Entrevista com Marcus Viana revela os novos projetos do compositor, como o retorno do grupo Sagrado Coração da Terra. Página 16
RAQUEL ANDRETTO
YASMIN TOFANELLO
CLARA MANCILHA MARIA
Os setenta anos do radiojornalismo no Brasil mostram como essa mídia se manteve presente, apesar do surgimento de novas tecnologias. Página 13
Gilson Pereira, morador do João Pinheiro, tem a ideia ecológica de utilizar galões de água como lixeiras no bairro onde reside. Página 2
marco jornal
Ano 39 • Edição 286 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas Novembro • 2011
SORRISO AJUDA A VENCER O CÂNCER DANIELA REZENDE
DANIELA REZENDE
Os doutores da alegria levam conforto aos pacientes que fazem tratamento oncológico no Instituto Mario Penna, em Belo Horizonte. O hospital tem como projetos ‘terapia do riso’, ‘musicoterapia’, ‘doe Palavras’ e
Novas formas de conviver com a diabete LUIZA SENNA
Uma das doenças que mais cresce no mundo, a diabete não impede que as pessoas tenham uma boa qualidade de vida, desde que mantenham a enfermidade sobre controle. Para que isso aconteça, a informação é uma poderosa aliada, juntamente com o desenvolvimento tecnológico. Nesse contexto, as comunidades científica e acadêmica debatem melhorias na prevenção, no diagnóstico e no tratamento da doença, hoje considerada uma epidemia mundial pela Organização Mundial da Saúde. Página 10 e 11
‘doação de peruca’, realizados com o objetivo de resgatar a autoestima dos pacientes. Essas iniciativas, algumas delas já profissionalizadas, contribuem para tornar mais leve a vida dos doentes. Páginas 8 e 9 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
Comunicação por sinos segue viva em cidade histórica MARCELA SECCHES
Hábito de frequentar bares e botecos é tratado cada vez mais como negócio em BH LETÍCIA GLOOR
Bares e restaurantes estão entre os destinos preferidos para confraternização e consolidação de laços sociais e se consolidam como atrativos negócios na capital mineira. Página 6
São João del-Rei, localizada na Região do Campo das Vertentes, conserva a tradição dos sinos. Moradores mais antigos e até outros mais recentes têm o hábito de organizarem a sua vida conforme o horário das badaladas. Na cidade a profissão de sineiro é reconhecida com carteira assinada, e junta a fé com o trabalho. É por meio dos sinos que os moradores são informados das celebrações religiosas, falecimentos e casamentos. Página 15 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
2 Comunidade
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EDITORIAL
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Histórias de vida, superação, tradição, sucesso e saúde n RAQUEL ANDRETTO, 3º PERÍODO
Levar conforto para os que perderam a esperança é o objetivo do "Tratamento da Alegria" feito por pessoas que dedicam a sua vida a dar sorrisos aos que não possuem motivos para sorrir. O convívio diário com medo durante a luta contra o câncer faz parte da rotina de quem realiza as sessões de quimioterapia no Hospital Mario Penna. Os atores chamados de “doutores da alegria” entram no quarto dos pacientes e os divertem com as brincadeiras, danças e cantos. O que era inicialmente uma atividade exclusivamente voluntária, virou trabalho remunerado, em alguns casos. Essa história é contada pelo MARCO, nas páginas centrais desta edição. Independente se voluntário ou remunerado, o importante é que essas iniciativas contribuem para amenizar a dor e aumentar a autoestima daqueles que estão sofrendo. Neste número, o tema saúde recebe tratamento especial. O drama dos portadores de diabetes do tipo 2, doença que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), afeta 284 milhões de pessoas e já é considerada epidemia, tem destaque em reportagem também de duas páginas. Alimentação rigorosamente saudável, práticas de exercício e aplicações diárias de insulina fazem parte da rotina de quem vive com a diabetes. Na busca pelo alívio desse sofrimento, pesquisadores da PUC Minas desenvolveram um aparelho que mede o nível de açúcar sem a necessidade de o paciente furar o dedo. Diversidade de assuntos é uma característica do MARCO e não é diferente nessa edição. Há espaço também para a tradição. A comunicação feita por meio dos sinos é marca histórica de São João del-Rei, uma das cidades coloniais mineiras em que esse costume continua vivo. O som dos sinos interfere na vida dos são-joanenses, informando-os sobre as celebrações religiosas. E para alguns moradores mais antigos, o som é uma forma de organizar a vida de acordo com os horários do badalar. De volta a Belo Horizonte, um bom exemplo. Gilson Pereira, com uma ideia simples, mostra que qualquer cidadão pode fazer a diferença. Cansado de conviver com a sujeira do Bairro João Pinheiro, o morador cria os “galões-lixeira” que contam com a ajuda da população para serem esvaziadas. O bairro já conta com mais de 50 lixeiras e mostra que os próprios moradores podem contribuir para a melhoria coletiva da qualidade de vida. História sempre foi o forte do MARCO. Setenta anos após a considerada primeira experiência do radiojornalismo, leia uma reportagem comemorativa sobre o período. Os repórteres buscam contar o que mudou "no fazer" rádio deste tempo, e ainda trazem curiosidades desse período. A capital mineira possui poucas opções de lazer e, sem muitas atrações turísticas, é conhecida como a "capital dos botecos". Aqui, bar é negócio e tem importância fundamental para cidade, não só por ser o principal ponto de encontro dos belo-horizontinos, mas também por ser fundamental para a economia da cidade. Um dos destaques desta edição é a entrevista com o mineiro Marcus Viana, em que ele revela o retorno da banda Sagrado Coração da Terra, além de falar sobre carreira de sucesso como músico e compositor de grandes clássicos do cenário nacional.
EXPEDIENTE
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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª.Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª. Maria Líbia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo(Coreu): Prof. José Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação (São Gabriel): Profª. Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa e Prof. Mário Viggiano Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Isabela Cordeiro, Isabela Jocoe, Keneth Borges, Natalia Leão Bassi, Piero Morais, Raphael Pires, Raquel Andretto e Tamara Fontes. Monitores de Fotografia: Letícia Gloor e Maria Clara Mancilha Monitor de Diagramação: Nathan Godinho Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares
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LIXEIRAS IMPROVISADAS A instalação dos “galões-lixeira” por morador do João Pinheiro tem apoio da população e diminui o problema do lixo no bairro RAPHAEL VIEIRA PIRES
n RAPHAEL VIERA PIRES RAQUEL ANDRETTO 7º E 3º PERÍODO
O despachante Gilson Pereira Dias, 58 anos, morador do João Pinheiro resolveu instalar, por conta própria, lixeiras que ele mesmo faz nas ruas do bairro. Construídas com galões de água mineral cortados na parte superior e furados embaixo, as lixeiras ficam presas aos postes. O resultado deu certo: o lixo vai parar dentro das lixeiras de Gilson e o chão permanece mais limpo em relação a como era antes. São mais de 50 "galõeslixeira" instalados no bairro por Gilson em pouco mais de dois meses de atuação. Ele conta com a colaboração dos comerciantes e moradores para ajudá-lo a esvaziar as lixeiras. As demais ficam por sua responsabilidade. "Eu mesmo tenho que passar de uma em uma recolhendo os resíduos que acumulam nas lixeiras. Elas enchem bem rápido, em poucos dias o lixo já está na tampa", relata Gilson, morador do bairro há 42 anos. O lixo retirado por eles é colocado para a coleta seletiva que ocorre no bairro nas segundas, quartas e sextas-feiras. A iniciativa veio depois que o morador notou que o bairro estava deficitário em lixeiras e, por isso e pela falta de conscientização das pessoas, as ruas e a Praça Chuí permaneciam
sempre cheias de lixo espalhado nos jardins, calçadas e asfalto. Notando a presença de quatro galões vencidos de água mineral em casa, teve a ideia de usá-los para montar suas lixeiras improvisadas. A atitude de Gilson é aplaudida pelos demais moradores do João Pinheiro. Carlos Guilherme, 31 anos, acredita na força de conscientização que as lixeiras tem. "Quando o Gilson começou a colocar esses galões nos postes, percebi a diminuição do lixo das ruas. Depois de um tempo, as pessoas procuravam as lixeiras pra depositar seu lixo e não jogavam mais na rua, de qualquer jeito", comenta Carlos. E para quem aproveita a praça para praticar exercícios, a limpeza dá outra cara para a região. "Acho muito bacana. O ambiente limpo e a praça preservada me dá mais motivação para sair de casa e caminhar aqui", relata Priscila Rode, 22 anos, estudante de engenharia civil na PUC Minas. A feirinha que acontece todas as quartas-feiras na Praça Chuí se constituía num problema em relação à sujeira que ficava no local após o término do evento. Porém, com a instalação das lixeiras caseiras, a quantidade de lixo no chão reduziu. "O pessoal que vem aqui na minha tenda sempre joga o lixo na lixeira do poste próximo. Latinha, guar-
Gilson Dias já colocou mais de 50 lixeiras nas ruas do João Pinheiro danapo e restos de comida vão parar no fundo daqueles galões e não no chão", afirma Sebastião Alves dos Santos, 59 anos, que tem uma tenda de cachorroquente. Dona de barraquinha, Helenita Soares, 53 anos, foi contratada há cinco meses por Gilson para fazer a limpeza da praça após a feirinha. Neste período em que trabalha limpando, Helenita diz ser nítida a diferença que as lixeiras fizeram para a praça. "Existem pessoas que ainda não utilizam as lixeiras, mesmo assim a faxina da praça diminuiu muito após a implantação das lixeiras", conta Helenita que também faz a manutenção das lixeiras após a feira. Os galões utilizados por Gilson são doados por empresas distribuidoras de água mineral, e ele mesmo
entra em contato com elas. Estes galões estão vencidos e não tem mais utilidade comercial. Os próximos locais que serão instaladas as lixeiras são as ruas que possuem pontos de ônibus, porque possuem um grande foco de sujeira. A intenção de Gilson é expandir para todo o bairro João Pinheiro, levando posteriormente para os bairros vizinhos, como Dom Cabral e Minas Brasil. Gilson ainda destaca a importância da conscientização da população com relação a preservação do espaço público e ainda diz que iniciativas simples conseguem mudar a própria situação da comunidade. "Meu trabalho aqui é pelo bem estar da comunidade, o apoio que eu recebo dos moradores me incentiva a ajudar e continuar com as ações", afirma Gilson.
Os problemas da Avenida Delta LETÍCIA GLOOR
n RAPHAEL VIEIRA PIRES RAQUEL ANDRETTO 7º E 3º PERÍODO
A Avenida Vereador Cícero Ildefonso, também chamada de Avenida Delta, liga o Anel Rodoviário à Via Expressa e, como muitos corredores de Belo Horizonte, apresenta vários problemas. A travessia perigosa de pedestres é um deles. No entroncamento da Delta com a Via Expressa, pessoas atravessam a avenida em meios aos carros em um dos pontos de maior velocidade. Uma praça abandonada na esquina da avenida com a Rua Guapiara é outro ponto causador de problemas na região. O trânsito rápido e violento também é motivo de reclamação tanto de moradores quanto de comerciantes. Moradora da rua Guapiara há 40 anos, Jandira Soares da Silva, 75 anos, reclama da falta de cuidado com uma praça, que fica na frente da casa dela, mas que também faz parte da Avenida Delta. "A praça é muito antiga. Desde que moro aqui ela existe, mas está muito abandonada, está toda suja. Sou eu e meu filho quem varremos a praça e catamos o lixo
Pedestres se arriscam ao tentar atravessar a Avenida Delta dela. Acho que alguém poderia adotá-la e cuidar de seus jardins", reclama a aposentada. O comerciante e dono de floricultura Eliezer Miranda Cardoso, 44 anos, conta que moradores de rua usam e sujam o local. "A prefeitura nunca veio fazer uma intervenção boa na praça. De vez em quando passam uma tinta no meio-fio e só", relata. A praça em questão apresenta bancos quebrados e ausência de lixeiras. O chão, mal cuidado e rachado, e os jardins cheios de mato e sujeira agravam a situação do local. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou, por meio da Gerência Regional de Jardins e Áreas Verdes (Gerjav) Noroeste que a praça não é adotada. A
cada cinco semanas são realizadas manutenções no local e, com relação à presença de moradores de rua, a Gerjav enviou a demanda para as gerências da prefeitura responsáveis por este tipo de questão. O comerciante Luciano Gradino Ferreira, 33 anos, diz que há um tempo os moradores e comerciantes da região fizeram abaixoassinado para a instalação de um quebra-molas próximo à curva do motel Le Baron, grande foco de acidentes de acordo com Luciano. O redutor de velocidade foi implantado e ajudou a diminuir o número de acidentes. "Retirar o canteiro central da avenida para aumentar as pistas é uma forma de solucionar o congestionamento no local", sugere. Os repórteres do
MARCO flagraram pessoas atravessando perigosamente a avenida no meio dos carros, no entroncamento da Avenida Delta com a Via Expressa. Hans Silva Pereira, 21 anos, ajudante de carga, fazia o trajeto quando saía do serviço. Ele confessa a probabilidade de atropelamento por atravessar ali, mas não vê outra saída. "Acho perigoso, sim. Seria melhor se houvesse uma faixa de pedestre ou mesmo um semáforo, mas como não tem, infelizmente tenho que atravessar a avenida aqui mesmo", conta Hans, que faz o percurso todos os dias. De acordo com o major André Leão, da 9ª Companhia de Polícia, responsável pela cobertura da região da avenida, no período entre 25 de novembro e 2 de dezembro foram registrados dois acidentes na avenida, sendo um deles com vítima. "Muitos acidentes e atropelamentos ocorrem nas curvas da avenida, principalmente porque muitos motoristas viram num retorno proibido ali, por preguiça de terem que fazer o retorno correto mais longe", afirma.
Comunidade
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Novembro • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
PLACAS PARA AFASTAR INDESEJADOS Condomínio em Belo Horizonte decide utilizar estratégia inusitada para afastar a presença incômoda de moradores de rua, vizinhos com os cães e baderneiros nos arredores do prédio LETÍCIA GLOOR
n RAPHAEL VIEIRA PIRES 7º PERÍODO
Era uma tarde de sábado e Délson Machado Soares, porteiro, teve uma surpresa. Da mesa, ele avistou alguém debruçado no portão do prédio onde trabalha. Apesar de ter achado estranho, não interviu. O sujeito que estava com um punhado de jornal na mão, saiu da vista de Délson ao descer a rua. Minutos depois, o fato surpreendente. Pela câmera de segurança instalada acima dos jardins do lado externo do prédio, o porteiro pôde assistir a mesma pessoa que estava na frente do prédio defecando atrás de plantas, rente à parede da construção. Os acontecimentos começaram a ficar frequentes e a incomodar os moradores. A solução encontrada foi colocar placas alertando
espaço. O jardim é do Roberto. prédio, não é público", O porteiro Délson, reclama. funcionário há 11 anos, Passeando pelo local conta que as ocorrências com o cachorro, Roberto acontecem desde quanGonçalves, 27 anos, do começou a trabalhar achou a ideia um pouco no prédio. "Pela amanhã, estranha, mas afirma logo ao chegar, via pesnunca ter levado o cão soas dormindo em meio para defecar ali. "Nunca às plantas. Às vezes vi placas como essas chego a pedir para o pesserem utilizadas para soal sair de lá. espantar pessoas de Ultimamente, os casos usarem o têm diminL G jardim. uído, porém Infelizainda aconmente, há tecem", relaquem não ta Délson. respeite o De acordo local e mecom Hilton, didas como outras mediessa se tordas foram nam necesadotadas sárias, mas para melhosempre levo rar a situum saco ação, como a plástico instalação Hilton é o autor da ideia inusitada quando pasde luzes noseio com turnas acima meus cães, pois acho ser dos jardins externos do o mais correto", relata prédio. ETÍCIA
Falsa placa foi a alternativa encontrada por moradores para afastar intrusos que usavam o local inadequadamente para a presença de veneno no jardim, apesar de não haver nenhum. A iniciativa foi do exsíndico e representante comercial Hilton Ferreira Lage, 68 anos. Ele copiou a ideia de outro condomínio na cidade que, segundo ele, tinha placas antigas e com o mesmo tipo de aviso. A
partir da reclamação de moradores e do jardineiro, Hilton decidiu colocar os avisos. Após dois meses da implantação, as placas inusitadas já surtiram efeito no prédio de Hilton. "Já diminuíram os casos de moradores de rua defecando e fazendo sexo nos jardins. Porém,
hoje mesmo eu vi fezes humanas atrás de uma planta", confirma o morador. Outro grande problema apontado por Hilton é a grande quantidade de moradores do bairro que deixam os cães usarem os jardins como banheiro. "Primeiramente acho que as pessoas têm que respeitar o
LOOR
LETÍCIA GLOOR
Centro de Saúde Dom Cabral funciona em local provisório n RAPHAEL VIEIRA PIRES RAQUEL ANDRETTO 7º E 3º PERÍODO
Após a transferência provisória do Centro de Saúde Dom Cabral para uma casa na rua Madre Mazzarello, 66, os moradores da região têm reclamado da distância percorrida para chegarem ao centro. "Para mim está horrível. Eu morava perto do centro antigo e agora tenho que andar muito para chegar aqui", reclama Luci Maria de Moura, 71 anos. O antigo centro será demolido e outro, com planta inicial de dois pavimentos, será construído no local. Por isso, a
previsão de permanecer no local temporário é de cerca de um ano e meio. De acordo com a gerente do Centro de Saúde, Silvana Ferreira de Andrade Souza, a reforma estava sendo programada há dois anos, mas somente há um mês conseguiram alugar um local propício para a instalação dos serviços. "Toda casa que visitávamos tinha algum tipo de limitação, seja uma escada que impedia a entrada de deficientes, falta de ventilação e circulação, ou poucos cômodos para alojar toda a equipe. No entanto, a solução é temporária. Assim que a
reforma no local antigo terminar, voltaremos para lá", relata a gerente. Outro problema apontado pelos usuários é o tamanho da sala de espera, bem menor que a oferecida no outro centro. "Eu venho toda semana aqui com minha filha. Durante a manhã, quando há muita gente, o tumulto é grande. As pessoas ficam simplesmente sem saber qual é a fila para fazer exame de sangue e qual é a de consulta. Em dias de chuva, a sala de espera fica toda molhada", expõe Márcia Cristina de Souza, 46 anos, doceira, que diz ter ficado horas numa fila
sem saber o seu destino. Algumas reformas foram realizadas na residência para se adequar ao atendimento dos usuários. "Instalamos pias em muitas salas, pois todo consultório necessita de uma e colocamos divisórias para alocar melhor os serviços. Por questões de mobilidade, movemos toda a parte administrativa para o segundo andar, além do consultório de psicologia. Todos os demais serviços ficam no primeiro andar", conta Silvana. No entanto, há quem goste da mudança. Jacira Alves, 77, aposentada,
A gerente do Centro de Saúde Silvana diz que a reforma estava programada comenta que a reforma foi uma boa opção tanto para o Centro quanto para a comunidade. "Eles tinham que sair de lá mesmo, pois as condições de atendimento estavam precárias. Com a cons-
trução do novo prédio, espero que a população possa ser atendida com mais qualidade e rapidez", afirma a aposentada que, apesar da distância, achou o ambiente agradável e confortável.
