Marco307

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EMPRESÁRIOS USAM CRIATIVIDADE PARA ATRAIR CLIENTES E ALAVANCAR VENDAS NA CAPITAL E EM CIDADES DO INTERIOR MINEIRO PÁGINA 10 Gabriela Camargos

GRUPO TAMBOLELÊ TEM PRESENÇA MARCANTE NOS CARNAVAIS EM MINAS E TAMBÉM EM EVENTOS FORA DO PAÍS, RESGATANDO A CULTURA AFRO PÁGINA 15

EM APENAS DOIS ANOS DE CARREIRA, A DUPLA SERTANEJA BRUNA E KEYLA TEM MOTIVOS PARA CELEBRAR COMO A INDICAÇÃO AO GRAMMY LATINO PÁGINA 16 Danielle Scarleth

Fábio Marcelino

marco jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 307 . Junho de 2014

LEIA AINDA

Voluntários de projeto acolhem crianças carentes O projeto Famílias Acolhedoras, ao longo de seus cinco anos de existência, busca abrigar temporariamente crianças e adolescentes afastados de suas famílias de origem por qualquer tipo de violação. Os participantes abrem suas casas para receber essas crianças e jovens, até que elas possam retornar ao convívio familiar ou serem adotadas. PÁGINA 7

Quilombo luta por preservação

Nome de avenida divide opiniões

Thainá Nogueira

André Correia

A Avenida 31 de Março, no Dom Cabral, tem seu nome em homenagem ao dia em que ocorreu o Golpe Militar em 1964. O nome divide opiniões. Alguns moradores acreditam que, pelo hábito, ele deve ser mantido. Existem outros que apostam na mudança para apagar qualquer resquício dos tempos de ditadura. Algumas tentativas para alterar o nome já foram feitas, mas sem sucesso. PÁGINA 5

O Quilombo Mangueiras, localizado às margens da Rodovia MG-020, que liga Belo Horizonte, no entorno do Bairro São Gabriel, a Santa Luzia é, atualmente, cenário de uma disputa territorial. Atualmente, o processo de titulação do Quilombo Mangueiras junto ao Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (Incra) está em fase de publicação. O MARCO conheceu o local e ouviu moradores da Comunidade Quilombola, que ainda lutam pela a preservação de sua cultura e pela legalização de seu território. PÁGINA 11

Coreu se despede do capitão Firmino

Remo é boa opção de atividade física

Vinícius Andrade

A Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, é o ambiente ideal para a prática do remo, modalidade esportiva considerada boa alternativa de exercício físico, com a vantagem adicinal de proporcionar contato com a natureza. Mesmo não sendo a escolha mais popular entre os mineiros, quem aderiu à atividade aprova e a recomenda. PÁGINA 9

André Correia/Arquivo

Iracy Firmino, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico, foi assassinado, em 5 de junho, deixando perplexa a comunidade da região. Sempre presente nas questões relacionadas ao Coreu e bairros vizinhos, capitão Firmino fez muitos amigos por meio do trabalho na sua papelaria, que leva seu nome. O MARCO entrevistou familiares e amigos de Firmino, relembrou suas ações como presidente da entidade e sua constante colaboração com o jornal. “Tudo vai fazer falta. O bom humor e a bondade”, resume a filha Patrícia Pinheiro. PÁGINA 4

Renovação por meio de arte e cultura O grupo cultural Meninas de Sinhá, existente no Bairro Alta Vera Cruz, Região Leste de Belo Horizonte, reúne 33 senhoras da Terceira Idade, promovendo atividades artísticas e culturais,

que contribuem para o bem-estar das participantes. Um DVD, cuja gravação será finalizada em julho, será lançado, acompanhado de documentário em homenagem à dona Valdete, fun-

dadora, já falecida. Criado para resgatar a tradição das cantigas de roda, o grupo tornou-se verdadeiro exemplo de superação e renovação. PÁGINA 13


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Comunidade

editorial

Desafio e prazer em se aprender o bom jornalismo

O síndico do Parque das Jabuticabeiras Otávio Oliveira dos Santos desenvolve projeto para preservação do Parque das Jabuticabeiras com a ajuda de alguns amigos ALESSANDRA GONÇALVES

MARCELLA FIGUEIREDO

2º PERÍODO

6º PERÍODO

O Jornal MARCO chega à edição 307 com histórias nem sempre fáceis de contar. Essa edição marca a despedida dos monitores Ana Letícia, André Correia, Marcella Figueiredo, Sérgio Eduardo Marques e Mateus Teixeira, de acordo com o rodízio realizado entre os alunos de Jornalismo da PUC Minas. No MARCO, aprendemos que as matérias podem nos surpreender, emocionar e dar trabalho. Aqui descobrimos como é difícil escrever sobre gente e para gente, porém vimos que é muito prazeroso. No MARCO, trocamos e experimentamos novas editorias. Escrevemos e rescrevemos tudo para levar até você, leitor, as informações de uma maneira mais clara e objetiva. É neste espaço que levamos os nossos primeiros nãos e ganhamos os primeiros elogios. No MARCO apreendemos o que é prazo e como se sofre com ele. Aqui descobrimos que Jornalismo acontece nas ruas. Nessas andanças, conhecemos pessoas incríveis como o Otávio Oliveira, que realiza trabalho voluntário no Parque das Jabuticabeiras na Via Expressa. Contamos a história de Meire de Mendonça e do Príncipe, um cachorro que ficava na porta da Paróquia Bom Pastor no Bairro Dom Cabral. No Jornal retratamos pessoas que são esquecidas e marginalizadas pela sociedade e que encontram na rua um lar. Nessa edição mostramos que os moradores do Bairro Coração Eucarístico ficaram órfãos. Iracy Firmino, presidente da Associação de Moradores foi assassinado. Ele que sempre lutou por segurança e melhorias no Bairro deixará saudades nos familiares e amigos. No São Gabriel, contamos a história de um grupo da Terceira Idade que achou na informática a oportunidade de socialização. Além disso, apresentamos Digão, que para muitos é o vendedor de cachorro-quente mais alegre do Bairro. Assim, o MARCO 307 fecha o primeiro semestre de 2014, levando até você, querido leitor, histórias de pessoas que inspiram a todos nós. Para o segundo semestre, estaremos com uma equipe renovada, mas com o mesmo compromisso, de sempre buscar a melhor informação.

expediente jornal marco

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920

Um dos finalistas do Prêmio Bom Exemplo, na categoria cidadania, promovido este ano pela Globo Minas, o professor aposentado Otávio Oliveira dos Santos, 68 anos, realiza um trabalho solidário, com a ajuda de alguns amigos, na preservação do Parque das Jabuticabeiras, localizado à Via Expressa, no Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Formado em pedagogia, em 1977, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele se define como “boa praça” e ficou conhecido como ‘síndico’ do Parque das Jabuticabeiras por sua dedicação ao local. Otávio frequenta o parque há cinco anos, mas o projeto de plantar árvores diferentes surgiu há dois com o apoio dos amigos José Geraldo, que conheceu durante as caminhadas, e Djalma que doou as primeiras jabuticabeiras. “Djalma foi quem enfiou a mão no bolso para comprar as jabuticabeiras”, comenta Otávio. A intenção foi a de humanizar a área por meio do plantio de árvores frutíferas, cujo fruto é conhecido, mas as árvores não, pela maioria das pessoas que mora na cidade. “Nós queríamos humanizar essa praça. Então, a gente queria trazer para essa praça frutas diferentes. Quem conhece pés de jabuticabeiras, normalmente, é só quem tem sítio. E a ideia da gente é trazer isso para aqui. Porque muitas crianças não conhecem pé de jabuticaba, só conhecem a frutinha”, relata Otávio. O nome “Parque das Jabuticabeiras”, que surgiu há dois

anos, ainda não é oficial. Segundo ele, não está registrado na Prefeitura por causa da burocracia. “Não tem nome oficial. Nós vamos colocar o nome lá (a praça), de Parque das Jabuticabeiras. Porque senão, aparece um político aqui e coloca o nome de um político. E nós estamos assim isentos da questão política. E eu falei assim: mesmo que algum político venha com algum nome, esse nome já pegou”. Otávio é conhecido e popular entre os frequentadores da praça que virou parque. É ele quem cuida, utilizando seus próprios equipamentos e recursos inclusive financeiros, de toda a manutenção do local. As árvores são o seu xodó. Além das jabuticabeiras existem outras, como jambo, que os próprios frequentadores e moradores do bairro doaram e que Otávio ajuda-os a plantar e cuidar. As pessoas demostram grande carinho e algumas vezes a entrevista é interrompida pelos frequentadores com manifestações carinhosas. Lembrou-se de uma horta que plantou em uma das escolas que lecionou e revela que a caminhada foi um aconselhamento médico por causa da saúde. “Eu caminhava lá (Nova Gameleira), eu não estava gostando do local lá, porque tinha rampa. E eu queria um local plano. E aqui atendia às minhas vontades. E eu tenho a indicação médica. Então, vindo aqui comecei a caminhar e daí comecei esse projeto todo”, conta. Além de ‘cuidar’ da praça, Otávio mantém outro projeto chamado Livro na Cidade, que consiste na troca de livros entre as pessoas que frequen-

Otávio cuida da praça com dedicação

tam o local e que acontece toda última sexta feira do mês de maneira bem informal. Otávio tem uma vida bem movimentada. Além de frequentar a praça todos os dias de segunda a sábado de sete às nove da manhã e, eventualmente, aos domingos, Otávio presta solidariedade às pessoas que necessitam de acompanhamento ao médico ou precisam de um meio de transporte para tal. Morador do vizinho Bairro Nova Gameleira, Otávio é aposentado pela Prefeitura de Contagem e também pelo Estado, após trabalhar muito tempo como professor e diretor. Casado há 31 anos com Dorazete, também

Alessandra Gonçalves

professora aposentada e 21 anos mais nova do que ele. O casal não tem filhos, segundo ele, por opção dos dois. “Tanto eu como a minha esposa somos professores. E nós vivemos essa vida de muitos anos. E filho é complicado. E eu falava com ela assim: a decisão de ter filhos é sua, muito mais do que minha. E viver na situação de pais lamentando com a gente, ‘não dou conta do meu filho’ e esse papo. Eu sempre falava, nossos filhos não serão muito diferente disso aí não. E no mundo da droga, no mundo da confusão, da loucura, a gente teria que conviver com essa situação. E aí nós fizemos a opção”, explica.

Creche Bom Pastor comemora 30 anos ANDRÉ CORREIA MARCELLA FIGUEIREDO 4º E 6º PERÍODOS

Funcionários e familiares dos alunos da Creche Bom Pastor, localizada no Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, tiveram dois motivos para comemorar no último dia 29 de maio. Além das celebrações do dia das Mães, a instituição, que foi criada a partir de uma necessidade das mães, comemorou 30 anos de suas atividades. Inicialmente, a creche fazia parte do núcleo de Ação Social da Paróquia Bom Pas-

tor, mas desde 1985 a instituição conta com a ajuda da Prefeitura de Belo Horizonte para pagar as contas. Além disso, é dada uma contribuição de R$ 35 por família. Como nem todas podem pagar esse valor, o restante é completado a partir de doações. Hoje, a creche atende 95 crianças do Bairro Dom Cabral e adjacentes, com idades entre dois e seis anos, em horário integral. Mas esse número já foi maior. “Já tivemos 130 crianças aqui, porém a escola do bairro foi absorvendo algumas”, recordou Nadir da Rocha Gama Araújo, voluntária desde 2002. A instituição

conta com 15 funcionários e oito voluntários. Na casa, as crianças recebem café da manhã, almoço e lanche da tarde, além de iniciarem a alfabetização. “Na creche as crianças têm o contato com as primeiras letras”, conta Nadir Araújo. A voluntária destaca que a principal dificuldade enfrentada por eles é em relação às famílias sem estrutura e que precisam de acompanhamento psicológico. “Quando detectamos que uma família precisa de ajuda encaminhamos para a clínica de psicologia da PUC”, conta Nadir Araújo. Ela afirma que todo trabalho é recompensado pelo carinho que vem das

Sucursal Puc Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Letícia Diniz, Giovanna Evelyn, Juliana Gusman, Karen Antonieta, Marcella Figueiredo, Mateus Teixeira, Sérgio Marques Monitores de Fotografia: André Correia, Camila Navarro Monitor de Diagramação: Vinícius Augusto CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares

A comemoração dos 30 anos da creche contou com a participação de alunos

André Correia

crianças. As funcionárias Terezinha Gonçalves e Maria Auxiliadora Soares que trabalham na creche há seis e 14 anos, respectivamente, afirmam que o trabalho é feito com amor. A moradora do Dom Cabral Maristane da Silva Borges, 25 anos, mãe de Kathllen Vitória, de três, afirma que a creche é fundamental para ela e para o marido. “Como eu preciso trabalhar, aqui é o melhor lugar para deixar a minha filha. A Kathllen era muito apegada a mim, mas depois que ela veio para creche ela mudou muito”, ressaltou. Xênia de Oliveira Costa, 28 anos, mãe de Bernardo Alves, de três, contou que já tentou mudar o filho de instituição, mas que ele não se adaptou. Ela destacou o cuidado que os funcionários e voluntários têm com as crianças, o diálogo existente entre o local e as famílias e a educação de qualidade como pontos positivos da Creche Bom Pastor. Juliana Gomes, 35, mãe de Jaqueline, dois anos, afirma que “a creche tem papel fundamental para as crianças, uma vez que para muitas é a substituição da casa, para muitas é o único lar que elas conhecem”. A comemoração teve apresentações artísticas das crianças, homenagens às mães e à instituição.


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Comunidade

Lembrança que une moradores A história do cão que apareceu na porta da Paróquia Bom Pastor, no Dom Cabral, é inesquecível para os moradores. Princípe, que viveu por dois anos na paróquia, é relembrado com carinho

“Vida e morte – Príncipe”. “Esse poema foi como se ele me usasse para dar voz ao poema. Todos ligados ao príncipe receberam o poema e ficaram emocionados”, conta. Junto com esse poema, ela escreveu um segundo em homenagem às pesso-

Meire de Medonça guarda as matérias do MARCO e as mostra com orgulho

ANA LETÍCIA DINIZ 4º PERÍODO

“Cheguei manso, carente de amor e olhar – instalei ali. Arranjei amigos e inimigos (cachorro não fala, mas tem ouvidos)”. Esse é um trecho do poema “Vida e Morte - Príncipe”, escrito por Meire de Mendonça, em homenagem ao Príncipe, um cachorro que se instalou na porta da Paróquia Bom Pastor, no Bairro Dom Cabral, e conquistou o carinho de muitos dos que frequentavam a paróquia no período em que esteve no local. Em 2009, um cachorro de rua apareceu na porta da Paróquia Bom Pastor todo ferido e precisando de cuidados, com as unhas cortadas rente as patas e o osso da pata traseira, deslocado. O senhor Adair Mariado, 61 anos, que trabalha como Auxiliar de Serviços Gerais na paróquia foi quem o encontrou e levou para dentro da igreja. “Eu peguei ele, trouxe para dentro, fiz um curativo nele junto com a ex-secretária Gabriela que trabalhava aqui na época”, conta. Ele ainda conta que chamaram uma veterinária que receitou os medicamentos necessários para a recuperação do animal, e que eles compraram. Senhor Adair lembra que quando dava a hora de ir embora, às vezes tinha que se esconder, pois ele o seguia pela BR muito perigosa e o levava em casa, depois voltava sozinho para a igreja. “Ele não podia entrar lá em casa, porque onde eu moro tem mais dois barracões e todos eles têm cachorros maiores que ele, e como ele estava com a pata machucada poderiam avançar nele”, ressalta. Meire de Mendonça, 61 anos, autora do poema e que também ajudou a cuidar do animal, conta que tiveram a ajuda

do padre Milton Tavares, que estava na paróquia na época em o cachorro chegou, e foi quem deu autorização para acolhê -lo, cedendo um espaço para que o animal pudesse ficar. “O respaldo que o padre nos deu foi sensacional, porque ele fez tipo que um quarto e sala onde o príncipe podia ficar dormir e voltar à hora que ele quisesse”, lembra. O animal chegou tão mal tratado à paróquia que os cuidados que foram tomados para a recuperação dele foram os melhores que os moradores próximos puderam dar. “Ele veio pedindo um socorro, e ganhar o nome Príncipe não foi à toa, por ele ter sido muito bem tratado. Acho que ele foi tratado como um soberano”, lembra Meire sobre como foi que surgiu a ideia do nome dado ao animal, que foi sugerido pela ex-secretária Gabriela. O senhor Guilherme Marcos, 66 anos e atual secretário, chegou à paróquia quando o animal já estava vivendo no local e também teve um carinho muito grande por ele. Ele se lembra das vezes em que o cachorro ficava deitado na escada em frente ao seu local de trabalho e quando dava a hora de trancar, não precisava chamar, o próprio animal saía por conta própria. “Ele deitava ali nas escadas, e quando dava quase sete horas da noite, eu nem precisava falar, ele levantava e vinha para fora”, conta. Após um período de dois anos de convivência e recebendo carinho daqueles que o acolheram, o animal começou a manifestar uma doença. Foi então que as pessoas que estavam no cuidado resolveram levá-lo à veterinária, onde ele foi diagnosticado com leishmaniose, e receberam a orientação de sacrificá-lo. Foram muitas as tentativas, com

as que acolheram e se dedicaram aos cuidados do animal, chamado “Para os amigos que ficaram”. Meire fala que aprendeu a generosidade com o animal, e que aquele momento de convivência com ele marcou não só a sua vida, como a de todas

as pessoas que se envolveram com ele. Para explicar o sentimento que tinha pelo Príncipe, ela usa uma frase de Charles Darwin que diz: “A compaixão com os animais é uma das mais nobres virtudes da natureza humana”.

