Jornal Marco 303

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MORADORES DA VILA CALAFATE SOFREM COM NOVA AMEAÇA DE DESAPROPRIAÇÃO, PARA ABRIGAR UM PISCINÃO DE CONTENÇÃO DE ÁGUA DAS CHUVAS PÁGINA 3 André Correia

NO ANIVERSÁRIO DE 55 ANOS DA PUC MINAS, O MUSEU DE CIÊNCIAS NATURAIS FOI REABERTO APÓS QUASE UM ANO FECHADO POR CAUSA DE INCÊNDIO PÁGINA 5

GERALDO PÉ DE MOLEQUE TEVE SEU CARRO FIAT 147 REFORMADO NO QUADRO LATA VELHA, DA GLOBO, E ‘CONQUISTOU’ O BRASIL COM SUAS HISTÓRIAS PÁGINA 16 Marina Teixeira

Mateus Teixeira

marco jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 303 . Dezembro de 2013

Projeto BH Negócios abre espaço ao empreendedor Cuidar de idosos requer carinho, afeto e atenção Com o envelhecimento da população brasileira, um número cada vez maior de famílias se depara com a situação de ter um parente idoso. Em muitos casos surge o dilema entre cuidar do parente em sua própria residência ou recorrer a estabelecimentos especializados. As duas situações encontram defensores, mas, para especialistas ouvidos pelo MARCO, ponto indispensável é cercar a pessoa idosa de carinho e afeto. Segunda cidade do país em número de população idosa, Belo Horizonte oferece variedade de opções, desde asilos públicos, para famílias que não tem condições financeiras, a estabelecimentos particulares com elevado padrão de conforto. Há os que preferem cuidar de seus ‘velhos’ em casa mesmo, até como retribuição ao que receberam de bom ao longo da vida. Nesse contexto, muitas vezes a ajuda de cuidadores é boa alternativa. PÁGINA 14

André Correia

O projeto BH Negócios idealiza sonhos de quem deseja se tornar um empreendedor, ajudando a construir a própria empresa. O programa proporciona credibilidade e segurança aos novos donos de negócios, em qualquer área. Esses empresários recebem auxílio em equipamentos, espaço, organização, e treinamentos. O Aglomerado da Serra, localizada na Zona Sul de Belo Horizonte, é o pioneiro na implantação do projeto na cidade e incentiva outras comunidades a se regularizarem, já que isso atrai clientes e gera segurança para os dois lados: quem vende e quem compra. Parceria entre Prefeitura de Belo Horizonte, Caixa Econômica Federal e Sebrae, o programa existe há dois anos e consiste em investir em micros e pequenas empresas, ajudando nas áreas de gerenciamento e formalização do negócio. Dividido em três etapas de inicialização, o trabalho conta com o apoio da comunidade para a divulgação. PÁGINA 13

PM ‘chega’ ao Coreu e Polícia civil ‘sai’ As obras de construção da sede da 9ª Companhia da Polícia Militar de Minas Gerais no Coração Eucarístico estão sendo concluídas e a previsão é que no máximo em fevereiro de 2014 o quartel seja inaugurado. A ‘chegada’ da PM ao bairro coincide com a ‘saída’ da Polícia Civil, em função da transferência para o Alípio de Melo da 2ª delegacia. Esta alteração é justi-

ficada pelo plano de gestão da capital que visa modernizar o sistema de segurança. Para muitos moradores, no entanto, a questão não é transferir e modernizar instalações policiais, mas aumentar efetivamente a segurança e vigilância nas vias públicas de toda a região. PÁGINA 2

Feira Hippie divide opiniões A mudança na forma de disposição das barracas da Feira de Artesanato da Afonso Pena ou Feira Hippie, como é conhecida, ainda é tema de conversas e gera opiniões divergentes. O novo leiaute foi implantado no final de setembro. O novo sistema optou por corredores mais largos, ao distribuir as barracas, em

grupos de quatro. Dessa forma, procurase evitar a sensação de superlotação. O lugar, que antes tinha corredores longos e estreitos, passou a ter mais espaço e mais organização, na avaliação de muitos compradores. Os feirantes, que agora estão no meio da feira, são os mais insatisfeitos com as mudanças. PÁGINA 9

André Correia

LEIA AINDA

Cobrar por ‘carona’ não é legal A utilização das redes sociais para combinar caronas dentro das cidades e também entre municípios é prática cada vez mais frequente. Há, no entanto, uma diferença entre a chamada ‘carona solidária’, que é gratuita e vista com bons olhos por ajudar a reduzir a quantidade carros em circulação, e aquela modalidade em que se cobra um valor, ainda que a título de contribuição para o combustível. Para o Departamento de Estradas de Rodagem(DER-MG), cobrar por carona é ilegal. PÁGINA 7 Raíssa Pedrosa


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Comunidade

editorial

Importantes histórias para todas as idades

Batalhão da PM abre e delegacia muda Nova sede da 9ª Companhia da Polícia Militar deve ser inaugurada em janeiro e polícia civil vai para o Bairro Alípio de Melo

ANDRÉ CORREIA

ANDRÉ CORREIA MATEUS TEIXEIRA

3º PERÍODO

3º PERÍODO

Chegamos à última edição do MARCO em 2013 e, como sempre, pensando nos assuntos de importância social para os nossos leitores, trazemos matérias que falam das escolhas profissionais dos jovens, passamos pela mudança de carreira na vida adulta e chegamos à terceira idade, contando um pouco da importante tarefa de cuidar de idosos e como a decisão de levar um familiar para morar num asilo, na maioria das vezes, é bastante difícil. Esta edição, de número 303, conta a história de pessoas que não desistiram dos seus sonhos e foram em busca da verdadeira vocação. É o caso da engenheira Denise Mascarenhas Alemão, que conheceu a biodança, resolveu se tornar professora na área e iniciou os estudos de psicologia. Mostramos também a oportunidade de abrir um pequeno negócio e se tornar empreendedor, por meio do Programa BH Negócios, realizado no Aglomerado da Serra, que tem ajudado pessoas da Região na conquista de uma fonte de renda. Temos também os assuntos que atingem diretamente a um grande número de pessoas, como a possibilidade de desapropriação da Vila Calafate, na Região Oeste, para a construção de um piscinão para contenção das chuvas. E o cenário atual do Bairro São Gabriel, que passa por desapropriações para a construção do novo Terminal Rodoviário. Além disso, relatamos as mudanças na vida dos moradores da Vila São José, cujo programa habitacional está em fase final, apesar de problemas como a violência, tem a aprovação da maioria de seus moradores. Pensando também na segurança, noticiamos a chegada do Batalhão da 9ª Companhia de Polícia Militar, que tem inauguração prevista para o início de 2014, ao mesmo tempo, em que a 2ª Delegacia da Polícia Civil será transferida para o Bairro Alípio de Melo para adequação de um processo de gestão, que deve garantir maior efetividade, ao contar com mais policiais e tecnologia de informação reunida. Para completar, contamos a história de Geraldo Eduardo Gonçalves, o Seu Geraldo Pé de Moleque, 97 anos, que nunca levou uma multa de trânsito. Ele participou do Lata Velha, quadro do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, que contou com a apresentação de suas netas para vencer a disputa, ganhando a reforma do seu Fiat 147, ano 1980. Assim, terminamos os trabalhos deste semestre, já pensando nas próximas histórias a serem contadas ao longo de 2014, no nosso eterno desafio de manter os leitores bem informados.

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Depois de 11 anos de espera, o Batalhão da 9ª Companhia da Polícia Militar será inaugurado na Via Expressa, no Coração Eucarístico. Enquanto isso, a delegacia da Polícia Civil será transferida para o Bairro Alípio de Melo, na Região da Pampulha. O 34º Batalhão da Polícia Militar foi criado em 19 de dezembro de 2000, abrangendo as regionais Noroeste e Pampulha de Belo Horizonte e possui companhias nos Bairros Alípio de Melo, Caiçara e Ouro Preto. O presidente da Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico (Amacor), Iracy Firmino, acompanhou o demorado processo de construção. “Estamos batalhando para a construção do prédio desde 2002, porque nós tivemos a pretensão de construir, tendo em vista a necessidade recorrente de termos um ponto de referência no nosso Bairro, que além de grande, possui um intenso tráfego de veículos e de pessoas por causa da PUC”, diz Firmino. A nova sede será na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 3230, Via Expressa, próximo ao Juizado Criminal. O batalhão ainda está instalado na Avenida Pedro

Novo Batalhão da 9ª Companhia da PM está quase pronto

II e a transferência está prevista para acontecer no máximo em janeiro de 2014, após a conclusão dos alojamentos para os militares. De acordo com o comandante Luís Vitor a expectativa é de inauguração o mais rápido possível, embora ainda não haja data marcada. “No mais tardar em fevereiro”, comenta o oficial. Para a construção dos vestiários serão investidos quase R$ 360 mil e a duração da obra, financiada pelo Banco do Brasil, é de quatro meses. Cabo Malta, que trabalha no batalhão da 9ª companhia da Polícia Militar, informou que o local ainda não está registrando ocorrências. “Não estamos atendendo. Fazemos a

guarda no local”, afirma. Maria Márcia Garcia Veloso, consultora imobiliária, acha que o Bairro precisa de mais patrulhamento ostensivo. “Na praça, o Olho Vivo funciona, não sei se inibe. A polícia (militar) impõe respeito, não é a delegacia”, afirma. Ela relembra que anteriormente havia policiais patrulhando de bicicleta. “Melhorou muito, inibia os moradores de rua, com o policiamento mais presente”, recorda. A consultora completa. “O que quero é sentir mais segurança”. A estudante do curso técnico de edificações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Letícia Castejón, acredita que o policiamento na Região precisa

André Correia

melhorar. “Nunca tive nenhum problema, mas acho que não é dos melhores”, afirma. Sobre a inauguração do novo batalhão, Letícia tem poucas esperanças. “Pego ônibus perto da PUC, acho que vai melhorar, mas não deve adiantar muito”, observa. Atualmente, no Bairro Coração Eucarístico há um posto de apoio da Polícia Militar, localizado no posto de gasolina da Rua Dom Joaquim Silvério, e possui uma viatura para fazer as ocorrências e atender as demandas nas proximidades. “Geralmente, quando temos um problema acionamos o 190, e a viatura mais próxima chega, mas demora muito porque a demanda é muito grande”, comenta Firmino.

Polícia Civil será transferida so de gestão. “O modelo atual é fragmentado, não dá responsabilidade necessária para a demanda. Irá ter mais efetividade, mais policiais e uma tecnologia da informação mais apropriada”, afirma. O delegado ainda ressaltou a data da transferência. “Está em fase de estudo e adequação. O prédio é muito bom, tem três andares e um anexo e irá cobrir toda a área, inclusive a do Coração Eucarístico, que é a que mais preocupa”, completa. O prazo da transferência é de 30 a 60 dias. O delegado explica que o imóvel da Rua Dom Joaquim Silvério é alugado e não foi construído para ser uma delegacia. O contrato vence em fevereiro de 2014. Márcio Schuffner, dono de uma das cantinas da PUC Minas e de um restaurante no Coração Eucarístico, não está preocupado com a transferência. “Não interfere em nada. Com ou sem ela aqui, vão continuar roubanSede da 2ª Delegacia será transferida para o Bairro Alípio de Melo do do mesmo jeito”, ressalta. André Correia

No final de novembro, foi anunciada a transferência da 2ª Delegacia da Policia Civil, localizada à Rua Dom Joaquim Silvério, 365 para o Bairro Alípio de Melo, na Região da Pampulha. O chefe do Departamento de Polícia Civil em Belo Horizonte, Anderson Alcântara Silva Melo, diz que a mudança de sede faz parte do proces-


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Comunidade

Desapropriação volta a assustar Pela segunda vez, em pouco tempo, moradores da Vila Calafate convivem com a ameaça de deixar suas casas, por obras da Prefeitura. Antes era para a Rodoviária, agora para evitar enchentes

Criação de ‘piscinão’, para contenção de água das chuvas na Vila Calafate, preocupa comunidade

CAMILA SARAIVA GABRIELLE ASSIS 4º PERÍODO

A população da Vila Calafate, localizada próxima à estação Calafate do metrô, na Região Oeste de Belo Horizonte, sofre, mais uma vez, com o risco da desapropriação do local. Em 2009, a área daria lugar à nova Rodoviária da capital, mas a população conseguiu, após grande mobilização, impedir a concretização da obra, que acabou transferida para

o Bairro São Gabriel, na Região Nordeste. Este ano, a criação de um ‘piscinão’ para contenção da água das chuvas no local preocupa a comunidade. O ‘piscinão’ é uma bacia de contenção de águas pluviais com capacidade para 600 milhões de litros. O projeto visa reduzir os problemas causados pelas enchentes do Ribeirão Arrudas na Região. A bacia do Calafate faz parte de um pacote de investimento de R$1 bilhão do Governo Federal em

parceria com a Prefeitura, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para prevenção de enchentes. De acordo com os moradores, a desapropriação levará muitos problemas às pessoas que têm famílias e trabalham no local. Sandro Gonçalves Dias, morador da vila há 15 anos, diz que é difícil mudar de lá. “A gente já está acostumado. Se a gente for morar longe, complica, porque as crianças vão ficar lon-

André Correia

ge da escola”, afirma. A Prefeitura tenta entrar em acordo com as famílias a respeito da desapropriação e do valor da indenização para cada uma. Porém, a comunidade não está contente com as propostas. João Marques, que mora há seis anos no bairro, afirma que a retirada das famílias causa muitos prejuízos, porque “o dinheiro das indenizações não dá para nada”. Além disso, o problema da falta de escritura em muitas casas

é um agravante da situação. Anderson Olímpio protesta. “É uma injustiça mudar daqui para um apartamentozinho. Os ricos resolvem as coisas e a gente paga o preço. Eles tentam olhar pra frente, pra evoluir a cidade, mas não veem a gente no caminho”, desabafa. O presidente da Associação Comunitária da Vila Calafate e Amizade, Elton Moura, enfatiza que a comunidade não vai ceder à vontade da Prefeitura. “Nós não vamos abrir mão do terreno. Vamos entrar na Justiça contra a Prefeitura e ela vai ter que se virar. Se precisar, a gente fecha a pista. Isso, pra mim, é um roubo, tirar terra de gente pobre. Ainda mais com o valor que eles estão oferecendo, os apartamentos são todos trincados, péssimos”, salienta. A insegurança quanto ao futuro é algo que toma conta da comunidade. “A maioria dos moradores mora aqui há muitos anos. Minha madrinha levou 18 anos para construir o bar que ela tem hoje, como ela vai fazer pra trabalhar se mudar daqui?”, questiona Anderson Olímpio.

De acordo com Elton Moura, há muitas dificuldades de adaptação às novas moradias. “O morador da periferia não sabe morar em prédio”, afirma o líder comunitário, que acena com resistência. “A gente só entrega com ordem judicial, até lá eles terão que passar com caminhões e tratores por cima da comunidade. Não vai ter acordo, está todo mundo na causa, temos o apoio dos bairros vizinhos Padre Eustáquio e Coração Eucarístico”, detalha. Elton ainda faz observações quanto ao prefeito Márcio Lacerda. “Ele não deixa a gente viver, não deixa a gente em paz. Trabalhei pra ele nas eleições e agora ele faz isso com a gente?! Ele não passa de um canalha”, esbraveja. A obra tem previsão de início para 2014 e finalização em 2016, mas a comunidade ainda é um impasse para a concretização desse processo. A Prefeitura de Belo Horizonte não informou detalhes da obra nem mesmo quantas famílias podem ser desalojas com o projeto.

Demolições mudam cenário no São Gabriel ARTHUR FIGUEIREDO HUMBERTO RESENDE GABRIEL PAZINI 1º PERÍODO

A realização de obras visando a disputa da Copa do Mundo, em 2014, como a implantação do Move, nova modalidade de transporte coletivo, além da preparação para a construção do novo Terminal Rodoviário de Belo Horizonte, com a demolição de imóveis já desapropriados, muda o cenário de parte do Bairro São Gabriel, na Região Nordeste da capital. Proprietários, que ainda não acertaram sua situação com a Prefeitura, convivem com moradores de ruas, que se aproveitam de imóveis ainda não totalmente demolidos, e também com a incerteza do futuro. É o caso do comerciante José Eucaristo, que tem loja na região, e se diz um pouco perdido com o que vem acontecendo no bairro. “Ninguém sabe realmente o que é que vai ter, como é que vai passar”, afirma. Depois de oito anos com o negócio, a pequena loja de estofados sofre com a poeira e rachaduras causadas pelas obras. O pequeno empresário diz não ter informações concretas da Prefeitura. A situação de José Eu-

caristo não é exceção. Casas vazias, outras ocupadas provisoriamente, assustam a população. Pessoas que precisam circular pelas ruas em obras também têm medo do que podem encontrar pelo caminho. Uma dessas pessoas é Caio Viana, que reside no bairro há pouco mais de um ano e relata a desavença de alguns moradores com a Prefeitura. “A proposta inicial foi de R$ 14 mil. Tínhamos de escolher entre o dinheiro e um apartamento”, explica. Segundo ele, após protestos organizados pelos moradores, a administração municipal aumentou o valor para R$ 15 mil. O auxiliar administrativo conta que as negociações continuaram, até que a Prefeitura chegou ao valor de R$ 30 mil pelos terrenos, fazendo com que algumas pessoas aceitassem a oferta e abrissem mão de suas casas. “Deveríamos receber, no mínimo, 200 mil. Não pela casa em si, mas pela localização do bairro. Estamos na área central, temos fácil acesso a qualquer parte da cidade”, argumenta. Ilustrando a situação descrita por Caio, Ícaro Pereira, residente há oito anos no bairro, compartilha da opinião de que a indenização oferecida não

Imóveis são desapropriados no Bairro São Gabriel para a construção da nova rodoviária

é suficiente para que os moradores consigam outra casa. Ícaro e sua família estão sendo retirados da casa que antes pertencia ao seu avô. Segundo ele, a situação com a Prefeitura ainda não está resolvida apenas pela indenização que, para a família, é pouca e o apartamento ofertado para concluir a desapropriação é pequeno e longe dos amigos e familiares, que, como ele, também vivem no Bairro. Além do prejuízo causado aos moradores, as

demolições geram transtornos para quem circula pelo bairro. Os detritos não são retirados do local, e acabam parando nas calçadas, atrapalhando quem passa por ali. Pedras, terra, pedaços de tijolos e até mesmo faixas sinalizadoras poluem a região. OPORTUNIDADE Se para os habitantes do bairro a situação está complicada, para outras pessoas o caos em parte do São Gabriel gera oportunidades. Débora*, moradora

de rua, por exemplo, aproveitou a desapropriação de uma casa, cujos antigos proprietários se mudaram, e a transformou em moradia provisória para ela e sua filha. Elas sabem que o novo endereço não vai durar muito, mas, enquanto a residência não for completamente demolida, a dupla pretende continuar vivendo em meio aos escombros. Outros que se beneficiaram da situação, de forma ilegal, foram Marcos de Jesus* e Cristiano Valente*, que retiraram de casas

