Daniel Lopes
HÓQUEI EM LINHA É UM ESPORTE QUE VEM GANHANDO ESPAÇO NA CAPITAL. EXISTEM DOIS TIMES DESSA MODALIDADE EM BELO HORIZONTE. PÁGINA 12
Beatriz Breder
UM NOVO ESTILO DE COMÉRCIO CHEGA A BH COM USO DE KOMBIS. OS FOOD TRUCKS VENDEM ALIMENTOS DE FORMA DINÂMICA E INOVADORA. PÁGINA 11
Michelly Thomaz
ANA DURÃES É UMA ARTISTA PLÁSTICA QUE, ATUALMENTE TRABALHA COMO GHOST PAINTER DO ATOR PAULO VILHENA EM NOVELA DA TV GLOBO PÁGINA 16
marco jornal
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 42 . Edição 310 . Dezembro de 2014
Animais abandonados são acolhidos por ONGs de BH Em matéria destaque o MARCO mostra como pessoas e voluntários de ONGs auxiliam no resgate de animais abandonados nas ruas da capital. Após acolhidos, esses bichinhos recebem cuidados especiais e caso necessário são levados também para centros de controele de zoonozes de BH, onde passam por tratamentos para doenças. Desta forma, os animais podem posteriormente ser encaminhados para um novo lar. Os voluntários, que se reconhecem como amantes da causa animal, não recebem nenhum tipo de ajuda ou incentivo do governo. Por isso, recorrem à solidariedade de outros defensores da causa a fim de obter recursos suficientes para ajudar os animais encontrados. As redes sociais têm sido uma importante ferramenta na divulgação do trabalho de ONGs e autônomos envolvidos na recuperação de bichinhos de estimação. A matéria traz dicas de como proceder no caso de encontrar cachorros ou gatos abandonados. PÁGINAS 8 E 9
Pedro Albuquerque
D.Rita relembra histórias de Getúlio Vargas Rita Alvim de Moraes, uma senhora de 91 anos, conta em matéria especial para o Jornal MARCO como foram suas experiências quando secretária do gabinete de Getúlio Vargas. Dona Rita relembra casos, momentos e histórias marcantes do tempo em que conviveu, não só com então Presidente da República, como também com outras figuras importantes na cena política brasileira. A senhora, que também trabalhou com o Presidente Juscelino Kubitschek, relembra ainda o dia da morte de Getúlio. Na ocasião, ela e outros funcionários precisaram ficar confinados no Gabinete durante toda a noite para que as investigações fossem realizadas. Thiago Morandi
Com a chegada do Natal, o comércio no Coração Eucarístico cai drásticamente, já que os alunos da PUC Minas entram de férias nesse período. Os preços de serviços e produtos fornecidos na Região, quando comparados com os praticados em bairros similares, não possuem grandes diferenças, exceto no caso de comidas a quilo que são mais caras no Coração Eucarístico. Enquanto isso, no São Gabriel, comércios especializados em festas infantis se consolidam. PÁGINAS 3 E 4
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LEIA AINDA
Trem que liga BH a Vitória foi modernizado O transporte ferroviário que realiza um trajeto de 13 horas, ligando a capital mineira a Vitória, passou por reformas, contando agora com classe executiva. Os novos vagões possuem ar condicionado e poltronas diferenciadas, para tornar a longa viagem mais confortável aos passageiros. O trem reformado traz recordações do antigo Vera Cruz, que ligava Minas Gerais ao Rio de Janeiro, para os passageiros que nele viajaram O novo transporte também carrega consigo muitas histórias, como a de mineiros que perderam o trem ou tiveram problemas para embarcar. PÁGINA 10
Comércio no Coreu e São Gabriel
Centenário Aloysio de Oliveira Em 2014, os amantes da música celebraram o centenário de nascimento de ilustres compositores brasileiros: Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues e o maestro Guerra Peixe. Além destes grande nomes, Aloysio de Oliveira recebe destaque. Aloysio participou de forma intensa na história da música brasileira. Foi integrante e líder do Bando da Lua, conjunto pioneiro na hormonização das vozes aos moldes americanos e, também, responsável pela trejetória de Carmem Miranda. PÁGINA 14
Luísa Faria
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Comunidade
editorial
O fim de ano está em clima de despedidas ISABELA ANDRADE
Morador procura seu cão desaparecido Dodge, um vira-lata bege e de pequeno porte, desapareceu no São Gabriel há cerca de três meses. Seu dono, Marcelo Damasceno, é apaixonado por animais e oferece uma recompensa de mil reais para quem encontrar e devolver o seu cachorro RAFAELA ANDRADE
4º PERÍODO
4º PERÍODO
O MARCO chega à edição 310 com importantes assuntos para a comunidade. Oferecemos a você, leitor, informações sobre o comércio da Região Noroeste, que apresentou uma queda mesmo com a chegada do Natal, pois muitos estudantes residentes no bairro Coração Eucarístico voltam para a casa de suas famílias, nessa época do ano. Aqui você confere os motivos que ocasionaram o fechamento de comércios especializados no setor alimentício. Também no Coração Eucarístico, o espaço do Parque das Jabuticabeiras, usado para a prática de exercícios físicos tem um grupo que oferece café da manhã toda última sexta-feira de cada mês. Essa edição destaca o crescimento do comércio especializado em festas infantis no São Gabriel, contando a história de duas irmãs que ganham a vida alugando fantasias e vendendo artigos para festas de aniversário. Ainda na Região Nordeste, o MARCO fala do amor de um dono que está procurando seu cãozinho perdido. O jornal também mostra assuntos relacionados à capital mineira, como a história de pessoas e ONGs que tem como missão resgatar das ruas animais que foram abandonados e encontrar para eles um lar. A edição traz histórias que estão além de Belo Horizonte, como as experiências da ex-secretária de Getúlio Vargas, Dona Rita, e o que faz a Associação dos Caçadores de Assombrações de Mariana Além de trazer novidades, o MARCO fecha 2014 em clima de despedidas. É nessa edição que, com muito carinho, nos despedimos do editor Fernando Lacerda e do subeditor João Carlos Firpe Penna, que seguem novos rumos após terem realizado um excelente trabalho à frente do jornal por muitos anos, contribuindo para seu reconhecido papel na formação de ótimos jornalistas. Também foram responsáveis por consolidar a importância do jornal na comunidade no entorno da PUC Minas. Deixarão muitas saudades em seus alunos e na equipe do MARCO. Despedimo-nos também das monitoras de texto Juliana Gusman, Karen Antonieta, Giovanna Evelyn e a monitora de fotografia Camila Navarro, que completaram seus períodos de estágio. Foi um imenso prazer compartilhar experiências com todos.
expediente jornal marco
Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal Puc Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Clara Rodrigues, Bárbara Souto, Giovanna Evelyn, Isabela Andrade, Juliana Gusman, Karen Antonieta, Mariana Campolina Monitores de Fotografia: Camila Navarro, Lucas Félix Monitor de Diagramação: Elisa Ferreira CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares
A descrição detalhada do cãozinho Dodge, desaparecido desde o dia 4 de agosto, no bairro São Gabriel, e o valor de mil reais oferecido como recompensa a quem encontrá-lo, chama atenção no anúncio feito por seu dono, o administrador Marcelo Damasceno. Vira-lata, bege, de pequeno porte, rabo comprido e patas dianteiras com pontas brancas, o cão era o xodó de Marcelo há seis anos. Já foram seiscentos panfletos distribuídos pelo bairro, entregues pelo administrador de casa em casa, anúncios em páginas de animais desaparecidos no facebook e em sites. Até na televisão, no quadro Pet Shop do Vianna, na Record, o anúncio foi veiculado. Ele conta que Dodge não saía sozinho, mas tinha o costume de andar no passeio de casa quando o pai dele entrava com o carro na garagem, por volta de seis e meia, sete horas da noite. No dia 4 de agosto, não foi diferente, mas quando o pai de Marcelo foi fechar o portão o cão tinha sumido. Uma vizinha comentou que viu alguém puxando um cachorro pela coleira, mas não imaginou que pudesse ser o Dodge. “As pessoas falam que ele deve ter ido atrás de uma cachorra, mas não foi, porque ele é castrado. Então, imagino que foi roubado mesmo, e está na casa de alguém que não quer devolver. Se ele tivesse perto já tinha voltado, porque conhece bem o bairro e fazer caminhada com meu pai. Mesmo não andando sozinho, pelo faro, acredito que ele voltaria”, diz Marcelo, chateado. Dodge era um cachorro manso, dócil, nunca avançou ou mordeu alguém, mas como brinca o dono: “um pouco anti-social com estranhos”; era mais sistemático, “na dele”. Um vizinho ofereceu o cão quando ele ainda era filhote e como a família de Marcelo é apaixonada por animais, resolveu adotá-lo. O nome Dodge foi escolhido levando em conta a paixão do dono por carros antigos, estilo anos 70. Eles sempre tiveram cachorros em casa, a maioria com nomes de automóveis ou associados ao rock, como Luka (da mú-
Marcelo aproveita a companhia de Dodge antes do desaparecimento do cão
sica “Luka” de Suzanne Vega), que é o nome do cachorrinho “Cocker-poodle”, que está com a família há 12 anos e é mais apegado à mãe de Marcelo. Dodge era o companheiro de Marcelo Damasceno. “É igual uma pessoa da casa. Você acorda de manhã e ele está lá te chamando; chega em casa e ele está te esperando. Enquanto eu não deitava, ele não ia deitar também; ficava junto comigo. Ele tinha medo de foguete; em dias de jogos de futebol subia no sofá e ficava passando a pata na gente pra colocar a mão nele. Achava engraçado, quando a gente colocava a mão ele ficava quietinho. O Dodge era meu chapa, meu companheiro”, afirma. Marcelo está com saudade de quando chegava do trabalho e o cão ia correndo encontrá-lo. Ele conta que todo dia volta pra casa, pensando: “Será que já encontraram? Será que ele vai estar lá esperando?”. Os mil reais ofertados como recompensa a quem encontrar o cão, é a demonstração de desespero do dono. Ele diz que já recebeu diversas ligações, andou por quase todas as ruas da cidade, já foi na região do barreiro atrás de pistas; não deixou passar nenhuma, mas ainda não
encontrou algo concreto que leve ao paradeiro de Dodge. A maldade de pessoas que passam trote e pistas falsas também foi sentida por Marcelo: “Foi um carroceiro lá em casa com um cachorro em cima da carroça, falando “Aqui o seu cachorro, cadê os mil reais”? Coisas absurdas. Ligaram dizendo que tinham achado o Dodge no posto de gasolina, que eu podia ir lá e levar o dinheiro, e não tinha nada a ver”. Marcelo não sabe mais o que fazer para encontrar seu cão e não perde as esperanças. Chegou ao ponto de ir toda semana em Zoonoses (centros que tratam de doenças em cachorros), para ver se o cão estava lá e enviou o anúncio de desaparecimento para todas as clínicas veterinárias que conhece. Ele está aflito com a situação em que o cão pode estar, pois Dodge tinha problemas de rins e fazia tratamento de leishmaniose há mais ou menos dois ou três anos. Sem os remédios que tomava não consegue sobreviver por muito tempo, Marcelo levava-o ao veterinário todo mês ou até mais vezes. Ele diz que seus pais também estão sentindo muito o sumiço. “Foi o primeiro cachorro que notei que meu pai teve afinidade. Ele fazia caminhada
Arquivo Pessoal
e levava o Dodge junto; o cachorro era tão disciplinado que ia sem coleira ao lado do meu pai. Ia e voltava, não tinha problema”, conta. Marcelo acredita que caso Dogde tenha mesmo sido roubado, ele vai estar acuado, triste. Ele faz um apelo aos que encontrarem cães ou animais de estimação aparentemente abandonados: “Quando ver um cachorro abandonado tire foto no celular e publique no Facebbok. Isso ajuda demais, porque as vezes o cachorro está ali perdido, o dono dele está procurando e quando você coloca a foto no facebook, facilita o resgate”. Marcelo acredita que o ser humano tem que evoluir muito quanto à proteção aos animais e se considera um pouco radical em relação a esse assunto; ele acha que o tratamento dado aos animais tem que ser igual ou quase o mesmo dado aos seres humanos. Parou de comer carne no início do ano por causa de seu amor pelos animais: “Eu acho uma incoerência a gente gostar tanto de bicho e comer carne. Não estou parando por causa de saúde, é porque eu gosto mesmo dos animais. Parei com a carne de boi e porco; continuo comendo frango e peixe, mas vou parar também”.
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Comunidade
Consumo em queda no Natal Com a crise econômica vivida pelo país neste ano, o comércio de Região Noroeste se prepara para uma retração durante o Natal, período em que as vendas costumam estar em alta DANIELLE SCARLETH MAILLA DE SOUZA 3º PERÍODO
Com a economia em retração desestimulando o consumo, os lojistas dos bairros Coração Eucarístico e Minas Brasil apostam na fidelização dos clientes para aumentar suas vendas de Natal. Os comerciantes da região buscam novas alternativas para atrair os consumidores, que vão desde coquetéis nas lojas até deixar que os clientes levem os produtos para experimentar em casa. Para atrair e fidelizar os consumidores Maria Aparecida Garrido, gerente de uma loja no bairro Minas Brasil, passou a fazer um planejamento para garantir as vendas do ano inteiro. A loja criou um cadastro com todos os dados dos clientes e, frequentemente, manda e-mails com ofertas e promoções. “Passamos a deixar o cliente levar e experimentar o produto na casa dele e geralmente dá certo, é muito difícil o produto voltar para a loja de novo”, relata. Outra loja do mesmo segmento, localizada no bairro Coração Eucarístico, aposta em uma forma diferente para atrair os
consumidores: além de fazer uso do telemarketing, eles oferecem bebidas como café, chá ou suco para clientes, dependendo do clima. Os lojistas acreditam que essas estratégias são um diferencial e cativam os consumidores, contribuindo para que eles levem os produtos e se tornem compradores assíduos do estabelecimento. As lojas de vestuário, principalmente, recorrem à forma tradicional. As promoções e descontos nas peças são tidos como uma forma de atrair os consumidores. Mas, alguns estabelecimentos simplesmente confiam na fidelidade dos clientes que já fizeram ao longo do tempo e não acham necessário ampliar o mercado de vendas. CENÁRIO ATUAL
Maria Aparecida conta que há dois anos, no período das compras de Natal, a loja estava sempre cheia de clientes. Um cenário bem diferente deste ano. Atualmente, já no mês de novembro, o sino da porta que anuncia a chegada de novos clientes raramente toca. Alguns lojistas acreditam que esse período de queda de consu-
mo é transitório, apontando a Copa realizada no Brasil neste ano e as eleições como motivos que contribuíram para a redução nas vendas. Os comerciantes reconhecem que a situação econômica do país está num estágio de retração e que o fato é algo global. Entretanto, as opiniões divergem no que diz respeito à expectativa de vendas. Os mais otimistas, como alguns lojistas se autonomeiam, acreditam que este momento é atípico, tendo grandes esperanças na melhoria do número de vendas. Outros, porém, não esperam melhorias neste cenário, como é o caso de Irene Maria da Rocha, vendedora há 22 anos de uma loja de roupas no bairro Coração Eucarístico . “Não temos expectativas nenhuma de melhora. As pessoas estão todas endividadas, todo mundo que vem comprar fala que está sem dinheiro”, relata a vendedora. PREÇO ELEVADO
A principal crítica dos consumidores é a elevação significativa dos preços dos produtos em geral. Alguns são compreensíveis quanto ao aumento do valor dos produtos que depen-
Maria Aparecida utiliza várias estratégias para fidelizar clientes
dem da chuva, o que é uma justificativa para o encarecimento devido ao período de seca. Entretanto, compradores relatam que o maior problema é referente aos outros setores, principalmente de vestuário. “Está tudo mais caro, no shopping e aqui no bairro também. E isso dificulta muito para o consumidor, as compras do final de ano com certeza vão ficar mais difíceis”, afirma a consumidora Marcela Rosa de Lima Machado, que saiu de uma loja sem
comprar nada alegando que um vestido teve um aumento de 100% do preço em comparação há alguns anos. Esse aumento faz com que alguns consumidores assumam uma nova postura ao realizar suas compras. Muitos afirmam que terão que reduzir os seus gastos e buscar alternativas mais acessíveis, para isso recorrem a estratégias como o planejamento financeiro. Ednei Almeida da Costa e sua noiva procuram realizar uma pesquisa em diversas lojas de de-
Danielle Scarleth
partamento e no shopping, antes de adquirir os presentes de Natal. Para não extrapolar muito o valor do orçamento, alguns clientes optam por selecionar quem receberá os presentes, neste caso, os privilegiados são as crianças. “O que eu compro mais é para as crianças, mas provavelmente vou ter que pagar mais caro”, conta a aposentada Marilena Guimarães. Mas em um ponto lojistas e consumidores concordam: Natal sem presente, não é Natal.
