Jornal Marco 291

Page 1

Roberto Abras, repórter que cobre o Atlético-MG há 40 anos, aprova a mistura de informação e opinião propiciada pela Rádio Itatiaia. Página 16

RAQUEL DUTRA

ARQUIVO PESSOAL GABRIEL COSTA

THIAGO DE BARROS

Com agenda intensa para divulgação do novo trabalho, O Disco do Ano, Zeca Baleiro anuncia projeto para público infantil. Página 14

Os desafios da posição de goleiro no futebol profissional são relatados por treinadores, jogadores e ex-jogadores dos times mineiros. Página 15

marco jornal

Ano 40 • Edição 291 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas

Julho • 2012

RAQUEL DUTRA

TRANSITAR PELA CIDADE É UM

GRANDE DESAFIO RAISSA PEDROSA

Conforme noticiado no MARCO em seus 40 anos, diversas soluções foram propostas e executadas para facilitar a vida do cidadão que se desloca pela cidade. Há 25 anos, o metrô é uma das alternativas de acesso rápido e confortável a várias regiões da cidade, assim como a Via Expressa, que liga o centro de BH à cidade de Betim. Porém, em alguns lugares, a cidade ainda carece de melhor planejamento. Por exemplo, uma melhor sinalização em cruzamentos para oferecer segurança aos motoristas e pedestres, que também devem respeitar as leis de trânsito e os locais adequados à travessia.

Páginas 3, 4 e 5.

Estacionar está cada vez mais caro Violência contra mulher aumenta Atualmente, a Delegacia de Mulheres tem mais de 9 mil denúncias, com mais de quarenta atendimentos diários. A delegacia promove acompanhamento psicológico e orientações às vítimas, que, por medo de retaliações, muitas vezes ficam desencorajadas em procurar por auxílio. Há de se destacar que, sendo essencial o serviço prestado pela delegacia, ele deve ser adequado à demanda, pois os casos de violência muitas vezes não são denunciados pela demora no atendimento e falta de profissionais. Página 11

No movimentado trânsito da capital mineira, há também a dificuldade dos motoristas em estacionar os carros. Não é tarefa fácil encontrar vagas nos rotativos e, muitas vezes, as opções restantes são os estacionamentos particulares, especialmente em locais muito movimentados. Os preços variam em cada região, obrigando o cidadão a ter cuidado sob pena de levar um susto na hora de efetuar o pagamento. Página 9 RENATA FONSECA

ANA CAROLINA SIMÕES

Aulas de skate fazem sucesso em escola pública Promovidas nos fins de semana, junto com atividades como aulas de informática, street dance, futsal e ciclismo, as aulas de skate na Escola Municipal Professor Amilcar Martins, no Bairro Santa Amélia, visam a integração da escola com a comunidade, além de ser opção de lazer para as crianças e adolescentes, ao tirá-los das ruas e das más influências, como as drogas. Hoje, a escola atende a 250 alunos. Página 12


2 Comunidade

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Julho • 2012

EDITORIAL

editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorial

A importância das fontes e personagens na rotina do MARCO n GABRIELA MATTE, 3º PERÍODO

Parte fundamental do trabalho de um jornalista é a apuração. Uma boa matéria não sai sem uma boa apuração, que depende de bons personagens, boas fontes. E, muitas vezes, a dificuldade de se produzir uma boa matéria está na dificuldade de se encontrá-los ou na resistência das pessoas em dar uma entrevista, em ter sua voz gravada, sua foto tirada. É absolutamente compreensível, uma vez que a confiança se constrói, geralmente de forma gradual. A confiança de um veículo de comunicação, por exemplo, se constrói com base na credibilidade que ele alcança junto ao seu público. Em meio a essa dificuldade de se esbarrar com fontes e personagens pacientes, com tempo suficiente e, até mesmo, pode-se dizer corajosos para conversar conosco, jornalistas iniciantes e estudantes, nos deparamos com figuras que dão força e motivação para continuar trabalhando em busca da produção de um jornalismo de qualidade. No último 11 de Junho, apurando reportagem sobre os perigosos cruzamentos espalhados pelo Coração Eucarístico, andávamos, Marina Neves e eu, pelas ruas do Bairro à procura de pessoas que podiam nos contar um pouco mais dos acidentes frequentes, como os próprios moradores da região definem, que acontecem por causa da falta de atenção dos motoristas aliada à precária sinalização. Nessa procura, resolvemos tocar os interfones dos apartamentos do prédio localizado à esquina das ruas Padre Pedro Evangelista e Dom Joaquim Silvério. Depois de duas tentativas ignoradas, resolvemos tentar o último apartamento e, por sorte, Lílian Motta, de 39 anos, nos atendeu com muito simpatia e desceu para nos dar entrevista. Ela mesma admitiu: "Vocês ficaram chocadas de alguém atender e ainda descer para receber vocês não é? É que o trabalho de vocês é muito importante aqui no Bairro. Se vocês estão fazendo reportagem sobre isso, deve ser por uma boa causa", diz a moradora, relatando logo depois que recebeu a última edição do MARCO em casa e gostou muito da reportagem de capa sobre o trânsito em seu Bairro. No jornalismo comunitário, praticado pelo MARCO, feito para e com a comunidade, a importância do retorno dos moradores é imensa. Em todos os sentidos, é preciso ressaltar. São também de extrema importância pessoas como a moradora do Bairro Dom Cabral, Maria Helena, que, no dia seguinte, 12, ligou para dar a dica sobre o erro em foto do Bairro João Pinheiro creditada como Dom Cabral. O retorno, positivo, negativo ou construtivo, além de nos motivar, nos ajuda a melhorar, e nos dá a certeza de que o nosso trabalho está sendo lido e reconhecido.

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalERRAMOS

Não é do Bairro Dom Cabral, mas sim do João Pinheiro, as fotos que ilustram a matéria “Rica Memória do Dom Cabral”, publicada na página 5 da edição 289, de maio, e a chamada de capa sobre o tema.

CONVITE ÀS AMIZADES Moradores do Dom Cabral mantém hábitos hospitaleiros aos vizinhos ao deixarem abertos os portões de suas residências FELIPE AUGUSTO VIEIRA

n FELIPE AUGUSTO VIEIRA KENETH BORGES 4º E 5º PERÍODOS

Remanescentes de um tempo em que o Bairro Dom Cabral tinha casas sem muros, alguns moradores ainda mantém hábitos convidativos à vizinhança, como ir a casa ao lado para solicitar um favor, ou mesmo uma conversa em frente ao portão. Para isso, as portas ficam abertas, sem cadeados, para que o acesso intimista entre vizinhos e amigos de longa data se mantenha, mesmo em um tempo em que a insegurança tente a mudar esses hábitos. Evandro de Oliveira e Silva, 49 anos, há 40 morador do Dom Cabral, reside com a mãe, Conceição de Oliveira, de 90 anos, tem fé que a casa continue imaculada frente à violência que, mesmo em bairros pacatos como o Dom Cabral, assombra os moradores. "Aqui era um bairro popular, e depois disso foi crescendo, e o que eu mais sinto falta hoje em dia é a segurança no bairro", completa. "Tenho fé em Deus, pois nunca entrou ninguém e nem vai entrar. Eu nunca tranquei o portão. Antes nem tínhamos muro, aí o meu pai colocou muro", acrescenta. Evandro ainda descreve a boa relação com os vizinhos, que tem acesso quando precisa de uma porção de açúcar, pó de café ou até mesmo um botijão de gás, e, para isso, não usa campainha ou bater à porta, o que gera brincadeiras entre os vizinhos. "Meu amigo aqui do lado um dia disse: 'Não tenho nem privacidade mais, você já chega entrando'. Mas é que sempre foi assim. Aqui existe um feedback muito grande, um toma conta da casa um para o

outro. Há sempre alguém olhando, e o portão fica aberto, e se vou viajar, só tranco a porta". Eugênia de Fátima Alves, 53 anos, no Dom Cabral há 46, descreve a Rua Carcará como uma das mais animadas do bairro, onde os vizinhos se reúnem na rua para uma conversa e para celebrações, como as festas de fim de ano. Assim como Evandro, Eugênia nunca teve o costume de por cadeado em seu portão, e mantém o muro baixo, que outrora era mais baixo ainda. "Aqui em casa nunca tivemos costume de por cadeado porque a gente conhece todo mundo", conta. Mas, em contraponto, Eugênia não compartilha do temor quanto à segurança, já que considera o bairro tranquilo no que se refere à questão de roubos, ponderando somente quanto às crianças que ficavam sentadas no muro de sua casa, o que a incomodava um pouco e a fez aumentar um pouco a sua altura. Ela também é saudosa quanto aos vizinhos mais velhos que faleceram desde que mora na Rua Carcará, o que tirou um pouco a graça das festividades. "Foi perdendo a graça, pois tínhamos que rezar para aquele que não estava" lembra. A cooperação entre vizinhos, segundo Eugênia, é o que possibilita o hábito de manter o portão aberto, já que, mesmo quando viaja, ou está trabalhando, os vizinhos têm conhecimento e vigiam os arredores da casa quanto a qualquer coisa que fuja à normalidade. "Tem vizinhos que sabem quando estou trabalhando, quando não estou em casa, e se vê alguma coisa diferente já olha por você. Por exemplo, quando meu filho ficava em casa, já que

Dora de Castro troca chaves de casa com alguns vizinhos em que ela confia

agora ele trabalha, se viam ele numa companhia diferente, aí já ficavam de olho. Ou mesmo se um viaja, digo: 'Se você vê uma movimentação diferente, você já sabe que eu não estou em casa'. Então um toma conta da vida do outro assim entre aspas né, sempre do lado do bem", ilustra. MOVIMENTAÇÃO Dora

Pereira de Castro, conhecida entre os vizinhos pelo apelido de Dorinha, há 39 anos no bairro, atualmente mora com sua mãe, e, conta que sua casa às vezes é bem movimentada, já que tem três filhos e seis netos, e um deles, requer atenção dobrada. "Eu tenho um netinho muito levado que fica aqui a

manhã inteira, e de repente ele abre o portão e vai para a rua", comenta. Mesmo assim, Dora, por não sair à noite e por não temer por sua segurança no bairro, mantém a porta aberta o tempo todo, já que também conta com a cooperação dos vizinhos. "Aqui é assim. Por exemplo, ali tem uma costureira que está aqui o tempo todo, e a qualquer barulhinho ela está de olho, e na casa dela, é só empurrar o portão e entrar", revela. A confiança mútua entre os demais vizinhos também é exemplificada por Dora, em retribuição pela ajuda deles. "Eu tenho chave da minha outra vizinha que é doente, e tem vizinho que tem a minha chave e eu tenho a dele", conta. MARIA CLARA MANCILHA

EXPEDIENTE

expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente

jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof°. Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Alessandra Girardi Cordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Prof°. Jair Rangel Editor: Profº. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Maria Líbia Araújo Barbosa e Profº. Mário Viggiano Editor Gráfico: Profº. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Felipe Augusto Vieira, Gabriela Matte, Isabela Cordeiro, Keneth Borges, Marina Neves, Michelle Oliveira, Mouni Dadoun e Raíssa Pedrosa Monitor de Fotografia: Raquel Dutra Monitores de Diagramação: Nathan Godinho, Marcela Noali Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

Evandro de Oliveira e Silva mora no Bairro há 40 anos e acredita que, apesar da violência e do bairro ter mudado, ninguém vai entrar em sua casa


Comunidade Julho • 2012

3

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

RISCO EM CRUZAMENTOS DO COREU Os pontos de cruzamentos de ruas do Bairro Coração Eucarístico são motivo de frequentes acidentes. Moradores do local alegam que a imprudência dos motoristas é o principal motivo RAQUEL DUTRA

n GABRIELA MATTE MARINA NEVES 3º PERÍODO

Quem passa a pé pelo cruzamento das ruas Dom Joaquim Silvério com Padre Pedro Evangelista, no Bairro Coração Eucarístico, Região Nordeste de Belo Horizonte, logo percebe o risco iminente de acidentes que o local representa. Os carros vêm das duas vias em alta velocidade e é difícil identificar de quem é preferência. A placa de "PARE" é o que, sozinha, sinaliza aos motoristas que descem a Padre Pedro Evangelista de que não têm a preferência. A pintura no chão, que deveria também exercer o papel de alertar aos motoristas, há tempos não existe mais. Restaram apenas vestígios da tinta. Esse cruzamento, definido como o mais perigoso do Bairro por alguns pedestres, motoristas e moradores, é apenas um exemplo do perigo enfrentado diariamente por eles mesmos. O motorista Ailson Felix, 59 anos, mora nesse cruzamento há 24 e defende a instalação de um quebra-molas na rua onde os motoristas devem parar. "Lá dá acidente direto e reto. O que precisa de fazer é um quebra-mola", diz. Débora Vilela, 30 anos, trabalha na loja localizada na esquina há um ano e meio e afirma já ter presenciado muitos acidentes. "É constante, toda sema-

também é na. Por enquanto tem falha, visto sido leve, que uma mas uma das placas hora vai dar está encoum acidenberta pelas te sério", árvores de conta. O adentro do dolescente terreno da de 17 anos esquina. Aque tampenas outra bém trabaplaca sozilha em ounha alerta tra loja na aos motoesquina, ristas, pois Lucas Rea pintura sende, revedo chão la que há também cerca de um está descasmês presencada e ileciou um agível. "O cidente com que manda um carro e é a sinalizauma moto. A placa de “PARE” localizada à Rua Dom Lúcio Antunes fica escondida por causa de algumas árvores que a tampam ção do lo“O motocal, que é queiro aquina Pietro Rizzudo, de vindo da Via expressa (que falha, pífia", relata o dono vançou a placa de PARE. 79 anos, que mora no entra na Padre Pedro da loja que se localiza em Veio ambulância e polílocal há mais de 50. "Já vi Evangelista) que passa frente à placa de PARE, cia", exemplifica. Para ele, demais. Atualmente tem reto. Todas. De 10 em 10 Fábio Tadeu Lopes Pinto, a sinalização é fraca, mas a demorado mais. Antigaé assim", explica. "Porque 38 anos. Há cinco anos, imprudência dos motorismente era quase todo dia que aqui é o pior? Porque desde que tem a loja no tas é a principal causa. que tinha batida aqui", quem sai da Via Expressa local, já viu incontáveis "Direto a gente ouve", relarecorda. Ele explica que, no primeiro cruzamento acidentes. "Vê se tem alguta Lucas sobre o barulho antigamente, as duas ruas você não tem que parar, se ma sinalização aqui? Uprovocado pelas batidas eram mão dupla, o que você parar vem o de trás e ma. Porque a outra o vizifrequentes. agravava a chance de acite bate, mas no próximo nho tampa. É falta de A moradora do prédio dentes no local. O que você tem que parar", ponatenção, também. O chão, da outra esquina, Lílian leva o motorista a contua. Por conhecer o Coracomo você pode ver, deve Motta, 39 anos, tem em fundir a preferência, que é ção Eucarístico há muito ter anos ou mais a preseu celular a foto tirada de de quem está na rua Dom tempo, Lílian lembra que é feitura não vem aqui pinsua sacada do último aciJoão Antônio dos Santos, cautelosa ao dirigir pelos tar. Colocaram um quedente que destruiu a grade é o fato de que a Dom cruzamentos do Bairro. bra-mola ali e diminuíram de ferro de seu edifício. Lúcio Antunes tem prefe"Eu paro mesmo, até onde bastante os acidentes", Ela revela que já presenrência ao longo de sua não tem que parar eu informa. A funcionária da ciou mais de uma dúzia de extensão em todos os paro", sugere. mesma loja, Eucinéia da acidentes e que, quando cruzamentos, exceto nesNão muito longe dali, o Fonseca Viana Fraga, de ouve o barulho de batida, te. "É falta de atenção cruzamento das ruas Dom 25 anos, lembra que muisempre desce para ajudar mesmo. O pessoal vem Lúcio Antunes e Dom Joas vítimas. "Eu vivo ajutos motoristas envolvidos pensando que tem prefeão Antônio dos Santos dando as pessoas aqui. nas batidas constanterência, passa direto aqui e também já foi foco de aciTodas as batidas você esmente pedem as imagens bate", diz o morador. dentes diários como recuta o estouro. É o carro das câmeras de segurança lembra o morador da esA sinalização no local

da loja. "Vive gente vindo aqui e pedindo a filmagem [do sistema de segurança] como prova", acrescenta. O dono do terreno que tampa parcialmente a placa de "PARE", Geraldo Miranda, 57 anos, se defende. "O problema não é a sinalização. É gente que não conhece e passa direto. É a imprudência do motorista. De vez em quando eu corto, vou mandar tirar essa agora também, mas todo mundo sabe que aqui não pode atravessar", conta ele, apontando as árvores que tampam a placa. Segundo Geraldo Miranda, o muro já foi quebrado duas vezes devido a batidas, mas desde que a mão se tornou única, o número de acidentes diminuiu significativamente. O mesmo motorista que mora na esquina das ruas Dom Joaquim Silvério com Padre Pedro Evangelista, Ailson Felix, transitava por esse cruzamento e comenta já ter batido o carro há cerca de cinco anos nesse local, quando a mão ainda era dupla. "Na hora que eu entrei o cara passou direto. A preferencial era minha. Eu vi que ele ia entrar, joguei pra esquerda e ele bateu na minha porta", declara Aílson Félix, uma das vítimas dos inúmeros acidentes que já se tornaram rotina.

