Ígor Passarini
CÂNDIDO ANDRADE (F) É EXEMPLO DE CLIENTE DE PROFISSIONAIS AUTÔNOMOS INSATISFEITO COM A EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS CONTRATADOS: “PRECISA APERFEIÇOAR” PÁGINA 6
Mônica Santiago
SUBIR AO ALTAR NUNCA FOI TÃO CARO. ALTOS PREÇOS PRATICADOS TÊM ADIADO O SONHO DE CASAIS QUE SEMPRE PLANEJARAM SE CASAR PÁGINA 12
Arquivo Pessoal
SOBREVIVENDE DO HOLOCAUSTO, POLONÊS ALEKSANDER HENRYK LAKS ESCREVEU DOIS LIVROS E PRODUZIU DOCUMENTÁRIO RELATANDO SUA HISTÓRIA PÁGINA 16
marco jornal
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 306 . Maio de 2014
História escrita a partir de aventura entre céu e mar Há exatos 30 anos, o navegador brasileiro Amyr Klink partia para aquela que seria a primeira de muitas aventuras: atravessar o Oceano Atlântico Sul em um barco a remo. Tinha como companheiro o mar, numa viagem solitária que duraria cem dias. Em uma época sem recursos como GPS e telefonia móvel, o navegador teve que se esforçar ainda mais, estudando profundamente o assunto. Para imortalizar a viagem, Amyr Klink escreveu o livro “Cem dias entre céu e mar”. Hoje, ele se divide entre múltiplas tarefas e mostra preocupação com o futuro do planeta. PÁGINAS 8 E 9
Ciência sem Fronteiras Asilo proporciona lar e afeto aos idosos atrai alunos Estudar fora do Brasil, nunca atraiu tanto os estudantes como agora, muitos deles incentivados pelo programa federal Ciência sem Fronteiras, que distribui bolsas de intercâmbio para alunos de graduação e pós-graduação. Pessoas contempladas consideram que o projeto é uma excelente oportunidade de estudar nas melhores universidades do mundo, mas alguns relatam falhas no programa, como atraso no pagamento da bolsa e, em outros casos, valor superior ao necessário. PÁGINA 7
Camila Navarro
Vila resgata ar interiorano em BH
Gabriela Camargos
Para fugir da agitação, estresse e correria, características das grandes cidades, alguns belo-horizontinos optam por cobiçados endereços da capital mineira, verdadeiros recantos de paz e tranquilidade. Os moradores das vilas Ivone, Werneck e Beltrão levam uma vida interiorana e tranquila em Santa Tereza, no Centro e em Santa Efigênia. As aposentadas Diva (foto), Maria José e Yara relatam o dia a dia nesses recantos de calma e afirmam que não trocariam por nada o modo de vida proporcionado pelo lugar onde moram. Em depoimento alegre e descontraído, as moradoras dessas vilas contam um pouco desse estilo de vida. PÁGINA 5
Marina Klink
O asilo Casa do Ancião Francisco Azevedo, na Região Nordeste de Belo Horizonte, oferece aos seus 100 moradores (93 mulheres e sete homens) uma estrutura simples, mas exemplar, que permite conforto e carinho. Muitos dos idosos não têm mais família ou alguém para tomar conta. Outros convivem pouco com familiares, que fazem esporádicas visitas, quase sempre no início do mês, quando os parentes vão à instituição em busca de parte das aposentadorias dos idosos. Os funcionários e voluntários do asilo tentam preencher a pouca atenção familiar com carinho e palavras amigas. PÁGINA 13
LEIA AINDA
Fiscalização reduz ruído de bares, que miram Copa Causa de incômodo a moradores, que foram ouvidos em audiência pública, na Câmara Municipal, este ano, bares localizados no entorno do Campus Coração Eucarístico da PUC Minas, podem se transformar também em uma opção para o acompanhamento dos jogos da Copa do Mundo. Alguns estabelecimentos vêm se preparando para isso. Na reunião entre representantes da comunidade e autoridades, ficou decidida a ampliação da fiscalização, o que resultou em redução nos problemas anteriormente registrados, de acordo com fontes ouvidas pelo MARCO. A expectativa é que no Mundial, que se aproxima, não sejam registrados excessos e que haja uma convivência harmoniosa entre moradores e frequentadores. PÁGINAS 3 E 14
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Comunidade
editorial
Mar de histórias que encantam de perto e de longe
Estacionamento de vans causa problema O grande número de ônibus que passa pelas proximidades da PUC Minas São Gabriel dificulta o trânsito e provoca trantornos
JULIANA GUSMAN 3º PERÍODO
O jornal MARCO chega à edição 306, e segue em sua constante busca por novas histórias, diferentes entre si, mas que encontram sua semelhança na curiosidade que despertam. Nesta edição, o navegador e escritor Amyr Klink relembra, em entrevista exclusiva para o MARCO, suas aventuras marítimas, seus medos, seus sonhos e a travessia solitária no oceano atlântico, há exatos 30 anos. Ele fala sobre o esforço e a dedicação da vida de um viajante solitário, que já encarou a morte de perto. Klink divide ainda com os leitores seus planos futuros e ambições em uma fala aberta e descontraída, relatando sobre sua dedicação atual às causas da sustentabilidade e a defesa das questões ambientais. O leitor também encontrará outro tipo de viajante. O MARCO apresenta relatos de jovens que participaram do programa Ciência sem Fronteiras, com suas impressões sobre a incrível experiência de conhecer novos lugares e a oportunidade de estudar em outro país. Mas não só em viagens se encontra uma boa história. Trazemos matérias sobre as tradicionais feiras de Belo Horizonte: A Feira de Antiguidades e a Feira das Flores. Contamos como noivos que buscam o casamento perfeito conciliam o sonho com a realidade das infinitas despesas. E, ainda, como é a vida de pessoas cuja única alternativa é viver em um asilo, o seu dia-a-dia e suas memórias. Em clima de Copa do Mundo, não poderíamos deixar de falar sobre o esporte que faz parte da vida dos brasileiros. No Filme ‘Narradores-Memórias afetivas do futebol’ diversas histórias sobre pessoas comuns são recuperadas, todas marcadas pela paixão ao futebol. E ainda, a febre dos álbuns da Copa que conquistam torcedores de todas as idades. Como sempre, é de fundamental importância para a equipe do jornal MARCO oferecer aos seus leitores os acontecimentos que os cercam. Os assuntos relativos à Comunidade são nossa prioridade e, nesta edição, mostramos não apenas os problemas, como o estacionamento indevido de vans nas proximidades da PUC, mas também boas iniciativas, como a Campanha do Livro no Coração Eucarístico. Nosso compromisso é proporcionar matérias que não irão somente informá-lo, mas enriquecê-lo. A nossa responsabilidade é trazer à tona acontecimentos e fatos relevantes, prezando sempre pela qualidade do nosso trabalho e pela satisfação de nossos leitores.
expediente jornal marco
Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal Puc Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Letícia Diniz, Giovanna Evelyn, Juliana Gusman, Karen Antonieta, Marcella Figueiredo, Mateus Teixeira, Sérgio Marques Monitores de Fotografia: André Correia, Camila Navarro, Liz Vasconcelos Monitor de Diagramação: Vinícius Augusto CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares
Motoristas apontam o pouco espaço na rua como agravante da situação
KAREN ANTONIETA 7º PERÍODO
Vans de várias partes de Belo Horizonte, e até mesmo de municípios próximos, estão disponíveis como forma de transporte alternativo para alunos da PUC Minas São Gabriel. A cada semestre o número de vans aumenta e não há vagas para todas pararem em frente à Portaria 1 da PUC. As vans disputam espaço com vendedores ambulantes, veículos de alunos da PUC e de clientes do Bar Itaobim e linhas de ônibus que circulam pelo local. O motorista Marcelo Júlio Pereira, 40, leva alunos da PUC São Gabriel há sete anos e afirma que o principal problema é o ponto final do suplementar 81, que toma um grande espaço da Rua Walter Ianni entre as portarias 1 e 2, em frente ao Xerox São Gabriel. “Nós [motoristas das vans] já enviamos vários e-mails para a BHTrans e nada fica resolvido, nem responder os e-mails eles respondem”, afirma. Ele também alega que as linhas 811 e 3502, que possuem ponto de ônibus em frente à PUC entre as portarias 1 e 2, poderiam ser realocadas para outro local. “O trânsito na região para com estes ônibus”, declara. José Geraldo Rocha, 54, dirige para estudantes da instituição há seis anos e também afirma que o S81 causa transtornos para o trânsito da rua. “Os motoristas do S81 não respeitam nada, ocupam espaço das vans, não estão nem aí para o trânsito. Esse ponto final dá acúmulo de trânsito aqui na porta da PUC”, reitera. A disputa pelo espaço externo é grande e os mo-
toristas se vêem obrigados a permanecer no local. “Os motoristas das vans têm que usar os banheiros dos comércios, alguns para segurar a vaga ficam sete horas no local”, afirma Flávio José Pereira, 40, dirige para a PUC há um ano. O motorista Leoner Rodrigues Soares, 37, dirige há oito anos para alunos da PUC e afirma que não compensa voltar para casa depois de deixar os estudantes na instituição. “Não só por causa da vaga, mas também por gasto com combustível, a questão do trânsito que cada dia fica pior”, declara. O motorista José, que mora em Santa Luzia, também afirma que voltar para casa não é a melhor opção. “Eu chego em casa aí já tenho que voltar... dá uma preguicinha, é melhor esperar aqui mesmo”, brinca. A segurança da rua também é um fator de risco para os motoristas. “Aqui é muito mal iluminado à noite, a prefeitura poderia cortar umas árvores para melhorar a iluminação”, afirma Flávio. O motorista Marcelo concorda que a iluminação deveria ser melhorada. “Tem dois anos que tem três lâmpadas queimadas e a Cemig não arruma, enviar e-mail para eles é perda de tempo”, declara. Os motoristas acreditam que a melhor solução para melhorar o trânsito na Rua Walter Ianni seria transformar a rua em via de mão única. “A rua do jeito que está agora nos horários de chegada e saída tem essa complicação no trânsito que a gente vivencia todo dia”, afirma José. O motorista Leoner em dia de evento, como a “Vinhada” promovida pelos alunos da PUC no
Bar Itaobim, tenta combinar com os outros motoristas de que quem chegar primeiro deve tentar guardar vaga para o outro. Caso isso não seja possível, a única solução é esperar pelos alunos na rua lateral, a Anapurus. “Já aconteceu de não ter vaga aqui em frente à PUC aí tivemos que descer para o bairro, esperar pelo horário do fim da aula e pegar os alunos pela outra portaria, a gente combina com eles antes, explica que não tem condição de chegar”, afirma. O motorista Marcelo leva e busca os alunos e volta para casa neste intervalo, porém em dia de evento ele fica no local para segurar a vaga. “Senão eu chego aqui perto do horário da saída e tenho que dar volta no quarteirão”, declara. NOVO LOCAL Alguns motoristas desistiram de disputar por uma vaga no espaço disponível em frente à Portaria 1 da instituição e resolveram estacionar na parte lateral da PUC, entre as portarias 1 e 2, próximo ao batalhão da polícia militar. “Antes eu chegava oito e meia da noite para segurar a vaga, e ficar no tumulto. Agora chego nove e meia, estou mais perto do batalhão, é mais seguro porque os ladrões não vão pensar em assaltar por aqui, a onda de assaltos acontece na passarela, onde é mais fácil de fugir”, afirma Flávio, que apenas busca os alunos do período noturno. O motorista Leoner também mudou o local de estacionar sua van. “Em frente à portaria 1 começou a aumentar o número de vans e sair por ali estava bem complicado,
Karen Antonieta
sair por aqui é mais fácil”. Flávio acredita que apesar de todos os problemas do estacionamento externo, ainda é mais fácil buscar alunos da PUC do que de instituições de ensino localizadas em avenidas movimentadas da cidade, onde não é possível estacionar o veículo. O motorista acredita também que houve uma melhora no policiamento da região. Todavia, todos os motoristas entrevistados concordam que estacionar dentro da instituição seria o ideal. “Seria bom não apenas para a nossa segurança, mas para a dos alunos, que estão à mercê destes assaltos que andam acontecendo no bairro”, afirma o motorista José. A assessoria de comunicação da PUC Minas São Gabriel afirma que antes de 2008 todas as vans tinham permissão de estacionar dentro da instituição, porém com o aumento da demanda não foi possível atender a todos devido ao espaço disponível dentro da Unidade São Gabriel. Hoje em dia, apenas vans que atendem estudantes com necessidades especiais ou que estão registradas em nome de estudantes regulares da PUC Minas tem permissão de estacionar no interior da instituição. A assessoria também alega que, no momento, não existe nenhum projeto que permita que os motoristas de vans tenham um espaço para estacionar dentro da instituição no futuro. A BHTrans foi procurada para prestar esclarecimentos sobre os principais problemas do estacionamento de vans em frente à PUC São Gabriel, porém não quis se pronunciar sobre o caso.
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Comunidade
Bares reduzem barulho noturno Mais fiscalizados, em consequência de audiência pública na Câmara Municipal, estabelecimentos localizados nos bairros Coração Eucarístico e Dom Cabral diminuíram os incômodos causados
Bares no entorno da PUC Minas mudaram comportamento após audiência pública
ISABELA ANDRADE 3º PERÍODO
A audiência pública realizada pela Câmara Municipal de Belo Horizonte, em março deste ano, para buscar soluções para a questão de segurança e, principalmente, do incômodo causado por bares aos moradores dos bairros Coração Eucarístico e Dom Cabral, resultou na redução do barulho e do número de eventos noturnos gerados por esses estabelecimentos. Durante a reunião dos representantes
dos moradores com as autoridades foi pedida a fiscalização imediata dos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas por parte da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). De acordo com o gerente do setor de Comunicação da Regional Noroeste, responsável pelos bairros, houve a intensificação da fiscalização aos estabelecimentos, para verificar se estavam respeitando a lei do silêncio e não poluiam as ruas com restos de garrafas e copos descartáveis. Essas ações têm sido execu-
Estudantes defendem convivência harmoniosa Maioria dos frequentadores desse tipo de estabelecimento, estudantes universitários acreditam que a existência de bares ao redor de universidades e faculdades é algo normal. “Para mim o que não pode acontecer é ter música depois das 22h e sujar a rua. O Coração Eucarístico e o Dom Cabral são bairros de estudantes, obviamente vão ter bares por perto”, afirma a estudante de Publicidade e propaganda Carolina Quaresma, 20 anos. De acordo com alguns desses universitários, é preciso lembrar que esses estabelecimentos geram empregos. Neste contexto, um eventual fechamento de bares faria com que muitos funcionários perdessem seus empregos. “Têm pessoas que dependem do funcionamento do bar, fechando o bar você tira o sustento de alguém”, alerta Izabela Carolina Rezende, 19 anos, estudante de Odontologia da PUC Minas. Os bares universitários também são importantes financeiramente. “Eu entendo os moradores que são pessoas de mais idade, mas aqui é um bairro universitário e ter um bar aqui é ótimo para o comércio, porque os estudantes ficam nos bairros e consomem coisas do bairro”, comenta a estudante de Relações Internacionais Anaís Rosa, 20.