Negócios fecham no bairro Coração Eucarístico mas voltou à R$ 3 com a proximidade do verão. João Vítor, 29 anos, estudante de direito da PUC Minas no bairro Coração Eucarístico, frequentador do ‘Açaí Pé di Frutta’, relata que o comércio vende salgados e vitaminas a um preço menor do que as lanchonetes da região. “Além do preço, venho aqui porque gosto muito do açaí”, conta João Vítor. MANUTENÇÃO Aparecida Jaques, gerente da loja Açaí Pé di Frutta, dá dicas de como se manter no comércio ISABELA ANDRADE 4º PERÍODO
O comércio do Coração Eucarístico está chegando ao fim do ano em baixa. Alguns estabelecimentos como o ‘Quiznos’, ‘Refrescaí’ e ‘Taco Show’, todos localizados na Rua Coração Eucarístico de Jesus, não chegaram a completar um ano de funcionamen-
to. A crise atinge especialmente o setor alimentício. Alguns comerciantes como Wagner André, 33 anos, proprietário da drogaria ‘Betel’, acreditam que o alto preço do aluguel seja um dos fatores que provocam o fechamento das lojas. “Prevalece o comércio mais antigo e os maiores lojistas”, diz Wagner.
Para Aparecida Jaques, 35, gerente geral do estabelecimento ‘Açaí Pé di Frutta’, o que faz grande parte do comércio fechar é a falta de planejamento. “Por mais que exista um público alvo muito grande na região, a pessoa tem que se programar. No meu caso eu vendo vitamina. Mas e no frio? Eu tenho que ter uma se-
Lucas Félix
gunda opção”, afirma. Esse plano ‘B’ desenvolvido no Açaí Pé di Frutta inclui no cardápio a opção de bebidas para o clima frio, como o chocolate quente e uma variedade de cafés. O estabelecimento também colocou o preço da vitamina a R$ 2,50, para estimular o consumo na estação mais fria do ano,
Alexandre Fernandes, 26 anos, estudante de engenharia de produção, que é um dos caixas do restaurante ‘A Granel’, conta que muitos comerciantes que se aventuram em iniciar um novo negócio, não sabem como manter o estabelecimento depois de aberto. “Muitas pessoas que abrem um comércio não sabem como administrá-lo”, diz Alexandre. É a falta de preparo para manter um estabele-
cimento que faz com eles fechem em pouco tempo. “No meu curso aprendi que há uma estatística, em que 27% dos estabelecimentos do comércio fecham em menos de um ano e sete meses”, relembra. Aparecida Jaques, a gerente do ‘Açaí Pé di Frutta’, fez um curso no Serviço de Apoio à Pequena e Microempresa de Minas Gerais (Sebrae) para se preparar melhor para o cargo que ocupa. Aparecida fala que no curso aprendeu que é necessário analisar a região em que o estabelecimento abrirá, para evitar que muitos comércios do mesmo setor se situem no mesmo local. “No curso que fiz eles ensinam que devemos olhar em qual região o comércio irá abrir, para saber qual tipo de concorrência seu comércio terá”.
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KAREN ANTONIETA 8º PERÍODO
A indústria de festas infantis tem crescido cerca de 30% em todo o país, de acordo com dados da Associação Brasileira de Buffets Infantis. E no bairro São Gabriel, em BH, a realidade não é diferente. Há lojas variadas que oferecem desde decoração e fantasias, até buffets e salões de festa com espaço para um grande número de convidados. E foi pensando neste cenário que Luciana Othechar Ferreira, 35 anos, resolveu empreender e, atualmente, possui uma loja de artigos decorativos para festas infantis, a ‘Varinha de Condão’, na Rua Anapurus. Moradora do São Gabriel, ela atende clientes não só do bairro, mas também de outros lugares de Belo Horizonte e Região Metropolitana. A loja teve seu início na Avenida Prudente de Morais com uma de suas tias há 16 anos, porém algum tempo depois foi fechada e Luciana trouxe o estabelecimento para o São Gabriel. “Hoje temos uma concorrência boa aqui no bairro. Quando eu abri, eu dominava o mercado”, afirma. A loja ‘Varinha de Condão’ conta atualmente com nove funcio-
Comunidade
Lojas especializadas em festas infantis dão certo As irmãs Othechar abriram lojas especializadas em artigos de festas e fantasias de crianças. Essa iniciativa é resultado do crescimento da deman-
da por festas infantis. O aumento deve-se ao fato de que os pais querem comemorar o aniversário de seus filhos, ainda que de forma simples
Luciana Othechar ressalta que o comércio de festas infantis tem crescido
nários, além da proprietária. Luciana pretende expandir a loja e abrir uma empresa que ofereça buffet no futuro. Ela acredita que o comércio de festas infantis esteja crescendo, pois os pais e mães sempre procuram agradar seus filhos. “Por mais que estejam em crise eles querem fazer uma festa por mais simples que seja. A gente tenta adequar o evento ao bolso do cliente”, de-
clara. A decoração mais pedida pelas meninas é a da animação Frozen, da Disney. E os meninos são mais clássicos, apostando nos super-heróis. Luciana tenta sempre se manter atualizada em relação aos temas e desenhos infantis que surgem. Sua prima, Isabella Othechar da Silva, 29, abriu uma loja de fantasias ao seu lado há três anos, intitulada ‘Bella Fantasia’. Isabella sempre
Karen Antonieta
morou no São Gabriel e foi aconselhada por Luciana, que afirmava que muitos de seus clientes perguntavam onde poderiam alugar fantasias e que Isabella poderia abrir uma loja neste ramo para atender a demanda do bairro. “Comecei com vinte peças e aos poucos fui comprando mais. Alugava uma peça e comprava outra com o dinheiro. Hoje em dia até peço para uma pessoa confeccionar
algumas peças para a gente”, conta. Segundo ela, ter uma loja ao lado da prima é positivo, pois uma indica a outra. “Tem gente que até confunde as lojas, liga para lá pedindo fantasias e liga para cá pedindo cenários para festas”, brinca. Além de alugar fantasias, para complementar a renda Isabella faz lembrancinhas para festas, indicada também por Luciana. Isabella pretende levar a ‘Bella Fantasia’ para a internet, criando um site de vendas de fantasias com entrega para todo o Brasil. Ela afirma que a fantasia mais alugada por meninas é a da Minnie, e a mais alugada pelos meninos é a do Chaves e de presidiário. As épocas em que mais aluga são carnaval, festas juninas, halloween e fim de ano. Diferente da prima ela trabalha sozinha, contando com a ajuda do marido aos sábados e contratando um funcionário para auxiliar nos momen-
tos mais festivos do ano. Ambas já pensaram em sair do bairro São Gabriel e ir para bairros que seriam mais lucrativos. Porém, desistiram da ideia pela comodidade de trabalharem onde moram. As duas afirmam que a maioria dos clientes pertence a outros bairros, mas que ainda assim o São Gabriel possui um número considerável de pessoas que procuram pelos serviços referentes à festas. Para divulgar seus empreendimentos, elas possuem sites na internet: varinhadecondao.com. br e bellafantasia.com. br. Raramente fazem panfletagem, costumam anunciar em guias e catálogos do bairro, revistas do ramo e pelas redes sociais, principalmente o Facebook. Mas ambas garantem que o principal meio de divulgação é o boca a boca. “É a satisfação do cliente que traz o retorno em indicações”, declara Luciana.
No COREU o preço de comida a quilo é mais alto CALEBE SOUZA TIAGO CARMINATE 1º E 2º PERÍODOS
Alguns moradores do Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste de Belo Horizonte, tem se queixado dos preços de produtos e serviços alegando supervalorização do bairro. No entanto, o que se verifica na prática, em comparação com outros bairros de nível econômico parecido, como por exemplo o bairro Castelo na região da Pampulha, é que não existem grandes diferenças nos preços praticados pelo comércio. Em uma pesquisa feita por repórteres do Jornal Marco foi avaliado o preço de alguns itens comuns à mesa de grande parte das pessoas como arroz, feijão, um tipo de carne e pão francês em diferentes estabelecimentos no Coração Eucarístico e vizinhança. Além dos itens mencionados foi avaliado o preço da comida a quilo em alguns restaurantes. O que se observa de fato, é que não existem variações significativas dos preços do arroz, do feijão,
da carne e do pão francês. Em contrapartida o preço da comida a quilo se difere consideravelmente de um bairro para outro. No caso do bairro Castelo, a comida a quilo é mais barata. A economista Taiane Campos, 55 anos, explica a questão dos preços elevados nos restaurantes do Coração Eucarístico como sendo resultado de uma grande demanda. Segundo ela o bairro conta com uma maior densidade demográfica principalmente durante o dia devido ao funcionamento do comércio e da universidade. Taiane diz que apesar de haver diferenças na qualidade e variedade oferecidas pelos estabelecimentos, mesmo os restaurantes menores podem equiparar seus preços aos demais pois ainda assim terão público. Já no Castelo ocorre o contrário pois o bairro não conta com uma presença do comércio tão intensa por ser mais residencial. Ainda de acordo com Taiane, um fator que influencia os preços no Coração Eucarístico é a sua localização geográfica. “Ele é isolado em si, pois o co-
Restaurantes na região do Coreu têm preço mais alto quando comparados à outros pontos da capiral mineira
mércio em grande parte se concentra nos arredores da universidade”. Fato este, que torna cômodo aos frequentadores e moradores do bairro, uma vez que encontram os serviços e produtos que necessitam sem grandes deslocamentos. Nesse caso, ela explica que a presença da universidade no bairro influencia os preços do comércio no sentido de contribuir para o aumento do fluxo
de pessoas tanto na própria universidade quanto em seus arredores. É o que na prática se caracteriza como a lei da oferta e da procura, isto é, quanto maior a procura mais altos tendem a ficar os preços. Ao serem questionados se de fato consideram os preços elevados, moradores e frequentadores do Coreu dividem opiniões. Alguns moradores afirmam que os preços são
muito elevados. É o caso de dona Dometila Sifuentes Melo, 80 anos, aposentada, moradora do bairro há 20 anos, que diz que “aqui os preços são explorados”. É também o caso de um grupo de 4 estudantes de História da PUC Minas do Coreu que dizem trazer a própria comida pois os preços de restaurantes em torno da universidade é muito alto. Há também aqueles que
Camila Navarro
dizem o contrário. É o caso do aposentado Antônio Cardoso da Silva, 77 anos, morador do bairro. “Os preços são todos iguais, com exceção de algumas promoções aqui e ali”, observa. Segundo ele, na maioria das vezes nem vale a pena ir atrás de determinadas promoções pois só o valor que seria gasto com o deslocamento até outro bairro já seria maior que o valor do desconto oferecido.
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Comunidade / Cidade
Café da manhã une moradores Realizado uma vez por mês, o café da manhã no Parque das Jabuticabeiras, na Região Noroeste, é uma forma de aproximar moradores que frequêntam o local para a prática de atividades físicas
Moradores que usam o espaço público para se exercitar iniciam o preparo do café da manhã no Parque das Jabuticabeiras
DÉBORA ASSIS 2º PERÍODO O Parque das Jabuticabeiras, localizado na Via Expressa, no bairro Coração Eucarístico, oferece há seis meses, no horário das 7h30 às 9 horas, na última sexta-feira do mês, um
café da manhã para os caminhantes. Esse momento é realizado no ‘Cantinho de Prosa do Parque das Jabuticabeiras’ onde, além do café, há também música, com violão, clarinete e percussão, além de um espaço para revistas e jornais. “Esse café foi tão
interessante que trouxe o pessoal para compartilhar, um momento de todos com bate-papo. Tem o violão e eu mesmo trago meu clarinete para tocar aqui”, conta Djalma José Bois, 65 anos, um dos organizadores. Djalma Bois diz que, no
Débora Assis
início, ele levava o café e a comida, mas, agora, cada um dos caminhantes contribui com algo como bolo, pão de queijo, biscoito, pudim, frutas, leite e sucos. O café costuma reunir cerca de cinquenta pessoas. No dia 28 de novembro, o número de caminhan-
tes no parque era menor devido à chuva e por isso, o café da manhã foi prejudicado, mas ainda assim algumas pessoas participaram após a caminhada. Outros organizadores do café, como Renato Lúcio Lessa, 62 anos e Getúlio Costa de Oliveira, 60 anos contaram que a iniciativa surgiu com o intuito de unir mais as pessoas que caminham na parte da manhã e promover uma confraternização entre elas. A maior parte dos caminhantes vai ao parque todos os dias no mesmo horário, o que faz com que eles já se conheçam e estejam acostumados a ver uns aos outros por ali. “Isso fortalece os laços das pessoas que comparecem aqui diariamente. A gente fica sabendo o nome da pessoa e acaba se envolvendo com a família dela”, diz Maria José Xavier, 63 anos. Os frequentadores do parque participam do café porque é uma oportunidade de poder rir, brincar, contar piada, conversar, dançar, cantar, ler jornais, revistas e até livros que são trocados em uma ‘Feira de Livros’ que acontece também na última sexta-feira de cada mês. Nailza Santos Perei-
ra, 38 anos e Leandro de Moraes Rezende, 28 anos, estavam participando pela primeira vez do café da manhã. “A iniciativa é boa porque socializa o pessoal, confraterniza com todo mundo que vem aqui, então faz uma interação bacana”, diz Leandro de Moraes. Maria José diz que “tem um chá famoso que eles fazem, é de maracujá com abacaxi”, e completa dizendo que é um sucesso entre os frequentadores. José Geraldo Oliveira, 63 anos, diz que o grupo começou com a música. Cada um cantava um pouco ou tocava algum instrumento, então, resolveram colocar o café para complementar. “Foi uma coisa que começou por acaso”, afirma José Geraldo. “A gente vai batendo papo, rindo e contando piada. Com a música é bem melhor, você sai daqui tranquilo, relaxado para enfrentar a dureza do dia com muita alegria”, afirma Mirtes de Oliveira, 61 anos, que diz já ter feito várias amizades durante o café da manhã. “Aqui todo mundo conhece todo mundo, a turma desse horário. Aqui a gente caminha, conversa, brinca, ri, relaxa, bate-papo com os amigos”, completa Héber Meira, 54 anos.
