazzarello diz que o órgão assistencial é solícito e eficaz, mas pode melhorar. "Preferencialmente queremos mandar os migrantes para os destinos finais para não formar população de rua em outras cidades. Para um melhor atendimento da demanda, seria melhor ampliar nossas vagas no abrigo para 120 e, assim, melhor acomodar esse pessoal até conseguirem emprego ou irem para casa." William divide o dormitório com mais sete companheiros, todos de cantos distintos do país, porém com histórias parecidas e um objetivo: conseguir se fixar em um emprego e se firmar

como cidadão belorizontino. Histórias como a de Olitho Santiago Pires, 56 anos, 30 deles passados na estrada quando decidiu abandonar São Paulo para correr atrás de emprego e estabilidade. Ele quase a encontrou quando chegou a Rondônia no ano de 1982, um dos 15 estados brasileiros visitados por ele, quando conseguiu emprego no garimpo. "Na época, o garimpo rendia muito dinheiro e eu estava bem financeiramente, até que peguei uma malária na floresta e tive que sair de lá às pressas porque não havia Sistema Único de Saúde instalado por lá", relembra o servente de obras de ofício. Ele hoje está na quinta

passagem pela capital mineira. "Gosto do queijo daqui", brinca Olitho, que está com destino incerto. Há um mês e meio no albergue, ele passa por problemas de saúde e encontra dificuldades em se firmar em um emprego do segmento por conta da idade. "Estava trabalhando numa obra, mas não consegui por conta do serviço ser pesado. Minha idade é avançada e estou cuidando da minha saúde para encontrar um emprego e um lugar pra ficar", explica. Diante do companheiro de quarto, William conta que no albergue conheceu em sua maioria pessoas com histórias de vida parecidas com a de Olitho, que

abandonaram as cidades natais para tentarem a sorte nos polos industriais espalhados pelo país, num êxodo ainda crescente. Instalado e devidamente higienizado e alimentado, William elogia a estrutura do albergue municipal, tanto pela limpeza quanto pela ordem, além da maneira digna de como são tratados todos os migrantes e moradores de rua. "Aqui existe rigidez sim, mas é uma ótima estrutura. Quando morava em Palmas, que não tem abrigo, eu tinha certo preconceito quanto a albergues e as pessoas que dormiam neles. Hoje sei que aprendi mais ficando aqui", afirma. Para Olitho, que conhece albergues em todo país, a qualidade da estrutura oferecida pelo abrigo municipal não é vista em outros estados e serve de exemplo. "Se for levar em conta tudo que vi por aí, aqui só falta um cafezinho pela tarde", brinca. Olitho, com prazo de apenas 15 dias para sair do albergue, diz não desgrudar do rádio para ver quais os lugares do país que oferecem melhores condições de emprego. "Caso não consiga ficar por aqui, pretendo seguir o trecho e ir ao Rio Grande do Sul, para Vacarias, onde tem a colheita da maçã", traça o destino. William continuou a distribuir currículos na esperança de conseguir condições para ficar, mas o prazo venceu e ele decidiu tomar novo rumo com o projeto no interior do estado. Decidiu ir em busca de, como ele próprio define: "minha pesquisa pessoal por experiências".

Assistência para quem mora nas ruas LETÍCIA GLOOR

ferencial na Floresta, outros abrigos da rede municipal s e r v e m como ponto de apoio aos moradores de rua da cidade. O Abrigo São Paulo, de Moradores de rua utilizam a cantina instalada no abrigo demanda espontânea, situado na Rua Életron, 100, no O trabalho da equipe forbairro São Gabriel, dispõe de mada por seis profissionais no 150 vagas. Assim como o Abrigo Municipal, entre eles serviço assistencial coordenapedagogos, psicólogos e assisdo por Adílson, oferece instatentes sociais, coordenados lações para higiene e alimenpor José Adilson Gomes, 39, tação, com sabonete e toalhas além de dispor aos migrantes (lavadas todos os dias), uma e moradores de rua abrigo e ficha que dá direito a uma alimentação, oferece também refeição e uma cama com encaminhamento para tratalençol, fronha, travesseiro e mento psicológico e hospitacobertor. A demanda feminina lar e a outros serviços de do município é atendida pela auxílio prestados pelos órgãos Casa Maria. municipais. Adilson conta que Outros endereços são oferea demanda pelo abrigo e os cidos como referências à pobenefícios aumentam com os pulação de rua. O Abrigo períodos de chuva e de frio. Pompéia atende famílias e "Em nossa maioria atendepessoas em situação de risco mos a população de rua. São pessoal e social. O encamidestinadas a eles 320 vagas, nhamento é feito pelo Centro po-rém sempre atendemos de Apoio dos Moradores de além do previsto, tendo assim Rua. O Abrigo Granja de em média 450 pessoas dorFreitas atende famílias que mindo aqui", explica o coordevêm das áreas de risco geológico e em situação de risco pesnador. Ele aponta os soal e social. colchões no chão dos dorA Prefeitura apresenta mitórios como solução para ainda, segundo Adílson, divera lotação. sos programas de apoio à poPara desafogar o abrigo re-

pulação de rua para melhorar a qualidade de vida. As repúblicas Reviver oferecem casas para 40 pessoas cadastradas pelo município como indigentes. Eles têm a oportunidade de se estabelecer em um local fixo, uma moradia com lugar para guardar as coisas e voltar a qualquer horário. Não têm direito ao programa os que se mostram aptos a mudar suas situações. "Não é só um fator financeiro a causa dessas pessoas estarem nas ruas. Muitas delas não querem sair dessa situação porque têm uma história na rua", diz. Mais duas repúblicas serão custeadas pelo orçamento participativo e estarão disponíveis no ano que vem. Para usuários em situação mais avançada de estabilidade é oferecida pelo governo municipal a bolsa moradia, uma complementação no valor de R$400 que o morador de rua pode usar para pagar aluguel. Quando ele consegue o benefício, passa a receber visita periódica de 15 em 15 dias de um assistente social para avaliar a situação econômica e pessoal. O Centro de Referência dos Moradores de Rua, na Rua Varginha, 244, no bairro Floresta, também serve como ponto de referência de organização dos moradores de rua. Lá são prestados auxílios médicos, culturais e organizacionais.


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Setembro • 2011

ACESSO ÀS MEMÓRIAS DA CAPITAL Exposição dos 20 anos do Arquivo Público exibe mais de 100 anos de história da cidade mineira. As visitações ocorrem até o dia 16 de setembro no Centro de Cultura de Belo Horizonte n RAPHAEL VIEIRA PIRES 7º PERÍODO

Grafadas no que pareciam ser caixas de papelão abertas, as palavras "cidade", "memória", "arquivo" e "cidadã" saúdam os visitantes da Exposição dos 20 anos do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), que ficou aberta até 16 de setembro no Centro de Cultura de Belo Horizonte (CCBH). Quase uma viagem no tempo, os painéis recheados de fotos, documentos e plantas arquitetônicas, datadas desde 1894, mostram a trajetória e os desafios da consolidação do Arquivo Público na capital mineira. Dividida em quatro fases, a história da instituição reproduzida nos corredores da exposição é repleta de personagens e imagens interessantes, como uma cartilha da década de 1980 da Prefeitura de Belo Horizonte sobre como agir com segurança nas ruas.

Um portfólio com grande dias de funcionamento, documentos virtuais. A respeitado e importante parte das edições do Jornal número satisfatório para para a cidade. O reconheexposição trazia, quase em do Ônibus, desde sua crisua totalidade, montagens Gilvan Rodrigues dos cimento social como ação em 1994, também fez Santos, coordenador do guardião da memória de digitalizadas de fragmenparte da mostra. Docutos de jornais, cartas, fotos, Centro de Cultura de Belo Belo Horizonte foi marcamentos originais, já amareHorizonte. "Muitos visidocumentos oficiais etc., do pela terceira fase, que lados e manchados M C M tantes não assipela força do tempo nam o livro de mostram, por exemvisitação, ou plo, uma planta de seja, este núuma casa a ser consmero aumenta. truída no fim do Além disso, o século XIX, escrita número de visitantes nas expoem um português já sições vem auem desuso. As fases mentando grada instituição condativamente e tinuam pelos paiachamos muito néis da exposição. satisfatório", A primeira fase comenta Gilvan. do APCBH começa A média de visidois anos antes de tação nas exposua fundação, em sições é em 1991. Desde 1989 torno de 1.000 a até 1996, inventari1.200 pessoas, ar, recolher, higiede acordo com o nizar, acondicionar, coordenador. organizar e descreO acesso ao ver grandes massas Fragmentos digitalizados de jornais, documentos oficiais e fotos fazem parte do acervo da Exposição maior acervo sodocumentais foram bre a história da cidade é tornando evidente a durou até 2005. tarefas realizadas pela gratuito e universal e, por influência do digital na A quarta e última fase é equipe do Arquivo. A isso, ter contato com a realidade do Arquivo. marcada pela era digital, segunda parte da história, história do Arquivo é de Aberta desde o dia 12 na qual o APCBH trabalha de 1997 a 1998, foi marcainteressante para todas as de agosto, a exposição recepara digitalizar todo o da pela consolidação do pessoas, como diz Maria beu 280 visitantes em dez acervo, além de recolher APCBH como um órgão ARIA

LARA

ANCILHA

do Carmo Andrade Gomes, diretora do APCBH. "O Arquivo preserva e dá acesso aos documentos oficiais e a exposição tem o papel de divulgar a importância e o papel da instituição na administração de Belo Horizonte. Nós trabalhamos com o conceito de gestão de documentos para organizarmos a grande massa documental que temos e essa exposição mostra a importância de se preservar e cuidar da memória da cidade", comenta. De acordo com Maria do Carmo, o Arquivo possui um quilômetro e oitenta metros lineares (calculados a partir do empilhamento) de documentos textuais, além de 300 mil fotografias. Segundo Raphael Rajão, curador da exposição junto de Maria do Carmo, o Arquivo Público realizou sessões de visita com voluntários da instituição em setembro.

