Em sua oficina localizada no Bairro Dom Cabral, Rogério Gomes restaura e coleciona carros antigos, atividades que realiza há 36 anos. Página 2
MARIA CLARA MANCHILA
RENATA FONSECA
RICARDO MALLACO
Possibilidade de aumento na área verde tornará mais agradável a práticas de atividades físicas no cercadinho da Via Expressa. Página 4
Apaixonados por camisas de futebol, colecionadores enfrentam dificuldades com preços e famílias para conseguirem raridades. Página 14
marco jornal
Ano 39 • Edição 282 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas
Junho • 2011
CARLOS EDUARDO ALVIM
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“Não sou de fazer receita para ganhar dinheiro”
A COPA TAMBÉM PASSA POR AQUI
A escritora Lya Luft acaba de lançar "A Riqueza do Mundo", que traz ensaios sobre temas como educação e política. Em entrevista ao MARCO, ela conta que depois de lançados, seus livros passam a ser objetos comerciais das editoras e afirma,"eu acho que você faz arte pelo prazer e eu muito para interagir com meus leitores". Página 16
O silêncio do paciente A equipe do Hospital Cristiano Machado, em Sabará, tem o desafio de lidar com pacientes que não falam. De um lado, a alegria de fazer com que eles respondam a estímulos. De outro, a dificuldade em conviver com a angústia das famílias que não se acostumaram com esse silêncio. Página 12
Cartões-postais de Minas, com riqueza histórica e beleza natural, cidades como Tiradentes, Ouro Preto, Congonhas, São João delRei e Sabará serão destinos procurados por quem visitar o estado no período da Copa de 2014.
Porém, os trabalhos de preparação dessas cidades estão em estágios diferentes. Enquanto umas possuem planos efetivos para atrair turistas do mundial, outras ainda não começaram a se preparar para o evento. Páginas 7, 8 e 9
RENATA FONSECA
Vida Nova por meio da arte do teatro Presidiários da Penitenciária José Maria Alckimin, localizada em Ribeirão Neves, descobriram no teatro uma forma para repensar os atos cometidos no passado e conscientizar as pessoas encenando peças que retratam suas experiências com o mundo do crime. O Grupo Vida Nova revela talentos e contribui para a ressocialização dos detentos. Página 13 RENATA FONSECA
Nova divisão nas regionais da capital Com o objetivo de organizar e aumentar a participação da população na gestão do município, a Prefeitura de Belo Horizonte criará 40 sub-regiões dentro das tradicionais regionais. O novo modelo de gestão compartilhada busca atender melhor os anseios dos moradores do bairros por meio dos líderes comunitários. Página 11
2 Comunidade
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EDITORIAL
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Aprendizado para futuros repórteres e para leitores também n KENETH BORGES, 3º PERÍODO
A Copa do Mundo que acontecerá em 2014 no Brasil é um assunto comentado por todos e já movimenta a capital mineira, uma das sedes dos jogos do mundial, e as cidades históricas, que esperam um fluxo grande de turistas para conhecerem os bens culturais e naturais da região, além da famosa gastronomia mineira, que chama atenção dos turistas de todas as localidades. Nesta edição uma matéria especial da Copa foi realizada pela equipe do Jornal MARCO, mostrando como as cidades históricas de Congonhas, Ouro Preto, Sabará, São João del-Rei e Tiradentes estão se planejando para receber os turistas que pretendem aproveitar a viagem para conhecer o patrimônio de Minas Gerais. A reportagem aborda as dificuldades que algumas delas enfrentam para concretizarem seus projetos, e como os cursos de capacitação serão o ponto alvo dessas cidades. O futebol que, indiretamente, movimenta esses municípios é também assunto da reportagem sobre a paixão de torcedores que colecionam camisas de diversos times e não economizam na hora de adquirir as raridades. Seja em viagens pelo mundo ou por meio da internet, esses apaixonados não medem esforços para aumentarem seu acervo de preciosidades. Essa edição retrata, ainda, como a arte pode mudar e direcionar a vida de pessoas que já acreditavam em ter perdido o seu caminho e como a ressocialização é ponto de partida para esse novo começo. É o caso dos detentos da Penitenciária José Maria Alckimim, em Ribeirão das Neves, que por meio do teatro encontraram um novo rumo e criaram o Grupo Vida Nova, onde apresentam peças teatrais que eles mesmos escrevem e encenam. O público principal do grupo são os alunos da rede municipal e estadual, e estima-se que oito mil pessoas assistiram o trabalho desses presidiários. A realidade dos pacientes e a forma humanizada do trabalho desenvolvido pelos profissionais de saúde do Hospital Cristiano Machado, em Sabará, emocionou os estudantes que foram até lá realizar a reportagem “Comunicação além das palavras”. Os jovens repórteres se depararam com o desafio de tentar compreender e explicar como os médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais entendem os doentes; maior parte deles também muito jovens e com limitações graves motoras, sensoriais e de comunicação. O resultado é uma indiscutível lição de vida. Talvez a entrevista com a escritora Lya Luft, que acaba de lançar o livro “A Riqueza do Mundo”, possa ajudar a reflexão sobre os homens e a humanidade: “Acho que o ser humano foi uma trapalhada dos deuses. E, por outro lado, o ser humano tem essas coisas maravilhosas. Ele cria a arte, cria filhos, cria laços, cria arquiteturas, cria novidades na medicina que salvam vidas, mas também cria muita confusão. Ele arma a guerra, violência, se droga. Então, ele é um ser conflitante e ambíguo, por isso que ele é interessante. Por isso é que eu escrevo a respeito.”
EXPEDIENTE
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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. José Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Bianca de Moura, Carlos Eduardo Alvim, Cínthia Ramalho, Keneth Borges, Laura de Las Casas, Nathália Amado, Pedro Vasconcelos. Samara Nogueira e Tamara Fontes Monitores de Fotografia: Renata Fonseca e Maria Clara Mancilha Monitora de Diagramação: Lila Gaudêncio Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares
Junho • 2011
Morador do Bairro Dom Cabral, movido pela paixão de família, restaura carros antigos há 36 anos em sua oficina na Avenida Itaú
SUCATA VIRA POSSANTE RENATA FONSECA
n MARCELA NOALI, 1º PERÍODO
No Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, Rogério Gomes, 52 anos, restaura e há 36 coleciona carros antigos. Segundo ele, a paixão por esses carros é de família: seus irmãos já exerciam a profissão. Em sua oficina estavam mais de 30 modelos de carros, dentre eles, um Shelby Cobra. Mais de 1.800 modelos de carros, dentre originais e réplicas, passaram pelos cuidados de Rogério Gomes, pois ele diz que há um mercado forte para esse tipo de produto e que o perfil dos clientes que buscam esses carros é, em geral, relacionado a algum tipo de ligação familiar com um determinado modelo. Às vezes, por ter pertencido ao pai, por ter uma história na família, ou porque é um excelente investimento, destaca. Atualmente, Gomes somente restaura os seus próprios carros. "É um trabalho que leva muito tempo, de três meses a um ano", afirma, para justificar a impossibilidade de realizar outros projetos. Assim, ele deu início a
Rogério Gomes tem planos para transformar o Papa Fila, que comprou há 4 meses, em um bar itinerante um novo projeto: um bar itinerante. A ideia é usar um Papa Fila, um tipo de caminhão adaptado em forma de ônibus e que chegou ao Brasil na década de 1950, como um bar itinerante para os encontros dos clubes de motoqueiros e amantes de carros antigos, como o Hot Rod e o Clube do Puma. Há três anos, Rogério Gomes iniciou sua busca pelo Papa Fila, e, depois de
muita procura, há quatro meses, conseguiu comprálo e deu início a restauração do automóvel. Ele acredita que em até seis meses o projeto do bar itinerante estará concluído. EVENTOS Além dos modelos de carros antigos, na oficina também está o Hot Rod Bar, que é um ponto de encontro daqueles interessados em
veículos em geral. Decorado com motos, carros, pôsteres, um Juke Box e um mini posto da Texaco no lado externo ao salão, o Hot Rod Bar recria um ambiente dos anos 50 de forma única e agradável. Todo segundo sábado do mês, o Hot Rod Bar promove um encontro dos participantes do clube Hot Rod. O local também é aberto à eventos particulares.
Lixeiras são instaladas na Av. Itaú MARIA CLARA MANCILHA
n SAMARA NOGUEIRA, 4º PERÍODO
Os moradores do Bairro Coração Eucarístico podem novamente reciclar seu lixo sem precisar ter que se deslocar para outras regiões. Seis meses depois da retirada das lixeiras de reciclagem que ficavam ao lado da entrada principal do campus Coração Eucarístico da PUC Minas, novos containeres foram instalados no início de maio na Avenida Itaú. Apesar de terem sido implantados há pouco tempo, moradores já ressaltam benefícios. "Antes eu não utilizava, agora eu utilizo. A instalação foi boa para a comunidade, ela incentiva do lixo", afirma Aparecida Duarte. A demora na instalação prejudicou moradores como Michelle Rocha que sem as lixeiras e coleta seletiva parou de reciclar seu lixo. Marco Antonio Martins, Técnico em mobilização Social do Sistema de Limpeza Urbana (SLU), explicou que as lixeiras só não foram instaladas anteriormente porque a equipe responsável estava identificando os locais que atendem aos requisitos exigidos pela SLU. "A instalação depende da identificação de locais tecnicamente adequados, que
As irmãs Sônia e Sandra puderam voltar a reciclar o lixo depois que as novas lixeiras foram instaladas na Av. Itaú atendam às exigências de possibilidade de coleta pelo caminhão da SLU, espaço suficiente no passeio, segurança e boas condições para participação da comunidade do entorno", justifica. Segundo o pró-reitor da PUC Minas, Rômulo Albertini, o Pró-infra da Universidade solicitou ao Sistema de Limpeza Urbana (SLU) a transferência das lixeiras devido a má utilização dos moradores. “As pessoas começaram a colocar todo tipo de lixo inclusive o orgânico, por isso, as lixeiras começaram a causar mais transtorno do que solução. Pedimos então, que a SLU transferisse as lixeiras para outros locais próximos,
como a Via Expressa", explica o pró-reitor. Ele ainda acrescenta que a população deveria ser mais bem educada sobre questões ambientais, pois só assim os locais destinados a reciclagem seriam utilizados de forma proveitosa. Entretanto, segundo Marco Antonio, o mesmo problema não é recorrente na Avenida Itaú. "No monitoramento realizado até agora há boa participação da comunidade com a entrega de materiais recicláveis", afirma. Ele adianta que caso seja constado pela SLU que os equipamentos não comportam a quantidade de materiais depositados pelos moradores, ela irá
ampliar o número de unidades de coleta. Além de incentivar novos hábitos, a instalação dos novos containeres possibilitou que moradores que já tinham o hábito de reciclar seu lixo pudessem voltar a praticá-lo. Sônia Elizabete, por exemplo, que não estava encontrando locais próximos ao seu bairro para depositar seu lixo está utilizando as novas lixeiras. "Estou utilizando as lixeiras da Avenida Itaú, o único problema é que quando a gente vai lá é difícil estacionar, tem retorno e tudo mais, era mais fácil levar nas lixeiras da PUC" diz, Sônia.
Comunidade Junho • 2011
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Ausência de estabelecimentos comerciais, como açougues e farmácias, além de agências bancárias, faz com que moradores do local tenham que se deslocar até os bairros vizinhos
FALTAM SERVIÇOS NO DOM CABRAL LAURA DE LAS CASAS
n CÍNTHIA RAMALHO, LAURA DE LAS CASAS,
meio, então tem supermercado maior no Coração Eucarístico, que atende tudo, então as pessoas preferem esses lugares", constata.
5º E 4º PERÍODOS
Quando chegou para morar no Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, a aposentada Nadir Ferreira Fonseca, 86 anos, abriu junto com o marido a primeira mercearia do lugar, Mercearia do João, localizada à Rua Ibiaçá. "Na época em que abrimos a mercearia, não tinha nenhum outro comércio no bairro", lembra. Hoje, 24 anos depois, a mercearia não é mais de Nadir, mas continua sendo um dos poucos estabelecimentos comerciais existentes no Bairro Dom Cabral. Rosemeire Morais Afonso Cruz é sobrinha de Nadir e é a atual proprietária da mercearia. Ela conta que já tentou implantar a comercialização de verduras na mercearia, porém, a iniciativa não deu certo. Rosemeire acabou tendo prejuízos, como a perda de mercadorias que estragavam, pois não eram vendidas. "Eu acho que isso acontecia mais por demanda, porque o pessoal acostuma e prefere fazer compra onde tem tudo, num sacolão maior, onde tem mais variedade", acredita. Rosemeire afirma que em todo o bairro, sua mercearia só enfrenta a concorrência de dois estabelecimentos. Um deles é a Mercearia Lisboa que está localizada à Rua Ibiaçá. Edilene Lisboa, 45 anos, é uma das proprietárias desse estabelecimento que existe no bairro há seis anos. Ela conta que no início foi difícil firmar o negócio e conquistar a clientela. Muitos fregueses querem comprar fiado e por causa disso os prejuízos são enormes. "Já tomei muito cano para sanar a dívida dos outros. Já tive que vender meu carro por causa disso", afirma. A comerciante conta que já pensou em
Quando precisa comprar remédios, a aposentada Nadir Ferreira Fonseca conta com a ajuda dos filhos para buscá-los nos bairros vizinhos fechar o comércio, porém, mesmo com as dificuldades ainda tenta manter o negócio. Além da falta de supermercados e sacolões, os moradores do Dom Cabral também não encontram no bairro outros serviços como açougues, farmácias e agências bancárias. A falta desses estabelecimentos dificulta a vida dos habitantes, que têm que se deslocar até os bairros vizinhos para terem acesso aos serviços. Para Erotides Martins Novais, 64 anos, o Bairro Dom Cabral não é um lugar ruim de se morar. Como vive no bairro há 30 anos, ela conhece muitas pessoas e já sabe onde encontrar o que precisa. Porém, a moradora reconhece que a implantação de alguns serviços no bairro facilitaria a sua vida. Quando precisa de algum remédio ou de fazer a compra do mês no supermercado, ela tem que ir até
os bairros vizinhos, onde os serviços estão disponíveis. Essa tarefa nem sempre é fácil, já que ela depende do transporte público ou vai a pé até os estabelecimentos. "Quando eu preciso de um remédio, tenho que ir lá no Bairro João Pinheiro, porque aqui não tem farmácia. Isso incomoda porque tem horas que não dá para ir lá. Se tivesse uma farmácia aqui seria mais fácil. Para trazer as compras também é difícil, porque vou a pé e nem sempre o supermercado pode entregar", lamenta. Nadir Ferreira Fonseca conta com a ajuda dos filhos quando precisa de algum serviço que não existe no Dom Cabral. Ela explica que por ser idosa, a tarefa de se deslocar até os outros bairros se torna mais difícil e por causa disso, perde um pouco da sua independência. "Eu não tenho carro, mas quando preciso de um
remédio, meu filho busca para mim na drogaria. O que eu acho ruim na velhice é não poder andar sozinho. Às vezes a gente precisa cortar o cabelo, fazer uma compra e tem que esperar os outros. Se aqui no bairro tivesse esses serviços, isso talvez não aconteceria", afirma. Além de possuir um estabelecimento na região, Edilene também é moradora do Dom Cabral. Para ela, a principal dificuldade é a localização do bairro. "Aqui tudo é mais longe. Farmácia você liga e eles entregam em casa, mas açougue, um sacolão, tudo isso faz muita falta", alega. A opinião também é compartilhada por Nadir. Ela conta que já viu várias tentativas de abertura de comércios no bairro que não deram certo. "O pessoal fala que é porque aqui está muito perto do João Pinheiro, e lá tem tudo. Também aqui está no
CONCORRÊNCIA O economista Flávio Constantino Barbosa afirma que a permanência de comércios em bairros residenciais é pequena, justamente porque esses estabelecimentos sofrem a concorrência de empreendimentos maiores que estão em outros bairros e que são de fácil acesso para os moradores. "Essa oferta de empreendimentos maiores que foram sendo realizados em vias que permitem acesso, é que passa a vender para o público daqui. As famílias que residem aqui e desejam compras grandes e mais diversificadas, não vão encontrar isso aqui no bairro por causa do perfil de ocupação dele. Você pode ter o bairro que tem uma densidade mais elevada, todo ocupado, mas por pessoas que não têm necessariamente a renda suficiente para gastar nesses estabelecimentos", conta. Quanto à instalação de estabelecimentos maiores, que oferecem promoções e grande oferta de produtos, o economista afirma que são difíceis de se firmarem nesses bairros por conta da densidade demográfica, perfil de ocupação do bairro, preço de aluguel e gastos com transporte. "Esses são problemas que, de uma forma geral, atingem a todos, mas que podem se agravar, por exemplo, se você não tem por parte da prefeitura uma boa política urbana e a preocupação com o espaço", avalia. Além disso, Flávio também explica que os serviços em estabelecimentos de bairro, muitas vezes são mais caros do que os mesmos serviços oferecidos na região central da cidade.
