STREET STORE CHEGA A BH COM NOVA PROPOSTA DE AÇÃO SOCIAL: PERMITE QUE PESSOAS CARENTES ESCOLHAM O QUE PRECISAM PÁGINA 4
PUC FAZ PARCERIA COM PROJETO CRIANÇA ESPERANÇA, EM AUXÍLIO A JOVENS E CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RISCO NO AGLOMERADO DA SERRA PÁGINA 11
Camila Navarro
Lucas Félix
PROMOTOR ELEITORAL, EDSON DE RESENDE COSTA, EXPLICA PROJETO DE REFORMA POLÍTICA E OS MAIORES DESAFIOS PARA SUA APROVAÇÃO PÁGINA 16 Guilherme Cambraia
marco jornal
Ígor Passarini; Victor Rinaldi; Gabriela Ribeiro
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 43 . Edição 312 . Maio de 2015
Política
O que os jovens querem? PÁGINAS 8 e 9
Jogos independentes se destacam na capital
Mídia e democracia
O mercado de tecnologia começa a despontar em Belo Horizonte. A cidade passa a ser reconhecida como o novo Vale do Silício, através de iniciativas como o San Pedro Valley, uma comunidade autogerenciada com o objetivo de atrair investimentos e visibilidade para a área. BH também está pronta para apertar o play quando o assunto é jogos digitais, pois os mineiros contam com o MIND, Mostra Mineira de Indie, para divulgarem seus novos trabalhos em um ambiente descontraído e cheio de ideias. PÁGINAS 12 e 13
Em semana de realização do seminário sobre Comunicação e Democracia no Brasil, promovido pela Faculdade de Comunicação e Artes da PUC, o MARCO traz, aos leitores, uma reflexão sobre esta importante temática. Repercute evento do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), que promoveu debate sobre “Jornalistas e Democracia”, em que a liberdade de expressão e a democracia foram pautadas como forma de se refletir sobre o jornalismo atual. Os palestrantes, jornalistas Ricardo Kotscho, Audálio
Dantas e José Maria Rabêlo, questionaram a grande imprensa brasileira, por ter perdido, em boa medida, o compromisso com a informação em favor de seus interesses econômicos. O jornal aborda, também, o filme-documentário “Mercado de Notícias”, de Jorge Furtado, que mostra o poder que a grande imprensa exerce sobre a sociedade e como formadora de opinião. Outro tema tratado são as consequências do humor, analisando a repercussão das charges e do atentado sofrido pelo jornal francês Charlie Hebdo.
Do filme Mercado de Notícias
Fábio Rebelo
Acervo pessoal
O bairro Dom Cabral aos olhos de Dona Mariinha Bairro
DomCabral
50 Anos
as Luc
Dando continuidade à série de matérias especiais em homenagem aos 50 anos do Dom Cabral, o Jornal MARCO traz a história do bairro contada sob a percepção de Dona Mariinha. A senhora, de 81 anos, foi uma das primeiras moradoras a se instalar no bairro, no qual criou sua família que, recentemente, chegou à quarta geração. Dona Mariinha, que foi sacristã durante muito tempo, contribuiu e acompanhou de perto a evolução do bairro que abriga seu lar há 47 anos.
lix Fé
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LEIA AINDA
Valorização do bairro São Gabriel No bairro São Gabriel, localizado na Região Nordeste, em contrapartida ao cenário financeiro do setor imobiliário do Brasil, a procura pela locação de imóveis aumentou e teve uma recuperação significativa, principalmente depois da Copa do Mundo de 2014. Esta edição ainda mostra o São Gabriel como o bairro com o custo de vida mais baixo entre muitos bairros da região. Os produtos da cesta básica, como alimentos, que atendem às necessidades da população, são encontrados a preços módicos. PÁGINA 6
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Mídia e democracia
editorial
As liberdades e a participação MARIANA CAMPOLINA 5° PERÍODO
A edição 312 chega aos leitores repercutindo importantes assuntos e, como sempre, contando boas histórias. Nesse número, continuamos com o especial Dom Cabral 50 anos e damos voz à Dona Mariinha, antiga sacristã da Paróquia Bom Pastor e uma das moradoras mais antigas do bairro. Trazemos, também, uma importante discussão sobre Mídia e Democracia, a partir do debate realizado no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais em defesa da liberdade de expressão e de informação. Sobre os limites do humor, há uma entrevista com o cartunista Quinho, do Estado de Minas e o curador do festival internacional de quadrinhos, Afonso Andrade. Essa edição destaca, ainda, a crescente participação dos jovens no cenário politico brasileiro nos últimos três anos, desfazendo o estereótipo de desinteresse e apatia da juventude. Sendo a reforma politica e o fim da corrupção as principais bandeiras levantadas por eles, o MARCO realizou ainda uma entrevista com o promotor eleitoral Edson de Resende Castro. Ele esclarece, de forma didática e com linguagem acessível, as principais dúvidas a respeito do projeto. Tenham uma boa leitura!
Seminário na Comunicação DÉBORA ASSIS 3° PÉRIODO
A Faculdade de Comunicação e Artes realiza, na segunda semana de maio, o III Seminário de Pesquisa e Extensão. O tema é “Comunicação e Democracia no Brasil: tecnologias, crises, oportunidades e desafios”. O chefe do Departamento, prof. Ércio Sena, afirma que a ideia de debater sobre a democracia na comunicação surgiu porque esse tema tem sido muito discutido, principalmente durante e após
o período eleitoral de 2014. Ele acrescenta: “A ideia é refletir sobre essas possibilidades [da democratização na internet] e mostrar a diversidade de opiniões em relação ao assunto.” Também estarão em discussão a questão das redes sociais e a crise atual no jornalismo mineiro. As palestras trazem professores de comunicação, jornalistas, publicitários, relações públicas, críticos de cinema, blogueiros, entre outros.
expediente jornal marco
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Grande imprensa perde compromisso com a informação DÉBORA ASSIS
Jornalistas são obrigados a esconder seu cargo durante as manifestações para evitar retaliação
3° PERÍODO
A grande imprensa deixou de ser a porta-voz dos cidadãos brasileiros durante as manifestações públicas, que tiveram início no ano de 2013. A grande imprensa brasileira não tem mais o compromisso com a informação e sim com os interesses políticos e econômicos do oligopólio da mídia e dos partidos políticos. No dia 8 de abril, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) promoveu um debate sob o tema “Jornalistas e Democracia” para fazer uma reflexão sobre jornalismo, liberdade de expressão e democracia, com a presença dos jornalistas Ricardo Kotscho, Audálio Dantas e José Maria Rabêlo. Os palestrantes abordaram o fato de que a grande imprensa não quer perder os seus privilégios e, por isso, a questão para os donos dos meios de comunicação não é liberdade de expressão. Dantas disse que da mesma forma que a grande imprensa apoiou o golpe militar em 1964, ela continua censurando a
Ricardo Kotscho, José Maria Rabêlo, Audálio Dantas e Kerison Lopes
questão política atualmente. “Estamos vivendo um tempo que acabou e ninguém sabe o que vai vir”, disse o jornalista Ricardo Kotscho, ao comentar sobre as crises da imprensa brasileira. VOZ AO POVO Rabêlo disse que “cerca de 98% do compromisso da imprensa é de discurso e apenas 2% é popular”, deveria ser o contrário, a imprensa tem que dar voz ao povo e não viver de interesses financeiros e políticos. Kotscho afirmou que tem mais perguntas do que respostas e que a presen-
SJPMG
ça dos jovens em debates sobre mídia e democracia é importante pelo fato de não se saber o que está por vir na imprensa. “Estou velho demais para vender ilusões e muito moço para entregar os pontos”, disse Kotscho ao falar sobre o jornalismo. José Maria Rabêlo ainda concluiu que é importante se perguntar o que podemos fazer e não apenas reclamar do outro lado. No debate foi apresentado o manifesto “Jornalistas pelo Brasil” que defende ideias de liberdade de expressão e informação, de valores democráticos e de direitos humanos.
O manifesto diz que a imprensa deixou sua história e o seu papel para com a população para se aliar a projetos econômicos e políticos e que isso tem feito com que o jornalismo perca sua relevância. A indústria da notícia desinforma para manipular. O texto acrescenta que o jornalismo deve ser repensado e que os jornalistas precisam enfrentar esse grande grupo que defende seus próprios interesses e não a essência da informação. “É hora do jornalismo responsável. Contra a lógica destrutiva do quanto pior melhor”, destaca um trecho do manifesto.
motivos, estão apoiando o candidato tal. E na parte noticiosa do jornal você cobre normalmente. Um patamar de civilização que talvez a gente não tenha chegado (sic) no Brasil.”
Mudanças radicais nos suportes comunicacionais e nas diretrizes para se exercer o jornalismo trouxeram, paralelamente, incertezas e confusões acerca da profissão e uma maior democratização da informação. Destacada no filme, a frase de Millôr Fernandes “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.” José Roberto de Toledo explica que não é no sentido de se opor ao governo (seja qual for), mas sim apresentar o ponto de vista oposto, no intuito de confrontar a ordem já estabelecida e causar a dúvida, que é o que move o ser humano. Como também é pontuado no filme, a notícia, como mercadoria, atualmente está perdendo seu valor, visto que o acesso à informação é total e a necessidade de um mediador, como os jornais, já é quase inexistente. Com o surgimento de novas plataformas, como os blogs e as redes sociais, o conteúdo não precisa passar por edições e revisões. A responsabilidade por ele é somente do autor, que deve lidar com sua liberdade e sua produção.
A luta de interesses na mídia BRUNA CORREA LUIZ COUTINHO LUIZ HENRIQUE 2° PERÍODO
Reconhecendo que não há fatos brutos na natureza, todo e qualquer acontecimento é, então, passível de seleção, análise e interpretação. Este é o ponto de partida para o filme “O Mercado de Notícias” (2014), que questiona dois aspectos salientados na peça homônima de Ben Johnson: o debate sobre a credibilidade da notícia, que inevitavelmente estará atrelada a interesses; e o segundo aspecto: uma constante busca pela novidade, no intuito de alimentar a demanda das notícias que se tornaram entretenimento e, consequentemente, um tipo de mercado que precisa sobreviver nos aspectos econômico e comercial. Sob o tema mídia e democracia, o documentário deixa explícito o poder da imprensa na construção da opinião pública, regendo de certa forma interesses políticos e econômicos. Fala-se de política, pois é onde se encontra a problemática da imprensa brasileira atual:
o refúgio em uma isenção, uma hipotética neutralidade, expressando o interesse da sociedade e negando-se como agente político. Os depoimentos apresentados fazem lembrar que o posicionamento da mídia até o golpe militar de 1964 era claro, mas hoje isso falta às linhas editoriais nacionais, que, visando o mito da imparcialidade, tentam se manter imunes e equilibradas em meio a todos os acontecimentos políticos que os alcançam. Em um dos depoimentos, a jornalista Renata Lô Prete pontua: “Eu acho que existe a identificação editorial, é evidente, o público percebe, e que talvez o apoio explícito seja o melhor instrumento que você dá ao consumidor da informação para ele monitorar ‘é, ta apoiando esse lado? Tá apoiando essa candidatura?’ Então eu tenho como fiscalizar como é que tá o conteúdo noticioso.” Enquanto isso, Geneton Moraes Neto exemplifica: “The New York Times faz isso, o Washington Post sei lá, né (sic). Você diz numa página de editorias que os jornais, por tais e tais e tais
BARÕES MIDIÁTICOS Nesse aspecto, divaga-se sobre a liberdade de imprensa e o curioso panorama em que o país se encontra; não é o Estado quem censura, mas sim os próprios barões midiáticos, donos dos meios de comunicação que subvertem fatos para atender a um desejo público. Torna-se natural atentar contra reputações para minar certos setores políticos do país. Mino Carta explica esse cenário: “A mídia brasileira é um partido político. Os jornais repercutem o que interessa a eles. Quer dizer: a verdade factual eles não repercutem se não serve ao raciocínio deles. Não é assim na Inglaterra, não é assim na Itália, não é assim na França.” Outro ponto relevante tratado com cuidado pelo roteiro de Jorge Furtado, e por seus convidados, é a “revolução” que atravessa a atividade jornalística hoje.
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Mídia e democracia
As consequências do humor O atentado ao jornal Charlie Hebdo gerou um acirrado debate sobre a liberdade de expressão entre leitores e humoristas BRUNO DE ASSIS VALTER OLIVEIRA YASMIN KAIZER 1º PERÍODO
O atentado ao Charlie Hebdo causou inúmeros impactos na sociedade. Os irmãos Kouachi invadiram a sede do jornal e assassinaram 12 pessoas, além de deixar cinco feridas. Como resposta, houve protestos em vários países do mundo solidários aos chargistas, com o slogan “Je suis Charlie”. Diante desse cenário, assuntos como a liberdade de expressão, o limite do humor ficaram em evidência. O humor é um fenômeno universal, todavia, o que é engraçado varia segundo a cultura, os temas abordados, a forma de contar as piadas e os temas tabus. Enquanto para os muçulmanos a retratação do profeta Maomé é inaceitável, para os europeus isso não constitui um problema. A imigração de africanos de países como, por exemplo, Argélia e Marrocos para a França permitiu que duas culturas com orientações destoantes entrassem em contato. Essa proximidade tornou possível uma abordagem mais frequente do tema Islamismo por parte do Charlie Hebdo, uma vez que os muçulmanos faziam
parte do país. A forma com que o jornal se referia ao Islã e a seus integrantes não era apreciada, na maioria das vezes, pelos adeptos da religião que viam nas charges desrespeito à sua religião. Outra questão é que esses cartuns usavam estereótipos causando preconceito e um consequente aumento da segregação social. Por outro lado, aqueles que apoiavam o jornal diziam que ele estava apenas exercendo o direito da liberdade de expressão, satirizando o Islamismo, assim como com todas as religiões. Antes dos incidentes de 2015, já tinham ocorrido manifestações contrárias às charges. Em 2007 e 2008, o jornal venceu disputas judiciais de duas organizações muçulmanas. Na ocasião elas se opuseram a vários cartuns, no entanto, nesses processos o tribunal alegou que os desenhos não retratavam os muçulmanos em geral, mas apenas os fanáticos. Já em 2011, um incêndio criminoso atingiu a sede do jornal, um dia antes de ser publicada uma polêmica edição que satirizava o Islamismo. Todavia, ao contrário do atentado de 2015, esse não fez vítimas. O MARCO entrevistou o chargista Quinho, que, atualmente, trabalha no
jornal Estado de Minas e Afonso Andrade, coordenador de quadrinhos da Fundação Municipal de Cultura e curador do Festival Internacional de Quadrinhos. NÃO À VIOLÊNCIA Apesar deles discordarem da postura do Charlie Hebdo, ambos enfatizaram que o terrorismo nunca está correto. Seja qual for a reivindicação, essa conduta não pode ser justificada. Para Afonso Andrade, “não se responde a algo que você considera ofensivo nem mesmo jogando uma bolinha de papel ou com uma paulada, quanto mais atirando com uma arma automática. Você responde a crítica por meio de outra crítica ou utilizando instrumentos legais.” Já Quinho disse que “deve-se rebater uma ideia com outra ideia mais forte. Quando alguém usa a violência é porque não tem mais argumento, quem faz isso está, portanto, errado.” Segundo Afonso Andrade, a abordagem do Charlie ao Islã reforçava preconceitos que existem desde que começaram as imigrações nos anos 60 durante e depois das guerras pela independência de países africanos. Nessa ocasião, várias pessoas vindas da Argélia e Marrocos ingressaram
na França. De acordo com ele, essa imigração ocorreu até o fim do século XX e criou uma classe da sociedade francesa que vivia à margem. “O Charlie Hebdo errou no momento em que usou estereótipos dessa população”, disse. Afonso não concorda com a atitude anticlerical do hebdomadário. Para ele, o jornal assumiu uma postura que alimentou o preconceito aos imigrantes e ao Islã, ofendendo-os. Entretanto, Quinho afirma que em momento algum os chargistas ultrapassaram o limite da liberdade de expressão. Primeiramente porque ela é garantida pela Constituição francesa e segundo porque nenhuma religião é blindada contra o humor. Para ele, os chargistas criticavam os dogmas do Islã e não ofenderam os muçulmanos, porém, estes consideraram como ofensa, já que os chargistas discordam de suas crenças. Segundo Quinho, a ofensa começa quando uma parte dos membros de uma religião começa a classificar todos que não fazem parte dela como amaldiçoados e infiéis. Ele ainda afirma que a atitude dos terroristas só confirma que eles próprios não acreditam no que pregam, uma vez que não seria necessário matar alguém que supostamente já estaria
Lucas Félix
Para Quinho, toda ideia é passível de crítica
Lucas Félix
condenado por Alá. Afonso acredita que, nesse momento pós-atentado, é importante haver uma reflexão do Charlie sobre sua forma de humor, principalmente em relação à questão dos imigrantes. Entretanto, Quinho disse que a abordagem do jornal estava certa e que ele deve reafirmar a sua posição contestadora dando continuidade à publicação de suas ideias e não deve se curvar diante da violência. Em relação à existência do limite do humor, os entrevistados novamente tiveram posicionamentos divergentes. Para Quinho, não existe limite para o humor. Ele defende a liberdade de expressão nas charges e acrescenta que toda ideia é passível de crítica e de sá-
tira, desde que haja cautela, responsabilidade e bom senso. Acredita que o chargista deve combater os preconceitos e o status quo sem ser maniqueísta, também devem apoiar as minorias, não impedir o direito das pessoas e não ofender ninguém. Por sua vez, Afonso Andrade afirma que o humor é um discurso e por isso é ideológico, logo deve ter limite. “Quando eu me dirijo a alguém, seja através de uma piada ou artigo de jornal, eu estou me posicionando em relação ao objeto. Portanto, eu tenho que ter ciência do que falo, pois isso tem consequências. Talvez a pergunta certa não seja qual é o limite do humor e sim quais as suas consequências.”