Motoristas desrespeitam espaço para os ciclistas MARIA CLARA MANCILHA

n NATHÁLIA ROSA DE CASTRO 4º PERÍODO

Pensando em uma cidade mais limpa e consciente, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da BHTrans, iniciou o Projeto Pedala BH. O programa prevê a implantação de 365 quilômetros de ciclovias na capital mineira, além de paraciclos e bicicletários. Até 2014, ano da Copa do Mundo, a prefeitura pretende ligar os principais pontos da cidade ao Complexo Esportivo da Pampulha. Porém, carros estacionados, passagem de motos, muretas quebradas e imprudência dos mo-

toristas, são algumas das irregularidades observadas nas ciclovias. O desrespeito com os ciclistas é visível. Ana Paula Noronha, 28 anos, é adepta às bicicletas e diz que todos os dias é possível ver essa falta de respeito. "Sempre que estou no trânsito, seja pedalando ou não, me deparo com situações de falta de educação dos motoristas. Na maioria das vezes, não tenho nem como parar minha bicicleta no lugar apropriado, porque os carros já estão nas vagas", afirma. Procurada para falar sobre os problemas e como pretende saná-los, a

pelos carros. Na Avenida Tereza Cristina, o depósito de entulho e a invasão dos carros obrigam os ciclistas a passarem no meio do trânsito. Além de ser uma via mal planejada, qualquer chuva fraca já deixa o local alagado. "Tem lugares na ciclovia que são muito difíceis de andar. Quando chove então, fica impossível", alega o estudante Carlos Rezende, 20 anos. Francisco Castro considera que a situação está ficando caótica e se preocupa em como vai ser quando o projeto estiver concluído. "Ando sempre de bicicleta com os meus filhos, mas percebo que estão ficando perigosos

BHTrans informou que esses assuntos são tratados pela Guarda Municipal, que não soube falar sobre o assunto. Quem também não comenta a falta de respeito em relação aos ciclistas são as pessoas que fazem mau uso das ciclovias. A justificativa é sempre a mesma. "Parei rapidinho aqui. Só vim pagar uma conta no banco e já estou saindo, mas não costumo fazer esse tipo de coisa", diz Ana Luzia Machado. Diante de uma fiscalização falha, quem fica jogado no acostamento, são os ciclistas. Na Região de Venda Nova, as placas da ciclovia estão tomadas

Bicicletas ficam sem espaço nas ciclovias de Belo Horizonte esses nossos passeios. Os motoristas não nos respeitam. Hoje, sinto insegurança ao passear com eles", salienta. O Projeto Pedala BH tem como objetivo incentivar o uso de bicicletas na capital, criando facili-

dades para quem optar por esse meio de locomoção. Para isso, o programa propõe ações que vão da implantação de rotas cicloviárias até campanhas de educação e segurança no trânsito.

Projeto evita comércio ilegal de gás de cozinha n LUCAS MENDES 3º PERÍODO

O comércio ilegal de botijões de gás de cozinha (GLP) em Belo Horizonte é um problema que vem preocupando os comerciantes do segmento. A inadequação na identificação dos envasadores de gás permite que botijões clandestinos possam entrar no mercado sem que haja restrições, o que dificulta a vida de Raimundo Carvalho, 59, proprietário da distribuidora de gás Ouro Gás. Ele administra a empresa com a esposa, e realiza as entregas dos botijões para economizar no custo de mão de obra. Apesar do esforço,

Raimundo não consegue suprir as expectativas de venda. "A gente se sacrifica, paga todos os altos impostos e ainda assim fica difícil competir com os que vendem os botijões com preços até 15% mais baratos", reclama. Conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apresentados pelo Sindigás estima-se que em Minas Gerais para cada ponto de venda legal há um ponto ilegal. Destes, 750 estão na região metropolitana de Belo Horizonte e 100 em Uberlândia. A clandestinidade também afeta Raphael Araújo, 27 anos, proprietário de

butária e a clandestinidade uma distribuidora de gás, para comercialização dos no depósito e na comerlocalizada no bairro botijões de gás de cozinha cialização dos botijões de Paraíso. Raphael teve que (GLP). O projeto exige gás. diminuir os preços dos que seja fixado um selo Malheiros, que também botijões, mesmo com a nos botijões de gás inforpreside a Comissão de baixa taxa de lucro, para mando nome, logomarca, Defesa do Consumidor e "não perder a clientela", e CNPJ do fabricante e da do Contribuinte, aponta diz ter presenciado alguempresa envasadora. Para como uma das motivações mas formas ilegais de coo deputado, o objetivo do do projeto a dificuldade mercialização de botijões projeto é evitar o envasaque o consumidor tem em de gás na região onde tramento ilegal, a fraude trifazer uso de seus balha. "Eu já vi até direitos, já que as botijões depositados L G empresas ficam em garagem de carimpunes pela falta ros para serem vende identificação de didos", denuncia. procedência dos Para enfrentar o botijões. "O código problema e garantir do consumidor estaa segurança do conbelece que, em caso sumidor, o deputado de acidente de conDélio Malheiros sumo, a responsabi(PV-MG) desarquilidade é do fornecevou o Projeto de Lei dor. Mas o forneceL° 4236/10, que Comércio de botijões é prejudicado pela ilegalidade dor acaba dizendo estabelece requisitos ETÍCIA

LOOR

que o problema é do fabricante. Por isso apresentamos o projeto para deixar claro quem envasou aquele gás, para que, na eventualidade de um acidente, o consu-midor possa acionar aquela empresa", esclarece. A expectativa do deputado é que o projeto entre na pauta de votação do Plenário ainda este ano. O Projeto de Lei será enviado às Comissões de Justiça, de Defesa do Consumidor e de Fiscalização Financeira para discussão durante a votação em 1º turno, e posteriormente, no caso de aprovação, será encaminhado para a sanção do governador.


Política/Comunicação Setembro • 2011

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Alunos vindos de várias regiões do Estado tem a oportunidade de participar de discussões políticas realizadas na Assembleia Legislativa de Minas e aprender, por meio do Parlamento Jovem, como funcionam os bastidores da política.

JOVENS DO INTERIOR BUSCAM FORMAÇÃO POLÍTICA EM BH BRENO CONDE

n BRENO CONDE RAQUEL ANDRETTO WILSON MILANI 1º,3º E 6º PERÍODO

Vistos, na maioria das vezes, como apáticos e desinteressados pela vida política brasileira, os jovens que participaram da etapa estadual do Parlamento Jovem Minas 2011 aprenderam, na prática, o real significado do conceito de "democracia participativa" - regime em que a sociedade civil elege e fiscaliza os representantes políticos. Tanto é que, no interior do Parlamento Jovem, as deliberações são realizadas a partir de uma experiência verdadeiramente concreta e objetiva, conforme aponta Wanderley Chieppe Felippe, pró-reitor de Ex-tensão da PUC Minas. "Não se trata de uma simples visitação à Casa do Legislativo, nem de uma mera simulação. É uma experiência real. Os estudantes chegam à Assembleia com o objetivo de deliberação", afirma. Este ano, o Parlamento aconteceu nos dias 18 e 19 de agosto, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), com a participação de 16 municípios mineiros, sendo 15 do interior, além da capital. A presença de cidades do interior representou uma das principais novidades da edição do PJ Minas de 2011. Caio Amadeu Oliveira Mourão, 16 anos, mora na cidade de Capelinha, localizada no Vale do Jequitinhonha. Ele conta que nunca havia entrado numa plenária antes. "Nem tinha ideia de

O resultado da votação feita pelos alunos será levado para a Câmara dos Deputados, havendo possibilidade de ser encaminhado para o Congresso Nacional como era discutir um projeto. É muito complicado fazer uma proposta, porque a realidade é muito diferente. São pessoas de várias partes de Minas. E a divergência de realidade é muito grande. Cada pessoa tem uma opinião diferente", ele conta. Antes de entrar no PJ, Caio era contra a legalização da maconha, mas ao ser obrigado a pesquisar mais sobre o assunto para poder ajudar na elaboração dos projetos, ele acabou mudando de opinião. Com frio na barriga, nervosa e ansiosa. Era assim que Lara Lorrany Viana, de 16 anos, estudante do 1º ano do Yes Pitágoras de Nova Serrana, localizada na região Centro-Oeste, se encontrava antes de entrar na plenária. "É a minha

primeira vez em Belo Horizonte. Esse é um projeto que envolve todos os jovens e temos que passálo para eles, porque o Parlamento Jovem é uma experiência única. A partir dele conseguimos mostrar que a nossa ação faz a diferença", observa. A falta de interesse pela política também era algo comum na Escola Dinâmica do município de Iturama, região do Triângulo Mineiro. A professora e diretora Ana Maria Freitas, 46 anos, conta que o projeto veio por iniciativa dos vereadores. "Nunca vi os alunos engajados na política, mas depois que apresentamos o projeto a eles a adesão foi espontânea. Mais de 120 alunos participaram das discussões", relata. Ela informou que pretende voltar

no PJ, pois a seu ver quando o jovem é ouvido ele participa.

