VICTOR RINALDI
ARQUIVO PESSOAL
LAURA DE LAS CASAS
Restaurantes populares de BH destacam-se pela oferta de alimentação de boa qualidade e baixo custo para milhares de pessoas. Página 5
Amigos e parentes de pessoas que necessitam de transfusão de sangue se mobilizam e tornam-se parte importante do tratamento. Página 7
marco
Número elevado de assaltos, roubos e furtos no Bairro Coração Eucarístico deixa moradores e comerciantes inseguros. Página 3
jornal
Ano 41 • Edição 299
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Julho • 2013
LARISSA EMANUELLE
BRASIL ACORDA E VAI ÀS RUAS nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
ONG’s e grupos religiosos minimizam as dificuldades da vida de moradores de rua A larga calçada, entre restos de papelão, panos de chão e cobertores sujos, onde vivem pessoas em condições degradantes, transforma-se em cenário para a atuação de integrantes de Organizações Não Governamentais e grupos religiosos. Eles levam carinho e alimentos a grupos de moradores de rua na área central de Belo Horizonte. São iniciativas diversas, mas que têm como ponto comum, a tentativa de suprir necessidades materiais e espirituais de homens, mulheres e crianças que vivem à margem da sociedade. Se não conseguem um final feliz para as histórias tristes que ouvem, esses voluntários, pelo menos, amenizam o sofrimento com palavras de carinho e muita música. Páginas 12 e 13
apartidária e que tem como sonho mudar positivamente o Brasil. Jovens, adultos e crianças que foram às ruas e reivindicaram múltiplos direitos e demonstram que o ‘gigante’ não pretende voltar a dormir tão cedo. A hora, agora, é de ver e rever imagens, refletir sobre causas e efeitos. Modestamente, o MARCO dá a sua colaboração. Páginas 8, 9 e 16
Barreiras são maiores para mulheres que pretendem se profissionalizar no hipismo ARQUIVO PESSOAL
Junho de 2013 entrou para a história do país por causa da sequência de manifestações, ocorridas durante a disputa da Copa das Confederações. As mobilizações ganharam corpo rapidamente, após um início tímido, fomentadas pela divulgação por meio das redes sociais. As assembleias horizontais, fortalecidas a partir da onda de protestos, prometem organizar uma iniciativa
LAURA DE LAS CASAS
Trabalho infantil ainda é desafio a ser vencido na capital mineira Apesar de Minas Gerais ser o estado com os menores índices de trabalho infantil, em Belo Horizonte a situação preocupa. Ainda é comum, na capital mineira, a cena de crianças trabalhando nas ruas, especialmente às noites. Frequentadores dos bares em regiões nobres da cidade já se acostumaram com a presença dos pequenos vendedores de balas, CD’s e DVD’s. Para agravar ainda mais a situação, é possível presenciar, também, adultos, que se identificam como pais, orientando as crianças sobre como devem agir e cobrando resultados financeiros. Paginas 10 e 11
A maioria das modalidades esportivas olímpicas separa em categorias diferentes os competidores masculinos e femininos. No Hipismo, isso não acontece e homens e mulheres podem se confrontar em igualdades de condições. Em Minas, essa situação acaba ficando mais na teoria, pois a prática não a confirma. Embora em maior número nas categorias de base, as amazonas são presenças raras nas provas à medida que aumenta a altura dos obstáculos. Poucas mineiras conseguem a profissionalização. Bárbara Corrêa (foto) monta atualmente por hobbie, mas já participou de competições quando era mais nova. “Até tenho saudade dos campeonatos, mas eu ficava muito nervosa antes das provas, então prefiro não retornar”, revela. Páginas 14 e 15 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
2 Campus
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Julho • 2013
EDITORIAL
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VALORIZAÇÃO DA CIDADANIA NAS PÁGINAS DO MARCO n VICTOR RINALDI
PUC DISPONIBILIZA PIANO PARA O PÚBLICO Instrumento é para ser usado por frequentadores do Espaço Cultura e Fé, no prédio 7 do Campus Coração Eucarístico
5º PERÍODO
ÍGOR
PASSARINI
Característica marcante e sempre presente no Jornal MARCO, a reportagem é uma forma de aprofundar temas inéditos ou até alguns que já foram repercutidos pela mídia convencional, mas com um enfoque diferente. Em um espaço maior, histórias podem ser contadas com riqueza de detalhes, com o uso de relatos de personagens e especialistas que ajudam no melhor entendimento dos fatos pelos leitores. Desta forma, essas histórias despertam interesse maior em quem as lê. Nesta edição, que tem o número 299, o MARCO fez uma opção por reduzir a quantidade de matérias, investindo em reportagens, que são consequência do trabalho, esforço, dedicação e de árdua apuração dos envolvidos. Reportar grandes histórias requer tempo, paciência para se descobrir bons personagens, que estejam dispostos a dizer e estimular novos debates sobre os assuntos tratados. Outra particularidade desta edição é o grande espaço destinado a temas ligados à cidadania. Não é por coincidência, mas no número em que o MARCO aborda as manifestações que levaram um grande número de pessoas às ruas, em todo o país, outras histórias de resgate de dignidade são contadas. É o caso da rotina do aposentado, João Batista da Silva, 75 anos, que vem de Itabirito para almoçar, de graça, diariamente, no restaurante popular, localizado na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O pequeno grupo de 15 amigos que salva vidas doando sangue e as ONG's que ajudam moradores de ruas, levando alimentação, mas, principalmente carinho, envolvem de emoção e bom jornalismo praticado nas páginas desta publicação. Fortes imagens das crianças que são forçadas a trabalhar à noite para sustentar suas famílias e, em alguns casos, os pais viciados, são expressões da injustiça que tomam às ruas da cidade. Às avessas dos contos de fadas, a imagem da menina de vestido amarelo que vende doces e clama por justiça se contrapõe às imagens de imponentes amazonas, destacadas na editoria de esporte desta edição. Defensor da comunidade há mais de 40 anos, em suas últimas 298 edições, o jornal prestou serviço e deu voz aos moradores das Regiões Nordeste e Noroeste da cidade. E nesta edição não poderia ser diferente, a reportagem do MARCO apurou, junto aos moradores do Bairro Coração Eucarístico, uma grave situação de falta de segurança que aflige a maioria dos moradores. O MARCO promoveu, em suas redes sociais, uma campanha para que os alunos da Faculdade de Comunicação Social e Artes da PUC Minas enviassem fotos dos protestos populares que ocorreram em Junho de 2013. Entre dezenas de fotos enviadas foram selecionadas algumas, que compõem a galeria de imagens da página 16 e ajudam a preservar a memória de um momento histórico na vida brasileira. É assim, atual, vivo, compromissado com seus leitores, que o MARCO caminha rumo à edição de número 300, atingindo marca igualmente histórica.
EXPEDIENTE
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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal Puc Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Prof ª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Prof ª. Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Júlia Goulart, Carolina Sanches, Gabrielle Assis, Ígor Passarini, Joana Aragão, Letícia Carvalho, Victor Rinaldi Monitora de Fotografia: Raquel Dutra, Raquel Gontijo Monitor de Diagramação: Thiago Antunes CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares
Os estudantes da PUC Minas Uriel Petros, 17 anos, e Edson Moreira, 53 anos, aproveitam as férias para tocar piano no Espaço Cultura e Fé n ÍGOR PASSARINI VICTOR RINALDI 5° PERÍODO
Há alguns meses o Espaço Cultura e Fé, localizado no prédio sete do campus Coração Eucarístico na PUC Minas, tem se tornado um local de encontro entre artistas. Seja por meio da música popular brasileira, erudita ou do jazz, alunos e professores têm compartilhado um hábito em comum: a paixão pelo piano. Desde que o instrumento foi colocado à disposição para ser utilizado, ganhou espaço e se tornou parte da vida dessas pessoas. "Estou de férias e moro em Ibirité. Eu vim aqui hoje só para tocar, a paixão pelo piano foi maior. Depois que eu estiver formado e estável pretendo fazer uma faculdade de piano", revela o estudante de Engenharia Eletrônica e Telecomunicações Uriel Petros Prata, 17 anos. Ele aprendeu a tocar piano sozinho há dois anos inspirado no famoso pianista polonês Frédéric Chopin. "Eu vi uma música dele no filme O Pianista e me apaixonei com piano. Peguei a partitura, a teoria musical e comecei a praticar no teclado cinco oitavos que tenho em casa", afirma. Para ele, colocar o instrumento em um espaço como este é bem legal. "Tocar em um piano de calda é uma oportunidade que nem todo mundo tem. É satisfatório tocar aqui e as pessoas gostarem do que a gente faz", revela o estudante, que vai três vezes por semana ao local durante os intervalos entre as aulas. "Não sei por que o piano
veio para cá, se foi por acaso ótimo e se foi uma coisa planejada melhor ainda. Seria muito bom se continuasse, tem tudo a ver com o lugar", pondera o mestrando em Engenharia Elétrica Edson Tadeu Moreira, 53 anos. O aluno afirma que este também é um ambiente para conhecer pessoas que normalmente só passariam por ele. "É um lugar de encontro mesmo, conhecer pessoas de todas as idades, cursos, formações. Têm professores, alunos e por aí vai. A música tem uma coisa muito legal que é a socialização. A arte tem essa possibilidade e abre mesmo, quebra o gelo", salienta. De acordo com Edson Moreira, esta é uma tradição americana. "No Brasil todo mundo encontra e vai fazer música com violão. Mas isso aqui é uma tradição dos Estados Unidos. Lá toda escola e toda casa tem piano", explica. Outro ponto destacado pelo mestrando é a qualidade do instrumento. "Esse não é um piano bom não, é excelente. É um piano de um quarto de calda e a Yamaha é uma das melhores marcas. Eu acho fantástica a oportunidade de ter um piano deste nesse espaço", ressalta. José Roberto Pereira Júnior, 32 anos, é professor de Física e toca piano desde 1998. Para ele, esta é uma iniciativa muito boa, pois estimula a diversidade cultural. "É uma oportunidade de poder aprender. Eu mesmo já dei algumas dicas e peguei outras. Promove uma interação e quando estamos lá no piano não existe essa distinção professor e aluno, são pessoas tro-
cando ideias. Seria muito ruim se o piano saísse de lá", diz. "O que eu acho mais interessante é o intercâmbio entre a galera", diz Nayara Lima Agostini, 26 anos, aluna do curso de Ciências Sociais. A estudante conta que ficou sabendo por meio da amiga que mora com ela e que, desde então, frequenta o espaço duas a três vezes por semana, sempre no final da tarde. "O ambiente é gostoso, também gosto de estudar por lá", assegura. O professor Bonifácio José Teixeira, coordenador do Museu de Ciências Naturais e assessor de comunicação da Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários (Secac), atribuiu a iniciativa a Uilton, operador de som no Teatro da PUC. "Ele fez uma sugestão para levar o piano para o espaço Cultura e fé. Eu achei a sugestão dele muito pertinente e oportuna. Então, providenciamos um transporte especializado, a reafinação do piano, colocamos neste espaço e deixamos livre para a utilização das pessoas", explica. Segundo Bonifácio, já existe um projeto aprovado para a compra de outro piano que ficará no auditório do museu. "Fica um piano aqui e outro lá no espaço Cultura e Fé. Acho que está de bom tamanho", salienta. O professor destaca que existia a necessidade de um espaço como este, mais centralizado para exposição, com um com café, uma livraria, uma sala de reunião e convida todo aluno interessado, mesmo se for ligado a alguma outra universidade a vir tocar.
"Temos realizado alguns eventos lá, como o MPB Quarta, às quartas-feiras na hora do almoço. Agregamos já um violão, um cavaquinho. E temos tido comportamento excepcional do pessoal, utilização bem profissional", analisa.
EMBRIÃO DE SONHO O professor revela que por duas vezes tentaram formar grupos de música na PUC e não obtiveram sucesso. De acordo com ele, os instrumentos foram comprados e muitas pessoas que tocam se inscreveram, mas a disponibilidade de horário de alunos de cursos diferentes pesou contra. "Eu acho que com esse piano está surgindo talvez um embrião de um sonho da PUC que é ter uma Escola de Música. Não será ali, não será o piano, mas está se criando essa mentalidade. Nós estamos catalisando pessoas voltadas para a música ali naquele espaço", declara. O piano está com um pequeno defeito na sua parte externa e segundo o professor foi em função de uma tempestade muito forte em que entrou água pelo teto e caiu no piano."Por uma falta de atenção nossa a água durou um pequeno tempo ali, suficiente para dar esse defeito que estamos tentando resolver. Tem um relevozinho que sendo polido continuamente irá desaparecer", pontua. Bonifácio relembra que o piano é um instrumento requintado e importantíssimo pela sua flexibilidade, mas possui uma manutenção extremamente cara, portanto é preciso ter muito cuidado com ele.
Comunidade Julho • 2013
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FALTA DE SEGURANÇA GERA MEDO Com número crescente de crimes patrimoniais, moradores e comerciantes do Coração Eucarístico acumulam histórias em que se tornam vítimas de violência e se sentem impotentes n CARLOS EDUARDO ALVIM ÍGOR PASSARINI VICTOR RINALDI 8º E 5º PERÍODO
Medo e insegurança. Essa é a realidade de moradores, estudantes, comerciantes e demais pessoas que frequentam diariamente o Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste de Belo Horizonte. Assaltos e furtos têm se tornado cada vez mais comuns, agravados por algumas características particulares do bairro. No dia 7 de julho deste ano, a casa de Daniel Funi, 75 anos, foi assaltada enquanto ele e a família estavam fora. "Nós saímos, fomos à Venda Nova e esse portão ficou trancado, mas aí o garoto que mora aqui na suíte ligou para nós e falou que o portão da frente e o da cozinha estavam abertos. Eu não sei como conseguiram abrir", salienta. Segundo Daniel, o prejuízo foi grande, pois os assaltantes levaram a televisão que tinha comprado há pouco tempo, o notebook da filha, além do computador e dinheiro da esposa. "Minha filha é especial e ficou abalada. Vai chegar um ponto que não teremos condições de viver aqui. O bairro já vai para um jeito que está ficando irreversível", desabafa. Segundo o aposentado, ele sempre vê carros da Polícia Militar passando nas avenidas, mas considera que o ideal seria vasculhar todos os cantos do Bairro. Cheyenne Grazielle Pereira Lima, 22 anos, estudante e atendente de caixa da padaria Panificadora Del Ninõ já foi assaltada duas vezes. "A primeira vez eu tomei um susto. Um homem chegou e parecia bem nervoso. Ele me abordou, mostrou a arma e pediu para tirar tudo que tinha no caixa", diz. "Da segunda vez o cara já veio
preparado, ficou rondando a padaria e esperou ficar só eu, uma menina e um cara lanchando. Ele esperou, ficou olhando para mim e me chamou no caixa. Ele estava com dois chips na mão e colocou a arma entre os pacotes encostandoa na minha barriga. Ele saiu numa calma que me assustou muito", relembra Cheyenne. A estudante diz que nas duas vezes que foi assaltada no mesmo horário, entre 18h30 e 19h. "Só tem mulher aqui e eles sabem que mulher não reage. Eles esperam ficar vazio só com a gente", argumenta. Segundo ela, o serviço de segurança contratado custa R$ 200 por mês e não foi eficaz. "Eu apertei o botão de emergência, chorei, voltei, liguei para a polícia e a polícia chegou primeiro que os caras", explica. O proprietário da Pa n i f i c a d o r a , E l i a s Pereira Lima, 50 anos, constata a precariedade da segurança no Coração Eucarístico. "Mesmo sendo um Bairro próspero, existe um trânsito livre e isso facilita muito o assalto", alega. Elias colocou câmaras por todo o estabelecimento, mas diz que não adianta. "Antes era inibidor, hoje o bandido não liga. A questão da segurança eletrônica, o que nós todos, seres mortais, tentamos fazer é nos proteger, criar uma falsa garantia de segurança para nós mesmos", diz. A estudante Ananda Moreira, 21 anos,
também enfrentou problemas no Bairro, por ter seu carro roubado. Segundo ela, estacionou o veículo, como sempre, perto do Centro Olímpico da PUC Minas, na Avenida Dom José Gaspar, no período da tarde. Quando voltou da aula o carro não estava mais lá. "Fiquei meio desorientada, refiz o meu dia para ver se eu tinha certeza que tinha deixado lá e quando eu realmente tive certeza falei com um amigo meu e liguei para a polícia pedindo uma viatu-
GOR
22h, que são enviadas à PUC Minas para reforçar o policiamento. "Nós temos a patrulha do bairro que é a viatura que roda na região e atende ocorrências de comércio e residências. Temos o reforço, que é a patrulha de prevenção ativa, que é uma patrulha que fica por conta de abordagens de pessoas suspeitas", lembra o oficial. Enquanto uma viatura faz o atendimento de ocorrências, outra fica só agindo na prevenção. Além disso, a PM conta com a presença dos táticos móveis, que rodam na região e, eventualmente, da Ronda Tática Metropolitana, também conhecida como Rotam, que às vezes passa pelo bairro.