Horários de ônibus alterados geram transtornos MARIA CLARA MANCILHA
n PEDRO VASCONCELOS, 4° PERÍODO
Diariamente um grande número de pessoas que depende do transporte público de Belo Horizonte sofre com os transtornos gerados pelos atrasos e pela lotação de algumas linhas de ônibus. Este problema se agrava quando o quadro de horário de uma linha é alterado, fazendo com que alguns usuários tenham que ajustar suas rotinas. Este é o caso de Christiano Santiago de Oliveira, 24 anos, que está sofrendo na pele as reduções de viagens da linha 9410. "Eu sou muito metódico em relação aos horários dos ônibus. Eu sempre percebo estas mudanças, não gosto de perder tempo no ponto", diz. Christiano mora no Bairro Sagrada Família e trabalha em uma loja no centro da cidade, o trajeto é curto, mas muitas vezes demorado e cansativo. "Eu sei que o trânsito é complicado, com isso já estou até acostumado. O problema é que eu pegava um ônibus às 13h05 e este horário não existe mais, demorei duas semanas para perceber a mudança, ficava cerca de 15 minutos a mais no ponto", afirma. A reclamação de Christiano procede, segundo Gilvan Marçal, assessor de comunicação da BHTrans, a linha sofreu no mês de
As alterações de horários nos quadros de viagens, a superlotação e os atrasos dos ônibus são alvo de reclamações dos passageiros março uma redução de cinco viagens, em um total de 182 do seu quadro de horários. Gilvan explica que este tipo de mudança é comum. "Estes ajustes são de praxe. Em determinados períodos são necessários. Isto é para adequar a quantidade de ônibus às necessidades da população", explica. Entretanto, para Christiano, as alterações deveriam ser mais bem divulgadas. "Eles só colocam um aviso em uma folha de ofício pequena, colada em um painel do ônibus. É difícil perceber", ressalta.
A linha 9410 é uma das responsáveis pelo transporte de pessoas para o campus da PUC Minas no Coração Eucarístico, Região Noroeste de Belo Horizonte. Estas mudanças no quadro de horário dividem as opiniões dos estudantes. Para Marina Chagas da Silva, 22 anos, a mudança foi bem perceptível, sobretudo no período matinal. "De manhã o ônibus está vindo muito mais cheio, um inferno, achei que tinha reduzido até mais viagens", diz. Para o estudante Rodrigo Luiz Lagares, 20
anos, entretanto, as reduções não alteraram em nada a sua rotina. "Para mim está até melhor. Alguma mudança no trânsito deixou a minha volta para casa muito mais rápida, não tenho nada para reclamar não", afirma. Gilvan explica que alguns usuários podem sentir mais estas alterações do que outros. "No caso do 9410, os alunos da PUC podem ter uma sensibilidade maior às mudanças de horários, mas eles têm que se dar conta que as mudanças levam em conside-
ração o bem estar de toda a população", afirma. Outros dois ônibus que servem a PUC também sofreram alterações no seu quadro de viagens. Neste mesmo período a linha 4111 ganhou 22 viagens, num total de 219. Para o assessor, esta alteração só foi possível por causa das reclamações de moradores no portal da BHtrans. "A demanda por mais ônibus foi constatada com a ajuda das reclamações feitas no portal", afirma. Mesmo com acréscimo , o 4111 ainda é alvo de reclamação de usuários. Para o estudante Rafael Drumond, 26 anos, o problema são os atrasos. "Chega a ser bizarro a quantidade de ônibus que atrasa. Depois passam todos de uma vez ", diz. Já o 4110 ganhou três viagens, quantidade, que segundo alguns usuários, é irrelevante diante das necessidades da população. Para a dona de casa Camila Albertini da Silva, 43 anos, a linha precisa de um aumento mais significativo. "Ônibus demorado igual a este eu nunca vi ", ressalta. Gilvan conta que a maioria das reclamações referentes ao 4110 estão diretamente ligadas com problemas de trânsito externos, como obras e desvios. "O 4110 tem sofrido muito com as obras do Boulevard Arrudas, em casos como este o cidadão tem que ter um pouco mais de paciência", conclui o assessor.
4 Comunidade
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Junho • 2011
O cenário da pista de corrida localizada na Via Expressa pode mudar. O projeto Adote o Verde da ONG Amigos da Natureza, fará uma análise do solo e da temperatura para iniciar o plantio das árvores no local. No final deste ano, será realizada uma campanha educativa “Mão Verde Arborização Urbana, Uma Ação Humana” para conscientizar moradores
PISTA VAI GANHAR MAIS ÁREA VERDE FOTOS: RICARDO MALLACO
n DIOGO MAIA, ISABELA MARTINS, LUIZA SERRANO, NATHIELE LOBATO, RAPHAELA CANABRAVA, 7º PERÍODO
Localizada na Via Expressa, ao lado da estação do metrô da Gameleira, a pista de corrida conhecida como Cercadinho é o único espaço que a população da região possui para se exercitar. O lugar foi revitalizado no final do ano de 2009, pela Companhia Mineira de Promoção (Prominas) – órgão responsável pelo Expominas – como forma de compensação pela degradação ambiental causada pela empresa ao local onde hoje se encontra o novo parque do Expominas. Apesar de aprovado pelos moradores da região, o local não oferece área verde adequada para a prática de exercícios físicos, mas essa situação pode mudar em breve. De acordo com o assessor de gabinete da Regional Noroeste, Jair Di Gregório, integrantes do projeto “Adote o Verde”, organizado em parceria com a Prefeitura, farão uma visita ao local no final do ano para realizar um estudo técnico. O objetivo é averiguar a possibilidade do plantio de algumas árvores na praça. O estudo envolverá a análise do solo, da temperatura e até mesmo do relevo. Após a coleta inicial dos dados, outra equipe, liderada pela paisagista Deise Lúcia de Freitas, observará a rotina dos usuários para, aí sim, começar o plantio de
A área de lazer pode receber mais área verde por meio do plantio de árvores no local. A iniciativa visa melhorar as condições da pista para a prática de exercícios árvores no local. Esse processo é mais lento justamente porque o local foi construído em um caso de condicionante. O projeto é de autoria da ONG “Amigos da Natureza” que, em parceria com a Regional Noroeste, a Secretaria do Meio Ambiente e a Prefeitura de Belo Horizonte, pretende iniciar, no final desse ano, uma campanha educativa de porta em porta pelos bairros da região. Entre eles estão o Coração Eucarístico, Dom Cabral e Carlos Prates, que receberão visitas dos membros da ONG, com o intuito de incentivar uma postura ambientalmente correta por parte dos moradores, principalmente as crianças. O projeto, chamado "Mão Verde
Arborização Urbana, Uma Ação Humana", tem como objetivo mobilizar os moradores e conscientizar a população sobre a importância da presença do verde na capital e sobretudo na Região Noroeste que, segundo Jair Di Gregório, é a mais carente em áreas verdes em Belo Horizonte. Segundo Deise Lúcia, que também é a diretora executiva da ONG, as áreas mais afastadas do Centro não estão sendo esquecidas. "O prefeito estava cuidando da casa dele, agora ele vai começar a cuidar do seu quintal", explica. A Prominas também fará parte desse plantio de árvores, pois ela ainda participa de todos os assuntos relativos ao Cercadinho. Em casos como esse, onde uma
empresa ou órgão são ordenados a construir um local, seja uma praça, um parque ou uma pista, o lugar fica sob responsabilidade da mesma por até três anos após a sua construção. Como o lugar terminou de ser construído no final de 2009, toda a manutenção do Cercadinho será confiada à Prominas até o final de 2012. Depois desse prazo, se a empresa quiser adotar o lugar, poderá inclusive, colocar placas de publicidade, divulgando e promovendo o seu nome. ELOGIOS Quem passa em frente ao local não consegue imaginar que antigamente ali era um espaço onde o lixo era acumulado, atraindo ratazanas e afastando os pedestres. Hoje, o antigo
Péssimas condições prejudicam caminhada A caminhada, atividade mais praticada no Cercadinho, faz parte da rotina do belohorizontino, que mesmo com o corre-corre diário, reserva algumas horas do seu dia para melhorar o condicionamento físico e manter um equilíbrio saudável entre corpo e mente. A caminhada é, inclusive, o primeiro passo que uma pessoa deve dar para sair do sedentarismo. Caminhar ao ar livre e com outras pessoas ajuda no bem-estar físico e psicológico. "O contato com o meio ambiente alivia o estresse e a ansiedade, quando realizados em ambientes adequados", afirma Bruno Martins, professor de Educação Física. As condições de caminhada no Cercadinho são questionáveis. Sob o aspecto da saúde, devido à emissão de monóxido de carbono feita pelos meios de transporte, a qualidade dos exercícios fica afetada. Esse comprometimento se deve ao fato de, no momento da caminhada, o organismo demandar por mais oxigênio e este vem adicionado de impurezas ou toxinas. No caso da praça da Via Expressa, essa situação, no
momento, ainda é agravada pela ausência de árvores, que ajudariam na purificação do ar. Outro aspecto a ser levado em consideração é a forte intensidade do sol, que pode se tornar uma vilã das atividades físicas. O professor de Fisiologia da PUC Minas, Alex Guazi, explica que abusar do sol durante a caminhada não vale a pena. "O excesso de sol reduz a sobrecarga dos mecanismos fisiológicos envolvidos na termo-regulação, diminuindo a desidratação, diminuindo também a sobrecarga do sistema cardiovascular, limitando o tempo de realização da atividade física", disse. Praticada de maneira correta, a caminhada só traz benefícios, que vão desde ganhos cardiovasculares até a manutenção de peso. Para a cardiologista Sandra Lamark, caminhar ajuda a manter o funcionamento saudável do corpo. "A corrida estimula o sistema cardiovascular, proporcionando melhor oxigenação do sangue. Além disso, auxilia na quebra da glicose e dos triglicérides, equilibrando o gasto calórico", ressaltou.
lixão deu lugar a uma praça com pista de corrida, aparelhos de ginástica, parquinho infantil e rampa de skate. Isso tudo no meio do trânsito caótico da Via Expressa, uma das avenidas mais movimentadas da capital. O tráfego intenso da região é inclusive, uma das dificuldades enfrentadas para quem quer ter acesso à praça. Mas até mesmo esses empecilhos são superados em prol da saúde. Uma das beneficiadas pelo novo formato do local é a aposentada Elizabeth Marques, que caminha todos os dias. "A criação deste local veio em boa hora, pois caminhar pelas ruas do bairro é impossível, devido ao desnível dos passeios", explica. "Aqui, ainda é bom para trazer as cri-
Moradores querem melhorias na pista Apesar de aprovada pelos usuários, a praça tem alguns pontos que precisam ser melhorados além da falta de árvores, de acordo com o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Coração Eucarístico, Iracy Firmino da Silva. Trânsito caótico e vias de acesso pouco adequadas são alguns dos problemas que os frequentadores do local enfrentam diariamente. A ausência de uma passarela que chegue até a praça faz com que as pessoas se arrisquem em meio ao trânsito intenso da Via Expressa para se exercitarem. Para agravar a situação, os períodos em que a praça é mais movimentada, manhã e noite, coincidem com os horários de pico do tráfego. Nídia Maria de Jesus, 51, é uma das vítimas desse trânsito caótico. Há oito anos, ela estava indo caminhar com uma amiga no local e foi atropelada quando atravessava a Via Expressa.
A emissão de monóxido de carbono prejudica a prática de exercícios
anças. Tirá-las um pouco de casa", completa. E é exatamente isso que faz a babá Rosinélia Resende, 36 anos. Ela leva o pequeno Lucas Resende, de apenas 2 anos, para brincar, todas as manhãs, no playground da praça. Atravessar a avenida requer atenção redobrada, mas, ao chegar à pracinha, a alegria da criança compensa toda a preocupação anterior. "Acho ótimo passar um tempo com ele aqui. Ele se distrai e se diverte com segurança. É um ambiente muito bom", afirma a babá. E todas as manhãs, Jacob é outra figura que marca presença na praça. Óculos escuros, boné e roupas leves. Na cabeça, inúmeras boas histórias de mais de sete anos de convívio no Cercadinho, e na prosa, um discurso que convence qualquer um a comprar uma água de coco. "Com esse pequeno comércio sustento a minha família. Minhas filhas se formaram na faculdade com o dinheiro que tiro daqui", conta o comerciante. Com 64 anos, um sorriso aberto no rosto debaixo de um sol de mais de 30 graus, Jacob não perde o bom humor. Entre um caso e outro de sua família, ele relembra o crescimento da praça. "Trabalhar aqui é uma grande satisfação, já fiz muitas amizades. Aqui, antes, não era o que é hoje. Cresceu muito. Ficou mais seguro e com equipamentos novos. Isso é bom. Atrai as pessoas e me ajuda no orçamento de casa", comentou.
Apesar de testemunhas afirmarem que o sinal de pedestres estava fechado durante o atropelamento, em uma via como aquela, uma passarela seria mais adequada para garantir a segurança dos pedestres. Hoje, Nídia está desempregada e em uma cadeira de rodas. O pai dela, o aposentado José Luís Filho, morador do Coração Eucarístico, acredita ser um erro praticar exercícios físicos em locais perigosos como o Cercadinho. Ele ressaltou que, depois do acidente, prefere se exercitar nas proximidades de sua casa, mesmo sem poder contar com condições apropriadas. Segundo informações da BHTrans e da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), não existem projetos para melhorar a sinalização, nem para a construção de uma passarela no local.
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Pessoas que residem e possuem estabelecimentos no Carlos Prates sofrem com a ação de pichadores que, durante a noite, depredam os imóveis e poluem visualmente as ruas do bairro
PICHAÇÕES POLUEM RUA RIO POMBA MARIA CLARA MANCILHA
n LAURA DE LAS CASAS, TAMARA FONTES, 4º E 3º PERÍODOS
Ao chegar de manhã cedo para trabalhar em sua loja, localizada à Rua Rio Pomba, no Bairro Carlos Prates, na Região Noroeste de Belo Horizonte, Idenilza Souza se surpreende com mais uma pichação nos muros. "Já pintei várias vezes. Incomoda muito, porque eu pinto e eles picham outra vez, no dia seguinte", conta a comerciante que é dona de seu próprio negócio há 13 anos. A pichação é um problema recorrente não só na rua estreita e comprida, que abriga vários tipos de comércios e residências particulares, mas também em toda a cidade. Outra comerciante e moradora do bairro, que não quis ser identificada, pintou seu estabelecimento pichado uma vez, depois desistiu. "Para quê pintar? A gente chega dois dias depois e já esta tudo sujo outra vez, ainda pior", reclama. Ela conta que ninguém nunca denuncia à polícia porque os pichadores agem à noite, quando ninguém os vê. "Então não tem como chamar a polícia, não sabemos quem são, não temos provas", explica. Já Idenilza agiu diferente. Instalou uma câmera do lado de fora de sua loja, para ver quem estava pichando seus muros. "Não adiantou nada. Eles vieram, jogaram pedra, quebraram minha câmera e picharam tudo de novo. Assim fica difícil denunciar, porque a gente chama a polícia e eles querem saber quem foi, não
A pichação em residências e estabelecimentos comerciais na Rua Rio Pomba, localizada no Bairro Carlos Prates, incomoda e traz prejuízos para moradores consegui nem filmar quem foi", lamenta a comerciante. A pichação é marca registrada principalmente dos centros das capitais brasileiras, mas vêm tomando conta de outros cantos das cidades e incomodando os cidadãos que não sabem como agir diante desse crime que torna as paredes das ruas sujas e visualmente feias. Existe uma competição silenciosa entre os pichadores, que buscam se superar rabiscando suas respectivas marcar em lugares cada vez mais altos. Isso, para eles, significa status. Recentemente, foi aprovada uma lei que proíbe a venda de sprays para menores de 18 anos. Quem quiser adquirir o produto deve se identificar, provando a maioridade, e ainda ter seu nome registrado na nota fiscal.
Outra medida adotada com o intuito de conscientizar as pessoas sobre esse crime é a frase que consta em todos os sprays que diz "Pichação é crime (Art. 65 Da Lei No. 9.605/98). Proibida a venda a menores de 18 anos". O cabo Almeida, da Polícia Militar de Meio Ambiente explica que as denúncias devem ser feitas pelo telefone 181, no momento da ação. "No flagrante nós detemos a pessoa e enviamos um boletim direto para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que vai cobrar uma multa de R$ 1 mil. Além disso, tem a parte criminal, prisão que vai de três meses a um ano", diz. "A denúncia é anônima", acrescenta.
Movimento conscientiza população Criado em setembro de 2009, o Projeto Movimento Respeito por BH procura o despertar da civilidade. Com a participação das polícias Militar e Civil, Ministério Público e Poder Judiciário, o projeto visa, principalmente, o ordenamento da capital, com a participação efetiva da comunidade, criando leis e garantindo o cumprimento. Um dos objetivos é conter as pichações. Vicente Arthur Teixeira Sales Dias, secretário Municipal de Serviços Urbanos e gerente do projeto, garante que há me-
lhorias apesar da complexidade no âmbito da pichação. "Aos poucos a gente está conseguindo cumprir o processo. Nós conseguimos no Instituto de Educação, que está há um bom tempo sem pichação", afirma. Vicente declara que o processo não é rápido, qualquer conscientização da população exige grandes mudanças e a superação de resistência inicial em relação às novas leis. Ele cita a proibição da distribuição de sacolas plásticas pelo comércio, que causou estranhamento, mas
começa a ser apoiada e o uso de cinto de segurança. "Praticamente ninguém entra no carro sem por cinto hoje, todos nós sabemos disso, convivemos com isso, sentimos no começo qualquer mudança é complexa", diz Vicente. A dificuldade de fiscalização gera outras saídas para solucionar o problema, como a criação de formas de de denúncia sem transtornos e a indenização imediata. "A vantagem é que a comunidade não aguenta mais, temos que criar todas as formas possíveis deles participação".
