BELO HORIZONTE CONTA COM CLUBES DE AUTOMÓVEIS DE VÁRIOS MODELOS, DOS MAIS ANTIGOS ATÉ OS MAIS MODERNOS PÁGINA 11 Lucas Félix
AULAS DE YOGA E MEDITAÇÃO SÃO ATRATIVOS GRATUITOS OFERECIDOS NO PARQUE SERRA DO CURRAL E NA PRAÇA DO PAPA PÁGINA 14
JOSÉ PACHECO, EDUCADOR RECONHECIDO EM PORTUGAL, PROPÕE UM MODELO DE ESCOLA QUE SE RELACIONA COM A COMUNIDADE PÁGINA 16
Vicky Fernandes
Pablo Nascimento
marco jornal
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 43 . Edição 313 . Junho de 2015
Moradores de rua e a invisibilidade
Bairro
DomCabral
50 Anos
História dos bairros
as
Luc
ix
Fél
O “Especial 50 anos” reconta a história dos bairros Dom Cabral e Coração Eucarístico, através de depoimentos de tradicionais comerciantes da região (foto). A professora Carla Ferretti, que pesquisou as transformações vividas nestes bairros em sua dissertação de mestrado, dá uma entrevista
As ruas de BH abrigam cerca de 1.827 pessoas em situação de rua, segundo o Censo de 2014, realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais. Nesta edição, o MARCO conta histórias de algumas pessoas e contextualiza a questão, com a análise de um especialista. Mostra, ainda, o atendimento dado pela PBH . PÁGINAS 8 E 9
Iniciativas geram proteção A Pastoral da PUC Minas São Gabriel realiza, pelo 12° ano consecutivo, o Projeto Beira Linha de Extensão que visa resgau de Ta cos r tar adolescentes e jovens marginalizados, ofertando cursos de ina M formática, inglês, entre outras atividades. No campus São Gabriel há muitos cães habitando o espaço (foto). Na região da Pampulha, um morador protege animais. Franklin Oliveira abriga mais de 70 em sua casa e mantém uma ONG que resgata bichos de diferentes espécies. PÁGINAS 7 E 10
sobre o tema. PÁGINAS 3 E 4
Lucas Félix
Insegurança ao redor da PUC Assaltos e roubos de carros são frequentes no entorno da Universidade, o que aflige moradores e estudantes. Essa insegurança mobilizou a comunidade que, junto com a Polícia Militar, propôs medidas preventivas à violência. A PUC, por sua vez, está em constante diálogo com a PM, tem distribuído panfletos com dicas de segurança e solicitado mais policiamento, principalmente nas horas de saída e entrada de alunos. PÁGINA 5
Literatura e arte
Guilherme Cambraia
A exposição ‘Tudo começa num ponto’, aberta ao público no Circuito Cultural Banco do Brasil, apresenta a obra do artista Wassily Kandinsky. Há quadros, objetos, vestuário pessoal e um dispositivo eletrônico que possibilita a visualização de uma obra em 3D. A exibição fica em Belo Horizonte até o dia 22 de junho e já atraiu muitos visitantes. A capital mineira tem criado oportunidades para jovens escritores. O mercado ainda é restrito, mas os jovens conseguem ter suas obras publicadas e conquistam reconhecimento de editoras nacionais. O MARCO escutou os depoimentos de três autores, que relatam as dificuldades em ter seus livros divulgados. PÁGINA 2
2
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Cultura
editorial
Quando a rua vira casa
Jovens escritores conquistam espaço Mercado ainda é limitado para autores nacionais que, com muito esforço, têm seu trabalho publicado e reconhecido
RAFAELLA RODINISTZKY 5° PERÍODO
O olhar é o principal instrumento de trabalho do jornalista, pois lhe permite retirar de fatos corriqueiros algo que merece ser contado e que não foi notado por quem passa. Na edição 313, o jornal MARCO exercita o olhar jornalístico em diferentes ângulos sobre a situação dos moradores de rua. A cidade a céu aberto é o endereço de quem a habita mas não é cidadão de forma plena, pois seria necessário cumprir deveres e desfrutar direitos. Na maioria das vezes, a condição de vida das pessoas em situação de rua é degradante e pode ser notada pelos vestígios de ocupação, gerando incômodo em quem passa, mas não para. Aos que pausam a correria do dia a dia e se sensibilizam, como também ao poder público, fica o dever de oferecer direitos e dignidade como forma de reparar a desigualdade. Das vias públicas para o circuito cultural, Belo Horizonte abriga, até 22 de junho, as pinturas do abstracionista russo Wassily Kandinsky, além de obras de seus contemporâneos, narradas aqui em “Kandinsky começa num ponto”. Ao chegar à comunidade, os repórteres buscam a visão dos comerciantes do bairro Dom Cabral sobre os seus negócios e apuram a atual situação de insegurança que preocupa os moradores e a comunidade acadêmica. Nem só de preocupações vive a comunidade. Em frente à PUC Minas acontece o encontro de colecionadores de veículos “The Bugs” repleto de histórias, carros antigos e curiosos. O lazer pode ser encontrado na literatura: a mercearia Porteirinha, localizada no bairro Padre Eustáquio, não vende apenas alimentos para o corpo, mas fornece livros emprestados aos clientes para fomentarem a alma. Esta edição traz novidades como as cartas dos leitores, por meio do “Fórum dos leitores”, coluna que estará presente em todas as edições, com opiniões, comentários sobre o jornal e sugestões de temas. Se você quiser participar, basta enviar um e-mail para jornalmarco@pucminas.br. Exercite o olhar e tenha uma boa leitura.
expediente jornal marco
Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal Puc Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ércio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Profª. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Clara Sales, Ana Clara Rodrigues, Bárbara Souto, Débora Assis, Mariana Campolina. Winicyus Gonçalves Monitores de Fotografia: Lucas Félix dos Santos, Guilherme Cambraia Monitor de Diagramação: Rafaella Rodinistzky CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares
JÚLIA GUEDES PRISCILA RIBEIRO 3º PERÍODO
Fernanda Medeiros e Adelina Barbosa, de 23 anos, começaram a escrever como uma brincadeira. Elas se conheceram em uma comunidade do Orkut, e começaram a escrever uma fanfic (narrativa de fã baseada na história original) da banda Avenged Sevenfold. Em princípio elas não pensavam em publicar, escreviam para elas mesmas, até que surgiu a ideia de escrever um livro. As duas revisaram a estória, alterando os nomes dos personagens, acrescentando e retirando detalhes, mudando, por recomendação da editora, o local da história. “Livros de autores brasileiros geralmente se passavam no Brasil, então mudamos já que a história original acontecia em Los Angeles”, conta Fernanda. “Adicionamos e retiramos capítulos para adequar a estória ao livro, porque a fic é um texto mais rápido, incompleto”, diz Adelina. A primeira dificuldade para a publicação é a busca de uma editora. Muitas cobram caro para publicar um livro de tiragem mínima, e as grandes editoras, que exigem pagamento para a publicação, ainda estão inseguras com autores brasi-
Fernanda, Augusto e Adelina no lançamento do livro “Triângulo de 4 lados”
leiros, em especial os jovens. A escritora Lavínia Rocha, 17 anos, foi patrocinada pelos pais para publicar o seu primeiro livro: “Para o segundo, procurei por uma editora que custeasse o projeto e me desse apoio na divulgação. Meu terceiro livro será publicado este ano pela mesma editora.” O jovem autor Augusto Alvarenga,19 anos, após muita pesquisa, encontrou a editora certa para o seu livro, depois de receber muitos ‘nãos’ antes de publicar a obra. Com Adelina e Fernanda não foi diferente. “Recebemos muitos nãos, até que estava no Facebook e vi uma foto do livro do Augusto [Alvarenga], encontrei com ele na Bienal de Minas, peguei os dados da editora
e finalmente conseguimos nosso sim”, conta Adelina. A concorrência com obras internacionais, geralmente best-sellers e com venda garantida para a editora, é outro obstáculo enfrentado pelos autores nacionais. Contudo, a cada dia que passa obras brasileiras têm encontrado o seu espaço no mercado. Lavínia acredita que os brasileiros estão se identificando mais com os livros pelo simples fato de falar para eles sobre eles. “Reconhecer lugares, ler as gírias, enfim, ver a própria cultura em uma história é novidade para os leitores e isso tem cativado e atraído cada vez mais públicos”, conclui. Para Augusto, a divulgação maciça que os livros
Júlia Guedes
estrangeiros recebem não se compara à dos brasileiros, mas ela ainda possui esperança no mercado brasileiro, pois é possível ver nacionais em listas dos mais vendidos. Os jovens escritores também recebem algumas críticas a respeito de sua idade, Augusto já sentiu certo preconceito de pessoas mais velhas, por acharem que por ser jovem é imaturo e faz um trabalho ruim. Já Lavínia diz lidar com muita seriedade no seu trabalho, “Tenho horários para escrever e já abri mão de outras atividade para me dedicar a um livro ou comparecer a algum evento.” Contudo, ela encontra pessoas que reagem com surpresa ao descobrirem sua idade, de forma positiva.
Kandinsky começa num ponto MARINA MOREGULA 1º PERÍODO
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) expõe até o dia 22 de junho a mostra “Kandinsky - Tudo Começa Num Ponto”. As peças são do acervo do Museu Estatal Russo de São Petersburgo e traz pinturas, litografias, fotografias, objetos. Há trabalhos do pintor abstracionista russo Wassily Kandinsky, como também de contemporâneos e dos que influenciaram sua obra. Entre eles, estão Nikolai Roerich e uma das três esposas, Gabriele Munter. Wassily Kandinsky nasceu em Moscou em 1866 e
produziu inúmeras pinturas, além de muitos poemas que têm como tema geral a expressividade das cores. É conhecido e estudado mundialmente como um dos precursores da arte abstrata, embora também tenha pintado telas figurativas no início de sua carreira, muitas delas mostrando paisagens da Rússia do final do século XIX e começo do século XX. Wassily tinha um olhar atento ao seu tempo e lugar, colocando em suas obras elementos da cultura popular primitiva russa do norte da Sibéria, até então desprezada por outros. Isso o diferencia e o define. Tudo começa num ponto, a frase
emblemática de Kandinsky, que reflete a essência poética do artista e seu traço. As telas de Kandinsky e seus contemporâneos estão colocadas em ordem cronológica, evidenciando a transição pela qual o pintor passou ao longo de sua vida. Isso dá um caráter didático e pedagógico à exposição, além de enfatizar como as influências de Kandinsky modificaram sua obra e a encaminharam para a abstração. O gerente de programação do CCBB de Belo Horizonte, Francisco Gomes, acredita que, dessa forma, a mostra amplia o repertório cultural dos visitantes. Ele crê que Kandinsky
contribui para a formação cultural do público, por ser um exemplo de valorização da tradição popular. Além das telas, a exposição traz objetos artesanais, que variam de urnas e trenós a portas e instrumentos usados em rituais xamânicos. Há também no pátio do prédio do CCBB a Sala Imersiva, que conta com lentes 3D, fones de ouvido e um programa digital que visam simular, para o visitante, uma entrada no quadro abstrato No Branco, obra mais famosa de Kandinsky. A tecnologia permite um passeio pela tela do pintor e uma exploração do uso das cores de forma inovadora.
Forum dos Leitores
Reforma política Senhores editores, Em nome do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e Arquidiocese de Belo Horizonte, gostaria de externar nossos cumprimentos pela edição 312,
de maio de 2015, do Jornal Marco, cuja cobertura sobre a atuação política de jovens e outros segmentos (como grupos de fé e política) e a entrevista com o promotor Edson Resende, sobre os desafios da reforma política, corrobora o esforço de vários setores da Universidade, entre eles este Núcleo, no sentido de ampliar ações
de educação política e apresentar a importância da reforma política à sociedade brasileira nesse delicado momento da vida sociopolítica nacional. Prof. Robson Sávio Reis Souza Coordenador do Nesp
3
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Comunidade
Dom Cabral e entorno 50 da PUC são tema de pesquisa Bairro
DomCabral Anos
Carla Ferretti narra o surgimento de dois bairros importantes para a Região Noroeste da cidade, o Dom Cabral e o Coração Eucarístico, tema de sua dissertação de mestrado ROBERTO BARCELOS 3º PERÍODO
A região, que abrange hoje a PUC Minas, era completamente diferente. Antes, havia um seminário importante para a formação de religiosos que influenciou no surgimento dos bairros que ficam ao redor da universidade. No começo, o Dom Cabral era voltado para a habitação popular, mas sua identidade foi alterada, adotando novas características e mantendo as principais. Essas transformações são discutidas pela professora Carla Ferretti, em sua dissertação de mestrado, nomeada “Lugar de Morar”. Ela foi publicada em 1999 e discute, também, a influência da PUC na formação da Região Noroeste da cidade. Até hoje, sua pesquisa é a única mais abrangente sobre o assunto e aconteceu graças ao auxílio da universidade e de seu programa Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIP). FAZENDA Carla Ferretti começa a contar a história da região evidenciando que o ponto de partida foi a compra de uma fazenda, no ano de 1923, pelo arcebispo de Belo Horizonte, Dom Antônio dos Santos Cabral. Mais conhecido como Dom Cabral. Na época, ele estava preocupado em formar novos padres para a capital, por isso comprou o que seria a área rural da cidade, uma fazenda que ia da Via Expressa até o Anel Rodoviário. O bairro começou a surgir no início dos anos 70, quando um setor da
Igreja Católica mostrou a sua preocupação com a questão da habitação popular em Belo Horizonte. Por causa disso, foi feito um acordo com o Governo do Estado de Minas Gerais. A Igreja cedeu parte do seu lote para que um conjunto habitacional fosse construído lá. Iniciavase, então, o bairro Dom Cabral. A área foi entregue aos primeiros moradores de maneira precária, sem tudo o que fora prometido pelo governo. Por causa disso, recebeu o apelido de “Favela do Magalhães Pinto”, governador de Minas Gerais da época. “Estava sem calçamento, rede de luz, esgoto e abastecimento de água”, conta a professora Carla sobre a situação do bairro. Os primeiros conflitos surgiram contra os poderes públicos do município e do estado para se conseguir o que havia sido prometido. PEQUENA VILA Por estarem vivendo sob a ditadura militar, os moradores faziam as reuniões mesmo correndo risco. Qualquer grupo formado à época era mal visto pelas autoridades, independentemente do motivo dos encontros. Contudo, as pequenas assembleias aconteciam graças à ajuda do padre do Dom Cabral, ao permitir que elas acontecessem no salão localizado ao fundo do templo, para que fossem discutidas pautas sobre problemas no bairro. As dificuldades eram muitas, mas as conquistas também. Além da infraestrutura básica prometida pelo governo, a organiza-
ção criada pelos moradores conseguiu expandir a linha de ônibus da região; antes ele passava pouquíssimas vezes. Também conseguiu o que era o mais importante para eles, a Praça da Comunidade. Um espaço onde eram previstas a escola, a igreja e a área para esportes. O estilo de vida próprio do Dom Cabral começou a surgir aos poucos e a união entre os moradores foi um fator de grande importância. Foram eles que decidiram a concepção urbanística do bairro, que, de acordo com a professora Carla Ferretti, lembra uma “cidade do interior”. Ele foi arquitetado para seguir o modelo das “cidades jardins”, que busca aproveitar as vantagens do campo e eliminar as desvantagens da cidade grande. O bairro possui algumas peculiaridades que o diferencia dos outros da região. Não tem ruas e, sim, alamedas. A ideia inicial era a de carros não transitarem no interior dele, apenas nas ruas mais exteriores. Além disso, o bairro Dom Cabral possuía apenas casas, não havia prédios. São pequenas características que englobam um todo, que é cultivado até hoje pelos moradores da região. Um dos focos da pesquisa da professora Carla Ferretti foi procurar entender os fatores que levaram à formação das características e da história do bairro Dom Cabral. Sua percepção sobre a originalidade dele a fez encontrar três agentes de grande importância para a construção do espaço do jeito em
A presença da PUC Minas trouxe desenvolvimento à Região Noroeste
Lucas Félix
Carla Ferretti discute, em sua dissertação, o surgimento do Dom Cabral
que, hoje, ele se encontra. O primeiro agente foi a Igreja Católica que, além de ser a primeira a se instalar na região, cedeu o espaço onde o bairro foi construído. O segundo agente foi o Governo do Estado de Minas Gerais. Apesar de todos os empecilhos criados na época e na forma como entregou o bairro, o governo financiou o surgimento de muitas construções. Contudo, o principal agente para marcá-lo do jeito como é são os moradores da época e suas lutas por uma condição de vida e residência digna na cidade. “Foram eles, pela
mobilização que fizeram desde o início, que deram a feição que o bairro tem hoje”, conta a professora. JORNAL MARCO O bairro Dom Cabral surgiu em uma época complexa. O Brasil vivia sob uma ditadura e havia censura aos meios de comunicação. A censura era rigorosa, muitas informações não passavam ou eram omitidas por aqueles que controlavam o que devia ser dito ou não pela imprensa. Além disso, o grupo de moradores precisava enfrentar o governo para garantir suas conquistas. Entre todas as atribu-
Lucas Félix
lações do momento, uma novidade foi o surgimento do MARCO, no ano de 1972, e sua função social para os moradores da região. Os entrevistados mais antigos ouvidos pela professora Carla Ferretti diziam ficar ansiosos para o jornal chegar e saberem dos acontecimentos. Graças ao jornal, os moradores do Dom Cabral descobriam o que estava acontecendo na região e se os pedidos deles para o governo eram efetivados ou não. Além disso, serviu de fonte documental importante para a professora e sua pesquisa sobre o entorno da universidade.
