Marco 304

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FALTA DE FAIXA PARA TRAVESSIA DE PEDESTRES CAUSA TUMULTO NA VIA EXPRESSA E COLOCA EM RISCO A VIDA DAS PESSOAS QUE PASSAM PELO LOCAL PÁGINA 6

PROJETO TRANSFORMA OS MUROS DA FUNED, QUE AGORA RECEBEM OBRAS DE DIVERSOS ARTISTAS, COMO FORMA DE PROMOVER O GRAFITE PÁGINA 10

CANTOR E CONTADOR DE HISTÓRIAS, RUBINHO DO VALE ANTECIPA AO MARCO DETALHES DE SEU PRÓXIMO CD, O OITAVO DE SUA CARREIRA PÁGINA 16

André Correia

André Correia

André Correia

marco jornal

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 304 . Março 2014

Cadela que assiste missa é atração em Ouro Preto

Ouro Preto é conhecida internacionalmente por seus importantes monumentos, suas belas paisagens e ricas histórias. Colecionadora de personagens que se confundem com a memória do Brasil, a antiga Vila Rica se rendeu à cadela Branquinha, uma simpática vira-lata, que cativa a todos por onde passa. Com lenço rosa amarrado ao pescoço, a cachorrinha é presença inconfundível no histórico município e frequenta assiduamente as missas da Igreja do Pilar. A aposentada Ivana Bandeira é quem cuida da cadelinha e não poupa esforços para que ela esteja sempre impecável nos seus passeios diários. Para isso, cuida rigorosamente de sua alimentação, além de pagar táxi, todos os dias, para trazer Branquinha de volta para casa. Exigente, a cadelinha escolhe o veículo que irá transportá-la. O sucesso com os moradores a lançou como estrela de um curta-metragem produzido pelo fotógrafo Lucas de Godoy. PÁGINA 12

Gabriela Camargos

Movimento ‘Diretas Já’ chega aos 30 BH quer curtir a Copa do Mundo e protestar também Há três décadas, um movimento que reivindicava o fim de eleições indiretas para presidente em pleno Brasil ditatorial tomou conta das ruas. Em tempos de manifestações populares, o MARCO relembra o movimento que ficou conhecido como ‘Diretas Já’, e faz um paralelo entre o passado e o presente,

comparando movimentos atuais com as manifestações que ocorreram em 1984, assim como o perfil dos participantes. Nesta reportagem especial, histórias de diferentes pessoas que viveram durante este importante momento da história do Brasil são compartilhadas, e fatos importantes para compreen-

LEIA AINDA

Questões policiais estão na ‘ordem do dia’ no Coreu A insegurança segue como preocupação para moradores do Coração Eucarístico, que convivem com assaltos a lojas e residências. Numa tentativa de melhorar a situação foi implantado o moto-policiamento, estratégia que divide opiniões no Bairro. O Quartel da Polícia Militar, que deveria ter sido inaugurado em fevereiro, ainda está em fase de finalização da obra e a 4ª Delegacia Distrital de Polícia deve mesmo ser transferida para o Alípio de Melo. Nem mesmo um abaixo-assinado, com mais de 1 mil assinaturas, conseguiu mudar a decisão, que ainda não tem dada para ser implementada. PÁGINAS 3 E 5

André Correia

der o cenário político da época são abordados. O MARCO relembra também a sua própria participação na cobertura das ‘Diretas já’, ao recuperar matérias realizadas em 1984, que defendiam um país em que a população escolhesse diretamente o seu presidente. PÁGINAS 8 E 9

Criatividade em alta e ‘sonhos’ postos no papel Para alguns, o sonho de publicar uma obra morre, empoeirado, nas prateleiras da memória e do desejo. Mas nem sempre precisa ser assim. É o que garantem escritores autônomos ao se depararem com a difícil tarefa de darem vida às suas histórias. Por causa disso, encontraram atalhos, que podem ser a parceria com pequenas editoras, a organização em cooperativas de escritores ou até mesmo a produção de livros de forma artesanal. Dessas formas, as narrativas nascem, depois de muita sujeira de borracha e rascunhos empilhados no chão. O fruto do trabalho pode ser vendido ‘baratinho’ ou até mesmo doado, além de ser oferecido nas prateleiras de mostras de culturais independentes. O importante para esses autores é ganhar o mundo dos leitores. PÁGINA 11

A proximidade da Copa do Mundo aumenta a expectativa em torno da competição que volta a ser realizada no Brasil depois de 64 anos. A partir desta edição, o MARCO inicia série de matérias sobre esse evento, que promete transformar o dia-a-dia das cidades-sedes, como Belo Horizonte. O tema hospedagem é abordado em matéria neste número 304. No Coração Eucarístico, aluguel no período do Mundial pode custar até R$ 4 mil. Por ser universitária, a região é vista como alternativa para turistas, especialmente argentinos, chilenos e uruguaios, que terão suas seleções baseadas aqui. Outra matéria sobre Copa do Mundo trata da possibilidade de manifestações, em junho e julho próximos, a exemplo do que ocorreu na Copa das Confederações, em 2013. Nas ruas, 207 pessoas foram ouvidas, em enquete, para saber se pretendem protestar, participar do Mundial ou as duas possibilidades.

PÁGINAS 14 E 15

Raíssa Mendonça


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Comunidade

editorial

Refletir o passado para enxergar melhor o presente

Verde em falta nas alamedas da região Moradores do Bairro Dom Cabral reclamam da falta de cuidados com as alamedas, arborização precária e trânsito intenso ISABELA MAIA ISABELA MARTINS

ANA LETÍCIA DINIZ 4° PERÍODO

1° PERÍODO

Na primeira edição de 2014 o MARCO volta com todo gás, dando destaque a notícias das comunidades ao entorno da PUC Minas e outros assuntos. O principal objetivo do jornal é manter você, leitor, bem informado. Indo às ruas procurando informações, apurando e recebendo de você o apoio para continuar construindo histórias e resgatando memórias. É com esse intuito de resgatar memórias, que o jornal traz nesta edição uma matéria especial em comemoração aos trinta anos das “Diretas Já”. Um movimento popular que reivindicava o direito do povo de escolher seus representantes, e que o MARCO acompanhou desde o início. Matéria nas páginas centrais desta edição apresenta entrevistas com pessoas que participaram das “Diretas Já”, além de uma comparação com as manifestações que ocorreram recentemente. E como é ano de Copa do Mundo no Brasil, o jornal não poderia deixar de abrir um espaço para esse evento, levando até aos leitores matérias que abordam a hospedagem dos turistas, dando ênfase à Região do Coração Eucarístico e a preparação para a cobertura pela imprensa. Além disso, o MARCO abre espaço para a questão de manifestações no período do Mundial, levando-se em conta o ocorrido no ano de 2013, o manifesto do público brasileiro. A matéria apresenta dados de quem apoia e dos que participaram das manifestações ocorridas no ano passado. E ainda nesta edição do MARCO, de número 304, a nossa equipe leva até você informações sobre as comunidades ao entorno, em seus aspectos econômicos e de segurança pública. Dando continuação aos destaques da edição passada, atualizamos a situação de entrega do Batalhão da Polícia Militar, e a saída da Delegacia da Polícia Civil do Bairro Coração Eucarístico. E fechando a primeira edição de 2014, uma entrevista ping pong com Rubinho do Vale, resgatando a história da carreira deste violeiro, cantor e compositor brasileiro, dono de várias músicas bastante conhecidas, como “ABC do Amor”, “Ser criança”, “Encantando” dentre outras. Rubinho conta para nossa equipe seus projetos em andamento e o lançamento do seu oitavo CD, que chegará em breve às lojas. É assim que o MARCO abre o ano, levando até vocês, leitores, uma edição com matérias que resgatam o nosso passado e aquelas que nos atingem nos dias de hoje. É isso que o nosso jornal prioriza, a chegada da informação até a sua casa.

expediente jornal marco

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal Puc Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Letícia Diniz, Giovanna Evelyn, Juliana Gusman, Karen Antonieta, Marcella Figueiredo, Mateus Teixeira, Rafaela Romano, Sérgio Marques Monitores de Fotografia: André Correia, Camila Navarro, Liz Vasconcelos Monitor de Diagramação: Vinícius Augusto CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares

Alamedas são ruas arborizadas, geralmente com álamos e, ao menos teoricamente, utilizadas apenas por pedestres. Mas, na capital mineira não é o que vemos em alguns bairros hoje. Segundo o arquiteto e urbanista, Rubens do Amaral, do Departamento de Urbanismo da UFMG, a origem desse tipo de via encontra-se na expansão urbana que ocorreu na Europa durante o século XVII. Suas origens podem remeter à época em que as cidades europeias eram circundadas por muralhas e fortificações chamadas “bastião” ou “baluarte” que, mais tarde, deram origem aos boulevards. Posteriormente, com o advento da pólvora, os muros finos que compunham esse sistema foram substituídos por muros de terra largos, que ao serem retirados, deram lugar a amplas ruas, margeadas por árvores, que mantiveram o nome de boulevard. Outra possível proveniência das alamedas faz referência às avenidas francesas

que levavam a um palácio importante, e que, por iniciativa de Luis XIV, receberam múltiplas fileiras de árvores. Com o crescimento das cidades europeias, a popularidade das árvores de rua aumentou. Dessa maneira, a arborização ao longo das vias passou a ser associada a valores aristocráticos. Na cidade de Belo Horizonte há bairros com muitas alamedas. É o caso do Dom Cabral (Região Noroeste), Havaí (Região Oeste) e São Luiz (Região da

Pampulha). O Dom Cabral, próximo a PUC Minas, é o principal deles e surgiu com a expansão da cidade além dos limites da avenida do Contorno. As ruas estreitas deixam o bairro com um aspecto tipicamente interiorano, o que aproxima moradores e contribui para a familiaridade com que se tratam as pessoas do local. As alamedas do Dom Cabral, porém, não são arborizadas. Muitas vezes, contam com calçamento precário e algumas, além

de serem vias de trânsito, são mão-dupla. Esse fato incomoda alguns moradores, como é o caso de Sônia Deiara dos Santos Paula, aposentada e residente no bairro há 19 anos. Para ela, as alamedas são muito estreitas e o trânsito de motos e carros, nos dois sentidos, acaba representando um risco às crianças que brincam na rua e aos pedestres que eventualmente se aventuram em meio aos veículos.

Falta de arborização é característica das Alamedas do Bairro Dom Cabral

André Correia

Problemas nas alamedas são motivo de várias preocupações No bairro Dom Cabral, apesar das alamedas serem muito estreitas, o trânsito se dá normalmente. Para Estela Maris Duarte, moradora da Alameda Sapotí há 6 anos, o fato de sua alameda ser mão dupla é terrível. “Todo o trânsito que vem da Av. Santa Matilde e vai para a Rua Imbiaçá passa na Sapotí. Carros, motos e até caminhões”, diz, contrariada com a situação. Devido ao peso dos veículos de grande porte, as laterais da alameda estão afundando. Segundo a aposentada, sua alameda é uma das poucas que permanece mão-dupla e torná-la mão única ajudaria na diminuição do fluxo de veículos. Já foi cogitada por Estela a possibilidade de fazer um abaixo assinado para conseguir tal reivindicação. O problema de sinalização piora o trânsito da região. Segundo Luciana Andréia Vaz, 48, moradora do bairro des-

de que nasceu, há cerca de quatro anos uma menina morreu em um acidente que envolveu uma moto e uma Kombi, na rua Imbiaçá. Ela diz que uma boa solução para esse tipo de problema seria a melhor sinalização das alamedas ou o estabelecimento de mão única. Já a moradora Luana Morgana, de 22 anos e moradora do bairro há cinco, adora a vida pacata do Dom Cabral e diz que o transporte coletivo que ancora o bairro atende muito bem às suas necessidades. Mas há problemas de captação de água nas alamedas. “Só no mês de fevereiro, vi o pessoal da COPASA vir aqui quatro vezes”, declara. O professor e guia turístico Evandro de Oliveira, 50, concorda com Luana quanto aos problemas de canalização. O morador diz que, quando chove, o fluxo de água que desce a rua Imbiaçá é muito grande.

Terço dos homens muda hábito ISABELA ANDRADE 3º PERÍODO

O ‘terço dos homens’ surgiu há dois anos e é realizado às terças-feiras às 19h, na Paróquia Coração Eucarístico de Jesus, após a missa, com intenção de aproximar os homens de sua religião. Apesar do nome, o espaço de oração está aberto também às mulheres. “É um trabalho de catequese que a Igreja faz, como forma de desenvolvimento da espiritualidade especialmente no homem que é mais desligado da religião, são as mulheres que geralmente rezam mais”, diz o coordenador do

terço Juaréz Costa Neli, 68. O número de fieis aumenta a cada reunião e eles intensificaram sua relação com a Igreja após frequentarem o terço. “Os homens rezam mais, alguns que antes não iam à Igreja, após vir para o terço voltaram a assistir as missas”, revela o coordenador. Muitos frequentadores apresentaram mudanças comportamentais, fazendo com que os homens comecem a se unir para orar com a família e sejam mais atenciosos para com a mesma. “Os homens se tornam mais dóceis com a esposa e os filhos”, informa Juaréz.

A divulgação do terço dos homens é feita por padres ao fim da missa e através de uma faixa que fica em frente à Igreja. Os frequentadores muitas vezes também convidam outras pessoas. “Esta é a quarta vez que venho, meu primo que me contou sobre a celebração. Já convidei alguns amigos”, relata Marcelo Rabelo Nalon, 32.

JOVENS Apesar de grande parte dos participantes do terço dos homens possuírem mais de 40 anos e serem casados, na celebração pode-se encon-

trar jovens como Guilherme Antônio da Silva Bueno estudante de odontologia de 19 anos. “Eu acho bacana, porque não é tão fácil ver homens na Igreja, é uma fé muito bonita”, diz o jovem. Ao contrário de Guilherme, que veio para o terço apenas há seis meses, Io Cezar de Araújo, 21 anos, estudante de economia já participa há mais de um ano. “Já frequentava o terço dos homens na minha cidade (Martinho Campos), quando vim à missa fiquei sabendo porque o padre falou ao final”, diz.


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Comunidade

Moto-policiamento é novidade e divide opiniões de moradores Segurança precária do Bairro Coração Eucarístico preocupa moradores que reinvidicam medidas de policiamento para combater crescente ocorrência de crimes e reestabelecer a tranquilidade VITOR FERNANDES 1º PERÍODO

No final de 2013, o Bairro Coração Eucarístico ganhou nova ferramenta para o combate à criminalidade, o moto-policiamento. Comerciantes e moradores ouvidos pelo MARCO manifestaram, em sua maioria, apoio à medida. Guilherme Henrique Pereira da Silva, gerente do Denique Café conta que já foi assaltado duas vezes desde a compra do estabelecimento em 2012. Ele disse que percebeu a diminuição da criminalidade com a implantação do moto-policiamento, e que costuma ver as motos pelo menos uma vez por dia. Também comentou que o problema da segurança no Coreu é pior na época de férias da PUC Minas, quando o policiamento diminui muito, e foi nesse período que os assaltos ao seu estabelecimento aconteceram. Com isso, houve perda de clientes, já que na hora em que os bandidos apareceram, tinham pessoas no café, que foram assaltadas também. Ao contrário de Guilherme, Júlio, da Drogaria Baêta, conta que nunca foi assaltado naquele local e também acredita que houve uma melhoria da segurança com a implantação das motocicletas. Maria da Conceição Silva trabalha na papelaria Unipaper e diz que os policiais costumam entrar no comércio, perguntar se

está precisando de algo, e que até deixaram telefones para contato. Porém, ela ressalta o medo dos comerciantes, que fecham o comércio ao mesmo tempo, por volta das 19h30. As opiniões variam. Vilma Tamborini tem uma banca na Avenida 31 de Março e disse que o estabelecimento já foi assaltado duas vezes, e que não percebeu a diminuição da criminalidade nem nunca viu as motos passando. Ela acha a segurança no Coreu precária. Sônia Maria mora no Coração Eucarístico há 46 anos e tem mesma opinião de Vilma, acha a segurança no bairro muito fraca, tendo em vista as notícias de violência que os jornais relatam com frequência. Síndico de um prédio no Coração Eucarístico, Hélio César Guimarães, mora no bairro há 10 anos e diz que o local já sofreu com a ação de bandidos algumas vezes. Não chegaram a entrar nos apartamentos, mas alguns carros foram roubados. Perguntado sobre o moto-policiamento, ele disse que nunca viu as motos circulando. Conta que uma moto particular faz patrulhas regulares no entorno dos prédios. Ele diz achar a Região do Coréu muito tranquila, pelo fato de muitos não conhecerem as saídas, ruas e acessos. O presidente da Associação de Moradores do

Motos possibilitam maior fluidez na patrulha dos policiais militares pelo bairro

Coração Eucarístico, Iracy Firmino, revela que o moto-policiamento foi um pedido da população, já que o efetivo inicial não estava atendendo de acordo com o esperado. Muitos roubos e assaltos eram efetuados todos os dias. Com o início da circulação das motos, já houve uma grande melhora na diminuição da criminalidade, já que agora é feito um trabalho preventivo. Mas ele não acha que essas duas motos são o suficiente, diz que a segurança é precária e ainda há muito o que melhorar. “A malandragem (dos bandidos) é tão grande, que eles ficam esperando o momento que as motos

terminam a ronda para iniciar os assaltos”, observa. Dono de uma papelaria, Iracy conta que o estabelecimento foi assaltado diversas vezes. Diz que a situação está um caos, e que espera a melhora da segurança com urgência. Ele conta que o quartel do Coração Eucarístico já devia ter sido inaugurado e estar com seus serviços funcionando, mas ainda está em obras. O policial militar Júlio César Cerqueira, que está há cinco anos na Polícia Militar no Coréu conta que o moto-policiamento foi necessário devido ao aumento do trânsito na região. As motos tem uma facilidade maior

André Correia

para circular entre os veículos, aumentando assim a rapidez e eficiência para o atendimento das ocorrências. Perguntado sobre os locais em que o moto-policiamento deve estar mais presente, devido a periculosidade, ele respondeu o seguinte. “Foi feito um estudo de causa, nós constatamos que a criminalidade no Bairro Padre Eustáquio e no Coração Eucarístico estava superior em relação aos outros bairros, tanto que nessa região, o moto-policiamento é pioneiro”. Além das motos, têm mais duas viaturas do bairro, para o atendimento de ocorrências. Segundo ele, o problema

da segurança não pode ser colocado somente nas mãos dos policiais. O tenente André Oliveira, comandante da companhia, ao ser indagado se há algum local ou horário que a população deva evitar, foi categórico ao responder. “As pessoas não precisam deixar de sair de casa por medo. Infelizmente, a criminalidade está presente em todos os lugares. Então o que nós pedimos é que todos tenham cuidado ao chegar e ao sair, observar se tem alguém estranho na rua, ser cauteloso ao falar no celular, estacionar o veículo em locais iluminados e dentro do possível estar sempre acompanhado”.