Mau uso das calçadas afeta pedestres no São Gabriel BIANCA DE MOURA
n ISABELA JACOE, NATHÁLIA AMADO, 3º PERÍODO
É só caminhar alguns metros pelo bairro São Gabriel para perceber a quantidade de obstáculos impostos aos pedestres. Muitas das calçadas são desniveladas e totalmente despreparadas para o trânsito de deficientes, idosos e mães que levam crianças para a escola. A maioria dos pedestres que passa por ali todos os dias, já se acostumou com a dificuldade, e encontram maneiras de driblá-las, seja passando rente ao muro ou se expondo na rua ao risco de ser atropelado pelo automóveis. A pedestre Thiffany Lorrayne Gonçalves Marques, 13 anos, sente dificuldade ao transitar por trechos estreitos das calçadas. Ela concorda que as vias estão em péssimo estado e que necessitam de reparos. “Moro no bairro há nove anos e sempre foi assim”, salienta. Na Rua Anapurus, uma das principais vias do bairro, o fluxo de veículos e pedestres é intenso. Muitas vezes, ambos dividem o
mesmo espaço devido ao péssimo estado das calçadas. Em alguns trechos há acúmulo de lixo, entulho e muito mato. Em outros só existe o meio fio. Além disso, a maioria dos bueiros não está devidamente tampada, representando risco para quem por ali transita. Há ainda locais onde sequer é possível encontrar calçada. Informado sobre as irregularidades, o gerente de comunicação social da Regional Nordeste, Júlio César Soares disse que os problemas com os bueiros são de responsabilidade da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). Quanto às calçadas, estas são de responsabilidade do proprietário do imóvel, cabendo à prefeitura vistoriar e notificar. “Vou comunicar o setor de limpeza urbana para agendar uma vistoria no local, após concluída a vistoria de 15 à 20 dias estaremos agendando a capinação”, opina. A situação da Rua Jacuí, via que serve de acesso ao metrô, não é diferente. Os moradores se queixam dos bueiros mau tampados, da irregularidade e também da
falta de pavimentação da calçada. Segundo uma moradora, que preferiu não se identificar, a prefeitura apenas fez a instalação do meio fio, mas não pavimentou a calçada, que é de terra, o que atrapalha os moradores, pois além de gerar poeira, em época de chuva aumenta o risco de acidentes por elas ficarem escorregadias em função da lama. “Colocaram meio fio depois de muita insistência. Os carros estacionavam em frente ao meu portão, dificultando a minha passagem”, declara a moradora. Os moradores afirmam ainda que a Prefeitura de Belo Horizonte já foi diversas vezes contactada, mas nada foi feito até hoje. O direito à acessibilidade em vias públicas é assegurado pela Lei Federal 10 098/2000, e pelo Decreto 5296/2004. Em outros locais do bairro não é apenas o mal estado das calçadas que atrapalha. Alguns estabelecimentos comerciais, principalmente bares utilizam a calçada para acomodação de seus clientes, dificultando a passagem de transeuntes. Na rua Jacuí, há tam-
Na Rua Jacuí, uma oficina mecânica ocupa a calçada com carros e prejudica quem transita pelo local bém uma oficina mecânica que ocupa a calçada com os carros que aguardam manutenção. “Alguns usuários de drogas que moram debaixo do Viaduto da Estação do
metrô, às vezes utilizam esses carros velhos como abrigo do sereno”, conta Lurdes Gonzaga, 60 anos, que há 41 mora nessa rua. O artigo 67 da Lei 7.166/96, parágrafo 15 do
Código de Posturas da Prefeitura de Belo Horizonte, proíbe o uso das calçadas. As atividades só são permitidas nas áreas edificadas e o passeio deve permanecer desobstruído.
6 Campus
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Junho • 2011
AUXÍLIO NO CONTROLE DO DIABETES n JORGE SANTOS, 4º PERÍODO
O Curso de Nutrição da PUC Minas no Barreiro, está oferecendo atendimento gratuito a diabéticos da região para o controle da doença. As atividades fazem parte de uma disciplina feita por alunos do 7º período que praticam o conhecimento adquirido em sala de aula por meio do estágio supervisionado por professores e monitores. Os alunos realizam os atendimentos conforme a demanda e com orientações em grupo e individual aos pacientes. De acordo com a coordenadora do curso, Raquel Marques Diniz, no início do projeto, em março, houve muita procura pelos atendimentos com aproximadamente 290 inscrições, o que levou a criação de três novos grupos voluntários com alunos de outros períodos. Atualmente, são sete grupos com média de 25 pacientes, em sua maioria mulheres. Uma delas é a comerciante Teresinha de Fátima Rodrigues Barcelos, 57 anos, que procurou a unidade da PUC quando foi informada pela mãe do projeto através de um informativo no ônibus. Teresinha, que tem diabetes há dois anos, afirma que está mudando a alimentação. “Foi ótimo. A primeira consulta foi para falar da diabetes; depois sobre o açúcar, da insulina, foi abordado tudo”, expli-
ca. Ela também aproveita para elogiar o atendimento que teve durante as sessões onde pode fazer perguntas e esclarecer dúvidas. “Acho muito importante esse projeto porque nem todo mundo tem que saber de tudo. Caíram mitos e verdades de comer alimentos que saem da terra. Como de tudo, mas pouco”, diz. A falta de informação, segundo a coordenadora, contribui para agravar a doença pelo fato das pessoas acharem que serão proibidas de comer. “Esse conceito que elas têm do nutricionista é antigo. Temos que explicar de forma clara a doença, adaptar a alimentação de acordo com a sua condição, prezamos pela alimentação a baixo custo e muitas vezes o resultado não depende do profissional de saúde, depende do paciente”, explica. Para o encarregado Martinho Ricardo de Oliveira, 50 anos, a experiência foi boa porque ele não sabia como combater a doença que ele já tem há um ano e o deixou hospitalizado por 25 dias. Ele conta que aprendeu como utilizar os alimentos e o que pode ou não pode usar. “Não punha a dosagem certa, agora reduzi. No dia em que como arroz não como batata,” explica. Adepto da caminhada, Martinho também consome verduras e toma insulina para o controle da diabetes.
ORIENTAÇÃO Eleonor Couto de Araújo Estanislau cursa o 6º período de Nutrição e é monitora dos trabalhos feitos pelos colegas de curso. Segundo Eleonor, os atendimentos realizados esclarecem muito à população que não sabe como lidar com o problema. Ela informa que durante o acompanhamento ao paciente é dado uma lista de substituição de alimentos e o paciente é orientado a praticar atividade física, com o auxílio de um profissional, para evitar o sedentarismo. “É um crescimento pessoal e profissional muito grande ajudar as pessoas na reeducação alimentar e promover o bem estar da população, promovendo a saúde”, fala. A coordenadora do curso informa que apenas os adultos e com diabetes tipo 2 são atendidos nesse momento pelo fato desse tipo da doença ser mais comum e atingir mais essa faixa etária da população. Com duração de um semestre letivo, sendo uma vez por semana, o sucesso é tamanho que ainda há pessoas na espera. Enquanto isso ela reforça o recado passado aos pacientes que procuram ajuda. “O controle da diabetes é para a vida toda, é um processo contínuo”, avisa. Um projeto futuro, afirmou Raquel, é o auxílio no controle da hipertensão que atinge milhares de brasileiros. Outras informações no telefone (31) 3328-9543.
Alunos do 7º período do curso de Nutrição da PUC Minas do Barreiro ajudam no tratamento de pessoas portadores de diabetes. No atendimento, elas recebem informações sobre a doença, aprendem a adotar novos hábitos alimentares e a evitar o sedentarimo RENATA FONSECA
Com ajuda de estudantes de nutrição da PUC Barreiro, pessoas que têm diabetes aprendem a lidar com a doença
Márcio Lacerda recebe alunos da PUC Minas n CÍNTHIA RAMALHO, 5º PERÍODO
Um grupo de alunos da PUC Minas se encontrou com o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda para a realização de um trabalho acadêmico. Os alunos Júlia Silper, Jéssica Marques, Iury Souza, Irina Glória Matos e Ivan Nitraud, do 2ª período de Ciências Econômicas, conversaram com o prefeito para a realização de um trabalho da disciplina Direito I, ministrada pelo professor Sabino Freitas. O trabalho teve como objetivo principal discutir a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual, para iniciar a discussão sobre a Lei Complementar 101 de 04-05-2000, que completou 11 anos de promulgação em maio deste ano. Durante a audiência, Márcio Lacerda falou sobre a participação do cidadão no processo político de Belo Horizonte e destacou a importância do Orçamento Participativo, referência para a gestão participativa. Em BH, a participação popular no
processo político ainda conta com o apoio do Planejamento Estratégico de Belo Horizonte, iniciativa que permite ao cidadão acompanhar os programas de ação da prefeitura e fiscalizar como o dinheiro público é empregado. Márcio Lacerda afirmou que este ano, a expectativa de crescimento para as Receitas Tributárias Próprias é em torno de 20%. "Este crescimento tem permitido à Prefeitura acelerar o ritmo das obras e de investimentos importantes para a cidade, principalmente aqueles escolhidos pela população por meio do Orçamento Participativo", observou. O prefeito de Belo Horizonte ainda falou sobre as obras para a Copa do Mundo de 2014, que acontecerá no Brasil. O "Mineirão" é um dos poucos estádios em que os projetos de ampliação encontram-se em estágio avançado. O prefeito disse que o município está tomando junto ao Governo federal R$ 1 bilhão para obras de infraestrutura e o Governo
do Estado contribui com R$ 300 milhões para desapropriações. Ele ainda afirmou que essas obras não irão atender apenas a demanda da Copa do Mundo. "[As obras] vão contribuir para incluir Belo Horizonte em um novo patamar urbano, com mais qualidade de vida e melhor mobilidade de todos os cidadãos", disse. Sobre as obras de ampliação do metrô, Márcio Lacerda afirmou que esse é um compromisso da presidente Dilma Roussef, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Dois da Mobilidade. Para a realização das obras, os investimentos federais requeridos chegam a R$ 2 bilhões e 400 milhões e vão viabilizar a Parceria Público Privada (PPP) do metrô em 50% de investimento federal e 50% de investimento privado, mais a participação do Estado e do Município. "De qualquer maneira, esperamos uma resposta do Governo Federal até julho para estas definições que vão além do metrô, pois
envolvem outras intervenções viárias, principalmente voltadas para a melhoria do fluxo do transporte rápido de ônibus (BRT), que vai atender cerca de 900 mil pas-
sageiros", declarou. A estudante Júlia Silper conta que o primeiro contato com o prefeito se deu por e-mail e lembra que a resposta demorou um pouco para chegar. Após a
conclusão do trabalho, a estudante faz um balanço positivo do resultado. "A entrevista foi ótima. Conseguimos falar sobre tudo, porque ele foi muito aberto", comentou.
CARLOS AVELIN
O prefeito Márcio Lacerda recebeu alunos do 2º período do curso de Ciências Econômicas da PUC Minas
Especial Junho • 2011
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CARLOS EDUARDO ALVIM
Os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 estão movimentando todo o Brasil. Em Minas Gerais, além de Belo Horizonte, que vai sediar jogos do mundial, as cidades históricas também começam a se preparar para receber os turistas que virão assistir as partidas e conhecer os cartões postais do estado
Para receber os visitantes que estarão em Minas Gerais para acompanhar os jogos da Copa em 2014, a cidade de Tiradentes terá sua parte histórica restaudada, além da criação de dois museus, oferecendo mais atrativos para os turistas
HISTÓRIA E BELEZA PARA QUEM VIER n CARLOS EDUARDO ALVIM, CÍNTHIA RAMALHO, KENETH BORGES, LAURA LAS CASAS, 4º, 5º, 3º E 4º PERÍODOS
Faltam três anos para a Copa do Mundo de Futebol no Brasil, mas já existem pessoas que não veem a hora da competição começar para, além de acompanhar os jogos, visitar os pontos turísticos do país. É o caso da fonoaudióloga argentina Consuelo Gonzáles, 47 anos, que está no Brasil para participar de um congresso e já planeja voltar com a família em 2014. "Eu já combinei com minha família que viremos todos os cinco. Meus filhos, meu marido e a minha enteada. Pretendemos ficar entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, e aproveitar a época para conhecer os lugares", conta a argentina que já viajou pelo Nordeste brasileiro e pela Amazônia. As cidades históricas, localizadas próximo à capital mineira, são destinos muito procurados pelos turistas que vêm para Minas Gerais. Esses lugares despertam o interesse de tantas pessoas por conservarem uma memória muito antiga do país, de uma época em que os colonizadores portugueses ainda tomavam conta do território brasileiro. Além das igrejas, obras de arte, artesanato, culinária e arquitetura, os turistas escolhem cidades como Ouro Preto, Sabará, São João Del Rei e Tiradentes, por serem localizadas em lugares com muita área verde, visuais bonitos e calmos. "Minas Gerais tem uma oferta muito ampla, não é só patrimônio histórico, embora ele seja muito forte, mas tem um segmento de natureza muito forte que gera muito fluxo", explica a Superintendente de Políticas do Turismo da
Secretaria de Estado de Turismo (Setur), Jussara Maria Rocha. Por serem cartões postais de Minas Gerais no cenário nacional e internacional, as cidades históricas mineiras serão atrativos para aqueles que vierem ao estado, especificamente a Belo Horizonte, para acompanhar os jogos do mundial. Pensando nisso, o Governo do Estado criou a Secretaria Extraordinária para a Copa de 2014 (Secopa), que lida com todas as ações que dizem respeito à preparação de Minas Gerais para a Copa do Mundo e que funciona como uma grande articuladora entre as outras secretarias da administração estadual. Ludimila Kai, do Núcleo de
[ ] “INDEPENDENTE DO
TRABALHO QUE NÓS FIZERMOS, ELAS VÃO RECEBER OS TURISTAS DURANTE A COPA” (LUDIMILA KAI)
Relacionamento com Centros de Treinamentos de Seleção da Secopa, conta que um trabalho específico para as cidades históricas do estado ainda está sendo estruturado. "A gente está começando agora a fazer um mapeamento das necessidades de capacitação, principalmente dessas cidades, porque são cidades que a gente sabe que, independente do trabalho que nós fizermos, elas vão receber turistas durante a Copa, dada a proximidade, além dessas cidades serem conhecidas internacionalmente. E a expectativa é que a gente trabalhe mesmo de uma forma tanto a potencializar essas características turísticas, quanto capacitar a rede de
serviços", aponta. Segundo projeções do Ministério do Turismo, para a Copa de 2014, é esperado um fluxo de cerca de três milhões de turistas dentro do país, sendo que destes, 600 mil são turistas estrangeiros. Jussara Maria Rocha diz que os esforços da Secretaria concentram-se na capacitação dos serviços hoteleiro e gastronômico oferecidos. "A gente está diagnosticando as estruturas de atendimento e informação, mas no caso de roteiros, a gente já tem recortes definidos, as cidades já são destinos turísticos, já existe um amplo trabalho de roteirização feito por várias entidades e também pelos operadores de turismo", afirma. De acordo com a superintendente as primeiras ações de qualificação promovidas pela Setur começam ainda este ano. Em um primeiro momento, elas serão voltadas para a preparação de guias turísticos e por ações de roteirização e de ampliação e qualificação da rede hoteleira. A Setur pretende criar um programa de capacitação específico, além dos que já estão sendo oferecidos pelo Ministério do Turismo, como o Programa Bem Receber Copa, destinado às áreas específicas do receptivo turístico e o Programa Olá Turista, que oferece treinamento de inglês e espanhol para os profissionais de hotelaria. Segundo Jussara, esses dois programas estão direcionados principalmente às cidades-sede e que a iniciativa de capacitação do estado não é para sobrepor as do Ministério do Turismo, mas complementá-las. "Só o Bem Receber Copa, ele já traz uma informação interessante, mas sozinho não atende à necessidade de profissionalização e qualificação que os estados precisam, e nosso estado é um esta-
do que requer isso", afirma Jussara. Em relação aos investimentos de infra-estrutura, Ludimila Kai diz que existem verbas específicas para o que for necessário fazer nas cidades que demandarem estes recursos. PROMOÇÃO A superintendente da Setur acredita que a realização da Copa no Brasil será um grande dinamizador do fluxo turístico para o país, principalmente para Minas Gerais. Para que isso aconteça, ela afirma que será preciso fortalecer a promoção do turismo do estado tanto no mercado nacional, quanto no mercado internacional. Uma das alternativas será a criação de roteiros integrados
[ ] “MEU SONHO SEMPRE FOI CONHECER OURO PRETO E TIRADENTES” CONSUELO GONZÁLES (TURISTA ARGENTINA)
com destinos turísticos de outros estados, como as praias do Nordeste e do Rio de Janeiro. "A gente sabe que Minas, sozinha, não se vende no mercado internacional. Não é uma coisa muito simples quando você concorre com o Nordeste, Amazonas e Foz do Iguaçu", aponta. Outro canal de informação criado pela Setur é um portal bilíngue que será lançado no segundo semestre deste ano. Ele vai possibilitar que turistas de todos os lugares do mundo acessem e tenha uma ampla informação das atividades turísticas oferecidas em Minas Gerais. "É um das ferramentas que a gente quer deixar antecipada, porque o turista já está
começando a pesquisar agora. Se eu não posso fazer uma promoção em todos os mercados do mundo, porque isso custa muito dinheiro, eu tenho uma ferramenta web que me leva a todos os cantos", explica. A turista argentina Consuelo Gonzáles já está se informando sobre os locais que quer visitar no período em que estiver no Brasil para a Copa. "Meu sonho sempre foi conhecer Ouro Preto e Tiradentes. Todos falam tão bem desses lugares, dizem que têm uma beleza diferente, que têm algo mais bucólico, mais intimista. Acho que a desculpa dos jogos será ótima para dar uma escapada e passar, nem que seja dois dias, em uma cidadezinha dessas", diz. Assim como Consuelo, os turistas que buscam as cidades históricas do estado possuem um perfil diferenciado. Por isso, as ações específicas para este público concentram-se em oferecer algo novo. "É um turista que tem um nível de informação muito interessante, ele já vem sabendo o que vai encontrar, então a gente tem que ter um esforço muito maior ainda na qualificação dessa oferta", afirma Jussara. As secretarias de cultura e turismo das cidades históricas ainda não foram chamadas pela Setur para uma reunião específica de discussão sobre o plano de ação para as iniciativas da Copa do Mundo. "Neste momento a gente está finalizando o nosso planejamento que deve ficar pronto agora em junho. Depois, a gente vai partir para uma coisa mais pactuada com eles, para validar as ações, definir atribuições e afirmar as parcerias necessárias", adianta a superintendente.
