Jornal Marco #319

Page 1

Marianne Fonseca

DEFICIENTES VISUAIS ENFRENTAM DIFICULDADE EM TRANSITAR NA PUC CORAÇÃO EUCARÍSTICO. NOVAS OBRAS ESTÃO PROGRAMADAS . PÁGINA 14

Flora Silberschneider

VIADUTOS DE BELO HORIZONTE RECEBEM NOME DE MINEIROS ILUSTRES QUE SÃO DESCONHECIDOS PELA POPULAÇÃO EM GERAL. PÁGINA 4

Marianne Fonseca

IMPRENSA BRASILEIRA FALHA QUANTO A ÉTICA O QUE LEVA A ERROS COMO OS DE FALTA DE RESPEITO ÀS PESSOAS E AOS VALORES SOCIAIS. PÁGINA 16

marco jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 319 . Março de 2016

Sem ajuda do povo, dengue comprometerá o futuro

Flora Silberschneider

PÁGINAS 8- 9

No Aglomerado da Serra, união com o bairro é chave para criar uma vida melhor Que a união faz a força, o povo já sabe há muito tempo. Dificl é deixar de lado preconceitos, intolerância e colocar em pratica o que a sabedoria popular preconiza. É isto que começa a acontecer no bairro da Serra, em Belo Horizonte. Moradores do Aglomerado e do “asfalto” estão interagindo com um objetivo unico: melhorar a vida de todos. Flora Silberschneider

PÁGINA 5

Candidatos a prefeito vão ter de ouvir os moradores Ruas esburacadas, falta de rede de esgoto, iluminação precária, rios que transbordam a qualquer chuvinha são problemas que atormentam grande parte da população da cidade que, agora, quer conversar mais de perto com os candidatos a prefeito, antes de tomar sua decisão de voto. O que todos mais desejam é um prefeito dinâmico, atuante, capaz de ser sua voz junto ao Governo do Estado, e outras instâncias de poder, para melhorar as condições de segurança e o atendimento à saúde em todas as regiões. E isto sem se descuidar das escolas infantis e da criação e manutenção de novas areas verdes e centros de laser comunitários. PÁGINA 3

Flora Silberschneider

LEIA AINDA

Marianne Fonseca

Todos querem vida saudável

Jornalista lança filme na PUC

Um corpo sarado ou curvas bem definidas, ou , ainda, um caminhar mais ágil e elegante. Estes são os objetivos mais comuns dos alunos das academias que proliferam nas vizinhanças da PUC. PÁGINA 11

A censura à imprensa nos “anos de chumbo”. Este é o tema docomentário lançado na PUCMINAS pelo jornalista José Maria Mayrink. Ele falou também sobre a “censura Judicial” dos veiculos de comunicação, hoje. PÁGINA 7

Davi França


2

março2016 . jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Conquista

editorial

Cidade é local de desafios ISABELA MAIA 5º PERÍODO

Direito das mulheres ao voto faz 82 anos Em fevereiro, comemorou-se a conquista da participação das mulheres nas eleições brasileiras, com seu direito ao voto KARINE BORGES TAMIRIS CIRÍACO

A cidade é um espaço de interações de todo tipo. Elas podem ser de conflito ou não. A convivência entre os moradores e a solução dos problemas pelas autoridades são desafios constantes, alguns deles tratados neste exemplar, a propósito das eleições municipais que se aproximam. Na primeira edição do ano, você acompanha o conflito no Aglomerado da Serra e a vida da comunidade que vive ali. José Maria Mayrink, jornalista, veio lançar na PUC seu documentário sobre a censura ao Estadão em tempos de Ditadura Militar e nos fala sobre os “Anos de Chumbo”. O carnaval é mostrado sob a perspectiva de sua importância econômica. Os ambulantes marcaram presença e se deram bem devido ao saldo de turistas mostrado pela Belotur. Outros problemas – como a falta de gentileza urbana – são apontados e identificados em BH, ao lado do perfil de pessoas, como o jornaleiro Carlão, que faz parte da história do Coração Eucarístico, e dos jardineiros que tornam a PUC um lugar melhor para se conviver. Boa leitura!

errata Na edição 311, publicada em abril de 2015, a matéria “Histórias do Dom Cabral” resgatou a construção da Paróquia e do campo de futebol do bairro. Na ocasião, o MARCO não citou a participação de Paulo Leal, 3º morador do bairro nestes trabalhoa e no projeto da abóbada da igreja do bairro, ao lado do pe. Souza Pinto. Mas, o que o tornou inesquecível para os amigos foi a proteção que dava aos perseguidos injustamente,pela ditadura militar.

expediente

jornal marco

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ercio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editora: Prof. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Isabela Maia, Karine Borges e Tamiris Ciríaco Monitor de Fotografia: Flora Silberschneider e Mariane Fonseca Monitores de Diagramação: Thiago Carminate e Mirna de Moura Apoio: Laboratório de Fotografia CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares

4° E 6° PERÍODOS

Há exatamente 82 anos as mulheres conquistaram o direito ao voto, fruto de uma longa luta, iniciada antes mesmo da Proclamação da República. Primeiramente o direito foi reconhecido parcialmente, permitindo somente às mulheres casadas (com autorização dos maridos) e às viúvas e solteiras que tivessem renda própria. Em 1934, as restrições ao voto feminino foram eliminadas do Código Eleitoral, embora a obrigatoriedade do voto fosse um dever masculino. Em 1946, essa obrigatoriedade do voto foi estendida às mulheres. No Brasil o direito foi garantido no dia 24 de fevereiro de 1932, através do decreto 21.076 do Código Eleitoral Provisório, após intensa campanha nacional. Com a consolidação da participação feminina nas eleições, a mulher passou a conquistar cada vez mais o seu espaço no cenário político brasileiro. Em dezembro de 2015 estreou no

Brasil o filme “As sufragistas”, abordando a luta feminina para conquistar seu espaço e terem o que é seu por direito. O filme acompanha a história de Maud Watts, uma jovem que trabalha em uma empresa de lavanderia administrada por um homem que abusava sexualmente de suas funcionárias e, além disso, no fim do expediente ao ir embora para casa ela cuidava de seu filho e marido. Maud se une a um grupo de mulheres que lutam em busca de seus direitos, sendo o principal deles o de voto. Para conseguir isso e como tentativa de chamar atenção, elas incendeiam caixas de correios, quebram os vidros de lojas, pois como é dito pela personagem “a guerra é a única língua que os homens entendem”. O filme aborda claramente a questão em que tentar mudar algo sendo mulher, nunca foi e ainda não é fácil. Nos últimos anos as mulheres através dos movimentos feministas veem ganhando cada vez mais espaço na sociedade, conquistando seus direitos e lutando pela igualdade de gênero. O professor de Teoria Geral do Esta-

do, da escola de direito da PUC Mário Lúcio Quintão Soares, fala um pouco sobre a data, “Aquele foi um momento de emancipação da mulher, aproveitando à mobilização constitucionalista de São Paulo de 1932 e a partir daí a mulher começa a exercer um papel mais efetivo na sociedade brasileira”. Ele também comenta sobre a dificuldade das mulheres exercerem certos papéis pela discriminação de gênero, “Hoje temos uma mulher na Presidência da República e a gente percebe que, em relação a ela, o machismo continua evidente; se fosse um homem provavelmente não sofreria tantas agressões”. Quintão acrescenta: “O que a gente percebe é que por parte da mídia e por parte da classe média, não se aceita a presidente Dilma pelo fato dela ser mulher e ter participado da resistência à ditadura militar. Então entra todo um processo que demonstra que o machismo ainda está muito presente na sociedade brasileira. A gente percebe que as pessoas hoje brigam muito mais por privilégios do que por direitos, o que é lamentável”.

Dia das Mulheres lembra sua luta JOÃO ONOFRE 6º PERÍODO

“Não se nasce mulher; torna-se mulher”. A frase de Simone de Beauvoir, que ganhou publicidade recente ao servir de tema para uma questão do Enem, remete todas as mulheres do mundo às lutas, ainda hoje necessárias, de reafirmação da mulher, ao lado do homem, como cidadã de iguais direitos e deveres. Entre eles, o de votar e de ser votada, como queriam as sufragistas. Dia 8 de março, os primórdios da luta das mulheres são relembrados, embora ainda haja muita resistência e incompreensão em relação às demandas femininas. Não é à toa que o Diretório Acadêmico do Curso de Comunicação Social acaba de criar um núcleo de discussão e ações feministas, o PUC das Minas, que está convidando todas as mulheres – estudantes, funcionárias e professoras - a apresentar ideias e sugestões para vencer, pelo menos na universidade, a intolerância e o machismo. Estes sentimentos – que se acreditava ausentes da Faculdade de Comunica-

ção se manifestaram tão logos cartazes chamando para uma reunião do grupo foram afixados: os machões de plantão escreveram sobre eles coisas como “Vá caçar um tanque mulherada”; “Cadê sua panela menininha?”. HISTÓRIA Dia da Mulher é uma idéia que vai surgir no início do século XX, nos Estados Unidos e na Europa, em meio à luta feminina pelo direito ao voto e melhores condições de trabalho. No dia 8 de março dois momentos da luta feminina são lembrados: a morte de 130 operárias, queimadas vivas numa fábrica de Nova Iorque após um protesto contra as más condições de trabalho. Depois de violenta repressão da manifestação, acuadas elas se refugiaram na fábrica de produtos texteis que foi criminosamente incendiada. Outro momento é o de um segundo incêndio de uma outra fábrica, a Triangle Shirtwaist, na mesma cidade, em 25 de março de 1911, atingindo 600 trabalhadoras, um ano após Clara Zetkin, ativista feminina, propor a criação do

Dia Internacional da Mulher, durante a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, Dinamarca. Nesta tragédia, morreram 125 mulheres, a maioria delas, imigrantes, e 25 homens. Em 8 de março de 1917, as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram marcadas por manifestações de trabalhadoras russas por melhores condições de vida e contra a entrada da Rússia czarista na I Guerra Mundial. Elas foram violentamente reprimidas. Nos países ocidentais, o Dia Internacional da Mulher passou a ser comemorado no início do século, até 1920, quando caiu no ostracismo de onde saiu em 1960, no âmbito das lutas feministas modernas. Em 1975, a ONU comemorou o Ano Internacional da Mulher e, em dezembro de 1977, o dia 8 de março foi escolhido pelas Nações Unidas como o Dia Internacional da Mulher para lembrar as conquistas sociais destas lutadoras em todas as partes do mundo.

Forum dos Leitores

Leitora resgata passado do Dom Cabral Katia Regina Lages Leal, ex-moradora do bairro Dom Cabral. Atualmente trabalha em Barcelona com imóveis. Quando se mudou para o Dom Cabral o bairro ainda não estava pronto, não havia luz e faltava rede de esgoto. Adolescente enviava desenhos e poesias para o jornal. Em carta ao Marco ela conta: “Tinha brejo, nascente... Eu gostava de brincar na enxurrada, caminhar dentro das enormes manilhas, escorregar nas montanhas de terra da praça. O tempo passou; em cima da nascente passa uma rua, as manilhas se converteram em uma grande avenida e as montanhas de terra deram lugar a uma linda praça, com campo de futebol, creche, posto de saúde. E a igreja? ah, de chão batido, com poucos bancos de madeira, levantada com esforço árduo, determinação e coração. Tinha música, coroação, meninas vestidas de anjo, que lindo! Barraquinhas, quadrilha, quanta coisa maravilhosa. Esse é apenas um pedacinho da história do bairro Dom Cabral. Não parece, mas são 50 anos de trabalho, perseverança, carinho e dedicação de muitas pessoas. E prossegue:

Gostaria de relembrar com muito carinho o nome dessas pessoas: Senhor Augustinho (Murici), cobrava o dízimo; Senhor Antonio (Maturi), sempre presente em tudo que era necessário; O carteiro, não me lembro o nome, bem disposto e auxiliando sempre; Dona Zulmira, sem palavras para descrever tamanha dedicação; Senhor Zeca Lages (Araçari), ajudou a levantar a igreja com a força dos seus braços; Senhor José Batista Alvarenga (Sapoti), ajudando todos em tudo sem medir esforços; Senhor Paulo Leal, além de promover as festas da igreja, cantava o bingo, preparava os frangos assados em sua casa, fez vários projetos para o bairro, lutando junto à prefeitura para a concretização dos mesmos, tudo com uma dedicação incondicional. E finaliza: Peço desculpas se esqueci alguns nomes, mas escrevo isso para que não sejam esquecidas essas pessoas que com grande esforço contribuíram para a história do desenvolvimento do bairro Dom Cabral. ENVIE COMENTÁRIOS OU SUGESTÕES ATRAVÉS DO EMAIL JORNALMARCO@PUCMINAS.BR


3

março2016 . jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Política

Moradores querem diálogo O novo prefeito, a ser eleito em outubro, deve estar aberto às reivindicações da população. A verticalização é um dos problemas apontados BRUNA CURI CARLOS COX 1º E 6º PERÍODOS

As eleições municipais de Belo Horizonte estão chegando e uma nova administração vai se deparar com questões que devem ser enfrentadas. Pensando nisso, o MARCO preparou uma série de matérias relacionadas ao tema. Nesse momento a população irá conhecer vários candidatos e suas promessas de campanha. No entanto, nem toda promessa pode ser implementada ou atende às necessidades imediatas da população. Por isso, a visão de especialistas e cidadãos se torna importante no sentido de levantar os principais problemas de nossa capital e possíveis soluções. Na visão de Júlio De Marco, vice -presidente do CAU-MG (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) todos os problemas estão interligados e devem ser abordados no planejamento urbano. “A grande discussão que temos hoje em Belo Horizonte é o plano diretor. Isso abrange todo o município e muda a questão do solo criado”. A proposta do novo Plano Diretor foi recentemente tema de uma série de audiências públicas na Câmara Municipal. Ele define novas políticas de planejamento urbano, altera a lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo e introduz mudanças no gabarito de construções e vai restringir, impor taxas ou exigir projetos de benfeitoria

como a construção de parques ou algo de interesse público, para projetos que ultrapassem o tamanho do terreno em área construída. “Se você tem 100 m² quadrados, vai poder construir apenas 100 m², mais do que isso vai precisar de uma concessão do poder público. Isso deve afetar todo o espaço, adensamento vertical, acesso a luz e som, correntes de ar. O espaço vertical é entendido como um bem comum, isso vai alterar o valor dos imóveis e a tendência é [a área construída] baixar”, explicou. De Marco chama a atenção para a necessidade de dar aos problemas tratamento integrado: “a mobilidade, que é uma grande questão, acesso ao terreno, sustentabilidade, ilhas de calor, área permeável e inundação de áreas, saneamento” são coisas indissociáveis. Como exemplo mencionou o problema da epidemia de zika, explicando que a urbanização reduz a diversidade ecológica dos ambientes e isso permite que pragas encontrem espaços semelhantes para proliferar mesmo que venham de outras cidades ou até de outros continentes. “São questões localizadas”, afirmou. Mas está tudo ligado: segurança pública e geração de emprego. A forma como a verticalização afeta a segurança pública, por exemplo, causada pelo adensamento de pessoas em uma região, ao mesmo tempo que se reduz espaços públicos para convivência social. “No Buritis isto é visivel: é um pare-

Novo prefeito deve ouvir a população JOÃO MORAIS 7º PERÍODO

A Região Nordeste de Belo Horizonte enfrenta, atualmente, problemas sérios de infraestrutura. Com as eleições municipais se aproximando, os moradores acham ser elas uma oportunidade para apontar as principais demandas de seus bairros e definir prioridades. Moradores e comerciantes da região do bairro São Gabriel reivindicam principalmente, a conclusão de obras inacabadas e solução para a falta de segurança, carência de empregos e ausência de infraestrutura em geral. Com a implantação do novo terminal rodoviário e do complexo viário em seu entorno, a região se moderniza e se valoriza, mas são muitos os problemas a se resolver – até mesmo em decorrência destas obras. Por isso, muitos avaliam que o São Gabriel vive uma sensação permanente de “obra eterna” e de “desapropriação constante”, sentimento compartilhado por seus vizinhos dos bairros São Paulo, Primeiro de Maio, Suzana e Dona Clara. Uma das maiores críticas dos moradores tem a ver, por exemplo, com o excesso de entulho e sujeira espalhados por vias e locais públicos. A moradora Dalva Gomes é uma das que têm muitas críticas a fazer. Para ela, a falta de capacidade de atendimento médico na região é um dos problemas mais graves, ao lado da falta de medicamentos. Essa carência é confirmada pelo vereador Reinaldo, conhecido na região como Preto do Sacolão (PMDB). Ele admite que a questão da saúde na região é uma das prioridades na articulação da Câmara Municipal com o futuro prefeito. Na avaliação do vereador, o problema mais grave ocorre, atualmente, no bairro São Marcos. Por sua vez, o comerciante José Wilson reclamou dos moradores de rua que praticamente ficam acampados em frente aos estabelecimentos comerciais, criando um grande transtorno para todos. Para ele, a região já conta com muitos serviços públicos essenciais, mas ainda carece de maior atenção por parte das autoridades. Para ele, o futuro prefeito precisará saber disto. “O nosso bairro tem tudo que precisa, como posto de saúde, creches e viaturas policiais, mas não na proporção das necessidades da população. Moradores de outros bairros da cidade vêm aqui para receber atendimento médico e até fazer compras no comércio”, observa. Outro comerciante interessado em melhorar a qualidade de vida na região é Luís Bernardo. Ele conhece bem os problemas locais, pois vive há muitas décadas por lá. Para ele, a questão mais grave é a falta de limpeza pública: “O problema é tão grave que os próprios comerciantes estão tendo de assumir a limpeza das ruas”. Ele ressalta ainda que os parques e praças se tornaram pontos de crime à noite, e por isso foram abandonados pelos moradores. O vendedor ambulante Leonardo dos Santos acha que o futuro prefeito vai precisar ouvir os moradores. “Ele vai ter de acreditar mais na gente e regularizar nossas atividades”, diz, lembrando que suas mercadorias são sempre confiscadas quando está vendendo seus produtos dentro das estações de ônibus. “Eu conheço a região desde pequeno, pois sempre morei aqui. Agora, que estou desempregado, sou impedido de comercializar meus produtos. É um prejuízo que não dá para recuperar. Espero que eles olhem também pelas crianças, pois elas não têm alternativas a não ser brincar no meio do trânsito e ficar fazendo pichações por aí”, explicou. O deputado federal Lincoln Portela (PR-MG) é conhecido por sua atuação em prol da região e admite que faltam políticas socioeducativas junto às comunidades locais. “O bairro São Paulo sempre teve um potencial esportivo, mas o que vemos é um parque que não pode ser utilizado, são falhas as políticas de segurança pública e de pacificação das esferas municipal, estadual e federal para reduzir a criminalidade”, admite. A população reclama, ainda, da falta de iluminação pública na maioria das vias de acesso às estações de ônibus e metrô; do grande número de imóveis em ruínas, fruto de desapropriações para futura expansão da rodoviária. Tudo isso torna a região mais perigosa e sujeita à ação de criminosos.

dão que começa com uma garagem; os prédios ficam lá em cima e o que acontece na calçada você não sabe”, explicou. “Você cria espaços em condomínios, salões de festa e deixa a rua ao Deus dará. E a criação de guetos? Acho pior isso, que afeta a questão de segurança. Você cria um condomínio de luxo, na frente de uma favela, e esquece que ela está lá. Mas você nem olha: simplemente põe as janelas todas viradas para o outro lado”. Paulo Omar Pereira, o presidente da Amoran (Associação de Moradores do bairro Anchieta) focou apenas o problema que considera de importância máxima: segurança. “Falta de segurança é o que todos os bairros enfrentam hoje”. A Amoran, fundada em 1988, tem uma longa história de cooperação com a PMMG, tendo compartilhado sua sede com o primeiro posto policial da região, que ajudou a estabelecer. Na visão de Pereira, a cidade precisa de um planejamento efetivo para melhorar a qualidade de vida: “deve se fazer um estudo de segurança, cultura e lazer. Planejar com cuidado para fazer bem as coisas”, afirmou. Com relação às próximas eleições ele considera que o foco deveria ser na conscientização do eleitor e em uma comunicação mais aprofundada que informe suficientemente sobre os planos e projetos do candidato. Além de exigir maior pragmatismo das campanhas. Ele também falou de sua preocupação com o nível de instrução e educação dos candidatos “Devem ter mais estudo, porque senão vai ser igual aos outros: legislar em causa própria e ser fácil de manipular. Todo candidato devia passar por uma sabatina para provar que tem condições [de exercer a função]”. Embora o problema de segurança pública não seja diretamente de responsabilidade da administração municipal, são comuns promessas de candidatos nesta área. O melhor exemplo disso é que uma das principais plataformas da campanha do atual prefeito: aumentar o efetivo da Guarda Municipal e expandir o monitoramento por câmeras. Ambas são ações de competência do município, mas quando convertidas em slogans de campanha acabam confundindo a percepção da questão na cabeça do eleitor, pois segurança pública é responsabilidade do Governo do Estado.

