A mágica ganha espaço no mercado. O mágico Kellys ensina truques de ilusionismo em sua loja, que fascinam crianças e adultos. Página 11
MARIA CLARA MANCILHA
RENATA FONSECA
FREDERICO MACHADO
Em entrevista ao MARCO, Cristiano da Matta revela planos, momentos importante da carreira e a paixão pelo automobilismo. Página 16
Nova unidade da Borrachalioteca leva leitura, informação e cultura para os detentos do Presídio Municipal de Sabará. Página 13
marco jornal
Ano 39 • Edição 283
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Julho • 2011
RENATA FONSECA
FALTA ESPAÇO Em visita a quatro centros de saúde da Região Noroeste, o jornal MARCO ouviu moradores e responsáveis pela organização dos postos e identificou uma série de fatores que prejudicam o atendimento dos pacientes. O problema de espaço físico é o mais recorrente. Os gerentes dos postos precisam se desdobrar para acomodar suas equipes, incluindo o rodízio de consultórios, adotado na unidade do Califórnia, iniciativa que visa permitir o atendimento ao maior número de pacientes.
Páginas 8 e 9 ALINE SCARPONI
Desinformação sobre obras no Anel Rodoviário As pessoas que moram nas imediações do Anel Rodoviário em Belo Horizonte não sabem para onde vão quando iniciarem as reformas de duplicação e modernização da via. A obra, que foi anuncia-
da em fevereiro deste ano ainda não começou, mas gera uma série de dúvidas para os moradores, que carecem de informações sobre quando e como o reassentamento vai acontecer. Página 5 RENATA FONSECA
Histórias de quem chega e sai de BH A Rodoviária de Belo Horizonte recebe aproximadamente 40 mil viajantes todos os dias. São pessoas que vêm das mais diferentes localidades e trazem em suas bagagens as mais diferentes histórias.
Cada viajante é protagonista de enredos fascinantes, em que a vida e eles mesmos são os escritores. Histórias de alegrias, tristezas, sonhos e conquistas que embarcam e desembarcam na capital. Página 7
Amnésia alcoólica causa transtornos
Escolas da Região Nordeste de BH sofrem com a falta de infraestrutura
A ingestão de bebidas em exagero está cada vez mais presente na vida dos jovens. Como consequência, a amnésia alcoólica vem sendo um problema enfrentado por muitos. Quem
Problemas em infraestrutura e atendimento são os principais dilemas enfrentados e compartilhados por escolas públicas localizadas na Região Nordeste de Belo Horizonte. A dificuldade em conseguir verbas para a execução de projetos
bebe não se lembra, mas quem presenciou não esquece as situações que em primeiro momento podem ser engraçadas, mas que representam sérios riscos. Página 10
pedagógicos e a carência de capacitação de pessoal são realidades vivenciadas pelos diretores dessas escolas, que receberam a visita do MARCO. Apesar das dificuldades as instituições de ensino ali situadas se esforçam para garantir um ensi-
no de bom nível. Funcionários lamentam, no entanto, nem sempre conseguirem oferecer aos alunos serviços importantes como atendimento psicológico e fonoaudiológico, tendo que encaminhar os alunos para outros locais. Página 4
2 Comunidade
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Julho • 2011
EDITORIAL
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Saúde, educação e direitos humanos são alvos de desatenção n LILA GAUDÊNCIO, 7º PERÍODO
Em suas edições, o MARCO trata de assuntos recorrentes que são de interesse da população de Belo Horizonte, especialmente das regiões Noroeste e Nordeste, onde estão situadas as unidades Corações Eucarístico e São Gabriel da PUC Minas. A partir de visitas aos postos de saúde da Noroeste e às escolas estaduais da Nordeste, a equipe do jornal produziu reportagens publicadas neste número, que procuram avaliar os serviços prestados à comunidade. Além disso, a situação esquecida dos moradores do entorno do Anel Rodoviário, foco de problemas que se tornaram crônicos, também foi abordada. Em todas essas reportagens, a preocupação com o lado humano está presente. Na matéria sobre a saúde na Região Noroeste, por exemplo, quatro de centros foram focados, constatando-se um problema comum: a infraestrutura dos lugares. A inadequação do espaço físico é uma característica que atinge a todas essas unidades. Infelizmente não são apenas os profissionais da saúde que precisam lidar com as dificuldades decorrentes de uma carência estrutural. Professores, funcionários e alunos de três escolas da rede estadual situadas na Região Nordeste também lidam diariamente com a precariedade da infraestrutura. A insuficiência dos investimentos governamentais obriga, que, em ambos casos, tanto na saúde quanto na educação, os profissionais sejam obrigados a recorrer até a improvisações na busca para problemas diversos. Nas imediações de uma famosa via expressa da capital mineira, o Anel Rodoviário, a aflição é gerada pela desinformação. Os moradores das proximidades do Anel convivem com o mesmo descuido sofrido pelos gerentes dos postos e pelos funcionários das escolas públicas. Uma desorientação originada pelas reformas de ampliação da via expressa, anunciadas pela Prefeitura de Belo Horizonte em fevereiro deste ano. Depois de cinco meses, os moradores ainda não foram informados para onde irão após o início das obras. Enquanto essas pessoas precisam encontrar soluções mágicas para burlar as adversidades da vida cotidiana, outras lidam com a mágica profissionalmente. Mágicos de Belo Horizonte revelam nessa edição seus segredos para conseguir viver economicamente dessa arte secular, encantando crianças e adultos. Encantamento também gerado no Presídio Municipal de Sabará onde os detentos ganharam uma fonte de conhecimento: uma nova unidade da Borrachalioteca. O projeto, idealizado por Marco Túlio Damascena, proporciona a leitura, libertando a mente daqueles que estão fisicamente presos. Assim, as histórias que os presidiários leem nos livros de sua biblioteca podem também ser encontradas a cerca de 25 quilômetros dali, na Rodoviária de Belo Horizonte. Como uma novela, os enredos cativantes das histórias de vida dos 40 mil viajantes que passam pelo terminal diariamente emocionam pela sua intensa sinceridade e valorização do sentimento e da vida humana. Na última edição do semestre do MARCO, a mesma paixão dos viajantes da Rodoviária não poderia ficar de fora da entrevista. O piloto mineiro Cristiano da Matta revela momentos importantes de sua trajetória, assim como perspectivas futuras para sua carreira.
EXPEDIENTE
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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. José Francisco Braga Coordenador do Curso de Jornalismo / São Gabriel: Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Bianca de Moura, Carlos Eduardo Alvim, Cínthia Ramalho, Keneth Borges, Laura de Las Casas, Nathália Amado, Pedro Vasconcelos. Samara Nogueira e Tamara Fontes Monitores de Fotografia: Renata Fonseca e Maria Clara Mancilha Monitora de Diagramação: Lila Gaudêncio Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares
BAIRRO SOFRE MUDANÇA n ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 8º PERÍODO
O Bairro São Gabriel, na Região Nordeste de Belo Horizonte passa por transformações com o desenvolvimento e crescimento em todas as direções, seja no comércio, com suas ofertas de produtos e serviços, seja nas construções de imóveis residenciais. Com atração do olhar de todas as regiões da Capital, por causa da anunciada construção da nova rodoviária, a tendência é de mais melhorias. Pessoas que escolheram aquele bairro para fixar suas moradias ou mesmo para trabalhar, testemunham esse crescimento. A chegada da PUC Minas, é sempre citada como uma grande conquista do bairro. Moradora há 40 anos na região, a dona de casa Geralda das Graças Campos, 48 anos, relembra que nessas quatro décadas, chegaram ao São Gabriel grandes frigoríficos, duas grandes redes de supermercados e a 16ª Cia. da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). “Todo mundo está progredindo, crescendo”, observa Geralda. Assumidamente moradora de uma área invadida, a também dona de casa Maracy Areal, 60 anos, sente-se apreensiva sobre a possibilidade de remoção, tendo em vista a construção da nova rodoviária, mas reconhece os aspectos positivos do crescimento da região. “São boas as transformações do São Gabriel. Aqui se encontra de tudo. Não precisa sair daqui para comprar muitas coisas. Tem muita condução [ônibus coletivos], para vários bairros. Aqui é joia”, afirma. Com tráfego intenso de veículos, ela aponta a falta sinalização
Por causa da construção da nova rodoviária, o Bairro São Gabriel é alvo de várias melhorias ANTÔNIO ELIZEU
A moradora Maracy Amaral está preocupada com a remoção para construção da nova rodoviária no bairro São Gabriel como uma falha. “Aqui nessa esquina [ruas Walter Ianni com rua Anapurus] têm muitos acidentes, principalmente de motos. Outra moradora, Lourdes Fernandes do Amaral, 54 anos, há 19 anos reside no bairro São Gabriel, faz um comparativo com seu domicílio anterior, no bairro Cachoeirinha. “Aqui encontramos tudo, é muito diferente de lá”, diz. Ela lembra de um fato importante para quem não possui veículo, como é o caso dela, quando faz compras, em supermercados, por exemplo. É a entrega em domicílio das compras, feitas por alguns estabelecimentos comerciais. Morador do Bairro Tupi, na Região Norte, Rodson Dias Gomes, 21 anos, balconista, trabalha há cinco anos no São Gabriel, num comércio de rações para animais, banho e tosa, diz que hoje melhorou muito. “Com a construção da ponte que liga
as regiões Norte e Nordeste, na Via 240, ficou mais fácil. Antes tinha que dar uma volta enorme para o mesmo trajeto. Junto à construção daquela ponte, também a pavimentação da avenida Pe .Argemiro Moreira, antiga av. Beira Linha]”, destaca. Com essas obras, ele acredita que a segurança melhorou muito, visto que já foi vítima de assalto por três vezes em outros tempos, o que não aconteceu mais. Também morador de outro bairro, Domingos Sávio Velosi, 50 anos, comerciante, trabalha há 20 anos no depósito de materiais de construção. Para ele, o bairro São Gabriel melhorou muito. “Hoje as vias estão todas asfaltadas. Antes era tudo de terra”, relembra. Ele frisa que hoje os produtos comercializados no depósito onde trabalha são de qualidade bem superior em comparação com alguns anos atrás, devido a essa melhoria das construções.
ESPERANÇA A Associação de Desenvolvimento do Bairro São Gabriel está atenta as transformações ali ocorridas e mantém-se vigilante para preservar o que já foi instalado e trabalhar mais melhorias. Sebastião José Freitas, 80 anos, mora há 43 anos no bairro São Gabriel é o atual presidente. “O bairro São Gabriel está cheio de esperança”, ressalta. Essa declaração se deve à expectativa da construção do novo terminal rodoviário da capital mineira no bairro. “Os investimentos estão voltados para o São Gabriel. Muitas empresas querem investir aqui”, diz. Para ele, “a construção da nova rodoviária vai trazer muitos benefícios e criar novos empregos. Na fase de construção, para pessoas de pouca leitura, os profissionais da área de construção civil.”
Calçadas incomodam moradores RENATA FONSECA
n TAMARA FONTES, 3º PERÍODO
Moradores enfrentam dificuldades ao transitar pelas ruas de bairros da Região Noroeste. Entulhos são encontrados nas calçadas obrigando a passagem dos pedestres pelas vias de trânsito, os estabelecimentos comerciais não fiscalizam seus estacionamentos e os carros param em lugares proibidos que deveriam ser espaços livres. Há também os bares que depositam suas cadeiras e mesas numa área maior que a permitida. Tudo isso causa insatisfação nos moradores. A calçada da rua Guajará do bairro Dom Cabral se encontra bloqueada por um entulho de britas, o estabelecimento que se encontra na frente negou ser responsável como os demais moradores da vizinhança. Para caminhar por ali é preciso desviar mais de uma vez para chegar ao destino desejado. Cláudia Gomes de Oliveira afirma que pessoas constroem e não se livram devidamente dos materiais descartados, como as britas. Moradora do bairro há 45 anos, observa
Britas atrapalham a passasgem de pedestres em passeio na Rua Guajará que os idosos são os mais prejudicados. "Incomoda porque tem idoso que quando chega ali tem que dar a volta, as construções não tomam os devidos cuidados e o lixo incomoda quem mora por perto", diz Cláudia. A carteira Camila Cristina dos Santos, que trabalha circulando em 23 ruas no bairro Dom Cabral todos os dias, destaca que é essencial
encontrar as calçadas livres para que consiga cumprir o roteiro de entrega das correspondências. Ela reclama das dificuldades causadas pela falta de cuidado dos que despejam entulhos nas calçadas. "Atrapalha a colocar as cartas dentro das caixinhas, tem muita sujeira aí você acaba atravessando", explica. Apesar das reclamações, Camila considera as calçadas do Bairro Dom
Cabral razoáveis em relação a outros lugares. Para conter as infrações, o artigo 64 da Lei 8.616/03 do Código de Conduta da Prefeitura de Belo Horizonte determina que o passeio deve deixar uma faixa livre para o trânsito de pedestres, as ares de embarque e desembarque do trânsito coletivo deve ser respeitado. O artigo 67 da mesma Lei proíbe obstrução nas calçadas que prejudiquem a segurança ou o trânsito de veículos, pedestres e comprometa a estética da cidade. A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Gerência Regional de Atendimento ao Cidadão, informa que em seus bancos de dados há registro de 977 notificações de lixo, terra, entulho e bota fora, jogados em locais públicos do início de janeiro até o início de junho deste ano. Informa ainda, por meio da Gerência Regional de Fiscalização de Obras e Meio Ambiente que quando constatada a irregularidade, a fiscalização de vias públicas e posturas notificam, autuam e apreendem conforme legislação em vigor. Ressalvo que no ano de 2010 foram realizadas 53498 diligências.
Comunidade Julho • 2011
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SOCIEDADE MUSICAL ESTÁ EM CRISE n FELIPE CANEDO, PEDRO CASTRO, RÔMULO MEDEIROS
Por falta de incentivo e verba, uma das mais tradicionais corporações musicas de Belo Horizonte, a Sociedade Musical Carlos Gomes, passa por dificuldades para apresentar e manter suas atividades que se iniciaram há 115 anos na capital PEDRO CASTRO
trabalha, como no meu caso, na área financeira", afirma.
7º PERÍODO
Aos 115 anos de vida e parte indiscutível da história de Belo Horizonte, a Sociedade Musical Carlos Gomes, vive hoje uma situação desconfortável. Há três décadas dedicando-se à banda, o maestro Francisco Belmiro Braga, anunciou recentemente sua aposentadoria. Não é por falta de amor à música e à sociedade que o militar reformado se afasta do tão respeitado posto. Um recente problema na visão o impede de continuar o serviço. "Precisamos urgentemente de um maestro para assumir a direção técnica da banda", afirma Belmiro.Francisco. O problema é que a banda não tem como pagar por um novo maestro já que, como entidade filantrópica, não possui os recursos financeiros necessários. O pouco dinheiro que entra nos cofres da Sociedade Musical vem de uma colaboração dos Alcoólicos Anônimos, entidade que usa parte do terreno da Sociedade Musical Carlos Gomes, para suas atividades assistenciais; de algumas apresentações encomendadas, onde se cobra o que for possível de ser pago, e da doação dos próprios músicos, que acaba sendo parcela fundamental para a manutenção da banda. Atual presidente da instituição, Geraldo Manuel Pereira, reclama do descaso com o qual a banda é tratada. "Há dois
A Sociedade Musical Carlos Gomes ajudou a escrever capítulos da história cultural da capital mineira, e atualmente, passa por dificuldades para se manter meses fomos contratados para tocar em uma cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pedimos uma colaboração e disseram não ter como nos pagar. Deixei claro que, apesar da dificuldade de levar tantos músicos para tocar na tarde de um fim de semana, queríamos o dinheiro apenas para custear a pintura de nossa sede. Ficou acertado que receberíamos pela apresentação a doação das tintas", afirma. O que pareceu ser um acordo perfeito teve um insólito fim. As tintas doadas eram de cores completamente distintas, além de estarem com datas de validade vencidas. "Os músicos novamente passaram o chapéu e termi-
naram, eles mesmos, pagando a conta da pintura", acrescenta. Outro problema que a banda enfrenta é a dificuldade de conquistar músicos jovens para garantir a renovação de músicos essencial para se manter a tradição. Para o ex-maestro Francisco Belmiro Braga, o interesse dos jovens vem da cultura musical das famílias. "Você pode perguntar para todos os músicos da banda, quase todos vão dizer ter um dos pais, um tio ou o avô músico. É uma questão de origem", diz. Entre os integrantes da banda um consenso: os jovens de hoje em dia gostam das músicas eletrônicas, mas não
gostam de tocar os clássicos ou se envolver com a tradição. "Não há o interesse da banda em sofisticar essa atividade, senão ela deixa de ser uma tradição", afirma Belmiro. O músico Rafael Calaça, que se diz apaixonado pela riqueza das bandas civis de Minas Gerais, considera que o desinteresse dos jovens vem do desconhecimento. "Há muitos exemplos de bandas bem-sucedidas em envolver a juventude em Minas Gerais, mas é preciso investir em projetos educativos para atraí-los", afirma. Ele lamenta o fato de sua opção por um instrumento de corda lhe impedir de tocar em uma banda de rua.
Geraldo Manuel lembra o período em que, amparados pela verba de uma lei de incentivo, deram aulas periódicas a mais de 40 jovens de uma comunidade carente. Durante um ano, a banda pôde transmitir sua tradição e educar novos músicos. A experiência fora um sucesso, mas, por falta de um profissional apto a escrever e captar projetos, a banda não conseguiu manter as aulas. Para o apaixonado pelo som do bombardino Alexandre Fernandez Moreira, a banda é mais do que um encontro com a música, é um espaço para descansar a cabeça. "É uma maneira de descontrair, uma terapia para quem
HISTÓRIA Alfredo Camarate, engenheiro português que participou do projeto de Aarão Reis para a criação de Belo Horizonte, era cronista de diversos jornais e era também músico. Em 1896, entre as ocupações de planejar a capital mineira e relatar seu ofício nos periódicos mineiros, Camarate fundou a Sociedade Musical Carlos Gomes. A história conta que o engenheiro, apaixonado por música, preferia contratar peões que tocavam algum instrumento para trabalhar nas obras da capital mineira. Da união de 15 músicos, sob a batuta de Camarate, nasceu a banda que tocava em festas e que tocou na inauguração da cidade. 115 anos depois, a Sociedade Musical Carlos Gomes segue pouco afinada com a capital que inaugurou, apesar da heroica dedicação de seus membros. Localizada hoje no bairro Calafate, próxima à Paróquia São José, a sede da banda é um casarão conhecido pelos moradores das redondezas por sua música característica. Camarate talvez não imaginasse que 115 anos se passariam sem que sua banda deixasse de servir ao povo para o qual foi criada, mas se surpreenderia com o descaso com o qual por ele é tratada. Provavelmente, não fosse graça aos músicos que hoje tanto se dedicam à Sociedade Musical Carlos Gomes, este importante pedaço da história de Belo Horizonte já teria se perdido.