Arthur Figueiredo

em processo de demolição fios de cobre, que são vendidos e ajudam no sustento de ambos, que também são moradores de rua. A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio de sua assessoria de comunicação, ficou de prestar informações sobre a situação no Bairro São Gabriel, por meio de e-mail, mas, até o fechamento desta edição não havia passado qualquer resposta aos questionamentos formulados. * Nomes fictícios


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Comunidade

Descaso no Residencial São José Melhorias na Vila São José tem agradado aos moradores. Porém, algumas famílias ainda enfrentam dificuldades para se beneficiar com o programa e adaptação ao novo estilo de vida FÁBIO CÉSAR MARCELINO 2º PERÍODO

As obras das unidades habitacionais do Vila Viva, localizado na Vila São José, Região Noroeste de Belo Horizonte, chegam na sua reta final, trazendo profundas mudanças na vida das mais de 2,4 mil famílias. São mudanças nos aspectos físicos, geográficos e sociais que podem demorar algum tempo para serem assimiladas pelos seus habitantes. No entanto, a maior transformação pode ser vista no semblante dos moradores contemplados pelo programa da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. A doméstica Maria Aparecida Cardoso, 56 anos, recorda dos tempos difíceis, quando morava na antiga Vila São José. Sua casa localizava-se na parte central da vila, denominada como “Canão” ou “Ponte”. Essa região recebeu esses dois nomes devido a um cano imenso que ficava exposto no beco e, próximo a ele, havia uma ponte que ligava à outra parte da favela, denominada, na época, de parte de cima da vila. “Foi uma mudança radical na minha vida. Estou muito feliz e satisfeita”, declara empolgada Dona Aparecida, referindo-se à mudança para um dos apartamentos no programa da prefeitura. Natural da cidade de Senador Modestino de Gonçalves, próxima a Diamantina, na Região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, veio com a família, em 1993, para Belo Horizonte, em busca de uma vida melhor. O barraco onde morava com sua família ficava às margens do córrego São José. Da janela de sua antiga moradia dava para ver, nos dias de chuva, a enxurrada carregando e destruindo tudo. “Era uma

época muito difícil. Quando chovia a gente não dormia direito, de preocupação”, relembra Dona Aparecida, ao olhar da janela de seu apartamento. A Vila São José surgiu em meados da década de 1960, fruto da invasão das terras do Coronel Alípio de Ferreira de Melo. O local chamava-se, na época, Fazenda São José. Seus primeiros habitantes vieram de bairros vizinhos e cidades do Interior do estado de Minas Gerais. O profissional em manutenção de edificações, Jarbas Césio de Carvalho Sobrinho, 32 anos, mais conhecido como Pirueta, conta que veio da cidade de Coroaci, a 352 km de Belo Horizonte, próxima a cidade de Governador Valadares, na Região do Vale do Rio Doce e morou na vila por mais de 20 anos. Casado com a filha de Dona Aparecida, Jarbas também morou na parte central da vila, sendo vizinho da doméstica. Mas nem ele e nenhum de seus seis irmãos foram contemplados com o programa Vila Viva, pois antes do cadastramento realizado pela prefeitura, seus familiares mudaram para outros bairros. “Eu fui morar, juntamente com minha mãe e duas irmãs, no Bairro Primeiro de Maio, (Região Nordeste de Belo Horizonte)”, conta. Ele voltou à Vila e foi morar com um de seus irmãos e, nesse meio tempo, casou-se com a filha de Dona Aparecida, estabelecendo-se, juntamente com a esposa no Bairro São José, vizinho à vila. Mesmo não morando no residencial, Jarbas fala com entusiasmo das melhorias proporcionadas pelo programa Vila Viva São José. “Vivíamos em condições terríveis. Era esgoto a céu aberto, era casa que podia cair devido às chuvas. Enfim, era todo tipo de dificul-

População ficou sastifeita com as mudanças promovidas na unidade São José

dade possível”, ressalta. Mas ele não se diz arrependido por não ter um apartamento. “Eu sempre quis morar em uma casa que tivesse varanda, ainda mais agora que tenho duas filhas. Faço meus churrascos e elas podem brincar livremente”, salienta. Dona Aparecida e Jarbas afirmam que existem moradores insatisfeitos em morar no residencial. “Tem gente que reclama de morar aqui nos ‘predim’. A gente sabe que pode melhorar muito, porém é muito bom estar aqui”, diz perplexa Dona Aparecida. “Quem nasceu para quebrar pedra, vai sempre querer quebrar pedra”, conclui Jarbas. “Predim” é a forma com que alguns moradores se referem ao residencial. Segundo Dona Aparecida, algumas famílias não conseguiram se adaptar ao novo estilo de vida. De acordo com a assis-

tente social Nikole Corradi Magalhães Soares, todo processo de mudança vem acompanhado de sentimentos distintos e, sair do local onde se viveu boa parte da vida, pode representar algo doloroso para algumas famílias. “Quando desapropriamos uma família, estamos atuando diretamente naquilo que, de uma forma subjetiva, é o bem mais precioso para o grupo. Uma casa representa a conquista de anos trabalhados, a referência familiar do encontro, a história de um início”, afirma a assistente social. A família de Dona Aparecida foi uma das primeiras contempladas com as unidades habitacionais. Ela enfatiza que a Prefeitura de Belo Horizonte teria que ter feito algo para ajudar essas pessoas. “Eu não conheço, ou ouvi falar de gente que teve ajuda da prefeitu-

A espera pelo campo Rio Negro Historicamente, a vila era dividida em três partes: a vila de cima, a vila do meio e a vila de baixo. Próxima ao bairro Jardim Alvorada, a vila de cima era constituída, na sua maioria, por casas feitas de papelão e madeira. Na vila do meio e na vila de baixo, as casas eram de alvenaria e madeira e ficavam próximas ao Bairro Alípio de Melo. O pintor de acabamento, Kleber Alves dos Santos, 29 anos, veio do distrito de Justinópolis, município de Ribeirão das Neves, com a sua família, quando tinha apenas 4 anos. Também residia na região do “Canão”, parte do meio da vila. Ele lembra saudoso dos jogos, aos fins de semana, no campo do Rio Negro. “Joguei poucas partidas lá. Lembro dos jogos entre o Rio Negro e o Brinco de Ouro, o barranco ficava lotado. Vinha gente de todos os cantos da vila para acompanhar o ‘clássico’. Eu sempre quis jogar, mas nunca tive oportunidade”, lembra. O Brinco de Ouro era composto por jogadores da parte de cima da vila, enquanto no Rio Negro atuavam os jogadores da parte de baixo da favela. A rivalidade entre as regiões norte e sul da comunidade se restringia, basicamente, ao futebol. “Havia algumas jogadas mais fortes, certo princípio de tumulto, mas ficava tudo em paz”, ressalta Jarbas. O campo não existe mais. A sua área foi utilizada para a construção das unidades habitacionais. No entanto, segundo Kleber Alves, estava previsto no projeto do Vila Viva São José, uma nova área, próxima ao residencial, para ser o novo campo do Rio Negro. “Até agora, não saiu campo algum e, ninguém sabe de nada”, reclama Kleber Alves. Além dos jogos de futebol, o campo era usado para projetos esportivos ligados, em alguns momentos, a entidades públicas e privadas, ou por própria iniciativa

dos moradores. Assim como nas partidas de futebol, participavam crianças das regiões da vila. O campo ficava próximo a Escola Municipal Ignácio de Andrade Melo e ao Centro de Saúde que, segundos os moradores, atualmente, está desativado. Segundo a Assessoria de Comunicação da Urbel, o campo foi desativado em 2003, portanto, antes do início das obras do Vila Viva, em 2007. No programa não havia nenhum projeto de campo de futebol. Ainda estão previstos, segundo a companhia, a construção de uma quadra esportiva, uma área de preservação ambiental, uma Unidade Municipal de Ensino Infantil (Umei), um centro BH Cidadania, um Centro de Saúde e um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-ad). As obras de saneamento, erradicação das áreas de riscos, construção dos apartamentos são algumas das principais ações do programa, e estão na reta final. Dona Aparecida exalta a iniciativa da Prefeitura com a mudança de vida que obteve com a construção do residencial, no entanto ela reclama que não existe nenhuma política social por parte da administração municipal que promova atividades culturais, esportivas e de criação de renda no residencial. “Quando tem alguma coisa desse tipo (projetos sociais) é realizado pelos próprios moradores”, afirma dona Aparecida. Com o objetivo de trabalhar a geração de renda junto aos populares que estavam sendo remanejados da vila para os apartamentos do Programa Vila Viva São José foi criado, em 2009, a Fábrica Social, que oferecia capacitação em confecção de silk e costura para essas pessoas. Os próprios moradores produziam e comercializavam as confecções. Dona Aparecida argumenta que pouco ouviu falar sobre a fábrica. “Eu conheci uma moça que trabalha-

va lá. Ela me disse que ganhava míseros 0,15 centavos por peça produzida. É muito pouco, tanto que um tempo depois, deixou de lado. Fiquei sabendo da fábrica por ela”, relata. O Jornal MARCO, na edição 279, de dezembro de 2010, publicou uma matéria sobre a fábrica. Naquela oportunidade, segundo o jornal, os trabalhadores, que em grande parte eram mulheres, estavam atendendo pedidos de uma empresa de segurança. No entanto, eles reclamavam sobre a queda da produção e o pouco dinheiro que conseguiam trabalhando na fábrica. Desde 2011, a Fábrica Social está desativada. O empreendimento funcionava na Rua Tiago Leyern, 154 A, Bairro São José, Região Noroeste da capital. A fábrica envolveu vários parceiros como Urbel, Caixa Econômica Federal, Secretaria Municipal do Trabalho, Construtora Santa Bárbara, Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e outros. A fábrica foi desativada, justamente, por falta de mercado consumidor das peças confeccionadas pelos moradores que integravam o projeto. As máquinas e equipamentos foram remanejados para outros programas de qualificação profissional oferecidos pela Prefeitura de Belo Horizonte. Segundo a Urbel, nos dois anos em que a fábrica esteve funcionando, 25 costureiras e 12 jovens foram capacitadas em silk para confeccionar diversos produtos como bolsas, lençóis, fronhas e coletes. A parte administrativa também era realizada pelos trabalhadores. Ainda segundo a Urbel, o programa Vila Viva São José visa proporcionar qualidade de vida para os moradores da vila. Em julho do ano passado foi inaugurado o trecho que liga as avenidas Pedro II, Tancredo Neves e João XXIII. Ainda estão em obras a urbanização das ruas Flagelação e Vocação.

ra sobre essa situação”, conta. Ainda, segundo a assistente social, Nikole Corradi é de suma importância que o acompanhamento aconteça antes, durante e depois do processo de desapropriação. “Essas famílias devem ser analisadas e acompanhadas de forma individualizada. Cada família tem uma história, um desejo e uma necessidade, e o responsável pelo acompanhamento deve sugerir que toda mudança seja feita com o intuito de manter ou melhorar a qualidade de vida”, salienta a assistente social. De acordo com a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), empresa pública responsável pela implementação da Política Municipal de Habitação Popular, no Programa Vila Viva São José, por meio de sua Assessoria de Comunicação, afirma que, em

Fábio César Marcelino

2008, foi realizado um trabalho de acompanhamento social na Vila São José, com as famílias que optaram pelas unidades habitacionais. Após a mudança, foram realizadas atividades focadas na reflexão dos problemas do dia a dia referentes à convivência e à administração do condomínio. Ainda, segundo a Assessoria de Comunicação da Urbel, de forma integrada com outros serviços públicos como o Centro de Saúde São José e o Centro de Referência em Assistência Social São José (Cras), juntamente com a equipe de técnicos sociais, é feito o acompanhamento individual das famílias com maior dificuldade de adaptação. Existe um escritório da Urbel, próximo ao residencial, que atende em média, cerca de 160 famílias por mês.

Desorganização gera violência As 1408 unidades habitacionais já foram entregues, faltando, segundo a Urbel, 208 apartamentos para concluir as obras. Cerca de 2 mil famílias que moravam na vila foram assentadas: algumas foram indenizadas e foram para outras localidades, e a maioria preferiu continuar e se estabelecer no residencial São José. Na hora dos assentamentos das famílias no residencial, a prefeitura não levou em consideração os aspectos regionais da vila. Famílias e vizinhanças foram “desfeitas” com o reassentamento. Com a crescente violência que tomou conta da vila nos últimos anos, decorrente do tráfico de drogas e da falta de ações do poder público, surgiram na comunidade gangues que travam uma luta por pontos de drogas na região. Com o reassentamento, eles passaram a viver próximos uns dos outros gerando, em certos momentos, um clima de apreensão. Desde então, surgiram denúncias por parte de alguns moradores, que havia grupos de marginais que estavam expulsando famílias do residencial. Um morador que não quis se identificar, afirmou que, expulsos foram os marginais. Porém, as famílias desses marginais abandonaram o residencial com medo de possíveis represálias dos outros rivais. Kleber Alves classifica a vila como um ótimo lugar para se mo-

rar. Segundo o pintor de acabamentos, o que falta mesmo, são projetos sociais para comunidade. Para Jarbas, os projetos deveriam ser voltados para o público infantil, na tentativa de assegurar uma perspectiva de vida com mais qualidade. “Teria que ter aqui um projeto para crianças, para ocupar a cabeça delas. Não falo de uma escola integral, mas de um projeto no qual as crianças pudessem aprender, seja música, computação, esporte ou profissão, que fosse efetivo. Assim, elas não teriam tempo para pensar em besteiras”, opina Jarbas. Segundo a Urbel, por intermédio de sua assessoria de comunicação, a reintegração de posse das unidades habitacionais invadidas pelo tráfico através de processo judicial já foram realizadas. Em relação às famílias expulsas, ou que abandonaram os apartamentos, elas foram transferidas para outros conjuntos habitacionais, em outras regiões de responsabilidade da prefeitura. Ainda, segundo a assessoria de comunicação da companhia, em relação aos projetos sociais, a Urbel informa que são realizadas ações envolvendo a Escola Municipal, o Cras São José e o Vila Viva, na promoção de atividades culturais, esportivas e de geração de renda.


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Campus/Cidade

Museu reabre com novidades Após quase um ano fechado por causa de incêndio em parte de suas dependências, em janeiro último, Museu de Ciências Naturais da PUC Minas volta a receber visitantes, com atrações novas MATEUS TEIXEIRA 3º PERÍODO

No último dia 13, dentro das comemorações dos 55 anos da PUC Minas, o Museu de Ciências Naturais foi reaberto após quase um ano fechado para reforma, por causa de um incêndio no começo de 2013. A solenidade de reabertura aconteceu depois da missa, no próprio Museu. Houve o descerramento da placa feita pelo arcebispo de Belo Horizonte e grão chanceler da Universidade, Dom Walmor Oliveira de Azevedo e do reitor da PUC Minas e bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Joaquim Giovanni Mol Guimarães. Também estavam presentes o coordenador do museu, Bonifácio José Teixeira; a vice-reitora da PUC Minas, Patrícia Bernardes e a secretária de Cultura e Ação Comunitária, Maria Beatriz Rocha. Após o descerramento da placa, em discurso, o coordenador Bonifácio Teixeira fez uma comparação com o dia de Santa Luzia. “Após um ano de escuridão, no dia de Santa Luiza tiramos a venda para ser visto de olhos sedentos”, referindo a re-

abertura do museu. Bonifácio não quis falar sobre o incêndio e sim sobre a recuperação do local. “Não quero falar de 2013, ano do 30º aniversário do museu e sim da determinação e união para renovar e revitalizar. Falar de fé e raça da equipe”, completou o professor. Dom Mol destacou a importância do museu para a PUC Minas. “É um museu de história belíssima e o mais importante cartão de visitas da universidade. Foram muitas mãos, momentos e corações unidos que reergueram este museu”, contou o reitor. E ainda relembrou o dia do incêndio, 22 de janeiro, quando se aproximava do local, sem saber de onde vinha o fogo. “Com o coração apertado, fui percebendo de onde saia a fumaça negra. Liguei para Dom Walmor e disse ‘Estou presenciando uma tragédia na universidade’”, completou emocionado. O reitor falou do apoio de todos na recuperação do museu. “Desde o início houve um mutirão e congregação de pessoas: alunos, professores, comunidade, homens e mulheres no salvamento do museu. Isso foi fundamental para o museu con-

da vez. Já tinha visto ele vivo e estranhei, ele está bem magrinho”, observa.

Convidados da cerimônia de reabertura aprovaram o ‘novo Museu’

tinuar bem nossa história”, declarou Dom Mol. Fechando os discursos, Dom Walmor brincou dizendo que não sobrou nada para ele falar. “Depois desses dois professores exemplares, que fazem chamada na sala de aula e fazem todos ficarem em silêncio, e que não deixaram nada para mim falar. (risos) Resta juntar e dar graças como na celebração e tudo merece que a gente bata mais palmas ainda”, finalizou Dom Walmor. O espaço foi reaberto para a sociedade com a apresentação de corais em cada um dos três andares do prédio. As agentes de biossegurança Francinede

Rigueira e Josiane Albino gostaram muito. “Estou achando fantástico, atingiu e ultrapassou minhas expectativas”, disse Francinede. Josiane entrou em um museu pela primeira vez e gostou. “Estou achando maravilhoso, nunca tinha ido a um museu. Tudo muito original”, falou. E completou falando sobre os corais. “Os corais são perfeitos, o de flauta foi o que mais gostei”, contou Josiane. A estagiária do Museu, Isabella Moreira Saraiva não esconde o entusiasmo com a oportunidade de trabalho no local. “Estou adorando, o museu conseguiu recuperar e traz

Mateus Teixeira

benefícios. É uma aula prática, com crianças perguntando”, diz Isabela. A bióloga Vivian Teixeira Fraiha, que já trabalhou no museu, estava impressionada com a reabertura. “Fiquei triste pelas perdas. É emocionante ver reabrindo, para mim que fiz parte daqui um tempo”, contou. O terceiro andar era o mais visitado, por causa do gorila Idi Amin, do zoológico de Belo Horizonte. A técnica em odontologia Sileide Rodrigues que viu o animal enquanto vivo, relatou o que achou depois do curtimento em couro do animal. “O Idi Amin é a bola

EXPOSIÇÕES No primeiro andar, a exposição Era dos Répteis, possui novos animais em exposição, como o esqueleto real do jacaré do papo-amarelo. No segundo andar, está a mostra Peter W. Lund: memórias de um naturalista; e Cavernas: Espaços Subterrâneos de Vida. Já no último andar Fauna Exótica e Vida na Água. Os horários de visitação do Museu se mantiveram. De terça a sábado, inclusive nos feriados, das 8h30 às 17h, nas quintasfeiras o espaço fica aberto até às 21h. No mês de janeiro, durante as férias da Universidade, o Museu também funcionará. Os ingressos custam R$ 5 e R$ 2,50 para estudante de escolas públicas. A entrada é franca para crianças de até cinco anos, maiores de 60 anos, funcionários e estudantes da PUC Minas e membros do Conselho Internacional de Museus (Icom). O Museu está localizado à Rua Dom José Gaspar, 290, Bairro Coração Eucarístico.