nos dias de hoje, calcada na qualidade e no respeito pelos seus ouvintes.” A estudante do curso de Letras da UFMG, Maurine Camargo, sempre foi ouvinte da Guarani. Para ela, o fim da emissora é uma perda imensurável, “a Guarani seguiu um caminho que outras rádios não seguiriam, não no sentido de ser anticomercial, mas de realmente se preocupar com uma programação diferenciada. Nunca aceitou jabá (pagamento feito pelas gravadoras às rádios para que toquem somente as músicas determinadas) e tinha a ousadia de tocar música clássica ao meio-dia. Sempre respeitou a sua identidade e seu público.” O impacto também é grande para jornalistas e profissionais do rádio. Verônica Pimenta, diretorasecretária do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (SJPMG), afirma que a emissora tinha uma programação qualificada e bons profissionais, “o fim da Guarani é ruim não só pelo número de profissionais que ficam desempregados, mas também pela qualidade informativa e cultural da emissora, que era uma fonte de informação para todos.”
CRISE O objetivo da venda da rádio parece ser para resolver problemas financeiros dos Diários Associados. O grupo tem demitido jornalistas e funcionários, deixando explícita a grave crise que a empresa enfrenta, devido a fatores internos e externos da conjuntura econômica. O grupo estuda a possibilidade de vender a sede no bairro Funcionários, um dos pontos nobres da cidade. Estima-se que a sede do Estado de Minas custe em torno de R$ 50 milhões. A venda representará mais um capítulo, talvez dos últimos, na história do condomínio fundado pelo primeiro magnata da mídia brasileira, Assis Chateaubriand, que chegou a ter 36 jornais, 18 revistas, 36 rádios e 18 emissoras de televisão. Além dos veículos em Minas, os Diários Associados têm, com alguma expressão, apenas o Correio Braziliense, na capital Federal, e o Diário de Pernambuco, em Recife. Há pelo menos duas décadas que o jornal Estado de Minas é considerado o carro-chefe do grupo, situação que apenas enfatiza a gravidade do quadro.
Ouvintes perdem com o fim da Rádio Guarani WINICYUS GONÇALVES 5° PERÍODO
“A Guarani FM é uma rádio diferente porque tem uma relação direta com a cidade e reflete essa identidade em sua programação.” Assim, o locutor e produtor cultural Bob Tostes se refere com carinho e orgulho, à rádio de que fez parte. A emissora, que pertence ao grupo Diários Associados em Belo Horizonte saiu do ar no dia 1º de maio para dar lugar à Rádio Feliz FM, que transmite programação evangélica. A nova emissora vem de São Paulo e é de propriedade do pastor Juanribe Pagliarin, fundador e presidente da Comunidade Cristã Paz e Vida. A Guarani FM operou desde 1980, mas a sua história remonta a 1936, quando iniciou suas operações na capital mineira em ondas médias e curtas. Nas décadas seguintes, chegou a ser considerada uma das mais importantes emissoras radiofônicas do Brasil pela qualidade de sua programação musical e informativa. Tocava o melhor da MPB, (como Chico Buarque e Clube da Esquina), bossa Nova, e também clássicos do jazz, do blues, do rock e da música clássica.
Não há definição sobre o destino do prédio da emissora e nem sobre seu acervo
Bob Tostes, que fez parte da equipe da Guarani por 15 anos, ressalta a importância cultural da emissora para os mineiros. Para ele, a rádio “descobriu uma fórmula de se fazer rádio com um mix variado de gêneros, mas que fideliza o público ao ponto de dizer que aquela música ou informação tem a cara da Guarani.” Bob, que também tem uma carreira musical consolidada, apresentava, entre outros programas, o Cinemasongs, que tocava canções e as trilhas sonoras mais importantes da história do cinema, além de curiosidades e lançamentos. “Fazer um programa que
une as minhas principais paixões é a melhor coisa do mundo. Pessoas vinham me cumprimentar nos lugares mais diferentes possíveis. Quando fazia o programa, nunca imaginei que a música e o cinema pudessem despertar sensações tão fortes nos ouvintes”, complementa. No mercado cultural, a Guarani FM também desenvolveu ações especiais. A emissora era a mais procurada pelos produtores locais para investir na parceira de eventos, não só como apoiadora de espetáculos, mas também como realizadora de shows e festivais, como a Festa da Música, realiza-
Winicyus Gonçalves
da anualmente em praças e feiras de BH, com artistas mineiros. REPERCUSSÃO Nas redes sociais, é intensa a repercussão da notícia do fim da Guarani. A maioria das pessoas lamenta a venda da emissora, conhecida por colocar no ar uma programação musical de boa qualidade. No Facebook, os usuários da rede estão sendo convidados para o evento “Fica Rádio Guarani FM”, com adesão de cerca de dez mil pessoas, mas sem local determinado. De acordo com os organizadores, a Guarani “apresenta uma programação musical rara
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Cidade
Street Store: loja a céu aberto para moradores de rua chega a BH Com o lema “pendure e ajude”, a loja de rua expõe as roupas e acessórios que foram doados de forma que as pessoas necessitadas possam ver, experimentar e escolher o que mais agrada CAMILA NAVARRO 5° PERÍODO
Belo Horizonte é uma cidade que possui muitos moradores de rua. Existem várias iniciativas tanto públicas (restaurantes populares, albergues etc), quanto não governamentais (ONGs que atuam por meio de doações), que buscam dar certo apoio para a qualidade de vida dessas pessoas. Nesse contexto, a Street Store (loja de rua, em português), que ocorreu em BH no dia 11 de abril, chamou atenção pelo seu caráter diferente. A Street Store consiste numa loja montada nas ruas, onde as pessoas necessitadas possam ver, experimentar e escolher os itens disponíveis para doação. Dessa forma, os “clientes” podem pegar apenas o que lhes interessa, o que se encaixa no seu estilo. O lema da iniciativa é “pendure e ajude”. A primeira loja de
rua foi realizada na Cidade do Cabo (África do Sul), por meio da parceria entre uma agência de notícias e um albergue. Depois de divulgada, a iniciativa se espalhou e em várias outras cidades foram organizadas lojas de rua. Em Belo Horizonte, a professora, designer de produtos e engenheira de produção, Luciana Duarte, foi a responsável pela Street Store, que foi montada nas grades do Parque Municipal. “Eu tinha visto a iniciativa na internet há alguns meses e, depois que reformulei meu site e o apresentei no Congresso de Design em outubro do ano passado, tive certeza de trazer esse projeto de cunho social e sistêmico para aplicar aqui em BH, como atividade didática para meus alunos. Não esperava que fosse “cair” na mídia e gerar tanto interesse da população” conta Luciana.
Clientes gostaram da expeirência na Street Store
A professora conta que todo o processo ocorreu de forma tranquila, desde o recrutamento dos 100 voluntários que participaram, até a arrecadação das doações. Os pontos de doações foram disponibilizados por lojistas e algumas faculdades. A iniciativa foi divulgada através das redes sociais. Para os moradores de rua, foram feitos anúncios que foram distribuídos em albergues, abrigos e restaurantes populares de BH. No dia do evento havia fila desde cedo. O primeiro a chegar, Elir de Souza Lima, 54, dormiu na porta do Parque Municipal para garantir suas roupas. “Eu vivo na rua há 40 anos, quero escolher um tênis, uma camisa e uma mochila” contou Elir. Um pouco mais atrás estava José Geraldo de Almeida, 52, que chegou na fila às cinco da manhã. “Eu vim atrás de uma mochila, uma roupa e um sapa-
Camila Navarro
to para correr atrás de trabalho. Porque eu só tenho uma peça de roupa, estou bem deselegante”, comentou. José ainda ressaltou a importância da loja para os moradores de rua, “esse tipo de iniciativa é muito importante, é muito legal poder escolher. Ajuda a gente a conseguir uma roupa e correr atrás dos nossos ideais”. As roupas e acessórios ficaram expostos nas grades do Parque Municipal e os voluntários atuaram como vendedores, auxiliando os interessados. Eunilson, 29, morador de rua que ficou sabendo da loja pelos amigos, conta que o que mais chamou a atenção foi o fato de que ele mesmo poderia escolher as roupas que quisesse, “é um jeito de eu me manter na minha própria opinião, é difícil achar algo assim que interesse à gente”. Houve uma procura menor por parte das mulheres, porém elas também marcaram presença no evento. Patrícia, 41, foi para a loja procurando sair “linda e maravilhosa”, em busca de roupas para ela e para os filhos. Sandra Lídia Vitor, 63, deixou comida em casa para os filhos e foi para a Afonso Pena seis horas da manhã. “É muito bom esse tipo de iniciativa. Eu tomo sopão e sempre olho onde tem doações para mim e para os meus meninos. Tem que ter para todos”, observa Sandra. Os voluntários foram recrutados na internet. Um grupo heterogêneo, que
Doações expostas na grade do Parque Municipal
Camila Navarro
abrangia desde jovens estudantes até aposentados. A administradora pública Tainara Vieira Rodrigues, 22, ficou sabendo da loja por uma amiga e se inscreveu: “eu sempre participo desse tipo de evento, quando acho que posso ajudar. Espero que todo mundo seja atendido”. A engenheira aposentada Elisabeth Rodrigues, 62, foi para a Street Store acompanhando uma sobrinha. “Eu gosto de lidar com o ser humano, principalmente aqueles que são mais carentes, pois acho que eles merecem todo respeito, como todos. Não existe diferença entre o que possui mais poder aquisitivo e o que possui menos”, conta. Elisabeth ainda ressaltou que a atuação dos voluntários vai além do auxílio na escolha das roupas pelos moradores, “às vezes a pessoa não está precisando de uma roupa ou um sapato, mas de um carinho, um abraço.”
A loja ficou montada das 8 às 18 horas e foram atendidas cerca de 800 pessoas desfavorecidas. Não faltaram roupas, sapatos e acessórios para ninguém e os moradores de rua contaram com uma grande variedade de itens e ajuda dos voluntários, que auxiliaram em todo o processo. Esse tipo de evento continua a ocorrer em diversas cidades ao redor do mundo, incentivando cada vez mais pessoas a participar, seja como voluntário, ou com doações. Para Luciana Duarte, que organizou a loja em Belo Horizonte do início ao fim, o evento não poderia ter sido melhor, “passei na Praça Sete alguns dias depois, um morador de rua dormia no colchão e tinha ao seu lado um pequeno volume de roupas limpas, algumas brancas. Imaginei se ele teria pegado lá na loja. Fiquei feliz por poderr pensar que sim. É isso que importa.”
de Albuquerque. Marlene pagava ao proprietário três mil reais de aluguel para sua loja de 45 m². Ambas lojistas atribuem o fechamento à concorrência com o shopping Pátio Savassi. Atualmente, o Pátio Savassi, na Avenida do Contorno, passa por obras de expansão. Tem previsão de abrir mais 25 lojas novas até junho de 2016. Segundo dados da administração do shopping, em média circulam pelo Pátio 250 mil pessoas durante a semana. No ano passado, o Pátio Savassi contabilizou R$ 347,7 milhões em vendas. Unindo a praticidade e segurança que o shopping center proporciona, ele está cada vez mais substituindo as lojas de rua na preferência dos consumidores. Thomáz Bergo, que sempre vai ao Pátio Savassi, não
se importa em pagar mais caro quando o assunto é segurança. “No shopping realmente os preços são mais altos, mas em compensação você encontra mais qualidade e variedade. Além de ser muito mais seguro, o que faz toda a diferença”, afirmou. Já para Gabriel Martins, outro frequentador do Pátio Savassi, comprar no shopping é bem melhor porque há várias lojas próximas umas das outras fazendo com que você compare os preços sem ter que andar muito. A região da Savassi tem lojas que funcionam há décadas e hoje enfretnam desafios como falta de vagas para estacionamento de carros, de segurança, aluguéis caros e consumidores que preferem as facilidades dos shoppings. Só o charme não basta.