O nascimento de um bairro universitário Além de estudar sobre o bairro Dom Cabral e adotá-lo como foco principal da sua pesquisa, a professora também pesquisou sobre outro bairro importante para a Região Noroeste e que faz contato direto com a universidade e seu entorno. O bairro Coração Eucarístico, que nasceu antes do seu vizinho, foi destinado para a moradia de uma população de classe média. O Coração Eucarístico surgiu aos poucos quando o seminário que existia no atual campus da PUC foi formando os seus padres e tornando o espaço ocioso, sem a necessidade real de ocupá-lo. A Universidade Católica, que ainda não era Pontifícia, começou a crescer e apossar-se dos prédios desocupados pelo seminário. O Coração Eucarístico, que fazia parte da fazenda do Dom Cabral, foi
loteado pela própria Arquidiocese de Belo Horizonte e vendido para tornar-se um bairro de classe média. Isso aconteceu com o objetivo de arrecadar dinheiro para continuar a manter o seminário que mudou de localização, indo para o campus da universidade. A expansão da Universidade Católica trouxe para o Coração Eucarístico os cursos que antes ficavam no prédio próximo à Praça da Liberdade, anexando-os ao novo espaço da universidade. Isso colaborou para o surgimento de um número crescente de professores, alunos e funcionários que passaram a ocupar a área. Esses acontecimentos contribuíram para a dinamização do bairro, que gira em torno da moradia estudantil e do comércio que vivem em função da universidade.
4
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Comunidade
Bairro
DomCabral
50
Comércio reúne tradição e história no bairro Dom Cabral Anos
Comerciantes contam histórias das dificuldades para consolidar seus negócios e como conhecem bem seus fregueses, criando uma relação de confiança que existe até os dias de hoje
Comerciantes se recordam dos primeiros tempos da região
A tradicional Mercearia Oliveira, negócio familiar que há 40 anos existe no Dom Cabral
NATHÁLIA PEREIRA 5° PERÍODO
Há 50 anos nascia o bairro Dom Cabral, construíam-se as casas, enraizavam-se as famílias, começavam os sonhos. Dos mais empreendedores, nasceram mercados, padarias, bares, salões, bancas de jornal. Muitas portas que se abriam para o pequeno bairro de ruas estreitas, ainda de terra, abrem-se hoje para um cenário diferente, e ao contarem sua história, contam também a do Dom Cabral. Na Mercearia Oliveira, um momento tradicional: vendedor e cliente conversam como velhos amigos. A loja tem origem familiar, e chegou à rua Imbiaçá no início da história do bairro, há 40 anos. Vicente Silva Oliveira, é funcionário há nove anos, conta que veio para ficar perto da PUC, não por si mesmo, mas para que sua filha pudesse concluir os estudos na Universidade. “Hoje ela já terminou a faculdade, mas eu continuo por aqui”, brinca. Para falar sobre o bairro, Vicente logo chama Soninha, moradora há 50 anos e cliente recorrente da mercearia. Sônia Ferreira Moraes, lembra do asfaltamento das ruas, do crescimento do bairro e do grande número de pessoas que a PUC atraiu. Ambos concordam que a violência acabou se tornando frequente no bairro, o que é prejudicial para o comércio. Vicente destaca a recente dificuldade de sobrevivência do varejo, devido à queda nas vendas nos últimos dois anos,
após um período de crescimento. Ainda assim, houve espaço para abrigar novos empreendedores. O mercado de Celso Lessa, 54, é jovem para o bairro, mas sólido como negócio. Com seis anos de existência, o Super Coelho já supera os 20,1% de empresas que sucumbem nos dois primeiros anos de vida, segundo estudo realizado pelo Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em comércios do Sudeste. CONTRASTES
O que Celso destaca como principal característica de muitos estabelecimentos do bairro é o relacionamento direto do cliente com o proprietário. “O cliente tem mais facilidade, um relacionamento amigável com o dono”, comenta. Enquanto faz amizades, sua freguesia cresce e para Celso, a efervescência da PUC é positiva, assim como as mudanças de gerações. Se toda a família frequenta a loja, toda a família consome na loja. Em um bairro de pequenos contrastes, alguns quarteirões podem separar muitas diferenças, como a calma interiorana da rua Imbiaçá e o cruzamento agitado desta rua com as avenidas Santa Matilde e Vereador Cicero Idelfonso, onde se encontra o “Ary Cabeleireiro”. Ary Ribeiro de Oliveira, chegou ao Dom Cabral acreditando que “onde o cabeleireiro for, encontra clientes”. De fato, encontrou fregueses e, 17 anos depois, conta que muitos, que já se mudaram do bairro ain-
da retornam ao seu salão. Comparando as agitadas ruas onde se instalou a um encontro de estradas, onde muitos passam e poucos acabam parando, o ponto oferece alguns desafios e atrai oficinas mecânicas, padarias e restaurantes. Sobre as histórias que já ouviu dos clientes, hesita em compartilhar detalhes, mas garante que o profissional cria amizades e “acaba conhecendo muitos casos particulares, principalmente de doenças”. Ary percebe um crescimento lento no bairro e pergunta se isso tem relação com sua característica antiga: “Muitos moradores são aposentados e não
Lucas Félix
pedem tantas mudanças”. Além disso, observa que muitos jovens mudam, ou só retornam ao bairro em caso de dificuldades financeiras. Mas o cabeleireiro está acostumado a se adaptar. Há 32 anos, abria seu primeiro salão, no bairro João Pinheiro, e o empurrão para o Dom Cabral só viria 15 anos depois: “Há uns 17 anos veio um enxame de cabeleireiros. Os cursos ficaram mais baratos e muita gente aproveitou”. Os preços mais baixos da concorrência iniciante o fizeram escolher um local com aluguel mais caro, e assim foi aberto o “Ary Cabeleireiro”.
Nesses 33 anos de moradia, Wellington e Célio viram muitas melhorias, onde muitos lotes vagos viraram casas, além do crescimento da população. O pai participa da pastoral da Igreja Bom Pastor e, por isso, tem contato com iniciativas. Mas reconhece que, atualmente, falta movimentação para melhorias. Célio pensa que uma conquista importante seria a de uma liderança política, como um vereador, para que o Dom Cabral e outros bairros da região tivessem melhor representação. Na mesma rua, a banca de jornais e revistas é um estabelecimento que, com menor espaço físico, oferece mais produtos e histórias, sejam elas contadas pelas publicações vendidas, sejam pelo proprietário da banca. José Daniel da Silva, chegou ao Dom Cabral ainda criança, jogou futebol em terrenos da PUC Minas e em lotes onde hoje há prédios. Ele se lembra de córregos que viraram avenidas, e durante os 25 anos
de história da sua banca, percebeu um grande aumento de lojas no bairro, a instalação de semáforos e outras melhorias. Todo esse tempo não passou sem dificuldades. José conta que, do comércio tradicional, como padarias e barbearias, muitos já fecharam ou foram vendidos. Também vê, de fora da redação dos jornais, indícios de uma crise: chegou a vender 200 jornais nos dias de domingo mas, hoje, a média não passa dos 20. Sobre melhorias, diz: “O que tem que melhorar aqui é o que precisa em todo lugar, como segurança”. Ainda assim, comemora que, em comércio enxuto como o seu, também teve crescimento, e o imóvel que antigamente era de 2x2 metros, agora, é de 2x4 metros e abriga maior variedade de jornais e revistas. Conhece muitas pessoas, fez amizades com clientes e conta, sorrindo: “Tem cliente que a gente já guarda o produto pra eles, faz amizade, conheço a família de muitos.”.
A tradição no comércio passa de pai para filho Mais uma vez, algumas esquinas separam a agitação das avenidas da calma que toma conta do bairro. Na rua Nogueira da Gama, os moradores encontram a Lojinha’s Modas há 22 anos. Wellington Gonçalves e Célio de Freitas Gonçalves, pai e filho, contam juntos a história da loja. Wellington nasceu na cidade de Pimenta, no interior de Minas Gerais, e trabalhou na Bahia por muitos anos, antes de se estabelecer em Belo Horizonte, há 33 anos. Durante esse tempo, conheceu o Jornal Marco, se adaptou ao bairro, decidiu mudar de vida, e como a família de sua esposa possuía uma confecção de roupas, investiu na sua lojinha de garagem. A notícia se espalhou pela região e, logo, os moradores iam visitar sua casa, conhecer a lojinha. Quando veio a necessidade
de expansão, Wellington foi à Junta Comercial para registrar a loja: “Tentamos todos os nomes possíveis, mas todos já estavam registrados.”. A solução foi usar o nome que já era conhecido, e assim batizou a “Lojinha’s”. Hoje, pai e filho concordam sobre as características das lojas do bairro. “Comerciantes se tornam amigos dos clientes, sabem quem é filho de quem”, conta Wellington. A sobrevivência do negócio não é fácil, mas a loja ainda usa o antigo sistema de pagamento em carnê, que fideliza muitos clientes. “Eles têm que voltar na loja todo mês para pagar o carnê”, conta Wellington e acrescenta, em tom de brincadeira: “Muitas clientes são mulheres, que vêm até a loja todo mês para pagar, e já perguntam sobre o que chegou de novidade.”
José convive com problemas no comércio local
Lucas Félix
5
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Comunidade
LUIZ H. BRAZ NATÁLIA AQUINO 2º PERÍODO
Tudo começou com uma calourada e uma simples festa na rua, que gerou problemas no trânsito. A partir daí, moradores do Coração Eucarístico resolveram se reunir e mobilizar a Associação dos Moradores para cobrar do poder público ações para a melhoria do bairro. Ao buscarem a até então Amacor (Associação dos Moradores e Amigos do Coração Eucarístico), descobriram que ela estava inativa. Foi necessário, então, promover uma mobilização dos moradores para fundarem uma nova associação. A partir daí, nasceu a Amocoreu (Associação dos Moradores do Coração Eucarístico e Região), criada para aproximar o poder público dos moradores e atender às necessidades do bairro. A falta de segurança, um dos principais infortúnios vividos pelos moradores e transeuntes do bairro, foi motivo para a criação de
Insegurança no Coreu e região Moradores e policiais se organizam para combater a violência nos bairros próximos à PUC
medidas preventivas à violência. A Polícia Militar, os moradores e a Associação se conectam por um grupo no whatsapp. Essa alternativa faz parte da “rede de vizinhos protegidos”, que proporciona a comunicação entre as pessoas sobre movimentos suspeitos, um vizinho vigiando o outro e a polícia participando de tudo. O tenente Pires, do 9° Batalhão, explica que o trabalho de prevenção à violência é acompanhar os delitos e orientar moradores e comerciantes e que, pelo whatsapp, tudo fica mais fácil, já que o número de pessoas atingidas é maior. “Como eu não consigo ter polícia em todas as ruas,
Na Praça da Federação pessoas sofrem assaltos com frequência
moradores eu consigo ter em todas as ruas, eles me emprestam os olhos, daí eu consigo dar as diretrizes numa dinâmica bem mais rápida no quesito policiamento. Mas estamos engatinhando”, diz. ATRATIVO O maior problema da região são os assaltos, principalmente aos estudantes da PUC, uma vez que o movimento da Universidade é um grande atrativo para a criminalidade. Outro problema citado pela polícia são os roubos a veículos. Cassius Marcellus da Silva, vice-presidente da Amocoreu, tem percebido um aumento na violência, mas acredita que a culpa não é
Lucas Félix
exclusiva da PM, uma vez que o estado é responsável por disponibilizar número efetivo de policiais. Conforme Cassius, o 9° Batalhão conta com cerca de 100 policiais para atender a nove bairros diferentes, inclusive o Coração Eucarístico. Para ele, o número de policiais não seria suficiente para atender à demanda, já que apenas o Coreu possui cerca de 8 mil habitantes. Tenente Pires também explica o problema no número de policiais: “A estrutura da Polícia Militar não tá contendo. Nós temos 116 homens e precisaríamos de no mínimo 200. Tem dia que eu coloco duas viaturas atendendo o Coração Eucarístico. Normalmente três viaturas eu consigo alternar no bairro. Mas, se me perguntar se ‘todo dia é assim’ ,’não’. Tem dia ao invés de colocar duas eu coloco uma, duas ou três viaturas dentro do Coração Eucarístico, mas não só no Coração Eucarístico.” Lorraine Almeida Teixeira não se sente segura, ela trabalha no Coração Eucarístico e já presenciou assaltos na praça da Federação - famosa praça da região - em frente ao Olho Vivo. Quando indagada sobre o policiamento da região, ela afirma se sentir desprotegida e ver carros de polícia com absoluta raridade. “Eu não sei a solução viu, tá tendo muito assalto,
Proteção dos alunos O pró-reitor de Logística e Infraestrutura da PUC, professor Rômulo Albertini Rigueira, explica que trabalha juntamente com o 9º Batalhão para assegurar a proteção dos alunos, professores e funcionários. Ele informa que, a cada semestre, é produzido um panfleto com dicas de segurança da própria Polícia Militar para a comunidade universitária. O panfleto é enviado por e-mail e distribuído na PUC. Além disso, a PUC mantém um diálogo com a PM solicitando maior policiamento, principalmente nos horários de saída e entrada de alunos. Existe ainda um gasto voltado à segurança interna dos alunos, apesar das ocorrências dentro da PUC serem raríssimas, não chegando a 1%. Esses recursos são aplicados em câmeras, vigilantes e porteiros. Quando questionado sobre o controle da entrada e saída de pessoas no campus, o professor Rômulo adianta: “Já pensamos em criar o controle de acesso, mas franqueando esse acesso às pessoas da comunidade. Seria um investimento muito grande, para ser franco, com uma dinâmica muito complexa. Por exemplo, às dez e meia da noite sai todo o corpo estudantil. Então, o volume de catraca que é preciso é muito alto. Então, a gente acha que como está funcionando relativamente bem, não é necessário esse investimento.” Ainda sobre o controle, Rômulo explica que a universidade aberta ao público é algo que deve ser preservado, já que ela ainda não gerou nenhum tipo de problema para o campus: “A comunidade sempre preservou por isso.”
acho que tinha que ter mais policiamento sim, não é porque tem Olho Vivo que (acontecem os assaltos) né. Porque não adianta nada. Olho Vivo tem um aqui, outro lá em cima, mas não resolve.” Mariana Campolina, estudante de Jornalismo e monitora do MARCO, foi vítima de assalto junto com dois colegas nos arredores da Universidade. Conforme a aluna, o grupo teve seus celulares roubados. Mariana reclama do desprepa-
ro da PM. Ela e os amigos foram até o 9º Batalhão registrar um Boletim de Ocorrência: “E aí a gente teve que ficar três horas na polícia, isso foi o que deixou a gente mais chateado. Porque a gente chegou na polícia era umas 4 e pouco (da tarde) e ficamos até 7 e 10 (da noite). Muita demora, tinha umas meninas lá que provavelmente foram assaltadas pelos mesmos caras, pela descrição e pela proximidade da hora e do local (do delito).”