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CARLOS EDUARDO ALVIM
Localizada na Região Campos das Vertentes do estado, a 190 quilômetros de Belo Horizonte, a cidade de Tiradentes também já se prepara para receber os turistas que virão a Minas Gerais para acompanhar os jogos do mundial de 2014. De acordo com o secretário Municipal de Turismo, Felipe Wagner Gomes Barbosa, reuniões com o Ministério do Turismo já foram realizadas para acertar os detalhes da preparação. "Nós estamos firmando parcerias, trabalhando para capacitar as pessoas que trabalham no turismo para falar inglês, para atender bem o turista que vai visitar a cidade durante a Copa do Mundo", diz. Segundo Felipe Barbosa, o Ministério do Turismo oferecerá cursos gratuitos de capacitação ao setor hoteleiro e gastronômico da cidade. Felipe Barbosa diz ainda que a administração municipal está trabalhando para melhorar a infraestrutura e restaurar o centro histórico. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está investindo R$ 31 milhões em Tiradentes para a recuperação do patrimônio histórico e a criação de novos atrativos. "Nós estamos construindo o primeiro museu da liturgia aqui na cidade, estamos reformando o Museu Padre Toledo e a antiga cadeia vai se transformar no Museu de Sant'Anna", conta. Ele informa que os novos museus ficarão prontos a partir de 2012 e acredita que até 2014 a parte histórica da cidade estará reformada. Recentemente a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) assinou convênio com a Prefeitura de Tiradentes para realizar as obras do esgotamento sanitário da cidade, com recursos previstos de R$ 9 milhões. De acordo com o Felipe Barbosa, até 2014 a obra estará concluída e resolverá um antigo problema do município.
e São João del-Rei se contrastam na preparação
Tiradentes
Presidente da Associação Comercial de Tiradentes e proprietária de uma pousada ali, Maria do Carmo Janot Vilhena, conta que houve uma primeira reunião com representantes do Ministério do Turismo, que serviu para mostrar como a cidade e os empresários poderão se beneficiar com o evento. "Eles vieram aqui e falaram sobre as expectativas para a Copa no Brasil, como é que eles vão fazer, quais são as prioridades, enfim, eles já deram aquele primeiro painel para o empresariado local alertando sobre as necessidades da gente ajudar a melhorar o padrão de atendimento de modo geral", explica. Para Maria do Carmo, a cidade ainda precisa melhorar e resolver alguns problemas que afetam os serviços oferecidos, como a inexistência de caixa eletrônico 24 horas. “Fizemos uma carta pedindo uma série de melhorias para o turista, principalmente para o estrangeiro, como guias turísticos que falem inglês e a ampliação do horário de atendimento na Secretaria de Turismo", aponta. A presidente afirma que os trabalhos de capacitação e formação para os colaboradores da rede hoteleira e gastronômica da cidade sempre foram uma preocupação dos empresários. "A gente quer que o turista que venha a Tiradentes tenha um atendimento diferenciado, então essa é nossa preocupação que existe antes da Copa e que sempre vai existir", garante. Tiradentes é hoje um dos centros históricos da arte barroca mais bem preservados do país e que conserva as características da época do Brasil
Colônia. Tombada pelo patrimônio histórico nacional, a pequena cidade de sete mil habitantes é um dos atrativos turísticos para quem passa por Minas Gerais e quer conhecer um pouco da história e se admirar com as belas paisagens do local, com destaque para a Serra de São José. ATRATIVO NATURAL "A cidade de São João del-Rei por si só já é um atrativo natural, localizado numa região importante da história do estado. A proximidade de Tiradentes e a Maria Fumaça, que é uma atração muito visitada pelos turistas, é outro diferencial que vai fazer com que o turista venha visitar a região", diz o Secretário Municipal de Cultura e Turismo de São João del-Rei, Ralph Araújo Justino. Porém, mesmo com a potencialidade turística do município, a 186 quilômetros da capital, o secretário afirma que ainda não existe um trabalho específico para receber os turistas que virão para a Copa de 2014. Segundo Ralph, ainda não aconteceu nenhuma reunião com as associações comerciais, de hotéis e pousadas do município. Ele diz que em recente conversa com pessoas do Ministério do Turismo e com a Secretaria de Turismo do Governo do Estado foi comentado sobre a realização, em breve, de cursos de capacitação para os serviços de atendimento em hotéis e restaurantes. O secretário afirma que apesar do atraso na preparação, a cidade está apta a receber os visitantes. "Nós estamos preparados para receber o turista, temos excelentes hotéis e pousadas, temos um aeroporto com voos diários e que foi recentemente inagurado, temos um Centro de Atendimento ao Turista bem no centro da cidade", atesta.
RENATA FONSECA
Conhecida internacionalmente, São João del-Rei ainda não com para receber os turistas que virão de várias partes do mundo p
CÍNTHIA RAMALHO
As imagens dos doze profetas esculpidas por Aleijadinho no San Bom Jesus de Matosinhos atraem turistas do mundo todo a Co
A Praça Santa Rita é um dos atrativos turísticos encontrados na cidade de Sabará
investe em cursos e infraestrutura para a Copa Sabará
Sabará é a cidade histórica mais próxima a Belo Horizonte, umas das sedes da Copa de 2014. Com isso, o município já se prepara para o evento em paralelo com as obras em comemoração aos 300 anos de Vila Real, o desejo é se tornar um dos roteiros culturais. De acordo com o prefeito William Borges, um dos primeiros objetivos é mudar o visual da cidade, acabando com pichações que estão presentes em monumentos históricos e bens culturais. Para isso, campanhas de conscientização serão realizadas para os moradores, e residências também ganharão cara nova, muitas delas serão pintadas. Para o roteiro cultu-
ral, quatro caminhos turísticos serão criados e todos poderão guiar os visitantes para os principais monumentos do patrimônio histórico, como o Museu do Ouro, as famosas igrejas históricas e o Chafariz do Kaquende, construção de 1757, que fornece água pura. O prefeito ressalta que para que todas as obras sejam realizadas, o apoio do Governo Federal é essencial. "Até 2013 devemos receber R$ 30,4 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas e assim, poderemos utilizar o recurso na recuperação das relíquias que pertencem a Sabará", explica.
Para o atendimento ao turista, cursos de capacitação serão realizados no segundo semestre deste ano, de acordo com o Secretário de Turismo André Gustavo Alves. "O foco principal neste momento são os cursos de capacitação e aperfeiçoamento do profissional que já atua na área. Para o segundo semestre estamos negociando cursos de capacitação com o Senac, no primeiro momento serão destinados cursos gratuitos na área de hotelaria e gastronomia", afirma. Segundo William, alguns lugares destinados à prática de esportes serão revitalizados para a Copa, como a recuperação do Campo da Liga, Praça de Esportes e Estádio da Siderúrgica que em 2010 recebeu os Jogos da Taça BH Júnior, passando pelo campo sabarense times como Atlético-MG, Flamengo, Guarani e Caxias.
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meçou a se preparar para a Copa de 2014
ntuário do ongonhas
Transporte e estacionamento são problemas para Ouro Preto Patrimônio cultural da cidades-sede ser Belo Horizonte, deshumanidade, Ouro Preto é um dos perta atenção especial em diversos destinos tutísticos mais procurados setores da cidade. "A partir disso, do Brasil, por abrigar igrejas com uma agenda de trabalho está sendo obras especiais do artista barroco organizada", informa. Aleijadinho, além de construções da Chiquinho analisa a importância época colonial e muitos museus que do Comitê Gestor para a Copa, um contam sobre a temporada dos incongrupo de trabalho formado pelo fidentes nas terras das montanhas. Conselho Municipal de Turismo Além de ter esse valor cultural signi(Comtur) e amparado pela sociedade, ficativo, é um município também por meio de representações da conhecido por seus eventos culturais, Prefeitura, da Câmara Municipal e da artísticos e religiosos, como carnaval, Universidade Federal de Ouro Preto cerimônias da (UFOP). "Queremos o Semana Santa e festimaior número possível vais de inverno, de de investimento na "QUEREMOS O MAIOR jazz e de cinema, infraestrutura de uma NÚMERO POSSÍVEL DE entre muitos outros. cidade como a nossa, A edição 2014 do que é tombada, um INVESTIMENTO NA tradicional festival de patrimônio histórico, INFRAESTRUTURA” inverno coincidirá que tem carência e CHIQUINHO DE ASSIS com o período de dislimitações físicas", afirputa da Copa do ma o secretário. Ele Mundo no Brasil em julho de 2014. ainda explica que um dos setores "Isso vai gerar uma circulação muito mais importantes na temporada da grande de dinheiro e trabalho dentro Copa será o transporte, para trazer e da nossa cidade", analisa o gestor de levar visitantes que escolham Ouro Turismo de Ouro Preto, Thiago Preto para acolher suas famílias. Rodrigues, pensando nos turistas que "Sentimos falta de uma chamada aproveitarão a competição para copública e oficial à cidade para que nhecer os arredores da capital comece a se discutir esse assunto", A cidade histórica tem população completa. aproximada de 79 mil habitantes. As ações que já acontecem na cidade, Segundo o secretário de Turismo, voltadas para a temporada de jogos de Chiquinho de Assis, Ouro Preto ofe2014, são poucas, mas mostram que a rece 5 mil leitos no parque hoteleiro, cidade, de alguma forma, já está se orgaalém do universo estudantil, que nizando. O Serviço Nacional de também abriga boa parte dos visiAprendizagem Comercial (Senac) é uma tantes, nas famosas repúblicas. Para o instituição que oferece diversos cursos secretário, o fato do campeonato de para a sociedade e está indo para Ouro futebol mais famoso do mundo aconPreto realizar cursos direcionados ao tratecer no Brasil em 2014, e uma das balho de garçons. "Além disso, estão
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O município de Congonhas do Campo está localizado a 83 quilômetros da capital mineira e será roteiro obrigatório para os turistas que vierem a Belo Horizonte para a Copa do Mundo e quiserem coestamos começando a pensar o que nhecer as cidades históricas. Famosa pode ser feito, estamos atrasados, nacional e internacionalmente pelo mas estamos começando agora", turismo religioso e cultural, a cidade admite. concentra um conjunto de obras barO assessor de imprensa da rocas esculpidas por Aleijadinho, Prefeitura de Congonhas, Alisson como as imagens em pedra-sabão Ferreira Freire, revela que a cidade dos doze profetas, localizadas no está tomando medidas em relação à Santuário do Bom Jesus de conservação e restauração do seu Matosinhos. Porém, não é apenas patrimônio histórico. "Tem um com esse tipo de atividade que a embelezamento da cidade e restaucidade espera ganhar a preferência ração dos patrimônios históricos que dos turistas que vierem a Minas devem sair para a Copa. Agora, Gerais para os jogos do mundial, capacitação do pessoal, isso ainda como explica a secretária de turismo está em conversa", declara. da cidade, Jacqueline Romero. "Não De acordo com Jacqueline são só as obras de Aleijadinho que Romero, reuniões com o Serviço Congonhas têm a oferecer. A gente Nacional de Aprendizagem tem que explorar os outros lados, Comercial (Senac) serão realizadas como o ecoturismo. Então, o turista para se discutir a oferpode vir para fazer ta de cursos de capauma caminhada, ir a citação. Segundo ela, “NÃO TEM NADA uma cachoeira e tamcada setor da bém conhecer as EFETIVO, PELO MENOS prefeitura terá uma obras do Aleijadinho", DA PARTE DO pessoa para pensar o afirma. TURISMO ” que poderá ser feito Segundo a secretária para melhorar a J ACQUELINE R OMERO de turismo, hoje, o cidade e assim, poder maior desafio de receber os turistas. Congonhas é fazer Porém, até agora nenhuma ação efecom que o turista permaneça mais tiva foi realizada. "Não tem nada efetempo na cidade. De acordo com tivo, pelo menos da parte do turisdados da Secretaria, um turista fica, mo, porque Congonhas é uma cidade em média, quatro horas em muito dividida, o prefeito deu Congonhas. Na maioria dos casos, são autonomia para todas as secretarias, visitantes que passam uma tarde na então, todas as secretarias têm que cidade. "O nosso desafio é fazer com unir forças para trabalhar em prol da que o turista que vem para o jogo, se cidade", afirma. tem que esperar dois dias entre uma Edileia Aparecida de Paula trabapartida e outra, que ele gaste esses dois lha como vendedora em uma loja dias em Congonhas", salienta. localizada no centro histórico de Apesar da preocupação em tentar Congonhas. Ela conta que em épocas atrair esses turistas, Jacqueline afirde festas, como o Jubileu de Bom ma que a cidade está atrasada em Jesus de Matosinhos, que acontece relação aos preparativos para a em setembro, o movimento na Copa. "Congonhas está muito próxicidade aumenta. Com a Copa, a ma da cidade-sede, então, vai respinvendedora acredita que o fluxo de gar para todos os cantos e a gente precisa se preparar muito. Hoje, nós turistas será maior. Porém, ela afirma
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sendo feitas parcerias com escolas de idiomas para trazer a língua estrangeira para o mercado, para a segurança pública da cidade, para o policial conseguir falar inglês e espanhol, pelo menos", explica o secretário. Outra ação que já está encaminhada é o investimento em um espaço que será transformado em centro de arte e lazer, com artesanatos, venda de doces da região e outros tipos de cultura como exposições temporárias, por exemplo. "Vai ser uma grande área cultural e de entretenimento que certamente vai ser utilizada por toda a população, de alguma forma", diz o gestor de turismo Thiago Rodrigues. Como opção de lazer, Chiquinho promete investir em uma divulgação especial do chamado Turismo Ecológico. "Nós temos várias florestas e parques estaduais nos rodeando. Esta é uma ação com várias parcerias que está sendo organizada", ressalta o secretário. Para Chiquinho, explorar as áreas externas à cidade também é uma maneira de fugir da superlotação, incentivando passeios alternativos que podem ser feitos por adultos e crianças. Um problema citado por Thiago, ainda sem solução, é a questão de espaço para estacionar os veículos dos visitantes. Como Ouro Preto é uma cidade estreita e pequena, as ruas não comportam a quantidade de carros que circulam, sendo este um motivo de preocupação por parte dos gestores. "Já pensamos em fazer um portal anterior à cidade, onde os turistas estacionassem seus veículos e seguissem para Ouro Preto por meio de transporte público, mas isso é só uma idéia, não tem nada planejado ainda", analisa.
reconhece atraso nos preparativos para o mundial Congonhas
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que não houve nenhuma ação efetiva relacionada ao comércio na cidade. Mesmo assim, Edileia acredita que os comerciantes vão se preparar para receber os turistas da melhor maneira possível. "Na parte do comércio, tenho certeza que todos vão trabalhar para ter bastante estoque e na maneira de atender os clientes, para que tudo seja muito bom", assegura. Segundo a Secretaria de Turismo, no período de 2002 a 2010 a cidade recebeu 787.556 turistas. Só em 2010, o número de pessoas que visitaram Congonhas chegou a 57.051 turistas. A Secretaria ainda não tem uma projeção do número de turistas que irá a Congonhas na época do mundial. Mesmo assim, Jacqueline Romero afirma que a cidade, hoje, não possui estrutura para receber a demanda. De acordo com a secretária, Congonhas oferece hoje cinco hotéis, três pousadas, três hotéis fazenda, seis casas familiares do Pouso e Café (programa em que famílias disponibilizam a residência para os turistas) e uma área de camping. Dessas opções, 500 leitos são reservados para atender aos turistas. "Não temos estrutura. Teremos que ter mais leitos, porque hoje a maioria dos leitos existentes são ocupados por trabalhadores que realizam alguma atividade próxima a Congonhas", afirma. A secretária acredita que a Copa do Mundo poderá ser uma grande oportunidade para que turistas do mundo inteiro conheçam Congonhas. Além disso, ela afirma que as medidas adotadas para o mundial contemplarão todos os setores da cidade. "Tem muita coisa para ser feita e isso envolve todo mundo, não só a Prefeitura, porque vai ser benéfico para a cidade toda", observa.