Estudantes são alvo de reclamações A população está muito insatisfeita com os estudantes que lotam a Avenida 31 de Março, geralmente as sextas e sábados. Basta tocar no assunto e a comerciante Vilma Tamborini desabafa. “Eu não sei o que é pior, se é na época das férias que fica deserto ou se é essa ‘tropa’ da PUC por aqui”. Ela reclama de alguns estudantes que urinam na rua, no entorno da universidade, que sujam o local. Ela disse também que muitos moradores não conseguem dormir por causa do barulho durante a madrugada, e que alguns estão vendendo seus apartamentos por não aguentarem mais tal situação. Conta que a polícia vê, mas não toma nenhuma providência. A moradora Sônia Maria de Olivei-

ra, do Bairro Coração Eucarístico há 46 anos, chama o entorno da PUC nessa avenida, de um “motel a céu aberto”. Conta que sua neta quase foi atingida por uma garrafa que foi arremessada em direção à parede de sua casa. Fala também sobre a falta de higiene de algumas pessoas que urinam nos muros, e até mesmo fazem sexo em local público. A moradora diz que quando volta da igreja, prefere dar a volta e fazer um caminho maior do que passar pela multidão de estudantes que se aglomera nas ruas. Já Hélio César Guimarães acha que os moradores poderiam ser mais flexíveis com os jovens, e dá uma declaração descontraída. “Como será que foi a juventude desses moradores que reclamam? Se

você quer sossego, se não quer ver nada disso, para que vir morar em um ambiente onde tem muitos jovens? Porque jovem é isso mesmo, às vezes o cara do bar proíbe de usar o banheiro, aí fazem (suas necessidades) no meio da rua mesmo. A população brasileira muitas vezes não recebe a educação que merece. Porém, tem estudante que nem merecia estar na faculdade. Eu já fui dono de um estabelecimento, já esqueceram cadernos inúmeras vezes e você vê que não tem nada anotado. Ele só vai pra faculdade para adquirir o diploma”, afirma. Alguns policiais comentaram sobre o que pode ser feito a respeito da situação. O soldado Júlio César disse que esse não é um problema que envolve só a polícia,

envolve vários outros órgãos públicos. E a própria Polícia Militar, juntamente com a população, tem levado as reclamações aos órgãos competentes para que, dentro da legalidade, alguma providência seja tomada, assim minimizando os danos e problemas que os moradores dessa região vêm tendo com os estudantes. O tenente André Oliveira pediu o apoio da população e dos próprios estudantes, para que quando um evento for realizado, a polícia seja avisada com antecedência, para garantir a segurança das pessoas. Ele também frisou que o meio da rua não é um local adequado para eventos de grande porte, não há estrutura para sua realização e acaba incomodando os moradores, impedindo o direito de ir e vir.


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Comunidade

Lote vago preocupa moradores Lote abandonado sem proprietário identificado no Bairro Dom Cabral apresenta problemas e falta de mobilização por parte da prefeitura e da própria Associação de Moradores é alvo de críticas RENATO MARTINS DA COSTA MARINA CASTRO GIOVANNA MOZELLI THIAGO CARMINATE 1º PERÍODO

Um lote vago localizado na Rua Guatambu, no Bairro Dom Cabral, tem causado problemas e preocupação aos moradores da região. Eles sofrem com o lixo despejado no local, que causa mau cheiro e proliferação de animais. Celina de Araujo Rocha, que reside em frente ao terreno há 42 anos, reclama do descaso da Prefeitura de Belo Horizonte, e da Associação de Moradores. Segundo ela, os órgãos não apresentaram soluções efetivas para o problema. Um muro construído no entorno da propriedade já desabou quase

Lixo e proliferação de animais causa problemas em lote no Dom Cabral

que por completo devido a atos de vandalismo e falta de manutenção. Celina conta, inclusive, que ratos vindos do lote constantemente invadem sua casa.

Outro morador, Rogério Goulart da Cruz, cuja residência se situa ao lado da área em questão, mostrase indignado com o fato do mato presente ser rara-

Camila Navarro

mente capinado e, por isso, estar entrando em parte de sua propriedade. Ele alega ainda, que tentou procurar pelos proprietários do lugar para oferecer seus ser-

viços de limpezas de lotes, porém não obteve sucesso. O local ainda abriga Geraldo Assunção, que faz do terreno o seu lar há cerca de dois meses e já possui inclusive, dois sofás, um colchão e um fogareiro. Ele reafirma o que vizinhos falaram sobre o lixo, entretanto alega que com os pedidos, a prefeitura realiza uma limpeza parcial do lote, retirando apenas uma pequena porcentagem dos resíduos. Questionado, Pedro Antônio de Oliveira, representante da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), garantiu que a prefeitura tem fiscalizado o local e que, no entanto, os moradores continuam a jogar e queimar lixo no terreno. Em nota, a Regional

Noroeste informou que por meio da Gerência Distrital de Controle de Zoonoses, a referida demanda está em discussão no comitê Regional de Dengue e Leishmaniose. E que já foram lavradas duas notificações, as quais foram enviadas para três diferentes endereços, porém não foram recebidas em nenhum. O proprietário não reside mais em Belo Horizonte e não foi encontrado. Dessa forma as notificações foram encaminhadas para a publicação no Diário Oficial do Município (DOM). Também será concedido um prazo de 15 dias para efetuação de limpeza e caso não seja cumprido, será autuado em R$ 1581,07 aplicáveis em dobro e em triplo a cada dois dias de atraso.

Mudanças em linhas de ônibus geram críticas FREDERIK CORTEZ LUCAS FRANCO LEÃO ABNER CRISTIAN 1° E 2° PERÍODOS

No último dia 15 de fevereiro, as linhas de ônibus alimentadoras gerenciadas pela BHTrans que operam na Estação São Gabriel, localizada na Região Nordeste de Belo Horizonte, tiveram alterações nos quadros de horários e itinerários. A maior mudança ocorreu nos pontos finais, que antes eram na Estação São Gabriel e foram transferidos para os bairros. Vários usuários das linhas reclamaram das alterações, já que, segundo eles, o tempo de espera aumentou. A cozinheira Aparecida Ferreira Machado, de 53 anos, usuária da linha 811 (Estação São Gabriel/Vista do Sol) disse que as alterações pioraram. “Os ônibus estão demorando mais e andando lotados”, afirma. Para a vendedora Roseane Cristina, de 32 anos, também usuária da linha 811, a mudança não agradou. “Deveriam ter mantido a forma

que era antes, agora está só piorando. Além do tempo de espera que é bem maior”, observa. Ela também disse que no período da manhã a situação é complicada, “Os ônibus passam lotados”, acrescenta. Em nota, a BHTrans informou que as alterações feitas visam garantir uma boa operação da Estação BRT Move São Gabriel. Questionada pelo MARCO se as alterações continuarão mesmo após a inauguração do setor Leste da estação, a BHTrans afirmou que as alterações serão permanentes. Além disso, a empresa informou que os impactos dessas alterações ainda não foram percebidos, pois as mudanças ainda são recentes. No total, de acordo com a BHTrans, 15 linhas que circulam diariamente e outras sete que só trafegam aos domingos e feriados, sofreram modificações em seus quadros de horário ou itinerário. Confira no quadro ao lado quais são as linhas.

Veja as linhas que sofreram alterações: Linhas que circulam diariamente: 705 - Est. São Gabriel / São Tomaz 706 - Est. São Gabriel / Heliópolis 707 - Est. São Gabriel / Jardim Guanabara 708 - Est. São Gabriel / Felicidade 711 - Est. São Gabriel / Solimões 713 - Est. São Gabriel / Lajedo 714 - Est. São Gabriel / Casas Populares 715 - Est. São Gabriel / Monte Azul 716 - Est. São Gabriel / Novo Aarão Reis 806 - Est. São Gabriel / Vista do Sol - via Nazaré 807 - Est. São Gabriel / Ribeiro de Abreu 808 - Est. São Gabriel / Paulo VI 809 - Est. São Gabriel / Belmonte 810 - Est. São Gabriel / Parque Belmonte - via Dom Silvério 811 - Est. São Gabriel / Vista do Sol - via PUC Linhas que circulam apenas aos domingos e feriados: 709 - Est. São Gabriel / Tupi 710 - Est. São Gabriel / Providência 732 - Est. São Gabriel / Conjunto Felicidade 734 - Est. São Gabriel / Aarão Reis - via Minaslândia 812 - Est. São Gabriel / São Gabriel 836 - Est. São Gabriel / Ribeiro de Abreu

Linha 711 teve itinerário alterado

Abner Cristian

Mais escolas de idiomas no Coração Eucarístico BÁRBARA SIER CAMILA VIEIRA LARA COIMBRA 1º, 2º E 3º PERÍODOS

Existem mais de 10 escolas de idiomas no Coração Eucarístico e bairros da região. Des-

de o anúncio de que o Brasil seria sede da Copa do Mundo FIFA 2014, em outubro de 2007, notou-se um crescimento das opções de cursos. A prevalência é da língua inglesa, mas algumas escolas também oferecem cursos de outros idio-

Alunos aprendem novos idiomas nas escolas do Bairro

mas, como francês e alemão. A escola Luziana Lanna, localizada à Rua Padre Rossini Cândido, conta com dez salas de aula e mais de dez professores. Estão disponíveis além de inglês, cursos de francês, alemão, e italiano. Os alunos

André Correia

são, em sua maioria, estudantes da PUC Minas, pois a escola possui convênio com a instituição, mas isso não impede que outros moradores do bairro matriculem-se. Alexandre Andrade Santiago, 35 anos, trabalha no Luziana Lanna e é professor de inglês há 10 anos. Segundo ele, alunos envolvidos nos cursos de relações internacionais e das engenharias aumentaram seu interesse em aprender línguas estrangeiras. “Comunicação global e educação interligada, faz com que isso seja necessário”, pontua o professor. Sobre a concorrência, Alexandre afirma que isso é uma coisa saudável, por dar ao aluno inúmeras possibilidades de adaptação: “Cada um se adequa a um método de ensino diferente”. O perfil das turmas varia muito ao longo dos turnos nas escolas de idiomas estrangeiros. Na escola Number One,

unidade localizada à Rua Dom Lúcio Antunes, predominam turmas infantis de manhã, adolescentes à tarde e adultos à noite. Rafael Diniz Maciel, 33 anos, é coordenador da Number One há cinco anos, e diz que aprender outro idioma exercita o cérebro e que o processo de ensino é algo gratificante. “É muito bom acompanhar um aluno durante todo o curso e vê-lo se desenvolver ao longo dos anos”. Apesar da aproximação da Copa do Mundo, defende que a procura não aumentou como imaginou. Ele relatou que na época do anúncio oficial a demanda cresceu. A tendência, porém não atingiu suas expectativas. Rafael acha que saber um idioma hoje é algo extremamente importante. “O inglês deixou de ser um plus e passou a ser obrigatório”, salienta. Na GoUp, localizada à Rua Padre Pedro Evangelista,

há diversidade de idades em uma mesma turma, de adolescentes a idosos. Um exemplo é Maria Isabel Cordeiro, 67 anos, que está iniciando seu primeiro ano de inglês na escola GoUp. Ela demonstra que aprender nunca é perda de tempo. Ao ser questionada sobre o porquê de ter começado agora, respondeu: “Queria um tempo para mim. Tenho uma casa enorme que ajudo minha irmã organizar e um irmão que esteve doente por muito tempo. Durante a vida toda me dediquei às pessoas. Agora, finalmente, poderei fazer algo para mim mesma.” Maria diz que aprender outro idioma não teve nada a ver com a opção de complemento para a sua profissão. “Já fui advogada, mas estou aposentada desde 1999. Agora quero viajar o mundo”, diz. Além do inglês, ela também faz dança e ginástica.


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Comunidade

Transferência da Delegacia Civil mobiliza moradores do Coreu A decisão de transferir o 4º Distrito Policial do Bairro Coração Eucarístico para o Alípio de Melo motivou a Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico a fazer um abaixo-assinado MATEUS TEIXEIRA VINÍCIUS AUGUSTO 4º E 6º PERÍODOS

Apesar da mobilização dos moradores do Coração Eucarístico, que incluiu elaboração de abaixo-assinado com mais de 1 mil nomes e reunião na Chefia do Departamento de Polícia Civil, a decisão de transferir a 4ª Delegacia Distrital de Polícia deste Bairro para o Alípio de Melo não será revista. A transferência da sede da delegacia, que, inicialmente ocorreria em fevereiro, foi adiada, não tem data certa, mas vai acontecer ainda este ano, possivelmente depois da realização da Copa do Mundo, entre junho e julho próximos. A delegada regional de Polícia Civil responsável pela Regional Noroeste, Ana Paula da Silva Fernandez, afirmou, no final de fevereiro, em entrevista ao MARCO, que não há uma data para a transferência, apesar de já ter terminado o contrato de aluguel. “Não tem um prazo definido”, ressalta. O certo é que a mudança acontecerá. Não por falta de empenho dos moradores que pretendiam conseguir a revogação dessa transferência. Um abaixo-assinado foi elaborado pela Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico (Amacor). “Juntamente com o presidente e a partir das reclamações dos

moradores, nós tivemos a ideia de levar ao conhecimento da imprensa e fazer o abaixo-assinado para (manter a) delegacia, embora não seja útil para a segurança, mas coloca respeito”, observa o cabelereiro Jarbas Garnier, vice -presidente da entidade. Ele revela que foi surpreendido com a decisão de transferência da delegacia do Coração Eucarístico para o Alípio de Melo. “Foi surpresa, porque não esperava isso aqui. Os moradores têm aonde recorrer, pedir socorro e fazer ocorrências”, conta. Jarbas não sabe precisar o número exato de assinaturas recolhidas, mas estima a adesão em pouco mais de mil pessoas. O presidente da Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico (Amacor), Iracy Firmino, que também avalia em torno de 1 mil assinaturas, revela que o abaixo-assinado foi entregue à Secretaria de Ação Social em janeiro e um ofício foi entregue como resposta aos moradores. “No final de janeiro, foi entregue para o secretário de Ação Social. Eles mandaram um ofício para a igreja falando que a delegacia ia sair, dando umas desculpas”, informou. “Os moradores estão inconformados e revoltados, porque essa delegacia era um lugar para registrar ocorrências, e mudando de bairro as pessoas que precisarem do

Quarta delegacia distrital de Polícia, que fica à Rua Dom Joaquim Silvério, será tranferida

serviço vão perder tempo devido à distância e sofrer com a insegurança”, comenta Iracy Firmino. Segundo o delegado da unidade da Polícia Civil, localizada no Coração Eucarístico, Rodrigo Batista Damiano, a preocupação da população é com a saída física da delegacia do bairro. “Ela traz alguma sensação de segurança para os moradores, mas é uma sensação muito limitada ao perímetro onde a delegacia está, não é extensivo a todo o Coração Eucarístico”, observa. A transferência de local é um planejamento estratégico da polícia civil que visa à melhoria das investigações na região, com mais investimentos em

André Correia

A assessoria de comunicação da Polícia Civil disse que a transferência faz parte de um processo de centralização para res-

truturação da delegacia. O prazo inicial seria em fevereiro, mas foi adiado e segundo o chefe do Departamento de Polícia Civil em Belo Horizonte, Anderson Alcântara Silva Melo, não há uma data exata, mas a pretensão é de ocorrer ainda este ano. Sobre o abaixo-assinado, a assessoria de comunicação informou que o delegado Anderson Alcântara encaminhou informações para a Superintendência de Investigações e Polícia Judiciária (SIPJ) para que um ofício fosse feito e encaminhado para a Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico (Amacor). O delegado Ander-

son Alcântara também recebeu o presidente da Associação e alguns outros moradores do bairro. Firmino confirmou a realização do encontro. “O delegado disse que é um choque de gestão e que no Alípio de Melo vai ficar melhor”, relatou Firmino. Em dezembro, em entrevista ao MARCO, o chefe do Departamento de Polícia Civil em Belo Horizonte, Anderson Alcântara Silva Melo disse que o prazo de mudança seria entre 30 a 60 dias. “O imóvel alugado, não feito para ser delegacia, não funciona tramite administrativo. O contrato vence em fevereiro de 2014”, afirmou à época.

está arrumado nem nada”, observa o presidente da Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico (Amacor), Iracy Firmino. De acordo com o tenente André Olivei-

ra, o atendimento está ocorrendo normalmente, só que o endereço ainda continua sendo na unidade localizada na Avenida Pedro II. “O atendimento conta com viatura nor-

mal do 190, com viatura de atendimento de patrulha de operações, com as motocicletas policiais e com o patrulhamento preventivo”, informa. Contudo, a opinião do tenente Oliveira é que em poucas semanas tudo seja finalizado. “A expectativa é que a obra fique pronta até meados do mês de março. Mas é expectativa, não quer dizer que seja certeza porque tem esses problemas técnicos de engenharia”, observa. A 9ª Companhia faz parte do 34ª Batalhão da Polícia Militar, juntamente com as 8ª e 21ª Companhias, localizadas respectivamente nos bairros Alípio de Melo e Lagoinha, e com a 2ª Companhia Tático Móvel, Bairro Caiçara, no mesmo endereço do 34ª Batalhão, na região noroeste de Belo Horizonte.

tecnologia e informação. Mesmo com a mudança de endereço, esperada para ainda este ano, após a Copa do Mundo, o Coração Eucarístico vai continuar sendo atendido e tendo acesso aos serviços oferecidos pela Polícia Civil. “A delegacia vai continuar respondendo pelo bairro, só que com uma estrutura melhor. Ela vai continuar voltada para atender o Coração Eucarístico”, esclarece o delegado. RESPOSTAS