Banco do Brasil inaugura nova agência no Coreu LETÍCIA GLOOR
n RAQUEL ANDRETTO 3ºPERÍODO
Maria da Penha estava na expectativa da inauguração desde o anúncio
A agência do Banco do Brasil no Bairro Coração Eucarístico foi inaugurada no último dia 7 de novembro. Aguardada pelos moradores e estudantes há um ano e seis meses aproximadamente, apesar do pouco tempo de funcionamento, a agência já apresenta reclamação. "Eu vim ontem para fazer uma transferência no caixa e o bancário recusou a minha carteira de identidade, eu a uso desde dos 18 anos de idade, voltei hoje para
tentar fazer a operação novamente e eles continuam se recusando a aceitar a minha carteira. Eu procuro algum funcionário para me ajudar e não consigo", conta indignada a professora Nilda Almeida, 54 anos que após esses acontecimentos desistiu de transferir a conta corrente para a nova agência. Mas, segundo a lei, o funcionário do banco encontra-se no direito de negar a carteira de identidade quando não consegue identificar a pessoa na foto. Moradora do bairro há 23 anos, Maria da Penha
Pinto dos Santos, 59 anos, professora do estado, conta que a expectativa pela agência era grande, porque já era cliente há dez anos. "Vim aqui para poder transferir a minha conta, não aguento mais ter que ir à rua da Bahia para poder realizar as minhas operações, qualquer problema eu tenho que me deslocar até para resolver", conta Maria. A assessoria de imprensa do Banco do Brasil informou que agência funciona normalmente com todos os recursos disponíveis. "Agora vou
conseguir pagar as contas com mais facilidade", conta a nutricionista Regiane Marques, 38 anos e moradora do bairro que passará a frequentar a nova agência Maria das Graças Araújo, 64 anos, aposentada e moradora do bairro há nove anos, veio à agência pela primeira vez desde a abertura. "Não sou cliente. Vim aqui porque preciso abrir uma conta para o condomínio do qual eu sou a nova síndica e me disseram que as tarifas do Banco do Brasil são muito boas. Então vim aqui conferir", relata.
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SOLIDARIEDADE ENTRE VIZINHOS FAZ A DIFERENÇA O Programa da Rede de Vizinhos Protegidos, iniciado na regional Noroeste há cinco anos pela Polícia Militar, incentiva a integração entre vizinhos para combater a criminalidade n PIERO MORAIS 5º PERÍODO
Muitas pessoas tomam como verdade o antigo ditado de que a união faz a força. De acordo com o Artigo 144 da Constituição Federal, a segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos. O major André Leão, comandante da 9ª Companhia Especial de Polícia Militar de Minas Gerais, concorda que a união e a colaboração entre vizinhos de rua são os ingredientes para o sucesso do Programa de Rede de Vizinhos Protegidos, projeto criado pela própria Companhia que responde ao 34º Batalhão da PM. A rede foi instaurada em Belo Horizonte há mais de cinco anos, inicialmente no Caiçara, Bairro da Região Nordeste da capital, e hoje beneficia mais de sete mil pessoas na área em que a 9ª Cia desenvolve o trabalho. O objetivo do programa é utilizar a relação entre vizinhos para que eles criem mecanismos efetivos para vigiar ações suspeitas e diminuir as ocorrências de crimes na rua. A vigilância mútua, aliada à velha política de boa vizinhança, é o segredo para os resultados positivos no combate ao crime. Cada indivíduo, devidamente orientado pela PM, desempenha papel importante. Um núcleo da rede é composto por moradores de residências e prédios vizinhos, além dos comerciantes, que se tornam responsáveis pela vigilância da rua em que moram e trabalham. Em um prédio da Rua Dom Aristides Porto, no Bairro Coração Eucarístico, no dia 27 de outubro desse ano, às 19h foi realizada a última reunião entre moradores e Polícia Militar para a instalação de mais um núcleo da rede. Sargento Augusto César de Oliveira, 43 anos, um dos oficiais da 9ª Cia responsáveis pela manutenção e formação dos núcleos, passou aos moradores as últimas orientações sobre maneiras de se proteger de movimentações suspeitas na rua e como cada indivíduo, uma célula vigilante, pode auxiliar os demais na segurança. Na reunião, os vizinhos tiraram dúvidas com o policial de como proceder diante de uma atitude suspeita e foram conscientizados de que a convivência entre eles é fundamental para que o sistema funcione. Ele recomendou que todos tenham uma lista completa com os telefones residenciais e celulares de todos os vizinhos, conhecer a rotina com os horários de saída e chegada em casa de cada um e orientar os funcionários foram alguns
dos pontos esclarecidos durante a reunião. A implantação do programa no quarteirão foi idealizada por Rosangela Maria Azevedo, 55 anos, assistente social e síndica há um ano e meio do prédio onde aconteceu a reunião. Ao saber que o núcleo da Rua Dom Joaquim Silvério, perpendicular à rua de Rosângela, obtinha bons resultados nas estatísticas de crimes que só diminuíam, ela solicitou à 9ª Companhia de Polícia Militar, comando responsável pela Regional Noroeste, a orientação de um oficial para que conseguisse mobilizar a vizinhança. Sargento César prestou a ajuda solicitada e orientou a síndica a convidar os vizinhos de rua para a primeira reunião que ocorreu no dia 20 de outubro no salão de festas do prédio de Rosângela. A síndica então passou a divulgar a reunião entre os vizinhos de rua. "Eu convidei todos os vizinhos, as casas, os síndicos dos prédios e os comerciantes dos três quarteirões da rua: o de baixo, o nosso e o de cima. Nas primeiras reuniões foram poucos os que vieram", conta. O prédio em que Rosângela é síndica passou por uma redução nos custos e na arrecadação do condomínio, fazendo com que ela tomasse a medida de retirar a vigilância diurna da portaria e privilegiar apenas o horário da noite, quando a região se torna mais perigosa. "Nunca aconteceu assalto aqui no prédio, mas já vi acontecerem na rua", relembra. Ela diz que apesar de contar com um aparato de vigilância eficaz no prédio, a segurança prestada de forma solidária entre os vizinhos é uma alternativa mais interessante para a redução de crimes na rua. "O prédio conta com cerca elétrica, mas o mais importante é a nossa união",
afirma. Oito pessoas participaram da última reunião para a formação do núcleo no prédio. Entre as O sargento Augusto César desempenha o papel de conscientizar os membros dos novos núcleos da rede de vizinhos questões mais aborcipal objetivo do programa é dadas estiveram a proteção das taço". Além do apito, cada residên- unir os vizinhos, que antes da casas, mais vulneráveis às ações dos criminosos, e as for- cia tem direito a uma placa da implementação, mal se conhemas de manter a segurança Rede de Vizinhos Protegidos, ciam. "É um projeto que visa a diante de situações perigosas. que serve de alerta visual, uma trazer a integração da comuO sargento sugere o não- lista completa de contatos das nidade local, para que as pesenfrentamento, cautela e demais células da rua e um soas se conheçam e para que a atenção para afastar suspeitos. ramal direto à 9ª Cia em casos aproximação desperte a soli"Nas atividades do cotidiano, a maioria de nós somos desaten- de emergência, agilizando o dariedade. Após ser assaltada tos ao que estamos fazendo e a registro e o acionamento da na porta de casa, onde também cautela é a melhor forma de se viatura mais próxima. Se julgar funciona o salão em que é proassegurar. Entre 80 a 90% dos necessário, o morador pode prietária, a cabeleireira Marcrimes são oriundos das opor- solicitar à PM uma vistoria garete Melgaço da Silva, 41 tunidades que a gente dá. Ao individual do imóvel para anos, decidiu ir em busca de tornarem-se um grupo de pes- qualificar o nível de segurança soas organizadas e orientadas a que a residência apresenta e algo que tornasse a rua mais ficarem em alerta, será possível tomar as medidas necessárias segura. Aceitou a sugestão de coibir as ações dos marginais", para aumentá-la. Para se uma amiga de procurar saber mais sobre a rede de vizinhos e aconselha. reunirem, os vizinhos podem A comunidade que desen- acessar, a partir das contas acionou a polícia. Orientada, passou a organizar o núcleo na volve esse tipo de projeto disdisponibilizadas pela polícia, põe de diversos aparatos para um fórum na página virtual da rua, que em seis meses de funfacilitar o contato entre vizirede de vizinhos onde são cionamento hoje já é composto nhos e são desenvolvidas prátidebatidos temas de segurança por 30 pessoas que veem nas cas para alertar os demais. pública, além das reuniões estatísticas trazidas pelos oficiEntre elas está a utilização do nas reuniões de periódicas de manutenção rea- ais apito, disponibilizado pela manutenção o resultado da lizadas por um oficial em cada Polícia Militar, que serve como núcleo, para apresentar dados união. "Antes da instalação do defesa ao indivíduo ao presenestatísticos dos crimes na rua e núcleo da rede, muitos viziciar uma atitude suspeita. averiguar o funcionamento do nhos não se conheciam. "Quem observar o acontecisistema entre os habitantes da Passamos a ter um contato mento vai dar o primeiro alercomunidade. A Polícia Militar muito maior com quem mora ta. Esse alerta vai desencadear disponibiliza a placa e o apito próximo da gente e isso fez um 'apitaço', um som ruidoso por R$18. No dia 6 de novem- com que o núcleo se tornasse que desestimula o marginal a bro houve o primeiro teste do organizado", enfatiza Margacometer o crime", explica sar"apitaço" na Rua Aristides rete Melgaço. Na rua houve gento César. Ele recomenda o Porto, considerado por diminuição significativa nas pequeno apito vermelho para Rosângela uma ação de suces- ocorrências de furto, o que traz todos os membros de cada casa so. "Todos participaram, real- mais segurança aos comervinculada à rede. "Um só apimente funcionou, mas ainda ciantes da rua. Já ocorreram tando não adianta nada para não precisamos utilizá-lo", afir- quatro reuniões orientadas por espantar o suspeito, por isso um policial no núcleo. que é importante que seja uma ma aliviada a síndica. A rede trouxe tanta comunidade organizada", comÊXITOS O sargento César, afinidade entre os indivíduos pleta. Sugere-se ao núcleo combinar periodicamente um que também orienta outros que formam o núcleo organizadia e um horário na semana núcleos da rede no Coreu, do por Margarete que as dispara testar a eficácia do "api- como o da Rua Dom Joaquim cussões nas reuniões foram Silvério, considera que o prin- além dos problemas de seguL G rança. Ela, à frente dos vizinhos, convocou uma reunião com um representante da BhTrans para discutir e propor melhorias para o trânsito na região. "Com a rede de vizinhos percebemos que podemos mais. Unidos e bem organizados, passamos a ter voz, não só para ficarmos seguros, mas para brigarmos por melhorias a nossa comunidade", afirma. O teste do "apitaço" na Rua Dom Joaquim Silvério acontece todas as quintas-feiras às 21 horas. Para mais informações e orientações sobre a Rede de Vizinhos Protegidos o telefone de contato da 9ª Companhia de Polícia Militar é o (31) 3575-3411, ou pelo e-mail A síndica Rosângela (à esquerda), moradores do prédio e vizinhos da rua assistem atentamente as orientações do policial rvppmmg@hotmail.com. ETÍCIA
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Novembro • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
PUC FAZ PESQUISA SOBRE EPILEPSIA Devido a negligência ao tratamento da doença, alunas do 9° período de Psicologia iniciaram uma pesquisa com o objetivo de ajudar alunos e professores a lidar com pacientes em crise JACQUELINE DANIELLA
n JACQUELINE DANIELLA 3º PERÍODO
A epilepsia é uma doença que atinge 1% da população mundial, em que é diagnosticada como uma doença neurológica crônica, no qual se deve ter um tratamento totalmente adequado para evitar crises recorrentes. No entanto, uma pesquisa realizada por duas alunas de Psicologia da PUC Minas, Unidade São Gabriel, constata que muitas vezes o próprio paciente negligencia sua medicação, por razões variáveis, provocando assim, crises recorrentes. Eliane Guimarães e Alessandra Mendes, ambas cursando o 9º período de psicologia iniciaram a pesquisa, com o objetivo de entender o porquê dos epiléticos negligenciarem o tratamento, uma vez que diagnosticado, o uso da
medicação correta é essencial para evitar crises. A partir da pesquisa foi criado um informativo destinado a alunos e professores sobre como lidar com a doença. Muitas pessoas ainda demonstram preconceito com quem tem a doença. Para que esta pesquisa fosse realizada, as pesquisadoras tiveram que fazer sigilo absoluto das pessoas que as procuraram para falar sobre a doença. Segundo Eliane, existem os que são bem resolvidos em relação à doença, porém, outros têm certo cuidado para falar sobre o assunto. "A base familiar é tudo. Para que eles entendam melhor a doença é a família que dá o suporte necessário", disse. Com o objetivo de esclarecer o que é epilepsia, as alunas fizeram um cartaz contendo
informações para que as pessoas saibam como lidar um epilético em crise. São informações básicas, mas necessárias para o atendimento rápido, evitando sequelas futuras. A negligência em relação ao tratamento não é por escolha e sim situacional. Como a pesquisa foi feita com alunos da Universidade, o que pôde ser constatado é que essas crises ocorrem mais no fim de cada semestre, já que a tensão é maior, em que, o epilético, deixa de tomar a medicação ou toma uma dosagem menor, por causar letargia, sonolência, e devido à estes fatores, a consequência são as crises. Segundo Alessandra, o epilético tem que dormir no mínimo oito horas por noite, o que não acontece devido à pressão sofrida durante o fim
Informativo foi criado por alunas da PUC Minas para compreender a negligência ao tratamento da epilepsia de cada semestre. O medo de não conseguir se formar ou até mesmo de não se tornar um profissional capacitado, é frequente entre os estudantes epiléticos que participaram da entrevista. Existe também
o medo das mulheres em relação à gravidez, com receio de seus filhos nascerem com a doença. Muitos não falam que tem, com receio de não serem aceito e outros, porque eles próprios não aceitam o
fato de ser epilético. No entanto, a maioria leva uma vida normal, mas como toda regra tem sua exceção, tem aqueles se tornam invisíveis e se isolam, não deixando que as pessoas se aproximem.
