Jornal Marco - Edição 289

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Blogueira e escritora, Fernanda Mello se dedica ao projeto “Crônicas Digitais” e tenta viabilizar a 2ª edição do livro “Princesas de Rua”. Pagina 16

MARIA CLARA MANCILHA

MARIA CLARA MANCILHA

RAQUEL DUTRA

O hábito de escrever cartas resiste ao tempo e às inovações tecnológicas. A aposentada Arabela Augusta não descarta caneta e papel. Pagina 14

Por meio de atividades orientadas, moradores de bairros da Região Norte utilizam a Via 240 para a prática de corrida e caminhadas. Pagina 7

marco jornal

Ano 40 • Edição 289 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas

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O TRÂNSITO DE BH E SEUS PROBLEMAS

Engarrafamentos, viagens longas, serviços desconhecidos oferecidos por táxis diferenciados e produtos ofertados. Esses são alguns dos ingredientes do complicado trânsito de Belo Horizonte, que obrigam os usuários de transporte

público a adotarem diferentes estratégias. Nas ruas próximas ao Campus da PUC no Coração Eucarístico, veículos de transporte estudantil são estacionados em locais proibidos e a sinalização é alvo de crítica da comunidade. No

GABRIELA MATTE

MARIA CLARA MANCILHA

LAURIE ANDRADE

Anel Rodoviário, os engarrafamentos são tão constantes, que abriram caminho para vendedores ambulantes, que circulam entre os vaículos parados, oferecendo produtos variados. Páginas 6, 10 e 11 RAQUEL DUTRA

Dom Cabral já foi conjunto habitacional Planejado e construído em 1964 pelo então governador de Minas, Magalhães Pinto, para ser o primeiro conjunto habitacional do Brasil, o Dom Cabral transformou-se com o passar do tempo em um bair ro habitado por população heterogênea. Moradores antigos testemunham as mudanças ocorridas ao longo desses 48 anos e falam sobre pontos positivos e negativos do atual cenário. Página 5 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição

Esporte tenta aliar informação e entretenimento Uma fórmula que deu certo para uns, porém, para alguns jornalistas, especialistas e profissionais da mídia, entrevistados pelo MARCO, pode não ser a receita do sucesso para todos. São vários programas, tanto da televisão quanto do rádio, que aliam em sua apresentação, além da informação, pitadas de humor e entretenimento em sua abordagem, visando aumentar seus índices de audiência. Páginas 8 e 9

Criação de pombos-correio como hobby SARA MARTINS

A columbofilia, que é o nome oficial da criação de pombos-correio, já foi uma ferramenta importante de comunicação no passado, mas hoje é considerada um hobby. Apesar de pouco divulgada, a atividade é vista com entusiasmo pelos praticantes. Os pombos-correio passam por períodos de treinamento, visando as competições. Página 15

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Especialistas analisam influência da internet na língua portuguesa. Pagina 13


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EDITORIAL

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O trânsito sob a análise crítica do belo-horizontino n FELIPE AUGUSTO VIEIRA 4º PERÍODO

Assunto recorrente nas páginas do Jornal MARCO, o trânsito da capital é novamente destacado nesta edição. Atentos tanto aos problemas das comunidades quanto aos situados na cidade e seu entorno, o jornal repercute a inquietação e a preocupação da população quanto aos frequentes engarrafamentos que têm assolado os usuários de transporte público e motoristas no dia a dia. Um exemplo são os impactos do fluxo de veículos e pedestres nas proximidades do Campus Coração Eucarístico da PUC Minas, situação tratada nesta edição. Mas, o problema de trânsito, está longe de ser exclusividade de uma única região da cidade. Por isso, os engarrafamentos constantes no Anel Rodoviário, que desafiam as promessas das autoridades, viraram pauta de reportagem, que mostra mais de um lado da questão. Enquanto motoristas e passageiros ficam parados durante horas em filas quilométricas, vendedores ambulantes tentam garantir o sustento, aproveitando a oportunidade. Eles circulam entre os carros vendendo produtos variados. Para driblar essas situações desconfortáveis, em que os usuários do transporte público gastam horas rumo ao destino das viagens, há de se estabelecer estratégias para evitar o atraso e tornar a viagem minimamente agradável. Aos usuários de táxi, o jornal esclarece dúvidas que a população demonstra ter em relação a cor dos veículos. Já os usuários de ônibus e metrô apresentam suas estratégias individiduais para driblar o caos que é coletivo. O MARCO, que está em seu quadragésimo ano, conta também nesta edição a história do Bairro Dom Cabral. Em reportagem na página 5, os moradores antigos rememoram a evolução e o crescimento da região. Destaca-se ainda reportagem especial sobre o jornalismo esportivo e a inserção do entretenimento em sua transmissão ao público, em que foram ouvidos vários profissionais da mídia e atletas, que opinam sobre a abordagem da imprensa no esporte. O MARCO apura e repercute sobre os rumos da comunicação e do jornalismo, interesse do jornal em sua linha editorial. A comunicação, objetivo de estudo quanto as suas transformações com a acessibilidade da internet, também é analisada. A proliferação de neologismos e gírias por meio das redes sociais é pautada de forma aprofundada com a opinião de especialistas em comunicação e na língua portuguesa.

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- Na matéria ‘Divergência na lista de remédios’, publicada à página 9 da edição 288, a profissão de Maria Auxiliadora de Souza Xavier é assistente administrativa. - A foto que ilustra a matéria ‘Postos de coleta de achados e perdidos em BH’, também publicada à página 9 da edição 288, é de Sebastiana Marques, responsável pelo setor de achados e perdidos do Terminal Rodoviário da capital mineira, e não de Fabiana Oliveira, como consta da legenda.

EXPEDIENTE

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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª.Maria Libia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo: Profº. Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª.Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Profº. Jair Rangel Editor: Profº Fernando Lacerda Subeditores: Profª Maria Libia Araújo Barbosa e Profº Mário Viggiano Editor Gráfico: Profº. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Felipe Augusto Vieira, Gabriela Matte, Isabela Cordeiro, Keneth Borges, Marina Neves, Michelle Oliveira, Mouni Dadoun, Piero Morais e Raíssa Pedrosa. Monitoras de Fotografia: Maria Clara Mancilha e Raquel Dutra Monitor de Diagramação: Nathan Godinho Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

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AULAS DE TAEKWONDO O Centro Cultural Padre Eustáquio oferece, gratuitamente, aulas de taekwondo para pessoas de todas as faixas etárias n IGOR PASSARINI 3º PERÍODO

O Centro Cultural do Padre Eustáquio passou a oferecer a partir de abril aulas gratuitas de taekwondo todas às terças e quintas-feiras em dois horários: 8h30 até 9h30 e 9h30 até às 10h30. O responsável pelo projeto é Waldevino Costa Pereira, 43 anos, o mestre Divino, que é professor há 20 anos e se dedica a levar até crianças e adultos perseverança, respeito, humildade, amizade e solidariedade por meio do esporte. Há consenso entre as pessoas ouvidas, que o esporte pode ser agente de transformação e que é um caminho que muitas vezes leva as pessoas a um lugar melhor. Carla Bernardes Diniz, 48 anos, ficou sabendo das aulas a partir de um email que recebe todos os meses com a programação do Centro Cultural. Ela conta que influenciou a filha para tentar tirá-la da frente da TV e do computador. Carla acha que grande parte dos jovens hoje estão acima do peso em função dessa vida sedentária e completa dizendo que não é só uma questão de estética como de saúde. Mesmo que no começo seja um pouco mais difícil, ela acredita que a filha irá continuar."As aulas são excelentes e os professores são ótimos, eles têm didática com as crianças. Esporte é que nem leitura se você não cria o hábito já era", analisa. Vinícius Bueno Duarte Campos, 11 anos, é um dos alunos e diz que antes não gostava de taekwondo, mas resolveu experi-

mentar e já na primeira aula achou muito legal. Ele conta que sempre praticou esportes e que isso faz parte da vida dele. "Eu já tinha feito Caratê por três anos, mas sai porque meu pai achou que eu era muito novo para ir para a faixa amarela. Eu também sou corredor de provas de resistência de 5km e 10km e já ganhei sete medalhas em competições de corrida de rua", comenta. PAIXÃO RÁPIDA - Há 27 anos no Taekwondo, Divino, se tornou Mestre no final do ano passado. Começou no taekwondo com o irmão mais velho e o irmão mais novo motivado por filmes de lutas como os do Bruce Lee. Dos três, foi o único que chegou a faixa preta. "Lembro que apaixonei pelo esporte rapidamente. Em um ano eu já era faixa verde, meu professor me colocava para lutar contra outras pessoas que eram faixa preta e eu vencia", relembra. Foi campeão mineiro dez vezes e apesar do meu irmão bancar, não foi possível disputar o Brasileiro nem o Mundial. "Não tinha dinheiro para investir, era na cara e na coragem mesmo", conta mestre Divino. Apesar de tanto tempo envolvido no esporte, ele esteve afastado do cargo de professor nos últimos cinco anos em função do horário de trabalho, em uma empresa automobilística, que mudava a cada semana, o que tornava complicado criar uma grade fixa. Divino diz que no começo de abril, pouco antes de voltar a dar aula, quase não conseguia dormir. "A expectativa era muito grande, estava an-

sioso pelo retorno. Era uma sensação de novato", relata. Sobre o que pretende realizar no Centro Cultural do Padre Eustáquio, ele observa que "O trabalho é coletivo, mas cada pessoa tem um crescimento diferente do outro. A aula conta com crianças e adultos e eu gosto dessa mistura porque quem é mais jovem tem aquela energia e o adulto serve de exemplo, ou seja, um ajuda o outro", diz. Divino diz que sempre teve prazer de ajudar os outros e nunca aceitou que retribuíssem os favores que fazia com dinheiro. "Eu sempre passei dificuldade e faz parte da minha religião ajudar o próximo. Tenho prazer em trabalhar. Estar com esses alunos é mais que uma relação só de professor, é de pai, irmão, conselheiro, amigo. É uma família",

conta o Mestre que completa: "Trabalho o lado pessoal de cada pessoa. Eu gosto de ensinar bem, eu treino meus alunos para serem melhores que eu. O esporte tira as crianças das ruas e ajuda os pais na disciplina das crianças, pois aqui não preparamos só para o taekwondo, mas para a vida. O meu pensamento é esse". Com tantos anos dedicados ao taekwondo, Divino foi fazendo amizades e formando cidadãos. Célia Marina, 62, diz que seus quatro filhos fizeram aula com ele e que nenhum deles tem vício nenhum, não bebem, não fumam. Todos são tranquilos. "Ótimo técnico e excelente pessoa. Ele vai lá em casa e meus meninos tem um respeito e carinho enorme por ele", conta Célia. RAQUEL DUTRA

Mestre Divino ensina a seus alunos valores como respeito ao próximo

Uma questão de amor pela vida n CAMILA SARAIVA 1º PERÍODO

Doar leite é um ato que salva vidas. Foi devido às campanhas promovidas pelo Estado de Minas Gerais que o banco de leite da Maternidade Odete Valadares estocou uma quantidade suficiente para os recém-nascidos. Foram 393 doadoras no mês de março, o equivalente a 355 litros de leite humano. De acordo com a gerente do banco de leite, Maria Ercília, essa é a quantidade ideal por mês para que não falte leite aos bebês que necessitam deste auxílio. "Sempre na época das férias, as doações caem muito, deixando o estoque a zero. No mês de julho, dezembro e janeiro, são épocas festivas, então as mães desaparecem. O que a gente pretende agora nesses meses que antecedem as férias é fazer um estoque, já que o leite humano pasteurizado pode ficar guar-

dado até seis meses no freezer," relatou a gerente. O processo de doação é simples, indolor, porém exige cuidados, garante Maria Ercilia. "A maioria das doadoras entra em contato com o banco de leite e pelo telefone a gente faz uma pré-seleção dessa mãe, perguntamos se ela fuma, se ela bebe e se faz uso de algum medicamento, se já teve hepatite e se fez transplante de sangue nos últimos cinco anos. Se alguma dessas coisas for positiva, ela pode ser doadora. Depois é agendada uma visita à residência para examinar a mama e ensinar a mãe como ela vai coletar o leite na sua própria residência, e uma vez por semana a gente busca lá", explica. O recém-nascido recebe o leite só a partir de uma prescrição médica do pediatra. "O leite que chega à maternidade é selecionado, analisado, pasteurizado e, após a análise microbiológica, é distribuído para

bebês que estão internados na própria maternidade e em outros locais", informa Maria Ercília. O banco de leite da maternidade Odete Valadares é referência no Estado. Por isso há necessidade de conscientizar a comunidade sobre a doação de leite humano, orienta o Ministério da Saúde. No dia 19 de maio será comemorado, pela primeira

vez, o dia Mundial de Doação de Leite Humano. A comemoração será no Parque Municipal, com oficinas e orientações às mães e gestantes sobre a importância da doação. Vale lembrar que a prioridade da mãe doadora é o próprio bebê. Ela só doará o leite que estiver sobrando. É uma questão de amor pela vida. MARIA CLARA MANCILHA

Maria Ercília, gerente do banco de leite, destaca a importância da doação


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Assaltos recorrentes aos estabelecimentos comerciais e furtos de veículos são exemplos de fatos que têm causado a sensação de insegurança nos moradores do Coração Eucarístico. As estatísticas, porém, revelam uma queda

POPULAÇÃO DO COREU TEME INSEGURANÇA NA REGIÃO RAQUEL DUTRA

n GABRIELA MATTE MARCELA NOALI MARINA NEVES 3º PERÍODO

Desde o início do ano, os moradores do Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste de Belo Horizonte, têm observado o aumento de furtos e roubos na região. Segundo comerciantes e frequentadores, o principal alvo dos bandidos são veículos, principalmente, carros, que no entorno do Campus da PUC Minas podem ser encontrados em grande número. Comerciantes reclamam que a ausência de policiamento da Praça Coração Eucarístico de Jesus tem gerado desconforto e sensação de insegurança para eles e seus clientes. A vendedora Iara Queiroz, que divide o turno de trabalho com uma colega, diz que se sentia mais segura quando havia o patrulhamento fixo realizado por dois policiais na Praça. "A gente fica com receio de fechar a loja sozinha", salienta. O estabelecimento, localizado próximo à Drogaria Araújo, foi assaltada quatro vezes somente neste ano. Morador do bairro há 50 anos, Josimar Gomes Colen, de 72 anos, afirma que a cri-

minalidade no bairro tem feito com que os moradores mudem seus hábitos. "De repente você tem que viver com alarmes, cerca elétrica, portão eletrônico. Entrando numa fortaleza", reclama o guarda civil aposentando. "Ninguém tem coragem de sair oito, dez horas da noite. Realmente a insegurança está solta. Você sai de noite olhando pra trás", completa. Ele diz que a polícia deveria estar mais presente e estabelecer normas de segurança mais precisas, como o conhecimento do local que é resultado de um policiamento por áreas fixas. "Enquanto não tiver isso, nós vamos continuar reféns dos bandidos", diz. Segundo o presidente da Associação de Moradores do Bairro Coração Eucarístico, Irani Firmino, o possível aumento da criminalidade no local não é uma novidade. Para ele, falta maior mobilização entre os moradores, formada majoritariamente por jovens, para elaborar e praticar métodos simples que inibem a ação de marginais na região. "A maioria das pessoas nem vai nas delegacias fazer ocorrência se é roubado ou assaltado", destaca Firmino. Apesar da existência de uma

rede de vizinhos protegidos, o presidente da Associação de Moradores reclama que falta interesse na maioria em ir às reuniões da associação. "Eu mando os convites para as reuniões e não vão quase 50 pessoas", diz Firmino. Além disso ele destaca que o bairro tem muitas saídas que facilitam a fuga de bandidos e dificultam o trabalho da polícia. Frequentadores do Bairro comentam que tomam certas medidas para que se sintam mais seguros. Helena Fernandes, de 72 anos, que está sempre na Praça do Coração Eucarístico com o seu neto de apenas 1 ano e meio, diz que toma precauções para evitar situações que facilitem a ação de bandidos, como não sair com objetos de valor expostos e observar a movimentação nas imediações da sua casa antes de sair. "Nunca saio depois das 19h", salienta a idosa que é ministra da Eucaristia da Paróquia Coração Eucarístico. Por outro lado, os dados disponibilizados pela Polícia Militar da capital mineira revelam uma contradição. A criminalidade no Bairro Coração Eucarístico diminuiu cerca de 5% durante os três primeiros meses do ano, em

Josimar Gomes Colem, morador do bairro há 50 anos, diz ter medo de andar à noite pelo bairro comparação, ao mesmo período do ano passado. O sociólogo e especialista em criminalidade professor Luís Flávio Sapori, concorda com Firmino de que os casos registrados na região são comuns. Segundo ele, essa criminalidade reflete uma situação de toda a Região Metropolitana de Belo

Horizonte e não somente do bairro. "Raramente a gente observa a presença ostensiva da polícia aqui no bairro, principalmente à noite. Não é um problema só do bairro. Infelizmente, a cidade como um todo está mal policiada. Então, por isso essa sensação de insegurança é alta", afirma.