Entre as prateleiras, as histórias que os sebos têm RENATA FONSECA
n LARA DIAS, LUCAS RAGAZZI, MARCUS CELESTINO, 1º PERÍODO
No português lusitano, “alfarrabista” é a palavra que corresponde ao indivíduo que lê, coleciona ou vende livros antigos ou usados. No Brasil, a palavra sebo é usada como sinônimo para casa de alfarrabista. Alfarrábio é uma palavra que designa livro de grande volume, velho, enfadonho, de pouca utilidade. A origem do termo sebo como sinônimo no português brasileiro vem das páginas engorduradas dos livros velhos, pelo manuseio constante. Apesar disso, para muitas pessoas, um ‘sebo’ é um dos lugares mais agradáveis e interessantes para se passar o tempo. Isso ajuda a explicar a existência no Edifício Maletta, ponto tradicional do Centro de Belo Horizonte, de sebos
que funcionam há mais de 40 anos. José Ronaldo Lima, de 71 anos, é dono de um destes estabelecimentos o "Shazan" no Edifício Maletta, e admite não gostar de vender os livros, já que segundo ele a maioria destes acabam nas casas dos compradores e em pouco tempo ficam sem utilidade, apenas ocupando espaço em um armário ou gaveta. Mesmo assim, está na profissão pois é apaixonado pela leitura. Sebastião do Nascimento, 62, frequenta o edifício há 30 anos e tem o seu sebo no local desde 2004. Segundo ele, a maioria dos clientes é formada por estudantes, o que de certa forma o deixa decepcionado, pois esses só compram os livros que lhes são necessários para as atividades universitárias. "Quando a cultura da leitura for implantada no Brasil, seremos um país de
primeiro mundo", comenta Sebastião. Ainda de acordo com o sebista, muitos leitores procuram esses estalecimentos em busca de livro esotéricos. Laís Girardi é um caso à parte. A estudante de 20 anos é uma frequentadora assídua dos sebos do centro da cidade. "Eu entrei em um sebo pela primeira vez com minha mãe quando eu tinha 14 anos, sempre gostei de ler", diz. Laís afirma que tem um gosto bastante eclético, mas revela sua preferência por quadrinhos. "Ainda são raros os sebos que oferecem revistas em quadrinho, eles ficam na mão dos colecionadores, acho que os donos de sebos deviam se voltar para este pessoal", conclui. Quando perguntados sobre a internet, os sebistas divergem em suas opiniões. Para a maioria, por mais contraditório que pareça, a internet é uma grande aliada para a venda de livros no sebo, já que
muitos já adotaram o modelo do site "Estante Virtual", por meio do qual é possível fazer vendas em todo o país. Outros, acham que a pirataria e a leitura online ainda irão matar o impresso. Ainda citam a criação do E-book, uma espécie de versão eletronica do livro, onde é possível ter várias publicações no mesmo aparelho. "A tendência é que a Internet acabe matando os sebos e posteriormente os livros. Hoje em dia, qualquer um pode comercializar seus livros sem a devida licença. Além disso, a leitura no computador (E-Book) irá destruir o livro físico, que se tornará apenas um ocupador de espaço”, afirma José Ronaldo. Laís vê com bons olhos a digitalização dos livros, "Eu acho muito importante isso, pois essa nova era pode facilitar o acesso, mas eu temo pelos escritores, eles não podem ser esquecidos, precisam
José Ronaldo Lima é dono de um dos sebos do Edifício Maletta receber pelos acessos digitais", apesar de reconhecer um novo momento na literatura, a estudante confessa o seu apego pelos livros impressos." Eu amo
sentir o cheiro de livro, não troco essa sensação por nada, não consigo ler nada pelo computador, e sei que vou ter que adaptar", conclui.
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Julho • 2011
Poucos recursos, problemas de infraestrutura e falta de profissionais da área prejudicam a educação de alunos de instituições públicas de ensino da Região Nordeste de Belo Horizonte
ESCOLAS ENCARAM DESAFIOS COMUNS FOTOS: BIANCA MOURA
n JUDY NEMÉSIO, BIANCA MOURA, NATHÁLIA AMADO,
2º, 5º E 3º PERÍODOS
As escolas públicas localizadas na Região Nordeste de Belo Horizonte e que foram visitadas pelo MARCO apresentam contrastes, embora a maioria tenha em comum a inadequação física, em função de estarem sediadas em edificações antigas e desgastadas pelo tempo. Além disso, algumas dessas instituições sofrem com a carência de profissionais capacitados. Esses dois fatores – falta de espaço e de recursos humanos –, afeta o atendimento. É o caso, por exemplo, da Escola Estadual
Professor Antônio José Ribeiro Filho, que espera há muito tempo que sua planilha de reformas seja atendida pelo Governo do Estado. Em função disso, ela mantém os portões fechados, e oferece pouco espaço para os alunos. Essa situação é diferente da encontrada na Escola Municipal Josefina Souza Lima, onde os portões permanecem abertos todo o tempo e há profissionais preparados para cuidar da segurança, tanto do estabelecimento quanto dos alunos. As escolas sofrem com a falta de recursos para a promoção de projetos que melhorem o aprendizado e desenvolvimento dos alunos. A Secretaria Estadual de Educação, por
meio de sua assessoria de comunicação social, revela que trabalha para que as deficiências sejam amenizadas, no entanto, confirma que há grandes passos a serem dados. Outro fator que preocupa os diretores das instituições públicas de ensino da Região Nordeste é a violência. De acordo com alguns professores, é preciso sempre estar atento pois, muitos alunos sofrem influência direta do tráfico de drogas. Além disso, por ser uma região carente muitos pais não podem acompanhar o aprendizado de seus filhos sem intermediários, o que segundo os profissionais de educação afeta os estudos das crianças.
Apesar dos problemas, escolas públicas da Região Nordeste se esforçam para garantir ensino de qualidade
Escola Estadual Adalberto Ferraz pede mais recursos Localizada à Rua Operário Silva, a Escola Estadual Adalberto Ferraz atende cerca de 500 alunos do ensino fundamental, entre seis e 14 anos, nos turnos da manhã e tarde. Há três anos a instituição passou por uma reforma geral, quando foram instalados equipamentos necessários ao atendimento dos critérios de acessibilidade. A supervisora pedagógica Maria da Conceição afirma que a escola se esforça para suprir as necessidades dos alunos. O espaço conta com sala de informática e biblioteca, além de quadra de esportes e refeitório. Segundo ela, todas as dependências são usadas pelos alunos, mas há necessidade de um aumento no número de profissionais de limpeza. "Atualmente contamos com apenas quatro fun-
cionários, dois de limpeza e outros dois na cozinha, o que nem sempre garante que as instalações como os banheiros fiquem sempre limpos para o uso", afirma. Maria Auxiliadora Gomes da Silva, trabalha há cinco anos na escola como professora e, atualmente, é a responsável pela biblioteca. Segundo ela, a escola precisa de maior número de profissionais para atender à demanda. Para a professora, apesar de estar localizada numa região carente o rendimento dos alunos está melhorando. "Só tiro A e B", conta o aluno Bernardo Augusto Roberto Nogueira, de 10 anos. "Estou aqui há dois anos e gosto de estudar aqui porque é legal", acrescenta. "Estamos avançando, mas como professores sempre achamos que é possível melhorar um pouco mais", observa Auxiliadora Gomes. Nem todas as necessidades são supridas pela escola,
uma vez que o Estado não disponibiliza alguns recursos que poderiam auxiliar o trabalho dos professores. "A escola supre as necessidades na medida do possível. O estado não coloca à disposição dos estudantes, por exemplo, psicólogos e fonoaudiólogos. A escola faz o encaminhamento de alguns alunos, mas nem sempre isso se efetiva", afirma Maria da Conceição. De acordo o assessor de comunicação da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, Luiz Navarro, a Escola Estadual Adalberto Ferraz possui atividades em tempo integral, como reforço escolar, e conta com quatro professores capacitados para atender alunos com necessidades especiais, em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e em educação física especial.
Famílias participam pouco em instituição no São Gabriel A Escola Estadual Professor Antônio José Ribeiro Filho, no Bairro São Gabriel, nasceu na época das chamadas "escolas combinadas", em que os alunos se reuniam em galpões de igrejas para aprender. No decorrer dos anos houve mudanças na estrutura física e administrativa da escola. Hoje, ela possui 72 funcionários, 1 mil alunos e funciona de 7h às 17h15, com oferta de ensinos fundamental I e II. Para atender às necessidades dos alunos e vencer os constantes problemas de aprendizagem, a escola conta com vários projetos implementados pelo corpo de professores. Incentivo à leitura, orientação alimentar e educação no trânsito são alguns deles, comandados pelos professores Marlene Alves Coelho Carrato
e Wilson Ribeiro. "Esses projetos têm efetiva participação dos alunos e proporcionam aulas mais atrativas e dinâmicas", diz Marlene. O principal problema, de acordo com Marlene, é a falta de participação de alguns pais na vida escolar dos filhos. Há também problemas estruturais, como a falta de cobertura da quadra de esportes e o pouco espaço para desenvolver as atividades, dificultando o trabalho pedagógico. Mas há também quem participe da vida escolar dos filhos. A dona de casa Marilene Condessa diz que colocou as filhas nesta escola porque acredita que a disciplina é boa e os alunos saem preparados para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "Minhas duas filhas estudam aqui, no 7º e 8º ano,
sempre acompanho o desenvolvimento escolar delas, gosto do modo como os professores ensinam e mantém a disciplina", diz. Para a diretora Alcione Maria de Oliveira, a escola é uma das que acreditam nos projetos de inclusão como importante fator para a promoção da educação, mas aponta que recebe poucos incentivos do governo para isso. Segundo ela, a escola se mantém com a verba de manutenção e custeio e com o dinheiro da merenda (caixa escolar) e o PDDE, (dinheiro direto na escola) fornecido pelo MEC. A Secretaria Estadual de Ensino, por meio da assessoria reconhece os problemas enfrentados e informou que a planilha com o projeto de reforma da instituição se encontra em fase de aprovação.
Escola Estadual Adalberto Ferraz foi reformada há três anos e conta com sala de informática e biblioteca
Ação inclusiva e atendimento integral entre os diferenciais A Escola Municipal Josefina Souza Lima, localizada no Bairro Minaslândia, atende a cerca de 800 alunos. Nos turnos da manhã e da tarde são estudantes do 1º ao 5º ano, além de receber duas salas de educação infantil. Já à noite o público é formado por alunos de Educação para Jovens e Adultos (EJA). A escola é dirigida por Rogério Luiz Fernandes e completou 40 anos de atividades em 2010. Em meio aos festejos, a escola comemorou inovações, como o atendimento de ação inclusiva que atende a alunos e possui em seu quadro de funcionários efetivos uma professora com deficiência visual com seu trabalho reconhecido e valorizado devido sua interação com as turmas. Outro destaque da escola é o atendimento em tempo integral. Pela manhã, os alunos frequentam o ensino regular, e à tarde têm oficina de artes, formação e brincadeiras. Aos finais de semana, sábado e domingo a escola conti-
nua de portas abertas para atender a comunidade com oficinas e palestras de informação sobre combate a violência. Mas, segundo a professora e coordenadora do turno da manhã, Davla Guimarães, ainda há muita coisa que necessita de mais atenção por parte das autoridades. "A política de ação inclusiva ainda é tímida para forçar uma situação de qualidade", declara. Apesar do fomento do governo municipal, falta efetiva fiscalização e o intuito de fazer ligação da escola semanal com as atividades de fins de semana ainda não aconteceu. Faltam profissionais comprometidos com o trabalho, os responsáveis pelos finais de semana, muitas vezes não comparecem às atividades e alguns alunos acabam danificando a estrutura física das escola. Outro problema é a falta estrutura para atender aos cadeirantes que possuem certas demandas que precisam ser atendidas. Precisam de
acesso fácil a biblioteca e banheiros adequados para devida utilização. Mesmo com essas deficiências há pais que dispensam vagas nas escolas estaduais e preferem entrar na fila de espera para matricular seus filhos ali. Maria Aparecida Guedes Arcanjo, moradora do bairro, diz que havia uma escola estadual mais próxima à sua casa, mas preferiu matricular sua filha Gabriele Arcanjo em uma escola municipal, um pouco mais distante. "Procurei a escola, porque o espaço é mais limpo e organizado e por oferecer uma educação continuada nos finais de semana, com reforço escolar, brincadeiras e oficinas de formações humanas", explica. A escola possui outra atribuição que a diferencia das demais: os meninos com problemas de aprendizagem devido a alguma deficiência são encaminhados a postos de saúde ou a outras unidades de ensino, em horário especial, que possuem profissionais treinados para auxiliá-los.
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REFORMA NO ANEL CAUSA POLÊMICA ALINE SCARPONI
População que vive no entorno da via que será modernizada reclama da falta de informações e teme o futuro depois que deixarem suas casas n ALINE SCARPONI, ANA LUISA AMORE, DANILO GIRUNDI, ISABELLA LACERDA, STEFÂNIA AKEL, 7° PERÍODO
Apesar da duplicação do Anel Rodoviário, em Belo Horizonte, ser um clamor geral, os moradores de seu entorno têm sofrido diariamente com a eminência de serem retirados de suas casas. José Ferreira Damasceno, de 44 anos, mora há 11 anos na Vila da Luz. Ele e sua família fazem parte das três mil moradias que devem ser desocupadas para a realização de obras de modernização no local. "A vida aqui é crítica, difícil. Mas toda a vida fui acostumado a pagar minhas próprias contas. Agora o destino foi mais forte e vai tirar a gente daqui. Não quero ir para um apartamento. A proposta é que a gente receba R$ 30 mil para comprarmos um novo lugar para morar, mas isso é muito pouco", afirmou Damasceno. A proposta de modernização do Anel foi anunciada em fevereiro deste ano, como uma parceria entre o Governo Federal e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). No entanto, o projeto ainda não foi concretizado, porque o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União sugeriram alterações no contrato assinado para o início das obras. Esse documento, atualmente, passa pelo último estágio de análise no setor jurídico do Departamento Nacional de
Infraestrutura e Transporte (Dnit). Em função disso, a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) ainda não definiu o local para onde as famílias desapropriadas serão removidas. Nem mesmo concluiu a listagem das pessoas que precisarão deixar suas casas. DESCONHECIMENTO A desinformação sobre o que será feito com os moradores que precisarem sair de suas residências é outra questão discutida pelas famílias que moram no local. Adriana Edviges de Oliveira, moradora há dez anos da Vila da Paz, afirma que ainda não foi procurada pela Urbel. Segundo ela, desde o anúncio das obras no Anel ela está sem saber qual será seu destino. "Eles (a Urbel) têm que dialogar com os moradores, e ver quem quer o quê. Se eu não souber direitinho para onde terei que ir, ou quanto vou receber pela minha casa, não arredo o pé daqui", declarou. Devido à falta de contato entre a Urbel e os moradores das vilas do entorno do Anel Rodoviário, a Defensoria Pública da União em Minas Gerais recomendou ao Dnit e a Prefeitura de Belo Horizonte que ouçam as famílias dos bairros Vila da Paz, Vila da Luz e São José. Também foi recomendado que as associações de engenheiros e arquitetos de Belo Horizonte levem em consideração o desejo das comunidades, antes de definirem para onde essas famílias serão transferidas. "O principal objetivo dessa recomendação é garantir que a população que será afetada participe na discussão a respeito da remoção. O poder público não pode decidir qual é a
melhor forma de reassentar essas famílias sem escutar suas reais necessidades", salientou a defensora pública federal Giêdra Cristina Pinto Moreira. Segundo a defensora, essas recomendações foram elaboradas com a expectativa de serem incluídas no termo de compromisso que está sendo discutido entre o Dnit e a PBH para o reassentamento dessas comunidades. "Precisamos evitar que os moradores dessas áreas recebam valores muito baixos pelos imóveis, ou acabem sendo deslocados para lugares onde não querem morar. Pedimos para que as remoções sejam feitas somente depois de entregues os conjuntos habitacionais que devem receber as famílias", completou. Giêdra ressaltou ainda que é preciso que o Dnit verifique se o novo local oferece serviços públicos de qualidade. Serviços públicos como água encanada, energia elétrica e rede de esgoto não fazem parte da realidade encontrada hoje pelas famílias que vivem no entorno do Anel Rodoviário. Edmeia Aparecida Gonçalves, moradora da Vila São José desde 1974, conta que a casa de quatro cômodos onde reside com seus três filhos e um neto não possui rede de esgoto. A coleta de lixo chegou há poucos anos. "Minha mãe foi uma das primeiras moradoras da vila. Mesmo com a vida muito complicada que temos aqui, estou desesperada por não saber para onde serei mandada com a minha família", diz. Ela ressalta que não aceitará nenhuma proposta que a transfira para um apartamento em outro bairro de Belo Horizonte.
Melhorias para Copa ainda não começaram na rodovia As obras de duplicação e modernização do Anel Rodoviário estão atrasadas. Isso porque, apesar de já existir um projeto pronto, ainda há pendências contratuais para o início das obras. Um exemplo é a formalização do convênio entre o município e o Governo Federal. Apesar da demora, uma empresa já foi escolhida, por meio de concorrência pública e está fazendo levantamentos geológicos e topográficos na região. O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) garante que será feito um grande esforço para que todo o trabalho esteja concluído antes da Copa do Mundo de 2014. O órgão calcula que serão gastos R$ 300 milhões para a remoção e reassentamento das famílias que moram em torno do Anel Rodoviário, em Belo Horizonte. Parte desses recursos será repassada à Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte
(Urbel) após a assinatura de um Termo de Compromisso, aguardada para os próximos 30 dias. Do total, R$ 250 milhões vão ser usados pelo órgão municipal no pagamento de indenizações, planejamento e construção de moradias populares para abrigar as famílias realocadas e, os outros R$ 50 milhões restantes, serão investidos diretamente pelo Dnit na aquisição de cerca de 200 mil metros quadrados de terrenos na capital. Em Belo Horizonte, outras obras visando uma melhor infraestrutura da cidade para a Copa do Mundo de 2014 já estão planejadas, mas algumas nem começaram. Enquanto a empresa responsável pelas obras do Anel já está definida e iniciando os estudos geológicos da região, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) divulgou no dia 19 maio, no Diário Oficial da União, o resultado da habilitação dos consórcios e empre-
sas concorrentes que participarão de licitação para a contratação das obras de reforma e modernização do Aeroporto Internacional de Confins. Sete empresas foram habilitadas e a previsão divulgada pela Infraero é que as obras em Confins comecem ainda no segundo semestre deste ano. Segundo a empresa, o custo total das obras é estimado em R$ 237,8 milhões. A expectativa de início dessas obras ainda no segundo semestre não está sendo acompanhada pelos demais órgãos. O Governo Federal chegou a anunciar planos de entregar o espaço à iniciativa privada, mas voltou atrás ao perceber que não haveria tempo hábil. Se tudo correr bem, conforme previsões da Infraero, pelo menos metade da obra será entregue até 2014, o que fará com que o aeroporto opere 25% acima de sua capacidade atual.
