O PRIMEIRO TIME DE BEISEBOL DA CAPITAL JÁ PARTICIPOU DE CAMPEONATOS E TEM DISSEMINADO CADA VEZ MAIS A CULTURA DESSE ESPORTE PÁGINA 14
GALERIAS NO CENTRO DÃO VIDA À HISTÓRIA ARQUITETÔNICA E CULTURAL DE BH E SÃO PONTOS DE ENCONTRO DE DIFERENTES PÚBLICOS PÁGINA 6 Guilherme Cambraia
Júlia Guedes
O PROFESSOR JORGE LASMAR ANALISA ASPECTOS LIGADOS A CONFLITOS DO CENÁRIO INTERNACIONAL E A PRECONCEITOS RELIGIOSOS PÁGINA 16 Thiago Carminate
marco jornal
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 316 . Outubro de 2015
Parques: convite à contemplação Ao longo dos anos, o Estado de Minas criou muitas unidades de conservação, num esforço para ampliar sua rede de áreas naturais protegidas. Apesar de ser líder neste setor, ainda existem cavernas, florestas e campos notáveis carentes de atuação oficial. Os recursos, agora, são prioritariamente destinados à efetiva implantação das unidades para garantir sua conservação. O público ainda não conhece
bem os parques estaduais, o que os administradores consideram falha grave porque “ só se cuida e ama aquilo que se conhece”. Por isto, concentram esforços, agora , na divulgação deles, procurando para tanto o apoio das prefeituras e o suporte indispensável da educação ambiental no âmbito das escolas de primeiro e segundo graus. PÁGINAS 8 E 9
Xingamentos representam risco para jovem democracia brasileira Fotos: Guilherme Cambraia
LEIA AINDA
Dom Cabral festeja 50 anos de existência Conquistas e novos desafios marcam os 50 anos do bairro Dom Cabral. Seus moradores já contam com o Posto de Saúde reformado, com atendimento ampliado, mas ainda sonham com a revitalização da Praça da Comunidade. Todos, porém, reconhecem que nesses 50 anos de vida o bairro melhorou muito, apesar de ainda ter carências a satisfazer. PÁGINA 11
SCAP reforça as relações comunitárias Discutir política, compartilhar a arte, aproximar a universidade dos moradores do São Gabriel. Estes foram alguns objetivos da Scap (Semana de Ciência, Arte e Política), organizada no campus São Gabriel. Ela foi aberta para as comunidades interna e externa, proporcionando debates, oficinas e palestras para esses públicos. As atividades reforçam o papel social da PUC e o retorno positivo na formação humanística dos alunos. PÁGINA 12
De forma contundente, há, hoje, em várias instâncias públicas, uma tentativa de minar a imagem e a reputação das instituições do poder. Essa prática, muitas vezes contaminadas por ideologias, pode enfraquecer e prejudicar o processo democrático. O MARCO ouviu especialistas que alertam para esse risco, presente na atual conjuntura nacional. PÁGINA 3
Raíla Melo
Jornalistas valorizam experiência vivenciada no jornal laboratório Jornalistas renomados que já foram monitores do MARCO confirmam a importância do aprendizado em jornalismo no laboratório da Faculdade de Comunicação. A âncora da TV Record, Adriana Araújo, destaca que o aluno deve aproveitar esse espaço para aprender e mostrar seu talento, abrindo caminhos para o futuro. O jornalista e escritor, Lucas Figueiredo, que também passou pela PUC,
enfatiza que o bom repórter precisa gostar de apurar, escrever e ler muitos livros para ser um bom contador de histórias. Ambos reforçam a importância de escrever o tempo todo, buscando formas criativas e inovadoras, de modo que o aluno ao chegar ao mercado de trabalho possa contribuir para transformar e melhorá-lo. PÁGINA 5
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jornalmarcoedição316outubrode2015 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapuc
Campus
editorial
Paisagens de Minas Gerais GUILHERME CAMBRAIA
Tinha um fusca no meio do caminho Exposição do artista Pedro Miranda chama atenção de alunos e funcionários no jardim central da PUC Minas
6° PERÍODO
A primavera chegou e, junto com ela, as árvores florindo por toda parte chamam a atenção e encantam as pessoas. Ipês das mais variadas cores enfeitam a cidade nesta época do ano, deixando mais agradável a passagem das pessoas pelas ruas e avenidas. Com foco no momento, esta edição dedica atenção especial à temática do meio ambiente. Aborda a recuperação da arborização em Belo Horizonte, além da beleza dos Parques Estaduais, que abrigam as mais exuberantes paisagens de Minas Gerais. Apresenta ainda, uma matéria sobre a importância das áreas verdes nas cidades, como a mata da PUC e, por último, denuncia a persistência dos lixões no Estado. Esta edição também dá continuidade ao debate sobre a democracia, enfocando algumas tentativas de desmoralização de autoridades que resultam no enfraquecimento de instituições do poder público, questionando os possíveis efeitos deste comportamento sobre legitimidade das instituições. Esta edição fala ainda do drama dos refugiados sírios, que buscam qualidade de vida em outros países devido à guerra civil que acontece em seu país desde 2011. Uma família contou aos nossos repórteres a sua história desde a saída da Síria, e as principais dificuldades enfrentadas até os dias atuais. As matérias de interesse da comunidade abordam temas como o funcionamento do Centro de Saúde Dom Cabral, os problemas da Praça da Comunidade e a festa de 50 anos do bairro, que aconteceu no dia 26 de setembro. O leitor acompanha também a participação dos moradores na Semana de Ciência, Arte e Política (Scap), evento que aconteceu no campus São Gabriel, e os principais acontecimento do Fica 13. Este exemplar dá início a uma série de reportagens com depoimentos de importantes jornalistas que já passaram pela redação do MARCO. Lucas Figueiredo e Adriana Araújo, contam um pouco sobre a experiência profissional e a importância do jornal-laboratório em sua formação. Outros temas como as galerias de Belo Horizonte, a Virada Cultural, a prática do beisebol na cidade também são abordados. Tenha uma ótima leitura e, se quiser, envie comentários.
errata Na edição 315, na matéria da página 2, intitulada “Descontorno cultural expressa diversidade”, o nome da repórter é Jéssica Marques e não Jésscia, como foi publicado.
expediente jornal marco
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ANA LUÍSA SANTOS 4º PERÍODO
Um fusca com a lataria esculpida, estacionado no jardim central da PUC Coração Eucarístico, tem chamado a atenção de todos. O carro e outras esculturas do artista plástico Pedro Miranda são parte da exposição “Cotidiano Mineiro”. Miranda tem 77 anos e nem se lembra de quando começou a esculpir. Sua primeira exposição foi em 1969. Antes, ele fazia teatro, mas resolveu se dedicar às artes plásticas porque era difícil trabalhar com o teatro. Ele não vê grandes obstáculos nesta área, pois, depois de se construir um nome e cair no gosto dos críticos, em qualquer setor da arte, tudo fica mais fácil. Segundo ele, um artista plástico é um “franco atirador”, não precisa de uma aprovação. A “a arte está muito mais presente na nosso vida do que a gente pensa. Nós não temos é consciência desta presença e de sua força em nós”, comenta. O artista não busca inspiração, pois para ele, ela simplesmente existe. Acredita que a criação é uma busca do que falta, e que isto é comum a todos os artistas. “Nós criamos não devido ao que temos, mas por causa daquilo que nos deixa vazios, carentes de alguma coisa”. Suas esculturas não seguem um padrão único de criação. Para cada material há uma técnica específica. As pe-
Fusca exposto na PUC retrata o “Cotidiano Mineiro” ças expostas na PUC são feitas de aço naval que, apesar de ser mais caro, é resistente, pois a ferrugem não o corrói: o protege e o torna mais durável. O fusca funciona normalmente, mas Pedro não gosta de andar com ele na rua. É que o carro desperta o interesse das pessoas que, por sua vez, param, querem saber sobreo veículo e a viagem acaba atrasando. Além disso, Miranda teme que a vibração do motor possa quebrar as peças, que são muito frágeis.
COTIDIANO
A exposição na PUC não tem um tema específico, nem é uma série de obras. São figurações que o artista chama de “Cotidiano Mineiro”. Trata-se de um acervo de personagens que são os mesmos, mas fazem diferentes coisas e em diferentes situações em cada escultura. Miranda acredita que o
Editora: Prof. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia de Oliveira e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Clara Sales, Débora Assis, Isabela Maia, Jamilly Vidigal, Tamiris Ciríaco e Winicyus Gonçalves Monitor de Fotografia: Guilherme Cambraia Monitor de Diagramação: Thiago Carminate e Mirna de Moura Apoio: Laboratório de Fotografia CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares
diálogo entre as peças seja ainda uma influência do teatro. E que elas podem influenciar, mesmo que subjetivamente, a formação dos estudantes. As peças expostas foram feitas ao longo dos últimos anos, e foram acumulando-se porque ele trabalha todos os dias. Além da PUC, atualmente Miranda expõe numa escola em Belo Horizonte. Com essas exposições ele visa principalmente mostrar as obras, já que não dão um retorno grande em aquisições. O maior volume de vendas acontece através do seu blog. Pedro Miranda já expôs em muitos lugares do Brasil e do exterior. O artista afirma que o reconhecimento é uma coisa relativa, mas a arte sempre encontrará alguém para admirá-la. Os alunos respondem, de uma forma positiva, a essa intervenção. Julia Magalhães, do 3º período de letras, conta
que, mesmo não tendo gostado muito dos trabalhos, acha interessantes essas manifestações. Já Igor Richielli Campos, estudante do 5º período, gostou das peças de Pedro Miranda e acha que, assim, o campus “fica mais legal”. A arquiteta da Secac (Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários), Ana Paula Plazzi, afirma que a PUC procura sempre apresentar manifestações culturais pelo campus. Segundo ela, os campi universitários são espaços para a construção e transmissão do conhecimento e também de fruição de experiências estéticas e culturais. Sobre a aceitação dos alunos, ela diz que não existem mecanismos de avaliação, mas parece ser positiva, pois o público está presente nas mostras e nos comentários nas redes sociais.
Saberes são tema de Seminário ÍVINA TOMAZ 5ª PERÍODO
“Construções de Saberes e experiência da extensão universitária”. Este foi o tema do X Seminário de Extensão Universitária, promovido pela PUC, com seminários, rodas de conversa e oficinas. As atividades, gratuitas, foram realizadas em todas as unidades da instituição, nos dias 17 e 18 de setembro. Alunos, funcionários, membros de ONGs, da comunidade local e sociedade civil puderam participar de oficinas de artesanato, mesa-redonda sobre atualidades e apresentações culturais. O evento é realizado
anualmente e contou ainda com uma feira de economia solidária, em que foram comercializados produtos artesanais como: roupas, acessórios e guloseimas (bolos. doces, geléias e outros). De acordo com a assessora de comunicação da Pró-reitoria de Extensão (Proex), Bruna Santos, a proposta é que as pessoas conheçam as atividades de extensão que acontecem na universidade, participem do seminário e vivenciem a extensão universitária de alguma forma. Márcia Vallone, coordenadora do Núcleo de Meio Ambiente e Saúde, comenta que, neste ano, o Seminário
de Extensão teve uma proposta um pouco diferente das demais. “Como a gente entende que a extensão é essa relação dialógica da universidade com a sociedade, gostaríamos que nesse seminário houvesse maior presença da comunidade externa, tanto no ponto de vista dos projetos que já são desenvolvidos, quanto nos que desejamos desenvolver”. Ainda de acordo com Vallone, todos os eventos foram pensados visando a participação da comunidade externa. “Deveriam estar sempre presentes nos nossos eventos a comunidade interna - funcionários, professores, alunos - e a externa, que
é, na realidade, a beneficiária dos nossos projetos e ações de extensão. A partir dessa experiência é sempre possível ocorrer vivências e momentos de escuta, para que a universidade consiga criar a interação desejada.” Segundo Ingrid Campos, aluna de Fisioterapia, a experiência foi muito proveitosa. “Achei muito interessante uma oportunidade que a gente tem de conhecer novas artes e interagir com os outros setores da PUC.” Para a estudante, as oficinas foram bem didáticas e os instrutores eram competentes e solícitos com os participantes.
Forum dos Leitores
Sucursal PUC Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ercio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel
Ana Luísa Santos
OLHAR SENSÍVEL Acabei de ler com calma a linda homenagem que fizeram para o papai neste jornal que ele tanto admirava. A matéria ficou sensível, fiel e muito bem escrita. Parabéns aos jovens jornalistas pelo belo trabalho. Ana Luísa Brant Jornalista, filha de Fernando Brant
IMPARCIALIDADE
Quero parabenizar o estudante Winicyus Gonçalves e todos os que estiveram envolvidos com a elaboração da matéria “Liberdade de expressão põe imprensa em xeque”, publicada na edição 315 do jornal Marco, em setembro. O material refletiu bem os vários aspectos de uma questão polêmica, contemplando o leitor com um bom trabalho de reportagem. Aloísio Morais Martins, jornalista
NOVAS LINGUAGENS É interessante notar a presença do Jornal Marco nas mãos das pessoas nos mais variados pontos dos bairros Dom Cabral e Coração Eucarístico. Nas filas dos bancos, enquanto se espera atendimento nos postos de saúde, nos pontos de ônibus e também nas padarias durante um cafezinho. A mescla entre assuntos de interesse geral e questões mais localizadas que tratam da região onde se vive, com competência e sensibilidade, parecem
ser os principais motivos desta presença constante do Marco na vida desta comunidade. No entanto, em se tratando de um jornal laboratório fica a expectativa de ver mais experimentação de linguagens na construção das matérias, algo que, provavelmente, tornaria o jornal ainda mais atrativo. Ellen Barros (ex-moradora do Dom Cabra; ex-aluna de Relações Públicas e do mestrado de Comunicação da PUC.É professora da disciplina Seminários).
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Política
Democracia brasileira em risco Guilherme Cambraia
Sarah Torres
Xingamentos e desrespeito à autoridades abalam a credibilidade de instutuições fundamentais ao fortalecimento do estado democrático de direito ISABELA MAIA ROBERTO BARCELOS 4º PERÍODO
Em setembro, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi condenado a pagar uma indenização por ofender a colega Maria do Rosário (PT-RS), no plenário da Câmara dos Deputados. Xingamentos por parte de políticos e de cidadãos a autoridades do Poder Público têm contribuído para desgastar as instituições às quais elas pertencem e enfraquecer a
democracia. O caso Bolsonaro é emblemático. No plenário da Câmara dos Deputados ele disse à Maria do Rosário que não a estupraria por ser feia e não merecer isto. Processado por ela, foi condenado, em primeira instância, por danos morais. A preocupação com esta questão levou o MARCO a conversar com três especialistas no assunto. Esse tipo de xingamento e ofensa a figuras públicas tem se tornado comum,
Coimbra: regulamentação da mídia é essencial
Arquivo Pessoal
mas de acordo com o professor da PUC e doutor em direito José Luiz Quadros de Magalhães, isso acontece porque há uma enorme confusão entre liberdade de expressão e o abuso dessa liberdade: “Toda liberdade tem que ter limite. Se você abrir o Código Penal, verá que já está ali, há muitas décadas, a previsão de crime por calúnia, difamação e injúria”. Observa que todos os países civilizados, como os Estados Unidos, com liberdade de expressão e de imprensa garantidas, preveem punições para xingamentos ou desmoralizações antidemocráticos. “Lá, se você sai às ruas pedindo a derrubada do governo, perde seus direitos políticos para sempre: você é preso”, diz Quadros. Ele alerta que é permitido expressar posições políticas, mas “não se pode usar a liberdade de expressão e de imprensa para atentar contra a democracia, contra a Constituição, difamar uma pessoa, caluniá-la e imputar-lhe crime”.