Novo Batalhão da PM continua em obras

VINÍCIUS AUGUSTO 6º PERÍODO

A entrega e inauguração da 9ª Companhia da Polícia Militar na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 3230, na Via Expressa, inicialmente prevista para o início do mês de fevereiro, estão atrasadas por causa de questões técnicas, e sem data acertada para início dos trabalhos no local. É o que informou o tenente André Oliveira, responsável dentro da PM pelas obras no local. Segundo ele, a demora para a finalização da construção foi causada por problemas naturais em obras. “A estrutura não está pronta ainda, está sendo feita. Aí teve um problema de chuva no final do ano passado, que fez com que o contrato da emprei-

teira com o Estado para fazer a obra atrasasse por causa dessas chuvas de novembro e dezembro. Com isso, a empreiteira ganhou um prazo a mais para terminar a obra. É questão

de construtora”, explica. EXPECTATIVA “Nós não sabemos ainda quando vai acontecer a inauguração. O prédio nem está pintado, nem

Ainda não há data prevista para inauguração da 9ª Cia da Polícia Militar, na Via Expressa

André Correia


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Comunidade/Campus

Pedestres sofrem na Via Expressa Falta de faixas é o principal problema enfretado pelas pessoas que tentam atravessar a Via Expressa, na Gameleira, local com fluxo intenso de automóveis, o que gera riscos aos transeuntes MARINA KAN MEI ROBERTO BARCELOS 1º PERÍODO

Pessoas desviando apressadamente de veículos em alta velocidade, numa tentativa de não serem atropeladas. Essa é uma situação recorrente na Via Expressa, principalmente no trecho que passa pelos bairros Gameleira, Coração Eucarístico, Minas Brasil e Dom Cabral, onde o fluxo constante de carros e a falta de dispositivos de segurança para a travessia de pedestres dificulta o acesso de uma calçada para a outra. Assim, diversos moradores da área se arriscam na pista de rolamento, para não precisarem caminhar grandes distâncias, uma vez que o espaço entre a passarela da Via Expressa e a faixa de pedestre mais próxima engloba cinco quarteirões. A auxiliar de educação básica Adriana Almeida Miranda, 47 anos, é moradora do Bairro Gameleira e precisa atravessar a Via Expressa para chegar a estabelecimentos comerciais,

Estudantes correm pela via, na tentativa de fugir dos automóveis

como padarias e supermercados, concentrados nos outros bairros da região. “A passarela é muito longe. Corremos risco, mas é a única opção”, relata Adriana. Outro desafio para os moradores desse bairro é a difícil travessia para a praça localizada no centro da Via, em frente ao supermercado

Carrefour. A praça apresenta um intenso fluxo de pessoas. Além de ser muito utilizada pela população local devido a seus aparelhos de ginástica e pistas de corrida e de skate, sua calçada também é usada como ligação entre os bairros próximos, pelos pedestres. Em frente à sua única entrada, as faixas de

André Correia

pedestre existentes não são respeitadas pelos motoristas. O professor Carlos André Silva, 45 anos, que atravessa a Via Expressa diariamente, mostra-se indignado com o desrespeito dos condutores em relação às faixas de pedestre. Isso viola o artigo 29 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), parágrafo 2, Lei

9505/97, que diz que “(...) os veículos de maior porte sempre serão responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres”. Carlos ainda completa com a seguinte avaliação sobre a escassez de dispositivos que garantam uma travessia segura. “Bastante descaso do poder público”. Questionada sobre os problemas levantados, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informa que não há no momento projetos para ampliar o número de faixas, já que não há uma demanda suficiente de pedestres para que isso aconteça. Todavia, a empresa informou sobre a promoção da campanha “Pedestre. Eu Respeito”, que foi iniciada em março do ano de 2013 e que tem como objetivo obter o respeito ao pedestre previsto no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e introduzir hábitos seguros no trânsito. Para isso, equipes coordenadas pela Gerência de

Educação no Trânsito da BHTrans abordam motoristas, motociclistas, ciclistas e os próprios pedestres, dando informações e distribuindo folhetos, cartilhas e adesivos, para que haja a travessia segura. Algumas obras de intervenção também foram iniciadas, como a implantação de semáforos para pedestres na travessia da Rua Guajajaras com Goiás e aumento dos tempos semafóricos para pedestres na Avenida Afonso Pena com Rua da Bahia e na Álvares Cabral com Carandaí. Mesmo com essas melhorias para os pedestres da capital, a área da Via Expressa próxima à estação de metrô do Bairro Gameleira ainda não apresenta, de acordo com a BHTrans, necessidade para a implantação de novos dispositivos de segurança para pedestres. Segundo a empresa, as pessoas devem continuar utilizando a passarela e as faixas de pedestre existentes e não se arriscar atravessando a Via no meio dos veículos.

Lixo gera problemas nos bairros próximos à PUC SÉRGIO MARQUES 4º PERÍODO

A grande quantidade de lixo depositado nas calçadas dos bairros localizados no entorno do campus da PUC Minas tem gerado transtornos aos moradores. No Coração Eucarístico, o problema é provocado pelas deposições clandestinas, onde sacos de lixo e diversos outros entulhos são depositados em locais inadequados e fora do horário de recolhimento. Já no Dom Cabral a situação é ainda mais complicada. Um ponto localizado à Avenida 31 de Março chama a atenção pelo grande acúmulo de lixo próximo a um coletor instalado no local. Ao caminhar pelas ruas próximas à Praça da Federação, no Coreu, é notório o volume de lixo acumulado nas esquinas. Sacos de lixo, móveis destruídos, pedaços de árvores, entre outros dejetos,

são empilhados nas calçadas e atrapalham a locomoção dos transeuntes. A Superintendência de Limpeza Urbana, (SLU), responsável pelo serviço de manejo dos resíduos sólidos em Belo Horizonte, informa que a coleta domiciliar é realizada três vezes por semana. Para isso, divide o bairro em duas partes, A e B. Na parte A, o recolhimento ocorre às segundas, quartas e sextas-feiras, enquanto na parte B, o recolhimento é realizado às terças, quintas e sábados. No entanto, muitas pessoas ainda não obedecem a essa regra e acabam depositando seu lixo em locais impróprios, não respeitando também o horário de coleta, gerando transtornos em todo o bairro. O comerciante Fábio Kalks Kosky, morador da Avenida 31 de Março, reclama da grande quantidade de lixo depositado nas proximidades de sua casa. Ele conta que o pro-

blema surgiu quando um coletor de materiais recicláveis foi instalado numa calçada próxima a sua residência. A partir disso, o local, que não era ponto de coleta, se transformou num verdadeiro lixão. “Aos finais de semana a situação fica impossível. Começa na sexta feira e no domingo a situação é ainda pior”, conta. O problema ocorre porque muitos moradores depositam todos os tipos de dejetos próximos ao coletor, não respeitando as indicações dos materiais recicláveis. Além disso, carroceiros e donos de carrinhos de cachorro quente também depositam dejetos no local. Quando as repartições estão cheias, o lixo é jogado no chão, formando um amontoado de entulho que atrapalha a circulação pela calçada. O local tem contribuído com a proliferação de ratos e baratas, comumente avistados na localidade e que

Acúmulo de lixo é resultado da falta de conscientização de moradores

invadem as casas de moradores próximos, como Fábio. Ele acredita que as pessoas deveriam contribuir mais e respeitar os dias de coleta de lixo, além de deposita-lo em locais próprios. “Edu-

cação e higiene não dependem de classe social e condição financeira”, completa. A fiscalização das deposições clandestinas é responsabilidade da Secretaria de Serviços Urbanos. No entan-

André Correia

to, a falta de consciência da população é um dos pontos que impede que esse problema seja sanado. Para denunciar, o cidadão pode ligar na Central de Atendimento Telefônico da Prefeitura.

Circuito movimenta Complexo Esportivo da PUC ANA LUISA LÚCIO E SANTOS ELIZA DINAH SILVA DOS ANJOS MAYARA LUCIA GONÇALVES CAMILLA RABELO FIORINI 1º E 2º PERÍODOS

O Circuito Esportivo PUC Minas 2014 começou a ser realizado em março, no Complexo Esportivo do Campus Coração Eucarístico, e vai continuar ao longo dos meses de abril, maio e junho, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, trazendo o ambiente agradável das competições além de integrar professores, alunos e funcionários de todas as unidades PUC Minas. O circuito foi uma ação que aconteceu por seis anos no complexo esportivo. A equipe que o desenvolvia era reduzida, por isso teve que parar com o projeto. Agora, foi retomado com um grupo

maior e melhor preparado, incluindo alunos de Educação Física que auxiliam na realização do evento esportivo. Os professores do curso de Educação Física procuram alunos que possam ajudar como delegados de partida, assistentes de arbitragem e árbitros. Com isso, a PUC Minas retoma a proposta de criar uma cultura de prática de esportes, melhorando a integração da comunidade acadêmica. O Circuito contará com as seguintes modalidades: futebol de campo, futsal, voleibol, natação e atletismo, com times femininos e masculinos, além de peteca, tênis de mesa e totó (pebolim), com times mistos. No futsal há uma categoria de convidados, que viabiliza a participação de pessoas não ligadas à PUC. Júlio Cesar Moreira de

O Complexo Esportivo da PUC estimula a prática de esportes

Souza, 33 anos, estudante do 6º período de Educação Física, que trabalha na academia do clube e que irá jogar peteca, valoriza a participa-

ção. Ele considera que não tem possibilidade de ganhar, pois sabe que não tem um elenco muito bom, mas está contente em participar. Júlio

André Correia

nunca competiu em outras edições, mas trabalhou na anterior, realizada há cinco anos, e diz que foi muito bom. Para Danny Cruz Guerra,

estudante do 7º período de Direito, 22 anos, que irá jogar futebol e futsal, é importante o incentivo que a PUC está dando ao esporte e critica o valor alto das taxas de inscrição. De acordo com Antônio Pádua Guanaes, da equipe organizadora, esse circuito visa primeiramente a comunidade acadêmica, incluindo os familiares que podem assistir aos jogos. Para isso os atletas devem enviar à coordenação do evento uma lista contendo os nomes dos convidados. As inscrições são feitas pelo site http://www.pucminas.br/ esportes/complexo/circuitoesportes.html, e o formulário de inscrição deve ser entregue na Secretaria do Complexo Esportivo (prédio 65, 2°andar) para validação e emissão do boleto de pagamento com o valor referente à modalidade.


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Cidade

Move inicia e já divide opiniões Usuários do transporte público na capital mineira comentam as primeiras impressões sobre o novo sistema e apontam problemas já percebidos após os primeiros dias de funcionamento GIOVANNA DE PAULA 7º PERÍODO

Depois de muitas obras, expectativas e críticas, o BRT Move começa a circular em Belo Horizonte. Ronald Bittencourt, 40 anos, saiu da Serra do Cipó, Região Central de Minas, só para conhecer o novo meio de transporte da capital mineira. “Eu vim conhecer mesmo, está todo mundo falando, aí eu quis pegar o BRT”, comenta. Alguns usuários como Ronald reclamam do transporte, enquanto outros elogiam. A principal via de acesso do Move, entre a Região Central e o Bairro São Gabriel, é a Avenida Cristiano Machado. Os passageiros que já experimentaram a novidade em transporte da cidade já encontraram algumas dificuldades e acreditam que o BRT não é a solução para os problemas de trânsito em BH. No entanto, a maioria das pessoas está otimista de que haverá melhoras pontuais. A moradora do Bairro São Gabriel, Sirley Soares, 33 anos, já utilizou o BRT Move nos dois sentidos (Centro/São Gabriel – São Gabriel/Centro). Segundo ela, como o BRT Move não possui pistas exclusivas durante todo o trajeto, ele pega

alguns congestionamentos. De uma forma geral, a usuária acredita que “o BRT não vai melhorar cem por cento o trânsito, mas vai dar uma ajuda”. “Em vista do metrô foi muito bom, pelo conforto, agilidade e rapidez”. Essa opinião é do passageiro Emerson Alex, 32 anos, sobre a experiência de ter utilizado o Move no sentido Centro/ São Gabriel. Ele afirma que, no momento, o novo meio transporte está bom, mas

futuramente será um problema, porque os veículos estão centralizados na estação São Gabriel. Segundo Emerson, as estradas precisam ser mais alargadas e ter mais opções de saída. “Se o Move estragar na pista da Cristiano Machado, o trânsito ficará todo fechado, não tem caminho, nem saída, nem nada”, conclui. Uma das grandes expectativas em relação ao Move é que ele comporte um grande número de

passageiros, devido a sua estrutura articulada. No entanto, Rafaela Silva, 25 anos, reclama da lotação. “O metro não funciona, a Cristiano Machado não anda e todo mundo está pegando o BRT”, comenta a passageira. Ela diz que o novo meio de transporte é prático e rápido. Contudo, revela um problema, como o Move possui uma pista exclusiva estreita, não tem como o ônibus direto ultrapassar o parador. “Eu

Apesar das propostas, o BRT Move provoca dúvidas em usuários quanto a sua funcionalidade

acredito que futuramente o BRT vai melhorar, depois que os erros forem consertados”, destaca. Para motorista do Move, Charles de Almeida, alguns critérios foram utilizados para a contratação dos profissionais que trabalham no BRT: bom comportamento e ausência de histórico de acidentes ou conflitos com passageiros. Ele informa que realizou um treinamento de aproximadamente duas semanas

Karen Antonieta

para dirigir o novo veículo. Motorista há 14 anos, ele diz que o ambiente de trabalho melhorou bastante. “Tudo é novidade. Eu estou gostando. A questão é fazer a pista toda exclusiva, aí será mais fácil, porque depois que passa o centro já é transito normal”, pontua. NOVA ESTAÇÃO

Com o objetivo de comportar os veículos articulados foi construída uma nova estação de ônibus no Bairro São Gabriel. Para a usuária Sirley Soares, os pontos de ônibus da estação estão muito próximos e não possuem uma cobertura adequada para os dias de chuva. Além disso, ela destaca que os funcionários do local precisam orientar melhor a formação das filas. Já Ronald Bittencourt, 40 anos, reclama da falta de informação por parte dos motoristas, que, segundo ele, não estão familiarizados com o itinerário. Para Valdelice Moreira, 45 anos, é preciso que a população tenha paciência, porque o Move está no início das operações. Ela disse que os problemas fazem parte da mudança. Embora ela reconheça que o BRT não é a solução para a melhoria do transporte na capital, a usuária afirma que ele “vai quebrar um galho”.

Parceria entre PM e comunidade chega à Betânia BRUNA LOPES 1º PERÍODO

O Projeto Rede de Vizinhos Protegidos é uma parceria da Polícia Militar com moradores iniciado em 2004 no Bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte, na tentativa de diminuir o índice de criminalidade, furtos, roubos e assaltos e aumento da sensação de segu-

rança. É uma ferramenta simples de comunicação sem custos e que beneficia a todos, mas depende da união dos moradores. O cidadão interessado em inscrever sua rua ou bairro na Rede de Vizinhos Protegidos deve procurar o Batalhão da Polícia Militar mais próximo. Assim fez a moradora da Rua Claraval, no Bairro Betânia Região

Oeste da Capital, a fisioterapeuta Roberta Márcia Murta Patrício, 43 anos. Juntamente com seus vizinhos, ela conseguiu a implantação da Rede na sua rua e agora está conscientizando os moradores das demais ruas do bairro a implantarem também. Segundo Roberta e outros moradores do bairro, ali, diuturnamente ocorrem roubos à carros

Polícia Militar e cidadãos se reunem para discutir medidas de segurança

André Correia

e casas, além da grande concentração de viciados em drogas e traficantes que também a comercializam livremente, além de praticarem sexo e fazerem suas necessidades fisiológicas a céu aberto. Ainda, segundo Roberta, desde novembro último, data da implantação da Rede na sua rua, não houve mais ocorrências de roubos e até a boca de fumo que funcionava ali foi fechada. Os moradores também podem solicitar junto aos órgãos competentes a poda de árvores e uma boa iluminação na rua para inibir criminosos. Para a obtenção de resultados elevados a organização e adesão são fundamentais. A Rede proporciona maior aproximação entre vizinhos, já que é importante que eles se conheçam para identificarem pessoas estranhas na rua. Além disso, orienta comportamentos com medidas de autoproteção que tornam os moradores mais atentos e observadores ao movimento das ruas e diminui o grande distanciamento entre co-

munidade e polícia, além de evitar atos criminosos por meio da prevenção. O seu objetivo principal é garantir de fato à população, a sua segurança, fazendo com que a mesma volte a ocupar espaços públicos, ruas, calçadas e praças. Para a implantação da Rede, é essencial a participação nas reuniões com a Polícia Militar. As reuniões são realizadas em algum local da própria rua, num total de seis reuniões, sendo que na última ocorre a colocação das placas nas casas e entrega do apito. Cada morador possui o seu dispostivo sonoro e, diante de algum flagrante, os moradores os utilizam para informar os vizinhos. Em reunião das ruas Santa Mônica, Consolação, Padre Lattankamp e Avenida Tereza Cristina (entre as ruas Bonança e Santa Mônica) realizada no mês de fevereiro na Casa das Missionárias, no Bairro Betânia, o Comandante do Setor 5.1 tenente PM Mateus da Costa Montemor dis-

se que em alguns bairros onde a Rede foi implantada, o índice de criminalidade diminuiu em até 40%. “Segurança pública já virou questão de saúde pública devido ao trauma muitas vezes deixados nas vítimas, os moradores precisam se envolver, ser conscientes do que fazer e nunca reagir”, ressalta o tenente Montemor. Baseado no projeto “Olho Vivo”, iniciou-se a ideia de que cada morador passe a ser uma “câmera viva” repassando informações diretas para a Polícia, que por sua vez, atuará pontualmente. Em qualquer suspeita ou anormalidade, pessoas estranhas, motos ou carros desconhecidos parados, os moradores devem entrar em contato com os vizinhos através de celulares, telefones fixos, emails etc. Disque para a PMMG para fatos de risco iminente, no sistema 24 horas disque 190 para ficar gravado no sistema, ou 181 para o Disque-Denúncia.