Com as obras, os moradores que vivem à margem do Anel Rodoviário ainda não sabem para onde serão transferidos
Acidentes constantes geram transtornos para moradora Roseli Dias já precisou reconstruir por seis vezes o muro de sua casa. Moradora há 21 anos da Vila Aldeia, localizada no entorno do Anel Rodoviário, nas proximidades da Avenida Antônio Carlos, ela teve sua casa atingida por carros que se envolveram em acidentes. "Da última vez, foi um caminhão enorme que invadiu minha casa. Graças a Deus, ninguém saiu feriu", diz. Apesar dos inconvenientes, Roseli, que é chamada de Preta por seus vizinhos, não gostaria de deixar a vila. "A gente não quer sair daqui, porque moramos perto do centro da
cidade, do comércio. Se a gente não tem dinheiro para pegar ônibus, a gente vai a pé. Além disso, não queremos ir para apartamento. Tenho passarinho, planta, cachorro, cinco filhos e cinco netos morando comigo. É menino demais para um apartamento pequeno". Funcionária pública, ela trabalha como serviçal de uma escola estadual e faz faxinas para complementar a renda. Ao todo são R$ 630 por mês, que servem para o sustento da família. Deixar o local significaria também perder a clientela e morar distante do trabalho. Avisada há cerca de três anos
sobre a possibilidade de remoção, Roseli diz aguardar um posicionamento da prefeitura, uma vez que nunca foi procurada para tratar do assunto. "A Prefeitura veio aqui e numerou todas as casas. Depois disso, acompanhamos as coisas pela televisão. Não sabemos de mais nada", explica. Mesmo sabendo da ilegalidade da ocupação, a funcionária pública questiona e desafia a Prefeitura. "A ocupação é ilegal? É! Nós invadimos? Sim! Mas agora eles já nos deram coleta seletiva de lixo, TV e até mesmo internet. Que tivessem nos tirado daqui antes. Agora, vamos lutar. Não vamos sair daqui!", garante.
PBH ainda não sabe onde famílias serão reassentadas Apesar da reclamação das famílias que vivem ao redor do Anel Rodoviário, em Belo Horizonte, a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) informou que cumpriu o pedido do Ministério Público Estadual e da Defensoria Pública da União e já fez a avaliação dos imóveis da Vila da Luz e Vila da Paz. No momento, ainda falta ser finalizado o convênio da PBH com o Dnit, para que comece o processo de remoção e reassentamento das famílias. "O dinheiro para a obra é federal, e vem através do Dnit, órgão responsável por esse tipo de obra. Precisamos ter o convênio formalizado para, a partir dele, começarmos as interven-
ções, desde a remoção e o reassentamento das famílias até a obra", esclareceu, em nota, a Urbel. As obras serão iniciadas na altura da via com a Avenida Cristiano Machado, na Região Norte da capital. Ainda de acordo com a posição oficial do órgão, existem três opções de reassentamento. A primeira seria a transferência das famílias para unidades habitacionais a serem construídas em terrenos adquiridos pelo Dnit, no Bairro Ribeiro de Abreu, na Região Nordeste da capital. Outra opção seria o reassentamento monitorado. Nesse caso, o morador poderia indicar um imóvel em outro local dentro de um valor
estabelecido pela Urbel até R$ 30 mil. Esse valor é municipal e pode ser alterado pelo convênio com o Dnit. Também existe a opção dos moradores receberem uma indenização, de valor não informado. Também em nota, o Dnit esclareceu que não existe um prazo para a retirada das famílias, porque "as negociações estão começando agora". No entanto, de acordo com o departamento, ninguém será "pego de surpresa". Em relação ao reassentamento das famílias, a opção prioritária para o Dnit é que os moradores sejam deslocados para conjuntos habitacionais no Bairro Ribeiro de Abreu.
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Julho • 2011
MEIO-PASSE ESTUDANTIL SAI DO PAPEL n ALINE SCARPONI, ANA LUISA AMORE, DANILO GIRUNDI, ISABELLA LACERDA, STEFÂNIA AKEL, 7º PERÍODO
A estudante Adrianna Diniz, de 16 anos, atravessa os bairros Grajaú e Gutierrez a pé até a Escola Municipal Marconi, onde estuda, no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ela já fez o cadastro para receber o benefício do meio passe, mas como sua família não recebe auxílio de programas sociais da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), não tem preferência para receber o cartão que autoriza o pagamento de metade do valor da passagem do ônibus. O cadastramento para o Auxílio Transporte Escolar, ou meio-passe estudantil, começou em março, depois de ter projeto de lei aprovado na Câmara dos Vereadores e sancionado pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB). No entanto, até o início de julho, 2635 estudantes requisitaram o benefício. O primeiro lote de cartões, um total de 1368, já foram distribuídos, enquanto o restante está em processo de análise Segundo o assessor do gabinete de Políticas Sociais da PBH, Paulo Brescia, os próximos lotes serão disponibilizados de acordo com a demanda e com as possibilidades da Prefeitura. "Temos um orçamento de R$ 4 milhões para o meio passe. Como não podemos atender todo mundo, a preferência é de quem resida a mais de 1 mil metros da escola e de quem seja beneficiário de programas sociais. Mas isso não significa que os outros estudantes não possam se cadastrar". Além desses diferenciais, o meio passe é destinado aos estudantes do Ensino Médio que estejam matriculados e frequentes em escolas da rede pública da capital. Apesar de não ter preferência para receber o meio passe, a jovem Adrianna tem esperança de
conseguir retirar o seu cartão. Sem o benefício, ela teria que pagar R$ 4,90 por dia para pegar um ônibus até a escola, o que pesaria no orçamento da família. "Para mim, o meiopasse seria perfeito, porque pegaria um ônibus próximo de onde eu moro e desceria em um ponto em que andaria só dois quarteirões", afirma a estudante. Apesar de considerarem a sanção da lei que estabelece o meio passe na capital uma conquista, representantes da Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de Belo Horizonte (Ames-BH) afirmam que o benefício ainda é restrito e insuficiente. "É extremamente importante que todos os estudantes de Belo Horizonte sejam atendidos por essa lei, assim como ocorre em grandes cidades", ressaltou Gladson Reis, presidente do movimento. DESCONHECIMENTO A também aluna da Escola Municipal Marconi, Marina Gregório, 17 anos, é um exemplo de estudante que poderia se cadastrar para usufruir do meio passe, mas ainda não o fez. Ela explica que não sabe quais os critérios da Prefeitura para a escolha de quem receberá o benefício. "Quando foi aprovado, vi muitas notícias na televisão, mas ainda não sei se tenho direito. Imagino que não terei, pois não faço parte de família que recebe ajuda de algum programa social", afirma. Marina ressalta que, assim como ela, outros colegas de escola não sabem ainda como funcionará o cadastro. "Achei que essa é uma medida que exclui estudantes, ainda mais se considerarmos que as escolas municipais normalmente são próximas de onde moramos, ou seja, é bem capaz que existam estudantes que morem a menos de um quilômetro da escola. Acho que isso poderia estar sendo mais divulgado, principalmente dentro das salas de aula", comenta. A pouca divulgação do meio passe e o desconheci-
mento dos estudantes sobre como fazer o cadastro é o argumento utilizado por Gladson Reis para justificar o pequeno número de alunos inscritos no programa. Segundo ele, além da restrição do benefício – a PBH afirma que só pode atender o máximo de 10 mil estudantes em toda a capital –, a prefeitura não tem feito sua parte na divulgação do direito. "Nossa estimativa é de que existam pelo menos 150 mil alunos que precisam ter acesso ao meio passe. Acho que tem havido pouco esforço da prefeitura em tornar o benefício conhecido pelos alunos. A prefeitura, inclusive, tem informado em suas propagandas que, para ter direito, é preciso ser beneficiário de programas sociais, mas a lei aprovada na Câmara dos Vereadores determina apenas que essas pessoas terão prioridade", argumentou. EVASÃO Embora a lei que concede o meio passe exclua grande parte dos estudantes, a iniciativa representou um avanço em relação à diminuição da evasão escolar, de acordo com a psicopedagoga Célia Rabello. "O meio de transporte é uma das razões que contribuem para a evasão. Muitos estudantes deixam de ir à escola porque é longe, porque não têm dinheiro para pagar ônibus ou porque preferem gastar esse dinheiro com alimentação ou lazer. A aprovação do meiopasse estudantil já é um passo que BH está dando para contribuir com a diminuição da evasão escolar", afirma Célia. Psicopedagoga de uma escola particular da capital, Célia reconhece que a lei exclui muitos alunos, mas assume uma postura otimista em relação ela. Para Célia, serão 10 mil estudantes que terão um incentivo a mais para irem à escola. Ela acredita ainda que na possibilidade de haver uma extensão do benefício para mais estudantes.
Cartões que permitem aos estudantes pagar meia passagem de ônibus já foi distribuído ISABELLA LACERDA
O benefício do meio-passe não atinge, por exemplo, alunos do ensino fundamental de escolas públicas de BH
Benefício não vale para todos Gionanni Gomes Leocadio é estudante do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Álvaro Loureano Pimentel, do bairro Cardoso. O jovem de 17 anos quer prestar vestibular para direito no final do ano e, além de sofrer com o desestímulo dos professores dentro da sala de aula, muitas vezes, ainda precisa andar 30 minutos a pé da escola para casa. Isso após trabalhar dois períodos na Assembléia Legislativa de Minas Gerais e estudar a noite. O problema de Gionanni é amenizado com uma parceria entre sua escola e uma instituição bancária. O estudante pode pegar o ônibus da empresa às 22h30 e ir para casa. O itinerário é grande, e, por
causa disso, ele demora a chegar em casa. "Se eu pudesse usufruir do meiopasse, eu levaria apenas 10 minutos de ônibus da minha casa para a escola e não 35, como gasto todos os dias”, afirma. A história de Stefanni de Oliveira não é muito diferente, embora ainda mais onerosa. Os pais da menina precisam dispor de R$ 200 do orçamento mensal para pagar a van que leva a garota e mais dois irmãos para a Escola Municipal João Pinheiro. A estudante não chega a morar muito longe da escola, mas conta que encontra dificuldades no trajeto. "Ir para a escola a pé é muito difícil, porque tem muito morro", descreve. Mas mesmo quem se esforça e consegue pagar um transporte especial para levar as crianças para
a escola não pode ficar tranquilo. "O problema do escolar, além do preço que meu pai tem que pagar, é que muitos dias a van não passa, então eu acabo perdendo a aula nesses dias ou chego muito atrasada", conta Thaís Farias, aluna do 4º ano do Ensino Fundamental. Diretora há 16 anos da Escola Municipal João Pinheiro, Ana Maria Miranda ressalta a importância da ampliação do meio passe para alunos do Ensino Fundamental. Segundo ela, só na escola em que trabalha são 900 alunos que, embora necessitem, não poderão se cadastrar no programa. "É fundamental que a prefeitura se esforce. Em termos de política pública o meio passe é muito importante", acredita.
Vendas no Armazém da Roça caem após mudança RENATA FONSECA
n LAURA DE LAS CASAS, 4º PERÍODO
Ronaldo Machado lamenta a escassez de compradores para os produtos
São pessoas como Bemvindo Pinto Filho, 72 anos, que se beneficiam com o programa da Prefeitura de Belo Horizonte Armazém da Roça. No seu dia a dia, além de cuidar do serviço da roça, o aposentado divide o trabalho de produção de doces caseiros com toda a família. "Enquanto minha mulher, minha sobrinha e minha filha fazem os doces, eu saio para vender nas cidades grandes", explica. Por fazer parte de uma das associações de agricultura familiar de sua cidade, Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte, seus doces são levados para a capital mineira e vendidos na rodoviária, onde o projeto acontece, de segunda a sexta-feira. Ele conta que antigamente a demanda era
maior. "Hoje em dia eles não estão pedindo tanto doce, vendo muito mais quando vou pra feirinha no centro da cidade", conta. A administradora do projeto, Beatriz de Castro, explica que houve mesmo diminuição nas vendas do Armazém, desde que mudaram o ponto de venda, que antes era na rua Espírito Santo. "Aqui no segundo andar da rodoviária é ruim porque ninguém nos vê, aí vendemos pouco", acrescenta. Para reverter a situação, a Prefeitura já está em busca de nova localização para realizar o comercio, algum lugar que tenha maior visibilidade e onde transitem mais pessoas. Quando ainda era prefeito de Belo Horizonte, em 1996, Patrus Ananias criou o projeto com o objetivo de incentivar o produtor rural, trazendo suas mercadorias para serem vendidas na capital mineira. O proje-
to perdura até hoje e ajuda cerca de 800 pequenos produtores de todo o interior de Minas Gerais comercializando doces, biscoitos, e produtos artesanais de cidades como Bom Jesus do Amparo, Nova Porteirinha, Ponte Nova e Resende Costa. A parceria que sustenta o projeto é entre a Prefeitura de BH e as 25 associações de agricultura familiar espalhadas pelo interior de Minas Gerais. Elas se encarregam de mandar os produtos para a capital. Em troca recebem o dinheiro da venda, que é repassado para cada produtor por meio das associações. A prefeitura não tem lucro nenhum, pois não tem comissão embutida nos preços. "É um incentivo mesmo, não visa nenhum outro tipo de ganho", explica a conferente de mercadorias Violanta Godoy. Para aumentar as vendas dos produtos oferecidos,
Ronaldo Adriano Machado, também conferente de mercadorias, acredita que seria interessante investir na divulgação do projeto. "Foi divulgado no jornal dos ônibus, por exemplo, mas passaram informações erradas, falando que tínhamos verduras e queijos, e não temos, mas acho que divulgar dessa forma é ótimo, porque as pessoas procuram mais", explica. Enquanto não for definido outro ponto de venda, o Armazém da Roça continua no mesmo lugar, onde é possível comprar produtos que variam de um a R$ 500, o mais caro deles. Além de guloseimas, é fácil encontrar colchas bordadas e outros tantos artesanatos que traduzem a cultura mineira em cada detalhe. "É importante incentivar esse tipo de trabalho, para que ele não se perca, para que se valorize", diz Beatriz.
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A bagagem de quem passa pela Rodoviária de Belo Horizonte está repleta de histórias fascinantes e lições de vida. Quem chega e quem vai leva consigo alegrias, dores, amores, esperança e religiosidade.
RODOVIÁRIA DE BH É PALCO PARA GRANDES HISTÓRIAS FOTOS: RENATA FONSECA
igreja. Flávia sempre foi muito religiosa, mas Gleyson não. "Há quatro anos eu havia terminado um namoro e meu primo me convidou para ir à igreja, porque eu tava mal. Lá eu conheci a Flávia e aos poucos fui gostando dela", relata o marido. O namoro dos dois não foi bem aceito no início, pois, os pais de Flávia achavam que ela era muito nova e não deveria namorar. Aos poucos eles aceitaram o namoro e ficaram muito felizes com a união dos dois.
n JULIA BOYNARD, KENETH BORGES, MARCELA SOARES, MARIA JÚLIA LAGE 1º E 3º PERÍODOS
Dormindo entre panos e papelões, enquanto esperava o horário do ônibus pala levá-la de volta à Santa Maria do Suaçuí, no Vale do Rio Doce, Naiara Soares, de 17 anos, chamava a atenção das pessoas que transitavam pelo Terminal Rodoviário de Belo Horizonte. Na bagagem da jovem passageira, além de poucas roupas e objetos pessoais, uma história de decepção, tristeza e sofrimentos. A maior parte de seus pertences, ficou para trás, mas segundo ela, nada disso importa, além da criança que carrega em sua barriga. "Logo que cheguei a Belo Horizonte comecei a namorar um rapaz. Ele sempre foi um pouco agressivo e mantinha relacionamento com algumas de suas ex-namoradas, mas nada que me incomodasse. Hoje, pela manhã, ele me expulsou da sua casa", conta a jovem, que havia largado sua cidade natal, a 360 quilômetros da capital mineira, abandonando os estudos, em busca de emprego na cidade grande. Dramas como o de Naiara acontecem com frequência no Terminal Rodoviário de Belo Horizonte, por onde circulam, em média, 40 mil pessoas todos os dias. Um olhar mais atento em direção aos transeuntes pode ajudar a descobrir histórias fascinantes, mostrando que as pessoas ali não carregam apenas malas, há quadros missionários, dor, saudades, reencontros e paixões arrebatadoras. A jovem, que procura o caminho da volta para casa no Vale do Rio Doce, admite o desespero do abandono, mas busca forças no filho para continuar sua vida. "Meu filho precisa de mim. Meu filho não vai ficar sabendo de nada disso. Eu imaginava que o nosso amor seria para sempre. Eu não consigo imaginar como vai ser daqui para frente, é tudo muito recente ainda, só sinto a dor da perda", revela.
DISTÂNCIAS Mas nem tudo são dores. Logo adiante, um jovem apaixonado enfrenta a estrada para rever o seu amor. Igor Pimenta, 21 anos, conheceu sua namorada em Porto Seguro, no litoral da Bahia, nas últimas férias. Porém, ele não sabia que o seu amor morava a 278 quilômetros, em Campos
MISSÃO A religiosi-
Igor Pimenta conheceu a namorada em uma micareta. Além da distância de 278 quilômetros que os separam, a família dele não aprova o relacionamento Altos, na Região do Alto Paranaíba. "Passamos 60 dias juntos em Porto Seguro e depois começamos a namorar. A gente se vê quase toda semana. Nós dois temos disponibilidade para viajar, embora ela venha mais para BH", conta Igor. Além da distância, Igor enfrenta outra dificuldade. Marília, sua namorada, é 19 anos mais velha e sua família não aceita este relacionamento. "A gente supera essas coisas. Nada vai acabar com nosso amor", relata o jovem apaixonado. O casal Elineia Silvia, 75 anos, e Ronaldo Dias, 74 anos, já estão casados há 27 anos e também convivem com a distância,
porém por opção, já que cada um tem sua casa e seu trabalho em lugares diferentes. Elineia, que reside em Niterói, e Ronaldo, em Belo Horizonte, garantem que conseguem lidar bem com a situação e acreditam até que a distância pode ajudar no relacionamento. Elineia conta que o casal consegue tirar de letra essa distância, e com humor fala que sempre que possível se encontram. "Nos vemos de quinze em quinze dias, depende da saudade e da necessidade", ressaltou.