Criminalidade no bairro São Gabriel preocupa SABRINA TÁBATA OLIVEIRA VIVIAN LEITE 3º PERÍODO
Estudantes do campus São Gabriel, comerciantes e moradores reclamam da falta de segurança no bairro e em áreas vizinhas. No dia 23 de abril, foi realizada uma Audiência Pública pela Comissão dos Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, a pedido do vereador Reinaldo Preto Sacolão (PMDB) que teve como pauta o alto índice de criminalidade na região. Foram discutidas algumas medidas entre os moradores e a Polícia Militar para a prevenção de assalto. A PM reconhece o aumento do número de assaltos na região e destaca que a localização do São Gabriel, com acesso ao Anel Rodoviário e outros importantes corredores de trânsito, facilita a ação dos criminosos. De acordo com o tenente Marco Túlio Carneiro,
subcomandante da PMMG, atualmente, o principal problema do bairro é o roubo a transeuntes. Segundo ele, por ser localizado entre vias de trânsito rápido, o bairro facilita a fuga de pessoas que cometem esse tipo de delito. “Vamos tentar conseguir o apoio da comunidade quanto a ações para inibir os assaltos a transeuntes, em vias laterais e vicinais, visando melhorar ainda mais o policiamento”, afirmou. A comerciante Andrezza Kellen de Souza diz que não se sente segura. “Às 19 horas já não se vê policiais nas ruas. Já fui assaltada na porta da loja quando chegava para trabalhar às 8 horas. Levaram a moto do meu marido”, contou. Segundo Cássio Vicente, o açougue que gerencia nunca foi assaltado, porém, os estabelecimentos vizinhos não tiveram a mesma sorte. Enquanto novas medi-
das de segurança não são implementadas, a PM alerta para cuidados que podem evitar que a população se torne vítima dos bandidos. Segundo o tenente Carneiro, ao encontrar facilidade, observando pessoas usando o celular em pontos de ônibus, por exemplo, ou com a bolsa volumosa à vista, o infrator pratica o delito, mesmo sem utilizar armas de fogo. Outra oportunidade que favorece a ação dos assaltantes ocorre quando a pessoa caminha sozinha no interior do bairro. “Para o infrator, é mais vantajoso roubar uma mulher ou um homem que está sozinho. Se ele depara com um grupo maior, vai pensar duas vezes antes de praticar o delito”, explicou. AÇÕES DA PBH O gerente regional de Fiscalização e Licenciamento da Regional Nordeste, Luiz Carlos Vieira enume-
Comunidade reivindica à Polícia Militar maior segurança
rou as ações da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) na região, a fim de evitar as ocorrências. “Temos atuado na melhoria da iluminação, por meio da troca de lâmpadas, na capina de matos em terrenos públicos ou notificação de terrenos particulares e na poda de árvores, contribuindo, assim, com o trabalho da Polícia Militar e da Guarda Municipal”, informou Vieira.
A Câmara Municipal realizou uma Audiência Pública para discutir a segurança na região. Chegou-se à conclusão de que é preciso continuar cobrando, principalmente da Polícia Militar, uma resposta, permitindo segurança à comunidade. Refletindo a criminalidade, o único shopping da região Nordeste, localizado na Avenida Cristiano Machado nº 4000, mostrou que o alto
Sabrina Oliveira
índice de criminalidade na região resultou em medidas preventivas para a segurança do local. A ação do famoso “rolezinho” entre os adolescentes estava assustando clientes e lojistas. Em nota, a Assessoria de Imprensa do shopping informou que realiza ações estratégicas e pontuais para garantir a segurança do empreendimento, bem como de seus clientes e lojistas.
6
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Comunidade
Pituchinha completa 50 anos Funcionando atualmente como Umei, Escola Municipal localizada na Região Noroeste celebra aniversário e reúne histórias de ex-alunos, alunos e seus familiares ALESSANDRA GONÇALVES 3º PERÍODO
Inspirada em uma boneca dos anos 60, Pituchinha é uma Umei (Unidade Municipal de Educação Infantil) localizada no bairro Alto dos Pinheiros, Regional Noroeste, que está completando 50 anos. É uma escola reformada e adaptada para implantar uma filosofia que tem sobressaído em termos de qualidade em ensino voltado para a educação infantil. A instituição é fruto do esforço da comunidade junto com D. Ivone, que liderou e se empenhou na captação de recursos para a construção da escola. Após funcionar dois anos em condições precárias, em 15 de fevereiro de 1967, a instituição foi inaugurada com o nome de Escola Ivone Cabral/ Jardim de Infância Pituchinha. GAMELEIRA D. Ivone foi um exemplo e, com muito carinho, é lembrada pela comunidade. De acordo com documentos da escola, ela “recolheu doações de material de construção da comunidade, de entidades particulares e até mesmo governamental para ampliar a estrutura do prédio”. Depois de algum tempo da inauguração e por ser mantida pelo governo estadual, o local teve seu nome alterado para Escola Estadual Pituchinha. Educação Infantil.
“O primeiro prédio do Pituchinha era de madeira. Inclusive tinha uma foto da escola com a primeira cantineira que faleceu há um mês. Tinha uma foto dela cozinhando debaixo de uma árvore que tinha aqui. E ela fazia a merenda em fogão de lenha”, conta Lidiane Cândido. O nome da cantineira era Maria Marta da Silva, uma das primeiras funcionárias do estabelecimento. A árvore gameleira já não existe e cedeu lugar a uma horta cultivada pelos alunos. Lidiane Moises é mãe de ex-alunas e funcionária da instituição. Sua experiência inicia-se em 1993 quando passou a morar no bairro. “Sou apaixonada por essas crianças. Isso aqui é minha vida. Não consigo me ver fora disso aqui. Já recebi propostas para trabalhar em outras escolas, mas, não tem como”, comenta. Jane Adélia da Silva Rocha, gerente de Recursos Humanos, é ex-aluna da Pituchinha e mãe de alunos. Ela teve uma ótima experiência na instituição e um dos seus sonhos era “colocar seus filhos” na escola. “A minha base de educação, valores e princípios eu adquiri lá.” Sandra Lopes é acompanhante pedagógica das escolas de educação infantil na Regional Noroeste. É mãe de uma garotinha de cinco anos que estuda na Pituchi-
nha desde o berçário. Além de ser moradora da região, ela já trabalhou como coordenadora pedagógica da escola no período da municipalização. Sandra esclarece que havia muita resistência e que, hoje, as pessoas compreendem a filosofia da Umei. Ainda complementa que a escola adquiriu uma grande importância para a comunidade, porque auxilia as crianças a serem “sujeitos do aprendizado, além de ajudar na formação integral da sociedade”. MUNICIPALIZAÇÃO A municipalização ocorreu em 2008, transformando Pituchinha em uma Umei vinculada, em princípio, à Escola Municipal João Pinheiro. Isso provocou mudanças positivas no atendimento. Devido a problemas administrativos, entre 2009 e 2010, a Secretaria Municipal de Educação interveio, mudando a direção e a escola que foi incorporada à Escola Municipal Dom Bosco. Segundo Lidiane, foi um momento tenso e cheio de incertezas. Após a municipalização, as instalações, estrategicamente, foram adaptadas para o conforto dos pequenos. Resultado da reforma realizada em 2010, vários desenhos coloridos enfeitam as paredes. Outro beneficio foi a ampliação do público
Comemoração do dia das mães reuniu alunos, familiares e funcionários
contemplando crianças a partir de zero ano. Katiana de Oliveira assumiu a direção da instituição em 2012. Ela é pedagoga com pós-graduação em gestão escolar e educação. Depois da intervenção da Prefeitura, passou a ocupar o cargo de diretora. Ela explica que a municipalização é consequência da Lei de Diretrizes e Base (LDB) de 1996 que coloca a “educação infantil como direito das crianças e uma obrigação do município”. “Segundo a LDB, até 2016 a Prefeitura tem que atender à demanda da educação infantil. Porque a
educação infantil passa a ser, obrigatoriamente, a primeira etapa da educação básica. Deixa de ser uma coisa opcional e passa a ser uma obrigação das famílias e do município oferecer para as crianças este direito”, esclarece a diretora. O prédio de dois andares ganhou uma melhor infraestrutura. Na parte de baixo fica o pátio com sistema de som, a horta, a secretaria, a sala da diretora e da vice, o berçário, as salas dos menorzinhos, o refeitório. Na parte de cima, cercada por grades de proteção, encontram-se as salas dos grandinhos, a dos professores, o
Lucas Félix
teatro para apresentações. Cada sala tem um espelho grande, armários, cabides, mesas, cadeiras, tudo em miniatura. Música, capoeira, artes visuais são exemplos das atividades desenvolvidas na Umei. São propostas que auxiliam as crianças a perceberem o mundo à sua volta assim como a sua organização e ao, mesmo tempo, expressá-lo em forma de arte. A instituição está localizada à rua Lavradio, 619, Alto dos Pinheiros, Regional Noroeste, e seu horário de funcionamento é de 7 às 17 horas de segunda a sexta-feira.
Mercearia tem projeto de incentivo à leitura INGRID STOCKLER 1° PERÍODO
A mercearia Porteirinha, localizada no Bairro Padre Eustáquio, em Belo Horizonte, além dos típicos produtos vendidos, abriga também uma biblioteca. A ideia de disponibilizar os livros para empréstimos foi do senhor João Alves, um dos proprietários do estabelecimento. Fundada em 2014, a criação da “Mercearioteca” partiu de João, sua esposa e seus filhos. Eles começaram o projeto com parte dos livros do acervo da família, garimparam algumas obras entre amigos e ainda contaram com um considerável número de doações de clientes e até de anônimos. Hoje, a biblioteca conta com mais de 900 títulos registrados, dos mais variados gêneros e autores. A amplitude do acervo, de literatura infanto-juvenil a obras clássicas, atrai todos os públicos. O projeto inicialmente visava às crianças e aos adul-
tos que não desenvolveram o hábito da leitura quando mais novos, incentivando a formação de leitores. Contudo, com as doações de livros sobre os mais variados temas, as obras acabaram alcançando também o interesse do público com maior carga de leitura. As contribuições são vistas por João como um incentivo a mais para dar continuidade ao projeto ”Mercearioteca” e ampliar o número de pessoas favorecidas. No começo, os clientes da mercearia estranhavam a presença dessa estante diferente no local, sem entender muito bem o que os livros tinham a ver com o comércio. No entanto, logo as pessoas passaram a desenvolver, além da curiosidade, o interesse em relação ao projeto. O comerciante diz que a notoriedade que a iniciativa ganhou “é gratificante”. “Vemos que as pessoas precisam é do incentivo.” Os usuários da “Mercea-
rioteca” são assíduos. Mesmo com a animação que o projeto despertou, eles costumam ser os mesmos, embora também haja pessoas de outros bairros que são conquistadas pelo projeto, como é o caso da Karla Andréia. Ela trabalhava próximo ao local e, quando entrou pela primeira vez, procurava produtos de higiene. Ao se deparar com os livros, se surpreendeu: “Quando eu vi aquela quantidade de livros, primeiramente, achei que se tratava de venda, mas o dono me surpreendeu mais ainda dizendo que era empréstimo. Achei o máximo e até hoje já peguei mais de cinco obras.” Segundo Karla, são iniciativas como essa que merecem o prêmio Bom Exemplo (concurso promovido pela Rede Globo e que tem o objetivo de premiar ações que fazem a diferença na comunidade), pois influenciam o hábito da leitura de várias pessoas, principal-
Biblioteca e mercearia dividem espaço na loja
mente daquelas que não conseguem comprar um livro novo. João Alves afirma que “não há rigidez”, quando indagado sobre o processo de empréstimo e devolução das obras. A locação dos livros é gratuita e não há prazo de entrega estipulado. É necessário que os clientes informem seus dados pessoais e os títulos que foram escolhidos, para que haja a observação do fluxo dos livros que saem e de quem os retira. O compromisso que o leitor assume não é o de devolver aquilo que leu e sim de circular os livros e incentivar a leitura. Os funcionários conver-
sam sobre os exemplares pelos quais os clientes se interessam, desenvolvendo uma interação que vai além da relação livro-leitor. Daniel Lázaro, sócio do estabelecimento, afirma: “Apesar de não ter um prazo de entrega, os clientes devolvem os livros rapidamente.” O próprio Daniel é um exemplo de que o incentivo promovido é eficaz, uma vez que ele também passou a se interessar pela literatura com a criação da merceariabiblioteca. A ideia da “Mercearioteca” inspirou outros tipos de estabelecimentos a fazerem o mesmo. O idealizador do projeto pretende expandir o
Ana Martins
espaço e o acervo, para atingir mais pessoas e facilitar a acessibilidade às obras com o auxílio da tecnologia (para consultas dos títulos disponíveis), contando também com novas doações. João planeja dar esse impulso devido ao contexto do Festival Literário Internacional de Belo Horizonte (FLIBH), um projeto da Fundação Municipal de Cultura que é o auge de diversas iniciativas de acesso ao livro e incentivo à leitura. O FLIBH acontecerá entre os dias 25 e 28 de junho próximo, no Parque Municipal e no Teatro Francisco Nunes, entre outros locais.
7
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Educação / Economia
Ajuda a jovens marginalizados Projeto Beira Linha, realizado pela Pastoral da PUC Minas do São Gabriel, pretende auxiliar jovens marginalizados, oferecendo aulas de inglês, informática e manutenção de computadores ANA CLARA MOREIRA ISABELA MARTINS 3° PERÍODO
A Pastoral da PUC Minas São Gabriel realiza pelo 12º ano consecutivo, o Projeto Beira Linha de Extensão, que tem o objetivo de resgatar adolescentes e jovens marginalizados da região. Cursos de informática básica e intermediária, criação de personagens, manutenção de computadores e inglês são algumas atividades desenvolvidas no projeto. Segundo frei Mário Taurinho, coordenador da Pastoral e do projeto, “a iniciativa surgiu da necessidade que se via de fazer alguma coisa para esses adolescentes e jovens que percorrem o final da rua Walter Ianni até o bairro Capitão Eduardo, próximo ao Rio das Velhas”.