Uso de bicicletas em BH ainda tem obstáculos ANA LETÍCIA DINIZ ANDRÉ CORREIA LAURA AMORIM SÉRGIO EDUARDO MARQUES 3º PERÍODO

A Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) buscando a popularização do uso de bicicletas, há oito anos incluiu no seu Planejamento Estratégico o Programa Pedala BH. No entanto, algumas medidas não atendem às necessidades dos ciclistas e o projeto ainda necessita de ajustes quanto à disposição das ciclovias e incentivo ao uso desses trechos. A professora Heloisa Maria Barbosa, do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) acredita que a bicicleta deve ser vista como um modo complementar de transporte, usada para distâncias mais curtas. “A popularização da bicicleta não será da noite para o dia. Primeiro, tem que mudar a cultura. Depois, tem que dar meios para a bicicleta circular. Por fim, deve-se montar um programa de incentivo ao seu uso, pois a população ainda não está acostumada com isso”, avalia.

Segundo a professora, grande parte das ciclovias da cidade não atende às necessidades da população, porque foram mal projetadas. As faixas são estreitas e as rotas nem sempre seguem a linha de desejo das pessoas. Além disso, o sistema de estacionamento de bicicletas não é eficiente. De acordo com Heloisa, também é necessária a criação de bicicletários, onde um segurança fique tomando conta dos veículos. O engenheiro e consultor de trânsito, Osias Baptista, também defende essa mudança na cultura local. Ele aponta um fato interes-

sante. “Os órgãos públicos não dotam de infraestrutura, porque acham que não têm demanda. Mas, na realidade, não têm demanda porque não tem infraestrutura”, observa. Segundo o engenheiro, também é necessária uma conscientização da população – uma vez que é comum observar as ciclovias cheias de motos, carros ou pedestres – além de uma melhor infraestrutura para a locomoção da população, já que muitas pessoas preferem andar nessas faixas devido à má qualidade das calçadas. O supervisor de obras especiais da BHTrans e res-

ponsável pelo Pedala BH, Mauro Luiz Cardoso, revela que o projeto não é temporário e que tem, como meta, cobrir toda a cidade. Ele desmistifica o argumento de que a capital mineira não possui condições topográficas para a implantação das pistas, afirmando que, hoje em dia, as bicicletas são modernas e conseguem percorrer trechos inclinados com mais facilidade. Para complementar as ações relacionadas às construções das ciclovias, será instalado, a partir de 2014, um serviço de aluguel de bicicletas, que contará com 60 estações em diver-

Especialistas constatam problemas nas ciclovias em Belo Horizonte

André Correia

sas regiões da cidade, com no mínimo dez bicicletas disponíveis em cada uma delas. O edital de licitação estava previsto para o dia 7 de outubro, mas foi suspenso para a análise da possibilidade de inclusão de bicicletas elétricas nesse sistema. A estimativa é de que, até o ano de 2020, 6% dos deslocamentos na capital mineira sejam realizados por meio de bicicletas. POPULARIZAÇÃO Rafael Castanheira, 19 anos, ciclista desde criança diz que, atualmente, as ladeiras e morros não são mais problemas para aqueles que usam as bicicletas como meio de transporte, já que elas estão cada vez mais modernas, facilitando as subidas e descidas. “Hoje em dia, com ligas metálicas leves e baratas e sistemas eficientes de marchas o número de morros que só podem ser vencidos empurrando a bicicleta quase deixa de existir, salvo casos em que as condições da rua são precárias demais para tal”, comenta. Ele completa dizendo que as desculpas para o não uso em cidades com muitos morros caem por terra com o avanço das bicicletas, como no caso

da cidade californiana de São Francisco onde, apesar das ruas inclinadas, o uso da bicicleta é significativo. Segundo Osias Baptista, a Prefeitura deveria assumir um compromisso com as ciclovias, multando quem não respeita os espaços destinados às bicicletas e quem faz mau uso dos locais, além dos ciclistas tomarem postura de “cicloviativistas”, cobrando seus direitos frente aos órgãos públicos e se posicionando quanto às necessidades de locomoção. Francisco Alves Monteiro, funcionário da Secretaria de Educação, 50 anos, conta que anda de bicicleta há 17 anos e não vê motivos para parar, mesmo com as dificuldades que se encontra pelas ruas. “Além de ser um bom exercício para a saúde, a bicicleta é um veículo que não polui”, afirma. Ele revela que prefere andar próximo à Lagoa da Pampulha ao invés de andar no meio dos carros. “Quando ando no centro, fico só no meu canto, não fico entrando na frente dos carros, eu sei o meu espaço”, completa.


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Cidade

Obras beneficiam moradores afetados por chuva e inundação Construções são realizadas para urbanização e regularização de assentamentos em bairros como São Tomás e Vila Aeroporto.As intervenções na Região devem ser concluídas em 2014 MATEUS TEIXEIRA 3º PERÍODO

As obras de urbanização e regularização de assentamentos precários nos bairros São Tomás e na Vila Aeroporto, localizados na Região Norte de Belo Horizonte, são realizadas por meio do programa Vila Viva com o intuito de beneficiar as famílias que sofriam com as inundações do Ribeirão Pampulha/Córrego do Onça. Além disso, haverá a construção de ponte na Rua Comendador Wigg e melhoria do transporte viário com a ligação da Avenida Portugal com a Avenida Cristiano Machado. “Foi algo bastante benéfico. Eu mesma batalhei muito por isso”, comenta a agente de saúde Deusa Saturno de Albuquerque, moradora do Aglomerado São Tomás. Ela é uma das pessoas que serão beneficiadas pelo programa. As intervenções na Região começaram em 2010 e deverão ser concluídas no próximo ano. No total cerca de quatro mil famílias serão beneficiadas com novas moradias nos Bairros Vila Aeroporto e São Tomás ou nas proximidades, como no Juliana e no

Obras realizadas no Bairro Marize tem previsão de entrega para setembro de 2014

Marize, todos na Região Norte da capital mineira. Deusa explica que a casa dela foi desapropriada por causa das obras de revitalização. “Na minha casa a Prefeitura pagou R$ 49 mil, era uma casa boa. Se fosse em outro lugar, pagariam R$ 150 mil ou mais. A PBH só pagou o material, a área é dela”, avalia. Ela conta ainda como ficava seu antigo imóvel na época de chuvas e inundações. “Na minha casa a água chegava até na janela”, relata Deusa. A moradora disse que engenheiros fizeram a

perícia no imóvel e no seu caso não chegou a ter ordem judicial, mas alguns moradores resistem. “Tem gente que não quer sair e reclamou, como os moradores da Rua Santo Antônio. Não teve desapropriação ainda porque está na Justiça, mas vão sair. Sempre acaba tendo que desapropriar”, comenta. O programa Vila Viva tem a coordenação da Companhia Urbanizadora e de Habilitação de Belo Horizonte (Urbel). Em nota divulgada pela assessoria de imprensa do órgão, há o relato de

Programa Vila Viva em outros bairros de BH MARIA LUIZA ROCHA 3º PERÍODO

Além da Região Norte, outras regiões estão recebendo recursos, reformas e novos moradores, por meio do programa Vila Viva. Entre elas, o Aglomerado Morro das Pedras, localizado na Região Oeste da capital mineira, e a Pedreira Prado Lopes, na Região Noroeste. Nesses dois locais, as obras foram executadas tendo como referência o Plano Global Específico (PGE), feito de acordo com as características sociais, urbanísticas e ambientais de cada região. Há a previsão de melhoria dos problemas desses locais. No Aglomerado Morro das Pedras, foram apontadas questões como limitações no saneamento básico, principalmente no que diz respeito ao esgotamento sanitário e à coleta de lixo, e os riscos de desabamento na região. Por isso, especialistas alertaram quanto à necessidade de recuperar áreas de preservação ambiental, realizar o tratamento de córregos, remover e reassentar famílias que habitam naquele lugar, além da necessidade de construção de novas unidades habitacionais. Na Pedreira Prado Lopes, há os mes-

mos problemas apontados do Aglomerado, mas, naquele, são altos índices de pobreza e exclusão social, violência, habitações precárias e dificuldade de acesso, devido à escassez de vias urbanas e pavimentação deteriorada. O PGE da Pedreira Prado Lopes, foi concluído em 1998 e o do Aglomerado das Pedras, em 2004. Ambos foram realizados pela Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), empresa pública cuja função é implementar a Política Municipal de Habitação Popular. Para as obras no Aglomerado das Pedras, foram repassados R$ 119 milhões, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal. Para a Pedreira Prado Lopes, o valor do repasse foi de R$ 49 milhões. Aglomerado da Serra, Conjunto Taquaril, Vila Califórnia, Vila São José e Aglomerado Santa Lúcia são outras regiões que tiveram participação no Programa Vila Viva. Além do governo federal, foram obtidos recursos também por meio de financiamentos no Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal.

quantas famílias já foram removidas dos locais de risco. “O Vila Viva está removendo todos os domicílios que estavam situados na área inundável. Até o momento, já foram retirados cerca de 1.100, restando ainda cerca de 150 para saírem”, diz o texto. No Bairro Marize, a cinco quilômetros de distância do Aglomerado São Tomás/ Vila Aeroporto está sendo construído um reassentamento. Rodrigo Gamarano, auxiliar de engenharia da empresa Andrade Valladares explica o motivo. “É um anexo da

Mateus Teixeira

obra de lá, não é possível reassentar a todos. Serão 120 famílias aqui (Marize)”, justifica Rodrigo. A empresa Andrade Valladares foi a vencedora da licitação e Gamarano lembra o começo das obras no local. “É uma obra pública que ficou um tempo parado. Começou em 2009 e parou por vários motivos, como a mudança de prefeitos. Voltou em fevereiro deste ano e creio que vai concluir no máximo em setembro de 2014. A primeira etapa está prevista para abril e a segunda e

última em setembro”. Ele ainda comenta sobre as construções. “Serão construídos dez blocos de quatro pavimentos cada, com dois apartamentos por andar. Entre empreiteiros e funcionários temos cerca de 40 a 45. Trabalhamos diariamente e fazemos hora extra no sábado quando precisa, pois a obra está atrasada”, diz. No total, serão investidos quase R$ 97 milhões, com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), da Caixa Econômica Federal (CEF), do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Ministério das Cidades. O morador do Marize, Geraldo Rodrigues, 56, ajudante na Prates Mercearia comenta sobre a obra em frente ao seu local de trabalho, à Rua Joaquim Clemente. “Tem bastante tempo que estão construindo”, relata. Ele ressalta ainda que com a chegada dos novos moradores pode movimentar o comércio nas proximidades. “Parece que vai melhorar quando entrar a população”.

Famílias podem escolher local onde querem morar

Prédios devem ser concluídos no ano que vem no Bairro São Tómas/ Vila Aeroporto ESTEVÃO MENDES 3º PERÍODO

Desde as desapropriações iniciadas em 2010, os moradores que foram desalojados puderam escolher entre três modalidades: apartamento construído pelo programa Vila Viva; receber o valor de venda da sua casa, que é avaliada por um especialista; e o realojamento diferenciado, que é a compra de uma casa em qualquer lugar da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pelo programa Aluguel Social, os que optaram pelos apartamentos recebem um valor para pagar o aluguel de um imóvel, no valor de R$ 600 , até o recebimento da nova moradia. Quem

optou pela venda da casa recebeu o dinheiro depositado na conta bancária, enquanto em relação aos que decidiram por outra casa, a prefeitura efetuou a compra, no valor máximo de R$ 40 mil. Deusa Albuquerque foi uma das moradoras que escolheu vender a casa à Prefeitura, pois já tinha um projeto encaminhado para a construção de uma nova. “Eu já tinha comprado um terreno, então vender foi para mim a melhor opção”, afirma. Harley Nogueira, funcionário da obra no bairro Marize, optou pelo apartamento e espera a conclusão da obra para morar com a família. “Eu prefiro o apartamento. Um imóvel vai valorizando, à

Maria Luiza Rocha

medida que o dinheiro você pega certa quantia e gasta, quando ver não tem mais nada”, afirma. Para dar a segurança que os moradores tinham nas suas antigas casas, a Urbel, em nota, diz que eles puderam escolher os apartamentos, blocos e até os vizinhos com quem iriam dividir o andar. “Tudo isto, para assegurar ao máximo a manutenção das relações de convívio e vizinhança construídos pelos moradores ao longo de muitos anos em suas comunidades.” As casas, antes desocupadas no bairro São Tomás/Vila Aeroporto, hoje estão ocupadas com as famílias que optaram pelo Aluguel Social. Isso gera renda extra aos proprietários.


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Cidade

Pegando carona nas redes sociais Cada vez mais utilizada, a carona é uma opção econômica e rápida para locomover-se, mas as autoridades alertam que qualquer tipo de pagamento transforma a modalidade em transporte ilegal DAVIDSON FERREIRA ÉRICKA SANNY WÉSLIKA QUEIROZ

para as ocorrências que envolvem caronas. Portanto, a prática é definida como transporte clandestino durante as autuações. Ainda de acordo com o órgão, em 2012, mais de 3 mil motoristas foram flagrados praticando transporte clandestino em Minas Gerais. Já nos primeiros nove meses de 2013, foram registrados 4.877 flagrantes do tipo. Desse total, 2.500 veículos foram autuados. A punição para a

7º PERÍODO

O uso de páginas nas redes sociais para combinar caronas entre bairros e até cidades está cada vez mais frequente em Minas Gerais. Em princípio, quem oferece carona contribui para a redução no número de carros nas ruas e diminui a emissão de poluentes. Porém, em muitos casos as pessoas que oferecem o transporte cobram pelas viagens, uma prática considerada ilegal pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER-MG). Uma estudante de 21 anos, que mora em Itajubá, no Sul do Minas, criou uma comunidade para caroneiros no Facebook, cuja página já tem mais de três mil membros. Quem oferece carona faz uma postagem informando o destino, data da viagem, valor, telefone e local de embarque. Já aqueles que procuram, tanto podem responder às ofertas publicadas quanto postar o destino que pretendem ir. Além de manter o grupo, ela também pega caronas. Segundo a estudante, que não será identificada, é mais vantajoso usar esse tipo de transporte do que pagar por um ônibus. “A minha carona de Alfenas para Itajubá mesmo é mais rápida e mais barata. Sai pela metade do preço da passagem de ônibus, além de ir direto. Sem contar que, na maioria das vezes que vou de carona, sou deixada na porta de casa”, conta a estudante, que paga em média R$ 30 pela carona.

Carona gratuita, como é dada por Fabiana à Marcella, é estimulada por autoridades

M., 22 anos, também é universitária e adepta das caronas combinadas pela internet há pelo menos dois anos, desde que entrou para a faculdade. Ela conheceu D., 23, por meio de um grupo na internet e, desde então, vão juntas para a universidade, que fica na Região da Pampulha, em Belo Horizonte. “A carona é quase uma salvação, porque eu moro no Barreiro. Se eu fosse estudar de ônibus enfrentaria todos os dias uma viagem de, pelo menos, uma hora e meia”, afirma M., que contribui mensalmente com R$ 80 para ajudar nas despesas com combustível. D. admite saber que a cobrança por carona é irregular. Entretanto, ela garante que a ajuda foi oferecida pela amiga, que pagaria muito mais caro por uma van. “Como moramos perto e eu iria de carro de qualquer jeito, levaria ela sem cobrar nada, mas ela insistiu em me aju-

dar e acabei cedendo”, diz. No caminho inverso da contribuição financeira está a estudante de jornalismo Fabiana Gatti, que oferece carona gratuitamente para a amiga de curso Marcella Leite. Elas partem semanalmente do campus da PUC Minas no Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste da cidade, em direção à Savassi, onde Marcella tem médico. “Não cobro nada porque a Savassi já é meu caminho de sempre. Não faz sentido pedir algum dinheiro para isso”, diz Fabiana. De acordo com João Afonso Baeta, diretor de fiscalização do DER-MG, a Carona Solidária, sem cobranças, é incentivada pelo órgão. Porém, o que acontece nas redes sociais vai totalmente na contramão disso. “Tem muita gente sob o nome de Carona Solidária fazendo transporte clandestino remunerado. Ou seja, pessoas que muitas

Davidson Ferreira

vezes nem se conhecem trocando anúncios na internet e fazendo cobranças que dizem ser a título de ajuda de custo. Na realidade, isso é ilegal, pois estão obtendo vantagens comerciais e não têm autorização do poder público para fazer transporte remunerado de pessoas”, afirma. O diretor de fiscalização do DER-MG acrescenta que o órgão mantém um grupo de fiscais que se dedica exclusivamente a rastrear ofertas de caronas na internet. E as punições para quem é flagrado praticando cobranças não são leves. “Caracterizada a falsa carona solidária, o veículo é seguido, apreendido e o proprietário é multado. Na reincidência do flagrante, o valor da punição é dobrado e, a partir daí, o motorista passa, inclusive, a sofrer as sanções que podem levá-lo a uma delegacia”, garante. Conforme o DER-MG, não há tipificação específica

infração é uma multa de R$ 1.250,80. Na reincidência, o valor vai para R$ 2.500. Caso o veículo seja recolhido, ele é encaminhado para um pátio do Departamento de Trânsito do Estado de Minas Gerais (Detran-MG), onde as diárias são cobradas do proprietário. Entre as cidades que mais registram ocorrências de transporte clandestino estão Sete Lagoas, Ouro Preto e Ribeirão das Neves.

Especialista alerta sobre os riscos e perigos da carona Sócio diretor do Grupo Tectran, Silvestre Andrade Puty Filho, que já ocupou cargos gerenciais e operacionais em diferentes empresas públicas de transporte em Minas, diz que a pessoa que paga por uma carona assume os riscos envolvidos na prática. “É uma prática hoje perigosa e não recomendada de um modo geral”, ressalta. “Nós estamos vivendo uma época bastante complicada em termos de segurança e, muitas vezes, não sabemos quem está do outro lado do computador oferecendo carona. A dica é pegar carona apenas com conhecidos, pois existe uma série de riscos associados à aceitação de um serviço clandestino”, acrescenta. A estudante de engenharia civil Aline Dandara Pi-

res, costumava voltar para casa com uma carona que conheceu em uma comunidade do Facebook, até que um dia, por falta de comunicação, ela foi esquecida na faculdade. “Fiquei esperando minha carona por mais de 30 minutos, até conseguir entrar em contato e descobrir que ela já tinha ido embora. Como estudo à noite, meus pais já estavam preocupados, pensando que algo tinha acontecido comigo”. Desde então, o pai da jovem passou a buscá-la todos os dias. “É desgastante ficar dependendo dos outros, por isso, meu pai passou a me buscar. Além de ir direto para casa, agora tenho mais segurança, pois ele é bem prudente no trânsito”, completa.

