Marco 300

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AS MÚSICAS DO CLUBE DA ESQUINA FORAM APRESENTADAS AOS FÃS, NA PUC MINAS, POR TONINHO HORTA E ‘HERDEIROS’ DO MOVIMENTO PÁGINA 11

BAIRRO CONCÓRDIA, NA REGIÃO NORDESTE DE BH, MANTÉM TRADIÇÃO DE FUTEBOL AMADOR E POSSUI UM DOS TIMES MAIS ANTIGOS DA CIDADE PÁGINA 15 André Correia

André Correia

O RADIALISTA TUTTI MARAVILHA FALA SOBRE SUA PAIXÃO PELO RÁDIO E REVELA SEU SONHO: DEIXAR O ALUGUEL E TER A SUA CASA PRÓPRIA PÁGINA 16 André Correia

marco jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 300 . Setembro de 2013

300

Jornal chega à sua edição

O MARCO, um dos mais tradicionais jornais laboratórios do país, chega à sua edição 300 cercado de recordações. Por se tratar de um número significativo, nada mais justo que uma edição comemorativa, que pretende apresentar uma pequena parte da história desse jornal, que, não por acaso, tem nome de gente. Um pouco da sua trajetória é contada por meio do olhar de seus leitores e de profissionais que aqui iniciaram bem-sucedidas carreiras. Moradores dos bairros no entorno da PUC Minas, que recebem o jornal mensalmente, passam suas impressões sobre o MARCO e falam do impacto da publicação em seu dia a dia, enquanto jornalistas, em atividade nos mais diferentes veículos de comunicação do país, relembram aprendizados e experiências, que, segundo eles, seguem até hoje. PÁGINAS 8, 9 E 10

ONG Escola Criarte leva música a crianças carentes

LEIA AINDA

Coordenada pelo professor José Alarico Gonçalves, a Orquestra Escola Criarte, localizada no Bairro Jardim Europa, em Venda Nova, leva a prática e teoria musicais a crianças e jovens carentes da região. As aulas são ministradas por professores voluntários, Raquel Gontijo que ensinam aos alunos a tocar instrumentos diversos, que foram comprados pelo próprio idealizador do projeto. Alarico destaca a importância social da ONG que ajuda a retirar crianças das ruas e encaminhar um futuro digno. PÁGINA 14

Esplanada do Mineirão é opção de lazer e prática de atividades físicas voltadas à população

Aléxia Moreira

A recém-construída Esplanada do Mineirão transformou-se em opção de lazer para a população de Belo Horizonte e turistas, que ali podem caminhar, andar de bicicleta, skate, patins, praticar esportes e interagir ao ar livre. Além de ter dois restaurantes à sua disposição, museu do futebol e a loja do Cruzeiro, o local possui também um amplo espaço, que pode ser utilizado tanto para a

realização de eventos e shows, quanto para a recreação. Os frequentadores afirmam que o espaço é ideal para o lazer, pois não há movimentação de automóveis, tornando-se seguro para as famílias. Apesar de pouco conhecido pela população, o local é aberto diariamente, exceto em dias de jogos de futebol ou de apresentações musicais.

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Grafite colore os muros da capital e realça sua beleza O grafite vem ganhando cada vez mais espaço nos cenários urbanos. Em Belo Horizonte, diversas áreas sofrem intervenção de artistas, que deixam sua marca registrada por meio de desenhos e palavras gravadas em muros e paredes. Para os grafiteiros, esses desenhos são uma forma de arte que deve ser apreciada por toda a população. O grafite também é vis-

to como negócio por vendedores de tintas e materiais específicos para a atividade, cuja clientela é fiel e formada por veteranos e novos adeptos a essa manifestação artística. Na capital mineira, existem projetos de inclusão social voltados para artistas de rua, como o “Guernica”, que propõe políticas públicas sobre intervenções na paisagem urbana. PÁGINA 6


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Comunidade

editorial

Um MARCO na vida dos alunos e da comunidade

Problemas da Rua Dom Lúcio Antunes Falta de bueiros dificulta o escoamento da água na Rua Dom Lúcio Antunes, causando acúmulo de lixo e mau cheiro. Há também a falta de sinalização no cruzamento com a Av. Ressaca, que ocasiona aborrecimento para a população e trânsito intenso VINÍCIUS DUARTE

SÉRGIO EDUARDO MARQUES

5º PERÍODO

3º PERÍODO

É em clima de celebração que o Jornal MARCO chega à sua edição 300. Esse fato só tornouse real graças à primeira turma de Comunicação Social da PUC Minas, quando um grupo de alunos compreendeu que era indispensável a criação de um veículo impresso para a prática jornalística. Contudo, jamais imaginariam que esse projeto tornar-se-ia referência em todo país. Da primeira publicação para os dias de hoje, muitas coisas mudaram. Os tempos são outros e a tecnologia tem entrado com força no meio jornalístico. As informações são captadas com mais facilidade, as máquinas de escrever foram substituídas por computadores e as técnicas foram aprimoradas. No entanto, o compromisso com a verdade e o comprometimento com o leitor não mudaram. O exemplar comemorativo abre os trabalhos do segundo semestre de 2013 com novos monitores e matérias especiais sobre esses 41 anos de história, como depoimentos de leitores, que são instrumentos essenciais para o funcionamento do jornal. A edição traz ainda depoimentos de ex-repórteres e monitores do Jornal MARCO como Ascânio Seleme, Marcelo Portela, Fernanda Odilla e Adriana Araújo, entre outros, contando suas experiências, aprendizados e lembranças do início de carreira na faculdade, assim como uma entrevista com o jornalista e apresentador Tutti Maravilha. Irreverente, ele comanda há 26 anos o programa Bazar Maravilha, na Rádio Inconfidência FM, a Brasileiríssima. Nessas mais de quatro décadas de vida, o jornal se preocupou sempre em levar informações e contribuir com a vida da população, abordando temas que fazem parte do cotidiano de cada um, como a falta de estrutura em alguns pontos de ônibus no Coração Eucarístico, bem como a degradação em outros. A promoção da cultura e melhorias na cidade também estão sempre em destaque, como a Esplanada do Mineirão, que após a reforma do estádio tornou-se roteiro de lazer para a população. Assim, o MARCO publica sua edição comemorativa reafirmando ainda mais o seu compromisso com a comunidade. Cada assunto abordado, cada entrevista realizada e cada matéria escrita foi pensada detalhadamente, visando contribuir com o leitor e, de alguma forma, ‘marcar’ sua vida.

expediente jornal marco

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | Minas Gerais | Tel: (31)3319-4920

“Direto tem água correndo por aqui”. Esse é o relato de Maria das Graças Eliziário Gonçalves, 64 anos, residente à Rua Dom Lúcio Antunes há oito anos e que está incomodada, assim como seus vizinhos, com a situação recorrente ali: o não escoamento da água, que fica parada no local. Segundo Maria das Graças, o problema começa quando os moradores dos prédios decidem lavar suas piscinas e suas dependências. Com isso, a água usada corre diretamente para a rua. E, como nela não existem bocas de lobo e nem um sistema de esgoto pluvial, a água demora mais tempo para se dissipar, tendo que fazê-lo pelo modo natural. Dessa forma, junto a ela também fica acumulado lixo, o que consequentemente gera mau cheiro. Situação essa que não condiz com a realidade socioeconômica do bairro. Para Silvana Gonçalves, 50 anos, residente na rua há 38, o incômodo maior acontece em períodos chuvosos. Nessa época o volume de água aumenta, tornando a via por vezes intransitável. Para Maria das Graças também é assim. “Quando chove e você está a pé é difícil. Para sair do ônibus, por exemplo, você tem que tirar o sapato porque quase metade da perna fica na água, é um verdadeiro rio de chuva”, afirma.

Rua Dom Lúcio Antunes com falta de bueiros para escoamento da água

Mesmo diante dos problemas, os moradores não sabem a quem recorrer ou a quem dirigir as reclamações. Segundo o atendimento da Prefeitura de Belo Horizonte, o que deve ser feito é um pedido de implantação das bocas de lobo e do esgoto pluvial na rua. Depois disso, é enviada uma equipe para analisar o local e verificar a necessidade dos mesmos. O requerimento pode ser feito pelo telefone central da Prefeitura, número 156, ou pessoalmente nas regionais. TRÂNSITO Mais adiante, no cruzamento da Rua Dom Lúcio Antunes e Avenida Ressaca, o que gera problemas e abor-

recimentos é o trânsito intenso e a falta de sinalização no ponto. Apesar de terem sido acrescentados pela BHTrans quebra-molas na via para que a velocidade utilizada pelos motoristas fosse diminuída, o que foi feito buscando a resolução ainda não é suficiente. O presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Coração Eucarístico (Amacor), Iracy Firmino, conta que o horário mais crítico para atravessar é de 18h às 18h30. “É um absurdo as pessoas não terem como andar aqui”, desabafa. Ele ainda conta que há mais ou menos 30 dias, a BHTrans enviou um técnico para analisar a necessidade do se-

máforo no local. Segundo Firmino, o técnico disse que iria estudar o que foi apurado e que daria uma resposta. Mas, até hoje, nada foi recebido por ele. Contatado pela equipe do jornal MARCO, o atendimento da BHTrans disse não poder fornecer informações a respeito de como está o andamento do caso, por ser essa informação que necessita do número do protocolo, obtido no momento do pedido da implantação da sinalização. Já a Assessoria de Comunicação da BHTrans informou que diante dos redutores de velocidade inseridos no cruzamento, ainda não há previsão de implantação de semáforo nesse local.

Mercado de beleza cresce no Coreu AMANDA SANTOS ANA CAROLINA TAPIA CAMILA VIEIRA RENATA ROCHA 1º PERÍODO

O setor da beleza vem crescendo muito nos últimos anos devido ao aumento do consumo estético por parte de todas as classes – principalmente C e D – e do público masculino, que tem se preocupado cada vez mais com a aparência. Além disso, muitas pessoas veem uma chance de crescer profissionalmente nesse ramo, surgindo, assim, novos empreendedores no país. Estes têm sua entrada facilitada pelo desenvolvimento constante da indústria, com novas tecnologias em tratamentos estéticos e inovações em cosméticos. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), dos 1,5 milhão de empreendedores individuais formados no

país, 7,6% são de cabeleireiros e estão em segundo lugar na lista de ocupações em prestação de serviços. Com o mercado de beleza em expansão, abrem-se novas oportunidades de negócios que atendem a todos os tipos de público, e a escolha desse público – juntamente à localização do salão – é algo importante a ser destacado. A maioria dos salões está situada em galerias comerciais, o que vem ocorrendo com bastante frequência no Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste de Belo Horizonte. “Escolhi o local pelo grande fluxo de pessoas, principalmente estudantes da PUC”, diz Ana Paula da Silva de Paula, 36 anos, cabeleireira e proprietária há quatro meses do Salão D’Paula Cabeleireiros, situado em uma galeria na rua Coração Eucarístico de Jesus, próxima à Praça da Federação. Ana Paula é sócia de seu irmão, que também é cabeleireiro e maior interessado

em seguir a carreira no ramo. Apesar de já ter feito cursos de especialização e trabalhado nessa área antes, ainda não há um retorno tão positivo como esperava, por ser o início de seu negócio. Ela ganhou a propriedade de sua tia, Vanea Batista de Paula, 57 anos, que também é cabeleireira e proprietária há 14 anos de seu próprio salão, Vanea Cabeleireiros, situado à rua Dom Joaquim Silvério. “Abri meu negócio no Coração Eucarístico porque era funcionária de um salão na região e acabei conquistando a clientela por aqui”, salienta. Vanea afirma que seu salão sempre teve bom movimento e que resolveu investir na área da beleza por gostar da mesma. Ao ser questionada sobre a importância da especialização, revela que já contratou várias funcionárias que nunca fizeram cursos na área, pois acha que a prática é tão importante quanto a formação e gosta de

Sucursal Puc Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Júlia Goulart, Ana Letícia Diniz, Camila Saraiva, Gabrielle Assis, Mateus Teixeira, Rafaela Romano, Sérgio Marques Monitores de Fotografia: André Correia, Raquel Gontijo Monitor de Diagramação: Vinícius Duarte Monitora de Revisão: Bárbara Vieira CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares

Raquel Gontijo

Mercado da beleza teve um crescimento significativo nos últimos anos

Raquel Gontijo

ajudar as pessoas. Hoje, Vanea já conta com 10 funcionários: cinco manicures, três cabeleireiros, uma depiladora e uma recepcionista. Ana Paula concorda, dizendo que pediria ao profissional para fazer um teste de habilidade e que, se fosse contratado, futuramente poderia fazer um curso de especialização usando parte do salário. “Ele poderia usar o dinheiro para pagar um curso, o que não acontece hoje em dia no mercado de trabalho. Já querem logo um empregado experiente, muitas vezes a pessoa é boa, mas não tem a experiência”, completa. Já sobre o público masculino, as duas foram unânimes em dizer que há muita procura de homens interessados em tratamentos estéticos, principalmente em fazer sobrancelha e depilação. “Existem sim homens preocupados com a aparência. Existe muita procura”, afirma Vanea. Mas com o aumento da abertura dos salões, o mercado acaba saturado e a concorrência se torna algo inevitável. Segundo Renilda Machado, dona do salão Wilson Cabeleireiros, também localizado no Coração Eucarístico, abrir salão neste bairro hoje em dia não valeria tanto a pena como antigamente. “A grande concorrência e os altos impostos, acabam não trazendo os mesmos lucros de antes”, observa. Mesmo com a disputa existente, as clientes de seu salão são fiéis. Um exemplo é Patrícia Nassrala, 47 anos. “Não gosto de sair pulando de salão em salão. Tenho horário marcado aqui toda quinta”, afirma.


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Comunidade

Falta estrutura em pontos de ônibus do Coração Eucarístico Belo Horizonte passou por modernização nos pontos de ônibus de grande parte da cidade, porém o Bairro Coração Eucarístico ainda apresenta problemas, o que gera reclamações de usuários AMANDA MASCARENHAS ANA LUIZA BORELLI GABRIELLA BERNARDES THAINÁ NOGUEIRA 2º PERÍODO

Algumas regiões de Belo Horizonte têm sido contempladas nos últimos meses com pontos de ônibus modernos, que além da estrutura básica, com banco e abrigo, possuem letreiros digitais que informam em quanto tempo o próximo coletivo chegará e a que linha pertence. Apesar disso, boa parte dos pontos de ônibus do Bairro Coração Eucarístico não têm ao menos a estrutura básica para garantir o mínimo de conforto aos usuários do transporte público. A parada da Avenida 31 de Março, em frente à entrada 7 da PUC Minas, encontra-se com problemas de conservação. A placa que informa as linhas de ônibus que passam no local está danificada e há muitos anúncios colados em cima. O local também não possui lixeiras e existem pichações, entretanto seu abrigo está bem conservado. A psicóloga Thayanne Priscila Portuense, 31 anos, utiliza regularmente ônibus que passam por este ponto. Ela afirma que é extremamente importante que seja feita uma manutenção regular nos pontos e que apesar de haver depredações ao patrimônio público, acredita ser de uma minoria da população, já que a maior parte zela pela qualidade do local. Já o ponto de ônibus localizado à Rua Coração

Eucarístico de Jesus é um dos melhores do bairro. O local sofreu mudanças nos últimos meses, quando a Caixa Econômica Federal abriu ali uma nova agência, reformando o ponto em frente ao seu prédio. Atualmente, o ponto conta com dois bancos com cobertura, lixeiras e mapa com os ônibus locais e suas paradas, além de piso com demarcações para deficientes visuais. Na Rua Dom Lúcio Antunes, está localizado um dos pontos com maior demanda da região. Mas, no local existe apenas uma placa indicando que ali é uma parada de ônibus. A falta de estrutura não causa apenas o desconforto de se esperar pelos ônibus em pé e exposto ao sol e à chuva, mas também dificulta a localização de usuários que não conhecem bem a região e as linhas que passam ali. É o caso da auxiliar administrativa Joseane Leal Araújo, de 49 anos, que não mora em Belo Horizonte, mas nas visitas esporádicas que faz à capital, encontra dificuldades em utilizar o transporte público no Coração Eucarístico. “A situação aqui é complicada. Eu acho que deveriam ter placas pelo menos para indicar quais ônibus passam e para onde vão. Toda vez que venho aqui tenho que perguntar às pessoas. Até para saber em qual ponto descer é difícil”, afirma. Além da ausência de informações sobre linhas e ônibus, a falta de cober-

Um dos pontos mais movimentados do bairro, à rua Dom Lúcio Antunes, não possui cobertura e usuários reclamam

tura na parada também já causou problemas à Joseane. “Uma vez choveu muito e o ponto estava cheio de gente. Algumas pessoas se esconderam embaixo dessas marquises, mas elas são tão pequenas, que alguns, como eu, nos abrigamos na lanchonete. Depois, ainda tivemos que sair correndo para pegar o ônibus”, diz a auxiliar administrativa, referindose à lanchonete Boca do Forno, que fica próxima ao ponto. Joseane ainda afirma que é fundamental que existam paradas com cobertura em locais onde o fluxo de pessoas é grande. De acordo com as informações da BHtrans, os critérios para implantação de abrigos dependem da demanda de passageiros nos pontos de embarque. As gerências regionais ve-

rificam e definem os locais de maior quantidade de passageiros. Como não é possível instalar abrigos em todos os lugares, a prioridade é para os locais de maior circulação. A BHtrans informou ainda que já existem projetos de implantação de informativos nos abrigos, realizado por intermédio do Infoponto e do Sitebus. O projeto Infoponto consiste na instalação de painéis em abrigos para embarque e desembarque, com um mapa esquemático dos principais pontos, um quadro de frequência por faixa horária e o itinerário resumido da linha. A sinalização do Infoponto está em 1.430 pontos de embarque e desembarque e não prevê ampliação, apenas manutenção dos que já existem, pois os mapas fo-

ram implantados nos principais corredores da cidade, como no centro e vias principais de diversos bairros. Já o Sitebus é um sistema integrado de gestão, monitoramento e informação do transporte coletivo que, por meio de ferramentas e equipamentos tecnológicos, tem como objetivo a melhoria da segurança, regularidade, pontualidade e confiabilidade do serviço de transporte coletivo de Belo Horizonte. Ele prevê a instalação de computadores de bordo, GPS, comunicação via telefonia celular (GRPS), botão para situações de emergência e monitores de informações para os motoristas e passageiros. No itinerário das linhas, os pontos de ônibus estão sendo equipados com totens contendo informações em tempo real sobre

André Correia

os horários de chegada dos ônibus. Por meio do Sitebus, serão disponibilizadas informações sobre serviços para os usuários por diferentes meios e em diferentes momentos (antes, durante e após deslocamentos). Os painéis do Sitebus estão instalados em 55 pontos de embarque e desembarque do sistema de transporte coletivo da Capital. A previsão é que sejam implantados 1.200 painéis na cidade de Belo Horizonte até junho de 2014. É por meio da Central de Atendimento Telefônico da Prefeitura, pelo telefone 156, ou portal www. bhtrans.pbh.gov.br, que os usuários e a população podem registrar reclamações e sugestões para a melhoria dos pontos de ônibus.