Repórteres do Jornal MARCO recebem prêmio MARIA
n ISABELA CORDEIRO TAMARA FONTES 5º E 4º PERÍODO
Escrever no Jornal MARCO é uma experiência essencial para os estudantes de jornalismo. Uma forma de reconhecimento do trabalho dos monitores e alunos repórteres é o Prêmio Internacional José Hamilton Ribeiro, que ocorreu no dia 23 de setembro no auditório no Sesc de São José do Rio Preto em São Paulo. Com abrangência internacional e com a finalidade de incentivar a apuração e produção de reportagens jornalísticas, a disputa ocorre entre trabalhos que foram divulgados em meios de comunicação social de qualquer dos
países de língua portuguesa. As reportagens "Liberdade para encenar e ensinar" do ex-monitor Carlos Eduardo Alvim do MARCO e "O papel das rádios no trânsito" dos exmonitores Carlos Eduardo Alvim, Cinthia Ramalho e Bruna Fonseca ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente, na classificação desse ano na Categoria Universitário. Carlos Eduardo em sua matéria "Liberdade para encenar e ensinar" aborda os presidiários de uma penitenciária localizada em Ribeirão das Neves que se reuniram e montaram um grupo teatral. Nas peças, eles retratavam suas vidas no crime e ao mesmo tempo conscientizavam os
CLARA MANCILHA
Carlos Eduardo Alvim conquistou 2º e 3º lugares em prêmio nacional espectadores. Carlos diz ter tido dificuldade ao se deparar com um ambiente inóspito de uma cadeia mas para ele foi mais do
que um dia de trabalho, foi uma lição de vida e um aprendizado. "Eu queria viver a realidade deles, sentir o que eles sentiam e
poder retratar tudo isso na minha matéria", conta. A outra matéria em que o ex-monitor concorreu juntamente com a equipe das estudantes e também ex-monitoras do MARCO, Cinthia e Bruna, sobre "O papel das rádios nos trânsito" foi necessário uma apuração com os jornalistas responsáveis pela cobertura de trânsito, pelos boletins diários que auxiliam as pessoas no trânsito, principalmente aquelas que dependem do trânsito para trabalhar, como os taxistas. Apesar de já ter inscrito outros trabalhos em premiações, essa foi a primeira vez que o aluno obteve reconhecimento. "Acho que a indicação e a premiação coroou um ano
de aprendizados, de experiências, de erros e acertos que a vivência do jornal laboratório nos propicia. Acho que todo estudante de jornalismo deveria participar e escrever no MARCO", afirma. O Prêmio é um incentivo para os monitores aperfeiçoarem seu trabalho, que ajuda no desempenho de qualquer profissional. "O reconhecimento é consequência, não acho que é importante. Antes de se preocupar em ganhar algo ou alguma coisa, o jornalista tem que se preocupar em fazer um trabalho bem feito, ético e sempre ouvindo as partes", opina Carlos Eduardo. GABRIELA CAMARGOS
Ginastas são destaque em evento na Suíça n GABRIELA CAMARGOS, GABRIELA MATTE, MARCELA NOALI E MARIANA NEVES 2º PERÍODO
Os 21 atletas de ginástica do Espaço Criança Esperança de Belo Horizonte mantiveram durante o segundo semestre deste ano uma rotina de treinamentos da PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico, após representarem o Brasil no maior evento de ginástica do mundo, o 14º Gymnaestrada, que aconteceu na Suiça, em meados de 2011. De acordo com as jovens Tatiane Silva e Mariana Martins, com o fim do evento, o ritmo dos treinamentos diminuiu e outros exercícios que haviam sido deixados de lado em virtude do treino para o mundial voltaram a fazer parte das atividades. A viagem chegou ao fim no dia 18 de Julho, mas quem vê o brilho nos olhos desses jovens ao falarem sobre a realização do sonho de representar o Brasil no exterior, percebe que o pensamento dos ginastas ainda se
encontra do outro lado do Atlântico e que a experiência vivida por eles não será esquecida. A equipe do Aglomerado da Serra participou em Lausanne do evento, entre 10 e 16 de julho, que acontece apenas de quatro em quatro anos. Os 130 mil habitantes da cidade suíça pararam para assistir às apresentações dos 55 países participantes. Foram cinco dias de evento, mais a abertura e o encerramento. Durante esse período, a cidade recebeu cerca de 20 mil pessoas. As apresentações não têm fins competitivos e todos podem participar; crianças, adolescentes, adultos, idosos e deficientes físicos. No meio dessa festa, o ginásio, a rua, a praça, tudo vira palco para os ginastas. A equipe do ECE-BH ficou alojada em uma escola pública infantil na cidade de Vevey, vizinha à Lausanne. Os outros 23 grupos da delegação brasileira, cerca de 700 componentes, a maior delegação da história da confederação brasileira de ginástica e delegações de diversos países também ficaram espa-
lhadas por cidades vizinhas. Os alunos do Aglomerado da Serra estavam sob a supervisão de André Neto. Marcus Vinícius Ambrosio era o auxiliar de coordenação, Margareth Ambrosio, a técnica, Fernanda Ambrosio, a auxiliar técnica e André Ferreira o auxiliar e educador social. Durante os 13 dias que passou na Europa, a equipe do ECE-BH se apresentou cinco vezes, sendo uma delas junto com toda a delegação do nosso país na noite brasileira. "Nós conseguimos, apesar das diferenças locais, demonstrar pro mundo a importância da ginástica no Brasil", diz o supervisor André Neto. Houve uma apresentação considerada marcante, na noite dedicada ao Brasil. "No dia da noite Brasil eu acho que foi a melhor apresentação que a gente fez, porque era todo mundo do Brasil junto e era uma coreografia mais bonita", recorda Tatiane Caroline de Jesus Silva, 17 anos. “Nas horas vagas e nos dias restantes, após o fim do evento, os jovens fizeram turismo, visitando castelos,
praças, lagos e museus”, acrescenta. Além da expectativa de conhecer outro país e se apresentar para milhares de pessoas, o receio de andar de avião pela primeira vez afligiu alguns dos jovens atletas do Aglomerado. Mariana Martins de Madeiros, de 14 anos, não esconde o medo que sentiu. "Foi a primeira vez que eu viajei de avião. Deu um pouquinho de medo", admite. A ginasta Tatiane Silva também relatou ter sentido muito medo de viajar de avião: "Na hora da subida e da descida são as piores horas, e na hora que o avião balança na turbulência também. Mas depois a gente vai se acostumando", disse ela. Ao ser perguntado sobre o que achou da Suíça, Daniel Gomes Prates, de 12 anos, define: "Legal! As pessoas de lá tem muita educação comparando com o Brasil. É muito bonito." Apesar dessa impressão, a auxiliar Fernanda destaca um aspecto que lhe chamou a atenção: "É muito interessante, os meninos mesmo reparam isso, o tanto que o Brasil é bem
visto nesse tipo de evento. Eles tiveram a impressão de que lá fora do Brasil, o Brasil é o máximo! Às vezes a gente estava na rua e as pessoas começavam a gritar 'Brasil, Brasil' ou começavam a cantar alguma música." A jovem Mariana Martins disse ter tido a sensação de estar em uma Copa do Mundo, tamanho o público que assistia às apresentações. Já o menino Daniel disse que apesar da enorme vergonha do público presente, ele se sentia alegre de estar ali: "Foi uma alegria, porque essa viagem muitas pessoas da minha família nunca fizeram", conta. Para ganhar confiança na hora das apresentações, Danilo de Castro Marcilio, de 12 anos, lembra que dizia para si mesmo: "Não tenha medo porque você vai conseguir". A maior apreensão do grupo, as despesas, foi resolvida a tempo. Com o patrocínio da Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude, da Unesco e de um empresário de Belo Horizonte e com a ajuda de
Ginastas treinam na PUC Minas amigos e conhecidos, toda a equipe conseguiu embarcar para a Suíça. Fernanda Ambrosio definiu a viagem como um sucesso em todos os aspectos, especialmente por ter conseguido levar todos os meninos que queriam. Segundo ela, foi um sonho realizado. "Eles fizeram bonito", ressalta. "Eles estavam com uma roupa de apresentação que era uma gracinha, conseguiram participar junto com o Brasil na apresentação que era com todo mundo. Então foi uma sensação de estar receoso e ansioso e no fim foi tudo muito lindo. Um sucesso mesmo", enfatiza. "A gente conseguiu apresentar todo o trabalho que o Espaço Criança de Belo Horizonte desenvolve", completa.
6 Cidade
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Belo Horizonte,cidade conhecida pelo grande número de bares, faz por merecer a fama ao ser reconhecida como “Capital Mundial dos Botecos”, após a sanção da lei municipal 9714 criada pelo atual prefeito Márcio Lacerda
• 2011
CAPITAL MUNDIAL DOS BARES FAZ DO NEGÓCIO UM TRUNFO RAQUEL ANDRETTO
n FELIPE AUGUSTO VIERA IGOR PASSARINI RAQUEL ANDRETTO 3º E 2º PERÍODO
Com cerca de 12 mil bares, Belo Horizonte é, desde a sanção da Lei 9714 pelo atual prefeito Márcio Lacerda em 25 de junho de 2009, a "Capital Mundial dos Botecos". O título, porém, torna oficial e atrativo para o turista que a cidade receberá na Copa do Mundo em 2014, enquanto para a população de BH, vem a ser uma reafirmação. Para Luciana Teixeira de Andrade, doutora em sociologia e professora da PUC Minas, com poucos parques e atrações turísticas, o hábito de ir aos bares pela população da cidade vem de quando ainda se chamavam "cafés". "Esses lugares se chamavam cafés, e agora são bares. Por exemplo, para as atividades culturais, sempre foi um lugar importante, e para os modernistas de Belo Horizonte tinha um lugar ali na Rua da Bahia chamado Café Estrela, que era na verdade um bar, mas se chamava café", conta. O encontro e o convívio social proporcionado pelo hábito de ir ao bar é, segundo a mestre em psicologia e professora de Análise Experimental do Comportamento da PUC Minas, Sandra Maria de Castro Bernardes, sobretudo em bares temáticos e que trazem uma identificação ao frequentador, como positiva para a constituição de laços sociais, reforçados pelo hábito de se sentar à mesa. "Tem essa natureza saudável do encontro no bar, onde se pode beber como chamamos de 'socialmente', onde se compartilha. Porque se pensarmos bem a vida da gente é muito construída em torno de mesas. A mesa de almoço, a mesa de café, a mesa de bar. E a mesa de bar é muito interessante para construir relações sociais", afirma. Algumas regiões da cidade
têm uma intensa Milton Nasmovimentação c i mento. Santa noturna, com Tereza tem, assim inúmeros bares e como o bairro restaurantes. A homônimo da Rua Pium-i, no cidade do Rio de Bairro Sion, na Janeiro, segundo Região CentroLuciana Andrade, Sul da cidade, uma história ligatem vários bares e da ao patrimônio restaurantes, um histórico da ciao lado do outro, dade. "Santa Teree é uma das rotas za tem uma hisda boemia belotória ligada à horizontina, por música que é haver muitas forte, então tem opções. Pedro uma identidade Roquete, 23 anos, cultural do bairro. Adão Lucas adora ir a bares e frequenta o mesmo há doze anos e Débora Faria, Essa coisa de ser o 24, clientes do bairro do "Clube casa sempre cheia, só trabalhabar de temática havaiana da Esquina", e a música está limos com reservas", afirma. Lanikai, ressaltam essa diversigada à boemia, então isso já dá Mas a Região reconhecida dade. "Barzinho é sempre uma um significado cultural para o como reduto boêmio de Belo boa opção, seja com os amigos bairro, e Santa Tereza é um bairHorizonte, pela tradição do cirou com a namorada. Não é semro curioso porque parece um cuito cultural, é Santa Tereza, pre que eu saio, mas gosto de pouco com o bairro Santa Tereza Bairro do "Clube da Esquina" e vim na Pium-i e de ir variando. do Rio de Janeiro que também do Bar do Bolão, considerado Já fui duas vezes ao Marília, tem essa história do patrimônio, por vários anos consecutivos o duas vezes no Albano’s e aqui no por ser um bairro mais tradiLanikai deve ser a quarta vez, cional", conta. melhor fim de noite da cidade Cliente do Bolão desde 1974, gosto do ambiente havaiano, por revistas especializadas, guias Eduardo Foster, 56 anos, vê o além da comida e de ser muito turísticos e gastronômicos. De bar como um lugar de encontro bem tratado. Acho excelente slogan "O rei do espaguete", o tanto dos jovens quanto das tantos bares próximos", diz Bar do Bolão é referência por ser famílias e ressalta o aspecto Pedro. ponto de encontro dos artistas pacato do bairro. "Santa Tereza Já o gerente do Lanikai, mineiros e que daqui surgiram tem uma população mais velha, Cláudio Lúcio Madeira, 27, afirentre eles os grupos Skank e o de pessoas idosas, mas à noite, o ma ter sido feito uma pesquisa Sepultura, além dos membros do público jovem vem para cá por para a melhor adequação do Clube da Esquina, Beto Guedes, esse aspecto de boemia, de traestabelecimento na região, assim Lô Borges, Toninho Horta e dição do bairro", como os locais R A conta. O gerente mais oportunos Adão Lucas da para a abertura de Cruz, 41, há 12 bares e restauanos no bar, rantes. "Um dos conta que todo a dois melhores noite em fim bairros da cidade semana costuma que são o Lourdes passar por lá cerca e o Sion e eu acho de mil pessoas. que são os dois "Aqui no final de pólos de BH. semana costuConstatamos que mam dar fila, e seria interessante começa na quinum bar temático, ta-feira, sendo no caso havaiano, que até quarta é que é bem diferum pouco mais ente dos demais. devagar", revela. O resultado é a Eduardo Foster é cliente do bar do bolão há mais de 20 anos Adão também AQUEL
NDRETTO
conta que mesmo trabalhando em um bar há tanto tempo, sempre depois do expediente costuma fazer um giro pelos bares, às vezes no Mercado Central, às vezes no Santa Inês. "A gente sai daqui de sábado para domingo por volta das oito horas da manhã e ainda acha tempo para ir jogar uma bolinha e ir tomar umas", conta. Além de proporcionar o ambiente de convívio, os bares também são responsáveis por gerar renda na economia da cidade. Para o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindhorb), Paulo César Marcones Pedrosa, o crescimento no setor é nítido, pois a cada dez empreendimentos cinco são em bares. Paulo também afirma que o setor de bares emprega mais que a construção civil na cidade, que estima-se serem gerados 45 mil novos empregos ligados diretamente ao setor por causa da Copa. "Porém o setor enfrenta uma dificuldade de contratar mão de obra qualificada. O Sindhorb tem uma parceria com o Sebrae para fornecer os cursos gratuitamente, mas mesmo assim, não conseguimos qualificar o suficiente porque existe uma evasão muito grande no curso", acrescenta Paulo. O movimento gerado nos bares também traz renda a outros profissionais, como é o caso do taxista Antônio Jorge dos Santos, 50 anos, que está na praça há 28. Escolheu trabalhar a noite no entorno da Praça Duque de Caxias no bairro Santa Tereza, justamente por causa dos bares da região. "O movimento dos bares atraí muito passageiro, e depois da implantação da lei seca, só tem aumentado", conta Antônio. Ele também tem muita expectativa para os frutos que a copa do Mundo de 2014 poderá trazer para o bairro boêmio.
Amigos organizam “peladas” para se integrar n GABRIEL PAZINI 2º PERÍODO
O amor pelo futebol no Brasil como todos sabem, é enorme, e o esporte é tão popular, que a qualquer hora do dia é possível ver, em qualquer lugar, pessoas praticando o exercício físico, seja de forma profissional ou não. Muitos inclusive, jogam e usam o amor pelo futebol para aproximar amigos e grupos, como é o caso de João Carlos Silva, estudante, 23 anos, que iniciou uma "pelada" com os colegas de sala para aproximar a turma. "No começo era todo mundo muito separado, ninguém conversava direito. Eu pensei em uma forma de unir a turma, e me veio à mente o futebol. Depois que começamos a jogar a pelada em todos os fins de semana, nossa sala ficou mais unida, todos con-
versavam e eram amigos", conta. Para Murillo Duarte Mares, 20 anos, e também estudante, as "peladas" foram importantes para formar e aproximar grupos, seja na faculdade, seja no colégio, mas para Mares, elas também foram importantes para manter os contatos de colégio, agora que faz faculdade. "É muito importante, pois me ajudou a manter amizades que criei no colégio. Mesmo ficando muito tempo sem se encontrar, às vezes marcamos uma pelada ou combinamos um campeonato, assim nos encontramos, mantemos contato e comentamos sobre como anda a vida", diz. Outro que acha o futebol importante para união de grupos e manter contato, é o gerente administrativo financeiro, Sanzio Prates, 56 anos, que organiza uma pelada há 30 anos e afirma
que o futebol permite a união de pessoas e classes que, normalmente, não se "misturam". "Na nossa pelada jogam pessoas de todas as classes sociais e culturais, e convivemos bem num ambiente em comum. Jogam administradores, executivos, estudantes, taxistas, e é legal, pois sempre jogamos e também fazemos festas, em que todos se reúnem. É muito bom porque conseguimos uma união e uma amizade, que, normalmente, não seria possível", conta Prates. Ele ainda afirma que o futebol é uma forma de se reunir de uma maneira mais fácil e divertida. "É difícil organizar uma festa ou algum evento. Já para jogar futebol, é mais fácil juntar a turma, achar um lugar em comum para todos e é sempre divertido", afir-
ma. Ele ainda ressalta a importância das "peladas" para a união dos grupos de amigos, manter contato e também para aproximar pessoas em comum. "É muito bom, principalmente pela questão da união. Graças ao futebol, conseguimos manter um grupo de amigos unidos, e no caso da nossa pelada, que já tem 30 anos, conseguimos fazer os nossos filhos ficarem amigos, trazendo-os sempre para jogar com a gente e rejuvenescendo a pelada", conta o gerente. Já para o jornalista Elias Luiz Mussi Falarz, 22 anos, as peladas também são importantes para unir amigos e manter contato, mas também para diversão e saúde. "É importante porque assim nos divertimos e ainda praticamos uma atividade física que faz bem à saúde", afirma.
O jornalista ainda conta histórias engraçadas das "peladas". "Uma vez, tinha chegado de viagem e fui jogar com os amigos. A mala estava na quadra, e no meio do jogo, peguei minha cueca e coloquei na cabeça. Quando cruzaram para mim, fiz o primeiro gol de cabeça e de cueca", brinca. O jornalista conta que o mais importante são esses momentos de alegria e amor que o futebol proporciona e que, consequentemente, unem ainda mais os amigos, e conta mais uma história de seus jogos. "Inventei há cinco anos o gol escorregão. Recebi a bola na área, mas me atrapalhei na hora de chutar e pisei na bola. No escorregão, a bola enganou meu amigo e entrou de mansinho no gol", conta.
