Faixas avisam sobre incidência de Dengue e são afixadas em bairros com alto índice. A iniciativa visa mobilizar a população. Página 14
BEATRIZ BREDER
RAQUEL DUTRA
PASSARINI ÍGOR
Perto dos 100 anos, Wilson Baptista, que sempre teve a fotografia como hobby, se dedica pessoalmente à digitalizar fotos que contam a história de BH. Página 16
O tradicional Festival Comida di Buteco, que ocorre este mês, acontecerá pela primeira vez sob a vigência da tolerância zero da Lei Seca. Página 12
marco jornal
Ano 41 • Edição 296
LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesda-
Abril • 2013
EX-VIZINHOS DO LIXO EM BUSCA DE ALTERNATIVAS RAQUEL DUTRA
nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãones-
Reabertura do Museu da PUC prevista para julho Funcionários trabalham com rapidez e agilidade para recuperar parte do acervo do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, que foi danificado no incêndio em janeiro deste ano. Apesar do susto, o fogo atingiu apenas o segundo andar e as peças expostas eram réplicas. O fundador do Museu, professor Castor Cartelle (foto), lamenta o ocor rido, mas diz se sentir aliviado ao saber que ninguém se feriu e que as coleções, que são patrimônio da Nação, estão perfeitas. Página 9
Após receber lixo da capital mineira durante mais de três décadas, o Aterro Sanitário de Belo Horizonte, próximo à BR 040, foi desativado há pouco mais de cinco anos, deixando para trás uma comunidade dividida em relação à qualidade de vida dos moradores dos bairros localizados no entorno, diante dessa nova realidade. Alguns vizinhos se queixam da perda de poder aqusitivo provocada pelas dificuldades na condução dos seus pequenos negócios. Outros comemoram a diminuição do mau cheiro e a falta de bichos e insetos. Reginaldo Coelho Silveira, 45 anos, considera um alívio a desativação do aterro sanitário, pois causava mau cheiro na região e facilitava a proliferação de ratos. Diferente dele, Izabel Cristina, 25, lamenta a queda no movimento do restaurante da família. Página 13
NOVA RODOVIÁRIA
Desocupação de área desgasta moradores e gera insatisfação A área onde parte do novo Terminal Rodoviário de Belo Horizonte será construída, na Região Nordeste, mostra um cenário de sujeira e casas semidestruídas. Moradores reclamam da forma como a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) tem conduzido as negociações e o processo de desocupação. A partir da análise de cópias de planilhas de avaliação dos imóveis, moradores constataram que o preço oferecido está abaixo do mercado. Rosimeire Pereira diz ter revisado a contagem de metros da propriedade junto com o seu marido, percebendo que existe diferença entre o número apontado pela Urbel e a medida real do imóvel. Em geral, as
pessoas que ainda residem no local tendem a aceitar a oferta proposta pela Urbel, não por entender que o valor é justo, mas por se sentirem incomodados com o aspecto de abandono do local. Página 7 LUCIANO CRUZ
CAROLINA SIMÕES
Obra ameaçada de novo atraso ÍGOR PASSARINI
nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãones-
O novo Posto de Saúde do Bairro Dom Cabral, cuja construção deveria ter terminado no final de 2012, mas ainda está em andamento, tem previsão de conclusão para o mês que vem. Outro atraso, no entanto, não é descartado pelos responsáveis pela obra. Apesar dos transtornos causados com a demora, a expectativa da comunidade local é de um atendimento melhor e mais confortável. Página 3
2 Comunidade
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EDITORIAL
Abril • 2013
editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorial
A importância das fotos nas histórias a serem contadas
LOCAL DE DEPÓSITO DE LIXO VIRA ÁREA DE LAZER Cansados de esperar pelas autoridades, moradores da Vila São Vicente revitalizam espaço que estava abandonado
n RAQUEL DUTRA
VICTOR RINALDI
5º PERÍODO
Fevereiro começou com cheiro de saudade na redação. A primeira edição do MARCO de 2013 veio recheada de expectativas e novos horizontes para os nossos trabalhos por aqui. Dizem que o ano novo gera nova energia e é nesse clima de renovação que o ano começou para o nosso jornal. O ano começou para o MARCO com mudanças na equipe de professores responsáveis. Nos despedimos também de alguns monitores que deixarão saudade. A oportunidade de aprender e crescer no dia a dia da nossa redação foi dada a novos aspirantes a jornalistas. Na primeira reunião de pauta, como de costume, falamos sobre a importância das fotografias nas matérias. Esse mês queria dar uma atenção especial a elas, que também são fontes de informação. Como monitora de fotografia posso dizer que é delicioso poder registrar fatos e personagens, valorizar matéria escrita e visual. Afinal, como disse um professor em uma conversa recente, “jornalismo é o retrato da realidade”.
Brinquedos que não seriam aproveitados por creche foram colocadas em área onde antes havia lixo e que foi revitalizada pelos próprios moradores n VICTOR RINALDI
Fotografia, sem dúvida, registra e documenta as relações entre o homem, o mundo e as coisas a sua volta, trazendo à tona de forma visual, as condições do ambiente no qual se organiza uma pauta. A foto é boa quando comunica antes mesmo da legenda. Mas uma não existe sem a outra, entre elas deve existir um casamento perfeito. Por isso, ando sempre com uma agenda ou uma caderneta para anotações que podem ser úteis no futuro. Por trás da foto jornalística existem as emoções do instante retratado, toda foto tem uma história, como na matéria sobre a restauração do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, atingido parcialmente por um incêndio em janeiro último. O fundador, professor Castor Cartelle, transborda sentimentos ao falar do cuidado e atenção que tem com cada peça, e no valor sentimental do Museu em sua vida. O local onde será a nova rodoviária de BH, foi cenário para registros fotográficos carregados dos sentimentos de angústia e indignação dos personagens retratados na matéria. Moradores que ainda residem no local são obrigados a conviver com paisagem composta por sujeira e lotes com entulhos. Para fechar a edição com chave-de-ouro, a pinguepongue deste mês não poderia combinar mais com esse tema. Um fotógrafo à frente do seu tempo, Wilson Baptista começou a fotografar em 1932, acompanhou a evolução da fotografia e registrou momentos épicos da história de Belo Horizonte. Sem exceções, a foto jornalística não é mero complemento, ela é também informação.
5º PERÍODO
O encontro entre as Ruas Humaitá e Oliveiras, na Vila São Vicente, divisa entre os Bairros Padre Eustáquio e Coração Eucarístico na Região Noroeste de Belo Horizonte, tornou-se, por muito tempo, um grande depósito de lixo. Hoje, a situação não é a mesma, com a reforma do muro e da calçada do prédio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) os moradores aproveitaram a oportunidade e se mobilizaram para limpar o local. O ponto de encontro entre as ruas está limpo, cercado e no lugar do lixo encontramse brinquedos doados. Desde que começou a trabalhar na Rua Oliveiras, há aproximadamente cinco meses, o serralheiro José Seabra Gomes, 65 anos, enfrentou os problemas da rua. "Eu vim trabalhar aqui e não tinha condição de
entrar com o carro, tinha lixo para todo lado", relata o serralheiro, que se lembra das condições em que trabalhava. Em Abril de 2011, o MARCO publicou matéria sobre o problema do local. Além de lixo orgânico era possível encontrar uma quantidade considerável de entulho. Com a oportunidade da reforma do Senai, José se mobilizou e decidiu cercar a parte sem saída da Rua Oliveiras, onde trabalha. "Eu tomei a iniciativa de fechar a frente, coloquei a corrente e proibi de jogar lixo", conta José. Na ocasião, Henrique Oliveira, 19 anos, trabalhava na reforma de uma creche no Coração Eucarístico e notou que o espaço próximo a sua casa havia sido limpo há pouco tempo. Foi então que ficou sabendo que os brinquedos da creche em reforma seriam jogados no lixo e teve a ideia de levar os brinquedos para a Vila São Vicente. Henrique mora no
número 76 da Rua Oliveiras e diz que os brinquedos distraem as crianças. "Aqui na Vila os meninos ficavam muito soltos, não tinha nenhum lugar para eles brincarem", relata o jovem. Apesar disso, a área ainda não está totalmente revitalizada. Quando chove, forma lama e os brinquedos não são devidamente instalados. Para a aposentada Maria Lucia Pinto Candido, 67 anos, a área ainda não é adequada para as crianças. "Do jeito que está não adianta, não se vê muitas crianças brincando aqui", aponta Maria Lucia. No período em que o MARCO esteve no local não encontrou nenhuma criança brincando, devido à chuva. A Regional Noroeste da Prefeitura de Belo Horizonte, que é responsável pela área, foi procurada pelo Jornal para falar sobre o assunto, mas não deu resposta. José Gomes, entretan-
to, não desiste e acredita na possibilidade de melhorias. Ele diz estar tentando entrar em contato com algum vereador para que possa conseguir a pavimentação de parte da Rua Oliveiras, para mantê-la mais limpa. "A gente não tem tempo de cuidar, mas o que podemos fazer estamos fazendo. Eu queria que desse um visual de parque, para as crianças correrem, brincarem e andarem de bicicleta", almeja o serralheiro. Segundo José, a comunidade deu apoio para a revitalização do espaço sem precisar da ajuda da Prefeitura de Belo Horizonte. A revitalização foi benéfica para os próprios moradores, uma vez que o ambiente deixou de ser favorável para a proliferação de bichos causadores de doenças. "Eu acho que a prefeitura abandonou a comunidade há muito tempo", conclui José. RENATA FONSECA
EXPEDIENTE
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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Prof ª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Prof ª. Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Carolina Sanches, Fabianna Gatti, Gabrielle Assis, Ígor Passarini, Joana Aragão, Letícia Carvalho, Victor Rinaldi Monitora de Fotografia: Raquel Dutra Monitor de Diagramação: Thiago Antunes Monitora de Revisão: Priscila Evangelista Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares
Entulho de construção, pneus velhos, material orgânico eram jogados, irregularmente, em área que agora passa a ser usada por crianças da região
Comunidade Abril • 2013
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OBRA DO POSTO DE SAÚDE ATRASA Apesar dos transtornos para a comunidade por causa da demora na entrega da construção, centro acena com expectativa de melhorias no atendimento aos moradores do Dom Cabral IGOR PASSARINI
ÍGOR PASSARINI
n LETÍCIA CARVALHO 5º PERÍODO
A sede do Posto de Saúde do Bairro Dom Cabral, que era para ser entregue no final de 2012, foi adiada para maio de 2013, mas um novo atraso no cronograma não está descartado. De acordo com a supervisora da obra, arquiteta Sibele Maria de Campos, 49 anos, a data da entrega pode ser prorrogada mais uma vez, pois, durante a obra, surgiram problemas que dificultaram o seu prosseguimento. "O principal motivo do atraso se deu em função da necessidade de refazer o projeto de drenagem do terreno, que é pantanoso. Algumas situações novas se apresentaram durante o preparo do terreno e, por esta razão, houve paralisação nas obras até o projeto ser refeito", afirma Sibele. Hoje, existem 40 pessoas trabalhando diariamente. Segundo a arquiteta, há um esforço
máximo para entregar a obra dentro do prazo planejado. O Posto de Saúde vai contar com acesso para deficientes, como rampas e elevador, nove consultórios, sala de espera para 37 pessoas, sala odontológica com três cadeiras, dentre outros espaços para utilização entre médicos e pacientes. "Com certeza o novo posto de saúde vai trazer melhorias para população. O nosso objetivo aqui é fazer a obra andar, e bem, é claro. Ainda mais que a iniciativa de fazer um novo Posto de Saúde partiu da necessidade da população em ter melhorias", observa a supervisora da obra. Desde 2010, após 35 anos de existência, a sede antiga do posto de saúde do Bairro Dom Cabral foi demolida, dando lugar a novo imóvel, que está em construção para melhor atender aos moradores. Para que o novo espaço, mais amplo, pudesse ser erguido, o centro de
Obra do Posto de Saúde que tem previsão de témino para Maio, visa ampliar instalações para melhor atender aos moradores do Bairro Dom Cabral
saúde que funcionava à Praça da Comunidade, n°40, passou a funcionar, provisoriamente, à Rua Madre Mazarello, também no Bairro Dom Cabral.
Em sua edição 291, o MARCO abordou o transtorno causado aos usuários do posto de saúde, obrigados a percorrer distância maior para se locomoverem até
o novo espaço, que foi adaptado para atender aos pacientes. "Tenho diabetes e preciso fazer acompanhamento várias vezes na semana no posto de saúde. É difícil.
Aumentei o meu percurso diário e preciso trazer meus netos comigo, pois não tenho com quem deixá-los", diz a aposentada Sonia Maria de Oliveira, 65 anos.
Moradores criticam condições da Rua Alpinópolis n VICTOR RINALDI 5º PERÍODO
Localizada numa região nobre do Bairro Dom Cabral, uma importante via de acesso à Avenida 31 de Março e à BR-262, próxima ao campus da PUC Minas, Coração Eucarístico, a Rua Alpinópolis causa transtornos para seus moradores, vizinhos, motoristas e transeuntes que passam pelo local. Péssimas condições de iluminação, ausência de rede de esgoto e mato alto são apenas alguns dos problemas enfrentados. Em setembro de 2004, o Jornal MARCO publicou matéria que já apontava as péssimas condições de iluminação da rua e a falta de policiamento, que também persiste. O morador do número 127 da Rua Alpinópolis, José Belshiore, 58 anos, é comerciante e mora há aproximadamente 18 anos no local e ressalta que seria necessária a implantação de rede de esgoto e de, pelo menos, mais dois postes de luz para a iluminação
ser adequada. Mas o que o comerciante realmente gostaria é que a Prefeitura de Belo Horizonte mantivesse os lotes capinados. O mato do lote vizinho, que pertence à Prefeitura, chega a medir mais de dois metros de altura. "A maior dificuldade, hoje, é o mato alto. Eu não consigo ver a casa do meu vizinho", relata Belshiore. A Regional Noroeste da Prefeitura de Belo Horizonte alega que era feita periodicamente a capina de vias da região por meio da Gerência Regional de Varrição e Capina e que a última atividade foi executada na segunda quinzena de janeiro. Segundo a Regional, desde o mês passado as atividades de capina e varrição em vias públicas estão a cargo da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e que, por isso, não é mais de sua competência responder por tais atividades. "A Rua não está no planejamento de varrição e capina. A pessoa tem que solicitar a implantação do serviço no
número 156", diz o chefe de operação da SLU vinculada à Regional Noroeste, Marcus Vinícius Dotti Baptista. Ele explica que a rua era de terra e foi pavimentada há pouco tempo e que, por isso, ela não consta no planejamento. Segundo ele, foi feita solicitação de implantação no dia 8 de março de 2013. O aposentado Geraldo Gomes Prado, 67 anos, que mora no número 35 da Rua Aliança, em frente ao campo de futebol da Prefeitura, acha que a Rua Alpinópolis deveria
ter quebra-molas para reduzir o número de acidentes. Ele ressalta a precária sinalização e o mato alto que obstrui a visão do cruzamento entre as Ruas Aliança e Alpinópolis. "A Prefeitura asfaltou, mas não colou sinalização. Meu filho já bateu o carro por causa do mato alto", conta o aposentado. Ele também lembra que a caixa d'água do campo de futebol da Prefeitura não é adequadamente tampada, o que aumenta o risco de contaminação e proliferação de insetos, como o
mosquito da dengue. O problema enfrentado pela encarregada de serviços gerais Mirta Maria da Silva, 45 anos, não é muito diferente. Em frente a sua casa, localizada à Rua Bambus, há somente um poste de luz que geralmente falha. Tal falha ocorre pelo fato de a Rua Alpinópolis não conter transformador. Desde a queda do muro de arrimo da garagem da Viação Anchieta, a rua apresenta problemas de iluminação. "A gente liga para a Prefeitura, eles ficam de dar um retorno, VICTOR RINALDI
Mato alto, nos lotes vagos, é uma das reclamações dos moradores da rua Alpinópolis, como José Belshiore
mas nunca vem", conta Mirta Maria. Ela também lembra que as árvores da via estão tampando a pouca iluminação que existe. "A gente desce a Rua Alpinópolis fora de hora. É o maior perigo, é mato de um lado, mato do outro, as lâmpadas, todas, queimadas ou tampadas com os ramos", pontua. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) revelou, por meio de sua assessoria de comunicação, que irá enviar equipe à Rua Alpinópolis, no Bairro Dom Cabral, nos próximos dias, para verificar possíveis defeitos na rede e normalizar a iluminação pública no local. A assessoria de comunicação da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informa que as redes de esgotamento sanitário não foram implantadas devido à inviabilidade técnica. Procurada pelo MARCO, a Viação Anchieta não se pronunciou sobre o assunto.