Vizinho também sofre O Bairro Dom Cabral, v i z i n h o ao Coração Eucarístico, também enfrenta problemas relacionados à segurança. Crimes patrimoniais são frequentes nas rua dali. Para o vice-presidente da Associação de Moradores do Dom Cabral, Armando José Caldas Sandinha, 64 anos, o problema é o mundo
ASSARINI
Cheyenne Grazielle mostra uma das câmeras da padaria em que trabalha
Polícia não dá conta do Bairro Moradores da região, que foram vítimas de algum tipo de crime, cobram resposta das autoridades. Mas as polícias Militar e Civil não escondem o jogo: "Existe falha, todo sistema tem falha", diz o capitão Harley Francisco Lopes, 40 anos, comandante da 9ª Companhia da Polícia Militar. "Nosso contingente é infinitamente desproporcional à demanda e, completamente, inadequado", reclama o delegado Rodrigo Batista Damiano, 35 anos, titular da 2ª Delegacia da Policia Civil da Região Noroeste. Segundo o capitão Harley, a PM adota medidas de proteção, como a disponibilização de duas viaturas no horário de 18h às
ra", explica. Ela fez ocorrência, foi ao Detran e passou os dias subsequentes ligando para o pátio da instituição em busca do seu carro, que foi devolvido para ela menos de uma semana depois. "O carro é velho, não tinha seguro, mas roubaram tudo, depenaram o carro, a lataria ficou intacta, mas levaram rodas e pneus novinhos, volante, o som, bateria, macaco", relata Ananda, que desde então só para o carro no estacionamento da universidade. Cássia Duraes, 53 Í P anos, trabalha de caixa na pizzaria Kambebas e já presenciou um assalto no local, no começo deste ano. "Colocaram os funcionários presos no banheiro. Tinha R$ 30 no caixa, aí pegaram chocolate e o que mais viram pela frente e foram embora", relata. Para o presidente da Associação de Moradores do Coração Eucarístico, Iracy Firmino da Silva, 78 anos, existem vários fatores que ocasionam esta falta de segurança. Segundo ele, a Polícia Militar não tem efetivo suficiente, porque ela tem que fazer o policiamento em outros bairros e a área é imensa. "Outro ponto que é importante destacar é o fato de que marginais, ladrões de carro, assaltantes, traficantes, entre outros, veem no Coração Eucarístico um campo muito fértil. Eles assaltam e têm várias saídas, isso facilita muito", diz. Síndica do conjunto
das drogas. "É roubo de celular, relógio. Para quê? Para pode trocar por droga. A lei hoje faculta ao cidadão carregar um certo limite de droga, o que o torna usuário. Então, eles armazenam, guardam, escondem, mas andam só com o suficiente para uso próprio porque se a polícia
Para Rodrigo Batista, o ideal para evitar esse tipo de ocorrência é a ação preventiva, ou seja, impedir que o crime aconteça. Além de lançar policiais nos horários que os crimes ocorrem com maior frequência, deve-se desenvolver um bom trabalho de autoproteção da própria vitima em potencial. Segundo Rodrigo Batista, a polícia age de duas formas: a Polícia Militar com o patrulhamento ostensivo, para impedir que o crime aconteça e a Polícia Civil depois que o crime já aconteceu, com a investigação. "A gente tenta identificar modus operandi, quando você pega esse tipo de furto que acontece, por exemplo, na PUC não
chegar não vai levar", afirma. Armando acredita que a redução da maioridade penal não é a solução, pois isso só faria com que as crianças começassem cada vez mais cedo. De acordo com ele, a solução é colocar as crianças na escola em tempo integral. "Um país onde criança vai para a escola às 7h e às 11h está em casa, os pais trabalhando como são obrigados para se manter hoje, de 11h até 18h quem vai ficar responsável por essas crianças? Quem vai saber o que elas estão fazendo? Quando
tem uma quadrilha atuando, é furto de ocasião. Então temos que trabalhar inquérito por inquérito", explica. A Polícia Civil trabalha com um serviço de inteligência, composto por duas equipes com dois investigadores cada. Mas, nesses casos, não é possível identificar um padrão e fazer uma ope-
habitacional Key West há oito anos consecutivos, a aposentada Lúcia Helena Silva, 69 anos, revela que invadiram o prédio apenas uma vez, há quase dez anos. "Foi de madrugada eles pegaram o porteiro quando ele saiu da guarita, e lá de baixo eles apontaram o revólver. Ele teve que abrir, os bandidos entraram e mexeram nos carros", afirma. Lúcia revela que o condomínio gasta quase R$ 15 mil por mês com segurança. "A gente tem manutenção de cerca elétrica, tem manutenção de portão, porteiros 24h", explica. Foi na administração de Lucia Helena que foram instalados o circuito eletrônico de segurança, alarme e câmeras. "Primeiro foram colocadas oito câmeras, depois dezesseis e agora estamos com vinte e três, porque a gente colocou dentro dos elevadores e em outros lugares", diz.
INTERFONE Fernanda Lara Bianchini, 33 anos, possui uma loja e diz que não sente nenhuma segurança. A alternativa encontrada foi colocar campainha, mas de acordo com ela, isso prejudicou o comércio. "A porta fechada é um empecilho a mais. Comecei a deixá-la encostada para ver se entra mais cliente porque se não fosse por isso, ela só ficaria trancada. Até a porta encostada prejudica porque a pessoa que fala 'vou só olhar' desiste e vai embora", afirma. Quem também optou por manter as portas fechadas foi Cláudia Maria de Souza, 47 anos, gerente da loja de roupa Sempre Gerais, à Avenida Ressaca, número 240. Desde que a mãe abriu a loja, há dois anos, ela trabalha com o sistema de interfone e, mesmo assim, a loja já foi assaltada. "Uma vez entraram e roubaram o telefone. Eu não trabalharia aqui se tivesse que ficar com as portas abertas".
ração. No Bairro Coração Eucarístico a maior incidência de crimes são os patrimoniais, furto, roubo e sequestro relâmpago. "Em média a agente recebe cerca de 900 ocorrências por mês, ou seja, são 900 crimes que a Polícia Militar deixou acontecer e que a Polícia Civil tem que investigar", explica. VICTOR RINALDI
Veículo de patrulhamento da Polícia Militar faz trabalho preventivo no bairro
estudei, entrava 7h e saía 17h da tarde. Chego em casa e não tem tempo para mais nada, a não ser fazer os deveres da escola", diz. Antônia Maria Tereza, 56, técnica de enfermagem no Hospital Galba Velozo, também compartilha desta opinião. De acordo com ela, o problema não é a violência em si, é o tráfico, a droga, e revela que fica com medo de sair na rua por causa dos usuários que ficam no bairro fumando e cheirando. "O meu menino foi assaltado semana retrasada com meu celular. Eu
estava na mercearia comprando pão e ele do lado de fora ouvindo música. Passou um rapaz e tomou o aparelho dele e eu não vi. Meu filho é deficiente e tem 21 anos. E eles fazem isso para quê? Para comprar droga. Pegam um celular que a gente pagou caro e vende a preço de nada", salienta. "Há uns dois anos quando eu viajei roubaram minha casa inteira e levaram mais de R$ 8 mil", diz Elza, que cobra mais policiamento, pois a violência tem aumentado bastante.
4 Comunidade
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n CAROLINA SANCHES ÍGOR PASSARINI 5ºPERÍODO
"A solução é guardar o lixo na bolsa e se desfazer dele quando chego em casa", é o que constata a estudante Maria Clara Oliveira, 24 anos. No Bairro Coração Eucarístico, o número de lixeiras quebradas e sem condições de uso, impressiona os transeuntes e deixa na mão quem precisa descartar algum lixo na rua. Paulo José da Silva também mora no Coreu desde 1984, à Rua Padre João Crisóstomo, e afirma que ali não tem praticamente nenhuma lixeira. "A falta de lixeiras só serve para incentivar o povo a manter a rua suja. Normalmente eu tenho uma lixeira dentro do carro ou guardo dentro de uma sacola", revela. Para ele, depois da implantação das lixeiras será necessária uma campanha educativa. "Eu lembro uma vez que minha filha era pequena, devia ter uns 4 anos, e jogou um papel de bala no chão. Eu a chamei e falei: Vê se tem alguma 'sujeirinha' aqui, a única sujeira que tem você que criou", conta Paulo José. Segundo o morador, a filha nunca esqueceu e levou isso como uma advertência séria. "Assim foi com todos os meus filhos", acrescenta. "Está fazendo muita falta, a gente coloca os lixos aqui na rua e já vem o pessoal que cata latinha pet rasgando os sacos", salienta Carmem Helena Santiago, 48 anos, funcionária de um edifício localizado à Rua Dom Lúcio Antunes. Segundo ela, quando o lixeiro passa o lixo já está espalhado rua afora. "Se tivesse a lixeira mesmo que estivesse rasgado estaria den-
tro da lixeira então ficaria mais fácil para nós recolhermos de volta", analisa. Para Azita de Oliveira Miranda, 80 anos, moradora da Rua Dom José Gaspar, faltam lixeiras sim, mas o problema é que muita gente não respeita os dias da coleta. "Aqui recolhem o lixo na segunda, quarta e sexta. Aí alguns moradores colocam o lixo para fora na sexta à noite e o lixo fica na rua o final de semana inteiro, é um absurdo", pondera. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, ao todo na cidade são 15.600 cestos de lixo, este número, se comparado ao de habitantes, dá uma proporção de aproximadamente uma lixeira para cada 157 pessoas. Entretanto, nem todas as regiões da cidade recebem a instalação das lixeiras, o critério para colocação está ligado, principalmente, às atividades de comércio e adensamento populacional da região, ou seja, onde há maior circulação de pessoas. O pequeno número de lixeiras na cidade reflete diretamente na quantidade de lixo jogado nas ruas. Papéis, latas e panfletos, são itens comuns de se encontrar nas calçadas, mesmo com as campanhas de conscientização, como a encontrada nas próprias lixeiras. Ainda segundo a Prefeitura, em todos os meses são realizadas vistorias das lixeiras em diferentes regiões da cidade, entretanto o índice de depredação é grande, aproximadamente 20%. Segundo a assessoria da Prefeitura, a próxima manutenção no Coração Eucarístico, está prevista para o segundo semestre de 2013. É nas regiões Centro-sul,
Julho • 2013
FALTA DE LIXEIRAS IRRITA MORADORES No Bairro Coração Eucarístico a falta de lixeiras é motivo de reclamação constante por parte dos moradores e transeuntes. Resto de lixos podem ser encontrados pelas ruas e calçadas, transformando-se em obstáculos ÍGOR
PASSARINI
ÍGOR
PASSARINI
Lixeiras no Coração Eucarístico não são suficientes e ficam lotadas. Em alguns pontos sacos de lixo são depositados nas ruas
Noroeste e Leste que são registrados os índices mais altos de depredação. Mesmo investindo R$ 2,5 milhões, em limpeza, reparos, pintura e
implantação em novos pontos, quem precisa de uma lixeira tem que andar em muitos casos, grandes distâncias para descartar o lixo. Para
reclamação de lixeiras quebradas ou a falta delas, a Prefeitura disponibiliza o número 156 para registrar as queixas da população.
Linha de ônibus 1505 é motivo de reclamação n CAMILA SARAIVA 3º PERÍODO
Os usuários da linha 1505, que faz o trajeto entre os bairros Alto dos Pinheiros e Tupi, não estão satisfeitos com a quali-
dade do transporte público, especialmente nas últimas semanas. O motivo é a demora que os moradores enfrentam todos os dias nos pontos de ônibus espalhados pelos bairros e a consequência disso é que veículos estão sempre cheios. "Sete
horas da manhã o ponto inicial já está com uma fila enorme, tem gente que sai de ruas mais distantes e vem paro o ponto inicial para pegar lugar", conta a doméstica Juliana dos Santos Nascimento. Segundo a moradora, essa linha de ônibus RAQUEL DUTRA
Moradores do Bairro Alto dos Pinheiros reclamam do longo tempo de espera para pegar o ônibus
já foi mais rápida e não andava sempre lotada. A estudante de arquitetura Isabela Costa prefere fazer a pé o trajeto da sua casa até a faculdade, que fica no Coração Eucarístico. "O 1505 já foi referência em pontualidade, na teoria eles dizem que não mudaram o horário, mas na prática a gente percebe que não funciona. Ir à pé para a faculdade é mais rápido do que esperar no ponto de ônibus, não preciso nem falar nos horários de pico né?", explica a estudante. Segundo o fiscal da empresa responsável pelos ônibus, Antônio Marcus Fernandes, o problema surgiu há cerca de dois meses, a partir da decisão de se reduzir a quantidade de ônibus. "A BHTrans decidiu reduzir e não teve como sustentar a demanda depois disso. Agora os ônibus ficam lotados e os passageiros sempre reclamam, mas a culpa não é da empresa", esclarece o fiscal. José Pedro, segurança noturno de banco, reclama da demora dos ônibus dentro do bairro Alto dos Pinheiros e sente prejudicado quando chega atrasado ao trabalho. "É todo dia a mesma coisa, mas piorou nos últimos dias. Fico mais de
meia hora aqui no ponto, pra completar quando entro no ônibus ele está lotado. Tem que melhorar isso aí", aponta. Mas o motorista Carlos Magno Marques explica que a culpa não é deles. "É o trânsito, é muita obra. Nossa linha passa por várias vias que estão tumultuadas por causa das obras. Na Tupinambás com a avenida Paraná, no Oiapoque agarra tudo. Aqui sai um carro atrás do outro, vários bairros têm transportes públicos piores", revela o motorista, que está há dois anos na empresa. A BHTrans justificou a redução por motivos financeiros, informando que o custo estava alto, sendo desnecessária maior quantidade de ônibus em circulação. A empresa VP Progresso, responsável pela linha, recorreu dessa medida e conseguiu revertê-la. No início de julho, a empresa informou que o número de carros foi restabelecido, voltando a circular normalmente. De acordo com a VP Progresso, eventuais atrasos devem ser atribuídos a situações específicas, que afetam o fluxo do trânsito, como, por exemplo, manifestações públicas realizadas em Belo Horizonte.
