“TRAGA UM, LEVE OUTRO” MOBILIZA LEITORES, DE TODAS AS IDADES, NA DOAÇÃO DE LIVROS EM LIVRARIA NO BAIRRO CORAÇÃO EUCARÍSTICO PÁGINA 4 Rafaella Rodinistzky
PEQUENOS COMÉRCIOS TRADICIONAIS DO BAIRRO DOM CABRAL SOFREM COM A CONCORRÊNCIA DAS GRANDES REDES DE SUPERMERCADO PÁGINA 5
O JORNALISTA E ESCRITOR JOSÉ MARIA RABÊLO DIZ QUE UMA PUBLICAÇÃO COMO O BINÔMIO, QUE AJUDOU A CRIAR, SERIA BEM VINDA NO ATUAL BRASIL PÁGINA 16 André Correia
André Correia
marco jornal
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 305 . Abril 2014
Ajuda para retomar a vida Copa do Mundo cria expectativa em estrangeiros
Paulo César Magalhães, 40 anos, teve que trabalhar desde pequeno para ajudar os pais em Governador Valadares, onde morava. Em 2010, ao realizar um exame admissional para o emprego em uma fábrica, descobriu que era portador do vírus HIV. Na época, optou por não realizar o tratamento. Enfrentou preconceito dos irmãos, que o expulsaram de casa. Viveu como morador de rua, em Belo Horizonte, até que foi acolhido por integrantes do Instituto Pauline Reichstul, e teve sua vida completamente modificada. Hoje, ele trabalha no Centro de Referência em Direitos Humanos, criado pela ONG. PÁGINA 9
A proximidade do Mundial de Futebol, que começa em 12 de junho, mexe não apenas com os brasileiros, mas também com estrangeiros que escolheram morar no Brasil. Alguns desses ‘gringos’ torcem para que tudo corra bem, durante a Copa do Mundo, mas manifestam dúvidas. O professor James Michael Ubriaco, veio dos Estados Unidos por curiosidade, não falava português e há 20 anos ele vive no Brasil. Ele destaca aspectos positivos, como a hospitalidade dos brasileiros, e negativos como a infra-estrutura de algumas sedes, como BH. PÁGINA 14
Clarissa França
Após atrasos, sede da PM é inaugurada A construção do quartel da 9ª Companhia de Polícia Militar de Minas Gerais, que passou por diversos atrasos durante sua construção, foi concluída. A solenidade de inauguração, realizada em 9 de Abril, reuniu autoridades civis e militares, além de um pequeno número de moradores. A população está confiante e a expectativa é que a chegada da companhia contribua diretamente para o aumento da segurança do bairro, que tem registrado cada vez mais altos índices de violência. PÁGINA 7
LEIA AINDA
Atuação de escolas diminui resistência à vacina contra HPV
Residentes criam laços históricos com São Gabriel O Bairro São Gabriel, na Região Nordeste de Belo Horizonte, possui cerca de 13 mil moradores. Entre residentes novos e antigos, estão Paulo de Freitas, Jefferson Luiz e Nadi Helena que fazem parte da história do Bairro. Paulo viveu alguns anos em Portugal e, hoje, possui um comércio em frente à PUC Minas. Jefferson, tem 55 anos e mora há 30 anos no Bairro. Dona Nadi está ali há 51 anos e conhece o lugar como ninguém. Ela foi a primeira moradora da Rua Anori. PÁGINA 6
André Correia
Moradores de rua fazem obra de arte
O Ministério da Saúde iniciou neste ano a campanha de vacinação contra o vírus do HPV, principal causador do câncer de colo de útero. O projeto envolve meninas de idades entre 11 e 13 anos. Por isso, a participação das escolas foi fundamental para o sucesso da campanha. Em Belo Horizonte, a vacina teve aceitação por grande parte da população envolvida, mas ainda carrega alguns mitos e tabus. PÁGINA 10 Camila Navarro
O Espaço Cultura e Fé localizado no campus Coração Eucarsítico da PUC Minas recebeu a Exposição Guernica feita por alunos da oficina de artes oferecida pelo Centro de Referência Especializada para Pessoa em Situação de Rua. A obra é uma releitura do quadro de Pablo Picasso que faz referência a guerra civil espanhola. Feita em papel machê, a obra demorou dois anos para ficar pronta e foi vista por estudantes, funcionários e professores. PÁGINA 11
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Comunidade
editorial
Histórias de vida e superação que valem reflexão
Conclusão de obras é recebida com alívio Apesar de reclamarem da demora e criticarem a qualidade, moradores estão otimistas com fim da canalização na Rua Anapurus
CAMILA NAVARRO 3º PERÍODO
A equipe do MARCO sempre se empenha em trazer em suas páginas histórias novas e relevantes, que possam contribuir para o desenvolvimento da comunidade dos Bairros localizados próximos aos campi Coração Eucarístico e São Gabriel da PUC Minas. Nesta edição, de número 305, nossos repórteres apuraram várias histórias de vida, de solidariedade e superação.Tudo isso voltado para vocês, leitores do jornal. Assim, trazemos nessa edição a história da união de um grupo de mulheres em torno do bazar “Mãos de ouro”. Elas realizam trabalho voluntário para ajudar na manutenção da Igreja do Coração Eucarístico. Há também troca de livros realizada por moradores no Café e Livraria da Praça e um pouco da vida de jovens no Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus. Contamos ainda com a inspiradora história de Seu Antônio, que permanece fiel à sua profissão de sapateiro, com mais de 50 anos de atividades no Coração Eucarístico. Vale também a leitura da trajetória de Maria da Fátima, que saiu da pequena cidade de Moeda, na região central do estado, para buscar seus sonhos na capital. É de se emocionar o relato de Paulo César Magalhães, o Paulinho, que reinventou sua vida após ser diagnosticado com o vírus HIV. Continuando com a série de matérias da Copa do Mundo, o MARCO buscou a opinião de alguns estrangeiros sobre o país que vai sediar o evento este ano. Ainda na editoria de esporte, conheça um pouco mais sobre as modalidades olímpicas não tanto conhecidas, como o arco e flecha, além do trabalho que visa não apenas descobrir talentos olímpicos, mas utiliza o esporte como ferramenta de formação de cidadãos. O jornalismo também está presente nesta edição, em que há uma discussão se esse profissionais devem fazer propagandas. Fechando a edição, uma entrevista com o jornalista José Maria Rabêlo que, aos 86 anos, relembra sua atuação com o Jornal Binômio e seu exílio durante o período da ditadura militar. O MARCO chega aos leitores com mais uma edição repleta de matérias importantes e inspiradoras para a comunidade. Nossa equipe continua dedicando-se ao máximo para manter vocês leitores informados e abastecidos de histórias que acrescentem nas vidas de cada um.
errata Na matéria “Demolições mudam cenário no São Gabriel”, publicada à página 3 da edição 303, os autores são Bruno Oliveira, Jéssica Félix e Lola Cirino, do 2º período.
Obras para escoamento de água na Rua Anapurus demoraram, mas foram concluídas
GIOVANNA DE PAULA 7º PERÍODO
Hoje, a chuva é bem vinda entre moradores e comerciantes da Rua Anapurus, no Bairro São Gabriel. Após a canalização do local, este ano, a população espera não sofrer mais transtornos com a falta de escoamento de água. “Quando chovia a rua virava um rio”, lembra, sem saudades, o taxista Marcus Alexandre, 63 anos. De acordo com o gerente Regional do Orçamento Participativo da Região Nordeste, Rogério Manassés, o projeto de canalização foi realizado por meio do orçamento participativo, referente a 2009/2010. Esse mecanismo político permite que
jornal marco
Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação (S.Gabriel): Profª. Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Letícia Diniz, Giovanna Evelyn, Juliana Gusman, Karen Antonieta, Marcella Figueiredo, Mateus Teixeira, Rafaela Romano, Sérgio Marques Monitores de Fotografia: André Correia, Camila Navarro, Liz Vasconcelos Monitor de Diagramação: Vinícius Augusto CTP e Impressão: Fumarc Tiragem: 12.000 exemplares
entanto, concordam que a interferência foi necessária e trará benefícios. Para Marcus Alexandre, as obras não afetaram a clientela, mas foram “demoradas e mal feitas”. O morador destaca que em algumas partes da rua, o asfalto cedeu, formando buracos. O órgão responsável pela execução da canalização foi a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). Esse é o setor que realiza as obras de infraestrutura urbana e dos bens imóveis públicos da cidade de Belo Horizonte. No último dia de fechamento desta matéria, uma equipe da Sudecap foi ao local realizar ajustes no asfalto, juntamente com o engenhei-
ro responsável pela obra. Apesar da necessidade de reparos, o comerciante Wanderley Rodrigues, 43 anos, está otimista quanto aos resultados da reestruturação da rua. “Ainda não tivemos uma chuva intensa, mas até agora a canalização resolveu o problema”, observa. Para ele, a próxima melhoria na região poderia ser ligar a Rua Anapurus à BR, para tornar o percurso mais rápido e aliviar o trânsito. Marcus Alexandre também sugere colocar mão única no local onde foi realizada a canalização, bem como intensificar a fiscalização dos carros, para reduzir o número de veículos que param em lugares proibidos.
Festividades da Igreja Católica movimentam o São Gabriel GIOVANNA DE PAULA 7º PERÍODO
expediente
a comunidade escolha a maneira como será aplicado o dinheiro público. Segundo os moradores da região, a obra na Rua Anapurus era necessária, pois a ausência de escoamento da água, nos períodos chuvosos, causava alagamentos e acúmulos de lixo. Como o local é um dos mais comerciais do Bairro, o trânsito de veículos e pessoas ficava prejudicado. O período de obras, nesse ponto do São Gabriel, alterou o faturamento de alguns estabelecimentos. Ivan José Simas, 70 anos, proprietário de uma loja de móveis, e Gabriel Santos, 23, funcionário de um sacolão, destacam que as vendas caíram durante o processo de canalização. Ambos, no
Giovanna de Paula
A realização de festas após as missas, com direito a forró, barraquinhas, bingos e outras promoções, pode parecer evento típico de cidade de interior. No Bairro São Gabriel, festividades como essas movimentam a comunidade e contam com o apoio não só dos fiéis, mas da população de maneira geral. “Na vida de cidade grande as pessoas têm muito pouco tempo para se encontrarem e se conhecerem”, comenta o padre José Geraldo Neto, 49 anos, destacando a importância dessas iniciativas no bairro. As festividades são organizadas pela Igreja Nossa Senhora da Anunciação, com o objetivo de
arrecadar recursos para as comunidades da paróquia e promover o relacionamento entre os moradores da Região. Elas ocorrem aos sábados, nos espaços de eventos da igreja, após as missas noturnas. A frequência depende da necessidade de arrecadação. Segundo Dagmar Moreira, 65 anos, moradora do São Gabriel há 30, a comunidade “participa ativamente” das festividades. A própria população doa os brindes para serem distribuídos nas promoções. Alguns dos prêmios oferecidos são cestas de alimentos, pernis assados e aparelhos eletrodomésticos. “A gente está terminando a igreja, quanto mais movimento, melhor”, ressalta. “É um lazer para nós da Terceira Idade, mas
também vão jovens e casais”, afirma a moradora Vera Lúcia, 70, a respeito das festas da igreja. Ela faz parte do movimento da Terceira Idade da Paróquia desde 1993 e, sempre que possível, participa dos eventos de arrecadação. “Tem o bingo e a hora dançante. A gente paga R$ 10 e tem muitos prêmios. A gente participa e paga o dízimo para ajudar a igreja”, explica. Dono de um lava jato na Região, José Ricardo, 42, comenta que já participou das comemorações da Paróquia e destaca a organização dos eventos. Além disso, ele pontua a atuação da Igreja no auxílio às famílias da comunidade, por meio da distribuição de cestas básicas, visitas
aos lares e aconselhamentos. O bingo, por exemplo, é realizado a cada três meses, por ocasião das festas dos padroeiros. Antes de chegar ao Bairro, José Geraldo Neto trabalhava na Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Ibirité, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Hoje, com cerca de cinco anos de atuação no São Gabriel, ele tem uma boa aceitação entre os moradores. Segundo o padre, as festividades que movimentam os moradores do bairro em torno da PUC Minas, acontecem na Comunidade Menino Jesus (São Gabriel 1) e na Comunidade Nossa Senhora da Anunciação (São Gabriel 2).
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Comunidade
Coleta seletiva cresce em bairro No Bairro São Gabriel vem crescendo a conscientização quanto à coleta seletiva. Foram distribuídos pelas ruas coletores de vidro, papel, plástico e metal, além da criação de uma URPV Segundo ele, existe uma tarifa que é cobrada pela prefeitura para a realização da coleta, tarifa essa que ele não concorda. Dessa forma todos veem na coleta seletiva um importante passo para melhorar a limpeza da cidade e a qualidade de vida da população. Para a Superintendência de Limpeza Urbana da Prefeitura de Belo Horizonte, cidade limpa não é a que mais se var-
Moradores depositam materiais recicláveis fora dos coletores
JOÃO PEDRO OLIVEIRA JULIAN DHANI DE SOUZA CRUZ 1º PERÍODO
O lixo é uma fonte de riquezas. E a fonte dessa riqueza tem como matéria prima a coleta seletiva. No Brasil, milhões de reais são desperdiçados por não se reciclar tudo o que poderia. No Bairro São Gabriel, na Região Nordeste de Belo Horizonte, existem dois pontos de destinação do tipo ponto a ponto. Eles estão localizados na Rua São João da Serra número 86 e na Rua Zumbi com Avenida Esplanada número 72, que abriga também uma Unidade de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV), local responsável por receber materiais como entulho, pneus, eletrodomésticos e móveis velhos. Nesses pontos podem
ser encontrados coletores de vidro, metal, plástico e papel. De acordo com a Assessoria de Comunicação Social da SLU de Belo Horizonte o recolhimento do papel, metal e plástico acontece às segundas, quartas, quintas, sextas-feiras e aos sábados, na Rua São João da Serra. Na Rua Zumbi, o material reciclável como o papel, metal e plástico, a coleta é realizada às quartas e sextas-feiras. Em ambos os pontos o vidro é retirado às quartas feiras. Morador da região, o comerciante Antônio Sales Junior, 46 anos, diz que a coleta seletiva funciona como “um processo de separação dos materiais em plástico, vidro e papel” e, de acordo com ele, o incentivo a participar foi a tentativa de melhorar o meio ambiente, além de me-
Karen Antonieta
lhorar a qualidade do meio em que vive. Para ele “é uma boa ideia, para o brasileiro que é atrasado demais, a melhorar o meio ambiente”. Essa relação entre a comunidade e a prefeitura da capital é de extrema importância para a cidade. A SLU diz que “a coleta seletiva é uma das prioridades da Superintendência de Limpeza Urbana” e que no Bairro São Gabriel tem “boa participação como também produção de resíduos”. Para os moradores, a relação entre governo e população nessa área ambiental também é muito importante, mas acham que poderia ser ainda melhor. Foi o que disse o aposentado Sulizio Almeida Santos, 66 anos. Para o entrevistado a relação prefeitura e moradores funciona bem, mas Sulizio faz uma reclamação.
re, é a que menos se suja. Já o morador Antônio Sales Junior acredita no trabalho realizado. “Acho importante, pois é importante para a vida e ajuda a melhorar o meio ambiente”. Contudo, para a contínua melhoria e uma maior participação por parte dos moradores do Bairro São Gabriel e de toda Belo Horizonte, alguns pontos precisam de melhorias. O morador Sulizio Almeida
Santos sugeriu uma coleta com caminhão porta a porta para fazer a coleta do material reciclado no Bairro São Gabriel, incentivando um maior número de pessoas a participar da separação. Assim como Antônio Sales Junior que se sente satisfeito com o serviço oferecido pela prefeitura ao seu bairro, mas acha que deveria haver uma conscientização maior da própria população.
Aumenta coleta seletiva em Belo Horizonte O processo de coleta seletiva consiste na separação e recolhimento dos materiais descartados por toda população. Classificados em lixo seco, aquele que é reaproveitado, como metal, plástico e papel e lixo úmido ou orgânico, o não reciclado. Porém hoje, em sua grande maioria, no Brasil, o lixo orgânico vai para lixões e aterros sanitários, mesmo podendo ser reutilizado como adubo. Em Belo Horizonte, a prefeitura da capital, através da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) é a responsável por programas e atividades voltadas para a coleta domiciliar de lixo, varrições, outros serviços de limpeza urbana, além da coleta seletiva. Na cidade existem dois tipos de serviços oferecidos à população. É a coleta seletiva ponto a ponto, na qual há instalação de contêineres em vários pontos da cidade. O cidadão faz a separação em casa ou no trabalho e deposita nesses coletores de acordo com o tipo de material reciclável. Já a coleta porta a porta que funciona com a separação nas casas, é realizada pelo caminhão específico da prefeitura. Hoje, em Belo horizonte, há 94 locais de entrega voluntária, o que corresponde a 299 contêineres nos locais de coleta ponto a ponto.
Conforme dados disponibilizados pela SLU em Belo Horizonte são coletados por dia cerca de 3.700 toneladas de lixo. Deste total cerca de 180 toneladas são destinadas à reciclagem, sendo 140 toneladas de entulho da construção civil, 30 toneladas de recicláveis da coleta seletiva (papel, metal, vidro e plástico) e 10 toneladas de resíduos orgânicos. Todo material recolhido é entregue para os galpões das cooperativas e associações de catadores da capital. Assim a prefeitura também busca a cada dia melhorar seus serviços prestados. Informando ainda que a SLU ampliou a coleta seletiva porta a porta da capital e que atualmente estão sendo beneficiados 120.828 domicílios, totalizando 375.775 pessoas recebendo a coleta Porta a Porta. Nesse processo de consciência ambiental que cresce gradativamente no país, a coleta seletiva tem uma enorme importância para todos. No caso de Belo Horizonte, além de altas taxas de reciclagem para materiais com algum valor e fáceis de separar, o trabalho em conjunto com as associações de catadores funciona como processo de inclusão para os próprios envolvidos.
Vendas do bazar ajudam na manutenção de igreja MARCELLA FIGUEIREDO VINÍCIUS AUGUSTO 6º PERÍODO
“O bazar é muito ativo, é sempre uma alegria constante”. A frase é de uma das fundadoras do Bazar Mãos de Ouro, Thaís Camisassa Dornas, 70 anos, que há 35 promove junto a outras senhoras do Bairro Coração Eucarístico atividades e artesanatos para contribuir financeiramente com a igreja local e dar diversão às integrantes. A iniciativa partiu do Monsenhor Eder Amantéa, 68 anos, que há 40 é pároco da Igreja Coração Eucarístico de Jesus. A ideia surgiu quando ele chegou à comunidade e percebeu a carência da região. Com a necessidade de pagar as dívidas e ajudar na construção da Igreja, ele arrecadou roupas doadas por conhecidos e, junto de um grupo de aproximadamente 20 mulheres, todas moradoras do Bairro, organizou o primeiro bazar. Uma dessas mulheres é Thaís Camisassa, hoje a coordenadora do grupo, que é formado por 35 mulheres, todas com mais de 50 anos. As reuniões acontecem toda quartafeira, de 14h às 17h, no salão paroquial da igreja. Ela afirma que o diferencial do bazar é que não existem professoras, mas sim participantes que dominam determinadas técnicas e passam para as outras. “O trabalho é dividido, cada uma faz uma atividade”, con-
ta. Dona Hebe é a responsável pelos bordados, enquanto Dona Geralda faz os bordados nas toalhas xadrez e Dona Maria José e Dona Graça, que também atende pelo nome artístico “Gracy Nazareno”, fazem o ponto macramê. Lá Dona Pupê ensina a fazer as flores de papel; Dona Arlete é a especialista nas roupinhas de bebê e Dona Lia faz os fuxicos. Dona Nercy, que é a contadora de casos, faz os trabalhos que necessitam do uso da máquina de costura – os quais ela leva para casa, porque para usar o equipamento no bazar ela tem que ficar longe das outras. Dona Alvacy faz os trabalhos de decupagem; Dona Jandira e Dona Maria das Graças fazem os crochês.