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Diretas já

Brasil nas ruas pelo voto direto Em tempos de manifestações populares, é importante recordar o movimento, que há 30 anos mobilizou pessoas, em todo o país, em torno do democrático desejo de elegar o seu presidente JULIANA GUSMAN LAYSA B. VIEGAS ALEXANDRE CUNHA 3° E 4° PERÍODOS

Manifestações populares não são estranhas para a juventude atual. Em 1984, há 30 anos, outra juventude ia às ruas. Em um Brasil ditatorial, as insatisfações não eram poucas. A falta de eleições para presidente impedia que o país tomasse o rumo que a população desejava. O movimento “Diretas Já” era a voz do povo que pedia a chance de escolher quem os iria governar. A partir de 1964, após o Golpe de Estado que instaurou no Brasil um governo ditatorial comandado por militares, a vida do cidadão comum saiu da sua normalidade. Foi o caso da dona do Cartório de Registro de Imóveis de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Maria de Lourdes Gusman Pe-

realidade precisava mudar. “Como todo bom brasileiro, o que eu mais queria era que tudo aquilo mudasse, porque ninguém mais aguentava. Estava um caos, não só público e moral, mas no sentimento da gente. Pensar que nada mudaria doía na minha dignidade todos os dias. Quando houve essa esperança de que algo pudesse melhorar, eu me dispus a fazer qualquer coisa para isso”, diz. A esperança a que Maurício se refere é um movimento que lutava pelas eleições diretas para presidente, após 20 anos de presidentes militares escolhidos pelo voto indireto. A partir da emenda proposta pelo então deputado Dante de Oliveira, a favor das diretas, diversas manifestações começaram a tomar conta do país. Em Belo Horizonte, a Praça da Rodoviária foi palco da maior manifestação da cidade, no dia 24 de fevereiro de 1984, que reuniu cerca de 400 mil pessoas. O motorista Flávio Gomes Castanheira, 55 anos, estava entre os manifestantes. “Eu segurava uma bandeira que dizia ‘fim ao governo opressor, que não nos deixa ser cidadãos’. Eu fui até a Praça da Rodoviária ouvir o comício. Quando acabou eu fui para casa com alguma expectativa de que aquilo havia tido um enorme efeito sobre o nosso sistema. Eu realmente achei que depois daquilo todas as coisas iam mudar”. O taxista Getúlio Fernando Portela, 53, era um jovem de 23 anos na época. No começo, juntouse à população pela Arquivo Pessoal vontade de fazer

reira, 81 anos, que tinha marido comunista. Ela precisou se esconder em uma fazenda, e teve o filho por duas vezes preso durante a ditadura. Tudo o que Maria de Lourdes queria, em 1984, era o fim desse período. “Não é que eu fiquei feliz quando o Tancredo ganhou. Naquele tempo a gente queria tudo, menos os militares. Estávamos cansados de ditadura. O Brasil quase parou no desenvolvimento. Tinha muita obra abandonada por falta de planejamento, de continuidade. Era muita falta de dinheiro, a gente passava muito aperto na época dos militares. Em Sabará, quando parava um carro na frente de casa meu coração disparava, eu achava que era o Dops (Departamento de Ordem Política e Social)”, conta Maria. Ela se refere à eleição de Tancredo Neves, via Colégio Eleitoral. Para o carpinteiro Maurício Dandino, 60, a

Maria de Lourdes queria o fim da ditadura

parte de qualquer ação revolucionária, sem se importar muito com o objetivo. “Quando entrei na multidão, eu nem sabia realmente o que estava acontecendo. Fui saber um tempo depois que estava acompanhando o povo do que se tratava aquilo tudo”, fala. Para Milca Silveira, funcionária pública, 60 anos, a preocupação era maior. Durante a movimentação em Belo Horizonte, estava grávida e ansiosa para que tudo acabasse. “Que confusão que era. Eu estava tentando ir ao centro para chegar ao hospital. Não dava, era impossível! O ônibus não saia do lugar quando estava chegando próximo a Praça Sete. Eu tive que ficar com o meu filho mais velho pelo menos uma hora dentro do ônibus, com ele vomitando. Não me entenda mal, o que estava acontecendo era legal e eu botava muita fé, mas eu fiquei muito nervosa por eles não estarem se importando com o bem do povo que não queria fazer parte do movimento. E se eu estivesse indo para o hospital porque o menino estava nascendo, eu ia ter ele no ônibus ou algo assim?”, indaga. Apesar dos imprevistos impostos pelos eventos do dia 24 de fevereiro, Milca reconhece a importância deste dia. “Foi uma ideia muito louca, mas por uma coisa boa para todo mundo. Na época eu realmente não estava conseguindo pensar em mais nada além da gravidez”. Já a costureira Mariana Teixeira Pedrosa, 55, ficou em casa com o filho

Milca: presa no ônibus por causa do comício

enquanto seu marido foi às ruas. “Eu estava em casa cuidando do meu menino e meu marido entrou gritando que o povo estava indo paras as ruas, e que ele ia junto mudar o país. Antes que eu falasse qualquer coisa ele já tinha saído correndo, eu fiquei com o menino pequeno morrendo de medo de ele acabar apanhando no meio daquele povo todo.”, conta. Quando o marido retornou, apesar das confusões, tinha fé de que iriam conseguir mudar o Brasil. A esperança do povo brasileiro, no entanto, foi frustrada no dia 25 de abril de 1984. A emenda de Dante de Oliveira não foi aprovada. “Você sabe como se sente uma criança que é boa o ano inteiro, esperando que no Natal ela vá ganhar aquilo que pediu, mas quando acorda no dia 25 e corre para a árvore, não há nada debaixo dela? Deve

Alexandre Cunha

ser a maior decepção que ela pode sentir, diz Flávio Castanheira. ”Eu digo isso porque foi exatamente o que eu senti quando eu vi que não deu em nada todo aquele esforço que fizemos”, acrescenta. Marina Pedrosa se lembra da indignação do marido. “Ele ficou muito triste, não quis falar nem comigo. Quando perguntavam pra ele, ele repetia a mesma coisa, sempre: Vocês vão ver, isso não vai ficar assim. Demorou, mas realmente ele estava certo. As coisas ficaram diferentes”. O então presidente João Figueiredo foi sucedido por Tancredo Neves, candidato de oposição, na última eleição indireta do Brasil. As diretas vieram em 1989, com eleição de Fernando Collor, que não completaria o mandato, por ter sido afastado pelo Congresso, que aprovou o pedido de impeachment.

Personalidades que marcaram eventos de 1984 Dante de Oliveira, nascido em 6 de fevereiro de 1952 e falecido em 6 de julho de 2006, foi o autor da emenda que pedia a volta das eleições diretas. A iniciativa de Dante foi a primeira a ultrapassar as paredes do Congresso Nacional e ganhar as ruas por meio de um forte e gigantesco movimento popular. Fernando Henrique Cardoso: Tornouse um dos grandes articuladores das “Diretas Já”. Além de participação ativa no movimento, contribuiu para que não houvesse radicalização política e colaborou na formação do governo Tancredo Neves. Ulysses Guimarães: Um dos líde-

res da campanha e figura fundamental no movimento. Após a decepcionante rejeição à emenda de Dante de Oliveira, Ulysses foi presidente da Câmara dos Deputados, entre 1985 e 1986, e entre 1987 e 1988 presidiu a Assembleia Nacional Constituinte. Teve papel fundamental na nova Constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988. Chamada por ele de “Constituição Cidadã”, tratava-se de uma constituição democrática, marcada por avanços sociais. O ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes de Alencar (15/12/1916 – 13/08/2005), foi uma das lideranças

progressivas do movimento. André Franco Montoro (14/07/1916 – 16/07/1999), ex-governador de São Paulo, e Leonel de Moura Brizola (22/01/1922 – 21/06/2004), ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, são exemplos de políticos que articularam apoio à emenda. O ex-presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva também lutou pelas eleições diretas, tendo dividido o palanque com Fernando Henrique Cardoso. Tancredo Neves, Governador de Minas n época acabaria sendo eleito presidente da República, pelo Congresso Nacional, na última eleição indireta.

Ele morreu sem assumir o cargo, que foi exercido pelo vice-presidente José Sarney. Vários artistas apoiaram o movimento. É o caso de Mário Lago (26/11/1911 – 30/05/2002), autor de discursos incisivos nos comícios das Diretas. Os cantores Chico Buarque e Milton Nascimento também participaram de vários comícios. Fafá de Belém foi uma grande voz do movimento, assim como o radialista Osmar Santos. Presença ativa nos palanques, a atriz Christiane Torloni foi chamada de “musa das Diretas”. Atriz e militante política, Bete Mendes também apoiou a causa e teve papel importante na luta.


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Diretas já

Entenda o movimento que lutava pelas eleições livres Em 1961, o então presidente do Brasil, Jânio Quadros, foi acusado pelo governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, de planejar um Golpe de Estado, afirmando uma ameaça comunista. O medo era compartilhado pela classe dominante brasileira (empresários, militares, banqueiros etc.) e também pelos Estados Unidos, que possuíam empresas multinacionais no Brasil. Jânio Quadros, então, acabou por renunciar a seu mandato de apenas sete meses. Logo em seguida, houve a tentativa de impedir que o vice, João Goulart, tomasse o poder. Apesar das tentativas de instalar o sistema parlamentarista, Goulart assumiu a presidência. Como medidas governamentais, o presidente João Goulart quis realizar as chamadas Reformas de Base (reformas agrárias, educacionais, urbanas etc.), mas seus planos foram frustrados. Os militares mobilizaram-se na noite do dia 31 de março para 1º de abril de 1964 contra o governo. Começou a ditadura militar no Brasil. O ponto principal no governo dos militares foi o autoritarismo. Por meio de Atos Institucionais, foram restringidas instituições democráticas e os meios de comunicação foram submetidos à censura. O AI-5 legitimava o direito de punir quem ia contra o governo. Após dez anos de ditadura, o regime começou a demonstrar sinais de desgaste. Durante o governo de Ernesto Geisel (19741979) diminuiu-se a censura e foram garantidas eleições diretas para senador, deputado e vereador. O AI-5 também foi extinto. Ano de 1979. Inicia-se o man-

dato presidencial do General João Batista Figueiredo (1979-1985). As aberturas políticas do governo Geisel não calaram vozes insatisfeitas com o permanente governo militar autoritarista. As críticas vinham por todos os lados: sindicatos de trabalhadores, grupos estudantis e científicos, imprensa, igreja, artistas, empresários. Todos unidos por uma causa: a redemocratização de um país que estava sob controle militar havia quase 20 anos. No final da década de 70 e início da década de 80 foram tomadas medidas que contribuíram para o avanço do movimento democrático. Foi aprovada a anistia aos que foram punidos durante o regime militar, possibilitando o regresso de exilados e recuperação de mandatos cassados e direitos políticos. O bipartidarismo foi abolido, permitindo a criação de novos partidos que participariam de futuras eleições. A antiga “Arena” passou a se chamar PDS, enquanto o antigo MDB se tornou o PMDB. Surgem ou ressurgem partidos como o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Por fim, foram determinadas eleições diretas para governador de estado. No ano de 1984, o esperado era a realização da escolha de um novo presidente através do colégio eleitoral, que referendaria o candidato apontado pelos militares, como havia acorrido nos últimos 20 anos. Mas este ano foi diferente dos 20 passados. Dante de Oliveira, deputado do PMDB do Mato Grosso apresentou, em 1983, uma Proposta de Emenda à Constituição. O objeti-

MARCO denunciou deputados federais contrários às eleições diretas

vo era instaurar o voto direto para presidente. A proposta de Dante de Oliveira movimentou a população civil a favor da causa. No dia 31 de março de 1983, o primeiro comício aconteceu em Abreu e Lima (PE), liderado por vereadores que levaram a população às ruas. As manifestações começaram a se alastrar por todo o país. Em 25 de janeiro de 1984, cerca de 300 mil pessoas se reuniram no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, que comemorava 430 anos. Em Belo Horizonte, a maior manifestação ocorreu no dia 24 de fevereiro de 1984, na Praça da Rodoviária. O Rio de Janeiro foi palco de acontecimento inédito: em pleno regime militar, foi a primeira vez no país em que um milhão de pessoas se reuniram em prol da democracia. A Igreja da Candelária foi o cenário da

manifestação, no dia 10 de abril. A maior concentração, no entanto, ocorreu em São Paulo: 1,7 milhão de brasileiros foram às ruas no dia 16 de abril de 1984 e marcharam da Praça Sé até o Vale do Anhangabaú. O amarelo foi a cor escolhida para representar o movimento. Estavam presentes Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva: oponentes unidos pela luta democrática. “Participei ativamente das ‘Diretas Já’, em 84. Lembro que da Praça da Rodoviária até a Praça Sete nós fomos com bandeiras. Havia muita gente e partidos de esquerda. A sociedade toda ficou unida em prol das Diretas. Eram políticos, jogadores de futebol, artistas, todo mundo em prol disso”, diz o professor de história Sormany José Alves, 49 anos. Nos quatro meses antece-

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dentes à votação da emenda de Dante de Oliveira, o movimento que ficou conhecido como “Diretas Já” se alastrou rapidamente. Curitiba (PR), Vitória (ES), Salvador (BA) e Campinas (SP) são exemplos de cidades que participaram do movimento. Professor de comunicação na PUC Minas, José Milton Santos, 66, na época das “Diretas Já” era editor do jornal semanal “O Metropolitano”, que circulava na Grande BH e que foi pioneiro na campanha das Diretas. “Eu não só participei ativamente das atividades, como profissionalmente coloquei o jornal que eu editava a serviço da causa das Diretas Já”, afirma José Milton. Em 25 de abril de 1984, o dia da votação da emenda Dante de Oliveira. Foi o dia que o Brasil se decepcionou. A emenda foi rejei-

tada. Após 17 horas de discussão, faltaram 22 votos para a aprovação. Foram 298 votos a favor, 65 contra e três abstenções. Os 113 deputados que não comparecerem eram do PDS. O movimento que sonhava com a redemocratização do Brasil teve o sonho adiado. Ocorreu, em 1984, uma eleição indireta para sucessão do presidente João Batista Figueiredo. No entanto, foi a última eleição indireta. O PMDB indicou Tancredo Neves e Paulo Maluf foi o indicado do PDS. As pressões populares e internas levaram o Congresso a eleger o candidato da oposição e Tancredo Neves foi eleito presidente do Brasil. “Todos nós ficamos muito decepcionados, porque realmente acreditávamos que a emenda seria aprovada. A frustração foi muito grande. Após a não aprovação, a própria população começou a apoiar o Tancredo Neves. Muitos acreditavam que ele não poderia fazer muita coisa, mas seria a transição. Os comícios continuaram, mas desta vez apoiando o Tancredo”, conta o professor Sormany Alves. Após eleito, Tancredo adoeceu gravemente e faleceu em 21 de abril de 1985 (a versão oficial dizia tratar-se de uma diverticulite, mas versões posteriores apontaram ser um tumor benigno). José Sarney, o vice, tomou posse. Foi a volta do poder civil. Em 15 de outubro de 1986 foram eleitos 559 congressistas, incumbidos de formular uma nova constituição para o país. Em 5 de outubro de 1988, Ulysses Guimarães promulgou a nova Constituição Federal, composta por 245 artigos e 1627 dispositivos constitucionais.

Manifestações atuais e a relação com as “Diretas” Vinte e nove anos após a ocorrência das “Diretas Já”, em julho de 2013, a população foi às ruas manifestar seu descontentamento contra os abusos cometidos pelo governo. Um protesto contra

Sormany Alves: manifestações diferentes

o aumento de 20 centavos na passagem dos ônibus de São Paulo foi o estopim e o ponto de partida para uma série de manifestações populares em todo o Brasil, contando principalmente com jovens militantes. No aniversário de 30 anos das Diretas, protestos em menor escala continuam a ocorrer e prometem retornar durante a Copa do Mundo mais força do que tiveram em julho passado. No final da década de 80, o jornalista e escritor brasileiro Carlos Castelo Branco, falecido em 1º de julho de 1993, comentou sobre as diretas. “Pode mudar a história, desde que seja ponto de partida para outros iguais”. Surge, então, a questão: as recentes manifestações tem potencial para de fato mudar a história, como fizeram os protestos de 1984? O fato é que há várias diferenças entre os protestos das “Diretas Já” e as manifestações de julho de 2013, a começar pela causa. Enquanto o movimento da década de 80 tinha uma causa definida, a conquista das eleições diretas para presidente, os atuais lutam por questões diversas, ligaArquivo Pessoal

das ao âmbito social e econômico. “Na época das ‘Diretas Já’ nós queríamos o fim da ditadura e nós tínhamos lideranças, partidos mobilizados”, diz o professor de história Somarny José Alves, 49, “Agora dizem que é apartidária e sem uma liderança é meio complicado. Quando começou o protesto pela passagem abriu o leque pra falar de corrupção, saúde, escola, mas também tem aquela gente que vai pra incitar e fazer ‘quebra-quebra’” .Além disso, as “Diretas Já” contavam com lideranças e partidos de esquerda, enquanto os recentes movimentos se dizem apartidários e não possuem nenhuma liderança. Nas manifestações de julho, bandeiras de partidos sequer eram aceitas. A diferença maior, entretanto, está na população. “Tem uma diferença muito grande”, diz o professor da Faculdade de Comunicação e Artes José Milton Santos, 66. “Nas greves e manifestações do ano passado, a juventude era alienada. A juventude durante a ditadura era mais participante, mais elitizada e as manifestações a partir de junho do ano passado vieram demonstrar que isso era uma ‘balela’. Claro que as cabeças são diferentes, pois há 30 anos era para acabar com uma ditadura, enquanto agora a bandeira é para acabar com a mancha do governo”, analisa. Sormany destaca a importância das redes sociais nas manifestações atuais. “Até pela forma de mobi-

lizar a população. Pelas redes sociais é muito fácil e muita gente vai pela bagunça e por querer aparecer na mídia”, avalia. Em 1984, não havia redes sociais para marcar protestos. A população mantinha-se informada por meio de comícios e dos poucos meios midiáticos que transmitiam informações reais e completas sobre o assunto. Informações sobre as datas e locais das manifestações eram transmitidas de boca em boca. Para Sormany, o perigo de atos organizados por redes sociais é a atração em grande quantidade de baderneiros e/ou pessoas que não sabem nem mesmo pelo que estão lutando. A ditadura forçou a população a ser politizada. “Essas manifestações populares começaram bonitas, mas foram acabando, em grande parte, pela entrada em cena dos Black Blocks, que assustaram muito por causa da violência e afastaram muita gente”, lamenta José Milton. “Eu não sei se essas manifestações serão retomadas agora com o inicio da Copa, mas eu diria que elas são menos orgânicas e mais ambíguas. Elas são mais dispersas. Os pedidos eram muitos, então, elas não tinham a organicidade que as manifestações anteriores tiveram. Agora, o efeito que elas podem ter nós não podemos esperar de imediato. Evidentemente, essas mobilizações e as discussões que as provocaram podem ter implicações políticas no futuro, as quais não há como saber”, comenta.