EVENTO O PJ contou com a participação de aproximadamente 109 jovens - oriundos de escolas públicas e privadas de todo o Estado - que se dedicaram à votação de 88 propostas ligadas ao tema "Drogas: como prevenir?". As propostas aprovadas serão encaminhadas à Comissão de Participação Popular da ALMG para apreciação e poderão, em breve, ser transformadas em leis e/ou emendas legislativas. Fruto de uma parceria firmada entre a PUC Minas, por intermédio da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e do curso de Ciências Sociais e a Escola do Legislativo da ALMG,

o Parlamento Jovem começou em 2003 como uma simulação e, no ano seguinte passou a contar com a efetiva participação dos jovens, projeto exclusivo de Minas Gerais. Para muitos alunos, um primeiro envolvimento mais direto com a esfera pública do país, principalmente no que diz respeito ao exercício da cidadania. Questionada sobre a importância do projeto, Letícia Almeida, 16 anos, moradora de Carmo do Cajuru, localizada no Centro-Oeste de Minas, argumentou: "para a formação do cidadão. Porque pessoa todo mundo é, mas cidadão você só é quando exerce". Antes, porém, de iniciar a etapa estadual, os alunos participantes do projeto realizaram, du-

rante o 1º semestre de 2011, encontros municipais, dos quais foram extraídas, por meio de uma metodologia baseada em minicursos e oficinas, 94 propostas direcionadas ao tema central da edição deste ano do PJ Minas. Após a análise da equipe técnica da Assembleia, que constatou, entre outras coisas, redundâncias desnecessárias, o documento base do Parlamento Jovem passou a contar com 88 propostas. Focado, inicialmente, apenas em Belo Horizonte, o projeto ganhou força nos últimos anos, e se estendeu para além das fronteiras da capital mineira. Para um município participar do projeto, entretanto, não basta apenas mostrar-se interessado. A cidade deve contar, também, com o mínimo de estrutura possível para a realização dos encontros locais. Possuir uma Escola do Legislativo, por exemplo, já é um bom começo. Regina Medeiros, professora do curso de Ciências Sociais e uma das coordenadoras do Parlamento desde do início do projeto, ressalta que o objetivo do PJ é chegar ainda mais longe: "O projeto vai crescer mais. Hoje mesmo nós tivemos uma reunião com oito municípios interessados em participar da edição do ano que vem. A ideia é que a gente consiga atingir todo o estado de Minas Gerais".

Jornalistas procuram conhecimentos em Direito MARIA CLARA MANCILHA

n SULYEN DANTAS 3º PERÍODO

"Aprender conceitos, institutos jurídicos, terminologias, e seus respectivos usos, bem como me inteirar dos direitos, deveres e verificar a efetividade da justiça no país para poder informar". Foi assim que a jornalista Isabela Lopes definiu, objetivamente, seu interesse pela oficina de Noções de Direito e Qualidade da Informação para Jornalistas, que aconteceu em dois sábados do mês de agosto, nos dias 20 e 27, das 9 às 13 horas, no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais. Isabela falou também da importância da oficina que veio para lembrar os jornalistas que eles devem sempre procurar meios de aperfeiçoarem seus co-

nhecimentos na área do direito, com o intuito de informar utilizando maior domínio de conteúdo jurídico, para não incorrer em erros que confundam o leitor ou até mesmo causar algum tipo de consequência para os envolvidos enquanto o processo ainda está correndo. A oficina foi ministrada pelo professor adjunto de direito penal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Felipe Martins Pinto. Segundo ele, não se espera do jornalista saber tudo do Direito, mas que ele tenha domínio dos termos que irá escrever em sua matéria. Para Maria Cláudia Barreto, repórter da TV Assembleia, a oficina trouxe grandes benefícios ao fazer jornalístico, uma vez que as relações sociais estão sempre mediadas pelo Direito e profissionais da área devem sem-

pre procurar fazer cursos de atualização. Ministrada em dois módulos, a oficina contou com a presença de 30 inscritos. O Departamento de Assistência Judiciária da UFMG e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais firmaram uma parceria para viabilizar a oficina, com o objetivo de oferecer aos jornalistas instrução e capacitação quanto aos institutos jurídicos, para evitar que equívocos de entendimento e emprego de termos continuem sendo cometidos na produção de matérias. A diretora do Sindicato, Vilma Tomaz, e o diretor Geral da Divisão da Assistência Judiciária da UFMG e coordenador do Instituto brasileiro de ciências criminais de Minas Gerais, Felipe Martins Pinto, consideraram o resultado da ofi-

cina expressivo, considerando o fato de que o tema atraiu um público interessado e que compareceu às aulas. "A necessidade de conhecer os institutos é tão grande que os jornalistas deixaram o conforto de suas casas após uma sexta-feira badalada para se instruírem", afirma a diretora Jornalistas aproveitam o sábado para aprender mais sobre noções de direito Vilma Tomaz. A oficina marca o ciclo de Iniciação Jurídica para denominá-lo culpado de comum dos jornalistas Jornalistas, dando apenas forma equivocada e forcomo sendo o de já coninício a um processo que mar previamente uma siderarem alguém como promete ser longo. opinião prejudicando a "acusado" enquanto o Muitas das perguntas vítima e a Justiça, antes sujeito ainda é apenas colocadas para o professor mesmo do que se chama "suspeito". De acordo com giraram em torno do uso o advogado, torna-se no Direito de trânsito em de termos jurídicos inademuito comum, no meio julgado. "Daí escrevem na quados e sua consequênjornalístico, a crença de matéria ou falam no rácia negativa. Os alunos em que só porque houve o fladio ou até na televisão. geral nunca se viram em grante, não há mais dúviToda a precipitação pode tal situação e todos têm das e os jornalistas julgerar processos", afirma este receio pelo futuro. Felipe citou o erro mais gam que estão livres para Felipe.


12Esporte

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Setembro • 2011

DISPUTA PELO FUTEBOL NO INTERIOR As categorias de base do interior do estado tentam se superar no Campeonato Mineiro apesar das diversas dificuldades encontradas para ficarem em pé de igualdade com as equipes da capital n ANA CAROLINA TEIXEIRA BÁRBARA VENTURA MARTINS RIBEIRO

ANA CAROLINA TEIXEIRA

3º PERÍODO

Um pagode rolando ao fundo, sincronizado com as batidas nas janelas, nos bancos do micro ônibus ou na chuteira ainda suja do treino. É assim que os meninos da equipe juvenil do Villa Nova retornam depois de um puxado treinamento visando um jogo do campeonato mineiro da categoria. A competição que teve início em 13 de agosto, conta com a participação de 17 equipes, que são distribuídas em três chaves. As equipes menores da Região Metropolitana de Belo Horizonte e do interior de Minas, lutam para conseguir uma boa colocação nas chaves e para competir fortemente com os times considerados "grandes" como Cruzeiro, Atlético e América. A maioria dos times localizados fora de Belo Horizonte, além de vencer o adversário dentro de campo, também têm que driblar a falta de estrutura, campos em más condições, falta de alimentação, falta de investimento e transporte. Além disso, essas equipes participam de poucos campeonatos e ficam a maior parte do ano fazendo amistosos e treinamentos. "Eles treinam todo ano, de segunda a sexta. Tem o período de férias. Depois eles fazem alguns amistosos e ficam se preparando até o início de algum campeonato",revela Roberto dos

Jogadores da categoria de base do Villa Nova e Atlético se enfrentam em partida válida pelo Campeonato Mineiro Santos, 48 anos, supervisor geral da equipe Juvenil do Villa Nova. É na categoria de base que os meninos aprendem a lidar com o mundo, saindo desde cedo de casa e passando por algumas situações inusitadas. Elton Prazer dos Santos, volante do time do Villa Nova, por exemplo, com apenas 16 anos já passou por equipes como Bahia, Itabuna-BA, e América-MG e conta uma das situações que já viveu no futebol. "Teve uma vez que eu estava indo jogar em Itarantim na Bahia e o ônibus quebrou no meio da estrada de madrugada e nós ficamos lá até o mecânico chegar", diz Elton. Além disso, muitos jogadores já passaram por momentos de não ter dinheiro para disputar um

campeonato. "Uma vez eu queria disputar uma competição em Poços de Caldas e não tinha dinheiro. Era um campeonato internacional. Vieram vários times de fora e fiquei muito triste por não ter como ir. O diretor do time que eu jogava conversou comigo e me deu o dinheiro para que eu pudesse disputar. Eu fui, joguei muito bem, tive algumas propostas, mas nada se concretizou", explica Rafael Nonato Machado, de 17 anos, volante do Villa Nova. A equipe do Forrobol, surgiu há oito anos, quando cerca de cinco amigos se juntaram para jogar futebol de campo. Apesar de carregar outro nome e outro uniforme, é o próprio time quem se responsabiliza pela estru-

tura e administração, com recursos da Lei de Incentivo ao Esporte, do Ministério do Esporte. Por falta de verba para participar do Campeonato Mineiro Juvenil, o time de Contagem realizou uma parceria com o Forrobol, um time para representálo na competição. Apesar de carregar o nome e o uniforme de outro time, o Forrobol é quem se responsabiliza com todos os gastos e toda estrutura. Alguns jogadores que jogavam no Contagem conseguiram segurar uma vaga no novo grupo. "A estrutura do Forrobol é bem melhor. No Contagem, a gente treinava no campo de terra. Era muito difícil ter água e quando tinha, era da torneira . Aqui a gente tem campo com gramado, tem fruta todo dia e