Linha 1505 segue como alvo de reclamações BRUNO COSTA DOUGLAS SILVA 3º PERÍODO

Dois meses depois da matéria publicada pelo MARCO sobre problemas enfrentados pelos usuários da linha de ônibus 1505, que liga os bairros Alto dos Pinheiros e Tupi, as reclamações continuam sendo as mesmas. Por ser o único ônibus do bairro que leva os passageiros ao Centro, os atrasos constantes, a superlotação enfrentada pelos passageiros nos horários de pico e a falta de veículos no horário de 18h às 20h são as reclamações mais frequentes em todas as viagens. Muitos moradores do Bairro Alto dos Pinheiros saem de casa mais cedo ou vão para o ponto inicial da linha de ônibus para tentar pegar o ônibus menos cheio. A aposentada Cristiana Maria do Nascimento de 52 anos, que utiliza

todos os dias o 1505 pela manhã, afirma que no horário de 7h ela chega a esperar mais de 25 minutos pela condução e muitas das vezes o horário de partida não é cumprido. Para o aposentado Roberto Cléber do Carmo, de 61 anos, caminhar até o ponto inicial é a melhor solução para ir sentado, já que os lugares do ônibus nos pontos seguintes são ocupados rapidamente. Segundo o fiscal Marcus Fernandes, responsável pela linha 1505, da empresa Viação Progresso, o trânsito no centro de Belo Horizonte prejudica as viagens por causa do BRT, fazendo com que os ônibus demorem quase o dobro do tempo para fazer a viajem completa. “Enquanto o BRT (Sistema de transporte rápido), não estiver pronto, a quantidade de ônibus não irá aumentar na linha”. Além disso, ele afirma que a BHTrans di-

minuiu o número de ônibus na linha para evitar congestionamentos na região central por conta das obras na Avenida Paraná. O presidente da Associação de Bairro Alto dos Pinheiros, Anderson Rodrigues Neves diz que, há mais de um ano e meio os problemas na linha 1505 são constantes. Depois das 19h os passageiros chegam a esperar mais de uma hora pelo ônibus que sai do centro com destino ao bairro. Uma solução encontrada para associação é a criação de outra linha que liga o bairro ao centro e outra que liga até a região hospitalar. “O bairro vem crescendo muito, hoje temos mais de 20.000 moradores. Então é preciso mais linhas para atender essa atual demanda”, afirma Anderson. Questionada sobre a falta de ônibus entre 18h às 20h, a Viação Progresso afirmou que a BHTrans é responsável pelo pla-

nejamento das viagens e que a solução para o problema seria aumentar o números de partidas do Bairro Tupi, para diminuir o intervalo de espera, que hoje é de 22 minutos. Sobre a solicitação da Associação do Bairro Alto dos Pinheiros de criação de novas linhas de ônibus, a BHTRANS informou que a ligação entre esse bairro e

a Região Hospitalar é realizada através de uma rede integrada de transportes. Assim, a ligação do bairro com a região dos Hospitais pode ser realizada com a utilização da linha 1505 e sua integração com diversas linhas, como por exemplo, a linha 33 (Estação Barreiro/Centro – Hospitais). A BHTrans também esclareceu que a Região do

Bairro Alto dos Pinheiros será atendida pelo novo serviço de BRT/Transporte Rápido por Ônibus da Avenida Cristiano Machado, previsto para 2014, cujos projetos de transporte deverão ser apresentados às comunidades envolvidas, momento em que sua solicitação poderá ser discutida em fórum apropriado.

Superlotação frequente é motivo de indignação para a comunidade

André Correia


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Comunidade

Cresce o número de veículos no entorno do campus São Gabriel Moradores do bairro reclamam da quantidade de carros, que cresceu em razão da unidade da PUC Minas naquela região. Apesar dos benefícios que a universidade trouxe, há incômodo ANA JÚLIA GOULART 6° PERÍODO

Belo Horizonte foi a capital que registrou o maior aumento na frota de carros no Brasil, de acordo com pesquisa realizada pelo Observatório das Metrópoles. Os dados são de 2011, mas quem vive na cidade sabe que, de lá pra cá, a mobilidade urbana só piorou. Muitas obras estão sendo feitas para tentar solucionar o problema que perturba os belo-horizontinos todos os dias. Seguindo o exemplo da capital e do Brasil, o Bairro São Gabriel, na Região Nordeste, também convive com grande aumento no fluxo de veículos. Apesar de não ter embasamento em pesquisas e nem números do aumento, para os moradores é fá-

cil identificar tal mudança. “Quem mora aqui sabe, é carro passando o dia inteiro. Nos horários de pico, sempre tem congestionamento nas principais vias. É nítido o aumento”, afirma Maria Ribeiro, 47 anos. Ela, que é moradora da rua Anapurus, a principal do bairro, convive diariamente com as complicações causadas pelo trânsito. “Meu filho namora uma menina que mora no Bairro Primeiro de Maio, muito perto do São Gabriel. Porém, às sextas-feiras, quando ele vai pra casa dela, tem que sair bem mais cedo. Senão, ele fica preso no trânsito do bairro mesmo”, conta a auxiliar administrativa. Os estudantes da PUC também têm conhecimento do grande número de ve-

ículos. Porém, sabem que a maior parte do trânsito é causado pelas pessoas que vão para a universidade. “Sabemos que o bairro sem a faculdade não teria tanto trânsito. As ruas que ficam congestionadas são justamente as que vão ou saem da universidade”, diz a universitária Gabriela Barbosa, 20 anos. “A PUC trouxe melhorias e visibilidade para o São Gabriel, em contrapartida, trouxe esse aumento de veículos. Mas acredito que os órgãos responsáveis pelo trânsito da região poderiam ajudar”, comenta Marco Túlio, 28 anos. Ele faz faculdade de Direito e garante que há formas de melhorar a circulação de veículos no local. Os motoristas que pas-

sam pelo bairro diariamente garantem que a pior fluidez do bairro está na rotatória de entrada do São Gabriel. “Isso aqui vira um nó. Todo mundo querendo entrar na frente do outro, muita imprudência, pouca paciência e vários acidentes seguidos no mesmo local”, conta Gilberto Maia, motorista de van há oito anos. A tática para quem passa por ali é sair com antecedência, como ele explica: “Sempre que posso, saio mais cedo, para passar por aqui antes da seis da tarde. Depois desse horário, agarra tudo” Segundo a BHTrans, não há um prazo específico para análise de necessidade de mudanças no trânsito dos bairros da capital. Mas um serviço facilita que o órgão

identifique as vias da cidade que necessitam de intervenção. O Registro de Solicitações (RS) é um banco de dados com informações de reclamações e pedidos de moradores relacionados ao trânsito, é ele que auxilia as ações da BHTrans. Ainda de acordo com o órgão, o Bairro São Gabriel recebeu recentemente intervenção em três ruas: Nossa Senhora de Lourdes, Codajás e Circular. Um projeto de instalação de baias na Rua Anapurus para a operação do transporte coletivo está em fase de aprovação. IMPRUDÊNCIA Na sexta feira, dia 6, a reportagem do MARCO presenciou mais um acidente na rotatória de entrada

para o Bairro São Gabriel. Aproximadamente às 21h, um ônibus e um carro de passeio se chocaram ao tentar entrar na rotatória antes um do outro. A pressa e a imprudência dos motoristas deu um nó na rotatória durante toda a noite, até que os veículos fossem retirados do local. Enquanto isso não acontecia, outros acidentes quase aconteceram. Como os veículos que se envolveram no acidente bloquearam o sentido da rotatória, os motoristas precisaram invadir a contramão. “Perigoso demais. Justo no dia de maior movimentação de veículos”, disse Júlio Silva, 25 anos, que estava preso no engarrafamento causado pelo acidente.

Praça pública continua precisando de atenção do poder público IAGO PROENÇA LARISSA SOUZA 2° PERÍODO

O local é ideal para a prática de esportes e convivência. Não fosse pela falta de segurança, de iluminação em alguns pontos e de limpeza, a praça na Rua Operário Silva com certeza seria ponto de encontro de um número maior de jovens, crianças e moradores do entorno do local. Segundo informou Luciano Araújo, funcionário da Escola que fica bem perto da praça, os alunos frequentam o local, apesar de todos os problemas. “Os mais novos costumam ir com os pais, pela fal-

ta de segurança. Mas os alunos do ensino médio utilizam o local para jogar futebol e praticar outros esportes”, conta. Ele ainda ressalta que os estudantes não ficam por ali durante o horário de aula. Uma moradora do bairro, que preferiu não se identificar, revelou ao MARCO que o local foi doado por um frigorífico para a Prefeitura. “Quando chovia, isso aqui virava uma lagoa. Depois que fizeram o aterro, que o terreno começou a ficar melhor e construíram a pracinha”, conta. Ainda segundo ela, o local já foi muito bem cuidado pelo poder municipal. “Era tudo cercado, com limpeza todos os dias, e dois guardas municipais cuidando do local. Mas

Praça da Rua Operário Silva necessita de cuidados diários e segurança

depois que teve um tiroteio, ninguém mais quis tomar conta”, explica a moradora. O recolhimento de lixo atualmente é feito por um senhor, que vai à praça nos dias de coleta e junta o que estiver pelo local. Outro morador que frequenta a praça diz que até tentativa de estupro já ocor-

Iago Proença e Larissa Souza

reu ali. “Uma jovem passava pela praça, quando foi abordada por um homem que correu atrás dela”, conta. O abandono do local, a falta de iluminação e de segurança contribuem para que a praça seja menos frequentada. Há poucos meses, equipamentos de ginástica foram instalados no local.

Rua do Bairro São Gabriel apresenta problemas SARA CRISTINA CECÍLIA BOHRER 2º E 1º PERÍODOS

A Rua Ana Pereira de Menezes, uma das principais vias de ligação à PUC Minas do Bairro São Gabriel, apresenta diversos problemas que afetam moradores, comerciantes e estudantes que transitam regularmente por ali. A lojista Maria Lídia de Jesus Ribeiro reclama da sujeira e dos ratos, que incomodam, principalmente, na época das chuvas. “A zoonose e a Prefeitura demoram a vir limpar. Eles vem quando querem, mas depois o problema volta”, afirma Maria. Segundo ela, a rua passou por obras recentemente para resolver o problema da infiltração do esgoto. Ela espera as próximas chuvas para verificar se realmente houve solução. José Eduardo de Menezes, morador da rua há 40 anos, reclama da sinaliza-

ção de trânsito no local. “Essa rua deveria ser mão única, assim seria mais segura”, afirma José. O comerciante Paulo Pereira de Freitas também se incomoda com a sinalização na via, mas vai além. “A sujeira também me incomoda bastante”, reclama. Joana Aparecida Soares reside ali há mais de 30 anos. Ela gosta da rua e não tem muito o que reclamar do local, porém, a moradora teme possíveis mudanças ,por causa das obras da nova rodoviária. “Só espero que a prefeitura nos informe com antecedência se tivermos alguma alteração por aqui por causa da nova rodoviária. Pelo menos, para podermos nos programar”, pede Joana. Segundo informações da Assessoria de Comunicação da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), os moradores do São Gabriel que quiserem saber se serão afetados pelas obras da Nova Rodoviária

devem comparecer à sede do órgão, à Avenida do Contorno, 5454, Bairro Funcionários, portando a cópia do IPTU atual. No local, eles vão registrar a dúvida do morador e buscar informações a respeito de desapropriação ou qualquer outra forma de intervenção na residência. A resposta fica pronta em sete dias e deve ser pega no mesmo local.

Segundo informações da BHTrans, a Rua Ana Pereira de Menezes é uma via local, está sinalizada e possui dois redutores de velocidade implantados. Possui regulamentação de velocidade em 30 Km/h, proibição de estacionamentos e passeios em condições de passagem. Registros de acidentes no local levaram a implantação dos dois atuais quebra-molas.

Sobre a circulação em mão dupla na rua, o órgão alegou que, durante as obras da Rua Anapurus, a via foi utilizada como desvio e por isso a circulação em mão dupla. Assim que as obras forem finalizadas, a via voltará às suas características. Como está na área de construção da nova rodoviária, a rua ainda poderá passar por várias alterações.

Sujeira e descaso com a Rua Ana Preira de Menezes incomoda os moradores

Mara Marques

Novos acessos para o bairro São Gabriel e São Paulo também serão construídos, desafogando o trânsito na via. Sobre a sujeira da rua, a Superientendência de Limpeza Urbana (SLU) informou que materiais como entulho, restos de construção, terra e poda devem ser direcionados às Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVS). Esses lugares recebem gratuitamente esse tipo de material, além de entulho até 01 m³ e eletrodoméstico e móveis usados. Nesses casos, a população deve direcionar tais materiais aos endereços específicos. A Regional Nordeste, onde está o São Gabriel, tem três unidades: Av. Esplanada, número 72 ; Av. Cachoeirinha, esquina com Angaturana e Rua Elias Miguel Farah, esquina com Anel Rodoviário.


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Campus

Panfletagem na entrada da PUC Portaria principal do campus da PUC Minas no Coração Eucarístico, transforma panfletagem em negócios no ramo de transportes, eventos, alimentação e cursos de especialização

na porta da instituição. “Incomoda muito, mas é uma forma de informação que eu não tenho que correr atrás, o que é útil na correria do dia a dia, mas mesmo assim muitos vão para o lixo”, completa.

BRENO CAMPOS GUILHERME CAMBRAIA IGOR BATALHA RAFAEL LEITE 2º PERÍODO

Já virou rotina a entrega de panfletos aos alunos em frente à portaria principal da PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico. Quase todos os dias, pessoas distribuem material de propaganda de boates, restaurantes, bares, cursos de inglês, transportes para a faculdade e repúblicas. A eficácia desse instrumento de comunicação, no entanto, é controversa. Muitos dos estudantes pegam o panfleto e descartam ainda na Rua Coração Eucarístico de Jesus, um dos principais corredores usados para acesso à PUC Minas. O que se vê é a rua cheia de panfletos no chão e nos jardins da calçada, além das lixeiras transbordando. O radialista e estudante de jornalismo Ricardo Neri, 33

Panfletagem em frente à instituições de ensino, como a PUC Minas, é estratégia para divulgar eventos e serviços

anos, acha que o modo de abordagem das pessoas que panfletam é errado. “Parece que eles querem simplesmente dispensar o papel. Se fosse feita uma abordagem diferente, por exemplo, dizendo do que se trata o panfleto, menos pessoas pegariam apenas por educação”, sugere. A estudante Sandra

Gomes, 26 anos, costuma pegar todos os panfletos. Não só por educação, mas ela acredita que um panfleto inicialmente desinteressante pode ser útil no futuro. “Às vezes você recebe um panfleto de uma festa que inicialmente parece desinteressante e depois percebe que pode ser legal. Já acon-

teceu comigo, inclusive”, exemplifica. Além dos panfletos, Sandra ressalta que a divulgação pode ser feita de outras formas. “A questão da divulgação por internet é bastante válida”, acrescenta. Enquanto uns jogam fora o panfleto logo após recebê-lo, outros acham o material interes-

Rafael Leite

sante e chegam a pedir para a pessoa que está distribuindo. Foi o caso do estudante de odontologia Lucas Lopes. “Como o final de semana está chegando, queria saber a programação das boates”, justifica. Mesmo alguns panfletos sendo úteis, Lucas se incomoda com a frequência da atividade

CONSCIENTIZAÇÃO Promoter de uma boate de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Isabelle Aguiar distribui panfletos da casa noturna em frente às universidades. Segundo ela, a boate faz campanhas para tentar evitar que as pessoas joguem os panfletos em via pública. “A gente fez a campanha ‘Não jogue em via pública, se jogue na Caribbean’, além de ações, como entrega de brindes e divulgação nas redes sociais”, afirma. “Também reaproveitamos os panfletos que jogam na rua, se eles ainda estiverem em condição de uso”, completa.

Estudantes de comunicação ajudam cães abandonados Cardoso, os alunos que estão envolvidos atualmente, eles não irão desistir do projeto, pois ele é de extrema importância para o auxílio e prevenção de doenças, alimentação e refúgio dos animais. Ainda contaram que estão

Cães recebem alimentos e cuidados especiais quando estão necessitados

tentando conseguir parceria com alguma ONG ou com os estudantes de veterinária da PUC Minas em Betim, para dividir o trabalho e os custos. Garantem que o mais difícil é conseguir a credibilidade necessária para que as

Sonho de estudar não acabou após anos de luta, perseverança e trabalho André Correia

LOLA CIRINO ANA LUISA BORELI TAINÁ NOGUEIRA AMANDA MASCARENHAS 2º PERÍODO

O S.O.S Cães da PUC Minas é um projeto criado por alguns alunos do prédio 13 do campus Coração Eucarístico. Por meio de uma campanha que começou na internet os estudantes de Comunicação se mobilizaram para tentar proteger e ajudar cachorros que vivem no campus. No dia 29 de abril, quando chegavam às aulas, os alunos se depararam com algo inesperado: manchas de sangue em vários locais que foram seguidas até a entrada do prédio. O sangue vinha de ferimentos da cachorrinha Sassá, batizada pelo grupo. “Muitas pessoas paravam e olhavam, outras passavam direto e faziam cara de nojo devi-

do ao sangue, e ninguém ajudava”, conta Ana Luísa Rezende, uma das integrantes do projeto. A criação de uma página no Facebook contou com o apoio dos outros alunos, professores e funcionários, tanto na divulgação, quanto na parte financeira, a mobilização foi grande. Foi arrecadado o suficiente para a compra dos remédios para o tratamento da cadela Sassá. Até hoje, eles já conseguiram ajudar quatro cães, o que segundo eles, é pouquíssimo em relação ao total de cachorros que vivem no campus. Desde o segundo semestre do ano passado, quando ingressaram na Universidade, eles já idealizavam o projeto. Inicialmente pensavam apenas em dar comida, mas após tratar um cão, ajudar a encontrar o dono de um

pessoas se disponham a ajudar. Primeiro elas gostam e incentivam, mas logo depois somem. Pelas redes sociais, a divulgação e os pedidos de doações são feitos pela página no Facebook: www. facebook. com/soscaesdapucminas.

outro perdido, e cuidar de Sassá, resolveram levar a ação adiante. Após a criação da página virtual, o projeto ganhou maior visibilidade ao ser mencionado em entrevistas para a Rádio PUC Minas e a Veja BH. Entretanto, os integrantes demonstram que muitas pessoas criticaram a iniciativa dizendo que eles estavam apenas extorquindo dinheiro dos alunos e utilizando dessa exposição para se promover. Afirmam tambémque atualmente estão em uma situação complicada quanto à continuação do projeto, pois acumularam dívidas com o tratamento do último caso em que ajudaram o cachorro “Pepê”, e ainda estão pagando do próprio bolso. Segundo Ana Luísa Rezende, Marcelle Gouveia, Thaís Martins, Gabriel Greinert e Sarah

1º PERÍODO

Já passa um pouco das duas quando ali, entre os corredores do prédio L, na PUC Minas São Gabriel, Sandra passa limpando as salas. Mais conhecida pelos alunos como a moça da limpeza, eles mal sabem que dali, ao olhar pela janela vez e outra, ela sonha com seu diploma. Aos 32 anos, Sandra se recorda, enquanto faz a limpeza diária, de sua infância. Aos 13, após perder sua mãe prematuramente, ela se viu abandonada pelo pai que foi em busca de outra família. Rodeada por nove irmãos, teve que desistir dos estudos antes mesmo de completar a quarta série e ir em busca de um emprego para ajudar na renda de casa. Apenas uma criança, Sandra foi trabalhar em uma casa de família como arrumadeira. Três anos depois ela se viu em uma fabrica de enfeites. E lá se foi uma década de sua vida. Anos sem estudo foram passando e, de repente, lá se viu ela se inscrevendo em um supletivo. Após completar o ensino fundamental, se matriculou em um programa do governo e concluiu o ensino médio. Neste período de sua vida,

Sandra era contratada outra vez como arrumadeira em uma casa de família. Entre um serviço domestico e outro, se deparou com os livros de seu antigo chefe que, na época, cursava direito. Após folhear os livros viu um novo desejo surgir: advocacia era o que ela queria. E foi o que conseguiu. Após trocar o emprego na casa de família pela PUC, Sandra se inscreveu no vestibular e agora cursa o tão sonhado direito. Quando pensa nas dificuldades que enfrentou e ainda enfrenta, ela não titubeia para responder. “Eu tive uma infância muito turbulenta”, diz. “Mas eu creio que o meu futuro vai ser melhor. Às vezes a gente tem dificuldade na infância, mas a gente tem que trabalhar pro nosso futuro ser melhor. Não pensar só no presente, sabe? A gente tem que fazer uma construção melhor., acrescenta. Hoje ela agradece pela oportunidade e diz que temos que agarrar as chances que a vida nos dá. “A gente tem que passar por cima de tudo e acreditar na nossa capacidade. Não podemos nos limitar a cor e a idade. Temos que ser sempre o melhor que podemos ser”.