4 Comunidade
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Abril • 2013
DIFICULDADES EM PONTO DE ÔNIBUS Usuários enfrentam descaso de motoristas que não param os coletivos, além de sol e chuva. Por medo de assalto se arriscam, atravessando o anel rodoviário pelas pistas dos automóveis ÍGOR PASSARINI
n LEIDIANE SOUSA LUCIANE FERNANDES 3º E 4º PERÍODOS
Descaso. Essa tem sido a reclamação de moradores, pedestres e alunos que precisam pegar ônibus no Anel Rodoviário à altura do nº 22520, localizado no Bairro São Gabriel, próximo ao campus da PUC Minas. A falta de infraestrutura, como abrigo e sinalização trazem dificuldades para o dia a dia dos usuários do ponto de ônibus, que ficam expostos à chuva ou veem seus ônibus passarem devido à falta da placa que sinalize a parada de coletivos. A falta de segurança também é apontada como um problema do local. A ausência do abrigo incomoda quem passa por ali. "Quando tem sol é difícil, mas quando chove, fica horrível. Molha quem está no ponto e fica complicado. Tem motorista que não para", relata a balconista Bárbara Vieira, 20 anos, morado-
ra do São Gabriel desde que nasceu. Outro complicador do local é a falta de sinalização. "As pessoas precisam ir para o meio da rua para tentar pegar o ônibus, senão ele não para. Falta placa e é mal iluminado", conta Thaís Jeanne, 20, aluna do 3º período de Direito da PUC Minas. A falta de infraestrutura não é o principal problema apontado pelos usuários, mas sim a falta de segurança. Assaltos na passarela que se encontra acima do ponto refletem no dia a dia dos passageiros que utilizam esses pontos. Para fugir do risco de assalto, pedestres se arriscam atravessando o Anel Rodoviário pela pista, expondo-se a acidentes. Esse problema é relatado por Márcia Regina Vieira, 55, funcionária de uma das cantinas da PUC Minas. "Há alguns dias um aluno foi assaltado aqui e ele reagiu. O garoto chegou machucado na cantina, não eram nem 8 horas da noite ainda,
levaram tudo do rapaz. O que a gente pode fazer é sair em grupos para evitar assaltos, mas tem gente que atravessa na pista e corre o risco de ser atropelado. Assusta ter um posto policial muito próximo à passarela, mas não termos segurança", afirma. Valdecir Vieira, 45, que passa pelo ponto todos os dias para chegar ao trabalho relata mais dificuldades. "À noite falta iluminação aqui. A passarela oferece muitos riscos, tenho colegas que já foram assaltados passando aqui. Eu mesmo, por três vezes voltei atrás para não ser assaltado. Ás vezes a gente atravessa no Anel, mas não passa na passarela", explica. A 24ª Companhia da Polícia Militar de Minas Gerais informa realizar ações e operações para coibir crimes no local, mas não forneceu dados sobre o índice de assaltos na região e não esclareceu como acontecem essas ações. Procurada para comen-
Passageiros esperam seus ônibus em pontos mal sinalizados, sem nenhuma estrutura ou conforto tar o assunto, a BHTrans informa, por meio de sua assessoria de comunicação, que a área é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), mas que como se trata de uma
marginal e a pedido da PUC Minas, os pontos foram regulamentados pelo órgão da capital. A BHTrans revelou ainda que será feita uma vistoria no local para apurar a falta da placa que sinaliza a existência de um ponto de ônibus no local.
Outro aspecto abordado é a ausência de um a b r i g o. A B H Tr a n s explica que um abrigo só pode ser construído no local com a autorização do DNIT, já que a região não é de competência da cidade de Belo Horizonte.
Carros com som alto incomodam moradores n LEIDIANE SOUSA LUCIANO CRUZ 3º PERÍODO
É cada vez mais comum a instalação de equipamentos de som potentes em veículos. O som automotivo ganhou tanto destaque nos últimos anos que são comuns os campeonatos específicos destinados aos adeptos da prática. Mas, fora das competições, os equipamentos potentes de som instalados nos carros costumam causar transtornos. É o que acontece, por exemplo, no Bairro São Gabriel, Região Nordeste da capital. Os moradores reclamam do incômodo causado pelo barulho dos carros com altofalantes ligados em níveis acima do permitido. Rosângela Antunes Miranda, de 36 anos,
que mora próximo ao campus da PUC Minas no bairro, conta que quando o som dos carros está ligado em alto volume, as janelas de sua casa chegam a tremer. "Principalmente nas sextas-feiras, o som costuma ir até duas ou três horas da manhã. A gente até chama a polícia e quando ela chega, o pessoal abaixa o volume, mas quando os policiais vão embora, eles (proprietários dos carros) aumentam de novo", comenta. Rosângela diz ainda que a situação é mais complicada quando se tem criança pequena em casa. "Tenho uma filha de dois anos. Às vezes trabalho até tarde, chego em casa querendo descansar, mas minha filha não consegue dormir por causa do barulho", acrescenta. Moacir Inácio Pereira,
48 anos, proprietário do Bar Itaobim, localizado em frente à portaria principal da universidade, à Rua Walter Ianni, também já enfrentou proble-
mas com o som dos carros em alto volume. A solução encontrada por ele foi colocar uma placa proibindo o uso de som automotivo e justificanLUCIANO CRUZ
Após incomodar e extrapolar permitidos, som de carro é proíbido em bar
do a medida com base em um decreto municipal. "Acho horrível o som em alto volume. É preciso moderação, por isso coloquei a placa. Quando eles ligam o som muito alto, chego, converso, mostro a placa e eles entendem", afirma. Edeson Almeida Gomes, 28 anos, também morador do São Gabriel, é um dos que costuma ouvir alto o som de seu carro. Ele diz gostar do som em alto volume e conta que já chegou a ser advertido pela polícia. "Vieram (os policiais), pediram para abaixar o som porque os vizinhos fizeram uma denúncia, eu abaixei e ficou tudo bem", explica. Paulo Henrique da Silva, de 47 anos, proprietário do Bar do Bola, na esquina das ruas Anapurus e Walter Ianni, diz que o som alto
dos carros que passam em frente ao estabelecimento incomoda os clientes. Na opinião dele, a polícia deveria atuar de forma mais efetiva a respeito. "A polícia deveria parar e multar os donos dos carros. Uma multa alta, a exemplo do que é feito no caso da Lei Seca, para que não voltassem a colocar o som alto e respeitassem os outros", sugere. A 24ª Companhia da Polícia Militar fica justamente à Rua Walter Ianni, 80, no São Gabriel. Mas sobre as reclamações a respeito do som alto dos carros, o comando da Companhia informou apenas que a PM tem atuado e tomado todas as providências legais para coibir a prática.
Pontos de ônibus cheios prejudicam passageiros n LEONARDO APOLINÁRIO RÔMULO ESTÉFANO VALÉRIA COUTINHO 3º PERÍODO
Moradores do Bairro São Gabriel, que dependem do transporte coletivo, reclamam da falta de ônibus que sempre trafega lotado. De acordo com usuários ouvidos pelo MARCO, a volta para casa coincide com o início das aulas no Campus São Gabriel da PUC Minas, o que torna o trânsito ainda mais congestionado e a espera pelo coletivo ainda maior.
A comerciante Solange Moura utiliza a linha 3502 (Ouro Preto/ São Gabriel) e fica mais de 20 minutos no ponto esperando a condução. Segundo ela, a situação é ainda pior durante o período letivo na unidade da PUC Minas. “Quando tem aula na PUC, o ônibus anda super lotado, tanto na ida quanto na volta. Eles não conseguem suportar a demanda dos alunos”, afirma. Enquanto aguardava a condução no ponto em frente ao número 32 da
Rua Anapurus, um funcionário público que não quis se identificar respondeu com apenas uma palavra sobre as condições de viagem dentro do coletivo: "Lotado". Segundo ele, a BHTrans realizou algumas mudanças nas linhas. "Eles criaram duas linhas 3503A, reduzindo o número de ônibus no bairro, antes tínhamos ônibus a cada três minutos, hoje a demora é de trinta minutos", informa. "Os ônibus são velhos e o valor é muito alto",
acrescenta. Ele revela que já fez várias reclamações junto a BHTrans sobre a demora do ônibus, mas o problema não foi resolvido. O tamanho do ônibus e a falta de horários. Essas são as reclamações da atendente Karine Ferreira da Silva, que utiliza o micro ônibus da linha suplementar S53 (Confisco/Ouro Minas). "O ônibus é muito pequeno e vai super cheio", reclama. Karine também garante já ter feito reclamações à
BHTrans. "Já reclamei na BHTrans, mas não adianta. Eles dizem que vão olhar e nunca olham, nós que precisamos utilizar o ônibus só sofremos", afirma. O desejo de Karine é que a BHTrans e o Consórcio Responsável aumentem o quadro de horários e o tamanho do veículo, que segundo ela cabem apenas 33 pessoas. A BHTrans, por meio de sua assessoria de comunicação, informa que todas as linhas de ônibus que passam pela Estação São Gabriel atendem ao
bairro. São no total 22 linhas, sendo 18 de responsabilidade da BHTrans e quatro do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG). A BHTrans observa que linhas do São Gabriel atuam um pouco diferente, pois atendem ao entorno do bairro, pegando passageiros nessas regiões e levando-os para a estação, a partir de onde podem optar por pegar outro coletivo ou o metrô, sendo cobrada tarifa única dos passageiros, que não gastam mais do que R$ 2,80.
Comunidade Abril • 2013
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RAQUEL DUTRA
INFESTAÇÃO DE RATOS PREJUDICA CENTRO CULTURAL Presença de roedores, detectada a partir de dezembro do ano passado, causa transtorno ao funcionamento do local, com interdição de metade do espaço destinado às atividades n GABRIELLE ASSIS 3º PERÍODO
Desde dezembro do ano passado o Centro Cultural do Padre Eustáquio sofre com infestação de ratos. Metade do local precisou ser interditado e várias atividades, que antes aconteciam nas salas de aula, foram adiadas ou passaram a acontecer ao ar livre. Até mesmo a sala da administração está fechada e os funcionários estão trabalhando na biblioteca. "Diversas oficinas tiveram que ser adiadas. As aulas estão sendo prejudicadas", relata uma funcionária do local. As oficinas de Aprofundamento em Canto e Musicalização Infantil e Adulta foram suspensas por tempo indeterminado. As oficinas que ainda estão em funcionamento são as de Teatro, Lian Gong, Desenho e Pin-
tura e Taekwondo, que acontecem na área externa do Centro Cultural. Os bebedouros foram interditados, o que causou transtorno aos usuários do local. De acordo com a professora da oficina de Lian Gong, Neire de Castro Araújo, as alunas, que em grande parte são idosas, têm que levar garrafas de água de casa. As funcionárias da limpeza do Centro, que são contratadas de uma empresa terceirizada, afirmam que o problema prejudicou muito o trabalho delas, já que elas têm que entrar em contato com a urina e fezes dos roedores, colocando em risco a saúde. "Temos que garantir a nossa segurança e a segurança dos usuários do Centro. Trabalhamos de máscara e luvas. Mas estamos preocupadas com a saúde, já que tinham
ratos até na cozinha. Uma ratazana teve filhotes dentro do fogão", conta uma das faxineiras, que pediu para não ser identificada. Por pertencer à área da antiga Feira Coberta do Padre Eustáquio, o Centro Cultural divide espaço com o Sacolão ABasteCer e com a Feira Alimentar, que atraem esses animais. De acordo com a Assessoria da Fundação Municipal de Cultura, responsável pelo Centro Cultural, tão logo foi identificado o problema dos ratos, a instituição contratou uma empresa especializada em serviços de desratização, que vem realizando inspeções semanais desde o dia 21 de janeiro. “ Todavia, é fato constatado que a origem da infestação é a Feira Alimentar, que funciona anexa ao equipamento cultural e cuja
Interdição de alguns setores do Centro Cultural interrompeu aulas e prejudicou funcionamento de exposições responsabilidade de gestão cabe à Secretaria Municipal Adjunta de Segurança Alimentar e Nutricional (Smasan)", informa a Fundação em nota. O gerente do apoio ao sistema de abastecimento da Smasan, Alberto Lauro Batista, informou que a Secretaria tem um contrato há mais de dois anos com uma empresa responsável pela dedetização e desratização da Feira Coberta, mas, como a feira está situada em um local propício ao aparecimento de animais, cercada por comércios, restaurantes e supermercados, é difícil manter a limpeza da
área. De acordo com Weliton Luiz Carneiro, que tem uma loja na feira, a Prefeitura de Belo Horizonte tem colocado veneno e contratou uma empresa (a Biopragas) para cuidar do local. “Mas, mesmo assim, o problema persiste”, afirma. PROBLEMAS O Centro Cultural vem enfrentando problemas estruturais há bastante tempo. De acordo com funcionários do local, o teto da Feira Coberta do Padre Eustáquio está com problemas e, sempre que chove, aparecem goteiras e o local
fica alagado. A professora de Lian Gong, Neire de Castro Araújo, conta que quando chove, molha bastante dentro do Centro. “ Temos que ficar mudando de lugar para fugir das goteiras", diz. As salas de aula e da administração estão interditadas por causa da infestação de ratos, mas o teto também está comprometido. "O problema só aumentou porque os forros do teto do Centro Cultural estão cheios de buracos, por onde os ratos passaram", conta uma funcionária do Centro.
Aulas de desenho e pintura para todas as idades RAQUEL DUTRA
n ANA PAULA MORAES 3º PERÍODO
Apesar dos problemas estruturais enfrentados, o Centro Cultural do Padre Eustáquio disponibilizou seu espaço para criar oportunidade de inserção no universo da arte. O espaço externo do CCPE passou a oferecer, desde fevereiro último, curso gratuito de desenho e pintura e mostrou que nunca é cedo ou tarde demais para investir tempo em planejamento profissional e aprendizado artístico. A turma é formada por 15 alunos, com idades entre 12 e 64 anos, e as aulas são ministradas pelo artista plástico Cristiano Coelho. Para os mais velhos, vale o ditado "antes tarde do que nunca". Angela Maria dos Santos, 56 anos, defende que a arte tem um significado importante em sua vida. "A arte é o ponto de equilíbrio, a harmonia entre a natureza e a vida", afirma. Na rotina de Lúcia de Fátima Valim, 58, todas as quintas-feiras o compromisso é garantido. Lúcia pega ônibus no Bairro Ipanema, onde
mora, até o Centro Cultural. “A arte me emociona e faz despertar sentimentos de prazer, poder e encantamento", afirma, entusiasmada. Desde sua aposentadoria, Lúcia passou a ter tempo livre e acredita ter encontrado no curso uma oportunidade de ocupar-se com uma tarefa prazerosa, que a estimula artisticamente. "Espero descobrir e aprofundar o potencial artístico que trago dentro de mim", acrescenta. Outra artista em potencial é Helena Castro Moreira, 13 anos, estudante do 9º ano. Helena diz encarar o curso como uma oportunidade de aprender mais sobre desenho, sua grande paixão. Mas o desejo de aprender não é sua única motivação. "Somos bem acolhidos, tratados com carinho sempre", conta Helena. Entre os experientes, Manoel Higino de Andrade se destaca por atuar profissionalmente na área há mais de duas décadas. Aos 62 anos e aposentado, Manoel mantém o gosto pela pintura e pelo desenho e conta como é ser responsável pela ilustração de embalagens plásticas. "Crio desenhos para
embalagens de arroz, ou de frios. Sempre gostei da profissão, ilustrar é minha grande paixão", afirma. Os alunos enxergam não apenas diversão, mas também acolhimento ao fazerem o curso. Entre seus principais objetivos, destacam-se aprimorar técnicas, compreender a arte sob suas diversas manifestações ou ainda, ter acesso a espaço onde podem expor seu talento, como no caso de Ângela Maria. O projeto revela que não há barreiras para quem busca qualificação, ou ainda, para quem quer ensinar. A precariedade do espaço onde acontecem as aulas da oficina de desenho e pintura colocou em risco a saúde dos alunos e demais usuários do Centro Cultural e do complexo da Feira Coberta. Desde o final do ano passado foi verificada uma infestação de ratos no local (leia matéria nesta página). Mas o problema não foi suficiente para suspender as aulas, que no dia 28 de fevereiro, por exemplo, ocorreram dentro da biblioteca, por causa dos roedores na área externa.
O artista plástico Cristiano Coelho (em pé) orienta alunos, de idades variadas, durante aula de desenho
Oficina para moradores de rua O artista plástico Cristiano Coelho desenvolve, além da oficina de desenho e pintura no Centro Cultural do Padre Eustáquio, um projeto de educação ambiental e patrimonial que tem como propósito promover a cidadania entre as pessoas que praticam o grafite e estimular a prática artística. Cristiano conta que o intuito é dialogar com
os vários setores da cidade para conscientizar o que é patrimônio público e o que não é. Recentemente, o Projeto Guernica propôs uma parceria ao Centro de Referencia dos Moradores de Rua, a criação de uma oficina de arte sustentada pela produção da releitura da tela "Guernica", do pintor espanhol Pablo Picasso. Contendo elementos
do grafite e de outras manifestações artísticas, o resultado deste trabalho ganhou espaço para sua exposição no Centro Cultural do Padre Eustáquio. "O importante é o envolvimento destas pessoas com a arte, o que promove respeito à memória social de Belo Horizonte e a participação cidadã", ressalta Cristiano.
