FRENTISTA PERSONALIZA KOMBI ABANDONADA EM AVENIDA DE BH E SEUS DESENHOS ATRAEM ATENÇÃO DAS PESSOAS QUE PASSAM PELO LOCAL PÁGINA 2
AÇÃO VOLUNTÁRIA REALIZADA NA CRECHE BOM PASTOR, NO BAIRRO DOM CABRAL, MOBILIZA FUNCIONÁRIOS E BENEFICIA COMUNIDADE PÁGINA 3
Ana Letícia Diniz
Sérgio Eduardo Marques
COLEÇÕES DE CAMISAS DE FUTEBOL SINTETIZAM A PAIXÃO DE PESSOAS QUE ENFRENTAM AS MAIS DIVERSAS SITUAÇÕES EM BUSCA DE RARIDADES PÁGINA 16 Gustavo Freitas e Lucas Mendes
marco jornal
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 301 . Outubro de 2013
Desafio vencido: aprender a viver sobre duas rodas LEIA AINDA Meire Pinto, 55 anos (foto ao lado), e Diego Vidal, 31, foram obrigados a aceitar uma ‘nova vida’ depois que um acidente de carro e um tiro, durante um assalto, os deixaram em cadeiras de rodas. Em fases diferentes do processo de adaptação à nova realidade, ambos têm como ponto em comum o tempo que passaram no Hospital Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte, que integra a Rede Sarah, referência no atendimento de pessoas com politraumatismo e problemas locomotores. Ali, eles aprenderam a aceitar a nova condição e realizar sozinhos tarefas do dia a dia, como vestir roupa e tomar banho. “Eu fui num outro mundo e voltei. É uma cacetada da vida”, afirma Meire, referindo-se ao momento em que soube que não mais andaria. Laura de Las Casas
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Clube da Esquina e discos de vinil mostram força nos tempos atuais Personagens que participaram do Clube da Esquina, mas que não são tão associados a ele como outros integrantes, contam as experiências vividas ao longo dos anos de convivência com grandes artistas reconhecidos nacionalmente. A música do Clube é revivida por Paulinho Carvalho (foto) e Fredera, que têm opiniões distintas sobre as situações ocorridas em torno do movimento. A lembrança das músicas daquela época também ressurge na memória de pessoas de todas as idades, que não abrem mão dos vinis e valorizam a forma tradicional de curtir o som em plena era digital. Flora Silberschneider
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Nova rodoviária ainda gera problema A contrução da nova rodoviária de Belo Horizonte no Bairro São Gabriel, Região Nordeste, ainda esbarra na resistência de famílias que moram no local há anos e não chegaram a um acordo financeiro para serem removidas. Em 2010, quando começaram as negociações para a retirada das pessoas, parte da população não aceitou a mudança e fez reivindicações.
Porém, um grande número de moradores já saíram do local, sendo indenizados pela Prefeitura ou recebendo imóveis em outros lugares. No momento, cerca de 40 famílias ainda não fecharam um acordo. A rodoviária já era para estar pronta, mas a expectativa atual é que o terminal seja concluído pouco antes da Copa do Mundo. PÁGINA 5
Jornais impressos têm que manter mercado
Raquel Gontijo
Jornalistas, lideranças sindicais e especialistas ouvidos pelo MARCO avaliam, de forma consensual, que o mercado para jornais, em todo o mundo, passa por uma fase de adaptação. Em Belo Horizonte, a situação não é diferente e há uma busca por novos caminhos. Entre os muitos desafios que se apresentam encontra-se a garantia do investimento publicitário em meio à concorrência promovida por plataformas modernas. O jornalismo impresso procura oferecer alternativas à praticidade e agilidade oferecidas pelas novas mídias viabilizadas pela internet. PÁGINA 11
Museu da PUC será reaberto em dezembro
André Correia
Depois de quase um ano fechado e por causa dos atrasos ocasionados pela necessidade de implantação do novo projeto elétrico do prédio, o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, localizado no Campus Coração Eucarístico, será reaberto ao público em dezembro deste ano. De acordo com Bonifácio José Teixeira, coordenador do Museu, as atividades de pesquisas ali realizadas não foram interrompidas, mas ele admite prejuízo irrecuperável provocado pela impossibilidade de visitas ao longo deste ano. PÁGINA 7
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Comunidade
editorial
Desafios e valores presentes na vida dos cidadãos
Kombi desenhada na Avenida Delta Frentista grafita Kombi abandonada em posto de gasolina e chama a atenção dos transeuntes do bairro
MATEUS TEIXEIRA 3º PERÍODO
A vida é feita de desafios, com o surgimento a cada dia de um novo obstáculo a ser superado. Nesta edição de número 301, o MARCO traz as histórias de Meire Pinto e Diego Vidal, duas pessoas que ficaram paraplégicas. Em momentos diferentes e em situações distintas, ambos tiveram que aprender a viver em uma cadeira de rodas. Mas com determinação, superaram o trauma e reaprenderam a fazer atividades simples do dia a dia como vestir a roupa e tomar banho sozinhos. Determinação é o que nos motiva a levar até nosso leitor histórias como essas em que o jornalismo mostra o lado social e humano dos cidadãos. Depois do histórico número 300, nesta edição mostraremos a ação de voluntários na Creche Bom Pastor do Bairro Dom Cabral, que realizaram a pintura e revitalização do espaço. O resultado final, registrado pelo MARCO, foi gratificante tanto para os voluntários quanto para os beneficiados. A frase pintada no muro de entrada da creche resume o sentimento: “Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a”. Prova disso é que o exemplo também ensina e as crianças aprendem desde pequenas, valores e sentimentos que levaram com elas por toda vida. Preparando-as para um futuro melhor. Uma outra história interessante, que contamos para nossos leitores, é sobre uma Kombi, ano 1985, abandonada na Avenida Vereador Cícero Idelfonso. Uma frase, assim como a da creche, referindo ao sentimento do amor, que dizia “Só o amor constrói”, foi o ponto de partida para que o frentista Daniel Manoel Messias começasse a grafitar sobre a lataria do veículo arruinado. Por meio da inspiração dos seus desenhos favoritos e com a autorização do dono do posto, Daniel grafita desenhos e frases, trazendo vida através das cores, para as pessoas que passam pelo local. Enfim, nesta edição estão presentes matérias que retratam valores como amor, ajuda ao próximo, determinação, dentre outros. Valores esses que fazem parte da construção de um mundo melhor.
expediente jornal marco
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O frentista Daniel Messias posa ao lado da Kombi 85, transformada por ele em objeto de arte
ANA LETÍCIA DINIZ RAFAELA ROMANO 3º E 5º PERÍODOS
Uma Kombi 1985, consumida pelas chamas, ficou abandonada por dois meses em um posto de gasolina na Avenida Vereador Cícero Idelfonso. O destino seria direto para o ferro-velho. Mas, graças a uma intervenção artística, a sorte da Kombi mudou, junto com a de Daniel Manoel Messias. Depois de um tempo abandonado, o veículo ganhou um novo visual dado por Daniel, frentista do Posto King, que, agora, com 25 anos, vivencia uma vida dupla, depois que ganhou a oportunidade de manifestar o seu lado artista. Daniel conta que resolveu fazer os desenhos depois que algumas pessoas já haviam deixado marcas na lataria. “Na verdade, passou um cara e grafitou ‘só o amor constrói’. Só que ele tinha feito meio mal, e eu disse ‘deixa eu ir lá consertar’. Aí eu comecei a grafitar, a fazer desenhos e escrever aquelas frases evangélicas que tem lá”, conta. Daniel revela ainda como conseguiu as tintas para começá-los. “O posto estava em reforma, mas lá só tinha as cores primárias que era amarelo, vermelho e as outras eu tive que fazer misturando”, completa. O gerente do posto, João Zeferino, de 55 anos, disse que ele mesmo ajudou a locomover a Kombi queimada da rua para o local ao lado e não viu nenhum problema em permitir as pinturas de Daniel na lataria arruinada. “Ah, ele tem esse dom de grafite, né. Como a Kombi já está queimada mesmo e não tem valor econômico, a gente deixou ele fazer a arte dele lá”, afirma. O gerente complementou que não se importou com a utilização das tintas pelo frentista, já que era o que tinha sobrado das obras no posto. Daniel Manoel Messias, 25 anos, é eletricista, desenhista nas horas vagas e atualmente frentista no Posto King,
onde se localiza a kombi. Nascido em Almenara, no Norte de Minas, o frentista narra que seus dotes artísticos começaram aos quatro anos, quando ele criava ilustrações em quadrinhos inspirados nos desenhos preferidos como Naruto e Cavaleiros do Zodíaco. Porém, ele garante que não copiava nada, tudo vinha exclusivamente da sua mente inventiva de menino. “Eu gostava de inventar. Nunca gostei de desenhar desenho que já é elaborado. Eu acho fácil”, complementa. Sua inspiração vinha de um colega que criava os próprios desenhos, fazendo-o assim criar gosto pela coisa e até criar os próprios personagens. Daniel também guarda uma pasta de desenhos com algumas de suas criações. Sua estadia na capital mineira começou há um ano e oito meses. Daniel, cansado das poucas oportunidades que sua cidade natal oferecia, ao chegar a Belo Horizonte tinha esperanças de encontrar um bom emprego, mas também desfrutava da liberdade recém-adquirida, que não lhe era possível por causa de sua mãe zelosa. “Minha mãe pelo fato de ser evangélica ficava me prendendo muito dentro de casa”, revela, entre sorrisos. A escassez de recursos no interior foi o que secou as esperanças do jovem frentista em ter uma carreira artística. “Não há chances para viver de arte no interior”, diz. O frentista já teve oportunidade de ter seus desenhos expostos em Governador Valadares, em um posto de gasolina. Os desenhos da Kombi se transformaram em um importante instrumento de transformação para Daniel. Depois de passar em frente ao posto, o dono de uma oficina teve sua atenção captada pela beleza dos desenhos delineados na lataria do automóvel abandonado. E a partir daí, resolveu contratar os serviços do aspirante a grafiteiro. Ele diz que apesar de ter cobrado barato, por ainda ser um
iniciante no ramo, ainda não recebeu uma resposta. Porém, não foi apenas para Daniel que a Kombi se tornou importante. Para a jovem Carla Lucy da Silva Pena, estudante de 15 anos, um desenho em particular inaugurou uma nova história em sua vida. Entre as caminhadas de ida e volta do trabalho, Rita de Cássia da Silva, 43 anos, cuidadora de idosos e mãe de Carla, começou a notar que iam surgindo aos poucos pinturas na carroceria desgastada do veículo. “É eu venho, porque eu gosto de caminhar, sabe? E aí eu vejo um desenho ali, outro aqui e tô vendo que o negócio estava ficando colorido. Porque antes estava tudo feio, sujo, e ainda tem a Pantera Cor de Rosa ali do outro lado, acredita?”, indaga a cuidadora, toda animada com a transformação da Kombi de um objeto de entulho em obra de arte. O desenho mais importante para as duas, entretanto, não é tão visível assim para todos. Está posicionado no teto da Kombi e é fruto da amizade entre Carla e Daniel, firmada ali mesmo no posto. “Eu estava conversando com ele pelo Facebook, aí ele tinha falado que tinha feito uma homenagem pra mim por ter me achado muito legal”, conta Carla. A estudante diz que de início não havia acreditado, mas, quando ficou sabendo ficou muito feliz. “Pra mim era só um desenho que estava lá. Aí ele desenhou e escreveu meu nome lá em cima. Foi muito legal. Aí minha mãe passou na rua e tirou a foto”, completa. Rita conta que ficou sabendo do desenho por meio de uma amiga, que ao descer uma escadaria próxima ao posto e enxergou traços bastante semelhantes entre o desenho e o rosto de sua filha. A cuidadora de idosos não pode manifestar maior alegria ao descobrir, sua primeira reação foi ir até o local onde está a Kombi e tirar o maior número de fotos possíveis, e ainda mostrar para a maioria de amigos e parentes.
Ana Letícia Diniz
Ela explica que o motivo de tamanha felicidade foi à renovação da autoestima de Carla, que antes se encontrava meio deprimida e cabisbaixa. “E eu fiquei muito feliz assim por isso, sabe? Porque foi um incentivo a mais pra ela. Eu fiquei até emocionada. Até chorei, menina”, narra. Rita não deixa de reforçar como o desenho foi uma fonte de forças tanto para o frentista quanto para Carla, que agora participa de um concurso de modelos. “Uma vizinha, que a filha está participando desse concurso, indicou ela. Na mesma hora que ela chegou lá, participou e passou. Aí ela ficou toda feliz”, completa. Segundo Rita, o encontro entre ela e o Daniel foi bastante engraçado. Ela conta que assim que a viu, o frentista ficou bastante assustado, porque achava que iria ser repreendido pela ação. Mas na verdade, a mãe orgulhosa, só queria agradecê-lo. “Nossa, agradeci a ele demais. Porque ele sem perceber, ajudou a autoestima dela. Pra mim que sou mãe, mais ainda! É um gesto muito bonito o que ele fez”, relata emocionada. Já Daniel pretende passar para frente suas criações e explorar mais o seu lado artístico. E vai usar seu dom como ferramenta de auxílio aos dependentes químicos em reabilitação. O frentista conta que deseja realizar uma exposição, em uma área reservada do posto, e converter todo o dinheiro adquirido para a compra de telas e tintas. Mas, sua principal intenção é doar uma boa parte da quantia ao Instituto Remar, com sede em São Paulo, que ajuda indivíduos marginalizados pela sociedade. “Muita gente julga a pessoa pelo fato da pessoa tá na rua, e é usuário de drogas. Quase ninguém sabe a dificuldade que é uma pessoa sair desse mundo. Eu já tive um irmão que já passou por isso, já foi usuário de drogas, de crack”, desabafa.
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Comunidade
Creche Bom Pastor recebe ação solidária do Dia dos Voluntários Instituição do Dom Cabral recebeu ajuda de projeto organizado pela empresa de telecomunicações Telefônica Vivo e foi agraciada com reforma e melhorias na infra-estrutura de sua sede SÉRGIO EDUARDO MARQUES 3º PERÍODO
A Creche Bom Pastor, localizada no Bairro Dom Cabral, recebeu no início do mês de outubro uma ação do programa Dia dos Voluntários, realizado pela empresa de telecomunicações Telefônica Vivo. A instituição, selecionada dentre tantas outras, foi agraciada com a ajuda de 200 colaboradores da empresa de telefonia que desempenharam atividades como pintura e revitalização da creche, bem como a manutenção de três quadras situadas ao redor do local. Para a realização do projeto, que ocorre em 25 países e 37 cidades brasileiras, a empresa libera os funcionários durante um dia, no mês de outubro, e oferece uma verba para atender às necessidades da instituição. Essa verba é revertida na compra de materiais de reforma como tinta, espátulas e pincéis, além de reparos na rede elétrica e na estrutura do local. Segundo o embaixador do projeto em Minas Gerais, Laínio Soares de Oliveira, 45 anos, antes de escolher qual insti-
tuição será agraciada, há um processo de visita às mesmas, analisando suas necessidades e conferindo se elas possuem estatuto e diretoria formada. Para ele, que trabalha há mais de 15 anos na empresa como analista de sistemas, é muito gratificante participar desse dia solidário. “Não tem coisa melhor que trabalhar nesse projeto. Eu, particularmente, prefiro trabalhar em creches, poder ajudar as crianças. E a satisfação que você vê nos rostos delas não tem preço. Você chegar aqui, depois de dois meses, e ver que foi um trabalho bacana, que está tudo bem arrumado”, afirma. O analista de sistemas observa ainda que a ação une todos os funcionários da empresa em prol de um bem comum. “Hoje, não existe quem é chefe e quem não é, tanto que o nosso diretor da Regional está aí na frente, pintando o muro”. A presidente da creche Bom Pastor, Estela Maris, conta que a reforma do local sempre foi um sonho. O contato com os voluntários se deu por meio do tio de um ex-presidente da instituição que trabalhou na Fundação Telefônica.
Voluntários da Telefônica Vivo ajudam na manutenção das grades da Creche Bom Pastor
Ela revela que a situação estava complicada e o local corria o risco de perder alvará de funcionamento por ser uma construção com mais de 35 anos. “Era uma construção para adultos, porque antes era sede da associação de bairro, entre outras coisas. Então, nós tivemos que adaptar para nossas crianças. É muito importante essa ação para a revitalização total da creche, como a colocação de cerâmica nas paredes e no chão”, observa.
A importância de sonhar com um futuro melhor
De acordo com a presidente, a ação também conta com a ajuda dos pais, que doam alguns valores. Além disso, eles se dispuseram a ficar com seus filhos durante o dia solidário, quando as atividades na creche foram suspensas para a realização da reforma. Emocionada, a vice-presidente da creche, Claudia Márcia Silva Paranhos, declara que o valor dessa ação social é incalculável. ‘’Eu até arrepio quando falo do que está acontecen-
Além da reforma da creche, os voluntários ainda preparam algumas surpresas para as crianças. “Nós vamos realizar a campanha do Natal, com as crianças daqui”, declara o embaixador do projeto em Minas Gerais, Laínio Soares. Para a realização deste evento, cada funcionário da empresa irá adotar uma criança para presentar no final do ano. “No dia 13 de dezembro eu venho de Papai Noel para entregar o presente para as crianças”, adianta o analista de sistemas da Telefônica Vivo. “Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a”. A frase, desenhada no muro de entrada da creche, resume todo
Sérgio Eduardo Marques
empresas Flaviana Ribeiro, 36 anos, é uma das funcionárias da Telefônica Vivo e acredita que trabalhar como voluntária na reforma da Creche Bom Pastor é uma experiência muito proveitosa. “Eu acho que é muito gratificante a gente deixar o escritório por um dia, sabemos que a segunda feira vai ser um dia muito pesado porque a gente abandonou o serviço hoje, mas é muito gratificante”, observa.