Aulas de ginástica gratuitas no estacionamento RAQUEL DUTRA

n RAQUEL DUTRA 3º PERÍODO

Há seis anos, de segunda a quinta-feira, o estacionamento do Carrefour divide seu espaço com aulas gratuitas de ginástica. A iniciativa foi do próprio hipermercado como uma forma de marketing e, hoje, com o grande número de adesão, são seis unidades da rede que incluem a atividade no cronograma. "Ao praticar atividades físicas as pessoas têm uma vida mais prazerosa, tanto do ponto de vista físico, quanto mental", afirma Maria Ferreira, frequentadora das aulas de ginástica no Carrefour Coração Eucarístico, que ainda tem vagas aos interessados. O professor de educação física, Mateus Mello, responsável por conduzir as aulas desde o início em 2006, afirma que o público dominante são donas de casas com idade média de 70 anos. Ele avalia como sucesso esse projeto proposto pelo Carrefour, destacando os

resultados. "As vendas melhoram de 15% a 20% durante os dias das ginásticas", revela. Segundo Mateus Mello, apesar de não terem muitos recursos, as aulas são boas, principalmente, pelo fato de garantir uma qualidade de vida melhor para os alunos. "Trabalhamos com poucos materiais, além dos bastões cedidos pelo Carrefour, peço aos alunos para comprarem colchões e bolas", completa o professor. Por serem baratos e as aulas não terem custo, os alunos não vêem problema em adquirirem o material por conta própria. A aposentada Maria Célia Nunes, 61 anos, participa há cinco anos do projeto e diz que prioriza fazer suas compras no Carrefour, mas nem sempre coincide com os dias das aulas. "Acho as aulas muito legais e diversificadas, fazemos vários tipo de exercícios. Além disso, é super bacana a interação com as pessoas", conclui a aluna. A relação dos alunos não se estende só

As aulas de ginástica são coordenadas pelo professor Mateus Mello

às aulas, além de organizarem encontros casuais, o professor conta que, uma vez por ano, prepara um "aulão", que consiste numa caminhada em volta da Lagoa da Pampulha para todos os alunos das unidades Carrefour. "Procuramos sempre fazer eventos que reúnam todas as unidades. Para eles, é muito legal, a questão social também ajuda no bem-estar". A iniciativa da empresa é bem vista pelas alunas. "Se todas as empresas tivessem esse mesmo tipo de iniciativa de interação com a sociedade e consciência da sua necessidade, seria muito bom", comenta Maria Célia. Maria Ferreira, 72 anos, que decidiu participar das aulas por necessidade, elogia o projeto do hipermercado. "É muito bom fazer exercícios, satisfaz a gente. Trás muitas coisas boas pra mim e o professor é excelente", ressalta. A divulgação já foi maior, de acordo com Mateus Mello, no início, quando as aulas eram novidade, havia cartazes de divulgação espa-

lhados pelo hipermercado e os funcionários faziam propagandas para os clientes que estavam comprando. "Hoje em dia, a divulgação é mais boca a boca, os próprios alunos trazem novos alunos", relata o professor. A procura pelas aulas foi crescendo e, hoje, algumas unidades já não tem mais vagas, é o caso da unidade Gutierrez que tem, em média, 70 alunos. As aulas no Carrefour do Bairro Coração Eucarístico ainda possuem disponibilidade de vagas e acontecem nas manhãs de terças e quintas-feiras. Mateus Mello revela ser emocionante acompanhar a evolução de seus alunos e diz que não abriria mão de dar aulas coletivas. "Também sou personal e nunca pensei que seria tão legal poder dar aulas para a terceira idade. Esse tipo de público da um retorno muito grande para a gente, a gratidão e o carinho deles é bem diferente do público de academia e dos jovens em geral", afirma.


4 Comunidade

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Julho • 2012

PEDESTRES CORREM RISCOS NO ANEL Mesmo com existência de duas passarelas que atendem aos moradores da região, pedestres se arriscam na travessia entre carros, ônibus e caminhões que trafegam em alta velocidade RAÍSSA PEDROSA

n FELIPE AUGUSTO VIEIRA RAISSA PEDROSA 4º PERÍODO

A travessia de pedestres no Anel Rodoviário entre os Bairros Dom Cabral e Dom Bosco, conforme observado pelo MARCO, é feita muitas vezes de forma arriscada. Nesses casos, as pessoas optam por não utilizar a passarela que liga a Rua União Estudantil, no Dom Bosco, à marginal do Anel, no Dom Cabral, e transitam entre veículos leves e pesados, que passam em alta velocidade no local. A maioria dos pedestres atravessa na direção da Avenida Edgar da Mata Machado, no Dom Cabral. Um ponto de ônibus fica próximo ao Posto Ipiranga, do outro lado do Anel, no Bairro Dom Bosco. Um outro ponto de ônibus fica próximo à Avenida Antônio Prado, no Dom Cabral. Esses pontos ficam entre 200 e 300 metros da passarela, respectivamente. Essa distância dos pontos é um dos argumentos utilizados pelos pedestres que optam por atravessar em meio aos carros. O office boy Lucas Tonetti, 20 anos, atravessa o Anel Rodoviário para pegar ônibus e não utiliza a passarela. "Do lado de lá (Dom Bosco) não tem ônibus que vai para o centro, mesmo com o risco, é mais fácil", acredita. Alguns pedestres alegam que a falta de tempo faz com que eles não

queiram atravessar a passarela. "Todo dia atravesso aqui, estou sempre atrasado", comenta Mazinho dos Santos, que trabalha na Viação Anchieta, localizada à Avenida Edgar da Mata Machado, e atravessava o Anel Rodoviário junto a outros dois colegas que iam para a empresa. Por outro lado, Gilberto Ribeiro, 42 anos, instrutor na Viação Anchieta, garante que a travessia fora da passarela não é muito viável pelo fluxo de carros em alta velocidade. "Eu atravesso pela passarela e é impossível atravessar fora dela", constata. Gilberto, apesar de usar a passarela, pondera sobre o motivo de seus colegas não seguirem seu exemplo e atravessarem pelo Anel. "Se eu fosse dizer um motivo para não atravessar pela passarela, eu diria que ela é longe da 31 de Março (próxima a garagem), é lá em cima e ai você tem que subir e atravessar para voltar". Já Wellington Menezes, 31 anos, gerente do posto Ipiranga, no Dom Bosco, observa diariamente, além de alguns funcionários do posto que almoçam do outro lado do Anel, a grande quantidade de pessoas, principalmente funcionários da garagem do Anchieta atravessando por ali, fora da passarela. "Tem gente que vai almoçar ali do outro lado, no restaurante, às vezes aqui do posto mesmo, mas, mais frequente, é daquela empresa ali (Viação Anchieta)", afirma.

distância mínima entre passarelas, tudo depende da demanda e da verba para tal. O assessor de comunicação do DNIT, Bernardo Morais Costa Pinto, informou que o fato do existir uma passarela próxima ao local pode dificultar a construção de outra. "O fato de já haver uma passarela a mais ou menos 200 metros do local é um motivo dificultador para a implantação de outra a uma distância tão curta", analisa.

Fora da passarela, pedestres são obrigados a esperar, nas divisórias da pista, um melhor momento para atravessar Esse tipo de travessia é observado por Carlos Guilherme, 50 anos, torneiro mecânico que trabalha à beira do Anel. Ele conta que já presenciou acidentes e alguns deles fatais, como o caso de um rapaz alcoolizado, que, contrariando o conselho de Carlos para que não atravessasse, teimou e foi atropelado na segunda faixa da pista. "A gente fala com as pessoas, mas elas ignoram", lamenta. Outro que já presenciou atropelamentos fatais é

Edson dos Santos Agostinho, 42, instrutor e funcionário mais antigo em atividade da Viação Anchieta. Ele se recorda de um acidente ocorrido com um senhor que trabalhava na empresa e atravessava o Anel junto a uma colega, e, segundo Edson Agostinho, a moça foi mais rápida e o senhor ficou para trás, sendo atropelado por mais de um carro. "Ela atravessou e foi mais ágil. Ele ficou para trás e um carro pequeno veio e o atingiu, e, outros dois car-

ros que vinham atrás, também", lembra. Sobre a instalação de uma possível passarela nesse ponto, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou que os moradores da região interessados pelo assunto devem protocolar junto à superintendência do DNIT, que fica à Avenida Prudente de Morais, número 1611, 11º andar, uma solicitação oficial de implantação da passarela. Não existe uma

CADEIRANTES A passarela citada possui, na sua entrada pela Rua União Estudantil, uma espécie de cancela que obriga o pedestre a fazer um zig zag em um espaço estreito para continuar seu trajeto. Consultado pela equipe do MARCO sobre a preocupação da passagem de cadeirantes pelo local devido ao estreitamento, Bernardo Pinto informou que isso existe para evitar a passagem de motocicletas que podem por em risco os pedestres que passam por lá e que o espaço é suficiente para a passagem de uma cadeira de rodas. "O DNIT estuda um meio de criar dispositivos que impeçam o tráfego de motocicletas, sem, no entanto, impedir o direito de ir e vir dos cadeirantes", alega.

Califórnia II sofre com defasagem no comércio RAQUEL DUTRA

n MARINA NEVES GABRIELA MATTE 3º PERÍODO

Os moradores do Conjunto Califórnia II já estão acostumados em ter que sair do Bairro em busca de opções de padaria, açougue, supermercado, farmácia e salão de beleza, por exemplo. A carência de estabelecimentos comerciais não é novidade para os moradores, mas sempre será um transtorno para quem mora num Bairro sem vida-própria. "Sempre foi assim, nada vai para frente aqui. O povo não dá privilégio. Já teve açougue, já teve farmácia", conta Maria Auxiliadora dos Santos, 62 anos, mostrando seu incômodo com a perda de tempo de ter de se deslocar para bairros vizinhos. Moradora há 25 anos no local, ela acrescenta que de vez em quando compra pão na única padaria existente, e que, apesar de morar lá há tanto tempo, nunca teve o costume de comprar nada

nos arredores. Rosângela de Fátima Fernandes, 43 anos, dona há um ano e meio dessa única padaria, afirma gostar do ponto pela falta de concorrência. Segundo ela, o movimento é razoável, dá para se sustentar. O Bairro possui apenas dois mini-centros comerciais. Um com a padaria, um salão de beleza e um bar e outro apenas com o supermercado. Gislaine Santos, 52 anos, é a dona do salão há dois. A proprietária, que já trabalhou em outros salões espalhados pela cidade, explica que preferiu ficar perto de casa ganhando menos, do que gastar dinheiro com deslocamento. "Dá pra me manter, porque só eu e meu marido e meus filhos tão criados", diz. Ela também revela que aos olhos dos clientes é careira, mas que o faz para pagar o aluguel, uma vez que o movimento não é tão alto. Por outro lado, Gislaine, que além de comerciante é moradora do Califórnia II há 29 anos, admite que

também faz as suas compras em outros bairros. "O que tem aqui é muito pequeno. Eu acho que cada um olha a sua comodidade. Já está na cidade, aproveita e compra, o supermercado você vai e já tem de tudo completo", observa. Não tão distante do salão, trabalha Francisco Aldenor, de 61 anos, gerente e dono do único supermercado há 10, que tem uma opinião diferente dos outros comerciantes e dos moradores. Para ele, todos os estabelecimentos comerciais que abrem no Bairro não vão para frente porque a população não prestigia. "A culpa é do povo. Eu sou retrato fiel dessa pouca compreensão", afirma. "Esse supermercado aqui deveria ser muito melhor, muito mais completo. Como consequência disso, comprando melhor (e com clientes) a gente vende mais barato", completa. Francisco exemplifica com o caso de uma moradora do Califórnia II, formada em bioquímica,

que "abriu uma excelente farmácia", mas que fechou por falta de clientes, e com o caso pessoal de que já tentou abrir um açougue no local, mas que também fechou sem movimento. "O Bairro é muito carente de infraestrutura. Aqui era ser um conjunto fechado", lembra ele, que mora há 32 anos no lugar. A jovem Lorena Gregório, 24 anos, que fazia compras no supermercado, conta que é uma exceção quando vai ali. "Devido à carência do supermercado, eu procuro sempre comprar fora mesmo, porque eu já encontro tudo de uma vez. Sei que não vou encontrar as coisas, já vou pra outro lugar", justifica. Na sua opinião o comércio não se desenvolve pois o público do Bairro é muito restrito. Apesar dessa consciência, ela conta que os moradores reclamam. "Mas fica por isso mesmo, só pela reclamação mesmo", declara a moradora do Conjunto há mais de 20 anos.

Rosângela Fernandes afirma que as opções de comércio são poucas


Especial Comunidade Julho • 2012

5

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

MOBILIDADE NA MIRA DO MARCO Completando 40 anos em 2012, o Jornal Laboratório MARCO faz uma trajetória sobre as principais obras e conquistas das comunidades que foram contadas em suas páginas n LAURA ZSCHABER 7º PERÍODO

“O Dom Cabral será o campo de lutas do MARCO”. Foi com essa frase que há 40 anos, nascia a primeira edição do Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. As reportagens traziam informações e queixas sobre o bairro, e, muitas vezes, contribuíram de forma decisiva para a solução dos problemas dos moradores. Mais tarde, em 1973, o jornal também passou a fazer parte das comunidades do Coração Eucarístico, do João Pinheiro e da Vila 31 de Março. E no início dos anos 2000, atendendo à comunidade do São Gabriel. “Acredito que a maior contribuição do MARCO para o bairro seja funcionar também como um portavoz da comunidade junto à Prefeitura, nos ajudando a cobrar nossos direitos do poder público”, explica o presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Dom Cabral, Maurício Antônio de Sales. Para Iracy Firmino da Silva, o presidente da Associação de Moradores do Bairro Coração Eucarístico, mais conhecido como Capitão Firmino, o Jornal acompanhou o crescimento da região e sempre foi muito mais que um infor-

mativo para os moradores. “O MARCO ajudou as comunidades em muitas das suas conquistas, principalmente nas que envolve segurança. Ele mantêm os moradores em alerta sobre as coisas que estão acontecendo por aqui”, afirma.

TRÂNSITO Ausência de congestionamentos e fluidez na circulação de veículos na área metropolitana. Foi com essa proposta, que em 1973 a Via Expressa de Belo Horizonte começou a ser traçada no papel. Na época, as primeiras matérias no MARCO sobre a obra dividiam opiniões: alguns moradores acreditavam que ela acabaria com o grande tráfego de carros na cidade; outros temiam a desapropriação dos terrenos. O projeto, elaborado pelo Departamento de Estrada e Rodagem (DERMG) juntamente com o Plambel – até então o órgão responsável pelo

planejamento metropolitano – previa uma extensão aproximada de 10 quilômetros, seguindo o Vale do Ribeirão Arrudas. Com a aprovação da Prefeitura, a construção da Via Expressa Leste-Oeste, que mais tarde se chamaria Via Expressa Juscelino Kubitschek, ficou a cargo da empresa Mendes Júnior. Ligando o centro de Belo Horizonte à cidade de Betim, atravessando boa parte do município de Contagem, hoje a Via Expressa tem um percurso de aproximadamente 25 quilômetros sem interceptações, o que proporciona aos seus usuários um fluxo rápido. “Quando eu mudei para o bairro, existia apenas um canal naquela região. A construção da Via Expressa melhorou muito o acesso ao centro e às outras cidades. Além do trânsito também. Hoje, em um instante a gente chega no centro”, lembra Thereza Faria, moradora do Cora-

ção Eucarístico há 40 anos. Para o analista de redes Bruno Diniz, a obra não só facilitou a vida dos motoristas, como também trouxe um impacto positivo para a economia da cidade. "Por ser uma ligação entre os municípios, a Via Expressa diminui o fluxo de carros, além de facilitar a chegada de produtos à capital", diz. TRANSPORTE Há 25 anos, o metrô da Gameleira trazia mais facilidade para a vida dos moradores da Região Noroeste, e o MARCO estava lá para registrar outra grande conquista da população. “O metrô está chegando. Veja como embarcar nesse “trem”, foi a manchete do Jornal em sua edição de número 59. Na reportagem, os leitores ficaram sabendo como funcionava o transporte, quais bairros ele atenderia e as mudanças positivas que ele traria à comunidade.

RAQUEL DUTRA

A Via Expressa, que hoje beneficia moradores da região no acesso ao centro da cidade, começou a ser noticiada pelo MARCO quando ainda era projeto

Centro de Saúde é conquista do povo Em 1977, o Jornal MARCO noticiava com alegria que as comunidades do Dom Cabral, Vila 31 de Março e João Pinheiro haviam recebido o posto médico tão esperado. Antes, o serviço funcionava na casa da Ação Social, na Vila 31 de Março e não apresentava boas condições de atendimento. Com o dinheiro de uma indenização recebida pela comunidade devido à demolição do Grupo Escolar da Vila, os moradores, que deveriam dividir a quantia entre si, optaram pela construção de um posto de saúde no Dom Cabral. Na época, o prédio novo, construído pela Prefeitura Municipal ao lado da igreja, era administrado pelo conselho comunitário local e beneficiava dez pessoas por dia. Os moradores contavam com uma mini farmácia e com um setor de vaci-

“Na época, lembro que a novidade surpreendeu a população. O metrô agilizou a ida para a cidade e trouxe mais benefícios para o bairro. Até hoje, continua sendo um transporte muito rápido”, aponta Francisca Melgaço, moradora do Coração Eucarístico há 42 anos, A implantação do serviço foi executada pelo Demetrô, um consórcio entre a Empresa Brasileira de transportes Urbanos e a Rede Ferroviária Federal, ambos subordinadas ao Ministério dos Transportes. Na época, o projeto previa o atendimento às 14 estações e ainda um ramal ligando as estações do Calafate e do Barreiro, passando pela região do Salgado Filho e Ferrugem. Das 22 estações da planta inicial, apenas 19 foram concluídas e estão em funcionamento hoje. Os trechos que serviriam aos bairros PTB e Imbiruçu, em Betim e Bernardo

nação. No entanto, apenas um médico examinava todos os pacientes, e ainda não havia profissionais para realizar os atendimentos dentário e ginecológico que haviam sido prometidos. “Antigamente, os moradores que precisavam de cuidados mais sérios tinham que se deslocar para outros bairros. Era muito complicado”, relata Agenor de Oliveira, que há 32 anos mora no Dom Cabral. O posto médico, que ficava em um nível abaixo da rua, já sofria com o tempo de chuva depois de três anos da inauguração. A água escorria para dentro de suas instalações, os vidros das janelas estavam quebrados e não havia trancas ou cadeados. A população então, se mobilizou e resolveu fazer uma denúncia ao MARCO, já que a Prefeitura não tomava nenhuma providência. A estratégia funcionou, e

logo após a reportagem sair nas páginas do Jornal, o posto foi reformado. As janelas ganharam vidros novos e grades de proteção, e uma campanha de vacinação contra a paralisia infantil pôde ser realizada no local beneficiando cerca de 750 crianças. No ano passado, após quase 35 anos, o antigo posto de saúde do Dom Cabral foi demolido para a construção de um prédio maior e por isso precisou ser transferido para um local temporário. O atendimento passou a ser feito em uma casa na rua Madre Mazzarello. Mesmo com o objetivo de melhorar a qualidade do atendimento, a mudança não agradou a todos os moradores da região, que reclamavam da distância percorrida para chegarem ao posto e da estrutura que comportava menos pessoas. Segundo Douglas

Versiano, um dos responsáveis pela administração do centro de saúde, as consultas continuam sendo feitas no mesmo local, aguardando o término das obras do novo edifício, que estão atrasadas. “A previsão de inauguração do novo posto era setembro deste ano, mas com o atraso nas obras, não temos como saber quando ele ficará pronto”, alegou. O administrador ainda afirmou que, mesmo assim, a população não tem sido prejudicada, e que a média de atendimentos permanece em torno de 130 a 150 por dia. “Minha família frequenta o centro de saúde há muitos anos e não temos nada a reclamar. Os médicos são muito bons. Com certeza, a mudança será positiva e vai facilitar a vida da comunidade”, pondera Maria Geralda Coelho.