André Correia
tadas, em parceria pela Polícia Militar de Minas Gerais, Prefeitura de Belo Horizonte e BHTrans. As operações consistem em verificar questões variadas como sujeira nas ruas, emissão de som acima do permitido, comercialização ilegal de bebidas alcoólicas, questões de higiene e de trânsito, além de problemas relacionados à lei seca. Em casos de irregularidades, como lixo deixado nos arredores dos bares, por exemplo, há aplicação de multas aos proprietários dos estabelecimen-
tos. Bares denunciados por moradores também recebem a visita de fiscais. São feitas ainda blitz para averiguar se existem motoristas dirigindo após a ingestão de bebidas alcoólicas. A moradora Sônia Elizabeth Costa, que frequenta reuniões da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral, desde fevereiro último, revela que os bares abaixaram o volume do som, de uma forma geral, e realizaram número menor de eventos à noite, após a audiência pública na Câmara Municipal. “Antes o som ficava ligado até de madrugada. Agora deu uma parada”, informa. Um dos bares alvo de denúncias é o Academia Universitária localizado no Dom Cabral, que foi reaberto após um período de fechamento em fevereiro de 2014. As principais reclamações são de moradores da Rua Guajará localizada atrás do estabelecimento. A Polícia Militar já foi acionada e esteve no local. Funcionário do bar, Valmir Fagner de Oliveira, 21 anos, defende o estabelecimento. “A parte de cima do bar é um galpão, por isso quando ligamos o som dá um eco. Mas a própria polícia viu que não ligamos o som alto, já que quem passa aqui na frente não escuta o barulho”, justifica. Os eventos do bar ocorrem principalmente durante o dia
e, excepcionalmente, à noite, mas, nesses casos, duram até 21h. A proprietária do bar, que não se identificou, garantiu estar aberta a negociações com os vizinhos. “Algumas freiras já telefonaram para cá pedindo para não ligar o som um dia e nós atendemos ao pedido”, conta. O Bar do Rosa, outro ponto muito procurado pelos estudantes, não coloca música alta, mas em um volume aceitável, de acordo com o funcionário Willian Leandro Rosa. “Quando tem algum som alto nós mesmos ligamos para a polícia, porque isso não incomoda só os moradores, mas todo mundo”, garante. Nenhum dos eventos feitos no Rosa é realizado pelo bar, mas pelos próprios estudantes da PUC Minas. A movimentação maior no início dos semestres é considerada normal devido aos trotes que ocorrem nas proximidades do local. O presidente da Associação de Moradores do Coração Eucarístico, Iracy Firmino, 79 anos, ressalta que não apenas o barulho incomoda como também o grande número de estudantes que se juntam nas ruas no entorno dos bares. “O pessoal não está tendo nem condições de chegar em casa. Os ônibus e carros não conseguem passar nas ruas”, acrescenta.
Redutor é alternativa no trânsito ANDRÉ CORREIA CAMILA NAVARRO 4º E 3º PERÍODOS
No dia 10 de março foi implantado um redutor de velocidade à Rua Dom Joaquim Silvério, entre Padre Rossini Cândido e João Crisóstomo, após solicitação de moradores. Devido ao alto índice de acidentes, outro redutor já havia sido instalado no cruzamento com a Rua Dom João Antônio dos Santos. Ainda assim, os veículos continuavam trafegando em alta velocidade, gerando os acidentes. A rua é a principal via de acesso ao Bairro Coração Eucarístico, pela Via Expressa, apresentando um tráfego intenso, principalmente nos
horários de pico. Fora desses horários, os motoristas correm mais, ocasionando os acidentes, que acontecem principalmente nos cruzamentos, entre carros e motos, como explica Mário Lúcio, porteiro do Edifício Lúcio Miranda. “Melhorou bastante, mas sempre tem acidente. De vez em quando dá um barulhão, aí pode saber que é batida”, conta. Não é a primeira mudança realizada no trecho. Antes, a rua era mão dupla, o que tornava o trânsito ainda mais intenso. Em Janeiro de 2013, o trecho foi alterado para mão única, porém, o problema da velocidade permaneceu. Os moradores soli-
citaram mais uma mudança à BHTrans, que realizou a instalação dos redutores de velocidade, para que os motoristas trafegassem com mais cautela nos cruzamentos. Os moradores afirmam que houve melhorias e uma diminuição no número de acidentes. Para o motorista Temístocles Giovanne Teixeira, 48, houve melhoria com a instalação do redutor, mas alguns motoristas, principalmente de ônibus, ainda passam em velocidades altas no trecho. “Se você ficar aqui um tempo, vai ver vários motoristas de ônibus passando direto”, afirma Temístocles. Apesar da redução no número, os moradores ainda
Quebra-molas é a aposta para a redução de acidentes na Rua Dom Joaquim Silvério
André Correia
presenciam vários acidentes causados por motoristas irresponsáveis. Júlia Muniz, vendedora, faz parte daqueles que defendem que a rua ainda necessita de um semáforo, além dos redutores de velocidade, para impedir ao máximo os acidentes. “Já tem um sinal mais na frente, então a BHTrans não vai colocar outro aqui”, afirma. Em resposta, a BHTrans informou que não houve solicitação por parte dos moradores sobre a sinalização no cruzamento entre as ruas Dom Joaquim Silvério e Dom João Antônio Santos. CONGESTIONAMENTO Os moradores da Região também reclamam que no início da manhã e fim da tarde, horários de maior movimento de chegada de estudantes e trabalhadores, o trânsito fica complicado nos cruzamentos, principalmente entre as ruas Dom Joaquim Silvério e Dom João Antônio Santos, onde além do redutor de velocidade, está presente uma placa de Parada Obrigatória na esquina, dando preferência para os veículos vindo da Via Expressa. A sinalização, porém, encontra-se escondida atrás de uma árvore, o que dificulta a visualização da mesma pelos motoristas. Isso acaba gerando mais acidentes e, nos horários de pico, agrava o congestionamento no trecho.
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Comunidade
Campanha do Livro na Cidade Projeto literário, que tem como atividade principal a troca de livros, também contribui com a ocupação da Praça das Jabuticabeiras, na Via Expressa, para atividades culturais DÉBORA ASSIS JÚLIA GUEDES 1º PERÍODO
A Campanha do livro surgiu da paixão pela literatura de um grupo de amigos, que trocavam livros entre si e então resolveram transformar em algo maior. Assim, criaram uma circulação de livros na comunidade. A Campanha tem como objetivo motivar a leitura por meio da troca gratuita de livros, com o compromisso apenas de passá-los adiante seja devolvendo à praça na próxima campanha ou repassando para amigos e familiares. A Campanha é realizada sempre na ultima sexta feira do mês na Praça das Jabuticabeiras, localizada na Via Expressa, Bairro Coração Eucarístico. A escolha do dia foi feita com o intuito de se tornar marca para as pessoas e assim transformar a troca de livros em um hábito. A escolha de fazer a campanha na praça surgiu porque os organizadores quiseram transformar um local que estava abandonado em algo novo, então, criaram eventos para tornar o ambiente atrativo para a população. Na Campanha do Livro, os exemplares são deixados em cima das mesas da
praça sem a preocupação de vigia, permitindo que a própria população cuide da organização da troca. A ideia é criar uma circulação de livros para que cada vez a leitura seja mais acessível aos que não têm condições de adquirir os livros nas livrarias, devido aos altos preços destes no Brasil, e para que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer novas histórias e novos títulos. Não há nenhuma definição de quais livros podem ou não entrar na campanha, sendo assim, é possível encontrar diversos estilos literários, que variam de livros infanto-juvenis como Harry Potter e as Relíquias da Morte da J. K. Rowlling a clássicos da literatura como Os Lusíadas de Camões. Otávio Oliveira, 68 anos e Guilherme Cardoso, 69 anos, são dois dos organizadores da Campanha do Livro. Para eles, as pessoas participam pela vontade, gosto de ler e pela busca de novos conhecimentos. “[A leitura] desenvolve as habilidades, desenvolve o conhecimento, desenvolve a autoestima que para mim é o mais importante”, ressalta Otávio. A importância da Campanha é difundir a leitura em um país em que não
se preocupa com essa cultura, tentando introduzir na vida de algumas pessoas um hábito para que um dia o ato de ler se torne algo maior. Pelo fato de Otávio ser pedagogo e Guilherme ser jornalista, eles estão no meio da literatura e, por isso, preocupam-se em fazer com que as pessoas também possam conhecê-la e apreciá-la. José Geraldo, 63 anos, outro dos organizadores, ao se referir à campanha, disse que “uma grande caminhada começa pelo primeiro passo”.
menos uma delas na igreja. Ao acordar, elas tomam o café da manhã, vão à missa e durante o dia tem os momentos de refeição, leitura e trabalhos manuais, como toalhas para o altar, alguns acabamentos e partes da vestimenta do padre. Todas as moradoras já são idosas, a com idade mais avançada tem 104 anos, com muita saúde e lucidez. Após muita reflexão, irmã Maria Célia decidiu seguir uma vida religiosa, dedicada a ajudar o próximo. Elas acolhem e aconselham diversas pessoas que estão passando
por quaisquer dificuldades. Muitas pessoas procuram um conforto, uma palavra, e as irmãs estão sempre abertas para ajudar. A capela está sempre à disposição de qualquer pessoa que quiser fazer uma oração. Uma pessoa que decidir dedicar sua vida à igreja, deverá ser acompanhada por uma irmã durante um período de aproximadamente cinco anos, para ver se é isso o que ela realmente quer. Feito isso, são realizados os votos perpétuos. A irmã fala que algumas pessoas entram para essa
Os livros são dispostos em uma mesa e os visitantes ficam livres para fazer sua escolha
ROTINA A vontade de ler é o que motiva várias pessoas que frequentam a campanha, e algumas como Reinaldo Mayrink, 54 anos, já transformaram essa troca de livros em rotina. “Eu sempre gostei de ler, nem que seja jornal, revista. Agora, se deu mais vontade de ler, tem vários livros para ler aqui, a gente troca. A gente acostumou, toda última sexta-feira do mês a gente vem ver se tem algum livro que interessa. Virou rotina. Eu participo já tem uns dois anos. A gente vem sempre, toda vez que tem, eu venho”, conta Reinaldo. “A leitura é conhecimento. E é fantástico, só quem lê mesmo
é que sabe”, completa. Maria José, 62 anos, diz que participa da campanha por gostar de ler e que esse gosto existe desde a infância. Ela garante que sempre se preocupa em repassar os livros e que nunca gostou de guardá -los, porque acredita que eles devem ser repassados para que outras pessoas possam apreciar as histórias que ela gosta. “Você pode sempre tirar do livro boas coisas”, diz Maria. Ela defende a ideia de que, através dos livros, é possível que se identifique com os personagens porque eles acrescentam ideias que podem mudar
a forma de pensar. Ester Klevanskis, 65 anos, disse que participa da campanha porque além de ser um ambiente agradável, onde ela pode fazer novas as amizades, com a leitura ela consegue entrar na história e se transformar em um personagem. São trocados em média 200 livros por edição. Esse número significa uma satisfação para os organizadores, por saberem que mais pessoas terão a oportunidade de conhecer novas histórias. Por esse motivo, eles receberam convite para expandir a campanha de livros para outros bairros, entretanto
André Correia
não possuem esse interesse, pois acreditam que é função da própria população expandir a ideia e influenciar o hábito de leitura dentro da sua comunidade, criando assim, uma corrente de novos leitores. “A grande vantagem desse projeto [que está] sendo feito aqui, é exatamente que ele está despertando o interesse de outras comunidades, outros espaços como esse. Não é que vamos levar [a campanha] para lá não, mas vai criar o interesse de outros levarem”, conta Guilherme Cardoso.
Mulheres que dedicam a vida à religiosidade VITOR FERNANDES 1º PERÍODO
Localizada à Avenida 31 de Março, a congregação Servas do Santíssimo Sacramento abriga 12 freiras. São mulheres, que resolveram dedicar a vida à religiosidade, cujo principal objetivo é a glorificação da eucaristia. Irmã Maria Célia, 77 anos, conta um pouco sobre o dia a dia na casa. Ela diz que a vida de todas ali é centrada na igreja. Durante todo o dia, as irmãs se revezam em oração: das 6h30 até 18h30 é possível encontrar pelo
Durante todo o dia é possível encontrar uma das freiras orando
Vitor Fernandes
vida sem ter uma certeza, e acabam por desistir. Antigamente, o uso do hábito (uma roupa que deixa somente o rosto a mostra) era obrigatório, hoje não é mais. A irmã conta
que agora, todas podem sair às ruas, resolver o que for preciso, com um pouco mais de liberdade. Irmã Maria Hercília tem 90 anos, e é sacristã, a responsável por arru-
Freiras acompanham futebol e vão torcer pelo Brasil na Copa Atleticana desde pequena, irmã Maria Hercília fala que não vê muitos benefícios para Belo Horizonte, com a Copa de 2014, mas assistirá aos jogos do Brasil pela televisão. Irmã Maria Célia, torcedora do Santos, ressalta o potencial que o Brasil tem, mas diz que o país é atrapalhado pelos políticos que não exercem de forma correta seu papel. Ela fala que os dirigentes não favorecem o nosso país: “muitas pessoas desonestas estão no congresso, infelizmente eleitas com o nosso voto. Muitas greves, escolas precá-
rias, é realmente muito triste”, ela completa. A irmã Maria Hercília diz que o povo brasileiro gosta de futebol, é um momento de confraternização, de mostrar ao mundo um Brasil bom, acolhedor. Ela diz que gosta muito da seleção, e muito bem humorada comenta: “gosto muito do Thiago Silva, aquele do PSG, também gosto do David Luiz do Chelsea, e tem o Neymar, que é bom, mas é muito criança ainda, quando ele amadurecer, acho que vai melhorar também como jogador”.
mar tudo referente à celebração do padre e organizar a sacristia. Ela tem uma rotina muito ativa, acorda todos os dias às 4h45, arruma o altar, os objetos a serem utilizados pelo padre, e antes da missa ainda reza com algumas irmãs. Ela disse que Deus lhe deu a graça de ser escolhida para ser freira. Quando jovem, ela não gostava muito de festas, bailes e sempre amou boas músicas. Irmã Maria Hercília entrou para o convento em 1951, quando tinha 27 anos e nunca se arrependeu, sempre agradece a Deus pela graça que lhe foi concedida. Porém, diz que é uma vida difícil, que só fica realmente quem tem vocação. Ela fala que nos dias de hoje, poucas pessoas entram para essa vida. “Hoje temos um mundo muito aberto, muito livre, onde as meninas pequenas já fazem coisas que antes só mulheres mais velhas faziam, um mundo com seus valores deturpados”, enfatiza.