Sons e cheiros característicos da capital mineira MARIANA CAMPOLINA 4º PERÍODO
Belo Horizonte, por ser um enorme centro urbano, tem muitos cheiros diferentes. Esses, juntamente aos sons, dão características específicas e marcantes à certos locais, ruas e avenidas. No centro e em algumas esquinas espalhadas pela cidade, há o odor humano, de urina e suor. Misturados ao barulho do trânsito intenso, das conversas dos transeuntes e gritos dos que anunciam a última e imperdível promoção das lojas, provocam a sensação de caos. Há ainda os odores diversos e misturados dentro dos ônibus e no metrô no horário de pico, assim como o cheiro indefinido do grupo de pessoas em situação de rua que corta a sua frente sob o sol de meio dia. Pensando ainda nos cheiros e sons peculiares - e inquietantes - da capital mineira, logo vem à lembrança a “bagunça organizada” do Mercado Central. Isso porque, locais como esse reúnem, em seus corredores e an-
dares, desde o odor produzido por centenas de animais engaiolados e amontoados nas pequenas lojinhas, até cheiro vindo dos restaurantes e estabelecimentos especializados no ramo alimentício. Para o coordenador administrativo Bruno Machado, 29 anos, o primeiro andar é muito mal planejado. “Acho que não deviam vender bichos vivos ali dentro, porque eles ficam amontoados na mesma gaiola, fazem muito barulho e o cheiro fica ruim. Misturar animais com frutas e outros alimentos não é muito legal”, opina. Segundo a comerciante Renata Ferreira Muniz, 24, que trabalha na loja de animais da mãe e frequenta o local desde pequena, o odor incomoda apenas os passantes. “Quem frequenta aqui sempre, que vem todo dia, acostuma. Mas sempre tem gente que reclama. O problema, que dá mais cheiro, são as galinhas mesmo. Já vi muita gente reclamando também dos queijos”, conta. Já para José Elias Ferreira Sobrinho, 78, que trabalha na loja de produtos
de palha de sua mulher, o que mais aguça o seu olfato é o cheiro da comida nos restaurantes. “O fígado com jiló, o alho na hora de fazer o feijão, o arroz, é muito bom, né!?”, opina. Sobre o material com que trabalha o senhor explica que o cheiro quase não faz diferença, “Já acostumei com a palha e o cipó. E também nem tem tanto cheiro assim”, conclui. A estudante Ana Luiza de Almeida Gonçalves, 20, por sua vez, prefere evitar a área dos animais e de carnes. “Perto dos açougues e restaurantes tem um cheiro muito ruim. Acho que é banha de porco misturada com gordura. Realmente muito desagradável”, conta. Até aqui, seria possível concluir, sem muitas dúvidas, que Belo Horizonte cheira mal. Ou que, no mínimo, os odores desagradáveis são predominantes. Mas há, porém, que se destacar também o cheiro simpático de dama da noite, que em comunhão com o barulho das águas dos chafarizes, transmite certa tranquilidade na área da Praça
da Liberdade. Para a estudante Rebeca Amaral, 20, é exatamente assim. “Moro perto da Praça e passo por lá com muita frequência, seja como caminho para outros lugares ou para a prática de exercícios físicos. À noite o cheiro de dama da noite fica mais evidente e eu o adoro. Me faz lembrar muito da casa da minha avó, porque é um cheiro que ela adora e sempre foi muito presente no quintal da casa dela’’, conta. Há também, nos bairros comerciais, o agradável cheiro vindo das lojas espalhadas pelas ruas. “Adoro o perfume que sinto quando chego em casa. Ele vem da loja aqui em frente, na rua de casa (Santa Catarina, no Bairro Lourdes). É delicioso e se espalha por toda a rua”, conta a secretária Maria Letícia de Andrade, 54. “Na região da Savassi, as lojas também têm fragrâncias deliciosas, que se misturam pelas ruas e quarteirões”, completa. É fácil lembrar ainda da contradição dos cemitérios: o cheiro de flores, que se concentrados em
uma floricultura são muito agradáveis, torna-se no outro local um incômodo, trazendo sensações não muito boas e lembranças muitas vezes tristes. Mas há, ainda, o agradável Jardim Botânico de Belo Horizonte que se contras-
ta com locais com o odor dos animais no Jardim Zoológico. Além da Mata da UFMG, demais áreas verdes preservadas por toda a cidade proporcionam um espaço de tranquilidade e ar puro em meio à poluição da cidade grande.
José Elias já não percebe tanto o odor da loja
Lucas Félix
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GUILHERME PEDROSA LUÍS FELIPE SALGADO MARINA NEVES RAQUEL DUTRA 7º PERÍODO
Quando se fala em coisas de outro mundo e no Estado de Minas Gerais, logo vem à cabeça a figura famosa do ET de Varginha. Desta vez, porém, as assombrações sobrenaturais se tornaram atrações de outra cidade: Mariana. No pacato município, localizado a 140 km de Belo Horizonte, existem relatos sobre monstros de diferentes aspectos e que agem de maneiras distintas, tirando o sono, ou pelo menos, aguçando a curiosidade da população local. Como no famoso filme ‘Caça-fantasmas’, as criaturas viraram uma obsessão e para combatê-las um grupo de caçadores foi formado para espantar ou capturar os novos baderneiros de Mariana. Na entrada do único prédio de tijolos marrons no centro da cidade histórica, a placa afixada já revela a peculiaridade do que está por vir. ‘Espaço Cultural Maria Sabão. Sede Secreta da Associação dos Caçadores de Assombração de Mariana (Acam)’. “Depois de diversos relatos de habitantes da região sobre a aparição do Caboclo D’Água, resolvemos formar uma associação especializada em caçar esses monstros, espíritos e criaturas misteriosas. Isso foi há quase seis anos e hoje nós temos cerca de 40 pessoas que fazem parte da Acam”, explica o jornalista e fundador da Associação, Leandro Henrique dos Santos. A Associação está em atividade desde 2008 e, apesar do pouco tempo, já conseguiu reunir um arquivo extenso com casos de assombrações. O último mapeamento dos pontos de ataque, realizado em 2013 pela Acam, mostra que as aparições estão mais frequentes. Não é qualquer criatura que integra o arquivo da associação, visto que existem vários critérios rigorosos para classificá-las como “reais” assombrações. Segundo Milton Brigolini, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (campus Mariana), são cerca de 30 personagens já catalogados nas regiões de Mariana, Ouro Preto, Barra Longa e Diogo de Vasconcelos. “Nós adotamos alguns pré -requisitos para que a Acam reconheça e vá em busca de certas criaturas. Alguns critérios usados por nós são: o flagra feito por mais de uma pessoa, em diferentes épocas; a comprovação de pertur-
Cidade
bação social, já que o nosso grupo não persegue assombrações pacíficas; a comprovação de fato real vinculado à assombração, como um boletim de ocorrência policial, um atestado de atendimento médico e uma descrição detalhada da assombração ou monstro para fazer um retrato-falado”, relata Brigolini. Peludo, de dentes, unhas e olhos grandes, pata de lagartixa e apetite voraz, essa descrição pertence ao Caboclo D’Água, uma das criaturas que passou por todos esses critérios. Com 1,50 metros, a assombração já foi avistada por pessoas na beira do rio do município vizinho, Barra Longa e, inclusive, foi alvo de inquisição policial. “Uma história engraçada é que o Caboclo D’água foi acusado de um crime de agressão. Há alguns anos, um rapaz deu entrada no hospital alegando ter sido atacado pelo bicho e a polícia fez o Boletim de Ocorrência citando o tal monstro como o praticante do delito”, conta Mucci Kfouri, morador e açougueiro em Mariana. Um rapaz de 20 anos chegou ao Hospital Municipal com muita confusão mental e cheio de arranhões profundos pelo corpo. Ele alegou ter sido atacado pelo Caboclo e esse é apenas um exemplo dentre os inúmeros casos que circundam a cidade, provocando medo e insegurança na população. “O que aconteceu com ele não foi normal. Poderia ter sido assalto ou sequestro, não acredito que ele mentiria. Aqueles arranhões que davam para ver a carne, nenhuma outra coisa poderia machucar ele assim”, conta um morador que não quis se identificar. Esse monstro é considerado a principal assombração misteriosa da cidade e a população faz o possível e o impossível para capturá-lo. Para agilizar o processo, a Acam já chegou a organizar uma mobilização envolvendo a cidade inteira. Além disso, já disponibilizou R$ 10 mil para quem conseguisse tirar uma foto do Caboclo. O desafio proposto pela Associação gerou uma mobilização por parte dos moradores, que criaram até armadilhas e armas especiais para atrair e capturar a assombração. O artifício mais curioso foi o usado pelo morador Antônio da Conceição, uma substância produzida à base de células tronco de carneiro, um dos animais que, supostamente, o Caboclo teria atacado. “Na época, eu fiz um líquido querendo atrair o monstro para beira do rio, onde seria mais fácil capturá-lo. Era uma
Os personagens que assombram Mariana Relatos de moradores que presenciaram assombrações em Mariana estimularam a criação de um grupo de caçadores no município. A fim decombater e capturar estas criaturas, a medida tranquilizou os moradores assustados com o suposto fenômeno
Daniel Pinto ofereceu-se como isca humana em uma tentativa de capturar a criatura que assombra a cidade
armadilha bem simples que ficava pendurada na árvore dentro de uma garrafa pet”, conta Antônio. Infelizmente, a caçada acabou sendo um tanto quanto desastrosa e a experiência com a substância a base de células de carneiro foi bem singular. “Aí veio uma porção de cachorros trazidos pelo cheiro do negócio. Eu nunca tinha visto tanto cachorro assim na minha vida inteira. O que teve de dono de cachorro irritado conosco não está na história”, descreve Leandro dos Santos. Por outro lado, a última armadilha realizada ofereceu R$ 1 mil para quem servisse de isca humana para ajudar na captura do bicho. “O voluntário fica no rio, dentro de uma gaiola para atrair a atenção do Caboclo”, explica Leandro dos Santos. Daniel Pinto, 27 anos, nasceu e mora em Mariana e desde criança convive com as histórias de assombrações. “Vi nessa armadilha uma oportunidade de ajudar a capturar essas criaturas que nos tiram o sono”, esclarece o
morador. Essa vontade levou Daniel a se oferecer para ser a isca da emboscada que durou cerca de 24h. Apesar do empenho, de acordo com o fundador da Acam, a arapuca não teve eficácia devido ao grande número de pessoas presentes no entorno do rio. Considerada a melhor forma de atrair o bicho, a associação optou por tentar essa estratégia mais uma vez, mas envolvendo apenas duas pessoas para evitar um tumulto que possa afugentar a fera.
FOLCLORE “Cada um vê o caboclo do jeito que quer”, afirma o folclorista Carlos Felipe Horta. O especialista explicou que
a figura se modifica ao longo da história e dependendo da região, relatos do monstro vagam por todo o Brasil e até no exterior. Em geral, as características do bicho são as mesmas, um ser da água, mito tradicional entre populações ribeirinhas e de áreas litorâneas. Uma característica em si predomina: ele é um homem-peixe ou peixe-homem. Afinal, as pessoas deram origem ao Caboclo d’Água. “A criação de personagens é sempre humana. Depende dos nossos temores, das nossas crenças”, diz. De acordo com Horta, para algumas pessoas o caboclo também é uma figura boa e sempre ajuda nas pescarias, em troca de algum
Raquel Dutra
presente. Para tal, basta lhe entregar um presente – fumo é o preferido – quando pedido. Membros da associação dizem que vão ficar a postos para resolver a situação com o aumento dos ataques. “Tem que encarar com mais seriedade”, afirma Leandro dos Santos, sobre o convívio com o suposto animal. Os moradores também estão confiantes de que conseguirão amenizar esse cenário, uma vez que as histórias de encontro com essa assombração são antigas e há registros de até 60 anos. Quem cresceu e mora em Mariana, convive de perto com esses relatos e, hoje, o maior desejo é acabar com este pesadelo.
Figuras que entraram para história da cidade Não é apenas o Caboclo D’Água que vem assombrando os moradores da região. Além do monstro, outras figuras assustadoras como o Capitão Jack, a Noiva de Furquim, a Mãe do Ouro e a Maria Sabão são histórias conhecidas por todos em Mariana. Segundo informações da Acam, o Capitão Jack era um inglês vindo de Manchester e proprietário de várias minas em Mariana e sua morte teria sido causada pelo fato de ter ficado preso em uma das galerias momentos antes dela ser implodida. Entretanto, sua lenda teria sido iniciada quase 50 anos depois, quando surgiram relatos de “visitas” de Jack ao seu antigo sócio cobrando antigas dívidas. Com um destino tão trágico quanto o de Capitão Jack, outra história conhecida é a da Noiva de Furquim. A mulher teria falecido em um acidente em uma das rodovias no distrito de Furquim, perto de Mariana, quando se dirigia para o seu casamento. Desde então, ela estaria vagando pela região pedindo carona aos motoristas em direção à igreja em que iria se casar.
Milton Brigolini conta que já existem 30 personagens catalogados
Raquel Dutra
Já a mãe do Ouro seria a tentação de muitos segundo a associação. Sua lenda diz que a assombração surge em forma de luz e quem consegue sacudir seus cabelos loiros pode ficar rico. Entretanto, o problema é que a intensidade da luz é comparável à luz do sol e pode causar cegueira. Outra assombração típica de Mariana é a Maria Sabão. Reza a lenda que a assombração vive vagando dentro das minas de ouro abandonadas perto da Rua do Boqueirão e fabrica sabão dentro delas com gordura de crianças malcriadas. Para o morador Sérgio Paulo, que inclusive é “vizinho” de Maria Sabão, as histórias de assombração fazem parte de sua vida desde sua infância. “Eu moro em frente à ‘toca’ da Maria Sabão. Eu lembro que quando era pequeno e queria sair de casa, eu esperava um adulto passar para poder sair, era sinistro mesmo. Eu nunca cheguei a vê-la, mas morria de medo. Na verdade, ainda tenho um pouquinho”, conta ao cair na gargalhada.
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Comunicação
JÚLIA GUEDES 2º PERÍODO
Pedro Braz Mordente, nascido em 3 de fevereiro de 1929, em Passagem de Mariana, na Região Central de Minas Gerais, soube ainda criança que gostava de fotografar e aos 10 anos começou intuitivamente sua relação com a fotografia. Aos 19 anos mudou-se para Belo Horizonte, e trabalhou em uma loja de artigos fotográficos e relojoaria na estação rodoviária, na qual passou madrugadas ampliando e revelando seus trabalhos, assim aprimorou seu dom. Mas foi apenas em 1967, quando abriu a sua loja Pedro Cine Foto, na Galeria do Ouvidor, que determinou e começou a aplicar o seu estilo. Os clientes sempre eram sua prioridade, por isso, criou um laboratório para revelação de filmes a cores, o Photocolor, em 1978. Sua coleção de câmeras começou logo quando montou sua loja, onde reservava um espaço para as peças que, com a
Exposição de câmeras é atração em Belo Horizonte Parte da vasta coleção de câmeras do fotógrafo mineiro Pedro Mordente está exposta no Espaço Cultura e Fé da PUC Minas e chama a atenção dos visitantes
evolução da tecnologia, foram ficando arcaicas. A clientela, sabendo do seu acervo, o presenteava com câmeras de vários lugares do mundo, deixando uma variedade enorme de modelos e marcas como Polaroid, Rolleiflex, Kapsa e Olympus. Pedro Mordente morreu em 2000, aos 71 anos, deixando a loja e sua coleção para Beto Mordente, um de seus seis filhos. Beto quis continuar com o legado do pai, e a coleção que antes tinha 700 exemplares hoje já conta com mais de mil. Para a estudante Ana Luisa Santos, 18, esse tipo de exposição é importante para aguçar o interesse pela fo-
Parte da exposição pode ser vista no Espaço Cultura e Fé
tografia, mostrando a evolução das câmeras com o passar dos anos. “A fotografia é uma coisa que normalmente interessa às pessoas e câmeras chamam muita atenção, principalmente dos jovens”, obser-
Júlia Guedes
va. O acervo completo está exposto no Museu Minas Vale, e parte dele está exposto no espaço Cultura e Fé da PUC Minas do Coração Eucarístico entre os dias 14 de novembro a 12 de dezembro.