água gelada" , diz Arthur Maurício Garcia, de 17 anos, atacante do Forrobol. Até a ascensão para o profissional, os meninos das categorias de base, principalmente do interior, precisam ter muita persistência e gana para não desistirem do sonho. Além da distância dos treinos até em casa, os estudos não podem ser deixados de lado nesse momento. "Eu saio da escola, almoço, pego o ônibus e já chego na hora do treino. No começo era cansativo, mas já me acostumei,” explica Gustavo Henrique Coutinho Chaves Venâncio, de 16 anos. É nessa hora também que a figura do treinador se torna importante, atuando diretamente na vida do jogador. Roberto

Márcio de Afonseca, 37 anos, treinador da equipe juvenil do Forrobol, diz que o trabalho dos profissionais da área vai muito além do campo. "A gente trabalha como psicólogo, preparador físico, amigo. A gente lida com pessoas de classe A, B e C . É jogador que o pai bate na mãe, é jogador que o pai é alcoólatra, é jogador que o pai é milionário. A primeira coisa é tentar fazer disso um grupo, porque a partir do momento que eles entram no campo de treinamento o tratamento é igual. São todos iguais, do principal jogador até aquele que está em teste", ressalta Roberto. Se o futebol profissional do interior muitas vezes não tem incentivo, no futebol de base do interior a situação é pior ainda, tendo um custo de R$40 a R$50 mil nas três categorias, segundo informou o treinador do Forrobol, Roberto Márcio. Otávio di Toledo, representante do América-MG na bancada do Alterosa Esporte e presidente do Forrobol, diz que as equipes de base do interior estão minguando cada vez mais. "Se o futebol mineiro não tomar cuidado, os times de base do interior vão acabar. É muito caro participar desses campeonatos. As empresas do interior e as prefeituras não investem. Tem que incentivar o futebol do interior e formar categorias de base para que eles tenham uma oportunidade lá na frente", diz.

Hino brasileiro é banalizado em campeonatos LETÍCIA GLOOR

n PAULO VICTOR GÓES BRUNO LEÃO 1º PERÍODO

O hino nacional brasileiro, sendo executado em qualquer evento, é um momento de respeito e, para muitos, de orgulho. De acordo com o Capítulo V, da Lei 5.700 de 1º de setembro de 1971, que trata dos símbolos nacionais, durante a execução do Hino Nacional todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio. Além disso, é vedada qualquer outra forma de saudação gestual ou vocal como, por exem-plo, aplausos, gritos de ordem ou manifestações ostensivas do gênero, sendo estas desrespeitosas ou não. Visando a obrigatoriedade da execução do hino nacional em qualquer evento esportivo no território nacional, em 24 de fevereiro de 2011, o deputado estadual Alencar da Silveira Junior (PDT) propôs o projeto de lei da execução do hino em eventos esportivos em Minas Gerais, sendo ele aprovado pela Comissão de

Constituição e Justiça da Assembleia de Minas no dia 4 de setembro de 2011, aguardando parecer em comissão. Sabendo dessas divergências, vários profissionais da área, entre cientistas políticos e jornalistas esportivos, opinaram sobre a questão em destaque. Em entrevista ao jornal MARCO, o cientista político Antônio Lassance, pesquisador do IPEA e cientista político, diz não haver um uso excessivo do hino nacional. Pelo contrário, ele acha que se deveria ter um conhecimento maior pela música. "Acho não haver um uso excessivo do hino. Acho que se deveria cantar mais e melhor", afirma. Em contrapartida, o cientista político Humberto Dantas não vê a necessidade em utilizar tanto o hino nacional, porém respeita a lei estabelecida. "Acho que precisamos aprender a respeitar o estabelecido, sobretudo se tratando do que é", esclarece. Já o jornalista esportivo da Radio Itatiaia e deputado estadual de Minas

Jogo de futebol americano disputado entre o time do Minas Locomotiva e do São Paulo Storn, na cidade de Nova Lima Gerais pelo Partido Republicano Progressista (PRP), João Vitor Xavier, enfatiza a execução do hino e vê com bons olhos algo que hoje é tido como tradição aqui e em muitos países. Ele ainda completa que não vê um desrespeito por parte das pessoas ou que o hino atrapalhe a beleza do evento. "Vejo a maioria das pessoas respeitando os hinos nos estádios. Não vejo problema nisso e não acho que o hino atrapalhe ou que não

possa ser tocado nos jogos. Isso acontece em vários esportes, em vários países. Um dia foi novidade nesses lugares e hoje é tido como tradição". O jornalista esportivo e vereador de Belo Horizonte pelo Partido Verde (PV), Alberto Rodrigues disse que não vê um respeito por parte da população e dos esportistas pela tradição que é o hino nacional, mas acredita em uma reviravolta no sentimento da população em

relação ao hino. “Infelizmente não estamos acostumados a dar valor às nossas tradições. Mesmo que muitos jogadores não ajam com respeito na hora do hino, como também parte do público, acho que devemos cultivar o hino e a bandeira nacional, para que acenda em cada um de nós, o espírito de nacionalidade, do amor à pátria, como vemos, por exemplo, na Argentina, país vizinho", afirma. Perguntado sobre a

questão da execução do hino nacional em eventos esportivos, Heleno Heronville, formado em História pela PUC Minas, disse que cantar o hino há 40 anos era um motivo de muito orgulho e patriotismo, pois se tratava da representação do país. "Hoje, tocar o hino nacional se tornou banal, pois não há respeito por parte da torcida" diz. De acordo com Heleno, cantar o hino hoje não resolve a questão da violência ou da educação.


Cultura Setembro • 2011

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MARIA CLARA MANCILHA

Sede de grandes eventos de jazz, a capital mineira não se limita aos festivais, mas oferece esse gênero musical o ano inteiro, por meio de alguns bares existentes na cidade

JAZZ EM BH TEM PÚBLICO CATIVO n FABRÍCIO LIMA ÍGOR PASSARINI SARA MARTINS 2º PERÍODO

Tradicional e elegante, o jazz vem ganhando, recentemente, visibilidade na capital mineira. No mês de julho aconteceram quatro festivais, alguns deles reunindo milhares de pessoas. Esses vêm atraindo mais músicos a cada ano, no Savassi Festival, por exemplo, foram mais de setenta bandas inscritas. O jornal MARCO foi atrás de lugares frequentados por amantes do jazz em Belo Horizonte quando as praças e ruas da cidade não estão ocupadas por esses eventos. Apesar de muitos lugares tocarem jazz, poucos são os que o tem como parte da programação um dia na semana dedicado a esse tipo de música instrumental. Um desses estabelecimentos é o Café do Museu, localizado dentro do Museu Abílio Barreto, na Avenida Prudente de Morais, no bairro Cidade Jardim. O local possui um ambiente agradável com mesas para duas, quatro ou seis pessoas, além do serviço a La carte e um público específico, quase sempre formado por jovens casais. A maioria dos frequentadores não vai por causa do jazz, mas gosta quando é tocado. "Eu amo jazz, ouço desde pequena por causa dos meus pais que gostam muito também, já sabia que aqui tocava às vezes, mas hoje foi apenas uma grata coin-

cidência", conta Bruna Crispim, 20 anos, estudante de enge-nharia civil e que tem influenciado no gosto do namorado Fábio Hong, 31. "Estou aprendendo a gostar por causa da Bruna”, admite. Toda quinta-feira a partir das 20h, a noite é comandada pelo saxofonista Flávio Macedo, 44, pelo guitarrista Clayton Neri, 36, e por Delson Guimarães, 31, no violão. Formados em música, todos são professores particulares e tocam em outras formações. Além disso, Flávio é professor da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) e Clayton dá aula em um conservatório de música. Quanto ao jazz, eles apontam que tem crescido não só o público, mas também e, principalmente, a quantidade e qualidade dos artistas que se apresentam. "Tem deixado de ser um evento regional, cada vez mais bandas de outros estados têm vindo tocar nos festivais daqui", afirma Delson. Na Região da Savassi, entre mesas e estantes encontra-se um conhecido estabelecimento, o Café com Letras. Desde que foi inaugurada há 15 anos, a casa conta com uma noite voltada para o jazz e isso começou devido ao gosto pessoal do empresário e produtor cultural, Bruno Golgher, 40, dono do café, que acompanha de perto as atrações. Os vários músicos que se apresentam e a programação é feita pela gerente do café Martha

Gieseke, 32, que convida algumas bandas e avalia o trabalho de outras interessadas, por meio de e-mails recebidos com o áudio das mesmas. Para a apresentação dos músicos é cobrado um couvert artístico de R$10. O publicitário e fotógrafo Elias Kfury, 35 anos, frequenta o Café com Letras há mais de 12 anos, e diz que adora jazz, mas que vai pelo ambiente da casa, inclusive em outros dias da semana. "Acho que existe um desligamento com relação ao jazz na cidade. Os empresários tratam-no apenas como alternativa e a meu ver há uma miopia de mercado para a música erudita, para a música instrumental. O público existe, é um público de qualidade e que é fiel. Acredito que perdem a oportunidade de ter um público cativo", analisa. José Namem, 57, pianista há mais de quarenta anos, formado em regência pela escola de música da UFMG, concorda. "Sinto falta de ambientes voltados para o Jazz em Belo Horizonte", afirma o músico, sem deixar de elogiar o avanço que vem acontecendo. "Existe uma evolução sim, está mais abrangente e tem uma safra nova de gente boa de uns cinco anos pra cá, tudo isso é animador", diz.