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Junho • 2011
Projeto “Contando Histórias” é uma iniciativa para promover a leitura e a recuperação da tradição de contar histórias. Todas as sextas-feiras são realizados encontros abertos ao público na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte; os participantes fazem exercícios de narração, análise de textos da literatura brasileira e mundial e trocam experiências
HISTÓRIAS PARA QUEM QUER OUVIR RENATA FONSECA
n MAYARA FOLCO, 6º PERÍODO
Badulaques e penduricalhos presos a um colete super colorido despertam a curiosidade. É só começar a falar que a "Vovó Fadinha" rapidamente rouba a atenção de todos. As crianças sentadas no chão arregalam os olhos a cada novo detalhe da história. A voz, os gestos e trejeitos da vovó deixam as palavras muito mais coloridas do que o colete que ela usa, e na cabeça dos ouvintes um novo mundo é construído em imagens. Vovó Fadinha, habilidosa, se transforma em amiga íntima das crianças e narra a história como quem revela um segredo valioso. Para os que acham a trama maluca demais ou duvidam do que ela diz, vovó não se curva e ainda se justifica exibindo a prova de suas palavras. "É tudo verdade, é o livro que está dizendo", afirma. Vovó Fadinha é a contadora de histórias e professora universitária, Maria Cristina Labarrère, 68 anos. Ela é uma das quatro contadoras de história que participaram do evento "Era uma vez... Hora do conto" na Biblioteca Pública Infantil Juvenil no dia 30 de abril. A atividade é uma ação de incentivo a leitura e faz parte do projeto Contando Histórias. Maria Cristina diz que as histórias fazem parte da sua vida. "Cresci ouvindo, depois passei a
Maria Cristina Labarrère assume a identidade da Vovó Fadinha para contar histórias para crianças que participam do projeto “Contando Histórias” contar para meus filhos e netos", explica. Segundo ela, sua maior satisfação em contar histórias é ver as crianças procurando livros nas estantes da biblioteca. "No livro você é o dono da história, não precisa gastar um tostão para ir à África se você tiver imaginação", afirma. A advogada Maria Lúcia Miranda, 68 anos, também integra a equipe de contadores de histórias e se declara apaixonada por literatura. "Gostar de ler me ajudou a superar a pobreza. Como não tinha lazer, lia muito", explica. Contadora há 10 anos, Maria Lúcia revela que ouvir histórias não é coisa só para os pequenos. "O adulto tem a criança dentro de si e consegue com-
preender o outro lado do que está sendo narrado", acrescenta. Para a advogada, as histórias contribuem para a formação do caráter. "Na literatura projetamos os nossos conflitos, o bem e o mau se resolvem". Para ela, as escolas deveriam ter um contador de história ou pelo menos um professor que atue como um facilitador da leitura, capaz de ler bem o texto literário e fazer do livro um amigo da criança. A professora Maria do Rosário, 43 anos, levou a filha Alice Menezes, 8 anos, para conferir o evento. Para a professora, os pais devem trazer as crianças para ouvir as histórias. "A atividade é um estímulo a leitura, va-
loriza a cultura através do lazer e entretenimento". Para Alice, participar do "Era uma vez...Hora do conto" é um momento divertido. "Quando estou ouvindo, imagino que a história está acontecendo na mesma hora", afirma a menina. HISTÓRIAS A contação de histórias é uma prática antiga que acompanha a humanidade há tempos, desde antes da invenção da escrita. Além de estimular a imaginação, ouvir e contar histórias ajuda a preservar as lendas, a cultura e o folclore de um povo. Mas será que na era dos vídeo-games e da internet ainda há espaço para esse tipo de interação? O Encontro
Semanal de Contadores de História promovido pela Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte (BPIJ) é a prova de que uma história bem contada atrai crianças e adultos. Desde 1991, a biblioteca promove o encontro em que os participantes narram histórias, trocam experiências, fazem exercícios de narração, pesquisam e selecionam textos da literatura brasileira e mundial, da tradição escrita e oral. Aberto ao público, o evento é gratuito e acontece todas as sextas-feiras às 10h na Biblioteca Pública. Participam a cada dia, em média, 30 pessoas, entre ouvintes e contadores em busca de formação. No
encontro semanal são realizados os ensaios para as apresentações que ocorrem em hospitais, creches, escolas públicas, centros culturais e mensalmente na própria biblioteca. Segundo a arte-educadora Isabel Rodrigues, coordenadora do evento, qualquer pessoa pode participar do encontro. "A vontade maior do projeto é realizar um movimento para recuperar a tradição de se contar histórias nos meios familiares, escolares ou no convívio social em geral. Em princípio, pais, mães, avós, babás, além dos educadores formais são tidos como potenciais narradores de histórias”, conta. Mas, Isabel Rodrigues destaca uma característica essencial aos interessados em se tornarem contadores de histórias, o gosto pela literatura. "É preciso ser leitor e bom ouvinte, gostar de ouvir histórias e de lê-las. Ser um amante da Literatura", afirma. Para a coordenadora, contar e ouvir histórias é uma prática que contribui para a formação das crianças. "É fundamental tanto nas relações interpessoais quanto na formação dos pequenos. Trata-se de mais do que uma aprendizagem para se tornar leitor: implica o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, a troca de sentimentos e saberes, o cuidado com o outro e mesmo o prazer de estar juntos", acrescenta.
Ciência e leitura nas viagens de ônibus por BH PEDRO VASCONCELOS
n RAIANE COSTA, RENAN COSTA, 4° PERÍODO
Seja pela manhã ao sair de casa, ou mesmo a noite, retornando a ela. É consenso entre todos os brasileiros que usam do transporte público, que não existe nada mais estressante do que o famoso ônibus lotado. Foi pensando nisso que há oito anos surgiu em Belo Horizonte o projeto "Leitura para Todos", que nasceu com o objetivo de proporcionar uma viagem menos maçante a quem usa o transporte público, além de estimular a leitura disponibilizando nos ônibus textos curtos de fácil leitura. Maria Antonieta Pereira, membro da ONG "Teia de Textos" e idealizadora do projeto, conta que a idéia surgiu em 2003, quando ela voltava da Argentina,
onde viu o quanto o povo daquele país pratica o hábito da leitura. Segundo ela, era sua vontade fazer com que o brasileiro também tivesse a leitura como costume. Ela conta ainda que a ONG realiza periódicas pesquisas de opinião sobre o projeto e afirma que os usuários gostam muito da idéia. Quem ilustra essa fala de Maria Antonieta é a dona de casa Maria da Conceição de Moura, 45 anos, que aprova com louvor a iniciativa. "É legal, a gente aprende, acaba adquirindo o hábito de ler o que está escrito e quando pega um ônibus que não tem, sente falta. Fico sabendo muita coisa tudo dentro do ônibus", conta. O caixa de supermercado Cleber da Silva, 30 anos, ressalta outro ponto relevante do projeto, que é proporcionar a
leitura a quem só tem aquele curto espaço do dia para fazê-la. "É muito significante, para a população ter um pouco de conhecimento, aprender, nem que seja dentro do ônibus, até mesmo porque temos pouco tempo e vivemos na correria, muitos de nós só temos tempo de ler no ônibus, vários aqui passam tanto tempo aqui que é bom ter algo pra ler", comenta Cléber. Desde abril deste ano, o projeto passa por uma nova fase, onde são expostos textos relacionados à ciência. Essa nova etapa, que está prevista para durar dois anos, conta com a participação do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Fedral de Minas Gerais (UFMG) e, segundo Maria Antonieta, a idéia surgiu para que a população tenha acesso a este tipo
de informação. "A universidade precisa difundir o conhecimento que produz, precisa democratizar o acesso da população a essas informações, inclusive, para estimular os jovens a se tornarem futuros cientistas", ressalta. Ao que parece, essa nova empreitada está agradando aos leitores, como é o caso da doméstica Lúcia de Cássia Ferreira, 40 anos, que aprova a união entre literatura e ciência. "O projeto é importante, porque do caminho da minha casa até o trabalho eu vou lendo, a gente que tem pouco tempo, muitas vezes não lê por falta de oportunidade. E aqui no ônibus a gente aproveita o tempo para ler. E agora que fala sobre ciência a gente aprende mais, muitas vezes coisas que a gente não sabia", salienta Lúcia.
Textos de Ciências são a novidade do Projeto Leitura para Todos, em BH
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BELO HORIZONTE MAIS ORGANIZADA n BÁRBARA CAMPOS, BÁRBARA MARTINS, RENATA BRANDÃO,
Prefeitura da capital mineira planeja dividir as nove regionais administrativas em 40 sub-regiões para melhorar a qualidade dos serviços oferecidos e aumentar a participação dos cidadãos e das lideranças comunitárias nas decisões do município RENATA FONSECA
7º PERÍODO
Desde 1983, Belo Horizonte é tradicionalmente dividida em nove administrações regionais, um critério de organização que leva em conta a posição geográfica e a história de ocupação dos bairros belo-horizontinos. Mas a capital mineira ganhará, em breve, novos contornos. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) vai criar 40 sub-regiões dentro das regionais já existentes. O objetivo da iniciativa é ampliar o conceito de gestão participativa e melhorar a prestação de serviços públicos. Na prática, de acordo com a Secretaria Municipal Adjunta de Gestão Compartilhada, responsável pela implantação do projeto em BH, a divisão vai facilitar o planejamento de políticas públicas mais específicas para cada sub-região, pois levará em conta critérios econômicos, de infraestrutura e de vulnerabilidade em saúde, próprios de cada agrupamento de bairros. Outro aspecto defendido pela PBH na adoção deste modelo é manter um diálogo mais próximo com a população. A secretária municipal adjunta de gestão compartilhada da Prefeitura de Belo Horizonte, Maria Madalena Franco Garcia, destaca a importância do projeto. "Gosto de falar que, com esse modelo, é como se colocássemos uma lupa em cima das
As nove regiões administrativas de Belo Horizonte serão divididas em 40 subregiões para melhor elaboração e administração das políicas públicas regiões da cidade, proporcionando uma análise mais detalhada de suas especificidades e a criação de soluções mais eficientes", afirma. O Projeto de Gestão Compartilhada é composto por seis ciclos. Neles, serão feitas reuniões entre as áreas da PBH envolvidas no projeto, o prefeito Márcio Lacerda, as secretarias regionais e as lideranças das regiões, a fim de debater os problemas dos bairros e elaborar pro-
postas. Após o processo de avaliação dessas propostas, caso sejam viáveis, será realizado um Fórum da Cidade – previsto para março de 2012 – para serem apresentadas as propostas e inaugurado o OP Regional. De acordo com Ana Luiza Nabuco, coordenadora geral da sala de Situação, um espaço criado na PBH para orientar a agenda do governante, realizar pesquisas e fornecer dados atualizados de
Região mais rica da cidade apresenta disparidade social Com uma área de 31.774 m2 e população de 271.194 habitantes, a Regional Centro-Sul é a mais densa demograficamente. Ao longo dos anos foi concentrando atividades comerciais e se tornou o pólo das movimentações financeiras. Hoje, é uma referência econômica, política e cultural de Belo Horizonte, embora isso não aconteça em todo o seu território. Nos 49 bairros que a compõem, verifica-se uma heterogeneidade de características políticas e sócioeconômicas. Apesar de seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) elevado (0,914), superior aos de vários países europeus, existem diferenças entre seus bairros, um desafio para a administração municipal. Bairros como Carmo e Sion, por exemplo, são equipados com boa infraestrutura comercial,
de lazer, escolas públicas e particulares, praças e parques conservados, grande número de bares e restaurantes, hospitais e empresas, dentre outros, é altamente desenvolvida e seus moradores possuem qualidade de vida. Já o Aglomerado da Serra engloba vilas como Nossa Senhora da Conceição, Cafezal e Novo São Lucas. No mapa, situa-se no mesmo recorte regional que a Região Sul, mas a realidade de seus moradores evidencia uma qualidade de vida expressivamente menor. O gerente Regional de Programas Sociais da Secretaria de Administração Regional Municipal Centro-Sul, Paulo Emílio Gonçalves, manifesta expectativa positiva, apesar de o novo modelo ainda não ter sido apresentado às secretarias. “Qualquer outro agrupa-
mento feito na centro-sul seja um olhar mais apurado e que venha a somar para a gente e para a população", observa. Assim, de acordo com o novo modelo de gestão compartilhada, os bairros da Centro-Sul ficarão agrupados em cinco subregiões, reforçando uma proximidade territorial com a população e suas demandas, além de ajudar na implantação de ações que condizem com os problemas específicos de cada um. "Estamos fazendo um levantamento das lideranças de todos os bairros de BH para ajudar nessa relação entre população e Prefeitura. A intenção é construir uma ponte que nos leve diretamente às necessidades de cada bairro ou subregião", afirma Ananias José de Freitas, chefe da Assessoria Especial de Márcio Lacerda.
Norte. "Esse projeto-piloto foi concluído e verificamos que se trata de uma opção viável e compatível com o modelo de gestão compartilhada. Como a idéia será estendida para todas as outras regionais, trabalhamos agora para criar estratégias de implantação efetivas", esclarece.
todas as regiões da cidade, no novo projeto. As subregiões são formadas com o propósito de homogeneizar as áreas de uma regional. “Ou seja, aproximar realidades mais parecidas dentro de uma regional", explica. Sobre a opção por este modelo de gestão Ana Luiza revela que, no ano passado, foi desenvolvido pela PBH um projeto-piloto que considerava a divisão em sub-regiões apenas para a Regional
FUNCIONAMENTO As subregiões serão formadas dentro de cada uma das nove regionais – Barreiro, Centro-Sul, Leste, Nordes-
te, Noroeste, Norte, Oeste, Pampulha e Venda Nova –, que contarão com quatro ou cinco recortes, em média. A intenção não é delimitar um espaço físico, mas manter um diálogo com diferentes lideranças. Por esse motivo, as subdivisões, possivelmente, não devem receber denominações para não concorrerem com as identidades já conhecidas. Elas serão identificadas apenas com números dentro das nove regionais. O arquiteto do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais (CREA-MG), José Abílio Belo, explica que esse novo modelo pode representar um enorme salto de qualidade na prestação dos serviços públicos, mas em sua avaliação, podem também ser uma fonte de gastos públicos, com mais pessoal, instalações físicas, equipamentos e condições de trabalho que drenam os recursos públicos e não oferecem melhoria de serviços à população. "Equilibrar esses custos e os benefícios para a população é um dos pontos chave dessa discussão", comenta o arquiteto. Apesar disso, a secretária Maria Madalena Garcia garante que o "processo de criação desse modelo não exigiu recursos financeiros extras ou a criação de novos cargos públicos, nem a escolha de representantes oficiais em cada território", já que as sub-regiões continuarão sob responsabilidade dos secretários regionais.
A importância do projeto para a qualidade de vida A questão urbana deve considerar os desafios apresentados pelo desenvolvimento econômico internacional, marcado pela globalização da produção, informatização e sofisticação dos serviços. Nas grandes cidades apresentamse novos desafios e acentuam-se problemas como a elitização de algumas áreas, geração de espaços privilegiados com serviços modernos e áreas de baixa renda, carentes de condições básicas. De acordo com o arquiteto José Abílio Belo, o processo de planejamento pressupõe algumas etapas; momentos específicos de governo e sociedade civil se debruçarem sobre seus problemas, suas qualidades e
potencialidades específicas. "É um momento de geração de informações e conhecimento, constituído por muitos olhares. São construídos os diagnós-
melhorar a qualidade de vida da população dentro de uma dada área. Para que isso ocorra é criado por exigência constitucional, para municípios com mais de 20.000 habitantes, o Plano Diretor, em que Prefeito, Câmara e população trabalham juntos. Ele é o instrumento básico da política de desenvolvimento do município. O Plano reflete os anseios da comunidade e visa uma cidade melhor. Segundo José Abílio, a parte mais delicada é ter ações coerentes com o plano. "É preciso, na sequência, estabelecermos formas para controlar, avaliar e monitorar o que foi definido no plano e sua implementação", explica.