Os trabalhos feitos no bazar são manuais. Toalhas de mão e de banho, panos de prato, forros de mesa, porta copos, roupas de cama e artigos decorativos são comercializados em duas datas anuais: natal e dia das mães. Para o próximo bazar, que acontece em maio, a novidade são as flores decorativas confeccionadas em papel colorido. “As flores são a coisa nova para o dia das mães, e está todo mundo interessado em aprender fazer. É um trabalho que dá vida às coisas”, revela Thaís. A quantia arrecadada com as vendas é doada para a Igreja, com o intuito de ajudar nas despesas de luz e água. E elas garantem que vende mais do que sobra. Apesar
dos produtos serem expostos para o público duas vezes por ano, é possível adquiri-los fora das ocasiões entrando em contato com a coordenadora. A rotina das reuniões é dividida em três momentos. O primeiro instante é de oração, do qual todas participam. O segundo é a produção das peças artesanais. O terceiro e último é o lanche que acontece no fim da tarde. O grupo, que atualmente é composto só por mulheres, já teve a participação de homens. “Tinha um senhor que vinha para tirar retratos”, recorda Thaís. Ao longo dos 35 anos de existência, já passaram pelo Bazar Mãos de Ouro 233 pessoas, todas documentadas em agendas mantidas por Thaís.
Grupo de senhoras que trabalham na produção de artesanatos para venda
André Correia
Viagens e outras atividades fazem parte da rotina do grupo Quem pensa que as senhoras se encontram apenas às quartas-feiras está enganado. Há mais de vinte anos elas viajam para a cidade de Caldas Novas, Goiás, com a presença do Monsenhor Eder, e escolhem o mesmo hotel para se instalar. Nas viagens, sempre levam junto familiares e amigos. Já foram também para São João Del Rey, Tiradentes, Mariana e cidades do Nordeste brasileiro. No exterior, já visitaram a Itália, França, Espanha, e o preferido, Israel, por cinco vezes. O dinheiro para as viagens sai do próprio bolso das integrantes. As que não têm condições de arcar com as despesas das viagens recebem ajuda das demais, para que todas possam ir juntas. Outro programa realizado por elas é a visitação de sítios durante os finais de semana. Há anos, a organização de festas para a comunidade também era feita pelo grupo. A maior delas ocorreu num espaço aberto, onde hoje funciona um supermercado no Bairro, e que, segundo
Thaís, contou com a “participação de mais de mil pessoas”.
TERAPIA “O bazar é a nossa terapia de quarta-feira”. É dessa forma que Dona Graça Nazareno, frequentadora há mais de três anos, define as reuniões. A convivência do grupo é o que mais atrai as pessoas que não fazem parte dele. Sempre quando alguém recorre à igreja procurando por ajuda ou por uma palavra de apoio, a sugestão de Monsenhor Eder é a participação no grupo de senhoras. “As reuniões fazem com que as pessoas se agrupem e se sintam felizes”, acredita. Dona Nercy Nicácio, 74 anos, é um exemplo disso. Ela estava em depressão quando começou a frequentar o bazar, contudo, com o ambiente descontraído viu essa situação melhorar. “Eu estava em depressão quando vim parar aqui, no fundo do poço. Sou muito tímida, mas agora já estou acostumada com o pessoal”, assume.
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Comunidade
Troca de livros vem crescendo Evento de troca de livros ganha mais adeptos e alcança a sétima edição. Baseado em um evento iniciado nos EUA e na Europa, a prática chegou ao Brasil e hoje vem granhando seu espaço RAFAELLA RODINISTZKY 3º PERÍODO
A troca de livros é uma iniciativa que obteve êxito no exterior e agora acontece em BH. Está em sua sétima edição, sediado sempre na última semana de cada mês no Café e Livraria da Praça no Bairro Coração Eucarístico. A ação é baseada nas trocas de livros que acontecem em outros países. “Diferentemente do Book Crossing tradicional, que se originou nos EUA e na Europa, que é uma prática internacional de deixar um livro num local público, para ser encontrado e lido por outro leitor - que por sua vez fará o mesmo - o nosso evento, denominado ‘Traga Um, Leve Outro’, apresenta uma forma mais espontânea. Aqui, as pessoas podem simplesmente levar livros, sem nenhuma obrigatoriedade, contrapartida, cadastro, etc”, explica Juliano Klevanskis, idealizador do ‘Traga Um, Leve Outro’. Juliano é escritor e implantou o projeto devido à necessidade de ser lido e à carência de leitura no Brasil, dessa forma ele espera transformar um pouco a realidade. “Um evento desta natureza proporciona para pessoas carentes maior
Book Crossing reune leitores em evento de trocas de livros no Bairro Coração Eucarístico
acesso aos livros, e também formar leitores, como crianças e adolescentes. O evento tem um potencial muito grande em regiões com um número elevado de passantes como a Praça do Coração Eucarístico”, justifica.
Vanessa Oliveira, terapeuta ocupacional, descobriu o ‘Traga Um, Leve Outro’ por meio do Facebook e como já tinha livros separados para levar ao sebo, resolveu levá-los para o projeto, pois na troca eles ficariam dis-
Pedido de novo visitante pega livreiro de surpresa Juliano Klevanskis, livreiro e idealizador do Book Crossing, foi surpreendido durante a sexta edição da troca pelo pedido do senhor Mário de Lima. Ele desejava um Dicionário Oxford. Klevanskis apresentou tal reação pois Mário era um catador de recicláveis e seu pedido quebrou todos os estereótipos acerca de sua condição. Mário de Lima gosta de ler enciclopédias e livros de ciências humanas. Ele relembra os tempos de escola, quando morava em Ponte Nova, na Zona da Mata, em que sua professora de matemática aplicava correções sempre que errava algum exercício. Lima era o filho mais novo e foi
deixado no Patronato de Ponte Nova após a morte de seu pai, já que a mãe não tinha condições de criar os filhos. Anos depois, ela mudou-se para Belo Horizonte com o filho mais velho e Mário. Ao longo da vida Lima disse que já foi vigilante de horta, pintor, servente, ascensorista de Renato Azeredo em Brasília e catador de recicláveis. Hoje, Mário mora no Bairro São José e escolheu livros didáticos de Geografia, Ciências Naturais e um presente para o sobrinho que irá se casar em breve, um livro sobre matrimônio. Juliano prometeu a Lima uma enciclopédia, já que a dele tem um déficit de dez páginas.
O catador de recicláveis Mário de Lima realizou seu desejo de ter um dicionário
Rafaella Rodinistzky
poníveis para qualquer pessoa, enquanto que no sebo os livros seriam vendidos. Vanessa vê a questão financeira como limitador na hora de adquirir um livro. “Com a possibilidade de troca, sem tempo estipulado, você pode levar por um período e depois retornar com o livro, não há obrigação de ficar com ele, só porque ele custou um valor x. Acho que a troca favorece a possibilidade de ler”, afirma. Entre a primeira edição e a atual, Klevanskis notou que há mais pessoas com o intuito de apenas doar os livros, sem trocas. Dessa forma, o grande volume de material acabou saindo das dependências da livraria e
Rafaella Rodinistzky
passou a integrar parte da calçada. “O ‘Traga Um, Leve Outro’ é, sem dúvida, um evento solidário com uma contrapartida social extremamente benéfica. Vê-se isso quando uma criança pobre vem e leva livros para ler. As pessoas, de todas as classes e idades, passam a ler mais e proporcionam que outras pessoas também o façam. E todas elas são responsáveis por essa contrapartida social. É extremamente gratificante contribuir para isso e ver que outros estabelecimentos copiam as nossas ideias; pois quem ganha é a população”, comenta Juliano.
Do evento direto para a biblioteca Logo após cada edição do ‘Traga Um, Leve Outro’, Juliano Klevanskis seleciona os livros não trocados no projeto para serem doados à biblioteca do Centro Cultural Padre Eustáquio. Conhecido por CCPE, o espaço é mantido pela Fundação Municipal de Cultura e foi inaugurado em 2008. Hélio Eustáquio Vidal Prata, bibliotecário responsável pelo acervo e especialista em gestão estratégica da informação, afirma que as doações são muito importantes, cerca de 80% da biblioteca é constituída por livros doados. Hélio comenta que há várias iniciativas na biblioteca que incentivam a leitura tanto de crianças quanto de adultos. “Nós costumamos ter narrações de histórias uma vez por mês com o objetivo de incentivar as crianças a procurarem a biblioteca. Temos oficinas literárias como a de leitura compartilhada em que o pessoal pega um livro, começa a ler e comenta sobre. Podem ter lançamentos de livros de alguns
autores. No caso, o Juliano Klevanskis já teve algumas atividades aqui, já propomos para ele lançar algum livro. Abrimos espaço para todos os novos escritores que quiserem lançar obras, que quiserem fazer algum tipo de oficina literária, o espaço é aberto. Estou falando mais da literatura, mas há várias áreas da cultura, às vezes, a pessoa atua, toca algum instrumento ou canta, o espaço é aberto para todas essas áreas também”, pontua Vidal. Hélio Vidal Prata tomou conhecimento da iniciativa de Klevanskis por meio do jornal MARCO e a considera um ganho para a comunidade. “O Juliano já veio até a biblioteca pessoalmente para conversar sobre o projeto e mencionar que traria alguns livros para doação. Achei interessantíssimo. Estimula a leitura, é um projeto inovador na região. Existem outros projetos na cidade, mas aqui no Coração Eucarístico, Minas-Brasil, é a primeira vez”.
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Comunidade
Comércios tradicionais sofrem Lojistas de pequeno porte buscam alternativas para continuar vendendo com pequenas margens de lucro e a concorrênica de grandes estabelecimentos perto do Bairro Dom Cabral DANIELE BARBOSA MANSUR PEDRO HENRIQUE BICALHO 1º PERÍODO
O Dom Cabral é um tradicional Bairro majoritariamente residencial, localizado na Região Noroeste de Belo Horizonte, marcado por abundante presença de casas, habitantes antigos e comércios tradicionais e familiares, que, com suprimentos básicos, abastecem a Região. No entanto, tais estabelecimentos comerciais têm sofrido grandes entraves pela atual situação de pequena expansão econômica no segmento lojista em Belo Horizonte, cujos efeitos são intensificados pela necessidade de competirem com grandes redes de supermercado que têm lojas em bairros vizinhos, e que atraem o consumidor pela maior variedade de produtos disponíveis. Porém, alguns desses mercados regionais ainda conseguem se manter em funcionamento, a partir de uma postura diferenciada de aproximação ao cliente. A atual conjuntura de pouco crescimento do setor comercial tem afetado tanto os pequenos quanto os grandes empreendedores do setor lojista da capital mineira. De acordo com a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), há, em Belo Horizonte, a projeção de um crescimento de 3,5% no setor supermercadista, número inferior ao de 2013 (4,93%). Em nota enviada por e-mail, representantes da Associação Mineira de Supermercados (AMIS) afirmam que existem numerosas dificuldades
Comércios de pequeno porte sofrem impacto com a chegada dos grandes mercados
para esse segmento, com perspectiva de carência de mão de obra qualificada, além do entrave criado pelo alto custo de se manter um negócio ativo. Além da corrente situação pouco benéfica ao comerciante em geral, o pequeno lojista tem, adicionalmente, que enfrentar a presença das redes de supermercados que frequentemente atraem consumidores dos comércios tradicionais. Esse fenômeno ocorre pelo grande leque de serviços que os clientes recebem nos grandes supermercados, que, de acordo com os representantes da AMIS, tem ampliado a oferta de serviços. “Vêm se tornando cada vez maiores prestadores de serviços à comunidade, como, por exemplo, locais de pagamento de contas, lanchonetes, restaurantes e um
local onde o consumidor encontra o que precisa e perto de casa. Isto é, esse segmento de comércio se torna, crescentemente, um local de conveniência para o consumidor. E o aumento dos pontos de vendas decorre exatamente dessa demanda por parte do cliente”, observa em nota a entidade. Apesar do grande impacto que o estabelecimento de um supermercado exerce sobre o comércio local, existem artifícios que o pequeno comerciante pode utilizar para se manter ativo e com possível margem de lucro. O segredo adotado pelos lojistas do Dom Cabral que conseguem a manutenção de seu lucro é, basicamente, ir na direção oposta do tratamento impessoal ao freguês característico nos grandes supermercados. O lojista
Vicente Silva Oliveira, dono da Mercearia Oliveira, fala que o chamado “caderninho” para o fiado, em que as compras do consumidor fiel são anotadas pelo lojista e cobradas posteriormente, ainda representa um diferencial para se manter aberto. Além disso, o comerciante ressalta a importância da presença da PUC Minas como fonte de renda local. “Os comércios daqui funcionam em função da PUC”, salienta. Dentre os mercados da Região do Dom Cabral, um tradicional estabelecimento comercial é o Supermercado Super Coelho. Mesmo que não seja de tamanho equivalente aos grandes mercados presentes nas regiões vizinhas, como no Bairro Coração Eucarístico, que possui estrutura comer-
André Correia
cial bem mais sofisticada, o Super Coelho é muito influente em sua região, e consegue estar em funcionamento apesar da influência que as grandes redes exercem no consumidor. Celso Lessa, dono do estabelecimento, dirige-o há sete anos e fala que a possibilidade de o negócio manter-se é dada pelo tratamento diferenciado que um cliente lá recebe, em que há certa relação de fidelidade e até de amizade entre os fregueses e os funcionários do estabelecimento. Tal sentimento de intimidade entre clientes e empregados é ressaltado por Maria da Conceição, que é moradora do Bairro há 25 anos, compradora fiel do Supermercado Super Coelho há três gestões do estabelecimento. Ela atribui as razões de
sua lealdade ao supermercado, além da proximidade do mesmo à sua residência, ao bom atendimento que recebe e ao sentimento de amizade, descrito por ela como “quase de família”, que tem com os funcionários e até mesmo com o dono. Essa receita da diferenciação do cliente funcionou bem para a família de Nicola Menta, fundadora da grande mercearia Due Fratelli, localizada no vizinho Bairro Coração Eucarístico. Apesar de ter de lidar com a presença de supermercados de grande porte, além de filiais de grandes redes de drogarias, a empresa familiar fundada em 1997 conseguiu estabelecerse e crescer utilizando o pressuposto de que, para se destacar, seria necessário prestar um serviço diferenciado ao cliente. Mesmo dotados de grande variedade de produtos, os grandes supermercados ainda não conseguem oferecer o serviço de atendimento personalizado e o vínculo que apenas os comércios locais conseguem estabelecer com o cliente, aspectos essenciais que o consumidor atual continua a valorizar. “A melhor forma é se diferenciar pelo atendimento a um consumidor que só ele conhece o suficiente. Um pequeno comerciante conhece o consumidor pelo nome, o que é mais difícil para os grandes. Assim, atendendo bem ao seu público, consegue fidelizar o cliente”, informa em nota a Associação Mineira de Supermercados.
Profissão ainda tem seu valor nos dias de hoje DEBORAH ALVES 3º PERÍODO
A profissão de sapateiro está em perigo. O surgimento das grandes indústrias com suas produções em série e a faci-
lidade da compra de novos artigos são as causas para o declínio do ofício. No entanto, na contramão das previsões, Antônio Sabino Gonçalves, o ‘Seu Antônio’, é uma raridade: sobrevive na pro-
fissão e mantém fiel uma grande clientela no bairro há mais de 50 anos. O antigo costume de consertar os calçados usados resiste no Bairro Coração Eucarístico. Homens e mulheres chegam
‘Seu Antônio’ se orgulha de manter um oficio que vai ficando raro
Deborah Alves
a todo o momento na pequena loja situada na Rua Dom José Gaspar. Querem reparar bolsas, sapatos e cintos. Fátima Queirós Galvão é moradora do Bairro e cliente fiel há muitos anos. Afirma que já reaproveitou muitos calçados e sempre recorre a Seu Antônio quando não quer se desfazer deles. “A última vez que vim trazer um sapato aqui, eu tinha acabado de comprar, no entanto, com poucos dias de uso, estragou! O sapato era novo, não poderia me desfazer dele”. ‘Seu Antônio’ atende prontamente todos seus clientes, em meio a um acervo de mais de 1.500 pares de sapatos. Segundo o sapateiro, a receita para manter o negócio por tantos anos é simples. “Basta tratar todos bem e arrumar direitinho, assim os clientes fi-
cam satisfeitos e voltam”. ‘Seu Antônio’ nasceu em Carmo da Mata e bem cedo, antes dos 12 anos, já iniciava no mercado de trabalho como cozinheiro. Trabalhou por pouco tempo, dois anos, até se mudar para Belo Horizonte. Na capital, conseguiu um emprego de faxineiro na fábrica de sapatos graças a uma conhecida. Segundo ele, aprendeu tudo sozinho, apenas observando os sapateiros da oficina, enquanto eles faziam hora extra. Nunca mais parou. Alugou uma loja no bairro, (inicialmente perto do posto e atualmente na rua D. José Gaspar) onde teve a oportunidade de conviver e fazer amizade com os moradores ao longo dos anos. “Eu vi menino nascer, crescer e casar. E eu estou aqui ainda”. O ritmo
de trabalho também se mantém intenso. Sua rotina se inicia às 6 horas da manhã e só termina às 17 horas. “Temos que mandar brasa mesmo! Não pode parar não!”, afirma. Os anos se passaram, mas a dedicação e o amor pela profissão não esfriou. ‘Seu Antônio’ reafirma todos os dias a paixão pelo ofício. “Eu amo essa profissão, gosto muito mesmo!”. Assim, nesta sociedade norteada pelo consumo desenfreado, é muito significativo possuir na vizinhança um representante dedicado, que mantém viva a tradição do reaproveitamento. Seu Antônio é uma personalidade especial, que faz parte da história do Bairro e da digna tradição da arte de consertar sapatos.