Mudanças no comércio da Savassi fecham lojas LUCAS LANNA RAÍSSA CARDOSO RODOLFO REZENDE 1° PERÍODO
Algumas lojas tradicionais da Savassi, região centro-sul de Belo Horizonte, estão sofrendo com as mudanças significativas nos preços dos aluguéis dos estabelecimentos. Uma delas é a livraria e cafeteria Status, que fechou as portas em março e também a livraria Mineiriana, sua então concorrente. Em 1976 abriu em Belo Horizonte uma pequena loja que se tornaria, posteriormente, a tradicional livraria Status. Foi inaugurada como uma banca de revistas que ficava na Rua Sergipe. Em 1980 se instalou na Avenida Cristóvão Colombo e se tornou referência em vendas de publicações raras e de tabloides
e jornais do exterior. Em 2002, depois de uma completa reforma, passou a oferecer um café e espaço para entretenimento cultural. E neste ano a Status fechou as portas com previsão de se restabelecer em um local menor. Márcio Rezende, jornalista aposentado, lamenta o fechamento de mais uma referência cultural da cidade, já pobre de lojas com produtos literários. Segundo ele, “é melancólico ver uma expressão cultural construída com luta como foi a Status ser apagada da paisagem que compõe o marco belo-horizontino”. “Era lá que nós, jornalistas, nos encontrávamos para discutir nossas prosas da profissão”, diz Márcio. Ao andar pela região da Savassi se vê claramente muitas lojas de portas fechadas e com placas de ven-
de-se ou aluga-se. Alguns comerciantes culpam a prefeitura, alegando que com as obras de revitalização da região , os proprietários das lojas começaram a aumentar de forma exorbitante os valores dos aluguéis, uma vez que a região passou a se valorizar em infraestrutura. Luciana Bastos, fran-
queada da rede Brasil Cacau da unidade na Avenida Cristovão Colombo , alugada por 7,5 mil reais ao proprietário do estabelecimento de 70 m², acredita que o aluguel não seja motivo do fechamento das lojas. E assim concorda Marlene Vieira, ex-inquilina de uma loja de roupas na Rua Antonio
Loja fecha na Av. Cristóvão Colombo
Rodolfo Rezende
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Dom Cabral
Bairro
DomCabral
50 Anos
Lembranças de Dona Mariinha ANA CLARA RODRIGUES MARIANA CAMPOLINA 5º PERÍODO
A história da vida de Dona Mariinha se mistura à do bairro Dom Cabral há 47 anos. Da “casa dos toquinhos”, como é conhecida a casinha verde por causa dos pedaços de madeira improvisados como bancos no passeio, aos 81 anos, Maria Antônia Vieira, relembra como foi o começo do bairro. “Não tinha meio fio, não tinha calçamento. Na minha casa ainda não tinha luz, nem tinha água”, conta. “Eu sou guerreira”, reconhece a senhora que tem três filhos, nove netos, sete bisnetos e, recentemente, tornou-se tataravó. A aposentada mudouse para o bairro quando ela e o marido encontraram uma oportunidade de comprar a casa e pagá -la em 15 anos. “Eu não gosto muito daqui, mas foi onde me deu pra morar”, confessa. Ela conta que, naquele momento, faltava infraestrutura. No entanto, foram exatamente as dificuldades e necessidades de melhoria que uniram os moradores. Segundo Dona Mariinha, o calçamento das ruas foi uma conquista da Associação de Moradores que montou uma comissão para discutir os problemas da comunidade e buscar recursos junto à Prefeitura. Do mesmo modo, foi a união dos moradores
que tornou possível a construção da Praça da Comunidade e do campinho de futebol do bairro. Para arrecadar fundos, juntamente com o resto da comunidade, Dona Mariinha e a família dedicavam-se muito. A senhora vendia pipoca, enquanto seus filhos participavam de shows, barraquinhas, festas e desfiles que atraíam pessoas de outros bairros e até de fora da cidade. Além disso, Dona Mariinha relembra o tempo em que acompanhava o padre Pedrinho pelas ruas do Dom Cabral, buscando ajuda para a construção da Paróquia Bom Pastor. Para ela, esse é o centro do bairro, peça fundamental para o crescimento e história local. “Eu trabalhava voluntariamente. A gente pedia dinheiro, tijolo, cimento, areia. Em alguns lugares éramos bem recebidos. Em outros, nos viravam a cara.” POR AMOR Ainda hoje, a senhora, que trabalhou como sacristã na paróquia Bom Pastor por 36 anos, se mantém participativa, indo às missas e eventos da igreja. Cheia de orgulho, ela conta que é confiado à ela, a limpeza das peças mais antigas. Cálices e o turíbulo, ainda da época do Arcebispo Dom Cabral, vão, mensalmente, para sua casa, onde são cuidados. “Tudo que eu faço é por amor. Agora
Moradora compartilha memórias do bairro no qual criou sua família e construiu sua história ao longo de 47 anos
Sacristã na paróquia por 36 anos, ainda hoje Dona Mariinha ajuda na limpeza das peças mais antigas
que estou fora da igreja, eu fico com ciúmes, né? Será que estão cuidando de tudo direitinho? Do que vem pra mim eu sei”, conta, saudosa e rindo. “Eu fico achando que todo mundo podia fazer do jeito que eu fazia, com todo carinho”, completa. Atualmente, porém, os moradores não se mostram tão participantes e interessados. Poucos comparecem às reuniões da Associação de Moradores e fazem reivindicações. “Ainda é preciso fazer muita coisa no bairro, mas, se não tem o envolvimento do povo, como é que vai fazer? A Associação
não consegue fazer tudo sozinha”, conclui a advogada Ilainda Vieira, filha de Dona Mariinha. Ela também vê sua história de vida mesclada à do bairro - antes mesmo que fosse capaz de compreendê-la. Isso porque, ainda bebê, foi ela quem “salvou a família do despejo”, segundo sua mãe. No dia marcado, Dona Mariinha trabalhava com seu carrinho de frutas, no bairro Padre Eustáquio. Para tentar impedir que tomassem sua casa, foi aconselhada pelo padre Pedrinho a deixar a pequena Ilainda dormindo em um dos quartos. “Ela era recém-nascida.
Eles podiam tirar tudo da casa, mas não seriam capazes de despejar um bebê na rua”, relembra aliviada. “Muita gente perdeu a casa naquela época. Se não fosse a Ilainda, o padre Pedrinho que tinha amigos lá na Minas Caixa e Deus, eu tinha rodado também”, lembra a antiga moradora do bairro. Hoje, Dona Mariinha se orgulha ao lembrar que, com seu trabalho, conseguiu quitar o valor da pequena casa antes mesmo dos 15 anos previstos pela Minas Caixa e ainda custear os estudos de Ilainda, formada em direito pela PUC Minas. Àquela época, no en-
Lucas Félix
tanto, a realidade era complicada, já que seu marido encontrava-se impossibilitado de trabalhar devido a complicações geradas pela Doença de Chagas. A responsabilidade de arcar com os gastos da família ficou para a senhora que, com tanta preocupação, não aguentou. “Eu fiquei doente da cabeça. Minha cabeça fundiu. Tive que ser internada, fiz o tratamento. Meu médico psiquiatra não achava que eu devia voltar pro trabalho, mas, graças a Deus, sabe que hoje eu sou normal?”, e completa: “Foi uma época muito triste, mas eu venci”, concluiu sorrindo.
Evolução e desafios do bairro Dom Cabral
Dona Mariinha observa o movimento da rua assentada em seus “toquinhos”
Lucas Félix
Ao refletirem sobre as atuais condições do bairro, Dona Mariinha e Ilainda ressaltam o desenvolvimento expressivo da região. A chegada da PUC trouxe, além de um fluxo maior de pessoas, investimentos no setor imobiliário e comercial, bem como muitas melhorias em questões básicas, como a distribuição de água que era bastante precária antes da instalação da Universidade no local. A senhora ressalta, ainda, as melhorias no transporte público, com um maior número de linhas de ônibus disponíveis em diferentes ruas e avenidas do bairro. “Antes passava só um ônibus ali na avenida. Ia gente pendurada nas duas portas, ou tinha que ir lá no bairro João Pinheiro pegar condução. Agora tem muito conforto, outro dia eu até dormi no ônibus voltando pra casa.” No entanto, em contrapartida a esses avanços, ainda existem muitas melhorias a serem propostas e realizadas no Dom
Cabral. “Aqui no bairro falta muita coisa. Falta padaria, açougue, farmácia”, afirma Ilainda, que precisa se locomover para outras regiões da cidade para fazer as compras da casa. A falta de segurança também é uma questão que amedronta os moradores da região. A aposentada afirma que o bairro tornou-se muito perigoso e violento e que uma presença maior da polícia é necessária para evitar os frequentes assaltos e roubos a carro. “Antes era tudo muito sossegado, mas hoje depois de nove horas não é bom ficar nem no portão”, afirma Dona Mariinha. Ilainda relembra, com saudade, os tempos de sua infância, quando as crianças podiam brincar tranquilas na rua. “Minha mãe tinha que mandar a gente entrar para dentro, pois estava tarde. Agora, eu é que mando ela não ficar do lado de fora, porque está muito perigoso”, lamenta.
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Economia
Alta nos preços não prejudica São Gabriel No bairro São Gabriel, os preços dos produtos de primeira necessidade ainda são acessíveis
LEONARDO FONTES 3º PERÍODO “Tá ruim pra todo lado.” A afirmação é da aposentada Lindaura de Jesus Antunes Braga, quando questionada a respeito do custo de vida no bairro São Gabriel, onde mora há 49 anos. Assim ela resumiu a realidade enfrentada por muitos belo-horizontinos com a elevação do preço dos alimentos, aumento nas tarifas de energia elétrica, água e combustíveis nos últimos meses. Numa mesma cidade, nota-se variação no custo de vida em suas diferentes regiões e bairros. Este é o caso do bairro São Gabriel, quando comparado, por exemplo, aos bairros Cidade Nova e São Paulo, todos pertencentes à Região Nordeste de Belo Horizonte. Esses bairros apresentam perfis econômicos distintos, e foram classificados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/ UFMG) de acordo com a renda média mensal do chefe do domicílio.
Segundo o Ipead, tanto o São Gabriel quanto o São Paulo são considerados bairros populares, visto que a renda média mensal é inferior a cinco salários mínimos, enquanto o bairro Cidade Nova caracteriza-se como bairro de perfil econômico médio alto, no qual a renda mensal do chefe do domicílio é igual ou maior que 8,5 salários mínimos e menor que 14,5 salários mínimos. Baseado nos itens que compõem o cálculo do custo da cesta básica, fornecido pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), em consonância com a classificação realizada pelo Ipead/ UFMG, é possível perceber algumas diferenças no padrão e no custo de vida em cada um dos três bairros. Conforme o Dieese, o custo da cesta básica em BH apresentou alta de 0,44% em março de 2015 em relação ao mês anterior, sendo adquirida por R$ 343,22. Esse valor corresponde a 47% do salário mínimo do mês, ou seja,
quase metade dos rendimentos de um trabalhador destina-se à alimentação básica. A visita mais recente ao supermercado reportada por Lindaura de Jesus exemplifica tal fato. Segundo a aposentada, comprou só o essencial e não tinha iguarias em seu carrinho, o valor foi aproximadamente R$ 210. Por meio da coleta de preços, notou-se que, dos 13 itens componentes da cesta básica, em pelo menos 10 o menor preço encontrado foi no bairro São Gabriel. Por exemplo, o pacote de cinco quilos de arroz mais barato foi encontrado no bairro, por R$ 8,98, enquanto no bairro São Paulo é vendido a R$ 9,99. Já no bairro Cidade Nova, o alimento apresenta preço médio entre o do São Gabriel e o do bairro São Paulo, porém, foi no Cidade Nova que se constatou o pacote de arroz mais caro da pesquisa, encontrado a R$ 13,98. Com relação ao preço do feijão, tanto o pacote mais barato quanto o mais caro foram encontrados no bairro São Gabriel, varian-
Produtos como o tomate e a batata têm grande variação de preço
do entre R$ 3,40 e R$ 5,95. Por isso a importância de se realizar uma pesquisa de preços antes de ir às compras. É o que faz dona Lin-
daura de Jesus, que prefere fazer as compras de mercado no próprio bairro em que mora, pois assim, além de economizar gasolina,
Morgue File
evita o estresse. “Pesquiso o preço aqui nos mercados do bairro e acompanho as promoções na TV”, afirmou.
Preços dos alimentos Outro alimento barato no São Gabriel é o tomate, que pode ser encontrado no bairro por R$ 2,98 o quilo. Já o quilo do tomate mais barato no bairro Cidade Nova foi R$ 4,65. A batata inglesa está mais cara no São Gabriel, a R$ 2,98, e no bairro São Paulo, o preço mais barato, a R$ 1,98. A chã de dentro também sai mais barata no São Gabriel. Com R$ 17,80 é possível comprar um quilo da carne, enquanto no bairro São Paulo é necessário desembolsar R$ 18,99. Para a aposentada Lindaura de Jesus, o preço do pão “está absurdo”. Por isso, ela realiza substituições mais econômicas, como a troca do tradicional pão de sal por bolos feitos em casa, biscoito e pão de forma. “Outro dia fui ali na padaria da esquina e comprei quatro pãezinhos, deu R$ 2 e pouco. O ruim do pão de sal é que comeu, acabou. Por isso, às vezes compro o pão de forma. Ele rende mais. Pago uns R$ 3 e pouquinho no pacote
e aí dá pra comer de manhã, no café da tarde, à noite”, falou. Os preços de serviços de beleza aferidos também apresentam diferenças. Os preços no São Gabriel são médios. Enquanto no bairro São Paulo o corte masculino custa R$ 13, no São Gabriel foi encontrado a R$ 15 e no Cidade Nova a R$ 30. Embora o custo de vida no bairro São Gabriel não seja muito elevado quando comparado ao de bairros próximos, percebe-se que para a população que reside, trabalha ou estuda na região, os preços do local afetam diretamente vidas e bolsos. “Uma vez meu marido falou pra gente mudar aqui do São Gabriel, porque estava tudo muito caro. O IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), mercado e conta de luz. Eu vim da roça. Vi o bairro crescer. Eu falei com ele: ‘não saio daqui. Não vou sair do meu conforto, que a gente conquistou”, conta Lindaura de Jesus.
Setor imobiliário do São Gabriel se mantém estável BRUNO DE OLIVEIRA CECÍLIA BOHRER 3º PERÍODO
Em comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o mercado imobiliário no bairro São Gabriel, Região Nordeste de Belo Horizonte, apresentou uma recuperação significativa. A procura pela locação de um imóvel no bairro para moradia aumentou em torno de 24%. Em contrapartida, com o atual cenário econômico brasileiro, realizar o sonho da casa própria no bairro, se tornou plano para o futuro. Os preços dos imóveis no São Gabriel para locação residencial variam de 12% a 14%. No entorno da PUC Minas, o valor mínimo para a compra de um imóvel com sete cômodos chega a R$ 230 mil. Trabalhar com aluguéis de imóveis tem sido a opção de muitos corretores. Isso porque a procura por locação de casas é maior do que para compra. Às vezes, essa alta procura faz com que o setor imobiliário sofra uma alta demanda e uma baixa oferta. Um dos motivos que
levam a locação ser maior que as vendas no bairro é o fato de estudantes da PUC Minas São Gabriel locarem casas para estadia durante o período dos estudos. O aluguel de imóveis no entorno da universidade é muito comum para grupos de jovens que pretendem morar em república. Geralmente, esse tipo de locação é mais rápido, pois na maioria das vezes, não há uma imobiliária para fazer a mediação entre locador e locatário. Nesses casos, os acordos são fechados diretamente com o proprietário do imóvel. Graziele Silva, 23, estudante de jornalismo, divide a casa em que mora, com 5 pessoas. O aluguel de R$ 900 reais é dividido entre os moradores da república, o que torna a estadia no bairro mais em conta. Se a casa fosse alugada por apenas uma pessoa, a locação seria um pouco mais demorada. Já um grupo de pessoas que se dispõe em alugar uma casa, dividir o aluguel é uma boa saída para quem quer morar próximo ao local onde estuda. Para Tânia Albergaria, corretora de imóveis, os
As vendas de imóveis aumentaram no bairro
motivos de quem procura um imóvel para alugar ou comprar no São Gabriel, são vários. Os mais comuns são pessoas que querem se tornar independentes e não morar mais com familiares. Para essas pessoas, um bom negócio tem sido a aquisição de casas geminadas com entradas independentes. Essas casas têm espaço reduzido, e geralmente não passam de cinco cômodos, mas são ideais para quem pretende morar sozinho e conquistar sua independência. No bairro São Gabriel, esse tipo de moradia satisfaz quem pretende se tornar morador do bairro, principalmente aqueles que pretendem gas-
Bruno de Oliveira
tar menos na aquisição do imóvel. Mas, nem todas as áreas do bairro São Gabriel são procuradas para compra ou locação de imóveis. Anderson Vieira, administrador de imóveis, explica que não é em qualquer lugar do bairro que as pessoas preferem morar, um exemplo, é a área próxima ao terreno onde será construída a nova rodoviária de Belo Horizonte. Nessa região do bairro, quase não se vende ou aluga um imóvel, principalmente comercial. Muitos se queixam da violência e da falta de segurança nessas localidades; esses fatores provocam impactos negativos nas
negociações imobiliárias. Anderson Vieira afirma ainda que, o perfil de quem procura uma casa para alugar são mulheres solteiras e famílias de 3 a 4 pessoas. A procura maior é por apartamentos, que podem ser locados por preços que variam de R$ 715 a R$ 1.200. Há também, quem procura imóveis próximos a áreas comerciais, nesses casos, os preços são um pouco mais altos, com aluguéis que podem chegar a R$ 2.750. Vender imóveis atualmente tem sido considerado um arriscado negócio. Com a alta da inflação e salários estagnados, muitos chegam a analisar imóveis com a intenção de uma possível compra, mas na hora de efetuar o financiamento, alguns bancos têm colocado restrições que inviabilizam a aquisição dos imóveis. Algumas regiões de Belo Horizonte tiveram os preços dos aluguéis congelados. Mas, essa medida só foi adotada nas regiões que sofreram crescimento imobiliário durante a Copa do Mundo em 2014. Passado o mundial, muitos imóveis perderam a utilidade, e para que fos-
sem vendidos ou alugados, a solução foi manter, ou até mesmo, reduzir o valor para que tivessem saída. Essa medida não atingiu o mercado de imóveis do São Gabriel, pois foi uma das áreas que não sofreu alterações com a Copa. Mesmo assim, o mercado imobiliário do São Gabriel não perdeu força. Ainda que o cenário econômico tenha afetado as vendas de imóveis, as locações aumentaram no bairro, mesmo com a alta acumulada do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), dos últimos doze meses que chegou a 3,98%. É como se uma balança estivesse em equilíbrio; de um lado as locações e do outro a venda. As vendas caíram, mas as locações subiram, proporcionando certa estabilidade no setor imobiliário. Muitos proprietários temem uma crise econômica ainda maior, e por isso, preferem não desfazer dos imóveis atualmente. Por isso, a perspectiva é que a procura por aluguéis aumentem e a procura por compra de imóveis se mantenha igual.