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Cidade

Grafite marca paisagens de BH

Trabalhos de artistas do grafite cobrem cada vez mais muros e prédios da capital mineira, colorindo a cidade com as mais diversas formas e temas, mudando o visual de áreas degradadas ANA LUIZA BONGIOVANI RAFAELA ANDRADE 2º PERÍODO

Fruto de um movimento contra-cultural influenciado pelo Hip-Hop americano, o grafite vem ganhando mais e mais espaço nos cenários urbanos por todo o mundo. O aumento da importância de artistas como Banksy – um enigmático artista que espalha sua obra com temas diversos por grandes capitais, como Londres e Nova Iorque - e a classificação de sua obra enquanto “Pop Art”, aumentam o interesse da sociedade por esse tipo de expressão artística, inclusive pelos trabalhos de dezenas de artistas que podem ser encontrados por toda Belo Horizonte. Entre muitas dessas cores e formas que cobrem muros e tapumes de construção na capital mineira, um dos destaques é o personagem “Bolinho”, criado pela estudante de Artes Visuais da UEMG,

Maria Raquel “Bolinho” deixa sua marca registrada em BH e já teve seu trabalho reconhecido por várias pessoas

Maria Raquel “Bolinho”. A jovem, de 26 anos, conta que se envolveu com o grafite após sair com o namorado – também grafiteiro – para pintar, há cerca de quatro anos, mas que sempre se interessou

por esse tipo de trabalho. “Eu queria começar com um desenho simples pra saber se eu daria conta”, diz. “Minha ideia era fazer alguma coisa relacionada à comida, porque eu adoro cozinhar, comer

e confeitar”, completa. Raquel também comenta sobre os temas dos bolinhos (ela sempre os pinta fazendo algo diferente), dizendo que sempre mantém vários desenhos prontos e escolhe

Amanda Ferreira

de acordo com o espaço disponível o que vai pintar. Sobre os lugares onde deixa sua marca, a moça ressalta:“Normalmente, procuro um lugar abandonado, bem degradado, com uma estética mais

feia, pois nesses lugares o grafite, com suas cores vivas, se destaca mais”. Raquel também fala sobre sua participação no programa Terra de Minas, que foi exibido no último dia 3 de Agosto pela TV Globo: “O programa foi uma maneira de eu ter um reconhecimento sobre o meu trabalho, porque eu apenas pinto e deixo o desenho lá, sem ver a reação das pessoas”, conta. “É interessante também por ser uma forma das pessoas entrarem em contato comigo, me mandarem mensagens, porque muitas ficam curiosas pelo fato do trabalho não ter assinaturas”. Ela também afirma não ter tido problemas com a polícia ou outra autoridades, e que, normalmente, quando abordada, apenas explica sobre seu trabalho e é autorizada a continuar. “Tudo é uma questão de saber conversar com o policial e saber o que você está fazendo”, acrescenta.

Casal lucra vendendo materiais para grafiteiros Louise “Musa”, 26 anos, e seu marido, Márcio “Surto”, 27, que abriram uma loja para grafiteiros no Edifício Maleta, no Centro de Belo Horizonte, descobriram que poderiam lucrar com o grafite. O estabelecimento, chamado Real Vandal, começou a funcionar em 2012, a partir do envolvimento do casal com o grafite. Além de uma vasta oferta de cores e marcas de tintas, a loja

também conta com um espaço no segundo andar destinado a exposições de grafiteiros. “Nós deixamos as obras lá por um mês ou dois e a única coisa que pedimos é que eles pintem de branco quando acabar a exposição”, conta Louise. Sobre a clientela, o casal conta que são de todos os tipos: desde grafiteiros antigos e amigos do casal até pessoas que querem começar a pintar e buscam com os próprios donos da

loja e outros clientes experientes, conselhos sobre como fazer. “Até pessoas que não têm nada a ver com o grafite vêm até a nossa loja, porque temos uma variedade maior e preços mais baixos que lojas convencionais de tintas”, diz ela. Musa e Surto são grafiteiros letristas (como o próprio nome diz, trabalham com letras estilizadas), e ambos já pintam há anos pelos muros da capital,

Amor pela arte leva grupo a criar empresa Em 2007, um grupo de amigos, unidos pelo amor à arte, misturou grafite, tatuagem, ilustrações, entre outras expressões artísticas, e fundou, na cidade de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a empresa Cartel Lado Norte, ou CLN Criações. Wemerson da Silva (Wera), grafiteiro de 38 anos, é um dos fundadores. Ele desenha desde os sete anos, não tem formação acadêmica e acredita que o grafite escolhe quem o faz. Quando começou a grafitar, fazia de tudo para protestar, mas hoje se preocupa mais em deixar os lugares bonitos. “Quando deixo os lugares mais bonitos também estou protestando”, afirma. A CLN preza pelo estímulo à arte e em 2011 criou um ateliê com o objetivo de viabilizar acesso e orientação aos

iniciantes em grafite e pintura. Wera acredita que o grafite é um importante mecanismo de educação e abre portas para uma diversidade de outras artes. “Trabalho há muito tempo em projetos voltados à arte e educação; estou há 13 anos no Projeto Guernica, trabalhei no Espaço Criança Esperança, Fica Vivo, entre outros”. A Lei de número 12.408, que trata da descriminalização do grafite, foi aprovada no dia 25 de maio de 2011, pela presidência da república. Segundo ela, a prática do grafite não pode ser considerada crime quando realizada para valorizar patrimônios públicos e privados, tendo autorização. Em relação às pichações, o Art. 65 desta lei diz que a pena para pichadores é de três meses a um ano de detenção e multa; em caso

de pichação em monumentos ou bens tombados a pena é de seis meses a um ano. Analisando a polêmica entre grafite e pichação, Wera diz: “No Brasil distinguimos grafite de pichação; aos olhos da sociedade, o que é feio é pichação e o que é bonito é grafite. O que é feio pra mim pode ser lindo pra você. Levando em consideração que o grafite parte da caligrafia e, na maioria das vezes, não pede permissão, é o mesmo que pichação”. Ele sempre se depara com dificuldades para grafitar em locais públicos; procura os lugares feios e depredados e respeita patrimônios históricos. “Busco respeitar sempre patrimônios históricos, pois não gostaria que desrespeitassem o grafite que faço pela cidade. Temos que respeitar a arte em todas as suas vertentes”, ressalta.

sobretudo na região central. “A gente é desapegado com isso. Sabemos que, quando fazemos, o trabalho pode estar sujeito a tudo”, conta Louise sobre a efemeridade das pinturas, que muitas vezes são cobertas ou derrubadas. Louise ainda faz ponderações sobre a pichação, que normalmente é alvo de mais críticas que o grafite: “Eu considero a pichação como arte. O grafite e a pichação

são coisas totalmente diferentes, mas são duas formas de expressão. Se a pessoa quisesse desenhar, ela poderia o fazer, mas ela quer pichar, é a forma dela se expressar. Quem cria o preconceito é a população, que não entende muito as coisas”, afirma Louise. “A população brasileira é muito carente de cultura, do que é arte, então, não valoriza”, acrescenta.

Projeto Guernica promove inclusão social Em Belo Horizonte existem programas que valorizam a arte como forma de inclusão social, cidadania e educação. O projeto Guernica, mantido pela Secretaria Municipal Adjunta de Direitos de Cidadania, criado em 2000, propõe políticas públicas sobre intervenções na paisagem urbana. Segundo José Marcius Vale, coordenador do projeto, um dos objetivos é mostrar que a cidade é de todos e que deve haver respeito. “O grafite é uma arte que eventualmente não pede permissão, que transgride as regras. Essa transgressão tem que ter limites

e ser consciente. O respeito em relação ao outro e ao patrimônio público deve existir”, afirma. O programa oferece debates, seminários e estudos de intervenções no espaço urbano; realiza 14 oficinas, coordenadas por grafiteiros, em escolas de diferentes bairros da cidade. Ao todo, são 400 participantes. Eles discutem sobre o grafite em muros, sobre a história da arte e a relação do homem com a cidade. Além disso, o programa realiza trabalhos em conjunto com outras secretarias e participa de mostras e feiras. Desde 2012, o projeto, em parceria com o

Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua – Centro POP – desenvolve uma releitura tridimensional da tela “Guernica”, do pintor espanhol Pablo Picasso. O trabalho denominado “Guernica – O clamor da rua”, foi exposto no Centro POP, situado na Avenida Catalão, Barro Preto, entre os dias 3 e 10 de setembro deste ano. Outros programas são: O Projeto Arena da Cultura, implementado pela prefeitura de Belo Horizonte em 1998, e o “Fica Vivo!”, da Secretaria de Estado de Defesa Social, criado em 2003.


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Cidade

Ibama aguarda sede em Confins Unidade permanente do órgão no Aeroporto Internacional ainda está no papel. Inspeções são feitas esporadicamente por agentes federais para evitar a biopirataria e crimes ambientais BÁRBARA SOUTO MARIANA MENDES 1° PERÍODO

Quatro anos depois de feita, a promessa de uma unidade permanente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, Região Metropolitana de Belo Horizonte, por enquanto permanece no papel. O Ibama ainda não viabilizou a instalação fixa no

aeroporto de uma unidade para controle da biopirataria. De acordo com sua assessoria de comunicação, o instituto encontra-se na fase de diagnóstico do aeroporto, para dimensionar equipe e recursos a serem alocados. Segundo Valdo Veloso, assessor de comunicação do Ibama-MG, além das fiscalizações rotineiras, realizadas esporadicamente durante a Copa das Confederações, o Instituto realizou o acompanhamento das inspeções em raios-X de bagagens de-

sacompanhadas nos voos internacionais de ida para os seguintes destinos: Miami, Buenos Aires, Panamá e Lisboa. Nessa operação específica, foram utilizados 11 Agentes Ambientais Federais divididos em três equipes. E, segundo o Núcleo de Controle e Fiscalização do Ibama, 100% das malas desacompanhadas são vistoriadas em raios-X. Houve identificação de envio irregular de ágata (um tipo de pedra semipreciosa) para os EUA e o procedimento é fiscali-

zado pela Receita Federal. Ainda de acordo com Valdo Veloso, em 12 de julho, durante operação de rotina, foram identificadas duas caixas contendo carga viva no galpão de uma das companhias aéreas. Uma empresa que realiza comércio de peixes ornamentais teve que pagar multa referente a 39 espécimes de peixes da fauna silvestre brasileira, que estavam sendo transportados para venda sem licença ou autorização da autoridade ambiental.

A multa estipulada foi de R$19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais), já que, conforme determinado pelo artigo 24, item I do Decreto Federal, é prevista a multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) por indivíduo de espécie não constante em listas oficiais de risco ou ameaça de extinção. Vale lembrar que, como previsto na lei N° 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998, transporte e venda irregular de animais silvestres ou plantas são considerados crimes ambientais, po-

dendo resultar em, além de multas, apreensão da carga e detenção do responsável. Aos poucos o instituto está conquistando seus objetivos e Evando Xavier Gomes, Superintendente do Ibama-MG, reconhece a importância da atuação no Aeroporto de Confins. Valdo Veloso afirma que o Instituto pretende tornar rotineira a fiscalização nos terminais de passageiros e de cargas assim que o diagnóstico do aeroporto for concluído.

Sobrevivência encontrada na ilegalidade comercial GUILHERME FROSSARD JOSÉ VICTOR FANTONI LUCAS FÉLIX MATHEUS LIMA 2º PERÍODO

A presença de pedintes e vendedores ambulantes nas áreas próximas às estações de metrô é constante na cidade de Belo Horizonte. A grande circulação de pessoas das mais diversas regiões da cidade possibilita que os trabalhadores informais sustentem suas famílias a partir da venda de produtos como cigarros, água, sorvetes, carteiras, cintos, chips de celulares, perfumes, relógios, dentre outros. Apesar da atividade ser ilegal e contar com certa fiscalização, os vendedores não tem outra opção para garantir a sua sobrevivência. Dentro dos vagões do metrô, além de mais velada, a atividade comercial é rara. Afinal, a fiscalização é feita de maneira mais eficiente e as chances do dia acabar com prejuízo são muito maiores do que se a venda for efetuada nas passarelas e vias de acesso às estações. Os vendedores que se arriscam dentro dos vagões mantêmse calados até que as portas sejam fechadas, percorrem o vagão inteiro anunciando seus produtos e trocam de vagão, escondendo suas

mercadorias em sacolas ou mochilas, a cada estação. Bradando seus produtos e seus respectivos preços, os camelôs desses locais, como Silvan Santana de Jesus, 44 anos, desdobramse para chamar a atenção das pessoas. Nos horários de pico, 11h e 17h, o movimento intenso facilita o trabalho, mas não faz dessa uma tarefa simples. A disputa por atenção é só uma das dificuldades, que, somada à falta de procura, à ilegalidade da venda, ao clima quente da cidade e à constante fiscalização, fazem da rotina de um vendedor uma verdadeira aventura. Outra estratégia utilizada pelos vendedores é adequar-se ao gosto dos clientes, que varia de acordo com as estações e também com a época do mês. Quanto mais longe do dia de pagamento, menores as chances de se obter êxito nas vendas. “Os melhores dias pra vender são as segundas e sextas-feiras das semanas de pagamento”, diz Silvan Santana, que trabalha há quatro anos na estação Lagoinha. “Eu tento trazer aquilo que o consumidor vai querer comprar. Meus produtos vão mudando de acordo com a demanda dos clientes” completa Gilberto Santos, 31 anos. O lucro, porém, não é o

único atrativo e muito menos a única razão pela qual os vendedores enfrentam as ruas de Belo Horizonte. O amor nutrido pelas ruas e pelo ofício de vender é parte fundamental da motivação de Silvan. “Quem trabalha na rua é apaixonado pela rua. Uns querem ser professor, outros querem ser médicos. Mas o vendedor ama ser vendedor”, afirma. A respeito da presença dos vendedores, Márcio Peixoto, 34 anos, é crítico. “Eles fazem muito barulho, atrapalham na passagem das pessoas, além de venderem produtos falsificados, o que acaba contribuindo para a pirataria”, diz. Apesar de não concordar com a presença do vendedor ilegal, a legalização da atividade é uma questão constante para a população. “Recolher os produtos deles não é o mais correto a se fazer, seria mais interessante regularizar o trabalho deles, pois assim os ambulantes honestos não seriam atrapalhados pelos que vão procurar coisas erradas, como comprar drogas com o dinheiro proveniente da venda de mercadorias falsas”, observa Emerson Machado, dono de uma das lojas legalizadas dentro da Estação Lagoinha. A fiscalização é constante e ocorre, às vezes, por mais

Vendedores ambulantes utilizam áreas próximas ao metrô para comércio

de uma vez ao dia na Estação Lagoinha. E, apesar disso, a maioria dos vendedores – dentro ou fora dos vagões – alega que mesmo com os prejuízos acarretados com a apreensão de suas mercadorias o lucro ainda é atraente. Sempre atentos às vias que dão acesso aos seus pontos de trabalho, os comerciantes pedem que seus clientes evitem obstruir seu campo de visão, permitindo assim que uma fuga ocorra de maneira rápida e eficiente. Na Estação Eldorado, fiscais foram abordados e, ao serem perguntados sobre a frequência de suas rondas, disseram que elas ocorrem todo dia, no mesmo horário, diferentemente do que ocorre na Estação Lagoinha. O processo de regularização de um vendedor na Estação Eldorado passa pelas mãos de Vander do Espirito Santo, gerente da Fiscalização de Postura. Porém,

Feiras livres da capital mineira LUÍSA CAMPOS MAÍRA PAIVA RHANNA TRINDADE 1º PERÍODO

As feiras livres de Belo Horizonte, que vendem produtos tipicamente mineiros e hortifrutigranjei-

ros, são uma tradição na capital e estão espalhadas por diferentes pontos da cidade, atraindo públicos de diversas idades. Atualmente, de acordo com a Secretaria Municipal de Abastecimento, a capital mineira conta com 59 fei-

ras em atividade, compostas, em sua maioria, por barracas que resistiram à ação do tempo e são mantidas por gerações familiares, que trabalham com os mesmos produtos e estabelecem relações de proximidade e convivên-

Feiras livres nas ruas de Belo Horizonte comercializam produtos diversificados

Maíra Paiva

cia com os consumidores. Segundo o feirante João Dias Dornelis, 63 anos, mesmo quem não herdou a barraca de algum parente, consegue construir uma “família” por meio da convivência e amizade que existe e é fortalecida há anos. Uma feira típica da região, marcada pela resistência dos feirantes e qualidade dos produtos, acontece todas as quartas-feiras, à Rua Araguari, esquina com Matias Cardoso, próxima à Praça da Assembleia, no Bairro Santo Agostinho, e atrai pessoas de vários pontos da cidade. “Eu não moro aqui perto, mas, como sou louca por frutas, venho até aqui porque elas são muito boas”, diz a estudante Ana Luiza Barroso, de 17 anos.

desde 2004, com o início da gestão da então prefeita, Marília Campos, em Contagem, não se emitem licenças para comerciantes ambulantes, segundo a Secretaria de Regularização dos Vendedores Ambulantes, por estarem aguardando a licitação pública. O vendedor regularizado, Norberto Sales diz que conseguiu sua licença em 2004, antes que a emissão de alvarás fosse drasticamente reduzida nos governos que sucederam o de Ademir Lucas. Os vendedores mostramse conscientes a respeito da ilegalidade de sua atividade, porém, dizem não se conformar e lutam pela legalização. Paulo Fernandes, 17 anos, trabalha há um ano com a franquia “Icegurt” e diz que esse trabalho exige a criação de uma empresa, registrada e com CNPJ, mas isso não é suficiente para que o trabalho seja le-

Raquel Gontijo

galizado. A Assessoria de Imprensa da Prefeitura, ao ser procurada pelo MARCO, alegou que, de acordo com o art. 116“o Código de Postura (Lei 8.616/2003), para o exercício de atividade no logradouro público é necessário participar de processo de licitação e obter licença prévia da Prefeitura”. Além da apreensão das mercadorias, de acordo com a Assessoria da Prefeitura, há aplicação de multa ao comerciante que exercer atividade sem licença no logradouro e que varia entre R$ 596,23 e R$ 1.430,95. Os tipos de comércio por “veículo de tração humana” legalizados são os de algodãodoce, milho verde, água de coco, doces, água mineral, suco e refresco industrializado, refrigerante, picolé, sorvete, pipoca, praliné, amendoim torrado, cach orro-quente e frutas.