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Comunidade
Memórias do Bairro São Gabriel Três moradores do Bairro São Gabriel, na Região Nordeste de Belo Horizonte, compartilham suas histórias e relembram suas trajetórias ao longo de muitos anos como moradores deste bairro RAFAELA ANDRADE 3º PERÍODO
Os bairros têm personalidades. Histórias remontam o que cada quarteirão representa. Um casamento aqui, uma praça ali, moradores novos. Eles estão sempre em transformação. O Bairro São Gabriel, na Região Nordeste de Belo Horizonte, tinha 13.726 moradores, de acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. Desses, alguns são residentes antigos, outros recém-chegados. Paulo de Freitas, Jefferson Luiz e Nadi Helena fazem parte da história do São Gabriel. O primeiro viveu oito anos em Portugal e, hoje, tem um comércio em frente à PUC Minas, campus São Gabriel. Jefferson, alto e de semblante tranquilo, é morador do Bairro há 30 anos. Dona Nadi conhece o lugar como ninguém. PAULO DE FREITAS
“Eu voltei agora pra ficar, porque aqui, aqui é meu lugar”. A música preferida do mineiro nascido em Galileia, Região de Governador Valadares. Paulo de Freitas, 55 anos, é apaixonado por ver jo-
gos de futebol, morou de 2003 a 2011 em Portugal, e está há três anos no Bairro São Gabriel, onde montou o “UNI Açai”, em frente a PUC Minas. “Não fui para Portugal só por questões financeiras. Queria viver um pouco por lá. Morava perto da praia, na cidade de Nazaré, conhecida por ser palco das maiores ondas do mundo, que chegam a até 30 metros de altura. O lugar é muito bonito, vale a pena. O dinheiro que ganhava dava para viver bem, comer com qualidade e ainda sobrava pra mandar para o meu filho de 15 anos que tinha ficado no Brasil”, relata Paulo. O brasileiro é casado. Quando se mudou, deixou a família no Brasil. A esposa foi pra Portugal depois de seis meses que ele estava lá, e o filho foi com 21 anos. O jeito do povo português impressionou Paulo. “Os portugueses são honestos e educados. Aprendi muito com eles”, conta. Voltando de Portugal o mineiro encontrou algumas mudanças em seu país de origem. “Achei terríveis as pichações. Em 2003, quando
Paulo de Freitas é comerciante e morador do bairro
NADI HELENA
transtornos, mas valia a pena. A gente era feliz e não sabia”, diz. O marido, falecido há 20 anos, era capoteiro, trabalhava com estofamento de automóveis e Nadi o ajudou por 15 anos. Atualmente, ela aproveita a terceira idade. Faz ginástica três vezes por semana e alguns serviços de costura quando alguém precisa. 74 anos, vaidosa e bonita, ela analisa algumas mudanças negativas na história, não só do Bairro como da cidade. “A violência aumentou muito. Gosto de dançar, de sair; mas fico com medo por causa da violência”, afirma. “Hoje, dia 9 de abril, fui fazer um pagamento na lotérica e tinham acabado de assaltar lá, às 8h da manhã”, afirma. “A proximidade das pessoas também mudou. Antigamente os vizinhos visitavam uns aos outros, hoje não tem mais isso”, ressalta. Nadi mostra com satisfação os quadros, com fotos de filhos e netos, colocados na parede. “São 12 netos e 6 bisnetos. Hoje, moram comigo um filho e um netinho de 14 anos”, conta.
Cinquenta e um anos vividos no São Gabriel. Nadi Helena dos Santos conhece o lugar como ninguém. Em 1963, aos 22 anos, a baixinha de olhos claros se mudou para o Bairro, mais precisamente para a Rua Anori, onde foi a primeira moradora. Com ela vieram o marido e dois filhos. Nadi é da época em que o Bairro era dividido entre São Gabriel 1 e São Gabriel 2, para facilitar o acesso. Morando no Bairro, ela teve mais quaJefferson Luiz mora há 30 anos no São Gabriel tro filhos. “Não tinha Rafaela Andrade nada aqui, até o leite vinha do centro. Não tiJEFFERSON LUIZ me mudei, não tinham “Na próxima eleição nha água, luz, comércio, tantas como hoje; está aumentando cada vez você pode se candidatar nada. A água a gente pemais. Abrir a janela e ver a vereador, todo mundo gava da cisterna”, relema maioria das casas sem que passa te cumprimen- bra. “Era estrada de terra, pintura e as pintadas ta”, diz o amigo de Jef- com muito mato. Para lecheias de pichação, era ferson, enquanto conver- var as crianças pra vacinar assustador. Em Portugal savam na calçada. Alto e era difícil. Tínhamos que não tinha isso”, diz ele. calmo, o vendedor autô- ir de táxi ou conseguir um Em 2012 o UNI Açaí nomo, de 55 anos, guar- carro. O ponto de ônibus foi inaugurado. “Senti da boas memórias dos 30 era distante, ficava no vontade de investir em al- anos vividos no Bairro Aarão Reis”, acrescenta. “Até o telefone demogum negócio. Fiz parceria São Gabriel. “Brincava com um amigo e abrimos de carrinho de rolimã, rou para chegar aqui”, o UNI Açaí. Hoje eu ad- pique esconde, queima- conta aos risos. Nadi não ministro sozinho”, diz. “É da. Adorava o futebol na reclama das dificuldades pouco, mas é tudo que te- rua, com os colegas do da época. “Hoje, está nho. Gosto daqui, do am- Bairro”, lembra Jefferson. tudo mais fácil e o pesEle gosta de sertanejo soal reclama. Há alguns biente, do contato com as e sua comida favorita é anos atrás eram muitos pessoas, converso o salpicão. Entre com muita genuma lembrança e te”, acrescenta. outra, conta que Amarelo é a se casou morancor predileta do do no São Gabrasileiro aprebriel e teve uma ciador de macar- filha, hoje com 24 rão com frango. anos. “O Bairro O filme favorito é tranquilo, gosse chama Peque- to daqui”, afirma. no Milagre, um “Antigamente drama, dirigido não tinha luz, aspor Mark Steven falto, água. Não Johnson. Símon, tinha comércio, um garotinho, é nem linha de ônio protagonista. bus. Agora, temos Paulo não hesita tudo isso. O São em dizer que seria Gabriel evoluiu um sonho poder muito e está cresver um jogo da cendo”, consideseleção portugue- ra. “O que está sa aqui no Brasil. faltando, ainda, é Ele é um brasi- um banco; os moleiro fã número radores utilizam a Nadi Helena acompanhou as transformações da região Rafaela Andrade um de Portugal. lotérica”, completa.
Rafaela Andrade
Maria de Fátima conta trajetória até a capital LOLA CIRINO 2º PERÍODO
Vinda de Moeda, uma cidadezinha com pouco menos de 5 mil habitantes, Maria de Fátima encontrou aqui o seu destino. Pensando bem, pode-se dizer que tal destino foi imposto a ela, graças às desventuras que viveu na infância. Aos 15 anos, a simpática dona Fátima, nem tão
dona assim na época, começou a trabalhar, numa tentativa de ajudar a família. Sua mãe, grávida, não podia trabalhar por causa da epilepsia, e o pai tinha alguns problemas de coração. Não demorou muito para que ele morresse e deixasse assim Alice grávida da oitava filha, com uma família onde a mais velha tinha apenas quinze anos e todos os outros, incluindo Fátima,
ainda estavam perdidos com a mudança de cidade. Maria de Fátima tomou as rédeas da família e começou a lutar para ajudar a mãe e os irmãos. O que, claro, faz até hoje. Mesmo agora, aos 53 anos de idade, mãe de três filhos e avó de dois, Fátima não desgrudou da mãe, com quem divide a casa e garante sempre arrumar um tempo para a matriarca. “Ela até brin-
ca, sabe? Diz que se eu me mudar, ela vai junto, que não me larga”, afirma. Agora se divide entre o cuidado com os filhos, os netos e até mesmo a nora, Valéria, com quem nutre uma relação materna. “A gente ficou tão amiga, tão mãe e filha que até minha menina sente ciúmes”, conta aos risos. Quanto aos estudos, Maria Fátima completou o segundo grau depois
dos filhos. Sorridente, diz que se saiu muito bem na retomada. “Se eu tivesse tido a chance de estudar, teria ido longe. Eu gosto de estudar e me dedico muito”, completa. E a dedicação, embora não tenha sido aplicada em um curso universitário, não deixou de se fazer presente em seu cotidiano. Responsável pela limpeza das salas da Imprensa Oficial de Minas Gerais,
ela se orgulha por dizer que faz seu serviço com carinho e amor. E diz que é essa maneira de trabalhar que fez com que não levasse nenhum inimigo por onde passou até hoje. Apenas saudosos amigos. “Tudo isso foi minha mãe quem me ensinou”, diz. “A ser ética, fazer tudo com amor e respeito. Só assim a gente consegue deitar a cabeça no travesseiro e dormir em paz”.
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Comunidade
PM próxima da comunidade Nova sede da 9ª Companhia passa a funcionar na Via Expressa. O projeto, iniciado em 2002, sofreu diversos atrasos até o momento da inauguração, que ocorreu no início do mês de abril ANDRÉ CORREIA SÉRGIO MARQUES 4º PERÍODO
Após seguidos adiamentos, a nova sede da 9ª Companhia da Polícia Militar de Minas Gerais foi inaugurada na manhã do último dia 9 de Abril. Com a presença de poucos moradores, autoridades civis e militares se reuniram para solenidade, que ocorreu no novo prédio da corporação, localizado na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 3230, Via Expressa. A obra teve um custo final de R$ 1.479.696,37, sendo R$ 359.995,06 destinados à construção dos vestiários e alojamento dos militares. Em 2002, quando o projeto começou a ser idealizado, o número de ocorrências de perturbação ao sossego atendidas pela polícia militar nas proximidades do Expominas impactavam diretamente nas demais ocorrências policiais. Os acontecimentos motivaram o Tenente Coronel Fagundes a oficiar um pedido ao ministério público, tendo o doutor José Maria intermediado e empenhado para a solução do problema. A parceria resultou em negociações, e posterior-
Policiais militares se reuniram para a solenidade de inauguração da 9ª Companhia
mente, na elaboração do projeto de remoção da 9ª Companhia para o local. O Capitão Waldemiro Gomes de Almeida Filho, responsável pela companhia, garante que esta é uma grande oportunidade para melhorar a convivência entre a polícia e o cidadão, levando em conta que a segurança pública não é uma questão só da polícia, mas sim de toda população. “Nossa expectativa é de baixar o índice criminal. Para isso, estamos formando o policial cidadão. Reunimos
com o pessoal da prefeitura, com o pessoal da gerência de políticas sociais e com a gerência de cidadania. No entanto, isso é feito através de um processo mais educativo, mais preventivo”, declara. O comandante destaca ainda a estrutura da nova sede da 9ª Companhia e afirma que quando se tem um soldado saudável, com boas condições para exercer seu trabalho, há também um profissional pronto para prestar um serviço de qualidade. “Atualmente nós temos 137 policiais,
Mudança de sede da 9ª Companhia foi demorada
André Correia
que fazem o policiamento em 16 bairros e seis vilas. Todos locados aqui. Temos instalações novas, com banheiros adequados, tudo de última geração. Para a sociedade nós temos o auditório, onde serão feitas as reuniões comunitárias”, conta. “Vamos criar o B.O. eletrônico e o e-mail da companhia, para que a pessoa solicite a cópia da ocorrência por e-mail e não necessite vir aqui. Nós vamos usar a tecnologia para aproximar a comunidade da polícia”, acrescenta o comandante. Além disso, foi solicitado que um ponto de ônibus, localizado na frente do batalhão, fosse deslocado para o quarteirão anterior, atendendo à necessidade de criação de uma área de segurança em toda a extensão da companhia. Nessa área, o estaciomento é destinado àqueles que necessitam de atendimento imediato. SOLENIDADE A inauguração da nova sede reuniu poucos moradores da região. Os que passavam pelo local pararam para prestigiar o evento. “A gente nem sa-
Novo prédio está localizado na Via Expressa
Em dezembro de 2000, época da criação do 34º Batalhão de Polícia Militar, a sede da 9ª Companhia era instalada na Avenida Antônio Peixoto Guimarães, Bairro Monsenhor Messias. No ano de 2002 mudou-se para a Avenida Dom Pedro II, no Bairro Caiçaras. No ano de 2005 o então major Fagundes, comandante da 9ª Companhia, hoje tenente coronel Idzel Mafra Fagundes, e o então promotor de justiça, José Maria dos Santos Júnior, iniciaram o projeto de construção da sede definitiva da 9ª Companhia. Na ocasião, eles receberam certificados de agradecimento pela dedicação na construção e inauguração da nova sede. Visando melhor atender à comunidade, após a criação do 34º Batalhão da Polícia Militar na capital mineira e rearticulação operacional, algumas companhias de outros batalhões a exemplo da 9ª companhia passaram a integrar a unidade. Mesmo com o projeto iniciado, para que se concretizasse esta obra, foi imprescindível a participação da comunidade, numa junção de
André Correia
esforços com entes governamentais, a fim de que os objetivos se convergissem a esta realização. A data da inauguração da nova sede foi adiada diversas vezes, devido a problemas no andamento da obra. A última etapa para conclusão foi a construção dos alojamentos para os militares, orçada em R$ 360 mil e financiada pelo Banco do Brasil, que passou por problemas técnicos causados pelas chuvas do fim de 2013, e teve seu prazo de entrega alterado. Ao final dessa etapa, o batalhão pôde iniciar suas operações, dando suporte a todo o efetivo. A nona companhia de Polícia Militar possui a responsabilidade territorial os Bairros Caiçaras, Alto Caiçaras, Caiçaras Adelaide, Jardim Montanhês, Monsenhor Messias, Carlos Prates, Padre Eustáquio, Minas Brasil, Coração Eucarístico, Dom Cabral, João Pinheiro, Alto dos Pinheiros e Vila Leste. Sua subárea é constituída de centros comerciais, além de importantes corredores de fluxo da malha viária da capital e a implantação dessa nova sede aperfeiçoará o serviço de segurança pública nessa comunidade.
bia que a inauguração era hoje, mas com a vinda do batalhão para o bairro nós esperamos mais segurança, com uma fiscalização mais direta”, afirma a assistente social e moradora do Bairro Minas Brasil, Zélia Kino. O gerente de projetos José Rezende Filho é morador do Bairro Coração Eucarístico e também acompanhou a cerimônia. Suas reivindicações a respeito de segurança giram principalmente em torno do tumulto causado por estudantes nas proximidades da PUC Minas. “O bandido se mistura no meio dos estudantes e aí fica difícil contê-lo”, afirma. Ele também acha que a chegada da Companhia na região só tem a somar. “O nível de assalto continua alarmante e a gente espera que a vinda do batalhão para cá consiga inibir isso. Tem que ter ação eficaz, chegar e aplicar lei”, acrescenta. A Via Expressa, novo endereço da 9ª Companhia, abriga um grande número de concessionárias e outros comércios automobilísticos. Por isso, um grupo de comerciantes da Região também marcou presença na solenidade. André Luiz Araújo, gerente de vendas da Kia Brisa, conta que essa obra já era necessária há muito tempo. “Quando a gente se instala em algum bairro, a gente quer agregar, melhorar a área. Infelizmente, o comércio nessa região está sendo inibido por causa do roubo, da violência. O batalhão vem para coibir essa ação dos marginais”, acredita. A comandante do policiamento de Belo Horizonte, coronel Cláudia Araújo Romualdo, reforçou a importância dos moradores para o sucesso das operações policiais. “Nós queremos convidar
toda comunidade para visitar a sede, para participar das reuniões onde nós discutimos os assuntos ligados a segurança, na busca de soluções mais contundentes para combater a criminalidade”, sugere. A coronel aponta ainda a importância do Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep) e aconselha aos moradores procurarem os integrantes do conselho em sua região, para discutirem as melhores soluções de segurança pública na cidade. “O crime acontece porque nós temos um infrator de um lado, um ambiente favorável para ele, e uma vítima vulnerável. O que nós temos procurado fazer dia a dia é reduzir essa vulnerabilidade da vítima, passando dicas de segurança e tornando o ambiente que ele frequenta mais seguro. Para isso, a participação da população é importante”, sintetiza. A coronel ainda comenta os casos de tumulto reportados em função das festas realizadas nas ruas do Coração Eucarístico e Região. “Ali não é um lugar adequado para se praticar festas, em plena via pública. Além do barulho, que ultrapassa os limites permitidos, há veículos estacionados de maneira inadequada, que dificulta a entrada e saída de moradores de suas residências. Eu penso que se fossemos um pouco mais educados uns com os outros não precisaríamos estar gastando um esforço de polícia para cuidar disso”, afirma a coronel. Ela acrescenta que, nesses casos específicos, a Polícia Militar tem feito reuniões com a prefeitura, buscando uma relação com a fiscalização de bares e restaurantes, atuando em conjunto com a comunidade para identificar e prevenir esses problemas.
Motoristas param em fila dupla no Coreu BÁRBARA SOUTO JAMILLY VIDIGAL 2º PERÍODO
O trânsito da Avenida Dom José Gaspar é prejudicado nos horários de entrada e saída de alunos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. O grande número de carros e principalmente de vans que param em fila dupla para que os estudantes desçam, causam trânsito intenso na região. Motoristas que passam pelo local nos horários de início e término das aulas, reclamam que, ao estacionar em fila dupla, as vans deixam apenas uma via disponível para circulação, o que provoca congestio-
namento por causa da quantidade de carros que passa pelo local. Porém, eles concordam que não existe outro lugar para as vans estacionarem para que os alunos desçam em segurança. “O local é inapropriado, uma vez que inviabiliza a circulação de carros, porém, o estacionamento externo da Universidade está sempre cheio. Parar em fila dupla é a única solução para que os alunos desçam em segurança e em frente ao portão da Universidade”, afirma Márcio Gomes, 36 anos, residente da região. Parar em fila dupla é considerado uma infração grave, gerando uma multa de R$ 127,69 e perda de cinco pon-
tos na carteira de habilitação. Os motoristas de vans informam estarem cientes do risco, mas visam em primeiro lugar a segurança dos alunos. “Em torno da PUC não encontramos nenhum lugar de embarque e desembarque, por isso, visando à segurança dos alunos, principalmente do turno da noite, paramos em fila dupla”, afirma Fanislan Barnier, 28 anos. Para que seja feita alteração na via e um espaço específico seja destinado às vans, a BHTrans recomenda que os motoristas façam um requerimento presencial. O órgão alerta que estão sujeitos a multa os veículos que pararem e/ ou estacionarem em fila dupla.
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Comunidade
Jovens optam pelo sacerdócio Descoberta da vocação religiosa acontece cedo, muitas vezes, e os futuros padres vivem no seminário uma rotina diária que abrange estudos, orações, reflexões e relações comunitárias JULIANA CARVALHO MARINA KAN 1º PERÍODO
Enquanto alguns jovens se qualificam como profissionais liberais, outros escolhem se qualificar a fim de servir junto à Comunidade Eclesiástica. “Às vezes as pessoas veem como se fosse algo de relance e não é. Escolher entrar para o Seminário e percorrer este caminho é um processo. Assim como se espera que seja diante da escolha de qualquer outra profissão”, declara o seminarista e estudante de Filosofia, Rayesser Doche, 21 anos. “Isso surge em nossas vidas em um dado momento. E isso é amadurecido, é pensado”, completa. O seminarista e estudante de Filosofia, Lucas Moreira, 23 anos, contou como se deu sua opção pela vida sacerdotal. “Eu senti minha vocação muito novo, aos nove anos, mas guardei em silêncio e experimentei o trabalho, o estudo, o namoro. Só que existe um momento em que a gente tem que tomar uma decisão. E eu escolhi entrar para o seminário, ser padre”, diz. Sobre a reação da família, Lucas relata o apoio recebido. “Claro que a família sempre fica com o coração apertado. Uma das poucas vezes
que vi minha mãe chorar foi quando saí de casa. Meu pai disse: ‘Vai e vê se é isso o que você quer. Se não for, as portas de casa estão abertas para você’. Senti um apoio muito grande”, relembra. Quando questionado sobre a rotina dentro do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, pertence à Arquidiocese de Belo Horizonte, Lucas conta que o dia se inicia com um momento de oração. Logo após, é servido o café da manhã e os seminaristas se dirigem à PUC Minas, onde acontecem as aulas dos cursos de graduação de Filosofia e Teologia. Após as aulas, retornam ao Seminário, onde é servido o almoço. A tarde é livre para o aprofundamento dos estudos acadêmicos, sendo reservado também momentos para o lazer, como a prática de atividades esportivas. Ao final da tarde, em alguns dias da semana, há a celebração de missas abertas ao público. O jantar acontece em seguida, tornando um momento de confraternização entre os seminaristas. O dia também se encerra com um momento de oração. Dessa forma, os seminaristas seguem a rotina ao longo da formação sacerdotal, que se estende por nove
Alunos dos cursos de Filosofia e Teologia da PUC Minas
anos, envolvendo Encontros Vocacionais, Estágio Vocacional, Propedêutico – em que se conhece a realidade de forma mais profunda da Arquidiocese –, e graduação em Filosofia e Teologia. Percorrido esse caminho, o seminarista é ordenado diácono, e depois, em até oito meses, é ordenado padre. “Se o papel de ser padre na sociedade me chamou a atenção, inclina a minha experiência a aceitar também desafios”, diz o seminarista e estudante de Teologia, Felipe Lemos, 27 anos.