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Social
Fim de contrato põe programa em risco O acordo do Esporte Esperança com a Associação Municipal de Assistência Social (Amas) será encerrado em breve
O projeto está inserido no BH Cidadania, com objetivo de inclusão social
ALESSANDRA GONÇALVES 3° PERÍODO
O Esporte Esperança, programa promovido pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Belo Horizonte, está passando por um momento de incertezas. A sua continuidade tem sido ameaçada em função da falta de recursos humanos. Entre junho e julho deste ano, o contrato com a Associação Municipal de Assistência Social (Amas) chegará ao fim, o que ameaça o funcionamento do programa, pois a maioria dos funcionários têm vínculo intermediado pela instituição. A Amas é uma Organização não-Governamental (ONG) destinada a proporcionar atividades assistenciais em Belo Horizonte. No entanto, o Ministério Público (MP), em 2013, por meio de investigação, constatou irregularidades nos contratos de trabalho. Segundo o gerente do Programa Esportivo para Criança e Adolescente, Adilson Márcio de Castro, o problema é gra-
ve: “Como que a gente vai ficar a partir do momento que esses profissionais forem desligados do programa?”, indaga em tom de cautela. Luiz Rogério Fernandes é assistente social do núcleo Havaí/Ventosa na Regional Oeste de Belo Horizonte e comenta que o estagiário ainda não tem “formação humana e técnica” necessária para assumir tamanha responsabilidade, sendo necessária a presença de um profissional formado para orientá-lo. Outro recurso estudado para suprir a demanda é um concurso público. Entretanto, a medida requer tempo e pode não resolver a situação no curto prazo. O PROGRAMA O programa surgiu em 1994 com o nome Dente de Leite quando o ex-jogador João Leite era Secretário de Esportes em Belo Horizonte. O futebol era o único esporte trabalhado com as crianças e adolescentes com a idade entre seis e dezessete anos. Com o tempo foi se
Karine Fernanda Ferreira, professora de ginástica rítmica
Lucas Félix
aperfeiçoando até chegar ao Esporte Esperança. Em 2005 passou-se a executar o projeto nas Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis) e creches redirecionando a idade de ingresso que passou a ser a partir dos três anos. A escolha da faixa etária não é algo aleatório. Em um momento em que se discute a redução da maioridade penal, estudos mostram que há um grande protagonismo juvenil no índice da violência e criminalidade. Os jovens são os principais autores e vítimas. Aliás, não é de hoje que se vem estudado a criminalidade entre este público a fim de verificar as possíveis causas. A dificuldade na definição de uma identidade individual e social em um país onde não vigora, satisfatoriamente, uma rede de proteção social e efetividade de direitos, são apontadas, além da falta de acesso a educação, cultura e lazer, como prováveis fatores. A criança e o adolescente encontram-se em uma etapa do ciclo evolutivo
Lucas Félix
que suas individualidades estão em formação e firmação. É um período considerado como singular no desenvolvimento pessoal e social do homem. Portanto, é um estágio da vida de extrema fragilidade e
vulnerabilidade o que os tronam alvos fáceis para a violência e criminalidade. Juventude: percepções e exposições à violência é um artigo escrito por Daniel Cara, mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), e Maitê Gauto bacharel em Ciências Sociais pela USP, mostra que a violência é “uma triste maneira de comunicar à sociedade a degradação social e comunitária” na qual o Brasil se encontra. Segundo eles, a “dinâmica social” que o Brasil vive “reproduz um ciclo perverso de exclusão social” que atinge principalmente os jovens da periferia. O Esporte Esperança está inserido no BH Cidadania que foi concebido pelas Politicas Sociais para promoção da inclusão social. O BH Cidadania está presente em nove regionais da cidade em áreas estrategicamente identificadas, de acordo com mapeamento executado pela prefeitura para detectar os locais com maior risco social para a criminalidade e violência. O Esporte Esperança age justamente nessas áreas em parceria com os Centros de Referência de Assistência Social (Cras). Atualmente, o programa conta com 19 núcleos em funcionamento, além do
atendimento nas Umeis e creches. Também está presente em alguns núcleos fora do território do BH Cidadania como o núcleo São Bernardo na Regional Norte e que trabalha, basicamente, com o futebol. A equipe do programa é formada por 25 profissionais graduados, além dos estagiários e dos analistas de política pública que são uma espécie de coordenadores dos núcleos. “Até meados de 2014, a gente tinha mais pessoas graduadas”, relata Adilson Castro, gerente do programa, ao lembrar que o grupo já foi maior. Aline Isabel da Silva Marques, que está no 3° período de Educação Física é monitora e estagiária do programa no núcleo Havaí/ Ventosa. Ela é responsável pela turma de iniciação à ginástica. Mas sua história com o projeto começou aos 11 anos, o que lhe rendeu conhecimento e profissionalismo ao lidar com as novatas. Ali conheceu a Karine Fernanda Ferreira Andrade, sua treinadora, e a analista de políticas sociais, Ariene Righi Gonçalves, com as quais mantém uma relação de amizade e cumplicidade.
O projeto está presente em nove regionais da cidade, estrategicamente identificadas
Lucas Félix
Umeis e bons exemplos As Umeis são Unidades Municipais voltadas para a educação infantil. São escolas direcionadas para famílias em situação econômica menos favorecida, ou seja, famílias de baixa renda. Tem por finalidade oferecer escola infantil de qualidade em horário integral. Ali, o esporte, é executado de maneira lúdica por intermédio das brincadeiras recreativas. O objetivo é utilizá-lo para educar e assim formar cidadãos conscientes de seus deveres e obrigações. Segundo Luiz Rogério, assistente do núcleo social Havaí/Ventosa, através do esporte as crianças aprendem a construir as suas subjetividades, a terem noção de cidadania, a respeitar hierarquias entre tantos outros valores do campo ético e moral. Com as regras esportivas, as crianças compreendem que existem normas que devem ser respeitadas e condutas que devem ser seguidas para uma boa relação entre o grupo e os participantes. E que sem isso não há jogo. O Espaço BH Cidadania Havaí/Ventosa, se tornou destaque dentro do programa. O lugar oferece, além de futsal e bas-
quete, as aulas de balé e ginástica rítmica, que foi contemplada com medalha de ouro no Torneio Regional Sudeste, realizado no Espírito Santo. Segundo Luiz, o balé surgiu, a princípio, por se tratar de uma atividade exclusivamente feminina. Já que as meninas ficavam um pouco isoladas com as outras praticas que são mais masculinizadas. Renata Flávia Silva Nogueira Mendonça, formada em Educação Física e tem especialização em balé clássico, cubano e royal, é funcionaria contrata pela Amas e participa do Esporte Esperança há quatro anos como professora de balé. A professora comenta que não teve dificuldade em integrar-se ao programa. “Desde pequena que eu gostava de dar aulas. Eu ajudava a minha mãe que dava umas aulinhas. Não de balé, mas de outras coisas. Então, lidar com pessoas e com problemas familiares e essas questões para mim sempre foi tranquilo. Nunca tive problemas em lidar com as diferenças e diversidades.”
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MARINA CARNEIRO DE CASTRO RENATO MARTINS DA COSTA 3º PERÍODO
Depois das acirradas eleições presidenciais no ano passado, agora em 2015 a população jovem, junto a outros segmentos, vai às ruas em protesto. As manifestações, longe de serem homogêneas, apresentam diferentes pautas, demandas e linhas ideológicas. As mais expressivas ocorreram em março, abrangeram a maior parte dos estados e Brasília. A importância de não se dar um tratamento unificado e, sim, reconhecer que há grupos diferenciados de jovens é destacada por Alexandre Eustáquio Teixeira, professor de Ciências Sociais e coordenador do projeto Parlamento Jovem da PUC Minas, em parceria com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Segundo Teixeira, existem “juventudes brasileiras”, pois há diferentes visões entre os jovens. Essa afirmação torna-se evidente nas manifestações, já que foram realizados dois protestos, com públicos diferenciados, em que um se mostrava a favor, e o outro contra o atual governo. DEMOCRACIA
O estudante de administração pública na Fundação João Pinheiro (FJP) e integrante da direção da Juventude do PT (Partido dos Trabalhadores) de
Democracia e participação Belo Horizonte, Alexandre Mário de Freitas, foi um dos organizadores da mobilização realizada no dia 13 de março. Uma das pautas era a defesa da democracia e o “não” ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Essa medida é considerada, por Freitas, um “golpe”, já que não há crimes comprovadamente cometidos pela presidente. Além disso, os grupos agiam em defesa da Petrobras, pedindo para que a empresa permaneça pública e a favor de investigações dos atos corruptos. Pedem também o fim do financiamento empresarial de campanhas eleitorais. E defendem a preservação dos direitos trabalhistas. Marcela de Lacerda Tropia, também estudante de administração pública na FJP, é secretária-geral da Juventude do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) em BH, e foi ativa nas manifestações do dia 15. Seu objetivo era acrescentar participação ao movimento, e mostrar suas posições contra o aumento da gasolina, a elevação do valor do dólar, alta dos impostos, contra a corrupção e a “irresponsabilidade administrativa” do governo Dilma. O professor Alexandre Teixeira opina sobre essas manifestações e a importância das “juventudes” nesse contexto sociopolítico. Entretanto, ele esclarece que não há ainda
Juventudes brasileiras
Com diferentes bandeiras, jovens quebram o estereótipo de “despolitizados” e demonstram disposição para o debate. Movimentos do
análises concretas dos movimentos por serem muito recentes. Ele apresenta suas impressões. CATALISADOR
Sobre o grande número de pessoas reunidas nos protestos de domingo, Teixeira concorda com avaliação do cientista social e professor da UFMG, Rudá Ricci. Este acredita que as manifestações do dia 13 colaboraram para que o número de pessoas no domingo fosse maior. Teixeira explica: “Se você tem um movimento de acirramento das ideologias partidárias e tem-se um movimento anterior que foi grande, que reuniu 40.000 pessoas em algumas cidades. E aí logo depois você tem um protesto convocando as pessoas para protestarem, fazerem eco e serem contrários a esse de sexta, isso funciona como um catalisador”. Teixeira previu, com base nessa perspectiva, que a manifestação marcada para o dia 12 de abril, também contra o governo, não agregaria tantas pessoas quanto a de março. E os números se mostraram significativamente menores. O jovem petista Alexandre Freitas acredita que o protesto do dia 13
Guilherme Cambraia
Integrantes das juventudes, Marcela Tropia (PSDB) e Alexandre Freitas (PT)
Guilherme Cambraia
foi de extrema importância como contraponto à mobilização de domingo. E, caso não tivesse ocorrido, no dia 15 as manifestações teriam maior conotação. Ele disse que o protesto ajudou a mostrar que os movimentos sociais e sindicais possuem força. Para Freitas, as manifestações e o número de participantes superaram as expectativas. A apoiadora do PSDB, Marcela Tropia, também se mostrou satisfeita com a manifestação a que compareceu, do dia 15: “Eu gostei muito do protesto, era um movimento muito coeso. O grupo tinha uma voz, um grito”. Apesar de ser contra o PT e o governo Dilma, Marcela não foi às ruas para pedir o impeachment. Ela acredita que, no momento, seria inconstitucional. Tropia e Freitas concordam em que a atuação política da juventude é fundamental. Marcela diz que a juventude tem a capacidade de trazer visões inovadoras para o campo político, e ressalta a necessidade disso no quadro burocrático e legislativo, que são “antigos”. Alexandre Freitas comenta a importância dessa atuação: “Primeiro é preciso reconhecer que a democracia não é dada e a participação cidadã é a base de qualquer democracia. O jovem deve participar da democracia pelos lados que forem. É preciso que sua insatisfação tenha voz e poder de participação. Se os jovens abandonarem a política, serão governados por aqueles que continuarem”. Nos protestos contra o governo, há presença de alguns grupos que pedem por intervenção militar. Alexandre Freitas é convictamente contra. Ele acredita que a juventude
Jovens manifestam sua posição durante protestos em Belo Horizonte
não vivenciou a ditadura, e ressalta a necessidade de uma memória coletiva sobre os acontecimentos do passado. CONTEXTO POLÍTICO
O professor Alexandre Teixeira avalia o atual contexto: “Hoje a gente tem uma degradação da situação econômica, um agravamento das instituições políticas e da crise entre o Executivo e o Legislativo. Isso de certa forma acentuou as diferenças partidárias. A gente vê no movimento um direcionamento partidário, ou pelo menos, ideológico: direita e esquerda”. O especialista também faz considerações sobre a elevada taxa de desaprovação e um ódio coletivo à presidente Dilma, por parte dos manifestan-
tes do dia 15 de março e 12 de abril. “Eu acho que a Dilma tem contra ela, algo que a enfraquece publicamente que o Lula não tinha: é a incapacidade de fazer gestão política. Ela não sabe ser simpática, não sabe fazer discursos que cativam, e não sabe fazer articulação política. É uma questão que a coloca em desvantagem ao Lula, ao Aécio e até mesmo ao Fernando Henrique Cardoso. Isso não deveria ser problema, mas acaba se tornando um”, explica Teixeira. Outro fomentador dessa desaprovação, segundo o professor, seria a situação econômica. “O governo dela teve um desempenho econômico muito fraco. E a gente sabe que boa parte da avaliação política de eleitorado e intenção de vo-
O poder de con Helder Quiroga, diretor da ONG Contato, apresenta uma visão mais apartidária e acredita que a política está presente nas relações humanas diárias e que a cultura é uma importante ferramenta de atuação política. “A gente aqui da ONG sempre entendeu que a cultura e a arte têm uma capacidade muito mais forte que o discurso panfletário de partidos políticos ou de alguns movimentos de política mais radical. A cultura consegue traduzir”, explica Quiroga. O entendimento do termo política, por Quiroga, se dá pela maneira como um ser humano deve conviver com outro dentro da sociedade, estabelecendo parâmetros de igualdade, fraternidade, tolerância e capacidade de transformação para o bem comum. É a capacidade de compreensão da sociedade quando ela se encontra consigo mesma. Sobre as manifestações desse ano, Quiroga conta que passou por elas tanto na sextafeira quanto no domingo, mas não participou, porque não se identificou com nenhuma das duas e acredita que não trazem nada de novo. Ele analisa que há no mundo, atualmente, dois movimentos de juventudes mais importantes. Um que tenta entender o ambiente democrático, que busca utilizar a política como instrumento de diálogo. E, por outro lado, há grupos radicais se apropriando do espaço das juventudes para catequizar jovens sobre uma política já institucionalizada com o objetivo de se jogar uma cultura contra a outra. Especialmente sobre o Brasil, Quiroga comenta: “O dia 15 era um verde e amarelo
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Democracia e participação
e atuação política
os últimos três anos trazem a reforma política e o combate à corrupção como principais reivindicações
Religião e valores humanistas
Tarifa Zero
tos é diretamente ligado ao desenvolvimento econômico”, diz. ANÁLISE CRÍTICA Focando, agora, nas “juventudes”, Teixeira problematiza a capacidade crítica dos grupos ligados e simpatizantes de partidos. Ele acredita, levando em conta os grupos com quem tem contato, que há uma dificuldade dos jovens do PT e PSDB de fazerem uma análise crítica e autocrítica do momento político atual. Entretanto, afirma não saber se esse seria um mal derivado apenas do fato de serem jovens, ou das orientações dos partidos. Alexandre Teixeira, por fim, ressalta a importância da atuação política das “juventudes”, e fala sobre a necessidade de
se acabar com um pensamento do senso comum que acha que os jovens são muito alienados, ou muito pouco engajados politicamente. Ele diz que as pessoas têm a impressão de que as “juventudes” de hoje não são muito engajadas porque a ideia do modelo da luta contra a ditadura e movimentos estudantis politizados é muito forte. Entretanto, ele afirma que o contexto mudou e que não é possível trabalhar com parâmetro de um outro contexto social e político. O professor cita o livro Juventude e a Experiência da Política no Contemporâneo, de Claudia Mayorga, que trata do assunto e conclui que a participação política jovem não se perdeu e, sim, se ressignificou com o tempo.