[ ] “É UM MOMENTO DE GERAÇÃO DE INFORMAÇÕES E CONHECIMENTO, CONSTITUÍDO POR MUITO OLHARES”
ticos, que ao serem aprofundados e consistentes já indicam a próxima etapa, que é a definição de objetivos e metas de futuro, de curto, médio e longo prazos", afirma. O planejamento urbano visa a criação e desenvolvimento de programas que buscam
12 Saúde
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Junho • 2011
Para atender casos crônicos que necessitam de internação de longa permanência, o Hospital Cristiano Machado, localizado em Sabará, conta com uma equipe formada por médicos, psicólogos, enfermeiros, terapeuta ocupacional, fonaudiólogos, fisioterapeutas, assitente social e nutricionistas. O desafio para esses profissionais é lidar com o silêncio de seus pacientes
COMUNICAÇÃO ALÉM DAS PALAVRAS RENATA FONSECA
n CÍNTHIA RAMALHO, KENETH BORGES, 5º E 3º PERÍODO
Quem chega ao Hospital Cristiano Machado, localizado no município de Sabará, Região Metropolitana de Belo Horizonte, se depara com uma situação comum a outros hospitais: o silêncio. Porém, esse silêncio é diferente. Nos corredores as únicas vozes ouvidas são as dos funcionários. Os pacientes, crônicos, não falam. Alguns têm nomes e histórias recuperados pelos funcionários do hospital, outros não. Para esses, o silêncio é ainda maior. "Os pacientes não falam, isso nos preocupa muito, mas é um aprendizado", afirma a gerente assistencial do hospital, Doutora Carmen Mazzilli. Lidar com esse silêncio é o maior desafio enfrentado pelos funcionários que trabalham no Hospital Cristiano Machado, como explica a gerente assistencial. No passado, o hospital, conhecido como Sanatório Roça Grande, foi um centro criado para tratar portadores de hanseníase. Em 1977 passou a integrar a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e em 2006, na tentativa de fazer com que o Hospital João XXIII tivesse mais leitos de urgência disponíveis, passou a receber os pacientes com casos crônicos neurológicos e ortopédicos que necessitavam de internações de longa permanência. "Esse é um novo paciente que está surgindo, o sequelado de trauma, e o que estamos fazendo aqui é a terapia paliativa, que é a terapia do cuidado", explica a Dr. Carmen. De acordo com a gerente assistencial, o Hospital Cristiano Machado possui, hoje, 40 leitos, sendo que quatro são ocupados por pacientes de hanseníase, já curados. Os pacientes crônicos ocupam 36 leitos. Segundo a médica, a maior parte desses pacientes são jovens entre 15 e 49 anos, do sexo masculino, vítimas de acidentes de carro, tiro, alcoolismo, brigas, drogas, atropelamentos, violência urbana e doméstica. Entre os pacientes idosos, os casos mais frequentes são sequelas causadas por Acidente Vascular Cerebral (AVC). COMUNICAÇÃO A enfermeira Carla Caroline Moreira Lima, que trabalha no hospital há oito meses, caminha com certa agilidade pelos corredores. Ela para em frente a um quarto, onde entra para cuidar de um paciente. Em um dos quatro leitos, um menino de 14 anos se encontra deitado e segura entre as mãos imóveis uma esponja azul colocada para evitar o atrofiamento dos membros. Por causa de um acidente de bicicleta, ele sofreu um traumatismo craniano e perdeu parte da massa encefálica. A enfermeira conta que ele é o paciente que está internado há menos tempo no hospital e, por causa disso, considera que cuidar dele seja um grande desafio. "A gente fica um pouco abalada quando chega algum novato, porque a gente não conhece, então não sabemos como ele vai reagir quando tiver com dor ou incomodado", explica. Apesar de estar em contato com esses pacientes todos os dias, Carla Caroline afirma que ter atenção ao menor sinal é muito importante, pois é através das
A terapeuta ocupacional Valéria Campanha Alves realiza um trabalho de estimulação sensorial com os pacientes crõnicos que não falam expressões faciais ou reação a qualquer movimento dentro do quarto, que ela conseguirá entender o que se passa com o paciente. "Quando eles estão com dor, geralmente a face muda, então, a gente tem que estar sempre observando essas coisas", diz. A enfermeira conta que em seu trabalho, mesmo ao lidar com pacientes que apresentam sempre o mesmo quadro, não existe rotina, já que as reações de cada paciente são muito diferentes. "A partir do momento em que a gente conhece o paciente, a gente já sabe, com um olhar mesmo, que ele não está muito bem. Ele sabe que a gente está perto dele e reage de uma forma diferente quando tem carinho", afirma. Enquanto Carla Caroline cuida do menino de 14 anos, um "bom dia" rompe com o silêncio do quarto. Apesar de já ser de tarde, a enfermeira responde com bom humor ao paciente que está deitado na cama da frente. Devido aos estímulos que recebeu dos diferentes profissionais, ele é um dos pacientes que consegue esboçar, mesmo que com muita dificuldade, algumas palavras. A terapeuta ocupacional Valéria Campanha Alves conta que já consegue se comunicar com outros dois pacientes. O primeiro chegou ao hospital sem conseguir nenhum tipo de comunicação. Valéria descobriu que antes do acidente, o rapaz era cantor e fazia parte de uma dupla musical. Hoje, com o trabalho realizado pela terapeuta ocupacional através da música, ele consegue cantar algumas letras. No mesmo quarto, encontra-se um paciente que só consegue mexer as mãos. Valéria para em frente à cama e faz uma pergunta: "Eu tinha quatro laranjas e dei duas para a minha irmã, com quantas eu fiquei?". A resposta vem rápida em um simples gesto. Com as mãos ele mostra o
número dois. Depois de observar o paciente, a terapeuta ocupacional descobriu que ele conseguia fazer operações. "Você vai trabalhando, vai descobrindo, porque ele não fala duas, mas ele mostra. Então, a comunicação é isso", explica. A fisioterapeuta Luana Pinho trabalha no hospital há dois anos e conta que o trabalho que realiza com os pacientes crônicos é mais voltado para a questão respiratória. "O lado motor é mais difícil, porque eles já chegam aqui com uma posição definida que eles adquiriram por causa do tempo, então, a gente trabalha mais com o lado respiratório", explica.
[ ] "QUANDO ELES ESTÃO COM DOR, GERALMENTE A FACE MUDA, ENTÃO, A GENTE TEM QUE ESTAR SEMPRE OBSERVANDO ESSAS COISAS" (CARLA LIMA)
Segundo Luana, a falta de retorno é o principal desafio para o profissional que lida com pacientes crônicos. "A maioria apresenta o mesmo quadro o tempo inteiro, então, o retorno de abrir um olho, de responder, é da minoria e isso é um desafio para todo mundo", afirma. TRATAMENTO Em um dos quartos encontram-se quatro leitos. Deitada, em frente à televisão ligada, está uma moça de 24 anos. Ela não fala e não consegue mexer nenhuma parte do corpo, mas ao primeiro sinal da presença de Valéria, esboça um pequeno sorriso. São com esses pacientes que a terapeuta ocupacional lida há cinco anos. Valéria explica que por serem pacientes crônicos, eles não falam e não obedecem a coman-
dos, a maioria está em estado de coma, e o trabalho realizado com eles consiste na estimulação sensorial. "Eu estou estimulando esse paciente a nível tátil, principalmente na percepção corporal. Vou interagindo com ele no dia a dia através da troca do olhar, do acompanhamento de um estímulo visual", esclarece. Através desse trabalho, a paciente já consegue obedecer a alguns estímulos, como indicar com o olhar onde se encontra a lâmpada, a janela ou a companheira de quarto que fica no leito ao lado. A terapeuta ocupacional explica que o tipo de tratamento oferecido a esses pacientes não é uma reabilitação e sim, um tratamento paliativo. "Eles [pacientes] não ficam aqui para a reabilitação e saem andando. Não é o objetivo aqui do hospital. O objetivo é você trabalhar ao máximo o potencial deles para eles irem para casa do jeito que estiverem melhor, mas com certa autonomia, podendo conviver socialmente", conta. FAMÍLIA Segundo Valéria, a paciente de 24 anos está clinicamente estável e em condição de alta pelos médicos, porém, não vai para casa por causa da questão social. A psicóloga Poliana Cristina Pires trabalha no Hospital Cristiano Machado há três anos e explica que casos assim são muito comuns. "Às vezes o paciente está bem clinicamente, mas não tem condições financeiras para sair do hospital", conta. Para ajudar no tratamento desses pacientes, as famílias recebem um auxílio no valor de um salário mínimo, porém, a psicóloga afirma que o valor oferecido não é suficiente para dar conta dos cuidados que um paciente crônico necessita. Segundo Poliana, que também participa da Comissão de
Desospitalização do Hospital Cristiano Machado, hoje 15 pacientes não têm perspectiva de sair do hospital, a maioria por falta de recursos financeiros. Outro fator que também adia a ida desses pacientes para casa é a resistência dos próprios familiares, que preferem deixá-los no hospital. De acordo com Poliana Cristina Pires, a presença da família é fundamental no tratamento do paciente crônico. Além do apoio, é o contato com os familiares próximos que possibilita o resgate das histórias desses pacientes que, na maioria dos casos, chegam ao hospital sem nenhuma identificação. Através dos relatos dos pais, mães e maridos a equipe do Hospital Cristiano Machado descobre os nomes e escreve as histórias dos pacientes, fazendo relações com objetos e situações que eram importantes para eles. Mesmo assim, alguns pacientes ainda continuam sem identificação, como é o caso de um homem que é conhecido no hospital pelo nome que recebeu dos próprios funcionários, já que nada se sabe sobre sua história. Um homem parado em frente a um dos quartos chama a atenção. Pela reação dos funcionários, que param para cumprimentá-lo e conversar, é uma figura já conhecida no Hospital Cristiano Machado. Carlos Ferreira dos Anjos, 65 anos vai todos os dias ao hospital para visitar o filho, Carlos Felipe Vieira dos Anjos, 25 que está internado há sete meses devido a uma lesão causada por um acidente de bicicleta. Carlos Felipe perdeu 70% da massa encefálica. De acordo a psicóloga Poliana, o paciente não dá nenhuma resposta e não voltará do coma, mesmo assim, ao lado da cama Carlos Ferreira dos Anjos conversa com o filho. "Ele só não obedece a comandos, mas tenho certeza de que eu estou falando e ele está me ouvindo", afirma o pai. As dificuldades em lidar com pacientes crônicos não estão presentes apenas na rotina dos funcionários do Hospital Cristiano Machado. Para as famílias, o desafio é ainda maior. Dessa forma, a equipe do hospital oferece um acompanhamento para os familiares. Através do convívio eles aprendem a identificar as necessidades e a lidar com as limitações desses pacientes. Além disso, o hospital também oferece uma ajuda psicológica para os parentes que muitas vezes encontram dificuldades em aceitar e entender o estado em que os pacientes crônicos se encontram. "Eu acho que é mais difícil isso, você lidar com essa angústia, então, a gente tenta ajudar também", conta a psicóloga Poliana Cristina Pires. Em um quarto, um objeto se destaca na cabeceira da cama onde uma mulher está deitada. É uma carta escrita pela filha que esteve no hospital para visitá-la. A terapeuta ocupacional Valéria se aproxima da cama e comenta o quanto a paciente está bonita naquele dia. A resposta vem através de um sorriso, pois o corpo não consegue se movimentar. "São formas de comunicação sem ser verbalmente. Quando conseguimos que o paciente pisque, abra a boca, ficamos muito felizes. É um trabalho em equipe e quando a gente consegue, ficamos estimulados com os resultados", afirma a psicóloga Poliana.
Cidadania Junho • 2011
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LIBERDADE PARA ENCENAR E ENSINAR n CARLOS EDUARDO ALVIM, 4º PERÍODO
Presidiários da Penitenciária José Maria Alckimin, em Ribeirão das Neves, encontraram no teatro uma maneira para refletirem seus crimes e conscientizarem as pessoas. O Grupo “Vida Nova” Já se apresentou para 8 mil pessoas RENATA FONSECA
É no tablado do Salão Nobre da Penitenciária José Maria Alckimin, localizada na cidade de Ribeirão das N e v e s , R e g i ã o Metropolitana de Belo Horizonte, que 13 presidiários se reúnem todos os dias para ensaiar as apresentações teatrais que eles mesmos escrevem e encenam. As peças retratam as vivências e as experiências que os detentos tiveram com o mundo do crime, além de temas atuais como o Bullying. O tráfico de drogas e uma série de assaltos levaram Pablo Igor Carneiro Meireles, 31 anos, ao presídio. Pertencente a uma família de classe média alta de Belo Horizonte, ele diz que em sua juventude já havia usado drogas, mas em 2006, teve contato com a cocaína e o crack, o que fez largar o emprego, a mulher e as duas filhas. "A droga acabou com tudo de mais valioso que eu tinha em minha vida. Eu tive que perder tudo, para dar valor ao que tinha. Tive base familiar, financeira, estudei em bons colégios e deixei passar tudo isso", conta. Pablo já cumpriu cinco dos nove anos de sua pena e agora está em regime semiaberto, no qual tem direito a cinco saídas anuais de sete dias cada uma. Ele e mais dois presidiários iniciaram as atividades do grupo teatral em março do ano passado, quando se preparavam para apresentar um trabalho para a escola. "Tudo começou na sala de aula, num trabalho que estávamos fazendo. Depois que apresentamos para os professores e para turma, apresentamos para o pessoal do [atendimento] psicossocial e falamos da nossa intenção de continuar fazendo o teatro. Eles não só gostaram da ideia, como também nos ajudaram", diz. O grupo teatral inspirou outras ideias para Pablo. No
Para participarem do Grupo Vida Novo os presidiários devem frequentar a escola do presídio e passarem por uma seleção feita pelo diretor do grupo fim deste ano, ele conta que fará a prova do Enem e vai tentar vestibular para o curso do Direito e, assim que sair da penitenciária, vai construir uma ONG para trabalhar com jovens, cujas famílias não sabem lidar com o problema das drogas. Nestes 15 meses, as apresentações do Grupo Vida Nova, nome escolhido pelos presidiários, já foram vistas por aproximadamente 8 mil pessoas, sendo que a maioria era formada por alunos de escolas públicas estaduais e municipais de Belo Horizonte e da Região Metropolitana. Para Pablo, o teatro é uma maneira de falar diretamente com o jovem e mostrar que ele tem caminhos diferentes para seguir. "Pelo grupo de teatro eu posso falar tanto pela minha narração, quanto pela minha dramatização e levar os jovens a se conscienti-
zarem desse mal pelo qual eu passei” , diz. Em uma das apresentações, Pablo esteve novamente de frente do juiz que proferiu a sua sentença, mas dessa vez o martelo foi substituído por palmas. "Me sinto vitorioso. Cometi erros no passado e hoje estou dando frutos bons e as pessoas percebem e dão retornos para nós. O mesmo juiz que me condenou, veio me aplaudir", conta. Fábio Alves Moreira é coordenador do Núcleo de Acompanhamento e Avaliação da Penitenciária José Maria Alckmin e é um dos incentivadores da ideia. Com a criação do grupo, ele passou a ser o diretor e produtor do Vida Nova, já que é dançarino do Grupo Aruanda e tem experiência para trabalhar com os detentos. “Os ensaios e todo o trabalho que a gente desenvolve exigem dedicação e limite, o que muito
Oportunidade além do palco Há dois meses, Helvécio Santos de Moura, 25 anos, cumpre sua pena em regime domiciliar. Condenado por assalto a mão armada, é um dos precursores do Grupo Vida. O envolvimento com o crime e as drogas começaram no início da adolescência. "Entrar no crime foi uma escolha minha. A gente que é de uma classe mais baixa, vê as pessoas com coisas boas e a gente quer ter também, a gente se ilude e demora para acordar. A gente tem que apanhar muito para aprender", conta. No final do ano passado, enquanto ainda estava preso, Helvécio fez a prova do Enem e a boa nota alcançada permitiu que ele conseguisse bolsa integral no
Programa Universidade para Todos (ProUni). Ele está no primeiro período do curso de Ciências Contábeis. "Perdi minha adolescência no crime, drogas, roubando. Quero mostrar ao pessoal que a gente pode mudar, que a gente pode fazer diferente", diz. Claudinei dos Santos Teófilo, 30 anos, foi condenado por dois homicídios e há 13 dias ganhou o direito a prisão domiciliar depois de passar seis anos e onze meses detido. A sentença inicial era de 21 anos, mas com os benefícios concedidos pela Justiça teve sua pena reduzida. Ele é cantor e quando soube do grupo, quis participar. "O teatro é só um complemento do tra-
deles não tiveram lá fora, e o que trabalhamos com eles aqui dentro e para devolvêlos de forma diferente para a sociedade", conta. De acordo com Fábio, os detentos que participam do grupo são os melhores alunos da escola e os de melhor comportamento dentro da penitenciária, mas para ele o retorno dos diretores das escolas que recebem as apresentações mostra que o Vida Nova está no caminho certo. "Os diretores das escolas mandam email contando sobre a mudança que a apresentação causou no dia-a-dia das escolas, no que representou para os alunos. A própria família dos presidiários abraçou o projeto, eles comentam, participam, estão mais próximos. Algumas mães até ajudam nas fantasias, no cenário", comenta. Fábio também é o responsável pelas audiências que selecionam os participantes para o grupo
teatral e que são realizadas mensalmente. Segundo ele existe uma lista de mais de 70 pessoas que querem integrar o grupo. RESSOCIALIZAÇÃO Quem aposta também na iniciativa é a pedagoga da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) que trabalha com os detentos da Penitenciária José Maria Alckmin, Karol Oliveira de Amorin Silva. Para ela este tipo de projeto ajuda a desmistificar a ideia de que quem passa pelo sistema prisional não tem recuperação. "No teatro eles refletem sobre os seus atos e as consequências do que fizeram no passado. Com isso, eles abrem seus horizontes, passam a idealizar uma vida diferente e a ter uma consciência crítica", afirma. O projeto não possui uma verba específica. De acordo com Karol, tudo o que o grupo possui foi
adquirido com o apoio e ajuda das pessoas envolvidas, inclusive dos familiares dos detentos. "A gente não tem recurso financeiro, trabalhamos com o que tem. Nós tentamos concorrer à lei de incentivo à cultura, mas por não ter documentação completa e o prazo ser um pouco corrido, nós não conseguimos", diz. A Secretaria de Estado de Defesa disponibiliza transporte e escolta para levar os detentos, mas de acordo com Karol já aconteceram vezes em que o grupo não pode se apresentar por falta de condução. Ela diz que os integrantes do grupo chegam para as apresentações algemados e com as roupa vermelha do sistema prisional, acompanhados por agentes do Grupo de Intervenções Táticas (GIT) da Polícia Militar. De acordo com a pedagoda, além de ser um procedimento obrigatório o fato de terem que chegarem algemados, isso faz parte da mensagem que o grupo quer passar, de que são presos e que querem mostrar uma nova perspectiva para as pessoas para quem vão apresentar. Os detentos não recebem nada e não têm as suas penas reduzidas por participarem do grupo teatral, mas não foi assim que Júlio César Viera, 35 anos, pensou quando começou a participar dos ensaios para o teatro. "Eu entrei porque eu pensei que iria reduzir a minha pena, diminuir o tempo na cadeia, mas depois da interação que tive com o grupo, descobri uma nova visão", confessa. Júlio foi condenado por vários delitos, entre eles tráfico de drogas, roubo e porte ilegal de arma, mas quer fazer do teatro um porta-voz contra o crime. "Eu fiz um mal lá fora, a legislação está me punindo e preocupa em me ressocializar para me devolver à sociedade. Com o grupo teatral tive o privilégio de através da dramatização levar uma nova mensagem. Eu me sinto melhor pagando o erro e conscientizando outros jovens. ", diz.