“O processo de formação dentro do Seminário contempla cinco dimensões. A primeira é a dimensão espiritual, que é a oração comunitária e pessoal. A segunda dimensão é a vivência comunitária, que se dá através da vivência dentro da Casa e com as pessoas nas paróquias. A terceira dimensão é a humano-afetiva. Trata-se do trabalho íntimo, mediante o acompanhamento com os psicólogos. A quarta dimensão é a intelectual, direcionada à faculdade, que é importante para o conhe-
Camila Navarro
cimento da vida sacerdotal, da Igreja e do Mundo. E a quinta é a dimensão pastoral, trata-se de uma espécie de estágio que ocorre aos finais de semana nas paróquias a fim de experimentar a vida sacerdotal”, explica Felipe. O padre e professor Evandro Campos Maria, formador do curso de Teologia do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus e coordenador do curso de Teologia da PUC Minas, explica como é o ingresso dos jovens ao Seminário. “Du-
rante o ano inteiro são feitos acompanhamentos, então quando um jovem manifesta desejo de ser padre, ele vai ser acompanhado para verificar esse chamado. O Seminário ajuda com encontros e conversas individuais. Depois de um ano de acompanhamento, o conselho de formação do Seminário discernirá junto ao candidato e o acolhe vendo se esse é o caminho. A entrada é geralmente no final de janeiro. Uma semana antes do mês terminar, se faz uma semana intensiva de retiro de vivência. Então, inicia-se com a vida acadêmica em fevereiro”, relatou. Valorosas relações foram construídas ao longo dos anos na Região do Dom Cabral entre os moradores e a comunidade eclesiástica. Os moradores ganham em valores religiosos, a possibilidade de a partir da vivência na comunidade, experimentar a vocação. “É a partir da vivência que se consolida esse processo [quanto à formação eclesiástica]. O seminário é uma sementeira, aonde vai se pensar bem sobre a vocação, sobre como ela será vivida e quais são seus aspectos. É um processo de construção”, finaliza Rayesser.
História Católica em BH é preservada na Região A Região do Bairro Dom Cabral e suas proximidades, como os Bairros Coração Eucarístico, Padre Eustáquio e Dom Bosco, trazem nomes que contemplam a história da Igreja Católica em Belo Horizonte. Inúmeros seminários, paróquias e instituições de ensino religioso se localizam na Região Noroeste da cidade. Além do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, que pertence à Arquidiocese de Belo Horizonte estão presentes vários seminários, dentre eles o da Diocese de Luz/MG e o Seminário Maior de Teologia São José da Diocese de Divinópolis/MG no Bairro Dom Cabral. O Seminário da Congregação dos Missionários da Sagrada Família, no Bairro Coração Eucarístico. A Comunidade de Teologia Santo Estevão da Diocese de Uberlândia/ MG e o Seminário da Diocese de Oliveira/ MG, ambos no Bairro João Pinheiro. Também há seminários de dioceses vindos da Bahia e do Rio Grande do Norte. Grandes escolas de Teologia no entorno, como o Instituto Dom João Resende Costa – Pontifícia Universida-
de Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e o Instituto São Tomás de Aquino (ISTA). Na década de 20, surge a primeira casa de formação sacerdotal na localidade, o Seminário Coração Eucarístico de Jesus, situado onde atualmente se encontra o Campus Coração Eucarístico da PUC Minas. Em 1969, com o fechamento do grande Seminário, a instituição se desmembra em três Casas Eclesiásticas: a Casa do Propedêutico, a da Filosofia e a da Teologia. Foi construído na Avenida 31 de Março, uma residência para os estudantes seminaristas, que funcionou até o início deste ano atendendo à Casa da Teologia do Seminário Arquidiocesano. O espaço servirá à PUC Minas Virtual e a outros dois seminários que vieram da Bahia. “Após Dom João (Resende Costa), o Seminário Coração Eucarístico de Jesus se fragmenta, e é separado por casas. Dom Walmor (de Oliveira Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte), quer retornar o projeto da época de Dom Cabral, que visa a unificação das casas, com
O sonho de Dom Cabral Em fevereiro de 1921 é fundada a Arquidiocese de Belo Horizonte, que teve como primeiro arcebispo metropolitano Dom Antônio dos Santos Cabral. Natural da cidade de Propriá, no Sergipe, Dom Cabral, como ficou conhecido, sempre foi um personagem ativo na Comunidade Eclesiástica, ao que não foi diferente mediante sua chegada à capital mineira. Para Dom Cabral, a missão da igreja era a formação das futuras elites dirigentes do país com inspiração católica. Monsenhor Eder Amantéa, pároco da Paróquia Coração Eucarístico de Jesus, relembrou o momento da criação da Arquidiocese. “Toda Arquidiocese tem um lugar para formar seus padres. E a nossa Arquidiocese foi criada no dia 11 de fevereiro de 1921”, diz.
Até o ano de 1926, a região era cenário da Fazenda da Gameleira, mais popularmente conhecida como Fazenda do Pastinho. Monsenhor Eder explica o começo da construção do Seminário. “Dom Cabral comprou uma fazenda, que chamava Fazenda do Pastinho. Ela ia da Avenida Ressaca até a Avenida Cícero Idelfonso e da linha do metrô até ao anel rodoviário. Depois, foram vendidos alguns pedaços. Esse Bairro Coração Eucarístico, tem o nome por causa do seminário”, conta. Os prédios do Seminário foram inaugurados na década de 30 com formação e moradia para cerca de 300 seminaristas. A instituição recebia alunos naturais de Belo Horizonte e também vindos de outras regiões de Minas Gerais, que eram enviados
pelas diversas dioceses do estado. “Então o seminário foi feito com a colaboração de muita gente, cada um dava um pouco, fazia campanha, assim como faz com a campanha da catedral hoje. O seminário foi previsto para 300 seminaristas, não só de Belo Horizonte, mas de uma boa parte do estado de Minas Gerais e várias dioceses mandavam os alunos para estudar aqui”, confirma o Monsenhor. O antigo Seminário decidiu lotear parte da área que ocupava conforme afirmou Monsenhor Eder. “E foi vendido o Bairro para construir um prédio que é o Edifício Pio XII, na Avenida Espírito Santo, para que o prédio pudesse manter o seminário com os alugueis da sala”, relembra. Ele ainda conta sobre a criação do Bairro
o motivo de integração e maior interação entre os seminaristas”, relatou o seminarista e estudante de Teologia, Felipe Lemos, 27 anos. Hoje, as casas do Seminário Arquidiocesano se encontram instaladas, temporariamente, à Rua Andrelândia no Bairro Dom Cabral. Felipe relatou sobre a construção da nova sede, à rua Ibirapitanga, no Bairro Dom Cabral. Nesse complexo também funcionará a Casa dos padres idosos, casa de retiro e a capela, onde os fieis terão livre acesso. “A construção de um único complexo visa à interação e a vivência num só e único motivo, que é o de servir a Igreja de Belo Horizonte”, ressalta. UMA EXPERIÊNCIA DE FÉ Monsenhor Eder Amantéa, 68 anos, pároco da Paróquia Coração Eucarístico de Jesus, é um dos mais antigos moradores da Região do Dom Cabral. “Eu estou na paróquia desde 1974, cheguei aqui no dia 8 de setembro”, relembra. Ele frequentou o Seminário
Dom Cabral e o porquê do nome. “Em 1964, foi vendido o Bairro Dom Cabral para a Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais fazer casas populares. Fez o Bairro e colocou o nome em homenagem”, recorda Monsenhor Eder. Em maio de 1948, Dom Cabral lança a ideia da construção da Universidade Católica de Minas Gerais. Em 12 de dezembro de 1958, foi noticiado no Diário Oficial da União a emissão do decreto presidencial de número 45.046, assinado por Juscelino Kubitschek e pelo Ministro da Educação e Cultura, Clóvis Salgado, deferindo a Universidade Católica de Minas Gerais. Em 1967, o Instituto Central de Filosofia e Teologia foi consolidado na Universidade com sede na Avenida Brasil. Posteriormente, devido à infraestrutura e localização, a Universidade foi transferida para os prédios do antigo Seminário Coração Eucarístico, onde se lo-
Coração Eucarístico de Jesus, ainda quando funcionava nos prédios da PUC Minas. Monsenhor Eder recorda que foi para o Seminário em 1966 e morou nos prédios onde hoje são lecionados os cursos de Direito e de Ciências Humanas. O pároco contou ainda sobre sua relação com Dom Cabral, fundador da Universidade Católica de Minas Gerais e o primeiro arcebispo da Arquidiocese de Belo Horizonte. “Foi Dom Cabral quem me crismou. Tive convívio com ele até prestes na hora da morte. Quando eu entrei no seminário tinha um padre que celebrava [as missas] com ele e eu os acompanhava”, declara. Ele também revela que desde criança já pensava em seguir a vida sacerdotal, tendo por inspiração dois padres de sua antiga paróquia. “Eu sou da paróquia Nossa Senhora das Dores, no Floresta. Tinha dois padres: o padre Willian Silva e padre Gonçalo Belém, que já morreram. Eram padres alegres, amigos, e dinâmicos, e isso me motivava”, lembra. “Eu queria ser igual [a eles]”, acrescenta.
caliza o atual Campus Coração Eucarístico da PUC Minas. Após a queda nas vocações durante o Concílio Vaticano II, no final da década de 80 ocorreu o aumento das vocações. Padre Evandro Campos Maria relembra este momento para a Arquidiocese de Belo Horizonte. “Em 1987, com o aumento das vocações, o arcebispo, na época Dom Serafim, resolveu transferir a questão acadêmica que era dentro, interna ao seminário para o prédio que foi construído, o prédio 20, mas que era um pouco a parte do campus da PUC. Transferiu então, o curso de filosofia e teologia para lá”, relembrou a volta dos cursos para o Campus da PUC. Com a chegada do arcebispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo em 2004, novas mudanças ocorreram nos cursos. “A partir de 2004 foi feito todo um trabalho envolvendo professores, alunos, alunos que já tinham passado pelo
curso, pesquisas, debates. O curso de teologia propriamente não era nem reconhecido pela PUC, nem pelo MEC. Era um curso livre, seminarístico. Então começou paralelamente a esse movimento uma tentativa de tornar o curso reconhecido. E a partir daí foi crescendo toda essa realidade e então em 2010, foi reinstalado o Instituo de Filosofia e Teologia Dom Resende Costa, novamente no prédio quatro, onde era o ICH antigamente”, conta padre Evandro. Além de abrigar os cursos de filosofia e teologia, o Instituo de Filosofia e Teologia Dom Resende Costa, fazem parte: o mestrado em ciências da religião, o ANIMA Sistema Avançado de Pesquisa. O NESP - Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas. Além de abrigar as disciplinas de Cultura Religiosa e Filosofia I e II de toda a universidade.
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Cidadania
Solidariedade transforma a vida Portador do vírus HIV, Paulo César Magalhães passou por uma rejeição familiar, mas teve a oportunidade de conhecer pessoas que o ajudaram a enfrentar e superar as dificuldades CLARISSA FRANÇA LAURIE ANDRADE LETÍCIA CARVALHO LUISA BORGES 7º PERÍODO
“Às vezes, a gente precisa andar pela vida para aprender a viver”. Essa é a filosofia adquirida por Paulo César Magalhães, 40 anos, após ter recebido o diagnóstico de que é portador do vírus da Aids e de ter vivido nas ruas da capital mineira. Paulinho, como é conhecido, foi acolhido pelo Instituto Pauline Reichstul, em Belo Horizonte, onde teve a oportunidade de recomeçar. Sua vida, hoje, é consequência de algumas escolhas que mudaram para sempre sua história. Nascido em uma família de seis irmãos, Paulinho teve que trabalhar desde cedo para ajudar seus pais. Ele fazia diversos ‘bicos’ no condomínio onde morava, em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, como consertos de eletrodomésticos, instalação de chuveiros, campainhas e pintura dos apartamentos. Mais tarde, tornou-se caminhoneiro, seguindo os passos do pai, mesmo não possuindo a carteira de motorista adequada. Teve ainda dois filhos, frutos de um breve casamento. Durante suas viagens pelo Brasil, Paulinho teve relações sexuais de todos os tipos sem pro-
teção e, em alguns casos, por dinheiro. “Eu era muito ignorante e orgulhoso, só me preocupava com a questão financeira”, explica. Em 2010, ao realizar um exame admissional em uma fábrica em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Paulinho descobriu que era portador do vírus HIV. À época, mesmo sabendo da gravidade da doença, ele optou por não realizar o tratamento médico. Contudo, suas atitudes em relação a sua vida sexual mudaram e, desde então, o caminhoneiro não se relacionou com mais ninguém. “Eu não me deixei abater pela doença (fisicamente), mas meu psicológico ficou abalado. Mesmo conhecendo as formas de prevenção, tenho medo de transar e infectar outra pessoa”, ressalta. O primeiro desafio de Paulinho foi dar a notícia à família. Receoso, ele ligou para a ex-esposa e explicou sua situação. Ela o apoiou e insistiu para que ele fosse até Salvador, onde mora, contar a seus filhos sobre a doença. Para sua surpresa, os filhos o aceitaram sem nenhum preconceito. No entanto, ao visitar os irmãos em Governador Valadares, a rejeição foi imediata, mesmo com o apoio da mãe. “Eles queimaram meu colchão e minhas roupas de cama, embalaram tudo o que eu tinha
Paulo César Magalhães, portador do vírus HIV, reconstruiu sua vida
e compraram uma passagem de trem, só de ida, para BH”, lamenta. Como não podia morar com seus filhos em Salvador, pelo fato de a ex-mulher ter se casado novamente, Paulinho mudou-se para um abrigo na capital mineira. A estadia dele no abrigo durou pouco. A própria instituição comprou uma passagem para Governador Valadares, alegando que o caminhoneiro possuía casa e, logo, não precisava ser acolhido no local. Além disso, ele conta que havia grande circulação de drogas no abrigo, o que o incomodava e também impediu sua permanência.
Falta de informações provoca preconceitos Paulo César Magalhães, o Paulinho, foi vítima de preconceito dentro de sua própria família, por parte de seus irmãos. Reações como essas, infelizmente, de acordo com especialistas ainda são comuns, apesar do crescimento das informações referentes à Aids. Segundo Carlos Starling, infectologista e vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, as pessoas, mesmo com tanta disponibilidade de informação, acabam tendo preconceito com os portadores do vírus HIV. “Esse tipo de preconceito tem que acabar. A história de Paulinho, por exemplo, me choca pela reação dos familiares. Existem pessoas ignorantes pela falta de conhecimento sobre a doença e têm aquelas que são ignorantes pelo fato de não aceitarem e julgarem errado os portadores”, enfatiza. De acordo com Carlos Starling, a principal forma de transmissão do vírus é o ato sexual, mas a doença também pode ser transmitida de mãe para filho durante o parto ou por transfusões de sangue. Ele acrescenta que apesar de ainda existir contágio pelas transfusões de sangue, hoje essa forma é quase desprezível, pois os hospitais
fazem um controle rígido nos bancos de sangue. “O que preocupa os médicos, hoje, é que as pessoas relaxam e não se protegem na relação sexual. A sociedade não deve contar somente com o avanço da medicina e com a sorte, e sim ter consciência de seus atos”, ressalta. “O Paulinho é incrível, todo mundo aqui gosta muito dele”, afirma Sônia Maria da Silva, cozinheira do Instituto Pauline Reichstul. Apesar de sentir carinho muito grande por Paulinho, ela admite que já sentiu medo e um pouco de preconceito por causa da Aids e da tuberculose. “Conversei com minha cunhada que é da área da saúde e ela disse que eu não precisava ter medo dos problemas de Paulinho. Eu senti medo de pegar tuberculose, porque já tinha ficado doente na época”, relata. Paulinho valoriza a oportunidade oferecida pela ONG. “Quero mostrar que posso ter uma vida digna, mesmo convivendo com a Aids”, afirma. Ele não mostra revolta com o preconceito da sua família e diz que, em relação aos irmãos, não tem nenhum ressentimento ou mágoa.
Ao deixar a instituição, Paulinho mudou-se para um lote vago à Rua Célio de Castro, Bairro Floresta, Região Nordeste de Belo Horizonte. Seu trabalho era tomar conta da propriedade em troca de R$ 200 por mês. O ex-caminhoneiro acabou criando uma amizade com a vizinhança, com a polícia que fazia ronda pelo local e, inclusive, com moradores de rua. “Eu tomava conta dos carros da rua e, com isso, impedia a ação de bandidos”, revela. Nesse período, Paulinho conheceu profissionais do Instituto Pauline Reichstul, que fica localizado em frente ao lote onde morava. Os funcionários da organização não governamental sempre o ajudavam quando precisava. “Paulinho é muito afá-
Clarissa França
vel, extrovertido e bem articulado. Ele não gosta de beber, não fuma e não usa drogas”, afirma o administrador do Instituto, Maurer Castro, 39 anos. Segundo ele, o ex-morador de rua tomava café e almoçava na organização e, em troca, vigiava os carros de todos os funcionários. Esse contato diário acabou resultando em uma relação de amizade e confiança. Durante o período em que viveu no lote vago, Paulinho recebia comida de toda a vizinhança e passou a cozinhar para os moradores de rua da região. A maioria deles era dependente químico e contava com a solidariedade do vigia para matar a fome. “Eu fazia sopa em um latão de tinta. Todos os dias eles vinham e comiam
comigo, mas eu não permitia que fumassem crack no meu barraco”, conta o ‘coroa’, como foi apelidado pelos usuários de droga. Maurer conta que, com o tempo, os funcionários do Instituto observaram que Paulinho estava perdendo muito peso. “Desde que percebemos a debilitação dele, passamos a acompanhá-lo diariamente, dando comida e assistência”, afirma o administrador. Preocupados com a situação, o levaram ao médico. Encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima, no Bairro Ipiranga, Paulinho foi diagnosticado com pneumonia e tuberculose. No dia 29 de novembro de 2013, revoltado com a situação, ele quis sair do hospital. “Levamos Paulinho de volta para casa, mas, no dia seguinte, o encontramos deitado na rua. Mal conseguia segurar a sua marmita”, relembra Maurer. Paulinho foi socorrido pelos funcionários e levado de volta a UPA. Logo depois, foi transferido ao hospital Júlia Kubitscheck, onde permaneceu internado por 60 dias. Passado o período de internação, Paulinho retornou ao lote vago, que foi invadido por um morador de rua. Logo quando perceberam que ele não teria onde morar, os funcionários do Instituto realizaram uma vaquinha para alugar um quarto em uma pensão no centro da capital.