Transporte público ainda é problema na capital GIOVANNA EVELYN KAREN ANTONIETA 6° PERÍODO

“Mais um aumento eu não aguento”, “R$2,80 é um roubo” e “Passe livre já”. Com esses dizeres, milhares de Belo Horizontinos foram às ruas, em 2013, somar forças às manifestações que atingiram o país, para exigir melhorias no transporte público da capital. O motorista Carlos Henrique Marques, 43 anos, diretor do Sindicato dos Rodoviários de Belo Horizonte e Região (STTR-BH), considera que a população foi vítima de uma série de obras mal planejadas e da estagnação do transporte público, o que tornou a locomoção uma tarefa árdua. O agente de correios Roberto Luis Paula Santos, usuário de várias linhas de ônibus, acredita que a diminuição na tarifa de transporte coletivo não foi o suficiente. “O prefeito Lacerda (Márcio) isentou as empresas de impostos como o ISS, coisa que não precisava. O BRT promete resolver, mas as próprias autoridades sabem que será por algum tempo, pois o povo que está acostumado a pegar seu ônibus e descer no centro terá que descer nas estações pra depois pegar outro em direção ao centro”, ressalta. Segundos dados da BHTrans, existe uma frota de 3.044 ônibus na capital, com média de quatro anos de fabri-

cação. O Consórcio Dez, BH Leste, Pampulha, Dom Pedro II são as empresas responsáveis pela frota de veículos municipais, atualmente, conforme um contrato de concessão cedido pela prefeitura, em 2008. De acordo com a assessoria de Comunicação e Marketing da BHTrans, esses contratos, celebrados com as quatro concessionárias, definem padrões de qualidade na prestação do serviço. Fatores como intervalo máximo entre viagens, número máximo de pessoas em pé (lotação) e distância máxima de caminhamento para acesso à rede de transporte são levados em consideração. Embora a assessoria da BHTrans afirme que motoristas e cobradores participam de treinamentos e oficinas práticas para aprimorar a mobilidade urbana, o dirigente do STTR-BH reclama do trânsito caótico e de condições de trabalhos inadequadas. “Isso implica em uma jornada de trabalho extensa, a pressão do dia a dia e a violência através dos assaltos. Fatores que estão sendo determinantes para o afastamento de cerca de 30% da categoria”, destaca. O estudante universitário Samuel Geremias dos Santos Costa, usuário da linha S70, acha que todos os ônibus deveriam ser monitorados através de GPS e câmera. “Assim as empresas poderiam fiscalizar melhor os motoristas, trocadores e usuários que descumprem as leis”, afirma.

A estudante Ana Paula Oliveira da Costa Sant’Ana já presenciou na rua diversas cenas de desrespeito ao usuário de transporte público. “Há motoristas que não param quando damos sinal nos pontos, senhoras de idade que são obrigadas a saírem correndo pra conseguir pegar o ônibus porque senão os motoristas não esperam”, declara. Para a designer gráfica, Cecília Esteves, 35, usuária da linha 2110C, após as manifestações de junho, o único fator que realmente melhorou foi preço da passagem. “Infelizmente a prestação do serviço continua péssima, ônibus sempre lotado, horas no trânsito e muitas vezes indo a via-

gem inteira em pé”, ressalta. A Assessoria de Comunicação da BHTrans explica que a empresa elaborou um Plano de Mobilidade, o PlanMob-BH, que propõe um conjunto de intervenções estruturantes de mobilidade para atender às necessidades atuais e futuras da população belo-horizontina. As ações contemplam projetos de priorização do transporte coletivo e do transporte não motorizado, expansão do metrô, intervenções na Área Central e prioridade para o pedestre no sistema viário. As intervenções propostas estão previstas para o período de 2014 a 2020. Dentre as ações do PlanMob está o Transporte Rápido por Ônibus, na Capital de-

nominado MOVE. O veículo irá circular inicialmente pelas avenidas Vilarinho, Pedro I, Antônio Carlos, Cristiano Machado, Santos Dumont e Paraná. A intenção é conectar longas distâncias e diminuir em até 50% o tempo de viagem realizado atualmente. Segundo dados da BHTrans, o projeto vai beneficiar inicialmente 700 mil pessoas por dia. Para Carlos Henrique é preciso aguardar o início da operação do MOVE para avaliar com mais propriedade a iniciativa. No entanto, ressalta que esse projeto chegou um pouco tarde e será ineficiente para um futuro bem próximo. “Não podemos esquecer que as vias urbanas de BH sofreram poucas

Em junho, a população foi às ruas reivindicar, entre tantas coisas, transporte de qualidade

Thiago Vidigal

mudanças significativas e que a cidade vive cotidianamente sobre o caos do trânsito”, reflete. Segundo a nota divulgada pela BHTrans, em resposta às manifestações de 2013, em momento algum a Prefeitura de Belo Horizonte priorizou o BRT MOVE em detrimento da ampliação do Metrô. A justificativa é que os recursos desses projetos foram anunciados em datas diferentes, sendo o BRT primeiro, e o Metrô dois anos depois. O estudante universitário Arthur Iperoyg Rodrigues, usuário da linha 6350, não acredita que o BRT vá causar mudanças significativas no transporte público. “A melhoria mais óbvia e necessária seria a expansão das linhas do metrô”, declara. O diretor do STTR-BH considera que para a melhoria do transporte público da capital o primeiro passo deve ser a expansão do metrô, pois, segundo ele, não é possível pensar em transporte público apenas com coletivos. “É preciso investir nas vias urbanas, o que diminuiria o tempo de percurso das viagens e garantiria o trajeto das pessoas sem grandes transtornos”, comenta. Ele conclui também que a frota de ônibus e do próprio metrô precisa atender a população de acordo com a demanda, para diminuir a superlotação e a espera excessiva nos pontos de ônibus.


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Cidade

República Reviver, um refúgio Casa tem o nome adequado para um lugar que abriga histórias onde a busca pela sobrevivência social e física é fundamentada na reconstrução das identidades dos seus moradores RAFAELA ROMANO VINÍCIUS AUGUSTO 5º PERÍODO

“Aqui é o lugar onde é possível recomeçar, e não é à toa que aqui se chama Reviver”, define Anna Carolina Duarte de Souza, 31 anos, coordenadora e psicóloga do abrigo de residência temporária. A República Reviver faz parte do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e se enquadra no setor de mecanismos de alta complexidade por oferecer atendimento aos indivíduos com grande vulnerabilidade social e risco, como pessoas em situação de abandono que necessitam de acolhimento provisório. As vagas, direcionadas para a população masculina, representam um total de 40, e atualmente 32 delas estão ocupadas. Para entrar, é preciso realizar um procedimento de entrevista. “A república é para as pessoas que estão dispostas a largar as ruas e seus vícios. A gente não fala para eles que eles não podem mais usar o crack, por exemplo. Isso tem que vir da pessoa. Mas eles sabem que aqui se usar, é feito o desligamento dessa pessoa”, explica Anna Carolina. Devido a reforma acarretada por problemas estruturais na casa onde a República funcionava, o endereço mudou da Rua Varginha, na Floresta, para um antigo prédio na Espírito Santo, no coração do centro. No saguão de entrada, lê-se na fachada ‘Pousadinha Mineira’. Além da República, também funciona no local um abrigo para migrantes. “Aqui é uma localização ótima, né? Na casa antiga, tinha a vantagem de ser um lugar maior, tinha um quintal

Antônio Argil, morador da República, encontrou nos estudos de parapsicologia uma motivação

onde eles (os moradores) frequentavam. Eles sentem falta disso”, pontua. Anna explica que ainda estão passando por um processo de adaptação, de transição para uma nova fase. “Se lá não estava tão legal, aqui está mais ou menos, amanhã a gente já pode ir para algo melhor”, complementa. Apesar do caráter provisório, o toque de lar é dado pela sala de confraternização e pelos enfeites natalinos que decoram o local. Tudo isso para chamar de lar um lugar aonde se vai quando não há nenhum outro mais. MORADORES

Entre os 32 moradores da Reviver, a história de dois chama a atenção. Antônio e Farne são seus nomes. Eles têm em comum, de alguma forma, a realidade nas ruas, a superação e o recomeço de suas vidas por uma nova perspectiva. Antônio Argil, 53 anos, e morador da Reviver há

dois, nasceu em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Durante quase toda sua vida de trabalho exerceu uma atividade, a de construção civil. Contudo, quando o auge do crescimento no setor perdeu a força ele ficou desempregado. A solução veio de um jornal de uma farmácia do Rio de Janeiro pautado em assuntos holísticos que oferecia cursos como o de massoterapia. A oportunidade guiou Antônio até o Rio de Janeiro, onde ele passou três anos. Durante o dia, as mãos modelavam o cimento, à noite, massageavam o corpo. Quando chegou a capital mineira não morou na rua, mas, por outro lado, não tinha residência própria e frequentava o albergue Tia Branca. “Deus não permitiu que eu tivesse essa experiência. Logo que eu vi que a situação começou a ficar complicada, eu procurei o albergue. E fui muito bem acolhido”, relata.

Após o avanço de uma leishmaniose, Antônio foi encaminhado para a Reviver, onde já vive há dois anos. O período limite de permanência era apenas de um ano e meio, como é estipulado a todos que passam por lá. Porém, o coordenador anterior decidiu manter sua vaga, uma vez que ele ainda está se reestruturando. “Ele me disse ‘vai ficando aí, ficar perdido você não vai. Até a gente ver o que nós vamos fazer melhor pra você’”, relata. Morando na República, Antônio descobriu uma filial do Instituto de Parapsicologia e Potencial Psíquico (IPAPPI) em Belo Horizonte e começou um curso de parapsicologia. Segundo Tânia Maria Salgado Dias, coordenadora da pós-graduação, “é perceptível que ele está disposto a buscar o conhecimento, quer dar a volta por cima, apesar de uma trajetória como a dele. Vemos que ele está se encontrando”.

Rafaela Romano

A trajetória de Farne Michely Ferreira do Nascimento, 36 anos, que também mora na República Reviver, foi tortuosa até encontrar a acolhida no atual abrigo onde vive. Homossexual, nasceu em Belém, no Pará, foi para São Paulo com 21 anos para trabalhar, mas, a dificuldade e a necessidade obrigaram a entrar no mundo da prostituição. Sua estadia na capital paulista, entre residências e a rua, durou 17 anos. Quando chegou a Belo Horizonte, Farne, assim como Antônio, recorreu ao Tia Branca, onde morou durante dois meses em situação de migrante. Logo depois, conseguiu um emprego em um salão de beleza e, com sorte, um lugar para morar que ficava nos fundos. “Depois de quatro meses o salão não foi para frente e eu saí de lá”, lembra. O próximo passo possível, então, foi novamente o albergue. “Voltei no albergue como migrante

e disseram que eu tinha que passar um ano fora ou na rua para poder voltar e não me deram vaga”, conta. O lugar onde conseguiu um teto temporário foi no Abrigo São Paulo, mas as faltas devido às chuvas da época a fizeram perder a vaga. Foi nesse momento que, de fato, Farne foi morar na rua. A primeira vez em Belo Horizonte, mas não na sua vida. “Eu já morei na rua em São Paulo e foi muito difícil, eu sei que a gente tem um sistema de adaptação, mas é muito difícil. Eu já cheguei a ser agredida, machucada, pelo policial, pelo guarda municipal, mas nunca perdi minha dignidade, acho que ganhei foi experiência”, desabafa. Seu período morando nas ruas durou seis meses. Nessa época, Farne frequentava o Centro de Referência de População de Rua, onde tomava banho, fazia oficinas e acompanhamento psicológico. Durante esse processo, foi enviado um relatório para a República Reviver indicando-a como candidata a uma vaga no local. Farne, no mês de janeiro, completa um ano e cinco meses como moradora da Reviver. Atualmente, está estudando, cursando o segundo ano do terceiro ciclo, e após o término pensa em fazer uma faculdade de serviço social ou psicologia, e com expectativa espera o resultado do Enem. Mas pensando em dias mais próximos, Farne diz que adotou Belo Horizonte como cidade para viver e não pensa em voltar para Belém.

A experiência da participação no Censo 2013 No mês de novembro, aconteceu o 3º Censo de População de Rua e Migrantes, realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, por intermédio da Secretaria Municipal de Políticas Sociais (SMPS) e teve parceria com o departamento de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além disso, também participaram estudantes de ciências sociais e humanas, técnicos especializados em abordagem social. O fator inovador desse trabalho, cujos resultados serão conhecidos em janeiro, é a

presença dos integrantes do Movimento Nacional pela População de Rua (MNPR) que são, em sua maioria, pessoas que já tiveram uma trajetória nas ruas. É o caso de Farne Nascimento, que por ser militante do Movimento Nacional de População de Rua, sempre participa desses acontecimentos. Anteriormente, já participou de pesquisas menores. A experiência no censo foi bastante proveitosa, trazendo à tona lembranças de – como diz – outra vida, quando ainda estava nas ruas. “Foi bom para ver

que tô caminhando a passinhos lentos, mas que eu andei. Fiquei triste foi de ver que eu tô aqui bem, enquanto os outros estão sofrendo lá fora”, revela, com um sorriso melancólico. “Eu espero que tenha dado bons frutos, mas eu acredito que não foi tudo aquilo que esperávamos”, completa. Farne apontou ainda que possam ser feitas algumas melhorias no modo de execução de trabalho. “Eles (os técnicos) usavam muito a logística, mas a gente que é população de rua sabe que não pode usar muito a lógica. Tem

que agir com um pouco de emoção. A razão conta, mas o coração é que vale à pena”, observa. Antônio Argil também teve participação no Censo, porém, do outro lado, o que estava sendo entrevistado. Segundo ele, os técnicos compareceram a República Reviver e fizeram as perguntas. A proposta do Censo foi elaborada, por entidades como a Pastoral da Rua e o Centro Nacional de Direitos Humanos da População de Rua e Catadores de Material Reciclável (CNDDH), que está diretamente liga-

do ao Movimento Nacional pela População de Rua (MNPR). Segundo Samuel Rodrigues, coordenador da organização, a expectativa é positiva. “Eu espero que o resultado desse censo realmente propicie a implantação da política pública em diversas áreas. Não somente na área de assistência social e melhoria dos abrigos. Por exemplo, a efetivação de consultórios de saúde na rua”, diz. “Nós temos políticas públicas muito boas, mas precisamos é de ampliação desse sistema”, finaliza.


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Cidade

Feira Hippie está de cara nova A mudança da disposição das barracas na Feira de Artesanato da Afonso Pena divide opiniões entre feirantes e clientes, que se alternaram entre reclamações e elogios à mudança de leiaute

A feira mais popular da capital mineira ganhou corredores mais largos para dar mais conforto aos clientes

JÉSSICA FONSECA RAÍSSA PEDROSA 7º PERÍODO

Três meses depois da mudança na forma de disposição das barracas, o novo leiaute da feira de Artesanato da Afonso Pena ou Feira Hippie, como é conhecida, ainda é tema de conversas e gera opiniões divergentes. Implantado no final de setembro, o novo sistema viabiliza corredores mais largos, ao optar pela distribuição das barracas, em grupos de quatro, buscando evitar a sensação de superlotação. O lugar, que antes tinha corredores longos e estreitos, passou a ter mais espaço e mais organização, na avaliação de muitos compradores. Porém, essa mudança parece não ter agradado a todos trabalhadores da feira.

Criada em 1969, a feira contava com aproximadamente 465 expositores e funcionava às quintas e domingos, na Praça da Liberdade. Hoje, ela atinge o número de 2.156 expositores e passou a ser realizada somente aos domingos possuindo 16 setores que classificam os diferentes utensílios expostos. Por causa do alto número de expositores e visitantes, o leiaute da feira vem sofrendo alterações desde 2002, para melhorar a segurança no local. Após uma determinação da Justiça, a Prefeitura de Belo Horizonte e o Corpo de Bombeiros traçaram um novo plano de incêndio e criaram um novo visual para a Feira, de forma a dar mais segurança aos expositores e clientes. Por isso, os luga-

res das barracas tiveram que ser sorteados para que ninguém fosse favorecido, e todos tivessem a mesma condição. A opção pelo sorteio, no entanto, desagradou a algumas pessoas. “Não fui informada do sorteio. Quando vi, já estava feito”, reclama Sandra Alves, que vende doces desde a época em que a feira era na Praça da Liberdade. Segundo ela, o sorteio prejudicou parte das vendas, pois os fregueses que ela via com frequência, sumiram. “Os clientes que eu já tinha, parece que não me encontraram ainda, não os vi”, imagina. Para Luiz Caetano de Carvalho, que trabalha na feira há oito anos vendendo sapatos, o sorteio serviu para atrapalhar os feirantes. “Na realidade, poderia deixar a mesma

Raíssa Pedrosa

coisa, era só arredar as barracas. Esse sorteio só trouxe transtorno”, diz. Mas Luiz entende que a confusão causada pelas mudanças é passageira. “É um transtorno a princípio, mas depois o pessoal acostuma”, acrescenta. Dimas Eduardo, vendedor de sandálias avalia que o ponto mudou para pior, pois o movimento diminuiu. Mas ele acredita que a mudança fez bem ao público. “Meu ponto mudou para pior, mas fico satisfeito de como as coisas aconteceram. O público está gostando”, afirma. RECLAMAÇÕES Os feirantes que saíram da beirada e foram para o meio são os que estão reclamando da mudança. Segundo Antônio Raimundo da Silva, fabri-

cante de bolsas. Antes, as feiras tinham corredores extensos, e quem ficava na ponta, virado para os passeios, tinha vantagem com o movimento de pessoas. “Quem está reclamando é quem saiu da ponta e foi para o meio. Eles queriam espaço para eles e não para os clientes”, afirma. Antônio está satisfeito com o novo leiaute e feliz pelo público. “O cliente agora pode circular. Antes, você entrava no corredor, era horrível. Agora ventila mais, ficou ótimo”, anima-se. A vendedora de bijuteria Elaine de Fátima Teixeira tem a mesma opinião de Antônio. Para ela, quem reclama é quem saiu da beirada da feira. Ela, que tinha uma barraca no meio do corredor, está animada por ter uma barraca de “esquina”, com os dois lados para o cliente se aproximar, com mais espaço, mais pessoas circulam próximo à barraca dela. “Ninguém pedia licença para ir para o meio, a gente ficava limitado esperando o cliente. Enchia as barracas da beirada e o pessoal do meio ficava lá. Agora, mesmo que não comprem nada, as pessoas pelo menos passam pela minha barraca”, analisa. Os clientes também sentiram a diferença. Sandra Ferreira, moradora de Itaúna, a 76 quilômetros da Capital, conta que ela e sua família demoraram a encontrar uma barraca específica. “Acostumamos a lanchar numa barraca só, custamos a achá-la”, diz.