ATRIBUIÇÕES

Nem sempre as aspirações dos eleitores são da competência da administração da cidade. O município, por exemplo, não responde pela previdência social, a reforma agrária, as eleições, o sistema prisional e a segurança. A administração atual investiu muito na Guarda Municipal treinando e armando seus integrantes, mas o papel dessa instituição é proteger os bens públicos e não fazer policiamento da cidade. Essa função é da Polícia Militar do Governo do Estado. Além disso ,leis criminais são competência exclusiva do Poder Legislativo Federal. Assuntos diretamente municipais são, por exemplo, a educação infantil, o transporte público e a urbanização. O município tem obrigação de ofere-

Balanço de promessas Ao longo dos anos que permaneceu no governo, Márcio Lacerda conseguiu colocar em vigor algumas de suas propostas de campanha como, por exemplo, a inauguração do Hospital Metropolitano, no dia 2 de dezembro de 2015, no Barreiro. A meta da Guarda Municipal foi praticamente cumprida, uma vez que atualmente aproximadamente 95% das escolas possuem esse atendimento. E na área da Educação Infantil, a meta de 100 novas Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis) foi atingida no final de 2014. Porém, existem algumas propostas de governo que ainda não tiveram suas metas alcançadas, como é o caso do Projeto de Expansão da Escola Integrada para 100 mil alunos. Em 2014, o número de alunos era de 65 mil e após a meta ser revisada novamente foi feita uma previsão de 90 mil alunos para o ano de 2016. Prometida como um dos benefícios da implantação do BRT/Move, a melhoria do trânsito de Belo Horizonte foi tímida depois de um ano de funcionamento do sistema na comparação com os 12 meses anteriores. Além disso durante a implantação foi divulgado que o Move reduziria os custos do transporte, mas no meio do ano passado o sistema foi usado como justificativa para o aumento da tarifa. Em novembro, 68 linhas de ônibus foram desativadas e logo em seguida um novo aumento da tarifa foi aplicado em janeiro desse ano. As duas obras mais aguardadas desde a primeira candidatura em 2008 para melhorar a mobilidade urbana em Belo Horizonte, a revitalização do Anel Rodoviário e a expansão do metrô, ainda se encontram em fase de projeto.

cer creches, escolas de educação infantil e fundamental. Garantir a mobilidade urbana e o planejamento de espaço, demarcando áreas comerciais e residênciais, a pavimentação e manutenção de ruas, iluminação pública e a coleta de lixo. Outras questões como a saúde e a coleta de impostos são compartilhadas. Todas as esferas, municipal, estadual e federal têm impostos. O IPTU, Imposto Predial Territorial Urbano e o ISS, Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza são municipais. A saúde foi municipalizada após a Constituição de 1988; isso significa que são transferidos recursos e a responsabilidade à administração local que deve planejar, coordenar, executar, avaliar e controlar a implantação do Sistema Único de Saúde, o SUS.

SOLUÇÕES

Aos olhos do vice-presidente do Conselho de Arquitetura as soluções não devem vir de cima para baixo. “A primeira coisa que tem que ter é uma discussão da sociedade inteira, o que ela pretende, o que ela quer. Tem que ter essa cobrança, essa discussão, não vale a pena você votar e achar que tá tudo resolvido. Você tem que participar”, explicou. As alternativas de participação apontadas por Júlio De Marco são as conferências de política urbana, de educação, de saúde, entre outras. “Empresários, associações de moradores e profissionais participam. Então, tem lugar para a sociedade participar, tem que procurar esses fóruns e participar cada vez mais”. Ao ser questionado sobre o desempenho da administração atual, Júlio preferiu não

Buritis é exemplo de planejamento falho

Flora Silberschneider

se comprometer. “Isso é uma questão política, acho mais complicado, não é papel do Conselho avaliar”. Mas colocou a questão de outra forma. “Não importa qual seja a administração, porque as administrações vêm e vão. A questão é dar sequência a um plano que a própria sociedade decidiu e isso reforça a necessidade de tê-lo para chegar às autoridades e exigir o cumprimento daquilo”. Sobre o foco da próxima administração, De Marco insistiu na necessidade de diálogo. “A administração tem que chegar para você e perguntar o que você quer, não chegar e falar ‘eu quero fazer isso e vocês vão validar. É o contrário, é a gente que tem que participar e exigir que a administração esteja a nosso favor”.

PARTICIPAÇÃO POPULAR

Depois das manifestações populares de 2013, surgiram ou ganharam força, grupos como o Cidade Que Queremos, inspirado em organizações da Espanha. Nas palavras do professor de arquitetura da UFMG, Roberto Andrés, membro do movimento, “as cidades brasileiras vivenciaram, nos últimos anos, uma intensificação dos movimentos sociais e das ocupações das ruas. Mobilidade urbana, moradia, espaços públicos, preservação de áreas verdes, limpeza de rios, entre outras pautas, se mostram cada vez mais presentes nos interesses da sociedade organizada”. Roberto pontuou que apesar do grupo não ter definido uma lista de prioridades a intenção é criar uma plataforma online para permitir que toda as pessoas votem e proponham questões. O objetivo é encabeçar uma transformação política que garanta maior horizontalidade e participação direta da sociedade na administração pública. O movimento tem essa proposta por perceber que há problemas de intransigência política e conflitos de interesses por trás das ações do poder público. “Os representantes eleitos continuam refratários, realizando uma política servil a interesses de uma casta econômica, representada principalmente pela indústria automobilística, concessionárias de ônibus e empreiteiras”, denunciou. Ao ser questionado sobre o desempenho da administração atual, Roberto não hesitou. “Pífio. A cidade patinou e não saiu do lugar durante oito anos, quando não andou para trás. A taxa de uso de transporte coletivo caiu, o déficit habitacional aumentou, 40 mil árvores foram cortadas, a dívida da prefeitura aumentou etc”. Outro ponto avaliado por Andrés foi com relação às promessas de campanha do atual prefeito: “ficaram todas no papel. Entregaram pouco mais de três mil casas do Minha Casa Minha Vida, das 30 mil prometidas. O Move não se tornou o transporte mais eficiente, as viagens ficaram mais longas e as tarifas maiores. A coleta seletiva diminuiu e por aí vai. Dá para escrever uma bíblia com os retrocessos”.


4

março2016 . jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Cidade

BH: só mineiros dão nome aos novos viadutos Políticos e escritores de Minas Gerais são homenageados em vários pontos da cidade GIOVANNA MOZELLI 5° PERÍODO

Betinho explica o porquê da escolha de Helena Greco

Flora Silberschneider

De Castelo Branco à militante Helena Greco Em 2013, um viaduto que tinha o nome de um presidente militar passou a homenagear uma militante de esquerda. A conquista, significativa para uns, mas irrelevante para outros, se deu através de muito esforço de alguns vereadores e militantes. O viaduto em questão é o Dona Helena Greco, antigo Elevado Presidente Castelo Branco, localizado no bairro Carlos Prates. A construção viária é uma das mais importantes da capital mineira, já que liga a Avenida Bias Fortes, no Centro, à região noroeste da cidade, através da Av.Pedro II. O projeto de lei foi apresentado à Câmara Municipal de Belo Horizonte em 11 de maio de 2012, pelo vereador Tarcísio Caixeta (PT), o Totó, mas foi aprovado apenas em meados de 2014. Além de Caixeta, outros vereadores e apoiadores da causa de Diretios Humanos tiveram papel fundamental na aprovação do PL. É o caso de Carlos Alberto Duarte, mais conhecido como Betinho Duarte, que já foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte.Militante desde a época da ditadura militar, ele acredita ter o dever histórico de lutar pela correção de injustiças da época. “Ao indicar o nome de Dona Helena Greco, que foi uma militante dos direitos humanos, estávamos promovendo uma ação de afirmação democrática, já que seu nome iria substituir o do primeiro presidente do Regime Militar no Brasil, Humberto de Alencar Castelo Branco, disse ele.

O antigo Viaduto Castelo Branco recebeu este nome através do decreto n°1972 de 12 de fevereiro de 1971, o mesmo que nomeava o Viaduto Presidente Costa e Silva, hoje José Maria Magalhães, localizado na Avenida Presidente Carlos Luz. Quando foi proposta a revogação do decreto, apenas um nome foi aprovado pela Câmara Municipal na época: o do pai do ex-vereador José Lincoln Magalhães. Betinho explicou que o que tornou o processo de aprovação do nome de Dona Helena Greco moroso foi a bancada da bala, formada por parlamentares policiais militares e civis, que resitiu à mudança. Como o decreto era único, ao aprovar a renomeação de um viaduto e do outro não, a Câmara acidentalmente deixou o elevado do Carlos Prates sem nome por cerca de dois anos. Betinho, Caixeta e outros colegas, se empenharam em mostrar para os parlamentares a importância da aprovação do nome e sua representatividade e, assim, em 2014, conseguiram aprovar a lei. Helena Greco (1916-2011) nasceu em Abaeté (MG), foi a primeira presidente do Movimento Feminino pela Anistia. Participou da formação do Partido dos Trabalhadores (PT) e destacou-se no Movimento Nacional pela Anistia, Foi também a primeira vereadora eleita de Belo Horizonte e integrou a Comissão Executiva Nacional dos Movimentos de Anistia e Direitos Humanos.

Uma poetisa, um professor e um médico. A paixão pela escrita como ponto em comum. São eles Henriqueta Lisboa, Aníbal Machado e Pedro Nava. Contemporâneos, os três contribuíram enormemente para a literatura brasileira e, principalmente, para o movimento modernista. Todos eles nascidos em Minas Gerais. Hoje, essas pessoas estão imortalizadas em Belo Horizonte pelos viadutos que levam seus nomes. Localizados na Avenida Cristiano Machado, eles fazem parte da Linha Verde, que integra o Centro de BH à Cidade Administrativa, com órgãos do Governo, e ao Aeroporto Internacional de Confins. São 11 viadutos na totalidade da Linha Verde. O Governo do Estado sugeriu, em 2008, ao nomeá-los, que escritores e políticos mineiros fossem homenageados. A tarefa de escolher e pesquisar aqueles que dariam nome aos viadutos foi atribuída ao escritor Bartolomeu

Campos de Queirós, pela Secretaria de Estado de Cultura. Decidiu-se, então que os viadutos da rua Jacuí á Cidade Administrativa, levariam nomes de escritores mineiros, e os de lá até o Marco Linha Verde, nomes de políticos do Estado. Além de homenagear pessoas que contribuíram para a cultura e história de Minas Gerais, os nome dos viadutos visam perpetuar a lembrança deles na memória do belo-horizontino. Pelo menos deveriam fazer isto. Natália Rodrigues, 29, é analista de sistema e mora na região onde fica o viaduto Pedro Nava, perto da rua Jacuí. Passa por ele cotidianamente e ainda assim não sabe dizer quem foi essa pessoa. Para ela, é apenas uma via pública. O mesmo acontece com Cláudia Freitas Braga, 35, diarista. Indagada, ela pergunta de volta. “Foi alguém que morreu aqui?” Mais à frente, na altura do Minas Shopping, encontram-se outros dois viadutos: Aníbal Machado e Henriqueta Lisboa. Regiane Oliveira, 27, é

O ex-vereador prega a placa com novo nome do viaduto

contadora e aguardava na fila do hipermercado Extra, que fica localizado exatamente em frente aos elevados. A única informação que soube dar sobre as homenagens foi que, provavelmente, essas pessoas já morreram, pois sabe que, para dar nome a uma via pública, é necessário que “o sujeito seja finado”. Mas dos nomes não, nunca tinha ouvido falar. Já para a vendedora Jéssica Veríssimo, 18, o nome “Henriqueta Lisboa” não era estranho. Depois de pensar por um momento, lembrou-se da Escola Municipal Henriqueta Lisboa, localizada no bairro Fernão Dias, próximo de onde trabalha. Mas não sabia, por exemplo, que Henriqueta foi a primeira mulher eleita membro da Academia Mineira de Letras. Jessica torce pelo Clube Atlético Mineiro, mas não imaginava que Aníbal Machado, dentre outras ocupações, fez parte do primeiro time titular do Atlético, em 1904, e marcou o primeiro gol da história do clube.

Flora Silberschneider

rogeriocorreia.com.br/noticia/elevado-castelo-branco-e-rebatizado-como-helena-greco/


5

março2016 . jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Cidade

Serra: gangues e drogas afligem o Aglomerado

Flora Silberschneider

AYANA BRAGA 3º PERÍODO

O Aglomerado da Serra é o segundo maior conjunto de favelas da América Latina e o maior de Minas Gerais. Situado na região CentroSul de Belo Horizonte, tem mais de 50 mil moradores divididos em seis vilas: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Santana do Cafezal, Novo São Lucas e Marçola. O mais recente conflito ocorrido no Aglomerado durou cerca de três meses, de dezembro de 2015 até meados de fevereiro de 2016. O motivo é o mesmo dos conflitos anteriores: disputa entre gangues por pontos de tráfico de drogas no local. O momento mais crítico foi entre dia 27 de janeiro e 1º de fevereiro em que pelo menos sete tiroteios foram registrados e a Polícia Militar teve que intervir, realizando várias ações para conter o conflito. Quase 20 pessoas foram detidas, armas, drogas e dinheiro foram apreendidos. Segundo a Polícia, o conflito já está sob controle sem nenhuma ocorrência fatal. A preocupação com os rumos da disputa levou os moradores do bairro Serra, no final de janeiro, a criar o movimento Serra do Bem para cobrar ações efetivas das autoridades. Ele é formado por associações comunitárias, clubes esportivos, estabelecimentos comerciais, escolas e outras entidades. “Nós nos mobilizamos pelos moradores de lá. Não é porque eles moram na favela que não podemos ser seus amigos. Precisamos nos unir para garantir os direitos de todos”, disse Marcos Carneiro Naves, um dos idealizadores do movimento, que mora no bairro Serra, mas fora do Aglomerado. No dia 11 de fevereiro, em um clube do bairro, o Movimento Serra do Bem conseguiu uma reunião com o comandante de Policiamento da Capital, o coronel Winston Coelho da Costa. Houve participação de moradores que questionaram sobre a segurança pública na região. O coronel prometeu criar um ponto de apoio com cerca de 70 policiais no Aglomerado, mas não definiu prazo. Presente também nesta reunião, o deputado federal Laudívio Carvalho (PMDB) fez o pedido para a abertura de uma Unidade Integrada de Policiamento, além de investimentos na inteligência da polícia e reforçou a necessidade de prevenção da criminalidade. Durante o encontro, o secretário de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social, André Quintão (PT), garantiu que o objetivo não é apenas manter a presença da polícia dentro do Aglomerado, mas também incluir outras ações culturais e sociais para a população. A professora e diretora da Escola Municipal Professor Edson Pisani, Floricema Estevam, disse que por causa do conflito as aulas das escolas e UMEIS do conjunto da Serra demoraram duas semanas para retornar. Postos de saúde e quadros de ônibus também sofreram alteração em seus horários de funcionamento. Ela é moradora do Aglomerado há 36 anos e disse que “não é apenas mais policiamento que vai resolver, mas também o acesso a equipamentos esportivos, sociais, culturais e de lazer”. O capitão Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da PMMG, informou que o movimento da polícia no Aglomerado da Serra conta com um grupo fixo de mais de 20 policiais do programa de policiamento diário, o Gepar (Grupo Especializado em Áreas de Risco). “A ideia do Gepar é além de proteger, conhecer

Disputa por pontos de tráfico de drogas é novamente motivo de conflitos entre gangues. Preocupados com a situação, moradores do bairro Serra criaram um movimento com o intuito de reivindicar mais ações por parte das autoridades. De acordo com a polícia, o conflito já está sob controle e não há riscos

Para além dos conflitos, a Praça do Cardoso é frequentada pela juventude da região

A favor da população A assessoria de comunicação do deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos criada para atender as denúncias dos cidadãos sobre qualquer tipo de problema, disse que em um conflito anterior, essa comissão interveio no Aglomerado da Serra sobre queixas de abuso de autoridade e força por parte da polícia. Todas as denúncias são encaminhadas para a Corregedoria da Polícia, Ouvidoria Geral do Estado ou para o Ministério Público para que aja investigação. Esse comitê não aplica penalidades; cumpre-lhe repassar as denúncias e depois cobrar esclarecimentos. O objetivo é assegurar os direitos humanos, das pessoas de bem, dos policiais e dos bandidos, dando transparência aos fa-

a rotina do morro e dos moradores de lá, e criar com eles uma afinidade e um elo de confiança”. Outro programa da PMMG é o Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) que atende todas as escolas do Aglomerado. O Núcleo de Prevenção à Criminalidade (NPC) da Serra funciona no aglomerado desde 2006 e atualmente tem mais de 10 oficinas do Programa Fica Vivo! como artesanato, dança, capoeira, música, esportes, futebol e vôlei. Muitas dessas oficinas são ministradas pelos próprios policiais no seu tempo livre. Conversando com moradores sobre a forma como o conflito tem sido noticiado, todos disseram que a mídia tem exagerado e aumentado muito o que realmente acontece. “Eu particularmente vejo essas notícias como estratégias para conservar esse sistema estabelecido, mantendo e aumentando cada vez mais o preconceito em relação aos aglomerados e seus moradores”, desabafa Diego Henrique Ribeiro, de 26 anos. Além do exagero da mídia, muitos moradores dizem não confiar na própria polícia. “Se dizem que tem traficante na rua à noite, isso não

tos e procurando dar respostas objetivas a população. A Ouvidoria Geral do Estado de Minas Gerais recebeu no último trimestre de 2015, um total de 285 manifestações da Ouvidoria de Polícia em BH. Sendo 43,66% de reclamação e 35,47% de denúncias. Este órgão ouve denúncias, queixas, reivindicações e sugestões dos cidadãos e cuida de encaminha-las aos órgãos públicos para a devida resposta. As denúncias e reclamações são por má qualidade na prestação de serviços e atendimento, transgressão disciplinar, abuso de poder, entre outros. Elas podem ser feitas através do telefone 162, disque ouvidoria ou pelo disque denúncia, 181, e nos dois casos podem ser anônimos.

impede a gente de sair, mas se falam que tem polícia, todo mundo fica em casa, com medo”, disse D. V., de 23 anos. O policiamento é diário, mas nos tempos de conflito passam a ser mais recorrentes as abordagens e revistas. Moradores relataram abuso da força policial e o desrespeito nesses momentos. “Se eles param alguém e se acham que devem prender, prendem”, comenta D.V. Questionada sobre isso, a Polícia negou e disse ser muito firme com esse tipo de ação. “As denúncias de policiais com má conduta que recebemos são todas investigadas e, se confirmadas, severamente punidas”. Em contrapartida, o capitão Flávio Santiago explicou que “mesmo alguns moradores não tendo confiança na ação policial, a maior parte das denúncias sobre drogas e pontos de tráfico no Aglomerado, vem deles próprios. Por isso, entende-se que, pelo menos, uma parte da população confia e conta com a Polícia”. Com essa dualidade, entre denúncias e explicações, o professor de antropologia da PUC, José Márcio Barros, acha impossível tirar uma só conclusão sobre o assunto. “Cada

Flora Silberschneider

pessoa vai falar aquilo que lhe convém, de acordo com a experiência de vida. Temos que ter uma visão ampla de qualquer lugar e assunto que esteja em pauta. O ser humano tende a defender o meio em que vive”, comenta o professor. Os policiais têm o seu ponto de vista e sua maneira de trabalhar; os moradores têm outra visão dos policiais; e quem vê de fora, tem ainda uma terceira conclusão. “De fora do morro eu tenho a impressão que temos uma visão limitada daquele lugar e de quem mora lá. Então qualquer generalização feita por alguém que não conhece aquela realidade de perto tende ao erro”, pondera Lucas Miraglia, que sempre visita o Aglomerado, mas não é morador de lá. Independente de qual dos lados esteja falando a verdade, o certo é que viver no morro é muito mais do que ter que enfrentar bandido e polícia. Marginalizar quem já está à margem deixa o dia a dia ainda mais tenso. “A guerra é todo dia contra o preconceito e a falta de oportunidade”, reflete Lucas.