Instituto oferece novas oportunidades de vida O Instituto Pauline Reichstul é uma organização não governamental criada em 1999. A ONG possui quatro projetos em vigência relacionados a Direitos Humanos, Desenvolvimento Rural Sustentável, Economia Solidária e Convivência. O projeto mais recente do instituto é o Centro de Referência em Direitos Humanos, que funciona em 42 locais no Brasil e, agora, será lançado em Belo Horizonte. O objetivo desse projeto é atender a moradores de rua, travestis e profissionais do sexo, oferecendo assistência psicológica, social e jurídica. Esse centro será o novo local de trabalho de Paulinho, que atuará como segurança e interlocutor da instituição. Para o diretor financeiro da en-
tidade, Danilo Chaves, 34 anos, a aproximação com Paulinho foi essencial para concretizar o projeto, apesar desse fato não ter influenciado a idealização e implantação do mesmo. Danilo acrescenta que foram duas causas paralelas que se encontraram. “Nós precisávamos de um funcionário confiável e Paulinho de um emprego”, explica. O administrador do Instituto, Maurer Castro, ressalta a importância da participação de Paulinho no centro, já que parte do público-alvo do projeto conhece a sua história. “A relação entre eles será construída a partir do repertório comum e do respeito. Logo, será mais fácil chegar até essas pessoas, que se sentirão seguras”, explica.
Para a coordenadora de direitos humanos da entidade, Dalva Nascimento, 47 anos, Paulinho será uma inspiração para todos. Ela destaca que sempre busca ter um olhar diferenciado para os outros e que o ex-morador de rua adquiriu essa característica ao longo do tempo. Pela sua experiência em lidar com usuários de crack e moradores de rua, aos quais ajudou bastante, Paulinho acredita ter condições de fazer muito mais para mudar a realidade dessas pessoas, trabalhando no Centro de Direitos Humanos. Com a carteira assinada, ele já enxerga seu futuro. “Meu sonho é ter uma profissão e dar uma boa condição aos meus filhos”, afirma.
Atendimento no SUS-BH
Medicamentos são distribuidos pelo Sistema Único de Saúde
Laurie Andrade
O Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte (SUS-BH) atende cerca de 8.500 pacientes soropositivos para o HIV, que recebem o coquetel de medicamentos nos serviços ambulatoriais especializados. Esse número inclui também pacientes residentes de outros municípios. Além disso, os 147 centros de saúde de Belo Horizonte são pontos centrais de distribuição de preservativos e da testagem convencional para HIV, sífilis e hepatites virais. De 2001 a outubro de 2013, foram notificados 6.349 novos casos de AIDS em Belo Horizonte. A maioria dos diagnósticos positivos é de homens com idade entre 20 a 39 anos. Nos anos de 2011 e 2012, esse número foi ampliado para a faixa etária entre 20 a 59 anos. Entre o sexo feminino, cerca de 60% dos casos de AIDS ocorrem entre mulheres de 35 a 59 anos.
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Saúde
Vacinação anti HPV tem êxito na capital O Sistema Único de Saúde (SUS), iniciou neste ano a campanha de vacinação contra o vírus do HPV. Em Belo Horizonte, a iniciativa teve resposta positiva por parte da população, com adesão de grande parte das meninas entre 11 e 13 anos ALESSANDRA GONÇALVES 2º PERÍODO
A vacina contra o HPV passou, a partir deste ano, a fazer parte do Calendário Nacional de Vacinação do Adolescente. O Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), incluiu a vacina quadrivalente com o objetivo de prevenir a infecção pelo papilomavírus humano. Principal vírus causador do câncer do colo do útero, é também o segundo tipo de enfermidade mais frequente entre mulheres no Brasil, de acordo com informações do Ministério da Saúde. Segundo um resultado parcial, informado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Belo Horizonte teve 75% de adesão da população alvo, formado por meninas com a idade entre 11 e 13 anos matriculadas nas escolas públicas. “A vacinação é recomendada para meninas mais jovens, pois é nessa faixa etária que as pré -adolescentes geram mais anticorpos, tornando a vacina ainda mais eficaz para protegê-las contra a doença”, informou a Gerência de Comunicação Social da Secretária Municipal de Saúde-Prefeitura de Belo Horizonte, por meio de nota. A campanha, realizada até o fim de abril, terá continuidade com o encaminhamento das alunas às UBS de referência da escola. O resultado é comemorado. Segundo análise prévia da Secretaria de Saúde, significa que não houve resistência da maior parte da população.
Leonardo Ferreira, vice-diretor do Colégio Tiradentes: palestra educativa
Atingir a meta é importante, pois garante uma cobertura ampla da prevenção contra o câncer a longo prazo. “A campanha foi desenvolvida a partir de um estudo científico bem embasado, que comprovou uma maior eficácia nessa faixa etária, exatamente em função deste grupo ainda estar sub exposto à doença”, avalia a médica Camila Siqueira Martins, que há nove anos atua na área de Ginecologia e Obstetrícia da Santa Casa. De acordo com Camila Siqueira, há muito mais benefícios do que problemas em relação à vacina. “Os pontos positivos são o caminho aberto através dos passos importantes que são o estudo científico, a divulgação e o mais importante que é a educação
maior evidência de proteção e indicação para pessoas que nunca tiveram contato com o vírus. Ou seja, que não tenham iniciado a vida sexual. O médico Claudio Noronha, da coordenação Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) do Ministério da Saúde, comenta que a vacina contra HPV é considerada eficaz e segura em todos os documentos técnicos da OMS que tratam do assunto. “O que é reconhecido mundialmente por diversas instituições e pesquisadores”, diz. Ainda segundo Claudio Noronha a vacina é recomendada nas indicações preconizadas pelo Ministério da Saude como importante recurso para proteção contra as infecções pelo HPV, principal causador do câncer de colo de útero, juntamente com outros recursos já existentes no controle da doença, como o exame colpocitológico para o diagnostico precoce e o tratamento da lesão precursora. Associada às medidas de prevenção como o papanicolau, ao uso de preservativos e às campanhas educativas, a vacina chega com o principal objetivo de prevenir o desenvolvimento do câncer do colo do útero e assim diminuir com as suas consequências à Saúde Pública. Isso significa redução de custos vinculados à doença como hospitalizações para o tratamento. Devido à alta taxa de morbimortalidade, isto é, o impacto que provoca a doença na saúde pública da sociedade e consequentemente a morte, o câncer do colo do útero é hoje problema de Saúde Pública, segundo o Informe Técnico sobre a vacina do Ministério da Saúde.
da população em relação ao HPV, rumo à tentativa de erradicação da doença em um futuro próximo”, afirma. “Os pontos negativos, não da vacina que tem pouquíssimos eventos adversos registrados e previstos em literatura, mas sim do contexto social envolvido, é o preconceito provindo da falta de informação, religiosidades e outros fatores, que os agentes da campanha estão enfrentando”, acrescenta.
estudante R. P, de 11 anos, do Instituto de Educação de Minas Gerais, no Centro, que não soube dizer o que era o HPV e qual a importância da vacina. As estudantes L. F, 13 anos, do Instituto de Educação, P. O, 11, e A. C. R, 12, alunas da E.E. Barão do Rio Branco, que sabiam o que era o vírus e como se dava a transmissão ficaram inibidas em comentar sobre assunto porque havia meninos próximos e preferiram não falar. Todas dizem
DESINFORMAÇÃO O MARCO entrevistou meninas entre 11 e 13 anos para saber o que elas pensam sobre o assunto e qual foi à atitude dos seus pais. A grande maioria não soube dizer ao certo o que era o HPV e como acontece a transmissão. Como é o caso da
Mobilização da população
Escolas públicas e privadas tiveram papel fundamental A estudante A. L. T, 11 anos, da E.E. Barão do Rio Branco, na Savassi, Região Centro Sul, informou que não se vacinou, porque no dia havia fila grande e sua mãe não podia esperar. Levando-a embora sem receber a primeira dose da vacina. Questionada se procurou a escola para orientação de como receber esta dose. A adolescente comenta que sua escola não soube orientá-la e nem a sua mãe como deveria agir. Procurada pelo MARCO, a vice diretora da EE Barão do Rio Branco, Nazaré Arruda, alega que a instituição não foi informada como proceder com as meninas que não receberam a vacina na escola. Ela comenta que não tem a relação das mesmas e que todo o controle da vacina e, consequentemente, das meninas não vacinadas, ficou com a equipe responsável pela vacinação. Questionada quanto à orientação das meninas sobre o que se tratava a campanha de vacinação, relata que a diretoria da instituição orientou as turmas baseando-se no material fornecido pela Secretaria de Educação e de Saúde. Perguntado se não foi uma equipe própria da secretaria, ela comenta que não. A Secretaria de Saúde informa que as meninas que não receberam a primeira dose da vacina nas escolas, deverão procurar a Unidade Básica de Saúde de referência da instituição com um comunicado da escola que não foi vacinada. Assim, poderão receber a primeira dose. No Colégio Tiradentes, unidade Prado, o diretor Leonardo José Ferreira relatou como ocorreu a campanha na escola. Por meio da Secretaria de Saúde e de Educação, a escola recebeu um comunicado orientando como se processaria a intervenção na instituição e, principalmente, qual seria o público alvo.
Camila Navarro
que seus pais deram apoio para a vacinação e que, algumas só vacinaram porque os pais as obrigaram, como as estudantes T. F e L. C, ambas de 13 anos. O câncer do colo do útero é a segunda principal causa de morte entre as mulheres no Brasil. Segundo as estimativas do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) para 2014, são aguardados 15.590 casos em território nacional. Isso representa uma provável incidência de 15,33 casos para cada 100 mil mulheres. Em Belo Horizonte, são esperados 180 casos, o que representa 13,24 casos para cada 100 mil mulheres. De acordo com o INCA, em 2011, 5.160 mulheres morreram vítimas do câncer do colo do útero no Brasil, na capital mineira foram 68 mulheres vitimadas. É importante destacar que, segundo o Informe Técnico sobre a vacina divulgado pelo Ministério da Saúde, estima-se que cerca de 25% a 50% da população feminina mundial, esteja contaminada com o vírus HPV. E 50% da população masculina estejam contaminados. Devido, por exemplo, a fatores imunológicos, uma parte desse público não desenvolverá o câncer. O câncer cervical ou do colo do útero apresenta forte potencial de prevenção e cura quando diagnosticado precocemente. A principal via de transmissão do vírus é a sexual o que inclui o sexo oral, genital, anal e a masturbação. Auxiliando as campanhas educativas e ações de rastreamento do câncer, como o papanicolau, a vacina veio somar os esforços na prevenção dessa enfermidade. De acordo ainda com o Informe Técnico do Ministério da Saúde, a vacina tem
A escola fez um levantamento de quantas e quais eram as meninas que se enquadravam dentro do perfil estabelecido pela Secretaria de Saúde de BH. Uma vez feito esse levantamento, a escola encaminhou o relatório para a Secretaria. As jovens receberam uma Carta do Ministério da Saúde endereçada aos pais e responsáveis orientando a respeito da vacinação contra o HPV juntamente com o termo de recusa, caso o responsável negasse a vacinação da menor. As meninas foram reunidas no auditório da escola para assistirem uma palestra educativa realizada pela Secretaria de Educação, orientando o que era o HPV, meio de contaminação, o que era vacina, por que elas estavam sendo vacinadas, sua importância entre outras orientações. A princípio a palestra foi realizada somente para as alunas sem a presença do responsável, comenta o diretor Leonardo José Ferreira. No Colégio Tiradentes foram mapeados 168 meninas com o perfil de vacinação recomendada pela Secretaria. Dessas, 153 foram vacinadas na escola, 13 faltaram no dia e pegaram comunicado para serem vacinadas na unidade de saúde de referência. E tiveram duas recusas. O Colégio não soube dizer o motivo alegado pelos pais ou responsável. O diretor Leonardo José Ferreira considera positiva a organização da campanha na escola. Todos os pais ou responsáveis aderiam bem à campanha, inclusive as meninas. Ele relata que, durante a palestra educativa, as meninas foram participativas e tiraram as dúvidas que surgiam. Ele diz que os palestrantes focaram bem o assunto e que não houve margem para outros aprofundamentos que não fosse a importância da vacina contra o HPV.
No Instituto de Educação de Minas Gerais, o diretor Orivaldo Diogo revelou que foram levantadas aproximadamente 500 meninas com o perfil passado pela Secretaria. Segundo ele, entre 3% à 5% dessas meninas não foram vacinadas. O professor informou que alguns pais alegaram que a vacinação estimulava a iniciação sexual precocemente. Devido ao grande número de meninas a equipe disponibilizada pela Secretaria para realização da vacinação foi insuficiente. O que provocou a necessidade da divisão dos dias para vacinar todas as meninas. A equipe era formada por oito pessoas, mas somente duas aplicavam a vacina, de acordo com Orivaldo Diogo. O diretor do Instituto acha que foi ótimo a campanha começar pelas escolas e que foi uma escolha acertada do Ministério da Saú-
de. “A escola é onde se encontra a maior parte do público alvo da vacinação”, comenta Orivaldo Diogo. A Secretaria de Saúde pretende vacinar todas as meninas dentro da faixa etária estipulada pelo Ministério da Saúde inclusive as que não estão nas escolas. A instituição informa que houve um levantamento das jovens que não estão matriculadas nas instituições de ensino para essas não perderem a primeira dose da vacina. Ainda de acordo com a Secretaria, será feita uma ação educativa junto aos pais que não autorizaram as filhas a se vacinarem durante a campanha, demostrando a importância de levá-las para tomar a primeira dose nos postos de saúde. É importante comentar que no mercado existem dois tipos da vacina contra o HPV, a bivalente e quadrivalente. Recomenda-se que as adolescentes que tenham iniciado
o esquema vacinal com a bivalente devem terminar com a mesma, nos próprios serviços onde iniciaram o esquema. Na falta dessa, deve utilizar a vacina disponível para completar o esquema vacinal, informa a Secretaria de Saúde. Reações adversar podem ocorrer após a vacinação como dor local, edema, eritema (vermelhidão da pele), cefaléia (dor de cabeça), febre e síncope (desmaio). A vacina é contra indica as adolescentes com histórias de hipersensibilidades a levedura (cogumelo responsável pelo fermento do pão), a componentes da fabricação da vacina, as gestantes por não apresentar estudos conclusivos até o momento e aquelas que desenvolveram reações graves após a vacinação. É necessário comunicar alergias e reações no momento da vacinação para os agentes de saúde.
A eficácia da vacinação A vacina é uma novidade. Antes de realizar a sua introdução no calendário nacional, o Ministério da Saúde fez estudos e comparações onde analisou a experiências em outros países para verificar a sua efetividade e o custo em sua produção. O laboratório Merck Sharp and Dohme (MSD), possuidor da tecnologia na fabricação da vacina contra o HPV, concordou em transferir seus conhecimentos técnicos para o Instituto Butantan. O governo brasileiro passa, então, a garantir uma produção nacional com custo mais baixo (a vacina custa caro, na rede particular seu preço varia entre 325 a 363 a dose) e, consequentemente, aumento do público alvo no decorrer dos anos. “Quanto à vacinação de meni-
nos, dados demonstram que, considerando-se a prevenção do câncer do colo do útero, não é custo efetivo quando altas coberturas vacinais são atingidas entre meninas”, informa o Ministério da Saúde, através do Informe Técnico sobre a vacina. Isso significa que, levando em consideração o tipo de câncer fica mais barato e preciso a vacinação das meninas. E os meninos seriam protegidos indiretamente com a vacinação do grupo feminino. Por isso a importância de atingir a meta. O esquema adotado pelo o Ministério da Saúde é chamado de “estendido” e composto por três doses (zero, seis e 60 meses). Recomendado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/ OMS) e utilizado em países como
Canadá, México, Colômbia e Suíça, o modelo garante maior duração da proteção fornecida pela vacina, comenta a Gerência de Comunicação Social (SMS). O esquema está baseado na resposta do sistema imunológico das jovens em relação à produção de anticorpos. A primeira dose da vacina realizou-se no mês de março em todas as escolas públicas e privadas do Brasil. A segunda dose, já marcada no cartão de vacina da adolescente, está prevista no mês de setembro. Seis meses após a primeira dose e a terceira dose 60 meses (cinco anos) após a primeira dose. Sendo que a segunda e a terceira dose serão realizadas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).
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Campus
Moradores de rua viram artistas Alunos da oficina de artes proporcionada pelo Centro Pop construiram com papel machê uma releitura da obra de Pablo Picasso, Guernica, exposta no Espaço Cultura e Fé na PUC Minas THAINÁ NOGUEIRA 3º PERÍODO
Durante dois anos 63 pessoas contribuíram para construção do painel e posteriormente das peças que compõem a releitura da obra Guernica (1937), de Pablo Picasso, exposta no Espaço Cultura e Fé, da PUC Minas. Feita toda com papel machê, a escultura foi montada por alunos da oficina de Artes oferecida pelo Centro de Referência Especializada para Pessoa em Situação de Rua (CREAS – Centro Pop). O Centro Pop é um Serviço Público da Política Municipal de Assistência Social, sob a gestão parceira com a Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio da ‘Ação Social, Política e Providência Nossa Senhora da Conceição’. Lá é onde as pessoas em situação de rua podem ter acolhimento, acompanhamento social, e ainda realizam oficinas sócio-educativas. O Centro foi implementado em 1996, através do orçamento participativo. Luciana Silva do Nascimento, 33 anos, é ex-moradora de rua e participou do projeto “Guernica – O clamor das ruas”. Ela conheceu o Centro através de amigos, e inicialmente frequen-
tava o local apenas para lavar suas roupas e tomar banho. Após um convite para entrar na oficina, ela e seu então namorado se inscreveram. “Nós começamos a picar jornal, tinha uma mesa e a gente se reunia para fazer isso, depois vinha com a cola e um pouquinho de serragem, e tinha uns meninos que faziam uma massa, depois de colocar a massa, a gente ia alisando e fazendo o olho, a boca, e todo o resto”, ela lembra. Enquanto confeccionavam a escultura, Célia Barbosa, socióloga e educadora do CREAS-Centro Pop e os demais professores da oficina propuseram que todos conhecessem a história do quadro. A socióloga diz que a oficina busca desenvolver uma atividade sociocultural e artística de reflexão sobre a importância da cultura de paz em face aos horrores da guerra e da violência descritos na obra de Picasso. “A princípio é um desafio para todos os envolvidos: Uma releitura do quadro Guernica de Pablo Picasso, através das mãos e da vivência de cada usuário envolvido”. Sobre o seu aprendizado com a oficina, Luciana comenta. “Teve um lugar que destruiu a cidade toda, e muitas
Exposição Guernica, feita por moradores de rua no Espaço Cultural e Fé
pessoas morreram, por isso nós decidimos fazer as peças. Significa até a gente mesmo de rua, que vive uma trajetória assim, muitos morrem na rua. A rua para a gente é um palco de guerra, que você pode estar vivo, ou estar morto também”. A ex-moradora de rua conta que naquela época ela passava por um período de vida complicado e bebia muito. “Fazia muita coisa errada” de acordo com suas palavras. A res-
ponsabilidade e a dedicação foram aprendizados fundamentais para que ela conseguisse um emprego no próprio Centro Pop onde executa serviços gerais. Além de sair das ruas, ela está casada e tirou novamente todos os seus documentos.