Memórias montadas em muitos recortes Ana Letícia Diniz

medicamentos e tratamentos para ajudar na sobrevivência do animal, mas não foi suficiente, pois nesse tempo em que estavam tentando a sua recuperação, ele foi ficando fraco e perdendo seus pelos. Foi então, que o padre Milton, que ainda era o responsável pela paróquia na época, alertou que o melhor seria sacrificá-lo, pois poderia correr o risco das pessoas que eram próximas do cachorro contrair uma doença. No dia 19 de janeiro de 2012, o animal foi levado pelos veterinários de uma clínica particular, que os acolhedores do cachorro quiseram pagar, e então foi sacrificado. “Eu acho que ele teve uma morte digna, se é que pode falar assim, mas foi muito bom o tempo dele aqui”, conta Meire. Adair foi quem teve o maior vínculo com o animal e conta que ele foi de grande importância para ele no tempo em que esteve presente, o acompanhando para todos os lados da paróquia. “Ele me acalmou um pouco, eu era estressado. Ele andava comigo o dia inteiro, me protegia. Às vezes eu ficava ate tarde no salão, e ele me levava em casa. Aquilo fez com que eu me apegasse muito a ele” conta. No pouco tempo de convivência que o senhor Guilherme teve com o animal, ele contou que teve muita afeição e aprendeu muito com o carinho que o Príncipe tinha com as pessoas. “Deixou um exemplo que serve para todo ser humano, a amizade sincera. Ele demonstrava no olhar para a gente, pode ser estranho falar isso, mas ele sabia o tanto que a gente gostava dele”, comenta. Como forma de homenagem e para deixar uma lembrança do animal, foi que Meire Mendonça resolveu escrever o poema chamado

Nos dias de hoje, em que se corre contra o relógio e muitas vezes as pessoas não param para reparar mínimas coisas, é raro encontrar alguém que ainda dá valor aos detalhes. Uma frase poética, uma matéria importante, uma foto atraente ou até mesmo um singelo papel de bala. Essas são algumas de muitas coisas que Meire de Mendonça, de 61 anos, recorta, cola e recebe de seus amigos, e guarda em cadernos de recortes. Moradora do Bairro Dom Cabral há 40 anos, ela conta que sempre aprendeu a gostar de ler, principalmente com seu pai, que levava muitos livros e álbuns para casa. “A minha família era ligada à poesia, meu pai dava muito livro para ler e eu já escrevo desde os 12 anos. Escrevo porque gosto”, conta. Para Meire, os recortes são muito importantes, pois são lembranças de pessoas e momentos, que não vão voltar. Para ela, é uma forma de deixar vivas as lembranças, além de também deixar guardadas coisas importantes. “Não cai de moda, isso fica para a vida toda. Isso aqui fica registrado para todo sempre, é tudo para mim”, ressalta. Meire também faz recortes do jornal MARCO há 40 anos, desde que chegou ao Bairro Dom Cabral, e diz ser um jornal muito especial para ela. Lembra que quem recebia o jornal era a tia, e começou fazendo recortes quando havia a participação das crianças, com desenhos que eram mandados para o MARCO infantil. “O MARCO me agrada profundamente por ter coisas muito interessantes, e não tem essa violência que vende”, ressalta o motivo de fazer recortes do jornal. Uma das matérias que ela guardou, e foi muito importante para ela, foi sobre o grupo de dança do bairro. A matéria foi escrita para o MARCO pela

ex-aluna Isa Campos Ramos no ano de 2008 e fotografada pelo ex-aluno e exmonitor Gustavo Andrade. “Eu comecei a cortar e pensei, ‘gente é matéria que nunca mais nós vamos ver’”, conta. Também tem a matéria da cadela Branquinha, que saiu da edição 304, e que motivou a sugerir a história do Príncipe. Além de fazer os recortes, Meire também envia um jornal MARCO para sua amiga que mora próximo a Boston (EUA), além de mandar para sua irmã que mora no Bairro Eldorado e seus familiares e amigos da cidade de Pitangui, no Oeste de Minas. Fora os cadernos de recortes, há três anos Meire também começou um projeto de um livro de fotos e poemas, e toda a arrecadação iria para um Hospital de Câncer Infantil, mas falta muito para a conclusão do projeto. “Isso eu acho que tem que se ver muito”, conta. Há pouco tempo ela começou a colecionar folhas de árvores de cidade de outros países, que ela plastifica e guarda. Ela pretende futuramente, com a coleção de folhas que ganha, criar um livro. São folhas que amigos e parentes mandam e que ela também recolhe. Uma das primeiras folhas que ela recebeu foi de Toronto, que uma amiga enviou. Ela também tem folhas de outros países como Chile, Roma, Espanha, e Botswana na Africa. Os recortes e colagens fazem parte da vida de Meire há muitos anos. Para ela são importantes e a fazem feliz, além de ser uma forma de valorizar o trabalho e a arte das pessoas, como as matérias que ela recorta dos jornais que lê, e as fotos que têm emolduradas na parede da sua sala.

O cão Princípe ainda é relembrado com carinho por Meire

Ana Letícia Diniz


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Comunidade

Triste adeus ao capitão Firmino Iracy Firmino, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico, foi morto pelo irmão Wilson. Moradores do Bairro e região, amigos e familiares lamentam o falecimento e compartilham lembranças ANDRÉ CORREIA ISABELA ANDRADE JULIANA GUSMAN MARCELLA FIGUEIREDO SÉRGIO MARQUES 3º, 4º E 6º PERÍODOS

Sô Firmino conhecia os amigos através da papelaria

André Correia/Arquivo

Associação contava com um presidente engajado e ativo Iracy Firmino foi sempre presente nas questões relativas à Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico (Amacor). Além de ser uma figura querida pelos moradores, sempre lutou ativamente pela segurança. Recentemente, participou da instalação do moto-policiamento no Coração Eucarístico. Muitos roubos e assaltos eram efetuados todos os dias, o que levou moradores a reivindicarem mais segurança. Além disso, também tentou conseguir a revogação da transferência do 4º Distrito Policial do Bairro Coração Eucarístico para o Alípio de Melo. Foi elaborado um abaixo-assinado pela Amacor, com intuito de levar a situação ao conhecimento da imprensa. Mesmo não resolvendo todos os problemas da violência no Bairro, Firmino acreditava que a presença da delegacia era importante para os moradores, pois a proximidade facilitava quando precisavam fazer alguma ocorrência. O abaixo-assinado recolheu por volta de mil assinaturas, e foi encaminhado à Secretaria de Ação Social em janeiro deste ano. Firmino também esteve presente durante todo o processo de instalação do novo batalhão da 9ª Companhia da Polícia Militar na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, na Via Expressa. Este processo durou 12 anos e teve várias etapas, como a doação do terreno, elaboração do projeto, construção e transferência. A solenidade da inauguração aconteceu no dia 9 de abril último, após vários adiamentos devido a atrasos na obra.

“Um monte de gente ficou órfã hoje”. Esta é a fala da sobrinha de Iracy Firmino. Ele foi morto na manhã do dia 5 de junho, no Bairro Planalto, Região da Pampulha, aos 79 anos. O crime foi cometido por seu irmão, Wilson Firmino da Silva, 77. O fato ocorreu devido a uma desavença familiar, provocada por motivos de herança, envolvendo a venda de um terreno. De acordo com o boletim de ocorrência registrado na Polícia Militar, Wilson atirou quatro vezes contra Iracy, após uma reunião com advogados. Iracy Firmino foi socorrido e encaminhado ao Hospital Risoleta Neves, em Venda Nova, e faleceu. Wilson foi preso em flagrante e encaminhado à Delegacia de Polícia Civil. O capitão Firmino, como era chamado por ter ocupado o cargo de Capitão do Exército, era muito querido por todos do Bairro Coração Eucarístico. Firmino era o presidente da Associação de Moradores, e sempre participou ativamente de ações para a melhoria da Região Noroeste. Conheceu grande parte dos amigos por meio da papelaria localizada à Rua Itutinga, no Bairro Minas Brasil, da qual era dono, e que leva o seu nome. No dia do falecimento de Firmino, muitas pessoas se dirigiram para lá, em busca da confirmação da notícia. A sensação de tristeza e incredulidade estava presente em todos. A sobrinha, que pediu para não ser identificada, fez questão de permanecer com as portas da papelaria abertas, como forma de homenagear o tio e também para prestar informações às várias pessoas que chegavam em busca de explicações. Nos dia seguinte à sua morte, cartazes em homenagem a Firmino foram colocados na porta da papelaria, com mensagens de carinho de vários amigos e moradores da região. Flores foram colocadas no chão. LEMBRANÇAS Apesar de morar no Bairro

Minas Brasil, de acordo com seu amigo Geraldo Torres, 79 anos, Firmino era conhecido nos Bairros Coração Eucarístico, Dom Cabral e Padre Eustáquio. “Não tem como não conhecer, ele era muito atuante. Chegou a se candidatar como vereador, mas no fim percebeu que não era muito a praia dele”, informou Geraldo. Maurício Antônio de Sales, presidente da Associação de Moradores do Dom Cabral, lembra de Firmino como uma pessoa sensata. “O seu Firmino era uma pessoa bacana, tranquila. Pelo que eu saiba, ele ajudava muito a direcionar o serviço da Associação do Coração Eucarístico”. Nelsívia Lourenço Nomasso, 68 anos, vizinha de Iracy, relembra do amigo com carinho. “Comprei muito material para os meus filhos na papelaria dele”. A vizinha se tornou mais próxima de Firmino porque seu marido, que faleceu há quatro anos, prestava serviços para ele, como eletricista. Com a ajuda de Iracy, Nelsívia e o marido conseguiram retirar uma árvore que os incomodava em frente à casa em que moravam. “Já havíamos encaminhado para a Prefeitura a reclamação e ficamos esperando um bom tempo, mas depois com a ajuda de Firmino conseguimos tirar a árvore de lá com menos de um mês”, contou a senhora. Camila Schuffner, 32 anos, cresceu no Coração Eucarístico e tem muitas lembranças de Firmino. “Do pré ao meu terceiro ano na escola eu passava todos os dias na papelaria”, relembra. “Sempre falava que tinha chegado uma caneta nova e eu falava que ia acabar com a minha mesada. Mas ele me falava que eu poderia pagar no dia seguinte. Sempre procurava atender bem”, conta. Ela diz que além da relação de cliente, Firmino sempre acabava envolvendo as pessoas em uma relação de amizade com a convivência. “A irmã dele também já estudou com meu irmão, então, a gente já tinha um laço maior do que só cliente e dono de papelaria em si”. Camila ressalta a constante preocupação de Firmino com a questão de segurança. “Ele queria acabar com a violência e insegurança do bairro. Quando tinha algum assunto de assalto ele sempre queria saber

como foi, ele queria tomar alguma providência, mesmo nem conhecendo a pessoa que foi assaltada”, comenta. “Não dá para acreditar”, completa Cláudia. O sapateiro Antônio Sabino Gonçalves, que já trabalhou onde atualmente funciona a papelaria de Firmino por 16 anos, conta que tinha uma relação muito boa com ele, que o considerava uma pessoa muito boa e um amigo. Entre as principais contribuições para a Região Noroeste, Antônio aponta: “Ele que não deixou a rodoviária vir para o Bairro”, sobre a transferência da rodoviária que por fim está sendo construída no Bairro São Gabriel. Rossana Barbosa Furtado, coordenadora do Colégio Santa Maria, unidade Coração Eucarístico, conta que os alunos da escola tinham um carinho muito grande por Firmino. “Os alunos deixavam recados carinhosos para ele, eu observava quando ia lá alguns cartazes”, diz. Apesar do espaço aparentemente pequeno da papelaria, Rossana comenta que ele sempre atendia às necessidades da escola e dos alunos. Patrícia Pinheiro, 45 anos, filha de Firmino, diz que ele possuía um bom coração e foi um bom pai. “Tudo vai fazer falta sabe, o bom humor, a bondade. Com todas as dificuldades ele criou os seis filhos, todos se formaram na faculdade”, disse ela. O corpo de Iracy Firmino foi velado na manhã do dia 6 de junho, de 8h até às 14h, no cemitério do Bonfim. Muitas pessoas prestaram homenagens. Ao todo, ele recebeu nove coroas de flores. A Missa de Sétimo Dia aconteceu no dia 10 de junho, na Igreja do Coração Eucarístico, na Rua Dom Joaquim Silvério. SEU FIRMINO E O MARCO Iracy Firmino colaborou com várias matérias para o jornal MARCO. Sabendo da importância do jornal para a Comunidade, Firmino costumava sugerir pautas de interesse dos moradores da região e se colocava à disposição para atender aos repórteres. Além de colaborador, Iracy era um leitor assíduo do jornal desde 1990, e guardava algumas edições. Na edição de número 300, Firmino foi procurado pelos repórteres para dar um depoimento sobre sua relação com o MARCO, e disse que sempre incentivou a leitura entre os moradores. Na ocasião, comentou que chegou a colocar uma faixa na rua que dizia “Leiam o Marco dessa semana”.

O baleiro Edilson Borges Ferreira, 41, o Pelé, que trabalha em frente ao Colégio Santa Maria, aponta outra grande contribuição de Firmino. Conta que ele sempre ajudava os alunos da escola. “Qualquer coisa a gente tinha o telefone de contato dele”, relata Pelé. “Uns meninos ficavam aqui roubando os alunos, geralmente era só ligar pra ele que ele dava uma força”, lembra Edilson. Pessoas que passavam pela rua da papelaria paravam e liam as mensagens de carinho

André Correia


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Comunidade / Política

Reações opostas a nome de via Homenagem à data do golpe militar, que completou 50 anos, Avenida 31 de Março, no Dom Cabral, tem significado desconhecido por alguns, enquanto outros defendem novo ‘batismo’ ROBERTO BARCELOS 1° PERÍODO

Localizada no Bairro Dom Cabral, na Região Noroeste de Belo Horizonte, a Avenida 31 de Março possui o nome que remete a uma data importante, mas polêmica, da história brasileira: O dia escolhido pelos militares para a instauração da ditadura comandada por eles. E, mesmo assim, existem pessoas que moram ou passam por ali, que não sabem sobre a ligação do nome da via com a data. É o que acontece com Helena Santos, 24 anos, moradora da Região há quatro. “Eu não sabia o significado do nome da Avenida. Faz quatro anos que me mudei para cá e nunca pensei muito sobre”, diz a estudante. “Acho difícil ficar se perguntando o porquê do nome de cada lugar e coisas do tipo. Não é algo que eu fico pensando”, completa. Não são todos, no entanto, que pensam assim. Mario Cunha, 46 anos, morador do Dom Cabral desde criança consegue

Ideia de mudar o nome da Avenida 31 de Março não agrada a todos

compreender o significado do nome. “Não sei quem me contou sobre isso, acho que foi na escola. Por mais que o dia 31 de março não seja algo bom, eu nunca me incomodei com o nome da avenida”, afirma. Mario Cunha foi estudante

Moradores derrubaram 1ª modificação Foi a partir do ano de 1965, um ano após o golpe militar, que a Avenida localizada no Dom Cabral passou a se chamar 31 de Março. O nome, apesar de bem aceito entre a maioria dos moradores, já foi colocado sob questionamento. A primeira tentativa de mudança de nome aconteceu em 1983, por iniciativa de grupos militantes ligados à Associação de Moradores do Dom Cabral, mas não obteve sucesso. Entre 1994 e 1995, houve uma segunda iniciativa, desta vez bem sucedida. A Avenida passou a se chamar Edgar da Matta Machado, em homenagem ao jornalista, professor de direito e político mineiro, que teve destacado papel de resistência ao regime militar. O professor de Comunicação Ércio Sena, que já foi presidente da Associação de Moradores do Dom Cabral, por quatro mandatos, participou ativamente do projeto. “Uma placa chegou a ser colocada, mas foi retirada depois da reação dos moradores”, lembra. De acordo com ele, a insatisfação generalizada por parte dos moradores do Dom Cabral era devido à dificuldade de se acostumar a um novo endereço, a possível dificuldade para outras pessoas chegarem à Avenida, já que tinham o antigo nome como referência e também por já estarem habituados. “Na época eu presidia a Associação dos Moradores e tentamos trabalhar a aceitação dos moradores com um jornal que fizemos, falando do nome, importância”, conta Ércio, “Mas infelizmente nada adiantou”. O atual presidente da Associação de Moradores do Dom Cabral, Maurício Antônio de Sales, comentou que, atualmente, não tem conhecimento de nenhuma ação para mudança do nome da Avenida.

André Correia

da PUC Minas do Coração Eucarístico, mas formou em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e ganha a vida dando aulas particulares para os jovens do Dom Cabral e bairros próximos. Outra coisa para ser colocada em dúvida são os projetos de lei que começaram a ser criados para alterar o nome de ruas, avenidas e outras localidades que, de alguma forma, homenageiam o período militar. Quando perguntado a respeito de sua opinião sobre

isso, Mário logo soube o que falar. “É interessante essa proposta, mas é difícil para as pessoas que não viveram a ditadura ou sofreram com ela entender o seu peso. Se tiver a mudança, eu acho que será um pouco difícil me adaptar com o novo nome. Já que estou ficando velho”, diz, seguido de uma discreta risada. Por mais que existam aqueles que não se incomodam com o nome da Avenida, alguns moradores do lugar se mostram mais ativos e apoiam que deve existir alguma mu-

dança. É o caso de Reginaldo Zerbini, 56, que mostra outra opinião. “É importante que ocorra essa mudança, já que está sendo homenageado algo que não fez bem para a história do nosso país”, afirma. “Por mais que a ditadura apresente algum desenvolvimento, ela não foi uma época muito boa. Então, sou a favor da troca de nome”, acrescenta. Reginaldo Zerbini diz que o seu avô fez parte de movimentos que lutaram contra a Ditadura Militar no Brasil, e contou para ele o significa-

do do nome da avenida onde ele vive. “Acho que meu avô fez muito minha cabeça para que eu pense assim, e isso não é errado. O Brasil precisa virar a página, então vamos fazer isso”, finaliza. De acordo com a assessoria de imprensa da Regional Noroeste e da Câmara Municipal de Belo Horizonte, existem alguns projetos que visam a alteração do nome da Avenida 31 de Março. Mas eles ainda estão em discussão e mais nenhuma informação pode ser dada.

ELIZA DINAH SILVA DOS ANJOS NAYARA OLIVEIRA CARNEIRO

sentar e representar meu país. A partir deste ano, não abro mão do meu voto. Não quero ‘qualquer um’ me representando’’, conta o estudante. Para José Ricardo Faleiro Carvalhaes, professor de Ciências Sociais da PUC Minas, a conscientização da importância do voto não é uma questão de idade. Segundo ele, o que define é o interesse que a pessoa tem pela política. “Um jovem de 16, 17 anos tem todas as condições de entender como funciona o sistema político e a partir daí votar e saber o que está fazendo”, avalia. “O mais importante e isso não depende da idade, é a pessoa buscar o conhecimento a respeito do que é a política e o que está envolvido na política. Você pode ter um jovem de 16 anos que tem maior consciência do que é política em comparação com um adulto de 35 anos, por exemplo”, acrescenta. Vereador em Belo Horizonte, Pedro Luiz Victer Neves Ananias, 36 anos,

conhecido como Pedro Patrus, aconselha a participação nas eleições aos jovens. “Tire o título e vote certinho. Estude realmente quem são os candidatos, pense direito. Veja quem realmente pode contribuir para seu bairro, para sua cidade, Estado, e para seu País”, aconselha o historiador e mestre em Ciências Sociais pela PUC MInas. “Eu realmente aconselho que participe. Porque falar que é contra os políticos e contra a política é muito fácil. Agora, cada um tem o poder de participar e mudar isso. Meu conselho é que vá, tire o titulo, e que vote com consciência”, complementa.

meros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a média de novos votantes entre 16 e 18 anos no país tem sido de dois milhões a cada pleito, e a expectativa, é de que cerca de 11 milhões de jovens votarão pela primeira vez este ano. Para atrair, envolver e atingir atuais e futuros eleitores (os adolescentes menores de 16 anos) o TSE, juntamente com os Tribunais Regionais Eleitorais, desenvolveram um programa de conscientização, conhecido como Jovem Eleitor, que tem o objetivo de informar alunos de escolas públicas. Esse programa envolve visitas às escolas, onde ocorrem palestras com vídeos e distribuição de cartilhas, entre outras atividades. E que resultou no crescimento do índice de participação dos jovens nos cartórios eleitorais (com a inscrição de títulos eleitorais) de 2,3 milhões em 2010 para 2,6 milhões em 2012, conforme publicação do TSE.