Escola Assis de Chagas finalmente recebe capina GABRIELLE ASSIS 4º PERÍODO
Voluntários ajudam a realizar o sonho de quem utiliza a creche
do aqui hoje, porque não tem como explicar. A gente não tem essa vaidade, mas se todas as empresas tivessem essa iniciativa, imagina quantas instituições seriam beneficiadas”, aponta. Ela conta ainda que as 96 crianças atendidas pela creche, com idade entre dois e seis anos, adoram o local, mesmo com as limitações. Porém, ela e os demais diretores sempre enxergaram as necessidades de reforma. A administradora de
Sérgio Eduardo Marques
Na edição 298 do MARCO, em junho deste ano, o problema enfrentado pela Escola Estadual Assis de Chagas, localizada na Praça da Comunidade do Bairro Dom Cabral, foi apresentado: o excesso de mato e o atraso na liberação da verba para a capina estavam prejudicando as atividades escolares. Três meses depois, a verba finalmente foi disponibilizada pela Secretaria Estadual de Educação e a escola recebeu a limpeza. De acordo com a vice diretora da escola, Maria da Conceição Pinto, 53 anos, a firma que foi licitada para a realização da capina, que possuía o melhor orçamento,
começou a limpeza da área escolar no dia 2 de setembro. “Depois da matéria do MARCO, nós tivemos aqui alguma ajuda da comunidade. Foram mobilizadas a Associação dos Moradores do Bairro e o Movimento Fé e Política da Paróquia do Bom Pastor. Eles ficaram sabendo, através do jornal, da questão da falta da capina na escola e procuraram as pessoas responsáveis lá na Secretaria da Educação para pedir que fosse liberada a verba. Eles fizeram um abaixo-assinado, mas antes de chegar à Secretaria, nós recebemos a notícia de que a verba seria liberada”, relata a vice diretora. Com a realização da capina, a expectativa é de que as atividades externas passem
a funcionar melhor e que as crianças possam usufruir de todo o espaço presente na escola, ainda mais agora, com o início do período de chuvas. Maria da Conceição Pinto, porém, ainda observa que a instituição precisa de algumas intervenções. “Nós temos também outras prioridades aqui. A escola está precisando de uma reforma com urgência. Os refeitórios, os banheiros que não são adaptados, a questão da rede hidráulica, da rede elétrica que têm que ser trocadas”, revela. “Considerando que a escola é da comunidade, as pessoas estão se mobilizando para ajudar. Parece que agendaram na Superintendência uma reunião para levar essas reivindicações da escola”, completa.
o sentimento daqueles que trabalham e lutam por melhorias no local. Segundo Estela Maris, presidente da Creche Bom Pastor, o sonho move o mundo e proporciona mudanças na vida de quem acredita. “O que está acontecendo aqui hoje é um sonho nosso. Nós temos esse sonho desde que entramos na coordenação da creche. Já fui de outras gestões e a gente sempre teve essa vontade. Eu falava assim: ‘Quero trocar a janela, ela está toda destruída’. Aí o pessoal respondia: ‘Sonha, quem sabe um dia seu sonho não se realiza’. E realmente se realizou”, declara. Área que antes estava encoberta pelo mato, recebe limpeza após liberação de verba
André Correia
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Comunidade
Motoristas e pedestres sofrem com trânsito em importante via
Avenida Vereador Cícero Ildefonso, antiga Delta, na Região Noroeste, é motivo de reclamação de motoristas e pedestres, que sofrem com a falta de sinalização e de radares em todo seu trajeto CAMILA SARAIVA 4º PERÍODO
Radares, quebra-molas e sinais de trânsito parecem ser insuficientes quando o assunto é trânsito na Avenida Vereador Cícero Ildefonso, na Região Noroeste de Belo Horizonte, entre os Bairros Dom Cabral e João Pinheiro. Acidentes e congestionamentos são recorrentes em sua maioria no horário de pico nos dias úteis. Segundo o gerente de um posto de gasolina, localizado na avenida, Sérgio Henrique, os acidentes entre carros e caminhões são frequentes. “Todos os veículos descem correndo vindo do Anel. Ela teria que ser bem sinalizada”, opina. Sobre o trânsito na Avenida Vereador Cícero Ildefonso, a estudante de direito Isadora Costa, 21 anos, reclama sobre o mal funcionamento da sinalização e do congestionamento. “É péssimo, porque principalmente em
Ponto de acesso ao Bairro Coração Eucarístico causa congestionamentos na Avenida Vereador Cícero Ildefonso
horário de pico, horário de almoço, muita gente não respeita a sinalização, acaba atrapalhando a passagem de quem vai subir a Delta, ou descer”, afirma. Em decorrência das reclamações e dos aciden-
tes frequentes na avenida, o delegado da Comissão Regional de Transporte e Trânsito (CRTT), Anderson Rodrigues Neves, que é também presidente da Associação de Moradores do Bairro João Pinheiro,
revelou os projetos para a melhoria do trânsito na avenida. “A gente está com um projeto com a BHTrans, porque na saída da via expressa que entra na Delta, o movimento de carro é muito grande,
André Correia
então, é inviável um semáforo ali. O que estamos pensando em fazer é colocar uma rotatória decente, bem projetada, porque se tiver uma carreta, por exemplo, que descer o anel rodoviário, rapida-
mente pela Delta, o que acontece direto, e chegar lá em baixo e ele ter como fazer o retorno”, revela. O local que irá receber a rotatória vai auxiliar a travessia de pedestres que passam pela Vereador Cícero Ildefonso para chegar até o Coração Eucarístico e aliviar o congestionamento de automóveis. Porém para Isadora Costa a ideia pode não ser eficaz. “Já teve uma rotatória por aqui e não deu certo. Então, acho que não vai melhorar, se já teve um quem disse que vai dar certo agora?”, questiona a estudante, que passa pelo local como motorista e também pedestre. Sobre as sinalizações e redutores de velocidade o delegado da CRTT diz que providências já foram adotadas. “Quebra molas já foram colocados junto com outro semáforo na avenida para melhorar o trânsito. Precisamos mobilizar os moradores tanto do Alto dos Pinheiros quanto do Coração Eucarístico”.
Bairro João Pinheiro recebe academia ao ar livre CAMILA SARAIVA 4º PERÍODO
Os moradores dos Bairros João Pinheiro e Alto dos Pinheiros, que antes reclamavam da ausência de lugares para praticar exercícios na Região, agora tem acesso à academia ao ar livre, projeto da Prefeitura de Belo Horizonte, conquistado por meio da Associação de Moradores do Bairro. O presidente da entidade, Anderson Rodrigues, conta que a ideia surgiu da falta de opções de lazer. “O Alto dos Pinheiros não tem nenhum lazer para a comunidade, se você rodar o bairro só tem um campo de futebol. Então, as crianças, idosos e adoles-
centes não têm um lugar para fazer atividades físicas, foi aonde a gente pensou a Pracinha do Shui. Agora, a comunidade vai ter onde fazer uma caminhada, fazer um exercício físico, e a expectativa tem sido muito boa”, explica. A comerciante Marlene Rosa, 56 anos, que trabalha em frente a praça conta que o local é pouco frequentado pelos moradores para caminhadas e exercícios físicos por causa da violência. “Poucas pessoas caminham de manhã e depois das quatro da tarde são no máximo três pessoas. Elas têm receio porque a praça não é muito movimentada”, detalha a comerciante. Para a moradora e professora Sulivane Marta da
Silva, o movimento na praça vai melhorar bastante com essa nova atração. “É uma coisa nova né? Todo mundo já estava querendo, procurando. O pessoal já estava com muito medo de fazer caminhada nas ruas”, salienta. A Associação dos Moradores e Amigos do João Pinheiro e Alto dos Pinheiros (Amajopap) informou que até o mês de novembro a implantação dos aparelhos na praça estará concluída, o atraso foi devido às chuvas no início de outubro. A Prefeitura ainda analisa a contratação de instrutores para acompanhar os usuários da academia ao ar livre.
A academia ao ar livre recebe os moradores do bairro de todas as idades
Raquel Gontijo
Nova agência da Caixa Econômica no Coreu ANA CAROLINA DRUMOND RHANNA TRINDADE 1º PERÍODO
Foi inaugurada, no dia 4 de setembro, a mais nova agência da Caixa Econômica Federal, localizada no Bairro Coração Eucarístico, próxima ao campus da PUC Minas. O evento que oficializou a inauguração da agência aconteceu no dia 23 de setembro e contou com a presença do superintendente, gerentes e empregados do banco. Alessandra Flávia de Salles Vasconcelos, gerente geral da Agência Coração Eucarístico, afirma que a Caixa oferece um atendimento integral à sociedade e faz a comunidade crescer. “O Bairro queria o banco, existia a necessidade de oferecer, aqui, os benefícios e serviços que a Caixa tem,
e essa nova agência nos proporciona isso. Algumas pessoas precisavam buscar em outros lugares o que a lotérica não resolvia, então
viemos para facilitar a vida dos moradores e estudantes da Região”, diz a gerente. No decorrer do evento, durante um discurso, o su-
perintendente da Caixa, José Geraldo Sales, frisou que a nova agência trará benefícios para os moradores e falou sobre a responsabilidade que
Nova agência da Caixa no Coração Eucarístico facilita a rotina dos moradores
André Correia
estão assumindo. “A agência está localizada num ponto estratégico, pretendemos ir ao encontro do cidadão, daqueles que precisam do banco. Estamos aqui para prestar serviço e atendimento para a comunidade, com o máximo de conforto e compromisso com o cliente”. Os moradores do Bairro também aprovam a construção da agência, já que antes tinham que usar unidades lotéricas para efetuarem algumas operações bancárias e, quando precisavam de um serviço que a lotérica não oferecia, precisavam buscar agências da Caixa Econômica Federal em outros lugares. “Eu gostei muito dessa nova agência, com certeza vai trazer mais facilidade pra todos nós daqui. Ficou em um local bem movimentado e de
fácil acesso, veio pra facilitar” diz a estudante Karoline Lillian da Conceição Ferreira, de 18 anos, moradora da Região e que agora tem acesso à abertura de contas e setores para financiamento, seguro e empréstimo, serviços que não estão disponíveis nas casas lotéricas. A nova agência da Caixa também é útil para os estudantes da PUC Minas Coração Eucarístico, que agora contam com uma agência bem próxima à universidade e terão mais facilidade para resolver questões como o FIES, programa do Ministério da Educação que financia o curso de estudantes matriculados em instituições privadas de nível superior.
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Comunidade
Começo de obra da rodoviária depende da saída de moradores Falta de acordo quanto aos valores a serem pagos para as famílias que ainda terão que ser removidas gera impasse e atrasa implantação do futuro terminal rodoviário de Belo Horizonte ARTHUR FIGUEIREDO GABRIEL PAZINI HUMBERTO RESENDE 6º PERÍODO
Jorge Rodrigues Gomes de Souza, aposentado, 54 anos, se considera um privilegiado. Ele mora com toda a família – a esposa, dois filhos, dois netos, uma nora e uma enteada – em uma casa ampla na rua Jacuí, na Vila Minaslândia, localizada no Bairro São Gabriel, Região Nordeste de Belo Horizonte. Além da varanda espaçosa, a moradia conta com quatro quartos e tem um quintal onde a família planta hortaliças. No mesmo lote, há mais três casas – o tamanho total do terreno beira os nove mil metros quadrados. Mas, de dois anos para cá, um problema tem tirado o sono de Jorge. É a construção da nova rodoviária de Belo Horizonte, que vai ficar justamente no lugar onde ele passou a vida toda e viu os filhos e os netos crescerem. Sua família é uma das cerca de 40 que ainda não fecharam o acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte para deixar o bairro. As outras 220 famílias da região já se mudaram para os apartamentos construídos no Bairro Belmonte, a cinco quilô-
Prefeitura tenta desapropriar os últimos imóveis para construir a rodoviária
metros do São Gabriel, ou aceitaram a indenização paga pela prefeitura – o que, em alguns casos, não passou de R$ 20 mil. O custo total da nova rodoviária vai ficar em cerca de R$ 60 milhões. Além de um terminal com 41 plataformas e quase 500 vagas de estacionamento, a edificação vai ter dois pavimentos de 35,5 mil metros quadrados cada, ligados à estação de ônibus e metrô. O
projeto inclui, também, uma ampla área comercial dentro da rodoviária. O consórcio que venceu a licitação vai pagar, ainda, R$ 6,1 milhões à PBH para explorar o terminal por três décadas. Um shopping e um hotel também estavam previstos pela prefeitura, mas nenhuma empresa se interessou pelo investimento. As negociações com as famílias da região começaram ainda em
Arthur Figueiredo
2010, por meio de reuniões entre as lideranças comunitárias e a Urbel. Maurício Rodrigues, irmão de Jorge, participou de todas elas. “Muitas pessoas passavam mal só de pensar em ter que sair de suas casas”, conta ele, que é presidente da Associação dos Moradores da Vila Minaslândia. Para Maurício, 49 anos, houve muita pressão por parte da Prefeitura para que as pessoas fossem
transferidas rapidamente. “Eu mesmo enfartei por causa disso”, relembra. A lentidão na negociação atrasou toda a obra. Uma enchente, na década de 90, fez com que boa parte dos moradores perdessem as escrituras de seus imóveis. Isso dificultou a separação entre quem estava ou não ocupando legalmente a área. “Esse lugar onde eu moro foi doado ao meu pai pela Prefeitura, na época em
que eles distribuíram alguns lotes na região para seus funcionários. A maioria dos que viviam aqui era legalizada”, conta Jorge. Pelo projeto inicial, a rodoviária já deveria estar pronta. Agora, a expectativa da PBH é de que ela seja entregue no primeiro semestre de 2014, a tempo da Copa do Mundo. A orientação da associação dos moradores é para que as famílias façam logo seus acordos com a Prefeitura. “Não podemos vender ilusão para as pessoas. Todo mundo vai ter que sair. O melhor é fazer o acordo e deixar a obra começar”, fala Maurício. Ele mesmo já se mudou para um dos apartamentos do Bairro Belmonte. “Aceitei a proposta e vim para cá. À medida em que as pessoas vão saindo, o bairro vai ficando vazio e o perigo chega cada vez mais perto. Já nos relataram que há pessoas portando armas pela região. Isso não existia antigamente”, diz. Agora, Maurício e outros moradores pretendem acionar a justiça em busca de indenização. “Muita gente tinha casa nova lá, casas grandes. A Prefeitura tem que nos pagar um valor justo”, afirma.
Enchentes preocupam moradores e comerciantes IAGO PROENÇA 2º PERÍODO
Com o período de chuvas se aproximando, os moradores da Região Nordeste de Belo Horizonte ficam preocupados com o risco de enchentes, já que a região tem muitos pontos de alagamentos, principalmente nas avenidas Cristiano Machado e Bernardo Vasconcelos. Nas duas avenidas, a população sempre sofre com as chuvas de fim de ano, que costumam ser mais fortes e provocam as enchentes. A moradora Maria das Graças, de 59 anos, revelou à reportagem do MARCO, que entre novembro de 2012 a outubro de 2013, agentes da Prefeitura estiveram no local apenas uma vez para fazer a limpeza dos buei-
ros. “Eles vieram uma vez fazer a limpeza e há alguns dias vieram instalar as placas de risco para transitar nessas vias nos dias de chuva”, conta a moradora. Ainda segundo Maria das Graças, as placas não resolvem o problema. Muitos moradores não conseguem evitar as avenidas nos dias de chuva. “Tem uma parte da população que reclama da falta de assistência da Prefeitura de Belo Horizonte, mas a população também tem sua parcela de culpa, quando joga lixo na rua”, conclui. Em 2012, moradores e comerciantes perderam muito de seus patrimônios, como produtos alimentícios, freezer, compressor de ar, bombas de combustíveis e automóveis. “Cheguei a amarrar o freezer da minha loja em uma
parede com medo de que ele fosse levado pela correnteza da água das enchentes”, conta um comerciante da região que preferiu não se identificar. No último ano, na região, três pessoas foram salvas, depois de ficarem presas dentro de seus carros. Nesses casos, a água da chuva subiu rapidamente. A responsável pela Gerência Regional de Áreas de Risco Nordeste, Maria Teresa Grossi Gonçalves e Leonardo informou que a Prefeitura de Belo Horizonte tem trabalhado desde abril de 2012, com ações preventivas para tentar reduzir os danos causados pelas enchentes. O Grupo Gerencial de Áreas de Risco (Gear) reúne-se todas as segundas-feiras para buscar soluções para a região. Participam
do grupo gestores públicos e empresas que atuam na prevenção e resposta aos desastres. Durante os encontros são apresentadas as necessidades de recuperação dos desastres acontecidos, a previsão meteorológica para a semana seguinte e as intervenções preventivas para os prováveis eventos. Os Núcleos de Alerta de Chuva implantados na cidade nas principais áreas de risco de inundações e alagamentos, colocaram sensores que medem o nível de água dos córregos. Em algumas regiões, o sensor avisa quando o córrego atinge certo nível considerado de risco e passa as informações a monitores, que são moradores da região. Eles trabalham em conjunto com agentes da Prefeitura e da Defesa Civil,
com atendimento de urgência que funciona 24 horas por dia. As enchentes ocorrem pela impermeabilidade do solo, ou seja, a água não consegue penetrá-lo, tendo em vista que hoje, em Belo Horizonte, poucos são os locais sem asfaltamento ou cimentados. Outro motivo é que uma parte da população continua jogando lixo nas ruas e nos córregos, o que acaba entupindo as vias que foram construídas para evitar que a água suba demais. Só no ano passado, foram retiradas mais de 17 toneladas de entulho de um córrego em BH, entre galhos de árvore, roupas, documentos, garrafas plásticas, pedaços de móveis e carcaças de eletrodomésticos.
Rua Anapurus precisa de obra para melhoria do trânsito ANA JÚLIA GOULART 6º PERÍODO
A falta de estacionamento específico para ônibus na Rua Anapurus, no Bairro São Gabriel, Região Nordeste da capital, compromete e muito a fluidez do trânsito no local. O motivo, quem passa por ali, já sabe de cor. “Toda
vez que tem um ônibus na frente, forma aquela fila enorme, já que eles param no meio da rua para o embarque e desembarque dos passageiros”, conta Luis Antônio, 30 anos, que mora na região. As notícias, porém, não são das melhores para aqueles que esperam uma solução. Segundo infor-
mações da BHTrans, a obra está no cronograma da Prefeitura de Belo Horizonte, mas sem previsão para que ela se inicie. Comerciante local, Ana Maria Lopes alerta para que os motoristas não ultrapassem pela contramão, ao ficar parando toda hora atrás de um coletivo. “Têm muitos motoristas impru-
dentes que acabam perdendo a paciência e tentando ultrapassar pela contramão. Mas, a Anapurus tem uma visibilidade muito ruim por ser um morro, sendo grande o risco de acidentes na ultrapassagem”, explica. Ela ainda ressalta que o estacionamento liberado nas duas mãos prejudica ainda mais o trá-
fego e um possível desvio de acidente. “As vias são estreitas, com carros parados dos dois lados, é um nó só”, conclui a comerciante. Em alguns pontos da Rua Anapurus, há intenção de instalar um local específico para que os ônibus parem e façam o embarque e desembarque de passageiros em segurança. Do
outro lado, os motoristas ficam na torcida para que isso ocorra logo, para não ter em que ficar esperando toda hora que alguém resolve descer em um ponto da rua. “Vai ser uma mão na roda”, brinca José Marcos, motorista que passa com frequência pela região.