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Cidade
GABRIELA CAMARGOS LUIZ OTHÁVIO GIMENEZ 7º PERÍODO
Quanto vale uma vida tranquila e longe das agitações e estresses provocados pelo dia a dia nas grandes cidades? Para as aposentadas Diva, Maria José e Yara não há preço que pague o sossego encontrado no lugar que elas chamam de lar. As mulheres integram um seleto grupo de pessoas que tiveram a oportunidade de trocar os apartamentos por casas localizadas em três cobiçados endereços de Belo Horizonte: as vilas Ivone, Werneck e Beltrão. Além de levar uma vida semelhante a de moradores do interior, mas sem abrir mão das comodidades que só uma metrópole pode proporcionar, as três donas de casa têm, em comum, surpreendentes histórias de amor e paixão pelo lugarejo onde vivem. Vestindo chinelos de borracha e roupa floral cor-de-rosa, dona Diva de Souza é o tipo de mulher de fala simples e cabelo cinzento que qualquer belo-horizontino chamaria de vó. Algumas vezes durante o dia, quando é sabido que não há intrusos, ela atravessa a ruela de cimento e vai papear com a sobrinha. O bucolismo da Vila Ivone, à primeira vista, assemelha-se a um complexo de férias. E não há nada que substitua a regalia. Para a aposentada de 87 anos, o privilégio de ter a família por perto é similar ao vivido por moradores do interior do estado. “Quase todos aqui são meus sobrinhos. Na casa um, mora Florinda. Na dois, moram as filhas de um sobrinho. Ali na frente, mora minha filha. E nas casas oito e nove também são outras duas sobrinhas que são proprietárias”, conta Diva. No total, são 11 casas espalhadas simetricamente pelo beco, cujos moradores carregam, nas veias, legítimo sangue português. É com a agulha e linha em mãos que a vizinha de dona Diva, a também aposentada Neli Costa de Faria, de 90 anos, costuma passar as tardes. Ela se mudou para a vila depois que o marido morreu, em 2012. Desde então, ela divide o espaço com a filha, que herdou a casa da sogra, Ivone, a neta e com quatro cachorros da raça labrador. Quando não está ajudando nos trabalhos domésticos, Neli gosta de sentar na varanda da casinha de número três e tricotar. Embora more no vilarejo há pouco tempo, ela já se acostumou à vida sossegada. “Morar aqui é tranquilo, mas você sabe que vizinhos, principalmente parentes, às vezes trocam uns ‘elogios’. Mas é coisa passageira, no fundo, todo mundo se gosta”, destaca. A história da Vila Ivone começou no início do século
Vilas em BH viram refúgio ao estresse Em meio à correria do dia a dia na capital, moradores encontram nos espaços, que resistem ao tempo, tranquilidade e sossego poderiam alugar, mas como ninguém quer ficar brigando, a gente respeita. Mas que não podia, não podia não”. Ter um empreendimento funcionando na região central da cidade é o desejo de inúmeros comerciantes e fator que contribui para que o preço cobrado por espaços situados nesse local seja bem elevado. Essa é a maior motivação para que donos de casas que integram a Vila Werneck abdiquem da calmaria do lugarejo e aluguem as propriedades para a instalação de escritórios, lojas e consultórios particulares. O contraste entre os prédios e as casas da Vila Werneck, centro de Belo Horizonte
XX. Foi no ano de 1910 que o pai de Diva, o Sr. Avelino, deixou para trás a Cidade do Porto, em Portugal para tentar a sorte na capital mineira. Com a mulher Florinda e três dos 11 filhos a tiracolo, o carpinteiro tinha a esperança de proporcionar cá, do outro lado do oceano, uma vida melhor para a família. O primeiro trabalho foi na recém-inaugurada Serraria Souza Pinto, que, na época, pertencia a um de seus primos. E foi com o dinheiro recebido no novo emprego que Avelino comprou a primeira casa que mais tarde se transformaria na vila mais famosa do Bairro Santa Teresa, na Região Leste da capital mineira. Dona Diva, embora muito jovem no período em que a alameda começou a ganhar forma, é quem conta a peripécia feita pelo pai: “Como era carpinteiro, ele foi fazendo as casinhas. Comprou a primeira casa, mais próxima da rua, e a hipotecou para construir uma outra. Depois, hipotecava de novo e fazia outra casinha no terreno. Fez isso até completar o total de 11 casas, uma para cada filho”, recorda a aposentada. O amor de Avelino, refletido em cada tijolo utilizado para a construção da vila, reforça a união da família Souza e contribui para a conservação do espaço. Prova disso é que, com exceção de reparos na pintura, praticamente todas as casas do complexo que leva o nome da irmã caçula de Diva preservam a mesma estrutura, composta por uma pequena varanda, cozinha, sala,
dois quartos, um banheiro e lavanderia. E no que depender do trabalho dos membros da Diretoria de Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, o DIPC, muitas gerações da família da aposentada ainda terão bons momentos no local. É que a Vila Ivone foi, recentemente, indicada para tombamento. O processo, que de acordo com o historiador do DIPC, Bruno Cortina, ainda está em fase inicial, pode impedir que, futuramente, as casas sejam reformadas ou, até mesmo, destruídas. VILA WERNECK Não fosse pela placa chamativa colocada sob o portão de entrada, muita gente passaria despercebida pela Vila Werneck. Localizada bem no centro de Belo Horizonte, entre as ruas Espírito Santo e Rio de Janeiro, ela figura, desde 1994, na lista dos imóveis considerados patrimônios culturais. Erguido na década de 40 pelo empresário Celso Vieira Werneck de Carvalho, o lugarejo, que nos primórdios era exclusivamente residencial, conta hoje com 12 casas, sendo cinco delas utilizadas para fins comerciais: um escritório de advocacia, um consultório de psicologia, um restaurante, uma empresa de publicidade e outra de telefonia. Entre os moradores que ainda resistem à especulação imobiliária está a aposentada Maria José Dumond, de 88 anos. Ela se mudou para a vila com os pais quando tinha 24 anos de idade e nunca mais deixou o local. Escorada na
Vila Ivone, em Santa Teresa, Região Leste de BH, é garantia de calma
Gabriela Camargos
Gabriela Camargos
porta da casa amarela que leva a inscrição do numeral cinco na fachada ela se recorda das transformações sofridas nos últimos anos. “A vila mudou muito. Antigamente todas as casas eram baixinhas, pequenas e hoje só três delas, as de número 7, 8 e 10 conservam a fachada e estrutura originais. As outras todas foram modificadas”, pondera a aposentada. Além de cuidar dos afazeres domésticos, Maria José é responsável pela organização e boa convivência entre os proprietários e inquilinos da Vila Werneck. Isso porque há algum tempo ela exerce a função de síndica do complexo. Como representante dos moradores, uma das causas defendidas por ela é que o espaço volte a ser ocupado exclusivamente por casas residenciais. Para ela, o cumprimento do regulamento da vila proporcionaria mais segurança e tranquilidade. “Os centros comerciais que funcionam aqui dentro tiram o nosso sossego, mas como a iniciativa de alugar partiu dos donos das casas, os demais moradores não puderam fazer nada para evitar”, afirma Maria José. Ela ainda completa.“Pelo regulamento eles não
VILA BELTRÃO Próximo ao encontro entre as avenidas Brasil e Francisco Sales, um novo Santa Efigênia começa. A Rua dos Otoni, que detém edifícios residenciais e comerciais encobertos por vidro fumê, dá espaço, ainda que restrito, a um lugarejo de arquitetura singela. O jardim em frente ao casario de Yara Beltrão, de 74 anos, chama atenção pela harmonia das flores e pelo detalhe da escultura que faz referência à cultura grega. Nascido em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o pai de Yara foi quem fundou o ‘povoado’, que levou o nome de registro para compor a denominação – Vila Beltrão. “Antes de comprar este terreno, meu pai tentou negociar alguns lotes no Floresta. Antigamente, as moças queriam morar lá. Era chique morar no Floresta. Mas, no fim, foi aqui que eu nasci”, conta a dona de casa. Ao todo, a vila possui 13 casas e 16 moradores, sendo a maioria deles locatários. A tradição do local como recinto exclusivo dos Beltrão foi se perdendo com o tempo. Após a morte dos pais e de duas das três irmãs, a alternativa encontrada por Yara foi alugar as casas construídas pelo pai. “Só um filho meu, uma de minhas irmãs e um sobrinho moram aqui na vila atu-
almente. Os outros parentes preferiram se mudar daqui e alugar as casas herdadas por eles. Cada irmã, incluindo eu, repassou as casas para os filhos, mas eles escolheram morar em prédios de bairros diferentes”, salienta Yara. O número pequeno de integrantes é um dos segredos da calmaria, que, por sinal, reina absoluta no local. Da varanda de casa, onde costuma passar os fins de tarde ao lado do marido, erguer os olhos é tarefa que dona Yara só pratica para apreciar os galhos frondosos da árvore que produz sombra para os carros estacionados no pátio. O estreito e longo corredor que liga as casas à rua também contribui para a prevalência da tranquilidade na vila, já que acaba dificultando todo e qualquer contato com o mundo externo. “A gente fica tão desligado de tudo que quando o prédio em frente estava em construção e um operário sofreu um acidente de trabalho e morreu eu só fui ficar sabendo do ocorrido quando vi uma reportagem na televisão”, confirma Yara. Um dos raros momentos de agitação vivenciados pelos moradores da alameda aconteceu em 2005. O diretor carioca Roberto Bomtempo acabou se rendendo aos encantos da vila Beltrão e a elegeu como cenário do longa “Depois daquele baile”, uma comédia romântica protagonizada por grandes nomes do cinema brasileiro, como conta Yara. “Cada casinha representava uma morada. A casa que foi da minha mãe virou pensão da Irene Ravache, o Marcos Caruso morava na casa do lado e bem naquela outra ali, a Ingrid Guimarães. Quando ia filmar do lado de lá nós corríamos pro lado de cá pra ficar assistindo. Ia filmar aqui, a gente corria pra lá para assistir”. Depois de pronto, o filme se tornou grande motivo de felicidade e orgulho para Yara e a família. É que agora, parte da história da família Beltrão, aquela que começou lá atrás, com o pai da aposentada, está eternizada não somente na memória de seus herdeiros, mas na de milhares de pessoas que lotaram os cinemas de todo o país para assistir à produção.
Restaurante macrobiótico é atração extra na Vila Werneck Das cinco casas comerciais que a Vila Werneck abriga, a pertencente ao comerciante Hélio D`Ávila Maciel, de 51 anos, é a que mais atrai clientes e curiosos. É que desde de 1987 ele administra, na casa de número 9, o restaurante macrobiótico “Fonte de Minas”. No local, além de poder se deliciar com pratos saudáveis elaborados à base de tofu, raízes, folhas, cereais e algas a clientela pode aproveitar para conhecer melhor a cinquentenária vila erguida bem no hipercentro de Belo Horizonte. Embora já esteja à frente do negócio há anos, Hélio conta que a ideia de abrir um restaurante macrobiótico não partiu dele. “O restaurante existe desde 1977 e foi fundado pelo professor Romualdo Dâmaso, um dos precursores no estudo da macrobiótica no Brasil. Depois que eu comprei resolvi dar sequência ao trabalho desenvolvido por ele”, ressalta o atual proprietário. Basta dar a hora do almoço para o interfone não parar de tocar no restaurante. A maioria dos clientes de Hélio são pessoas que trabalham nos arredores da vila e aproveitam o momento da refeição para relaxar e colocar o
papo em dia. “Quando as pessoas descobrem o restaurante elas ficam encantadas. O portão da vila funciona como um portal. Depois de entrar, a pessoa quebra o ritmo intenso e apressado do dia a dia. É uma pausa, eu diria, revigorante e restauradora”, explica o comerciante. O carinho de Hélio pela vila tomou uma proporção tão grande que ele não se conformou somente em trabalhar no local. Acabou se mudando com toda a família para o endereço. E nem mesmo o salgado valor do aluguel, que ultrapassa o montante desembolsado por quem mora no bairro de Lourdes, cujo metro quadrado é o mais caro da cidade (cerca de R$ 25 o m2 ao mês), faz com que ele abra mão das comodidades encontradas no lugarejo. “O aluguel na vila é bem inflacionado, mas a vida aqui dentro é muito vantajosa. Para quem optou por morar no centro, por questões práticas, você unifica a questão de estar em uma região central, próximo de tudo e, ao mesmo tempo, pode morar em uma casinha que é silenciosa. Você deixa o burburinho da rua do lado de fora e não há preço que pague isso”, finaliza o morador.
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Dificuldades de um bom serviço A falta de capacitação de profissionais autônomos provoca insatisfação de quem os contrata. O cliente deve lutar por seus direitos quando o serviço não é cumprido conforme planejado FABRÍCIO LIMA FERNANDA GONTIJO ÍGOR PASSARINI MARCUS CELESTINO 7º PERÍODO
Consertar a pia, pintar uma parede, desentupir o vaso sanitário ou até mesmo fazer uma reforma na cozinha. Quem já precisou contratar os serviços de um profissional autônomo sabe que não é fácil achar um bom trabalhador. O Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais registrou 100 reclamações nos últimos três anos, sendo 14 só em 2014. Destas, seis foram por vício de qualidade, duas por não cumprimento de contrato, duas por não entrega/demora na execução do serviço e duas por dano material causado pelo prestador. Para a psicóloga Maria das Dores Figueiredo, 72 anos, o principal problema é a falta de qualificação. “Eles dizem que sabem fazer um trabalho e não sabem. Precisei quebrar uma parede para arrumar um vazamento e tive que chamar três pessoas diferentes para fazer
o serviço. Veio um que não sabia, o outro fez errado aí tive que desmanchar. Só o terceiro que fez certo”, salienta. E essa não foi a única situação complicada pela qual Maria passou. Certa vez, chamou dois homens para desentupir o vaso. “Combinei um preço e deixei meu marido lá acompanhando o serviço. Quando eles foram embora descobri que tinham cobrado o dobro do combinado comigo”, relembra. A médica Cristiana Siqueira diz que só assina contrato quando realiza uma reforma maior e que já enfrentou problemas ao contratar profissionais autônomos. “Sempre tem algum ponto negativo. Qualidade da mão de obra ruim, combino e não aparece, não completa o serviço, acabamento mal feito”, relata. Quem também enfrentou dificuldades com a qualidade do serviço foi Cândido Andrade. “Precisa aperfeiçoar muito ainda. Já tive problemas com canalização, piso, assentamento, acaba-
O coordenador ressalta que como dificilmente se faz um contrato, é fundamental que seja feita pelo menos uma combinação por escrito. “Quanto custa o serviço, como vai ser feito (se é em etapas), e o prazo de execução. O profissional não pode fazer nenhum contrato com o consumidor sem falar ‘meu serviço estará pronto em tantos dias’. Ele tem que dar a previsão porque as reclamações são normalmente de que o cara não voltou, de que está enrolando, então o prazo da execução deve estar constando no documento que o contratante vai assinar com o prestador de serviços”, explica. Para Maria das Dores Figueiredo, falta qualificação aos autônomos
mento em geral”, diz. Mesmo pesquisando em grupos que participa no facebook e pegando indicações com conhecidos, a representante comercial Andrea Cristina Lopes, 37 anos, já caiu em uma cilada. “Meu fogão estragou e no deses-
O tempo de trabalho aumenta a confiança Carlos Roberto Santana, conhecido como Beto, é pedreiro há 12 anos e conta que o crescimento nesse mercado de trabalho só foi possível por meio da confiança de cada um de seus clientes. Para Beto, o trabalho autônomo funciona como uma rede, quando é bem feito, as pessoas indicam o serviço para amigos, colegas, que vão passando o contato em diante e formando uma clientela. Hoje, Carlos tem dificuldades para atender a demanda e conta, inclusive, com a ajuda de alguns jovens que estão começando no mercado. O experiente pedreiro avalia que um dos passos mais difíceis para escolher seus parceiros de trabalho é exatamente a confiança em sua honestidade. “Hoje em dia é difícil de contratar ajudante, são pessoas que vão estar dentro das casas dos meus clientes e sob minha responsabilidade, qualquer coisa que acontecer eu tenho que assumir”, conta. O pedreiro revela que a receita do sucesso de qualquer trabalho no setor de serviços está diretamente ligada ao relacionamento pessoal. “Tem cliente que me dá a chave de casa e não se importa se haverá ou não alguém para me receber”, declara. Além disso, outro segredo do trabalho de Carlos é a demonstração detalhada de seus custos, do processo de trabalho e de seus lucros. “Antes de qualquer serviço eu apresento detalhadamente como vai ser feito o trabalho, a duração, quais os meus custos com equipamento, material, pagamento de funcionário e meu lucro, desse jeito fica tudo muito claro e não tem surpresa depois”, garante, orgulhoso da organização de seus ofícios. Algumas dicas passadas pelo pedreiro são fundamentais para quem quer con-
tratar um profissional autônomo e não entende dos custos de uma obra. Para Carlos, o primeiro passo é comparar preços e fazer o orçamento com mais de um profissional. “Se você quer ter a obra com baixo custo tem que ir atrás de mais gente e procurar mais referências”, afirma. Outra dica é não fazer o pagamento adiantado, nem mesmo de parte do que foi combinado. “Eu só cobro do meu cliente com o serviço pronto, tem muita gente que não faz assim e larga a obra no meio, pedir adiantamento é errado”, avalia Carlos, baseado em sua experiência. Grande parte dos custos de qualquer empreendimento está nos materiais. Este é outro ponto que Beto afirma em que o contratante deve ficar atento. “Uma das coisas que podem acontecer para quem não está atento é aumentar o orçamento no material, ou então comprar uma quantidade maior do que o necessário e aproveitar o restante em outra obra. Tem que acompanhar a compra e o uso do material”, ensina. Mesmo nas ruas, são muitos os profissionais que também dependem da credibilidade conquistada com o cliente. É caso do flanelinha Antônio Carlo da Silva, 48 anos. “Quer confiança maior do que deixar a chave de um carro com você”, diz. Há cinco anos trabalhando no ramo e lavando carro duas vezes por semana, Antônio revela que por mais que seja honesto, as pessoas sempre arranjam um motivo para desconfiar. Segundo ele, apenas 50% dos clientes deixam a chave do veículo para ele limpar por dentro. “Tem gente que é desconfiada por natureza, mas a compreensão de outras em ver que o trabalho merece ser feito com respeito, recompensa”, afirma.
pero eu fui na Internet e contratei uma pessoa que não conhecia e não tinha referências. Ele colocou uma peça errada, não sabia o que estava fazendo. Tive que chamar outra pessoa para arrumar a bagunça que ele fez”, revela. PRECAUÇÕES De acordo com o coordenador do Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Marcelo Barbosa, 49 anos, a maioria dos prestadores não é qualificada para o
Ígor Passarini
trabalho. Segundo ele, outro problemas é não emissão de nota de serviço. Para se precaver disso, Marcelo diz que primeiro é preciso saber quem é esse fornecedor de serviço autônomo. “É raro achar uma empresa, mas é o ideal. Não tendo, você vai ter que qualificar esse profissional. Por exemplo: Quem é? Qual o CPF? Onde você mora? Porque se esse cara te deixar na mão você tem pelo menos como encontrá-lo”, pondera.