Dentro da universidade, os cursos de Sistemas de Informação, Engenharia da Computação, Jogos Digitais, Comunicação Social, Administração, Ciências Contábeis, Psicologia e Direito, em parceria com a Pastoral, oferecem aulas e atividades para os beneficiados. “Além das aulas e oficinas, os alunos têm acompanhamento vocacional, que serve para pensarem um pouco a respeito da sua vocação”, diz o coordenador. A estudante Gabriela Ferreira, 12, faz o curso de Jogos Digitais pelo projeto e está gostando dele, principalmente por entender que a tecnologia não é só para diversão. A turma de Gabriela tem alunos de diversas idades e níveis de conhecimento, mas todos con-
Participantes do projeto Beira Linha aprendem informática e manutanção de computadores
cordam que o curso está acrescentando aprendizado no dia a dia. PRIMEIRA CHANCE A monitora Nathália Alves está no projeto há quase um ano e meio e
Isabela Martins
afirma que gosta de participar. “A experiência é maravilhosa; trabalhar com jovens, adolescentes e adultos, passando meu conhecimento mais à frente, dando novas oportunidades pra eles no mercado
de trabalho quanto no dia a dia”, comenta. Nathália Alves se emociona ao contar sobre os momentos vividos no projeto. “Muitos chegam e nem sabem ligar o computador. Então essa pri-
meira impressão, o sorriso que eu vejo quando eles conseguem fazer alguma coisa. Eu fico gratificada, mostrando que o que eu faço está valendo a pena”, conta.
concorrido, alcançando uma média de 63,14 candidatos por vaga. Para Daniela Teotônio, aluna do 9º período de psicologia da PUC Minas, o aluno deve organizar seu tempo entre estudos e lazer. “Uma escolha sempre causa conflitos, por isso sempre oriento os alunos a organizarem seu tempo criando uma rotina de estudos. Mas também é
importante um gerenciamento do tempo de lazer com a família e amigos, boa alimentação, além de qualidade e quantidade de sono.” Daniela trabalha com orientação profissional para jovens e recebe alunos que desenvolveram alguma enfermidade devido ao estresse causado pelo vestibular. “Falta de concentração e perda do sono
também são muito comuns entre os alunos”, pondera. Com uma visão diferente, o estudante Diego Rodrigues de Sena, 19, que também deseja cursar Medicina, diz que o pré-vestibular funciona como um apoio e uma experiência pela qual todos deveriam passar. “Depois do pré-vestibular, eu agreguei muita maturidade à minha vida.”
Impacto do pré-vestibular na vida dos estudantes ANA PAULA PIMENTA MAIARA CARVALHO NIQUELE FONSECA 3° PERÍODO
Todos os anos, no Brasil, milhares de jovens e adultos enfrentam uma de suas maiores batalhas: o vestibular. Para alcançar melhores resultados e obter a vaga na universidade, muitos optam por frequentar o pré-vestibular. Porém, além dos estudos, os alunos enfrentam outros desafios: as pressões familiares e externas, mudança na rotina e estresse. “São três anos em nove meses.” Com essa comparação, a aluna Giovanna Veloso, 18 anos, descreve a intensidade de atividades do pré-vestibular que está fazendo. Ela, que deseja cursar Medicina, diz que a carga horária que enfrenta é pesada, e isso acaba afetando seu estado emocional. “Como eles passam muita matéria e exercícios, eu não dou conta de todos.
Mas parece que a única questão que você não fez é que a vai cair na prova, então acabo ficando neurótica”, contou. Mesmo com toda a pressão e os distúrbios de humor ocasionados pelo estresse, os jovens não se esquecem da importância da prova de admissão à faculdade. Luccas Tran, 20 anos, diz: “É o vestibular quem dita o ritmo”. Em seu terceiro ano de “cursinho” preparatório, o concorrente à vaga de Medicina mudou sua rotina de estudos após alcançar uma nota máxima no último vestibular. “Esse ano está sendo diferente, pois, como eu já tenho um conteúdo denso, estou fazendo cursinho só de matérias especificas”. Alcides Gusmão, saiu há três anos de sua cidade natal, no interior de Minas Gerais para estudar em Belo Horizonte. Ele diz que a base preparatória
que ele tem aqui é melhor do que a que teria no lugar onde nasceu. “Com a estrutura do pré-vestibular em BH, eu tenho chances de passar mais rápido”, afirma o aluno. Alcides não é pressionado pelos pais, mas diz que recebe uma pressão vinda do próprio cursinho e que existe uma grande competição entre os alunos. “O vestibular é desumano, pois a pessoa já estuda no ensino médio e depois tem que passar por uma pressão psicológica muito grande. Conseguir uma vaga em uma universidade acaba gerando um cansaço físico e emocional, até porque não tem vaga para todo mundo, mesmo nas particulares”, avalia. Os vestibulandos fazem parte dos 176.876 mil inscritos para o curso, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), segundo o qual, em 2015, o curso de Medicina foi o mais
Estudantes se preparam para provas nos cursinhos da capital
Niquele Fonseca
Empreendedores estão em alta na região do São Gabriel ANA CLARA SCAVASSA 6° PERÍODO
Lojas de roupas, sapatos, salões de beleza, restaurantes e lanchonetes. Este é o cenário atual do bairro São Gabriel, situado na Região Nordeste de Belo Horizonte. O desenvolvimento comercial do local é notável e, ao andar pelas ruas do bairro, é possível ver que abrir o próprio negócio é uma alternativa comum.
Cabeleireira e proprietária de salão, Edna Aparecida Batista dos Reis, diz que abriu o espaço há algum tempo. “Tem 14 anos que eu trabalho com isso. Antes eu dava cursos de depilação e estética.” Edna Reis diz ainda que o fluxo de clientes atende à sua demanda, e que “a concorrência existe e é preciso saber trabalhar para não perder clientes.” “Cada um tem seu tempo de trabalho e seriedade na prestação de serviço. Se
você faz um trabalho bem feito, é claro que o cliente vai voltar.” O comércio crescente traz valorização ao bairro e facilita a vida dos moradores que necessitam de serviços. Adriana Alves de Medeiros Santos é comerciante e dona de loja de roupas e acessórios. Sobre ser empreendedora no bairro, comenta: “Estou há um ano e dois meses aqui, então ainda estou fazendo os meus clientes. Para te falar
que é uma maravilha, ainda não, mas vai se tornar”. Para não perder clientela para a concorrência, conta: “Procuro colocar produtos diversificados. Eu trabalho com uma linha também, que vende uma peça de cada roupa, ou seja, uma peça exclusiva.” Há 18 anos no ramo do empreendedorismo, Ninon Rose Maria dos Santos, 50, é comerciante e dona de uma ótica no São Gabriel. “Comecei na rua Lajedo
com muita dificuldade, dentro de uma igreja. Tive esta oportunidade, e com este dinheiro eu consegui alugar uma loja na rua Lajedo”, conta ela. Para Ninon, o segredo do empreendedorismo é ser perseverante. “Tudo é perseverança. Nunca desistir, sempre perseverar. Já passei por momentos em que quase desisti, mas fui até o fim. Estou aqui até hoje, mas não pretendo ficar só aqui não”, disse.
Segundo Ninon, sua ótica foi a pioneira no bairro. “Não é porque vai chegar uma gigante que eu vou desistir. Agora, eu mesmo sendo pequena, vou mostrar minha qualidade”, diz a comerciante. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Belo Horizonte é a sexta capital do país com o maior número de empreendedores com nota 6,15.
8
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
População de rua
BÁRBARA SOUTO MARIANA CAMPOLINA 4° E 5º PERÍODOS
Na rua Pará de Minas esquina com a Professor Tito Novaes, vê-se muito: a Feira Coberta, o Centro Cultural Padre Eustáquio e a Academia a Céu Aberto. O movimento de pessoas e carros é intenso. E é bem ali, onde é correria, trabalho, passagem e lazer para alguns, que fica a casa de outros. Sentados em roda, aceitam quem queira se juntar a eles e bater um papo. Se quiser saber suas histórias, não é preciso cerimônia. É chegar e ser bem acolhido. “Claro que pode sentar. Ô, sem dúvida. Se não tiver orgulho, nóis é nóis (sic)”, dizem, sorrindo. Atrás da feira, ao lado do centro e em frente à academia, existe uma casa com muros de papelão, teto de lona e fogão de tijolos. A rua é o quintal, onde ficam os cachorros, o varal e uma carroça. Os mesmos olhos que veem as construções da cidade nem sempre alcançam a vida por trás desses muros de papelão, tampouco a realidade presente ali. “Moradores de rua também são humanos”, diz Andreia. Com o sonho de melhorar a vida da mãe, que apanhava diariamente do pai, Andreia saiu de casa ainda criança, aos 13 anos. A jovem menina foi para a rua para estudar, já que o pai não deixava. “Vim pra rua no escuro, foi assustador, eu não sabia nada. Não sabia onde buscar comida,
Vidas que ninguém vê Moradores em situação de rua contam suas histórias e experiências. Prefeitura de BH quantifica população através de Censo e oferece atendimento
onde tomar banho. Quando você tem uma casa, mesmo que você não pense que ali esteja a sua família, você pelo menos tem uma cama”, conta a moça que hoje, aos 40, é mãe e avó e já não mora mais na rua. Ela, agora, tem uma casa de apoio, onde vive com seus filhos e netos, mas, frequentemente, retorna ao local onde morou. “É daqui que eu vim. Posso morar em um castelo que vou continuar vindo aqui. Não posso esquecer minhas raízes.” A coragem e a fé que Andreia deposita em Deus, acredita, trouxeram-lhe uma nova família. “Eles são a minha família. Aqui eles me chamam de ‘mãe da rua’, porque eu protejo e aconselho os que acabam de chegar. Sou defensora dos fracos e oprimidos”, conta, sorrindo. Reunidos, conversam, riem entre si e brincam com conhecidos que passam pela rua. Cada um tem sua história e, os tantos motivos que os levaram a se encontrarem ali, é o que os tornam semelhantes. “Aqui a gente divide tudo. A gente se ajuda”, acrescenta. Nos encontros e desencontros de ruas e histórias que se cruzam, a de Andreia cruzou com a de Alê, o mais novo dali, com 34
Andreia (3ª da esq. para a dir.) leva sua família ao local que por muito tempo foi sua casa
anos. De olhar compassivo, conta que ele chegou às ruas ainda novo e que certa vez teve o corpo queimado. “É o protegido da família”, revela. O homem, de poucas palavras, permanece observador, enquanto os outros assumem a sua voz e contam sua história. Perdeu a irmã em um acidente de carro e o “amor da vida” para a Aids. Depois disso, não foi mais o mesmo. “Desistiu, veio morar na rua. Cada um tem seu motivo para estar aqui, ninguém está aqui só porque quer”, diz Andreia.
Um novo lar do outro lado da rua Alex tem 43 anos, é morador de rua há 12. Encontrou na rua um lar quando se separou da mulher. Hoje, tudo o que tem são memórias da antiga família e a lealdade dos amigos que fez nas ruas. “Deixei tudo que tinha pra minha filha. Hoje ela mora a três quarteirões daqui”, conta, com lágrimas nos olhos e a humildade de quem teve pouco. Até a visão é limitada. Hoje enxerga com apenas 30% da capacidade e é assim que perambula por BH, pedindo dinheiro para comer e dando um jeito de sobreviver aos perigos das ruas. O sorriso que não some de seu rosto nem por um minuto, apesar dos poucos dentes, ajuda-o a saudar
quem passa. No homem que a vida parece ter tirado tanto, encontra-se muito. Muitas histórias, muita experiência e criatividade. “Posso cantar um rap evangélico?”, toma um gole no copo de pinga, ri e começa: “Essa é a família, restaurando vidas, se liga aí bandido, essa é a saída.” Sua saída foi aceitar o lar por trás dos muros de papelão. Mas foi também a bebida. Entre pingas e cachaças, encontrou uma maneira para sobreviver aos desafios que a rua impõe. “De noite a gente quase não dorme. Pra conseguir dormir eu tomo pinga. Vou morrer de cirrose”, afirma.
Alex conta as dificuldades que já passou na rua
Lucas Félix
Lucas Félix
Histórias de quem um dia mudou de vida “Eu fiz de tudo pra sobreviver. Usei drogas, fui pedinte”, conta Andreia que silencia e logo confessa: “Roubei também. Só não me prostituí, graças a Deus. Para morar na rua eu tive que virar homem, tive que ser um homem no corpo de mulher. Tem que ter muita coragem.” Andreia lembra, a todo momento, que não tem vergonha da sua história e, por isso, não esconde dos filhos o lugar de onde veio e as lutas que enfrentou, mas não deseja essa realidade para eles. “Os dois ainda estão desempregados, já são maiores de idade, mas vão conseguir algo. Quero que retomem os estudos, é o mais importante”, pontua. O filho caçula, de 18 anos, escuta atento as histórias da mãe, sentado ao lado de sua mulher e do filho de apenas um ano e meio. “Eu dava banho nele aqui. Enchia uma
bacia e dava banho com gente passando e olhando mesmo”, conta Andreia, que conseguiu sair das ruas quando os filhos ainda eram pequenos. “Quero que eles sejam humildes, reconheçam suas raízes.” Enquanto o sonho de ver os filhos empregados não se realiza, é ela quem paga as contas da casa, como o aluguel, a luz e a água, com dinheiro da pensão deixada pelo marido, falecido há cinco anos. “Ele se ‘perdeu’ nas drogas. Era trabalhador, mas o dinheiro vinha e ele comprava crack”, relata. Após 25 anos juntos, a mulher o encontrou, morto, na sala de casa após uma overdose. “Era noite de Natal”, relembra com pesar. “O amei muito. Ainda amo, mas meus filhos se perderam depois da morte do pai e tive que resgatá-los. Eu lutei e continuo lutando por eles. Sou corajosa.”
Na cozinha improvisada, os alimentos são preparados
Lucas Félix
Jovem cria projeto Com o intuito de mostrar a história por trás das vidas que, tantas vezes, não são vistas e nem ouvidas, Gustavo Mota, de apenas 14 anos, idealizou o “Pelas Ruas de BH”. A ideia é mostrar a voz que vem das ruas, através de postagens (facebook. com/PelasRuasDeBH). Gustavo, aluno do Cefet, conta com a ajuda dos amigos, tanto nas entrevistas quanto na hora de fazer as postagens. “Perguntamos a mensagem ou a história que gostaria de passar pra frente, porque vemos que muitas dessas pessoas têm muita coisa dentro delas e só estão esperando alguém que sente ao lado pra conversar”,
comenta Gustavo. O projeto teve início neste ano e sjá reuniu diversas histórias. Como a de Cláudio, morador de rua há 25 anos, que, quando perguntado o que diria ao mundo se todos pudessem ouvi-lo, respondeu: “Ah ô, gente! Como que tá ocês? (sic).” “Quase todas as vezes saem coisas lindas de dentro dos nossos entrevistados. E a simplicidade da fala me tocou, um ‘como que tá ocê?’, pode mudar uma vida!”, comenta Gustavo. Ainda segundo ele, o encontro com os moradores de rua é enriquecedor pois seus depoimentos permitem, para o observador, captar uma outra realidade.
9
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
População de rua
Falta de referências é determinante mento social. “A perda dessas relações distancia do que é considerado normal”, explica. E, dessa forma, ocorre a desumanização do morador em situação de rua, que passa a ser visto como uma ameaça aos outros moradores, por romper com elementos da lógica social, como a moradia, as relações, a higiene, a estética e o trabalho. “Ameaça pela diferença e pelo próprio fato de ser estigmatizado”, comenta o professor. “Antes de você enxergar a pessoa, você enxerga algum estereótipo social”, acrescenta.
A existência de estigmas sociais causa o desconforto e o desinteresse pelo que foge dos padrões pré-concebidos. Segundo Ribeiro, é função da Prefeitura dar condições mínimas de dignidade a essa população, como alimentos, documentação e lugar para se higienizarem. Além disso, dar opção de assistência àqueles que não querem permanecer nas ruas, assistência psicológica e apoio àqueles que necessitam, como em casos de doenças. “A principal questão das políticas públicas, nesse campo, é oferecer opção”, afirma.
Proteção social cunstância. É o que conta o cirurgião dentista, Geraldo Maia Durães, que trabalha no Centro de Saúde Santa Inês, localizado na Região Leste. “A gente atende principalmente os do bairro. A gente sabe que alguns moram na rua por opção ou abandono, e recebemos todo mundo igualmente. É feita uma espécie de ronda, que os trazem para tratarem da saúde. Outros vêm por conta própria ou após sofrer um acidente”, explica. O odontologista diz ainda que o Centro de Saúde no qual trabalha nunca teve problema com pacientes em situação de rua e que mesmo os que chegam bêbados ou drogados são recebidos, com o apoio do guarda municipal que os acolhe com atenção. “A gente dá apoio, atenção e a opção para eles cuidarem da higiene. Sempre tem algum funcionário ou morador que doa roupa para ajudá-los”, conclui Durães.