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Campus
Corredor da PUC recebe mostra ‘Exôdos’ de Sebastião Salgado Obras foram expostas pela instituição em setembro último, por iniciativa da Secretaria de Cultura e Ação Comunitária (Secac). Queda de quatro quadros antecipou o término da exposição PABLO PERALTA
tam-se a situações extremas”. Quando a obra chegou ao Brasil, Salgado doou a exposição a varias entidades, entre elas a PUC Minas. Ele sempre teve essa intenção, de divulgar seu trabalho colocando-o em espaços públicos. Embora o artista não tenha contato direto com a universidade, quis suas fotografias difundidas na instituição.
6º PERÍODO
O mês de setembro vestiu de arte contemporânea o corredor do prédio 6 da PUC Minas. Suas paredes receberam a exposição Êxodos, do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Composta de 23 reproduções, é uma obra mundialmente conhecida, assim como grande parte do trabalho do artista. A mostra Êxodos foi exibida pela primeira vez em 2000. As imagens retratam o cotidiano de populações que não têm uma terra natal nem um terreno fixo para morar. São migrantes, refugiados de guerra, seres humanos expulsos de seus países. Tais imagens são fruto de viagens do artista por mais de 40 países, em uma busca artística e antropológica. Salgado nasceu em 1944, em Aimorés, Minas Gerais. Estudou economia na Universidade de São Paulo e casou-se com pianista Lélia Deluiz Wanick. Migrou para a França e lá deu os primeiros passos na arte da fotografia, no ano de 1973. Trabalhou para importantes agências como a Sygma e a Gamma, até entrar na Magnum. Em 1994, fundou a Amazonas Images, sua própria agência. A Secretaria de Cultura e Ação Comunitária (Secac) é o órgão encarregado pela coor-
Fotos de Sebastião Salgado ficaram expostas no corredor da PUC
denação da exposição. A PUC Minas aproveitou que contava com as fotos e suas respectivas molduras entre o material do acervo. O principal objetivo dos responsáveis da exibição foi fazer possível o contato da arte, nesse caso, a fotografia, com um público novo. O professor Haroldo de Almeida Marques, da Secac, observa que muita gente nunca teve a possibilidade de ver uma exposição desse nível na PUC Minas. “É um fator importante mostrar a obra do Sebastião Salgado para pessoas que não o conhecem, principalmente
jovens”, diz. “A universidade é o campo de divulgação da arte e da cultura”, acrescenta. Para organizar a intervenção cultural e divulgar o trabalho do fotógrafo brasileiro, escolheram-se algumas fotos dele para expor no corredor, entre os prédios 1 e 6, aproveitando que é um espaço de grande acesso de estudantes e funcionários. É a primeira vez que o local é usado para receber uma expressão cultural desse tipo. Haroldo também comenta o teor das fotografias. “É o ser humano que está sempre de passagem, que não tem
Marcos Figueiredo
sossego para morar”, afirma. Homens expulsos da terra, “o que é uma maldição”, segundo as palavras do professor. Sebastião Salgado faz sempre fotografias em preto e branco, por uma escolha artística pessoal. O assunto são pessoas desgarradas, fora do próprio país, principalmente em Êxodos. Na introdução do livro que contêm as imagens apresentadas na mostra, Salgado escreveu que “pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adap-
REPERCUSSÃO “Achei sensacional, excelente” diz o professor Guilherme José da Silva, do curso de Direito da PUC Minas. Ele também contou que não conhecia o fotógrafo e que causaram-lhe um maior impacto as fotos de crianças em São Paulo e dos corpos da população tutsi, mortos no genocídio na Ruanda. O advogado resgatou a miséria humana como traço comum na exposição Bruno, aluno de Relações Internacionais, que não deu seu sobrenome, também se mostrou bastante interessado na mostra. Ele disse que todas as vezes que percorria a galeria do prédio 6 fazia uma parada para ver o trabalho de Salgado. “Conheço o artista, suas fotos são muito bonitas”, comenta o estudante. Para ele, retratam a realidade e as diferenças entre várias épocas. Bruno, no entanto, pode ser considerado exceção, pois
a maioria das pessoas que desfilam perante os quadros expostos não se dá ao trabalho de apreciar as obras. A repercussão é maior entre os professores da instituição. Nesse ponto, a realidade se afasta do objetivo que fora proposto pelos organizadores da exposição, quando a planejaram. Queriam levar o artista a um público novo, mas os que desfrutaram das fotografias no corredor eram geralmente pessoas que já conheciam o artista, ou que simplesmente tiveram um interesse anterior pelo assunto. Alguns dias após a mostra ser apresentada, aconteceu um incidente que acabou reduzindo o tempo de duração da exçposição. Quatro quadros caíram, sendo dois deles por causa do vento forte no dia 24 de setembro. As reproduções que sofreram a queda e foram retiradas do local serão reformadas e colocadas em moldura nova. No acervo da PUC também estão sendo restauradas obras de Maureen Bisilliat, fotógrafa francesa que morou e trabalhou no Brasil. Existe a iniciativa de futuramente montar uma exposição dela, chamada Xingu, com imagens dos povos indígenas daquela região.
Campus São Gabriel recebe uma nova capela ANA JÚLIA GOULART 6º PERÍODO
Quem passa diariamente pelas proximidades do antigo Bloco H, no Campus São Gabriel da PUC Minas, já notou que algo está sendo construído por ali. Além disso, há algumas semanas, o trânsito do Campi precisou ser alterado para andamento das obras e isso também chamou a atenção dos alunos e frequentadores da unidade. A curiosidade foi geral sobre o que estava sendo feito
no local. Segundo informações da Assessoria de Comunicação da PUC Minas, a área de aproximadamente 300m² abrigará uma nova capela. Em frente ao teatro, a capela agora terá sacristia, espaços para santíssimo e para o padroeiro, além de mesa da palavra e altar. O local vai abrigar 100 pessoas sentadas e poderá ser utilizado pelos alunos da PUC para a missa de formatura, levando em consideração a capacidade da capela. Outra comodidade da nova instalação é unir
as coordenações da pastoral. “O objetivo principal dessa capela é atender uma demanda da universidade católica, da comunidade interna e externa à PUC”, explica frei Mário, coordenador da Pastoral da PUC Minas no São Gabriel. Ainda segundo o frei, a capela é um espaço que a PUC deve à comunidade no sentido de divulgar os valores religiosos. O local poderá ser utilizado por moradores do entorno do campus e haverá celebração de missa. Questionado sobre o espaço com o objetivo de atrair
os jovens para a igreja católica, o coordenador da Pastoral ressalta que na religião não há concorrência. “Nós não temos que concorrer com nenhuma outra religião das igrejas a, b ou c. A obrigação da igreja é incentivar o amor ao próximo e a dedicação aos mais necessitados, unindo todas as comunidades no entorno da PUC”, conclui Mário. Alguns alunos questionam a obra, mesmo sem saber quanto está sendo gasto ou de onde vem os recursos para a construção da capela.
“As salas estão precisando de alguns ajustes. Ar condicionado, por exemplo. Quando chegar o calor, a gente sabe que fica insuportável assistir aula. Acho um gasto desnecessário”, disse um aluno que preferiu não se identificar. Uma outra sala, localizada no bloco G, abrigava um espaço humilde para encontros de oração, meditação e missas. Segundo Jéssica Martins, 24 anos, estudante de administração, raras vezes ela viu a sala com pelo menos quatro pessoas. “Passo pelo local frequentemente e
nunca vejo ninguém. Não há necessidade da construção de uma nova capela”, questiona. Lorrayne Cristina, 19 anos, estudante de direito, achou legal a iniciativa. “Quase não temos tempo de frequentar a igreja. Podemos ir à capela fazer orações quando chegarmos mais cedo a faculdade ou não tivermos algum horário de aula”, conta a universitária. De acordo com a assessoria da PUC Minas São Gabriel, a obra da nova capela tem previsão de conclusão no próximo ano.
Capela no campus do Coreu passa por reforma MATEUS TEIXEIRA 3º PERÍODO
Localizada no prédio 30, a Capela existente no Campus Coração Eucarístico da PUC Minas, passou por uma reforma que demorou aproximadamente três meses e foi concluída em julho passado. A iniciativa de reformar a antiga capela surgiu a partir de um pleito dos integrantes da Pastoral Universitária no Coração Eucarístico, aprovado pelo reitor da Instituição, Dom Joaquim Giovanni Mol Guimarães e a arquiteta da Pró-reitoria de Logística e Infraestrutura (Proinfra), Ana Paula Plazzi. Edmar Avelar de Sena, coordenador da Pastoral Universitária no Coração Eucarístico e professor de Cultura Religiosa e Filosofia, observa que a capela precisava de ajustes para o ambiente que inspira a oração. “Então, buscamos qual o conceito e encontramos o da interiorização, espirituali-
dade e contemplação adequado liturgicamente”, comenta. Edmar não soube informar o total gasto na obra e diz que foi utilizado apenas o necessário. “Foi gasto o mínimo, trabalhamos com o que podia aproveitar e estava fora do lugar. Foi feita uma consulta e captou o que estava adequado. O resultado foi belíssimo e a ideia inovadora”, acrescenta. Padre Jailson Salvador da Silva destaca a participação dos alunos, professores e funcionários da PUC Minas. “Eu percebo uma participação ativa e proveitosa daqueles que conseguem encontrar horário que coincida com os momentos litúrgicos”, diz. Ele ainda fala sobre as mudanças que ocorreram no local. “Os assentos são mais cômodos. Os ornamentos naturais mostram a vida presente na capela e vence a aridez que a antiga capela possuía. Antes, as paredes eram vazias e agora têm a viasacra, a linguagem contempo-
rânea da cruz. Também sabemos da participação e presença das pessoas que vem meditar um pouco, temos um som ambiente que proporciona oração. É o design que manifesta bem estar para as pessoas que aqui vem”, comenta Padre Jailson. Helenice Crizológo, aluna do curso de filosofia, ministra da comunhão e voluntária, aprova as mudanças na nova capela. “É como andar no deserto e encontrar um oásis”, compara. Ela conta ainda que o Congresso Mundial de Universidades Católicas (CMUC), realizado em julho na universidade, ajudou na divulgação do local. “A comunidade participa mais. O CMUC ajudou na divulgação e a participação dos alunos é maior. Tem alunos que formaram e nunca entraram na capela.”, afirma Helenice. A estudante de psicologia e estagiária da Pastoral Universitária, Ludimille Basilato, revela a intenção de estreitar ainda mais os laços com
Moradores da região e alunos da universidade frequentam a capela no campus
a comunidade acadêmica. “A comunidade acadêmica celebra e contribui com ações na pastoral. A ideia é escutar a opinião de alunos, funcionários e professores para trabalharem juntos aqui na PUC e ajudar no que for possível. Ser uma troca de experiência entre
fé e razão.” Ela ainda faz um convite para os que querem participar. “Ser voluntário na pastoral para ajudar no que for necessário”, relata Ludmille. Na capela são celebradas missas às segundas e terçasfeiras. Nas quartas-feiras acontece a celebração da palavra e,
Mateus Teixeira
nas quintas, adorações ao Santíssimo Sacramento. Todas no mesmo horário, às 18h. Nas terças-feiras também acontecem reuniões do Grupo de Oração Universitário (GOU), à tarde, no horário das 13h às 13h30, e, a noite, no intervalo das aulas entre 20h45 e 21h.
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Campus
Museu de Ciências Naturais tem abertura adiada para dezembro Elaboração e implantação do novo projeto elétrico do prédio gerou atraso na reinauguração do local após reforma que durou quase um ano. A data foi remarcada para 13 de dezembro ANA CLARA CARVALHO CAMILLA FIORINI 1º PERÍODO
A reabertura do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas que estava marcada para julho já tem uma nova data. Será em uma sexta-feira, 13 de dezembro, mesmo dia em que acontecerão mais duas comemorações: o aniversário de 55 anos da universidade e a celebração da tradicional Missa de Natal. O motivo do atraso foi a decisão de alterar todo o projeto elétrico do prédio, que era embutido e não tinha como ser testado. Foi feito um projeto totalmente novo que será externo e por ser muito complexo, demorou na sua elaboração e agora está sendo implantado. A informação foi dada pelo coordenador do museu, Bonifácio José Teixeira, que admite que o atraso prejudicou a comunidade, que não teve a oportunidade de visitar o museu neste ano. “É um
prejuízo que você não resgata nunca, porque quem não veio, se vier, virá no lugar de outra pessoa. São no mínimo 50 mil pessoas, sobretudo estudantes que deixaram de vir este ano no museu, isso não tem preço. Este é o grande prejuízo, além dos financeiros”, relata Bonifácio Teixeira. A reforma foi necessária porque, em 22 de janeiro deste ano, aconteceu um incêndio que atingiu o segundo andar do museu e danificou várias réplicas que estavam expostas no local. Ele passou por reforma ampla, mantendo sua estrutura básica, mas está todo renovado e com novas condições de funcionamento. Está quase tudo pronto e, no dia 25 de setembro, houve uma grande reunião com toda a equipe do museu para estabelecer estratégias de montagem. Já está tudo distribuído e todos omeçaram a trabalhar. Uma novidade que o público poderá conferir
a partir de dezembro é o gorila Idiamim, que foi empalhado e integrará o acervo do museu. “O museu vai ficar mais bonito, não compensa o prejuízo, mas vai ficar mais bonito”, diz Bonifácio Teixeira.
anos, mais ou menos, eu desenhava histórias em quadrinhos e contava para todos os meus amigos no colégio. A gente sempre se reunia no final do dia e eu contava as minhas histórias. Só que, depois, percebi que o que eu gostava não era de desenhar, e sim de criar o enredo e os personagens”, comenta. Em conversa, ele ainda revela que a vontade de ser escritor surgiu quando tinha 15 anos. “Depois que
parei de fazer histórias em quadrinhos, comecei a criar algumas fanfics – histórias criadas por fãs – de livros que eu gostava. Ao mostrar para colegas e amigos, vi que a receptividade era positiva. A partir daquele momento, comecei a acreditar no meu potencial e decidi que não seria má ideia escrever um livro. Ao longo do tempo, percebi que alguns dos personagens que hoje se encontram em Lúmens já faziam
Segundo ele, o interessante é que todas as atividades que não fazem parte da visitação foram mantidas. De acordo com o coordenador, a parte rica do museu não é só a que se mostra para
o público, mas a que se mostra, sobretudo para pesquisadores. “O acervo das coleções é muito mais do que a gente imagina, o museu possui coisas que ninguém tem, descobertas e relatadas por
pesquisadores de lá”, afirma. “Não são só colecionadores de juntar coisas não, é de descobrir, juntar, classificar e descrever, isso, então, é a parte mais rica do museu”, acrescenta Bonifácio.
Funcionários trabalham na restauração de peças do Museu de Ciências Naturais da PUC
André Correia
Aluno da PUC Minas, Tiago Barbosa, lança seu primeiro livro: “A Fabulosa Terra de Lúmens” DANIEL LACERDA 4º PERÍODO
“Uma terra paralela ao nosso mundo, que serve de refúgio para todas as criaturas mágicas.” Qualquer um que leia esta frase, logo imagina que resuma uma história escrita por algum conceituado autor de aventuras. Na verdade, essas palavras apresentam o sonho e o trabalho de um jovem novato na arte de escrever. Ele é Tiago Barbosa, criador de “A Fabulosa Terra de Lúmens”, livro que está em pré-venda pela editora portuguesa Chiado. Tiago comenta ao MARCO que a ideia do romance surgiu discretamente, em 2007, numa conversa de escola. “Estava no primeiro ano e eu tinha dois amigos que eram muito próximos. Uma vez falei brincando que iria escrever um livro baseado em nós três e eles acharam a ideia muito engraçada. Um dia voltando para casa, a história simplesmente surgiu na minha cabeça e os personagens começaram a se montar de uma forma muito natural”, conta. “Desde os meus três
O escritor Tiago Barbosa lança o primeiro livro
Marcos Tadeu
parte, de uma forma ou outra, de meu imaginário ou das histórias que eu montava quando criança. Então, quando a mãe de um amigo meu disse que me apoiaria se escrevesse uma história realmente minha, percebi que todas as ferramentas para começar já existiam”, diz. A Chiado é considerada a maior editora especializada na publicação de autores portugueses e brasileiros contemporâneos em Portugal. Sobre isso, Tiago diz que nunca teve a pretensão de ver o seu livro lançado em outro país, mas, depois de algumas tentativas sem sucesso com editoras brasileiras, ele resolveu arriscar. “Só de ver o livro na prateleira de uma livraria seria uma coisa maravilhosa. Mas, recentemente, estava meio frustrado com algumas editoras porque, nesses últimos seis anos, levei muitos nãos. Então, quando mandei o livro para a Chiado, eu estava muito calejado, porque a sensação que você tem é que o livro é um filho mesmo. Quando a editora aceitou, foi um alívio para mim”, revela. Em nota, a editora
Chiado aborda a forma como Tiago criou a sua história. “Os livros fantásticos estão muito em voga, e o Tiago consegue transportar o leitor para um terra fantástica, negra, com guardiões, que nos faz recordar outros livros conhecidos, mas que nem assim deixa de ser inovador e refrescante”. Indagada sobre uma possível continuação, a editora transfere a resposta para o autor. “Depende mais do Tiago do que de nós. Claro que adoraríamos poder fazer uma saga, se o Tiago estiver de acordo e se o livro for bem recebido, mas ainda é algo que só devemos pensar mais para frente”. Tiago ainda fala sobre as inspirações que o levaram a criar A Fabulosa Terra de Lúmens. “Pelo fato de ser um romance medieval, o livro tem um pé na mitologia, no folclore nórdico e no folclore inglês. Tem a influência de muita coisa que eu li, principalmente literatura inglesa. Mas o engraçado é que essa ideia de mundo paralelo veio de alguns animes que eu assistia quando era menor, não dessas leituras”, explica.