Comportamento Julho • 2013
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COMIDA POPULAR DE QUALIDADE Restaurantes administrados pela Prefeitura de Belo Horizonte alimentam, por dia, cerca de 13 mil belo-horizontinos e moradores de cidades da Região Metropolitana da capital mineira n CAROL LOPES DAYSE SANTOS LAURA DE LAS CASAS NATHAN GODINHO TAMARA FONTES 7º PERÍODO
Todos os dias, por volta das 11 horas, o aposentado João Batista da Silva, 75 anos, sai de casa, em Itabirito, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e pega um ônibus até o centro da capital. A viagem dura cerca de uma hora, se o trânsito está ruim, e 40 minutos se o trânsito ajudar. O destino é sempre o mesmo: o Restaurante popular Hebert de Souza, localizado à Avenida do Contorno, ao lado do Terminal Rodoviário. "Eu venho porque a comidinha é muito boa, sabe? Aí vale a pena", conta. Ao meio dia de uma quartafeira, a fila na porta do restaurante já dobra a esquina. Ali é possível ver trabalhadores, mendigos, viajantes, jovens, idosos e famílias inteiras à espera do prato de comida servido pelo valor de R$ 1,50. Do lado direito há uma fila preferencial para idosos e deficientes. É nela que João Batista da Silva entra. Ele explica que não paga pelo transporte público ou pela refeição, já que tem um cadastro na Prefeitura de Belo Horizonte que comprova sua baixa renda e dá a ele o direito de comer gratuitamente. "Como não pago nada e estou à toa na vida, não ligo de perder meu tempinho no ônibus para poder comer bem", justifica. Com cuidado, ele pega sua ban-
deija e escolhe calmamente as em média a seis mil pessoas sendo quebrado. Para Isabella opções para o almoço do dia: sendo atendidas em um dia. Em Soares, servidora pública que arroz, feijão, omelete, salada de relação ao cardápio, Norma almoça diariamente no refeitório tomate e melancia, sua fruta explica que ele é pensado cuida- da CMBH, isso já caiu por terra. dosamente por nutricionistas de "Aqui é um local onde nos alipreferida. A Prefeitura de Belo cada unidade dos refeitórios. mentamos, mas que também forHorizonte mantém outros três Todos os dias são seguidas técni- talecemos nossa sociabilidade e restaurantes populares, em Santa cas de nutrição de uma vasta cidadania, o que menos importa Efigênia, Venda Nova e Barreiro, equipe de profissionais. Com é se há ricos ou pobres comendo e um refeitório popular na isso, o resultado são refeições no mesmo local", afirma. Gleiçon Francisco Ferreira, 26 Câmara Municipal (CMBH), seguras e com garantia de valores anos, é ex-funcionário do com refeições balanceadas a R$ nutricionais balanceados. O estigma do restaurante po- Restaurante Popular do Centro, 2, e sopa no jantar a R$ 1. Nos restaurantes do Centro e Santa pular como lugar onde se dis- onde Seu João Batista come Efigênia e no Refeitório da tribui comida aos pobres está diáriamente. Atualmente, ele traCâmara também balha como seguL L C são fornecidos rança no Restaucafé da manhã, ao rante Popular do preço de R$ 0,50. Barreiro, mas volNo total, cerca de ta ao antigo servi13 mil pessoas ço ao menos uma passam pelos resvez por mês, por pura saudade. "Ataurantes da capiqui é um lugar tal diariamente. bom de trabalhar, Com um cardápio é limpo, é agravariado, o restaudável. Eu sinto rante popular já é falta", explica. Ele referência de deconta que a rotina mocratização, por trás do balcão acesso e alimenonde a comida é tação da popuservida é bastante lação belo-horirígida. Lá os funzontina. cionários são treiNorma Duarte, nados para realiassessora de cozar a higienização municação da Prede todos os alifeitura, afirma mentos usados que o primeiro nas receitas. "É restaurante poputudo muito conlar a funcionar na trolado, para não cidade foi o da ter erro", compleunidade I, no menta. Centro. Hoje, esta Em todas as unidade atende, O aposentado João Batista da Silva sai de Itabirito para almoçar no centro da capital AURA DE
AS
ASAS
refeições o cidadão pode escolher entre duas opções de comida, sempre havendo uma vegetariana. O cardápio é pensado por uma nutricionista que orienta os cozinheiros não só em que cozinhar, mas também em como temperar. Levando em conta que ali comem pessoas com problemas de saúde, a comida deve ser feita com pouco sal e pouca gordura. Antes das portas serem abertas ao público da cidade, que já começa a chegar desde as 11h, todos os funcionários se reúnem para provar o prato do dia. "É uma espécie de ritual. É o espirito de coletividade sendo praticado aqui dentro", lembra Glaiçon, recordando tempos antigos. Segundo ele, esse é um dos motivos da comida ser sempre tão gostosa. "É feita com carinho", destaca. Após o almoço, cada pessoa deve recolher sua bandeja e levála ao local onde elas serão higienizadas. A comida que sobra é toda acumulada e direcionada para fábricas de adubos. Os utensílios usados são lavados com água fervendo e desinfetados. Tudo que foi usado durante o almoço deve estar limpo para ser utilizado novamente quando a sopa do fim da tarde for servida. Seu João Batista nunca fica para provar a sopa, mas sabe que não tarda a voltar. "Tomara que amanhã tenha melancia de novo", diz sorrindo.
Refeitório Popular tem público fiel O Refeitório Popular da Câmara Municipal de Belo Horizonte foi criado em agosto de 2004 e, desde então, conta com um público fiel. São cerca de 1.100 pessoas no almoço e 100 pessoas no café da manhã, totalizando mensalmente cerca de 22 mil pessoas. Localizado próximo à Região Hospitalar e perto do Batalhão de Polícia
Militar, o refeitório atende às pessoas que estão acompanhando pacientes no hospital Mário Pena, atende a policiais militares que trabalham na região, os próprios servidores do legislativo municipal, entre outros. Segundo o Núcleo de Cidadania da CMBH, a comida servida no refeitório vem do
Alimentação elaborada de maneira saudável A fila dobrando o quarteirão com dezenas de pessoas já causa interesse em quem passa pela Avenida Afonso Vaz de Melo. Um grande número de pessoas deixa a Estação BHBus para entrar na fila. Aos poucos vão andando e entram no maior restaurante popular da América Latina. Inaugurado em 2010, a unidade continua com alto índice de frequentadores e com a mesma qualidade na comida, segundo os frequentadores. Com uma área um pouco maior que um campo de futebol, o restaurante é preferência de quem
vem de longe ou trabalha bem próximo ao local. Na fila, o engenheiro da V & M, Thiago Campos frequenta o Restaurante Popular do Barreiro todos os dias e diz que a comida é um diferencial para a alimentação. "Conheci o restaurante através de um empregado da minha equipe dentro da empresa. Marcamos um almoço aqui, dai em diante passei a comer aqui todos os dias. A comida aqui só não é melhor que a da minha mulher", completa. Com suportes de nutricionistas, médicos entre outros especialistas, são
Restaurante da Santa Casa (Restaurante Popular II), em cubas térmicas e em um carro climatizado, adequado para o transporte e com a supervisão de uma nutricionista. O alimento é monitorado por um termômetro infravermelho que mede a temperatura durante o deslocamento do alimento até o local. As cubas térmicas em
que são transportadas as refeições mantém a temperatura por até quatro horas. Para a coordenadora do Núcleo de Cidadania da CMBH, Alcely Viana Costa, o refeitório, resultado de um convênio firmado com a Secretaria de Abastecimento Municipal, realiza um trabalho importante, pois dá condições de
pessoas gastarem pouco com a alimentação. "Há um lavador de carros aqui em frente do refeitório que diz: lavei três carros e já vou comer a semana toda com o dinheiro que eu ganhei", afirma. Isso, para a coordenadora, torna o trabalho social interessante, dá alimentação a população carente e de forma acessível.
servidos diferentes tipos de alimentos pensados na saúde e no bem estar dos frequentadores. Um diferencial do restaurante é o apoio virtual, há no restaurante um acompanhamento por um blog para sustentar e manter atualizados os frequentares do restaurante. No site há informações dos eventos, cardápios e comemorações importantes. "Acompanho todos os dias o cardápio do site mesmo, quando é uma comida mais saborosa tento sair até mais cedo da empresa" , brinca. Ismael Silveira, frequentador do restaurante há dois anos e morador do Barreiro de Cima, vem ao restaurante pela economia realizada no estabelecimento. "Eu e minha família economizamos frequentando esse restaurante todos os dias. Trago
as crianças assim que saímos da escola e passo aqui com elas. Elas adoram e sempre ficam esperando os eventos de festa", conta. O pequeno Bruno brinca com a comida e promete que come tudo para ganhar presentes de Papai Noel como ganhou no semestre passado. "Papai Noel me deu dois carrinhos que estão lá em casa até hoje. Guardo e espero o próximo", diz. Também no restaurante a presença de moradores de rua é alta, os carentes fazem vigília para conseguir dinheiro e comer no restaurante. "Sou morador de rua há 16 anos e compro essa comida todos os dias. Faz gosto comer aqui. É um momento alegre de encontrar os companheiros", conta Geraldo Brasil, que revela viver
em Belo Horizonte depois de abandonar a família para tentar uma vida melhor. Entre os frequentadores do restaurante, se destacam aqueles que estão presentes todos os dias. A servente Elza Souza Pires, que trabalha na limpeza, conta que é uma alegria compartilhar desse momento com os moradores da região. Sempre com um sorriso no rosto faz o trabalho lembrando que aquele é um momento de descanso para os frequentadores. "Enquanto as pessoas almoçam, eu continuo trabalhando. Mas faço isso com gosto. A felicidade dos que conseguem esse prato de comida é o que paga esses momentos trabalhando. O restaurante já é parte da família dos amigos frequentadores", ressalta.
6 Saúde
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Julho • 2013
DRAMAS VIVIDOS NO PÓS-PARTO A depressão atinge um número grande de mulheres, que após terem seus filhos, enfrentam problemas psicológicos. Em alguns desses casos, elas chegam a rejeitar suas crianças PAULO VICTOR
n JANAÍNA SOARES LÍDIA LIMA PATRÍCIA DIAS PAULO VÍTOR VARGAS 7º PERÍODO
Tristeza sem explicação, choro, irritabilidade e sentimento de incapacidade de compreender as necessidades do bebê. Estes são, segundo o psicanalista Marcelo Horta, um dos sintomas mais comuns da depressa pós-parto, que é causada pela deficiência hormonal típica do período posterior ao nascimento da criança. O desconhecimento de algumas pessoas pode agravar ainda mais os sintomas de depressão pós-parto. Foi o que aconteceu com a publicitária F.A, 29 anos, após o nascimento de seu primeiro filho. "A minha família achava que era frescura minha, o meu marido dizia para todo mundo que eu estava ficando louca e o que me fazia sentir ainda pior", conta. A publicitária começou a sentir os sintomas da depressão logo após o nascimento do bebê, em fevereiro de 2013. "Quando olhei para ele me senti estranha, não queria olhar, segurar, muito menos amamentar. Não sentia que aquela pequena criança que nasceu com 52 centímetros e 3,255 quilos, era importante para mim", diz. F.A relata que teve uma gestação tranquila, mesmo não tendo sido planejada. "No começo foi difícil, tinha apenas
cinco meses de casada quando descobri que estava grávida, ainda estava pagando as contas do casamento e pensava que aquele não era o momento ideal para trazer uma criança ao mundo. Mas quando o meu marido ficou sabendo que seria pai, fez uma festa, os meus pais também me apoiaram. Por isso não conseguia entender porque não me sentia ligada naquele bebê", conta. Aceitar que está doente também não é fácil. "Não conhecia os sintomas da depressão pósparto e nem cogitava que isso um dia pudesse acontecer comigo”, afirma. Ela conta que recebeu a visita de uma amiga, poucos dias depois do nascimento do filho. “Essa amiga veio conhecê-lo e estranhou meu comportamento. Quando ela me perguntou se eu estava triste com o nascimento do bebê, não consegui responder e como ela teve uma tia que passou por isso, me disse que eu poderia estar com esta doença. No começo eu não acreditava que isso era possível e pedi que ela não contasse para ninguém", lembra F.A. À época, a publicitária sentia vergonha e, por isso, decidiu procurar ajuda médica sozinha. "Quando cheguei ao consultório e o médico me perguntou o que estava acontecendo comigo e por que estava ali, comecei a chorar compulsivamente. Aos poucos contei que após o nasci-
Acompanhamento familiar é essencial A doença não só interfere na vida conjugal, como também gera consequências no convívio familiar. "Quando percebi que minha filha estava depressiva, prejudicando a própria vida e também a (vida) de minha neta, sentei com minha mulher para discutir a situação. Decidimos então procurar ajuda e intervir", relata J.R, pai de M.E.R, de 20 anos, e avô da criança, que atualmente está com oito meses. Casada desde o final de 2012, M.E.R passou a ter uma crise existencial após o primeiro mês do nascimento da filha. A depressão gerou desânimo com a vida e o pensamento de culpa, pelo fato da gravidez não planejada ter atrapalhado os seus estudos, e por acreditar que ainda não era capaz de sustentar uma criança. M.E.R lembra que durante o período, sofria com choros compulsivos, não tinha apetite, permanecia deitada na cama, levantando-se apenas para
amamentar a criança, mesmo contra sua vontade, além de discutir frequentemente com seu marido, familiares e amigos. Ao perceber a gravidade da situação, quando a criança alcançava o terceiro mês de vida, os pais da jovem perceberam que os sintomas se agravaram quando ela já havia perdido muito peso e foi diagnosticada com anemia. Com a decisão, a primeira atitude foi procurar médicos para tratarem a saúde da mãe. Após o quinto mês de nascimento da criança, a situação foi controlada. "O tratamento foi muito importante para a minha recuperação. No segundo semestre de 2013, voltarei a estudar e vou procurar um emprego. Eu preciso retomar minha rotina, e minha família depende de mim. Não me vejo mais sem minha filha, e agora passo 24 horas por dia sem sair do lado dela. Recuperei minha vontade de viver", afirma M.E.R
A publicitária F.A teve uma gestação tranquila mas sentiu os sintomas da depressão logo após o nascimento de seu filho. mento do meu primeiro filho, não estava feliz, chorava muito e não queria estar perto da criança e nem amamentá-la. Depois de muitas horas de conversa, o médico disse que eu estava com depressão pós-parto, marcou outra consulta e me pediu que na próxima vez viesse com o meu marido", conta F.A. "O meu marido não aceitava que isso era verdade. No começo do tratamento não me apoiava, isso quase acabou com o nosso relacionamento. Ele só percebeu que o que eu tinha era realmente uma doença depois que eu marquei uma consulta com o meu médico e convidei a mãe dele para ir comigo. Foi ela que assustada, depois de saber por tudo que eu estava passando, conversou com ele", lembra. A publicitária segue com o tratamento, mantendo consultas frequentes com seu psicólogo. Ela afirma que o apoio da família após o diagnóstico da doença é essencial para reestabelecer sua confiança e para motivar a busca da cura para a doença. "Tê-los ao meu lado é
importante para conseguir vencer essa batalha", afirma. Os especialistas alertam para a necessidade de se diagnosticar de forma precisa os sintomas da depressão pós-parto, porque mais de 50% das mães apresentam o que os médicos chamam de "tristeza pós-parto", quadro melancólico que desaparece cerca de dez dias após o parto, diferentemente da depressão, que pode se arrastar meses depois do nascimento do bebê e deve ser tratada com medição específica.