MAIS OPÇÕES O Poterie Atelier é mais um ponto de jazz que se localiza à Rua Erudita, no Bairro Santa Efigênia. Tem uma estrutura ampla e ilu-

Banda de jazz se apresenta no Cafe com Letras, na Savassi, nas noites de quinta-feira minada, com mesas geralmente para quatro pessoas e quadros distribuídos pelo lugar, que fica aberto nas quintas, sextas e sábados de 18 às 24h e funciona no quintal da casa da dona, Luciana Radicchi, 44, que divide espaço também com seu atelier, já que trabalha como ceramista. Cada semana um músico ou grupo diferente se apresenta na casa, eles mandam seus trabalhos por email e, se o som combinar com o estilo da casa, a banda é escolhida. O bar não se concentra apenas em jazz, possui também apresentações de bossa nova e MPB. Segundo Luciana, o estilo de musica define muito os clientes. O lugar é frequentado, em sua maioria, por pessoas na faixa etária de 30 anos e, recentemente, por pessoas mais jovens. Eles vão em grupos de amigos ou casais. O bar tem um público bem cativo, e além deles há pessoas que vão para ouvir o músico da noite. O Alfândega bar é um espaço inaugurado há pouco mais de um ano no Bairro São Pedro, e possui

gastronomia e atrações culturais variadas, contando com apresentações de música cubana, MPB, samba e bolero, além do jazz, que, há sete meses, é atração todas as terças às 21h, e é comandado pelas bandas Matt War Nock trio e Valluart jazz. A produtora da casa, Gel Santana, diz que a intenção é aumentar os investimentos no jazz, já que o estilo agrada muito aos frequentadores do local, a divulgação tem sido crescente e o público tem aumentado. No espaço 104, na Praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte, além de um amplo local destinado a exposições e um teatro, também há um café, elogiado pelos músicos por possuir um espaço bem determinado para que os artistas se apresentem, diferentemente dos outros lugares, que apesar de possuírem um ambiente agradável, não tem uma estrutura preparada para os músicos, como existe no Café 104. As apresentações de jazz geralmente ocorrem às sextas-feiras com Chico Amaral Quarteto acom-

panhado por Enéias Xavier, Magno Alexandre (guitarra) e André Queiroz (bateria). No repertório, clássicos de Miles Davis, John Coltrane, entre outros. Outras apresentações esporádicas também ocorrem durante o mês e seu público é formado em sua maioria por grupos de amigos e alguns casais. É cobrado um couvert artístico de R$10. É consenso entre os administradores das casas que tocam jazz, que o público procura esse estilo musical em dias como terça, quinta e domingo já que nas sextas e sábados os principais atrativos são boates e casas noturnas, localizadas também, em sua maioria, na Região da Savassi. O Café 104, por ocupar um endereço no centro de Belo Horizonte, afastado de tais casas, e dentro de um tradicional ponto cultural que atrai grande público, opta por contratar músicos de jazz nas noites de sexta, mesmo sendo um investimento arriscado.

Grupos culturais independentes ganham espaço n FÁBIO RESENDE 4º PERÍODO

Fazer com que mais artistas possam tornar a arte deles mais conhecida e fortalecer o cenário cultural em Belo Horizonte. Estes são os objetivos dos Coletivos Autogestionários, grupos culturais independentes de música, artes plásticas, literatura e outras formas de expressão. Os coletivos atraem perfis dos mais variados, entre eles, comunicadores, sociólogos, estudantes, integrantes de bandas, designers, entusiastas e até advogados. Normalmente são pessoas mais jovens, entre 18 e 30 anos que queiram de alguma forma participar ativamente da cultura na cidade. "A ideia é sempre pensar em como realizar nossos projetos de forma que contemplem o bem coletivo. Somos mui-

diz Flávio. música de BH. "O Pegada to focados na cadeia produtiva da música, buscanOutro que vem ganhané a união de algumas bando a sustentabilidade do do visibilidade é o das, agentes da cadeia proartista, dos produtores e Coletivo Fórceps que atua dutiva da música como todos os envolvidos para desde 2007 na cidade de produtores, designers, jorque ela aconteça. Acredito Sabará, a 23 km de Belo nalistas, blogueiros e ouque, de forma muito resuHorizonte. Com ações tros, com o objetivo de mida, o objetivo seja penfocadas no pluralismo culpensar novas formas de sar e tentar maneiras de tural e na relação com o produção, sustentabilidacomo viver de cultura, em desenvolvimento intelecde e colaboração, inicialseu contexto antropológitual, social e artístico da mente na música, hoje em co como elemento de cena cultural independentodo o espectro cultural", mudança de comportamento e transforma- L G ção social em geral" explica Flávio Henriques Charchar, coordenador de Comunicação e Audiovisual do Coletivo Pegada. Alguns coletivos já estão se tornando referência, como no caso do Coletivo Pegada, que surgiu em meados de 2008, por iniciativa de Lucas Mortimer que questionava a atual organização da cena independente de Flávio Charchar é coordenador de Comunicação e Audiovisual do Coletivo Pegada ETÍCIA

LOOR

te, promove intercâmbio entre as regiões ao mesmo tempo em que incentiva a autosustentabilidade das manifestações culturais regionais. O objetivo do Fórceps é promover o desenvolvimento dessa cena, fazendo com que a população tenha acesso à produção cultural realizada fora dos grandes centros e que as pessoas envolvidas nessa cadeia produtiva se aproximem, troquem experiências visando a evolução coletiva e consigam obter renda com seus trabalhos, além de se inserirem no circuito cultural nacional. "Existem vários movimentos isolados e uma gama deles se encontrando em plataformas de reinvidicação e de propostas coletivas. Esta união entre a classe cultural é primordial

para que o poder público e privado possa reconhecer os movimentos e legitimar as políticas públicas", diz João Rafael Lopes, coordenador do Centro Multimídia Fórceps. Vários coletivos de Minas Gerais são integrados ao CFE (O Circuito Fora do Eixo), uma rede nacional de coletivos culturais articulados, baseada no intercâmbio de tecnologias aplicadas à cadeia produtiva da cultura. O CFE se organiza por meio de Pontos Fora do Eixo em todo Brasil: coletivos responsáveis pelas ações locais e pela integração às ações regionais e nacionais. Atualmente integram o Circuito 47 Pontos Fora do Eixo, sendo 17 no Sudeste – dos quais oito estão no Estado de Minas Gerais.


14Comportamento

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Setembro • 2011

O MELHOR DA TERCEIRA IDADE MARIA CLARA MANCILHA

Idosos no mercado de trabalho demonstram vitalidade, qualidade de vida, luta e amor por trajetória profissional n THIAGO ANTUNES LAURA FRANÇA 1º E 3º PERÍODO

Especialista em cirurgia e readiologia, Edgard Carvalho, 88 anos, formado em odontologia há 65 anos, parou de lecionar há pouco mais de um mês na UninCor de Três Corações, porém ele ainda mantém sua rotina de trabalho em sua reconhecida clínica que leva o seu nome, no alto da Avenida Afonso Pena, no Bairro Mangabeiras, na Zona Sul de Belo Horizonte. Casos como esses podem ser observados cada vez mais, já que cresce o número de pessoas que ultrapassaram a faixa dos 60 anos com boa saúde física e psicológica, em totais condições de continuar o exercício profissional. Os avanços médicos e científicos, aliados à conscientização que são necessários hábitos saudáveis, transformam a Terceira Idade na 'Melhor Idade'. Edgard, que trabalha em sua clínica ao lado de três de seus nove filhos e de um dos netos, que seguiram sua profissão, ainda realiza cirurgias, embora tenha diminuído a quantidade dos procedimentos nos últimos 10 anos. "Acontece de eu ter vários pacientes na mesma família", conta o experiente odontólogo, que revela continuar sendo recomendado por seus clientes. A trajetória profissional do doutor Edgard, como é conhecido, é longa. Em abril de 1947, ele foi aprovado, em primeiro lugar no concurso para odontologia do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC), assumindo o cargo em agosto do mesmo ano. Seguindo seu amor pela profissão, passou a lecionar no curso de

mestrado em ortodontia da UFMG, chegando ao cargo de diretor. Desde então trabalhou em diversos lugares, como no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), Hospital das Clinicas e Hospital Mater Dei. Doutor Edgard é bem disposto e tem uma vida saudável. "Quando você não trabalha excessivamente, tem cuidados em relação às dietas, tem uma boa alimentação e se exercita com certeza a profissão fará bem para a saúde. Nunca precisei entrar de licença e até agora graças a Deus não sei o que é depressão", conta, entre sorrisos. O simpático dentista, recebe aposentadorias e não possui preocupações de ganhar dinheiro ou necessidades financeiras de continuar trabalhando para sustentar parentes. O trabalho simplesmente o faz feliz, não desperdiçando a vasta cultura e capacidade que adquiriu em sua área ao longo de sua carreira. Aposentada do IBGE, no qual trabalhou durante anos e em diversos setores, Helenita Ferraz Chaves, 62 anos, continua ativa no mercado de trabalho por diferentes motivos. Após se aposentar, Dita, como prefere ser chamada, resolveu fazer um curso técnico de auxiliar de enfermagem. "De início fiz o curso para mim, para cuidar da minha família", conta. Mas alguns problemas fizeram com que a finalidade do curso fosse outra. "Minha mãe morreu e eu perdi a renda da aposentadoria e da pensão que ela ganhava. Pós-morte, veio a doença do meu irmão, que antes trabalhava, passou a ter depressão e transtorno bipolar", relata. Com isso, a renda considerada boa, passou a ser insuficiente. "Acabou que minha renda ficou pequena, por-que eu pago tudo para