Lazer é contemplado Um outro tipo de feira, que vai além do comércio hortifrutigranjeiro e quitutes, também ocupa as ruas de Belo Horizonte e faz muito sucesso entre o público que procura, além de comprar os produtos comercializados, um espaço de lazer e distração. Todas as quintas-feiras, na Região Centro-Sul, acontece a famosa “Feirinha da Savassi”, que reúne um público diversificado em horários diferentes, como confirma o feirante Geraldo Bernardes, 28 anos. “Aqui acontece o happy hour”. O aposentado Izraeli Blas, 73 anos, também frequenta o local. “Eu prefiro vir mais cedo, logo quando começa, porque mais tarde os jovens vêm para se divertir” justifica. Já nas proximidades da Região Hospitalar é realizada a aconchegante “Feira das Flores”, que mostra suas

cores vibrantes e variedades incríveis de plantas todas as sextas. Localizada à Avenida Carandaí, entre a Rua Ceará e a Avenida Brasil, essa feira proporciona aos admiradores de plantas um ambiente acolhedor, o que faz com que aproveitem não apenas as flores que dão vida ao local, mas também um momento para relaxar. “É uma ótima oportunidade de lazer e conhecer novas flores, inclusive recomendo para as minhas filhas virem aqui no horário de almoço”, relata a aposentada Maria do Carmo, 76 anos. A tradição familiar também é confirmada neste tipo de feira, como na barraca das irmãs Takenaka, que trabalham juntas há mais de 20 anos pelos bairros de Belo Horizonte, dando continuidade ao trabalho da mãe, que antes comercializava verduras.



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Especial

ÍGOR PASSARINI IGOR PATRICK 6º E 5º PERÍODOS

“Nestes tempos esquisitos, os jornais devem festejar seus aniversários todos os dias”. Embora soe bastante atual, a frase de Millôr Fernandes era o destaque na capa da edição 50 do Jornal MARCO. Nascido em 1971, o jornal - cujo nome foi escolhido dentre diversas opções que incluíam “Construção” e “De Fato” - completa agora 300 edições, um feito inimaginável àquela época, em que as edições não tinham regularidade mensal. Por suas páginas, a formação de dezenas de profissionais, hoje espalhados pelos principais veículos do país. O editor executivo de O Globo é um deles. Ascânio Seleme chegou à Faculdade de Comunicação e Artes no final da década de 70, vindo de Santa Catarina. Ascânio - que ainda não assinava

Seleme, mas sim Aurélio, seu segundo nome - encontrou a região em uma situação muito diferente da que pode ser vista hoje. O Dom Cabral e o João Pinheiro - bairros onde o jornal circulava - eram só terra. As condições das famílias que ali moravam nunca foram das melhores. “A gente sempre idealizou o MARCO como algo que podia ajudar a comunidade local, fazia um jornalismo voltado a eles. Eram assuntos locais, comunitários e do interesse dessas pessoas que viviam às margens da universidade”, conta. Embora o país já vivesse a democratização gradual, a estratégia de manter o veículo pequeno e específico ajudava a ser ignorado pela ditadura. “O campus da Católica era um ambiente livre. Na eleição do Tancredo, por exemplo, os debates eram proibidos na televisão. Contudo, ele foi até faculdade de Comunicação uma vez, nos

Ana Paula Pedrosa: melhor parte da faculdade

André Correia

deu entrevista”, revela. No seu tempo, não existia divisão dos alunos entre monitores e repórteres. A turma, composta por ele, Clarice Caldas, Élvia Menezes, Letícia Hermeto e tantos outros, se juntava e apresentava as ideias. Geralmente, quem mostrava a pauta fazia, nos organizávamos entre nós mesmo. Uma de suas pautas se tornou histórica. Entre uma passada e outra no bar do Quincas, reduto dos alunos do 13 naquela época, a reportagem do MARCO descobriu no Dom Cabral uma rua batizada em nome de um torturador. O agente ítalo -americano Dan Mitrione chegou a Belo Horizonte no início de 1970, com a missão de tornar os costumeiros espancamentos de presos políticos em “método científico”. Pegando como cobaias mendigos e presos comuns, Mitrione ministrava aulas práticas de tortura, onde ensinava aos alunos os pontos mais vulneráveis do corpo, os instrumentos a serem utilizados e os limites antes que o torturado falecesse. A descoberta acabou desencadeando em uma extensa campanha do MARCO para a mudança da rua, o que que só aconteceu em 1983 com um projeto dos vereadores Artur Viana e Helena Greco, defensora dos direitos humanos. A via passou a se chamar José Carlos Matta-Machado, estudante da UFMG preso e molestado até a morte nos porões do Departamento de Operações de Informações (DOI) em Pernambuco. Outro que passou pelo MARCO na década de 70 foi o repórter de esportes do Estado de Minas, Ivan Drummond, 55 anos, que conheceu o jornal em tempos ruins. A publicação andava esquecida na faculdade. Coube a ele e aos colegas Maria Ângela Meideiros, José Guilherme Araújo e Fernando La-

Histórias daqueles que passaram pelo Marco Da PUC Minas, Ascânio Seleme levou aquela que seria sua futura esposa, Denise Seleme e a formação norteante de toda sua trajetória, que passou pelas redações da extinta TV Manchete, Istoé, Gazeta Mercantil e O Globo. “Minha carreira teve como princípio tudo que aprendi na Católica, sabia distinguir o certo o errado, fundamental para um repórter. Aprendi que não bastava criar palavras, mas a seguir uma hierarquia para informar e prender o leitor”, avalia. “No MARCO, colocávamos isso em prática, foi onde tive formação humana e técnica”, conta. O relato é comum entre todos os que escreveram ou foram monitores do jornal ao longo de tantas décadas. Fernanda Odilla, que se considerava perdida no curso e diz que nunca foi uma monitora brilhante, mas valoriza o aprendizado pelos tempos por lá. “Precisava saber se gostava mesmo de jornalismo. Deu certo, descobri que adoro ser repórter. Peguei gosto pelo impresso logo no começo do curso por conta do MARCO”, revela. Para Paula Carolina Soares, repórter da editoria de Veículos do Estado de Minas, a experiência como monitora também foi decisiva na contratação. Segundo ela, aprender todo o processo desde a apuração da pauta até a dia-

gramação e distribuição do jornal foi muito importante. “Na minha época além das visitas técnicas tinha uma seleção para o Estado de Minas com várias provas. Tenho certeza que o fato de ter sido do MARCO contribuiu e pesou nas entrevistas. Devo muito ao Fernando Lacerda porque ele me incentivou a vir e participar. Minha vontade não era jornal impresso, mas as coisas foram caminhando para isso”, afirma. HISTÓRIAS Paula Carolina se lembra de uma matéria que fez com uma amiga antes de ser monitora. “Deu muito trabalho porque estávamos no segundo período e a gente não sabia escrever ainda”, diz. A matéria era em uma região da comunidade que a população corria o risco de ser despejada por causa de uma fábrica que seria construída. As repórteres ouviram o drama das famílias e também a versão das empresas. “Marcou muito porque nós tínhamos um calhamaço de entrevistas e personagens. Sentamos na cantina e nos perguntamos ‘O que vamos fazer agora?’, aí fomos lendo e marcando, foi super demorado, mas valeu a pena. A matéria foi para a capa”, relembra.

Ex-monitores e r Marco comemor Profissionais, que têm como ponto comum terem iniciado suas bem-sucedidas carreiras jornalísticas pelo jornal laboratório da PUC Minas, dividem com os leitores suas histórias e experiências, além de ressaltarem a importância da publicação na formação de todos eles

cerda reerguer o veículo. “Nós começamos a arrumar anúncio para o jornal. Isso durou uns dois semestres”, relembra. Como não pode ter lucro, a verba era obtida por meio de permuta, o que ajudou a operalizar a redação. Outra estratégia foi atrair de novo a comunidade. “A gente fazia reunião de pauta na praça do Dom Cabral e todos alunos iam para lá. Os moradores participavam das reuniões”, diz. Um dos colegas citados por Ivan Drummond, Fernando Lacerda, é editor do MARCO há 18 anos. “A vantagem do Fernando é que ele nunca perdeu esse espírito do jornal. O MARCO mostra coisas que a imprensa comum não mostra. É um jornal a parte e na hora que precisar vai ser um jornal de protesto, pois cobre o tipo de coisa que normalmente não se cobre”, salienta Ivan. Quando entrou na universidade o único conselho que o repórter de O Globo, Thiago Herdy, 30 anos, recebeu da irmã, Thaís, aluna do curso, cinco anos antes, foi para que ele escrevesse para o MARCO sempre que pudesse. Herdy ouviu a irmã e se saiu bem. “No MARCO você começa a exercitar aquilo que você vai ter que fazer para o resto da vida se quiser ser jornalista, que é, primeiro, exercitar o olhar para o entorno e tentar ver além daquilo que está na sua frente e dali extrair uma pauta, uma reportagem”, afirma. Aprender a ouvir as pessoas, a fonte, a cidade, buscar pautas no bairro

que poderiam render reportagens. Exercícios que fazem parte da rotina de um jornalista e que se tornam evidentes no MARCO. “Como é um jornal voltado para a comunidade, você acaba tendo que fazer isso da forma mais simples, mas também da forma mais importante”, revela. Vivenciar o dia a dia do jornalismo trouxe também o primeiro contato de Herdy com os dilemas da profissão. “Tentar ser correto, não cometer injustiça. Dilemas que o exercício jornalístico te coloca e que são naturais e importantes, pois a partir das dúvidas e dos questionamentos nós nos preocupa-

mos com a questão ética e com a forma como a matéria vai influenciar na vida das pessoas”, pondera. O primeiro contato com a redação, a convivência com editores e colegas, a troca de informação e ideias. Para Herdy essa relação ajudou muito. “Fui muito privilegiado por ter a oportunidade de aprender com o Maurício Lara, o Fernando Lacerda e a Maria Líbia. São três pessoas que lembro até hoje. Os caminhos que aprendi com eles é o caminho que tento seguir”, diz. A repórter de economia do jornal O Tempo, Ana Paula Pedrosa, 36 anos, escreveu para o jornal desde o primeiro período até

Ivan Drummond: participação dos moradores

Raquel Gontijo

Nós saímos do Marco, mas o Marco não sai de nós SARA CRISTINA CECÍLIA BOHRER 2º E 1º PERÍODOS

O MARCO chegou à sua 300ª edição, e até aqui contou com a participação de diversas pessoas que se empenharam muito para conseguir tantas publicações. Algumas peças fundamentais nesse processo são os monitores, aqueles que sempre atuam nos bastidores guiando as inúmeras reportagens. A atual equipe do jornal MARCO conversou com alguns deles para saber como andam a sua formação de jornalistas, as experiências que obtiveram neste veículo de comunicação e como o estágio contribuiu para o seu crescimento. “A oportunidade de aprender com professores que têm

experiência no mercado e atuar com e para as comunidades próximas à universidade, foi um grande aprendizado”, afirma Ígor Passarini que hoje trabalha na PUC TV. Ele lembra que a experiência de ver a matéria publicada, com a assinatura, e a lembrança de cada passo desde a apuração até a escrita, é gratificante. “Como diz o editor do jornal Fernando Lacerda: ‘Matéria boa é matéria publicada”, brinca o ex-monitor. Igor escreveu 40 matérias publicadas no jornal, sendo a primeira em 2009, e a última recentemente sobre as manifestações no Brasil. O aluno também opina que todos os estudantes de Comunicação Social da PUC Minas deveriam participar da produção do MARCO. “Quem não tiver a oportunidade de ser monitor, que participe

como repórter. Aprendi muitas coisas no jornal, uma delas foi trabalhar em equipe”, afirma. Michelle Oliveira que está no 6° período de jornalismo, ficou um ano como monitora e afirma que foi o seu primeiro trabalho na área. Hoje, ela atua na comunicação empresarial da Copasa. “O jornal Marco é uma grande escola”, afirma. Michelle, que relata também o quanto desenvolveu as técnicas básicas do jornalismo. Como a melhoria de seus textos, a prática de apuração e também o aprimoramento na forma dos relacionamentos de trabalho em grupo. “Graças ao tempo que passei no MARCO consegui o estágio que estou hoje, que tem um processo seletivo super exigente e concorrido”, conta a estudante.


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repórteres do ram a edição 300 o oitavo. “O MARCO é a melhor parte da faculdade. É onde a gente tem a chance de colocar na prática o que a gente está aprendendo e aprender coisas que a gente não aprenderia no currículo normal”, diz. Algumas matérias ainda estão guardadas em caixas que Ana Paula não tem coragem de jogar fora. “Teve uma que a gente achou uma comunidade de hippies evangélicos e nós fomos até o local conhecer, teve também a de um senhor que tinha sido árbitro de futebol nos anos 40, todas matérias muito legais”, relembra. EXPERIÊNCIA Entre os jornalistas entrevistados pela reportagem do MARCO para essa edição especial, a maioria relembra a inexperiência ao escrever as primeiras

matérias. O correspondente do jornal Estado de São Paulo, Marcelo Portela, cita algumas. Ele e um amigo foram designados a apurar uma pauta sobre prostituição. Totalmente cru, Portela relembra do medo em se aproximar das mulheres na beira da estrada e da dificuldade em selecionar as falas dos moradores ao redor da via. “Tínhamos que manter a cabeça fria diante de argumentos vazios e moralistas por parte de moradores contrários ao trabalho das moças nas proximidades de suas casas”, afirma. Durante o período na publicação, Portela também faria entrevistas com importantes personalidades históricas como o então candidato operário, Luís Inácio Lula da Silva, o escritor, Carlos Heitor Cony, e o economista pró -reforma agrária, João Pe-

dro Stédile, líder do MST. Ele passaria depois pela TV Bandeirantes, Estado de Minas, O Tempo e Reuters até se tornar correspondente do Estadão, cargo que ocupa até hoje. Outra que se lembra com saudade da sua época de “marcolina” – apelido atribuído aos alunos que fizeram parte do jornal - é Fernanda Odilla, repórter da Folha de S. Paulo em Brasília. Sua primeira matéria foi escrita em parceria com Luciana Rezende, hoje editora adjunta do Hoje em Dia. “A primeira versão do texto, que era sobre gente pobre ter espaço apenas em páginas policiais, era mais uma dissertação que qualquer outra coisa e foi vetada na hora”, afirma. “Com o tempo veio o aprendizado; como escolher as pessoas a serem entrevistadas, se preparar previa-

mente para essas entrevistas e, o mais importante, aprender a organizar as informações e transformá -las em notícia”, pondera. Odilla também recorda da frustração em entrevistar Luís Fernando Veríssimo. A entrevista pingue-pongue da edição seria dela e, para se preparar, a repórter conta que se encheu de expectativas, já que era devoradora assídua de seus livros e colunas. “Descobri nos primeiros minutos de conversa que Veríssimo é genial escrevendo, mas super tímido. Falando, chega a ser monossilábico. O pingue virou uma matéria. Já pensou a entrevista da última página do MARCO só com ‘sim’, ‘não’ e ‘talvez’?”, salienta. TELEVISÃO Passar pelo MARCO não implica em seguir carreira no jornalismo impresso. O aprendizado adquirido no jornal pode contribuir em diferentes seguimentos. Atual diretora de jornalismo da TV EBC, Nereide Lacerda Beirão, 56 anos, já foi repórter do Diário do Comércio, colunista do Caderno de TV do Esta-

Paula Carolina: matéria de capa é recompensa

do de Minas e diretora de jornalismo da Rede Globo Minas. “Não é porque você está trabalhando na TV ou no rádio que não precisa ter texto bom”, afirma. Nereide diz que se sentia o máximo a cada

Raquel Gontijo

matéria publicada, principalmente, quando ia para a capa. “Foi uma ótima experiência. O tipo de matéria que fazemos, preocupado com a comunidade, é muito importante e nos ensina a apurar”, pondera.

Entrevista com Chico Buarque e importância do Fuca para o D. Cabral Sorte, planejamento e persistência. Para Thiago Herdy, quando essas três coisas confabulam a chance de uma matéria dar certo é bem grande. Foi assim que ele conseguiu entrevistar Chico Buarque de Holanda. A partir de uma coincidência de datas, que foi perfeita para o gancho jornalístico, Thiago, e um amigo que era fotógrafo, foram para o Rio de Janeiro tentar realizar a entrevista. “Na época ele não fazia

shows, ele alterna esses momentos, tem uma fase que ele costuma ficar recluso e nesta época era uma dessas fases. Mas insistimos e ele topou falar com a gente”, relembra. Se para muitos repórteres conseguir entrevistar o Chico Buarque seria o apogeu, para o então estudante de jornalismo Thiago Herdy não foi. De acordo com ele, a matéria mais legal que fez no MARCO foi sobre Fuca, que era um mo-

rador do Bairro Dom Cabral e cuja história era contada na primeira edição do MARCO. “Essa matéria foi muito mais importante que a do Chico porque como o MARCO é um jornal comunitário a repercussão foi muito grande no Bairro. A do Chico teve mais repercussão entre os colegas, pois todo mundo gosta do Chico. Tenho-a guardada até hoje aqui em casa, trouxe ela comigo para São Paulo”, revela.

Fuca tinha necessidades especiais e furtava galinha dos vizinhos, pulava muro da casa dos outros, assustava as crianças. Na época em que o MARCO foi fundado ele era a preocupação do Bairro. Durante uma matéria para edição comemorativa Herdy foi pesquisar por onde andava esse personagem. “Todo mundo se lembrava dele e tinha histórias. Essa é aquela matéria que eu gosto que você vai

juntando vários pedacinhos com várias pessoas para poder contar com a história completa e fazer um retrato de uma figura que para a população dentro do bairro tinha uma importância tremenda. Foi um barato!”, afirma.

Depois

da matéria, muitos moradores da comunidade retomaram o contato com Fuca.