TRATAMENTO De acordo com o psicanalista, Marcelo Horta, os tratamentos dependem do diagnóstico específico, da gravidade dos sintomas, do histórico pessoal de transtorno mental e do curso da doença. "Geralmente, há três períodos: fase aguda, até melhora total dos sintomas psíquicos; fase de continuação, para evitar recaída, que tem média de 4 a 9 meses; e fase de manutenção, para prevenir novo episódio, que dura ao menos um ano", esclarece.
"Os transtornos de ansiedade e depressão na gestação estão entre os principais fatores de risco para depressão pós-parto, enquanto a ansiedade crônica não tratada na gestação pode levar a parto prematuro, baixo peso ao nascer e até ao abortamento espontâneo", acrescenta Horta. A falta de tratamento adequado da mãe, após o parto, também é prejudicial ao desenvolvimento dos filhos. Mulheres com depressão pós-parto não tratadas adequadamente podem acarretar a prejuízos ao desenvolvimento cognitivo e de linguagem da criança. "Psicoses no pós-parto com alterações de juízo e crítica, delírios e alucinações favorecem a autoagressividade, suicídio e infanticídio" relata o psicanalista. Segundo ele, todos os sintomas, deve-se procurar imediatamente um médico, para que essa mãe seja tratada de forma correta. De acordo com Marcelo Horta, a melhor maneira de ajudar é deixar a paciente expor seus sentimentos, dizer como se sente, desabafar suas angústias.
Doença também atinge homens O homem também pode apresentar o quadro de depressão pós-parto, embora com menos intensidade. A depressão masculina tem origem nos sentimentos de exclusão diante da mãebebê, ou mesmo após a companheira ser diagnosticada com a doença. O fisioterapeuta M.A.T, 32 anos, deparou-se com essa surpresa ao ser analisa-
do durante uma consulta ao puericulturista de sua filha, que hoje tem um ano e seis meses. Depois que sua mulher passou a enfrentar um quadro grave da doença, ele se sentiu pressionado por ter que cuidar da esposa e da filha pequena. ‘Marinheiro de primeira viagem’, o pai sentiu medo de não ser capaz de fazer tudo como queria. "Era
muita pressão. Eu tinha de convencê-la a acordar para amamentar a criança, e ela se irritava facilmente com o choro do bebê. Eu me via num beco sem saída, mas graças à Deus, os tratamentos oferecidos pela medicina me fizeram recuperar junto com minha esposa, e hoje estamos tranquilos", observa.
Cidadania Julho • 2013
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n ANA LUIZA PERDIGÃO ANNA BELLA BERNARDES CAIO BARROSO KENETH BORGES RENATA LETÍCIA 7º PERÍODO
Muitas pessoas em alguma época da vida precisam de doações de sangue, para elas mesmas, familiares ou amigos. Nesse cenário, cresce o número de familiares e amigos que se sensibilizam ao ponto de se tornarem um doador recorrente. Esse é o caso da empresária Aline Oliveira, 34 anos, que há quatro descobriu que seu filho João Pedro Barbosa,10, é portador de hemofilia. Doença genético-hereditária, que se caracteriza pela desordem no mecanismo de coagulação do sangue e manifesta-se quase exclusivamente no sexo masculino, as vítimas da hemofilia apresentam nos quadros graves e moderados, sangramentos espontâneos. Além de ter entre os sintomas dores fortes e aumento da temperatura corporal. Nos quadros leves, os pacientes possuem dificuldades no estancamento do sangue em situações como cirurgias, extração de dentes e traumas. Aline afirma que assim que o filho deu início ao tratamento da enfermidade houve uma mobilização dos amigos. "Quando ele começou a fazer o tratamento da hemofilia, nós conhecemos o Centro de Hematologia do Estado de São Paulo, onde ele recebe a aplicação do medicamento. É justamente no setor onde as pessoas recebem quimioterapia e sangue, e como tem a parte de doação, juntei alguns amigos e fizemos todos nossa primeira doação", explica Aline. "Depois com o tempo vivia fazendo essas campanhas, mas é algo pequeno ainda, juntamos tipo 15 amigos, 20 e fazemos as doações", acrescenta.
DOAÇÃO DE SANGUE MOBILIZA FAMÍLIA E AMIGOS Vivenciar de perto a realidade de entes queridos que precisam de transfusões tem sido um passo importante na conscientização das pessoas no país ARQUIVO PESSOAL
A empresária ressalta que faz doações a cada dois meses, e incentiva o hábito. "É importante saber que um simples gesto pode ajudar e salvar vidas", observa. Apesar de esforços como o da mãe de João Pedro, a situação dos hemocentros está longe de ser tranquila. A queda de doações de sangue é uma constante, até o mês de agosto de 2012, apenas 1,12% dos quase 20 milhões de mineiros compareceram a um hemocentro para realizar a doação de sangue. Este número está longe do recomendável pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que prevê um índice de 3% a 5% da população. A situação se agrava ainda mais com o número de doadores caindo a cada ano. Dados da Fundação Hemominas informam que o número de doadores em Minas Gerais passou de 230 mil, em 2010, para 227 mil, em 2011, e foi de 219 mil, em 2012, entre os meses de janeiro a agosto. Essa queda serve de alerta, já que a demanda de sangue só tem aumentado. De acordo com Cintia Calú, do setor de Captação e Cadastro do Hemocentro de Belo Horizonte, o mês de janeiro e fevereiro é quando o estoque de sangue tem maior queda, e é o período que mais necessita de caravanas de doadores de sangue. Ela ainda explica que o sangue negativo teve uma queda de
Aline Oliveira se conscientizou da importância de doar sangue por causa do filho João Pedro 30%, porém sempre precisam de todos os grupos de sangue, mas que cada hemocentro trabalha de acordo com sua demanda. "Atendemos os hospitais João XXIII, Risoleta Neves e Odilon Behrens, quando chega alguém muito grave não tem como fazer um exame para descobrir o grupo sanguíneo, assim é realizada a transfusão do sangue 'O negativo', por isso a importância de receber esse grupo sanguíneo", ressalta Cíntia Calú. Para doar sangue os pré-requisitos são pesar acima de 50 quilos; não ter contraído hepatite após os nove anos; ter entre 16 e 67 anos, lembrando que para menores é necessário ter a autorização registrada no car-
Portadores de doenças hemorrágicas têm vida normal A gerente técnica do Hemocentro de Belo Horizonte, Gisella Holanda, observa que os pacientes portadores de doenças hemorrágicas conseguem levar uma vida normal, desde que recebam as transfusões de sangue necessárias. "Não há mudanças na alimentação, nem restrições na realização de atividades físicas, mas precisam sumariamente das transfusões", enfatiza. O garoto Ícaro Silva, de 4 anos, é prova disso. Ele foi diagnosticado com a doença Falciforme durante o teste do pézinho, logo após seu nascimento. Segundo a mãe da criança, Mônica Silva, o menino leva uma vida normal, brinca, faz natação e participa de todas as atividades na escola. "A preocupação que tenho é de mãe, não vai nada além caso ele não fosse diagnosticado com a doença", conclui. O gestor de recursos humanos Maximiliano Anarelli é um exemplo de que hoje um hemofílico pode ter uma vida normal. Mas, segundo ele, nem sempre foi assim.
"Passei muitas turbulências e por várias hemorragias na minha vida. Nas lembranças da infância estão as idas constantes ao médico, quase morri. Mas eu não deixei de aproveitar a vida por causa da doença", revela. Rute Alves, de 93 anos, foi diagnosticada com mielodisplasia, há cerca de cinco, mas faz transfusões sanguíneas há um ano. Segundo sua filha, Renir Maria Santos, que a acompanha em todos os procedimentos, a vida da mãe após o diagnostico seguiu normalmente. "Ela faz crochê, pratica suas caminhadas e de vez em quando vai para a cozinha", conta a filha orgulhosa. A preocupação com Renir aumentou, mas para ela é normal, pois a mãe se encontra em idade avançada. "Minha mãe é uma senhora de 93 anos, então tenho uma preocupação natural. Ela mora comigo, então estou sempre de olho nela, mas é tudo muito tranquilo", diz. Mãe de nove filhos, a aposentada Maria Rodrigues de Souza também é portadora
de mielodisplasia. Ela afirma que o diagnóstico foi demorado e com exames muito complexos. "Foi demorado até descobrir que tinha essa doença, pois os exames eram complicados e longos, mas sempre me trataram muito bem aqui", revela. A aposentada ainda diz que nada mudou e que, como sempre, ela vive com muita alegria. "Vivo minha vida normalmente, meus nove filhos se revezam para me trazer aqui, e essas pequenas coisas me animam. Aposentei com muito custo, mas agora tenho meu descanso, que considero ser merecido", afirma Maria de Souza. A filha da aposentada, Sirlene Barbosa, revela que antes sua família não era tão ligada às questões de doação sanguínea, mas que após a doença da mãe, a comoção foi geral. "Antes só meu marido era doador, mas agora, posso dizer que 90% de minha família pratica a doação. Passamos a entender que um dia nós podemos precisar”, conclui.
tório pelo responsável legal ou comparecer acompanhado do responsável no momento do cadastro ou doação; apresentar documento original com foto. Ela informa também que as doações podem ser agendadas pelo número 155 e que no sábado o atendimento é feito por ordem de chegada. Além dos acidentes nas estradas e a necessidade de transfusão sanguínea em cirurgias, há também a preocupação com os pacientes que possuem doenças hematológicas e têm como principal forma de tratamento a transfusão de sangue. "Estes podem apresentar as coagulopatias hereditárias, que são doenças hemorrágicas resul-
tantes da deficiência quantitativa e/ou qualitativa de uma ou mais das proteínas plasmáticas (fatores) da coagulação e são representadas pelas hemofilias A e B; hemoglobinopatias, que são doenças genéticas decorrentes de anormalidades na estrutura ou na produção da hemoglobina, molécula presente nos glóbulos vermelhos e responsáveis pelo transporte do oxigênio para os tecidos; e a Doença Falciforme, que já apresenta nos primeiros anos de vida, manifestações clínicas importantes", afirma a gerente técnica do Hemocentro de Belo Horizonte, médica Gisella Holanda. Muitas pessoas ainda não entendem a importância da doação de sangue. Somente depois de viverem uma situação próxima é que passam a compreender o procedimento. Para Renir Maria Santos, mãe da aposentada Rute Alves, que precisa de transfusões rotineiras de sangue há mais de um ano, não foi diferente, ela diz que agora sim entende realmente o quanto é importante esse ato de solidariedade. "Eu sempre soube que a doação é importante, mas não entendia do mesmo modo que hoje. Eu e minha família valorizamos muito mais do que antes", salienta.
Campanha em redes sociais busca doadores A professora de história Nicole Cóia, de 28 anos, criou em 2010 com alguns amigos, o projeto de doação sanguínea "Seu sangue é raro, doe". A campanha foi idealizada por membros da comunidade do Orkut "O Teatro Mágico – MG". O objetivo inicial é estimular a doação de sangue, o cadastro de doadores de medula óssea e contribuir com os escassos bancos de sangue dos hemocentros no país. A campanha é feita exclusivamente pela Internet, por meio do perfil no Facebook (www.facebook.com/SangueRa ro), Twitter (@SangueRaro) e pelo Blog (www.sangueraro.blogspot.com.br). Atualmente, são quatro pessoas na equipe, sendo que três estão desde o início. Em Belo Horizonte já foram organizados pelo grupo, sete mutirões de doação sanguínea, e outros seis foram realizados no Paraná, em São Paulo, na Paraíba, no Ceará, no Rio de Janeiro e em Pernambuco, somando mais de mil doações. "O nosso trabalho de conscientização e divulgação é feito por redes sociais de forma totalmente
voluntária e sem nenhum patrocínio", comenta Nicole. Sobre a ligação do projeto com a banda paulista O Teatro Mágico, Nicole conta que o próprio nome da campanha foi uma alusão ao título do primeiro CD da trupe: Entrada para Raros. "A banda foi envolvida por ter conhecido o projeto pelas nossas redes sociais e apoiarem voluntariamente a campanha desde então", diz. Junto com mais quatro amigos, Carla Dias Lopes, estudante de publicidade e propaganda, 27 anos, criou um evento no Facebook intitulado "Doação de Sangue". O evento, que surgiu a fim de conseguir doadores para Nayara Salvador Moreira que está com leucemia, teve a confirmação de quase 250 pessoas e terminou em março último. Carla Dias explica que ideia surgiu em função da existência de um grupo de amigos muito unidos. Ela destaca a importância da doação. "Doar sangue é um ato de amor ao próximo”.