Cidadania
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Novembro • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
INSERÇÃO DE DEFICIENTES NA MÚSICA Cursos oferecidos pelo Instituto São Rafael fazem da música uma nova forma de expressão para quem é portador deificiência visual, desenvolvendo um novo sentido na vida dessas pessoas LETÍCIA GLOOR
n BRENO BARCELLOS, IGOR P. SILVA, LUCAS BARBOSA, LUCAS BRUNELLI, JUNIA MASCARENHAS E JULIANA LACERDA. 1º PERÍODO
A dona de casa Cristina Silva Perez, 44 anos, nasceu com uma deficiência visual crônica. Vítima de um retalhamento na retina, ela vinha mantendo 10% da sua visão no olho direito até há dois anos, quando se submeteu a uma arriscada operação que não deu certo. A partir daí, ela já não enxergava mais nada. "Esperava-se que eu fosse entrar em depressão, mas eu aceitei tudo de uma forma bastante positiva", conta. "Claro que isso atrapalhou um pouco no dia-a-dia, porque com 10% eu ainda conseguia fazer algumas tarefas que hoje não consigo", completa. O principal motor dessa aceitação de Cristina, segundo ela mesma, foram os cursos oferecidos pelo Instituto São Rafael, em especial o coral. Fundado em 1925, a instituição atende alunos de todas as idades que possuam deficiência visual total, oferecendo meios para que esses possam executar as tarefas diárias e desenvolvam novas habilidades. "Sempre fui apaixonada por música, desde pequena. Para mim, o coral funciona para melhorar
minha autoestima, até mesmo como uma terapia. Eu costumava ser muito tímida e foi depois de vir para cá que fui me soltando", relata. Outro colega de Cristina, o aposentado Antônio Carlos Droghc, 52 anos, vai além ao descrever os benefícios trazidos não só pelo coral, mas por todas as atividades oferecidas no Instituto. "Depois que eu entrei no coral, interessei por música em geral. Estou aprendendo violão e teclado agora," diz. "Arrumei até namorada e a trouxe pra cantar com a gente. Toda vez que a gente se apresenta, sintome como uma criança", acrescenta. Casos como os de Antônio e Cristina mostram o poder transformador da arte na vida de uma pessoa portadora de necessidades especiais. Porém, ainda são poucos os lugares preparados para receber pessoas que necessitam de um aparato e de uma formação mais individualizada. O Centro de Formação Artística do Palácio das Artes (CEFAR), por exemplo, é uma das principais referências no ensino artístico na capital, mas não conta com uma estrutura para receber deficientes. "Sempre há a demanda, principalmente de portadores de deficiência visual," conta Ivanete
Mirabeau, professora e coordenadora do Cefar. "Mas não temos os equipamentos necessários para converter as partituras em Braile, por exemplo. Faltam também professores com formação específica para esse tipo de ensino", observa. Segundo o último censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 24,6 milhões de brasileiros se declaram portadores de algum tipo de deficiência, número que representa 14,5% da população total do país. Contudo, destes 24 milhões, apenas nove possuem emprego formal. A bacharel em piano e coordenadora do projeto Trupe do Trapo, Viviane Santos Louro, acha que a música é uma alternativa para profissionalizar deficientes. "As pessoas costumam achar que a música ou é algo para a inclusão ou é uma ferramenta de reabilitação que auxilia a saúde da pessoa. Mas é possível ir além desses dois paradigmas. Um deficiente pode render mais que isso", diz. "Contudo, precisamos de profissionais preparados para fazê-los render. Ensinar um deficiente é diferente. O cego consegue aprender normalmente música desde que entenda a musicografia Braile. O surdo precisa de um tra-
Na extrema esquerda, Cristina Silva ensaiava no coral junto com seus colegas de curso balho maior porque a música é uma experiência, ao menos teoricamente, completamente auditiva. Eles não ouvem, mas eles percebem a vibração do som. Nossos educadores, entretantos, estão condicionados à seguinte lógica: se eu posso dar aula para 50, porque vou me especializar para dar aula para um ou dois?", acrescenta. O professor Ivan Gomes Pereira, 36 anos, regente do Coral do Instituto São Rafael, viveu na prática esse despreparo. Cego desde os cinco anos, vítima de uma infecção provocada por um antibiótico, Ivan diz que sempre se sentiu voltado para a área musical. Quando resolveu fazer uma graduação, optou por
estudar na Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). "Havia a dificuldade em encontrar material bibliográfico e partituras no sistema Braile. Como a máquina Perx (que converte para o Braile) é pesada e faz muito barulho, eu tinha que gravar as aulas para escutar com calma posteriormente e fazer minhas anotações em casa", comenta. Solange Ferreira de Castro, 48 anos, professora de pedagogia voltada para o portador de necessidades especiais na Faculdade de Santa Luzia (Facsal) diz que a principal barreira é a força que tem o formalismo exagerado na questão curricular conteudista. “O foco pre-
cisa ser a capacidade de desenvolver o potencial que o deficiente tem e fazer com que a partir desse potencial ele possa exercer as atividades diárias dentro de uma vida normal”, analisa. Independente dos desafios a serem enfrentados pela nossa legislação, Ivan acha que ainda é válido aprender música, mesmo com as limitações. “Nunca tive problemas de autoestima, mas entendo a importância da música para quem tem. Ela tem um caráter universal que nos faz sentir mais conectados com o Altíssimo. Saber tocar um instrumento me abriu muitas portas, me fez sentir desejado nos locais”, afirma.
Relações de amizades criadas em ônibus em BH RAISSA PEDROSA
n THOMAS A.F. BAHIA RAISSA PEDROSA 2º E 3º PERÍODO
Relações de amizade são criadas de várias formas, em praças, no trabalho, com vizinhos, mas é possível também serem criadas em meios de transporte. Amizades verdadeiras, inimizades, namoros e possíveis casamentos são presenciados e vividos por diversas pessoas que utilizam ônibus, uma dessas pessoas é Frank Line Areli Cardoso, agente de bordo da linha Circular 02 A, da Viação Getúlio Vargas. Frank, 36, trabalha como agente de bordo há 14 anos, e já criou várias amizades provenientes do transporte coletivo. Alguns casos são até inusitados, como o dia em que uma passageira cobrou a passagem no lugar dele, pois ele iria chegar atrasado e entraria no coletivo mais a frente. Ao entrar no ônibus, Frank foi surpreendido. "Quando eu cheguei, ônibus lotado e as pas-
sagens cobradas, falei 'nossa menina, você me quebrou um galho' e ela respondeu 'nada, você já quebra o meu', nessa época eu a buscava na porta da casa dela quatro e meia da manhã", conta. Ela se tornou mais próxima de Frank a partir daquele dia, e ele mostra que a amizade entre eles é duradoura "Ela namorou um amigo nosso aqui, ela me contava o que acontecia, segredos, brigas entre eles, uma amizade de irmão. Isso já tem oito anos, agora ela está morando em Boston, e com planos de voltar esse ano", completa. Questionado pelo fato de a cobrança efetuada pela passageira ser ilegal, por ela não ser credenciada, Frank afirma que seus superiores ficaram cientes ."Levei uma bronca, mas ficou tudo bem, só me avisaram para não acontecer novamente", lembra. A psicóloga e psicanalista Maria Vilma Santo de Faria, acredita que
ceptível a maior aproximação entre pessoas de classe social mais baixa. "Tem algumas pessoas que não gostam muito de conversar, geralmente são pessoas com perfil de quem não costuma utilizar o transporte público", diz. A psicóloga Maria Vilma afirma que esse pensamento decorre da cultura de cada um. "Isso tem a ver com a cultura, fatores pessoais específicos, às vezes uma pessoa está passando mal e ninguém ajuda", afirma.
INCÔMODO
Frank Line trabalha em ônibus há 14 anos e já fez várias amizades esses vínculos sociais surgem de uma carência que pode vir da infância, por desejos e faltas do sujeito, que o fazem buscar uma amizade. "A vontade de fazer um laço social faz parte do ser humano também, ele tenta se conectar de
várias maneiras", analisa Maria Vilma, que acredita que alguns laços vêm da dependência entre os seres humanos. "É inerente à condição humana a necessidade e dependência do outro", acrescenta. Frank conta que é per-
Para alguns, vínculos em ônibus podem parecer saudáveis e férteis no relacionamento humano, mas por outro lado tais aproximações podem também representar um incômodo para quem pega ônibus todos os dias. Que o diga a psicóloga Danienne Cássia dos Santos, também frequentadora diária de ônibus, que se sente incomodada
com os relacionamentos que acabam invadindo o espaço do outro. "As pessoas falam da vida delas nos ônibus e em lugares que me impressiona. Elas começam a conversar e falam alto, e não estão nem aí! Então a gente fica sabendo da vida de todo mundo", conta. Ainda segundo Danienne, vínculos sociais em ônibus estão fadados a acontecer: "As pessoas vão se conhecer no ônibus, não tem jeito". A usuária também relata algumas anedotas que presencia no ônibus. "O ônibus que eu pego de manhã cedo, dependendo do horário que eu vou, tem um grupo de pessoas que sempre se encontra, tem gente que leva até violão. Às 06h20 da manhã já tem gente tocando desafinadamente. E as pessoas se identificam, gostam e querem cantar também, e aí acabam fazendo laços", completa.
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UM TRATAMENTO DE ALEGRIA QUE AJU Atos de solidariedade ajudam a elevar a autoestima e a reforçar o bom humor de internos com diferentes tipos de câncer. Por meio da musicoterapia, apresentação de teatro, palhaços, doação DANIELA REZENDE
n DANIELA REZENDE DENISE NIFFINEGGER LÍVIA ARCANJO SARA SOUZA SILVIA VOLPINI 7º PERÍODO
Ao contrário dos grandes camarins reservados aos artistas em suas apresentações, a pequena sala destinada à transformação do ator Marcelo Rocco, de 30 anos, em um palhaço é modesta e não ressoa o esplendor dos grandes palcos. Entretanto, a técnica usada pelo integrante da Cia do Riso, trupe teatral dedicada a melhorar a rotina de pacientes em hospitais, não o diferencia de outros profissionais na tentativa de produzir risadas e amenizar o sofrimento. No pequeno cômodo localizado em uma antiga ala do Hospital Mário Penna prestes a ser demolida, Rocco passa maquiagem, veste o jaleco e com licença poética encarna um médico diferente dos demais. Ele não se esquece de um acessório essencial da fantasia: o nariz de palhaço. "A menor máscara do mundo", diz. Enquanto o rosto do artista se funde ao do personagem, a realidade dos pacientes não é ignorada. Aqueles que estão no setor de oncologia e aguardam uma cirurgia ou se restabelecem do procedimento, muitas vezes encaram o câncer com medo e descrença e, nesse momento, precisam da ajuda de psicólogos e da presença de terapeutas. É o caso de Nardele Flores, que há dez anos trabalha na unidade de saúde como terapeuta ocupacional. Ela explica que os trabalhos voluntários e projetos com o objetivo de aumentar a autoestima dos internos podem refletir em estímulos físicos como o
Marcelo Rocco e Nardele Flores prontos para levar alegria e descontração até os pacientes no setor de oncologia aumento ou diminuição da frequência cardíaca, resultando em alívio e outras melhorias significativas durante o tratamento. Para isso, os pacientes e seus acompanhantes são incentivados a participar de brincadeiras. "A pessoa deve atuar no próprio tratamento", conta Nardele. A visita aos quartos é realizada apenas com a permissão dos pacientes. Em parceria desde 2007, Marcelo Rocco e a terapeuta ocupacional Nardele Flores realizam diariamente o trabalho com os pacientes. Os outros integrantes da Cia do Riso se juntam aos dois para completar a equipe. Marcelo,
ator formado pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), conta que a metodologia da companhia, denominada "terapia do riso", é baseada na técnica do médico estadunidense Patch Adams, que inspirou o filme homônimo, lançado em 1998. O lema do grupo é "deixar menos brancas as paredes do hospital. Deixar as coisas mais coloridas". Para isto, ele faz uso de brincadeiras que proporcionem leveza e descontração. "Nós utilizamos piadas ingênuas", explica, contando que as visitas não contêm qualquer apelo moral e religioso e que a única tática utilizada é a explo-
ração do humor e do amor ao próximo. Aliada à terapia do riso, a musicoterapia, realizada por Nardele Flores, também faz parte do tratamento. As canções apresentadas pela terapeuta são variadas. Ela toca e canta todo gênero musical, inclusive gospel, se este for o desejo dos pacientes. "Nas visitas, nós tentamos realizar as vontades deles", diz. A terapeuta ocupacional, que teve paralisia infantil e se locomove por meio de uma cadeira de rodas, acredita que os doentes se identificam com a deficiência dela transmitindo confiança. "A
doença aproxima as pessoas", explica. Ela conta que é necessário perceber a doença não como um fardo, mas como uma possibilidade de aprendizado e crescimento pessoal. "A doença não é um castigo. É preciso saber otimizar as deficiências", conta Nardele, que ao final das visitas sempre leva uma mensagem de apoio e perseverança aos pacientes. Para Marcelo Rocco e Nardele Flores, cada encontro é uma experiência diferente e mesmo com anos de trabalho é impossível não se emocionar a cada vez que entram em um quarto de hospital. Segundo eles, o controle emocional só é adquirido com o passar do tempo. Os anos de trabalho permitiram que eles apurassem a percepção. Hoje, ao entrarem em uma ala, já conseguem identificar o que o paciente precisa, ora uma palavra de conforto, ora um momento de diversão. O ator e a terapeuta fazem questão de frisar que o trabalho que realizam não se trata de voluntariado e sim de tratamentos pagos. Nardele Flores é remunerada pelo Mário Penna por ser funcionária da instituição. Já a Companhia do Riso recebe um apoio financeiro para prestar o serviço à unidade de saúde. A preocupação da dupla é não esconder dos pacientes que a atividade de confortar o próximo é como um outro trabalho qualquer - daí a necessidade de remuneração. Nardele explica que existe um cuidado com o bemestar físico e psicológico dos pacientes. Para isto, ela lê os prontuários, para obter ciência do quadro clínico dos pacientes que vão visitar. O tempo estipulado para cada visita gira em torno de cinco minutos, mas pode ser alterado de acordo com a receptividade dos pacientes. DANIELA REZENDE
Estímulo para os pacientes começa dentro do hospital Após a transformação, o hospital se torna um palco para o trabalho dos profissionais. Pacientes, acompanhantes e funcionários são abordados pela dupla e participam da brincadeira. O palhaço Rocco passa por um grupo de médicas e enfermeiras e, "acidentalmente", deixa cair um sutiã levando todos a dar risadas e criando um ambiente ameno, em um local conhecido por gerar mal-estar naqueles que precisam frequentá-lo. No caminho em direção aos quartos, o "doutor especialista em besteirologia" continua brincando e é recepcionado com alegria por quem trabalha no setor de oncologia. Com cuidado o ator e a terapeuta entram no primeiro quarto em que cinco pessoas descansam e se entretêm com programas de televisão. Os acompanhantes são os primeiros a sorrir com a chegada da dupla. Alguns pacientes dormem e outros têm dificuldade para falar ou se mover por causa da cirurgia recente. Ainda assim, a maioria participa ativamente das atividades propostas pelo palhaço, como colocar perucas de diferentes cores e formas. Quem não pode bater palmas ou cantar, mexe os pés ao som da música entoada por Nardele.
Em outro quarto, quatro homens descansam. Um deles passou por uma cirurgia há pouco tempo e está abatido. Outro aguarda o momento de ser chamado para fazer o mesmo procedimento. O clima no local já é de animação e os internos e acompanhantes conversam amigavelmente como conhecidos de longa data. A chegada do palhaço atrai a atenção dos pacientes que se levantam a pedido de Nardele para participar do momento de descontração. As sugestões de Rocco são aceitas prontamente ao som de gargalhadas e eles não se incomodam em colocar perucas, tiaras e corseletes. Os visitantes também são incentivados a dançar e cantar acompanhando as músicas de Nardele. Apesar dos risos e brincadeiras, nem todos interagem. O "grande laboratório da vida" para a terapeuta comprova que nem todos encaram o projeto da mesma maneira e a subjetividade do interno e de seus parentes deve ser respeitada. Ao final da visita, o ator, que acredita que o teatro tem uma função social, se sente realizado ao perceber que a sua terapia, mais que o riso, levou alento a quem passa por uma difícil fase da vida.
Os pacientes com câncer recebem a apresentação de Marcelo e Nardele DANIELA REZENDE
Maria da Consolação e sua filha, que sempre a acompanha em suas sessões de quimioterapia
Especial Saúde
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Novembro • 2011
JUDA A REESTABELECER A ESPERANÇA de perucas, voluntários conseguem, dentro de vários hospitais, interagir com portadores da doença e, com terapias alternativas, essas pessoas colaboram nos momentos difíceis dos pacientes DANIELA REZENDE
Doação de perucas auxilia na recuperação de mulheres com câncer Aos 49 anos, Maria da Consolação de Araújo recebeu a notícia que pela segunda vez estava com câncer. Há seis anos, a doença foi diagnosticada na mama esquerda, e há três meses foi descoberto um nódulo na outra mama. As dores na coluna identificaram a presença do câncer nos ossos. O tratamento começou imediatamente, a cada três semanas vai ao hospital realizar as sessões de quimioterapia. O cabelo começou a cair naturalmente e ela arrancava com as mãos. "Eu puxava e caía aquele monte de cabelo. Pois é, vai cair mesmo, vou adiantar", lembra. A touca com tons de verde, combinando com os olhos, escondia os poucos fios de cabelo que restavam. Desde outubro de 2010, Nelsione Ozana Dias, 50 anos, sai de Santa Luzia para fazer o tratamento do câncer de mama no Hospital Mário Penna. A cirurgia foi feita com sucesso e hoje ela faz as sessões de quimioterapia uma vez ao mês. O cabelo, que caiu no início do tratamento, ainda não cresceu, mas a expressão do sorriso estampado no rosto de Nelsione continua lá, aguardando ansiosamente. "Não vejo a hora desse cabelo desenvolver. Todo dia eu olho no espelho para ver se está crescendo", afirma.