Monteiro, em Contagem ficaram somente no papel. O mesmo aconteceu com o ramal Calafate-Barreiro. Em 1998, o ramal chegou a ser iniciado, mas as obras pararam novamente e ainda não foram retomadas. Segundo dados da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), atualmente, o metrô de Belo Horizonte beneficia cerca de 144 mil usuários por dia e realiza 253 viagens diariamente. É o caso da estudante de Engenharia Civil Paula Farah que utiliza o veículo todos os dias. “O metrô, atualmente, é o meio de transporte mais viável que eu tenho para poder ir para a faculdade e trabalho. Além de ser mais rápido, ele fica muito próximo da minha casa”, explica. A rapidez do transporte foi um dos motivos que fez a professora de português Stael Marra escolher entre dois empregos. “Depois que vendi o carro, optei por trabalhar em uma escola que ficava próxima a alguma estação do metrô, já que moro perto da Estação Gameleira. Foi ótimo pra mim, pois é um transporte que possibilita acesso mais rápido e confortável que o ônibus”, afirma.

Construção da Praça da Comunidade nas páginas do MARCO “Com o projeto pronto, o sonho da construção da praça de lazer na área em torno da igreja, no centro do Dom Cabral, deverá se tornar realidade”. O trecho, extraído da edição 55 do Jornal MARCO, foi o que moradores esperaram ver por mais de dez anos. Em 1972, a população reclamava da monotonia do bairro e reivindicava a construção da Praça da Comunidade, prometida para os compradores dos lotes. Na planta original, o local abrigaria uma praça de esportes, um centro comercial, um playground, jardins e outros estabelecimentos. Porém, quando cobradas, a Prefeitura e a Caixa Econômica Estadual – responsável pelo empreendimento – se eximiam da obrigação de realizar a obra e transferiam a culpa uma para a outra. Quatro anos e nenhuma resposta depois, os moradores do Dom Cabral decidiram defender o terreno e aproveitar a área ao redor da igreja, que tinha sido destina-

da para lazer, esporte e educação desde a criação do bairro. Com a ajuda de uma empresa que cedeu seus caminhões, eles transportaram terra saída de obras existentes no bairro, para cobrir uma vala e deixar o campo apropriado para uso. Já em 1978, o problema ainda não tinha sido solucionado. A prefeitura ainda prometia a construção da praça dependendo da doação do terreno pela Caixa. Foram necessárias 14 edições do MARCO, reivindicando a construção da Praça da Comunidade, para que em 1982, quando o Dom Cabral completava 16 anos, os moradores conseguissem a doação da verba para a realização da obra. “A pracinha é fundamental para a convivência dos moradores e é um ponto de lazer para as crianças e para os jovens. Acredito que o Dom Cabral tem melhorado muito desde sua criação. Hoje, acho que só falta mais segurança”, comenta Ceci Ferreira de Barros, moradora do bairro há 40 anos.


6 Comunidade

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Comerciantes e moradores da Avenida Ressaca têm problemas constantes provocados pela numeração confusa, o que faz com que as correspondências sejam entregues muitas vezes em locais errados

Julho • 2012

NÚMEROS INVERTIDOS GERAM TRANSTORNO NO DIA A DIA FELIPE AUGUSTO VIEIRA

n RAÍSSA PEDROSA 4º PERÍODO

Segunda-feira, início de junho, por volta de 11h 30, o motoboy Roger Pinho Rocha procurava o número 175 na Avenida Ressaca, que atravessa os Bairros Coração Eucarístico e Minas Brasil, na Região Noroeste da capital. Aproximadamente meia hora depois, Roger finalmente encontra o local desejado. Esse problema é enfrentado por várias pessoas, todos os dias na avenida, e o motivo da dificuldade é a numeração desordenada que confunde quem não conhece o local. Para Roger Rocha, isso complica bastante para quem trabalha com entrega pois, se existe um horário marcado, não encontrar o número, pode gerar muitos problemas em vários casos como o da Avenida Ressaca. "Ficar procurando o local leva tempo. Já aconteceu de um colega meu deixar de fazer a entrega por não encontrar o local", lembra. O número 175, que Roger Rocha procurava, fica, vendo de frente, do lado esquerdo do número 377, e na sequência, à direita, segue o 195. Gilmar Vieira, dono do restaurante

no número 377, conta que a numeração correta é a do estabelecimento dele, que é mais antigo e tem aproximadamente 50 anos. Ele mora ali há mais de 10 anos e sempre sofreu com a confusão feita por quem entrega correspondência. "Meu número aqui é 377, eu recebo correspondência do 367", conta. A desordem da numeração é problema constante, os depoimentos dos moradores mostram que a situação é decorrente do crescimento da Avenida, onde cada moradia foi sendo construída e ganhando uma numeração que não batia com a ordem então existente. O aposentado Plínio Faria, 74 anos, é morador do edifício Mariana A. Nardelli há seis anos, com numeração 185, que fica entre o número 75 e o 245, gerando a sequência 75, 185, 245, 141, que deveria ser em ordem crescente. Para Plínio, a entrega de correspondência é prejudicada pela numeração. "Aqui eles entregam a correspondência sempre errada, até o correio. Entregam tudo ali, naquele prédio ali, no 245", relata o aposentado, apontando para o prédio. Ele também conta que já houve algumas con-

fusões com motoboys, táxis e até um buffet. "Eu lembro que uma pessoa aqui em casa pediu algo de um buffet, e foram entregar no outro prédio, lá na frente, alguém lá, que me conhecia acabou falando 'o 185 é lá no início da avenida'", relembra. Outra curiosidade do prédio onde Plínio mora é a proximidade com o início da Avenida, apesar da numeração, o prédio é o quinto imóvel. Os números não servem como pontos de referência. Algumas lojas e a localização são mais comumente usadas por quem mora na Avenida. Plínio Faria ensina o trajeto para seu parentes visitá-lo. "Eu falo para descer a rua Dom Joaquim Silvério, e virar a direita, é o primeiro prédio, a identificação que eu tenho que dar é essa, senão, pelo número complica", explica. Uma carteira que substituía o carteiro responsável pela área, e que não se identificou, disse que já sabe quais são os números que fogem da ordem na avenida, e que são "apenas" três. Ela garante que existem outras áreas na cidade que passam pela mesma situação. O comerciante autôno-

mo Pablo Christian Oliveira Fontan, 34 anos, conta que teve problemas com a entrega do alvará de sua loja. "Meu alvará da Prefeitura chegou em outro lugar, e a pessoa que recebeu veio entregar aqui", diz. Para ele, uma mudança na numeração, para reorganizar a avenida seria muito boa tanto para moradores quanto para quem procura algum local. "De início eu acho que iria causar transtornos, mas a longo prazo seria bem melhor, porque ninguém iria ficar perdido", acredita. A Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana informou que a situação da avenida Ressaca está sendo analisada, mas não informou se os moradores podem fazer solicitações para possíveis mudanças nos números.

MUDANÇA Muitos não sabem, mas a Avenida Ressaca, que termina com as numerações 432 e 441, atravessando a rua Monte Líbano se transforma em Avenida Padre Vieira. Para quem não conhece, dá-se a impressão de que as duas são a mesma avenida. Esse fato gera dúvidas para motoristas e pedestres, principalmente quem não repara

Tentativa de ordenação de números em outra avenida não trouxe melhorias A Avenida Padre Vieira, continuação da Avenida Ressaca, tinha os mesmos problemas com a numeração. Segundo os moradores, há aproximadamente quatro anos, a Prefeitura ordenou a numeração e enviou uma carta avisando aos moradores, informando o novo número de sua residência e pedindo que eles mantivessem o número antigo junto do atual. Essa modificação melhorou para alguns, mas, para muitos não mudou nada. A moradora Simone Vienna da Cunha sofre com essa numeração, a dona de casa de 44 anos, mora na avenida desde que nasceu e conta que desde que a numeração mudou vem tendo problemas com suas correspondências. "Nós já ficamos sem o boleto do cartão de crédito, tive que pagar atrasada", conta. Outro caso que

ocorreu com uma moradora da casa de Simone foi uma correspondência de banco que entregaram em outra casa e quem atendeu o carteiro assinou o recebimeto. "Ela teve que ir ao banco e resolver o problema, porque para eles ela tinha recebido, quando, na verdade, não", comenta Simone. Para Fátima Silva Ro-

sa, que é proprietária de uma distribuidora de saches alimentícios, é inquilina de uma loja há 10 anos na Avenida, a mudança de numeração melhorou, pois organizou a rua, mas manter a numeração antiga ainda confunde, assim, ela acredita que o problema seria solucionado se a numeração mudasse de

vez. "O pessoal ainda não se acostumou. Se retirar o número antigo, fica mais fácil para todos", acredita. Fátima conta ainda que, para encontrarem a loja dela, ela precisa descrever o local, pois, apenas pelo número, não tem jeito, é difícil para todos. "Nem ambulância encontra número aqui", afirma. Um dos fatores que R P determinam a confusão com os números é a mudança de carteiros. Os novatos, que não conhecem o local, acabam se perdendo em meio à mistura de números. Uma carteiro que trabalha na área informou que, para os novatos há uma orientação do carteiro anterior, mas o mais difícil é quando uma numeração é para a Copasa e outra é para a Cemig, por exemplo, pois procurar os locais dessa forma acaba tomando Moradores da avenida tiveram que manter o número antigo junto ao atual mais tempo. AÍSSA

EDROSA

Pablo acredita que ordernar a numeração traria benefícios a longo prazo bem as placas na esquina. Pablo Christian Fontan, 34 anos, é proprietário de uma oficina mecânica na esquina da Avenida Ressaca com Monte Líbano e presencia, diariamente, dúvidas e confusões por

pessoas que passam por ali. "Às vezes o pessoal procura desde lá de cima (final da Padre Vieira) e só descobre que vira Ressaca aqui na esquina", comenta.

Comércio é afetado por problemas com a numeração da via A loja de roupas Sempre Gerais encontra-se no número 240 da Avenida Ressaca, acontece que com a mesma numeração, no quarteirão ao lado tem a Panificadora Del Niño. São dois locais distintos que confundem muitos entregadores, e pessoas que procuram esses estabelecimentos por motivos diversos. Ildeu da Fonseca Moreira, proprietário da loja de roupas, conta que, há dois anos, quando abriu a loja, a Prefeitura cedeu uma série de números para que ele escolhesse, e o número 240 estava entre eles, sem saber que já existia a padaria com a mesma numeração, foi justamente este que ele optou por usar. "A Prefeitura nos deu números para escolher, e nós escolhemos o 240, mas a gente não sabia que esse era o número da panificadora", esclarece. Segundo Ildeu Moreira, as correspondências de lá

são entregues, geralmente, na panificadora. Fabrize Vieira, gerente de lá, confirma esse fato. "Geralmente eles entregam aqui eu vou lá e entrego para eles", conta. Embora as correspondências

sejam

entregues mais frequentemente na Panificadora Del Niño, o lugar não possui a numeração na fachada, enquanto, a loja de roupas de Ildeu mostra o número 240 acima da porta de entrada. A confusão com a numeração gera certos transtornos para ambos os estabelecimentos, porém, os responsáveis por eles tentam manter uma boa relação dentro das possibilidades. "Nós damos um jeito para ter a melhor relação possível", analisa Ildeu Moreira. Nenhum dos dois se manifestou sobre uma possível troca da numeração.


Comunidade/Campus Julho • 2012

7

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

LAZER NO SÃO GABRIEL É PRECÁRIO O Bairro São Gabriel, região Nordeste, precisa de áreas de descanso e lazer. Moradores do bairro que desejam frequentar àreas de lazer com mais estrutura preferem ir à outros bairros MICHELLE OLIVEIRA

n MICHELLE OLIVEIRA 3º PERÍODO

Localizado na Região Nordeste, que, de acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte abriga 66 praças e nove parques ecológicos, alguns deles ainda não devidamente implantados, o Bairro São Gabriel sofre com a carência de opções de lazer e descanso, segundo apurou o MARCO junto a moradores e estudantes da PUC Minas, que o frequentam diariamente durante os semestres letivos. Bares espalhados pelo bairro, campo de futebol, quadra esportiva de escola e uma pequena praça, de acordo com a população local, é o que o São Gabriel oferece como lazer. Para aproveitar parques mais estruturados e maiores é preciso se deslocar a bairros vizinhos. É o caso, por exemplo, do Parque Professor Guilherme Lage, instalado no antigo viveiro municipal, que fica no Bairro São Paulo, perto do São Gabriel. Outras áreas, embora localizadas na mesma região, já são mais distantes para os moradores

do São Gabriel, casos do Parque Municipal Professor Marcos Mazzoni, conhecido como Parque da Cidade Nova, que ocupa área de 14.100 no bairro do mesmo nome ou o Parque da Matinha, no Bairro União. Segundo Maria de Fátima de Jesus, moradora e comerciante do bairro, o que ela tem como "parque" na região é um campo grande com alguns bancos e brinquedos. Ela conta que esse campo pertence à Escola Estadual Adalberto Ferraz, no São Gabriel, sendo utilizado também pela população. De acordo com ela, o maior problema é a falta de segurança na área onde o "parque" está localizado. Lucas Henrique Soares França, 17 anos, morador do bairro e funcionário de uma lanchonete, conta que ele sente falta de locais para sair. Segundo ele, há um campo de futebol do Saga Esporte Clube (Saga), que pode ser utilizado gratuitamente, mas que é raro poder jogar lá devido a necessidade de reservar horário e pela violência noturna local. "O que mais tem no bairro são

Lucas Henrique França sente falta de locais de lazer para sair no bairro bares e restaurantes. Faltam outros tipos de lazer, como um clube, algo que você possa ficar mais tranquilo", conta. Por causa da falta de locais para se divertir e da violência, as famílias moradoras do bairro procuram outros locais para se divertir. Elas pegam o carro ou o transporte público e vão atrás de um bairro que tenha algo para descanso e diversão. Porém, com pouca frequência já

que para alguns, falta dinheiro para gastar com lazer. Fátima de Jesus conta que sente falta de um local para se divertir no bairro. "Eu sinto falta de um local de lazer, porque rapidinho a gente pode ir, levar os meninos para lanchar e brincar. Aquela pracinha do "EPA" é muito pequena", conta. Segundo ela, quando passeia com seus filhos, ela os leva até o Parque Muni-

cipal, no centro de Belo Horizonte. Porém, nem sempre é possível e já faz tempo que não vai até lá. Ela reclama que poderia passear mais vezes sem tantas despesas se tivessem locais perto de sua casa. Muitas vezes, os filhos de Fátima têm que ficar apenas em casa, porque, além de não ter lugares para passeio, o bairro conta com um nível elevado de violência de acordo com o grande número de notícias divulgado pela imprensa. Pré-adolescentes e adolescentes, incluindo uma das filhas de Fátima, que não quiseram se identificar por vergonha, sentem faltam de parquinhos para brincarem. Eles só têm como lazer bater papo em casa ou nas calçadas. Alunos da PUC Minas também sentem falta de locais de lazer. Depois das aulas, um passeio com os amigos sem muito desgaste após ter estudado é o que desejam. Porém, no São Gabriel não tem muita opção. Diogo Augusto Batista, estudante do sétimo período de Direito na PUC Minas do São Gabriel, conta

que não se tem lazer no bairro. "Poderia ter algum pub ou um bom buteco", diz. Já que o bairro não oferece lazer, Diogo também sugeriu que a universidade fizesse olimpíadas universitárias. A enfermeira Renata Francisco Miranda diz que é fundamental o descanso tanto físico quanto mental. Segundo ela, o lazer é importante para saúde física e mental do indivíduo. Ela conta que hoje percebe que faltam lugares não só no bairro São Gabriel, mas também em outros em que a opção de lazer das pessoas virou o shopping. "O shopping é um lazer, mas acaba não sendo lazer. Você cansa de ficar andando ali. É um local cheio e com barulho", diz. Para ela, o ideal é que se fosse a um parque ou a uma praça grande e arborizada para poder ficar em silêncio. "Igual nós temos a necessidade do sono, a gente tem a necessidade de ficar um dia mais à toa para poder recuperar as forças", completa.