Paulo Augusto Fernandes Coimbra, 23 anos, integrante da pastoral Fé e Política, da Igreja do Coração Eucarístico, defende um lado mais apartidário na política e na atuação do grupo. Ele diz que os membros, apesar de terem diferentes visões políticas, concordam em se abster de filiações partidárias. “Quando a gente envolve partido no meio, eu acho que vira muito mais politicagem do que política em si. A política é diária, é discussão para chegar em um ponto comum para alcançar soluções de problemas”, afirma. O fundador do Fé e Política, João Alberto Pereira, 72, conta que o grupo se reúne às terceiras quintas-feiras de cada mê s para estudar documentos da Igreja e discutir temas da atualidade, como por exemplo, reforma politica e maioridade penal.
Pereira acredita que é relevante a atuação politica da juventude e diz que costuma falar para os jovens: “Eu sou vocês amanhã”. Ele foi membro da Juventude Universitária Católica, durante o regime militar, e diz que às vezes se preocupa com a atuação política de gerações mais novas. “Onde estão os “caras pintadas”? A ditadura acabou com as lideranças, hoje, sinto falta de lideranças nos jovens. Eles precisam ser mais revolucionários”. Coimbra revela que não participou de nenhuma manifestação este ano. Ele justifica dizendo que achou os discursos incoerentes, tanto dos que manifestaram a favor ou contra a presidente. Ele acredita que o governo no poder deve priorizar as questões sociais: “Até pelo fato mesmo do Fé e Política, aquela questão de Jesus e que deve-se dar
uma maior atenção aos menos favorecidos”. HUMANISMO
Apesar de sua fé, Paulo Coimbra não acredita que a religião deveria influenciar em medidas políticas. “Você pode ter sido eleito por uma gama de pessoas que se identificam com sua religião, mas a partir do momento que você está diplomado, ele não representa mais apenas os seus eleitores e sim toda uma população regional ou nacional”, explica. Ele considera que é possível buscar um pouco da sua concepção religiosa numa estrutura mais humanista, apta a beneficiar toda a população. Entretanto, focar isso na base eleitoral deveria ser impraticável. Fundado entre os meses de junho e julho de 2012, durante as eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte, o Fé e Política, desde seu surgimento, não tem como objetivo
Integrantes da pastoral Fé e Política da Igreja do bairro Coração Eucarístico
influenciar o voto, ou a opinião dos fieis a respeito de determinado político ou candidato. Coimbra ressalta que a ideia central do grupo é repassar conhecimento sobre política à população, buscando-se uma forma mais humana e levando-se em consideração a presença de Deus e os ensinamentos de Jesus. Ainda que predomine a conscientização, há também pequenas ações políticas. Com o fechamento da delegacia do bairro Coração Eucarístico, os integrantes telefonam constantemente aos policiais para que aumentem o monitoramento do bairro. Há também os abaixo-assinados em prol de determinados projetos de lei como o da Saúde Mais 10, que visa destinar 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a saúde do país, e a Lei da Ficha Limpa, que chegou a colher mais de três milhões de assinaturas.
Lucas Félix
nstrução do povo genérico. Teve gente a favor do golpe militar, gente pedindo o fim da corrupção. Era para ser um dia de manifestação política e foi um dia de confusão política”. E cita a frase dita pelo compositor Gilberto Gil: “O povo sabe o que quer, mas o povo também quer o que não sabe”. Ele fala sobre a necessidade de se repensarem as manifestações e demandas como um todo: “Sair no dia 15 com camisa da seleção pra tomar latão de cerveja ou no dia 13 para protestar contra o capitalismo, são esses os aspectos que a gente precisa repensar. A gente não vive mais numa guerra fria. Os conceitos de direita e esquerda estão se condensando cada vez mais”.Quiroga acredita que quando o PT assumiu o governo federal, tentava pactuar com diversos movimentos sociais em prol de um Brasil com um sentido, que era sair da miséria absoluta. Hoje, ele afirma não haver nenhum pacto. Para ele, o Brasil não está se entendendo. A corrupção, tema muito discutido nos protestos, não é, para Quiroga, um problema simples e o governo atual não é o responsável por isso. “O culpado pela corrupção não é o PT, é a sociedade brasileira. E esse problema tem que ser resolvido em todas as instâncias, desde o furar fila na padaria até desvio de dinheiro na Petrobras”, afirma o diretor da Contato. A ONG foi criada por jovens em 2002 e utiliza a cultura como meio de sensibilização.
Redução no valor da passagem é uma demanda frequente
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Comunidade
Apac Nova Lima dá exemplo de humanidade e dignificação Instituição de recuperação desenvolve a noção de dignidade e utilidade social junto a recuperandos. Atualmente, a instituição, com capacidade total de 86 homens, conta com 76 DANIELE FRANCO 4º PERÍODO
“Aqui entra o Homem, o delito fica lá fora”. A frase, na entrada da Apac Nova Lima, reflete o ideal de humanização da casa, onde o principal preceito é devolver ao condenado sua noção de dignidade e utilidade social. Os delitos não são divulgados contra a vontade do recuperando, que passa a ser tratado com dignidade a partir do momento em que põe os pés na instituição. Localizada no bairro Honório Bicalho, a Apac Nova Lima é uma das 36 unidades da instituição em Minas Gerais. A metodologia utilizada foi criada em 1974 pelo advogado e professor paulista Mário Ottoboni. Prevê uma Pessoa Jurídica de Direito Privado que administra Centros de Reintegração Social de presos, ou seja, novo conceito de local de detenção de condenados. Uma das grandes conquistas alcançadas pela metodologia e sua execução é a drástica diminuição no número de ex-recuperandos reincidentes. Enquanto, segundo dados, no sistema comum o número chega a 70% de ex-detentos que voltavam ao mundo do crime, no sistema Apac, a reincidência não chega a 15%. Dentro da instituição, 90% do trabalho é realizado pelos próprios recuperandos. Seja dentro dos setores administrativos seja nos trabalhos básicos, como na manutenção do espaço e o cuidado com a alimentação, quem cumpre pena atua de acordo com suas aptidões. Alguns trabalhadores externos são assalariados, a grande maioria, incluindo a diretora Sandra Tibo, é voluntária.
RECUPERANDOS Douglas Teixeira Faria, de 32 anos, está há dez cumprindo pena. Há um ano e quatro meses, ele conseguiu sua vaga na Apac e define o tratamento da instituição com a palavra dignidade. Quando perguntado sobre sua recuperação, ele afirma que a luta “matar o criminoso” dentro de si é constante, e que a Apac oferece todas as ferramentas necessárias para que as batalhas sejam sempre vitoriosas. Casado há 17 anos e pai de três filhos, o recuperando fala com um semblante feliz e emocionado acerca de seu processo de recuperação, e conta com um sorriso no rosto sobre a dúvida entre o curso de administração e o de ciências contábeis que vai começar a fazer à distância. Humanização. Essa foi a palavra usada pelo recuperando José Antônio Junio Silva, ou somente Junio, 32, para diferenciar o tratamento da Apac do sistema prisional comum. Junio estuda administração à distância, mas não esconde sua paixão pelo direito. Segundo ele, seu processo de recuperação foi doloroso, tendo demorado cerca de dez meses para começar a pensar em seus crimes e entendê-los como tal. Ele ainda destaca o valor da educação, da amizade com os companheiros de reclusão, do sonho de dias melhores, do arrependimento e do perdão a si mesmo para sua recuperação. Pai de uma menina de nove anos, Junio sente um imenso orgulho de si mesmo por ter conseguido se tornar uma pessoa melhor e fala com propriedade dos processos de execução penal, apresentando argumentos sólidos para seus pensamentos. Além de oferecer assistência psicológica, médica
A Apac oferece assistência para que os recuperandos desenvolvam seus projetos
e jurídica, a Apac dá aos recuperandos a oportunidade de desenvolver seus próprios projetos. Franklin Harley Pereira, de 35 anos, conheceu dentro da instituição um talento único para a criação de móveis. Reconhecido pela diretoria, o recuperando ganhou uma oficina, onde ele constroi móveis com madeira de demolição e dormentes. Seu projeto ganhou o apoio do Cefet, que doou o maquinário, e conta com doações de instituições privadas. Franklin e outros recuperandos trabalham também na construção de uma escola dentro do espaço da instituição, que vai atender a todos os homens que cumprem pena no local e receber a Uaitec, uma plataforma de educação à distância que atenderá os recuperandos e toda a comunidade do entorno. SISTEMA Para cumprir pena na Apac, o detento no sistema comum tem que residir em uma cidade onde exista uma unidade ou ter cometido o crime na mesma comarca e ter sido já condenado, ou seja, reclusos em prisão preventiva
A luta por dignidade dos doentes mentais CARINA TOLEDO 5º PERÍODO
O que é a loucura? O melhor tratamento para uma pessoa com transtornos mentais seria afastá-la do convívio com a sociedade? Essas pessoas ainda sofrem preconceito? Por que temos dificuldade em lidar com a diferença? Durante muito tempo, pessoas que possuíam transtornos mentais eram vistas pela sociedade como se não existissem, não tivessem os
mesmos direitos do restante da população. Essa situação é retratada no livro “Holocausto Brasileiro”, da premiada Daniela Arbex. A autora consegue dar voz, nome, identidade e dignidade para todos os seus entrevistados, que são todos sobreviventes dessa triste realidade, que foi vivenciada dentro dos muros do hospital psiquiátrico Colônia, na cidade de Barbacena. Ao todo 60 mil pes-
soas perderam a vida no Colônia. A maioria dessas pessoas não possuíam nenhuma doença mental, apenas eram diferentes ou tinham ameaçado, de alguma forma, a ordem pública. Podiam ser homossexuais, militantes políticos, mães solteiras, alcoolistas, mendigos, negros, pobres, pessoas sem documentos, que foram ¨despejadas¨, como se fossem mercadorias fora de uso e abandonadas à própria sorte.
não podem ser inseridos na Apac. Em seguida, solicitar através de carta uma vaga na instituição, dependendo ainda do bom comportamento na prisão e da disponibilidade de vaga. Quem entra na instituição passa por um trabalho de ressocialização e conscientização, sendo acompanhado por psicólogos, médicos, assistentes sociais e recebendo assistência jurídica completa. Atualmente, a Apac Nova Lima conta com 76 recuperandos separados entre os regimes aberto, semiaberto e fechado, mas tem capacidade total para 86 homens.
todas as escolas públicas da cidade de Nova Lima, por conta de um convênio com a Prefeitura. Já no regime fechado, uma oficina para a confecção de artesanato em madeira é uma das atividades que mantém os recuperandos ocupados, além de um coral lírico liderado por um maestro que também está cumprindo pena, um dos projetos mais aclamados da instituição. Ao finalizarem suas falas, tanto Junio quanto Douglas ressaltam a importância de devolver à sociedade uma pessoa melhor, que esteja em plenas condições de trabalhar e se mostrar útil, ser valorizado. Isso é quase impossível acontecer seguindo-se o modelo do sistema prisional tradicional, que, segundo eles, desumaniza o detento a ponto de ele não se sentir digno de ser melhor e não se enxergar como merecedor de uma vida fora do crime. Os dois também concordam em que a educação é fundamental para a recuperação de qualquer pessoa e não voltar ao mundo do crime, daí a importância de oferecer escolas de qualidade e melhores perspectivas de vida aos alunos, independentemente de qualquer coisa.
Daniele Franco
No regime aberto, o espaço fica um tanto deserto, uma vez que os recuperandos podem sair durante o dia para trabalhar. No semiaberto, podem ser vistos os projetos que mantêm os homens sob esse regime bastante ocupados. Uma horta bem farta, repleta de verduras e legumes plantadas e cuidadas por dois recuperandos; a cozinha do local, que além do trabalho de quem vive lá, conta com a ajuda de voluntários. A padaria, recém-reformada, é o carro-chefe da instituição, uma vez que os pães ali produzidos, além de consumidos dentro da própria Apac, são enviados a
A horta é cuidada por dois recuperandos em regime semiaberto
Muitos ficavam nus, enquanto a única roupa que possuíam estava lavando, outros não tinham cama, enfim, todos eram tratados em condições subumanas, o que levava a um grande número de óbitos por dia. Era formado um poderoso comércio desses cadáveres, que eram vendidos para faculdades de medicina. LEI ANTIMANICOMIAL No Brasil, só na segunda metade da década de 70 é que a reforma psiquiátrica começou a ganhar força. Sendo assim, muito ainda tem que evoluir para assegurar que sejam atendidos os direitos dos doentes mentais. A Lei Antimanicomial foi um passo muito im-
portante em defesa desses direitos, trazendo maior dignidade e respeito para pessoas que sofrem com graves casos de transtornos mentais. A psicóloga Marina Soares, que trabalha em uma unidade do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Adulto no município de Itabirito, acredita que falta mais conscientização da população local. ¨’Diferente’ não é ruim, ou seja, pessoas que possuem transtornos mentais tidos como graves não são pessoas ruins, apenas se encontram em uma situação diferente das demais, mas que possuem os mesmos direitos que as outras, não devendo serem excluídas por esse motivo.”
Daniele Franco
Para ela, deveriam ser realizadas, nas escolas, palestras educativas para as crianças, assim elas podem crescer entendendo e respeitando as diferenças. E, além disso, realizar uma melhor capacitação não só para a rede de saúde, mas também nas áreas de educação e assistência social, entre outras. Ainda abordando sobre como o atendimento a esses pacientes pode ser melhorado, Marina fala que há falta de alguns recursos materiais, como carro para buscar pacientes com locomoção comprometida, falta de profissionais experientes para esse tipo de paciente e a rede para atendimento poderia ser muito mais otimizada.