HISTÓRIA
O professor Quadros lembra que a tentativa de deslegitimação das instituições democráticas, capaz de destruir a credibilidade que elas gozam junto à população, se deve, em parte, ao histórico político do Brasil, de pouca vivência em democracia. De acordo com ele, as experiências representativas do País, no passado, foram curtas. A primeira delas aconteceu durante a fase de governo populista, que durou de 1946 a 1964 (Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Jânio Quadros). Depois, houve a Ditadura Militar (1964-1985) e só entre 1985 e 1988 a democracia se efetivou com a promulgação da Constituição Federal e a escolha de Tancredo Neves, que contaram com intensa participação e mobilização social. As jovens democracias vão amadurecendo num processo que, gradativamente, vai ampliando a participação dos cidadãos. Os primeiros modelos de-
Solução: conscientizar e educar É consenso entre os especialistas que a recuperação da imagem das instituições é fundamental para a garantia de uma democracia plena. Para tanto, eles indicam alguns caminhos possíveis. “O primeiro é a regulamentação da mídia. Ela precisa ser democrática, e as várias formas de pensar da sociedade tem que ser mostradas. Hoje temos uma mídia concentrada que mente e distorce propositalmente”, observa o professor José Luiz Quadros de Magalhães. A regulamentação da mídia é necessária porque diminuiria a visibilidade que certos grupos antidemocráticos têm no Brasil. “Nós vemos aqui um fenômeno que existe em praticamente todos os países democráticos modernos: a emergência de uma ultradireita”, analisa Marcos Coimbra. Para ele, o grupo político que simpatiza com os regimes militares e autoritários é muito menor do que parece. “Esse grupo não é particularmente grande, ele apenas é apresentado pela mídia como se fosse a única coisa que existe”. Outro ponto considerado importante para a mudança do atual quadro político nacional é a implantação de uma reforma política. “Num primeiro
momento, o povo votaria em propostas políticas e, num segundo momento, em quem é o mais indicado para implantar e gerir aquela proposta”, esclarece o professor Ibraim Victor de Oliveira. A nova proposição de reforma política elaborada por 54 entidades, dentre elas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi tratada na edição 312 do MARCO. O professor Quadros desacredita do Congresso Nacional quanto à aprovação da reforma apresentada pela sociedade civil. “Precisamos discutir e voltar a discutir essa questão. Precisamos de uma organização popular que ampare e dê sustentação à reforma política. Assim é possível mudar radicalmente esse sistema político viciado”, opina. Outro caminho indicado por Coimbra é a insistência na democracia. “A pior coisa para essa forma de governo é quando alguém acha que precisa consertá-la”, ressalta o sociólogo. Ele lembra, ainda, que o golpe de 1964 foi feito por generais que pretendiam implantar um modelo próprio de democracia. “Esse é o risco que corremos: surgir personagens se apresentando como donos da verdade
e que fazem o que querem fazer, mesmo que isso não seja coerente com as regras democráticas”. EDUCAÇÃO Ibraim Oliveira lembra que, desde a Grécia antiga, o filósofo Platão prevenia a sociedade ao destacar que uma cidade que não se aplica à educação é uma cidade corrupta. Ele completa dizendo que “Platão e Aristóteles eram desconfiados da democracia porque ela possibilita que incompetentes atinjam o poder”. O professor acredita que, apenas através da educação pode-se alertar o povo para o sentido e o valor real de um regime democrático. Apesar de considerar que o apelo à educação tem perdido conteúdo sério e se tornado um chavão, Oliveira acredita que ela é a melhor solução para transformar o cenário político atual e mostrar que a estrutura democrática sem efetiva participação cidadã é mera formalidade. O professor exemplifica: “Para você ter uma broa redonda, basta uma forma redonda, mas a forma não me dá a broa. Esse conteúdo, esse espírito, essa dimensão viva da instituição democrática ainda não acontece no Brasil”.
Quadros: Liberdade exige responsabilidade
mocráticos, por exemplo, excluíam a mulher das decisões coletivas. Qualquer grupo social que não era padrão (índios, escravos) era privado do direito de votar. Apenas através de ações sociais e reivindicações foi possível conquistar o direito dos excluídos ao voto. O professor Quadros afirma que, diferentemente do que se esperava, “a democracia brasileira de agora é meramente tolerada pelas elites: a elite econômica branca, a burguesia e a classe média alta não toleram pobre”, observa. “As instituições do estado democrático no Brasil são frágeis porque nasceram numa sociedade em que a democracia sempre foi limitada, circunscrita e sujeita a interrupções autoritárias e ditatoriais.” Esta análise é do sociólogo Marcos Coimbra, colunista da revista Carta Capital e do Correio Braziliense. Coimbra ressalta que, no Brasil, somente agora, após 160 anos de independência, instalouse e começa a consolidar-
Mirna de Moura
se um regime democrático ampliado e efetivo. RISCOS SÉRIOS
Confundir as instituições democráticas (Ministério Público, Congresso Nacional, Tribunais Federais, o Executivo, por exemplo) com seus personagens é um grande risco para a democracia. Esta afirmação, recorrente na fala do professor Ibraim Victor de Oliveira, doutor em filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, conta com o endosso de Coimbra, para quem “as instituições independem das pessoas que circunstancialmente ocupam cargos ou funções”. Ele alerta, porém, que não se deve julgar, por exemplo, a qualidade do Judiciário pela existência de alguns corruptos nessa área. Já para o professor Ibraim, “o risco para a instituição é completo, de destruição e descrédito total”, pois, devido à personificação, o ataque à pessoa acaba convertendo-se em ataque à própria instituição.
Ibraim: Reforma política é inadiável
Guilherme Cambraia
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Comunicação
PATRÍCIA ADRIELY 8º PERÍODO
Qualificar. Este é o nome do projeto que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) mantém neste segundo semestre, beneficiando desta vez o pessoal da capital e do interior. O curso consta de aulas sobre técnicas jornalísticas, debates, oficinas e ciclos de estudos sobre conjuntura nacional e tendências do mercado de comunicação. O objetivo é propiciar a todos os interessados oportunidades de atualizar conhecimentos e atender especialmente às demandas dos jornalistas das cidades – polo do Estado. O presidente do Sindicato, Kerison Lopes, ressalta que a expansão do conhecimento dos profissionais de jornalismo é importante para garantir a qualidade da informação. “Em momentos de crise econômica, a formação dos jornalistas passa a ser mais um diferencial para enfrentar as dificuldades impostas pelo mercado”. Os encontros programados para os finais de semana em diferentes cidades previu a participação de 100 pessoas em cada reunião. As atividades são abertas para todos os profissionais – jornalistas, assessores de comunicação – e estudantes de jornalismo da cidade ou da região em que o evento estiver acontecendo. TEMAS
O curso aborda diversos temas da área da comunicação, como as tendências do jornalismo contemporâneo, a comunicação pública e a comunicação do setor público, o jornalismo multimídia, blogs e redes sociais. Além disso, situações que envolvem a sociedade serão discutidas, entre elas, o contexto econômico e político do Estado e o território como vetor do planejamento e do desenvolvimento sustentável. As datas de realização de cada evento nas cidades poderão ser conferidas no site do Sindicato. Programas de qualificação profissional são
Sindicato dos Jornalistas qualifica os seus filiados Projeto Qualificar promove cursos e oficinas para ajudar profissionais, de Belo Horizonte e do interior de Minas Gerais, a atualizar seus conhecimentos
desenvolvidos há mais de dez anos pelo Sindicato e o projeto deste ano é o maior desde a sua implantação, envolvendo cerca de dez mil profissionais. “O Qualificar contribui pioneiramente para a melhoria da qualidade da informação que chega à sociedade mineira por meio do rádio, da TV, do jornal, da revista e da Internet”, ressalta Kerison. OPINIÕES
“A nova proposta do programa Qualificar é um avanço propiciado pelo Sindicato, principalmente no interior. No Sul de Minas, por exemplo, a última ação pontual foi em maio de 2012. Esse hiato de mais de três anos é percebido pelos profissionais e distancia a entidade da classe. Mesmo que o Sindicato tenha diretorias regionais, os jornalistas que representam a instituição são apenas intermediadores de demandas da categoria. O exercício da profissão na região sul-mineira, assim como ocorre no Estado e no País, passa por um ‘inverno rigoroso’. A começar pela formação, com a sobrevivência de apenas um curso nesta parte do Estado. No mercado de trabalho, nas últimas duas décadas, houve um crescimento de oportunidades em assessorias de comunicação de empresas e órgãos públicos. Já os veículos maiores ainda preferem a contratação de diplomados, o que não acontece na maioria. A remuneração continua a ser uma das principais reclamações do jornalismo no interior, que carece de maior presença do SJPMG. Presença para acompanhar, orientar, assessorar e fiscalizar”. Francisco José Pereira - Diretor Regional Sul
Jornalistas de outras regiões do estado veem oportunidade com bons olhos
“A minha região, Vale do Médio Piracicaba, é um pouco atípica, pois temos cinco jornais diários e um bom volume de emissoras de rádio. Além disso, há algumas TVs. Perdemos recentemente um curso de jornalismo, então, eu acho que a região sente falta de uma escola de comunicação, já que estamos longe da capital. O Médio Piracicaba tem um grande mercado a ser explorado, principalmente devido ao surgimento das novas ferramentas de comunicação, que têm ajudado a aumentar o trabalho a ser realizado. Assim, o Projeto Qualificar Ampliado é importante porque está sempre atualizando os jornalistas do interior, muitas vezes, longe da faculdade de jornalismo. Além disso, o pessoal sente um pouco a falta de ter uma proximidade maior com o Sindicato, cuja sede está em Belo Horizonte.
Então, o Qualificar é também uma oportunidade de o Sindicato aproximar-se dos jornalistas do interior”. Eduardo César Motta Dias - Diretor do Conselho Fiscal “Aqui em Uberlândia a gente não tem muito acesso a cursos e eventos deste tipo, então, quando acontece alguma atividade nesse sentido, é bastante interessante e importante que o pessoal participe. Atualmente, a categoria passa por um problema sério com a dispensa do diploma, o que fez muitos abandonarem a profissão. Quem continua recebe baixos salários, o que leva à desmotivação e à falta de perspectiva em termos profissionais. Na cidade há somente um jornal diário de maior circulação; o forte mesmo são as TVs. A nossa maior dificuldade é que os jornalistas não sentem a presença do Sindicato
devido à distância; então, essa atividade do Projeto Qualificar vai ser um passo para unificar o jornalismo da cidade, tanto de formação, como de organização. Existem profissionais que estão no mercado há muito tempo e têm dificuldade para se qualificarem. O Qualificar tem que ser um trabalho continuado em que o Sindicato volte sempre. Espero que, além da qualificação, o projeto seja um espaço de organização dos trabalhadores e que os encontros possam promover a união da categoria”. Marcos Erlan dos Santos - Conselho Fiscal do Sindicato “O Projeto Qualificar Ampliado é de grande importância porque os profissionais do interior não têm a mesma oportunidade de formação e especialização dos jornalistas da capital. A gente fica meio distante das oportunidades, então,
Rafael Gaia
esse projeto proporciona qualificação sem precisar se deslocar a Belo Horizonte, que é onde existem mais oportunidades. O projeto também permite aproximar o Sindicato dos Jornalistas da realidade dos profissionais do interior. Na nossa região do Vale do Aço, os principais desafios são desvalorização do diploma e o momento de recessão que o Brasil enfrenta, que são também problemas nacionais. Os meios de comunicação sofreram esse baque da recessão e, principalmente no interior, jornalistas perderam seus postos de trabalho. As empresas demitem como forma de reduzir custos. A violência que os profissionais de comunicação estão sofrendo, na minha região, também é um grande problema a ser enfrentado”. Paulo Sérgio de Oliveira - Diretor Regional do Leste de MG
Diretores das regionais aprovam a iniciativa “A nova proposta do programa Qualificar é um avanço propiciado pelo Sindicato, principalmente no interior. No Sul de Minas, por exemplo, a última ação pontual foi em maio de 2012. Esse hiato de mais de três anos é percebido pelos profissionais e distancia a entidade da classe. Mesmo que o Sindicato tenha diretorias regionais, os jornalistas que representam a instituição são apenas intermediadores de demandas da categoria.”. FRANCISCO JOSÉ PEREIRA - DIRETOR REGIONAL SUL “O Médio Piracicaba tem um grande mercado a ser explorado, principalmente devido ao surgimento das novas ferramentas de comunicação, que têm ajudado a aumentar o trabalho a ser realizado. Assim, o Projeto Qualificar Ampliado é importante porque está sempre atualizando os jornalistas do interior, muitas vezes, longe da faculdade de jornalismo”. EDUARDO CÉSAR MOTTA DIAS - DIRETOR DO CONSELHO FISCAL
“Existem profissionais que estão no mercado há muito tempo e têm dificuldade para se qualificarem. O Qualificar tem que ser um trabalho continuado em que o Sindicato volte sempre. Espero que, além da qualificação, o projeto seja um espaço de organização dos trabalhadores e que os encontros possam promover a união da categoria”. MARCOS ERLAN DOS SANTOS - CONSELHO FISCAL DO SINDICATO
“O Projeto Qualificar Ampliado é de grande importância porque os profissionais do interior que não têm a mesma oportunidade de formação e especialização dos jornalistas da capital. A gente fica meio distante das oportunidades, então, esse projeto proporciona qualificação sem precisar se deslocar a Belo Horizonte, que é onde existem mais oportunidades”. PAULO SÉRGIO DE OLIVEIRA - DIRETOR REGIONAL DO LESTE DE MG
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Comunicação
Faculdade impulsiona carreiras São mais de 20 anos de profissão traçados a partir da redação do MARCO. Adriana Araújo e Lucas Figueiredo abrem, nesta edição, a série de matérias que relembra a trajetória de ex-monitores
O jornalista autografa seu sexto livro, lançado em BH
Débora Assis
Adriana relembra edição comemorativa em que foi homenageada
Lucas Figueiredo JAMILLY VIDIGAL 5º PERÍODO
S. Paulo” e, em 1994, contratado como repórter do jornal, onde trabalhou sete anos. Ao final de seu período na Folha começou a se dedicar aos livros-reportagem que, hoje, somam um total de seis. São todos fruto do trabalho de jornalismo investigativo. Alguns tratam de ditadura e redemocratização, como o “Ministério do Silêncio” e “Olho por Olho”. Outros de corrupção, lavagem de dinheiro e financiamento de campanha com caixa dois: “Morcegos Negros” e “O operador”. E da abordagem atual de história antiga: “Boa Ventura!”, que conta a história da corrida do ouro no Século XVlll, em Minas Gerais.
O jornalista competente tem que gostar de jornalismo, notícia e informação. Ser muito ligado ao que está acontecendo e praticar a leitura, escutar rádio e ver televisão. Além disso, quem quer se tornar um bom profissional precisa ler muita literatura, incluindo os clássicos, para ter uma boa formação humana e compreender o mundo. Essas são algumas observações do jornalista investigativo Lucas Figueiredo, autor de vários livros-reportagem, ex-aluno da PUC Minas e ex-estagiário do jornal MARCO. Em entrevista exclusiva ao jornal, Lucas, que mora atualmente na Suíça, falou sobre sua experiência nos tempos de monitoria e da importância desse período em sua TRABALHO INTERNACIONAL vida profissional. Na fase de lançamento de seu sexto Ele ingressou na universidade em livro, “Lugar Nenhum”, e já no pro1987 e durante 1990, quando era alu- cesso de construção do sétimo, que é no do 6º e 7º períodos, estagiou na reuma biografia de Tiradentes, Lucas redação do jornal-laboratório. “Para mim vela que está realizando um trabalho foi maravilhoso, pois foi no MARCO de pesquisa intenso. “Fundamental é que eu aprendi todo o processo do jorter acesso a fontes primárias, aos donalismo impresso. Foi uma experiência fundamental na minha carreira, ter vis- cumentos originais da época. Eu faço to, ainda na universidade, como se faz uma grande varredura nos arquivos. Para a biografia do Tiradentes estou um jornal na prática”. No caso dele, a preferência pelo veí- pesquisando em arquivos do Brasil (em Minas Gerais e culo impresso já existia, Rio de Janeiro), arquimas nessa época se convos de Paris, Portugal e cretizou: “Eu já tinha Estados Unidos”. certeza do impresso, O jornal foi muito mas a vivência desperLucas está morando importante para tou uma paixão. Anna Suíça há um ano e mim, foi o começo tes do MARCO ela era aproveita para finalide tudo, a base, uma paixão platônica e zar seus projetos. Ele uma experiência depois tornou-se uma veio a Belo Horizonte realmente paixão real, uma coisa no início de outubro que existia de fato”. E magnífica para lançar “Lugar continua: “O jornal foi Nenhum”. O evento muito importante para aconteceu no Memomim, foi o começo de rial Minas Vale, na tudo, a base, uma experiência realmenPraça da Liberdade. te magnífica”, salienta o jornalista que, O livro dá início à coleção “Arquivos hoje, tem em seu currículo três prêmios Esso, dois Vladimir Herzog, um Jabuti, da Repressão no Brasil”, da Companhia das Letras. Os detalhes inéditos entre outros. Logo após se formar, em 1991, jun- sobre a ocultação de documentos da to a um grupo de jornalistas, partici- ditadura, por militares e civis, revelam pou da criação do jornal “Folha Popu- o pacto firmado entre as duas partes, lar”, que circulava na região industrial que escondeu por anos o destino dos de Belo Horizonte, Contagem, Betim e opositores “desaparecidos” na época Ibirité. Depois foi trainee da “Folha de da ditadura.
Mateus Teixeira
Adriana Araújo MATEUS TEIXEIRA 7º PERÍODO
sentar com o editor. Às vezes o editor cobrava mais apuração”.