RÁDIO AJUDA A Rádio Favela, principal meio de comunicação e conscientização

do Aglomerado, é um espaço de encontro e convivência de movimentos comunitários, manifestações de cultura popular e inúmeras outras formas de expressão espalhadas pela região. A rádio comunitária existe desde 1981 no Aglomerado da Serra e demorou 17 anos para ser regulamentada, deixando de ser uma rádio pirata. É um canal para denunciar problemas e realizar trabalho de informação quanto a direitos e deveres dos moradores. A equipe de comunicação da rádio disse que “a intenção foi criar um espaço para divulgar música e cultura negra, falar da discriminação contra os moradores da favela e conscientizar os jovens da comunidade quanto aos problemas relacionados à violência e às drogas, agravados com a entrada do tráfico no morro. O importante é valorizar sua fala, símbolos, gírias e traduzir para essa linguagem, discursos e informações às vezes distantes de sua realidade. Conscientização quanto a direitos, denúncia à postura abusiva da polícia no morro, questões relacionadas às drogas e violência, discriminação racial, melhorias nas áreas e saúde, infraestrutura e saneamento são temas constantemente discutidos na rádio”. A rádio hoje é ouvida não só pelos moradores do morro, mas também por aqueles que eles chamam de “moradores do asfalto”, o que faz diminuir as diferenças que existem entre esses mundos distintos, o da favela e o da cidade, pois existe uma diversidade sim, mas que pode ser conhecida e dividida para uma convivência melhor. O Aglomerado da Serra é um lugar rico. Rico de pessoas de bem, de oportunidades, diversidade cultural e possibilidades. É um lugar que merece ser conhecido e reconhecido por todos. Como disse Diego Henrique Ribeiro: “viver no morro é ver e sentir na pele as desigualdades planejadas e estabelecidas, mas também é ver e sentir o amor, a humildade, a luta pela sobrevivência”.

Outro tipo de riqueza O Bloco Seu Vizinho é uma iniciativa musical, criada para a comunidade do Aglomerado da Serra por alguns moradores e amigos. O Bloco de carnaval, que nasceu no final de 2014 atingiu seu ápice no desfile desse ano. “O objetivo é promover o acesso de todos os moradores, respeitando sua diversidade. É um encontro para a toda a família”, disse Diego Henrique Ribeiro, um dos idealizadores do bloco. Em seus dois anos de existência, aumenta cada vez mais o número de adeptos ao projeto. É uma forma de levar alegria a crianças e adultos, moradores ou não do Aglomerado da Serra. O desfile é deles e para eles. Diego conta que durante todo o ano de 2015 houve oficinas de percussão,

preparando e aprendendo para o desfile desse ano. “Foram feitos cortejos pelo aglomerado, apresentações em escolas, convidando toda a comunidade, em especial as crianças, a participarem das atividades propostas pelo bloco”, continua Diego. “Tenho uma admiração enorme por aquele lugar, e pela proximidade e solidariedade que marcam o relacionamento dos moradores. São centenas de artistas, músicos dos mais diferentes estilos, professores, atletas, movimentos culturais, grupos de dança, diferentes expressões religiosas e poderia citar infinitas outras riquezas daquele lugar”, diz Lucas Miraglia, de 22 anos, que não mora no aglomerado, mas é um dos idealizadores do Bloco.


6

março2016 . jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Meio ambiente

R. Doce: recuperação demorada A recuperação do Rio Doce é um desafio para os Governos Estadual e Federal, bem como para as prefeituras que, antes do desastre poluíam suas águas com esgotos sem tratamento AMANDA SANTOS DENIO SANTOS 6° E 7º PERÍODO

Todo mundo ainda se lembra do dia 5 de novembro de 2015, quando a barragem de Fundão, localizada em Mariana (MG) se rompeu, lançando 34 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério no meio ambiente, de acordo com o Ibama. A enxurrada destruiu tudo o que estava no caminho, e provocou a morte de 17 pessoas e o desaparecimento de mais duas. O distrito de Bento Rodrigues teve 82% de suas construções soterradas. Outros distritos, como o de Barra Longa, Paracatu de Baixo e Belo Oriente também sofrem com a catástrofe. Foram 15 cidades afetadas. Um laudo técnico do Ibama aponta destruição de 1.469 áreas de vegetação, algumas de preservação permanente, além de atingir 663 km de rios e afluentes, chegando ao mar, no Estado do Espírito Santo. A Bacia do Rio Doce, com cerca de 82.646 quilômetros quadrados ficou desfigurada.

CAUSAS E SOLUÇÕES

O professor José Cláudio diz que, quase quatro meses após o ocorrido, é possível desenhar um cenário claro das possíveis causas da tragédia. Ele que já foi presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente, FEAM, órgão responsável pela fiscalização de barragens em Minas, disse que o órgão exige que cada empresa fiscalize e apresente planos de prevenção de acidentes em suas respectivas barragens, apontando sempre alguma irregularidade observada como rachaduras, focos de erosão. São trabalhos executados por auditorias externas, nunca comandadas pela própria empresa. Ele acredita que uma das causas do

Prof.Junqueira alerta quanto a outras barragens rompimento de Fundão pode ter sido falha de operação, uma vez que a barragem teve sua capacidade preenchida em 2013. Daí pra frente uma série de alteamentos foram feitos para ampliar a capacidade dela, ou seja: Fundão operava em capacidade superior àquela para a qual ela foi projetada e já apresentava sinais de esgotamento. Altear barragens, segundo o professor, apesar de ser uma prática comum, é sinônimo de aumentar o risco de rompimento. José Cláudio conta que o engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila, responsável pelo projeto da barragem de Fundão, disse em depoimento à Polícia Federal que vários alteamentos foram feitos de forma desordenada, em desacordo com o projeto inicial.

Dênio Santos

Ele destaca que, por estar localizada num vale, as consequências foram piores porque os rejeitos desceram com força brutal, atingindo vários municípios, entre eles o de Bento Rodrigues, visitado pelo professor, que classificou a passagem da cidade como “lunar”, tamanha a destruição. Houve também uma falha muito grande no sistema de comunicação, porque os moradores do entorno só foram avisados por meio de aplicativos de celulares, gritos de outros moradores, e não pela Samarco, que deveria ter um alarme eficiente para avisar todos a tempo de evacuarem o local uma vez que a atividade é de risco iminente, o que não ocorreu. O professor é contra a existência

de barragens de minério próximas a áreas habitadas e com riquezas ambientais. Ele defende a necessidade de mudança de tecnologia e o desenvolvimento de técnicas limpas para a questão. Para ele, a solução é gerar rejeitos a seco, embora seja mais caro. O processo que separa a sílica do minério utilizando água é o mais barato, segundo o professor. O material usado nessa separação é o amido, que é orgânico. A própria Vale tem uma experiência dessas no Pará, o Projeto Ferro Carajás S11D, e em Congonhas também, segundo ele. Há ainda o processo semi-seco, que separa a parte sólida da água, antes do descarte nas barragens. “Se aconteceu isto com uma empresa tão premiada como a Samarco, imagine com outras”, diz ele. Além de combater a causa, o professor acredita que a criação de vários projetos descentralizados, voltados para a recuperação e manutenção do rio, são a providência imediata mais necessária. José Cláudio não arrisca um prazo para a recuperação da Bacia do Rio Doce, mas diz que a natureza é sábia e vai resolver a questão.

RIO DOCE, ANTES

Para o professor José Cláudio, o Rio Doce já não estava nada saudável antes da tragédia. Encontrava-se turvo e assoreado. Diz que, evidentemente, a turbidez do rio se encontra em níveis elevadíssimos, mas de acordo com dados do Instituto Mineiro de Gestão das Águas - Igam, divulgados no dia 22 de março, será possível comparar a situação real da qualidade da água de hoje, em relação ao ano passado, por exemplo. O professor arrisca que, essa diferença pode não ser significativa em alguns pontos, por incrível que pareça. Isso porque há centenas

de pequenas cidades que jogam sua rede de esgoto no Rio Doce, além dos pequenos extratores de areia, e de operadores outras atividades agrícolas que estão desmatando, para produzir carvão para siderúrgicas e assoreando o rio há anos. Com isso as chuvas vão devastando as terras e o resultado de toda a erosão vai para o Rio Doce, que refletia, antes da tragédia, tudo de errado que era feito na bacia. José Cláudio diz que são necessárias várias ações, como o descarte adequado de lixo, tratamento de esgoto, controle das pequenas mineradoras de areia, e controle do lixo depositado por indústrias e garimpo para recuperar o rio. Agrotóxicos usados na agropecuária que vão parar no Rio Doce também devem sofrer controle rigoroso, além de ser necessário revegetar as margens. Deve haver uma mobilização muito grande por parte do Governo, para conscientizar sindicatos e moradores, e responsabilizar pessoas e empresas que estiverem maltratando o rio.

QUEM VAI PAGAR Segundo o IBAMA, a Ação Civil Pública movida pelo Governo Federal em conjunto com os estados do Espírito Santo e de Minas Gerais contra a Samarco e suas controladoras, Vale e BHP, estima um custo total de R$ 20 bilhões para ações de recuperação na bacia do Rio Doce. Ainda segundo o órgão, a legislação estabelece que a empresa responsável pelo desastre seja obrigada a reparar os danos em toda a área atingida. Para isso, o IBAMA direciona e monitora as ações da empresa, em conjunto com órgãos estaduais e federais. No caso de danos irreparáveis, são exigidas medidas compensatórias, bancadas pelo causador deles.

Autoridades esperam ratificação total do Tratado de Paris sobre o clima GABRIEL CRUZ 2º PERÍODO

O mundo está em emergência. Não é necessário nenhum cientista ou especialista climático para nos dizer que faz mais calor. Sentimos na pele. O planeta clama por reações. E ela chegou. De 30 de novembro a 12 de dezembro do ano passado, a COP-21 (Conferencia das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), foi considerada um marco: após vinte edições anteriores, enfim, os governantes tomaram, seriamente, partido em defesa do clima. A COP-21 foi realizada em Paris e contou com a participação de 195 países, entre os quais, o Brasil que através da ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, apresentou uma das propostas mais ousadas, de proteção climática. Ali a comunidade internacio-

nal fechou um acordo histórico que precisa ser ratificado. Especialistas no assunto não têm tanta certeza de aprovação final completa por todos os participantes. Entre eles, o engenheiro florestal, ex-ministro do Meio Ambiente e ex-secretário do Meio Ambiente de MG José Carlos Carvalho. Ele prefere assinalar que o acordo é promissor: “Como todo acordo internacional, ele tem que ser ratificado pelos países, e existem prazos para que isso possa acontecer. Foi uma conquista grande e inimaginável, mas é preciso esperar que esse acordo tenha efetividade”, diz o ex-ministro. Em março, haverá um novo encontro de representantes do Acordo de Paris. A partir daí começa a contar o prazo que vai até abril de 2017 para que os países depositem junto à ONU os documentos de ratificação do Acordo aprovado.

Carvalho afirma que não há chance dos compromissos assumidos serem reduzidos na hora do acerto formal dos países. “Os compromissos em Paris estão baseados nas INDCs (Intention Nationaly Determined Contribution), contendo as metas de redução dos gases de efeito estufa de cada país. O Brasil, em comparação com as demais nações, apresentou uma das mais ousadas INDC.” Os documentos do Acordo terão de ser submetidos aos parlamentos de cada país. No caso brasileiro, a tarefa é do Congresso Nacional. Sem essa providência, o tratado não tem validade legal perante a ONU, e não entra em vigência. “O Brasil teve um papel de protagonismo em Paris, graças à liderança e ao empenho pessoal da ministra Izabella Teixeira e do time de diplomatas escalados pelo Itamaraty para participar da negociação do Acordo. Este

protagonismo, certamente, será mantido em Nova York. Aliás, Teixeira está tendo o seu nome cogitado para liderar o Acordo de Paris, no âmbito das Nações Unidas, como reconhecimento ao exitoso trabalho que ela realizou para se chegar a um compromisso mais ousado do que o inicialmente imaginado”, explica Carvalho. José Carlos também considera importante a mudança de rumo da participação norte-americana no Acordo: “A liderança dos EUA é inquestionável, principalmente em razão da visão de estadista de Obama. Diferentemente da posição assumida pelos conservadores republicanos, na era Bush, o Estados Unidos tiveram um papel proativo para o Acordo de Paris. Todavia, a Suprema Corte de Justiça americana derrubou, recentemente, um Ato Executivo de Obama, que pode influenciar negati-

Cidades afetadas pela lama vamente a participação deles no Acordo”. Carvalho fala que essa disposição dos EUA foi importante por influenciar a Comunidade Internacional. E também comentou a situação chinesa: “A China tornouse o principal emissor de GEE (Gases de Efeito de Estufa) do mundo, ultrapassando os EUA. Além das emissões de CO2 vive uma realidade de poluição sem precedentes, com graves problemas de saúde pública. Recentemente, teve que interditar fábricas para evitar danos maiores à saúde da população. Nesse contexto, a China tornou-se mais predisposta a assumir compromissos internacionais no campo das mudanças climáticas, pressionada mais

Arte: Mirna de Moura

pelos seus problemas internos de poluição do que pelos apelos internacionais sobre o tema. Além disso e por conta dessa realidade, a China tem feito grandes esforços para reduzir suas emissões, principalmente, em investimentos em energias limpas, como energia fotovoltaica”. O engenheiro também considerou a participação chinesa de extrema importância. Segundo ele, “a COP-21 pressupõe mudanças estruturais na economia de energia, abrindo oportunidades para fontes de energia limpa que não agridam o planeta. Será um grande desafio, mas mostra que a humanidade tomou consciência de que precisa defender as ferações futuras.

Voluntários resgatam animais da tragédia de Mariana ALEXA SIMON DEBORA DRUMOND HELENA ANTUNES 1º PERÍODO

Toda cidade pequena tem, sempre, muitos animais domésticos, como cães e gatos. Na área destruída pelo mar de lama da Samarco não era diferente. Muitos animais morreram; outros ficaram sofrendo, presos entre os destroços. Hoje, porém, muitos foram resgatados graças ao trabalho de duas ONGs, no distrito de Bento Rodrigues. A Proteger e a Associação Ouropretana de Proteção Animal (Aopa), com apoio de empresas terceirizadas pela mineradora, se encarregaram

deste trabalho, que começou em dezembro de 2015. Mais da metade dos 748 animais resgatados na região já retornaram para seus donos. A Proteger entrou em ação ao ver nos noticiários a situação inicial dos animais. Fez contato com o canil municipal de Mariana e “Ficamos sabendo que eles estavam sendo resgatados e levados para lá, mas careciam de voluntários preparados para o trabalho”, disse Mariana Licéia, fundadora da ONG. As áreas em que os animais se encontravam estavam muito devastadas e despovoadas, o que dificultou o trabalho. O maior obstáculo foi o acesso aos locais atingidos. “Havia necessidade de carros especiais, e muitas vezes, a chegada era demorada. Além da grande

quantidade de animais e ou falta de estrutura para atendimento imediato”, disse ela. Dentre os animais resgatados havia cães, gatos, equinos, bovinos, suínos e aves (galinhas) que, após serem recolhidos, eram levados para o canil onde recebiam os cuidados básicos, eram medicados e vacinados, sob orientação veterinária. “Não houve casos graves, atendemos animais com cortes e fraturas, o que já era esperado”, informa a veterinária Barbara França, o trabalho foram obtidos através de doações. “Realizamos uma campanha de quatro dias, na qual conseguimos encher um caminhão de mantimentos, rações, cobertores e medicamentos, grande parte devido à mobilização da população”, relata

Mariana. Atualmente, a Samarco é responsável por todos os gastos com o resgate de animais e 390 já retornaram aos donos e são monitorados pela empresa. A Proteger promoveu um evento especial, em Belo Horizonte, para doar oito dos animais resgatados que já estavam em condições de adoção. As ONGs que estavam ajudando nos resgastes deixaram de atuar na região. Segundo fontes ligadas às instituições, elas foram ‘convidadas’ a se retirar dos locais afetados pelo acidente. “Nenhuma ONG foi proibida de ir ao galpão, após a Samarco assumir a gerência dele, as ONGs foram convidadas a trabalhar com a empresa, porém nenhuma se prontificou”, explica Barbara.


7

março2016 . jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Comunicação

Apurações falhas geram erros Desplicência e imprecisão durante entrevistas e pesquisas, na apuração de fatos para notícias e reportagens, podem gerar transtornos ao jornalista, ao veículo e, principalmente, às fontes ANABELLA MENDES LUCAS WARDI NATÁLIA ALVES 2° PERÍODO

O jornalista sempre precisa ter certeza de tudo o que apurou antes de publicar uma notícia. É o único modo de trabalhar com segurança e lidar com a pressão por parte dos chefes, fontes e da política editorial do veículo. Seu compromisso com a verdade dos fatos é seu escudo evitando que erros aconteçam. O professor e jornalista Mario Viggiano concorda com isso; ele explica o quão importante é a apuração para esse processo e lembra que erros não ocorrem quando o responsável pela pauta levanta informações verdadeiras; assim, equívocos são evitados. Mas, cabe também ao repórter o dever de checar a veracidade da pauta. “Uma pauta mal feita, gera uma notícia mal feita e isso pode acarretar problemas lá na frente. Não se basear em boatos, comprovar, é fundamental”. Ele também acrescenta que ao cometer um erro o profissional pode marcar negativamente sua carreira e afetar a vida de outros envolvidos. “Cada erro tem uma implicação, atrapalha

ou beneficia alguém. Pode acabar com a vida de uma pessoa ou falir uma empresa”, observa Viggiano. Um exemplo disso é a matéria envolvendo o nome do senador Romário divulgada na edição 2436 do dia 29 de julho de 2015 da revista Veja que o acusa de ter uma conta milionária num banco suíço, o BSI, não declarada à Receita Federal. O caso repercutiu e após a contestação das “provas” falsas, a revista se retratou assumindo o erro na seguinte nota: “Por ter publicado um documento falso como verdadeiro, Veja pede desculpas ao senador Romário e aos seus leitores. Estamos revisando passo a passo o processo que, sem nenhuma má fé, resultou na publicação do extrato falso nas páginas da revista, evento singular que nos entristece e está merecendo toda atenção e cuidado para que nunca mais se repita”. O caso do senador Romário é recente, mas a revista Veja também já cometeu outro grande erro. Foi em novembro de 1993 quando publicou a matéria de capa sobre o ex-presidente da Câmera dos Deputados, Ibsen Pinheiro. A notícia relatava a movimentação de um milhão

Fernando Lacerda

Lucas Félix

Mario Viggiano

Flora Silberschneider

de reais nas contas do deputado e o acusava de fazer parte da Máfia do Orçamento, sendo que Pinheiro

notabilizou-se pelos processos de impeachment contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello e a CPI

do Orçamento. O episódio foi discutido e desmentido pela própria revista que onze anos depois. Fernando Lacerda, professor e sócio fundador da empresa Lead Comunicação expõe sua concepção sobre a prática de bom jornalismo. “Requer a busca de isenção, honestidade e equilíbrio por parte de todos os profissionais, sejam eles, editores, repórteres, redatores e até mesmo da cúpula da publicação”. Ele completa afirmando que veículos mal intencionados ou que fujam do compromisso com a verdade não fazem jornalismo. De acordo com o Art 26 §2º da lei nº 5250, que regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação, a retratação deve ser “no mesmo jornal ou periódico, no mesmo local, com os mesmos caracteres e sob a mesma epígrafe”, no entanto isto não acontece. No dia 11 de outubro de 2015 o jornal O Globo publicou um “furo exclusivo” relatando que Fábio Luis Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente Lula, teria sido citado por Fernando Soares, o lobista conhecido como “Fernando Baiano”, como beneficiário

de um pagamento de R$ 2 milhões. A notícia do dia 11 de outubro foi capa do jornal, mas sua retratação, ocorrida no dia 9 de novembro, não foi manchete ainda que tenha sido publicada na primeira página. A retratação não teve o mesmo peso da mentira. Os veículos de comunicação buscam a todo custo esconder qualquer tipo de erro, seja não os assumindo ou não garantindo a visibilidade da retratação, o que gera diversos processo e ações judiciais contra eles. Não há muita justiça nesses casos, é o que confirma o professor Lacerda. “Pedir desculpas depois que o mal está feito, adianta pouco. Se ocorrem erros contra personagens poderosos, como senador, presidente, ex-presidente, ministros, empresários etc, imagina contra o cidadão comum. O mau jornalismo pode destruir vidas. Temos de lembrar sempre disso”. Lacerda observa que “Cada [apuração] é diferente, especialmente no chamado jornalismo investigativo. O que não pode mudar é a vontade de se chegar à verdade, seja ela qual for. Apurar até não poder mais”.