Dúvidas na escolha sobre qual profissão seguir n MOUNI DADOUN 6º PERÍODO

Em dúvida sobre qual curso seguiria Fernanda Lambertucci, de 23 anos, trancou matrícula no curso de jornalismo no início de 2010. A estudante se matriculou em um cursinho, onde permaneceu por seis meses, antes de conseguir passar no vestibular de Direito, curso que ela faz atualmente. Mas o gosto de Fernanda mesmo é pela fotografia. "Sempre gostei de fotografar, tenho grande (portifólio), gosto de fotos artísticas, até pensei em publicidade, mas desisti", conta. Ela ainda afirma que sua vida profissional não foi pautada pela família e sim por dúvidas que a rodeavam sobre seu destino em relação a que carreira seguir. "Meus pais sempre respeitaram minha individualidade e minha liberdade de escolha em relação a que profissão seguir", explica. Muitos dos que possuem formação acadêmica também dedicam parte de seu tempo a outras atividades, muitas vezes ligadas à arte. É o caso, por exemplo, de Manuela Alves de Barros, de 38 anos. Há cinco anos a administradora oferece aulas em sua casa. São oficinas de música, dadas a crianças carentes. Além das aulas, ela faz shows de MPB, canta e toca violão em cafés e bares da cidade. Ela afirma que tenta conciliar a profissão de administradora e musicista. "Sempre quis administração, mas sempre me envolvi com música, cresci nesse ambiente. Meus pais me ensinaram

tudo o que sei de música. Considero isso como minha segunda profissão", afirma Manuela. Já Reginaldo Jimenez, de 39 anos, deixou de ser professor de ciências para se dedicar à dança. Há 15 anos é dono de uma escola e restaurante espanhol. "Já dei muita aula de ciências e hoje me dedico totalmente a dança flamenca. Não me vejo em outra área. Sou bailarino, professor, administro a cozinha do meu restaurante, sou um pouco de tudo", comenta.

PRESSÃO Formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a psicóloga Gisele dos Santos afirma que muitas pessoas por pressão familiar ou receio de o "futuro" não ser positivo quanto ao trabalho, optam pelo mais prático. "Há aqueles que não seguem a carreira acadêmica, mas trabalham como autônomos, há também pessoas que gostam do que fazem e trabalham em duas coisas, mas muitas também escolhem a profissão que a família quer, por exemplo, Direito ou Medicina", afirma. Gisele ainda explicita que o vestibular acontece na vida de jovens durante uma idade em que a maturidade está em seu início de formação, no caso daqueles que estão na faixa etária entre 16 e 18 anos. "Mesmo para aqueles que já definiram no que querem trabalhar, é difícil. A dúvida aparece principalmente, as profissões escolhidas devem de acordo com o que a "sociedade impõe", durar para

a vida toda. Isso acrescido, de em determinadas situações, a família controlar e interferir na escolha desses jovens gera angústia, já que para muitos estudantes, a aprovação de amigos e familiares é mais relevante do que a própria aprovação. É uma cobrança tanto da sociedade quando da família", explica. É o caso do então formado Guilherme Ferreira Paiva, de 29 anos. Ele sempre quis ser biólogo, mas seu pai, que é engenheiro, insistiu para que ele também seguisse engenharia. Mas Guilherme surpreendeu seu pai ao final do curso. "No mesmo dia que peguei meu diploma pensei em me matricular para o vestibular de biologia. Vou começar cursinho em agosto", diz. Técnico administrativo de produtos Químicos, Breno Yowdy não nega sua paixão pela dança do ventre e dança tribal. Atualmente ele é professor das duas modalidades de dança e

concilia essa atividade com a profissão de técnico em administração de produtos químicos. "Concilio as duas coisas, mas o que realmente me deixa feliz, é dar aula de danças", diz.

ESCOLHA Como já explicado pela psicóloga Gisele dos Santos, muitos jovens, em idade de transição da adolescência para a fase adulta, sentem-se angustiados e pressionados. O professor de geografia Múcio Tavares da Silva, de 52 anos, leciona no terceiro ano científico e afirma que muitas instituições de ensino e psicólogos utilizam o teste vocacional para o auxílio de jovens que têm dúvidas sobre o destino profissional. "O teste ajuda, mas a maturidade do estudante é de extrema importância. Eles, em minha opinião, são muito jovens ainda, mesmo aqueles que já sabem o que querem. Muitos mudam a escolha até mesmo no dia da MOUNI DADOUN

A estudante Carolina Barros esta em dúvida sobre seu futuro profissional

inscrição do vestibular. Muitos mudam de profissão já com anos de carreira", observa. A estudante Carolina Barros, de 18 anos, foi aprovada no vestibular de Direito, na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Em dúvida ainda sobre o que fazer, ela afirma não quer deixar passar a oportunidade de ingressar em uma faculdade. "Estudei muito e agora, sinceramente, não sei o que fazer. Queria que a faculdade que passei fosse pelo menos em Belo Horizonte. Não é um curso qual sou apaixonada, mas é o que tem mais chances de garantir meu futuro", diz. Outro fator que deixa Carolina ainda mais em dúvida é sua paixão pelo Balé. Ela dança há oito anos e afirma sonha em seguir carreira de bailarina mas tem medo de não conseguir se sustentar sozinha. "Tenho medo de não dar certo, até conheço vários professores de dança que podem me ajudar a seguir carreira profissional, mas antes quero me formar academicamente, em algum curso. Ainda tenho que resolver se farei o curso de Direito ou não. É uma coisa que angustia a gente", afirma. Catarina afirmou que sempre foi muito livre para fazer suas escolhas, mas que mesmo assim, há um medo em relação ao que a família espera dela. "Quero que eles (os pais) tenham orgulho de mim. Tenho o desejo de me formar também, mas ao mesmo tempo conciliar isso com dança", diz.


8 Saúde

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Julho • 2012

UMA REFERÊNCIA EM TRANSPLANTES BH possui um dos mais conceituados centros de transplantes do país, localizado no Hospital das Clínicas da UFMG. Muitas pessoas, porém, ainda sofrem na fila de espera por um órgão ADRIANA BENEVENUTO

n ADRIANA BENEVENUTO BRUNA ALVES GABRIELE LANZA JÉSSICA BARCZEWSKI 7° PERÍODO

O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, situado na Região Centro-Sul de Belo Horizonte é, atualmente, o segundo maior centro transplantador do país e está entre os 20 hospitais que fazem esse tipo de procedimento no mundo. O número de transplantes de coração chega a 20 por ano, em média. Até março deste ano, o HC contabilizou a marca de 107 procedimentos, sendo os últimos sete realizados no primeiro trimestre de 2012. Ainda assim, existem cerca de 20 pessoas na lista de espera em todo o estado. O especialista em transplante de coração do Hospital das Clínicas, Cláudio Gelape, explica que existem casos em que o paciente não pode voltar para casa, devido à gravidade da situação. "Esses precisam ficar internados porque requerem atenção constante, e aqui eles são bem cuidados e recebem todo apoio médico", conta. Gelape comenta que a mortalidade na fila de espera por um novo coração chega a 70%, número que é considerado muito alto. "A estrutura do hospital está sempre pronta para fazer um transplante, a qualquer momento, mas o problema é a falta de doadores, o que acarreta nesse número de pessoas na fila", explica o cardiologista. Ele conta que em 2011, o hospital realizou 11 transplantes desse tipo. "O número é considerado baixo porque em 2010 fizemos 27 procedimentos. Na comparação temos essa grande diferença", calcula.

DADOS O serviço de transplante de coração do HC/UFMG recebe pacientes de todo o Estado, realizando, em média, 40 consultas por semana no ambulatório, que recebe pacientes de pré e pós-

operatório. Segundo Cláudio Gelape, os casos são encaminhados para o ambulatório do hospital, onde um cardiologista faz uma triagem e uma série de exames, como testes de esforço, para avaliar o coração do paciente. Se o caso for para transplante, já é iniciado o tratamento com remédios. Segundo o médico, para os que fazem a cirurgia, o procedimento é coberto integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nos últimos anos, apenas cinco cirurgias foram financiadas por planos de saúde particulares. Segundo dados do HC, mais de 90% dos pacientes transplantados no hospital sobrevivem à cirurgia. 80% sobrevivem após um ano e 70% após os cinco primeiros anos. "Para quem recebe o coração, a vida é praticamente normal, o transplantado pode fazer várias coisas, até namorar", brinca o médico. Segundo ele, é necessário fazer um acompanhamento mensal, com biópsias para verificar se o órgão está sendo ou não rejeitado pelo organismo, e com remédios. Além disso, a alimentação também deve ser controlada. O Hospital das Clínicas da UFMG realiza transplantes também em outras sete áreas: pulmão, fígado, pâncreas, rim, conjugado de pâncreas/rim, medula óssea e córneas. FINAL FELIZ Transplantado há cerca de dois anos e meio, o estudante de educação física, André Alvarenga, irradia alegria pelo corredor do hospital, onde faz consultas periódicas por causa do tratamento pós-operatório. Mas essa alegria só veio depois de o estudante ter tomado um susto. "Eu soube que precisava do transplante quando eu sofri um infarto e perdi 70% da capacidade do coração. Depois disso eu entrei para a fila do transplante e passava muito mal, tinha que tomar banho de duas vezes, não

O menino Matheus de Oliveira Leite, de 13 anos, foi submetido a um transplante de coração, em fevereiro deste ano, no Hospital das Clínicas comia, dormia assentado, ficava tonto", relembra. O tempo de espera pelo coração foi de seis meses e ao saber que seria submetido a cirurgia, André não escondeu a emoção. "Foi uma mistura de ansiedade com nervosismo e felicidade. Foi muito bom!", conta alegre. Depois do transplante André conta que a qualidade de vida melhorou muito. "Estou 100%. Jogo bola, corro, faço academia. Não tenho mais falta de ar, não tenho mais nada", diz. Para Gelape, o HC tem obtido resultados expressivos pela boa infra-estrutura do próprio hospital. "A estrutura é grande e conta com tecnologia avançada de aparelhos e com vários profissionais, desde psicólogos a enfermeiros e cardiologistas", comenta. Segundo ele, as estatísticas podem se inverter. "Na fila de espera, o paciente tem 90% de chance de morrer. Quando ele recebe um novo coração, a chance é de 90% de viver", explica. De acordo com o cardiologista, o bom resultado é a sobrevida do paciente. "Quando me ligam de madrugada para fazer uma cirurgia eu saio cheio de energia, e fico muito feliz de poder dar vida nova a esses pacientes", afirma. ADRIANA BENEVENUTO

O Hospital das Clínicas da UFMG, em Belo Horizonte, é considerado o 2º maior centro de transplantes do país

Centésimo transplante no HC foi de um menino de 13 anos O transplante de coração de número 100 realizado no Hospital das Clínicas (HC) foi o do menino Matheus de Oliveira Leite, de 13 anos. A operação foi feita no dia nove de fevereiro deste ano. Ele foi, também, o mais novo paciente a realizar o procedimento.O menino sempre aparentou ser uma criança saudável, antes de apresentar os sintomas que o levaram ao transplante. Matheus levava uma vida tranquila em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ao lado da mãe, a estudante de pedagogia Roseli Oliveira, do pai, o comerciante Nionaldo de Oliveira e dos irmãos Felipe, de nove, e Sara Jennifer, de apenas um. A família é evangélica e frequenta regularmente a Igreja. Os filhos mais vehos, Matheus e Felipe, sempre jogam futebol na rua com os amigos. Nionaldo trabalha e Roseli fica em casa cuidado da filha mais nova, quando não está em aulas. Essa tranquilidade mudou a partir de setembro do ano passado, quando os hospitais passaram a ser os locais mais frequentados por eles. Em setembro de 2011, Matheus chegou da rua e a mãe reparou que havia algo errado com o filho. "Ele entrou em casa muito cansado, tinha acabado de jogar bola, mas o cansaço não era normal. Além disso, ele sentia dor no estômago", conta. Por isso, Roseli resolveu levá-lo ao médico, no Pronto Atendimento (PA) do Bairro São Benedito, em Santa Luzia. Segundo a mãe, o médico disse que a dificuldade de respiração se devia ao ar seco e receitou ne-

bulização, que foi feita ali mesmo. Foi receitado também um remédio para o estômago e o garoto foi liberado e voltou para casa. Duas horas depois, Matheus, se arrumou para ir à Igreja, mas a mãe não o deixou ir. De acordo com Roseli, ele deitou no sofá e chorou. Foi quando ela percebeu que o garoto estava muito ofegante. No mesmo dia, eles voltaram ao médico. De volta ao mesmo Pronto Atendimento, no bairro São Benedito, a família consultou outro médico. Segundo Roseli, logo na triagem, foi constatado que o coração de Matheus estava batendo a 160 batimentos por minuto. Ele foi, então, encaminhado para a emergência. Lá foi tirada uma radiografia e o médico viu que o coração dele estava inchado. "A partir daí o menino ficava só no colo, pois o coração podia não aguentar que ele andasse", lembra a mãe. Segundo o relato de Roseli, Matheus foi encaminhado ao Hospital Infantil João Paulo II, em Belo Horizonte, porque o PA de São Benedito, não tinha estrutura para tratálo. No Hospital João Paulo II ele foi direto ao CTI e lá ficou durante quatro dias. Então Roseli revela que começaram as especulações sobre a causa do inchaço no coração de Matheus. "O médico perguntou se a gente foi para o interior, achando que era [Doença de] Chagas", conta. Segundo a estudante, quando o quadro ficou estável, Matheus foi levado para a enfermaria, mas os médicos ainda não sabiam as causas da doença. Roseli explica que três semanas depois o médico a

chamou junto com o marido e disse que o estado dele era gravíssimo. "Ele disse que não tinha mais o que fazer", relembra Roseli. A força do coração do menino era 18%, quando um coração saudável tinha que estar entre 40 e 60%. A família procurou a Santa Casa de Belo Horizonte para ouvir outra opinião. "O doutor internou ele na hora", conta Roseli. Segundo ela, na Santa Casa, chegaram à conclusão de que a única opção era o transplante de coração. O procedimento deveria ser feito no Hospital das Clínicas. Nionaldo conseguiu a consulta para o filho no Hospital das Clínicas por meio do Posto de Atendimento Médico do Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste de Belo Horizonte. A mãe lembra que em dez dias Matheus conseguiu a consulta. "O médico passou um medicamento que tinha o prazo de 30 dias para fazer efeito. Se o coração dele não melhorasse com o remédio, era preciso fazer o transplante". Ela revela que antes de se completar o prazo, o menino passou muito mal, com o abdômen muito inchado. "Nesse momento a gente precisou colocar o Matheus na lista de transplantes", diz Roseli. Enquanto tentavam o transplante, o menino ficou internado na enfermaria da Santa Casa durante sete dias. Nesse período, apareceu um órgão compatível com o organismo de Matheus, mas não houve autorização da família e a doação não foi feita. Até que em fevereiro deste ano foi realizado o transplante.


Cidade Julho • 2012

9

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

ESTACIONAMENTO PESA NO BOLSO Em cada região de Belo Horizonte os preços dos estabelecimentos estão variando e dificultando a vida de quem procura uma vaga e não tem outra solução além da rua para estacionar RENATA FONSECA

n BRUNA CARMONA GEOVANA LAGE PAULA HOELZLE RENATA LOPES FONSECA 7º PERÍODO

Pagar pelo pernoite em um estacionamento particular. Foi essa a solução encontrada pela administradora de empresas Maiza Barbosa para conseguir estacionar em Belo Horizonte. Maiza, que hoje vive na cidade de Pará de Minas, na região central do estado, precisa vir à capital periodicamente e já aprendeu que, por aqui, encontrar uma vaga não é tarefa fácil. Ela é dona de um apartamento na região da Savassi, onde hoje moram seus filhos. O prédio é antigo e a garagem é em fila indiana. Os proprietários precisam combinar entre eles para estacionar os veículos de acordo com os horários de saída e chegada de cada morador. Como ela mora em outra cidade, fica difícil manter o contato com os vizinhos. "Apesar do benefício de possuir um apartamento na Savassi, eu tenho uma garagem que não me atende cem por cento", explica Maiza. Atualmente, ela paga R$30 para guardar o carro, das 19h às 8h, em um estacionamento próximo ao apartamento onde mora. Maiza conta que sempre faz o possível para organizar os compromissos fora do horário de pico ou em locais que possuam estacionamento próprio. E se tiver que ir ao centro da cidade, pegar um táxi torna-se a melhor opção. Segundo ela, as vagas de estacionamento rotativo quase sempre estão ocu-

padas. "Tirar o carro da garagem fica sendo uma opção cara e desconfortável, pois passa a ser um problema", diz. Manobrista em um estacionamento próximo ao local onde Maiza guarda o carro, Ronaldo Antunes diz que a maior parte do movimento é gerada por mensalistas, que moram ou trabalham na região da Savassi. Segundo ele, o estacionamento tem capacidade para 50 veículos e a diária custa R$40. Só no período da noite, o faturamento diário chega a R$900. De acordo com uma pesquisa realizada pelo site do Mercado Mineiro, que compara preços de produtos e serviços, a variação no preço das diárias em estacionamentos privados da capital chega a 455,55%. O preço médio da diária nos estacionamentos da Região Centro-Sul da capital é de R$27,94 e pode variar entre R$18 e R$100. No estacionamento onde o manobrista Luiz Carlos Pereira trabalha, a maioria dos clientes utiliza as vagas por 30 minutos e paga R$5 pela permanência. O estabelecimento fica na esquina entre a rua Goitacazes e a avenida Olegário Maciel e o horário mais difícil para encontrar uma vaga disponível é entre 15h e 16h30. Para mensalistas o estacionamento é garantido 24 horas e o valor pago é de R$400. Há quatro meses, a dona de casa Maristela Alves sentiu-se mal e foi levada pelo marido a um hospital na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ela teve que ficar em observação e o marido, que saiu para trabalhar depois de a-

proximadamente quatro horas no hospital, pagou R$50 em um estacionamento particular. "Eu acho que para consultar ou visitar alguém no hospital vale muito mais a pena ir de táxi, fica muito mais barato", afirma Maristela. Ela acredita que os altos preços cobrados pelos estacionamentos da capital funcionam como um incentivo para que a população dê preferência ao transporte coletivo na hora de sair de casa. "Acho que a taxa de estacionamento é cara justamente para deixar o carro em casa, porque estacionar é caríssimo", opina. A estudante de veterinária Bárbara Fiúza opta por usar as vagas de estacionamento rotativo. Como precisa estacionar com frequência, ela compra os blocos que vêm com dez folhas e, assim, gasta menos tempo procurando um vendedor. Segundo a BHTrans, existem hoje 20.619 vagas de rotativo em 775 quarteirões de Belo Horizonte. Desde 2008, qualquer uma delas pode ser utilizada gratuitamente por até 30 minutos utilizando a área indicada na folha de rotativo. Ultrapassado este tempo, é necessário pagar o valor de R$ 2,90 por uma, duas ou cinco horas de estacionamento, de acordo com o que a vaga permite. Geralmente Bárbara faz uso da fração de 50 minutos, mas reclama da dificuldade de encontrar vagas que permitem estacionar por cinco horas. "Se você não tiver tempo, nem adianta tentar parar com rotativo. É melhor procurar um estacionamento mesmo", conclui.