Das páginas do MARCO até a TRAJETÓRIA bancada de um dos maiores telejornais Adriana Araújo formou-se em 1993. do país, na TV Record, 22 anos se pasPara ela, a faculdade foi essencial em saram desde a formatura da jornalista sua preparação: “A PUC tem essa caAdriana Araújo na PUC Minas. Ela garacterística de conciliar as duas coisas, rante que o seu aprendizado no jornal a teoria e a prática. A teoria é muito foi fundamental para sua carreira, pois importante, mas o mercado de trabalho obteve conhecimento e experiência. exige um profissional que já saia habiliMineira de Itabirito, Adriana já tado à rotina da profissão, mesmo que ocupou cargos como repórter, editora de texto, âncora e correspondente in- sem experiência. Os laboratórios eram ternacional. Desde pequena ela queria ótimos e o MARCO principalmente”. Depois de formada, Adriana trabaser repórter: “Eu pegava o martelo de bater bife e narrava naquele ‘microfo- lhou como repórter de economia no “Diário do Comércio”. ne’ tudo o que estava Em 1995 foi contrataacontecendo à minha da como editora de texvolta”. to da TV Globo Minas, A jornalista relemDá para você trilhar emissora onde mais bra, emocionada, reo seu caminho sem tarde seria repórter. portagens que fez duter jornalista na família, “Passar pelo impresso rante o período de um sem ter o famoso me deu uma base de ano em que foi moni‘quem indica’ tora do MARCO. “Eu buscar a informação me lembro da matéria mais a fundo, para desobre o desinteresse sopois ir para edição de bre política, capa que provocou muita texto e em seguida para o vídeo. Isso polêmica. Era uma época (anos 90) em me ajudou a aperfeiçoar várias coisas: que o Brasil discutia parlamentarismo, apuração mais precisa e checar com e havia um desinteresse pelo assunto fontes diferentes”. muito grande na universidade”. Em 2002, ainda na Globo, mudouEla acrescenta que a manchete do se para Brasília. Em 2006 passou a jornal foi “Aluno da PUC é analfabeto apresentar o Jornal da Record, diretapolítico”, o que gerou grande discus- mente de São Paulo, ao lado do jornasão. Na época a redação funcionava lista Celso Freitas. Em 2009 foi para em uma sala ao final do corredor do Nova Iorque como correspondente terceiro andar do prédio 13. Hoje, ela internacional e, em 2010, retornou ao existe no prédio 42. Brasil para cobrir a eleição presidenOutras matérias marcaram essa fase, cial. como o editorial contra a pena de morAdriana também teve experiência te e uma reportagem sobre o mapa da cobrindo grandes eventos esportivos fome em Minas Gerais, que ela escrecomo os jogos Pan-Americanos no Méveu em parceria com a também aluna, xico, em 2011, e no Canadá, neste ano, Fábia Prates. Pela primeira vez, uma reportagem do jornal-laboratório foi além dos Jogos Olímpicos de Londres, tema do vestibular da PUC Minas. “Foi em 2012. Desde 2013, está de volta à um período de aprendizagem enorme, bancada do Jornal da Record. Após mais de 20 anos de carreira ganhei muito conhecimento num processo contínuo. Não era uma coisa de Adriana Araújo incentiva os futuros fazer uma, duas matérias e acabou. Era jornalistas: “Dá para você trilhar o seu um ano intenso de trabalho”, comenta. caminho sem ter jornalista na família, Adriana compara o funcionamento sem ter o famoso ‘quem indica’. É predo MARCO ao de outros jornais: “Era ciso acreditar no seu talento e na sua como uma redação profissional, que ti- capacidade. Eu tenho orgulho de ter nha todo aquele ritual de reunião de vindo de uma família muito simples, pauta, debate, despachar repórter para muito humilde e felizmente ter cona rua para apurar, voltar, fechar o texto, quistado uma carreira bem sucedida”.
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jornalmarcoedição316outubrode2015 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapuc
GABRIEL COSTA MENDES CRUZ NATÁLIA EVANGELISTA GOMIDE RAFAELA RIBEIRO DOMINGOS 1º PERÍODO
Em uma cidade com 117 anos, o que chama a atenção dos visitantes que vêm de fora é a cultura local. Aqui, as galerias mostraram ser um espaço de compras não somente da sociedade belorizontina, mas de várias outras pessoas. Após a eclosão da cultura produzida nas ruas e como se deu sua distribuição, vários comerciantes encontraram nesses espaços o que nas lojas de rua são características raras: segurança, conforto e flexiblidade. As galerias da capital estão no entorno das universidades ou em pontos estratégicos da cidade e isso dá maior fluidez até mesmo para seu público. As pessoas começam a ir para esses lugares assim que saem de um longo dia de trabalho,ou de um show, até mesmo do cinema e procuram um lugar com um ambiente agradável, confortável e seguro para fazer o happy hour durar mais tempo. Assim, há mais de 50 anos Belo Horizonte tem nas galerias um espaço alternativo para a boemia durante a noite e também um lugar alternativo de compras para um público especializado. MAIS ANTIGAS
As galerias do Maleta e a do Ouvidor são as mais antigas da cidade e guar-
Cidade
Galerias comerciais dão um toque especial a BH Precursoras dos shoppings centers, as galerias perderam prestígio na capital, mas são parte importante da história do comércio na cidade
dam muitas histórias durante esse longo período de existência. A Cantina do Angelo, restaurante inaugurado em 1962, tombado pelo Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, localizado no edifício Maleta, é um dos estabelecimentos que sobrevivem a evolução do comércio ao longo do tempo na cidade: persiste mesmo após com o surgimento dos primeiros shoppings centers a partir da década de 1980. Antônio Mourão, de 61 anos, diz: “As galerias eram uma espécie de embrião dos shoppings já que nelas estavam lojas diversas como salões de beleza, alfaiatarias e outros comércios dentro de um lugar só”. O Maleta é conhecido pelo seu diferencial boêmio, bons restaurantes, e também pela sua tradição na vida cultural do centro da cidade. O público que freqüenta cinemas e teatros da região e vai para lá após o fim dos eventos para estender a noite com os amigos em um lugar seguro. As galerias de Belo Horizonte têm um públi-
co diferenciado que varia entre jovens, estudantes, escritores e políticos. Na época da resistência à ditadura, muitas pessoas encontravam nesses lugares um ambiente no qual podiam conversar sobre os problemas da época sem medo de estar sob a constante vigilância dos policiais. NOVA FUNÇÃO
Com o tempo, as galerias passaram a ser locais diferenciados, voltados para públicos específicos. Assim, a Galeria do Rock e a do Rap é reduto dos fãs que buscam produtos relacionados a essas áreas, como observa Marcos Domingues, síndico da galeria da Praça Sete, que ocupa os dois primeiros andares do prédio. Ele diz que esses segmentos são peculiares e têm um público fiel que vê no lugar um ambiente no qual podem usufruir do prazer de encontrar seus parceiros dessas modalidades oficiais. Outra questão que ganha destaque é a segurança que os visitantes
Virada Cultural busca estimular artistas locais
SILVIA DE OLIVEIRA CAROLINE ANDRADE AYANA BRAGA 1º E 2º PERÍODOS
Vinte e quatro horas ininterruptas de programação artística e cultural nas diversas áreas: música, teatro, dança, circo, audiovisual, literatura, artes plásticas, moda, gastronomia. Esta proposta da Virada Cultural de Belo Horizonte, que reuniu artistas da cidade e encantou mais de 500 mil pessoas nos dias 12 e 13 de setembro, tem tudo para se repetir. O prefeito, Márcio Lacerda, diz que: “a rua não pode se constituir, apenas, em um corredor de passagem”. Com atividades divididas entre os 18 palcos, 70 espaços culturais, além de museus e teatros, a terceira edição da Virada Cultural contou com mais de 600 atrações e superou o público da edição passada. Quatro mil profissionais, entre artistas e equipe de produção e apoio, foram envolvidos para a realização desta grande festa. O EVENTO A Virada Cultural de Belo Horizonte é realizada pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, através da Fun-
dação Municipal de Cultura, seguindo a proposta da Lei 10.446/2012, e correalizado pela Associação dos Amigos do Museu Histórico Abílio Barreto. A programação contemplou artistas convidados, artistas locais selecionados em sua pluralidade de expressões e gêneros artísticos. Um dos momentos mais emocionantes do evento foi sua abertura. Cerca de 20 artistas mineiros subiram ao palco da Praça da Estação para homenagear Fernando Brant, um marco da música mineira, que morreu este ano. Por lá passaram bandas conhecidas como Tianastácia e Sepultura e o encerramento no domingo, dia 13, ficou por conta do show, do grupo Molejo. Algo inovador, acrescentado esse ano foi a feira de arte, artesanato, livros e roupas nos arcos do Viaduto Santa Teresa. Ali houve espetáculos de dança, teatro e música. Antônio Lucas, 74 anos, que mora próximo à Praça da Liberdade, disse ter achado “importante o evento. É uma forma de valorizar a diversidade cultural da cidade e trazer as pessoas para a rua”. Para Adir Affa Rievrs, 34 anos, a Virada influencia no
seu trabalho: “Sou vendedor de cordel e trabalho recitando poemas. O evento atrapalha um pouco por causa do barulho, mas ainda assim, é uma oportunidade para levar a minha poesia para as pessoas”. Participantes pela primeira vez, Marcos Paulo e Paulo Roberto, de 18 e 20 anos, após elogiarem o evento, observaram que, “poderia ter uma programação de ônibus estendida pela madrugada, pois a partir desta hora não se tem transporte para voltar para casa”. Segundo eles, o único fator que deixou a desejar foi a questão do transporte público já que o seu horário de circulação foi somente até as 23h30min. Johnny Bagatela, 22, foi à Virada Cultural de Vitória (ES) em 2014 e pela primeira vez estava na virada de BH, ele observou que “lá por ser um estado com menores incentivos culturais, a Virada ofereceu menos opções, mas foi muito bem organizada e o número de ônibus aumentou; você conseguia ir aos lugares tranquilo. Mas pela gigantesca opção de atrações aqui, eu gostei mais.” Hernani de Araujo Santos, 24 anos, gari que estava no local a trabalho, comen-
Edifícios antigos são frequentados por pessoas de todas as idades
das galerias têm nesses espaços, o que é bom para os comerciantes e para os consumidores. Com o aumento da incidência dos assaltos nas lojas de rua do centro da cidade, as galerias ganharam a preferência do público porque são privilegiadas pelo espaço fechado e com a presença de seguranças que podem coibir possíveis roubos. Nelas, os clientes tem medo ao manusearem o dinheiro ao comprarem seus produtos. Essa é uma característica que Jaciro,
comerciante na galeria Othon a 23 anos, afirma ser essencial para que eles voltem às lojas outras vezes. As galerias estão profundamente ligadas à vida de BH. A do ouvidor, por exemplo, surpreendeu o público ao instalar ali a primeira escada rolante da cidade. Despertando a curiosidade de todos na época. As galerias eram também a referência comercial do hipercentro junto ao Mercado Central.
Dinossauros dos shoppings, reduto da resistência na época da ditadura militar, ambientes os quais os boêmios podem frequentar após os eventos da noite belorizontina, são vários os apelidos para as galerias. Elas são o patrimônio cultural da cidade desde a segunda metade do século XX e apesar de um público reduzido em comparação à época de suas inaugurações, são responsáveis por contar parte da história de BH.
Grupo Baianas Ozadas faz “carnaval” pelas ruas da cidade
tou “As músicas estão legais, o evento muito organizado, e não esta tendo muita sujeira; achei que haveria mais”. O guarda municipal Santos, 30 anos, que também estava a trabalho, disse que a segurança da festa engloba a Polícia Militar e Civil
e a Guarda Municipal conta inclusive com o Serviço de Inteligência o qual monitora o movimento. A segurança é realizada desde o inicio até o término do evento. A ideia da prefeitura foi de nesta edição abordar temas como apropriação do uso do
Guilherme Cambraia
Thainá Nogueira
espaço público, sustentabilidade e mobilidade, assuntos que foram perceptíveis e ficaram claros ao longo do evento. A cidade ficou envolvida nesse clima de festa durante 24h ininterruptas! Os saldos são os mais positivos.
Festa que abre portas Tocando pela primeira vez na Virada Culural de BH, a Banda Prelúdicos foi agraciada pelo sol no início da tarde de domingo, dia 13. A banda formada há um ano por cinco jovens foi criada com o intuito de participar da Virada Cultural de 2014, plano que acabou não dando certo. Isso não foi empecilho para os integrantes, que continuaram tocando até o edital da edição de 2015 ser liberado. O grupo passou por todas as etapas de seleção da Comissão de Avaliação que tinha como critérios a qualidade artística do trabalho, originalidade e relevância no contexto da produção artística da Região Metropolitana.
Vini Baruk, o vocalista da banda, fala como é importante essa oportunidade “por ser um evento que envolve toda cidade; é bom para a banda, porque podemos mostrar o nosso trabalho e fazer nossa marca no mercado musical”. Eles tocaram no palco da Praça da Estação e fizeram um show que fez jus ao nome da banda: Prelúdicos é uma junção das palavras prelúdio, que significa introdução musical, e lúdico, que é uma ideia divertida e criativa. O repertório incluiu desde Cazuza e Legião Urbana até Mamonas Assassinas e O Rappa, agradando todo tipo de público que passou pela região central.
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jornalmarcoedição316outubrode2015 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapuc
Cidade
Ônibus: reajuste está confuso Variações no preço das tarifas de ônibus deixam os dependentes do transporte público sem saber o que esperar. O aumento, revogado em setembro, não reflete a qualidade do serviço. WINICYUS GONÇALVES 6º PERÍODO
Quem mora em Belo Horizonte e utiliza o transporte público da cidade já está alerta. As sucessivas mudanças nas tarifas das linhas de ônibus têm provocado muita confusão entre os usuários. Luciana Mendes é estudante e sai diariamente de casa, no bairro Tirol, para estudar no campus do Coração Eucarístico da PUC Minas. Ela utiliza dois ônibus e reclama dos reajustes das passagens. “Eu saio de casa sem saber se eu vou pagar o preço em vigor ou o reajustado, então sempre projeto as minhas contas para mais. Hoje está R$ 3,10 porque a Justiça interviu, mas a gente sabe que a qualquer momento isso pode mudar”. A liminar em vigor que anulou o aumento das passagens de ônibus foi concedida em setembro pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Com a decisão, caiu o reajuste de 9,7% que começou a vigorar em 8 de agosto e elevou o preço da tarifa de R$ 3,10 para R$ 3,40 na capital. A medida havia sido pedida ao Tri-
bunal da Defensoria Pública de Minas Gerais. A briga judicial para definir se o reajuste das passagens será ou não mantido se arrasta desde o início de agosto. A Justiça mineira notificou a Prefeitura de Belo Horizonte informando sobre uma liminar que impedia o município de aumentar o preço cobrado pelo passe nos ônibus da cidade. Quatro dias depois, a decisão foi cassada, acatando o pedido do Consórcio Dez, um dos consórcios responsáveis por operacionalizar serviços de transporte público na capital. Em nota, a BHTrans afirma que o pedido de aumento foi baseado num requerimento do Sindicato das Empresas de Transportes (Setra-BH) e em estudo apresentado pela empresa Ernst & Young, “que já foi responsável por estudo contratado pelo Município, que originou o aumento anterior”. Ainda de acordo com a BHTrans, o aumento não foi alvo de auditoria contábil ou de análise quanto à sua adequação e foi calculado por meio de dados obtidos através da Setra -BH e da Prefeitura Muni-
cipal de Belo Horizonte. Entre 2011 e 2015, o valor da tarifa do transporte público em Belo Horizonte sofreu aumento em cinco ocasiões. Após junho de 2013, quando manifestações espalhadas pelo país exigiram a redução do valor, a prefeitura da capital reduziu R$ 0,10 do valor, retornando a tarifa para R$ 2,65. Em abril de 2014, um novo reajuste passou a valer, aumentando a passagem para R$ 2,85. Desde então, as tarifas do transporte público de BH foram alvo de liminares e ações na Justiça diversas vezes, envolvendo as empresas, a BHTrans, Ministério Público e outras entidades que representam a sociedade civil. BAIXA QUALIDADE Paulo Rocha, participante do movimento Passe Livre, fala à respeito do contrato que as empresas de ônibus têm com a BHTrans, que permanecerá ate 2020. Rocha entende que a justificativa apontada para o aumento foi motivada por gastos excessivos das empresas do transporte, “mesmo isso sendo ilegal, já que o
Tarifas aumentam, mas o tempo de espera pelos ônibus persiste, irritando usuários
Breno Pataro
transporte público é um direito”. “Nós fomos atrás para saber exatamente de onde que vêm tais gastos citados”. Rocha avalia que um erro no planejamento de gastos para a construção das linhas do MOVE foi o fator fundamental para o pedido de reajuste das passagens. Segundo ele, “repassar um erro ao consumidor é completamente abusivo”. Em agosto, houve um ato público contra o aumento das passagens liderado por movimentos sociais e que acabou terminando em confusão. Pelo menos 60 pessoas foram detidas e dois menores apreendidos. A Po-
lícia Militar usou balas de borracha e bombas de gás para dispersar os manifestantes que se concentravam na Rua da Bahia, entre as avenidas Augusto de Lima e Afonso Pena, no centro da capital. Segundo Rocha, a ação dos militares foi truculenta. De acordo com Paulo, as vítimas foram feridas nos braços e pernas. “Estava tendo uma manifestação pacífica quando a polícia começou a jogar bombas de gás lacrimogêneo e tiros de borracha. Foi muita correria. Várias pessoas passaram mal”. Um repórter fotográfico do jornal O Tempo e um turista do Ceará foram feridos. Não foi divulgado
o número de feridos, mas pelo menos oito pessoas foram atendidas no Hospital de Pronto Socorro João XIII e outras unidades de saúde. Para Luciana, o aumento não se justifica devido à qualidade do serviço de transporte público de BH, que está muito aquém do necessário. “Pagar mais para ficar em pé e espremido dentro do ônibus é uma afronta para mim”. Luciana critica também os veículos, que, de acordo com ela, estão completamente sucateados: “Pra mim, esses ônibus são caminhões como uma carroceria diferente. Acho um absurdo circularem desse jeito”.
localizada na Avenida Carandaí, número 331, no bairro Funcionários, a Associação de Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo), junto ao Bike Anjo, realizou durante a tarde uma Happy Blitz, mistura de happy hour com blitz. O objetivo foi, além de promover um encontro para festejar a bicicleta na cidade, receber informação e ajuda na manutenção das “magrelas”. A equipe da BH em Ciclo ainda distribuiu material educativo para ciclistas e motoristas que passaram pelo local. No início da noite, um telão foi instalado na praça para exibição do filme “Bikes Vs Carros” (Bikes Vs Cars, 2015), que mostra como a indústria automobilística influencia nas políticas públicas das cidades e como a bicicleta começa a mudar uma parte desse jogo. A professora de sociologia da Universidade Paris-Sobornne, Erika Almeida-Barbat, viu o documentário pela segunda vez. “Já assisti e recomendo para todas as pessoas, sejam motoristas ou ciclistas. É muito importante levar a todos a realidade de que adaptar a malha rodoviária de acordo com
o crescente número de veículos é impossível e a tendência é que essa tentativa nos conduza a um colapso. Isso é tão óbvio que eu não sei como os responsáveis pelas políticas públicas e a sociedade civil não perceberam isso ainda”. E lamenta: “Os poucos conscientes disso e que optam por alternativas além do carro, pagam com a vida. E pior: prefeito Fernando Haddad, que está ajustando São Paulo a essa realidade, pensando no futuro é hostilizado e fazem o que com ele? Pedem impeachment”.
coloca como um potencial opressor”. O Colégio Loyola e o Casa Viva, escolas da zona sul de Belo Horizonte, incentivaram os alunos, pais e professores a usar a bicicleta. No caso do Casa Viva, o colégio disponibilizou como matéria eletiva a disciplina de “Mobilidade urbana”. Para quem celebra todos os dias o Dia Mundial Sem Carro, fica o conselho da fotógrafa Natália Bandeira: “Eu moro na zona norte e trabalho na zona sul e todos os dias é a mesma sensação. Quer coisa melhor do que, durante um congestionamento você pedalar, olhar para os lados e ver motoristas estressados, exceto você, que está em movimento, que está livre?”. E se emociona: “Eu sei que não sou a única a não depender do tráfego, do preço da gasolina, a não precisar sair de casa muito mais cedo porque vai ‘agarrar’ no trânsito. Somos muitas e muitos que dependemos unicamente de nós mesmos, que somos nós nossa força motor. Tem gente que vai chegar à terceira idade sem ver a própria cidade sem um vidro de para-brisa na frente”.
