Jornal Marco 302

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TRADIÇÃO DE PEQUENOS COMÉRCIOS PREZAM PELA FIDELIDADE DOS CLIENTES E FAZEM HISTÓRIA NO BAIRRO DOM CABRAL HÁ DÉCADAS PÁGINA 3

SUCOS NATURAIS, VITAMINAS E CREME DE AÇAÍ SÃO OPÇÕES PARA BONS NEGÓCIOS E FAZEM SUCESSO NO CORAÇÃO EUCARÍSTICO PÁGINA 6 André Correia

Raquel Gontijo

MESTRE DE CAPOEIRA NEGOATIVO CONTA SUA HISTÓRIA E FALA DA PRODUÇÃO DE SEU LONGAMETRAGEM SOBRE AS COMUNIDADES AFRO PÁGINA 16 André Correia

marco jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 302 . Novembro de 2013

Ameaça à fauna silvestre

preocupa os especialistas

A fauna brasileira possui diversas espécies ameaçadas de extinção, grande parte em médio prazo, gerando um risco ainda maior à preservação desses animais. Minas Gerais abriga cerca de 70% das espécies de mamíferos que ocorrem na Mata Atlântica, em todo Brasil e assim como a realidade nacional, também sofre com o problema da extinção. Entre tantos fatores, o atropelamento se destaca como uma das principais causas da morte de animais silvestres no Brasil. De olho nesta situação, o Centro Brasileiro de

Estudos em Ecologia, em Lavras, no Sul de Minas, tem realizado o monitoramento de saguis, espécie comum na região e que sofre com os atropelamentos. Outra ação realizada para combater o problema é o Projeto Atropelados, coordenado pelo estudante do curso de medicina veterinária da Universidade de Uberaba (Uniube), Rafael Ferraz de Barros. Ele conta que foi motivado pelo alto número de encaminhamentos ao setor de animais selvagens do Hospital Veterinário de Uberaba. PÁGINAS 8 E 9

Talento em jogar bola muda o futuro dos jovens de periferia

Carroceiro Alemão prospera e amplia seu ‘haras doméstico’ Fábio Marcelino

O projeto “Descobrindo talentos no futebol” ajuda a transformar a vida de adolescentes carentes. São jovens entre 14 e 18 anos que enxergam na arte de jogar bola um futuro profissional que possa melhorar as condições financeiras de sua família. Criado em 2010, por iniciativa da Agap-MG e da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer

(Smel), o objetivo é propiciar a alguns desses jovens, a chance de atuarem, no futuro, em um clube profissional. Para participar, basta apenas ter o sonho na mão e tirar notas boas na escola, que é requisito indispensável para se manter no projeto. Neste mês, o MARCO acompanhou um festival para garimpar futuros craques. PÁGINA 14

LEIA AINDA

Vagas em abrigos são escassas em BH André Correia

Carlos Roberto Quito, morador da Vila São Vicente, no Padre Eustáquio, trabalha com carretos de diversos materiais por toda cidade de Belo Horizonte. Há 15 anos, se viu obrigado a dar fim a um bar que possuía, no primeiro andar de sua casa, para abrigar seus cavalos, instrumento de trabalho e renda da família. Com a mudança, os animais passaram a viver dentro de casa, em uma baia instalada especialmente para eles.

Hoje em dia, o cenário é outro e o carroceiro possui um espaço amplo para criar seus animais. O terreno ocupado também permitiu a compra de outros cavalos, bem como novas carroças, expandindo assim seus negócios. Essa história já esteve nas páginas do MARCO há quase uma década. Relembre um pouco desse relato e veja o que mudou de lá para cá. PÁGINA 2

Capital mineira encontra-se em uma situação em que há aumento da população de rua e baixo número de vagas em abrigos. Atualmente, a capital dispõe de 400 lugares em albergues, sendo 80 para migrantes e 320 para moradores de rua no Albergue Tia Branca, localizado no Bairro Floresta. No Abrigo São Paulo existem 200 vagas, das quais 140 são para homens e 60 para mulheres, o que é indicativo que a grande maioria da população de rua é formada por homens. Para a melhor avaliação, a Prefeitura de Belo Horizonte realizará, nos próximos meses, um censo, que servirá de subsídio para uma atuação mais eficiente. PÁGINA 10


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Comunidadade

editorial

Passado e presente colocados a serviço da informação

Carroceiro Alemão relembra sua história Depois de abrigar seus cavalos dentro de casa, ele vive outra realidade e hoje seus animais vivem em um amplo espaço

VINÍCIUS AUGUSTO 5º PERÍODO

Contar histórias, boas histórias, é o principal objetivo da equipe do Jornal MARCO. Ir às ruas, ficar atento ao que acontece ao redor das comunidades atendidas e conversar diretamente com você, leitor, são tarefas que nós, monitores dessa publicação, fazemos com orgulho e com a atenção que a nossa futura profissão pede. E o tempo, nesse caso, é um aliado que trabalha lado a lado conosco, fazendo com que as histórias garimpadas por nós e contadas aqui sejam mais ricas e charmosas aos olhos de quem as lê. É assim com o histórico do comércio no Dom Cabral, bairro de cidade grande, que conta com poucos estabelecimentos e que ainda assim conserva os ares e os costumes comuns em municípios do interior, como a existência dos caderninhos de crédito, os famosos ‘a pagar depois’, e a fidelização dos clientes, que não é tão comum em comércios maiores. Noticiar assuntos que contribuem positivamente para a sociedade é gratificante. Um exemplo deles, presente nesta edição, é o esclarecimento sobre os táxis acessíveis para deficientes físicos em Belo Horizonte. Serviço que é oferecido desde 2009 na capital mineira, mas que ainda passa por problemas de adaptação e de divulgação. Apesar desses entraves, representa um ponto importante na conquista da dignidade e da posse do direito de ir e vir para os cadeirantes. Ainda nesta edição do MARCO, de número 302, nós levamos até você, leitor, a atualização de uma história que há muito fez sucesso nas páginas desse jornal, e que ainda é lembrada nas nossas reuniões como uma narrativa marcante, diferente e interessante. Estamos falando da história de Carlos Roberto Quito, o carroceiro Alemão, que decidiu abrigar seus cavalos, usados como fonte de renda para ele e sua família, dentro da própria casa. Esse é o tipo de texto, inusitado e peculiar, que a própria vida se encarrega de estabelecer e que nós, futuros jornalistas, sempre procuramos documentar e ofertar a você. Contamos aqui, também, com a urgência de alguns assuntos, como a proximidade do período chuvoso e as expectativas para o enfrentamento dessa época e também a falta de sinalização de trânsito na complicada Avenida Ressaca, que dificulta o tráfego de veículos e pedestres no local. É com matérias e reportagens nas quais voltamos ao passado para contar histórias que nos influenciam hoje e no futuro, que o MARCO chega até a sua casa com a preocupação de sempre mantê-lo informado.

expediente jornal marco

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | Minas Gerais | Tel: (31)3319-4920 Sucursal Puc Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / S. Gabriel: Profª. Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Júlia Goulart, Ana Letícia Diniz, Camila Saraiva, Gabrielle Assis, Mateus Teixeira , Rafaela Romano, Sérgio Marques Monitores de Fotografia: André Correia, Raquel Gontijo Monitor de Diagramação: Vinícius Augusto CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares

O carroceiro Carlos Roberto Quinto, conhecido como Alemão, possui oito cavalos e três carroças para o trabalho

SÉRGIO EDUARDO MARQUES 3º PERÍODO

Carlos Roberto Quito, o Carroceiro Alemão, é figura popular na Vila São Vicente, localizada na Região Noroeste de Belo Horizonte entre os bairros Padre Eustáquio e Minas Brasil. Prestando serviços de carroceiro por toda a capital mineira, ficou ainda mais conhecido em 2000, quando decidiu levar seus cavalos para dentro de casa, história essa que foi contada, com exclusividade pelo MARCO (veja ilustração abaixo). O cômodo, que ele possuía no andar inferior da sua casa e que havia funcionado como bar, período em que isso o ajudava a complementar a renda, foi transformado em uma baia e passou a abrigar dois de seus três animais na época. A decisão de levar os cavalos para dentro de casa foi tomada quando um deles foi roubado. “Eles ficavam na rua, perto de onde é a creche hoje em dia, até que roubaram uma égua de estimação, muito antiga que eu tinha, e pediram o terreno pra fazer a creche. Então falei, ‘o jeito é levar para dentro de casa’ ”, conta o carroceiro. Ele lembra que sua esposa, Josiana Alexandre Tito, não foi contra a decisão de receber os novos e inusitados moradores, pois sabia da importância dos animais para o sustento da família. Ele relembra, ainda, que sua sogra, Dona Lourdes, que residia na Região de Vianópolis, na Região Metropolitana da capital mineira, e veio para Belo Horizonte devido a uma

forte chuva de granizo que se abateu sobre o local, morava em sua casa. Dessa forma, a sogra passou a dividir o primeiro andar da casa com os animais. Carlos reconhece que o cheiro certamente a incomodava, mas garante que isso nunca foi motivo para discussão. Com o tempo, ela conseguiu construir uma nova casa e atualmente mora no domicílio ao lado. A primeira matéria publicada pelo MARCO contando a história de Carlos Roberto foi há quase dez anos. De lá pra cá, muita coisa mudou. Ele continua fazendo carretos, profissão que exerce há 32 anos, mas o negócio expandiu. Hoje em dia, possui oito cavalos, que se revezam no transporte de entulhos por toda a cidade. Para abrigar os animais, o carroceiro utiliza um terreno próximo

à sua casa. Nesse local, eles são alimentados, cuidados e possuem instalações para descanso. Antigamente, quando possuía apenas três cavalos, Carlos já utilizava a área, mas, por segurança, levava os animais para sua casa à noite. O carroceiro conta ainda que utiliza o terreno há onze anos, juntamente com outras pessoas que trabalham com sucata e ferro velho. “De quem é o lote mesmo eu não sei, uns falam que é do Estado, outros falam que é da Prefeitura”, comenta. No entanto, Carlos nunca teve problemas com isso. “Já vieram me perguntar há quanto tempo estou nesse terreno, mas nunca pediram para sair não”, comenta. Além disso, o local é muito bem cuidado,

André Correia

assim como os cavalos, que se alimentam de ração e capim recolhido nas proximidades e moído exclusivamente para eles. O apertado cômodo de sua casa limitava a expansão de seus negócios e hoje em dia encontra-se vazio, sem nenhuma ocupação. Agora, com um espaço amplo, comprou outras carroças e conquistou melhores condições de trabalho. A população residente nas proximidades do terreno não reclama do cheiro dos animais e Carlos Roberto faz de tudo para não incomodar os vizinhos. “Algumas pessoas estavam começando a reclamar do cheiro, só que foi feito um muro, os animais não chegam mais perto e eles pararam de reclamar”, esclarece.

Reprodução da primeira matéria sobre o carroceiro Alemão

espaco do leitor Residente na Avenida Itaú, no Bairro Dom Cabral, o aposentado Adair Moreira, 71 anos, é mais um morador afetado pelo barulho causado pelos aero motores que partem do Aeroporto Carlos Prates e sobrevoam a região. O MARCO vem acompanhando o caso há várias edições, relatando a indignação dos moradores que tiveram suas rotinas modificadas pelos ruídos provocados por helicópteros e aviões de pequeno porte. O aposentado, que acompanha as publicações, entrou em contato com a equipe do jornal e relatou seu desconforto com a situação. Ele reclama da falta de providências tomadas para solucionar o problema. O morador, que possui um “Home Studio” para gravação de músicas em geral, comenta que o barulho tem prejudicado seu trabalho, impedindo muitas vezes que as gravações sejam realizadas. “Por não ser um estúdio profissional, não é tão isolado acusticamente, por isso os helicópteros, quando passam, incomodam muito”, explica. Adair conta ainda que é compositor e os ruídos tem interferido na elaboração das obras. “Os aviões e helicópteros circulam o dia todo, é muito barulho, não consigo me concentrar”. A assessoria de imprensa da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), já havia informado que foi expedido um ofício, ao operador do Aeroporto Carlos Partes, pedindo a revisão do Plano de Zoneamento de Ruídos, que é um documento que fiscaliza os limites entre o ruído aeronáutico e a comunidade de seu entorno. Questionado, o superintendente do aeroporto, Fernando Oliveira, informou que o local ainda não possuía este documento e que uma empresa, contratada pela Infraero, junto à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, estava realizando pesquisas e estudos para a criação de um Plano de Zoneamento de Ruído para o local.


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Comunidade

Comércio no Bairro Dom Cabral O local possui pequenos negócios e armazéns que cultivam a fidelidade dos clientes. Na Praça da Comunidade, localizada no centro do Bairro, vendem-se salgados, açaí e sorvetes GABRIELLE ASSIS 4º PERÍODO

Um lugar pequeno, com poucas ruas, nenhum prédio, uma avenida principal e uma praça que agrega grande parte da estrutura da região. Essa poderia ser a descrição de qualquer cidade do interior. Mas assim é o Bairro Dom Cabral, localizado na Região Noroeste de Belo Horizonte. Situado entre os Bairros Coração Eucarístico e João Pinheiro, o Dom Cabral, inicialmente, era um conjunto habitacional e foi ocupado por funcionários públicos. Com a criação do Seminário Eucarístico de Jesus, que posteriormente deu origem à Universidade Católica de Minas Gerais, o perfil dos moradores mudou. A presença de estudantes jovens e boêmios procurando por moradias próximas à PUC Minas fez com que o bairro se adaptasse. Mas algumas características continuaram as mesmas. A presença de pequenos comércios é uma delas. Em todo o Bairro, pouco mais de 10 comércios servem a toda a população. Em sua maioria, são mercearias e mercadinhos pequenos, que têm uma clientela fiel. Na rua Imbiaçá está a maioria dos estabeleci-

mentos, talvez por ser a maior do bairro. Mesmo não morando no bairro, o comerciante Celso Lessa, que tem um pequeno supermercado há mais de seis anos nessa rua, tem uma relação muito próxima com a comunidade. De acordo com ele, a fidelização que ele tem com os clientes não é encontrada em grandes comércios. “Aqui, os clientes pegam a mercadoria e vão colocando no caixa. Quando fica faltando algum valor referente às compras, a gente anota e depois eles pagam”, conta. Além disso, a presença dos clientes no local é diária. “As pessoas vêm aqui todo dia, é um público presente, eles vêm para comprar poucas coisas, mas vêm sempre”, relata. A Praça da Comunidade, localizada no centro do Bairro, reúne uma escola, uma creche, posto de saúde, igreja e um campo de futebol, além de aparelhos para prática de atividades físicas disponíveis para todos os moradores. É nela que grande parte da vida do Bairro flui. Maria Nina de Sá mora em frente ao campo do Pastoril e, no primeiro piso de sua casa, montou um bar, que funciona no local há 13 anos. A comerciante, baixinha e bem

Pequenos comércios localizados na Praça da Comunidade

receptiva, tem uma relação muito próxima com os jogadores de futebol que utilizam o campo e que vão sempre ao seu bar. “Vem gente de longe jogar aqui e eles gostam dos salgados que eu mesma faço”, conta Nina. O bar é bem pequeno, somente com um balcão e espaço para duas mesas. Ao lado, um fogão fica aceso, onde a proprietária faz os petiscos. O estabelecimento fica aberto somente à noite, mas quando há jogos de futebol durante o dia, Tia Nina faz questão de abrir

e fazer seus salgados para atender os clientes fieis. Mesmo sendo ponto de referência para os estudantes da PUC Minas, os moradores do Bairro, em sua maioria, ainda são pessoas mais idosas. “Tenho satisfação em vender para esses clientes. Eu tento cativar os filhos e netos deles também, porque eles também são nossos clientes”, afirma o comerciante Celso Lessa. O proprietário da Mercearia Oliveira, Vicente Silva Oliveira, fala da relação que a comunidade tem com os

Raquel Gontijo

pequenos comércios. “A maioria do pessoal dessa região é idosa. Muitos clientes meus têm caderneta aqui. A gente até usa cartão também, mas há confiança no pessoal daqui”, relata. Mesmo prezando pela essência interiorana do Bairro, os moradores reclamam de uma falta de variedade no local. Por isso, novos comerciantes têm investido na região. Juarez de Jesus é morador do Dom Cabral e, juntamente com sua esposa, resolveu abrir no bairro uma lanchonete,

há mais de um mês. “Não tem comércio aqui, não tem lanchonete. Então, o pessoal do Bairro e da universidade vem aqui”, diz. Alexandre dos Santos Pires, mais conhecido como Piu, também resolveu investir e há quase um ano tem uma loja de açaí e sorvete na Praça da Comunidade. “Não tinha esse tipo de comércio aqui. Ainda mais aqui, perto de uma praça. Muitas pessoas vêm pra cá, até de outros bairros”.