OPORTUNIDADES A plataforma da rodoviária, também recebe os passos cansados de quem chega e
vai em busca do tão sonhado emprego. É o caso de G. S, de 22 anos, que pediu para não ser identificado, que tentou, sem sucesso, encontrar o primeiro emprego de sua vida na capital paulista. Ele estava retornando de uma viagem a São Paulo, onde ficou na casa de sua irmã. "A minha ideia era arrumar um emprego e conseguir me manter. Fiquei por lá mais ou menos 1 mês e meio, mas não consegui nenhum serviço", conta o rapaz. Com a situação apertada, ele conta que acabou brigando com seus familiares e foi expulso de casa. Passou por Ouro Branco, onde ficou sabendo de uma vaga, mas não imagi-
nava que para conseguí-la, precisaria de uma indicação. Também sem êxito, está voltando para casa. "Meu dinheiro acabou, estou indo para casa, sem conseguir nada, não tenho nenhum centavo no bolso, o que não falta na minha bagagem é a esperança, ela sim é minha companheira", afirma. Em meio a tantas idas e vindas, Gleyson Gomes, 22 anos e Flávia Xavier, 17, estão em lua de mel. Eles se casaram em Coronel Fabriciano, cidade localizada no Vale do Aço, e vieram a Belo Horizonte somente para embarcar para Natal (RN), onde efetivamente passarão a lua de mel. O casal se conheceu na
O casal Flávia e Gleyson casaram-se recentemente e vieram a BH para embarcar para a lua-de-mel. No início, a família dela não aceitava o casamento
dade também passou pela rodoviária, Antônio Rocha Nepomuceno, 48 anos, do Pará de Minas, já está cinco meses longe de casa, ele que trabalha como pedreiro, ganhou de um missionário um quadro de Nossa Senhora Aparecida, e desde então o quadro se tornou companheiro de suas viagens, por onde ele vai, seja a passeio ou ao trabalho o quadro lhe acompanha. "O quadro é meu companheiro, na última obra em que trabalhei no Pará, levei comigo, e levo a palavra de Deus também, esse quadro não pode faltar na minha bagagem", comentou. Luis Carlos Ferreira, 59 anos, espera seu ônibus para voltar à sua cidade natal, Perdões, no Sul de Minas. O trabalho de restauração que realiza é sempre ao lado de seus filhos, um trabalho familiar realizado com muita dedicação. "Eu estava trabalhando em um teatro próximo a Nova Lima, estava fazendo sua restauração. Aqui em Belo Horizonte já trabalhei na restauração da Serraria Souza Pinto, e o Museu de Arte e Ofício. Eu vou e volto todo fim de semana para Perdões, onde minha esposa mora. Meus dois filhos trabalham comigo, é tudo bem familiar", afirmou. Segundo Luiz Carlos, quando vem a Belo Horizonte realizar esse tipo de trabalho se hospeda no mesmo lugar em que trabalha. "Estico um colchão no chão, ponho um travesseiro que eu carrego e descanso bem. O trabalho é muito cansativo, mas fazendo isso há 38 anos a gente acostuma, e no final é bem satisfatório. Na minha bagagem carrego sempre uma medalhinha de algum santo, mas em especial Nossa Senhora Aparecida", ressaltou.
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POSTOS DE SAÚDE DA REGIÃO NOROEST FOTOS: RENATA FONSECA
n PEDRO VASCONCELOS, SAMARA NOGUEIRA, TAMARA FONTES, 4º E 3º PERÍODOS
A inadequação do espaço físico é um problema que atinge de forma comum aos quatro centros públicos de saúde localizados na Região Noroeste e que foram visitados pelo MARCO, em junho último, com o objetivo de se elaborar um retrato do atendimento prestado à comunidade por essas unidades. Em geral, o atendimento é considerado bom, pela maioria dos usuários. As queixas, quase sempre, se referem à demora na marcação de consultas especializadas, atrasos na distribuição de alguns medicamentos e à falta de atenção durante os atendimentos. Uma situação, no entanto, une os quatro centros de saúde visitados: a necessidade de ampliação física, que é reconhecida pelos gerentes das unidades localizadas nos bairros Dom Bosco, Califórnia, Carlos Prates e Padre Eustáquio. Ao contrários dos demais postos, o MARCO não conseguiu acesso aos responsáveis pelo Centro de Saúde do Dom Cabral, apesar das inúmeras tentativas feitas. Cerca de 300 pessoas utilizam o Centro de Saúde Califórnia para fazerem consultas, exames ou adquirirem medicamentos. Dentre elas está Irene de Moura, que apesar de elogiar o atendimento do posto, reclama dos atrasos e da dificuldade que às vezes tem para conseguir marcar consultas especializadas. No início de junho, por exemplo, quando foi entrevistada, teve de esperar mais de uma hora para conseguir marcar uma consulta para um mês depois. Outro usuário da unidade, Santos Soares, recebe gratuitamente medicamentos como Marevan, destinado à prevenção de infarto, trombose ou acidente vascular cerebral. "O posto é até bom, remédio que é difícil de ter, o Marevan está em falta. O atendimento também demora de duas á três horas para atender. Agora, quando atende é muito bom, mas precisava de mais médicos. É muita gente para pouco medico", afirma. O gerente do Centro de Saúde Califórnia, Andersom Mota Costa, que estima em meia hora o tempo máximo de espera para cada consulta, revela que atualmente sua equipe é composta por 78 funcionários. Em sua avaliação, ela consegue oferecer de maneira satisfatória todo o serviço que a comunidade precisa. "No momento está tranqüilo, vem sendo um trabalho muito positivo para a
comunidade", garante Andersom. Um dos principais fatores que contribui para essa situação apontada pelo gerente é a existência do Conselho local de saúde, responsável por reuniões mensais abertas a toda a comunidade, que tem liberdade para solicitar acréscimos ou melhorias nos serviços. O presidente da Associação dos Moradores do Califórnia, Antonio Carlos Guerra, elogia o conselho apesar de ter participado apenas de uma reunião. "A reunião é muito bem organizada. Tudo certinho. Eu gosto muito do posto, o serviço é muito bom, eles fazem um ótimo trabalho", afirma. A exemplo dos outros postos, médicos, enfermeiros e assistentes sociais do Centro de Saúde Califórnia são divididos em equipes de saúde da família e em equipes de apoio. Nessa unidade, são seis equipes de saúde da família compostas por um médico generalista, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde (ACS), que trabalham de acordo com a unidade. As equipes de apoio são compostas por um ginecologista, um psicólogo, um assistente social e dois pediatras. Segundo Andersom, em 2010 só existiam cinco equipes de saúde da família, mas, como a necessidade da comunidade aumentou no inicio desse ano foi criada mais uma. Dessa forma, o espaço atual do posto tornou-se insuficiente para alocar todos os profissionais. "Hoje, eu tenho seis equipes de saúde da família. Então, talvez seja necessário ampliar um pouco a estrutura física", explica. Para tentar amenizar o problema o gerente realiza rodízios nas salas destinadas a atendimento. "Na verdade, eu consigo fazer uma coisa que a gente chama de rodízio de forma que não atrapalhe a comunidade. Eu consigo por exemplo deixar o profissional atendendo em uma sala sem atrapalhar a comunidade", conta Andersom. CARLOS PRATES A insuficiência do espaço físico também se faz presente no Centro de Saúde Carlos Prates, localizado no bairro de mesmo nome, que a exemplo do Califórnia, apresenta ambiente limpo, arejado e organizado. São 60 funcionários. que se dividem em apenas duas equipes de saúde da família e outras de apoio, atendendo também a cerca de 300 pacientes por dia. "Esse espaço físico atualmente é insuficiente porque o Centro de Saúde
Carlos Prates cresceu muito desde que foi inaugurado em 2005. No início tinha um medico clinico e uma equipe de saúde da família. À medida que o tempo foi passando a gente foi vendo que o risco é baixo mas não é tão baixo assim", afirma a gerente Maria Cristina Vasconcelos. Ela se refere ao nível de vulnerabilidade social da sua área de atuação. "O território de abrangência foi classificado em 90% de sua área como sem risco. Então, a nossa área de risco é só a vila são Francisco. Área de médio risco próximo a Escola Estadual Padre Eustáquio. Por isso, não são necessárias tantas equipes da família", explica Maria Cristina Vasconcelos. Os filhos de Aparecida de Souza dependem muito do serviços prestados pelo posto e ela reclama que além de ter que esperar horas para ser consultada, o atendimento não é de boa qualidade. "Hoje, eu vim trazer o Rafael para a consulta. Quanto mais demora a consulta mais demora o retorno. Fiquei esperando mais de três horas para ser atendida, e o atendimento é péssimo, eles não consultam a gente direito", desabafa Aparecida. Esta opinião é compartilhada por Maria do Carmo Porto que está fazendo um tratamento no seio desde janeiro, mas, por causa da demora para marcar as consultas ainda não conseguiu terminar. "Geralmente eu demoro uma hora para ser consultada. Hoje eu vim tirar pressão, mas, estou fazendo um tratamento por causa de um nódulo no seio e não terminei ainda porque não consegui ser consultada. Não gosto muito do atendimento aqui, eles na dão muita atenção para a gente",conta Maria do Carmo. A gerente do posto, entretanto, explica que a demora no agendamento de consultas varia conforme o caso. "Depende do tipo de exame. Se for um exame laboratorial nós não agendamos, a pessoa vem de manhã realiza sem fila de espera. Já em Ultra-som e consultas especializadas as pessoas precisam de hora marcada", ressalta. Maria Cristina Vasconcelos ainda acrescenta que em relação ao tempo de atendimentos dois fatores são levados em consideração, o primeiro é a gravidade da situação e o outro horário que a pessoa busca atendimento. Normalmente o tempo de espera pela manhã é maior, já que neste período são realizadas as consultas de urgência.
A farmácia do Centro de Saúde Carlos Prates não enfrenta ificuldades para fornecer medicamentos de forma gratuita
[ ] “NA VERDADE, EU CONSIGO FAZER UMA COISA QUE A
GENTE CHAMA DE RODÍZIO PARA NÃO ATRAPALHAR A COMUNIDADE.” ANDERSON MOTA COSTA
Pacientes do Centro de Saúde Califórnia aguardam atendimento de consultas programadas no período da tarde
Especial Saúde
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Julho • 2011
STE ENFRENTAM PROBLEMAS DE ESPAÇO Atendimento divide opiniões
a para moradores do bairro e regiões próximas. A condição financeira não é pré-requisito para a aquisição dos remédios
Moradora do Dom Cabral, Joana Maria das Graças, 57 anos, sofre com constantes dores na cabeça, revela que em casos de urgência prefere procurar o Centro de Saúde do Padre Eustáquio, mais distante de sua casa, do que a unidade de seu bairro. "Lá eles atendem mais rápido e com mais carinho, não tem como prever quando eu vou ter crise, eu preciso do atendimento rápido, e no posto do Dom Cabral eles ficam falando para marcar consulta", justifica. O gerente do Padre Eustáquio, Rodrigo Otávio, explica que casos como estes são comuns, mas devem ser evitados. "A nossa área de abrangência é o bairro Padre Eustáquio, apenas em casos de urgência atendemos pessoas de outras regiões. Este tipo de caso é recorrente, a gente procura orientar as pessoas a procurarem um posto de saúde mais próximo da sua residência", afirma. Rodrigo avalia como positivo o serviço ali prestado. "A gente tem dado conta. As equipes estão completas, médicos, enfermeiros e pediatras", diz. Ele credita o sucesso do posto a coesão de sua equipe. "Em alguns postos a contratação é mais complicada e a rotatividade é maior. Aqui também existe uma rotatividade mas em menor escala, não sofremos carência de profis-
sionais como em outros postos. O diferencial do posto é a estabilidade da equipe, dos funcionários, da organização, e um relacionamento com um olhar mais carinhoso para o paciente", acrescenta. A equipe do Centro de Saúde Padre Eustáquio é enxuta, sendo composta por quatro médicos generalistas, um ginecologista um clínico geral, um pediatra e um médico psiquiatra. Rodrigo Otávio também considera pequeno o espaço físico e admite que isso gera alguns transtornos para os pacientes. Foi o caso de Maria Filomena dos Santos, 57 anos, que sofria com dores de cabeça e febre, como não tinha hora marcada, teve que perder duas tardes de trabalho para ser atendida. "Demorou muito e quando a gente consegue ser atendida eles fazem uma consulta tão rápida, que eu duvido que dê para diagnosticar qualquer doença", afirma Maria Filomena. Ela conta que também enfrentou dificuldades para retirar o remédio receitado na farmácia do posto. "Parece que tem dois dias que o pessoal está fazendo um curso e eu não consigo tirar este remédio", diz. Rodrigo diz que nunca houve uma falta generalizada de remédios no centro. "A gente tem tido um abastecimento regular, normalmente acontece de
Faltam consultórios no Dom Bosco
[ ] “É UM CENTRO QUE
TEM UMA EQUIPE ROBUSTA, APESAR DA ÁREA PEQUENA” ANGELA PARRELA
A paciente Helena da Costa aguarda o momento de sua consulta para refazer o curativo no pé no posto Dom Bosco
A inadequação do espaço físico também atinge o Centro de Saúde Dom Bosco, onde o número insuficiente de consultórios prejudica o atendimento. Gerente do local há dois anos, Ângela Parrela, acompanha o trabalho de 85 funcionários que fazem parte da equipe no prédio atual, inaugurado há seis anos. "É um centro que tem uma equipe robusta, apesar da área muito pequena", conta. O Centro de saúde abriga quatro equipes de saúde da família, duas equipes de saúde bucal, 16 Agentes Comunitários de Saúde (AGS), nove Agentes de Controle de Pandemia, oito profissionais agregados à equipe de Apoio à Saúde da Família (NAF) e estagiários da PUC na área de enfermagem e odontologia. "Só uma equipe, Saúde da Família, faz
atendimento da demanda espontânea na parte da tarde. Na parte da manhã, que a demanda é maior, além das consultas programadas, temos médicos de apoio também, ginecologista, pediatra, clínico", explica. Como há demora nos atendimentos, a gerente do Centro afirma que a medida a ser tomada deve ser o direcionamento do atendimento das equipes às pessoas que chegam com enfermidades graves e problemas agudos. As outras pessoas que procuram renovação de receita, agendamento para outro tipo de consulta especializada, um outro tipo de necessidade, e conversar com as equipes por outros motivos, devem aguardar e seguir a ordem de chegada. Luiz Oliveira acompanha sua filha em uma consulta e afirma estar satisfeito com o Centro.
um ou outro medicamento faltar, não tem nem um remédio específico que falte mais não", observa. O gerente ainda explica que neste caso não houve falta de remédios ou de profissionais, pois nas quartasfeiras a farmácia do posto fica fechada para balanço. Em relação à demora no tempo do atendimento de urgência o gerente reconhece a necessidade da construção de um consultório de enfermagem. "A gente não tem o consultório de enfermagem, este é o maior problema do posto. Este consultório tornaria o atendimento mais dinâmico, mas este tipo de obra se torna inviável para o espaço físico do centro", conclui. O atendimento do Centro de Saúde Dom Cabral gera opiniões divergentes. O marceneiro Cláudio José Soares, 48 anos, garante que a sua espera por uma consulta já dura dois meses. "Ninguém pode esperar este tempo todo para ser atendido não, prefiro ir em outro lugar", conta o marceneiro, que diz sofrer de problemas cardíacos. Segundo ele, para exercer sua profissão, depende diretamente do aval de um médico. Por outro lado, Jéssica Sousa, 27 anos, garante que o atendimento no posto, localizado no Dom Cabral, é excelente. "Tenho um filho recémnascido e eles sempre atendem na hora, deve haver alguma prioridade", afirma. A administração deste Centro de Saúde não respondeu às solicitações de entrevistas feitas pelo MARCO. "Temos que saber esperar, há muita demanda na parte de atendimento e pouca na prevenção, mas somos bem atendidos e não temos o que reclamar", afirma. O sentimento de bem estar é destacado também por Helena Christina da Costa, 80 anos, moradora s do bairro há 10 anos, que garante sempre ter sido tratada com respeito e carinho pelos funcionários. Semanalmente a moradora precisa refazer curativos nos pés e diz não ter nem uma queixa. "Não tenho nada pra reclamar, eles sempre me atendem rápido e com muita gentileza, eu só posso agradecer, só tenho que falar bem daqui", afirma. Por ser uma região que possui uma grande quantidade de moradores idosos, a demanda se direciona a problemas característicos ao tipo da população, como problemas de pressão arterial e diabetes. Ângela elogia os equipamentos e profissionais como qualificados ao atendimento dos usuários.