Dia mundial sem carro mobiliza muita gente
Militância propõe nova visão da mobilidade urbana pensando na qualidade de vida JÉSSICA DE ALMEIDA 4º PERÍODO
Dia 22 de setembro. Além da chegada da primavera, a data está marcada no calendário de muita gente como um dia para refletir sobre o uso excessivo dos carros e a dependência criada na relação com o automóvel. O Dia Mundial Sem Carro, criado em 1997 na França, mas trazido para o Brasil em 2003, veio com a proposta de fazer com que as pessoas experimentem, ao menos uma vez ao ano, modos alternativos de mobilidade, encontrando uma nova forma de se locomover pelas cidades. É um convite a experimentar o transporte alternativo
que promete resultados positivos: melhoria da qualidade de vida, libertar o usuário e preservar o meio ambiente. O Dia Mundial Sem Carro foi celebrado no mundo inteiro e em Belo Horizonte, várias ações incentivaram o uso da bicicleta. “As cidades, as ruas, as políticas urbanistas, tudo é pensado visando o benefício de quem utiliza o carro. É como se não fosse necessário também pensar em transformações profundas no funcionamento da cidade e nas outras formas de transitar. Ao menos uma vez ao ano é preciso lembrar que há alternativas muito mais práticas, como a bicicle-
BH em Ciclo
ta”, lembra a engenheira Agatha Louzada, que usa a bike para ir ao trabalho e levar e buscar a filha na escola. CONSCIENTIZAÇÃO
A BHTrans, em parceria com a Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano instalaram, durante toda a tarde, uma Varanda Urbana (nome dado aos parklets em BH), na Avenida Afonso Pena, próximo ao Palácio das Artes. O espaço serve para mostrar que é possível compartilhar a cidade e ter momentos de descontração e descanso em um espaço equivalente a duas vagas de carros. Na Praça do Ciclista,
CONCENTRAÇÃO
À noite, centenas de ciclistas se concentraram na Praça do Ciclista, para participar da Pedalada do Dia Mundial Sem Carro. Em agrupo, cerca de 250 homens, mulheres e crianças pedalaram pelo centro e zona sul de Belo Horizonte. O designer Thiago Rodrigues Souza, 28, foi um deles. “Eu pedalo porque a bicicleta tem sido uma das minhas ferramentas para me livrar dos desejos que não são meus de verdade. Pedalar e sentir-me frágil é um exercício de liberdade e de reflexão sobre como a sedução da velocidade me
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Meio Ambiente
Lixões persistem no Estado Programa “Minas sem lixões”, criado pelo Governo do Estado, não conseguiu cumprir a meta para 2014. Pouco recurso para municípios ainda é entrave para resolver problema WINICYUS GONÇALVES 6º PERÍODO
O problema para a destinação adequada do lixo em Minas Gerais parece não ter fim. O Estado não conseguiu cumprir a meta para erradicar os lixões em todos os municípios e corre contra o tempo para regular os locais de disposição dos resíduos sólidos urbanos. Mais da metade dos municípios mineiros ainda não tem um local adequado para o lixo produzido. O Governo de Minas Gerais quer mudar o panorama de saneamento básico no Estado, especialmente com relação aos resíduos sólidos urbanos. As metas principais são a erradicação definitiva dos lixões e o gradativo licenciamento da operação dos sistemas de disposição final de resíduos tecnicamente adequados, inicialmente para os municípios com população urbana superior a 30.000 habitantes. Desde 2003, com o programa “Minas sem lixões”, criado pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), o número deles no estado passou de 828 para 312. Mas se os números parecem positivos a questão do lixo em Minas Gerais ainda está longe de ser resolvida. A meta do “Minas sem lixões”, de acabar com 80% dos lixões do estado, prevista para 2012, não foi atingida. O programa pretendia chegar a 166 lixões até o ano que vem, número inviável considerando que desde
2003 o estado conseguiu eliminar apenas 350. Com o objetivo de erradicar as formas inadequadas de disposição do lixo, incentivar a redução, reutilização e reciclagem dos resíduos, o programa desenvolve ações junto às prefeituras para implementar políticas públicas voltadas para a gestão adequada dos resíduos sólidos urbanos. “A grande dificuldade que existe é que os governos locais não entenderam ainda que é preciso lidar com os resíduos sólidos urbanos como manda a lei”, explica o gerente de resíduos sólidos da Feam, Francisco Pinto da Fonseca, apontando um dos motivos do programa estadual não ter atingido sua meta inicial. PROIBIDO POR LEI Em 2014, foi aprovada a Lei Nacional de Resíduos Sólidos que proíbe os municípios de disporem o lixo de forma inadequada. Em Minas Gerais, desde 2001, existe a Deliberação Normativa 52 do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) obrigando os municípios a adotarem formas ambientalmente corretas de disposição do lixo. Ainda assim, Fonseca lamenta que, em muitos municípios falta o interesse das atividades de cuidar dos resíduos sólidos, apesar de alguns municípios já terem sido penalizados por despejarem o lixo de forma inadequada. Quando o assunto é a falta de aterro sanitário, os números do Estado beiram o
absurdo. Segundo dados da Feam, menos da metade da população mineira (47%), ou 9,2 milhões de habitantes de zona urbana, é atendida por unidades regularizadas de deposição final de resíduos. Nessa conta entram 136 usinas de triagem e compostagem e apenas 80 municípios com aterros apropriados. A maioria absoluta convive com descarte a céu aberto (278) ou com aterros controlados (359), que são uma categoria intermediária entre o lixão e o aterro sanitário. Normalmente, ele é um lugar próximo ao lixão, que foi remediado, ou seja, que recebeu cobertura de grama e argila. “Não é mais possível suportar essa situação. Estamos tentando resolver desde 2001 e o Estado já fez tudo o que podia. Falta vontade política e pressão popular. Vários municípios com mais de 20 mil habitantes deveriam ter dado uma solução até setembro de 2010. Muitos deles já foram multados,” afirma Fonseca. DIFICULDADES Segundo o levantamento da Feam, um dos fatores que dificultam a implantação da medida é o tamanho dos municípios e os poucos recursos disponíveis. Das cidades mineiras que só tem o lixão, 95% têm menos de 50 mil habitantes. Mesmo assim, Fonseca explica que a queda no número de lixões foi significativa. Mesmo não conseguindo atingir a meta de implantação de aterros sanitários, muitas
Aterro controlado de Matozinhos não dá conta do lixo do Vetor Norte da RMBH
cidades já possuem aterros controlados, que é um passo importante para a redução dos impactos ambientais. A Associação Mineira de Municípios (AMM) reconhece o esforço do governo, mas está preocupada com a situação. Segundo o diretor Licínio Xavier, por causa de lixões ou aterros controlados cerca de 350 a 400 cidades são penalizadas. “Na Secretaria de Meio Ambiente não há receita pra tal fim. Primeiro eu tenho que implementar uma prática ambiental no município para fazer jus ao ICMS ecológico, ou seja, eu gasto primeiro para obter recurso posterior”. Xavier ainda ressalta a dificuldade dos municípios em se adequarem: “Se eles não aplicarem uma medida que contemple a questão ambiental no município, ele pode, inclusive, ficar alijado do programa de governo que garante alguma verba para destina-
ção ambiental no município”. O diretor ainda lembra que a pior situação está no Norte do estado, onde a união de esforços é um problema, por causa da distância entre as cidades. “Ou passa-se para uma empresa privada a questão da gestão do lixo, o que já acontece em algumas cidades de Minas Gerais, ou permanecendo no sistema antigo, onde o gestor cuida do lixo urbano. Ele vai ter que fazer um consórcio, por questões variadas”. Devido ao alto custo de um aterro sanitário - mais de R$ 1 milhão -, uma solução para resolver o problema dos resíduos sólidos domiciliares de maneira ecologicamente correta pode ser a adoção do modelo de consórcio intermunicipal, que une municípios para viabilizar a sua instalação e com isso reduzir seus custos de operação e manutenção. Os custos são rateados e
Gilvan Coelho
a implantação do aterro sanitário fica mais fácil. Um exemplo é o de Sabará, que já apresenta bons resultados. Ele tem capacidade para receber resíduos de 44 cidades da RMBH e foi construído para exportar uma carga de 4 a 5 mil toneladas de lixo por dia. A ausência de infraestrutura e pessoas capacitadas também tem prejudicado muito a implantação e manutenção de formas mais corretas de disposição de lixo. “O principal problema é a falta de capacitação técnica e a operacionalização destes locais. Tem municípios que têm até unidades de compostagem, mas não têm técnicos para fazer funcionar direito”, explica a pesquisadora e especialista em gestão de resíduos sólidos urbanos, Cynthia Fantoni. Segundo ela a questão da disposição adequada de lixo é muito recente para os municípios que não estão acostumados a tratar o lixo.
BH, quer recuperar o titulo de Cidade Jardim VALÉRIA CRISTINA GUIMARÃES 3º PERÍODO
Um passeio pela praça, um céu azul e o olhar atraído para o verde. Que verde? Ainda falta muito para – na opinião de antigos moradores Belo Horizonte, no passado conhecida como “Cidade Jardim”, recuperar esse título. Entretanto, recentemente o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou que Belo Horizonte é a 3ª cidade, com mais de 1 milhão de habitantes, mais arborizada do país contabilizando mais de 18m² de área verde protegida por habitante, índice 50% maior do que o indicado pela Organização Mundial da saúde (OMS) que é de 12 m². É importante lembrar que Belo Horizonte ficou em primeiro lugar na categoria “Meio Ambiente” do prêmio Connected Smart Cities - Cidades Inteligentes do Brasil. O evento foi desenvolvido pela empresa de consultoria Urban Systems, que qualifica as cidades mais inteligentes do país. Segundo Mariana Seabra, gerente de Comunicação e Meio Ambiente da PBH, os benefícios da arborização urbana para a população são muitos: “Além de contribuir com o aspecto estético das cidades, embelezamento das vias, a arborização urbana tem outras diversas vantagens, como: atenuar o calor; absorver ruídos; renovar o oxigênio do ar; filtrar as partículas sólidas em suspensão provenientes de agentes poluidores; contribuir para reduzir o efeito das enchentes, além de atrair pássaros”. Porém, há alguns inconvenientes. “Os mais comuns são as interferências na fiação elétrica – nesse caso o manuseio das árvores é de responsabilidade da Cemig; e a quebra de
calçadas, que normalmente acontece com árvores plantadas há vários anos sem o controle que atualmente é realizado”. A presença de árvores e a revitalização dos espaços verdes na capital são visíveis. Bairros como Santa Tereza, Sagrada Família e Santa Efigênia são provas disso. Ipês de diversas cores encantam os olhos de quem passa pelas ruas e aprecia sua beleza. De acordo com Mariana: “A PBH está realizando desde 2012 o “Inven-
de Arborização da cidade, que vem sendo trabalhado por técnicos desta secretaria”, informou Mariana. O investimento para tornar BH mais bonita, com plantios, manutenção e cuidados gerais não é pequeno. A responsabilidade de executar o orçamento das despesas com a arborização urbana é de cada uma das nove regionais da cidade. O programa BH MAIS VERDE, coordenado pela SMMA, que plantou 54 mil novas árvores, entre 2011 e 2015, na cida-
Flores por todo o lado embelezam vias públicas de BH
tário das Árvores” de Belo Horizonte em parceria com a Cemig, executado por técnicos da Universidade Federal de Lavras e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). O objetivo do inventário é analisar e cadastrar, de forma digital, as mais de 480 mil árvores existentes na capital, o que permitirá antecipar informações e planejar medidas preventivas quanto a segurança da arborização. Esses dados serão fundamentais para auxiliar na elaboração do Plano Diretor
Guilherme Cambraia
de, custou R$17 milhões, e o inventário das árvores, que está sendo realizado, desde 2012, está orçado em R$ 3.411.200,00, segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente. O Manual de Arborização (Cemig, 1986), chama a atenção dos moradores de cidades bem arborizadas para o valor e os benefícios ambientais e paisagísticos deste trabalho, tais como: ar mais puro e a cidade mais bela, em consequência da presença de mais árvores e espaços
verdes. Maria do Rosário Lélis, 43 anos, dona de casa, moradora do bairro Heliópolis, região norte de BH diz que gosta do seu bairro, porque “aqui as pessoas passeiam, fazem suas caminhadas e as crianças brincam respirando um ar diferenciado. Os moradores sabem da responsabilidade de cuidar das árvores”, diz ela. Moradora do bairro Sagrada Família há mais de 30 anos, a funcionária pública, Nívia Santos, 42 anos, também está satisfeita com o ambiente por lá: “Aqui posso brincar com meu filho respirando um ar mais puro e apreciar as cores dos ipês. Belo Horizonte para mim está cada dia mais bonita”. A PBH planta diversas espécies arbóreas na cidade; as mais comuns são as sibipurunas, escumilhas africanas, quaresmeiras, magnólias e ipês, pois são as mais adequadas para áreas urbanas. Além disso, a maioria delas é nativa ou já bem adaptada à região de Belo Horizonte. Mas nem todos os belo-horizontinos estão felizes quanto à situação ambiental dos lugares em que vivem. É o caso de Herbert Lincoln Telles, 79 anos, pintor, morador do bairro Maria Goretti, região nordeste de BH. Revoltado, diz: “Moro aqui há mais de 50 anos e sempre foi assim: o bairro está carente do verde, de árvores”. Segundo o site da Prefeitura de Betim, foi lançado ali, em 2014 o Plano de Arborização Urbana criado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semmad). O Plano busca introduzir espécies arbóreas em meios urbanos. Com o plantio de árvores de pequeno, médio e grande portes, que permitirão um con-
vívio mais equilibrado com a rede elétrica e outros equipamentos das vias públicas, explicou o engenheiro agrônomo e coordenador do projeto, Anselmo Ávila. Ele esclareceu ainda que a arborização melhora o percentual de infiltração das águas da chuva no solo, reduzindo o volume de escoamento superficial, abastecendo os lençóis subterrâneos e contribuindo para a diminuição de enchentes. Ávila explicou que o intuito da Prefeitura é o de melhorar o clima, criar ambientes agradáveis, diminuir a poluição visual e proporcionar qualidade de vida à população. Há tempos também foi feito esse trabalho pela Prefeitura Municipal de Contagem. O Centro Industrial de Contagem (Cinco) e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma), desenvolveram ação semelhante à de Betim em parceria com o Programa de Arborização de Contagem, que proporcionou a melhoria da qualidade ambiental e o embelezamento da paisagem. O Cinco, juntamente com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), realizou um diagnóstico nos distritos industriais e os próprios empresários identificaram a necessidade de melhorias na infraestrutura existente. O programa visou também a humanização e o bem estar dos trabalhadores dos distritos, de modo que eles pudessem ter melhor qualidade de vida. A implantação do programa no período de chuvas proporcionou melhor aproveitamento das mudas. Segundo o biólogo, Eduardo Eustáquio de Moraes, para elaboração do projeto foi realizada uma análise do local a ser arborizado e das características das espécies a serem utilizadas.