Para fugir dos preços abusivos, motoristas acabam optando por estacionar em local proibido

O chaveiro Álvaro Ferreira trabalha na rua Paraíba, entre as avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas há 15 anos, e vende folhas de estacionamento rotativo. Segundo ele, são vendidos por semana, aproximadamente 100 blocos com 10 folhas custando R$2,90 cada. A maioria das pessoas compra a folha avulsa, mas segundo o chaveiro, é comum que os motoristas ultrapassem o tempo permitido pela vaga e sejam multados por isso. A multa para quem não respeita as regras do estacionamento rotativo é de R$ 53,20 e custa três pontos na carteira de habilitação. Quem não quer pagar o preço dos estacionamentos privados nem o rotativo, e encontra vaga, estaciona nas ruas. Regiões próximas às universidades ficam repletas de veículos, prin-

cipalmente na parte da noite. A demanda é tão grande, que mesmo existindo uma placa de "proibido estacionar" na rua Madre Beatriz Frambach, no bairro Coração Eucarístico, é praticamente impossível não encontrar uma longa fila de veículos parados no local. De acordo com o flanelinha Aílton Azevedo, que trabalha na região da PUC Minas há 18 anos, após as 19h só é possível encontrar vagas a três quadras de entrada da universidade. "Formam duas filas, uma para entrar e outra para procurar vaga. Vira uma confusão", conta Aílton. Para o secretário mu-

nicipal de Desenvolvimento, Marcelo Faulhaber, as tarifas altas nos estacionamentos privados de Belo Horizonte, a exemplo de países como Portugal, servem para desestimular os cidadãos a usarem carros de passeio diariamente, levando-os a optar pelo transporte coletivo. "A capital tem um plano de mobilidade urbana que está em curso e prevê a ampliação dos serviços prestados aos cidadãos pelas linhas de ônibus e metrô", explica o secretário. Mas e quem não abre mão de usar o próprio carro diariamente, vai conseguir estacionar? O secretário garante que sim. RENATA FONSECA

Edital prevê a construção de dez estacionamentos com 4 mil vagas A Prefeitura de Belo Horizonte lançou no início deste ano um edital de concessão para construção, operação e manutenção de estacionamentos subterrâneos em Belo Horizonte. Segundo Faulhaber, a construção de estacionamentos está prevista em dez locais da área central da cidade. Entre as que já são

conhecidas estão a Praça Sete, a Savassi, e a região do shopping popular Oiapoque. Os dez estacionamentos terão aproximadamente 400 vagas cada um e os concessionários terão o direito de explorar o empreendimento por 20 anos, como forma de ressarcimento do dinheiro investido. Após este período, as gara-

gens devem ser devolvidas ao poder público. O edital estabelece um teto para as tarifas cobradas no estacionamento subterrâneo e este valor pode ser reajustado para mais ou para menos, de acordo com a inflação e com a evolução da política de mobilidade urbana de Belo Horizonte. Segundo o secretário, a construção das

garagens subterrâneas não resolve totalmente o problema dos altos preços cobrados para estacionar na capital, mas a criação de 4 mil novas vagas apresenta-se como uma alternativa para lidar com o descompasso entre o espaço disponível e o número de veículos que circulam pela capital. Apesar dos altos preços, os estacionamentos estão quase sempre lotados


10Cidade

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Julho • 2012

CONFIANÇA NA PM DIVIDE OPINIÕES Apesar das tentativas de aproximação da comunidade, a Polícia Militar ainda gera algumas dúvidas quando o assunto é confiança. Pesquisadores e cientistas políticos analisam a situação RAQUEL DUTRA

n GABRIELA MATTE 3º PERÍODO

A questão da confiabilidade da população na Polícia Militar, tema abordado pelo MARCO em abril último, em sua edição 288, ainda gera controvérsias entre pesquisadores, cientistas políticos e a própria Corporação. A amplitude da discussão, pesquisas independentes e relatos de casos individuais são exemplos de fatores que podem gerar essa inconformidade de opiniões. Para o doutor em sociologia Luís Felipe Zilli, 34 anos, coordenador de pesquisa do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp), as polícias como um todo no Brasil, especificamente em Minas Gerais, têm se voltado menos para proteção do Estado e mais para a segurança pública, e, por isso, tem se tornado mais comunitárias. Porém, ele explica que essa mudança é lenta e é resultado de uma pressão social para que a polícia mude sua atuação. “Não é porque elas queiram. As polícias são muito resistentes a qualquer tipo de mudança, de abertura ou de transparência, mas porque é um caminho que é inevitável, a sociedade democrática exige uma polícia mais eficiente, mais aberta, mais cidadã, mais prestativa, mais pública”, defende. Nos últimos anos, segundo ele, ficou claro para a Polícia Militar que a sociedade não tolera mais o tipo de atuação que tolerava há 30 anos atrás. “Uma organização como aquela não tem espaço. Ela não é legitima. E ela não consegue se manter só na base da força. E para manter esse grau de legitimidade, ela acaba pontualmente operando algumas alterações na sua estrutura, mas que ainda resguardam um núcleo duro de formação militar”, analisa. No que diz respeito à formação militar dos policiais, o

A atuação da Polícia Militar de Minas Gerais é avaliada de forma diferenciada por especialistas entrevistados pelo MARCO doutor em ciência política Fernando Massote, 69 anos, defende que o primeiro passo para mudar a relação da polícia com a população é a mudança de seu estatuto para polícia civil, tanto no nome quanto na atuação. “O fato dela ser militar já a distancia do povo. Ela não é nem civil nem civilizada. A polícia militar trata todo mundo como se fosse bandido. Ela foi criada para reprimir. Isso é falta de preparo desses policiais, o erro está na estrutura, na preparação e na política”, critica. Em contraponto ao que diz o pesquisador Luís Felipe Zilli, o professor aposentado da UFMG, considera que a polícia não tem tentado mudar de forma alguma. Massote possui dois blogs na internet, um deles, há mais 15 anos, dedicado à reflexão e à critica da política, em todos os seus níveis, municipal, estadual, federal e internacional. Uma de suas

lutas, ele define como a “completa reinstalação do estado democrático de direito do Brasil”, pois acredita que a ditadura não teve fim efetivo no país. “A reimplantação do estado democrático de direito não se completou no Brasil no instante em que derrubaram a ditadura. O aparelho do estado está cheio de agentes que não agem segundo as leis: polícia militar, o judiciário, a polícia civil. Nós estamos ainda com um estado controlado por elementos antidemocráticos”, diz. PROBLEMA MUNDIAL Sobre a mudança de atitude da polícia de acordo com as classes sociais ou posições políticas das pessoas, Luís Felipe Zilli diz que isso acontece de fato, mas não é um problema somente brasileiro e sim, do mundo inteiro. “As organizações policiais tendem a ter uma atuação mais violenta, mais arbi-

Projetos tentam melhorar imagem da Corporação Com o objetivo de resgatar a confiança da população em relação à Polícia Militar de Minas Gerais, segundo a tenente Débora Santos Antunes, a Corporação desenvolve uma série de projetos. Um deles é o‘Polícia e Família, lançado em junho de 2011, como resposta não apenas à pesquisa da Secretaria de Estado de Defesa Social, como a outras de cunho interno. Baseado em um método de polícia comunitária trazido do Japão, o Projeto Polícia e Família promove a instalação de um policial fixo nos bairros de atuação que conheça as pessoas e seja identificado pelo nome. O seu diferencial é a disponibilidade de policiais para fazer visitas nas casas. Eles têm metas a cumprir de casas para visitar, orientando os moradores e entregando dicas de segurança. Segundo a tenente Débora, o projeto tenta personalizar o atendimento, visando criar identidade e descentralizar a atuação dos policiais, formando células mais próximas para ampliar o contato e confiança.

“Dar uma assistência personalizada ao cidadão, sem esperar ele ser vítima de um crime”, explica. No 16º Batalhão da Polícia Militar, o Projeto Polícia e Família foi instalado há dois meses e atende aos Bairros Floresta e Colégio Batista, na Região Leste de Belo Horizonte. Por enquanto, o trabalho dos 32 militares se resume à prevenção, fazendo ronda e contato com moradores e comerciantes. Posteriormente, se iniciará a fase de cadastramento das famílias. “O mais breve possível, esperamos no máximo daqui a um mês estar começando”, afirma o 2º Tenente do 16º BPM, Philippe Fernandes Viana, de 26 anos, coordenador do projeto nesses locais. Segundo ele, dados internos da PM indicam diminuição em 43% na criminalidade no mês de março nesses dois bairros, se comparado com o mesmo período do ano passado. Apesar de defender que a polícia está efetivamente mudando por pressão da população, o

doutor em sociologia Luís Felipe Zilli, critica que essa mudança para um policiamento mais comunitário por demanda da população está encapsulada dentro de unidades especificas. “Ela controla até onde essa mudança vai dentro da organização e da estrutura dela. Então quando se fala de policiamento comunitário, não estamos falando da Polícia Militar de Minas, estamos falando de subunidades da polícia militar”. Para ele, o erro está nos cursos de formação da polícia. “Se de fato houvesse uma preocupação institucional da Polícia Militar de mudar seus modos de atuação, a gente observaria isso nos cursos de formação”, observa. “De fato a PM faz um esforço, ou melhor, é cobrada e acaba cedendo, mas ao mesmo tempo se trai quando monta um curso de formação policial que não privilegia absolutamente em nada esse tipo de policiamento mais cidadão e mais próximo da comunidade. As mudanças são muito poucas e muito periféricas”, lamenta.

trária e mais truculenta com pessoas pobres, negras, moradores de periferia. Em bairros ricos, os moradores têm não só conhecimento, como poder político e poder econômico de fazer respeitar os seus direitos. O que não acontece nos bairros pobres, onde as pessoas não têm recursos, conhecimento ou amparo jurídico e legal o suficiente para se fazerem respeitar”, explica. Por outro lado, ele diz que uma minoria da polícia é truculenta e que isso vem melhorado muito nos últimos anos. No que diz respeito ao medo da polícia, o pesquisador Luís Felipe Zilli diz que os dados das pesquisas do Crisp demostram que a população não tem medo, mas que confia pouco na polícia como uma instituição capaz de resolver o seu problema de segurança pública e que uma forma de medir isso é o imenso indicador de sub notificação de ocorrências na cidade de Belo Horizonte. “Quando a Polícia Militar declara que em um mês ocorreram mil roubos em Belo Horizonte, historicamente a gente pode dizer que foi entre cinco a seis vezes mais do que isso porque a imensa maioria de roubos ocorridos não foram registrados pela população”, exemplifica. Ele diz também que, as pesquisas do Crisp são completamente desvinculadas e autônomas da Polícia Militar e que os dados são baseados em questionários aplicados numa amostra da população sobre questões de confiança na corporação, den-

tre inúmeras outras. O Centro de Estudos da UFMG utiliza dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) no que diz respeito a pesquisas sobre criminalidade. Os dados da polícia são baseados somente em boletins de ocorrência, o que dificulta a proximidade da realidade. “Algo em torno de 80% a 85% da população não registra ocorrência. Então, esses dados da PM são muito falhos”, diz. A tenente Débora Santos Perpétuo Antunes, chefe da Assessoria de Comunicação do Comando de Policiamento de Belo Horizonte, esclarece que a PM aproveita pesquisas de monografia e de estudos que são feitos nas universidades e nos cursos da polícia, e tem como parceria algumas fundações para realizar pesquisas próprias. Um desses órgãos é a Fundação Guimarães Rosa, uma entidade social que desenvolve dentre outras atividades, a de pesquisa. São aproveitadas pesquisas tanto de atendimento quanto de qualidade e relacionamento, é o que afirma. "Esse tipo de pesquisa é importantíssimo para o nosso trabalho, porém a gente também tem consciência de que a realizada pela PM nem sempre vai ter efetividade e sucesso, porque as pessoas se sentem acuadas, então nós fazemos também pesquisa, mas com policiais descaracterizados, sem usar farda", explica. Quando perguntada se ela acredita que a polícia merece o descrédito revelado pela pesquisa da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), que revelou, em junho de 2011, que 53,7% da população não confia no trabalho desenvolvido pelas polícias Militar e Civil, a tenente encontra brechas no resultado. "A pesquisa que a gente faz pela polícia não dá muito essa dimensão de inconfiabilidade. A aparência das nossas pesquisas é de que o serviço é melhor prestado. Às vezes a pessoa fica intimidada porque é um policial, ou é a insatisfação que ela demonstra ali, por causa de um momento de crise que ela viveu. Mas, em geral, a gente tem dados positivos", diz. Ela espera melhoria nos dados por causa das iniciativas da PM. "Eu acho que temos falhas, mas temos trabalhado em campanhas de divulgação, de marketing para que as pessoas conheçam melhor e se envolvam com o trabalho”, observa. “Não é só melhorar a imagem, queremos realmente melhorar a prestação do serviço", completa. RAQUEL DUTRA

Fernando Massote: Polícia Militar não está preparada para desempenhar suas funções


Cidadania Julho • 2012

11

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

MULHERES SOFREM COM VIOLÊNCIA A única delegacia da capital mineira especializada em crimes contra mulheres fica sobrecarregada com mais de quarenta atendimentos diários e elevado número de processos PAULA ZAIDAN

n MARINA NEVES LUÍS FELIPE SALGADO PAULA ZAIDAN 3º PERÍODO

As mãos nervosas segurando a bolsa e o olhar envergonhado de R.G.S., 28 anos, que prefere não se identificar, revelam a dor e o medo que ela sente ao falar sobre sua história de vida. Quando tinha 15 anos, a garota compreendeu o que havia acontecido entre ela e o pai, que a submeteu a abuso sexual aos 11 anos de idade. A mágoa misturada com o sentimento de ódio escondeu-se por muitos anos da vida de R.G.S., que manteve silêncio sobre a violência sofrida até a idade adulta. “Eu não entendia, só me lembro do meu pai dizendo para não falar nada para a minha mãe porque senão ela o expulsaria de casa. Eu resolvi esconder de mim mesma essas lembranças, mas não consegui mais”, conta. Este é apenas um entre muitos casos de mulheres que são vítimas de violência em Belo Horizonte e que procuram a única delegacia especializada para

mulheres situada na capital mineira. Localizada no Bairro Barro Preto, é uma das pioneiras do Brasil, inaugurada em 1985. É aberta 24 horas por dia incluindo um plantão que funciona desde 2009, que recebe, sobretudo, casos de flagrantes de violência. As mulheres que chegam à delegacia passam por uma assistente social que as acolhem e julga as suas reais necessidades. “É preciso um atendimento psicológico da mulher antes de se iniciarem os procedimentos policiais”, explica a chefe da Delegacia de Mulheres, Margaret de Freitas, 43 anos. Além disso, há também o tratamento psicológico de homens agressores, que são convidados pelos psicólogos do local. A delegacia atende em média 40 mulheres por dia, gerando um grande número de processos. “Nós encaminhamos cerca de 800 pedidos de solicitações de medidas protetivas à justiça por mês”, informa a delegada Margaret de Freitas. Esses processos são encaminhados às varas especializadas de

Margaret de Freitas é delegada da única delegacia destinada às mulheres mulheres do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. De acordo com a deputada estadual, Luzia Ferreira (PPS-MG), defensora dos direitos das mulheres, a resolução dos processos demora muito, pois existe um número reduzido de varas. “No Tribunal de Justiça só tinham duas varas especiais para dar

segmento às denúncias contra as mulheres e cada uma possuía demanda de 20 mil processos”, conta a deputada. Ela ainda completa dizendo que a principal falha está na precariedade de recursos humanos e materiais, sendo necessária a contratação de profissionais qualificados, como investigadores, escrivães e delegadas.

Com a grande demanda, o atendimento na delegacia é demorado. V.L.C., de 48 anos, já foi à delegacia cinco vezes e reclama que já chegou a esperar até seis horas por um atendimento. Após viver 25 anos com o ex-marido alcoolista, ela continua sendo vítima de ameaças e do medo. “Às vezes eu estou passando na rua e ele faz questão de passar perto de mim e falar assim: ‘tome cuidado. Se eu for preso, quando eu sair, vou acabar o serviço’. Então a gente fica com medo. Eu fico com medo até de andar na rua”, desabafa a mulher. Outra queixa frequente feita pelas mulheres diz respeito a demora da polícia para atender o chamado. Celina Maria de Almeida, 40 anos, conta que no dia anterior ao da entrevista, o ex-marido foi à sua casa de madrugada e começou a ofendê-la e ameaçá-la. Assustada, Celina resolveu chamar a polícia, mas a demora para o envio da viatura só serviu para deixá-la mais preocupada. “Eu chamei eles [a polícia] ontem e eles demoraram uns 40

minutos. Ele [ex-marido] foi embora depois que a polícia chegou. Fiz a ocorrência e eles disseram que iam andar pra ver se achavam, mas se ele voltasse era para eu ligar de novo. Eu fui dormir quase 4h da manhã preocupada e com medo dele entrar lá em casa”, lembra a mulher. Uma análise realizada pela pesquisadora dos núcleos de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) e de Estudos da Violência da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Wânia Pasinato, mostra que no ano de 2011, 8.763 vítimas de violência foram atendidas em BH, 7,4% a menos que no ano anterior, cujo número ultrapassou 9 mil. Para Wânia, cada caso deve ser estudado de maneira individual, mas o estudo pode refletir o desestímulo provocado pelo atendimento inadequado, seja por parte do policial que atende essas mulheres ou pelo fato da lentidão do processo.