O autor ressalta que o livro é o primeiro de uma série de quatro romances e, se for bem aceito nos mercados brasileiro e lusitano, há a possibilidade de ser lançado também na Inglaterra, Irlanda, Espanha e Estados Unidos. Em Belo Horizonte, o local para lançamento e noite de autógrafos ainda não estão definidos. Ele não descarta a possibilidade de fazer o evento na PUC Minas São Gabriel. “Eu gostaria muito de lançar o meu livro na PUC, até já conversei na assessoria da universidade. Se não conseguir, queria, pelo menos, uma coletiva apresentando o livro, falando um pouquinho sobre mim e sobre a literatura na juventude”, deseja. Tiago manda um recado para os leitores do jornal. “Quero convidar a todos para adquirir o livro e ler a história. Para mim, vai ser uma honra ter os meus colegas de universidade acompanhando isso tudo, principalmente agora que está no início. Esse é o primeiro livro e eu gostaria muito de apresentar para todo mundo”, finaliza.
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Cultura
O vinil nunca subiu no telhado
Em plena era digital, o fetiche pelo retrô fez ressurgir a antiga paixão pelos famosos bolachões. Com a chegada dos CDs no final da década de 1980, a paixão pelos LPs se mantém até hoje CAIO LÍRIO THIAGO ANTUNES 7º PERÍODO
As caixas repletas de vinis espalhadas pelo chão do apartamento denunciam: ali mora um fanático por boa música. Mais do que isso, o Dj Fausto Bernardes Álvares e seus mais de três mil LPs são a prova de que o vinil está aí, nunca saiu de cena, e, se saiu, voltou rapidinho e, desta vez, para ficar. Longe de ser um cemitério musical – que no final da década de 1980 teve seu fim decretado com a chegada dos CDs – quem pensava que esse jeito quase artesanal de se ouvir música estava esquecido, pode se surpreender com um cenário cada vez mais ativo. Para alguns, o retorno é apenas um modismo, embora outros acreditem que os verdadeiros amantes das bandas e cantores de sucesso nunca abandonaram o que hoje são consideradas relíquias da música. Esta histeria pela cultura retrô e
O Dj Fausto Bernardes Álvares e seus mais de três mil LPs, provam que o vinil nunca saiu de cena
por um som mais apurado ajudou bastante na volta dos velhos longplays e os fiéis colecionadores ganharam reforço com a nova geração, nascida no auge
da era digital, que não se intimida na hora de comprar e iniciar uma coleção. Desde menino o Dj Fausto já ouvia os discos da família enquanto fazia
o dever de casa. O hábito virou paixão e a paixão se transformou em sua segunda profissão. Psicólogo durante o dia, à noite embala grandes festas em
Caio Lírio
casas de show na capital mineira. “Eu já tinha alguns LPs que eu herdei dos meus pais, mas fui começar a colecionar mesmo quando eu abri um sebo
de discos em 1991, aqui em Belo Horizonte”, recorda o colecionador, que largou esse negócio em 2001, mas nunca desistiu da sua paixão pela música e segue discotecando pela capital mineira e em outras cidades do Brasil. Fausto comenta que a tentativa de substituir a mídia por algo mais compacto, inicialmente, foi quase devastadora para o disco, mas não decretou seu fim por completo. “Eu via muita gente vender os discos e trocar por CDs e achava aquilo estranho, pois muitas vezes os vinis estavam em ótimo estado de conservação. Não tinha sentido se desfazer, simplesmente porque uma mídia nova estava entrando no mercado. Hoje em dia, por A mais B, a gente sabe que a qualidade do vinil é melhor e o CD não é tão mais barato assim”, explica.
Para especialistas, o fetiche por objetos antigos simboliza valores associados ao passado Aficionados, especialistas, músicos ou simplesmente novatos colecionadores. O fato é que a volta de um objeto antigo no imaginário e no cotidiano das pessoas não é condição exclusiva do vinil. “O ‘revival’, na verdade, é um processo cultural cíclico e sempre que uma mídia, tecnologia, objeto, se exaure ou é substituído de modo amplo por outro, geralmente considerado ‘melhor’ ou ‘mais moderno’, passado um tempo (de adaptação e distanciamento), os olhares voltam-se com saudosismo para aquele que perdeu o posto”, explica a professora e mestra em design, arte e simbologia urbana pela Universidade Federal da Bahia, Adriana Sampaio. A especialista ressalta que há certo romantismo, pois os LPs voltaram como algo considerado cult, sob olhos que agora os veem cheios de significados e são, desta forma, reconstruídos emocionalmente no imaginário popular. Seus ruídos, chiados, suas “imperfeições” são associados ao romantismo de uma época que se foi, com cantores que já não existem e uma tecnologia que exigia uma interação mais manual (limpar, pôr e retirar a agulha). Bolachões, hoje, são ressignificados e, assim, simbolizam valores associados ao passado, visto sob uma ótica ingênua. “Esse tipo de romantismo é belo. Sinto apenas falta de uma reflexão crítica sobre isso. Porque, fatalmente, a indústria cultural se apro-
pria e transforma esse processo em ‘moda’, visando apenas movimentar o mercado, obtenção de lucro, muito pouco preocupada com o real sentimento envolvido ou a importância histórico-cultural que esse sentimento pode provocar”, enfatiza Adriana. Especialista em arte contemporânea e tecnologia, o professor da PUC Minas, Eduardo de Jesus, compartilha do mesmo pensamento. Para ele, houve uma volta ao passado para trazer um sentimento de tradição, até então perdido. “O retrô ganhou essa centralidade e o vinil tem um pouco disso também. A gente volta com eles para revisitar o passado e trazer sentido à nossa vida presente. As pessoas têm um desejo pela memória muito forte”, contextualiza. Eduardo de Jesus também comenta que as novas mídias não vieram, necessariamente, para substituir as antigas e sim para complexificar. “As mídias colocam as coisas em outros lugares, não tiram o lugar daquilo que está chegando. O vinil virou coisa de especialista e, apesar de ter muita gente que nunca parou de escutá-los, tem o pessoal que começou a ouvir porque virou uma coisa bacana, seja pela capa ou simplesmente pelo poder de colecionar coisas, hábito bastante presente e importante em nossa sociedade”, comenta. A jornalista e produtora Rejane Ayres ressalta o ritual e toda a simbologia por
trás de quem tem o hábito e adora escutar os LPs. “O disco, antes de ser bom de ouvir, é charmoso. Quando alguém escolhe um, é quase ritualístico”, explica Rejane, ressaltando que há muitas décadas as famílias se reuniam para ouvir um longplay na sala, como uma cerimônia. “Outro motivo para adorar um vinil é poder colecionar o acervo de figuras jurássicas da boa música, como
Little Richard, Elvis, Beatles, Stones, Led, Marvin Gaye, Toni Tornado, Mutantes, Roberto Carlos, Vinícius, Gil, Chico Buarque e mais um monte de gente que foi essencial na compilação de ‘motivos para se amar um vinil’, ainda no início das vendas desse formato, quando sair pra comprar um disco era quase um mantra”, recorda com saudosismo.
O Beco do Vinil é um dos espaços em BH que reúnem os amantes do bolachão
Caio Lírio
Juventude também tem o hábito de ouvir vinil O hábito de ouvir vinil parece que também tem contaminado as gerações das mídias digitais. Não é só quem viveu no auge dos bolachões que cultiva a paixão. Hoje em dia, muitos jovens que já nasceram na era dos CDs, se revelam amantes da música reproduzida através de uma agulha. A jornalista Cinthia Ramalho, 23 anos, é um bom exemplo dessa nova turma, que tem surgido garimpando títulos dos seus artistas
preferidos. Mesmo nascendo na época de transição das plataformas, ela conta que a paixão pelos LPs existe desde cedo. “Meu pai e minha tia tinham muitos exemplares de artistas da época deles, mas que eu gostava muito. Mesmo pequena, decidi guardá-los e os tenho até hoje. É uma questão de gosto e principalmente carinho, pois faz lembrar meu pai, que sempre colecionou”, recorda a jovem, que acaba de ganhar uma ve-
lha radiola para ouvir grandes nomes da música popular brasileira, como Gal Costa, Maria Bethania e Ney Matogrosso. “Essa vitrola está na minha família faz uns 20 anos. Ela era do meu tio. Depois passou para o meu pai, que me presenteou. Assim posso continuar ouvindo os discos que também herdei”. Para os novatos que buscam um primeiro contato, o Beco do Vinil, no Coração Eucarístico, na Região No-
roeste, é parada obrigatória. O bar pouco convencional, com seus mais de 800 exemplares – que passeiam por intérpretes internacionais aos clássicos da MPB – é uma pedida para quem quer ter um contato divertido com os famosos bolachões. “Lá eu consigo reunir duas coisas que eu amo: música e amigos. Para os amantes do vinil, é simplesmente empolgante”, ressalta a jornalista Cinthia,
que, às sextas-feiras, não deixa de marcar presença no bar. Assim como ela, o garçom Rodrigo Perdigão, 30 anos, está começando sua coleção. O rapaz sempre teve uma relação bem íntima com a música, especificamente com os LPs, já que herdou a paixão do pai, um amante inveterado desse som peculiar. “Por gostar muito de comprar CDs e ter uma coleção vasta, passei a investir em
vinil para aumentar minha coleção musical”, conta Rodrigo, que já alcançou a casa dos 60 discos. Ele também dá dicas de onde conseguir os melhores exemplares na capital mineira. “O Edifício Maleta, na Região Central da cidade, é o melhor local pra comprar LPs. Mesmo os discos não estando nas melhores condições, é possível encontrar muita coisa boa e com preço acessível”, explica.
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Cultura
Face oculta do Clube da Esquina Integrantes do movimento musical mineiro, que não se tornaram tão conhecidos por causa do grupo, contam histórias e aprendizados que levaram para a vida a partir dessa experiência
Paulinho Carvalho, um dos instrumentistas que contribuiu para o movimento
FLORA SILBERSCHNEIDER MAILLA SOUZA 1º PERÍODO
Quando o assunto é o Clube da Esquina, movimento musical genuinamente mineiro que conquistou o país nos anos 70, as pessoas pensam logo em nomes como Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges, Fernando Brant, Wagner Tiso, Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini e Tavinho Moura, entre outros, que se tornaram referência para a música brasileira e contribuíram decisivamente para a ascensão da música mineira. Mas, existe uma lista grande de artistas, instrumentistas de grande qualidade que contribuíram para que esse movimento se tornasse um marco no país e cujos nomes não são associados diretamente ao Clube da Esquina. A extensa relação é integrada por artistas do porte dos bateristas Robertinho Silva e Paulinho Braga, dos
guitarristas Fredera e Hélio Delmiro, do saxofonista Nivaldo Ornellas, dos baixistas Luiz Alves, Novelli, Jamil Joanes, Paulinho Carvalho e do tecladista Túlio Mourão, para citar apenas alguns. Todos são reconhecidos como músicos de primeira linha, com carreiras solos e trabalhos perpetuados na história da música brasileira, mas sem uma associação direta com o Clube da Esquina. O MARCO conversou com dois desses músicos, Frederico Mendonça de Oliveira, o Fredera, e Paulo César Carvalho, musicalmente conhecido como Paulinho Carvalho. Eles têm visões diferentes sobre o Clube da Esquina e o que representou este movimento não apenas para a música brasileira, mas para a carreira e vida de cada um. “Antes de mais nada, o clube da Esquina é uma abstração. Não existiu como uma coisa concreta: não teve a marca registrada em cartório, em registro de patentes,
Flora Silberschneider
nada”, afirmou o guitarrista Fredera, em entrevista exclusiva ao MARCO. “Podemos classificar aquilo como sendo o fervilhamento produzido pelo trabalho do Milton (Nascimento) junto às famílias Brant e Borges, que já apresentavam seus filhos Fernando e Marcinho fazendo parcerias com o Milton, e isso tinha ganho um lugar ao sol na nascente MPB”, acrescentou. Fredera, que nasceu em uma família de músicos, neto de clarinetista, com pai violinista e mãe cantora, se viu desde criança envolvido com o mundo da música. Antes de participar do movimento do Clube da Esquina, trabalhou como baixista tocando no Rio de Janeiro entre 1968 e 1970. Fez parte do grupo de acompanhamento da Turma da Pilantragem e tinha um quarteto vocal que integrou o movimento Música Nossa, no teatro Santa Rosa, no Rio de Janeiro. Nesses anos, trabalhou ao lado de Raul Souza,
Márcio Montarroyos, Paulo Moura e Pascoal Meirelles. Ele revelou que veio para Belo Horizonte para fugir da repressão da ditadura militar, que havia se instalado no Brasil com a Revolução em 1964, pois tinha abrigado um guerrilheiro em seu apartamento no Rio de Janeiro. Entre 1971 e 1973, principalmente, conviveu com a turma do Clube da Esquina e pôde compartilhar com eles um pouco da sua música. Mas Fredera não considera que a turma tinha ideais parecidos com os deles, que eram mais políticos. Ele observa que, em termos de convivência com os integrantes, apenas Marcinho era seu parceiro intelectual, com o qual trocava livros e jogava xadrez e Lô Borges era seu parceiro de curtição. O resto da turma tinha apenas convivência “no sentido musical”. Fredera diz que não ganhou muita experiência com o grupo. Já havia deixado sua marca visível com composições para o Som Imaginário, grupo musical que recentemente e com nova formação voltou a se apresentar. Para Fredera, que não voltou ao projeto, o que mais o marcou foi fazer parte daquele momento que levantou carreiras através de produções de músicas como Travessia e Morro Velho. Após passar seus anos de calmaria em Belo Horizonte, ele foi trabalhar como músico de acompanhamento. Tocou com Raul Seixas, Gilberto Gil, Fafá de Belém, Ivan Lins e Gonzaguinha. Trabalhou com o último por sete anos, quando se firmou como pensador musical, após o lançamento de sua música Aurora Vermelha. Ele foi muito reconhecido no exterior, por faculdades de música e especialistas da Europa e dos EUA, mas, no Brasil, teve pouco
reconhecido por seu trabalho. Fredera conclui que no final de tudo queria usar sua música para enfrentar a ditadura, enquanto os outros componentes do Clube da Esquina estavam ali simplesmente pela música em si. “Música que, por boa ou ótima que fosse, não era a minha real aspiração”, salientou. Hoje, Fredera diz estar encerrando sua carreira musical, gravando seu terceiro disco, “Balada a um anjo na Terra”, e quer relançar o livro que escreveu, chamado “O Crime contra Tenório - Saga e martírio de um gênio do piano brasileiro”, em que narra a história do desaparecimento de um pianista em Buenos Aires depois de um show em que ele acompanhava Toninho e Vinícius de Moraes. Além disso, está se preparando para lançar um novo livro em que retrata os acontecimentos do caminho de Gonzaguinha ao estrelato. O nome do livro é “Luís Gonzaga Júnior - A Paixão da conquista”. O baixista Paulinho de Carvalho, por sua vez, tem visão completamente diferente do Clube da Esquina. Ele começou a se envolver com o mundo musical ainda muito cedo, aos 8 anos, quando deu os primeiros acordes no violão, por incentivo de seus pais. Influenciado pelos Beatles, aos 12 anos tinha uma bandinha com os amigos, onde, segundo o músico, “brincavam de tocar”. Antes de integrar o Clube da Esquina ele já tocava na noite em barzinhos, na companhia de seu amigo Marilton Borges, irmão de Márcio e Lô. “A noite é a grande escola da música brasileira popular”, destaca. Paulinho Carvalho participava de um grupo que tocava Beatles e o musical Arca de Noé. Ele chegou a cursar faculdade de engenharia, mas acabou
abandonando pela música. Foram muitos os fatos que marcaram sua vida durante os anos em que fez parte do Clube da Esquina, mas, entre outros, destaca um dos shows que fez com Lô Borges em São Paulo, na Rua Augusta, onde cantavam em uma lona de circo. “Teve um show em uma noite bonita, e foi um dos melhores da minha vida”, diz Paulinho. Outro momento que ainda emociona Paulinho foi o show que fez com Milton Nascimento, em homenagem a Elis Regina, após um ano de sua morte, com um público de mais de 70 mil pessoas. Sobre sua convivência com os outros integrantes do Clube, disse que era muito boa. “O Lô foi um companheirão, ele que mais me incentivava e era o mais brincalhão. O Milton se mudou para BH e a gente vivia junto, ele foi meu braço direito. O Flávio (Venturini) é o meu irmão”, comenta. Sobre o distanciamento do Clube, ele disse que, aos poucos, cada um foi seguir novos caminhos e realizar seus projetos pessoais. “Mas eu não distanciava nunca dos meninos, na verdade nunca distanciei. Sempre que precisam, toco com eles”, afirma Paulinho Carvalho, que atualmente integra o projeto Cores do Clube, com Toninho Horta, dá aulas na Escola de Música Pró Music e tem novos projetos para sua banda, Fio da Navalha, para o próximo ano. Paulinho vê no atual cenário musical brasileiro uma desvalorização da essência da boa música no Brasil, devido à contribuição da massificação causada pela televisão. “Mas acho que agora vai partir para uma nova fase, o pessoal está mais interessado”, finaliza.