Camila Navarro
O estudante de física Gabriel da Silva Duarte, 19 anos, já conhecia o quadro Guernica e achou a iniciativa fan-
tástica, pois mostrou o potencial artístico que os moradores de rua desenvolveram. “Quando você vê o quadro, você imagina o que aconteceu naquela cidade, o horror da guerra. Mas quando eu vi ali, foi como se fosse um 3D do quadro”, conclui. A segurança Lucinéia, que guarda o Espaço afirmou que sempre as reações dos visitantes são positivas “pela aparência eles estão gostando, muitos tiram fotos.”
A iniciativa de expôr na PUC Minas foi do CREAS e faz parte de um dos objetivos da oficina, que é buscar visibilidade aos projetos elaborados pelos usuários. Além da PUC, a exposição já esteve na sede do Centro Pop e durante a Virada Cultural em setembro de 2013. A intenção é que a mostra siga para uma exposição permanente na SLU enquanto eles buscam efetivar a proposta de levá-la para o exterior.
fundadora, professora e regente da Orquestra Jovem das Gerais, a iniciativa é uma ótima motivação para se estudar a música clássica e começar a ter gosto por um estilo musical não tão presente no nosso dia a dia. O principal público que frequenta os recitais são moradores do Bairro Coração Eucarístico e entorno, e não possui uma faixa etária definida. Segundo os visitantes, o ambiente é agradável e a ideia de se abrir o museu
após os concertos é uma ótima ideia para chamar a atenção ao evento. Os recitais têm uma forte presença de famílias com crianças, que demonstram interesse pelo museu e têm a oportunidade de conhecer de perto o estilo clássico. Os pais afirmaram que o projeto propicia a interação familiar e colabora com o desenvolvimento dos processos de educação e socialização. A divulgação dos concertos musicais recebeu críticas, como a de Ara-
zi Gomes, professora de estatística da PUC. “A divulgação pode melhorar muito mais. Fiquei sabendo por e-mail, mas não vi na PUC quase nada falando sobre. Não vi cartazes como nas padarias daqui do Bairro”, reclamou. Segundo Bonifácio Teixeira, coordenador do museu, existe uma divulgação de volantes para a comunidade, spots de rádio, televisão e e-mail, mas a divulgação irá aumentar para que a comunidade possa conhecer melhor o projeto. A fim de melhor atender as orquestras e o público, vêm sendo realizados investimentos no projeto. “Temos uma proposta de, em outubro, fazer um concerto para crianças com clássicos da música infantil, com música de qualidade. E temos um piano que está para chegar em maio ou em junho”, afirmou Bonifácio. Além disso, com o começo do projeto, o museu estará sendo aberto ao público aos domingos após os concertos.
EXPOSIÇÃO
Concertos Dominicais no museu da PUC Minas THAÍS MILANI THIAGO CARMINATE 1º PERÍODO
A PUC Minas lançou, no final de março, o projeto Concertos Dominicais Peter Lund, que contará com 20 recitais ao longo do ano. Os concertos são realizados sempre aos domingos às 11 horas, no auditório do Museu de Ciências Naturais no Campus Coração Eucarístico. Os eventos são abertos a todos os públicos e a entrada é franca. O objetivo é despertar o interesse das pessoas pela música clássica, atendendo tanto quem conhece e gosta deste estilo como também quem ainda não conhece e tem interesse em conhecer. De acordo com o coordenador do museu, Bonifácio Teixeira, o projeto tem a intenção não só de divulgar a música clássica, mas também atender a comunidade e oferecer algo em troca para ela. Teixeira informa que os recursos são de incentivos fiscais e que a escolha do local se deu pela facilidade de acesso, tendo em vista que, com os concertos ocorren-
do no auditório do museu, não há necessidade de abrir a universidade. O auditório em que os concertos são apresentados comporta até 300 pessoas e o palco tem espaço para até 28 músicos. A ideia do projeto é trazer pequenas orquestras que atendam a todos os públicos, tocando a própria música clássica, tanto nacional como internacional e mesclando-a com a música popular brasileira, como ocorreu no segundo concerto no dia 6 de
abril, realizado pela Orquestra Jovem das Gerais. Essa orquestra ensina crianças de 8 a 18 anos a tocarem instrumentos clássicos, com o objetivo de levar a música clássica a quem não tem acesso. O fundador, professor e regente da orquestra, Renato Almeida, destaca a importância do evento. “A gente se sente muito valorizado em poder tocar aqui”, ressalta. Segundo Marina Leite, 12 anos, integrante da orquestra e Rosiane Reis, 41 anos,
Grupo Camerata Pampulha foi atração do dia 27 de abril
André Correia
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Comportamento/Comunicação
O uso excessivo de aplicativos O mundo a um toque. Mesmo sendo bastantes úteis e indispensáveis no mundo atual, é preciso bom senso e cuidados no que diz respeito ao uso dos aplicativos criados para smartphones CARINA TOLEDO 3º PERÍODO
Não há como negar, eles vieram com tudo e estão no auge do sucesso, entre os grupos sociais. Com apenas um toque, um mundo de possibilidades se abre na palma da mão. Mas será que em meio a tanta praticidade, ao alcance de qualquer pessoa que possui um smartphone, o uso de “apps” (aplicativos) facilita o nosso dia a dia, ou nos torna reféns desta tecnologia? Existem aplicativos de diversas formas, desde aqueles que formam uma rede social até os que calculam a quantidade de calorias consumidas no dia. O aumento no número de downloads de aplicativos, tanto na App Store (loja da Apple), quanto na Play Store (Android), pode ser explicado devido ao fato das pessoas, atualmente, terem mais facilidade para adquirirem aparelhos smartphones. Aplicativos como “Pou”, “Facebook”, “Twitter”, ”Whatsapp”, o extinto “Flappy Bird”, “Instagram” ,“YouTube, “Candy Crush”, “Netflix” e “Angry Birds” disparam como os mais baixados pelos usuários. Filipe Luiz Mendanha cursa Direito na PUC do Coração Eucarístico, está no terceiro período e afirma que usa aplicativos desde o momento em que acorda e só para quando vai dormir, sendo que o tempo máximo que consegue ficar sem acesso aos
Filipe Luiz, estudante da PUC Minas, faz uso dos aplicativos durante todo o seu dia
aplicativos, é o tempo que o aparelho celular demora para carregar a bateria. “Acredito que esses aplicativos não só respondem ao que procuro, mas também facilitam o meu dia a dia”. Além de passar o dia inteiro praticamente usando o celular, ele usa aplicativos que o ajudam em seu curso. “Os aplicativos que possuo são os que me ajudam para uso acadêmico, que são o SGA PUC Minas, OAB de bolso, e nas relações sociais eu uso o WhatsApp, Facebook, Instagram, e na mobilidade urbana eu utilizo o Waze”, afirma Filipe. Entretanto, há pessoas que não acompanharam essa mudança por motivos econômicos, ou pessoais. No caso da aluna do oitavo período de Fisioterapia da
André Correia
PUC Minas, Sara Gladys, há outras prioridades a serem conquistadas antes da compra de um smartphone mas, que futuramente, ela pretende adquirir. “Para quem não tem acesso a esses aplicativos, há outras formas de se encontrar a informação. Devido ao fato de não possuir um smartphone, eu tenho que recorrer a outras fontes de informação, como livros e ao meu computador. Com certeza eu sinto falta de ter aplicativos que me ajudam a comunicar com as pessoas, pois se quero mandar uma mensagem eu tenho que gastar meus créditos, além do fato do meu celular não possuir acesso à internet sem fio”. Sara também argumenta que tudo que é em excesso se
torna prejudicial. “As pessoas perdem muito tempo em aplicativos e esquecem o mundo em sua volta, com apenas um toque você pode conversar com quem está ao seu lado e não existe mais aquela relação pessoal como antes, aquela necessidade de recorrer ao outro em busca de informação”. Para o terapeuta comportamental Master Coach e professor do curso de Especialização em Terapia Comportamental na PUC Minas São Gabriel, Ghoeber Morales, o uso de aplicativos pode ser prejudicial quando afeta o bem estar do indivíduo trazendo um prejuízo significativo para a sua vida pessoal e/ ou profissional. “Um bom termômetro é observar como a pessoa se sente e se
ência sobre as outras pessoas. “Assim como o jornalista se preocupa em escrever bem suas matérias, fazer um bom trabalho de apuração, ouvir vários lados, caso o jornalista se envolva em algum projeto de publicidade, ele deverá fazer o mesmo, ou seja, apurar se a empresa é idônea, se o produto é verdadeiro. Existe uma linha muito tênue, entre Jornalismo e Publicidade, o jornalista não pode aparecer mais em propaganda, do que exercer a sua função, como jornalista”, diz Matheus Baldi. De acordo com a jornalista Mayra Michel, toda informação clara é ética. Ela diz não ver problema em jornalista falar bem de algum determinado produto ou serviço, contanto que fique bem claro a intenção da propaganda e, principalmente, que em momento algum seja dito alguma mentira. “O que, definitivamente, não pode acontecer, é tratar opinião ou propaganda como informação jornalística. A função de noticiar não tem abertura para que o jornalista exprima sua opinião ou inclua alguma propaganda no meio do texto”, defende Mayra Michel. Jornalista e bacharel em direito, Paulo Henrique Lobato é totalmente contrário à prática da publicidade por profissionais do jornalismo. Tanto que ele maniifestou
seu incômodo, via facebook, quando chegou a sugerir o tema como pauta para jornais laboratórios. O MARCO acatou a sugestão e procurou debater o assunto. Para PH Lobato, como é conhecido, uma pessoa pode ter mais de uma profissão, desde que elas não sejam incompatíveis. Mas, segundo ele, um jornalista não pode ser garoto-propaganda, porque são duas profissões incompatíveis. “Não é ético um jornalista trabalhar também como garoto-propaganda, mesmo que não cubra a área em que faz a propaganda. Afinal, a pessoa não se
comporta quando ela está privada da utilização dos aplicativos. Um exemplo é quando a bateria do celular acaba, ou quando o uso do celular está inacessível por qualquer outro motivo. A partir daí, quais são seus sentimentos, e como ela se comporta? Desta forma podemos dizer que isso a afeta de tal modo que atrapalha seu bom desempenho nas atividades cotidianas? Se sim, podemos falar em prejuízos”. E não para por aí, Ghoeber diz que essa dependência equivale a qualquer dependência química. “Devemos observar como o sujeito se comporta, quando está abstinente, é importante avaliar a situação e fazer os encaminhamentos necessários”, diz. “No nosso cotidiano é
fundamental encontrarmos outras formas de lazer e entretenimento, a fim de manter um equilíbrio e uma vida com saúde física e emocional. As pessoas que utilizam com certa frequência os aplicativos são acostumadas a encontrar com muita facilidade o que procuram. Na vida real sabemos que as coisas não funcionam assim... No geral, são necessários muito mais esforços para que se chegue a uma resposta/ objetivo. E isto incomoda muitas pessoas, já que nestas situações elas serão exigidas a se comportar de várias maneiras diferentes. E o custo da resposta é maior, ou seja, dá trabalho!”, diz Ghoeber Morales.
O vício tecnológico pode ser diagnosticado a partir de alguns comportamentos estabelecidos: Se você não sabe se é um viciado em uso de aplicativos, Ghoeber dá a dica. • Abandona suas atividades rotineiras, para ter acesso ao smartphone e aos aplicativos. • Nunca deixa o celular sem bateria. • Prefere carregá-lo na mão para que possa acessar mais rapidamente. • Interrompe conversas com os amigos, refeições e até relações sexuais para usá-lo. • Quando acorda de madrugada, sempre confere suas redes sociais. • Nunca esquece o celular em casa, e se esquecer volta em casa para buscar. • Sente se mal quando perde o aparelho, ou mesmo quando pensa que perdeu.
O dever da profissão e seu papel na sociedade CARINA TOLEDO 3° PERÍODO
A participação de jornalistas em propagandas, além da utilização recorrente do merchandising em programas jornalísticos gera polêmica, embora não seja claramente tratada pelo Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros em vigor desde 2007. “Jornalista que faz propaganda é antiético e a prática é considerada fraude”, salienta a atual presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Eneida Costa. Segundo ela, todo jornalista deve obediência ao Código de Ética da profissão e quem não o respeita deveria ser punido. No capítulo I, que aborda o direito à informação, o item IV do artigo 12 observa que o jornalista deve “informar claramente à sociedade quando suas matérias tiverem caráter publicitário ou decorrerem de patrocínios ou promoções”. Já em seu capítulo II, que trata da conduta profissional do jornalista, o artigo 4 do Código de Ética diz que o “compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos e deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação”. Além de ferir o Código de Ética da profissão, Eneida da
Costa considera que a participação em publicidade prejudica a credibilidade profissional. “O principal capital do jornalista é a credibilidade. A credibilidade é uma rede delicada que se forma entre o jornalista e o público”, explica. “Portanto, a credibilidade é um capital que não pertence unilateralmente ao jornalista. É uma construção ecológica entre ele, o jornalista, e o agente que está do outro lado recebendo a notícia, o comentário ou a crítica. Ao transferir para um produto, serviço ou candidato esse patrimônio (a credibilidade) que construiu com a doação espontânea de seus leitores, ouvintes ou telespectadores, o jornalista está cometendo uma fraude”, acrescenta. A posição defendida pela sindicalista, no entanto, não é entendida da mesma forma por todos os profissionais. Existem aqueles que consideram possível conciliar as duas atividades. Jornalista e proprietário da empresa Gera Conteúdo, Matheus Baldi Andrade, não vê problema, de início, quanto a participação de jornalistas em propaganda tendo em vista que as grandes marcas procuram pessoas públicas para associarem a sua imagem. Segundo ele, o jornalista torna-se uma pessoa pública e com credibilidade, capaz de exercer influ-
forma em jornalismo econômico, esportivo, político, ela se forma em jornalismo e se hoje, o profissional está numa editoria, amanhã ele poderá estar em outra”, argumenta. Assessor de imprensa do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais e experiente profissional, com passagens por diversos veículos de comunicação, Carlos Alberto Cândido avalia que fazer propaganda é uma forma de obter vantagem pessoal da condição de jornalista. Segundo ele, é óbvio que o jornalista que faz propaganda está se aproveitando da credibilidade ou populari-
dade que possui e que sua remuneração pela propaganda é uma vantagem pessoal. Para Carlos Cândido, o jornalista que tem dúvida sobre isso, na verdade desconhece sua profissão, cuja natureza está definida no Código. “O principal, na minha opinião, é que a proibição de fazer publicidade deve constar do Artigo 7º explicitamente e que este ponto do Código, como os demais, devem ser ensinados aos estudantes de Jornalismo como conduta a ser seguida obrigatoriamente, sujeitando aquele que a descumpre à perda do registro”, ressalta.
O jornalista PH Lobato não aprova atividades conflitantes com o fazer jornalístico
André Correia
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Cidade
SitBus é criticado por usuários Painéis eletrônicos, que informam os horários e as rotas dos ônibus, chegam a pontos da Gameleira. Fatores externos como o trânsito impedem a precisão exata do sistema implementado MATEUS TEIXEIRA 4º PERÍODO
A instalação do Sistema Inteligente de Transporte Coletivo (SitBus) em Belo Horizonte visa ajudar o usuário a saber a localização exata do veículo a caminho. Uma das inovações deste sistema na capital mineira é a instalação de painéis eletrônicos com informações tanto dentro como fora dos ônibus, nos pontos de embarque e desembarque de passageiros. No ponto localizado na Praça Maria Luiza Viganó, no cruzamento das ruas Coração Eucarístico de Jesus e Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, na Via Expressa, Região Noroeste da capital mineira esses painéis foram instalados em fevereiro. Os primeiros dispositivos foram instalados na Região Centro-Sul de Belo Horizonte há cinco anos, em caráter experimental. Os painéis comunicam ao usuário o tempo real dos horários previstos de passagem dos veículos, além de data e hora em tempo real. A auxiliar administrativa Claudia Dias elogia a iniciativa, mas também faz críticas. “A iniciativa foi legal, é preciso que funcione para melhorar a qualidade do transporte público e a segurança dos passageiros”, explica. Ela ainda contou como era
Painéis eletrônicos em situações diferentes de funcionamento nos pontos da capital
André Correia
de sistema inteligente de transporte adequado às necessidades dos serviços”. No documento, há a especificação funcional do SitBus, o sistema inteligente será implantado por concessionárias e visa a “segurança, regularidade, pontualidade e confiabilidade dos serviços, através de ferramentas e instrumentos de controle e gestão de serviços”. Até o começo de maio, no fechamento da edição, os paineis instalados no ponto da Via Expressa não estavam funcionando. RESPOSTAS
antes da instalação dos paineis. “Antes eu chegava no ponto na expectativa e perguntava para os outros se o ônibus já tinha passado”, relembra Claudia. A estudante Ludimille Basilato, usuária de uma das 40 linhas que passam pelo ponto da Via Expressa na Gameleira, elogia a iniciativa de instalar os painéis, mas critica a forma como isso foi feito. “O fato de existir o painel é de grande relevância para a população que pega ônibus no ponto, porém os usuários não tiveram informação de como vai funcionar o processo”, comenta. Ela ainda faz uma observação sobre os deficientes visuais. “Vai contribuir para as pessoas que enxergam. E como vai ser para as pessoas que tem defici-
ência visual? Sendo que existe um grande número de pessoas que estudam na universidade próxima ao ponto e pegam condução”, observa Ludmille. A filósofa Helenice Crizologo, usuária da linha 4110 (Dom Cabral/ Belvedere), conta que o painel ajuda as pessoas quanto a ansiedade. “Eu creio que o painel tira um pouco da ansiedade das pessoas no sentido do tempo de espera, pois traz mais confiança, mas é mal interpretado”, diz. Ela ainda explicou o motivo da má interpretação. “Os passageiros querem ver funcionando certinho e sem falhas, mas esquecem do trânsito pesado que temos quando o painel diz ‘aproximação de tal linha em dez minutos’, é para constar que
diversos aspectos e categorias. O festival contou com a participação de 55 bares da capital e recebeu mais de 500 mil pessoas. Naturalmente, os tradicionais bares do Coração Eucarístico não ficaram de fora do evento. Vários bares da Região se prepararam para agradar consumidores e os jurados durante o festival. Roberto Domingues, 46 anos, dono do Gabiroba Butiquim, preparou uma reforma temática em seu bar visando a Copa do Mundo. “Todo ano faço uma reforma no bar, esse ano fiz uma reforma temática para a Copa do Mundo, e acredito que o investimento sempre é bom e traz retorno, até por que é o primeiro ano do Botecar e temos um concorrente de peso que é o Comida di Buteco”, comenta Roberto. Com relação às especialidades do bar, ele não esconde: cerveja gelada, tira gosto e boa música foram as estratégias utilizadas para conquistar o público. O Botecar conquistou muitos donos de bares, que inclusive preferiram aderir ao novo festival a se manterem atrelados ao tradicional
Comida di Buteco, que foi realizado praticamente no mesmo período, abrindo uma gostosa concorrência. Ângelo Rafael Telles, dono do Tanganica Art Bar, é veterano quando o assunto é festival de bares. Segundo Telles. “Este é um festival mais democrático, garantindo mais liberdade aos bares. É mais participativo e, como é um festival novo, está sendo baseado na opinião dos donos dos bares, então muita coisa que está acontecendo foi nossa opinião, enquanto os outros tinham um formato muito pré-determinado”. A participação dos bares em festivais como este pode gerar muitos benefícios aos seus donos. Carlos Henrique da Cruz Barbosa, 49, dono do bar e restaurante Carlão Rei do Churrasco, ao ser questionado sobre tais benefícios não esconde o que buscou com sua participação. “As vantagens são várias. É um concurso de muita credibilidade, algumas publicações importantes apoiam, e porque a gente quer coisa nova, coisa diferente, e realmente é um festival de raiz, que mostra
realmente o ônibus está vindo”, conta Helenice. Francisco de Assis Maciel, conhecido como Chiquinho Maciel, presidente da Associação dos Usuários de Transporte Coletivo da Grande BH (Autc), afirma que o SitBus é fundamental e importante para o usuário. Quanto ao custo de implantação, segundo ele, o dinheiro já foi pago. “O SitBus já está pago, os empresários colocaram o valor no preço da passagem. Estão usando o dinheiro indevido”, ressalta Maciel. Francisco comenta que a BHTrans não conseguirá implantar o sistema por causa do Move BRT. “O SitBus é um projeto piloto, não vão conseguir implantar. O BRT (Bus Rapid Transit ou Trân-
sito rápido de ônibus) irá desativar 427 linhas. O BRT chamará mais a atenção. Nós da Autc defendemos a tecnologia da informação aplicado a democracia e a cidadania”, informou Francisco. Chiquinho Assis comenta sobre a falta de pontualidade dos ônibus em trânsito. “Já tem problemas no trânsito e de chuva. Isso dá efeito no descumprimento do quadro de horários que é a terceira maior reclamação dos usuários”. As duas primeiras são a superlotação dos veículos e os maus tratos aos passageiros. No anexo VII de 67 páginas divulgado pela BHTrans há, dentre outros aspectos, “um conjunto de diretrizes para a elaboração de um projeto
A Gerência de Sistemas Inteligentes de Transporte da BHTrans informa que há a previsão de implantação dos 1500 painéis totais até o final deste ano. Atualmente, são 102. A gerência informou também que são 3057 ônibus que possuem GPS (sistema de posicionamento global, do inglês Global Positioning System) e enviam o sinal para os dispositivos. O órgão não soube informar o custo total de implantação dos dispositivos que serão instalados apenas na área urbana de Belo Horizonte. Sobre os atrasos nos horários informados nos painéis e o fato de não estarem funcionado informaram que o sistema ainda está em teste e em fase de desenvolvimento.