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Campus
PUC recebe alunos do Criança Esperança Universidade faz parceria com instituições para atender jovens em situação de risco do Aglomerado da Serra, na Centro-Sul
Jovens praticam esportes como futsal, ginástica e natação CAMILLA FIORINI JULIA GUEDES PEDRO ALVIM 2º E 3º PERÍODOS
Em uma área marcada pela vulnerabilidade social e pela forte presença do tráfico de drogas na vida das crianças e adolescentes, o Espaço Criança Esperança Belo Horizonte (ECE-BH) atua como forma de educar, apresentar o esporte e incluir socialmente esses jovens. Localizado no Aglomerado da Serra, região Centro-Sul da capital mineira, o projeto é fruto de parceria entre a PUC Minas – por meio do Instituto da Criança e do Adolescente (ICA), núcleo temático da Pró-reitoria de Extensão (Proex) –, Rede Globo, Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. As atividades ali desenvolvidas buscam o desenvolvimento humano nas dimensões escolar, familiar, comunitária e da saú-
de, além da educação para o mundo do trabalho e lazer. Para isso, trabalha em conjunto com as famílias, os movimentos populares e lideranças da comunidade. Desde 2006 a PUC Minas é parceira do Espaço Criança Esperança de Belo Horizonte. Entre os benefícios desta parceria, está a prática das atividades de rendimento realizadas no Complexo Esportivo da universidade, sendo elas: Futebol, Atletismo, Ginástica e Natação. Muitos dos alunos vêem o projeto como uma oportunidade de mudança de vida, colocando nos esportes sonhos de grandes conquistas, como Daniel Gomes, 15 anos. Ele é um dos alunos destaque do atletismo e já sonha com a possibilidade de um dia ir para as Olimpíadas, “eu tenho um sonho. E eu estou literalmente correndo atrás dele com o atletismo. Uma mudança de vida, uma coisa que incentiva a gente a ter metas na vida, a correr atrás dos nossos so-
Júlia Guedes
nhos”, diz sobre o projeto. O projeto tem parceria com escolas públicas de BH, onde estão sempre selecionando alunos. O Criança Esperança exige que os alunos estejam matriculados na escola para participar do projeto, entretanto, alguns chegam sem estar estudando e então o projeto busca escolas para eles. “A gente sempre busca para os meninos uma vaga para estudarem” relata André Neto, supervisor de Esportes do Criança Esperança. André conta também que já saíram atletas do projeto que foram jogar no Atlético conseguindo ser campeão brasileiro com o futsal, além de atletas competindo pelo Minas e pelo Olímpico. GINÁSTICA A equipe de ginástica teve a oportunidade de participar do campeonato mundial na Suíça no ano passado. Daniel estava na equipe na época e conta que foi uma experiência que ele nunca pensou que teria. “A gente é pequeno
Sucesso do futsal O Futsal conta com três turmas no momento, uma trabalha com crianças de até 13 anos, outra com adolescentes de até 15 anos e a última de no máximo 17 anos. Ativo desde 2006, o futsal é um dos pilares do programa, contando com três turmas cheias. O Criança Esperança também contava com uma turma de futsal feminina, porém as atividades foram encerradas, como conta o professor Iran Guimarães: “até ano passado o carro chefe do Criança Esperança era um time feminino. Foi um time que chegou sempre à final,
foi campeão de alguns torneios, o mais importante foi o Mercantil do Brasil no último ano.” Mas o time precisou ser encerrado porque as meninas que gostavam de futsal passaram da idade e assumiram compromissos de trabalho, estudo, e algumas até se tornaram mães, tornando difícil conciliar o tempo entre treinos e as tarefas diárias. Os alunos da equipe sub-17 do projeto também participam do campeonato interno da PUC Minas, chamado Circuito da PUC. Os estudantes têm a possibilidade de competir com alunos da faculdade e co-
locar em prática o que treinaram. Os amistosos e torneios são não só uma forma de moldar novos talentos, mas também de dar visibilidade aos novos atletas. Um dos alunos que demonstra grande potencial é Eric Gabriel, de 10 anos. Ele participa do projeto há 3 meses e já despertou o interesse de grandes clubes, como o Cruzeiro. “Se eu for para o Cruzeiro vai ser muito bom pra mim. Vou ter uma oportunidade muito boa e se tiver a possibilidade eu quero ser jogador de futebol”, disse ele sobre seguir carreira profissional.
e fica falando ‘será que vou ter outra oportunidade dessa na vida?’, ‘como será que vai ser?’, aí você fica todo eufórico, chega lá na hora da apresentação mesmo e vai, cai, machuca, mas a emoção continua a mesma” relembra o garoto. Comandada pela educadora física Fernanda de Paula Ambrósio, 27 anos. a ginástica não exige muitos aspectos na seleção dos alunos. “O importante é não ter medo de aprender”, observa a educadora física. Apesar de já ter participado de competições, a equipe de ginástica tem como objetivo a integração e o desenvolvimento da coordenação motora dos alunos, exigindo uma postura diferente dos demais esportes voltados para competição, focando na participação e empenho de uma apresentação bonita, como uma dança. “Eu cobro que eles façam da melhor maneira possível e
que seja algo que além de dar prazer, renda bons frutos dentro da ginástica”, completa Fernanda. NATAÇÃO “O foco é competição, a técnica é mais exigida, os quatro estilos são mais trabalhados, o foco muda.”, diz Kelly Schetino, professora de natação do projeto ao comparar as atividades. Ao contrário das outras modalidades esportivas, a natação exige alguns pré -requisitos. Os alunos são submetidos a testes para conhecer suas capacidades ao se deslocar na piscina sem dificuldade, flutuar e a respiração. A técnica dos nados é ensinada e aperfeiçoada no treinamento. Os adolescentes são preparados para competições tanto internas quando municipais e já conquistaram bons resultados. “No treinamento eu tento acelerar o aprendizado para eles poderem participar o quanto antes dessas competições, e todos que participam ganham medalhas, eles tem esse retorno”, conclui Kelly. Os alunos já participaram de competições do Santo Agostinho e da CONI - Comitê Olimpico Italiano-, além de competições internas. Yuri Oliveira de Sousa, 16 anos, participa do projeto há três anos. Já participou de competições
conquistando medalhas de ouro e prata. Começou a nadar com 7 anos de idade no Criança Esperança do Aglomerado da Serra, “gosto muito de nadar, e nado querendo subir na vida. Antes eu ficava só dentro de casa, agora eu faço um exercício, nado e corro à noite” afirma. Além de ter melhorado seu condicionamento físico, Yuri conta que com a disciplina exigida no esporte ele melhorou o seu desempenho escolar. Sabrina Luiza Ferreira de Jesus, 14 anos, começou a nadar no Criança Esperança e desde 2013 treina no complexo da PUC. Vê como vantagem a piscina maior e conta que se interessou por natação porque não se dava bem com nenhum outro esporte: “ eu não me dou muito bem com outros esportes então eu vim pra cá porque foi o que mais me identifiquei. Sempre gostei de água”. Ao contrário de Yuri, Sabrina não tem vontade de seguir carreira no esporte e nada como diversão. Apesar do Projeto Criança Esperança aceitar crianças a partir dos 6 anos de idade, a modalidade natação tem idade mínima de 9 anos no Complexo Esportivo da PUC e máxima de 18 anos incompletos, seguindo o padrão da Unesco.
Outros esportes O atletismo é uma parceria do projeto do curso de Educação Física com a Prefeitura de BH, mas que absorve os atletas do Criança Esperança, com o objetivo divulgar o esporte. “A grande verdade é que o atletismo é uma modalidade muito pouco apresentada e ensinada na educação física escolar” relata o professor José Mauro Silva Vidigal, 51 anos, coordenador do projeto de extensão do atletismo. O Projeto Atletismo na PUC Minas surgiu com o intuito de aproveitar a estrutura que já existe no Complexo Esportivo, atendendo uma demanda do ensino e vivência do atletismo. A médio e longo prazo o projeto pretende difundir o conhecimento do atletismo e mobilizar um número maior de praticantes para a modalidade. Por não ser muito divulgado, há pouca procura para a modalidade dentro do projeto. Por esse motivo, está sendo feito um trabalho de divulgação do esporte nas escolas próximas à PUC. São agendadas visitas ao complexo es-
portivo onde realizam oficinas como as de educação física escolar, porém focadas no atletismo, proporcionando a vivência no esporte. O professor José Mauro diz ter a intenção de ampliar o atendimento aos adolescentes que têm interesse em ter contato com o atletismo. Daniel Gomes, 15 anos, começou no projeto Criança Esperança há dois anos na ginástica. Após perceber a aptidão para o atletismo, sua professora o aconcelhou ir para o atletismo “a professora queria um físico melhor e colocava a gente pra correr. Eu já gostava de correr desde pequeno, tinha aquela energia toda e todo mundo fala que eu sou muito competitivo, excesso de competitividade”, conta Daniel sobre sua mudança de modalidade, “fui conhecendo aos poucos, correndo, até a própria professora de ginástica chegar pra mim e me apresentar o atletismo, ai eu acabei gostando e ficando”, completa.
O projeto de atletismo também tem parceria com a prefeitura de BH
Júlia Guedes
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RAFAELLA RODINISTZKY 5° PERÍODO
Com a introdução de tecnologias cada vez mais avançadas para dispositivos móveis, criar opções de entretenimento para os aparelhos era questão de tempo. Sem barreiras criativas, um pequeno grupo de pessoas, sem apoio de nenhuma grande empresa de games, como Nintendo,Gameloft, e Capcom, pode criar jogos que exploram novas formas de jogabilidade. Assim nasce o conceito de indie game, em tradução livre, jogo independente. Em Belo Horizonte surge uma nova era de empresas especializadas em que a criatividade é livre, mas a verba é limitada. Por isso, alguns novos empreendedores buscam ajuda através de financiamento coletivo por meio de plataformas como Catarse e Kickante, no Brasil, e a maior e mais famosa de todas, a americana Kickstarter. O financiamento coletivo ou crowdfunding se baseia em doações de qualquer valor para financiar o jogo. Caso o projeto não atinja sua meta monetária, o investidor recebe seu dinheiro de volta ou crédito para um próximo financiamento. Caso o processo seja um sucesso, o doador ganha, de acordo com o valor investido, uma série de brindes e o próprio jogo que ele ajudou a tirar do papel. Um exemplo de indie game que ganhou fama de uma hora para outra é o Angry Birds desenvolvido pela finlandesa Rovio Entertainment, lançado em dezembro de 2009 para o sistema iOS. O game foi idealizado por três estudantes da Universidade de Tecnologia de Helsinki e, antes de lançá-lo, os jovens já haviam desenvolvido outros 51 jogos. Hoje o Angry Birds acumula mais de 1,7 bilhões de downloads desde o lançamento e mais de um milhão de produtos licenciados vendidos por mês. O que começou como jogo independente para o sistema Android e
Tecnologia
Criar, desenvolver, jogar Cenário de jogos independentes desponta em Belo Horizonte e promove a abertura de novos pontos de encontro na cidade
Juntos, Raoni, Marcelo e Alessandro abriram a empresa Mopix Games que desenvolve jogos digitais independentes
iOS agora está disponível para 25 plataformas diferentes. Raoni Dorim, Alessandro Russo e Marcelo Faria formam a Mopix Games, desenvolvedora independente sob o mote “jogos simples e divertidos”. O idealizador da startup, Raoni Dorim, graduou-se primeiro em Belas Artes e depois integrou a primeira turma de pós-graduação em Jogos Digitais da PUC Minas, tornando-se professor na Fumec, onde conheceu Alessandro Russo. “É um aluno que foi escolhido a dedo para trabalhar com a gente e aí surgiu a ideia da Mopix, de montar um escritório para fazer em casa”, explica Dorim. Após sete meses o jornalista Marcelo Faria, apelidado amigavelmente de sensei, foi convidado por seu aluno de Aikido, Alessandro Russo, para completar a equipe da Mopix Games. A Mopix está em estado embrionário e busca ajuda de incubadoras ou coworkings para sair do regime de home office. A escolha por desenvolver jogos casuais se deu principalmente pela redução dos custos para se produzir esse tipo de game, dessa forma as ferramentas para produção de jogos ficaram mais acessíveis para os pequenos desenvolvedores. Russo destaca que muitas vezes os jogos menores têm renda bem maior do que jogos grandes, de maneira propor-
Definir metas é fundamental para o desenvolvimento de jogos
cional. “Um lema da área de jogos é fazer mais com menos, sempre aproveitar o que você tem para fazer o máximo possível”, afirma. A criação de jogos casuais é preferida por quem começa no ramo devido aos custos altíssimos de produção e do próprio kit de desenvolvedor, necessário para que os jogos saíam do mundo das ideias e possam ser vendidos dentro da legalidade. Boa parte das empresas ainda trabalham em regime de home office para reduzir custos e investir em softwares de edição e programação. Para obter retorno financeiro com o desenvolvimento de jogos, uma das estratégias é trabalhar na categoria freemium que consiste em um jogo gratuito para download, mas monetizado através de vendas internas de itens customizáveis que podem fazer o jogador avançar níveis mais rapidamente. “A maioria dos jogos que tem uma renda boa não são jogos pagos, são jogos que têm mecânica de monetização interna, você compra um upgrade na sua arma, você compra mais dinheiro dentro do próprio jogo por meio de dinheiro real”, explica Alessandro Russo. Outra parte fundamental na pós-produção de games é a divulgação. Russo acha fundamental o apoio de um profissional de Comunicação.
Acervo pessoal
Acervo pessoal
De BH para o mundo Pirate Clickers é o primeiro jogo criado pela Mopix Games e começou como forma de desenvolver novas tecnologias. A principal delas foi a comunicação com o Facebook, em que há integração com os amigos da rede social para fazer competições com ranking dentro do Facebook, livrando-se de competições globais acirradas . Outro ponto importante foram os sistemas de anúncios e de vendas da loja do jogo, elementos básicos para lançar os próximos jogos.
A dica do trio da Mopix Games para quem deseja seguir a carreira de criação e desenvolvimento de jogos é saber diferenciar o “gostar de jogar” do “gostar de produzir jogos” e que o ideal é trazer o estudo do que se faz de programação, de computação gráfica, de arte para os seus hábitos e tornar essa atividade tão prazerosa quanto a de jogar. “Não é por apenas gostar de jogar que a pessoa vai ser uma boa desenvolvedora de jogos. Desenvolvedor e jogador são coisas completamente diferentes, até porque os jogadores são os clientes dos desenvolvedores”, enfatiza Russo. Persistência e versatilidade também são fundamentais para o futuro desenvolvedor, pois a área ainda está em crescimento na capital mineira, e executar várias tarefas é um diferencial. “No mercado que a gente tem hoje, tem que ser uma pessoa que se vê de forma versátil e capaz de pegar qualquer tarefa que for preciso para concluir o projeto; tem que ser muito comunicativa e capaz de trabalhar em equipe, porque desenvolver jogos é trabalho em equipe. Saber integrar os melhores conhecimentos de uma área com os melhores de outras áreas e fazer com que toda essa chuva de grandes ideias, realmente, se torne algo concreto que é um jogo pronto e entregue”, esclarece Raoni Dorim.
O game belo-horizontino saiu da capital mineira para 130 países e conta com aproximadamente 20 mil jogadores, segundo a última contagem realizada pela startup em 2014. O jogo é gratuito e está disponível na Google Play e na App Store. O próximo projeto do trio vai deixar os piratas de lado e investir no cenário medieval cercado por magia. Magic Master contará com influências de Guerra dos Tronos, Senhor do Anéis e O Hobbit.
O Vale do Silício belo-horizontino O Vale do Silício ou Silicon Valley é uma região da Califórnia, Estados Unidos, conhecida por gerar inovações científicas e tecnológicas desde 1950. Em 2011, os belo-horizontinos criaram a versão mineira do polo tecnológico apelidada de San Pedro Valley por se localizar majoritariamente no bairro São Pedro. Hoje o San Pedro é uma comunidade autogerenciada pelas próprias startups com o objetivo de atrair investimentos e visibilidade. O Vale do Silício de BH é constituído por sete incubadoras, 24 coworkings, seis investidores, dois hackerspaces, cinco aceleradoras e 227 startups. Em meio a tantas cabeças pensantes a ideia principal é compartilhar espaços e ideias para o desenvolvimento do mercado tecnológico mineiro, não importa se a empresa desenvolve jogos ou se vende ingressos online para shows. Um dos abrigos de ideias mais relevante do San Pedro Valley é o programa Seed - Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development – criado pelo Governo de Minas com o objetivo de apoiar empreendedores do mundo todo. Entretanto, no dia 30 de março as atividades das empresas que utilizavam o escritório colaborativo do programa foram paralisadas devido ao seu fechamento repentino. Raoni Dorim avalia que o fechamento do Seed foi algo repentino, mas que a vontade empreendedora é bem maior do que um programa que se fecha. “A gente é muito maior do que isso, as ideias que estavam incubadas lá dentro são muito maiores do que o próprio Seed. Com todo o capital intelectual que tem ali, de empresas e startups,há um potencial financeiro que independe do governo”, pontua. Em nota oficial o Governo de Minas reafirmou que o programa não corre risco de descontinuidade e que o fechamento do Seed faz parte do processo de troca de governo e suas secretarias, juntamente com a reavaliação de todas as políticas públicas da administração estadual executada pelo novo governo estadual.