Justiça pode impedir publicação de notícias MIRNA DE MOURA 6º PERÍODO

Censura da imprensa. Esta foi a principal dificuldade enfrentada pelos jornalistas na ditadura militar, que durou de 1964 a 1985. Passados 31 anos do fim do regime militar, os jornalistas ainda encontram empecilhos para o exercício da profissão. Ao invés de vir fardada, a “censura”, agora, veste toga e decide se um veículo de comunicação pode ou não falar sobre determinado assunto. A Constituição Federal de 1988 prevê a liberdade de expressão e de produção intelectual, independente de censura. Porém a mesma Constituição assegura que a intimidade e vida privada são também direitos invioláveis. Resta a dúvida: como conciliar esses dois direitos? “Não há sobreposição de princípios, eles devem ser ponderados entre si. Se a pessoa, por profissão, tem uma vida pública, é natural que sua à privacidade seja menor. Por outro lado, se o assunto envolve intimidade, que não interessa à população, deve prevalecer à proteção da vida privada” responde o advogado Edgar Gaston Jacobs, professor da Escola de Direito da PUC Minas. Em 2009 o jornal O Estado de São Paulo publicou uma reportagem a respeito de investigações da polícia federal sobre negócios suspeitos do empresário Fernando Sarney, filho do

Mayrink: censura à imprensa é abominável

ex-presidente José Sarney. Essa reportagem gerou um processo judicial que impede até hoje que o jornal publique mais informações sobre esse caso. O prof. Jacobs diz que no processo do Fernando Sarney “é aceitável que prevaleça o direito a informações, limitando-se, porém, excessos que não contribuam para esclarecer fatos sociais relevantes. Esses limites são dados pelos códigos de ética da profissão jornalística”. Ele explicou que “toda decisão judicial é, em regra, recorrível. Cabe à imprensa provar a relevância daquelas informações e mostrar que agiu com ponderação. Um juiz pode ter seus atos ilegais contestados judicialmente. A única ressalva é que o controle deve ser baseado em leis e princípios claros, não na opinião pessoal dos juízes”. Mesmo entrando com

Davi França

recursos, O Estado de São Paulo continua proibido de publicar sobre o caso. “Os juízes têm uma tendência no sentido de favorecer a mídia, restringindo apenas casos em que há flagrante risco de desonra ou outros prejuízos morais e financeiros”, observa Jacobs. Lembra que imprensa tem papel importante nos julgamentos de casos muito comentados e veiculados e pode provocar insatisfação, no andamento do processo, se a justiça for sensível à pressão popular. Para muita gente, isso se comprova ao ver a decisão recente do Supremo Tribunal Federal sobre prisão de pessoas condenadas apenas em primeira instância e em casos de júri popular, como o do goleiro Bruno, condenado a 22 anos de prisão, pela morte de Elisa Samúdio, cujo corpo nunca foi encontrado.

PROBLEMA HISTÓRICO O jornalista José Maria Mayrink que tem mais de 50 anos de profissão e foi repórter em tempos de ditadura no jornal O Estado de São Paulo disse que em 1964 publicou “várias matérias que poderiam ser censuradas depois, como manifestações contrárias ao general Castelo Branco. A censura direta começou só em 1968 e acabou, para o Estado, em janeiro de 1974, quando os censores foram retirados da redação. Porém continuaram em outros jornais”. Ele conta ainda que a censura direta era feita por um militar presente diariamente na redação, lendo e selecionando as matérias que seriam cortadas ou publicadas.

Esse período mais rigoroso da censura se instalou com o Ato Institucional 5 ou AI-5, que durou de 1968 a 1979. Mayrink comenta que “censuras judiciais” são frequentes no interior, onde os juízes atendem a pedidos especiais e censuram rádios, revistas, jornais e outros. IMPARCIALIDADE Sobre a cobertura midiática da Operação Lava Jato, José Maria Mayrink comenta que acha “normal e legítimo que veículos jornalísticos tomem posição. A grande maioria da imprensa está tomando partido, fazendo carga pesada contra a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, porque apoia o pedido de impeachment, in-

diretamente. Enquanto eles apoiam, deixam de dar tanta importância ao outro lado, às outras denúncias”. Voltando à década de 60, Mayrink observou que muitos veículos naquela época apoiaram o golpe militar. A família Mesquita, dona do jornal O Estado de São Paulo, conspirou contra João Goulart, achando que ele daria um golpe para implantar no país uma república sindicalista, de fundo comunista. Organizaram encontros com lideranças civis e os militares para tramar o movimento. No ano seguinte ao golpe, segundo semestre de 1965, a eleição direta para um novo presidente é cancelada e o Estadão então, retira seu apoio à ditadura.

Strangers in the night O documentário sobre censura ao “Estadão”, “Estranhos na noite”, nome dado em referencia a canção de Frank Sinatra, ‘Strangers in the night’, foi exibido esse mês na PUC Minas, e encheu um auditório de jovens aspirantes a jornalistas que só conheceram a ditadura através de livros de história. Nele, jornalistas do Estado de São Paulo que sofreram repressão na época da ditadura militar contam em detalhes as dificuldades de trabalhar

sobre a vigilância de censores, diariamente. O estudante de jornalismo, Thiago Carminate comentou que com “o depoimento dos jornalistas dá pra ter uma dimensão melhor do acontecido, foi maior do que falam. As histórias mostram o que é de fato uma censura. A maneira como lutaram contra o regime, como criaram formas inteligentes de burlar o sistema. Por exemplo, a matéria da cobra gigante, comparando o regime a uma co-

bra matadora, é inspiradora. E o jornalista que a escreveu deu a vida pra fazer isso, já que foi assassinado logo após sua publicação”. Como o documentário é de produção do Estado de São Paulo e direção de um jornalista de sua equipe, José Maria Mayrink, gerou controvérsias. Karine Borges achou que o documentário “defendeu demais a postura do Estadão, dando uma visão muito positiva para quem apoiou o golpe.”


8

março2016 .jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalism o d a pucminasjornalmarcolaboratório

Saúde

Dengue só acaba se todos se emp População precisa entender que o combate à dengue é mais que uma tarefa comum: é dever de cidadania e demonstração de solidariedade. Reclamar do Governo não vai resolver o problema. ANDREIA LOMAS ISABELA MAIA 1º E 5º PERÍODOS

Dengue não é problema de remoção imediata. As autoridades alertam que as doenças transmitidas pelo mosquito aedes aegypti podem se tornar problemas também a longo prazo. O combate aos focos do inseto são fundamentais mas, de acordo com a professora Jussara Alves, do curso de ciências biológicas da PUC Coração Eucarístico, “os serviços de saúde e sociais terão ainda de se especializar para atender a população após este período agudo que estamos passando”. Em Belo Horizonte, do início de 2016 até o dia 10 de fevereiro, foram registrados 2.383 casos de dengue, além de 9.403 casos suspeitos. A professora Jussara ressalta que os piores prejuízos para a população não são apenas derivados da dengue e de suas complicações, mas também das outras doenças transmitidas pelo mosquito, que têm sequelas que perduram ou são irreversíveis. Em 22 de dezembro de 2015, foi decretada situação de emergência em BH devido à infestação do mosquito e criado o Grupo Executivo para Intensificação do Combate ao Aedes Aegypti (Geicaedes), responsável por coordenar e alinhar as ações a serem adotadas. Até o dia 3 de fevereiro, mais de 84 mil imóveis haviam sido vistoriados e 1.757 toneladas de lixo retiradas. A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) promove mutirões contra o mosquito em parceria com as Regionais, a Defesa Civil e com apoio da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Um cronograma de ações, nas nove regiões, foi definido para abranger toda a Capital. Na Centro-Sul, serão

Morador reclama de vizinho que não cuida do terreiro dele

realizadas às sextas-feiras, mesmo dia da Noroeste; às segundas, é a vez da região Norte; terças, Nordeste e Pampulha; quartas, Leste e Venda Nova; e quintas, Barreiro e Oeste. PREVENÇÃO O aedes aegypti transmite dengue, chikungunya e febre zika. As três doenças têm sintomas parecidos, como febre, dores nas articulações e dor de cabeça. Os aromaterapeutas do Ibra (Instituto Brasileiro de Aromatologia) têm testado, fórmulas alternativas dede combate ao mosquito, a partir de óleos vegetais e óleos essenciais usados em diversas enfermidades. Os aromaterapeutas Ana Cristina Sanches Diniz, professora da PUC Minas, e Otávio Henrique Silva Bandeira, do Ibra, buscam um repelente que não é comercializado em farmácias. “Vários óleos essenciais de plantas funcionam como repelente porque suas moléculas aromáticas afastam vários mosquitos, inclusive o aedes aegypti”, explicam. Uma receita de repelente já testada e aprovada é do professor do Ibra, André Ferraz, que pode ser

feita em casa. São necessários 100g de creme vegetal, 20 gotas de óleo essencial de gerânio, 20 gotas de óleo essencial de citronela e 10 gotas de óleo essencial de cravo. Os aromaterapeutas alertam que para crianças e grávidas, não se deve colocar o cravo porque é um ingrediente forte. Outra ferramenta de combate é a mosquitoeira, uma armadilha eficaz em locais de foco, fácil de construir em casa. Apesar de ser uma boa medida, é necessário cuidado para não criar focos em locais que antes não ofereciam perigo. “Essa armadilha não pode ser feita de forma aleatória; é preciso consciência para não resultar em um criadouro de mosquitos”, alerta a professora Jussara. Confira no passo-a-passo abaixo como montar uma mosquitoeira. AÇÕES NOS CAMPI Na PUC São Gabriel, as reclamações quanto à grande quantidade de mosquitos são generalizadas. Funcionários, professores e alunos estão apreensivos. A professora Marta Neves, que dá aulas ali no período da noite e aos sábado de

Marianne Fonseca

manhã, conta que “nos corredores, nas salas de aula, na sala dos professores, em inúmeros ambientes, sempre há vários mosquitos. A ponto de perturbarem a gente dentro da sala de aula”. Marta reconhece que a universidade tem promovido ações para combater os focos, mas acredita que é necessário fazer mais. “É um momento pesado, difícil e que vai exigir mais da própria PUC. Os esforços tem que ser redobrados, no sentido de limpeza e manutenção dela”, ressalta. “Todos esses dias eu tenho detectado muitos mosquitos em vários lugares, de forma a criar uma situação muito preocupante e incômoda”. Alguns funcionários também reclamaram da alta incidência de mosquitos, mas não culparam a Universidade. Entre as causas apontadas estão a época do ano (o aumento da temperatura propicia a reprodução dos insetos) e uma reforma feita no telhado de um dos prédios, que pode ter gerado um criadouro de mosquitos. A reforma coincidiu com a época de chuvas e isto causou o surgimento de poças, mas a

PUC realizou um procedimento de secagem e de monitoramento delas. O pró-reitor adjunto da unidade São Gabriel, Alexandre Rezende Guimarães, diz que todos os esforços estão voltados para a dengue, mas não só dentro do campus. Ali são promovidos mutirões diários pelos funcionários, para a realização de podas de árvores, além de aplicação de inseticida e monitoramento de focos. Através da regional nordeste, onde está localizado o campus, a universidade age em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. “A PUC faz parte da cidade e por esse motivo também sofre com seus problemas”, afirma Guimarães. Na região nordeste, do início do ano até o dia 10 de fevereiro, foram 214 casos de dengue confirmados e 1.193 suspeitos. Durante a vistoria realizada pela regional na unidade São Gabriel neste ano, não foram encontrados focos. No ano passado, foram três criadouros de mosquitos identificados. Para a professora Jussara Alves, o trabalho em conjunto é a melhor solução: “tem de haver uma conscientização tanto da população quanto do governo, tornando-os parceiros. Com isso, há maior facilidade de fazer o controle”, diz. Não há dados sobre alunos infectados com dengue, mas a equipe de enfermagem da PUC São Gabriel foi instruída a levantar os casos no campus. “Vamos comparar com os números da Prefeitura para saber se estamos na ‘normalidade’ do número de casos. Mas não se pode considerar a dengue como algo normal”, explica Guimarães. Em 2015, houve quatro casos; neste ano, até agora, já foram confirmados quatro funcionários contamina-

dos. A Pró-reitoria de Logística e Infraestrutura (Proinfra) está trabalhando na prevenção de focos do mosquito em todos os campi e unidades da PUC. Através do apoio técnico do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), os funcionários da Universidade estão sendo treinados para atuar na limpeza e manutenção das instalações. “Estamos fazendo um trabalho para conscientização da comunidade acadêmica. Não só dentro da universidade, mas levando a contribuição para a sociedade”, explica o professor Rômulo Albertini, pró-reitor de Logística e Infraestrutura. Na PUC Coração Eucarístico, as ações englobam o cuidado com os maiores riscos de foco, como água parada, vasos de plantas, calhas, telhados, descarte inadequado de copos, latinhas, tampas e outras coisas que possam acumular água. De acordo com a professora Jussara, no campus Coração Eucarístico “não há empecilho para combate ao mosquito, já que as ações promovidas pela Ciências Biológicas ocorrem sempre e de forma regular”. O professor Rômulo Albertini destaca que a campanha de combate ao aedes aegypti é retomada todo semestre devido ao fluxo de novos alunos (são aproximadamente seis mil novatos a cada seis meses). Além disso, a Vigilância Sanitária acompanha o trabalho no campus Coração Eucarístico desde 2011. A professora Marta Neves, que também dá aulas no Coreu, diz que a incidência de mosquitos no local não é tão grande quanto no São Gabriel. “Vejo um mosquito ou outro, o que talvez não me alerte tanto para a identificação de possíveis focos. Lá (no São Gabriel) eu vejo mosquito

Arte: Mirna de Moura


9

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo.março.2016

Saúde

enharem na luta o tempo inteiro”, relata. No campus Coração Eucarístico, a campanha de combate à dengue tem acontecido, também,através da internet, com e-mails de conscientização enviados aos alunos e professores, além de cartazes disponibilizados pelo Governo Federal. Já na unidade São Gabriel, a divulgação acontece principalmente por meio da distribuição de flyers da Prefeitura entregues pelos funcionários. SITUAÇÃO GRAVE A Regional Noroeste tem o maior número de casos de dengue na capital mineira. Do início do ano até o dia 10 de fevereiro, foram registrados 426 casos confirmados e 1.187 suspeitos. Todas sextas-feiras, estão sendo promovidos mutirões na região que têm o objetivo de sensibilizar a população. No Padre Eustáquio, o sexto mutirão da Regional de combate à dengue aconteceu na sextafeira, dia 26 de fevereiro. Segundo Alexandre Baracho, presidente da Associação de Moradores e Empreendedores do Padre Eustáquio (AME Padre Eustáquio), algumas casas foram vistoriadas pelo Exército. Houve também a divulgação de como combater focos do mosquito aedes aegypti através de carros de som que circulavam pelo bairro. De acordo com a Regional Noroeste, foram realizadas atividades nas escolas e, nas áreas públicas, há servidores que cuidam do local e toda semana fazem avaliações. “Eles passaram olhando e vistoriando e pediram para deixar as coisas do lado de fora das casas”, disse Alexandre. Mais tarde, os caminhões com agentes da regional passaram recolhendo os entulhos. No dia 26, foram aproximadamente 19 toneladas de lixo retiradas do Padre Eustáquio. O agente de combate

a endemias, Daniel Eric Silva, participa das ações contra a dengue há quatro anos. Ele ressalta que a parte mais importante do trabalho é conscientizar a população da responsabilidade que ela tem: “A prefeitura tem o trabalho de fazer o recolhimento, mas a população tem que entender que não pode ter objetos na casa que acumulam água, bem como entulho e lixo. Tem que fazer a parte dela”. Ele avalia que a campanha tem sido eficiente. Silva diz que a maior dificuldade enfrentada é a resistência por parte da população. “Alguns não abrem as casas. Às vezes temos que visitar a mesma casa várias vezes e encontramos os mesmos problemas. A pessoa não tem consciência de que ela tem que tirar a água parada”, explica o agente. De acordo com as pesquisas de índice larvário da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) 85% dos focos estão dentro dos domicílios. Segundo Mônica Marques, que coordenou o mutirão no Padre Eustáquio e é da Gerência do Distrito Sanitário da Regional Noroeste, toda ação tem de 20% a 30% de dificuldade de entrada nos domicílios. “Essa é uma taxa ainda alta para um momento como esse”, alerta. As casas que apresentam maior dificuldade de acesso estão sendo revisitadas pela equipe da PBH em parceria com a Defesa Civil na tentativa de vistoria-las. Além disso, há a preocupação com os trabalhadores que ficam o dia inteiro fora: “A gente tem tentado fazer o resgate dessas casas aos sábados, feriados e em horários que as pessoas possam estar em casa”. LOTES E CARROS Quanto aos lotes e propriedades privadas, a PBH identifica o proprietário e faz a notificação.

Em lago do campus da PUC um foco do mosquito foi encontrado

“Não se conseguindo, a gente faz a limpeza e depois manda a conta para IPTU do proprietário. A responsabilidade é dele”, conta Mônica Marques. Desde o dia 22 de fevereiro, a Prefeitura tem realizado entradas forçadas em casas abandonadas e cujos donos não são identificados. Carros abandonados também são um problema e seu recolhimento está sob responsabilidade da Gerência de Fiscalização Urbana. Aprovada em 2015 pelo prefeito Márcio Lacerda, a Lei das Carcaças regulamenta a retirada de veículos abandonados nas ruas de Belo Horizonte. A lei não se aplica somente às carcaças de veículos, mas também a pneus e acessórios automotivos. Os resíduos removidos são armazenados pelo prazo de 90 dias e o proprietário pode retirá-los somente após o pagamento das tarifas e cumprimento de sansões. Hélio Eustáquio Murta, sapateiro, mora há 65 anos no Padre Eustáquio. Ao lado de sua casa, há uma casa fechada desde a morte do proprietário, há três anos. A equipe da PBH que visitou o local encontrou apenas um possível foco de mosquito, um pneu, mas os entulhos da área preocupam porque podem gerar outras zoonoses. O sapateiro conta que já tentou conversar com os herdeiros sobre a situação, mas o “pessoal é ignorante e não gosta de conversar”. Na casa de seu Hélio, não há focos. “Sempre eles vêm aqui, colocam o pó e olham tudo. Eu também fico de olho”, conta. Entre sua família e vizinhos, não houve casos de dengue. A orientação da PBH é de que a população reserve 15 minutos da semana para fazer o check list, ou seja, a avaliação do domicílio e procura por possíveis focos.