Festival Botecar movimenta bares da cidade
ANA LUIZA CONTI GUILHERME CAMBRAIA HUGO L’ABBATE 1º
E
3º PERÍODOS
Belo Horizonte é e sempre foi conhecida como a capital dos bares e botecos. Vários festivais já passaram pela cidade, como o famoso Comida di Buteco, o De Bar em Bar e agora o Botecar, que estreou neste ano e começou em 9 de abril, indo até 10 de maio. Segundo um dos organizadores do evento, o empresário Antônio Lúcio Martins, apesar de ser apenas mais um festival, o Botecar BH nasceu com um objetivo diferenciado, uma vez que propôs a busca das raízes dos botecos de Belo Horizonte, criando um festival que fosse a cara dos bares mineiros. “Precisamos resgatar a cultura dos botecos como um grande diferencial competitivo para o nosso turismo. Os visitantes querem saborear a verdadeira culinária mineira e não podemos perder esse foco”, diz o empresário de 55 anos. Durante o Botecar, os bares foram avaliados por jurados especializados e pelos próprios consumidores em
Proprietários de bares aprovaram o resultado do Botecar
o que os botecos de Belo Horizonte tem a oferecer aos seus clientes. Fora a visibilidade que, com certeza, aumenta, pois veículos de comunicação como jornais e revistas estão sempre ali. E, claro, o retorno financeiro, que é o que a gente busca”. Quanto às comidas e destaques do festival, cada bar se preparou de forma diferente. Enquanto alguns criaram novos pratos, outros preferiram manter a tradição daqueles que sem-
pre conquistaram seus clientes. Os bares participantes também contaram com a diversidade de público, já que o festival trouxe clientes de várias regiões da cidade e que acompanharam o tour de bares do Botecar. Sílvia Pacheco, 30, é frequentadora dos bares do Coração Eucarístico há cerca de 14 anos e diz que o festival gerou benefícios à Região. “Eu moro no Coração Eucarístico desde que nasci e o que mais me cha-
Guilherme Cambraia
ma atenção aqui é o som, a música é muito boa, os petiscos são tradicionais e fiéis, você pode comer algo exclusivo, e é aconchegante, pois parece o quintal de casa”, avaliou a produtora de eventos enquanto comia petiscos e tomava chopp no Tanganica Art Bar. O Botecar agradou clientes de bares e os próprios donos, e o Coração Eucarístico e Bairros da Região, que tiveram boas opções para aproveitar as novidades.
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Copa do Mundo
Olhar estrangeiro sobre Mundial Pessoas nascidas em outros países e que escolheram o Brasil para morar avaliaram os preparativos do país para receber o maior evento do futebol do planeta a partir de junho MARIANA CAMPOLINA RAFAEL LEITE 3º PERÍODO
Nos meses de junho e julho o Brasil receberá grande número de estrangeiros para acompanhar a Copa do Mundo de Futebol. Nesse sentido, o país passa, desde 2007, por planejamentos e obras em aeroportos, estádios e infraestrutura. O tempo, que parecia extenso e suficiente, está se esgotando. Isso é o que mais preocupa os brasileiros, que estão bastante pessimistas e desanimados. Mas e o resto do mundo? Por isso, nada melhor do que ‘gringos’ que já vivem aqui para responder a esta pergunta e dar uma visão geral sobre o que esperam desse grande evento. O professor de inglês James Michael Ubriaco, 42, veio de Yonker, no estado de Nova Iorque, para Belo Horizonte há 20 anos. O estadunidense contou que viajou para o Brasil apenas por curiosidade e sem saber nada de português. Demorou três meses para aprender o básico e, ainda hoje, tem o sotaque carregado. Acabou resolvendo ficar após conhecer quem, mais tarde, viria a ser sua mulher. Ficou também pela facilidade na adaptação e receptividade das pessoas. Por sua experiência em países tão diferentes, ele diz que o que mais o preocupa, principalmente em Belo Horizonte, são as falhas no transporte público. “Em Nova Iorque
O estadunidense James Michael Ubriaco mora há 20 anos em BH e revela um olhar estrangeiro sobre o Brasil
eu sempre usei o metrô, e gostava muito. Mas aqui ele só vai de um lugar que eu não estou para aonde eu não vou”, comenta. “Parece que a cidade não está muito bem conectada. Eu gostaria de poder usar o transporte público, mas com tantos compromissos, fica inviável”, completa. Sobre a Copa do Mundo, ele faz questão de ressaltar que será um evento muito importante para o país. “É um privilégio. O mundo inteiro voltará os olhos para a gente, o que também é complicado, logicamente”, ressalta. Questionado sobre as obras nos estádios e aeroportos, ele diz que acha que tudo será entregue a tempo, mas talvez não totalmente prontas (a exemplo do aeropor-
to de Confins e o Estádio Itaquerão, em São Paulo). Ao ser perguntado sobre o superfaturamento nas reformas e construções, lembrou que esse não é um problema exclusivo da Copa do Mundo. “É um tipo de corrupção que está se manifestando também nesse momento. Esse já é um desafio do Brasil e não uma novidade”, explicita. Nesse sentido, salienta a recente tomada de consciência do povo brasileiro sobre a corrupção. “As pessoas não aceitam tudo mais. Acho difícil pensar que não vai ter protestos. As pessoas vão aproveitar essa oportunidade de serem ouvidas e aparecerem para o mundo. E isso me preocupa, aliado aos problemas de transporte’’, desabafa.
Para ele, outro fator desafiador está na postura dos próprios brasileiros. “Tem muita gente querendo fugir, viajar para fora do país. Eu percebo o medo das pessoas em não dar certo, o pessimismo é muito saliente. Conheço poucas pessoas que estão realmente animadas’’, explica. Sobre o fator comunicação, James Ubriaco não pensa que esse será um grande problema. “É possível se comunicar por gestos, sorrisos. As pessoas dão um jeito. É a parte da graça de se fazer entendido”, tranquiliza. “Os turistas que vêm para o Brasil, provavelmente não esperam que todos aqui falem inglês ou outras línguas”, completa. No entanto, ele acredita que
Rafael Leite
será uma boa oportunidade para a prática e lembra. “Não vai ser perfeito. Mas, para o brasileiro, sobra boa vontade para receber as pessoas”, finaliza. O diretor de teatro Fred Hanson, 55, natural de Hinsdale, Illinois (Estados Unidos), escolheu vir para o Brasil pela primeira vez porque havia conhecido alguns brasileiros durante uma viagem pela Europa e acabou se interessando pelo país e pela música. Acabou se apaixonando pelo país e pela cidade maravilhosa. Comprou um apartamento no Rio de Janeiro e, nos últimos dez anos, divide-se entre um lugar e outro. Porém, sobre o Brasil sediar a Copa do Mundo, fica desconfiado. “Pareceu uma boa
ideia no começo, mas a execução ficou mais complicada. Acabou sendo o foco de muitos problemas na sociedade brasileira em geral”, comenta. De forma sutil, Fred fez ainda uma menção ao famoso ‘jeitinho brasileiro’. “A preparação foi caótica, mas no jeito brasileiro no final vai ser ‘ok’’’, pontua. Sobre os transportes e a comunicação, segue a mesma linha que James: reconhece os problemas e pede que os demais estrangeiros não criem grandes expectativas. “O Brasil é um país em desenvolvimento”, lembra. Diferentemente dos estadunidenses, o argentino Mateo Monasterio, 22, que deixou há três meses a capital de seu país para viver no Rio de Janeiro, está bastante otimista. Ele veio para o Brasil por causa de uma oportunidade de fazer mestrado no IMPA, e acredita que tudo estará em ordem até o dia do grande evento. “Obviamente estão (preparados para a Copa). O Brasil é sede de grandes eventos todos os anos: carnaval, ano novo, Rock in Rio, a visita do Papa, etc”, exemplifica. A única coisa que ele acha que não dará certo para o Brasil é o resultado dos jogos da Copa. Quando questionado sobre quem ele acha que será o vencedor da competição, ele respondeu. “Você está brincando comigo? Perguntar isso para um argentino?”.
Dengue na capital é preocupação para a Copa DEBORA ASSIS JÚLIA GUEDES 1º PERÍODO
Das cidades-sede da Copa do Mundo no Brasil em 2014, Belo Horizonte é a que mais possui casos de dengue. O Ministério da Saúde divulgou que no primeiro bimestre de 2014 os casos de dengue caíram 80% em comparação com o mesmo período de 2013. Porém, três das cidades-sedes do mundial entraram na lista dos 10 munícipios com maior incidência de dengue, sendo Belo Horizonte com 1.647; São Paulo com 1.536; e Brasília com 1.483 casos. Na Região Noroeste da capital mineira há menor incidência de dengue se comparada às outras regiões. Até o dia 28 de março desse ano foram registrados 79 casos que, comparados aos 444 casos do mesmo período do ano passado, mostraram importante redução de casos. A falta de chuvas em Belo Horizonte no verão de 2014 contribuiu para essa redução, pois a dengue é transmitida pelo mosquito Aedes aegypt que se reproduz em águas paradas. A Secretaria Municipal de Saúde alerta que é preciso continuar com os cuidados de prevenção e combate ao mosquito, ou seja, não deixar água parada, não deixar a caixa
d’água destampada, não acumular água em latas, embalagens, pneus, tambores e outros objetos que possam armazenar água, onde o mosquito se reproduz. Há também um plano de combate à dengue com vistorias dos imóveis, mutirões de limpeza, verificação de focos e eliminação de criadouros do Aedes aegypt, divulgação de informações para os moradores sobre onde há focos e como combatê-los e monitoramento dos casos. Segundo a Gerência Regional de Controle de Zoonoses, na Regional Noroeste são realizadas ações de intensificação com o intuito de minimizar o aumento do número de casos de dengue. Dois dos moradores da Região, Silvério da Silva, 73, e Marli Elias, 64, confirmaram, em entrevista para o MARCO, que os agentes da Prefeitura realizam, com frequência, a vistoria nas casas da Regional Noroeste para o combate à dengue. Marli também contou que quando sua neta e sua filha tiveram a doença, elas fizeram o acompanhamento no hospital. Ela ainda afirmou conhecer as medidas de prevenção. Outros moradores afirmaram não terem recebido a visita da prefeitura para a verificação dos focos do mosquito transmissor. “Nunca fez [vistoria], só quando a gente
chama”, afirmou Gilda Pacheco, 67. Por causa da Copa do Mundo, Belo Horizonte receberá grande número de turistas do mundo todo, o que preocupa ainda mais, já que a cidade apresenta grande número de casos de dengue. A maioria dos turistas que virão para a Copa do Mundo são europeus, americanos e orientais e em seus países de origem não há presença do mosquito transmissor, pois este só sobrevive em países tropicais. “A preocupação maior é com os estrangeiros que
nunca tiveram a doença e não possuem resistência a nenhum dos quatro sorotipos” afirmou a infectologista Claudia Murta de Oliveira. Essas pessoas devem tomar maior cuidado em não deixar a pele exposta, manter as janelas fechadas para evitar a entrada de insetos, não esquecer o uso do repelente ao sair do hotel. Entretanto, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, não há ações específicas para a prevenção da dengue durante a Copa do Mundo. Acredita-se que as me-
didas que já vem sendo tomadas ao longo do ano serão suficientes para a prevenção. Mas é preciso lembrar que boa parte dos turistas desconhece a doença, incluindo seus sintomas e medidas de prevenção. Apesar da incidência de dengue ser maior nos meses de abril e maio, o Brasil, por ser um país tropical, também registra casos da doença durante o ano inteiro. Nos meses em que o mundial acontecerá, junho e julho, é inverno, mas os cuidados e prevenção não devem ser esquecidos.
A filha e a neta de Marli Elias tiveram dengue e fizeram acompanhamento no hospital
Liz Vasconcelos
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Esporte
Mineiros se preparam para 2016 Projetos buscam a formação de atletas olímpicos em Belo Horizonte, mas as pessoas envolvidas destacam a importância do esporte, como o vôlei, um meio de formação da cidadania ANA LAURA BENARDES GIOVANA MOURÃO LANZA LAURA ARAUJO MICHELL
no esporte escolar, em modalidades como vôlei, futebol, basquete, handebol e natação, entre outros. “Uma das coisas que me deixou muito triste ao visitar várias escolas, foi ver
1º PERÍODO
A realização dos Jogos Olímpicos no Rio, em 2016, aumenta a expectativa de atletas de todo o país, que sonham em disputar a competição em solo brasileiro. Não é diferente com os mineiros, que se destacam em diversas modalidades e que treinam com vistas aos índices e processos seletivos característicos de cada esporte. Celeiro de craques em esportes como vôlei, natação, judô e basquete, entre outros, o Minas Tênis Clube tem um projeto permanente de formação de atletas de alto rendimento, sem deixar de lado o investimento na pessoa. Além disso, a tradicional agremiação busca atletas de ponta, como é caso de sua mais recente aquisição, o campeão olímpico de natação César Cielo. Ex-diretora dos Esportes de Base e Educação do Minas Tênis Clube, Luiza Machado, que deixou o cargo após nove anos, com a mudança de diretoria ao final do ano passado, fala com conhecimento de causa sobre o trabalho de formação de atletas. Segundo ela, existe por parte do clube um olhar voltado para a descoberta de possíveis atletas olímpicos, mas ressalva que isso não é exclusivo e nem o ponto mais importante. Ex-jogadora de vôlei do Minas e da Seleção Brasileira, Luiza Machado observa que a preparação dos atletas minastenistas é feita por modalidade olímpica. “A equipe de natação Fiat Minas tem um técnico australiano e todo o programa é voltado para que
os alunos com celulares e videogames ao invés de estarem nas quadras. Ao conversar com eles tive como resposta que não há material para a prática de esportes”, conta o vereador.
Dedicação, treino e incentivo fazem o atleta crescer Ex-jogador de volêi José Fransisco Filho destaca a importância do esporte
os atletas da equipe de natação possam estar em maior número nos jogos (sendo país sede, o Brasil tem vaga assegurada em todas as modalidades e categorias)”, conta. Ela lembra que outros atletas de modalidades como judô, por exemplo, treinam e dispõem de toda a infraestrutura do clube, mas viajam também bastante pela seleção brasileira. “O que o Minas faz, independente de olimpíada ou não, é investir nos melhores recursos técnicos, tecnológicos, multidisciplinares em todos os atletas”, afirma. A expectativa do Minas é de estar representado nos Jogos Olímpicos do Rio por muitos atletas. As equipes de judô masculina e feminina do clube são muito forte, com judocas bem ranqueados e que integram as seleções permanentes. A equipe de natação, ainda
mais fortalecida com a presença de César Cielo, pode ser considerada a esperança maior. Já esportes coletivos, como vôlei e basquete, dependem das contratações e manutenções dos elencos, que acontecem a cada temporada. O Minas tem tradição de formação nesses dois esportes, mas muitos atletas se transferem para outras agremiações. “Vale lembrar que o Minas tem vários atletas formados no clube e que hoje não disputam mais por ele”, observa Luiza Machado.
CIDADANIA Um dos principais jogadores da história do vôlei brasileiro, José Francisco Filho, o Pelé, destaca a importância do esporte não apenas como fator de competição mas também para a formação da cidadania. Vereador em Belo Horizonte,
André Correia
o que o levou a deixar o cargo de assistente técnico do time principal masculino do Minas, em 2013, Pelé mantém sua tradicional escolinha dessa modalidade, aberta a meninos e meninas, além de desenvolver projetos sociais. “Para formar atletas de alto rendimento, precisamos massificar primeiro. Se você der a oportunidade a 100 mil vai sair ali um mínimo”, afirma Pelé, Segundo ele, é necessário primeiro pensar na cidadania e depois na formação do atleta. Como parlamentar, Pelé considera um dever a abertura de oportunidades para pessoas menos favorecidas de praticar esporte. Segundo ele, uma das alternativas para a ampliação de oportunidades às pessoas carentes e pensando no alto rendimento nas Olimpíadas e Pan -Americano, é o investimento
Estudos apontam que o tempo de preparação de um atleta que visa competições importantes, como os Jogos Olímpicos, é de 12 anos, em média, porém existem outros aspectos necessários para tal preparação: uma base grande de praticantes, uma política clara de investimento do capital e longo prazo. “Nesse sentido, o Brasil já está atrasado para as olimpíadas de 2024, o que dirá para os jogos do Rio”, enfatiza Luiza Machado, ex-jogadora de vôlei. “Não se faz um atleta olímpico sem muito treinamento, dedicação, e sem abrir mão de outras tantas milhares de coisas, família, férias, amigos, festa. Isso sem falar nos investimentos para que esse treinamento seja de qualidade e alinhado ao que há de moderno no mundo. O intercâmbio esportivo é essencial nesse sentido. Treinar nos melhores centros, aprimorar-se com os melhores. E isso requer inves-
timento de longo prazo e mais, planejamento de longo prazo”, afirma Luiza Machado. O ex-craque do vôlei mineiro, Pelé, por sua vez, considera que será bom para o Brasil, do ponto de vista do turismo, sediar as Olimpíadas de 2016, mas observa que é muito difícil formar atletas em quatro, cinco anos. “A China, por exemplo, ganha muitas medalhas em competições, pois planeja e treina seus atletas a doze, quinze anos. Os Jogos Olímpicos aqui foram aprovados em 2007, ou seja, temos muito pouco tempo para formar competidores”, explica. “Não adianta haver programas do governo de incentivo a atletas, quando só contemplam jogadores que já são campeões olímpicos, brasileiros e estaduais. Deveria existir o incentivo a todos, inclusive aos mais simples. Por isso o planejamento do Governo Federal é um pouco equivocado” afirma o ex-atleta.