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Abril • 2013 VICTOR RINALDI
EXERCÍCIOS FÍSICOS SEM ORIENTAÇÃO Academias a céu aberto estão presentes em grande número de bairros, mas ausência de profissionais dificulta atividades n VICTOR RINALDI 5º PERÍODO
Três vezes por semana, às 6h30 da manhã, mãe e filha acordam cedo para praticarem atividade física. A rotina que começou há aproximadamente 15 dias já apresenta resultado. "A gente fica mais disposta no dia a dia, acordamos e já vamos para a academia. É difícil acordar, mas vale a pena", conta a estudante, Ana Carolina Nicoleti, 20 anos. Mas, sua mãe, Ana Nicoleti, 56 anos, terapeuta, critica a falta de instrução para iniciantes. Desde que começaram a frequentar a Academia a Céu Aberto, implantada no Centro Cultural Padre Eustáquio pela Prefeitura de Belo Horizonte, no final de 2012, não foram instruídas por nenhum profissional da área. "Não
tem nenhum instrutor aqui para falar como a gente deve fazer os exercícios. Eu nunca frequentei academia nenhuma, a gente não sabe o tempo certo e a postura, mas um aprende com o outro. Todo mundo sabe tudo e ninguém sabe nada", brinca. Para Ana Carolina, esse tipo de academia é uma boa oportunidade, principalmente, para quem não tem recursos financeiros. Ela nota que a maioria das pessoas não conhece o espaço e que, por isso, é importante ter uma instrução adequada para a comunidade. "Tem os adesivos que falam qual músculo que a maquina trabalha, mas só isso também", reprova a estudante, que sugere um quadro de informações para acabar com o problema. O bacharel em Direito Paulo Souza, 55 anos, que
sempre praticou exercício físico, mora no Bairro Alípio de Melo e frequenta a Academia a Céu Aberto do Bairro Padre Eustáquio. Ele defende que esse espaço livra as pessoas que não têm condições financeiras da “exploração” das academias particulares. Segundo ele, o poder público felizmente se sensibilizou da necessidade de diminuir os custos da saúde com o incentivo e a prática de exercícios físicos. "O próprio equipamento facilita a prática, é preciso motivar os pessimistas, na verdade preguiçosos, para diminuir o gasto público com o sistema de saúde", alerta Paulo, que espera que a Prefeitura de Belo Horizonte amplie as academias com o propósito de reestabelecer a autoestima das pessoas. O chefe de gabinete da
Secretaria Municipal Adjunta de Esporte e Lazer, Marcello Araceli Magalhães, ressalta que atualmente os aparelhos são instalados próximos aos núcleos de atendimentos da comunidade, como o Centro Cultural Padre Eustáquio, para que outros programas da secretaria possam integrar a Academia a Céu Aberto. Ele dá o exemplo do programa Vida Ativa, que tem como público alvo pessoas acima de 50 anos, que são levadas às praças e instruídas para utilizarem os equipamentos. O secretário municipal de Esporte e Lazer, Roberto Tross, afirma que a contratação de monitores, para orientar a população, está relacionada a um segundo momento, sendo o primeiro a concretização do processo de instalação de mais 260 aca-
A importância da prática de exercícios Alexandre de Paula Ferreira, licenciado em Educação Física pela UniBH, levanta dois pontos importantes para a prática das atividades com os equipamentos das Academias a Céu Aberto. O primeiro seria a qualidade de vida, o individuo tem à sua disposição o equipamento para poder realizar as suas atividades quando e como quiser, sem ter que pagar por isso. Já o segundo, preservar e aumentar a utilização adequada do espaço público, principalmente
as praças e os parques, que muitas vezes estavam abandonados. "Hoje em dia, você percebe que as praças que possuem esses equipamentos estão sempre cheias. De manhã, de tarde ou à noite, tem sempre pessoas se exercitando", comenta Alexandre. Para o educador, a questão da socialização também é relevante, nas praças o indivíduo tem a oportunidade de conhecer pessoas que nunca havia visto antes e que, muitas vezes, moram
perto umas das outras. Ana Carolina Nicoleti ressalta a importância social do espaço, usado por pessoas para se recuperar do estresse e da ansiedade. "Tem o convívio social que temos aqui, a gente ri muito um do outro", relata a estudante, que garante que o ambiente é agradável e acolhedor. Os equipamentos podem ser usados por todas as idades, mas o foco são os adultos e idosos. As crianças, com recomendações médicas, podem
praticar essas atividades, porém muitas acabam fazendo o uso inadequado dos equipamentos como brinquedo, o que pode vir a danificar os aparelhos, adverte Alexandre. Ele observa que as pessoas diagnosticadas com algum tipo de doença, como diabetes, problemas respiratórios e cardiovasculares, só devem fazer as atividades com orientação médica. São 12 equipamentos, sendo dois voltados para portadores de necessidades especiais, e outros
Mãe e filha acordam cedo para se exercitar numa Academia a Céu Aberto demias até o final de 2013. "Após essa instalação serão feitas as contratações", promete. Atualmente são 53 academias espalhadas por praças e parques da
10 que trabalham todas as articulações do corpo. Alguns desses equipamentos são simuladores de atividades aeróbicas, como os simuladores de caminhada e as remadas, que, para Alexandre, ajudam no combate a doenças cardiorrespiratórias. O foco das atividades são as melhorias da coordenação motora, aumento de flexibilidade ou manutenção da mesma e redução do sobrepeso, mas o educador alerta, tais atividades podem apresentar riscos. Mesmo que os equipamentos sejam de leve intensidade, pois não possuem carga como os equipamentos de uma academia
capital, sete na Região Noroeste. Em casos de depredação ou danos dos equipamentos devese procurar a Regional responsável.
convencional, é recomendável procurar um médico ou um fisioterapeuta antes de iniciar as atividades. Em média, se uma pessoa reservar 30 minutos do dia para utilizar esses aparelhos, em uma forma de circuito, ou seja, utilizando cada um dos dez por um determinado período de tempo, já é o suficiente, destaca Alexandre. No mínimo três vezes por semana, sendo o ideal exercitar-se cinco vezes. Ele recomenda realizar as atividades no inicio da manhã, até às 10h, ou no final do dia, após as 18h, que são horários com menor incidência de raios solares.
Arte milenar chinesa integrada à medicina MARIA LUIZA ROCHA
n MARIA LUIZA ROCHA 2º PERÍODO
O Lian Gong, arte milenar chinesa que é realizada no Centro Cultural do Padre Eustáquio desde agosto de 2011, é praticado, em sua maioria, por mulheres e idosas. Diante deste quadro, Jésus Miranda, 53 anos, faz parte da minoria. O comerciante conta que fez poucas sessões, por isso ainda sente dificuldade em executar os exercícios, mas entende que é por falta de prática. "Depois que aprender, vai coordenando melhor, e de repente você faz até sozinho depois", acredita. Além disso, sabe que ainda está cedo para sentir os benefícios, e disse que vai voltar sempre. Ele ficou sabendo do Lian Gong porque fazia caminhada em frente ao Recanto de Caná, entidade assistencial localizada na região, e via os alunos conversando na porta, o que despertou sua curiosidade. Apesar de haver predomínio do público idoso nas aulas, é preciso destacar que o Lian Gong é indicado para qualquer faixa etária, já que seus benefícios são também preventivos. A professora
Neire de Castro Araújo, voluntária no CCPE e no Recanto de Caná, conta que o aluno de maior idade que já teve foi uma senhora de 96 anos. E de menor idade, um menino de nove anos. Um dos alunos de Neire, André dos Santos, 77, mestre de obras aposentado, contou que começou a sentir os benefícios após cinco meses de prática regular. André pratica o Lian Gong há quase um ano e meio, disse que raramente falta às aulas. "Melhorou para andar", constata. Ele ficou sabendo da ginástica em um posto de saúde no bairro Padre Eustáquio, e agora indica a prática às pessoas que conhece: "Uma senhora começou a vir porque eu indiquei", conta. Míriam Marciano César, 66, dona de casa, também aprova a série de exercícios. Ela tem problemas na coluna e, antes de começar a fazer Lian Gong, sentia muita dor. Depois de poucas sessões, segundo ela, a dor cessou. O médico Carlos Henrique Oliveira, 43 anos, que atende no Centro de Saúde no bairro Padre Eustáquio, indica o Lian Gong a seus pacientes. Ele confirma que determinadas patologias não podem ser solu-
Praticantes da técnica Ling Gong se encontram no CCPE cionadas com essa prática, mas destaca que a maiorias das pessoas relata a diminuição no uso de medicamentos depois que começaram a praticar os exercícios. "A sabedoria dos chineses no ramo da Medicina é notória", diz. Ele lembra, porém, que no âmbito da saúde nada funciona isoladamente e que os bons hábitos, em conjunto, darão resultados. O Lian Gong pode ser eficaz no tratamento de tensões musculares, alongamento dos tendões e ligamentos, trabalho das articulações, melhoria da coordenação motora, e correção da postura física. Os benefícios são perceptíveis quando os exercícios são executados de maneira correta.
Além disso, como em todas as atividades físicas, é preciso realizá-las com regularidade, e esperar algum tempo, para notar as mudanças positivas. Segundo Neire de Castro Araújo, com um mês de prática, ao menos duas vezes por semana, já é possível sentir melhorias. Mas esse tempo pode variar, dependendo do indivíduo.
BOM PARA CABEÇA Os efeitos do Lian Gong não se limitam ao bem estar físico. Validando a máxima "corpo são, mente sã", essa prática oriental pode melhorar a respiração, a qualidade do sono, e reduzir a ansiedade. Míriam César
disse que tem tendências à depressão, e que o Lian Gong "faz bem para a cabeça". O aumento do bem estar mental pode estar relacionado também às interações sociais que são construídas entre uma sessão e outra. Neire conta que seus alunos chegam mais cedo e se reúnem para conversar, antes da aula. "Você vê que todos se entendem. Para o idoso, por exemplo, que fica muito sozinho, é importante só de estar saindo de casa, conhecer outras pessoas", completa. Neire começou a dar aulas depois que foi capacitada pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. O interesse por parte do poder público municipal em formar professores de Lian Gong surgiu após notarem uma diminuição no consumo de analgésicos entre as pessoas que já o praticavam. Rosa Maria Xavier, 72, costureira, pratica Lian Gong há mais de quatro anos. Ela aprecia o fato de conhecer pessoas novas nas sessões. "Cada dia tem um rosto novo", conta. A própria atividade em si, é realizada sempre em grupo, ao som de uma música oriental, relaxante e ideal para os exercícios. Todos os prati-
cantes são unânimes ao dizer que não existem pontos negativos no Lian Gong. Mesmo com inúmeros benefícios decorrentes da prática regular de Lian Gong, há casos em que essa arte corporal pode não ajudar. Pessoas que apresentam graus avançados de artrose, ou artrite reumatoide, por exemplo, podem não sentir redução da dor. Maria Lúcia Rega de Oliveira, 63, dona de casa, tem artrose nas mãos. Praticante do Lian Gong, Maria Lúcia sente os benefícios na respiração, na redução da ansiedade, e no corpo em geral. Menos nas mãos. O Lian Gong é uma ginástica terapêutica, desenvolvida em Shangai, na China, por um médico ortopedista chinês chamado Zhuang Yuen Ming. Ao ver que muitos de seus pacientes queixavam-se de dores corporais, ele criou uma série de exercícios de baixo impacto, que, ao mesmo tempo, envolviam concentração, respiração e movimentação aeróbica. O Lian Gong chegou ao Brasil em 1987, trazida por Maria Lúcia Lee, professora de filosofia e artes corporais chinesas.
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MORADORES SOFREM COM DESAPROPRIAÇÃO Baixo valor de indenização oferecido pela Urbel e demora nas negociações com famílias atrasam obra da nova rodoviária ÍGOR PASSARINI
gar bem e as famílias ficariam satisfeitas. Mas não foi bem 3º PERÍODO assim. Eles dão um Lotes com entulho, valor ‘xis’ e pronto, moradias parcialmente acabou. Se você destruídas e casas ainda quiser aceitar bem; ocupadas por morado- caso contrário, não res. Esse é o cenário adianta brigar com atual de parte da área eles", explica. Rosimeire afirma onde será construída a ainda que, nas vistonova rodoviária de Belo Horizonte, no bairro rias iniciais feitas São Gabriel, Região pela Urbel, seu imóNordeste da capital. Ao vel foi avaliado muilongo da Rua Jacuí, en- to abaixo da realitre a Estação do Metrô dade do mercado. São Gabriel e a Rua São "Ficamos sabendo Gregório, por exemplo, que podíamos pegar os moradores que ainda as cópias das plani- Rosimeire Pereira não está satisfeita com proposta de indenização feita pela Urbel não deixaram a área lhas (de avaliação minha casa e aceitou as quando chovia, por convivem com a sujeira do imóvel) com os valoe reclamam da forma res. Com esses docu- correções que fizemos. E exemplo. Eles mudaram, com que a Companhia mentos, descobrimos o primeiro valor que eles então, o valor para R$ Urbanizadora e de que muitas coisas fal- me ofereceram, de R$ 65 mil", afirma. Tanto Habitação de Belo tavam. Eles (da Urbel) 106 mil, foi corrigido Rosimeire quanto Célia Horizonte (Urbel) vem deixavam coisas de fora. para R$ 113 mil. Fez dizem ter aceitado as conduzindo as negocia- Por exemplo, o telhado muita diferença", apon- propostas da Urbel por ções e o processo de da minha casa tem 480 ta. Outra moradora que falta de opção. metros, mas eles desocupação. "Eles venceram pelo Rosimeire Pereira, de estavam considerando reclama da avaliação da 37 anos, dona de casa e apenas 144 metros. Urbel é Célia de Fátima cansaço. Ficou aquela moradora do bairro há Meu marido e eu Gama, 55 anos, aposen- coisa de todo mundo 23 anos, diz que as olhamos item por item tada e residente do São indo embora, quebra muita calma. Gabriel há 51 anos. casa de um lado, quebra promessas iniciais feitas com pela Urbel não foram Olhamos tudo que eles "Avaliaram meu imóvel do outro. Daí eu comecumpridas. "Nas primei- não tinham colocado ou em R$ 59 mil, mas eu cei a ficar nervosa ras reuniões que eles tinha alterado as medi- fui lá e reclamei. Disse demais. Eu já não tenho tiveram com a gente, das. A avaliação estava que fizemos um aterro falaram que seríamos tão errada que o enge- na região, porque nossa vizinho de nenhum lado indenizados, iriam pa- nheiro nem voltou na casa enchia de água mais e é muita sujeira, barata e rato. Eu falei L C então com meu marido para darmos um jeito de assinar (o contrato com a Urbel) porque não ia ter mais recurso. A gente procurou ver com advogado se tinha como recorrer de alguma forma, mas não adiantou. Meu marido e eu assinamos com eles dia 16 de outubro do ano passado", relata Rosimeire. Segundo ela, apesar da promessa da Urbel de que o pagamento seria feito em no máximo 40 dias, até hoje não receMuitas casas já estão parcialmente demolidas no local em que será construída a nova rodoviária beram o cheque. n EMANUEL GONÇALVES LUCIANO CRUZ
UCIANO
RUZ
Moradias oferecidas pela Prefeitura não agradam população Célia diz que suas duas filhas aceitaram os apartamentos que estão sendo construídos no bairro Belmonte, oferecidos pela Prefeitura aos que estão sendo removidos da área onde será construída a nova rodoviária. Mas, ao contrário das filhas, seu destino é incerto. "A solução é sair ou sair. Ou você pega o dinheiro, que é pouco, ou você adere ao apartamento deles, que é um ovo. No meu caso, não aceitei (o apartamento). Imagine eu, meu marido e mais três filhos num apartamento de dois quartos? Colocar todos os filhos para dormir num quarto de três por três metros?", questiona. Enquanto aguardam a entrega dos apartamentos, muitos moradores que deixaram a área vivem em casas de aluguel, pagas pela Urbel. Mas nem todos conseguem cumprir as exigências da Companhia. Cosme Damião Andrade, por exemplo, tem 55 anos e há 40 mora no bairro. Ele não conseguiu encontrar um imóvel para alugar por R$ 600, que é o valor máximo liberado pela Urbel. "Procurei por mais de dois meses, mas com esse limite eu só acho aluguel dentro de favela. Eu ainda tenho que arrumar três fiadores e a casa tem que ter escritura. E os imóveis que eu sondei estão na faixa de R$ 1 mil. Eu estou desempregado. Como vou conseguir R$ 300 ou R$ 400 para pagar o aluguel?", questiona. Outra dificuldade, segundo
Cosme, é que muitas imobiliárias não aceitam alugar imóveis com a promessa de serem pagos pela Prefeitura, por não confiarem no processo. Sem opção, Cosme disse que só pretende deixar sua casa quando o apartamento oferecido pela Prefeitura estiver pronto. Apesar disso, reconhece que continuar vivendo na área está difícil. "Eles jogam as casas no chão, mas não limpam direito. Já derrubaram umas quatro casas em volta e a minha está bem no meio. Tem rato, tem barata, tem escorpião infestando a casa da gente. Ficamos com medo quando colocamos uma criança pra deitar", desabafa. Um escritório da Urbel foi montado na Rua Jacuí, 3995, para atender à população. Mas os moradores reclamam do atendimento que vem recebendo no local. Cosme, por exemplo, diz que, quando foi reclamar da quantidade de sujeira em volta de sua casa, não foi bem tratado. "Reclamei com o responsável (pelo escritório da Urbel), mas ele simplesmente falou que isso não estava acontecendo. Diz que não acontece porque não é ele que está morando aqui, no meio do entulho", argumenta. Segundo Célia, quando seu filho foi ao escritório questionar a avaliação de seu imóvel, não foi bem recebido. "O responsável é muito maleducado e discutiu com meu filho", denuncia.