Jovens valorizam primeiro voto 1º PERÍODO

O estudante Marcos Stailon Alencar faz parte do contingente de quase 2 milhões de jovens brasileiros, entre 16 e 17 anos, que, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mesmo sendo o voto facultativo, tiraram o título de eleitor ou pretendiam fazê-lo a tempo de votar em outubro deste ano nas eleições para presidente da República, Governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais. Aos 17 anos, Marcos Stailon fez questão de se colocar em condições de votar. ‘’O voto é a nossa voz e é muito importante para sabermos o que é melhor para o nosso país. É um direito que temos de traçar nosso futuro’’ relata. Sempre interessado em política, ele tem estudado a fundo sobre os candidatos, para não se arrepender depois. ‘’É um direito meu. Quero escolher quem irá me repre-

MEMÓRIA Foi por meio do movimento estudantil que a Emenda Constitucional de 10 de maio de 1985, incorporada à Constituição “Cidadã” de 1988, permitiu que o jovem fizesse a opção por votar aos 16 anos. Desde então, essa prática vem crescendo. De acordo com os nú-


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Campus

Alimentação nas lanchonetes Alimentos vendidos na PUC São Gabriel dividem opiniões entre alunos. Para alguns são saudáveis, para outros não há opção “Excelentes opções alimentares, principalmente para os dias que antecedem às provas, são: o alface que possui ação calmante, a laranja e o maracujá que previnem o cansaço, ajudam a combater o estresse e contribuem para as defesas do organismo”, afirma Flávio Viaboni. “Atente-se com os inimigos da memória. Consumidos em alta quantidade, podem prejudicar os neurônios. São eles: açúcar, carne vermelha (frita, churrasco), álcool e gorduras (saturadas e trans)”, alerta o nutricionista.

RAFAELA ANDRADE SARA CRISTINA PEREIRA DIAS 3° PERÍODO

Alunos e funcionários da PUC São Gabriel revelam seus hábitos alimentares e as opções de lanche que encontram dentro e no entorno da universidade. Muitos, por ficarem o dia todo fora de casa, acabam não tendo uma alimentação adequada. “Alkimia do Sabor” e “ Larikão” são as duas lanchonetes instaladas dentro da PUC São Gabriel. O mais procurado pelos estudantes fora da PUC é o Restaurante e Lanchonete Itaobim, o famoso “BIM”. Sanduiche natural, biscoitos e rosquinhas integrais, salada de frutas – esses são alguns alimentos saudáveis encontrados na lanchonete Alkimia do Sabor, próxima ao prédio M, na PUC São Gabriel. Márcia Regina Vieira, caixa há um ano e meio na lanchonete, diz que além das frituras, a Alkimia oferece salgados assados, tem uma prateleira de alimentos integrais e serve almoço de segunda a sábado, com cardápio variado. “A proprietária do estabelecimento é nutri-

Marcia diz que a lanchonete se preocupa em oferecer alimentos saudaveis

cionista, monta o cardápio todos os dias; bem diversificado e colorido. Ela se preocupa com a qualidade dos alimentos, higieniza frutas e legumes. Além disso, todos os funcionários trabalham de touca”, afirma. Márcia se preocupa com uma alimentação saudável; trabalha durante a tarde, leva frutas para o lanche e procura comer de três em três horas.

O estudante de direito Douglas Viana passa o dia inteiro fora de casa e é bem atento na hora de comprar lanches. “Acho a alimentação nas lanchonetes da PUC muito boas, com opções saudáveis e pouca fritura”, afirma. Já a estudante de jornalismo, Daniele Lopes, 20, reclama da falta de opção nas lanchonetes. “Não lancho todos os dias na faculdade por

Rafaela Andrade

falta de variedade de alimentos”, diz. A jovem, que veio do Pará para estudar, considera a alimentação mineira menos saudável e afirma que em sua cidade as pessoas comem refeições leves e mais carne branca. Ela passa o dia todo fora de casa e gostaria que o cardápio fosse mais diversificado e saudável nas lanchonetes da faculdade. O restaurante e lanchone-

Alimentos e nutrientes necessários na rotina Confiram quais são os alimentos e nutrientes essenciais, de acordo com o nutricionista Flávio Viaboni: OVO: Fonte de colina, que participa da formação de novos neurônios, auxilia na reparação de células cerebrais danificadas e favorece a função cognitiva; é também fonte de proteína de alta qualidade e fornece algumas vitaminas do Complexo B, que facilitam a comunicação entre os neurônios. PEIXE: Contém algumas gorduras benéficas (ômega 3), com ação antiinflamatória, protegendo os neurônios contra os radicais livres; é fonte de Zinco e Selênio, que estimulam a atividade cerebral, impedindo o cansaço no final do dia. Além da vitamina D, que contribui para a renovação dos neurônios. Exemplos: Salmão, sardinha, anchova, atum, arenque e cavala. MAÇÃ: Contém Fisetina, que favorece o amadurecimento das células nervosas e estimula os mecanismos cerebrais associados à memória. Outros exemplos: morango, kiwi , pêssego, uva, cebola e espinafre. FRUTAS VERMELHAS: Ricas em Flavonóides, que têm efeitos benéficos na aprendizagem e na memória, protegendo os neurônios. Exemplos: amora, ameixa preta, framboesa, morango, cereja, abacate e uvas vermelhas. BRÓCOLIS: Contém Ácido Fólico, que participa de reações químicas que regulam a conexão entre os neurônios e influenciam o desempenho cognitivo. Outros exemplos: alcachofra, nozes, aspargos, beterraba e espinafre. CEREAIS INTEGRAIS: Auxilia para que as informações entre os neurônios ocorram sem sobressaltos, auxiliando também a memória. Exemplos: aveia, arroz integral, cevada e massas com trigo integral. AZEITE DE OLIVA: Rico em ácidos graxos monoinsaturados, que integram a membrana das células nervosas e aceleram a transmissão de informação entre elas. Outros exemplos: óleo de canola e a linhaça (marrom ou dourada).

te Itaobim, funciona há 15 anos na Rua Walter Ianni, em frente a PUC São Gabriel. “‘Itaobim’ é o nome da minha cidade, resolvi fazer uma homenagem e batizar o restaurante com o mesmo nome”, conta Moacir Inácio Pereira, proprietário do “BIM”. A cidade de Itaobim está localizada na Região Nordeste de Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha e é conhecida como a terra da manga. Moacir conta que o estabelecimento funciona em três turnos. Na parte da manhã é lanchonete, no horário do almoço é restaurante e à tarde funciona como bar. “Nossos salgados são terceirizados; fazemos sucos de açaí, naturais e vitaminas. Oferecemos almoço de segunda a sábado e tentamos melhorar sempre”, ressalta. O cardápio do restaurante é feito pelos funcionários, o almoço conta com 14 opções de prato, oito quentes e seis frios, mais a carne. A estudante de psicologia Ellen Lima, 20, acha que há poucas lanchonetes dentro da unidade São Gabriel e que há uma longa distância entre elas. “As lanchonetes de fora da faculdade têm mais opções de alimentos e são bem melhores do que as de dentro”, considera. Evangelina Péricles Chaves, 59, trabalha na equipe de limpeza da PUC São Gabriel. Ela almoça todos os dias no serviço, mas prefere levar a comida de casa para economizar. “Na hora do lanche prefiro comer uma fruta que trago de casa ou o pão com café que a faculdade disponibiliza aos funcionários; evito frituras e refrigerante, e assim como consequência, meus exames periódicos não têm nenhuma alteração”, diz. Ela finaliza ressaltando que os jo-

vens devem se preocupar com uma boa alimentação para evitar problemas de saúde. “Uma alimentação equilibrada é fundamental para todos os estudantes que desejam melhorar o seu rendimento acadêmico, ter mais disposição e energia para aguentar a intensa demanda física, emocional e intelectual exigida pela universidade”, afirma o nutricionista Flávio Viaboni, 37, de Santo André, São Paulo. Flávio ressalta que uma alimentação equilibrada deixa o organismo mais ativo e o metabolismo regulado. “Há dezenas de receitas interessantes e opções de lanches que além de saudáveis e práticos são muito mais baratos que a dobradinha fatal. “Salgado Frito + Refri” disponível na maioria das lanchonetes”, acrescenta. O nutricionista dá algumas dicas importantes para os universitários que querem manter uma alimentação saudável. Primeiro ele diz que os estudantes devem se organizar. “Assim como você tem uma rotina pra acordar, levantar, se preparar, estudar, entre outras coisas, deve ter uma rotina alimentar”, afirma Flávio. Depois, ele mostra algumas escolhas alimentares saudáveis. “Prefira algo mais leve; salgados assados, sucos de fruta ou polpa, sucos de latinha, em especial os ricos em vitaminas e minerais, (fique esperto no rótulo), lanches naturais, frutas da época, oleaginosas, barras de cereais e iogurte com frutas. Fujam dos salgadinhos de pacote, eles são gordurosos e deixam o raciocínio mais lento. Evite também, os refrigerantes”, ressalta.

Digão, o alegre vendedor de cachorro-quente KAREN ANTONIETA 7º PERÍODO

Com um sorriso no rosto e muita alegria: é desta maneira que Rodrigo Matias da Silva, 34, mais conhecido por Digão, atende a todos que querem comer um cachorroquente em frente à unidade da Puc Minas São Gabriel. Graças ao conselho de um amigo, Digão trabalha em frente à Puc Minas desde 2008. Morador do Bairro São Geraldo, há 29 anos, onde também vende alimentos, Digão reconhece que a clientela de seu bairro não é tão permanente quanto a da Puc. “Se chover lá, o povo não sai de casa. Aqui na Puc não, os alunos tem que vir estudar, então a clientela é bem fiel”, afirma. Trabalhando há mais de seis anos no local, Digão fez muitos amigos. “Tem clientes meus que já for-

maram e vem aqui me ver, nem que seja só para dar um abraço, relembrar os velhos tempos”. Filho de Cesário e Solange e irmão de George Douglas, Marcos Paulo, Sayonara e Tainá, Digão foi motoboy por algum tempo, mas resolveu seguir os passos da mãe e começou a vender alimentos com ela. Para ele, a maior alegria é receber elogio de um cliente. “Quando alguém fala ‘Ah, Rodrigo, seu cachorro-quente é o mais gostoso que eu já comi’ é muito gratificante para mim, não existe alegria maior que essa, por isso que eu amo mexer com cachorro-quente”, relata. O carro de cachorro-quente de Digão é conhecido por dois motivos: o primeiro é porque enquanto os clientes comem um cachorro-quente, um hambúrguer ou um macarrão na chapa, eles podem assistir TV; o segundo é porque o cachorro-quente, caso

o cliente queira, pode vir com farofa. “Lá no meu bairro tem um grupo de quadrilha de festa junina chamado ‘São Gererê’. Um dia eles foram dançar quadrilha no Ceará e lá comeram um cachorro-quente com

farofa. Então eles sugeriram pra minha mãe, que também trabalha com alimentos, para fazer isso também. Aí virou moda”, conta. E Digão revela a receita da farofa. “É só fritar o toucinho de torresmo, jogar a

Digão seguiu os passos da mãe e vende alimentos como ela

farinha de mandioca por cima, colocar um tempero baiano, um pouco de sazón e pronto”. A televisão serve como uma distração para os clientes e para ele mesmo, já que fica de 17h às 22h30 em frente à

Karen Antonieta

Puc. “É o momento dos clientes verem o jornal, a novela, e até para eu mesmo não ficar muito estressado quando aqui fica parado”, observa. Nos intervalos, o movimento na entrada da Puc Minas aumenta e Digão sempre conta com a ajuda de alguém. A cunhada Neuza Helena está trabalhando com ele há três meses. Quando a Universidade está de férias, ele costuma trabalhar em eventos que acontecem no Mega Space, no Mineirão e no Chevrolet Hall. Digão trata bem seus clientes e preza pela qualidade de seus alimentos. “Muitos clientes me elogiam pelo meu sorriso, falam que isso é cativante. Tem pessoas que trabalham de cara fechada e espantam os fregueses. Eu me considero uma pessoa alegre, descontraída e gosto de atender bem meus clientes”, conta.


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Cidadania

LAURA BARALDI LINA FREIRE SARA MARTINS TAÍS SILVA 7º PERÍODO

Há cerca de cinco anos, crianças e adolescentes de diferentes idades e com histórias de vida semelhantes passaram a completar a vida da psicóloga Maria do Carmo Silva e de suas filhas, as estudantes Raquel e Rafaela Silva. Em 2009, as três se tornaram participantes do projeto Famílias Acolhedoras, serviço socioassistencial da Prefeitura de Belo Horizonte, executado em parceria com a Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio da Pastoral do Menor, no qual voluntários recebem em suas casas jovens de até 18 anos. O principal objetivo do projeto é proteger crianças e adolescentes afastados de suas famílias de origem por motivo de maus tratos, negligência ou outro tipo de violação. Dessa forma, o sofrimento dos menores é amenizado pelo carinho oferecido pelas famílias voluntárias até que encontrem um lar permanente. “Em uma família as crianças recebem afeto e atenção individualizados. Isso não é possível em um abrigo, por melhor que seja, pois é um acolhimento institucional dedicado a um número maior de crianças”, afirma a gerente do serviço, Valéria Cardoso. Atualmente, mais de 700 crianças e adolescentes estão em processo de acolhimento institucional em abrigos na capital e o município conta com 18 famílias habilitadas a participar do projeto Famílias Acolhedoras, sendo que nove estão em processo de acolhimento. É o caso de Maria do Carmo, que atualmente aco-

Jovens carentes acolhidos por voluntários de projeto Programa ‘Famílias Acolhedoras’ protege crianças e adolescentes afastados de suas famílias. A psicológa Maria do Carmo Silva cuida de gêmeos em sua casa

Crianças que sofreram algum tipo de violação são acolhidas pelo projeto

lhe os gêmeos Carolina e Caio (nomes fictícios), de quatro anos. Durante os cinco anos que participa do programa, oito crianças compartilharam do cotidiano e receberam os cuidados e o afeto da família da psicóloga. Quando tem novos moradores em casa, a rotina de Maria do Carmo é alterada. Para cuidar dos gêmeos, ela os acorda às 6h30, troca suas fraldas e os veste com o uniforme da creche. Após o café da

manhã, os dois vão para a escola e retornam às 17h. Nesse período, Maria do Carmo se dedica a organizar a casa. Segundo ela, a desordem é maior quando há crianças. “É como se chegasse à sua casa uma visita que vai ficar alguns meses. Algumas coisas ficam temporariamente sem lugar, mas assim que a visita vai embora a organização volta ao normal”, compara. As despesas também aumentam e, por isso, o serviço garan-

Programa completa cinco anos em BH O Serviço Família Acolhedora foi implantado em Belo Horizonte no início de 2009. Desde então, cerca de 1 mil famílias demonstraram interesse em participar do projeto, mas não concluíram todas as etapas da seleção. Atualmente, três famílias estão em processo de cadastramento e 18 estão habilitadas a receber crianças e adolescentes em suas casas. Há meses em que a média de famílias que entram em contato com a equipe do serviço é de 10 a 15. Em outros, esse número pode chegar até 60 famílias. Assim como a de Maria do Carmo, outras sete famílias estão em processo de acolhimento. O processo de seleção acontece em três fases. Primeiro, o serviço é apresentado aos interessados e é realizada uma entrevista para conhecer o perfil do candidato e

explicar os critérios seletivos. Na segunda fase, a família recebe a visita da assistente social e da psicóloga do serviço que avaliam a estrutura da família e as condições da moradia. Em uma última etapa, os candidatos participam de uma capacitação, que acontece durante dois dias, e tem como objetivo esclarecer questões referentes ao Estatuto da Criança e do Adolescente e o papel da família acolhedora. Ao longo dos cinco anos do serviço, cerca de 30 crianças foram acolhidas. Dessas, nove estão vivendo em casas de voluntários; duas foram reintegradas nas famílias de origem; três nas famílias extensas e cinco foram adotadas. Além disso, oito foram encaminhadas para o acolhimento institucional.

te às famílias uma ajuda de custo no valor de um salário mínimo por mês. Depois de permanecerem até dois anos na casa de voluntários, as crianças retornam à família de origem. Caso isso não seja possível, elas são encaminhadas à família extensa ou à adoção. Para que tenham condições de reaver a guarda dos filhos, a família biológica

recebe acompanhamento da assistente social Karla Gomes e da psicóloga Kenya Prímola. Elas estudam o motivo do afastamento e dão apoio para a família superar a falha. O suporte oferecido à família de origem consiste em reuniões semanais com a equipe técnica do projeto. Durante esses momentos, as famílias de origem recebem orientações e dicas de serviços gratuitos para cuidar da saúde, se especializar profissionalmente e, principalmente, melhorar a relação familiar. Há também encontros regulares entre a criança e a família biológica com o objetivo de manter os laços afetivos. Caso a equipe perceba o esforço e progresso significativo da família, inicia-se o processo de retorno do menor à família de origem. Inicialmente, a criança passa um dia com os pais biológicos e esse convívio aumenta gradualmente, até o retorno definitivo. A família passa a receber, durante um ano, visitas frequentes da assistente social e da psicóloga do projeto. Após esse período o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da regional passa a acompanhar o caso oferecendo oficinas e atividades para os pais e crianças. Caso a família biológica não queira ou não

tenha condições de reaver a guarda da criança, a equipe do ‘Famílias Acolhedoras’ entra em contato com os parentes mais próximos. A equipe avalia o interesse e a disponibilidade dos familiares para adotar a criança. Em último caso, os menores permanecem na casa da família acolhedora aguardando uma possível adoção. Se nos dois anos de permanência na casa dos voluntários a criança não for adotada, ela é encaminhada a um abrigo, onde permanece até completar 18 anos. Vale ressaltar que os voluntários não podem adotá-las. A família acolhedora não pode adotar as crianças, pois isso significaria um desrespeito à fila de espera de adoção, que é um serviço federal. Por esse motivo, Maria do Carmo sente saudade de todas as crianças que passaram por sua casa. “Não tem como alguém viver com você e não deixar marcas. Lembro de todas com carinho, algumas mais do que outras”, observa. Houve acolhimentos difíceis, crianças agressivas, mas até essas experiências foram enriquecedoras para Maria do Carmo. “Cada história me fez reavaliar uma série de verdades nas quais eu acreditava. Tornei-me mais tolerante e menos julgadora das falhas humanas”.

Como se tornar uma família acolhedora Para realizar o cadastro de famílias interessadas, o Programa Famílias Acolhedoras leva em consideração os seguintes critérios: - Disponibilidade afetiva; - Ter mais de 21 anos; - Morar em Belo Horizonte, há mais de dois anos; - Boas condições de saúde física e mental; - Ausência de antecedentes criminais; - Situação financeira estável; - Convivência familiar estável e não possuir dependentes químicos na família. - Concordância de todos os membros da família; - Estar disposto ao acolhimento temporário, sem a intenção de adotar a criança ou adolescente; - Aceitação e comprometimento com as diretrizes do Serviço. Os documentos necessários são: - Carteira de identidade ou CPF; - Comprovante de residência; - Comprovante de renda; - Certidão negativa de antecedentes criminais; - Atestado de saúde física e mental. A sede do Famílias Acolhedoras localiza-se à Rua Além Paraíba, 208, Bairro Cachoeirinha. Para mais informações, entre em contato com a equipe do serviço pelos telefones (31) 3423-8618 / 3463- 8083, ou pelo e-mail familiaacolhedorabh@yahoo.com.br.