Festival Internacional de Fotografia em estação do metrô leva cultura à população da capital VICTOR ALVES 3º PERÍODO
Oficialmente encerrada no final de agosto, as obras que integraram o acervo do Festival Internacional de Fotografia continuam expostas e podem ser apreciadas pelos usuários do metrô em Belo Horizonte por tempo indeterminado. Essa medida foi adotada pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), em conjunto com os organizadores do evento, com o objetivo de viabilizar o contato de um maior número de pessoas com essa manifestação artística. De acordo com a coordenadora do Atendimento ao Usuário da CBTU, Claudia Haddad, as fotos irão compor permanentemente o cenário da Estação Central do Metrô, em Belo Horizonte, podendo ser substituídas periodicamente por obras de outros artistas. Para João Paulo, 21 anos, estudante de direito e usuário do metrô, a permanência da exposição de fotografias deve ser comemorada. “A Estação Central só tem a ganhar em termos de visual”,
afirma o frequentador do local. Ele acredita também que a exposição pode despertar em quem passa pelo lugar o interesse pela fotografia. O Festival Internacional de Fotografias reúne trabalhos de diversos artistas e um deles é David Welch que, em sua obra “Mundo Material”, trata de temas contemporâneos que falam de acumulação e materialidade, fazendo uma crítica à sociedade de consumo. “Bruxas em Exílio”, de Ann Christine Woehrl, aborda o drama de mulheres que são perseguidas por bruxaria na África. Já Alejandro Cartagena, em “Carpoolers”, concentra seu trabalho na visualização de consequências invisíveis do progresso mexicano do século XXI. “O objetivo do Festival vai muito além do que democratizar o acesso ao conteúdo cultural. Trata-se também de incentivar todo e qualquer processo criativo e inovador”, pontua o coordenador geral do FIF, Guilherme Cunha. Para ele, as imagens do metrô levantam questões relacionadas a esse universo urbano em
que o indivíduo da cidade se encontra, além de aproximar o cidadão da arte da fotografia. Guilherme defende que um dos intuitos do Festival é deslocar o usuário do metrô de um cotidiano maçante e tornar a sua viagem mais agradável. Para que a ideia do Festival ganhasse forma, os organiza-
dores firmaram uma parceria com a CBTU e apresentaram uma proposta, que foi avaliada dentro dos critérios de segurança. Antes, foi feita uma pesquisa sobre outros festivais e sobre como as pessoas se relacionam com a arte. Uma das preocupações dos coordenadores era de não deixar que
as fotografias assumissem um caráter publicitário. Guilherme Cunha acredita que, diferente da publicidade, “a arte estimula a imaginação e não impõe nenhum tipo de resposta. O observador dialoga com o conteúdo da imagem”. “A Companhia sempre procurou implementar parcerias
Fotos do Festival Internacional expostas nos corredores da estação central
André Correia
que trouxessem ações culturais para os nossos usuários”, observa Cláudia Haddad. O usuário do metrô Wellington Silva, 41 anos, também aprova a iniciativa. “Nós não estamos habituados a frequentar museus ou galerias de arte”, observa. Ele, que nunca esteve em uma exposição de fotografia, diz que as imagens distraem as pessoas enquanto elas aguardam a chegada do metrô. A falta de tempo é um dos fatores citados por Cláudia Haddad para justificar o fato de boa parte da população não ter contato com manifestações artísticas. “Às vezes as pessoas moram longe e os espaços destinados à arte estão mais concentrados na zona sul”, acredita. Segundo ela, a arte passará a fazer parte do dia a dia das pessoas, já que muitas delas utilizam o metrô para ir trabalhar ou para ir à escola, por exemplo. Segundo ela, a CBTU pretende tornar a Estação Central um dos espaços permanentes de futuras edições do FIF.
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Cultura
Curso de cinema da PUC Minas une prática e formação teórica A PUC Minas oferecerá, a partir de 2014, o curso de Cinema e Audiovisual, que retoma experiência vivida há 44 anos, e promete trazer para o aluno uma bagagem de conhecimento bem ampla ALÉXIA MOREIRA AMANDA MASCARENHAS THAINÁ NOGUEIRA 2º PERÍODO
No primeiro semestre de 2014, a Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) da PUC Minas oferecerá o novo Curso de Cinema e Audiovisual, com a proposta de uma prática aliada à reflexão e à produção de conhecimento com referências em pesquisas teóricas e críticas. O projeto, juntamente com todos os processos pedagógicos e burocráticos, começou a ser desenvolvido há cerca de três anos e envolve o Colegiado, a diretora da faculdade, prof.ª Glória Maria Gomide, e um grupo de professores. A FCA teve origem, na verdade, na Escola de Cinema da Universidade, fundada na década de 60. A referida escola foi uma experiência curta, que teve seu último ano de funcionamento em 1970. A época marcou o início da dinâmica cinematográfica em Minas Gerais, criando uma pequena vertente fora do eixo Rio-São Paulo e explorando o cine-clubismo, atividade que era forte aqui. Porém, o antigo curso em nada se compara com o novo, levando em consideração a amplitude do mercado atual. Um dos idealizadores do projeto e coordenador do curso de Publicidade e Propaganda, Robertson Mayrink, dá aulas de Cinema. Ele atenta para o
apelo do curso em formar profissionais que possuam, além dos conhecimentos técnicos, boa base teórica. “A PUC tem uma tradição muito forte e consagrada em disciplinas humanísticas. E aqui na Comu-
nicação, também há uma tradição forte nessa área da Arte e de disciplinas específicas. Se a gente conseguir mesclar bem tudo isso, a formação do aluno vai ser completa. Não vai ser só pegar câmera e fazer, ele
Robertson Mayrink: mercado aquecido
Raquel Gontijo
vai ter um senso crítico para desenvolver um conteúdo, isso que é importante”, diz. O curso será no Campus Coração Eucarístico, no turno da tarde, com duração de quatro anos. Assim como as outras habilitações da Comunicação, Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas, a grade curricular terá as disciplinas comuns a todas elas e aprofundamento naquelas específicas da área audiovisual. À medida que o curso avançar em disciplinas bem específicas, mais técnicas, mais professores serão requisitados, e, segundo Mayrink, eles terão que ter boa formação teórica em Cinema e qualificação prática, além de ter trabalhado e produzido na área audiovisual. Entretanto, o curso já conta com alguns profissionais, como o próprio Robertson, que possui mestrado em Cinema. Equipamentos novos também serão adquiridos ao longo da necessidade das disciplinas, dentre eles iluminações mais específicas para captação de imagens de cinema, equipamentos de iluminação, câmeras e ilhas de edição. Todo o setor audiovisual brasileiro é considerado o de mais acelerado desenvolvimento, com a criação de novas mídias, evolução na tecnologia de captação de imagens dos veículos de comunicação, principalmente em virtude da internet. O cenário cinematográfico também teve seu mais representativo desenvolvimen-
to na última década. Tudo isso faz com que a demanda por cursos de cinema, tv e vídeo seja grande. Mas a carência de cursos superiores para capacitar novos profissionais e torná -los aptos a trabalhar em produtoras e estúdios de filmes, curtas e séries, explica a falta de mão-de-obra. Apenas 17 faculdades em todo o Brasil disponibilizam o curso, e somente duas se localizam em Belo Horizonte, a UNA e a UFMG, porém esta última possui o curso voltado exclusivamente para o Cinema de Animação. ESCASSEZ Robertson Mayrink observa que há escassez de mão de obra na área e comenta as diversas formas de atuação do profissional com a formação em Audiovisual. “Ele vai ter uma abertura muito grande, poderá trabalhar como roteirista, fotógrafo, iluminador, diretor de cena, orientador e outros”, diz. “O mercado cresceu muito. Recentemente, então acho que a expectativa para aquele aluno de Audiovisual é a melhor possível hoje”. Marcos Ubaldo Palmer, 48 anos, é Coordenador do Laboratório de Vídeo da PUC e confirma o aumento da demanda de uma produção, segundo ele, mais complexa e elaborada para televisão, seguindo uma linha mais cinematográfica por causa das produções nacionais de séries, por exemplo. Ele também opi-
na sobre o futuro curso. “O nome é Cinema e Audiovisual, porque tem justamente esse conceito de ampliar a visão do cinema enquanto aplicação também na televisão e na internet, além do mais, a distancia de qualidade que existia entre esses veículos, e o cinema hoje é muito menor”, observa. Marcos Palmer ainda enfatiza a importância dos investimentos de empresas grandes, por exemplo, como a Petrobrás e a Vale, que patrocinam produções cinematográficas. “Se a gente pensa numa Escola de Cinema aqui, é por que hoje temos um campo muito mais aberto pra produção cinematográfica, não só pensando na tela grande, mas também pensando na tela pequena”, afirma. Luiz Fellipe Coutinho, 21 anos, vai prestar vestibular para o curso, e diz que se interessa por cinema desde criança, quando sua mãe lhe apresentou uma das mais importantes obras de Quentin Tarantino e Pulp Fiction. “Aos 10 anos, de idade, foi uma boa influência. A partir daí comecei a passar horas em locadoras, e à medida que fui envelhecendo, fui me interessando e entendendo mais sobre cinema. Conhecendo os diretores e atores, roteiristas e produtores. Pesquisava sobre os filmes, achava interessante as curiosidades e todo o processo de criação”, afirma.
Potencial audiovisual mineiro incentiva curso Minas Gerais tem revelado grande potencial para a indústria cinematográfica nacional, com quantidade significativa de mostras e festivais, polos de audiovisual e, mais recentemente, filmagens. A já consagrada Mostra de Cinema de Tiradentes exibe anualmente longas e curtas metragens nacionais, pré-estreias, oficinas e oferece, ainda, uma programação que inclui debates com cineastas, diretores, críticos e platéia após as sessões, com o objetivo de discorrer sobre a produção cinematográfica. Já a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, promove, também em edições anuais, o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros, com a participação de profissionais, acadêmicos e especialistas que estão construindo o Plano Nacional de Preservação Audiovisual, visando a preservação do cinema como patrimônio. Belo Horizonte também é um importante cenário de divulgação do cinema, por meio de eventos dedicados apenas aos curtas, como o
Festival de Curtas de Belo Horizonte (FestCurtas BH) e o Festival Internacional TIM de Curta-metragens de Belo Horizonte, e de festivais mistos, como por exemplo a Mostra CineBH Brasil Cinemundi, o Festival Indie - Mostra de Cinema Mundial (que ocorre também em São Paulo) e as já tradicionais mostras de cinema do Palácio das Artes. No resto do estado, ainda há outros eventos, tais como o Festival de Cinema de Montes Claros, o Festival de Cinema Preto e Branco e o Festival Primeiro Plano, ambos em Juiz de Fora, e o Festival Ver e Fazer Filmes, na cidade de Cataguases, na Zona da Mata Mineira. Nesse município que se localiza a sede da Fábrica do Futuro – Residência Criativa do Audiovisual, organização que faz parte de um amplo Programa de Cultura e Desenvolvimento Local e envolve uma rede de cooperação, através de agentes culturais, sociais e empresariais de inúmeras instituições públicas e privadas da região. O
projeto, que possui filial em Belo Horizonte, tem como objetivo desenvolver formas diversas e colaborativas de criação, produção e difusão audiovisual, por meio de tecnologias inovadoras aplicadas à comunicação, tendo o jovem como agente de transformação sociocultural. A partir da Fábrica, surgiu a iniciativa da criação do Polo Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais, projeto radicado na cidade e integrado por universidades, empresas e governos de dez municípios próximos, que esperam atrair produções cinematográficas e aumentar sua capacidade de formação de profissionais para o cinema e a TV. A filmagem do filme “Meu Pé de Laranja Lima”, de 2013, na região, foi o primeiro resultado do grupo. Minas Gerais também foi local de gravações de outras produções relevantes, como “Tiradentes”, “Chico Rei”, “O Menino Maluquinho”, “Batismo de Sangue”, “Brasil Animado” e “O Palhaço”.
BH realiza o Festival de Curta Metragem BÁRBARA GONZAGA MARIANA AMARANTE RAFAEL BONANNO LAGE 1º E 3º PERÍODOS
Amplo e promissor. Assim é descrito por cineastas ouvidos pelo MARCO o cenário cinematográfico e audiovisual da capital mineira. E essa situação foi evidenciada, em setembro último, com a realização da 15ª edição do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, no Palácio das Artes. Cerca de 3 mil realizadores, nacionais e estrangeiros, enviaram seus curtas para o processo de seleção do evento. Dentre eles, 130 foram escolhidos para participar das mostras competitivas - Minas Gerais, Brasil e Internacional - ou especiais - Movimentos de Mundo, Animação, Juventude, Infantil e Matilda. O FestCurtasBH foi realizado pelo Governo de Minas Ge-
rais, por meio da Secretaria de Cultura, em parceria com a Fundação Clóvis Salgado. Com o objetivo de informar, divulgar e incentivar a produção de curtas-metragens, o festival é considerado um dos eventos de audiovisual mais importantes do Brasil, exibindo produções de cineastas renomados, mas, também, dando oportunidades aos iniciantes. Além de possibilitar a integração entre filmes de abordagens distintas e o diálogo entre gerações e culturas diferentes, como palestrantes e realizadores franceses que vieram apresentar o seu trabalho no festival. Segundo o cineasta Ricardo Alves Júnior, vencedor da mostra competitiva brasileira com o curta “Tremor”, o Fest CurtasBH é um evento organizado, que conta com uma equipe bem selecionada para realizá-lo. Ele sintetiza que o cenário audiovisual de
Belo Horizonte é bastante amplo. “Há a mescla de obras de projeção internacional e trabalhos experimentais, resultando em um cenário diversificado e rico”, observa. Reforçando o ponto de vista da grande maioria dos realizadores, os estreantes Débora de Oliveira e Ralph Antunes, que realizaram o curta “Carga Viva”, reafirmaram a ideia de que Belo Horizonte é um importante pólo da indústria cinematográfica independente. Para Ralph, no entanto, é preciso melhorar o aspecto do apoio oficial, por meio do Governo de Minas e da Prefeitura de Belo Horizonte. “É bem aquém do que deveria ser”, afirma o cineasta, que compara as situações em Minas e no Ceará. “O aporte de recursos no Ceará é de cerca de R$ 11 milhões anual e aqui cerca de R$ 4 milhões bienal”. Mas, segundo ele, existe um otimismo que aguarda mudan-
ças, tendo em vista a crescente na indústria nos últimos anos. Para os profissionais envolvidos, é possível perce-
ber um cenário promissor de curtas metragens em BH, necessitando apenas de investimentos e incentivos à
altura dos profissionais que carregam o nome da cidade e do estado com muita competência e profissionalismo.
Débora de Oliveira e Ralph Antunes apresentaram o curta “Carga Viva”
Raquel Gontijo
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Comunicação
Mercado Jornalístico em Minas Com o desenvolvimento de novas tecnologias,o trabalho do jornalista sofreu várias transformações que impactaram nas redações dos jornais. Na internet, a informação é mais rápida ALESSANDRA APARECIDA LUZ RESTREPO 1º PERÍODO
O mercado de jornal impresso está passando por um processo de mudança, precisando se adaptar às novidades do mundo tecnológico que, atualmente, encontrase como uma plataforma muito mais atrativa aos leitores. É preciso garantir o investimento publicitário e, ao mesmo tempo, atender um público que está habituando-se à leitura diária dos veículos populares e adquirindo consciência crítica. A avaliação é consenso entre os jornalistas ouvidos pelo MARCO, com o objetivo de fazer um diagnóstico da situação em Belo Horizonte. O jornalismo impresso tem encontrado dificuldades em transpor a praticidade e a agilidade que as novas mídias oferecem. Mas serão realmente novas? O rádio existe desde a década de 20, a televisão desde a década de 50 e a internet, desde a década de 80, tendo maior popularidade a partir dos anos 90. A questão é: o que está acontecendo com o jornal em papel? As pessoas parecem preferir as formas mais rápidas de se obter a informação. A internet tem se beneficiado com o surgimento das redes sociais, como os blogs e sites, porque o intercâmbio das informações é bastante rápido, amplo e diversificado. Segundo a diretora-se-
cretária do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Minas Gerais (SJPMG), Vilma Tomás Ribeiro, em cada explosão tecnológica, sempre houve o temor do fim do jornal. “Toda época, se você for ver, é cíclica, por exemplo, assim, quando surgiu a TV pensava-se que a TV ia desconstruir o cinema, quando surgiu o videocassete, o DVD, pensaram que iam acabar com a TV, mas essas mídias se interagem, elas coexistem entre elas”, observa. Para Vilma Tomás, coordenadora do Qualificar, programa de capacitação profissional voltado aos jornalistas em Minas Gerais, o surgimento do jornalismo digital, dos blogs, dos sites, não quer dizer que vai anular o impresso. “Cada um tem seu espaço no mercado e a história mostra isso”, afirma. O fato é que o jornalismo impresso tem perdido espaço no mercado a cada ano, gerando um clima de instabilidade e incertezas. As redações vêm reduzindo o seu tamanho gradativamente. Para Vilma Tomás, é um processo contínuo e natural. “A redação do Estado de Minas, de uns anos para cá, vem reduzindo gradativamente. Hoje, tem uma redação do Estado de Minas com, pensa aí, 120 jornalistas, mas já teve até mais de 200. Você tem uma redação do Hoje em Dia com 70 jornalistas, mas já teve mais de 100, quando começou, há
27 anos. Então, essa redução vem acontecendo paulatinamente e agora muito mais, porque as novas mídias surgiram, quer dizer, as novas mídias digitais surgiram, mas isso aí é uma tendência natural mesmo”, analisa. O editor do caderno de cultura do jornal Estado de Minas, João Paulo Cunha, diz que o mercado jornalístico, como de todas as áreas, é muito competitivo. “A gente tem algumas empresas jornalísticas que têm um quadro relativamente grande de jornalistas tanto no impresso como no rádio, na TV, na internet, mas a gente tem muito mais pessoas entrando no mercado do que propriamente capacidade de ampliar esses números de vagas”, comenta. “O crescimento do jornalismo, principalmente do jornalismo impresso, é relativamente barrado, atualmente, por uma série de contingências. Aí, tanto do ponto de vista tecnológico como do ponto de vista econômico, a gente já tem um mercado relativamente sedimentado”, acrescenta. De acordo com alguns analistas, no entanto, o momento é propício para se aproveitar oportunidades. Raquel Camargo, empreendedora pública e blogueira desde os 13 anos, está no mercado de trabalho há seis anos e, para ela, “Existem muitas visões apocalípticas”. “Eu não vejo o fim do papel, eu vejo uma mudança
Leitores não deixam de ler os jornais impressos disponíveis nas bancas
de comportamento. Toda a humanidade passa por isso, por troca de tecnologia, de pensamentos de dinâmicas. Eu vejo cada troca de tecnologia, de era, de revolução, seja lá o nome que as pessoas deem, como parte de amadurecimento”, avalia. “Então não acho que o papel vai morrer, acho sim que tem uma troca muito grande no mercado que os jornais impressos não podem continuar da forma que trabalham hoje, tem que ter uma revolução, uma mudança de trabalho, de pensamento, de distribuição de produção de conteúdo”, complementa. Carlos Plácido Teixeira, 57 anos, colunista no jornal Diário do Comércio, gerencia os sites radardofuturo. com.br e cominteligencia.