Prêmios incentivam estudantes de jornalismo CRISTINO AUGUSTO COSTA JULIANA GUSMAN (PARTICIPAÇÃO) 1º E 4º PERÍODOS
A área da comunicação é contemplada, como outras são, com premiações que avaliam a qualidade de trabalhos, e no caso do jornalismo, em diversas plataformas, linguagens e veículos. No Brasil, são promovidos mais de 40 prêmios que abarcam diversas categorias e premiações. A participação não se restringe aos profissionais da área. A possibilidade de apresentar um trabalho em eventos competitivos se estende a estudantes. É o caso de Desirée de Barros Ferreira, 21 anos, vencedora na categoria fotojornalismo do Prêmio Telefônica Vivo de Jorna-
lismo Universitário, que premia trabalhos feitos por estudantes universitários dos cursos de Jornalismo e Comunicação Social com habilitação em Jornalismo dos Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e da Bahia. O Prêmio, que está em sua 3ª edição no Brasil, acontece desde 2005 nos demais países da América Latina onde a Telefônica atua. A aluna do oitavo período de jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de Porto Alegre, venceu o prêmio com a fotografia ‘Porto Alegre Acordou’. Ela conta que não sabe ao certo como começou a gostar de jornalismo. “Na adolescência eu coloquei na minha cabeça que queria fazer jornalismo. Não tirei
mais. Gostava de ler, amava escrever e achava que combinava comigo ”, diz. Já a fotografia, responsável pelo prêmio, foi entrando aos poucos na vida da estudante. “Minha primeira câmera fotográfica foi uma de criança, eu tinha uns 10 anos, era analógica ainda. Depois ganhei uma compacta e comecei a fotografar e fazer alguns vídeos das pessoas que conviviam comigo. Comprava revistas sobre fotografia e lia sem entender direito. Ao entrar na faculdade, eu participava do Portal de Jornalismo da ESPM-Sul, apesar de gostar de escrever, eu preferia fotografar as pautas. Andava sempre com minha câmera”, conta. A fotografia ‘Porto Alegre acordou’ foi tirada du-
rante as manifestações do passe livre em 2013. Ela descreveu a cobertura como intensa e que se apaixonou por fotografar esse sentimento de opinião coletiva. Segundo Desirée, a faculdade foi o princípio de tudo até chegar ao prêmio. Além disso, conheceu a Bahia e fez amizades graças ao título. “Descobri (o concurso cultural) por meio da faculdade. No ano anterior uma colega minha havia vencido este Prêmio e, quando, abriram as inscrições, nossos professores nos estimularam a se inscrever. A inscrição era um processo simples, se eu não me engano, via e-mail. Fiquei sabendo que eu era vencedora da categoria de fotojornalismo e finalista na geral. A premiação foi bem
A foto “Porto Alegre acordou” garantiu o Prêmio Telefônica Vivo à aluna da ESPM, Desirée de Barros Ferreira
Desirée de Barros Ferreira
legal. Eu conheci um pouco da Bahia, mas o mais emocionante foi que me tornei amiga de outros três premiados. Apesar de ficarmos pouco tempo juntos, tivemos bons momentos e ainda nos falamos hoje”, disse a fotografa. Com essa conquista veio a repercussão positiva. “Premiações trazem reconhecimento. Muita gente me parabenizou e até hoje isso é citado em alguns momentos. Eu não sei dizer se os trabalhos que fiz depois foram em função do prêmio, acho que indiretamente ajudou na minha divulgação como profissional”, conta. Quando perguntada sobre a importância da conquista de prêmios, ela foi enfática a dizer que é importante, mas ressaltou que o foco não é este. “Acho que independente da área que você atua, o prêmio é importante para o reconhecimento do seu trabalho. No entanto, eu acredito que não devemos priorizar uma premiação e, sim, colocar nossas energias na execução de um trabalho feito com dedicação. O prêmio se vier depois deve ser apenas a consequência”, afirma a futura jornalista. Igor Patrick Silva, aluno do 7º período do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, participou ativamente de prêmios com a reportagem ‘Na ponta da agulha’, uma denúncia sobre ocorrência de trabalho escravo de bolivarianos em Ribeirão das Neves. Mas o prestígio alcançado, neste ano, com o Prêmio Telefônica Vivo de Jornalismo Universitário não veio a pouco custo. “Foi uma ma-
téria complicada. Fui ameaçado por advogados e donos de algumas empresas”, relata Igor. Incentivado pelos professores Sandra Freitas e João Carlos Firpe Penna, Igor inscreveu-se, ainda, nos prêmios Sociedade Interamericana de Imprensa e Libero Badaró, vencendo o primeiro e colocando-se como finalista no segundo. Aguarda, atualmente, o resultado do prêmio Délio Rocha de Jornalismo de Interesse Público, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais. Igor Patrick afirma que a participação em prêmios confere um diferencial no currículo. “Dá peso ao seu nome. Sem contar que você acaba conhecendo profissionais muito bacanas, faz contatos”, comenta. “Na final do Líbero Badaró tive oportunidade de conversar com Roberto Cabrini, com Gilberto Dimentein e com a Adriana Carranca”, conta Igor, que ainda destaca: “É um incentivo para fazer seu trabalho bem”. Amanda Mascarenhas, 19 anos, também aluna do curso de Jornalismo da PUC Minas, participou pela primeira vez do Prêmio Telefônica Vivo. A estudante do 4º período considera fundamental esse tipo de reconhecimento. “Os prêmios são importantes para valorizar e estimular o trabalho jornalístico de quem está começando, especialmente os universitários”, constata. Assim como Desirée e Igor, Amanda acredita que a questão crucial vai além do prêmio em si. “É um incentivo”, completa.
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FABIANA GATTI PEDRO ALBUQUERQUE 7º PERÍODO
“Estava caindo um temporal e eu escutei latidos que não paravam. Meu coração apertou. Fui até o portão e, então, vi o Príncipe. Não resisti, levei ele para o fundo da minha casa para o meu marido não ver”, recorda a dona de casa Lucinédia Figueiredo, 38 anos, responsável por muitos cães resgatados. Foi assim que o cão branco de pequeno porte encontrou um lar temporário, até ser adotado. “Não é algo externo, é minha vida, não é trabalho”, comenta com entusiasmo, a publicitária Cláudia Almeida, 43 anos, que é voluntária em um abrigo de gatos. O ingrediente comum que mobiliza pessoas no resgate de cães e gatos abandonados é o mesmo: amor. Invisíveis aos olhos de muita gente, mas não para uma legião de protetores anônimos e independentes. Cães e gatos abandonados são resgatados por essas pessoas que dedicam parte do tempo e fazem a diferença na sociedade. Assim como Lucinédia e Cláudia, pessoas se unem e formam uma verdadeira corrente do bem em benefício desses bichinhos. Sem nenhuma ajuda financeira por parte do governo, os anônimos do bem arcam com custos do próprio bolso e, várias vezes, recorrem à solidariedade de outros protetores, amigos, veterinários e amantes dos animais. “Não fazemos parte de uma ONG, somos autônomos, agimos
Comportamento
Corrente do bem une pessoa ONGs e protetores de animais sem vínculo com alguma instituição ajudam a amenizar o sofrimento de muitos cães e gatos, realizando campanhas de adoção para arrecadar fundos. Tais medidas podem evitar que mais bichos sejam abandonados, reproduzam indiscriminadamente e, dessa forma, fiquem sem lar.
por conta própria. Por isso temos que recorrer aos amigos e às redes sociais para conseguirmos dar conta de continuar resgatando. No final, tudo dá certo e a felicidade de dar um lar para um bichinho compensa tudo”, sorri Lucinédia. Uma aliada importante tem sido as redes sociais na divulgação dos casos de resgate e pedidos de ajuda. A corrente se multiplica tanto na busca de possíveis adotantes para os animais resgatados como na manutenção de cuidados básicos, como ração e medicamentos. Nesse momento entra a criatividade, os protetores organizam rifas e, às vezes, colocam à venda itens em desuso para ar-
recadar dinheiro. “Vendi um celular que não usava mais para ajudar um amigo que tinha resgatado dois gatos e um cão. Esse bem que a gente faz, acaba voltando pra gente. Quando preciso, muita gente me ajuda também. Por isso é uma corrente”, conclui a assistente financeira Maria Gaviolli, 32 anos, dona de cinco gatos resgatados e, também, voluntária em um abrigo de gatos. Mesmo quem não tem condições de ajudar financeiramente participa compartilhando fotos dos animais e pedidos de auxílio. Muitos protetores independentes, que não possuem vínculo com ONGs de proteção animal, se dividem entre suas respectivas ativida-
Claudia Almeida cuida de cachorro em ONG
Ana Maria Souza oferece cuidados aos animais carentes
des profissionais e o voluntariado. Há diversas formas de ajudar. A empresária Mariana Barbosa é voluntária no grupo Gato Uai, que abriga e prepara gatos para adoção em Belo Horizon-
Pedro Albuquerque
te. Fotógrafa nas horas vagas, ela captura belas imagens dos bichanos, o que tem ajudado na divulgação e potencializado as adoções. “Conheci o grupo pelas redes sociais. Vim aqui para adotar o meu gatinho e nunca mais saí porque acabei me apaixonando pelo Gato Uai. Percebi que fazendo as fotos deles com mais qualidades, os adotantes se interessavam mais”, conta. Cães e gatos vagam pelas ruas, muitos deles abandonados pelos donos, outros, nascidos nas ruas da capital mineira. Não importa a origem, a procriação indiscriminada de animais na cidade tem sido tratada como um problema de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a estimativa é que existam no Brasil 30 milhões de animais abandonados, sendo 20 milhões de cães
Fabiana Gatti
e 10 milhões de gatos. Nas grandes cidades, a cada cinco habitantes há um cachorro e, desses, 10% estão em situação de abandono. Os dados foram divulgados ano passado pelo site da Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA), referência na questão animal. Um número que pode ser bem superior ao mencionado por falta de dados estatísticos mais precisos, segundo os protetores independentes. O baixo número de esterilizações, o abandono de animais, o reduzido número de abrigos municipais e a inexistência de um hospital veterinário gratuito são responsáveis pelo crescimento dessa estatística. O Centro de Controle de Zoonoses de Belo Horizonte (CCZ-BH) recolhe cães e gatos que circulam nas vias públicas. Em 2013, foram retira-
Amor animal e amor humano
A empresária Mariana Barbosa é voluntária em ONG que prepara gatos para adoção
Pedro Albuquerque
A história particular de como a maioria deles se viu como protetor quase sempre remonta à infância. Cláudia Almeida não lembra exatamente em que momento tomou consciência de que o amor e cuidado que tinha pelos animais desde criança era algo tão importante. “Desde pequena na minha casa lembro de muitos gatos, cachorros, passarinho e até uma tartaruga! Quando eu tinha nove anos minha mãe adotou uma cachorrinha e deixou pra eu cuidar. Eles dependem muito da gente. A cachorrinha viveu praticamente 15 anos conosco”, recorda. A participação da família também se mostra importante na propagação dessa corrente. E para conviver com um prote-
tor é preciso se engajar e gostar de animais, é o que atesta Maria Gaviolli. “Meu namorado foi avisado que pra viver comigo tem que gostar de gatos. E tem lugar pra ele e para os bichanos no meu coração”, afirma. De mesma opinião, Cláudia Almeida concorda dando o exemplo de casa. “Conheci meu marido quando ele adotou sua primeira gata. Ele morava no Rio de Janeiro e se mudou para Belo Horizonte já com quatro gatos. Eu também tinha quatro gatos e uma cadelinha. Hoje, ele já resgatou mais cachorros do que eu em todo esse tempo. Ele me liga e diz: ‘Advinha? Posso levar? A gente vê como faz...’”, conta dando risadas.
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Comportamento
oas em favor da causa animal dos das ruas quase 4 mil animais e, até fevereiro deste ano, mais de 480, de acordo com dados da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH). Os bichos recolhidos são castrados, vacinados e identificados com microchip, e depois encaminhados para a adoção caso o proprietário não apareça em dois dias. O veterinário Adamastor Bussolotti, do CCZ São Bernardo, conta que o projeto de microchipagem é pioneiro em Belo Horizonte e foi implantado há cinco anos. O microchip, de um tamanho de um grão de arroz contém informações do animal e do proprietário. Entretanto, por uma questão legal, as informações só podem ser acessadas no CCZ onde foi realizada a cirurgia. Portanto, se um animal microchipado é encontrado na rua, uma clínica particular que tenha um equipamento adequado para leitura só poderá saber onde o animal foi castrado, não tendo acesso aos dados do proprietário. Somente os responsáveis do CCZ específico poderão contatar os donos do animal perdido. Outro grande problema é a superlotação de abrigos para adoção. A cidade precisa da construção de espaços adequados para receber os animais recolhidos. “Tem gente que chega aqui na clínica e acha que o veterinário tem a obrigação de cuidar de graça do bichinho e levar para adoção. Saem com raiva daqui quando não atendemos. A gente
também fica chateado com essa situação, também”, desabafa a veterinária e dona de um pet shop, Ana Maria Souza. A falta de conscientização da população diante do problema agrava ainda mais a situação. A ideia de que um animal nasceu para ser livre muitas vezes contribui para que os donos deixem os animais de estimação terem acesso livre às ruas sem acompanhamento, expondo-os a perigos e contribuindo para que reproduzam indiscriminadamente. E quando não castrados, são responsáveis por um ciclo que pode estar fora de controle. “A gente sente que enxuga gelo. Enquanto eu resgato um cão na rua, cuido, castro e doo; no mesmo dia, eu acabo sabendo que abandonaram uma caixa com uma ninhada de dez gatinhos”, diz Cláudia. Para a voluntária Maria Gaviolli, a castração é um ato de amor. “O gato e o cachorro não sabem o que estão fazendo, mas nós como seres humanos, seres pensantes, temos que criar essa atitude porque é bom para o animal e para a cidade onde a gente vive”, argumenta. Alguns eventos de adoção acontecem pela cidade ao longo do ano e é um ponto de encontro entre os resgatantes independentes, ONGs e voluntários. Na Praça da Liberdade, Bruno Andrade, 22 anos, dono de três cães, sendo dois de raça e um adotado, está em dúvida qual fêmea levar da feira de adoção. “Descobri a adoção e
gosto de pensar que estou contribuindo para retirar cachorros da rua. Se cada um fizer a sua parte, muito cachorro vai deixar de sofrer”, diz. Depois de tirar algumas fotos com o celular e enviar para a namorada, Bruno decidiu. “Vou levar esta que tem quatro meses. Ela foi
encontrada em um estacionamento toda machucada. Como alguém pode fazer isso com um bichinho?”, questiona. Enquanto políticas realmente eficazes para evitar o abandono e incentivar à esterilização de animais não são feitas, os protetores independentes ou anjos
anônimos, como também são conhecidos, fazem o que podem e, até mesmo, o que não podem para tentar reduzir o excesso de animais abandonados nas ruas e amenizar os maus tratos sofridos por cães e gatos que são abandonados de forma cruel. “Hoje acho até engraçado quando
recebo um elogio e agradecem o trabalho que faço. Não vejo como um trabalho, é tão natural. A gente gasta tempo, dinheiro com o maior prazer e recebe mesmo a gratidão dos bichinhos. Nossa maior alegria é encontrar adotantes responsáveis, que a gente sabe que vão cuidar e amar o animal. Pra mim a causa animal é uma corrente do bem”, conclui Cláudia.