Urbel justifica valores das indenizações na área De acordo com Pedro Veríssimo, assessor de imprensa da Urbel, para a construção da nova rodoviária está prevista a remoção de 287 domicílios na Vila São Gabriel. Todas as famílias já foram informadas dos valores de indenização e 198 delas já se mudaram efetivamente da área. Além disso, 145 domicílios já foram demolidos. Em relação às reclamações dos moradores sobre os valores de indenização, Veríssimo
diz que, em áreas de ocupação irregular, como é o caso da Vila São Gabriel, o valor do terreno não entra no cálculo. "Considera-se apenas o tamanho da área construída e a qualidade dos materiais empregados na construção da benfeitoria, cujos preços são revistos anualmente para fins de atualização. Os critérios técnicos da avaliação obedecem aos padrões definidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT). No caso de o morador discordar do valor de indenização, ele poderá ou não ocorrer uma revisão da planilha, pautada por critérios técnicos", explica. Sobre os 144 apartamentos a serem construídos pela Prefeitura numa área de oito mil metros quadrados no bairro Belmonte, Veríssimo não soube informar o prazo de entrega, mas diz que a ordem de serviço para edificação das unidades
foi emitida recentemente e os canteiros de obras já começaram a ser instalados. "As famílias que não optarem pelo reassentamento nas unidades habitacionais (no bairro Belmonte), vão receber indenização no valor da benfeitoria", esclarece. Quanto às reclamações de mau atendimento dos funcionários do escritório da Urbel, Veríssimo esclarece que, até o momento, a com-
panhia não recebeu nenhum registro formal a respeito, mas vai apurar as reclamações feitas à equipe do MARCO e tomar as providências necessárias. "Mas lembramos que os funcionários que fazem o atendimento à comunidade não pertencem ao quadro de empregados efetivos da Urbel. Eles foram contratados pela empresa responsável pelo trabalho de acompanhamento social das
famílias que estão sendo removidas", pondera. As obras de construção da nova rodoviária estavam previstas para começar em setembro passado. Veríssimo não tem informações sobre uma nova previsão de início das obras, mas posiciona-se sobre o término do trabalho de retirada das famílias. "O prazo limite previsto para a remoção de todos esses domicílios é junho (deste ano)", finaliza.
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Abril • 2013
FALTAM BANCOS NO SÃO GABRIEL Moradores da região são obrigados a buscar alternativas para realizar serviços bancários, como casas lotéricas e caixas eletrônicos; muitos acabam se deslocando para outros bairros HULLY MONTEIRO
n HULLY MONTEIRO NAYARA TOMAZ 4º PERÍODO
Milhares de moradores do Bairro São Gabriel enfrentam dificuldades e transtornos devido a falta de agências bancárias na região. Para realização de serviços prestados exclusivamente nos bancos, os moradores se deslocam para a Av. Cristiano Machado, que é o local mais próximo. Nesses casos, o descolamento leva mais tempo pois as pessoas que não possuem veículo próprio necessitam usar os transportes públicos. Outros serviços podem ser feitos nos caixas eletrônicos disponíveis em um supermercado na praça principal do bairro, ou em uma casa lotérica que fica na mesma região. "Não é por falta de reivindicação", garante o ex-vereador e também morador do bairro, Reinaldo Gomes de Souza, 44 anos, conheci-
do como Preto do Sacolão. Ele contou que, durante o seu mandato, foi solicitada a abertura de uma agência postal dos Correios com o banco Bradesco. Segundo ele, o pessoal dos Correios veio, fez o projeto e viu a loja. "Gostaram dela, que se adequava ao perfil da agência. Só que quando eles foram fazer a locação, a loja não tinha ‘habitese’ e o Governo Federal não aluga loja se ela não tiver completamente adequada às necessidades da Prefeitura. E aqui não há uma outra loja que se adeque às exigências do governo federal", comentou. O ex-vereador é um dos que sofrem com a falta de agências bancárias no bairro. "Há uma necessidade muito grande. Há uma casa lotérica no bairro que infelizmente não atende a demanda da c o m u n i d a d e . Constantemente quando você chega lá, você vê uma fila enorme",
Casa lotérica é alternativa para população que sofre com falta de bancos ressaltou. A técnica em enfermagem Maria Carolina de Sousa, de 60 anos, também reclamou da falta de bancos. "Quando não pode ser no EPA, vou à loteria", observou. Ela diz, ainda, que residentes de bairros vizinhos, onde também não há agências
bancárias, deslocam-se até o São Gabriel para a realização de serviços na lotérica ou nos caixas eletrônicos disponíveis no supermercado. "Todos vem para cá e aí está sempre cheio demais", constata. Outra pessoa que relata as dificuldades enfrentadas é a dona de casa
Rosimere Silva, 44, moradora do bairro desde que nasceu. Ela afirma que precisa pegar um ônibus para se deslocar até a agência bancária mais próxima. "O banco mais perto fica na Cristiano Machado. Ao chegar lá, já tem gente esperando na fila; é um transtorno pra gente. O pessoal do bairro Nazaré, também vem aqui na lotérica", revelou. De acordo com o pósdoutor em economia e professor na PUC Minas, Jean Max Tavares, 37, os bancos dão prioridade para abrir suas agências em regiões comerciais de bairros residenciais. Ele comenta as vantagens em abrir uma agência em locais populosos. "Abrir uma agência bancária em um bairro pode valorizar os imóveis relativamente próximos, facilitar ou estimular a instalação de pequenos negócios, diminuir o tempo gasto para se deslocar para agências em locais distantes e até mesmo proporcionar
mais policiamento para o bairro, além de gerar empregos", afirmou. Para o economista, há um claro impacto positivo para toda população do bairro que recebe uma agência bancária, o que gera economia de tempo e de dinheiro, além de valorização patrimonial. O São Gabriel deixou de possui uma associação de moradores há mais de oito anos. Por inadimplência, a associação do bairro foi leiloada e confiscada pela Prefeitura, devido à falta de prestação de contas. Há mais de 15 anos, as atas estavam atrasadas e havia uma dívida de quase R$ 50 mil. Reinaldo quer criar uma nova associação de bairro mas, para isso, ele precisa de pessoas que o apoiem: "Precisamos de voluntários, pessoas que realmente queiram trabalhar". Enquanto o bairro não ganha uma agência bancária, os habitantes continuam enfrentando dificuldades no dia a dia. PAULO VICTOR CANTALICE
Região Nordeste deve ganhar Parque Ecológico n TIAGO BARBOSA PAULO VICTOR CANTALICE DIEGO COTA WELLINGTON PEREIRA 1° E 2° PERÍODOS
Ocorreu, no dia 12 de março, mais uma reunião do Conselho Comunitário pelo Ribeiro de Abreu, o Comupra. Esse movimento surgiu na década de 1980, no Bairro Ribeiro de Abreu e tem como objetivo a melhoria da comunidade. Desde 2007, está à frente do projeto "Deixem o Onça Beber Água Limpa", que visa a revitalização do Ribeirão do Onça. O encontro, ocorrido na sede do Comupra, reuniu os principais agentes do movimento, que discutiram melhorias para a Região Nordeste e medidas sustentáveis para o meio ambiente.
Há planos de construção de um Parque Ecológico na região, cujo objetivo, segundo Danilo Leal da Silva, 24 anos, presidente do Comupra, é impedir que, após a revitalização e despoluição do ribeirão e suas margens, o local fique abandonado, ou que as famílias, que atualmente vivem ali, voltem para as áreas de risco. De acordo com Danilo, a Região Nordeste sofreu por muitos anos com o descaso, porém, o presidente do conselho acredita que agora esse quadro mudará. "Na verdade, o financiamento já está garantido pelo Governo Federal; dentro do pacote de Belo Horizonte para contenção de enchentes, há uma parte do orçamento que é para recolocação de famílias e a construção do
Parque Ecológico", relata Danilo. Ainda, segundo ele, são R$ 450 milhões investidos na contenção de enchentes e parte do recurso vai para o deslocamento das famílias. Para o representante do Gabinete Político e membro do Núcleo de Projetos Especiais da Regional Nordeste, Liberato Silva, ainda há muito a ser feito. Segundo ele, os principais bairros contemplados pelo projeto serão Ribeiro de Abreu, Ouro Minas, Isidoro e Comunidade Quilombola de Mangueiras. Porém, o início das obras ainda não está previsto, e apenas uma parte dos recursos da Prefeitura foi disponibilizado. Liberato também cita a presença de animais como ratos e capivaras, dentre outros, devido à grande poluição do ri-
Reunião comunitária do Comupra, no início do mês de março, discutiu medidas sustentáveis para a Região beirão. "Deve haver um saneamento na região, pois assim, esses animais desaparecerão", afirma ele. A Região do Ribeiro de Abreu, de acordo com o presidente Danilo Leal, sofrerá uma grande mudança após a conclusão do projeto "Deixem o Onça Beber Água Limpa". "Vamos começar com a retirada dessas mais de 1.300 famílias em áreas de risco", conta. Danilo também informou que 13 famílias foram levadas
para o projeto Bolsa Moradia, embora também haja, além das famílias, comércio nos trechos do rio, o que gera incerteza quanto à recolocação de todos. O presidente do Comupra explicou que ainda há muitos outros planos para o rio quando ele estiver despoluído, como a conscientização ambiental da população. “Há projeto de descida de caiaque. Desconhecemos outros lugares como Belo Hori-
zonte, que possuem uma cachoeira no ‘meio’ da cidade”, diz. Na opinião de Danilo, esse projeto pode melhorar o turismo na cidade, e atrair mais atenção para região. "Queremos fazer uma exposição de caiaque, para a população ver o que o rio pode oferecer." De acordo com Liberato, já houve outros quatro eventos "Deixem o Onça Beber Água Limpa", e o quinto está previsto para 22 de junho.
Falta de iluminação em passarela gera insegurança n FELIPE AUGUSTO VIEIRA 6ª PERÍODO
Na travessia da passarela que liga o Bairro Coração Eucarístico à Estação de Metrô da Gameleira, pedestres trafegam por um trecho escuro e se sentem inseguros. É o caso da estudante do curso de Serviço Social da PUC Minas Eliane dos Santos Carvalho, 50 anos, que tem receio de passar pela passarela ao voltar das aulas, por volta das 22h30. "Quanto mais tarde, pior. Já é difícil passar aqui sozinha com luz, mas, no escuro, fica pior
ainda", afirma. Ela diz que muitas vezes são combinadas idas em grupo para passar pela passarela. "Eu sempre pego carona e venho em grupo, mas eu não tenho sempre um grupo para passar. E, de repente, do outro lado da passarela, há pessoas meio estranhas. No início da rampa, tem gente que fica abordando todo mundo perto do ponto de ônibus. Já vi pessoas gritando que tinham pegado a bolsa", recorda. Eliane também soma à insegurança que sente quanto aos assaltos, um outro inconveniente, que é
a existência de ratos na passarela. "Eu já tive que ficar esperando o rato passar para poder continuar", conta. O francês Yossi Chausmer, 32, tradutor autônomo, que frequentemente vem ao Brasil visitar amigos conterrâneos que estudam na PUC Minas e moram no Coração Eucarístico, conta que um deles quase foi assaltado na passarela. Para ele, as mulheres, mais visadas por assaltantes, devem tomar cuidado adicional ao passar pela passarela andando em grupos. "Aqui todos ficam suscetíveis a pessoas de má
índole, com intenção de criar algum dano, furto, e ainda mais, que utilizam drogas e outras coisas ilegais. Isso tem que ser revisto e deve ser colocada mais iluminação, como a que existe na entrada do metrô, ampliando a iluminação para cá, no meio da passarela. Acho que deve haver também um pouco mais de movimento de segurança do próprio metrô até essa ligação da passarela aos trens", ressalta. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), segundo sua assessoria de comunicação, é responsável por prover iluminação ape-
nas na área de acesso. Por sua vez, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), responsável pela iluminação pública, trocou duas lâmpadas durante a apuração da matéria pelo MARCO na Via Expressa. Os postes, por serem só um pouco mais altos que a passarela, iluminam parcialmente a via, com uma luz fraca. Procurada pela reportagem do MARCO, a Prefeitura de Belo Horizonte contou que há demanda da comunidade do Coração Eucarístico e da região, feita por meio de abaixo assinado, por me-
lhorias na iluminação pública, não só da passarela, mas de todo o bairro, e também é solicitada a poda de árvores. O pedido está registrado no Caderno de Análise de Propostas do P l a n e j a m e n t o Participativo Regionalizado (PPR), referente a junho de 2012, pelo código NO 4.33. O caderno está sendo atualizado para o ano de 2013. Informações sobre o processo de análise podem ser solicitadas pelos telefones da Secretaria Municipal Adjunta de Gestão Compartilhada: 32771409 ou 3245-0070.
Campus Abril • 2013
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PUC QUER REABRIR MUSEU EM JULHO Após incêndio, que atingiu segundo andar do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, profissionais trabalham para a reabertura do local, que recebia 500 visitantes diariamente CAROLINA SIMÕES
n CAROLINA SIMÕES JULIANA SILVEIRA 3º PERÍODO
As obras de restauração do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas estão a todo vapor após o incêndio que ocorreu em 22 de janeiro deste ano. O objetivo é reabrir, as portas do museu aos visitantes até o mês de julho. Vários procedimentos estão sendo feitos pela administração do Museu para que o processo de recuperação termine o mais rápido possível. O trabalho inclui perícias técnicas, nos setores elétricos, na estrutura e na rede lógica, para posteriormente entrarem em ação com os novos projetos. Além da remoção dos entulhos, é preciso recuperar as peças danificadas e orçar os prejuízos. O incêndio atingiu apenas o segundo andar, mas tanto o primeiro como o terceiro, foram tomados pela fumaça e necessitam de reparos. As peças que ficam expostas são todas réplicas, por isso a situação não é tão alarmante. A maior riqueza do museu, o acervo científico, não foi afetado em nada, como a coleções de insetos, botânica, répteis, anfíbios, pássaros, mamíferos, peixes e fósseis. Para o professor Castor Cartelle, fundador do Museu, o acontecimento foi mais do que uma tragédia.
Ele conta que o seu único consolo ao ver o resultado do incêndio foi que ninguém se feriu e que as coleções, que são patrimônio da Nação, continuam intactas. "Cada vez que olho para essa fumaça, digo caramba!", conta. O Museu, que tem 30 anos e que antes desse prédio funcionava em um galpão dentro do campus, recebia diariamente 500 visitantes, desde crianças e estudantes, até pesquisadores vindos de várias partes do mundo. Cartelle, curador da coleção de paleontologia, afirma ainda que o Museu sempre foi seu sonho, desde a época de estudante. O que mais o agrada em ver seu sonho realizado é a resposta do público e, atualmente, ao ver seu sonho com as portas fechadas, o que mais o chateia é não poder receber as pessoas. "E a gente vê que a coisa mais triste no museu, além da fumaça, além de todo o estrago, é a ausência de nossos estudantes, de crianças e de adultos", desabafa. Ao ser perguntado sobre o valor sentimental, o professor se emociona, e com lágrimas nos olhos diz que considera aquele lugar como sua vida. "Existe um valor sentimental em cada peça, em cada exposição. Eu não sei o que passou pela minha alma, no dia que eu cheguei aqui, no dia do incêndio", ressalta.
De acordo com o coordenador do Museu, Bonifácio José Teixeira, o trabalho de restauração das peças está bem adiantado. Entretanto, é um processo demorado que exige atenção especial a cada detalhe das peças, para que tudo volte a ser como era. Bonifácio afirmou que o Museu contava com um sistema aprovado e revisado pelo corpo de bombeiros, hidrantes em grande quantidade e uma reserva contínua de cerca de 150 mil litros de água, para evitar esse tipo de acidente. Mas o incêndio foi imediato e num horário em que não havia quase ninguém no local, o que tornou impossível um combate sem o Corpo de Bombeiros. A partir de agora não serão usados materiais inflamáveis nas exposições, já que foi esse o motivo das chamas terem se espalhado tão rapidamente. Todo o dano causado ao Museu será coberto pelo seguro, mas o que surpreendeu a equipe foi a quantidade de pessoas e empresas se disponibilizando e oferecendo ajuda para a reconstrução. Primeiro, será feita a recuperação, e a administração do museu quer implantar paredes e armários corta-fogo, para proteger as peças mais valiosas, pois algumas delas são únicas.
Alunos da PUC ajudam na adaptação de intercambistas n MAIKYSON COELHO 2º PERÍODO
A polonesa Béata Sitarek, estudante da Paris Sorbonne University da França, é mais uma intercambista recebida pela PUC Minas. Para facilitar sua adaptação, ela tem como madrinha, a aluna de Relações Internacionais da instituição mineira, Elisa Bertilla, dentro do programa Padrinho Internacional, criado há cinco anos. "A Elisa me ajudou desde a documentação, via internet, quando eu ainda estava na França, e agora continua me ajudando na adaptação ao Brasil. Ela tem
me auxiliado bastante", conta Béata, ressaltando a importância de sua madrinha. Elisa Bertilla cursa o quarto período de Relações Internacionais e está sendo madrinha pela segunda vez. No semestre passado ela já havia auxiliado uma estudante mexicana.