Solange Ferreira, que estava com Sandra, conta que a família vem a Belo Horizonte a cada dois meses e que a mudança foi perceptível no espaço entre as barracas. “A única dificuldade foi de encontrar os vendedores”, avalia. Mas, há quem encontrou as barracas sem problemas, como aconteceu com Eustáquia Almeida. “Encontrei quase todo mundo, liguei para as vendedoras e pedi o endereço”, conta Eustáquia, que frequenta a feira quase todo domingo. Sua filha, Marilaine Almeida, questiona a questão do espaço. “Para mim, tem lugar que ficou mais apertado”, observa. Já Carlos Henrique Coimbra, que vai pouco à feira, não sentiu as mesmas mudanças citadas. “Mudou muito não, quem frequenta mais deve ter ficado perdido, mas para mim está a mesma coisa”, diz. Dalva de Oliveira Gaspar, 57 anos, é ambulante e aproveita o movimento da feira para vender pano de prato e tapetes artesanais. Após a mudança, tentou procurar uma colega e só conseguiu dois domingos depois, mas, mesmo assim, concorda que a mudança foi para melhor. “Eu achei bom, ficou bonito. Ficou melhor para andar. Tem mais espaço”, aponta. Já para o casal Luciana Marques e Flávio Marques, não há muito a diferença. “Está igual, cheia do mesmo jeito”, diz Luciana.

Vendedoras precisam dividir barracas de doces No leiaute antigo, as barracas de doces ficavam espalhadas ao longo da feira, não importando se estavam ou não no “setor alimentação”. Essas barracas foram relocadas para o setor de alimentação e colocadas duas vendedoras em cada uma. De acordo com o presidente da Federação Mineira de Artesãos, Apolo Costa, as doceiras não são credenciadas e, por isso, não poderiam expor na feira. Mas, a relação delas com a feira é antiga, então a Federação resolveu dar apoio. Ele conta que, antes, elas vendiam os doces no tabuleiro e, depois de uma tentativa da Prefeitura em retirá-las, a Federação conseguiu colocá-las em barracas. Com o novo leiaute, a situação se repetiu. “Elas iam ficar sem espaço, entramos também num processo a favor delas, junto à Gerencia de Feiras e a Economia Solidária em forma de parceria para garantir o espaço para elas”, conta. A Federação conseguiu o espaço de 12 barracas para as doceiras e, como eram muitas e a barraca de alimentação é maior que a comum, elas tiveram que dividí-las para duas pessoas em cada. A Economia Solidária ficou com uma barra para o Programa. Elenice de Fátima e Claudia Ricardo

de Almeida, que dividem uma barraca, tentam levar a situação da melhor maneira possível. “Ela faz o doce dela e eu faço o meu”, afirma Elenice. Para Cláudia, a questão não é só por serem concorrentes, mas na hora do cliente escolher os produtos. “As pessoas chegam aqui, vão olhando, olham meu produto, olham o dela. Às vezes querem comprar de uma e de outra, ai tem que cobrar separado, é uma confusão”, ilustra. Claúdia também reclama do espaço. “Ficamos esbarrando uma na outra. Ou ela fica na barraca, ou eu fico”, explica. Elenice completa que, para ela, no setor de alimentação, deveria haver mais critério no sorteio. “Na alimentação as barracas estão no lugar errado. Tirou a gente de um lugar que tinha sombra e colocou num lugar que tem sol”, protesta. Márcia Lucia da Silva, que divide a barraca com Marli Alexandrino da Silva, não reclama do espaço, mas da situação financeira e do sorteio. “Minha venda caiu demais. É muita concorrência. Tivemos que entrar em acordo quanto ao preço, nós duas vendemos por R$ 3, e dois bombons por R$ 5”, explica. Ela ainda reclama do lugar em que ficou. “Eu trabalhava perto da rua da Bahia, eles me

mandaram para cá, dificilmente vai vir um freguês meu para cá, ai eu vou ter que arrumar novos fregueses”, lamenta. Marli lamenta a falta de atenção da Prefeitura. “A gente não teve opção. Era pegar ou largar, não deram chance nenhuma. Estamos aqui há 20 anos, desde a praça da liberdade, e eles nos tratam assim, para eles a gente nem faz parte da feira”, reclama.

As doceiras Alice dos Santos e Silvia Regina do Santos Lima, mãe e filha respectivamente, tiveram a sorte de serem sorteadas para dividirem a mesma barraca. A concorrência não existe de forma intensiva, mas, segundo Camila Regina, filha de Silvia, alguns problemas são detectados. “As vendas caíram muito e o sol atrapalha porque derrete tudo”, diz.

Após mudança, vendedoras compartilham barracas de doces

Raíssa Pedrosa


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Comportamento

Mestres na arte de recomeçar A complexa decisão de qual carreira seguir pode não ser tão simples e levar anos para ser definida. Entre acertos e tropeços, o desafio maior, porém, é encontrar a verdadeira vocação DEBORAH ALVES 2º PERÍODO

A escolha da primeira profissão não significa uma determinação eterna. Dúvidas e insatisfações são sentimentos comuns após anos atuando no mesmo setor. Iniciar um curso tecnológico ou uma especialização são opções disponíveis para repensar a carreira. No entanto, se o desejo é mudar radicalmente os objetivos de trabalho e redefinir metas, a solução é começar de novo. Essa difícil decisão exige, acima de tudo, audácia e reflexão. Coragem é uma palavra que Denise Mascarenhas Alemão, 54 anos, conhece muito bem. Formada em engenharia civil, pela Universidade de Uberlândia, em 1981, fez especialização em Engenharia de Segurança do trabalho e iniciou o mestrado em estudos de solos e fundações. Assim, Denise seguia o cronograma programado pela família. “Minha mãe adorava matemática, a família que já tinha outros engenheiros, era totalmente influenciada a cursar exatas. Era o sonho da minha mãe”, conta. Tudo acompanhava o protocolo, até que, às vésperas da defesa de sua dissertação, a gravidez de risco de sua primogênita a obrigou mudar de tema. O assunto escolhido, mais teórico, sobre contenções de água e terra não motivavam seu interesse. Neste intervalo de tempo, Denise Mascarenhas conheceu a biodança e a terapia, onde, por meio de um trabalho de autoconhecimento, começou a questionar tudo. “Vida, casamento, profissão”. Depois de muita reflexão, decidiu abandonar tudo e

Denise abandonou o sonho da mãe e se entregou à biodança

recomeçar a carreira como professora de biodança. Já atuando na área, como facilitadora do desenvolvimento de pessoas, resolveu, aos 40 anos, iniciar a faculdade de psicologia na PUC Minas. Para Denise Mascarenhas, as pessoas confundem muito vocação e habilidade. “Eu sou uma pessoa que tem muita habilidade em matemática. Mas não tenho vocação. O fato de gostar de matemática, parece que direciona a pessoa naturalmente para ciências exatas, não é assim. Eu posso gostar de musica e não virar uma profissional de musica. É hobbie. É só gosto, não é vocação”, explica. Para ela, a vocação está ligada à paixão e não necessariamente ao dom natural, que determina esforço para conquistar o objetivo. “É um chamado, um desejo, uma paixão, e às vezes aquele chamado exige que você desenvolva determinadas habilidades que ainda não estão desenvolvidas. Hoje, eu vejo, eu acho que sou este exemplo”, acrescenta. Segundo Denise Mas-

carenhas, ter feito um curso antes não representou uma perda de tempo, ao contrário, contribuiu muito. “Juntei dois cursos que são opostos, um muito objetivo e outro subjetivo. O que eu vejo, dentro da psicologia, é que falta um pouco do raciocínio lógico e prático das exatas”, observa. Hoje ela é psicóloga, facilitadora de Biodança e especialista em dinâmica de grupos. “Não sou apenas mais feliz, como também sou mais bem sucedida. Não consigo imaginar o contrário, iria ser com certeza muito mais infeliz seguindo qualquer outra profissão que não a psicologia”, salienta. A arte de recomeçar também está presente na vida de Vanderlei Oliveira de Timóteo, 57 anos, que conseguiu concluir a graduação depois de 21 anos marcados por várias interrupções e retornos. Seu entusiasmo pela comunicação começou cedo, aos quatro anos, quando frequentava a casa de seus vizinhos, Seu Zé Santos e Dona Eurídice, para assistir televisão.

Arquivo Pessoal

“Todas as noite íamos ver seriado do Rin Tin-tin, Zorro, Nacional Kid, eu ficava deslumbrado com aquele negócio”, lembra. Segundo ele, a paixão por entender e querer fazer aquilo sempre esteve muito presente. Sofria muito a influência do pai e do avô, que trabalharam no cinema. “Assim aprendi a trocar filme na máquina, trocar carvão, aquelas coisas mais antigas”, conta. Começou a fazer rotei-

ros e desenvolver vídeos para agências e televisão por conta própria, a partir dos roteiros que já tinha visto e dos meios de comunicação que frequentava. Aos 33 anos, fez o primeiro vestibular para comunicação social na antiga Faculdade de filosofia, ciências e Letras de Belo Horizonte (atual UniBH). Cursou até o 4º período e por motivos financeiros foi obrigado a abandonar a faculdade. Durante esses anos, para obter recursos, Vanderlei atuou como carregador de expedição de metalúrgica, comprador de obra de construção pesada, analista de organização e método, analista de crédito rural, com redação publicitária e jornalística, roteiro e direção de programas de televisão e rádio. “Sou uma pessoa absolutamente apaixonada com o que eu sei, com as profissões com as quais eu convivi, com o uso da palavra, com a reflexão sobre a informação e principalmente com a sala de aula”, diz. Depois de abandonar e retomar mais uma vez, finalmente em 2008, ele concluiu o

curso de bacharel em jornalismo e logo iniciou o mestrado na PUC Minas. Segundo o jornalista, o indivíduo que tem a oportunidade de frequentar uma sala de aula, tem um privilégio inegável. Maior que qualquer outro indivíduo. “Eu incentivo todas as pessoas a frequentarem, a lerem e irem a uma escola”. Para ele, acomodação, preguiça e medo, são como “elefantinhos” que levamos para casa. “Passar pela escola, buscar simplicidade na vida, é por isso que eu matei, e vou jogando para fora esses elefantes sem dó nem piedade”. Hoje Vanderlei atua como freelancer, sem vínculo formal, fazendo roteiros, vídeos e redação de jornal empresarial. “Você tem que ter paixão e assumir os riscos destas suas decisões. É a sua identidade, mais do que seu nome e seu endereço, mais do que a marca do seu celular, e não é fácil defender essa identidade, não é fácil você sentar em uma mesa e defender a sua paixão, qualquer que seja ela”.

Vanderlei Oliveira levou 21 anos para concluir o sonho de ser jornalista

Deborah Alves

Coaching: O treinamento para o sucesso profissional O orientador de carreira ou coach, termo usado no meio corporativo, é uma nova modalidade de profissão cuja função é auxiliar pessoas a idealizar suas reais necessidades e

validar seus objetivos, potencializando seus resultados por meio de ações específicas que permitam utilizar da melhor maneira possível a capacitação técnica e as habilidades

Orientadores auxiliam profissionais a prosperarem em suas carreiras

Lígia Braga

sociais do trabalhador. Seja para encontrar uma motivação extra, superar obstáculos ou redefinir metas e objetivos de trabalho, o orientador de carreira auxilia na construção de novas estratégias profissionais. “O que é sucesso para você?”. Com esta frase, a psicóloga Paula Paiva Modenesi de Lima, psicóloga, especialista em Coaching, inicia a discussão realizada na quinta feira à noite, no restaurante Venda Velha, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Esse encontro reuniu cerca de vinte profissionais de diferentes áreas para debater expectativas, metas e desafios de carreira. Segundo a psicóloga, mediadora do evento, estamos tão imersos no trabalho que nos esquecemos de refletir sobre o que realmente queremos. “É preciso decidir exatamente aonde se quer

chegar, senão os pés ficam fincados no chão”. Para Paula Modenesi, três reflexões iniciais devem ser consideradas: saber quem você realmente é, onde está e onde deseja chegar. Mudança e desenvolvimento pessoal se iniciam com o autoconhecimento e a definição de um projeto de vida. “Se você não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. A partir do domínio de si próprio é possível começar a entender quais são os fatores que podem estar limitando sua atuação e desenvolvimento. Estabelecer metas alcançáveis e que podem ser medidas temporalmente é essencial para iniciar a mudança. Segundo a psicóloga, o sucesso na nova empreitada depende de cada um. “Você é o único responsável por sua vida. Quando você deseja de verdade, você consegue”, diz.


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Comportamento

Carreira das pequenas notáveis Amanda Lana e as irmãs Sofia e Sarah Del Prado escolheram a carreira que querem seguir: bailarina, atriz de musical e ginasta, respectivamente. Felicidade é fator de sucesso para as mães JULIANA GUSMAN 2º PERÍODO

O futuro dos filhos é assunto que persegue incansavelmente todos os pais. Todos buscam pela almejada sensação de dever cumprido. Para Audrey Lana, 43 anos, e Simone Tomé Gonçalves, 38, a busca não é diferente. O inesperado na história dessas duas mães é a carreira escolhida por suas filhas. A filha de Audrey, Amanda Lana, de 15 anos, é bailarina. As filhas de Simone, Sofia Del Prado, de 12 anos, e Sarah Del Prado, de 8 anos, querem ser, respectivamente, atriz de musical e ginasta. Para Amanda o ballet sempre foi o caminho escolhido. Em junho de 2013, deixou para trás a família, os amigos e o Ensino Médio para ingressar na Princess Grace Academy of Classical Ballet, em Mônaco. Seu talento para a dança foi percebido pela professora e diretora da Compasso Academia de Dança, Lúcia Vieira, quando Amanda tinha apenas 10 anos. Com 12, a jovem bailarina entrou para o Grupo Jovem Compasso, já certa de que o ballet era sua escolha de vida. “Dificuldades, tenho muitas, medos, tenho muitos”, diz Amanda. “Para mim as dificuldades e os medos estão presentes em todas as

A bailarina Amanda Lana,15 anos, fez do ballet sua escolha de vida

Arquivo Pessoal

profissões, seja ela dança ou não! Dificuldades físicas, mentais, de relacionamento. Medo do futuro, do que irá acontecer”, acrescenta. Amanda diz que seus pais a apoiam incondicionalmente. “Desde o ínicio, desde sempre, tive o apoio dos meus pais. Eles sempre acreditaram e ainda acreditam em mim e sempre irão me apoiar. Para eles eu ser feliz é o que importa”, salienta. Audrey fala sobre como encarou a decisão de Amanda em seguir a carreira de bailarina. “Confesso que do alto da minha formação na área financeira, de exatas e

economista, esse foi um desafio, mas um processo superado. Amanda tem talento e demonstrou isso para nós, se aplicou nos estudos e sempre foi muito correta com tudo, até demais. Não apoiá-la seria pura ignorância, seria ignorar o óbvio. Sempre estaremos ao seu lado, seja para continuar ou para mudar o rumo”, observa. Logo após aceitar o convite para a escola de Mônaco, recebeu a notícia de que fora aprovada para participar de um curso de verão na Escola da Ópera de Paris, na França, a maior escola de dança do mundo. Para Audrey, foi uma surpre-

sa e uma confirmação de que estavam no caminho certo. “Tudo que precisávamos para entrar no jogo estava ali, meu coração deu pulos. Realmente não tivemos como fugir da torcida, incentivo e investimento na coisa que a nossa filha mais gosta e quer fazer. Tudo isso na Europa, pipocando na nossa frente. Nossa reação foi de, bora jogar e ganhar, trabalhar para tornar tudo isso viável, um projeto de vida para toda a família”, afirma. Quanto à distância, Audrey diz como está lidando com a saudade. “Melhor do que pensei. No dia que nos despe-

dimos dela, chorei feito uma criança durante toda a viagem de volta. Mas com o tempo a gente se acostuma com a distância física. Criamos rotinas de bom dia e boa noite pela internet, nos falamos no domingo, nos vemos pelo Skype. Até as broncas estão rolando. Broncas de mãe necessárias em alguns momentos. Ela estar feliz deixa nosso coração tranquilo. Estar onde está e como está também é uma segurança, sem dúvida”, conta. A felicidade também é o principal fator de sucesso para o futuro para Simone, mãe de Sofia e Sarah. Sofia tem uma

ídolos e seguir carreiras semelhantes, em ser como o super -herói de um de seus filmes preferidos, em explorar o universo, salvar o planeta, tocar e cantar para milhares de pessoas, ser protagonista da novela das 21h. Com a arte e a mídia ganhando cada vez mais força, esta é uma tendência que se

torna cada vez mais comum. João Pedro Carvalho dos Santos, de 10 anos, sonha em ser jogador de futebol. “Quero ser meia do Galo, como o Bernard”, diz o jovem atleticano, que joga com os amigos todos os finais de semana na quadra do Bairro JK, em Contagem, onde mora. O garoto,

que também pratica com o pai Gil José dos Santos durante a semana, pretende ingressar em uma escola de futebol, acreditando que este seja um importante passo para aprimorar suas habilidades como jogador e conseguir alcançar seu sonho de jogar pelo Clube Atlético Mineiro. TV e cinema consistem em grandes atrativos. Gabriel Luiz de Azevedo tem 5 anos e sonha em ser astronauta. Letícia Ferreira Moraes, Maria Clara Fantoni de Azevedo Scotellaro, ambas de 12 anos, e Beatriz Rodrigues Blach, de 11 anos, citaram a profissão de atriz quando questionadas sobre seus sonhos e profissão que desejam seguir. Maria Clara mencionou, ainda, o jornalismo como opção profissional. De acordo com o artigo “A influência dos meios de comunicação social na problemática da escolha profissional: o que isso suscita à Psicologia no campo da orientação vocacional/profissional?”, de Janaila dos Santos Silva, “os meios de comunicação são superpotentes, as mensagens que emitem têm um potencial influenciador na maneira de pensar e atuar dos sujeitos. “A TV sugere produtos e maneiras de agir, tanto de forma direta como indireta. A publicidade é fator determinante do comportamento porque

desperta desejos para a compra de algo que possa oferecer bem-estar ou menores esforços. A sociedade de consumo forja ideais”, diz o texto. A indústria do entretenimento, no entanto, poucas vezes é influência que perdura nas escolhas profissionais dos jovens. Ela oferece um mundo mágico, compatível ao caráter sonhador e inocente da criança e é por esse motivo que determina suas vontades. O artigo afirma que “com o passar do tempo, maior maturidade e novos conhecimentos e experiências escolares, as escolhas profissionais passam a se basear em muito mais que essas influências. Elas passam a depender, em grande parte, de gostos pessoais, aptidão e até mesmo de questões financeiras.” Enquanto Bernardo Novaes de Lima Géo, de 14 anos, pretende ser cineasta e mudar de país para seguir tal profissão, Guilherme Báccara Miranda, 18 anos, cursa engenharia de materiais e sonha em trabalhar em uma grande empresa. Gabriel de Pinho Barroso, 17 anos, tem grande interesse por tecnologia e está em dúvida entre os cursos de Engenharia da Computação e Ciência da Computação, pretendendo trabalhar como freelancer. “Apesar de eu estar na dúvida, ambos os cursos poderão contribuir também

dura rotina que envolve aulas de canto, dança e teatro. Seu sonho? “Me tornar uma cantora profissional pop. Ou uma cantora e atriz de teatro musical”. Já Sarah é do time de Ginástica Olímpica do Minas Tênis Clube. São quatro horas de treinos de segunda a sábado. É uma grande responsabilidade para uma menina de sua idade. “São treinos bem desgastantes para uma criança. Mas porque eu vim de uma disciplina rígida da dança eu pude dividir com ela as minhas experiências, frustrações e assim hoje ela entende que é um trabalho árduo, mas que fará toda a diferença no seu futuro, seja ela uma ginasta, bailarina ou atriz de teatro musical”. Segundo a mãe, a experiência pela qual ela esta passando servirá para a vida, ressalta Simone. Quanto ao que sente em relação às escolhas das filhas, Simone se diz satisfeita. “Fico feliz e me sinto realizada como mãe quando vejo as duas trilhando um caminho saudável. Acompanho tudo, é difícil, mas estou sempre ao lado delas e acredito firmemente que meu apoio está fazendo com que elas sejam pessoas seguras e felizes”, enfatiza.