Falta de bueiros incomoda quem espera ônibus MARIA CLARA MANCILHA

n GABRIELA MATTE MARINA NEVES 3º PERÍODO

Nos primeiros meses do ano, as chuvas são frequentes e trazem, consequentemente, a rotina de pontos de ônibus alagados, que encharcam os cidadãos à espera do transporte coletivo. “Passa carro e molha a gente toda. Tem que ficar correndo pra outro lugar, e quando a gente volta o ônibus já passou”, desabafa a gestante Fabiana Jhenifer. Antes de sua licença maternidade, Fabiana Jhenifer esperava no ponto de ônibus todos os dias por volta das 15h30, na Via Expressa abaixo da passarela que dá acesso ao metrô, na Praça Maria Luiza Viganó, e diz que a cada pequena chuva, o ponto alaga. Para ela, a solução, além da colocação de novos bueiros, é a conscientização da população, que deve parar de jogar lixo no chão. “Aqui falta bueiro. Cadê o bueiro, não tem nenhum aqui não”, gesticula José Mauro Batista, 46 anos. Segundo ele, a solução é também a reforma do passeio, que deve ser mais alto e largo. “Eu saio correndo e grito:

Poças d’água na calçada são um dos problemas causados pela escassez de bueiros na Via Expressa. Carros que jogam água são alvo de muitas reclamações 'Olha eu aqui, moço'”, conta José Mauro, que diz ser sempre encharcado por motoristas imprudentes. Há três anos e meio, Maria Aparecida Miranda, 46 anos, possui a mesma rotina. Ela trabalha no Coração Eucarístico, portanto, pega ônibus na Via Expressa seis vezes por semana e relata sua insatisfação com a não resolução do problema. “Essa cobertura não vale nada. O passeio é muito estreito”, conta. “Eu subo no banco, chego para frente. Às vezes o ônibus nem para”, diz Aparecida, que já foi molhada até no rosto. Maria Helena de

Carvalho, 70 anos, moradora do Bairro Califórnia, utiliza o transporte público do Bairro Coração Eucarístico duas vezes por semana. A senhora conta que, para fugir da chuva, corre para debaixo da passarela e por isso, geralmente, acaba perdendo o ônibus. “Se a chuva vem de frente ela te molha toda, de costas te molha também”, diz Helena, sobre o ponto. O vendedor ambulante Maxwell Rodrigues dos Santos, 28 anos, trabalha há cerca de oito meses ao lado de um dos pontos de ônibus na Via Expressa e relata que já presenciou

inúmeros alagamentos no local em dias de chuva. “Os motoristas ficam molhando passageiros nos pontos direto”, conta ele, que estima um aumento de até 20 centímetros na altura da água. Na sua opinião, também falta manutenção nos bueiros e um maior respeito dos motoristas em relação aos pedestres. “O ponto de ônibus também não tem recurso para o passageiro esconder. A maioria do pessoal vai tudo molhado embora”, relata. O morador do Bairro João Pinheiro, Jonathas Fernandes Oliveira, 27 anos, utiliza os pontos de

ônibus do Coração Eucarístico três vezes por semana e indigna-se com o descaso do governo na solução do problema, que, segundo ele, está espalhado por toda a cidade. “Eu acho que eles poderiam olhar mais a questão das ruas, porque a gente paga muita conta para isso acontecer e isso não tem acontecido. Eu acho que o governo e o estado tem que olhar mais o pedestre também. Tem muita multa e eu acho que o dinheiro serviria pra isso também e eles não tão fazendo. As pessoas pagam muito pra não ter o retorno disso”, diz.

Muitos moradores, independentemente do clima, optam por já esperar o ônibus debaixo da passarela. O bombeiro Lucas de Souza Barreto, 21 anos, que diariamente frequenta o bairro, relata que o abrigo do ponto de ônibus, destinado a proteger as pessoas, é muito pequeno e não suporta o número de pessoas que aguardam no local. “A gente tem poucos abrigos aqui e a quantidade de pessoas é superior ao número desses abrigos”, coloca. Para ele, três importantes medidas devem ser tomadas, a melhoria da pavimentação das ruas, o aumento do número de abrigos e do número de ônibus circulando. “Mais ônibus circulando, menos gente esperando na chuva”, explica. De acordo com Delano Wagner Laine, assessor de comunicação da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), as bocas de lobo da Via Expressa estão sendo limpas. “Os trabalhos começaram no dia 14 de abril, no Bairro João Pinheiro. No momento, a limpeza está sendo feita na altura do Bairro Camargos”, afirma.


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AULAS DE DIREITO NO ENSINO MÉDIO No Bairro São Gabriel, alunos de escolas públicas aprendem e debatem sobre os direitos sociais dos trabalhadores que são assegurados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) JÉSSICA LELLIS

n JÉSSICA LELLIS PEDRO FONSECA 1º PERIODO

OIT no campus (Organização Internacional do Trabalho). Esse foi o projeto exposto pela professora Valéria Abritta Drummond e aprovado pela PUC Minas por intermédio da coordenação do curso de Direito. A proposta é a de ensinar estudantes de escolas públicas do Bairro São Gabriel sobre os direitos sociais dos trabalhadores que são assegurados pelas convenções da Organização Internacional do Trabalho. Segundo a professora, procura despertar o interesse pelo assunto trabalho. O projeto, ligado à disciplina que a professora ministra na PUC Minas, além do objetivo pedagógico, tem também um objetivo extensionista de estreitamento da relação entre a universidade e a comunidade. A professora destacou o entusiasmo que é comum aos alunos de Direito por estarem em contato com a comunidade, ampliando os conhecimentos fora dos muros da universidade. Além disso, fazer com que seja mais atrativo o estudo da disciplina e fornecer meios para a satisfação dos alunos de atuarem, desde a universidade, com os conhecimentos aprendidos

A professora Valéria Abritta Teixeira Drumond ensina sobre a Organização Internacional do Trabalho aos estudantes dentro de sala de aula. A estudante Tatiane Thaís do 6° período do curso de Direito participou do projeto, se mostrou feliz por poder levar conhecimento que nem todos os estudantes do ensino médio possuem e também pelo interesse que os alunos tiveram pelo projeto. Ela também ressalta o aprendizado pessoal e acadêmico que teve por meio dos minicursos. Foi dessa forma também que os monitores Alexander Matheus Dias Pinheiro e Aléxia Duarte Torres, ambos do 1° período do curso de Direito

mostraram interesse por participar do projeto, coordenado pela professora Valéria. Sobre a importância da palestra, eles ressaltaram o tema como assunto recorrente na grade base do Enem, a que os estudantes estarão sujeitos com a prova no segundo semestre. A estudante Luana Araújo Ferreira, de 17 anos, do 3° ano do ensino médio, comenta sobre o projeto dizendo ser algo precioso para os que tiveram a oportunidade de acompanhar a palestra. Além do tema sobre OIT, outro assunto que atraiu

interesse foi "bolsas na PUC", em que os palestrantes mostraram as oportunidades oferecidas aos alunos para o ingresso na universidade. Concluindo a ideia extensionista de não só a universidade estar em contato com a comunidade, como a comunidade adentrar aos muros da universidade, a coordenação de Psicologia abriu espaço para esse ingresso da comunidade, oferecendo serviço gratuito de teste vocacional, levando os alunos a entrar na universidade no ano que vem, certos da profissão que

querem. Certo de que quer estudar e futuramente estar em uma universidade, Marcus Vinícius de Abreu Gonzalo, de 25 anos, se diz motivado a estudar por mais horas para conseguir uma vaga em um dos programas do governo. O trabalho escravo foi amplamente abordado durante a palestra, mostrando que os países membros estão em busca da erradicação deste, por meio das reuniões e ações a serem tomadas após cada reunião. O questionamento por parte dos alunos ocorreu em vários momentos e o interesse foi grande quando colocado em pauta o desejo da coordenadora de reproduzir a reunião oficial da OIT, a partir de uma simulação feita no auditório da PUC sem data marcada ainda, colocando em prática a teoria abordada durante as palestras, tendo esta a participação dos estudantes, monitores, professores e outros alunos do curso de Direito que mostrem interesse durante o decorrer do curso. A OIT tende a se fortalecer em virtude que o não cumprimento das normas fere não só a relação entre países, mas a dignidade pessoal sob os aspectos

trabalhistas infantil, de escravidão, de discriminação, e ambientalmente sustável. E, pelo fato de nos dias de hoje, a preocupação com a saúde do trabalhador, meios para o desenvolvimento de relações pacíficas, justas e perenes entre cada uma dos grupos da tripartite, estão sendo buscadas, tende a ser este um tema recorrente, visto com bons olhos pelos meios de comunicação. Para a professora, em virtude da relação trabalhista ser essencial para o meio de convivência em sociedade, nada mais certo que a busca de uma boa relação trabalhista entre empregados e empregadores para todos estarmos em um ambiente socialmente pacífico onde há liberdade de expressão em caso de insatisfação de alguma das partes, o que o Brasil deixa a desejar por não ter ratificado a convenção 87 (liberdade sindical). Foram doadas algumas cartilhas para as escolas, que falam sobre a criação e fundamentação da OIT, com uma linguagem simples, apoiada por ilustrações, para um melhor entendimento e aproximação por parte dos alunos. RAQUEL DUTRA

Clínica auxilia jovens com dificuldade de aprendizado n MARIANA OZÓRIO LACORTE 1º PERÍODO

O Centro de Apoio e Clínica de Psicologia Frei Leopoldo localizado à Rua Frei Luiz de Souza, 737, 2º andar, no Bairro Altos dos Pinheiros, na Região Noroeste, presta atendimento psicológico e educacional a crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizagem e deficiência intelectual. A instituição funciona de acordo com o calendário escolar e cumpre carga horária de 40 horas semanais, de acordo com a coordenadora e psicóloga Andréa Maria Rapes, que afirmou ainda o atendimento diário de cinco crianças, em média, por profissional. O pai ou a mãe inscreve o filho por meio da divulgação feita nas escolas da comunidade. Os jovens são atendidos duas vezes por semana, em sessões em grupo ou individuais, com um retorno dos atendimentos aos familiares das crianças e adolescentes. Segundo Andréa, o acompanhamento

familiar é importante para lidar com a criança e ajudá-la no dia a dia. Atualmente, a equipe do centro é formada por psicólogas remanejadas pela Secretaria de Educação de Minas Gerais: Andréa Maria Rapes, Maria do Carmo Oliveira Fernandes, Ana Maria Campos dos Reis - que já trabalhou no centro, mas atualmente é uma funcionária voluntária -, Nelza de Fátima Valadares e Ilma Martins de Moura. O Centro, que no passado já contou com a atuação de quinze profissionais, dentre eles psicólogos e psicopedagogos, licenciados pelo governo, hoje conta somente com cinco funcionárias, em função de muitos desses profissionais terem se aposentado e não ter havido uma reposição de outros funcionários para a ocupação dos cargos vagos, além disso, com o fim da parceria do centro com a Prefeitura de Belo Horizonte, que não mais remaneja psicólogos para atuarem na clínica e a restrição feita pelo Estado

no deslocamento de profissionais de uma área para outra. Andréa Rapes, 49 anos, trabalha no Centro de Apoio e Clínica de Psicologia Frei Leopoldo desde 1998, além de ser funcionária da escola "Ser Especial", no Bairro Serra, Zona Sul de Belo Horizonte, desde 1995. O que a psicóloga mais gosta em seu trabalho é o resultado na vida do jovem: o desenvolvimento da maturidade frente ao problema enfrentado. Para ela, as crianças gostam do atendimento por ser o único lugar que elas têm para brincar. O que mais a entristece é uma criança não poder ser cuidada por não ter como ir até a clínica. Jovens com pleno potencial, mas que não se desenvolvem por falta de estímulo e escassez financeira. "Isso é que me deixa mais angustiada, a questão social", ressalta. Hoje o Centro atende jovens da comunidade do Dom Cabral e do Alto dos Pinheiros e escolas próxi-

mas. A clínica chegou a atender crianças e adolescentes da região de Ribeirão das Neves e Contagem, mas com a restituição do passe do BH Bus, que auxiliava na locomoção desses jovens de suas cidades ao Centro, houve diminuição no atendimento de pessoas das regiões devido às dificuldades em pagar o transporte público. A instituição tem convênio com a Secretaria de Educação, mas não tem auxílio financeiro. As próprias funcionárias, entre um aluno e outro, atendem telefone, limpam e fazem a manutenção do local. "É sorte da comunidade... de fazer [de elas fazerem] tantas coisas sem dinheiro", afirma Andréa. As salas de atendimentos, chamadas de "salas de recurso", são um esboço do Atendimento Educacional Especializado previsto pela lei, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90, artigo 54, caput e inciso III, que diz ser: "Dever do

Andréa Rapes, atual coordenadora, trabalha na clínica desde 1998 Estado assegurar à criança e ao adolescente: [...] III atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino". As crianças e adolescentes atendidos são considerados “alunos”, já que o termo “paciente” é de uso formal. As “salas de recurso” não são consideradas de atendimento educacional especializado, pois a Secretaria de Educação não autorizou formalmente as psicólogas para trabalharem nessa

ramificação da educação, apenas as remanejaram para trabalharem. As crianças e adolescentes são auxiliados por meio de jogos, brincadeiras, recortes de jornais e revistas, colagens, informática, livros didáticos, massinhas, etc. O Centro utiliza o mesmo material que a escola usaria para fins lúdicos. Na clínica, além deles terem o mesmo fim, auxiliam o desenvolvimento psicológico do “aluno" em paralelo com o emocional.


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RICA MEMÓRIA DO DOM CABRAL n LUISA DO VALLE MARIANA OZÓRIO LACORTE

Nascido a partir do primeiro conjunto habitacional construído no Brasil, na década de 60, o Bairro tem sua história relembrada por antigos moradores, que acompanharam a transformação desde o planejamento

1º PERÍODO

Na década de 1960, como resposta à grande e crescente demanda por habitação em Belo Horizonte e sob o comando do então governador de Minas, Magalhães Pinto, o poder público estadual criou uma estratégia para combater os problemas relacionados à escassez de habitação na capital mineira. À medida que também almejava solucionar o problema das favelas, teve como iniciativa concreta a construção de um conjunto habitacional, o primeiro do Brasil, chamado Dom Cabral. Planejado e construído em 1964, o projeto foi financiado pela Caixa Econômica do Estado e tinha como finalidade a construção de ‘casas para o povo’. O bairro foi construído por meio da venda de lotes de uma antiga fazenda da região, chamada Fazenda do Pastinho, que pertencia à família Murta. A propriedade foi vendida para a Arquidiocese de Belo Horizonte, que, em 1964, venderia esses lotes para o governo estadual para construção do conjunto habitacional. Todavia, parte do terreno que seria destinado à sua construção acabou sendo ocupado pela Vila 31 de Março, antiga Vila Frei Carlos Josefa, em 1960. O bairro que recebeu o nome em homenagem ao primeiro bispo da capital mineira, Dom Antônio dos Santos Cabral, foi a

RAQUEL DUTRA

Dom Cabral deixou de ser um conjunto habitacional, pioneiro no país, para se tornar bairro heterogêneo, com moradores de perfis diferentes única iniciativa, na cidade, de construção de um bairro destinado à habitação das classes populares dentro do programa institucional elaborado por Magalhães Pinto, e apesar disso acabou sendo ocupado, principalmente, por funcionários públicos. O projeto original, no entanto, não foi concluído, pois, em 1965 um bairro diferente daquele planejado foi entregue aos moradores. Apenas as casas haviam sido construídas, pois as ruas MARIA CLARA MANCILHA

Emília de Castro Machado, moradora Dom Cabral há cerca de 40 anos, aponta conquistas

não eram pavimentadas, não havia rede elétrica, havia problema no abastecimento de água, o esgoto era a céu aberto e faltavam serviços como a coleta de lixo. Além desses problemas enfrentados dentro do bairro, os moradores possuíam dívidas com a Caixa Econômica do Estado, devido ao alto preço dos imóveis e ao grande número de prestações. Em entrevista ao jornal O Diário, em 17 de junho de 1959, Magalhães Pinto falava sobre a iniciativa. "A habitação condigna é uma necessidade fundamental do homem, traduzindo fato de repercussão direta na vida da família, que não poderá desenvolver-se de modo sadio – nem física, nem psicologicamente –, em condições materiais impróprias", afirmou. O conjunto habitacional Dom Cabral que originou o atual bairro do mesmo nome, ocupa área de 94,7 hectares e tem população estimada em 6,3 mil habitantes. O bairro do século passado que era formado apenas por funcionários públicos e pessoas de renda mais baixa, hoje atrai

jovens universitários e famílias de classes mais elevadas, em decorrência da infraestrutura proporcionada pela instalação da PUC Minas. Agheila Brito, 69 anos, Marlene Vieira de Faria, 72, e Emília de Castro Machado, 80, são moradoras da Alameda Indaiá no Bairro Dom Cabral há muitos anos e não possuem ainda a escritura oficial de suas casas. Agheila, mãe de 11 filhos, mudou-se para o conjunto habitacional em 1965 com o marido logo após a conclusão do projeto, época em que todas as casas possuíam a mesma chave. Dessa forma, a chave que a abria a porta da casa de Agheila, também abria a porta da casa de seus vizinhos. Ela conta que pagou sua casa em 180 prestações, que todo mês de janeiro sofriam reajustes, enquanto o salário só aumentava em maio. Atualmente, Agheila diz que muita coisa mudou: há saneamento básico, luz elétrica e posto policial, em compensação houve aumento da criminalidade em função do consumo de drogas no

bairro. "Antigamente eu era feliz e não sabia hoje a gente fica escondido", diz. Apesar disso, o número de roubos das casas não aumentou devido ao programa "Vizinho Solidário", em que os vizinhos zelam pela segurança uns dos outros. Natural de Bom Sucesso, Emília morou até os 39 anos em Oliveira e depois mudou-se para Belo Horizonte com a mãe e a irmã, já falecidas. Ela reside no bairro há cerca de 40 anos e conta que a maior dificuldade vivida era a precariedade do transporte público. O único ônibus que possuía o Dom Cabral em seu itinerário era o 5401, que mesmo assim não percorria todo o conjunto. Ao longo dos anos, segundo ela, houve melhorias no bairro, foram construídos: igreja, creche, praça, escola e um centro para a 3ª idade. Já Marlene Vieira, reside no bairro há cerca de 30 anos com o marido e assim como as outras moradoras entrevistadas, pagou sua casa em várias prestações. No passado, segundo ela, o bairro carecia de melhor infraestrutura, além de uma área de lazer, que constava no projeto original do conjunto habitacional, mas que nunca saiu do papel. Hoje, preocupada com os usuários de drogas, mantém suas portas fechadas, diferentemente do passado. Guilherme Marcos Guimarães, 64 anos, trabalha há um ano na paróquia "Bom Pastor", criada em 12 de Fevereiro de 1967, e é residente do bairro Dom Cabral há aproximadamente quatro anos, mas conhece e possui contato com o bairro desde 1968, quando trabalhava na PUC Minas. Ele diz não ver diferença entre o conjunto habitacional, de 1967, e o Bairro Dom Cabral da atualidade. Segundo Guilherme, os maiores problemas são o uso de drogas por jovens e a falta de ronda policial. A praça em frente à paróquia, que no passado havia sido criada com o intuito de proporcionar lazer aos moradores do bairro e de ser uma referência urbana no presente, está completamente abandonada e reúne à noite usuários de drogas.