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jornalmarcoedição316outubrode2015 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapuc
Meio Ambiente
ANABELLA MENDES NATÁLIA ALVES 1° PERÍODO Minas Gerais tem um dos conjuntos mais notáveis e bonitos de Parques Estaduais. Eles são o destino de quem deseja conhecer as belas paisagens mineiras e desfrutar das cachoeiras, trilhas e outros atrativos oferecidos. O responsável pela preservação dessas unidades é o Instituto Estadual de Florestas (IEF), desde a inauguração de sua primeira unidade, o Parque Estadual do Rio Doce, em 1944. Henri Collet, diretor de Áreas Protegidas do IEF, informou, porém, que no Estado o número de unidades de conservação é inferior ao recomendado. “Nossas unidades de conservação hoje são até muito poucas, há apenas 1% da área do Estado e já deveria ter em torno de 10% com proteção integral”. Collet esclarece que existem projetos para a expansão dos parques, como é o caso da unidade Veredas do Peruaçu, que
está em processo de recuperação das áreas de mata seca e proteção das lagoas que sofreram com problemas que vieram desde os anos 70, de intervenções nas várzeas. Ele também explica que é fundamental que o publico conheça e visite as unidades, pois elas são importantes para a educação ambiental. Entre os parques, 13 deles são abertos a visitantes possibilitando pesquisas científicas, atividades de educação e proteção ambiental, turismo ecológico e também recreação em contato com a natureza. Os Parques são uma categoria de conservação que se destaca por proteger importantes espécies de fauna e flora, muitas delas ameaçadas de extinção, e permitir o uso turístico. PREFERIDOS
Um dos parques mais visitados é o de Ibitipoca, localizado na Zona da Mata entre os municípios de Lima Duarte e Santa Rita do Ibitipoca. Uma de suas frequentadoras é Gionete Evangelista que
Nos parques, diferentes paisagens encantam os visitantes
Parques são boas opções de lazer Em várias regiões de Minas, turistas encontram belas áreas para lazer e esportes junto à natureza
A principal atração do Parque do Ibitipoca são as belas cachoeiras
afirma que as belezas naturais e o povo hospitaleiro é um dos motivos para indicar a visita ao parque. Ela conta que fez a visita em companhia de amigos e que os dias no local fo-
Evandro Rodney
ram agradáveis. “Algumas cachoeiras são de fácil acesso e conhecemos sem auxilio de guias; outras – acho que as mais bonitas – pagamos um guia que nos levou em um carro. O
Evandro Rodney
lugar é maravilhoso.” O Parque do Sumidouro, situado nos municípios de Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, tem atraído um número elevado de visitantes. As ativida-
des oferecidas envolvem trilhas, visita à gruta da Lapinha, museu e escaladas – um esporte que exige prática e equipamento próprio para realização. Já o Parque Estadual do Rio Doce na região do Vale do Aço é o terceiro maior ecossistema composto por lagos do Brasil e possui um herbário para identificar as espécies, principalmente através de análises de suas características morfológicas. Cada parque conserva um pouco da riqueza natural de Minas Gerais e o trabalho de proteção dessas áreas é realizado em parceria com os municípios.
No Lago Dom Helvécio, no Parque do Rio Doce, é possível andar de barco
Evandro Rodney
PUC preserva mata e faz educação ambiental CÁSSIA DE ALMEIDA 2° PERÍODO
Se você nunca foi à Mata da PUC Minas, bem atrás do Museu de História Natural da Universidade, não sabe o que está perdendo: é um lugar lindo, agradável, especialmente nestes de dias de calor intenso. A mata é um exemplo de “floresta” urbana que ocupa uma área aproximada de 67 mil metros quadrados. Trata-se de remanescente da cobertura vegetal, preservada, da antiga Fazenda Pastinho, que cedeu lugar a um Seminario da Arquidiocese de Belo Horizonte. O seminário tornou-se, em 1958, o campus do Coração Eucarístico da PUC que, desde então, cuida com muito carinho dessa área. A Mata da PUC é um exemplo de reserva natural, preservada em ambiente urbanizado, e um reduto da universidade que funciona como banco genético de espécies nativas, espaço
de desenvolvimento de atividades acadêmicas de ensino, pesquisa e extensão, principalmente para os cursos de arquitetura, ciências biológicas, educação física e geografia. É também utilizada, pelo Museu de História Natural e os cursos de ciências biológicas, para trabalhos de educação ambiental. Constitui, paralelamente, um espaço para o desenvolvimento de projetos de extensão e de outros que visam levar as pessoas a apreciar a natureza e a valorizar a contemplaçao, o que é muito importante, hoje em dia, na opinião de alguns ambientalistas. Devido à sua localização, não há a possibilidade de a matinha expandir-se; assim sendo, as intervenções da PUC visam preservá-la e os recursos que ela conserva. Por exemplo uma microbacia hidrográfica que ocupa parte do campus e do seu entorno. Um riachi-
nho que a compõe corre por cerca de 50 metros dentro da mata, o que aumenta sua importância dela na manutenção deste manancial e de uma lagoa ali existente. Árvores e arbustos protegem o leito do córrego e da lagoa contra o assoreamento e a erosão, além de contribuirem para melhorar a infiltração de água no solo e para a própria qualidade da água. Os moradores da vizinhança às vezes nem percebem a influência positiva da matinha em s=ua qualidade de vida: ela ajuda a amenizar a ilha de calor que por ali se forma, causada por vários fatores, entre eles a grande circulação de veiculos. SEM RISCO O professor Miguel Ângelo, chefe do Departamento de Ciências Biológicas da PUC, diz que “os alunos, colaboradores e professores do curso de Ciências
Biológicas adoram a matinha, que este sentimento alcança grande parte da comunidade acadêmica da PUC Minas. Não são raras as manifestações de apoio no sentido de conservá-la. Por isto mesmo e pelo valor que a área tem, a PUC Minas tem cuidado muito bem deste patrimônio”. Quanto à possibilidade de a área deixar de existir para uma eventual expansão de prédios da Universidade, o professor Miguel acha esta ideia totalmente descartável, observando que, “hoje a perda de espaços naturais conservados para a ocupação urbana é resultante de uma competição sem propósitos, sem pensar na qualidade de vida de forma sistêmica. Não há sentido em ações desse gênero, que vão contra a conservação de áreas verdes em locais delas carentes, sobretudo em se tratando de espaços como a Mata da PUC Minas, de múltiplos benefícios. A co-
munidade acadêmica e o entorno são privilegiados.” A Pró-Reitoria de Infraestrutura e Logística e o Curso de Ciências Biológicas são os responsáveis diretos pelos cuidados e mediação de uso da Mata. O desenvolvimento rotineiro de atividades práticas, educativas e investigativas através dos trabalhos promovidos pelas disciplinas do curso são voltados, especialmente, para a conservação dela. Além disto,
melhorias de infraestrutura são sempre feitas pela PUC Minas, a exemplo da manutenção de vias, dos aceiros, da limpeza e sinalização. Um trabalho de sensibilização e de educação ambiental está sendo desenvolvido com a comunidade interna e externa do Campus Coração Euscarístico para evitar que a Mata seja prejudicada com a disposição inadequada de lixo e qualquer outro ripo de degradação.
Trilhas da Mata: bom lugar para caminhadas
Guilherme Cambraia
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jornalmarcoedição316outubrode2015 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapuc
Campus
ISABELA PINHEIRO 4º PERÍODO
A terceira edição do Festival de Comunicação e Artes (Fica 13) trouxe como novidade o tema “Democracia e Diversidade Cultural”. O evento, que acontece uma vez por ano, promove o encontro entre aqueles que ainda estão em formação acadêmica e os profissionais já atuantes no mercado de trabalho. Participaram alunos de jornalismo, publicidade e propaganda, cinema e audiovisual e relações públicas, nos três turnos letivos. Nos dias 7 e 8 de outubro, a Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) recebeu oficinas e palestras que incrementaram o debate da diversidade, além de apresentações culturais e shows. Também fizeram parte da programação atividades promovidas pelos alunos, como o Sarau de Todos, na tarde do primeiro dia de Festival. Para o professor Ercio Sena, coordenador de Comunicação Social da FCA, “a ideia é que a diversidade seja celebrada e que a escola confraternize com isso”. Segundo ele, foram enviadas aos promotores 200 sugestões de atividades, que culminaram na escolha das 70 que foram oferecidas. “Isso significa que houve uma participação este ano muito mais intensa de alunos e de professores”. Com o objetivo de aproveitar melhor o espaço da FCA e integrar os debates aos locais frequentados pelos alunos, foi montada uma feira ao lado do Prédio 13. O lugar conhecido entre os estudantes como “prainha”, recebeu barracas de artesanato, roupas, pulseiras, colares, bolsas, carteiras e comida. Havia também uma tenda para shows durante os dias do evento. “A ideia das barraquinhas na prainha foi dos próprios alunos, para aproveitar um lugar que eles já exploram”, esclarece o professor Ercio.
Fica 13 discute diversidade e a democracia Os cursos da Faculdade de Comunicação e Artes foram contemplados com palestras, oficinas e apresentações artísticas, que debateram o tema de maneira não convencional
Na prainha, era possivel comprar peças artesanais e assistir aos shows
Guilherme Cambraia
Cultura africana presente no Brasil A palestra “Um Brasil de tantas Áfricas”, de Luiz Antônio Simas, historiador carioca, fez sucesso na noite do primeiro dia do Fica 13. O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro estuda a cultura africana após a abolição da escravatura, no Brasil em 1988. Dentre as coisas mais interessantes que ele abordou, está a história das escolas de samba. Reprimidas simbolicamente devido ao projeto de branqueamento cultural, após a abolição, e também na prática, através da repressão, as escolas foram obrigadas a buscar uma alternativa para propagar sua fé e princípios. Simas contou que, apesar de sambas-enredo que proclamavam a cultura branca (como o do Império Serrano que homenageava a Marinha de Guerra), havia uma forma subliminar de consagrar a escola a um orixá (divindade da cultura africana): o ritmo. Cada orixá tem um ritmo próprio, com expressão musical singular. Devido a essa homenagem, Simas diz conseguir identificar grupos carnavalescos apenas ouvindo-os. Durante a palestra, o historiador contagiou o público ao demonstrar ritmos e cadências batucando na mesa e no próprio corpo. Como alerta, o professor destacou que a inclusão da história da África no currículo escolar é perigosa. Segundo ele, corre-se o risco de olhar uma cultura riquíssima de modo colonial, como algo inferior e que, por isso, precisa ser protegido. Para Simas, o conhecimento e história africanos não deixam a desejar diante das grandes conquistas do Ocidente, pois sua arte e saberes são de “estética arrojada e filosofias altamente interessantes”.
Fica 13 atrai alunos com jornalismo esportivo DÉBORA ASSIS 4º PERÍODO
Dentro da proposta de diversidade cultural, os alunos de Comunicação tiveram oportunidade de apreciar palestras e oficinas que abordaram o esporte e os desafios de sua cobertura. O professor de pós-graduação da Universidade de Sorocaba, Felipe Lopes apresentou e debateu o tema “A construção da Paz no Futebol: outro olhar sobre as torcidas organizadas”. Ele problematizou o fato de as torcidas organizadas não terem “voz” na construção de políticas públicas que envolvam eventos futebolísticos. Inicialmente, o professor contextualizou a violência no futebol brasileiro. Segundo ele, esse
é um problema que existe desde a chegada do esporte ao país, mas tem crescido de forma numérica e qualitativa. Lopes afirmou que os meios de comunicação fazem uma cobertura reativa da violência no futebol, ou seja, não garantem “as pluralidades dos pontos de vista”. Os torcedores raramente são ouvidos, o que dificulta a criação de um diálogo mais democrático. O professor comparou as torcidas de futebol do Brasil às de países como Inglaterra e Alemanha. Neste último, Lopes disse que há um grande controle e elas são acompanhadas por assistentes sociais e educadores. É que o país investe em projetos para torcedores desde 1980. “Se as torcidas participassem na constru-
dores trazem para a programação e que ajudam a quebrar o “caretismo” da TV. Maíra ainda lembrou que o amor e paixão pelos times de futebol devem ser deixados de lado, quando se faz jornalismo esportivo, porque, infelizmente, os repórteres ainda sofrem violência por parte das torcidas quando assumem seus times. Ela também debateu o preconceito contra a mulher no esporte e afirmou já ter escutado comentários machistas. Maíra Lemos é ex-aluna dos cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo na PUC Minas. Sobre participar do Fica 13, ela disse que é muito importante a presença de profissionais, que estão no mercado, em palestras e oficinas para os alunos do curso. “Na minha época de es-
tudante, eu escutei muita gente em boas palestras, o que me ajudou na tomada de decisões,” relembra. Eliza Dinah, aluna do 4º período de Jornalismo, gostou das atividades dos dois dias, porque “o esporte [o conteúdo] é muito pequeno ainda e o Fica 13 trouxe essas pautas com personagens muito interessantes”. Para ela, a presença de Maíra Lemos atraiu até mesmo quem não gosta de esporte, porque suas dicas abrangeram o jornalismo em geral. “Foi uma experiência para quem quer atuar na área de esporte e quem não quer também. No meu caso, que não curto muito o futebol, a experiência que eu tive abriu outros caminhos,” completa a aluna.
A dança movimentou professores e alunos no Fica 13
Davi França
ção [democrática] das normas, haveria maior chance dessas regras serem respeitadas,” concluiu Lopes.
DESCONTRAÇÃO Já a apresentadora do Globo Esporte, Maíra Lemos, discutiu o “Jornalismo Esportivo de TV”. A jornalista atraiu um grande público para a sua oficina e, de forma descontraída e solta, falou sobre o processo de produção do jornalismo esportivo na TV. Ela detalhou momentos da profissão, contando suas experiências e fazendo uma linha do tempo sobre o dia a dia do repórter e o de um apresentador. A linguagem do esporte é mais “solta” do que no jornalismo em geral. Espontaneidade é uma das características que alguns apresenta-
Na falta de palavras, dance MIRNA DE MOURA 5º PERÍODO
A comunicação vai muito além da fala, da verbalização. Ela permeia todas as relações humanas, de forma diversificada. Está presente no olhar, na expressão corporal, nos movimentos, nas obras de arte, na música e mais. É assim que a bailarina e professora de dança Joelma Barros abriu sua oficina “Dança é comunicação” no Fica 13 deste ano. Descalços, os vinte participantes da oficina, sentados em roda, contaram as suas relações com a dança. Os depoimentos são variados, uns dançavam há muitos anos, inclusive profissionalmente,, outros só em festa e alguns raramente. Folhas em branco e canetas azuis foram entregues para que cada um escrevesse o que, na opinião deles, é dança e comunicação. Após a atividade, Joelma convidou-os a caminhar aleatoriamente pela sala ao som de Is This Love, de Bob Marley. A prática começou tímida e desanimada. Lentamente o
pessoal foi entrosando e sem perceber todos se moviam de maneira descontraída ocupando todo o ambiente. “O movimento é algo amplo, composto por todos os sentidos: olfato, audição, visão, tato e paladar. Precisamos dele para tudo. Movimento é dança”, afirma Joelma. “Todos esses sentidos “acontecem” através da pele, maior órgão do corpo humano. É a divisão entre o externo e o interno, uma membrana porosa que nos comunica com o mundo. Por ela absorvemos e transmitimos o tempo todo informações”, continua a professora. As atividades práticas da oficina trabalham todos os sentidos: uma hora os participantes fecham os olhos e noutra se olham fixamente; o mesmo aconteceu com o tato. A leitura corporal é formada por símbolos, assim como letras em um alfabeto. Porém se diferenciam no sentido da materialidade: os símbolos corporais são apenas sentidos e não tem representação física. Essa leitura, às vezes, é chamada de sexto sentido, já que pode também ser per-
cebida, assim como a voz é ouvida. “A dança é uma comunicação mais ampla, já que trabalha com todos os sentidos ao mesmo tempo. É uma ferramenta. Assim como o poeta usa as palavras, o dançarino usa o corpo para produzir sentido”, diz Joelma. E a relação dança-comunicação? Assim como a primeira é múltipla, a comunicação varia a partir do ponto de vista;“eu olho a vida através da dança”, comenta Joelma. Ela explica que a dança é a manifestação da vontade de se movimentar, seja para comemorar, extravasar, provocar risos, ou seja, para produzir e interpretar sentidos, assim como a fala. Isso se aplica também às obras de artes. Um artista pinta um quadro à partir de uma vontade prévia de expressar algo, e o observador desse quadro o interpretará de acordo com suas experiências pessoais, provocando uma interação.
DANÇA É MANIFESTO A dança assume, muitas vezes, papel de expressão
de uma identidade cultural. Isto se aplica ao movimento black soul, iniciado nos Estados Unidos na década de 60 como resposta as repressões raciais e sociais. Através da música e da dança afirmavam a abafada cultura negra, surgindo daí os movimentos sociais do orgulho negro, que até hoje lutam por direitos e tratamentos iguais pela sociedade e autoridades. Cabelos black power, ternos de risca de giz e sapatos bicolores distinguem os dançarinos do
grupo belorizontino Quarteirão do Soul, que abriram e encerraram o Fica 13 com duas apresentações. Assim como os negros, os homossexuais e os travestis também sofriam, e sofrem ainda, forte segregação social, em várias partes do mundo. Nos EUA suas comunidades foram segregadas nos bairros de periferia das grandes cidades. Daí surge o movimento Vogue nos anos 80, também contemplado pelo Fica 13. Os gays ao se assumirem
eram expulsos de casa pelas famílias e iam morar juntos numa espécie de república. Essas casas competiam entre si através da dança criando um estilo próprio, mais tarde chamado de Vogue, como a tradicional revista de moda. Ganhou força quando a cantora Madonna lançou uma música de mesmo nome, que funcionou como um manifesto, chamando atenção internacional para essas comunidades.