Escolha: sonhos infantis versus realidade jovem AMANDA MASCARENHAS LAYSA VIEGAS 2º PERÍODO

A escolha profissional é uma das mais importantes decisões a serem tomadas durante a vida. Desde muito cedo já se começa a pensar no que queremos ser, que ofício seguir. Decisões relacionadas à questão profissional, no entanto, mudam com o decorrer do tempo, até que seja atingida uma considerável maturidade para escolher, de fato, o caminho a ser seguido. Familiares, em especial, pais e irmãos mais velhos, são grandes influências para crianças no que diz respeito à escolha da profissão. É o caso de Marco Antônio Araújo da Gama, de 10 anos, que pretende ser advogado, como o pai, José Luiz da Gama, e de Lorena Cardoso Barbosa, 8 anos, que sonha em ser dentista, profissão da mãe, Márcia Silvestre Cardoso. Carlos Augusto Ribeiro Diniz, de 12 anos, é mais um exemplo. Ele pretende ser engenheiro, como o irmão João Victor Ribeiro Diniz, de 19 anos, estudante de engenharia química na Universidade Federal de Minas Gerais. Hoje, o universo das crianças, no entanto, vem sendo influenciado pela arte, esporte e pelo entretenimento. As crianças sonham em conhecer seus

Bernardo Novaes pretende fazer cinema

Raquel Gontijo

para os vídeos sobre tecnologia que produzo para meu canal no Youtube, o iThink Tutorials (http://www.youtube. com/user/iThinkTutorials)”, completa. Vitor Acácio Magalhães, 19 anos, optou por Comunicação Social, mas sua escolha nada tem a ver com a influência midiática. Vitor acredita que o curso de Comunicação será útil para seu objetivo de criar produtos e serviços que sejam úteis às pessoas e que gerem lucro. Isabelle Silvestre de Moraes tem 17 anos, estuda diariamente para o vestibular de medicina. “Sinto que ajudar o próximo é minha missão. Quero ser uma boa profissional, saber orientar meus pacientes e ter reconhecimento profissional dentro da minha área”, afirma. O gosto por matérias como biologia e química, aplicadas no ensino médio, foram determinantes para a escolha de Isabelle pelo curso de medicina. Lorena Rodrigues Dionísio, 19 anos, cursa psicologia. “Meu objetivo é buscar e conseguir conhecimento sobre a Psicologia, principalmente no período acadêmico, podendo, desde já, contar com experiências proporcionadas pelo curso, que sirvam como qualificação e me tornem uma boa profissional no campo de trabalho”, conta.


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Comportamento

A individualidade na tatuagem Nos dias atuais é cada vez mais comum encontrar alguém tatuado pelas ruas. Essas pessoas encontraram uma forma de se expressar e deixar marcado na pele um pouco de sua personalidade

As irmãs Julia Resende e Marcela Resende

DEBORAH PEREIRA ALVES 2º PERÍODO

Quarta-feira, 20h, e o estúdio Manguebit de tatuagem e piercing está cheio. O acaso se incumbiu de reunir, nessa noite, quatro mulheres de idades distintas, que se unem por um objetivo em comum: o desejo de preencher o corpo por meio do desenho. Cada uma delas, do seu modo, pre-

Deborah Alves

tende expressar seus desejos, sentimentos e homenagens. De um lado, as irmãs Julia Resende Silva, 15 anos, e Marcela Resende Silva, 18 anos. Do outro lado, as também irmãs Mariana Alice Rodrigues Silva, 25 anos, e Marina Rodrigues Silva, 32 anos. O anfitrião que conduz o encontro é José Anderson Gonçalves 33 anos, natural de Olinda, Pernambuco, hoje, dono

e tatuador do estabelecimento localizado no Bairro Coração Eucarístico, em Belo Horizonte. Mariana Silva, acompanhada da irmã, Marina Silva chegam juntas. Mariana se prepara para sua primeira tatuagem. Ela escolhe uma mão indiana para ser tatuada na perna direita. Segundo ela, o desenho é um símbolo que representa harmonia, paz e tranquilidade. Marina, que encara sua terceira tatuagem, opta por fazer uma homenagem a sua família na perna esquerda. Segundo ela, a tatuagem não pode ser algo aleatório, sem um propósito ou motivo.“Tem que ter uma história, um significado especial”. Proposta esta que ela mantém em suas duas outras tatuagens, um “Om” indiano na nuca, para lhe trazer harmonia e uma letra C no pé, que fez com a melhor amiga, como símbolo de sua amizade. Julia Resende e Marcela Resende são também exemplos de irmãs que se utilizaram da técnica como um meio para homenagear sua família. Elas escolheram tatuar, juntas, um diamante, elo eterno grafado no braço, emblema da união de sua família, que segun-

do, Julia representa, “algo muito precioso” para elas. Neste ambiente marcado pela multiplicidade, essas quatro mulheres afirmam seu desejo de se expressarem. Cada uma delas, na sua particularidade, determina a representação visual ideal para suas emoções. Diversidade. Esta é a palavra que resume a prática da tatuagem, muito bem representada pelo estúdio do nordestino. O ambiente afirma sua pluralidade até no nome: Manguebit, assim chamado em homenagem ao movimento homônimo da década de noventa, no Recife. O movimento, liderado pelo músico Chico Science, mistura ritmos regio-

nais, como o maracatu, com uma cena musical rica e diversificada. Assim, o estúdio, como no universo da tatuagem é marcado pela mistura: cada vez mais, pessoas diferentes tatuam seus corpos com propósitos e necessidades diversas. Segundo Anderson a tatuagem é um sucesso porque permite que as pessoas propaguem suas individualidades. “Não existe uma moda para a tatuagem, cada um faz a sua, é a expressão de cada um”, afirma. O tatuador possui ao todo 17 tatuagens, sendo que duas delas são tributos a familiares: um anel para sua ex-mulher e o escrito Gabi, apelido de sua fi-

lha. Assim, os temas e as motivações para a prática são inúmeros e não há uma teoria psicológica, religiosa ou antropológica que explique o desejo e sua realização. O contexto, as influências, as ideologias e crenças, tudo pode significar um motivo real para seu exercício. Não existe um padrão, a tatuagem é um movimento complexo que serve de instrumento para a expressão da subjetividade de cada indivíduo. Essa técnica é um fenômeno hoje e durante toda sua história porque ela preenche essa necessidade do ser humano de acentuar sua individualidade e de expressar seus sentimentos mais íntimos.

Andesron Gonçalves tatuando mão indiana em Mariana Silva

Deborah Alves

Imagens que cobrem o corpo: a história da tattoo A tatuagem é considerada uma das for-

mas de modificação do corpo mais conhecidas e cultuadas do mundo. Não é reconhecida uma data oficial do início dessa técnica, nem quem foram seus precursores, no entanto em 1991, a descoberta de uma múmia nos Alpes de Ötztal comprovou o uso de tatuagem na Itália por volta de 5.300 a.C, na chamada Era do Cobre.

Otzi, como ficou conhecida, possuía 57 tatuagens ao todo, algumas localizadas próximas de locais que coincidem com os atuais pontos de acupuntura, forte indício de que no passado a tattoo era praticada com um propósito medicinal. Durante os períodos que se seguiram, o método permaneceu sendo utilizado, porém com diferentes finalidades. Por exemplo, na era dos guer-

reiros antigos, as marcas e cicatrizes representavam as vitórias nas guerras, vistas como um troféu, sinônimo de apreciação e respeito. Já em meados do século XVIII a técnica era popularizada entre marinheiros na Europa como forma de retratar suas aventuras no mar e homenagear os que ficavam em terra firme. Por fim, na segunda metade do século XX a tatuagem

incorporou os ideais contestatórios e tornou-se símbolo de ousadia e personalidade. Hoje, cada vez mais homens e mulheres, de diferentes idades estão aderindo a este fenômeno para expressar um sentimento, uma determinada fase da vida, uma vitória, ou uma homenagem a um ente querido.

Superando a timidez com o esfoço do trabalho LOLA CIRINO 1º PERÍODO

Maria Dulce Reis, aos 46 anos, ri ao se lembrar dos tempos onde era uma tímida garota que passava o recreio sozinha no colégio. Hoje, uma professora que fica em frente a 60, 65 alunos a cada aula, se diverte ao pensar que nem professora queria ser. “Eu tenho lembranças muito felizes da minha infância”, diz. Nascida e criada em Belo Horizonte, ela teve uma casa grande, cheia de árvores e espaço. Conta que a maior parte das crianças ia para lá e brincava com ela e seus irmãos. “Sou daque-

la época em que a gente brincava na rua, ainda podia brincar de porta aberta”, recorda Maria Dulce. Sendo a mais nova entre os irmãos, ela diz que foi muito protegida. A família sempre foi muito afetuosa e amorosa e o amor por eles é bem nítido ao passo em que conta suas aventuras no quintal, detalhes de sua infância. “Sou apaixonada por eles”, diz. No ensino médio, ela perdeu esse lado de menina que brincava com os vizinhos. Ganhadora de uma bolsa da prefeitura, acabou estudando em uma escola particular cara e se viu rodeada

por pessoas, em sua opinião, materialistas. Nesse tempo ela já tinha um pensamento critico sobre isso e, em consequência, não tinha uma turma de amigos nem um grupo. Passava os intervalos debaixo de uma árvore enquanto observava o comportamento dos colegas. Só na faculdade ela se soltou mais e isso porque lá seus colegas já tinham pensamentos mais parecidos. Cursou psicologia e filosofia, mas não imaginava que acabaria em uma sala de aula. Quando fez o vestibular, decidiu não fazer a segunda etapa para matemática justamente por não que-

rer lecionar. “Mas imagina, né? Eu era uma menina ainda! Tinha 17 anos!”, brinca. Depois de cursar filosofia, Maria Dulce diz que percebeu que a docência seria um ótimo caminho para dar continuidade à pesquisa e também um meio de se aprimorar. “Na docência a gente pode discutir as pesquisas com os alunos. Isso é muito rico”, conta. “Acabei, ao contrário da época da matemática, achando interessante dar aula pelo fato dessa troca”, completa. Hoje, já sem aparentar tanta timidez, Maria Dulce revela que no início da carreira se muniu

da facilidade para lidar com a filosofia para ir vencendo a timidez. Depois do tempo foi acontecendo com naturalidade. “Aos poucos acho que todo professor acaba se descontraindo”, explica. No relacionamento com a família, Maria Dulce diz que às vezes é um pouco difícil por conta da filosofia. “Às vezes tento exigir dos outros coisas que eu acho que compreendo e eles não. Talvez, eu seja mais exigente com os familiares porque me monitoro menos quando estou com eles”, explica. Com o filho de apenas dois anos de idade, ela tenta passar um relacio-

namento amoroso, mas também racional. Ri ao se lembrar que a professora do filho disse uma vez que, embora se enturme, ele fica afastado e observa bastante. “Eu levei um susto! Um dia fui buscá-lo mais cedo e tinha um grupo assistindo a um vídeo e ele estava mais afastado. Fiquei lá pensando ‘Meu Deus do céu, outro filósofo!’ ”, diz em meio a risos. Quando é questionada sobre a relação com ele, encerra brincando, sorridente.“Aí tem que perguntar para ele se a mãe dele é muito chata ou não”.


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Cidadania

Programa abre oportunidades Projeto BH Negócios vem dando espaço a novos empreendedores dando assim a possibilidade às pessoas com baixa renda, moradores em comunidades carentes, a melhorar a qualidade de vida SIMONE MOURA TAMARA ELEOTÉRIO VANDER OLIVEIRA VICTOR CIRÍACO 7º PERÍODO

Idealizar um empreendimento e vê-lo em pouco tempo se tornar sua principal fonte de renda, não é mais um sonho distante para pessoas de menor poder aquisitivo. Com as facilidades de acesso ao crédito e formalização dos empreendimentos, tem aumentado o número de cidadãos que têm se tornado seus próprios patrões. É o caso de Hélder Cardoso, 28 anos, que há cerca de um ano abriu uma livraria evangélica no Aglomerado da Serra, onde mora. “O trabalho começou há dois anos e era informal. Até então, eu trabalhava de porta em porta. Com o apoio do pessoal do BH Negócios, formalizei a livraria em junho do ano passado”, explica. Antes de se formalizar, Hélder havia procurado ajuda na Prefeitura de Belo Horizonte, mas a burocracia e a falta de orientação adequada o impediram de conseguir legalizar a livraria. A partir do Projeto BH Negócios, sua necessidade foi suprida. “Era algo que eu já estava precisando há muito tempo. Eu precisava abrir conta no banco para a livraria,

eu precisava fazer outras coisas, e nem sabia por onde começar. E o projeto trouxe essa facilidade. Eu assinei alguns papéis, passou duas semanas e já recebi meu CNPJ”, pontua. Com a segurança da formalização e legalização do negócio, Hélder percebeu facilidades que o incentivaram a continuar no ramo das livrarias. “Como eu passei a ter o CNPJ, eu pude ter acesso a outros lugares, tive um pouco mais de facilidade pra comprar também. E até mesmo ganhar descontos ou alguma coisa a mais”, completa. E não é apenas para os outros que a livra-

ria passou a existir: mesmo a visão do próprio Hélder mudou com a formalização do negócio. “Quando eu criei o CNPJ, quem me repassava livro, materiais como DVD, CD, viu um pouco mais de credibilidade, acreditou um pouco mais no meu trabalho. A partir disso, eu também passei a ter identidade”. Não é apenas Hélder que encontrou no projeto a possibilidade de vislumbrar um futuro melhor a partir da legalização de seu negócio. As reuniões realizadas pelo projeto permitem que outros empreendedores individuais partilhem suas histórias e

sirvam de inspiração. “Eu pude ver pessoas que nem sabiam ler e hoje estão buscando informação, estão buscando ideias. Tem um engraxate que me chamou muito a atenção, que começou do nada e hoje tem uma loja dele”, explica. O programa além de beneficiar quem quer sair da informalidade, ainda faz com que pessoas que almejam ter sua empresa possam iniciar da melhor forma. A empresária Marina Cândida Coelho Fernandes, 25 anos, proprietária da loja “Super Bonita Acessórios”, conta que sempre trabalhou no comércio para ajudar

Marina descobriu o projeto na internet e conseguiu o apoio para abrir sua loja

Capacitação é a chave para empreendedores De acordo com a coordenadora do projeto BH Negócios, Steysse Reis, desde o início do programa, em 2011, foram cadastrados cerca de 900 empreendedores no Aglomerado da Serra. Devido ao número reduzido de colaboradores da equipe do projeto, no entanto, são atendidos aproximadamente 300 empreendedores ao ano. O que de acordo com a coordenadora, é uma pequena parcela do número de microempresários existentes no Aglomerado. “Por mais que a gente esteja localizado numa área central da comunidade, sabemos que numa população de aproximadamente 50 mil habitantes, ainda não tivemos a chance de atender a um décimo dos inúmeros empreendedores distribuídos pela comunidade”, justifica. Numa tentativa de facilitar o acesso e o atendimento dos microempresários, o projeto foi instalado nos Centros de Referência em Assistência Social, localizados na vila com maior concentração de comerciantes. Setenta por cento dos empreendedores do Aglomerado iniciam seu próprio negócio por necessidade de complementar sua renda. Para a coordenadora do projeto, é o contexto desafiador que estimula o surgimento de empreendedores. “Percebo nos encontros mensais que as pessoas com vontade de criar seu próprio negócio estão há muito tempo sem carteira assinada. Eu vejo mães de família que precisam fazer uma coisa dentro de casa para poderem ter renda. São pessoas que não são capacitadas, mas que tem o gás de poder aprender a serem empreendedores”, diz.

Para se formalizar, o microempresário passa por três etapas de atendimento. No primeiro é feita uma entrevista na qual é identificado o tipo de negócio realizado pelo empreendedor. Nesta etapa ele é cadastrado no projeto. Num segundo momento é feita uma visita para que a equipe conheça as instalações da microempresa. Já numa terceira etapa, a equipe do BH Negócios orienta os microempresários sobre como é feita a formalização da documentação e obtenção do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). Mas o trabalho não termina por aí. Após a regularização, os empreendedores passam a receber consultoria dos membros da equipe do projeto. “Há os empreendedores que buscam a gente para saber informações sobre como solicitar o microcrédito pela Caixa Econômica Federal. Neste caso, a gente permanece realizando visitas para saber como ele tem conduzido seu empreendimento a partir do microcrédito que conseguiu”, explica Steysse Reis. A busca agora é por construir um futuro ainda melhor e mais promissor. Hélder Cardoso busca através do negócio estabilidade financeira, o que deve ser possível a partir do investimento na diversificação do público atingido por sua livraria. “Por enquanto ainda está balanceado. E estamos tentando abrir o leque para atingir todas as áreas. Ou seja, alcançar todos os segmentos, todos os públicos leitores que o Aglomerado tem”, finaliza.

Tamara Eleotério

a família. Formada em contabilidade, Marina logo percebeu que não conseguia trabalhar em locais fechados, como escritórios, portanto a pequena empresária decidiu se aventurar em ter seu próprio negócio. Em 2012, Marina deu início a seu sonho de ter sua empresa. “Sempre gostei de estética e beleza, por isso pensei em ter uma loja de acessório”, conta a moradora que tem sua loja localizada no Aglomerado da Serra. Marina começou a pesquisar na internet as formas de iniciar seu empreendimento, com a meta de adquirir experiências e alcançar novos patamares para sua empresa, foi quando descobriu o BH Negócios. A empresária já iniciou seu empreendimento com o auxílio do programa. “Eu precisava ter uma máquina para cartão de crédito, para vender no crédito, e precisava de CNPJ”, afirma. Ao ter encontrado auxílio no programa, Marina conta que teve suporte em tudo, apostila, treinamento, organização do espaço, etc. A microempreendedora diz que quando os empresários passaram a regularizar seu empreendimento todo o Aglomerado foi beneficiado. “O maior benefício para quem regu-

lariza seu empreendimento é o apoio que a gente encontra, a prefeitura está nos vendo melhor, começou a investir mais no Aglomerado como um todo. Foi aprovada a lei que o microempreendedor não precisa mais pagar o IPTU de comércio, houve corte da taxa de alvará de localização, por que querendo ou não o empreendedor do Aglomerado é de baixa renda, o mercado aqui se tornou mais competitivo”, comenta. De uma simples atitude em começar seu empreendimento regularizado, Marina fala também das melhorias geradas para o cliente e para o empresário. “Um dos benefícios do cliente são as formas variadas de pagamento, o cliente de perto não assiste a construção da forma operacional da empresa, mas ele quer facilidade de pagamento, é segurança pra nós e para o cliente”. O Aglomerado da Serra foi o primeiro local a receber o programa BH Negócios. Seu pioneirismo como local de empreendimentos formalizados já virou notícia em outras regiões carentes da cidade. “Tenho amigos de outros aglomerados que me pedem informação de como se inserir no programa e se regularizar”, conclui.