10 Saúde
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Julho • 2011
DEPOIS DE UMA DOSE VEM A AMNÉSIA n FERNANDA MELO MARCELA SECCHES, 2º PERÍODO
"Saí do meu trabalho e fui beber. Aí eu encontrei outros amigos meus. Bebi mais e mais. Aí falei assim: já chega. A noite já 'deu'! Era meia-noite de um sábado. Peguei um táxi no meio da rua, cheguei na minha casa, abri minha carteira, não tinha dinheiro pra pagar. Falei pro moço passar em um caixa eletrônico, que eu ia sacar dinheiro. Última lembrança da noite. Depois disso, me lembro acordando numa sala branca no Hospital João XXIII, com cinco pessoas de branco ao meu redor", relata Júlia Campos, 20 anos, estudante de Ciências Sociais que, após haver bebido excessivamente em uma noitada com os amigos, não se lembra que fora atropelada por um veículo em alta velocidade no momento em que atravessava a rua. Quando acordou, atônita e confusa, ao ver sua meiacalça toda rasgada e sem saber o que havia acontecido, perguntou aos profissionais do hospital se havia sido estuprada. Esse é um exemplo de um caso de amnésia, que ocorreu na véspera da final da Copa do Mundo de 2010, decorrente do abuso no consumo de bebidas alcoólicas. A estudante relata que tem consciência dos riscos e consequências que sofreu. "Graças a Deus eu não morri. Fiquei um mês de cama, três semanas com o pescoço imobilizado e, até hoje, necessito fazer fisioterapia, porque tenho o menisco rompido e um ligamento atrofiado", diz. Da mesma forma, a jornalista Pollyanna de Barros Silva, 25 anos, vivenciou, também, no ano passado, quando morava na Irlanda, uma situação de amnésia alcoólica. Era halloween e Pollyanna ingeriu, juntamente com algumas amigas, uma garrafa de vinho e outra de vodka russa pura. Fazia frio, temperatura abaixo dos 6º C. Após ir ao terceiro pub, a jornalista começou a sentir um calor absurdo e começou a correr. Não se recorda de como saiu do pub e nem a forma como atravessou a avenida. Só adquiriu consciência no momento em que se viu pendurada na grade de um rio, passando muito mal, sem conseguir sair e sem nada enxergar. Pollyanna afirma que quase morreu, não fosse um desconhecido irlandês ter aparecido para ajudá-la. Completamente embriagada, ela pouco se recorda de como saiu da grade. Acrescenta que, após ter saído da grade, andou por lugares que não se lembra e que, decorridas algumas horas, um outro desconhecido a acordou na porta de uma loja. "Não me lembro de como cheguei nesse lugar, nem de haver dormido. Só sei que me acordaram", relata. Também em decorrência do excesso no consumo de bebida alcoólica, um estudante de engenharia mecânica, de 21 anos, que
não quis se identificar, não se lembra do risco que correu, quando pulou de um trio elétrico em movimento, durante um carnaval fora de época, nas férias de janeiro, em Cabo Frio. Ingerindo bebida alcoólica desde o meio-dia, às 20h, ele foi sozinho para o camarote do Cabo Folia, onde tinha bebida alcoólica liberada durante toda a noite. Embora em determinado momento tenha se sentido mal, continuou bebendo e, já bastante embriagado e sem credencial de acesso, conseguiu entrar no trio elétrico do 'Jamil e Uma Noites'. Quando os seguranças notaram a sua presença, seguraram-no pelo braço, para o retirarem do trio. Ao descer para o andar inferior,
[ ] “DEPOIS DISSO SÓ ME
LEMBRO ACORDANDO EM UMA SALA BRANCA NO HOSPITAL JOÃO
XXIII” JÚLIA CAMPOS
o estudante lançou-se pela janela para fora do trio elétrico, caindo bruscamente no chão. No intuito de fazê-lo reagir, ele conta que seus amigos batiam em seu rosto e queimavam-no com isqueiros. No entanto, ele não se lembra de nada. Apenas se recorda de haver acordado no dia seguinte, na porta da casa de um amigo, por volta das 11h, muito machucado e com marcas de queimadura pelo corpo. EXPLICAÇÃO A neurologista Cláudia Tavares de Souza explica que o álcool atua no sistema nervoso de duas formas. Em um primeiro momento, age de maneira excitante e, em seguida, de forma sedativa. E ela acrescenta que, depen-
[ ] “O ÁLCOOL
ATRAPALHA A
FIXAÇÃO DA MEMÓRIA”
CLÁUDIA TAVARES
dendo do teor alcoólico da bebida ingerida, distintas reações são provocadas no sistema nervoso. Primeiramente, o álcool age no sistema reticular ascendente, que é uma formação cerebral situada no tronco e vai percorrendo algumas vias, que desembocam no sistema límbico, que é a região do hipotálamo. Segundo a neurologista, a região do sistema límbico é responsável pelas emoções e provoca alguns bloqueios. "Realmente as pessoas têm alguns lapsos, esquecimentos. É muito comum uma pessoa não se recordar de fatos recentes, coisas que ela fez, porque o álcool atrapalha a fixação da memória naquele momento", afirma. De acordo com o médico psiquiatra Domingos Lopes Furtado, a amnésia alcoólica existe e é bastante comum, quando se tem um consumo frequente e exagerado de bebidas
alcoólicas. "É um efeito fisiológico e, por vezes, o indivíduo não se recorda das bobagens que falou e do que fez. Mas, há aqueles que se lembram, mas dizem não lembrarem de nada", ressalta. Segundo a psicóloga clínica Natércia Acipreste Moura, a maioria das pessoas que relata a amnésia alcoólica não está inventando. "Apesar de alguns questionamentos quanto à veracidade do esquecimento, já se sabe que isso de fato pode acontecer e a pessoa que bebe em excesso corre realmente esse risco. É como um apagão temporário, em que a pessoa, apesar de conversar e realizar algumas tarefas, posteriormente não se lembra de nada", diz. MOTIVOS A psicóloga afirma, ainda, que a maioria das pessoas justifica o consumo excessivo de bebidas como forma de esquecer os problemas Algumas vezes, acrescenta, a justificativa para a bebida em excesso é a comemoração de algum fato especial, tendo, assim, uma conotação "positiva". "O que observo na minha prática é que a maioria das pessoas que bebe em excesso, na verdade, não conseguem saber ao certo o motivo e acabamos por ver um grande vazio existencial", relata Natércia. Quanto a esta questão, Domingos Furtado salienta que o pior momento para se beber é quando a pessoa está com problemas. " A pessoa pode beber um pouco para comemorar um fato: a vitória de um clube, um novo emprego, um exame de saúde bem sucedido. Mas, buscar a solução dos problemas no álcool é um grande perigo. Além de agravar a situação, a pessoa ficará exposta a múltiplos perigos de vida", explica. Segundo ele, o excesso de bebidas, em qualquer ocasião, pode levar a comportamentos inadequados, visto que o álcool é uma substância psicoativa. Eventos violentos, como brigas e acidentes de trânsito, e que representam riscos à saúde, como relações sexuais sem proteção e exposição de riscos, ocorrem com maior frequência", afirma. Foi o que aconteceu com uma analista ambiental, de 29 anos, que não quis se identificar. Ela relata que bebeu muita vodka em uma festa e misturou vários tipos de drinks. Por volta das 05h da manhã, muito embriagada, recorda-se somente de haver manifestado o desejo de ir embora com um conhecido e de alguns flashes de ambos dentro do carro e do caminho para o motel. Acordou ainda bêbada e sem roupa, na cama do motel, confusa por não se lembrar do modo como tudo aconteceu e muito preocupada pelo fato de não terem usado preservativos.
Jovens que exageram na quantidade de bebibdas alcooólicas, muitas vezes precisam lidar com os contrangimentos e com os transtornos decorrentes de um possível esquecimento MARIA CLARA MANCILHA
O estudante Caio Cézar, sob o efeito do álcool, já passou por situações engraçadas e não se lembra do que fez.
Quem bebeu não se lembra Passados os riscos decorrentes da ingestão de bebida alcoólica, ficam também histórias dignas de um roteiro de filme de comédia. É o que relata o estudante Caio César Fernandes Castelhano, 21 anos, sobre um dia em que foi à Boate Velvet, na Savassi e bebeu muito. E quando acordou, no dia seguinte, sem chave, todo sujo, tinha um pé de alface do lado de sua cama. E após checar que ninguém na sua família havia aberto a porta pra ele, constatou então, que havia pulado o muro. Caio não se recorda de nada. "Eu acho que eu desci longe de casa e provavelmente roubei o alface em algum lugar. Pode ter sido
na feira do Padre Eustáquio que tem perto de casa, daí pulei o muro segurando o alface. E o pior é que tem foto minha dormindo e o pé de alface do lado." O estudante declara que os esquecimentos acontecem quase toda vez em que bebe em excesso. "Eu sempre faço isso e não aprendo. Acordo no outro dia e me pergunto: 'onde estou? O que eu fiz ontem?'", afirma. O estudante disse, também, que certa vez, bebeu tanto que tirou a roupa na frente da boate, ficou só de cueca e tênis. "Eu saí correndo no meio da rua, subi no muro de uma construção e cismei que tinha um pote de ouro lá dentro. Eu queria pegar meu pote de ouro e o
pessoal correndo atrás de mim, me puxando no muro, mandando eu sair", relembra, entre risos. A história da estudante Júlia Campos também já rendeu gargalhadas. Ela conta que saiu de casa cedo para encontrar os amigos e beber. Como sabia que não ia voltar em casa tão cedo, levou o salto alto na bolsa. No dia seguinte acordou com um machucado no braço e não se lembra do que aconteceu. "Quando eu abri a minha bolsa no dia seguinte, lá tinha um hambúrguer, três latas de cerveja e o meu sapato de salto! (Risos). Não entendi nada", acrescenta.
Quem viu não se esquece Não é difícil perceber que quem alega ter tido lapsos de memória depois de exagerar na ingestão de bebida alcoólica, ainda assim, tem histórias para contar. Isso porque, apesar dos lapsos, eles ficam sabendo dos detalhes através de amigos e/ou terceiros. Como a história de Leandro França Pontes, de 40 anos, que conta que certa vez esteve em um bar que tocava MPB e um dos seus amigos, que estava muito bêbado, ficou flertando com uma mulher. Mas, no final da noite, eles descobriram que essa mulher era um travesti. "Eu fiquei zoando o meu amigo no dia seguinte, mas ele
disse que não se lembrava de nada", conta. Situação parecida viveu um estudante de 21 anos, que pediu para não ser identificado, quando, após beber duas doses de vodka, meia garrafa de catuaba e várias cervejas, teve o chamado "blackout" e não se lembra de nada do que fez durante a noite. Ficou sabendo do que havia feito através de sua amiga, que lhe contou toda a história. "Ele começou a correr no meio da rua, pedindo pra ser atropelado, porque SUS é serviço público e é de graça, e ele gritava pedindo pra ser atropelado. Tirou o tênis e ficou jogando pro alto. Não queria ir embora
pra casa de jeito nenhum. Cheguei 8 horas da manhã em casa por causa dele," lembra a amiga. Taxistas e seguranças de casas noturnas também presenciam, frequentemente, cenas de pessoas muito alteradas. "Peguei uma moça num bar que foi jogada no meu carro, literalmente, pelos amigos. Ela desmaiou no meu carro, apagou. Por coincidência, umas três semanas depois, eu até atendi um amigo dela e ele falou que realmente ela não se lembrava de nada. Ela não sabe como chegou, quem levou”, afirma o taxista Wallisson Duarte da Silva.
Economia Julho • 2011
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MERCADO DA MÁGICA CRESCE EM BH n GABRIEL DUARTE, LILA GAUDÊNCIO, LÍVIA ALEN, LUIZA SOUSA, SÍLVIA ESPESCHIT,
Ao longo dos anos o ilusionismo encanta crianças e adultos na capital mineira. Após estourar na década de 90, profissionais buscam inovação em um comércio que se valoriza uma vez ao ano, na semana da criança RENATA FONSECA
7º PERÍODO
Há oitenta e cinco anos morreu Harry Houdini, um dos mágicos ilusionistas mais famosos da história. Nascido em Budapeste, na Hungria, ele foi para os Estados Unidos aos quatro anos. Além de ilusionista, foi perfurador de poços, fotógrafo, contorcionista e trapezista. Números nos quais se libertava de algemas, correntes e cadeados, dentro de caixas ou de tanques, foram os reponsáveis por seu sucesso no mundo da ilusão. No Brasil, a mágica se integrou à cultura nacional, e são muitos os profissionais que se dedicam a essa arte, seja como única fonte de renda ou como complemento de outra profissão, assim como Houdini. George Henrique Rubadel se formou em administração, mas trocou a calculadora pela varinha mágica e as planilhas pelas cartas de baralho. Agora, vive de truques de ilusão: há 11 anos é mágico profissional. Aos 19 anos, Rubadel decidiu virar mágico, antes disso, nunca tinha sonhado com essa profissão na infância. Ele sempre pensou nessa arte como uma profissão, então fez cursos, assistiu a palestras, participou de congressos e se formou mágico pelo Centro Cultural de Artes Mágicas (Cecam). Cinco anos depois de começar a fazer mágicas, pôde deixar a carreira de administrador de empresas. Atualmente, o mágico faz de 10 a 15 shows por mês, mas em outubro, mês das crianças, por exemplo, chega a fazer 50 apresentações. Os shows variam de acordo com o interesse e objetivo do cliente e os preços seguem a mesma linha, um show personalizado pode chegar a R$ 3 mil, tipo de apresentação mais pedido por empresas. Rubadel já foi contratado por grandes multinacionais, como a empresa de telefonia TIM e a rede de lanchonetes McDonald's. Um de seus últimos trabalhos foi se apresentar na comemoração de 65 anos do clube Ginástico. Eduardo Costa, assessor de comunicação do clube, conta que o clube tem muitas crianças entre os sócios, por isso, nessa data, colocaram brinquedos e o show de mágica como atrações. Entretanto, não foram só os pequenos que se encantaram com os truques, os adultos também assistiram ao show, no qual foram distribuídos kits de mágica e brindes. "Pelos gritos, acho que a galera gostou mesmo", conclui Costa. PAIXÃO Enquanto as outras crianças sonhavam em serem jogadores de futebol ou bombeiros, Kellys já se aproximava do mundo da mágica, em 1969. A paixão pela prática não só ultrapassou os sonhos da infância como hoje é a profissão dele. Há quase 30 anos ele mantém uma loja no edifício Maletta, no centro de Belo Horizonte, onde comercializa produtos importados e também fabricados por ele relacionados à mágica. "Eu queria um material de primeira qualidade e quase não conseguia. Acho que sou o único fabricante de mágica no país", ressalta. As confecções de Kellys não só atendem o mercado nacional, como também de outros países. "O diferencial da minha loja é o atendimento. Muitos shoppings têm lojas de mágica, mas são regi-
O mágico Kellys se divide entre os truques de ilusionismo e aos cuidados de sua loja no Edifício Malletta das ao acaso", explica Kellys sobre o que ele atribui o sucesso de sua loja. Segundo ele, uma loja de mágica depende diretamente das habilidades do demonstrador, que deve saber ensinar e atrair os compradores. Mesmo a preços aparentemente altos, é preciso mostrar as possibilidades de um artigo ao interessado. "O que faz o faturamento da mágica é exatamente o segredo. Eu vendo o meu conhecimento. É como se fosse uma consulta médica", conta. Segundo o mágico, mesmo um material simples pode ser o diferencial para uma apresentação, pois o importante não é a qualidade do artigo, mas sim o que se pode fazer com ele. "Se você comprar esse baralho eu te digo: 'são R$ 35 mil. Eu te levo para o fundo da minha loja e ensino a fazer o truque. Assim, você sai com a sensação de que é um mágico", explica. Além da loja, com faturamento de cerca de R$ 5 mil por mês, Kellys também faz shows e palestras para complementar a renda. Para manter a procura por seus serviços e também a qualidade da loja, ele busca estar sempre em dia com o mercado e com as novidades. Contudo, vê a mágica como algo cíclico e também valoriza o passado. "Se eu pego tudo que for lançado de dois anos para cá e mostrar, todos conhecem aquilo. Mas se eu pego um truque de 20 anos atrás, um cara que tem 16 anos, nunca viu", diz ele sobre a mágica que, para ele, é "uma maneira honesta de enganar os outros". Mister Rossi, mágico profissional há mais de 25 anos e um dos fundadores da Academia Mineira de Ilusionismo (AMI), conta que há três décadas era dono de uma empresa de transporte e terraplanagem. Após conhecer um mágico que estava vendendo truques de nível amador e, com o incentivo da esposa, passou a se interessar pela magia. "Era caro, eu não quis comprar, mas acabei comprando e comprando e comprando", lembra. Posteriormente, o mágico
vendedor reconheceu sua habilidade manual e passou a orientá-lo, tornando-se seu mentor. "Depois disso não teve mais jeito, virei mágico", revela. Assim, Rossi passou a viver de magia. Em média, o mágico faz 30 pequenos shows por mês em festas de aniversário e eventos corporativos. Além disso, ele realiza seis grandes shows em teatros, em média, por ano. Segundo ele, o preço do show varia muito, dependendo do tipo do espetáculo. "Pode ser algo simples de R$ 300 a algo de R$ 10 mil. É amplo demais", coloca. Apesar disso, Rossi diz que o show mais barato normalmente é festa infantil e o mais caro inclui atrações,
[ ] “A MÁGICA É UMA
MANEIRA HONESTA DE ENGANAR AS PESSOAS” (MÁGICO KELLYS)
espetáculos em grandes teatros em geral. O que aumenta o custo deste ofício é basicamente o material utilizado no espetáculo. Segundo Rossi, mais de 60% do ganho do mágico depende da reposição desses materiais. Ou seja, se o mágico cobra R$ 300 na apresentação, ele certamente gastou mais da metade em material descartável, que precisa ser reposto. O problema, na opinião do mágico, é que são materiais muito caros, porque ele é artesanal. Além disso, são poucos fabricantes que produzem aquele truque específico sob encomenda, o que aumenta o valor final do produto. "A pessoa que faz, faz só para você", coloca. Assim, Rossi salienta que um mágico, em termos gerais, precisa fazer dois shows para quitar a compra dos produtos de mágica. "O faturamento pode ser grande, mas o custo é muito alto", salienta. Logo, a compra de aparelhos de mágica não é feita como a de um
objeto qualquer, que é descartado após certo tempo. O profissional de mágica, segundo Rossi, "tem que ficar com ele", porque no ilusionismo existem vários profissionais disputando o mesmo mercado. "Se você vende um aparelho mágico, você precisa ter muito cuidado para não vender aquilo para um concorrente direto seu, ou você acaba diminuindo seu mercado", explica. Apesar do alto custo, Rossi ressalta que adquirir os truques de mágica não é como comprar uma televisão, por exemplo. "Não é algo palpável, material. Já comprei números caros, mas o que eu comprei foi o conhecimento, o ensinamento de como o número é feito". Algo que é percebido entre os mágicos profissionais é que ninguém ensina nada gratuitamente. "Tudo que aprendi, eu paguei e consequentemente, não passo esse segredo por fora", diz Rossi. Em relação ao mercado de ilusionismo, Rossi ressalta que está bom, mas já esteve melhor. O mágico conta que na década de 1990, no período em que o ilusionista Mister M estourou na mídia, foi o ápice do mercado em Belo Horizonte. Rossi diz que chegava a fazer, em 1995, por exemplo, cerca de 60 shows por mês. "A criançada viu o mágico na TV e queria um mágico na festinha também. Em outubro daquele ano bati meu recorde: fiz 142 shows em 30 dias. Chegava a fazer dez shows seguidos, de 10h às 23h", conta. Atualmente, segundo ele, o mercado na capital está exigente. Os clientes estão buscando mágicos "consagrados", fazendo com que os mágicos novos não tenham espaço. Além disso, o alto custo de investimento nos materiais utilizados nos shows acaba minando os profissionais jovens, que não dão continuidade à prática, por uma questão econômica. É o que acontece com o mágico e estudante de Medicina Klauss, de 19 anos. Ele por exemplo, classifica sua carreira como um "hobby que dá dinheiro". Assim,
não pretende se dedicar exclusivamente à prática após se formar, apesar de realizar uma média de 20 shows por mês. Klauss, que se formou no Centro Cultural de Artes Mágicas (CECAM) e é sócio da AMI, realiza seis tipos de shows diferentes. "O preço de um show pessoal varia entre R$ 300 e R$ 500 e de um show empresarial de R$ 1000 a R$ 1500", afirma. MERCADO É justamente o valor da apresentação que mais preocupa Fabrício Bruno Martins, o Mr. Bruno, de 21 anos. Ele, que hoje se dedica exclusivamente à mágica para ajudar a família, teve que buscar alternativas tendo em vista a competição no mercado. "Tem mágicos que colocam o show muito barato, aí desvaloriza. Então, comecei a fazer apresentação close up à noite. Ofereço minha mágica, deixo meu cartão e peço uma colaboração", diz. Segundo Fabrício, os seus shows de palco têm em média duração de 40 minutos, e custavam, em média, R$ 400. Contudo, com a competição de outros mágicos oferecendo preços mais baixos, ele teve que reduzir o preço pela metade. "A mágica espalhou pelo Brasil. Fui obrigado a abaixar meu preço e agora também ofereço o show de palco com o close up, por mais R$ 50. Aí fico a festa toda", explica. Mesmo com as dificuldades, o mágico não pretende abandonar o ofício. Ele começou na mágica aos 12 anos por influência do irmão mais velho, Eller Marques Martins, morto em 2005, que chegou a se apresentar em programas de televisão de grande audiência como Domingo Legal (SBT), Caldeirão do Huck e Fantástico (Rede Globo). Mr. Euler, nome como era conhecido, foi descoberto por uma equipe de reportagem enquanto fazia truques nas ruas de Belo Horizonte. Logo que percebeu a rentabilidade, abandonou a venda de amendoins, atividade realizada também por Fabrício, para se dedicar somente à mágica. Depois da morte do irmão foi que Fabrício decidiu seguir a carreira de forma mais profissional. "Eu ganhei um curso no Cecam, que me ajudou muito. Eu não tinha condição de pagar, e através do curso pude aperfeiçoar", explica. Ele se orgulha de contar que possui mais de 100 mágicas no repertório, algumas inclusive inventadas por ele. E é esse entrosamento com o mundo dos truques que facilita o bom andamento das apresentações. "O público leigo não sabe o que o mágico vai fazer. Então tem como improvisar, e se algo der errado, falar que foi de propósito", explica. Um bom lugar para apresentar mágicas e ter contato com o público são as casas de festas. Os shows de mágica são muito procurados por buffets infantis. Na casa de festas Abracadabra, região Sul de Belo Horizonte, sempre tem procura para eventos com mágicos, independente da idade do aniversariante. Segundo a gerente, Alvine Hauber, apesar de ser fascínio das crianças, nas festas de adultos a procura também é boa, a diferença é que o show apresentado tem mágicas mais elaboradas. No Buffet Aquário, que fica na região Noroeste, a procura por shows de mágica também é grande, o problema é encontrar mágicos disponíveis. Segundo a promotora de eventos, Patrícia Fagundes, quando encontram mágicos, o preço é muito alto.