Comerciantes do Coreu reclamam de pedintes ANA CLARA RODRIGUES

n ANA CLARA RODRIGUES 3º PERÍODO

A falta de policiamento constante e o alto número de lojas presentes no local fazem com que os pedintes encontrem na rua uma comodidade para eles, mas que constrange e atrapalha comerciantes e clientes. A Rua Coração Eucarístico de Jesus é considerada o centro comercial do Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste e, por isso, há grande movimentação de pedestres e clientes nos horários de pico durante todos os dias da semana. No entanto, há algum tempo, a existência de pedintes gera reclamação entre moradores, lojistas e clientes. No geral, eles se encontram nas portas de padarias e do comércio, e aproveitam a entrada e saída dos clientes, para abordá-los, com o objetivo de pedir dinheiro ou alimentos. Alguns consumidores, como Dometila Cifuentes Melo, relatam o medo que sentem de ser abor-

para furtar um desdadas por eles quando odorante. A polícia foi se juntam em grupo. chamada, mas só chePor ser idosa, consigou ao local horas dera que para ela é depois do ocorrido. E é mais difícil ainda, e, este tipo de comportapor isso, não sai mais mento, ou o medo dele de casa com a mesma que amedronta e afasta frequência de antigaclientes e lojistas. mente. Já o Capitão Nilson Mirna de Oliveira, da Silva Porto, da 4ª funcionária da PaDP da Região Nonificadora Coração roeste, relata que o Eucarístico, diz que os policiamento no bairro pedintes não se limié feito de forma regular tam a ficar do lado de Área comercial do Coreu é frequentada por muitos moradores de rua devido ao grande fluxo fora e a aparência suja de pessoas em razão da leva clientes a desisreclamam que o policiamento só PUC Minas. Segundo ele, câmeras tirem de seus lanches. Além disso, existe quando acontece algo extrade monitoramento foram instaMirna conta que muitas vezes os ordinário, como um aumento no ladas em dois pontos dos bairros e fregueses pedem ao proprietário do número de ocorrências de assalto existe uma viatura disponível 24 estabelecimento para acompanháno comércio. Moradora e comerhoras por dia. Além disso, existe los até o lado de fora por seguciante, Mirtes Oliveira revela que uma escala de plantão específica rança. Para ela, a polícia não conalgumas vezes os moradores de rua para o bairro, para que os policiais segue garantir segurança ao bairro apresentam comportamento viodesignados conheçam a rotina do e dá espaço para que os pedintes se lugar e assim possam trabalhar em lento, e entram nos estabelecimenacomodem cada dia mais conjunto com os moradores. Em tos para coagir e incomodar. Segundo alguns moradores relação aos pedintes e moradores Segundo ela, em 12 de Abril deste ouvidos pela reportagem, a falta de de rua, ele comenta que apesar de policiamento é um problema consano, foi registrada ocorrência onde haver um serviço social responsátante no bairro. Os comerciantes pedintes invadiram uma farmácia

vel por isso, há muita resistência por parte deles para receber ajuda, e que não é um serviço que pode ser feito da noite para o dia. Segundo a socióloga e doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maysa Gomes, existe hoje no Brasil um cuidado maior com os setores marginalizados por meio de políticas públicas e sociais que reconhecem o direito do cidadão. "Assim o Estado assume um papel importante, tomando a dianteira nas ações de promoção da vida. A importância de tais ações, além dos benefícios e da dignidade, geram um consenso social em torno do combate à miséria e não ao miserável", analisa. Funcionária de O Boticário, Marina Braga relata que os pedintes ajudam a manter a segurança da loja. Alguns deles adentram na loja e apenas experimentam perfumes, mas quando vêem que há algo errado ou algum pedinte "novo" no local, eles intervêm e as ajudam a tirá-los do estabelecimento.


6 Comunidade

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Maio • 2012 LAURIE ANDRADE

COREU É AFETADO POR CONGESTIONAMENTOS Grande volume de carros nas ruas próximas à PUC Minas causa congestionamento e atrapalha o trânsito na região, o que afeta diretamente a rotina dos moradores, principalmente nos horários de entrada e saída de alunos da universidade n LAURIE ANDRADE MARIANA EMÍDIO RAQUEL DUTRA FERNANDO OSÓRIO 3º PERIODO

O Bairro Coração Eucarístico, localizado na Região Noroeste de Belo Horizonte, tem enfrentado problemas com o trânsito. Devido ao grande contingente de veículos e pessoas, as principais vias de acesso que ligam a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) às demais regiões ficam congestionadas. Por se tratar de uma população flutuante, o trânsito se dá com maior intensidade nos horários de entrada e saída dos alunos, que acontecem, pela manhã, às 7h e 12h, e à noite, às 18h e 22h. O fluxo intenso afeta diretamente a rotina moradores da região. Marcelo Vasconcellos, 19 anos, aluno da Universidade Federal de Minas Gerais morador do bairro, relatou a dificuldade da situação. "Quando está em atividade, a PUC causa um movimento anormal no bairro, princi-

palmente no que se refere ao volume de veículos, tanto no turno da manhã quanto no da noite", diz. Segundo o estudante, o trânsito intenso o obriga a alterar sua rotina necessitando sair mais cedo para evitar estresse e atrasos. O jovem acredita que a solução está em uma manifestação coletiva com o intuito de mobilizar os órgãos públicos. "A BHTrans precisa fazer modificações para solucionar problemas banais de circulação e ser mais rápida e eficaz. Os estudantes, por vezes, podem renunciar ao conforto de utilizar o automóvel, optando por um meio de transporte alternativo", afirma. A posição da Associação dos Moradores e Amigos do Coração Eucarístico não é diferente. Iracyr Firmino da Silva, mais conhecido como Capitão Firmino pelos moradores do bairro, 78 anos, presidente da entidade há 10 anos, afirma que o trânsito é um problema recorrente na região. "A situação é crônica e séria. A imprudência dos motoris-

tas dificulta o trânsito. Muitas vezes, os alunos estacionam em áreas destinadas a estacionamentos privados e garagens. Isso gera bastante desconforto", observa. Firmino crê na necessidade de mais guardas à disposição para disciplinar, orientar e organizar o trânsito do bairro. Quanto à relação com os órgãos responsáveis, ele mostra pessimismo. "A Associação desistiu de contar com a BHTrans, porque é muito difícil conseguir algum resultado. Eles não tomam providência", afirma. O intenso fluxo de veículos afeta, também, estudantes da própria PUC. Luciana Santana de Souza, 19 anos, moradora do Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, só pode parar no estacionamento interno da PUC em dias ímpares, conforme preveem as regras de revezamento instituidas pela Universidade. A instituição disponibiliza sua estrutura física para os alunos, organizando o fluxo de carros de acordo com o número da matrícula. Dessa forma, estu-

dantes com número de matrícula terminado em algarismo par, só podem estacionar em dias pares, e vice-versa. Luciana paga estacionamento externo, pois não considera seguro parar o carro na rua. "Além disso, preciso sair mais cedo tanto de casa, quanto da aula para evitar o trânsito na Avenida Dom José Gaspar. Já gastei 20 minutos para percorrer 500 metros, ao sair da aula no horário normal", afirma. O aluno de direito Matheus Patrocínio gostaria que as autoridades tomassem alguma atitude para melhorar o trânsito e a segurança na região, pois sofre as consequências desses problemas. "Tive peças do meu carro roubadas, como os espelhos do retrovisor e o limpador de para-brisa traseiro", revelou o estudante. Segundo Matheus, nos horários de início e término das aulas, ele gasta o triplo do tempo convencional para chegar à faculdade, já que as ruas do bairro não comportam o excesso de veículos e geram grandes congestionamentos. Diante desses trans-

Fluxo de veículos e pedestres é intenso nas proximidades da PUC Minas tornos, a universidade informa fazer o possível para amenizar os impactos causados na comunidade. O Pró-Reitor da PUC Minas, Rômulo Albertini, reconhece a situação. "Sabemos que a PUC, no período letivo, traz transtornos para o trânsito do bairro. Apesar da parceria com a BHTrans não ser formal, ela existe sim e com o intuito de minimizar esses problemas", explica. Rômulo Albertini acrescenta que a instituição está em obras para a construção de um novo estacionamento. O objetivo é ampliar o número de

vagas oferecidos atualmente, comportando mais 220 veículos. O Professor ainda frisou que a universidade, em conjunto com a BHtrans procura incentivar campanhas em prol do transporte solidário e, com a Polícia Militar, tomar as devidas medidas para maior segurança nos arredores da instituição. Procurada pela reportagem, a Gestão de Projeto (Gepro), setor da BHTrans, optou por não se manifestar. Também procurada, a assessoria de comunicação da BHTrans sequer atendeu às ligações.

RAQUEL DUTRA

Associação de Moradores queixa-se com frequência

Rômulo Albertini diz que a PUC Minas busca minimizar o problema e anuncia a construção de novo estacionamento

Comerciantes do Coreu são afetados pelo trânsito intenso Além dos malefícios causados a moradores e estudantes, a atual situação de trânsito do Coração Eucarístico tem prejudicado, também, o comércio. Atuantes da região reclamam que o fluxo intenso de veículos, que gera longos congestionamentos e induz motoristas a estacionarem em áreas proibidas, atinge diretamente seus negócios. "Esse trânsito nos atrapalha, porque os nossos clientes não conseguem estacionar, precisam dar voltas para achar uma vaga e, muitas vezes, desistem", reclama Aline

Almeida, 32 anos, gerente de uma perfumaria localizada no bairro. Isso ocorre porque o espaço destinado a clientes é fechado pelas vans que estacionam em local proibido, fechando quem quer entrar ou sair. "Precisamos que haja maior fiscalização, tanto por parte da BHTrans quanto por parte da Polícia Militar", solicita Aline. Wagner Borges, 54 anos, segurança de uma padaria do bairro, também acompanha o caos diário e diz ficar assustado com a imprudência de certos

motoristas e com a falta de respeito entre os mesmos. Segundo ele, o fluxo proporcionado pela PUC Minas é prejudicial à padaria em que trabalha pois dificulta a entrada e saída de clientes. "Para que os clientes entrem e saiam do mini-mercado, precisam da colaboração dos motoristas que passam pela Rua Coração Eucarístico de Jesus, que, em sua grande maioria, são estudantes e estão com pressa para chegar à universidade. Esperamos que a BHTrans dê um jeito na situação", finaliza.

Não é de hoje que a Associação dos Moradores e Amigos do Coração Eucarístico tem feito reclamações à BHTrans. Segundo o presidente da organização, Iracyr Firmino, faz dez anos que a comunidade solicita a implantação de um semáforo no cruzamento da Rua Itutinga com a Avenida Ressaca. Nessa localização, em função da existência de um colégio, muitas mães com seus filhos têm dificuldade para atravessar, correndo riscos. "Nós já fizemos várias campanhas para que a BHTrans se sensibilizasse e colocasse um semáforo para facilitar a passagem das mães com os filhos, e das pessoas mais velhas nos horários de pico. No entanto, o máximo que eles fizeram foi colocar redutor de velocidade e faixa de pedestre", disse. Firmino comentou que as medidas tomadas pelos órgãos públicos não são suficientes para a re-

solução do problema. "Os motoristas não respeitam as faixas de pedestre. Você fica em pé ali, e os carros não param para você atravessar. É um problema recorrente, seríssimo", conta. O líder comunitário revelou que, em conjunto com a comunidade, já se mobilizou diversas vezes para buscar soluções. "Nós já fizemos várias campanhas. Teve uma época que a BHTrans colocou faixas para todos os lados do bairro, escrevendo 'Obedeça a sinalização'. Em resposta, eu coloquei uma faixa 'Que papelão, BHTrans! Quando é que vocês vão colocar um semá-

foro nesse local?' Por coincidência, uma mocinha foi atropelada debaixo de uma dessas faixas. Mas nem isso sensibilizou a BHTrans a colocar o semáforo", disse. Depois de anos de insistência e reclamações, Firmino, que possui um arquivo extremamente completo com fotos e artigos sobre os problemas e acidentes de trânsito do Coração Eucarístico, revelou ter, enfim, deixado de acreditar em alguma mobilização da BHTrans. "A gente não corre mais atrás. Cansamos de tentar conseguir algo com o serviço público", conclui o presidente. LAURIE ANDRADE

Vans de transporte escolar estacionadas prejudicam o trânsito


Comunidade Maio • 2012

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VIA 240 É ESPAÇO PARA SE EXERCITAR Pista é um espaço democrático para a prática de atividades físicas como caminhadas e corridas, onde pessoas das comunidades locais cuidam da saúde, sob orientação profissional n GLEIDSON ALVARENGA 2° PERÍODO

Caminhar tem se tornado hábito comum para muitos moradores da Região Norte de Belo Horizonte, que utilizam a Via 240 para a prática de exercício físico. Idosos, jovens, famílias reunidas e até mesmo crianças se reúnem para caminhar pela via. Essas pessoas se encontram para fazer os alongamentos com os orientadores da Academia da Cidade do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e praticarem caminhada e corrida. As

pessoas interagem e passam a se conhecer, mesmo sem perceber, como conta o educador físico da academia, Elias Siqueira. "A maioria deles nem se conhecem, e depois ouvimos trocarem telefone e convites, e percebemos o início de uma nova amizade", diz. "A caminhada é isso, é você se comunicar com outros praticantes em busca de um objetivo único, uma vida saudável", acrescenta. A caminhada acontece diariamente, no final da tarde e à noite. Janaína Gandra, 23 anos, moradora do Bairro Saramenha, caminha há seis meses na

Cras orienta as atividades físicas Alongamentos, caminhada e medir a pressão são alguns dos serviços oferecidos aos alunos da Academia da Cidade do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da Regional Norte de Belo Horizonte. A coordenadora Ednara Martins, que é professora de avaliação física, começou no programa desde que o projeto se iniciou há um ano e quatro meses, junto com o orientador de caminhadas e educador físico Elias Siqueira e o estagiário João Rafael. Juntos eles ajudam a cerca 500 alunos, inscritos no projeto e que são orientados sobre postura, roupas e calçados adequados para a prática das caminhadas. A maior parte dos frequentadores reside no Aarão Reis e Novo Aarão Reis, ou mora em bairros próximos como São Gabriel,

Floramar ou Saramenha. A caminhada acontece todos os dias no final da tarde na Via 240, e as orientações dos educadores da Academia como alongamentos e exercícios aeróbicos, são feitos de hora em hora dentro do amplo espaço oferecido pelo Cras. "O retorno que os alunos nos dão é muito gratificante", afirma Ednara, que destaca a importância das instruções para a caminhada. "Porque caminhar todo mundo caminha, agora oferecer os recursos que a Academia da Cidade oferece é muito bom, ensiná-los a fazer a caminhada, os alongamentos e praticar os exercícios físicos da forma correta e, além disso, vêlos ensinando a outras pessoas na via, isso que é importante, esse é o nosso retorno", observa.

Via 240. Ela conta que começou com o intuito de emagrecer, mas agora com o seu objetivo alcançado diz que não pretende parar. "Fiz grandes amizades, além de ficar animada, não pretendo parar", diz Luiz Henrique, 19 anos, que pratica caminhada há dois meses. "Por enquanto não pretendo parar, me sinto bem e gosto de vir todos os dias". A orientadora e educadora física Ednara Martins conta que a maior parte das pessoas procura a Academia da Cidade e faz caminhada na Via 240 por problemas de saúde ou

MARIA CLARA MANCILHA

para melhorar o condicionamento físico, como é o caso de Dorislaine Alves, moradora do Bairro Ribeiro de Abreu e corre desde a construção da via. "Gosto de me manter em forma, depois que comecei a correr na Via 240 tive menos insônia e mais equilíbrio emocional, além de sempre me manter no peso ideal", afirma. Assim como Dorislaine, Janaína e Luiz Henrique, várias outras pessoas procuram caminhar em busca de saúde, para a melhoria do corpo e da mente, encontrando na Via 240 e nos profissionais do Cras o espaço e o apoio necessários.