Startups estão espalhadas por Belo Horizonte
San Pedro Valley
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Tecnologia
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A mente por trás da ideia
Victor Leão concilia o curso de Jogos Digitais e o evento MIND
TOP 3 do MIND O idealizador da Mostra Mineira de Indie, Victor Leão, destaca os três jogos que despertaram a sua atenção durante a segunda edição do evento.
O MIND, Mostra Mineira Indie, é um evento bimestral direcionado aos desenvolvedores de jogos independentes que se reúnem em um bar para trocar ideias, comer, beber, se divertir e mostrar as recentes criações. A iniciativa partiu do estudante de Jogos Digitais da Fumec, Victor Leão, 23 anos, que se sentia incomodado quando visitava eventos como o SPIN e o BRING,mostras de jogos independentes que acontecem em São Paulo e Brasília, respectivamente, e as pessoas perguntavam sobre a cena indie gamer em Belo Horizonte. “Depois de um tempo eu comecei a ficar com vergonha de não ter nada aqui, aí eu falei ‘vou tentar’. Afinal, é só criar um evento e chamar quem eu conheço e foi assim, deu super certo”, comenta. A primeira edição da Mostra Mineira Indie (MIND) foi bem recebida pelos aficionados por jogos digitais. O evento ocorreu no dia 8 de Janeiro e contou com a presença de 92 participantes e mais de 27 jogos independentes exibidos
ao todo. O público mostrouse interessado antes do evento, o que levou a um segundo encontro, dessa vez com 50 pessoas. Victor conta que prefere trabalhar com quem ele tem certeza de que desenvolve, trabalhe ou goste do que faz, pois dessa forma o evento ganha mais qualidade e atraí o nicho correto, mas não dispensa a presença de curiosos. Além de organizar o MIND, Victor Leão preocupase em registrar os encontros através de um blog no Tumblr. “Eu coloco os jogos que foram exibidos no último evento e faço uma votação para saber qual o pessoal mais gostou, peço a opinião dos desenvolvedores sobre os games e sobre o evento”, pontua. Porém, ele deseja construir um conteúdo que ajude outros desenvolvedores e, a partir disso, pediu para que alguns participantes do MIND escrevessem textos descrevendo a parte mais difícil da criação do jogo deles e como eles solucionaram o problema. “Acho que vale muito mais a pena ter isso em mãos,
porque o pessoal vai acabar lendo e muita gente vai esbarrar na mesma dúvida, vai ajudar muito mais gente do que se eu perguntar a opinião deles sobre o MIND”, esclarece. Além do Tumblr, o estudante mantém o blog “Game Pitaco” para escrever sobre aspectos técnicos de jogos para um nicho específico e espera monetizá-lo futuramente. Na área de desenvolvimento, Victor Leão mantém o jogo “Robotto Western”, apresentado no MIND, com influências de Mega Man, Lucky Luck e do cowboy Woody de Toy Story em seu personagem principal. O game é um mix de cultura oriental e ocidental, com fases que vão do faroeste ao Japão feudal. A versão beta está disponível para download gratuito em robottowestern.tumblr. com. Para ficar por dentro do calendário de eventos do MIND, basta conferir o grupo em facebook.com/groups/ mindbh.
Pac-Man viaja o mundo Acervo pessoal
Möira: é um jogo com a estética inspirada no primeiro Game Boy em que você comanda um pequeno mago chamado Rubick que tem a habilidade de copiar os poderes de todos os inimigos do jogo enquanto viaja por oito reinos em busca do grande mago Zeppeli que desapareceu juntamente com o seu conhecimento em magia.
Nascido nos anos 80 e famoso até hoje, seja pela nostalgia dos antigos jogadores ou pela curiosidade dos novos, o faminto Pac-Man, personagem amarelo conhecido por “come-come”, agora roda o mundo fugindo dos fantasmas enquanto come todas as luzes do cenário. No dia 31 de março o Google Maps habilitou que qualquer lugar do planeta se tornasse fase do game. Para jogar no desktop, basta entrar na página do Google Maps e clicar no qua-
drado localizado ao canto inferior esquerdo da tela com a imagem do jogo. Logo após será exibida uma barra lateral azul que ensina os controles básicos, enquanto à direta aparecerá o mapa de jogo. O Google analisa o mapa escolhido e transforma as ruas em caminhos para o Pac-Man. Se sua região não for adequada à jogabilidade, você poderá escolher uma nova área, também é possível clicar em “estou com sorte” para ir a um mapa aleatório.
Acervo pessoal
Sunder:é um game em que os jogadores usam óculos 3D com lentes de filtro vermelho e azul. Mesmo olhando para a mesma tela, os jogadores enxergam mundos diferentes e precisam conversar entre si para resolver os desafios. A ideia do jogo é induzir a comunicação entre os players. Google Maps
Acervo pessoal
So long, earth: jogo de plataforma fluído que foca na exploração de planetas e solução de quebra-cabeças. O destaque desse game vai para a arte bem elaborada que supera as expectativas dos jogos desenvolvidos para dispositivos móveis.
Praça Raul Soares (acima) e Praça da Liberdade (abaixo)são opções de cenários no jogo
Google Maps
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Comportamento / Esporte
Da ditadura do liso ao cabelo natural Mulheres driblam o preconceito e os padrões de beleza impostos para assumir seus cachos e crespos GABRIELA SARAIVA 2º PERÍODO
É comum encontrar diversos anúncios de cosméticos que enaltecem as vantagens de se ter um cabelo “liso e sedoso”. Em pouquíssimas vezes, o cabelo cacheado ou crespo é mostrado na propaganda comercial. Porém, mulheres de várias partes do mundo estão tentando se livrar da influência da mídia, das indústrias de cosméticos e dos mais diversos processos de alisamento – alguns deles perigosos, como os que utilizam sódio ou formol. Desta forma, elas resolveram assumir seus cabelos da maneira que realmente são. Mas esse não é um processo fácil. Além dos cuidados extras e, em caso de utilização de química para alisamento, muita paciência até que o cabelo cresça novamente, algumas mulheres precisam também acabar com o preconceito que têm de si mesmas e enfrentar os
comentários de pessoas próximas, amigos e colegas de trabalho, já que desde pequenas ouvem de muitos que seus cabelos são “feios e bagunçados”. Um estudo realizado por alunos da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (Facip), da Universidade de Uberlândia ,encontrou 49 denominações diferentes para cabelos crespos e cacheados, sendo a maioria delas pejorativas e preconceituosas, como a denominação “cabelo de bombril”. Ela aparece em 90% das participações dos entrevistados na pesquisa, seguida por “cabelo duro” e “cabelo de nego”. RECEIOS No ramo há 16 anos, Rosiane Bitencourt é cabeleireira e tem 28 anos. Ela disse que, de fato, muitas meninas ainda têm receio de passar por esse processo e que o alisamento é a maior procura em seu salão, mas que tem se preparado cada
vez mais para receber esse público que pretende voltar a ter cabelos naturais. Rosiane ainda conta que muitas clientes a procuram para fazer o Big Chop, corte em que se retira quase todo o restante de química do cabelo, deixando apenas a parte natural. “Atualmente vendemos pacotes de tratamentos capilares e auxiliamos as clientes a cuidarem dos cachos; procuro sempre explicar pra cliente sobre todas as etapas que ela passará até o cabelo voltar a ser todo natural”, disse a cabeleireira. A estudante de jornalismo da PUC São Gabriel Isabela Martins Pereira, de 18 anos, é uma das meninas que cortaram boa parte de seu cabelo para se livrar da química. Segundo ela, o processo de aceitar seus cachos começou em 2013, enquanto ela ainda cursava o Ensino Médio. “Durante a infância, usava ele sempre alisado, de trança ou coque, nun-
ca solto. Depois, no meu 3º ano do Ensino Médio, cortei meu cabelo e, a partir daí, entrei num processo de autoaceitação que passou tanto pelo meu cabelo, quanto pela cor da minha pele.” Isabela disse que teve muito apoio, mas este não veio de alguns de seus familiares, que fizeram questão de deixar claro que não gostaram e a avó ainda pergunta quando ela vai “arrumar” o cabelo e alisá-lo. Motivada por outras meninas com cabelo semelhante em um grupo no Facebook, a advogada Ana Cecília Souza, de 32 anos, disse que parou de alisar os cachos, após o último procedimento químico que realizou, que teria deixado seus cabelos muito frágeis. Ela ainda não está com os cabelos totalmente cacheados, mas continua na busca por deixá-los mais saudáveis. “Aguardo ansiosamente ele crescer o suficiente e tirar toda a química... E viva o cabelo
Isabela aprendeu a conviver com os cachos
natural!”, concluiu Ana. Além do apoio que vem das redes sociais, há também o de coletivos e movimentos sociais que lutam pela valorização da mulher e de suas escolhas nos diferentes espaços institucionais e tem sido fonte de informação e caminho de luta para várias meninas. É o caso do “Mulheres Negras – Bloco das Pretas”, que acredita que a aceitação dos crespos e cacheados, além de ser uma resistência ao racismo, é uma afirmação
Jackson Freitas
de beleza. Miriam Alves, 28 anos, é uma das representantes do grupo e lembra que “a autonomia e liberdade para escolher como usar seu cabelo são fundamentais, desde que haja consciência crítica sobre a ação e toda consequência histórica e social que a imposição da utilização do cabelo liso tem nos causado.” “Passar pelo processo de transição não é fácil, mas é necessário como ação política”, ressaltou Miriam.
Medida Provisória impõe novas regras aos clubes JÚLIA ROSCOE LAURA BRAND LEONARDO PARRELA MARINA MOREGULA 1º PERÍODO
Foi aprovada pela presidente Dilma Rousseff, no dia 19 de março, a Medida Provisória que renegocia a dívida dos clubes esportivos, o que afeta diretamente os times de futebol da capital mineira. A Medida Provisória do Refinanciamento n° 671, além de exigir o repasse de dinheiro dos clubes ao futebol feminino e às categorias de base, institui o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro,
substituindo uma medida anterior n° 669, que foi revogada. A mudança foi feita com o objetivo de facilitar o pagamento das dívidas à União e especificar prazos e parcelas. A nova medida prevê o prazo de até 20 anos para o pagamento de todas as pendências com o Estado. Os clubes podem pagar em 120 ou 240 meses. Aqueles que optarem pelo pagamento em 120 meses têm um desconto previsto de 70% nas multas, 30% nos juros e 100% no valor do encargo legal. Já os que optarem pelo pagamento em 240 meses têm descontos previstos de 60% das mul-
tas, 25% dos juros e 100% do valor do encargo legal. Nos três primeiros anos de quitação da dívida, os clubes são obrigados a pagar entre 0,16% e 0,5% de seu faturamento anual. Depois disso, o restante da dívida será parcelado entre 84 e 204 prestações iguais, de acordo com o prazo escolhido. Ademais, custos com a folha de pagamento e direitos de imagem de jogadores não podem passar de 70% da receita bruta anual do clube. Segundo Leonardo Bertozzi, comentarista dos canais ESPN, a aprovação da medida é importante para que os clubes
Clubes da capital mineira são afetados por lei de renegociação de dívidas
se submetam a práticas administrativas saudáveis. Ele afirma que “um clube que gasta mais do que arrecada inevitavelmente cria dívidas que vão desde o pagamento de salários até a inadimplência fiscal. Mas toda conta chega um dia.” O América Futebol Clube, além de estar passando por uma troca de diretoria, está há três anos se desfazendo de patrimônios para quitar suas dívidas, de forma que “o dinheiro do futebol ficará exclusivamente para o futebol”, segundo o assessor de imprensa, Carlos Cruz. Ele afirma também que a contratação de novos
Danilo Ribeiro Teles
jogadores para o Campeonato Brasileiro será feita de forma a não gastar mais do que se arrecada e que “os torcedores têm que entender que a paixão é limitada pelo poder econômico de cada equipe.” Um dos nove gestores da direção do América, Alencar da Silveira, defende o decreto da presidente, pois acha que a medida moraliza o futebol e é boa tanto para os clubes quanto para os jogadores. Ele também afirma que a Medida Provisória permite que os torcedores acompanhem na íntegra a gestão financeira dos clubes. O Cruzeiro Esporte Clube, por meio de Guilherme Mendes, diretor de comunicação do clube, afirma que não comenta dados financeiros da instituição, mas diz que o time celeste já participava de um programa de refinanciamento de dívidas. O clube se beneficiou com os melhores prazos da nova medida e está comprometido a pagar dentro do tempo estipulado. Já o Clube Atlético Mineiro questiona a forma como a medida foi imposta. Segundo o diretor jurídico, Lázaro Cãndido, o clube não concorda com a intervenção do Estado no
que diz respeito à “autonomia que devem gozar as entidades desportivas.” O Galo critica, também, o parcelamento e o sistema de tributação dos clubes que seguem inalterados. Lázaro acha que não cabe ao Estado regular o investimento no futebol feminino e afirma que o Atlético já investe maciçamente no futebol de base, sem a necessidade da Medida Provisória. Ele enfatiza: “É preciso discutir o esporte em seus aspectos mais amplos sem querer estatizar o futebol.” Caso os clubes não paguem as parcelas em dia, são previstas advertências, perda de pontos no Campeonato Nacional e até mesmo o rebaixamento. O comentarista Bertozzi sugere uma reforma no sistema de justiça desportiva e defende que a fiscalização tem que ir além dos clubes, sendo que “Federações estaduais e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deveriam prestar contas ao torcedor.” Segundo ele, “futebol é um patrimônio cultural de interesse público, mas administrado por entidades privadas que tratam o esporte como uma grande ação entre amigos.”