DIREITOS Segundo Marcelo, se o prestador não cumprir o que combinou, em termos de prazo, de qualidade de trabalho, de material utilizado, o cliente com contrato assinado tem pelo Artigo 20 do Código de Defesa do Consumidor, três direitos. “Primeiro, fazer de novo sem custo adicional. Segundo, devolver imediatamente a quantia total paga. Ou terceiro, abatimento proporcional do preço, ficou meia boca aquilo era R$ 200, vai sair por R$ 100”, salienta.
Cuidados na hora de escolher uma oficina Não basta levar o veículo à primeira oficina quando ele apresentar problemas. Há de se ficar atento para não deixar o automóvel em mãos erradas e ter uma futura e não planejada dor de cabeça. O ideal seria utilizar os serviços de uma autorizada, mas às vezes os altos custos dos estabelecimentos não dão margem para tal. Por isso, ao procurar uma oficina mecânica tem de se ficar atento a determinados aspectos. A engenheira civil Miriam Monteiro Henriques, 56 anos, é um exemplo das pessoas que já enfrentaram problemas ao levar o carro à oficina. Segundo ela, a mão de obra dos mecânicos está cada dia mais cara e nem sempre é confiável. “Às vezes mando o carro na oficina para resolver um problema e ele volta com outro. Então é muito complicado”, salienta. A primeira coisa a ser feita é buscar boas referências do local. Indicações de quem já foi atendido pela oficina em questão são de suma importância. Uma pessoa de confiança que já tenha
conhecimento prévio do estabelecimento e ficado satisfeito com os serviços prestados. Outra forma interessante de se consultar a idoneidade de uma oficina mecânica é o Procon. Se houver alguma reclamação contra o local é prudente não escolhê-lo para reparar seu automóvel. Além disso, outra forma de se verificar se vale a pena deixar o carro numa determinada oficina é verificar se os profissionais dispõem do certificado ASE (Automotive Service Excellence), que serve de parâmetro para o consumidor que pode encontrar mão de obra muito mais qualificada. Aliás, peça sempre que puder para ver as qualificações dos que trabalham no estabelecimento. Há de se verificar também se o estabelecimento está apto a fazer reparos no seu veículo. Muitos afirmam estar preparados para eventuais consertos num carro importado, por exemplo, e o fazem de maneira nada perfeita. Certifique-se também se as peças que substituirão os componentes defeituosos são novas
e de qualidade. Caso compre por intermédio da oficina exija sempre a nota de compra. Vale frisar que além de todas estas recomendações, outro fator que implica nos cuidados a serem tomados na hora de escolher a oficina mecânica certa para realizar os reparos no seu automóvel é o preço. Faça orçamento em várias lojas para saber a média do serviço. Escolha a que melhor lhe aprouver financeiramente e também em termos de confiabilidade. Por fim, ao entregar o veículo ao estabelecimento peça vistoria que comprove as condições de entrada na oficina. Quilometragem, estepe, extintor de incêndios são alguns dos itens que devem ser verificados previamente. Procure tirar todos os seus pertences do automóvel. No ato da devolução, faça nova checagem e também exija que lhes sejam retornadas todas as peças defeituosas. Se quaisquer inconvenientes ocorrerem durante o processo basta recorrer ao Procon para que sejam sanados da forma mais tranquila possível.
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Educação / Saúde
Intercâmbio atrai estudantes Estudantes relatam suas impressões do programa de intercâmbio voltado para universitários, Ciência sem Fronteiras, e apontam as vantagens e desvantagens de estudar no exterior ANA LUISA LÚCIO E SANTOS CAMILLA RABELO FIORINI 1º E 2º PERÍODOS
Ciência sem Fronteiras é um programa do governo federal que oferece bolsas para promover intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior, com a finalidade de manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação. Mateus Gualberto Ramalho, 21, estudante de Engenharia de Controle e Automação no 8º período da PUC Minas Coração Eucarístico, que está participando do programa Ciência sem Fronteiras, na Irlanda há 8 meses, considera que o programa é uma ótima ferramenta para o desenvolvimento do Ensino Superior e formação de profissionais. Segundo ele, o estudante que passa por essa experiência sem dúvida volta mais preparado para contribuir com a economia do país. Mas o aluno vê problemas no programa. O valor da bolsa recebida pelos estudantes é exagerado e consequentemente, um desperdício de dinheiro público. Além disso, recentemente o governo começou a enviar estudantes ao exterior somente para o estudo da língua estrangeira e ele considera isto um extremo desperdício aos cofres públicos uma vez que o estudo da língua pode ser realizado no
Mateus Gualberto Ramalho decidiu continuar os estudos na Irlanda
Brasil por um custo menor. Mateus ainda conta que a universidade ajudou muito na adaptação, pois realizam várias palestras, eventos e atividades para ajudar os alunos intercambistas a se acomodarem. A experiência de vivência no exterior acrescenta muito além do conteúdo aprendido na universidade, uma vez que o contato com diferentes culturas faz adquirir uma melhor visão de mundo. Ele também diz que ocorreram problemas relacionados
ao recebimento da bolsa nos três primeiros meses, pois a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)ainda não havia definido qual seria o valor no edital da Irlanda. O problema foi resolvido no quarto mês. Felipe Taylor Murta, 19, estudante de Relações Internacionais do 5º período na PUC Minas, estagiário na Secretaria de Planejamento da PUC (Seplan), contou que a PUC atua como intermediadora entre os alunos
Arquivo Pessoal
e o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), pois eles não recebem muitas informações sobre como proceder. A Seplan auxilia o aluno sobre como preencher os formulários, seleciona os que estão aptos, faz uma pré-homologação e envia para os órgãos responsáveis por realizar a seleção definitiva, depois que o aluno é aprovado por esses órgãos, a Seplan nos auxilia em outros processos ou dúvidas. O Ciência sem Fronteiras atende também, alunos de fa-
culdades federais. Edvar Gonzaga Eler Filho, 22, que está no 9º período de Engenharia de Controle e Automação na Universidade Federal de Ouro Preto, participou do programa por um ano na Coreia do Sul. Quanto à adaptação, diz que tudo correu da melhor forma possível, se adaptou muito bem e os coreanos foram muito receptivos e ajudaram no que foi preciso. Ele conta que achou muito interessante as oportunidades de estudo, estágio e experiência no mercado de trabalho em outro país, também diz que é interessante observar o fenômeno da globalização, as pessoas de lá falando português e as relações de empresas coreanas com o Brasil. Edvar relata também, que teve problemas com o recebimento da bolsa, pois a primeira parcela chegou atrasada, apenas uma semana antes da viagem, mas as outras parcelas foram recebidas normalmente. Reclama da falta de informação de todos os tipos por parte do CNPq, da demora no depósito do dinheiro e nas respostas às dúvidas dos estudantes, pois nunca respondem os e-mails. Ele aconselha qualquer um a tentar, não ter medo de se adaptar ou de não conseguir, pois é um bom programa e uma ótima oportunidade. O Ciência sem Fronteiras ajuda muito as pessoas e ao contrário do que
elas pensam, não é difícil. Já Thiago Inácio Viga, 20, estudante do 4º período de Engenharia Civil na PUC Minas, que está tentando participar do programa, quer ir para os Estados Unidos. Ele acha interessante a possibilidade de estudo em uma universidade no exterior, aperfeiçoamento no idioma, diferenciação de currículo, e vivencia em uma cultura diferente, diz que será experiência única. Reclama que não é possível eliminar no Brasil as disciplinas cursadas no exterior. Para concorrer às bolsas de graduação, o candidato deve estar matriculado em curso de nível superior numa das áreas prioritárias do programa, ter cursado no mínimo 20% e no máximo 90% do currículo previsto para seu curso, alcançar a média mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 600 pontos e possuir bom aproveitamento acadêmico. O Ciência sem Fronteiras é fruto de uma iniciativa dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC). Os editais para as vagas são elaborados pelo CNPq e Capes e trazem demais pré-requisitos para a participação, como o domínio da língua dos países participantes. As chamadas públicas são sempre divulgadas no site www. cienciasemfronteiras.gov.br.
Cuidados com os dentes devem começar cedo FERNANDO OSÓRIO JULIANA NAVEGA VICTOR RINALDI 7º PERÍODO
A rotina de ir ao dentista pode ser um pesadelo para algumas pessoas, e as crianças gostam ainda menos. Mas deixar para a última hora pode ser pior e a prevenção é a principal estratégia. Esse é o objetivo do Programa Saúde na Escola, desenvolvido em escolas públicas e que promove uma triagem entre os estudantes. A aula é interrompida para uma conversa breve sobre a importância da limpeza dos dentes. Em seguida, meninos e meninas com idade entre seis e 12 anos recebem o atendimento na escola. Caso seja identificado algum tipo de doença bucal na criança ela é direcionada ao posto de saúde mais próximo de casa
para iniciar o tratamento. Cada centro de saúde de Belo Horizonte tem uma área de abrangência e atende escolas, creches e Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis). Dentista do Programa Saúde na Escola da Região do Barreiro, Iuri Almeida, atende a três escolas, três Umeis e a uma creche conveniada. “É muito importante a gente realizar essa busca ativa. Buscar os pacientes que não estão nos procurando, mas que tem uma necessidade de tratamento”, observa. E quem acha que a meninada não gosta de tratar dos dentes está enganado, eles estão ligados na importância de cuidar do sorriso. Gabriel Barros tem só seis anos e prestou bastante atenção nas dicas do dentista. Com a resposta na ponta da língua ele não tem dúvidas da importân-
A prevenção é a melhor forma de evitar futuros problemas
cia de escovar os dentes: “Eu acho importante para a gente não ficar com cárie e com uma saúde boa”, afirmou. Fatima Costa, que é técnica de enfermagem, trabalha com adolescentes acautelados e os acompanha no tratamento. Ela convive diariamente com crianças e adolescentes que moram na rua e que não receberam as orientações dos pais na infância. “Igual eu falo, os dentes são o cartão postal, né? Se você não tiver os dentes bem cuidados o sorriso fica horroroso”, brinca. Para o professor de Pósgraduação em Odontologia da PUC Minas, Elton Zenóbio, a má situação da saúde bucal dos brasileiros pode ser comparada com um ciclo vicioso. O paciente deixa de tratar preventivamente de um problema, que pode evoluir para um
Victor Rinaldi
grande problema, que determina a perda dental. Segundo ele, a perda dental é como um disparo, que gera uma série de outros problemas, como problemas de dentes tortos, dores na mastigação, problemas funcionais, estéticos e
até um problema psicológico para o indivíduo no futuro. “Eu acho que esse ciclo tem que ser detido, preferencialmente, na infância, por que o custo é menor. Se a gente consegue formular um processo de atendimento e do
acolhimento da criança dentro das escolas, isso vai minimizar não só o processo problema, como vai criar um referencial diferente do cirurgião-dentista. E vai criar um referencial da escovação e da importância da manutenção”, opina.
Os perigos de doenças bucais No dito popular: O sorriso é a porta de entrada, o cartão de visitas. Manter os dentes limpos e bem cuidados é fundamental, ajuda na autoestima e previne doenças. Mas apesar da evolução dos atendimentos nos últimos anos, as pessoas ainda correm o risco de contrair doenças bucais. De acordo com a Federação Dentária Internacional cerca de 90% da população mundial pode sofrer com alguma doença bucal ao longo da vida. A dona de casa Elizabete Pereira tratava dos dentes em uma clinica particular, chegou até a fazer duas cirurgias, mas não obteve uma resposta boa ao tratamento. Em seguida, Elizabete soube que universidades realizavam trabalhos voluntários de atendimento à comunidade. Ela começou o tratamento na Universidade Federal de Minas Gerais e, atualmente, trata na Clínica de Odontologia da PUC Minas. “Eu preferi fazer aqui do que particular”, diz. “Minha família é muito pobre. A geração dos meus pais não sabia da importância do tratamento bucal, então eu estou sofrendo, e muito, com isso. Eu fico com medo de ter câncer bucal”, conta. Segundo o presidente do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO -MG), Luciano Elói Santos, são várias doenças bucais que atingem a população. A mais comum é a cárie dentária, que atinge grande parte das pessoas, e as doenças gengivais, conhecidas como doenças periodontais, causadas pelos processos inflamatórios na gengiva. Ele ressalta que houve um crescimento da incidência do câncer de boca nos últimos anos. E lembra outras doenças recorrentes, como a fluorose, causada pelo excesso de flúor em contato com o dente, e a má oclusão, que é o po-
sicionamento incorreto dos dentes. “É difícil falar que alguém vai estar imune a alguma delas. Então quando coloca 90%, podemos até ter uma estimativa um pouco maior”, alerta. De acordo com o Ministério da Saúde, a cárie dentária ainda é o principal problema de saúde bucal dos brasileiros. Com variações por regiões, a média do país é de dois dentes atacados por bactérias, por pessoa. No Brasil há mais de 250 mil dentistas, mas a quantidade de profissionais não reflete diretamente na procura por atendimento. Pesquisas internacionais apontam que 40% da população mundial não tem acesso a cuidados bucais. Divulgada em 2010, a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal revela que as regiões mais afetas no Brasil são o Norte e Nordeste do país. Para o professor de pós-graduação de Odontologia da PUC Minas, Elton Zenóbio, apesar de todo o crescimento real da atenção bucal e dos programas de saúde bucal no país, ainda existe uma dificuldade, não só de manter a questão qualidade e quantidade, mas de infiltração desses processos em áreas que muitas vezes não tem acesso à alimentação e educação básica, quanto mais a programas de saúde e de saúde bucal. De acordo com Luciano Santos, presidente do Conselho Regional de Odontologia, programas públicos de saúde bucal, como o projeto Brasil Sorridente do Governo Federal, ajudam no crescimento e no atendimento da população, mas não podem mascarar os problemas, que ainda existem e não podem ser esquecidos. “Hoje nós melhoramos muito os índices, mas as pessoas continuam expostas a essa série de fatores”, diz Luciano Santos.