Praça da Comunidade reúne histórias do local ANDRÉ CORREIA 3º PERÍODO

A Praça da Comunidade, espaço destinado ao lazer e à prática de esportes no Bairro Dom Cabral, foi pauta do jornal MARCO desde a sua primeira edição. No momento em que o jornal chega ao número 300, a praça e seu conjunto de quadras de futebol de salão, peteca e basquete aguardam pelo início da reforma, aprovada no Orçamento Participativo (OP) de 2013/2014. Assim como o Campo do Pastoril, localizado próximo à praça, que teve reforma aprovada no Orçamento Participativo de 2011/2012 e deverá receber grama sintética e novos vestiários no início de 2014. O MARCO acompanhou a luta dos moradores que reivindicavam o direito de ter um espaço comunitário organizado, como previa o projeto do bairro à época da venda das casas. Quando foi lançado, o bairro já existia há sete anos e o local era um grande lote vago. A primeira edição do jornal afirmava que os jovens não gostavam do domínio egoístico da TV sobre as pessoas e que a praça seria a solução para a falta de opções de lazer. A incerteza dos moradores sobre a construção da praça se devia ao fato de que a extinta Caixa Econômica Estadual, instituição que financiou as casas do conjunto habitacional, não estava disposta a construir o complexo de lojas, igrejas, escola e centro comunitário, além das quadras esportivas e um campo de futebol. Para a CEE, a responsabilidade era da Prefeitura, que também afirmava não ser responsável pela obra. Assim, o impasse seguiu durante 13 anos, até que em 1985 a Praça da Comunidade, antes chamada de Praça dos Esportes, foi enfim inaugurada. Entre os diversos problemas enfrentados pelos moradores, o MARCO noticiou a infestação de ratos causada pelo lixo deixado em caçambas e lotes no bairro, e também pela chuva que trazia os detritos e criava buracos nas ruas e alamedas ainda sem calçamento. Em março de 1978 a Caixa Econômica Estadual cedeu o terreno para construção da praça, sendo notícia na edição 37. Como a construção não foi iniciada imediatamente, outra dezena de matérias foi publicada re-

latando a mobilização dos moradores para obter recursos. Chegando até a iniciar as obras de aterro do local, iniciando também o preparo do terreno onde hoje está localizado o Campo do Pastoril. Até a edição 58, o jornal MARCO era dedicado principalmente aos bairros Dom Cabral, João Pinheiro e Vila 31 de Março. Somente a partir do número 59 o jornal passou a publicar notícias do Bairro Coração Eucarístico e ser distribuído também neste local. Após anos de espera, a construção da praça foi iniciada em 1982 e finalizada em dezembro de 1985. Sendo inaugurada no dia 5 do mesmo mês e noticiada na edição 82, de maio de 1986. Segundo Armando José Caldas Sandinha, 64 anos, vice-presidente da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral, a praça já foi muito frequentada durante vários anos. Ele afirma que o que causou uma redução no número de frequentadores foi o estado de conservação e o surgimento de usuários de drogas, problema que, segundo ele, não é exclusividade da região e atinge várias praças em toda a cidade. Ainda assim, Sandinha ressalta que após a instalação da Academia Popular e com o funcionamento da creche que fica ao lado da praça, o fluxo de moradores aumentou e os usuários de drogas se afastaram, respeitando as crianças. Para Alcides Teixeira Amaral Júnior, 61 anos, artesão e morador do Bairro. “A praça é um espaço de lazer, de convívio e de relação social”. Ivete de Fátima Parreiras Vieira, 58 anos, coordenadora administrativa, afirma que “a praça é uma área maravilhosa para todos da creche”. Ela ressalta também que após a instalação dos aparelhos de ginástica a praça ficou mais movimentada, principalmente durante as manhãs e aos finais de semana, quando os pais vêm ao local com os filhos. A Paróquia utiliza o espaço da praça para realização de barraquinhas no mês de maio e a Creche da Ação Social da Paróquia Bom Pastor, para sua festa junina. Ainda assim, Alcides Júnior acha o espaço pouco utilizado. “A comunidade deveria abraçar mais o local, tomar conta do espaço e cuidar de certos pontos como a limpeza”, salienta.

Praça é reconhecida como espaço importante de lazer para os moradores

André Correia

Reforma do Campo Pastoril começará no ano que vem A reforma do Campo do Pastoril, orçada em R$ 1.161.789,46, deverá começar no ínicio de 2014, segundo Armando Sandinha. A poeira que sai do gramado do campo foi motivo de reclamações, mas Sandinha ressalta que não há solução imediata e a poeira deve continuar até que a obra comece e o campo receba a grama sintética. Atualmente, o local é coberto por areia e, em alguns pontos, com grama natural remanescente. A

obra já foi aprovada e está em fase de check-list, aguardando o fim da elaboração de projeto executivo, abertura de licitação e expedição de Ordem de Serviço. A última reforma do campo foi realizada há sete anos, quando foi instalado um novo alambrado e construído um vestiário que não está de acordo com os padrões exigidos e deverá ser demolido para dar lugar a um novo. A praça também aguarda a sua reforma, aprovada em

agosto de 2012, na reunião do Orçamento Participativo de 2013/2014, onde está prevista a melhoria das quadras localizadas atrás da Paróquia Bom Pastor, com obra orçada em R$ 766.217,95. Já o Campo do Pastoril, também localizado próximo à praça, aguarda a reforma que vai implantar um gramado sintético, além de construir novos vestiários e uma arquibancada para cerca de 200 pessoas.


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Especial

Relação próxima com o jornal Criado há 41 anos, Marco possui leitores fiéis que o acompanham em boa parte de sua trajetória, relatam experiências compartilhadas e destacam a ajuda na obtenção de melhorias para a região

todos os assuntos que têm nele, como 2º E 3º PERÍODOS os necessários para a melhoria do bairO MARCO ro. Muito bom!”, foi fundado na afirma Adelson. década de setenJúnia Grossi, 51 ta como jornal anos, professora de laboratório do Artes e de FilosoCurso de Jornafia, admite não ser lismo da PUC uma leitora assíMinas e comedua. “Quando tem çou a ser distrio MARCO no meu buído apenas no prédio eu leio, cerBairro Dom Caca de três vezes no bral. Somente a ano. Uma pessoa partir da edição me entregou e vim 59 passou a cirna redação buscular em outros car”, explica Junia bairros, como Grossi que como Coração Eupleta: “Sempre peIracy Firmino, presidente da Amacor André Correia carístico. Hoje, as guei coisas que não edições são mensais sabia do Dom Cabral. Por Neide Pinheiro, microempresária e, como sempre, distriAndré Correia exemplo, não sabia que nal o acompanha há anos. ções, as notícias que mais buídas gratuitamente em tinha uma associação de A relação do jornal têm destaque no jornal moradores. Fui lendo e bairros da Região Noroeste de Belo Horizonte com os leitores não se são sobre os bairros no descobrindo ao longo do ta qual foi a notícia que cipal da PUC com 800 como Coração Eucarís- limita apenas a receber entorno da PUC Minas, tempo.” Júnia também mais chamou sua atenção pessoas. O MARCO fez tico, João Pinheiro e no e ler. Eles telefonam, vi- na editoria chamada fala sobre as notícias vei- nesse tempo: “ Queriam uma grande reportagem.” Dom Cabral. Também sitam a redação, enviam Comunidade, que ocu- culadas no MARCO. “O trazer a rodoviária para Além disso, ele incentiva no Bairro São Gabriel, na e-mails e sugerem pautas. pa as primeiras páginas. jornal mostra a deman- o bairro. A vinda para o os moradores do bairro A moradora do Dom Região Nordeste, onde Isso é importante porque da do bairro. Em vez de Calafate revoltou essa refica outra unidade da o MARCO mantém a sua Cabral Neide Pinheiro, fazer reivindicações para gião aqui. Em 2008 nós a lerem o jornal. “Já coPUC Minas com o curso essência há mais de qua- 59 anos, microempresá- mil órgãos basta colo- fizemos uma grande au- loquei uma faixa: ‘Leiam diência no auditório prin- o Marco dessa semana’. de Jornalismo. Grande tro décadas. Assim como ria, diz que acompanha car no MARCO o jornal há alguns anos. parte dos leitores do jor- em suas primeiras edi“Leio mais as notícias do para abrir a disbairro, como moradora cussão na redonmais atenta a ver as notí- deza. Isso já é de cias, se está surtindo efei- grande valia”. Um dos moto. Fico atenta para ver se radores que a Prefeitura está tomando providência. A notí- mais vezes foi cia sobre um lote vago entrevistado é me chamou mais a aten- Iracy Firmino da ção”, diz Neide Pinheiro. Silva, 79 anos, da Apesar da maioria presidente Associação dos dos leitores se interessae rem apenas por notícias Moradores do bairro, alguns gostam Amigos do Corade ler todas as editorias ção Eucarístico e do jornal. Adelson Al- proprietário de ves de Araújo, 60 anos, uma papelaria. dono do Bar Gerais, no Leitor assíduo Bairro Dom Cabral, lê o do jornal desde MARCO há quatro anos, 1990, ele guarda apesar de residir no Dom algumas edições MARCO. Bosco, onde o jornal não do é distribuído. “É muito Firmino, como Adelson Araújo, dono de bar no Dom Cabral Júnia Grossi, professora de Filosofia e Artes André Correia André Correia agradável ler o jornal, leio é conhecido, conISABELA ANDRADE MATEUS TEIXEIRA

Adriana Araújo: “marcante na minha vida” “Eu me permito um trocadilho: o MARCO foi realmente marcante na minha vida. Foi ali, naquela sala no fundo do corredor, que comecei a entender o que é ser repórter e a cultivar valores que até hoje carrego comigo. Nas reuniões de pauta do MARCO aprendi com o editor Edson Martins a tarefa de apurar cada informação, por mais simples que seja, com total precisão. Entendi, a partir daqueles debates, a nobre função que exercemos de informar e ajudar a formar opiniões. O que só faz aumentar nossa responsabilidade e a necessidade de um compromisso, antes de tudo, com a notícia. De lá pra cá o mundo deu uma guinada. Saí do MARCO o deixando pra trás máquinas de datilografar. A diagramação do jornal era manual, feita como

nas tipografias de antigamente. Um tempo em que sequer usávamos um computador. Notebook, internet, redes sociais... Todo esse mundo instantâneo que vivemos hoje ainda não existia pra nós. E isso só reforça a importância que o MARCO teve na minha vida profissional. Mudam as tecnologias, as linguagens, o ritmo em que as notícias surgem e envelhecem. Mas os valores da nossa profissão não são descartáveis. Ética, compromisso com a verdade, com a precisão dos fatos, com o dever de informar os dois lados, o respeito à fonte, seriedade para opinar, quando necessário, deixando claro que se trata de uma opinião. Escrevo este texto pra vocês com orgulho de um dia ter estado na redação do MARCO e com saudade de muitos amigos e

histórias que vivi. Conto brevemente duas delas. Numa edição fui escalada para escrever o editorial e o tema que escolhi - em debate naquela época e ainda hoje no Brasil - foi a pena de morte. Após a publicação do jornal, eu me lembro de ter saído de uma aula explodindo de alegria porque o Edson Martins havia elogiado meu texto. Claro, havia ali muita benevolência da parte dele, mas pra mim funcionou como um “vá em frente, você vai conseguir.” Ao final do meu estágio, eu e uma amiga, a Fábia Prates, fizemos a reportagem da capa. Eram duas páginas sobre a fome no Brasil. E, para a nossa imensa surpresa, pela primeira vez uma reportagem do MARCO foi escolhida como tema da redação do vestibular da PUC-MG.

E como vestibulares envolvem lho. Foi ou não foi marcante? ‘’ total sigilo, só descobrimos isso ao ler os jornais de domingo que repercutiam a escolha da PUC. Esse burburinho acabou me ajudando a conquistar meu primeiro emprego, como repórter de economia no jornal Diário do Comércio. Era hora de deixar o MARCO e cair no mercado real. Parece que foi ontem, mas isso foi há 20 anos. Pelas memoráveis lições e oportunidades que tive, me permiti Edu Moraes aquele trocadi-


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Cultura

Clube da Esquina mostra suas cores e sons para a juventude Toninho Horta e ‘herdeiros’ de um dos mais importantes movimentos musicais do Brasil apresentaram canções que fazem parte da história da MPB a alunos, professores e servidores MATEUS TEIXEIRA SÉRGIO EDUARDO MARQUES 3º PERÍODO

No dia 12 de setembro a PUC recebeu o grupo As Cores do Clube para uma apresentação aos alunos, professores e demais profissionais da Universidade. O grupo, liderado por Toninho Horta, conta com diferentes gerações de artistas ligados ao Clube da Esquina. Além do bate papo com os alunos, os músicos apresentaram um repertório com músicas emblemáticas de um dos momentos mais ricos da música popular brasileira. Antes de iniciarem a apresentação em formato de pocket-show, por volta das 11h30, os músicos conversaram com alguns alunos no Laboratório de Rádio e destacaram a importância da amizade entre eles. “Trata-se de um projeto feito entre amigos. Sou amigo do Toninho, Beto Lopes e Ian Guedes. Grandes amigos no palco e assim fica

mais fácil de desenvolver um trabalho de alto nível no melhor ambiente possível, nada mais fiel à proposta do clube’’, garante Rodrigo Borges, integrante do grupo e filho de Marilton Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina. ‘’Minha participação está justamente em poder passar um pouco da minha experiência contemporânea para esse trabalho, que continua atual e agora tenho o privilégio de poder tocar com os mestres e dar a minha versão da história também. Eu acho que o grande valor desse projeto é mostrar para as novas gerações essa referência’’, afirma. Toninho Horta fala do encontro do Clube da Esquina com As Cores do Clube e destaca a importância musical do grupo para as novas e antigas gerações. ‘’O Clube da Esquina é uma escola musical. Está muito na letra de nossas músicas falar de natureza, de pureza e do lado humano das pessoas. Isso tem que ser incentivado e eu quero resgatar

isso. O novo público brasileiro precisa ouvir, é uma música que a juventude não conhece e deveria conhecer’’, declara. No Teatro de Arena, Toninho Horta, Rodrigo Borges, Tutuca Tiso e Rai tocaram músicas de sucesso como: Trem Azul, Clube da Esquina 1 e 2 e Para Lennon e McCartney. Eles também falaram sobre a composição dessas músicas, relembraram histórias e conversaram com o público que tomou conta das arquibancadas do local. Para o estudante de História, Ígor Leandro de Souza Dias, 23 anos, a iniciativa de levar música e cultura para a Universidade é uma forma de utilizar mais os espaços cedidos e promover um diálogo entre os alunos, além de ser uma nova forma de ensinar e promover o saber. ‘’A MPB hoje em dia é muito mercadológica e quer emanar uma brasilidade muito ‘falsa’. Uma brasilidade que os gringos enxergam quando chegam à Copacabana ou vão aos desfiles das escolas de samba,

Toninho Horta comanda o grupo que animou a manhã dos estudantes e isso acaba virando uma coisa ‘falsa’. O Clube da Esquina não. Ele é essa coisa descontraída, dos caras que estavam na mesa de um bar, tomando uma cerveja em Santa Tereza e decidiram gravar um disco com as suas verdades.’’, observa. A coordenadora do Laboratório de Rádio e idealizadora do projeto, Ana Maria Rodrigues de Oliveira, conta que a ideia de levar os músicos para a universidade surgiu a partir de um ensaio aberto que eles realizaram na Praça Santa Tereza. O contato se deu por

meio do assessor de imprensa João Marcos Veiga, ex aluno de jornalismo na PUC Minas. ‘’Eles foram muito disponíveis, o tempo todo se dispuseram a nos ajudar. Eles se prontificaram e queriam conversar com os estudantes’’, ressalta. Ela revela ainda que a iniciativa faz parte de um projeto desenvolvido desde o final do ano passado. “Nós incentivamos a cultura através do projeto Arte na Comunicação. Então, criamos uma edição especial, com o Clube da Esquina, dentro desse projeto’’.

André Correia

Ao final da apresentação, Toninho Horta fez um balanço positivo do projeto e ressaltou a importância da interação entre a música e as universidades. ‘’Eu acho que a juventude precisa conhecer o trabalho do Clube, porque a maioria dos estudantes nasceu bem depois do início do movimento. Isso nos inspira a fazer um projeto especialmente para as universidades. É extremamente necessário mostrar esse trabalho para a juventude e trocar uma ideia’’, afirma.

Livros seminovos viram projeto de coletividade RAFAELLA RODINISTZKY 2º PERÍODO

Da inquietação de ver seus livros já lidos e seminovos na estante, a especialista em educação ambiental e comunicação para relacionamentos estratégicos, Maristela Rodrigues, 50 anos, criou o Projeto SEUMEUNOSSO, visando o potencial de troca como alternativa de coletividade e a interação das comunidades de diferentes realidades socioeconômicas que são vizinhas das praças. O funcionamento do projeto é bem simples, baseando-se na troca de livros, visando o estímulo à leitura. É importante ressaltar que os livros devem estar em bom estado de conservação. Após conversar com amigos, Maristela Rodrigues percebeu que seus livros poderiam ser os primeiros da banca de trocas e recebeu apoio com doações. “Rita Alcântara, nossa primeira visitante, foi intitulada de ‘Madrinha da Feira’ pela volumosa doação inicial de livros”, comenta Maristela. Ao longo dos meses o público cresceu e o projeto tornou-se itinerante, passando a ser realizado nas praças República do Líbano e JK, no primeiro e terceiro domingos, respectivamente. A itinerância da Feira ainda

não é muito definida, “inicialmente somente as praças JK e República do Líbano. Quando tivermos investidores e patrocinadores no projeto, esperamos atingir diversas praças, como a Praça Floriano Peixoto e a praça da Avenida Silva Lobo. Os limites são definidos pelos recursos financeiros disponíveis.”, argumenta Maristela. Por ser um projeto sem fins lucrativos, idealizado pela ONG “Ehcuidar”, o trabalho empregado é totalmente voluntário. Solange Castro é assessora da coordenação e Paulo Junqueira é responsável pela produção, os demais colaboradores auxiliam doando serviços ou livros. “O projeto busca patrocínios para potencializar sua divulgação, viabilizar a contratação de uma equipe técnica que possa profissionalizar a produção e difusão da filosofia do projeto e da feira, ampliar a atuação para outras praças, a construção do site, a realização de atividades pedagógicas no espaço infantil da feira e a aquisição de mobiliários e equipamentos de boa qualidade”, explica Maristela Rodrigues. Ao ser questionada sobre o porquê da preferência pelos espaços públicos para a realização do projeto, Maristela explica que vê esse ambiente como

catalisador de novas amizades e encontros da comunidade, além de propiciar a troca entre pessoas de realidades socioeconômicas diferentes que frequentam a mesma praça, mas não interagem. A comunidade vizinha é beneficiada pela Feira, que doa os livros que não foram trocados para as bibliotecas comunitárias da Casa do Beco (Aglomerado Santa Lúcia) e da Associação Querubins, na Vila Acaba Mundo. A Feira não é voltada apenas para o público adulto. Sob as tendas, há uma banca para crianças, que se divertem ao encontrarem o personagem favorito em uma das muitas histórias. Além das trocas, os pequenos aprendem com atividades de educação ambiental, como a oficina “Meninos do Dedo Verde” que mostrou às crianças como plantar, e apresentações lúdicas que contaram com a participação da “Casa do Beco”. Pedro Póvoa, “Padrinho Mirim da Feira”, organiza seus livros logo pela manhã para serem trocados no domingo e se sente bastante orgulhoso por seu título. O que ele mais gosta é “de poder ler livros diferentes sempre e conhecer novas pessoas, pois em alguns livros possuem assuntos

Feira de livros conquista leitor fiel que realiza sonho antigo Desde o início da Feira, em abril, Maristela Rodrigues percebeu que alguns visitantes se tornaram fiéis e compareciam religiosamente todos os domingos para trocarem seus livros, conversarem e fazerem novas amizades. Histórias eram trocadas e aos poucos o projeto também tinha as suas, com personagens característicos. O personagem mais curioso do início da Feira até a edição atual foi Pedro Filho, que sempre sonhou em ter a Enciclopédia Barsa e pôde realizar o desejo na 1ª edição do projeto na Praça JK. Maristela conta que uma senhora perguntou se aceitávamos doação de enciclopédias, ao ouvir a

resposta afirmativa, ela buscou os livros (três pilhas de capa dura) e os deixou na grama, ao lado da tenda. No final da manhã, surge o Pedro Filho, novo visitante da feira, e quando viu a Barsa perguntou se poderia levar um daqueles livros. Dissemos que sim, que poderia levar toda a Enciclopédia. Ele ficou super satisfeito e alegre, pois era um sonho que ele tinha - ter uma coletânea em casa. Quando solteiro, ele tinha uma Barsa e quando se casou queria levá-la. Foi na casa de sua mãe buscá-la e, para sua decepção, ela já a havia doado. Na Feira ele pode realizar esse sonho.

interessantes. Exemplo: Ciências; pode se descobrir coisas novas sobre animais, insetos, entre outros”. O pai, Roberto Póvoa, diz que com a feira se sente motivado a fazer uma leitura semanal em conjunto com o filho e depois Pedro lê outro livro sozinho e comenta como foi a experiência. Além de acompanhar o filho, Roberto também troca

seus livros e acha a iniciativa “excelente, cultural, didática e alegre”. “Posso dizer que com a Feira, já fiz novos amigos e amigas. Além do incentivo à leitura, e o passeio na praça”, diz. Pai e filho compartilham o gosto pela leitura e desejam a expansão do projeto. “Estamos conversando para tentar divulgar melhor a Feira na escola dele”, comenta Póvoa.