Maria da Consolação exibe peruca doada por campanha DANIELA REZENDE
Nelsione: quando eu uso a peruca acho que fico mais bonita
Os fios caem sempre no início da quimioterapia. A sobrancelha e os cabelos são os locais onde a queda fica mais aparente. O uso de toucas, lenços e principalmente de perucas – que mais se aproximam dos cabelos naturais – é uma maneira de resgatar a vaidade feminina e melhorar a imagem que as mulheres têm de si mesmas. "A questão da autoestima vai além e influencia em três âmbitos: a relação das pacientes com a sociedade, com as pessoas ao redor delas e com elas mesmas", explica a psicóloga do Hospital Mário Penna, Andréa Gazzinelli, de 34 anos. Convivendo diariamente com clientes que lidam com a perda dos cabelos, as sócias do Núcleo de Terapia Capilar, Ana e Fernanda Tompa, tiveram a ideia de criar uma campanha para arrecadar perucas das clientes que já haviam passado pelo processo de quimioterapia e que agora não precisavam mais de um cabelo artificial. "As mulheres acabavam o tratamento e queriam vender a peruca, que não tinha mais serventia. Como muita gente batia à nossa porta pedindo doações, nós pensamos que poderíamos fazer alguma coisa para ajudar essas pessoas", explica Fernanda. O Instituto Mário
Penna foi o escolhido como parceiro para a doação das perucas. Ao todo foram 11 exemplares destinados à seção de oncologia do hospital. Fernanda lembra que, no dia em que as doações foram entregues, a maioria das pacientes usava lenços, chapéus e toucas. Para muitas, aquela peruca era o primeiro contato com um cabelo após meses. "Os olhos delas encheram de lágrimas. Uma delas até comemorou que agora ia poder sair de casa e ter uma vida normal de novo", conta a sócia do Núcleo de Terapia Capilar. Não precisa ser especialista para saber que os cuidados com os cabelos fazem parte do universo feminino em várias gerações de idade. A queda dos fios ocasionada pela quimioterapia afeta principalmente o campo emocional das jovens, adultas e senhoras acometidas pelo câncer. "Nós, mulheres, temos cabelo loiro, moreno, curto, comprido e só nós sabemos o quanto ele influencia a nossa vida. Por isso, não tem nada que se compare à sensação de poder devolver um pouquinho da autoestima e da felicidade para as pacientes em tratamento", afirma Fernanda. A vaidade feminina é tanta que o desejo de algumas das mulheres é ter uma peruca similar ao cabelo natural. Por isso, existe também um processo de aceitação do novo visual. Maria da Consolação tinha muito apego pelo cabelo comprido e castanho. Diante disso, sua primeira reação
ao receber a peruca com o cabelo curto e claro foi dizer: "eu nunca me senti loira". Havia uma surpresa reservada para ela. "Tem uma outra peruca aqui. Você quer trocar?", indagou uma das funcionárias da administração do Mário Penna. Os olhos de Maria da Consolação se viraram e se depararam com cabelos castanhos e lisos, na mesma tonalidade e textura dos fios de seu cabelo natural. O olhar, agora com satisfação, demonstrou o quanto ela gostou do novo presente. Ao se olhar no espelho rosa e pentear o novo cabelo, a expressão era da mais pura alegria. "Essa aqui eu vou usar. Vai ficar bem natural, lisinha e brilhando. Muito mais gostosa que a outra", disse ao experimentar o novo adereço. O lenço na cabeça de Nelsione tinha uma justificativa: a peruca que ganhou há aproximadamente 30 dias tinha sido lavada. Ela usa constantemente quando sai de casa. O cabelo castanho claro de Nelsione "era grandão" e quando começou a cair foi muito difícil para se acostumar, mas o presente serviu como um alento. "Fiquei muito alegre e satisfeita. Ela é castanha clara e no ombro. Quando eu uso a peruca eu acho que fico mais bonita. Se eu não fosse casada, ó!", brinca Nelsione, durante a sessão de quimioterapia.
Iniciativas contribuem para amenizar a dor de pacientes Terapia do riso, musicoterapia, "Doe Palavras" e doação de perucas são ações realizadas em hospitais que têm o objetivo de resgatar a autoestima dos pacientes com câncer, tornando mais leve um momento da vida tão delicado, tanto para o interno, como para a família. Os resultados dessas terapias alternativas vinculadas ao tratamento da doença têm sido observados por médicos e psicólogos que acompanham o dia a dia dos pacientes internados. Para a psicóloga e psicooncologista do Instituto Mario Penna, Andréa Gazzinelli, o bom humor é requisito fundamental para lidar com o tratamento do câncer já que, muitas vezes, a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia têm fortes efeitos colaterais. "Quando a autoestima é favorecida, o paciente encara melhor o
tratamento, a relação com o mundo, com as pessoas e, principalmente, com ela mesma", afirma. Com a psicóloga, faz coro o oncologista do mesmo instituto, Fábio Reber. Ele acredita que muitas pessoas que estão hospitalizadas demonstram carência, por isso essas ações se apresentam como uma possibilidade de ajuda muito importante. "O que observamos é uma melhora no prognóstico dos pacientes que estão dispostos a receber esse tipo de apoio", esclarece o médico, ressaltando que alguns pacientes podem rejeitar as terapias. A psicóloga do hospital acredita, também, que cada paciente responde de um jeito diferente à oferta de ajuda. Ela conta que já recebeu um pedido de um senhor hospitalizado para que instituto parasse de realizar o projeto "Doe
Palavras" - um movimento que recebe mensagens de força aos pacientes com câncer. "Ele detestava o projeto porque achava que as mensagens os deixavam ainda mais deprimidos", conta. Há seis anos trabalhando no Instituto Mário Penna com pacientes com câncer, Andréa relata que a queda de cabelo é o primeiro impacto visível da doença, que pode ser mais facilmente assimilado ou pode ocasionar um processo de depressão, sobretudo nas mulheres, para as quais o cabelo é um forte elemento de feminilidade. A queda de cabelo está associada a um soro de cor vermelha usado no tratamento quimioterápico. O oncologista Fábio Reber explica que, principalmente entre pacientes do sexo feminino, criou-se assim, um mito em
torno da "quimioterapia vermelha". "A primeira pergunta de vários pacientes é se ele vai fazer a terapia vermelha ou branca. Mas a cor não está diretamente ligada ao efeito colateral que o tratamento pode gerar no paciente. Cada organismo pode reagir de uma maneira", esclarece. Os médicos ressaltam, ainda, que a queda da autoestima ocasionada pela perda de cabelo foi mais facilmente superada pelas pacientes que receberam as perucas doadas por um núcleo de terapia capilar. A psicóloga do instituto conta que observou nas pacientes a revitalização da energia para lidar com a doença e a melhora do humor." A peruca dá coragem para enfrentar a sociedade, o mundo. Dá coragem para sair de casa e encarar as pessoas", acrescenta.
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DIABETES: O DESAFIO DE MILHÕES DE PES A doença, que atinge um grande número de pessoas no mundo todo, exige um controle rigoroso. Portadores da diabetes relatam as dificuldades que enfrentam no dia da dia para se alimentar e as LUIZA FONSECA
n FERNANDA BORGES, LEONARDO DIAS, LUIZA FONSECA, RODRIGO RIOS 7º PERÍODO
A rotina do estudante de Ciências Biológicas Patrick Thadeu não é tão fácil. Portador de diabetes, a preocupação com a dieta é constante, os horários para alimentação são rígidos, é preciso furar o dedo várias vezes ao dia para medir o nível da glicose no sangue, a insulina precisa ser aplicada mais de uma vez por dia, entre muitos outros cuidados especiais com a saúde. É uma vida diferente, mas não impossível. Aos 25 anos, Patrick já se acostumou com a rotina. Ele se alimenta normalmente, evitando o consumo exagerado de carboidratos. O açúcar, é óbvio, é limitado na rotina, e o medicamento é utilizado conforme a necessidade. Para saber se é preciso ou não aplicar a insulina no sangue, Patrick faz o exame de medição seis vezes por dia. Dependendo de como estão os níveis, ele analisa se precisa da insulina ou não. "Atualmente, nada mais me incomoda, apesar de furar o dedo e aplicar insulina, o que às vezes provoca uma certa dor", diz o estudante, con-
A médica Janice Reis aconselha os diabéticos a ter uma alimentação saudável para o controle da glicose no ambulatório da Santa Casa formado. A diabetes é uma das doenças que mais crescem no mundo. Já é considerada a epidemia do século e afeta pelo menos 284 milhões de pessoas. Especialistas são unânimes ao afirmarem que um bom nível de glicose no sangue é essencial para a saúde. Quem é diabético precisa testar os níveis de glicose várias vezes ao dia, geralmente utilizando um dispositivo de punção para furar a ponta do dedo e tirar sangue. Somente dessa forma o portador da dia-
betes consegue saber se, naquele instante, é ou não é necessário aplicar a insulina. A pessoa doente geralmente sente sede, fome e cansaço intensos, além da vontade de urinar com frequência e dificuldades na visão, podendo até chegar à cegueira se a doença não for tratada. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença vai crescer 54% no mundo nos próximos 20 anos. A melhor forma de preveni-la é ter bons hábitos alimentares, controlar a glice-
mia, a pressão arterial, não fumar e praticar exercícios físicos regularmente. Ou seja, levar uma vida saudável e equilibrada. O endocrinologista especialista em diabetes Levimar Rocha conta que muitas pessoas não sabem que têm a doença e nem o que ela é exatamente. Quando apareceram os primeiros casos, ela era uma doença tenebrosa, cheia de mitos. Hoje, com o uso da insulina, pode ser controlada. Levimar explica que, dependendo do tipo da diabetes que o paciente tem,
a glicose é quase que totalmente eliminada na urina, não penetrando nas células do organismo. A insulina é o que facilita essa entrada. Por isso, deve ser aplicada sempre que o nível de glicose no sangue estiver baixo. "O controle da diabetes é como se fosse a cadeira que nós sentamos. São quatro pés: o primeiro seria a medicação adequada, o segundo seria a boa alimentação, o terceiro uma atividade física prazerosa de acordo com os limites do paciente e o quarto pé seria a educação, o conhecimento sobre a doença. E, hoje em dia, essa informação está em falta para a população", explica o médico. Para a criança existem particularidades, pois os efeitos da doença podem aparecer mais rapidamente. A criança desidrata muito rápido, podendo entrar em coma. Além disso, a imaturidade gera uma fase de rebeldia, de ficar se perguntando por que ela tem que fazer dieta e o colega não precisa. "Se ela conhecer bem o que é a doença e como funciona o organismo, é mais fácil lidar com a diabetes. A falta de conhecimento é que traz as maiores complicações para todos", afirma Levimar. RODRIGO RIOS
Pesquisadores desenvolvem aparelho para diminuir sofrimento de doentes Na tentativa de amenizar os pontos mais difíceis da rotina dos portadores de diabetes, pesquisadores da PUC Minas desenvolveram um aparelho que mede o nível de açúcar no sangue sem a necessidade de o paciente furar o dedo. O aparelho está sendo desenvolvido por professores e alunos do curso de Engenharia Eletrônica e é capaz de medir sinais do organismo que identificam o nível de glicemia no sangue a partir da observação da quantidade de calor, do fornecimento de oxigênio local e da concentração de glicose. O principal objetivo é proporcionar mais conforto, especialmente para o paciente internado em uma UTI, que já se encontra bastante debilitado e está sujeito a várias intervenções como a coleta de material para exames. Além disso, proporcionar informação contínua para os médicos sobre o estado do paciente em termos de nível de
glicose no sangue. Para os médicos que atendem em uma UTI, essa informação contínua disponível em um monitor próximo à cama do paciente agiliza muito o controle da medicação e acompanhamento do tratamento. Flávio Maurício de Souza e Sady Antônio dos Santos Filho são os professores responsáveis pelo projeto desenvolvido pelos alunos. Eles explicam que essa iniciativa surgiu no desenvolvimento de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), fase obrigatória para os alunos graduandos da PUC. Há aproximadamente dois anos, os cursos de Engenharia Eletrônica e de Telecomunicações da universidade mantêm uma parceria com o hospital Felício Rocho. A intenção é atender a demanda de ambos os lados em termos de projetos na área de equipamentos médicos hospitalares. Pelo curso, a demanda se encaixa nas propostas de projetos que pre-
cisam ser desenvolvidas pelos alunos. Já para o hospital, a vantagem é a criação de novos equipamentos em função das necessidades observadas pelos médicos durante o exercício da função. Sinval Lins Silva, médico da UTI do Felício Rocho, que também é engenheiro eletricista formado pela PUC Minas, propôs o desenvolvimento de um equipamento para medição contínua do nível de glicemia utilizando método não invasivo para a medição. Foi com base nessa proposta que surgiu a ideia de se criar o aparelho. O invento calcula o nível de glicose no sangue a partir da observação de três variáveis obtidas por meio não invasivo, ou seja, não é preciso furar o dedo do paciente para coletar uma amostra de sangue. As variáveis a serem analisadas são coletadas por meio de sensores e processadas por um microcontrolador para se obter continuamente o nível de RODRIGO RIOS
O professor Flávio Maurício de Souza explica que a comercialização do aparelho depende de mais investimentos
Sady é um dos professores do curso de Engenharia Eletrônica que desenvolve o aparelho glicose do paciente. Para a leitura e processamento dos dados foi também desenvolvido um software em que os gráficos representativos dos resultados podem ser visualizados na tela de um computador ou um monitor, o que é um avanço para a rotina de quem sofre com a diabetes. A ideia do projeto é que este equipamento possa ser utilizado de uma forma portátil, para que esta informação esteja sempre disponível para o diabético sem a necessidade da coleta de sangue. Com o desenvolvimento da pesquisa foi feito um modelo e um protótipo para aplicação deste método, porém, para a comercialização, é preciso mais investimentos, de modo que ele possa ser transformado em um aparelho com reais condições de ser utilizado em todos os hospitais e em casa. "Ainda há um longo caminho a ser percorrido até chegarmos a um aparelho comercial. Estamos em fase de pesquisa com sensores para obtenção das informações precisas e confiáveis das três variá-
veis necessárias para fazer o exame. Obtendo sucesso nessa pesquisa, os próximos passos serão os testes para validação do processo e, em seguida, a criação do protótipo para testes em pacientes. Estamos elaborando uma proposta para ser apresentada em vários órgãos de fomento e esperamos ter sucesso na obtenção de recursos para dar prosseguimento ao projeto, que já se mostrou bastante viável", explica o professor Flávio Maurício. O jovem portador de diabetes, Patrick Thadeu, afirma que o novo aparelho medidor de glicose facilitaria muito a vida dele, mas desde que ele fosse adequado ao estilo de vida atual, ou seja, teria que ser leve e compacto para ser facilmente transportado durante a rotina diária de cada um. Segundo ele, os diabéticos se preocupam muito com comodidade e facilidade, pois eles já convivem com várias outras preocupações, como, por exemplo, com uma alimentação saudável.
Especial Saúde
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Novembro • 2011
SSOAS PARA CONTROLAR A DOENÇA limitações impostas pela doença que atinge 7,6 milhões de brasileiros. Especialistas, além de colocar em debate melhores formas de tratamento, dão conselhos para uma alimentação mais adequada
Dicas de alimentação saudável para o diabético LUIZA FONSECA
Ser diabético já é difícil. Manter uma alimentação saudável é um pouco mais complicado. Atualmente, grande parte da população não tem muito tempo de pensar no que vai comer e como vai comer. Na correria do dia a dia, muitos comem na hora que dá tempo, ou o que é mais rápido, e nem sempre as opções mais saudáveis são encontradas dessa forma. Além disso, o avanço do número e variedade de restaurantes fastfood é alarmante. Como ser diabético em um mundo assim? Na opinião do endocrinologista Levimar Rocha, comer bem não significa comer muito. É preciso aprender a comer. Os alimentos gordurosos promovem uma sensação de saciedade maior. Muitas vezes as pessoas comem para ter essa sensação e não para nutrir o corpo adequadamente. Os horários de alimentar devem ser cumpridos para que o organismo funcione bem. Não se pode ficar horas sem comer e depois comer em grande quantidade. Talvez, a necessidade de se
ingerir um alimento gorduroso pode ser ocasionado por uma falta de vitamina no organismo. Sendo assim, a combinação de diferentes alimentos é muito importante para o dia a dia alimentar. Nas crianças, a alimentação inadequada e falta de atividade física são os principais motivos do crescimento da diabetes. De acordo com o nutricionista Rodrigo Oliveira, uma alimentação equilibrada é aquela que contém todos os nutrientes: carboidratos ou açucares, proteínas, gorduras, sais minerais, vitaminas, fibras vegetais e água. É necessário incluir em todas as refeições um alimento de cada grupo (fontes de carboidratos, gorduras, proteínas e vitaminas). A Associação Nacional de Assistência aos Diabéticos (ANAD) publicou, no site da instituição, dicas sobre o consumo de alimentos pelos diabéticos. "Os insulino-dependentes devem ajustar o horário e a quantidade de alimento consumido a seu tratamento com insulina, já os que não depen-
dem do recurso, devem realizar no mínimo quatro refeições por dia. O equilíbrio na alimentação facilita o aproveitamento dos nutrientes. "Dentre todos os alimentos que são consumidos por todas as pessoas, uma categoria deles é especialmente benéfica aos diabéticos: as fibras. Os alimentos ajudam a controlar os níveis de gordura no sangue e de glicose, prevenindo contra hiperglicemia (alta taxa de açúcares no sangue). Esse tipo de fibra pode ser encontrado nas leguminosas (feijão, lentilha, grão-debico e soja), legumes, verduras, aveia e cevada. Um dos grandes problemas dos diabéticos brasileiros é a alta carga tributária impressa nos produtos "diet", o que retarda um pouco a disseminação desses alimentos em ambientes mais populares, dificultando a compra. No entanto, o consumo desses produtos deve ser feito apenas sob orientação médica, em virtude dos recursos utilizados para suprir a falta de açúcares na composição.