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Especial
THIAGO ANTUNES
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Manifestantes caminham pelo complexo da Lagoinha durante protestos. Trajeto foi feito por pessoas que saíram da Praça Sete em direção ao Estádio Mineirão durante a realização da Copa das Confederações n ÍGOR PASSARINI VICTOR RINALDI 5º PERÍODO
Passada a onda dos grandes protestos no Brasil durante a realização da Copa das Confederações, em junho último as pessoas se perguntam o que virá pela frente. Mesmo com a conquista do tetracampeonato da competição, há quem não entrou no clima de festa no país do futebol. Enquanto milhares de pessoas iam aos estádios conferir a disputa entre as seleções, milhões saíam às ruas para reivindicar seus direitos, chamando a atenção do mundo todo para o que acontecia aqui. Para os jovens que foram às ruas, a certeza de que podem mais. As manifestações deram lugar às chamadas ‘assembleias horizontais’, que discutem os próximos passos a serem dados. Líderes dos movimentos afirmam que a ‘batalha’ está apenas começando. Eles apostam na mobilização crescente para culminar com protestos gigantes durante a Copa do Mundo, no ano que vem. Verônica Gomes, 26 anos, é uma das líderes do movimento que ocupou por mais de uma semana a Câmara Municipal de Belo Horizonte. A jovem considera normal a diminuição no ritmo das manifestações com o término da Copa das Confederações, mas aposta na intensidade maior dos protestos em 2014. "Agora nós vamos ter tempo, um ano para reorganizar e crescer o movimento. Vai ser um ano de formação política, organização e enraizamento para voltar com mais força”. "Enquanto a Copa das Confederações durou, foi muito importante questionar aquela zona imposta pela FIFA e a privatização da nossa cidade", pontua a pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Isabella Miranda, 24 anos, também envolvida no movimento. Ela acredita que o volume de manifestantes pode reduzir em número, mas aumentar em qualidade, com o avanço das pautas de reivindicação por meio das assembleias. A estudante que se identificou como Ninha Alvarenga, 19 anos, diz que não faz parte de nenhum partido ou organização política. Ela relata que quando ficou sabendo das assembleias, pensou que era a oportunidade que as pessoas tinham para organizar o movimento. Ninha começou a participar como ouvinte, mas logo chegou o momento que sentiu que tinha que contribuir de forma mais direta. "Quando começou foi uma onda de indignação tão grande que não tinha nem como organizar. Foi uma 'coisa' que explodiu e a gente falou: Agora que explodiu, como vamos fazer isso dar frutos e caminhar? Como iremos organizar isso?", questiona. A professora da rede estadual de ensino Mariah Mello, 27 anos, luta pela valorização da carreira dos professores públicos e defende estudantes, professores e trabalhadores gerais da educação. Segundo ela, a bandeira histórica do setor da educação é a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país para a educação. Contudo, Mariah acredita que é necessário solucionar um ponto de cada vez. "A pauta prioritária, que está sendo discutida em todo o país, é a questão do transporte. Então, acho que a gente tem que ter um foco nisso, porém, não devemos parar aí e acho que a assembleia ajuda inclusive nisto". "É surreal, principalmente quando vou dormir e fico relembrando o dia, paro e penso: Nossa, hoje fui a uma manifestação com mais de 40 mil brasileiros! Mostrar para as pessoas que elas ÍGOR PASSARINI
Mariah Mello levou a filha, Isabel, 5, para participar das atividades realizadas na ocupação
RUMO DOS NA PAUTA D Mobilização na capital mineira reúne pessoas oriundas dos mais variados movimentos: desde estudantis, políticos, artísticos à pessoas estreantes em manifestações. Buscas por direitos iguais uniu multidões em BH não são obrigadas a sofrerem com as condições de vida impostas pelos governantes, para mim, é o mais incrível", revela a estudante Vanessa Pastorini, 17 anos. Ela diz que não pode defender os baderneiros simplesmente acusando a polícia, mas pelo o que passou nas manifestações, existem alguns problemas. "Ter que sentir o cheiro das bombas, sendo que eu agia de forma pacífica e observar o desespero das pessoas e o meu de achar a minha irmã, mostrou que a polícia está incapaz de atuar nesse sentido", aponta. O jornalista, linguista e historiador Lucas Morais, 27 anos, acredita que esse movimento é fruto do descontentamento social que vem de longa data, após uma série de reformas e melhorias prometidas e nunca cumpridas, e cita como exemplo as promessas de melhoria da mobilidade urbana em função da Copa. "Essas manifestações buscam um caráter apartidário justamente para não permitir que partidos tradicionais 'aparelhem' os movimentos e estes sejam, mais uma vez, traídos. É uma tentativa do povo de demonstrar diretamente nas ruas seu descontentamento e suas reivindicações, mesmo desorganizadamente e de modo difuso", afirma. Lucas ressalta, porém, que o envolvimento de partidos políticos tem aspectos bons e ruins. Segundo ele, esses grupos organizam os movimentos e tornam mais fácil a negociação a partir do momento em que poucos representantes passam a negociar por muitos. "Tem aspectos positivos, mas também tem os negativos, que é quando esses representantes deixam de representar efetivamente o interesse dos representados, criando uma distância entre os interesses da base do movimento e a direção", pondera. E.H.F., 30 anos, afirma que essas manifestações foram a opção encontrada para reivindicar a confiança depositada no candidato durante as eleições. Segundo ele, é preciso uma resposta do poder público, que só pode se legitimar no momento em que atende às reivindicações. "Me orgulho de ser jovem, de ir para as
ruas, de estar participando deste movimento histórico. Acho um absurdo gastar milhões com futebol", diz. Para a estudante Andresa de Melo Ribeiro, 18 anos, um aspecto importante dos manifestos foi mostrar para os governantes que o povo não está mais em estado de inércia. "As pessoas estão procurando saber mais sobre política. É um grande passo para o povo brasileiro, o momento de deixar a diversão de lado e levar a sério o que realmente importa no país", afirma. Outro ponto questionado com veemência durante os protestos foi a violência. Andresa se diz totalmente contra este tipo de atitude, pois, na opinião dela, as pessoas que depredam o patrimônio público não podem ser chamadas de manifestantes. "Sem contar que é o Estado que cobrirá a maioria dos prejuízos, ou seja, estamos pagando o conserto disso tudo". O taxista Jader Luiz Fernandes, 50 anos, lembra que muitas reivindicações e cobranças são antigas. Ele conta que nas últimas eleições municipais, ano passado, fez uma pesquisa na Câmara para verificar o trabalho que tinha sido feito no último mandato de cada um e o resultado não foi positivo. "Criaram dia da feijoada, dia do samba e a gente pagando eles para não fazerem nada. Fiquei indignado, peguei autorização da Justiça Eleitoral, da Prefeitura, e vim para a praça, durante as campanhas políticas deles, mostrar a realidade para as pessoas", diz. Para a gari R.D.S., 43 anos, que trabalhou durante vários dias em que aconteceram protestos na Praça Sete, a reclamação é outra: o excesso de lixo produzido durante as manifestações. "Eles jogam muito papel na rua. E não só eles, eu vi o pessoal de um prédio na Avenida Amazonas abrindo a janela com saco de papel picado e virando aqui embaixo. Isso não é justo. É muito trabalho pra nós. Manifestar sim, mas sem sujeira, sem papel", alega. O policial civil André Carvalho, 26 anos, considera que a instituição e seus profissionais são muito penalizados por causa do descaso por parte dos representantes
públicos que deveriam dar melhores condições de trabalho para que a população tenha um atendimento satisfatório. "Hoje, a Polícia Civil está em greve contra o descaso do Estado. Estamos lutando contra o sucateamento, melhores condições de trabalho e, ainda, a aprovação de uma nova lei que trará benefícios aos servidores", conta. O publicitário e editor Fidelis Alcântara, 38 anos, que esteve à frente em algumas das manifestações, ressalta a importância delas. “Permitiram despertar apoio aos movimentos sociais que nunca dormiram e que estão nas ruas defendendo os direitos de uma população oprimida”, afirma. Fidelis ressalta a urgência de uma reforma política e que é preciso aprofundar os conhecimentos sobre ela para que seja uma reforma que amplie a democracia e a reforma popular. “Precisamos estar atentos aos movimentos dos partidos conservadores que querem transformar a reforma política em um instrumento de conservação do poder visto cada vez mais distante do sujeito que elege”, argumenta. O chefe da sala de imprensa da Polícia Militar de Minas Gerais, major Gilmar Luciano Santos, 38 anos, revela que as manifestações à época da Copa das Confederações servirão de aprendizado para a Corporação. "Nós vamos aproveitar essa experiência e tudo isso que aconteceu para voltar para nossa planilha de treinamento e projeções, para a gente poder, lógico, aperfeiçoar muita coisa e melhorar para a Copa do Mundo. Essa é a finalidade da Copa das Confederações, ela serviu como um balão de ensaio", diz. Em resposta às denuncias de truculência e abuso de poder, o major responde que só houve uma reação da Polícia Militar quando algumas pessoas violaram o pacto e agrediram os policiais, com coquetéis molotov, pedras e bolas de gude. "A PM apenas reagiu às injustas agressões promovidas por uma minoria de baderneiros", diz o oficial.
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Cenas de Junho
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Julho • 2013
Questão do transporte foi o estopim O presidente da Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas da Grande Belo Horizonte (Ames-BH), Lincoln Emmanuel de Mello, 22 anos, considera que essa já é a maior mobilização de rua da história do país, superando movimentos como ‘Diretas Já’, de 1984. “O povo na verdade só aproveitou esse estopim do aumento das passagens para colocar um tanto de reivindicações e lutar pelos direitos que ao longo desses últimos anos vem sendo retirados
deles, principalmente por causa dessa crise do sistema financeiro", afirma. Lincoln diz que a Ames-BH estava reivindicando o meiopasse há algum tempo, mas junto com os estudantes perceberam que era melhor já pautar o passe livre, pois tanto um como outro dependerão do povo ir para a rua. "A gente mudou aproveitando para reivindicar essa luta do passe-livre já que em vários dos lugares do país que diziam que era impossível ter, já
foi concedido, como no Rio Grande do Sul, Goiânia e aqui em Belo Horizonte também tem condição de ter", pontua. Segundo ele, 30% da evasão escolar vêm dessa questão da falta de assistência estudantil e são coisas que não são prioridade no governo estadual e municipal hoje, pois todo ano existe o interesse de aumentar o preço da passagem do transporte público aqui. "Estamos lutando pelo passe livre e pelo valerefeição tanto dentro das esco-
las, como na faculdade. A maioria das coisas que o povo está cobrando é vontade política de fazer porque a gente está na 5ª maior economia do mundo e no 3º maior estado do país, então não tem justificativa", argumenta. Gladson Reis, 21 anos, é vicepresidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e do Conselho Municipal do meio passe estudantil. Para o estudante, existem pessoas que querem esconder a verdade
sobre a questão do transporte público. "Esse é o momento da sociedade civil organizada, da juventude que está saindo às ruas e a classe trabalhadora pressionar para abrir a 'caixa-preta' do transporte público de Belo Horizonte", diz. Ele destaca que isso pode ser a solução de vários outros problemas, não só dos transportes, mas de toda a mobilidade urbana. Gladson luta desde o ano de 2006 pela ampliação do passe livre na capital mineira.
VICTOR RINALDI
PROTESTOS DO DEBATE
Jader Luiz mostra cartaz que produziu na época das eleições criticando leis criadas por vereadores. Ele fez questão de exibi-lo nas passeatas
Movimentos e organizações reforçam luta Importante veículo de divulgação das manifestações nas redes sociais, o Comitê dos Atingidos pela Copa (Copac) surgiu em São Paulo e se expandiu por todo o território nacional. "Há três anos a gente percebeu que a Copa do Mundo que viria para o Brasil não seria a grande festa do futebol, mas uma serie de violações de direitos da população", afirma Isabella Miranda, pesquisadora da UFMG, que já fazia parte de movimentos sociais e ajudou a criar o Comitê em Belo Horizonte há aproximadamente três anos.
A ideia de criar o comitê partiu de uma sugestão de Raquel Rolnik, professora da USP e relatora das Organizações das Nações Unidas (ONU) para direito à moradia adequada. Vendo as violações de direitos decorrentes da Copa do Mundo em outros países, ela propôs a vários coletivos do Brasil que criassem o Comitê dos Atingidos pela Copa. Todas as cidades sedes formaram os seus comitês, articulados nacionalmente. Em Belo Horizonte, depois de se reunir em vários lugares, a partir do Diretório Central dos Estudantes da UFMG, que foi o
local inicial, a sede passou a ser na Faculdade de Direito da Universidade Federal. As reuniões do Comitê são marcadas pela internet por meio das redes sociais. Criada em 18 de junho deste ano a Assembleia Popular Horizontal de Belo Horizonte, também, é um importante grupo que ganhou espaço nas ruas e na internet. A ideia principal é a formulação de pautas e propostas para motivar próximas mobilizações e de criar um espaço comum a todos os mobilizados nas redes sociais e nas ruas.
O grupo se reúne periodicamente embaixo do Viaduto Santa Tereza na Região CentroSul de Belo Horizonte. A convocação coletiva é geral e irrestrita a todos os indivíduos, grupos, coletivos, organizações, partidos e outros. As questões são apresentadas, discutidas e deliberadas com o apoio de um caminhão equipado com aparelhos de sonorização. Com a intenção de fazer uma cobertura informativa e colaborativa das manifestações populares em Belo Horizonte, o Grupo BH nas Ruas surgiu logo após a explosão das grandes
manifestações, no dia 15 de junho. Sem ligação com nenhum movimento ou grupo político, foram os alunos de Comunicação Social da UFMG que criaram o conjunto de redes sociais. Presente no Twitter, Facebook e Tumblr, as informações que são inseridas nas plataformas são enviadas por quem está participando dos protestos e não apenas assistindo. De acordo com a Equipe BH nas Ruas, eles tinham vontade de produzir algum tipo de informação que destoasse da grande mídia.
Cientista vê futuro incerto para o movimento Para o professor de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Carlos Vasconcelos Rocha, 52 anos, em um primeiro momento parece que as manifestações perderão um pouco de sua força. "Mas da mesma forma que elas surgiram sem que ninguém esperasse, e com a força que apareceu, podem ressurgir", reflete. Mas ele prefere não apostar nos desdobramentos que esses movimentos vão ter. O professor percebe características marcantes e diferenças destas manifestações. Para ele, as pessoas foram às ruas por vários objetivos que expressam insatisfação e não com uma finalidade definida
em comum. "Um monte de grupos ideológicos de interesses diferentes, que tentam de alguma forma canalizar esses movimentos para sustentar as suas teses", afirma. Vasconcelos ressalta a relação próxima de parte dos manifestantes com o apartidarismo. Um bom exemplo é uma das líderes dos movimentos de ocupação da Câmara Municipal e das Assembleias Populares. Além disso, o professor destaca a nova forma como são organizadas e agendadas as manifestações, por meio da internet e das redes sociais, e relembra como eram feitas as convocações antes dessa geração. "A forma tradicional de agendar as manifestações se dava através
de instituições como sindicatos, partidos políticos, associações, entre outras", recorda. Outras características das grandes manifestações populares que marcaram o mês de Junho na história, e que tiveram forte impacto político, foram as atitudes truculentas das polícias e o vandalismo por parte de alguns manifestantes. Para o professor, sair quebrando, arrebentando e pondo fogo é uma coisa intolerável em uma democracia e não leva a nada. "Em uma democracia, regime em que todos podem expressar opiniões, as manifestações são parte da livre expressão democrática", ressalta. Vasconcelos recorda que há uma tradição antiga de pessoas
que se infiltrarem nesses movimentos para atrapalharem. "Eu acho que as polícias deveriam responder essa questão. Afinal, quem são essas pessoas que estão indo para a rua depredar, botar fogo e etc.?", questiona. Tradicionalmente isso foi utilizado para passar uma imagem negativa sobre os movimentos. De acordo com ele, essas mobilizações pelas redes sociais de alguma forma podem mudar a cabeça das pessoas na hora de eleger seus próximos representantes. "Para o bem, os jovens participando e se conscientizando sobre o que é o poder público. Por outro lado, pode ter um feito de satanização da política, que não leva a lugar nenhum", cogita.