Sentimento de posse por parte dos homens influi nas agressões “Existem três fases que a gente chama de ciclo da violência. Primeiro é a fase da explosão, tensão. Ele chega, briga, fala mais alto, agride moralmente e verbalmente. Depois ele passa para a agressão. Aí ele bate, espanca, briga. No terceiro momento vem a parte do amor, ‘nossa nunca mais vou fazer isso com você’. A mulher é

normalmente agredida nessa mudança do agressor e o ciclo vai se repetindo”. Quem explica é a psicóloga Isabella Maria de Almeida, 31 anos, que junto com outros cinco psicólogos e uma assistente social, formam a equipe responsável pelo acolhimento e pela orientação das mulheres que chegam à delegacia.

Em tempos modernos, as mulheres vêm se destacando no mercado de trabalho e na sociedade. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo de 2010, 38,7% das mulheres, cerca de 22 milhões, são responsáveis pela renda familiar no Brasil. Outra pesquisa

realizada pelo instituto e divulgada em 2011, a Pesquisa Mensal de Emprego, constatou que houve um aumento da participação feminina no mercado, que passou de 43%, em 2003, para 45,3%, em 2010. O valor da mulher, entretanto, modificou-se ao que predominava anteriormente. Ainda é possível identificar a forte

presença da sociedade patriarcal, na qual o moralismo inflexível e machismo acabam por influenciar as atitudes das mulheres. “A gente percebe, inicialmente, que essa situação está muito ligada à questão de posse e poder. O homem bate e agride porque ele sente posse da mulher. Desde sempre, a mulher saía do

domínio paternal do pai e ia para o do marido. Muitos homens também não têm noção da violência, por uma questão cultural; eles acham que se ela der casa, comida, roupa lavada e servir sexualmente quando ele quiser, isso já é casamento. Para ele então, não é violência bater às vezes”, aponta Isabella. ARQUIVO DO GRUPO

Em peça teatral, bombeiros ensinam sobre prevenção n JULIANA SILVEIRA 1° PERÍODO

Para levar a prevenção de acidentes de forma divertida e descontraída, o Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte criou o grupo de teatro “Pelotão 193”, que narra situações reais de modo exagerado e engraçado. Começou em 2002 com uma brincadeira no Batalhão da Antônio Carlos, quando surgiu a ideia de fazer um grêmio com várias apresentações artísticas do corpo de bombeiros, daí montaram o inicio de uma peça. A peça que se chama “Fala a verdade” foi escrita pelo sargento Carlos José, 43 anos, que conta como foi a criação. “Começou como uma brincadeira, contando coisas do dia a dia, por isso chama “Fala a Verdade”,

tudo o que a gente conta aí aconteceu, há testemunho verídico disso. Só que a gente coloca um exagero nas coisas, e vai agregando mais informações ao longo das apresentações. A nossa ideia é que isso faça diferença na vida da pessoa, e usando uma linguagem fácil de ser entendida”, afirma. Ao longo da apresentação são passados 28 itens de prevenção, que vão desde coisas simples até as mais complexas. Entre os temas abordados estão: parto, gravidez na adolescência, vazamento de gás, incêndio, cuidados na piscina e na praia, suicídio, drogas, salvamento de animais, álcool, bebida alcoólica, gambiarra, uso de extintor, preconceito e transporte de vítimas. O grupo conta com seis atores, cabo Sena, cabo Carmo,

sargento Isabel, sargento Jannis, sargento Moura, sargento Carlos José e um diretor, cabo Ricardo. Nestes dez anos, segundo o diretor, o grupo já fez mais de 300 apresentações em mais de 53 municípios de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. Mais de 60 mil pessoas já assistiram à peça, e quando eles se apresentam em empresas, arrecadam alimentos não perecíveis para doação. Com as apresentações, já conseguiram mais de 70.000 quilos de alimentos e beneficiaram por volta de 143 entidades. O trabalho inovador do Corpo de Bombeiros é reconhecido em todo o país, tanto que foram convidados para participar do Seminário de Boas Práticas do MERCOSUL, na Bahia, em 2009. Sobre o convite, o capitão Alysson Alexandre Malta, 37

O grupo teatral se apresenta na Cidade Administrativa de Minas Gerais anos, comenta: “Foi uma junção de prêmios que nos levou para lá, incluindo os prêmios da Secretária de Defesa Social em 2007 e 2008. Ai a gente foi ganhando nome e uma comissão do MERCOSUL achou melhor o ‘Pelotão’ representar o Brasil”. Além das apresentações gratuitas, o grupo se apresenta no

Teatro Marília duas vezes por ano, onde levam um espetáculo mais elaborado, com efeitos sonoros e de iluminação de melhor qualidade e com um cenário mais completo. Segundo o sargento Carlos José, o objetivo maior de todo esse trabalho é passar a prevenção através da arte e do humor.


12Cidadania

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Julho • 2012

ESCOLA PROMOVE AULAS DE SKATE Entre outras atividades, a Escola Municipal Professor Amilcar Martins oferece oficinas de skate. O objetivo é tirar crianças da rua nos fins de semana e integrar escola e comunidade RAQUEL DUTRA

n ANA CAROLINA SIMÕES 1º PERÍODO

Fim de semana pela manhã, a Escola Municipal Professor Amilcar Martins, no Bairro Santa Amélia, na Região da Pampulha, abre as portas para alunos e membros da comunidade com diversas atividades como informática, hip-hop, street dance, futsal, bicicleta, e a de mais sucesso: o skate. Garotos de todas as idades dividem o espaço com o incentivo dos coordenadores e oficineiros. O projeto começou quando o coordenador Luiz Henrique de Oliveira, 24 anos, estudante de Educação Física, começou como Amigo da Escola, fazendo apresentações de skate para mostrar aos alunos um pouco sobre a prática. Com o interesse deles, Luiz conseguiu entrar com o projeto de oficina de skate na Escola Aberta. Ele conta que o objetivo principal é integrar a escola com a comunidade, oferecendo atividades para tirar as crianças e adolescentes das ruas nos fins de semana. "Existe o objetivo de tirar o aluno da rua, da periferia, das drogas, da prostituição, porque isso existe mesmo com as crianças. É uma realidade no Brasil. E com esse projeto a gente vê mesmo que conseguimos os meninos da rua. Eles estão aqui na escola fazendo atividade", justifica.

A oficina de skate é a mais procurada e possui cerca de 250 integrantes que se esforçam para fazer manobras em meio aos obstáculos A prefeitura é a responsável pela parte financeira e o trabalho coletivo entre coordenação, direção e oficineiros do projeto é essencial. Em média 750 a 1 mil pessoas frequentam o projeto por mês. A oficina de skate é a mais procurada com cerca de 250 integrantes. Segundo a prefeitura, o projeto foi lançado em outubro de 2004 e o programa Escola Aberta hoje mantém

85 escolas abertas nos fins de semana. A escola também incentiva a prática com a construção de obstáculos e a reforma do espaço. Leonardo Augusto Marques de Faria, estudante de 18 anos, começou a andar de skate no projeto há quatro, quando alguns meninos que frequentavam o chamaram para participar. Hoje ele é oficineiro e ajuda a

ensinar os meninos que querem aprender também. "O bom é que não tem rivalidade nenhuma. Às vezes você ganha, às vezes você perde, mas os caras dão apoio independente do resultado", afirma. Assim como ele, mais quatro garotos do projeto Escola Aberta conseguiram patrocínio de lojas de skate, o que faz com que eles tenham mais incentivo com a

prática do esporte, apoio na compra de peças e inscrições para campeonatos. "Todo mundo aqui começou junto, sabe? Hoje muitos têm apoio. O coordenador também está abrindo o negócio dele agora e apoiando alguns meninos. Como a gente cresceu junto, a gente se ajuda pra continuar a crescer mais", conta Leonardo O projeto Escola Aberta atrai novas pessoas interessadas em participar pelo fato de a comunidade não ter muito acesso a programas como este. Izabela Silveira Costa, 16 anos, estudante, visitou o projeto pela primeira vez e conta que o achou muito interessante ao oferecer um espaço para que as crianças e adolescentes não fiquem nas ruas. "O projeto é legal porque dá oportunidade às crianças de terem um contanto com a dança, a música e esporte, que os pais não poderiam proporcionar sozinhos por causa das condições. O skate é um dos esportes mais legais na minha opinião", afirma. Para a comunidade, o projeto tem um retorno muito positivo. Pais e moradores procuram agradecer e elogiar a iniciativa. Isso serve de incentivo para que eles continuem o trabalho, apesar das dificuldades encontradas como problemas financeiros e os perigos que envolvem abrir as portas para todos da periferia que quiserem entrar na escola.

Projetos e eventos popularizam prática do esporte na comunidade Em Belo Horizonte existem muitos eventos de skate. Todo mês skatistas de Belo Horizonte, Contagem, Itabira e Nova Lima participam do que chamam de game de rua, campeonato que ocorre no viaduto Santa Tereza,

o "Game of Skate". Além de campeonatos no Parque das Mangabeiras, Parque Nossa Senhora da Piedade e a nova pista de Nova Lima, a Arena da Juventude, inaugurada em abril, é a maior de Minas Gerais, com capacidade

para 3 mil espectadores e 300 skatistas com várias categorias para atender pessoas de todas as idades, principalmente o público feminino que também vem aumentando muito. A prática encontra apoio de diversas marcas e

lojas de skate que apoiam eventos e atletas amadores em troca de divulgação. Isso tem acontecido cada vez com mais frequência em Belo Horizonte. Leonardo Marques diz que o patrocínio de marcas é para poucos atle-

tas na capital e explica como funciona o patrocínio. "Dão uma cota de produtos por mês, pagam as inscrições pro campeonato e com isso o skatista divulga andando de skate nos campeonatos com a camisa da loja. Aí

você deve pensar: não deve dar retorno nenhum, mas as pessoas veem você com a camisa vão procurar saber por que e procurar a loja. Tem muita loja nova ultimamente procurando novos skatistas e apoiando na cidade." ÍGOR PASSARINI

Parceria garante reinauguração de pista na Região Nordeste n NATHALIA CASSIOLATO SCHEILLA CAMPOS ÍGOR PASSARINI 1º, 2° E 3° PERÍODOS

A pista de skate do Parque Ismael de Oliveira Fábregas, localizado no Bairro Nova Floresta, passou por mudanças e foi reinaugurada, no fim de junho, com um evento que reuniu estrelas do skate nacional. A obra faz parte do projeto Fix to ride que como o próprio nome já diz é "Arrumar para andar", pegar uma pista que está ruim e torná-la acessível novamente. Esse projeto começou na Argentina e teve a terceira edição no Brasil, sendo realizada uma a cada ano. As outras duas edições foram no Rio de Janeiro em 2010, no

bowl do Arpoador que estava abandonada e é uma das primeiras pistas do país, e no ano passado em Porto Alegre, na pista do IAPI, que se encontrava bastante danificada e com equipamentos obsoletos. Chefe do Departamento de Parques da Região Nordeste de Belo Horizonte, Luiz Carlos Mamede, 42 anos, diz que a iniciativa do projeto foi da Converse Skateboard. "A Fundação de Parques Municipais recebeu o projeto com entusiasmo e se colocou prontamente à disposição da equipe do evento para, juntos, executarmos o projeto", conta Luiz. Ele relata ainda que a Fundação ajudará com mão de obra e algum material de

construção, além da quadra de futebol que sofrerá intervenção e melhorias. Jarbas Alves Arcanjo Neto, 27 anos, é skatista profissional pela Converse há seis e conta que a escolha da pista no Nova Floresta se deve ao fato dela já estar incorporada à rotina do skate em Belo Horizonte e de estar em condições muito ruins para a prática do esporte. "O bowl não era andável porque tinham feito uma reforma anterior de forma errada. Pela primeira vez vai dar para se andar de skate, vai dar para evoluir. Estamos fazendo um ‘Plaza’ por ser um conceito mais recente de pista que é feito imitando realmente os obstáculos que se encontram na rua", diz Jarbas. Para ele,

mesmo com as novidades, o objetivo foi manter alguns aspectos pela história do Nova Floresta e por características que fazem parte da pista. “As laterais, que são metades de manilhas, aumentam a dificuldade e são o grande xodó de quem anda aqui. É uma pista atual, mas sem perder a essência dela, das raízes", completa. Vinícius Fernandes, 28 anos, é biólogo, mora próximo ao parque e conta que desde que ganhou o primeiro skate há 13 anos, nunca mais parou de andar na pista Nova Zoo. Vinícius comenta que a reforma foi muito bem recebida pela vizinhança porque o local anda mal frequentado e com essa revitalização famílias vão poder utilizá-lo

Pista de skate no Bairro Nova Floresta foi reformada recentemente novamente. O morador ressalta como é importante que uma pista tradicional como essa esteja novamente voltando à ativa "Os skatistas profissionais de BH começaram a andar por aqui. Aqui foi praticamente a pista skate Parker pioneira e agora podemos recuperar essa tradição trazendo os skatistas de volta para cá", diz.

A manutenção da pista ficará a cargo da Fundação de Parques Municipais da Prefetiura de Belo Horizonte e a Converse Skateboard está discutindo com a administração municipal para que ela troque a iluminação por uma melhor, ative os banheiros, coloque bebedouros e continue mantendo a integridade do espaço.


Comportamento Julho • 2012

13

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

MÚSICA CLÁSSICA NAS RUAS DE BH O violista Anderson Quintiliano se apresenta todos os dias na esquina da Rua Tupis e Rio de Janeiro, no centro. Seu desejo é levar seu trabalho com música clássica à todas as pessoas VINÍCIUS ANDRADE

n FERNANDA COSTA SARA MARTINS VINÍCIUS ANDRADE 3º PERÍODO

Em uma esquina movimentada no centro da cidade de Belo Horizonte um rapaz apresenta seu trabalho para os pedestres. Ele não é um vendedor, engraxate ou panfleteiro. Sua profissão: músico. Com trajes sociais, uma viola de arco e um repertório variado, Anderson Quintiliano, 23 anos, chega a uma esquina movimentada no centro de BH: Tupis com Rio de Janeiro. São 9h e ele trabalha ali até às 17h quase todos os dias. A relação de Anderson com a música começou aos 7 anos. Motivado pela vontade de praticar algo diferente dos colegas e que o fizesse sentir bem ele frequentava a prefeitura da cidade em que nasceu, Ribeirão Pires (SP), à procura de oficinas e cursos. "Com sete anos eu já pensava assim, de ficar no meio de pessoas cultas, ser uma pessoa respeitada pelo que eu faço e não uma pessoa que recebe ordens", diz. Na prefeitura de Ribeirão Pires, Anderson começou a aprender flauta doce. "Eu não conhecia a viola ainda. Ouvia o som do violino em outra sala, um dia eu subi e perguntei se podia ver a aula, o professor disse que sim. No final eu perguntei se podia fazer aula de violino, e o professor me perguntou por que não aprendia a tocar viola, um instrumento menos procurado. Ele mostrou o instrumento e eu gostei demais", conta Anderson.

Foi assim que aos 10 anos de idade Anderson conheceu o instrumento que está até hoje aprendendo a tocar. "Não me considero especialista no meu instrumento, acho que tenho muito o que estudar ainda", afirma. Atualmente o "violista da esquina", como Anderson é conhecido, estuda na Fundação de Educação Artística (FEA), e participa da orquestra que se apresenta todo ano. O violista também tem aulas particulares com o professor Eliseu de Barros, da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, e vai constantemente ao parque municipal ou ao espaço da FEA para estudar. Anderson tem planos de prestar vestibular para música na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Estou estudando para fazer vestibular, talvez no ano que vem", diz. Como ele vai conciliar a universidade com sua vida corrida e suas frequentes viagens? Nem ele sabe. "Não tem que pensar, tem que fazer. Se você ficar pensando, você não faz nada.", afirma ele.

ESQUINAS Depois de quase 12 anos de estudo e prática surgiu a ideia de levar a sua arte para as ruas. A inspiração veio de um vídeo publicado na internet em que o violinista americano Joshua Bell apresentou sua música em uma estação de metrô de Washington. "Ele foi bem remunerado, pelos cálculos que fiz. Então eu resolvi experimentar fazer isso", conta. Anderson explica que quando começou a tocar nas ruas da cidade, há

estar muito familiarizado com o instrumento e ter um repertório bem preparado. Além disso, precisa haver segurança quanto à decisão tomada e não se importar com o que os outros podem pensar, é a opinião de Anderson. No começo o músico refutou a ideia por vergonha e pela incerteza da profissão. "A gente fica meio receoso pensando: 'será?'. Esse 'será' não pode ficar na cabeça da pessoa, tem que enfrentar o medo de cara", conta. .

Anderson Quintiliano se iniciou em música aos sete anos quase dois anos, foi por dinheiro, mas atualmente este não é o seu principal objetivo. "Tenho essa ideia de trazer (a música clássica) às pessoas que não têm acesso ou não tem condições financeiras pra irem aos concertos. No início eu tocava mais pela questão financeira mesmo", diz. Atualmente seu sustento vem principalmente de apresentações musicais em eventos. Anderson é muito convidado para tocar em casamentos e outras cerimônias, para as quais cobra, em média, R$ 300. Ele também acompanha bandas musicais em seus shows, e nesses casos o

cachê varia muito. "Depende do tipo de arranjo, do tempo que vai demorar pra fazer ele, o tempo que vai tomar pra fazer o trabalho", explica. Outras fontes de renda são a orquestra da fundação e as aulas particulares que Anderson leciona, mesmo que em pouca quantidade, "Eu estou com apenas três alunos. Na verdade eu não quero dar aula. Não tenho muito tempo pra isso, só dou aulas particulares que não são fixas, são marcadas para que não me atrapalhem, porque eu tenho muitos eventos", diz Anderson. Para levar música às ruas o profissional deve

ALIADOS Agora que Anderson se adaptou a trabalhar nas ruas, cada pessoa é uma grande aliada. Nas esquinas Anderson consegue uma ampla divulgação de seu trabalho e é convidado para eventos diversos. Ele afirma que essa publicidade é melhor do que sites ou vídeos na internet, pois as pessoas têm a oportunidade de conferir o seu jeito de tocar e a qualidade de sua música e se sentem mais seguras para contratar alguém cujo trabalho já avaliaram. As ruas também proporcionam a Anderson o contato com um público que reconhece seu trabalho. "Acho muito gratificante, as pessoas param, batem palmas, pedem músicas", relata. Ele afirma que nunca foi desrespeitado por nenhum pedestre, não costuma ser incomodado por mendigos e nunca foi assaltado, mesmo com a caixa da viola aberta no chão à sua frente e salpicada de notas e moedas. Cleunice Antônia Zula, 37, que trabalha como balconista em frente à

esquina das ruas Rio de Janeiro com Tupis, onde Anderson costuma tocar, conhece a música do rapaz, considera-a muito bela e observa a reação do público: "O povo gosta, ajuda um pouquinho como pode, contribui com dinheiro e com a atenção dada a ela", diz.