Marianne Fonseca

Agentes da prefeitura e Defesa Civil vistoriam periodicamente domicílios

Marianne Fonseca

Postos de saúde estão melhorando serviços Na região do Padre Eustáquio, existem dois centros de saúde: um, localizado na rua Humaitá, pertencente ao bairro e outro, na rua Frederico Bracher Júnior, que pertence ao Carlos Prates, bairro vizinho. Segundo Alexandre Baracho, presidente da AME Padre Eustáquio, os moradores têm reclamado do atendimento do primeiro posto, enquanto o segundo tem sido eficiente. Mônica Marques, da Gerência de Distrito Sanitário da Regional Noroeste, diz que a situação é o oposto disso. Segundo ela, a equipe de atendimento do Centro de Saúde do Padre Eustáquio é maior e o número de casos no Carlos Prates, até recentemente, era superior. “A demanda é grande na cidade como um todo. Na média, está havendo um aumento de 40% na demanda dos Centros de Saúde”, conta. Na Regional Noroeste, a maior incidência de dengue está nos bairros Califórnia, Carlos Prates e Dom Bosco. Nos três locais, já aconteceram mutirões este ano. O Dom Bosco recebeu a primeira ação e, lá, foram retiradas 70 toneladas de lixo. No Califórnia, foram 120 toneladas e, no Carlos Prates, em média 42 toneladas, retiradas de duas vezes. REFORÇOS A Secretaria Municipal de Saúde tem enviado reforço àquelas unidades que estão ultrapassando muito a capacidade operacional. Auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos extras estão sendo acrescentados às equipes para agilizar os atendimentos. Apesar das medidas tomadas, Mônica ressalta que “em alguns momentos tem que priorizar o tipo de atendimento. Estamos priorizando quadros agudos, que são mais urgentes”. Em relação à capacitação dos profissionais, estão sendo realizadas teleconferências, ida de técnicos de suporte a todas as unidades de saúde, elaboração de protocolos de atendimento para se saber qual a conduta adequada e divulgação de novas descobertas relacionadas à zika. “Cada dia chega

uma coisa nova e a gente tem que manter os funcionários atualizados e informados pra que eles possam qualificar o atendimento”, ressalta Mônica. De acordo com Mônica Marques, os exames de detecção da dengue são realizados em todos os centros de saúde da cidade, mas devido ao aumento da demanda, os atendimentos têm demorado mais. “Nós estamos num momento de epidemia grave, e todos os serviços de urgência da cidade estão super lotados. As pessoas querem ser atendidas imediatamente e, pela quantidade de casos que têm chegado, o atendimento demora mesmo”, ressalva. “Duas pessoas não conseguiram fazer exame no Humaitá, mas no Frederico Bracher Júnior conseguiram”, diz. Ele conta que os moradores ressaltaram a demora no exame rápido de detecção da dengue. Alexandre lembra-se de quatro casos de dengue próximos a sua casa, no Padre Eustáquio. Já no posto do Carlos Prates, os atendimentos estão sendo realizados com eficiência, de acordo com os moradores. O exame para detecção rápida da dengue é chamado NS1, cujo resultado é obtido em algumas horas. Mônica explica que, nos centros de saúde, fazem-se os testes rápidos até que se tenha um determinado número de casos e, a partir daí, “se há dengue confirmada naquele lugar, a gente começa a fazer o diagnóstico pelos sintomas do paciente”. Após detecção da doença, o sangue do paciente é colhido para se fazer a sorologia na Funed (Fundação Ezequiel Dias). Este é um exame detalhado que identifica o vírus que contaminou cada um. Dessa forma, é possível saber qual o vírus circulante em cada região. O resultado da sorologia demora, em média, 15 dias, a depender da demanda. Ainda de acordo com Mônica, a Regional Noroeste é a que tem feito o maior número de processamentos junto a Funed. “Tem muita gente com dengue, mas é o menor número de pendências de exame”, ressalta.


10

março2016 .jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Comportamento

Kehl: tempo é o tecido da vida Em Aula Inaugural do curso de Comunicação Social, a psicanalista Maria Rita Kehl disse que o aumento de casos de depressão, entre nós, se deve à hiperaceleração da vida PEDRO FERNANDES JULIANA GUSMAN (COLABORAÇÃO) 1° E 7° PERÍODOS

A psicanalista Maria Rita Kehl, uma das maiores autoridades brasileiras em comportamento humano, ministrou, dia 26 de fevereiro, a primeira Aula Inaugural do curso de Comunicação Social, durante a qual falou do aumento dos casos de depressão como sintoma de doença social contemporânea, produzida pela aceleração da temporalidade cotidiana. “O capital, hoje, é o senhor do tempo. Até nos convenceu – a alguns – de que tempo é dinheiro. Mas não: tempo não é dinheiro. Ele é o “tecido de nossas vidas – como disse Antônio Cândido – e usá-lo como maquina de fazer dinheiro é uma brutalidade que esmaga a condição humana”, disse ela. A advertência da psicanalista reforça idéias por ela expostas no seu livro “O Tempo e o Cão”. Uma dessas ideias se refere ao índice crescente de pessoas em depressão que, segundo Kehl, se deve muito à falta de sabedoria de cada um. Quanto a arte de aproveitar a vida: é preciso desfrutar “as horas gostosas de relaxamento, os momentos de convivência com amigos, de devaneio, livres da opressão da hiperaceleração da vida”. Ela acredita que a mídia pode influenciar no sentido da melhoria da existência das pessoas e lembra que, a relevância social do jornalista transparece tanto quanto sua responsabilidade. O comunicador deve compreender o contexto em que vive para criar narrativas sobre ele, assim como ter consciência dos processos que guiam a construção de notícias. “Deve ir além da profissão mecânica, do sucesso rápido e da efemeridade das redes sociais, voltando-se à reflexão. O bom comunicador deve estar atento ao mundo que o rodeia, sem desfiar o tecido da sua e de outras existências”.

Maria Rita destacou a importância de nos libertarmos da visão que nos leva a sentir necessidade aproveitar o tempo como fonte de lucro, como quer o capitalismo que rege as relações do mundo em que vivemos. Nessa perspectiva, deve-se estar constantemente ocupado, initerruptamente produzindo. Hoje, mesmo nos momentos de lazer, indivíduos são impelidos a legitimar felicidades. Enchem as redes sociais com a incessante produção de imagens que ‘documentam’ o seu viver. Não há o abandono de si, o simples deixar ser. “Este “boom” de tecnologia, embora importante em muitas instâncias, é um motor que faz o tempo andar ainda mais rápido, roubando-nos o melhor da vida”, observou. Maria Rita afirma que, muitas vezes, é quando nada se faz que a imaginação flui, os devaneios acontecem, planos são criados e desejos são constituídos. Se não há o vazio, não há experiência de si que dá o sentido de valor da vida. Pondera que quanto mais tentamos fazer o tempo render, mais deixamos de percebê-lo, mais ele nos escapa. E é loucura o medo da perda de tempo: “A vida é uma sucessão de pequenas perdas. O presente é o instante que se foi”. E adverte: “O depressivo é aquele que não sabe aproveitar as possibilidades de criação que a falta pode oferecer. É aquele que, acelerado como acredita que deve ser, se empobrece da própria existência”. Para ela, o viver tem uma lógica a ser observada: “Um momento de aceitar, um momento de apropriar-se da própria história e um momento de concluir. A pressa exclui-nos o tempo de compreender as coisas e, sem isto, não há conhecimento de si mesmo. Concluir resulta do compreender, da apropriação de si e de liberdade da demanda do outro da necessidade de agradá-lo”. Maria Rita falou ainda do pecado que se comete hoje contra as crianças: “por todo lado vemos crianças de agenda

Maria Rita enfatizou a importância de ter tempo para o “ocio” criativo

cheia, correndo de uma atividade para outra, sem tempo para o ócio criativo, para dar asas à imaginação” o que é preciso corrigir. “Lembremo-nos: o tédio é o pai da imaginação; a fantasia é o canal de ligação ao desejo. Não podemos violentar, ainda mais, o imaginário que, hoje, já esta muito colonizado”, disse ela. A elaboração de conhecimento, a constituição do pensamento crítico e a reflexão sobre realidades depende do tempo, o que a aceleração contemporânea, muitas vezes, não parece permitir. Futuros comunicadores têm importância crucial nas relações socais estabelecidas. Maria Rita Kehl destacou-a logo no início de sua palestra. Com a voz firme que se contrapõe à sua figura frágil, chamou a atenção de seus ouvintes: “É gente que vai influenciar o Brasil. Vocês sabem disso”. Maria Rita, além de ensaísta, poetiza,

Ana Luisa Santos

cronista, escritora e crítica literária, também escreve para periódicos: trabalhou no Movimento, jornal alternativo no período da ditadura, foi colunista do jornal O Estado de S. Paulo, assim como de outros veículos da grande mídia. Recentemente integrou a Comissão Nacional da Verdade que investigou violações de direitos humanos cometidas, principalmente, no período da ditadura. Atualmente, Maria Rita é uma assídua crítica das dinâmicas dos meios de comunicação, principalmente do conservadorismo que vem se propagando nas coberturas jornalísticas. “Os jornais, em parte porque querem vender jornal, em parte por que tem suas posições políticas, estão criando um clima de calamidade no país”. Tem uma coisa tendenciosa muito forte. A imprensa não é objetiva, infelizmente.

Voluntários abrem, em BH, cursos para trans Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil), apenas 5% das travestis e mulheres trans chegam ao Ensino Superior; uma quantidade ínfima quando comparada às estatísticas da população cisgênero.

BOA INICIATIVA

Eduardo (à esquerda) faz a panfletagem e Gaby (à direita) se interessa pelo curso ANA LUIZA BONGIOVANI 6º PERÍODO

As paredes ainda brancas não devem ficar assim por muito tempo. “Umas meninas que mexem com grafite vão fazer algumas coisas pra deixar o ambiente bem colorido. Aqui na frente, nós vamos tirar essa divisória, pois queremos colocar dois espelhos como os de camarim”, diz Eduardo Salabert, 35 anos, professor de Literatura, que alugou sozinho, uma sala no 11º andar do edifício Maletta para realizar o seu projeto: o TransVest, pré-vestibular para pessoas transgêneros e travestis. O curso é totalmente gratuito. Segundo Salabert – conhecido como Dudu entre os seus alunos –, o curso pré-vestibular é só um dos eixos nos quais o projeto pretende atuar. A ideia é expandir por meio de outros que celebrem o universo LGBT, a diversidade e a cultura de paz, ou que possam capacitar esse público para o trabalho. “Nós temos mais de dez professores e monitores voluntários para as matérias do cursi-

nho, que vai funcionar à tarde. Nos finais de semana teremos aulas de idiomas e alguns cursos de capacitação. Uma amiga minha já se ofereceu para dar aulas de bordado e outra aulas de desenho”, disse ele.

NO MALLETA

Localizado em um dos espaços conhecidos na capital por abrigar pessoas dos mais diversos tipos, o edifício Arcângelo Maletta, no centro de BH, foi escolhido pelo professor justamente por essa pluralidade: “Eu sei que elas vão se sentir seguras para vir aqui. É um público que já sofre vários tipos de violência em muitos ambientes, e era importante escolher um lugar onde elas pudessem se sentir confortáveis”. A iniciativa, planejada desde meados do ano passado, surge como uma maneira de suprir, ao menos em parte, a enorme demanda do público trans brasileiro. O professor conta que a divulgação do trabalho – que começa com as primeiras aulas em março – atingiu proporções consideráveis por meio das redes sociais e, assim, as pessoas

Ana Luiza Bongiovani

dispostas a colaborar com o projeto foram surgindo.

HÁ DIFICULDADES

“As carteiras foram doadas pelo pré-vestibular Mais e as apostilas são de ex-alunos meus no Bernoulli, que fizeram doações do material”, diz Salabert. Mas, para que de fato o público contemplado fique sabendo da iniciativa, ele precisa panfletar à moda antiga: “Nós temos alguns posts na nossa página do Facebook com mais de 100 mil visualizações, mas isso só atinge os voluntários em potencial. Eu geralmente levo os panfletos até as travestis na zona do baixo meretrício e passo o meu telefone, para que elas possam tirar dúvidas”. A expectativa é manter média de 20 a 25 estudantes em cada sala. Salabert afirma, porém, que, muitas vezes, a demanda do público – sobretudo das travestis que trabalham nos hotéis mais precários da capital – é ainda mais urgente do que se imagina: muitas delas sequer passaram da quinta série do Ensino Fundamental. Segundo dados da Antra (Associação

Aliadas aos baixos índices de escolaridade, as estatísticas de violência e discriminação sofridas pela população trans brasileira tornam iniciativas como a de Salabert ainda mais relevantes: segundo dados do IBGE, a expectativa de vida de uma pessoa transgênero, no Brasil, é de cerca de 35 anos, comparados a quase 75 para as pessoas cisgênero. Pesquisas da ONG Transgender Europe apontam o Brasil como o país onde mais pessoas transexuais e travestis são assassinadas – entre 2008 e 2014, foram registradas 604 mortes.

Mesmo com a recepção majoritariamente positiva, o professor revela que a página do TranVest na internet também foi alvo de muitas pessoas contrárias ao projeto. “Nós recebemos muitas mensagens negativas, de muita gente dizendo que vai fazer de tudo para que o projeto seja fechado. É muito discurso de ódio”, observa.

ONDA POSITIVA

O TransVest não é a única iniciativa voltada para a educação da população trans na capital. Em meados do ano passado, a advogada Adriana Valle ajudou a criar o TransEnem, outro cursinho pré-vestibular voltado unicamente para homens e mulheres transgênero. Mesmo com pouco tempo de trabalho e cerca de 20 alunos, a iniciativa já rendeu bons frutos: foram três aprovações em universidades no último

SISU. O curso oferece aulas no turno da noite, no Colégio Pedro II, no Centro de BH (graças a uma cessão da Secretaria de Estado da Educação), e os professores e monitores são todos voluntários. Para arcar com os custos de material, o TransEnem organiza uma campanha de financiamento coletivo e recebe doações pela internet. “O espaço é totalmente gratuito. A única coisa que eu fiz foi alugar a sala e divulgar. Quanto mais parceiros, melhor”, afirma Salabert. Segundo o professor, pouco ou nada tem sido feito em níveis governamentais para, de fato, melhorar as condições da população trans. “Essas pessoas são tão invisíveis para o sistema que é difícil até encontrar dados que nos digam o tipo de serviço que elas de fato necessitam”, lamenta.

Entenda as denominações São várias as denominações que definem a identidade de gênero de pessoas, ou seja, como elas se posicionam e se enxergam no mundo. Segundo Jaqueline de Jesus, autora do “Guia técnico sobre pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros, para formadores de opinião,” pessoas transexuais, por exemplo, “são aquelas que, geralmente, sentem que seu corpo não está adequado à forma como pensam e se sentem, e querem ‘corrigir’ isso adequando seu corpo à imagem de gênero que têm de si. Isso pode se dar de várias formas - desde uso de roupas, passando por tratamentos hormonais e até procedimentos cirúrgicos”. Ainda segundo ela, “a transexualidade é uma questão de identidade. Não é uma doença mental, não é uma perversão sexual, nem é uma doença debilitante ou contagiosa. Não tem nada a ver com orientação sexual, como geralmente se pensa, não é uma escolha nem é um capricho”. Veja outras definições:

Cisgênero: expressão adotada para designar pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer. Transgênero: pessoas que não se identificam com o gênero que receberam ao nascer. Travesti: “pessoas que vivenciam papéis de gênero feminino, mas não se reconhecem como homens ou como mulheres, mas como membros de um terceiro gênero ou de um não-gênero”, segundo o mesmo Guia. O correto é tratá-las com pronomes femininos, uma vez que esse é o papel que vivenciam. Saiba mais sobre os cursos Gostou das inciativas e gostaria de ajudar ou de se inscrever como aluno(a)? Dê uma conferida na página dos dois projetos no facebook: TransVest: https://goo.gl/hZqLCO TransEnem: https://goo.gl/sJiOpz


11

março2016 .jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Comunidade

Banca de revistas é vida para Carlos Em frente à Araújo, uma banca é ponto de encontro de amigos e local de desabafo para muita gente

Diversificar negócios deu sobrevida à banca do Carlos ISABELA MAIA 5º PERÍODO

Entre uma ajeitada e outra nos óculos, seu Carlos, 63, fala sobre seus 33 anos de história no Coração Eucarístico. Com a banca no mesmo ponto durante todo esse tempo, o jornaleiro diz ser uma espécie em extinção. Sinais dos tempos são os seus cabelos brancos, começando a rarear, a atenção que dispensa a todos e a disposição que, às vezes, falha, devido ao longo tempo de trabalho e à idade. No meio de revistas e jornais, que hoje respondem a pequena parte das vendas da banca, estão balas, chicletes e acessórios eletrônicos, como carregadores de celular e fones de ouvido. No frigobar, com as águas e refrigerantes gelados, estão as frutas e lanches que seu Carlos come durante o dia. No último ano, resolveu inverter suas refeições. Ele leva lanches para o dia e janta quando chega à casa. Durante algum tempo, a banca se mostrou rentável. Já houve domingos em que seu Carlos vendeu 800 exemplares do então maior jornal em circulação no Estado. No domingo anterior ao carnaval deste ano, conta

Marianne Fonseca

ele, foram 60 exemplares vendidos. A queda de vendas de jornais e revistas fez o jornaleiro se adaptar aos novos tempos. É por isso que ele mesmo diz: “eu tenho uma banca de revista onde vendo de tudo, até revistas”. Apesar do mercado desfavorável e da ampla concorrência, ele não se abate: “não adianta você ficar reclamando que revista não vende. O que você tem é de ser criativo e substituir esses produtos”. Nos idos dos anos 80 e 90, as bancas ofereciam um rendimento razoável. Não era o suficiente para enriquecer, mas a remuneração era mais digna do que hoje. Na época de ouro das bancas, no Brasil, a de seu Carlos ganhou prêmio de campeã de vendas na Capital. Em parte, o sucesso se devia à reserva de mercado que existia, já que apenas as bancas podiam vender revistas e jornais. “Hoje qualquer um pode. Antes também não tinha internet. Como caiu o mercado, você tem que conseguir recompor a sua renda com outras mercadorias”, explica o jornaleiro. As dificuldades de renda, há mais de 30 anos, foram as responsáveis por fazer Carlos apostar na banca como base para o seu sustento. Engenheiro civil, formado pela UFMG, foi dis-

pensado, então, pela empresa em que trabalhava. Era o ano de 1983 e a perspectiva de mercado de trabalho, cada vez pior, para o ramo de engenharia civil, fez Carlos partir para uma atividade alternativa e comprar a banca. Ele morava no Nova Suíça, bairro da Região Oeste próximo ao Coração Eucarístico. Nessa época, mudou-se para um local perto do, hoje, Shopping Rosa, onde seus filhos, Bárbara e Vinícius, nasceram. O mercado ainda ruim e a banca como segunda renda fizeram com que o engenheiro começasse a trabalhar por conta própria: fazia casas e apartamentos e depois vendia. A situação piorou. O mercado de engenharia ficou mais dificil ainda. Carlos chegou a um impasse: não conseguia acabar algumas casas que estava construindo, porque não tinha dinheiro, e não conseguia vendê-las, porque não estavam prontas. A decisão que tomou foi de vender o apartamento em que morava, no Coração Eucarístico, e mudar com sua família para a região da Pampulha, onde também tinha casas construídas. Hoje, ele mora no bairro Santa Amélia, na Pampulha, mas não se incomoda com a distância entre casa e trabalho. “Tô começando a ficar estressado com o trânsito. Mas com o fato de vir e passar o dia por aqui não tenho dificuldade”. Ele brinca que seu maior problema, hoje, é ficar dentro da banca: “O calor é insuportável”. Muitas vezes, seu Carlos fica do lado de fora, em um banquinho.

HISTÓRIAS

Os muitos anos no mesmo local renderam boas histórias. Carlão (como é chamado pelos amigos do bairro) se lembra de Nazaré, uma amiga da família. “Essa é amiga mesmo. Ela era recém-casada e tinha um bebê. Ela trabalhava, o marido trabalhava e ela deixava o bebê aqui (na banca)”, ri. Hoje, o bebê, que se chama Camila, já se formou e é advogada. Ao longo do dia, Carlão empresta seu banquinho para os clientes senta-

rem. “Banca é um confessionário. Até tem dia que um cliente fica meio irritado porque eu não tô conversando com outro”. Ele percebe que as pessoas sentem necessidade de falar e os mais de 30 anos de experiência fizeram dele um bom ouvinte. “Tem histórias legais, tem histórias tristes, mas todas, de certa forma, são marcantes”. Um senhor, que trabalhava e morava na região do Coração Eucarístico, passava todos os dias pela banca de Carlão e batia um papo, rapidamente. Certo dia, ele soube que a esposa estava com câncer, já em fase terminal. “A primeira pessoa que ele veio contar foi pra mim. E nem tão próximo a gente era”, diz o jornaleiro. Também freguês e amigo antigo, era outro senhor que sempre conversava um pouco com Carlão quando passava perto da banca. Há algum tempo, ele descobriu que estava ficando cego. Como única alternativa para curar seu problema, tinha uma cirurgia complicada. Apostou todas as suas fichas e fez a operação. Passados alguns dias de repouso, o senhor foi à banca: “Ó, eu vim cá pra eu te contar que essa é a primeira vez que eu saio de casa depois que eu operei e tô enxergando”. Pensativo, o jornaleiro fala da singularidade de momentos como esses. “É aí que eu te falo: essas coisas não têm preço. Eu vou sentir muito no dia em que eu for embora daqui. Uma hora vai acontecer”, observa. Na tarde abafada de sábado, Carlão contou outros episódios marcantes em sua trajetória no Coração Eucarístico e parte da história de sua família,. Recordou sua alegria “quando Bárbara passou no vestibular”. Na época, o resultado saía no jornal. Naquele sábado, Carlão e Bárbara tinham ido para a banca. “Quando chegou o jornal e a gente viu que ela passou fizemos um carnaval nesse lugar. O pessoal ficou achando que a gente tinha ficado doido. Foi muito engraçado”, conta, rindo da lembrança. Com o filho, Vinícius, foi praticamente a mesma coisa: “Eu não tinha a menor ideia de que ele fosse passar. Quando vimos, ele passou. Foi outro carnaval”.