O professor acrescenta que as redes sociais e os meios de comunicação já influenciam nas próximas eleições. "Certamente é um fator importante e está tentando ser instrumentalizado por diversos setores da sociedade, justamente para influenciar as próximas eleições", afirma. Para ele, uma reforma política só seria relevante em alguns aspectos como, por exemplo, o financiamento público de campanha política. "Esse é um dos fatores que fortalece o mau uso do dinheiro público, para fins de financiamento de campanha com o privilégio de alguns setores empresarias", completa.
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Julho • 2013 DAYSE SANTOS
O TRABALHO INFANTIL NAS RUAS DE BH Apesar de Minas ser o estado com menor índice de exploração desse tipo de mão de obra, o MARCO flagrou crianças em ação na Savassi n CAROLINA LOPES DAYSE SANTOS LAURA DE LAS CASAS NATHAN GODINHO TAMARA FONTES 7º PERÍODO
Por volta das 21h de uma quinta-feira, as ruas fechadas que abrigam o conjunto de bares na Praça da Savassi já estavam cheia de jovens e adultos. Eles ocupavam ali, as mesas de uma das esquinas mais boêmias da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Nesse mesmo horário, os pequenos vendedores já estavam a postos, indo de mesa em mesa oferecer seus diversos produtos. O DVD custa R$ 3, mas se comprar dois, pode levar por R$ 5. O chiclete também tem preço promocional: três por R$ 4. Se alguém quiser levar uma lembrança para uma pessoa querida, o bonequinho em miniatura com uma placa escrito "amo você" custa apenas R$ 5. Ao longo da noite, cinco crianças circularam entre as mesas vendendo doces, CD’s, DVD’s e enfeites. Uma das meninas, de coque e vestido amarelo, mexe no cabelo das moças sentadas enquanto oferece suas guloseimas. "Compra uma bala minha", diz a garota, com apelo. Ao ser questionada sobre seu nome e sua idade, ela responde, "Carolina, 9 anos". Quando lhe perguntam onde estaria sua mãe naquele momento, ela hesita em
responder, mas logo depois aponta para longe, em um lugar na praça onde algumas mulheres se reúnem e observam. Os menores são conhecidos pelos funcionários e frequentadores dos bares. Um dos garçons, Matheus Souza, conta que eles marcam ponto na região praticamente todas as noites da semana. "Nos dias de mais movimento, então, eles não deixam de vir, de jeito nenhum. A gente já viu alguns desses meninos crescer aqui nesses bares", conta. De tempos em tempos, as crianças vão até as supostas mães, que parecem orientá-las sobre o lugar das próximas vendas. A menina que vende DVD’s está sempre acompanhada de outro garoto, que ela diz ser seu irmão. Eles afirmam que vendem cerca de 15 por dia. Os dois, ela com 12 anos e ele com 14, dizem que vão vender sempre depois da aula. De longe, é possível ver a mãe caminhando com os meninos e orientando onde eles devem oferecer os produtos. "Ali ó, pode vender ali que tem muita gente", diz a eles, apontando para um dos bares mais cheios. No momento em que os meninos estão vendendo, a mulher se afasta e observa de longe. Procurada pela reportagem do MARCO, ela não quis falar sobre o assunto.
A DINÂMICA DA LEI De
Crianças e adolecentes vendem produtos diversos em bares durante as madrugadas, na Savassi, Região Centro-Sul da capital mineira
acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, é responsabilidade do governo, dos pais e da sociedade ajudar a acabar com exploração infantil, que é crime e dá cadeia. De acordo com a última pesquisa publicada pelo Fórum de Erradicação e Combate ao Trabalho Infantil de Minas Gerais, 105.274 crianças de 5 a 14 anos foram registradas trabalhando em 2011. Se for considerada a idade até 17 anos, o número sobe para 394.292. Mesmo as estatísticas sendo altas, Minas Gerais é o estado que menos tem crianças trabalhando em todo o país. LAURA DE LAS CASAS
A Promotora Andréa Mismoto afirma que crianças que trabalham nas ruas estão sob situação de risco
Apesar disso, o número, que se encontra estagnado há alguns anos precisa baixar ainda mais. Segundo a coordenadora do Fórum, Elvira Mirian Velloso, a questão do trabalho infantil nas ruas de Belo Horizonte tornou-se um problema crônico. As soluções são cobradas da Prefeitura, responsável por realizar as abordagens nas ruas, fazer os estudos de casos e encaminhálas ao Conselho Tutelar para que as medidas protetivas sejam tomadas. "Esse problema tinha que estar sendo acompanhado pela municipalidade, pela assistência social do município e esse serviço está falho em Belo Horizonte", diz. A promotora Andréa Mismoto, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Infância e Juventude de Minas Gerais, explica que quando uma criança é vista trabalhando nas ruas, considera-se que ela está sob situação de risco. O que um cidadão comum deve fazer, nessa situação, é informar ao Conselho Tutelar, por meio de uma denúncia feita por telefone - cada regional da capital tem um número. O órgão, por sua vez, vai encaminhar o caso para a Assistência Social, que fará as abordagens necessárias para entender o caso de cada menor. São nove conselhos em cada regional da capital e um plantão centralizado para casos de emergência. O Conselho tem uma equipe técnica com um assistente social que atende três conselhos. Mas existe uma rede que
funciona fora do órgão, formada pelo Centro de Referência Especializada em Assistência Social (CREAS) e o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), onde se encontram os assistentes que fazem a fiscalização e as abordagens nas ruas. De acordo com a conselheira tutelar Sueli Xavier, que trabalha na Regional CentroSul, quando uma denuncia é feita, a família do menor é notificada, para que seja realizado um acompanhamento e a inclusão dentro de algum projeto social gerenciado pelo governo. Isso tem como objetivo de suprir as necessidades que levam a criança a sair de casa para vender produtos nas ruas. "Tem gente que vê isso acontecendo o tempo todo nas ruas e não denuncia. Falta coragem à sociedade", diz. Nessas abordagens, o assistente social devidamente preparado conversa com familiares, vizinhos, professores, amigos da criança, para obter uma conclusão sobre a situação de risco na qual a criança se encontra. "A partir daí, o Conselho Tutelar vai aplicar uma medida para tirar aquela criança das ruas", pontua Andréia. "As medidas são tomadas de acoordo com o problema de cada um. Se a criança não está estudando, o Conselho deve matricular ela em alguma instituição. Se ela vende nas ruas por um problema de sobrevivência, ela é encaminhada para programas como o Bolsa Família ou o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), no qual o menino fica o dia inteiro em atividade", explica.
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PRESENTE QUE DESTROI O FUTURO Crianças que trabalham têm baixa escolaridade e vão desenvolver a atividade para o resto da vida. Assistentes sociais realizam projetos para tirá-las das ruas e inseri-las na sociedade DAYSE SANTOS
n CAROLINA LOPES DAYSE SANTOS LAURA DE LAS CASAS NATHAN GODINHO TAMARA FONTES 7º PERÍODO
O processo para se acabar com o trabalho infantil, que é proibido por lei, não é simples. Um dos grandes problemas enfrentados é a falta em programas oficiais de ajuda às famílias de crianças e adolescentes carentes. "Esses programas são gerenciados pela prefeitura e ela tem que oferecer esses serviços em quantidade suficiente porque a demanda pode ser maior", comenta Andréia Mismoto, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Infância e Juventude de Minas Gerais. Segundo a promotora, a ausência de investimento em assistência social também piora significativamente esse quadro. "Trata-se de uma opção política, ideológica. Com esse prefeito (Márcio Lacerda) houve uma diminuição drástica nas equipes de assistência social. Onde tinha dez, diminuiu demais", pontua. Andréia Mismoto explica que o trabalho infantil tem problemas nefastos na vida de
uma criança, influenciando em seu rendimento escolar, em seu futuro e até mesmo na idade de óbito de cada uma. "Temos estatísticas mostrando que crianças que trabalham tem a mais baixa escolaridade e com baixa escolaridade ele vai reproduzir essa atividade para o resto da vida. Ele aprendeu a vender bala, ele vai vender bala ate 50 anos, sem aprender outro ofício. Fora que a idade do óbito dela fica muito adiantada. Estimase que 15 anos. É uma lógica extremamente perversa", afirma. A promotora ainda chama a atenção para o fato de a denúncia não gerar uma ação mais direta. "Essa abordagem tinha de ser imediata, porque eu não sei se amanhã essa criança vai estar ali de novo. Será que amanha ela não vai estar em outro lugar trabalhando?", questiona. Já a Prefeitura de Belo Horizonte informa que as denuncias podem ser feitas também por ligações diretamente nos postos de abordagem. A PBH nega a diminuição no trabalho assistencial e informa que realiza diversos projetos e campanhas para ajudar a diminuir os índices de trabalho infantil na capital
Áreas de maior concentração de bares em Belo Horizonte são onde trabalha a maioria das crianças e adolescentes
mineira. De acordo com a Secretaria de Assistência Social, à época das férias, perío-
Abrigos acolhem crianças com problemas dentro da família Quando os casos são mais graves e envolvem outros problemas, como negligência, abuso sexual e agressão, a criança é destituída dos pais e levada para algum abrigo da cidade. O assistente social e coordenador da Organização Não Governamental (ONG) Casa Jardim Leblon, Geraldo Chequi, já viu entrar e sair de sua casa de acolhimento diversas crianças com esse perfil. Mas hoje em dia a situação é diferente. "Hoje, o acolhimento para meninos com trabalho infantil é quase zero", diz. Ele explica que antes os meninos além de trabalhar, dormiam nas ruas. Hoje em dia, segundo Geraldo, esse perfil vem mudando. "Eles vão para o bar, vendem, vendem, e voltam para casa", conta. Alguns frequentam escola, a maioria de forma irregular. O trabalho infantil, por sí só, não é motivo de acolhimento, a não ser se outros direitos do menor estiverem sendo violados.
"Existem muitos casos em que se o menino não aparece com a quantia, ele é espancado, então ele fica na rua, não volta por não conseguir o dinheiro, não volta por medo", revela. Os abrigos funcionam como uma casa de família. Por meio de doações e de um auxílio mensal por parte do governo municipal, a casa abriga 15 crianças. De acordo com Geraldo, ali vivem meninos e meninas que estão em processo de reintegração familiar e outras que já tiveram a guarda tomada pela Justiça, por diferentes motivos, e estão para adoção. Geraldo critica a gestão do Conselho Tutelar, afirmando que os funcionários, muitas vezes, não são preparados para exercer as funções do órgão. "Eu sou contra o conselheiro não ter um curso superior. Muitas vezes ele não tem prática", diz. Segundo Geraldo, a falha na luta contra o trabalho infantil também está na falta de
acompanhamento das famílias depois que as medidas protetivas são tomadas. O acompanhamento é feito somente pela própria ONG, durante seis meses. O coordenador chama a atenção para o fato de as políticas sociais, como Bolsa Família, muitas vezes serem vistas como salvação para um problema tão profundo. "Mesmo esse menino recebendo auxílio, ele continua na rua, porque ele ganha dinheiro demais. O auxílio é pouco. E geralmente essas famílias têm 5, 6, 7 crianças vendendo pela cidade", diz. Segundo ele, dessa forma a situação se torna um vício. "Vivemos em uma cidade paternalista, conhecida em todo o Brasil por isso. Tem comida a noite toda na rua, isso cria um vício. O importante é oferecer uma proposta pra essas crianças que estão alí vendendo, e não dar dinheiro, dar comida", diz.
do em que os menores mais estão nas ruas trabalhando, é feito a campanha "De bar em bar", para consientizar a população em relação aos pequenos vendedores, sempre presentes nas regiões mais boêmias da cidade. No final do ano, segundo a Secretaria, é feito um outro programa para alertar os cidadãos sobre as crianças.
Nessa época, é comum ver meinos e meninas pedindo contribuições para uma "caixinha de natal". Já no dia das crianças, comemorado em 12 de outubro, a prefeitura realiza uma junção de todas as campanhas realizadas durante o ano, para chamar a atenção dos cidadãos para o problema social que é o trabalho infantil nas ruas da cidade.
Negligência dos pais e incentivo ao trabalho infantil levam os menores para as ruas A reportagem do MARCO acompanhou o trabalho dos 'pequenos vendedores' de segunda à sexta-feira. O único dia em que ninguém esteve na região foi na segundafeira, quando o lugar estava bastante vazio. Nas outras noites, as supostas mães tinham lugar cativo entre as mesas dos bares, e acompanhavam a rotina dos meninos até praticamente o horário em que os bares fechavam as portas por volta da 1h da madrugada. A menina de vestido amarelo, que tentava vender os doces enquanto
mexia nos cabelos da mulher sentada, recebe o dinheiro pelo chicletes e coloca no bolso do vestido. Com os olhos nítidamente cansados, ela segue para a mesa ao lado, oferecendo seus produtos. A moça, que tomava cerveja com o namorado, pergunta onde está sua mãe, enquanto olha na caixa que a menina segura o que ela está vendendo. Com os dedos das mãos, ela faz um gesto como se imitasse a mãe tomando algo e responde "ela tá enchendo a cara", diz.
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MORADORES DE RUA SÃO ATENDIDOS POR ONG’S Grupos religiosos entregam alimentos, agasalhos e levam conforto espiritual a moradores de rua da Região Central de Belo Horizonte DANIEL DE ANDRADE
Moradores de rua recebem amparo espiritual e alimentação de integrantes da Célula Aprisco nas noites de segunda-feira na Região Central da capital mineira n DANIEL DE ANDRADE 4º PERÍODO
Ajudar pelo simples prazer de ajudar. Esse é o objetivo de diversas ONG’s e alguns grupos religiosos que, todas as noites, fazem uma romaria pelos viadutos da Região Central de Belo Horizonte levando alimentos, agasalhos e até conforto espiritual para os moradores de rua. Na altura do número 1144 da Rua dos Tamoios, entre Mato Grosso e Avenida do Contorno, cerca de 20 homens e mulheres se aglomeram em uma larga calçada, assim que a noite cai, e dela fazem um quarto, cobrindo-se como podem: restos de papelão, panos de chão e cobertores sujos são os utensílios mais utilizados. Alguns enfrentam as baixas temperaturas da noite sem nenhum tipo de proteção. Essa triste realidade começa a mudar e a assumir tonali-
dades menos escuras quando a Kombi de um grupo da Igreja do Evangelho Quadrangular do Bairro Palmital, em Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte, estaciona no local e dela descem voluntários com uma panela enorme de canjica. Um a um, todos os moradores de rua são prontamente servidos. "Quase sempre não almoço. Quando o pessoal que serve comida chega, fico aliviado e agradeço a Deus pelo carinho que eles têm com a gente", afirma Alex da Conceição, 34 anos, dez deles vividos na rua. De acordo com a psicóloga Carla Soares, 31 anos, voluntária da Célula Aprisco, grupo que visita pessoas necessitadas da região central todas as segundas-feiras, esse é um momento único. "Às vezes, achamos que nossa vida está vazia, sem sentido. Mas, quando saímos da nossa região de conforto e nos deparamos com histórias tão
tristes e realidades muito diferentes das nossas, passamos a valorizar nossa coberta quentinha, nossa comida diária, a possibilidade de tomarmos um banho quente todas as noites e muitas outras coisas que temos e não percebemos", destaca. Essa é a primeira vez que Carla participa do trabalho voluntário, mas ela afirma que já se sente estimulada a voltar e a convidar mais pessoas para participarem da iniciativa. O agente de segurança Erivelton Cassimiro de Souza, 34 anos, também foi "contagiado" pelo trabalho voluntário da Célula Aprisco. Além da comida, eles são responsáveis por levarem mais alegria para as noites dos moradores. "Trazemos um violão e separamos um momento para louvarmos a Deus pela vida dessas pessoas especiais", conta. Cassimiro também ressalta que a maioria das pessoas que vive nas ruas, além da necessidade
material das coisas, precisa de carinho, atenção. "Alguns só desejam conversar com alguém que não esteja na mesma condição que eles. Na rua, a carência e a solidão são as armas mais cruéis que matam essas pessoas dia após dia," reflete.