Maria Gaviolli se diverte com gato ao limpar o ambiente
Pedro Albuquerque
Seu bicho está em boas mãos Algumas atividades têm surgido a partir de novas demandas da causa animal. Bióloga de formação, Tânia Reis é voluntária em um abrigo que cuida de gatos e, também, é pet sitter, uma espécie de babá de animais. Com muitos clientes, ela vai até à casa dos proprietários que precisam viajar e preferem não deixar os pequenos peludos em hoteizinhos. “A vantagem é que o animal não precisa sair do ambiente em que já está acostumado. Eu troco água, coloco ração, limpo o local que fazem suas necessidades e dou uma atenção especial a eles pra não se sentirem muito sozinhos”, diz. Em finais de semana de férias ou feriados prolongados, Tânia chega a atender em domicílio até oito famílias. Quem prefere deixar os bichinhos em um espaço maior, existe a opção do hotelzinho, como oferece
Mila Rodrigues, proprietária do espaço. A casa onde mora, em Lagoa Santa, conta com um espaço livre de 700 m2 e tem até piscina para os cães se divertirem em dias mais quentes. “Minha casa é um hotelzinho, mas serve também de lar temporário para os resgatantes de cães que não têm espaço em casa”, comenta. E para levar cães e gatos de um local a outro, como por exemplo eventos de adoção, existe o serviço de transporte, o Táxi Dog. A estudante universitária, Bruna Bueno, afirma que a maior parte dos clientes são protetores que precisam resgatar animais em situações de risco e precisam de um meio para transportá-los. “Eu acabo participando do resgate de muitos bichos e sempre ajudo. No começo o pessoal estranhava um pouco esse serviço, mas hoje o que não falta é cliente”, diz.
O que fazer se encontar um animal abandonado? 1.Primeira vista: Ao avistar um cachorro abandonado na rua, primeiramente, você deve tentar ganhar a confiança do animal até tentar uma aproximação. O protetor precavido anda com, no mínimo, um ou dois sachês de ração no bolso e uma guia (coleira). Tenha paciência, esse primeiro contato pode demorar pois ele pode ter sofrido maus tratos ou mesmo ter se perdido do seu dono, o que justifica a desconfiança. Lembre-se que você é um total estranho que pode oferecer perigo mas pode também ser a única chance que ele terá para sobreviver e sair das ruas. 2.Aproximação: Conseguindo se aproximar com segurança, demonstre afeto e
respeito, não faça movimentos bruscos, procure se manter na altura do animal, agachado. 3.Análise: Faça uma análise preliminar. Há algum machucado aparente? O animal manca? Muitos carrapatos e pulgas? Olhos lacrimejando ou com muita remela? Essas informações serão importantes para o veterinário que primeiro o atender. O ideal é que você consiga levar o cachorro o mais rapidamente possível até um profissional antes mesmo de um primeiro banho. 4.Lar temporário: Não existe um lugar para onde levar e deixar um animal de uma hora para outra. A maioria das ONGs e abrigos estão super lotados. As clínicas que possuem
espaço para receber animais,cobram taxas diárias de hospedagem. Existem hoteizinhos especiais para animais, que cobram também, é só pesquisar. 5.Mobilização: O ideal é que você leve-o para sua casa nesse primeiro momento e ao mesmo tempo que dá os primeiros cuidados ao bichinho, comece a mobilizar outras pessoas que tem contatos com protetores a fim de encontrar alguém disposto a oferecer um lar temporário (LT). Algumas pessoas não cobram por isso, mas não conte com essa possibilidade tão rapidamente. Separe um cômodo, seja uma pequena área, banheiro ou quartinho para acolhê-lo enquanto isso.
6.Água e comida: Ofereça água limpa. É importante que o animal beba líquido para evitar a desidratação, que pode ser até fatal. Ofereça ração. Cães e gatos comem ração, não ofereça comida a eles a não ser em casos especiais, em que o veterinário indique. 7.Limpeza: No caso de gato, compre uma pequena caixa com uma pazinha e areia próprias (além de pet shops, algumas farmácias têm esses produtos) para que possam fazer suas necessidades. Gatos são muito limpos, não dê banho neles! Se estiver com algo agarrado ao pelo, pode passar um lenço umedecido. Se estiverem com carrapatos existem produtos es-
pecíficos. O ideal é não retirar os carrapatos, pois ao retirá-los, os dentes ficam na pele do animal e podem transmitir doenças. Caso decida por retirá-los faça com extremo cuidado e jogue num pequeno pote com álcool. Isso vale também para os cães. 9. Vermífugo, exames e vacinas: Se o animal não estiver com diarreia, deve-se dar um vermífugo, pois não se sabe o tempo que passou na rua e o que comeu durante esse período. Não sabendo também do histórico do animal, o veterinário pode e deve sugerir hemograma completo. Alguns exames complementares como o de leishmaniose para cães, por exemplo, são importantes. No entanto
deve-se conversar com o especialista, pois doenças como as do carrapato podem influenciar diretamente o resultado do exame de leishmaniose. Em seguida deve-se aplicar as vacinas indicadas contra as principais moléstias que acometem cães e gatos, sempre de acordo com a indicação do veterinário. 10. Adoção: Caso você não possa ou não queira ficar com o bichinho, aproveite as redes sociais para divulgar. Busque comunidades, protetores independentes que, normalmente, têm uma extensa rede de relacionamentos e pode ajudá-lo a tornar esse processo mais eficaz.
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LUISA FARIA PAULO VICTOR GÓES PEDRO ALCÂNTARA 7º PERÍODO
Símbolo não só da fala do mineiro, mas também da história de quem nasceu em Minas Gerais, o trem Vitória-Minas recebe novos vagões para seguir viagem que tem início na capital mineira e termina em Vitória, no Espírito Santo. O trajeto completo dura 13 horas, mas a novidade é que o passageiro pode escolher viajar na classe econômica ou na executiva. Se antes os mineiros não perdiam o velho trem, o que dirá do novo. Mas até que ponto o ditado “mineiro não perde o trem” é verdadeiro? Professor e teórico literário da Pós-graduação em Letras da Puc Minas, Audemaro Taranto, explica que as pessoas de diferentes regiões do país estão inseridas num contexto cultural no qual se produzem regras, leis e modos de ser e de dizer, além de terem o comportamento influenciado por fatores ambientais, econômicos e climáticos. Dessa forma, segundo o professor, os indivíduos incorporam um modo peculiar de ser. “Nós, mineiros, segundo a voz corrente, nascemos e crescemos em meio às montanhas. Essa espécie de confinamento torna-nos mais desconfiados e como um ser acuado em determinado ambiente, que nos faz ficar sempre alerta, atento a tudo. Por esse motivo, o mineiro nunca perde o trem justamente porque seu espírito prevenido e desconfiado o leva ao local de embarque com uma antecedência respeitável”, explica o professor. A aposentada Ana Glorinha Ferreira, 73 anos, nascida em Caratinga, a 310 km da capital mineira, fugiu à regra de não perder o trem. Ela chegou à estação depois que o trem já havia iniciado viagem, mas conseguiu trocar a passagem para outro dia. “Eu me atrasei por causa do trânsito. Cheguei aqui e não tive problema para trocar a passagem, graças a Deus, mas vou ter que sair às 4h de casa para chegar no horário aqui da próxima vez”, lamenta Glorinha, mas também aliviada pela segunda oportunidade. Ela mora em Contagem e o objetivo da viagem adiada é visitar a irmã em Ipatinga, no Vale do Aço, município que está a quase cinco horas de trem de Belo Horizonte. “Eu sempre viajava de ônibus, quando um dia disseram para eu
Cidade
ir de trem porque era melhor. Fui uma vez e agora eu só vou de trem. A gente fica mais à vontade e dá para ver melhor a paisagem”, afirma. A enfermeira Júlia Mota Palheiros, 24 anos, de João Monlevade, a 110 km da capital dos mineiros, conta que também já perdeu o trem. A justificativa é que ele sai muito cedo e ela não conseguiu chegar a tempo da partida. “Eu já perdi o trem uma só vez. Eles devolvem parte do dinheiro da passagem quando isso acontece. Ainda bem que eu nunca deixei a mala para trás”, lembra aliviada. Desde criança Júlia viaja para a casa da tia de trem em Ipatinga. Para ela a viagem é muito tranquila e segura, mas tem algumas ressalvas sobre o novo trem. “Achei ele muito mais confortável e o executivo mais espaçoso também, mas eu gostava muito do outro pois nele eu podia ver as belezas das paisagens por onde o trem passava. Agora isso ficou mais difícil, pois o vidro é escuro e não tem aquele local no meio onde a gente pode parar para ver a paisagem, digo entre um vagão e outro”, lamenta a enfermeira. O trem também é um transporte interessante para quem viaja a trabalho como é o caso do dentista Paulo Lucas Valamiel Oliveira, 28 anos. Natural de Rio Piracicaba, a 132 km de Belo Horizonte, Valamiel vive na capital desde quando começou a faculdade. A cada quinze dias ele viaja de trem para a cidade dele para fazer atendimento. “No trem a gente tem mais comodidade, é mais barato, e mais rápido que de ônibus, pois de ônibus sempre ‘agarra’ na BR 381, por causa do trânsito”, justifica. Ele chegou apenas dez minutos antes do trem iniciar o trajeto que demora duas horas e meia até o seu destino. É a segunda vez que ele viaja no novo trem, mas também faz considerações sobre as mudanças. “O novo trem tem ar condicionado e o atendimento foi melhorado, mas as poltronas do trem antigo na classe econômica são mais confortáveis que as deste. A TV também estava desligada na última vez que viajei”, reclama o viajante. Perder o trem ou a bagagem, ele nunca perdeu, mas a amiga Claudiane Fonseca, a Cacau, já deixou a mala para trás quando eles estavam viajando juntos para Governador Valadares. “Tiveram que mandar a mala dela pelo correio”, lembra.
Mineiros perdem ou não a hora do trem? Os mineiros quem preferem usar o transporte ferroviário, agora podem viajar de classe executiva no trem que liga Minas Gerais ao Espírito Santo. O novo transporte é mais espaçoso e conta com ar condicionado, para proporcionar conforto na viagem COM ANTECEDÊNCIA Nem todos os mineiros chegam atrasados para a viagem sobre os trilhos. A aposentada Maria Helena de Oliveira, avó da pequena Emanuelle Coelho, 6 anos, chegou à estação antes das 7h da manhã para conter a ansiedade da neta que nunca havia subido em um trem. Maria Helena viaja com a menina e com o esposo, Vicente de Paula Oliveira, para Ipatinga e revive a aventura de andar de trem. “Antigamente, quando era criança, na década de 60, viajava de Belo Horizonte a Ouro Preto de trem e era muito bom. Hoje, decidimos ir à Ipatinga porque minha netinha estava curiosa para ver como é, e porque a gente queria conhecer também”, explica a avó, que já viajou no extinto Vera Cruz e experimenta pela primeira vez o trem Vitória-Minas restaurado. De acordo com o aviso no cartaz na bilheteria, a passagem pode ser trocada com até seis horas de antecedência da partida do trem. Mas alguns passageiros que perderam a viagem de trem conseguiram trocar a passagem no mesmo dia. O novo trem conta ainda com 55 lugares em vagões econômicos e 75 lugares nos executivos que proporcionam conforto para uma viagem que costuma ser mais demorada que de carro ou de ônibus. Apenas presencialmente é feita a compra das passagens de atendimento preferencial para gestantes, pessoas com crianças de colo, idosos e pessoas com deficiência motora, apresentando a identidade e comprovante de aposentadoria. São quatro vagas para os cadeirantes, sendo obrigatório o acompanhante. Idosos (com idade igual ou superior a 60 anos e com a documentação adequada) não pagam. Se os dois lugares para idoso tiverem sido reservados, o idoso tem direito a 50% de desconto na compra da passagem.
O trem vem se tornando uma opção de transporte cada vez mais procurada
Luisa Faria
O trem que liga Minas Gerais à Vitória passou por modificações
Luisa Faria
Novo trem lembra o antigo Vera Cruz As viagens de trem que partem da Estação Central em Belo Horizonte trazem saudade a quem já utilizou os vagões do extinto Vera Cruz que ligava Belo Horizonte ao Rio de Janeiro e que fez sua primeira viagem em 29 de março de 1950, encerrando suas atividades em 1990. A partida era feita às sextas-feiras e aos domingos, de Belo Horizonte, da Estação Central, e do Rio de Janeiro, da Central do Brasil, às 20h15. O trajeto completo demorava entre doze a quatorze horas. Comerciante de suplementos nutricionais, Rodrigo Cury, 50 anos, ainda lembra de sua viagem no Vera Cruz. “Eu era menino e viajei com meus pais para fazer uma cirurgia de amígdala no Rio. Naquele tempo não dava para ir de avião e a gente preferiu ir de trem. Viajamos a noite toda, e apesar da dor que eu sentia, a viagem foi muito boa”, recorda Cury. Cada trem do Vera Cruz levava sete ou oito vagões, dependendo do número de bilhetes vendidos, sendo que em um dos vagões funcionava o restaurante. Outro era usado para transporte de correspondências, um para bagagens, dois com poltronas de setenta e seis passageiros cada, e dois com cabines para quatro pessoas. Além disso, um vagão conhecido como salão-cauda, para quarenta e quatro pessoas, poderia ser acoplado à composição. Muitas histórias ainda são contadas quando naquela época, entre 1950 e 1990, as locomotivas a vapor puxavam os luxuosos vagões de trem. Com a inauguração dos novos trens de passageiros da Estrada de Ferro Vitória-Minas, operada pela Companhia Vale do Rio Doce no dia 15 de agosto, os viajantes podem sentir um pouco da sensação de como era viajar nos antigos vagões de luxo do Vera Cruz. É o caso da dona de casa, Lúcia Gramacho, 54 anos, de São José dos Campos, São Paulo. Ela viaja à Vitória com a sobrinha Susi Carla Brasil, 42 anos, dona de casa, e vão na classe executiva, que custa R$ 90; vinte e cinco reais mais caro que na classe econômica. “Eu vi a propaganda do trem e fiquei interessada. Estou empolgada porque nunca viajei de trem e é um sonho de criança. Vou curtir cada momento”, conta Lúcia entusiasmada. “Durante a viagem a gente vai por a fofoca em dia para passar o tempo”, diz Susi.
Regras para a viagem A cozinheiraGlaucia Lima Moreira, 43 anos, foi impedida de viajar com a neta Geovana Vitória Lima dos Santos, 5 anos, porque não estava com a cópia da certidão de nascimento da neta. “Não pude viajar porque não tinha a certidão de nascimento dela, só a identidade. Estive aqui na estação e eles me disseram que era para trazer a minha certidão”, conta a cozinheira. Os pais da menina e tios já haviam embarcado para a cidade de Rio Piracicaba, a 132 Km de Belo Horizonte. Eles iriam passar o final de semana lá com Glaucia e a criança, mas o passeio foi interrompido. Segundo a estação de trem, os funcionários são instruídos a prestar informações de quais documentos são necessários para o caso de embarque de menores de idade. Antes de embarcar é feita uma fila só para conferir a documentação de menores de 18 anos. Tam-
bém há avisos na entrada da estação de trem explicando os documentos necessários para viajar. “O jeito agora é ver se a gente vai de ônibus ou se conseguimos carona a noite”, lamenta Glaucia. Juliana Prata, 29 anos, comerciante, também não pode viajar porque levava uma caixa, de médio porte, como bagagem. “Eu viajo de trem a cada três meses e nunca tive problema, mas hoje não pude viajar porque agora não é mais permitido levar caixa como bagagem”, reclama Juliana, que já estava com a passagem comprada e agora vai tentar ir de ônibus. A comerciante não informou qual era o conteúdo da bagagem. Ao ser procurada pela equipe de reportagem, a assessoria da Vale disse que os funcionários impediram os embarques porque os passageiros descumpriam as regras já estabelecidas pela empresa.