MUDANÇAS

“Eu vi toda uma mudança de comportamento acontecer por aqui”, destaca Carlão. Ele observa que, quando comprou a banca, havia uma fissura com o jornal. Hoje, com a internet, a publicação chega às bancas com notícias velhas. “É interessante porque de repente você tem que se envolver com isso pra poder fazer alguma coisa”, diz. O Coração Eucarístico também mudou muito nesses 33 anos do jornaleiro no bairro. O acesso ao local era apenas pela Via Expressa, que não tinha esse nome. “Tinha uma passagem ali e você vinha pro bairro, pequenininho. A pracinha também não existia”. Quando adquiriu a banca na rua Coração Eucarístico de Jesus, na década de 80, a via tinha pouco comércio, bem diferente do que é hoje. Carlão recorda que havia um supermercado, uma lanchonete de um coreano do outro lado da rua, uma empresa de engenharia e a banca funcionava onde hoje é uma farmácia.

FUTURO

Para abrir uma banca de revistas, é necessária uma permissão. A Prefeitura, quando ainda fazia licitações, as disponibilizava, geralmente, para profissionais que estavam fora do mercado há muito tempo. Como a permissão não pode ser vendida, os jornaleiros de hoje têm idade avançada e, em sua maioria, são de origem humilde. Nesse cenário, têm que se esforçar para acompanhar as mudanças na demanda do mercado. Carlão vê com bons olhos a venda de artigos de informática e telefonia celular. “A gente já atende isso, já vende muita recarga de celular. Isso é algo a ser explorado. Tem muita coisa que se pode fazer e eu acho que, pelo menos no meu caso, é o futuro”, diz. A distância entre casa e trabalho tem feito o jornaleiro pensar no o futuro: “Como não vou deixar o ramo, ou eu mudo pra cá, o que eu acho pouco provável, ou eu começo a trabalhar próximo da minha casa”.

Cresce o mercado de academias ÉRICA SANTOS KARINE BORGES 1° E 4º PERÍODOS

Em Belo Horizonte, tem ocorrido um crescimento no número de academias de ginástica. Só no entorno do campus da PUC Minas, no Coração Eucarístico, existem cinco academias além do próprio Centro de Treinamento Esportivo da universidade. A região é considerada um bom lugar para investir nesse tipo de negócio, em razão do número de pessoas que moram ou circulam ali, diariamente, principalmente jovens estudantes. Esse fenômeno foi constatado por pesquisa do Conselho Regional de Educação Física de Minas Gerais. Ela apontou que, em 2014, o número de academias cresceu 152,9% no Estado e 72,5% em Belo Horizonte. Calcula-se que haja 154 novas unidades na capital. Esse aumento é justificado pela busca por uma vida saudável através do cuidado, tanto com o corpo, quanto com a alimentação. A concentração de academias na mesma região torna o mercado local competitivo, o que é um desafio para seus administradores. Para driblar a concorrência, os gerentes e coordenadores recorrem a múltiplas estratégias de marketing para atrair os clientes. “O profissionalismo, a introdução de atividades diferenciadas que ainda não existem na região, como o crossfit, promoções e pacotes

anuais que alinham a musculação com outras modalidades e sermos a única com piscina na estrutura, são nosso diferencial”, afirma Frederico Guilherme, coordenador e educador físico da Academia Super Fit. A inserção de modalidades diferenciadas, também contribui na hora do cliente escolher uma academia entre tantas outras. São diversas as opções; desde natação, hidroginástica e pilates às mais exóticas, como o krav-maga,jump, circuito mix, crossfit, que nem sempre são encontrados em qualquer lugar. O movimento permanece elevado nos horários de pico, no início da manhã e à noite. Entretanto, o mesmo não ocorre no período de férias. “Comparada às outras unidades da MP Fit, a unidade do Coreu é sazonal, pois na época de férias ocorre uma redução na média de alunos”, informou Mariana Mariz, coordenadora da MP Fit do Coração Eucarístico. O público atendido pelas academias é variado, mas por causa da proximidade com a universidade, a maioria é de jovens, “A musculação é muito visada por clientes na faixa etária de 18 a 25 anos. Boa parte deles quer malhar para ter um corpo bacana e saudável. Mas no horário da manhã também temos um grande número de idosos”, relata Gustavo Reis, estagiário e recepcionista da Academia O2. O bairro é um bom mercado de

trabalho, com várias oportunidades para os profissionais da área, porém a profissão de educador físico não é fácil, exige dedicação, comprometimento e disciplina, “Está faltando muito comprometimento dos profissionais, temos muita dificuldade em encontrar um funcionário comprometido com a empresa. Então isso prejudica o mercado, principalmente na questão da remuneração, ressalta Frederico.

NA PUC MINAS

A universidade disponibiliza para seus alunos e funcionários uma academia, no Complexo Esportivo, que tem as modalidades de musculação, jiujitsu, ciclismo indoor, zumba, alongamento, entre outras. O movimento é muito atrelado às atividades da comunidade acadêmica de alunos, professores e funcionários. O funcionamento é um pouco diferente já que grande parte dos clientes estão matriculados em algum curso da PUC. Assim, quando o ano letivo começa o fluxo aumenta, do mesmo modo que, quando acaba, diminui. “A gente sofre um pouco mais que uma academia normal porque muitos alunos voltam para o interior, alguns funcionários e professores entram de férias”, diz Eduardo Valentim, instrutor da academia da PUC. Não existe, atualmente, desconto para alunos ou funcionários: a mensalidade atual de R$138,00 é fixa. “Nós não temos um plano trimestral ou anual. É um valor

Academia da PUC disponibiliza várias modalidades aos usuários único, não trabalhamos com planos diferentes para aluno ou funcionário”, comenta Valentim. O marketing e a propaganda são o impasse dos administradores, “Temos algumas dificuldades de ir ao encontro do público. Estamos pensando em

Marianne Fonseca

algumas estratégias para divulgar um pouquinho mais a academia, pois precisamos torná-la mais visível para o público interno”, disse Valentim. “Já houve ações de divulgação durante o período de matrícula dos alunos, mas ainda foi pouco”.


12

março2016 .jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Campus

Arquitetura inova suas práticas Escritório de Integração do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Minas desenvolve projetos de extensão e oferece atividades a todos os alunos da universidade como forma de treino LUCAS KRUSE Carrinhos de mão, bambus recém-colhidos, maquetes de terrenos, armários de arquivos, figuras das mais criativas fixadas nas quatro paredes da sala, mesas e cadeiras de diferentes modelos. Este aparente caos compõe um aconchegante local de trabalho de alunos e professores de Arquitetura e Urbanismo nos projetos que o Escritório de Integração desenvolve há mais de uma década. A veterana nesta atividade é a professora de Arquitetura e Urbanismo, Margarete Maria de Araújo Silva, a famosa ‘Leta’. Sua relação com o Escritório começou com um convite para coordenar o projeto no lugar de um professor que entrará em licença médica. Não se lembra quando foi isto mas já tem muito tempo e por isto conhece bem da história do local. O Escritório tem quase a mesma idade do próprio curso.

No início, seu objetivo era trabalhar com as demandas trazidas pela Ação Social Arquidiocesana (ASA). Por isso, muitos dos primeiros projetos desenvolvidos pelos alunos eram de construção de novas igrejas para paróquias da cidade. Ao longo dos anos, a estrutura de funcionamento do Escritório cresceu, assim como cresceu o número de projetos que ele atende. No começo eram um professor e dois estagiários. Hoje, além de envolver os alunos extensionistas e professores que coordenam cada um dos projetos, o Escritório possui três estagiários, um funcionário fixo sob orientação da prof. Alicia Duarte Penna, atual Coordenadora do espaço. Rômulo Alves é o único contratado do local. Há dois anos sua função é a de prestar assessoria a todos os projetos desenvolvidos. Ele conta que o espaço surgiu justamente pela necessidade de incluir a

prática na Arquitetura e da necessidade de dar suporte às pesquisas no curso. O objetivo do Escritório não se alterou muito. “Hoje ele continua funcionando como um núcleo de pesquisa e extensão do curso de Arquitetura e Urbanismo para desenvolvimento dessas ações no âmbito de diferentes disciplinas”. Outra característica que o Escritório mantém é o caráter extensionista e, para isso, é vital que seus projetos sempre entreguem algo para a população. Margarete explica que o escritório atende à coletividade, visando o equilíbrio do espaço conjunto da cidade, atuando complementarmente sem entrar em concorrência com o mercado. Entretanto, como esclarece Rômulo, muitas vezes as pessoas se equivocam no relacionamento com o Escritório, pois esperam como produto final uma construção, o que nem sempre ocorre. Ele explica

personagens

Jardineiros fazem da PUC um lugar sempre bonito CHIARA RIBEIRO DEBORAH ALMEIDA LARISSA DUARTE LETICIA FULGÊNCIO 1° PERÍODO

Gramados impecavelmente aparados, arbustos podados, plantas e flores dos mais diversos tipos são marcas registradas do campus Coração Eucarístico da PUC Minas. Qualquer hora do dia é possível ver alunos desfrutando do ar puro, das sombras e da beleza dos jardins primorosamente cuidados e conservados. Porém, tamanha perfeição exige, por trás, uma equipe qualificada, à qual nem sempre é conferida visibilidade suficiente: a dos jardineiros. O setor de Jardinagem do campus Coreu é constituído de 26 funcionários que desempenham múltiplas tarefas, tais como: poda, corte de grama, limpeza de canteiros e lagos, replantio e tratamento de vasos. Os jardineiros cumprem uma carga horária de 40 horas por semana e podem ser facilmente identificados pelo seu típico uniforme: calça verde, boné e blusa de manga comprida para protegê-los do sol ou frio intenso. Jhonny Eudes estava atrás de um dos inúmeros arbustos dos jardins da Universidade quando foi abordado. Ele contou que trabalha na PUC há aproximadamente cinco anos fazendo podas diárias. Apesar de trabalhar anteriormente como operador de máquinas e de ter entrado “sem saber nada” sobre jardinagem, o jovem garante ter adquirido muita experiência com o tempo e afirma gostar muito do que faz. E ainda revela o segredo pra manter os jardins tão bem cuidados durante o ano todo. “Correria, muita correria, todos os dias”. Os jardineiros são supervisionados pela

Manutenção Civil do campus, que se localiza no prédio 35, e dispõe de um espaço, no interior da Mata da PUC – próximo ao prédio 39. É um verdadeiro “Jardim Secreto” para as pessoas que frequentam a universidade. Ali está Almir Lemos Barbosa, 45, que nasceu em Valadares, mas veio morar em Belo Horizonte ainda muito pequeno. Ele trabalha há apenas quatro meses no campus, no tratamento de vasos e, apesar de gostar do que faz, desabafa. “Os jardins estão cheios de lixo, de guimbas de cigarro... As pessoas não respeitam, não dão valor ao que a gente faz, não dão nenhum apoio”. Seu colega Vanderlei Miguel Alves, 57, que faz parte da equipe há cinco anos, dá ênfase ao fato de haver muita sujeira próxima às próprias lixeiras. Ao final, Almir se conforma. “Mas a gente vai trabalhando pra isso, pra ver se eles nos enxergam”. Já Ademir Gomes da Silva, 57, está trabalhando no setor de Jardinagem da PUC pela segunda vez, acumulando, no total, aproximadamente 10 anos de serviços prestados à Universidade. Ao contrário de Almir, ele sente que seu trabalho é reconhecido e acha que “a sujeira é normal, todo lado que você vai, tem falta de respeito”. Carine Alves de Souza, 28, funcionária da Cantina Shuffner, – próxima ao prédio 13 – e Leonardo Oliveira Parrela, 21, estudante de Jornalismo do 3º período, admiram o trabalho dos jardineiros. Carine reconhece a qualidade desse serviço e afirma. “Eu acho o trabalho deles uma coisa de artista”. Ambos concordam que tanta dedicação deveria ser mais valorizada.Não apenas valorizada, mas, também, notada por pessoas mais distraídas como a estudante de Ciências Contábeis, Bárbara Xavier Cruz, 21, que admite: “Olha, eu nunca reparei muito não, mas eu acho bom”.

Equipamentos disponibilizados garantem a segurança dos jardineiros

Marianne Fonseca

No escritório os alunos estudam, debatem e realizam suas pesquisas que, “na arquitetura, o projeto de extensão não precisa necessariamente entregar um produto físico, arquitetônico ou algo construído; isso vai depender da perspectiva de cada plano”. Em alguns casos, o objetivo do projeto é promover a discussão da utilização do espaço e não executar obras que viabilizem esse uso. Quem já vive a rotina desses projetos, há dois anos, é a estudante Ester Almendame de Oliveira, que cursa o quarto período de Arquitetura e Urbanismo. Depois de ter trabalhado em dois, no seu primeiro ano no Escritório, Ester é agora estagiária, contratada do espaço. Ela conta que conheceu o local através de duas das professoras que teve no primeiro semestre de faculdade. Fazer parte do Escritório foi importante para ela ter continuado no curso. “Eu estava buscando algo que me ajudasse a conhecer o curso, entender em que área podia atuar. Fiquei sabendo do Escritório, participei da seleção, entrei e até hoje estou aqui”, conta a estudante. Quando Ester chegou ao Escritório de Integração, a seleção ainda era feita de forma independente, pelo próprio espaço. Atualmente, a escolha anual de extensionistas que trabalharão nos projetos é feita em parceria com a Pró-reitoria de Extensão da PUC-Minas (PROEX), de forma unificada, para todos os projetos e aberta aos estudantes de todos os cursos da Universidade. Ao todo, são 30 vagas, entre remuneradas e voluntárias, oferecidas pelo Escritório, em cada processo de seleção. Rômulo participa ativamente da triagem dos novos alunos e vê benefícios na participação da PROEX. “A seleção unificada ampliou a divulgação e possibilitou o conhecimento da existência e da atuação do Escritório por mais alunos e a entrada deles nas pesquisas feitas aqui”. Ester ressalta também que a parceria entre o Escritório e a PROEX busca dar mais informação aos alunos sobre como é o trabalho extensionista. “São feitas palestras explicativas sobre o projeto, sobre o que é extensão, o que o Escritório faz e, desta maneira, os alunos podem optar por aquilo que mais lhes interessa aqui”, justifica. Porém, antes da escolha dos extensionistas, é feita a seleção dos projetos que serão executados durante um ano. Ela é feita também em parceria com a PROEX e aberta a docentes da Universidade, que devem seguir algumas exigências na elaboração da atividade de extensão que irão propor. Rômulo explica que “os professores têm que fazer um projeto levando em consideração a participação dos extensionistas, a prática de pesquisa e a atividade interca-

lada das disciplinas, e mostrando como o projeto vai trazer benefícios para o curso”. As propostas selecionadas esclarece Rômulo, recebem uma verba para custear as ações e remunerar os professores envolvidos, extensionistas e permitir a compra de material previsto para a execução do plano.

INTERDISCIPLINAR

Outro importante aspecto presente não somente nos projetos do Escritório de Integração, mas na filosofia de trabalho do espaço é a interdisciplinaridade. “Manter a interdisciplinaridade de fato eficiente é muito importante para o projeto e é o que sempre buscamos fazer muito no escritório: promover interface com vários outros cursos”, confirma Rômulo. Essa busca é reafirmada pelo fato de o Escritório não somente abrir espaço, mas sempre selecionar professores e alunos de outros cursos, além do de Arquitetura e Urbanismo, para seus projetos. “A ideia é proporcionar o intercâmbio de conhecimento entre os alunos de cursos diferentes e não prender esse conhecimento nesse prédio”, justifica Rômulo. A importância da interação com estudantes e docentes de outras áreas de conhecimento se faz necessária para a eficaz execução dos projetos, visto que as demandas que chegam ao Escritório muitas vezes extrapolam o universo de atuação dos arquitetos. A professora Leta é direta ao afirmar que “na prática, não adianta apenas um bando de arquitetos, porque eles não vão conseguir resolver sozinhos os problemas que aparecerem, já que a realidade exige várias parcerias”. A estagiária Ester concorda com a professora. Ela explica que apesar de estar alocado no curso de Arquitetura e Urbanismo e estar relacionado com o objetivo da faculdade – o de estudar e trabalhar com o espaço urbano –, o Escritório necessita de várias outras disciplinas. “Qualquer trabalho na cidade envolve mais de um profissional, a junção de várias áreas de conhecimento, e cada um pode cooperar para o desenvolvimento do projeto e trocar experiências entre si”, afirma a estudante. A interdisciplinaridade é benéfica não somente para a implantação dos projetos, mas também para a formação dos alunos que participam dos trabalhos. A estudante do quarto período de Serviço Social, na PUC Minas, Rafaela de Lima Queiroga, tem vivenciado esse ganho de conhecimento como extensionista do Escritório. Quase no fim do seu estágio ali, Rafaela participa atualmente de um projeto com alunos de arquitetura e geografia e já trabalhou também com estudantes de psicologia, engenharia,

Guilherme Cambraia

cinema e jornalismo. Ela diz estar satisfeita com a experiência no local, e cita o conhecimento adquirido ali como razão para isso. “O aprendizado que conquistamos aqui acaba captando diferentes olhares e nos permite saber e conhecer muitas coisas das outras áreas também”, destaca.

INDICAÇÃO

Sobre a importância do Escritório de Integração, Rômulo Alves não pensa duas vezes para responder: “Eu acho que todo curso deveria ter um!” Quem permanece por um tempo no local e vê o comprometimento e a alegria estampados nos rostos de quem está ali, percebe que essa opinião é compartilhada por todos que se envolvem com o espaço. Rafaela reconhece a importância do Escritório e o define como “um projeto muito significativo para a autoconstrução social, pois aqui você tem a oportunidade de sair do espaço da universidade para vivenciar muitas coisas, o que quebra os seus preconceitos, julgamentos e valores”. As razões que t odos têm para valorizar a existência do Escritório e indicá-lo a outros alunos são variadas. Ester cita, por exemplo, a possibilidade do entender mais a fundo o curso e as oportunidades que ele apresenta. “Com certeza eu indico o Escritório, porque ele ajuda a ver o que se pode desenvolver na área e contribui para mudar o conceito que se tem do curso”, ressalta. Ela mesma mudou sua visão da faculdade após os dois anos no projeto. “Eu tinha uma visão muito estreita do que era ser arquiteta; no escritório vi que existem diferentes áreas de atuação profissional. Aqui eu descobri o que eu queria fazer realmente”, admite. Outro diferencial do trabalho feito no Escritório é o grande acesso que os extensionistas têm à prática de tudo aquilo que aprendem na faculdade. Rômulo cita esse como um dos motivos de sempre indicar aos universitários que participem de projetos de extensão, como o Escritório de Integração. “Eu acho fundamental que o aluno tenha uma experiência ligada a uma prática que não seja apenas restrita ao interior de um laboratório, mas que saia da universidade e trabalhe diretamente com a realidade”, explica. Ele diz ainda que quando se tem um espaço para pesquisa, além de proporcionar a troca de experiências, instiga-se o aluno a produzir e desenvolver um projeto. A mesma opinião é compartilhada pela professora Leta. Há mais de uma década no Escritório, ela tem orgulho de dizer que sempre foi uma das maiores defensoras desta busca de novos horizontes.