Todo visitante da Feira que troca um livro recebe nas páginas iniciais do livro um carimbo com a mensagem “Dê asas ao livro... Hoje seu... Amanhã meu... Afinal, nosso!”. A coletividade é umas das marcas do projeto, que tenta levar essa reflexão para além do papel, marcando o livro e a pessoa que o adquiriu.

Evento mundial é inspiração para iniciativa de livraria CLARA BERNARDES GABRIEL LOMASSO LARA COIMBRA 3º E 2º PERÍODOS

Inspirando-se em um evento mundial, o livreiro do “Café & Livraria da Praça”, Juliano Klevanski, organizou sua própria versão do Book Crossing, que foi realizada em julho pela primeira vez. Por meio da troca de livros novos e usados, a ideia ganhou repercussão entre moradores e estudantes do Bairro Coração Eucarístico, o que levou a livraria a promover uma segunda edição, ocorrida na última semana de agosto. As doações, feitas pela população em geral e por funcionários da livraria surpreenderam por não conter apenas clássicos, mas também

livros mais recentes, como a série “Toda Sua” e alguns sucessos do americano Nicholas Sparks. Segundo o idealizador do evento, a boa repercussão da primeira edição ainda chamou a atenção das unidades do curso de idiomas Wizard. “Quando souberam do evento, doaram livros. São clássicos originais em inglês e alguns são didáticos”, afirma Klevanski. Enquanto o evento original tem a característica de registrar os livros emprestados, este idealizado pelo livreiro é marcado pela espontaneidade, sem a necessidade de se deixar o registro de nomes ou obras literárias. Ao descobrir a existência do Book Crossing, Juliano pôs em prática algo que tinha grande potencial para dar certo devido ao movimento da Pra-

Juliano Klevanski: envolvimento das pessoas

André Correia

ça do Coração Eucarístico e da presença constante dos alunos do campus da PUC Minas. “Nossa rede no facebook vem aumentando, então, há um maior envolvimento das pessoas. À medida que vamos agindo, melhoramos o evento e a tendência é aumentar tanto em repercussão quanto na qualidade mesmo.”, afirma Klevanski, dizendo ainda que ocorre de alguns participantes apenas levarem livros, sem deixar nenhum em troca. “Eu notei que as pessoas muitas vezes só levam os livros, e eu não estou desestimulando isso. Eu acho uma coisa boa, uma contrapartida social, sem nenhum ganho comercial”, afirma. Lorena Cadête participou do evento de todas as maneiras, doando e pegando algumas obras. “A feira dá oportunidade para pessoas que não têm condição de comprar determinada obra, apesar de já existir muita coisa na internet, mas é completamente diferente você ter o livro em mãos, no papel”, diz. “Eventos como esse com certeza incentivam a cultura, e estão em falta atualmente, apesar do fenômeno estar crescendo em Belo Horizonte” , acrescenta. As próximas edições acontecerão sempre na última semana de cada mês e, a partir da segunda, os livros excedentes serão doados para o Centro Cultural do Padre Eustáquio.


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Comportamento

Esplanada do Mineirão é opção de lazer ao público ALÉXIA MOREIRA HUGO L’ABBATE LAYSA VIEGAS 2º PERÍODO

Após longo período em obras, quando ficou fechado de 2010 ao final de 2012, o Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, foi reinaugurado e agora proporciona à cidade muito mais que futebol e shows. Ao redor do estádio foi construída uma esplanada, cuja área de 80 mil metros quadrados é capaz de receber cerca de 65 mil pessoas. Esse espaço é aberto à população, exceto em dias de jogos de futebol ou de apresentações musicais. Além da vasta superfície, a Esplanada do Mineirão conta com museu do futebol e comércio local, constituindo-se em uma opção de lazer para população. A esplanada recebe um bom número de visitantes, principalmente às sextas-feiras e finais de semana. Predominam famílias e jovens, sendo que grande parte utiliza o local para a prática de atividades físicas e esportivas. A estudante Mariana Rodrigues, 19 anos, geralmente frequenta o local aos domingos para andar de skate. Segun-

do ela, o espaço é ideal por possuir um piso liso. A jovem passa cerca de quatro horas na esplanada com seus amigos. Pai de três meninas, Roberto Alves leva sua família com frequência ao local. “Sempre que tenho tempo, venho aqui passear com minhas filhas”, conta. Roberto costuma acompanhar as crianças em passeios de bicicleta. “É ótimo vir aqui, pois as meninas gastam energia”, acrescenta. A advogada Mariana Naufel, 31 anos, e a pediatra Maria Angélica de Oliveira, 48 anos, também são exemplos de mulheres que levam crianças à Esplanada do Mineirão. Enquanto a primeira costuma acompanhar suas sobrinhas aos finais de semana, a segunda visitou a Esplanada em apenas duas oportunidades. Apesar da pouca assiduidade, Maria Angélica elogia a área externa do Mineirão. “O lugar é um espaço seguro para as crianças brincarem. Ficou bem melhor após a obra, pois não há movimentação de carros na esplanada”. A administradora Bertha Costa, 38 anos, costuma frequentar a área de duas a três vezes por semana, junto da família, coisa que não fazia

Crianças e adultos aproveitam a área no entorno do Mineirão para práticas de atividades ao ar livre, esportes e lazer

antes da reforma do estádio. “Após a reforma uma amiga nossa veio, descobriu e só depois a gente foi chamando o pessoal”, comenta. Bertha elogia o policiamento local, e considera o espaço como um bom lugar para passear com a família e se divertir com os filhos. A maioria dos usuários assíduos reside próximo ao Mineirão, visto que a distância torna a frequência inviável. Embora se trate de um local conhecido por toda a população de Belo Horizonte, a Esplanada é mais atrativa pelo espaço proporcionado que pelo estádio, propria-

mente. Pessoas que vivem em regiões distantes tendem a encontrar locais mais próximos com utilidade semelhante. Apesar da segurança, do vasto e planificado espaço e dos dois restaurantes, muitos ainda não têm conhecimento da disponibilidade da esplanada para uso público. As irmãs Carolina e Clara Santini, 19 e 18 anos, respectivamente, descobriram que a área era aberta à população há apenas um mês, mas já a visitaram em duas ocasiões. Enquanto Carolina utiliza a Esplanada para andar de patins, Clara passeia com os cães da família.

Lazer gratuito e de fácil acesso ANA CLARA CARVALHO JAMILLY VIDIGAL MAILLA SOUZA ROBERTA HELUEY 1º PERÍODO

O Centro Cultural Padre Eustáquio, com o apoio da Prefeitura Municipal, oferece atividades gratuitas e culturais para a comunidade. Dentre todas as atividades oferecidas, destacam-se as oficinas de dança co-

ordenadas pelo professor Maciel Bosso, e compostas por três professores voluntários. Não há um critério rígido de seleção para os professores, pois são poucas pessoas que se disponibilizam. A remuneração, segundo os professores, se dá pelos sorrisos e alegria dos alunos nas aulas. “O saber só é válido quando trans-

Área ao redor do Estádio é usada para prática de esportes, atividades físicas e lazer. Famílias e jovens aproveitam o local principalmente, às sextas-feiras e nos fins de semana, mas o espaço fica aberto à população sempre, exceto em dia de jogos ou shows.

mitido ao próximo”, conta Míriam Celestina,45 anos, professora das aulas de dança do ventre. Míriam trouxe sua experiência da cidade de Mariana-MG, onde tinha uma academia de dança chamada “Tenda das Deusas”. Mudou-se para Belo Horizonte a fim de cursar psicologia na PUC Minas São Ga-

Alunas do Centro Cultural Padre Eustáquio praticam aula de dança do ventre

Raquel Gontijo

briel e tem um projeto destinado aos alunos da universidade, com o intuito de unir a dança e a psicologia através da “dançaterapia”, que desenvolve o autoconhecimento e a criatividade do indivíduo. No CCPE as aulas acontecem às sextas-feiras a partir das 16h. A dança do ventre é contagiante, há interesse imediato e tem caráter feminino devido a sensualidade. Trabalha a postura, coordenação motora, respiração, flexibilidade e alivia dores nas pernas e coluna. O movimento “redondinho” ajuda a combater as cólicas. Priscila Gonçalves, 26 anos, que começou a freqüentar as aulas para diminuir as cólicas, hoje, grávida, descobriu na dança vários benefícios para o bebê e na prepa-

Aléxia Moreira

Área adequada a shows e eventos De acordo com a Minas Arena, empresa responsável pela administração do Mineirão, há um planejamento no que diz respeito a concertos e festas a serem realizados na Esplanada. Na festa de reinauguração do Mineirão, a banda belo-horizontina Jota Quest se apresentou na área externa do estádio, com um público estimado em 20 mil pessoas. Em abril deste ano, o espaço recebeu o festival “Copa das Bandas”, con-

ração para o parto. A turma é composta por crianças e adultos, acolhendo a todos. Um exemplo é a aluna Larissa Esther Souza Salles,18 anos, portadora da Síndrome de Down, que usa a dança como uma atividade alternativa. Por ser muito tímida, além de trabalhar sua coordenação motora. “A dança reinaugura o ser o humano”, diz Míriam. Já as aulas de forró acontecem às terças-feiras, às 14h30, e aos sábados, às 9h, e são divididas nos níveis básico e avançado. Ao fim de cada semestre acontecem eventos que reúnem várias academias da cidade para a troca de sapatilha, em que os alunos trocam de nível. Segundo Maciel, o forró não é valorizado pela Federação de Dança, já que existe uma visão distorcida e preconceituosa em relação a esse estilo musical. Para reverter tal situação, o

tando com apresentações de artistas nacionais bastante conhecidos, como o funkeiro Naldo, a banda NXZero e o cantor de axé Jammil. Agora é a vez de uma atração internacional agitar o espaço. Visto que a consagrada banda Black Sabbath está agendada para se apresentar na esplanada. O show, que ocorrerá em outubro, confirma a capacidade do local de receber grandes eventos.

professor quer oficializar o evento no Circuito da Cultura. A turma de forró do CCPE é composta por cerca de 60 pessoas, desde jovens até representantes da terceira idade. Marlena Costa Azevedo,72 anos, conta que ficou sabendo das oficinas por meio de amigos e se interessou por ser uma forma de sair da rotina de aposentada. Alegria, diversão e respeito ao próximo são qualidades adquiridas com o forró. “A dança desenvolve as pessoas, tornando-as mais comunicativas e com maior auto estima”, diz Laís Cristina,17 anos. As oficinas do Centro Cultural são gratuitas e abertas para toda a comunidade. Funcionam à Rua Jacutinga, 821 (antiga Feira Coberta), Padre Eustáquio. Informações pelos telefones (31) 3277-8394 ou 32777269.


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Comportamento/Cidadania

Traição no centro das discussões Esse tipo de comportamento, que acompanha o ser humano desde os primórdios, é um assunto que não perde a atualidade e desafia pessoas das mais diferentes faixas etárias MARIANA NOGUEIRA 2º PERÍODO

Torna-se cada vez mais comum a ruptura de relações pessoais devido a traição. É impossível dizer que qualquer tipo de relacionamento que envolva uma convivência mais ampla e extensa esteja imune aos conflitos do dia a dia. Mas será que isso pode justificar um ato tão ‘pecaminoso’ como o de trair? Segundo Paula Russi, psicóloga coordenadora de cursos do Centro de Estudos Avançados de Psicologia Ciclo Ceap, a traição pode surgir como um traço da personalidade de um indivíduo. “Não podemos generalizar o perfil, pois é subjetivo e cada um vive e reage da forma que consegue. Mas, geralmente, pessoas que traem com frequência se apresentam com perfis de conquistadores e de superioridade, querem realizar seu desejo acima de tudo e de todos”, observa a especialista. A traição, seja ela de amizade, profissional, familiar ou amorosa, está intimamente ligada à ambição do ser humano. A vontade de ser e de ter cada vez mais acompanha a sociedade. Encontrar alguém com quem se possa compartilhar sonhos e desejos é muito importante, porém deve-se tomar cuidado para que tais desejos não virem uma competição capaz de ultrapassar os limites e princípios da confiabilidade. O Instituto de Psicologia (IP) da Universidade

de São Paulo (USP) publicou em 2011 um estudo estatístico que aponta o homem como a parte mais infiel da relação homem/mulher. Segundo os dados publicados, o homem é biologicamente mais “insaciável” que a mulher, enquanto esta se prende mais a relações afetivas, o que ainda a faz, consequentemente, sofrer mais com uma traição. Júlia Nascimento Mendoza, 25 anos, graduada em nutrição, conta que ser traída provoca uma dor inaceitável.“Namorei cerca de seis anos e fui traída por diversas vezes, algumas eu soube, outras não e por ai vai. Considerava-o a única pessoa que existia no mundo e por isso passava por cima da tal confiança. Na verdade, hoje vejo que era falta de amor próprio’’, avalia. No entanto, a generalização é errônea. A traição em um casamento, por exemplo, envolve uma série de fatores que só chegam a ser compartilhados entre o casal depois que a situação já alcançou níveis extremos. Segundo psicólogos especializados no caso, a mulher, ainda que não traia tanto quanto o homem, também se permite procurar satisfação e felicidade além do casamento. Outro tipo de traição é profissional, que esbarra também na relação de amizade. O desejo de promoção e a inveja são os motivos mais recorrentes em uma traição nesse âmbito. Muitas pessoas são insatisfeitas com o que

Júlia Mendoza afirma que aceitar uma traição é falta de amor próprio

possuem e tendem sempre a cobiçar o do outro, tornando-se assim capazes de tudo para conseguirem o que anseiam. O publicitário Carlos Magno, 47 anos, já passou por situações complicadas no meio profissional. “Eu estava prestes a me formar e ainda estagiava em um escritório em Belo Horizonte. Na época, eu ainda não cogitava a ideia de sair daquele emprego, eu estava me formando, precisava me sustentar e o mercado

não estava nada bom. Um ‘amigo’ meu estagiava no mesmo lugar. Estudávamos e trabalhávamos juntos, ou seja, eu passava a maior parte do meu tempo com ele. O meu contrato já estava vencido e eu esperava conseguir a efetivação, diferente do meu amigo, que já tinha sido comunicado quanto ao término do contrato. Foi aí que eu tive uma grande surpresa. A diretora responsável pela ala de estagiários me chamou até sua sala. Fui

Mariana Nogueira

feliz pensando na minha efetivação que tinha grandes chances de acontecer, quando ela me disse que meu contrato estava rompido e que eu deveria arrumar minhas coisas antes mesmo do término dele. Dias depois descobri que um documento contendo calúnias e difamações sobre a empresa havia sido entregue a um dos nossos clientes, que acabou desistindo de nos contratar. Uma inspeção foi feita nos computadores e o ar-

quivo foi encontrado no meu computador e eu não tive nem a chance de me defender. O meu ‘amigo’ acabou ficando com a minha vaga na empresa e dias depois me mandou inúmeras provocações explicitando a responsabilidade dele naquele ato”, desabafa Carlos. A traição, em seus mais diferentes aspectos, tende a causar danos que devem ser observados com muito cuidado. “A mágoa pode levar o sujeito a reagir de diversas formas, inclusive a vingança ou mesmo uma depressão. Ao viver uma desilusão a pessoa pode ter raiva, tristeza e deixar sentir e extravasar seus sentimentos, mas com o passar dos dias estes sentimentos devem se estabilizar e uma nova força para seguir em frente deve surgir. Caso isso demore, o mais recomendado é que procure uma ajuda profissional”, conclui a psicóloga Paula Russi. É difícil estabelecer um parâmetro único quando se diz respeito a traição. Nos dias atuais parece ser mais fácil se esquivar do que procurar aceitar abertamente problemas como esses. A traição é prejudicial a ambas as partes. Para aqueles que acreditam em intervenções divinas, a traição é um pecado capital que só traz consequências drásticas. Segundo a Bíblia, a traição levou Jesus à Cruz: “Jesus sentiu a dor de ser traído. Ele jantava com um amigo que lhe trairia (Mc14.18)”.