ESCOLHAS O traje é normalmente social, mas nos finais de semana, quando está mais tranquilo se veste com roupas mais informais para "ficar mais leve", e isso influencia na recepção do público. "A aparência hoje em dia é quase tudo. Um repertório que condiz com o ambiente também é igualmente ou mais importante. "Procuro variar músicas populares com clássicas, porque assim chamo atenção. As pessoas escutam, param para ouvir a música popular que conhecem, ficam para ouvir um pouquinho mais, vou intercalando e as pessoas ficam entretidas", afirma Anderson. A auxiliar de legalização Juliana Silva, 27, não entende muito de música clássica, mas gosta de ouvir as canções populares presentes no repertório do violista. "Ele também toca músicas que a gente conhece, isso é bom", diz. Quando perguntado por que considera tão importante para as pessoas esse contato com a música, explicou que música vai além de tocar um instrumento ou cantar, "Música é aquilo que mexe com a alma, com o sentimento, que alivia as pessoas, mexe com novos horizontes", afirma.

Cuidados ao conviver com portadores de TOC n MARIANA OZÓRIO 1º PERÍODO

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) além de ser uma doença mental grave, está entre as dez maiores causas de incapacitação, em 10% dos casos a doença incapacita os portadores para o trabalho e pode ocasionar sérias limitações ao convívio social. A doença se caracteriza por um padrão de pensamentos e comportamentos repetitivos que, apesar de não possuírem nenhum sentido, aprisionam a pessoa, tendo ela extrema dificuldade de evitá-los. Essa doença acomete principalmente indivíduos jovens ao final da adolescência podendo, em muitos casos, iniciar-se na infân-

cia. Entretanto, a doença não se restringe somente ao portador da doença, ela acomete a rotina familiar, exigindo que os familiares se adaptem aos sintomas. Esse é o caso de Paula Vanessa Silva Ferreira França, 33 anos, casada há 12 com Leonardo Ralindo França, 35, que é portador de TOC. Paula diariamente precisa se adaptar aos sintomas da doença do marido.

HISTÓRICO Eles se conheceram na PUC Minas quando cursavam uma matéria de história juntos. Apesar de Leonardo ter se tranferido pra a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o contato entre eles permaneceu e um ano depois começaram a namorar. No início do namoro, nem Paula e nem Leonardo desconfiavam

que ele era portador de TOC, pelo contrário, imaginavam que seus comportamentos repetitivos eram apenas manias, como a "mania" dele de arrumar o guarda roupa de Paula. "Eu nunca pude pegar uma roupa dentro do meu guarda roupa. Porque ele não deixa, para não atrapalhar. As coisas são arrumadas por cor, por tamanho, por data [de compra] - o que está mais novo tá na frente, o que tá mais velho ou que ele acha que eu não uso mais, está mais atrás", conta. Leonardo, além de arrumar o guarda roupa da esposa, ainda possui obsessão de limpeza, ele limpa a casa e troca os móveis de lugar com frequência. Quando está em um momento de crise, Leonardo chega a limpar a casa três vezes ao dia. Paula ainda comenta sobre

o fato de o marido mudar os móveis sempre. "Eu brinco que se a gente tivesse aqui em casa alguém que não enxergasse, ia ficar doido, porque você nunca sabe onde o móvel está. A mania é tão grande de limpeza e tudo, que ele não acha que limpou a casa se não tirar nada do lugar", diz. Entretanto, como afirma Paula Vanessa, apesar desse cuidado excessivo com a casa, consigo mesmo Leonardo não se preocupa e foi em uma dessas situações que eles descobriram que ele era portador do Transtorno Compulsivo Obsessivo: ele recusou-se a tomar banho por uma semana. Paula Vanessa relata uma ocasião em que eles chegaram atrasados em um casamento, no qual seriam padrinhos, por causa da doença de Leonardo. Na hora em que

ia sair, Leonardo descobriu que o filho do casal, João Pedro de quatro anos, havia derramado um pouco de iogurte na sala e que por causa disso, o marido parou tudo que estava fazendo para limpar todo o cômodo.

TRATAMENTO

O TOC é uma doença que pode ser tratada ou pelo menos controlada por meio de remédios, mas é de grande importância o acompanhamento psicológico do doente, para que ele possa compartilhar com alguém as dificuldades das tentativas de controlar os impulsos ou até mesmo aprender a não ceder a eles. Leonardo, como um portador da doença, faz o tratamento com medicamentos, mas recusa-se a fazer tratamento terapêutico, sempre dando uma desculpa para

não ir a um psicólogo, como afirma a esposa. As dificuldades que os sintomas da doença impõem aos familiares podem levar um casal a separar-se e isso já quase aconteceu com Leonardo e Paula. "Depois quando vai passando o tempo, você vai vendo que você vai ter que conviver com aquilo ali, a gente já teve várias vezes a ponto de separar exatamente por causa disso. Você começa a ver que de repente você vai ter que conviver com uma pessoa, que tem problema, que você vai ter que respeitar esses problemas e às vezes não está na sua capacidade", afirma. Paula hoje vai ao psicólogo quinzenalmente para poder suportar a situação e aprender a lidar com o marido.


14Cultura

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Julho • 2012 THIAGO DE BARROS

NOVO PROJETO DE ZECA BALEIRO n THIAGO DE BARROS TÚLIO OLIVEIRA 8º PERÍODO

Zeca Baleiro, um dos artistas mais emblemáticos da música brasileira, que realiza uma série de shows para a divulgação de seu novo CD, intitulado "O Disco do Ano", já planeja um outro trabalho. Zeca pretende fazer um disco de música infantis, que ele classifica como uma Arca de Noé, pois contará com vários convidados, dentre eles Frejat e Tom Zé. "O projeto está em obra, apesar da ideia já existir há muitos anos. Eu comecei minha carreira fazendo trilha para o teatro infantil, então é um negócio que já estava em mim. Quando meus filhos nasceram eu fiz muitas canções e fiquei com vontade de gravar. Eu desejo fazer esse trabalho por uma questão afetiva, embora eu saiba que é um disco que tem um potencial incrível. Espero finalizar até o fim do ano e lançar no ano que vem", anunciou. O novo projeto está sendo elaborado em meio a uma agenda intensa que Zeca deve cumprir até o final de 2012 com o "Disco do Ano". A ironia, marca registrada do artista, encontra-se presente no título do projeto, pois trata-se de um álbum de protesto contra o

Jornalismo Cultural Brasileiro. Com participações especiais como a de Chorão na música "O desejo" (um rapp) e de Margareth Menezes na canção "Último Post" (um reggae), o repertório é marcado por variação de estilos musicais, como afirma o próprio cantor. "É um disco bem variado em termos de ritmo e temática. Tem um fato especial, pois tivemos 15 produtores, cada um fazendo uma música e, em alguns casos, dois produtores trabalhando numa mesma faixa. Isso deu um colorido para o disco no sentido da produção. É um álbum como os outros, cheio de cores, ritmos e gêneros diversificados", explicou. No trabalho, destaca-se a música "Mamãe no Face", que satiriza as redes sociais e faz uma ironia clara a crítica cultural do país com trechos como "mamãe, eu fiz o disco do ano [...] só falta que a Folha de São Paulo comece a incensá-lo, dizer que eu sou o cara. Ou então, que os rapazes da Veja me chamem pruma cerveja, veja só que coisa rara." A canção, que assemelha-se a um tango argentino, mostra exatamente a diversidade de ritmos utilizados pelo cantor, assim como ocorre na canção "Meu amigo Enock", que também fala das redes soci-

ais e tem um som mais voltado para o rock new have. O cantor, que classifica-se como um ouvinte assíduo de todos os estilos musicais, conta que vai temperando seus álbuns seguindo a lógica do seu tempo e o seu próprio humor. "Eu gosto de me aventurar pelos vários territórios da música. Como compositor, naturalmente, eu me aproprio de muitos estilos para me expressar através do meu trabalho", destacou. TRAJETÓRIA Zeca Baleiro, que acumulou cinco discos de ouro e quatro indicações ao Grammy Latino, já apresentou-se por diversas vezes na Europa. Nascido em 11 de Abril de 1966, o talentoso compositor maranhense ganhou o apelido de "Baleiro" por causa de sua mania de consumir balas durante o período de faculdade. Depois disso, ele chegou a abrir uma loja de doces e balas, momento em que adotou definitivamente o apelido. Sua ascenção no cenário musical ocorreu em 1997 após participação no Acústico MTV de Gal Costa com a canção "A flor da pele". Depois disso, o cantor ganhou projeção nacional com seu primeiro disco, chamado "Por onde andará Stephen Fry?". Segundo Zeca, essa obra foi a

Zeca Baleiro faz uma turnê de divulgação do novo trabalho intitulado “O Disco do Ano” e planeja disco infantil mais especial, justamente por ter lançado a banda em nível nacional. "Esse disco tem uma força incrível, era um trabalho de chegada, apesar da gente ser imaturo em certos sentidos. Mas o CD teve uma repercussão muito boa. Tanto é que depois de 15 anos, várias canções ainda são tocadas", enfatizou. Em 1999, Zeca lançou seu segundo trabalho, com o título de "Vô imbolá". Apropriado para um momento de consolidação do nome do artista, o disco já trouxe algumas das peculiariedades que seriam encontradas nos shows de Zeca, como o figurino extravagante do cantor, as misturas de estilos musicais e as ironias feitas à sociedade. Os discos seguintes, "Líricas", "PetShopMundoCão" e o trabalho com Raimundo Fagner ("Raimundo Fagner e Zeca

Baleiro"), são destaques na carreira do artista. "São vários discos importantes na minha trajetória. Mas o disco com o Fagner, do qual eu me orgulho muito de ter feito, rendeu um trabalho sensacional e, certamente, é um dos mais especiais da minha carreira", salientou o artista. A trajetória de sucesso continuou com outros trabalhos importantes, como os discos "Baladas do asfalto e outros Blues", "Lado Z" e "O Coração do HomemBomba". No último álbum citado, Zeca lançou alguns de seus sucessos, dentre eles a música "Vai de Madureira", que foi tocada na novela "Aquele Beijo" da Rede Globo, que ficou no ar entre 2011 e 2012. "Ter música em novela sempre atrai uma repercussão boa, já que as rádios hoje não tocam com o devido empenho os trabalhos musi-

cais. Então música em trilha de novela acaba cumprindo uma função importante, pois chega a um público mais amplo e traz mais visibilidade para os artistas", enfatizou Zeca Baleiro. Em 2010, quando celebrou 13 anos de carreira, Zeca lançou o pacote "Vocês vão ter que me engolir", que tinha dois discos: "Concerto" (gravado ao vivo no teatro Fecap/SP) e "Trilhas" (uma coletânea das trilhas que ele fez para cinema e dança). No mesmo ano, ele lançou o livro "Bala na Agulha, Reflexões de boteco, pastéis e outras frituras". O livro reune nas primeiras 160 páginas textos que Zeca Baleiro publicara em seu site na internet desde o ano de 2005, com temas diversificados como religião, comportamento, literatura, gastronomia, cinema, entre outros.

A tradição do choro e seu público na capital n MOUNI DADOUN 6ºPERÍODO

Aos 38 anos, o músico Raphael Freitas diz não saber de estilo musical mais sensível que o choro. Para ele não há emoção mais bonita. "Talvez porque o choro seja a forma mais natural e humana de se demonstrar um sentimento, tanto na alegria quanto na tristeza. É confraternização alegre, em harmonia. É a música clássica tocada com pé no chão, calo na mão e alma no céu", afirma. A capital dos bares também pode ser considerada a cidade em que se destaca o samba e o choro. Tradicionalmente, o circuito de samba e choro percorre por bares espalhado para todos os cantos da cidade, como o Bar do Salomão, A Casa de Cultura Bar, Godofredo, dentre outros. Junto a família, todas às quintas feiras, Rodrigo Freitas de Melo, de 26 anos, estudante de Direito da UFMG, vai ao tradicional Bar do Salomão, localizado na Rua do Ouro, Bairro Serra. Rodrigo afirma que desde pequeno frequenta o lugar não só pelo ambiente, mas também pelo choro. "Meus pais sempre gostaram de samba e choro e des-

de que se conhecem frequentam lugares em que o choro ao vivo é apresentado por vários grupos diferentes. Então, desde pequeno, sempre os acompanhei, como até hoje, no Bar do Salomão", afirma. O flautista Joaquim Calado é considerado um dos principais colaboradores para a fixação do gênero, quando incorporou ao solo da flauta transversal dois violões e um cavaquinho que auxiliam na improvisação. Em termos de música, o choro segue a forma do rondó. Segundo o músico André Orandi, de 25 anos, o chorinho era uma maneira livre e espontânea de fazer música, por isso o seu transporte tinha de ser rápido e fácil. "Era um som que tinha que ser tocado aqui, e depois ali, e depois lá... conforme o ritmo dos bares", disse. Segundo ele, foi por essa necessidade prática que o baixo acústico, por ser muito grande, foi substituído pela sétima corda do violão - "corda que proporciona notas mais graves". Músico há cinco anos, Diego Alves dos Santos, de 29 anos está criando um grupo de samba e choro e afirma que Belo Horizonte é um grande atrativo para quem deseja se divertir. Ele

afirma que a capital mineira possui muitos espaços em que esses estilos musicais são bem dinamizados através da música ao vivo. "Felizmente os grupos independentes de samba e choro estão expandindo o cenário cultural de BH", diz. Diego ainda afirma que o crescimento da criação de grupos musicais para a expansão desses estilos é muito importante, mas que o couvert artístico tem de ser cada vez mais acessível, mesmo porque, de acordo com ele " o choro é um estilo popular, mesmo que tenha alcançado uma classe mais elitista." Muitos bares se transformam em casa de shows e aumentam o preço do couvert, em contrapartida, muitos mantém a característica popular de ambiente aberto, mais familiar", comenta. ESPAÇOS Aos 52 anos, a historiadora Maria Cecília Pedrosa sempre vai com o marido Hélio Gomes Pedrosa, de 64 e família, no Bar Cartola, em que diversos grupos apresentam choro e samba e dedicam seus shows a grandes nomes da música brasileira. O espaço é localizado no Bairro Caiçara. "Levo meus filhos e netos. É bom para eles se acostumarem. Hoje a músi-

ca está muito banalizada. Sempre escutei samba e choro e procuro levar essa cultura aos meus filhos e netos. Ainda na capital mineira, o Bar Pedacinho do Céu, tem como principal atrativo o chorinho. Como decoração instrumentos musicais, fotos e caricaturas, podem ser vistos e caracterizados como itens que fazem do estabelecimento um espaço diferente. Já o Bar Godofredo , que fica no Bairro Santa Tereza, traz a idéia de ser um reduto dos apreciadores de música brasileira. As terças, por exemplo, Gabriel Guedes, que é proprietário do bar e filho do cantor Beto Guedes, apresenta alguns sucessos do choro. Desde 1989, o grupo Flor De Abacate faz um trabalho pioneiro em Minas Gerais de pesquisa, estudo e divulgação da música instrumental brasileira, com destaque para o choro. Assim como a Orquestra Tabajara, que além de ser a orquestra mais antiga em atividade no país, certamente trouxe a modernidade para a música brasileira, ao final dos anos 40. Ana Cláudia, de 32 anos, diz sempre acompanhar os shows do grupo. A empresária conta que começou a

frequentar os shows na Feira Tom Jobim. Ela afirma que a integração de pessoas de diversas idades é interessante e enriquece as criações musicais. "É uma mistura bacana, que ajuda na contínua construção do choro. Essa diversidade de idades não se é apenas vista em grupos musicais, mas também no público. Eles conseguem atrair variado público mesmo com o choro tradicional", diz. O grupo se apresentava na Feira Tom Jobim. Foi quando começaram as participações das bandas de choro nas tardes de sábado, que se tornaram tradicionais, assim como seu público. A banda participou do Projeto Pizindin Choro no Palco, em março de 2012. O público de samba e choro belo-horinzotino está a espera de mais apresentações e programações do grupo. SAMBA E CHORO O choro, nascido em 1870, no Rio de Janeiro, era considerado uma versão brasileira para as músicas estrangeiras da época, como o europeu "xote", valsa, a polca e o africano lundu, de caráter popular. Durante a pósabolição da escravatura, uma nova classe média, composta de pequenos

comerciantes e funcionários públicos, surgiu. O estilo que de início era uma forma mais emotiva de interpretar uma melodia, foi se espalhando pela sociedade. O músico Henrique Cazes, autor do livro Choro Do Quintal ao Municipal, obra mais completa publicada até hoje sobre o chorinho, defende que é nessa forma mais chorosa de executar uma melodia que está a origem do termo. Outros acreditam que tem a ver com a transformação da palavra "xolo", que era um tipo de baile, típica de escravos. Além do violão de sete cordas e da flauta transversal, outro instrumento essencial é o pandeiro. O cavaquinho, o bandolim, e o violão comum, também são opções para um bom chorinho. Entretanto o chorinho com mais instrumentos de sopro, como a clarineta e o trombone também é feito. É o caso do grupo mineiro de choro Corta Jaca, que vem trilhando um caminho próprio, equilibrando as vertentes de arte e da tradição na linguagem do choro. Seus álbuns apresentam composições autorais e destacam o sopro e percussão.