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Economia
Cartões recusados em compras Comerciantes alegam que não estão lucrando com taxas cobradas pelas empresas de cartão de credito e débito. Clientes reclamam que não são avisados de consumo mínimo para tal pagamento LAURA BARALDI LINA FREIRE SARA MARTINS TAÍS SILVA 7º PERÍODO
O consumidor se dirige ao caixa da padaria, farmácia, entre outros estabelecimentos comerciais, e sua compra não é aceita, pois não atingiu um valor mínimo estabelecido para o uso de cartões de crédito ou débito. Foi o que aconteceu com o dentista Paulo Sérgio de Almeida que, certa vez, foi a uma pizzaria, no Bairro Guarani, na capital mineira e, ao pagar a conta, descobriu que havia consumido menos que o valor mínimo cobrado pela casa. “Além de não ter sido avisado antes sobre esse limite, me senti obrigado a consumir a mais”, afirma. Paulo Sérgio ainda conta que, à época, não sabia da ilegalidade da prática, pois se soubesse teria se recusado a pagar além do consumido e denunciado o estabelecimento. Estabelecido pela Constituição Federal Brasileira, o Código de Defesa do Consumidor (CDC), no artigo 39, inciso V, determina que “é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços (…) exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva”. De acordo com o coordenador do Procon Assembleia, Marcelo Barbosa, a prática dos comerciantes é abusiva, pois uma vez que o lojista optou por adotar o uso dos cartões, cabe a ele assumir os custos e riscos envolvidos nesse processo. Alguns lojistas afixam avisos em seus estabelecimentos estipulando o valor mínimo para compras no cartão. Dessa maneira, o consumidor já fica avisado sobre as regras locais. Essa prática, no entanto, não isenta o comerciante de in-
Antônio Márcio Schuffner aderiu ao cartão de crédito para não perder clientes
fringir a lei, pelo contrário, ela serve como denúncia. Se flagrado, o proprietário pode ser multado. O valor da penalidade varia de acordo com o porte econômico do empreendimento e a gravidade da infração. Mesmo nos casos em que não há a placa, mas existe a prática, a loja é investigada e pode ser condenada a pagar multas que variam de R$ 427 até R$ 6 milhões. Outras sanções administrativas previstas no Código de Defesa do Consumidor para os comerciantes que infringirem as normas de defesa do consumidor são apreensão do produto, cassação do registro do produto, proibição da fabricação do produto, suspensão de fornecimento do serviço, suspensão temporária da atividade, inutilização do produto, revogação de concessão de uso, cassação de licença do estabelecimento, intervenção administrativa e imposição de contrapropaganda. Nenhu-
ma delas inclui prejuízo de natureza civil ou penal. Marcelo Barbosa recorre aos contratos estabelecidos entre as operadoras de cartão e os contratantes para explicar a ilegitimidade da prática. “Nos acordos não são estipuladas restrições quanto ao uso dos cartões de crédito ou de débito e a imposição de um valor mínimo pode reduzir o número de compras por esse meio, prejudicando as operadoras. O consumidor pode comprar até um chiclete com cartão, se quiser”, explica. Por outro lado, o comerciante Cláudio Costa, dono do Salão de beleza Classe A, localizado no Bairro Coração Eucarístico, questiona a restrição aos lojistas. “Dizem por aí que é contra a lei, mas não deveria ser”, afirma. Ele argumenta que os impostos e taxas cobrados diminuem bastante o lucro e podem até dar prejuízo aos vendedores. “Tem valor de di-
Informação é trunfo contra prática abusiva “Como todo brasileiro, a gente conhece os nossos deveres, mas não os nossos direitos”. É assim que o arquiteto Roberto Magalhães descreve a realidade da classe consumidora. Para o advogado Gabriel Veloso, especializado em direito do consumidor, falta instrução aos consumidores. “A cobrança do valor mínimo é tão frequente, que as pessoas muitas vezes não refletem sobre isso e, por desconhecimento da ilegalidade da prática, aceitam sem questionar”, afirma. O estudante Lucas Vieites não sabia que era proibido, mas desconfiava. Para ele, a prática é abusiva, pois intimida o cliente que, por medo de passar vergonha, se sente obrigado a consumir mais. Por ser ilegal, muitos estabelecimentos não avisam previamente sobre a cobrança do valor mínimo, o que agrava a situação e pode levar ao constrangimento do cliente no caso de serviços já prestados ou produtos sem devolução. Foi o que aconteceu com uma cliente do salão “Classe A”, que preferiu não se identificar.
Ela relata que certa vez foi pintar o cabelo no salão e, ao pagar, se surpreendeu com o valor mínimo de R$ 50. A cliente não teve a opção de não pagar, pois o serviço já havia sido prestado. Procurado, o dono do estabelecimento, Cláudio Costa, afirmou que nunca cobrou valor mínimo e que conhece a lei. O professor de Direito do Consumidor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Bruno Bulgarelli, afirma que as pessoas não podem ser submetidas a essa prática. Se possível, devem se recusar a realizar a compra e denunciar o estabelecimento. Ao contrário da maioria, a veterinária Edna Vidigal conhece seus direitos e já desistiu de uma compra por esse motivo. Ela já deixou as compras no balcão de uma padaria. “Se o local aceita cartão de crédito, deve aceitar a compra através dele sem interessar o preço. No dia, apenas disse que não levaria, não seria lesada por isso e nem compraria mais nada”, conta.
nheiro, assim como a nota de dois, mas as taxas são enormes e eu acabo não ganhando nada”, reclama. Os custos a que se refere o proprietário do salão começam com a taxa de instalação da máquina, que varia de acordo com a bandeira do cartão e instituições financeiras que o garante. Depois de instalada, a manutenção da máquina exige custos fixos de aluguel do terminal e da taxa de venda. O aluguel do terminal tem um custo fixo mensal de até R$ 140. Já a taxa de venda é cobrada a cada comercialização feita pelo terminal e a percenta-
gem varia de acordo com o tipo de cartão. Compras feitas no cartão de débito geralmente custam 2,4%; no cartão de crédito a percentagem é de 4,2%. Para compras parceladas em mais de 6 vezes, a taxa é de até 4,8%. Além desses custos, a demora em receber o pagamento dos clientes é um dificultador para os lojistas. As vendas de débito creditam-se na conta da empresa em até 24 horas a partir da data da compra do cliente; quando as compras Camila Navarro são efetuadas em finais de semana e feriados, é creditada no próximo dia útil com expediente bancário. Nas vendas feitas a crédito, os valores são creditados na conta da empresa depois de 30 dias a partir da data da venda. No caso de parcelamento, a empresa recebe os valores de acordo com a quantidade de parcelas, sempre 30 dias depois que elas foram pagas pelo cliente. “Hugo’s Cabeleireiros” é um estabelecimento que está há 17 anos no Bairro de Lourdes, na Zona Sul da cidade, e não oferece às clientes a opção de pagamento no cartão. O dono do salão, Hugo Alves Parreira, explica que não pensa
em instalar um terminal de cartão em seu estabelecimento devido aos custos e ao tempo gasto para receber o valor da compra do cliente. Ele paga suas funcionárias semanalmente, o que o impossibilita de esperar 30 dias para receber o valor pago no cartão de crédito. Já Antônio Márcio, dono da Cantina Schuffner cansou de perder clientes por não aceitar compras no cartão. Atualmente, a lanchonete possui apenas um terminal de débito. Para evitar prejuízos, foi estipulado um valor mínimo de R$ 4 para esse tipo de compra. O dono argumenta que as altas taxas impossibilitam ao estabelecimento lucrar com vendas menores. Caso semelhante ao da papelaria Universitária, que exige um mínimo de R$ 2 para compras no débito e R$ 5 no crédito. O advogado Gabriel Lanza Veloso, especialista em direito do Consumidor, acredita que o comerciante, ao estipular o valor mínimo, acaba obrigando o consumidor a gastar mais. Tamires dos Santos foi a um bar na Região da Savassi, onde consumiu um suco e não aceitaram passar sua compra no cartão, uma vez que não tinha inteirado R$ 30. Para atingir o valor, ela comprou várias garrafas de água que deixou no estabelecimento. “Não tinha dinheiro para pagar, então comprei e deixei tudo no balcão”, conta.
A importância de reivindicar Desde a promulgação do Código de Defesa do Consumidor, em 1990, vários benefícios já foram trazidos aos consumidores, como a facilitação da defesa de seus direitos e a proteção de seus interesses econômicos. E é por meio dele que o consumidor se protege de práticas abusivas adotadas por estabelecimentos comerciais, como a cobrança de valor mínimo para compras realizadas com cartões de crédito e débito. O administrador Alfredo Costa já foi prejudicado pela cobrança do valor mínimo de R$ 20 para realizar uma compra no cartão de crédito. Por isso, decidiu fazer uma
reclamação por escrito, que foi entregue ao estabelecimento responsável. Porém, não obteve resposta rápida e agora ele tenta no Procon uma solução para o seu caso. Mesmo assim, Alfredo acredita que é importante reivindicar seus direitos. “Se todos os que se sentirem lesados começarem a fazer isso, as coisas irão mudar”, conclui. As denúncias feitas pelos consumidores têm grande importância, pois podem contribuir para o fim dessa prática abusiva. É a partir das denúncias que o Estado, por meio de seus órgãos reguladores, pode multar os estabelecimentos que cobram
valor mínimo. Dependendo do caso, o comerciante que não se adequar à lei está sujeito à suspensão dos serviços que oferece. É necessário que os consumidores e o Estado atuem em conjunto para combater o descumprimento dos direitos estabelecidos pelo Código de Defesa do Consumidor. Aqueles que passarem por essa situação não devem ter medo de denunciar e o Estado, por sua vez, tem a obrigação de garantir a punição dos responsáveis por essa prática ilegal e abusiva. Para denunciar, basta ligar para o Setor de Atendimento do Procon MG, no número (31)3250-5010.
COMO PROCEDER:
O consumidor que se sentir lesado em seus direitos deve tomar as seguintes medidas: • Fazer uma reclamação por escrito, em duas vias. Uma deve ser guardada consigo e a outra entregue ao estabelecimento ou prestador de serviço, pedindo uma solução rápida. • Entrar em contato com o Serviço de Atendimento ao Consumidor, caso o estabelecimento possua um, e anotar o número do protocolo de atendimento. • Procurar o Procon do estado ou município caso o problema não seja resolvido em até dez dias. • Em último caso, o consumidor pode entrar com uma ação na Justiça pedindo cumprimento da obrigação ou ressarcimento dos danos causados pelo estabelecimento.
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Cidade
Feira das Flores é redescoberta Iniciativa começou no Adro da Catedral da Boa Viagem, em 1984, e ao longo de 30 anos mudou de endereço três vezes, até chegar à Avenida Carandaí, voltando a atrair um público variado GABRIELLA CARVALHO PRISCILA RIBEIRO ROBERTO BARCELOS 1º PERÍODO
A feira das flores começou como uma pequena chance para floristas oferecerem o seu trabalho em um espaço reduzido no Adro (área externa, geralmente, cercada das igrejas) da Catedral da Boa Viagem, à Rua Sergipe, no centro de Belo Horizonte, em 1984. Desde então não apenas cresceu e tornou-se mais popular, como também passou por diversos endereços. No início a Catedral da Boa Viagem abriu espaço para que os fieis tivessem alguma chance de começar a ganhar dinheiro com a venda das flores, principalmente para aqueles de baixa renda que possuíam problemas econômicos. Porém, o número de interessados nessa atividade cresceu, e o tamanho da área externa oferecida para os feirantes tornouse insuficiente. Logo eles foram transferidos para uma área maior na famosa Praça da Liberdade. A Feira das Flores que acontece sempre às sextas-feiras pela manhã e à tarde começou a atrair um grande número de pessoas interessadas por jardinagem, decoração, amantes da botânica e até mesmo curiosos. O espaço reservado tornou-se um dos favoritos dos moradores da região, que aproveitavam o tempo livre para passear no ambiente agra-
A Feira das Flores atrai compradores e visitantes de toda a cidade
dável criado pela feira. Alguns feirantes estão há anos nessa atividade, como Fernandino Vasconcelos, 57 anos, que trabalha na feira ao lado de sua esposa Laura, 54. Cuidar de flores sempre foi o passatempo favorito de Laura e participam dessa atividade desde o começo da feira, na Praça da Liberdade. Fernandino diz, entre os risos, que mesmo com mais de 20 anos trabalhando na feira ele ainda tem muito que aprender sobre como cuidar de plantas, pois quem realmente sabe disso é sua esposa. “Algumas pessoas nasceram com um dom para isso, e esse é o caso de Laura”, disse Fer-
nandino enquanto a esposa atendia uma cliente. Após 22 anos de funcionamento na Praça da Liberdade, a Feira das Flores teve seu endereço alterado e foi transferida para a Avenida Bernardo Monteiro, entre Avenida Brasil e Rua Padre Rolim, por meio do decreto 6.762/91. A mudança de sua localização trouxe problemas e opiniões diferentes não apenas dos feirantes, mas também daqueles que costumam frequentar a feira e que moram na região. São flores de todos os tipos, desde arranjos de orquídeas às famosas rosas vermelhas, brancas, amarelas e, até mesmo
na Praça da Liberdade, mas poucos anos depois mudaram para a Avenida Bernardo Monteiro. Porém com a doença que atingiu os ficus ali existentes (leia matéria acima), as duas feiras novamente mudaram de endereço, indo para
a Avenida Carandaí, em frente ao Colégio Arnaldo. As principais atrações das feiras são as diversas apresentações artísticas e de música ao vivo que acontecem na Feira Tom Jobim, e o festival gastronômico com grande variedade de comidas exóticas
Camila Navarro
com cores inusitadas, como roxas e verdes. Além disso, há também mudas, acessórios de jardinagem, plantas exóticas e muito mais. As flores sempre foram um objeto importante para o ser humano. Ao redor do mundo, com as distinções particulares de cada cultura, as flores sempre tiveram um lugar importante, não só por sua beleza inerente, mas também pelo seu simbolismo. Maria Trugillio, feirante, começou desde nova a trabalhar no mercado da jardinagem e confirma a importância das flores para as pessoas. “O clima da feira é algo diferente, sinto-me em casa
quando estou lá dentro, e tenho boas lembranças. No dia dos namorados, vendíamos rosas por um preço bem em conta, e já pude ver diversos casais se unindo graças a elas”. E essa não é a única mudança que a feira sofreu em 30 anos de sua existência. O que começou no Adro da Catedral da Boa Viagem foi transferido para a Praça da Liberdade, depois para a Avenida Bernardo Monteiro e agora está em seu quarto endereço: Avenida Carandaí, ao lado do Colégio Arnaldo. A última transferência de localização aconteceu porque as árvores fícus que ficavam no canteiro central da
Avenida Bernardo Monteiro foram contaminadas pela mosca-branca. Isso trouxe riscos para o local. A prefeitura iniciou o tratamento das árvores e transferiu a Feira das Flores por segurança. Neuzilia Takena, 67 anos, trabalha na feira há mais de 20 e aponta os lados positivos e negativos dessa mudança, já que ela diz que o espaço oferecido na Praça da Liberdade era pequeno, muito amontoado para o número de feirantes. Agora tem mais espaço para colocar os produtos e sombra para todos, principalmente para as “plantinhas”. Porém, eles perderam mais do que a grande parte de uma clientela já estabelecida, e agora a feira está sendo descoberta outra vez. Por ser uma feira organizada pelos próprios produtores, observa-se um preço mais acessível do que em floriculturas e casas de jardinagem. O horário de funcionamento é toda sexta-feira, das 8h às 18h. O público feminino, entre 30 e 60 anos, é o que mais frequenta o local, seja apenas para fazer uma visita e passear entre o cenário colorido e alto astral, seja para fazer compras e transferir tal cenário para dentro de casa.
Gastronomia e antiguidades em um único local DIANDRA GUEDES LAÍS MARINHO TAMIRES RODRIGUES 1º PERÍODO
As feiras Tom Jobim e Feira de Antiguidades são agradáveis pontos turísticos de Belo Horizonte. Quando inauguradas, em 1997, se localizavam
A Feira de Antiguidades acontece atualmente na Avenida Carandaí
Juliana Gusman
em mais de 80 barracas de comidas típicas do Brasil e do exterior. Um dos destaques é a barraca Delícias da Índia, legitimamente indiana, com sua culinária vegetariana e diferenciada. O salgado frito conhecido como samosa (recheado com batata, amendoim e temperos da Índia), é o mais pedido. As feiras conquistam o público pelo ambiente arborizado e a simpatia dos feirantes, além do charme das antiguidades que tem clientela fixa. Lia Silva de Castilho, frequentadora assídua, ressalta o bom ambiente do local. “É um ambiente familiar, eu freqüento a feira há muito tempo e sempre trago meus parentes que estão hospedados na minha casa para conhecê-la. Vale muito à pena”. Sidney Ferreira, colecionador de antiguidades, declara-se apaixonado pelo local. “Eu venho sempre que posso, como colecionador
este é um dos meus lugares preferidos, sempre encontro relíquias de qualidade e com bom preço”. Há 17 anos em funcionamento, as feiras não sofreram grandes mudanças. Luciene Dias, vendedora de bebidas na Feira Tom Jobim há oito anos afirma que a clientela é fiel e a concorrência é limpa. “Os feirantes se respeitam, nos tratamos como uma família, cada um toma conta da barraca do outro, é um excelente ambiente de trabalho, nunca tive problemas com ninguém”, destaca a vendedora. Além de comprar produtos antigos e relíquias, os visitantes também podem vender suas antiguidades e restaurá-las com o senhor Alferes José, que trabalha na feira há 15 anos. O restaurador ressalta o bom convívio. “Não há concorrência, cada feirante vende peças únicas, cuidando um do
outro como uma família”. A mudança de endereço da feira de Antiguidades e da feira Tom Jobim, ocorrida em março de 2013, agradou tanto aos frequentadores quanto aos expositores. Os expositores da Feira de Antiguidade afirmam que a proximidade de suas barracas com as de alimentos e bebidas da feira Tom Jobim contribuiu para manter o espaço mais intimista e favoreceu o público. Armando Filho, que trabalha há 30 anos com antiguidades em geral, assegurou que não percebeu diferença com a modificação do local e que a clientela continua fixa. Para ele, a feira é um excelente ambiente de trabalho, com público de diversas idades e classes sociais. As feiras acontecem aos sábados, à Avenida Carandaí, no Bairro Funcionários, das 10h às 18h.