MARCO registrou tudo Em meio à comoção nacional, o MARCO, jornal laboratório da PUC Minas, acompanhou a luta democrática, das manifestações à decepção após a emenda Dante de Oliveira ser reprovada. As críticas ao cenário político brasileiro não foram poucas. Nas edições do ano de 1984, várias matérias trataram do assunto. Em abril, o MARCO edição número 62 realizou uma pesquisa com moradores das regiões do Dom Cabral, João Pinheiro, Alto dos Pinheiros, Vila 31 de Março e Coração Eucarístico, com o objetivo de descobrir quem seria

eleito presidente em caso de eleições diretas. O eleito seria Aureliano Chaves, que desbancaria Tancredo Neves, Lula e Leonel Brizola. Dos 938 eleitores ouvidos pela pesquisa do MARCO, apenas 44 eram a favor das eleições indiretas. Após os resultados frustrantes da votação da emenda Dante de Oliveira, em 25 de abril de 1984, o Jornal MARCO publicou com indignação a identidade de 13 deputados mineiros que se recusaram a votar. Faltaram apenas 22 votos para a emenda ser aprovada. Um texto publicado de autoria

de Antônio Menezes ataca ferozmente a situação política do país. “Os homens que estão no poder, bem como aqueles que compõem o Partido Alto (quer dizer, o Partido Oficial - ex maior partido do ocidente) conseguiram criar um clima tão confuso em termos de perspectiva que até parece castigo por não terem aprovado a Emenda Dante de Oliveira. O inferno de Dante em que se transformou Brasília parece realmente uma ‘Divina Comédia’ , bem ao sabor desse Brasil tão desiludido com esse futuro”.

Manchete do Jornal MARCO de 1984 aborda o movimento das “Diretas”

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Cultura

Variados desenhos tomam conta dos muros da Fundação Ezequiel Dias

André Correia

Grafite é arte nos muros da Funed Com o objetivo de solucionar o recorrente problema de pichações e danos, Fundação Ezequiel Dias abre espaço para manifestações artísticas, por meio do projeto “Arte no Muro da Funed” THAINÁ NOGUEIRA 3º PERÍODO

Quem passa pela Avenida Amazonas pode perceber que os muros da Fundação Ezequiel Dias, na altura do Bairro Gameleira, mudaram a sua imagem habitual. As sujeiras e pichações que inundavam o local deram lugar a novos desenhos e cores. O projeto “Arte no Muro da Funed” contou com a parceria do Criança Esperança e de artistas independentes para expor grafites em paineis ao longo da avenida. Os resultados foram tão bons que a Funed já prevê um novo orçamento para estender o projeto para os paineis da Rua Conde Pereira Carneiro. O trabalho em uma das principais avenidas de Belo Horizonte sofreu atraso no prazo de conclusão. A assessoria de imprensa da Fundação informou que eles ainda estão aguardando a liberação de orçamento para comprar o restante das tintas, mas a Rua Conde Pereira Carneiro, que

não havia sido contemplada com os grafites, também ganhará espaço no projeto. Desde que começou, apenas alguns retoques na pintura foram feitos, o que pode representar no final deste ano uma economia de até R$ 14.760,25 – quantia que foi gasta em reparos nas estruturas externas em 2013, para cobrir as pichações comuns no local. Em julho do ano passado o muro da Funed recebeu placas informando aos pichadores e grafiteiros que a instituição apoia a arte e pedia que os interessados entrassem em contato para integrar o projeto. Durante o primeiro mês, a Fundação recebeu contatos de 13 grafiteiros interessados e um grupo de oficina – do Espaço Criança Esperança (ECE-BH). Harllen Polidoro Monteiro, educador da “Oficina de Desenho e Graffiti” do ECE-BH há aproximadamente três anos, juntamente com Luciana d’Anunciação, supervisora de Cultura do local, planejaram a par-

ticipação dos alunos da Oficina levando em conta o horário disponível deles, tempo de preparação e construção do esboço, materiais, transporte, lanche, segurança dos educandos, entre outros fatores. As 12 crianças que participaram do projeto tiveram que visitar a Funed e conhecer de perto as atividades desenvolvidas na Fundação para tentar representá-las nos grafites. Eles assinaram um termo de compromisso, submeteram os desenhos para aprovação de uma comissão formada por funcionários e somente depois deram início aos trabalhos. “A experiência foi muito boa, não só para mim como para os educandos, que puderam adentrar em alguns dos espaços da Funed e ter a explicação por parte dos funcionários sobre suas atividades, bem como sua importância, isto os fez se sentir orgulhosos, e privilegiados, pois sabemos que não é qualquer pessoa que tem acesso à Fundação. E conhecer os trabalhos fez

toda a diferença na hora da composição do esboço do Grafite. Quando realizamos uma atividade artística seja ela de desenho ou pintura precisamos de toda informação possível para usarmos como referência na construção da obra, sempre levando em conta o conhecimento prévio do educando ou melhor dos envolvidos”, explica Harllen Monteiro. O professor comenta ainda sobre a importância do projeto como fonte de inspiração para outras empresas incentivarem a educação das crianças do país por meio da arte. No ano passado, o grupo realizou um grafite no muro da Rede Globo Minas sobre o tema sustentabilidade. Já no próprio espaço do Criança Esperança, que fica no bairro Serra, os muros interno e externo foram decorados. Além das intervenções artísticas pela cidade, os alunos também fazem visitas aos circuitos culturais da cidade em busca de conteúdo artístico-pedagógico.

A ideia de produzir o “Arte no Muro da Funed” surgiu a partir de um trabalho realizado pelos funcionários da Funed Marluce Oliveira, Cristiane Mendes, Ivete Mamedes e Jorge Washington durante um curso de MBA feito em 2009. Na época, o projeto não foi viabilizado. Devido às constantes pichações no muro, e os gastos recorrentes com pintura, a Assessoria de Comunicação Social propôs novamente em 2013 o projeto. Inicialmente, seria um concurso por meio de candidatura de ONGs, entretanto, ficou decidido focar também na valorização de artistas locais. O presidente da Funed, Francisco Antônio Tavares Junior, afirmou que a iniciativa da instituição com o projeto “Arte no Muro” inspirou outros órgãos públicos a disponibilizar espaço externo para grafiteiros e pintores. “Acredito que qualquer intervenção que tenha como resultado uma cidade mais bonita, moderna e agradável para

os seus moradores é válida. Recebemos elogios dos participantes, em especial a equipe do projeto Criança Esperança, e contatos da Fundação Hemominas e do 5º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, nosso vizinho na Gameleira. O Batalhão preparou sua fachada externa para um projeto semelhante ao nosso”. Ivanete Iriaco, 53 anos, gerencia os cursos do Centro de Educação Profissional Qualificarte Gameleira que fica em frente ao muro da Funed na Avenida Amazonas, ela passa no local todos os dias e afirma gostar muito da ideia de grafitar muros. “Evita as pichações, eu valorizo a arte e acho bacana quem promove esse tipo de manifestação”, afirma Ivanete. Segundo ela, já houve tentativas de implantar o mesmo projeto no Qualificarte, mas como nunca foi concluído, os muros sempre voltam a ser pichados.

Cartões postais se adaptam a nova realidade

JÚLIA GUEDES THALINE MOURA 1º PERÍODO

O envio de cartões postais foi um hábito frequente no século passado. No entanto, com a popularização da internet e a facilidade em transmitir diversos conteúdos online, os postais, principais responsáveis por disseminar a fotografia, foram se tornando obsoletos. É raro encontrar postais para vender, e as bancas e papelarias que ainda possuem estoque, têm um público pequeno. Geralmente são estudantes que buscam os cartões para trabalhos escolares. Assim como o e-mail, na maioria dos casos, substituiu a carta, as redes sociais estão substituindo os cartões postais. Aplicativos como o Instagram e o Facebook divulgam imagens instantâneas com uma variedade maior do que as poucas escolhidas

que antes eram representadas nos cartões postais. Devido a essa mudança de comportamento, algumas cidades como Belo Horizonte, buscando preservar a importância cultural das tradicionais fotografias que antes ilustravam os postais, disponibilizam essas imagens no site da cidade, com o intuito de serem usadas como um cartão postal virtual. Seguem com a mesma estrutura dos originais: a foto, espaço para uma mensagem e no lugar do endereço, o e-mail. Entretanto, existem iniciativas que visam resgatar o antigo e apreciado habito de enviar correspondências pelo Correio. A campanha “Seu Postal Vai Viajar”, foi promovida em Belo Horizonte pela Belotur, a partir de 2009, e recebida com grande entusiasmo pelo público. Só em 2013 foram distribuídos 22.850 postais e postados 8.592, sendo 6.176

Adepta dos cartões postais, Júlia Magalhães exibe sua coleção

no âmbito nacional e 2.416 no âmbito internacional. Mas mesmo tendo todas as facilidades da digitalização, há um pequeno grupo de pessoas que ainda acreditam na importância cultural

e história do postal, e luta para não deixar esse símbolo ser esquecido. São os colecionadores, como Tiago Amaral, 17 anos, que começou a colecionar cartões após uma viagem à Europa em 2009.

André Correia

Ele começou a comprar aleatoriamente, pois eram baratos e boas lembranças, mas quando voltou, decidiu continuar colecionando. “Acho que é uma nova forma de continuar com essa tradição

de enviar postais, mas perde bastante o caráter”, afirma. A estudante Júlia Magalhães ressalta que é difícil encontrar um postal verdadeiro entre os panfletos publicitários disfarçados. “Essa é uma tarefa demorada demais para a maioria das pessoas, acostumada a ter tudo em um único clique”, diz. Ela herdou de sua família o hábito de colecionar postais. Os colecionadores buscam cartões postais antigos e raros, que muitas vezes já foram retirados de mercado. Dessa forma, surgiu um comércio entre colecionadores. É possível negociar os postais de vários lugares do mundo através da internet. O preço do cartão varia de acordo com o ano em que foi lançado no mercado, sua importância histórica e conservação. Porém, esse mercado está restrito a poucas pessoas e os locais de venda cada vez mais escassos.


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Cultura

O sonho de publicar um livro Com o surgimento de novas e pequenas editoras publicar uma obra se torna objetivo possível para escritores emergentes que buscam por espaço e visibilidade em um mercado muito concorrido FÁBIO CÉSAR MARCELINO 3º PERÍODO

“Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um se realize e consume com seu poder de palavra e seu poder de silêncio.” Estes versos pertencem ao poeta Carlos Drummond de Andrade, de sua obra “A procura da poesia”. Neste fragmento, o poeta mineiro fala do processo de criação de seus textos literários. Cada autor, a sua maneira, produz a obra com o objetivo de ver seus trabalhos “consumados”, seja como um conto, uma crônica ou um poema, compilados e transformados em livros. Este é o sonho de vários artistas que, de forma independente, excluídos do mercado das grandes editoras, utilizam-se das mais variadas estratégias para publicarem suas obras. Alguns artistas conseguem firmar parcerias com pequenas editoras, outros tantos se organizam em cooperativas de escritores, mas a grande maioria, por ser mais viável, produz seu trabalho artístico de forma artesanal. Em Belo Horizonte existe um grande número de autores anônimos, de diversos perfis, que estão nesta peleja. Recém-formado em

Gustavo e Fabiano recorreram à pequenas editoras para publicar seus livros

psicologia pela PUC Minas, Campus São Gabriel, Fabiano Mendonça de Oliveira, 30 anos, é um destes artistas que produziu o seu livro de forma amadora. A obra “Fragmentos de um Todo Chamado Alma” foi totalmente feito em casa. Segundo Fabiano, o livro foi impresso na sua própria casa. Para cada exemplar foram gastos R$ 5. Ao todo foram produzidos 50 unidades do livro. “Vendi três unidades e o resto eu doei”, conta orgulhoso o ex-aluno da PUC Minas. O livro de Fabiano é composto por diversos poemas produzidos ao longo de sua história como poeta e escritor. Ele

diz que escreve há mais de 18 anos. “Eu escrevo porque sinto a necessidade de materializar as coisas que sinto e, também, é uma forma de me expressar como percebo o mundo” revela. O grande desafio para a produção cultural independente é encontrar uma via para a distribuição, circulação, difusão e consumo. Fabiano conta que participa de feiras de livros independentes que são realizadas em Belo Horizonte. O objetivo destes eventos é abrir espaço para comercialização e exposição de publicações de artistas e selos independentes. Foi a partir de uma feira deste

Fábio Marcelino

porte, realizada em 2013, no Edifício Maletta, localizado à Rua da Bahia, 1148, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, que Fabiano teve a iniciativa de produzir seu livro. O psicólogo afirma que já está se movimentando para fazer seu segundo trabalho. “Desta vez vou procurar uma editora”, ressalta, entusiasmado. A pedagoga e escritora Lêda Maria Couto Silva, 68, produziu vários títulos em parceria com pequenas editoras. A escritora produz livros de literatura infanto-juvenil. Em 2009, publicou o livro “Só para chuva? Não!”, em parceria com a editora mineira

Armazém de Ideias. Já em 2013, publicou o “Menino Azul” que teve as participações de Eliana Sant’Anna e Gustavo Félix. Este livro foi custeado pela própria Lêda Couto. Apesar das dificuldades, a pedagoga afirma que o sonho de ver o livro publicado é comum a todo aquele que, “repletos e sedentos, esvaziamse para nutrirem-se das palavras.”, relata a autora. Segundo Lêda Couto, as parcerias com as pequenas editoras ainda são bom caminho para o artista independente, ainda mais se ele for aceito no mercado. No entanto, é fundamental uma boa divulgação. “Outra facilidade da parceria com a editora é a oportunidade de concorrência em editais públicos para seleção de livros infantis e juvenis, os quais serão comprados e distribuídos pelo governo nas escolas públicas”, conta. A criação de cooperativas de autores independentes, segundo a autora, é determinante para fortalecer a categoria. Custear um livro do próprio bolso não é uma tarefa nada fácil. Além do custo financeiro é necessário procurar um profissional para lidar com a correção do texto, diagramação, ilustração, bibliotecária para classificar o tipo da obra com o refe-

rido código, e o registro na Biblioteca Nacional. “O custo da produção do livro na gráfica irá depender do número de exemplares. Quanto maior a tiragem, mais baixo ficará o preço de cada exemplar. Há pouca diferença financeira em produzir 200 ou 500 exemplares, no entanto há dificuldade de comercializar e guardar acima de 1.000 livros”, afirma autora. Segundo a jornalista, professora de ética em comunicação na PUC Minas, e consultora de comunicação na É Editora, Júnia Carvalho, o surgimento das pequenas editoras abriu um espaço para os artistas publicarem suas obras. “Se você tiver um texto e R$ 5 mil dá pra colocar a obra na gráfica e rodar”. No entanto, segundo a jornalista, o artista tem muita dificuldade com a distribuição. “Pelo menos em Belo Horizonte, encontrar uma empresa que faça a distribuição regional e nacional com competência é quase impossível. Aí o livro independente só vai para as mãos dos que compõem o círculo de conhecimento do autor e, praticamente, só é vendido nas livrarias em que o autor conhece o dono”, conclui a professora da PUC Minas.

Desafios permanecem mesmo após publicação A concepção de um livro começa naqueles rascunhos avulsos de papel, borrados de cinza, por causa da borracha ou em intermináveis arquivos de Word espalhados por toda tela do computador. Em muitos casos, os poemas, contos e crônicas foram escritas há muito tempo. E quando se materializam em livro, pode-se, também, considerá-lo, como livro de recordações. E foi com estes textos “guardados no fundo da gaveta” que o instrumentista, compositor e arranjador, Gustavo Félix Diniz, 30 anos, em parceria com a técnica em química

industrial, Glinka Stranky, 66 anos, publicaram, em 2009, o livro “Companheiros” pela editora Armazém de Ideias. O livro, que é composto por poemas e contos de Glinka e Gustavo e ainda possui ilustrações do ilustrador e cineasta, Jackson Abacatu, foi produzido com o objetivo de apresentar ideias de cada um, para que juntos, pudessem compor um todo. “O livro nasce a partir de um contato que vinha se ampliando com os trabalhos de composição musical para o grupo do qual fazíamos parte”, conta o compositor. Em 2012, em parceria com a bailarina

Bárbara Maia, o instrumentista desenvolve um espetáculo de música e dança a partir do texto “Renascer” de Glinka, que compõe o livro “Companheiros”. No entanto, apesar da realização do sonho, de publicar o livro, comercializá-lo é um grande desafio. “Infelizmente, comercializar um trabalho autoral é bem difícil, pois as livrarias às quais fui, em 2009 e 2010, solicitavam nota fiscal dos mesmos para poder colocá-los à venda em suas prateleiras e, como esta relação seria construída entre a editora e livraria ou estabelecimento comercial, a mes-

Recompensa de investigação foi crucial para publicação do livro O livro “Companheiros” foi todo custeado por Glinka, a partir de uma gratificação que recebeu, por indicar o paradeiro de uma pessoa que estava sendo procurado por um escritório de advocacia, em Belo Horizonte. Glinka é assinante do Jornal Hoje em Dia. Em 2009, uma tarde de sábado, folheando o caderno classificados do jornal, ela viu anúncio do escritório de advocacia, que procurava uma pessoa chamada Terezinha Guimarães Silva, moradora, segundo o anuncio, do Bairro Floresta, Região Leste da capital. Abaixo do anuncio estava escrito “Gratifica-se”. Glinka conhecia a pessoa que estava sendo procurada,

só que a pessoa em questão não morava mais naquele endereço. “Eu peguei o telefone, liguei para lá e atendeu uma senhora. Passei todas as informações que eles precisavam sobre a Terezinha”, relembra a escritora. Terezinha, na época, vivia com a viúva de seu sobrinho. Glinka fora casada com outro sobrinho de Terezinha, por isso sabia de toda a história. Glinka achou estranho tudo aquilo que estava acontecendo. Nenhum familiar de seu ex-marido sabia da busca por Terezinha. Tempo depois, a história foi esclarecida. Terezinha estava sendo procurada pelo escritório de advocacia para receber uma herança de outro sobri-

nho, o diretor teatral e cantor lírico Joaquim Costa. Ele era filho único e, ao falecer, deixou a herança para o parente mais próximo, sua tia Terezinha, no valor de R$ 4 milhões. Atualmente, Glinka ganha à vida dando aulas particulares de matérias básicas do ensino médio e aulas de francês e espanhol, no conjunto Celso Machado, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Ela estava dando aulas particulares para um parente de Terezinha que, sempre que recordava da história, falava da tal gratificação. “Eu nem lembrava isto mais”, conta sorrindo. Segundo a co-autora do livro “Companheiros”, em um belo dia a

gerente da Caixa Econômica Federal (CEF) ligou dizendo que haviam depositado em minha conta a quantia de R$ 20 mil. ‘Querida, eu não tenho amigo oculto e nem admirador secreto. Este dinheiro não é meu’”, respondeu Glinka, em tom de brincadeira e surpresa para a funcionária da CEF. Eles tiveram acesso à conta de Glinka, pois ela havia repassado o número para este parente de Terezinha. “Ninguém acredita neste negócio de gratificação. Ao ligar, em nenhum momento pensei nisto, até porque não me custou nada”, diz Glinka.

ma não se manifestou”, afirma Gustavo. “A publicação virou um bom negócio para muitos editores, embora, em geral, eles não prometam mais ao escritor, do que a entrega do livro em suas mãos”, pondera a jornalista Júnia Carvalho, proprietária e consultora de comunicação na É Editora. Essa empresa se dedica à produção de livros institucionais. Segundo a professora de ética em comunicação na PUC Minas, este tipo de obra não precisa de livrarias, pois é distribuída pelas empresas para seus públicos de relacionamento.