Elias Siqueira e Edinara Martins são orientadores da academia da cidade

Academia da Cidade tem boa aceitação junto à comunidade n MICHELLE OLIVEIRA 3º PERÍODO

Para aprimorar o serviço de saúde para a comunidade, a Academia da Cidade do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Bairro Novo Aarão Reis, precisou, neste ano, abrir mais um horário de atividades para a disponibilização de maior número de vagas. O serviço é oferecido pela Prefeitura de Belo Horizonte, por

meio do programa social BH Cidadania. O CRAS do Bairro Novo Aarão Reis oferece esse serviço há dois anos e recebe, principalmente, pessoas com idade acima de 45 anos. O novo horário possibilitou a abertura de mais 70 vagas. No total, são 103 disponibilizadas para a comunidade e proximidades. Elas são destinadas com prioridade ao Centro de Saúde do Novo Aarão Reis como indicação para tratamento. Quando estas MIICHELLE OLIVEIRA

Uma nova turma foi aberta para ampliar o atendimento à comunidade

vagas não são preenchidas, são disponibilizadas para outros lugares, incluindo o Bairro São Gabriel, próximo ao Novo Aarão Reis, mas pertencente à Região Nordeste. Patrícia Siqueira, moradora do bairro e dona de casa, está há um mês na academia e procurou o serviço por indicação do Centro de Saúde do bairro. Segundo ela, a academia está sendo muito benéfica. "Parei de sentir dor nas pernas, melhorei muito", conta. Alexandre Albuquerque, professor responsável pelas aulas, explica que a seleção de exercícios é de acordo com as condições físicas e de saúde da turma. Cada grupo recebe um atendimento diferente. Esse projeto é destinado aos maiores de 18 anos. Em casos de deficiências físicas ou algum problema específico, recebem crianças e adolescentes. No CRAS do Novo Aarão Reis, o horário de funcionamento é das 7h

às 12h e das 17h às 22h. As aulas tem a duração de cerca de uma hora e com a formação de dois grupos de acordo com a capacidade física. Cada horário recebe 70 alunos, sendo 35 em cada grupo. A nova turma é mista. Wilson Gonçalves, professor de avaliação física, diz que a população está satisfeita com o serviço. "Eles percebem e relatam para nós os benefícios sócioculturais. Eles interagem muito entre si. A grande maioria são pessoas que ficam dentro de casa e vem para cá, faz amizades", relata. A secretaria, segundo ele, organiza alguns eventos durante o ano e a própria academia faz eventos locais que ajudam nessa interação. A aposentada Eloísa Nunes, participante há dois meses na academia, possui um carinho especial pelos professores. Segundo ela, o tratamento que eles dão aos participantes é maravilhoso e vê melhora em sua saúde.

Mulheres optam por exclusividade em academias MARIA CLARA MANCILHA

n ISABELLA VALLE ISABELLE RÊDA 2º E 1º PERÍODO

Mulheres modernas, em tempos modernos, formam o público alvo de academias de ginástica exclusivas ao público feminino, mas que, por motivos diferentes, não gosta de frequentar academias exclusivas. Grandes redes como Contours e Curves criaram um método de exercícios em forma de circuito e não de séries, como é feito nas academias convencionais. "O circuito é composto de exercícios localizados ou aeróbicos, ou da combi-

nação dos dois. Depende se o objetivo da aluna for emagrecer ou fortalecer a musculatura. Ele é dividido em estações e cada estação dura 55 segundos em cada um dos oito aparelhos, tendo a duração total de 30 minutos", explica Paula Fonseca, professora da Contours e estudante de educação física na Uni-BH. Esses 30 minutos de malhação durante três dias por semana são suficientes para obter ótimos resultados. Os exercícios são praticados através de técnicas voltadas para o corpo feminino, e feitos com uma aparelhagem

especial, como os hidráulicos usados na Curves que não causam lesões, além de ter a opção do uso de pesos mais leves. "Os 30 minutos de circuito para mim são ideais. Não tenho tempo nem paciência para malhar", diz a funcionária pública Dayse Martini, aluna da Contours, franquia que está presente em mais de 28 países e que tem 100 unidades no Brasil "Na academia somente para mulheres como a Contours, tenho um atendimento mais pessoal. Sou acompanhada de perto pelas professoras, que me corrigem quando

faço algo de errado. E isso traz um resultado muito melhor”, diz Dayse. Além do atendimento mais direcionado, a ausência de homens no local, e tendo somente mulheres como profissionais e colegas, faz com que as mulheres se sintam mais à vontade. Heloísa Ruas, corretora de imóveis e aluna da Curves, presente em 70 países e com 200 unidades no Brasil, garante que a privacidade é o principal motivo pelo qual faz academia. “Sem contar que ninguém repara em nós", diz. "A mistura de alunos não nos permite ter liberdade para

exercitar", acrescenta. A procura por uma atividade física relacionada à estética e à auto-estima, com o avançar da idade, é um motivo relevante para a procura das academias. De acordo com educadora física Marcela Helena que trabalha na Academia Curves, a faixa etária predominante é acima dos 30 anos. "Muitas alunas se queixam falando da vergonha que tinham de malhar em academias convencionais no meio de pessoas mais novas e com um condicionamento físico melhor", afirma Paula Fonseca.

Heloisa Ruas prefere se exercitar com privacidade


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JORNALISMO ESPORTIVO COM TOQUE Mistura de cobertura esportiva e simples diversão está cada vez mais comum nos meios de comunicação, especialmente na TV, o que provoca opiniões diversas, já que, para alguns a inserção n FELIPE AUGUSTO VIEIRA JULIA MASCARENHAS LUCAS ALVES PIERO MORAIS RAÍSSA PEDROSA 2º,4º E 6º PERÍODO

Vem se tornando tendência para o jornalismo esportivo, principalmente na mídia televisiva, o uso de um formato mais irreverente de apresentação do conteúdo informativo, que dá maior autonomia aos repórteres e apresentadores de mesclar notícia com entretenimento. Entre os jornalistas que optam por esse estilo, Tiago Leifert, 31 anos (ilustração ao lado), apresentador e editor do Globo Esporte de São Paulo, é o nome que mais se destaca. Motivado pelo intuito da direção do programa de reformar o formato, Tiago, que já tinha um projeto, uniu o útil ao agradável. "Foi tudo no final de 2008. A direção queria reformular o programa e me convidou para tentar. Sempre soube o que eu queria fazer com o programa. Topei na hora", afirma. "O piloto do novo GE começava comigo desligando o teleprompter. O jeito de apresentar é o único jeito que eu sei fazer, porque é o meu jeito de ser mesmo. Não tem personagem nem filtro", completa. Entretanto, existem profissionais da área que defendem a ideia de que o entretenimento é nocivo à informação, compromisso maior do jornalismo com o público, e comparam a cobertura esportiva com entretenimento, salvo a licença poética, a um copo contendo água e óleo: não se misturam. Um desses profissionais é Guilherme Mendes, 48 anos, ex-repórter e apresentador do Globo Esporte da Globo Minas, e atual diretor de comunicação do Cruzeiro Esporte Clube. Ele faz um recorte sobre o final da década

de 90, quando a audiência do Globo Esporte vinha caindo, fato que segundo Guilherme se concretizou no começo dos anos 2000, e associa essa queda de audiência à mudança de comportamento do público telespectador, por exemplo, o horário de almoço, período do dia em que é exibido o programa, em que as pessoas não almoçam em casa e sim na rua. "Não se tem dentro de casa, nessa faixa de horário de meio-dia a uma da tarde, um público masculino. Com basicamente dona de casa, e um público infanto-juvenil, eu penso que essas pessoas procuram uma programação que esteja mais relacionada ao cotidiano delas", acrescenta Guilherme Mendes, associando assim a justificativa desse novo formato adotado pelo GE. Guilherme Mendes é defensor do estilo "feijão com arroz" de jornalismo, do qual a maneira simples e objetiva de repassar a informação é privilegiada, e aponta críticas à proposta de difundir esse modelo atual e sua banalização. "Eu não concordo que se faça toda uma programação com programas nesse tipo de perfil. Considero esse o erro que estão cometendo", afirma. Ele considera o campo do entretenimento, fixado a programas informativos, ainda um campo pouco desbravado pelo jornalismo. "Acho que não houve pesquisas e testes com esse formato, mas deu certo", admite, porém, contrapõe dizendo "Se deu certo a um produto, não necessariamente dará para todos. Está ficando banalizado esse modelo". Para Tiago Leifert, a continuidade do modelo independe da repercussão do formato na mídia, e, no instante em que são mantidos os critérios da informação, quem decide isso é o

público. "A informação ainda é mais importante do que tudo, sem ela ninguém assistiria ao programa. Nossa diferença está no jeito de dar a informação, e o humor é apenas uma de várias ferramentas que usamos", e salienta que essa proposta de trazer o jornalismo ao campo lúdico é importante para firmar no público a noção de diversão que o esporte proporciona. "O objetivo, em longo prazo, é trazer o espírito esportivo de volta ao esporte. Acho que se aproximar do entretenimento é muito saudável para firmarmos o esporte como diversão. Briga de torcida, assassinatos nas organizadas, isso tudo tem de ficar pequeno perto da grande função do esporte: divertir", conclui. Getúlio Neuremberg, 42 anos, radialista e professor da PUC Minas, descreve que no rádio é necessário que o comunicador adjetive a linguagem para explorar e transmitir as sensações e não só a informação. "A emoção pode se dar de várias maneiras: pode ser através do estimulo da sensibilidade, o estímulo ao sensacional e o estímulo através do humor, então isso, de alguma forma, sempre fez parte do jornalismo esportivo. Foge um pouco daquele jornalismo sisudo", diz. Getúlio corrobora a ideia de que na mídia radiofônica, assim como nas demais, é preciso privilegiar a credibilidade, e alerta que o caráter humorístico não é o conteúdo principal, e sim, a forma de conduzi-lo. "O problema é usar o humor como um fim, o humor tem que ser usado como um meio. Eu não concordo muito com essa nova postura dos programas de rádio e televisão que estão fazendo exatamente isso, estão transformando o humor em um fim em si mesmo. E deixa de ser um pro-

grama esportivo e passa a ser um programa de humor", analisa. O produtor do programa "98 Futebol Clube", da rádio 98 FM, Mário Nogueira de Avelar Marques, conhecido como Mário Alaska, 30 anos, defende que o formato está de acordo com uma característica inerente ao esporte, no caso do programa da 98, o futebol, que é entreter. "Eu acho que de uma certa maneira ele mostra uma verdade do futebol, ele acaba sendo o ópio do povo, então você tem um tratamento condizente com a função

dele que é entreter", opina. Mário também conta que a recepção do público é bem tranquila, e que o programa não se limita apenas a ouvintes, mas também a internautas, que interagem bastante com o programa. "A interação com o público é muito grande. Felizmente, dos twitters da imprensa mineira, considerando imprensa o veículo que é noticioso e tenha uma produção jornalística em torno do fato, o 98 Futebol Clube é o mais seguido", conta. Para o comunicólogo e profes-

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

Brincadeiras geram diversas opiniões entre os jogadores

Para o atacante Wallyson, a brincadeira é válida desde que haja respeito FELIPE AUGUSTO VIEIRA

O jogador Montillo não se incomoda com as piadas e se diverte com elas

Alguns jogadores do Cruzeiro Esporte Clube consideram válidas e recebem bem as 'brincadeiras' feitas pela abordagem adotada por esse tipo de cobertura esportiva. Para Wallyson Ricardo Maciel Monteiro, 23 anos, atacante do clube celeste, as entrevistas feitas com uma dinâmica mais leve e bem humorada deixam o entrevistado mais à vontade para responder. Ele recebe bem as 'brincadeiras' e gosta das repercussões que ganham, desde que não se falte o profissionalismo por parte do repórter. "Tem apresentador que é sério demais e acaba que deixa o entrevistado um pouco acanhado, isso é complicado. Acho que o mais importante é a brincadeira com respeito", enfatiza. Walter Damián Montillo, 27 anos, meia do clube, afirma não

assistir muito aos programas esportivos brasileiros, porém não vê problemas na forma em que são conduzidas as reportagens de teor cômico. "Na Argentina também tem isso e eu acho engraçado. Não sei se os demais jogadores acham ruim ou não, mas já ouvi imitações em espanhol brincando comigo. Eu me divirto, não me incomoda", afirma o principal jogador cruzeirense. Nem sempre a piada é bem vista pelos personagens. Em fevereiro de 2012, em uma entrevista coletiva realizada no CT do Palmeiras, o repórter Leonardo Bianchi, em reportagem para o Globo Esporte de São Paulo, irritou o argentino Hernán Barcos, atacante do clube paulista, ao perguntar sobre a semelhança física dele com o cantor Zé Ramalho.

A reação do jogador, expressada em baixo calão, evidenciou o que o próprio denominou como 'falta de seriedade' por parte do repórter. Tiago Leifert considerou o episódio um 'azar', e enfatiza que o erro do repórter foi se expor na coletiva ao reforçar uma situação já incômoda, também enfatizada pelos demais veículos. "Ele foi o terceiro repórter a forçar a pergunta sobre a semelhança. Os outros veículos, que também estavam forçando a história, depois ficaram posando de 'paladinos' do bom senso", critica o apresentador, que também considerou desproporcional a reação do atleta. No mesmo dia, após o episódio, a Assessoria de Imprensa do Palmeiras relatou que jogador e repórter conversaram e se entenderam.


Especial Esporte

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Maio • 2012

DE ENTRETENIMENTO DIVIDE OPINIÕES do humor ofusca o mais importante na matéria, que é a notícia. Outros defendem que o esporte é lazer e que brincadeiras devem ser introduzidas, trazendo abordagens polêmicas sobre o tema sor da PUC Minas, Mozahir Salomão Bruck, a existência dessa mesclagem de cobertura jornalística esportiva com entretenimento, com ênfase ao futebol, não é novidade alguma, citando o locutor esportivo Ary Barroso, que na década de 40, era um comunicador que divertia os ouvintes com as narrações dos jogos em que trabalhava pela Rádio Tupi. Porém, atualmente, Mozahir afirma que é necessário avaliar se o que está sendo feito é de fato uma cobertura jornalística dos fatos. "Considero um equívoco a cobertura esportiva que quer ser jornalística e passar para esses tipos de abordagem. Sendo jornalismo, deve-se levar, o tempo todo, a informação correta, além de não deixar de seguir padrões. Nos determinados momentos que ele foge das regras, há riscos", avalia. Mesmo considerando o fato de que o futebol pertence ao campo lúdico e a abordagem de forma

mais flexível torna o assunto mais atraente, tendo assim, forte audiência, Mozahir determina ser importante refletir sobre o fazer jornalístico no esporte, para que não se perca a credibilidade dos profissionais. "Esse entretenimento acaba por pautar idolatria, biografismos, perfumarias, e acaba por existir a preocupação de se o jornalismo vai abordar assuntos essenciais. Quando o assunto transcende o jogo, o risco que se corre é de cair nesse conteúdo", afirma o pesquisador. "O jornalista tem sua credibilidade questionada ao fazer matérias que fogem do assunto esporte. É complicado mesclar brincadeira com informação, porque o espectador não sabe quando levar a sério, e o grande problema de não saber quando acreditar é acabar não acreditando em nada", completa. FELIPE AUGUSTO VIEIRA

Guilherme Mendes defende o estilo de jornalismo esportivo tradicional, com mais formalidade

Formato diferenciado O programa da Band Minas Golasô traz uma proposta ainda mais diferente de apresentação de uma atração televisiva de jornalismo esportivo. Comandado pela jornalista Letícia Renna, 32 anos, o programa conta também com a participação do ex-jogador Eder Aleixo, da equipe do "98 Futebol Clube", dos humoristas Tino Gomes e Mario Brito, de um grupo de rock e de um fantoche chamado Jezebel, uma cobra que também faz comentários. O programa é apresentado ao vivo e tem auditório, característica da programação de entretenimento, mas, segundo Letícia, ainda assim é um programa de jornalismo esportivo. "O nosso norte é a informação e é nela que a gente trabalha", afirma a jornalista, formada pela PUC Minas, e que tem papel fundamental na dinâmica do programa. "Eu entro na história, sou um elemento que une todos os outros, e não sou necessariamente a piadista. É claro que

eu tenho que estar bem humorada, tenho que entrar na onda para a coisa ficar leve, pois tem a banda para dar animação e dar um astral", conta Letícia Renna. Na Band, o esporte é um dos carros chefes da programação, e na filial mineira, o programa local que reportava e analisava sobre os times mineiros, o Cruzeiro, o Atlético e o América, era o Minas Esporte, apresentado no formato 'mesa redonda'. Por isso, a proposta do Golasô tem um viés diferente, uma forma oposta de se apresentar um programa de jornalismo esportivo. "Já havia na Band um desejo de mudar. Existia essa ideia de fazer um programa de esporte diferente. Antes, há anos, estava no ar aqui o Minas Esporte, só que o formato já estava um pouco desgastado, essa coisa da mesa redonda, estava sem movimento e a emissora resolveu encerrar esse programa para começar um novo projeto", conta Letícia.