A reintegração de pessoas com hanseníase MARIANA AMARANTE PENÉLOPE MARQUES 1º PERÍODO

A hanseníase é uma doença infecciosa, causada pelo bacilo de Hansen, o mycobacterium leprae, que tem evolução crônica e acomete principalmente a pele e os nervos das extremidades do corpo, também podendo afetar outros órgãos, como o fígado. O Brasil é o segundo país do mundo em número de casos da doença, registrando cerca de 34 mil novos casos por ano, perdendo apenas para a Índia, que registrou 127 mil casos, mas por ter uma população cinco vezes maior que a nossa, teria uma prevalência menor da enfermidade. Em Minas Gerais, aproximadamente 8 a cada 100 mil habitantes contraem hanseníase anualmente. Portadores da hanseníase vêm sofrendo preconceito ao longo de muitos séculos no mundo. Até a década de 80 existiam as chamadas internações compulsórias, onde os doentes e seus familiares eram reclusos, para que fossem tra-

tados e afim de evitar uma possível contaminação em outras pessoas. Isso gerou inúmeras consequências tanto para os acometidos pela hanseníase quanto para os filhos e familiares dessas pessoas, já que essa reclusão gerava dificuldade de convivência familiar, falta de oportunidades de estudos, danos físicos e psicológicos, sendo o principal deles o isolamento dessas pessoas do convívio social. O Movimento de Reintegração das pessoas atingidas pela Hanseníase (Morhan) é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 6 de junho de 1981, por Francisco Augusto de Vieira Nunes, que surgiu no intuito de fazer a interlocução entre os portadores da doença e a sociedade, reestabelecendo o convívio entre ambos. As atividades da instituição são voltadas para a eliminação da Hanseníase, através de atividades de conscientização e foco na construção de políticas públicas eficazes para a população. De acordo com Thiago Pereira da Silva Flores, coordenador estadual do

Morhan em Minas Gerais e representante da instituição no Conselho Nacional da Criança e do Adolescente, o primeiro passo para que os objetivos sejam alcançados é a aceitação e a perda do medo do preconceito dos próprios pacientes. Passada essa fase de aceitação acontecem as reuniões mensais, cursos de técnica em enfermagem, grupos teatrais que fazem trabalho educativo e palestras de conscientização, onde os próprios enfermos são levados para darem seus depoimentos pessoais. Além de sua sede nacional no Rio de Janeiro, o Morhan conta com vários núcleos estaduais, como a sede de correspondência em Belo Horizonte e também está presente em cidades como Betim, Três Corações, Uberlândia, dentre outras. São mais de 100 núcleos em todo o país. O Morhan também conta com grandes parcerias, com a APPAI e Unimed Brasil, que são parceiras nas atividades de educação e conscientização. Além da instituição Nippon Foundation, que financia o Telehansen, central de

atendimento sobre a hanseníase, auxiliando pacientes que tem receio de tirar dúvidas com profissionais de saúde mais próximos. Uma das realizações mais significativas da instituição foi a aprovação pelo presidente Lula, em 2007, do projeto que indeniza os pacientes que ficaram tanto tempo reclusos. O Morhan levanta uma tese de que o governo brasileiro tem uma dívida também com os familiares desses pacientes e busca reparar isso. No dia 14 de agosto foi lançada em Brasília uma frente nacional de combate à hanseníase e reconhecimento dessa indenização, quando a instituição conseguiu a promessa do governo federal de atender esse projeto. O principal objetivo da instituição atualmente é a erradicação da doença, já que o Brasil, apesar de ser mundialmente reconhecido em relação ao combate da Hanseníase – em grande parte por causa dos trabalhos do Morhan – ainda tem grande incidência da doença. Além de coordenador do Morhan em Minas Gerais,

Thiago Flores é morador da Colônia Santa Izabel, localizada em Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O local foi a primeira e maior colônia destinada ao isolamento de pessoas diagnosticadas com hanseníase em Minas Gerais, sua função era manter os doentes isolados do meio social com regimes compulsórios. Os pais de Thiago são ex-portadores da doença, e, segundo ele, foi o que o motivou a levar seus conhecimentos sobre o Morhan para a faculdade. Diante de suas experiências com o cotidiano da doença, Thiago, que foi aluno do curso de Direito da PUC Minas, fez uma pesquisa junto com Pautília de Oliveira, também aluna de Psicologia da PUC Minas, intitulada “Órfãos por Imposição do Estado - Danos Psicossociais causados pela política de segregação da Hanseníase”. A pesquisa relata a vida de filhos de portadores de hanseníase que foram impedidos de conviver com os pais ao nascerem. Ainda pequenas, as crianças eram enviadas para centros pre-

ventórios em cestas chamadas “ninhadas de leprosos”, lugar onde cresceram sem a maioria conhecer sua família biológica. Esta é a realidade de cerca de 40 mil brasileiros por volta de 50 anos espalhados pelo Brasil. A pesquisa foi premiada em diversas ocasiões, como, por exemplo, Menção Honrosa no 19º Seminário de Iniciação Científica da PUC Minas, em 2011, Menção Honrosa na ABRAPSO - Associação Brasileira de Psicologia Social no mesmo ano e, em Dezembro de 2012, ganhou o CONIC - Congresso Nacional de Iniciação Científica, considerado o maior congresso de iniciação científica do Brasil. Segundo Thiago, o preconceito está longe de acabar e ainda há muito que ser trabalhado, mas os objetivos conquistados até hoje trazem cada vez mais esperança para os pacientes e para aqueles que lutam ao lado deles em busca de seu reconhecimento e espaço na sociedade.


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Cidadania

Ong Orquestra Escola Criarte Crianças e jovens de comunidades carentes de Belo Horizonte têm a oportunidade de conhecer a música clássica por meio das aulas ministradas pela ONG Orquestra Escola Criarte PEDRO ALBUQUERQUE 6º PERÍODO

Fundada no ano de 2002 pelo professor de música e educação artística José Alarico Gonçalves, a Ong Orquestra Escola Criarte, é uma organização sem fins lucrativos localizada no Bairro Jardim Europa, em Venda Nova, que atende atualmente cerca de 130 alunos. São crianças, adolescentes, jovens e adultos da Região Norte de Belo Horizonte, que têm aulas de iniciação, teoria e prática musical, aprendendo a tocar instrumentos de base para uma orquestra sinfônica (como violino, violoncelo, contrabaixo, flauta transversa) além de violão popular e teclado. A entidade também oferece oficinas de artesanato, pintura em tela, culinária básica e atendimento psicológico para toda a comunidade. “Ser feliz e fazer o que gosta”. Com esse lema, quase um mantra, o professor José Alarico é responsável por um dos raros trabalhos sociais na área de música erudita em comunidades carentes na capital mineira com carga horária diária -aulas de segunda à sábado- e quase sem apoio financeiro. Alarico é fundador e presidente da Ong, onde atua como professor e regente da orquestra, dividindo seu tempo simultaneamente também como professor e regente de coral de pelo menos quatro igrejas. Tudo o que ele recebe, reinveste no projeto. Todas as aulas da Ong são ministradas por pro-

Professor de música e educação artística José Alarico Gonçalves ensina crianças e adolescentes a tocar instrumentos musicais

fessores e monitores voluntários, oito no total, contando com o próprio Alarico. “Quando um professor precisa se ausentar, eu pego o violino ou o saxofone e assumo a aula. Em uma analogia com o futebol, eu bato o escanteio e cabeceio pro gol”, brinca. Os professores e a secretária da organização recebem uma ajuda de custo. Por ser uma organização sem fins lucrativos, não é permitida a cobrança de matrícula nem qualquer tipo de taxa, mas alguns alunos e pais colaboram voluntariamente com valores simbólicos semestralmente para compra de material e custos gerais de manu-

tenção. “As pessoas têm a ideia de que uma Ong tem a obrigação de prestar serviços gratuitos, mas é preciso lembrar que há custos mínimos para mantê-la aberta, pagar material, luz, telefone, aluguel do espaço, funcionários. Nós pedimos uma ajuda para quem pode colaborar, não é de forma alguma um pré requisito, cobrança ou exigência para frequentar as aulas”, explica o professor. Alarico utiliza um imóvel alugado onde durante a semana são ministradas as aulas prático-teóricas dos instrumentos de corda e realiza ensaios com núcleos da orquestra às sextas feiras. Em uma extensão de sua

própria casa, que fica a cerca de 100 metros da sede da Ong, um grande cômodo serve de sala de aula para os estudantes de intrumentos de sopro (trumpete, saxofone e clarinete). E, finalmente, praticamente ao lado de sua casa, uma igreja, onde o padre cede o espaço para, aos sábados, acontecerem os grandes ensaios com a orquestra. Os instrumentos foram quase todos comprados por Alarico. A compra dos instrumentos, aliás, foi conseguida excepcionalmente em 2010, quando houve apoio via lei de incentivo municipal. Ele conta que já conseguiu inscrever projetos pela Lei Rouanet, que visa incentivar a cultura, por meio

Raquel Gontijo

de financiamento baseado em renúncia fiscal, diversas vezes, mas não consegue captar recursos junto à iniciativa privada. “Infelizmente ninguém quer patrocinar uma Ong em uma comunidade carente que busca formar cidadãos por intermédio do estudo da música erudita. Acham que não terão retorno”, lamenta. EXPERIÊNCIAS O reconhecimento do trabalho realizado por Alarico atravessa as fronteiras de Venda Nova e une famílias. Como conta o pianista e ex- aluno, agora professor de teclado da escola, John Lenon Miranda: “Temos alunos que vem de Ibirité e até Sabará. Por conta da

distância, eles têm aulas somente aos sábados, mas são dedicados. Temos também pais e filhos que fazem aulas juntos, o que é uma maneira de um incentivar ao outro”. Isabela Nascimento, de 11 anos, tinha asma e era muito tímida. Começou como os demais alunos iniciantes pelo estudo da flauta doce e do violão popular. “Em poucos meses a asma regrediu e o comportamento da Isabela mudou, ela ficou mais sociável, mais organizada, mais disciplinada com tudo no dia a dia”, comenta a mãe, Mônica Pereira. Isabela tomou gosto pela música e hoje se dedica ao violino na orquestra.

Música leva disciplina a jovens e adolescentes Jardim Europa ou Europa, onde está localizada a Ong de José Alarico Gonçalves, é um dos 41 bairros que fazem parte da Região Administrativa de Venda Nova. De acordo com o censo demográfico do

IBGE em 2000, Jardim Europa possuía 27.035 habitantes. Apesar do crescimento acelerado de Venda Nova, com inúmeros bancos, centros médicos e uma atividade comercial extremamente desenvolvi-

da, a região, assim como inúmeras periferias das grandes metrópoles, sofre com o avanço da criminalidade e o tráfico de drogas. Um desafio ainda maior para o professor Alarico. O trabalho realiza-

Aulas de música retiram crianças das ruas em regiões periféricas de BH

Raquel Gontijo

do por ele, embora não tenha respaldo e suporte dos governos municipal e estadual, encontra na própria comunidade respeito e reconhecimento, ao mesmo tempo que motiva sua continuidade. As crianças e jovens utilizam o tempo ocioso e, ao invés de estarem nas ruas, sendo potencialmente estatísticas da violência urbana e tráfico de drogas de áreas da periferia de Belo Horizonte, tem oportunidade de se tornarem cidadãos por intermédio da música. “Não penso e nunca pensei em retorno financeiro nesses 12 anos de projeto. O que mais gratifica é ver essas crianças fora das ruas, dos perigos de ficar sem fazer nada por aí, na ociosidade, da violência, das drogas. E esse contato com a música leva dis-

ciplina para toda a vida, tornando-os cidadãos mais responsáveis”, observa. Responsabilidade essa que já tem um de seus primeiros testes quando os alunos têm permissão de levar os instrumentos para casa. “Alguns, infelizmente, não estão acostumados a ter esse cuidado com um instrumento tão delicado como o violino, a viola, mas a maioria, com o tempo, aprende. É importante que eles tenham essa responsabilidade até para estudar em casa e se familiarizar com o instrumento. Serve para a vida”, afirma. O perfil dos alunos compreende crianças a partir dos seis anos até adultos e idosos, que embora não estejam no que se considera faixa de pobreza extrema, não teriam condições de pagar um curso vol-

tado ao estudo da música clássica e erudita (a mensalidade da grande maioria dos cursos em Belo Horizonte gira em torno dos R$ 200 a R$250, fora instrumento e material.) Não bastassem todas as dificuldades, o regente explica como trazer o aluno para o universo da música erudita em um mundo em que a programação de rádio e televisão é dominada por gêneros como o sertanejo e o funk: “Você até vê garotos ouvindo funk nos fones de ouvido quando chegam, mas quando entram aqui sabem que é diferente. Quando tem o contato com um instrumento como o violino, o cello, se encantam e percebem que não estão tão distantes assim. Falta acesso, conhecimento de outras alternativas.”


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Esporte

A tradição do futebol amador Mesmo com a diminuição dos campos de futebol de várzea, na capital, o Bairro Concórdia, localizado na Região Nordeste, vem mantendo a tradição na pratica do futebol amador desde 1977 FÁBIO CÉSAR MARCELINO 2º PERÍODO

O Bairro Concórdia, localizado na Região Nordeste de Belo Horizonte, mantém a tradição de ser um local que favorece a prática do futebol amador. Mesmo com a diminuição dos campos de futebol de várzea, na capital, o bairro proporciona lazer e entretenimento para os seus moradores. As ruas e praças, os terrenos baldios e os campos de futebol localizados no bairro foram terrenos férteis para a concepção de amizades, festas e boas histórias. Hoje, as partidas de futebol, mais conhecidas como “pelada”, são disputas nos poucos campos de futebol de várzea que restaram e nas quadras poliesportivas da região. Em 1977, um grupo de jovens amigos, depois de uma pelada realizada na Rua Purús - esquina com a Praça da Bandeira - no Bairro Concórdia, resolveu criar uma partida de futebol de fim de ano, que fosse baseada em uma rivalidade que os garotos tinham entre si: a dança. Uma parte do grupo era adepta da Black Music e se denominavam-se “Os Blaks”. Gostavam de soul e admiravam o ícone do estilo, James Brown. A outra parte do grupo era formada por adeptos da Disco Music, “Os Cocotas”, esse era o apelido dado aos antigos frequentadores de discoteca, e seu maior representante era a banda americana, Bee Gees. Mas o grande ídolo dos “Cocotas” era John Travolta. O ator americano foi protagonista de fil-

mes como “Os embalos de sábado à noite” e o “Nos tempos da brilhantina”. A rivalidade entre os garotos era para saber quem dançava melhor. Logo, aqueles meninos transportaram para os campos de futebol a rivalidade existente nas pistas de dança. Participante da festa, desde a sua concepção em 1977, o ourives, Marcos Valério Lorenzini, 53 anos, conta como começou o duelo. “Ficou resolvido entre as partes, que a pelada ia se chamar Preto contra Branco”. Inicialmente, eram jogadas duas partidas ao ano: uma no dia 24 de dezembro e, a revanche, no dia 30 de dezembro”, lembra. Os jogos eram disputados no campo do Pitangui Esporte Clube, no Bairro Lagoinha, vizinho ao Concórdia. As peladas eram jogadas no período da noite. Por este motivo, os jogos eram realizados naquele local, pois, foi o primeiro campo de futebol amador a possuir refletores, em Belo Horizonte. Desde 2004, atendendo ao pedido dos familiares, ficou decidido, que seria somente uma partida, no mesmo campo do Pitangui, jogada no período da manhã, em um domingo antes do natal. Segundo Valério Lorenzini, o time dos “Pretos” venceram mais partidas. Após a pelada é realizada uma festa de confraternização entre os jogadores, seus familiares, amigos e populares do bairro. O evento é basicamente custeado entre os participantes e, em alguns anos, contou com o patrocínio de alguns comerciantes da região. Participam da festa,

Jovens se reunem para uma partida de futebol no Bairro Concórdia

cerca de 44 jogadores, muitos fundadores da pelada ainda participam da partida. No entanto, para que a festa perdure, também são aceitos novos jogadores. “Vai ter uma hora, que muitos que fundaram a pelada, não poderão participar, inclusive eu”, brinca Valério. Próximo à Praça da Bandeira, na mesma Rua Purús, três amigos se encontram no Bar do João em algumas sextas-feiras para tomar cerveja gelada, comer tropeiro e buscar na gaveta da memória recordações de um passado que está bem vivo. E remontam histórias da década de 1960. O futebol amador é o assunto predominante. Os amigos lembram saudosos da matinê dançante e das tardes de domingo. Ao som do bolero, La Paloma, cantado pelo Trio Irakitan, comentavam as atuações que ambos tiveram na parte da manhã no campo do Galena. “Esperávamos ansiosamente o fim de semana para jogarmos futebol, e a tarde ir para a matinê”, conta um dos

amigos, o ourives, Kleber Luiz Lorenzini, 67 anos. Os amigos lamentam o número reduzido de campos de futebol amador na capital. No bar do João existe um quadro que ilustra bem a lamentação dos companheiros: o quadro é uma pintura do antigo campo do Galena. O campo deu lugar ao Túnel da Lagoinha, na capital. Morador do Bairro Concórdia desde que nasceu o serralheiro, João Moreira dos Santos Filho, 69 anos, afirma que eles jogavam até três partidas no domingo. João atuava no gol. “Eu era arqueiro. Hoje, eu sou goleiro”, brinca, fazendo referência, à quantidade de goles no copo de cerveja. João revela uma curiosidade a respeito do futebol: “A bola usada naquela época chamava-se G18 – bola de couro duro que possuía 18 gomos e era muito pesada. Ela possuía um bico para encher, quando esta esvaziava. E aquele bico ficava para fora da circunferência da bola. Então, os jogadores

André Correia

de futebol utilizam gorros na cabeça para amenizar o impacto do bico durante o cabeceio”, lembrou. O secretário do Clube Atlético Mineiro, Rogério Eustáquio Furtado da Costa, 65 anos, enumerou os diversos clubes de futebol que os três jogaram juntos: Náutico, Itaquera, México, Concórdia, Botafoguinho, Sesi, Galena e Bandeira. Todos do Bairro Concórdia. No entanto, todas as equipes citadas, hoje, se encontram extintas. O último time citado, o Bandeira, foi idealizado por um grupo de amigos do bairro, e, ambos os três estavam presentes. O Bandeira durou 15 anos, de 1962 a 1977. O clube não disputou competições importantes, resumia-se a jogos amistosos e torneios na região do bairro. Mas, o clube realizou uma partida, que qualquer jogador gostaria de jogar: o Bandeira enfrentou o time juvenil do Clube Atlético Mineiro. O time da Concórdia venceu por 1 a 0, gol de Concreti. Essa partida foi realizada no campo

do Inconfidência, do Bairro Concórdia, entre 1967 e 1968, os companheiros não recordam bem da data. Rogério Eustáquio é funcionário do Galo há mais de 50 anos, e foi ele o responsável por esse jogo amistoso. Ele destaca o vínculo de amizade que os três possuem, devido à convivência proporcionada pelo esporte. “O esporte acrescenta muito na vida da pessoa. Auxilia a escolher as amizades que você faz e conservá-las”, diz. Atualmente os três não possuem nenhuma ligação com o futebol de várzea, e sequer assistem aos jogos. Eles alegam que o futebol jogado hoje na várzea perdeu seu brilho. Para eles, o futebol de antigamente era viril, porém muito mais técnico. A família de Kleber Lorenzini sempre esteve envolvida com futebol. Além de seu irmão, Marcos Valério Lorenzini, um dos idealizadores da pelada “Preto contra Branco”, seu pai, Guido Leopoldo Lorenzini, atuou no Palestra Itália, atual Cruzeiro Esporte Clube, nos anos 30, como afirma Kleber. Segundo ele, o seu pai foi técnico do extinto Fluminense, da Lagoinha. “Meu pai revelou para o futebol profissional, Luiz de Matos Luchesi, o ex-goleiro Mussula, que atuou nos clubes profissionais do Atlético, Cruzeiro, América e Vila Nova entre os anos de 1955 a 1968”, orgulha-se.