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Comportamento
BEATRIZ BREDER 4º PERÍODO
O Food Truck é uma inovação no setor alimentício brasileiro. Famoso principalmente em países como os Estados Unidos consiste em um comércio sobre rodas que por meio de vans ou caminhões transportam e vendem alimentos. No Brasil, esse sistema ainda está em fase de teste e é considerado bastante inovador. Os food trucks vão desde alimentos salgados e refeições, até docinhos finos e sobremesas variadas. A empresa ‘Cadê meu brigadeiro’ viu nesse novo conceito de vendas, uma boa oportunidade para vender seus brigadeiros feitos com chocolate belga. A marca existe desde 2011 e atendia pedidos e encomendas por meio das redes sociais e do tradicional boca a boca. A ideia do food truck pareceu interessante aos proprietários que queriam expandir a marca, o que levou um processo de dois anos para que o projeto finalmente saísse do papel para as ruas. Foram feitas pesquisas no mercado belo-horizontino durante esse período para ver se a clientela realmente iria se adequar aos produtos e a esse novo estilo de venda. Após adquirirem a Kombi e a reformarem para as vendas, a marca foi finalmente às ruas a partir do início do segundo semestre desse ano, con-
Novo conceito para venda de alimentos Chega a Belo Horizonte a comida de rua vendida em veículos especiais. Apesar da cidade ainda não possuir uma legislação muito clara para esse tipo de serivço, os chamados Food Trucks vêm conquistando um público cada vez maior
A funcionária Bárbara Silva e Fernanda Drummond, uma das propietárias da kombi ‘Cadê Meu Brigadeiro?’
quistando cada vez mais clientes. “A aceitação tem sido bem melhor do que o esperado, a nossa ideia inovadora e nossas delícias foram abraçadas com muito carinho pelos belo-horizontinos. Os chocólatras, como chamamos carinhosamente, são pessoas que buscam algo diferente em meio ao cotidiano, além de oferecermos um produto de qualidade e exclusivo
eles ainda podem ter uma experiência que antes só era vivenciada por pessoas que viajavam para fora”, conta Mônica Drummond Galan, 31 anos, uma das proprietárias da marca. As redes sociais são os principais aliados da empresa, que divulga a cada dia o local e o horário em que a Kombi estará, já que ela não possui um endereço fixo e circula na cidade.
Para que ocorra essa circulação, a empresa possui todos os documentos necessários e está em dia com as exigências para esse tipo de comércio. “Nosso food truck foi feito de acordo com as leis de Belo Horizonte. Temos a licença para o veículo automotor, juntamente com o certificado de inspeção sanitária e do Detran”, diz Mônica. A empresa ‘Crepioca’
Beatriz Breder
também utilizou da venda móvel para conquistar o mercado por intermédio da venda de crepes e tapiocas. A empresa, que tinha como ideia inicial a abertura de um restaurante em um ponto fixo, esbarrou com o problema dos altos custos que seriam necessários. Foi a partir da descoberta do conceito de food truck e da inspiração em modelos já existentes em
São Paulo, que os proprietários resolveram investir. A empresa está há quatro meses nas ruas e tem sido bem aceita pelo público. “A repercussão tem sido excelente. Estamos quase atingindo os 2000 seguidores no Facebook e cada dia mais pessoas conhecem e aprovam o conceito. Uma comida de preço acessível, de qualidade e com higienização perceptível aos olhos de nossos clientes”, conta Luciano Nery da Silva, 37 anos, proprietário da empresa. A empresa, que também não possui um ponto fixo, prefere atender a região centro-sul por ter maior aceitação e reconhecimento desses clientes. As localizações são postadas semanalmente nas redes sociais para que os clientes possam ir até eles. “Sempre postamos nas redes sociais, Facebook e Instagram, o roteiro da semana e as pessoas nos seguem e vão ao nosso encontro para experimentar nossos produtos. As redes sociais têm 100% de importância para a empresa”, diz Luciano. A empresa também possui todas as licenças necessárias como laudo Inmetro, do Detran, vigilância sanitária e alvará da Prefeitura. Luciano conta que com toda essa documentação em mãos, eles podem transitar e parar nas ruas da capital como um veículo comum.
Bandas cover conquistam visibilidade e sucesso BÁRBARA SIER EMÍDIO 2º PERÍODO
O cenário da música nacional vem abrindo espaço para as chamadas bandas cover, inspiradas em aclamados grupos musicais, tanto no repertório quanto no visual dos integrantes. Movidos pela admiração aos ídolos, os grupos cover vêm conquistando os holofotes e promovendo shows em estabelecimentos com estruturas para milhares de pessoas. Às vezes a admiração por algum ídolo chega a ser tão grande que surge a vontade de homenageá-lo. O desejo de quatro amigos de colégio de tocarem juntos, há dois anos, resultou na Funky Fret, banda criada para homenagear a banda californiana Red Hot Chilli Peppers. Paulo Eduardo Bittencourt, de 19 anos, vocalista, acredita que não é necessário ter todos os elementos da banda original. “Quem realmente gosta da banda quer ver o improvisado. A gente procura colocar nosso toque nas músicas do Red Hot”, conta Paulo.
O problema que Paulo Bittencourt ressalta é a falta de oportunidade para quem tem banda cover: “Banda cover tem um espaço limitado em Belo Horizonte. É difícil ganhar espaço, porque já tem muita banda cover”. A falta de espaço também é questão para o vocalista da banda Dukie, Rafael Bonnano, 22 anos, que aponta o enfraquecimento do mercado para bandas cover. Mas que, ainda assim, é um pouco melhor que a situação das bandas autorais. A vontade de homenagear Green Day partiu do baterista Léo Butch. Há dois anos foi formada a banda Dukie, que já realizou quase 70 shows em várias cidades como Caxambú, Montes Claros e Sete Lagoas. Para Rafael, existem duas formas de se fazer um cover, “o cover é perfeito quando imita bem ou na parte sonora ou na visual. Nós ficamos com a parte sonora”, explica. Apesar de ser cover de Green Day, o repertório é composto, também, por músicas de outras bandas de
rock, bem próximas do estilo da banda homenageada. Já o vocalista Lucas Neves, 26 anos, e o guitarrista Vinícius D’angelo, 21 anos, da banda Blue Cold Chilli Peppers, fundaram a banda cover de Red Hot Chilli Peppers pensando exatamente nas chances de mercado que o nome e as músicas da banda homenageada poderiam proporcionar aos integrantes. Lucas acredita que o nome, o figurino e outros itens que
fazem referência à banda homenageada fazem toda a diferença para o público, e, inclusive, ajuda na divulgação. “A pessoa que é muito fã e não tem condição de pagar um show do Red Hot espera a imagem e a sensação do cover”, completa. Porém, Lucas afirma que há limitação na criação, pois quando se faz um cover não pode fugir muito do que é o original. Frequentador de muitos shows de bandas cover,
Breno Henrique Santana Pinheiro, 27 anos, espera, em um show, boas apresentações: “As pessoas que vão assistir não querem só a música, mas um pedaço da banda”. Breno Henrique citou a banda mineira Seu Madruga, cover da banda ACDC, que não tem tantos elementos estéticos parecidos, porém, é um exemplo de banda cover consagrada no cenário mineiro. “Não é tão visual e o nome não faz referência,
mas ela é reconhecida porque eles, realmente, mandam bem”, afirma Breno. Algumas casas de show de Belo Horizonte fazem festivais exclusivos de bandas cover. O Circuito do Rock formado pelos estabelecimentos Circus Rock Bar, Lord Pub e Jack Rock Bar, reúne bandas cover de várias partes do país e, principalmente bandas mineiras. Outras opções fora do circuito são Major Lock, Studio Bar e Rota 85.
Integrantes da banda cover Blue Cold Chilli Peppers apostam no nome e visual como forma de divulgação
Vinícius D’angelo
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DANIEL DE PAULA 5° PERÍODO
Com a chegada dos grandes patrocínios e o investimento pesado da mídia, o futebol passou a ser um grande negócio, com os clubes se transformando em verdadeiras empresas. O amor à camisa declarado por jogadores nas décadas passadas foi substituído por discursos de profissionalismo. No outro lado da moeda, praticado quase secretamente no bairro Eldorado de Contagem, o Hóquei em linha é movido pela vontade e paixão dos jogadores, que muitas vezes tiram dinheiro do próprio bolso para bancar suas equipes nas competições estaduais e nacionais. O Hóquei em linha chegou ao Brasil em meados de 1995, com o missionário canadense André Lawrence, fundador do projeto “AME Menor”, que cuida de comunidades carentes, tomando como base princípios sociais e cristãos. Lawrence foi praticante de Hóquei no gelo e trouxe a modalidade ‘em linha’ como recreação para os meninos atendidos pelo seu projeto. Dessa forma nasceu um dos primeiros times de Hóquei in line no Brasil, o Contagem Flames, fruto da iniciativa realizada pela entidade “AME Menor”. Com o ‘boom’ da modalidade roller (sobre rodas) de patinação na década de 90, outras pessoas tomaram conhecimento do esporte. A criação de escolinhas especializadas para o Hóquei de quadra foi o principal motor que impulsionou o surgimento de outras equipes no cenário mineiro, como o Eldorado Vipers e o América Mineiro Hockey (antigo colégio Marista Dom Silvério). Numa ação conjunta dos dirigentes
Esporte
de cada equipe, nasceu, em 1996, a Federação Mineira de Hóquei, que em menos de dois anos de existência conseguiu reunir doze agremiações, para a formação de competições organizadas. Apesar de ser um esporte federado, o Hóquei em linha ainda passa por dificuldades estruturais e financeiras. “O Hóquei não tem premiações, as competições são quase amadoras, o esporte é novo no Brasil, não é uma coisa que dá dinheiro, a gente joga porque gosta”, diz Flávio Diniz, 33 anos, arquiteto e atleta do Eldorado Vipers. A prefeitura de Contagem tenta apoiar o esporte na medida do possível. Em 2009, foi inaugurado, com apoio da prefeitura contagense, o ginásio Califórnia, a única quadra oficial de Hóquei in line em Minas Gerais. O espaço fica disponível para os treinos das equipes durante a semana, normalmente acontecem à noite. O Hóquei em linha é um esporte pouco conhecido no Brasil, a difusão da prática fica muito entre o grupo de amigos dos atuais atletas. Os recursos para fazer um plano de marketing mais elaborado são escassos. Além do ‘boca a boca’, as mídias sociais são outro meio de divulgar a prática, entretanto somente algumas equipes contam com essa ferramenta. “O único time que tem um marketing de divulgação é o América, porque representa o América Mineiro Futebol Clube. As outras equipes não possuem esse tipo de imagem, a divulgação é através de contatos mesmo, levando a informação para os amigos, para as academias, as vezes a televisão faz uma reportagem, mas não existe uma mídia forte em cima do esporte”, afirma Luiz Koenem, 34 anos, atleta do América Mineiro
Contagem recebe times de Hóquei O esporte, que chegou ao Brasil em meados de 1995, ainda é pouco conhecido e enfrenta dificuldades estruturais e financeiras para deslanchar. Apesar de já ser federado, as competições continuam sem premiações e acontecem de forma quase amadora
Alunos praticam durante treino de Hóquei in line na quadra em Contagem
Hockey e da seleção brasileira da modalidade. Mesmo com essas dificuldades o esporte conta com competições nacionais, organizadas pela Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP). São três divisões principais, com dez times cada e um rodízio de dois times em cada série, sobem dois caem dois. Os atletas, para serem registrados, precisam pagar uma quantia à Confederação, que varia de R$100 (divisão 3) à R$200 (divisão 1). Os equipamentos e viagens de cada equipe também ficam a cargo dos clubes, geralmente bancadas de forma individual por cada jogador. O campeonato é disputado em São Paulo, que detém o maior numero de participantes nas três divisões. Os atletas que ganham destaque nas competições nacionais podem chegar à seleção brasileira de Hóquei in
O esporte estimula a interação entre os alunos que, em grupo, realizam exercicios
line, como é o caso de Luiz Koenem, que já disputou Sulamericano na Argentina e o Mundial na Colômbia, além de outros eventos internacionais em países como França e Estados Unidos. A chegada à seleção bra-
sileira com a disputa de campeonatos mundiais, possibilita aos jogadores, em caso de medalha, o pleito de uma bolsa atleta internacional não olímpica. “A seleção brasileira durante vários anos conseguiu esse benefício,
mas é muito complicado, porque você faz um investimento todo seu, e é muito caro, nem sempre é possível conseguir a bolsa, mesmo conquistando medalhas às vezes a verba fornecida não é suficiente”, explica Luiz.
As regras do esporte O Hóquei em linha é jogado em uma quadra fechada (tamanho aproximado 50 x 25), dessa forma a partida se torna mais rápida, já que o disco está em jogo praticamente o tempo inteiro. O objetivo dos jogadores é usar os tacos para conduzir o disco até o gol. As equipes são compostas por cinco atletas, um goleiro e quatro jogadores de linha, sendo a tática base com dois defensores e dois atacantes. “A forma de jogar hóquei é muito semelhante ao futebol de salão,
o número de jogadores é igual, os recursos usados durante a partida também, como tabelas, escoras, passes de primeira entre outros”, afirma Luiz. As regras do Hóquei em linha assemelham-se muito às do Hóquei no gelo, entretanto a filosofia é um pouco diferente. Os contatos mais fortes e agressões permitidas no gelo, não são aceitos no Hóquei em linha, acarretando em punições e até no banimento de atletas que apresentarem má conduta dentro da quadra.
Ação mobiliza moradores Uma quadra, alguns patins doados e muita boa vontade, isso é o que mantém o projeto de cunho social criado pelos líderes do time Eldorado Vipers. A ação visa integrar socialmente as crianças e adolescentes da região por meio de aulas gratuitas de Hóquei em linha. Com apoio da prefeitura quase inexistente, a condução das atividades são feitas pelos próprios pais dos alunos, que se disponibilizam como voluntários. A iniciativa abrange 60 crianças, de 4 a 16 anos, os encontros ocorrem semanalmente, segunda-feira, quarta-feira e no sábado. “Hoje nosso apoio está muito entre os pais, toda criança que nos procura fazemos o possível para ela ficar, independente da classe social. In-
Daniel Lopes
Daniel Lopes
felizmente por ser um esporte que depende de equipamentos que não são de fácil poder aquisitivo, algumas crianças não tem condições de permanecer, já que não há recursos para oferecer os equipamentos”, afirma Gederson Elias Pereira, 44 anos, pai de um dos alunos do projeto. A arrecadação de verba para manter as aulas geralmente é feita através de rifas ou então vendas de camisetas e salgados nos dias de jogos oficiais no ginásio Califórnia. Muitos dos alunos do projeto acabam se interessando pelo esporte e seguem a carreira nos times de cima, mas o principal objetivo da iniciativa é a integração social promovida pelos encontros em um ambiente familiar e de aprendizado.Em quatquo verior alibeat
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Educação / Cultura
Mercado exige maior titulação A busca por especializações e títulos como mestrado e doutorado tem aumentado. Isso porque o mercado de trabalho exige, cada vez mais, profissionais com formação superior à graduação
A bióloga Paula Huaccho é mestre e doutora em Ciências da Saúde CARINA TOLEDO 4º PERÍODO
Nos últimos 20 anos as empresas brasileiras vêm exigindo maiores especializações, além da graduação. Esse cenário, porém, já é um fato há muito tempo em países do exterior. Profissionais com mestrado e doutorado podem se destacar na disputa por uma vaga no mercado de trabalho. Essas capacitações, para muitas firmas, são
sinônimo de profissionais com mais conhecimento. “O que pode atrair estas empresas, poderia arriscar em dizer, seria não só os profissionais mais gabaritados em seu quadro de funcionários, mas também o que estes podem proporcionar em termos de pesquisa, inovação e até manutenção no mercado do produto, fruto do negócio daquela organização”, diz a psicó-
Arquivo Pessoal
loga Joana Toledo, com atuação nas áreas clínica e organizacional. Profissionais com cursos realizados depois da Graduação normalmente são procurados por empresas do setor secundário, ou seja, voltado para transformação de matérias primas, como os de produção aeroespacial, de óleo e gás, de metalurgia, farmacêutico e automotivo. Porém, funcioná-
rios com mestrados e doutorados exigem das firmas maior remuneração. “Como profissional de RH tenho visto que algumas empresas não optam por estes profissionais, devido ao valor do salário, que geralmente são mais altos mesmo, pela formação e pela vivência que esses profissionais tiveram. A maioria se voltou para a pesquisa em alguns ramos empresariais que não absorvem esse tipo de experiência e nem estão dispostos a fazê-lo”, afirma Joana. Coordenador do Programa de Mestrado em Comunicação Social da PUC Minas, Eduardo de Jesus, observa que o mestrado serve não apenas como uma forma de se destacar na disputa por uma vaga de emprego, mas como uma maneira de obter mais conhecimento sobre determinadas áreas de atuação profissional. “Nesse sentido não
se trata, a princípio, de uma questão de mercado, que, aliás, é uma entidade pouco concreta e muito volátil”, avalia. Percebendo a interação das diversas áreas de uma empresa, Eduardo de Jesus acredita que o mestrado é uma forma de aumentar o conhecimento sobre a complexidade da realidade. “Especialmente no campo comunicacional, os conhecimentos são transversais, cortados por diversos domínios e saberes. Isso, de alguma forma, leva muitos profissionais atuantes no mundo do trabalho a buscar a academia para aprofundar e adensar os conhecimentos, especialmente para conseguir fazer leituras mais profundas, responsáveis e densas da vida contemporânea”, afirma. A bióloga Paula Huaccho, mestre e doutora em Ciências da Saúde, percebe que a
demanda por especialização na área da saúde é menor em relação às outras, como as de tecnologia e gestão. Para Paula, a falta de mestrado nessa área impede que o aluno aplique recursos de pesquisa na prática do mercado. OS PÚBLICOS
Existem três tipos de público que buscam o mestrado e o doutorado no Brasil. Entre eles estão os profissionais que desejam ingressar ou continuar na área de pesquisa, e/ou acabam seguindo carreira acadêmica. Alguns profissionais também se especializam em busca de alguma promoção, e, consequentemente, aumento de renda. Por último, há pessoas que realmente querem se aprofundar em algum tipo de assunto, buscando os conceitos e pesquisas para aplicação no mercado.