13

março2016 .jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Cidadania

Falta de urbanidade incomoda cidadãos Constantes problemas revelam individualismo e falta de educação no convívio em sociedade, nas diferentes regiões de BH CARINA TOLETO FLÁVIA DRUMMOND IZABELLA LIMA LUZ ESNEDA RESTREPO 6º E 7º PERÍODOS

Andando pelas calçadas percebe-se o descaso das pessoas com a limpeza do ambiente

Luz Esneda

Lei de colocação e permanência das caçambas (Lei 6732/94 | Lei nº 6732 de 20 de setembro de 1994) Art. 3º - Para serem licenciadas, as caçambas deverão: I - ter capacidade máxima de 7m3 (sete metros cúbicos); II - ser pintadas em cores vivas e, em suas oito extremidades, ostentar tarjas refletoras, com área mínima de 100cm2 (cem centímetros quadrados) por extremidade, que assegurem a visibilidade noturna; Art. 7º - A colocação de caçambas em vias e logradouros públicos será permitida: I - na pista de rolamento, ao longo do alinhamento da guia da calçada (meio-fio), em sentido longitudinal ou com inclinação em direção ao eixo da pista, desde que o espaço ocupado não ultrapasse 2,70m (dois metros e setenta centímetros) de largura; II - no passeio e em locais onde houver sinalização proibitiva de estacionamento, desde que seja preservada uma faixa livre para circulação de pedestres com largura mínima de 1,50m (um metro e cinqüenta centímetros); III - em grupos de até duas em duas caçambas, desde que se obedeça o espaço mínimo de dez metros entre os grupos; § 1º - O tempo de permanência máxima por caçamba nos locais de estacionamento é de quatro dias. § 2º - No hipercentro e nos locais de estacionamento proibido, o tempo de permanência, retirada e colocação das caçambas é: a) nos dias úteis, das 20:00 h às 7:00 h; b) das 14:00 h de sábado às 7:00 h de segunda- feira; c) livre nos feriados Art. 8º - Não será permitida a colocação de caçambas nos seguintes casos: I - a menos de 3,00m (três metros) das esquinas dos alinhamentos dos lotes; II - nos locais sinalizados com placa de regulamentação “Proibido Parar e Estacionar” em que a largura do passeio não comporte a colocação de caçambas, exceto mediante autorização expressa da BHTRANS - Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S.A. - ao contratante.

“Educação é bom e todo mundo gosta”. Quem nunca escutou ou falou esta frase? Expressão clichê, porém verdadeira. Atualmente é comum observar nas relações sociais diversas atitudes consideradas falta de educação, urbanidade, gentileza e cordialidade. Parece que no dia-a-dia as pessoas estão sempre “correndo contra o tempo” e, em consequência disso, tratar bem o próximo é pedir demais. Em sociedade tornou-se comum o indivíduo pensar apenas nas suas necessidades e não no coletivo, o que acaba gerando conflitos de toda natureza. Quando o morador das cidades deixou de importar-se com os efeitos de seu comportamento no seu convívio com o próximo, conflitos urbanos de toda natureza surgiram. Para o professor e sociólogo da PUC Minas, Moises Augusto Gonçalves, isto acontece porque “vivemos uma crise profunda na esfera econômica e política, pois estamos em um período de transição na caminhada da humanidade, onde o valor das coisas se sobrepõe ao valor das pessoas”. Para ele, a sociedade sofre uma perda de valores: as pessoas não se preocupam com o próximo, o que leva a uma degradação das relações de convivência. Silvane da Costa Ferreira, psicóloga clínica sistêmica, acredita que, nos dias atuais, as famílias diminuíram de tamanho e também perderam na qualidade da educação. Para ela, as simples “palavrinhas mágicas” como: obrigada, por favor e com licença, já não são mais enfatizadas pelos pais. As crianças aprendem, desde cedo, que podem tudo e os pais incentivam tal comportamento. Por isso, a psicóloga supõe que elas crescem acreditando que podem levar vantagem em tudo. E é aí que começam problemas

de falta de respeito, porque já não sabem conviver em sociedade. Silvane afima que esse fenômeno é chamando de “apagão na educação”. E, para ela, de fato, falta bom senso, limites, respeito no trânsito, gentileza, e outros atos de urbanidade na vida em comunidade.

PROBLEMAS A falta de educação é observável em uma prática simples como caminhar pelas calçadas da capital mineira. Está cada vez mais difícil passear tranquilamente, porque diferentes obstáculos e surpresas atrapalham o livre tráfego nas calçadas: por todo lado veêm-se resíduos de restaurantes e supermercados ocupando grande parte delas. Além disso, existe o mal cheiro de comida decomposta, a presença de entulhos de obras e enormes buracos que evidenciam a falta de manutenção desses locais. Tudo são detalhes que vão se tornando comuns, parte da paisagem. Logo, caminhar tranquilamente nas calçadas é coisa do passado, uma vez que estes espaços estão sendo degradados, entulhados. Donos de restaurantes, bares e supermercados também têm seus próprios problemas. Percebem que causam incômodo à comunidade com a quantidade de resíduos que produzem, mas não sabem como agir. Alguns decidem comprar lixeiras grandes que, segundo eles, logo são estragadas por bêbados ou pessoas que não respeitam nada. Alguns, conscientes do incômodo à comunidade, resolveram recolher os resíduos e levá-lo, para algum depósito, uma vez que a prefeitura demora muito para fazê-lo. Demétrio Menta, dono de supermercados do bairro Coração Eucarístico, há 18 anos, disse que já comprou uma lixeira, “mas, pela noite, o pessoal bêbado quebrou tudo, jogou o lixo no chão e depois a prefeitura chegou e nos advertiu. Tem vez que há muito lixo e eu levo nos finais de semana para um depósito. Tenho que me virar”. Outra situação que piora a cada dia é a quantidade de carros que levam e buscam crianças e adolescentes a colégios e escolas. Já no início da noite, alguns chegam com até uma hora de antecedência e ficam estacionados em frente às residências atrapalhando a entrada e saída de veículos dos moradores.

Pessoas se habituaram a viver no meio do barulho Onze da noite, dia útil. Horário em que a maioria das pessoas já estão dormindo ou se preparando para descansar pro próximo dia de trabalho. É comum ouvir, na capital, pessoas gritando pelas janelas de seus apartamentos: Galo!! Outros passam pela rua em seus automóveis, em alta velocidade, berrando: Cruzeiro!! Principais equipes do futebol mineiro. Parece que esses indivíduos não se importam com quem, na manhã seguinte, terá um dia duro e cansativo e desde cedo precisa descansar. A maioria sabe que para ter um bom dia de trabalho ou estudo e ser produtivo é preciso uma boa noite de sono. Segundo o portal de notícias da BBC, adultos jovens, entre 18 e 25 anos, não devem dormir menos de 6 horas e adultos, entre 26 e 64 anos, o ideal é dormir entre 7 e 9 horas. Já as crianças em idade escolar, entre 6 e 13 anos, o aconselhável é dormir de 9 a 11 horas. Então, se o horário escolar começa às 7h, pergunta-se: por que é que tem jogos de futebol às 11h da noite? Vivemos

em um país onde a cultura do futebol se sobrepõe às “normas” de bom convívio em sociedade. Onde vizinhos não se importam em torcer e mostrar sua alegria, seja a hora que for. A conhecida Lei do Silêncio estabelece restrições na geração de ruídos de dia e de noite, mas, em alguns casos, só existe fiscalização em bares, restaurantes e casas noturnas. Em geral, a poluição sonora leva ao estresse e é um dos maiores causadores da perturbação do sono. O barulho evita o relaxamento do cérebro, levando a baixos níveis de concentração, impedindo o bom aprendizado e desempenho. A falta de sono pode criar, também, um enorme estado de cansaço, tensão e afetar o sistema nervoso. Pela falta de fiscalização das autoridades é que muitas comunidades têm que agir para fazer valer seu direito. Exemplo disso é o caso dos moradores do Bairro Coração Eucarístico. De acordo com o presidente da Associação dos Moradores (Amocoreu), Walter

Freitas, as reclamações mais freqüentes referem-se ao barulho vindo dos bares em torno da PUC Minas. Principalmente nas conhecidas “calouradas” (eventos não ligados oficialmente a Universidade, mas que reúnem um grande número de alunos da instituição de ensino). Além do constante barulho, uma enorme quantidade de lixo é gerada próxima aos bares, já que seus freqüentadores têm o hábito de jogar garrafas de bebidas pela rua, causando muita indignação nos moradores da vizinhança. Após a realização da audiência pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte, a favor dos moradores do bairro, com relação à poluição sonora de alguns bares, foi definido o cumprimento do TAC (Termo de ajuste de conduta). E os donos dos bares devem diminuir a quantidade de barulho. Mas, segundo o presidente da Associação dos Moradores, só alguns bares vêm respeitando o termo; alguns outros ainda não.

Neste horário a quantidade de carros é tão grande que sempre têm engarrafamentos, brigas, gritos e barulho de buzinas, indicando certo estresse. O som atrapalha os moradores da região que nesse mesmo momento estão chegando do trabalho e o que mais desejam é descansar com tranquilidade. Porém são obrigados a aguardar e conformar-se com esta rotina. A BHtrans já tentou solucionar o problema colocando placas que proíbem estacionar em horário de maior movimento, mas elas parecem não fazer diferença. Além de disso, não existe uma verdadeira fiscalização. Os problemas não acabam por aí. Em dias de calor, e com o preço da energia tão alto, as pessoas têm o costume de abrir as janelas para se refrescarem. Mas, para quem mora perto de colégios ou escolas, abrir janelas é praticamente impossível. Além do barulho, é comum haver ônibus parados com motores ligados, por cerca de meia hora. Ficam ali esperando os alunos para serem levados às suas casas, mas, enquanto isso a vizinhança recebe a fumaça tóxica e o mau cheiro do monóxido de carbono que expelem. Trânsito é uma das circunstâncias onde há maior hostilidade entre as pessoas, o que piora em dias de calor. Quase ninguém tem paciência e cordialidade com o próximo. As pessoas somente entram em seus carros ou transporte público com objetivo de chegar o quanto antes ao seu destino. Parecem mais interessadas em interagir por meios eletrônicos, e assim, vão perdendo a habilidade de interação social face a face. Hoje, quando se utiliza ônibus ou metrô é possível perceber a atitude individualista das pessoas, afetando a convivência com os demais. Cenas conflitivas são muito corriqueiras: usuários que deixam suas mochilas nas costas, impedindo livre passagem em espaços reduzidos e às vezes até esbarrando-as no rosto de quem está sentado. Há também os usuários que fingem estar dormindo e ficam nos assentos prioritários de idosos, mulheres com crianças de colo, gestantes, deficientes visuais e cadeirantes. Outro problema muito comum, que acontece no transporte público, é o de pessoas que ficam conversando alto, seja pelo celular ou com outro usuário, enquanto prejudicam os que querem aproveitar o tempo para escutar uma música em seus fones de ouvido, ou aproveitar o “tempo perdido” no trânsito para dar uma soneca. A música, reproduzida sem fone de ouvido, também é alvo de muitas reclamações. É uma falta de respeito à lei, que proibe ouvir musica sem fone dentro do transporte público, como também dos outros passageiros. Essa situação faz parte do dia a dia dos usuários do metrô e dos ônibus de Belo Horizonte. Trata-se da dura rotina de esperar transporte lotado, sujo e compartilhá-lo com pessoas que não se importam com o próximo.


14

março2016 .jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Inclusão

Lei prevê acessibilidade a surdos Deficientes auditivos enfrentam obstáculos para frequentar ambientes coletivos devido à ausência de intérpretes de Libras. A partir deste ano, locais públicos iniciam adaptação à lei

intérprete nos espaços públicos: sem esse profissional, a lei não será cumprida. O surdo precisa de entender e ser entendido, e isso só é possível com o intérprete. Ao chegar à emergência de um hospital, por exemplo, precisa dizer seu nome, o que está sentindo, se tem alguma alergia; esse contato precisa ser estabelecido, observam.

MIRNA DE MOURA 6° PERÍODO

Este ano entrou em vigor a LBI, Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, que vai garantir aos 17,7 milhões de brasileiros portadores de deficiência severa, aproximadamente 6,7% da população, o direito ao trabalho, que deve ser de “livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com às demais pessoas”. Na teoria tudo bem, porém na prática é outra história. A atriz e intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) Dinalva Andrade, conta sua experiência com as vagas prioritárias: “Fui contratada por uma empresa de Recursos Humanos, serviço terceirizado que seleciona candidatos para vagas em outras empresas, para fazer entrevistas em Libras. Quando li os critérios de seleção da vaga de deficiente, fiquei espantada. O deficiente era bem especificado: queriam um surdo, para não ter de fazer reformas estruturais de acessibilidade, que também falasse, para não ser necessário intérprete”. Essa lei vem para reafirmar a Lei de Cotas, segundo qual empresas com 100 ou mais funcionários devem destinar de 2% a 5% de suas vagas a deficientes. Mesmo agora, depois de 24 anos de sua aprovação, a implementação é difícil, seja pelo despreparo das empresas ou do próprio deficiente. “É comum existir as vagas, a empresa estar disponível para contratar, e não haver profissionais qualificados. Não é só a sociedade que tem de se adequar, o deficiente tem que fazer a parte dele também, preparando-se para a inserção no mercado de trabalho, atuando e sendo útil no seu cargo”, explica Paula Branco, professora de Comunicação Assistiva. O trabalho dignifica o homem. Esse bordão popular entre nós, explica a relação do homem com o trabalho, que vai além da remuneração: é o caminho para a autoestima por se sentir útil. Paula observa que “a partir do momento em que

PUC ACESSÍVEL

No CCBB, acontece contação de história em Libras

o deficiente começa a trabalhar, a ser um cidadão ativo, muda tudo em sua vida. Ele se sente parte da sociedade como qualquer outro, começa a gerar a própria renda e deixa de ser um peso para família e/ou para o Estado. A autoestima vai lá pra cima”. OUTROS DIREITOS

A LBI também assegura o direito do deficiente à cultura e ao lazer, garantidolhe o acesso a bens culturais, programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais em formato acessível. Para isso é necessário adaptar o conteúdo veiculado. No CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil) há um núcleo de acessibilidade, que planeja atividades para esse público. “Fazemos contação de histórias infantis, visitas guiadas às exposições e ao prédio, em Libras. As ações ainda são recentes, dois meses só”, conta Dinalva, intérprete do CCBB. Por ser recente ainda não conseguiram atingir esse público em grande escala. “Recebemos a visita de um surdo do Rio de Janeiro, que participou de todas as atividades, e ficou encantado ao ver essas ações voltadas

para ele, na área cultural”. Ao lado do CCBB, no Espaço do Conhecimento UFMG, acontece todas as quintas-feiras o projeto “Quinta com Libras”. São oficinas mediadas pela linguagem brasileira de sinais, dos mais diversos temas: astronomia, teatro e pintura, dentre outros. Para os deficientes visuais, o Museu de Artes e Ofícios em parceria com a PUC Minas, criou um projeto de audiodescrição, que conta a história do trabalho e das profissões no Brasil. A nova lei vai criando novas oportunidades de trabalho para especialistas. Uma lei municipal de acessibilidade foi aprovada em outubro de 2015 autorizando a criação da categoria de intérprete para deficientes auditivos no quadro de pessoal da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Seu autor, o vereador Leonardo Mattos (PV), explica que a norma vai ajudar na promoção da “autonomia da pessoa surda que, muitas vezes, necessita ir acompanhada aos órgãos públicos”. A demanda por profissionais intérpretes qualificados cresce com as novas leis de acessibilidade. Os especialistas justificam a presença, imprescindível, do

Falha no piso tátil prejudica deficientes visuais na PUC

KARINE BORGES 4° PERÍODO

Andar com segurança por todo o campus da PUC é o objetivo da implantação do piso tátil. Ele é utilizado para favorecer o deslocamento dos deficientes visuais, na universidade. Só que nem sempre isso ocorre. Há trechos no Coração Eucarístico que não têm continuidade e não possuem a adequação correta dos pisos de alerta e direcional, que servem, respectivamente para indicar obstáculos e mostrar a direção. No seu caminho os deficientes visuais encontram dificuldades para chegar até seu destino porque a sinalização é descontinua e há falhas na estrutura. Sem um braço amigo, as pessoas que necessitam do auxílio do piso correm perigo. DIFICULDADES

De acordo com a professora Judith Vilas Boas, do curso de pedagogia e comunicação assistida, a PUC tem muitas pessoas com deficiências físicas e visuais. Aqueles com problemas de visão sofrem um pouco em seus deslocamentos pela falta de continuidade do piso tátil em quase toda extensão do campus Coração Eucarístico. Segundo ela, existem dois tipos de pisos que juntos auxiliam essas pessoas no trajeto que percorrem no dia

Pablo Bernardo

a dia: são os de alerta que indicam algum obstáculo como elevador, telefone público, desnível, início ou término de alguma escada; e o direcional que vai indicar o caminho que ele deve percorrer seja para a direita, esquerda ou para frente. Não só por experiência pessoal como também pela experiência profissional Judith diz que a PUC tem conhecimento de como instalar o piso tátil. No entanto os funcionários que fazem a instalação desconhecem certas normas e erram na hora da aplicação. Ou seja, falta orientação para o trabalho, observa a professora. Ela dá o exemplo da rota de acesso 1 entre o Teatro e o prédio 14 que tem algumas falhas cuja correção é importante. Uma aplicação de acordo com as normas mais eficazes evitaria, na hora do deficiente se locomover pelo campus, o risco dele se perder ou cair. O aluno de jornalismo Luiz Guilherme Lanza, deficiente visual, utiliza o acesso 1 com certa frequência. Luiz afirma não existir, para ele, dificuldade de caminhar pelo campus já que está acostumado com o caminho utilizado, por estudar na universidade há mais ou menos dois anos. “Estou aqui há um bom tempo e já me acostumei. O problema é para quem acabou de chegar e ainda não conhece bem o caminho; eles podem se perder e até cair”, comenta.

Para atender a esse mercado de trabalho, a PUC Minas, desde 2006, forma agentes de inclusão social, que trabalham com tradução e interpretação em Libras e Braille e como Guia Intérprete, na orientação e mediação comunicativa. Paula Branco, coordenadora do curso, conta que o principal interesse de quem o faz é “atender a uma carência social, ter um olhar diferenciado sobre o outro que precisa de ajuda. Aqui não se pensa somente na remuneração”. O curso busca atender também o que dispõe a lei de acessibilidade, segundo a qual os deficientes têm direito à educação. Ele foi criado para atender ao NAI (Núcleo de Apoio à Inclusão do Aluno com Necessidades Educacionais Especiais) da PUC, que assiste os alunos da universidade. “A inclusão hoje está tomando uma proporção além da esperada: pessoas com todos os tipos de deficiência estão ingressando na universidade e esse número só aumenta. E nós ficamos muito felizes, pois a formação universitária é um direito de todos”, comenta a coordenadora. No Brasil, a PUC é pioneira na formação de intérpretes. “O ideal seria que toda a sociedade fosse bilíngue. Mas, mesmo sabendo usar Libras, é necessário um aprofundamento no estudo da linguagem de sinais para se tornar proficiente, ou seja, saber com propriedade conversar e interpretar. O caso do surdo é mais complicado, porque ele se comunica em Libras, outra linguagem, se o outro não tiver o domínio dela a comunicação não acontece”.

Luiz acompanha o piso em direção à saída

Flora Silberschneider

As arquitetas Karen Lima e Maria Eugênia Giovanardi disseram que a universidade está em processo de melhoria da acessibilidade, há dez anos, com a execução do trabalho em etapas. A demora se deve ao fato das obras não poderem ser feitas durante o período de aulas; somente nas férias ou em algum feriado. Karen e Maria Eugênia informaram que a implantação das rotas esta sendo feita com prioridade para a melhoria dos acessos das rotas 1 a 5 que cobrem o maior acesso a todos os prédios do campus.