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jornalmarcoedição316outubrode2015 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapuc
Comunidade
Bairro ganha benfeitorias Centro de Saúde do Dom Cabral dribla problemas e corresponde às expectativas dos moradores. Novas demandas da comunidade podem ajudar na melhoria da unidade LOREN SANTOS JAMILLY VIDIGAL 1° E 5° PERÍODOS
O Centro de Saúde Dom Cabral tem superado problemas para atender melhor às comunidades dos bairros Dom Cabral, Coração Eucarístico e parte do João Pinheiro e Dom Bosco. A nova unidade foi inaugurada em setembro de 2014, após passar por uma reforma estrutural de acordo com o padrão de serviços de saúde de Belo Horizonte. Agora, o novo desafio é adequar sua agenda para atender as demandas espontâneas e emergenciais. Após sua inauguração, o Centro está apto a receber em média 300 pessoas por dia. O atendimento é oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e conta com uma equipe composta por 70 profissionais, divididos entre clínicos gerais, ginecologistas, pediatras, enfermeiros, entre outros.
As novas instalações foram melhoradas para responder a demandas de consultas, odontologia, eletrocardiograma e farmácia. Além disso, o Posto possui três equipes do PSF (Programa Saúde da Família) e a equipe do Nasp (Núcleo de Apoio à Saúde da Família), que dão suporte comunitário para além das consultas médicas. Programas como o pré-natal, por exemplo, envolvem tratamento psicológico, nutricional e odontológico. A unidade de Saúde também está vinculada à academia da cidade, onde as pessoas são atendidas por um educador físico. NOVAS DEMANDAS São 15.540 habitantes sob responsabilidade, em termos de saúde, do Centro do Dom Cabral. Segundo a gerente, Silvana Ferreira, o feedback da comunidade é positivo, mas a única dificuldade é a conciliação
dos atendimentos. “Muitas vezes, as pessoas querem que a gente funcione como unidade de urgência. Como a unidade cresceu e ficou ampla, as pessoas acham que aqui é hospital. Logo que a gente mudou para cá, as pessoas me paravam para perguntar se aqui já estava internando”. A administração busca formas flexíveis de lidar com o problema: “Por outro lado nós não deixamos de avaliar nenhum caso, por mais que não estejam programados, a equipe se organiza para acolher aquela demanda, o que acaba desorganizando nosso atendimento programado”. Já de acordo com o membro da Comissão Local de Saúde, Hélvio Reis, ainda há muito a se fazer. É cobrada da Prefeitura a melhoria dos serviços odontológicos, pois apenas uma, das três cadeiras disponíveis para tratamento dentário, está em funcionamento. “No dia
Apesar da crescente demanda, estrutura do Centro é elogiada por moradores
15 de setembro foi dia da reabertura das marcações de consulta e teve tumulto do lado de fora do Posto. Houve confusão para marcar com dentistas, um descontentamento total com a indisponibilidade de marcação e as poucas senhas que foram distribuídas”, conta Hélvio. A segunda maior demanda está relacionada à farmácia, já que muitos dos medicamentos mais procurados estão em falta. Além disso, Hélvio pontua que não há auxílio para o desjejum dos pacientes que se submetem à coleta de sangue. O lanche distribuído é uma iniciativa da gestora do Centro de Saúde, que conseguiu doações de padarias da região. “Nós temos
uma gerente muito boa, que sabe contornar as situações. A vontade de fazer existe, mas não tem como a Silvana fazer tudo”, afirma. Apesar dos problemas apontados, Hélvio acredita que a situação do Posto de Saúde é satisfatória. “De modo geral, nós ainda temos que pôr as mãos para o céu, porque há postos de saúde na nossa regional com situação pior”. PARTICIPAÇÃO As reuniões da Comissão Local de Saúde acontecem na primeira segunda-feira de cada mês e são abertas para todos os moradores do bairro. O intuito é reunir as demandas e críticas para melhorar o funcionamento do Centro de Saúde. Po-
Guilherme Cambraia
rém, segundo Hélvio, a participação da comunidade é insuficiente. “A frequência da comunidade é pequena. A nossa média é de 12 pessoas por reunião, contando com a gerente, geralmente quatro funcionários e a comissão. Mas o usuário, que é o principal interessado, não vem.” Ele destaca que o problema não é a falta de divulgação mas, sim, o desinteresse dos moradores: “A divulgação existe, mas as pessoas não leem os cartazes. Nós da comunidade fazemos o que podemos. Divulgamos às vezes na igreja, eu também tenho uns panfletos que às vezes distribuo, indicando local, dia e horário da reunião”.
Festa celebra 50 anos do bairro Dom Cabral
Festa do cinquentenário contou com presença de moradores de várias gerações MIRNA DE MOURA 5° PERÍODO
A amizade é o principal motivo que reúne os moradores do Dom Cabral. O ambiente do bairro parece o de uma família. Quem anda por lá percebe essa atmosfera. Dessa união, surgiu a organização de uma festa para comemorar os 50 anos do bairro. O encontro, realizado no dia 26 de setembro na Praça da Comunidade, contou com
Mirna de Moura
a presença de pessoas de várias gerações. Dona Mariinha, de 81 anos, acompanhada da filha Ilainda, vendia pipoca em uma das barraquinhas. Ilainda, quando necessário, acompanha a vizinha Emília de Castro, de 84 anos, que mora sozinha, ao médico e para fazer exames. “Quando vim de Oliveira não conhecia ninguém, aqui fui acolhida e fiz novos laços de amizade. As minhas vizinhas têm a chave da minha casa, entram lá a
Praça precisa ser melhorada LUANA ISABELLY SANTOS SILVA 2º PERÍODO
A Praça da Comunidade, situada no Dom Cabral, possui duas quadras de esportes, uma de futebol e outra de peteca, com um banheiro e jardins. Mas, nos últimos meses, ela parece abandonada e esquecida pelo poder público. De acordo com o vice-presidente da Associação de Moradores, Maurício Antonio de Sales,
o banheiro e as quadras estão danificados, com “telas rasgadas e os pisos com muitos buracos”. Segundo ele, a revitalização da praça já foi incluída no Orçamento Participativo, o projeto assinado mas a reforma ainda depénde de liberação pelo prefeito Márcio Lacerda. A praça passa por problemas há muito tempo. A última obra realizada foi em 2001. Há três anos, uma empresa de telefonia restau-
rou os bancos e fez a pintura do local. Hoje, ela é segura mas, há três anos, houve no local uma série de assaltos, assustando os moradores. De acordo com a Gerência Regional de Orçamento Participativo da Prefeitura a obra está incluída na refórma do Complexo Esportivo, que existe ao lado da Praça. Ela engloba a construção de uma arquibancada, troca de alambrado, recuperação parcial do piso das quadras,
hora que querem”, comenta Emília. O bom filho à casa retorna. Guilherme Pontes, ex-professor da PUC Minas, morou quando jovem durante sete anos no bairro. Mudou-se para outra região da capital e depois de 15 anos voltou a residir no Dom Cabral. “Voltei por causa dos amigos, as amizades que eu fiz foram duradouras, mesmo depois de sair daqui eu mantive contato”, justifica Pontes. O evento, realizado pela Associação de Moradores e Amigos do Bairro Dom Cabral em parceria com a Paróquia e a Creche Bom Pastor, foi patrocinado por comerciantes do entorno. O deputado João Vitor Xavier (PSDB) e o vereador Juninho deram apoio, através de suas logomarcas no material gráfico que anunciava a festa. Os comes e bebes ficaram por conta dos moradores, que juntamente com a associação alugaram as barracas, prepararam e comercializaram tudo. Foram vendidos espetinhos, bebidas e doces tipicamente mineiros. Apesar da grande presença de adultos e idosos, a trilha sonora era dominada por músicas e ritmos do agrado dos mais jovens.
CONQUISTAS A comunidade possui um histórico de lutas, reivindicações e vitórias, a contar do drenagem e reforma da iluminação. O projeto básico já foi aprovado e não há previsão de licitação da obra porque ainda falta finalizar o projeto executivo.
HISTÓRIA O bairro Dom Cabral abriga cerca de 4.000 moradores, segundo a Prefeitura Municipal. Antes, na região havia uma enorme fazenda, o que começou a mudar com a construção de um seminário, em 1926. O seminário deu lugar à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em 1958.
surgimento do bairro. Nascida no Dom Cabral, Ilainda, de 45 anos, atua desde a juventude pelas questões do bairro. “Hoje, onde é a quadra e a Praça da Comunidade, era um monte de terra. Nós, moradores, e os jovens da paróquia, cantávamos para arrecadar dinheiro para terminar a praça, até os tijolos assentamos. O calçamento das ruas também saiu do bolso dos moradores, cada um pagava uma pequena taxa”, afirma. A presença da Paróquia Bom Pastor foi fundamental para o desenvolvimento do local. O primeiro pároco, padre Pedro, está presente na memória dos moradores que, até hoje, lembram seu trabalho e espírito de liderança, tomando a frente dos problemas do bairro. “Antigamente só tinha uma linha de ônibus, faltava asfalto e nem sinal de igreja. Padre Pedrinho que começou com as melhorias no bairro, junto com a associação”, lembra Emília. Após esses muitos anos de reivindicações e lutas da comunidade, o Dom Cabral se transformou. “O bairro hoje é tudo de bom, tem tudo aqui, supermercado, sacolão, vários ônibus e muitas outras coisas. O melhor lugar pra se viver e quero continuar a morar aqui”, afirma orgulhosamente Ilainda.
O interesse por parte da cidade aumentou em relação à área e, algum tempo depois, o governo do Estado construiu um conjunto de casas para receber funcionários públicos e estudantes. Tornou-se bairro com o nome do bispo Dom Cabral, que fundou o seminário. Foi ali que nasceu um dos primeiros conjuntos habitacionais do Brasil. Hoje, 50 anos depois, o que não faltam são histórias para contar. Como a da moradora e pedagoga da creche Bom Pastor, Galdina Machado da Silva: “Aqui sou conhecida
como fada do dente. Sempre que alguma criança que extrair algum dentinho, logo me procuram. E para mim, que moro aqui há bastante tempo, o que sinto pelo bairro se resume a seis palavras: é o complemento da minha vida”. O comerciante Wander Paulo Nepomuceno, morador há 24 anos, diz que sempre conviveu muito bem com os vizinhos, pois o clima de cidade de interior faz com que a harmonia predomine no local.
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Comunidade / Economia
SCAP tem grande adesão de público A comunidade acadêmica e os moradores do entorno da unidade da PUC São Gabriel aproveitaram intensamente as atividades da Semana de Ciência, Arte e Política. Palestras e oficinas enfatizaram a humanização dos contatos interpessoais ANA CLARA SALES SCAVASSA 7º PERÍODO
A Scap (Semana de Ciência, Arte e Política) da PUC São Gabriel, ofereceu à comunidade interna mais que palestras e mesas redondas entre 31 de agosto e 5 de setembro. A inovação deste ano foi a Scap Of, parte do evento constituída por oficinas. O Nesp (Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas) foi o principal parceiro do evento e ofereceu oficinas de formação voltadas aos alunos da universidade. Bruna Miranda, 21, estudante de jornalismo, participou da oficina de tear chileno, que ensinou técnicas para o uso e manuseio do tear, uma técnica milenar, presente em diferentes civilizações e diferentes culturas. “Uma lição que tirei disso, dessa experiência, é de que a gente tem que ter muita paciência. Sou uma pessoa meio estabanada, então, foi bom pra eu aprender a trabalhar isso, daqui pra frente; ou seja, ter mais paciência com tudo”, observou a estudante. A oficina foi ministrada por Raquel da Imaculada Conceição, que aprendeu a técnica com chilenos. Ela tem mais de 25 anos de experiência e comercializa todas as suas peças no estado. Desenvolvida por Henrique Cacique, graduado
em publicidade e propaganda pela PUC Minas e técnico do laboratório de fotografia, a oficina de criação de luminárias também foi bem procurada. Seu principal objetivo era a criação de objetos com materiais reutilizáveis. A construção das luminárias é feita com a reutilização
contato, tocar o material. Foi importante porque esses materiais são reutilizáveis”, disse Mariana Radichn, estudante de direito. MOMENTO POLÍTICO Outro momento de destaque do evento foi a palestra sobre a conjuntura política nacional, dada
e bastante descontraído, nós tratamos de entender o que está acontecendo no país, no plano federal. Tentamos compreender qual é o papel que a mídia tem exercido nessa realidade, nesses jogos políticos que vem sendo estabelecidos nos últimos anos”, informou Claude-
mações corretas e souber de que maneira tem que analisá-las.” Pensando em estender os benefícios à comunidade externa, foi criada a Scap Lá&Cá. O objetivo das oficinas de extensão foi aproximar a comunidade da universidade, e proporcionar aos alunos oportunidades de humanizar tal convivência, através da compreensão mais próxima da comunidade do entorno da escola. O projeto de extensão contou com mais de 20 oficinas, que foram oferecidas dentro e fora da PUC São Gabriel. A oficina de Finanças e Investimentos, por exemplo, orientou os participantes da comunidade
Nas oficinas, um pouco de filosofia: tecer os fios é como entrelaçar relações
de pallets, que são descartados pelo transporte de cargas. Com isso, os participantes realizaram, ainda, uma discussão sobre o reaproveitamento de outros tipos de materiais. “Eu resolvi dar prioridade para essa oficina, porque ela ofereceu uma prática mais artesanal, em que eu pude ter maior
por Claudemir Francisco Alves, professor de psicologia da PUC São Gabriel e doutor em Literatura Comparada. “Primeiramente, discutimos o que é necessário para se fazer uma análise de conjuntura, que tipo de informações as pessoas precisam ter. Em seguida, por meio de debate amplo
mir Francisco Alves. Ana Luiza Bongiovani, estudante de jornalismo, interessou-se pelo modo como foi discutido o tema. “Eu achei que foi muito interessante a postura do professor com relação à questão. Para ele, qualquer pessoa pode ser capaz de fazer uma análise se ela tiver as infor-
Daniela Soares
a ter maior controle das suas despesas pessoais, estimulando ações de economia e investimentos. “Eu acho importante uma proposta de aproximar a universidade do projeto social comunitário. Essas ações precisam muito de parcerias e assim, a gente acaba estreitando a relação com a universidade”, disse Gilmar Batista, co-
ordenador do Projeto Cidadania. Eliane Rosa, aluna da oficina de extensão, acha importante participar porque ajuda no ingresso ao mercado de trabalho. “É uma forma de conhecimento e também aprendizado. Outro motivo por que participo é pelas oportunidades de emprego que exigem muito um curso. Para os demais, especialmente os adolescentes, é uma forma de não ficar nas ruas, sem ter o que fazer”, afirmou. SUSTENTABILIDADE
Conscientizar as pessoas sobre a sustentabilidade na agricultura foi o objetivo da oficina “Plantar e Colher: uma atitude política”. O principal foco dos ensinamentos foi mostrar a importância da plantação e colheita próprias, tendo o cuidado para não degradar o ambiente. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a agricultura familiar já é uma realidade, de acordo com Júlia Machado Amaral, membro da Amau (Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana) que coordenou a oficina. “A agricultura urbana tem forte vinculação com a questão ambiental, a agroecologia. Aqui mostramos como é negativo o uso dos agrotóxicos e a possibilidade de produzir alimentos sem eles. Agricultura e ecologia promove o bem estar e garante uma qualidade de vida bem melhor, trabalhando corretamente a terra e tendo prazer nesta ação,” disse Júlia. No encerramento da Scap, “A hora do chá”, houve um encontro das comunidades tradicionais quilombola, cigana e indígena, colocando em contato diferentes culturas no âmbito universitário.
Notas rasgadas podem ser aproveitadas BRUNO DE ASSIS 2º PERÍODO
destruirá as cédulas deterioradas.
são recebidas e depois trocadas no banco. Já na Panificadora Coração Eucarístico, que fica ao lado, as notas com algum tipo de problema não são aceitas. Na banca abaixo da passarela da Estação de Metrô Gameleira, as notas são aceitas, desde que não estejam danifi-
DUREX O que fazer com uma cédula rasgaOs comerciantes da região do Corada? Esta é uma pergunta que poucas pessoas sabem responder com proprie- ção Eucarístico têm diferentes formas dade. Elas, no geral, não dão muita im- de agir quando recebem notas danifiportância a esse fato quando ele ocor- cadas. Na Papelaria Opção, as cédulas re. O uso da intuição ou do “achismo” é o mais comum nessas situações. Entretanto, o Banco Central tem instruções sobre o que deve ser feito. Toda cédula que possui uma parte da superfície rabiscada, queimada ou com rasgos deve ser retirada de circulação. Ela deve ser entregue à rede bancária que a enviará para análise técnica e fornecerá um recibo. O Banco Central, então, irá estabelecer se a nota ainda tem valor ou não. As cédulas mutiladas, com mais da metade de sua superfície danificada, não tem mais valor. Mas, qualquer nota que esteja com menos da sua metade danificada pode ser trocada por Cédulas danificadas até a metade ainda podem circular outra nova. Feito isso, o Banco Central
Guilherme Cambraia
cadas em demasia. Segundo a vendedora, é muito comum que os clientes, quando estão com pressa, danifiquem as cédulas de alguma maneira. Já no chaveiro da Rua Coração Eucarístico de Jesus, a rotina é colar as notas rasgadas com durex. Alguns vendedores de pequenos estabelecimentos afirmam não saber como proceder nessa situação. Na Estação de Metrô, a situação foi bem diferente: os vendedores, não sabendo o que fazer, de acordo com o Banco Central, agem segundo o que lhes parece certo, ou seja, não aceitam a nota danificada. Isso, entretanto, não afeta, efetivamente, o processo de troca de mercadorias. Como a maioria das pessoas não observa o estado de conservação das notas, elas circulam normalmente por bastante tempo, antes de serem enviadas ao Banco Central para destruição.