Talentos que se potencializam
balho de conscientização. Enquanto recebia o Eu já havia escrito um livro atendimento psicossocial da que chama" Veja o que uma equipe da penitenciária, arma fez em minha vida" e Bruno Carmo de Ávila, 27 depois postei alguns vídeos anos, escutou um barulho no Youtube dando o meu que lhe chamou a atenção. testemunho de "Eu fui no atendisuperação", conta. mento e ao lado da De volta ao sala da assistente “Q UERO MOSTRAR convívio social, AO PESSOAL QUE A social, ouvi alguém GENTE PODE MUDAR ” Helvécio e Clauditocando violão e nei retornam à quis saber o que (HELVÉCIO DE MOURA) Penitenciária José era. Quando me Maria Alckimin falaram que era para os ensaios do um grupo de Grupo Vida que antecedem teatro, eu quis participar, fiz o as apresentações, mas quanteste e estou aqui", explica. do não estão nos palcos conAntes ser preso, Bruno dava tando as suas histórias de aulas de música. Além do viosuperação, se encontram lão, ele toca cavaquinho e semanalmente para disinstrumentos de percussão. tribuir cartas de prevenção à Condenado por tráfico de violência pelas ruas de drogas, atualmente ele Ribeirão das Neves. cumpre a sua pena, que ter-
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mina em 2013, em regime semi-aberto. Para Bruno, seu processo de ressocialização acontece por meio da música. "O teatro tira um pouco do peso que é a cadeia e a gente aproveita esta oportunidade de estar em contato com a arte para levar uma nova mensagem para as pessoas", diz. Natural de Barão de Cocais, cidade localizada na Região Central de Minas, Alessandro Bruno da Silva, 23 anos, foi parar na penitenciária por conta do tráfico de drogas, e por meio do teatro, descobriu o seu potencial para cantar e compor músicas. Recentemente ele participou do Festipen, um festival de música do sistema penitenciário, e teve a oportunidade
de gravar duas de suas músicas em um CD. "Descobri que o ser humano em si é capaz de mudar sempre. Eu errei novo, estou pagando pelo que fiz e vou sair novo e com a capacidade de mudar", garante. O Grupo Vida Nova já tem agendadas oito apresentações para os próximos meses, além de uma participação especial em um evento que acontecerá em Belo Horizonte em outubro, o "BH pela paz". Neste evento, eles subirão ao palco com artistas como Milton Nascimento, Ivete Sangalo, Fernanda Takai e o Padre Fábio de Melo. Ainda de acordo com o diretor e produtor do Vida Nova, Fabio Alves Moreira, em breve o grupo vai gravar um CD.
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Junho • 2011
Apaixonados por camisas de futebol, colecionadores se veem em situações inusitadas para conseguirem mais peças para ocupar os acervos que mantém. Enfrentam as reclamações dos familiares, pagam caro por algumas e se confortam com centenas dessas, raras, das mais variadas épocas ou usadas pelos próprios jogadores em grandes jogos da história do futebol
A PAIXÃO POR CAMISAS DE FUTEBOL MARIA CALRA MANCILHA
n FREDERICO MACHADO, ÍGOR PASSARINI, PAULO MANGEROTTI, THIAGO BONNA, 4º E 1º PERÍODO
Camisa do Manchester United usada por David Beckham, passando por Santiago do Daegu FC da Coréia do Sul, até o Huddersfiled da 3ª Divisão Inglesa, todas elas ocupam o espaço de verdadeiros troféus no acervo mantido por colecionadores de camisas de futebol. Os jornalistas esportivos Frederico Jota, de 37 anos, e Fábio Pinel, de 32, além de serem colegas de trabalho, possuem a mesma paixão pelas camisas do futebol mundial. Frederico mantém uma coleção de 860 camisas guardadas em armários e caixas de papelão, classificadas de acordo com o país de origem do clube. Já Fábio diz que perdeu a conta de quantas camisas possui. Mas, segundo ele, foi uma camisa do Corinthians adquirida em 1994 que o incentivou a buscar outros modelos e iniciar sua paixão. Mas esse não é um hobby somente de jornalistas ligados ao futebol. Márcio Brito, 32 anos, analista de comércio exterior, tem carinho especial por times da Região Nordeste, muitos deles desconhecidos no resto do país. "Por minha família ser nordestina eu ganho e compro camisas dos times de lá, como do ASA de Arapiraca, Ipanema-AL,
Corinthians de Caicó, Santa Cruz", conta. Camisas raras são especiais para os colecionadores. Na busca por essas peças, eles passam por situações inusitadas. Frederico Jota conta que em sua viagem à República Tcheca encontrou uma camisa do Slavia Praga, preparada para jogo, e que apesar do preço abusivo, efetivou a compra. Márcio Brito também viveu uma experiência marcante para conseguir uma camisa do Atlético MG que nunca tinha visto, ao abordar um catador de latinhas na porta do Mineirão e passar por uma difícil negociação para conseguir a mesma. Frederico conta que a internet possibilitou aos colecionadores acesso a camisas de diversos clubes do mundo todo, principalmente em sites especializados de compras online. Porém, assim como ele, os apaixonados por camisas encontram algumas dificuldades. O alto preço das camisas é considerado a maior barreira na aquisição de uma nova peça. "O preço é um fator que atrapalha, não acho justo uma camisa de Atlético ou Cruzeiro custar R$169", diz o também jornalista Fábio Pinel, de 32 anos. "As camisas viraram objetos de desejos e com a tecnologia avançada usada no material, os preços foram lá pra cima", ratifica André Filipe Dutra Siqueira, conhecido como André Fidusi, jornalista, publici-
tário e ilustrador, de 34 anos. Apesar das coleções terem as mais diversas camisas, os colecionadores afirmam que existem sim algumas restrições. Para André Fidusi e Márcio Brito é inadmissível a presença de camisas de Flamengo e Cruzeiro nos seus acervos. Já Fábio Pinel, por torcer pelo Barcelona, jamais contaria com um exemplar do Real Madrid em sua coleção. Com centenas de camisas guardadas por toda a casa, Fábio Pinel já enfrentou reclamações de familiares e amigos. "Tenho problemas em casa, minha mulher fica louca, quer mudar de apartamento, ela fala 'você fica gastando seu dinheiro com isso'", diz Fábio. Tendo a paixão por camisas de times de futebol, Fidusi, Jota e Pinel resolveram criar o Blog Camisaria Futebol Clube. É neste espaço que eles publicam notícias sobre camisas novas, raras ou até mesmo inusitadas, mostrando também curiosidades e a história daquela camisa, algo que atrai fãs e outros colecionadores. O blog também ajuda na divulgação de encontros que são realizados a cada três meses e que vem crescendo. "O 1º foi um encontro numa mesa, um levou uma coisa, o outro já foi um pouco maior, e o 3º foi em um bar muito maior, com pessoas levando araras de camisas", conta Jota.
Márcio Brito já abordou um catador de latinhas na porta do Mineirão para conseguir uma camisa do Atlético- MG
Camisas que contam histórias O engenheiro civil Rafael de Souza Perez, 39 anos, possui 372 camisas do Atlético, todas preparadas para jogo, sendo que algumas foram usadas por grandes jogadores do clube. As camisas dividem espaço em um armário com outros objetos, como faixas de campeão, flâmulas, cartões postais, ingressos antigos e revistas com matérias sobre o Galo. Tudo começou aos 14 anos de idade, quando ele ganhou de seu
padrinho uma camisa utilizada pelo ex-jogador Zenon em 1986. Da década de 1970 até a atualidade, são raras as camisas faltantes na coleção. Na medida em que Rafael vai tirando as camisas do cabide, a história do Atlético é passada na forma de algodão a poliéster. Possui peças históricas como a do ex-zagueiro Vantuir, do time campeão brasileiro de 1971; a da final do campeonato brasileiro de
1980 usada pelo pontadireita Pedrinho; a camisa com cinco estrelas vermelhas em alusão ao pentacampeonato estadual conquistado entre 1978 e 1982, e até mesmo camisas com patrocinadores que duraram apenas uma partida, todas elas estão presentes na coleção do engenheiro. Ele diz que pesquisa os detalhes das camisas, por meio de reportagens da época, fotos e vídeos dos jogos para identificar a origem do "manto sagrado".
De Belo Horizonte a Porto Alegre em sete dias RENATA FONSECA
n FABRÍCIO LIMA, ÍGOR PASSARINI, 1º PERÍODO
Vigia do Museu Histórico Abílio Barreto, localizado no Cidade Jardim, na Zona Sul de Belo Horizonte, José de Castro, 35 anos, continua a praticar o cicloturismo em viagens realizadas nas suas folgas e férias. José, que em 2008 foi notícia no MARCO, após realizar sua primeira viagem de bicicleta até outro estado para conhecer o mar, agora foi ainda mais longe. Dessa vez, ele passou pelo antigo destino, Florianópolis, e foi até a capital do último estado da federação, Porto Alegre. José de Castro trabalha um dia sim e outro não, chegando a pedalar 500 quilômetros por semana. Sempre que está de folga procura fazer alguma viagem para cidades próximas. "Costumo ir até Nova Serrana, Itabira, Monlevade", conta. Estas viagens se tornam treinamentos para as mais longas e
José pedalou 1.715 Km para ir de BH a Porto Alegre,esse foi o maior percurso desde que começou a praticar cicloturismo geralmente em percursos como esses, por cidades do interior, a passagem de José de Castro é bem rápida. Para essa viagem a Porto Alegre, José gastou sete dias pedalando, além de outros sete visitando pontos turísticos do estado até voltar no
15º dia de avião, pois só conseguiu esse período de férias. Dentre os lugares que visitou, estão Gramado e Canela, municípios da serra gaúcha. Segundo o ciclista ele não pesquisa antes sobre onde está indo, porque prefere conhecer as cidades do
jeito dele e sempre registrando tudo com sua maquina fotográfica. O vigia pedalava o dia todo para conhecer os principais pontos turísticos da capital gaúcha, e ao chegar nesses locais e se apresentar, contar sua história, as pessoas
se impressionavam. "Eles ficam admirados, só acreditam porque estou lá", conta José de Castro, ao revelar que conversou muito com pessoas da cidade. Esse foi o maior percurso que fez desde que começou a praticar o cicloturismo há 15 anos, foram impressionantes 1.715 km partindo de Belo Horizonte. José de Castro pedalou diariamente cerca de 300 km e ao anoitecer sempre se hospedava em algum hotel da região onde estava. Durante o trajeto o ciclista pernoitou em seis cidades,antes de chegar a Porto Alegre, foram elas: Três Corações; São Paulo; Registro; São Marcos; São José e Sombrio. Durante o percurso José enfrentou algumas dificuldades na BR 101 por ser uma estrada estreita onde passam muitos carros e para piorar, esse percurso foi feito sob uma forte chuva. Ele diz ser necessária uma manutenção a cada 250 km, e que durante esses sete dias furou o pneu três vezes. Os gastos para as viagens
são grandes e na maioria deles José de Castro não conta com nenhum tipo de ajuda. Na viagem até Porto Alegre foi gasto um total de R$ 2.320, sendo que os gastos com hospedagem e alimentação foram todos bancados pelo ciclista, já a viagem de volta, de avião, foi presente de Taís Pimentel, ex-diretora do museu onde José trabalha e que após conhecê-lo se sensibilizou por sua vontade de desbravar distancias de bicicleta. José de Castro procura superar seus limites a cada viagem e já está programando uma aventura ainda mais longa, para Fortaleza, mas ainda não tem previsão da data desta próxima viagem, pois depende de suas férias, ou de troca de horários com colegas de trabalho. O sonho do ciclista é jamais deixar de pedalar e, pensa cada vez mais longe, pretende conhecer outras capitais brasileiras como Brasília e Cuiabá, além de chegar a Buenos Aires, capital da Argentina.
Esporte Junho • 2011
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JOGADORES TÊM APOIO DA FAMÍLIA MARIA CLARA MANCILHA
As Famílias de jogadores de futebol têm que adaptar suas rotinas para acompanhar os craques em suas carreiras
mento financeiro grande. Alberti confessa que já chegou ao ponto de dizer para o filho "ah, larga isso (futebol)!", mas o filho sempre insistiu e ainda insiste no sonho. A rotina da família mudou bastante desde que o filho se tornou jogador, principalmente quando ainda não era profissional. "Principalmente porque tive que trabalhar mais, para sustentar o meu filho durante as viagens. Muitas vezes dando até o que não tinha", revela Alberti. Ainda de acordo com a famíla do jogador, apesar dos desafios desse meio, quando aparece algum empresário há um diálogo entre este e os pais, o que leva a família a ficar mais tranqüila em relação a segurança de seu filho.
n GIOVANNA DE PAULA, 1º PERÍODO
A profissão de jogador de futebol exige uma mudança constante de local, além de outras adaptações, que ocorrem ao longo da sua carreira, e conforme os clubes de atuação. Desta forma, não só o jogador tem a sua rotina alterada, mas toda a sua família, que acaba embarcando junto nessas peculiaridades da carreira futebolística. O primeiro desafio da família, quando o jogador começa a trilhar os primeiros passos da profissão, é saber contornar a preocupação e se adaptar às mudanças necessárias. Maria Cândida Simões Leite, 59 anos, que é mãe do zagueiro Léo, 23 anos, do Cruzeiro, explica como se sentiu no início da carreira de seu filho. "Eu fiquei muito preocupada, porque ele tinha 12 anos quando foi para o Rio Grande do Sul, mas eu ficava pensando que se eu o proibisse, mais tarde ele poderia falar que teve uma oportunidade de ser um jogador, só que eu não permiti", conta. Além da dificuldade do início da carreira, momento no qual a situação do jogador é instável, deve-se levar em consideração o fato de que em alguns casos a família não pode acompanhar o jogador em suas mudanças. A exemplo desta questão, Maria Cândida afirma que sofreu muito durante o tempo em que o Léo morou fora, primeiro em Porto Alegre, quando jogava pelo Grêmio, depois em São Paulo, quando defendeu o Palmeiras. Segundo ela, no início da carreira, seu filho algumas vezes lhe telefonava chorando e pensava em
Maria Cândida Simões Leite é mãe do Zagueiro do Cruzeiro Léo e lida com o fato de morar longe do filho já que não pôde acompanhá-lo desistir do futebol, devido à saudade da família. A mãe conta que sempre o incentivava a continuar na busca pelo seu sonho. Ela ainda relata que não se mudou com o seu filho porque já havia construído uma vida em Belo Horizonte, além do que precisava ajudar suas duas outras filhas. Em meio a todo esse processo, o jogador tem que aprender a equilibrar as relações familiares com o sonho do futebol, e muitos deles desempenham com êxito esta tarefa. A respeito disso, Leonardo Renan Simões de Lacerda, o Léo, diz que apesar das dificuldades encontradas para se comunicar com a família, foi possível levar uma vida normal. Segundo ele, por ter saído de casa muito cedo, enfrentou muitas situações sozinho, e isto o fez amadurecer. Léo ainda relata, que sua mãe o fez prometer que conciliaria o futebol com os estudos, e este assim o fez.
E dentre as poucas vezes que Maria Cândida foi visitá-lo no Rio Grande do sul, ambos destacam uma em especial, que foi na primeira partida do Léo como profissional, que ocorreu um dia antes do seu casamento. A consolidação da carreira de um jogador de futebol ocorre juntamente com a organização da família em prol desse objetivo, já que esta é base de qualquer pessoa. Para comprovar essa idéia, atualmente com o fato de o Léo jogar no Cruzeiro, time do qual também é torcedor, e morar em Belo Horizonte, Maria Cândido afirma ser um pouco mais fácil a convivência, pois sempre que é possível o Léo vai a sua casa ou a convida para alguma confraternização em família. De qualquer forma, a mãe de Léo diz entender a rotina de um jogador de futebol, e conclui que seu maior desejo é que seu filho seja feliz na profissão
e continue sempre humilde e persistente. FENIX A primeira oportunidade de Fenix Gonçalves, como jogador de futebol, surgiu aos 14 anos. Nesta época ele viajou para o Rio de Janeiro, e, para isso, largou a escola, com o objetivo de se tornar um profissional na área. Segundo os pais do jogador, Alberti Gonçalves, de 42 anos, e José Antônio, de 47 anos, as maiores dificuldades encontradas pela família durante as viagens do filho são a saudade, e também a ansiedade, causada por um possível alongamento ou cancelamento de contrato de trabalho. As viagens costumam durar de seis meses a um ano. Na opinião dos pais de Fênix, a estrutura atual das organizações de futebol, muitas vezes, desfavorece os jogadores que não possuem condições de um investi-
ROBSON Ao ser questionado se a reiterada mudança de moradia é capaz de influir na vida de um jogador de futebol, Robson Lucas, diz que a resposta está na personalidade de cada jogador e na sua relação com a família. De acordo com ele, a maioria dos jogadores possui um temperamento mais explosivo, dado o grau de competitividade que a prática do esporte exige. Ciente deste fato, a família ao ensiná-lo valores importantes e ao apoiá-lo, lhe proporciona maior tranquilidade para enfrentar os desafios da carreira. De acordo com Robson Lucas, o ambiente familiar é fundamental para a transição da categoria aspirante para a profissional, o que para muitos jogadores significa assumir responsabilidade precoce. "Num sentido mais amplo, devo dizer que um ambiente familiar bem estruturado é a base de qualquer sucesso na vida profissional, seja qual for a profissão. É lá que existe o respeito, o amor incondicional, o companheirismo e o apoio, imprescindíveis na vida de qualquer atleta", diz.