Enfermeira fala aos participantes sobre a importância de uma boa higiene bucal
Especialistas discutem as formas de tratamento Existem dois tipos de diabetes: o tipo 1 e o 2. O primeiro é auto-imune, com destruição das células produtoras de insulina pelo próprio organismo. O segundo está relacionado à obesidade, ao sedentarismo. Geralmente aparece devido aos maus hábitos, com incapacidade de absorção da insulina produzida pelo corpo. A endocrinologista Janice Sepúlveda Reis, coordenadora do Ambulatório de Diabetes Tipo 1 da Santa Casa de Belo Horizonte, afirma que a aplicação de insulina deve ser iniciada assim que é diagnosticada a diabetes tipo 1. No caso 2, apenas quando a taxa glicêmica não é reduzida por meio de medicamentos orais. A equipe de Janice é formada por 11 profissionais: três endocrinologistas, três nutricionistas, uma enfermeira, duas psicólogas e dois educadores físicos. Todas as quintas feiras de manhã, o grupo se reúne para atender os diabéticos em um hospital de Belo Horizonte. Informações rele-
vantes para as rotinas são expostas nas reuniões, divididas em atendimento psicológico, programa de educação em diabetes, programa nutricional e educação física. Os pacientes são informados sobre como lidar com a doença de forma simplificada e aprenderem as atividades básicas da rotina do diabético: como aplicar insulina e montar o cardápio ideal. A psicóloga Sônia Maulais, que ministra a atividade "Dia-Bem no Diabetes", explica que entre os iguais é mais fácil lidar com a doença. "Aqui todos têm o mesmo problema. Eles saem do isolamento e vêm compartilhar experiências. Quando as pessoas entendem melhor o que têm, entram na fase da aceitação. No início, muitos preferem não acreditar que são portadores de diabetes, alguns ficam revoltados”, diz. Ela percebe o bom resultado das conversas em grupo quando vê a melhoria no cuidado dos pacientes com eles mesmos, especialmente na mudança de
hábitos. "Quem dera se nossa alimentação fosse tão saudável quanto a deles!", brinca. Janice lembra que a diabetes não tem cura, mas pode ser controlada. "É importante educar-se em diabetes continuamente, manter a alimentação saudável, peso normal, realizar atividades físicas e usar a medicação recomendada pelo especialista", explica. Quanto às dificuldades para lidar com a doença, Janice é otimista. "O diabetes é uma doença que exige um tratamento interdisciplinar, com profissionais especializados. Quando feito adequadamente, não se torna mais difícil que nenhuma outra doença", afirma. Muitos diabéticos não apresentam sintomas. Quando há aumento da vontade de urinar, sede intensa, fome e perda de peso, a doença já está em fase de progresso e é um perigo para o paciente. O médico deve ser procurado assim que a pessoa apresentar algumas dessas características. “Em exames de rotina, em pacientes LUIZA FONSECA
Equipe da endocrinologista Janice Sepúlveda Reis, coordenadora do Ambulatório de Diabetes Tipo 1 da Santa Casa de Belo Horizonte
de risco (obesos, sedentários, hipertensos, gestantes, etc), os testes de rastreamento do diabetes devem ser realizados", alerta. Para Janice o paciente que não adere ao tratamento realizando a reeducação alimentar, ingerindo os medicamentos necessários e praticando atividades físicas regulares, raramente controlará a doença, ficando sujeito às complicações. O apoio da família é indispensável e a existência de sites e publicações especializados também são importantes. "Os diabéticos e familiares devem buscar informações em sites com informações confiáveis, além de serviços de referência em sua região", lembra. O endocrinologista e pneumologista Nilton Natal de Moura, que possui um
consultório na região central de Belo Horizonte, já tratou de muitos diabéticos do tipo 2. Nilton adverte que, no mundo contemporâneo, o ser humano faz tudo de modo rápido e dispensa pouca atenção para a saúde. Uma grande quantidade de alimentos com açúcares e gorduras é ingerida pela população em geral, que não é grande adepta dos exercícios físicos, segundo ele. Em relação à invenção do aparelho pelos professores da PUC Minas, ele é otimista. "Será muito bom o dia que isso for para o mercado. Dessa forma, não só o tratamento do diabetes será facilitado como diminuirá o medo das pessoas em fazer exames de sangue para saber se tem a doença ou não", diz.
Brasil em quinto lugar Atualmente, relatórios da Federação Internacional de Diabetes (FID) mostram que atualmente, o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de nações com maior número de diabéticos, com 7,6 milhões de doentes. Esse número deve crescer 67% nos próximos 20 anos entre adultos de 20 a 79 anos. O diagnóstico de diabetes atinge 6,3% da população adulta, sendo maior em mulheres 7% do quem em homens, 5,4%. Especificamente em Belo Horizonte, 5,7% da população têm diabetes, 5,9% do
sexo masculino e 5,6% do sexo feminino, segundo dados da Vigilância de Risco e Proteção Para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico(Vigitel), divulgados em março de 2011. Nos três primeiros meses deste ano, os portadores da doença ocuparam 36.267 leitos em todas as unidades de saúde pública no país. Entre 2008 e 2009, percebese que houve um aumento de 7,1% de pacientes com diabetes internados, passando de 131.734 para 141.174, de acordo com a Vigitel.
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CULTURA ACESSÍVEL À POPULAÇÃO Desde 1997, o Centro de Cultura Belo Horizonte promove diversas atividades e exposições. Referência cultural na capital mineira, o centro tem como objetivo incentivar a reflexão sobre a cidade VICTOR LOUVISI
n VICTOR LOUVISI 3º PERÍODO
No centro de Belo Horizonte, entre a Rua da Bahia e a Avenida Augusto de Lima, encontra-se um tesouro. É o Centro de Cultura Belo Horizonte (CCBH), que além de ter uma arquitetura belíssima, vem desde 1997, por ocasião das comemorações do Centenário de Belo Horizonte, promovendo os mais diversos eventos culturais, para belo-horizontinos e visitantes. Seu edifício neogótico, em estilo manuelino, que data de 1914, é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte. Foi sede de diversas instituições: Conselho Deliberativo da Capital, Biblioteca Municipal e a primeira rádio da cidade, PRC-7, Rádio Mineira. Além disso, abrigou as primeiras aulas da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Câmara
Municipal, o Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães e também o Museu da Força Expedicionária Brasileira. Hoje o CCBH é um equipamento da Prefeitura Municipal e está subordinado à Fundação Municipal de Cultura (FMC). Com a reforma administrativa, que ocorreu no início do ano, o CCBH passou a integrar o Museu Histórico Abílio Barreto. Segundo seu gestor, o historiador Gilvan Rodrigues, o Centro de Cultura tem por objetivo incentivar a cultura por meio de diversas ações, tais como exposições, palestras, mostras de vídeo e cinema etc, e refletir sobre a cidade, sendo um local onde é possível pensá-la. "O CCBH é um patrimônio da cidade que todos têm o direito de usufruir com responsabilidade", afirma. E destaca as palestras como um dos principais meios para isso. "As que apresentam temáticas associadas à cidade chamam as pessoas para a reflexão sobre a própria urbe e a relação
O CCBH possui 1300 obras para empréstimo em seu acervo que o cidadão tem com este espaço, isso é muito importante", diz Gilvan. Atualmente, o CCBH direciona suas atividades estimulando e divulgando produções artístico-culturais de Belo Horizonte, tendo em prol da valorização da memória e da diversidade cultural da cidade, buscando também interagir com o seu entorno, já que está localizado no hipercentro.
SERVIÇOS Entre os oferecidos pelo CCBH está o empréstimo de livros, que estava suspenso
Museu Abílio Barreto discute diversidade religiosa na capital n VICTOR LOUVISI 3º PERÍODO
No Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), acontece a exposição Vozes do Silêncio: memória cultural – a materialização do intangível na cultura de Belo Horizonte. A iniciativa, que é uma parceria com o Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, tem por objetivo discutir a diversidade religiosa da capital mineira. A mostra revela ao público parte do patrimônio imaterial religioso belo-horizontino. São festas populares e tradicionais de diferentes religiões que podem ser vistas por meio de objetos, músicas, fotografias, e de outros elementos que permitem visualizar o fenômeno religioso em Belo Horizonte. Montada no casarão centenário, onde hoje é espaço expositivo, pode-se observar aspectos das religiões: católica ocidental, e católica oriental, através do sacramento do matrimônio, da religião judaica, com a Páscoa, com da religião mulçumana, com o Adhan, chamamento para as preces e o Khutba, culto que antecede a oração, um dos principais ritos do Islam, como também, o sin-
que trabalha no museu há cretismo religioso das religiões afro-brasileiras e quatro meses, diz ter ameríndias, como o cangostado muito da mistura domblé e o congado. de religiões. "Muito bonita Curadora da exposição, a exposição. O que eu mais a professora Mônica gostei foram as vestimenEustáquio diz que o objetas", observa. tivo da exposição é O visitante da exmostrar a variedade das posição e poeta Guilherme manifestações religiosas Stoianoff diz que no Brasil em Belo Horizonte. há muito sincretismo e "Ainda há muito preconcitou o congado como ceito, até mesmo por exemplo. "Eu sou judeu, ignorância. Acho fundamas sou livre. Estudo mental e importante esse tudo: cabala, filosofia tipo de parceria que estavédica, esoterismo", afirmos fazendo com o Museu ma. Histórico Abílio Barreto", A exposição ficará aberafirma. ta a visitação no Museu A exposição Vozes do Histórico Abílio Barreto Silêncio: memória cultural até julho de 2012. Os - a materialização do horários de visitação: 3ª, intangível na cultura de 6ª, sábado e domingo, das Belo Horizonte também 10h às 17h; 4ª e 5ª, das pode ser entendida como 10h às 21h. parte do V L inventário realizado p e l o Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte. "É preciso divulgar mais, a apropriação do patrimônio cultural é um escândalo, isso não deveria acontecer", declara a professora Mônica. O vigia Miguel Rezende Souza, Objetos religiosos são foco da exposição ICTOR
OUVISI
desde 2009 e foi restabelecido no último dia 7 de novembro. Segundo a bibliotecária Dalba Roberta Costa, depois que o edifício foi restaurado em 2007, houve uma realocação do acervo atendendo mais ao público interno e da área artística, com títulos relacionados com Artes, Humanidades, História e sobre a capital. "Hoje, temos para empréstimo 1300 obras, que estamos ampliando. Os mais procurados são as biografias e a literatura em geral. O CCBH está com a proposta de se aproxi-
mar cada vez mais do seu público. Queremos trabalhar com uma linha de autores mineiros, por exemplo, trabalhando com uma literatura direcionada", revela a bibliotecária. Além dos livros para empréstimos, também fazem parte da biblioteca os acervos que pertenceram à historiadora Déa Ribeiro Fenelon e à professora Regina Helena, do Departamento de Historia da UFMG. Como acervos especiais, estes não estão disponibilizados para empréstimo, mas estão à disposição para consulta interna. A biblioteca possui espaço para leitura onde os usuários podem consultar os livros e também os jornais diários. Alem disso, o CCBH também oferece os serviços de visita guiada, onde é possível conhecer o histórico do edifício e sua arquitetura. Exposições com o objetivo de divulgar o patrimônio cultural da cidade, sua memória, sua história, e os mais diversos temas. Sessões de filmes de curta, média e longa-metragem. O projeto BH Digital, que disponibiliza
terminais de computadores e acesso gratuito à internet. O Programa BH Digital, realizado pela Prodabel, empresa de informática do município, que disponibiliza internet sem fio aos usuários do CCBH. Como também, ações destinadas ao público da terceira idade. Todas as atividades do CCBH são gratuitas. O estudante de Ensino Médio e frequentador do CCBH, Raul Almeida de Torres, diz que gosta de ir ao centro cultural para usar a internet e ver filmes. "Sempre passo por aqui antes de ir para casa, vejo meus e-mails, passo o olho nos jornais e quando dá eu vejo algum filme", comenta. O aposentado Romildo Pereira de Souza, que descobriu o CCBH há pouco tempo, diz que vai ao local para consultar os jornais diários. "Comecei a frequentar aqui têm poucas semanas e tenho gostado muito. Leio os jornais e às vezes algum livro. Vejo sempre uma programação diferente, gostaria que ele funcionasse aos fins de semana ou pelo menos aos sábados", conta.
Escola no Bairro Minas Brasil passa por reformas estruturais e atividades pedagógicas. "A gente tem usado 5º PERÍODO o Centro Cultural Padre Eustáquio para alguns Na edição 280, o projetos diferentes, teJornal MARCO mosmos usado o espaço de trou a situação das prinlá. Aqui na escola a cipais escolas estaduais gente está sem espaço da Região Noroeste da para fazer qualquer capital. Localizada no coisa", diz a diretora. Outro problema que Bairro Minas Brasil, a ainda persiste é em Escola Estadual Mário relação às tocas de Matos foi uma das visiratos, localizadas em tadas pela equipe de um terreno baldio atrás reportagem. À época, do prédio da escola, e problemas na estrutura que foram relatadas à física da escola, que em reportagem na matéria 51 anos de existência, publicada em abril. De nunca havia passado acordo com a diretora, por uma reforma geral, os ratos aparecem na foram relatados. escola por conta das No final de agosto, canaletas que estão abertas. Ela disse que o seis meses após a publiServiço de Zoonoses cação da reportagem está acompanhando o especial, a escola rececaso e prestando beu verba de R$ 220 assistência, porém se o mil para a reforma do problema não for solutelhado, troca de forros cionado, a escola será e melhorias na rede notificada. Segundo hidráulica e elétrica do Maria das Graças, a prédio. A madeira antiSuperintendência da ga e corroída pelo Regional de Ensino já cupim vai dando lugar foi informada sobre a L G ao forro de pvc. O situação, por meio do envio de uma telhado, que em planilha para a dias de chuva fazia coordenação da Resuspender as aulas de Física da Supena escola, agora é rintendência, solicisubstituído por tando a reforma genovas telhas. Para a ral do prédio. Podiretora da escola, rém, apenas as Maria das Graças reformas que estão Fonseca Figueiredo, sendo executadas as obras vão soluna escola foram cionar problemas Escola tem verba de 220 mil para reformas autorizadas. n CARLOS EDUARDO ALVIM
difíceis que a escola enfrentava há algum tempo. "Vai melhorar muito. Quando chovia, tínhamos que juntar os alunos com outras turmas. Molhava tudo, os equipamentos eletrônicos, os computadores, as salas de aula. Nem podia trabalha", conta. A reforma traz um novo ânimo para quem estuda na escola. O estudante Marcel Phillip Rodrigues, aluno do 8º ano, se diz mais motivado em estudar. "Os alunos estavam insatisfeitos. Nas salas, por exemplo, quando chovia tinha goteira para todo lado. Quando não era isso, eram pedaços da madeira do teto que caía na nossa cabeça. Agora vai ficar melhor", afirma. Porém, problemas antigos ainda fazem parte da rotina da escola. A falta de espaço físico compromete o desenvolvimento de projetos
ETÍCIA
LOOR
Comunicação
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Novembro • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
RADIOJORNALISMO: 70 ANOS NO AR Da voz imponente e articulada da década de 1940 aos dias de hoje, muita coisa mudou na forma de fazer radiojornalismo. Mas a herança do Repórter Esso é cada dia mais evidente MARIA CLARA MANCILHA
n AMARANE SANTOS, IGOR PATRICK SILVA, LUCAS LEITE BARBOSA 1º PERÍODO
Eram exatos 12h55 de uma quinta-feira, 28 de agosto de 1941, no Rio de Janeiro, quando a voz grave de Romeu Fernandes entrou no ar na Rádio Nacional, anunciando um ataque de aviões na Segunda Guerra Mundial. Nascia ali o "Repórter Esso: A testemunha ocular da história", considerado o principal marco do radiojornalismo brasileiro. O formato do "Repórter Esso" foi criado na década de 1930, nos Estados Unidos, como programete noticioso com cinco minutos de duração, patrocinado pela Eastern States Standard Oil (Esso). No Brasil, acabou se espalhando por várias cidades além do Rio, dando origem a versões em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. O "Repórter Esso", ao contrário do sensocomum, não foi a primeira experiência de jornalismo no rádio. Na inauguração da radiofusão brasileira em 1922, pela passagem do Centenário da Independência, o caráter informativo do aparelho esteve presente: o discurso de abertura do então presidente Epitácio Pessoa foi retransmitido para 80 receptores importados para a ocasião. Em 1923, o governo já montava programas informativos na Praia Vermelha, conquistando ouvintes fiéis e ilustres. Mas foi o primeiro veículo de notícias pelo rádio que não se limitava a ler as manchetes dos jornais impressos, como faziam nas primeiras tentativas de radiojornalismo no país. As notícias vinham de uma agência norteamericana. "O Repórter Esso era o melhor jornal das décadas de 1950, 1960 e 1970, equivalente ao Jornal
Nacional de hoje. Trazia as principais notícias do Brasil e do mundo, causando uma certa expectativa nos ouvintes para ouvir informações sobre a Guerra no Vietnã, as batalhas entre as duas Coreias", relembra com alegria o escritor e aposentado Vicente de Paula, 77 anos. "Outros programas davam notícias parciais, mas o Jornal Repórter Esso era o mais completo, com mais credibilidade e, por isso, era o mais ouvido. Nem todo mundo tinha o aparelho de rádio naquela época, então os que não tinham acompanhavam o Repórter Esso todos os dias, às 20 horas, em algum comércio próximo de casa", completa. Setenta anos depois da primeira transmissão, ainda é possível perceber as influências do programa. O locutor Antonélio Passos trabalha em rádio desde 1991, na cidade de Pompeu. A partir de 1993, em Belo Horizonte, ele começou a fazer radiojornalismo. Trabalhou na 98 FM, na 107 FM, na Rádio Extra e na emissora atual, a rádio Band News. "A gente foi aprendendo com o passar dos anos como fazer jornalismo para rádio. Hoje em dia, primamos pela objetividade. Aqui na Band, notícias duram no máximo 40 segundos e reportagens mais completas não podem passar de um minuto e 40," diz Antonélio. "O rádio tem que fazer uma elaboração da imagem sem ter a imagem como um de seus recursos, por isso a explicação dos acontecimentos deve ser feita da melhor forma possível", acrescenta.