Para ela, ajudar os intercambistas é algo muito gratificante. É interessante ajudá-los a conhecer o nosso país, dar apoio no que precisarem. Assim como eu gostaria de chegar em algum lugar desconhecido e ter alguém para me ajudar, acho que eles também pensam dessa MAIKYSON COELHO
Elisa Bertilla (à esquerda) é madrinha da estudante polonesa Béata Sitarek
O Professor Castor Cartelle trabalha na recuperação de peças danificadas pelo incêndio do dia 22 de janeiro
Reconstituição de mamífero CAROLINA SIMÕES
A Preguiça Gigante foi uma das peças mais conhecidas e admiradas do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas. Essa personagem, que já ilustrou cartões telefônicos de Minas Gerais, sofreu grandes danos durante o incêndio. Por ser feita de resina, o calor do fogo derreteu facilmente parte de sua estrutura. A réplica integrava a exposição "A grande extinção - 11 mil anos". Marco Aurélio Cerqueira Veloso, biólogo responsável pela reconstituição da Preguiça Gigante, diz que estão tentando reaproveitar algumas partes que não foram totalmente consumidas pelas chamas. Segundo ele, essa era uma répli-
maneira", observa. Ela admite que as vezes há desgaste na relação entre padrinho e intercambistas, mas, observa que, independentemente disso, sempre se aprenderá algo novo e que a interação é de ganho para ambas as partes. "O choque cultural, esse contraste entre culturas eu acho muito legal. Porque, na maioria das vezes, a gente tem uma visão equivocada sobre os outros países, assim como eu vejo que quem vem de fora também traz uma impressão errada sobre o Brasil. E quando você se relaciona de uma forma mais íntima com essa outra cultura, começa a perceber que as coisas são diferentes daquilo que a gente imaginava ser", constata a estudante de Relações Internacionais.
O biólogo Marco Aurélio Veloso com parte da Preguiça Gigante ca nova, tinha em torno de seis anos. A Preguiça foi montada, pela primeira vez, em uma exposição itinerante chamada "Antes". A serviço dessa exposição, a peça viajou para o Rio de Janeiro e Brasília, sendo depois integrada ao acervo do Museu.
Béata, por sua vez, revela que veio ao Brasil para aprender sobre a cultura, política e demais aspectos nacionais. Ela conta que, ao se inscrever para o intercâmbio, havia cinco possibilidades de escolha, e que optou por Belo Horizonte por já conhecer a cidade e por gostar da capital mineira. Segundo ela, o calor e a poluição estão sendo as maiores dificuldades para se adaptar à nova cidade. Os "padrinhos" possuem papel fundamental no processo de integração entre os intercambistas, a faculdade e a cidade, pois fazem com que os recém-chegados possam superar dificuldades como a língua, a documentação, a logística e outras decorrentes da diferença cultural. "A interação entre os alunos e os intercam-
A reconstrução foi iniciada no dia 22 de fevereiro e a previsão é de que esteja pronta em 45 dias. Marco Aurélio Veloso disse ainda que a equipe vai precisar da infraestrutura refeita do segundo andar para fazer a montagem da peça.
bistas é extremamente importante e tem sido muito positiva", destaca Adriana Libânio Bittencourt, responsável pelos Programas de Intercâmbio da PUC Minas. Neste primeiro semestre de 2013 estão sendo recebidos, pela PUC Minas, 30 alunos, originados de países europeus, como França, Itália e Alemanha e também de outros países das Américas: EUA, México, Peru, Argentina, Colômbia e Chile. A PUC faz parte de um programa de intercâmbio que envolve mais de 120 universidades conveniadas, das mais diversas partes do mundo. Todo semestre a universidade abre suas portas e recebe intercambistas de diferentes países.
10Cidadania
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Abril • 2013
JOVENS CIDADÃOS E VOLUNTÁRIOS Corpo de Bombeiros treina gratuitamente pessoas com idades entre 18 e 21 anos interessadas em aprender técnicas que vão de combate a incêndios até atendimentos pré-hospitalares MARIANA NOGUEIRA
n MARIANA NOGUEIRA 1º PERÍODO
Criado por meio de parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte, o Corpo de Bombeiros Militares de Minas Gerais, a Fundação Guimarães Rosa e a Vara da Infância e da Juventude, o Programa Voluntários da Cidadania visa resgatar jovens moradores de áreas de alta vulnerabilidade social de Belo Horizonte. Voltado para pessoas entre 18 e 21 anos, o projeto pretende capacitá-los socialmente e profissionalmente como voluntários do Corpo de Bombeiros. Os alunos são selecionados por intermédio do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) presente nos bairros de menor infraestrutura e de lá, são encaminhados para a Fundação Guimarães Rosa, onde participam de um processo seletivo que inclui, além da prova escrita, as avaliações médica e psicológica. O curso tem carga horária de 240 horas, concluídas em três meses. As aulas se dividem em práticas e teóricas, tendo os alunos a oportunidade de aprender além das matérias específicas do ofício, tais como tática e técnica de combate ao incêndio, atendimento préhospitalar, produtos perigosos e salvamento em altura, também outras atividades de âmbito social, como ordem unida, cidadania, ética, direitos humanos, disciplina e
preparação para o mercado de trabalho. Segundo o coordenador do programa Voluntários da Cidadania, tenente Laudermi Gonçalves, 50 anos, o projeto é uma possibilidade única de trabalhar a disciplina nos jovens. "O programa tira esses jovens das ruas, da possibilidade de se aproximar do crime, muitos deles sofrem com problemas depressivos e o Voluntários da Cidadania busca resgatar a esperança nesses jovens", explica. O curso é oferecido de forma gratuita e os alunos recebem benefícios como lanche, material didático, valetransporte e certificação ao final, além de bolsa de R$ 350 para auxiliar nos estudos. Os alunos também recebem durante o curso o acompanhamento psicológico. Vinda da Fundação Guimarães Rosa, a psicóloga Neide Maria de Oliveira Gonçalves diz que o programa é um diferencial na vida desses jovens. "A partir do momento que eles entram no mercado de trabalho estão mais inclusos socialmente, é uma oportunidade ímpar que a sociedade oferece para eles. É um projeto inovador, eu torço para que seja exemplo para outros estados", afirma. Talita Gomes da Silva tinha 21 anos quando entrou no curso. Incentivada pela avó, antes ela passava o dia todo em casa e não tinha meta alguma para a vida e conta que se
Tenente Lauderni posa ao lado de Talita Gomes, formada há oito meses como primeira aluna de sua turma de voluntários encantou pela profissão e quer chegar cada vez mais longe. "O curso mudou tudo para mim, me deu uma profissão que eu estou seguindo e vou seguir até onde eu puder parar, eu quero estar aqui no quartel ainda", diz Talita, que atualmente tem 22 anos. Ela se formou pelo programa há oito meses e trabalha na área desde então. "Eu trabalho em Igarapé, numa mineradora, e lá a gente faz todo tipo de trabalho, a gente faz resgate, captura de animais, primeiro atendimento quando tem algum acidente, prevenção, essas coisas. Consegui o emprego só com a base que eu
tive aqui e já consegui comprar meu primeiro carro", conta Talita. Ainda segundo a voluntária, a oportunidade de conviver com o militarismo a inspirou muito nos estudos. Talita, que se formou como primeira aluna da classe, aprendeu lições que com certeza levará por toda a vida. "A primeira coisa que eu descobri aqui nesse curso é que a gente pode conseguir tudo que a gente quer se a gente se esforçar. Eu corri atrás e agora posso ajudar na minha casa. Passei de mulher largada a mulher independente. Eu costumo falar que esse curso me deu pontos
cardeais, hoje eu sei onde eu estou e aonde eu quero chegar", diz Talita, emocionada. Só em 2012 cerca de 600 alunos se formaram pelo Voluntários da Cidadania. Para este ano, seis turmas serão formadas, sendo três masculinas e três femininas. O jovem que se interessar pelo programa deve procurar o Cras mais próximo de sua casa, caso esteja enquadrado no perfil do programa ele poderá concorrer ao processo seletivo e entrar para o curso, onde aprenderá uma profissão reconhecida e regulamentada. RAQUEL DUTRA
Portaria da Prefeitura afeta reuniões da ONG Bem Nascer RAQUEL DUTRA
n THAINÁ NOGUEIRA 1° PERÍODO
Desde outubro do ano passado a Prefeitura de Belo Horizonte proibiu a utilização gratuita do Centro de Educação Ambiental (Ceam) no Parque das Mangabeiras. O local era disponibilizado para reuniões da comunidade, sem custo algum para os interessados, e agora cobra-se cerca de R$117 por cada hora usada. A ONG Bem Nascer frequenta o espaço desde 2005, mas devido à nova exigência teve que desocupar o local. Cleise Soares, presidente da ONG, afirma estar indignada com a privação imposta e alega que não há como arrecadar o dinheiro, pois todos os participantes são voluntários. A entidade é sem fins lucrativos e atende mulheres grávidas e suas famílias, orientando-as quanto ao parto normal, aleitamento e qualquer dúvida sobre a maternidade. O transtorno é ainda maior. As mulheres que procuram a Roda Bem Nascer todos os meses tiveram que se deslocar para o outro local onde funciona a roda, o Parque Municipal. "Lá as reuniões
A Roda Bem Nascer leva dezenas de gestantes e parceiros a se informarem melhor sobre o parto natural acontecem apenas no turno da tarde, e muitas que só poderiam frequentar a roda pela manhã, deixam de ser assistidas", explica a diretora da Bem Nascer, Isabel Cristina. Frequentadores da antiga roda no Mangabeiras, Denise Alvarenga, 28 anos, e seu marido Paulo José Alvarenga, 31, ressaltam a importância de manter as reuniões no parque. "É um ambiente tranquilo, as pessoas chegam e tem onde estacionar, como é pela manhã tem o passeio que pode ser feito posteriormente”, diz Denise.
Ainda sobre as reuniões, Jane Adélia, 36, e Carolina Noronha, 25, atentam que antes eram feitas duas rodas por mês, e agora é apenas uma, diminuindo a disponibilidade para mulheres que, segundo elas, vêm de todos os bairros, inclusive de outros municípios. A Fundação de Parques Municipais de Belo Horizonte informou que existe uma portaria municipal que determina a cobrança do Ceam Mangabeiras. Porém, projetos socais podem obter isenção da
Roda Bem Nascer no Mangabeiras faz falta para casal que a frequentava
taxa, apresentando uma solicitação que explique os objetivos e ações do projeto. Segundo André Funghi, chefe do Departamento Sudeste, responsável pelo parque, a ONG Bem Nascer teria sido informada de que deveria apresentar a solicitação para a utilização do espaço e obtenção desta isenção e que até o momento não teria havido procura por parte da ONG. A Bem Nascer começa a ter apoio para reverter a situação, por meio da ajuda de advogados voluntários pela causa. A
diretora Isabel Cristina fala sobre uma possível falha na comunicação entre as partes. Ela afirma ter enviado a solicitação no início deste ano, após o prazo de três meses pedido pela Prefeitura, com a justificativa de uma reforma no Ceam. Mesmo após a reforma o espaço ainda não foi cedido para a diretora da ONG. A iniciativa do parto normal entra no projeto social de ecologia, por se tratar de um processo natural humano.
Comportamento Abril • 2013
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ÍGOR PASSARINI
ESTILO DE VIDA DO INTERIOR NA CIDADE GRANDE Pessoas que vieram morar em Belo Horizonte, buscam estilo de vida alternativo que remeta ao passado no interior. Caminhadas de manhã cedo e ida à igreja são opções n MATEUS TEIXEIRA ADILSON BRAGA 1º E 2º PERÍODOS
Trânsito, correria, falta de tempo e muito trabalho. Estas são algumas das reclamações de pessoas que vem das cidades do interior, para morar na capital. Acostumados à calmaria das praças, apresentações em coretos, longos períodos na sacada e tempo para tudo, interioranos migram para Belo Horizonte, em busca de melhores oportunidades de emprego e estudo e ao se depararem com a vida agitada da capital, muitos sentem falta do passado nas pequenas cidades. Com uma programação eclética e diversificada, entre bares, shoppings, baladas e cinemas, há quem prefira manter os velhos hábitos do interior. É o que conta a mineira Grazielle Adriana Oliveira Braga, 21 anos, que se mudou de Congonhas na Região Central de Minas para Belo Horizonte em
2010, para cursar Relações Internacionais. "As pessoas sempre reclamam da calmaria do interior, mas quando chegam aqui, logo se cansam, porque o trânsito não ajuda e as atrações cansam. É, nesse momento, que elas passam a dar valor à cidade natal, de que tanto reclamavam. Mantenho o hábito de ser caseira, de cumprimentar a todos sempre e de ir à igreja, algo que também me assustou, quando me deparei com muitos jovens, que nem se importam com isso. É algo preocupante e estranho dentro da minha realidade", observa. A falta de contato e amizades na capital é outro fator apontado como uma diferença, determinante, em relação às cidades interioranas. "O convívio é mais difícil: as pessoas não se cumprimentam dentro dos ônibus, por exemplo. Raramente você cria relação de amizade com muita gente. Bem diferente, da minha cidade, onde
sabemos o nome de quase todo mundo. Aqui estamos presos aos relacionamentos do trabalho e da faculdade", completa Grazielle. Gabriela Castro, estudante de Arquitetura, também de Congonhas, veio para Belo Horizonte há pouco mais de um mês e relata que sua experiência na capital tem sido bastante interessante. "Adaptei-me a quase tudo, mas ficar longe da família é algo que ainda me incomoda. Percebi, que diferente da minha cidade, as pessoas aqui são mais desapegadas e as amizades são mais difíceis", analisa. Gabriela conta ainda que mantém alguns hábitos da vida interiorana. "Acordo cedo, todos os dias. E falo com meus pais o tempo todo por telefone, além de tentar ser cordial com todos à minha volta", relata. Quando perguntada sobre o que mais a assustou em Belo Horizonte, ela não hesitou: "O movimento, com certeza".
Grazielle Bragaa já mora em Belo Horizonte há três anos e afirma ainda não estar compltamente adaptada
CAMINHADAS Acordar cedo é outro comportamento associado, muitas vezes, ao estilo interiorano. Nesse caso, atividades físicas diárias, como caminhadas e idas à academia são feitas, antes das 6h da manhã. Segundo o site da Prefeitura de Belo Horizonte, a capital mineira conta, atualmente, com 69 parques e centenas de praças, que permitem ao habitante a prática de exercícios físicos, gratuitamente e com muitas opções de lazer a quem ainda não se acostumou à vida atribulada do cidadão belo-horizontino. Em uma dessas
praças, localizada na Via Expressa no Bairro Coração Eucarístico, muitas pessoas acordam cedo para caminharem e praticarem exercícios físicos. Como é o caso da aposentada Neide Lemos dos Santos. "Eu venho todos os dias, inclusive nos finais de semana. Saio de casa às 5h e chego aqui 5h20, já venho caminhando junto com duas amigas", revela. Ela conta também que a saúde melhorou depois da prática dos exercícios. "Antes, eu tinha dor no corpo, dificuldade para agachar, falta de ar e cansaço. Agora, eu percebi que melhorou muito,
inclusive a autoestima", acrescenta. A artesã e designer de moda Maria das Graças Rolim Mansur também vai ao local para praticar as atividades físicas. "Eu venho diariamente, inclusive nos finais de semana quando eu posso. Eu chego aqui por volta das 5h, pois há menos carros nas ruas e o ar não está tão poluído", diz. Ela conta também que a disposição melhorou. "Quando não venho é complicado, sinto falta. Minha disposição mudou, é outra. Durmo melhor, tudo é melhor. Eu gosto de vim fazer os exercícios", completa.
Fieis se sacrificam durante período de quaresma MATHEUS LIMA
n GUILHERME FROSSARD HUGO L'ABBATE IGOR BATALHA MATHEUS LIMA RAFAEL LEITE 1º PERÍODO
A quaresma representa, para o calendário cristão, quarenta dias entre a quarta-feira de cinzas e a quinta-feira santa. Nesse intervalo de tempo, é comum a realização de pequenos sacrifícios ou penitências como forma de se solidarizar com o sofrimento de Jesus na cruz. A prática mais recorrente na atualidade é a abstinência do consumo de carne. Segundo o padre João Nogueira, 56 anos, a restrição ao consumo da carne vermelha, durante a quaresma, se relaciona com a quarta-feira de cinzas e a Sexta-Feira da Paixão. "Como a Igreja tem um mandamento que proíbe, para os católicos, comer carne vermelha nesses dias, as pessoas estendem a restrição durante toda a quaresma",
explica o padre, que também é professor de ética, antropologia e lógica da PUC Minas. Mas algumas pessoas escolhem outras penitências para cumprirem neste período. Criada numa família repleta de amantes do chocolate, Angela Vianna, 49, não encara a falta de carne em sua alimentação como uma penitência. "Deixar de comer carne não é um sacrifício", conta. Mas quando o alimento em questão é o chocolate, a situação muda. "Eu adoro e tenho o hábito de comer chocolate com frequência, ou seja, significa muito mais, para mim, abdicar desse doce do que da carne", justifica a arquiteta. Assim como Ângela, a estudante paulistana Luiza Murakami, 17, também abre mão de guloseimas. "Adoto o jejum de chocolate, que é uma das coisas que eu mais gosto e que como todo dia. Na quaresma, você escolhe alguma coisa que você
jejum até que o mesmo se ponha para se alimentar novamente.