Casinha abriga diversos projetos culturais em BH BÁRBARA SIER 2° PERÍODO
A ‘Casinha’ existe há 10 anos e nos últimos três é também uma Associação Cultural. Pequena e aconchegante, em seus poucos metros quadrados concentra-se um estúdio de ensaio, uma cozinha, um barzinho, dois cômodos livres e até um jardim. Decorada e reformada recentemente, a Casinha faz parte dos Centros Culturais em destaque de Belo Horizonte. O que hoje é conhecido como Casinha era o local onde uma banda de reggae ensaiava toda semana, e onde o baterista da banda treinava capoeira com seus amigos. Novas bandas e pessoas começaram a frequentar o espaço e a diversidade cultural que acontece nos fun-
dos do número 114, da Rua Juiz de Fora, no Barro Preto, dificulta definir o que é a Casinha. “A gente costuma falar um cafofo hub, um espaço cultural, um coletivo, uma associação gerida por várias pessoas, mas que tem um núcleo”, conta Daniel Iglesias, de 29 anos. Daniel trabalha na Associação e é responsável pela parte de comunicação da Casinha. “Todo mundo faz tudo, a Associação é a mantenedora do espaço”, diz. A Associação funciona independente do Centro Cultural. A gestão é dividida entre quatro pessoas, fora os oficineiros e colaboradores da Casinha. As oficinas de Capoeira Angola, Roda de Djembês e acupuntura são gratuitas e acontecem semanalmente.
Uma vez por mês, há a Roda de Choro. Também há a possibilidade de bandas ensaiarem no estúdio dedicado aos grupos independentes, basta apenas marcar horário com antecedência. Os frequentadores da Casinha variam de acordo com o evento. Mas em geral, é um público jovem e universitário. Daniel afirma que a idade oscila entre os 20 e 31 anos. ‘’É um público consumidor de cultura, ligado à música e, agora, com o Erro99, também a fotografia atrai”. O local é alugado. Porém, neste ano, a Casinha está sendo mantida por um projeto aprovado pelas
ral, ligados à música e fotografia. O Erro99 foi o primeiro Festival de Fotografia da Casinha e aconteceu entre os dias 19 a 22 de novembro deste ano e só foi possível por meio do financiamento coletivo. Com o objetivo de ocuPROJETOS par espaços públicos, A Casinha tem mui- o festival contou com tos projetos, dentro e oficinas, workshops e fora do espaço cultu- palestras ocorridas no leis municipais de Incentivo à Cultura, para manutenção dos espaços culturais de Belo Horizonte. Também a realização de festas com shows e a ajuda do barzinho local contribuem no orçamento.
Mercado do Cruzeiro, Sindicato dos Jornalistas, Teatro Espanca!, perto do Viaduto Santa Tereza. Apenas a abertura foi na Casinha, com Duelo de MCs e bastante música. Há também os projetos musicais como o Casinha Convida e o Projeto Pracaber, e recebe bandas independentes de Belo Horizonte.
Evento atrai público diverso para Sarau realizado na Associação Cultural Casinha
Lucas Félix
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Memória
Memórias da música brasileira O músico Aloysio de Oliveira foi um importante personagem do cenário da música popular brasileira, sendo o responsável por reunir grandes nomes e grandes histórias ao longo de sua carreira
FABIANA GATTI PEDRO ALBUQUERQUE 7º PERÍODO
No ano de 2014, os amantes da música celebraram e reverenciaram o centenário de nascimento de três grandes compositores brasileiros: Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues e o maestro Guerra Peixe. Um outro nome, no entanto, não pode ser esquecido entre os ilustres, digamos, ‘aniversariantes’. Poucas pessoas tiveram o privilégio de participar de maneira tão marcante e intensa da história da música popular brasileira como Aloysio de Oliveira. Formado em odontologia, nunca exerceu a profissão e ainda adolescente já atuava como músico profissional. Integrante e espécie de líder do Bando da Lua, Aloysio foi responsável direto pela trajetória de Carmen Miranda em sua carreira internacional, intermediando contratos e shows no exterior. O grupo acompanhou a cantora em todas as apresentações e filmes realizados nos Estados Unidos durante as décadas de 40 e 50, considerados os anos de ouro da pequena notável em Hollywood, quando chegou a ser a cantora mais bem remunerada no país. O Bando da Lua foi o conjunto vocal brasileiro pioneiro na harmonização das vozes aos moldes dos conjuntos americanos. Fizeram grande sucesso durante o carnaval e tocavam bastante nas rádios no Brasil. Aloysio sempre foi considerado extremamente exigente e perfeccionista entre as pessoas que trabalharam e conviveram com ele. A cantora Cynara Faria, do Quarteto em Cy relembra essa característica do produtor: “Ele sabia o que queria, era extremamente exigente na busca pela qualidade, mas sempre valorizando o talento e a sensibilidade do artista”. A competência e versatilidade de Aloysio de Oliveira, o permitiu trabalhar como consultor de trilhas sonoras e dublador dos desenhos da Disney, além de ter colaborado diretamente
para a criação do personagem Zé Carioca. O governo americano promovia uma política de boa vizinhança com países latino americanos entre os anos 30 e 40 e encomenda a Disney a elaboração de filmes que estimulem essa parceria e união. Aloysio é convidado por um amigo que já integrava a equipe de Walt Disney. Participa então da produção do desenho ‘Alô amigos’ (Saludos amigos, 1942), onde canta ‘Aquarela do Brasil’ de Ary Barroso e indica várias sugestões sobre a montagem do personagem Zé Carioca. No filme ‘Você já foi a Bahia’ (Three caballeros, 1945), havia originalmente um número em que Aurora Miranda, irmã de Carmen, interpretava o choro “Carinhoso”, de Pixinguinha, com letra de João de Barro. Aloysio sugere que a música deveria ser substituída pelo samba de Ary Barroso ‘Na baixa do sapateiro’, que representa melhor a Bahia. A partir deste episódio ele conquista definitivamente a confiança e amizade de Walt Disney. Narrador oficial no Brasil dos desenhos da Disney, Aloysio também ficou conhecido pela dublagem das vozes dos personagens Capitão Gancho em ‘Peter Pan’, do cachorro Vagabundo em ‘A dama e o vagabundo’, do Zé Carioca em ‘Você já foi a Bahia’, traduziu letras das músicas de ‘Cinderela’, ‘Pinóquio’, ‘Alice no país das maravilhas’, ‘Peter Pan’, além de ter feito a letra de ‘Tico tico no fubá’, de Zequinha de Abreu para o desenho ‘Alô amigos’. O convívio entre Aloysio e Carmen Miranda não se limitou ao âmbito profissional. Apesar da discrição dele, tiveram um relacionamento amoroso e mesmo após separados mantiveram uma forte amizade. Carmen o considerava o grande amor da vida dela, segundo conta sua irmã Aurora. Em sua autobiografia “De banda pra lua” (Editora Recod, 1983), Aloysio de Oliveira conta que a morte de Carmem representou o fim da primeira metade de sua vida.
De volta ao Brasil após a morte de Carmen Miranda em 1955, trabalhou na rádio Mayrink Veiga com Aurora Miranda e Vadico, e foi diretor artístico da gravadora Odeon. Então, poucos anos antes de fundar seu próprio selo, Aloysio produziu o primeiro álbum de João Gilberto, ‘Chega de saudade’, para a Odeon. O disco é considerado o marco inicial da bossa nova. Em 1962, Aloysio de Oliveira assina a direção musical de um show que reúne a nata do estilo que consagrou Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Ao lado deles, João Gilberto e Os Cariocas sobem ao palco da casa noturna Au Bon Gourmet, em Copacabana, no Rio de Janeiro, e apresentam pela primeira vez ao público temas como ‘Garota de Ipanema’ e ‘Samba do avião’. Aloysio foi protagonista fundamental do surgimento da bossa nova. Atuou em várias frentes: cantor, letrista, produtor, diretor artístico. Funda a gravadora Elenco, considerada o grande divisor de águas da indústria fonográfica no Brasil e responsável pelo lançamento dos primeiros trabalhos de Vinicius de Moraes (como cantor), Edu Lobo, Tom Jobim, Nana Caymmi, Nara Leão e discos do Quarteto em Cy, MPB4, Baden Powell, Maysa, dentre outros. O produtor também lançou profissionalmente as cantoras Elza Soares, Sylvinha Telles (com quem foi casado) e Alaíde Costa. No curto período de existência (1963-1967) a Elenco tornou-se uma referência de qualidade musical, e as capas dos discos criadas pelo artista gráfico César Villela imprimiram uma estética gráfica inovadora para os padrões da época. Reuniu artistas de peso em álbuns antológicos tais como ‘Edu e Bethânia’, ‘Elis e Tom’ e ‘Vinícius e Caymmi no Zum Zum, com participação de Quarteto em Cy’. Sobre este último, a cantora Cyva Leite, do grupo vocal, destaca o encontro com Aloysio, a ideia do show e do disco: “Nós havíamos feito a estreia de uma temporada no Bottle’s Bar, no Beco das
O grupo “Bando da Lua” acompanhava Carmen Miranda no exterior
Garrafas e ele ia sempre nos ver. Eu nem sabia quem era Aloysio de Oliveira. O show no Zum Zum (outra boate próxima) inicialmente seria do Quarteto com o Caymmi acompanhados pelo conjunto do Oscar (Castro Neves, compositor e arranjador recentemente falecido) mas o Vinícius ficou com ciúmes e disse que ele não podia ficar fora (risos)… aí o Aloysio incluiu ele e virou o clássico tanto o show quanto depois o disco”. O show tornou-se um sucesso, rendeu duas temporadas entre os anos de 1964 e 1965 e foi a primeira vez que Vinícius e Caymmi se apresentaram juntos além da estreia definitiva do Quarteto em Cy. Na gravação do álbum uma curiosidade. Como não havia condições técnicas ideais para gravação ao vivo devido aos ruídos de vozes de pessoas falando, o disco foi totalmente feito em estúdio, recriando o ambiente barulhento de uma boate. Cynara lembra que apesar da possibilidade de parar a gravação para consertar um
erro, Aloysio fez questão de gravar direto, como se estivessem exatamente no espetáculo: “Ele sempre dizia isso, que a primeira emoção é a melhor, a que valia. Se ficar procurando muito, vai ficando muito técnico”. Em 1977, Aloysio ainda deixaria sua marca na direção musical do antológico show no Canecão entre Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Toquinho e Miúcha e a temporada que duraria dois meses se estendeu por sete. Foi uma das últimas apresentações de Vinícius de Moraes ao vivo. Sua vertente de letrista assinalou parcerias antológicas com Tom Jobim (‘Dindi’, ‘Só tinha de ser com você’, ‘Inútil paisagem’); Baden Powell (‘Vou por aí’); Sylvia Telles (‘Obrigada meu bem’) e versões como ‘Oba -la-la’ de João Gilberto e ‘Edmundo’ (‘In the mood’) de Joseph Garland e Andy Razaf, entre outras. Suas músicas continuam sendo executadas e regravadas todos os anos por artistas nacionais e internacionais. Aloysio de Oliveira mor-
Site Oficial Carmen Miranda
reu em 1995, vítima de câncer, em Los Angeles onde morou nos últimos anos de vida. As integrantes do Quarteto em Cy Sônia Ferreira, Cynara e Cyva - com quem Aloysio também foi casado - lembram, com emoção, do último encontro com Aloysio durante as gravações do disco ‘Vinícius em Cy’ (Cid, 1993). O disco, tributo a Vinicius de Moraes, contaria com a participação de Tom Jobim ao piano na música ‘Eu sei que vou te amar’. No dia da gravação, Aloysio de Oliveira, de passagem pelo Brasil e já debilitado, visitou o estúdio para rever as amigas e o amigo Tom. Quem conta é Cyva: “Foi impressionante, porque a gente acabou se despedindo dos dois. A gravação foi em setembro, o Tom morreu em dezembro e o Aloysio em fevereiro. A gente pediu ao Tom pra tocar ‘Dindi’ e foi uma choradeira danada, porque nós achávamos que estávamos nos despedindo do Aloysio dado o estágio terminal da doença, mas não sabíamos que seria do Tom também…”
O Beco das Garrafas Se alguém perguntar onde surgiu a Bossa Nova no fim dos anos 50 e meados de 60, alguns dirão que foi na batida do violão de João Gilberto, das letras de Vinícius de Moraes ou das melodias de Tom Jobim. Mas se existe praticamente uma unanimidade é de que um de seus berços foi o Beco das Garrafas. Localizado em uma pequena rua sem saída em Copacabana, no Rio de Janeiro, o Beco era formado por quatro bares dispostos um ao lado do outro: Ma Griffe, Little Club, Bacará e Bottle’s. Cenário de pocket shows memoráveis e de muitas histórias, não haviam palcos nem camarins, e o espaço reduzido era disputado pelos numerosos clientes. Artistas como Edu Lobo, Elis Regina, Nara Leão, Baden Powell, Jorge Ben, Sérgio Mendes entre tantos outros em início de carreira, em sua grande maioria, se apresentavam no improviso e sem receber cachê. Aloysio de Oliveira e outros produtores e empresários não perdiam as inúmeras atrações que poderiam garimpar e lançar futuramente. Tom Jobim e Aloysio no Zum Zum, com participação de Quarteto em Cy
Wilton Montenegro
O nome Beco das Garrafas, foi inspirado nas garrafas que os vizinhos jogavam das janelas por causa do barulho dos frequentadores dos bares. O apelido teria sido dado pelo cronista carioca Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que chamava de “beco das garrafadas”. Nos anos 70 veio a decadência. Os bares fecharam e reabriram algumas vezes como pontos de prostituição (o Ma Griffe, hoje totalmente fechado, na realidade já servia para esse fim desde o Beco original) ou depósito de bebidas. Em 2014 finalmente o Beco das Garrafas ressurge repaginado graças à iniciativa privada. O Bacará e o Bottle’s tornaram-se um só espaço para eventos e shows, preservando o nome do segundo. Já o Litlle Club foi reformado recentemente e também recebe espetáculos de menor porte (70 e 80 lugares respectivamente). A ideia dos produtores locais é resgatar a importância do lugar como ponto de efervescência cultural da cidade.