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Comportamento

Nomes inusitados mudam vidas Na hora de registrar o filho, pais e mães escolhem nomes exóticos ou criativos. Galeno Criscolo seria uma homenagem a um cantor. Já Mariulda Auxiliadora foi registrada com erro na grafia BRUNA NOGUEIRA GABRIELLA CARVALHO

Galeno. Posso ter sido nomeado por esse motivo também, mas minha mãe nunca confirmou com absoluta certeza”. Ao ser perguntado se já tinha passado por alguma situação embaraçosa ou se já quis trocar seu nome, Galeno responde que não. “Nunca quis mudar meu nome, a gente acaba acostumando”, mas nem sempre foi assim. Na pré-escola, e durante boa parte de sua infância, Galeno sofria algumas dificuldades na sala de aula, já que suas professoras sempre “engasgavam” na hora da chamada, e acabavam não conseguindo falar seu sobrenome. Além disso, sempre escutou brincadeiras com trocadilhos de seu nome mas, “depois de um tempo”, diz o professor, “aprendemos a levar tudo na brincadeira, por que não vale a pena estressar por uma coisa tão boba”. O grande problema na hora de escolher um nome é fazê-lo de maneira a gerar incômodos e constrangimentos futuros. É que o nome dessa criança é registrado na certidão de nascimento, e é esse documento que viabiliza todas as ações futuras desse bebê como integrante da sociedade para, por exemplo, o acesso à saúde, matrícula escolar, participação em programas do governo, garantia à Justiça, no casamento civil, além de

várias outras utilidades fundamentais. Nomear a criança por um prenome confuso pode acabar por complicar também o resto de sua vida, seja em questões sociais, jurídicas ou até mesmo psicológicas, como o constrangimento ou até em casos mais extremos, o bullying. No momento do registro, o oficial que estiver realizando o ato pode se negar a registrar nomes que causem algum dos constrangimentos acima, e passar a situação a um juiz, caso compreenda que o nome dado pode futuramente prejudicar o indivíduo. Como uma maneira de facilitar sua vida, a pessoa que queira mudar seu nome pode fazer isso agora diretamente nos cartórios. Os preno-

mes poderão ser alterados no primeiro ano após ser atingida a maioridade civil entre os 18 e os 19 anos. Após 19 anos a alteração pode ser realizada, desde que tenha as razões exigidas por meio da lei. A partir dessa idade, pode-se efetuar mudanças no sobrenome também. Para a mudança do nome próprio, deve-se explicar ao juiz por que o nome realmente provoca transtornos, e que a mudança não trará prejuízos a ninguém. Depois de feita a troca, a pessoa deve alterar todos os documentos que possui mas, muitas vezes, este é um empecilho que nem todos estão dispostos a enfrentar. No caso da vendedora Mariulda Auxiliadora Costa Evaris-

to, registrada com erro de grafia, a troca do nome nunca foi feita, apesar do constragimento que sente toda vez que perguntam seu nome. “Para evitar o trabalho de trocar todos meus documentos, pegar fila e gastar mais tempo do que tenho, prefiro deixar do jeito que está”, justifica Mariulda. Em clima de constrangimento, a vendedora diz que já passou por algumas situações em que ficou com vergonha, mas prefere dizer seu nome de forma que todos entendem. “Quando perguntam meu nome, digo ‘Marilda’, como se fosse assim mesmo. Se eu falar ‘Mariulda’, com entonação na letra ‘u’, as pessoas perguntam se é assim mesmo, se tem acento no nome e etc. Ai não dá né”.

Na Defensoria Pública de Belo Horizonte ao menos 50 pessoas tentam mudar o nome por mês. Segundo o site do Senado Federal, os motivos válidos para a mudança de nome podem variar: em casos de adoção, após o processo de acolhimento do bebê ou da criança, os pais adotivos podem mudar o sobrenome do filho e, se ele(a) for menor de idade, o prenome também pode ser alterado; após mudança de sexo; em casos de homonímia, que muitas vezes resultam em problemas financeiros como golpes através de pessoas do mesmo nome; quando a exposição da pessoa ao ridículo é evidente; erros de grafia e até mesmo a substituição do prenome por apelidos públicos notorious, como é previsto pela Lei 9.708/98, na qual a mudança pode ocorrer no primeiro nome, ou a pessoa pode optar entre colocar o apelido antes do prenome ou entre ele o sobrenome. Seu nome, como diz o ditado, é a única coisa que realmente lhe pertence e passar momentos constrangedores por sua conta pode ser um fator complicador para todo seu desenvolvimento na vida futura. Hoje, já é possível obter a mudança de nome e viver com um nome que seja adequado aquela pessoa.

quisadores, o que pode parecer vício na visão de algumas pessoas é, para outros uma necessidade – principalmente para aqueles que possuem um smartphone e o utilizam com certa frequência. De acordo com o professor e coordenador do curso de Engenharia Química da PUC Minas, Leonardo Mitre, o grande número de recursos que estes

aparelhos possuem depende de uma quantidade maior de energia para funcionar, por isso eles precisam ser recarregados mais vezes. “Hoje em dia, nos celulares têm muitas funções rodando ao mesmo tempo: de internet, de mensagens, muitas coisas estão conectadas na rede”, explica Leonardo. Essa necessidade de manter o smartphone

Alunos sentam perto de tomadas para recarregarem celulares

Camila Navarro

conectado ao carregador, que vem crescendo no mundo todo, principalmente entre os jovens, tem incentivado novos hábitos, como o de sempre deixar o carregador de celular dentro da mochila ou da bolsa. Em um levantamento realizado pelo MARCO em uma turma do curso de Fisioterapia da PUC Minas, mais de 50% dos alunos que possuem um smartphone andam com o carregador na mochila. Dos 49 alunos ouvidos na enquete, 44 já aderiram ao uso de smartphones e, destes, 24 não tiram o carregador de dentro da mochila, assim como faz Mayara Lúcia Gonçalves, colunista de dois sites de esporte e estudante de jornalismo da PUC Minas. Segundo ela, o carregador em sua bolsa é um acessório indispensável, já que ela precisa estar conectada para atualizar os 1017 seguidores de sua conta pessoal no twitter (@Maylg) e os

quase 80 mil das contas dos sites nos quais ela escreve. “Vinte e quatro horas não porque eu durmo, mas umas 18 horas”, brinca Mayara ao responder quantas horas por dia fica conectada. Bruno Vasconcelos, professor do Departamento de Psicologia da Puc Minas, doutor em Psicologia Clínica pela PUC/SP e pós-doutorando em Filosofia pela UFMG, comenta que não é novidade na história humana a relação do homem com a técnica ser mediada por objetos. Segundo ele, o fato é que houve uma intensificação neste processo, por meio de uma multiplicação de objetos acoplados ao organismo, tornando-se parte do nosso cotidiano. “A utilização da tecnologia é uma condição do contemporâneo, mas isto pode ser considerado patológico quando limita a vida cotidiana das pessoas, ocasionando problemas pessoais, desligamentos das relações.

O contato presencial e virtual entres as pessoas tem que ser complementares e não excludentes, no momento que só existe o contato virtual, torna-se um problema”, diz Bruno. Para o cientista político José Ricardo Faleiro, é preciso que se estabeleça um limite, no que diz respeito ao uso dos aparelhos de celulares, pois as pessoas não estão conseguindo ficar muito tempo sem utilizar o aparelho celular e ainda não respeitam os locais e muito menos, o horário adequado na utilização desta tecnologia. “Os jovens estão tendo dificuldades na escrita e na interpretação, devido ao uso abusivo dos celulares em sala de aula. A tecnologia deve ser entendida como uma ferramenta e não tida como um fim, não podemos perder o contato face a face, o espaço da biblioteca e a consulta aos livros”, argumenta José Ricardo.

1º PERÍODO

Ao nascer, todo bebê tem seu nome registrado pelos pais, constituído de dois elementos: o prenome, que é o nome próprio e o patronímico que é o sobrenome das gerações da família. A ordem do patronímico no país é de livre escolha dos pais mas, geralmente, o sobrenome materno é seguido pelo paterno, e o prenome é de liberdade e escolha total, normalmente feita pelos pais. Algumas vezes, ao escolher o nome do filho, o pai ou a mãe acabam escolhendo um nome exótico ou criativo, e essa escolha pode vir da adaptação de outros nomes, da junção de nomes de família, inspirações de ídolos ou às vezes apenas fruto da imaginação. É o caso de Galeno Criscolo Parrela, professor de Educação Física do Colégio Tiradentes. O nome dele seria dado em homenagem à Ricardo Galeno, cantor que fazia sucesso na época em que nasceu. Como seu pai foi contra a ideia da mãe, decidiram ficar apenas com o sobrenome, Galeno. Entre risos, o professor ainda diz sobre a segunda possibilidade da escolha de seu nome. “Na fazenda em que meus pais moravam, tinha um homem muito bonito chamado

A escolha do nome de Galeno Criscolo Parrela tem duas explicações

Camila Navarro

Dependência da geração que é presa a um cabo CARINA TOLEDO PABLO HENRIQUE NASCIMENTO 3º E 1º PERÍODOS

“Nove meses preso no cordão umbilical e o resto da vida preso no carregador de celular”. É assim que estão caracterizando com bom humor, na internet, as pessoas que recarregam a bateria do celular mais de uma vez por dia. Para alguns pes-


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Esporte

Remo atrai novos praticantes A atividade, que já foi tradicional, começa a atrair novos adeptos. O contato com o meio ambiente e a necessidade de praticar exercicio físico são incentivos para quem busca esse esporte EDUARDO ZANETTI JOSÉ DAVI TEODORO RICARDO DINIZ VALDEVINO HERMANO VINÍCIUS ANDRADE 7º PERÍODO

O visual encanta. A água cristalina, as montanhas ao fundo e o minério colorindo o solo formam um cenário ideal para a prática esportiva. E já que em Minas não tem mar, a Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é destino certo para os amantes do remo. O Iate Clube recebe alunos às terças, quintas e sábados. Henrique Pretti, 45 anos, é ortodontista e durante a semana tem compromisso com a sala de cirurgia. Já no sábado, a agenda está separada para a atividade física, e remo não pode faltar. “A gente tem um contato muito grande com a água. Como os barcos são individuais, a gente acaba tendo esse momento de prazer e essa aproximação com a natureza.” Utilizado incialmente como meio de transporte, o remo se efetivou como esporte no final do século 17, na Inglaterra. Aos poucos a modalidade foi se espalhando pela Europa e ganhando adeptos em todo o mundo, e desde a edição de 1900 integra os jogos olímpicos. No Brasil, antes do surgimento do futebol, o remo era

o preferido do público. No Rio de Janeiro, Vasco, Botafogo e Flamengo já disputavam clássicos na Lagoa Rodrigo de Freitas. Em Minas Gerais, esse esporte começou a ser praticado em 1960, na Lagoa da Pampulha, graças a dedicação de Afonso Ligório. Agora é a vez do filho dar continuidade à paixão herdada. “Meu pai tomava conta daquele espaço, mas faleceu em 1998. A partir daí eu dei continuidade na modalidade de remo em Minas Gerais. A gente vem lutando com isso, mas é preciso incentivo. A gente trabalha carregando, lavando, tocando e afinando o piano”, afirma o educador físico e proprietário do Clube de Regatas. O tipo de barco mais comum recebe o nome de skiff e é conduzido por um remador. Mas os barcos também podem ser tripulados por dois, quatro e até oito atletas. Nas competições, o objetivo é percorrer uma trajetória em linha reta no menor tempo possível. Independente da categoria, a distância é sempre de dois mil metros. Para praticar a atividade, o principal requisito é a disposição, mas, além disso, o aluno deve ter, no mínimo, 12 anos, saber nadar e gostar de atividade física. Não existe limite de idade. Com 82 anos

Fernanda Ribeiro vê no remo oportunidade de relaxamento

e esbanjando saúde, Celedônio de Souza Santos é o veterano da escola. O remo pode parecer uma atividade leve, que não exige muito esforço. Mas basta experimentar para perceber que essa ideia é pura ilusão. O esporte trabalha todo o corpo e uma hora de treino pode queimar até 600 calorias. “O remo é um exercício aeróbico e um exercício de força. As pessoas pensam que o remo trabalha mais os braços, mas a gente trabalha muito as pernas, abdômen e musculatura costal. É um exercício bem completo”, afirma Augustus Ligório.

Vinícius Andrade

E mesmo exigindo coordenação e esforço, quem já tem experiência garante que o esporte não tem mistério. “O remo é bem fácil de praticar. Nas primeiras semanas você pode até encontrar certa dificuldade, mas rapidamente você já acostuma e é só aproveitar a lagoa”, destaca Henrique Pretti. Uma aula dura em média uma hora. Os primeiros quinze minutos são dedicados ao alongamento do corpo, e depois é só entrar na Lagoa e curtir a remada. “A princípio, a gente ensina a parte teórica aos alunos, depois passamos para os

alongamentos específicos e eles já começam a ter o primeiro contato com o barco”, explica o professor. Existem, aproximadamente, 30 alunos na escola e a mensalidade varia de R$ 200 a R$ 350, dependendo do número de aulas feitas por semana. O remo ainda é pouco procurado pelos mineiros, mas quem começa a praticar logo se apaixona e não quer saber de parar. Fernanda Ribeiro, 43 anos, é jornalista e descobriu na Lagoa dos Ingleses um refúgio para relaxar. “O remo me deu essa oportunidade de estar em contato com a nature-

za, além de movimentar minha musculatura, melhorar minha respiração. Hoje, me sinto bem mais disposta”, comenta Fernanda. O engenheiro civil, Lorenço Marquez, 28 anos, precisou passar por uma cirurgia após uma lesão quando jogava futebol. Seu médico o indicou o remo e ele decidiu procurar pelo esporte. “No início ainda sentia muitas dores, mas eu fui melhorando e agora sou um adepto do remo. Quando estou na Lagoa eu esqueço tudo e aproveito o passeio no barco, que é sensacional”, afirma Lorenço.

GALO E CRUZEIRO A música “Galo e Cruzeiro”, do atleticano Vander Lee, pode ser considerada uma espécie de hino para muitos apaixonados que não conseguem se entender dentro das quatro linhas, embora a intenção do compositor não tenha sido essa. “Ela finge que não, mas no seu coração ainda sou artilheiro. Só faz isso porque, meu irmão, eu sou Galo e ela é Cruzeiro”, canta Vander Lee, que admite que a canção tornou-se “símbolo” para quem vive esse tipo de divergência. “Essa canção surgiu de uma brincadeira com meu

irmão caçula, cruzeirense, baseada naquela mania de atleticanos chamarem cruzeirenses de ‘maria’. Ela no caso é ele. O refrão surgiu primeiro, meio que para zoar, o resto é inventado mesmo”, conta Vander Lee. A atleticana Patrícia e o cruzeirense Hugo Lopes, ambos com 36 anos, identificam-se muito com a letra dessa música. Casados há três anos, eles saem juntos de casa em dia de clássico, mas se separam em frente ao estádio. No final da partida, se reencontram no mesmo lugar e vão embora juntos novamente. “Um

ri, enquanto o outro chora”, brinca o torcedor, que é um dos representantes celestes na bancada democrática do Alterosa Esportes. Eles se conheceram há seis anos, por meio de uma amiga em comum, que os apresentou por ver muitas afinidades. Para começar bem a vida a dois, o casal decidiu ir a dois jogos, um de cada time, ambos pelo Campeonato Mineiro. Hugo ri ao se lembrar do episódio, pois além de ter visto o Atlético ganhar teve o carro rebocado por estacionar em local proibido.

Fanatismo no futebol: loucura ou amor demais?

Time do coração esteve presente no noivado de Camila Eleutério e Ivan Júnior CAMILA VIEIRA CAMILLA FIORINI 2º PERÍODO

O intervalo do jogo entre Cruzeiro e Flamengo, pelo Brasileiro de 2013, disputado no Mineirão, reservou momentos especiais para a jovem torcedora celeste Camila Eleutério, 23 anos. Antes de ser pedida em casamento, perante 35 mil pessoas, pelo namorado Ivan Júnior, 24, ela foi homenageada no telão do estádio. Fotos do casal foram exibidas e o sistema de som tocou a música preferida dos dois. Ao se dar conta

do que estava acontecendo, Camila disse apenas “sim”. “Fiquei muito surpesa e não acredito até hoje. Falei para ele quando começou a tocar a música: ‘Amor, essa é a música do nosso casamento’. Aí, quando comecei a ver as fotos no telão, nem consigo explicar a minha reação. Fiquei com vontade de chorar, tremendo”, lembra. Ivan teve a ideia e conversou com a diretoria do departamento de marketing do Cruzeiro, que a aprovou e ajudou a viabilizar o sonho. “Não fiquei com vergonha, não. Fiquei emocionada. Foi a coisa mais linda do mun-

Arquivo Pessoal

do porque a gente ama o Cruzeiro”, comenta Camila. De acordo com o dicionário Aurélio, fanático “é aquele que segue cegamente uma doutrina ou partido”. E foi esse fanatismo, pelo Cruzeiro, que uniu o casal Mayara Gonçalves e Douglas Visconte, de 18 e 19 anos, respectivamente. Eles se conheceram a partir doTwitter, pois compartilhavam a mesma paixão por futebol. Um dia decidiram levar a conversa para o lado pessoal, descobriram afinidades e, atualmente, namoram, além de torcerem juntos pelo Cruzeiro.