Lucas Félix
Censo traça perfil A Prefeitura de Belo Horizonte realizou, em parceria com o Centro Regional de Referência em Drogas da UFMG (CRR), o Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina (SAM) e a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas do Ministério da Justiça (Senad), o Terceiro Censo de População em Situação de Rua. O objetivo do censo foi traçar um perfil dos moradores e, desta forma, definir e reordenar políticas públicas voltadas para esse grupo. Até 2014, o censo identificou 1.827 pessoas em situação de rua no muni-
cípio, distribuídas em todas as regiões da cidade, principalmente nas regiões Centro-sul (44,8%), Norte (15,6%) e Nordeste (9,3%). O sexo masculino é predominante, 86,8%, com idade média de 39,6 anos. Mais da metade dos entrevistados tem entre 31 e 50 anos; desta forma são necessárias políticas públicas especialmente nas áreas de saúde e assistência social. O que mais leva as pessoas às ruas são problemas familiares, com 52%, seguidos pelo uso de álcool e/ou drogas, com 43,9% e falta de moradia, com 36,5%.
Arte Rafaella Rodinistzky
O Serviço de Acolhimento Institucional é um dos serviços de proteção social municipal, previstos no Sistema Único de Assistência Social (Suas). De caráter provisório e excepcional, oferece proteção integral, ofertando abrigo, higiene pessoal, alimentação, atividades socializantes, entre outros. O objetivo principal é a reintegração das famílias e a inserção na rede de capacitação, trabalho e renda, ajudando -os a reconstruir suas vidas. Em alguns albergues e abrigos, há ainda o encaminhamento para a retirada de carteira de identidade, CPF, certidão de nascimento e documentos necessários para inserção no mercado de trabalho, além do cadastro nos restaurantes populares. Esse cadastro pode também ser feito em uma das outras nove Regionais de BH. Além disso, os moradores em situação de rua têm atendimento garantido nos postos de saúde, em qualquer cir-
Os muros de papelão e o teto de lona sustentam a casa
Fonte: Terceiro Censo de População em Situação de Rua
O professor Ricardo Ribeiro, do Instituto de Ciências Sociais da PUC Minas, avalia que morar na rua é um sinal de desenraizamento social, uma vez que representa uma perda de referência. “Depois de perguntarem o seu nome, a pergunta que vem em seguida é: ‘onde você mora?’ Casa, na sociedade atual, é identidade”, comenta. Segundo ele, estar em sociedade é manter uma série de relações, entre familiares, amigos, vizinhos, e outros tipos de relações cotidianas. A desestruturação desse processo causa um estranha-
Arte Rafaella Rodinistzky
Fonte: Terceiro Censo de População em Situação de Rua
O olhar das pessoas “Como você enxerga os moradores de rua?” A maioria das pessoas pode ter dificuldade para responder a essa pergunta, porque provavelmente nunca parou para pensar nisso. Ou porque nunca teve o olhar direcionado para essas pessoas. O que se vê frequentemente e que é, de certa forma, normal, é o olhar de pré-julgamento. Mas essas pessoas carregam também uma história e têm um motivo para estarem ali. Seja por opção, seja por consequência. “Quando você me faz essa pergunta eu acho meio difícil de responder, porque eu nunca parei pra pensar”, confessa a estudante de publicidade e propaganda Jade Resende. “Eu acho que há
pessoas que moram na rua por realmente não terem condições de se manter, por não darem certo com a família ou por estarem passando por algum momento difícil. Mas acho que na rua há também pessoas que usam drogas, que são alcoólatras e que vão pra rua por causa disso”, completa. Muitas vezes, as pessoas em situação de rua são tratadas e vistas somente como uma ameaça à segurança e estética da sociedade, pois rompem com a lógica social de higiene e distanciam-se da ideia de “normal”. Moradores de rua são tudo o que os “cidadãos de bem” não são: não há rotina de trabalho e esforço, por isso, frequentemente são tratados
como vagabundos ou como um peso para a sociedade. O que muitos não entendem é que estar na rua pode ser uma opção, ou uma consequência. “Eu os vejo como esquecidos da sociedade, invisíveis e ignorados pela maioria, às vezes vistos como condição imutável das cidades. Mas entendo que as condições que os levaram a isso são várias, como as que os mantêm nela”, afirma o estudante Lucas Guerra. “O que eu quero é ser visto. Não precisa passar e fingir que a gente não existe, passar longe. A gente é também é humano. Se eu pudesse falar alguma coisa para as pessoas, seria que nos olhem com compaixão”, pede Alex, morador de rua há 12 anos.
10
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Animais
SOS aos amigos de quatro patas ONG protetora de animais em BH fornece auxílio e cuidados, mas casa será entregue KAROLINY ALVARENGA THAÍS PEREIRA 4° PERÍODO
Cachorro, gato ou cavalo. É comum se deparar com alguns animais perdidos pelas ruas. Vítimas de abandono e maus tratos, eles estão expostos a riscos como doenças e acidentes. Porém, Belo Horizonte conta com a ajuda de alguns guardiães, que dedicam suas vidas para cuidarem de bichos abandonados. Em uma pequena rua da Região da Pampulha, encontra-se a residência de Franklin Oliveira. Em sua casa, o ex-assessor de Gabinete da Secretaria Municipal de Meio Ambiente possui cerca de 70 animais, e fornece cuidados diários, vacinação adequada, além de tratar feridas e doenças. Cada um recebe um nome. “Coloco nomes em todos, senão, eles não obedecem. Cada nome refere-se ao local aonde os resgatei. A Terezinha, por exemplo, foi resgatada no Bairro Santa Tereza”, explica Franklin. Seu interesse pela cau-
sa animal teve início aos 12 anos, após assistir a um manifesto de agricultores no centro da cidade, em que foram queimados diversos pintinhos vivos. “Fiquei revoltado com aquela cena e, a partir daquele dia, prometi defender os animais”, conta. Ainda jovem, ele conheceu a Sociedade Protetora dos Animais, onde passou a contribuir com a limpeza, organização do local e cuidados com os animais. Com o tempo, virou fiscal da ONG, conselheiro, vice-presidente e, posteriormente, assumiu a presidência. “Saí dessa organização, participei de outros grupos e montei o Núcleo de Fauna de Defesa dos Animais”, explica. Na ONG criada por Franklin, ele e alguns amigos têm a função de resgatar e proteger bichos abandonados e em situação de risco. RESGATES
“Já cuidei de cavalos, burros, jumentos, urubu, micos e diversas espécies”, relata Franklin. Há cerca de 20 anos, vítima de
maus tratos e de uma infecção intestinal em estado avançado, um leão do Circo Fantástico foi resgatado pelo guardião. Franklin conta que o resgate de Simba foi um momento difícil pois, após o animal ser apreendido pela polícia ambiental, não havia local para deixá-lo. “A gente não conseguiu na UFMG, nem no Zoológico e nem em lugar nenhum. Um veterinário do Zoológico foi dar subsídio técnico pra gente até que finalmente conseguimos um voluntário no bairro Milionários, que cedeu a garagem gradeada dele”, relata. Devido ao estado avançado da infecção, Simba veio a óbito uma semana depois. Outro resgate, o de uma cadela presa com os filhotes recém-nascidos dentro de um tubulão de concreto, com cerca de 20 metros de profundidade, é relatado com emoção por ele. Franklin relembra que, junto a um amigo da Polícia Florestal, desceu amarrado com uma corda pelos pés, passou por difi-
Cães na universidade ADERMAN FIGUEIREDO IGOR SIMON ALEXANDRE WALISSON GASTALDI 1° E 2° PERÍODOS
Todos os dias, centenas de pessoas circulam pela PUC Minas São Gabriel, entre professores, alunos e funcionários. Porém, além dessas pessoas, a universidade também recebe alguns visitantes inusitados. Em uma rápida caminhada pelo campus é possível encontrar vários cães por todas as partes. Eles passeiam pela cantina, pelos corredores e, muitas vezes, pelas próprias salas de aula. Mas, afinal, esses animais estão causando algum problema à instituição? Para Marcos Roberto Senna, vigia noturno da universidade, a presença dos cães apresenta pontos positivos e negativos. O ponto positivo seria que os cães acabam ajudando a vigiar o local já que, ao perceberem algum movimento estranho, eles latem chamando a atenção dos vigias. Já o ponto negativo refere-se ao número excessivo de cachorros que pode trazer problemas, como atropelamentos e possíveis ataques a alunos e funcionários. Apesar dos riscos, Marcos Senna afirma nunca ter tomado conheci-
Franklin busca adoção para alguns dos 70 animais que tem hoje
culdades devido ao pouco espaço, mas que ao final obteve sucesso. “Foi um dos resgates que a gente passou mais aflição”, recorda. As dificuldades acompanham o cuidador, que contou sofrer emboscadas, agressões físicas e verbais, principalmente quando se envolve em algum manifesto contra a participação de animais em circo, rodeios, etc. DESPESAS
Franklin fala também sobre os gastos, pois, além da grande quantidade de
rações, há vacinas, tratamentos e remédios que são caros. Sempre contou com a ajuda de doações e amigos, sendo alguns anônimos. “Sempre fui acompanhado de muitos amigos nesta caminhada, o ruim é quando eles firmam compromisso em me ajudar e simplesmente somem”, desabafa. Com os problemas que vem passando, o ativista pretende aposentar-se. Ele conta que a sua atual moradia deverá ser entregue em até três meses e precisa encontrar um lar para todos os seus bichos, porém
Thais Pereira
não pretende parar com sua ajuda. Franklin pretende doar todos os animais, mas sabe que alguns terão de acompanhá-lo a vida toda. Para a adoção, ele possui algumas exigências. A pessoa é entrevistada, assina um termo de responsabilidade e reembolsa o valor de uma vacina. “Faço um apelo pra quem quer um animalzinho, que não seja de raça. Tem cães e gatos de todas as cores e tamanhos, são wildstreetdogs, vira-latas mesmo”, finaliza, entusiasmado.
Situação dos animais de rua A Organização Mundial da Saúde estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados.
Cães na PUC servem como ‘vigias noturnos’
mento de incidentes deste tipo, em sete meses de trabalho na instituição. Os professores, que muitas vezes têm suas aulas interrompidas pelas visitas dos animais, dão suas opiniões . Dóris Sanabio, do curso de Jornalismo, diz que a presença dos cães humaniza o ambiente e quebra a formalidade do lugar e, por isso, é interessante. Em contrapartida, a professora alega que o problema é a falta de controle sobre os animais no aspecto da saúde, já que podem estar doentes e transmitir doenças para as pessoas que frequentam o campus. Entre os estudantes, as opiniões se dividem. Dara Alamino, não se sente à vontade com a presença dos animais no campus. Segun-
Ana Clara Scavassa
do ela, esse desconforto se dá devido ao medo de ser atacada pelos cães. Com opinião diferente, a estudante Ana Luiza Nicolai, disse que os animais que transitam pela PUC são, em sua maioria, dóceis e fazem bem ao ambiente, por isso acabam sendo alimentados pelos alunos. Por sua vez, a Assessoria de Comunicação da PUC Minas São Gabriel afirma possuir um cadastro com todos os cães que passaram a morar em suas dependências, além de prover alimentação, cuidados veterinários e manter contato com órgãos de adoção. “Esse cuidado com os animais acontece, pois a instituição considera que suas unidades são extensões das cidades”, informa a Assessoria.
10 milhões são gatos 20 milhões são cães Em cidades de grande porte, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados.
=
Em Belo Horizonte, 27.600 cachorros estão abandonados nas ruas. Este número pode ser ainda maior se levada em consideração a população de gatos de rua que também vive à mercê de maus tratos. A estimativa é da Secretaria Municipal de Saúde.
Rafaella Rodinistzky
11
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Comportamento
LUCAS FÉLIX RAFAEL LEITE 5° PERÍODO
Ainda no século XIX, uma fabulosa máquina de quatro rodas com um motor que permite o deslocamento de um local para o outro, chegou em terras brasileiras. Àquela época, o automóvel era artigo de altíssimo luxo. Contava-se nos dedos quantas pessoas possuíam tal bem. Os tempos foram passando, os carros foram se popularizando e caindo, cada vez mais, na graça dos brasileiros. E esse amor, movido a gasolina ou etanol, se reflete na quantidade de clubes de carros existentes no país. São clubes para determinados modelos de carros, clubes só de carros antigos, clubes só de carros com motor refrigerado a ar, clubes só de carros rebaixados etc. Um deles é o The Bugs Brazil, que tem foco em carros da marca Volkswagem com motor refrigerado a ar, como o Fusca e a Kombi. Frederico Baêta, mecânico, comerciante e um dos fundadores do clube contou que nunca passou pela cabeça a ideia de ter um Fusca até o motor de seu carro fundir. “Liguei para uma tia minha pra pedir dinheiro emprestado. Ela só tinha esse Fusca branco, que está comigo há nove anos, para me emprestar e eu acabei aceitando o favor, porque eu fiquei sem graça de recusar”, afirmou. Assim que Frederico girou a chave
do Fusca pela primeira vez, a paixão pelo carro se acendeu. “Havia dois anos que o carro não funcionava. Três dias depois que eu peguei, eu coloquei ele para funcionar e atravessei a cidade para ir em uma cachoeira com ele. Fui até Itabirito, numa curtição total, e desde então Fusca virou uma doença pra mim“, contou. Para Frederico, o The Bugs Brazil tem uma grande importância para a preservação desse tipo de carro e de sua história. “A gente cuida mais desses carros antigos que qualquer carro novo. Muitos carros aqui têm mais de 600 mil quilômetros rodados, é muita história para contar”, afirmou. “[O fusca] é um carro mundial, e tem gente que gosta dele em todo o mundo. Todos que estão aqui poderiam ter um carro zero, já que não é barato manter um carro desses. Mas preferimos ter um carro antigo”, contou o mecânico. AMIZADES Por outro lado, donos de carros novos também se reúnem e criam seus próprios clubes. É o caso do Clube do Palio, dedicado ao tradicional carro da montadora Fiat, produzido desde 1996 até hoje. Douglas Bastos, um dos administradores do clube, contou que “a maior importância dos clubes é o encontro amigável entre os participantes, com um relacionamento muito bom entre as pessoas que gostam do
Paixão motorizada Clubes de carros promovem eventos em Belo Horizonte e reúnem veículos de diversos modelos
The Bugs Brazil reúne carros de modelos como Fusca e Kombi
carro.” Letícia Fuoch, gerente de RH e uma das coordenadoras do Style Club, frequenta diversos encontros de clubes em Belo Horizonte e região. “Eu prefiro hoje muito mais vir num encontro num domingo do que ir numa balada. E a amizade, você vê que é amizade verdadeira, tá todo mundo aí brincando de boa”, afirmou. Um dos eventos a que Letícia comparece é o do Elite Clube, dedicado a carros rebaixados. Bruno Chaga, que é um dos coordenadores da equipe, lamenta o preconceito sofrido por donos de carros rebaixados e acredita que a organização do clube pode ser crucial
Guilherme Castro e Douglas Bastos fazem parte do Clube do Palio
Lucas Félix
Mais que um xodó Durante o encontro quinzenal do The Bugs Brazil, no dia 12 de abril, um dos presentes ao evento aproveitou a data pra juntar o útil ao agradável. Igor Scalzo estava com sua Kombi de cor roxa, a mais bonita do encontro, recheada de biscoitos, o que agradou grande parte dos participantes. Igor estava pela primeira vez num encontro do clube. Veio a convite de amigos que trabalham com ele na feira do bairro Serra. O comerciante encontrou conhecidos de encontros de outros clubes e já se sentiu em casa. Não demorou muito para o primeiro visitante do encontro perguntar para o dono da Kombi se ele estava vendendo aqueles biscoitos. Segundo o feirante, a venda de biscoitos durante os eventos nunca foi planejada, foi tudo uma coincidência: como é muito trabalhoso tirar os biscoitos do carro para ir aos encontros, ele deixa a Kombi sempre carregada. “Num evento, algumas pessoas começaram a me pedir pra vender biscoito. Eu nunca ofereço biscoito pra ninguém, só espero
o primeiro pedir e tudo vai acontecendo naturalmente” contou. A bela Kombi, que sempre foi da família de Igor, nem sempre foi tão bela. “Ela estava completamente acabada, com a porta amarrada e com nenhuma solda” disse. A insistência de seu pai em não vendê-la fez com que Igor investisse quatro anos restaurando o veículo, que hoje em dia é também o ganha pão do feirante. “Ela era azul calcinha. Então eu resolvi arrumá-la de uma forma que ela ficasse diferente”, contou. Mesmo sem nunca ter feito parte de algum clube de carros, Igor teve grande ajuda de vários membros de diversos clubes na restauração de seu carro. “Muitas peças eu só consegui com pessoas que conheci nos clubes e que foram até São Paulo buscá-las”, disse o dono da Kombi. E graças às peças que conseguiu, sua Kombi foi premiada como o carro mais original no primeiro VW Brüder Treffen, evento que reúne entusiastas, colecionadores e apreciadores de modelos da Volkswagen em Sabará.
para a mudança desta realidade. “As pessoas vêem um cara em carro rebaixado e acha que é marginal, que a pessoa não tem responsabilidade. Mas se eles conviverem com a gente vão ver que é completamente diferente”, comentou. Bruno também defende seu amor por carros com tal característica. “A gente é discriminado sem a gente passar para eles o nosso ponto de vista, o nosso
Lucas Félix
prazer de andar com o carro rebaixado, customizado.” Guilherme Castro, outro administrador do Clube do Palio, disse que seu clube não permite nenhuma prática perigosa nos eventos, como cantar pneu e realizar corridas, nem o uso de som automotivo em volume alto. “Não pode fazer nada que manche a imagem do clube, porque a maioria das pessoas
já associa os clubes de carros com bagunça, corrida ilegal, etc. A gente tenta provar o contrário pra todo mundo”, afirmou Guilherme. “A gente não tem rua pra andar. A gente não tem espaço para realizar nossos eventos. Então, assim, a gente depende da nossa disciplina pra conquistar o nosso espaço”, comenta o coordenador da equipe.