MUDANÇAS A aposentada Altair Rodrigues, 79 anos, lembra com nostalgia do tempo de menina, em que ouvia rádio. Morando na zona rural da cidade de Gouveia, no Vale do Jequitinhonha, ela
ainda se recorda como era a experiência com o aparelho. "Depois que eu terminava de fazer as tarefas domésticas, ia para perto do rádio. Nunca segui radionovela. Gostava muito das músicas de Tonico e Tinoco, das missas, mas o que me chamava a atenção eram as notícias", relata. "A gente vivia isolado. Era bom saber das coisas que estavam acontecendo fora dali", completa. A invenção acompanhou dezenas de transformações no país, passou por altos e baixos e o fim foi profetizado algumas vezes. "Quando a televisão surgiu, disseram que o rádio morreria. Quando a internet surgiu, também disseram que o rádio morreria. A gente ainda está aqui e aprendeu a dialogar com essas duas tecnologias", diz Marcos Guiotti, 44 anos, chefe de reportagem da rádio CBN e comentarista esportivo na Rádio Globo. Ele presenciou a criação da primeira rádio brasileira dedicada apenas a transmitir notícias (all news), a Central Brasileira de Notícias (CBN). "Sempre foi um sonho conceber uma rádio que transmitisse notícias 24 horas por dia. Era um desafio muito grande. A Europa já tinha uma, os Estados Unidos também, mas o Brasil nunca tinha ousado fazer isso", relembra. "A CBN começou em São Paulo em 1991 e por ter dado certo, expandiu para Minas e para o Rio. Eu já trabalhava na Rádio Globo quando a rede de notícias chegou aqui em Belo Horizonte, em 1994. Na época a gente não sabia o que colocar nessas 24 horas e tentávamos preencher o tempo com entrevistas longas, de quarenta minutos, que eram reprisadas várias vezes. Foram vários erros e acertos até chegar no modelo que a CBN tem hoje", afirma.
Marcos Guiotti aponta as principais mudanças da prática jornalística nas emissoras de rádio
Na onda da rádio comunitária Na década de 1980 começou a crescer pelo país o serviço de radiofusão comunitária, emissoras com pouca capacidade de alcance que produziam uma programação voltada para o seu entorno. Essas emissoras funcionaram clandestinamente até 1998, quando foi regulamentada a Lei 9612/98 estabelecendo parâmetros para a criação desse tipo de serviço. Pela lei, uma rádio comunitária pode alcançar apenas a potência de 25W, suficientes para cobrir dois quilômetros de raio em torno da antena de onde é gerada a programação. Em comparação, uma rádio comercial de BH opera com 5.000 W. Uma das rádios comunitárias da capital é a Elo FM. Funcionando em uma sala de um prédio no Bairro Gutierrez, na Zona Sul de Belo Horizonte, a emissora existe desde 2003, quando conseguiu concessão do Ministério das Telecomunicações. "A Elo surgiu da iniciativa de uma associação que produzia um programa semanal de 15 minutos chamado 'Carretel de Invenções', informando sobre direitos da criança e do adolescente de forma lúdica. O 'Carretel' era retransmitido por mais de 300 rádios no Brasil e funcionou de 1993 a 2003, tendo sido premiado pela UNESCO, mas acabou por falta de
recursos", conta o jornalista e exaluno da PUC Minas, Pedro Ivo Martins, 28 anos, atual gestor da rádio. "Quando o programa chegou ao fim, veio a ideia de montar uma emissora própria", acrescenta. O caminho até concretizar a ideia não foi nada fácil." Quando começamos, a programação era bastante musical e demorou para chegarmos em um modelo definido. Aos poucos, fomos convidando a população a participar, a partir de chamadas durante a programação e por meio de indicações de pessoas que sabíamos que trabalhavam em áreas que tinham a ver com o que fazíamos", recorda. Hoje, a Elo conta com 30 voluntários, que ajudam na manutenção do local, desde o financeiro até a preservação da estrutura. Pedro Ivo fala com orgulho dos dias de mutirão para a pintura das paredes, ou da limpeza do local. Ele destaca a importância desse tipo de projeto. "Antes das rádios comunitárias, os meios de comunicação estavam nas mãos de poucas pessoas. Acabamos democratizando isso, quebrando o monopólio ao convidar a própria população a produzir uma programação feita para ela. Rádios comunitárias surgiram para preencher uma lacuna deixada pelas rádios comerciais", acrescenta.
Rádio e internet: comunicação ainda mais eficaz LETÍCIA GLOOR
Marcelo admite a importância das redes sociais para o radiojornalismo
Se a televisão causou uma grande mudança na forma de apresentar os noticiários no rádio, impacto de igual tamanho causou a internet. "O rádio sempre primou pelo imediatismo, por dar as notícias na hora em que acontecem", diz Antonélio Passos, locutor da Band News. O desafio era harmonizar as duas formas de mídia. "A notícia de rádio fica velha muito rápido. Às vezes, a informação de uma edição agora já caducou na próxima",
conta o colunista da CBN, Marcelo Vieira Guedes, de 48 anos. A informação circula tão rápido que era de se esperar que essa característica básica do rádio se perdesse. Mas o rádio aprendeu a lidar com as redes sociais. "A gente aprendeu a fazer notícia de forma coloquial, como se fosse um diálogo. As redes sociais agora servem como suporte, para desovar notícias que chegam na redação. A internet se tornou também um
arquivo para achar gravações de anos atrás", diz Marcos Guiotti, da CBN / Rádio Globo. Flávia Ivo, 30 anos, coordenadora de produção da Band News, destaca a interatividade que a tecnologia proporcionou. "A Band possui o Facebook, e-mail, Twitter e recebe SMS do ouvinte. Isso proporcionou um contato maior com quem ouve a programação. Temos uma ouvinte que se sente nossa amiga e vai a todos os nossos eventos. É por
causa dessa sensação de proximidade que a internet nos dá". A internet mudou também os pequenos grupos de rádio. Pedro Ivo Martins, da Elo FM, conta que o programa de música independente recebeu um e-mail de uma banda no Chile que ouvia a radio pelo site. A transição parece ter alcançado sucesso. "É fabuloso lidar com tudo isso. Nem me lembro mais de como fazíamos rádio sem a rede", completa Marcelo Guedes.
14Cultura
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• 2011
FILA PARA VER SHOW EXTRA DE CHICO Após cinco anos sem fazer show, Chico Buarque volta com a turnê do mais novo CD, “Chico”. Fãs tiveram dificuldades para comprar ingressos da apresentação extra realizada em BH FOTO: ARQUIVO PESSOAL
n MARIA JÚLIA LAGE 2º PERÍODO Chico Buarque de Hollanda veio a Belo Horizonte. E desde que foi anunciado o início da turnê começando pela capital mineira que todos os sites de compra de ingresso ficaram congestionados e as filas quilométricas na porta do Palácio das Artes - Fundação Clóvis Salgado. Mas foi o show extra, o menos divulgado, que causou maior euforia para os fãs. Aqueles tristonhos que por diferentes motivos não haviam conseguido ingressos para nenhum dos outros quatro espetáculos, viram no quinto show, previsto para o dia 9 de novembro, a esperança de assistir ao ídolo, que segundo os rumores se apresenta pela última vez. O que para muitos parecia uma típica sextafeira, àquela que antecedeu o sábado da venda de ingressos para o último show, acabou sendo bastante peculiar para os Chicomaníacos. À medida que os carros ocupavam as ruas de BH com rumo para os bares, e casas noturnas da capital, o aglomerado de fãs em plena calçada da Av. Afonso Pena, diante do teatro só aumentava.
Felipe de Oliveira e os amigos, na manhã seguinte, depois de passarem a noite toda na fila para comprar ingressos A fila começou cedo, e tão cedo começou a disputa. A estudante do ensino médio Kelly Carla Menezes, 16 anos, acordou às 6h da manhã em Juatuba, Região Metropolitana da capital, e deixou para trás a escola, a prova e o estágio disposta a ser a primeira da fila e a conseguir o desejado ingresso. Simultaneamente, na capital, a estudante de jornalismo Rafaela Accar, 22 anos, contratou por R$ 50 uma pessoa para marcar seu lugar na fila e, às 6h da manhã, esse representante já se encontrava no local. Ambos ficaram na fila, Kelly e o rapaz contratado por Rafaela, mas por
volta das 18h, Kelly tomou a decisão do que se chama 'puxar a fila'. Pegou um caderninho e anotou o nome da próxima pessoa que chegou com o objetivo de virar a madrugada. Pronto. Agora, ela, Kelly, era a primeira. Rafaela ao chegar ao local e dar conta do ocorrido sentiu-se traída e decidiu que a partir daquele momento ela mesma ficaria na fila. Estava revoltada. "Ele chegou antes da Kelly. Ela não tinha este direito. O primeiro lugar era para ser meu", diz. "Eu passei a semana sem comer, sem dormir, achando que não conseguiria mais ingresso. Acordei cedo, perdi aula e prova. Ela não
estava aqui. Eu fui a primeira", defende Kelly. Acalmados os ânimos e com Kelly abrindo a fila, a espera pela abertura da bilheteria no dia seguinte transcorreu em clima de tranquilidade. À medida em que anoitecia, carros importados deixavam jovens com cobertas e vinhos, baralhos, almofadas, violões e até mesmo uísque tinha ali. Logo, a fila inteira interagia. A professora de geografia, Luciene Nunes, 30 anos, não escondia a paixão pelo artista. "Chico para mim é tudo. Sempre que posso coloco letras de músicas dele nas provas que aplico para os meus alunos. Tenho ingresso para todos os
shows, todos os dias e não deixaria de ter este. Não queira saber quanto eu já gastei", diz entre risos. Joana Nogueira e Márcia Valdisk, ambas com mais de 50 anos, afirmam que vieram apenas sentir o movimento, mas se perderam com os jovens nas conversas sobre os livros e canções do ídolo e quando deram conta, estavam passando a madrugada acordadas, na rua. Em meio a jogos de baralhos e garrafas há uma empatia, simpatia. Cada pessoa ali se vê naquela a sua frente na fila, é a mesma 'paixão' que move a madrugada. As cenas ficavam cada vez mais engraçadas e as pessoas embriagadas. Houve quem bebeu além da conta, houve quem contrariou a namorada. "Ela já terminou comigo e voltou umas três vezes desde que cheguei. Ela queria que eu estivesse com ela, não entende o Chico sabe?", anuncia Giovani Camargos, 35 anos. Quando amanheceu, Joana pegou o livro, Budapeste, e pediu para a roda de “novos amigos” assinar o nome. "Esta é uma noite histórica para alguém da minha idade! Noite que passei em claro na Av. Afonso Pena", exclama.
Às 7h, os portões do Palácio das Artes se abriram para os heróis da madrugada. E ainda houve quem tivesse a coragem de se infiltrar na multidão da fila. A contagem do caderninho denunciou quem não estava ali e, mesmo sem contagem, seria possível saber. Todos estavam cientes de quem dormiu ou não na fila. Já se denominavam de “família Chico”. Foi após longa insistência, gritaria e alvoroço com o esforço da equipe de produção que a mulher, que não quis se identificar, se retirou da fila. No fim de uma madrugada inesquecível e satisfatória ficou a foto do grito da “família Chico” com o ingresso na mão. Felipe de Oliveira, 19 anos, estudante, encarou 12 horas e 30 minutos de espera para comprar o ingresso do primeiro dia de show. “A fila chegava até à Rua da Bahia, mas felizmente eu estava no 30º lugar. Neste período, eu fiquei sem ir ao banheiro e tive a companhia de seis amigos, ficamos tocando violão debaixo de chuva”, conta.
Atelier do Jambreiro exibe trabalhos artísticos de alunos n IGOR PASSARINI 2º PERÍODO
A proposta da Mostra coletiva no espaço do Centro Cultural Padre Eustáquio (CCPE) faz parte de um trabalho de parceria entre alguns centros culturais da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e o Atelier do Jambreiro, no sentido de levar até algumas comunidades a oportunidade de apreciar trabalhos artísticos, desenvolvidos pelos alunos do atelier. Trata-se de uma mostra em caráter itinerante. Após um período exposta em um dos centros culturais, ela ocupa outro posteriormente, dando sequência a essa condição de rotatividade. O Atelier do Jambreiro é parte integrante do Centro Cultural do Jambreiro e está localizado às margens da Rodovia MG 30, número 644, na entrada do Bairro Ouro Velho, Nova Lima-MG.
Desde a fundação em 2001, conta com a participação de alguns professores da Escola Guignard. De forma voluntária, as atividades são livres e oferecidas à comunidade novalimense e regiões vizinhas que, de certa forma, tinham acesso restrito aos meios artístico-culturais. "É necessário que se estimule sempre a utilização dos sentidos para aguçar a percepção e, por meio dessas ações, tentamos criar oportunidades para que eles obtenham acesso ao mundo artístico-cultural, promovendo o encontro da cultura espontânea com uma parcela da educação formal", diz Abílio Abdo, que é professor no atelier e esteve à frente nesse projeto que contou com a exposição do trabalho de dez alunos. Uma dessas alunas é Heloisa Girão Rates, representante comercial e que há quase três anos participa dos trabalhos no Atelier do Jambreiro. Heloísa diz que vê as
exposições em Centros Culturais como uma forma de difundir a arte para pessoas que tenham pouco ou nenhum acesso a ela. "Eu, na verdade, não podia imaginar que
existiam tantos centros culturais em Belo Horizonte. Talvez haja carência na divulgação desses espaços e, consequentemente por isso, sejam pouco usados para
mostras ou exposições artísticas", afirma. O aposentado João Reis, 67 anos, costuma passar uma vez por semana no Centro Cultural do Padre Eustáquio para ver as novidades e disse
Artistas iniciantes ganham espaço no Centro Cultural Moradora do Bairro Padre Eustáquio há muitos anos, Maria Luiza de Almeida, 62 anos, é aposentada e foi ao Centro Cultural em busca de um espaço para o lançamento do primeiro livro "Sem pressa de ser feliz". Ela destaca que lugares como esse estimulam escritores e artistas iniciantes a divulgarem seus trabalhos. Em menos de 40 anos, Maria superou um tumor grave e um câncer. Quando tinha 15 anos descobriu um tumor no pâncreas e para fazer a retirada total dele foi necessária uma cirurgia avançada e, portanto, arriscada para a época. Em 2002, descobriu
que estava com câncer de mama e também conseguiu se curar. "Quando eu tive câncer fiquei hospedada na casa de uma prima e comecei a escrever no papel, mas quando me vi no meio de tanta folha larguei para lá. Depois eu entendi que aquele não era o momento ainda, porque eu precisava passar por outra situação, outro ‘deserto da vida’ e isso não podia ficar de fora.", diz. "O livro fala da vida real, da minha vida. É um romance, uma experiência que eu tive e que eu senti o desejo de registrar, o escrevi sob lágrimas. Acho que ele vai realizar alguma obra no sentindo de auto-ajuda. Através
que o que mais lhe chamou atenção na mostra foi a diversidade do conteúdo delas. "Tem foto, artesanato, desenho, e por mais diferentes que sejam, elas se encaixam", diz.
LETÍCIA GLOOR
Maria Luiza de Almeida é a autora do livro da minha história é um exemplo de que a pessoa não deve desistir por nada do sonho, tudo tem seu tempo", afirma.
Cultura
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Novembro • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
TRADIÇÃO DOS SINOS É PRESERVADA Por meio do badalar dos sinos das igrejas, moradores da cidade histórica de São João del-Rei se mantém informados sobre casos de falecimentos e celebração de eventos religiosos MARCELA SECCHES
n FERNANDA MELO 3º PERÍODO
São João del-Rei – Eram 7h do domingo, 23 de outubro, quando Nilson José dos Santos chega à Igreja de São Francisco muito bem disposto, sorrindo e conversando sobre as atividades do dia anterior. Na véspera, em virtude de dois casamentos que aconteceram ali, saíra do trabalho depois das 23h. Como quem conhece detalhes do lugar onde trabalha, Nilson tira do bolso um molho de chaves e, rapidamente, começa a abrir portas, janelas e venezianas da suntuosa Igreja. Pouco tempo depois, chegam outras pessoas. Os cumprimentos são recíprocos e, sem que seja preciso dizer algo, já vão logo assumindo as suas funções. Nilson, de 36 anos, é o sineiro responsável pela Igreja de São Francisco, em São João del-Rei, desde 1993. Aos 15 anos, subiu na torre da Igreja pela primeira vez. Ficou maravilhado, impressionado com o que vira. "Meu Deus, que coisa monstruosa. Os sinos eram enormes, lindos", explica. Enquanto o sineiro daquela época, Euvécio, coordenava os repiques e dobres no sino, Nilson escondeuse no cantinho, assustado com o tamanho do sino e desenvoltura daquele que seria o seu futuro mestre. Naquele momento, Nilson sentiu o desejo de fazer parte do grupo e trabalhar com sinos. Não hesitou, quando indagado por Euvécio, se gostaria de integrar o grupo. "Certa hora, o sineiro virou pra mim e falou assim: - afinal, o que você quer? Veio para fazer número dentro da torre ou para ter utilidade?
A Igreja de São Franscico mantém a tradição do sino na cidade histórica e atrai turistas e informa os moradores sobre os acontecimentos religiosos Aí eu não pensei duas vezes: quero ser útil. A curiosidade passou, agora quero participar desse trabalho que vocês desenvolvem", conta. A movimentação com os preparativos para a missa, que aconteceria às 9h15, era intensa naquela manhã de domingo. Nilson, juntamente com jovens e adultos, organizavam as cadeiras, folhetos, varriam o chão e limpavam a poeira. A devoção e fidelidade ao rito religioso eram evidentes entre as pessoas. Faltando 45 minutos para o início da celebração, era chegada a hora de dar o "toque de entrada", que significa o primeiro anúncio para a realização da missa dominical. Nilson, Wanderson Santos Almeida, 16 anos, João Marcos Maia Bassi, 15 anos e Francisco, de 11 anos, eram os responsáveis pelo toque dos sinos naquele dia. Wanderson toca sino desde os 7 anos de idade.