Conteúdo esportivo da Alterosa/SBT é variado Na Alterosa/SBT, o espaço concedido ao esporte na grade da emissora, abrange desde o entretenimento, bandeira hasteada pelo programa Alterosa Esporte que vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 12h15, até a forma denominada mais clássica de cobertura esportiva, como acontece no Alterosa no Ataque. Robson Leite (foto abaixo), editor e produtor, atualmente é responsável pela produção de dois programas esportivos da emissora, onde trabalha desde 1992. Robson avalia que, apesar dos modelos serem distintos, o compromisso de ambos os programas é passar a informação da forma mais próxima ao espectador. Robson diz que o Alterosa Esporte, principal produção da emissora mineira, tem o objetivo de trazer o conteúdo jornalístico aproximado da perspectiva do torcedor, da forma em que o espectador observa o futebol. Seguindo um formato já existente no antigo programa Bola na Área, o Alterosa Esporte consiste na apresentação das notícias seguidas de comentários de uma bancada, que mescla jornalistas com posições evidenciadas de preferência, com exjogadores e torcedores apaixonados. "A bancada representa a leitura do torcedor, e, ao inserilo como personagem através de um representante, dá voz ao que esse torcedor sente referente às informações contidas nas reportagens", afirma o produtor. Para que a fórmula dê certo, Robson acredita que a personalidade dos integrantes da bancada é essencial. "O representante da bancada passa com paixão a perspectiva do torcedor. Na forma de irreverência, dentro do folclore existente no futebol, os comentários interessantes dos membros da bancada é que cativam o torcedor, falam a língua do espectador e atuam na forma de informação", observa. Ainda segundo ele, o programa é imprescindível para a formação

da identidade da própria emissora dentro do jornalismo esportivo, já que a TV Alterosa faz poucas coberturas efetivas de partidas. "O modelo diferenciado do AE é importante porque se ele fosse igual aos demais jornais esportivos, a emissora não teria a visibilidade que tem", ressalta. Dividir o programa entre informação e entretenimento é apontado por Robson como o principal desafio do AE. Além de informar com qualidade, contemplar as informações com comentários parciais e com paixão e ainda encaixar o entretenimento como forma de coesão, só é possível quando há equilíbrio. "O AE é um programa que encara de forma séria a informação. Já denunciamos diversas irregularidades e situações no futebol, principalmente no panorama mineiro, e ainda casamos isso com as opiniões fortes dos membros da bancada. É a forma do torcedor emitir opinião diante os casos, e é encarado de forma competente. Algumas vezes, por trabalharmos com a paixão do torcedor, esta proporciona situações complicadas", relata o produtor, que relembra que já houve ocasiões em que árbitros de futebol já solicitaram direito de resposta ao programa, depois de declarações feitas pela bancada. "Não há censura de crítica e o programa tenta ceder opinião a todos os lados, para manter a credibilidade jornalística. O equilíbrio é difícil e o grande desafio", salienta. Robson ainda completa que esse equilíbrio se dá dentro do compromisso com o esporte. "O torcedor quer saber do seu time e se divertir. Enquanto as reportagens mostram o que está acontecendo, a bancada traduz ao torcedor a sua própria forma de ver. Na nossa leitura, entreter é dar esse ponto de que o futebol é um campo lúdico, e que o limite da brincadeira é o próprio

futebol, não vamos além disso e nem precisamos. Essa fórmula cativa o torcedor comum que quer se informar e divertir". Outro atrativo para os fãs de futebol na grade da emissora é o Alterosa no Ataque que vai ao ar de segunda a sexta-feira às 19h10. Para Robson, o programa segue um modelo mais 'boleiro', para um público com maior conhecimento e interesse por futebol. Conduzido por Jaeci Carvalho, o Alterosa no Ataque apresenta ao telespectador análises esportivas mais elaboradas e ainda debate os bastidores dos jogos. "O Alterosa no Ataque é para o pessoal que entende mais de futebol, dá mais informações específicas, intera o torcedor de tudo o que está acontecendo com o time de forma mais objetiva", identifica o produtor. Ele avalia que o programa ainda está passando por experimentações e aponta o horário que o programa é transmitido como o principal problema enfrentado pelo formato. "Nesse horário, o público presente em casa para assistir televisão é em sua maioria feminino, assim, o hábito das emissoras é de privilegiar esse público. Um programa de esporte à noite, ainda mais seguindo um conteúdo mais massivo aos que gostam de futebol, passa por dificuldades de se firmar. Quebrar hábitos é difícil", considera. A iniciativa de trazer a ex-assistente de arbitragem Ana Paula de Oliveira para compor o programa é vista por Robson como uma maneira de flexibilizar o conteúdo. "O programa tem que se adequar para atender o público. Apesar de ter um conteúdo mais informativo, não é usual, por exemplo, ter uma mulher comentando arbitragem. Isso é uma determinação do público e o formato é modificado de acordo com o interesse deste. O público é quem manda", observa. PIERO MORAIS

Robson Leite é produtor e editor dos programas esportivos da TV Alterosa, que tem em sua programação os dois formatos de apresentação


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Maio • 2012 RAQUEL DUTRA

ESTRATÉGIAS USADAS PARA NÃO SE ATRASAR Usuários do transporte público acabam por criar estratégias para chegar no horário e cumprir atividades rotineiras em consequência dos problemas constantes com o trânsito n WILKER CRUZ BRUNO INÁCIO 2º PERÍODO

A assistente fiscal Angélica Pinheiro, 29 anos, que mora no Bairro Palmital, em Santa Luzia, e trabalha em Contagem, ambos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, levanta às 4h para conseguir chegar ao trabalho às 7h45. "Tenho que ir para a fila do ônibus às 5h, para pegar o ônibus no máximo às 5h40. Se não fizer isso chego atrasada", revela Angélica, cuja preocupação com o trânsito está longe de ser exceção. Esse hábito vem se incorporando cada vez mais à rotina das pessoas, que recorrem a estratégias diversas para não se atrasar em seus compromissos profissionais ou pessoais, por conta dos costumeiros congestionamentos nas vias públicas de Belo Horizonte e dos municípios vizinhos. Apesar de antecipar sua saída de casa, fazendo uma 'madrugada', Angélica fica atenta à situação do trânsito. "Quando a Cristiano Machado (Avenida) está agarrada eu utilizo ônibus e metrô para chegar a tempo na empresa", conta.

O auxiliar de almoxarifado Bruno Rodrigo vive uma situação diferente, mas curiosa. Morador do Bairro Camargos, em Belo Horizonte, ele trabalha no Eldorado, em Contagem, que ficam próximos, mas gasta uma hora no percurso de volta do trabalho, quando o tempo médio na ida é de apenas 20 minutos. "Quando saio de casa às 13h, uso o metrô para ir do Camargos ao Eldorado em cinco minutos e em seguida pego um ônibus que em 15 minutos está no meu serviço. Porém, quando volto é tarde e não tem metrô, aí volto da Estação Eldorado até em casa a pé. Só chego em casa lá para a meia noite", relata. Bruno, que atualmente deixa o serviço às 22h36, diz que se o horário de saída dele fosse alterado para 22h15, com redução de 21 minutos, chegaria a tempo de tomar o último trem. Para desviar do trânsito congestionado, a operadora deTelemarketing Pollyana Bitencourt, 19 anos, que mora no Novo Eldorado, em Contagem e trabalha na Barroca, na Zona Oeste de Belo Horizonte, sai de casa às 7h30 e chega ao trabalho às 9h. "Pego um ônibus para ir ao metrô. Ao pegar o metrô desço

Trânsito intenso em Belo Horizonte obriga usuários de transportes públicos a sairem de casa com mais antecedência

na Estação Calafate. Além disso utilizo um outro ônibus, para descer na Avenida Silva Lobos que é perto do meu trabalho. Faço esse caminho para não pegar trânsito, e assim consigo chegar até mais cedo ao meu trabalho", explica. As empresas adotam medidas para diminuir os efeitos do trânsito na produtividade dos funcionários. Investimentos com transporte exclusivo, incentivo à carona e ao uso do carro amenizam as consequências do trânsito. Na Vilma Alimentos, por exemplo, foi criado um bicicletário para os funcionários que desejam utilizar a bicicleta para

ir trabalhar. "Assim, os funcionários que moram em regiões mais próximas tem uma opção saudável, ecológica e rápida de chegar ao trabalho", observa a gerente de Recursos Humanos da empresa, Giovana Pessamillo. ADAPTAÇÃO - Segundo o mestre em Ciências Sociais Leonardo Ferreira, é possível perceber algumas alterações no comportamento das pessoas, para se adequar a essa dinâmica da sociedade. "Nesse sentido, é possível observar pessoas que saem de casa com mais de uma hora de antecedência para chegar ao trabalho no horário,

pessoas que procuram caminhos alternativos, cruzando bairros, para evitar vias de tráfego pesado", diz. Ele explica que os investimentos do governo no transporte público são o melhor caminho para a solução dos problemas de trânsito. "É importante pontuar que grande parte dos investimentos públicos em mobilidade urbana privilegia o automóvel particular: construção de viadutos e trincheiras, alargamento de avenidas. Essas são medidas paliativas e que não vão resolver a questão em seu cerne", diz.

Tempo gasto durante trajeto é aproveitado Durante o trajeto percorrido pelos usuários que utilizam diversos meios de transportes, é muito comum observar um grande número de pessoas que utiliza o tempo gasto para fazer algo antes de chegar ou sair para os seus destinos e compromissos. Angélica Pinheiro tenta apro-

veitar o máximo do tempo que está livre, mas nem sempre consegue. "Quando estou no coletivo gosto de dormir, ouvir música e às vezes, leio uma ou duas páginas de um livro", conta. Já o cansaço impede Bruno Rodrigo de aproveitar o tempo passado no ônibus. Ele diz

que não faz nada. "Ando morrendo de cansaço", justifica. Pollyana Bitencourt, que realiza um longo percurso e utiliza três conduções para chegar ao trabalho, tem um costume comum entre os jovens. "Eu ouço músicas, navego na internet", conta.

Serviço de ‘táxi preto’ ainda não emplacou em BH n LUCIANA LAMBERT RENATA CLÓ 1º PERÍODO

Táxis pretos, com recursos diferenciados para atender às demandas da Copa do Mundo em Belo Horizonte, já são realidade, mas ainda causam dúvida na população quanto às diferenças em relação aos veículos tradicionais. Cidadãos entrevistados sobre os táxis pretos, nada sabiam do assunto, nem das suas diferenças em relação ao carro convencional, que é branco. Mesmo assim, com pouca divulgação a seu respeito, os táxis pretos estão circulando há mais de oito meses. André Renato Rey, passageiro de táxi, foi um dos poucos entrevistados que disse já ter notado os táxis especiais. "Nunca entrei em um desses táxis pretos, não sei como funciona. Tenho a impressão que é mais caro, por isso prefiro esperar um dos táxis brancos aparecer, não sei qual é a diferença entre eles", afirma. Essa dúvida não é exclusiva de André, por falta de esclarecimentos como esses, a ideia dos táxis pretos parece não emplacar. Na verdade, os táxis pretos são mais sofisticados e têm a mesma tarifa que os táxis convencionais, têm como objetivo oferecer serviço mais qualificado para atender turistas durante a Copa do Mundo.

De acordo com Claudio Dias, motorista de veículo convencional, não foram divulgadas nem mesmo aos taxistas muitas informações sobre os táxis especiais. Quando perguntado se havia interesse em dirigir um dos carros especiais, Claudio disse ter achado a ideia interessante, porém tem suas dúvidas. "Têm muitas questões pairando no ar por enquanto, por exemplo, a questão da tarifa que ainda é igual. Um carro preto vai ter muito mais gasto, só vale a pena eu ter um deles se eu tiver a garantia que eu vou ter um maior número de clientes", diz. O taxista de táxi branco, Jimmy de Almeida Lopes, explicou que há exigências para trans-

formar um táxi convencional em preto. É necessário que o modelo do carro seja um sedan com ar condicionado, airbag e que tenha um tablet, a proposta é que seja um carro executivo diferenciado. A corrida será lançada em um tablet, nele o cliente fará seu cadastro e definirá o ponto de partida e chegada. Além disso, a própria empresa disponibilizará pedidos de táxi pela internet, visando a maior comodidade dos clientes. Já há uma centena de táxis pretos circulando por Belo Horizonte, a expectativa é que mais 200 deles sejam implantados até 2014 para atender a demanda de turistas na Copa do Mundo. Apesar dos táxis pretos pos-

suírem adaptações, até agora eles têm a mesma tarifa. O motorista de táxi preto Francisco Nunes espera que o preço da corrida seja alterado a partir do momento em que todos os modelos de carro da empresa sejam ‘top de linha’, o que ainda não acontece. Entretanto, eles já têm algumas das exigências como acesso à internet por meio de tablets, ar condicionado e os condutores sabem falar inglês. "Eu espero que a tarifa se altere devido aos investimentos necessários para o carro de luxo. Por exemplo, com o ar condicionado ligado o carro consome mais gasolina, existe a manutenção das adaptações feitas e gastos diversos, como a internet. A vantagem do táxi MARIA CLARA MANCILHA

Francisco Nunes espera que os serviços oferecidos pelos táxis pretos sejam valorizados, para compensar os investimentos feitos

especial é justamente a oportunidade de criar vínculos com clientes dispostos a gastar mais com conforto e que dão preferência ao táxi de luxo, um público diferenciado", afirma Francisco Nunes. Segundo a Assessoria de Comunicação e Marketing da BHTrans, os táxis especiais têm como público alvo executivos, não somente os turistas que virão para a Copa do Mundo. Para conseguir atender a esse público, é necessário que os veículos sigam uma lista de exigências feita pela BHTrans. "O táxi especial deverá ter equipamentos como ar condicionado, air-bag duplo, freio ABS (sistema de frenagem antitravamento), rádio AM/FM, CD player com entrada USB e bluetooth, GPS (sistema de posicionamento via satélite), portamalas com capacidade mínima de 400 litros, acesso à internet, tipo de carroceria sedan e com, no máximo, três anos de fabricação", informa. A BHTrans também esclarece que mesmo se todos os carros se tornarem top de linha, o projeto é que a tarifa dos táxis pretos se mantenha a mesma dos convencionais. Em relação à Copa do Mundo, para suprir a futura alta demanda, já está aberta a licitação para que mais táxis executivos circulem por Belo Horizonte.


Cidade Maio • 2012

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ANEL RODOVIÁRIO SEM SOLUÇÃO Apesar das instalações de novos radares em fevereiro de 2011 no Anel Rodoviário, os longos engarrafamentos diários continuam a complicar a rotina dos motoristas e moradores da região n GABRIELA MATTE 3º PERÍODO

Quem pega o Anel Rodoviário todos os dias dirige tenso com a possibilidade de se deparar com acidentes ou com um longo engarrafamento a cada curva. Esses engarrafamentos, na maioria dos casos, significam ficar parado na via por horas, sem previsão para liberar o trânsito. Essa é a rotina de Mônica Kelly Martins, 45 anos, que pega o Anel por volta das 17h30 e, diariamente, enfrenta um pesado trânsito. O percurso que a médica faria em 40 minutos em exceções de extrema normalidade no trânsito, ela faz em 1 hora e 30 minutos todas as tardes. Segundo ela, a maioria das causas dos engarrafamentos são os acidentes, mas o grande fluxo de veículos e os pontos de estreitamento da pista só complicam a situação. "Eu acho que é um somatório de imprudência, má sinalização e má fiscalização", afirma. A rodovia foi construída em 1952 com uma pista simples e a média diária era de 1200 veículos. Em 1982 o Anel foi duplicado e, atualmente, a média é de 125 mil veículos por dia nos 26 quilômetros de extensão e a rodovia continua a mesma. Pequenas obras estão sendo feitas na Região do Bairro Olhos D'água e do Viaduto São Vicente, e têm sido a causa de longos engarrafamentos diários nesses trechos nos primeiros meses do ano. Não há acostamento no anel e os pontos de

estreitamento no encontro com a Avenida Amazonas e no Viaduto São Francisco, já conhecidos pelos motoristas e moradores, são motivos das principais reclamações. Ivete dos Santos Moreira, 54 anos, trabalha há 20 num bar na via marginal ao Anel que dá acesso à PUC Minas, no Bairro João Pinheiro. Ela conta que viu a rodovia mudar ao longo de tantos anos. A via marginal, por exemplo, não existia. O que mais mudou, segundo ela, foi o enorme movimento e o número de veículos, e, consequente-

mente, as enormes retenções. "Os engarrafamentos são constantes, na parte da manhã e da tarde, quase todo dia", conta. A rotina de acidentes, outra causa dos congestionamentos, também não é novidade. Além do perigo que a via representa, há muitos motoristas imprudentes. "Os caminhoneiros são os principais. Eles vão na pista do meio e andam rápido. Eu faço normalmente 80 (Km/h) e não passo disso. Os outros carros fazem média de 120", conta a motorista Tânia Cássia Bittencourt, 42 anos. Ela tam-

bém pega o anel todos os dias e reclama. "Se tiver algum acidente ou feriado para tudo. Às vezes eu estou a cinco minutos da minha casa e levo duas horas pra chegar em casa", desabafa. O motivo de atrasos e aborrecimento para muitos é a fonte de sustento para tantos outros. Há cerca de duas semanas, Luciano Rodrigues Cordeiro, trabalha no sol, em meio aos veículos vendendo água no engarrafamento. O rapaz, que trabalhava em um semáforo da cidade, conta que passou pelo local, no bairro São Francisco, e viu ali a GABRIELA MATTE

Intenso fluxo de veículos, sobretudo de caminhões de carga, é uma das causas dos constantes engarrafamentos no Anel Rodoviário

sua nova fonte de lucro. Todos os dias, de 11h às 18h, ele trabalha. "Umas 10h30 já começa a engarrafar. Está engarrafado o dia todo por causa da obra ali na frente. As pessoas compram bastante porque ta sempre parado aqui", conta (Leia a matéria abaixo: Engarrafamentos se tornam fonte de sustento). A situação do Anel Rodoviário não complica apenas a vida dos motoristas, mas preocupa também os moradores das margens da rodovia. "O engarrafamento mesmo não incomoda não, mas a poluição sonora, ambiental", lembra Maria Veríssimo, 53 anos, moradora do bairro João Pinheiro. Residente no local desde que nasceu, ela diz ter medo. "O acidente pode influenciar tanto quem está lá quanto quem está aqui. Vai que o carro cai para cá", pondera. Luciana Silvestre, 33 anos, é dona de uma salão de beleza há cerca de um ano, também no João Pinheiro e reclama da falta de respeito à sinalização por parte dos motoristas. "Aqui mesmo é cada freiada quando engarrafa ali na frente. É muita pressa", critica. Mais de um ano depois da instalação de nove novos radares, em fevereiro de 2011, totalizando 17, o números de acidentes não diminuiu segundo o próprio comandante de policiamento do anel rodoviário, Tenente Geraldo Donizete. "O índice de acidentes não diminui, o que nós conseguimos é reduzir a gravidade dos acidentes, diminuir o número de mortes", avalia.