Expectativa para o período chuvoso na região ANA LETÍCIA DINIZ MATEUS TEIXEIRA 3º PERÍODO

A capital mineira é marcada pelas chuvas de verão nos meses de dezembro e janeiro. Foi o que ocorreu no réveillon de 2008 para 2009. Uma forte chuva atingiu BH e provocou estragos, enchentes e mortes. Na edição de número 285, o MARCO mostrou a preocupação dos moradores e os prejuízos que tiveram na época. Paulo Moraes, da agência de carros Camapum Veículos, localizada na Rua Dom João Antônio dos Santos relembra aquela trágica noite. “A inundação mais forte foi em 31 de dezembro de 2008, mas já houve várias que entraram água e houve alagamento. Mais de um metro de altura de água”, lembra. Ele conta ainda que teve um prejuízo de cerca de um milhão de reais e, para arcar com a quantia, teve que recorrer à venda de seu imóvel. Para evitar novos alagamentos na agência de

veículos foi feita uma reforma no local. “Cercamos o local com vidro bem escorado e vedado, tem as trancas com borracha, comportas nos dois portões, saídas de água através da válvula de retenção. Não entrou água aqui dentro por causa da reforma, mas na esquina continua alagar”, relata Paulo. Com o ocorrido, ele conta sobre as medidas tomadas pela Prefeitura. “Nós fizemos

boletim de ocorrência, pedimos na prefeitura e eles deram a isenção de um ano no IPTU. Fomos na associação de bairro que não mostrou vontade de ajudar, falaram para fazer um abaixo-assinado e não fez”, conta. Patrick Minucci, dono da oficina mecânica localizada em frente à agência de automóveis, também sofreu danos com a chuva, porém menor e por conta do ocorrido

igualmente teve que realizar gastos para a prevenção de novos prejuízos. “Aqui não teve muito prejuízo, o menor foi de mil a R$1,5 mil, então colocamos duas caixas de contenção e não teve mais enchente”, conta. O presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Coração Eucarístico (Amarcor) Iracy Firmino disse que os comerciantes não procuraram a associação. “A

Acúmulo de água no período chuvoso prejudica a circulação de pessoas

André Correia

associação não tomou providência porque não fomos procurados pelos comerciantes e cada um fez ocorrência. As pessoas prejudicadas, a mim ninguém procurou. Não sei com o que eles foram agraciados”, disse Firmino. Ele falou também que a água chegou até ao posto de gasolina localizado nas esquinas das Ruas Dom João Antônio dos Santos e Rua Dom Joaquim Silvério, a um quarteirão da Via Expressa. “Em frente a um posto de gasolina tem uma loja de informática e eles tiveram prejuízo e outras lojas da Rua Dom João Antônio dos Santos foram fechadas”, completa. A nota enviada pela Gerência de Comunicação da Regional Noroeste para o jornal MARCO, explica como funciona o Grupo Executivo de Áreas de Risco (GEAR). “A Prefeitura de Belo Horizonte, com vistas a organizar a ação dos diversos órgãos durante o período de chuvas e promover ações de prevenção, criou o Grupo Executi-

vo de Áreas de Risco – GEAR, que reúne todas as semanas, entre os meses de outubro e março os Secretários, Gerentes e representantes de empresas e autarquias da PBH, além de órgãos externos como Cemig, Copasa e Bombeiros com o objetivo de informar as ocorrências da semana e planejar a próxima. O grupo conta com apoio das informações climáticas repassadas pela equipe do Tempoclima - PUC Minas”, esclarecem. Uma das medidas feitas pelo GEAR é a limpeza de bocas de lobo e córregos para evitar as enchentes. Este trabalho é realizado pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), foram mapeadas quase 6 mil bocas de lobo que representam 10% do total das existentes em Belo Horizonte. Há a previsão de retirada de aproximadamente cinco mil toneladas ainda este ano.


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Comunidade

Moradores pedem por diversas melhorias na Avenida Ressaca Residentes no Coração Eucarístico alegam descaso das autoridades em relação à importante via da Região e pedem mudanças, como melhorias na sinalização e instalação de semáforos JÉSSICA DIAS JÚLIA DIAS MAIKYSON COELHO 3º PERÍODO

A Associação de Moradores e Amigos do Bairro Coração Eucarístico (Amacor) vem solicitando, há cerca de 10 anos, melhorias na sinalização e instalação de semáforos na Avenida Ressaca. Ao longo desta década, muitas reivindicações foram feitas e, este ano, foram enviadas mais duas solicitações formais à BHTrans (empresa que gerencia o trânsito em Belo Horizonte), que não obtiveram sucesso. Há um ano, na edição 295, o MARCO abordou o problema, mas a situação não mudou nesse período. O presidente da Amacor, Iracy Firmino da Silva, afirma que pelo menos seis ofícios já foram enviados à BHTrans informando sobre os riscos que a má sinalização da avenida oferece à comunidade. Ele supõe que o principal motivo das reclamações não serem atendidas é a falta de uma análise técnica apropriada. “Uma equipe da BHTrans vem aí, analisa e no final diz que não é necessária a instalação do semáforo. O problema é

A falta de sinalização na Avenida Ressaca dificulta a travessia dos pedestres

que eles nunca vêm analisar em horário de pico”, explica. A BHTrans confirma o recebimento de um pedido para implantação de semáforo na Avenida Ressaca em abril deste ano e afirma que a análise do local foi realizada por um técnico que constatou fluxo insuficiente de pedestres na região. O supervisor de Controle de Registro de Solicitação da BHTrans, Luiz Gomes Martins, diz que a empresa não pode insta-

lar semáforos em qualquer lugar, pois é preciso seguir o que está estabelecido em resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e afirma que a área já possui faixas de pedestres e redutores de velocidade. Para Firmino, a sinalização ainda não é suficiente. “Depois de reclamarmos várias vezes, colocaram os redutores de velocidade. O problema melhorou, mas não foi resolvido. O número de acidentes diminuiu, mas o trânsito pio-

Acidente no local teve consequência grave

André Correia

rou. Mães com crianças têm muita dificuldade para atravessar aqui perto das 18 horas”, lamenta. Para Luiz Gomes, culturalmente, o motorista brasileiro não está acostumado a respeitar as faixas de pedestre e há necessidade de campanhas de conscientização no trânsito. “A BHTrans atualmente realiza a campanha ‘Pedestre. Eu respeito’ que visa conscientizar os motoristas para que respeitem o pedestre, principalmente so-

o alto número de veículos dificulta bastante e as medidas tomadas não facilitaram essa travessia para os pedestres”, afirma. Márcio Roberto da Silva, irmão da acidentada acredita que as autoridades esperam algo grave acontecer para tomarem as devidas providências. “O problema é que eles esperam acontecer algum aci-

dente que acabe em morte para então tomarem alguma decisão definitiva. Outra questão é a falta de educação dos motoristas. Acho que com o semáforo e boa fiscalização esse problema diminuiria, porque o motorista só respeita quando ‘sente no bolso’, o que aconteceria com a multa”, afirma.

Irmãs falam sobre acidente na Av. Ressaca

Jéssica Dias

INCANSÁVEIS Em julho deste ano, outra solicitação foi entregue à BHTrans. Desta vez, a comunidade pediu a revitalização da sinalização da Avenida Ressaca, junto ao vereador Orlei Pereira da Silva. Segundo a BHTrans, a análise do local foi feita e o técnico já solicitou a abertura de um projeto para que a reivindicação seja atendida. “Temos mui-

tos projetos e pouca verba. São aproximadamente 1600 projetos estocados aguardando disponibilidade orçamentária para serem implantados”, avisa Luiz Gomes. Iracy Firmino, que completou 79 anos em 14 de novembro e está há mais de 12 anos na Presidência da Associação, se diz cansado de lutar por essas melhorias, mas alimenta esperanças. “Em janeiro de 2014 vamos inaugurar o Quartel da 9ª Companhia. No dia da inauguração, vou preparar um grande discurso e vamos aproveitar a presença do governador para falar na cara dele sobre o problema da Avenida Ressaca”, comenta. Thiago Lisboa, comerciante do bairro, também está insatisfeito e sugere a construção de uma rotatória. “Sempre acontecem batidas bobas aqui devido à má sinalização. Acho que uma rotatória na intercessão da Avenida Ressaca com a Rua Dom José Gaspar ajudaria a resolver o problema. Não penso que seja necessária a instalação de um semáforo”, afirma.

semáforo. Quem quiser vai entrando, ninguém tem preferência aqui”, afirma. Outros cruzamentos entre as ruas Padre Pedro Evangelista e Rua Dom João Antônio dos Santos que cortam a Rua Dom Lúcio Antunes são pontos de fácil congestionamento, pois o fluxo de veículos é grande e algumas linhas de ônibus do bairro passam por ali parando nos pontos. O problema nesses locais é a sinalização de “pare” no asfalto que está apagada em quase todas as paradas obrigatórias, dificultando a percepção dos motoristas. A mesma situação se repete no cruzamento entre as ruas Padre Rossini Cândido e Dom Joaquim Silvério, que dá acesso à Praça da Federação, ponto central do Bairro. O ciclista e pedestre Damião Pereira Barbosa 33 anos reclama da escassez de quebra-molas. “Faltam quebra-molas, de bicicleta e a pé fica difícil atravessar as ruas aqui”, relata o pedestre. As faixas de pedestres também estão apagadas ou não existem nos pontos mais utilizados para travessia de estudantes e moradores. A Praça da Federação, conhe-

cida como Pracinha do Coreu, é o principal exemplo da má sinalização no bairro para os pedestres. O taxista Eduardo Couto de Oliveira trabalha no bairro há 17 anos e conta que o problema do trânsito no Coração Eucarístico piorou depois que colocaram mão única na Rua Dom Joaquim Silvério. “A sinalização tá péssima. Colocar mão única aqui na Rua Dom Joaquim acabou com o trânsito. Um tanto de motorista passa direto porque estava acostumado com o jeito antigo da rua. Outro problema também é que tem pouca faixa de pedestres aqui no bairro”, explica o taxista. A estudante de jornalismo Luísa Senna, 21 anos, explica como consegue atravessar as ruas do bairro. “Eu levanto a mão para os carros para eles pararem, senão fico esperando um tempão até algum perceber que estou no meu direito de atravessar, muitos não percebem porque as faixas de pedestres estão bem apagadas” revela a estudante. Procurada, a BHTrans não se posicionou sobre essas queixas.

Má sinalização causa transtornos no Coreu CAMILA SARAIVA 4º PERÍODO

Maria das Graças Silva, 66 anos, foi acidentada há um ano e seis meses, quando tentava atravessar a avenida, sendo atingida por um automóvel. A aposentada Márcia Maria da Silva, 65, relata que sua irmã sofreu um infarto alguns meses após o acidente, o que dificultou a sua comunicação. Após o acidente, não foi necessário realizar um Boletim de Ocorrência junto à Polícia Militar, já que o motorista parou imediatamente e prestou socorro, ajudando no que era necessário. Maria das Graças, no entanto, sofreu com as consequências da colisão, fraturando uma costela e as mãos, além de vários hematomas pelo corpo. Para a aposentada, a instalação de quebra-molas e da faixa de pedestre, que ocorreram após o acidente da sua irmã, não resolveu o problema. “O maior problema é a dificuldade de atravessar a avenida,

bre a faixa”, afirma. Para ele, o trânsito é um eterno conflito de interesses entre os condutores de veículos e os pedestres. “O pedestre sempre quer semáforos para facilitar sua caminhada, já o motorista não quer encontrar semáforos em cada esquina”, acrescenta. Segundo a Polícia Militar, entre janeiro e outubro deste ano, foram registradas 35 ocorrências de trânsito na Avenida Ressaca. “Fazemos nossa parte, mas seria responsabilidade da BHTrans e da Guarda Municipal conduzir o fluxo de pedestres e veículos. A PM realiza rondas periódicas na região, com o objetivo de garantir a segurança da população”, afirma cabo Tadeu, do Batalhão de Trânsito.

O Bairro Coração Eucarístico se transformou numa região com grande movimento de veículos, pedestres e ônibus devido ao fluxo de estudantes da Universidade. Mas o problema no trânsito nem sempre existiu. A cada ano o aumento do número de veículos circulando pelo bairro ocasiona congestionamentos frequentes e acidentes envolvendo pedestres. O cruzamento entre a Avenida Ressaca com a Rua Dom José Gaspar é um dos pontos mais críticos do Bairro, já que os motoristas não são informados sobre a preferência de passagem do local. Assim, quem está trafegando pela avenida e precisa entrar no Bairro pela Rua Dom José Gaspar precisa esperar, causando uma fila de veículos que também ficam à espera de uma brecha na outra mão da avenida. O aposentado Reinaldo Oliveira, 71 anos, se indigna com a situação na Avenida Ressaca. “Eu nunca vi uma avenida com uma entrada para o outro lado assim, sem nenhuma sinalização, nenhum


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Comunidade

Lotes vagos são problema no combate à dengue na capital Belo Horizonte possui um alto número de lotes vagos com foco de dengue, principalmente terrenos da Prefeitura, que foram desapropriados, no Bairro São Gabriel, na Região Nordeste ANA JÚLIA GOULART 6º PERÍODO

Mais de 80% dos focos de dengue de Belo Horizonte estão dentro das residências, segundo levantamento da Secretaria Municipal de Saúde. A taxa corresponde a cerca de 35 mil imóveis em toda a capital. O Bairro São Gabriel, na Região Nordeste de BH, reflete a realidade vivida na cidade. Apesar de não ter dados comprovados em pesquisa, basta uma caminhada pelas ruas do bairro para encontrar vários lotes vagos, sem capina, com muito entulho e lixo. Alguns deles, criados pela própria Prefeitura com as desapropriações para a construção do futuro Terminal Rodoviário. Apenas na Rua Jacuí, uma das entradas do Bairro vindo do Anel Rodoviário e da Avenida Cristiano Machado, há pelo menos três imóveis, que foram desapropriados pela Prefeitura de Belo Horizonte e estão em processo de demolição, com lixo acumulado e muito entulho. Garrafas pets destampadas, tampas de qualquer tipo e até forros plásticos acumulam

água da chuva e formam o local ideal para a reprodução do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da doença. “Até hoje não vi ninguém vindo limpar esses lotes. Só vi as máquinas destruindo tudo e fazendo a maior sujeira. Limpar mesmo nunca vi”, conta a moradora de 57 anos, residente em uma rua próximo a Jacuí e que preferiu não se identificar. “A gente morre de medo né? Meu filho mesmo já teve dengue. Aí quando pega de novo vem aquela mais forte e é um perigo”, desabafa a dona de casa. Questionada sobre os focos de dengue nos lotes, ela nem pensa para responder. “Com certeza tem. Na casa da gente, que todo dia a gente olha, todo dia limpa, as vezes passa um foco do mosquito despercebido. Imagina aí que ninguém nunca olha?”, comenta. Mas não são apenas os lotes supervisionados pela Administração Municipal que estão em más condições de limpeza. Na Rua Santos Anjos, quase às margens do Anel Rodoviário, há um enorme lote vago, com muito mato e algum lixo. Não

foi possível ver dentro do local por causa dos grandes muros. Nenhum dos vizinhos soube informar quem seria o proprietário, mas uma coisa é perceptível: limpeza ali não tem. “Tem muito tempo que já tem esse lote aí, mas ninguém nunca vem. Nem para limpar nem para nenhuma outra coisa”, conta uma vizinha de frente do local. Atrás do lote, fica uma pracinha recém reformada e uma quadra de futebol. O perigo para as crianças e para qualquer morador é iminente. “Medo todos nós temos. Mas é cada um com sua responsabilidade né? Eu limpo o meu lote e não quero trazer riscos para ninguém, cada um tem que ter a sua consciência e responsabilidade”, desabafa Rosângela Souza, 25 anos, gerente de uma loja de sapatos. Ela estava sentada na pracinha com a filha no momento em que o MARCO percorria a região.

afirma Irene. “Tenho que ficar andando na rua, pois eles usam o passeio como uma extensão do bar, deixando apenas um pequeno espaço para as pessoas transitarem”, alega Irene. Além de constatar que os bares usam o passeio de forma indevida, a entrevistada lembra que jovens alcoolizados são a principal causa do barulho nas proximidades na praça. “Quando chega o turno da noite, muitos jovens matam aula para vir

beber, começam a gritar palavrões e brigam na porta do meu prédio”, afirma. Ela conta ainda, que certa vez jovens invadiram o complexo de apartamentos, e os moradores tiveram que chamar a polícia para que fossem retirados do local. Segundo Irene, outros moradores do prédio mudaram, pois não conseguiam realizar as tarefas cotidianas como ler, ver televisão e dormir. “Meus filhos mudaram daqui devido aos barulhos, eles

NÚMEROS De acordo com um levantamento do Ministério da Saúde sobre a doença no país, Belo Horizonte registrou um aumento de 28% no nú-

Lotes vagos oferecem condição de proliferação do mosquito da dengue

mero de mortes por dengue neste ano. Os dados são comparativos com o mesmo período de 2010. Ainda de acordo com o órgão, apesar disso, a capital mineira tem índices satisfatórios de infestação da doença. Nos últimos balanços da Secretaria Municipal de Saúde, os números em BH cresceram muito. Apenas na primeira semana de novembro, 300 pessoas foram infectadas. Nos dados gerais, mais de 95 mil belo-horizontinos já tiveram dengue. Oito

pessoas morreram em decorrência da doença. Em Minas Gerais, os dados são ainda mais assustadores: 106 óbitos apenas neste ano. A Região Nordeste, onde fica o Bairro São Gabriel, está entre as três com as maiores taxas de infestação. A pior área é a Norte, com quase 19 mil casos registrados.

não conseguiam dormir e alugaram um apartamento. A minha vizinha do andar de baixo mudou-se e alugou o apartamento para uma família do interior”, conta. “Preciso tomar calmante para dormir, já meus filhos dormiam com protetor de ouvido”, acrescenta Irene. O barulho não somente incomoda os moradores, mas também os comerciantes da praça, com as músicas altas vindas dos carros que transitam na região, tendo seu pico de noite por volta das 18h às 19h. “Não sou obrigado a escutar as músicas altas, dessas pessoas que passam com o som do carro no último volume”, diz Luiz Henrique Santana, 34 anos, vendedor da loja Sutil. Além disso, o barulho dos motores de ônibus que passam nos pontos ao redor da praça, e das buzinas gera certa irritação em comerciantes que estão próximos ao local. O vendedor da farmácia DrogaNorte, Cristiano Motta, 35 anos, declara que quando há engarrafamento a poluição sonora

é maior. “Aqui na praça os sons dos ônibus e das buzinas incomodam”, afirma. Eliane Resende, 37 anos, vendedora da loja Água de Cheiro observa que nos dias de jogos de futebol, os torcedores causam alarde no local fazendo com que os moradores se irritem e prestem queixas sobre o barulho que se estende após às 22h. “Na parte da manhã o movimento é pequeno, só transitam duas linhas de ônibus ao redor da praça. Já convivi com situações piores, mas de qualquer forma é estressante conviver com barulho”, diz.

Débora Oliveira

destruídos é o aumento de animais como ratos, baratas e escorpiões. O calor também é um dos fatores que contribui para que os bichos saiam da toca em busca de alimentos e de um refresco. O cuidado deve ser redobrado pelos moradores no entorno do local. Em caso de incidência desses animais, a Prefeitura deve ser avisada para que proANIMAIS videncie uma detetização. Outro problema cau- Em caso de picada, a vítisado pela demolição das ma deve ser encaminhada casas e dos entulhos que imediatamente para um ainda estão nos imóveis hospital da região.