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Memória
D. Rita com o chefe do gabinete da presidência
Agência Nacional
A jovem Rita, elegante e sofisticada
Agência Nacional
Rita e seu professor de datilografia
Agência Nacional
Um doce olhar sobre a história Dona Rita viveu anos de glória como secretária de gabinete na época em que Getúlio Vargas foi o presidente da República, e hoje relembra momentos marcantes que viveu no Palácio do Catete MARIANA NOGUEIRA 4º PERÍODO
“Para que mais funcionários, nós já temos tantos!”. Essa frase é uma das muitas proferidas por Getúlio Vargas no Palácio do Catete, segundo relata Luís Vergara, secretário particular do Presidente de 1928 a 1945, no livro ‘Eu fui secretário de Getúlio’, de 1960. Segundo Vergara, cerca de 200 funcionários trabalhavam no Catete durante o segundo mandato de Vargas, entre 1951 e 1954. Sentada de frente para as longas janelas azuis, cercada pelos portões e pelas flores do jardim da frente, Rita Alvim de Moraes Baptista descansa seus 91 anos de vida. Viúva e já com os dois únicos filhos falecidos, a ex-taquígrafa e datilógrafa da Presidência da República vive sozinha na casa com mais de 15 cômodos no centro da pacata Tiradentes, Minas Gerais. As unhas pintadas em tom de rosa choque, os cabelos pintados e partidos de lado, o colar de pérolas e o batom perfeitamente delineado fazem de Rita uma das mulheres mais elegantes e sofisticadas da cidade. Nascida em 9 de setembro de 1923, na cidade de Rio Pomba, na Zona da Mata, a 250 km de Belo Horizonte, Dona Rita, como é conhecida por todos, sabe traçar com precisão cada ano de sua vida. Desde a professora da cidade natal que passava pela porta de sua casa para lhe ensinar a leitura na infância, até os passos lentos do presidente Getúlio Vargas na varanda do Palácio do Catete. A lucidez que impressiona é justificada por Rita pelos hábitos disciplinares que a acompanharam por toda vida. Às 5h30, ela se levanta para o café da manhã. Na sala, após a refeição, Zélia ou Piedade, as empregadas da casa, levam para a aposentada as notícias do dia. Os jornais ‘O Globo’ e ‘Estado de Minas’ e a revista ‘Veja’ compõem as
leituras matinais de Rita, que na TV só se interessa pelo ‘Jornal Nacional’, da Rede Globo. No criado ao lado do sofá, os óculos emitem o reflexo da luz vinda da janela. São eles uma das poucas denúncias da idade da mulher que, por muitos anos, sustentou junto a outras poucas brasileiras o retrato da independência feminina. Com um equívoco cometido pela escola em que estudou em Rio Pomba, Rita se formou para o magistério aos 15 anos, com um diploma que acusava 18. A família Alvim, então, decidiu se mudar para a capital. Sem poder exercer a profissão devido a pouca idade, Rita aguardou ansiosamente para se candidatar ao seu primeiro emprego. Nesse meio tempo, conheceu Manoel Eustáquio, com quem viria a se casar poucos anos depois. Natural de Tiradentes e advogado por formação, Manoel se apaixonou instantaneamente por Rita, com quem viveu até o fim de sua vida. O primeiro emprego de Rita foi na Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais. Seu pai, grande amigo de Cristiano Machado, conseguiu que a filha, mesmo jovem, começasse a transpassar o caminho dos políticos do Brasil. Após prestar um concurso, Rita foi nomeada para trabalhar em um banco, no Rio de Janeiro. Poucos quilômetros separavam o prédio da Caixa Econômica Federal do Palácio do Catete. Para ela, aquela época trás boas recordações. Luís e Manoel, filhos de seu casamento com Manoel Eustáquio, estudavam e construíam sua vida na capital carioca. Mas foi em fevereiro de 1954 que, indicada por um amigo, Rita se viu, novamente, no caminho da política brasileira. Entre um café e outro, a aposentada consegue contar em detalhes o que viveu no gabinete da Presidência da República. “Vi muita coisa acontecer na Presidência. O Getúlio era um ho-
Dona Rita relembra momentos e histórias marcantes de seu passado como secretária presidencial
mem muito fechado, mas andava de um lado para o outro no Palácio, parecia sempre que estava planejando algo. O Juscelino era mais tranquilo, mais carismático, mas se tivesse que dar uma bronca, descia onde precisasse te encontrar para dar”, lembra Rita, que trabalhou por seis anos na Presidência, até a transferência da capital para Brasília. A aposentada conta ainda que, no dia da morte de Getúlio Vargas, ninguém podia sair do Catete. “Acontece que o povo todo estava em grande alvoroço na porta do Palácio. Em todas as cidades do Brasil as pessoas queriam depor o presidente Getúlio. Naquela noite, os guardas se juntaram para impedir que o povo invadisse. Não podíamos sair do Palácio, passamos a noite lá”, recorda. Ainda segundo Rita, o mordomo Zarattini foi quem encontrou o presidente morto. “Zarattini foi levar o café para ele. Bateu na porta e ninguém atendeu. Bateu de novo e ninguém atendeu. Até que ele arrombou e de repente estava lá, o presidente Getúlio tinha dado um tiro no peito.” “Mas o que mais me incomodou e chamou a atenção nessa história
toda foi ver a reação do povo. O mesmo povo que queria depor o presidente estava lá, sacudindo os portões do Catete e derramando lágrimas pela sua morte. Eu nunca vou entender o que aconteceu. O povo é muito complicado”, desabafa Rita. Um dos empregados da casa adentra a sala para se despedir da patroa. Ele pega a mão dela e ela, em um gesto recíproco, bate três vezes nas mãos de Gilberto. Para ela, sua família se resumiu a poucos. Os netos aparecem de vez em quando, a nora telefona uma vez por mês, e os filhos e o marido estão espalhados em molduras diversas nas paredes e sobre os móveis. Rita aponta o sobrado construído nos fundos da casa quando os filhos eram adolescentes. “Hoje ele fica vazio. Mas antes tinha até roda de violão”, lembra. É dia 5 de outubro e Zélia interrompe a entrevista para informá-la que está na hora de ir até a escola mais próxima votar. Ela sorri. Sabe que aos 91 anos não precisava exercer o voto. “Minha filha, o presidente Café Filho era um homem muito bom. Substituir Getúlio não era uma tarefa fácil, mas ele foi lá, firme e forte enfrentou tudo. Juscelino tam-
bém, apesar de ter sido um ótimo presidente, suas inovações não agradavam todo mundo. Ser presidente é assim. Eu não sei o que é melhor agora para governar o Brasil, mas sei que independente de quem for o escolhido, ele nunca vai conseguir agradar o povo”, conclui Rita. Com certa dificuldade
Thiago Morandi
para se levantar, Rita toca o sino que carrega consigo para pedir auxílio à uma de suas companheiras. Tenta se justificar. “91 anos não é fácil. O médico disse que eu estou ótima. E estou mesmo. Pronta para fazer o que for preciso, como sempre estive. Inclusive, estava aqui pensando, será que chego aos 100?”.
A secretária de Getúlio D. Rita, como é popularmente chamada em Tiradentes, é conhecida pela maior parte dos habitantes da cidade como “A secretária de Getúlio”. Ainda assim, poucos são os que já a viram pessoalmente. João Fernando Silva, de 45 anos, conta que cresceu ouvindo a história. “Eu não sei te falar quem ela é, mas também nunca gostei muito de passar pelo passeio da casa dela, por causa dos cachorros, sabe? Tinham muitos ali antigamente. Todo mundo tinha
medo. Mas minha mãe sempre disse que ali morava a moça que tinha sido secretária do Getúlio Vargas. Eu não sei se é verdade, mas eu sempre achei muito legal”, afirma Silva. Para Rita, ser conhecida dessa maneira soa como novidade. “Eu sempre fiquei mais quieta aqui mesmo, mas eu não sabia que as pessoas conheciam minha ligação com a Presidência. Na verdade, é um trabalho como outro qualquer”, observa a aposentada.
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Entrevista
ANA DURÃES
História de uma vida nas telas BÁRBARA SOUTO 3º PERÍODO
Começou a pintar aos dez anos e, desde então, não parou. “Eu nunca pensei em ser outra coisa. Não foi uma decisão, foi um processo natural”, conta a artista plástica Ana Durães. A criança, admirada, que enxergava os pintores como representação divina e se encantava pelos poderes mágicos que saíam de suas mãos, se tornou uma artista plástica reconhecida, com exposições individuais e coletivas em várias cidades do Brasil e do exterior. Ana Durães é, no momento, a Ghost Painter de “Salvador”, papel do ator Paulo Vilhena, em Império, novela da TV Globo. Ou seja, ela é a artista por trás das obras feitas pelo personagem. Este é o seu quinto trabalho como Ghost Painter. A artista recebeu o MARCO de braços abertos e, com muita simpatia, contou de sua trajetória, como é trabalhar nos bastidores das novelas e sobre o que está por vir. “Serei homenageada com o enredo do bloco carnavalesco Badalo de Santa Teresa, no Rio. Imagina, virar enredo em vida”, conta com empolgação.
Quando você decidiu seguir a carreira de pintora? Eu nunca pensei em ser outra coisa. Não foi uma decisão, foi um processo natural. Sou a sétima filha. Em Diamantina, nos anos 60, passavam vários pintores, copiando os casarios, Igrejas. Meus irmãos mais velhos me diziam: em frente a tal Igreja tem um pintor. Então lá ia eu, mas como ele era a representação de um Deus, eu não tinha coragem de chegar perto, e ficava aquela criança, horas a fio, andando do outro lado da calçada, maravilhada, olhando aquele poder mágico que saía das mãos dele. Um dia meu pai me disse que conhecia um pintor em São Paulo. Pronto. Formei a ideia de um pintor: Um cara de São Paulo, que usava um lenço no pescoço e tinha um poder mágico nas mãos. Quando entrei pra escola, uma escola pública em Diamantina, obra modernista de Oscar Niemeyer, me deparei com a coisa mais surpreendente que eu vira, além dos copistas das Igrejas. Era uma pintura imensa, que mais tarde, bem mais, eu descobrira ser uma têmpera, de Di Cavalcanti. Eu pensei: eu quero fazer isto também.
Sua família apoiou? Sempre. Muito pequena, quando eu comecei a desenhar, ninguém acreditava que eu tinha feito aquilo, à mão livre, até que um dia fiquei doente e meu pai se sentou ao meu lado. Eu fiz um desenho dele, então todos acreditaram que eu não colava. Daí sempre me deram força. Compraram tintas, pincéis. Meu
pai fez um cavalete pra mim. Foi o melhor presente que eu já ganhei. Nunca me esqueci. Estudei em bons colégios e as pessoas achavam meio estranho eu fazer vestibular para Belas Artes. Penso que no fundo, minha mãe ficava preocupada, como seria a vida de um artista; acho que ela queria que eu fizesse psicologia, mas eu nunca tive dúvida. Steve McCurry
Como você se tornou uma dublê de pintores? Não é bem uma dublê, pois faço a criação, conceitualizo e preparo o ator. Seria melhor a tradução literal de Ghost Painter, que em português é meio estranho, ou seja, pintor fantasma, que é diferente de dublê. O primeiro trabalho que fiz para televisão foi na minissérie “Queridos Amigos” da TV Globo. A curadora Denise Matar estava prestando uma consultoria pra produção e tinha uma personagem, Lena (vivida por Debora Bloch) que era uma pintora Pop, e a Denise achou que eu poderia fazer. Indicou-me e eu topei. Fiz a preparação da Deborah, e as obras. O Diretor de arte Guga Feijó gostou e criamos uma bela parceria e nos tornamos amigos. Daí em diante ele sempre me chamava e me indicava para outros produtos da Globo. O personagem Salvador (Paulo Vilhena) de Império é meu quinto trabalho.
Para ser um Ghost Painter é necessário entrar na personagem? Com certeza. Primeiro faço uma pes-
quisa grande. A partir do perfil da personagem, pesquiso o estilo que ele deve ter, a personalidade artística que ele deve adotar, o tema que ele deve criar, etc. Apresento minha pesquisa para a direção e direção de arte e definimos a palheta de cores. Depois é esperar o que o autor escreve.
O que você precisa saber sobre a personagem? Leio o perfil da personagem, converso com os diretores e autores e também com o ator. Geralmente quando sou convidada, logo começo a busca de referências para criar o conteúdo e também para fazer a preparação (laboratório) com o ator.
Os quadros para as novelas são encomendados ou você faz de acordo com a sua percepção sobre a personagem?
Como é a sua relação com os atores que interpretam os personagens que utilizam os quadros?
Minha relação com os atores é ótima. Já trabalhei com Debora Bloch, Ana Paula Arósio, Jaime Matarazzo, Felipe Camargo e agora com Paulo Faço de acordo com Vilhena. Acho que o assuna minha percepção, to já facilita. Penso que os e com o que o autor atores tem curiosidade com escreve. No caso do a pintura e o ambiente de Domingos SalvaMeu pai fez um dor, o autor Aguicavalete pra mim. atelier é sempre agradável. naldo Silva disse No caso do Jaiminho, por Foi o melhor que queria uma exemplo, foi tão bacana que presente que coisa meio Iberê ele continuou fazendo divereu já ganhei Camargo. Pensei na sos grafites sozinho. Ficávadensidade da pintumos horas a fio trabalhando e ra do Iberê, mas tiele queria mais. Eu brincava nha que ter a perso“você é jovem e eu sou uma senhora, nalidade do Salvador. O autor escreve: estou cansada”. (risos) “um desenho genial e horrível”. Não é tarefa fácil.
Como é trabalhar nos bastidores das novelas? É muito intenso. Novela é muito trabalhoso. Tudo é para ontem. Em todas as cenas do Paulinho Vilhena que têm pintura eu estou presente. São horas e horas de gravação, mas a equipe é muito legal e o trabalho é muito prazeroso. Normalmente faço três trabalhos pra gravação; um desenho, outro do trabalho em processo e outro finalizado. Tudo com o maior cuidado para dar veracidade e facilitar para o ator.
Atualmente você pinta outros quadros além dos que são feitos para a novela Império?
Michelly Thomaz
Domingos Salvador em outro. A galeria que me representa (Sergio Gonçalves Galeria de Arte) participou de uma feira em São Paulo e está fazendo uma exposição no interior de São Paulo, e eu consegui fazer só um trabalho novo. Estou com uma tela de 2,5 metros no cavalete há meses, e eu digo, semana que vem acabo. Meu marchand já batizou o quadro de “semana que vem”. Ele me manda mensagem todo dia perguntando: Semana que vem já tá pronto? Eu fico gelada. (risos)
Pinto, embora não dê muito tempo. Fiz até uma pequena divisão conceitual no meu atelier; Ana Durães num andar e
Tem algum projeto, relacionado aos quadros, para o futuro? Bem, a novela vai até fevereiro. Também serei homenageada com o enredo do bloco carnavalesco Badalo de Santa Teresa. Imagina, virar enredo em vida. Fiquei muito honrada, com isto. Como disse Joãosinho Trinta, “a maior honraria que se pode ter no Brasil é ser tema de carnaval”, e eu tive esta honra. Depois quero tirar umas férias e poder ficar pintando com um pouco mais de calma, (terminar o “Semana que vem”), fazer uma viagem de carro por Minas Gerais, pela Serra do Cipó que adoro e não vou há muitos anos e me dedicar a uma nova série de pinturas no atelier do Vale das Videiras, com meus bichos, até um novo turbilhão aparecer.