O odontólogo Edgard Carvalho em seu consultório localizado na Zona Sul de Belo Horizonte, onde trabalha com filhos e um neto ele, INSS, plano de saúde, alimentação, roupa, sapato. Tudo. Ele depende de mim literalmente", revela. Para sustentar seu irmão, Dita trabalha como enfermeira acompanhante e vende roupas de cama para complementar a renda. "Estou tentando conseguir uma aposentadoria para ele na Justiça, mas está difícil", observa. Ela sabe que não é a única a passar por isso. "Hoje em dia, o idoso muitas vezes tem que sustentar filhos, netos e olhe lá até genros", brinca. "Não existem condições de trabalho pra todos. Já vi muito preconceito com pessoas de terceira idade que trabalham e não são valorizadas como merecem. Mas depois se surpreendem com a qualidade do nosso trabalho", acrescenta. Dita ainda encontra tempo para realizar trabalho voluntário em um asilo e na Igreja Santa Efigênia, três vezes por semana. "É muito corrido, mas eu faço

com o maior amor, se eu não precisasse trabalhar, seria voluntária a semana inteira", garante. Bem disposta, ela diz não se sentir velha no sentido pejorativo. "Aquela pessoa que está ali com 60, 70, 80 anos, ainda tem muito coisa para dar. Principalmente se ela tem saúde, se está com a cabeça em dia, ela tem muito ainda o que fazer", comenta. Em sua tradicional alfaiataria no Bairro Funcionários, Hermano Augusto do Carmo, 79 anos, faz uso de sua habilidade adquirida ao longo de seus 65 anos de prática. "Dizem que se demora 15 anos para aprender a tocar piano, para ser alfaiate 15 anos não dá. Meu filho não teve tempo para aprender a profissão, em sua alfaiataria ele terceiriza", conta. Hoje, em meio a inúmeras lojas especializadas na venda de roupas sociais masculinas, se tornou rara a procura por um alfaiate. O processo lento e minucioso que prima pela

qualidade da confecção seguindo as medidas exatas de seu comprador, muitas vezes é substituído pela confecção industrial. Ao longo dos últimos anos o movimento da charmosa alfaiataria diminuiu pela metade. Mas, mesmo assim Hermano conta que está repleto de trabalho. "Fico até com medo quando toca a campainha, tenho bastante trabalho", diz. O alfaiate possui muitos clientes que envelheceram junto com ele, levando seus filhos e netos, continuando assim a tradição. Ele que recentemente recebeu uma homenagem no museu "Memorial Minas Gerais – Vale", já trabalhou para muitas figuras importantes, incluindo Tancredo Neves e o atual governador de Minas, Antônio Anastasia, entre outros. Seu Hermano casou-se três vezes, mas agora está solteiro. Nunca se preocupou em guardar dinheiro, abdicando disso para ter

uma vida um tanto confortável, realizando tudo o que sempre quis fazer. "Viajei muito, já fui a Europa, para os Estados Unidos fui umas 15 vezes", relembra. A palavra aposentaria não está em seus planos. "Aposentadoria, só se fosse muito boa", afirma. Muito bem humorado e disposto ele afirma com orgulho: "Eu só pararia de trabalhar por causa de saúde, felizmente nunca tive nada". Professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC Minas, Manoel de Almeida Neto, 44 anos, fala sobre o índice de desemprego entre a população com faixa etária de até 29 anos e a sua relação com a permanecia dos idosos no mercado de trabalho. "Hoje não é possível formar uma mão de obra qualificada do mesmo nível da exigência do mercado. Então há esse aproveitamento do idoso", diz.

Valorizar a vida é meta de projeto voluntário MARIA CLARA MANCILHA

n RAFAELGOULART LUDIMILA AGUIAR 4º PERIODO

"Alô vida, bom dia!" Estas são as primeiras palavras pronunciadas pelos voluntários que compõem o programa Alô Vida. Uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, tendo como objetivo ouvir as pessoas que não têm com quem desabafar. Nascido em 2006, o Alô Vida atende, por anos, a cerca de 10 mil ligações, contendo as mais diferentes situações, que vão de declarações demonstrando extrema alegria até desabafos de pessoas na mais profunda depressão, com tendências suicidas. O programa se mantém por intermédio de doações e do serviço voluntário de qualidade prestado à comunidade. Segundo Pedro (nome fictício) um dos voluntários atuantes desde o

nascimento do programa, o que garante a entidade viva até os dias de hoje é o sigilo proporcionado a todos que telefonam. "Todos que atuam no Alô Vida são treinados e capacitados para ouvir. Um dos nossos princípios é manter o sigilo, tudo que é dito no telefone deve ser de conhecimento somente de quem telefona e o voluntário. A privacidade é essencial no nosso trabalho", ressalta. A equipe atuante no Alô Vida é composta por voluntários que também auxiliam no pagamento das despesas essenciais ao bom funcionamento do programa. Na hora do atendimento cada voluntário fica em salas individuais a fim de dar atenção exclusiva para quem telefonou. Conforme descrito pelos voluntários, o Alô Vida não se trata de uma terapia convencional realizada por telefone, pois além dos

O sigilo para quem recorre ao serviço é garantido pelo programa Alô Vida atendentes não terem formação acadêmica para realizar tais funções e não serem remunerados por isso, eles não são treinados

para aconselhar, nem sugerir situações. Mas estão sempre dispostos a exercitar o nobre ato de ouvir. "Nós não podemos suges-

tionar, nem aconselhar ninguém, pois não temos vínculo com quem está do outro lado da linha. Nós não conhecemos cada um a fundo, ao ponto de comparar situações, porém estamos sempre em busca do sentimento. A nossa intenção é extrair o sentimento verdadeiro de cada um", afirma Raimunda, uma das voluntárias mais antigas no Alô Vida, que também adota nome feictício. A psicóloga Clinica Suellen Peron informou que, a cada dia, são mais comuns os casos de pessoas em depressão. Muito desse cenário se deve às exigências do mundo moderno, porém a psicóloga ressalta que o aumento no consumo de bebidas alcoólicas e drogas também têm auxiliado para o crescimento deste índice. Suellen Peron informa que o álcool aliado à depressão só faz agravar o índice de suicídios no Brasil, este que já é um problema de

saúde pública, porém com pouca visibilidade no país. Suellen Peron acrescenta que iniciativas como o Alô Vida podem auxiliar no tratamento de algumas pessoas, porém não substitui o atendimento de um profissional. "Este tipo de iniciativa auxilia no tratamento de alguns pacientes, assim como um diário, desabafar com os amigos, ou se declarar na frente do espelho, são alguns dos artifícios utilizados para se sentir mais leve". O programa Alô Vida está sempre em busca de novos voluntários e uma de suas metas é que o atendimento ao público aconteça durante 24h. Além do mais, a entidade proporciona eventos, entre outras manifestações voltadas a área. Para saber mais a respeito da entidade ligue para 34441818 que você encontrará pessoa disposta a ouvir.