Moradores reclamam do excesso de barulho ALÉXIA MOREIRA ISABELA MARIA 2º PERÍODO

A moradora Irene Alvez, 64 anos, reclama dos barulhos que os bares da Praça da Federação, localizada no Bairro Coração Eucarístico, emitem ao longo da semana. “Os incomodados que se mudem? Eu não concordo com essa frase. Só por que eu moro nas proximidades dos bares que eu tenho que mudar da minha casa por causa de barulho?”,

Irene Alvez, 64 anos, reclama do barulho que vem dos bares e das ruas

Raquel Gontijo

INCÔMODO Por conviver diariamente ao longo de meses com barulhos diversos causados pelo trânsito, alguns vendedores e clientes se adaptaram a essa situação estressante. “O barulho não me incomoda, nenhum cliente nunca reclamou do som causado pelo trânsito”, afirma a vendedora da loja Kripton, Rejane Ramalho, 43 anos. Diante do incômodo e do estresse gerado

pelos estabelecimentos a moradora Irene Alvez propõe que haja o cumprimento da lei de silêncio para não incomodar os moradores da região. “Eu nunca fiz uma denúncia à polícia pelo barulho. Já meu filho fez inúmeras vezes. Cheguei a um ponto que tento não me importar tanto com o barulho, pois não adianta reclamar”, completa. DENÚNCIAS De acordo com informações do capitão Arlei, 40 anos, da Polícia Militar a maioria das reclamações que recebem provenientes do entorno da pracinha do Coração Eucarístico são sobre os barzinhos. “As denúncias são mais significativas nos fins de semana”, diz o oficial, sobre o número de ligações. Segundo Arlei, as reclamações são especialmente sobre o barulho alto dos sons vindos dos bares e da sujeira causada pelos frequentadores. “Nos barzinhos às vezes os banheiros ficam ocupados e as pessoas acabam urinando na rua”, relata.


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JÉSSICA FONSECA RAÍSSA PEDROSA 7º PERÍODO

Em menos de um mês, três estabelecimentos voltados para a venda de sucos naturais, vitaminas e creme de açaí foram inauguradas no Bairro Coração Eucarístico. Localizadas em dois quarteirões da Rua Coração Eucarístico de Jesus, as lojas estão em locais com grande movimento de pessoas e já estão dando um faturamento satisfatório , segundo seus proprietários. A loja Pé Di Fruta, que foi inaugurada em 6 de novembro, produz cerca de 500 copos de suco diariamente, o que para Celso Rubens Moreira, dono do estabelecimento, gera lucro considerável. Ele conta que abriu a loja por ver uma necessidade desse tipo de produto no mercado. “Se você observar tem carência, hoje, tudo é com conservante, é bebida em lata, o suco é natural, é saúde e atrai desde crianças até idosos”, explica. Celso também é dono de mais quatro lojas espalhadas pela cidade, que ele administra a cerca de um ano e meio. Ainda segundo Celso, a dificuldade que ele encontra em manter a loja é a busca pelas frutas e a conservação dentro das normas da Vigilância Sanitária. “Parece que é fácil, mas tem toda uma estrutura para con-

Comunidade

seguir as frutas”, afirma. Refrescaí é o nome da loja de propriedade dos filhos de Lucélia Geralda Xisto, que foi aberta em 11 de outubro. Lucélia conta que o investimento para abrir a loja foi relativamente baixo e que está tendo um retorno muito bom. Segundo ela, são vendidos aproximadamente 200 copos de suco por dia. “É um trabalho que não é difícil de aprender a fazer e o retorno é rápido, além do produto ser saudável, se tem uma coisa que eu prezo é a saúde”, diz. Para Lucélia, as pessoas estão mais conscientes de que o refrigerante, por exemplo, não é benéfico à saúde. “As pessoas estão deixando de tomar refrigerante para comprar suco”, acredita. Ela julga que esse seja o motivo das boas vendas. A terceira loja é uma extensão do restaurante Rancho Mineiro. De acordo com Camila Schuffner Dias, uma das gerentes, a ampliação foi um marketing para mostrar que ali também tem suco natural. “Na verdade, a gente já vendia suco muito antes, o que fizemos foi tornar mais visível essa venda, dizendo ‘olha aqui, nós também temos suco natural’”, conta. Com pouco mais de uma semana que o espaço havia sido aberto, Camila não soube dizer se as vendas aumentaram. De acordo com Flávio

Sucos e vitaminas são aposta no Coreu Três novas lojas de sucos naturais e vitaminas foram abertas no Bairro Coração Eucarístico e têm atraído um grande público, principalmente, os estudantes da PUC Minas. Elas já rendem bons lucros aos seus investidores e vem agradando a clientela

Comércio de sucos naturais cresce no Bairro Coração Eucarístico

Riani, economista e professor de economia na PUC Minas, esse tipo de comércio está caracterizado na economia sazonal, em temporadas, ora está em alta, ora está em baixa.

Ele diz que a melhor forma de investir, independente do tipo do negócio, devese observar e analisar se o lucro vai suprir os gastos de forma rápida. “O problema é que as pessoas em

Comerciante da PUC Minas vai investir na venda de sucos Márcio Schuffner, dono de uma das cantinas do Campus Coração Eucarístico da PUC Minas e pai de Camila Dias, revelou que pretende divulgar mais a venda de sucos em sua lanchonete, reservando uma área e pessoas apropriadas para lidarem apenas com as vitaminas. “Tenho planos de reformar o espaço, não só aqui dentro como lá fora também, mas tudo isso depende se a universidade permitirá, não cabe apenas a mim”, afirma. Ele quer investir na qualidade dos seus produtos e, segundo diz, se uma pessoa se aprimora no que faz, ela vai fazer melhor do que qualquer outra. “Uma coisa é você acostumar uma pessoa e ela saber o que tá fazendo, se o cliente está gostando ou não, e outra coisa é qualquer um chegar lá e fazer”, justifica. Márcio acredita que com as reformas no espaço, a divulgação será maior sobre a venda de sucos, o que ele já faz. “A gente já vende todos os tipos de sucos, né? Só que

Divulgação é a aposta para o aumento das vendas neste ramo

não é tão divulgado assim”, diz. Segundo ele, tem pessoas que pensam que a lanchonete não vende sucos nem vitaminas. “Mas a gente vende todos os tipos de sucos”, frisa . Para Márcio, as pessoas confundem sucos naturais e sucos de polpas, que não são considerados naturais por conter um pouco de água junto da polpa e não ser a polpa pura. Ele afirma que os sucos naturais mesmo são os de laranja, mamão e banana, que o resto que circula no mercado são polpas. “E agora o que a gente tá tentando fazer é pra cortar a fruta mesmo, a fruta da época, fazer o suco da fruta da época”, explica. As “casas” que fabricam sucos hoje, estão cada vez mais em alta, os donos estão investindo mais na divulgação e na decoração das lojas para chamarem mais atenção. Antes, essas casas eram mais comuns no entorno da rodoviária da capital e hoje estão por vários lugares.

Raíssa Pedrosa

André Correia

geral, quando vão abrir uma loja, principalmente comércio pequeno, não avaliam os custos envolvidos na abertura”, explica. Para Riani, o comerciante deve avaliar o local e pensar as possíveis demandas, o que mais pode atrair o público naquele ambiente. Quando a venda de sucos diminuir, ele deve ter em mente como suprir os gastos e continuar a atender os clientes. Esse não parece ser o problema de nenhuma das três lojas do Coração Eucarístico, afinal os proprietários mostram estar cientes de que o investimento pode ser temporário. Camila Dias diz que provavelmente deve investir em caldos na época do frio para se adaptar à cada estação. Lucélia e Celso pensam de forma parecida na questão da queda das vendas de suco. Ambos pretendem investir na venda de cappuccino, chocolate quente, salgados e bolos. “A gente tem que se adaptar, a única coisa que eu digo com certeza é que aqui nós não vamos vender refrigerante porque vai contra os meus princípios”, afirma Lucélia. OPÇÃO SAUDÁVEL A estudante de Relações Internacionais, Lorena de Oliveira Araújo, experimentou o suco do Rancho Mineiro pela primeira vez e aprovou a iniciativa. “Achei muito bom, é muito saudável”, diz. Segundo o estudante da PUC Minas, Cleber Dutra, tomar suco de açaí é uma opção saudável. Ele estava na loja Pé di Fruta pela primeira vez e gos-

tou da novidade. “Sempre tomo suco natural, achei bom ter aberto uma dessas aqui perto da PUC”, diz. Margareth de Carvalho Miranda, funcionária dos Correios, já é frequentadora da loja Pé di Fruta e tem o seu suco preferido. “Gosto mais do de manga com maracujá”, comenta. Ela sugere que loja passe a oferecer almoço também, que acredita estar em falta no bairro. “Esses lugares que oferecem almoço ficam lotados todo dia, se abrir aqui também, vai dar certo, tem cliente para todo mundo”, constata. O nutricionista Alessandro Maia aprova o consumo de sucos nessas lojas. “Os sucos naturais, quando preparados na hora, são excelentes fontes de vitaminas e minerais. O açaí também é uma ótima fonte de energia”, diz. Mas ele pondera que o suco natural, para ser mais saudável, é melhor que não contenha açúcar. “O suco deve ser consumido, preferencialmente, sem açúcar, para que se aproveite o açúcar natural das frutas, a frutose”, explica. Alessandro também orienta que as pessoas não troquem as refeições por sucos naturais. “As grandes refeições são responsáveis pelo fornecimento de proteínas, vitaminas, minerais e óleos essenciais que não são encontrados nas frutas. Os sucos devem ser utilizados como complemento ou nos intervalos entre as grandes refeições”, sugere.


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Educação

Oficinas gratuitas abrem portas No Bairro Jardim Vitória, Região Nordeste de BH, o Projeto Providência, em parceria com o Senai, oferece cursos profissionais gratuitos para jovens, além de escola integral para crianças MARCOS ROBERTO MATOS MARCO TÚLIO SOUTO NATÁLIA CELLE 3º PERÍODO

Sozinha com sua instrutora, Kátia Correia prepara uma surpresa para sua mãe: um bolo de aniversário. A jovem de 16 anos é um dos adolescentes beneficiados pela parceria firmada no último ano entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Projeto Providência, o que permite à entidade social ofertar, gratuitamente, cursos profissionalizantes de curta duração. Localizada no Bairro Jardim Vitória, na Região Nordeste da capital mineira, a organização recebe cerca de mil crianças e adolescentes todos os dias. A grande maioria integra os outros dois projetos mantidos pela unidade – a escola integral, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, e as oficinas voltadas para jovens de até 14 anos. Mais de 80 alunos das oficinas profissionalizantes colhem, hoje, os frutos da parceria com o Senai. Viviane Machado, coordenadora do Projeto Providência, explica que os cursos, que têm duração de um ano, já estavam disponíveis antes da parceria mas foram adaptados para atender às normas e ao programa do Senai, o mesmo adotado nas escolas téc-

nicas regulares. Outra vantagem da parceria é a emissão de um certificado entregue pelo próprio Senai ao final da oficina, abrindo mais oportunidades para os participantes no mercado de trabalho. O cenário de calmaria no dia em que Kátia fazia a surpresa para sua mãe é uma exceção ao que se vê, normalmente, no prédio que abriga os quatro cursos profissionalizantes da unidade Vila Maria, do Projeto Providência. De segunda a quinta-feira, os estudantes participam de oficinas de Arte Culinária, Arte em Madeira, Corte e Costura e Eletricidade, das 13h às 17h. Na sexta-feira, o horário é mais curto, encerrando-se às 15h30. INCENTIVO Um dos incentivos à permanência nos cursos é uma bolsa mensal. O auxílio, de pouco mais de R$ 300, depende da frequência do aluno, já que faltas provocam desconto no valor. “Temos que acompanhar a presença dos alunos para que possam receber a bolsa corretamente”, conta a coordenadora. A instrutora do curso de Arte Culinária, Edilene Xavier, aponta a remuneração como um dos fatores responsáveis pela alta procura pelos cursos. Para ela, que é ex-aluna, o curso técnico

também é procurado por ser relativamente rápido. PARTICIPAÇÃO A indicação boca a boca é a principal forma de divulgação do projeto. Flávia de Paula, 17 anos, já está no programa há alguns anos e participou de outras oficinas. Para ela, que atualmente está cursando Arte em Madeira, ninguém gosta do curso no início e quer desistir logo, mas ao final sente saudades: “O Projeto é um vício”, resume. Como não é permitido ao aluno repetir uma oficina, muitos fazem um “rodízio”, passando por todos os quatro cursos. É o caso de Denis Santos, 21 anos, que também cursa Arte em Madeira. Ele, que não tinha vontade de participar, ingressou graças à insistência de sua mãe e mudou de opinião. Agora quer passar por todas as oficinas. As aulas de Informática, obrigatórias para os alunos de todas as oficinas, também estão disponíveis para os demais moradores da região, apesar do número limitado de vagas. “Há um número limitado de vagas para fornecer à comunidade pois temos que atender os nossos alunos primeiramente, já que eles precisam do curso de Informática para receber o certificado final”, explica Viviane.

Trabalho direto após ensino médio é opção DAIANE DO CARMO 2º PERÍODO

O cenário nas universidades do Brasil mudou nos últimos 10 anos segundo, pesquisa realizada pelo Ministério da Educação. Programas do Governo Federal como Prouni, Fies e Sisu facilitaram a entrada de jovens nas universidades federais e particulares. Muitos jovens, entretanto, preferem a imersão direta no mercado de trabalho, após a conclusão do ensino médio. Outros preferem se graduar em cursos superiores, para depois conquistar o primeiro emprego, existe a opção pelo concurso público, e há ainda aqueles que não fazem curso superior por falta de condições financeiras. “Após terminar o ensino médio tinha que trabalhar para me sustentar, isso dificultou a minha entrada na faculdade. Pensava em trabalhar apenas um ano, e depois prestar

vestibular, mas, acabei me acomodando e desisti”, diz a vendedora Jailde Fazendeiro Ferreira, 20 anos. Mas esse não é o único problema para quem deseja cursar uma faculdade. “Escolhi o meu curso por paixão. Sei que o mercado de trabalho de psicologia não é tão promissor, e que os salários são baixos em vista de cursos como engenharia e medicina. Por isso, logo que entrei na graduação já comecei a procurar estágio”, conta Lorena Silva Dantras, 19 anos, estudante do segundo período de Psicologia no UniBH. Alguns jovens deixam de lado o prazer de trabalhar naquilo que gostam por visarem profissões que oferecem salários mais altos. “Desde o ensino médio, estava em dúvida entre jornalismo e direito. Apesar da minha paixão por escrita. Após pesquisar bastante, percebi que o salário de um advogado é bem maior que de um jornalista. Por isso,

optei por cursar direito”, declara Jamilly Oliveira, 18 anos, estudante do segundo período de direito na faculdade Milton Campos. Muitos alunos do ensino médio preferem se estabilizar no emprego, para depois cursar o ensino superior tranquilamente. “Optei por fazer concurso público, onde os salários são altos, e o emprego estável. Porém, não abandonei o sonho da faculdade”, atesta Júlia Larissa Coimbra, 22 anos, atendente do Banco do Brasil. Segundo a recrutadora Railda Porto Souza, da empresa Copiadora Ideal, é preciso que estudantes do curso superior aproveitem todas as atividades oferecidas na instituição em que estuda. Assim, o aluno vai adquirir experiência, e isso facilitará sua entrada no mercado de trabalho.

Um dos cursos profissionalizantes gratuitos é o de arte culinária

Natália Celle

Doações são indispensáveis para manter vivo o projeto Idealizado pelo arcebispo emérito de Belo Horizonte, cardeal Serafim Fernandes de Araújo, uma das conquistas do Projeto Providência foi o reconhecimento pelo poder público, incluindo parcerias com diversos órgãos governamentais. Mesmo assim, a parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, por exemplo, não é suficiente para manter o caixa da organização, que chega a ter uma despesa diária de R$ 10 mil e continua dependendo de doações para manter-se operando. Com 25 anos de existência e fundado pelo padre Mário Pozolli, o Projeto Providência atende a três mil crianças e adolescentes por meio de três unidades localizadas em bairros periféricos de Belo Horizonte, além de empregar funcionários das co-

munidades. A unidade Vila Maria foi a pioneira do projeto que hoje conta também com as unidades Taquaril, no Bairro homônimo da Região Leste da capital, e Fazendinha, no Aglomerado da Serra. Segundo a Associação dos Moradores do Conjunto Residencial Gorduras Vila Maria, o Projeto Providência é importante para o processo de formação de crianças e adolescentes, visando, sobretudo, o mercado de trabalho. Para a entidade, o programa contribui na educação, auxiliando no processo de qualificação profissional. Entre as atividades desenvolvidas pelo Projeto Providência estão o atendimento odontológico, apoio pedagógico, oficinas de canto e teatro, além dos cursos profissionalizantes e uma biblioteca.

Cresce a busca no país por cursos tecnólogos NATÁLIA CELLE 3º PERÍODO

Foi realizada nos dias 26 e 27 de outubro o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O número de inscritos aumentou 24,5% em relação ao ano passado. Este é apenas um dos indicativos da maior procura por especialização para a entrada no mercado de trabalho no país. De acordo com levantamento feito pelo Ministério da Educação, divulgado em setembro deste ano, a cada dez mil brasileiros, 18,8 ingressam em graduações ou cursos tecnólogos nas áreas de engenharia, produção e construção. Em grande parte das áreas de conhecimento, a média do Brasil é maior que a dos países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Dentre os integrantes da OCDE estão Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e o Canadá. Atualmente, o mercado de trabalho demanda mais especialização e atualização dos conhecimentos. Para Rosângela Caldeira, coordenadora administrativa na Escola Superior de Justiça, o mercado não é como antigamente. “Hoje, os profissionais precisam de formação constante”, diz. Ela atribui o aumento da procura por cursos tecnólogos e graduações às exigências do mercado. Apesar da diminuição da taxa de desemprego e maior ingresso nas instituições

de ensino superior, o mercado exige ainda mais: experiência. Flaviane Castro, 33 anos, cursou Gestão de Recursos Humanos no Centro Universitário UNA, mas depois de mais de dois anos de conclusão de curso, nunca trabalhou na área estudada. “Sempre pedem pelo menos seis meses de experiência. O curso tinha muita prática, então não precisei fazer estágio”, explica. Ela voltou para o ramo do comércio, mas afirma que gostaria de fazer psicologia. “Tenho filhos”, disse Flaviane, justificando a sua desistência no momento. “Quero que eles tenham uma educação de qualidade. O incentivo a estudar. Quero que nunca parem”, completou. “O país de todos”, apontado no slogan do Governo Federal enfrenta ainda um longo caminho para alcançar o restante dos brasileiros que ainda não têm acesso a educação. Leis de incentivo, como a que deu origem ao Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), ProUni, Fies, entre outros, são investimentos na educação que apesar de eficazes para os que já usufruem deles, não atingem ainda boa parte da população. Contudo, atentando para uma estatística otimista, o aumento de cursos tecnólogos e graduações é um indicativo do crescimento do Brasil para o mercado internacional, e também para o mercado interno.