Atletas miram no Rio de Janeiro contra anonimato WINICYUS GONÇALVES DE LIMA 3° PERÍODO
Para quem conhece futebol, voleibol, basquete, natação e judô, os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 serão a grande oportunidade de assistir aos principais atletas brasileiros buscarem em casa a maior glória do esporte mundial. Mas para alguns esportes menos conhecidos como arco e flecha, triatlo e levantamento de peso, 2016 começou há bem mais tempo. Por ser o país-sede, o Brasil terá representantes em todas as categorias de todas as modalidades, não tendo necessidade de participar de qualquer qualificatória. E o grande desafio, maior até do que a conquista de medalhas, é aproveitar a
oportunidade de competir em casa para ter mais visibilidade por parte do grande público. Atletas da Federação Mineira de Arco e Flecha se reúnem todo o final de semana no Mineirinho, na Pampulha. O presidente da Federação, José Maurício Xavier, diz que o esporte ainda não é popular no Brasil por que quem o pratica necessita de ter um bom poder aquisitivo. “Para jogar futebol, você só precisa de uma bola, pode jogar até descalço. Mas para o Arco e Flecha, requer um investimento maior, mas que não é nenhum absurdo”. Alguns desses esportes ainda não conseguiram atrair a atenção do grande público e estão limitados à prática familiar, como o tênis de mesa. O mesa-tenista Carlos Ar-
guille diz que a iniciativa de participar de alguns torneios de iniciantes veio do pai, que praticava o esporte desde a infância. Hoje, sem clube e sem patrocínio, dá aulas para garotos que querem evoluir no esporte. “Comecei no tênis de mesa como uma brincadeira entre primos nos finais de semana, alguns deles tentaram seguir carreira no esporte, mas não tiveram êxito”, conta. José Maurício pratica com o sobrinho André Xavier todos os finais de semana, André, que é formado em Educação Física, tem dez anos no esporte e diz que a influência para participar veio do tio. Por influência também veio Daniel Xavier, filho de José Maurício, que foi o representante brasileiro do Arco e Flecha nas
Olimpíadas de Londres, em 2012. Daniel mora hoje em Campinas, onde fica o Centro de Treinamento da Confederação Brasileira de Arco e Flecha. Apesar do talento em família, José Maurício diz que a procura pelo esporte acontece mais individualmente. A falta de incentivo do Governo Federal também é um empecilho para que estes esportes se desenvolvam e atraiam o interesse do grande público. Se analisarmos nas últimas quatro olimpíadas, das 54 medalhas que o Brasil conquistou, 38 ficaram concentradas no vôlei, natação, judô e iatismo. Para os Jogos de 2016 terão investimento recorde do COB, mas Carlos Arguille contesta. “O investimento do Governo Federal e do COB é pa-
liativo, vem muito mais de uma necessidade de tentar formar atletas às pressas para serem pelo menos competitivos até os Jogos e não fazerem o Brasil passar vergonha”, diz. Sem patrocínio, ele já teve que tirar do próprio bolso para competir. Para José Maurício, o investimento é grande, mas não veio em tempo suficiente. “Não se faz um atleta olímpico em três anos, por mais que haja uma iniciativa da Confederação em se formar uma equipe permanente, é preciso de no mínimo 10 anos para se formar um atleta com competitividade internacional”, afirma. Ainda assim ele acredita em um bom desempenho da equipe brasileira de Arco e Flecha em 2016. “A equipe brasileira tem conseguido bons resultados, quem
sabe, pode ser uma surpresa”. Ele critica também a estrutura do Mineirinho para receber os treinamentos dos atletas do Arco e Flecha. “Não é a melhor, mas é a que temos, muitas vezes somos impedidos de entrar no entorno do ginásio por que tem shows”, diz Ainda assim, os Jogos Olímpicos de 2016 são vistos como a grande oportunidade de que estes esportes não tão conhecidos caiam no gosto popular. A chance de competir no Brasil faz com que os atletas se preparem com mais intensidade para trazer bons resultados e alavancar esse esportes. Segundo a Confederação Brasileira de Ginástica, o ouro de Arthur Zanetti em Londres aumentou em 40% o interesse de crianças.
Rúgbi e golfe estreiam nos Jogos Olímpicos Em substituição ao beisebol e ao softbol, rúgbi e golfe foram incluídos no programa olímpico e farão parte das modalidades que estarão nas Olimpíadas do Rio. Para conseguir este feito, participaram de uma eleição de modalidades, em Buenos Aires, que como critério de escolha, o esporte tinha de ser praticado por, no mínimo, 75% do mundo. Para o golfe, 2016 é visto como oportunidade de tirar o estigma de “esporte de ricos” e popula-
rizar a modalidade. Já o rúgbi tem objetivos mais ambiciosos e vê as Olimpíadas de 2016, como o início de uma expansão nacional do esporte. Para tanto, o orçamento da Confederação Brasileira de Rúgbi chegou aos R$ 20 milhões em 2013, quatro vezes mais do que em 2011. Por mais que seja difícil, um bom resultado no Rio faz com que o segundo esporte mais praticado no mundo crie raízes também no Brasil.
Atletas da Federação Mineira de Arco e Flecha treinam semanalmente
Winicyus Gonçalves de Lima
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Entrevista
JOSÉ MARIA RABÊLO
O binômio humor e denúncia ISABELA MARTINS JULIANA GUSMAN 1º E 3º PERÍODOS
José Maria Rabêlo, jornalista e escritor, foi fundador, juntamente com Euro Arantes, do jornal alternativo Binômio, conhecido pelo humor e por sua posição crítica. De 1952 à 1964, o Binômio passou pelas fases humorística, panfletária e de denúncia, sem nunca perder o caráter político. “O humor tem uma força criadora e destruidora fantástica”, afirma José Maria. “Como Belo Horizonte não tinha uma imprensa que informasse, nós achávamos que devíamos assumir, até certo ponto, esse papel”, lembra. O Binômio foi ‘o jornal que virou Minas de cabeça para baixo’. Em 1964, o semanário foi fechado, e José Maria foi forçado a deixar o país, onde só retornaria 16 anos depois, com a anistia. “A abertura no Brasil resultou de uma negociação com o governo”, salienta. “Nos outros países foi o povo à luta, a população conquistou a anistia. Aqui ela resultou de um entendimento”, acrescenta. Aos 86 anos, ele recorda, na ocasião dos 50 anos do Golpe Militar, o período anterior à ditadura, o empastelamento de seu jornal, o exílio, a volta ao Brasil e sua longa carreira jornalística. Atualmente, José Maria escreve artigos para o jornal carioca Bafafá, do seu filho, o também jornalista, Ricardo Rabêlo. Além disso, acaba de publicar o livro ‘Belo Horizonte do arraial à metrópole, 300 anos de história’. Qual foi o objetivo inicial do Binômio?
Desde muito jovens tínhamos a preocupação de fazer jornalismo, tanto eu quanto ele (Euro Arantes). Em nossas cidades do interior fazíamos jornalzinhos, essas coisas de colégio. Viemos para Belo Horizonte e nos encontramos no antigo Informador Comercial, que é hoje o Diário do Comércio. Começamos a trabalhar lá e nos preocupava muito a submissão da imprensa mineira ao poder, sobretudo ao Governo Estadual. Passou pela nossa cabeça a possibilidade de fazermos alguma coisa diferente. A meu ver dizer o que não se dizia. Mas éramos dois jornalistas, estudantes, mal tínhamos recursos para viver. Eu tinha 23 anos e ele 24 anos. Arrumamos algum apoio por fora e lançamos o primeiro número, que se chamou Binômio, por que o Juscelino (Juscelino Kubitschek) havia lançado à época, como governador de Minas, o seu programa que ele resumiu em duas palavras: energia e transporte, o Binômio energia e transporte. Ai nós resolvemos, então, lançar o jornal e o apresentamos como ‘contra o Binômio da mentira e da impostura, energia e transporte, o Binômio da verdade: sombra e água fresca’. Esse era o nosso. E começamos, após o primeiro número tivemos uma grande aceitação popular. Um jornal pequenininho e feinho, mas pelo que dizia em poucas horas tinha se esgotado. Naquela época a cidade era pequena e a gente aproveitava os meninos que vendiam, que saiam gritando pelas ruas da cidade o que o jornal dizia. Aí tiramos a primeira edição, ela se esgotou. Tiramos a segunda, ela se esgotou, tiramos a terceira, esgotou. Nós ficamos inteiramente entusiasmados com o jornal e resolvemos seguir. E assim foi. Gradativamente o jornal foi crescendo e teve três fases.
A primeira fase, então, foi a do humor?
É, a primeira fase, como nós não tínhamos recursos, o humor exige pouco espaço, você com uma frase vende a edição. O humor tem uma força criadora e destruidora fantástica. Então nós optamos pelo humor, porque não tínhamos condições de manter uma redação, e tanto eu quanto Euro tínhamos feito humor em nossas cidades. Umas coisas muito engraçadas, com ‘Juscelino foi a Araxá e levou Rolla’, uma frase só que vendeu a edição inteira. Não tinha nada de mais, ele foi a Araxá e levou consigo o empresário Joaquim Rolla. Nós pusemos em caixa alta, para confundir , para fazer o duplo sentido. Nós não fazíamos pornografia, o duplo sentido nós usávamos muito. Depois veio a segunda fase. Mas o humor tem uma coisa, ele se esgota rápido, mesmo que você renove, os programas de humor não duram muito tempo. Então nós resolvemos mudar, mesmo por que ao contrário do Juscelino Kubitscheck, que era um homem alegre, sem rancor, não era de perseguir imprensa, entrou no Governo o Bias Fortes, que era um ser corpulento, que nós dizemos provindo das piores cavernas da política de Barbacena. Ele iniciou uma perseguição muito grande ao jornal e nós até tivemos que passar a imprimir no Rio, porque as gráficas de Belo Horizonte, intimidadas pelo Governo, se recusavam a fazê-lo. Nós nunca tivemos gráficas, por dois motivos: o primeiro porque não tínhamos dinheiro, o segundo porque não queríamos que elas fossem depredadas. Nós imprimíamos em gráficas diferentes da cidade.
Houve algum receio em publicar matérias mais ousadas?
Nós não tínhamos receio, nós tínhamos cuidados. Nós nunca andávamos sozinhos. Eu não era solteiro, já tinha algum dos meus filhos, a gente tomava cuidados, porque nos ameaçavam, nos agrediam, há vários casos de agressão.
E a segunda fase do Binômio?
A primeira frase foi mais ou menos de 1952, quando ele circulou, até 1956. Essa mim”. Eu lhe disse. “Isso ai não é merda segunda fase, panfletária, muito agressiva, não, é reportagem muito bem documentafoi de 1956 até 1960. Em 1960 nós tamda. Nós podemos provar”. E falei que eu bém achávamos que estávamos fazendo era o responsável por tudo que saia no joruma abertura. Como Belo Horizonte não nal. Ele. “Então você é um filho da puta”, tinha uma imprensa que informasse, nós e me agarrou pelo pescoço, na minha reachávamos que devíamos assumir, até cerdação. Mas ele não sabia com quem ele to ponto, esse papel, embora sabendo que estava lhe dando, eu lutava muito bem, eu nós nunca poderíamos ser um jornal diário. era faixa marrom naquela época, no judô. Então resolvemos transformar o Binômio Ele tomou um ‘coro’ homérico na redação num semanário de grandes reportagens, do jornal. Quando nos separaram, ele estadenúncias, cobertura cultural. E foi um va com o olho esquerdo fechado, com um sucesso muito grande, mesmo porque em hematoma enorme do lado direito, a rou1961, quando o presidente Jânio Quadros pa toda desgrenhada. Lamentável, não me renunciou, teve que assumir o lugar dele vanglorio disso não. Mas o que eu podia o vice, que era o João Goulart. As Forças fazer? Ser agredido na minha redação, com Armadas disseram que não iam aceitá-lo os antecedentes dele, com o que ele fazia como presidente. Foi um golpe de Estado com os jornalistas? Ele os obrigava a enque os ministros militagolir o jornal com criticas a res tentaram dar. Mas ele e dava purgante para eles o Brizola (Leonel Brieliminarem o jornal. E esse zola, então governador cidadão ainda tem o nome do Rio Grande do Sul), Quando começou dele no estádio lá de Vitória. levantou o estado, foi leessa tentativa de vantando o Sul do país, e O que aconteceu golpe nós já entraos militares tiveram que em seguida? recuar, mas assim mesmos duramente Ele falou que isso não ia fica mo exigindo que o João assim e eu falei. “Você não denunciando Goulart assumisse o govai voltar aqui sozinho, né? verno com um regime Nem nós vamos resistir”. E parlamentarista que tolhe dito e feito. Três horas demuito as ações do poder pois, mais de 200 homens, executivo. Quando começou essa tentasob as ordens de seus respectivos comantiva de golpe nós já entramos duramente dantes e coronéis, cercaram o prédio, sudenunciando. biram e destruíram tudo. Aquilo teve uma repercussão no mundo inteiro. Mas dianComo foi o episódio com o te disso, o Governo Goulart, mesmo sem general João Punaro Bley, muita força por causa do parlamentarismo, comandante da Infantaria os removeu daqui, por que a repercussão Divisionária da 4ª Região foi grande. Chegou 64 era hora do acerto de contas comigo. Fizeram de tudo para Militar (ID-4)? me pegar, mas não conseguiram. Não ia fiNa Associação Comercial, ele fazia uma car lá a espera deles, né? Eu tive que sair, palestra lá, ele disse que era preciso que os democratas se unissem para deter o por que não havia condição de ficar aqui. avanço comunista, que ameaçava a democracia no Brasil, a mesma conversa que Qual foi a postura dos outros levou ao golpe de 64. Diante disso, dessa veículos de comunicação em palestra dele, nós mandamos dois repórteMinas em 1964? res a Vitória, no Espirito Santo, onde ele Eles apoiaram o golpe. Quem não apoiou havia sido Interventor do Estado Novo, no a preparação golpista, quem anunciou a regime Vargas, e cometido as piores tropepreparação golpista, fomos nós e o jornal lias. Chegou a ter campo de concentração Última Hora, que era ligado ao presidenpara os presos políticos. Diante disso nós te Jango. Todos apoiaram, tanto em Minas publicamos uma matéria sensacional que como no resto do Brasil. dizia. ‘Quem é afinal esse general Punaro Bley?’, uma manchetinha, e depois vinha o título principal. ‘Democrata hoje, Fascis- Como foi para o senhor ta ontem’. Isso saiu numa segunda feira, e os dias 31 de março e numa quinta-feira ele me telefonou dizen- 1º de abril de 1964? Bem, foi muito interessante, porque no do que queria conversar comigo. Aí falei dia 29 eles puseram em prática aqui o que que estava às suas ordens, e ele foi à redachamamos de Operação Gaiola. Era para ção. Mas como era uma questão pessoal, prender todas as pessoas suspeitas de reele devia ter ido à paisana, mas não. Ele lações com o governo, e naturalmente eu foi fardado, com suas insígnias de militar, estava nessa lista, porque o jornal denuninclusive levando aquele bastão metálico ciava a preparação golpista. Foi um dos símbolo de poder militar. Não devia fazer jornais que mais atuou no Brasil nesse isso, fez assim para me intimidar, como ele campo. Durante três anos vínhamos alerfazia no Espírito Santo com os jornalistas. tando que se fazia articulação e que incluEu o recebi na redação do jornal e disse sive a depredação (do Binômio) fazia parte para ele se assentar para a gente conversar. desse esquema. No dia 29 de manhã, eles Ai ele disse. “Não vim cá para conversar, foram ao jornal para me prender. Mas vou eu quero saber quem fez essa merda contra
André Correia
dizer que tenho uma estrela extraordinária, sabe? Era um general reformado com dois tenentes, quando eles subiam por um elevador, eu descia pelo outro, e nos cruzamos no caminho. Cheguei lá em baixo, e o Geraldino, que era um negão de quase dois metros, porteiro do prédio, falo.: “Cai fora Zé Maria, que os homens estão aí te procurando”. Acredito que foi o conselho mais sábio que recebi na minha vida. Caí fora, desapareci. Fui para São Paulo, esperei lá um pouco. Ficamos dois meses lá, ainda na esperança de que tivesse alguma reação. Como não via e começaram a perseguir minha família aqui em Belo Horizonte, meus amigos, não tinha mais jeito não. Fui para o Rio, entrei na embaixada da Bolívia. Depois fui para o Chile. Oito anos depois, houve o que houve. A queda, derrubada do presidente Salvador Allende e a implantação da ditadura de Augusto Pinochet.
Ao contrário de Chile e Argentina, no Brasil não houve julgamento e condenação dos envolvidos em tortura e assassinatos. A que se deve isso? A abertura no Brasil resultou de uma negociação com o governo. Nos outros países foi o povo à luta, a população conquistou a anistia. Aqui ela resultou de um entendimento, que é muito da mentalidade brasileira, independência, república, essas coisas. Um acordo entre as elites. Ela nasceu assim, tanto que quem propôs a anistia ao Congresso foi o governo torturador, foi o governo militar. Quer dizer, oficialmente a iniciativa da anistia partiu daqueles que cometeram os crimes contras os direitos humanos, e eles procuraram resguarda-se, anistia para todos, como se pudesse comparar quem estava desarmado, fuzilado, metralhado, torturado com todo mecanismo de repressão do Estado, àqueles que tinham por trás de si todo um mecanismo, a força do Estado. Como se fossem coisas equivalentes. Então, esse processo, naquele momento, pareceu ser um avanço, que nos permitiu voltar ao Brasil, sair da clandestinidade, mas em longo prazo foi um retrocesso, por que nos impediu de julgar aqueles que cometeram os piores crimes contra os direitos humanos.
O senhor acredita que atualmente exista espaço para um jornal como o Binômio?
Existe. O país está precisando disso. Um humor crítico, um humor descomprometido com a rotina. Mas existe. Uma publicação como a Carta Capital, que está com tiragem (boa), até certo ponto é mais independente que o resto da imprensa. Eu acho que poderia se fazer uma belíssima comunicação nessa altura da história brasileira. Aqui está faltando.