Engarrafamentos se tornam fonte de sustento GABRIELA MATTE

n GABRIEL PAZINNI 3º PERÍODO

Congestionamentos ocorridos em gargalos do Anel Rodoviário geram renda para ambulantes

O número cada vez maior de carros, situações de tráfego lento e engarrafamentos enormes têm causado muita dor de cabeça aos moradores e motoristas de Belo Horizonte, principalmente, para aqueles que moram ou trafegam pela Região do Anel Rodoviário, que é uma das vias com maior tráfego de veículos na cidade, de acordo com a Polícia Rodoviária Estadual e também a Federal, no entanto, não são todos que reclamam da situação. Ambulantes se aproveitam dos engarrafamentos para tentar lucrar com o tráfego lento, seja vendendo água, comida, sucos, salgadinhos ou até mesmo produtos eletrônicos para os motoristas cansados, que ficam retidos por causa da enorme fila de veículos parados. Um desses ambulantes, que não quis ser identificado, afirma que essa é mais uma forma que o brasileiro encontra para sobreviver. "É tudo tão difícil hoje em dia, que eu e os outros ambulantes trabalhamos e ainda temos que aproveitar feriados e engarrafamentos para faturar um pouco mais e ajudar no sustento da família", afirma. "E brasileiro é criativo mesmo, né? Muita gente aqui quando vai vender, vende água, suco, salgado, e dá muita concorrência, aí outros (ambulantes) começaram

a vender raquetes, pilhas e outras coisas para conseguir fazer um dinheiro", completa. Ainda segundo o ambulante, a renda não é muito alta e, na verdade, é apenas um meio de aumentar um pouco a receita mensal para conseguir sustentar a família. "Ganho muito pouco, e posso dizer que quase todos também. A gente fica o dia inteiro no sol ou na chuva, e pouca gente que compra, daí, não conseguimos muito dinheiro. É mais uma forma de ajudar no sustento da família mesmo, para aumentar um pouquinho o dinheiro do trabalho normal", explica. O fato é confirmado pelo sargento Tavares, do Comando de Batalhão da Polícia Rodoviária Estadual, órgão responsável pelo Anel Rodoviário. E o sargento também afirma que os ambulantes não atrapalham no trânsito. "Os ambulantes não atrapalham o tráfego de veículos, e, geralmente, operam apenas quando há engarrafamentos e quando os veículos estão parados. E, ainda assim, mesmo com engarrafamentos e em horários de pico, são raros os que operam em dias normais. A maioria deles trabalha nos feriados, quando o tráfego fica lentíssimo e os engarrafamentos são enormes, e alguns, em número menor, nos finais de semana", explica. Para os motoristas que

trafegam diariamente no local, os ambulantes também não atrapalham, como afirma o arquiteto João Carlos Pereira, 31 anos, usuário do Anel Rodoviário. "Passo pelo Anel e aqui pela Praça São Vicente todos os dias, em horário de pico, e, sinceramente, não vejo problema algum. Para começar, vejo ambulantes mais nos feriados e fins de semana, durante a semana mesmo, é muito pouco. Além disso, eles sempre aparecem com o trânsito parado, então, não atrapalha em nada", observa. A situação também não muda nada para o motorista de ônibus Roberto de Souza da Silva, 38 anos. "Não vejo problema nenhum, realmente são poucos durante a semana, e está tudo parado quando eles aparecem, então, não faz diferença alguma", afirma o motorista. Os passageiros também não reclamam e até gostam da situação. "É raro eu ver (ambulantes) por aqui, mas quando vejo, sempre compro uma água, afinal, com o trânsito parado e o calor que faz, tenho que aproveitar para refrescar. Não vejo problema nenhum, eles não atrapalham nem param o trânsito e ainda ajudam a gente", comenta com bom humor o estudante Luís Flávio, 23 anos, que passa sempre pelo Anel Rodoviário à altura da Praça São Vicente.


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Maio • 2012

BANDAS COVERS REVIVEM CLÁSSICOS Para alegria e felicidade de muitos fãs, os grupos artísticos relembram os grandes sucessos que marcaram gerações e conquistaram o cenário musical e o público das mais variadas idades n ANA CLARA RODRIGUES ANA CAROLINA SIMÕES MARIANA ALMEIDA 3º E 1º PERÍODO

Há um consenso que a vida tem trilha sonora. E quando essas trilhas sonoras podem ser reproduzidas em qualquer geração, melhor ainda. Graças às chamadas bandas covers, várias gerações têm a oportunidade de conhecer e se encantar com artistas que marcaram época. Independente de gêneros, tempo de existência ou época, todo mundo tem aquele artista do coração que poderia ter tocado mais, ou ficado mais tempo vivo. E é para suprir essas necessidades e desejos que as bandas covers surgem. Criadas geralmente por fãs que desejam reproduzir o trabalho de seus ídolos, elas ganham cada dia mais espaço no mercado musical, e arrebatam públicos de todas as idades, fazendo com que gerações mais novas possam apreciar suas músicas. Em Belo Horizonte, estes grupos lotam casas de shows todos os finais de semana, e a todos os instantes as vidas de empresários, estudantes, engenheiros e todos os tipos de gente se cruzam nos caminhos da música quando encontram algo em comum, para poder reproduzir e levar mais felicidade à vida das pessoas. Assim, o grupo "Anthology" descreve o seu trabalho de cover de uma das bandas mais marcantes da história da música mundial, os Beatles. "Inicialmente a ideia de todo mundo era fazer disso um hobby, mas fazer uma coisa bem feita. Naturalmente caminhamos para o profissionalismo porque, bus-

camos parecer muito com o original, estudamos muito. Beatles acabou sendo uma escola para todos nós", afirma o músico Bernardo Annoni, integrante do grupo. E com o desenvolvimento de um trabalho bem estruturado, a banda se profissionalizou e hoje se apresenta com frequência em casas de shows, eventos particulares e festas em todo o estado. Além do rock, é comum bandas de outros gêneros musicais se formarem para agradar seus públicos. Em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, um grupo de jovens amigos formaram o grupo "Recreasamba" exatamente para tocar a música que mais os agradava: o pagode. Com um público bem diversificado, a banda já tem um DVD gravado no Teatro Municipal da cidade e conta com um público fiel, que se faz presente em todas as apresentações da banda, sejam elas em sua cidade natal ou não. Grande parte do público demonstra interesse em bandas covers para reviver de forma nostálgica uma determinada época. Como em Belo Horizonte essa cultura se amplia a cada dia, essas bandas acabam chamando a atenção de pessoas mais jovens, que passam a se interessar por clássicos a partir de seus shows. "Todo mundo já ouviu falar de Beatles, conhece pelo menos uma ou duas músicas mais famosas deles, e quando vem ao show, as pessoas vêem que aquilo ali está próximo deles, ai começam a procurar mais coisas, e na hora que começam a se aprofundar, não tem jeito, fica meio viciado naquilo", afirma Bernardo

Annoni, da banda Anthology. Uma característica interessante sobre o público é que as pessoas mais velhas que viveram a época, preferem ouvir os maiores sucessos das bandas, enquanto o público mais jovem se sente atraído por músicas antigas, mas que não fizeram tanto sucesso, canções mais alternativas.

TRAJETÓRIAS

Para a maioria das bandas, a trajetória inicial é quase a mesma: a inserção no mercado se dá por intermédio de algum admirador ou conhecido, que as indica para apresentações em casas de shows, e assim, de acordo com o público e a demanda que elas atraem, as apresentações se tornam constantes e atraem cada vez mais pessoas para apreciar seus shows. Foi o que aconteceu

com o grupo de pagode Recreasamba: eles contaram com o apoio da Prefeitura Municipal de Nova Lima para iniciar os seus trabalhos e terem a oportunidade de gravar um DVD de divulgação do trabalho feito por eles. Por se tratar de um grupo de pessoas muito jovens, grande parte do capital que seria investido veio por meio de leis de incentivo à cultura. E assim, de acordo com o tempo, essas bandas se tornam mais maduras e profissionais, fazendo com que as apresentações fiquem melhores e façam a cultura das bandas covers se disseminar a cada dia. "É muito importante que a banda inteira saiba onde quer chegar, é a velha história de quando um não quer, dois não brigam. Para tocar também é assim. Todos nós temos que ter objetivos em comum para conseguir alguma

coisa, mesmo que seja apenas por hobby", ressalta Carlos, integrante do Recreasamba.

DISTINÇÃO Se procurar ao pé da letra, será constatado que bandas covers são na verdade os grupos que procuram se assemelhar às originais inclusive nos aspectos físicos. Foi então que Neto Meirelles, vocalista da banda Anthology, começou a utilizar uma expressão muito usada para o tipo de banda que se denomina cover no Brasil nos dias atuais: são as chamadas "bandas tributos", que tem como objetivo reproduzir o som dos artistas desejados, mas não procuram se assemelhar a eles em outros aspectos. E essa é uma distinção que tende a crescer de acordo com os objetivos destas bandas que trazem mais cultura e alegria para todos os cantos. ANA CLARA RODRIGUES

O grupo Anthology, que faz cover dos Beatles, começou tocando por hobby e se aprimorou musicalmente para ser fiel ao som original

Chocolate e literatura para celebrar a amizade RAQUEL DUTRA

n RAQUEL DUTRA LAURA BARALDI 3º PERÍODO

O grande interesse pela literatura foi o que motivou as blogueiras Fernanda Alvarenga, Laila Ribeiro, Luciana Mara e Cíntia Ribeiro a fundarem, em outubro de 2011, o clube de leitura Chocólatras de BH. Os encontros acontecem uma vez por mês em uma cafeteria no centro de Belo Horizonte, famosa entre as meninas pela qualidade do chocolate. A amizade surgiu na internet quando as fundadoras do clube começaram a compartilhar seus livros preferidos e opiniões críticas sobre literatura. "Todas nós temos blogs que falam sobre livros e, por isso, nos conhecemos. Como somos todas de BH tivemos a idéia de nos encontrar pessoalmente", conta Cíntia Ribeiro. O que inicialmente era um encontro casual entre amigas acabou crescendo, surgindo a ideia de criar um clube de leitura. "Para incluir pessoas que não seguem os blogs e que têm interesse em literatu-

Entre um chocolate e um café, um encontro entre amigas para trocar conversas e livros por meio do Clube das Chocólatras de BH

ra", explica a fundadora do clube. A intenção das chocólatras sempre foi reunir de forma casual, em um ambiente agradável, pessoas com o mesmo interesse, no caso, a literatura. A criação do grupo foi a maneira que as quatro blogueiras encontraram de unir, segundo Laila, a fome com a vontade de comer. O

livro "O clube das Chocólatras" serviu de inspiração na hora de criar um nome para o clube. "O clube das Chocólatras de BH é ideal, juntou minha paixão por chocolate e literatura. O resultado não podia ser diferente, deu muito certo", afirma Marcella Moutim, integrante do clube há quatro meses. Sem se preocuparem com a

expansão do grupo, elas possuem uma página na rede social Facebook e sempre informam em seus blogs sobre os encontros. As próprias fundadoras reconhecem que a divulgação não é prioridade. "Nossa preocupação nunca foi recrutar mais membros para expandir o grupo, nunca houve uma divulgação formal. Sempre foi muito 'boca à

boca'",explica Fernanda Alvarenga. É o caso da bibliotecária Sandra Marques, 32, que conheceu e começou a frequentar o grupo a partir de um convite feito por uma das fundadoras, Fernanda, sua colega de trabalho e também amiga. Embora não tenha como objetivo atrair integrantes, o Clube das Chocólatras,que hoje conta com 12 integrantes, está aberto para receber novas pessoas, sem restrição de sexo e idade. A maneira descontraída como os encontros são conduzidos, colaborou para que eles ganhassem espaço como uma atividade prazerosa na vida das integrantes. "Ao acessar o blog das meninas, descobri o clube e já me interessei. Entrei em contato e na reunião seguinte eu já estava presente. Depois da segunda reunião não consegui mais parar de ir, já havia me tornado uma chocólatra de BH", relata Renata Ávila, também integrante do clube.


Comunicação Maio • 2012

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GÍRIAS DA INTERNET GANHAM VEZ Especialistas consideram natural que ocorra a incorporação de expressões, gírias, neologismos e estrangeirismos utilizados pelas redes sociais ao ‘cotidiano’ da língua portuguesa MARIA CLARA MANCILHA

n ANDRÉ ALVES IGOR VILELA RICARDO OLIVEIRA JR. 1º PERÍODO

Na língua portuguesa o costume de importar palavras de origem estrangeira sempre foi algo comum, e com o aumento do acesso à internet a utilização de tais expressões importadas tem ocupado mais espaço na língua portuguesa. Se há alguns anos, as gírias iam se reciclando com o passar das gerações, hoje a maioria das expressões possui curto tempo de vida. Tudo isso graças à internet que, com seus sites de humor ou vídeos que se espalham muito rápido, faz a cabeça dos jovens com os que são conhecidos popularmente como ‘memes’, que vem a ser toda evolução cultural que pode autopropagar-se. Sempre gerando polêmica, a internet tem um papel fundamental na vida de grande parte dos adolescentes quando se trata de diversão, mas o problema é quando os jovens não sabem diferenciar o momento que podem ou não utilizar tais expressões, como aponta Rodrigo Tavares, aluno do Colégio Santa Maria, 16 anos. "Você não pode

adaptar tudo que você vê para a vida, tem de saber separar as coisas. Gírias, você não pode usar em qualquer lugar. Em uma entrevista de emprego eu não vou falar 'colé jow' e 'aí mano', eu não vou falar assim lá. É igual na internet você pode postar essas coisas na internet mas na vida você tem que saber diferenciar", afirma. "A internet liga todo mundo e o fato de uma pessoa postar uma tirinha engraçada não quer dizer que eu possa usar isso na vida real, querendo ou não a gente vai adaptando coisas que a gente vê como filmes, séries e quadrinhos. É normal isso", acredita o também aluno do Colégio Santa Maria, Rafael Mendes, 17 anos. Mas há quem discorde. A aluna Gabriella Pires, 17, conta que por não ser tão ligada às redes sociais, muitas vezes ela se vê perdida em conversas da turma e acredita que deveria realmente existir uma separação entre o que se usa na rede em relação ao dia a dia. "Seja em ocasiões formais ou até mesmo em uma simples conversa entre amigos”, salienta. Questionado sobre o assunto, o professor e FELIPE AUGUSTO VIEIRA

Marco Antônio de Oliveira diz que as transformações da língua são comuns

Euclides Guimarães associa a criatividade dos internautas às formas eficientes e dinâmicas de comunicação sociolinguista Marco Antônio de Oliveira, que estuda a sociedade, suas transformações e seus costumes por meio das línguas, explica que é comum as pessoas se assustarem com o uso do português na internet por possuir muitas abreviações. Segundo o especialista, isso ocorre não porque as pessoas não saibam escrever, mas, em função do tipo de comunicação usada na própria internet, que deve ser escrita e ao mesmo tempo dinâmica. "Palavras muitas vezes surgem como modismos, gírias e elas duram um certo tempo, toda língua tem isso. As palavras têm uma vida útil, o melhor jeito de uma palavra sumir é você matar o referencial dela, já outras morrem por que passou o tempo delas mesmo", diz. Para Marco Antônio, a internet não vai estragar a língua, o que ocorre é que há um novo contexto no qual a adaptação é fundamental. A regra básica da língua é falar e ser enten-

dido e, por mais que algumas pessoas pensem que só há um modo de ela ser formatada, não é bem assim. Afinal, a única língua que tem apenas um modo de falar é o esperanto que é uma língua internacional antiga, extinta atualmente. "A língua vai bem, não vai sumir. A assimilação de novas palavras não a empobrece, a enriquece. Só tem um modo de matar a língua, é você matar os falantes", explica. Indagado sobre a dinâmica da língua portuguesa, o profissional da área das Teorias Sociais Contemporâneas, professor Euclides Guimarães Neto, mais conhecido como "Kika", observa que a internet reune em um só lugar todos os tipos de mídias já existentes e consequentemente tornou o processo de tradução intersemiótico muito mais dinâmico do que normalmente era. Euclides também explica que a língua foi pensada

como um conjunto de regras, mas esclarece que esse conceito já deixou de ser considerada a principal característica pelos filólogos, que são profissionais que estudam a história da língua. "Tem mais a ver com um cardápio de possibilidades comunicativas que as pessoas se fazem valer em função das necessidades, da dinâmica, das próprias trocas sociais que são também trocas simbólicas e linguísticas', diz. Na internet, as pessoas criam formas cada vez mais eficientes de se comunicar, isso é uma poética nova construída em função de outras possibilidades das relações e da comunicação. "Toda época isso acontece, é que essa época dinamizou mais. Antes você tinha mais dificuldade de fazer essas transposições", conclui. O professor e filólogo da língua portuguesa João Henrique Rettore diz que expressões em geral, sejam elas importadas ou não da internet, correm o risco de

se perderem a frequência no uso, com o passar do tempo. Mas, existem aquelas que acabam oficializadas e, para que isso aconteça, a expressão deve ser “dicionarizada”. Assim, ela poderá ser utilizada dentro das regras gramaticais. João Henrique explica que o trabalho do filólogo é o de estudar este processo e lembra que a responsabilidade de controlar o destino das expressões e palavras novas da língua está nas mãos de quem as usa. Coordenador do Mestrado em Comunicação Social da PUC Minas e professor de semiótica, Júlio Pinto explica que é bastante comum que na condição do sentido tenha significados que vão migrando para outros lugares, por causa do próprio contexto em que eles estão. "Mesmo a linguagem do cotidiano, tem metáforas do futebol que são usadas em contexto de namoro. 'O fulano pisou na bola.' O pisar na bola é uma linguagem que saiu do campo mas agora já não significa o pisar na bola, significa dar uma mancada, fazer algo errado”, exemplifica. Segundo ele, essas migrações são normais mas o que acontece na redes sociais é que há a potencialização desses fenômenos. “Fica ampliado porque a rede cria essa situação", observa Júlio Pinto. SARA MARTINS