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Meio Ambiente

Fauna silvestre pede socorro Banco de Dados Brasileiro de Atropelamento de Fauna Selvagem monitora e dá suporte a projetos que visam reduzir os impactos desse tipo de acidente, que vitima alto número de espécimes BENJAMIN ALBERT SCHLARBAUM FELIPE AUGUSTO VIEIRA GUSTAVO CASSEMIRO FREITAS LUCAS DA SILVA MENDES

dos. O evento é aberto a empresários, representantes de instituições governamentais, professores, pesquisadores e estudantes de graduação que tenham interesse na área de Ecologia de Estradas.

7º PERÍODO

O atropelamento é uma das principais causas de morte de animais silvestres no Brasil. Para conhecer melhor essa realidade existe o Banco de Dados Brasileiro de Atropelamento de Fauna Selvagem (BAFS), mantido pelo Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), sediado na Universidade Federal de Lavras, no Sul de Minas, que trabalha fazendo o monitoramento desse tipo de acidente. Baseado em 14 artigos científicos publicados em diferentes revistas brasileiras e calculada pela taxa média de atropelamentos no país nas estradas federais, que leva também em conta o número de veículos registrados em cada estado em relação à sua área, a conclusão é que esses acidentes vitimam em sua maioria os pequenos animais vertebrados - entre mamíferos, anfíbios, répteis e aves (90%), enquanto 9% são de animais de médio porte, como gambás, lebres e macacos, e o 1% restante formado por animais de grande porte, como onças-pardas, lobosguarás, antas e capivaras. Na Região de Lavras, é desenvolvido pelo CBEE, o monitoramento de saguis, espécie frequentemente atropelada, que é endêmica na região. Segundo o pesquisador Alex Bager, por haver muitos animais dessa espécie na re-

Estudantes de medicina veterinária da Uniube em ação com o Projeto Atropelados

gião, também na área urbana da cidade, é mais fácil fazer o controle. Por meio da equipe, formada por 22 pessoas, com formações que variam entre estudantes de ensino médio, graduandos de ciências biológicas, mestrandos e doutores, bolsistas e voluntários, o trabalho do CBEE na região tem mostrado que animais como a lontra, gato do mato e quatis têm sido frequentemente atropelados. “Eu já tenho desenvolvido o estudo Ecologia de Estradas desde há pouco mais de 15 anos, quando comecei ainda no Rio Grande do Sul, e em 2009 criei um grupo de trabalho em Lavras. O objetivo da estatística é totalmente aplicável. Fazemos isso para

estabelecer estratégias para diminuir esses impactos, desde políticas públicas a casos pontuais, como no caso do tamanduá bandeira e do lobo-guará, por exemplo, que têm altos índices de atropelamentos, tanto no Pantanal quanto na Estação Ecológica do Taim (RS), respectivamente”, explica o coordenador do CBEE sobre o trabalho feito em nível nacional. Alex Bager é formado em oceanologia e doutorado em ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por meio do estudo desenvolvido pelo CBEE, são feitos protocolos de estudo e tomadas de decisão. “O nosso foco é muito mais abrangente do que problemas

Divulgação

pontuais. Trabalhamos com a capacitação dos atores que estão desenvolvendo estudos ambientais, como analistas do IEF, do Ibama e ICM Bio, Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e consultores ambientais. Temos dado cursos no Brasil inteiro. Nos últimos 2 meses administramos 12 cursos”, explica. Entre os dias 27 e 29 de janeiro de 2014, a Universidade Federal de Lavras sediará a terceira edição do Road Ecology (Congresso Brasileiro de Ecologia de Estadas), um dos três grandes eventos do mundo, como a Infra Eco Network Europe (IENE) da Europa, e a International Conference on Ecology and Transportation (ICOET) dos Estados Uni-

PROJETO No Triângulo Mineiro, característico pelo bioma do cerrado mineiro, o estudante do curso de medicina veterinária da Universidade de Uberaba (Uniube), Rafael Ferraz de Barros, coordena um estudo sobre animais atropelados nas estradas. Chamado Projeto Atropelados, ele foi motivado pelo alto número de encaminhamentos ao setor de animais selvagens do Hospital Veterinário de Uberaba. O projeto é composto pelo monitoramento quinzenal das duas rodovias da região próxima a Uberaba, a BR-050 e a MG-427, preenchendo, pelo menos localmente, a lacuna da estimativa do CBEE, que calcula apenas animais atropelados em estradas federais. Ele conta com a parceria da 5ª Cia. Independente de Meio Ambiente e Trânsito de Uberaba, que auxilia no monitoramento das vias junto a voluntários, que catalogam os animais. Em dois anos, segundo Barros, 120 animais foram atropelados por ano, em média, por rodovia estudada, totalizando 480 no período. Porém, quanto à taxa de fatalidade, o projeto não tem um dado comprovado, mas estima-se que 90% dos animais atropelados mor-

rem. Os 10% restantes ficam muito fracos e podem virar presas fáceis para animais carnívoros. Portanto, os sobreviventes são encaminhados aos centros de triagem de animais silvestres (CETAS), Centro de Reabilitação de Animais Selvagens (CRAS) e hospitais veterinários. Nesses casos, por ficarem com sequelas dos atropelamentos ao não se recuperarem, os animais ficam inábeis a voltar para o habitat de origem. “Depois de concluído o estudo, os dados foram plotados e chegamos à conclusão que dois trechos de 2 quilômetros cada necessitam de cuidado especial, devido ao alto número de animais atropelados. Não são os trechos com mais animais atropelados, mas sim aqueles com maior número de espécies ameaçadas atropeladas. Também chegamos a dados preliminares sobre os efeitos sobre as aves de rapina, grupo de aves pouco estudada que merece uma atenção especial, por estar fortemente ligada aos atropelamentos e ecologia de estradas”, explica Barros. Segundo ele, o Projeto Atropelados está trabalhando em conjunto com ecologistas de paisagem, pessoas ligadas ao ramo de análise de resíduos sólidos, educação ambiental, entre outros. “A ecologia de estradas, por ser tão ampla, permite que vários setores trabalhem em conjunto em busca de dados e alternativas”, diz.

Polícia civil investiga crimes contra animais PABLO PERALTA 6º PERÍODO

Em janeiro deste ano foi criada, no Bairro Carlos Prates, a primeira Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Fauna de Minas Gerais. É a primeira desse tipo no estado, e uma das poucas que existem no Brasil todo, pois não chegam a ser dez unidades assim no país. Funciona à Rua Piratininga, 105, no mesmo prédio onde já estava instalada a Delegacia de Crimes contra o Meio Ambiente, área da qual faz parte. A criação do novo órgão investigativo responde a uma iniciativa popular. De-

pois que várias ONGs que participam do movimento protetor de animais se organizaram, conseguiram juntar mais de 50 mil assinaturas e encaminharam um pedido ao governador mineiro, Antonio Anastasia. A origem desse serviço especializado esteve no anseio popular de defender os animais. Até então, os crimes contra animais já eram tratados na mesma sede, pois a parte encarregada de investigar ataques contra o meio ambiente existe há bastante tempo. Tais crimes são previstos na Lei Federal 9.605, e essa delegacia já tinha incumbência de tratar todos deles; assim como cri-

mes contra a flora e outros. Dentro dessa lei, de 12 de fevereiro de 1998, os artigos aos quais responde a nova delegacia são o 29 e o 32. O primeiro deles proíbe “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente”, e estabelece uma pena de detenção de seis meses a um ano e multa. Já o artigo 32 declara ilegal “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos” e a punição por ele decretada é de três meses a um ano e multa.

Setor do Ibama recebe aves e animais silvestres apreendidos

André Correia

Com delegacia, proteção à fauna é aprimorada A delegada Andréa Pochmann contou ao MARCO alguns detalhes sobre o funcionamento da Delegacia. Ela explicou que a área que combate os crimes contra a fauna conta com cinco pessoas: o delegado, uma escrivã e três investigadores. Dentre eles tem uma veterinária. “Ela vem auxiliando bastante no sentido de pelo menos verificar, pois não tem incumbência de perito, mas pelo menos pode conferir a questão da saúde do animal”, disse a delegada. A unidade da Rua Piratininga tem um

convênio com o Ministério Público, o Poder Judiciário e a Polícia Militar que regulamenta as investigações. Quando a Delegacia ou a Policial Militar recebem uma denúncia de violações aos artigos 29 ou 32 da lei 9.605, um Boletim de Ocorrência é lavrado e os investigadores vão até o local, para averiguar e fazer a fiscalização. Eles elaboram um documento, informando o caso e dizendo quem é o autor do crime, se ele de fato se constatar. Uma vez ouvido o depoimento do sujeito, ele recebe data para

uma audiência no Fórum, em juizado especial. Pelo fato de a punição ser tão reduzida as pessoas que são achadas culpáveis pela Justiça dificilmente vão para a cadeia. Para um crime dessa natureza acabar em prisão efetiva, a pessoa tem que ter um histórico de reincidências. Depois de firmar esse termo de comparecimento eles voltam para suas casas. Algumas sentenças obrigam o réu a pagar uma cesta básica ou cumprir trabalho voluntário. A Delegacia também recebe muitas ligações

de outras cidades, mas como não tem atribuição, só podem responder as denúncias de Belo Horizonte. Então, essas queixas têm que ser encaminhadas para as respectivas cidades. “Tantas pessoas procurando ajuda é fácil de entender, pois esta é a única delegacia no estado todo que trata de crimes contra animais”, comenta Pochmann. Sendo que ainda não existe previsão para repetir a experiência em outros pontos de Minas Gerais.


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Meio Ambiente

Encantos do Parque Serra Verde Segunda maior área verde da capital mineira, local possui grande biodiversidade e por estar em uma região densamente habitada, sua preservação adquire importância fundamental

O biólogo e monitor ambiental do Parque Estadual Serra Verde, Moisés da Silva Lima, catalogou recentemente, em setembro, doze espécies de mamíferos na área localizada às margens da rodovia MG-10, entre os bairros Serra Verde, Nova York, Jardim dos Comerciários, todos em Belo Horizonte, e Morro Alto, em Vespasiano. A área de proteção é vizinha à Cidade Administrativa, atual sede do Governo de Minas. O Serra Verde é o segundo maior parque da capital, menor apenas que o Parque das Mangabeiras, e uma da 60 unidades de conservação de Minas. Com área de 142 hectares, ele faz parte do Bioma da Serra da Mata, parte da Mata Atlântica. A fauna do parque é composta por 98 espécies, entre mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Lima usou como referência, para fazer o registro das espécies de mamíferos do parque, o livro “Rastros de mamíferos silvestres brasileiros: Um guia de campo” e usou o conhecimento sobre pegadas e fezes dos animais – que têm hábitos noturnos e vivem em sua maioria no alto das árvores – para identificá -las. Dentre as espécies descobertas e registradas, estão tatu-galinha, paca, cachorro-do-mato, mão pelada (da família do guaxinim), furão, preá,

capivara, mico-estrela, esquilo e tapeti (ou coelhodo-mato). “Dentre as espécies que residem no parque, podemos dizer que algumas chegaram até aqui de forma errante, enquanto outras já residiam no local, resistindo há anos à pressão da ocupação humana”, diz. Ele usou também o conhecimento popular para identificar os animais, por meio de uma consulta com os moradores da região, principalmente os que já tinham por hábito caminhar pelo parque há mais tempo. Ele guiou a reportagem junto ao monitor e geógrafo Miguel Filho, descrevendo as características do parque, como a qualidade do solo, por

exemplo, que é úmido e com uma cobertura de folhagens típicas de mata atlântica, que o protege contra a erosão. Eles também mostraram os projetos administrados pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), como o plantio de mudas feito por pessoas da comunidade, identificadas com placas de cimento ou madeira reciclados de entulhos de obras, que levam os nomes dos moradores, como uma forma de homenagem. Essa valorização da área, segundo Lima, é feita por meio de um trabalho árduo de conscientização junto à comunidade local, já que, por hábito, algumas pessoas tendem a ver o parque

Parque preserva área verde, apesar da ocupação humana

como lote vago, apto para despejo de lixo, dejetos e entulho. “A gente está numa área que está em conflito com fazendas, onde tem gado. O parque é urbano, está numa área onde há muita casa, é bem adensado. Trabalhamos com as escolas do entorno, principalmente, sobre essa questão de impacto ambiental, assim como com a população, com estímulos a preservação do parque. Porque eles tendem a ver isso como um lote vago, então a gente tenta fazer com que eles agreguem algum valor a toda essa área. A gente não está querendo isolar uma área como um lugar que o homem não pode ir, não é isso. Queremos preservar agregan-

Felipe Augusto Fernandes

do o homem a esse meio, para ele entender como é que funcionam os processos naturais. É conhecer para preservar”, explica Lima. Ao som dos pássaros e ouvindo apenas o barulho do andar sobre as folhagens, destaca-se o fato de o parque estar próximo de uma rodovia e cercado por bairros de grande densidade populacional, com prédios e conjuntos habitacionais. “Quem olha, vê esse contraste. O Serra Verde emoldura esse complexo arquitetônico da Cidade Administrativa. É importante em termos visuais, da beleza de se ter esse parque preservado, essa área verde”, ressalta Miguel Filho. Porém, a proximidade com a comunidade traz alguns problemas também, como casos de vandalismo no parque, queimadas provocadas, ou até mesmo acidentes com animais ali abrigados. Acostumado a vasculhar o lixo em busca de alimento, o gambá é uma espécie do parque que transita em meio à área urbana, e por isso, já houve casos de atropelamento deste animal, segundo os monitores. “Por isso ele está sujeito a essas coisas, como atropelamentos ou agressão mesmo, quando alguém joga pedra, por exemplo”, conta Filho. Outro caso de acidente está relacionado a linhas de papagaio com cerol.

Segundo os monitores, já foram registrados vários óbitos de aves. “Houve casos de animais com asa cortada ou então embolados em linha”, exemplifica Moisés Lima. “Teve uma coruja que nós conseguimos resgatar e levar para uma clínica veterinária, mas ela não sobreviveu. Já tivemos casos com pombas também. E isso é mais uma coisa que deve ser trabalhada com a comunidade”, completa Miguel Filho. Eles também já presenciaram armadilhas, arapucas para passarinhos. “Já achamos gaiolas com outro passarinho ao lado que servem para atrair para a arapuca. Nesse caso, nós chamamos a polícia ambiental, que recolheu o animal e fez um boletim de ocorrência”, relembra Lima. Uma espécie comum à área ambiental e à ocupação humana é o urubu de cabeça preta. Essa espécie é importante nos processos naturais, pois ele faz a reciclagem de nutrientes ao se alimentar de animal morto, o que gera a ele energia para a criação dos filhotes e perpetuação da espécie, dando continuidade ao ciclo de vida. Lima explica sobre o urubu ao ver uma fêmea da espécie pousada em uma árvore. A equipe do parque já estava monitorando o animal, que está com uma ninhada nova.

Grande biodiversidade no estado mineiro Minas Gerais é composto por três tipos de biomas: Cerrado, localizado na porção centro-oriental do Estado, ocupando 57% do território; Mata Atlântica, ocupando 41% do território; e Caatinga, restrito à Região Norte do Estado, ocupando 2% da área do Estado. Nessas áreas, habitam 190 espécies de mamíferos, além de 780 espécies de aves, 380 espécies de peixes, 180 de répteis e 200 de anfíbios, segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF). Ao todo, cerca de 70%

das espécies de mamíferos que ocorrem na Mata Atlântica em todo o território nacional estão em Minas Gerais. Só as unidades de conservação do Estado somam um total de 1.248 ocorrências de mamíferos, e entre eles, são: 68 espécies de pequenos mamíferos; 47 de morcegos; 45 de médios e grandes mamíferos; e 15 de primatas. Durante o processo de ocupação do Estado, várias áreas de vegetação de Cerrado foram substituídas por culturas agrícolas ou transformadas para a implantação de ativi-

dades agropecuárias. Com grande potencial de reservas de minério de ferro, a exploração pelas indústrias siderúrgicas também fez com que a vegetação nativa fosse diminuída ou utilizada como fonte energética, como no caso das carvoarias. Esses processos históricos ainda não levam em conta o crescimento habitacional e a urbanização, que são aspectos que conflituam com a natureza, com as florestas nativas e com a fauna silvestre, por consequência.

Ação é integrada entre a Polícia Civil e o Ibama Dois órgãos, um municipal e outro federal, colaboram e recebem ajuda de maneira constante com a primeira Delegacia Especializada de Investigação de Crimes contra a Fauna (leia maitéria na página 8). A Gerência de Zoonoses da Prefeitura faz o controle de animais de rua, mas também cuida dos animais domésticos que são vítimas de maus tratos. Aí a ação conjunta pode funcionar em duas direções, com a polícia encaminhando animais domésticos apreendidos, basicamente cachorros e gatos, para a Zoonoses tomar conta; ou com esta última lavrando BO para a Delegacia investigar casos de animais resgatados que sofreram abusos. Outra parceria é com o Centro de

Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Ibama, no Bairro Gutierrez, na Zona Sul de Belo Horizonte. O local recebe, em sua maioria, aves silvestres, tais como trinca ferro e papagaio. Mais de 70% das ocorrências fiscalizadas pela delegacia referemse a casos envolvendo essas espécies. Para ter dados mais confiáveis, a Polícia está elaborando estatísticas. O prédio no Carlos Prates não tem estrutura física para alojar temporariamente os animais que são apreendidos e é por esse motivo que são encaminhados, de forma imediata, para os centros da Zoonoses e o Cetas, que pela lei complementar 140 vai passar a ser responsabilidade de cada estado. No

caso de Minas, quem vai assumir o papel que hoje é do Ibama será a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). As denúncias sobre animais de rua são mais difíceis para investigar. Em primeiro lugar porque às vezes é difícil encontrar o animal novamente, quando os policiais comparecem ao local. Também existe a mesma dificuldade para localizar o autor ou agressor. Nesses casos, a Zoonoses seria responsável pelo recolhimento de animais que sofreram maus tratos e são encontrados na cidade. A Delegacia também tenta trabalhar em parceria com ONGs locais, mas elas geralmente encontram-se lotadas ou até acima da capacidade de

manter animais. Para dar uma solução, incentiva-se a adoção por parte da população, o que é difícil também. Para denunciar maus tratos ou abusos a animais, basta ligar no 181, Disque-denúncia, caso o denunciante deseja se manter anônimo, ou se dirigir à Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Fauna, na Rua Piratininga, 105, Carlos Prates. Orientações podem ser pedidas pelos telefones (31) 3212-1339 ou (31) 3212-1356. ATENDIMENTO MELHOR Segundo Denise Menin, da ONG Cão Viver, em Contagem, todos os grupos protetores de animais lutaram

por mais de um ano para conseguir a criação de uma delegacia especializada. Para eles, era uma necessidade urgente, pois quando faziam denúncias na polícia por maus tratos contra animais, era difícil conseguir resolver esses casos. Opinião parecida tem o soldado Anderson Barreiro, assessor de comunicação da Cia Mamb (Meio Ambiente) da Polícia Militar. Ele conta que os delegados não sabiam como tratar crimes desse tipo, ou simplesmente estavam com muitos casos e não davam o interesse suficiente para eles. Barreiro diz que agora ficou mais fácil o recebimento das ocorrências para animais silvestres, pois eles tratam em média de 300 casos por mês.