Jornais populares ganham maior espaço no mercado Os jornais populares são uma tendência do jornalismo impresso, voltados para as classes em ascensão socioeconômica e que ainda têm menos acesso à internet. São considerados por especialistas, como uma tentativa de revitalizar a mídia impressa, por meio de uma linguagem simples e rápida, inspirados em modelos europeus. “Eu acho que a história dos jornais populares se confunde muito com a história do governo de esquerda no país. As pessoas saíram da miséria e sobrou dinheiro para a informação, sobrou dinheiro para a leitura, o avanço da escolaridade gerou um índice de leitura maior”, explica Liliane Correa de Freitas que, atualmente, trabalha como editora no jornal Estado de Minas, mas fez parte da equipe que planejou o Super Notícia, em 2002, e, posteriormente o Aqui. De acordo com dados do Instituto de Verificação de Circulação (IVC), que averigua a quantidade de exemplares de
jornais e revistas vendidas, disponibilizados pelo site da Associação Nacional de Jornais (ANJ), o Super Notícia foi o 2º jornal mais vendido no ano passado. O jornal Aqui ficou em 11º lugar. O jornal popular Super Notícia teve como idealizador o empresário Vittorio Medioli, proprietário da Sempre Editora, que edita também o jornal O Tempo e os semanários Pampulha, O Tempo Betim, O Tempo Contagem e a revista SuperTV. O jornal Aqui surgiu em 2005, como projeto dos Diários Associados, grupo responsável pelo Estado de Minas, para disputar espaço no mercado com o Super Notícia. Para isso, a jornalista Liliane Correa de Freitas foi contratada e levou consigo alguns integrantes da equipe inicial do Super, utilizando a mesma linguagem e formato do concorrente. Rogério Maurício, atual editor do Super Notícia, considera que o sucesso
Liliane de Freitas participou da criação do Super e do Aqui
Raquel Gontijo
desse jornal se deve a uma série de fatores: “Conjuntura política, uma publicação diferenciada, projeto gráfico, formato e conteúdos atraentes, preço baixo, boa distribuição, promoções, prestação de serviços, grande massa de pessoas que não tinham hábito de leitor e nem acesso”. Para os jornalistas ouvidos pelo MARCO, a grande importância e contribuição que os jornais populares ofertaram à sociedade foram a inclusão de uma classe social que passou a ter poder de compra em decorrência dos investimentos sociais dos últimos anos. São pessoas seduzidas pela gama de informações e que agora podem ter acesso a elas. E isso traduz de certa forma, uma das funções do jornal, promover a democratização da informação. Existe um princípio chamado “equidade” que, basicamente, significa tratar todos iguais de acordo com as suas diferenças, ou seja, todos têm direito à informação, mas é preciso que a linguagem seja adaptada de acordo com as características do público, para que esse assimile da melhor maneira possível, a ponto de formular a sua própria opinião sobre determinado assunto. Segundo Liliane Correa, os conteúdos utilizados no jornal Aqui fazem parte das matérias divulgadas no jornal Estado de Minas, mas utilizando textos mais simples para a melhor compreensão. “São produções, na maior parte, reembaladas do jornalões e traduzidas para o popular, de forma a levar as mesmas informações para o leitor”, explica. Para Liliane, o “Grande barato dos populares” é ser a entrada para quem anteriormente não lia.
com.br, vinculados à área de tendência de mercado e afirma que apesar de haver uma crise, com perspectivas de demissões em massa, há oportunidades surgindo dentro do segmento da internet, sendo necessário aproveitar as oportunidades e abrir mão do tradicionalismo. Os especialistas concordam, entretanto, que nunca houve tanto acesso e produção da informação como atualmente, e que, apesar disso, a notícia é um fato real que precisa ser apurado, trabalhado, analisado, para ser divulgado e assim informar o leitor da maneira mais objetiva possível. Com a instantaneidade, é preciso refletir na qualidade daquilo que está sendo consumido. “É cada vez
Raquel Gontijo
mais complicado e cada vez mais importante você saber de onde vem à informação que você está consumindo, para ter certeza se ela é verdade ou mentira. É que tem muita bobagem”, alerta a editora do caderno de economia do jornal Estado de Minas, Liliane Correa de Freitas. “A qualidade da informação continua tendo seu valor. E mais, num mundo onde as mudanças são cada vez mais rápidas, o volume de informações é cada vez maior e é mais importante ainda você saber de onde você está consumindo a sua informação e qual que é a firmeza, a credibilidade dessa informação”, acrescenta.
Jornal Hoje em Dia é vendido para Grupo Bel Em setembro último foi concretizada a venda do jornal Hoje em Dia, que pertencia à Ediminas S/A, editora gráfica e industrial de Minas Gerais controlada pela Rede Record, finalizando uma situação que já era esperada no mercado jornalístico da capital mineira. O jornal foi adquirido pelo Grupo Bel, que está no ramo da comunicação e do entretenimento há 46 anos. O jornal Hoje em Dia tem uma trajetória de 25 anos no mercado impresso e sua venda gerou muitas especulações. Rogério Aguiar, sócio do grupo Axial Medicina Diagnóstica, foi o primeiro potencial comprador, mas quando tudo parecia caminhar para a finalização da negociação, ela não foi concretizada. Mas, segundo Aloísio Morais, atualmente subeditor do caderno de Minas no jornal Hoje em Dia e Diretor Financeiro do Sindicato de Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), o Grupo Bel já tinha também relações comerciais com a Rede Record. “Era um grupo que tinha uma relação comercial com a Record, então esse grupo decidiu comprar”, diz. “Do ponto de vista empresarial deste grupo (Record), o Hoje em Dia não valia a pena, era um produto que não gerava lucro, uma empresa sem expressão com tiragem pequena, que constava
para eles na coluna vermelha”, afirma a presidente do Sindicato de Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Eneida da Costa. “A Rede Record passou a utilizar a gráfica do Hoje em Dia para rodar a Folha Universal, jornal criado por eles e que hoje tem uma tiragem muito alta, e o jornal Hoje em Dia ficou como um empecilho dentro da empresa”, completou a dirigente sindical, referindo-se à Igreja Universal do Reino de Deus, proprietária da Record. Segundo Aloísio Morais, o Grupo Bel comprou tudo, inclusive o novo parque gráfico, em Sabará, já que a gráfica que ainda existe no Carlos Prates vai ser desativada. “Eles compraram com tudo, com prédio, tem o site também que eles querem organizar. O jornal Hoje em Dia vai continuar, eles querem aumentar a tiragem, investir mesmo na publicidade”, conta. Apesar disso, Eneida da Costa admite apreensão em relação às possíveis demissões que possam ocorrer no Hoje em Dia como consequência da mudança de proprietários. “Nós estamos preocupados, de olhos vigilantes na questão dos jornalistas, que é o publico que nos diz respeito. Somos a entidade representante desses trabalhadores”, salienta.
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Comportamento
“Gêmeas” artísticas provocam curiosidade no Campus da PUC As irmãs Danielle e Mirelle, estudantes de Enfermagem, são conhecidas por se vestirem iguais, desde o calçado até o adereço de cabelo. Por onde passam, chamam a atenção das pessoas ALÉXIA MOREIRA AMANDA MASCARENHAS ANA LUIZA BORELLI THAINÁ NOGUEIRA 2º PERÍODO
Muito conhecidas no campus da PUC Minas Coração Eucarístico, Danielle e Mirelle são as gêmeas bailarinas. Assim é como se denominam em seu canal de vídeos no Youtube. Na verdade, são Mirelle Alves Soares, 26 anos, e Daniela Alves Soares, 25 anos, ambas estudantes de Enfermagem que cursam o 2° e 3° períodos, respectivamente. As irmãs, que não são gêmeas como a maioria das pessoas pensa, são conhecidas por se vestirem igual, do calçado ao adereço de cabelo. Vestem-se assim em todos os lugares. Sempre impecáveis, Daniela conta que, desde pequenas, se comportam desta maneira. “A gente usa igual porque, quando éramos crianças, tínhamos a opção de escolher a roupa. Quando eu escolhia uma, ela escolhia igual a minha”. Elas afirmam gostar de se vestirem assim, e que, no inicio, a mãe, que é costureira, fazia as roupas, depois ensinou às meninas para
que pudessem fazer roupas para suas bonecas. Atualmente, quem cria os figurinos são elas mesmas. “Costuramos nossas roupas como se fossem as das nossas bonecas”, diz Daniela. Com looks criativos, a inspiração para desenhar e confeccionar as roupas “vem da cabeça”, e, segundo elas, os modelos dependem do tecido escolhido. Para os acessórios, as irmãs analisam qual combina mais com a roupa, se vai ser um chapéu, uma flor ou laço. As roupas são divididas no guarda roupa por cor, e a escolha do dia varia. Se na mesma semana já foi usado vermelho, por exemplo, elas usam outra cor, como azul ou verde. Ao serem questionadas sobre divergências de opiniões, ambas garantem que isso não acontece. “Combinamos o que vamos usar no dia juntas, nunca discordamos e procuramos variar sempre”, diz Daniela. Ainda sobre a relação das irmãs, além de costurarem as roupas em conjunto, às vezes uma começa e a outra termina, elas também produzem suas próprias coreografias e contam com a ajuda da
terceira irmã, Shirley Alves Soares, 30 anos, que é advogada e a empresária da dupla. Nascidas e criadas na cidade de Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte, as “gêmeas” possuem uma carreira artística, que teve inicio em um sarau realizado na escola onde estudavam, em ascensão na cidade. Depois, as meninas começaram a ser convidadas para dançar em diversas festas e assim ficaram conhecidas. Elas creditam também à internet parte do sucesso. O veículo foi fundamental para divulgação dos trabalhos, principalmente para quem não é de Santa Luzia e não as conhece. Em 2007, foi oferecido a elas um convite para apresentarem suas performances semanalmente no programa “Encontro Sertanejo”, do Canal Livre TV de Santa Luzia. A emissora é uma produtora de comunicação especializada em comerciais, vídeos institucionais, documentários, programas de entretenimento, programas educativos, transmissões ao vivo de shows, eventos, jogos e TV Executiva da cidade. Apesar de estudarem
Danielle e Mirelle se vestem igual por gosto
para atuar em uma área muito diferente da artística, elas acreditam que é possível conciliar as duas carreiras, já que ambas são suas paixões. Mirelle comenta que nunca pensou sobre a possibilidade do jeito delas influenciar
André Correia
na hora de conseguir um emprego, mas acredita que isso não atrapalhará em nada, pois são alunas exemplares e, segundo elas, nunca faltaram. As duas fazem monitoria no Laboratório de Anatomia, no prédio 23 da PUC Minas.
O jeito das irmãs parece não atrapalhar as outras relações em geral, Mirelle diz que as pessoas que riem são aquelas que desconhecem, e as que já conhecem estão acostumadas. Elas estão habituadas a todas as reações. A princípio, todos estranham e ficam olhando, mas elas garantem que não se importam e muitas vezes nem percebem. A reação campeã é a dúvida se elas são gêmeas ou não. Alguns não acreditam que elas não sejam e a maioria, mesmo sabendo da verdade, continua chamando-as assim. As opiniões também são diversas, pode ser que algumas não sejam tão agradáveis como a maioria, mas tudo isso faz parte da super exposição que, no caso delas, é inevitável. Elas têm a própria opinião. Mirelle argumenta em nome das duas: “Algumas pessoas acham que nos vestimos assim para aparecer e pra nos mostrar, e não é isso. Sempre nos vestimos assim, é algo natural para nós”.
Página sobre árvores de BH faz sucesso nas redes sociais AMANDA ALVES MAÍRA PAIVA 1º PERÍODO
De uma criação independente, surge a página no Facebook “Adoro Árvores-Belo Horizonte”. O autor, Bruno Andrade Guimarães, 32 anos, teve essa ideia por meio de um estágio que fizera no ano de 2001, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, em Belo Horizonte. “O estágio de um ano e meio no parque me deu esse estalo”, conta Bruno. Nesse estágio uma das funções de Bruno era guiar os visitantes num tour pelo parque informando o nome de algumas árvores, o que despertou seu apreço por elas. Brotava ali a ideia de criar um meio de preservar e valorizar as árvores da capital
mineira, que já foi conhecida como “Cidade Jardim”. Com os avanços tecnológicos e digitais, foi possível dar praticidade a essa ideia, dando visibilidade às
árvores da cidade. A página reúne fotos enviadas pelos participantes com o objetivo de apreciar e identificar as árvores, gerando assim um conhecimento mais
abrangente das espécies de árvores em Belo Horizonte. A página funciona da seguinte maneira: as fotos de árvores são enviadas contendo endereço, nome de
Projeto visa a exposição das árvores da cidade para a valorização das áreas verdes
Raquel Gontijo
quem tirou a foto e, caso saiba, o nome da espécie. As fotos que contêm essas informações são publicadas, se não se sabe o nome da espécie, o responsável pela página ou os participantes tentam descobrí-lo. “Há, no momento, só duas árvores que não conseguimos identificar”, relata Bruno. No início, o processo de publicação não visava a especificação das árvores, porém, com o tempo, viu-se a necessidade da padronização da legenda dessas fotos. Além da divulgação das espécies, a página também promove a doação de mudas e sementes, mostrando que a ação vai além da exposição das árvores na rede social, tornando-se uma ação mais participativa. A ideia da página é priorizar as árvores que são
fundamentais, tanto para o abrigo de uma variedade significativa de pássaros, quanto para a qualidade do nosso ar. “Conhecer para valorizar”, enfatiza Bruno. A página tem como foco apenas as árvores de Belo Horizonte. “Agir localmente para ter resultados globais”, observa Bruno, que futuramente pensa em montar um mapeamento das árvores da rua onde mora, já que é muito extensa e arborizada. Atualmente, a página no Facebook “Adoro Árvores-Belo Horizonte” (www. facebook.com/adoroarvoresbh) conta com um acervo de 86 fotos de árvores espalhadas pela cidade, as mais fotografadas são as espécies de Ipê, Munguba, Ficus e Pau Ferro.
Apesar das perdas, Maria Cândida ainda sonha em ser feliz LOLA CIRINO 1º PERÍODO
Vinda de uma família repleta de amor, Maria Cândida Gomes, aos 49 anos, não tem do que reclamar. Criada com cinco irmãos, ela relembra, sorridente, que escapou das palmadas todas as vezes. “É menina, eu vou morrer sem te dar uma surra”, lembra-se, entre risadas, da fala de seu pai brincalhão. Trazida para os arredores de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, muito cedo,
Cândida, ou Candinha para os de casa, conta que mal se lembra dos detalhes de sua cidade natal, Água Boa. A única lembrança é que para cá veio e esbarrou nos estudos, marido, filhos. Embora tenha tido uma infância repleta de cuidados e mimos, a família não tinha condições de arcar com as despesas dos estudos de todos. Por isso, abriu mão do ensino superior e, em casa, ajudou na criação dos irmãos. Foi no meio desse caminho que encontrou Carlos, com quem se casou e construiu uma família.
O sorriso toma conta do rosto ao falar deles. “Meus anjos”, ela diz. “Às vezes dizem que eu mimo demais os meus filhos, mas eu penso: é a única coisa que posso fazer, né? Filho é filho”, acrescenta. Ao entrar nesse assunto, Candinha, que antes era toda sorrisos, mostra seu lado frágil. É Carla que a deixa assim. Há oito anos, perdeu um de seus anjos. Diagnosticada com leucemia, Carla se foi e deixou um vazio no coração da mãe. Apesar da dor, Cândida se lembra do sorriso da filha com alegria e
conta das fotografias que ela trazia do trabalho no fim do expediente. “Ela tinha um sorriso muito bonito. Trabalhava em uma loja de fotografias e vivia cheia de fotos que os clientes tiravam dela. Todos queriam testar a câmera com ela”, diz. Superar é um passo impossível para quem perde um filho. Aceitação é mais real. Após decidir que foi uma decisão de Deus, Cândida se permitiu um tempo para aceitar o destino de Carla e aprender a conviver com a perda. “Eu tive que colocar isso na cabeça. Foi a
hora que Deus quis e que agora ela está em um lugar melhor. Deus fez o melhor para ela”, afirma. Numa mudança de rumo na conversa, ela diz que hoje em dia se cerca de seus filhos Marina e Carlos Junior, suas músicas e livros. Conta do caderno de citações que guarda e atualiza sempre que encontra uma frase sobre amor, paz e alegria. Com o sorriso voltando a invadir seus lábios, ela encerra. “Na dúvida, melhor seguir o impulso do amor. Nele encontra-se também a razão”.
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Cidadania
A recuperação de cadeirantes A história de pessoas que tiveram a chance de passar pelo Hospital Sarah Kubitschek, onde apreenderam desde a aceitação à nova vida até tarefas simples do dia a dia, como vestir a roupa LAURA DE LAS CASAS 8º PERÍODO
A bonita paisagem da estrada entre Belo Horizonte e Casa Branca, distrito de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sempre foi um dos motivos que fazia a terapeuta holística Meire Pinto gostar tanto de dirigir. O sonho de viver no meio do mato tinha sido realizado havia poucos meses, e ela voltava sozinha para sua casa, no condomínio, após passar 15 dias com a filha caçula, que morava em Curitiba. “Eu me lembro que virei o braço para trás e peguei um perfume, quando olhei para frente, não vi mais a estrada. Só acordei no hospital, irreconhecível”, diz. Aos 55 anos, Meire ficou paraplégica depois de cair com o carro em um penhasco na Serra do Rola Moça, em junho do ano passado. Segundo ela, o socorro foi rápido, já que um grupo de bombeiros, por sorte, treinava resgate bem próximo ao local. De helicóptero, ela foi levada para o Pronto Socorro do Hospital João XXIII, onde passou por uma cirurgia e permaneceu por alguns dias. Voltou para a casa da cunhada e amiga, onde sempre se hospedava, usando um colete para firmar a coluna. Apenas dois meses depois, ainda com o colete, Meire recebeu a notícia de sua fisioterapeuta de que não poderia mais andar. “Eu fui num outro mundo e voltei. É uma cacetada da vida”, afirma. Como a queda comprimiu a coluna, os movimentos da cintura para baixo ficaram comprometidos. Gravemente machucada, ela passou a depender de outras pessoas para as mínimas tarefas do dia a dia.