Chegou à igreja como coroinha e tornou-se sineiro, auxiliando Nilson sempre que convocado. O contato de João com o sino é recente. Não faz um ano que se tornou sineiro, mas ambos nutrem a mesma paixão e fidelidade. Saem de longe para vir tocar o sino na igreja, acordam cedo e têm o sonho de seguir no ofício de sineiros. O acesso aos quatro sinos da Igreja de São Francisco lembra os antigos castelos medievais. A torre, formada por uma escada em espiral com 79 degraus, com um forte cheiro de umidade, é escura e composta por pedras desgastadas pelo tempo. Pontualmente, às 8h30, o sino maior realizou entre dez e doze dobres, sendo levado a pino e, posteriormente, descaído, para abrir uma sequência de batuques e repiques. O anúncio era de que logo mais haveria missa e os são-joanenses estavam sendo convida-
dos a participarem. Às 9h, faltando 15 minutos para a celebração, foi feita a segunda chamada, com 18 pancadas dos sinos, que alternavam entre batuques, repiques, pancadas e dobres, convidando novamente os fiéis. Em seguida, no sino pequeno, as pancadas espaçadas indicavam quem seria o celebrante. São João Del Rei é uma das cidades coloniais mineiras que conseguiu conservar uma série de tradições oriundas de seus primórdios: olenidades religiosas, música sacra em sua prática de coro e orquestra e os toques de sinos em suas múltiplas modalidades rítmicas. O historiador Aluízio José Viegas explica que "os sinos fazem parte das funções litúrgicas e paralitúrgicas da Igreja Católica, estando prevista no Rituale Romanum a sua participação sonora". No passado, quase todas as cidades brasileiras tinham nos toques de sinos o seu
meio de comunicação mais utilizado. "Eles eram o 'elo de ligação' do clero com os fiéis leigos", afirma. O sino era o modo mais fácil de comunicação entre a comunidade e a igreja sempre se valeu dele para estabelecer uma comunicação entre os fiéis. "Como toda linguagem, a dos sinos também sofreu mutações, foi revista e modificada", acrescenta Aluízio Viegas. O toque dos sinos, antigamente, era utilizado não só para fins religiosos. Abrangia, também, vários acontecimentos da vida civil. Hoje, segundo o experiente sineiro Nilson, a comunicação dos sinos se restringe aos eventos da igreja e ocasiões fúnebres, quando um membro da irmandade, seja consagrado ou leigo, falece. "É feito um dobre chamado fúnebre para distinguir se é homem, mulher ou criança, se é padre ou bispo. Tem toda essa diferenciação", completa.
Depois que os sinos tocaram na Igreja de São Francisco, a missa começou. Na sacristia, Wanderson e João contavam histórias que envolviam a compreensão das pessoas às mensagens transmitidas pelos sinos de São João del-Rei. Minutos depois, o som distante de um sino se fez presente e, segundo os garotos, realizou três repiques. Imediatamente, Wanderson explica: "esse sino que a gente acabou de ouvir repicar é lá da Igreja do Rosário e quer dizer que o padre de lá acabou de dizer 'santificai, pois, estas oferendas'. Depois, na elevação da hóstia e do cálice, o sino vai repicar novamente". Basta que os sinos toquem para que Wanderson identifique de onde são e o que querem dizer. Ele ouve o sino da Igreja do Rosário e sabe em que parte da missa está. "Na hora em que começar a terentena lá de novo, significa que a missa acabou", diz. Há 23 anos, o poeta capixaba Antônio da Fonseca, de 43 anos, veio para Minas. Morou em Belo Horizonte e, posteriormente, em São João delRei. Católico praticante, fez questão de interagir com as igrejas são-joanenses e participar dos movimentos e atividades religiosas. "No início eu não conseguia distinguir os dobres e repiques. Sequer conseguia perceber um descompasso. Mas, a melodia dos sinos e o efeito que eles exercem na vida das pessoas daqui me chamou tanto a atenção, que tratei de aprender", conta. Hoje, ele sabe interpretar os repiques e distinguir o que informa o sino.
Trabalhadores são movidos pela curiosidade e fé MARCELA SECCHES
Em São João del-Rei, apenas dois cemitérios não pertencem à Igreja. Os demais são administrados pelas irmandades de cada Igreja. No Rosário, Ewerton Evandro, de 26 anos, é o coveiro, e, para ele, um dobre fúnebre é sinal de trabalho e dinheiro. Para cada enterro que realiza, Ewerton recebe R$ 30 e o sineiro que executa o dobre fúnebre, recebe R$ 20. Logo, "Lá na minha casa, todo mundo sabe e entende o que os sinos dizem. Quando eu era pequeno e estava no catecismo, tocava o sino e minha mãe dizia: ‘está na hora de você descer, já vai começar’. Hoje, como sou coveiro, fico atento aos toques e dobres", explica. Ewerton sabe que precisará descer para o cemitério quando ouve um dobre fúnebre. Na cidade onde os sinos falam, ser sineiro é profissão com carteira
assinada, que mobiliza, desde cedo, muitos dos que vivem nela. Henrique Sodré dos Santos, 14 anos, é sineiro há um ano e ama ouvir o som dos sinos e tocá-los. No seu primeiro contato com o sino, sentiu medo, mas depois foi aprendendo e, hoje, não se imagina em outra profissão. Henrique é um dos muitos jovens que auxiliam Rodrigo Leandro da Silva, 40 anos, na Igreja do Rosário. "Muitos meninos vêm aqui e pedem para aprender. Eu ensino, ajudo, pois um dia não mais estarei aqui e alguém terá que assumir. A pessoa tem que ser boa de ouvido, pois não dá pra treinar no próprio sino", argumenta Rodrigo. Ele é sacristão e sineiro na Igreja do Rosário há 20 anos. Toca sinos desde os 13 e, de uma família de seis irmãos, cinco são
sineiros. Dedicar-se às atividades da Igreja é sua atividade profissional. Rodrigo vive o tempo todo conectado aos sinos. "É automático, é o dia inteiro. Às vezes estou andando na rua e estalo os dedos simulando as batidas do sino. Fico parado e, de repente, começo a batucar". Entre Rodrigo e o coveiro Ewerton existe uma estreita relação profissional, que através dos sinos, culminou em uma boa amizade. Quando Rodrigo fica sabendo do falecimento de alguém ligado à irmandade, ele toca o sino para avisar Ewerton, que se prepara e desce para fazer o sepultamento. Quando é Ewerton quem fica sabendo primeiro da morte de um membro, avisa Rodrigo para que toque o sino. "Entre a gente, a comunicação pelos sinos não falha", relata Ewerton.
Henrique Sodré dos Santos aprendeu a tocar o sino há um ano e ama ouvir o som
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Marcus Viana
Entrevista
MÚSICO jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco
O PASSADO E O FUTURO DE UM MÚSICO YASMIN TOFANELLO
YASMIN TOFANELLO
[ ] “VOU VOLTAR COM O SAGRADO PARA TER O GOSTO DE SABER SE CONSIGO VIABILIZAR COMERCIALMENTE”
n LUÍSA BORGES YASMIN TOFANELLO
YASMIN TOFANELLO 2º PERÍODO
O violinista e compositor mineiro Marcus Viana, 58 anos, iniciou muito cedo a carreira, logo aos 13 anos, quando começou os estudos de violino, que se prosseguiram até os 25 anos. Além de ser o produtor de seus discos, Marcus compõe trilhas sonoras para novelas, filmes e peças de teatro. Alguns dos seus principais trabalhos foram a trilha sonora da novela "Pantanal", exibida nos anos 90 pela Rede Manchete e a trilha sonora do filme "Olga", em 2004. O compositor declara na entrevista que pretende lançar no próximo ano um DVD que reunirá todos os seus sucessos. "As filmagens de 2005 até 2007 eu estou lançando em um DVD no ano que vem, pela Universal. Meus projetos pessoais são resgatar minhas filmagens antigas que estão ai paradas, como fiz com 'O Clone'", afirma Marcus. O músico anuncia a volta do grupo "Sagrado Coração da Terra", buscando viabilizálo comercialmente. "O Sagrado é o primeiro grupo de sucesso que nunca deu certo”, brinca. O violinista também conta como foram os anos de trabalho com a cantora Paula Fernandes, diz que sua parceria com o diretor Jayme Monjardim está “parada” e fala sobre o recente trabalho: o hino "Coração do Herói", feito para a Comenda da Liberdade e Cidadania, em homenagem a Tiradentes. n Como e quando começou seu interesse pela música? Interesse pela música eu sempre tive desde pequeno. Meu pai era revisor de Villa Lobos. Música para mim era uma coisa muito atrativa. A música criava imagens na minha cabeça, era música clássica moderna. A coisa mais interessante é que eu tinha visões. Eu perguntava para meu pai: ‘O que é isso? Parece ser o fim do mundo essa música’, e ele dizia: ‘Exatamente isso’. Ou seja, Villa Lobos narrava erosão, formação do mundo. E era uma grande coincidência, porque batia com as imagens que eu tinha, com cinco anos de idade. Então, eu tive uma influência muito grande da música, em uma época que rádio e televisão não eram importantes. Era música tocada em casa pelo pai mesmo, em discos. Ele era maestro e revisor das obras de Villa Lobos. Então eu tive a sorte do meu pai trabalhar com Villa Lobos, que é um grande compositor clássico. O meu primeiro encontro com música foi uma coisa meio mental, porque eu não tocava, mas eu a ouvia como um cinema, e foi muito interessante porque mais tarde eu tive que trabalhar com isso: fazer música para imagem, que foi a primeira influência minha na vida de som.
n Quando você decidiu que a música não seria apenas um hobby, mas sua profissão? Na verdade, como eu era muito desfocado, meu pai (o maestro Sebastião Viana) dizia que eu não iria dar certo com música. Ele falava para eu fazer um curso em que eu pudesse estar no mundo da música sem ser músico. Ele dizia, "Vai ser diplomata". Então, ele colocou na minha cabeça para eu ser diplomata. Eu comecei a estudar Direito para fazer Relações Exteriores e comecei a estudar francês e inglês. No terceiro ano de Direito, abre um concurso. O Palácio das Artes criou a primeira Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Eu fiz o concurso e passei muito bem colocado, em primeiro lugar. Então, eu deixei a faculdade e fiquei só na Orquestra do Palácio. Eu trabalhava de 8h30 às 11h30, com o resto do dia todo livre. Então, criei o Sagrado Coração da Terra, que me colocou em contato com o pessoal do Clube da Esquina. O Sagrado foi um sucesso na época, aquela banda que toca na cidade inteira. Os anos 70 tinham o culto da mistura do rock com o clássico. E eu comecei a fazer um negócio assim, com letras falando de ecologia, conservação global. As músicas falavam de apocalipse. A imprensa, inclusive, foi um problema, porque não teve
muita entrada na imprensa por falar destes assuntos. Mas não falavam somente de desastres, era muito espiritual também. Não era uma coisa muito comercial. Depois disso, foi muito difícil eu ficar na Orquestra, por causa do advento da música popular na minha vida.
n Por que a escolha por essa música que aborda temas diferentes e mistura o clássico, o rock e as raízes brasileiras? Não sei. Acho que alma. Eu sempre fui muito místico, espiritualista, então eu acho que é como uma religião. Eu não frequentava igreja, então minha igreja era a música. Era a minha forma de conversar com as forças superiores. Vamos dizer que era isso. Porque música é uma forma de religião, com certeza. Acho que eu não consegui separar meu trabalho em música da minha busca espiritual. Eles se misturaram. A Paula Fernandes trabalhou aqui comigo e foram muito legais esses anos que a gente conviveu. Foi muito interessante a influência de um sobre o outro. Porque a música dela era aquela coisa, meio chão de sertão, e a minha era completamente aérea. Eu rejeitava e ela rejeitava. E foi uma influência muito grande. "Pássaro de Fogo" (música de autoria da Paula Fernandes) saiu depois dela trabalhar comigo. E a minha música, depois dela, ficou muito mais no chão.
n Vocês continuam trabalhando juntos? Possuem projetos futuros? Nesse meio tempo eu ajudava ela e ela me ajudava, eu precisava de uma cantora na "Transfônica", que é um grupo que eu tenho semelhante a uma orquestra, que eu faço shows com as trilhas sonoras que eu fiz e sempre tem uma mulher cantando e a Paula foi a mulher da voz. A temporada dela comigo foi muito boa, ela tinha uma energia que dobrava meu número de shows. Ela fazia os dela, que era meio sertanejo country, e fazia alguns comigo. E essa brincadeira foi bom para os dois. As filmagens de 2005 até 2007 eu estou lançando em um DVD no ano que vem, pela Universal. Meus projetos pessoais são resgatar minhas filmagens antigas que estão aí paradas, como fiz com "O Clone". O projeto da Paula é gravar o disco novo, não tem mais parada, não tem como trabalhar com ela, é uma artista nacional, aliás internacional agora. Ela vai ter um mês de férias e depois já começa a gravar o disco novo. Não tem como fazer trabalho nenhum agora. Talvez ela participaria de alguma coisa no futuro, eu participar das coisas dela, é claro, se ela quiser eu estou dentro.
n O que mudou na sua carreira após a criação do "Sagrado Coração da Terra"? O "Sagrado Coração da Terra" foi uma expressão musical de uma época, nunca foi um objetivo em si. Na verdade como era um negócio muito anticomercial nunca deu certo. O Sagrado é o primeiro grupo de sucesso que nunca deu certo. Eu tenho dois grupos, a Transfônica Orquestra e o Sagrado, que é uma coisa que parou, porque é um negócio complicadíssimo de fazer, e que eu vou voltar a fazer porque é uma coisa que é meio rock, mas não é, é meio MPB, mas não é, é tudo, mas não é, é uma coisa que não é específico, mas é bem legal, as pessoas não conseguem determinar o que é, tem um pouco de cada tribo. O que mudou na minha carreira é que, primeiro, o Sagrado me expos para as pessoas, todo mundo gostava, o Clube da esquina gostou e eu toquei com cada um deles. Depois me levou para o exterior, no Japão e na Europa todo mundo gostava do Sagrado. Me deu o mundo um pouquinho, só não me deu mais porque eu tinha fobia de avião, não gostava de voar e não fui para o exterior fazer show. Depois que eu parei de ter medo de avião já tinha passado o tempo. Agora acho que vou voltar com o Sagrado, só para ter o gosto de fazer com o que eu aprendi saber se consigo viabilizar ele comercialmente. Vamos ver se consigo torná-lo mais público. O Sagrado virou um símbolo para mim. Ah, e o mais importante, foi graças ao Sagrado que cheguei ao Jaime Monjardim e a televisão. Teve uma novela chamada "Que rei sou eu", em 1987, que eles pegaram uma música minha chamada "Flecha" e colocaram como tema do herói. Por causa dessa música fiz um clipe para o Fantástico e um especial na Rede Manchete. O Jaime era diretor da rede Manchete e ele me assistiu. Depois fiz um tango para ele e a novela que veio em seguida foi Pantanal.
n E como anda essa parceria com o Jaime atualmente? Está parada. Tudo na vida muda. A dedicação com a Paula me levou para um lado, o Jaime fez umas novelas que eu não participei. Não queriam mais aquele som de "Pantanal", "A Casa das Sete Mulheres", todo meu esquema com o Jaime é muito épico, é muito grandioso, novelas que tem necessidades de coisas mais normais, que falem de relação, eles chamam outras pessoas para fazer. Ele tem trabalhado com outras pessoas e eu estou meio voltado para produções próprias, mas com certeza no futuro a gente fará alguma coisa.
n Você fez a música "Coração do Herói" para os eventos relativos à Comenda da Liberdade e Cidadania. Como é fazer uma música que envolve a história do país? Foi sensacional fazer esse hino. Me contrataram para um show e tinha que fazer um hino. Tiradentes é um negócio legal, a gente não tem heróis. Nossos heróis são jogadores de futebol e artistas, nós não temos heróis históricos. Então, quem que é nosso herói? Tiradentes. Ele era valente e honrado. Foi muito lindo, eu estou muito feliz de ter feito, ficou muito bonito. E se tornou uma música que eu tenho coragem de tocar, não ficou aquele hino careta. Esse hino do Tiradentes foi feito para enaltecer a vida dele e não a morte.
n Quais foram as maiores dificuldades que você já enfrentou durante sua carreira? Não gostaria de falar nisso, coisas íntimas que partem do ciúme da área de televisão, de que quando você faz sucesso, você sempre está ocupando o lugar de alguém que queria estar fazendo sucesso no seu lugar. Os maiores problemas que eu enfrentei na minha carreira foram relações humanas. E 80% dos problemas de relações humanas foram causados pela minha própria língua em entrevistas.
n Como está, atualmente, o mercado musical brasileiro? Deu uma reaquecida por causa da Paula. CD voltou a vender. CDs não vendiam. Então, voltou a vender CDs. As pessoas provaram que a classe C também compra. Provou-se que pode se vender CDs de novo. Uma das maiores dificuldades que eu tive de colocar a Paula Fernandes em uma gravadora foi que ninguém queria saber de mulher. Diziam que mulher não vende.
n Em que você tem trabalhado? Restauração de todo o meu passado que estava perdido. Colocar para fora as coisas que estavam paradas, voltar com o "Sagrado Coração da Terra" e tentar fazer minha música ficar um pouco mais comercial. Eu aprendi que é bom ver 100.000 pessoas cantando as músicas da gente. Meu maior público foram 60.000 pessoas cantando "O Clone", a música "Somente por Amor", lá em Itabira. É muito emocionante. É muito bonito quando a música pode servir as pessoas de bênçãos, parece algo divino. Como meu nome ficou muito conhecido através do sucesso da Paula, muitas pessoas queriam saber quem é esse cara. Então a Universal (gravadora) falou para eu soltar um grande sucesso. Ai eu fiz um grande sucesso, "O Clone", "A Casa das Sete Mulheres", "Pantanal", peguei tudo e coloquei em um DVD. Mas esse ano ficou meio apertado e por isso vamos soltar ano que vem.
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