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Comportamento
O casamento ideal depende de um bom planejamento do orçamento
Mônica Santiago
Sonho de casar pesa no bolso Realizar o casamento idealizado às vezes é mais complicado do que se imagina. Os noivos encontram pela frente o desafio de conciliar a cerimônia perfeita com as inúmeras despesas do evento GABRIELA GARCIA LUCIANA SANTANA MARIA PAULA RABELO RAISSA TORRES YASMIN TOFANELLO 7º PERÍODO
“Não compensa, se for olhar só pelo valor. É melhor e mais necessário comprar uma casa. Mas acaba valendo a pena se você pensar que é a realização de um sonho”. Esse é o raciocínio de Leandro Costa Maia, 30 anos, que sintetiza o pensamento de muitos casais, que se sujeitam a pagar altos valores em uma cerimônia de núpcias, por entenderem que mais vale a realização do sonho. Leandro e Carolina dos Santos Oliveira, 27, noivaram em julho de 2013 e vão se casar em outubro deste ano. Para o noivo, mesmo que não tenha firmado todos os contratos ainda, há uma estimativa de que o valor do casamento já esteja entre R$ 50 mil e R$ 60 mil, o que considera um orçamento elevado. Ele afirma que esse dinheiro poderia ser usado para outros fins, como dar entrada na compra de uma residência, mas mesmo assim, escolheu utilizar o valor na realização de uma cerimônia da forma como planejavam. O sonho de se casar tem se tornado cada vez mais caro. De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), com aumento de 19,61% o casamento se figurou entre as cinco maiores altas de 2013. De acordo com Lean-
dro e Carolina, os serviços mais caros da cerimônia são decoração e aluguel de salão. “Os preços são todos muito altos. Tem aluguel da igreja, convite, a roupa do noivo, da noiva, das damas de honras, segurança para a festa, os doces que são servidos ao final da cerimônia, filmagem, fotografia, drinks. Mas nada se compara com o salão e a decoração, tanto da igreja, quanto da festa”, lembra o noivo. Segundo o site Mercado Mineiro, o aluguel de um salão varia entre R$ 750 e R$ 18 mil. Pesquisa realizada pelo mesmo site aponta que uma cerimônia na Igreja Católica, com a utilização de todos os produtos e serviços disponíveis, pode chegar a quase R$ 70 mil. Com esse alto custo, os noivos Erasmo Júnior, 35, e Juliana de Fátima, 32,
tiveram que procurar soluções. A igreja era ítem indispensável para a noiva, que abriu mão de escolher o vestido branco. “Há um ano, minha prima casou-se com um vestido lindo, que ela havia comprado. Ela se dispôs a me emprestar e não pensei duas vezes. Aceitei para economizar e poder realizar a cerimônia na igreja”, contou Juliana. Peça indispensável para a noiva, o vestido de casamento possui um preço médio de R$ 6.525 em Belo Horizonte. O valor do aluguel pode variar 2.200%. O sonho do casamento perfeito pode levar alguns noivos a se apaixonarem com a ideia de que, o dia tão esperado deve ter seus detalhes minuciosamente trabalhados. Mas, esses detalhes podem se tornar uma pedra no sapato e deixar o futuro casal
estressado e com muitas contas a pagar. Muitas vezes a conta é inviável e pode barrar o sonho do matrimônio para alguns noivos. O empresário Bernardo Alvarenga, 25, e a secretária Maria Eduarda Alves, 24, adiaram a data do casamento para daqui três anos por falta de recursos financeiros. O casal não pode arcar com todas as despesas de um casamento tradicional, com igreja e salão de festas para a recepção. “Organizar um casamento é algo sério. Um investimento que requer grande sacrifício para que tudo seja do jeito que nós sonhamos. Hoje, não temos condição financeira de bancar um casamento completo. Quando decidir me casar quero que eu e minha noiva tenhamos um casamento da maneira que nós sempre sonha-
mos”, afirma Bernardo. O casal estipula que três anos será o tempo ideal para que consigam acumular uma quantia necessária para realizar o casamento de seus sonhos. CUSTOS VARIADOS A transferência de paróquias é outro fator que pode aumentar os custos da celebração do casamento. A Igreja Católica exige que a cerimônia aconteça na denominação da paróquia na qual o noivo ou a noiva pertença. Caso o casal opte por outro local, a entidade exige o pagamento de uma taxa de transferência, como explica o secretário da paróquia da Sagrada Família, Luiz Carlos Januário. “Os valores definidos pela cúria podem chegar a R$ 600. No caso da igreja da Sagrada Família são de R$ 350
para a transferência e R$ 450 para a celebração devido a um acordo feito pelos padres da paróquia Santa Tereza e Santa Terezinha ao decidirem cobrarem o valor com certo desconto”. No caso das Igrejas Evangélicas, a maioria não cobra taxa de celebração e aluguel para membros. Em compensação, a média do preço estipulado a um não-membro é de R$ 891. Mauro Rezende, 26, e Ana Júlia Amaral, 22, são protestantes e pertencem à Igreja Batista da Lagoinha. Há três anos eles se casaram ali, não só pela identificação, como também pelo custo zero. “Desde o início já havíamos pensado em casar nessa igreja. Eu cresci aqui e, além disso, é um gasto a menos. Tínhamos esse privilégio e aproveitamos”, afirma Mauro.
Quando a festa é substituída por dívidas Alguns casais, não querendo abrir mão do sonho, podem acabar estourando o orçamento e adquirindo dores de cabeça. Silvia Araujo Lima, 26, e Adriano Fernandes, 28, sonhavam com um casamento no campo e uma grande festa. Sem falar em valores, o casal afirma que para seguir o planejamento de ambos, acabaram adquirindo uma grande dívida. “Entramos no casamento endividados. Se gostaríamos de começar uma vida nova, linda, de paz e alegria, aconteceu exatamente o contrário. Começamos vivendo um pesadelo. Hoje, graças a Deus, conseguimos quitar as dívidas e recomeçamos, mas o início foi bem difícil”, conta Silvia.
Há quatro anos casados, Silvia e Adriano, conseguiram resolver o problema da dívida e recomeçaram. Gustavo Lacerda, 37, e Raquel Duarte, 32, não conseguiram fazer o mesmo. O casal se separou após três anos da cerimônia e o principal motivo foi a falta de planejamento na preparação do casamento. “Desembolsamos R$ 55 mil para termos o casamento conforme sonhávamos. Porém, não era um dinheiro que tínhamos em caixa, o que nos levou ao acúmulo de dívidas. Em meio a essa situação, não conseguimos entrar em um acordo e achamos por bem divorciarmos”, relata Gustavo. Apesar dos altos custos, há ca-
sais que conseguem driblar as dívidas e optam por realizar cerimônias mais simples, como é o caso de Tereza dos Santos, 28, e Ricardo Pereira, 30. “Fizemos um casamento simples, só para a família e os amigos mais próximos. Com poucos convidados a festa já fica com um preço mais acessível. Além disso, optamos por casar em nossa igreja para não ter de arcar com o preço de um aluguel. Óbvio que não foi exatamente o que sonhei, porque se eu pudesse faria algo bem maior e mais caro, mas temos que pensar naquilo que cabe ao nosso bolso. Não dá para começar um casamento já endividado”, afirma Tereza. Além de optar sempre pelo mais
simples e barato, o casal afirma que buscou alguns descontos e outras formas de economizar ao máximo. “Utilizar os talentos da família e dos amigos pode ser um bom negócio. Economizamos com o Buffet, com parte da decoração e com os vestidos das damas e da noiva, quando pensamos em colocar a família para trabalhar”, conta Ricardo. A família da noiva, sendo do ramo da costura, cooperou fazendo os guardanapos de pano, as toalhas e até o vestido das damas e da noiva. Já a família do noivo, por ter boas cozinheiras, ficou responsável por fazer o bolo, os salgados e o jantar.
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Comportamento
Asilo é alternativa para idosos HELOÁ CAMPOS MARCELLA FIGUEIREDO NATÁLIA MARINA RAQUEL SANTOS VINÍCIUS AUGUSTO
Abandonados pelas famílias ou por opção, pessoas da 3ª idade levam a vida da melhor forma possível em casas de acolhimento, apesar da falta da antiga rotina
6º PERÍODO
“...Na verdade uma andorinha, voando sozinha, não faz verão”. Este pequeno fragmento da música “As Andorinhas”, do Trio Parada Dura, na voz da senhora Maria de Lourdes, lembra por alto, a realidade de boa parte dos idosos: a necessidade, ao se ver sozinho e incapaz, de recorrer ao acolhimento oferecido pelos asilos. Maria de Lourdes, assim como Maria Antonieta, Geralda Torres e outros noventa e sete idosos moram na Casa do Ancião Francisco Azevedo, também conhecido como Asilo Cidade Ozanam, 55 anos de existência, localizado no Bairro Ipiranga, Região Nordeste de Belo Horizonte. Dos cem moradores da instituição, apenas sete são homens. A explicação é que eles são mais difíceis de ser cuidados, por isso, não são mais aceitos. As senhoras, em maior quantidade, são as que guardam as histórias e a vontade de contá-las. Dona Isaura Leal é dessas. A princípio, acuada. Após se acostumar com a presença de estranhos, torna-se receptiva, assim como as avós dos contos infantis. Dos seus 84 anos de idade, sete foram passados na casa de acolhimento, local já conhecido por ela. A ida definitiva para lá se deu após a morte de seu esposo e de sua filha. Dona Isaura, hoje, tem apenas uma irmã. “Éramos em onze irmãos, agora só tem ela e eu”. Mesmo assim, a possibilidade de morar com a irmã não foi se-
Moradores do asilo contam com conforto e assistência médica da instituição
quer considerada por causa do incômodo que isso poderia gerar. Assim, decidiu instalar-se em um asilo. O primeiro ao qual teve acesso ficava no Bairro Padre Eustáquio. Contudo, por lá viveu pouco tempo, decidindo se mudar para a Casa do Ancião Francisco Azevedo. O motivo da troca é simples: o asilo fica próximo da casa da sobrinha. Em Belo Horizonte, o encaminhamento aos asilos é feito pela Prefeitura. Primeiramente o interessado ou familiar precisa fazer um cadastro na Regional mais próxima. A partir daí eles os encaminham para alguma instituição definida por eles. O que mais Dona Isaura sente falta é da “liberdade de sair”. Sentimento que é um pouco amenizado pelas visitas da sobrinha e dos passeios feitos ao lado dela. Só se pode sair do asilo na companhia de um familiar. “Ela vem me visitar às vezes, mas ela vem de vez em quando”.
TRISTE REALIDADE Visitas como as que Dona Isaura recebe, mesmo que poucas, são exceção. A grande maioria dos idosos não tem alguém que zele por eles, porque não quer ou porque não tem condições financeiras de assumir os gastos. O que comumente acontece, segundo Marília de Fátima Cunha, presidente da Sociedade São Vicente de Paulo (união do Projeto São Vicente de Paulo, da Casa do Ancião Francisco Azevedo e da Creche Odete Valadares), é o abandono. “Poucos são os que visitam”, afirma. O asilo funciona como um hotel. O idoso tem o seu quarto – que pode ter duas, três ou quatro camas –, no qual ele pode permanecer o quanto quiser. São oferecidas refeições quatro vezes ao dia, em horários definidos. Além disso, têm uma equipe médica à disposição. Como forma de pagamento prevista no Estatuto do Idoso, o morador de
Camila Navarro
terceira idade entrega 70% de seu salário para a instituição, ficando o restante sob sua posse. É nesse momento que as famílias resolvem aparecer. Elas usam a “visita” mensal para ter acesso aos 30% restantes. Apesar do interesse por parte de alguns parentes, alguns laços familiares ainda persistem, principalmente entre os idosos. É o caso das irmãs Maria C., que após perder o marido, falecido há um ano, foi morar junto de Maria E. no asilo para lhe fazer companhia. Já que C. não teve filhos, ela diz adorar o ambiente do local com tantas pessoas porque não fica sozinha. Dona Maria Helena, Maria Lisbela e Therezinha Jesus também são irmãs e, juntas, são outro caso dentro do asilo no qual a família continua unida. RECURSOS A infraestrutura da casa de acolhimento ainda não é a ideal, mas oferece conforto e assistência
aos moradores. A equipe interna da instituição, entre assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas e outros funcionários, chega a aproximadamente 70 funcionários. Existe também a equipe externa à instituição. É o caso do quadro médico, que foi conseguido por meio de uma parceria entre o asilo e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo Marília, os remédios são retirados no posto de saúde. “Temos agilidade no posto de saúde para pegar os remédios. Inclusive, todos eles já foram vacinados contra a gripe”. Além dos quartos, com banheiros, do refeitório e da cozinha, o asilo tem duas enfermarias, que seguem o sentido do corredor. No início dele há a primeira, onde ficam os idosos doentes, mas que ainda têm a possibilidade de melhora. Como é o caso de Maria de Lourdes, a cantora da casa, e de Rita, que vive repetindo “me dá um beijo, me dá outro”. Ao fim do corredor fica a segunda enfermaria, na qual são tratados os pacientes com doenças em estágio avançado, de maior gravidade. AÇÃO VOLUNTÁRIA Além dos funcionários, a Casa do Ancião Francisco Azevedo conta com o voluntariado. Pessoas que tiram o dia para ajudar o próximo. No asilo os voluntários servem o lanche, ajudam no almoço, fazem a barba, as unhas ou, simplesmente, dão carinho aos idosos. A advogada Natalia Lopes Silva, 29 anos, é voluntaria há sete meses na instituição. Quando optou por trabalhar em um asilo,
Um trabalho pago com muito carinho Aos 67 anos de idade, Doralice de Almeida Araújo, mais conhecida como Dorinha por todos no asilo, nunca imaginou que o trabalho que realiza ali para os idosos, pudesse ser retribuído com um gesto de amor tão grande por parte deles. Dorinha é chamada, carinhosamente por muitas moradoras por “mamãe”. “Eles me chamam de mãe, mãezinha, me tomam a benção todos os dias”, conta. Dorinha, que trabalha na coordenação do asilo há 12, conta que o trabalho exige muita atenção, tem que ser feito com muito amor e carinho, tem que ter muita doação e tem que ser feito com muita paciência. “Deus me deu essa graça de ter muita paciência, de trabalhar com amor, eu agradeço muito”. Para ela, se o serviço se resumisse apenas às questões da coordenação, seria muito mais simples. Mas Dorinha faz mais que suas obri-
gações: ela, muitas vezes, liga para diversos locais pedindo doações para o asilo. Ela pede fraldas, algo essencial para os idosos, material de limpeza pessoal, material de limpeza geral, entre outras coisas. Doralice conta que pensa muito no momento da sua saída do asilo. Para ela a idade já está muita avançada para continuar fazendo o que faz. Mas no momento em que deixar de ser funcionária contratada, vai continuar a ajudar o asilo como voluntária. “No dia em que eu sair daqui, eu já vou ao RH pedir a ficha de cadastro para voluntário, com crachá e tudo”, diz. Para Doralice, o que mais a motiva trabalhar todos os dias no asilo são os idosos. “Eu chego aqui me abraçam, me dão um beijo, falam que estão rezando pra mim, me chamam de mãezinha”. Este carinho que recebe não tem preço.