Meire Pinto retoma a vida após acidente “Se eu precisasse de me virar de lado, alguém tinha que fazer isso para mim. Precisava de gente para tomar banho, para comer, para trocar a minha fralda, para tudo”, lembra. Nessa época, Meire conta ter aprendido algo que detestava fazer: pedir ajuda. “No começo, eram seis pessoas para me passar de uma cama para a outra, porque eu não podia me mexer muito”, lembra. Um ano depois, ela ainda precisa de uma cuidadora ao lado durante todo o dia, mas o nível de dependência já diminuiu bastante. Passados cinco meses do acidente, Meire foi internada no Hospital Sarah Kubitschek, referência no atendimento de
Laura de Las Casas
pessoas com politraumatismo e problemas locomotores. Na instituição, ela deu início a um período de desafios, no qual aprenderia a retomar a vida sobre duas rodas. Localizado à Avenida Amazonas, no Bairro Gameleira, Região Oeste da capital, o hospital é público e é uma das oito unidades da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação existentes no Brasil – as outras ficam em Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza, Distrito Federal, Macapá, Belém e São Luis. Em Belo Horizonte, em 2012, a unidade de saúde realizou mais de 240 mil atendimentos, divididos entre os programas de reabilitações do lesado me-
dular e do lesado cerebral, além do programa de ortopedia e da área de reabilitação infantil para pessoas de até 17 anos. Segundo Meire, foi difícil se adaptar às regras do hospital, mas a terapeuta reconhece que o período de internação foi importante para que se fortalecesse e começasse a vencer as dificuldades das tarefas diárias. No primeiro dia em que esteve na unidade, participou de uma entrevista com profissionais de diversas áreas da saúde, como nutricionistas, psicólogos, médicos de diferentes especialidades e enfermeiros. As pessoas de convívio mais próximo também participaram da reunião. Segundo a diretoria do hospital, esse procedimento é feito para se conhecer o histórico do paciente em termos de saúde. A arquitetura das oito unidades segue o mesmo padrão, com alas iluminadas pelo sol e diversas áreas a céu aberto, o que aponta para um dos focos do hospital: a socialização. “Ao conviver com pessoas que estão literalmente ao seu lado, paraplégicas ou até tetraplégicas, você começa a ver que isso é mais comum do que se imagina, que ninguém é melhor do que ninguém. Você começa a valorizar quem sobreviveu a um acidente gravíssimo. Isso dá força. Eu salvei o meu coração e a minha cabeça. Isso faz muita diferença”, afirma Meire. Quando o paciente é internado, ele e o acompanhante imediatamente recebem um uniforme, que deve ser usado durante todos os dias de permanência no hospital. Cada pessoa recebe um cronograma de atividades que deverá realizar durante o dia. Essa planilha é pensada de acordo com cada caso e inclui sessões de
fisioterapia, consultas com psicólogos, horário dedicado às refeições e ao banho, consultas médicas, atividade física, tempo livre, horário para fumar e também as chamadas “atividades da vida diária”, nas quais os pacientes reaprendem, por exemplo, a tomar banho, vestir a roupa sozinhos, manobrar a cadeira de rodas e colocar e tirar o catéter, uma sonda de drenagem da urina – muitas pessoas perdem o controle do xixi e das fezes depois da lesão medular. Na capital mineira, são 125 leitos distribuídos nos três andares, sendo 35 deles destinados à pediatria. Eles estão localizados lado a lado, e são separados por uma espécie de parede móvel, usada quando procedimentos mais invasivos precisam ser feitos. Em casos mais extremos, nos quais são exigidos cuidados especiais, como a internação de um tetraplégico, o paciente é instalado em um quarto particular, onde dorme com um acompanhante – nos leitos, os pacientes adultos passam a noite sozinhos, mas podem receber visitas ao longo do dia.
REABILITAÇÃO
De acordo com a Rede Sarah de Reabilitação, 48% dos pacientes do hospital foram internados depois de acidentes de trânsito, como aconteceu com Meire. A segunda maior causa, 18% dos casos, são as quedas, mais frequentes entre idosos e crianças. A lesão por arma de fogo está em terceiro lugar, com 14% das internações, seguida do mergulho em águas rasas, com 4%. O restante, 14%, é representado por outros acidentes e patologias. Vencer as barreiras da volta à vida não é uma tarefa fá-
cil e o hospital, para muitos, é como um sopro de esperança. De acordo com uma das enfermeiras da instituição, Cristina de Melo, a maioria dos pacientes inicia a reabilitação com o objetivo de voltar a andar. “A gente nunca tira essa esperança deles, o que a gente faz é trabalhar com o limite do que cada um consegue sentir, para que, a partir daquilo, ele tenha uma vida melhor e, se possível, independente”, diz. Responsável pela coordenação da pediatria e funcionária da Rede há 11 anos, ela ressalta a participação da família nesse período de recuperação. “Esse apoio funciona como um impulso. A gente procura plantar essa sementinha sempre aqui dentro”, diz. O carinho entre os profissionais e os pacientes é nítido. A convivência diária fortalece as relações, fazendo com que a instituição perca o ar triste, tantas vezes característicos de hospitais, e ganhe a união da equipe e dos internados, fazendo com que o lugar tenha um clima familiar. Na pediatria, os brinquedos estão por todas as partes e as paredes são enfeitadas com desenhos e pinturas feitos pelos pequenos pacientes. Por meio das brincadeiras, as crianças começam a entender os procedimentos pelos quais irão passar. Quem comer mais saladas, frutas e verduras durante a semana, recebe o título de “Campeão Saúde” em uma votação feita todas as terças-feiras. Já os pais, que geralmente acompanham os filhos, também participam do concurso e recebem o título de “Acompanhante Nota 10” caso tenham se destacado pela pontualidade, participação, organização, gentileza e solidariedade.
A conquista da independência de cadeirantes A busca de Meire pela independência é um caminho que o editor de imagem Diego Vidal conhece bem. Aos 17 anos, ele levou um tiro na coluna, ao ser assaltado. Depois de ser baleado, os criminosos exigiram a entrega do celular e da carteira dele. “Quando eu coloquei a mão no bolso para pegar as coisas, eu já percebi que não sentia a perna. Eu já sabia”, lembra. Ao ser levado para o hospital por um casal de namorados que presenciou o crime, ele pensou, “vou andar de cadeira de rodas por um tempo”. Ao contrário do que havia imaginado, ele não ficou apenas temporariamente sem conseguir movimentar as pernas. Aos 31 anos, Diego já se acostumou com a condição de cadeirante, mas foi um longo percurso até conquistar a independência e vencer os medos impostos pela vida de paraplégico. “Eu me lembro de acordar no dia seguinte do tiro com a minha vó ao lado, com um olhar triste. Ela pegou no meu pé e perguntou se eu estava sentindo. Quando eu disse que não, ela saiu de perto para chorar. Aí eu percebi que eu não tinha direito de ficar baqueado. É óbvio que eu estava triste, mas eu tinha que ter força. Por eles”, diz. A determinação ajudou Diego a enfrentar o que viria pela frente. “Comecei a perguntar aos médicos como seria, o que eu precisava fazer para me-
lhorar, comecei a me interessar pelo meu caso, a procurar saber sobre as alternativas”, lembra. Nos dois meses em que permaneceu no hospital, ele se recuperou de uma cirurgia de retirada da bala e de uma infecção que teve no pulmão – mais tarde o médico lhe contou que o problema foi causado pelo excesso de visitas recebidas dos amigos. Após esse período, ele conseguiu uma vaga no Hospital Sarah Kubitschek, onde permaneceria por quatro meses. A dependência era o que mais incomodava Diego. “Era constrangedor ter sempre alguém me dando banho, me ajudando a passar da cama para a cadeira, a vestir a roupa. São tarefas tão simples, mas você não consegue fazer sozinho, e isso é frustrante”, conta. No dia em que conseguiu fazer essas tarefas sem a ajuda de ninguém, se sentiu vitorioso. “Aí você pensa que as coisas estão começando a melhorar”, diz. Na instituição, ele teve a chance de conhecer e estudar uma medula, para entender a situação dele e manter os pés no chão. “A primeira pergunta que todo mundo faz é se vai voltar a andar. E eles respondem isso por meio de palestras com neurologistas, por meio de estudos. Eles nunca te falam não, mas te ajudam a encontrar a resposta sozinho”, conta. No dia em que recebeu alta, Diego não queria ir embora. “O
Sarah é um lugar onde um tanto de gente está igual a você, então ir embora e encarar o mundo é difícil, dá medo”, justifica. Nesse período, assim como em toda a internação, o apoio da família e dos amigos foi essencial. “Eles não me deixavam desanimar nunca”, lembra. Para Meire não foi diferente. O acidente aconteceu em uma época em que ela estava afastada da família. Atualmente morando na casa da mãe em Manhuaçu, na Zona da Mata de Minas Gerais, ela considera imprescindível o carinho que recebe dos familiares. “Eu precisava do colo dela, eu precisava estar perto da minha mãe nesse momento de recuperação” afirma. Por causa do acidente, sua filha caçula antecipou a mudança para Belo Horizonte, onde recebe a mãe com frequência. “O meu acidente atingiu muita gente. Também me aproximou das pessoas mais importantes para mim. Eu sempre senti a oração das pessoas, o desejo delas de que eu ficasse bem”, diz. Hoje em dia, Diego trabalha em uma grande empresa de comunicação, onde teve a oportunidade de crescer e subir de cargo ao longo dos 9 anos de contrato. A primeira aquisição com o dinheiro do trabalho foi um carro automático. O único momento do dia em que precisa de ajuda para fazer algo é na hora de subir os três andares do prédio onde mora, por causa da
ausência de um elevador. “Eu chego em casa e minha mãe desce para guardar a cadeira no porta malas. Aí eu subo, me arrastando, todos os degraus. E isso não é nenhum problema nem pra mim nem para ela”, conta. Atualmente, o editor realizou o grande sonho de ter sua própria produtora de vídeos. “Eu nem me lembro que sou cadeirante, até encontrar um obstáculo”, diz ele, que considera como um dos maiores problemas da cidade a falta de banheiros adaptados para deficientes físicos nos lugares. Diego conta que sente falta de jogar futebol, mas garante não deixar de fazer nada por causa de sua limitação. “Eu gosto de sair com os meus amigos, de viajar, eu continuo fazendo tudo, só jogar futebol que não dá”, diz. Logo depois da lesão, a namorada da época chegou a terminar o relacionamento com ele porque o pai dela não aceitava a filha namorando um cadeirante, mas isso foi logo superado com a ajuda dos tantos amigos. “Isso, hoje em dia, não é problema nenhum para mim. Cheguei a pensar que nenhuma mulher me olharia mais, mas tudo passa, já tive várias namoradas”, diz. Já Meire ainda trabalha consigo mesma a autoestima. Com os olhos azuis e um sorriso largo, ela conta estar aceitando sua nova condição. “Eu respeito o meu tempo. Eu sei que devo trabalhar isso den-
tro de mim, mas tudo tem sua hora”, diz. Os dois cadeirantes passaram por situações parecidas. O editor de imagem já venceu a batalha da reabilitação e hoje segue com planos e projetos de alguém sempre em busca de superações. Meire é uma mulher de coragem, que enfrenta de cabeça erguida, dia após dia, os desafios impostos pela recente
deficiência. “Junto ao acidente, veio mais forte uma fé em mim e o objetivo de caminhar de uma outra forma, de deixar de fazer o que eu fazia, por mais importante que essas coisas fossem. O mais importante é o agora, e a certeza absoluta de que há uma proteção muito grande comigo”, ressalta Meire, que é acompanhada por uma cuidadora, que já se tornou sua amiga.
Diego aprendeu a viver como cadeirante
Laura de Las Casas
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Cidadania
A vontade de voltar para casa Em busca de trabalho, Leonildo se mudou para a capital mineira, mas a expectativa de melhoria de vida não se concretizou e agora ele espera voltar para o Piauí, onde a família o espera ANA JÚLIA GOULART ARTHUR FIGUEIREDO 6ª PERÍODO
Leonildo está há mais de dois meses longe da família. Ele saiu do Piauí no final de agosto com o objetivo de encontrar um trabalho em Belo Horizonte. “Quero dar um futuro melhor pros meus filhos e minha mulher”, relata o auxiliar de pedreiro, que agora tenta voltar à terra natal após procurar por um trabalho no setor da construção civil. O piauiense planejava trazer a família para viver com ele na capital mineira, mas os planos não deram certo. “Só trabalhei uma semana, não consegui mais nenhum trabalho depois. Eu vim pra cá porque as pessoas falavam que tinha mais oportunidades aqui, mas o que eu vivi foi só desespero”, completa. Além de estar distante há mais de três semanas, Leonildo ficou um bom tempo sem nenhum tipo de comunicação com a família. Cabisbaixo, ele diz que não sabe ler nem es-
crever e que tem dificuldades em utilizar o telefone público. Indagado pelo MARCO se tem algum número de telefone, ele abre a carteira e mostra uma nota de R$ 5, uma nota de R$ 2, algumas moedas e os documentos pessoais. Mostra também uma foto 3x4 da mais velha dos quatro filhos que tem. Luana tem 12 anos e atrás da foto dela está o número do telefone. “Foi ela mesmo quem escreveu aqui pra mim. Ela me pediu pra ligar todo dia, ela é muito apegada”, conta. A reportagem telefonou para o número que estava no verso da foto e quem atendeu foi a esposa de Leonildo, Queila. No viva-voz a conversa entre o casal pôde ser acompanhada. Queila, 32 anos, trabalha como doméstica e atende a ligação com voz desconfiada, parecia estar com medo de uma má notícia, mas tudo muda quando escuta a voz do marido. “Porque você não ligou? Estamos preocupados, já estávamos pensando o pior”, diz a mulher,
agora, aliviada. Leonildo responde. “As coisas não tão dando certo por aqui não, tô tentando voltar, como estão os meninos? E minha mãe?”, pergunta preocupado. “Estão bem. Todos estão com saudades”, Queila responde. Pouco depois Leonildo conversa com Luana e não consegue segurar as lágrimas ao escutar a filha pedindo o seu regresso. O que Leonildo vive é a realidade de muita gente que acredita em dias melhores e que veem nas grandes metrópoles uma esperança de ascensão social. Diariamente, mais de 30 mil pessoas desembarcam no Terminal Rodoviário Israel Pinheiro (Tergip), que é a principal porta de entrada da capital mineira. A prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que administra a Rodoviária, disponibiliza um serviço que funciona no próprio Terminal. É o Plantão Social de Atendimento ao Migrante, que avalia e atende cerca de 650 pessoas por mês que chegam à capital procu-
Anac revela iniciativa para resolver barulho SÉRGIO EDUARDO MARQUES 3º PERÍODO
Em resposta ao crescente número de reclamações de moradores de bairros localizados no entorno do Aeroporto Carlos Prates, a Agência Nacional de Aviação Civil informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que foi expedido um ofício ao operador do local - considerando o aumento do número de operações do aeródromo - pedindo a revisão e atualização do Plano de Zoneamento de Ruído (PEZR). A população vizinha continua
sentindo-se incomodada com o barulho provocado por aviões e, especialmente, helicópteros, que sobrevoam o local. Procurado pelo MARCO, o superintendente do Aeroporto Carlos Prates, Fernando Oliveira, informou que uma empresa, contratada pela Infraero, junto à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, está realizando pesquisas e estudos para a criação de um Plano de Zoneamento de Ruído para o local. Os PEZRs são documentos elaborados pela Superintendência de Es-
Movimentação de helicópteros continua gerando incômodo
tudos e Pesquisas e Capacitação para a Aviação Civil, supervisionados pela Anac, constando as normas para a ocupação ordenada da área em torno do aeroporto e sujeita aos efeitos do ruído aeronáutico. O objetivo desses documentos é viabilizar o desenvolvimento das diversas atividades urbanas ou rurais ali situadas com os níveis do ruído aeronáutico, evitando desgastes com a população, que luta para limitar os horários de operação.
Raquel Gontijo
rando trabalho ou que não têm apoio aqui. A coordenadora do Plantão, Desirée Pgnolati Mourão, diz que a maior parte dessas pessoas partem do interior de Minas, de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e dos estados do Nordeste. “Assim que eles chegam aqui, fazemos um cadastramento do migrante, e em seguida ele é encaminhado para uma ‘escuta’, onde buscamos mais informações para entender o caso dele, de onde ele vem, o que pretende aqui, se tem algum problema de saúde ou vício para que possamos atendê-los da melhor maneira”, conta. Quando o serviço foi criado, o objetivo era de receber e encaminhar casos de trabalhadores como Leonildo, que buscam uma melhora social na capital, no entanto, de acordo com a coordenadora do serviço, este perfil vem mudando. “Têm pessoas que migram pois estão sob ameaças em suas cidades, seja pelo tráfico de drogas ou por
outros motivos. Também têm aqueles que buscam tratamentos médicos, e por isso, temos certos critérios para a assistência.” O serviço, prestado por meio da PBH, conta com apoio do Serviço de Acolhimento Institucional para População de Rua e Mingrantes, e com o Abrigo São Paulo que juntos fornecem mais de 100 vagas para migrantes, além de alimentação e serviços de higiene. Conta também com convênios realizados com algumas companhias de ônibus que operam na rodoviária. Mesmo assim Desirée Mourão revela que a presença de uma estrutura familiar é essencial para um indivíduo se organizar. “É mínima a porcentagem de pessoas que conseguem se promover socialmente sem apoio e sem uma estrutura. A maioria consegue um trabalho mas não se firma e acaba vindo aqui querendo voltar para casa”, explica. Nesses casos, o serviço entra em contato com os
familiares ou com empregadores. “Não fornecemos passagens às pessoas que não tenham documentos ou referências que comprovem apoio. Não é interesse nosso mandar a pessoa para lá sem nenhum tipo de confirmação”, completa. Leonildo está apreensivo para retornar para casa mas o caso dele ainda está sendo analisado, o que aumenta a ansiedade já que as regras do abrigo onde está permitem que um migrante permaneça lá por no máximo dois meses. Mesmo com tantas dificuldades o auxiliar de pedreiro não se arrepende de ter arriscado tudo em busca da melhoria de vida. “Eu acho que tudo na vida é aprendizado, aprendi da pior maneira possível. Agora eu só quero voltar pra casa, com todas as dificuldades que tinha lá, não dá pra comparar com o que eu vivi aqui”, conta.