Gratificação realiza antigos sonhos Com o recurso financeiro, Glinka produziu o livro. O lançamento de sua obra, “Companheiros”, em parceria com Gustavo, ocorreu em outubro de 2009, em uma cerimônia de lançamentos de outros trabalhos independentes, no Restaurante Maria das Tranças, localizado na Savassi, Região Centro-Sul da capital. Foram produzidas 500 unidades do livro, que consumiram R$ 6 mil da gratificação que recebeu. Com a dificuldade de exposição e comercialização do livro, Glinka e Gustavo, em comum acordo, passaram a doar algumas copias. Glinka afirma que nunca havia pensado em escrever um livro. “Eu escrevo porque é a

minha vida desde cedo”. Natural da cidade de Alfenas, Região Sul de Minas Gerais, Glinka já teve contos publicados no Diário Alfenense, quando tinha apenas 14 anos. Além de produzir o livro, a autora comprou um piano, realizando um grande sonho. Ela afirma que esperou mais de 60 anos para adquirir o instrumento musical. “Você tem que fazer o que te faz feliz”, afirma Glinka que tinha outras prioridades para gastar o dinheiro que, no entanto, preferiu realizar seu sonho. “Eu estou estudando piano. Toco e faço música para mim e para meu gato, o José Luiz, que morreu há pouco tempo. Agora eu toco para os gatos”, diz, satisfeita.


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Comportamento

Branquinha intriga a cidade de Ouro Preto Cadela foi adotada por moradores do Bairro Pilar e chama a atenção por ter hábitos bem diferentes de outros animais GABRIELA CAMARGOS LUIZ OTHÁVIO GIMENEZ 7º PERÍODO

Como diz o ditado popular, “quem conta um conto aumenta um ponto”. As histórias nascem a partir de acontecimentos que aguçam o imaginário, e sofrem alterações à medida que vão sendo recontadas. Em comunidades pequenas, ‘contar um caso’ é sinônimo de prosear; um simples mexerico se transforma em fofoca das grandes, que acaba virando uma trama imaginosa. Com sorte, uma cadelinha vira assunto. E virou. Na cidade histórica de Ouro Preto, na Região Central do estado, Branquinha, a cadela amiga dos moradores do Bairro Pilar, é considerada personagem ilustre e o foco de todas as atenções. O relógio marca pouco mais de 6h, quando os donos da casa percebem uma movimentação próxima à porta de entrada. Cuidadosamente, a cadela deixa para trás o colchão e travesseiro e se aventura por uma escada rumo à cozinha. A caminhada, mesmo curta, segue a passos lentos, reflexo da idade avançada e da avantajada barriga. O cenário é a casa da aposentada Ivana Bandeira, 60 anos. Lá, Branquinha,

Taxista Gilson Guimarães, há mais de 6 meses leva Branquinha para casa

que antes vagava pelas ladeiras da antiga capital do estado, encontra refúgio e repõe as energias para dar conta de uma rotina digna de causar inveja em muita gente. É manhã de domingo em Ouro Preto e a cadela já aguarda a refeição, servida, religiosamente, às 6h30. Dona Ivana é quem prepara a generosa tigela de ração e carne que Branquinha abocanha todas as manhãs. O rigor com a pontualidade é pré-requisito para que a cachorra não se atrase para o primeiro compromisso do dia: assistir à missa na igreja do Pilar. “Minha rotina mudou depois que a Branquinha

veio morar comigo. Tive que passar a acordar mais cedo todos os dias por causa da mania que ela tem de ir à igreja”, confirma a aposentada. A ideia de uma cadela que participa de celebrações litúrgicas pode até parecer estranha, mas para os moradores do bairro a cena, que se repete todos os dias, já se tornou comum. Tanto, que Branquinha é considerada por eles como mais uma fiel devota da Virgem do Pilar. Antes da despedida, já na porta de casa, Ivana dá uma última ajeitada no lenço rosa amarrado ao pescoço da vira-lata. Pronto, lá vai a branquela

Taxistas têm cliente VIP em Ouro Preto Além de ser assídua frequentadora das missas celebradas pelo padre Marcelo, outro fato curioso fez com que a fama da cadela extrapolasse as ruas do Bairro Pilar, e se estendesse por toda a histórica Ouro Preto. É que todo fim de tarde Branquinha volta para casa de táxi, meio de transporte nada convencional para uma cadela. Quem faz as viagens diárias é o taxista Gilson Guimarães. Embora seja novato e trabalhe no ramo há pouco mais de seis meses, as frequentes corridas que têm a cadela como cliente já renderam ao motorista o título de “taxista da Branquinha”. O jovem conta que já conhecia a cachorra, mas começou a fazer o serviço a pedido da dona. “A demora da Branquinha para voltar para casa fez com que a Ivana começasse a ligar no ponto de táxi pedindo pra gente levar a cadela”, relembra Gilson. E não é que a branquela tomou gosto pela forma de locomoção? Sem a menor cerimônia a cachorra entra no carro do primeiro motorista que abre

a porta pra ela. Quer dizer. Primeiro não. Exigente, ela só aceita a corrida se for em veículos específicos. “Quem disse que ela anda com todo mundo? Se eu parar meu carro na frente dela agora ela não vai nem se mexer”, desabafa, o também motorista, Israel Souza. O critério estabelecido por Branquinha para a escolha dos taxistas ainda é um mistério. Alguns acreditam que carros de cores mais vibrantes, como o vermelho, conquistam mais facilmente a preferência da mascote. Mas são só especulações. Por enquanto, certo mesmo é o desfalque que a mordomia da cachorra provoca na conta de dona Ivana todos os meses. A cada passeio da cadela, a aposentada desembolsa a quantia de R$15. Se ela fica incomodada? “O amor que eu tenho pela Branquinha é tão grande que eu nem ligo de pagar para ela andar de táxi. O mais importante é ela voltar pra casa e para perto de mim todos os dias”, finaliza a aposentada.

Gabriela Camargos

rumo à igreja. Pelo percurso de aproximadamente cem metros, ela ganha afagos e logo se mistura aos membros da comunidade. “Ela é tão querida que às vezes a gente se esquece que é uma cachorra”, afirma a dona de casa Marta Godoy. Aos poucos todos tomam seu lugar no recinto, inclusive a cadela. Encostada em uma das pilastras da construção erguida há mais de 300 anos, ela volta os olhos para o altar e acompanha, atenta, todos os movimentos do padre Marcelo Santiago. O sacerdote é responsável pela paróquia desde 2009, e conta sempre com a presença de

Branquinha nas celebrações. “Ela tem um jeito de se comportar diante das pessoas e de acolher o carinho que a tornam diferente dos outros animais. A comunidade a adotou e hoje ela faz parte do imaginário, da vida do povo. O dia que ela faltar, realmente, a cidade vai lamentar, porque é como se fosse uma extensão das pessoas”, relata Marcelo. A história de cumplicidade entre a vira-lata e os moradores do Pilar já dura oito anos. De acordo com Ivana, no começo, Branquinha era uma cachorra de rua e, com frequência, era vista nas redondezas do bairro, um dos mais tradicionais de Ouro Preto. A presença constante da cachorra na região lhe rendeu o nome e um lar. “A comunidade acolheu a Branquinha depois que ela teve problemas de saúde por causa do excesso de peso. Eu me apeguei tanto a ela que acabei adotando e hoje, depois de cinco anos morando comigo, ela já faz parte da família”, conta Ivana. Desde que passou a morar na casa da aposentada, a cadela recebe cuidados especiais que incluem uma dieta balanceada e visitas rotineiras à clínica do veterinário Garibaldi, velho conhecido da família Bandeira. Os vizinhos também ajudam nos cuidados com a cachorra. Maria Aparecida Zurluo, ou simplesmente Cida, como é conhecida na cidade, é um deles. A empresária de 65 anos é herdeira de uma cachaçaria que atualmente fica na Praça Tiradentes, bem no centro

de Ouro Preto, mas que até três anos atrás se situava no Bairro Pilar, ao lado da casa de Branquinha. Foi nessa época que a cadela ganhou o hábito de passar parte da manhã e a tarde na porta do estabelecimento. Costume que é mantido até hoje. Basta o padre Marcelo encerrar a missa para a vira-lata seguir rumo à loja. O porquê da preferência pelo local é desvendado logo na chegada. Branquinha é recebida com festa pelas funcionárias e, é claro, por Cida. A cadela tem até um cantinho especial dentro da cachaçaria, onde fica uma tigela com água e, vez ou outra, alguns petiscos. Entre uma brincadeira e outra, a cadela nem vê o tempo passar. Já passa das 18h quando o silêncio da praça é quebrado por um toque estridente de telefone. O barulho vem do ponto de táxi instalado na esquina e quem corre para atender a ligação é o motorista Gilson Guimarães, de 25 anos. Do outro lado da linha, Ivana demonstra preocupação com a mascote. Pelo visto o passeio já dura mais que o previsto. O taxista arranca o carro e estaciona, com cautela, em frente à tradicional loja de cachaça. Branquinha conhece bem o recado: dona Ivana precisa dela em casa. Com a ajuda do motorista, a gorducha é colocada dentro do veículo. O último passeio do dia termina onde toda a história começou. Branquinha, agora? Só na missa de amanhã.

História da cadelinha vira tema de curta-metragem Um quilômetro. Dois trajetos. E quatro patas andantes – ainda que arrastadas. A cadela caminha conforme a movimentação de pessoas. A postura cambaleante constrói trajetos novos para um único destino: a Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, local onde a cadela costuma, vez ou outra, assistir à missa aos domingos. E a partir dessa jornada começa o filme estrelado por ela, filmado e editado por Lucas de Godoy, de uma tradicional família de Ouro Preto. Fotógrafo, o rapaz de 28 anos tenta propor novos ângulos à cidade que “perdeu a identidade católica e espiritual” em razão do histórico baderneiro divulgado pela massa de universitários. “Em tempos de uma sociedade pouco apegada a crenças, encontrar uma história como a dela é revigorante”, descreve. E Branquinha serviu de ponto de partida para a sugestão de uma nova persona-

lidade à cidade tricentenária. Entre uns e outros passos, os ‘atores’, em sua maioria, moradores do Pilar, conduzem o curta-metragem com questionamentos sobre a rotina metódica de Branquinha. “Por quê ela tem fé?”. “Por quê ela vai à missa?”. “Por quê ela sempre muda de trajeto no sentido à Igreja de Bom Jesus Matosinhos?”. Respostas faltam. E o documentário propõe discussões ainda mais profundas. “Dizem até que ela é a encarnação de padre Simões, que comandava a paróquia do Pilar antes do padre Marcelo”, diz uma das entrevistadas que não é identificada no filme. Ao todo, foi um ano de intensa dedicação do cineasta às gravações da película. Dias e mais dias seguindo Branquinha em sua marcha pelas ruas de pedra da cidade. Para isso, Lucas contou com a ajuda da família.

Além da mãe, que foi quem deu a ideia do filme, o pai teve papel fundamental, já que boa parte das imagens foram registradas por ele. O trabalho do fotógrafo ganhou reconhecimento no final de 2012, quando foi exibido, para toda a comunidade, no salão paroquial do Pilar. Até Branquinha compareceu ao lançamento, que, por sinal, foi um sucesso. Aplaudido de pé ao final da sessão, Lucas já tem outros planos para o filme. Agora, quer disponibilizá-lo na internet para que a história de ascensão social da vira-lata que se transformou de cachorra de rua em uma verdadeira lady seja conhecida por todo o país. “Quero que mais pessoas vejam e se emocionem com a história de Branquinha, a cachorra que será lembrada para sempre como a mais querida do Pilar”, finaliza o cineasta.


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Esporte

Paixão pelo futebol amador Partidas válidas por toneios importantes, como a Copa Itatiaia, atraem pessoas que abrem mão de seus afazeres para ajudar a manter vivo uma modalidade esportiva seriamente ameaçada FÁBIO CÉSAR MARCELINO 3º PERÍODO

“Eu sou Mineirinho até debaixo d’água”. Este tipo de declaração de amor a um clube de futebol é direcionado, com mais frequência, para as equipes de futebol profissional, como Atlético, Cruzeiro, América, Flamengo, Corinthians e outros grandes. Mas é com este mesmo sentimento que uma gama de pessoas dedica o seu tempo para prestigiarem um esporte, que para muitas das próprias pessoas envolvidas, está marcado para morrer. Esta frase ecoou em meio a um grupo de torcedores do Mineirinho Esporte de Clube, que acompanhavam o time do Alto Vera Cruz, Região Leste da capital, contra a tradicional equipe do Santa Cruz Futebol Clube, do Bairro Santa Cruz, na Região Nordeste de Belo Horizonte, em uma partida válida pela Copa Itatiaia de Futebol Amador, no Estádio da Barragem Santa Lúcia, Aglomerado Santa Lúcia, Região CentroSul, da capital dos mineiros. Entre jogadores, dirigentes, torcedores e autoridades, pouco mais de 2 mil pessoas estavam naquela tarde quente de domingo envolvidos com a partida. Muitas destas pessoas, que possuem somente o domingo para descansar com a família, abdicam a presença dos seus para se dedicarem ao esporte. Um exemplo de amor e dedicação ao esporte é o porteiro Paulo Roberto Faustino, casado, 50 anos, morador do aglomerado, mais conhecido na várzea como “Robertão”. Presidente da Associação Atlética Santa Lúcia, do Bairro do mesmo nome, fez as honras da casa. “Estou de pé desde às 8h da manhã para deixar o campo em condições de jogo”, salienta o porteiro que, além de marcar o campo, havia capina-

Pessoas de diferentes regiões de Belo Horizonte se reunem no seu tempo livre para se dedicar ao futebol amador

do algumas partes do terreno onde o mato estava enorme. Os mandos dos jogos das partidas da Copa Itatiaia são definidos entre os organizadores da competição, levando em consideração, as condições do Estádio. Santa Cruz e Mineirinho possuem bons estádios para prática esportiva. No entanto, a organização prefere que estas partidas tenham mando de campo neutro, no intuito de reprimir qualquer pressão por parte da equipe mandante. De camiseta e bermuda, e com as mãos sujas de cal – material usado para demarcar o campo –, Robertão corria de um lado para outro, pois além de zelar pelo campo, ele é dono de alguns quiosques em volta. Sempre sorridente, o presidente da Santa Lúcia, cumprimentava a todos que via pela frente. O campo da Santa Lúcia está localizado no Aglomerado Santa Lúcia – Região composta pelas Vila Estrela, Vila Santa Rita de Cássia (Morro do Papagaio), Barragem Santa Lúcia e Vila São Bento (conhecida como

Vila Esperança, Vila Carrapato ou Bicão) – mais precisamente, na Avenida Arthur Bernardes, 750. O campo faz parte do Complexo da Associação Esportiva do Aglomerado Santa Lúcia que, além do campo time da Barragem, possui um outro campo que é destinado para as equipes de menor expressão usarem aos sábados, uma quadra poliesportiva e alguns equipamentos para exercícios físicos. Com uma população de 16.914 habitantes, segundo números apresentados no site da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), empresa pública responsável pela implementação da Política Municipal de Habitação Popular, a região é marcada por sérios problemas, com destaque para a violência e o tráfico de drogas difíceis de serem superados. “Atualmente, eu trabalho com garotos, pois além de formar jogadores para o time amador (Principal) tiro alguns meninos da criminalidade”, afirma o porteiro. No entanto, Robertão recla-

Cobertura do futebol amador feita pela mídia alternativa A Copa Itatiaia de Futebol Amador é considerada, entre todos que participam da competição, como a Copa do Mundo do futebol amador. O primeiro campeão foi o Pompeia Futebol Clube, do bairro do mesmo nome, batendo na final o extinto Barreiro. O recordista de título da Copa Itatiaia, “o campeão geral” é a Associação Desportiva Frigoarnaldo, de Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pentacampeão da copa, o time de Contagem ganhou em (1989/1990, 1995/1996, 1997/1998, 2009/2010 e 2010/2011). A segunda equipe mais vencedora da competição é o Santa Cruz Futebol Clube. A equipe do bairro da Região Nordeste da Capital foi campeão por quatro oportunidades. A equipe de Belo Horizonte é tetracampeã e foi campeã em (1978/1979, 1980/1981, 1985/1986 e 2001/2002). Não é atoa que as duas equipes, além de tradicionais, são as mais estruturadas do futebol amador da Região Metropolitana. Além da própria Rádio Itatiaia transmitir as partidas ao vivo, o Jornal O Tempo e o Super Notí-

cia realizam a cobertura da copa. O site www.futebolbh.com.br, através de seus responsáveis, realiza uma ampla cobertura dos jogos de futebol amador de Belo Horizonte, não só do torneio da emissora de rádio, mas dos outros torneios realizados no ano. O “repórter” da partida, Moacir Filho, 40 anos, é formado em administração de empresa e todo fim de semana se priva da companhia de sua família para fazer a cobertura dos jogos nos torneios que são realizados durante o ano, em Belo Horizonte. “Faço pelo amor ao esporte. Não temos nenhum incentivo. Todo gasto que tenho para vir cobrir os jogos, tiro do meu bolso”, declara. A equipe do site bhfutebol é formada por Moacir Filho, Marcelo Coelho, Alex Xavier e Bruno Alves que se revezam nas coberturas das partidas do futebol de várzea de Belo Horizonte e Região Metropolitana. A equipe do site bhfutebol produzia matéria sobre os jogos para o Jornal Super. No entanto, por nenhum integrante da equipe possuir graduação em jornalismo, a parceria teve que ser desfeita.