As dificuldades em saber usar a internet com moderação n THOMAS BAHIA SARA MARTINS 3º PERÍODO

A internet em sua dicotomia se passa como vilã e mocinha em várias discussões a respeito de sua influência sobre a vida das pessoas. É considerada uma ferramenta que protagonizou uma revolução na maneira de se comunicar, mas, se usada compulsivamente, pode trazer danos à saúde. Não obstante, cada vez mais aparelhos portáteis acessam a internet, integrando pessoas em seus vínculos sociais e criando um ambiente virtual onipresente. Tal fenômeno pode ser saudável, ou até criar compulsão. Alyne Nazareth, 21, estudante de jogos digitais

considera-se viciada em internet e diz que fora de casa sempre está conectada à ferramenta por meio do celular. Ela diz que isso aconteceu ainda na infância, por volta dos 8 anos. "Começou na primeira vez que acessei internet discada, quando meu pai comprou nosso primeiro computador", conta Alyne. Todos os dias a estudante se conecta por mais de seis horas, e navega principalmente por redes sociais, mensageiros instantâneos e sites de humor. Quando não está online, Alyne tem um incômodo sentimento de que perde algo importante. Durante as aulas e eventos sociais, a ferramenta é uma tentação para a jovem. "Assumo que já deixei de interagir em eventos sociais por estar conectada pelo

celular, além de ser uma tentação durante aulas mais complicadas", diz. A estudante de ciência da computação Camila Guedes Silveira, 19 anos, também se considera viciada em internet. Ela se conecta por mais de cinco horas diárias, por meio do notebook e do Ipod. "Estar conectada às vezes me prejudica por que acabo me distraindo e deixo de fazer tarefas importantes, como estudar", afirma. O uso da internet começou a se tornar excessivo para Camila quando tinha 15 anos e conheceu as redes sociais e de compartilhamento de imagens e vídeos. Atualmente, essas redes ainda são as mais acessadas pela estudante. O vício por se conectar pode ser caracterizado

como um ponto de compulsão, semelhante ao prazer adquirido com drogas, com a diferença de que o ímpeto por se integrar em redes virtuais envolve não só uma pessoa, é um prazer que depende do outro. Essa é a opinião do psicanalista Oscar Cirino, 54 anos, formado em psicologia e mestre em filosofia. Segundo Cirino, o relacionamento em redes virtuais suspende os sentidos do contato físico, viabilizando a criação de um personagem, uma forma como a pessoa gostaria de ser vista. É importante que o "viciado" procure desenvolver outras atividades que o distanciem do objeto que produz a compulsão. Por outro lado, a internet pode permitir que pessoas antes sem espaço, expo-

A estudante Camila Guedes fica conectada mais de cinco horas diárias nham suas angústias e anseios. Para o psicanalista, o problema não é a ferramenta e sim o modo como as pessoas a usam. A socióloga e professora do curso de ciência da computação da PUC Minas, Adriana Simões, vê na internet uma ferramenta positiva que, se usada sem exageros, pode ser boa forma de interação. Ela permite ampliar os ciclos

sociais para além das limitações geográficas, e representa uma forma a mais de se comunicar. "É uma representação da vida real; existem pedófilos e ladrões na internet, assim como na vida real. As relações que acontecem no mundo real, acontecem no mundo virtual, os problemas que temos no mundo real temos no virtual", explica.


14Comportamento

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Maio • 2012 RAQUEL DUTRA

ENTRE PAPEL E CANETA, LETRAS DE DEDICAÇÃO Hábito de escrever cartas significa mais do que enviar correspondência, mas passa por transmitir, de forma carinhosa, sentimentos e emoções que ficam entre o autor e o leitor n BRUNO ALVES STÊNIO SANTOS 2º PERÍODO

No mundo comandado pela comunicação instantânea, de frases rápidas e respostas imediatas, onde a era digital trouxe um novo modo de comunicação global, antigas tradições, consideradas obsoletas por muitos, ainda têm seu espaço. O velho hábito de escrever cartas pode até ser visto como algo ultrapassado por parte da juventude, mas a tradição ainda é mantida, seja para parabenizar por uma data ou conquista, contar novidades ou para, simplesmente, saber notícias de quem há muito não se ouve falar, o papel e a caneta ainda são usados. É o caso da professora universitária Zuleica Silvano, de 44 anos. Para ela, os e-mails têm função importante para trabalhos ou assuntos mais informais. Mas ela faz questão de manter vivo o hábito de se comunicar por meio de cartas com algumas pessoas. "Eu trabalho com comunicação, internet, e-mail, mas existem determinadas pessoas que você tem que escrever cartas, pois elas têm uma ligação mais estreita com você. Por exemplo, pai e mãe, ou amigos que já tem uma certa idade e não tem o hábito de escrever e-mails", afirma. Zuleica diz que nas cartas, o sentimento transmitido fica mais explícito. Para ela, escrever à mão pode ajudar a ponderar o que se deseja expressar. "O sentimento de você escrever uma carta à mão é muito

diferente de você digitar no computador. Parece que há algo muito frio entre a pessoa que está escrevendo no computador e à mão você tem que ponderar o que se escreve", observa. "No computador você pode deletar, corrigir, reescrever. Na carta não, aquilo que você escreve tem que ser muito bem pensado, você tem que formular aquilo que vai ser escrito, e, principalmente, o sentimento que você transmite", acrescenta. A professora conta que de tanto receber cartas ficou amiga de um carteiro. "Na minha época, tinha a questão do papel de carta. Tinham papéis floridos, com bichinhos, então eu escrevia muito, e recebia muito também. Um dia, o carteiro veio à minha casa e entregou a carta, mas ele pediu para minha mãe para me entregar pessoalmente, e me disse. 'Eu sempre entrego cartas para você e sempre fico imaginando como deveria ser a pessoa que recebe essas cartas', depois disso ficamos muito amigos”, conta. A sensação de se receber uma carta também é valorizada por Zuleica, que afirma que existe toda uma pessoalidade, um carinho especial de se receber algo escrito de próprio punho pela outra pessoa. "Quando você recebe um cartão escrito à mão, ele tem outro sabor do que você receber uma mensagem que vem para todo mundo em um email, porque isso é só seu. Mesmo que tenha alguma frase de alguém, ele é seu e não tem cópia, porque se você jogar isso fora, aquilo

que foi escrito não tem volta. É diferente do e-mail, onde você pode jogar fora e depois falar: 'Você pode me mandar aquela mensagem de novo?', a pessoa tem uma cópia e pode te mandar", conta. Segundo ela, é diferente quando a pessoa escreve, pois se a correspondência é jogada fora, essa história não vai existir mais. Às vezes, tenho medo desse sentido mais histórico. Mais tarde vamos perder a história de determinadas pessoas. Às vezes, muitas biografias são colhidas das cartas que a pessoa tem. Cartas, fotos, tudo aquilo que ela deixou. Se não existir mais isso, eu tenho um certo medo de que essa história se perca", diz. Para Zuleica, o hábito de escrever cartas está acabando devido à grande facilidade que os novos meios de comunicação oferecem. "Não só a internet, ou escrever um e-mail, mas também pelo telefone. Você pode escrever em telefone celular, mandar uma mensagem rápida para a pessoa. Acho que também nos não temos mais o tempo de você ficar escrevendo a carta. Eu lembro que, para escrever carta, eu dediquei muito tempo em caligrafia, em encontrar o A mais bonito, o B mais bonito, o C mais bonito, acho que vai perdendo um pouco o sentido. As distâncias foram diminuídas. Eu estou aqui, o outro lá na Itália, e por Skype eu posso conversar com ele. Diminuiu a sensação de que você tem que escrever uma carta pra essa pessoa. É um gênero, é uma

Arabela Augusta, aposentada, já escreveu muitas cartas para presos em penitênciárias, e ouviu histórias peculiares forma literária a carta, que é, justamente, você aproximar quem está muito distante", analisa.

AFASTAMENTO - A aposentada Arabela Augusta considera que facilidade tecnológica na área de comunicação, que reduz o hábito de se escrever cartas, prejudica, o contato entre as pessoas. "Prejudicou muito, e afastou. Hoje, você praticamente chega na sua casa, senta na frente de um computador e, ali, conversa com o mundo inteiro, até com seu vizinho que está ao lado. Você não pode se levantar e falar um 'bom dia', 'boa tarde', 'boa noite', não existe mais esse contato. Eu acho muito triste. Mas é a tecnologia, é a modernidade. Aonde vai dar, eu não sei, mas piorou muito a qualidade do ensino, o jovem não sabe mais escrever. As redações são péssimas. E outro hábito, paralelo, que a juventude perdeu, foi a leitura. Só se lê e-mail, decifra-se o código do e-mail, mais nada", analisa. Arabela costumava escrever cartas a pedido dos pre-

sos, nas penitenciárias. Ela conta que já ouviu histórias peculiares de detentos, mas diz que nunca procurou julgá-los por elas. Apenas relatar o que era narrado. "Uma vez um detento me pediu para escrever sobre a esposa, que não estava cuidando de suas galinhas. Eu falei: 'Não, deve estar cuidando sim', mas ele disse: 'Não, não está. Escreve aí: eu tenho onze galinhas, e, quando meu irmão vier aqui, eu quero que ele me traga um retrato das minhas onze galinhas'. Você tem que ter muito equilíbrio para ouvir. A responsabilidade de você ouvir e passar para o papel é muito grande. Mexe com seu emocional, é muito difícil. Mas tem seu lado alegórico também, como o caso desse rapaz", observa. De acordo com a aposentada, existem casos alegres, tristes, que não cabe a quem está escrevendo julgar. Cabe, apenas, escrever. Se pedir para escrever um palavrão, você vai escrever um palavrão, porque você está ali para ajudar a pessoa. Quem escreve é responsável por levar o

desejo daquela pessoa, o sonho dela, para quem está longe. Então, ela tem que confiar em você, que deve, de fato, transmitir aquilo que você escuta, embora, às vezes, sejam coisas estranhas. Mas você se propôs à essa tarefa", ressalta. A aposentada admite que a comunicação digital tem benefícios, mas diz que as pessoas escrevem desenfreadamente na internet e, na maioria das vezes, sem pensar. "Até uma carta chegar ao seu destino, às vezes, demora muito. No computador, você senta e escreve e, em dois minutos, a pessoa lê. E, às vezes, a pessoa não sabe o que escreve, porque o que ela escreve não percorre o caminho entre o coração e a mente, e isso é importante. Aquilo que você pensa com o coração é elaborado com a mente. Se você pensar apenas com a mente você fará tudo atrapalhado na vida. Tem que se pensar com o coração, porque nós somos humanos", avalia.

MARIA CLARA MANCILHA

Jovem mantém hábito de escrever cartas A estudante de psicologia Tassiana Gonçalves Constantino dos Santos, 22 anos, é um exemplo de jovem que ainda mantém o hábito de escrever cartas. Segundo ela, isso começou quando ainda era criança e por incentivo de seus pais, avós e até mesmo colegas de escola, em Itamonte, no Sul de Minas. "Escrevo cartas desde pequena, quando aprendemos na escola, e como sempre fui muito apegada à minha família, sempre tive o hábito de mandar uma cartinha carinhosa", conta. Para

Cartas escritas à mão possuem maior valor sentimental para quem recebe

Tassiana, o hábito foi surgindo naturalmente e em ocasiões muito semelhantes. "O hábito de escrever cartas começou dentro de casa mesmo. Com cartinhas de aniversário ou datas comemorativas para meus pais e alguns colegas da escola", declara. Mesmo com o passar dos anos a estudante não deixou o hábito morrer. Tassiana, que mora longe de casa, ainda escreve aos seus pais e amigos que estão longe em ocasiões especiais. "Escrevia muito para meus pais em datas

comemorativas, hoje em dia, como moro longe de minha cidade natal, minhas cartas são destinadas geralmente aos meus amigos que estão distantes de mim", explica Tassiana observa que não é a única jovem a se comunicar através de cartas. "Muito dos meus amigos ainda se correspondem por cartas, e respondem as que eu envio", revela a estudante, que mora e estuda em São João Del Rey, cidade histórica localizada no Campo das Vertentes de Minas Gerais.

Como a maioria dos jovens da idade de Tassiana, a estudante também faz parte dos meios de comunicação mais utilizados na atualidade, como e-mail, Facebook, Twitter entre outros, contudo a jovem ressalta que o hábito de escrever cartas vai além do digital. "Acho o hábito de comunicação por cartas muito bonito. Esperar as cartas chegarem é uma emoção única, bastante diferente da comunicação por meios eletrônicos, que é quase instantânea", afirmou.


Comportamento Maio • 2012

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A ARTE DE CRIAR POMBOS-CORREIO Antes usada como instrumento de comunicação, a columbofilia transformou-se hoje em hobby. Também conhecida como columbismo, a atividade ainda é praticada, mas pouco divulgada SARA MARTINS

n SARA MARTINS 3º PERÍODO

Rainha Elizabeth II, Leonardo da Vinci e Mike Tyson. Personalidades muito diferentes, mas que se dedicaram a uma forma interessante de entretenimento: a columbofilia, que se remete a arte de criar pombos-correio. Famosa por representar um importante meio de comunicação no passado, a atividade, também chamada columbismo ou columbicultura, hoje em dia, consiste em um hobby, pouco conhecido e divulgado. Cogita-se também que a ave tenha sido criada por outros mestres da pintura, como Salvador Dali e Francisco Goya. Essa hipótese não foi confirmada, porém a paixão de Welington Perdigão, 59 anos, pelos pombos é certa. "O que eu mais gosto é de ver os pombos chegando depois de um campeonato. É muito bonito, eles abrem as asas e vem planando em direção ao columbódromo, é emocionante", conta. O brilho no olhar do presidente da Sociedade Columbófila Pampulha ao ver os ‘atletas’ saírem de suas gaiolas, durante o primeiro treino do campeonato nacional de 2012, rumo ao lugar onde foram criados, revela que não é apenas a chegada que faz

valer a pena a rotina de treinamentos e cuidados minuciosos com os bichinhos. Todas as manhãs, às 8h, Welington solta os pombos de seu columbódromo, uma grande gaiola que abriga os pombos e se localiza nos fundos da casa do presidente, em cima de um amplo salão onde acontecem as reuniões da Sociedade Pampulha. Ele deixa que voem por uma hora e depois os chama de volta balançando uma concha que é usada para servir a comida e tem um pequeno sino dependurado. Os vôos diários são praticados para treinar os pombos. "O pombo tem uma orientação do lugar que ele nasceu, depois para ele participar do campeonato, fazemos treinos", afirma Welington. Também chamados de solta, esses treinos devem acontecer sempre pela manhã e antes de serem alimentados. "À tarde é muito sol para eles, então escondem em qualquer lugar. Tem que ser antes da comida também, assim, quando chamamos, eles voltam", explica. Os filhotes não estão isentos da rotina de treinamentos. Quando chegam novos membros ao columbódromo, ficam em torno de dez dias dentro de uma gaiola que permita ver o

lugar e a luz do sol e, depois desse tempo, são soltos para explorarem a região. "Na primeira vez soltamos os pombos filhotes por pouco tempo. Deixamos a gaiola aberta, eles passeiam pelo telhado, vêm do lado de fora, vêm na telha, e voltam", conta o dono do columbódromo, que atualmente treina 502 pombos todos os dias. Outro cuidado é com a alimentação balanceada. A comida deve ser específica para pombos e pode ser comprada em casas de ração especializadas, mas os columbófilos costumam adaptá-la para que atenda melhor às necessidades dos atletas. "Eles acrescentam muito milho, tem criadores que acrescentam dois quilos de milho para cada quilo de comida, outros colocam três para cada quilo, isso vai de cada criador. E mexem também em outros grãos, colocam mais lentilha, ou mais arroz, ou outra coisa", afirma Leonardo Luis de Oliveira, 34 anos, pioneiro na venda belo-horizontina de ração especializada para pombos. As rações à venda são padronizadas, mas as que chegam aos pombos mudam constantemente. "Cada período tem uma comida diferente. Para adulto a comida é uma e para o filhote a comida é outra e quando vamos tratar para competição a comida é