Casal unido só se separa no estádio de futebol

Arquivo Pessoal


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Cidade

Comércio aposta na criatividade Empresários da capital mineira buscam ideias criativas e inusitadas para atrair a clientela e alavancar as vendas. Carcaça de um boeing e uma kombi da década de 60 são algumas das apostas

O empresário Thiago Simal aposta em Kombi como atrativo

GABRIELA CAMARGOS LUIZ OTHÁVIO GIMENEZ 7º PERÍODO

Quando alguém pensa em transformação, logo cogita-se o processo de mudança de algo. Talvez uma tintura no cabelo promova uma real diferença no visual. Ou a troca das bonecas pelos sapatos de salto alto e batons de cor vermelha evidencie a transição da infância para a juventude. Tantas são as formas de mutação. Algumas, acontecem naturalmente. Outras, nem tanto. E se a carcaça de um avião se transformar, dentro dos próximos meses, em um parque de diversões para crianças? E se suas peças de roupas favoritas estiverem a venda em uma loja que funciona dentro de um container, daqueles carregados nas embarcações? Uma Kombi certamente não teria outra função a não ser a de levar passageiros. Mas, em um estabelecimento comercial especializado em fast-food uma das laterais do veículo, acredite, serve como balcão de atendimento aos clientes. A criatividade, aliada a uma conta bancária mais recheada que o normal, pode fazer com que objetos que já poderiam ser descartados ou levados para locais de reciclagem, se transformem em bens de alto valor comercial. O empresário Mário Valadares, de 56 anos, que o diga. Dono de um dos mais famosos centros de comércio popular de Belo Horizonte, o Shopping Oiapoque, ele aposta, agora, em um outro segmento: o primeiro showroom de veículos novos do estado. Apesar da iniciativa pioneira, o grande atrativo do negócio promete ser outro. Em outubro do ano passado, o empresário comprou a carcaça de um boeing que será transformada em espaço de lazer para a criançada. “Quis pegar um objeto que não tinha mais utilidade e transformar em algo que será bem aprovei-

tado por várias pessoas”, afirma o empreendedor. Um playground pode não ser má ideia quando o objetivo é atrair clientes. Enquanto os pais compram, os filhos se divertem. E aprendem. É que a proposta de Mário não se restringe a um espaço recreativo. Intitulado “playground educativo”, o local terá elementos históricos da Inconfidência Mineira. “Sempre senti falta de um museu sobre a história de Minas Gerais. Foi um acontecimento importantíssimo, e é indispensável enraizá-lo. Quero começar com os pequenos”, explica Valadares. Ele é descendente do inconfidente José Resende Costa em sua nona geração, e o sonho de incentivar o conhecimento sobre um dos mais importantes movimentos ocorridos em Minas e no Brasil é presente há anos. “Minha ideia inicial era construir um museu. A história do avião veio depois, a partir de um leilão online. Me perguntei: por que eu não posso comprar um desses?”, lembra. Para ver parte da história do antepassado imortalizada, o empresário não poupou esforços. Além de desembolsar R$ 64 mil pela fuselagem do Boeing 737-200, até então pertencente à falida Viação Aérea São Paulo (Vasp), Mário teve que elaborar toda uma logística de transporte para que a carcaça, que originalmente estava guardada no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, chegasse a Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No total, foram dois dias inteiros de viagem e mais de meses de planejamento. Embora o leilão tenha ocorrido no fim do ano passado, foi somente em fevereiro deste ano que a peça chegou ao destino final, um terreno de 20 mil metros quadrados, localizado às margens de uma das mais importantes vias da cidade industrial. “Queria que o local já estivesse pron-

Gabriela Camargos

to quando a carcaça chegasse, afinal, é um objeto bem pesado e não dá pra ficar transportando de um lado para outro”, explica. Além da carcaça com ares de museu, o espaço também contará com cerca de 40 lojas, praça de alimentação e pista para teste drive. Embora o projeto já esteja todo idealizado por Valadares, ainda não há data definida para que saia do papel. De acordo com o empresário, muitos contratos com concessionárias ainda têm que ser fechados. Outro fator que atrasa o começo das obras é a espera do alvará de construção, que ainda não foi concedido pela Prefeitura de Contagem. Enquanto Mário aguarda pelo momento de ver o sonho materializado no antigo avião, o advogado Thiago Simal, de 29 anos, já colhe os frutos da criatividade empregada no negócio administrado por ele. Há quase um ano ele é sócio de uma das mais promissoras franquias de hambúrguer e milk-shake de Belo Horizonte, o Jack’s Big Burger. A casa, que funciona em dois endereços – um no Bairro Sion e outro no Vila da Serra, ambos na região Sul de BH – se diferencia das outras do ramo pela forma como os pratos são elaborados. Todos os componentes dos sanduíches, desde o pão até os molhos são preparados na própria loja, por funcionários especializados. Mas quem pensa que é o modo de produção o principal atrativo do estabelecimento, se engana. A verdadeira “alma” do negócio é, na verdade, uma Kombi do início da década de 60. Depois de passar alguns dias na oficina mecânica, o veículo, adquirido em 2012, se transformou. A parte traseira foi retirada e o motor deu lugar ao pré-resfriador da chopeira. A lateral direita do carro também foi modificada. Ganhou uma placa de granito e passou a ser

utilizada como balcão do estabelecimento. Originais mesmo são a parte dianteira, que preserva o painel, vidros e chassi de fábrica, e as histórias que Thiago tem para contar. E que histórias! Um dos episódios mais marcantes aconteceu no ano passado, quando uma noiva pediu para que uma das fotos do álbum de casamento fosse feita ao lado da Kombi. “Ela tinha acabado de casar e chegou aqui na loja de vestido, véu, toda produzida mesmo. Assustei na hora, mas em seguida ela disse que achava a Kombi muito legal e queria ter uma foto de noiva ao lado dela. Eu deixei, é claro”, relembra. Oferta pelo carro, Thiago garante nunca ter recebido. Aliás, vender a Kombi é algo que nem passa pela cabeça do sócio. “A Kombi já virou o ícone da loja, mesmo que quisessem, não teria como vender”, reforça. Em compensação, várias pessoas já foram até o estabelecimento querendo dicas para re-

produzir o modelo. “Uma vez um português fissurado em Kombis ficou mais de horas analisando como ele poderia reproduzir um balcão igual a este em casa. Queria que funcionasse como um bar”, acrescenta. Prova de que a Kombi realmente faz sucesso entre os clientes é que muitos deles vão pela primeira vez ao local atraídos pelo automóvel. Esse foi o caso do neurocirurgião Paulo Mallard, 32 anos. “Eu trabalhava no hospital que fica em frente a uma das lojas e sempre ficava observando a Kombi de longe, até que um dia resolvi conhecer. Não pensava que fosse de verdade. Achei a iniciativa muito bacana”, relata. Ciente da importância que a Kombi tem para o sucesso do negócio, Thiago é cheio de cuidados com o veículo. Além de limpá-lo todos os dias, o proprietário mantém os pneus sempre cheios e de dois em dois meses contrata um profissional para o serviço de polimento. “Tem que

cuidar, afinal, não dá mais para desvincular a imagem do restaurante à da Kombi. Fico observando e, frequentemente, ouço pessoas gritando lá da rua: ‘O restaurante é ali. Olha lá a Kombi’”, finaliza. O fato de objetos que usualmente têm uma destinação fazerem tanto sucesso ao serem empregados de uma forma diferente é explicado pelo professor da PUC Minas e especialista em marketing e consumo Enaldo Souza Lima. Para ele, objetos como a Kombi fazem tanto sucesso fora do contexto tradicional porque apelam para um aspecto pouco explorado: “Na sociedade de consumo tudo é muito óbvio, nesse contexto, o inusitado pode funcionar. As decisões de consumo não são baseadas na razão, e sim na emoção. Daí, a montagem de cenários diferentes pode fazer sucesso no mercado e atrair a clientela”, enfatiza.

Sustentabilidade é a ideia do momento

Empresários transformam lixo em fonte de renda

Transformar lixo em pontos de venda de sucesso, com base na sustentabilidade, apresentando, ainda, design moderno e mobilidade. Esta é a proposta da empresa Container Outlet, que, seguindo tendências mundiais, se apropria de containeres abandonados e os transforma em lojas de roupas multimarcas. O negócio, criado há quatro anos já tem 146 franquias em todo o país, além de contratos assinados para mais de 21 lojas só para este ano. Fagner Monteiro, de 59 anos, é um dos quatro sócios da franquia. Ao todo, são 32 lojas só em Minas Gerais. Belo Horizonte, Contagem, Nova Lima, São João Del-Rei, Ouro Branco e Governador Valadares são algumas cidades que detêm a novidade intitulada de “sustentável”. “As lojas em container não são uma ideia original nossa, já existem há dezenas de anos em diversos países. Mas nosso principal objetivo é levar o conceito para as cidades médias, para popularizar o projeto”, analisa o sócio. Cada container custa cerca de R$ 10 mil, mas o valor mais alto vai para a reforma, que não sai por menos de R$ 20 mil.

Luiz Othávio Gimenez

O maior investimento, portanto, é na estruturação, no suporte e na decoração. “Custa caro transformar lixo em algo útil”, conta Monteiro. Mas, comparando com os custos de construir um imóvel de alvenaria, ou apostar em alugueis de terreno e em shoppings, as lojas container dão mais alívio para o bolso. “O maior obstáculo para o empreendimento é encontrar terrenos livres em bons locais, principalmente em zonas centrais”, pondera. A loja de São João Del-Rei, por exemplo, foi inaugurada há dois meses e chama atenção. A população, acostumada com as lojas de grife do Centro da cidade, agora tem um motivo a mais para ampliar os ares e procurar por um local de compras mais afastado. “Pode até ser que haja roupas parecidas com as daqui na cidade. Mas temos um diferencial que aguça a curiosidade”, reflete Deize Dias, proprietária da loja. De acordo com ela, foi preciso um investimento de cerca de R$ 50 mil para poder ser uma das fraqueadas. “O container já chega montado, com prateleiras, espelhos, provadores e ar condicionado. A única coisa que temos que fazer é conseguir um terreno”, relata.


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Cidade

Quilombo luta por legalização Comunidade localizada no entorno do Bairro São Gabriel, em BH, obteve reconhecimento do local como Quilombo Mangueiras e aguarda agora a publicação da titulação das terras pelo Incra GIOVANNA DE PAULA KAREN ANTONIETA 7º PERÍODO

“Nós estamos nas Minas ou nas Gerais?”. É com esse questionamento que Maurício Moreira dos Santos começa a contar a história do Quilombo Mangueiras que, antes escondido pelas matas, agora está à vista de todos, às margens da Rodovia MG-020, que liga Belo Horizonte, no entorno do Bairro São Gabriel, a Santa Luzia. Localizado na Região das antigas Minas, onde se desenvolveu o ciclo do ouro no século XVIII, esse símbolo da resistência negra é, atualmente, um registro vivo da história mineira, bem como palco de uma grande disputa territorial. Quem fala sobre a trajetória do Quilombo é o próprio presidente da comunidade, Maurício Moreira, 56 anos, eleito em votação o representante do Quilombo para o período de 2011 a 2015. Ele relata a luta dos quilombolas para registrar o território onde vivem e reconquistarem outras áreas, que reivindicam ter sido dos patriarcas da comunidade, os lavradores Cassiano José de Azevedo e Vicência Vieira de Lima. Atualmente, o processo

de titulação do Quilombo Mangueiras junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) está em fase de publicação. Para que isso pudesse acontecer, foi necessário seguir uma série de processos, que envolveram a certificação da área como comunidade afrodescendente pela Federação Palmares, a realização de um estudo antropológico na região e a criação de uma associação local, para o reconhecimento jurídico do espaço. Os Quilombolas visam o registro de dois hectares de terra,

onde residem, e pleiteiam mais cerca de 20 hectares de terreno, que pertence em parte à família Werneck. “Até a concepção do estudo antropológico, era muito difícil a vida aqui dentro”, comenta Maurício. Segundo o líder do Quilombo, não havia água, luz, rede de esgoto e nem organização política. O estudo foi realizado por uma equipe de antropólogos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2008, e levantou dados históricos da região, como a genealogia dos quilombolas,

o surgimento das cidades em torno da área e as influências africanas, advindas do período da escravidão. Na perspectiva de Maurício, a cultura de preservação dos costumes africanos foi se perdendo, na comunidade, ao longo do tempo. “O Quilombo está americanizado, o negro não quer mais tomar a cachaça, comer o açúcar mascavo e nem mascar o fumo”, comenta o presidente da comunidade. Ele relata que a população adotou novas religiões e, atualmente, existem no local o candomblé, o catolicismo,

Maurício Moreira é o representante do Quilombo e luta para registrar o território

Quilombola criado no Mangueiras Entre os moradores da Comunidade Quilombola de Mangueiras, reside Eduardo dos Santos, de 45 anos, que aprendeu com o pai, José Emílio dos Santos, a trabalhar desde cedo. Puxava e cortava lenha, tropeirava e quando cresceu começou a trabalhar nos depósitos da região. “Meu pai fazia a mesma coisa, é tradição, meu bisavô fazia, meu avô fazia”, afirma. Quando criança teve a oportunidade de estudar, porém fugia da escola para trabalhar nas fazendas da região. “Quando era hora da aula eu colocava a bolsa embaixo dos bueiros e ia pras fazendas mexer com boi, quando dava cinco horas e batia a sirene eu pegava a bolsa de volta e ia pra casa. Minha mãe sabia e metia o porrete em mim”, afirma. Viúvo, pai de três filhos, casouse novamente e hoje toca o bar na entrada do quilombo. Eduardo afirma que antes do quilombo ser reconhecido era um local parado, e que todos no lugar tinham medo de assumirem ser descendentes de escravos para pessoas de fora da comunidade. O primeiro presidente de Mangueiras, Valter Vitor da Silva, foi o responsável por conseguir o ofício que garantiria à comunidade o direito de ser reconhecida como quilombola. “Daí pra frente as coisas melhoraram para nós, veio o ‘Luz para Todos’, a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) pôs água. Antes aqui era um beco isolado”, declara Eduardo. Cansado de trabalhar para os outros, resolveu atuar por conta própria. “Sofri muito na mão dos outros, ganhando pouco e trabalhando demais. Um dia eu falei com Deus e pedi calma e paciência porque eu ia começar meu próprio negócio de qualquer jeito, nem que eu tivesse que comer só pão e água, mas eu ia parar de traba-

lhar pros outros e ia ganhar para mim”, relata. Comprou uma carroça e foi carroceiro por um tempo, até que começou a vender bebidas dentro do quilombo ao lado do irmão. “Comecei vendendo cerveja e refrigerante dentro de uma geladeira velha que a gente enchia de gelo”. Com o tempo construiu uma casa de madeira e expandiu para que a irmã pudesse mexer com alimentos salgados, e assim surgiu o bar na entrada do quilombo. O bar era muito movimentado no início e Eduardo fazia muitos eventos que ajudavam também a reviver a cultura afro-brasileira no local. Nestas festas ele fazia comidas típicas da época das senzalas, como canjiquinha com suã e cansanção com costela de porco, e celebrava com muitas danças africanas. Oferecia mesas fartas e as festas iam até o amanhecer. Pessoas de outros quilombos iam a estes eventos e interagiam com o pessoal de Mangueiras. Porém, Eduardo afirma que hoje em dia o pessoal da comunidade não está mais tão animado quanto antes. “Eu não sei o porquê, eu sempre tento mobilizar todo mundo, mas ninguém anima para nada. Quando é dia 20 de novembro eu e o Thomás, um amigo meu, sempre vamos dançar no posto de saúde aqui perto, mas ninguém vem com a gente. Quando essa comunidade era animada era muito bom, todo mundo era feliz. A gente tem que promover umas festas para levar o nome da comunidade para fora”, relata. Ele acredita que o quilombo não está se esforçando para manter viva a cultura local. Mesmo no terreiro de candomblé, poucas pessoas da comunidade participam. “Só gente de fora que tem dinheiro e carro importado que vem no terreiro. Tudo branco.”

Eduardo dos Santos luta pela preservação da cultura afro-brasileira local

Thainá Nogueira

Thainá Nogueira

o protestantismo e o catumbeiro, que de acordo com ele, é a junção do católico com o macumbeiro. “Aqui nós temos quatro religiões e eu tive que fundar a quinta para não dar problema, a ‘religião do Maurição’”, brinca o quilombola. Ele afirma que a religião dele é a que aceita todos: “rico, pobre, aidético, católico...”. Em relação aos serviços disponíveis para a comunidade negra, Maurício comenta que a região já possui saneamento básico, além de escola e posto de saúde próximos. Contudo, ressalta a necessidade de uma conscientização sobre higienização no local, pois a população tem dificuldades de lidar com o lixo. Outra dificuldade apontada é relativa às drogas. “O pó começou a entrar aqui. Essas marchas suas de liberação da maconha estão afetando até nós”, destaca o presidente da região. À respeito da educação, ele diz que é um assunto que precisa ser mais incentivado entre os moradores do Quilombo, pois a maioria ainda vive de serviços esporádicos, como cozinheiro, diarista e carreteiro. Nas palavras dele, “preto e pobre”, têm que provar o seu valor “na ponta da caneta”. Des-

sa forma, ele se mostra contra a lei de quotas nas universidades, pois afirma que assim como existem brancos “preguiçosos”, há negros com essa mesma índole. NEGOCIAÇÃO Embora visivelmente sinalizada na MG-020, a região ocupada pelos quilombolas passa, por vezes, despercebida por empreiteiros públicos e privados, que planejam desenvolver obras na região. Segundo Maurício, será realizado um empreendimento atrás de uma Zona de Preservação Ambiental (ZPAM) próximo ao Quilombo, que prevê a construção de uma avenida, que pegará áreas quilombolas. O presidente da comunidade negra propôs o acordo de ceder cinco hectares do Quilombo em troca de cinco hectares da área ZPAM mais 26 compensações, para cumprir as medidas mitigatórias e socioambientes, como construir casas e cercar a comunidade. Esse acordo ainda está em negociação e a população quilombola espera conquistar a terra de seus descendentes.

“Mulheres de Rocha” discutem sobre sexualidade O grupo Mulheres de Rocha, criado em 2008 na Comunidade Quilombola de Mangueiras, discute diversas questões da sexualidade, como o papel da mulher na sociedade e a prevenção de gravidez e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Em parceria com o Ministério da Saúde e com o Centro de Promoção de Saúde (Cedaps), o grupo faz palestras em diversos lugares do país e hoje distribui camisinha em bares da região. Ivone Maria de Oliveira é uma das participantes do projeto e afirma que a discussão sobre sexualidade na mídia não é ampla. “Fala-se sobre camisinha, mas não existe uma explicação adequada sobre o uso. O projeto foi um aprendizado para nós mesmas”, relata. Sua irmã, Ione Maria de Oliveira, também participa do projeto e aponta que o grupo também procura desconstruir a questão do machismo no Brasil. “Nós discutimos os valores femininos, o que a mulher conseguiu em termos de equiparação salarial em relação ao homem. A mulher é quem faz a população crescer, independente de quem seja o pai de seus filhos. Há mulheres que tem família constituída, trabalham e não tem marido em casa. Essa é a mulher de rocha”, declara. O grupo aconselha mulheres, e até mesmo homens, a cuidarem de sua saúde. Ivone conta a experiência de uma senhora do quilombo que faleceu por não se tratar após fazer um exame de papanicolau cujo resultado foi positivo para HPV (vírus associado ao câncer de colo de útero). “Ela viu que o exame deu positivo, guardou e não voltou ao médico. Só dois anos depois, quando estava tendo dores e hemorragias fortes, que retornou, mas a doença já tinha se espalhado e era tarde demais”, relata. O projeto também tenta desmistificar algumas questões sobre sexualidade e DSTs que são apontadas por pessoas que procuram o grupo, como a de que a

unidade de saúde irá expor os exames de uma pessoa, ou a de que usar camisinha é “chupar bala com papel”. O grupo “Mulheres de Rocha” participa de seminários que discutem principalmente a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). “Quem é soropositivo precisa de carinho, de namorar, de abraçar. Nada comprova que o beijo transmite AIDS”, afirma Ione. Nestes seminários o grupo ouve relatos de pessoas que foram infectadas pelo vírus HIV e os preconceitos que elas passam. “Uma mulher contou para nós que na hora da relação sexual foi sincera e disse para o rapaz que havia acabado de conhecê-la que ela era soropositivo. O rapaz não acreditou e bateu nela afirmando que ela só estava dizendo aquilo para não ter relações”, conta Ione. Autorizadas pelo Ministério da Saúde, o grupo pode distribuir camisinhas gratuitamente. Os bares da região, como o Bar do Fabinho e o Bar do Camburé, possuem parceria com o projeto “Mulheres de Rocha”. “Existem tanto preservativos masculinos quanto femininos nos dispensadores para as pessoas que saem do trabalho e resolvem ir para o bar. Para não haver a desculpa de que eles tiveram uma relação sexual desprotegida, porque o posto de saúde estava fechado e não puderam pegar um preservativo”, declara Ione. O grupo também pode realizar o teste rápido de HIV em quem quiser, porém as integrantes afirmam que poucos o fazem. A questão da sexualidade é delicada, mas o grupo aborda o tema de maneira leve e compreensível. As integrantes preparam até mesmo órgãos sexuais de chocolate para demonstração. “Muita gente faz órgãos de chocolate para dar de presente aos colegas e tirar sarro. Nós fazemos para mostrar que, assim como o chocolate, nosso corpo também é frágil e pode derreter se não for bem cuidado”, afirma Ivone.