HISTÓRIAS TRISTES Entre os moradores de rua que recebem o apoio dos membros da Célula Aprisco, está o lavador de veículos Sílvio César Santos, de 44 anos. Há seis meses, ele vive nas ruas e conta que perdeu tudo por causa do vício do crack. "Há 20 anos, essa droga me domina. Minha família, que mora no Bairro Céu Azul, já fez de tudo para me libertar. Já fui internado diversas vezes. Mas preferi sair de casa e viver nas ruas para tirar esse peso das costas de minha mãe. Ela não merece o filho que tem. Por isso, resolvi ficar na rua e por aqui vou vivendo até que Deus queira dar um
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fim em minha vida", conta. Sílvio tem um filho de 17 anos, mas afirma que há mais de um ano não tem contato com o jovem. "Meu filho sabe da minha situação. Quando eu me separei, ele tinha sete anos. Desde então, nosso contato diminuiu bastante. Não vi meu filho crescer. Hoje, tenho vergonha de encontrálo. Não quero que ele me veja nessa situação decadente em que me encontro", diz. Santos também conta que as visitas da Célula Aprisco são importantes para a sobrevivência dos moradores de rua. "Às vezes, quando tenho dinheiro, almoço no restaurante popular, mas, no horário do jantar, conto apenas com a ajuda dessas pessoas. Graças a Deus as ajudas que recebemos são muitas: de espíritas, evangélicos, católicos. Todos eles passam por aqui, em algum dia da semana. Só a Prefeitura mesmo que não se importa com a nossa situação. Querem nos entulhar em qualquer lugar para mostrar aos gringos, que estarão em BH por causa da Copa, que não existem mendigos na cidade. Pura hipocrisia", afirma. Quem também sente falta de iniciativas governamentais para a população de rua é Rosimar Aluísio da Silva, 58 anos, dois deles vividos nas ruas de Belo Horizonte. Em 2011, ele veio de Fortaleza para trabalhar em uma construtora na capital mineira, mas foi roubado e perdeu todos os documentos. A única solução encontrada foram as calçadas do centro da cidade. "Já vi de tudo na rua. Gente sendo esfaqueada, mendigos agredidos por policiais. Quem nos vê todos os dias nos sinais e debaixo dos viadutos não é capaz de imaginar o quanto vivemos uma vida mísera. Estar vivo amanhã é, de fato, uma incógnita", reflete. A família de Rosimar, que mora na capital do Ceará, desconhece a situação na qual ele vive em Belo Horizonte. Mesmo assim, o morador de rua prefere continuar sem dar notícias. "Não quero preocupá-los. Até prefiro que pensem que eu morri. Já dei muito trabalho para eles", diz.
Solidariedade com pessoas carentes A Pastoral de Rua é uma equipe de leigos e religiosos sensibilizados pelo sofrimento das pessoas que moram nas ruas ou delas sobrevivem. O principal objetivo da entidade, que está localizada à Rua Além Paraíba, 208, Bairro Lagoinha, Região Noroeste da capital, é abordar aqueles que vivem nas ruas e conviver com eles de forma solidária e fraterna. "Os moradores de rua são pes-
soas que, em sua grande maioria, vieram de cidades do interior e outros estados. Fazem das ruas e praças de BH suas atuais moradias. Desempregados, muitos buscam alternativas de sobrevivência. Não posso deixar de destacar que vários perdem suas referências: não têm como se comunicar com a família, não possuem endereço fixo, perdem a identidade e o próprio nome", explica Maria Cristina Bove,
coordenadora da Pastoral de Rua. Criada em 1987, por meio da Fraternidade das Oblatas de São Bento, a Pastoral de Rua trabalha para que o morador de rua redescubra sua autoestima e dignidade. "Ao longo desses anos, a entidade se articula em prol da luta por melhores condições de vida às pessoas excluídas da sociedade", acrescenta a coordenadora. Iniciativas como a República
Reviver, espaço de moradia temporária, o Centro de Referência, o Ambulatório Carlos Chagas, a creche para filhos de catadores de papel e moradores de rua são conquistas e resultados da participação organizada da população de rua no Orçamento Participativo de BH. "Transformar a qualidade de vida das pessoas que vivem nas ruas é o nosso maior propósito. Nosso trabalho tem como público-alvo
os catadores de papel e os próprios moradores e exmoradores de rua. Nosso objetivo é gerar renda para eles por meio da atividade que fazem. Enquanto extraem da coleta seletiva o sustento diário, também constroem sua identidade de sujeitos participantes e cidadãos", finaliza Maria Cristina. O telefone de contato da Pastoral de Rua é (31) 34288366 e o site: www.pastoraldopovodarua.com.br.
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CARINHO COM OS NECESSITADOS Projeto “Madrugada do Carinho”, que se iniciou no Rio, leva palavras de conforto para moradores de rua, ajudando na reabilitação, recuperação e inserção social dessas pessoas ANA LETÍCIA DINIZ
n ANA LETÍCIA DINIZ 2º PERÍODO
Um projeto, que ocorre na madrugada, em que moradores de rua e aqueles que necessitam de cuidados são abordados e recebem atenção de pessoas que se sensibilizam em ajudar as outras. O projeto "Madrugada do Carinho" começou no Rio de Janeiro, na Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, em 1992, coordenado pelos próprios integrantes da igreja, com o objetivo de levar palavras de conforto para os moradores de rua, levando também assistência de reabilitação e recuperação. No Rio de Janeiro, a sua dinâmica acontece de forma em que todos os voluntários vão para o viaduto, onde se tem a maior concentração de transeuntes e usuários de drogas, e então os voluntários se dividem em grupos para fazerem a rota, que é pré-estabelecida pelos coordenadores. O projeto chegou a Belo Horizonte em 1994, por iniciativa de Mauricio do Amor Divino, que trouxe a proposta do Rio e contou com a ajuda de Rosilene Nazar, que era a coordenadora de Ação Social da Convenção Batista Mineira, na Primeira Igreja Batista de Belo Horizonte, localizada na Praça Raul Soares. No primeiro momento do projeto, eram abordados todos os moradores de rua que estavam na rota da Praça Raul Soares até a Praça da Estação, onde já estava localizada outra parte dos voluntários, esperando as pessoas
para conversarem, darem comida, roupas e cortarem os cabelos. Com o passar do tempo os voluntários mudaram a forma de abordagem e a sede passou a ser na Igreja Batista do Barro Preto. "A primeira mudança feita foi na abordagem como arrastão, porque os voluntários ficavam muito cansados quando chegavam à Praça da Estação. Depois começamos a perceber que só cortar cabelos e dar comida não funcionava mais, iam comer, corta o cabelo, fica com boa aparência, mas a verdadeira necessidade continuaria", comenta o novo coordenador do projeto, Hudson Augusto do Santos, que assumiu a função em 2010, mas já participa há oito anos. Atualmente, o projeto "Madrugada do Carinho" acontece na Praça da Estação, onde é o ponto de encontro dos voluntários, que são separados em grupos e espalhados pelo centro de Belo Horizonte. Cada grupo com uma sacola de pão e uma garrafa de cinco litros de café com leite, que são fornecidos por uma padaria e um fazendeiro, colaboradores do projeto. Não são mais abordados apenas moradores de rua, mas também todas as pessoas que estão na rua em que o grupo passa. O projeto acontece toda a primeira sextafeira do mês e, se houver feriado, acontece na segunda-feira. São traçadas seis rotas: ruas da Bahia, Guaicurus e Caeté, avenidas Andradas (dois lados) e Amazonas. As pessoas que são abordadas e querem trocar de
roupa e receber apoio são enviadas à Cristalândia, uma casa de apoio e triagem. Já as pessoas que querem sair das ruas e ir para um centro de tratamento, os voluntários marcam um encontro no sábado pela manhã e as encaminham para uma casa de recuperação. O projeto envolve, em média, entre 70 e 80 voluntários em Belo Horizonte e Região Metropolitana, que abordam, em média, 30 pessoas por noite. Marcos Leandro, que já participou de oito encontros, ficou sabendo da iniciativa por meio da participação em um congresso de jovens. Ele conta que se sente privilegiado em participar. "Sinto o amor de Deus e o cuidado d’Ele para com a minha vida, e a consciência de que se não fosse a misericórdia e a graça d’Ele, eu poderia estar na mesma situação das pessoas que encontramos nas ruas", comenta. "Mas entendo também que é uma oportunidade e um privilégio de ser um instrumento nas mãos de Deus para que, através da minha vida, essas virtudes possam ser conhecidas por outras pessoas e, assim, proclamar a esperança da salvação em Jesus Cristo. Levo sempre comigo o versículo de 1 Coríntios 13:13 que diz: 'Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior deles é o amor'", acrescenta. Não há registro de quantas pessoas foram tiradas das ruas com esse trabalho, mas houve um caso em que um dos abordados passou a integrar a coorde-
Ação dos voluntários na Praça da Estação não se restrigne à entrega de comida nação do centro de recuperação para o qual foi encaminhado. "Ficamos sabendo de um caso especial, Felipe foi abordado próximo à Rodoviária. Nós o encaminhamos para o centro de recuperação onde ele ficou internado, se recuperou e pediu para não sair e continuar ajudando outras pessoas dentro do próprio centro. Hoje, ele é um dos coordenadores do centro de recuperação. Essa é uma dentre outras historias que nós convivemos,
mas existem muitas que não chegam até nós", comenta Hudson Augusto. Moradora de rua, Natalia ressalta a importância do projeto. "A gente quer ser visto, escutado, dar comida todo mundo dá. Vocês até olham para a gente, mas não nos vêem é isso o que vocês estão fazendo, vindo conversar, sentar, tocar violão aqui, faz com que a gente se sinta gente", afirma.
Catadores revelam a importância do“lixo de cada dia” DEYSE SANTOS
Edinho: “continhas” pagas com lixo n ANA CAROLINA LOPES DEYSE NAYARA DOS SANTOS LAURA DE LAS CASAS NATHAN GODINHO TAMARA FONTES 7º PERÍODO
Entre latinhas de alumínio, papelão e tampinhas de garrafa encontram-se também muitas histórias. O que para muitas pessoas é lixo para outras é uma forma de sobrevivência. Catadores de materiais recicláveis, de Belo Horizonte, fazem da coleta seletiva fonte de renda, bandeira em defesa da reciclagem e história de vida. De origem pobre, negro e filho de
mãe solteira, Edson da Silva, é um dos catadores que trabalham no galpão da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare), no centro da capital mineira. Edinho, como prefere ser chamado, conta que apesar das mazelas que viveu conquistou dignidade por intermédio do lixo. "Eu não tive estudo porque eu vim de uma família muito pobre. Sou sincero. Sofri muito, minha mãe criou 10 filhos e desde pequeno me conheço por reciclagem. De onde eu tiro minha comida? De onde eu pago meu condomínio? De onde eu pago minhas continhas? Do lixo", explica. Histórias dos mais diferentes tipos compõem o cenário de vida dos catadores de Belo Horizonte. Muitas vezes, marcados pela pobreza e falta de oportunidade, as pessoas perceberam a riqueza de materiais reaproveitáveis "jogadas no lixo". A dignidade, a renda, a cidadania e uma profissão foram o que adquiriram os catadores. Entretanto, muitas vezes são excluídos da sociedade, por não serem vistos como uma profissão. Boa parte das pessoas, por preconceito ou falta de informação não sabe a importância da catação. Além disso, há pouco investimento
em coleta seletiva por parte das autoridades. "O lixo não é aquela coisa que eles acham que não vale a pena não. Vale, mesmo porque está ajudando o meio ambiente”, observa Edinho, que revela a necessidade de apoio e pede ajuda à presidenta Dilma Roussef. “Eu não votei nela? Porque que ela também não pode nos ajudar? Dá um voto para reciclagem, ajuda as cooperativas, ajuda o Brasil que é do lixo que a gente vive", diz. Segundo Cristina Luttner, engenheira ambiental do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (Insea), os investimentos ideais ainda estão longe dos necessários. Para ela, em Belo Horizonte são mais de 500 bairros e somente 30 possuem coleta seletiva. "Hoje, temos cerca de oito galpões na cidade e todos já estão com a sua capacidade máxima. O pequeno apoio que a Prefeitura dá, não pode ser visto como suficiente. Temos sempre que buscar melhorias para o município, porque falar que tem a coleta em 30 bairros, não é falar que tem coleta seletiva em Belo Horizonte". "A única coisa que a Prefeitura mantém nós aqui, é que eles pagam água e luz e ainda mantém um funcionário,
mas isso não é suficiente", acrescenta Valdeci Rodrigues da Silva, catador da Asmare. Belo Horizonte coleta cerca de 4.700 toneladas de lixo por dia. Dentro desse total, estão incluídos lixo domiciliar, coleta seletiva, construção civil, hospitalar, público, varrição, orgânicos e podas. Segundo Vitória Cavalieri, da Assessoria de Imprensa da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), a coleta seletiva na capital mineira é de dois tipos. Há o tipo ponto a ponto e o domiciliar. São 94 locais de entrega com um total de 299 containers, no ponto a ponto, conhecido como Locais de Entrega Voluntária (LEVS) e 30 bairros atendidos pelo tipo porta a porta. São 15% da população atendida o que equivale a cerca de 354 mil habitantes. Vitória Cavalieri ressalta que, nos últimos anos, ações que tratam da inclusão social do catador vem sendo realizadas pela prefeitura de Belo Horizonte. "Na busca de preservar o trabalho dos catadores, os materiais recicláveis coletados pela SLU são repassados às associações e cooperativas. Além disso, os espaços, equipamentos para o processamento de recicláveis são viabilizados pela SLU, por meio de convênios", afirma. Ela salienta
ainda que além da capacitação de 280 catadores, em 2010, também foi realizada a ampliação e revitalização do galpão de Triagem de Resíduos Recicláveis do bairro Jatobá IV, e a construção do Galpão de Reciclagem Granja de Freitas. "A meta do Plano de Governo é dobrar o número de bairros atendidos até 2016 e mais que dobrar o volume coletado hoje", acrescenta. Gilberto Warley Chagas é outro catador que viu na coleta de materiais reaproveitáveis uma forma de trabalho. Desde os 10 anos, Gilberto já trabalhava catando ferro velho, no Bairro Novo Riacho, em Contagem. Com o passar do tempo foi sendo lapidado pela experiência e, hoje, além de ser catador de materiais recicláveis, é um dos mobilizadores sociais dos catadores e componente de entidades representativas da categoria. O catador, que começou a catar lixo de maneira informal por causa das condições precárias de vida, hoje, gera “trabalho e sustento para famílias”. Além disso, colabora na proteção do meio ambiente e movimenta uma cadeia de reciclagem, cooperativas, associações e indústrias”, diz Chagas.