12 Cultura
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Julho • 2011
VIAGEM PELO UNIVERSO LITERÁRIO FOTOS: LEONARDO BRUNO
Em Belo Horizonte, uma biblioteca localizada na Estação Central do metrô, tem livros que atraem leitores de diversas faixas etárias n FERNANDA FERNANDES, LEONARDO BRUNO, LUÍZA DE SENNA, RODRIGO RIOS, 7º PERÍODO
Um jovem à primeira vista tímido, que gosta de ficção, romance e tudo que possa contribuir para melhorar seu vocabulário e sua escrita. Este é o balconista Felipe Martins, de 19 anos, associado da Estação Leitura desde agosto de 2010. Ele é o primeiro em uma lista dos 20 usuários que mais pegam livros nesse espaço. O garoto, que trabalha em um estande da Nestlé na estação, ao lado da biblioteca, destaca suas preferências no universo literário "A garota da Capa Vermelha" de Stphenie Meyer e os livros da série Millenium de Stieg Larsson que retratam uma série de investigações. Felipe também tem paixão por culinária e faz curso técnico em gastronomia. Em sua opinião a falta de leitura em detrimento ao uso de outras formas de entretenimento como a internet é "péssimo", porque não permite que a pessoa conheça histórias que podem ser enriquecedoras para a sua vida profissional e pessoal, além de ter a possibilidade de ampliação de vocabulário. Ao contrário de Felipe, Taynara Rafaela da Silva, de 17 anos, estudante de química, é descontraída, e, em comum com o jovem, tem paixão pelos livros. Ela conta como conheceu a Estação Leitura. "Eu fazia ballet, aí eu pegava o metrô aqui na estação central por volta das 10h30. Um dia eu atrasei passei aqui depois das 11h e vi que estava aberto e conversei com a Kelly, a funcionária, e fiz o cadastro. Desde então pego livros uma vez por
Estação Leitura, biblioteca localizada na estação do metrô, possibilita às pessoas que gostam de ler acesso gratuito ao universo da literatura semana", conta. Taynara mora em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Associada há um ano, ela considera a Estação Leitura uma alternativa para seus interesses literários. Segundo a estudante, se fosse para ir até a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade, seria bem mais complicado e inviável. Seu gosto por histórias vem desde pequena e no presente vem se diversificando. "Eu gosto de ler tudo. Não me prendo só a romance ou ficção. Com estilos diferentes, eu sempre aprendo alguma coisa", afirma. A jovem revela que a leitura é tudo em sua vida. Ela frequenta o local pelo menos uma vez por semana. Por meio desse hábito Taynara se sente motivada a enfrentar seus medos e a se posicionar diante de desafios cotidianos. "Na vida profissional, os
livros me ajudam em meu crescimento e no entendimento das guerras e conflitos, assuntos que são discutidos pelos professores. Na vida pessoal, a autoajuda me auxilia em momentos difíceis. Eu começo a refletir sobre como estou vivendo e compreendo que nem tudo é como a gente quer. Também auxilia na formação do caráter", comenta. A garota destaca que o espaço literário sempre tem lançamentos e livros que são indicados pelo New York Times, fatos que lhe chamaram a atenção. Dessa forma, ela não precisa gastar dinheiro toda vez que quiser ler um lançamento que, às vezes, é bem caro em sua opinião. "Infelizmente, os jovens hoje só querem saber de Facebook, Orkut ou Twitter. Sempre incentivo os meus amigos a lerem, porque através desse hábito pode-se criar novos conceitos e sair do lugar
Especialistas discordam da eficácia do projeto
Biblioteca é espaço de interação e socialização A auxiliar de biblioteca Kelly Cristina Ferreira Romão trabalha na Estação Leitura desde sua criação. Para ela, estar em meio aos livros é uma viagem literária. Os títulos mais procurados são 'A menina que roubava livros', de Markus Zusak; 'Caçador de Pipas', de Khaled Hossein; 'Crepúsculo', de autoria de Stphenie Meyer e 'Ágape', escrito pelo Padre Marcelo Rossi. Cerca de 100 pessoas, em média, passam pelo local diariamente, segundo ela. "A leitura é informação, educação e uma forma de aproximação com as pessoas", diz. Kelly tem um gosto diversificado, mas se diz apaixonada por livros históricos. Ela conta que o acervo existente no local veio pronto de São Paulo e com o passar do tempo, as escolhas foram feitas de acordo com os pedidos dos leitores. A principal empresa que patrocina o projeto é a Fosfértil. As doações de usuários, que contribuíram para o aumento de livros e podem
comum", ressalta. O espaço não recebe apenas jovens. A copeira Vilma Seriato, de 45 anos, pega livros não só para ela como para a filha Brenda, de 14. Sua carteirinha foi tirada há cinco meses e desde então ela vai à biblioteca uma vez por semana. "Brenda gosta de romances. A professora tem incentivado os alunos da sala dela a lerem e eu acho isso muito importante para a formação do jovem e para o desenvolvimento do português", conta. Terezinha Sanches, 60 anos, é aposentada e adora livros de autoajuda. Há três meses, pega livros de dez em dez dias e afirma que o hábito é benéfico não só para ela, como para as pessoas de seu convívio. "Na escola quando fiz enfermagem, tive que ler muito, por isso desenvolvi essa atividade. Gosto de ajudar as pessoas e por isso preciso estar bem informada", relata.
ESTÍMULO A 'Estação Leitura', criada em 4 de agosto de 2009, funciona na Estação Central do metrô e está aberta a qualquer pessoa interessada. O cadastro é gratuito e pode ser feito na hora, desde que o interessado esteja com identidade, CPF, uma foto 3x4 e um comprovante de residência atual. O agente de segurança penitenciário Carlos Augusto Garcia Lima e a estudante Jiranir de Paula aproveitaram a passagem pelo local para se cadastrarem e aproveitarem a oportunidade de ler aventuras policiais, estilo preferido de Carlos, ou peças teatrais, livros que atraem a atenção da estudante. A ideia de instalar uma biblioteca dentro da estação do metrô partiu do Instituto Brasil Leitor (IBL). A 'Estação Leitura' abriga diversos tipos de obras, além de conteúdos acessíveis em braile e áudio livros. Essa iniciativa também está presente em outras capitais, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre. Em Belo Horizonte, o crescimento do número de empréstimos e do volume de associados mostra que esse incentivo vem apresentando boas mudanças no hábito dos brasileiros. Em 2010, foram mais de 14 mil livros emprestados e o número de associados da biblioteca passou de 1.033 para 1.946, totalizando um crescimento superior a 88% do número de leitores. A gerente bibliotecária Fabiana Chagas destaca a importância dessa iniciativa até para o seu comportamento. "Eu gostava muito de televisão e quase não lia, porque estava sempre muito atribulada. Hoje, eu já não assisto tanta TV e me dedico mais à leitura, porque descobri o prazer de viver e aprender por meio de histórias reais e ficções. O entusiasmo com que as pessoas vêm aqui para procurar livros me despertou a curiosidade e o prazer pelas letras", revela.
ser feitas no lugar. "Só não aceitamos livros científicos e pedagógicos, porque aqui não é uma biblioteca de escola. Nosso segmento é mais voltado para a literatura", conta. Hoje existem 2599 livros no acervo e 2226 usuários, segundo dados pesquisados no dia 4 de maio de 2011. O espaço também é um ponto de encontro entre desconhecidos que fazem amizade ali no balcão. "Muitas vezes, o leitor chega aqui empolgado com a história lida. Alguém fica curioso e pergunta o nome da obra. Daí passam a conversar e se tornam amigos'', comenta. Kelly também se torna amiga dos usuários. "É algo mágico, o que a leitura produz na gente. Várias vezes eu indico um livro que ainda nem li para alguém que pede sugestão, por ter ouvido alguém falar do enredo. É uma disseminação de informação que considero benéfica", opina.
O professor Pedro Perini, da Faculdade de Letras da PUC Minas, não se mostra convencido sobre o êxito de projetos de estímulo à leitura, como o desenvolvido pelo metrô. "O projeto pode incentivar o cidadão a ler, mas não creio que tenha um grande efeito. É necessário haver estudo quantitativo para avaliar isso, porque intuitivamente não dá para perceber os resultados", diz. Em relação às mudanças provocadas na sociedade e no crescimento do índice de leitores, Pedro considera resultados mínimos. "Há valores fortes e crescentes em que práticas de leitura, salvo formação escolar e profissional tenham entrada. Nesse caso, o incentivo da família é determinante", opina. Já a pedagoga da Escola Municipal Coronel Joaquim da Silva Guimarães, da cidade de Cláudio, na Região CentroOeste de Minas, Marilda Ferreira Vaz Prado, elogia iniciativas como o 'Estação Leitura', destacando a
A variedade de títulos atrai muitas pessoas
importância desse tipo de acesso aos livros. Na escola em que Marilda trabalha, atendendo alunos da 1ª à 4ª série, há o projeto "Hora da Leitura" que promove uma competição entre os alunos para saber quem mais leu livros durante o mês. Iniciado em 2008, a iniciativa envolve os professores que elaboram questionários com a finalidade de saber quem mais leu e que aprendizado tiraram das histórias. "Através dessa troca de idéias novos conhecimentos são adquiridos e as crianças desenvolvem sua criatividade", conta. Para a pedagoga, o hábito de ler acaba se tornando um vício benéfico. Incentivada a ler desde pequena pelo pai, Marilda relembra a sabedoria do homem que apesar de pouco estudo sabia muito. "Ele me incentivava tanto a ponto de dizer que quando não houvesse livros deveria ler uma simples folha de jornal, para me manter sempre informada", conta.
Cidadania Julho • 2011
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DETENTOS SE RENDEM À LITERATURA n DANIELLA DUTRA, KENETH BORGES, 1º E 3º PERÍODOS
O começo dessa história, há nove anos, aconteceu em uma borracharia do Bairro Caieira, em Sabará, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, quando foi criada ali, entre graxa, pneus e parafusetas, uma biblioteca. Há um ano e meio, foi inaugurada a quarta unidade da 'Borrachalioteca', mas em um ambiente totalmente diferente do original: o Presídio Municipal de Sabará. E, mais recentemente, em função disso, o estabelecimento prisional passou a alfabetizar a aperfeiçoar a leitura dos presos. A ideia de levar a leitura, por meio de uma unidade da 'Borrachalioteca', à pessoas que não podem ir até ela, surgiu por intermédio de uma conversa entre o diretor geral do presídio José Romero da Cunha com Marco Túlio Damascena, responsável pela ideia de criar bibliotecas em espaços inusitados em Sabará, como a borracharia. "Quando ele foi levar a viatura para alguns reparos na borracharia, o diretor Romero me solicitou alguns livros, mas em resposta eu disse, vamos criar uma biblioteca no presídio", relembra Túlio. Então desde janeiro de 2010, foi inaugurado o Projeto Libertação pela Leitura. Atualmente, o espaço já conta com um acervo de mil livros, além de revistas de vários gêneros, disponíveis para os
Entre palavras e celas, os detentos buscam uma nova realidade e incentivo para passarem os dias. A nova unidade da Borrachalioteca no Presídio Municipal de Sabará ganha mais livros e novos adeptos à leitura MARIA CLARA MANCILHA
Detento pode escolher a leitura entre as mil publicações disponíveis na unidade da Borrachalioteca localizada no presídio de Sabará detentos. Junto com o incentivo à leitura, no entanto, houve a necessidade de alfabetização. Por isso, em fevereiro deste ano, com o apoio da Secretaria de Defesa Social e a Escola Estadual Maria Elizabeth Viana localiza no bairro Santo Antônio de Roça Grande em Sabará, está sendo desenvolvido o Projeto Educação de Jovens e Adultos (EJA). Dessa forma, são oferecidas aulas regulares dentro do presídio, de segunda a sexta-feira, nos
períodos da manhã e tarde, da 1ª a 8ª série para os reclusos. De acordo com o diretor do presídio, o objetivo do projeto é trazer melhorias para os detentos, pois quando libertos, poderão dar continuidade aos estudos. A psicóloga Raquel Nascimento da Silva trabalha há um ano e meio no presídio e coordena o Projeto Libertação pela Leitura, ela afirma que alguns estão em fase de alfabetização e os outros mais avança-
dos na leitura gostam de pegar livros da biblioteca, os mais emprestados são a Bíblia e os de auto-ajuda. "Depois que veio o projeto eles estão bem calmos, sem dúvida", comenta. Um dos presidiários, que não pode ser identificado, está recluso há um ano e meio e junto com a psicóloga, é voluntário na biblioteca. Ele ajuda na catalogação e leva a lista nas celas. "Eu gosto de ler, é importante, indico até para os presos do albergue"
(regime semi-aberto), revela. "Meus autores favoritos são Pablo Neruda, Jorge Amado e Paulo Coelho", acrescenta. INÍCIO O projeto da 'Borrachalioteca' nasceu em 2002, quando Marco Túlio decidiu trabalhar ao lado de seu pai, o borrracheiro Joaquim Escolástico Damascena. Por ser apaixonado pela literatura Marco Túlio pensou em colocar livros para os frequentadores da borracharia, e pediu doações para a Biblioteca Pública de Sabará. "Fui a Biblioteca Pública e pedi alguns livros, doaram setenta, dos quais foram a semente da Borrachalioteca", comenta Marco Túlio. A partir daí, a comunidade começou a frequentar a borracharia, principalmente para apreciar a leitura, e os pneus perderam espaço para os livros. As doações aumentaram de 70 para 500 livros só nos primeiros três anos. "Os próprios fregueses eram os doadores", lembra. Hoje, o projeto é denominado, Instituto Cultural Aníbal Machado, e possui quatro unidades da Borrachalioteca na região de Sabará. A principal sede é a da borracharia, com um acervo de 10 mil títulos. Outras duas estão localizadas na Sala Son Salvador, 5 mil obras; e na Casa das Artes, com 2 mil livros infanto-juvenis e 1 mil cordéis. A quarta unidade é a do Presídio Municipal de Sabará.