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Cidade

Albergues cheios, ruas lotadas O aumento contínuo da população de rua deixa entidades sociais e órgãos públicos atentos. A consequência disso é a escassez de vagas nos centros de acolhimento em Belo Horizonte CHRISTIANE CÁSSIA MICHELE MARIE 6º PERÍODO

Gilberto, 35 anos, é morador de rua em Belo Horizonte. Conseguiu vaga para passar as noites no Albergue Tia Branca, no Bairro Floresta, na Região Leste da capital há cerca de quatro meses. Vindo do interior de São Paulo após a morte de sua mãe e um casamento mal sucedido, ele largou a cidade natal e o filho há pelo menos seis anos para tentar a vida em Minas. Conseguiu emprego em um açougue de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Mas o salário mínimo não paga o aluguel nem mesmo de uma sala e um quarto”, lamenta. “Mesmo assim não deixo de mandar um dinheirinho para

meu filho”, acrescenta. Quando questionado sobre o desejo de voltar para a casa, ele diz que mesmo que a vida na capital seja difícil, é esta a cidade que escolheu para viver.

Mas ressalta que o albergue é algo temporário (embora recorrente). Nestes seis anos em que permaneceu no estado, já perdeu as contas do número de vezes que recorreu ao abrigo

noturno e outros centros de acolhimento da cidade. “Viver na rua é muito difícil. As pessoas têm preconceito, infelizmente. Tratam a gente muito mal”, diz um dos moradores de rua

Carência de abrigos agrava a situação dos chamados moradores de rua em BH

Michele Marie

de Belo Horizonte. José, de 51 anos, conta saber três idiomas e ter trabalhado na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) por 25 anos. Ele ainda relembra alguns anos de trabalho em Connecticut, nos Estados Unidos. Mesmo assim, entrou nas estatísticas urbanas como pessoa em situação de rua, denominação dada a este grupo pelas entidades responsáveis, por causa do vício em álcool. Abandonado pela família e recém-chegado ao grupo, o poliglota vaga pelas ruas há seis meses, e destes, há quatro conseguiu vaga para ter guarida durante as noites. A coordenadora técnica do Albergue Tia Branca, Vanessa Rezende, diz que atualmente o maior problema enfrentado pelas políticas públicas, é que a pessoa ou imigrante em situação

de rua tem se confundido com o problema da dependência química. “A família não dá conta e coloca para fora de casa. Tem família que liga para cá e pergunta se a pessoa está aqui, mas não vem buscar. Prefere que fique aqui por não dar conta mais”, diz. E crescenta que isso é a causa da superlotação dos centros que abrigam essas pessoas. Vanessa admite o aumento da população de rua, mas também credita isso ao fato da ampliação do quadro para os dependentes químicos crescente na capital. “Não há mais divisão. Antes tínhamos os loucos, que eram marginalizados, que ninguém queria cuidar. Hoje temos os dependentes”, compara.

Moradias efêmeras: a oportunidade do recomeço A Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social (SMAAS) informa que a capital mineira dispõe de 400 vagas em albergues, sendo 80 para migrantes e 320 para população de rua no Albergue Tia Branca, localizado no Bairro Floresta, na Região Leste da capital.

No Abrigo São Paulo existem 200 vagas, das quais 140 são para homens e 60 para mulheres, uma vez que o censo apontava predominância masculina nesta classe social. Além disso, 297 Bolsas Moradia são ofertadas. O programa que tem como objetivo pagar aluguel

temporariamente para pessoas que queiram sair das ruas e tenham a condição financeira mínima para arcar com as demais despesas da casa, como água e luz, por exemplo. Em repúblicas, duas instituições oferecem, respectivamente, 40 vagas femininas e 40 masculinas. E o Cen-

tro de Referência Especializado para População de Rua (CREAS Pop) atende cerca de 130 pessoas ao dia. Ainda de acordo com informações da SMAAS, esses locais oferecem a possibilidade de cadastro para acesso ao almoço gratuito em um dos Restaurantes Populares da cidade,

e têm acompanhamento realizado por psicólogos e assistentes sociais. Além da permanência temporária ou definitiva, conforme função de cada uma das instituições citadas, há ainda orientações e incentivos para que essas pessoas retomem suas vidas e consigam trabalho.

Novo censo ajudará a aprimorar as políticas sociais A Prefeitura de Belo Horizonte vai realizar um censo nos próximos meses para tentar ter mais informações sobre os moradores de rua que vivem em Belo Horizonte. Origem e condições de saúde serão avaliados pelas mais de vinte equipes responsáveis pelo levantamento. Segundo Soraya Romina, assessora da Secretaria Municipal de Políticas Públicas (SMPS), estudantes de medicina e ciências humanas, técnicos da prefeitura e até ex-moradores de rua vão compor os grupos. O objetivo da inclusão de pessoas que já passaram pela condição de rua é justamente facilitar a abordagem que

é tão difícil. “Precisamos das informações desse censo para melhorar as políticas públicas e para atuar de forma mais assertiva com os moradores de rua”, esclarece a assessora. Segundo a SMPS, para atendimento à saúde, existe um equipamento especializado no atendimento à população de rua, que é o Centro de Saúde Carlos Chagas. Na área de assistência social, além do serviço de abordagem social há também o acolhimento institucional, albergues onde as pessoas podem passar a noite, abrigos, repúblicas, e o Centro de Referência da População em situação de rua. Neste úl-

timo, os moradores de rua podem fazer higiene, lavar as roupas, participar de oficinas e alimentar-se. Há ainda um Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para a População de Rua composto por 11 representantes da sociedade civil, 11 representantes do governo municipal, Ministério Público, Defensoria Pública e a Polícia Militar de Minas Gerais. VERBAS PÚBLICAS De acordo com a Secretaria Municipal de Políticas Públicas (SMPS), é dispensado ao Movimento Migratório nas Ruas da Capital

um total de R$ 10.699.583,35 para assistência à população de rua, por meio de assistência social, saúde e segurança. O valor inclui R$ 148 mil para o programa Bolsa Moradia. Porém, outras questões implicam na aplicação plena desta política social. Uma delas é o fato de que a grande maioria dessas pessoas são usuárias de drogas ou estão na rua por vontade própria. “Nestes casos, fornecer ajuda fica mais difícil”, observa Soraya. POLÍTICA NACIONAL A Política Nacional para a População de Rua presente no Decre-

to Presidencial nº 7053, de 2009 tem movimentado as administrações públicas direcionadas a esta parte da população. Mas ainda precisa de ajustes, conforme cita a assessora do gabinete da Secretaria Municipal de Políticas Públicas. Questionada sobre o porquê dos dados estarem obsoletos em quase uma década, Soraya Romina relatou as dificuldades que os agentes enfrentam, uma vez que também dependem do desejo por parte do morador de ser ajudado. O que, segundo ela, nem sempre acontece.

Reciclagem natalina é saída para catadores de lixo FLORA SILBERSCHNEIDER 1º PERÍODO

O final de ano está chegando e junto com ele as festas. Seja Natal, Reveillon, encontro com os amigos, com a família, o final de ano tem sempre a fama de ser a época mais festiva do ano. A cidade fica toda iluminada, as ruas enfeitadas, tudo bonito e pronto para a espera do Papai Noel e a chegada do novo ano. Mas você sabia que muitos materiais usados em festa são recicláveis e não deveriam se juntar ao lixo? Se você quer fechar o ano com chave de ouro, com a consciência limpa e festejando, fique atento às dicas de como fazer uma festa que, além de ajudar o meio ambiente, ajuxiliará os moradores de rua que conseguem melhorar suas vidas por meio

da reciclagem. A auxiliar administrativa da Associação de catadores de papel, papelão e material reci-

clável (Asmare), Michelle Raquel Silva, 23 anos, salientou a importância da conscientização que o material das con-

Enfeites natalinos podem ganhar nova utilidade após reciclagem

fraternizações de finais de ano devem ser reciclados. Entidade, sem fins lucrativos, com 23 anos de existência, a Asma-

Flora Silberschneider

re tem o objetivo de inserir os moradores de rua no meio social, estimulando o trabalho, a autoestima, a inserção no mercado e a conscientização em relação ao meio ambiente. A Associação só não recicla, no momento, isopor, material que também será incluído na lista. Segundo Michelle, ao longo do ano são recolhidos principalmente papelão, vidro e plástico. Mas no final do ano há uma diminuição bem grande na quantidade de vidro e plástico e o papelão aumenta. Depois do processo de separação, ocorre a reciclagem e a comercialização desses materiais e o dinheiro arrecadado é distribuído para os catadores. Em uma lista de produtos comuns usados em festa Michelle observou que podem ser levados para a reciclagem, entre outros, guardanapos,

mesmo os usados, embrulhos de presente, pratos e copos (plástico ou vidro), talheres de plástico, garrafas de vidro, pet e latinhas de alumínio e qualquer enfeite de festa de papel ou plástico. Todos os produtos em geral, sejam de plástico, papel, vidro ou madeira, podem ser levados para a reciclagem. Michele sugere que ao realizar festas, as pessoas preparem uma lixeira especial para separar esses materiais dos outros. Depois que a festa acabar o material recolhido deve ser levado ao depósito da Asmare (Av. do Contorno, 10.555, Barro Preto e Rua Ituiutaba, 460, Prado). Não é necessário lavar ou preparar os materiais antes. É possível avisar por telefone (31-3295-5615), que a Asmare providenciará o recolhimento.


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Cidade

JULIANA GUSMAN 2º PERÍODO

“Você acompanha o mundo inteiro sem sair do lugar”. É o que diz Vander Elias Martins, de 62 anos, dono de uma banca de jornal localizada à Avenida Getúlio Vargas, na Região da Savassi. Ele valoriza a leitura de jornais, citando as notícias publicadas por Estadão (Estado de São Paulo), Folha, Globo e Estado de Minas e o relacionamento com clientes. “Faço grandes amigos, forço uma língua estrangeira. Acabo aproveitando tudo, não é atoa que estou aqui há mais de 20 anos”, comenta. A banca de jornal é um elemento já incorporado, há muito tempo à paisagem das grandes cidades. Em Belo Horizonte, basta uma curta caminhada para ir de uma banca à outra. O mercado é competitivo, o que leva os proprietários a recorrerem a estraté-

O mundo em uma banca de jornal Esse tipo de comércio, em Belo Horizonte, resiste ao tempo, mas precisa se modernizar e, para aumentar o faturamento, alguns proprietários utilizam a criatividade na hora de ofertar novos produtos, além dos tradicionais jornais e revistas

gias para atrair público. Vander, que começou a trabalhar na banca há duas décadas, motivado pelo gosto pela leitura, afirma que o diferencial está principalmente no atendimento. “Hoje, o povo está carente de atenção. Você tem que se debruçar no cliente, se dedicar. Tem que deixar à vontade para ele escolher o que quer, voltar o troco com atenção, agradecer. Tenho uma funcionária que é um gracinha (Ana Elisa Alves da Silva, 40 anos). O cliente vê a gente des-

Vander Elias Martins, dono de uma banca na Savassi

Juliana Gusman

contraído e dando risada e tem vontade de voltar”. Ele mostra com orgulho uma matéria publicada pelo jornal O Tempo em 2 de janeiro de 2004, destacando a tradição da “banca do Vander”, e como sua simpática e alegre figura vem acompanhando ao longo dos anos as transformações sofridas na Região da Savassi. Vander diz ainda que sua clientela é fiel e diferenciada. “A gente trabalha mais com revistas de sociologia, de filosofia, de artes, cinema, arquitetura. Com coisas não digo mais elitistas, mas de mais bom gosto. Não trabalho com pornografia, muito com um ‘punhado de coisas de povão’”. De acordo com ele, o cliente é que molda a banca: “Toda banca é de acordo com a clientela e com o dono. Como fiz pedagogia na PUC, sou formado em inglês, entendo um pouco de italiano e espanhol, tenho uma banca diferenciada. Cada banca tem um perfil. Assim como o cachorro tem o perfil do dono, a banca também tem o perfil do dono”. Marisa da Cruz Oliveira, de 48 anos, é proprietária de uma banca há quatro anos na Rua Padre

Odorico, Bairro São Pedro, Zona Sul da cidade. Ela também molda a banca de acordo com o público, que busca principalmente por revistas de psicologia, filosofia, a revista Exame e a revista Veja. A revista Carta Capital, por exemplo, parou de ser enviada a banca por falta de interesse de seus clientes. A própria distribuidora ou editora já corta a entrega das revistas quando o número de exemplares não vendidos que retornam é muito grande. Quanto ao seu diferencial, Marisa oferece uma grande variedade de produtos, que, de acordo com ela, vendem até mais que as próprias revistas. “Eu vendo cerveja, cigarro, refrigerante, suco. Complementa muito a renda da banca. É o que mais vende”, salienta. Assim como Vander, Marisa também aproveita a infinidade de revistas. “Eu leio tudo, principalmente as revistas sobre saúde, eu adoro”. Para Karina Narcisa Maraisa, de 35 anos, o tempo é muito curto para uma pausa de leitura. “É muito movimentado, não sobra tempo”, justifica. A banca dela, localizada na Via Expressa, no Bairro

Coração Eucarístico, recebe um público bastante variado, que inclui muitos estudantes da PUC Minas, pessoas que trabalham pela redondeza, em restaurantes, lojas, e trabalhadores domésticos. “Aqui temos uma mescla muito grande, temos todo tipo de revistas, porém o que mais é vendido é revista de escola para os estudantes e revistas de fofoquinha para os que têm menos dinheiro”, diz. Karina também complementa a renda da banca com a venda de produtos alternativos.

como elétricos e hidráulicos. O marido de aluguel não nega trabalho, garante que faz quase tudo: instalação de cortina, varal, chuveiros, o reparo de torneiras, descargas, pequenas pinturas e atua até como motorista particular. Segundo ele, já chegou a ser chamado apenas para pendurar um quadro na parede.

O irreverente nome nasceu da referência de um papel que antes era desempenhado pelos maridos da casa. Hoje, em virtude da própria correria no trabalho ou até pelos novos padrões familiares, esta mão-de-obra escassa deu lugar a uma nova modalidade de trabalho. No Coração Eucarístico, por exemplo, há aumento na

demanda por esse profissional. Segundo Hugo, as repúblicas são seu maior público, além de senhoras idosas e pessoas que moram sozinhas. Alguns homens, embora acanhados, também procuram seus serviços especializados. “O que desperta a atenção, é que quando vou visitar os imóveis, geralmente quem me recebe é o marido, que aperta a minha mão como se falasse assim: eu estou aqui, eu sou o homem da casa”. Apesar da irreverência do nome, a profissão é levada a sério por seus profissionais e tem contribuído muito no dia a dia das pessoas que não têm quem as auxilie nos detalhes da casa. O diferencial deste tipo de serviço é justamente essa realização de pequenos ajustes, que não são interessantes para as grandes empresas. O período de trabalho também é flexível, geralmente eles trabalham aos sábados e domingos, dependendo da necessidade do cliente.

“Hoje em dia tem que colocar todo o tipo de coisa para vender. Aqui perto tem uma Araújo, tem supermercado, tudo concorrendo com as bancas. E esses produtos vendem até mais que as revistas”, acrescenta. Quanto ao motivo de começar o ofício de jornaleira, Karina explica. “Há sete anos eu e o meu marido montamos a banca e começamos o nosso trabalho. Ele já trabalhava com isso, é uma herança, o pai dele tinha uma banca, então aprendeu com ele e depois me ensinou”. A profissão de jornaleiro não é simples. Envolve lidar com distribuidoras, editoras, com alguns clientes difíceis. No entanto, as reclamações são praticamente nulas. Se depender de Vander, Marisa e Karina, a única “reclamação” seria um dia muito ocupado pelo enorme número de clientes.

Karina Maraisa atende clientes com perfis variados

Juliana Gusman

Marido de aluguel oferece socorro na hora certa DEBORAH ALVES 2º PERÍODO

O grande susto de Fernanda Polesca Soares, 25 anos, veio em pleno domingo à noite, durante o banho. Ela conta que ouviu um barulho como se estivessem batendo na porta e, logo em seguida, o escuro total. O conjunto elétrico de toda a parte lateral esquerda do apartamento havia desligado. A piloto de helicóptero, que mora no apartamento alugado no Bairro Coração Eucarístico desde dezembro de 2012, teve que terminar o banho na água fria. Por meio de um imã colado no portão de seu prédio, que Fernanda tomou conhecimento de Hugo Leonardo Ferreira, 33, um marido de aluguel. Ele atua na área desde os 14 anos, quando fez um curso de formação em elétrica e hidráulica. Chegou a prestar serviços terceirizados embarcado em plataforma durante cinco anos, até a empresa falir, no Rio de Janeiro. Perce-

bendo o grande potencial de mercado e falta de mão-de-obra na área de atendimentos residenciais em Belo Horizonte, que Hugo, há três anos, optou por prestar estes serviços de forma autônoma. O trabalhador atende a demanda desde simples reparos, como a troca de uma lâmpada, até serviços mais especializados,

Hugo Leonardo Ferreira, marido de aluguel, trabalha com diversos reparos em casas

Deborah Alves

A cobrança é feita, geralmente, pelo tipo de serviço prestado ou, dependendo da quantidade de reparos, pode ser estabelecida uma espécie de pacote, que inclui todas as necessidades do cliente. Esta foi a primeira vez que Fernanda solicitou o marido de aluguel. Ela, que mora com outras três estudantes, afirma que gostou muito pela rapidez e flexibilidade do atendimento, que foi no período da noite. O seu problema, que era um fechamento de circuito ocasionado pelo desgaste natural dos fios condutores, logo foi resolvido. Depois de todas as emendas feitas, a luz finalmente volta a casa da piloto. Agradecida, Fernanda se enche de alegria e Hugo, o marido de aluguel, reafirma seu prazer no trabalho. “Está vendo? Meu trabalho deixa as pessoas felizes”.