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Leitura
Biblioteca na praça atrai público Projeto Santa Leitura combina o prazer de ler bons livros com o belo e tranquilo ambiente das praças de Belo Horizonte. Ali se desfruta de paz e tranquilidade, indispensáveis à leitura DÉBORA ASSIS 4º PERÍODO
No primeiro domingo de cada mês a Praça Duque de Caxias, no bairro Santa Tereza, fica repleta de livros por todos os lados. É o Santa Leitura, que transforma o local em uma biblioteca a céu aberto. O projeto existe desde 2010 e foi idealizado pela artista plástica Estella Cruzmel. A artista plástica conta que resolveu investir no projeto por uma experiência pessoal. “Eu nasci e cresci em fazenda, então não tinha livro, não tinha escola, não lembro nem de um papel para escrever,” brinca. “Eu não adquiri o hábito da leitura, toda a vida eu li com dificuldade,” completa. Estella relata que o projeto nasceu no fundo de sua loja de roupa feminina. Em princípio, a ideia era emprestar os livros apenas aos clientes e ela aproveitava os intervalos para ler, adquirindo paixão por isso: “Quando eu vi pessoas de outros bairros buscando os livros, levando aos vizinhos
e parentes, eu pensei: olha, a necessidade que eles têm é a mesma que eu tinha de livros”. Em 2012, fechou a loja por motivos de violência e decidiu levar o projeto para as praças. LIBERDADE TOTAL
Com um público diversificado, de “zero a 100 anos de idade,” como diz Estella, a Praça Duque de Caxias, por ser um ponto turístico de Belo Horizonte, recebe pessoas de vários bairros e até de outras capitais brasileiras. Na praça, diferentemente de uma biblioteca convencional, não há monitor. “É uma liberdade total para atrair mesmo, porque eu acho que é só através da liberdade que a pessoa tem a vontade de fazer as coisas, de ler, principalmente,” afirma Estella. O Santa Leitura estende-se também à Praça Salvador Morici, no bairro Floresta, onde são colocados dez livros, de doação, por dia nos bancos. E ao bairro Taquaril, zona leste de BH, onde o trabalho é feito para crianças, no se-
gundo domingo do mês. Em Santa Tereza, os livros ficam guardados em um espaço alugado, em frente à praça, e o contato entre as pessoas e as obras é feito apenas no local, os livros não são emprestados. Na Floresta, os livros são doados. A artista conta: “Algumas pessoas levam para a casa e trazem de volta, outras levam e trazem mais 10, mais 15 e é praticamente uma troca”. Já no bairro Taquaril, como ela lida com crianças, os livros acabam não sendo devolvidos por elas. A contadora, Sônia Arantes Braga participa há cerca de um ano do Santa Leitura. “Os livros sempre me atraíram, através deles viajamos, constatamos realidades e fantasias, nos trazendo o prazer do aprendizado,” diz. Para ela, o incentivo que projetos como esse dão à leitura permite mais saber e desenvolvimento. Sônia acredita que este projeto contribuiu para sua vida. Ela percebeu “como várias pessoas precisam e gostam de ler, mas não têm acesso aos livros, pois são caros”.
Em Santa Tereza, as praças já estão preparadas para se integrar ao evento
DESAFIO
Estella discorda da frase de que brasileiro não é muito chegado ao hábito de ler. Ela acha que há um gosto pela leitura sim, mas, às vezes, as pessoas não têm a oportunidade de comprar, não têm o dinheiro para isso. O preço dos livros é alto no Brasil e há um corre-corre do dia a dia, por isso, muitos não têm tempo para ler. O retorno que o Santa Leitura dá à artista é o que o projeto preza de mais importante, incentivar ao máximo a leitura entre os leitores. “As
pessoas chegam perto de mim e falam: eu tinha muito tempo que não lia nada e agora não posso ver um pedaço de jornal, uma revista, que já estou lendo,” afirma ela. Em Santa Tereza e na Floresta, o público é grande e há pessoas que participam desde o início. Estella comenta: “eles abraçaram o projeto mesmo, são apaixonados com ele”. Já no bairro Taquaril, a grande dificuldade é que as crianças não saem de casa e, quando participam, não ficam por mais de uma hora, principal-
Débora Assis
mente em dias chuvosos. “Lá no Taquaril eu sinto que não há um incentivo dos pais para as crianças estarem indo para a leitura”. É preciso avisar sempre no horário da missa do domingo e do sábado anterior. Outra dificuldade observada pela artista é a falta de cuidado com os livros; é preciso estar sempre “de olho” em tudo. Para ela, “o brasileiro não tem a cultura do carinho e de saber que o livro pode servir para outra pessoa ler”.
Tecnologia não ameaça o hábito de ler JAMILLY VIDIGAL 5° PERIODO
Hoje há uma preocupação em relação ao hábito de leitura das pessoas e se o advento das novas tecnologias prejudica o interesse pelos meios impressos. A realidade mostra, entretanto, que a busca de jovens por e-books e livros impressos está equilibrada: ambos os suportes dão sua contribuição particular e importante para manter e despertar o gosto pela leitura. A aluna de arquitetura do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI -BH), Izabella Ribeiro, não dispensa o livro físico, apesar de também ser adepta dos aparatos tecnológicos. “Gosto de
pegar no papel, passar a folha. O digital cansa a vista e só o uso quando não quero carregar livros pesados”. Izabella utiliza o acervo da Biblioteca Digital disponibilizada pelo Sistema Online do UNI-BH, mas acredita que os livros digitais facilitam seus estudos somente quando está fora de casa: “É mais fácil levar o celular e uma folha, por exemplo, do que um livro grosso e pesado. Eu posso fazer exercícios no meu tempo livre em qualquer lugar, mas, quando estou em casa, prefiro o impresso”. Já a estudante de jornalismo da PUC Minas, Isabela Martins, comprou seu tablet no início do curso e o utiliza para suas leituras e estudo. Segundo ela, os
Ler em ambiente propício sempre favorece a retenção de conteúdos
Juninho Motta
livros digitais, embora mais práticos, não tornam as versões em papel dispensáveis. “Opto por ler livros e textos no digital porque fica mais barato, mas não abro mão dos livros físicos”, diz. Isabela se concentra mais e interage melhor com o texto, ao ler o impresso: “A versão física me possibilita um aprendizado melhor e mais completo, já que gosto de marcar e fazer anotações, coisa que o digital também permite, mas não é a mesma coisa”. BIBLIOTECA
o contrário do que muitos pensam, a busca por conteúdo digital não tem afastado os estudantes e usuários das bibliotecas. É o caso do estudante de letras da UFMG, Pedro Gomes Brito, que tem o hábito de utilizar esse espaço para ler. “A solidão da biblioteca é diferente da solidão do quarto, pois ela é uma introspecção compartilhada: você está no mesmo espaço com diversas outras pessoas, mas cada uma em seu universo singular de leitura”. A aluna de arquitetura da UFMG, Cristiana Pinto Lage, também utiliza a biblioteca a seu favor: “Eu tento estudar em casa e, às vezes, até consigo. Mas, na maioria das vezes, me vejo obrigada a ir para um lugar mais calmo. Na biblioteca consigo me concentrar mais, não fico querendo usar o facebook ou assistir a filmes e séries na internet, como ocorre
em minha casa. Mesmo que esteja com meu notebook, consigo focar e ler o que preciso”. Fora do país, algumas inciativas buscam viabilizar tanto a leitura em suporte digital quanto no impresso. A Biblioteca Pública de Nova Iorque, por exemplo, oferece as duas opções: livros físicos e digitais. O projeto resulta de um contrato com a Amazon, que permite o download de um e-book no tablet dos usuários, que solicitam determinado título por empréstimo. Ao final do prazo, o livro desaparece do dispositivo. O acesso ao conteúdo também é possível através do site da biblioteca, pelo número de registro e senha. No Brasil, a incorporação de versões digitais às bibliotecas não é muito difundida. Mas, em Belo Horizonte, por exemplo, há um projeto para a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, que busca aliar tecnologia e acessibilidade. Está em pauta a criação de uma biblioteca digital para agregar os deficientes visuais e auditivos ao meio. A diretora de formação e processamento técnico de acervos, Cleide Fernandes, salienta a grande preocupação com a inclusão. “A tecnologia ampliou muito as possibilidades de leitura para as pessoas com deficiências, como a visual e a auditiva. Então, nós não podemos abrir mão disso nesse projeto”.
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Esporte
Beisebol atrai e entusiasma jovens de MG Pouco divulgado no Brasil, o esporte vai caindo no gosto dos mineiros graças ao estímulo da comunidade japonesa. Na Região Metropolitana, algumas equipes vão se formando KARINE BORGES JÚLIA GUEDES 3º E 4º PERÍODOS
Numa manhã de domingo, um grupo de entusiastas se reúne em um campo improvisado no point Barreiro por uma paixão em comum: o beisebol. Esporte originado dos Estados Unidos, chegou ao Brasil através de pequenas comunidades da Associação Nipo-brasileira. Paulista de Campinas, a designer de joias, Emi Kyouho, 45 anos, começou a praticar o softbol, esporte parecido com o beisebol, ainda pequena. Em 2001 mudouse para Belo Horizonte e procurou um local para praticar o esporte, porém
não existia. Ela entrou em contato com a Associação Mineira de Cultura Nipo-brasileira e fundou o primeiro time belo-horizontino de beisebol, o ABS BH: “Eu montei com mais alguns malucos, tem que ser maluco para gostar disso”. Em 2011, saiu do ABS BH e fundou o BH Capitals, o segundo time, onde atua como técnica e jogadora até hoje. Com esses dois, foi possível realizar pequenos torneios e competições na capital. Há campeonatos fora do município, como em Ipatinga, São Gotardo e Carmo do Paranaíba, que mantêm outros times e até um campo profissional. “Nessas cidades tem times de tradição e estão muito
mais organizados que nós. Eles já têm campo realmente apropriado para o esporte, aliás tem lugar que tem até dois campos”, comenta Emi. ENTUSIASMO O BH Capitals é formado por atletas de todas as idades. Participar do time das crianças é gratuito, sendo o único requisito pagar a taxa simbólica de sócio da Associação Mineira de Cultura Nipo -brasileira e preencher uma ficha com dados pessoais. O time também conta com a presença do norte-americano Stephen Blanton que veio para o Brasil quando seu filho nasceu. Além de jogador, ele é um dos treinadores e fundadores do time.
O esforço é muito e sincero. Difícil mesmo é acertar a bolinha
Ao chegar ao Brasil, Stephen buscou um time de beisebol para dar sequência ao esporte que sempre praticou, então um colega o indicou para o primeiro time de BH. Lá, sentiu necessidade de um segundo time e, junto com Emi e amigos, fundou o BH Capitals. Stephen prevê que logo surgirá um terceiro time, e vê isso como um ponto positivo: “Nós gostaríamos de um terceiro time e é bem possível que um desses caras tome a inciativa, o que vai ser ótimo”. Ele aponta a necessidade de um campo apropriado para a prática do esporte já que, desta maneira, todos poderiam praticá-lo e, possivelmente, incentivaria a criação
de outro time na capital. O estudante Pedro Barboza, 23 anos, conheceu o beisebol através de um canal de TV a cabo. Com muita paciência foi aprendendo as regras e resolveu procurar por um time em BH. Encontrou um na Pampulha, mas não se adaptou, e logo depois foi para o BH Capitals. Ele acredita que os responsáveis pela divulgação do esporte no Brasil são os três brasileiros que estão jogando pela Major League Baseball (MLB), Paulo Orlando, Young Gomes e André Rienzo, mesmo que em categorias inferiores à profissional. A presença destes três brasileiros no exterior ajuda a abrir uma porta para o esporte começar a ser
Júlia Guedes
conhecido no país. Pedro também conta sobre as doações de equipamentos que a MLB fez para o time: “A gente recebeu vários materiais doados direto pela MLB, para incentivar o esporte por aqui”. Emi está tentando viabilizar o campo de beisebol na estrutura que ela já utiliza, no Point Barreiro. Como o local faz parte do projeto Escola Integrada, é preciso esperar a aprovação do governo do estado, que até o fechamento desta edição não havia acontecido. Segundo a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel), a Confederação de Beisebol já tem o aval da Prefeitura de Belo Horizonte.
Marketing esportivo está em franca expansão
país. O Cruzeiro conta hoje com 72.297 sócios e é o sexto clube com mais adeptos do programa no Brasil. Atualmente, o setor de marketing do clube passa por uma reestruturação após Marcone Barbosa, exdiretor da Raposa, ter saído rumo ao Fluminense. Robson Freitas, atual diretor comercial e de marketing, credita o bom desempenho do time celeste principalmente as ações mais centradas no programa “Sócio do Futebol”, que permitiram controle maior das ações, “O ‘Sócio do Futebol’ aglutinou todas as iniciativas mais pontuais que fazíamos antes e nos ajudou a oferecer um pacote muito maior de promoções, ações e eventos para o torcedor. O programa foi feito principalmente pra ele e é isso que todos os clubes precisam entender”.
WINICYUS GONÇALVES 6º PERÍODO
Com o Brasil sediando os principais megaeventos esportivos e o bom desempenho dos clubes mineiros, área tem ótima tendência de crescimento. Se gostamos de futebol, se somos fanáticos por algum time de vôlei, adoramos correr pelas pistas aos domingos, então a nossa relação com o esporte é mais do que uma forma de entretenimento. Somos um consumidor da indústria do esporte, um negócio que gera mais de um US$ 1 trilhão por ano no mundo todo. E dentro dessa grande indústria está o marketing esportivo, uma das áreas que mais crescem no setor do esporte. Em um mercado maduro como o dos EUA, o negócio do esporte representa 6,7% do PIB ou US$ 613 bilhões anuais. Já no Brasil, com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a indústria tende a crescer. A previsão é de que os negócios gerados no esporte cheguem a US$ 200 bilhões anuais até 2016, ou seja, 2% do PIB brasileiro. As empresas privadas investem cerca de R$ 600 milhões no esporte e já aumentaram em até 15% suas verbas de marketing por causa dos grandes eventos esportivos. Este setor está em franco crescimento, seja em função dos nossos esportes tradicionais, como futebol e vôlei, por esportes internacionalizados, como futebol americano ou rugby, ou por esportes criados em nosso território, como o beach soccer. De acordo com os dados coletados da Pesquisa de Orçamento Familiar (PFO) do IBGE, a prática esportiva representou 1,9% do PIB brasileiro, o que representa R$ 72 milhões. Novas agências estão sendo abertas para auxiliar o interesse de empresas e patrocinadores no uso do marketing esportivo como plataforma de comunicação. Eduardo Macedo, diretor da SportsFuse Marketing Esportivo, avalia que, apesar da crise econômica no país, o potencial de
Estudantes já priorizam, em diferentes cursos, o marketing esportivo
crescimento da área nos próximos anos ainda é muito grande. “Os megaeventos trouxeram para o Brasil uma necessidade de profissionalização das ações e dos projetos em todas as áreas de gestão e marketing, e é para ocupar esse espaço que mais profissionais estão se preparando”. CLUBES Favorecidos pelas grandes conquistas das últimas duas temporadas, Cruzeiro e Atlético viram as receitas crescerem e aproveitaram o espaço para intensificar o relacionamento com o torcedor. O time alvinegro, campeão da Libertadores de 2013 e da Copa do Brasil de 2014, prepara a volta do Departamento de Marketing, desativado
Fonte: FGV/Arte:Winicyus Gonçalves
desde 2008. Domenico Bhering, diretor de comunicação do Atlético, afirma que a volta do departamento de Marketing ao clube aconteceu devido a uma visão mais amadurecida da gestão do futebol. “Com o presidente Kalil, a ideia era que o melhor marketing era a ‘bola na casinha’. Nós precisávamos reestruturar a gestão do clube como um todo. Agora que o clube já está mais organizado, temos uma condição muito boa para voltar com o marketing”. O Cruzeiro também reforçou as ações de marketing nos últimos anos para faturar com o seu bom desempenho em campo. Com o bicampeonato brasileiro em 2013 e 2014, o programa de sócio-torcedor da Raposa foi o que mais cresceu em 2013 no
RECEITAS O sucesso de Cruzeiro e Atlético no campo também contribuiu para o crescimento das receitas com televisão. Em 2014, os clubes mineiros só venderam menos pacotes pay-per-view que Corinthians e Flamengo, donos das duas maiores torcidas do país. Ficaram à frente de clubes com torcidas mais numerosas como São Paulo, Palmeiras e Vasco. O bom desempenho nos pacotes de TV paga ajudou-os a bancar seus caros elencos, já que eles recebem menos que alguns paulistas e cariocas pelos direitos de transmissão da TV aberta. O professor Roberto Dias Lopes, especialista em gestão esportiva, avalia que existem grandes oportunidades para os próximos anos, mas que o Brasil ainda está um pouco atrasado. Outros países já tem um mercado mais maduro. “Comparados com os Estados Unidos e os países europeus, estamos a anos-luz de distância em relação à convivência com o torcedor. É preciso que empresas e clubes intensifiquem cada vez mais os projetos para ganhar um torcedor que participa muito mais da vida do clube do que o de outros países”.