Projeto oferece incentivo aos jovens estudantes MARIA CLARA MANCILHA
n SAMARA NOGUEIRA, 4º PERÍODO
Desde 2009 a Prefeitura de Belo Horizonte, juntamente com a Fundação Roberto Marinho, realiza o Projeto Floração em 93 escolas Municipais da capital. O programa oferece a adolescentes entre 15 e 19 anos, e que não conseguiram concluir o ensino fundamental, a oportunidade de regularizar essa situação e após um ano voltarem a frequentar as aulas fora do projeto. "O principal objetivo do programa é corrigir a distorção idade ano da faixa etária de 15 aos 19 anos que permanecem na escola por muito tempo", explica a coordenadora geral do projeto, Noará Maria de Castro. Ao estabelecer uma faixa etária específica, o projeto consegue formar grupos de alunos com nível de interesse equivalente, o que favorece o desenvolvimento deles. "Pela manhã, os alunos que estão no ensino fundamental, por exemplo, já tem idade para estarem no ensino médio, alguns já com 19 anos se sentem fora do seu habitat. Quando o programa traça um perfil o aluno consegue ter identificação com seus pares. Mesmo que um esteja na quinta, outro na sexta eles se identificam", conta a coordenadora. Os conteúdos desenvolvidos durante o projeto se dividem em três módulos de matérias: Língua Portuguesa e Ciências, Matemática e Geografia, História e Inglês. Para aplicá-los os professores contam com a ferramentas como as tele-aulas que após serem transmitidas são discutidas por
meio de dinâmicas nas salas. A aluna Daniela Santana ressalta pontos positivos e negativos desse modelo. "Por um lado é mais fácil e interessante, mas tem hora que é muito cansativo as aulas na televisão. Mas também se você ficar em uma aula normal, mas parece que cansa menos," conta Daniela. A Escola Municipal Monsenhor Artur de Oliveira, localizada no Bairro Caiçara, na Região Noroeste de Belo Horizonte, é uma das participantes do projeto. As aulas que acontecem no período da tarde são ministradas pela professora Dalila Gomes. No primeiro mês de aula, ela, como os outros professores do projeto, realiza com os alunos o período de integração. "A gente tem um período de integração onde a gente trabalha valores como companheirismo e respeito entre alunos. Esse período faz com que os meninos fiquem mais unidos", explica Dalila. No inicio das aulas são formadas equipes de socialização, coordenação, síntese e avaliação, que se revezam durante o ano. Nessas equipes os alunos possuem responsabilidades específicas, o que os tornam mais participativos na formação do aprendizado durante o ano letivo. "No projeto Floração os meninos participam do conhecimento, da construção do conhecimento, e adquirem mais autonomia", conta Dalila. Para Noará, trabalhar a integração entre os alunos e mostrar a importância de cumprir suas responsabilidades dentro do grupo é despertar nesses adolescentes características importantes que existem dentro de uma sociedade.
"Trabalhando a integração a gente consegue realmente criar no estudante um espírito de sociedade, que muitas vezes ele perde por estar fora do seu contexto. Eles entendem que em uma sociedade as pessoas exercem diferentes papéis e mesmo assim eles podem conseguir o mesmo objetivo", explica a coordenadora. AUTOESTIMA A experiência adquirida por Dalila em seus dois anos de trabalho no Floração fez com que ela conseguisse apontar modificações comuns que ocorrem nos adolescentes durante o projeto. A autoestima é uma das mais relevantes para professora já que ao adquirí-la o aluno percebe que apesar de suas derrotas ele é capaz de aprender. "A gente trabalha muito a questão da auto estima deles sabe, porque esses meninos tem a auto estima lá em baixo.Eles se veem burros. Aqui, por participarem do projeto de aprendizado, a gente valoriza muito tudo que eles fazem e isso levanta a auto estima deles. Ai eles se conscientizam que eles dão conta de aprender", conta a professora. A professora também acrescenta que a partir do momento que os alunos passam a ter mais confiança, a desistência escolar diminui. "A partir do momento que eles se sentem mais valorizados que eles se conscientizam que eles estão aprendendo, que eles dão conta do conteúdo a tendência é não abandonar", afirma. A aluna Kaune Moreira, por exemplo, que participa do projeto há seis meses, está confiante em voltar às aulas regulares e não pretende desistir. "Estou bastante ani-
Para Valdirene Vieira, o filho Gabriel está mais interessado na escola após o Projeto Floração mada para a volta. A gente quer andar para frente, a gente não quer voltar para trás. Eu estou animada estou mais confiante e estudando bastante", conta a estudante. Raiane Rodrigues, estudante da Escola Municipal Edgar Matta Machado, está tão confiante que já traça planos para o futuro. Entretanto, ela deixa claro que nesse processo é essencial que os alunos tenham o compromisso de estudar. "Depende muito da gente, tem que ter mais responsabilidade e interesse. Meu caso foi que eu abandonei e agora eu voltei,
então, eu estou aqui para aprender e não para brincar. Agora eu não pretendo mais abandonar, pretendo terminar e fazer um curso técnico de radiologia", conta. Esses avanços também são observados pelos pais dos alunos. Valdirene Vieira, mãe de Mateus, conta que após entrar no Floração o filho se tornou mais interessado pelos estudos."Eu estou vendo ele mais interessado, aqui eu vejo ele mais socializado com os grupo. Os resultados já estão começando a aparecer nas provas", afirma Valdirene.
14 Comportamento
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Julho • 2011
Artistas que são desconhecidos pelo grande público também possuem admiradores que, além de reconhecerem o talento desses profissionais, ajudam a divulgar o trabalho dos músicos
FÃS ADMIRAM ARTISTAS ANÔNIMOS MARIA CLARA MANCILHA
n GABRIEL PAZINI, THAMILIS ANDRADE, 1º PERÍODO
Ao ver o músico Everton Calazans, 29 anos, tocando e cantando pela primeira vez no bar Cartoon, Bairro Camargos, o corretor de imóveis Marco Aurélio Campos, 32 anos, se encantou. Empolgado com as canções de MPB que Everton apresentava, começou a brincar com o cantor oferecendo a ele dinheiro em troca de músicas específicas, fazendo o músico rir e se surpreender com as "loucuras" feito pelo novo fã que havia conquistado. "Na primeira música dei cinco reais, na segunda dez reais, depois vinte e cinco reais por uma chamada Nós Dois, e ele, no momento, achando tudo lindo, lucrativo", conta o corretor de imóveis. Para Marco Aurélio, que também é músico, pouco importa se seu ídolo seja alguém desconhecido. O corretor acredita que os grandes cantores e compositores começaram desta maneira, tocando ao vivo em bares e em pequenos palcos, como o bar Cartoon. "Acho que para ser conhecido é apenas questão de tempo e dedicação", garante. Além de admirador do trabalho de Everton, Marco diz que se tornou grande amigo do músico. "Ele é divertido, profissional e muito eclético", declara. Para ajudar o parceiro, divulgou seu trabalho em rádios comunitárias e até chegou a fazer dupla com o amigo se apresentando juntos durante um mês. Marcos afirma que não é o único tiete do cantor. “A mãe dele vai em todos os shows e grita horrores. E uma das ex namoradas do Everton é uma grande fã", relata. O comportamento de um fã diante daquele artista que admira é algo curioso para a psicóloga
Everton Calazans se apresenta na noite de BH há 10 anos e, apesar de não ser um músico famoso, tem seu talento reconhecido pelos fãs Maria de Souza, 58 anos. "Ao mesmo tempo que é um distúrbio, é um comportamento normal, pois todos nós idolatramos alguém ou algo, sejam artistas, times de futebol, religiões ou cantores", observa a psicóloga. Ela analisa que essa adoração por alguém pode ser explicada pelo meio em que se vive, ou seja, pelas inseguranças de cada um em relação a si mesmo, a vontade de se igualar ao seu ídolo. "Muitas vezes é uma satisfação pessoal", completa Maria.
NOVIDADE No caso do corretor de imóveis Marco Aurélio, seu ídolo não é algum global ou um artista de cinema, mas um cantor que conheceu por acaso em um pequeno bar. Existem motivos, segundo a psicóloga Maria de Souza, que levam as
pessoas a escolher artistas desconhecidos para ser fã. "No pensamento do fã o desconhecido irá trazer algo novo em relação ao famoso. Também é algo relacionado ao fato do famoso já ter fama, enquanto o desconhecido não é de certa forma, uma maneira de ajudar no reconhecimento e crescimento do desconhecido", afirma. Segundo a psicóloga, as pessoas buscam a fama por ambição e vontade de querer vencer. "Muitas vezes o ser humano é insatisfeito com sua realidade, e tem o desejo de vencer através do que é a fama para ele, e muitas vezes, a fama para nós, está em algo que o outro tem e faz, e nós não. Todos nós nos espelhamos em alguém, e buscamos a fama por ambição e desejo de vencer", diz.
Para quem está do outro lado da moeda, a fama se torna uma novidade boa. O reconhecimento chega aos poucos e vem das pessoas e das formas mais inusitadas. Everton Calazans já sentiu isso na pele, e apesar de saber que não é alguém famoso, se sente feliz com as demonstrações de carinho daqueles que admiram seu trabalho. "É muito legal, uma pessoa que nunca sentou e conversou comigo gostar de mim simplesmente pelo meu trabalho, só por eu cantar e tocar. Isso é muito bom", conta o músico. Everton, que vive de música, é fã de Bom Jovi, U2 e Skank. Aprendeu a tocar violão sozinho e toca profissionalmente há 12 anos. Ele afirma que resolveu levar a música e seu sonho a sério. “Acho que música é igual
ao jogador de futebol, a gente tem aquele sonho de criança, mas é difícil as pessoas levarem aquilo a sério como eu levei", conta. O músico conta que tocava com o irmão durante a noite nos barzinhos por diversão. Foi quando percebeu que já fazia música há mais de 10 anos que decidiu ter aquilo como profissão. Comprou seu próprio equipamento e desde então nunca mais parou de tocar na noite de Belo Horizonte. "Foi acontecendo e estou ai até hoje" observa. Sobre sua mãe e outros fãs Everton afirma que presta homenagem aos mesmos, tocando músicas que eles gostam e pedem. "Fátima, que tem o nome dela. E tem outra que é Pescador de Ilusões do Rappa. Toco músicas para vários fãs", conta. Ele explica que com o tempo passa a existir uma conexão entre os músicos e sua platéia assídua, de uma forma que o permite conhecer o gosto de cada um. Desta maneira, quando quer agradar alguém, já sabe na ponta da língua qual canção tocar. "Sempre tem aquelas pessoas que a gente já sabe o que gosta", completa. Para Everton, é um prazer ver a reação de um fã quando é feita alguma homenagem desse tipo. Para o músico, assim como para seu grande fã Marco Aurélio, a fama não é o mais importante. Everton se diz muito feliz com o seu trabalho, afirma que tem lados ruins, mas que é muito prazeroso. Ele conta o quanto é bom se sentir bem, realizar um sonho, e ainda ganhar dinheiro para isso. O músico deixa ainda um recado para jovens bandas. "É muito prazeroso trabalhar com música, e o sucesso é apenas consequência de um trabalho bem feito e com esforço um dia ele acontece".
PEDRO VASCONCELOS
Reconhecimento se transforma em amizade entre fã e músico n LAURA DE LAS CASAS, 4º PERÍODO
Todo último sábado do mês, faça chuva ou faça sol, com ou sem gripe, a dona de casa Julieta Mesquita, 82 anos, tem um compromisso marcado em sua agenda: ir ao show de Ricardo Nazar, cantor, compositor e intérprete de Chico Buarque. Esse show, que acontece mensalmente no Vinnil Cultura Bar, já virou parte da rotina de Julieta, mais conhecida como Dona Juca, grande admiradora de Noel Rosa, Cartola, Chico, entre outros artistas da música popular brasileira. "Uma vez eu deixei de tomar a vacina da gripe com medo de me dar aquela reação e eu não poder assistir o Ricardo Cantar", conta, sorrindo. Ricardo Nazar é mineiro de Pitangui, região centro-oeste do estado. Além de cantar, é dentista e, como artista, ficou conhecido em Minas por te ruma voz bastante parecida com a do
cantor e compositor Chico Buarque de Holanda. Em toda apresentação que faz no Vinnil, ganha de dona Juca um presente diferente. "Da ultima vez eu dei uma loção bem cheirosa", diz a dona de casa. Ela conta que conheceu o cantor por acaso, em uma apresentação que assistiu no Palácio das Artes, na qual Ricardo interpretava o próprio Chico Buarque. "Vendo ele cantar foi tiro e queda, eu fiquei apaixonada", comenta. A relação da fã com seu ídolo maior se tornou amizade. Além de ter espaço cativo sempre na primeira fila dos shows, em seu aniversário de 80 anos, Dona Juca o considerou seu convidado especial. "Acontece que ele me deu uma decepção muito grande, porque levou a namorada dele", brinca. Um dos momentos mais inesquecíveis da festa foi quando cantaram juntos sua música predileta: João e Maria. Depois dessa "parceria", Dona Juca até se animou a entrar em uma aula de
canto. "Faço há um ano e adoro", conta. Para ela, o cantor se destaca por ter uma voz suave. "É parecidíssima com a do Chico, mas a dele é ainda mais bonita, mais afinada" analisa. Ela conta que gosta de assistir aos shows de pertinho, e que algumas vezes até já chegou a invadir o palco. "Subi no palco para dar um abraço nele e ele me disse todo jeitoso e charmoso: Dona Juca, a senhora está atrapalhando", relembra. Um dos episódios marcantes que Julieta se lembra aconteceu no dia que ela assistia a um dos shows mensais do artista enquanto, ao mesmo tempo, acontecia o show do próprio Chico Buarque em um teatro de Belo Horizonte. Ela foi abordada por uma moça que a questionou por não estar no show do Chico, já que todos sabiam que Dona Juca era verdadeira fã do cantor. "Eu respondi sem pestanejar: meu lugar é aqui. Não troco essa voz por nada nem ninguém", afirma.
Julieta trocou o show do Chico Buarque, de quem é fã, pela apresentação do amigo
Esporte Julho • 2011
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jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Alunos do Espaço Criança Esperança-BH vão à Europa disputar torneio mundial de ginástica neste mês. Elas se classificaram em 2009 e, desde então, treinam para brilhar na competição
DA SERRA À SUÍÇA PELA GINÁSTICA GABRIELA CAMARGOS
n GABRIELA CAMARGOS, GABRIELA MATTE, MARCELA NOALI, MARINA CAMARGOS, PAULA ZAIDAN, 1º PERÍODO
Os olhos de Mariana Martins brilham quando ela orgulhosamente fala de seu grupo de ginástica do Espaço Criança Esperança (ECE) de Minas Gerais. A menina, de 14 anos, é um dos 22 adolescentes que integram a equipe classificada para compor a Comitiva da Seleção Brasileira de Ginástica que representará o Brasil no campeonato mundial, o 14º Gymnaestrada, que acontecerá em Lausanne, na Suíça, em julho deste ano. "Estamos treinando bastante para a competição", relata Mariana. O Gymnaestrada é o maior evento de ginástica geral do mundo. Ele acontece de quatro em quatro anos com membros de todas as idades, vindos de todas as partes do globo. Este ano, a competição conta com a participação de cerca de 20 mil jovens de 55 países. A satisfação dos jovens carentes do Aglomerado da Serra aumenta quando se lembram de que são apenas duas equipes mineiras classificadas. A primeira etapa da seletiva aconteceu em agosto de 2009 no Rio de Janeiro, mas o grupo só se classificou na segunda oportunidade, em dezembro do mesmo ano. "De lá para cá viemos melhorando cada vez mais e nos tornando cada vez mais unidos", destaca Mariana. A atleta frequenta o Espaço Criança Esperança desde os nove anos e diz ter entrado só por causa do esporte, que é a sua paixão. "O espaço é muito bom para nós, é melhor do que ficar em casa à toa, vendo TV", relata a
Alunas do ECE-BH treinam no Complexo Esportivo da PUC Minas. Elas participarão do maior evento de ginática geral, em julho, na Suiça menina. Assim, como sua colega, Rebeca Costa, de 15 anos, também começou a participar por causa da ginástica. A menina tem paixão pela atividade e pensa em adotá-la como profissão. "Faço um curso de informática fora do projeto pra ter um futuro melhor, mas como estou vendo que a ginástica já está me dando um futuro, vou continuar nessa atividade", diz Rebeca. Tatiane Caroline de Jesus Silva, 17 anos, é mais uma das atletas que participará do mundial de ginástica na Suíça. "Meu sonho era fazer ballet, mas não tinha no espaço. Então, estimulada pela minha irmã, fiz minha inscrição na ginástica e nunca mais parei. Amo fazer ginástica", conta. Frequentadora do ECE há aproximadamente 11 anos, Tatiane
ainda acrescenta, "Quando cheguei, não entendia de ginástica, mas percebi que era diferente de dança e achei mais interessante". A equipe formada por 22 meninos e meninas, de nove a 17 anos, foi criada há cerca de cinco anos e é orientada pela técnica Margareth de Paula Ambrósio. Os alunos treinam três vezes por semana, durante duas horas, no clube do campus da PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico. A prática da modalidade "esporterendimento" é defendida por André Neto, supervisor do núcleo de esportes do ECE desde 2006, quando foi fundado. "A gente trata o esporte como um direito social que a criança tem", explica. A classificação da equipe, além de motivo de grande orgulho para
todos os alunos e professores, é um exemplo do esporte mudando vidas. "Nossas famílias estão muito felizes por nós e nos apóiam bastante", lembra-se Mariana. O grupo de ginástica já foi destaque representando o ECEBH na Copa Mineira de Ginástica de Trampolim, no Campeonato Estadual de Ginástica e na Copa de Ginástica Acrobática. Agora, no mundial, se enquadra na modalidade "Ginástica para Todos". Está área é definida pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) como bastante abrangente, por ser fundamentada em diversas atividades ginásticas (Ginástica Artística, Ginástica Rítmica, Ginástica Acrobática, Ginástica Aeróbica e Ginástica de Trampolim). Vale-se também de vários tipos de manifestações, tais
como danças, expressões folclóricas e jogos, expressos através de atividades livres e criativas. Segundo a CBG, o “Ginástica para Todos” objetiva promover o lazer saudável, proporcionando bem estar físico, psíquico e social aos praticantes, favorecendo a performance coletiva, respeitando as individualidades, em busca da auto-superação pessoal, sem qualquer tipo de limitação para a sua prática, seja quando às possibilidades de execução, sexo ou idade, ou ainda quanto à utilização de elementos materiais, musicais e coreográficos, havendo a preocupação de apresentar neste contexto, aspectos da cultura nacional, sempre sem fins competitivos." Outra novidade que deixou os atletas animados foram as aulas semanais de inglês que estão sendo oferecidas voluntariamente por um curso de Belo Horizonte. Eles estão se preparando para fazer bonito em todos os sentidos ao representarem sua comunidade na Europa. O DESAFIO Desde que foi classificado, o grupo busca patrocínios para bancar a viagem dos 22 atletas, já que o custo individual pode chegar a 10 mil reais. Segundo o supervisor do núcleo de esportes do ECE, André Neto, parte das despesas da viagem já foram pagas: "Um empresário local que prefere não se identificar arcou com 50% do valor das inscrições de toda a equipe envolvida", diz André. Além desse patrocínio, o ECE conseguiu R$ 100 mil por meio de um projeto aprovado pela Secretaria Municipal de Esportes e aguarda a resposta de outro, enviado para o Ministério dos Esportes. Se esse projeto for aprovado, o grupo terá todas as despesas da viagem pagas.