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Cidade

Vidas marcadas pelo abandono Henrique, Sônia, Emerson, Heider e Alaíde vivem nas ruas de Belo Horizonte. Nomes diferentes, mas com histórias parecidas, que fazem parte do dia a dia das grandes metrópoles do Brasil DANIEL DE ANDRADE 5º PERÍODO

“Vi ontem um bicho. Na imundície do pátio, catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, não examinava, nem cheirava. Engolia com voracidade. O bicho não era um cão. Não era um gato. Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem” (Manuel Bandeira) Basta uma volta pela Região Central de Belo Horizonte para ter certeza de que as cenas descritas no poema “O Bicho”, de Manuel Bandeira, ultrapassam o universo da literatura e mesclamse com a paisagem urbana e acinzentada de prédios e carros. No meio da correria desenfreada do dia a dia, lá estão eles, os moradores de rua, vivendo à margem do convívio familiar e dos códigos de conduta impostos pela sociedade capitalista. Imperceptíveis para o sistema, mas que escancaram uma realidade tão brutal e árida que grita e pode ser vista pelos olhos mais atentos. A maioria aprendeu a conjugar o verbo perder sem jamais passar pelos bancos da escola. De acordo com o terceiro Censo da População de Rua referente a 2013, divulgado no final de abril último pela Prefeitura de Belo Horizonte cerca de 1800 homens e mulheres de diversas idades encontramse nessa situação. Na pesquisa anterior, realizada em 2005, o resultado apontou pouco mais de mil indivíduos. Mais da metade, 52% dos casos, vai para as ruas por causa de brigas e rupturas familiares, enquanto o abuso de álcool e drogas é a principal justificativa de 36% daqueles que abandonam o lar ou simplesmente são expulsos. Henrique Teixeira, 21 anos, contribui para o aumento das recentes estatísticas. Desde os 17 saiu da casa dos pais, na Região do Barreiro, por causa do vício incontrolável pelas pedras do crack. Já passou por albergues na área hospitalar da cidade, mas afirma preferir a liberdade da rua. Durante esses quatro anos vivendo os perigos e inconstâncias da vida sem a presença dos familiares, histórias surpreen-

Sônia Maria dos Santos vive há 20 anos nas ruas da capital mineira

dentes marcam a trajetória do jovem por sobrevivência. “Já tomei facada, já fui jogado de cima do viaduto por traficantes que me confundiram com um colega meu que estava devendo droga, mas graças a Deus, minha hora ainda não chegou”, afirma. As drogas também levaram Sônia Maria dos Santos, 47 anos, para as ruas da cidade. A maconha foi a primeira experiência, quando estava no auge da adolescência. Logo depois experimentou a cocaína, até chegar ao fundo do poço, como ela mesmo afirma, a partir do crack. Há duas décadas abandonou os familiares e duas filhas no Bairro Nova Granada, Região Oeste de Belo Horizonte, para mergulhar de vez no submundo da dependência química. Para se proteger da chuva e do frio criou um pequeno “abrigo” com caixas de papelão na Praça Rio Branco, próximo ao Terminal Rodoviário e vive de ajudas e doações. “O crack trouxe as maiores perdas da minha vida. Perdi minha família, a dignidade, meus amigos. Essa droga é o fim de carreira, o fim do su-

cesso. É o osso do diabo moído para destruir a vida de qualquer ser humano. A pior desgraça é quando a gente tem a curiosidade de experimentar”, diz. Mesmo com páginas repletas de perdas, Sônia não consegue dar um basta no vício. Ela associa os entorpecentes a uma válvula de escape usada para fugir de uma realidade difícil de digerir. “As drogas são meu refúgio. Uso para esquecer, às vezes para aquecer, ficar alerta. Ainda mais a noite, por causa do perigo. Muitas vezes eu uso para ficar acordada e poder ver tudo”. Assim como Henrique, Sônia também coleciona cenas nada agradáveis ao longo desses 20 anos de vida nas ruas. Ameaças e ofensas, inclusive de policiais, são fatos corriqueiros na rotina da ex-dona de casa. “Já vi gente morrendo, sendo queimada. Por isso meu maior medo nem é a situação de rua. Já me conformei com isso. Meu medo é a covardia das pessoas. Várias vezes deixo de dormir a noite, pois já ouvi casos de pessoas que colocam fogo nos mendigos. Tenho medo de dormir e alguém me dar paula-

Vidas em preto e branco A droga é o passaporte para a miséria social de alguns, mas nem todos vão morar nas ruas em função do vício, como é o caso da ex- faxineira Alaíde Leonora dos Santos, 57 anos, abandonada pelos filhos há oito. Morando sozinha em um barracão no Bairro Santa Efigênia, ela pede esmolas diariamente nas imediações do Shopping Cidade para pagar o aluguel atrasado e cuidar dos problemas de saúde, que segundo ela, são muitos. “Não tenho condição de trabalhar, pois não posso carregar peso. Minha barriga é partida da virilha até no umbigo, pois fui violentada

durante uma madrugada lá pelas bandas do Elevado Castelo Branco. Nem sei como faço pra aposentar por invalidez. Mal sei escrever o meu nome e, para sobreviver venho pra rua ganhar meus trocadinhos”. Vários são os desafios na vida de Alaíde para garantir o pão de cada dia. “Às vezes quando as pessoas não querem dar esmolas, eu pego os restos de verdura que o lixeiro vai jogar fora e levo pra minha casa. É assim que a gente sobrevive”. Inúmeras histórias poderiam ser retratadas nessa reportagem. Embora parecidas, todas as personagens têm suas idiossincrasias.

Mas todas, em maior ou menor grau, já perderam a cor e gritam por esperanças naufragadas. Tentam acordar de um pesadelo, cujas cenas são reais. E nem é preciso fechar os olhos para vê-las. Vidas que já cansaram de viver e sobrevivem no “modo automático”. E como robôs, essas vidas repetem gestos e escondem os medos. Mas é impossível escondê-los, pois eles estão escancarados nos olhos famintos e pálidos desses seres. Vida e sonho: palavras tão próximas e tão distantes dessas vidas perdidas. Vidas secas. Tão secas quanto as de Graciliano Ramos.

Daniel de Andrade

da, me matar de facada”, conta. Mudam-se os nomes, mas as histórias são quase as mesmas. A escravidão gerada pelas pedras do crack foi o motivo pelo qual o ex-carpinteiro Emerson Vander da Silva, 40 anos, trocou, em maio de 2013, o aconchego familiar pelas incertezas e perigos da rua. Há um ano ele vive na esquina das ruas Tamoios e Mato Grosso, no centro da cidade e, desde então, não tem notícias dos quatro filhos, que vivem em Sabará, Região Metropolitana de Belo Horizonte, com a mãe. Os parentes não sabem da real situação que ele enfrenta diariamente. “Já gastei R$ 300 em uma única noite para satisfazer o vício e lembro que quanto mais eu fumava, mais vontade eu sentia de fumar. Graças a Deus já faz três meses que estou limpo. Acho que a saudade dos meus filhos está batendo forte nos últimos tempos e por isso estou repensando minha vida, se é que isso ainda é possível. Só não sei quanto tempo vou suportar”, revela. Vander diz que tem vontade de procurar os parentes, mas a vergonha “fala mais alto”. “Queria tanto poder vê-los novamente. Mesmo que eles não me reconheçam mais, eu largaria tudo se pudesse voltar para os caminhos dos quais nunca deveria ter saído. Só que agora é tarde”, observa. Emerson está entre os 80% da população de rua de Belo Horizonte que usa algum tipo de serviço de assistência social. Além da ajuda recebida por voluntários, ele faz pequenos bicos para sobreviver. Às vezes trabalha como catador de papel e descarrega, sempre que solicitado, materiais de construção em uma loja no Barro Preto. “A gente ganha roupa de algumas associações. E sempre que possível arrumo uns trocadinhos para almoçar no restaurante popular. Local para tomar banho de graça também não falta”, comenta. Um deles, o Serviço de Acolhimento Institucional para a População de Rua e Migran-

te, situado no Bairro Floresta, conta com 37 quartos, 12 banheiros, dois refeitórios e capacidade de atendimento para 400 vagas, sendo 320 para homens acima de 18 anos que vivem nas ruas e 80 destinadas a migrantes. Enquanto uns utilizam o espaço apenas para dormir, outros recorrem ao local para se alimentar ou como Emerson cuidar da higiene pessoal. Porém, existem também aqueles que se sentem presos às quatro paredes de um albergue ou instituição de acolhimento, preferindo a “liberdade escravizadora e angustiante” das ruas. O jovem Heider Alves Medina, 24 anos, é um desses exemplos. Em meados de 2012 saiu de Águas Formosas, pequena cidade do Nordeste de Minas Gerais, para se entregar ao vício das drogas com mais “liberdade”, conforme ele mesmo alega, e teve como destino os becos e sarjetas da região central de BH. Nesses últimos dois anos perdeu o contato com a mãe e afirma viver cada dia como “se fosse o último.” “Uso todo tipo de droga. Maconha, crack, cocaína, loló, lança perfume. Só não injeto nada na veia e ainda não usei LSD, graças a Deus”. Heider conta que já chegou ao ponto de se drogar por 48 horas seguidas e mesmo não sentindo os efeitos químicos da substância, não parava de fumar. “Eu me acabei mesmo. Emagreci bastante durante esses dois dias. Lembro-me que estava bambo de fome e quando dei a primeira colherada na comida após várias horas sob o efeito do crack, minha garganta começou a queimar. Queimar mesmo.” Para sustentar o vício e sobreviver, Heider oferece sexo nas cabines eróticas espalhadas pela zona boêmia, em troca de dinheiro. “Tem dia que eu faturo uma grana que dá pra dormir num hotel. Mas às vezes a clientela é baixa, e quando isso acontece só me restam as calçadas. Cada dia é um novo dia. E a grande incógnita da minha vida é se eu vou sobreviver para o dia seguinte”.


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Terceira idade

O Grupo Meninas de Sinhá está gravando um DVD de cantigas de roda

Tiago Henrique

Meninas de Sinhá finalizam DVD em BH Grupo do Alto Vera Cruz oferece a oportunidade para pessoas de Terceira Idade se renovarem por meio de atividades artísticas KELETON EDUARDO PATRÍCIA ADRIELY TIAGO HENRIQUE 5º PERÍODO

O grupo cultural Meninas de Sinhá existente no Bairro Alto Vera Cruz, Região Leste de Belo Horizonte, reúne 33 pessoas da Terceira Idade. Elas estão gravando um DVD. De acordo com a produtora do grupo, Patrícia Lacerda, já foram gravadas 12 músicas e no dia 11 de julho haverá um show no Teatro Bradesco para finalizar o trabalho. “Ao todo são 17 músicas. Tem documentário, tem a Dona Valdete falando do sonho dela de ter uma sede própria, tem ela agradecendo. Ela quis fazer uma homenagem a essas pessoas que a ajudaram a construir o grupo Meninas de Sinhá. Vai ficar lindo! Dona Valdete vai ver lá do céu”, observa Patrícia, referindose à fundadora do grupo. “Antes de eu ir para o Meninas de Sinhá, eu vivia no fundo do poço”, diz a aposentada Maria Geralda de Paula, 76 anos, integrante do grupo

de cantigas de roda. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a população idosa do Brasil vem aumentando nos últimos anos. Até 2060, o número atual de 14,9 milhões de idosos no país deverá quadruplicar. Ainda, devido aos hábitos voltados à promoção da saúde, a expectativa de vida dos brasileiros ultrapassa 73 anos de idade. Considerando os dados do IBGE, os idosos precisam se manter na ativa. Iniciativas como as de Dona Valdete da Silva Cordeiro, tem contribuído para melhorar a saúde e a autoestima de senhoras da Terceira Idade. Ela fundou há 20 anos o conjunto de senhoras que se reúne para cantar e dançar tradicionais cantigas de roda. Além disso, elas praticam atividades, como ginástica e ensaio para as apresentações que fazem dentro e fora da capital mineira. Dona Valdete faleceu em janeiro deste ano, mas o grupo continua ativo. Há 16 anos no grupo, a aposentada Maria Geralda de

Paula diz que só se recuperou da depressão por causa do grupo. Atualmente, livre dos remédios antidepressivos, ela participa das peças de teatro na comunidade. “A gente é uma família. Eu amo o teatro, por que eu conheço pessoas novas. Hoje, eu estou vivendo a minha infância que no passado não tive”, diz a idosa. Para Patrícia Lacerda, o grupo serve para auxiliar cada integrante a vencer os desafios do dia a dia. Muitas vivem problemas dentro de casa e o objetivo é ajudar a cada uma. “Uma apoia a outra: é um filho que está preso, outro foi assassinado, é o marido alcóolatra. A dona Valdete criou este grupo para auxiliar a solucionar problemas na vida dessas mulheres”, conta Patrícia. De acordo com Silvana de Araújo, médica geriatra e professora da faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), essas atividades realmente provocam bem estar aos participantes. “Elas proporcionam convívio, in-

tegração e inclusão social, melhorando a autoestima do idoso”, explica a médica. Integrante do conjunto desde o início de sua formação, a dona de casa Bernardina de Senna, acompanha todas as apresentações do grupo e fala com orgulho das viagens que ultrapassaram as fronteiras do Brasil. “Nos apresentamos no Fórum Internacional de Cultura em São Paulo, fomos no Fórum Nacional de Cultura em Brasília, fomos apresentar no Rio, depois em Salvador no dia da Consciência Negra. Em 2012 estivemos na Europa, fomos para a Polônia. Foi maravilhoso!”, afirma. Segundo Bernardina, o Meninas de Sinhá criou a possibilidade de uma vida melhor para aquelas mulheres tão sofridas e marginalizadas do Alto Vera Cruz. Ela garante que o relacionamento em casa, junto aos familiares, melhorou. “O grupo resgatou a saúde e a autoestima das senhoras, a convivência melhorou. Tudo melhorou”, conta a dona de casa.

Vida mais ativa para 3ª Idade Também com a intenção de proporcionar maior qualidade de vida aos idosos, existe há 19 anos na cidade de Itabira, Região Central de Minas Gerais, o projeto Vida Ativa. Tendo como objetivo oferecer ocupação, independência e contribuir para a autoestima da terceira idade, a proposta é proporcionar atividades físicas, culturais e esportivas. Atualmente, 1400 idosos praticam dança e ginástica, tocam e cantam no coral, além de jogar vôlei e fazer hidroginástica, todos adaptados para a idade. Segundo um dos responsáveis pela execução do projeto, Vanderci Geraldo dos Santos, ao contrário do que reza o Estatuto do Idoso, o grupo contempla pessoas acima de 45 anos. “Em um contexto histórico onde algumas pessoas aposentaram muito cedo, o projeto preferiu abranger pessoas a partir dessa idade, pois quando ela chegar aos 60, as doenças que ela poderia ter, como depressão, já foram evitadas”, explica Vanderci. Maria de Souza e Silva, 91 anos, é uma das primei-

ras integrantes do projeto e conta que participa um pouquinho de todas as atividades. “Desde que comecei, faço muitos movimentos e não tenho mais tempo de ficar sozinha em casa. Sou avó e mãe de todos aqui e enquanto Deus me der força e coragem, não saio do grupo”, diz Dona Maria, que ficou emocionada ao falar do carinho que conquistou das pessoas do Vida Ativa. Igualmente, Virgínia de Oliveira, que tem 75 anos, e faz parte do grupo há mais de 10 anos, afirma que o projeto ajuda quem sofre com a depressão. “O Vida Ativa tirou pessoas com depressão de dentro de casa e isso não deve acabar nunca, porque em cada atividade a gente renasce”, explica. José Francisco Macedo, 83 anos, também falou da importância de fazer parte do projeto. “Há sete anos pratico ginástica, quadrilha e dança. Aqui nós nos sentimos mais gente e mais jovens, fazemos amizades verdadeiras”, declara.

Idosos têm mais oportunidades de socialização KAREN ANTONIETA 7º PERÍODO

Socialização, aprendizado, diversão e oportunidade de aprender informática na Terceira Idade: isto é o que oferece o Programa PUC Mais Idade em parceria com o projeto Clicar na Terceira Idade na Unidade São Gabriel. Os idosos têm a oportunidade de participar de oficinas que estimulem a memória e a criatividade, além de melhorar o convívio social. As atividades do programa englobam cinema comentado, passeios, danças e artesanato. O projeto Clicar na Terceira Idade ensina de maneira fácil e divertida a lidar com o básico da informática. As oficinas oferecidas no Programa PUC Mais Idade são realizadas por extensionistas do curso de Psicologia e discutem a questão do envelhecimento e estimulam a interação entre os participantes. Maria de Fátima Veríssimo, 58 anos, está no projeto desde 2012 e afirma que se tornou uma pessoa mais extrovertida. “Eu tinha vergonha de tudo, às vezes quando eu chegava atrasada e todo mundo já estava aqui eu suava de vergonha, e hoje esta questão melhorou muito”, relata. A aposentada Eunice Boaventura de Oliveira, 65 anos, gosta de participar de grupos da terceira idade e vê no projeto da PUC Mi-

nas mais um lugar para fazer amigos. “A vida inteira eu vivi em grupos. Hoje eu faço ioga e ainda participo do projeto da PUC. Fiz muitos amigos aqui, adoro as atividades e estou aprendendo bastante sobre informática. Todos aqui só têm a ganhar com o projeto”, declara. O projeto Clicar Na Terceira Idade permite que os idosos possam aprender a lidar com o básico da informática e a perder o medo de

computadores com a ajuda de extensionistas do curso de Engenharia da Computação. A pensionista Maria Queiroga Siqueira, 72, se sentiu motivada a aprender. “O pessoal lá em casa tentava me ensinar e eu não tinha paciência de mexer por medo de estragar o computador. Aqui os monitores explicam direitinho e eu aprendo o básico, agora sei mexer em e-mail, facebook, digitar”, afirma. Maria de Fátima não sabia sequer

Idosos encontram no projeto uma alternativa de convivência

Karen Antonieta

ligar o aparelho. Hoje em dia adora informática e tem seu próprio notebook, que ganhou de presente do marido. “Consigo fazer tudo sozinha, ligar o computador, usar a internet, mandar um e-mail para o meu sobrinho”, declara. Os integrantes do projeto participam das oficinas do PUC Mais Idade e após um lanche oferecido no período da tarde partem para o laboratório para aprender informática com o projeto Clicar na Terceira Idade. A extensionista de psicologia Luana Vieira da Silva, 22 anos, afirma que há integração entre as atividades de um e outro. “Teve um dia que nós trabalhamos a questão da arte e pedimos para que todos expressassem o que a pintura que estava sendo exibida significava para eles. No caso a pintura era a ‘Monalisa’ de Leonardo Da Vinci. Cada um sentia algo diferente em relação à imagem. Aí quando eles foram para o laboratório aprenderam a pesquisar na internet quem era o pintor”, relata. Luana declara que o projeto lhe proporcionou muito aprendizado. “É um projeto muito bacana, porque existe a articulação da teoria com a prática. Você tem a oportunidade de conviver mais com pessoas diferentes, somos supervisionadas o tempo todo”, afirma. O projeto acontece todas as terças e quintasfeiras, de 14h às 17h, na PUC São Gabriel. Para se inscrever é necessário ter mais de 50 anos.