Inconfidência Esporte Clube: celeiro de craques João Moreira e Kleber Lorenzini atuaram no Inconfidência Esporte Clube, do bairro Concórdia. A história do bairro se confunde com a história do clube. Fundado em 11 de julho de 1944, é um dos clubes mais antigos, não só do bairro, mas também de Belo Horizonte, em atividade. Por gostarem do clube profissional, Botafogo de Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro, seus fundadores decidiram que o time teria o mesmo escudo do time carioca. O aposentado Márcio Antônio Coelho, 59 anos, está no clube há mais de 45 anos. Atuou pelo infantil do clube entre 1968 e 1969, jogando nas posições de lateral direito e volante. Foi técnico das divisões de base do clube e, atualmente, é diretor de esportes do Inconfidência. “Parei de jogar por causa da idade. Naquele tempo no time não havia o júnior. Eu era (da categoria) infantil, tinha 16 anos e, no próximo ano, teria que jogar com os jogadores com

20 anos. Eles eram muito mais fortes”, declarou. A equipe já revelou diversos jogadores para várzea e alguns para o futebol profissional. Conhecido no bairro como Grapete, Márcio Antônio afirma que João Soares de Almeida Filho, o Joãozinho, ponta-esquerda do Cruzeiro, de 1973 a 1986, teve uma passagem pelo Inconfidência antes seguir para o time celeste. A equipe infantil do clube jogou contra as equipes infantis do Atlético e América. O grande clássico do bairro era realizado entre o extinto Vila Concórdia e o Inconfidência. Atualmente, o clássico da região é realizado com o emergente Roma, também da Concórdia. Decisões de campeonato, bons e variados jogos entre o time e a Portuguesa, do Bairro Providência, da mesma região, fizeram desse confronto um clássico imperdível. O time do Inconfidência é bastante tradicional na várzea de Belo Hori-

zonte. No entanto, seus principais títulos foram conquistados nos últimos 3 anos, sendo que a equipe é tri campeão da Copa Kaiser (2010/2011/2012), bi -campeão da Copa Centenária de Belo Horizonte (2010/2011) e campeão geral da Copa Itatiaia (2012). Em 2011, o clube foi vice-campeão geral da Copa Itatiaia, perdendo a final para o Frigoarnaldo, de Contagem. O diretor de futebol, Grapete, lamentou a perda daquele campeonato. “Ganhamos em 2012. Aquela conquista nos rendeu R$ 15 mil. No ano anterior, perdemos o campeonato para o Frigoarnaldo. O ganhador, naquela ocasião, levaria uma Kombi novinha para casa. Falo com sinceridade, aquele prêmio seria muito mais útil, pois não possuímos veículo próprio”, lamenta. Todo ano, o time participa de algum campeonato. “Nós temos uma planilha (de custo) com os valores que

iremos gastar ao longo do ano. Se não tivermos verba para bancar, nós não participamos”, afirma Grapete. O diretor de esporte afirma que o clube gasta cerca de R$ 800 por partida. São gastos com alimentação, uniforme de jogo, transporte para os jogadores e a torcida, algumas taxas e a “resenha”. Para pagar esta conta, o time recebe apoio dos comerciantes da região. Aluga o seu campo para outros times de bairros vizinhos e, muita das vezes, os diretores colocam dinheiro do próprio bolso para ajudar com as finanças do clube. “Domingo a gente paga o almoço ou um lanche, por que muitos jogadores não vêm direto de suas casas. Assim, eles alegam que se forem para casa, a mulher não os deixam retornar”, brinca Grapete. A resenha, segundo o diretor, é aquela conversa descompromissada, após as partidas. Esses bate-papos costumam ser regrados a muita cerveja e petiscos. “A

resenha aproxima os jogadores. Faz com que eles criem vínculos de amizade uns com os outros. Sem essa prática, uma equipe pode até morrer”, afirma Grapete. PROJETOS SOCIAIS O clube do Bairro Concórdia planeja retornar com a categoria de base, pois eles garantem que esta é a melhor forma de se fazer bons times. A diretoria acredita que agindo assim faz com que os garotos criem identidade com o clube. Mas o clube não quer formar apenas jogadores de futebol. Eles querem formar cidadãos. Na sede da equipe, a diretoria promove cursos profissionalizantes para as crianças carentes do bairro. O objetivo é construir uma biblioteca. Segundo Grapete, existe espaço para novos empreendimentos para beneficiar a comunidade, porém, faltam recursos financeiros. A sede do clube fica no próprio campo, na Rua Jundiaí, 289, Vila Concórdia.

A área fora doada pela prefeitura de Belo Horizonte, em 5 de novembro de 1946. Grapete afirma que o terreno havia sido concedido, primeiramente, para o Sete de Setembro Futebol Clube, ex-proprietário do Estádio Raimundo Sampaio, o Independência, hoje propriedade do América Futebol Clube. Mas a prefeitura achou melhor conceder para o extinto Sete de Setembro a área que hoje se encontra o estádio do Coelho, no bairro Horto, região oeste da capital. Existe um projeto na Prefeitura de Belo Horizonte para gramar o campo do Inconfidência. No entanto, Grapete enfatiza que antes deverá ser realizado um trabalho de conscientização com a comunidade. Para ele, o Inconfidência Esporte Clube é patrimônio do bairro Concórdia. E todos que ali residem devem zelar pelo bem que pertencem a todos.


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Entrevista

TUTTI MARAVILHA

“ Minha vida é um rádio aberto “ JAIANE SOUZA MATEUS TEIXEIRA VIVIANE SÁ 3º E 4º PERÍODOS

Ailton José Machado, 63 anos, jornalista e produtor musical. Tutti Maravilha, como ficou conhecido, é formado em Jornalismo pela PUC Minas e começou sua carreira na televisão aos 11 anos apresentando o programa “Agarre o que Puder” na extinta TV Itacolomi. “Mas eu sempre pensei em fazer comunicação. Prestei vestibular pra medicina e não progredi, fiz pra jornalismo e passei. Meus familiares não sabiam se davam parabéns ou ficavam infelizes, porque sempre teve a pressão por seguir medicina ou engenharia”, lembra. Nos anos 70, trabalhou como produtor musical e trouxe para a capital mineira grandes shows com Caetano Veloso, Maria Betânia e Elis Regina. Com a Pimentina, ele teve relação de grande amizade, chegando a morar na casa da cantora durante um ano e três meses. “A única pessoa que ela pôs para morar na casa dela fui eu, sem ser parente, mas a gente virou parente”, conta, orgulhoso. Com Elis, aprendeu muitas coisas, mas há uma em especial, ele revela ao MARCO: “Ela me ensinou ouvir a música, e ela ouvia de tudo”. Tutti contou ainda, na entrevista concedida no dia do aniversário da Rádio Inconfidência, na qual apresenta o Bazar Maravilha há 26 anos,ter feito o seu programa diário durante o tratamento de quimioterapia. “Sem ninguém saber”, ressalta Tutti, que recebeu a equipe do MARCO com o seu jeito simples, bem humorado e brincalhão.

Qual a importância da PUC Minas na sua formação?

Foi total porque eu parei de estudar por um longo período, parei em 1973 e só fui voltar em 1980. Quando eu voltei, foi bom porque cheguei na PUC e tinha gente nova e como eu já tinha uma experiência enorme de produção, comecei a fazer coisas novas dentro da escola e ajudar os meninos. Montei a discoteca do rádio, eles possuíam o estúdio,mas não tinham disco para tocar e simular programas. Então, eu fui à loja de um amigo e propus uma promoção, pedi a ele 10 LPs e fiz uma campanha dentro da PUC. A pessoa levava um disco arranhado e ganhava um cartão com um número para sorteio, se fosse sorteado o número da pessoa, ia à loja e escolhia os dez discos. Foi assim que montamos a discoteca. Vendi pão integral nos intervalos para poder comprar apostila. E foi ótimo ter feito PUC. Meu pai era muito amigo de um dos diretores dos Diários Associados e eu acabei conseguindo um estágio no segundo período, comecei a escrever uma coluna sobre cinema no Diário da Tarde e eu não entendia nada. E por aí foi.

Por que Tutti Maravilha?

O Tutti é apelido de infância, vem desde criança, e o Maravilha veio da época que eu era produtor de shows. Aconteceu um festival no Maracanãzinho e Maria Alcina defendeu uma música chamada “Fio Maravilha” e tem um refrão que fala “fio maravilha faz mais um pra gente ver” (história de um jogador de futebol do Flamengo). Aí, o jornalista Edmar Pereira escreveu uma matéria com o título “Tutti Maravilha Traz Mais Um Pra Gente Ver”, pegou o refrão da música e inventou o título. Aí virei o Tutti Maravilha.

Como foi a fase em que foi responsável por grandes shows de música brasileira?

Na época que eu fazia estágio no Diário da Tarde, fiz uma matéria com Guarabira e ficamos amigos. Um empresário, amigo deles, me ligou dizendo que estava trazendo o Marcos Vale, que fazia muito sucesso na época e queria que eu fizesse produção e divulgação, e eu não sabia fazer nada disso. Ele me ajudou por telefone, me mandou um material. Eu fazia tudo isso paralelo à escola e ao estágio no jornal. Depois fiz Maria Betânia, Caetano Veloso. Foi uma fase bacanérrima e ao mesmo tempo, muito trabalhosa, porque foi uma coisa de missão e de acreditar que eu estava fazendo uma coisa bacana. Não existia lei de incentivo à cultura. Eu conseguia desconto no hotel, na alimentação e no transporte, fazia cola de farinha de trigo e à noite chamava os amigos e íamos colocando os cartazes nos muros, era uma batalha.

Você também já trabalhou em televisão. Como foi?

Eu comecei na TV Itacolomi, depois Rede Minas, quando ela foi montada, e fiquei uns três anos. Em seguida, fui para a Bandeirantes fazer ‘Folhetim’, que era um pro-

grama à tarde, maravilhoso, e fiquei mais três anos. Depois fiz o primeiro programa de tv a cabo ao vivo, fiz jornalismo na Globo e a mais recente foi a TV Horizonte onde fiz o ‘Retratos’ durante três anos e meio. Gosto muito de fazer televisão, só não gosto de fazer direto porque cansa muito e queima seu nome, as pessoas pensam que você é aparecido,. Então, prefiro TV de vez em quando.

Como começou no rádio?

André Correia

na vida. Eu já fiz esse programa fazendo quimioterapia, sem ninguém saber. Chegava aqui completamente arrasado, indisposto, vomitando e fazia o programa. Na hora que acendia a luz: “No ar”, eu mudava, é uma coisa engraçada. A comunicação me faz muito bem, eu me sinto bem em poder comunicar, poder ajudar as pessoas a descobrir o lado bom da vida, da música. Eu adoro ajudar o povo a acordar para a vida.

Como é a escolha do tema dos programas das sextas feiras?

Eu viro para o Flávio, meu produtor, e falo “Quem vai ser sexta?”, nós conversamos. Para participar a banda, tem que ter uma história grande, mais de três discos, para render o programa todo. Vai furando também, cai pauta. Fulano liga: ‘ meu voo mudou, não vou chegar antes’. Então tem que criar outro rapidamente. Às vezes cai do céu, às vezes está sem pensar desde quarta-feira, toca o telefone. Essas coisas mais loucas, nós damos sorte. Milton Nascimento ligou, achei que era uma entrevista de 10 minutos, ele falou que queria fazer o programa inteirinho, fez de 2 às 4 horas. Como é um programa ao vivo, eu gosto disso. De não ter o combinado, eu acho que a gente dá audiência por isso. Não é nada lido, certinho. Assim que rola, acontece, foi ao ar. Que Deus ajude e seja bom. Se não for bom também.

O rádio é uma paixão que por acaso caiu na minha vida. O ex-jogador Reinaldo (ídolo do Atlético-MG nos anos 70 e 80) era amigo da família e, um dia no almoço ele disse que tinha um emprego pra mim no rádio. Eu não tinha voz de rádio, mas mesmo assim ele me levou até a Rádio Capital. Ele estava contundido e foi convidado para comentar um jogo do Galo, mas disse que No seu programa só iria se a rádio desse emprego para um amigo tem um quadro que dele, que no caso era eu. você toca uma múSinto-me bem em Acabou que deu super sica de alguém que ajudar as pessoas certo e começou a miesteja começando. a descobrir o lado nha história no rádio. O Como é? diretor disse que eu seria bom da vida. Adoro Lançou o disco, eu vou too Lorde Garfo, um persoajudar o povo a cando as faixas. Eu quero nagem que existia na rede que o artista venha aqui no acordar para a vida Capital e que entrava no estúdio quando está lançanar às seis horas da tarde do. Antes de lançar, se ele e tinha a duração de três gravou só um demo, a gente minutos. O quadro tinha tem um tapete mágico. Eu faço por teleo objetivo de fazer propagandas criatifone para ele falar que disco é aquele. O vas divulgando os restaurantes. Depois demo é a preparação do disco cheio que de cinco meses fazendo isso, o diretor está fazendo. Quando o disco está pronto, da rádio disse que, na próxima semaeu quero o artista aqui no estúdio. A Inna, eu dividiria microfone com Oliveira confidência é uma rádio que tem um espaRangel fazendo um programa de 13h ço muito grande para você mostrar o novo às 17h. Cara, deu certo! Estouramos artista. Não é igual às outras emissoras que na audiência. Mandaram Oliveira Ransão comerciais e têm cinco minutos para o gel, embora e me deixaram fazer o procara ir lá, falar que a mãe dele foi cantora grama sozinho. Foi uma escola. Nisso do coral não sei o que, que tem uma tatuaClaudinei Albertini estava montando gem na perna. Não tem tempo para ele faa Brasileiríssima (Rádio Inconfidência lar isso tudo. Vai lá, fala cinco minutos e vai FM) e me chamou pra fazer parte, em embora. Aqui não, temos um espaço maior. 1983. Fiquei quatro anos, mudou o governo e mandaram eu e mais 52 embora, incluindo Fernando Brant, GonzaComo vê o rádio em tempos de guinha, todo mundo. Eu voltei porque internet? Perde espaço? Celina Albano me ligou dizendo que tiA história que o rádio está morrendo tem nha virado secretária de cultura e estou anos. Está sempre no CTI, alguém está maaqui até hoje. tando ele. Desde quando surgiu o cinema

O que a rádio representa em sua vida?

É tudo, minha vida é um rádio aberto. Eu falo isso porque é aqui que eu coloco tudo. As pessoas acham que eu só trabalho às duas horas. Não! Já acordo pensando no programa do dia, eu preparo ele na noite anterior. A programação musical, sou eu quem faço. Eu estou tomando banho, estou pensando: ‘Vou conversar com a Elza Soares, então vou perguntar isso’. O tempo inteiro eu fico pensando, minha vida é o rádio. Engraçado, graças a Deus, eu chego aqui chateado, todo mundo tem os seus problemas

falado, com áudio, eles começaram a falar isso. Depois, veio a televisão, depois, televisão a cores. Todos os que trabalhavam em rádio foram fazer televisão, como a Hebe Camargo, saiu do rádio para fazer televisão. Falaram que o rádio ia acabar, o que aconteceu? O rádio ficou cada vez mais forte. Aí vem a internet e falaram ‘acabou mesmo’. Ao contrário, ouve-se rádio no mundo inteiro pela internet. Hoje, nós temos audiência na internet. Normalmente brasileiros que vivem fora do Brasil entram lá no ‘São Google’ e escrevem: ‘quero ouvir rádio que toca música brasileira’. Sai a lista, são pouquíssimas nesse país que tem esse perfil e cai aqui na Inconfidência e passa a ser ouvinte.Temos muitos ouvintes brasileiros

que moram em Tóquio e mandam e-mail: ‘adorei essa música!Qual disco está essa música?’ É genial, então o rádio está cada dia mais forte. Hoje, o rádio é mais forte e tem mais audiência. E é um companheiro, quem ouve rádio sabe disso. Você vê porteiros e vigias trabalhando na madrugada, eles têm sempre um radinho.

E o contato com o público?

É a melhor parte! É impressionante! Como eu fiz muito televisão, as pessoas conhecem minha cara. Quando não conhecem minha cara, eu chego ao lugar e falo assim: ‘escuta, você tem o livro tal?’, alguém do lado: ‘ você é o Tutti?’ É a voz, não tem jeito. ‘Às vezes eu brinco, eu sou primo dele. ’ Hoje em dia tirar foto com o celular é direto, é um prazer! Primeiro, eu faço um programa que é numa rádio específica que tem um perfil diferente. Quando eles falam ‘qual é a sua audiência?’. Eu não posso preocupar com audiência, porque eu não tenho concorrente. Não existe outra rádio que só toca musica brasileira. As outras rádios tocam Madonna, Michael Jackson, Beatles... Mas as agências olham isso para colocar anúncio. Eu tenho uma audiência de crianças de quatro anos à senhoras de 90. O público que eu tenho é esse. Eu digo que são ouvintes de ‘ouvido de fino trato’. Eu não toco música de baixaria.

Como era sua relação com a Elis Regina?

Era muito legal, cara! Ela foi minha guru, uma pessoa irmãzona. A gente se conheceu numa hora que foi bom para ela e bom para mim. Quando eu digo isso, vai entender. Foi o seguinte: foi em 1972, ela estava largando o empresário, ela estava montando a firma dela para empresariar ela mesma, estava começando uma relação nova com o pianista dela, compadre César, mudando a vida toda. Ela disse assim: “Tutti, eu tava mudando tudo.” Como diz a Biba, cunhada, foi casada com o irmão dela, sem ser a Rosângela e o Rogério, irmão dela: uma sobrinha dela que uma vez foi morar com a gente, a única pessoa que ela pôs para morar na casa dela fui eu, sem ser parente, mas a gente virou parente.

Você tem algum tipo de contato com o João Marcelo, Maria Rita?

Pouquíssimo. Maria, quando começou a carreira, a gente teve muito contato. Hoje não, a produção dela, sabe, meio que blindou. Você não consegue falar com ela. O João... outro dia falei com ele, foi até no ar e eu e João já choramos juntos no telefone, no ar... Pedro é mais acessível, falo com ele de vez em quando, mas cada um foi para sua carreira... Era ela! E o compadre, César Camargo Mariano, foi uma pessoa também que até hoje. Ele teve aqui outro dia, só que ele mora nos Estados Unidos... Então esse contato é por e-mail. César é uma pessoa que entendo muito ele, me saca muito também. A gente é muito amiguinho.

Você tem algum projeto para o futuro?

Não sou de projeto, porque minha vida, eu descobri que eu nunca fiz projeto, eu estou no rádio sem projetar. Eu virei produtor de show sem pensar nisso, né?! Eu fui fazer cinema com Sônia Braga sem pensar que um dia eu estaria fazendo cinema com ela. As coisas, na minha vida, vão aparecendo, nem férias eu consigo projetar. Meu sonho de futuro é ter minha casa. Eu vivo de aluguel e eu quero, um dia, ter a minha, mas é difícil, cada dia mais difícil, porque radialista, o salário..., né?! (risos)


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