Pombos-correio filhotes recebem cuidados e alimentação diferenciados durante os treinos para o campeonato outra ainda", diz Welington. Durante os campeonatos é que a alimentação sofre as maiores mudanças. Segundo o presidente da Sociedade Pampulha ocorre um jogo de sementes, tiram algumas, colocam outras e modificam as proporções de cada grão. Além da alimentação e dos treinos não podem faltar medicamentos, vitaminas, banhos para garantir a plena saúde dos atletas, controlada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) toda vez que saem do estado. "Os pombos da columbofilia são aves ultra bem cuidadas, se ele adoecer ele não vai ser um atleta; então ele tem que ser bem

tratado, medicado, alimentado e a mesma sensação que o criador de cavalos tem, o columbófilo tem. É uma corrida de animais", esclarece o criador e primeiro secretário da Sociedade Pampulha, Mário Vieira, 54 anos. Devido a esses e outros cuidados, comparações com os pombos de rua, apelidados de 'ratos voadores' devido à quantidade de doenças que possuem e transmitem, não são bemvindas entre os columbófilos. "O pombo de rua não pode nem se comparar com esse aqui", afirma Welington. "As pessoas costumam dizer que o pombo é um animal sujo, não é sujo. Qualquer ser vivo que for jogado a

própria sorte vai ser doente, vai transmitir doenças. Mas na columbofilia o pombo é um atleta, e como tal tem que estar com saúde em dia", acrescenta Mário Vieira. Corredores, nadadores, ciclistas e jogadores dos mais diversos esportes zelam pelo perfeito funcionamento do corpo, seu instrumento de trabalho. Com os atletas do céu não é diferente, porém há quem zele por eles: os profissionais da columbofilia. "Isso é um profissionalismo. Eu acredito que seja, porque o trabalho que dá é muito; não é só querer, tem que se dedicar", afirma Welington. MARIA CLARA MANCILHA

Concurso de cosplay reúne fãs da cultura japonesa em BH n GABRIELLE ASSIS IGOR VALLINOTE JULIANA SILVEIRA 1º PERÍODO

A cultura japonesa é bastante difundida pelo mundo e ganha espaço também entre os jovens brasileiros. Uma das práticas mais comuns é o cosplay, que se trata da representação a caráter de personagens reais ou fictícios, em geral retirados de animes, mangás, jogos de vídeogame ou grupos musicais. Neste mês de maio, Belo Horizonte recebeu o Anime Festival, evento que mobiliza toda a comunidade cosplayer do estado e serve como ponto de referência da cultura japonesa em Minas. O festival acontece em Belo Horizonte desde 2004 e até hoje foram mais de 20 edições, cada vez com maior número de participantes e de público, tanto da capital quanto do interior do estado. Segundo uma das organizadoras do evento, Naíra da Costa Gonçalves, para o interior existem programas de incentivo às caravanas, em

que os ingressos são vendidos a preços mais baixos, dependendo do número de pessoas no grupo, e são disponibilizados ônibus para deslocamento dentro da cidade. A organização ainda indica hotéis e albergues para as caravanas que entram em contato à procura de hospedagem. O Anime Festival movimenta lojas de artigos de vestuário, acessórios, e alimentação japonesa de todo o país. São 21 lojas participantes, a grande maioria da Região Sudeste, sendo cinco de Belo Horizonte. Dentre as atividades do festival, o concurso de cosplay é a principal, com cerca de 150 participantes durante os dois dias de evento. O concurso possui uma série de regras que devem ser seguidas à risca pelos participantes, os critérios de avaliação também são bem rigorosos, os juízes avaliam as interpretações, a construção do personagem, o grau de dificuldade da apresentação e os detalhes das roupas e complexidade. O concurso é dividido em categorias: livre, infantil, desfile, individual (livre e

tradicional) e grupo (livre e tradicional). Entrevistas com dubladores dos animes, nacionais e internacionais, shows de bandas de J-rock, karaokê, torneios de videogames, quiz e sorteios são outras atividades. A estudante Sylvia Cristina Morais Paixão, de 18 anos, comparece ao evento. "A originalidade e a forma dos japoneses de enxergar o mundo são únicas, não há limites para o que pode ser criado", afirma. Os participantes buscam confeccionar suas fantasias e preparar as melhores apresentações para os concursos. Para Nazca Dias, de 20 anos, a sensação de vestir não é tão boa quanto a de vestir e representar. “Representar um personagem é muito gratificante", destaca. Além das performances, a possibilidade de se transformar no personagem favorito motiva as pessoas a se fantasiarem. "Acho que o que mais me motivou foi o fato de pelo menos por um dia de poder ser aquele herói que fez parte da minha infância, ou aquele vilão que me fez esperar um

dia para ver o que ia acontecer no próximo episódio. É como se finalmente o personagem que você gosta ganhasse vida", relata o cosplayer Júlio Américo Dias de Souza Eller. Ângela Pinheiro Fernandes, conhecida como Andinha, é formada em Artes Plásticas e atua como cosmaker há seis anos. Ao ser questionada sobre como começou a confeccionar as fantasias, responde: "Eu fazia cosplay para os meus quatro filhos e os amigos deles começaram a querer também. Foi quando eu criei um orkut onde posto fotos, com a ajuda da rede social a demanda foi crescendo e hoje chego a fazer em média 20 fantasias por mês. E, por incrível que pareça, recebo mais encomendas de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, do que de BH", explica. Para o mais recente evento, Andinha teve 35 encomendas. Ela diz que seu diferencial está na qualidade e nos detalhes das roupas, e o processo de criação passa por um laboratório onde busca desde a cor exata dos tecidos ao material ideal das arma-

Ângela Pinheiro, “Andinha”, expondo suas confecções para o festival duras. O preço das fantasias, que depende da complexidade, varia de R$180 a R$1.600. Andinha também dá a sua opinião sobre os jovens que se dedicam a essa cultura. "Acho que isso é amor, só pode ser, não é? Os animes tem filosofia por trás,

não só guerra, luta e ódio, eu acho que isso ajuda a atrair as pessoas", diz. E assinala que o mercado de cosplay está se popularizando cada vez mais. "Há também a facilidade de se comprar na internet. As perucas e lentes são muito importadas”, acrescenta.


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Fernanda Mello

Entrevista

BLOGUEIRA/ ESCRITORA jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco

EM SINTONIA COM O SENTIMENTO n Você escolheu carreiras que exigem uma boa capacidade de escrever (é escritora, publicitária, jornalista e compositora). Como você percebeu seu talento para essa área? Desde o primário eu gostava de escrever e eu percebi isso quando entrei em um concurso de redação da 4ª série e ganhei. Meu texto foi para o livro da escola e a partir daí eu percebi que português, principalmente nessa área de escrita, era o que eu mais gostava.

n Quais são os desafios enfrentados por quem escolhe a escrita como carreira? É difícil viu. Eu escrevo crônica e músicas, mas não tem jeito, só isso não é suficiente para me sustentar. Então eu faço jornal, faço revisão, cubro férias em agências. O desafio é esse, porque hoje em dia o mercado é muito difícil.

n Você pensa em escrever um romance? Penso sim, inclusive acabei de terminar um infantil e outro que eu quero começar, mas primeiro quero fazer conto e depois fazer um romance, que é como se fosse um conto enorme. Prefiro começar por algo menor, porque romance é uma coisa que eu não costumo escrever. Eu escrevo muito mais para mim, não sou muito de publicar.

n Já tomou providências mais sérias?

n IGOR PATRICK JULIA MASCARENHAS 2º PERÍODO

Esperando na livraria marcada para a realização, Fernanda Mello estava imersa em volumes de todos os tamanhos. Com cuidado, manuseava páginas e mais páginas, sem conseguir se decidir qual levar. E não era para menos. Criada entre livros e vivendo para os livros, a publicitária e escritora acumula em seu currículo uma obra de crônicas, uma infantil a ser lançada e várias composições famosas. Conhecida na internet, seu blog recebe milhares de visitas toda semana. Ela explica que escreve par]a entrar em sintonia com o que sente. Com o que faz. Nesta conversa, Fernanda fala mais sobre a sua carreira, a dificuldade em lançar “Princesa de Rua”, o seu novo projeto “Crônicas Digitais” e um pouco sobre a sua tarefa árdua de transformar “lixo em luxo”, como ela própria define seu trabalho. Adepta das novas tecnologias, ela acredita que nada substituirá o ‘livro impresso’: “Gosto de ler o livro para dobrar, riscar, ter um exemplar na bolasa”. MARIA CLARA MANCILHA

Não, nenhum livro meu foi lançado por editora. O "Princesa de rua" foi lançado pela Lei de Incentivo à Cultura e a editora mencionada é mais para constar, para facilitar a capacitação de recurso. Quando você vai tentar patrocínio em algumas empresas, você precisa ter livros publicados. Eu acho essa regra bastante esquisita, porque eles só patrocinam quem já publicou por uma editora. Aí eu coloquei o nome da Neutra, que na verdade é uma agência de comunicação do meu cunhado, para poder entrar com pedido de patrocínio. Fiz o projeto dos dois livros, tanto do livro de contos e crônicas que deve sair em breve, quanto para o livro infantil. Só não consegui patrocínio ainda. É muito difícil, já fui ao Ministério da Cultura pegar a prorrogação da aprovação dos projetos para continuar tentando.

n Seus vídeos trouxeram uma popularidade maior para você. O que mudou na sua carreira com essa popularidade tão repentina. Seu blog começou a ser mais acessado? Muito mais acessado. Lembro que quando comecei, o mês de abril teve mais acesso do que janeiro, fevereiro e março juntos. Aumentou a vendagem dos livros, cheguei a vender em um dia o que eu vendia em meses. Na internet, quando a gente acha um vídeo legal, um manda para o outro e esse efeito aumentou a divulgação do trabalho, dei mais entrevistas, ganhei mais patrocínios. (risos)

n Qual é a sensação de ouvir as pessoas cantando o que você escreveu?

n Esse é um processo burocrático? Muito, mais do que qualquer pessoa imagina! Eu não podia ter noção da burocracia até fazer o projeto do primeiro livro. Fui mais na onda de 'ah, vou escrever um livro', e quando esbarrei na máquina legal é que percebi o monte de coisas que teria que fazer para publicar de verdade. A Lei de Incentivo funciona com uma série de regrinhas. Você faz um projeto, colocando o que você vai gastar com o livro - projeto gráfico, preço do revisor, capista, enfim, tudo - e coloca em uma planilha de custos, para que o patrocinador saiba quanto vai gastar. Depois manda. Depois que o governo aprova, quando aprova, ele tira muitos dos valores descritos na planilha. Para o "Princesa de rua", por exemplo, eles cortaram toda a verba que eu tinha pedido para viagem de divulgação e eu tive que fazer por conta própria. Depois, você leva esse projeto nas empresas patrocinadoras. No meu caso foi a Siemens e o dinheiro colocado é abatido do imposto que ela teria de pagar e ainda gera uma série de benefícios como a divulgação da marca, por exemplo.

MARIA CLARA MANCILHA

Quando ouvi o povo cantando no Rock in Rio, fiquei arrepiada, quase não acreditei. É muito louco, dá aquela sensação de "nossa, foi eu mesma que escrevi?". Dá realmente essa sensação de sintonia com as pessoas, porque a música tem essa característica de unir as pessoas. Eu escrevo letras, já tinha algumas coisas guardadas em alguns caderninhos e já conhecia o pessoal do Jota Quest. Aí eles pegaram a letra e musicaram, mas foi uma coisa sem pretensão nenhuma de escrever mesmo uma música. No caso de "Só hoje", já foi escrita pra ser música, mas "O que eu também não entendo" não, foi só um desabafo mesmo que o Rogério (Flausino, vocalista da banda) gostou e gravou.

n Você quer seguir uma carreira de compositora? Para mim é como se fosse mais um hobby. É bom, mas o mundo da música é muito complicado. Sou contratada pela Universal como letrista, mas eles têm mandado menos pedidos de composições. O que é difícil é que de 50 músicas que você faz, uma é gravada e às vezes o que você fez nem toca, nem te dá um retorno.

n Não seria mais prático procurar uma editora?

n Qual é sua responsabilidade frente a esse grupo

com direção publicitária e leu o que eu tinha escrito. Ele falou "nossa, isso dá um roteiro". Então nós entramos até com um projeto de fazer um curta-metragem desse texto. Só que a gente queria fazer uma coisa com atriz, já teria que contratar alguém. Ninguém queria fazer de graça. Depois escrevi "Amar é punk" e mandei para ele. Na verdade, o "Amar é punk" nem foi escrito para ser gravado, mas foi para o meu namorado mesmo. A ideia de gravar partiu dele, mas a menina que a gente ia chamar não tinha disponibilidade. Decidi então que eu ia fazer, mas ele ficou meio "melhor não, você vai travar na hora". Acho que ele disse isso porque ele sabe que, para mim, é muito difícil ficar na frente da câmera. Mas eu disse "cara, se ficar ruim a gente não posta". Conseguimos uma produtora que liberou a sala para a gente e desde então a gente grava três crônicas de uma vez, conforme a disponibilidade de cada envolvido.

que ainda está moldando sua personalidade e seus pensamentos?

n Todo texto tem potencial para se tornar uma crônica

É muita responsabilidade. Antes eu não tinha essa noção, você escreve muito para você mesmo, mas agora tem coisa que eu não publico porque de repente isso pode influenciar uma menina mais nova. Tento colocar sempre as coisas positivas, sabe? Para não ficar igual a gente vê em muitos blogs como "ah, o amor é uma droga", "homem não presta", "vai dar tudo errado". É lógico que eu passo por isso, mas eu tento me controlar.

n Como é escrever para o público do blog e como é fazer vídeos? A "Crônica Digital" aconteceu muito por acaso. Eu escrevi o primeiro texto que é "Qual é a idade para ser feliz" e postei no blog. Meu namorado trabalha

n No caso do vídeo, pelo menos, não tem jeito de plagiar, certo? É você ali, o seu rosto? As pessoas ainda assim conseguem. Teve um cara no Youtube que escreveu uma música e colocou lá "Fernanda Mello - Amar é punk". Se você digita isso lá, você o encontra, musicando minha letra, cheio de acessos. Deu preguiça, viu que o vídeo estava bombando e quis fazer sucesso em cima disso. Muita gente entra, achando que fui eu quem escreveu a música, até por eu ser compositora também.

n Esse livro infantil já possui editora?

Negociar com editora é complexo. O livro infantil, por exemplo, despertou o interesse de uma editora. Uma apenas, porque é muito difícil, eles geralmente não investem numa pessoa que não tem muitas publicações, que não faz sucesso. O contrato que eles mandam prevê que você ganhe 5%, você não tem liberdade de escolher a capa, eles podem mudar o texto para se adequar ao catálogo. Você perde toda a liberdade. Quem fez o projeto gráfico de "Princesa de rua" foi a minha irmã, que é designer. Em um modelo de publicação tradicional, por uma editora, eu não teria essa liberdade. Mas é claro, se houver uma editora com uma proposta bacana, eu com certeza aceito.

Às vezes eu peço ajuda para o pessoal das redes sociais para denunciar gente que coloca o texto inteiro no próprio blog e assina. Tem pouco tempo uma menina começou a colocar no Facebook e assinando tudo o que eu escrevi como se fosse dela. A galera dá parabéns, ela agradece, diz que estava inspirada. Mas como na internet, todo mundo vê tudo, rapidamente eu já estava sabendo, uma amiga me mandou. Eu entrei em contato, pedi pra tirar, mas ela me bloqueou. Pedi então que os meus amigos do Facebook ajudassem a denunciar. Mas agora eu já vi que não adianta. É melhor eu divulgar bastante meu trabalho colocando meu crédito do que ficar nervosa. Então quando eu vejo gente reproduzindo frases inteiras do meu livro, ao invés de ficar xingando, eu pego a frase, coloco no Twitter e peço para o pessoal divulgar e falar que ela é minha. É menos desgastante e tem um efeito de divulgação melhor.

digital ou você analisa o potencial de cada um antes de gravar? Nem todo texto dá para virar vídeo, agora eu tenho esse cuidado. É diferente a linguagem. Eu separo o que é para a "Crônica Digital" e o que é para o blog. Ou então, quando eu escrevo alguma coisa de improviso e eu já postei no blog, eu tento dar uma adaptada.

n Como você se relaciona com o plágio? É complicado tanto para quem copia minhas frases e não credita, quanto para frases que as pessoas acham bonitas e creditam a mim sem eu nunca ter escrito. Já vi frases da Clarice Lispector e da Maitê Proença com o meu nome. Dá até medo de alguém achar que você está plagiando. Mas o que eu mais vejo mesmo é gente não mencionar meu nome nos textos ou então colocar outras pessoas como autoras deles. Internet é difícil de lidar porque o que uma pessoa coloca, muitos retuítam, muitos colocam no facebook. Acaba ficando errado.

n Ser publicitária ajudou nesse processo? Ser publicitária me ajudou a lidar com ‘nãos’, porque às vezes você escreve uma campanha e o cliente diz que o texto está um lixo. Aí você começa de novo, quase sempre é para ontem e não existe essa coisa de ‘fiquei magoado’. Se ficou ruim, tem que fazer tudo de novo. Isso me ajudou no sentido de se eu estou mal, vou tentar me desligar e escrever um texto pensando em outra pessoa que está sentindo aquilo que eu quero passar.

n No caso do seu blog, você costuma programar temas? As pessoas me cobram muito. Elas mandam e-mails perguntando quando é que eu colocarei texto novo. Nesse caso, eu me cobro também, mas às vezes sai um texto ali mais ou menos. Mas como blog é algo que eu adoro, agora estou deixando, na hora que vejo alguma coisa que eu goste, aí sim eu publico.

n Quais são seus novos projetos? Pretendo continuar a fazer as "Crônicas Digitais" por um bom tempo porque acho que foi uma coisa muito legal. Quero lançar também meus dois livros: o infantil, já que eu gosto muito dessa área de literatura para criança, e o novo de crônicas e contos. Também vou escrever músicas, até escrevi algumas agora que vão ser lançadas. Estou promovendo uma ‘vaquinha’ na internet, buscando apoio para a 2ª eição do meu livro "Princesa de rua", já que a 1ª está se esgotando.

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