Projeto leva esgrima para cadeirantes na capital RENATA FONSECA
n FABRÍCIO LIMA, ÍGOR PASSARINI,
intenção de ampliar a divulgação para contar com mais alunos.
1º PERÍODO
O Centro de Referência Esportiva para Pessoas Portadoras de Deficiência (CRE-PPD), localizado na Avenida Nossa Senhora de Fátima, no Bairro Carlos Prates, implantou, em fevereiro deste ano, o primeiro projeto de esgrima para cadeirantes de Minas Gerais. O espaço, que existe desde 2003 e faz parte do projeto Superar da prefeitura de Belo Horizonte, oferece diversas atividades esportivas para a inclusão de pessoas com deficiência física. O projeto foi montado em parceria com o setor de esgrima do Barroca Tênis Clube. O Barroca fornece os materiais e os professores, além do seu espaço para a realização do projeto uma vez por mês, já que a cada três aulas no centro de referência, uma ocorre nas dependências do clube, para que haja o intercâmbio entre os cadeirantes e os outros praticantes da modalidade. O programa, gratuito, ocorre todas as segundas-feiras, das 20 às 22 horas e conta, inicialmente, com seis alunos. Segundo o coordenador do espaço no turno da noite, José Gontijo Maia, o objetivo do projeto, além da integração social, é formar atletas para a disputa de competições nacionais e internacionais, e por isso existe a
ADAPTAÇÕES A esgrima surgiu há três mil anos praticada por gregos e egípcios e possui três modalidades básicas: o florete, a espada e o sabre, que se diferenciam no formato da lamina e nas áreas de toque permitidas. No projeto para cadeirantes é utilizada a modalidade espada. Um dos professores do projeto, Kleber Silveira de Castro, afirma que é muito fácil de adaptar o esporte para pessoas na cadeira de rodas. "As adaptações para a prática da esgrima para cadeirantes são simples, a única diferença é que as cadeiras ficam fixas no chão.", explica Kleber. Segundo ele, como todos os esportes praticados por deficientes físicos, a esgrima é dividida em categorias de deficiência que são: A: Paraplégico ou com a perna amputada, nenhum tipo de deficiência acima do tronco; B: Leve perda de movimentos do braço e articulações acima da cintura; C: Perda maior de movimentos no braço. As roupas e equipamentos utilizados são os mesmos da esgrima convencional. PERSPECTIVAS Viver em uma cadeira de rodas pode ser muito complicado, principalmente para quem praticava esportes e que por um momento considerou que não poderia fazer isso novamente.
O projeto é o primeiro de Minas Gerais e visa, além da integração social, formar atletas para competir nacional e internacionalmente Mas são muitos os casos de pessoas que encontraram na esgrima uma motivação a mais para seguir em frente. Antonio Ferreira Melo, 32 anos, conta que ficou sabendo da esgrima através de divulgação interna, pois já pratica outras modalidades no local. Antes de adquirir a deficiência praticava diversos esportes. Foi um acidente em 2007, num vôo de asa delta, que o colocou na cadeira de rodas. Marcio Vieira Neves, 40 anos,
conheceu o projeto através de uma visita com seu fisioterapeuta ao espaço, e coincidentemente estava sendo realizada a aula inaugural da esgrima no CRE-PPD. "Me empolguei porque até então só tinha visto esportes com bola que é uma coisa que nunca me interessei", conta. Márcio era ciclista e foi atropelado há três anos. Hoje se diz 80% feliz após adquirir a deficiência, crê que chegar aos 100% seria impossível, pois as limitações são reais e não podem
ser desconsideradas. Seu principal interesse é participar de competições, pois sempre foi uma pessoa competitiva. Projetos como esse também levam alegria aos familiares e amigos dos alunos. Virgilio Teixeira, 60 anos, é tio de Márcio e o acompanha a todos os lugares. Ele conta que as aulas estão fazendo muito bem para seu sobrinho: "Agora ele tem novas expectativas e desejos", afirma.
Lya Luft
Entrevista
ESCRITORA
RENATA FONSECA
n CÍNTHIA RAMALHO,
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5º PERÍODO
Apenas uma escritora. É assim que a gaúcha Lya Luft se descreve. Nascida em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, Lya já traduziu mais de cem livros para o português, escreveu poemas, contos e crônicas, mas foi com seu primeiro romance, "As Parceiras", publicado em 1980, quando tinha 40 anos, que ela se firmou na carreira de escritora. Assumiu, em 2004, uma coluna quinzenal na revista Veja, tornando-se a primeira mulher a escrever para a publicação. Aos 72 anos, com 23 livros publicados, Lya acaba de lançar "A Riqueza do Mundo", livro de ensaios em que aborda temas como a morte, educação, família e política. Em entrevista ao MARCO, a escritora classifica como primitiva a atitude de quem considera livros que vendem muito ruins. Lya conta que busca em seus livros uma linguagem mais simples, que a aproxime de seus leitores e fala da sua relação com as editoras. "O meu livro agora, virou um objeto de comércio. Essa é a realidade", revela. Além disso, a escritora aborda temas como o que considera um jeito feminino de exercer o poder e critica o movimento contra o estrangeirismo na Língua Portuguesa. "A língua não precisa ser defendida, a língua é soberana. Então, deixem a língua em paz", declara.
n A senhora disse que ficou muito surpresa com o livro "Perdas e Ganhos", considerado um best-seller. Como foi chegar até lá? A senhora tem algum tipo de preconceito com essas classificações? “Perdas e Ganhos” é um livro que já está distante, foi em 2003. De lá para cá eu publiquei três [livros] infantis, publiquei poesia, dois de crônicas, um de contos. Eu acho que a questão do “Perdas e Ganhos” é que ele realmente fez muito sucesso. Tem pessoas que acham que livro que vende bem não presta, mas então teriam que dizer Virgínia Woolf vendeu muito, Clarice [Lispector] hoje em dia vende muito. Eu acho essa uma atitude bastante tacanha e primitiva de quem não sabe o mundo literário como é que é. Então foi um livro que deu muito sucesso, não fiz outro igual porque não sou de fazer receita para ganhar dinheiro, embora seja bom e isso para mim está encerrado. Agora, se as pessoas acham que é best- seller, não tem nenhuma importância isso para mim.
n A senhora espera que o novo livro, "A Riqueza do Mundo", alcance todas essas pessoas? Existe alguma expectativa? Não tenho nenhuma expectativa, porque eu publico um livro e depois que eu entreguei para o editor, meu livro vira um objeto comercial, da casa editora e das livrarias. O meu livro agora virou um objeto de comércio. Essa é a realidade. Agora, a minha relação com os meus leitores, isso é uma coisa muito pessoal, há sempre uma grande afinidade dos leitores comigo, com os meus personagens e com as minhas ideias. Isso é que garante uma carreira de 30 anos ou 40 anos, mas eu nunca tenho expectativa. Eu quero que venda bem, porque significa que muita gente vai gostar. Agora, eu acho que essa questão, a expectativa de que venda muito, de que seja isso, tira a alegria da gente. Eu acho que você faz a sua arte pelo prazer e eu, muito para interagir com os meus leitores.
n A gente percebe a preocupação com uma linguagem mais coloquial, que se aproxima mais do leitor. A senhora sente essa necessidade de que o leitor esteja próximo daquilo que retrata no papel? Eu escrevo para o leitor. Primeiro escrevo para mim mesma. Conto historinhas ou discorro, ensaio escrever sobre diversos assuntos, primeiro para mim. É uma maneira de ordenar meus pensamentos. Mas em segundo lugar, ou quase concomitante, eu também escrevo para um leitor. Eu tenho procurado, através dos anos, uma linguagem simples, inclusive nos meus romances complicados, inclusive nos meus contos complicados de dois ou três anos atrás, que é "O Silêncio dos Amantes". Eu tenho sempre a busca por uma linguagem simples, porque eu quero que a minha linguagem seja transparente, eu quero que a minha linguagem não se interponha entre o meu leitor e os meus personagens ou eu mesma, dependendo do texto.
n No poema que abre a primeira parte do livro, "Deuses e Homens" a senhora fala que os deuses estavam muito inspirados e criaram uma série de coisas e para atrapalhar, o homem. O homem é realmente um perigo para o mundo? Eu acho que o ser humano foi uma trapalhada dos deuses. E, por outro lado, o ser humano tem essas coisas maravilhosas. Ele cria a arte, cria filhos, cria laços, cria arquiteturas, cria novidades na medicina que salvam vidas, mas também cria muita confusão. Ele arma a guerra, violência, se droga. Então, ele é um ser conflitante e ambíguo, por isso que ele é interessante. Por isso é que eu escrevo a respeito.
n O ensaio "Os Meus Olhos Azuis" fala sobre o preconceito. Hoje, vivemos a questão do bullying. Esse é um problema contemporâneo e que está sendo muito explorado? Eu acho que é um problema que sempre existiu. Sempre existiu os que são chamados de baixinhos, os que são chamados de gordinhos, de magrelos, de vara pau, de girafa, de vesgo, de preto, de branco, de alemão. Eu acho que faz parte do imaginário do ser humano ter medo do
“EU PRESERVO AS
MINHAS PALAVRAS PARA OS MEUS LIVROS, POR ENQUANTO”
APENAS UMA ESCRITORA diferente. O medo do diferente provoca o preconceito e nas escolas, o bullying. É que agora virou um pouco moda. "Ah, houve bullying". Sempre existiu. Talvez exista mais agora, porque nós estamos todos mais violentos, mais agressivos. Nós estamos nos transformando em uma sociedade agressiva e violenta, veja no trânsito. Então, isso obviamente se reflete também, muito especialmente, entre as crianças e os pré-adolescentes, que ainda são muito moldáveis, são muito flexíveis e nós adultos, quem sabe, com os nossos preconceitos, com a nossa agressividade, com a nossa linguagem, com a nossa violência em casa, lhes incutimos essa história. Mas eu acho que um pouco é uma moda falar no bullying. Ele existe, deve ser combatido, mas ele faz parte, infelizmente, da violência da nossa sociedade.
n Alguma vez a senhora já pensou em desistir de escrever? Não. Não vejo por quê. Eu fiquei sem escrever há alguns anos, uns seis anos, em certo período da minha vida, mas era por razões pessoais. Eu nunca pensei em desistir, Enquanto eu me divirto, enquanto me faz bem, enquanto me alegra, eu vou escrever. O dia que eu achar chato, eu vou parar.
n Antigamente o lugar do escritor e do leitor era bem delimitado. Com a internet isso se modifica. Os próprios leitores estão produzindo e até mesmo produzindo críticas que se propagam muito rápido e atingem um número muito grande de pessoas. Como a senhora lida com isso? Não sei. Eu não lido. Eu acho que faz parte da evolução do mundo moderno. O mundo vai para frente, não volta atrás. Eu não tenho blog, eu não tenho twitter. Existe um blog, mas não é meu, parece que é uma pessoa aqui de Minas que está fazendo esse blog. Ele é muito respeitoso, ele diz ali não oficial, portanto só pode reproduzir frases de artigos ou de poemas ou de livros meus. Parece que tem 30 e tantos mil seguidores, mas eu não quero ter [um blog]. Primeiro, porque o que eu tenho a dizer, eu digo nos meus artigos e nos meus livros. Segundo, eu não me imagino assim "Hoje eu acordei. Está um lindo dia de sol. Vou passear com meu cachorro. Não gostei do que disse o deputado tal" eu preservo a minha palavra para os meus livros, por enquanto. Outro dia eu posso mudar de ideia, estou todo dia mudando de ideia. Então, as críticas e os elogios, eu sei que logo que começou essa questão de internet, alguém me disse que tinha no Orkut, ou alguma coisa assim, um grupo "eu amo Lya Luft" e "eu odeio Lya Luft". Olha, eu não quero ver. Não me interessa. Ou eu vou olhar só o "Eu amo Lya Luft", o "Eu odeio" não. Não sei se isso ainda existe então eu acho assim, eu sou muito interessada nas coisas modernas, mas eu não vou me escravizar a elas. n A senhora diz que não classifica a literatura que faz como feminista? Não. Eu acharia horrível. Eu não sou nem feminista, nem feminina, nem nada. Existe literatura. Que por acaso é feita por homens e mulheres. A questão de literatura de mulheres, como é esse seminário do qual eu vou participar hoje, existem seminários, eu já participei de vários, em vários países do mundo, porque é uma questão ainda não resolvida. Deverá chegar um dia no futuro, como nós não fazemos seminários sobre literatura masculina, também não vamos mais fazer sobre literatura feminina. Vamos fazer sobre literatura. Mas eu acho que isso revela que a questão toda ainda não está resolvida, como não está. A entrada da mulher no mundo fora do quarto, da cozinha, da sala ainda é, dentro da história da humanidade, uma coisa recente. n Mas às vezes, entrar em problemáticas como a questão da violência contra a mulher, do próprio jeito de exercer o poder feminino, isso não é uma visão feminista ou talvez um olhar feminino? Eu acho que essa questão da palavra feminino e feminista não tem mais nada a ver. O feminismo foi um movimento importantíssimo na sua época. Então, eu acho que
hoje, qualquer mulher que não seja uma escrava, no fundo seria uma feminista e eu não gosto desses rótulos. Eu acho que o rótulo já terminou. Agora, há questões muito importantes e eu escrevo sobre elas bastante, inclusive nesse meu novo livro que é "A Riqueza do Mundo", que é sobre o qual eu estou falando e estou trabalhando em cima, que é a questão, por exemplo, de como a mulher lida com o poder, que é uma coisa muito complicada. As mulheres, no fundo, pelo menos no seu imaginário mais arcaico, são um pouco criadas para agradar. E o homem terá medo da mulher no poder. Muitas vezes me fazem essa pergunta "A senhora acha que o homem tem medo da chamada nova mulher?". Eu digo sempre que os bobos têm medo e esses não nos interessam. Os interessantes estão achando legal ter uma parceira e não uma escravinha. Mas é uma questão bem mais complicada do que isso. Nós não temos ainda muitos modelos de mulheres no poder. Nós temos as primeiras ministras, as primeiras grandes empresárias, temos hoje uma presidente. Nós estamos, na verdade, nos inventando ainda no poder. Como é que vamos exercer o poder? À maneira masculina, correndo o perigo de nos tornarmos caricaturas de homens, a chefona, a sargentona? À maneira feminina? Mas ela existe? Como ela seria? Doce, cor de rosa, Deus nos livre! Então é interessante, porque a gente está em busca ainda dessa postura. Nós estamos sendo, na verdade, praticamente pioneiras.
n A senhora foi linguista, trabalha como tradutora, escreve. Tem liberdade para utilizar as palavras? Eu acho que o ser humano é o senhor das suas palavras. Nós deveríamos poder usar todas as palavras. Posso não usar algumas para não ofender alguém, quando não quero magoar alguém. Posso não usar algumas por questão de recato, de elegância, não preciso sair escrevendo palavrões chulos, ou coisa assim. Eu acho que as palavras são para ser usadas, mas elas também são para ser amadas, respeitadas, apreciadas. Então, eu acredito sim que o homem é o senhor das palavras. Ele deve ser, tanto que eu ando implicando, e o meu artigo da Veja desse fim de semana é sobre isso, um certo movimento, que está bem acentuado no Sul, mas também acho que tem no senado, de querer policiar as palavras. Então, estrangeirismo não pode, tem que traduzir, tem que defender a língua. A língua não precisa ser defendida, a língua é soberana. Ela vai aceitar as palavras que interessam, que são boas, vai integrar no sistema, assim football passou a futebol, a língua faz isso. Então, deixem a língua em paz. n Qual a importância da atividade como colunista em uma revista? Por que ficar tanto tempo em um mesmo veículo, muitas vezes criticado pela posição não muito imparcial? A senhora já pensou em mudar de veículo? Não. Eu assumo a posição da Veja. Eu sou inteiramente a favor, senão não escreveria para ela. Eu acho que ela critica muitas coisas do governo de que eu não gosto também. Eventualmente ela é muito mais violenta do que eu sou. Eu sou uma pessoa muito mais observadora do que uma crítica. Eu não quero ter muito envolvimento político, porque eu não respeito a política brasileira como ela é feita hoje na grande maioria dos lugares no Brasil. Eu tenho reservas enormes. Eu escrevo na Veja, porque eu gosto muito de escrever na Veja. Nunca me ocorreu sair de lá. Tenho liberdade total. Eu só tenho dois deveres: um é entregar [os textos] a cada quinze dias e o outro é escrever 3983 caracteres com espaços. O resto, inteira liberdade eu tenho, de maneira que se eu quiser elogiar o governo, qualquer coisa, não há censura nenhuma. Mas de um modo geral, eu apoio bastante a posição da Veja. Alguém tem que reclamar. Às vezes reclama um pouco excessivo, mas eu não sou dona, nem crítica nem censora da revista, mas gosto muito de escrever na Veja. Estou lá acho que há seis anos, nunca pensei em mudar. Me sinto livre, me sinto à vontade, gosto da revista, não acho que haja nenhuma melhor do que ela, que me dê vontade de escrever.