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Cultura

Em busca da profissionalização Jovens que optaram por uma carreira na dança participam de concursos realizados em todo o país como forma de adquirir mais experiência no palco e estar mais perto da profissionalização PRISCILA SOUZA RIBEIRO 1° PERÍODO

Jovens que optam por um caminho diferente, distante de vestibulares e cursos universitários, têm uma estrada não menos trabalhosa. É o caso de Letícia, Isabela, Thyene, André e Clara, que optaram por uma carreira na dança. Para atingir o profissionalismo, os concursos são oportunidades de adquirir mais experiência. O preparo dos jovens para esses eventos é intenso, e envolve incontáveis horas de ensaios e finais de semanas sacrificados. As bailarinas Letícia Vinhal, 17 anos, Isabela Paulino, 17 anos, e Thyene Alessandra, 19 anos, da Academia Marilu Dias, ensaiam nos horários de aula e às vezes aos finais de semana. “Sempre prezamos a limpeza dos movimentos e a aproximação da perfeição da coreografia”, diz Isabela. Para as bailarinas a competição é considerada como outro ambiente, outra dinâmica. “Você eleva a sua dança para um nível diferente da aula, é um objetivo diferente”, acrescenta. Letícia e Isabela têm como objetivo nas competições melhorar a técnica e, no futuro, fazer parte de uma companhia de dança. “Hoje, tenho como meta realizar ótimos ensaios e aprender com os meus professores”, afirma Letícia. “Minha meta quanto a dança é seguir carreira profissional e, para isso, sempre me esforço ao máximo para aprender a técnica e ter o estudo do corpo”, completa Isabela. Já para Thyene, o

objetivo com a dança e a competição é crescer como uma bailarina. “Com esse aprendizado, desenvolverei a dança melhor em cima do palco”, diz. Contudo, existe uma grande diferença entre os bailarinos de cada instituição. Enquanto, os da Academia Marilu Dias estão apenas começando, os do Círculo da Dança, já sabem exatamente onde querem chegar. O bailarino André Souza, 21 anos, da Academia Círculo da Dança, conta como essa preparação é pesada com horas de treinos e ensaios. “Os ensaios duram por volta de 4 a 5 horas por dia e ainda utilizamos os sábados e feriados e eventualmente os domingos”, conta. Os bailarinos trabalham com o ballet de repertório e clássico livre. “A preparação é de meses, termina o ano anterior, já pensando nos trabalhos para o próximo, já voltamos das férias focando nesses trabalhos”, completa. A bailarina e professora Barbara Chebile, 24 anos, explica que não são feitas preparações apenas nos ensaios, é importante também uma preparação externa. “A questão da alimentação e emocional é de grande importância”, destaca. Para André, a competição não serve apenas para possibilitar a entrada em uma companhia de dança profissional, mas também para ter uma profissionalização técnica e aprofundamento de estudo. “Eu penso em profissionalização em todos os meios, a dança pode me possibilitar uma vivência de profissão”, diz. De acordo com o bailarino,

As bailarinas dedicam muitas horas do dia aos ensaios preparatórios

é de grande importância passar pela avaliação dos profissionais envolvidos no concurso. “Para a construção de um bom bailarino, ele tem que passar por essas experiências. O que faz um bailarino ser bom ou ruim é a quantidade de experiência que ele possui. É necessária essa passagem, pois são situações difíceis, situações de pressão, e eu acredito que o ser humano só consegue crescer e melhorar quando passa por situações de pressão”, conclui. Barbara ainda completa quando diz que essa experiência é um intercâmbio de cultura. “É a melhor coisa desse concurso, a gente aprende muito com os outros e eles conosco”. A bailarina Clara, contudo,

possui uma história diferente. Quando pequena sempre sonhou em se tornar uma bailarina profissional. Porém, com o passar dos anos, foi percebendo que não iria se adequar tanto a este meio. Por isso, o objetivo dela passou a ser “aprender ao máximo” para se tornar uma professora de dança. Essa meta foi alcançada por Clara, que participa de competições com outro objetivo: adquirir experiência. “Levo muito a sério o tempo que passo aqui, sou muito disciplinada e sempre busco dar o meu melhor”, completa a professora de dança, em busca de aperfeiçoamento. O desafio também é grande para quem prepara os bailarinos para o mundo da profis-

Priscila Ribeiro

sionalização. A professora da Academia Marilu Dias, Marcela Gozzi, 27 anos, vê o concurso como uma oportunidade para os bailarinos subirem ao palco. “Para mim o que alimenta o artista, o que alimenta o bailarino é o palco, então é uma oportunidade para isso”, diz. Contudo, a professora não acha justo competir pela arte. “Arte, para mim, não é competitiva, então eu acho que às vezes acaba sendo um pouco cruel em alguns julgamentos, mas a partir do momento que você esta em uma competição, você tem que aceitar que te critiquem e julguem”. Marcela acredita que a experiência de palco é um aprendizado por conhecer outros

grupos, de ver outras coisas, outras coreografias. “Isso vale muito à pena, porque é, querendo ou não, mais um leque do universo da dança, então a gente tem que estar presente nisso tudo, mesmo para mim não prevalecendo o sentido de ganhar em primeiro, segundo ou terceiro lugar”, finaliza. Em Minas Gerais, o mais importante evento é o Passo de Arte. O projeto, hoje, alcança todos os cantos do país, além de Paraguai e Argentina, e se constitui num organismo vivo, uma rede de competições e eventos credenciados que atuam ao longo do ano conectando bailarinos, estudantes, profissionais e escolas de dança. Com criteriosa premiação, é uma referência de qualidade da dança desenvolvida no país. Os bailarinos participantes podem, ainda, concorrer a uma vaga para participar do maior concurso de dança do mundo, o Youth America Grand Prix (YAGP), em Nova York, nos EUA. No Passo de Arte Minas, realizado em maio último, a Academia Marilu Dias conquistou terceiro lugar em duas categorias, com as coreografias de conjunto “Pequenas Violetas” e “Dança Russa”. Já o Círculo da Dança recebeu o terceiro lugar pela coreografia “Escolhas”, também de grupo. O bailarino André Souza ficou em terceiro na categoria de duo clássico.

Projeto promove descentralização da cultura ISABELA ANDRADE FERNANDA LAVALLE 3º PERÍODO

Com quase 30 parques em Belo Horizote, inaugurada em 1897 e que durante muito tempo ostentou o título de “cidade jardim”, um dos desafios é melhorar a utilização desses espaços públicos. Uma das ações adotadas pela Prefeitura de Belo Horizonte com esse objetivo é desenvolvida por meio do Projeto Arena da Cultura, criado em 1998. A iniciativa, que começou no Parque Ecológico Lagoa do Nado, no Bairro Itapoã, na Região Norte da capital mineira, tem como finalidade promover a descentralização da cultura, que ainda hoje é vista como algo socialmente elitizado. Para conseguir alcançar esse objetivo, a Prefeitura de Belo Horizonte disponibilizou, gratuitamente, 3 mil vagas para oficinas de Artes Plásticas, Dança, Música e Teatro, nas nove regiões administrativas da capital mineira.

ma Wesley Ferreira, 23 anos, professor da oficina de Artes Visuais e formado na área pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Alunos do projeto podem optar por fazer não apenas um curso, mas quantos quiserem. “Já fiz uma oficina de poesia e vou começar uma de meditação. Mas participei de outras oficinas também”, diz Elizete Amâncio de Macedo, 67 anos, aluna de ioga. Em grande parte os alunos mais novos são acompanhados pelos pais, como é o caso de Matheus, 12 anos, e a mãe, Gisely de Oliveira Bahia, de 37 anos, que matriculou o filho na oficina de Artes Visuais. “O Matheus nunca gostou muito de futebol, ele sempre gostou de desenhar”, conta a mãe. Gisely, ao contrário de muitos pais, apoia uma carreira alternativa para o filho “Como o Matheus gosta de desenhar, se um dia ele quiser podemos abrir um estú-

dio de tatuagem”, diz ela. A mãe vai todo domingo ao Parque Lagoa do Nado e, às vezes durante a semana. Por morar próxima ao parque e por frequentar bastante o local ela tomou conhecimento do projeto Arena da Cultura. De modo semelhante, outros alunos souberam da iniciativa, já que a publicidade externa dessas oficinas é baixa. Não há muita divulgação cerca às atividades que o Parque e a prefeitura oferecem. Dentro do Parque é possível saber o horário e a variedade das oficinas através de um panfleto disponibilizado na biblioteca, mas o site e a página no facebook da Prefeitura de Belo Horizonte não acompanham a rotatividade das aulas e são desatualizados.

SEM A PBH

“Algumas oficinas que ocorrem no Parque não são patrocinadas pela prefeitura e tem durações variáveis”, afir-

ma Joana Guimarães, 34 anos, gerente do Centro Cultural. As inscrições para as oficinas não vinculadas a prefeituras são feitas no próprio parque. Maracatu é o nome de uma das oficinas que não possui nenhum vínculo com a PBH. Começou no Centro Cultural do Bairro Padre Eustáquio e hoje está no Lagoa do Nado, sendo lecionada pelo professor Daniel Melão, como é mais conhecido. A oficina recebeu esse nome por ensinar aos alunos o ritmo musical Maracatu, de origem pernambucana e com influências africanas, caracterizado pelo uso de tambores. O aluno Felipe de Freitas, 32 anos, inscrito há um ano e um mês, fala sobre as vantagens de realizar a oficina no Lagoa do Nado: “O parque é um bom espaço para ensaiar um grupo de percussão, porque o barulho normalmente incomoda a vizinhança”. Cristina de Oliveira Terra,

ATIVIDADES

As oficinas do Arena da Cultura são divididas em duas categorias, as de Sensibilização, que duram seis meses e na qual o participante precisa ter idade mínima de seis anos, e as de Iniciação cuja duração é de quatro anos e a idade mínima é 14. Muitas pessoas usufruem das oficinas para complementar um curso que já realizam fora do projeto “Temos alunos mais avançados, que vem para cursos menores como o nosso para beber de uma fonte específica”, infor-

Oficinas promovem cursos de Artes para pessoas de idades variadas

Isabela Andrade

26 anos, é aluna da oficina e já fazia parte quando era realizada no Padre Eustáquio. Ela conta que as pessoas que frequentam o parque gostam de assistir a oficina e se sentem animadas ao ouvir o Maracatu. As inscrições para as oficinas do Arena da Cultura podem ser feitas não apenas nos centros culturais onde o projeto se desenvolve mas também no

Núcleo de Formação de Agentes Culturais (Nufac), à Rua dos Otoni, número 416, sala 203, no Bairro Santa Efigênia. Todas as oficinas realizadas no Lagoa do Nado são gratuitas sendo elas vinculadas ou não à Prefeitura de Belo Horizonte. Além disso, as oficinas não pertencentes ao Arena da Cultura podem ter duração variada.

Intercâmbio cultural é valorizado na ação Em um país formado pelas mais variadas culturas, algumas oficinas abraçam essa herança e combinam os princípios de outros lugares com o jeitinho brasileiro. A ioga e a capoeira são as de maior destaque quando se trata de influências externas. A professora Pollyana Rodrigues, responsável pela oficina Sahaja Yoga, explica um pouco a filosofia das aulas. “Me baseio na medicina milenar Ayurveda, que é inspirada nos cinco elementos da natureza, éter, ar, fogo, água e terra. Esse método é muito usado no Oriente Médio até mesmo para questões de saúde pública”. No sentido literal, Sahaja quer dizer espontânea e, ioga, conexão, ou seja, conexão espontânea. Por meio dessa prática é possível entender que atividades como diversificar a posição com o corpo, limpeza de velas e lavar os pés na água com sal, são “formas espontâneas

de se conectar com o divino”. A capoeira, Patrimônio Cultural Brasileiro desde 2008, têm como plano de preservação um programa de incentivo desta manifestação pelo mundo, além de ensinar as técnicas de produção dos instrumentos utilizados nas rodas, entre outros. É nessa linha que Gabriel Camillozzi, capoeirista há mais de 16 anos, e o mestre Jurandir preparam as aulas. Dentre as diferentes vertentes da capoeira, eles ensinam a Capoeira da Angola que é mais aeróbica, trabalha o corpo e a mente. A prática do ioga tem como pano de fundo a religião e a integridade física humana, que não foge da ideia por trás do jogo da capoeira. O ambiente do parque é mais um atrativo para ambas as atividades. A flora e a tranquilidade do local estão diretamente ligadas às concepções incorporadas nos cursos.


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Cultura

O valor da cultura afro-mineira Espaço de encontro, lazer e expressão artística, o Centro Cultural Tambolelê tem como uma de suas várias atividades o grupo musical Tambolelê, que surgiu no carnaval do ano 2000 FÁBIO MARCELINO 3º PERÍODO

A cultura, em sua dimensão social, é um território onde indivíduos e grupos podem fazer valer seu direito à cidadania. Para criar formas de pertencimento e inclusão, onde as pessoas se revestem e adquirem um de seus maiores bens, a identidade, o Centro Cultural Tambolelê trabalha pela valorização da cultura afro-mineira. A arte é um elemento capaz de produzir identidade, transformar e vencer barreiras. É uma organização não-governamental onde as pessoas que utilizam o espaço o consideram um lugar de encontro, lazer e expressão artística. O centro cultural está localizado à Rua Passo Fundo, 124, Bairro Novo Glória, Região Noroeste de Belo Horizonte. O espaço foi idealizado em 1999 pelos artistas Sergio Pererê, Giovani Sassá e Santone Lobato, integrantes, à época, do Grupo Musical Tambolelê. No princípio de suas atividades, o centro promovia várias oficinas gratuitas: de canto, teatro, capoeira, artes plásticas, dança-afro e danças folclóricas. E foi destas atividades que nasceu o bloco, em 2000. O objetivo era participar do carnaval daquele ano, tendo como referência a cultura afro-mineira. As atividades começaram a ser realizadas nas ruas do bairro. Tempos depois, com recursos próprios,

os idealizadores do projeto alugaram uma casa e transferiram as atividades para lá. Os trabalhos são produzidos com instrumentos de percussão convencionais e alternativos, como panelas, latas, tampas de alumínio, tacos de madeira e o que encontraram para tirar som. O espaço cultural sempre esteve aberto para toda a comunidade, independente da faixa etária. Os frequentadores, no entanto, são em sua maioria jovens e adolescentes de várias partes da capital. Coordenadora do Bloco desde a sua fundação, a pedagoga Luci Lobato, 45 anos, explica como é realizado o trabalho. “A partir da opção rítmica, fazemos uma música percussiva baseada nos toques tradicionais dos tambores do Reinado, como Congo, Moçambique, Marujada dentre outros”. Luci é pós-graduada em História da África pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela define o centro cultural como um lugar onde esses jovens encontram chance de sociabilidade, de formação artística e humana. Com este trabalho, ao longo destes 15 anos de existência, o bloco já desfilou em inúmeros carnavais da capital, tendo participado de vários eventos como simpósios, oficinas e musicais, em outros estados e até em outros países. O grupo de percussão já dividiu o palco com artistas renomados

Grupo musical é presente nos carnavais da capital e em eventos internacionais

no cenário brasileiro como Milton Nascimento, Pedro Luiz, Maurício Tizumba e o próprio Grupo Tambolelê. Em 2003, o bloco participou do lançamento da Pedra Fundamental do Auditório de Música do Parque Ibirapuera em São Paulo. O grupo dividiu o palco com Pedro Luiz e a Parede, foram aplaudidos por celebridades e pelo então ministro da cultura, Gilberto Gil, pelo ministro da educação, Cristóvão Buarque e a então prefeita Marta Suplicy. Segundo a coordenadora do Bloco Oficina Tambolelê, o grupo já se apresentou para mais de um milhão de pessoas.

CRÍTICAS À POLÍTICA Nos primeiros anos de vida, o bloco Tambolelê realizou diversas parcerias com a iniciativa pública e privada por meio das Leis de Incentivo à Cultura. Implantadas em 1986, as leis de incentivo são um instrumento de apoio às iniciativas culturais realizadas no Brasil. Este mecanismo permite, por exemplo, que as contribuições de cidadãos (pessoas físicas) e empresas (pessoas jurídicas) destinem parte do Imposto de Renda para atividades culturais e artísticas. As leis se dividem em federais, estaduais e municipais. Este modelo de financiamento da cultura promove uma parceria entre Estado, socie-

Intercâmbio entre jovens do grupo nos países europeus Atualmente, o bloco é coordenado por Luci Lobato, que é esposa do Luthier, músico e pintor Santone. O integrante do Grupo Tambolelê ministra aulas de percussão no Espaço Cultural do Tambor Mineiro em parceria com ator e também músico Maurício Tizumba. Luci conta com a ajuda de seus dois filhos, Acauã Lobato e Iami Lobato. Acauã é o regente do bloco. Ele fala da satisfação de estar no projeto. “Eu não estou neste lugar. Eu sou este lugar. Aqui é onde você se encontra consigo mesmo, enquanto indivíduo negro”, afirma, entusiasmado o garoto de 18 anos, orgulhoso de levar em diante o projeto dos pais. “Eu estou aqui porque sinto o dever, como jovem negro, de manter vivo o que a mim foi passado”, diz. Qualquer um que tenha interesse e disposição pode participar do bloco. As oficinas são ministradas de forma gratuita, sempre às quartas-feiras, a partir das 19 horas. “É feita uma dinâmica de aquecimento com baquetas e pneus, depois são passadas as levadas de forma didática para atender os novatos. Há a opção por uma sequência de ritmos para que todos visualizem e compreendam a melodia”, explica a coordenadora do projeto, Luci Lobato, mãe de Acauã. Cerca de 40 pessoas participam do projeto. O cantor Marcos Nascimento, de 20 anos, participa do projeto desde os sete anos de idade. Segundo o jovem, o bloco, além de contribuir para a sua formação artística, possibilitou que ele conhecesse outros países. “Eu sempre sonhei ser músico e sempre quis viver no meio da cul-

tura”, diz Marcos. Em 2013, Acauã, Márcio e mais seis jovens do bloco foram para França, Bélgica, Alemanha e Holanda para um intercâmbio cultural nestes países europeus. “Levamos a nossa cultura para o povo de lá”, salienta Acauã. No entanto, por diversas ocasiões, os jovens brasileiros foram questionados pelos europeus sobre a cultura produzida em solo brasileiro, citando as celebridades como a cantora Ivete Sangalo e o ex-jogador de futebol, Ronaldinho Fenômeno, e que são apresentados lá. “As pessoas perguntavam: e o Olodum, o Ronaldinho, e aí a gente falava: olha isto aí é outra coisa. A gente não vai lá pra reproduzir o que a Ivete Sangalo ou Cláudia Leite faz. Ela não nos representa. O que me representa são as guardas de congado, folias de reis, capoeira, ma-

culelê, os terreiros de umbanda”, afirma Cauã, apontando os elementos que constituem a sua identidade e que são trabalhados quando eles realizam estas oficinas. “Foi uma parceria com um grupo de cultura brasileira que trabalha com jovens na cidade de Lille, no Norte da França. Eles estiveram aqui conosco em 2010 e 2012. Um dos desdobramentos dessa visita é que enviássemos jovens daqui para dar oficinas do nosso trabalho lá. Isso aconteceu no final do ano passado. Um dos critérios era de que fossem jovens de 16 a 25 anos. Enviamos seis jovens dentro da faixa etária exigida e com habilidade em música e outras manifestações como a capoeira”, afirma a especialista em História da África, Luci Lobato.