Esporte Julho • 2012

15

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

DESAFIOS DA PROFISSÃO DE GOLEIRO Preparadores, ídolos e atletas que estão em atividade nos clubes mineiros contam sobre a importância da preparação física e psicológica e as dificuldades para atuar debaixo das traves RAQUEL DUTRA

n GILVAN JÚNIOR RENAN PACHECO ÍGOR PASSARINI 1º E 3º PERÍODO

O goleiro é uma posição que difere das outras dentro das quatro linhas, mas não somente por se pegar as bolas com as mãos. O dever dele vai além das defesas de bola e é necessário um treinamento físico e psicológico diferenciado. O Jornal MARCO conversou com alguns personagens que fizeram e fazem dessa profissão uma escolha de vida. O deputado estadual João Leite da Silva Neto, 56 anos, foi goleiro por 17 anos e conta que era uma emoção muito grande. Ele costuma dizer que nasceu goleiro e que desde criança sonhava em seguir a profissão ao assistir partidas de Gilmar, Castilho e outros grandes camisas um

que atuaram pela Seleção Brasileira. "Eram meus pensamentos, ficava me imaginando defendendo os pênaltis", relembra. Para João Leite, que jogou pelo Atlético-MG e pela Seleção, uma dificuldade que os goleiros enfrentam hoje é a questão do entrosamento. "A defesa depende disso", conta ele, que acredita que a má fase de alguns bons goleiros dos times brasileiros acompanha a instabilidade do elenco. "Existe um desequilíbrio no geral. As mudanças são constantes. É preciso sequência para que o goleiro possa amadurecer", afirma o exarqueiro alvinegro. Outro fator importante segundo João Leite é o papel dos treinadores no desempenho dos goleiros. "É preciso que o comandante tenha confiança em seu jogador porque a rotatividade não pode ser intensa RAQUEL DUTRA

Vinícius acredita que o goleiro tem um grande poder dentro de campo

Victor Siman, da escolinha do Clube de Lazer do América-MG, começou a jogar como zagueiro e a princípio não tinha a intenção de se tornar goleiro

como acontece hoje", destaca. Muitas vezes eles passam grande parte da partida sem tocar na bola, mas engana-se quem pensa que isso faz do trabalho deles uma atividade fácil. João Leite diz que o goleiro descuidado, desatento, chama a bola e que quando a bola não chega ao gol, também é mérito dele. Segundo o preparador de goleiros do Atlético e da Seleção Brasileira, Francisco Cersósimo, um goleiro, além de inteligência e cabeça, precisa de preparo emocional. "Tem que ter coração para dividir as bolas", ressalta. Formado em Educação Física e há 18 anos na profissão, o preparador de goleiros Chiquinho, como é mais conhecido, diz que o seu trabalho engloba vários setores, passando pelo físico e técnico até o psicológico e afirma: "É fundamental sempre levantar a autoestima do goleiro". Na opinião do preparador, o goleiro precisa de coordenação e atributos físicos, mas ressalta: "Primeiramente ele deve ter dom". Segundo ele, o segredo para ser bom no que faz é trabalhar e treinar muito. “Minha família não queria que eu fosse jogador, mas eu corri atrás do meu sonho." Essas palavras são do goleiro Rafael Pires Monteiro , 23, goleiro do Cruzeiro Esporte Clube desde 2002. Atual reserva do goleiro Fábio, ídolo da torcida celeste, Rafael, com a pouca idade, é um goleiro com uma boa bagagem. Já participou da Taça Libertadores, Campeonato Mineiro e Campeonato Brasileiro.

Conquistou a Copa São Paulo pelo Cruzeiro e já foi convocado para seleção brasileira sub-20 e sub-23. O atual goleiro titular do Atlético Geovanni dos Santos, 25, conta que já treinava desde criança na posição. Relembra o auxílio do pai, tanto financeiramente quanto psicologicamente. "Comecei com nove anos com meu pai me ajudando e incentivando. Minha família ajudou com dinheiro em viagens para disputar campeonatos", conta. Geovanni também diz que é necessário sonhar e nunca desistir do que se deseja. "Meu conselho é nunca parar de sonhar e nunca desistir. Quem faz a própria história é você, sempre acreditando em

si", afirma o arqueiro. Victor Andrade Siman, 14 anos, e Vinícius Gabriel Eustáquio dos Santos, 13, são goleiros na escolinha do Clube de Lazer do AméricaMG. Fãs do goleiro titular do Cruzeiro, Fábio, eles contam que jogavam como zagueiros e não tinham a intenção de jogar na posição. "Comecei a ser goleiro porque não tinha ninguém para jogar no gol. Aí eu comecei a catar bem e fui ficando", conta Victor. Vinícius dos Santos, que começou no futsal, diz que o goleiro tem um poder grande dentro de campo. "Para mim o goleiro tem de ser o capitão porque ele tem uma visão completa do jogo", diz.

Para Samuel do Carmo Fernandes, estudante de Educação Física na PUC Minas e treinador de goleiros na Escolinha do América, um goleiro tem que ter participação, alto rendimento. O professor diz que a técnica consiste nos movimentos, postura, punho e na queda. Ele ressalta que uma boa coordenação motora também é fundamental. "Aqui nós focamos em ensinar e não na formação de um atleta de alto nível. Às vezes quando percebemos que temos algum atleta diferenciado, indicamos para o profissional do América", destaca Samuel. ÍGOR PASSARINI

O goleiro do Atlético-MG Geovannni aconselha que é necessário sonhar e nunca desistir do que se deseja alcançar


entrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevista

Entrevista

Roberto Abras REPÓRTER

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco

n Como e quando o senhor começou a tra-

balhar na Rádio Itatiaia? A história de como eu entrei na Rádio Itatiaia está ligada à minha infância e juventude. O detalhe é que eu morei muitos anos no Bairro Bonfim, onde está a sede da Rádio. Eu morava há um quarteirão da Rádio. Então, acabei fazendo amizade com o Emanuel Carneiro. Eu e o Maurílio Costa passamos a ser conhecidos do Emanuel e, inclusive, entramos juntos na Itatiaia, somos da mesma época e ainda temos a mesma data no registro de jornalista, entramos no mesmo dia e no mesmo ano, em 1963. E através dessa amizade (com o Emanuel Carneiro), fui chamado para ficar zapeando na rádio e comecei a fazer plantão esportivo. Na época era o Emanuel que fazia isso, uma função parecida com a do Marco Antônio Bruck nos dias atuais (plantão de esportes). E eu fui escolhido para escutar o Campeonato Paulista, depois surgiu a chance dada pelo Januário Carneiro – diretor e fundador da Rádio, já falecido – de fazer a cobertura diária do América, em 1964. Fiquei até 1966, na época em que o Mineirão começava a fazer parte das nossas vidas (o estádio foi inaugurado em setembro de 1965). Neste ano, o Hamilton Macedo, que era o diretor artístico da Itatiaia, me colocou para comandar um programa chamado "Varig, a dona da noite", que era um programa musical. Fiz isso até 1970. Depois voltei a fazer esportes juntamente com o programa noturno, só que ficou muito pesado. Saí do programa e fiquei exclusivamente no esporte. Em 1972, passei a comandar a cobertura do Atlético junto com o Luiz Carlos Alves e estou até hoje. n O senhor virou patrimônio do Atlético, dando nome à sala de imprensa na Cidade do Galo. Como foi essa homenagem?

Isso foi um gesto do Alexandre Kalil, quando ele trabalhava com o Ricardo Guimarães na época (2003). Eu achei até legal a homenagem, mas eu não sou muito ligado nisso. Sempre digo que sou desprovido de qualquer tipo de vaidade. Cheguei até a falar que havia outras personalidades dentro do clube que mereciam. Mas, de qualquer maneira, ficou marcante, afinal de contas, é uma sala de imprensa. n Por cobrir o Atlético há tanto tempo, o senhor acredita que suas palavras têm um peso maior, ainda mais em um veículo de abrangência tão grande em Minas, como a Rádio Itatiaia?

Quem acompanha meu dia a dia dentro do Atlético sabe que eu fujo de fofocas. Não me envolvo nessa onda. Eu busco sempre o lado positivo da coisa. Mas eu critiquei o time na derrota para o Goiás (por 2 a 0 na Copa do Brasil) e o Kalil não ficou satisfeito comigo pois eu disse que com aquele elenco o Atlético ia brigar para não cair outra vez, se o clube não fizesse contratações. Mas eu estou colaborando, é um alerta (Nota da redação: após a eliminação na Copa do Brasil, o Atlético contratou o meia Ronaldinho Gaúcho, os atacantes Jô e Junhinho e o lateral esquerdo Júnior César). n Falando um pouco de passado, como foram os jogos da final do Brasileiro de 1980 e o desempate da Libertadores do ano seguinte?

ARQUIVO PESSOAL GABRIEL COSTA

Eu estava naqueles jogos sim. Mas sabe o que acontece? A verdade é que o Atlético tinha um grande time, mas o Flamengo tinha também, com o Zico, Adílio, Júnior... O Reinaldo chegou a empatar a decisão do Brasileiro duas vezes com uma lesão, em pleno Maracanã. O Flamengo tinha uma força fora do comum e ganhou. Na Libertadores de 1981, dizem, mas eu não posso afirmar isso, que a partida estava armada, que era do interesse comercial da CBF que o Flamengo ganhasse a partida. Então o José Roberto Wright foi convidado para apitar e o Galo aceitou

‘PATRIMÔNIO’ ALVINEGRO DEIXA MASSA INFORMADA n FREDERICO RIBEIRO 6º PERÍODO

Nos últimos 40 anos, o futebol do Clube Atlético Mineiro sofreu diversas mudanças: o time vendeu e comprou um grande número de jogadores, foi treinado por incontáveis técnicos, gerido por exatos 11 presidentes, jogou como mandante do Mineirão, no Independência, no Ipatingão e na Arena do Jacaré. Mudou de Centro de Treinamento, seu escudo foi redesenhado e ainda viu sua camisa preto e branca ser ‘invadida’ por 13 patrocínios de empresas diferentes. Porém, o que não modificou em quase meio século foi o homem responsável por cobrir o "Glorioso" para a Rádio Itatiaia, a mais popular em Belo Horizonte: Roberto Abras. Em 2012, em plena ‘era’ Ronaldinho Gaúcho, o radialista continua comparecendo à Cidade do Galo para levar as últimas notícias atleticanas para os ouvintes da "Rádio de Minas". Roberto Abras tornou-se referência para colegas de profissão. Prova disso é o fato de ‘batizar’ a sala de imprensa do clube, com direito à placa que informa: "Cidade do Galo - Sala de Imprensa Roberto Abras, Belo Horizonte, 4 de Outubro de 2003". "Isso foi um gesto do Alexandre Kalil, quando ele trabalhava com o Ricardo Guimarães na época (2003). Eu achei até legal a homenagem, mas eu não sou muito ligado nisso. Cheguei até a falar que havia outras personalidades dentro do clube que mereciam. Mas, de qualquer maneira, ficou marcante, afinal de contas, é uma sala de imprensa", comenta Roberto Abras. Como já dito, o radialista não conta vantagem por atingir essa marca histórica de 40 anos cobrindo o Galo. A melhor explicação para o jeito do jornalista vem de Luiz Carlos Alves, ex-companheiro de Itatiaia, a quem Roberto Abras substitui em definitivo no comando do Galo, no fim de 1972: "Acredito que o motivo principal que permitiu ao Abras impor o microfone da Itatiaia como repórter do Atlético foi a serenidade. Em todos esses anos, ele sempre tentou ficar mais alheio ao que envolve a pressão que a mídia sofre dos dirigentes, dos técnicos de clubes", revelou Luiz Carlos. Entre o intervalo de um treino dos jogadores atleticanos e a gravação de seu boletim para o programa "Rádio Esportes", Roberto Abras revelou que foge das “fofocas” e que busca sempre “o lado positivo das coisas”. Apesar disso, em alguns momentos admite ter causado insatisfação aos cartolas, como recentemente com o presidente Alexandre Kalil.

numa boa. O Kalil (Elias, pai do atual presidente alvinegro) não foi contra, aceitou a indicação. Mas o juíz se perdeu no jogo e começou a expulsar o time do Galo, começando com o Reinaldo que fez uma falta para cartão amarelo no Zico. Foi uma tragédia e até a torcida goiana ficou chateada e começou a vaiar o árbitro. n Quais foram as repercussões dessa marca negativa na história do Atlético?

Eu lembro que o Atlético entrou com um pedido de anulação de jogo, e, entre outros aspectos, tinha o fato de o Serra Dourada estar com o gramado pintado de forma diferente. Eu fui para Lima, no Peru, na época o Teófilo Salinas era o presidente da SulAmericana (Conmebol). Eu fui para o Peru para acompanhar o processo feito pelo Atlético. Fiquei lá mais de 10 dias junto com o Flávio

ouro que o Atlético vivenciou. Mas é tanta coisa na cabeça, tantos jogos presenciados, que fica difícil recordar quando ele foi criado. Sei que foi por volta desses anos em que o Galo tinha aquele time poderoso com Reinaldo. n Como era trabalhar nos jogos do Galo,

com o Mineirão lotado e o Atlético sempre disputando um título importante? Era muito emocionante. Cem mil pessoas no Mineirão em jogo entre Atlético e Flamengo, entre Atlético e Cruzeiro. Mas você pode perceber a curiosidade das coisas. Antigamente, não tinha tanto tumulto na torcida. Agora, eles encolhem o Estádio e tem briga para todo lado. Com 60 mil pessoas as confusões aumentaram. Antigamente você colocava 100 mil pessoas com facilidade. O Independência, recentemente reinaugurado, é outro exemplo disso. Eu já trabalhei no Independência com 30 mil pessoas nas arquibancadas, em um jogo de Seleção Mineira contra Seleção Carioca. E hoje eu não posso ir com o meu carro no Estádio, por causa das dificuldades de acesso. As coisas são difíceis de entender mesmo. n Algum dia o senhor já acordou de manhã

com vontade de parar de cobrir o Atlético?

Dalva Simão, advogado do Atlético. Mas, no fim, nada aconteceu.

Quando o Atlético caiu de divisão (o episódio do rebaixamento para a Série B do Brasileiro em 2005) me deu mesmo uma tristeza muito grande e pensei em sair. Mas depois passou esse sentimento e me deu uma vontade de trabalhar para ele subir. Quer dizer, continuar na empresa e prestar meu serviço em um momento difícil do clube. Tive a felicidade de ver isso acontecer. Mas o que me preocupa é que o Galo voltou a namorar a queda de divisão nos últimos anos.

n Essa foi a maior tristeza que o senhor

n Sobre a relação entre o jornalista e os

vivenciou como setorista do Atlético?

jogadores, quais foram as mudanças no convívio entre repórter e atleta no CT?

Sem dúvida. Foi esse episódio de 1981 e a final do Campeonato Brasileiro de 1977, quando o Galo tinha o melhor time do Brasil e perdeu nos pênaltis para o São Paulo em pleno Mineirão abarrotado de torcedores. Ficou 0 a 0 e houve uma polêmica entre o Reinaldo e o Serginho Chulapa, que estavam suspensos. Mas cada clube falou que iria colocar seu artilheiro. No fim os dois ficaram fora e o Galo perdeu. n Sobre a diferença tecnológica do Rádio

entre os anos 70 e 80 e hoje. Quais eram as dificuldades de se fazer uma transmissão de jogo? Hoje é uma "teta" para os jornalistas. Antigamente não tinha esse negócio de internet. Usávamos uma maleta Shure, tudo pesado, diversos cabos, hoje temos microfone sem fio, está muito avançado e vem muita coisa pela frente ainda. A tecnologia facilitou demais para todos os lados, para as empresas, para os repórteres e para o ouvinte que tem um som de melhor qualidade. Mas na minha época, eu levava um telefone da Rádio na viagem, tirava o bocal do telefone e ligava nessa maleta Shure para sair o som. Mas, agora é tudo moderno, de ponta. Você pode perceber isso na aparelhagem usada pela Rádio Itatiaia que fica aqui na Cidade do Galo. n O senhor acha que o avanço tecnológico

acaba por esconder as reais capacidades do repórter esportivo? Tranquilamente. Antigamente era na raça, não tinha essa facilidade de internet, de buscar uma notícia tão rapidamente. Hoje em dia sai uma notícia no Rio Grande do Sul e 30 segundos depois já está na internet. O repórter vasculha e apura notícias na internet e tem tudo no colo, praticamente. n O senhor se lembra de como surgiu o

famoso bordão: "Explode o coração alvinegro de alegria"? Não sei dizer o momento específico. Mas foi por volta dos anos 80, nessa época de

Acho que ficou mais difícil. Quando eu comecei a cobrir os times, a relação era mais próxima, não tinha tanta blindagem. Na minha época, não tinha negócio de escolha de dois jogadores para entrevista coletiva. Nós íamos aos jogadores do nosso interesse e eles nos atendiam muito bem. Hoje, eu não faço parte da votação entre os colegas de imprensa para escolher quem irá falar, não acho isso certo porque vem com carta marcada. Cada repórter tem uma pauta diferente e eu não tenho nada a ver com um repórter que quer saber do cabelo do jogador, do estilo musical que ele gosta. Eu sou totalmente contra esse esquema de entrevista coletiva. n Como foi o relacionamento do senhor

com os técnicos, presidentes e diretores do Atlético ao longo desse tempo? Foi sempre amistosa. Lógico que tinha momentos em que eu não agradava a eles. Mas é o nosso serviço de jornalista. Não podemos ver um lado, temos que dar a notícia. Mas no meu trabalho sempre procuro colocar o torcedor como o principal responsável. O objetivo é passar para a torcida o que acontece no clube, deixá-lo mais próximo do Atlético. Então, assim, quando eu criticava o time ou alguma medida administrativa, eles não gostavam obviamente. Mas, no fim, eles sabiam que esse era o meu trabalho e acabavam entendendo o que eu fazia. n Como o senhor vê a abertura que a Rádio

Itatiaia dá aos repórteres para a prática do jornalismo opinativo? Acho muito válido. Não tem problema misturar os comentários com a notícia. Desde que a notícia não seja comprometida pela necessidade de dar sua visão, tudo bem. Nos jogos, quando o time mineiro faz o gol, o narrador sempre chama o repórter de campo para relatar o que aconteceu, para descrever o gol. Nessa hora a emoção fala mais alto. Pensamos naquele ouvinte que não tem o recurso do vídeo e só acompanha a partida pelo rádio.

entrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevista


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.