Padre João Nogueira explica a origem da quaresma e os motivos pelos quais as pessoas ainda abdicam de hábitos gosta muito, para passar quarenta dias pra pensar e purificar a alma", explica. Contudo, há quem abra mão de coisas além de alimentos e bebidas. O estudante de jornalismo Thiago Antunes, 26, mesmo não sendo adepto de uma religião, fez penitências durante a quaresma por 10 anos. Além de não comer carne vermelha durante esta época, o estudante tinha hábitos um
pouco diferentes dos tradicionais. "Fazia as penitências tradicionais, como parar de comer carne vermelha, mas também deixava os pelos do corpo crescerem e abdicava do sexo durante os 40 dias", conta. Porém Thiago não faz mais restrições durante a quaresma. Segundo ele, na verdade não há penitências. "Você acaba substituindo, por exemplo, a
carne vermelha pelo peixe, ou seja, uma coisa boa por outra melhor ainda. Assim, não há sofrimento", argumenta. Diante dessa conclusão, Antunes migrou para uma prática islâmica, o Ramadan. Durante 29 dias, enquanto o sol estiver no céu, ele não pode se alimentar, fazendo uma boa refeição apenas antes do sol nascer, mantendo o
ORIGEM Segundo o padre João Nogueira, a quaresma possui duas origens: a primeira se relaciona com os 40 anos que o povo de Deus passou no deserto, conforme o livro do Êxodo. "Os quarenta dias da quaresma são uma lembrança dos quarenta anos que o povo passou na terra prometida", afirma. Já a segunda origem se relaciona com o tempo que Jesus ficou no deserto. "Se pegarmos o evangelho de Matheus, de Marcos, de Lucas, vemos que Jesus, antes de começar sua missão, ficou 40 dias no deserto, fazendo penitência, sem comer", conta. Ou seja, o tempo da quaresma remete ao sofrimento do povo de Deus e, também, do tempo que Jesus passou no deserto sem se alimentar.
12Cidade
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Abril • 2013
COMIDA DI BUTECO E NOVA LEI SECA Pela primeira vez, festival gastronômico acontecerá com a tolerância zero da ‘Lei Seca’ e frequentadores são estimulados a buscar novas alternativas para beber tranquilos e não dirigir n ANA CLARA RODRIGUES BEATRIZ BREDER BRUNA VOLPINI CAMILA NAVARRO ELISA FERREIRA 1º PERÍODO
Em sua 14ª edição, neste mês de abril, o Comida di Buteco, evento já consagrado e integrado à rotina de Belo Horizonte, popularmente conhecida como 'capital dos bares', será realizado pela primeira vez desde que começou a vigorar a tolerância zero em relação à chamada 'Lei Seca', que proíbe o uso de bebidas alcoólicas, em qualquer teor, por motoristas. A situação não muda a forma de atuar da organização do festival. "Não levantamos bandeira específica em relação à tolerância zero da Lei Seca", ressalta Maria Eulália Araújo, 41 anos, sócia da empresa promotora do Comida di Buteco. Segundo ela, desde as últimas edições do evento, quando já existia a 'Lei Seca', embora sem a tolerância zero, a organização trabalhava para estimular a utilização de transportes coletivos e alternativos, como o táxi e os microônibus, para garantir a segurança dos frequentadores do Comida di Buteco, que criaram o hábito de ir a mais de um bar participante no mesmo dia ou noite. Por isso, foram realizadas parcerias com grupos que oferecem o circuito de caravanas fretadas. Segundo Maria Eulália, a busca nos últimos três anos tem sido espontânea. "Muito pior do que ser punido é se acidentar. Por isso a importância dessas parcerias e da conscientização",
ressalta a organizadora do evento. O Comida di Buteco reúne 41 bares previamente escolhidos pelos organizadores, que disputam, especialmente, a escolha do melhor tira gosto. Este ano, todos os pratos participantes precisam levar linguiça ou mandioca entre seus ingredientes. Há premiação também para outros aspectos, como cerveja mais gelada, atendimento e limpeza do estabelecimento. A nova lei considera como infração de trânsito a ingestão de bebida alcóolica de até 0,3 mg/l. Acima deste teor, a situação passa a ser considerada crime. O etilômetro, popularmente denominado como bafômetro, constitui a prova material. Se o suspeito se recusar a fazer o teste realizado pelo aparelho, o agente policial pode utilizar provas testemunhais, físicas (como comportamento alterado, hálito e olhos avermelhados), fotografias e vídeos para justificar a detenção. De acordo com o Sargento Márcio Roberto Pereira, do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPtran), durante o evento as operações de fiscalização são realizadas próximas aos bares participantes. "Embora a fiscalização continue a mesma de antes e com quantidade similar de bafômetros, durante o festival as blitzen serão relocalizadas para as proximidades dos bares", explica o policial. Segundo ele, entre as quintas-feira e domingos, cada equipe cobre quatro lugares durante a noite e nos outros dias elas percorrem dois lugares durante todo o dia. Entre os proprietários
de bares participantes do festival, as opiniões se dividem em relação às consequências da tolerância zero na 'Lei Seca', apesar de todos se mostrarem favoráveis à legislação. Há quem acredite que haverá redução na participação do público na próxima edição do festival. "Durante o evento, a clientela costuma aumentar em torno de 70%, contudo, comparado aos outros anos, espera-se que haja
do número de clientes na próxima edição do Comida di Buteco. Segundo ele, a saída é o uso de táxi, que possibilita o transporte de passageiros que deixam de dirigir para tomar bebidas alcóolicas e que, portanto, respeitam as leis de trânsito. "Normalmente tem campanhas de conscientização que são feitas durante o evento, além da parceria com o Governo que faz as blitzen nos bares. No
tinho, na Região CentroSul de Belo Horizonte. Existem casos em que os proprietários de bares e restaurantes fazem convênios com entidades representativas dos taxistas e oferecem as corridas sem custo aos clientes. Muitas vezes, os próprios consumidores descobrem alternativas para aproveitar o festival, sem infringir a lei e sem colocar em risco a segurança. É o caso, por exemplo, da BEATRIZ BREDER
Eliza Fonseca, proprietária de um dos bares participantes, acha que a tolerância zero pode diminuir o movimento um decréscimo do lucro", pondera Eliza Fonseca, proprietária do Bar da Lora, no Mercado Central, que foi terceiro colocado em 2012. Já Fábio Fantini, 35 anos, sócio do Bar do Véio, que fica no Bairro Caiçara, na Região Noroeste de Belo Horizonte, e que participa desde a primeira edição do concurso, não acredita em queda
ano passado foi assim, espero que esse ano seja também", comenta Fábio, referindo-se à edição 2012. Ele teme, no entanto, a insuficiência no número de táxis disponíveis durante o evento. “A procura é alta e a frota, muitas vezes, não consegue atendê-la", diz José Venceslau, proprietário do Ali Ba Bar, situado no Bairro Santo Agos-
escolha do 'motorista da rodada', quando uma pessoa do grupo de amigos fica responsável pela direção, sem fazer uso de bebidas. "Sempre existe o medo da blitz, mas Belo Horizonte não oferece transporte público de qualidade a um preço acessível, e sabendo que é uma irresponsabilidade combinar bebida e direção, procuramos eleger um moto-
rista da rodada", explica o engenheiro Gustavo Alves, 25 anos. PALAVRA DE ESPECIALISTA Mestre em dependência química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o psicanalista Thales Siqueira de Carvalho avalia que encontros sociais como o Comida di Buteco são fundamentais para a vida em sociedade e servem como alívio de tensões do dia a dia. "Encontramos na bebida um amortecedor das preocupações, como pontua Freud", ressalta. Segundo ele, essa busca pela satisfação interna é saudável, uma vez que o cidadão esteja ciente das consequências geradas pela mistura de bebida e direção, e opte por meios alternativos de locomoção. Sendo a realização do festival Comida di Buteco um marco característico e tradicional da cultura belorizontina, é importante para a cidade que ele continue ocorrendo ano a ano. Portanto, para que ele aconteça com sucesso, é necessário que a sociedade tome as medidas necessárias a fim de possibilitar momentos prazerosos e de descontração, respeitando as leis e evitando a ocorrência de acidentes de transito. Os cidadãos não devem deixar que a mudança na lei interfira nas suas atividades de lazer cotidianas. Eles devem, portanto, tomar providências para poder continuar usufruindo tudo de bom que o festival tem a oferecer.
Desafio de jovens que deixam a casa dos pais n DANIEL LACERDA JÉSSICA ALMEIDA 2º PERÍODO
É cada vez mais comum ver jovens deixarem a casa dos pais para se dedicar aos estudos. Com a chegada do vestibular, intensifica-se a busca por melhores instituições de ensino e, por diversas vezes, o curso sonhado pelo estudante é oferecido apenas em outra cidade. A partir daí, uma dúvida toma conta do imaginário do futuro universitário: a de estudar e morar, ou não, longe da família. Deixar o conforto da casa dos pais para viver em outro ambiente traz novas responsabilidades e desafios, como o da rotina de cozinhar, arrumar a casa e pagar as contas. A estudante de jornalismo Loraynne Burjaily, 17 anos, veio da cidade de Ponte Nova, na Zona da Mata, para estudar na capital mineira. Inicialmente, um dos primeiros desafios foi a aceitação da própria mãe. "Meu pai sempre aceitou numa boa, mas com a minha mãe foi bem mais difícil. Ela queria que eu estudasse em Viçosa, pela
proximidade de Ponte Nova, e pelo fato de que eu poderia ir para casa todos os finais de semana. Acho que depois de um tempo ela se acostumou com a ideia. Não sei se é pelo fato de eu ser filha única, mas ela tenta me proteger de tudo", conta. Nessa caminhada, distante de rostos conhecidos, os jovens precisam escolher entre ter ou não total privacidade. É aí que entra o papel das repúblicas. Esses locais, em que quartos são alugados para estudantes, são comumente procurados por terem preço mais acessível, segurança e ambiente geralmente movimentado e familiar. "Já é meu segundo ano em república e acho bastante cômodo morar com várias pessoas, aprendo muitas coisas da casa", diz o estudante de ciências biológicas Diogo Rocha, que mora no Bairro Coração Eucarístico em Belo Horizonte. Ele ainda completa que, apesar da desorganização de uma república só para homens, existem algumas regras que devem ser seguidas. "Cada um deve arrumar o que desorganizou para não ter que arrumar
toda a casa depois", explica. "E nada de comer o que o outro comprou só porque está na geladeira", acrescenta, sorrindo. Loraynne também fala sobre a dinâmica de onde vive. "Eu moro em uma república só para meninas e a minha experiência, apesar dos apertos, é muito boa. Eu pago o aluguel e nele já está incluso água e internet. A luz dividimos igualmente entre todas. Como aqui é pequeno, não se tem muita coisa pra fazer, apenas arrumar a cozinha, limpar o banheiro e cada uma cuida da limpeza do próprio quarto", explica. A estudante ainda dá uma dica para quem quer seguir seus passos. "O mais importante é que aprendam a cozinhar, porque é horrível comer arroz duro e carne salgada (risos). Para morar com outras pessoas, como é o meu caso, é preciso ter jogo de cintura e saber relevar algumas coisas", finaliza. Para a psicóloga Gabriela Araújo Medeiros, 41 anos, professora de Psicopatologia e Psicologia e Educação na PUC Minas, esse momento representa um rito de passagem em que o
sujeito é convocado a responder pela sua própria vida. Ele sai da condição de "protegido" para a condição de adulto que responde pelos seus próprios atos. Para ela, esse momento traz uma dimensão de grande conquista, de independência e liberdade, possibilitando um forte crescimento. Mas tudo isso, ao mesmo tempo, representa uma experiência geradora de uma angústia muito grande. "Ser responsável pela própria vida é arcar com todo o ônus e o bônus dessa condição; responsabilizar-se pelos seus sucessos e fracassos, e isso não é fácil", aponta. "Achei que ia ser libertador, que eu teria meu próprio espaço, mas depois foi o contrário. Sinto falta da comida da mamãe. Também sinto falta do final de semana com a família, de almoçar fora, ir à locadora. Sinto falta do meu cachorro", desabafa Yasmin Viana Pinto, 19 anos, estudante de ciências biológicas e que há um ano saiu de Oliveira, no Sudeste de Minas, para morar em Belo Horizonte. Para Yasmin não foi fácil se adaptar a tarefas como colocar o lixo para fora,
pegar correspondência e lidar com barulho de uma cidade grande. "Eu sempre morei em casa, agora moro em apartamento, tem que ter cuidado com som alto, com tudo que faço, para não incomodar os vizinhos. E tem que aguentar os vizinhos chatos também", relata. Segundo ela, também existem pontos positivos nessa nova vida. "Aprendi a ser mais independente, a me organizar em questão de tempo e na minha vida acadêmica. Estou estudando mais, aprendendo a ser mais responsável e a me virar sozinha", pondera. Vindo da Guiné-Bissau
para o Brasil em 2009, Nilo Gomes, 24, que está em Belo Horizonte há quatro anos. Atualmente, cursa o 5º período de Publicidade e Propaganda. Segundo ele, o pai sempre o incentivou a estudar em algum outro lugar no mundo. "Ele falou: Você tem que saber cuidar de você sozinho", relembra. Nilo diz que foi muito legal essa mudança, pois antes não fazia nada. "Se não tinha comida, eu brigava. Hoje vejo como é difícil fazer tudo ao mesmo tempo. Temos que respeitar as coisas que os outros fazem pela gente", admite. GABRIELLE ASSIS
Apesar da saudade de casa, Yasmin aprendeu a ser mais independente
Cidade Abril • 2013
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SEM LIXO E COM NOVOS DESAFIOS Desativado há mais de cinco anos, antigo aterro sanitário da capital deixa lembranças diferentes nos moradores do entorno, que dividem opiniões sobre melhoria na qualidade de vida RAQUEL DUTRA
n CAROLINA SANCHES 5º PERÍODO
"Isso aqui era um pasto, era uma maravilha, você podia plantar uma roça que ninguém mexia. Poxa vida, eu me sentia no interior", relembra Raimundo dos Santos, aos 73 anos. Quando se mudou para o Bairro Jardim Filadélfia, em 1968, vindo da cidade de Goiabal, o que encontrou foi uma área tranquila, com poucos vizinhos, semelhante a áreas rurais. De lá para cá, Raimundo viu a vizinhança mudar drasticamente, acompanhou a instalação, estruturação, funcionamento e desativação do Aterro Sanitário de Belo Horizonte, às margens da BR040. A desapropriação da Fazenda Coqueiral, decretada pela Prefeitura de Belo Horizonte em 1972, foi feita a partir de um estudo da região elaborado pelo primeiro Plano Diretor de Limpeza Urbana, que identificou áreas para destinação final dos resíduos sólidos gerados na capital. "Começou com pouca coisa, (a Prefeitura) disse que era só para fazer adubo, aí depois eles começaram a colocar o lixo", relata Raimundo,
que acompanhou os primeiros caminhões chegarem ao local, em 1975. Sem que a população local fosse avisada ou mesmo participasse da decisão de utilizar a área, o lixo começou a ser depositado. "A densidade demográfica na região era baixa, não justificando a realização de trabalhos com aquelas pessoas que residiam próximo à Fazenda Coqueiros e Licuri", explicou, por meio de nota, a assessoria da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). A falta de estrutura do aterro sanitário afetava diretamente a vida da vizinhança. "Não tinha muro, era uma cerca de arame, dava muita 'berneira', muita catinga. Nós tivemos que reivindicar o muro na Prefeitura, foi uma luta", conta Raimundo. Além da área ser aberta, a região não tinha infraestrutura. Segundo o morador, há aproximadamente 20 anos a região recebeu calçamento, luz e água. "A gente tinha que buscar água num poço na casa do vizinho, lá em baixo", conta Raimundo, que se via obrigado a encarar o risco de utilizar água contaminada pelo lixo. Em uma área de 114,9 hectares, o aterro faz divisa com sete bairros,
além do Jardim Filadélfia, os bairros Pindorama e Glória têm ruas e casas que dão diretamente no muro que delimita o aterro. Enquanto que os bairros Álvaro Camargos, Novo Dom Bosco, Suvaco da Cobra e Conjunto Califórnia II, estão separados por uma área ociosa, com árvores que em muitos casos barram o vento com mau cheiro. Próximo a uma das saídas do aterro no Bairro Pindorama, Reginaldo Coelho Silveira, 45 anos, há 15 morador da região, se sente aliviado com a desativação do local. "Isso aqui fedia muito e sempre aparecia rato", relata. Ainda segundo Reginaldo, não havia nenhum tipo de assistência da Prefeitura, só com a desativação passaram a fazer um trabalho periódico para controlar a infestação de ratos e escorpiões. Nem todos os moradores, no entanto, comemoraram o fim das atividades. Izabel Cristina, 25 anos, há 12 ajuda a família no comércio que possui em frente à entrada principal dos caminhões e funcionários. O restaurante, que serve almoço e lanches, foi esvaziado, desde que diminuíram as atividades do aterro. "Meu comércio gira em torno do movimento do aterro, o fluxo diminuiu bastante", relata. Quanto à qualidade de
A família de Raimundo dos Santos (ao centro) é vizinha do extinto Aterro Sanitário desde a sua instalação vida, Izabel não vê tanta mudança. Em frente ao seu restaurante há uma barreira de árvores, que impede o vento com mau cheiro de chegar ao local. "Sinceramente, não mudou em nada a qualidade de vida. Era muito organizado, o mau cheiro que vem é da compostagem e ele continua", comenta. No mesmo local onde funciona o comércio de Izabel, José Rodrigues dos Reis manteve por muitos anos também um restaurante. Morador da região desde 1985 preferiu fechar as portas, a conviver com a diminuição do fluxo de clientes. Além da própria casa,
José Rodrigues tem uma outra anexa à dele, a proximidade com o aterro não foi problema para mantêla alugada. Ainda segundo ele, o principal transtorno causado pelo aterro eram os mosquitos, que diminuíram com a desativação. "Para a gente sobreviver aqui o que atrapalhava mesmo eram os mosquitos, em questão de cheiro não tínhamos problema", comenta. O fluxo de caminhões que por um lado era bom por trazer clientes ao comércio, por outro atrapalhava o trânsito do bairro. Com a entrada principal a aproximadamente um quilômetro da BR040, o gran-
de número de caminhões que entrava e saía do bairro causava retenção. Desde que o aterro foi desativado, existe uma Estação de Transbordo, que tem por objetivo melhorar as condições de transporte dos resíduos sólidos coletados em Belo Horizonte. Levando-se em consideração a distância entre os locais de coleta e o de destino final para aterragem, localizado em Sabará. O lixo compactado por caminhões que tem capacidade para 15m3, são transferidos para carretas que transportam o equivalente a três caminhões.