Comportamento Setembro • 2011

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ONG COMBATE CRIMES CIBERNÉTICOS Em seis anos de atuação, a Safernet retirou mais de 100 mil páginas criminosas da web, a partir de parcerias com autoridades jurídicas e policiais, além de fazer um trabalho educativo FELIPE AUGUSTO VIEIRA

n FELIPE AUGUSTO VIEIRA LUCAS MENDES 3º PERÍODO

A ONG Safernet, que por meio de um site recebe denúncias e fiscaliza crimes cibernéticos contra os direitos humanos, organizou mais uma vez, este ano, um painel no Internet Governance Forum (IGF), evento criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em sua sexta edição anual, que neste ano aconteceu em Nairobi, no Quênia. Segundo Thiago Tavares Nunes de Oliveira, administrador da instituição, ela é a única ONG brasileira que organiza um painel nesse fórum há cinco anos. "É uma discussão que acontece no âmbito das Nações Unidas com vários participantes de outras ONGs e governos, e essa atuação nossa foi reconhecida em 2009, no Fórum do Egito. A nossa atuação passou a compor o inventário de boas práticas sobre governança na Internet das Nações Unidas", diz. Segundo o diretor de Prevenção da Safernet, Rodrigo Nejm, um dos representantes da ONG no IGF, junto com Thiago Tavares, o Fórum é um espaço muito importante para as nações em desenvolvimento discutirem sobre os diversos aspectos da governança global no meio virtual e sobre as possibilidades de uma regulamentação comum para controle dos crimes cibernéticos. Outro ponto ressaltado por Nejm é a necessidade da aplicação de uma legislação vigente para um ambiente de Internet seguro, onde o fórum da ONU tende a ser exatamente esta oportunidade de conquista quanto à legislação. A ONG Safernet, foi originada de um projeto de pesquisa iniciado no Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e aprimorado na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Conduzido por pesquisadores de 2003 a 2005, e que por intermédio de Thiago Tavares vem atuando na fiscalização dos conteúdos criminosos praticados contra os direi-

O delegado Bruno Tasca Cabral investiga crimes virtuais junto à Delegacia Especializada em Investigações de Crimes Cibernéticos (DEICC) tos humanos que circulam pela Internet. O objetivo inicial em sua fundação, em dezembro de 2005, foi mapear o enfrentamento a crimes praticados contra crianças e adolescentes, os de conteúdo sexual, ou seja, a pedofilia, o ciberbulling e o sexting – misto das palavras sex e texting da língua inglesa, e que significa mandar textos com conteúdo erótico, porém atualmente o termo também é assimilado ao envio de imagens com conteúdos eróticos –, além de conteúdos que disseminam o ódio e discriminação racial, de atentados à vida, como a propagação de ideias suicidas e homicidas. Desde então, já são 100 mil páginas com estes tipos de conteúdos criminosos que já foram retiradas da web. "Desde janeiro de 2006, nós disponibilizamos um canal de denúncias onde a população pode, de forma completamente anônima, realizar uma denúncia de um crime praticado contra os direitos humanos, ou uma página em que esteja vinculado algum indício de crime contra os direitos humanos na rede", diz Thiago Tavares. Uma vez denun-

ciado o link criminoso, por meio de uma série de informações públicas e técnicas disponíveis, é redigido um relatório técnico de rastreamento que é encaminhado às autoridades competentes. "Nós trabalhamos em parceria com 15 ministérios públicos em todo o Brasil, e também com a Polícia Federal, com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, e, mais recentemente, lançamos um canal integrado de recebimento de denúncias de tráfico de pessoas com o Senado Federal", enumera. Para ilustrar quantitativamente os casos de crimes cibernéticos apurados e recebidos pela Safernet, como amostragem recente das denúncias, através da página virtual 'Indicadores: Central Nacional de Denúncias' no site www.safernet.org.br/site/indicadores, obtém-se dados dos últimos seis meses assim como de outros períodos, também sendo possível fazer comparações. Dos crimes cometidos nos primeiros dois meses de 2011, foram 2782 denúncias, entre as quais 1761 de um site de relacionamentos.

Já no período de 1º de agosto à 1º de setembro, foram 3797 denúncias e 2389 do mesmo site de relacionamentos, havendo assim uma variação de 36,5% no total de denúncias. Dos crimes tipificados contra os direitos humanos que a Safernet fiscaliza, o de números mais significativos é o de pedofilia infantil, com 1213 denúncias recebidas e aumento de 7,3% quando comparado com o começo do ano. A apologia e incitação a crimes contra a vida também tiveram aumento de 32% com relação a janeiro, com atuais 747 denúncias recebidas. Com base nesses dados, a Safernet se propõe a um constante aprimoramento por meio de pesquisas e desenvolvimento, trabalhando em novas tecnologias, sistemas e ferramentas que, aliados às pesquisas de opinião junto a professores, educadores e alunos de diversas escolas públicas do Brasil, colaboram no entendimento dos pontos de maior vulnerabilidade no uso da Internet. Há também neste trabalho junto a professores, pais e alunos adolescentes, ações de prevenção nas escolas públicas e

particulares do país, com a divulgação e distribuição de cartilhas, assim como o acesso online às assim descritas por Tavares de "Saferdicas". O material didático é também encontrado no site, e a linguagem é voltada para as crianças e para os adolescentes, através de quadrinhos e ilustrações. "A ideia é que os pais baixem a cartilha e naveguem juntos com seus filhos. A cartilha é bem didática, procura mostrar o que vem a ser os principais serviços da rede, por exemplo, o e-mail, as redes sociais, as principais vulnerabilidades existentes na rede que acometem às crianças e adolescentes, como a questão do ciberbullings e a questão do sexting", explica. Aos pais e professores e demais colaboradores do site, Tavares atribui a estes o papel de multiplicadores, para que o material divulgado na Safernet alcance a todos. E como aliado na formação dos educadores há também uma rede social, chamada Nética, cujo endereço eletrônico é www.netica.org.br. "Nessa rede social, Nética, o objetivo é agregar educadores que tenham participado das oficinas de formação de multiplicadores, que desenvolvemos no país inteiro", diz Oliveira. Há três anos a Safernet tem um termo de cooperação com o Google, assim como outras empresas têm cooperado na remoção dos materiais ilícitos e preservação das provas necessárias às investigações, que são realizadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Além das parcerias no Brasil, a Safernet tem parceiros pelo mundo. "Existem ONGs equivalentes à Safernet em 40 países. Sempre que um conteúdo inadequado está hospedado em um desses países a gente consegue rapidamente por meio dessa rede de cooperação remover o conteúdo junto ao provedor, acionando a autoridade local para que investigue o autor daquele crime. O mesmo acontece se algum desses países detecta que alguma página dessa natureza está hospedada no Brasil. Eles encaminham essa URL para nós e a gente imediatamente aciona a Polícia Federal aqui no Brasil", acrescenta.

Internet dificulta existência de perfil a ser investigado A falta de um perfil ao se investigar um crime cibernético é atribuída pelo delegado Bruno Tasca Cabral, da Delegacia Especializada em Investigações de Crimes Cibernéticos (DEICC) à acessibilidade ilimitada da Internet, o que faz com que, além das denúncias feitas pelas vítimas que vão à delegacia, uma rede de informações e compartilhamento de dados sobre os atos criminosos seja necessária em alguns casos. A Polícia Civil de Minas Gerais, assim como o Ministério Público não o é mais, não é conveniada a ONG Safernet, mas há colaboração entre os órgãos. "A Polícia Civil não tem nenhum convênio com a Safernet. Quando há uma informação que precisamos

saber, a gente encaminha um ofício e eles respondem", afirma. Dos crimes cibernéticos, o de maior ocorrência, segundo Cabral, são os praticados nas redes sociais, por meio de injúria e difamação. E assim como a Safernet, a DEICC, também faz campanhas preventivas junto às crianças e jovens nas escolas com campanhas de conscientização do bom uso da Internet. "Nós temos um projeto que se chama 'DEICC Vai à Escola'. Dentro do trabalho de prevenção, nós temos esse projeto que a própria delegacia vai às escolas e orienta os estudantes em como navegar na Internet, mostrando seus riscos, para que possamos antecipar que aquele adolescente

possa ser vítima de um crime praticado pela Internet", diz. Nesse projeto é utilizada uma cartilha do Ministério Público, apresentado em formato Datashow. Campanhas institucionais vinculadas na imprensa também intencionam cumprir este papel, ampliando assim a campanha aos pais desses adolescentes. "Quase que constantemente vamos à imprensa para esclarecer à população sobre os riscos da Internet, como se prevenir atualizando sempre seu antivírus, sempre desconfiar de pessoas estranhas na rede, não aceitar ou fazer download de links que foram encaminhados por pessoas que você não conheça, coisas nesse sentido", diz.

O aprimoramento da estrutura física do DEICC, os aparatos tecnológicos, além da qualificação da equipe de policiais também são apontados por Cabral como um importante progresso frente ao crescente acesso aos computadores e à rede por parte da população, assim como por parte dos criminosos. "Estamos avançando muito. Já tivemos uma boa reestruturação no final de 2009 com a nova resolução da Polícia Civil, onde se focou de forma precípua, somente apurar os crimes que são praticados pela Internet. Com isso, tivemos condições de dedicar policiais que têm conhecimento em informática. Conseguimos também uma melhora no equipamento, mas muita coisa ainda

tem que avançar", pondera. Outro fator determinante quanto à eficiência da investigação policial é seu alcance no estado, limitado por haver apenas esta unidade especializada em crimes cibernéticos em todo o estado. "Só existe uma delegacia especializada no combate aos crimes cibernéticos em Minas Gerais. É claro que nós temos uma contribuição estadual, desde que solicitado um apoio das delegacias locais. Se um crime praticado pela Internet ocorrer no Sul de Minas e a autoridade solicitada tiver dificuldade, daremos um apoio. No Brasil, salvo engano, são 6 ou 7 delegacias especializadas na repressão de crimes praticados na rede", observa.