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Cidade

Acessibilidade em táxis melhora o transporte para cadeirantes BHTrans modifica regra e agora taxistas podem transportar passageiros além de cadeirantes. A frota da capital possui apenas 60 veículos equipados para a condução de deficientes FLÁVIA DRUMMOND JANDERSON COIMBRA VICTOR ALVES 3º PERÍODO

O primeiro táxi acessível começou a circular em Belo Horizonte no dia 30 de outubro de 2009. O serviço permite que passageiros com deficiência ou mobilidade reduzida tenham acesso a um transporte especializado, com piso rebaixado, rampa de acesso pela traseira e dispositivo de segurança para o travamento da cadeira de rodas. O cadeirante pode viajar sozinho ou acompanhado de, no máximo, duas pessoas. Até 2012, somente um táxi adaptado circulava pela cidade devido ao alto custo financeiro. Atualmente, de acordo com dados divulgados pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), a capital mineira possui frota de mais de seis mil táxis, mas apenas 60 estão equipados para receber os deficientes físicos. A implantação dos táxis acessíveis em Belo Horizonte tem agradado o público alvo. Célio Lessa, 60 anos de idade e 25 como taxista, dirige o táxi acessível há três meses e já possui quatro clientes fixos. Ele disse que o serviço tem recebido grande aprovação. Para Ediene Soares, 60, a nova frota proporciona maior segurança, conforto e praticidade. “Antes

O taxista Célio Lessa mostra como funciona o veículo adapatado para deficientes físicos

com o táxi comum era difícil para o motorista me carregar e depois dobrar minha cadeira para colocar no porta malas. Esse processo demandava muito tempo e eu dependia da boa vontade do taxista”, lembra. Célio completa a fala de Ediene ao dizer que muitas vezes a cadeira nem sequer cabia no porta-malas. Para fazer o táxi acessível funcionar, o taxista só precisa abrir o porta-malas, ativar um comando e os equipamentos desdobram-se automaticamente. Entretanto, nem toda

a frota destinada aos deficientes físicos possui essa função automática. Célio Lessa precisa desdobrar sozinho a rampa que fica acoplada no porta malas do seu carro toda vez que recebe um passageiro. “Apesar de ser fácil de manusear os equipamentos, às vezes meu braço e minha coluna chegam a doer porque o esforço é muito grande e a rampa é muita pesada”, reclama. Entretanto, alguns taxistas demonstraram-se insatisfeitos com a condição estabelecida pela BHTrans ao decretar que

e quatro netos. Quando veio visitar sua família em Minas Gerais, eles insistiram para levá-la ao médico. Foi aí que o tumor foi encontrado. Ela conta que estava em Ponte Nova. “Os médicos não tiveram coragem de me submeter a uma cirurgia tão difícil por aqui. Sabiam que não teriam condições suficientes caso desse alguma coisa errada”, diz Celi relembrando momentos que a levaram a viajar para a capital mineira. Chegando em Belo Horizonte, Celi escolheu o Hospital da Baleia, no Bairro Saudade, para realizar a sua cirurgia. Foram meses de consultas e remédios até que a cirurgia foi marcada. “Cheguei cedo ao hospital, mas ocorreu um problema, a anestesia não foi testada

antes e ocorreram erros por isso. Neste dia não pude fazer a cirurgia”, conta decepcionada. “Todos da família estavam tensos com tudo. Acompanhei Celi em todos os encontros com os médicos, foram dias difíceis. Ainda bem que ela leva tudo com a maior alegria. Lembro-me das risadas que ela fazia os outros pacientes do quarto darem. É um exemplo de vida para todos”, conta Roseli Osório, irmã que acompanhou Celi em todo esse processo de melhora. Após alguns meses finalmente a cirurgia foi marcada. “Esse foi o pior dia da minha vida”, ressaltou Roseli se lembrando do que aconteceu na manhã daquele dia. “Acho que minha ficha ainda não caiu, nem acredito que no

o período das 7h às 19h seria dedicado exclusivamente para atender os cadeirantes. Eles reclamam que não há demanda suficiente para o serviço, o que acarreta prejuízo. “A diária dos táxis adaptados é mais cara devido aos equipamentos necessários para acomodar os passageiros. E com esse período de exclusividade a gente acaba fazendo menos corridas e faturando menos”, afirma Sérgio Soares, taxista há mais de 15 anos. Uma das possíveis causas para a baixa demanda é a pou-

Janderson Coimbra

ca divulgação do serviço. “Muitas pessoas ainda não sabem que os táxis acessíveis já circulam em BH, e acabam optando por pegar o táxi comum”, afirma Célio Lessa. Na busca de uma solução, a BHTrans decidiu flexibilizar a medida pelo menos para os próximos seis meses para analisar como os deficientes reagirão a essa decisão. Agora, os taxistas poderão transportar a qualquer hora do dia não somente aqueles que dependem da cadeira de rodas, mas também pessoas que não

possuem dificuldade de locomoção. Sérgio Carvalho, superintendente de Regulação do Transporte da BHTrans, defende que alterar o caráter de exclusividade para prioridade não afeta o objetivo da BHTrans, que é garantir a disponibilidade dos táxis acessíveis para os cadeirantes a qualquer hora do dia. O sindicato da classe dos taxistas (Sincavir) foi procurado diversas vezes, mas não quis se pronunciar em nome de todos os profissionais sobre essa medida provisória adotada pela BHTrans.

Muito criticado, SUS é reconhecido por paciente ANA CLARA CARVALHO 2º PERÍODO

Durante longos e intermináveis dois anos, esperança era a única saída para Celi Maria Osório e sua família. Ela descobriu um tumor, denominado meningioma, atrás dos seus olhos. Mas Celi Maria não perdeu em escolher o Sistema Único de Saúde (SUS) como a solução do seu problema. “Não teria dinheiro suficiente para pagar minha cirurgia e o SUS foi essencial para a minha melhora”, disse Celi contente com sua operação de sucesso. Tudo aconteceu em 2012 quando Celi perdeu parcialmente uma das visões e não possuía ânimo para as atividades domésticas. Nessa época, ela morava em São Paulo com seus três filhos

dia em que ia fazer a minha cirurgia recebo a notícia de que a minha mãe havia morrido”, afirma Celi incrédula. Ela aguardava a cirurgia, quando ligaram para Roseli e avisaram a situação. Psicólogas foram atrás dela para tentar contar a história da melhor forma possível. “Eles foram muito cuidadosos ao me contar o que havia acontecido”, diz relembrando o susto. Roseli então desmarcou a cirurgia e foram todos de volta para Ponte Nova. Meses depois a cirurgia foi remarcada e, após horas de espera o médico avisou que tudo correu super bem. “Nos primeiros dias meu rosto ficou inchado, mal me reconhecia. Eles abriram a parte da frente da minha testa e hoje tenho metais nessa

parte. Durante um tempo apareceu um caroço em cima dos olhos, mas ainda bem que depois de uns meses ele sumiu. Estou muito bem”, conta. Mas ainda havia um problema: como a cirurgia era muito próxima aos olhos, Celi poderia perder totalmente a visão e nunca mais enxergar. E aconteceu: Celi perdeu completamente a visão do olho esquerdo. Apesar de tudo, ainda está feliz com o sucesso da cirurgia. Esse é apenas um dos inúmeros casos de cirurgias bem sucedidas pelo SUS. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2011, foram 345.834 cirurgias eletivas realizadas pelo sistema. Um aumento de 1.135% em uma década. Em 2001, 28 mil cirurgias foram realizadas.

Mais de 64 mil estabelecimentos estão cadastrados no SUS. Mais de 250 milhões de consultas já foram realizadas pelo sistema nos seus 22 anos de existência no Brasil. Neste ano, Minas Gerais recebeu do Governo Federal quase R$ 60 milhões para tentar diminuir as filas de espera por cirurgias do Sistema Único de Saúde (SUS). Para todo o Brasil, cerca de R$ 650 milhões foram investidos. A última sacada do Governo Federal para resolver os problemas de saúde do país, foi o programa Mais Médicos. Aproximadamente 12 bilhões de reais devem ser investidos em estrutura e contratação de novos médicos. Apenas em 2013, 542 milhões serão investidos até dezembro.


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Comportamento/Campus

Correndo pela capital mineira Essa prática, cada vez mais difundida em Belo Horizonte, faz moradores ocuparem as vias públicas, sem se intimidarem com os veículos. Para alguns deles, o hábito é levado a sério e vira profissão LUÍSA CAMPOS 1º PERÍODO

Belo Horizonte: Avenidas Tereza Cristina, dos Andradas, Otacílio Negrão de Lima e Afonso Vaz de Melo. Quem passa por essas e outras vias públicas na correria do dia a dia, às vezes, não percebe que, no trânsito, ao lado dos carros, há também gente que está correndo – mas não para chegar ao trabalho no horário ou para ser pontual em algum compromisso, e sim, para fazer exercício físico, em busca de uma vida mais saudável. A maioria desses atletas treina nas ruas com o objetivo de participar de provas e competições, mas, acima de tudo, visam ainda manter uma boa saúde e melhorar a qualidade de vida. Um desses corredores é o empresário e treinador Vanderley Henrique Guerra, 42 anos, que corre há 20 anos pelas ruas de Belo Horizonte. O atleta explica que, ao praticar esse esporte, é necessário estar sempre alerta a tudo que está acontecendo à sua volta, e anuncia que as quedas são naturais. O corredor

Corredores encontraram na rua um local para treinar e se exercitar

de rua pode, literalmente, cair nas “armadilhas” que estão pelo caminho, e esses incidentes são causados, principalmente, pelas más condições do asfalto. “Uma amiga estava correndo na Região da Pampulha e torceu o pé em um buraco que estava coberto por folhagens”, comenta o

corredor. Depois de passado o susto, o episódio é relembrado com risadas, mas Vanderley não deixa de ressaltar que os atletas devem ser cautelosos. Há também a ocorrência de um fato mais sério e que apresenta perigo constante aos corredores de rua. O que acontece,

Raquel Gontijo

segundo Vanderley, é que “os motoristas engraçadinhos”, como o empresário os denomina, ao se depararem com um atleta na pista em que estão circulando “fazem muita gracinha, querem tirar uma lasquinha da gente com o carro”. Por isso, para conseguir ter uma visão geral

dos motoristas, Vanderley sempre corre na direção contrária ao trânsito e passa este cuidado aos seus alunos. “Eu digo para eles, você está vendo os carros, então se algum engraçadinho se aproximar, você pula para a calçada”. Ao ser questionado sobre alguma situação inusi-

tada vivida por ele, o atleta ri. “Teve um final de semana que eu estava treinando em um bairro residencial e quando passei em frente a algumas casas, os cachorros saíram correndo atrás de mim”, comenta. ”Eu continuei correndo, ué, cachorro é assim, eles só vão atrás enquanto eu estiver no território deles, já estou acostumado, já aconteceu algumas vezes. Apesar disso, é um vício bom e eu sou apaixonado”, completa. E a paixão desse corredor é tamanha que decidiu fazer do esporte o seu meio de ganhar a vida. Há alguns anos largou a antiga profissão e abriu à Rua Espírito Santo, 845, no centro de Belo Horizonte, a Casa do Corredor, loja especializada em artigos para os amantes do esporte. Foi onde Vanderley concedeu a entrevista, relatou sobre a sua equipe bicampeã (coordenada por ele e por mais três profissionais) composta por atletas de 13 a 76 anos e, orgulhoso, mostrou uma sala abarrotada de troféus: “Não repara na situação dos troféus, não tenho mais onde colocá-los”.

Complexo Esportivo da PUC está de cara nova BRUNO COSTA 3º PERÍODO

Espaço do Complexo foi reformado segundo os padrões da FIFA

André Correia

O complexo esportivo da PUC está passando por uma nova reforma para a implantação de um novo gramado no campo. Desde 2006 o complexo esportivo usava uma grama da espécie Esmeralda, que sofreu desgaste com o tempo e agora está sendo substituída pela espécie Bermuda Celebration que é a grama padrão da FIFA, inclusive usada nos campos do Mineirão e do Independência. Essa grama consegue dar uma melhor condição de jogo para o atleta já que é mais resistente ao pisoteio, possui uma trama de folhagem maior dando uma condição mais fofa e lisa ao campo. Para a montagem do

novo gramado houve a remoção do antigo e depois um processo de adubação e nivelamento a laser do solo, que em seguida recebeu o novo gramado através de um processo no qual rolos de grama são colocados sobre o solo. Essa parte do processo foi iniciado em 21 de setembro e o término aconteceu em novembro. Depois dessa data, o gramado passará 60 dias em um processo de maturação quando será feita podagem da grama e adubação da terra para ser utilizado em atividades esportivas. Antônio de Pádua, 44 anos, gestor do complexo esportivo afirma que a reforma vai melhorar a condição para os alunos e atletas da PUC Minas. “Atualmente, a função do campo é ser um laboratório

de educação física, outra função é a prática do futebol e provas de atletismo”. O complexo esportivo da PUC Minas faz parte do catálogo das Olimpíadas Rio 2016, o centro esportivo pode ser usado pelas confederações como uma prétemporada antes dos jogos. Antônio afirma que esse projeto pode trazer uma grande visibilidade para a universidade e pode ajudar os alunos do curso, já que pode até existir um projeto para integrar educação física com as delegações de atletas. Antes dessa reforma o campo passou por outra em 2006 na qual foi implantado o gramado e uma pista de atletismo profissional, já que antes a pista que existia em torno do campo era de terra batida.

Maria Delfino sente orgulho do seu passado LOLA CIRINO 1º PERÍODO

Aos 56 anos, Maria Delfino teve sua rotina totalmente revirada. Formada como técnica em enfermagem, por anos foi rodeada de idosos e hoje trabalha com jovens adultos na PUC Minas. Nascida em Belo Horizonte e criada em Sabará, na Região Metropolitana, Maria teve uma infância difícil. Sua família a deu para adoção quando tinha três anos, e, assim, perdeu o contato com seus verdadeiros pais. Em uma nova família, ela teve um pai completamente diferente do que esperava: autoritário e frio. Se lembra que não recebeu amor e afeto que se espera de uma família. “Ele

sempre cuidou da nossa saúde”, recorda. “Mas para ele era arroz, feijão e pronto”, completa. Já com a sua mãe, embora tivesse um relacionamento mais próximo, não chegava a ser uma relação de mãe e filha. Com os irmãos, o convívio foi maior já que era a mais velha do grupo de quatro e a mais responsável. Ajudou a criá-los até os 23 anos, quando saiu de casa após o casamento. Nesse ponto, Maria esquece a rigidez da criação e se solta. Com um sorriso largo tomando suas feições, ela conta sua história de amor. Aos 11 anos, quando fazia a inscrição para o colégio, viu um garoto de castigo atrás da porta, sob a supervisão de uma professora, que a ajudou a

fazer a matrícula. O garoto, sorriu e disse que se casaria com ela. E para completar, afirmou que a professora seria a madrinha. Anos se passaram e, adivinhem? Aconteceu! “Meu convite foi o mais gozado!”, diz às gargalhadas ao se lembrar dos comentários dos amigos quando viram os nomes de seus pais, Argelindo e Marinalva. Com um casamento amoroso digno de enredo de um romance, Maria e Gustavo, seu marido, completaram a família, com três filhos: Carlos, Felipe e André. Ela fala de seus filhos com muito carinho e diz tê-los com todo o amor que não recebeu. “O que eu não recebi, tentei passar pra eles”, explica. Sobre sua vida acadêmica, ela

diz que não pôde completar os estudos até que seu terceiro filho nasceu. Quando adolescente, seu pai não permitia que estudasse fora e, na época, era a única opção. Como só saiu de casa já mais velha, após o casamento, cuidou da família até que, aos 47, sentiu vontade de voltar a estudar. Com a ajuda dos outros filhos, fez o ensino médio e então o curso de técnico em enfermagem. Depois disso, passou quatro anos cuidando de um asilo. “Nesses quatro anos nem resfriado elas pegavam...”, diz, orgulhosa do trabalho que fazia. Apenas o deixou pela tristeza de vê-los partir, já que muitos dos idosos que estavam aos seus cuidados eram deixa-

dos lá já com pouco tempo de vida. Hoje, Maria Delfino se sente alegre por viver essa nova experiência. Após passar tanto tempo rodeada de seus amados idosos, ela convive atualmente com adolescentes e encara essa mudança como divertida. “É bom conhecer esse novo talento de lidar com jovens”, diz sorrindo. Isso depois de trabalhar com comércio, aulas de dança e enfermagem, é um jeito divertido de terminar a vida profissional. Mas claro, parte dela ainda sente falta dos idosos e ela finda a entrevista com a lembrança da felicidade que tinham apenas com o carinho dos visitantes. “A gente tem que dar a mão aos idosos. Porque amanhã os idosos seremos nós”, afirma.