RAQUEL DUTRA
Local produz biogás e adubo As atividades no local não foram completamente encerradas. Uma delas, a liberação de gás metano produzida a partir da decomposição dos 24 milhões m3 de resíduos, deve continuar ainda por muitos anos. Uma montanha de 65 metros de altura, facilmente visualizada nas proximidades do aterro, deixa claro quanto lixo foi despejado no local. O biogás, produzido no local, é utilizado como combustível para fazer funcionar três motores capazes de gerar energia elétrica de 1,426 MW cada, totalizando 4,278 de potência, o suficiente para abastecer até 20 mil casas de consumo inferior a 100KWh/mês. Uma Central de Aproveitamento Energético do Biogás foi construída, uma empresa, escolhida em licitação da
Prefeitura, conseguiu a concessão para explorar o local durante 15 anos. Desde 2011, existe no local uma Estação de Reciclagem de Entulho, em que restos de material de construção são triados e britados mecanicamente, transformando-se em agregados reciclados para uso em obras públicas. Esse material substitui a brita e a areia em diversas aplicações na construção civil em especial. Na área existe ainda um programa de compostagem, no qual dejetos orgânicos são transformados em adubo para parques e praças da cidade. A matéria prima vem da parceria com supermercados e feiras, e utiliza principalmente frutas e verduras não consumíveis.
Extinção do aterro reduziu número de caminhões que ainda transitam pela Avenida Amintas Jacques de Moraes
Projeto socializa crianças e jovens com a música n PEDRO FONSECA 3° PERÍODO
Há 14 anos em atividade, o projeto sociocultural Sonoro Despertar oferece aulas gratuitas de flautas para cerca de 140 jovens do Bairro Maria Goretti, Região Nordeste de Belo Horizonte. O que inicialmente seria um pequeno coral infantil, o projeto ganhou reforço das aulas de flauta ministradas pela maestrina Celeste Almeida e se transformou. As aulas acontecem sempre nos turnos da noite, em dias separados por níveis de aprendizado e as inscrições são feitas nos meses de fevereiro e março de cada ano.
Segundo a maestrina não há seleção, o único pré-requisito é que a criança seja alfabetizada. "Não interessa a habilidade musical, mas tem coisas muito específicas do projeto, como frequência obrigatória, pontualidade, estudar em casa. Nós temos um relação muito estreita com as famílias, porque quando a criança vai bem aqui e não vai na escola tem alguma coisa errada, a partir daí nós interferimos para ajudar estes meninos, porque quando se fala em educação é global”, revela Celeste. O padre Jésus Guergué, 70 anos, da Paróquia São Marcos, que fica também no mesmo Bairro, foi o responsável pela
criação do grupo e conta que o retorno tem sido bastante positivo por parte dos pais e alunos, que começam no projeto por volta de sete anos e saem quando atingem a maioridade. "É uma proposta educativa muito simples, mas que depois foi mostrando que tinha perspectivas de muito mais que simplesmente um grupo de crianças", afirma padre Guergué. Segundo ele, esse projeto pode ser reproduzido em outros lugares, desde que sejam obedecidos critérios básicos: infraestrutura, disciplina e dedicação. Mãe de Pedro Augusto, 8 anos, Tamara Fernandes, 26, se diz muito satisfeita com o
desenvolvimento do filho em relação á disciplina em casa e na escola. "Ele está menos tímido", conta. Orgulhosa, contou que Pedro com apenas um ano de aula, tocou flauta na cerimônia do seu casamento, em novembro passado. Pedro Augusto, segundo a maestrina Celeste Almeida, está indo agora para o segundo nível de aprendizagem. “Quando começam a ler partituras", informa. Segundo a maestrina, por volta de 16 ou 17 anos os alunos já têm conhecimento suficiente para optar pela careira na música. São os casos de cinco alunos, que fazem cursos na UFMG e UEMG. Celeste destaca tam-
bém a importância da parceria com a PUC Minas. "Poder comungar do mesmo pensamento, 'A educação como um meio de transformação social', é muito significativo e muito especial". Mãe de Gabriela, que há um ano integra o projeto, Lúcia Rodrigues elogia a iniciativa. "As apresentações que eles fazem são todas muito boas, com muita disciplina o que é essencial, de uma forma geral nós vemos que todas as crianças são apaixonadas pelo projeto, então não é só a música, é uma estrutura global”, diz. “Elas têm que ir bem na escola, ir bem aqui e ter a disciplina de treinar em casa, é tudo maravilhoso".
A maestrina Celeste conta que cresceu muito como pessoa, com o projeto, por ser um trabalho de muita doação. “É um objeto de transformação social, porque culturalmente tem feito muito pela região", afirma. Ariane de Souza, 21 anos, professora e monitora, compartilha do sentimento de "crescimento". "Aprendi muito com eles (padre Guergué e Celeste), não só na música, mas como viver daqui para fora", diz. Ariane começou no projeto aos 8 anos e concluiu no último mês de dezembro a licenciatura em música. Ela revela que o projeto foi fundamental para superar o problema de timidez.
14Saúde
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Abril • 2013
ALERTA SOBRE RISCO DA DENGUE Com objetivo de mobilizar a população, a Secretaria Municipal de Saúde coloca faixas sobre a prevenção da doença, alertando a população de bairros com altos índices de contaminação RAQUEL DUTRA
n THIAGO ANTUNES 6º PERÍODO
Nos meses de janeiro e fevereiro de 2013, Belo Horizonte registrou 606 casos de dengue, número superior aos 585 contabilizados em todo o ano passado. Com o objetivo de mobilizar a população da capital mineira, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afixou faixas na entrada dos bairros com maiores incidências da doença. "As faixas estão distribuídas nas regiões de maior risco, como Pampulha, Venda Nova e Norte do município", explica Maria Tereza Oliveira, 57 anos, gerente de vigilância em saúde da SMS. Embora seja uma doença sazonal, o contágio pela dengue é possível durante todo o ano, mas é no verão que os casos se espalham. Por causa da ocorrência de chuvas rápidas e temperaturas acima de 20ºC por toda a estação, os ovos do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da doença, eclodem. "Temos um ovo que pode ficar em espera por 300, 400 dias e com a chegada da chuva e do calor, eclodir por todo o município", relata Maria Oliveira. Este ano, outro motivo para o rápido crescimento da doença é conhecido: o retorno do sorotipo quatro. Uma versão mais branda, mas que assim como os outros sorotipos pode chegar à causar hemorragias ou a morte. Para o combate ao cresci-
mento da doença, a Prefeitura de Belo Horizonte reforça as equipes de Agentes de Combate a Endemias (ACE), com a contratação de 287 novos agentes, mas só a ação direta dos órgãos públicos não é suficiente para erradicar a doença. A conscientização e a mobilização da população são necessários para esse fim. "A ideia é chamar atenção de forma organizada. E com as faixas reforçar esse chamamento da população para a situação do seu bairro", explica Maria Oliveira. Hanriet Vasconcelos, 51 anos, proprietária de uma padaria no bairro Coração Eucarístico, próximo à divisa com o Bairro Minas Brasil e à Villa São Vicente, fala sobre a repercussão da faixa entre os moradores. "O povo ficou meio assustado, porque pensou que aqui não tinha dengue, o pessoal mais velho principalmente", relata. Mas nem tudo acontece da maneira prevista. As faixas espalhadas por Belo Horizonte, estão esbarrando na própria rotina dos cidadãos. "Infelizmente as pessoas têm preguiça de ler. A faixa ajuda, mas tem que ser uma coisa falada", argumenta Vitra Vilela Chaves, 60 anos, comerciante da Feira Coberta do Padre Eustáquio (Fecope) e moradora do bairro de uma das regiões mais afetadas pela dengue, a Noroeste. Esta falta de hábito da leitura da
população, associada a uma faixa para eles pouco chamativa, inibe a mobilização. Em contrapartida, o crescimento da dengue contribui com um novo hábito nas horas de presentear os amigos no bairro Padre Eustáquio. "Já aconteceu várias vezes. Há uns dez minutos atrás tinha uma cliente que falou que estava com dengue e saiu daqui com duas raquetes, daquelas elétricas. Uma até para dar como presente", conta Vitra. Outro problema foi apontado pelos moradores da Pampulha. A imagem negativa que a faixa traz ao seu bairro. Para eles o riscos indicado pelas faixas desvaloriza seus imóveis. Reações contra as faixas também puderam ser vista no Bairro Coração Eurístico, na Região Noroeste da capital. "Eu chego aqui 2 horas da manhã e só sai as 8 horas da noite e não vi quem arrancou a faixa. É uma pena, ela não chegou a ficar nem três dias aqui", reclama Hanriet. Já um morador, que preferiu não se identificar, brinca com a frase escrita na faixa: Este bairro apresenta alto risco para a dengue - não deixe água parada. "Fica parecendo que a dengue que tem que tomar cuidado com a gente", ironiza.
Assim como no Padre Eustáquio, faixas são colocadas em bairros com maior risco de Dengue, em diferentes regiões
BH em evento mundial Por indicação do Ministério da Saúde, as cidades de Belo Horizonte e de Goiânia, foram selecionadas por sua eficiência no combate à dengue para representar o Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) que é a executora do programa, apoia esforços globais para combater as doenças tropicais que atingem em grande escala a população, como é o caso da dengue. A reunião Special Programme for Research and Training in Tropical Diseases (TDR), literalmente Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais, foi realizada em 5 de março, na cidade
de Fortaleza e os representantes de Belo Horizonte participaram da Avaliação dos Projetos de Pesquisa em Dengue. Em 60 dias, Belo Horizonte deve apresentar um protocolo de soluções com a colaboração do Ministério da Saúde ao TDR. Para o Secretário Municipal Adjunto de Saúde, Fabiano Geraldo Pimenta Júnior, 52 anos, a capital só conseguiu o destaque no combate à doença, devido às parcerias intersetoriais, como as faixas distribuídas nas áreas de risco da cidade, o Mobiliza SUS, atividades realizadas em escolas municipais em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação,
entre outras ações. Outra medida são as pesquisas que estão sendo desenvolvidas. "Do ponto de vista laboratorial há medidas já testadas, então passaríamos a uma aplicação em campo, com um combate específico a cada região", afirma. Os dados da Prefeitura de Belo Horizonte mostram que as ações estão fazendo a diferença. Com 51.755 casos registrados em 2010, o município teve uma brusca diminuição e passou a ter 585 em 2012. "Não temos vacina ou qualquer forma de controle fora o controle larvário", afirma Fabiano Pimenta Júnior, explicando a necessidade da mobilização social. ANA CLÁUDIA DOS SANTOS
População quer mais médicos n ÁLVARO CÉSAR RAPHAEL PARREIRA JOÃO MARTINS 2º PERÍODO
Grandes filas diárias e pacientes obrigados a aguardar por meses para conseguir atendimento especializado. Essa é a realidade do Posto de Saúde do Bairro São Gabriel, que não é muito distante da encontrada nos outros 146 centros atendidos pela rede SUS-BH. Técnica em logística, Alessandra Araújo, 40 anos, tenta, sem sucesso, marcar há três meses consulta com um dermatologista. "Nós levamos nosso pedido na janelinha aqui do posto, onde são feitos os agendamentos e ficamos aguardando o contato, que nunca vem, enquanto isso nosso caso vai só piorando. Conheço casos de pessoas que morreram esperando o agendamento sem sucesso", afirma a moradora do São Gabriel. Para a cobradora de
ônibus Marilúcia da Paixão Silva, 27 anos, também moradora da região, o problema não se restringe à dificuldade de marcação de consultas com médicos especialistas. "Faltam médicos até na equipe que deveria compor o quadro básico de atendimento. Muitas vezes somos atendidos por enfermeiros", garante Marilúcia. "A prefeitura está preocupada é com a aparência, a estrutura física, lá dentro tem TV LCD, cadeiras novas, bebedouro, mas gente para atender mesmo que é bom, falta", acrescenta. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio de nota encaminhada por sua Assessoria de Comunicação, os Centros de Saúde estão preparados para atenderem às demandas espontâneas dos pacientes no mesmo dia. Os pacientes que podem esperar por atendimento são agendados de acordo com a demanda da unidade.
Ainda, segundo a PBH, caso o médico do Centro de Saúde identifique que o paciente precisa de um atendimento especializado, é feito um encaminhamento para a rede. A Rede SUS-BH conta com cinco Unidades de Referência Secundária (URSs) e nove Centros de Especialidades Médicas (CEMs). Essas unidades fazem o atendimento especializado, que, na prática, é reclamado por alguns pacientes. A Prefeitura, ainda por meio de sua nota, reconhece que entre os profissionais especializados os mais escassos são cardiologistas, ultrassonografistas e neurologistas. Além do centro de saúde, o paciente também pode recorrer à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), localizada no Bairro Primeiro de Maio, que é a mais próxima do São Gabriel. As UPAs trabalham com o Protocolo de Manchester, cujo objeti-
Demora para marcação de consultas especializadas é reclamação comum aos usuários do Posto do São Gabriel vo é estabelecer a prioridade para atenção médica de acordo com a gravidade do caso de cada paciente avaliado. O método usa cinco cores para priorizar o atendimento: vermelha (emergência), laranja (muito urgente), amarelo (urgente), verde (pouco urgente) e azul (casos menos graves). Todos os pacientes que procuram atendimento na UPA passam pela classificação. Se é percebida a necessidade de um médico especialista, porém, o
paciente é encaminhado ao centro de saúde mais próximo para que seja feito o agendamento, que, muitas vezes, pode demorar. O pedreiro Welbert, de 31 anos, que não informou o sobrenome, conta que depois de ser diagnosticado com tendinite na UPA foi medicado e liberado. "Mas em pouco tempo o problema voltou. Quando procurei novamente a unidade me disseram que aqui eles não atendem meu caso, que eu sou classifi-
cação azul, enquanto isso meu braço está inchado, doendo, inflamado", afirma. Segundo ele, a solução seria procurar um posto de saúde para conseguir encaminhamento para realizar uma radiografia. "Depois eu tenho que ir em outro médico para agendar um atendimento. Isso é uma tremenda falta de respeito, uma unidade desse porte cheia de pessoas do lado de fora passando mal, esperando atendimento", diz.