ma das dificuldades para manter o projeto. “Muitos meninos vem para treinar, sem ter tomado o café da manhã. Tiro da boca dos meus filhos para dar a estes garotos”, diz apreensivo quanto ao futuro dos adolescestes do aglomerado. Robertão treina 100 garotos entre 7 e 17 anos. O campo da Barragem Santa Lúcia possui uma arquibancada que fica debaixo de uma mangueira. Lá, grande parte do público se espremia para acompanhar a partida sobre a sombra da árvore. O aposentado Wilson José da Silva, 70 anos, conhecido com “Wilson Tranquilo”, técnico do Juvenil do Pitangui Esporte Clube, do Bairro da Lagoinha, Região Noroeste de Belo Horizonte, era um destes que buscava se esconder do sol escaldante. Com mais de 50 anos de dedicação ao futebol de várzea, o aposentado é da mesma opinião do presidente da Santa Lúcia. “Futebol amador se faz com categoria de base”, afirma convicto. Natural de Iguatama, no Triângulo Mineiro, Wilson Tranquilo está de malas prontas para ir morar em Vitória, capital do Espírito Santo. Lá, espera, também, trabalhar com garotos para formação de times amadores. Fazendo jus ao nome, Wilson Tranquilo fala com naturalidade sobre o atual momento do futebol amador, em Belo Horizonte. “Nós convivemos com a falta de dinheiro no esporte e, ainda sim, muitas equipes pagam para jogadores atuarem. Por isso trabalho na base e não admito tal prática”, assevera o aposentado que era alvo de vários comprimentos de outras pessoas. Um dos admiradores de Wilson é o presidente da Associação Atlética Tupinense, do Bairro Tupi, na Região Nordeste da capital, Dilson Geraldo Veloso, vulgo “Dilsin”. Ambos afirmaram que não torciam para nenhum dos dois times, apesar de admirá-los, eles torciam mesmo para o bom futebol. Wilson Tranquilo atuou no Tremendal, do Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste, nos anos 50. Já Dilsin atou no próprio Tupinense. Com este mesmo pensamento, o torcedor Adi da Silva

Fábio Marcelino

Marques, 39 anos, morador do Bairro Aymard, Região Nordeste, afirma que é o segundo jogo que ele acompanha da Copa Itatiaia. “Antes, eu havia assistido a partida entre Santa Cruz e Suzana (Bairro Suzana)”, conta o torcedor. Esta partida foi realizada no campo do Santa Cruz, no dia 15 de dezembro de 2013, e vencida pelos donos da casa, pelo placar de 4 a 0. “Venho assistir as partidas sozinho. Gosto muito de acompanhar os jogos. Ano passado assistir a final no Estádio Independência. Não torço para ninguém, mas sim para o futebol bem jogado”, ressalta. TEMPO QUENTE Os jogos de futebol amador costumam ser marcados por serem muito disputados. O clima costuma ficar tenso dentro e fora das quatro linhas. O jogo entre Mineirinho e Santa Cruz foi marcado por confusões ocorridas após marcação de um penâlti contestado pelos torcedores. O pintor Juarez Assis Lopes, de 29 anos, acompanhava a partida e lamentava o fato de não ter policiamento em torneios amadores de futebol. “Isto não pode acontecer. Tem que ter policiamento”, lamentava o pintor morador da região do Aglomerado. Segundo o delegado do jogo e representante do torneio, Ronaldo André, a falta de policiamento se deu pelo pouco efetivo policial nos fins de semana, na capital. Terminado jogo com vitória do Mineirinho por 2 a1, o trio de árbitros e os representantes da organização do torneio, só saíram do campo depois da chegada da Polícia Militar ao campo. “A gente quer paz. Quem faz isto daí (usar violência) não gosta do esporte” diz estarrecido o soldador e torcedor do Santa Cruz, Marcos Rogério, de 33 anos. O motorista Weberton de Souza, o “Paraiba” é auxiliar técnico do time do Bairro Santa Cruz e, também, lamentava o fato. Paraíba fala que não atuará mais em Belo Horizonte devido a falta de organização dos torneios e dos times da capital.


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Copa do Mundo

Protestar ou não, eis a questão Com a proximidade da Copa do Mundo, o jornal MARCO foi às ruas para saber se as pessoas estão dispostas a participar do evento ou a manifestar contra sua realização. Opinião é divergente BÁRBARA SOUTO JAMILLY VIDIGAL 2º PERÍODO

Em junho de 2013 o Brasil vivenciou as manifestações, que aconteceram durante a Copa das Confederações. Os manifestantes reivindicavam que o dinheiro gasto deveria ter outro destino, como a melhoria do sistema de saúde, a educação e os transportes públicos. Neste ano, com a Copa do Mundo se aproximando, o MARCO realizou uma enquete para verificar a posição das pessoas em relação ao tema. Um questionário foi respondido por 207 pessoas, entre 17 e 48 anos, a respeito de suas participações nas manifestações de 2013 e suas intenções para 2014. Foi constatado que as manifestações possuem um caráter jovem, já que estes constituem a maior parte das pessoas, aproximadamente 60%. Dentre elas, 45 pessoas (36,58%) vão protestar em 2014 e 19 (15,44%) ainda não decidiram. Comprovando o seu caráter jovem, as manifestações são organizadas por meio de redes sociais, onde são criados eventos que marcam data, hora e local para se reunir e reivindicar aquilo que não agrada. Estipula-se que já existam 29 convocações e mais de 18 mil pessoas confirmadas

para protestos, apesar de na pesquisa, mais de 50% dos jovens afirmarem que não irão aderir. Segundo Humberto Santana Ribeiro Filho, 18 anos, estudante de História da UFMG, “as manifestações ocorridas em julho de 2013 são um fato social inusitado na história brasileira”. Formado por pessoas jovens, que em sua maioria, nunca haviam saído às ruas para lutar por mudanças, pode-se observar uma “falta de sintonia”, como sugere Humberto, entre os manifestantes, porém, isso não retira a credibilidade dos

protestos. “O fato é que os jovens que foram às ruas não se sentem representados pelos partidos políticos, não se sentem protegidos pela polícia, não estão satisfeitos com a saúde, educação e transporte públicos”, desabafa o estudante. Sendo assim, Humberto considera válidas as manifestações, que representam o desejo de mudança – até então adormecido – dos brasileiros por uma melhor educação, saúde e transporte público, além de menos corrupção no governo e diminuição da carga tributária.

Já Gabriela de Sousa Neto, 21 anos, estudante de Direto da PUC Minas, acredita que as manifestações estavam fora de contexto, uma vez que, no momento em que estava sendo decidido se o Brasil sediaria ou não a Copa, não havia praticamente nenhum movimento contra. Além disso, as causas protestadas perderam o foco e, a partir de determinado momento, passaram a não ter mais nenhuma relação com a própria Copa. “Em relação às causas, concordo que teriam outras áreas

As manifestações que ocorreram em junho e julho de 2013 podem voltar com força este ano

A posição dos ‘adultos’ sobre as manifestações O MARCO escutou 84 pessoas, acima de 30 anos e de diferentes classes sociais, a respeito de suas pretensões de participação nas manifestações contra a Copa do Mundo no Brasil em 2014. De acordo com a enquete, 83 pessoas (98,08%) não pretendem participar, enquanto 1 (1,19%) pretende. Semíramis Baeta, 54 anos, assistente administrativa, é contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, porém, considera a questão complicada. Acredita que os gastos deveriam ter sido aplicados em necessidades que são prioritárias, como saúde e educação. Mas, uma vez que o país já investiu na Copa o seu cancelamento seria inviável. “Acredito que agora não tem mais o que fazer e qualquer manifestação contra só iria depor contra o Brasil. Acho que isso deveria ter começado lá atrás, quando começaram os rumores de sediarmos a Copa”, afirma. Apesar de ser contra a realização da Copa no Brasil, Semíramis não pretende ir às ruas protestar. “Acho importante o povo se unir, reivindicar seus direitos. O que vi foi muita gente fazen-

do baderna, arruaça e poucas pessoas sabiam exatamente pelo que estavam manifestando. Achei que faltou organização, foco, objetivos claros. Enquanto não houver organização, não vou às ruas. Acho que os grupos deveriam se reunir mais, se organizar, criar maneiras de se manifestarem de forma realmente pacífica”, desabafa Semíramis. Núbia Maria Andrade, 37 anos, é contra a realização da Copa no Brasil, devido ao país não estar preparado para sediar tal evento. Acredita que, caso o Brasil contasse com estrutura suficiente, seria uma ótima promoção para o país. Apesar de não ter participado, defende as manifestações. “Sou a favor delas, a favor de qualquer forma de protesto, desde que sejam plausíveis as reivindicações”, diz. A enquete apontou que a participação de pessoas acima de 30 anos é, em sua maioria, indireta, por meio do apoio ou da exposição de sua opinião utilizando outros métodos. Como exemplo Semíramis, que acompanhou e manifestou suas opiniões através das redes sociais.

necessitando mais do dinheiro público, mas vejo que esse dinheiro nunca foi e nem seria investido caso a Copa não fosse no Brasil. O dinheiro não é investido porque o povo escolheu governantes que não são idôneos, corretos, não deixou de ser investido pelo fato de a copa ser sediada no país”, afirma a estudante. O Governo Federal está se prevenindo contra as manifestações. Em pronunciamento a presidente Dilma Rousseff criticou o uso de máscaras e disse não aceitar atos de

Larissa Emanuelle

vandalismo, por isso o governo elaborou um projeto de lei que prevê punição para atos de violência e anonimato nos protestos. Além disso, houve aumento da segurança, e a presidente alegou que mobilizará as Forças Armadas se for preciso. Marcus Abílio Gomes Pereira, doutor em Sociologia Política e professor de Ciências Políticas na UFMG, avalia as causas das manifestações baseando-as em questões políticas. A insatisfação social com o sistema político brasileiro, a falta de comunicação entre jovens e seus representantes e a necessidade de uma reforma política despertaram a consciência das pessoas. A rua como espaço público que pode dar voz ao povo e o conhecimento do verdadeiro valor de democracia favoreceram a demanda social, que num primeiro momento pegou os representantes de surpresa, mas resultou, de certa forma, em acomodação. Por isso, há uma expectativa muito grande para a Copa do Mundo de 2014, já que novos movimentos em redes sociais começaram a surgir, mas, segundo o professor, ainda não é possível prever a amplitude dessas possíveis manifestações.

Os diferentes olhares sobre a Copa de 2014 IAGO PROENÇA LUCAS LEITE LARISSA SOUZA 3º PERÍODO

Há menos de quatro meses da realização da Copa do Mundo no Brasil, e o que se observa em diversos pontos da capital mineira são canteiros de obras, muitos em atrasos. O governo informa que as obras estarão prontas para a realização do Mundial, o que causa certa desconfiança em parte da população que não acredita que o evento possa atrair benefícios diretos. Vanilda Paiva Almeida, moradora do Bairro São Gabriel, acredita que os bilhões que foram investidos em estádios poderiam ser investidos em saúde, educação e principalmente em segurança publica. “O número de policiais ainda é insuficiente”, garante. As opiniões são diversas. Existem os que defendem sua realização, pois acreditam que possa trazer maior visibilidade para o país, por se tratar de um evento

mundial. Isso acabaria acelerando o processo destas obras, que são muito importantes para a população. Reinaldo Trindade trabalha na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e acredita que a Copa do Mundo coloca o Brasil em evidência para o mundo. “A copa do mundo apenas ficou sendo um catalizador para acelerar o processo de algumas melhorias que estão sendo feitas’’, avalia. Já o bombeiro civil Caio Silva Freitas, 19 anos, não acredita que o evento esportivo trará benefícios para o país. “A intenção dos órgãos públicos é priorizar os estrangeiros que virão ao país com o intuito de passear e assistir aos jogos”, comenta. A reportagem do jornal MARCO entrou em contato com a Secretaria Municipal Extraordinária da Copa do Mundo da FIFA (SMCOPA), para saber o que a Prefeitura de Belo Horizonte tem procurado fazer em relação a obras para a melhoria na realização da

copa do mundo no Brasil. Segundo o órgão, as obras que estão sendo realizadas ficarão como legado à sociedade mineira. Ações de infraestrutura do turismo, como a reforma do Centro de Atendimento ao Turista (CAT), a revitalização de atrativos turísticos da Pampulha e o tratamento da Lagoa da Pampulha. Em relação à mobilidade urbana a administração municipal adotou à medida que com a recepção da Copa do Mundo, abriu-se um cenário de oportunidades para ampliar e melhorar os equipamentos urbanos disponíveis. As obras de mobilidade propostas vão atender as necessidades de deslocamento dos visitantes durante a Copa, em especial do acesso aos estádios e aos principais locais de eventos. Mas os benefícios vão muito além, todas as obras de mobilidade em execução para a Copa do Mundo ficarão prontas para o Mundial.


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Copa do Mundo

Hospedagem alternativa é a principal escolha para turistas Pessoas disponibilizam quartos, apartamentos e repúblicas para serem alugados temporariamente durante a copa do mundo. Sem hotéis no Coreu, estas são opções de estadia durante o evento BRUNA NOGUEIRA DÉBORA ASSIS THAÍS MILLANI THAÍS RODRIGUES 1º PERÍODO

Como uma das sedes da Copa do Mundo, Belo Horizonte receberá, no período de 12 de junho a 13 de julho deste ano, um grande contingente de turistas que virão acompanhar os jogos. A cidade, além de ser a anfitriã de partidas do Mundial oferece também aos visitantes diversos atrativos turísticos como museus, dezenas de cinemas e teatros, locais de passeios ao ar livre, e também é conhecida como a “capital nacional dos botecos”, proporcionando diversas opções de lazer também na vida noturna. Tudo isso faz da capital mineira um ponto de interesse primordial para quem vem de fora durante o período da Copa, o que pode trazer também algumas preocupações no que diz respeito à hospedagem desse enorme “público” que deverá lotar os quartos dos hotéis da capital. Na primeira fase do Mundial, Belo Horizonte receberá as seleções da Argentina, Inglaterra, Bélgica, Argélia, Irã, Costa Rica, Colômbia e Grécia. Além de quatro jogos da primeira fase, ocorrerá na capital mineira uma partida nas oitavas de final e um jogo na fase semifinal. Por ordem da FIFA, cada um dos 32 participantes tiveram que eleger uma cidade brasileira para se fixarem em “bases de treinamento” e Belo Horizonte foi designada por três destas: Argentina, Chile e Uruguai. Através dos turistas estrangeiros com quem o MARCO fez contato, fica evidente que a escolha entre eles por Belo Horizonte se motivou em grande parte pelo fato de que a seleção de sua nação estará aqui durante a primeira fase dos jogos. A rede hoteleira da cidade demonstra-se insuficiente, mesmo com planejamentos e investimentos do governo, que visavam um crescimento de 70% nesse ramo, a fim de suprir as necessidades demandadas por um evento de

Moradores alugam quartos de suas residências para turistas durante a Copa do Mundo

porte como a Copa do Mundo. Segundo a Secopa-MG e a Prefeitura Municipal, há 314 hotéis/meios de hospedagem em funcionamento atualmente em Belo Horizonte. Há uma previsão de entrada em funcionamento de 75 novos hotéis na Região Metropolitana da capital, o que totalizará 389 hotéis e 52528 leitos. Além de hotéis, existem as chamadas “hospedagens alternativas” em que pessoas disponibilizam repúblicas, apartamentos e quartos em suas residências para serem alugados, especialmente para altas temporadas. Muitos dos turistas que virão, acabam por optar por esse tipo de hospedagem, que apresenta uma maior acessibilidade financeira e oportunidade de conhecer melhor a cultura local. No Bairro Coração Eucarístico, por exemplo, não há hotéis, mas algumas opções de “hospedagens alternativas”. As “hospedagens alternativas” têm manifestado sua importância,

principalmente por estimular a economia das regiões onde se encontram, já que movimenta o comércio e gera novos empregos, o que aumenta a renda da população local. Mesmo se tratando de “hospedagens alternativas” os valores de aluguéis são extremamente altos para o período da Copa do Mundo. As hospedagens pesquisadas encontram-se com valores que variam de R$ 400 a R$ 4 mil, mas existem valores maiores do que estes. Em uma das hospedagens, a diária normal é de R$ 1 mil e no período da Copa será R$ 4 mil. Em outra, durante o ano o aluguel é de R$ 120,00 por noite e no mundial será de R$ 550/ noite. Em uma casa o aluguel normal é de R$ 700 por mês e durante a Copa ele passará a ser R$ 8 mil/mês. O advogado patrimonial Marco Antonio Naves Soares, 47 anos, que possui imóveis disponibilizados para aluguel durante a Copa do

André Correia

Mundo, informou que sempre trabalhou com aluguel para temporada em Belo Horizonte e que o mundial será mais um evento na cidade ao qual poderá servir. De acordo com Naves, há bastante procura para aluguel no período da Copa, tanto que seus cinco imóveis disponíveis para temporada em Belo Horizonte já encontram-se todos locados para os jogos da primeira fase do Mundial que ocorrerão na capital mineira. Ele confirma que em altas temporadas é comum o aumento no valor da locação e das tarifas. Naves acredita que a escolha do Coração Eucarístico por turistas aconteça por ser um bairro “jovem”, com infraestrutura privilegiada, devido à presença da PUC Minas, além de possuir muitos estabelecimentos como restaurantes, farmácias, bares, padarias, supermercados e agências bancárias e por conter um amplo serviço de

transporte como linhas de ônibus, pontos de táxi e estação de metrô. O garçom e estudante argentino Mauricio Avalle, 20 anos, pretende vir para Belo Horizonte para assistir aos jogos da Copa do Mundo. Ele está dentro do sorteio de ingressos da FIFA. Quanto a hospedagem, ele escolheu ficar na residência do seu amigo Vinicius Oliveira, 18 anos, localizada próxima ao Minas Shopping e, se não fosse por isso, não teria chances de vir ao Brasil devido ao alto valor da locação e das tarifas de hospedagem em hotéis. Avalle escolheu vir para Belo Horizonte porque, além da possibilidade de ficar na casa de um amigo, a seleção argentina ficará na cidade e jogará no Mineirão. O argentino disse ainda que pretende ficar no país durante todo o mundial e que gostaria de conhecer os atrativos da capital mineira. O engenheiro comercial chileno Pablo Viego Campillos, 27 anos, que já veio a Belo Horizonte a turismo e para visitar um amigo em julho de 2012, virá novamente, exclusivamente para a Copa do Mundo. Viego escolheu Belo Horizonte como destino pelo fato de já conhecer a cidade e porque o Chile estará aqui em fase preparatória antes do mundial. No que se refere a sua estadia na capital mineira, Viego pretende ficar na casa de seu amigo ou em um albergue, que tem um preço mais acessível. Ele acrescentou que está muito difícil encontrar um lugar para ficar. O aluguel de apartamentos, albergues e a estadia em moradias de conhecidos se apresentam como saída econômica viável para muitos turistas que pretendem vir a Belo Horizonte assistir aos jogos da Copa. Com os altos preços, devido a grande demanda gerada pelo mundial, as chamadas “hospedagens alternativas” vêm ganhando espaço, principalmente nos bairros que não possuem uma rede hoteleira, como é o caso do Coração Eucarístico e alguns outros em seu entorno.