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Esporte

Buscando o futuro profissional Adolescentes entre 14 e 18 anos, de diferentes regiões de Belo Horizonte, participaram do festival “Descobrindo Talentos para Futebol” que visa encontrar atletas com qualidade e potencial FÁBIO CÉSAR MARCELINO 2º PERÍODO

Em busca do sonho de se tornarem jogadores profissionais de futebol, mais de 230 adolescentes participaram do festival “Descobrindo Talentos para Futebol”, realziado em 16 de novembro último, no Estádio Municipal Mário Ferreira Guimarães, mais conhecido como “Baleião”, no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Em um campo sem marcação e um gramado em péssimo estado de conservação, adolescentes de nove regiões diferentes da capital duelaram em partidas equilibradas. O que chamou atenção de todo o público presente no local, além da disposição mostrada pelos atletas, foi uma menina de baixa estatura, que aplicava dribles curtos e apresentava admirável disciplina tática, no meio dos garotos. Jogando pelo time que representava o Conjunto Mariano de Abreu, na Região Leste de Belo Horizonte, a estudante Ana Carolina dos Santos, 18 anos, era a única mulher presente nos jogos daquela manhã ensolarada de sábado. “Desde pequena, eu jogo futebol no meio dos meninos”, explica a jovem, entre

seus companheiros de time. Ana Carolina joga futebol de campo em Itabirito e futsal em Contagem, ambos municípios pertencentes à Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mais duas garotas, além de Ana Carolina, participam dos treinamentos. “Tem a Pixote, que não deu para ela vir, e a Viviam, que foi para o Estado de São Paulo disputar a Copa Coca-Cola de Futebol Feminino”, explica Ana Carolina, detentora de grande prestígio e respeito entre seus amigos de futebol. Ela afirma que não sonha com a seleção brasileira, pois o clube onde se encontra não disputa competições importantes. Um bom público acompanhou as partidas que, emsua maioria, era composto pelos atletas que esperavam a sua vez de jogar, seus familiares, monitores (técnicos) e algumas autoridades da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. As sete partidas foram disputadas pelos adolescentes da categoria infantil, ou sub-15, em dois tempos de 15 minutos, com intervalos de 5 minutos para descanso. Buscando uma sombra, na região coberta da arquibancada do Estádio Baleião, estava o pedreiro de acabamento Vanderlei Malaquias, 45 anos, apreciando

Festival é encarado como a chance de jovens seguirem no futebol

as partidas. “Se eles não estivessem aqui (jogando futebol), em uma hora dessas, nós saberíamos onde estariam”, argumenta o pedreiro, morador do Bairro Tirol, Região do Barreiro, fazendo alusão à participação maciça dos jovens na criminalidade. O filho do pedreiro, Sanderlei Lucas Sousa Malquias, 10 anos, tinha acabado de participar de um jogo pela equipe do Bairro Tirol. “Meu filho nasceu em Portugal. Vou ficar pelejando, com ele aqui, mais uns dois anos. Se não der certo, vamos para Portugal e, lá, arrumaremos um time

profissional para ele jogar”, salienta Malaquias, elogiando bastante o projeto. O motorista Joaquim Rocha, 41 anos, entusiasta do filho, Ruan Rocha, 13 anos, que também acabara de jogar pelo time que representava a Região do Barreiro, enaltece o projeto e sonha com o filho profissional. No entanto, perguntado se o filho se destacasse e fosse recomendado a um time profissional de outro estado, o motorista diz que ele não iria. “Ele não teria coragem de nos deixar (a família). Se ele fosse nessas circunstâncias, ele não renderia”, justifica.

Fábio Marcelino

TALENTOS O festival realizado no Baleião faz parte do Projeto BH Descobrindo talentos no Futebol, criado em setembro de 2010, por iniciativa da Associação de Garantia ao Atleta Profissional do Estado de Minas Gerais (Agap-MG) e da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, por intermédio da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel). Segundo seus idealizadores, o objetivo do projeto é proporcionar aos seus participantes, adolescentes entre 14 e 18 anos, a vinculação social por meio do esporte e proporcionar

para eles a possibilidade de atuar em time profissinal. São 1500 alunos beneficiados pelo projeto, residentes em áreas de vulnerabilidade social. O projeto está instalado em 15 campos de várzea espalhados pelas nove Regionais de Belo Horizonte. Os responsáveis por “garimpar” as futuras promessas para futebol são ex-jogadores de futebol associados à Agap-MG. São 30 monitores divididos pelos 15 núcleos que passam para os alunos um pouco de sua experiência no esporte. Cada ‘técnico’ recebe R$ 800 por mês, que são pagos pela PBH por meio da Agap-MG. Para participar do projeto, os adolescentes devem apresentar bom desempenho nos estudos. “Nós vamos pessoalmente até a escola para conferir se, realmente, o adolescente está indo bem nos estudos. Se na escola, as notas forem ruim, aqui ele não fica”, garante o monitor Evaristo de Oliveira Silva, 58 anos, do Núcleo Galo de Ouro Dom Bosco, localizado à Avenida Antonio Prado, s/n, Bairro Dom Bosco, próximo ao Campus Coração Eucarístico da PUC Minas, na Região Noroeste de Belo Horizonte.

Ex-jogadores de futebol hoje ensinam aos jovens Um grupo de alunos, acompanhado dos monitores, assistia a uma partida esperando a sua vez de entrar no gramado do ‘Baleião’ para disputar um jogo do festival “Descobrindo Talentos para Futebol”. Entre risadas de ambas as partes, um dos jogadores brincou com um dos técnicos, colocando em dúvida a qualidade de seus comandados. “Professor, o time do senhor é ruim demais”, disse o aluno. Soltando uma gargalhada, o monitor rebateu o aluno. “Meu filho, quantos anos você tem?” O garoto respondeu que tinha 15 anos. Aí, o professor disse “Na sua idade eu já estava servindo à seleção brasileira de novos”, brincou. A equipe de Evaristo de Oliveira Silva esteve presente no festival. Ele começou nas categorias de Base do Valério, de Itabira. Atuou por vários clubes do interior de Minas Gerais, além de equipes de outros estados como o América de Natal e o CSA, de Maceió. Enquanto a sua equipe fazia aquecimento para jogar contra o Núcleo Mineirinho, do Alto Vera Cruz, Região Leste da capital, Evaristo de Oliveira se lembra dos tempos de jogador de futebol profissional. “Era

muito bom, mas os times, naquela época, além de pagar pouco, atrasavam muito o salário”, conta. Ele parou de jogar futebol, aos 35 anos, no próprio Valério, quando machucou o joelho. Seu parceiro de Núcleo, Lúcio Mangabeira Dias, 57 anos, natural de Carlos Chagas, no Vale do Mucuri, afirma que existe possibilidade de encaminhar alguns meninos para clubes profissionais. Mangabeira começou a sua carreira no América Futebol Clube, da capital, na década de 70. Atuou em vários times do Brasil. Mas a sua passagem mais marcante, na sua opinião, foi pela seleção brasileira de novos, campeã do Torneio de Toulon, na França, em 1972. Ele ressalta a figura do presidente da Agap-MG, Wilson Piazza, ex-jogador da seleção brasileira e do Cruzeiro. “Nós, ex-jogadores, devemos muito ao Piazza. Ele nos auxilia bastante”, ressalta. A Agap-MG é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que abriga atletas profissionais em atividade e os que já “penduram a chuteira”, prestando assistência em atividades que visam a profissionalização alternativa para os que

ainda jogam, e readaptação dos jogadores que pararam para o exercício de outras atividades. A entidade oferece curso de especialização, em outras áreas, para seus sócios. Existem Agaps, em vários estados brasileiros. Todas elas são vinculadas à Federação das Associações de Atletas Profissionais (FAAP). O ex-jogador da seleção brasileira e do Cruzeiro, nos anos 70, acumula o cargo de presidente da Faap e da Agap-MG. Os monitores ressaltam o trabalho da Agap, pois grande parte deles, depois de lagar o futebol, foram inseridos no mercado de trabalho, depois de frequentar os cursos de capacitação oferecidos pela entidade. Renato Cristiano Costa, 40 anos, monitor do Núcleo Urucuia, da Regional Barreiro esteve presente, com sua equipe, ao evento. Ele afirma que jogou por diversas equipes do interior de Minas Gerais. Parou de jogar futebol, em 2002, no Social, de Coronel Fabriciano. “A gente não ganhava muito, mas o pouco que vinha, a gente gasta sem ver”, declara. Vestido com traje esportivo e demonstrando bastante descontração, o secretário municipal

de Esporte e Lazer, Bruno Martuchele de Sales ou Bruno Miranda, esteve presente no festival do Baleião. Ele posou para diversas fotos junto aos adolescentes e monitores. O secretário avalia o projeto como positivo e antecipa a ampliação dele para o próximo ano. “O projeto, além de incentivar a prática esportiva, ainda existe a possibilidade de revelar algum aluno para o futebol profissional”, salienta o secretário. Jair Félix da Silva, mais conhecido como Jair Bala, 70 anos, componente da bancada democrática, do Programa Alterosa Esporte, é membro da Agap-MG. Ele fala com entusiasmo do projeto, do qual ajuda a divulgar. “É edificante. Antes de formar jogadores de futebol, nós queremos formar homens”, diz Jair Bala, sentado sob um guarda-sol, próximo à entrada dos vestiários do estádio Baleião. Jair Bala atuou pelo time do América, campeão mineiro de 1971. Ele ficou famoso por substituir Pelé, no jogo do Gol 1000, partida realiza contra o Vasco da Gama, em dezembro de 1969.

Projeto é a base da formação do cidadão Criado em 2010, o projeto recebeu este ano verba de R$950 mil, segundo o secretário Municipal de Esporte e Lazer, Bruno Miranda. No entanto, alguns monitores, que não quiseram se identificar, mesmo elogiando o projeto, ressaltam a importância de uma melhor estrutura para trabalharem com os garotos. O assunto é pauta das reuniões mensais que acontecem. O coordenador do projeto, o ex-preparador físico, Antonio de Lacerda, 60 anos, membro da Agap-MG, confirma a

existência de problemas. “Nós estamos cientes que o projeto enfrenta alguns problemas. Mas, nós estamos trabalhando para saná-los. A gente faz o que dá”, diz Lacerda. O ex -preparador físico trabalhou no Atlético, Cruzeiro, Palmeiras, Fluminense, Oriente Petrolero e no The Strongest, os dois últimos da Bolívia. Lacerda afirma que cinco meninos foram encaminhados para times profissionais. Um garoto foi descoberto no Núcleo do Remo, da Regional Noroeste e outro menino,

do Núcleo Etelvina Carneiro, Regional Norte, que foi para um clube do Rio Grande do Sul. “Quando um garoto desses é descoberto por algum clube profissional, os pais ficam responsáveis por gerir as carreiras desses meninos”, esclarece. Para o ano de 2014, o projeto contará com um núcleo voltado especialmente para as meninas. Além do festival, o projeto promove campeonatos internos e faz um selecionado para as disputas de algumas competições de futebol de base como

a Copa Centenário de Futebol Amador e a Copa Grambel. “Tem que ser otimista e sonhar”, com o objetivo em atuar em clube profissional, o estudante da 5ª Série, Wanderson Antunes Elias, 16 anos, não falta a um dia sequer dos treinos. Morador do Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste da Capital, ele é goleiro do time de Evaristo e Mangabeira. Fã de Ronaldinho Gaúcho, atualmente no Atlético, ele vê no futebol, a grande chance para melhorar de vida. Wanderson se diz

estudioso, porém não sabe a profissão que quer exercer, se não for um jogador de futebol. No entanto, no momento, ele quer se dedicar ao máximo para realizar seu sonho. “Quero poder ajudar a minha família. Quero pagar a faculdade da minha irmã”, conta o garoto, que vê no projeto uma grande oportunidade.

ESTÁDIO REFORMADO O Baleião, localizado na Rua Santa Rita, 420, faz parte do Complexo Esportivo do Aglomerado da Serra. Esta

área de lazer fica próximo ao Hospital da Baleia. O campo foi inaugurado em 2007 e passou por reformas para receber, em 2010, algumas partidas do torneio internacional Future Champions, que reuniu atletas de até 17 anos, de grandes equipes do mundo. O Clube Atlético Mineiro sagrou-se campeão do torneio. O estádio, depois das reformas, passou a ter a capacidade de 1800 pessoas, além de vestiários, alambrados, iluminação e cabine para imprensa.


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Saúde

Cuidado para alertas do corpo Trinta por cento da população mundial possui algum tipo de alergia. Grande parte desconhece os perigos da doença e não faz nenhum tipo de tratamento. Asma e rinite são as mais comuns ANA CAROLINA ALMEIDA FERNANDA FIORENZANO RAQUEL ANDRETTO 7º PERÍODO

Era um sábado de primavera festivo, o amigo de Jennifer Melo, 21 anos, na época, comemorava o aniversário. Para festejar, um churrasco foi organizado. Naquele dia, ela apresentava bolhas na pele, mas não se importou, pois achou que logo passaria. Divertiu-se durante todo o dia com os amigos, bebeu cerveja e, para se alimentar, ingeriu muita carne de boi e frango. Após a diversão, a jovem foi jantar com os pais em um restaurante especializado em frutos do mar. Aparentemente, tudo estava normal, até que Jennifer começou a sentir falta de ar e o desespero começou. Ela não sabia o que estava acontecendo. Pela primeira vez, estava passando por essa situação. Ficou tão desesperada que desmaiou antes de chegar ao prontosocorro do Hospital Belo Horizonte, no Bairro Santa Mônica, na capital mineira. Ao chegar ao hospital, ela foi socorrida a tempo e diagnosticada com edema de glote. Até então, Jennifer desconhecia esse termo e muito menos o que ele causava. Sentia na pele, pela primeira vez, o desespero de não conseguir respirar. Situação que se repetiu em outras duas ocasiões. Antes de descobrir o que cau-

sou o edema, Jennifer procurou uma dermatologista para ver a questão das bolhas, a queda de cabelo e o enfraquecimento das suas unhas. Depois de realizar uma bateria de exames, como hemogramas e testes, a jovem descobriu que tinha alergia a proteína animal. Ou seja, a partir de agora, ela se tornaria vegetariana, por necessidade e não opção. “Foi um choque muito grande que alterou toda a minha rotina e a da minha família. Minha mãe vive reclamando, porque agora tem que cozinhar tudo separado. Sinto falta de poder comer bacon”, conta Jennifer rindo. Os hábitos tiveram que ser alterados, dentro e fora de casa. Desde então, ela carrega a própria alimentação para evitar riscos. Segundo a jovem, a substituição dos nutrientes da carne tem sido feita por soja e feijão. Ela tem consumido tanto o alimento, que plantou um pé-de-feijão em casa para diminuir os custos. Jennifer passou mal outras vezes, depois do primeiro susto. “Prefiro não arriscar mais, fui obrigada a mudar hábitos. Nunca há nada que eu possa comer nos lugares onde vou. Então, agora, só como em restaurantes que confio”, afirma. Por prescrição médica, ela agora, também, leva consigo o medicamento Fernegan injetável na bolsa, além de alguns antialérgicos. Outra medida de precaução são os avisos

sobre a alergia nas carteiras de motorista e identidade. Quase um ano depois, Jennifer afirma que não imaginava que sua vida pudesse mudar tão radicalmente da noite para o dia. Mas, se diz habituada à nova rotina. “Não é fácil, mas é melhor do que sentir aquele desespero de novo. Como dizem por aí ‘é melhor prevenir do que remediar’”, brinca.

REAÇÕES DIFERENTES

Mais de 30% da população mundial possui algum tipo de alergia, segundo a Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia (SBAI). Desse total, 20% são crianças. A asma e a rinite são as doenças que mais atingem a sociedade. “Cada organismo tem a sua forma de reagir com a alergia. Algumas pessoas vão conseguir controlar a crise com um simples antialérgico, outras podem ter crises mais fortes e terão que ir ao hospital”, explica a médica alergista Corina Toscano Sad, 54 anos. Ao contrário, de Jennifer, Taynã Paes, estudante do 8º período de Relações Internacionais da PUC Minas, desconhece os motivos que o levou a sentir falta de ar. Ele estava no 3º período e aproveitou as férias para aprimorar o inglês fazendo intercâmbio no Texas, nos Estados Unidos, quando teve a única crise alérgica grave. Na hora do choque anafilático, como foi diagnosticado pelos médicos do local,

ele estava trabalhando em um acampamento e era responsável por cuidar de mais de 30 adolescentes de 12 a 15 anos. “Estava tudo bem comigo, mas em questão de minutos, eu não conseguia mais respirar, não entendia o porquê e não sabia o que fazer. As pessoas que estavam trabalhando comigo me socorreram a tempo”, relata Taynã. O estudante nunca tinha tido uma crise antes e não sabia o que fazer. A sorte foi que os outros funcionários o ajudaram. Depois de ser medicado, ele voltou ao trabalho. Até hoje, Taynã não sabe ao certo o que lhe causou o choque. Os médicos dizem que pode ter sido o pólen, por estar em um local onde havia muitas abelhas, mas ele não fez nenhum teste para comprovar a hipótese. Outra preocupação do estudante foi a de não deixar que os adolescentes percebessem o que estava acontecendo. “A sensação foi desesperadora, porque eu perdi o controle. E não podia demonstrar desespero na frente dos meninos”, afirma. Ao chegar ao Brasil, o estudante não procurou nenhum especialista. Ele também tem alergia a poeira, pó de giz e ar condicionado. E nunca consultou um alergista para cuidar dessas doenças. Quando criança, ele foi diagnosticado com bronquite e, a partir disso, cresceu sabendo da limitação. Hoje, ele sofre

Taynã Paes não sabe as causas da “falta de ar”

diariamente no local onde faz estágio, porque todas as salas possuem carpete. “Todo dia meu nariz coça e fica escorrendo. Para não passar mal, sempre tenho um antialérgico na mochila”, conta o jovem. O descaso com os sintomas e as reações de Taynã e Jennifer são comuns no consultório da alergista Corina Toscano Sad, que atua na área

Raquel Andretto

há 15 anos. “Existe um mito de que as alergias são simples, que passam com o tempo e que são doenças de gente ‘fresca’ e rica”, afirma a médica. Segundo ela, muitas vezes o corpo sinaliza antes de ter uma reação mais forte, como o edema de glote e o choque anafilático. Porém, na maioria das vezes, as pessoas ignoram.

Restrições alimentares modificam a rotina do sociológo há dois anos As dores estomacais e intestinais foram indícios para que o sociólogo Matheus Pinheiro, 24 anos, descobrisse a intolerância à lactose. Aos 22 anos, ele começou a sentir esses sintomas e desconhecia as causas das dores. Ele procurou um médico gastroenterologista e realizou dois exames de sangue e uma tomografia com contraste para conseguir ser diagnosticado. Até então, Matheus não sofria nenhuma restrição alimentar, mas teve que cortar da sua alimentação o leite e todos os seus derivados. Para auxiliá-lo nessa nova rotina, ele consultou uma nutricionista. “É horrível, porque eu tive que abrir mão

de muitas coisas que gosto. Almoço todos os dias no meu local de trabalho e é sempre ruim, pois tenho que separar o que posso e não posso comer. À tarde eles também nos dão lanche e o meu é sempre pão seco, porque não posso passar manteiga, margarina ou colocar uma fatia de queijo. E é ruim ver todo mundo tomando iogurte e eu não”, relata Matheus. A restrição alimentar também modificou a rotina na casa de Matheus. Segundo ele, sua avó é obrigada a fazer dois tipos de bolo, um com leite e manteiga e outro sem. No início, ela reclamava mais, hoje já se conformou. Mas, para o sociólogo, o pior dessa restrição

é ganhar chocolate e iogurtes, sem poder usufruir. “Outro dia, eu ganhei um Yakult e fui obrigado a dar para a minha irmã. Fiquei triste por não poder bebê-lo. Mas, o pior foi ficar olhando para ele dentro da geladeira”, conta. Apesar, de ter descoberto com mais de 20 anos, Matheus não é minoria. Atualmente, 5% das alergias são alimentares, sendo as crianças as mais afetadas. O problema foi apresentado pela SBAI, na Semana Mundial Contra a Alergia, idealizada pela Organização Mundial de Alergia (World Allergy Organization - WAO). O órgão brasileiro destacou o crescimento alarmante desse tipo de alergia.