Aposentada muda de cidade pelos pais A aposentada Maria Elizabeth dos Santos Borges, 72 anos, cuidou dos pais até o final da vida e garante que não se arrepende. “Faria tudo de novo por eles”, afirma. Maria dos Santos Borges e José Alves Ferreira Borges falecidos em 2013 tiveram 11 filhos; desses, sete são vivos. Todos revezavam no cuidado ao casal. Entretanto, Maria Elizabeth foi mais além. A aposentada abdicou da sua vida para cuidar
dos pais. Ela, que é viúva, deixou Belo Horizonte, cidade na qual vivia com o filho e mudouse para Vitória da Conquista, na Bahia, onde moravam seus pais. “Saí de casa muito cedo para estudar, então cuidar dos meus pais no fim da vida era uma prova de gratidão e amor”. Maria Elizabeth garante que a opção de internação em um asilo nunca foi cogitada em sua família. “Não era justo que no
final da vida eles dependessem da ajuda de estranhos”. Entretanto, a rotina familiar era exaustiva. Tinham noites em que a aposentada não dormia por causa dos pais. Maria dos Santos não saía da cama e tinha lapsos de lucidez, sequelas de um acidente vascular cerebral (AVC), e José Alves tinha dificuldades de locomoção. Porém a presença constante da família permitia que os idosos se sentissem mais seguros.
No Brasil, muitas pessoas com idade igual ou superior a 60 anos vivem sozinhos ou são esquecidos pela família. Desde 2003, o abandono afetivo por parte dos familiares do idoso tornou-se crime. O artigo 98 do Estatuto do Idoso prevê detenção de seis meses a três anos mais pagamento de multa para quem abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde ou entidades de longa permanência.
ela queria que fosse público. Após a realização de uma pesquisa, escolheu a Casa do Ancião por causa da proximidade – a advogada mora no Bairro Sagrada Família. Todos os sábados, das 9h às 16h, Natalia se dedica aos idosos. “Acho que o trabalho social é uma forma de engrandecimento pessoal”. Segundo ela, a maioria dos casos na Casa do Ancião têm a mesma história. São mulheres que ficaram viúvas e que não tiveram filhos. Por causa disso, não têm nenhum familiar que possa tomar conta delas. As limitações do corpo humano são a principal dificuldade do trabalho no asilo para Natália. Entretanto, o carinho e a gratidão que ela recebe dos idosos é a maior recompensa. SITUAÇÃO BRASILEIRA A estimativa é de que a população de idosos no Brasil, segundo o Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já tenha ultrapassado 20 milhões de pessoas. Os asilos, entre públicos e privados, totalizam 3.548, número insuficiente para assistir à crescente população carente de terceira idade. Ainda segundo dados do Censo, aproximadamente 83 mil idosos vivem em asilos no país, sendo a maioria composta por mulheres. São penalizadas, perante a Constituição Brasileira, as famílias que omitem assistência aos seus idosos. Em casos comprovados de incapacidade de se prestar cuidados a essas pessoas, os idosos são encaminhados às casas de acolhimento.
DEPOIMENTO
Aprendizado Maria dos Santos Borges e José Alves Ferreira Borges são os meus saudosos bisavós. Do meu ‘bivô’ lembro com carinho das nossas conversas sobre política, da minha ‘Bivó’ do seu perfume. O convívio com eles, no final de suas vidas, permitiu que eu tivesse uma dimensão do amor, do puro e verdadeiro amor. Por mais que eu sofresse vendo os dois em cima da cama, com dor eu tinha plena consciência de que aquele momento era uma passagem, a mais bela que eu já vi na vida. Ali na nossa casa era o lugar deles, ao nosso lado. Não existiam pessoas melhores no mundo para cuidar deles, a não sermos nós mesmos, filhos, netos, bisnetos. Muitas vezes vi nos olhos deles a gratidão e certeza de que estava colhendo o que plantaram: amor. Com os meus bisavós aprendi que o ser humano tem as suas limitações e que elas precisam ser respeitadas. É triste ver que o corpo humano tem o seu tempo. Temos a cultura de super valorizar o belo e novo, nos esquecendo do passado. É inaceitável que uma pessoa seja simplesmente ‘descartável’, por não se lembrar mais do seu nome. Bisavós, vocês permitiram que eu entendesse o sentido da vida e da velhice. Vou lembrar-me sempre dos bons momentos que vivemos juntos. Dos abraços, beijos, cafunés e risos sempre com muito carinho. (Marcella Figueiredo)
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Copa do Mundo
Uma manhã de documentário O filme “Narradores - Memórias afetivas do futebol”, que reúne diversas histórias de pessoas anônimas e que têm em comum a paixão pelo futebol, foi lançado no Cine Clube Belas Artes FÁBIO MARCELINO 3º PERÍODO
Apesar das principais salas de cinema de Belo Horizonte abrirem suas portas todos os dias, nos períodos da tarde e da noite, seus frequentadores costumam visitá-las, com maior frequência, nos fins de semana. Mas quem passou próximo a Rua Gonçalves Dias, na altura do número 1581, em frente ao Cine Clube Belas Artes, Região Centro-Sul da capital, por volta das 9h50 da manhã, do dia 15 março, ficou se perguntando o que seria aquela intensa presença do público na porta do cinema. Cerca de cem pessoas formavam uma fila para entrar em das salas do cine para acompanhar o documentário “Narradores – Memórias afetivas do futebol”. Com direção do cineasta Alexandre Cavalcante e roteiro da jornalista Júnia Carvalho, o documentário, de 53 minutos de duração, registra as narrativas de pessoas ilustres e anônimas sobre a Copa do Mundo, tendo como referência os meios de comunicação. O público era formado pelos convidados dos idealizadores, além de alguns personagens que participaram do filme. Um grupo de garotos e adolescentes, em companhia de seus familiares, estava entusiasmado com o filme. Estes meninos protagonizaram algumas cenas do documentário. “O filme exibe depoimentos de pessoas ligadas ao futebol, à comunicação e à arte, que falam do esporte de maneira apaixonada, emprestando ao ritmo do documentário um tom poético e emocionante”, explica Júnia Carvalho. As histórias mostram as relações afetivas de personalidades importantes como as do compositor Fernando Brant, do escritor Ola-
A jornalista Júnia Carvalho acredita que a paixão pelo futebol dá emoção ao filme
vo Romano, do radialista Mario Henrique, o “Caixa”, dos ex-jogadores Wilson Piazza, Dadá Maravilha entre outros ilustres, e de pessoas anônimas, com um dos maiores eventos esportivos do mundo. A BOLA VAI ROLAR Os idealizadores do do-
cumentário realizaram uma ação para selecionar oito pessoas anônimas para contar as suas histórias, que tivessem relação entre futebol brasileiro e os meios de comunicação. O responsável pela ação foi a É editora!, empresa de cultura e comunicação integrada, de propriedade da jornalis-
ta Júnia Carvalho. As histórias selecionadas foram marcadas pela originalidade e o bom humor. “O resultado é um olhar sensível sobre a relação do futebol com a comunicação, mas tendo como pano de fundo os laços humanos que fazem desse esporte uma parte da alma mineira e na-
André Correia
cional”, afirma Júnia, que também é professora de comunicação da PUC Minas. Jussara Assis, 23 anos, é estudante de Relações Públicas, na PUC Minas, e foi prestigiar o filme. Ela afirma que não vai ao cinema com muita frequência, no entanto, aprecia o gênero. “Geralmente
narrativa histórica, que é meu gênero favorito, possuem esse formato. Documentários trazem, em sua maioria, mais informações relevantes do que os filmes convencionais”, ressalta a estudante. De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), vinculada ao Ministério da Cultura, no período de 1995 a 2009, pouco mais de 2,6 milhões de pessoas foram assistir algum documentário nacional no circuito comercial, o que representa 2% do público geral de filmes nacionais do período. “Assisti ao filme e, como esperado, o resultado foi deslumbrante. A magia do futebol-arte apreciado pelo brasileiro se apresentou na belíssima fotografia e no encantador e singelo roteiro do documentário. Tudo, para mim, perfeitamente arquitetado e executado. Tão belo quanto o esperado gol decisivo do time do coração em uma final de clássico. Sensacional!”, declara animada a estudante de comunicação da PUC Minas.
A importância de exibir um documentário O documentário “Narradores – Memórias afetivas do futebol”, que também ganhará uma versão em livro, será exibido, de forma gratuita, em oito cidades do interior mineiro, onde não existem salas de cinema. Segundo números apresentado, em 2007, pela Ancine, existem em Minas Gerais 192 salas de cinema. Números que deixam o estado na terceira posição do ranking nacional, atrás de Rio de Janeiro (280 salas), segundo colocado, e São Paulo (722 salas) em primeiro. O documentário foi exibido no Cine Belas Artes, gratuitamente, dentro do projeto “Feito em Casa”, que é uma promoção do próprio cine e tem como objetivo veicular e promover filmes produzidos em Minas Gerais. Segundo seus idealizadores, o curta-metragem mineiro será veiculado, também, na internet, em mostras e festivais. Doutor em cinema, Sergio Vilaça, que é produtor cultural e diretor do Instituto Cultural Palco & Tela, atua no setor audiovisual nas áreas de produção, pesquisa, docência e crítica especializada. Diretor
de vários documentários e animações, ele enfatiza que independente do gênero do filme, seja documentário, ficção ou animação, é de suma importância a exibição nos cinemas. “O cinema é uma das principais janelas para que parte da sociedade brasileira conheça a diversidade cultural, social, geográfica, antropológica e histórica de um país continental como o Brasil. O documentário deve ser colocado lado a lado com a ficção, como manifestação audiovisual ideal para interpretar essa diversidade”, desabafa o produtor cultural. Segundo Sergio Vilaça, os investidores consideram o documentário pouco rentável em relação à ficção, pois o gênero, em muitas ocasiões, não conta com atores de renome, vinculados principalmente à Rede Globo de Televisão. “Claro, o filme de entretenimento é importante, mas se começarem a exibir documentários com mais regularidade, nas salas de cinema, acredito que o público se identificará muito mais rápido com os personagens anônimos, destacados da re-
alidade, do que com os personagens já saturados e importados das novelas diárias da Globo”, salienta. O número de salas que exibem documentários em Belo Horizonte é bem reduzido. O Cine Humberto Mauro, localizado à Avenida Afonso Pena, 1537 – Centro, Região Centro-Sul da capital e o cineclube, Curta Circuito, localizado à Rua Vitório Marçola, 203 Bairro Cruzeiro, Região Centro-Sul, são referências na veiculação de documentários. Em novembro, na capital, acontece o Forumdoc.BH. 2014 - 18º Festival do Filme Documentário e Etnográfico. Sérgio Vilaça acredita que se não houver uma mudança no mercado cinematográfico, este, corre sério risco de acabar. “O investimento em salas alternativas com ingressos mais baratos, criação de cineclubes em escolas e empresas, exibições em praças públicas e periferias, e outras inciativas poderiam contribuir para a continuidade do prazeroso ritual coletivo de assistir a um filme”, declara.
Preparação dos bares e restaurantes para a Copa CAIO MIARI JULIO CÉSAR PUIATI SAMUEL PRAXEDES 1º PERÍODO
Com a chegada da Copa do Mundo de futebol, os bares e restaurantes do Bairro Coração Eucarístico estão se preparando de maneiras distintas para receber um grande número de pessoas que se reunirão para assistirem os jogos da competição, principalmente os da seleção brasileira. Um dos estabelecimentos que mais investiu para atrair o público durante os jogos foi o Varanda do Coreu, localizado à Avenida Dom José Gaspar. Além da reforma feita recentemente, o restaurante fechou contrato com uma banda que se apresentará nos dias de jogos do Brasil e com alguns atendentes freelancers – profissionais autônomos que trabalham sem ser registrados em uma empresa. Mateus Nunes, 29 anos, dono do local, espera um grande movimento de
clientes, incluindo uma taxa significativa de estrangeiros. Para tal, Mateus contratou uma empresa que oferecerá aos seus funcionários um curso intensivo de inglês focado na especialização de atendentes para estarem melhor preparados durante o período da Copa. Entretanto, alguns bares e restaurantes da região admitiram não esperar grande movimento de estrangeiros, e, por isso, preparam-se de maneira diferente. Mesmo assim, estes proprietários se mostram empolgados para receber o público local. “Creio que o movimento de estrangeiros será quase zero aqui”, afirma Willian Leandro, 30 anos, que é funcionário do Careca – um dos bares localizados no shopping Rosa, ao ser perguntado sobre o número de pessoas de outros países que visitarão o bairro durante o evento. Deste modo, o Bar do Careca trabalhará para atender um público mais local, instalando mais te-
levisões e enfeites comemorativos. Ainda, segundo Willian, o estabelecimento não contratará mais funcionários e pensa que o preço dos seus produtos não sofrerá aumento. Contudo, a Copa do Mundo não proporciona mesmas opiniões aos brasileiros. Enquanto a empolgação está presente em parte da população, não se vê a mesma euforia presente em alguns comerciantes locais. É o caso do gerente-geral do restaurante A Granel, Hugo Eugênio Alves, 50 anos. Para seu estabelecimento, que é um dos mais frequentados do bairro, o período do Mundial proporcionará o mesmo movimento costumeiro. As televisões utilizadas, por exemplo, serão as mesmas instaladas em jogos do Campeonato Brasileiro e Libertadores da América. Mesmo assim, a decoração será diferente do habitual, com alguns enfeites alusivos à seleção nacional. O gerente acredita que a movimentação de público
pode aumentar relativamente devido a Fan Fest – evento oficial promovido pela Fifa que oferece telões que transmitirão jogos da Copa do Mundo para um grande número de pessoas em um espaço reservado e que
acontecerá no Expominas, na Gameleira. Ainda assim, segundo Hugo, o A Granel não terá mudanças drásticas em função do evento futebolístico como a contratação de novos profissionais e cursos profis-
sionalizante de outras línguas para funcionários. “Os recursos deste ano serão mais investidos e focados na comemoração do aniversário de 25 anos da franquia e não especialmente para a Copa”, conclui.
O restaurante A Granel aproveita seus 25 anos para fazer modificações
Camila Navarro
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Copa do Mundo / Cultura
Álbuns da Copa viram mania As trocas de figurinhas realizadas entre amigos, bastante popularizadas no passado, voltam a se tornar febre entre pessoas das mais diferentes idades por causa dos álbuns do Mundial de 2014
Locais de troca de figurinhas atraem pessoas de várias idades
ANA LAURA BERNARDES JOÃO DICKER MARIANA CAMPOLINA 1º E 3º PERÍODOS
Já virou tradição. Com a chegada da Copa do Mundo, aparecem também os álbuns de figurinhas oficiais que trazem os jogadores e seleções participantes do torneio. Entre o lançamento do álbum e o início do Mundial, uma cena muito comum é observada em vários pontos da cidade: um aglomerado de crianças, jovens e adultos, reunidos em pontos estratégicos para compra e troca de figurinhas. Um desses locais é a Bar-
ragem Santa Lúcia, na Zona Sul de Belo Horizonte. A banca de revistas localizada ali há 26 anos, oferece o serviço há cerca de 20, tanto em dias de semana quanto aos sábados e domingos, que são os mais movimentados. Segundo a comerciante Jaqueline Alves, o movimento é bom também porque ao comprarem figurinhas, as pessoas acabam procurando outros produtos da banca, o que aumenta a venda no geral. Sobre a faixa etária do público, ela conta que à época da Copa do Mundo, a maioria é de jovens e adultos, mas que não há um padrão de
Mariana Campolina
sexo e idade. Foi o que observou também o estudante Helvécio Menezes Júnior, 20. “Vi crianças, jovens, adultos e idosos trocando figurinhas. Isso é o que eu acho interessante”, afirma. Assim como Menezes, que decidiu fazer a coleção para conhecer melhor os jogadores antes da competição internacional e guardar como recordação da Copa no Brasil, também o fez o estudante, Matheus Fernandes, 23. “Além disso, acho uma boa oportunidade para encontrar mais vezes os amigos que também fazem o álbum”, explica Fernandes.