Casal de cegos é destaque no atletismo brasileiro CARLOS EDUARDO ALVIM
n LÍVIA ALEN, 7º PERÍODO
Anderson de Souza Coelho, 27 anos, e sua esposa Isabela Silva Campos, 30 anos, vivem juntos há três anos. Acordam, tomam café da manhã preparado pelos dois e saem para treinar no Complexo Poliesportivo da PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico. Ela treina arremesso de peso, disco e dardos. Ele corre em pistas. Os dois estão entre os melhores do Brasil em suas categorias. Isabela bateu o recorde brasileiro de arremesso de peso esse ano e está em primeiro lugar no ranking dessa modalidade. O marido por sua vez, está pré-convocado para o Parapan-Americano de 2011 e é o 2º colocado brasileiro nos 800 metros pista. Os dois competem por categorias que englobam cegos totais. No Brasil, os atletas paraolímpicos enfrentam sérias dificuldades para treinar e recebem poucos incentivos do governo e de patrocinadores. Apesar disso, em 2008, o país conquistou 16 medalhas de ouro nas Paraolimpíadas, e apenas três, nas Olimpíadas. Assim, os paratletas alcançaram o 9º lugar na classificação geral, já na competição tradicional, o resultado foi a 23ª posição. Com o casal de atletas não é diferente, porém há um agravante: os cegos precisam de guias para acompanhá-los nos
treinos, o que aumenta o custo deles. Juntos, Anderson e Isabela tem renda mensal de R$ 2015. Eles recebem o benefício para deficientes do Governo Federal, de um salário mínimo, e Anderson também é contemplado com a bolsa atleta, igualmente do governo, de R$ 925. Desse total, eles precisam pagar guias, comprar uniformes e tênis, custear as viagens para competições e se sustentar. Nenhum dos dois tem plano de saúde, o que faz com que convivam com o medo de sofrer lesões e precisar parar de competir. O casal se conheceu no Instituto São Rafael, tradicional escola especializada em educação, reabilitação e integração de deficientes visuais. Quando foram morar juntos, poucos acreditavam no futuro deles. Segundo Anderson, muitos duvidam que eles cuidem da própria casa e que são atletas de ponta. Além disso, é difícil encontrar patrocínio. Nenhum deles é patrocinado, alguns dos recursos de que necessitam, como treinadores, são disponibilizados pela Associação dos Deficientes Visuais de Belo Horizonte (Adevibel). Sobre a deficiência ele conclui: "Hoje em dia o cego faz tudo". Aos cinco anos, Isabela começou a perder a visão em função de um sarampo que contraiu na época. Assim, precisou fazer vários tratamentos e cirurgias na tentativa de amenizar a
perda da acuidade visual, por isso parou de frequentar a escola na época. Entretanto, aos 15 anos ela ficou completamente cega. Dos 15 aos 18 anos, ela ficou apenas em casa, não gostava de sair e não ia à escola. Nesse período, chegou a pesar 100 quilos, contrastando com os 72 atuais. Depois de três anos praticamente sem sair de casa, Isabela conheceu o Instituto São Rafael, no Barro Preto, em Belo Horizonte. Foi no Instituto que Isabela conheceu a Adevibel e começou a praticar esportes, seu objetivo inicial era perder peso. Em 2007, ela passou a treinar para competições de atletismo, mas o sucesso veio em 2009, quando descobriu sua verdadeira habilidade: o arremesso. Ela compete nas modalidades de arremesso de peso, dardos e disco. Em maio de 2011, Isabela bateu o recorde brasileiro na prova de arremesso de peso em Brasília, na Etapa Regional Centro Leste da competição Brasil Paraolímpico, atingindo a marca de 8,76m, ultrapassando a antigo recorde de 8,15 m. Atualmente, está em primeiro lugar no ranking dessa modalidade no país, em sua categoria, a F11, feminino. Assim, a marca da atleta é maior que o índice mínimo (7m) exigido para competições mundiais e ela vai participar das seletivas para o Parapan desse ano. Anderson perdeu a visão por causa de um tiro. No hospital,
Isabela bateu recorde de arremesso de peso e Anderson é o 2ºcolocado nos 800 metros pista enquanto se recuperava, começou a perceber que não conseguia enxergar. Depois que foi pra casa, a família o incentivou a procurar o Instituto São Rafael. Ali ele aprendeu a se tornar independente e conheceu o atletismo, por intermédio da Adevibel. Ele se tornou atleta há quatro anos. Anderson começou a correr por indicação de um professor de natação que observou seu bom desempenho na esteira. Assim, em 2007, começou a treinar com a
Associação dos Deficientes Visuais de Belo Horizonte (Adevibel). Após três meses começou a competir e no ano seguinte já estava entre os três melhores corredores de pista da categoria T11, que se refere a cegos totais. Atualmente, ele ocupa o 2º lugar nos 800 metros e o 3º, na prova de 1.500 metros, ambos em pista, no Brasil, e está pré-convocado para o ParapanAmericano de 2011.
Entrevista Cristiano da Matta
PILOTO
FREDERICO MACHADO
APAIXONADO PELO AUTOMOBILISMO n FREDERICO MACHADO, GUILHERME PEDROSA, 2º PERÍODO
Cristiano da Matta carrega um sobrenome de respeito no automobilismo. Seu pai, Toninho da Matta foi um dos melhores pilotos que Minas Gerais produziu. Natural de Belo Horizonte, o herdeiro do nome Da Matta no automobilismo, acumula passagens pela Formula 3 Inglesa, Fórmula Mundial e Fórmula 1. Cristiano passou pelas mais diversas situações, típicas de um atleta de ponto: conquistas memoráveis, derrotas, amizade, desafeto, acidentes e títulos. Com muita simplicidade e disposição, foi difícil acreditar que aquele piloto de fala tranqüila era realmente alguém acostumado a trabalhar a 300 Km/h. A entrevista foi realizada em dois momentos. A primeira em um Shopping Center da Capital e a segunda no Kartódromo RBC Racing em Vespasiano, durante uma sessão de treinos no Kart. O ex-piloto de Fórmula 1, apesar da breve carreira na categoria, classifica sua passagem pela equipe Toyota como satisfatória. "Pelo lado de resultado, lógico que poderia ter sido muito melhor. Mas pela situação de estreante e com o carro que eu tinha, sem conhecer as pistas da temporada, eu fiquei satisfeito. Foi bom", afirma. O automobilismo acabou lhe rendendo boas amizades também, Paul Newman, famoso astro de Hollywood e seu chefe de equipe, foi uma delas. "Certa vez, eu fui andar de kart com ele. O Paul já tinha seus 73, 74, 75 anos e andava de kart. Mas não andava como esses mutantes que você vê por aí, ele andava bem. Praticava mesmo", lembra. Mesmo sendo sua maior paixão, o esporte a motor lhe rendeu momentos dramáticos, como o sério acidente sofrido em 2006. Aos 37 anos e totalmente recuperado, o piloto divide seu tempo entre as corridas na American Le Mans Series e a Da Matta Design (empresa de artigos esportivos focada no ciclismo), fundada pelos seus irmãos Gustavo e Felipe.
n Seu pai exerceu algum tipo de pressão para que você se tornasse piloto? Ao contrário. Meu pai era sempre o cara que mais queria que eu não corresse. Eu, desde pequeno, com uns 11 ou 12 anos, já falava que queria andar de kart, que achava legal corrida. Meu pai me explicava também que o Kart é um esporte caro e que se era para me colocar para correr só por colocar, andando na "cozinha", não ia adiantar nada. Para me colocar para correr tinha que arrumar um patrocinador. Foi bom porque ele me segurou de 11 até uns 16 anos, quando ele arrumou um patrocínio com um amigo, que começou me patrocinando e eu consegui começar o negócio direito. Mas, meu pai queria mais que eu estudasse, pois ele sabia como era "casca grossa" o automobilismo.
n Começar a correr aos 16 anos o prejudicou em algum aspecto sua carreira ou foi a decisão mais acertada? Eu acho que se tivesse começado mais cedo teria mais facilidade na parte do kartismo. Como deu tudo certo de qualquer jeito, para mim não mudou nada. Acho que se pudesse escolher teria começado um pouco mais cedo. Mas se tivesse começado um pouco mais cedo penso que teria perdido um pouco da infância, do aprendizado de colégio. São coisas que na época a gente não dá muito valor, mas depois vê que conta.
n Em 1995, após boas temporadas correndo de monopostos no Brasil, você foi disputar a F-3 Inglesa. Como foi essa transição dentro e fora das pistas? Dentro da pista foi difícil, porque no campeonato inglês de F-3 são corridas muito curtas. A corrida mais longa do campeonato tinha 29, 28 minutos. Por exemplo, a corrida em Thruxton tinha 12 minutos. Largou, chegou. Então, você tinha que já largar mandando o sapato o tempo inteiro e com pneu frio ainda. Por isso mesmo, eu acho que exagerei e passei da conta algumas vezes. Bati com um, bati com outro. Era como se todo mundo largasse indo para a morte de cara. Eu errava nisso, um pouco de medida, mas era uma coisa que todo mundo errava. Acho que se eu tivesse pensando um pouco mais aprofundado não teriam acontecido muitos erros. Já fora da pista, foi foda. Até 94, eu morava, em BH, na casa do meu pai e da minha mãe. A comida aparecia posta na mesa, a roupa aparecia passada no meu armário, a cama se "auto" arrumava todo dia, era igual mágica. Eu não fazia nada em casa. Mas tudo muda quando você passa a morar sozinho. Você tem que fazer tudo, pagar conta, seguro. E ainda era diferente dos tempos daqui
de BH, porque aqui você fez tudo, chegou a noite, você liga para o seu amigo, vai andar de bicicleta, vai para um boteco, vai ver televisão com sua família. Lá não. No início, quando eu não conhecia ninguém, chegava a noite, eu pensava: beleza, e agora? Sorte que depois eu consegui outros amigos brasileiros que também moravam lá. Na mesma época que eu, estavam lá o Rubinho, o Rosset, o Haberfeld, o Gualter Salles e o Luiz Garcia. Era legal, mas não era a mesma coisa de ter seus antigos amigos, aqueles da época de colégio, estar com pai, mãe e irmãos.
n Durante seu período na Inglaterra como era seu relacionamento com os outros pilotos brasileiros que lá estavam? Eu me lembro de uma coisa bacana, legal demais. Eu fiquei tocado no dia que aconteceu. No meu início em Cambridge, onde eu morava na Inglaterra, um belo dia eu estava em casa com meu irmão Gustavo que foi comigo pra lá estudar inglês, o que foi minha sorte inclusive. Eu teria ficado muito mais louco se ele não estivesse lá. Mas aí, toca o telefone e era o Rubinho. E eu não o conhecia. Eu era amigo do Gualter Salles que morava com ele e corria de F-3 comigo, mas só. Então, o Rubinho ligou lá e disse que estava ligando para dar boas vindas e que sabia que a situação no começo era sempre complicada e que estava lá para me ajudar em qualquer coisa. Para mim, foi a melhor boas vindas que eu poderia receber. Amansou meu lado em um monte de coisas. Eu era amigo do Gualter já, mas não era tão próximo. Aí quando o Rubinho me ligou eu comecei a frequentar mais a casa deles. Então, foi legal para caramba. O Rubinho é um cara muito legal. Eu sou amigão dele, então sou suspeito para falar. Sem contar que eu já morei com o Rubinho, um ano inteiro.
n Você chegou ao último degrau pré-F1 na Europa que era a F3000, em 96. A partir daí, sua carreira passou por problemas que culminaram em sua mudança para o automobilismo norte- americano. Aos 23 anos, você estava desistindo do sonho de chegar a F1?
fizer o aniversário de 80 anos, estarei proibido de correr. Na minha última corrida com 79 anos, quero fazer uma corrida direito, uma corrida de 24 horas. Acabou que ele me chamou para correr com ele. Uma pessoa especial. Ele fazia tudo para todo mundo. Ele tinha um monte de empresas no nome dele que o lucro ia 100% para caridade. Uma pessoa avançada.
n Qual foi o momento mais marcante da primeira temporada em seu retorno à Europa, pela F1? O momento mais legal do ano, em termos de resultado, foi a Inglaterra. Liderei e acabei chegando em sexto. Mas de satisfação pessoal mesmo, o mais legal de todos, foi ter largado em terceiro em Suzuka. Era minha primeira vez lá e ainda por uma equipe japonesa. Pelo lado do desportista, por ser uma pista complicada, pensei comigo mesmo que tinha mandado bem demais. Sendo egocêntrico, o resultado pessoal mais legal foi o de Suzuka. No geral, o sexto na Inglaterra.
n Após o acidente, você teve um longo período de inatividade. Chegou a temer por sua carreira? Fiquei um bom tempo parado. O acidente ocorreu em agosto de 2006. Cheguei em BH só em outubro. Fiquei 27 dias no hospital em coma, sem saber de nada. Depois foram mais 30 dias no hospital. Isso sem contar a recuperação. Não cheguei a temer pela minha carreira, porque os médicos diziam que daria para voltar. Em 2007, eles me disseram que estava tudo legal, só que era melhor esperar até o próximo ano para competir de novo. Era melhor para o corpo esperar mais para dirigir. Estava tudo bem, mas o corpo não aguentaria outra porrada daquela. Foi uma medida ultraconservadora, para ficar tudo em ordem mesmo e recuperado e dar uma chance para o corpo de solidificar.
n Como foi a reação da sua família ao
[ ] “ARREPENDIMENTO NÃO. MAS, HOJE, SABENDO COMO AS COISAS ACONTECERAM, EU FARIA MUITAS
saber de sua vontade de voltar a competir? Eles sabiam que eu voltaria, porque viam como eu vinha me recuperando e que o automobilismo fazia muita falta para mim. É como uma coisa que você estudou a vida inteira sabe fazer e que agora, por algum motivo, tem que mudar de profissão. Eles viram que eu gostava mesmo e ficaram numa boa, sem problemas.
Na verdade, volta naquilo que a gente falou anteriormente. Não tem nada de sonho, de poesia. É tudo fato. Em 97, COISINHAS DE FORMA eu tinha chance e patrocínio para conDIFERENTE” tinuar correndo, mas de Indy Light. Um ano antes, eu demorei para conseguir patrocínio e eu só fui conseguir em março. Peguei o último carro disponível na categoria na n Durante sua recuperação, você pode se dedicar a outras última equipe. Lógico que era equipe ruim e carro ruim. Eu atividades que em tempos normais não poderia, como tocar tive um ano péssimo em 96, o pior ano da minha carreira. guitarra com frequência, a prática do ciclismo e a empresa da Nem o de F-Truck foi tão ruim. Na Truck pelo menos tiveram família. Como foi esse período "calmo" em sua vida? algumas coisinhas que salvaram. Então, em 97, surgiu a oportunidade de fazer Indy Light. E como naquela época o pessoal Na verdade, eu sempre toquei guitarra com frequência. nos EUA estava contratando muitos pilotos, muito gente se Andar de bike também. Era sempre minha preparação para dando bem. Pensei que a oportunidade de ser profissional lá o automobilismo essa atividade. A maior diferença foi traestava muito mais real do que na Fórmula 1. Sem contar que balhar no escritório. Trabalhava na gerência, quem está naquela época, já existia na Fórmula 1, a política de que para pagando, quem não está, fluxo de caixa. E outra, um cargo se ter uma vaga era preciso um patrocínio de milhões e milque sempre tive lá e continuo tendo é o de piloto de testes. hões. A chance de se conseguir isso era pequena. Então, fui Tudo que vai ter de novidade na empresa, eu sou o primeiro para os EUA pela oportunidade. a testar. Se eu falo que está legal, aí eles passam para os outros pilotos de teste. Nesse tipo de coisa, tem que ter a n Paul Newmann foi uma das maiores astros opinião de um monte de gente. Mas a primeira opinião é que o mundo já viu. Ele realmente entendia de corridas? sempre minha. Eu ando de bike desde 1999, então, eu tenho um pouco de noção nesse sentido. Sei o que é legal, O Paul era um cara que como você disse foi um dos maiores o que não é, o que é confortável, o que não é... isso aí pode astros que o mundo já viu. Outro nível de pessoa. Era deixar comigo que eu sei o que estou fazendo. apaixonado pelo automobilismo. A primeira vez que eu fui treinar pela equipe dele, em Sebring, uma cidadezinha que n O Rock é uma de suas paixões alternativas. tem um circuito pequeno que a gente usava só para testar Ainda continua tocando com sua banda "Blue Balls"? no inverno, já que nos Estados Unidos nessa época neva no país inteiro. Menos lá. Era o meu primeiro dia na equipe, Continuo. É um negócio que na verdade, hoje em dia, trocheguei para o treino e logo que chego, tomo um susto e car eu não trocaria, mas fazer os dois, eu faria. Ou melhor, vejo quem está lá, Paul Newman. Ele ia até nos treinos! fazer os dois eu já faço. Digo, gastaria mais tempo com a Logo, ele foi puxar papo comigo, contar que veio para assimúsica, uma coisa mais profissional com a "Blue Balls". stir meu treino, perguntar como iam as coisas. Batendo Porque de um jeito ou de outro, automobilismo é uma coisa papo com ele, porque gente que gosta de corrida é fácil virar que já faço há muito tempo. Continuo gostando demais, amigo. Eu fiquei horrorizado por que durante o treino, ele mas a música eu gosto demais também. É uma coisa que me sempre vinha conversar. Ele queria saber de tudo mesmo e balança. Sendo realista, onde eu consegui chegar ao autoentendia do negócio. Sempre interessadíssimo. Outra vez, mobilismo, talvez, um sonho meu é chegar nesse nível na eu fui andar de kart com ele. Ele já tinha, sei lá, seus 73, música. Ia ser legal demais. Mas não sei se dá tempo. 74, 75 anos e andava de kart! Mas não andava como esses Tocamos eu, meu irmão Guto no vocal, meu outro irmão mutantes que você vê por aí, ele andava bem. Andava Felipe na bateria, e o "Claudão", colega do Guto de faculmesmo. Praticava mesmo. Mais legal foi no aniversário dele dade, que é baixista. Chegamos até a fazer show, tocamos de 80 anos. Ele falou comigo assim: Meu aniversário de 80 na noite em alguns lugares aqui em BH. anos é o seguinte. Minha mulher me disse que quando eu