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Alexandre Atheniense

Entrevista

ADVOGADO jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco

Advogado e especialista em crimes eletrônicos, Alexandre Atheniense faz um alerta sobre a preservação de provas para a identificação dos infratores. Existem diferentes formas de crime e apagar o conteúdo dificulta o seu monitoramento e sua punição. Durante oito anos, no período entre 2002 e 2010, foi presidente da Comissão de Tecnologia de Informação da OAB Federal. Também atuou na área acadêmica, onde coordenou o primeiro curso de especialização via ensino à distância no Brasil, na área de Direito e Tecnologia da Informação na PUC Minas Virtual em 2003. Com larga experiência na área, Alexandre Atheniense defende a inserção desses assuntos nos cursos de magistrado. "Não só no aspecto dos crimes cibernéticos, mas no ensino do direito como um todo", ressalta.

O USO DAS LEIS CONTRA OS CRIMES CIBERNÉTICOS MARIA CLARA MANCILHA

A defasagem dos cursos nas faculdades se deve a não atualização da forma dos crimes, que hoje ocorrem à distância e sem papel, o que dificulta a legislação. Outros pontos importantes da entrevista, concedida ao MARCO, é o esclarecimento do conceito de Hacker, os cuidados os pais devem ter com o uso indiscriminado da internet pelos filhos e como a escola é importante para ajudar nessa conscientização. n KENETH BORGES NAIARA SANTOS TAMARA FONTES 3º, 4º PERÍODOS

n Quais atos são considerados crimes cibernéticos? Os tipos previstos no atual Código Penal que por analogia podem ser aplicados aos crimes cibernéticos são, por exemplo, crimes contra a honra, calúnia, injúria e difamação, estelionato eletrônico, furto qualificado e pornografia infantil. n Quais as maiores dificuldades para se combater esses crimes? A gente tem que acabar com a ideia de que a Internet é uma zona sem lei. Já existem diversas condutas que estão previstas na legislação e que podem ser punidas, mas a maior dificuldade que a gente enfrenta é a identificação de autoria de quem praticou, porque a tecnologia favorece o anonimato e com isso as pessoas que cometem crimes pela Internet, no meu ponto de vista, agem dessa forma porque acham que a internet é uma zona sem, lei, que não tem nenhuma legislação que possa puní-la e qualquer atitude que ela possa ter, a tecnologia vai ter um manto que vai fazer com que jamais haja a identificação de quem praticou aquela conduta, o que na maioria das vezes não é verdade.

mitam um terceiro acesso ao remoto do seu computador sem que você perceba, buscando informação valiosas acerca de alguns serviços. Mas o fundamental é preservar as provas, às vezes, a pessoa se vê diante de um ilícito e quer apagar rapidamente este conteúdo; isto dificulta a identificação.

n Qual a importância da inclusão de temas como crimes cometidos via internet nos cursos de formação de magistrado? Acho fundamental, pois este é um assunto extremamente contextualizado e vai ganhar cada vez mais relevância. A sociedade de hoje é da informação que adquiriu um valor próprio, independente dela estar rastreada a algum meio. Ou seja, ela é o matrimônio das empresas e precisam ser protegidas e estudadas. Não só no aspecto dos crimes cibernéticos, mas no ensino do direito como num todo. A grade curricular nas faculdades está totalmente defasada, pois ainda estão ligadas há um momento em que todos os atos n Qual a pena que um infrator pode pegar? Existe um direito penal, porém uma analogia ou o de manifestação de vontade aconteciam lastreados fato não podem ser tratado como oportunistas e as no papel e lápis presencias. E agora eles estão pratipenas não vão ser aplicadas. Por exemplo, na lei exis- cando atos a distância e sem papel. A legislação tem te um dispositivo que fala que violar correspondên- sofrido várias mudanças em relação à isto, só que a cia é crime, mas não pode comparar que há uma grade curricular das faculdades não estão sendo atualizadas e eu estou percebenanalogia o fato de violar e-mail. do isto. Desde 2006 coordeno uma pós-graduação n Quais são as leis que em São Paulo. Fui o amparam as vítimas dos hackers? “A GENTE TEM primeiro do Brasil e trataCódigo penal, estatuto da criança e do QUE ACABAR COM mos neste curso todos os adolescente e a instituição. Só devem ter pontos de convergências A IDEIA DE QUE cuidado com o conceito de hacker, pois entre os ramos tradicionais existe também um falso conceito, este A INTERNET É do direito penal com a tecnecessariamente não pode ser taxado UMA ZONA SEM LEI.” nologia da informação, são como uma pessoa do mal. Hacker, na 16 temas relacionados. essência, é uma pessoa que possui co-

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nhecimento de tecnologia da informação mais avançada que a média. Ele pode agir tanto para o bem ou mal. O hacker do bem pode ser contratado por empresas para se proteger do hacker do mal que age com a vontade premeditada de praticar algo ilícito ou obter uma vantagem ilícita. Quando isto acontece o termo correto que utilizamos é o cracker. n O que pode ser feito para minimizar os crimes cibernéticos? O problema é exagerar na forma genérica, porque existem 20 formas diferentes de crime, por exemplo, relacionado com a informação que ataca a honra das pessoas, o que é muito praticado no Brasil, o brasileiro adora ofender a honra das pessoas, calúnia, injúria, difamação. Para estes crimes a recomendação que eu faço é que as pessoas monitorem a si próprio diariamente na internet, tendo o hábito de pesquisar seu nome no Google para saber o que tem publicado a seu respeito, isto permitirá a você reagir de forma mais rápida e tentar impedir que o dano causado à sua reputação se alastre. Agora tem outros crimes, por exemplo, na área financeira, como também estelionato e furto. Estes a recomendação é não usar acesso a serviços de natureza de computadores públicos, porque já pode haver vírus instalado que captura todas as teclas que você digitar. Tenha sempre um bom antivírus instalado e rastreie tipos de programas que possam estar com algum tipo de vírus e que per-

n Quando o acesso às informações da rede é autorizado e há quebra da privacidade do cidadão? A quebra de sigilo de dados pela constituição só pode ocorrer nos casos de autorização judicial. Por exemplo, um policial não pode chegar ao provedor e pedir informações de um cidadão, para isso um advogado tem que entrar no fórum, narrar os fatos, mostrar o dano que o conteúdo está provocando, justificar o porque dele precisar de tais informações que estão sendo solicitadas e a partir daí o juiz vai se convencer ou não de conceder uma liminar na decisão que vai ordenar a quem está hospedando aqueles dados em caráter de sigilo . n Qual procedimento a vítima de um crime cibernético deve tomar? Primeiramente, preservar a prova, não apagando o ato do crime, além de procurar um advogado para que ele possa dar andamento aos procedimentos imediatos. Logo após, fazer o rastreamento da autoria e a remoção imediata deste conteúdo. n Em relação aos consumidores, quais os cuidados que devem ser tomados ao realizarem compras em sites coletivos? Tomar cuidado para não comprar por impulso. Muitas vezes a promoção é tão tentadora que as pessoas são instigadas a comprar e não tomam conheci-

mento de todas as condições que estão inscritas na oferta, simplesmente compram por preço e prazo. É importante ler todas as informações da oferta e devese também checar a referência da empresa ofertante em sites de direitos do consumidor para não serem enganados. n Quais os cuidados que os pais devem ter com o uso da internet pelos filhos? Os pais estão totalmente despreparados para poder ensinar os filhos em relação a este assunto, e o pior, eles não tiveram uma formação na época de escola porque isto não existia e o mais prejudicial é que as escolas não estão se responsabilizando com este tipo de educação. É papel da escola orientar melhor os jovens e as crianças a resolverem esses problemas. Os pais devem ter também um diálogo aberto sobre tudo que rola na Internet e não deixar que a criança e o adolescente utilizem o computador fechado em seu mundo. Os pais devem saber sempre com quem ele está relacionando, mantendo o monitoramento constante. n Como garantir que a cartilha feita pela Promotoria Estadual de Crimes Cibernéticos possa ajudar efetivamente os pais a orientar os filhos no uso sadio da internet? Não tem como garantir, a verdade é que a cartilha é um instrumento que vai fazer com que os pais possam pelo menos se aproximar dos filhos para poder estabelecer este diálogo, é uma maneira de suprir a deficiência do ensino das escolas que não estão dando importância para este problema, deixando os pais com a culpa. n E a questão dos Direitos Autorais na internet. As pessoas já compreendem melhor que há autoria na internet? Nem sempre as pessoas têm uma percepção do limite que podem utilizar algum bem protegido que esteja colocado no meio eletrônico, então muitas vezes é fácil você copiar uma imagem de um fotógrafo, usar trechos de livros, cometendo plágio. Agora as redes sociais se são para o bem ou mal, é o usuário que define. Infelizmente o brasileiro tem um perfil negativo referente às redes sociais e a internet como um todo; ele adora difamar e falar mal. Os americanos, não que eles sejam melhores que nós, mas eles são diferentes, pois usam a internet para ter o poder de articulação de agregar pessoas, disseminar ideias, muito mais apurado e eficiente do que nós. O maior número de incidentes com as redes sociais é a difamação (ataque à honra). n O que é considerado plágio? Quais são os limites do uso de textos e materiais publicados na internet? Plágio é a cópia não autorizada de trechos de uma obra protegida pelo direito autoral. Não existe na lei uma delimitação de quantas linhas pode-se usar de uma obra. Em determinados sites jornalísticos tem o termo de serviço, que é um documento com as regras de uso, o editor, por exemplo, autoriza a reprodução de sua obra limitada. Evidentemente isto deve ser analisado se haverá impacto na reprodução da obra.

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