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Julho • 2013
MULHERES ENFRENTAM OBSTÁCULOS Dentre os esportes olímpicos, somente o hipismo e a vela permitem homens e mulheres competindo igualmente. Mesmo assim, no Brasil, amazonas são minoria em disputas profissionais ARQUIVO PESSOAL
n LETÍCIA GLOOR LÍVIA MAGALHÃES NATHÁLIA CASTRO OLÍVIA PILAR 7º PERÍODO
Neta de Sabino Corrêa Rabello, fundador do Banco Rural, Vitoria Rabello Nolli tem o amor pelo hipismo correndo em suas veias. O avô e também a mãe, Junia Rabello, ambos falecidos, praticavam o esporte. Quando criança, Vitoria competia na modalidade CCE e aos 18 anos ingressou no hipismo clássico. Em apenas quatro anos, ela passou da condição de mais uma praticante para ser uma das poucas amazonas mineiras a disputar provas de 1,40m. Histórias como a de Vitoria são raras no cenário do esporte em Minas. Entre os esportes olímpicos, somente o hipismo e a vela admitem homens e mulheres competindo juntos e em igualdade de regras. No entanto, poucas mulheres conseguem chegar a um nível para disputar campeonatos profissionais. No caso da vela as diferenças físicas dão vantagem aos homens e, por isso, mulheres acabam se inscrevendo para as provas exclusivamente femininas ou em equipes. No hipismo é diferente: as oportunidades são iguais e as mulheres realmente conseguem participar de uma competição em igualdade com os homens. Dentro de um
campeonato, homens e mulheres tem a mesma condição de ganhar, mas é mais difícil uma mulher chegar ao nível necessário para participar de competições de alto desempenho. Quando uma mulher e um homem chegam à mesma altura em um campeonato, a chance de qualquer um dos dois ganhar é a mesma. A modalidade registra mulheres campeãs olímpicas e da Copa do Mundo. "Na Olimpíada de Atlanta, a equipe dos Estados Unidos era composta por quatro amazonas, inclusive a reserva, e elas foram medalha de prata. Perdendo apenas para a Alemanha, seleção mais forte no esporte", explica João Julio Bastos, instrutor de hipismo há 14 anos. A estudante de veterinária Bárbara Correa, 21 anos, sofreu com a pressão das competições. "Eu pulava 1 m com a Pulga, égua que eu montei por um ano. Depois, devido a uma operação de cólica, ela faleceu e eu desanimei de montar. Antes disso eu tinha um outro cavalo chamado Gordo. Isso tudo quando eu tinha entre 11 e 15 anos. Agora, com 21, eu resolvi voltar a montar, mas só para me divertir. Ajudo o instrutor Marcos Fernandes, mas não pulo mais prova. Até tenho saudade dos campeonatos, mas eu ficava muito nervosa antes das provas, então prefiro não retornar", conta Bárbara.
Os campeonatos de hipismo são disputados em diversas categorias e alturas. A altura mais baixa é 0,60cm enquanto a mais alta, disputada nas Olimpíadas, é 1,60m. As alturas no hipismo são separadas a cada 0,10cm. As categorias de base são aquelas para cavaleiros iniciantes, ou seja, entre 0,60cm e 0,90cm. Entre 1,00m e 1,20m são as categorias intermediárias e as profissionais entre 1,30m e 1,60m. Em Minas Gerais a prova mais alta disputada é a de 1,40m. As provas de 1,50m e 1,60m são disputadas apenas em níveis nacional e internacional. Sendo a única mulher no cenário mineiro pulando provas altas, Vitoria é fonte de inspiração para garotas que estão começando. "É difícil imaginar o que a pessoas pensam a respeito de você, mas acho que as que praticam e admiram o esporte sentem inspiração pelos que praticam há mais tempo", afirma. "Sinto-me feliz por ter conseguido chegar onde cheguei. E também me sinto responsável em tentar estimular quem tem vontade de chegar lá", explica. A prova desse empenho está na hípica que ela construiu em homenagem a sua mãe, falecida em um acidente em 2000. O Centro Hípico Junia Rabello é o único empreendimento do setor na Região de Lagoa Santa e promove a popularização do esporte na cidade.
A amazona Vitória Rabello tem no sangue o amor por essa modalidade esportiva
Amazonas não se profissionalizam Se são poucas competindo profissionalmente, nas categorias de base do hipismo as mulheres predominam. Amazona há 18 anos e instrutora de equitação há seis, Camila Gandra considera que a falta de interesse na profissionalização é o principal motivo dessa situação. "No início é mais menina que monta, mas com a idade elas vão parando. Muito em função das festas, namorados. Quando está pulando 1 m, 1m10, ainda está mais ou menos o mesmo número de mulheres e homens. Daí para frente precisa de mais investimento e para se profissionalizar, o homem tem mais facilidade. Eu acho que a questão de haver menos mulher à medida que vai subindo a altura, tem mais a ver com as prioridades que as adolescentes têm do que propriamente capacidade. O homem é um pouco mais determinado, e no hipismo é preciso ter
muita dedicação", analisa. Já o instrutor João Júlio Bastos tem percepção diferente. Para ele, o motivo de haver pouca mulher nas alturas maiores é puramente cultural. "O hipismo no Brasil é diferente do hipismo no resto do planeta. Em países de primeiro mundo, não é tão gritante a diferença de mulheres que começam e mulheres que chegam em um nível mais profissional. A mulher na Europa e nos Estados Unidos faz praticamente tudo que o homem faz. Aqui no Brasil nós estamos passando por uma fase de transição. As mulheres estão conquistando o seu espaço, mas esse processo é lento", comenta. Segundo ele, nos outros países. é a própria amazona que cuida do cavalo. "A mulher faz o serviço braçal, então na hora que você chega em uma competição e precisa de um pouco mais de
coragem, ela já está mais habituada com isso. A mulher aqui no Brasil é mais mocinha, mais feminina. Elas ficam preocupadas em montar forte e agressiva, e parecer que elas não são tão mulheres. Aqui no Brasil não chega a 5% o número de mulheres que pula Grande Prêmio. Já nos Estados Unidos principalmente, esse número chega quase a 50%", explica João Julio. Juliana Castro Lima, 18 anos, foi campeã mineira de 1,20 em abril de 2013 e está ganhando diversas provas nesta altura, disputadas tanto por homens quanto por mulheres. Para ela, o número de amazonas começa a diminuir a partir das provas dessa altura, mas vê indícios de que a situação está mudando. "As provas de 1,20 estão começando a ter mais representantes femininas a cada dia e as que estão competindo agora têm condições de pular provas
mais altas. Acredito que o número de mulheres continua menor. Mas sim, há um número de amazonas que pulam provas mais altas e que poderão se igualar aos homens em questão de altura em alguns anos de treinamento", explica. Ela acredita que a mulher possua um medo mais intenso quando se trata da altura. À medida que os obstáculos ficam maiores, elas perdem a confiança e passam a montar de forma diferente da usual – o que pode levar ao erro nas pistas e o descompasso entre a amazona e o seu animal. Em geral, mulher costuma ter mais medo. "Aquelas que não enfrentam esse tipo de insegurança, normalmente conseguem saltar provas mais altas. Eu, pelo menos, não tenho esse tipo de insegurança", completa Juliana. De fato, a situação da mulher no hipismo tem melhorado, e são vários fatores
que fazem melhorar, não só a questão cultural. De acordo com Adriana Couto, veterinária de hipismo há 23 anos, depois que descobriram na genética animal o sêmem e transferência de embrião, os cavalos no Brasil melhoraram bastante. "Antes você tinha que ir na Europa ou nos Estados Unidos e trazer o garanhão para reproduzir com as éguas daqui. Com o surgimento do sêmem, há 25 anos atrás, ficou muito mais fácil, já que é possível fazer um cavalo com qualquer garanhão do mundo. Antes um égua podia dar uma cria por ano, agora ela pode dar até seis por conta da transferência de embrião", explica. Como o número de cavalos bons aumentou, aumentou o número de homens e de mulheres saltando mais alto aqui no Brasil.
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INSTRUTORAS DE HIPISMO SÃO RARAS ARQUIVO PESSOAL
Preconceito de pais e alunos com instrutoras regulares leva maioria das mulheres a dar aulas somente para crianças. Camila Gandra é a única instrutora de Minas Gerais que ensina também a adultos n LETÍCIA GLOOR LÍVIA MAGALHÃES NATHÁLIA CASTRO OLÍVIA PILAR 7º PERÍODO
Camila Gandra, 28 anos, é a única instrutora de hipismo em Minas que dá aula também para adultos. A maioria das instrutoras mulheres dá aula apenas para crianças. Até os 6 anos, os meninos e meninas não podem montar à cavalo sozinhos. As hípicas, então, criaram um tipo de aula para esse público que
antes não era atingido. Agora a partir de 4 anos as crianças podem fazer aula desde que com um instrutor montado no mesmo cavalo. Esse tipo de atividade é dominado por mulheres, mas entre os instrutores regulares, elas são muito raras. Camila começou como uma amazona comum. Foi campeã por equipes do Torneio Sulamericano quando ainda tinha 17 anos. Com 18 ela começou a ajudar um consagrado cavaleiro e instrutor do hipismo mineiro, Marcos da Silva ARQUIVO PESSOAL
Camila Gandra, ao lado da aluna Laura Fonseca, não se limita a dar aulas de hipismo para crianças
João Julio Bastos, instrutor de hipismo há 14 anos: pulso firme masculino faz a diferença
Fernandes. Ela foi ajudante dele por 4 anos até que há 6 anos ela decidiu se tornar instrutora também. Ela começou dando aula na Escolinha (local para as crianças que estão começando) e agora já dá aula para pessoas em categorias mais altas. Para ela, existe um preconceito com mulher dando aula. "Os pais dos alunos acham que o homem é mais capacitado. Eu sinto mais preconceito dos pais dos alunos do que dos próprios meninos. Por exemplo: a criança tem aula comigo e quer comprar um
cavalo. Os pais procuram primeiro um professor homem para conversar, invés de conversar comigo que sou a professora do aluno", explica. Existe um outro preconceito mais velado. É a discriminação por parte dos outros profissionais. "Eu sinto que existe um preconceito e eu sinto isso, mas eu não sei te explicar. A prova é que existe uma mulher a cada 10 homens", completa Camila. João Julio tenta explicar o motivo: "Existe muita resistência quando uma mulher quer se tornar instrutora de
hipismo. Quando você entra na escola, em uma escola normal, dificilmente você vê bons professores homens até a quarta série. Em compensação, quando estamos tentando passar no vestibular, a maioria dos professores são homens. No hipismo é a mesma coisa. Quando é uma criança e precisa de um pouco mais de sensibilidade, as professoras são melhores. Quando vai aumentando o nível e precisa de um pulso mais firme, o homem trabalha melhor", explica.
Veterinárias resistem ao preconceito Maria Eloísa da Silva, 43 anos, é enfermeira de cavalos de hipismo há 19 anos e já presenciou e sofreu discriminação diversas vezes. "O preconceito maior é dos funcionários de nível mais baixo que lidam com cavalo do que dos próprios clientes. A aceitação do cliente é maior do que a do funcionário", explica. Ao ser indagada sobre alguma história vivida por ela, logo se lembrou de uma situação com um cliente. Há 12 anos uma situação com um proprietário marcou, de maneira negativa a carreira de Eloísa. Ela e uma colega de profissão chamada Ângela estavam vacinando todos os cavalos da hípica.
Nos dias de vacinação, o cavalo não pode sair da baia, então os veterinários esperam o domingo de tarde para poder fazer esse tipo de procedimento. Quando elas já haviam começado, um homem chegou para montar, sendo que no domingo a hípica fecha 14h. Ele ficou muito irritado por não poder montar seu animal por conta do trabalho das veterinárias e disse uma frase carregada de preconceito e muito agressiva na frente das duas. "Nós duas ficamos muito tristes, decepcionadas e chateadas. Ela largou o meio dos cavalos por conta dessa discriminação", com Eloísa. Este homem ainda é atendido
por Eloísa, já que, por ser enfermeira, ela é funcionária de uma clínica veterinária, não podendo escolher os clientes que irá atender. O motivo de ela nunca ter pensado em desistir é pelo amor ao animal. "A tranquilidade que o cavalo passa para a gente é maior do que qualquer desrespeito que eu possa passar", conta. Segundo Eloísa, o número de mulheres que trabalham como veterinárias de cavalo cresceu muito. "Eu te falo que agora a porcentagem é mais ou menos 60-40. Quando eu comecei era apenas 10% de mulher. Hoje a mulher veterinária de hipismo está tomando conta, e eu
tenho certeza que realmente irá", finaliza Eloísa em tom de brincadeira. Diferente de Eloísa, Adriana Couto, 45 anos e veterinária de cavalos há 23, acha que o número de mu-lheres no meio praticamente não cresceu, continua quase o mesmo cenário de quando ela começou. Mas as duas têm algo em comum: Adriana também já sofreu situações de preconceito por ser mulher. "Há uns 17 anos atrás eu fui no interior de Minas atender um cavalo. Quando eu cheguei lá o proprietário do haras, um senhor já mais velho, me disse que eu não daria conta de mexer com o cavalo dele por
que eu era mulher. Ele falou que não queria que eu atendesse o animal e que estava esperando um homem. Depois o pessoal foi conversando com ele até eu ser autorizada a mexer no cavalo. Aí eu resolvi a situação sem problemas", conta. Segundo Adriana não há diferença alguma entre um veterinário e uma veterinária. "Eu nunca me deparei com uma situação que eu não conseguisse resolver por ser mulher. Mesmo quando o cavalo é muito grande, forte ou bravo, na hora de trabalhar, todo usam sedativos. Não é questão de força", explica.
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Cenas de Junho Julho • 2013
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LUIZ CENNI
VICTOR RINALDI
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LARISSA EMANUELLE
ANDERSON LUCIANO
RAÍSSA MENDONÇA
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THIAGO VIDIGAL
LARISSA EMANUELLE
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PARA FICAR NA HISTÓRIA LARISSA EMANUELLE
Nos últimos 41 anos o MARCO, jornal laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas, esteve sempre presente na cobertura de acontecimentos históricos do Brasil, como movimento das Diretas Já, doença e morte do presidente eleito Tancredo Neves e atuação dos cara-pintadas no processo de impeachment do presidente Fernando Collor. Foi assim também nas manifestações que tomaram conta de todo o país em junho último. Por isso, são publicadas, nesta edição, fotos feitas por estudantes que participaram dos protestos e atenderam ao convite do MARCO, feito por meio das redes sociais, tão importantes para a existência dessa ampla mobilização. A intenção é eternizar os momentos por eles registrados.
LARISSA EMANUELLE