Projeto fomenta criação de pequenas empresas Realizado há dois anos no Aglomerado, o programa BH Negócios é uma parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte, a Caixa Econômica Federal e o Sebrae para incentivar e apoiar micros e pequenas empresas. Ele consiste no apoio a empreendedores, moradores do Aglomerado da Serra quanto a formalização e gerenciamento de um negócio. A equipe conta com um presidente, uma coordenadora e duas estagiárias, chamadas de agentes de desenvolvimento econômico. A função delas é visitar o negócio para acompanhar o andamento da empresa, além de ajudar o empreendedor na elaboração de um planejamento de negócios. O apoio vai desde orientações para os empreendedores que não tem o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), passando pelo acompanhamento e gerenciamento das empresas, após formalizadas. É feita também a declaração do imposto de renda do empreendedor, acompanhando quanto está entrando e quanto está saindo na empresa. “Mas é a formalização o ponto forte do projeto, até mais que as capacitações”, pontua a coordenadora do projeto Steysse Reis. Devido ao reduzido recurso financeiro, a divulgação fica limitada. “Antes, os agentes cir-

culavam pela comunidade a fim de divulgar o programa, identificando os empreendedores e os cadastrando”, relembra a coordenadora. Após dois anos, são os empreendedores que procuram os membros da equipe para solicitar atendimento. São atendidos diariamente cinco empreendedores para orientação e cadastro junto ao projeto, número reduzido ao se considerar a meta de atendimento de até dez pessoas. O motivo é a verba para a contratação de mais colaboradores. “A gente atende essa quantidade de empreendedores, que é o que a gente dá conta”, lamenta. Para se manter, o projeto conta com o apoio de parcerias. Alguns deles são os dois Centros de Referência em Assistência Social localizados no Aglomerado da Serra. Eles servem de ponto fixo, para que os empreendedores possam localizar os membros da equipe do BH Negócios. “E acaba que nós conseguimos engatar o projeto por causa da existência dos Cras, uma vez que não temos um escritório fixo. O Cras serve de referência para que o morador nos procure”, analisa. Por meio dos Cras é que são alcançados os principais beneficiários do programa. Como explica a gerente de Suporte às Ações de Fomento às Micros e Pequenas Empresas da Prefei-

tura de Belo Horizonte, Tânia Mara Santos, a Caixa Econômica Federal tem se aproximado do público-alvo do programa a partir desse contato, permitindo a busca por auxílio financeiro. “Através dos Cras é possível maior articulação e proximidade com esse tipo de público. A gente conhece o empreendedor, vê qual é a necessidade de gestão dele, dificuldade jurídica, de comércio. Propõem soluções e depois de um tempo volta, pra ver qual foi a efetividade de aplicação desse conhecimento”, explica Tânia Mara. Já o auxílio do Sebrae é aplicado na formação e capacitação para que esses empreendedores formalizem seus negócios. São trabalhados diversos pontos, entre eles a gestão de vendas, questões financeiras, fluxo de caixa, entre outros. “O Sebrae Minas, em parceria com a Prefeitura, auxilia esses pequenos empreendedores. Passamos também as orientações a respeito do enquadramento do negócio no momento que ele for registrar, o registro em si e os acompanhamentos das obrigações dessas empresas registradas ao longo do ano”, pontua a analista do Sebrae Minas, Márcia Valéria Cota Machado.


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Cidadania

Quando a velhice resolve chegar Os desafios emocionais e financeiros enfrentados pelos idosos e pelas famílias que possuem um ente querido de terceira idade. Minas Gerais tem cerca de 2,6 milhões de idosos, segundo IBGE

mais com a família, dona Stela recebe visitas constantes dos parentes. No Lar Senhor Bom Jesus, as famílias dos internos podem visitar no horário que desejarem. Além disso, a família de Stela costuma buscá-la, às vezes, para passar o dia com eles. Aparentemente, a idosa está muito bem acolhida, mas a neta não acredita que o asilo seja a melhor opção. “Quando a visito passo mal e fico triste de vê-la lá. Acho que o melhor lugar pra gente estar é com a família da gente”, desabafa. Stela queria cuidar da avó, mas possui três filhos, mora em um pequeno apartamento e o marido não aprova.

Com 101 anos Stela da Silva mora em casa de idosos, bem acolhida.

AIMÉE NERY PADILHA ANA JÚLIA GOULART MICHELLE OLIVEIRA 6º PERÍODO

Cuidar de um idoso não é tarefa fácil. Com o avanço da idade aumenta também a dificuldade em realizar tarefas simples e, qualquer coisa que seja necessário fazer pode se tornar um problema. Eles quase sempre dependem de ajuda e mesmo quando conseguem fazer algo sozinhos, precisam ser supervisionados. “Ter um idoso em casa é quase como ter uma criança”, brinca a assistente social Irene Resende. Entretanto, nem todos podem se dedicar integralmente aos cuidados que os mais velhos exigem e, diante desse impasse, muitas famílias optam pelas casas de repouso. Segundo o Instituto

de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aproximadamente 83 mil idosos vivem em asilos no Brasil. Em Belo Horizonte, a taxa corresponde a 0,6% da população total morando em casas de repouso, segundo uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Um desses casos é o de dona Stela Eloy da Silva, de 101 anos, que vive no Lar Senhor Bom Jesus, no Bairro Aparecida, pois a família não tem condições de cuidar. Esse asilo acolhe vinte e cinco idosos. Na casa, os moradores contam com fisioterapeutas e médico, além de serem atendidos pelo posto de saúde em frente ao local. A neta de dona Stela, Stela Mara Rodrigues da Silva, de 32 anos, explica que a avó tem três filhos e

Divulgação

nenhum deles tem condições de saúde e tempo para cuidar dela. “Tentamos de tudo. Minha mãe cuidava dela, mas teve dois aneurismas e não tem mais condições de ajudar”, afirma. Segundo a neta, o seu pai chegou a procurar pessoas para contratar e cuidar da idosa, mas financeiramente seria complicado. “Para mantê-la em casa, precisariam de três cuidadores. Uma para os dias de semana, uma para o fim de semana e uma para a noite, sendo que, neste caso, é ainda mais caro”, explica. Segundo ela, o salário de um cuidador de idosos gira em torno de R$ 1 mil. “A mensalidade do asilo em que ela está custa mil reais, meu pai paga com a aposentadoria dela e completa o que falta”, diz. Apesar de não estar

Dilema: o próprio lar ou casas de repouso? Já a família Oliveira não cogita a possibilidade de José Silvio, 85 anos, morar fora. O idoso possui Alzheimer, Parkinson e é totalmente dependente de ajuda para fazer qualquer atividade. Ele não consegue, por exemplo, andar e comer sozinho. A esposa de José, Mariana Oliveira, 66 anos, diz que é sua obrigação como esposa prover o bem estar do marido. “Ele me dá muito trabalho, ainda mais por conta do estágio que o Alzheimer dele se encontra, há dias que ele não me reconhece, por isso fica nervoso, já chegou até a me agredir pensando que eu era uma desconhecida que estava na casa dele”, revela. Porém, Mariana ainda conta com a ajuda dos cinco filhos para cuidar do patriarca. Fernando, 47 anos, o mais velho, dedica-se integralmente aos cuidados do pai. O primogênito, inclusive transferiu o consultório de odontologia para a casa do pai, no Bairro Itapoã, na Zona Norte, para auxiliar a mãe nos cuidados com o idoso. “Não estou fazendo nada demais, apenas retribuindo parte do que meu pai já fez por toda família. Ele sempre foi bom pai, sempre tivemos uma vida confortável, proveu a todos os filhos o curso superior e nunca

nos deixou trabalhar para que nos dedicássemos aos estudos. Se somos o que somos, profissionais graduados, pessoas com um bom padrão de vida, devemos tudo isso a meu pai”, relata. Segundo Fernando, transferir o idoso para uma casa de repouso nunca foi uma alternativa para a família. “Não acredito que nesse tipo de instituição meu pai receberá tanta atenção como recebe em casa. Além do mais, fico com medo dele ser maltratado, são milhares os relatos que ouvimos de agressão a idosos. Não quero que meu pai passe por esse tipo de situação. Nós da família nos dedicamos a fazer a vida dele mais feliz e digna possível. E nós acreditamos que ele será mais feliz conosco em casa”, conta. De acordo com a psicóloga Maraísa Abrahão, os asilos e casas de repouso podem não ser somente uma alternativa positiva apenas para a família, mas também para o próprio idoso, já que perder a autonomia pode ser muito frustrante para as pessoas da terceira idade. Entretanto, ainda de acordo com a psicóloga, o que mais incomoda aos idosos, é pensar ser um fardo para a família e sentimentos assim podem acarretar em depressão, podendo debilitar ainda mais a saúde.

O OUTRO LADO Senhor Alfredo Hubermann, 98 anos, mora em um asilo em São José da Lapa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, há quase três anos, e adora. “A opção de vir pra cá foi minha. Não quero atrapalhar

a vida de ninguém”, conta o alemão que mora no Brasil há quase 70 anos e foi casado com uma brasileira, dona Mariquinha, que faleceu há quase 10 anos. Alfredo não sofre com nenhuma doença grave. “Apenas um probleminha de pressão”, conta sorrindo. Lúcido e muito conversador, ele conta que a família relutou até acatar a ideia de ir morar em um abrigo. “Meus netos choravam. Diziam que eles tinham que cuidar de mim, que era o mínimo que eles podiam fazer depois de tudo que fiz por eles. Mas não é assim que vejo”, explica. Quando questionado sobre as visitas da família, ele brinca. “Eles nem me deixam sentir saudades. Vêm aqui toda hora!” O MARCO conversou por telefone com Ariane, 45 anos, filha de Alfredo, que mora com o marido e mais quatro filhos em um Bairro de Contagem, na Região Metropolitana. “Até hoje tenho vontade de

trazê-lo pra casa de volta. Mas ele gosta. Vou fazer o que?”, indaga a comerciante. Segundo Ariane, nem os filhos nem o marido nunca se incomodaram com a presença do idoso em casa e ninguém nunca considerou que ele fosse um empecilho para que fizéssemos qualquer coisa. “Nossa casa é toda adaptada. Sem degraus, apenas rampas, com corrimão em alguns locais. Mudamos o banheiro, fizemos um quarto melhor pra ele, mas ainda assim, ele quis ir”, explica. Apesar disso, a família não tem mágoa de Alfredo pela escolha que ele fez. “Sabe que as vezes acho que fez até bem pra ele?”, comenta a filha. Todo domingo, a família se reúne para almoçar no asilo, onde Alfredo mora. Um quintal enorme com uma grande mesa feita de madeira é onde a família se encontra para matar a saudade do querido velhinho.

População idosa cresce e vai demandar soluções Minas Gerais é o segundo estado com o maior número de idosos, segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com um levantamento feito pelo órgão entre 2009 e 2011, Minas tem mais de 2,6 milhões de moradores com mais de 60 anos. São Paulo é o estado brasileiro com o

maior número de idosos. Segundo a pesquisa, a população idosa deve crescer de 7% para 23% até o ano de 2060. Atualmente, para cada pessoa em idade produtiva há 46 dependentes, a maioria crianças. Com a progressão esperada, esse número deve saltar para 66, sendo mais de um quinto deles de pessoas na terceira idade.

Música ajuda os idosos a lidarem com a solidão A solidão se faz presente na vida dos idosos que não são apenas deixados morando em um abrigo, mas acabam abandonados nesse tipo de local pela própria família. Pensando nessa triste realidade, voluntários auxiliam os profissionais e diretores dos espaços a tornar a rotina dos idosos mais tranquila. Solange Schmid é uma delas. A maestrina é voluntária há mais de dois anos na Casa de Idosos Sagrado Coração de Jesus, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ela dedica pelo menos um dia da semana a levar músicas e brincadeiras lúdicas aos idosos, a quem trata com muito carinho. Para financiar seu trabalho, Solange entrou em uma rede de cosméticos onde todo o lucro ganho na revenda dos produtos é revertido para melhorar a vivência dos habitantes do abrigo. A ideia dela tomou grande proporção na cidade e hoje a maestrina tem um grupo de mais de dez pessoas que a ajudam na comercialização dos artigos de beleza. Além disso, luta e corre atrás de melhorias na estrutura da casa de idosos e leva outras atividades culturais aos internos. “Era um pensamento que eu tinha na época, pois nunca tinha entrado, nem mesmo imaginava (só sabia por televisão) o que tinha num asilo. Aí fui lá, marquei uma hora com a diretora, conversei com ela e disse: ‘sou professora de música, mudei pra cá agora, e queria fazer um trabalho voluntário aqui’. Ela ficou super feliz, e confessou que na época ninguém fazia trabalho voluntário lá”, conta Solange. Ela então levou seu teclado e começou a tocar músicas durante a tarde para os idosos. A adaptação, segundo ela, é um processo. “Foi com o passar do tempo que eles passaram a pedir músicas da época deles, começaram a conversar comigo. Cada um queria contar sua história. Queriam contar a história de uma música que tinha acontecido na vida deles”, diz. De acordo com a maestrina, muitas vezes eles só precisam de alguém para conversar. FALTA INVESTIMENTO DO GOVERNO Levantamento feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os

asilos do estado são em sua maioria vinculados a Sociedade São Vincente de Paulo (SSVP). A entidade coordena e mantém 65% dos abrigos. Em segundo lugar, com 15% do total de asilos, estão outras entidades religiosas. O restante pertence à iniciativa privada. Ainda de acordo com a pesquisa nenhum asilo é mantido em sua totalidade pela Prefeitura ou pelo Governo de Minas. Segundo a coordenadora de Direitos da Pessoa Idosa da capital, a Prefeitura e alguns órgãos particulares têm investido no atendimento residencial, na tentativa de evitar que os idosos sejam levados para abrigos. O programa Maior Cuidado conta com 127 assistentes que atendem cerca de 440 idosos em suas residências. “Isso impacta na vida das pessoas. Elas permanecem em seu ambiente, com cuidados e com dignidade”, explica Maria Fontana. Ainda segundo ela, falta investimento dos governos. “Poderíamos atender muito mais idosos se tivéssemos mais apoio. Vejo com bons olhos o trabalho feito em Belo Horizonte, mas falta comprometimento dos governos estadual e federal”, revela. CRIMES CONTRA IDOSOS Crimes contra pessoas idosas estão em segundo lugar nas denúncias feitas pelo serviço telefônico da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais. De acordo com um levantamento feito pelo órgão em 2012, 1192 registros foram feitos no ano. Desses, mais de 60% são relativos a maus tratos familiar. De janeiro a outubro deste ano, 1220 denúncias já foram realizadas através do esquema. Criado em 2000, o telefone já recebeu cerca de 70 mil denúncias em todo o estado. A central de atendimento conta com técnicos capacitados em direitos humanos. A ligação é gratuita, sigilosa e o serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h. Aqueles que quiserem denunciar qualquer tipo de maus tratos, podem entrar em contato com o Disque Direitos Humanos através do telefone 0800 031 11 19.


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Cultura

Minas é inspiração para as artes Músicos, escritores e fotógrafos se inspiram nas paisagens das terras mineiras. As montanhas estão presentes em muitas letras de compositores que admiram a beleza natural do estado BÁRBARA RIBEIRO PAULA CORDEIRO SARAH ALBERTI THAÍS COSTA 7º PERÍODO

“De onde? De onde vem? De onde vem a canção?”, questiona Lenine em sua música “De onde vem a canção”. A pergunta abordada gera longas reflexões entre os amantes, não só da música, mas das artes em geral, e a “inspiração” passa a ser o alvo das respostas. Os motivos que a faz existir são diversos, e as características naturais e sociais de Minas Gerais despertam o interesse de vários artistas mineiros. A banda Músicas do Espinhaço, como o próprio nome sugere, tem forte conotação ambiental. A inspiração que os músicos buscam é nas paisagens por onde passam, tendo forte ligação com as belezas naturais de Minas Gerais, terra natal dos cinco integrantes e onde vivem até hoje. Assim como o nome, algumas músicas falam diretamente de montanhas, cordilheiras e áreas preservadas ou não de Minas Gerais. Respondendo à pergunta do Lenine, suas canções vêm da natureza e dos valores humanos. Cantor e compositor da banda, Bernardo Puhler conta que já estava há algum período passando todo seu tempo disponível em lugares ermos pertencentes à Serra do Espinhaço. Foi quando começou a escrever e descrever esses lugares e o que vivia neles. Suas músicas passaram a ser destinadas a eles, e com a necessidade de mostrar isso para as pessoas que quisessem ouvir seu som, a Músicas do Espinhaço foi criada. Para Bernardo, sua melhor forma de se inspirar é fazendo as travessias, caminhadas de longo curso. “São os lugares mais profundos que percorro no processo criativo, quase sempre me recorro a

elas quando quero sentir mais o Espinhaço”, conta. Mas apesar da inspiração nas travessias, nem só diretamente de Minas são feitas as canções. No texto do livroCD “O Encontro das Cordilheiras”, Bernardo relata que hoje também se expressam por meio das Cordilheira dos Andes, da Southern Alps na Nova Zelândia, da Serra da Mantiqueira, e que para todas elas é a mesma voz que lança a paz e o respeito com o ambiente e com os homens que nele estão. Algumas músicas compõem o que ele chama de “olhar -espinhaço”. “A gente fala de um tal ‘olhar-espinhaço’ que é a maneira de ver esses lugares todos, estejam eles no Espinhaço ou não, de uma determinada forma. São os significados que levamos, as bandeiras e principalmente o que extrair de cada experiência. Acho que esse contexto montanhês, não necessariamente mineiro, vai junto, por que é o que somos. Não dá pra cantar algo e não se colocar dentro”, diz. Segundo Rafael Furst, baterista da banda, a música tem a capacidade de apresentar esse olhar a quem não tem acesso aos aspectos culturais e a beleza da Região do Espinhaço, a única cordilheira do Brasil. Para ele, agregar natureza e valores na música acaba suprindo um pouco da carência de conteúdo que as pessoas sentem hoje no contexto musical. Ele acredita que mostrar através da música esse bem nacional, sempre de forma respeitosa e inofensiva, é também uma maneira de apresentar a qualidade natural e musical brasileira pouco conhecida principalmente no exterior. Mas, apesar de o ambiente natural proporcionar a harmonia e tranquilidade necessárias para produzir, o que motiva e inspira Rafael a tocar é o fato de acreditar que a

Banda Músicas do Espinhaço tem forte conotação ambiental

música tem um papel gigante na vida das pessoas. “Eu tenho a visão de que a música serve para chegar nas pessoas e dali ela tem capacidade de fazer uma mudança pequena ou grande em suas vidas. Eu tenho vontade de fazer alguma diferença no dia, no mês, na semana, no ano, na vida de alguém. A gente vê que aos pouquinhos vamos atingindo isso, fazendo alguma diferença mesmo que seja mínima”, afirma. ÍNTIMO DA NATUREZA

É também com o desejo de acrescentar positivamente na vida das pessoas que o fotógrafo Cyro José inspira suas produções. Os livros de Cyro, que ele exibe com orgulho e simplicidade, são compostos por fotografias e textos feitos por escritores convidados. Seu mais novo trabalho, ainda em fase de conclusão, é sobre o Sul de Minas Gerais. O livro abordará Boa Esperança, Três Pontas, Varginha, Alfenas e Fama, mas não é o primeiro, nem o último, em que o fotógrafo retrata partes do seu estado natal. Nascido em Formiga, ele foi criado em uma fa-

zenda e tem forte contato com a natureza desde sempre. Apesar de também trabalhar com moda, comidas e produtos, ele tem uma atração especial pela natureza. Para o fotógrafo, a diversidade das belezas naturais em Minas Gerais encanta e o motiva ainda mais a fotografar, mas seu trabalho também se estende a várias outras regiões pelas quais ele também tem muita admiração. Suas fotos são carregadas de conhecimento, os quais ele também adquire quando conhece os novos

Sarah Alberti

lugares em que vai fotografar. “Eu procuro agregar o texto a isso, porque eu não quero que meu livro seja um catálogo. A foto em si tem que contar uma história, mas ela está acompanhada a essa história também”, conta. Para ele, mostrar a beleza também é uma forma de trazer conhecimento, e é dessa forma que acredita acrescentar às pessoas. Por trabalhar com empresas de levantamento ambiental, ele acaba entrando em reservas e outros lugares que poucas pessoas têm acesso

e, muitas vezes, depara com cenários de desmatamento que o deixam angustiado. Apesar do sentimento, Cyro afirma que mostrando a beleza dos lugares contribui mais para sua preservação do que mostrando a destruição. Segundo o fotógrafo, as belas fotos atraem mais pessoas e despertam o interesse delas em preservar e adquirir mais informações sobre o lugar. “O que eu quero mostrar é o que é, o que temos, porque se não cuidar vai acabar”, diz.