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Direitos Humanos
Conflito sírio afeta famílias Após vagar pelo mundo árabe, sem livrar-se das guerras, familia siria encontra paz e acolhida afetuosa em Belo Horizonte THIAGO CARMINATE 4° PERÍODO
Desde 2011 com o início da guerra civil na Síria, o Brasil vem recebendo parte dos refugiados, tornando-se o segundo país com maior número de acolhimento no continente americano, perdendo somente do Canadá. O contingente soma 2.077 pessoas de 2011 até agosto deste ano. Os números são tão altos que os sírios já se tornaram a nacionalidade com maior número de refugiados no Brasil. Por razões humanitárias, o Brasil facilita a entrada deles desde 2013, tornando os processos de entrevista, entrega de documentos e pesquisas por parte do governo brasileiro menos burocrático. Este benefício deveria valer até o dia 24 de setembro mas devido ao contínuo agravamento da guerra civil e da guerra contra o grupo terrorista Estado Islâmico, a medida foi prorrogada. Os refugiados enfrentam diversas dificuldades ao chegar em um novo país. Para atender às suas necessidades, foi criada há mais de um mês, em Belo Horizonte, uma Força-Tarefa que atende os sírios e também os imigrantes haitianos. A Força-Tarefa vem se reunindo no Sindicato dos Jornalistas, no centro da cidade e alguns refugiados se tornaram membros. A maior dificuldade enfrentada por eles é aprender a nova língua, já que, sem falar português, é muito difícil conseguir emprego. A falta de trabalho dificulta ainda mais o sustento das famílias que, apesar do grande número de doações, ainda sofrem com a incerteza. Para contornar esta e outras dificuldades, a Força-Tarefa disponibiliza para os refugiados aulas de português, gratuitas, em locais descentralizados na cidade, evitando que eles gastem dinheiro com transporte ou se percam em uma cidade que não conhecem, relata Pedro Martins, um dos lideres da Força-Tarefa INCERTEZAS Uma das famílias de refugiados concordou em se encontrar com os repórteres do MARCO e contar sua história durante e após os conflitos na Síria. Khaled Tomeh chegou a BH há um ano e três meses e começou a aprender português no terceiro mês. Atualmente trabalha em uma papelaria na cidade. Ele é formado em engenharia de alimentos e saiu da Síria com sua família em 2007 para viver e trabalhar em Trípoli, capital da Líbia. Em 2011 houve o início da Primavera Árabe, para Khaled, na verdade um“Inferno árabe”, em razão da viloência e desrespeito aos direitos humanos.Era grande a sensação de insegurança. “Começou apenas com protestos, mas aí as armas apa-
receram”, diz Khaled. Ele e sua família conseguiram fugir para a Síria com a ajuda da embaixada que estava retirando seu povo da Líbia. “Foi horrível, tinham pilhas de ‘coisas’ nas ruas, não sabíamos se eram destroços ou corpos; só pensava em tirar minha família de lá e voltar para casa”. A família retornou para sua casa na cidade de Homs. Nesse mesmo ano, a Primavera Árabe também atingiu a população da Síria e começaram os protestos que reivindicavam mudanças na Constituição do país e que evoluiu para uma guerra civil. “Quando voltei para a Síria o conflito já estava nos esperando… o que eu vi na Líbia se repetiu por lá: as armas aparecendo do nada”, afirma Khaled. Após permanecerem em Damasco, capital da Síria, algumas semanas, ele e familiares retornaram à Líbia, acreditando que a cidade de Bengasi era segura. Viveram ali ate 2014, ano em que se iniciaram grandes tensões devido a sequestros e assassinatos de cristãos e queima de igrejas. “Não podíamos viver lá, somos cristãos e ficamos com medo do que poderia acontecer”, relata. Retornaram a Damasco em 2014, mas começaram a procurar outros países para fugir da guerra. “Um amigo me disse que o Brasil estava facilitando e por isso eu pesquisei e entrei em contato com o padre George.” Nesse período Khaled ficou sabendo que sua casa em Homs tinha sido bombardeada e destruída. “Eu posso não estar lá, mas meu coração está”, lamenta Inicialmente, ele e sua família pretendiam ir para São Paulo. Mas, privilegiando a questão de segurança, escolheram Belo Horizonte. Acabaram encontrando um apartamento na cidade, mas sem muitas informações do bairro e do lugar. “Tivemos muita sorte... estando juntos como família fez as coisas muito mais fáceis”, conta. Khaled chegou ao Brasil com sua mãe, irmã e esposa. Sua filha nasceu na capital mineira e já tem seis meses. “A situação econômica não é fácil e manter um bebê é caro, mas graças a deus temos amigos que ajudam”. Agora o apartamento conta com sete adultos e duas crianças, todos da família. Khaled se sente em casa no Brasil: “Brasileiros e sírios tem o mesmo coração, eu vejo a comunidade síria aqui no Brasil... somos uma família e tomamos decisões juntos, mas para mim o Brasil é meu novo país”. Mas as lembranças deixadas na Síria ainda são fortes, “Meus amigos, a maioria morreu, deve ter dois vivos... é difícil pensar que uma igreja que eu frequentava foi destruída pelo Estado Islâmico e eu não posso falar para minha filha ‘eu estive aqui’. Meu passado foi quebrado”, afirma.
Síria está localizada em posição geoestratégica no Oriente Médio
Arte :Mirna de Moura
MIGRANTE: a pessoa que, por vontade própria, deixa seu país para melhorar sua perspectiva de vida, especialmente os migrantes econômicos. REFUGIADO: o cidadão que teme perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, muda de país para preservar sua liberdade e salvar sua vida. Fonte: Agência da ONU para Refugiados (Acnur)
História e motivos dos conflitos na Síria O professor de relações internacionais da PUC Minas, Danny Zahreddine, explica a história, motivos e interesses que existem na atual guerra civil da Síria e do combate ao grupo terrorista Estado Islâmico. Em 2011 durante a Primavera Árabe, a população síria foi às ruas pedindo reformas constitucionais e reformas do governo de Bashar Al-Assad. Algumas cidades se tornaram símbolos destes protestos, como a de Homs. A resposta de Assad a estas reivindicações foi enérgica, o que também gerou uma revolta entre os protestantes e uma retaliação mais dura por parte destes civis. Nesse mesmo ano, a Síria já se encontrava em uma situação que pode ser considerada deguerra civil. Percebendo este cenário de desordem e caos, o grupo terrorista Estado Islâmico decide fazer ataques ao País para conquistar suas terras e tentar construir um Califado. Resultado: os sírios então enfrentando uma guerra em dois fronts. “A Síria representa um objetivo regional de
grande importância por sua posição geoestratégica, de acesso ao Mediterrâneo e por fazer fronteira com Israel” explica o professor Danny. Isto não a torna só um objetivo para o Estado Islâmico, mas também para potências regionais, como a Arábia Saudita, que visa a expansão do sunismo. Aí reside o problema básico: a Síria ser um país de maioria sunita, mas controlada por uma minoria alauíta, ligada aos xiitas. Outro país no Oriente Médio que visa influenciar a Síria e atualmente é sua aliada é o Irã, que quer a permanência de Bashar Al-Assad no poder, por ele fazer oposição ao estado de Israel e aos Estados Unidos. A Síria também é disputada pelas grandes potências mundiais, sendo estas os EUA e a Rússia, atual aliada de Assad. Ambas as nações, mais o Irã, concordaram em unir forças contra o Estado Islâmico. A aliança entre países até então rivais é um marco na diplomacia, mas as desavenças entre os três tem contribuído para dificultar a solução do conflito sírio.
Puc discute papel da religião frente a conflitos THIAGO CARMINATE 4° PERÍODO
O Simpósio Internacional “Religiões para a paz ou para a guerra? Diálogos transdisciplinares” realizado pela unidade PUC Minas Coração Eucarístico aconteceu nos dias 7,8 e 9 de outubro. O objetivo do simpósio foi de abrir oportunidade para um diálogo profundo e transdisciplinar entre a Filosofia, Teologia, as Ciências da Religião e Relações Internacionais, áreas de conhecimento, cada vez mais imprescindíveis para aproximar indivídu-
os e povos no concerto internacional. Especialistas e estudantes destas e de outras áreas do conhecimento humanista participaram do evento. A ideia de realizar o seminário veio da observação histórica do quanto as religiões – de várias origens e tradições – contribuíram, às vezes até sem querer, para fomentar a guerra, mesmo estruturadas sobre uma ideologia de paz e harmonia, como é o caso do Islamismo que – numa interpretação equivocada – dá sustentação à barbárie do Estado Islâmico.
Simpósio buscou identificar chances de paz
Guilherme Cambraia
“A dupla possibilidade – de guerra e paz em nome da religião – torna atual e necessária uma discussão das relações do ser humano com o mundo e com os outros que o cercam e com os quais vive e convive” – enfatizam os divulgadores do evento. Observam que estas relações do ser humano com o mundo e com os seus semelhantes é necessariamente afetada pela ambiguidade própria da condição humana que tanto pode se elevar à plena e universal afirmação da humanidade como também sucumbir à vertigem de sua negação des-
truidora.” Uma das preocupações centrais do Simpósio é a de através da discussão da dupla possibilidade que existe na Religião, identificar caminhos para a possibilidade de usá-la para incluir e ajudar o outro, ao invés de para usá-la como justificativa para discriminar, ferir e/ou matar. Daí a importância de trazer o tema para um amplo diálogo na universidade, para num esforço transdisciplinar abordar a complexidade das questões relativas ao fenômeno religioso do mundo atual.
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Entrevista
JORGE LASMAR
Mundo pode construir uma cultura de paz Thiago Carminate
O professor Jorge Lasmar é chefe do departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Atualmente, ele lidera a Rede Brasileira Sobre o Terrorismo e Violência Política de Pesquisa Colaborativa. Sua atuação ocorre, hoje, especialmente nas áreas de Direito e Segurança Internacional. Em entrevista ao MARCO, ele contextualiza e comenta o atual momento de conflitos no cenário internacional, desconstruindo preconceitos religiosos. Lasmar faz um contraponto entre o uso da religião para a paz e para a guerra. JULIANA CASTELLI 4° PERÍODO
O fundamentalismo religioso é um fenômeno da contemporaneidade? O fundamentalismo sempre existiu na história. O fundamentalismo, na verdade, é um retorno às escrituras originais. Nós temos que entender que se trata efetivamente de um fenômeno moderno, no sentido de que há o elemento do retorno à antiguidade, mas como uma resposta à realidade social que estamos vivendo. Então, sem dúvida nenhuma, o presente fenômeno do fundamentalismo é um fenômeno da modernidade.
É isso que vemos, por exemplo, em grupos terroristas, que se dizem religiosos, e em alguns movimentos partidários. Isso também deve ser evitado. Existem motivos comuns entre os conflitos atuais? Há alguns elementos comuns, como a questão da presença cultural e a religião, mas eu estou realmente cada vez mais convencido de que nós temos que olhar para o local, para a realidade social e as características locais. Tem sido cada vez mais difícil circunscrever um conflito regional com uma temática global ou um discurso universal. Cada conflito que nós temos visto ligado à religião tem suas particularidades de acordo com o local. O que o grupo Estado Islâmico visa com as suas ações extremistas? O que eles querem efetivamente é construir um califado. O califado era o sistema de controle político que existia à época da sucessão direta do profeta Maomé. Eles realmente pregam um retorno às origens, pregam também a criação desse califado que aplicaria a sharia, ou seja, as leis islâmicas. O que nós temos que ter em mente é que isso é um uso político da religião. Não há nada no Islamismo que justifique o uso da violência, que justifique essas ações. Vários grupos islâmicos, inclusive, chegam a dizer que esses grupos não são muçulmanos.
Estas ações extremistas geram insegurança no mundo?
Sem a menor dúvida. Esses movimentos mais radicais, como o uso da violência gratuita, é algo que deve ser evitado a qualquer tempo, ainda mais quando feita à maneira de causar um sentimento de terror ou de pânico. Isso gera uma série de reações contrárias a esses grupos e que é É legítimo que práticas sociais sejam extremamente danosa à diversidade e ao outro. Podemos impostas às pessoas que vivem em tomar como exemplo o grande surgimento de movimenuma sociedade fundamentalista? tos racistas ou a rejeição que nós estamos Essa é uma questão complicada. vivendo em relação aos muçulmanos, e não O que deve acontecer é que, por necessariamente eles estão ligados a essas uma opção religiosa, as próprias causas, aliás, a maioria não está ligada a pessoas sigam esse ou aquele esses movimentos. Nós temos movimentos O problema não credo. “Fundamentalismo” não radicais que usam a violência, como pratié a religião em si, é necessariamente algo ruim, o camente todas as religiões também. Não é mas a exploraque é ruim é a radicalização. É um fenômeno único. Outros grupos terroção do diálogo e quando você passa a aceitar que ristas sequer estão ligados à religião. Então, da ideologia para o uso da violência por qualquer o problema não é a religião em si, mas a outros fins políticos motivo, seja religioso ou não, é exploração do diálogo e da ideologia para ou particulares justificável. outros fins políticos ou particulares.
Não podemos confundir o fundamentalismo puro com a radicalização. Então, o que deve acontecer com as pessoas que seguem religiões fundamentais é que por uma questão de crença elas mesmas seguem [as práticas sociais]. Não deve ser algo que é imposto, porque se algo é imposto, a internalização desses valores é muito superficial, muito rasa, e aquilo vai se desestruturar.
Existe na atualidade algum movimento religioso expressivo para a construção de uma cultura de paz? Existem diversos. Praticamente todas as religiões do mundo vão ter movimentos sociais ligados à paz. Há uma série de movimentos no mundo cristão, seja na Igreja Católica ou fora. Nós temos [movimentos] espíritas, muçulmanos, budistas, hindus. Isso ocorre em todas as religiões. Quais são os desafios dessas vertentes religiosas na construção de uma cultura de paz? Acho que o primeiro ponto é a tolerância com a diversidade. É aceitar as diferenças e aceitar o outro. Esse é um dos maiores desafios que nós temos. Outro problema que vivemos na atualidade é o uso político da religião e da linguagem religiosa para determinados fins políticos.
Nesse sentido, o que a comunidade internacional pode fazer? A comunidade internacional tem que fazer um trabalho de conscientização desses valores, promover a tolerância, porque é importante entender que enquanto essa ideologia radical não for combatida o problema vai se perpetuar. Não adianta um combate militar desses conflitos, em alguns casos pode até ser que seja necessário, mas é preciso que isso seja acompanhado também de políticas públicas de integração, de combate à radicalização, programas de conscientização, e assim sucessivamente. Na atuação do grupo Estado Islâmico, é possível identificar religião e política? Claramente, mas há muito mais um uso político da religião do que a religião em si. É uma leitura muito própria, muito particular daquele grupo específico. Trata-se do que eles entendem que é a religião islâmica. No entanto, isso não é compartilhado por grande parte da comunidade. No ano passado o Senhor esteve em Tel Aviv (a capital de Israel) e pode presenciar o clima de tensão, quando três jovens judeus foram sequestrados. Poderia relatar essa experiência? Foi um momento em que houve uma tensão muito grande. Eu estava lá exatamente quando os conflitos aconteceram. Em vários momentos as sirenes toca-
ram e tínhamos que procurar abrigos. O que marcou bastante foi a assimetria do conflito entre o Estado de Israel e os palestinos. Acho que esse é o principal ponto: há uma assimetria de força de poder muito grande a favor do Estado de Israel. Outra coisa que é importante destacar é que tanto entre os palestinos, quanto entre os israelenses, há uma diversidade de opiniões muito grande. Eu encontrei jovens em Israel que estavam esperando serem presos, porque recusaram se juntar ao exército por questões ideológicas. Então, é importante entender o local e todos os lados envolvidos para tentar promover a integração, o diálogo e, principalmente, a tolerância com a diferença. Como foi a experiência de uma situação que é objeto de estudo no meio acadêmico? Foi praticamente um trabalho de campo. Meu objeto de estudo é exatamente os conflitos internacionais, especificamente a questão da violência política. Foi uma oportunidade única de perceber como todos os lados estão pensando, o que eles estão vivenciando e entender o conflito por parte de quem está efetivamente recebendo [os impactos]. Para os cientistas sociais e, principalmente, para os profissionais de Relações Internacionais, o trabalho de campo é algo muito importante. É necessário que tenhamos contato com outras culturas, ideias e religiões, a fim de que possamos entender a riqueza da diversidade.
Entenda os termos Fundamentalismo: Em uma tradução literal, a palavra significa “voltar às raízes/escrituras/ fundamentos”, o que quer dizer ver, viver e interpretar o mundo da maneira como é dita nas escrituras. No ínicio do século XX ocorreram vários movimentos fundamentalistas por parte de igrejas cristãs protestantes nos Estados Unidos. O fundamentalismo não é algo de uma religião específica e também não é uma prática danosa ao outro. Seu grande problema está na visão ortodoxa dos praticantes que fazem uma interpretação sem adequar o texto das escrituras aos tempos modernos. Isto pode, em vários casos, levar a intolerância e fanatismo. Estado Islâmico: Este grupo terrorista surgiu após a invasão dos EUA ao Iraque em 2003 com o nome de Estado Islâmico do Iraque e do Levante, sendo organizado por apoiadores do presidente Saddam Hussein que eram contrários à ocupação norte-americana e ao apoio aos xiitas. Em seu ínicio foi apoiado e financiado por países como Arábia Saudita. Atualmente o grupo se intitula como Estado Islâmico. Seu intuito é construir um califado (Estado governado pelo califa, que tem o direito de aplicar a lei islâmica) na região do Oriente Médio, já possuindo uma capital, a cidade de Raqqa, na Síria. Sunitas, xiitas e alauitas: São segmentos do Islamismo, com diferentes formas de interpretar o Alcorão e opiniões diversas sobre quem deve ser o sucessor do profeta Maomé.