Um outro fator que chama muito a atenção é o valor que os colecionadores estão dispostos a gastar. Matheus, que já completou o álbum, estima ter gasto por volta de R$ 150 e diz que irá guardá-lo, junto com os de outras edições e campeonatos. “Tenho completos de todas as copas desde 98 e não pretendo vendê-los, pelo menos por enquanto”, conta o estudante. Além dos jovens, muitas crianças encontram-se animadíssimas para a Copa. Entre os pequenos, muitos afirmam que o mais interessante é o ritual de abrir os pacotinhos, procurar o número, conhecer a cara dos jogadores e, finalmente, colar os cromos. No entanto, durante as trocas em praças, bancas e ruas da cidade, os pais também parecem muito animados. É o caso de Henrique Tomazi de Araújo, 9, que está quase completando o álbum e seu pai, o engenheiro Orlando Araújo Filho. “Eu decidi fazer porque acho legal trocar figurinhas. É a parte que mais gosto. É bom para fazer amigos também.”, afirma o menino. Orlando, por sua vez, acredita que essa é uma boa forma de socialização das crianças entre si e com os pais. “Eu acho que essa é uma excelente forma de interagir com meu filho. Além disso, a troca de figuri-
nhas é muito lúdica”, explica. Já Marcela Guadalupe, 8, conta que ganhou o álbum do padrinho. “Eu senti preguiça de colecionar, mas quando descobri que todos estavam fazendo dei graças a Deus porque também tinha”, lembra. A garota contou ainda que levou aproximadamente um mês para completá-lo, contando com a ajuda dos pais, avós e tios para adquirir as figurinhas. Além disso, tornou-se frequentadora assídua do “Clube da Troca”, na Barragem Santa Lúcia e quis deixar uma mensagem de motivação para os que estão começando. “Para completar o álbum
você só precisa de dedicação e esforço”, motiva Marcela. O economista Guilherme Vasconcelos, pai de dois filhos de 7 e 9 anos, adotou uma prática diferente este ano para completar o álbum de forma mais rápida. “Meus filhos tem um que eles fazem em conjunto e eu comprei um segundo”, conta. Vasconcelos explicou ainda que administra os álbuns trocando as figurinhas repetidas dos filhos por pacotinhos novos, já que o que eles mais gostam é abrir e colar. “O meu é de capa dura, o que ajuda a conservar. É o primeiro que faço e vou guardá-lo”, finaliza.
Matheus gastou R$ 150 e fechou o álbum
Mariana Campolina
Mundial reduz rivalidade e une diferentes torcidas Cada vez mais próximos da Copa do Mundo, o futebol, conhecido como o esporte nacional, fica ainda mais em evidência. A paixão, que desperta durante outras competições o fanatismo, pode ser o que une torcedores durante o Mundial. Segundo a psicóloga Ercília Gama de Oliveira, “Todo fanático é intolerante”, e troca a razão pela emoção. De tatuagens a viagens para outros estados e países, alguns não medem esforços para defender, homenagear e acompanhar o time do coração. Vários torcedores tem uma forma peculiar de lidar com isso, a exemplo do cruzeirense Cláudio da Silva Bontempo, 19, que descobriu a paixão pelo clube quando ia ao estádio com seu pai. Quando ele morreu, Cláudio se afastou dos campos. Ao voltar ao
Mineirão após alguns anos, o sentimento retornou. “O fanatismo pelo Cruzeiro se tornou a minha forma de contato com ele”, afirma. Sobre as superstições e rituais, o estudante afirma ter muitas. “Nos dias de jogos eu ouço as músicas do time e canto elas até a hora do jogo; passo o dia com a camisa cinco estrelas e faço alguma atividade física para poder ‘suar’ como o time. Prefiro parar por aqui, porque o ritual vai ficando cada vez mais minucioso e estranho! (risos)”, explica. Já o atleticano Breno Campos, 19, possui hábitos um pouco mais comuns. Não usa azul em dias de jogo do Atlético, grita sempre “Vamos, Galo” no inicio de cada tempo e não assenta do lado esquerdo do sofá. Além disso, Breno conta que já até
passou mal durante jogos. “Faço o máximo possível para que essas manias não prejudiquem a mim nem ao próximo”, afirma. Mesmo torcendo por times diferentes, Breno e Cláudio concordam e reforçam o que foi dito pela psicóloca Ercília: “Quando o esporte é encarado como lazer, a rivalidade dos times é esperada e até mesmo necessária”. O problema surge quando as pessoas ultrapassam os limites de brincadeira e partem para a agressão. “Algumas pessoas infelizmente entram em discussões pesadas, brigas e morte. É dessas pessoas que o futebol devia se livrar. Isso não acrescenta nada, só estraga a mística do futebol”, finaliza Cláudio.
Projeto busca a popularização da leitura infantil CAMILA VIEIRA DÉBORA ASSIS JÚLIA GUEDES 1º E 2º PERÍODOS
A creche Elizabeth Santos, localizada no Bairro Jardim América, na Região Oeste de Belo Horizonte, foi presenteada, em maio último, com uma biblioteca infantil pelo projeto Um Pé de Biblioteca. Ao todo já foram abertas dez bibliotecas, sendo a da Elizabeth Santos, a primeira inaugurada na capital mineira, cuja cerimônia, no dia 24, contou com a presença do grupo de histórias Doce Palavra, além de dar espaço para as crianças recitarem poesias para os familiares. A reinauguração da biblioteca Elizabeth Santos ocorreu com intenção de transformar o espaço em um lugar de melhor aproveitamento de aprendizado pelas crianças. “Acho muito interessante que as crianças tenham acesso à leitura, aos livros. Isso vai ajudar no futuro delas, até mesmo na escrita e na fala”, obser-
va Thaís Gonçalves, 19 anos, participante do evento. A coordenadora da creche, Renata Presotti, 42, concorda com Thaís. “Há muito tempo isso (o hábito de leitura) está sendo afastado das nossas crianças e com os sarais, as poesias e parlendas são resgatadas e a biblioteca engloba tudo isso”. André Lara Resende, 32, um dos idealizadores do
projeto Um Pé de Biblioteca, também estava presente no evento. Ele explica que ideia surgiu em uma conversa com um grupo de amigos no Rio de Janeiro em 2002. “O projeto Um Pé de Biblioteca começou em 2009, abrimos seis bibliotecas no Rio, três no Norte de Minas. Essa é a quarta em Minas, sendo a primeira na capital”, conta
Evento de abertura teve a participação da comunidade local
André. Ele diz que a meta era, inicialmente, abrir dez bibliotecas com um princípio de aprender as formas de captar, abrir e padronizar os espaços. O projeto Um Pé de Biblioteca visa apoiar aberturas de bibliotecas em comunidades carentes do país, com o foco de incentivar a leitura em crianças e jovens. A escolha parte, na maioria das
Júlia Guedes
vezes, dos moradores das comunidades. O site do projeto possui um selo chamado “Quero uma biblioteca na minha comunidade,” no qual as pessoas mandam um e-mail demonstrando interesse. Os organizadores visitam o local procurando analisar o espaço e a estrutura para verificar se estes estão de acordo com as demandas do projeto. Para isso, é preciso que o espaço esteja aberto há mais de um ano, que tenha a perspectiva de continuar e conte com profissionais na área de educação como professores e bibliotecários. “Tudo o que a gente precisa hoje é cultura e biblioteca é isso, cultura, conhecimento”, diz Elizabeth da Silva, 42, uma das coordenadoras da creche. Ela acredita que se houvesse mais educação, menos jovens iriam para o mundo das drogas e da violência. “Eu acredito que as grandes coisas vêm de pequenos passos. Isso acaba formando o caráter. A gente quer proliferar o bem. Com a cultu-
ra, a criança cria gosto pela educação”, conclui André. DOCE PALAVRA O grupo Doce Palavra tem como objetivo incentivar a leitura em creches onde não existe biblioteca. O projeto consiste em montar um canto de leitura com livros e contar histórias para as crianças incentivando o hábito pela leitura, assim como disponibilizar os livros para os cantos de leitura nas creches. O grupo é formado por mulheres e surgiu da vontade de desenvolver um trabalho voluntário. Elas rodam cinco creches nas quais já desenvolveram o projeto, encenando histórias infantis como O Patinho Feio que foi apresentado na reinauguração da biblioteca da creche Elizabeth Santos. O grupo faz um trabalho de pesquisa e investigação sobre o que as creches necessitam e que ele pode realizar. Neide Bueno, 62, umas das colaboradoras do projeto diz que a iniciativa “é um sonho de fazer o bem”.
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Entrevista
ALEKSANDER HENRYK LAKS O senhor ficou preso aproximadamente seis anos. Dos campos pelos quais passou, qual deles considera o pior? Todos eles. De tudo que passei no Gueto e em Auschwitz, Flossenburg foi o pior, porque presenciei a morte do meu pai, assassinado a pauladas dentro de uma latrina. Mas não posso esquecer também Auschwitz, onde minha mãe morreu na câmara de gás. Como o senhor descreve o cenário em que viveu? Não tem explicação, faltam palavras para descrever o que aconteceu. Tudo que é irreal acontecia nos campos de extermínio. Pessoas morriam executadas, de inanição, de pancadas e algumas vezes as penduravam pelos braços. Lembrome que nos batiam toda hora, mas a maior parte morria mesmo de inanição e de fome. Não havia comida, as pessoas eram simplesmente esqueléticas. Além disso, faltava higiene, então muitos morriam também por doenças. Em que ano o senhor foi libertado? Eu fui libertado no final de abril em 1945, três semanas antes do fim da segunda Guerra Mundial. Logo após a morte do meu pai, chegou uma ordem de Himmler (cogitado a ser o sucessor de Hitler, foi o líder do Exército nazista que administrou e organizou os campos de extermínio), dizendo que nenhum dos prisioneiros poderia “cair vivo” nas mãos dos aliados. Por isso, estávamos sendo levados para o Lago Bodensee, perto da fronteira com a Suiça, no qual seriamos afogados. Só que no caminho fomos bombardeados, os kapos e os alemães fugiram e nós ficamos dentro de um trem na cidade de Immendingen. Depois de um tempo os alemães voltaram para essa cidade e os que sobreviveram no trem iam ser levados para fuzilamento. Mas um padre, um pastor e mais dois civis intervieram, ao invés de sermos fuzilados, nos levaram para uma escola onde ficamos abrigados por um tempo. De lá fui libertado com 17 anos pesando 28 kg. Eu estava morrendo. Se demorasse mais um pouco, eu teria morrido de inanição.
Memórias de um sobrevivente MARINA NEVES, RAQUEL DUTRA. 7º PERÍODO
Quem olha o semblante desse senhor de 86 anos, não imagina o passado que ele carrega. Aleksander Henryk Laks é o único sobrevivente de uma família judia, de 60 pessoas, que morava na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1948, veio a turismo para o Brasil para reencontrar um único parente restante, uma tia que já morava no país bem antes da guerra. “Me apaixonei pelo Brasil. Quando cheguei aqui, as pessoas se cumprimentavam nas ruas, livres, sorrindo, era um contraste com tudo o que eu tinha conhecido e vivido”, conta Laks. Desde então ele reside no país e, como presidente da Associação Brasileira dos Israelitas Sobreviventes da Perseguição Nazista do Rio, ministra palestras para levar às pessoas um pouco mais de sua história. Além disso, já escreveu dois livros e produziu um documentário nos quais descreve sua trajetória e o cenário marcado pelo extermínio provocado pelo regime nazista. Laks tinha 11 anos quando foi levado do gueto da cidade de Lodz para Auschwitz. “Lá fui vendido como escravo para fazer fortificações para o Exército alemão e enviado para Gross-Rosen. Depois disso, participei de uma Marcha da Morte; andávamos sem rumo em pleno inverno, dormíamos ao relento e a maior parte morria congelada”, conta. “Quando a marcha partiu, éramos 600 pessoas e, rapidamente, fomos reduzidos a 100, 50 pessoas. Quem ajudava o outro era fuzilado. Foi aí que cheguei ao campo de Flossenburg, o último antes da libertação”, acrescenta.
seu fim, ainda não tinha democracia então, pode ser que agora as coisas melhoraram um pouco, não sei. Quando visitei os campos de exterQuais foram seus sentimenmínio, senti que se a terra me engotos após ser libertado? lisse eu sairia satisfeito. Eu não sei Eu não tinha sentimento nenhum, descrever o que senti. Meu coração queria só comer alguma coisa e ficou despedaçado, principalmente melhorar. Estava subnutrido, não quando saí da câmara de gás e do conseguia andar, meus dentes escrematório. Tudo voltavam soltos, não tou à tona, chorei muito enxergava direito. o tempo todo, parecia Estava sem meus uma criança. Mas lá pais, sem parente Não calar, contar era horrível, horrível nenhum, sem pátria, sempre o que mesmo. Só depois que sem perspectiva para aconteceu para retornei ao Brasil que o futuro. No moconscientizar (...) e comecei a voltar ao mento da libertação para que isso não se “normal”. Mas até hoje fui para um campo repita com ninguém tenho pesadelos à noite de refugiados na com tudo isso. Alemanha, organizado por ingleses e Para o senhor, americanos. Lá ganhamos comida, higiene e após um tempo, quando quais foram os principais melhorei um pouco só pensava “o problemas que o regime nazista trouxe para o que eu vou fazer?”. seu país e para o mundo? Subverter a ordem normal das coiApós 60 anos da sua sas. Tudo que de fato é proibido libertação o senhor retornou pelos direitos humanos, lá [campos à Polônia, terra onde nasceu de extermínio] era certo. Matavam, e viveu as atrocidades do espancavam sem remorso, até mesHolocausto. Como o senhor mo as crianças. Nós perdemos 1 descreve essa viagem? milhão e meio de crianças judias Fiquei muito decepcionado, a rua exterminadas. Eu tive sorte, porque onde morava não existe mais. As de uma escola inteira que foi levacoisas mudaram muito, não tem da para o extermínio, sou o único mais nada do que tinha antigamente. sobrevivente. No dia que os aleFora que praticamente não há uma mães invadiram a minha escola, por comunidade judaica mais, acho que coincidência meu pai me escondeu foram todos exterminados. Quando na casa da minha avó. E só depois voltei lá, o comunismo estava no
Arquivo Pessoal
ficamos sabendo da barbaridade. Então, os nazistas dividiram as pessoas em “raças”, era a “raça judaica”, a “raça ariana”, “raça branca”, “raça preta”, tudo era raça. Mas na humanidade existe uma única raça, a raça humana; temos brancos, pretos, loiros, morenos, temos de tudo, mas somos uma raça só. Tem gente boa e ruim, mas temos de ver coisas boas nas pessoas, nada de preconceito, racismo, antissemitismo. Hoje, o que o senhor falaria sobre o holocausto, algo que não é contado nos livros de história? Não calar, contar sempre o que aconteceu para conscientizar. Temos que repassar para o que aconteceu não se repita com ninguém. Eu vivo para isso, quase todo dia vou às escolas, universidades e igrejas dando palestras sobre minha história. Acho que todos têm de saber, principalmente de quem viveu o holocausto, alertando as pessoas para que elas tomem consciência do mal que isso pode causar para a humanidade. Inclusive, hoje, existem algumas pessoas que propagam que o Holocausto não aconteceu. Se não aconteceu, onde estão todos os meus parentes? Para o senhor, há possibilidade de paz no mundo? Eu espero que sim. Quando acabou a guerra eu pensava que nunca mais haveria outra e nem antissemitismo
contra os judeus, mas isso ainda continua nos dias de hoje. As pessoas precisam gostar umas das outras; nada de bullying, preconceito, racismo e antissemitismo. As pessoas têm que viver em paz. Os israelenses já conquistaram a sua terra e, hoje, quem luta por uma pátria são os palestinos. O senhor concorda com isso? Eu concordo sim. Acho que todos têm direito à Justiça. Mas tem que querer paz. Os palestinos devem ter seu lugar e Israel também. Mas como pode haver paz se os palestinos não querem reconhecer Israel? Por exemplo, você quer invadir a minha casa e eu quero paz contigo, mas mesmo assim você quer a minha casa. O que eu posso fazer? Eu tenho que me defender para minha casa não ser tomada. Seria ótimo dois povos, dois estados, mas eles não querem. O senhor se considera um homem feliz? Hoje sou, embora tudo isso não saia da minha cabeça. De noite tenho pesadelos e quando estou sozinho vem tudo à tona, eu vivo com isso. Embora eu tenha todo o direito de ser ranzinza, mal humorado, eu não sou, pelo contrário, sou bem humorado, conto piada, ouço piada, rio, vou ao cinema, mas na cabeça sempre tem o que eu passei.