15

março2016 .jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratório

Economia

MARIANA SPINELLI MARIA EDUARDA FARIA LARA FERRÃO MATHEUS CAPANEMA HENRIQUE LAGE 1° PERÍODO

O Carnaval é um feriado nacional que entretém a população com suas festas temáticas, marchinhas e blocos de rua. Neste cenário de diversão e folia, destacam-se personagens que aproveitam o período carnavalesco para trabalhar, tais como os vendedores ambulantes. Muita gente acha que o Carnaval representa uma época de lucro extra para esses trabalhadores, mas não é bem assim. Segundo Tiago Moreira Rodrigues, vendedor ambulante: “aumenta pouco, pois faço muitas festas, tenho uma agenda cheia e por isso no carnaval não há muita diferença dos outros dias do ano”. Já para Genirio Custódio de Souza, vendedor de pipoca há 35 anos, a “carnavalização” de Belo Horizonte, que ocorreu nos últimos quatro anos, cooperou para uma melhora nas vendas, mas não foi um aumento significativo em relação aos dos outros dias normais: “De quatro anos para cá as vendas no carnaval melhoraram, mas estou no mercado há muito tempo; minhas vendas não crescem muito nesse período”. Aumento de renda familiar foi o motivo que fez muita gente aventurar-se como ambulante indo às ruas. Larissa Stephane, uma novata no ramo, é um desses exemplos: ‘’Esse ano a gente resolveu vender porque estávamos

Carnaval renasce em BH e incrementa sua economia Carnaval traz alegria e leva muita gente a trabalhar para ganhar renda extra e facilitar a vida dos foliões. Mas os lucros estão estáveis há varios anos

Bloco Juventude Bronzeada, encerrando a festa carnavalesca na rua Sapucaí

com dificuldades financeiras. Estamos tentando resolver essa situação’’. Em contrapartida alguns bares, restaurantes e estabelecimentos fixos, tiveram crescimento de vendas de até 200%, mas a média da Abrasel (Associação de Bares e Restaurantes) é de aumento de 30% nas vendas comparado ao carnaval do ano passado. Isto graças ao grande movimento de blocos, principalmente nas regiões da Sa-

vassi e Centro-Sul, de acordo com a Belotur. Apesar de não ter havido o lucro esperado pelos vendedores ambulantes, o bem maior veio para a cidade, de acordo com Georgia Caetano, Assessora de Comunicação da Belotur: “aumentou em quase três vezes o número de trabalhadores temporários nesse carnaval, o que gera renda para a população e a gente consegue organizar mais a festa com os ambulantes”.

Comer pastel já virou tradição em Minas Gerais CAROLINE MÉRCIA GABRIEL CRUZ 2º PERÍODO

Em centros comerciais, carrinhos de rua, ou em qualquer lugar do país, ele está sempre presente, e sua comercialização é garantida. Alimento saboroso e popular, o pastel tem um lugar bem especial no coração dos brasileiros. Sua chegada ao país foi com imigrantes chineses que, após algumas adaptações do famoso “rolinho primavera”, obtiveram a receita típica, hoje utilizada. Em Belo Horizonte, sua disseminação ocorreu na década de 1950, vendidos na região central da capital mineira. Hoje, por toda a cidade é comum ver-se diversas pastelarias. Por ser um alimento que agrada ao paladar dos mineiros e tem custo acessível à população, o pastel, com seus inúmeros recheios, doces ou salgados, é bastante consumido, em diferentes horas do dia: no café da manhã, no lanche da tarde, para substituir o almoço nos dias de correria ou como uma boa opção, num happy hour. Segundo Andréa Bahia sócia- proprietária da pastelaria Marília de Dirceu, situada no bairro de Lourdes, vender pastéis é um bom empreendimento. Formada em administração de empresas, ela resolveu abrir a pastelaria após a firma em que trabalhava mudar de cidade. Sua pastelaria existe há 23 anos e desde então o comércio é satisfatório. “O belo-horizontino gosta muito de pastel; por esse motivo, eu achei que o mercado existia para todos, não apenas restrito ao centro. Sempre notei esse espaço, essa abertura que o ramo oferecia e oferece. É um alimento relativamente barato, mesmo os pastéis mais gourmet. É rápido de fazer

e fácil de comer; é bom em uma festa ou para servir a visitas e é um lanche completo. Uma pessoa que se alimenta de pastel, antes de ir assistir a uma aula, por exemplo, sente-se alimentada e consegue estudar tranquilamente”. O estudante de Ciências Contábeis, Victor Costa tem a convicção de que o pastel é muito mais do que um simples e bom alimento, pois suas transformações e modificações fazem dele um petisco cada vez mais apetitoso. “Estudar e trabalhar, ao mesmo tempo, é cansativo e quase nunca sobra tempo para preparar um lanche. Acabo comendo na rua mesmo. Minha primeira opção é sempre um bom pastel, frito na hora e, para deixá -lo com um sabor mais mineiro, sempre peço com recheio de queijo. Creio que o pastel de queijo seja algo bem mineiro, uma maneira bem singular de deixá-lo cada vez mais com ‘a cara de Minas’. É comum ver as pessoas nas ruas, em pastelarias, lanchonetes sempre saboreando um pastel. Virou um hábito frequente, ainda mais para o belo-horizontino que encontra uma imensidão de opções de lugares e sabores”. O pastel já faz parte da cultura de diversas capitais brasileiras. Está presente em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Popularizou-se ali como em Belo Horizonte. Antigamente, contam os mais velhos, eles iam ao centro apenas para comer um pastel com caldo de cana. Uma dupla que não só alimenta, como mostra um pouco da diversidade da nossa cultura. Quando comemos pastel, não só matamos a fome: mantemos uma história e tradição enraizadas na cultura da cidade. Hoje, o pastel não é mais chinês; é produto bem brasileiro.

Flora Silberschneider

ANIMAÇÃO BENÉFICA O carnaval de Belo Horizonte vem se consolidando como um dos mais tradicionais do país. A cidade nos últimos cinco anos sofreu o processo de “carnavalização” graças à ação integrada da prefeitura e da população. Neste ano de 2016 não foi diferente: cerca de dois milhões de foliões marcaram presença na cidade e 214 blocos foram cadastrados, promovendo 257 desfiles pela cidade.

De acordo com a Belotur (empresa municipal de turismo), a comemoração mobilizou quatro mil servidores públicos municipais, a atuação direta de 19 órgãos integrantes da Comissão Especial do Carnaval, além do apoio da Fundação Municipal de Cultura. O investimento neste carnaval alcançou os R$3,5 milhões, utilizados em infraestrutura de palcos, em arquibancadas para desfiles das Escolas de Samba e Blocos Caricatos, - evento que contabilizou um público de cerca de 20 mil espectadores-, banheiros químicos (cerca de oito mil instalações), cachês de artistas, pagamento de equipes de segurança, brigadistas, socorro médico, seguro, premiação e apoio financeiro. A “carnavalização” de Belo Horizonte traz consigo um bem muito maior do que apenas quatro dias de festa para os foliões. A população nativa está deixando de viajar para comemorar o feriado na cidade, fazendo com que o dinheiro do belo-horizontino circule, aqui mesmo, favorecendo a economia local. Vendedores ambulantes, vendedores temporários, bares,

restaurantes e lojas de fantasia são os grandes beneficiados por essa movimentação. A folia gerou seis mil postos de trabalho temporários, dentre eles 3.426 ambulantes, de acordo com a Belotur. Os hotéis não ficaram de fora dos benefícios do carnaval. Segundo dados da Belotur a ocupação deles foi em torno de 40% e em algumas regiões do centro-sul da cidade, chegou a 80%. Diferente do ano passado que, no mesmo período, não chegava a 30%. Segundo a CAT (Técnicos dos Centros de Atendimento ao Turista) a cidade recebeu visitantes de 17 estados e 12 países. Para os foliões, foram distribuídos 370 mil unidades de preservativos, sendo que 120 mil vieram da iniciativa privada, informa a Secretaria Municipal de Saúde, garantindo assim, maior segurança para a diversão de alguns. Belo Horizonte entrou na rota de destino de muitos carnavalescos, atraindo multidões a cada ano que passa e já provou seu valor. Eles pensam que o carnaval aqui é exemplo de organização, segurança e muita festa.

Pra ganhar dinheiro na folia

Paulo Henrique aproveitou o bom movimento do carnaval para faturar renda CYNTHIA NOGUEIRA 6° PERÍODO

Entra ano e sai ano e o carnaval de BH está cada vez melhor. Belo Horizonte cresceu e se desenvolveu muito rapidamente em relação ao carnaval de anos anteriores. Ao contrário do que se vê hoje, a cidade ficava calma e tranquila, pois os belo-horizontinos se espalhavam pelas cidades carnavalescas ao redor de Beagá, e históricas como Diamantina e Ouro Preto. Mas não se engane achando que essas eram as únicas cidades para as quais eles migravam: Salvador e Rio de Janeiro também eram, e ainda são, cidades muito procuradas. Mas de uns tempos para cá, os “novos” blocos de BH arrastam multidões pelas ruas e avenidas da cidade, trazendo consigo foliões com muita disposição e alegria, em eventos totalmente gratuitos. Além disso, o carnaval traz oportunidade de trabalho e renda para muita gente. Os recursos obtidos vão para as compras do dia a dia ou até mesmo para o pagamento da faculdade. Este é, por exemplo, o caso de Eduardo Pereira, pai de uma aluna de jornalismo da PUC Minas. “Em certas datas, como feriado prolongado e Ano Novo, faço excursões para cidades litorâneas próximas, com hospedagem e transporte garantido. Já em datas comemorativas, como o Carnaval, faço traslado até as cidades de Ouro Preto e Diamantina”. E ele não é o único a aproveitar a oportunidade. A cada evento, cresce o número de ambulantes e pessoas que procuram por um meio de trabalho adi-

Cynthia Nogueira

cional, alternativo. Esse ano, por exemplo, o volume de registros para vendedores ambulantes trabalharem no Carnaval triplicou, passando de 1.180 em 2015 para 3.426, segundo dados da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur). Os ambulantes estavam presentes por onde os blocos desfilavam nos diversos bairros e vias de BH. O bloco Praia da Estação atraiu grande número de vendedores que se misturavam aos foliões. Paulo Henrique, 34, era um dos camelôs que estavam no bloco e contava com a ajuda de sua irmã, Valeria Silvia, 26; ela entregava a bebida enquanto ele cobrava. O comerciante vive com seus pais e irmãos, formando uma família de seis pessoas dentro de casa. “Trabalho direto em eventos dentro e fora da cidade, pois esse é o meu meio de sobrevivência. Faço isso para ajudar em casa, já que no momento não consigo arrumar emprego”. No bloco “Love is indie air” que desfilou em frente ao Parque Municipal, não faltavam autônomos vendendo bebidas para a alegria dos foliões. Claudecir da Silva, 53, era um deles. Morador de Sabará, há oito meses começou a trabalhar de camelô nas ruas de BH vendendo água, suco e salgados. Ele já trabalhou como repositor de comércio e depois, quando ficou desempregado, não viu outra saída a não ser trabalhar por conta própria. “Esse é o primeiro carnaval em que trabalho, mas há oito meses comecei no ofício de vendedor ambulante . Assim vou me defendendo.“


jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismowdapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo.março2016

Entrevista

MÁRCIO ANTÔNIO DE PAIVA

Sem ética não há humanidade A globalização derrubou as fronteiras entre nações, acelerou a aproximação entre povos e tornou a informação mais rápida e acessível, mesmo com distanciamento espaço-temporal. Mas será que disto tudo resultaram apenas benefícios? Tais mudanças acarretaram perda de valores éticos e morais? Sobre tais questões, o Marco conversou com o professor e doutor em filosofia, Márcio Antônio de Paiva para o melhor entendimento da ética no mundo atual e, principalmente, nos meios de comunicação e nas relações humanas. LARISSA ANDRADE 1° PERÍODO

O Senhor poderia diferenciar ética e moral? Originalmente, o termo mais antigo é ética que vem do grego ‘’ethos’’ e significa no mundo animal um refúgio ou morada. Transposto para o mundo humano, significa morada espiritual, ou seja, aquele conjunto de referências, hábitos e costumes de modo de vida que dão segurança ao indivíduo para viver. Já moral, vem do latim ‘’mos’’e diz o mesmo que o “ethos”, porém de uma forma mais ampliada que é a referência à lei, aos costumes, hábitos, a vontade. Refere-se a todo o conjunto de referências, seja do ponto de vista individual ou social; é o conjunto de normas e costumes que ajuda o sujeito a viver. Do ponto de vista filosófico

Aquilo que não é, não se sustenta na comunicação não há diferenciação dos dois termos, pois ambos possuem uma sinonímia de objeto. A separação dos termos acontece na modernidade que é a época das dicotomias, como por exemplo, o proletariado e a classe dominante, corpo e alma e assim por diante. Maquiavel foi quem separou a ética da política e depois, Hegel acusa Kant de ter buscado o princípio supremo da moralidade que é o sujeito; então Hegel, contrapõe a eticidade e a partir daí todos falam de ética e moral como se fossem diferentes, quando na verdade dizem respeito à mesma coisa. Isto porque, do ponto de vista de uma formação racional, o comportamento do indivíduo se dá na objetividade de um mundo e em uma teia de relações intersubjetivas. Portanto, ética e moral precisam contemplar os mesmos valores. Como o Senhor vê a atual postura ética das emissoras de rádio e televisão e dos jornais e revistas brasileiros? Comunicar é ser e ser é comunicar; quanto mais se é, mais se comunica. Por exemplo, um jogador de futebol que joga bem, é um bom jogador. Porém, os meios de comunicação da atualidade correm o risco de criar ídolos, criar fantasmas e inventar realidades. E é esse o primeiro desafio da atualidade nos meios de comunicação:dizer a verdade sem cair na tentação de cada vez mais criar e modificar fantasmas e ídolos. Porque uma coisa é certa: aquilo que não é, não se sustenta na comunicação. Inclusive na esfera de celebridades e da política, muitas realidades são escondidas ao bombardear outras e esse é um ato que não constrói democracia. O segundo desafio é o fato de os meios de comunicação estarem cada vez mais, se aliando ao poder econômico, o que deixa a democracia prejudicada. O terceiro desafio é democratizar os meios de comunicação, que não podem ser monopólios, sobretudo em um país como o nosso que não tem educação igual para todos. Assim 90% do povo brasileiro não sabe ler a realidade e acham que a crise é só brasileira, quando na verdade é internacional. A economia de mercado nunca cresceu de forma linear: sempre terá períodos de recessão e de pico. Apesar

disso é fato que o Brasil é a 7º maior economia do mundo, mas a maioria do povo brasileiro não sabe disso porque a mídia aliada à estruturas de poder econômico, aliena a crise e constrói sua percepção de crise como fenômeno puramente brasileiro. O que poderia ser feito para resgatar a responsabilidade ética da mídia brasileira? Não tem resposta; vivemos em uma sociedade fragmentada e complexa, portanto não temos resposta. A ética é construída para permitir que as pessoas vivam bem uns com os outros. Se isso não ocorre, não há resposta, a priori, para ser dada. Racionalmente, é preciso respeitar, reconhecer e enxergar o outro. Isto é o princípio básico de acolher a autoridade; se não ocorre, nada de ético vai acontecer. A mídia tem que ter coragem de ser democrática, de não ser unilateral, de não ser partidária. Ela tem que mostrar que todos os corruptos do PT precisam ser punidos, assim como todos do mensalão mineiro também precisam ser punidos. Que é possível cobrir os dois casos, o que não ocorre. A mídia que age dessa forma não merece o nosso crédito. Esse é um fenômeno mais brasileiro que internacional, pois a maioria da mídia internacional é democrática e abre espaço para todos. Não há império aliado ao poder econômico ou político, porém a mudança depende também do agir da população, da luta para a democracia, da luta de maneira correta e não através de pichações e manifestações com panelaços que não sejam em defesa de causas democráticas. É preciso mudar o tal jeitinho brasileiro de lidar com os problemas. No campo profissional, quais as principais características éticas que o Senhor acredita ser fundamentais para construção de uma carreira? O primeiro compromisso ético de um profissional é o desenvolvimento de competências na área escolhida; dar o melhor de si e ser o melhor possível. O segundo compromisso é buscar a atualização constante para ter sempre uma formação contínua. Não existe saber definitivo e absoluto, ele é construído diariamente. O saber é sempre saber a caminho, portanto em uma visão ética e bastante humana, eu preciso ter consciência de que o conhecimento é limitado. Terceiro compromisso: no exercício da profissão, é preciso dialogar com os pares. Não existe saber individual, o saber é fruto de uma cadeia de interdependência. E o quarto compromisso é uma boa dose de humanidade e humildade. A quantidade exagerada de informação rápida, a existência de diversos meios de comunicação, faz a ética ser deixada de lado? Completamente deixada de lado. O que está em jogo é que a atual mídia virou um instrumento da razão instrumental que perpassa todos os setores da sociedade;a profissão virou um instrumento de enriquecimento;as pessoas são instrumentalizadas;as

relações e a mídia também. Por isso, quanto mais rápidas são as informações, menos processo humano de ética se tem. Porém, aquela realidade que é meramente instrumental nos joga no vazio; então, em um dado momento, se não houver a construção de um “ethos” na convivência, na construção coletiva do país, implode esse tipo de mídia feita e vira a guerra de todos contra todos, será a volta a barbaria. A liberdade de expressão tem um limite que é a dignidade do outro e quando ele é ultrapassado, tudo pode acontecer. Em qual momento da vida humana, os valores éticos são construídos? E aonde isto ocorre: na escola, família. Existem muitas teorias, mas a que mais admito é uma que mostra a existência de muitos estágios, em vários momentos. A construção dos valores éticos vai da anomia (ausência de lei) até o anseio de universalidade. A criança internaliza os princípios dos pais, depois, hà a interiorização dos valores da instituição escolar, seguido dos períodos da elaboração e perspectiva com relação ao outro, de autoposição do eu diante ao mundo, da elaboração conceitual até pensar em regras universais, válidas para toda a humanidade. A construção de valores éticos é permanente: o “ethos” é coextensivo à cultura, ele não é categoria cultural válida para sempre. Cada cultura constrói seus valores e não existe cultura melhor que a outra, apenas diferentes. Os valores mudam no arco de gerações, no arco do tempo, mas cada tempo tem suas alegrias, desafios e dores. A vida humana é a vida no limite. Observa-se, no cotidiano, a perda de valores em gestos e atitudes simples como, ceder lugar aos idosos, ser gentil etc. Ética tem a ver com essas ações? Como recuperar os valores perdidos? Ética é eminentemente desenvolvida nessas pequenas ações do cotidiano. Ser gentil vira um hábito se for reproduzido diariamente, assim como tomar café todos os dias. A razão humana é violenta e não tem coração; é preciso amansar a razão humana com bondade. A ética não acontece como algo mágico e nem só pela razão, é preciso uma dose de coração para que ela aconteça, o sentimento é muito importante na ética.

A sensação de ausência da ética nas relações humanas é um fenômeno atual ou periódico? É um fenômeno que acompanha a humanidade; a ética nunca aconteceu 100% e nunca irá acontecer, porque o ser humano é o ser do paradoxo. Em tudo aquilo que fazemos eticamente há, ainda sim, uma parte que não é ética. Por exemplo, uma doação é um gesto que gera prazer para muitos; a mãe que prepara a festa de quinze anos da filha tem um certo egoísmo e se sente realizada. Em tudo que somos e fazemos tem uma dose de egoísmo e paradoxo; então, nesse sentido nunca houve uma ética plena, não há e nunca haverá. O desafio dos tempos atuais é que as pessoas perderam a razão, perderam o senso do limite. Tem gente que diz que nem sempre é possível ser ético. Isto é possível? Como pode ser feito? Esse é um argumento de quem não quer ser ético. É preciso ter como principio um porte ético; se o perdemos de vista, a vida perde o sentido. Porém como na vida humana nada é absoluto, pode acontecer que algumas atitudes corretíssimas impeçam o bem de acontecer. Por exemplo, se seguirmos a teoria de Aristóteles de “justiça e justiça legal’’, se aplicarmos isso podemos cometer injustiça ao generalizar para toda a sociedade. É preciso estar aberto às exceções. Por exemplo: atender em um posto médico por ordem de chegada; mas chega um caso urgente e é preciso coloca-ló na frente. Mas colocá-lo na frente não seria antiético? Não, não é regra matemática; é preciso ter uma dose de razão e uma dose de coração; se não, a ética não acontece. Também é preciso uma dose de argumento, diálogo, atenção. Assim é a vida. Em algum momento, o Senhor já precisou ser antiético para preservar sua moral? A ética e a moral têm que partir sempre do chão da vida, não podem partir de uma lei universal. Nenhum “ethos” é totalmente universal e nem todo “mos” é inteiramente cultural. Ambos precisam ser abertos a princípios universais, como a dignidade e racionalidade humanas, como o valor da vida. Mas, se for preciso abrir mão da ética universal para valorizar a dignidade no lugar em que estamos, a resposta é sim. O que aconteceu na colonização da América Latina mostra muito bem isso: havia princípios universais, os colonizadores chegaram e sufocaram as culturas que aqui havia; isso é completamente antiético, ilegal, imoral. Por isso é preciso partir sempre do chão da vida.

Marianne Fonseca


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.