Vantagens na manutenção Em alguns grupos, os membros conseguem vantagens em lojas de acessórios automotivos, como descontos em determinados produtos. Bruno Chagas disse que os membros do Elite Clube têm descontos em lojas do ramo automotivo. “Um carro rebaixado como o meu, por exemplo, que fica no limite, sempre está quebrando alguma coisa. A gente conhece pessoas que mexem com escapamento, suspensão e que a gente indica. Assim, eles dão descontos para a gente”, disse o dirigente do clube. Os carros mais antigos possuem grande dificuldade para achar peças, já que não são mais fabricados. Assim, os clubes são de extrema importância para ajudar nesta busca. “Eu estou até ingressando no ramo de garimpo de peças e, mais pra frente, a gente pretende começar um comércio dessas peças, as chamadas ‘moscas brancas’. Já estou viajando por cidades do interior pra procurar peças de Fusca que podem
ser reaproveitadas”, contou Frederico, do The Bugs Brazil. Guilherme Quadros, estudante e membro do grupo há um ano, disse que conseguir peças originais tornouse muito mais fácil após entrar no The Bugs. “Uma das vantagens de fazer parte do clube é a quantidade de contatos de peças e mecânicos que os membros passam uns para os outros”, afirmou o estudante. “Durante os encontros tudo é aprendizado. Eu posso afirmar que o meu conhecimento sobre o Palio aumentou bastante desde que eu entrei no clube” disse o administrador do Clube do Palio, Douglas Bastos. “Aqui a gente faz uma troca de conhecimento, ninguém esconde os segredos de ninguém. Um conhece mais de motor preparado, outro de suspensão e por aí vai”, comentou Frederico, do The Bugs Brazil. A partir do conhecimento sobre mecânica absorvido por alguns participantes,
eles deixam mecânicos de lado e acabam cuidando dos seus carros sozinhos. “A gente consegue ajudar muitos membros do clube pelo próprio WhatsApp, o que estimula a galera a querer aprender sobre o carro e depender menos dos mecânicos. O legal é quando você mesmo conserta o seu carro e deixa ele num bom estado”, afirmou Frederico. Frederico resumiu todo esse sentimento: “A gente tem até medo de andar com o carro na rua, porque se bate a gente fica muito chateado, já que temos um sentimento pelo carro, um ‘xodó’ mesmo.” Para ele não há dinheiro que pague. Para quem gosta de carros, grande parte dos clubes aceitam novos membros, sem impedimentos. Os clubes ouvidos pela reportagem do Jornal MARCO, The Bugs Brazil, Clube do Palio, Elite Clube e Style Club são facilmente encontrados na rede social Facebook. Por lá, é fácil companhar as datas e os locais dos encontros.
Igor Scalzo uniu o útil ao agradavél e hoje vende biscoitos em sua Kombi
Lucas Félix
12
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
ALEXANDRE GUGLIELMELLI GIULIA STAAR RAISSA CARDOSO SILVIA SENNA 1° PERÍODO
No centro de Belo Horizonte, nos arredores do shopping popular Tupinambás, há algo que você provavelmente já viu, mas nunca deu atenção: na calçada existem 60 estrelas com nomes de famosos pilotos de Fórmula 1, Fórmula Indy e até da Stock Car, como Ayrton Senna, Nelson Piquet e Bobby Rahal. Os desenhos foram criados pela Mesbla Veículos na década de 70. A empresa antigamente habitava o prédio, que hoje é o shopping. Ela tinha o intuito de inaugurar a loja em grande estilo, homenageando os grandes nomes das corridas automobilísticas. Nessa época, a calçada lembrava uma pista cinza com bordas amarelas. Segundo Vanderlei dos Santos (64), era algo “muito bonito de se ver”. Porém, não é o que se nota
Cidade
Anônima calçada da fama em Belo Horizonte Passeio criado na década de 70 que foi feito para homenagear pilotos de automobilismo, passa despercebido por pedestres e comerciantes hoje em dia. Ao andar pelo movimentado quarteirão do centro, depara-se com uma calçada suja, mal cuidada, esquecida e ignorada por quem passa pelo local. Na correria do dia a dia dos grandes centros, cada vez mais as peculiaridades da cidade passam despercebidas, como a calçada da fama. Muitos moradores e comerciantes da área nunca ouviram falar da mesma. São os casos de Felipe Inácio, que trabalha há seis anos no Shopping Tupinambás, e Cecília dos Santos, que trabalha no mesmo local desde a sua inauguração. Outro motivo para a calça-
Estrela do piloto Ayrton Senna está danificada
Lucas Félix
da ficar no anonimato é a sujeira que esconde e apaga as estrelas, ficando evidente a falta de manutenção e cuidado com uma das memórias da capital. INFRAESTRUTURA De tão anônima e esquecida, a extinção da calçada da fama entra em discussão para ser substituída por pedras portuguesas. A Sudecap (Superintendência de Desenvolvimento da Capital), entidade responsável pela implantação e conservação da infraestrutura do patrimônio municipal, informou que não dispõe de projetos futuros direcionados à calçada da fama. Esclareceu ainda que a conservação de calçadas de imóveis particulares é de responsabilidade do proprietário. Muitos comerciantes e moradores da área pedem a melhoria da calçada e optam por pedras portuguesas depois de conhecerem a possibilidade de mudança, pois querem um ambiente novo mais limpo e agradável. Outros, como é o caso de Vanderlei dos Santos,
Quem passa pelo quateirão da Rua Rio Grande do Sul não percebe a calçada
frequentador antigo do centro, acredita que a melhor solução seria a restauração da calçada, mantendo-se a homenagem pelo seu valor nostálgico. “Todo dia pego ônibus aqui e me recordo dos tempos em que a calçada era nova e muito bonita. Assim acredito que fazem muitos outros da minha época. Adoraria ver ela bem cuidada novamente.”
Se a calçada da fama continuará estampando o cenário belo-horizontino, ou não, é um mistério. Mas o que se pode afirmar é que a calçada carrega memórias, está mal cuidada e pede uma revitalização. E como disse Loreno Menegotto, “ao caminhar pelo quarteirão, descobri o Gilles (Gilles Villeneuve, piloto canadense morto em acidente na dé-
Lucas Félix
cada de 80) debaixo de uma lixeira, Emerson (Fittipaldi) todo sujo e Rubinho (Barrichello) quase sepultado. Coisas de BH!”. Aos possíveis desatentos, a calçada da fama se encontra no Barro Preto, no quarteirão da Avenida dos Andradas com as ruas Tupinambás, Carijós e Rio Grande do Sul.
Metrô pode ter horário ampliado ANA SOUZA GUILHERME MIRANDA JOÃO PEDRO VIEGAS 1º PERÍODO
O metrô poderá ter seu horário estendido até a meia-noite. Um projeto de lei apresentado pelo vereador Joel Moreira Filho (PTC) prevê essa medida. O projeto 965/14 está tramitando na Câmara Municipal e ainda se espera o posicionamento da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), atual administradora do sistema metroviário da Região Metropolitana. Atualmente, o metrô funciona de 5h15 às 23h, e é composto por uma linha principal, onde trafegam 25 composições de 4 vagões cada, que estão em circulação desde a sua inauguração, em 1986. Segundo o vereador, “a extensão do horário de funcionamento beneficiaria muitos usuários que dependem do transporte público noturno. Mais de 20.000 pessoas seriam diariamente favorecidas com o projeto, que não tem um alto custo de implantação”. Uma audiência pública foi realizada no ano pas-
Metrô atende a cerca de 200 mil pessoas diariamente na RMBH
sado, quando vereadores, juntamente com representantes da Prefeitura de Belo Horizonte, discutiram a viabilidade do projeto. De acordo com Joel Moreira, a CBTU foi convidada a participar do evento, porém não enviou nenhum funcionário. Em uma segunda audiência, que contou com a participação do Governo Federal, a CBTU informou que o período após as 23h é utilizado para a manutenção dos trens. BENEFÍCIOS O estudante de Relações Internacionais, Vinícius Marques, afirma que o pro-
jeto seria bem-vindo, pois favoreceria as pessoas que frequentam casas noturnas e bares em BH: “Deixo de sair algumas vezes por conta do horário da volta pra casa. Se o metrô funcionasse até mais tarde, ficaria mais tranquilo, pois saberia que o metrô estaria aberto”. A estudante de Jornalismo do campus São Gabriel, Ruth Luzia, diz que tem dificuldade de pegar o metrô ao final da aula. “É muito corrido. Tenho que sair mais cedo da aula pra conseguir pegar o metrô”. Outros estudantes também sofrem com a mesma situação, já que as aulas terminam às 22h30 e
Lucas Félix
têm que andar mais de um quilômetro em menos de 30 minutos”. O único período em que o metrô funciona após as 23h são dias de jogos realizados no Estádio Independência, quando esses começam às 21h50. Enquanto aguarda a resposta da CBTU, o vereador Joel Moreira pretende realizar uma mobilização em setembro, em parceria com a PUC Minas do campus Barreiro. O objetivo é exigir da CBTU algum posicionamento. Procurada pela equipe de reportagem, a CBTU não se manifestou.
CBTU
13
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Meio Ambiente
A cidade esconde seus córregos Belo Horizonte abriga uma grande quantidade de córregos que, antigamente, eram vísiveis e depois foram tampados pelas avenidas e ruas, passando despercebidos pelos moradores LUCAS LANNA BRUNO DE ASSIS 1º PERÍODO
A cidade de Belo Horizonte esconde muitos segredos que pouca gente sabe. Um deles são os rios e córregos que foram canalizados e retificados. As pessoas transitam pela cidade a pé ou em automóveis e nem ao menos imaginam que córregos estão embaixo de muitas das principais ruas e avenidas da capital mineira. Todas as referências que temos são de ruas, construções ou prédios. Nenhuma delas é um rio ou um córrego. Esse fato por si só já demonstra o quanto eles são ignorados na capital de Minas. Das centenas de pessoas que diariamente passam na Avenida Pedro II, a grande maioria não sabia da existência do córrego do Pastinho, que fica a poucos metros abaixo dos carros e ônibus que por ali passam. Iete Pereira, de 52 anos, que todos os dias passa na avenida, nunca tinha ouvido falar no tal córrego. Para ela o projeto da prefeitura, de canalização dos rios e córregos foi muito bom, porque assim o mau cheiro característico acabou. Assim como Iete, Nayara Muniz, 35 anos, passa quase sempre na Pedro II e nunca tinha lhe passado pela cabeça que ela estava andando em cima de um córrego. Diferentemente das pes-
soas que passam pela Avenida Pedro II, os comerciantes que ali trabalham já sabiam da existência do Córrego do Pastinho. Rafael Júnior, 22, frentista de um posto na avenida, afirmou que o projeto da prefeitura levou alguns benefícios para a região, mas em compensação os problemas causados foram muitos: “Não posso dizer que foi bom nem ruim. O trânsito melhorou bastante aqui, mas nos períodos de chuva, Nossa Senhora, isso aqui fica de um jeito que ninguém aguenta, alaga tudo”, contou Rafael. OBRAS A primeira obra de canalização dos cursos d’agua de Belo Horizonte ocorreu em 1895, no ribeirão Arrudas e no córrego do Acaba Mundo. Essa prática tornou-se comum nos anos 1920, época na qual se intensificou o crescimento da cidade. Segundo o governo da época, essas obras tinham o objetivo de resolver o problema das enchentes, no entanto o que se percebeu foi que elas não foram eficientes. Os primeiros a passarem por esse processo foram os córregos do Acaba Mundo (região da atual Afonso Pena e Prudente de Morais), Leitão (região onde hoje é Avenida do Contorno e a Rua Alvarenga Peixoto) e o Serra (nos bairros Funcionários e Santa Efigênia).
A situação em Belo Horizonte
Nos anos 1960, os córregos já tinham sido transformados em esgotos. O governo, então, tomou as primeiras iniciativas para cobri-los. As principais razões para essa medida foram as inundações constantes, o mau cheiro e a proteção à saúde dos cidadãos. Além disso, o número de automóveis na capital tinha crescido consideravelmente, sendo necessária a ampliação das avenidas para suportar o fluxo de veículos. Ao longo dos anos, essa medida foi repetida várias vezes e atualmente praticamente todos os córregos de Belo Horizonte são depósitos de esgoto canalizados. As únicas exceções dessa regra são o Cercadinho, o Ponte Queimada, que nascem na região do bairro Buritis, e o Córrego do Bonsucesso, com sua nascente no bairro Olhos D’água. Um exemplo é o Córrego do Pastinho, com sua nascente localizada próximo ao aeroporto do Carlos Prates. Ele era utilizado nos primórdios da cidade pelas colônias agrícolas para facilitar o acesso à água necessária para o desenvolvimento. Quando a cidade começou a crescer desordenadamente ele foi canalizado, nesse momento já estava poluído. DIFICULDADES Os problemas da canalização se tornaram evidentes desde os primeiros anos de sua aplicação. A expectativa de conter as enchentes não
Córrego do Leitão corria a céu aberto em 1928
foi alcançada. Na realidade, o número de inundações aumentou, visto que a impermeabilização do solo aumentou e , consequentemente, a quantidade de água que chega ao leito. Até os dias de hoje elas são recorrentes, causando várias tragédias. A primeira grande inundação da cidade ocorreu em 1923, ocasião na qual o ribeirão Arrudas transbordou. Em 1977, no aniversário da cidade a população enfrentou 48 horas de chuva resultando em nove mortes, 17 feridos graves e 23 desaparecidos. O caso que causou mais impacto ocorreu em 1983, na favela Sovaco de Cobra, quando cerca de 70 pessoas morreram e a ponte do Perrela foi derrubada. Para o ambientalista
Arquivo Fundação Getúlio Vargas
Apolo Heringer, esse projeto de canalização só trouxe problemas para a cidade: “foram feitas as primeiras obras e depois se abandonou. O Arrudas tinha uma série de afluentes, mas a especulação imobiliária e a mineração acabaram com as águas de Belo Horizonte. Agora o que é mais comum aqui são as enchentes.” Apesar de todos os problemas, o poder público em poucas ocasiões se mostrou sensível a essa questão. Segundo o pesquisador da área da geografia urbana e criador do blog Curral Del Rey, Alessandro Borsagli, nenhum partido faz nada pelo meio ambiente, ele é utilizado como instrumento para manobra política. A água em particular é um ótimo instrumento político,
Políticas ambientais e projetos
• Acaba Mundo (Avenida Afonso Pena e Prudente de Morais. Originalmente tinha sua foz no Parque Municipal, mas foi desviado para o ribeirão Arrudas) • Leitão (Bairro de Lourdes, Avenida Alvares Cabral com Rua São Paulo; Avenida do Contorno e a Rua Alvarenga Peixoto) • Pastinho (Avenida Dom Pedro II) • Cercadinho (Bairro Buritis) • Serra (Parque das Mangabeiras; bairros Funcionários e Santa Efigênia) • Mendonça (Avenida do Contorno ele segue pela Rua Levindo Lopes e Antonio de Albuquerque juntando-se ao Córrego do Zoológico) • Gentio (Avenida Francisco Deslandes) Das Piteiras (Avenida Barão Homem de Melo / Avenida Silva Lobo) • Tejuco (Via Leste-Oeste) • Dos Pintos (Bairro Gutierrez, nas proximidades da Rua Benjamin Jacob; Avenida Raja Gabaglia, perto do Circulo Militar)
a partir do momento que passa a correr sob as vias urbanas elas se tornam párias, esquecidas por todos e menosprezadas. Ainda de acordo com Borsagli, existem exemplos que Belo Horizonte poderia seguir. “Temos exemplos na Coréia do Sul, que reabilitou o rio Cheonggyecheon criando um belo local de recreação e sociabilidade em meio ao caos urbano de Seul , e mesmo na Europa, que passaram a tratar os seus rios de forma diferente a partir do século XIX, em particular Paris e Londres. Belo Horizonte inicialmente foi concebida sob os moldes sanitários das duas cidades, mas não acompanhou o seu exemplo no decorrer do século XX”, aponta Borsagli.