Cultura Abril • 2013
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MÚSICA AMPLIA HORIZONTE CULTURAL Centros Culturais da capital recebem projeto Horizontes Musicais, com apresentações que vão de MPB ao clássico. A primeira parte do projeto tem o violão como destaque instrumental FELIPE GROSSI
n LAURA RAMOS FELIPE GROSSI 1° PERÍODO
Música, de graça, em diferentes centros culturais da cidade. Projeto da Fundação Municipal de Cultura, o "Horizontes Musicais" surgiu da disponibilidade de diversos espaços que eram destinados à cultura, mas não eram até então ocupados pela música. Organizado pelo músico Stanley Fernandes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e técnico de nível superior da área de música na entidade, a proposta é bem simples e eficaz: levar ao público uma mostra de arte na música a qual a maior parte da população não tem acesso. "É apenas justo que se dê ao público de Belo Horizonte a oportunidade de usufruir da excelência musical feita na cidade, por grandes artistas", diz Stanley. A pretensão é que a iniciativa se torne permanente. Na primeira, realizada nos meses de fevereiro e março, houve a participação de seis centros culturais espalhados por diversas regiões da cidade, com a realização de 30 concertos. Alguns desses centros já são palcos de outros projetos de cultura, porém esse é o primeiro inteiramente voltado para a música. Nessa primeira série de concertos, o violão é o foco. Segundo Stanley, a escolha pelo instrumento se deu em razão da qua-
Apresentação do duo Araujo-Reis no Centro Cultural Regina marcou a abertura do projeto Horizontes Musicais lidade dos violonistas mineiros e por fazer parte da identidade nacional. Diversos artistas mineiros foram convidados para participar, como forma de valorizar a riqueza local, pois eles são grandes conhecedores do assunto, em diversos estilos. O material usado foi escolhido a dedo pelos seus organizadores em conjunto com os músicos. A proposta é transitar da MPB à Renascença Europeia. E levar, também, mais conhecimento aos seus espectadores, por meio de bate-papos totalmente interativos, com materiais didáticos que vão dos slides às
explicações sobre a vida e obras dos compositores escolhidos. Cada artista conta um pouco do seu repertório em uma conversa descontraída com a plateia. O lançamento do projeto, em 19 de fevereiro no Palácio das Artes, teve como padrinho o violonista mineiro Juarez Moreira. "Ainda não temos uma estimativa numérica, porém estamos bem animados com as apresentações e a boa aceitação do público de uma forma geral. Contamos com a ajuda da mídia sim, mas o mais importante é mesmo o boca a boca, para que as próximas apresentações
tenham um público cada vez maior", diz Stanley. "Até o final do ano teremos mais apresentações e contamos com um aumento gradativo do público, até porque a intenção é diversificar cada vez mais os instrumentos e os artistas", acrescenta. Lucas Telles, um dos músicos que se apresentou no Centro Cultural Lagoa do Nado, mostrou-se bastante interessado no projeto e revela estar gostando muito de todas as apresentações. Ele diz que é um grande prazer poder fazer parte do pioneiro Horizontes Musicais e espera ter a oportunidade de fazer
outras participações. "O público é bastante diversificado em idade, porém tem muito interesse em ouvir", comenta. Para Larissa Cotta, assistir ao concerto foi uma experiência inédita. "É diferente e inspirador ouvir esse tipo de música, sai do cotidiano das músicas mais agitadas e relaxa. É maravilhoso ter esse acesso a boa música e de graça", diz. "Quero ir a outros se tiver oportunidade e levar meus amigos", afirma. Na apresentação do duo Araujo-Reis no Centro Cultural Lindeia Regina, que se localiza no Bairro Regina, o público pode conhecer o trabalho de Radamés Gnattali, grande amigo de Tom Jobim. Segundo o músico Leonardo Araujo Alves, se não fosse por Radamés “talvez a Garota de Ipanema não existisse”. “Foi Radamés quem convenceu Tom Jobim a permanecer no Brasil quando Tom pretendia ir estudar na Europa", conta o músico Leonardo Araújo Alves. Além de executar movimentos que variaram do Choro à Valsa o duo Araujo-Reis também exibiu fotografias, entrevistas em vídeo e canções através de uma caixa de som e um projetor, iluminando a antes desconhecida, porém ilustre, contribuição de Radamés para a música popular brasileira. Com a casa cheia e um público aproximado de 50 pessoas, Fernanda Evangelista
declara que "foi tudo novidade para ela e sua turma" de adolescentes que também não conheciam o Radamés. Estão previstos outros projetos para este ano. O próximo será lançado no CCBH/ Centro de Referência da Moda, com o apoio de Marta Guerra, a responsável pelo centro, que está bastante animada com a nova mostra. Eles ainda não definiram o nome nem o que será apresentado, mas já preveem um número dobrado de espectadores. A estratégia é diversificar os instrumentos para agradar a todos os públicos e manter esse projeto como permanente. Para se conhecer as datas e horários das próximas mostras o público pode entrar em contato com a Fundação Municipal de Cultura ou acessar o site www.belohorizonte.mg.gov.br. Além de se divertir com o melhor da música, os frequentadores poderão conhecer lugares novos e belos, pois uma das ideias desse projeto é mesmo a interação das regiões. "A nossa ideia é não só levar uma boa música mas também fazer com que o público visite mais os outros espaços culturais e usufruam mais do que está disponível para a população", afirma Stanley.
Músicos autorais buscam espaço em Belo Horizonte LUISA SENNA
n ISABELLE RÊDA LUISA SENNA 3º PERÍODO
Com o objetivo de trazer grandes artistas autorais para o conhecimento do público, os músicos Bruno Coimbra, 28 anos, Leonardo Fox, 29, e Gustavo Lacerda, idealizaram o Movimento Autoral de Belo Horizonte (Mova BH) que começou a realizar atividades no mês de março. De acordo com Bruno Coimbra, o Mova BH possui como cunho principal conseguir abrir espaço real para os músicos que criam, os chamados músicos autorais. O movimento consiste em analisar materiais de bandas com composições próprias, não se importando com o gênero musical e, uma vez que aprovadas, os membros do projeto criarão parcerias com estúdios, produtores, fotógrafos e jornalistas para que um material de qualidade seja produzido e divulgado. No entanto, as ban-
Bruno Coimbra, um dos idelizadores do movimento Mova BH, que pretende divulgar o trabalho autoral na capital das que ainda não possuírem um trabalho tão qualificado, também terão ajuda no sentido de perceber a necessidade da profissionalização, mesmo que no âmbito independente de produção musical. O movimento teve início nas redes sociais e, hoje, possui um grupo privado no Facebook com aproximadamente 540 pessoas. No dia 5 de fevereiro, ocorreu a primeira reunião presen-
cial do movimento. Para a surpresa dos idealizadores, o evento reuniu cerca de 110 pessoas envolvidas efetivamente no projeto. O nome Mova BH foi sugerido por um dos membros e aprovado por unanimidade. Um estatuto está sendo criado para que o projeto possa de fato exercer suas atividades e nomeará cargos como o de presidente. Segundo Bruno Coimbra, o estatuto tam-
bém estabecelerá em que tipo de entidade o movimento se enquadra. "O mais próximo do que nós queremos fazer está entre uma sociedade ou uma associação", diz. Em Belo Horizonte, de acordo com Bruno Coimbra, muitas pessoas reclamam da falta de espaço para a realização de eventos culturais, enquanto na verdade existem cerca de 50 parques e 65 praças públicas. Ele diz também que
há maior interesse das casas de show em bandas cover, ao passo que as bandas autorais não têm tanto espaço "As casas de show são explicitamente voltadas para o cover visto que é um produto de mercado mais fácil de ser comercializado", afirma. Um teaser, que consiste em um poema escrito por Bruno Coimbra, será gravado no dia 10 de março para que o movimento comece a ser divulgado. "Se as pessoas se interessarem, a mídia se interessa", diz Bruno. A gravação será realizada em 14 pontos de Belo Horizonte, entre eles a Praça da Liberdade e ao ser finalizado, será divulgado na internet, mais precisamente na página do movimento no F a c e b o o k (http://www.facebook.co m/movabh). E caso a mídia se interesse, poderá ser divulgado também em emissoras de TV e em outros veículos de comunicação. Inicialmente, o Mova
BH está sendo financiado pelos próprios idealizadores. Com sua divulgação, a intenção dos integrantes é que os eventos realizados pelo movimento obtenham lucro necessário para seu financiamento. Bruno Coimbra diz que o movimento buscará realizar eventos como pocket shows acústicos ou semi-acústicos todos os finais de semana, nos mais diversos espaços públicos da cidade, para que assim possam cobrir os gastos dos shows em bares e em casas especializadas. Pretendem, também, realizar parcerias com instituições e com a Prefeitura de Belo Horizonte, e quando adquirirem atenção da mídia irão buscar patrocínio privado. A intenção do movimento de unir os músicos mineiros está explícita em seu slogan "Conheça, Curta, Compartilhe, Compareça, MOVA-SE!".
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Wilson Baptista
Entrevista
FOTÓGRAFO jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco
n Como a fotografia entrou na vida do senhor? Comecei com uma maquininha de caixote em 1926, um colega meu de ginásio me vendeu uma máquina, por 25 mil réis na época. Eu nasci em 1913, ai comecei a fotografar por diversão, fotografia do pessoal da família e dos lugares que ia. Os meus avós moravam em Santa Luzia (Região Metropolitana de Belo Horizonte), eu ia lá com muita frequência e tinha possibilidade de fotografar coisas que achava bonitas. Fui gostando daquilo e comprando uma máquina melhor, com melhor qualidade, uma que me custou oito meses do meu salário na Prefeitura, era chamada de Rolls Royce das máquinas. Tenho ela funcionando até hoje. Com ela fui a Ouro Preto, e bati uma série de fotografias, nessa ocasião eu trabalhava no Gabinete da Prefeitura, como taquígrafo, que foi outra de minhas atividades como profissão. Aí mostrei ao meu chefe de gabinete as fotografias que eu havia feito, ele gostou e me incentivou. Nesse meio tempo, teve um congresso de municípios e ele queria que eu fizesse o álbum de Belo Horizonte, porque os que estavam vindo de outros municípios eram umas coisinhas muito ruinzinhas. Eu recusei e disse 'não sou profissional, não posso fazer isso'. Mas ele disse: 'para fazer esse álbum não especificam que precisa ser profissional, é só fazer um álbum e suas fotos são melhores que essas, faça fotos de BH e vamos ver o que acontece'. Me pediram 10 eu apresentei 30 escolheram 24. Bom, esse foi um dos dois trabalhos que eu fiz como fotógrafo profissional. n Em algum momento ficou difícil conciliar hobby e profissão? A coisa era a seguinte: eu trabalhava oito horas por dia durante a semana e domingo eu ia fotografar. Quando acontecia alguma coisa importante em que eu pudesse num intervalo fazer, eu fazia. Agora à noite, eu ia para a câmara escura, que era do tempo da fotografia de laboratório, que alias, eu sinto falta, porque aquela mágica da gente vendo aquela imagem surgindo era uma maravilha. n O laboratório era na sua casa mesmo? Era. Eu morava na Avenida Barbacena. Quando a casa foi feita, ficou um lugar lá que estava sendo aterrado, ai eu pedi para deixarem a laje mais forte e fazerem um cômodo. Me disseram que não tinha como, mas eu fui à Prefeitura, fiz tudo direitinho e fiz a câmara escura ali. Era um quarto pequeno tinha 4x5 de profundidade, e com água, luz, tudo necessário para o laboratório, mas o dinheiro era sempre muito curto. Eu sempre perguntava quanto custava o equipamento, como ele era caro, então, eu ia até minha oficina e fazia um que servia bem para o que eu precisava. Fiz uma série de equipamentos assim, brinquei para valer. n Como foi para o senhor ao longo dos anos, acompanhar essa evolução dos equipamentos? A gente recebia sempre as revistas, e tinha o Elias, que montou a loja dele (Foto Elias) muito bem montada, com muitos equipamentos, e a gente via lá como eles eram. Às vezes quando era possível ele emprestava, mas quando era um que não era possível emprestar, a gente fazia. O primeiro ampliador que eu usei foi feito por mim. Eu fiz. E trabalhei com ele, fazendo fotografias razoáveis. n Ao longo dos anos o nome do senhor foi ficando conhecido no ramo da fotografia? Em 1951, reunimos uma turma e formamos um foto clube em BH. Eu, José Pinheiro Silva, que era comerciante, o Levi Cunha, que era comerciário e o
ÍGOR
PASSARINI
UMA PAIXÃO QUE EXCEDE AS BARREIRAS DO TEMPO ANA LUÍSA PERDIGÃO, JULIANA SILVEIRA 2º E 3º PERÍODOS
Um homem visionário e à frente do seu tempo, que sempre construiu seus equipamentos e que ainda hoje digitaliza as próprias fotos. É dessa forma que Wilson Baptista se mostrou, durante toda sua vida. Pai e avô dedicado, marido exemplar e com muita energia para novas experiências durante seus quase 100 anos, idade que completará dentro de seis meses. Em março deste ano, o fotógrafo foi um dos nomes homenageados pelo 3º Festival de Fotografia de Tiradentes - Foto em pauta. A mostra "Wilson Baptista, um fotógrafo Modernista em Minas Gerais", descreve como ele estava à frente de seu tempo, e como suas fotografias retratam uma Belo Horizonte conhecida por poucos. Wilson diz que a fotografia sempre foi um hobby levado a sério, apesar de nunca ter pensado em seguir uma carreira profissional como fotógrafo. Formou-se em Direito, foi funcionário público e dono de cartório. "A fotografia foi um hobby, como tiro ao alvo foi um hobby, como a esgrima, como várias outras coisas que fiz", revela Wilson que começou a fotografar em 1932, e registrou momentos importantes da história de Belo Horizonte, como a inauguração das avenidas Antônio Carlos e Amazonas e a construção do Conjunto JK, do Colégio Estadual Central e do edifício-sede do Bemge. Participou ainda de concursos, como o realizado na Argentina, onde concorreram fotógrafos de 14 países. "Eu trouxe de melhor fotografia brasileira, melhor fotografia de atletismo e medalha de ouro do salão. Uma mesma fotografia premiada com essas três coisas", lembra.
José Horta, funcionário do Banco do Brasil. Eu fiquei conhecido dentro do círculo de fotógrafos amadores e dos fotógrafos de BH e fui presidente do Foto Clube por dois ou três períodos. Depois, com a mudança de direção, houve uma mudança de orientação e o foto clube foi perdendo um pouco a importância, e fui cansando também porque aconteceu uma coisa um pouco muito estranha, porque minhas fotografias começaram a não serem aceitas nos concursos interclubes. Houve até o caso de um foto clube do interior de são Paulo, que nós mandamos 28 fotografias, cada concorrente mandava quatro fotos, todas as fotografias eram aceitas, menos as minhas. Aquilo doeu. Não gostei, estou ultrapassado, parei. Passado uns tempos, passei a ver fotografias dos tipos das minhas ganhando concurso internacional, então eu pensei "não estou ultrapassado, eu estou é a frente do meu tempo", mas guardei isso para mim e fui tocando. Em 1989, houve uma comemoração em Santa Luzia, o aniversário da cidade, e me perguntaram se eu tinha algumas fotografias
para uma exposição que iriam fazer, de Dom Quixote, porque estava lutanescolhi e enviei, quando eu só haviam do por causas perdidas, hoje, está tudo fotografias minhas, foi praticamente a regulado por Lei Federal. 1° individual minha. Em 87, quando BH fez 90 anos, também me pediram n Como o senhor fotos pra completar uma coleção no começou a utilizar computadores? museu mineiro, fui lá ver tinha 24 fotografias expostas, 20 eram minhas. Um filho meu é formado em informátiEu comecei a ficar meio assustado com ca e foi trabalhar naqueles computaaquilo, uma foto que eu nem dava dores gigantes, barulhentos. A IBM valor, no centro da exposição destaca- lançou um computador do tamanho de da. Depois a única exposição de inicia- uma mesa e fez uma propaganda. Eu tiva familiar, até agora, tinha sido a do cheguei a ter 16 máquinas no Instituto dos Arquitetos do Brasil em escritório, eles disseram que eu era o maior cliente não empresarial, e me 2000 só de fotografias minhas, teve um ofereceram uma amostra de um novo certo sucesso, eu fiquei satisfeito, com computador, só que no dia cheguei muita gente querendo comprar fotos e atrasado e eles já estavam indo embora eu não queria vender. Depois, em da minha casa, 2007, o cenera um caminhão tenário de enorme, que paNiemayer eu fui rou assim que eu convidado a fazer cheguei, pra fazer “COMECEI A FICAR a exposição na a demonstração, ASSUSTADO. UMA FOTO Casa do Baile, eu me entusiasQUE EU NEM DAVA uma moça que mei. Ainda bem viu a exposição que não comprei, VALOR, DESTACADA do IAB, tinha porque depois aNUMA EXPOSIÇÃO” gostado e me pareceram os menores. Mas desde convidou. Uma aquela época eu honra não é? já sabia que o Passou o tempo futuro era a informática. Mais tarde agora em 2012 me apareceu um suíço, querendo ver minhas fotos, mostrei, meus netos me deram um PC. Minha disse que ia fazer uma exposição e que filha também começou a estudar queria que participasse, quando informatização e hoje temos 20 ou 15 cheguei lá levei um susto porque eram programas fazendo o serviço e eu me 40 fotógrafos, o Palácio das Artes cheio interessei a fazer a digitalização dos de fotografia, eu chego lá tinha uma meus negativos e na época o scanner custava uma fortuna, aí peguei e fiz parede só com fotografias minhas. um. Produzi um dispositivo que focalizava o negativo e jogava a imagem no n O senhor sempre foi inovador? PC e arquivava. Era uma digitalização ruim, mas funcionava. Quando surgiu Eu sempre quis inovar em coisas prátiessa exposição do IAB eu precisei tratar cas, que fossem a baixo essas fotografias com um pouco mais custo e fossem me- de cuidado, então compramos um Mac lhorar a estrutura e um scanner e comecei a digitalizar do negócio. umas imagens que valiam a pena e que Com isso, de mereciam mais trato, com photoshop. fato fui f a z e n d o n Tem alguma fotografia que gosta mais? essas coisas. Eu sou Já viu algum pai dizer que gosta mais um pouco de um filho ou de outro? orgulhoso. Q u e r i a n O senhor teve várias mudar a atividades profissionais, com imagem de qual o senhor mais se identificou? cartório que as Trabalhei com meu pai como oficial de pessoas tinham, cartório, já tinha feito na época o que meu filho com 12 se chamava de exame de insuficiência, anos fez um desenho do que era como uma prova de vestibular. escritório, um lugar empoeira- Fui aprovado, e fui trabalhar com meu do com uma pilha de papel, e eu como pai. Quando ele foi se aposentar, pai não queria passar essa mensagem. porque estava muito cansado eu fui pleitear a vaga e fui escolhido, fiquei lá À época não era usado computador, 44 anos, e essa foi minha carreira. Me isso em 50 anos que ele fez esse desemeti a fazer umas coisas. Acho que fui nho. Eu sempre sonhei com essa coisa a primeira pessoa em um escritório de prática. Eu queria mudar a imagem de Belo Horizonte a usar máquina de esuma coisa, porque o cartório é lugar crever elétrica. Depois fui o primeiro a que se presta serviço. Chamavam-me colocar Xerox dentro do cartório.
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