Fotógrafo Cyro José mostra a beleza dos lugares por onde passa

Divulgação/Site oficial

A vida vira fonte inesgotável para a literatura Também mineiro, nascido em Coluna, no Vale do Rio Doce, o jornalista e escritor Carlos Herculano Lopes é colunista no Jornal Estado de Minas e autor de vários livros. O primeiro livro de Carlos, “O estilingue”, foi escrito dos 12 aos 14 anos e conta as histórias de um menino amante das palavras. Desde então, ele já ganhou diversos prêmios de literatura com suas obras que transitam entre romances, contos e crônicas. “Escrever, para mim, é uma forma de vida.

Uma espécie de salvação. Acho que, nestas alturas da vida, já não poderia continuar vivendo sem a literatura”, diz. Morador de Belo Horizonte, o escritor observa os diferentes momentos que o rodeiam no dia a dia da capital mineira. Há 12 anos em todas as sextas-feiras ele publica uma crônica no jornal Estado de Minas, e, por isso, tem sempre que ficar mais atento à sua volta. “Às vezes um fato aparentemente sem graça, se visto com outros olhos, pode dar uma boa crônica”, observa.

“É só estar atento e ter vontade de escrever, transformar o que você viu ou vivenciou em palavras”, conta. Para o mineiro, o que inspira um escritor é a vida. Além de considerar importante deixar a imaginação à solta, a sua vida e a dos outros, as observações adquiridas no dia a dia e as histórias que escuta são o que fazem mover essa vontade de escrever. As linhas divisórias dos estados se tornam pequenas, quase inexistentes,

quando a vontade é cantar, fotografar, contar e mostrar ao mundo o motivo da inspiração, esteja ele nas montanhas mineiras ou não. “Minas tem grande tradição literária, o que não é novidade para ninguém. Mas acho que a vocação pela literatura, a vontade de escrever, independe do lugar onde se nasceu. Como mineiro, me orgulho da nossa literatura, mas poderia ser escritor em qualquer outra parte”, afirma Carlos Herculano.


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Entrevista

GERALDO PÉ DE MOLEQUE Como o senhor ficou conhecido como Geraldo Pé-de-moleque?

O negócio é o seguinte, toda vida eu gostei muito de doce. A pouco tempo eu fui consultar e o médico foi pediu um exame pra ver se eu tinha diabetes. Eu falei “Ô doutor, eu vou rejeitar o seu exame, viu?”. Ele foi e falou “Por quê?” eu falei “Porque se eu tivesse diabetes eu já tinha morrido há muito tempo, até o meu nome é doce.” Ele foi e começou a rir e perguntou porquê. Eu fui e respondi “Meu apelido é Geraldo Pé de Moleque”. Falei com ele e ele ficou rindo. Eu não fiz o exame não. Pra que exame? Se o médico mandar eu fazer exame de vista eu rejeito na hora. Não há necessidade. É a mesma coisa que botar sal em carne podre. É a mesma coisa. O Pé de Moleque foi o seguinte: tinha um guarda e ele foi plantar um amendoim lá em casa, no meu terreno lá. Ele foi e me deu um pedaço de rapadura e eu tinha ido numa casa de uns “conhecidos meu que tinha” um lugar entre Capim Branco e Araçás. Eu sei que o camarada tinha colhido o amendoim, soprou o amendoim e tinha muito amendoim chocho. Eu cheguei lá, comecei a comer aqueles amendoins chochos e ele falou que se eu quisesse eu podia levar. Eu juntei um pouco e levei. Um camarada lá me deu um pedaço de rapadura. Tinha um guarda em Sete Lagoas, ele era baiano e era guarda da central. Ele fazia pé de moleque e levava os doces e me dava. E os doces de pé de moleque dele eram uma delícia. Só vendo. Era gostoso mesmo. Aí ele levava os pedaços de pé-de-moleque e eu sempre perguntava ele como é que ele fazia o pé de moleque. E ele falava comigo, né. Eu peguei o amendoim choco, debulhei bastante o amendoim catei aqueles mais cheinhos, torrei e fiz o primeiro pé de moleque com o pedaço de rapadura que o homem me deu. Eu despejei numa folha de banana, porque naquela ocasião não tinha o recurso e hoje fazia, botava farinha numa vasilha e despejava o pé de moleque por cima. O trem ficou muito gostoso e os meninos da escola começaram a passar, eu dava um pedacinho pra um, um pedacinho pra outro. Comecei a fazer e vender pros meninos. Nessa época eu devia de ter, no máximo uns oito, nove anos. Quem me colocou esse apelido, eu já trabalhava na fábrica, foi uma tal de Lisaurina. Ela ficava numa distância de uns 20, 30 metros porque a fábrica era comprida, grande. Às vezes ela falava com qualquer um que passava assim “Fala com o Pé de Moleque pra trazer um pra mim. E o “Pé de moleque” foi e pegou. Aí eu já tinha uns 18, 19 anos.

O que o senhor acha desse apelido?

Eu nunca me incomodei, não. Eu tive diversos apelidos. Primeiro eles “chamaram eu” de Geraldo Conceição, que é de minha mãe; depois eles falavam Geraldo Matuto, que era do meu pai. Eu nunca me incomodei com apelido, não. O negócio é o seguinte, eu sou o tipo de camarada que pode chamar do que quiser. Eu não tô nem aí. Quando eu cheguei aqui, me botaram o apelido de Geraldo da Venda. Agora, o daqui pegou imediato. Um certo dia, um vizinho meu, o vizinho mais perto “de eu”, chama ele de Maruca, ele chamava Mário, ele chegou lá, sentou no balcão, botou as pernas em cima, com os pés em cima do balcão. Sentado como se ele estivesse no chão e está rindo, rindo, rindo. Eu estou assim “Ô Maruca, por que que você está rindo tanto? Que que foi?”, ele falou assim “É Pé de Moleque..”, falei “Ué, quem é que falou com você? Pé de Moleque por quê? Você está querendo pé de moleque?”, ele está assim “Não. É porque eu fui em Belo Horizonte com um camarada lá de Matozinho e ele me perguntou como é que o Pé de Moleque está lá. Falei que ele está bem, está bem.” Foi assim que apareceu aqui. Mas até hoje ainda tem uns que falam Geraldo da venda. Eu tenho vários apelidos.

Como aconteceu a participação no programa Lata Velha?

O Lata Velha foi o seguinte, minhas netas sempre falavam comigo se eu na queria fazer. Eu pensava “Ah, eu não vou mexer com isso não”. “Foi elas” que inventaram, foi arranjo delas. Sei que “foi três netas” e uma neta de uma vizinha que eu tenho aí que tem muita história comigo.

Por que o senhor acha que a sua história comoveu tantas pessoas?

Ah isso eu não posso imaginar não. O negócio é o seguinte, o povo me conhece muito e a história minha é muito grande. Tem muita gente que tem muita história comigo. A primeira pergunta que ele (Luciano Huck) me fez quando ele chegou foi o seguinte. Ele já tinha atendido o outro (a outra pessoa que também estava

O senhor que cativou o país BRUNA VOLPINI MARINA TEIXEIRA 2º PERÍODO

Estreando o novo formato do quadro Lata Velha, do programa global Caldeirão do Huck, Geraldo Eduardo Gonçalves, Seu Geraldo Pé de Moleque, como ficou conhecido em Pedro Leopoldo, município da região metropolitana de Belo Horizonte, emocionou todo o Brasil ao vencer a disputa e ganhar a reforma de seu Fiat 147, ano 1980. Aos 97 anos, Seu Geraldo ainda ser um homem totalmente ativo e saudável, que não se considera, de forma alguma, uma pessoa velha. “Eu sou novo. Eu tô com sete anos e poucos dias. Dia três eu fiz sete anos e eu deixei os 90 pra traz, né”, brinca. Ele até hoje utiliza o seu veículo para vender ovos e bananas por toda cidade onde mora e, o mais impressionante de tudo, com uma habilitação que nunca recebeu nenhuma penalidade em todos esses anos. Dono de um senso de humor impagável, ‘Pé de Moleque”, pai de nove filhos, conta que não ficou nem um pouco desconfortável em aparecer em rede nacional. Ao contrário, diz que adorou a experiência e que não vê a hora de poder dirigir seu carro novamente. Ele admite que não esperava tamanha repercussão e ficou feliz ao perceber o quão era querido por aqueles que já o conheciam. “Eu não sabia que eu tinha tanta amizade em Pedro Leopoldo. Não imaginava mesmo”, salienta. Fazendo uso da memória invejável, seu Geraldo relata parte de sua história, conta sobre o incentivo de suas netas pra que ele participasse do programa, a inusitada participação das mesmas na prova que determinaria o futuro do seu carro e mostra o que representou esse prêmio no final de seus quase cem anos de vida. “Não tô mais feliz porque eu tô velho demais” afirma Pé de Moleque, com um sincero sorriso no rosto. concorrendo à reforma do carro), o outro tava em primeiro lugar. Estava uma roda de moça assim, ele foi e chegou e eu tava assim com muita gente assim, ele foi virou e falou “Quero te dar um abraço”, aí eu “engraçado, né sô, você gosta de abraço de homem? Eu preferia muito mais o abraço de qualquer uma delas aí, mas se você gosta, se você quer abraçar uai” e abracei ele, né. Eu acho que o negócio é por isso, porque tinha muita gente em volta.Também tem que eu entrei no carro e nunca paguei uma multa, nunca. Teve uma certa vez que tinha uma blitz chegando em Pedro Leopoldo dum lado e do outro. Eles “foi e falaram comigo”, “mandou” eu encostar e eu encostei. Encostei, então eles começaram a me fazer pergunta. O do outro lado ficou mas ele veio também me fazer pergunta, de um lado e do outro. “A sua carteira ta vencida”, falei “E há muito tempo”. “Por que? O senhor tem que procurar...”, falei “Eu já tentei mas eles não quiseram renovar minha carteira. Mas uma coisa eu vou perguntar pra vocês, de um lado e do outro, vocês algum dia já viram carteira dirigir carro?”. Carteira não dirige carro, quem dirige carro é motorista e motorista, eu sou um motorista que comprei o carro, saí e to andando e até hoje e nunca fui multado. Os meus filhos carregaram “meus papel tudo”, eu tenho umas carta, eu tinha umas carta lá em casa que eu tenho pesar deles ter destruído elas.

Horizonte passou um camarada daqui de Pedro Leopoldo que chamava ‘Geraldinho sete dedos’. Eu andei emprestando “uns contos” pra ele comprar um caminhão, tem uma amizade comigo que só vendo. Ele me levou na loja, me deixou lá e falou assim. “Olha qualquer negócio que ele te propuser você pode aceitar, eu responsabilizo por ele”. E saiu e foi embora. E eu fiquei lá, comprei o carro. Só tinha um carro na amostra do lado de fora. Eu queria um carro branco ‘eles disse que não tinha’. Depois eu fui lá e comprei o carro. Não levou menos de 20 minutos e o carro chegou. “O seu é esse”,eu falei “Bom, eu comprei aquele, agora ‘vocês vai’ me entregar este?”, “Este é o mesmo ano, o mesmo carro.” Eu falei “Não, as rodas são diferente e o vidro traseiro também é diferente.” Eles entregaram “Não, isso não tem problema não”. Desceu o carro lá para o terraço eu fui e acompanhei, chegando lá tinha 4 carros brancos. Falei assim “Vocês não disseram que não tinha carro branco? E esses carro que ta aí?”. Mas eles já tinham feito a nota, já tinham recebido o código. Tiraram as quatro rodas do outro carro, tiraram as cinco roda do outro carro e passou pro carro que eu comprei, tirou o vidro traseiro do outro e passou pro que eu tinha comprado. Me entregou o carro. Cheguei e encostei o carro na porta de casa, a mulher saiu e falou “Uai, a semana toda de cá pra lá e você comprou foi isso?”. O meu filho, que é o mais velho, falou assim “Ô mãe, isto é um carro novo”. Isso foi no dia 29 de agosto de 1980 ‘nós ia’ pra exposição. Fui no carro. Mas ela chamou tanta gente pra ir no carro, que o carro foi super lotado. Você acredita que antes de chegar em Pedro Leopoldo o

Em tudo que eu já mexi eu nunca perdi, sempre ganhei

Qual a história do seu carro?

A partir daí eu to andando, continuei andando e nunca mais parei. Eu ando completamente livre, eu não ponho cinto, ponho nada. Gente, se cinto segurasse o povo não morria com cinto. Meu carro foi o seguinte, tinha um outro que tava interessado e ele era dum camarada que trabalhava junto com meu filho no banco. Então, eu fiz o negócio com ele do carro. No dia que eu fui lá pra buscar o carro, ele falou comigo que não ia vender o carro mais não, porque ele tinha achado uma troca por umas novilhas e que a troca era melhor do que isso. Eu falei, “Não, eu vim buscar o carro mas se você não quer vender, você não é obrigado a vender. ‘As loja tá cheia’ de carro, tem carro aí de tudo que é cavalheiro, tem problema não.”

carro bateu e amassou a primeira vez? Porque eu não quis falar, não quis falar que não podia entrar mais. Mas só vendo, deve ter ido umas 6 ou 7 pessoa no carro. Comprei o carro no dia 29 de agosto de 1980. Vocês viram ele reformado? Pois é, mas antes tinha o retrato dele sem ser com a reforma. Eles gostaram muito pelo seguinte lá não tinha nenhum carro que tivesse a documentação como a minha, tenho tudo.

O senhor sentiu-se desconfortável com a ideia de aparecer na tv, em rede nacional?

Eu, eu o conforto pra mim foi muito grande. Eles fizeram, por exemplo, pra mim uma coisa que eu não esperava nunca. Não é a primeira vez que eu sou convidado pra determinada coisa, eu já tive alguns convite, convite pra um jantar, convite pra uma coisa, pra outras, mas esse foi violento. Me trataram de uma maneira que eu num esperava que fosse tratado daquela maneira, né?! Muito boa. É, agora o negócio é o seguinte eu num nasci pra viaja, num gosto muito de viagem não.

Para concorrer efetivamente à reforma do carro é preciso realizar uma prova. O senhor sabia que eram suas netas que iriam realizá-la?

Não fiquei surpreso, já sabia que eram elas, já sabia. Fiquei surpreendido com uma terceira que foi com elas né, uma amiga. A avó dessa tem uma história comigo que só vendo. Eu fiquei surpreendido com o camarada que ficou comigo no dia lá, que eu só fui saber quem é que ele era na parte da tarde. Todo mundo me conhece, mas eu não tô conhecendo quase ninguém mais.

A funkeira Anitta está no auge. O senhor já conhecia o trabalho dela? O que o senhor achou da escolha da música e da apresentação das suas netas?

Eu gostei, uai. Eu achei uma coisa mais ou menos normal, eu não prestei muita atenção nessas coisa não. Não prestei muita atenção não. Mas eu, o negócio é o seguinte tinha uma turma, nessa última apresentação, eu tava num lugar lá e tinha chegado uns camarada sempre dançando e dançando e eu fiquei implicado com aquilo de porque que eles vinham dançando tanto pra perto de mim sô. Só sei que tinha um com a roupa acho que vermelha e azul num sei.

O senhor esperava que fosse ganhar a competição?

Ah bom, isso eu esperava ué. Só pelo que já aconteceu em Pedro Leopoldo eu não tinha dúvida nenhuma. Quando eu falei com ele (Luciano Huck) o negócio do abraço, aí acho que foi por isso. Ele me tratou de forma simples, como se ele fosse muito ‘conhecido deu’. Engraçado, né sô. Eu com essa idade toda preferia muito mais um abraço de qualquer uma delas, mas aí você quer abraço de homem? Ele é fora de série. Aquele sabe fazer um programa.

O que o senhor achou do novo carro? Atendeu às suas expectativas?

É uma coisa que eu já assisti muito programa daquele tipo. Era uma coisa que, que já era esperado. O carro ficou uma maravilha, né. O carro ficou maravilhoso. Agora, a minha recepção foi melhor ainda do que o carro. Eles me receberam de uma maneira que. Ou os dois guarda que tem lá, todos os dois conversaram comigo, fiquei maravilhado com a maneira deles tratar a gente, sô. Bom, eu acho que eles também gostaram de mim por tudo que eles fizeram comigo, eles também gostaram.

E aí o senhor foi a outra loja?

Quando estava esperando condução para ir à Belo Foto: Marina Teixeira


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