Avenida Prudente de Moraes foi construída sobre o córrego Acaba Mundo
Após as primeiras inundações de 2012 que resultaram na morte de uma pessoa, a Prefeitura garantiu aos belo-horizontinos que tomaria as medidas necessárias para minimizar os efeitos das enchentes. Hoje, a cidade vive os problemas da falta de água e não há projetos para revitalizar ou recuperar nascentes e córregos e sua integração à paisagem urbana. No legislativo municipal existem alguns projetos, mas a maioria deles não é aprovado. Um exemplo é o
PL 700-13 do vereador Arnaldo Godoy (PT) que estabelece como zona de preservação ambiental os cursos d’água e nascentes de Belo Horizonte, além de proibir a canalização e definir como obrigação do poder público investir na revitalização de áreas verdes e alternativas que favoreçam a recuperação dos cursos hídricos da cidade. O vereador se mostrou otimista e disse que o projeto foi colocado em pauta e que com a mobilização da população e dos vereadores
Guilherme Cambraia
ele deve virar lei. Além disso, Godoy também chamou a atenção para a necessidade de se estimular o uso do transporte público com a finalidade, entre outras, de possibilitar o “descobrimento” dos córregos. “Existem modais, como por exemplo, o aerobus, que está sendo experimentado em Porto Alegre e pode oferecer novos focos para a indústria, invertendo a lógica do transporte individualizado”, explicou o vereador Godoy. Outra questão levantada foi a revitalização da lagoa
da Pampulha. Segundo ele, o que está sendo discutido é a sua transformação em Patrimônio Mundial da Unesco, o que possibilitaria um maior investimento para limpá-la e preservá-la. Quanto ao futuro próximo, Arnaldo Godoy (PT) disse que devido à crise econômica a perspectiva não é boa. Os investimentos nas questões ambientais não devem ser muito grandes. Já para o pesquisador Alessandro Borsagli, “a revitalização dos córregos é viável, mas ocorrerá daqui a algumas décadas. A sociedade ainda não está preparada para tal projeto, visto que ela prefere viver encaixotada em um veículo individual como o automóvel, símbolo de um suposto status, segundo a etiqueta social da nossa capital e do país em geral. Uma revitalização e reabilitação acarretarão na diminuição da malha viária e, com certeza, isso será visto de forma maléfica para quem acredita que o futuro é movido à gasolina”.
14
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Bem-estar
Yoga e meditação conquistam a cidade com aulas gratuitas Parques da capital mineira tornam-se ponto de encontro para praticantes de atividades físicas e meditação. Aulas de yoga ajudam a população a fugir da rotina estressante do dia a dia LAURA BRAND 1º PERÍODO
Aulas de yoga e encontros voltados à meditação estão se consolidando em pontos turísticos de Belo Horizonte, como o Parque da Serra do Curral e a Praça do Papa. Como alternativas para atividades físicas comuns, essas práticas permitem que se fuja da agitada rotina das cidades e se elimine o estresse diário. Organizadas por professores de yoga, as aulas são gratuitas e atendem a todos os públicos, uma vez que não é necessária experiência prévia ou regularidade nos encontros. Nos finais de semana, o Parque da Serra do Curral localizado no Mangabeiras, recebe o projeto “Praticando aos Domingos” com aulas de yoga. Com exercícios de fácil execução, os praticantes visam o autoconhecimento e autodesenvolvimento aproveitando a interação com a natureza. Vicky Fernandes De Raphael, psicóloga e terapeuta corporal holística, decidiu começar o projeto após se questionar a respeito do acesso à yoga por parte da população: “Quis dar a oportunidade para aqueles que não conheciam ou que não tiveram essa chance”. As primeiras aulas eram realizadas no Mirante do Mangabeiras, mas o grupo cresceu tanto que foi necessário buscar outro local. Desde o início do ano, o
grupo se encontra no Parque da Serra do Curral. O número de participantes varia a cada domingo, mas a média é de 50 pessoas. “O fato das aulas serem oferecidas gratuitamente advém de um desejo pessoal de oferecer a oportunidade à população do acesso irrestrito à consciência corporal, à ampliação e à integração amorosa das pessoas com as técnicas”, afirma Vicky. Ela diz que o objetivo é ultrapassar o condicionamento físico e fazer contato com a paz dentro de si mesmo. A divulgação dos encontros é feita no Facebook através do grupo “Praticando aos Domingos” e da programação do próprio parque. Os encontros ocorrem no gramado em frente à fonte da entrada, às 10h aos domingos, exceto feriados. A Praça do Papa também é procurada por quem busca um momento de quietude na grande metrópole. Todos os meses, em várias cidades do Brasil, a fundação Arte de Viver realiza simultaneamente a Meditação da Lua Cheia. No primeiro dia de lua cheia de cada mês, centenas de pessoas se reúnem no lugar marcado e, ao som de uma meditação guiada, tentam eliminar o estresse e conectar-se consigo mesmas. A escolha da data se baseia na crença de que, assim como a lua influencia diretamente no movimento das marés, ela atua sobre o corpo, já que
é composto por água em cerca de 70%. Malu Rajao, instrutora e coordenadora da fundação em Minas e no Rio, afirma que a lua cheia é uma época propícia para se conectar com o universo, para meditar. A respiração é o foco da meditação guiada, buscando trazer os praticantes para o momento presente. “A respiração elimina até 85% do nosso estresse físico, emocional e mental.” Durante alguns minutos, o grupo se silencia e só é possível escutar os passantes e a voz vinda das caixas de som. “A gente precisa desse momento de silêncio para a gente se conectar. Todo mundo está precisando se reconectar consigo mesmo. As pessoas aprendem desde cedo a fazer a faxina externa, mas não o banho interno”, diz Malu. SAÚDE
A estudante de medicina, Thaís Salles, ficou sabendo do evento pelo Facebook e participou pela primeira vez do encontro no dia 3 de maio. Praticante de yoga, Thaís afirma que a meditação “faz muito bem para a saúde física e mental, pra relaxar, equilibrar nesse mundo de estresse que a gente vive.” O músico Sérgio Andrade, em sua segunda participação, garante que vai voltar mais vezes, além de ressaltar a importância desses encontros em parques. “Esses lugares públicos
Professora e alunos praticam yoga no Parque da Serra do Curral
devem ser ocupados para aproveitar e se encontrar, antes e depois da prática. As pessoas saem de casa sem gastar dinheiro”, comenta. No evento do dia 3 de maio, em torno de 500 pessoas se reuniram perto da cruz símbolo da Praça do Papa. A divulgação também é feita pelo Facebook e a participação é gratuita, sendo pedido apenas que os interessados levem uma canga ou toalha para sentar no chão. A prática de yoga e encontros de meditação vêm crescendo em Belo Horizonte e outros locais recebem praticantes regularmente. Laura Terra, estudante de engenharia de materiais no Cefet, participou de uma aula no Parque das Mangabeiras. Ela nunca havia feito yoga e se sentiu motivada a conhecer quando descobriu
que não era preciso ter conhecimento prévio. Após a prática, sentiu-se relaxada e tranquila, “É uma prática que me tirou por alguns momentos dos meus conflitos do dia a dia e me fez olhar mais para mim”. A Amyoga (Associação Mineira de Yoga), em parceria com a Prefeitura, oferece aulas de yoga em parques da capital. As práticas são dadas por professores de yoga associados à Amyoga que se voluntariam a dar as aulas. Ana Carolina Barbosa, professora de yoga há 12 anos, dá aulas todo segundo domingo do mês às 9h no Parque Municipal para diversos públicos. “Se em cada aula que eu der no parque ao menos um mendigo ou bêbado conseguir fazer a aula e sair sentindo-se melhor, já é uma conquista.” Ela também
Vicky Fernandes
enfatiza que para muitos participantes, é a hora de fazer algo para si mesmos. “Você sabe como a yoga é boa para nós, por que não podemos dar um pouquinho dessa maravilha para todos?”, completa. A busca por atividades voltadas não apenas para o desenvolvimento físico, mas também para o autoconhecimento faz com que práticas de yoga e encontros de meditação sejam mais populares e caiam no gosto dos belo-horizontinos. “Por vivermos em uma capital que exige muito esforço mental nosso, pelo trânsito, pela rotina e trabalho, é válido conhecer algo que nos relaxe um pouco e ao mesmo tempo estimule a espiritualidade”, defende a estudante Laura Terra.
Aikido: arte marcial que luta contra a violência LUIZA ANDRADE YASMIN KAIZER 1° PERÍODO
O Aikido, arte marcial fundada no Japão pelo mestre Morihei Ueshiba, no início do século XX, é uma arte marcial defensiva, uma luta contra a violência. Ueshiba teve, como objetivo, desenvolver uma arte que transformasse a sociedade a partir da mudança pessoal. Os treinamentos têm a filosofia de atingir o caminho da harmonia física e espiritual. O MARCO foi até o Dojo BuTokuDen e entrevistou o sensei (mestre em japonês), Rômulo Lagares, que falou sobre os efeitos do Aikido na vida das pessoas e dos policiais que a praticam. Rômulo e seu pai, Alcino Lagares, foram os idealizadores do Dojo, local de treinamento da arte, e o
nomearam “Bu Toku Den”, pelo significado de “a casa das virtudes da guerra”. Rômulo diz que uma pessoa só agride quando sente medo, e que a violência é parte de um desequilíbrio espiritual. Já o Aikido traz crescimento, autoconfiança e procura um equilíbrio mental, o qual é importante tanto para evitar um ataque como para se defender de um. A filosofia é baseada no Budô, código de ética e filosofia dos Samurais. “Para vencer, você não precisa criar um derrotado”, afirma Rômulo. Para nos sentirmos grandes não precisamos diminuir o próximo, e a arte marcial japonesa evoluiu para o pensamento de que sua prática partia do princípio de aperfeiçoar a humanidade, irradiar segurança e prevenir
conflitos. A arte marcial se diferencia de esportes de combate por não ter regras esportivas e possuir raras competições. Quanto à prática da arte marcial por policiais e guardas, Rômulo diz que seu pai estudou o Aikido e desenvolveu essa luta na Polícia. A prática não é obrigatória, mas faz diferença no desempenho dos profissionais, já que eles aprendem a controlar sua força e também a assumir outras estratégias para as situações cotidianas. A prática do Aikido por todos os policiais ainda é uma realidade distante, mas a tentativa é motivada pela certeza de que ela os torna cada vez melhores e mais capacitados. Arildo Ferreira Hostalácio, 54, é praticante do Aikido há 9 anos, e Larissa Rayanne de Souza, 19, há
Mestre Rômulo dá aulas para um público diversificado
dois anos. Arildo afirma que a arte lhe proporciona equilíbrio mental e físico. “É uma atividade aeróbica e ajuda na flexibilidade do corpo. Além disso, é uma arte marcial que tem em seus fundamentos o respeito à vida e respeito à diversidade. O fundador ensina que o maior adversário são nossas próprias imperfeições morais. É isso que de-
vemos combater diuturnamente.” Larissa, que conheceu o Aikido na biblioteca do Centro Cultural Venda Nova, o escolheu porque “é uma arte marcial que ensina a ter paciência, além de enxergar todos igualmente e buscar a harmonização”. Rômulo, que é sensei há 16 anos, treina pessoas de várias idades, a partir de 8
Lucas Félix
anos, de qualquer profissão e todos juntos. O público do Dojo é bem variado e todas as pessoas treinam entre si. Os motivos que levam cada um a praticar o Aikido variam de pessoa para pessoa, mas sempre com o objetivo comum de serem mais saudáveis e de estarem em equilíbrio com a mente e o corpo.