Atenção com medicação Há oito anos, a dor de garganta corriqueira da professora do departamento de ciências exatas do UniBH, Marina Araújo, 29 anos, a fez procurar um otorrinolaringologista para poder cuidar da infecção. A medicação usada foi amoxicilina, um antibiótico de uso muito comum no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia (SBAI). Quase no final do tratamento, ela começou a apresentar muita coceira no braço, que evoluiu para uma ferida. Para entender o que estava acontecendo, ela ligou para uma prima que é farmacêutica, que lhe informou que poderia ser uma reação alérgica ao remédio. Após a conversa com a prima, Marina consultou um especialista, que confirmou a reação e recomendou que suspendesse o medicamento. E desde então, ela

não pode mais ingerir nenhum antibiótico à base de penicilina. Para continuar cuidando das infecções posteriores à reação alérgica, a professora começou a tomar o antibiótico azitromicina. Porém, no primeiro tratamento, ela apresentou urticária no corpo inteiro. “Foi uma sensação insuportável, eu me coçava toda e não conseguia parar. Acabei me ferindo bastante. E dessa vez, a reação demorou mais a passar. Meu maior medo é não ter mais antibióticos para realizar os meus tratamentos no futuro. Em muito pouco tempo, adquiri resistência aos mais comuns. Sou o único caso na minha família. Me sinto muito insegura”, relata Marina. Atualmente, ela só pode usar medicamentos a base de macrolídeos. E deixa bilhetes plastificados alertando sobre a alergia em todas as bolsas e dentro da carteira.

Segundo Corina, a reação por medicamento acontece muito pelo uso excessivo e indiscriminado da substância. “O remédio campeão em reações alérgicas no país é o anti -inflamatório. Isso se justifica porque o remédio foi usado durante décadas e tínhamos a cultura de que ele podia resolver tudo”, afirma. A médica também ressalta que existem muitos casos em que os pacientes confundem reações adversas com reações alérgicas. A diferença de uma para outra é que a reação adversa pode ser contornada. Ou seja, se o medicamento provoca dor no estômago, o paciente deve comer antes de ingeri-lo para melhorar a reação. No caso de um sintoma alérgico, apenas a suspensão do remédio é capaz de controlar os efeitos.

Matheus Pinheiro tem intolerância à lactose

Raquel Andretto

Reações mais recorrentes De acordo com os dados divulgados pelo site oficial da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia (SBAI), as doenças que mais afetam os brasileiros são: rinite alérgica, asma, bronquite, medicamentos e alimentícias. As causas para que as pessoas tenham esses ou outros tipos de doença começam desde o nascimento. A alergista Corina Toscano, explica que o parto normal ajuda o bebê a criar imunidade contra diversos tipos de doenças, por ter contato com a flora da mãe. Quando o bebê nasce por cesariana, ele tem mais propensão a ter reações alérgicas. Outros fatores que podem ser determinantes são a pouca amamentação, pouco banho de sol, o excesso de poluição e ingestão de comida industrializada. “Hoje, até a sopinha do neném é comprada pronta. A mentalidade das pessoas de preparar melhor os alimentos não existe mais”, afirma. Para a médica, a rinite alérgica tem um agravante, por atingir grande parte da população que não procura acompanhamento médico. A doença pode desencadear outras mais graves, como rinosite e otite.

“Independentemente da reação alérgica, um dos maiores problemas é a automedicação. As doenças têm que ser acompanhadas. O uso indiscriminado do antialérgico pode ocasionar outros sintomas e maquiar reações mais graves. Por não precisar de receita e servirem para um número abrangente de doenças, as pessoas não buscam o alergista e também não se preocupam com as reações. Somente o médico é capaz de estabelecer uma combinação correta entre antibiótico e antialérgico. Existem muitas misturas que não devem ser feitas”, alerta Corina. A avaliação do paciente para descobrir a alergia é feita por meio de alguns tipos de testes, como exames de sangue. Mas, o que determina se a pessoa é alérgica ou não, são as análises dos sintomas, como outros testes e o histórico do paciente. “Não existe maneira de determinar se um paciente é ou não alérgico de imediato. Temos que avaliar todos os fatores para descobrir as causas”, explica a alergista.


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Entrevista

NEGOATIVO

A vida e os projetos de Ramon Lopes ANA LETÍCIA DINIZ ESTEVÃO MENDES JAIANE SOUZA

Por que o nome “Negoativo”?

Meu nome de batismo é Ramon Lopes Gonçalves, e eu pratico capoeira desde criança e na capoeira os capoeiristas preservam alguns fundamentos e um deles é de cada capoeirista, praticante de capoeira, ter um apelido, isso é uma tradição desde os antigos. Antigamente, ali no inicio do século 19 os capoeiristas tinham mais de um apelido para dificultar, na época, a policia de encontrar aquele indivíduo, porque naquele momento era uma arte ainda proibida. Então, o praticante de capoeira ganha um apelido, que é uma forma de estar resgatando e preservar essa tradição dos capoeiristas, dos povos de matriz africana no Brasil. Aí me deram esse apelido de “negoativo”, Na verdade eles falavam que eu era muito esperto na época e por isso surgiu esse apelido.

É um batismo na capoeira?

Tem a tradição do batismo, onde o aluno vai receber sua primeira graduação e passa por um ritual de batismo. É formado uma roda onde está a família, os amigos vem participar e ali ele vai jogar com o mestre, o professor de capoeira, onde ele vai realmente tomar uma rasteira e cai no chão. Ali é considerado que ele foi batizado na capoeira. Ali ele recebe a primeira graduação e muitas vezes também o seu apelido.

Quando criou os projetos do “Bloco Afro Porto de Minas” e “Quilombola”?

Eu nasci e vivo até hoje na mesma comunidade, a comunidade do Maria Goretti, Regional Nordeste de Belo Horizonte. Sempre fui envolvido e a arte sempre me pegou desde criança, meu pai era pintor de parede. Então, lá em casa sempre tinha aquelas latas de tinta velhas e eu as pegava e ficava tocando. Me lembro também que em meados da década de 70 passou o Sítio do Pica Pau Amarelo, aquela “sacizada” e eu tentei reproduzir aquilo na rua de casa. Mesmo sem ter experiência nenhuma de teatro, eu peguei os meninos da rua, que eu brincava e falei “vão vestir de Saci Pererê”. Então eu já tinha uma criatividade sem ter uma iniciação em alguma escola. Com as minhas andanças pela capoeira, com a música, eu sempre fui voltado com esse olhar para a comunidade, em fazer algo, em trabalhar com os jovens daquela comunidade, a cidadania por meio da arte. Então, surgiu o “Bloco Afro Porto de Minas”, que tem o grupo de capoeira “Porto de Minas”, do qual eu sou um dos fundadores. Eu fundei o Bloco Afro Porto de Minas, que era um batuque de crianças tocando, e jovens, foi muito interessante. Conseguia reunir 150 jovens, dando assistência durante oito anos,

sem patrocínio porque na época não tinha, para fazer um projeto tinha que fazer na raça. Logo em seguida, no início dos anos 2000 eu iniciei o Quilombola, que foi na comunidade vizinha do Goiânia, na escola municipal e com o mesmo propósito, por meio da arte trabalhar a cidadania. Então, eu sempre fui envolvido com essas questões sociais e culturais nas comunidades. E isso tudo começou no final dos anos 80. Eu morei um tempo na Europa e quando voltei, tive um pouco mais de apoio, além de ter uma visão um pouco mais realista da vida, por ter morado fora. Isso me motivou mais ainda a retornar ao país e fazer algo concreto com a juventude. Uma coisa que eu tenho muito viva na memória é quando eu morava, no início de 90, na Europa, e fui assistir um filme que chama “New Jack City”, um filme de um gueto americano, foi a chegada do crack nos Estados Unidos e quando eu assisti aquilo falei, “puxa vida, se chegar no Brasil a gente esta ferrado”. Não deu outra, passou seis, sete anos depois e a gente se deu com essa realidade. O crack chegando nas comunidade e acabando com os jovens e famílias. Não sou

dr éC An

Dez anos. Esse foi o tempo usado pelo mestre de capoeira Ramon Lopes, mais conhecido como Negoativo, para captar imagens que deram origem ao documentário “Lamparina: Bantus nas Minas Gerais”, que conta histórias e realidades de povos quilombolas que vivem em comunidades da região de Diamantina, no vale do Jequitinhonha. O filme foi exibido em um festival de arte negra. “Eu pretendo fazer um lançamento no ano que vem”, explicou. Sempre engajado em projetos culturais e sociais, ainda na juventude, Negoativo criou o Bloco Afro Porto de Minas, na comunidade do Maria Goretti, Bairro localizado na Região Nordeste de Belo Horizonte, e, mais tarde, o Quilombola. Ambos os grupos de percussão formados por jovens de bairros próximos, ainda em atividade. O 1º projeto foi feito com poucos recursos. “Na época não tinha patrocínio, nem tinha editais. Hoje é mais fácil (fazer um projeto), comparado há 25, 30 anos, onde para se fazer um projeto você fazia na raça”. O segundo foi em parceria com uma escola municipal de uma comunidade vizinha. Dessas ações ele fundou a Berimbrown, banda de soul music e funk. Em 2011, Negoativo lançou o livro “Capoeiragem no País das Gerais”, pela editora Nandayla, projeto realizado pela Lei de Incentivo à Cultura, onde faz um apanhado de histórias relacionado à capoeira em solo mineiro. Negoativo sempre foi um observador da cultura quilombola, já que seu pai nasceu na Região de Diamantina e ele sempre ia naquela região, e pensava em documentar um pouco das histórias que via e ouvia. Mas a ideia de gravar um filme sobre a cultura quilombola se intensificou quando, em 2001, Negoativo ganhou o livro “O Negro e o Garimpo em Minas Gerais”, do escritor Aires da Mata Machado Filho. Esse livro fala da trajetória dos negros vindos da África para trabalhar no garimpo mineiro, a partir de pesquisa empírica do próprio escritor. “Quando li esse livro, senti que tinha a missão de dar continuidade à pesquisa do Aires. Daí optei por fazer algo ligado a um filme, e surgiu esse longa metragem”, observou.

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3º PERÍODO

outra perspectiva. Há 30 anos era mais difícil. Um jovem de comunidade não tinha acesso a uma universidade como tem hoje.

O número de participantes dos projetos se manteve?

Hoje, a juventude tem muito mais opções com a globalização, internet e tudo dispersou muito. A juventude tem muito mais informação com a tecnologia, principalmente, o “lixo da tecnologia”. Isso faz com que o jovem fique mais preguiçoso, que ele tenha menos tempo, menos interesse, menos tempo de sair de casa para fazer um curso, faz algo artístico e físico. A geração de hoje vive com mais conforto, com essa preguiça e acomodação. Então, acaba tendo uma caída.

Você enxerga o que pode mudar essa realidade?

A vida toda a gente acredita que o governo, se eles quiserem, pode mudar muita coisa. Isso vem da escola básica. Se tiver uma boa escola básica, um bom ensino fundamental, pode sim. Nós temos leis aí que não funcionam no país, leis que são decretadas. Nós temos a lei 10.639 que é ensino obrigatório da cultura afro-brasileira e da cultura indígena desde 2003. E essa lei não é empregada nas escolas, que é obrigatória tanto na escola particular quanto pública. Se fosse passado nas escolas de uma forma interessante com certeza já ajudaria muito. Daria um outro olhar e teríamos menos conflitos raciais, religiosos, culturais. Seria melhor entendida pela juventude e poderíamos trabalhar melhor com essa diversidade, essa etnia brasileira.

Esse esquecimento desse estudo nas escolas, você acha que é proposital?

Eu acho que nem foi esquecida, mas que nunca foi praticada nas escolas. Não só da afro, mas da indígena também. Esse mês de novembro várias pessoas me procuram “ah, vamos fazer uma apresentação”, e eu recuso todas, porque não tem que lembrar do índio só na data dele e do negro só na data dele. Já que existe uma lei decretada tem que ser trabalhada o ano todo, desde o início nas escolas. Então, nenhum quando as pessoas me procuram esse mês eu não faço cineasta, não estudo Você acha que os nada a não ser que seja uma cinema, mas sempre coisa muito bacana e a gente projetos, como os fui um cara que possa discutir nesse nível ou que você criou na para cima disso. Eu acho que arrisquei muito sua comunidade, a cultura indígena e afro são ajudaram a evitar completamente descriminauma certa das e por isso que muitas vecontaminação? zes os jovens tem conflitos. Os projetos sociais que existiam nas comunidades foram fundamentais. Não foi só o Com isso tudo, a cultura meu projeto na minha comunidade, exis- negra está ficando esquecida? tiam projetos em outras comunidades em Eu penso que com o avanço tecnológico Belo Horizonte. Faz pouco tempo que os que está chegando aqui no Brasil, acho órgãos públicos se interessaram para isso. que culturalmente não só quilombola, mas E foi fundamental sim esse projetos, portambém indígena está sendo esquecida que era um combate de perto com essa viosim. As pessoas estão muito próximas da lência, o tráfico. Mas a violência cresceu tecnologia e eu acho que o ser humano ainde uma forma muito rápida que os projeda não está culturalmente para receber essa tos não deram conta. Dominou meados de tecnologia. Ás vezes, dentro de casa tem 90 e o crescimento foi impressionante. Os famílias que se comunicam pouco e chega projetos sobreviveram, mas conseguiam a ser muito mais sedutor estar no compumanter e resgatar poucas pessoas. Porém tador, no telefone, do que estar contando o tráfico chegou e seduziu de uma forma uma história, contar como foi o dia. A genmuito grandiosa. Eu acredito que os órgãos te não tem mais tempo para isso e, com demoraram a alertar com grande projetos isso, a cultura vai sendo esquecida. como esses de hoje, para tentar combater essa violência. Mas acredito que foram fundamentais os projetos comunitários, até De onde veio a ideia porque foram eles que iniciaram todo esse do documentário que processo. O capoeirista sempre está traba- você está produzindo? lhando socialmente em sua comunidade. É O documentário, que é um longa-metrapor isso que tem essa preocupação em tragem, ele parte assim, meu pai é da Região zer a arte da capoeira e resgatar as pessode Diamantina e minha mãe de Conceição as que estavam ali em uma área de risco e do Mato Dentro, então me considero neto trabalhar com esses jovens para tentar uma da Estrada Real. Meu pai e toda família

dele foi de garimpeiros. Sempre tive essa curiosidade de conhecer esse povo da cultura do meu pai e tive esse desejo de fazer essa história. Encontrei um livro que foi um dos mais interessantes que eu pude ler que é “O negro e o garimpo em Minas Gerais”. Então, quando eu li esse livro, eu senti que deveria dar continuidade à pesquisa. E optei por fazer algo ligado a um filme e foi onde surgiu esse longa-metragem. Surgiu de uma forma muito bacana também. Era uma coisa que me incomodava muito: as pessoas iam finalizar seus cursos com suas monografias e iam para as comunidades quilombolas e indígenas para colher o material para a pesquisa, mas nunca mais davam retorno à comunidade, e eu nunca percebia negros fazendo isso. Então, investi como cineasta para poder abordar a cultura afro-mineira, de resgatar as culturas, mas de ter uma relação muito bacana e de ser amigo desse povo. Não é só ir lá, extrair, pegar e nunca mais voltar.

Como foi o processo de produção?

Foi bacana porque foi espontâneo. Não sou nenhum cineasta, não estudo cinema, mas sempre fui um cara que arrisquei muito e sempre fui feliz nas minhas iniciativas. Tive uma paixão assim pelo cinema, em fazer cinema em uma linguagem negra, digamos assim. E foi muito bacana porque eu já frequentava essas comunidades. Depois, com a câmera na mão, comecei a pegar algumas coisas sem compromisso, vendo o que poderia dar. Fui aprimorando, ficando um pouquinho melhor, aprendendo a fazer edição. Consultava algumas pessoas mais próximas. Fui sentindo que foi tomando uma forma.

E a equipe de produção, como foi formada?

A equipe de produção foi eu, eu e eu. (risos). Na verdade eu levava alguns amigos que queriam passear nos quilombos, meu filho que me ajudou muito. Eu mesmo que filmei, eu que editei. A fotografia foi assim, Lamparina Filmes, que é o nome da produtora, é uma coisa até mais fantasia. Fui eu mesmo. E aí tem o Ronilson, que trabalha comigo na música há muitos anos, e me deu uma força, mas não tive equipe. Seria ótimo ter dinheiro para fazer uma mega produção, mas também a proposta do filme é fazer sem patrocínio nenhum.

O filme foi feito desde o inicio até o fim, só como projeto colaborativo?

Na verdade, o projeto colaborativo não está funcionando. Isso também não me frustra não. Ontem mesmo fui no banco olhar como estava, a mesma coisa, mixaria. As pessoas não colaboram, vão lá curtem, compartilham, mas ninguém é capaz de pegar R$ 5 e colocar lá.

Você sentiu que não estava sendo valorizado o seu trabalho?

De jeito nenhum. Tanto é que no meu vídeo eu deixo claro, “colabore quem quiser”. Independente do projeto colaborativo, o filme vai ficar pronto e nós vamos lançar.

Como é a captação de recursos?

Tudo do meu bolso. E não ficou caro. No princípio ficou um pouco puxado. Eu fiquei no vermelho alguns meses, mas a gente fica no vermelho a vida toda. Mas eu fiz um produção que foi baixo custo mesmo. Porque foi uma coisa de anos, fiz com calma, tive acesso a toda essa cultura, como amigo. Foi tranquilo nesse aspecto e o investimento foi baixo. Pelo filme, pelo material que eu tenho, pela qualidade, o custo foi baixo. E uma das coisas principais é deixar claro que é possível fazer cinema sem você entrar no consumismo.


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