Imprensa se prepara para cobrir o Mundial CAROLINE ESPINOSA DIANDRA GUEDES PABLO HENRIQUE NASCIMENTO 1º PERÍODO

A Copa se aproxima e com ela a preparação da imprensa para cobrir o evento se intensifica. A mídia busca noticiar os acontecimentos, os jogos, e todo o ocorrido na Copa de forma a informar a população, mas pra essas informações chegarem até o público há um longo processo de preparação. O primeiro passo para a cobertura do evento é o credenciamento dos profissionais como jornalistas, fotógrafos e radialistas. “Feitas as credenciais, nosso trabalho fica todo voltado para a preparação de especiais, reportagens, organização da cobertura, divisão de tarefas entre os credenciados”, afirma Bruno Furtado, editor do Portal Superesportes. “As reivindicações foram, num primeiro momento, as credenciais. Superada essa etapa, não há mais o que

pleitear. O que a Fifa determina, é preciso seguir”, disse Bruno. “A Prefeitura de Belo Horizonte não recebeu até o momento nenhuma reivindicação específica proveniente da Imprensa “ , afimou Raquel Bernades, assessora da PBH. O governo de Minas Gerais e a PBH não tem praticamente nenhuma intervenção nos trabalhos da imprensa, uma vez que a FIFA controla tudo que ocorre nos estádios e nos locais de treinamento. A organização determina o espaço para cada profissional, regula o horário, a quantidade de profissionais credenciados, os períodos para assistir aos treinos dos times e tudo que for relativo à Copa. Com relação à estrutura de trabalho, os profissionais afirmam que esta costuma ser muito boa e profissional. “Há sempre postos de trabalho disponíveis nas salas de imprensa, redes de internet sem fio com boa velocidade de navegação, tradutores para ao menos seis idiomas nas entrevistas coletivas e até trans-

porte para o estádio, partindo de dois pontos das cidades que são sedes”, diz Bruno.

LIBERDADE Como a FIFA controla o evento, alguns fatos que ocorrem dentro do estádio podem ser abafados pela entidade. Segundo Bruno Furtado, na Copa das Confederações a FIFA tentou abafar o impacto das manifestações que

ocorreram no país proibindo extra-oficialmente a entrada de pessoas no estádio com pequenos cartazes com frases de protesto. Seguranças tinham a missão de identificar pessoas com cartazes e pequenas faixas, desde a revista na entrada até a movimentação nas cadeiras. “Vimos pessoas serem abordadas com truculência pelos seguranças quando levantavam seus

cartazes na arquibancada do Mineirão. Jornalistas se aproximaram para entender o que ocorria, tentar entrevistas os seguranças e os torcedores abordados. Nesse momento, seguranças ameaçaram tomar câmeras e celulares dos jornalistas que se aproximaram, uma forma de intimidar a publicação. Chegaram ainda a anotar os nomes de alguns dos nossos colegas

Bruno Furtado, editor do Portal Superesportes, acompanhará o Mundial

Liz Vasconcelos

sob a ameaça de que as credenciais seriam anuladas.”

IMPRENSA Belo Horizonte já vem recebendo visitas de grupos de jornalistas estrangeiros desde 2012, de forma a que eles possam conhecer a cidade antecipadamente e possam planejar seu o trabalho durante o evento. Durante a Copa, BH contará com assessores que vão trabalhar dentro do estádio Mineirão, para atender demandas específicas relativas à cidade. Já as demandas específicas relativas ao torneio são atendidas pela própria equipe da FIFA. “Toda a imprensa internacional tem, antecipadamente, acesso aos dados da cidade e também os contatos dos assessores de imprensa por vários meios, inclusive, pelo próprio site da FIFA, pelo FIFA Media Channel (o canal utilizado pela entidade para divulgar informações para a imprensa)”, afirma Raquel.


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Entrevista

RUBINHO DO VALE

Educação torna-se parceira de sempre Você cursou engenharia geológica. Nunca pensou em seguir a profissão?

Na verdade quando eu fui fazer eu pensava em seguir, embora eu não sabia nem direito o que era geologia, eu fui, meio que, de última hora. Eu tinha preparado para fazer vestibular para o curso de medicina e na ultima hora eu resolvi fazer engenharia, e fui para Ouro Preto, porque morar em Ouro Preto era legal. Hoje é legal, mas nos anos 70 era muito bom, nos meses de festival de inverno principalmente. Geologia no Brasil, na época tinha umas quatro ou cinco escolas, hoje têm muitas. Meu desejo era de realmente terminar o curso, e depois trabalhar na área, mas Ouro Preto mudou minha cabeça e acabei não conseguindo me dedicar muito ao curso, mudando de ideia até que um dia resolvi largar o curso para ser músico.

Porque você nunca deixou de admirar a música enquanto morava em Ouro Preto?

Exatamente, desde antes de eu morar lá, Ouro Preto sempre foi uma cidade de festivais de música, e eu participei de festivais lá e de festivais na região e em outras cidades na época como estudante, (eu já tocava violão) e festivais aparecendo, ganhando prêmios, esse estímulo fez meu desejo de tornar profissional crescer. Então, Ouro Preto mudou totalmente a minha vida, foi um marco para mim.

Quem ou o que o influenciou a abordar assuntos culturais e sociais em suas músicas? No lado social eu acredito que Ouro Preto também me influenciou muito pelo movimento estudantil, que naquela época era muito forte, e eu já tinha dentro de mim uma certa carga de desejo de, digamos assim, lutar pela minha região, pelo Vale do Jequitinhonha, por eu ter visto na minha infância, por eu ter visto na minha adolescência aquelas coisas que a gente via, algumas injustiças. E como um jovem, sensível ao ser humano, eu já trazia dentro de mim esse desejo de lutar por alguma coisa que eu não sabia o que era, tanto é que eu vim estudar aqui com o desejo de ser alguém na vida para poder, através dos estudos, melhorar a condição de vida do meu pessoal e lutar um pouco pela minha cidade e pela minha região. E aí a minha música, o começo da minha carreira acabou falando muito de questões sociais. E também os artistas em que me inspirei, que eu acompanhei e as questões culturais que eu acho que foi muito espontâneo. Eu já gostava de falar sobre o regional, de música de raiz, eu gostava muito disso por eu ter sido criado nesse meio, então eu já iniciei o meu contato com o instrumento, com o violão já tocando esse tipo de coisa.

Como você aprendeu a tocar violão? Sozinho. Eu lembro de alguém assim, mas ninguém me ensinou aonde colocar os dedos nos lugares certos. Eu fui olhando e olhando até me acostumar. Chegava em casa, às vezes tocava, acertava uma notinha no violão, e pulava de alegria (risos). Eu nunca tive aula, foi só por observação.

Você não tem vontade de seguir a carreira de ator? Muito legal isso. De vez em quando me dá um negócio assim, e eu me vejo ator, no meu show com as crianças, é o meu lado ator, e Deus não escreve errado não, que algum tempo depois de 15 anos de música, eu comecei a cantar pra criança e cantando para crianças você acaba sendo um “brincante”, e aí o meu lado ator manifesta. Mas para ser ator, eu acho que requer um pouco mais de técnica, de estudo, e eu não fiz isso, mas eu gostaria muito, eu tenho muita vontade de fazer alguma coisa nessa área. Eu acho maravilhoso o trabalho de ator.

Como começou o seu interesse pelo público infantil? Eu acho que de tanto ver a mesma coisa nos meios de comunicação, de não ver coisas novas. Coisa nova, mas que mostrasse

ANA ISABEL BARBOSA SAMANTHA BURTON 1º PERÍODO

Como o próprio nome indica, Rubinho do Vale nasceu em Rubim, no Vale do Jequitinhonha, em Minas. É um cantor e compositor brasileiro, contador de histórias, que já ganhou diversos prêmios nacionais em reconhecimento ao seu trabalho, grande parte dele dedicado às crianças, sua grande paixão. Gosta de se autodenominar “brincante”, mas também gosta de falar sobre seu povo, do qual tem muito orgulho. Rubinho recebeu o MARCO de braços abertos e com muita simpatia. A primeira coisa que mostra: as lindas peças de artesanato trazidas de sua região, que os fazem falar, com profunda emoção a história de uma artesã, e que o levam a sonhar com a construção de um pequeno centro cultural “que fosse a cara do Vale aqui em BH”. Rubinho revela o lançamento do seu oitavo CD, ainda sem data definida, mas provavelmente na segunda quinzena de abril. Rubinho revela detalhes sobre o próximo projeto, fala que esse novo CD infantil virá em formato de livrinho, com o disco dentro e terá faixas reduzidas, mas que as mensagens e as brincadeiras continuam sendo seu foco principal. “A gente dá ênfase na palavra, na criatividade, na brincadeira”, explicar Rubinho, que fala sobre parcerias, futuros projetos e sua visão do apoio dado aos artistas pelas instituições acadêmicas e pelo Estado. “Tem muita gente que eu admiro e tenho muita vontade de gravar”, conta o artista, um homem simples, que segue com imensa determinação de retratar as “coisas” do Vale.

o antigo, o tradicional, o que a gente vivia, nova, mas no nosso cotidiano, da nossa infância, e eu não via isso na TV. Eu já tinha alguns discos, comprei outros que abordavam a cultura brasileira e na televisão só tinham aqueles programas com aquelas apresentadoras e as pessoas tinham que consumir aquilo. E eu senti falta disso, de coisas, de cantiga de roda por exemplo, de música que focasse a brincadeira que tocasse no coração da criança, de forma lúdica, engraçada e eu sentia falta disso. E aí brincando eu comecei a compor e um dia eu gravei um disco. E aí o disco entrou por uma escola e foi saindo pelo Brasil, e foi vindo o segundo, terceiro e daqui a uns quinze dias eu estou lançando o oitavo.

Que tipo de mensagem tenta passar às crianças?

Normalmente as minhas visitas em escolas se resumem a apresentações musicais. Têm alguns artistas que fazem oficinas, que fazem brincadeiras, que fazem teatrinhos e tudo mais, mas o meu trabalho é só cantar mesmo, embora hoje eu faça um trabalho mais demorado dedicado ao professor, chamado Cantoria Pedagógica, que eu fico quatro horas, cantando, conversando e falando (de coisa séria), brincando com os professores. Com as crianças, essa pequena apresentação que eu faço, a gente fala de amor, de amizade, da natureza. Eu nunca faço música, nem vou para a escola com o interesse específico de ser pedagógico, eu vou pra fazer arte com as crianças, e acaba que pelas coisas que eu canto, pelas letras das minhas músicas, os professores usam no dia a dia da sala de aula, na primeira, segunda, quarta, quinta séries. Atualmente, eu devo estar com uns dez pedidos para usarem músicas minhas, cinco de editoras grandes. Já tive problemas com editora grande de São Paulo por causa de direitos autorais, agora mesmo tem umas cinco grandes pedindo musica minha. E eu acho engraçado que às vezes eu chego por aí em algum congresso de educação e vêm profissionais que eu nunca imaginaria que teriam a minha musica e tem na sua sala de aula, aí eu penso até onde ela pode chegar. O natural da divulgação do artista da arte, é pela rádio, pelo jornal, pela televisão, mas essa divulgação pela “sala de aula” é uma coisa inédita, que acaba sendo útil. A educação se tornou uma parceira.

de vídeo, de eventos culturais, e é também uma editora. E eu quero editar algumas coisas, uma época saiu um livrinho meu pela editora “Ler”, foi muito usado por escolas em Belo Horizonte, e realmente tem muita letra de música minha, que muito professor já chegou achando que era folclore, jamais imaginaram que era minha. Eu acho que o povo pegar parte da letra e assimilar isso, e leva para ele, é bacana, é bonito, tem algo a dizer. A cultura só tem algo bonito, é algo muito bonito, você jamais vai encontrar uma asneira na cultura popular. Eu tenho muito desejo de começar esse trabalho, tenho planos, estão surgindo parceiros muito legais, ilustradores, vídeo, a gente está com alguns projetos, tipo um livro com vídeo misturado. Mas, eu tenho muito medo de assumir a posição de escritor, eu acho muito mais responsabilidade. Por que a música permite algumas coisas que a literatura permite também, mas ela é mais exigente, um coloquial, coisas que com a musica basta você brincar com isso. Muitos amigos que são escritores já me incentivam a fazer, mas eu sempre tive medo por causa disso.

Quis fazer um disco enxuto, que seja bem recebido

Você não pensa em fazer o seu próprio material educativo para crianças? Na verdade a minha empresa (apontando para o escritório) isso aqui é uma produtora

Aparecer no programa “Sarau’, da Globo News, abre portas para você?

Recebo com o maior prazer. Vou abraçar o que vier. Mas, eu confesso, que não tenho essa expectativa. Eu acho que a vida é uma somatória de tudo que se faz e as coisas vão, o universo vai conspirando a favor das coisas quando são feitas com carinho. Na verdade eu não faço nada planejando que vou fazer acontecer isso aí. Na verdade o convite do Chico (Pinheiro, jornalista e apresentador do programa), há muitos anos que a gente “namorava”, de certa forma, essa ida ao Sarau. Há muitos anos eu recebi um prêmio na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, acho que é o maior prêmio da Câmara também: Colar do Mérito Legislativo de Belo Horizonte e quem me homenageou foi o pai do Chico Pinheiro, na época vereador, Antônio Pinheiro, um grande cara mineiro. É um programa que é muito bonito. Eu conversei muito com o Chico, que coisa linda que ele fez, os artistas da MPB estão sumidos da televisão. De todas as áreas do samba, da Bossa Nova, da música nordestina. Para mim foi uma grande oportunidade, fui muito feliz de ter participado. Foi um programa muito bonito com Chico Lobo, Gabriel Guedes, uma turma bacana. Mas eu não sei se pode abrir alguma porta, se me chamar estou dentro. (risos)

André Correia

Você tem algum projeto de novas parcerias? Tem alguém que você gostaria de fazer uma parceria? Não sei assim. Claro que tem muita gente que eu admiro e tenho muita vontade de gravar com eles. Esse meu último disco que eu fiz mais recente adulto, chama Estrada, eu tive a participação da Fernanda Takai, que é uma cantora mineira da banda Pato Fu. Eu sabia que ela gostava do meu trabalho, principalmente do trabalho de criança, e tinha toda uma ligação da música que ela cantou com ela. Foi muito legal, ela aceitou o convite e cantou comigo, fiquei muito feliz. O Ivan Vilela que é um violeiro que eu adoro e nós temos sonho de fazer um projeto juntos. É um músico mineiro, do Sul de Minas que mora em Campinas. Ele fundou a cadeira de viola em muitas universidades, na Unicamp e em outras universidades de São Paulo. É um cara que levou a viola para concerto. Ao mesmo tempo que ele toca música erudita, ele toca Beatles, toca Tom Jobim, toca música caipira autêntica. É um genial na viola, e eu tive a honra de tê-lo comigo nesse disco. E outro cara que eu tinha vontade de fazer outras coisas com ele, não sei se eu vou ter oportunidades, eu espelho e inspiro muito nele, é um nordestino chamado Antônio Nobrega. Ele é bailarino, toca rabeca, tem uma história muito importante na música brasileira. E ele viaja muito, o mundo inteiro. Mostrou que é possível você ser conhecido no país inteiro.

Seu último CD foi lançado em 2012. Tem planos em lançar outro em breve? Sim, o CD chama “Inventa”, já está pronto, eu o gravei no segundo semestre do ano passado. Estamos em busca de um espaço pra fazer o lançamento, só isso que falta. Um disquinho bem legal, meu oitavo, sendo que dos oito, três (infantis) foram feitos em colaboração com a professora de música Cláudia Duarte, que dá aula em várias escolas de Belo Horizonte, principalmente no colégio Santa Dorotéia e fizemos esse disco com os corais que ela dá aula. Foram trabalhos muito legais. Esse “inventa” é um trabalho que vim pensando há um bom tempo e tô gostando muito dele.

O CD tem em torno de quantas faixas? São umas doze ou treze faixas, teve CD meu que as pessoas olhavam e tinham vinte faixas, mas tem muita faixa pequenininha, às vezes só uma coisinha pequena. Esse eu quis fazer um disco mais enxuto, em que a gente dá ênfase na palavra, na criatividade, na brincadeira. Espero que ele seja bem recebido.

O que você vai fazer com todo esse artesanato que trouxe lá do Vale? Esse artesanato, na verdade, na minha casa tem muito... Mas aí, não tinha mais lugar para por em casa, eu comecei a trazer para aqui. Eu dou muito presente de artesanato. Meu presente é artesanato e música. Eu tenho vontade de ter um centro cultural, que fosse a cara do Vale aqui em BH, onde as pessoas pudessem encontrar nossa cultura, encontrar com os artistas da nossa região.


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