Oficinas do bloco são ministradas de forma gratuita

Fábio Marcelino

Fábio Marcelino

dade (produtores culturais e artistas) e empresas patrocinadoras. No entanto, o bloco está buscando outras formas para garantir a sua sustentabilidade. “Hoje a nossa maior expectativa é conseguir encontrar um caminho autossustentável para desenvolver o nosso trabalho. A experiência com leis de incentivo foi boa, mas não garante a sobrevivência de um projeto como o nosso”, diz Luci Lobato. As leis de incentivo à cultura, mesmo tendo este potencial de promover a cultura, é alvo de controvérsias e debates sobre a sua eficácia em contribuir para o desenvolvimento cultural. O Observatório da Diversidade divulgou o resultado de uma pesquisa, realizada entre 2011 e 2013, que teve como objetivo avaliar as políticas públicas praticadas em Belo Horizonte, com foco nas ações desenvolvidas pelos espaços culturais gerenciados pelos órgãos competentes ligados à Prefeitura na promoção da diversidade cultural. O resultado mostrou problemas relacionados à concentração e centraliza-

ção dos benefícios de áreas culturais. Grande parte dos projetos aprovados e que receberam verbas eram oriundos da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Quarenta e nove por cento das aprovações foram destinados a projetos daquela região, contra 8% de aprovações para a Região Noroeste, localidade onde está situado o bloco. Luci reprova a política cultural praticada pela Prefeitura. “A política cultural de BH não consegue atender nem incentivar as demandas de quem produz cultura. Não há um projeto consistente de expansão e formação de público. O acesso acaba sendo restrito a um grupo de pessoas e grande parte da população não conhece nem participa da vida cultural da cidade”, ressalta a pedagoga. O trabalho desenvolvido pelo centro cultural por meio do bloco tem o objetivo de preservar a herança cultural intangível – as tradições e expressões orais, rituais, linguas e dialetos, práticas sociais –, mais precisamente, a cultura afromineira. Para a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), o Estado e a comunidade devem trabalhar em conjunto para preservar este patrimônio. O coordenador do Observatório da Diversidade Cultural (ODC), o doutor em Comunicação e Cultura e professor da PUC Minas, José Márcio Barros, fala sobre esta parceria. “Os bens intangíveis possuem valor enquanto expressão de modos de pensar e viver. Portanto, a parceria Estado e Comunidade na sua promoção, é mais do que uma ação colaborativa, é a condição para que isso ocorra. Não faz sentido promover o patrimônio imaterial, se ele não faz parte vivamente da experiência cultural de uma comunidade”.Eres consum

Tambolelê é valorizado no cenário musical Ao mesmo tempo que o bloco é um espaço de se expressar a cidadania, ele revela bons valores para o cenário musical de Belo Horizonte. Dentro do próprio bloco surgiram outras formações de grupos, como é o caso do Quilombando e Xicas da Silva. Luci Lobato cita outros nomes. “Temos muito orgulho ver em diversos trabalhos como os de Débora Costa, Luiz Vitorino, Daniel Guedes, Digão Nargel, Ricardo Campos, Júlia Borges, Wesley Moura, Pedro Pedrosa, Bruno Oliveira e outros que não seguiram a música, mas desenvolveram uma sensibilidade artística muito boa”. O cantor e instrumentista Pedro Pedrosa de Melo, 27 anos, é graduado em música pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e estudou na Fundação de Educação Artística (FEA), além de ter passado pelas oficinas. “O Bloco contribuiu muito na minha formação musical. Tanto pelas oficinas ofere-

cidas como pela convivência com meus colegas”, afirma o músico. Pedro já produziu um musical com grupo de Teatro “Filhos da PUC”. Ele já atuou como vocalista do grupo de samba Outra Freguesia e, atualmente, faz parte do grupo Que Que Tem Zé. Luci cita o nome do percussionista Wesley Moura, 31 anos, que já está no bloco desde a sua formação, em 2000. Atuante no cenário musical da capital, ele integra oito grupos de várias vertentes musicais. Graduado em música pela UEMG, além de participar destes grupos, é professor de música. Wesley ministra oficinas no Tambolelê. “(o bloco) contribuiu muito na minha formação e continua contribuindo. Hoje em dia, sou um multiplicador destas informações”, afirma o artista, que ainda arruma tempo para se dedicar ao bloco e suas oficinas.


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Entrevista

BRUNA E KEYLA

Vozes femininas no sertanejo Quando e como nasceu a dupla Bruna e Keyla?

B: Quando eu voltei de Salvador (2011) eu tive a ideia de montar uma dupla feminina, conversei com um percursionista que trabalhava comigo (Evandro Santos), e ele falou: ‘Conheço uma menina muito bacana que fez o réveillon comigo’. E ele já tinha comentado de mim para a Keyla, que ele trabalhava comigo e tal, entrei em contato com a Keyla, ela veio aqui, sentou nesse sofá e a gente já deu super certo. Passamos a tarde toda tocando, eu tocando piano e ela tocando violão, nós já fizemos três músicas juntas. Nós falamos: “Vamos seguir juntas”, e ela também estava muito cansada do mercado, estava muito decepcionada e falei para ela: “Junta suas características com as minhas que vamos dar certo”.

Vocês tiveram medo do público não aceitar, por estar acostumado com duplas masculinas?

B: Mas sempre existiram as duplas femininas, elas só saíram da mídia. As Irmãs Galvão têm 67 anos de carreira, muito mais que qualquer dupla masculina que tá ai. A questão é que as duplas femininas ficaram muito voltadas para o sertanejo de raiz, que não foi o sertanejo que continuou em ascendência na mídia, e as duplas masculinas foram se modernizando. Quando nós decidimos montar uma dupla, nós falamos. ‘Vamos fazer uma dupla que seja essa vertente moderna, que cante o sertanejo alegre’, até porque eu gosto muito disso, porque morei em Salvador, e cantar o romântico é uma característica da Keyla. Então, nós tivemos sim medo, até hoje como uma dupla feminina tem muito preconceito, não tem tanta abertura como uma dupla masculina, mas nós conseguimos ir vencendo pelo estilo que criamos, pela identidade musical que criamos.

O que representa para vocês se destacarem como uma das poucas duplas sertanejas femininas?

B: Quando nós montamos a dupla o nosso principal objetivo não era levantar bandeira, nós não somos feministas, até brincamos nos shows. ‘Estamos aqui meninas, por vocês’, mas não levantamos bandeira, nós somos uma dupla alegre e romântica. Mas a responsabilidade principal em ser mulher, nessa história toda, primeiro é que somos apadrinhadas pela principal dupla feminina do Brasil e do mundo, As Galvão, que antes eram as Irmãs Galvão, elas já nos colocaram como as sucessoras delas, isso para nós é uma honra, mas é uma responsabilidade enorme. Segundo, que depois de muito tempo nós voltamos à televisão, voltamos com o movimento de dupla feminina, e para nós isso é muito importante, é muito prazeroso, porque o mercado precisa crescer, não pode ser só Bruna e Keyla, se for só Bruna e Keyla vai estar sempre difícil, mas se existirem mais mulheres também entrando, e isso também foi muito responsabilidade da Paula Fernandes, depois que ela deu um “boom”, todo mundo começou a olhar que mulheres davam certo no sertanejo de novo, pois a última mulher que deu esse “boom” foi a Roberta Miranda, então o mercado voltou a olhar para a mulher. E logo depois de dois anos surgiu Bruna e Keyla, abriu o mercado para as duplas de novo. Mas a responsabilidade é que nós falamos para as mulheres, o nosso público as pessoas pensam que são homens, mas por incrível que pareça não é, nós já pesquisamos e mais de 70% do nosso público é feminino, então a nossa responsabilidade é muito grande, por isso em nossos repertórios, nos shows, nós não cantamos qualquer coisa. Por mais que está estourada que nós não cantamos, porque por mais que você fale, ‘mulher tem que se igualar ao homem’, não tem, nós ficamos grávidas, nós somos mulheres, nós somos mães. Eu não me sinto a vontade em cantar para a mulherada, pega aí qualquer homem, fica ai com qualquer cara, isso está errado, eu não penso assim, a Keyla não pensa assim. Por isso a nossa responsabilidade com o repertório, com nossas músicas é muito grande. K: Para nós é um fato super importante, porque as mulheres estão presentes em tudo, e estava faltando mesmo uma dupla feminina representante tão ativa como os homens estavam. Até os anos 80 nós ainda ouvíamos falar em duplas femininas, era comum. O sertanejo universitário veio, cresceu, os homens dominaram e acho que não aconteceu isso com as duplas femininas, e nós também sentíamos falta de ter

tiram que nós poderíamos ser as sucessoras delas, e elas contaram isso para nós e nós quase morremos do coração.

MAILLA SOUZA 2º PERÍODO

Naturais de Belo Horizonte, Bruna Braga e Keyla Vilaça formaram há dois anos e quatro meses uma dupla sertaneja que, apesar do pouco tempo de estrada, já comemora muitas conquistas, como a indicação ao Grammy Latino 2013. Raridade no universo atualmente dominado por duplas masculinas, as duas cantoras, reuniram estilos e características diferentes, em favor da vertente moderna do sertanejo, marcado pela alegria e irreverência, mas sem deixar de lado o romantismo. E foi logo a primeira música de trabalho lançada no país, que levou a indicação ao Grammy Latino, na categoria Melhor Canção Brasileira, concorrendo com nomes de peso, como Roberto Carlos, Djavan, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Arlindo Cruz e Biquini Cavadão. As mineiras não venceram. O ganhador foi o Rei, com a canção “Esse Cara Sou Eu”, mas se projetaram fora do Brasil. “O mais legal é ter gerado nessas pessoas a curiosidade, de saber quem nós somos”, diz Keyla. Donas de vozes marcantes e tão diferenciadas entre si, Bruna e Keyla criaram no palco grande harmonia musical. “São vozes muito diferentes, mas com um médio bom, um agudo muito bom e um grave muito bom, equilibrou. Porque o médio as duas têm, mas o agudo dela eu não tenho jamais e ela não tem meu grave. Assim as vozes combinaram, elas se completaram”, explica Bruna. Em uma entrevista alegre e descontraída, tendo Belo Horizonte como cenário, a dupla sertaneja relembra a sua participação, no Concurso Mulheres que Brilham em 2012, do Programa Raul Gil. Com apresentações marcadas pela originalidade e dinamismo, elas conquistaram a vitória e um contrato com a gravadora Sony Music. “Nós entramos para fazer o que fazemos no palco, e todo dia tínhamos que fazer uma coisa nova, mostrar uma coisa nova, e acho que foi isso que foi dando certo, porque pensávamos em surpreender toda semana com alguma coisa e acabou dando certo”, afirma Keyla.

mesmo, desde o primeiro dia nós entramos, nós entramos pensando: ‘Vamos lá, vamos fazer’, mas foi uma surpresa nós irmos vencendo. E cada etapa passava e Qual o diferencial que vocês vencia, foi bem inesperado, mas depois de enxergam em seu projeto? uma segunda, terceira vez que ganhamos, K: O diferencial é que é cada uma do seu jeito fazendo aquilo que tem jeito, eu tenho nós ficamos. ‘É eu acho que tem chance, um lado mais intimista, toco sempre com acho que dá’. Mas foi incrível, mas acho violão, tocava músicas mais românticas, e que por isso, foi de uma maneira muito ela tem essa pegada do axé, galera, e é essa despretensiosa, nós entramos para fazer o junção é que ficou interessante, porque aí que fazemos no palco, e todo dia tínhamos no show você consegue ter de tudo, têm as que fazer um coisa nova, mostra uma coisa duas coisas no show. nova, e acho que foi isso que foi dando cerB: E tem as vozes que são muito, porque pensávato diferentes, porque se fossem mos em surpreender duas vozes graves ia ser péstoda semana com alsimo, se fossem duas vozes guma coisa e acabou agudas também seria péssimo, E o bom de trabadando certo. como a minha voz é mais gralhar com música é ve, eu não tenho jamais o agudo B: Para mim o que isso, música tem dela, e ela não tem o meu grave, significou ganhar o então cada uma canta na sua reasas e você não programa é que nós gião e ficou harmonioso. Porque sabe onde ela pode somos conhecidas em são vozes muito diferentes, mas Belo Horizonte e Reir. (Keyla Vilaça) com um médio bom e um agugião Metropolitana, e do muito bom e um grave muito depois que ganhamos bom, equilibrou, porque o méo programa passamos dio as duas têm, mas o agudo a ser conhecidas no Brasil inteiro e interdela eu não tenho jamais e ela não tem meu nacionalmente, e isso alavancou a nossa grave, assim as vozes combinaram, elas se carreira. Nós conseguimos uma gravadocompletaram. E ela ainda é uma mega esra, trouxemos um empresário que por um pecialista em segunda voz, ela me ensinou muita coisa, eu não sabia fazer tão bem a tempo ficou conosco, mas por uma quessegunda voz e até hoje eu tenho algumas tão de logística nós precisamos nos afastar, dúvidas, e ela me ensinou muito mesmo. por uma questão mesmo de problemas pessoais desse empresário. Ele estava com um Como foi ganhar o Concurso problema familiar muito sério e não podia Mulheres que Brilham no dar atenção ao projeto, mas é uma pessoa Programa Raul Gil? super bacana. O que mais marcou para nós K: Primeiro que nós não esperávamos foi que durante o programa As Galvão sendado essa continuidade, e nós viemos para isso, mostrar a força da mulher.

Como foi para vocês ser indicadas ao Grammy Latino 2013?

K: Foi uma surpresa, porque nós tínhamos acabado de lançar a música naquele ano que foi 2013, tínhamos praticamente sete meses de existência com o disco lançado e foi a primeira música trabalhada no Brasil, e esperávamos qualquer coisa menos essa indicação. Quando nós recebemos a notícia pensamos que fosse pegadinha, sacanagem, que estavam brincando com a nossa cara, e foi o pessoal dos fãs clubes que começaram a postar, ‘parabéns meninas’, ‘parabéns por causa de que?’. Aí começou outro postar e outro postar, e eu pensei, “não é brincadeira, isso está meio sério”. Entramos na página oficial do Grammy e vimos nosso nome lá, nós quase surtamos, começamos a gritar, pular. É um prêmio, um reconhecimento internacional, só te der concorrido nós ficamos mega satisfeitas. B: E quando nós vimos que era verdade, nós fomos ver nossos concorrentes, e nós falamos, “nossa olha com quem que estamos concorrendo”. K: E nós rachamos de rir, olhava assim, Roberto Carlos, Djavan, Caetano, Gil, Arlindo Cruz e Biquíni Cavadão, “e nós aqui no meio”. B: E eu falei “gente esse povo bebeu”. K: Para nós foi muito legal, para nós termos isso. B: Foi único, e é a segunda principal categoria. Fomos à Sony para saber como eles nos descobriram, e lá nos explicaram que as gravadoras mandam os materiais de seus artistas e eles escolhem um, e sertanejo só deu Bruna e Keyla. Aí o Roberto Carlos ganhou, mas cá para nós tinha que ser, a música dele arrebentou, ‘Esse Cara Sou Eu’, mas perder para o Roberto Carlos você não perdeu. Agora olha como são as coisas, talvez se fossemos uma dupla masculina tivesse tido mais repercussão, porque pouquíssimos veículos nos procuraram.

Após a indicação para o Grammy Latino vocês tiveram algum retorno internacional?

B: Tivemos. Por incrível que pareça, as pessoas que mais valorizaram o Grammy foram as pessoas de fora, nós recebemos várias mensagens de pessoas do mundo inteiro. Nós fizemos uma pesquisa por um site, que ele registra todas as entradas, nos somos conhecidas em mais de 35 países, e 835 cidades do mundo. Hoje, nós recebemos pessoas do mundo todo no nosso Facebook. K: O mais legal é ter gerado nessas pessoas a curiosidade, de saber quem nós somos. B: Foi muito bacana, foi muito legal.

Como é a relação de vocês com os seus fãs?

K: Nós tentamos estabelecer uma relação próxima. Até o momento, nós mesmas é que administramos as redes sociais. Então, nós conhecemos as carinhas todas, nós lemos tudo. Não dá para responder realmente tudo, mas a gente realmente lê e tenta responder individualmente. Em sala de embarque quando estamos juntas, nós paramos para ler, responder. E estar perto é o melhor termômetro, para saber o que estão achando, o que querem ouvir, para saber mesmo o que querem mais de nós. B: O próximo projeto agora é Bruna e Keyla cantam ídolos. K: Vamos recebendo esse feedback através dos fãs mesmo, e isso é muito legal, para saber o que querem a mais de nós.

Quais os novos projetos?

Danielle Scarleth

B: Em breve vamos lançar o novo site, estamos lançando uma música nova que é Ser Mineira, e tem o clipe que fizemos junto com a Globo Minas, o clipe ficou lindo, em breve estará no ar. Na Globo o clipe precisa ter 1 minuto, mas vamos fazer da música completa para o Youtube e para o site, de 2 minutos e meio, ficou maravilhoso esse clipe. K: Continua o nosso projeto Bruna e Keyla canta para vocês, que fazemos uma enquete. Mas o de mais importante assim é essa música nova Ser Mineira, que vai entrar na grade da Globo Minas e já está gravado. B: Tem muita coisa vindo. Estamos com uma parceria com a TIM, a ela está patrocinando os show de Bruna e Keyla. Nossa, tem muita coisa, é porque isso é tudo coisa que está acontecendo, mas tem muita coisa vindo por ai.


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