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Esporte
LUISA FARIA VINÍCIUS DUARTE HELOÁ CAMPOS 8º PERÍODO
Começar cedo é o segredo. Quanto antes as crianças se empenharem nos esportes, maiores são as chances de se tornarem bons atletas. Seja nas pistas do skate, no tatame do judô ou nos tabuleiros de xadrez o destaque, no cenário nacional e internacional das modalidades esportivas, é de crianças e jovens mineiros. Também nas ruas vão surgindo novos talentos. “Eu já sou skatista!”. Perguntado se queria ser skatista quando crescesse, o menino de apenas quatro anos respondeu sem hesitar. Acostumado com as pistas de skate desde que tinha meses de idade, João Henrique Rabelo Gomes acompanha o pai e se destaca no cenário do skateboard. O pai, Henrique Souza Lopes Vieira Gomes, 27 anos, é engenheiro ambiental, e apaixonado por skateboard. Ele pratica o esporte há mais de dez anos e foi andando de skate com o filho no colo que ajudou a desenvolver o gosto de João pelo esporte. “Com um ano e dois meses, João remou e subiu no skate e o pai ficou mais emocionado do que no dia que o menino nasceu”, relembra a mãe do pequeno skatista. A mamãe coruja, Susana Rabelo, 28 anos, promotora de eventos, confessa que apesar de permitir que João faça manobras nas pistas, fica um pouco apreensiva. “Uma vez eu fiquei com medo dele machucar, e o segurei pelo braço antes mesmo dele ‘dropar’ (descer na rampa). Depois ele achou ruim comigo”, conta Susana. João pratica o esporte preferido em cidades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Em Belo Horizonte costuma ir à pista do Barreiro e há um ano ele treina no Flybynight Skate Park, uma escola de skateboard no Barro Preto, região oeste da cidade. Praticando todos os dias nas minis ramps (pista em formato de U com no máximo 3 m de altura), João sabe
Crianças e jovens são destaque no esporte Eles iniciam a atividade esportiva cada vez mais cedo e aproveitam os benefícios na escola e no relacionamento familiar
Mesmo com 4 anos de idade, João sempre soube o que quis ser: skatista
fazer Ollie: manobra que consiste em bater a parte traseira do skate no chão e pular para frente, mantendo o pé dianteiro no shape (superfície onde se pisa). Além disso, aprendeu a fazer o 50/50, em que se faz o Ollie e encaixa com os eixos (trucks), arrastando-os sobre um obstáculo. O obstáculo pode ser uma caixa, um ferro ou um corrimão. João ainda não tem força para levantar o skate e fazer manobras mais complicadas, mas é persistente e conta com o apoio dos pais. “O skate é muito bom para ser determinado, saber tomar decisões. O João sabe o que quer comer, que roupas quer usar e o que quer fazer,” explica a mãe sobre a independência do filho nesses aspectos. Com apenas 4 anos de idade, João Rabelo é patrocinado da escola aonde treina e já conheceu celebridades do skate, como Bob Burnquist, Sandro Dias (Mineirinho), Karen Jones e Lucas Xaparral. O menino tem mais de mil
seguidores no Facebook, uma página no Instagram e no Youtube. Ele se diverte muito nas redes sociais e fazendo vários amigos nas pistas. Há também os talentos que, com as técnicas aprendidas, progridem com o passar dos anos. Foi o que aconteceu com Rogério Marques e Samuel de Castro Carvalho Lima, ambos com 19 anos. Os jovens aprenderam o judô ainda crianças no colégio Santo Agostinho, na capital mineira, e seguem atualmente participando de competições em Minas Gerais e em outros estados. ESPORTE E EDUCAÇÃO
Rogério e Samuel não estudam mais no colégio, mas continuam frequentes nos treinamentos. Rogério conta que começou no judô por acaso. A princípio, sua intenção era a de integrar a equipe de futebol da instituição, porém, sempre era reprovado. Até que um dia o amigo Samuel apresentou a ele o esporte e, dessa
época até hoje, já são 10 anos. Rogério já participou do Campeonato Brasileiro Regional, em Vitória (ES), do Campeonato Mineiro por faixas, entre outros. “Eu já ganhei quatro vezes consecutivas o Mineiro, três vezes consecutivas o Mineiro por faixas e fui quarto lugar no Brasileiro”, enumera. Atualmente detentor da faixa marrom, seu objetivo é, no ano que vem, subir de nível e alcançar a faixa preta, a mais elevada para o esporte. Além disso, ele deseja se tornar árbitro da Federação Internacional de Judô. Já Samuel, estudante de Educação Física na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) diz que suas pretensões esportivas são menores, e afirma que o desempenho conseguido até hoje “foi graças ao judô”. Para o atual presidente da Federação Mineira de Judô, e professor no Colégio Santo Agostinho há 14 anos, Luiz Augusto Martins Teixeira, 45 anos, a paixão pela modalidade
Luisa Faria
também começou cedo, aos 4. Ele conta que era praticante de natação e judô no Minas Tênis Clube e que quando alcançou a fase competitiva, optou pelo esporte de combate, e desde então ele vem tramitando pelos tatames. Até os 18 anos, Luiz competiu no nível federativo e chegou a disputar o sul-americano na Argentina, do qual foi campeão. Em sua opinião, o judô agrega muito para a vida em sociedade: “tem um caráter altamente disciplinador, que prega o respeito à hierarquia, aos mais velhos, ao esporte e ao colega que, nada mais nada menos, cede o próprio corpo para o seu treinamento”. SUPERAÇÃO
O princípio da educação física é o treinamento, mas é possível perceber que algumas crianças são mais treináveis do que outras, afirma Luiz Augusto. Contudo, para atingir o potencial máximo, fatores como a dedicação, a alimentação e o apoio da
família, têm papel fundamental. “Às vezes, as pessoas estão acostumadas a olhar apenas aqueles que ganham grandes competições, mas existem destaques individuais, como aquele aluno que depois de algum tempo de trabalho supera obstáculos como a obesidade, por exemplo”, observa. O acompanhamento da família faz diferença, tanto que João Pedro Dias Nascimento, 14 anos, perseverou nas aulas de judô em função do pai, Paulo de Tarso Nascimento Silva, 51 anos. Ele conta que voltou a praticar a modalidade depois de anos para incentivar o filho. E o apoio rendeu bons resultados. João Pedro foi campeão da edição 2014 dos Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG), foi vice no campeonato por faixas e ficou em sétimo lugar no Campeonato Brasileiro, em Londrina, competindo com atletas de clubes com treinamentos mais pesados. Samuel de Castro Sales, 14 anos, também participa das aulas de judô no colégio Santo Agostinho. Ele é deficiente visual, mas isso é só um detalhe que no tatame o faz se destacar mais. Segundo a judoca e professora de Educação Física formada pela Universidade de Belo Horizonte (UNI -BH), Elizabeth Oratina, 53 anos, o objetivo com Samuel era “que ele criasse ‘casca’ para competir”. Isso significava colocá-lo para treinar com pessoas de altura, peso e modo de lutar muito diferente das características dele. Essa técnica conferiu a Samuel equilíbrio, confiança e noção de espaço no tatame. O adolescente participa este ano das Paraolimpíadas Escolares Nacionais. Ele já competiu em outras edições anteriores, mas o sentimento dele se revela através da fala da professora: “Estou confiante que desta vez vamos trazer uma medalha para casa”, torce Elizabeth.
Xadrez como profissão O xadrez é considerado um esporte educacional que exercita a mente, podendo ser praticado por crianças e adultos. Para jogar é indicado estudar técnicas do jogo, estratégias e ler muitos livros sobre o assunto. Frederico Gazel Colen Pereira, 27 anos, formado em Jornalismo pela Faculdade Estácio de Sá, começou a jogar aos 9 anos com o seu tio. Logo depois, aos 18 anos, tornou-se professor de xadrez e começou a dar aulas particulares. Aos 12 anos, Frederico Gazel entrou na escola de xadrez aprendendo as regras principais do jogo e nessa mesma época começou a competir. Com 14 anos disputava campe-
onatos em Minas Gerais. E apenas 8 anos depois foi campeão mineiro e destaque por ser jovem demais e conseguir o título. Em 2013, com apenas 26 anos, Frederico tornou-se Mestre Internacional de Xadrez, o FIDE – sigla francesa para a categoria de mestre. Hoje, como professor de xadrez para crianças nos colégios Santo Antônio e Magnum, Frederico, acredita que as escolas deveriam ter na grade curricular a aula de xadrez para ajudar no raciocínio lógico e na concentração. “Se toda criança tivesse oportunidade de fazer xadrez, ela teria um ganho maior e autonomia”, afirma.
Além de divertido, o xadrez ajuda no raciocínio lógico e na concentração
Luisa Faria
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Entrevista
EDSON RESENDE
Os desafios da reforma política O que é uma reforma política? Como ela afeta a vida da população? Estas são questões que têm sido debatidas em todo o país. O Congresso Nacional elaborou uma proposta que está em processo de tramitação. Entretanto, foi aprovado um manifesto da Sociedade Civil pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, criando-se uma Coalizão de 54 entidades, dentre elas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Um dos elaboradores do novo projeto, Edson de Resende Castro, conversou com o MARCO. Ele é promotor eleitoral em Minas Gerais, membro da Comissão Relatora do Projeto de Lei “Eleições Limpas”, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). Também é Professor de Direito Eleitoral. ANA ISABEL ISABELA MAIA 3º PERÍODO
O que é uma reforma política nos dias atuais?
Temos que fazer, primeiro, uma distinção entre o que se fala muito comumente que é a reforma política, da reforma eleitoral. A reforma eleitoral seria reformar as leis eleitorais, ou seja, o nosso sistema de eleição: como as pessoas devem ser eleitas, quais são as regras do jogo. A reforma política envolve, não só as regras da disputa eleitoral, como também a distribuição do poder na República: quais são os poderes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário e como o cidadão pode interferir nesse processo, por exemplo, com o referendo, com o plebiscito, ou seja, com modelos de democracia direta. Na essência, a gente tem visto o Congresso Nacional tratar basicamente de reforma eleitoral sob o nome de reforma política.
Quem está envolvido na elaboração do novo projeto?
Esse projeto nosso é um projeto do MCCE, que é integrado pela CNBB, OAB, alguns sindicatos de classes, associação de juízes, associação de promotores, enfim, 54 entidades sem nenhuma vinculação partidária. Essas entidades, reunidas no Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, formularam, através de uma comissão da qual eu fiz parte, uma proposta de alteração eleitoral. Depois, quando essa proposta já estava praticamente pronta, nós recebemos a adesão da plataforma dos movimentos sociais que vinha trabalhando uma plataforma política. Então, como eles quiseram aderir ao nosso movimento, nós juntamos as duas propostas de forma que nós temos proposta eleitoral e de reforma política. Juntamos e estamos denominando de Coalisão pela Reforma Política e Eleições Limpas porque essa coalisão envolve o MCCE e a plataforma dos movimentos sociais, que envolve uma centena de movimentos sociais.
Explique-nos pontos principais, como o financiamento de campanhas
Elegemos dois principais pontos. Um é o problema dos financiamentos das campanhas. Quem paga as campanhas eleitorais, ou melhor, quem investe nas campanhas eleitorais e como as pessoas são eleitas. No primeiro tema, envolvendo financiamento, nós partimos da conclusão de que o financiamento atual, previsto na nossa legislação, é questionável sob o ponto de vista jurídico. Qual é o problema? A legislação atual prevê, além do financiamento
público, um financiamento privado, mediante doação de pessoas físicas e jurídicas. Uma empresa doa 100 milhões, se quiser. Você concentra sociedade devem estar representanas mãos de uma única empresa a das no Congresso por uma razão: possibilidade de interferência no elas estão representadas na sociedade. É essa a nossa proposta: conprocesso eleitoral de maneira decitinuar com o sistema proporcional, siva, a eleger o presidente da Repúporém com uma alteração. Num blica. primeiro momento nós vamos às Nós optamos, no nosso projeto, urnas para votar apenas numa propela proibição de doação de pessoas posta partidária. Então os partidos jurídicas, na mesma linha do que o teriam que fazer uma campanha Supremo Tribunal Federal está deenvolvendo apenas propostas e não cidindo. Então proibimos o finanpessoas. ciamento das pessoas jurídicas e, Essa votação verificaria qual é o quanto às pessoas físicas, nós subsnúmero de vagas que esse partitituímos um limite percentual pelo do conseguiu conquistar e iríamos limite nominal. Cada cidadão que para um segundo turno em que os quiser fazer doação para as campacandidatos desses partidos disputanhas eleitorais doaria, no máximo, riam as vagas conquistadas. um salário mínimo. Com isso, nós pretendemos fazer com que o finan- Qual a diferença entre a ciamento das campanhas eleitorais proposta atual no seja mais democrático e acessível a Congresso e o novo projeto? O que o Congresso está tentando todos. fazer com a reforma deles é consInstituímos também, um sistema de titucionalizar o financiamento das prestação de contas online, concopessoas jurídicas. Já que o Supremo mitante com os lançamentos tanto está dizendo que é inconstitucional, de receita quanto de despesas. Isso eles estão propondo uma PEC (Propara conferir maior transparência posta de Emenda Constitucional) ao processo, porque hoje as prestaque colocaria, na Constituição, a ções de conta são feitas após a eleipossibilidade de financiamento peção. Tem duas parciais em agosto e las pessoas jurídicas. Ou seja, aquisetembro, mas a prestação de conlo que hoje representa um probletas pra valer é feita após a eleição. ma, eles querem legalizar. A nossa proposta vai Essa prestação de de encontro ao que o contas ficaria onliSupremo está decidinne, com o candidado e aquilo que está to tendo que lançar A gente tem visto posto na imprensa em receitas e despesas o Congresso geral, através dessa concomitantemenoperação “Lava Jato”, Nacional tratar te, em tempo real. que tem escancarado de reforma Para possibilitar essa relação promíscua eleitoral sob o tanto aos órgãos entre doadores de camnome de de controle como panha e partidos e canrefoma política Justiça Eleitoral, didatos financiados. Ministério Público, No outro ponto, o que quanto a sociedade o Congresso está propondo é acabar com em geral examinar um sistema proporcional e instituir isso. um sistema majoritário também para vereadores e deputados, o chaE quanto ao mado sistema distrital. O sistema sistema eleitoral? distrital é uma votação majoritária Nós estamos sugerindo uma alterapor distritos. Então pegaria Minas ção no sistema eleitoral. Nós temos Gerais, por exemplo, e dividiria duas fórmulas no sistema eleitoral Minas em X distritos. Você tem um previstas na lei: uma que é chamada sistema majoritário para cada disde sistema majoritário e outra é a do trito. Qual que é o defeito disso? sistema proporcional. No majoritáAlém do sistema majoritário, que rio, quem tem mais votos ganha a só contempla a maioria, nós vamos eleição. Embora seja fácil de opecriar feudos. Um determinado disrar, ele é um sistema de maiorias trito elege uma determinada pessoa, que desprestigia as minorias. E isso essa pessoa passa a comandar aqueé usado para prefeito, governador, le distrito. presidente da República e senador, Essa proposta do voto distrital reporque só tem um cargo em dispupresenta para nós um retrocesso ta. Mas quando você volta os olhos para as casas legislativas, com enorme. Diminuir os custos de maior número de cargos, é possível campanha é um argumento. Outro adotar outro sistema. É o sistema argumento é que ele aproximaria os proporcional, que quer distribuir as eleitores do eleito. Esse argumento vagas no Parlamento, de forma pronão é razoável porque não é a proporcional aos votos obtidos pelos ximidade física ou o tamanho do partidos na eleição. É um sistema distrito que faz com que o eleitor inclusivo e de valorização das miesteja próximo ou acompanhe a atinorias. As inúmeras correntes presentes na vidade daquele parlamentar.
Em que consiste um projeto de iniciativa popular? Em que fase ele está?
Um projeto de iniciativa popular, como o próprio nome já diz, não é proposto por deputados e senadores, ele vem da sociedade. Qualquer pessoa pode redigir um projeto, mas, para ele entrar no Congresso Nacional, tem que vir acompanhado da assinatura de 1% do eleitorado nacional. Hoje, isso representaria cerca de um milhão e 500 mil assinaturas. Caindo no Congresso, ele vai tramitar como qualquer outro projeto de lei, logicamente que, nesse caso, com uma certa pressão pelo número de assinaturas. Foi, por exemplo, o que aconteceu com a lei da Ficha Limpa, que também foi um projeto de iniciativa popular e obteve mais de três milhões de assinaturas e outros milhões de e-mails enviados aos senadores e aos deputados. Nós propomos uma alteração para facilitar os projetos de iniciativa popular. Hoje está na lei um milhão e 500 mil assinaturas. Como a lei não diz nada, o Congresso só aceita as assinaturas físicas (no papel). No projeto, a gente coloca que também aceitaria as assinaturas online. Além disso, prevemos que os projetos de iniciativa popular entrem no Congresso como preferência aos projetos dos deputados.
Como estão sendo coletadas as assinaturas? Como aderir?
Há uma mobilização que está sendo feita por várias entidades, entre elas a CNBB, que está mobilizando todos os padres para coleta de assinaturas nas paróquias, e outras, como sindicatos. Aqui em Belo Horizonte, algumas vezes, temos uma mesinha na Praça Sete que fica recolhendo assinaturas de quem passa. Além disso, o formulário de coleta de assinaturas está disponível na página da campanha: reformapoliticademocratica.org.br. Lá, além da cartilha para entender melhor a reforma, tem também o formulário que a pessoa pode imprimir e coletar as assinaturas e enviar depois, via correio, para o endereço que está no próprio formulário. Temos feito palestras para conscientizar as pessoas sobre a importância do projeto. O país inteiro está mobilizado. Hoje, nós temos em torno de 900 mil assinaturas já reunidas em Brasília.
Qual o prazo para recolher as assinaturas?
Não tem prazo. Nós estamos com um pouco de pressa porque estamos com receio de o Congresso votar a reforma deles e aí quando a nossa chegasse lá, a coisa já estaria consumada.