Ruído de helicópteros continua a provocar incômodo em vizinhos O MARCO, empenhado em dar voz ao leitor e com isso melhorar a vivência em seu bairro, publicou em suas últimas edições relatos de moradores que sofrem com o barulho causado pelos helicópteros e aviões de pequeno porte utilizados em aulas de pilotagem. Desta vez não é diferente e a população está ainda mais insatisfeita com os transtornos causados pelos aparelhos que partem do Aeroporto. O problema é tão sério que muitos moradores tiveram sua rotina modificada. É o caso da comerciante Maria da Conceição Gomes Pereira, que se diz irritada com o problema e relata os horários em que os ruídos são mais intensos: ‘’Todos os dias, às 7h, eles começam a sobrevoar a região. Depois 12h, 13h e às 17h eles param’’. Além da constante passagem, a comerciante reclama também da intensidade dos ruídos emitidos pelas aeronaves. ‘’Tem um avião que quando passa por aqui a gente não consegue nem conversar. ’’, salienta. Outra moradora afetada pelo barulho é a professora Júnia Grossi, 55 anos, residente no Coração Eucarístico e que nota o grande fluxo de aviões e helicópteros desde abril do ano passado. ‘’Não trabalho em período integral durante dois dias da semana, pois tenho duas tardes livres, então passei a evitar ficar em casa. Em vão, pois nos fi-
nais de semana eles passam da mesma forma. Sinto como se tivesse perdido o direito de ficar em casa, que é lugar de acolhimento e descanso, pois o barulho é insuportável’’, conta. Ela revela ainda os mecanismos utilizados para suportar o barulho quando está em casa: ‘’Comprei protetores de ouvido internos e externos, passei a usar os dois, e nem assim o barulho tornou-se suportável”. As principais reclamações giram em torno da falta de medidas tomadas para solucionar o caso. Segundo Júnia, um pedido de esclarecimento foi encaminhado ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), onde a assessoria de comunicação informou que as rotas dos monomotores não poderiam ser modificadas. Ela foi orientada a fotografar as aeronaves e enviar as fotos com sua numeração, para que fosse analisado se a empresa responsável está obedecendo à legislação que determina a altura mínima na qual ela pode operar e que se fosse constatada alguma irregularidade, a agência seria notificada. No entanto, por questões operacionais a professora não conseguiu fotografar os aviões e helicópteros, frustrando-se mais uma vez em sua busca por soluções para esse problema que incomoda sua vida e a de seus vizinhos.
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Meio Ambiente
Projeto pode transformar Mata do Planalto em área preservada Moradores do Bairro Planalto se mobilizaram desde o ínicio de 2010 para preservar o verde local, que corria o risco de ser transformado em um grande empreendimento imobiliário DAVIDSON FERREIRA ÉRICKA SANNY WÉSLIKA QUEIROZ 7º PERÍODO
Se há um ano moradores do Bairro Planalto, na Região Norte de Belo Horizonte, temiam pela extinção de uma das últimas áreas verdes da região para dar lugar a um grande empreendimento imobiliário, agora, com um projeto de lei em tramitação na Câmara da capital, podem respirar mais aliviados. A iniciativa é do vereador e secretário geral da Casa Legislativa, Leonardo Mattos, que propôs transformar a Mata do Maciel, mais conhecida como Mata do Planalto, em área de preservação ambiental. “O projeto já recebeu parecer favorável de quase todas as comissões. Falta ser analisado apenas pela Comissão de Orçamento, para levá-lo à votação e possível sanção do prefeito Márcio Lacerda”, afirma Leonardo Mattos. O texto sugere anexar a mata, localizada entre os bairros Planalto, Vila Clóris e Campo Alegre, ao Parque Municipal Mata do Planalto, com o qual faz divisa. Alvo de grandes empreendimentos imobiliários, o local é tema de mobilizações e já motivou várias audiências públicas.
A Mata do Maciel, conhecida com Mata do Planalto, é uma das últimas áreas verdes da região
De acordo com Magali Ferraz, presidente da Associação Comunitária do Planalto e Adjacências (ACPAD), os moradores estão mobilizados desde o início de 2010, quando notícias sobre a venda da Mata do Planalto para a construtora Rossi e a transformação de sua diversidade biológica em atrativos imobiliários para o empreendimento,adquiriram consistência. A expectativa é que, caso o projeto de lei não seja aprovado, o local abrigue, em breve, um condomínio residencial
de luxo com 16 prédios de 15 andares, 760 apartamentos e quase 1.500 vagas para veículos. Conforme Magali Ferraz, antes dessa ameaça imobiliária, ela não era participativa nas atividades da associação do bairro, mas, quando percebeu que a construção do condomínio poderia mesmo sair do papel, abraçou a causa e assumiu a liderança do grupo, lançando o movimento “Salve a Mata do Planalto”. Segundo a representante da associação do bairro, a mata é de pro-
priedade particular. Após o falecimento do senhor Maciel, dono da área e que lhe deu o nome, o filho dele, conhecido como “Macielzinho”, herdou o local. “Ele (Macielzinho) já queria vender a mata e, na época, fez um contrato de gaveta com a construtora Rossi, que estava interessada em investir na região. Se conseguisse aprovação dos órgãos de meio ambiente, acertaria a venda com a empresa, que já anunciava o empreendimento na televisão antes mesmo de adquirir a área”, afirma Magali.
Davidson Ferreira
Há pouco mais de três anos, a mobilização a favor da Mata do Planalto contava com poucas pessoas. “Começamos com 60 vizinhos manifestando. Mas, de um tempo pra cá, com o apoio e divulgação da mídia, a cidade inteira passou a saber da nossa luta. Agora, juntamos facilmente mais de 200 pessoas nas manifestações que fazemos”, conta Magali. A Mata do Planalto ocupa uma área de cerca de 200 mil metros quadrados (equivalente a 20 campos de futebol), abri-
Conservar biodiversidade do local é prioridade durante as negociações Em parecer técnico enviado ao MARCO, época das chuvas, aquele lugar é um dre- também que a derrubada da mata vai cona Secretaria Municipal de Meio Ambiente no natural das águas. A área não benefi- tribuir com o aquecimento global, com o assorelata que “o Parque Municipal vai colaborar cia só o Bairro Planalto, mas toda região”. reamento das nascentes e o afundamento do na manutenção de uma Zona de Preservação A presidente da Associação de Morado- lençol freático. “A água é fundamental para Ambiental (ZPAM), situada dentro dos li- res, Magali Ferraz, diz que o desmatamen- nossa sobrevivência. Sem ela ninguém vive”. mites do terreno a ser parcelado”. Ainda de to da área pode interferir na qualidade de Para Wilson Campos, o poder público acordo com a Secretaria, “o mesmo (parque vida da população. “Se o ar aqui na região é municipal poderia perfeitamente indenizar municipal) será compatibilizado com Progra- fresco, devemos muito à mata, que equilibra o proprietário e destinar a área como de mas de Educação Ambiental, Comunicação nosso clima. A temperatura no entorno da preservação ambiental definitiva. “QuereSocial e Enriquecimento da Flora Nativa”. área é cerca de 5 graus menor que em outras mos exatamente que ela se torne uma área Wilson Campos, advogado e assessor ju- partes de Belo Horizonte”. Magali ressalta preservada e fechada. A mata intocada garídico da Associação de Moradores rante mais qualidade de vida às do Planalto e Adjacências, afirma pessoas do que ela aberta. Se for que em todas as audiências realipermitido o trânsito de pessoas zadas até agora, os moradores não no local, os nossos micos, papaadmitiram a venda da área, o que gaios, tucanos e outras 64 espéfez a Rossi recuar nas negociações. cies de pássaros podem sumir”. Ainda conforme Wilson, os moSobre a destinação de parte da radores contam com o Ministério mata como parque municipal, CamPúblico para salvar a área verde. pos também se posiciona contrário. “O Ministério fez uma re“Já existem centenas de parques comendação extensa, com mais em Belo Horizonte, abandonados de quarenta itens contrários à e enferrujando. Aqui no Planalto construção naquele local. Paremesmo temos um parque que está ce que os empresários não enxeresquecido, com as portas e janelas gam as nascentes, fauna, flora quebradas. Não tem vigia, não tem Davidson Ferreira Magali Ferraz: “Devemos muito à mata” e biodiversidade da mata. Na cuidado, não tem pintura”. diz.
ga 20 nascentes e, além da rica biodiversidade, é um dos últimos fragmentos urbanos de mata virgem em Belo Horizonte. Entre as várias nascentes, está a que dá origem ao Córrego Bacuraus, que deságua no Ribeirão Isidoro e integra a Bacia do Rio das Velhas. “Não podemos permitir que esse patrimônio natural da comunidade seja destruído”, diz a presidente da ACPAD. De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), o empreendimento, denominado “Residencial Rossi”, propõe a construção de 16 prédios e de uma área composta por espaço gourmet, salão de festas, piscina, playground, parque interno e área fitness. Segundo o órgão, a construtora sugeriu parcelar o terreno de forma que atenda aos futuros moradores da área e à população do Planalto. A área construída ocupará cerca de 1,7 hectare do setor norte e 1,9 do setor sul. Em 3,6 hectares será feito um parque interno e 4,4 hectares vão abrigar um Parque Municipal. Conforme a Secretaria, há viabilidade ambiental para o empreendimento.
Construtora vê “ocupação planejada” Em nota, a Construtora Rossi reforça que “a proposta prevê uma ocupação planejada, o que garantirá benefícios e mais segurança para a comunidade. Além disso, o projeto ficará instalado em terreno particular, que se diferencia por criar um espaço verde para todos os moradores da região”. A empresa informa ainda que a proposta do empreendimento é mais conservadora do que a legislação permite. “Apenas 30% da área serão utilizados na urbanização. Já a maior parte do terreno, 70% do total, será dedicada a dois parques – um deles voltado para o condomínio, e o outro, maior, aberto ao público. Este será doado para a cidade, por meio da Prefeitura de Belo Horizonte”, explica a nota da Construtora. A reportagem insistiu, mas a Construtora Rossi não se pronunciou sobre o projeto de lei que está em tramitação
na
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Municipal.
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Esporte
Amor à camisa não tem preço Fotos Gustavo Freitas e Lucas Mendes
As camisas do Atlético-MG do Torneio Verão de 2008 e do Campeonato Mineiro de 1983 e raridades cruzeirenses da coleção de Carlos Hudson sintetizam a paixão que une estes colecionadores BENJAMIN SCHLARBAUM FELIPE AUGUSTO GUSTAVO FREITAS LUCAS MENDES 7º PERÍODO
No guarda-roupas, são mais de 1250 peças. Das mais variadas cores, marcas e estilos. Algumas novinhas em folha, outras lançadas há décadas. Algumas são mais modernas, há as espalhafatosas, há as que são antigas, porém elegantes. Peças nacionais e peças vindas da Europa, francesas, inglesas e italianas. Inicialmente, a descrição pode remeter ao closet de uma mulher, ou de um casal. Mas as 1250 peças são de um homem. Todas são camisas. Camisas de futebol. O autor da façanha é o jornalista Frederico Jota. “Eu controlo tudo porque tenho uma coleção gigante. A maioria é de camisas de clubes da Inglaterra. Mas tem coisas de vários lugares, eu gosto do futebol como um todo”, explica. Frederico não hesita quando lhe é perguntado sobre exemplos que mostram até onde a paixão de um colecionador pode chegar. “Tenho duas pérolas aqui, uma do Cambridge United e outra do Crewe Alexandra. Eu também não tinha uma camisa do Notts County, o time mais antigo da Inglaterra, de 1862. Aproveitei uma viagem que faria à Inglaterra e consegui comprar a camisa na loja do clube”. O jornalista conta que, por mais que a internet traga facilidades atualmente, em alguns momentos é preciso fazer as compras “à moda antiga”. Essas, segundo ele, têm um valor afetivo maior, um espaço especial, apesar de reafirmar a importância de cada singela camisa que lhe pertence. Entre as mais raras, e consequentemente, as mais valiosas, está a camisa da seleção da Grã-Bretanha, utilizada nos jogos Olímpicos de Londres-2012. “Essa eu consegui com um maluco da Escócia. Paguei no escuro e tive que esperar 30 dias para receber. E chegou a camisa!
É uma camisa de um campeonato de 30 dias, muito difícil de ser conseguida. Também consegui camisas de duas finais da Champions League, do Manchester United e do Chelsea, em 2011 e 2012”, conta. Outro que cultiva o hábito de colecionar camisas é o também jornalista André Fidusi. Em parceria com Frederico Jota e com outro jornalista colecionador, Fábio Pinel, criou em 2009 o blog www.camisariafutebolclube.blogspot.com. O portal é voltado para esse nicho de colecionadores, o que, de acordo com Fidusi, garante um público fiel e atento às novidades na área. André começou a colecionar as camisas na década de 90 e hoje possui cerca de duzentas. O jornalista conta que a mais rara do acervo é de 1991, uma camisa de mangas longas do Boca Juniors, da Argentina. Ele lembra que nem tudo são flores na prática de um colecionador. “Uma vez eu vendi umas três camisas para poder comprar uma num site estrangeiro. Não tinha cartão de crédito na época, por isso corri atrás de alguém na minha família que tivesse um internacional. Consegui, mas, quando a camisa chegou, tive que pagar uma taxa de importação que não estava nos planos”, recorda. Fidusi explica que só investe em camisas de seleções e do Atlético-MG. As de outro tipo, só ganhando de presente. “Tem que ficar esperto porque é um vício muito caro, se deixar, acabo gastando tudo em camisa! Mas sou bem controlado quanto a isso. É claro que tem hora que extrapolo um pouco, mas nada que me deixasse endividado”. Outro que não esconde a paixão pelas camisas de futebol é o corretor de seguros Paulo Pires, vascaíno, que mora no Rio de Janeiro. Ele conta que começou o hábito de colecionar para valer a partir de 2006. Paulo garante que o acervo, formado principalmente por uni-
formes do Vasco, não gera apenas gastos. “Isso é um hobby, mas também é, vamos dizer, uma segunda renda minha. Tenho uma barraca no Rio que eu monto aos sábados e vendo camisas de valor menor, camisas mais recentes, sem número, que se encontram em lojas”, diz. “Eu paro gente na rua a todo momento, quando estou na rua e vejo alguém com uma camisa antiga, eu encosto o carro, vou lá tentar negociar. Eu sempre ando com camisas para trocar. Então, quando eu convenço a pessoa de me vender a camisa, eu deixo essas para ela usar em troca. Lá no Rio, tem muitos lugares de reciclar lixo que o pessoal leva pra reciclar latinha e papelão. Já peguei uma do Flamengo da Adidas com um cara parado em um lugar desses. Tenho histórias de feirinha no Rio, comprei camisas em lojas de brechó, comprando camisas por R$10 que hoje valem R$ 500. É a paixão pelo futebol. Eu gosto da Adidas, porque é uma marca que me remete muito aos anos 80, me remete ao futebol daquela época, quando eu ia aos jogos”. O corretor conta que tem um carinho por uma camisa em especial, usada pelo volante Amaral em um jogo Vasco x São Caetano, na Série B do Campeonato Brasileiro, no Estádio São Januário. “Terminou o primeiro tempo e o Amaral estava saindo em direção ao vestiário, que era próximo ao alambrado. Ele tirou a camisa e entregou na mão de um cara que estava gritando por ele da torcida. Eu fui atrás do cara e tentei negociar. Ele não vendeu na hora, mas levou meu cartão para que me ligasse depois. Acabou me ligando depois e eu consegui comprar. Essa eu posso falar que eu tenho certeza que foi usada por um jogador, porque muita gente fala da boca para fora, mas não tem como provar”.
Em setembro, o Mineirão foi palco de encontro de colecionadores
Frederico Jota exibe uma das camisas mais valiosas de sua coleção
Paulo Pires tem uma extensa coleção de camisas do Vasco
Rivalidade mineira chega às coleções O corretor de imóveis Carlos Hudson tem 120 camisas, todas do Cruzeiro. Aos 10 anos ganhou a primeira peça e desde então não parou de juntar uniformes. Mas a coleção não para por aí. Carlos coleciona revistas, flâmulas, jornais, faixas e bandeiras. Todos, artigos da Raposa. “Minha coleção é 100% Cruzeiro. Camisas de outros times, de vez em quando eu ganho alguma, mas uso só para troca, não fico com elas nem 10 dias e já troco por outra do Cruzeiro. Meu alvo no momento são as camisas dos anos 80, tenho algumas mas são poucas. Das décadas de 60 e 70 é muito difícil conseguir”. O corretor garante que a mais rara camisa da sua coleção é uma branca de 1966, com a faixa de campeão da Taça Brasil e do tetracampeonato mineiro, de 1965 a 1968. Distante das centenas de camisas encontradas no acervo de alguns colecionadores está o estudante Thiago Vieira, que possui 50 camisas do Atlético-MG. Thiago explica como é feita a sua coleção. “Não tenho muitas camisas como alguns colecionadores, meu foco é ter coisas pontuais, coisas mais raras. Como eu conheço poucos colecionadores e não tenho nenhum contato dentro do clube, a maioria eu compro pela internet, ou fico conhecendo alguém que tem a camisa pela internet”. A mais antiga do seu acervo é de 1983, do hexacampeonato mineiro do Atlético, de 1978 a 1983. Outra raridade é a camisa alvinegra usada no Torneio de Verão do Uruguai, em 2009. Na oportunidade, o Cruzeiro venceu o rival por 4 a 2, na partida que marcou a estreia do atacante Diego Tardelli pela equipe atleticana.
O estudante conta que diminuiu o ritmo das compras há alguns anos. Ele diz já ter recebido algumas propostas pela camisa de 83, por volta de R$ 1 mil. “Uma hora se alguém fizer uma loucura, eu vendo. Já foi inegociável, mas agora eu parei de trabalhar, estou fazendo mestrado e tenho contas para pagar. De vez em quando eu penso em desfazer de algumas camisas, mas vendo outras coisas antes, também sou músico, vendo alguns equipamentos. É difícil abrir mão porque eu sei que nunca vou conseguir uma outra dessas”, explica. “Eu tinha uma mais antiga que eu já consegui trocar por 6 camisas. Troquei ela por camisa de jogo do Leandro Almeida, do Obina, do Tardelii, uma autografada pelo Euller, de 1997; troquei uma camisa por essas seis”, completa. Se o número de vestimentas da coleção não é tão grande, o mesmo não pode ser dito sobre as histórias curiosas em busca das raridades. “Tem uma jaqueta que eu comprei na mão de um garçom. Vi ele usando e expliquei que eu era colecionador, perguntei por quanto ele vendia e ele pediu R$ 100. Já estava tirando o dinheiro da carteira e ele falou: não, não vou te roubar não, pode ser 60, vai. Uma outra, de 1992, eu vi um rapaz muito simples andando na rua com uma camisa muito rara, o uniforme número 3 da época, o desenho dela é muito raro. Fiquei meio sem jeito de abordar o rapaz. Para a minha sorte, uma amiga minha conhecia esse cara e falou com ele. O cara pediu só uns R$ 30, eu ainda tive que lavar várias vezes para tirar umas marcas de caneta na frente”, relembra.