15
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismo
Esporte
O saudoso futebol da capital Dezesseis equipes já extintas participaram da divisão de elite do futebol mineiro. Craques surgidos nesses clubes fizeram sucesso até na Seleção Brasileira DÉBORA ASSIS WINICYUS GONÇALVES 3° E 5° PERÍODOS
Mineirão, grande templo do futebol das Gerais. Uma multidão se aglomera na esplanada do estádio. Porém, logo na entrada, notase certa divisão dos torcedores. Os atleticanos tomam cerveja nas proximidades do portão 9. Eles são observados de longe pelos fanáticos do Yale, Syrio, Lusitano, Progresso e Higiênicos. A galera da Lagoinha, representada pelas torcidas organizadas do Guarany, Fluminense, Olympic e Ipanema, prefere se “enturmar” com os cruzeirenses. Os americanos não dão muita bola e vaiam o agito dos fãs do Sport Calafate, Santa Cruz e Prado Mineiro. Quase 100 anos após a primeira edição do Campeonato Mineiro, esse cenário não passa de imaginação. Mas ele seria possível se clubes de tradicionais bairros de Belo Horizonte tivessem resistido ao tempo. Sim, América, Atlético e Cruzeiro já enfrentaram concorrência na capital, principalmente entre as décadas de 20 e 40. Até 1957, 39 times do município entravam em campo nas divisões do Campeonato da Cidade (antigo nome do Campeonato Mineiro) e Campeonato Mineiro. Mudanças no estatuto da Federação Mineira de Futebol (FMF) e a dinâmica da vida de BH acabaram levando ao fim muitos times. Porém, personagens e
OS PRINCPAIS CLUBES ANTIGOS DE
craques revelados pelos clubes ficaram para contar a história. Belo Horizonte ainda se estruturava na década de 1910. A Prefeitura incentivava a vinda de indústrias e de moradores. Afinal, a recém-criada capital de Minas, fundada em 1897, contava com um pouco mais de 30 mil habitantes. Nos gramados, o futebol local começava a engatinhar. O Clube Atlético Mineiro surgiu em 1908 e o América em 1912, mas o futebol ainda era praticado por uma elite. Coube, então, aos clubes de bairro popularizar e espalhar a prática do esporte nos campos dos bairros e a organização das torcidas. Os reflexos do crescimento e popularização dos clubes de bairros tiveram grande impacto no futebol em Belo Horizonte. Com as regras cada vez mais difundidas, os moradores da capital passaram não só a entender e a se aventurar no esporte, como também apreciá-lo. E basta dar uma olhada no mapa para constatar que tais times estavam nos quatro cantos da capital. Era quase um clube em cada bairro. No Centro, por exemplo, surgiram Higiênicos, Christovam Colombo, Syrio, e os clubes Lusitano e Hellenico. YALE FEZ HISTÓRIA No Bairro Preto, três times se destacaram: Avante, Minas Gerais e Yale. Este último, criado em 17 de julho de 1910, desempenhou
Antigo estádio de Lourdes foi demolido e deu lugar ao shopping Diamond Mall
uma função de extrema importância para o desenvolvimento do futebol local. Segundo relatos da época, o seu campo, localizado na então Avenida Paraopeba, hoje Augusto de Lima, no Barro Preto, tornou-se a referência do futebol local e aproximou a população das chuteiras e dos gols. Atletas que brilharam com o uniforme de times de peso do país e também da Seleção Brasileira devem o seu sucesso a essas agremiações de bairro. Caso de Hilton Oliveira, Bigode (lateral-esquerdo titular na Copa do Mundo de 1950), Procópio Cardoso (ex-técnico de Cruzeiro e Atlético), Wilson Piazza, entre outros. Os dois últimos saíram do Esporte Clube Renascença (que apareceu em 1941), da Zona Nordeste e que jogou o campeonato de 1959 a 1967. O volante Piazza, eterno ídolo do Cruzei-
ro, levantou a taça do tricampeonato mundial pela Seleção canarinho, na Copa do Mundo de 1970, no México. Para o ex-jogador, foi fundamental ter feito parte do Renascença e aponta problemas na formação dos novos jogadores: “o Renascença foi base para que eu tivesse uma carreira técnica consolidada no Cruzeiro e na Seleção. Hoje, por mais que os grandes clubes façam um ótimo trabalho de base, falta um incentivo maior para que jogadores voltem a ser revelados nos clubes de bairro”, observa o excampeão mundial. “Após 1915, com a disseminação do esporte na periferia, clubes como o Fluminense, da Lagoinha, o Carlos Prates, o Calafate, e outros contribuíram decisivamente para a popularização do futebol na capital. A formação se dava a partir das estreitas relações de amizade estabelecidas
BH
Barro Preto Yale Futebol Clube 17 de julho de 1919 Nordeste Esporte Clube Renascença 15 de outubro de 1941
Lagoinha Guarany Football Club 16 de maio de 1911 Fluminense Football Club 6 de novembro de 1922 Centro-Sul Sport Club Progresso 16 de maio de 1920 Oeste Sport Club Calafate 22 de fevereiro de 1922 Grêmio Ludopédio Calafate 27 de fevereiro de 1920
Arquivo Público do Estado de Minas Gerais
nos bairros”, diz o texto “Os Primórdios do Futebol em Belo Horizonte”, de Euclides de Freitas Couto, presente na coleção de artigos do livro “Futebol nas Gerais”, organizada por Sílvio Ricardo da Silva, José Alfredo Debortoli e Tiago Felipe da Silva. Segundo a publicação, os clubes eram
Arquivo Público do Estado de Minas Gerais
formados por jogadores de uma mesma família, que na época eram mais numerosas. “Apesar de não agregarem torcedores e sócios, como Atlético e América, tais clubes permitiram a introdução do futebol entre as classes menos favorecidas”, descreve Euclides Couto.
Futebol não encontra espaço em BH Muitos campos das tradicionais equipes da capital não existem mais. O Estádio JK ou Estádio do Barro Preto, que foi o primeiro estádio do Cruzeiro, hoje faz parte da sede administrativa do clube. O Estádio Presidente Antônio Carlos, que pertencia ao Atlético, foi demolido em 1994, dando espaço à construção do shopping Diamond Mall, no bairro Santo Agostinho. Assim, estes campos outros campos perderam espaço para a construção de casas e prédios comerciais na cidade. Os campos de várzea também vão resistindo ao crescimento urbano da capital. O urbanista Renato Cordeiro aponta que os clubes de futebol amador que estão em atividade em Belo Horizonte ainda sofrem com a falta de apoio do poder público e que merecem mais atenção. “Estes campos são uma lufada de ar fresco para o duro cotidiano de quem vive na periferia de BH. Eles mostram a urgência de locais públicos e comunitários para a prática de esportes e para melhorar a vida em comunidade, um retrato de quem luta por um espaço de lazer”, descreve Renato Cordeiro. Um dos clubes amadores tradicionais da cidade, o Pompéia Futebol Clube, encerrou suas atividades em 2010 por causa da revitalização da ferrovia HortoSabará da Vale. Com a mudança, a linha passou a cortar exatamente o meio do campo. A diretoria aguarda até hoje a construção do novo estádio. Atualmente a capital tem três clubes profissionais: o América Futebol Clube, o Clube Atlético Mineiro e o Cruzeiro Esporte Clube. No amadorismo, a capital tem 154 clubes de 79 bairros, contudo, falta incentivo do poder público para que a atividade se desenvolva na cidade. Alguns campos estão em péssimo estado e não há fortalecimento dos trabalhos sociais desenvolvidos por eles.
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismowdapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminasjornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Entrevista
JOSÉ PACHECO PABLO HENRIQUE NASCIMENTO 3° PERÍODO
Como surgiu o convite para integrar o Projeto Âncora?
Eu tinha ido em 2005 fazer uma palestra no Projeto Âncora. A pessoa que criou o projeto interpolou-me e disse: “olha, eu criei este projeto para salvar jovens da marginalidade, mas a verdade é que é como tentar enxugar gelo.” Eu nunca me esqueci desta expressão. “Tentar enxugar gelo? Mas por quê?”, perguntei. Então ele disse: “Ajude-me a fazer uma escola.” Eu levei cinco ou seis anos para lhe satisfazer a vontade e no ano em que resolvi a ajudá-lo, ele morreu. Então eu fui convidado e ajudei a fazer aquela escola, onde eu aprendo muito agora. Estou lá pelo menos uma vez por semana ou uma vez por quinzena. Eu vou até lá quando eles precisam, porque eu gosto que os projetos sejam autônomos. Não gosto de estar lá muito tempo, mas o tempo necessário para ajudar. Projeto Âncora é o projeto mais avançado do mundo. E, olha, conheço bem o que existe de melhor no campo da educação em vários países, quer em escolas, quer em universidade.
O Brasil, visto como um país em desenvolvimento, tem um programa avançado
É verdade, por incrível que seja. E é um projeto baseado em teoria produzida por brasileiros. Tem originalidade. Não quer dizer que nós prescindamos das propostas estrangeiras, mas recusamos muito aquilo que vem, neste momento, dos Estados Unidos, por exemplo. Dos Estados Unidos têm vindo muitas modas pedagógicas, aula híbrida, o que não dá um nada. Intervenção de novas tecnologias é um desastre. Só serve para gastar dinheiro e não vai resolver nada. Eu posso afirmar, por aquilo que eu conheço, e eu conheço muito bem o Brasil, pois estou há 14 anos andando por aqui. É no Brasil que está o futuro da educação do mundo. Então eu vejo que o Brasil, como diz brasileiro, “tá bombando”.
Projeto educacional envolve comunidade Com a proposta de uma escola livre de séries e de provas, onde o aluno escolhe o que quer estudar, o educador português José Francisco de Almeida Pacheco teve reconhecido seu trabalho na Escola da Ponte, na cidade do Porto, em Portugal. Após quase 30 anos à frente da escola, José Pacheco, que é mestre em ciências da educação, mudou-se para o Brasil, onde ele acredita estar o futuro da educação. Defendendo um modelo de escola autônoma e autossustentável, as “comunidades de aprendizagem”, José Pacheco colabora, desde 2011, em Cotia-SP. Qual a diferença entre a comunidade de aprendizagem e a escola tradicional?
A escola tradicional admite a escola e a comunidade. E este ‘e’ não é coordenativo, é aditivo. Nós consideramos que a escola é parte da comunidade. Não é escola e comunidade. Escola é um modo de uma aprendizagem colaborativa que se chama comunidade de aprendizagem, que é uma comunidade física, territorial, onde a escola está incluída e, simultaneamente, uma comunidade virtual, onde esta comunidade intercepta outras comunidades, fazendo comunidades de comunidades. Então, a diferença básica é que é a comunidade que gere a escola e não o diretor – uma primeira diferença. Segunda, é que a escola está aberta todo dia, toda hora. Os pais estão lá, temos professores que já estão a morar na comunidade, dentro das favelas. E temos trabalhos nas favelas, fora do edifício, fora do contexto. Ou seja, é uma nova construção social de aprendizagem, que vai substituir a velha escola.
O senhor defende o Projeto Âncora e a Escola da Ponte no Brasil. De onde deve vir o financiamento?
Eu acompanhei muitos projetos das escolas ditas públicas, e das particulares. O senhor acompanha Não estabeleço diferença nenhuma. E outros projetos no Brasil? procuro, desde o início, fazer uma liEu acompanho cerca de 150 projetos gação ao poder público e à universidaaqui no Brasil. São centenas de voos, de. É indispensável. A universidade, o de quilômetros na estrada. Todos os poder público e a escola: o triângulo é anos, vou pelo menos uma vez a cada perfeito. Quanto ao financiamento, os projeto e depois é via internet. E são projetos que eu acompanho são mais projetos que são bem baratos do que os projetos melhores até do que que estão aí nas escolas. aqueles que eu coSe nós conseguirmos fanheço na Europa e zer, em termos de autonos Estados Unidos. nomia, faremos ainda um Nós consideramos Mas brasileiro não ensino melhor e mais baque a escola é partem amor próprio. rato. É síndrome do vite da comunidade. Porque se escola é conra-lata: o que vem siderada unidade de desNão é escola e de fora que é bom pesa, pode-se buscar comunidade. e o que está cá denautofinanciamento, sustro não presta. Protentabilidade financeira. fundamente errado. Então, o que nós estamos Temos os melhores hoje é, partindo da neteóricos. Lauro de Oliveira Lima, que cessidade da autonomia pedagógica, faleceu há dois anos, um gênio. Helena passando a buscar autonomia adminisde Antipoff, Maria Nilde Mascelani, trativa e financeira. O Estado não preFlorestan Fernandes e todos os conhecisa dar mais dinheiro, a Prefeitura não cidos, como Anísio Teixeira, Darci Riprecisa dar mais dinheiro. E é possível beiro, Agostinho da Silva, Eurípedes organizar a escola para que os profes[Barsanulfo]. sores tenham um salário bem melhor com o mesmo dinheiro. Há muita coisa que pode ser enxugada em termos Quem financia de financiamento. Por exemplo, o Projeto Âncora? não é preciso cartilla [cadeira escoAutofinanciamento e financiamento do lar], dinheiro que se gasta em comjardim de infância e do chamado conputador, nem fazer laboratórios que trato de escola que é feito pela assistêndepois não funcionam porque não cia social. Mas é muito pouco dinheiro. têm alguém para cuidar deles. AinNós temos é pais que trazem nota fiscal da se gasta imenso dinheiro com paulista que dá muito dinheiro, temos transporte escolar na manutenção, muitas doações; temos editais que nós no combustível e no seguro. Tudo concorremos e ganhamos porque são isso é perfeitamente dispensável. E bons projetos. Temos palestras que fazemos, com as é assim que pode aumentar o saláquais ganhamos dinheiro que vai para rio dos professores com a mesma o projeto; cursos que damos até na inverba. Depois, autofinanciamento. ternet, que deu mais de 50 mil reais Quando as escolas mostrarem resulsó em uma semana; temos a transfortados, os professores vão fazer palesmação vivencial em que professores e tras, vão dar cursos e, assim, manter a educadores, quem quer que seja, poescola. O modelo que se usa na escola dem ir para dentro do projeto - temos é do século XIX e a corrupção no sisuma casinha com seis camas, cozinha tema educativo brasileiro leva 56 mie banheiro – e eles passam uma semalhões de reais a cada ano. Uma pesquina trabalhado conosco, isso também é sa da Fiesp mostra isso. pago.
Como cortar os gastos com transporte, se as crianças dependem dele?
Quem disse que é preciso levar a criança para dentro do edifício da escola? O que a criança aprende dentro do edifício que não possa aprender fora do edifício, se tiver instrumentos para isso?
Onde elas aprenderiam, então?
Escolas são pessoas que aprendem em qualquer lugar. Pode-se aprender em uma praça, em uma igreja, em um centro cultural, em uma biblioteca comunitária, em casa e na escola, dentro do edfício. Em qualquer lugar, desde que haja um adulto mediador, acesso à informação e uma ideia do projeto. Então, um aluno precisa de ir à escola, talvez uma vez por semana, uma vez de quinze em quinze dias. Então, se alguma secretaria for corajosa e quiser poupar dinheiro, acaba com o transporte escolar e cria comunidades de aprendizagem. Qual é mais lógico: Que num bairro onde estão 50 crianças haja um ônibus que leva 50 para dentro de um edifício ou que saia cinco professores desse edifício para ir junto das 50 crianças? O que se pode aprender dentro do edifício da escola que não se possa aprender fora? Não há nada. Ou melhor, há duas coisas: dependência e bullying. Isto se aprende nas escolas e isso é deseducação.
O que está faltando?
Tens os melhores teóricos e os melhores projetos. Então, tem tudo para dar certo. Está faltando uma política pública séria, uma formação de professores séria e está faltando que os professores sejam sérios, honestos, dignos. E eu acho que há muitos exemplos de professores que eticamente agiram e se mudaram para melhorarem a vida dos outros, para fazer com que todos sejam sábios e felizes. E acredito nisso. Porque quando nós compreendemos que dando aula, que trabalhando neste modelo, não ensinamos a todos, se continuamos a fazer o mesmo, somos criminosos. Estamos a condenar gente à ignorância, à infelicidade. Se eu descubro que como eu ensino não ensina, eu vou continuar a não ensinar? Eu tive essa sensação quando encontrei uma turma de alunos repetentes que não sabiam ler com 15 anos. E eu perguntei: “Por que que não sabem ler?” E eles disseram: “Sabe
professor, é que todos os anos nos ensinam da mesma maneira, daí não aprendemos.” Aí eu fui aprender a fazer alfabetização. Então aprendi 25 maneiras de ensinar a ler e fazer formar um mapeamento cultural-linguístico. Qualquer criança com quatro ou cinco anos já sabe ler. É isso que qualquer professor deve fazer.
Por que ainda existe um grande número de analfabetos funcionais?
Em relação a estes resultados é porque não basta levar tudo para dentro da escola. Tem cinco milhões de alunos fora da escola em idade escolar. A evasão continua. Mas não adianta pôr gente na escola se elas não aprendem. Lógico que há um percentual de evasão que é o oficial. Aliás em São Paulo andam a fazer perseguições a aqueles alunos que matam aula e há brigadas para apanhá-los para levar para dentro da escola. Mas de que adianta escola, sendo que eles não aprendem? O conceito de evasão é muito relativo, porque eu considero que aqueles que estão dentro da escola estão evadidos, pois eles estão lá, mas psicologicamente estão fora. Eles querem é pensar em outras coisas do mundo lá fora, o mundo real.
Muitos profissionais da educação reclamam da centralização do Ministério da Educação?
Ela é aparente. Eu trabalho com o MEC, eu sei que essa centralidade é aparente. Um professor dentro da sala de aula, faz o quê? Não é autônomo, mas faz o que quer. Pode fazer até o contrário do que o MEC estabelece. Aliás, aquilo que a Lei de Diretrizes e Bases estabelece não é concretizado em sala de aula. Não é concretizado o artigo 23º, artigo 15º e 12º. Então, essa centralidade é aparente. O que existe é uma gestão burocratizada. As escolas brasileiras não são dirigidas por pedagogas, são dirigidas por burocratas, pela burocracia da pior espécie.
Foto: Pablo Henrique Nascimento